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TECIDO E SECREÇÃO VAGINAIS FISIOLÓGICOS

CORRIMENTO VAGINAL FISIOLÓGICO • Também podem existir outras bactérias Gram


positivas (Staphylococcus epidermidis e
• No fundo do saco posterior da Streptococcus agalactiae), Gram-negativas
vagina, há pequena quantidade de (Escherichia coli), anaeróbios (Gardnerella
líquido transparente ou branco, vaginalis) e fungos.
originado das glândulas de Bartholin, • Importante salientar que: (1) em RNs, como
sebáceas e sudoríparas do vestíbulo adquiriam estrogênio placentário, a colonização
vulvar, células vaginais descamadas e vaginal por lactobacilos é abundante por tempo
do muco cervical. limitado; (2) em crianças, devido ao
• Fisiologicamente, ele se encontra em pequena hipoestrogenismo, tem-se ↑ vulvovaginites,
quantidade, homogêneo, fluido, esbranquiçado ou geralmente inespecíficas e não infecciosas, com
levemente amarelado, pH 4-4,5, sem odor, sem etiologia relacionada a higiene,
prurido e sem sinais inflamatórios. hipodesenvolvimento vulvar, oclusão da vulva ou
➔ O pH é nessa faixa devido ao glicogênio vaginas pelas fraldas ou corpos estranhos; (3) em
depositado (por estímulo de estrogênio) no grávidas, ↑ lactobacilos; e (4) no climatério, ↓
epitélio escamoso estratificado não- glicogênio, ↓ lactobacilos e ↑ Escherichia coli.
queratinizado da vagina, que é substrato para os
lactobacilos, formando ácido lático. Essa acidez Tipos de Flora
ajuda a manter a flora normal e inibe patógenos. 1. Tipo 1: Normais, com células epiteliais, predomínio
➔ As células descamadas podem ser superficiais de lactobacilos (80-95%) e polimorfonucleares raros
(mais comum na menacme, devido estimulação ou ausentes, além de pH ácido.
estrogênica), intermediárias (predominam na 2. Tipo 2: Células epiteliais, raros polimorfonucleares e
fase lútea, por estimulação progestogênica) e flora bacteriana formada por 50% de lactobacilos e
parabasais (predominam na ausência de ambos 50% de outras bactérias. Pode representar início de
os hormônios, como em mulheres na menopausa desvio de flora ou recuperação frente disbiose.
sem terapia hormonal). 3. Tipo 3: Células epiteliais, raros polimorfonucleares,
• Deve-se salientar que o tipo e quantidade de células, ausência de lactobacilos e 100% de outras bactérias.
muco e secreções depende de processos bioquímicos É uma vagina patológica, que ocorre na tricomoníase
influenciados por níveis hormonais. Por isso, a e na vaginose bacteriana.
secreção pode aumentar no meio do ciclo menstrual
devido ao aumento do muco. RESPOSTA IMUNE

ECOSSISTEMA E MECANISMO DE DEFESA • O exame microscópico das secreções evidencia


MICROBIOMA VAGINAL muitas células epiteliais superficiais, poucos
leucócitos (<1/célula epitelial) e pequeno número ou
• É constituída por diferentes lactobacilos (L. ausência de clue cells (células superficias aderidas a
acidophilus ou bacilos de Doderlein), bactérias bactérias).
aeróbias Gram-positivas.

INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (ISTs)


