Você está na página 1de 3

CUIDADO COM OS CLICHÊS!

Profa. Lilian Salete Alonso Moreira Lima

Que atire a primeira pedra quem nunca utilizou alguma dessas


expressões: o mar beija a areia; mais
uma página da vida; doce esperança;
amarga decepção; ilustre professor;
eminente deputado; pai de família
exemplar; ilustre cidadão; mãe –
rainha do lar.
Passou imune a elas? Ah, mas
uma dessas você já usou: atrás de um
grande homem sempre vem uma
grande mulher; lugar de mulher é na cozinha; brasileiro é
preguiçoso; mulher dirige mal; povo unido jamais será vencido; Deus
é brasileiro; Brasil, país do futuro.
Essas expressões cristalizadas, desgastadas pelo uso e
desprovidas de significado, são conhecidas genericamente como
clichê, chavão, frase feita ou lugar-comum. Melo e Pagnan (1999)
definem como seqüências vocabulares repetidas automaticamente;
“idéias prontas” para serem usadas a qualquer momento, refletindo o
pouco conhecimento linguístico de quem as usa.
Eles ponderam que, em um momento passado, essas
ideias foram originais e, muitas vezes, não há como evitar o uso de
construções já feitas, pois “o processo de aprendizagem e
refinamento da escrita se dá, em parte, pela adoção de séries
vocabulares que se instalaram na cultura como modelos dignos de
serem repetidos” (MELO; PAGNAN, 1999, p. 32).
O problema é que esses clichês são a representação
redundante do que o sujeito assimilou da realidade. É difícil inovar
2

numa sociedade em que certos valores sócio-culturais instituem-se


pelo “já dito”. Segundo Rocco (1981, p. 67), “nem sempre o indivíduo
expressa, por si, o mundo e as relações que percebe, quando as
percebe”. Devido a isso, a autora aponta que as pessoas se
acomodam e recorrem ao uso banal, excessivo e repetido de
expressões já vazias de significação não se esforçando para criar
novos efeitos expressivos.
Mas pior do que ficar só na expressão ou numa frase é
quando ocorre o que Rocco chama de “discurso pré-fabricado”: partes
de texto com caráter dissertativo, usadas na introdução ou na
conclusão do texto, relacionadas a temas gerais e atuais, que são
decoradas pelos alunos e cujo assunto pode se encaixar em
diferentes situações, mas são desprovidas de carga significativa.
Martins (1997, p.163-166 – grifos do autor) traz um
levantamento de clichês que devem ser evitados nos textos
jornalísticos, dividindo-os segundo as noções de:

[...] frases e locuções (abrir com chave de ouro, alto e bom som, chegar a
um denominador comum, dispensa apresentações, voltar à estaca zero),
duplas (substantivos e adjetivos que, juntos, constituem lugares-comuns:
agradável surpresa, doce esperança, ilustre visitante, perda irreparável,
tumulto generalizado, viúva inconsolável), imagens (certas designações ou
apelidos de pessoas e lugares: galinho de quintino, cidade luz, cidade
maravilhosa, esporte das multidões, rainha da noite), idéias (fórmulas de
como introduzir uma idéia ou um assunto: sonho-pesadelo- casa própria, o
sonho que vira pesadelo; o D, P ou Z da DPZ- Duailibi, o D da DPZ...;
novela- estréia de Rossana vira novela; Mestre Aurélio- segundo mestre
Aurélio, corrupção é...;se estivesse vivo- se estivesse vivo, João de Almeida
completaria 90 anos; quando... não poderia imaginar- quando fulano fez tal
coisa, não poderia imaginar que...; fantasma- decisão revive o fantasma do
AI- 5; negócio da China- Missão traz negócio da China ao Brasil; não
convidem para a mesma mesa ou reunião; vem aí- Fulano vem aí para
prefeito; do cardápio fez parte- no almoço, do cardápio fez parte a sucessão
presidencial; também é cultura- esporte também é cultura; quente-frio-
roupas de frio; preços quentes) e modismo(a mil por hora, a nível de, anos
dourados, imperdível, pelo andar da carruagem, quem viver verá, rota de
colisão, trocar farpas).
3

O autor afirma que essas construções devem ser evitadas no


jornal já que são ideias
cristalizadas e transmitem uma
mensagem sem criatividade e
originalidade.
E eu afirmo que essas
construções devem ser evitadas
sempre, mas principalmente em
textos escritos formais e avaliativos, como os trabalhos que você faz
aqui na Universidade. Seja original, coloque suas ideias no papel!

Referências:
MARTINS, Eduardo. Manual de redação e estilo. 3. ed. São Paulo:
Moderna, 1997.

MELO, Luiz Roberto Dias de; PAGNAN, Celso Leopoldo. Prática de texto:
leitura e produção. São Paulo: W3, 1999.

ROCCO, Maria Thereza Fraga. Crise na linguagem – A redação no


vestibular. São Paulo: Mestre Jou, 1981.

Você também pode gostar