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Pro - Med-Gin.024 - V2 Infecções Sexualmente Transmissíveis Corrimentos Genitais
Pro - Med-Gin.024 - V2 Infecções Sexualmente Transmissíveis Corrimentos Genitais
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PROTOCOLO PRO.MED-GIN.024 – Página 1/9
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Título do INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS:
03/04/2020 revisão:
Documento CORRIMENTOS GENITAIS
Versão: 2 02/04/2022
1. AUTORES
• Ana Larissa Pinheiro Muniz
• José Eleutério Gomes
• Karinne Cisne Fernandes Rebouças
• Raquel Autran Coelho
2. INTRODUÇÃO
Quadros clínicos de corrimento e prurido genital ocorrem com grande frequência nos serviços
de ginecologia e traduzem desde distúrbios de uma complexa microbiota, como nas vaginoses, até
infestação por parasitas (por exemplo, Trichomonas vaginalis).
Vulvovaginites e vaginoses são as causas mais comuns da queixa de corrimento vaginal,
diferenciando-se das cervicites, que acometem a endocérvice e são causadas principalmente por
infecções por clamídia e gonococo. Os agentes etiológicos mais frequentes nas vulvovaginites e
vaginoses são fungos, bactérias anaeróbicas em número aumentado, Trichomonas, e até mesmo
um aumento exacerbado de lactobacilos.
A cervicites em sua maioria são assintomáticas. Aspectos, embora inespecíficos, que podem
indicar o quadro seriam: 1) saída de um exsudato purulento ou mucopurulento do canal
endocervical e 2) endocérvice edemaciada e friável à manipulação com espátula ou escova. Além
destes achados sangramento uterino anormal intermenstrual, sinusiorragia e dispareunia podem
ser referidos.
Diagnóstico
O diagnóstico é dado através dos critérios de Amsel (1983), sendo necessário para o
diagnóstico a observação de três dos seguintes achados:
• Corrimento vaginal homogêneo, branco, acinzentado;
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• pH vaginal maior que 4.5;
• Teste do KOH a 10% positivo (liberação de odor fétido pela alcalinização);
• Identificação de bacilos supra-citoplasmáticos em exame microscópico de conteúdo
vaginal.
Outro método diagnóstico é o escore de Nugent, que consiste na contagem em esfregaço
corado pelo método de Gram de morfotipos bacterianos de lactobacilos, Gardnerella vaginalis e
Mobiluncus sp. Escores: 0-3 (normal); 4-6 (condição intermediária); 7-10 (vaginose bacteriana).
(Tabela 1).
Tratamento
O objetivo da terapia é aliviar os sintomas vaginais, havendo também redução do risco de
adquirir algumas IST’s. O índice de recorrência, mesmo com tratamento adequado, é de cerca de
50%. Não há necessidade de tratar o parceiro.
Regimes Recomendado (CDC, 2015; Brasil, 2015):
Metronidazol 500 mg, via oral, 2 vezes ao dia, por 7 dias;
Metronidazol gel 0,75%, um aplicador cheio (5 g) via vaginal, uma vez ao dia, durante 7-10
dias;
Clindamicina creme 2%, um aplicador completo (5 g) via vaginal, na hora de dormir, por 7
dias
Regimes Alternativos (CDC, 2015; Brasil, 2015):
Tinidazol 2g via oral uma vez por dia durante 2 dias;
Tinidazol 1g via oral uma vez por dia durante 5 dias;
Clindamicina 300 mg por via oral duas vezes por dia durante 7 dias.
4. CANDIDÍASE VAGINAL
Os fungos fazem parte do microbioma vaginal normal e vivem em harmonia com os
lactobacilos produtores de peróxido. No entanto, estes agentes podem passar a agredir o epitélio
vaginal causando um quadro inflamatório (vaginite). O patógeno mais associado ao quadro é a
Candida albicans, que pode ser encontrado na vagina de pacientes assintomáticas e é comensal
da boca, vagina e reto. Ocasionalmente outras espécies de Candida estão envolvidas como a
C.Tropicalis e a C. Glabrata, entre outras.