FISIOPATOLOGIA
VULVOVAGINITES (não necessariamente IST)
VAGINOSE BACTERIANA (VB) • Os mecanismos para VB não são totalmente
entendidos, mas sabe-se que há redução de
• VB é a principal causa (40-50%) de corrimento lactobacilos produtos de ácido lático e peróxido de
vaginal de origem infecciosa. É a principal causa hidrogênio. Isso aumenta o pH e a concentração de
infecciosa na menacme, mas pode ocorrer em anaeróbios, como: Gardnerella vaginalis,
qualquer fase da vida. Peptostreptococcus, Bacteroides sp., Mobiluncus sp.,
➔ É comum em mulheres lésbicas (30%). Fusobacterium, Atopobium vaginae e Mycoplasma
• É uma síndrome polimicrobiana caracterizada pelo hominis.
desbalanço da flora vaginal, com ↑ anaeróbios • A proliferação de anaeróbios é acompanhada por
(especialmente Gardnerella vaginalis e alguns produção de enzimas proteolíticas que liberam
Mobiluncus e Bacteroides), e ↓ lactobacilos. Descreve aminas, as quais aumentam transudação de fluidos
a presença de leucorreia sem sinais clínicos de vaginais e esfoliação de células
inflamação e nem leucócitos no esfregaço. epiteliais, o que causa
• Os fatores de risco são atividade sexual (mesmo que corrimento característico.
não seja considerada IST), ISTs, raça negra, ➔ As células epiteliais
tabagismo, uso de duchas vaginais e obesidade. patológicas que descamam
são chamadas de clue cells,
vistas no microscópio corado por Gram com CANDIDÍASE
pouco contorno, rosadas e rodeadas por
anaeróbios. • É a segunda causa mais comum de vulvovaginites,
sendo caracterizada por um processo descamativo e
QUADRO CLÍNICO transudativo, que acomete o epitélio vulvovaginal
mediante espécies de Candida sp., resultando em
• 50-75% dos casos são assintomáticos, mas, quando sintomas de vaginite, prurido e eritema.
há sintomas, tem corrimento vaginal branco ou • Por conta dessa vulnerabilidade, os fatores de risco
branco-acinzentado, homogêneo, com odor são: gravidez, imunossupressão, diabetes, uso de
desagradável (odor de peixe podre), que piora após antibióticos, estresse, contraceptivos orais, hábitos
coito e no período menstrual (devido ao pH alcalino de higiene inadequados, DIU e diafragma.
do sangue e do sêmen, que provocam volatização das
aminas aromáticas). FISIOPATOLOGIA
DIAGNÓSTICO
• O fungo Candida sp. Se reproduz por brotamento e,
de forma isolada, vive como comensal. Entretanto,
ele tem habilidade de tirar proveito de alterações do
meio vaginal para agredir a mucosa e gerar doença.
• Provavelmente, acessam a vagina por migração
advinda do reto. Menos comumente, a fonte é sexual
ou recidiva de reservatório vaginal.
• A doença progride com crescimento do organismo e
aderência às células epiteliais superficiais da parede
vaginal. A espécie albicans se aderem melhor que as
não albicans.

• O critério diagnóstico de Amsel exige pelo menos 3 QUADRO CLÍNICO


dos 4 fatores. No critério de Nudget, considerado
padrão-ouro, considera-se 0-3 normal, 4-6 • Caracteriza-se por prurido
necessidade de repetição, e 7-10 VB. variável, corrimento vaginal
➔ Entretanto, o método 2 exige mais tempo e esbranquiçado com aspecto de
recurso, e, por isso, não tem muita prática clínica. leite coalhado ou queijo, sem
odor associado. Caso haja muita
TRATAMENTO inflamação, pode haver
dispareunia, queimação e
• O tratamento não é indicado para mulheres disúria.
assintomáticas, pois os antibióticos podem alterar ➔ Os sintomas pioram na semana que antecede a
flora e causar infecção sintomática por levedura. menstruação.
• O tratamento é direcionado a mulheres sintomáticas, • No exame ginecológico, pode-se observar hiperemia
assintomáticas grávidas (principalmente as com vulvar, edema e fissuras.
histórico de parto pré-termo) e assintomáticas que
realizarão procedimentos (DIU, cirurgias DIAGNÓSTICO
ginecológicas e exames invasivos no trato genital).
• O tratamento pode ser realizado por via oral ou • Além do corrimento vaginal e seu ciclo, pode-se pedir
vaginal sem grandes alterações na taxa de cura, mas pH (<4,5), teste de amina (negativo), microscopia
a medicação oral é mais utilizada, apesar de ter mais (leveduras, hifas e pseudo-hifas) e cultura (casos de
efeitos adversos sistêmicos, como dor de cabeça, suspeita não diagnosticada nos exames anteriores ou
náusea, dor abdominal e diarreia associada ao em mulheres com sintomas persistentes e
Clostridum difficile. recorrentes).
TRATAMENTO

