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Apelação Criminal - 5021365-32.2017.4.04.

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No dia 27 de novembro de 2019, a 8ª Turma do Tribunal Regional da 4ª


Região (TRF4) realizou o julgamento da apelação criminal do (então ex e agora
atual) presidente Luís Inácio Lula da Silva.
O recurso ao TRF-4 se originou da decisão proferida pelo juízo da 13ª Vara
Federal de Curitiba, que, em fevereiro de 2019, sentenciou Lula a uma pena de
reclusão de 12 anos e 11 meses e uma multa de 212 dias-multa, no valor de dois
salários mínimos cada dia, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro.
O julgamento teve abertura com o desembargador federal Thompson Flores,
então presidente da 8ª Turma. O processo, a partir disso, ocorreu da seguinte
forma: manifestação do relator, sustentação oral do membro do Ministério Público
Federal, sustentação dos advogados de Lula, o voto dos três desembargadores
participantes do órgão colegiado e a leitura do relatório da apelação pelo
desembargador João Pedro Gebran, relator do caso, que sintetizou o caso desde
sua autuação até a sentença de primeiro grau e os recursos interpostos.
O Ministério Público, por meio do procurador regional da República Maurício
Gotardo Gerum, se posicionou a favor da condenação de Lula. Em seu
entendimento, havia, além de muitas provas documentais, diversos relatos de
testemunhas que atestavam o uso frequente do Sítio de Atibaia pelo presidente.
Ademais, as reformas efetuadas no imóvel foram todas realizadas pela Odebrecht,
pela OAS e por José Carlos Costa Marques Bumlai, o que caracterizaria vantagem
indevida e corrupção.
Em sequência, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, apresentou sua
sustentação oral. Ele pugnou pela anulação do processo e pela absolvição de Lula.
Seus argumentos centrais giraram em torno da suspeição do ex-juiz federal Sérgio
Moro e da juíza federal Gabriela Hardt. De acordo com o advogado, Lula não teve
seu direito de defesa respeitado e o julgamento ocorreu de forma parcial. Além
disso, ele também arguiu que “a configuração do crime de corrupção passiva
necessita saber se o funcionário público solicita ou recebe vantagem indevida. Não
há nenhuma prova que possa demonstrar que Lula, no exercício de seu cargo,
tenha solicitado ou recebido algum benefício indevido para praticar qualquer ato fora
das suas atribuições legais como presidente da República”.
Quanto ao voto dos desembargadores, o relator, desembargador Gebran,
negou todas as preliminares suscitadas pelas partes. Em relação ao mérito, decidiu
que a questão não deveria se focar em que é o proprietário do Sítio de Atibaia, mas
sim no fato de que Lula usufruia do imóvel com a intenção de ter a coisa para si e,
além disso, tinha consciência das reformas ocorridas no local, feitas pela Odebrecht
e OAS, em seu benefício próprio. Ainda, reforçou o fato de não haver dúvidas sobre
esquemas de corrupção envolvendo a Odebrecht, a Petrobrás e membros do PT,
inclusive Lula. O desembargador federal Leandro Paulsen, revisor do processo,
acompanhou integralmente o voto do relator. Também, votou no mesmo sentido o
desembargador Thompson Flores.
Por unanimidade, o então ex-presidente Lula foi condenado a 17 anos, 1 mês
e 10 dias de reclusão em regime inicialmente fechado e a um pagamento de 422
dias-multa, tendo cada dia-multa o valor de dois salários mínimos.
As questões jurídicas relativas à legislação federal discutidas no caso são a
corrupção passiva e lavagem de dinheiro, previstos, respectivamente no artigo 317
do Código Penal e na Lei nº 9.613/98:

Corrupção Passiva:
“Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta
ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
(Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência
da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever
funcional.
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato
de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa”.

Lavagem de dinheiro:
“Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal.
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.
§ 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a
utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração
penal:
I - os converte em ativos lícitos;
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em
garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere;
III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes
aos verdadeiros.
§ 2o Incorre, ainda, na mesma pena quem:
I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos
ou valores provenientes de infração penal;
II - participa de grupo, associação ou escritório tendo
conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é
dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei.
§ 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art.
14 do Código Penal.
§ 4o A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes
definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por
intermédio de organização criminosa.
§ 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser
cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz
deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena
restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar
espontaneamente com as autoridades, prestando
esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações
penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à
localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

Apesar do não provimento do recurso, a sustentação oral do procurador de


Lula, o advogado Cristiano Zanin, foi essencial para assegurar a garantia dos
direitos de seu cliente, bem como a observância do devido processo legal.

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