Problema 1: Vulvovaginites e Doença Inflamatória Pélvica (DIP)
“Foi por pouco…”
1. Compreender as vulvovaginites (tipos, → Manifestação usual das vulvovaginites
epidemiologia, fatores de risco, etiologia, → Secreção vulvovaginal em quantidade fisiopatologia, quadro clínico): excessiva, com alterações das suas ○ Corrimento vaginal: características fisiológicas, causando ★ Manifestações clínica se secreção desconforto e sendo determinado por vulvovaginal referida pela mulher diferentes agentes etiológicos ★ Pode ser normal ou excessiva ○ Incidência e epidemiologia: ★ A secreção normal se origina das glândulas ★ 25-50% das consultas dos ambulatórios de regionais, do muco cervical e endometrial e do ginecologia são motivadas por corrimento transudato vaginal vaginal ★ Fisiológico: ○ Fatores de Risco: → Não causa desconforto ★ Numero de relações sexuais → Não é causado por agentes patológicos ★ Práticas sexuais mais liberais → Mas quando este se fizer presente em ★ Troca frequente de parceiros quantidade excessiva, mesmo que não ★ Uso de peça íntima inadequada determinado por agente patogênico, pode ★ Duchas higiênicas tornar-se incômodo e ser considerado anormal ★ Tipos de contraceptivos (DIU) pela mulher ★ Coito desprotegido → pH entre 3,5-4,5 ○ Etiologia e Fisiopatologia: → Aspecto incolor ★ As causas fisiológicas são menos comuns, → Odor típico predominando as vulvovaginites infecciosas e → Consistência fluida à mucosa alérgicas que, além de causarem aumento da → Quantidade variável de acordo com a faixa secreção vaginal, alteram suas características etária e a fase do ciclo menstrual e determinam diferentes manifestações → Aumenta durante a excitação sexual clínicas e, em geral, desconfortáveis → O estrogênio promove seu aumento durante ★ Os principais agentes infecciosos das a fase proliferativa e ovulatória para facilitar o infecções vulvovaginais são: bactérias processo de fecundação. Além disso, controla o (vaginose bacteriana), fungos e protozoários pH vaginal, pois atua em conjunto com os (Trichomonas vaginalis) lactobacilos nas células descamadas, transformando glicogênio em ácido láctico. Ele a. Vaginose Bacteriana: estimula o depósito de glicogênio nas células ○ Desequilíbrio da flora vaginal caracterizado pela epiteliais vaginais, que posteriormente é substituição da flora microbiana saudável degradado em glicose e ácido lático, por ação (Lactobacillus) por microbiota variável (B. dos Lactobacillus anaeróbias e facultativas) → Lactobacilos: converte oxigênio em peróxido ○ Os patógenos anaeróbios com de hidrogênio para ação bactericida, mas supercrescimento são: Prevotella spp, permitindo a manutenção adequada da flora Peptostreptococcus spp, Gardnerella vaginal não-patogênica, em condições normais Vaginalis, Mobiluncus spp e Mycoplasma ★ Patológico/Leucorréia: hominis. ○ Tem sido referida como a mais frequente ○ Candida Albicans é a mais prevalente afecção do trato genital inferior feminino ★ Única com capacidade de dismorfismo (altera ○ Prevalência três vezes mais elevada em sua forma habitual para micélio, mais mulheres inférteis do que em férteis e é invasiva) associada a duas vezes o risco de abortamento após fertilização in vitro. ○ Estudos demonstram associação da vaginose bacteriana com salpingite e infertilidade de causa tubária. ○ É uma afecção extremamente prevalente ○ Fatores de risco: ★ Raça negra ★ Duchas vaginais ○ Condições que alterem a concentração ★ Tabagismo hormonal como gravidez e uso de ★ Menstruação contraceptivos de alta dosagem facilitam a ★ Estresse crônico proliferação dos fungos ★ Comportamentos sexuais (muitos parceiros ○ Quando o sistema imune não consegue inibir a masculinos, sexo vaginal desprotegido, sexo