Observações
• O tratamento de parceiros sexuais não está
recomendado.
• Puérperas tem o mesmo tratamento que gestantes.
• O tratamento deve ser mantido durante
menstruação, e o coito deve ser interrompido.
• A primeira tabela é para casos não complicados e a aumento de polimorfonucleares, nenhum outro teste
segunda para casos complicados. precisa ser realizado. Tem 30% de falso negativo.
• Parceiros não precisam ser tratados, mas homens • O padrão ouro é o PCR (reação em cadeia da
com balanite podem usar antifúngico tópico. polimerase), com sensibilidade e especificidade
acima de 95%.
TRICOMONÍASE • Outros exames podem ser utilizados: (1) pH > 4,5; (2)
testes de aminas; (3) Papanicolau, mas tem baixa
• IST de etiologia não viral mais comum do mundo, sensibilidade e não é considerado diagnóstico; (4)
causada por protozoário flagelado anaeróbico coloração de Gram, mas o protozoário é muito móvel
Trichomonas vaginalis. e isso dificulta o exame; e (5) cultura, mas tem
• A faixa etária mais acometida é dos 20-40 anos, resultado demorado.
principalmente mulheres (20x mais). Os homens
eliminam microrganismo rapidamente e são TRATAMENTO
assintomáticos, com ocasional uretrite em 1/3 dos
casos. Na mulher, o protozoário tem predileção por • O tratamento deve ser sempre por via oral, pois vias
epitélio vaginal, mas pode afetar colo, útero, tópicas não atingem níveis terapêuticos na uretra e
glândulas de Bartholin e Skene, bexiga e uretra. glândulas de Bartholin, que são reservatórios
endógenos do protozoário.
FISIOPATOLOGIA

• Não é bem compreendido, mas acredita-se que a


produção de enzimas proteolíticas que facilitam
aderência ao epitélio vaginal seja a chave.
• A resposta imune é intensa, com alta infiltração de
leucócitos T CD4 e infecção por fagocitose. Observações
• Pode causar DIP, infertilidade, maior risco para HIV,
ruptura prematura de membranas placentárias, • Gestantes e lactantes devem ser tratadas com mesmo
transmissão vertical para bebê (causando febre, esquema.
problemas respiratórios, ITU, corrimento nasal e • Parcerias sexuais, mesmo que assintomáticas, devem
vaginal, em meninas), e, em homens, prostatite, ser tratadas também.
balanopostite, epididimite, infertilidade e câncer de • Deve-se evitar, após até 24h do metronidazol,
próstata, mas é bem incomum sintomas em homens. ingestão de álcool, pelo efeito antabuse. Além disso,
deve-se suspender coito durante tratamento.
QUADRO CLÍNICO

