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Vaginose bacteriana
o Definição:
Desequilíbrio da flora vaginal, caracterizado pela substituição da flora
microbiana saudável (dominada por Lactobacillus) por microbiota
variável, composta por mistura de bactérias anaeróbias e facultativas.
As espécies microbianas mais frequentemente identificadas são
Gardnerella, Atopobium, Prevotella, Megasphaera, Leptotrichia, Sneatia,
Bifidobacterium, Dialister, Clostridium e Mycoplasmas
Referida como a mais frequente afecção do trato genital inferior feminino;
3X mais frequente em mulheres inférteis; associada a 2X o risco de aborto
após fertilização in vitro. Além disso, pode facilitar a
transmissão/aquisição de agentes de transmissão sexual.
o Epidemiologia:
Estimativas mundiais de prevalência variam de 10 a 30%.
Dependendo da população estudada, a afecção é responsável por até 40%
dos casos de queixas vaginais.
o Fatores de risco:
Raça negra;
Duchas vaginais;
Tabagismo;
Menstruação;
Estresse crônico;
Comportamentos sexuais.
o Fisiopatologia/Quadro clínico:
Caracteriza-se por corrimento de intensidade variável, acompanhado de
odor vaginal fétido (“odor de peixe” ou amoniacal).
Por vezes, apenas o odor está presente, sem o corrimento.
O odor piora com intercurso sexual desprotegido e durante a menstruação,
devido à volatilização de aminas aromáticas (putrescina, cadaverina,
dimetilamina) resultantes do metabolismo das bactérias anaeróbias pela
alcalinidade do sêmen ou do sangue menstrual.
O conteúdo vaginal apresenta-se homogêneo, em quantidade variável
(geralmente escassa, mas pode ser moderada ou abundante) e com
coloração geralmente esbranquiçada, branco-acinzentada ou
amarelada. A VB isolada não é causa de disúria ou dispareunia, pois não
é acompanhada de processo inflamatório.
o Diagnóstico:
Os critérios diagnósticos propostos por Amsel requerem três dos quatro
itens a seguir:
Corrimento vaginal branco-acinzentado homogêneo aderente às
paredes vaginais;
Medida do pH vaginal maior que 4,5;
Teste das aminas (whiff test) positivo, ou seja, desprendimento de
odor fétido após a adição de KOH 10% a uma gota de conteúdo
vaginal; - ao contato com meio alcalino, bactérias liberam aminas
Presença de “células-chave” (“clue cells”), que são células
epiteliais recobertas por cocobacilos Gram variáveis na
Clue cell - vaginose bacteriana bacterioscopia.
o Tratamento:
Metronidazol 500 mg VO 2 vezes ao dia durante 7 dias OU
Metronidazol gel 0,75% – 5g (um aplicador) intravaginal ao deitar
durante 5 dias OU
Clindamicina creme 2% – 5g (um aplicador) intravaginal ao deitar
durante 7 dias.
Esquema alternativo: Tinidazol 2g por VO 2 vezes ao dia durante 2 dias
OU Tinidazol 1g VO 1 vez ao dia durante 5 dias OU Clindamicina 300
mg por VO a cada 12 horas durante 7 dias
Efeitos colaterais: imidazólicos podem incluir náuseas, vômitos, cefaleia,
insônia, tontura, boca seca e gosto metálico. Recomenda-se abstinência de
álcool durante 24 horas após o tratamento com nitroimidazólicos (efeito
dissulfiram) e abstenção de atividade sexual ou o uso de preservativos
correta e consistentemente durante o tratamento. Lembrar que a
clindamicina tem base oleosa e pode enfraquecer preservativos e
diafragmas até cinco dias após o uso.
Candidíase vulvovaginal
o Epidemiologia:
No trato genital feminino, a Candida sp. pode ser encontrada em
aproximadamente 20% das mulheres saudáveis assintomáticas.
