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Isabela Pereira

Medicina FMP – Turma 54

Corrimento Vaginal
Corrimento vaginal pode ser tanto um processo
inflamatório quanto um processo infeccioso que
acomete o trato genital inferior (vulvas e parede
MECANISMOS DE DEFESA VAGINAL
vaginal). As patologias mais comuns que levam ao ● imunidade natural pela integridade da pele e da
corrimento vaginal são: candidíase, vaginose mucosa, pelo muco cervical e pela acidez do pH
bacteriana (infecção polimicrobiana) e tricomoníase. vaginal
Ainda podem ser causados por processos alérgicos ● imunidade celular mediada por linfócitos B e T
(exemplo: absorventes e calcinha), corpo estranho ● imunidade humoral feita por imunoglobulinas como
(exemplo: absorvente interno) ou irritação por químicos IgA, IgM e IgG secretadas pelo muco e pela parede
(exemplo: óleos -brinquedos sexuais). vaginal
OBS: nem sempre o corrimento vaginal vai estar
relacionado com um microrganismo FATORES FAVORECEDORES DE
CONTEÚDO VAGINAL FISIOLÓGICO VULVOVAGINITES COM CORRIMENTO
Toda mulher tem um corrimento vaginal fisiológico por Qualquer alteração da flora vaginal ou de qualquer um
ser uma área de mucosa. Sendo assim, temo o muco dos mecanismos de defesa pode ser responsável por
cervical, que é o muco do colo uterino, importante corrimentos.
principalmente em período peri e ovulatório, nos quais
temos um aumento da secreção vaginal e cervical. Os principais fatores favorecedores são:
→ Período pré-ovulatório: muco mais filante ● quebra na interação dos componentes da flora: uso
(devido ao aumento do estrogênio) de ATB sistêmico ou local, distúrbios químicos (duchas
→ Período pós-ovulatório: muco mais espesso vaginais, sabonetes íntimos, espermicidas, contato com
(devido ao aumento da progesterona) água clorada) e elevação do pH (sangue menstrual e
sêmen)
Além do muco cervical, temos também: ● alteração da flora nativa por contato com superfície
● descamação do epitélio vaginal, que também é diferente do habitual: pós-cirurgia como episiorrafia ou
mediado por estrogênio e progesterona histerectomia; microfissuras por absorvente interno ou
● transudação da mucosa vaginal relações sexuais; cervicites; maceração da pele por uso
● secreção das glândulas vestibulares (de Bartholin e de de roupas justas ou sintéticas
Skene), sebáceas e sudoríparas ● alteração da imunidade do hospedeiro: reações
● glicoproteínas, leucócitos e microrganismos da flora alérgicas; uso de drogas imunossupressoras; doenças;
vaginal supressão temporária das células T (como ocorre na
gravidez)
Assim, o conteúdo vaginal fisiológico tem as seguintes
características:
● coloração clara (branco ou transparente)
CORRIMENTOS VAGINAIS
● ausência de dor Os corrimentos vaginais são a causa mais comum de
● pH ácido (4,0 a 4,5) - devido à produção de ácido consultas na ginecologia, sendo causa grande de
lático insatisfação da paciente e com grande impacto social
● mais abundante no período peri-ovulatório, gestação para ela. Também é frequentemente negligenciado na
ou quando há excitação sexual consulta, sendo classificadas como banais e resolvidas
● presente no fórnice vaginal de forma rotineira (sem exame etiológico/especular).
● pode ocorrer nas RN pela ação placentária Até 50% das pacientes se automedicam e não
procuram orientação médica, tendo chance de piorar
e perpetuar o quadro clínico.
MICRORGANISMOS DA FLORA VAGINAL
A flora vaginal é composta por uma variedade de 95% DAS CAUSAS DE CORRIMENTO:
microrganismos, sendo a maioria aeróbios.
● aeróbios: 90% dos microrganismos aeróbios são os
lactobacilus. Eles fazem a manutenção do pH ácido da
vagina, pela produção de ácido lático a partir da
degradação de glicogênio. Além disso, tem também
Staphylococcus epidermitis, Escherichia coli
● anaeróbios facultativos: gardnerella vaginalis
● anaeróbios obrigatórios: bacteróides,
peptostreptococcus, ureaplasma urealyticum,
mycoplasma hominis
● fungos: candida (G+, TGI e reprodutor feminino, torna-
se patogênico em condições específicas)
Isabela Pereira
Medicina FMP – Turma 54