• 50-85% das mulheres são assintomáticas, e, quando CERVICITES


sintomáticas, tem corrimento amarelo-esverdeado, GERAL
fluido, abundante, bolhoso, podendo ter odor
desagradável (por coinfecção com VB, pois • O colo do útero é
tricomonas fagocitam lactobacilos, alcalinizando o constituído de epitélio
meio vaginal e aumentando anaeróbios). escamoso na área
• Devido à intensa inflamação, ocorre ardor, prurido, ectocervical e colunar na
dispareunia e disúria. Isso aumenta na menstruação. área endocervical. O
• Ao exame físico, podem ser observados eritema e epitélio mais interno é
edema de vulva, com ou sem escoriações. mais frágil ao meio
• Ao exame especular, são visíveis hemorragias vaginal, e pode ser afetado principalmente em fases
pontuais no colo uterino e na vagina em 2% dos casos reprodutivas, devido à ectopia (exposição desse
(colo em framboesa/em morango), que, após solução epitélio pelo crescimento uterino), ficando exposto a
de lugol, traduz-se como Schiller malhado ou colo microrganismos infecciosos. Com isso, o epitélio
trigoide. colunar afetado sofre metaplasia escamosa, na qual
tem-se transformação em epitélio escamoso.
• A cervicite ou endocervicite é a inflamação desse
tecido, mas, em casos mais raros, o ectocérvice
também pode ser afetado, sobretudo nas infecções
por herpes e tricomonas.
• Cervicites podem ser divididas em gonocócica
(causada pela N. Gonorrhoeae) e não gonocócica.
Esta contém causas não infecciosas, como irritação
por condom, diafragmas ou espermicidas.
QUADRO CLÍNICO
DIAGNÓSTICO
Sinais e Sintomas
• 70% dos casos são assintomáticos, e, por isso, têm
• A microscopia é o primeiro passo após avaliação do
predisposição a complicações, como Doença
corrimento. Caso seja positivo para as tricomonas e
Inflamatória Pélvica, dores pélvicas, infertilidade e DIAGNÓSTICO
gestação ectópica.
• Os 30% sintomáticos cursam principalmente com • O diagnóstico clínico só é possível nos casos
secreção vaginal mucopurulenta e sangramento pós- sintomáticos, que são a minoria. Ainda assim, a
relação sexual ou entre menstruações. confirmação do agente etiológico só é feita por
• Algumas pacientes também têm disúria, dispareunia propedêutica complementar, e, devido ao seu alto
e irritação vulvovaginal. custo, costuma-se utilizar abordagem sindrômica e
busca ativa de parceiros que devem ser avaliados e
Exame Físico tratados.
• Ao exame físico, pode ser • Segundo Ministério da Saúde em 2020, o diagnóstico
visualizado edema de colo com laboratorial de cervicite por clamídia e gonococo
exacerbação da ectopia e descarga pode ser feito pela detecção do material genético dos
mucopurulenta. agentes infecciosos por biologia molecular.

ETIOLOGIA TRATAMENTO
CLAMÍDIA

• Chlamydia trachomatis é uma bactéria Gram-


negativa e intracelular obrigatória responsável pela
maior parte das cervicites, sendo considerada a IST
bacteriana mais comum.
• 70% dos casos são assintomáticos, mas, quando há
manifestação, os sintomas são: edema de colo,
hiperemia, mucorreia, acentuação de ectopia, dor à
mobilização do colo e sangramento pós-coito ou
intermenstrual.
➔ Na cervicite por clamídia, não é comum haver
secreção purulenta saindo pelo colo.
GONOCOCO