Estima-se que 75% das mulheres em idade reprodutiva apresentarão
pelo menos um episódio de vulvovaginite por Candida sp. durante suas
vidas
50% apresentarão 2 ou mais episódios e 5% terão episódios recorrentes,
ou seja, 4 ou mais episódios por ano, confirmados clínica e
laboratorialmente.
A candidíase vulvovaginal é extremamente importante pelos sintomas,
que podem ser muito desagradáveis e por facilitar a aquisição/transmissão
de ISTs, inclusive o HIV.
o Etiologia:
Candida albicans é a espécie mais prevalente,
responsável por 85% a 95% dos casos; Candida glabrata
e Candida tropicalis estão associadas a 5% a 10% dos
casos; outras espécies como Candida krusei, Candida
parapsilosis e Candida guilliermondii são raramente
identificadas.
Os mecanismos que impedem ou que favorecem a
passagem da Candida albicans do estado de comensal
para o estado patogênico ainda não são totalmente Hifas e esporos de Candida albicans
conhecidos, mas estão particularmente relacionados à atuação do sistema
imune do hospedeiro, e a colonização parece ser hormônio-dependente.
o Quadro clínico:
Caracteriza-se por prurido, de intensidade variável,
acompanhado por corrimento geralmente
esbranquiçado (aspecto de “leite talhado”).
Dependendo da intensidade do processo inflamatório,
pode haver queixa de desconforto, dor, disúria
(identificar causa, pois uso de antibiótico em caso de
candidíase, ao diminuir os lactobacillus, aumenta a
proliferação da Candida) e dispareunia.
Ao exame ginecológico, é frequente observar
hiperemia vulvar, edema e fissuras. O exame especular
mostra hiperemia da mucosa vaginal e conteúdo
vaginal esbranquiçado, em quantidade escassa,
moderada ou abundante, de aspecto espesso ou
flocular, aderido ou não às paredes vaginais. O pH
vaginal encontra-se geralmente abaixo de 4,5. O teste das aminas (whiff
test) é negativo na candidíase.
o Classificação:
“Não complicada” é a candidíase que se apresenta em episódios
esporádicos ou infrequentes, de intensidade leve ou moderada, cujo
agente etiológico provavelmente é a Candida albicans e ocorre em
mulheres não imunocomprometidas;
A “candidíase complicada” refere-se à candidíase recorrente ou severa ou
por espécies não albicans ou em mulheres com diabetes, condições que
comprometam o sistema imune (por exemplo, infecção por HIV),
debilitadas ou recebendo imunossupressores 10 a 20% das mulheres
o Diagnóstico:
O diagnóstico clínico deve sempre ser confirmado pela presença de
fungos, podendo ser realizado por meio de: exame a fresco, colocando-se
em lâmina de vidro uma gota de conteúdo vaginal e uma gota de soro
fisiológico ou KOH a 10% e observando ao microscópio a presença de
hifas e/ou esporos; bacterioscopia com coloração pelo método de Gram e
cultura em meios específicos.
O exame a fresco possui sensibilidade em torno de 50% a 60%,
dependendo da experiência do profissional. Assim, o bom senso e a
necessidade clínica orientarão o progresso na solicitação de exames. Nos
casos esporádicos, a positividade do exame a fresco dispensa a
continuidade na investigação. Entretanto, se tal exame for negativo e
houver sintomas, está indicada a continuação do processo diagnóstico,
com a bacterioscopia pelo Gram e cultura, particularmente nos casos
recorrentes. Testes com PCR têm sido utilizados apenas para pesquisas.
