Você está na página 1de 13

Brazilian Journal of Development 7083

ISSN: 2525-8761

Técnica de microagulhamento associado ao ácido tranexâmico no


tratamento de melasmas: uma revisão

Micro-needling technique associated with tranexamic acid in the


treatment of melasmas: a review
DOI:10.34117/bjdv7n1-480

Recebimento dos originais: 18/12/2020


Aceitação para publicação: 18/01/2021

Júlia Regina Schuch


Biomédica
Universidade Feevale - RS
Endereço: Rua Santa Maria, 111, Sala 10, Bairro Ideal, Novo Hamburgo, RS
E-mail: ju.schuch@hotmail.com

Simone Rossetto
Mestre em Ciências Farmacêuticas
Professora do curso de Biomedicina da Universidade Feevale - RS
Endereço: Rua Elmo Henrique Prade, 426, Bairro Encosta do Sol, Estância Velha, RS
E-mail: srossetto@feevale.br

RESUMO
Melasma é uma hipermelanose comum, crônica e de difícil tratamento, que afeta face e
membros superiores, influenciando na qualidade de vida e aceitação da auto-imagem
especialmente em mulheres. É um desafio dermatológico, com diversas propostas para o
controle de hiperpigmentação, sendo o ácido tranexâmico uma opção segura de
tratamento com diferentes formas de uso e técnicas associadas. Objetivo: Revisar os
dados publicados acerca da aplicação de ácido tranexâmico tópico e associado a técnicas
de administração intradérmica no controle de melasmas. Método: Revisão bibliográfica
em livros e artigos pesquisados nas bases de dados Pubmed, Scielo, Capes, Google
Acadêmico e Science Direct, publicados entre 2009 e 2019. Resultados: Foram incluídos
19 estudos, sendo 4 revisões bibliográficas e 15 ensaios clínicos. O uso do ácido
tranexâmico foi avaliado entre as diferentes vias de administração, com variação na
concentração utilizada, com resultados satisfatórios tanto com uso tópico quanto
intradérmico. Conclusão: O ácido tranexâmico tem se apresentado como potencial opção
terapêutica segura e eficaz no controle de melasma, tanto através de aplicação tópica
quanto intradérmica, sendo necessários mais estudos para maiores esclarecimentos.

Palavras-chave: Melasma, microagulhamento, ácido tranexâmico.

ABSTRACT
Melasma is a common, chronic and difficult-to-treat hypermelanosis that affects the face
and upper limbs, influencing the quality of life and acceptance of self-image, especially
in women. It is a dermatological challenge, with several proposals for the control of
hyperpigmentation, with tranexamic acid being a safe treatment option with different
forms of use and associated techniques. Objective: To review the published data about
the application of topical tranexamic acid and associated with intradermal administration

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7084
ISSN: 2525-8761

techniques to control melasmas. Method: Bibliographic review of books and articles


searched in the Pubmed, Scielo, Capes, Google Scholar and Science Direct databases,
published between 2009 and 2019. Results: 19 studies were included, 4 of which were
bibliographic reviews and 15 clinical trials. The use of tranexamic acid was evaluated
between the different routes of administration, with variation in the concentration used,
with satisfactory results with both topical and intradermal use. Conclusion: Tranexamic
acid has been presented as a potential safe and effective therapeutic option in the control
of melasma, both through topical and intradermal application, requiring further studies
for further clarification.

Keywords: Melasma, microneedling, tranexamic acid.