Diversos fatores, incluindo fator imunológico local e genética do hospedeiro, são importantes
tanto no desencadeamento do quadro, quanto na sua persistência e recidiva. É comum a
vulvovaginite por Candida (VVC) ser observada em climas quentes e em pacientes obesas. Além
disso, imunossupressão, diabetes mellitus, gravidez e uso recente de antibióticos de amplo
espectro predispõem as mulheres a infecção clínica.
Estima-se que 75% das mulheres terão pelo menos um episódio de VVC e 40% a 45% terão
dois ou mais episódios. Com base na apresentação clínica, microbiologia, fatores de hospedeiro e
resposta terapêutica, a VVC pode ser classificada como não complicada ou complicada (recorrente
ou acentuada), está ocorrendo em cerca de 10% a 20% das mulheres.
O quadro clínico é representado por corrimento branco com aspecto de “leite coalhado”, com
prurido vulvovaginal. A observação de hiperemia vulvar e colpite pode ser associada a presença
de um conteúdo branco aderido a colo e paredes vaginais. Isto pode ser sugestivo, mas não
prescinde dos exames complementares para o adequado diagnóstico. Os sinais e sintomas
característicos são eritema e fissuras vulvares, edema vulvar, escoriações, além de dor vaginal,
dispareunia e disúria externa.
O diagnóstico pode ser feito em mulheres que tenham sinais e sintomas de vaginite, utilizando
um dos seguintes métodos:
• Exame de conteúdo vaginal a fresco: exame direto (solução salina ou KOH a 10%), –
identifica os morfotipos da Candida (blastoconídios, pseudo-hifas e pseudomicélios);
• Exame de conteúdo vaginal corado por método de Gram demonstra pequenas esferas
Gram (+) (blastoconídios) ou estruturas filamentosas Gram (+) (pseudo-hifas e pseudo-
micélios);
• Cultura: meio de Saboraud - Indicada apenas em casos complicados de repetição para
identificação da espécie de Candida.
Tratamento
Tratamento de quadros de candidíase vulvovaginal não complicada.
Regime recomendado (CDC, 2015; Brasil, 2015):
Agentes tópicos – via vaginal:
Miconazol creme 2% - 5 g intravaginalmente diariamente durante 7 dias
Creme de Butoconazol 2% (produto bioadesivo), 5 g intravaginal numa única aplicação
Agentes Orais:
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Fluconazol 150 mg por via oral, 1 comprimido em dose única
Outros: Nistatina creme: 100.000 U uma a duas vezes ao dia por 10 dias; Itraconazol 200 mg,
via oral, 2x dia em um dia.
5. TRICHOMONAS VAGINALIS
A tricomoníase é a infecção sexualmente transmissível não viral com maior prevalência nos
Estados Unidos, afetando 3,7 milhões de pessoas. A maioria das pessoas infectadas (70% -85%)
apresentam sintomas mínimos ou inexistentes e, se não tratados, a infecção pode persistir por
meses ou anos. É causada por um protozoário, o Trichomonas vaginalis; que é unicelular,
piriforme, móvel, flagelado, com núcleo excêntrico, que tem predileção pelo epitélio escamoso e
cujas lesões podem facilitar o acesso para outras infecções sexualmente transmissíveis.
O quadro clínico normalmente é representado por corrimento de cor levemente esverdeada,
espumoso, com odor fétido quando em contato com meios alcalinos (sangue menstrual e
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esperma). Ocasionalmente prurido pode ser referido, bem como disúria. Quando ocorre
inflamação intensa, pode haver sinusiorragia e dispareunia. Ao exame clínico, o colo pode ter
intensa colpite (antigamente dito como “em frambroesa”, devido à acentuada distensão dos
capilares e micro-hemorragias, pelo processo inflamatório).
O método mais viável e utilizado para o diagnóstico é o exame do conteúdo vaginal a fresco
(direto) com solução salina, onde pode ser possível ver o movimento do protozoário, que é
flagelado. O pH vaginal está comumente elevado. A cultura tem uma sensibilidade de 75% -96% e
uma especificidade de até 100%, no entanto é extremamente trabalhosa e está em desuso.
Existem as técnicas de biologia molecular, com sensibilidade de 90% e especificidade de 99,8%.
Estas técnicas podem ser rápidas (Affirm VPIII) ou do tipo de amplificação de ácido nucleico
(NAAT). O custo ainda é um fator limitante e devem ser utilizadas em situações de difícil
diagnóstico.