proliferação dos fungos, ocorre a passagem do anal receptivo antes do sexo vaginal e sexo estado saprófita para o patogênico, com com parceiro não circuncisado) consequente aparecimento de sinais e ○ Quadro Clínico: sintomas. ★ Corrimento de intensidade variável ○ Fatores de Risco: ★ Odor vaginal fétido (odor de peixe/amoniacal) ★ Diabetes mellitus descompensada → Piora com intercurso sexual desprotegido e ★ Imunossupressão durante a menstruação ★ Tabagismo ○ Conteúdo vaginal homogêneo, em quantidade ★ Distúrbios alimentares com excesso de variável e com coloração coloração ingestão de hidratos de carbono geralmente esbranquiçada, ★ Hábitos de higiene ou vestuário inadequados branco-acinzentada ou amarelada. ★ Estresse excessivos ★ Gravidez ○ Quadro Clínico: ★ Prurido ★ Corrimento geralmente esbranquiçado (leite talhado) ★ Dor ★ Desconforto ○ Não é acompanhada de processo inflamatório ★ Disúria ★ Dispareunia b. Candidíase Vulvovaginal: ★ Ao exame ginecológico: hiperemia vulvar, ○ A candida é uma levedura saprófita que habita edema e fissuras tecidos e secreções do corpo e pode se tornar ★ Ao exame especular: hiperemia da mucosa patogênica vaginal, conteúdo vaginal esbranquiçado ○ Pode ser encontrada em 20% das mulheres (espesso ou flocular, aderido ou não às saudáveis assintomáticas paredes) ○ Facilita a aquisição/transmissão de outras ISTs ★ pH abaixo de 4.5 ★ Teste das aminas (Whiff test) é negativo ○ Ao penetrar na vagina, o parasita cobre-se ○ Não complicada: com as proteínas do hospedeiro, o que permite ★ Episódios esporádicos ou infrequentes a evasão dos mecanismos de defesa locais ★ Intensidade leve ou moderada ○ No homem, infecta a uretra inferior, podendo ★ Agente etiológico provavelmente é a Candida atingir a próstata, vesícula seminal e epidídimo. albicans ○ Na mulher, além da vagina e exocérvice, pode ★ Ocorre em mulheres não acometer a uretra, bexiga, glândulas de Skenne imunocomprometidas. e Bartholin e endocérvix. ○ Complicada: ○ Quadro Clínico: ★ Candidíase recorrente ou severa ★ Corrimento profuso, amarelado ou ★ Espécies não albicans ou em mulheres com amarelo-esverdeado diabetes ★ Ardor genital ★ Condições que comprometa o sistema ★ Sensação de queimação imunológico ★ Disúria ★ < 3 episódios ao ano ★ Dispareunia ★ Exame ginecológico: hiperemia dos genitais c. Tricomoníase: externos e presença de corrimento espesso, ○ Infecção sexualmente transmissível purulento, exteriorizando-se pela fenda vulvar ○ Aproximadamente um terço das mulheres ★ Exame especular:Aumento do conteúdo infectadas são assintomáticas e a infecção vaginal, coloração amarelada, pequenas pode persistir por meses ou anos bolhas ○ Os homens geralmente apresentam menos ★ As paredes vaginais e a ectocérvice sintomas do que as mulheres, servindo como apresentam-se hiperemiada vetores assintomáticos da infecção ○ Os sintomas acentuam-se no período ○ Deve adquirir nutrientes do meio externo para pós-menstrual devido à elevação do pH vaginal sua sobrevivência e consegue isso fagocitando e à aquisição de ferro da hemoglobina pelo fungos, vírus e bactérias como Micoplasmas, parasita, o que aumenta sua virulência. Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae, ○ A medida do pH vaginal revela valores acima transportando-os ao trato genital superior e de 4,5 facilitando, assim, o aparecimento de doença inflamatória pélvica. 