1 INTRODUÇÃO
A pele, maior órgão do corpo humano, participa da manutenção da homeostasia
orgânica agindo como interface entre o meio externo e interno (1-3). Entre outras funções,
atua na fotoproteção, através da deposição de melanossomas repletos de melanina, sob a
parte superior do núcleo dos queratinócitos, protegendo-o ao difratar ou refletir a radiação
ultravioleta (3-5).
O aumento na deposição de pigmentos indica a presença de melasma, uma
disfunção cutânea crônica, adquirida, em que há desenvolvimento de manchas
acastanhadas bilaterais e simétricas (6) principalmente em áreas expostas como a região
frontal e malar da face (7, 8) ocasionalmente no pescoço e raramente nos antebraços (6).
Ocorre mais freqüentemente em mulheres em idade fértil (9, 10) e mais prevalentemente
em fototipos III e IV segundo classificação de Fitzpatrick (11).
Pode ser classificado de acordo com a localização facial, como centrofacial, malar
ou mandibular (6, 12), de acordo com a duração, sendo transitório ou persistente (13).
Pode ainda, de acordo com a profundidade de deposição melânica, ser epidérmico,
dérmico ou misto, auxiliando, assim, no prognóstico em relação aos tratamentos e aos
resultados esperados (6, 14).
Devido ao frequente acometimento facial, melasma inflige importante impacto à
imagem corporal, causando estresse psicológico e alteração na qualidade de vida dos
pacientes, que relatam sentimentos como vergonha, baixa autoestima, falta de motivação
para sair de casa e insatisfação, já tendo sido identificada ideação suicida motivada pelo
melasma, além de gastos relacionados aos tratamentos (15, 16).
O conhecimento relacionado à fisiopatogenia de melasmas é limitado e
inconclusivo (5). Estudos recentes indicam que inúmeros fatores estimuladores da
melanogênese derivados dos queratinócitos exercem uma regulação autócrina ou

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7085
ISSN: 2525-8761

parácrina dos melanócitos, na pele humana, sendo representados principalmente por: fator
de crescimento de fibroblastos, endotelina-1 e peptídeos derivados da clivagem da
proopiomelanocortina (POMC) – como o hormônio estimulador de melanócito alfa
(αMSH) e o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) (10, 17).
A produção de melanina tem diversas enzimas atuantes, sendo que a principal
delas e o maior alvo de tratamentos de melasma é a tirosinase (18). Esta é dependente de
cobre e catalisa a conversão de L-tirosina em L-DOPA, sendo este o estágio limitador da
velocidade na síntese de melanina (4, 8, 17, 19).
Não é totalmente elucidada a etiologia desta disfunção, mas diversos fatores são
considerados desencadeantes da mesma, como a susceptibilidade genética, mudanças
hormonais e fatores ambientais como exposição solar (4, 19) além de fotossensibilização
por cosméticos e drogas, distúrbios hepáticos e processos inflamatórios (4, 6, 7, 20).
O controle de melasmas é desafiador, exigindo um plano de tratamento em longo
prazo, com maior controle possível sobre os possíveis interferentes como exposição solar,
alterações hormonais, processos inflamatórios entre outros (6, 21).
Devido à falta de terapia específica e eficaz para melasmas, há a necessidade de
procura por novos agentes de tratamento, sendo o ácido tranexâmico uma das estratégias
de tratamento mais pesquisadas para melasma nos últimos anos. Vários autores afirmam
que o ácido tranexâmico atua no controle da pigmentação exacerbada por meio dos
seguintes mecanismos:
- Inibição da proliferação de melanócitos;
- Inibição da síntese de melanina em melanócitos por interferir na interação de
melanócitos e queratinócitos;
- Aceleração da recuperação da função de barreira da pele;
- Redução da vascularização na derme;
- Redução de mastócitos na derme. (4, 18, 21- 24)
O uso de ácido tranexâmico tópico é bastante pesquisado, uma vez que é solúvel
em água e teria dificuldade para ser absorvido por via transdérmica através da superfície
lipossolúvel da pele (25, 26). Por isso, vários métodos de melhoramento tais como
administração intraepidérmica, iontoforese, ultrassom, eletroporação, peelings químicos
e microagulhamento têm sido utilizados para superar a barreira cutânea e as novas
técnicas minimamente invasivas estão continuamente sendo estudadas (27).
A administração intraepidérmica, pode ser feita através de microagulhamento,
sendo esta uma técnica minimamente invasiva para entrega de drogas através dos canais

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7086
ISSN: 2525-8761

gerados com o rolamento das agulhas sobre a pele (24, 28, 29), ou microinjeções
localizadas, técnica conhecida como mesoterapia, visando a aplicação de quantidade
adequada de medicação no local determinado (26, 30).
O objetivo desta revisão bibliográfica é avaliar a eficácia e segurança do uso do
ácido tranexâmico comparando a utilização tópica versus intradérmica no tratamento de
melasmas.