Tratamento
Oral:
• Metronidazol: 2 g dose única;
• Tinidazol: 2 g dose única;
• Metronidazol: 500 mg, 2 vezes ao dia, por 7 dias.
Na gravidez:
• Metronidazol oral 2 g dose única.
Pacientes HIV positivo:
• Metronidazol 500 mg, 2 vezes ao dia, oral, por 7 dias.
Tricomoníase resistente ou recorrente:
• Tinidazol 500mg, 3 vezes ao dia por 7 dias.
O tratamento do parceiro é obrigatório.
6. CHLAMYDIA TRACHOMATIS
Como exames disponíveis para o diagnóstico temos a cultura, de baixo custo-benefício por ter
que trabalhar com células vivas; ensaios imunoenzimáticos; técnica direta de fluorescência para
anticorpos e, mais recentemente, captura de híbridos e testes de amplificação de ácido nucléico
(NAAT). A alternativa mais sensível são os testes NAAT, sendo o método diagnóstico recomendado
pelo CDC.
Tratamento
Regimes recomendados (CDC, 2015; Brasil, 2015):
• Azitromicina 1 g oral numa dose única;
• Doxiciclina 100 mg por via oral duas vezes por dia durante 7 dias.
Regimes alternativos (CDC, 2015):
• Eritromicina base 500 mg por via oral quatro vezes por dia durante 7 dias;
• Levofloxacina 500 mg por via oral uma vez por dia durante 7 dias;
• Ofloxacina 300 mg por via oral duas vezes por dia durante 7 dias.
Os parceiros sexuais devem ser encaminhados para avaliação e tratamento presuntivo se tiver
havido contato sexual durante os 60 dias que antecederam o início dos sintomas ou diagnóstico
de clamídia.
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7. NEISSERIA GONORRHOEAE
Das mulheres infectadas com Neisseria Gonorrhoeae, 85% são assintomáticas. Pacientes em
grupo de risco devem ser rastreadas periodicamente. Os fatores de risco são os seguintes:
mulheres sexualmente ativas com idade abaixo de 25 anos ou aquelas com novo parceiro sexual,
mais de um parceiro sexual, um parceiro sexual com parceiros concorrentes ou um parceiro sexual
que tenha uma IST, sexo sem uso de preservativo, histórico de infecções sexuais prévias ou
coexistentes, profissional do sexo.
Um número estimado de 15 a 20% das mulheres com doença do trato inferior, desenvolvem
doença do trato genital superior, com salpingite, abscesso tubo-ovariano e peritonite, gravidez
ectópica e infertilidade são consequências a longo prazo.
Diagnóstico microbiológico específico da infecção por N. gonorrhoeae deve ser realizada em
todas as pessoas em risco ou suspeitas de ter gonorreia. A cultura e os testes de NAAT estão
disponíveis para a detecção da infecção. NAAT permite uma variedade mais ampla de tipos de
espécimes de amostras, incluindo swabs endocervicais, swabs vaginais, swabs uretral (homens) e
urina (de homens e mulheres).
Devido à sua alta especificidade (> 99%), uma coloração de Gram de secreções uretrais que
demonstra leucócitos polimorfonucleares com diplococos Gram negativos intracelulares pode ser
considerada diagnóstico de infecção por N. gonorrheae em pacientes sintomáticos. No entanto,
devido a sensibilidade mais baixa, uma coloração negativa de Gram não pode excluir a infecção
em pacientes assintomáticos.
Tratamento
Infecções Gonocócicas Não Complicadas do Colo do útero, uretra e reto
Regime recomendado (CDC, 2015):
a) Ceftriaxona 500mg IM numa dose única + azitromicina 1g oralmente numa dose única;
b) Ciprofloxacino 500mg 1 comprimido via oral em dose única + Azitromicina 1g via oral em
dose única.
As quinolonas não são mais recomendadas devido a disseminação de gonococos resistentes a
esses fármacos.
Todas as pessoas que recebem um diagnóstico de gonorreia devem ser testadas para outras
IST’s, incluindo clamídia, sífilis e HIV.