2. Conhecer o diagnóstico e tratamento das ○ É importante cofator na transmissão e vulvovaginites: aquisição do HIV a. Vaginose Bacteriana: ○ Diagnóstico: ★ Amsel: necessita de 3 dos seguintes ítens → Corrimento vaginal branco-acinzentado homogêneo aderente às paredes vaginais → pH vaginal maior que 4,5 → Teste das aminas positivo → Presença de células-chave (células epiteliais recobertas por cocobacilos Gram variáveis na ○ A resposta imune pode ser agressiva, com bacterioscopia) inflamação da mucosa da vagina e exocérvice ★ Nugent: em mulheres e da uretra em homens → Baseia-se em elementos avaliados na bacterioscopia com coloração pelo método de Gram, particularmente os morfotipos de Lactobacillus, de Gardnerella vaginalis e de risco de complicações. Antes de uma Mobiluncus sp. curetagem eletiva para aborto, pode-se → escore de 0 a 3 – padrão normal ministrar metronidazol oral profilático a todas → 4 a 6 – flora vaginal intermediária as pacientes ou apenas àquelas cujos testes → escore de 7 a 10 – vaginose bacteriana da secreção vaginal sejam positivos para ★ Outros testes incluem o AFFIRM VP III (Becton vaginose bacteriana. Dickinson, Sparks, MD), que é um teste de ★ Recomendar abstinência de álcool durante 24 hibridização para altas concentrações de horas após o tratamento com Gardnerella vaginalis, e o OSOM BV Blue test nitroimidazólicos (efeito dissulfiram) e (Sekisui Diagnostics, Framingham, MA), que abstenção de atividade sexual ou o uso de detecta a enzima sialidase ativada presente preservativos correta e consistentemente no fluido vaginal de mulheres com VB durante o tratamento ★ Cultura para Gardnerella vaginalis não é ★ Lembrar que a clindamicina tem base oleosa recomendada para o diagnóstico e pode enfraquecer preservativos e ○ Tratamento: diafragmas até cinco dias após o uso ★ Metronidazol ou clindamicina ★ Ainda, de acordo com o CDC, não se ★ Os seguintes tratamentos para vaginose recomenda o uso de duchas para aliviar os bacteriana são igualmente eficazes: sintomas. ● Metronidazol oral, 500 mg duas vezes por ★ Recidivas ocorrem em mais de 30% dos casos, dia, por 7 dias, ou 2 g, 1 vez aproximadamente três meses após o término ● Metronidazol gel a 0,75%, 5 g (um aplicador do tratamento. cheio), por via intravaginal, uma vez ao dia, b. Candidíase: durante 7 dias ○ Diagnóstico: ● Creme vaginal a 2% de clindamicina, uma ★ Presença de fungos vez ao dia, por 7 dias ★ exame a fresco (sensibilidade em torno de ★ Metronidazol oral, 500 mg duas vezes/dia, por 7 50-60%) dias, é o tratamento de escolha para ★ bacterioscopia com coloração pelo método pacientes que não estão grávidas, mas, como de Gram e cultura em meios específicos, o efeitos sistêmicos são possíveis com fármacos que permite a identificação do fungo, sua orais, regimes tópicos são preferidos para espécie e eventual realização do pacientes grávidas. Mulheres que fazem uso antifungigrama, recomendável nos casos de clindamicina creme não podem usar recorrentes. produtos com látex (p. ex., preservativos ou ★ > 4 episódios ao ano diafragmas) para contracepção, pois o ○ Tratamento: fármaco torna o látex menos resistente. ★ Para o tratamento e prevenção de novos ★ O secnidazol 2 g por via oral, dose única, é episódios, é importante a eliminação ou pelo outra opção para o tratamento da vaginose menos o controle de fatores predisponentes bacteriana.. Como é necessária apenas uma como diabetes mellitus descompensada, dose, o secnidazol pode melhorar a adesão estados de imunossupressão, tabagismo, das pacientes. distúrbios alimentares com excesso de ★ Não é necessário tratar os parceiros sexuais ingestão de hidratos de carbono, hábitos de assintomáticos. higiene ou vestuário inadequados, estresse ★ Para casos de vaginite durante o 1º trimestre excessivo e outros fatores, se presentes de gestação, deve-se usar metronidazol ★ Para tratamento da “candidíase não vaginal em gel, embora o tratamento durante complicada”, podem ser utilizados antifúngicos a gestação aparentemente não diminui o por via vaginal, sob a forma de