2 MÉTODOS
O presente estudo consiste em uma revisão bibliográfica retrospectiva e
integrativa sobre a técnica de microagulhamento associado ao ácido tranexâmico no
tratamento de melasmas. A coleta de dados foi realizada nas bases de dados Scielo,
Bireme, Science direct, Pubmed, Google Acadêmico e Capes, limitados ao período de
2009 até 2019, nos idiomas inglês e português, utilizando as palavras chave: melasma,
microagulhamento e ácido tranexâmico e suas respectivas traduções para o inglês.
Foram excluídos artigos publicados através de resumos, cartas ao editor, brief reports, e
àqueles em que a aplicabilidade de ácido tranexâmico se dá em demais situações
medicinais, bem como aqueles que não atendem aos critérios de inclusão citados acima.

3 RESULTADOS
Há crescente aumento no volume de publicações acerca desta proposta de
tratamento, havendo, nos anos de 2016 e 2017, um incremento significativo no número
de publicações, chegando a duplicar a quantidade de estudos a partir destes anos.
Ao pesquisar apenas a palavra chave “Ácido tranexâmico” encontrou-se 50815
artigos. Ao relacionar o ácido a melasma, a quantidade de artigo reduziu para 1220,
seguido de 171 artigos encontrados ao pesquisar "Ácido tranexâmico and melasma and
microagulhamento".
Dos 171 artigos, foram selecionados 19 artigos, sendo 4 revisões e 16 ensaios
clínicos. Dos artigos de revisão, 02 são artigos de revisão sistemática e meta-análise e 2
são de revisão qualitativa bibliográfica. Destas revisões, 01 analisa a aplicação tópica de
diferentes concentrações de ácido tranexâmico, e outras 3 buscam dados sobre a eficácia
de diferentes formas de uso de ácido tranexâmico em melasmas (oral, tópico e
intradérmico),
Quanto aos ensaios clínicos, 4 são estudos randomizados, abertos, comparativos;
3 são estudos duplo-cego com face dividida; 2 são estudos prospectivos, randomizados,

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7087
ISSN: 2525-8761

simples-cego; 4 são estudos duplo cego randomizados controlados e 2 são randomizados


controlados.
Nestes estudos avalia-se o uso tópico de diferentes concentrações, além da eficácia
da associação de ácido tranexâmico a técnicas de administração;

4 DISCUSSÃO
Os 16 ensaios clínicos analisados incluíram um total de 683 participantes, em sua
maioria mulheres em idade reprodutiva, Fitzpatrick III a V, com melasma facial bilateral.
Foram analisados:
• um estudo comparando o uso de ácido tranexâmico em sua forma oral, tópica e
intradérmica;
• dois estudos avaliando o uso tópico versus placebo;
• uma análise sobre o uso tópico versus aplicação intradérmica;
• um estudo sobre uso tópico combinado com uso oral;
• um artigo envolvendo uso oral versus microinjeções;
• uma análise sobre injeção intradérmica versus microagulhamento;
• três estudos sobre uso tópico versus hidroquinona tópica;
• uma análise sobre uso tópico;
• um artigo sobre uso tópico versus microagulhamento associado ao uso tópico;
• duas análises de injeções intradérmicas versus hidroquinona tópica;
• um estudo sobre uso tópico versus aplicação com microagulhamento;
• um artigo sobre injeção intradérmica e uso oral.

A média de aplicação dos ensaios clínicos foi de 11,7 semanas, com alterações
mais visíveis no início do tratamento (27) e efeito máximo principalmente em 4 semanas
(21, 23) mantendo-se estável após este período. A freqüência de aplicação de
microagulhamento observada nos estudos foi quinzenal ou mensal, entretanto, quando o
objetivo é a permeação de ativos, tal técnica poderia ser utilizada inclusive diariamente,
com agulhas menores e pouca pressão na aplicação (28). Por não haver consenso quanto
ao intervalo de tempo entre as sessões de microagulhamento com agulhas maiores,
suspeita-se que os resultados podem ser mais efetivos em aplicações com menor intervalo
entre si.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7088
ISSN: 2525-8761