8. VAGINOSE CITOLÍTICA
Trata-se de uma situação de desequilíbrio da microbiota vaginal, em que um super
desenvolvimento das bactérias aeróbias, mais especificamente, dos Lactobacillus residentes na
vagina leva a uma destruição de células escamosas ricas em glicogênio, com fenômenos irritativos,
associados a um mais baixo pH vaginal e ação de enzimas lisossomais liberadas pela destruição das
células epiteliais.
Esta alteração no microambiente pode levar a sintomas irritativos como prurido, sensação de
queimação e corrimento esbranquiçado abundante, semelhante ao quadro de vaginite por
Candida. No exame microscópico, observa-se grande quantidade de lactobacilos, , fragmentos de
citoplasma de células epiteliais devido a citólise e grande número de núcleos desnudos associada
a pobreza de leucócitos.
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Critérios de Cibley (1986) para o diagnóstico:
• Corrimento associado a prurido ou ardor;
• pH < 4,5;
• Superpopulação de bacilos;
• Intensa citólise;
• Ausência de Candida, Trichomonas, Gardnerella e Mobiluncus.
Tratamento:
Asseios com solução de bicarbonato de sódio (30 a 40 gramas em um litro de água) ou em
óvulos a 2 ou 3%, duas a três vezes por semana.
9. VAGINITE DESCAMATIVA
A vaginite inflamatória descamativa (VID) é uma forma incomum de vaginite crônica ainda não
adequadamente definida em sua etiopatogenia. Ocorre principalmente em caucasianas com um
pico na perimenopausa. Os sintomas e sinais são inespecíficos. VID é um diagnóstico de exclusão
e outras causas de vaginite purulenta devem ser excluídas. Os principais sintomas incluem
secreção purulenta e espessa, que recobre a vagina; irritação vestíbulo-vaginal; dispareunia e
disúria. A aderência de ambas as paredes vaginais com estenose gradual é uma complicação
comum.
Através da microscopia do conteúdo vaginal (direta ou corada), DIV é definida por um
aumento de células inflamatórias e células epiteliais parabasais (células escamosas imaturas). A
flora vaginal é anormal e o pH é acima de 4,5. Embora a etiologia e a patogênese permaneçam
desconhecidas, a resposta favorável aos agentes anti-inflamatórios sugere que a etiologia é imune
mediada.
Em relação ao tratamento, é sugerida a administração intravaginal de Clindamicina 2%, 5g/dia,
durante 7 dias, seguida de cremes contendo hidrocortisona. Recentemente também foi sugerido
a aplicação de creme de Tacrolimo, com boa resposta.
11. REFERÊNCIAS
1. CERIKCIOGLU AND BEKSAC, Cytolytic vaginosis: misdiagnosed as candidal vaginitis, Infect
Dis Obstet Gynecol 2004;12:13 – 16.
2. DECHERNEY, A.H.; A NATHAN, L.; LAUFER, N.; ROMAN, A.S. Current – Ginecologia e
Obstetrícia 11ed: Diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: McGraw Hill Brasil, 2016.
3. HOFFMAN, B. L.; SCHORGE, J. O.; SCHAFFER, J. I. Ginecologia de Williams. 2º ed., Porto
Alegre: AMGH, 2014.
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4. JACYNTHO C AND SAY J. Vaginitis: How difficult to manage. Clinical Obstet Gynecol. 2005.
48:4, 753-768.
5. RAHN et al., vaginal Estrogen for Genitourinary Syndrome of Menopause: A Systematic
Review, Obstet Gynecol. Author manuscript; available in PMC 2016 May 04.
6. REICHMAN et al., Addition of Boric Acid to Suppress Antimicrobial Therapy, Sexually
Transmitted Diseases, Volume 36, Number 11, November 2009.
7. REICHMAN E SOBEL. Desquamative inflammatory vaginitis. Best Pract Res Clin Obstet
Gynaecol. 2014 Oct;28(7).
8. Sexually Transmitted Diseases Treatment Guidelines, 2015, Centers for disease control
and prevention, MMWR / June 5, 2015 / Vol. 64 / No. 3.
9. SOBEL JD. Desquamative inflammatory vaginitis: a new subgroup of purulent vaginitis
responsive to topical 2% clindamycin therapy. Am J Obstet Gynecol. 1994
Nov;171(5):1215-20.
10. SOBEL JD. Prognosis and treatment of desquamative inflammatory vaginitis. Obstet
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