• Infecção por Neisseria gonorrhoeae - uma bactéria LESÕES ULCERADAS


diplococo Gram-negativa, não flagelada, intracelular GERAL
e anaeróbia facultativa - tem ↓ prevalência.
• Devido à alta resposta inflamatória a essa bactéria, • Úlceras genitais são lesões em que há perda do tecido
essa cervicite costuma ter quadro mais sintomático e epitelial, com envolvimento da epiderme com ou sem
exuberante que as demais: secreção purulenta ou a derme, localizadas na vulva e/ou vagina e/ou colo
mucopurulenta endocervical, sangramento uterino.
endocervical e edema cervical. Também pode-se ter • Elas podem ser a primeira manifestação de muitas
outras manifestações, como bartolinite. doenças, decorrendo da necrose dos tecidos
• A importância do diagnóstico é devido às lesionados frente aos processos inflamatórios e
complicações, tais como infertilidade, DIP, trabalho isquêmicos focais intensos.
de parto prematuro, oftalmia neonatal e artrite • Elas estão intimamente relacionadas a taxas maiores
gonocócica. de transmissão e aquisição de outras ISTs, em
especial o vírus da imunodeficiência humana (HIV).
OUTROS AGENTES ETIOLÓGICOS • Podem ser classificadas em úlceras infecciosas ou
não infecciosas. O primeiro grupo pode ser dividido
• Micoplasmas e ureaplasmas são bactérias que em outros dois tipos: úlcera IST e úlcera não IST.
podem produzir ITUs, e as cervicites por eles são
caracterizadas por sintomas inespecíficos: ÚLCERAS IST
dispareunia, disúria, polaciúria e infecção urinária. O HERPES GENITAL
corrimento vaginal costumar ser incaracterístico.
• Cervicites por Herpes vírus simples pode estar Geral
associada a sintomas sistêmicos, como febre, mialgia • É uma IST causada pelo herpes simples vírus (HSV)
e adenopatia. tipos 1 e 2, pertencentes à
• A trichomonas vaginalis, normalmente atrelada a família Herpesviridae.
vulvovaginites, também pode ser causa de cervicite. Antigamente, a maioria era
Sua principal manifestação é colpite ou “colo em mediante o HSV-2, que tem
framboesa”, com presença de sufusões hemorrágicas trofismo pela área genital.
no colo uterino (imagem ao lado). Esse aspecto é Entretanto, devido à pratica
devido à formação de vesículas, que estouram e crescente do sexo oral, a
geram exsudato. incidência de HSV-1, que tem
trofismo pela área orolabial,
tem crescido.
• O período de incubação varia de 2-26 dias, com
média de 7. A primo-infecção é assintomática em
75% dos casos, e pode ou não ter pródromos, como • Não existe tratamento curativo, mas antivirais
aumento de sensibilidade, formigamento, mialgias controlam sintomas da doença e encurtam a duração
ou prurido. Há replicação do vírus e risco de das lesões, mas não alteram a frequência ou
transmissão mesmo em casos sem evidência clínica severidade das recorrências, exceto se usados em
de infecção. profilaxia diária. Deve ser iniciado de preferência
ainda nos pródromos.
Quadro Clínico • A terapia supressiva é indicada quando o paciente
• Nos casos sintomáticos (25%), a lesão genital tem 6+ surtos/ano e deve ser mantida por, no
primária tende a ser mais grave e pode durar até 3 mínimo, 6 meses.
semanas. Inicialmente, são pápulas eritematosas, • A higienização das lesões deve ser feita com
seguidas por múltiplas vesículas dolorosas com compressas com soro fisiológico ou solução
conteúdo citrino, que se rompem dando origem a degermante, e podem ser utilizados analgésicos
ulcerações. Essas úlceras são rasas, comumente orais. É importante que a paciente tenha abstinência
localizadas em pequenos lábios, clitóris, grandes sexual durante o período, pois o líquido das vesículas
lábios, fúrcula e colo uterino. é muito infectante.
➔ Quando há lesão no colo uterino, pode-se ter