Conforme a literatura, a concentração de ácido tranexâmico indicada para


aplicação tópica varia entre 2 a 5%. NOGUEIRA, FERREIRA (31), ao analisar 7 ensaios
clínicos, assim como PERPER et al. (32) ao revisar outros 15 estudos, encontraram a
mesma variabilidade para esta concentração de ativo. Nestes estudos, observou-se alta
taxa de satisfação dos indivíduos, havendo redução de pigmentação e ausência de relatos
de efeitos adversos independente da concentração utilizada. Ao associar com outras
técnicas intradérmicas, a concentração variou entre 0,5% a 4% do ativo.
LIMA (33), em um ensaio clínico envolvendo 22 pacientes, utilizou apenas o
microagulhamento com comprimento de agulha de 1,5mm sem a adição de qualquer
ativo, com trauma leve, e concluiu que esta técnica isolada é capaz de provocar
clareamento das manchas de pacientes com melasma recalcitrante, com mecanismo de
ação ainda pouco esclarecido.
Sabe-se que a lesão provocada pelo rolamento de microagulhas sob a pele gera a
ativação de cascata inflamatória, com a liberação de citocinas e fatores de crescimento
nas diferentes etapas da cicatrização, entre eles o fator de crescimento de transformação
β (TGF β) (34). Este tem comprovada ação desreguladora de genes melanocíticos,
especialmente sob o fator de transcrição associado à microftalmia (MITF), que é
responsável por ativar fatores de transcrição de enzimas importantes na melanogênese e
a transcrição de genes envolvidos na estrutura dos melanossomas (35).
Estudos acerca do TGF β liberado após a aplicação do microagulhamento sob a
pele mostram menor número de dendritos e do tamanho dos melanossomas, além da
redução da tirosinase, principal enzima na síntese de melanina e redução das enzimas
TRP-1 e 2, relacionadas com a produção da eumelanina, podendo diminuir drasticamente
a velocidade da melanogênese, indução da produção de pigmento mais claro feomelanina
e menor capacidade dos melanossomas para distribuir o pigmento formado (35, 36).
Sendo assim, a ação isolada do microagulhamento seria positiva para o tratamento de
melasmas, e, se associada a ativos clareadores, poderia ser considerada uma boa opção
terapêutica.
Ao avaliar apenas o uso tópico, KANECHORN et al., (37), em um ensaio clínico
controlado randomizado duplo-cego, observou melhora em 78,2% dos pacientes com o
uso do ácido. KIM et al. (23) relatou melhora significativa no clareamento das lesões de
22 dos 23 pacientes, sem efeitos colaterais. Ao associar o uso tópico com uma fonte de
luz, CHUNG et al. (38) percebeu redução em ambas as hemifaces, com melhora
significativa na hemiface tratada com ácido tranexâmico. Apesar destes resultados, a

