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Isabela Pereira

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Medicina FMP – turma 54 A

Abdome Agudo em Ginecologia


O abdome agudo ginecológico é uma síndrome LOCALIZAÇÃO DA DOR
dolorosa aguda, de origem ginecológica, não
A localização da dor pode ser útil na classificação
traumática, geralmente de início súbito, de
do abdome agudo, por indicar as possíveis causas
intensidade variável, que leva a paciente a
ou os órgãos acometidos. As patologias
procurar atendimento médico de emergência e
ginecológicas geralmente geram dor em baixo
necessita de tratamento imediato.
ventre (fossas ilíacas e hipogástrio), exceto se tem
peritonite instalada (nesse caso tem dor
O abdome agudo cirúrgico é uma situação
abdominal difusa). Além disso, doenças de
clínica frequente, responsável por cerca de 7 a
localização extra-abdominal ou sistêmicas podem
10% das consultas em pronto atendimento.
causar abdome agudo (mas a clínica vai ser
diferente), como doenças torácicas (pneumonia
de lobo inferior), hematológicas (leucemia),
neurológicas (herpes zoster) e intoxicação.
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• Amilase e lipase na suspeita de


CLASSIFICAÇÃO pancreatite
O abdome agudo pode ser: inflamatório,
● EAS: é fundamental afastar a possibilidade de
perfurativo, hemorrágico, isquêmico/vascular e
infecção urinária, já que patologias urológicas
obstrutivo. As causas ginecológicas geralmente
podem simular patologias ginecológicas
são inflamatórias, hemorrágicas ou isquêmicas.
● USG abdominal, pélvica ou transvaginal (se a
paciente tem vida sexualmente ativa – melhor
para visualizar as estruturas pélvicas): auxiliam na
determinação da etiologia do abdome agudo

● TC de abdome e pelve: ideal para pancreatite


aguda e abdome agudo vascular e para o estudo
de coleções líquidas intra-abdominais

OBS: pode-se solicitar um RX de tórax ou de


abdome para excluir outras causas de abdome
agudo, como pneumoperitôneo, calcificações,
obstrução de alças intestinais e outros

ABORDAGEM
1. Avaliar sinais de instabilidade
hemodinâmica (paciente está bem?)
2. Alívio sintomático da dor
3. Excluir gravidez
4. Definir se o tratamento é clínico ou
cirúrgico
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é baseado no tripé: anamnese +
exame físico + localização do órgão afetado. As INDICAÇÕES PARA CIRURGIA
pacientes com patologia aguda envolvendo ● abcesso tubo-ovariano roto
vísceras pélvicas, comumente, descrevem a dor ● gravidez ectópica
visceral como difusa, surda, constante ou ● falha na terapêutica clínica
espasmódica. Quando há acometimento do ● massa pélvica inflamatória que persiste ou
peritônio parietal, ocorre dor somática aguda, aumenta apesar do tratamento clínico
frequentemente localizada, unilateral e ● líquido livre em cavidade (pus, sangue)
concentrada em um dermátomo específico. associado a peritonite
● instabilidade hemodinâmica ou piora do estado
A presença de temperatura elevada, taquicardia clínico
e hipotensão indica maior risco de patologia intra-

Gravidez Ectópica
abdominal e define a necessidade de rápida
avaliação. Febre baixa constante é comum nos
quadros inflamatório, como diverticulite e
apendicite, e temperaturas mais elevadas são A gravidez ectópica é a causa de abdome agudo
observadas nos casos de DIP e peritonite. hemorrágico mais comum. Em 90% dos casos é
uma gravidez tubária, mas pode também ser
localizada em ovário, no colo uterino, na cicatriz
EXAMES COMPLEMENTARES
de uma cesariana prévia, intramural ou na
● beta-HCG em todas as mulheres em vida cavidade abdominal.
reprodutiva para excluir gravidez e direcionar o
tratamento em caso de gestante ● tríade clássica é: sangramento vaginal +
amenorréia + dor pélvica
● hemograma:
• leucocitose: pensar em infecção ● clínica varia desde a dor pélvica até
(geralmente abdome agudo inflamatório) instabilidade hemodinâmica.
• baixo hematócrito com VCM normal:
sugere hemorragia aguda ● fatores de risco: lesão das tubas uterinas, DIP,
• VHS e PCR aumentados em casos cirurgia tubária prévia ou gravidez ectópica
inflamatórios anterior
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DIAGNÓSTICO causadoras de cervicite). Outra espécie