o Tratamento:
É importante a eliminação ou, pelo menos, o controle de fatores
predisponentes como diabetes melitus descompensada, estados de
imunossupressão, tabagismo, distúrbios alimentares, hábitos de higiene ou
vestuário inadequados e estresse excessivo A terapêutica deve ser
individualizada, optando-se por via local ou sistêmica, dependendo da
preferência da paciente e da experiência do profissional
NÃO COMPLICADA –
Antifúngicos por via vaginal, sob a forma de cremes, óvulos ou
comprimidos:
o Fenticonazol (creme na concentração de 0,02 mg/g, um
aplicador vaginal ao deitar durante 7 dias ou óvulo com 600
mg dose única);
o Clotrimazol (creme 10 mg/g por 7 dias ou comprimido
vaginal de 500 mg em dose única);
o Miconazol (creme 20 mg/g por 14 dias);
o Econazol (creme 10 mg/g por 14 dias);
o Butaconazol (20 mg/g em dose única);
o Terconazol (8 mg/g por cinco dias);
o Tioconazol (20 mg/g por sete dias, óvulo 300 mg em dose
única).
o Poliênicos Nistatina (creme 25.000 UI/g por 14 dias).
Uso sistêmico:
o Fluconazol (comprimido de 150 mg em dose única);
o Cetoconazol (comprimidos de 200 mg, na posologia de 2
comprimidos por dia durante 5 dias consecutivos);
o Itraconazol (cápsulas de 100 mg, usar 2 pela manhã e 2 à
noite, por 1 dia).
o Efeitos colaterais: náusea, dor abdominal e cefaleia;
Raramente ocorre elevação das enzimas hepáticas.
o Em caso de balanite (inflamação da glande peniana, com
prurido ou irritação) pode haver benefício no uso de
antifúngicos tópicos
COMPLICADA
Requer confirmação diagnóstica para de eventuais cepas não
albicans
Se recorrente - maioria das mulheres não apresenta os clássicos
fatores predisponentes, mas sim alterações específicas na
imunidade local.
Podem ser utilizados agentes tópicos por período de 7 a 14 dias ou
antifúngico VO (fluconazol 150 mg) em um total de 3 doses, com
intervalos de 3 dias. Após a remissão dos episódios agudos,
recomendam-se esquemas de supressão utilizando um comprimido
de fluconazol (150 mg) uma vez por semana, durante 6 meses.
Outra alternativa são os tratamentos por via local, de maneira
intermitente. Após o término do tratamento supressivo,
aproximadamente 50% das mulheres permanecem livres dos
episódios recorrentes.
Para os casos em que a vulvovaginite por fungos se manifesta por
sintomas severos como eritema extenso, edema, escoriações e
fissuras, recomendam-se cursos prolongados de terapia,
podendo ser utilizados medicamentos por via local no período de 7
a 14 dias ou fluconazol (150 mg) em 2 doses com intervalo de
72 horas
Alternativa – ácido Bórico – casos de tratamento prolongado
Vaginite por Trichomonas vaginalis
o Definição: Tricomoníase é a IST não viral mais comum no mundo. De acordo
com a OMS, existem aproximadamente 170 milhões de casos reportados
anualmente em pessoas entre 15 e 49 anos, a maioria (92%) em mulheres de
países em desenvolvimento.
o Fisiopatologia:
A resposta imune celular à Trichomonas vaginalis pode ser agressiva,
com inflamação da mucosa da vagina e exocérvice em mulheres e da
uretra em homens. Ocorre intensa infiltração de leucócitos, incluindo os
da linhagem TCD4, que são alvo do HIV. Ao penetrar na vagina, o
parasita cobre-se com as proteínas do hospedeiro, o que permite a evasão
dos mecanismos de defesa locais. Além disso, possui a capacidade de
sobreviver no meio vaginal ácido, hostil, durante longos períodos de
tempo, permanecendo firmemente ligado às células da mucosa vaginal.