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7089
ISSN: 2525-8761

eficácia do uso de ácido tranexâmico tópico pode ser questionada, uma vez que a natureza
solúvel em água de tal agente limita a sua absorção transepidermal (25), e pode ter
diferença de eficácia de acordo com características cutâneas específicas.
EBRAHIMI, NAEINI (39), BANIHASHEMI et al. (40), JANNEY et al. (41) e
PAZYAR et al. (43) avaliaram a eficácia do ácido tranexâmico frente à aplicação de
hidroquinona tópica, ativo clássico mais utilizado no tratamento de melasmas (22),
havendo redução perceptível em ambos os lados, sem diferença significativa em nenhum
deles, porém, observou-se irritação onde estava sendo aplicada a composição com
hidroquinona, sendo este um fator decisivo na análise subjetiva dos tratamentos,
considerado o ácido tranexâmico mais satisfatório por parte dos pacientes, devido à não
ocorrência de efeitos adversos. Já SAKI et al. (21) ao avaliar a eficácia do ácido
tranexâmico injetado comparado com a hidroquinona percebeu melhora, porém, na
análise estatística não houve diferença significativa entre os grupos, questionando a
importância da freqüência das injeções para obtenção de resultados superiores.
Para STEINER et al. (7), os resultados obtidos a partir da comparação entre uso
tópico e microinjeções não apresentaram diferença estatística entre si, sendo eficazes na
redução do índice de severidade das hipercromias. Porém, sabe-se que a permeabilidade
dos ativos depende de fatores como tamanho molecular, espessura da pele, pH do produto,
lipossolubilidade do produto, entre outras limitações que não tornam-se problemas
quando utilizamos técnicas de melhoramento de permeação como microagulhamento e
microinjeções (45).
KHURANA et al. (30) observou que a dose de ácido tranexâmico em
microinjeções e a freqüência de aplicações pode ser interferente importante no resultado
desta técnica, assim como POOJARY, MINNI (42) relatou que o aumento da duração do
tratamento foi mais eficaz do que o aumento da dose, tanto que PAZYAR et al. (43), ao
comparar os resultados entre a aplicação de injeções com 4 mg/mL e 10 mg/mL em dois
grupos observou resultados superiores com a menor dosagem.
Ao comparar as técnicas de microinjeções intradérmicas e microagulhamento
associado ao ativo, BUDAMAKUNTLA, et al. (27) percebeu grande melhora no
clareamento das lesões, com resultado superior no grupo exposto ao microagulhamento.
O mesmo foi observado por XU et. a.l (24) ao comparar o uso tópico ao uso associado à
técnica de microagulhamento, havendo melhora significativamente maior na hemiface
em que houve estímulo de aumento da permeabilidade transmembrana. SARAIVA et al.
(44) ao avaliar a aplicação de microagulhamento associado ao drug delivery obteve

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7090
ISSN: 2525-8761

melhora em 68,9% dos pacientes, chegando a citar total clareamento das lesões. Isto se
dá devido à administração transdérmica de agentes terapêuticos para terapia cosmética,
que é limitada a moléculas pequenas e lipofílicas pela barreira do estrato córneo. A técnica
de microagulhamento supera esta barreira e oferece uma rota de administração
minimamente invasiva e praticamente indolor, através de um meio de microporação (45).
Na literatura pode-se encontrar uma gama de estudos que relatam a efetividade da
geração de canais no aumento da permeação dos ativos, citando aumentos que variam de
80% (45) até 500% (46), mostrando que há efetividade na técnica.
Além da efetividade na entrega dos princípios ativos escolhidos para o tratamento
de melasma, estudos mostram que o uso do microagulhamento é positivo em tal patologia,
visto que a preservação da integridade da epiderme após o fechamento dos canais, o que
ocorre dentro de poucas horas após o procedimento, variando entre comprimento das
agulhas, pressão e número de deslizamentos do equipamento em cada região (45), permite
que esta mantenha sua função de barreira, evitando hiperpigmentações pós-inflamatórias,
mostrando a segurança do procedimento (29, 46, 47).
O uso intradérmico, quando comparado ao uso oral, testado por SHARMA et al.
(48) teve igual eficácia, sem apresentar os efeitos adversos observados no uso interno. Já
SHETTY, SHETTY (49) relata eficácia clínica maior com a administração intradérmica
(35,6%) se comparada ao ácido tranexâmico oral (21,7%) na avaliação objetiva, e boa
melhora em 63,15% dos casos na avaliação subjetiva dos pacientes. Para KHURANA et
al. (30) o uso oral apresentou uma resposta mais significativa em relação ao uso
intradérmico, porém com efeitos adversos leves.ZHANG et al. (26) em uma meta análise
envolvendo 21 estudos com o total de 1563 pacientes divididos em subgrupos com
administração de ácido tranexâmico oral, tópico e intradérmico, sugeriu benefícios no uso
de ácido tranexâmico em todas as formas de uso, porém, o grupo em uso oral apresentou
maiores efeitos adversos em relação aos demais grupos, o que foi relatado também por
KIM et al. (25) ao analisar 11 estudos com 667 pacientes, havendo relato também, em
um dos estudos revisados, de ocorrência de hiperemia, sensibilidade e irritação cutânea
com uso tópico. KANECHORN et al., (37), também constatou presença de eritema nas
regiões tratadas com o ativo. Apesar destes efeitos, concluíram que é uma forma eficaz
de controle do melasma, não havendo diferença significativa entre as diferentes opções
de aplicação do ácido tranexâmico.
Quanto à recidiva de melasma após o término dos ensaios, PERPER et al., (32)
observou que apenas um estudo trouxe o dado de acompanhamento posterior, não