corrimento vaginal aquoso ou até sanguinolento. SÍFILIS
• Em 50% dos casos, tem-se linfadenopatia inguinal
dolorosa. • Doença infectocontagiosa de evolução crônica
causada pela bactéria Treponema pallidum,
ocorrendo principalmente por vias sexuais ou
Evolução da Doença
transmissão vertical.
• Após lesão primária, o vírus ascende pelos nervos
periféricos sensoriais, penetra nos núcleos das
células ganglionares e entra em latência (HSV-2 tem Evolução da Doença
latência nos gânglios sacrais e HSV-1 nos gânglios do • A disseminação da bactéria pelas vias linfáticas ou
nervo trigêmeo), hematogênicas pode ocorrer antes mesmo do
• Por isso, uma parte dos pacientes (90% dos com aparecimento de lesões no local da inoculação
HSV-2 e 60% dos com HSV-1) vão ter novos episódios primária. Isso divide, em adultos, as manifestações
por reativação do vírus, tendo fatores cíclicas em estágios:
desencadeantes como febre, estresse, RUV, 1. Sífilis Primária: Com 21 dias de infecção, lesão
imunodeficiência, traumatismo, estresse etc. aparece no local de entrada, de forma única
• Os episódios de recorrência são mais leves e, (múltiplas em raros casos), com borda
endurecida chamada de cancro duro. Pode-se ter
geralmente, estão nos mesmos locais que as lesões
linfonodomegalia inguinal indolor bilateral. A
anteriores, durando 2-10 dias e precedidos de
resposta humoral falha por reação cruzada.
pródromos, como queimação, aumento de
2. Sífilis Secundária: Cancro se resolve 4-6 semanas
sensibilidade e prurido.
após infecção, evoluindo para linfadenopatia
• As úlceras cicatrizam independentemente de
generalizada e lesões mucocutâneas variadas.
tratamento.
Como o cancro curou sem tratamento, chama-se
de fase latente inicial.
Diagnóstico 3. Sífilis terciária: Sem tratamento, há evolução
• Deve ser feito por apresentação para fase latente tardia assintomática, definida
clínica das lesões, mas alguns exames como sendo 1+ ano após infecção. Ela tem alta
podem ser realizados: (1) cultura de reincidência, e afeta sistema cardiovascular, SNC
secreção, que é pouco utilizado porque a e, com menos frequência, outros órgãos. As
sensibilidade diminui com a duração da espiroquetas dessa fase são mais difíceis e, por
lesão; (2) PCR em material de lesão, que isso, os pacientes são menos infecciosos.
é método complementar de preferência;
(3) citologia, na qual procura-se células
Diagnóstico
de Tzank, que são células gigantes multinucleadas
• Em todas as fases, sorologias treponêmicas (FTA-
(imagem ao lado). É um método de baixa
Abs, MHA-TP, teste rápido) e não treponêmicas
sensibilidade; e (4) testes sorológicos, que não é
(VDRL, RPR, Elisa) podem ser utilizadas para
indicado de rotina, pois IgM demora positivar e IgG
diagnóstico. Os primeiros são mais fidedignos.
pode negativar.
Tratamento
Tratamento • Tratamento é feito por Penicilina G benzatina (caso
não seja possível Doxiciclina ou Cetriaxona – para
gestantes sempre o último).
CANCRO MOLE
• Também conhecido como cancroide, cancrela, cancro
venéro, úlcera mole ou cancro de Ducrey, ele é uma
IST causada por bactéria Gram-negativa
Haemophilus ducreyi.
• Ela penetra nos tecidos por microabrasões da pele,
tendo incubação de 3-5 dias e, após isso, surgem
pápulas que se rompem rapidamente para formar Diagnóstico
úlceras múltiplas, rasas, dolorosas, fundo sujo, • O diagnóstico pode ser confirmado por esfregaço
purulento e bordas irregulares, que sangram e/ou biópsia das lesões, a fim de encontrar
facilmente ao toque. corpúsculos de Donovan (bactérias de macrófagos
com forma em “alfinete de dama”).
Diagnóstico
• O diagnóstico é por
microscopia, buscando
cocobacilos em “cardume de
peixe”.