cremes, óvulos ★ Recomenda-se abstinência sexual durante o ou comprimidos. tratamento ★ Para os episódios de candidíase “não ★ Importante lembrar que o(s) parceiro(s) complicada”, os tratamentos em dose única sexuais devem ser referenciados para ou de curta duração (um a três dias) tratamento, por tratar-se de infecção costumam ser eficazes sexualmente transmissível. ★ O tratamento do parceiro sexual não é ★ Sempre que possível, são aconselháveis testes recomendado nos episódios simples. Nos raros para outras infecções de transmissão sexual. casos em que ocorre balanite (inflamação da ★ Devido à elevada taxa de reinfecção em glande peniana com prurido ou irritação), mulheres, recomenda-se nova avaliação três pode haver benefício no uso de antifúngicos meses após o término do tratamento. tópicos para alívio sintomático. ★ Testes utilizando biologia molecular podem ser ★ O tratamento da “candidíase complicada” utilizados duas semanas após o tratamento. requer a confirmação diagnóstica para a identificação de eventuais cepas não albicans 3. Elucidar a DIPA (epidemiologia, etiologia, fatores (Candida glabrata e outras, de difícil de risco, fisiopatologia, quadro clínico): identificação à microscopia, sendo necessária ○ Doença Inflamatória Pélvica é um conjunto de a cultura) processos inflamatórios da região pélvica c. Trichomonas vaginalis: devido à propagação de microrganismos a ○ Diagnóstico: partir do colo do útero e da vagina para o ★ Bacterioscopia a fresco endométrio, tubas, peritônio e estruturas ★ Bacterioscopia com coloração de gram → adjacentes maior sensibilidade e especificidade ○ Essa propagação ocorre de forma direta do ★ Recomenda-se a realização da cultura em colo para os órgãos superiores (via canalicular) presença de sintomas, mas negatividade do exame a fresco ★ O teste de amplificação de ácido nucleico (NAAT) para detecção de T. vaginalis é altamente sensível, detectando cinco vezes mais o parasita do que o exame a fresco. ○ Tratamento: ★ Recomendado: → Metronidazol – 2g via oral em dose única OU → Tinidazol – 2g via oral em dose única. ○ Manifesta-se com um padrão clínico subagudo ★ Alternativo: e oligossintomático → Metronidazol – 500 mg via oral a cada 12 ○ Dor abdominal em intensidade variável é horas durante sete dias sintoma obrigatório ★ Restrições ao consumo de álcool devem ser ○ É mais comum em mulheres jovens pelo fato de observadas durante 24 horas após o uso de com maior frequência não incorporarem o metronidazol e 72 horas após o uso de hábito de sexo seguro, têm maior chance de tinidazol contrair agentes causais das cervicites, sendo ★ O tratamento com metronidazol gel por via esses os mais importantes para vaginal não é recomendado, porque o desencadeamento da DIP. medicamento não atinge níveis terapêuticos ○ É uma das mais importantes complicações na uretra e glândulas de Skene e Bartholin. das infecções sexualmente transmissíveis (IST) ○ Complicações: pelviperitonite, ruptura de ★ A infecção superior ainda não foi instalada, abscesso tubo-ovariano (ATO), infertilidade, mas há chance em torno de 20% a 30% de que gravidez ectópica e dor pélvica crônica ocorra, sendo essa chance maior quanto ○ Principal agente: Chlamydia Trachomatis menor a idade da mulher a. Fatores de Risco: ★ A importância de identificar essa fase se deve ○ Adolescência e Comportamento sexual à possibilidade de tratamento e prevenção da ○ 1 em cada 5 casos de DIP ocorre em menores DIP de 19 anos ○ Após esse estádio, principalmente na época ○ Múltiplos parceiros menstrual ou pós-menstrual imediata, há ○ Sexo desprotegido ascensão desses agentes e passagem pelo ○ Adolescentes têm maior superfície passível de endométrio, ocasionando endometrite, ser