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7091
ISSN: 2525-8761

havendo recorrência. KHURANA et al. (30) relata que, 6 meses após o tratamento,
indivíduos que utilizaram o ácido tranexâmico de uso oral obtiveram menor recidiva que
o grupo que recebeu injeções intradérmicas. LIMA (33) relata o acompanhamento de 11
dos 22 pacientes em que aplicou o microagulhamento isolado, relatando a manutenção do
clareamento da pele semelhante ao resultado observado ao fim dos 2 meses de tratamento.
Sabe-se que melasmas têm característica crônica e de difícil controle, devendo-se manter
os cuidados permanentemente.

5 CONCLUSÃO
A despeito de todo arsenal terapêutico existente, o melasma continua sendo um
desafio dermatológico. A busca de novas modalidades de tratamento visa otimizar
resultados e minimizar efeitos colaterais sistêmicos, evitando recidivas e
hiperpigmentação pós-inflamatória.
Os resultados obtidos confirmam o potencial do ácido tranexâmico como
modalidade terapêutica para controle de melasma, configurando como opção segura e
eficaz com poucos e leves efeitos adversos, quando presentes. O uso tópico do cosmético,
assim como a associação a técnicas de administração intradérmica são boas opções de
tratamento com resultados efetivos, observando-se que a aplicação de microagulhas pode
ter efeito isolado sob a melanogênese, e, com a geração de canais para entrega do ativo
pode torná-lo mais efetivo em peles com diferentes características.
Contudo, ensaios clínicos controlados e randomizados com maior número na
amostra e estudos observacionais com maior período de aplicação são necessários para
que a associação do ácido tranexâmico a técnicas de melhoramento de permeação, como
o microagulhamento, tenham concentração e freqüência ideais determinadas, bem como
o esclarecimento de sua ação e efeitos em curto e longo prazo.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7092
ISSN: 2525-8761

REFERÊNCIAS

1. GOMES, R. K.; DAMAZIO, M. G. Cosmetologia: descomplicando os princípios


ativos. 4 ed. São Paulo, SP: LMP Editora, 2013.

2. SOUTOR, C.; HORDINSKY, M. Dermatologia clínica. 1 ed. São Paulo, SP: Mc


Graw Hill, 2014.

3. KAMIZATO, K. K.; BRITO, S. G. Técnicas estéticas faciais. 1 ed. São Paulo, SP:
Editora Saraiva, 2014.

4. MIOT L. D. et al. Physiopathology of melasma. Anais Brasileiros de Dermatologia,


Rio de Janeiro, v. 84, p. 623–35, 2009.

5. ALAM, M. et al. Dermatologia cosmética. 1ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

6. JAGANNATHAN, M. et al. Clinico-epidemiological Study of Patients with Melasma


in a Tertiary Care Hospital - A Prospective Study. International Journal of Scientific
Study, Índia, v. 4, p. 11, feb. 2017.

7. STEINER, D. et al. Treatment of Melasma: systematic review. Surgical & Cosmetic


Dermatology, Rio de Janeiro, v: 1, p. 87-94, 2009.

8. HANDEL A. C. et al. Melasma: a clinical and epidemiological review. Anais


Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 89, p. 771–782, 2014.

9. NICOLAIDOU, E.; KATSAMBAS, A.D. Pigmentation disorders: hyperpigmentation


and hypopigmentation. Clinics in Dermatology, v.32, p. 66-
72, 2014.

10. FILONI, A. et al. Melasma: How hormones can modulate skin pigmentation. Journal
of Cosmetic Dermatology, EUA, v. 18, n. 2, p. 1-6, 2019.

11. FEDELES F.; ROBINSON, B. L. Pigmentary disorders of the skin. Lever’s


Histopathology of the Skin, Philadelphia, PA, 11th ed., 2015.
12. TAMLER, C. et al. Classification of melasma by dermoscopy: comparative study
with Wood’s lamp. Surgical & Cosmetic Dermatology, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3, p.
115-119, 2009.