VAGINOSE BACTERIANA
A vaginose bacteriana é uma infecção polimicrobiana CANDIDÍASE VULVOVAGINAL
(vários microrganismos), mas é causada principalmente A candidíase é causada principalmente pela Candida
pela bactéria gardnerella vaginalis. Ocorre por um albicans, que faz parte da flora vaginal. O principal
desequilíbrio da flora vaginal, fazendo com que haja um sintoma é o prurido vulvovaginal. Também pode ocorrer
aumento de microrganismos anaeróbios na ausência hiperemia, edema, fissuras vulvares e maceração da
de lactobacilos: pele (esses dois últimos podem ocorrer devido à
→ Ocorre redução dos lactobacilos e aumento de coçadura, gerando ardência). O corrimento é branco
anaeróbios, o que gera alcalinização da tipo nata de leite ("leite coalhado"), aderente na vagina
vagina (aumento do pH: pH > 4,5) e no colo (patognomônico). Pode ser que ocorra disúria
e dispareunia, que são consequências das lesões na
Ela está associada à duchas vaginais e a multiplicidade vulva.
de parceiros sexuais (pois o sêmen alcaliniza o meio),
pois essas condições predispõem o desequilíbrio da Quando a paciente apresenta 4 ou mais episódios no
flora vaginal. Porém, não é considerada uma IST porque ano, consideramos uma candidíase vulvovaginal
é um desequilíbrio da própria flora da paciente. recorrente. Sendo assim, pode ser feito uma medida
profilática por um tempo, geralmente 6 meses, com
50-70% são assintomáticas, mas nos casos sintomáticos fluconazol
ocorre um corrimento com as seguintes características:
● acinzentado Importante ressaltar que nem toda queixa de prurido
● homogêneo vulvar significa candidíase. É preciso examinar a
● odor fétido ("peixe podre") paciente, porque pode ser por vesículas por herpes,
● mais acentuado após a relação sexual e o período líquen, condiloma e eczema.
menstrual (devido ao pH se tornar mais alcalino com a
volatização de aminas)
● não há sinais inflamatórios
DIAGNÓSTICO
A confirmação diagnóstica pode ser feito através do
exame especular, quando visualizamos o corrimento
DIAGNÓSTICO clássico da candidíase vulvovaginal
Para o diagnóstico são necessários 3 dos 4 critérios
abaixo (critérios diagnósticos de Amsel) ● pH vaginal normal (3,4 a 4,5)
● corrimento cremoso, cinzento, homogêneo, aderente, ● exame a fresco com soro fisiológico (permite ver
sem sinais inflamatórios pseudohifas em 40% dos casos) ou com KOH 10% para
● pH vaginal aumentado: fita de pH no exame aumentar a visualização do fungo
especular perto do colo uterino, onde tem a secreção ● pode ser feito cultura (Ágar-Sabouraud), mas é
● teste de aminas (Wiff Test): recolhe a secreção, coloca raramente necessário
em uma lâmina, adiciona KOH 10%. Isso faz com que as → Geralmente é feito para ver candidíase
aminas volatizem, gerando o odor de peixe recorrente, resistente à tratamento, sendo
característico importante para identificar espécies de
● exame a fresco (microscopia): presença de clue cells candida não albicans
(célula indicadora de infecção)
TRATAMENTO
● antifúngico sistêmico por via oral, como fluconazol
150mg dose única (principal tratamento)
● cremes vaginais com derivados azólicos, como
miconazol e itaconazol de 5 a 7 dias
● gestante: podem ser feitos os 2 tipos de tratamento

Também pode ser feito exame laboratorial, realizando TRICOMONÍASE


bacterioscopia por Gram, que também indica a A tricomoníase é causada pelo protozoário flagelado
presença de clue cells Trichomonas vaginalis e é considerada uma IST e,
geralmente, o parceiro é assintomático (mas se
diagnosticar a mulher, deve-se tratar o parceiro
TRATAMENTO também).
É feito em 5-7 dias
● metronidazol: pode ser usado por VO de 500mg de É marcado por um corrimento vaginal amarelo-
12/12h por 7 dias ou em gel 0,75% por 5 noites. esverdeado, abundante e bolhoso, além de prurido
→ Creme vaginal: deve-se aplica-lo e ir deitar; vulvar intenso, hiperemia e edema de vulva e vagina,
durante o seu uso é recomendado não ter sintomas urinários (disúria, polaciúria, dor suprapúbica).
relações sexuais e o uso de absorvente diário Pode ocorrer também colpite difusa (colo com aspecto
de framboesa). Os sintomas são mais intensos após a
● clindamicina: tratamento alternativo em creme 2% 1 menstruação e na gestação.
aplicação por 5 noites

OBS: gestantes com queixa de corrimento vaginal deve-


se diagnosticar e tratar pelo risco de complicações na
gestação, como parto prematuro
Isabela Pereira
Medicina FMP – Turma 54

DIAGNÓSTICO
● alcalinização do pH vaginal >4,5
● exame a fresco (sensibilidade de 50-70%): visualizamos
parasitas flagelados, ovóides e móveis, junto com
células inflamatórias e vaginais
● bacterioscopia e citologia menos sensíveis
● cultura: sensibilidade de 75-95%, mas nem sempre é
feito

Mediante ao diagnóstico positivo, outras ISTs devem ser


rastreadas.

TRATAMENTO
● dose única de metronidazol ou tinidazol VO
● tratamento via vaginal não é recomendado, porque
o tratamento VO é mais eficaz
● fazer tratamento empírico do parceiro por aumentar
as taxas de cura

ABORDAGEM SINDRÔMICA

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