O parasita possui quatro flagelos e uma membrana ondulante. A
transmissão é predominantemente sexual, embora raramente possam
ocorrer outras formas. Ele deve adquirir nutrientes do meio externo para
sua sobrevivência e consegue isso fagocitando fungos, vírus e bactérias
como Micoplasmas, Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae,
transportando-os ao trato genital superior e facilitando, assim, o
aparecimento de doença inflamatória pélvica. É importante um cofator
na transmissão e aquisição do HIV.
o Quadro clínico:
Corrimento profuso, amarelado ou amarelo-esverdeado, acompanhado de
ardor genital, sensação de queimação, disúria e dispareunia sintomas
acentuam-se no período pós-menstrual devido à elevação do pH vaginal e
à aquisição de ferro da hemoglobina pelo parasita, o que aumenta sua
virulência.
Exame ginecológico hiperemia dos genitais
externos e presença de corrimento espesso, de aspecto
purulento, exteriorizando-se pela fenda vulvar
Exame especular: verifica-se aumento do
conteúdo vaginal, de coloração amarelada ou
amarelo-esverdeada, por vezes
acompanhado de pequenas bolhas
As paredes vaginais e a ectocérvice
apresentam-se hiperemiadas,
observando-se ocasionalmente o “colo
uterino com aspecto de morango”
(colpitis maculareis), devido às
pequenas sufusões hemorrágicas
A medida do pH vaginal revela
valores acima de 4,5 e o teste das
aminas (whiff test) pode ser positivo
devido à presença de germes anaeróbios associados à VB
o Diagnóstico:
Bacterioscopia a fresco (+ utilizado) coloca-se na lâmina de vidro uma
gota de conteúdo vaginal e uma gota de solução salina – vê-se no
microscópico o parasita em movimenti
Com coloração do Gram sem movimentação do parasita
Cultura no meio Diamond – mais sensível e especifico – na prática não
se faz, só em quesito de pesquisa – recomendado em casos com sintoma,
mas com exame a fresco negativo
o Tratamento:
Metronidazol – 2g VO em dose única OU
Tinidazol – 2g VO em dose única.
Alternativo:
Metronidazol – 500 mg VO a cada 12 horas durante 7 dias.
Tratar o parceiro.
Reavaliação após 3 meses, devido à elevada taxa de reinfecção.
Vaginose citolítica:
o A proliferação excessiva de Lactobacillus danifica o epitélio
vaginal, diminui o pH, levando ao aparecimento de sintomas
clínicos como corrimento geralmente abundante, prurido,
sensação de queimação, desconforto e, eventualmente,
dispareunia.
o É causa de vulvovaginite cíclica em mulheres na idade
reprodutiva, frequentemente confundida com candidíase
vulvovaginal.
o O diagnóstico baseia-se nos sintomas clínicos e no exame físico.
o Não existe tratamento específico, já que a etiopatogenia não é
conhecida.
Vaginite inflamatória descamativa
o Forma pouco frequente, mas severa, de vaginite purulenta crônica, que ocorre
particularmente em mulheres na perimenopausa e pós-menopausa, embora
possa apresentar-se em qualquer idade e no puerpério.
o Caracteriza-se por intensa inflamação vaginal com eritema e corrimento
vaginal purulento, causando importante desconforto e dispareunia.
o A etiologia é desconhecida; em alguns casos têm sido identificados
Streptococcus do grupo B e Escherichia coli. Existe a hipótese de que um fator
genético permita que o sistema imune reaja a componentes da mucosa vaginal,
desencadeando, assim, o processo inflamatório.
Vaginite aeróbia
o Estado de alteração do meio vaginal caracterizado por microflora contendo
bactérias aeróbias entéricas, níveis variáveis de inflamação e maturação
epitelial deficiente.
o As pacientes queixam-se de corrimento vaginal por vezes de aspecto purulento
com odor desagradável; entretanto, a utilização de KOH em contato com a
secreção é negativo.
o Ao exame ginecológico, visualiza-se inflamação do vestíbulo e da mucosa
vaginal, em graus variados de intensidade.
o O quadro clínico severo de vaginite aeróbia assemelha-se ao da vaginite
inflamatória descamativa.
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