13. DEABRATA, B. Topical treatment of melasma. Indian Journal Dermatology, West


Bengal, India, v. 54, n. 4, p. 303-309, out-dec. 2009.

14. AZULAY, M. M. et al. Objective methods for analyzing outcomes in research studies
on cosmetic dermatology. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 85, n.1,
p 65-71, 2010.

15. CESTARI, T. F. et al. Melasma in Latin America: options for therapy and treatment
algorithm. Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology,
Alemanha, v. 23, n. 7, p. 760-72, jul. 2009.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7093
ISSN: 2525-8761

16. PANDYA, A. et al. Reliability assessment and validation of the Melasma Area and
Severity Index (MASI) and a new modified MASI scoring method. Journal of the
American Academy of Dermatology, Alemanha, v. 64, n. 1, p. 78-83, jan. 2011.

17. LEE A. Y. Recent progress in melasma pathogenesis. Pigment Cell and Melanoma
Research, v. 28, n.6, p. 648–60, 2015.

18. BALA, H. et al. Oral Tranexamic Acid for the Treatment of Melasma: A Review.
Dermatology Surgery. Illinois, USA, v.0, p. 1–12, 2018.

19. TAMEGA A. de A. et al. Clinical patterns and epidemiological characteristics of


facial melasma in Brazilian women. Journal of European Academy of Dermatology
and Venereology, Alemanha, v. 27, p. 151–6, 2013.

20. ARELLANO I. et al. Melasma in Latin America: options for therapy and treatment.
Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, Alemanha, v.
23, n. 7, p. 760-772, jul. 2009.

21. SAKI, N. et al. Comparing the efficacy of topical hydroquinone 2% versus


intradermal tranexamic acid microinjections in treating melasma: a split-face controlled
trial. Journal of Dermatological Treatment. Irã, v. 29, n. 4, p. 405–410, 2017.

22. MAEDA K. T. Y. Mechanism of the inhibitory effect of tranexamic acid on


melanogenesis in cultured human melanocytes in the presence of keratinocyte-
conditioned medium. Journal of Health Sciences, Sarajevo, Bosnia and Herzegovina,
v.53, p. 389–96, 2015.

23. KIM M. S. et al. Efficacy and possible mechanisms of topical tranexamic acid in
Melasma. Clinical and Experimental Dermatology, v. 41, p. 480–485, 2016.

24. XU Y. et al. Efficacy of functional microarray of microneedles combined with topical


tranexamic acid for melasma. Medicine, Baltimore, EUA, v. 96, n. 19, may. 2017.
25. KIM, H. J. et al. Efficacy and Safety of Tranexamic Acid in Melasma: A Meta-
analysis and Systematic Review. Acta Dermato Venereologica, Uppsala, Sweden, v. 97,
p. 776-781, apr. 2017.

26. ZHANG, L. et al. Tranexamic acid for adults with melasma: a systematic review and
meta-analysis. BioMed Research International, EUA, v. 2018, 2018.

27. BUDAMAKUNTLA L. et al. A Randomised, Open-label, Comparative Study of


Tranexamic Acid Microinjections and Tranexamic Acid with Microneedling in Patients
with Melasma. Journal of Cutaneous and Aesthetic Surgery, India, v. 6, n. 3, p 139-
43, jul 2013.

28. SETTERFIELD I. The concise guide to dermal needling (medical edition). Virtual
Beauty Corporation LTDA. USA, V. 1, 2013.

29. CASTAÑEDA, P. S. et al. Microneedles as enhancer of drug absorption through the


skin and applications in medicine and cosmetology. Journal of Pharmacy &
Pharmaceutical Sciences, Canadá, v. 21, p.73-93, 2018.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7094
ISSN: 2525-8761

30. KHURANA, V. K. et al. A randomized, open-label, comparative study of oral


tranexamic acid and tranexamic acid microinjections in patients with melasma. Indian
Journal of Dermatology, Venereology and Leprology, India, v.85, n. 1, p. 39-43, 2019.