Tratamento

Tratamento

DONOVANOSE

Geral
• Também conhecida como granuloma inguinal, úlcera
serpiginosa e granuloma esclerosante, ela é uma IST LINFOGRANULOMA VENÉREO
crônica progressiva causada pela bactéria Gram-
negativa Klebisiella granulomatis. Geral
• É uma patologia de baixa transmissibilidade, e, • Também conhecida como doença de Nicolas-Favre,
apesar de estar associada à transmissão sexual, seus doença de Frei, linfadenopatia venérea e bubão
mecanismos de transmissão não estão claros. climático, ela é uma doença infecciosa de
transmissão exclusivamente sexual causada pelos
Quadro Clínico sorotipos L1, L2 e L2 da Chlamydia trachomatis.

Quadro Clínico

• O período de incubação é bem variável, de 1-360 dias.


Surgem lesões em regiões cutâneas e mucosas da
genitália e região anal, perianal ou inguinal, que
iniciam como pápulas ou nódulos subcutâneos
indolores, e, posteriormente, aumentam e necrosam.
Com isso, forma-se lenta e progressivamente úlceras • O período de incubação é de 4-30 dias, com média de
indolores de bordas hipertróficas, com fundo 7 dias. A evolução da doença ocorre em 3 fases:
granuloso, aspecto vermelho vivo e de sangramento primária (lesões preoces), secundária (disseminação
fácil. linfática regional) e terciária (sequelas ou síndrome
➔ A lesão pode se tornar vegetante ou úlcero- anogenital). Segue as fases:
vegetante. 1. Pápula, pústula, exulceração ou erosão, indolor,
• As lesões são múltiplas, geralmente assumindo muitas vezes imperceptível e desaparece sem
configuração em espelho. deixar sequelas. Nesse estágio, pode ocorrer
• Não há adenite, mas pode-se raramente formar corrimento uretral ou cervical. Na mulher, a
pseudobubões na região inguinal. lesão fica na parede vaginal posterior, no colo do
útero, na fúrcula ou em outras partes da genitália
externa. No homem, ocorre no sulco coronal, DOENÇA DE CROHN
frênulo e prepúcio.
2. Disseminação linfática regional e aparecimento • O acometimento vulvar e perineal da DC é pouco
da linfadenopatia inguinal ou femoral frequente, mas pode ocorrer por extensão direta do
(manifestação mais comum da doença), acometimento intestinal ou de forma não contínua
geralmente unilateral e dolorosa. No homem, (sem nenhuma ligação entre vulva e intestino).
acomete os inguinais, que se desenvolvem 1-6 • As lesões começam com eritema, edema, prurido ou
semanas após lesão inicial. Nas mulheres, é dor, e evoluem para massa vulvar, ulceração ou
variável. formação de abscesso.
➔ Nessa fase, também pode-se ter abscessos • As lesões patognomônicas são as “úlceras em facada”,
necrosantes, e os linfonodos fistulam por que ocorrem nas regiões de dobras.
orifícios múltiplos, num padrão de “bico de • Diagnóstico é feito por biópsia. O tratamento é
regador”. Por isso, pode-se ter sintomas como realizado com metronidazol por, pelo menos, 12-36
febre, mal-estar, anorexia, emagrecimento, meses, pois esse antibiótico atua reduzindo a
cefaleia, vômitos, artralgia, sudorese noturna e estimulação antigênica ao sistema imunológico,
hepatoesplenomegalia. aliviando os sintomas gerais.
3. Ocorrem sequelas devido à obstrução linfática
crônica, que provoca elefantíase genital. Pode-se DOENÇA DE BEHÇET
ter fístulas retais, vaginais, vesicais e estenose
retal. • Doença de Behçet é uma patologia autoimune que
acomete jovens adultos, com média de 25-30 anos no
Diagnóstico início.
• Deve ser levantada hipótese em toda paciente com • Manifestações cutâneas, oculares e ulcerações orais e
adenite inguinal e elefantíase genital. genitais são comuns. As úlceras orais são a
• Comprovação laboratorial não é rotina. Os testes que manifestação inicial, na maior parte dos casos, sendo
podem ser realizados são: (1) Swabs genitais ou dolorosas, > 1 cm e cicatrizantes.
aspirados de linfonodos; (2) Teste de Frei, mediante
inoculação intradérmica do microrganismo morto. É OUTROS
positivo se houver surgimento de nódulo com halo
PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV)
eritematoso > 5 mm após 48-72h. Não é comumente
utilizado; (3) Sorologia; (4) Imunofluorescência com
IgG > 1:128 , mas, como a anterior, não detecta
diferentes sorotipos.

Tratamento

• É o agente viral de IST mais prevalente no mundo,


ÚLCERAS NÃO IST tendo mais de 200 tipos de sorotipos. A infecção é por
ÚLCERA DE LIPSCHUTZ via sexual, por contato ou por verticalidade.
• O vírus tem predileção por células imaturas em
• Também conhecida como úlcera vulvar aguda, é divisão celular, como células da camada basal de
caracterizada por úlceras genitais dolorosas, febre e epitélio escamoso, células subcilíndricas de reserva,
linfadenopatia. Ocorrem mais em adolescentes e células reparativas etc.
mulheres jovens, em geral, virgens. • O diagnóstico pode ser mediado por biologia
• A etiologia é desconhecida, mas parece estar molecular, Citopatologia, colposcopia,
relacionada a infecções virais, como citomegalovírus histopatológico (padrão-ouro) e imunoistoquímica.
e Epstein-Barr, pois os sintomas aparecem antes da • Conduta varia conforme apresentação do quadro:
lesão. expectante em lesões intraepiteliais escamosas de
• A lesão é caracterizada porúlceras necróticas, baixo grau (LICL) subclínicas; lesões do tipo HSIL
profundas e dolorosas, geralmente na face interna de subclínicas tem conduta dependente da idade do
pequenos lábios. Elas cicatrizam espontaneamente paciente (>24 faz-se tratamento); e lesões clínicas
dentro de 4-6 semanas. podem ser tratadas por imunomodulação, exérese ou
destruição conforme sítio, número de lesões e
Tratamento experiencia do especialista.
• Deve ser sintomático, podendo ser utilizados
corticoides tópicos e sistêmicos.

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