frequente é a Trichomonas vaginalis.
Geralmente é feito com história clínica + BHCG +
USG tv
FATORES DE RISCO
● beta HCG >1500: sempre que o beta-HCG for ● adolescentes sexualmente ativas
maior que 1500, obrigatoriamente tem que existir ● múltiplos parceiros
um saco gestacional dentro do útero ao realizar a ● HPP de DIP ou de IST
USG transvaginal. Assim, se tiver acima de 1500 e ● vaginites e vaginoses recorrentes
ao fazer USG não ver o saco gestacional é porque ● não utilização de preservativo
é gravidez ectópica ● procedimento uterino recente, como
histeroscopia, curetagem e inserção de DIU
● massa anexial: vista na USG transvaginal, mas ● uso de duchas
apenas se for tubária ● baixa condição socioeconômica
● parceiro sexual com uretrite ou gonorreia
● aumento do beta-HCG inferior a 66% em 48h:
normalmente o beta HCG dobra a cada 48h e, DIAGNÓSTICO
então, quando isso não acontece, deve-se pensar
A suspeita de DIP ocorre quando a paciente tem
em gestação não viável (abortamento ou
dor abdominal baixa e/ou pélvica, secreção
gravidez ectópica). Isso acontece porque o
vaginal amarela, menorragia, febre, calafrios,
trofoblasto não consegue crescer
anorexia, náuseas, vômitos, diarreia, dismenorreia
adequadamente na tuba uterina no caso da
e dispareunia, podendo também apresentar
gravidez ectópica e, por isso, o beta HCG se eleva
sintomas urinários.
mais lentamente
O diagnóstico é feito por 3 critérios maiores + 1
● queda não superior a 13% do nível de beta HCG:
critério menor OU 1 critério elaborado
quando a queda é maior indica aborto (com o
• critérios maiores: dor no hipogástrio, dor à
aborto, não há mais trofoblasto e, então, acaba a
palpação de anexos e dor à mobilização
produção do beta HCG)
do colo uterino (essa dor é induzida pelo
deslocamento rápido do colo uterino, no
TRATAMENTO sentido lateral, feito pelos dedos durante o
Na maioria das vezes é cirúrgico, com interrupção exame vaginal → esse sinal é indicativo de
da gravidez e retirada do feto, porém existem pelviperitonite e pode ser considerado
alguns casos em que se pode fazer o tratamento como a “descompressão brusca” da
conservador e o tratamento expectante. vagina)
• critérios menores: febre (TAX >37,5C),
● tratamento conservador: uso de metotexato leucocitose em sangue periférico, massa
(MTX), um antagonista do ácido fólico que atua pélvica, PCR ou VHS elevados, mais de 5
nas células trofoblásticas de divisão rápida, leucócitos por campo de imersão em
impedindo sua multiplicação material de endocérvice, comprovação
• Só é indicado quando: paciente laboratorial de infecção cervical por
hemodinamicamente estável, saco gonococo, clamídia ou mycoplasma
gestacional ≤3,5 cm, beta HCG <5000, • critérios elaborados: evidência
ausência de BCF, funções renais e histopatológica de endometrite, presença
hepáticas normais, ausência de de abscesso tubo-ovariano ou de fundo
imunodeficiências e discrasias sanguíneas. de saco de Douglas em estudo de imagem
É feito em dose única 50mg IM e laparoscopia com evidência de DIP

● tratamento expectante: nos casos de


abortamento tubário. O beta HCG vai estar
abaixo de 1000. Deve-se fazer a dosagem de beta
e USG tv a cada 48h para monitorar