31. NOGUEIRA, M. N., FERREIRA, L. A. Efficacy of topical tranexamic acid in the


treatment of melasma: clinical evidence. Revista de Ciências Médicas e Biológicas,
Salvador, v. 17, n. 2, p. 236-241, 2018.

32. PERPER, M. et al. Tranexamic acid in the treatment of melasma: a review of the
literature. American Journal of Clinical Dermatology, Suíça, v. 18, n. 6, 2017.

33. LIMA, E. A. Microagulhamento em melasma facial recalcitrante: uma série de 22


casos. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 90, n. 6, p 917-919, 2015.

34. LIMA, E. A., et al. Microagulhamento: estudo experimental e classificação da injúria


provocada. Surgical and Cosmetic Dermatology, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, 2013.

35. VIDEIRA, I. F. S. et al. Mechanisms regulating melanogenesis. Anais Brasileiros de


Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 88, n. 1, p. 76-83, 2013.

36. NISHIMURA E. K. et al. Key Roles for Transforming Growth Factor β in Melanocyte
Stem Cell Maintenance. Cell Press, USA, v. 6, n. 2, p. 130-140, 2010.

37. KANECHORN, P. et al. Topical 5% tranexamic acid for the treatment of melasma in
Asians: A double-blind randomized controlled clinical trial. Journal of Cosmetic and
Laser Therapy, v. 14, p. 150–154, 2012.

38. CHUNG, J.Y. et al. Topical tranexamic acid as an adjuvant treatment in melasma:
Side-by-side comparison clinical study. Journal of Dermatological Treatment, v. 27,
n. 4, p. 373-377, 2016.

39. EBRAHIMI B.; NAEINI F. F. Topical tranexamic acid as a promising treatment for
melasma. Journal of Research in Medical Sciences, Isfahan, v. 19, p. 753–7, 2014.

40. BANIHASHEMI, M. et al. Comparison of therapeutic effects of liposomal


Tranexamic Acid and conventional Hydroquinone on melasma. Journal of Cosmetic
Dermatology, v. 14, n. 3, p. 174-177, 2015.

41. JANNEY, M. S. et al. A randomized controlled study comparing the efficacy of


topical 5% tranexamic acid solution versus 3% hydroquinone cream in melasma. Journal
of Cutaneous and Aesthetic Surgery, Índia, v. 12, n. 1, p.63-67, 2019.

42. POOJARY S.; MINNI K. Tranexamic acid in melasma. Journal of Pigmentary


Disorders, Mumbai, India, v.2. p. 288, 2015.

43. PAZYAR, et al. Comparison of the efficacy of intradermal injected tranexamic acid
vs. hydroquinone cream in the treatment of melasma. Clinical, Cosmetic and
Investigational Dermatology, Iran, v.12, p.115-122, 2019.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021


Brazilian Journal of Development 7095
ISSN: 2525-8761

44. SARAIVA, L. P. P. G. Tratamento de melasma facial com associação do


microagulhamento robótico e drug delivery de ácido tranexâmico. Surgical and
Cosmetic Dermatology. Rio de Janeiro, v.10, n.4, p. 333-339, 2018.

45. KALLURI H. et al. Characterization of Microchannels Created by Metal


Microneedles: Formation and Closure. AAPS Journal, USA, v.13, n.3, p. 473-481, 2011.

46. PRAGYA A. et al. Microneedling Using Dermaroller A Means Of Collagen Induction


Therapy. Gujarat Medical Journal, India, v. 69, n. 1, 2014.

47. NEGRÃO, M. M. C. Microagulhamento: bases fisiológicas e práticas. 1 ed. São


Paulo: CR8 Editora, 2015.

48. SHARMA, R. et al. Therapeutic efficacy and safety of oral tranexamic acid and that
of tranexamic acid local infiltration with microinjections in patients with melasma: a
comparative study. Clinical and Experimental Dermatology. Índia, V. 42, p. 728–734,
2017.

49. SHETTY, V., SHETTY, M. Comparative study of localized intradermal


microinjection of tranexamic acid and oral tranexamic acid for the treatment of melasma.
International Journal of Research in Dermatology, India, V. 4, n. 3, p. 363-367, 2018.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1, p.7083-7095 Jan. 2021

Você também pode gostar