Doença inflamatória pélvica


É o abdome agudo inflamatório mais comum na
paciente ginecológica. Doença de etiologia
polimicrobiana por ascensão de microrganismos
do trato genital inferior. A clamídia e a gonorreia
são as causas mais comuns (por serem maiores
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ESTADIAMENTO ● tardias: dor pélvica crônica, dispareunia, GE e


infertilidade

● Síndrome de Fitz Hugh Curtis (também chamada


de perihepatite): dor em quadrante superior
direito do abdome após uma DIP, pois são
formadas aderências entre o fígado e o
diafragma (“cordas de violino”)

Torção de cisto ovariano


É a maior causa de abdome agudo isquêmico
ginecológico, mas não é muito frequente (2-6%).
A paciente apresenta histórico de massa/cisto
ovariana prévia >5cm de diâmetro. Essa massa
TRATAMENTO pesada torna o ovário mais móvel, podendo se
torcer no seu próprio eixo, levando à isquemia
O principal objetivo da terapia é erradicar as
ovariana. A torção de anexos mais comumente
bactérias, aliviar os sintomas e evitar sequelas. O
envolve o anexo direito, provavelmente em razão
tratamento é feito com antibioticoterapia e deve
de menor mobilidade do ovário esquerdo
fornecer ampla cobertura direcionada aos
causada pelo sigmoide.
principais agentes patogênicos. Todas as opções
terapêuticas devem ser eficazes contra gonorreia,
clamídia e cobertura empírica para bactérias QUADRO CLÍNICO
anaeróbicas. O início do tratamento é A paciente refere instalação de dor aguda (<8h)
recomendado assim que o diagnóstico de DIP é e intensa na região lombar ou pélvica do lado do
feito. cisto, podendo irradiar para flanco, região
inguinal ou coxa. Pode ser associado com vômito
pela dor intensa. Tem ausência de corrimento
vaginal (se tivesse, poderíamos pensar em DIP) e
de sangramento uterino.

DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é basicamente clínico, mas pode
ser auxiliado por achados laboratoriais e de
imagem, principalmente USG pélvica. Os achados
comuns incluem massa ovariana, aumento
unilateral do ovário, fluido livre (exsudato) em
fundo de saco de Douglas e estruturas císticas
periféricas uniformes.

CONDUTA
A torção anexial é uma emergência cirúrgica e é
preciso destorcer cirurgicamente o anexo.

Cisto ovariano roto


É uma causa menos comum de abdome agudo
hemorrágico, na qual o cisto de ovário se rompe,
dando origem ao sangramento.

Se após o rompimento houver sangramento


intenso e ativo, há indicação de cirurgia. Porém,
se o sangramento for pouco, não há indicação
cirúrgica, porque o próprio corpo pode reabsorver
sozinho, tornando-o autolimitado.

COMPLICAÇÕES
● precoces: abcesso tubo-ovariano
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Mioma complicado
Quando o sangue reflui para o peritônio (porque
não consegue sair pelo hímen imperfurado),
causa dor. Essa dor é cíclica pois só acontece
Mioma é o tumor pélvico mais comum em quando a paciente menstrua e há refluxo de
mulheres, acometendo 1/3 das mulheres em sangue para a cavidade peritoneal, podendo
idade reprodutiva de forma sintomática, causar peritonite. Pode estar associado
afetando a qualidade de vida. É um tumor dificuldade para urinar, que ocorre pelo efeito de
benigno formado por células musculares bem massa
diferenciadas.
O tratamento é feito pela himinectomia

Os miomas podem complicar:


• torção de pedículo
• infarto (devido à isquêmica causada pela
torção do pedículo ou por um crescimento
do mioma acelerado na qual a
vascularização não acompanha)
• degeneração
• necrose (devido à isquemia)
Em geral, mioma não dói, mas se tiver alguma
dessas complicações, gera abdome agudo.

O tratamento do mioma na gravidez é


essencialmente conservador, mesmo no mioma
com degeneração: analgésicos, anti-
inflamatórios, uterolíticos. Quadro de
degeneração acentuada com necrose, infecção
ou torção tona obrigatória a cirurgia

Hímen imperfurado e
peritonite
● exame físico: hímen imperfurado

● imagens: vagina e útero repletos de líquidos


(hematocolpo, hematométrio, hematossalpinge)

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