infectada habitualmente fugaz, e possibilidade de ○ História passada ou atual de IST sangramento discreto além da menstruação ○ Pessoas com infecção por clamídia, ou mesmo o prolongamento desta. micoplasmas e/ou gonococo na cérvice uterina ○ Na ocasião da menstruação ou após, ocorre têm maior chance de desenvolver essa modificação do muco cervical facilitando esse infecção no trato genital superior processo. ○ Uso de DIU se a paciente for portadora de ○ Alguns justificam essa situação pelo fato de o cervicite na época de inserção. sangue menstrual ser alcalino e também b. Etiologia: propiciar um meio de cultura ○ Nos estudos iniciais de DIP, a Neisseria ○ Na sequência, os microrganismos que fazem gonorrhoeae (gonococo) era o patógeno mais parte do meio ambiente vaginal também comumente isolado. Entretanto, como a ascendem através da cervicite, via canalicular, prevalência dessa doença sexualmente instalando-se na tuba uterina. transmitida tem diminuído, de forma ○ Nesse local, com reação tecidual, se inicia a correspondente sua importância como agente formação de conteúdo purulento, que pode se causal de DIP também diminuiu desprender, passar através das fímbrias e ○ A Chlamydia trachomatis é atualmente o derramar no peritônio pélvico, ocasionando patógeno mais comumente detectado em até pelviperitonite 60% das mulheres confirmadas com salpingite ○ Pelo fato de o acúmulo ser maior no fundo de ou endometrite saco de Douglas, esse local se apresenta com ○ O Mycoplasma genitalium tem se mostrado de maior sensibilidade, desencadeando grande importância em termos de crescente dispareunia e dor ao toque vaginal e, frequência e resistência bacteriana aos sobretudo, no fundo de saco de Douglas antibióticos usuais ○ Nesse tempo, alças intestinais e epíplon tendem ○ Gardnerella vaginalis, Bacteroides spp. e outros a bloquear o processo purulento, formando o germes responsáveis por vaginoses, pode denominado “complexo tubo-ovariano”. contribuir para o quadro ○ À medida que aumenta a viscosidade desse ○ Portanto, a DIP possui etiologia polimicrobiana, conteúdo, pode ocorrer a fusão das fímbrias fato importante na definição do manejo tubárias, provocando aprisionamento de pus terapêutico. dentro das tubas, denominado de piossalpinge. c. Fisiopatologia: ○ Com esse conteúdo aprisionado, ocorrem ○ Estágio 0/Pré-DIP: temos os agentes implicados diminuição dos níveis de oxigênio e aumento nas cervicites (principalmente a clamídia) gradativo na proliferação dos anaeróbios em instalados no colo uterino detrimento dos aeróbios. ○ Esse conteúdo purulento pode se propagar d. Quadro Clínico: para os ovários, constituindo, então, o ATO. ○ Dor abdominal ou pélvica: a dor habitualmente ○ Esse pode posteriormente ser esterilizado e não é severa, apresentando-se inicialmente formar uma massa multicística com conteúdo como desconforto e eventualmente citrino estéril, denominado de hidrossalpinge, progredindo, sendo com maior frequência como forma de sequela do processo infeccioso bilateral e inflamatório. ○ Febre, calafrios ○ Embora menos frequente, o conteúdo do ATO ○ Corrimento vaginal ou cervical, coceira ou odor pode aumentar a tensão intra-abscesso e se ○ Sangramento vaginal: outra possibilidade é a romper, podendo ocasionar um quadro grave presença de alterações do ciclo menstrual na com grande derramamento de pus no forma de aumento ou prolongamento da peritônio, choque séptico e até levar a óbito. menstruação, devido à endometrite fugaz. ○ Felizmente, casos letais associados diretamente Sangramento vaginal anormal de pouca com a DIP são infrequentes. quantidade após a menstruação (spotting) ○ Em relação à dor, ela é desencadeada a partir também pode ocorrer e, embora seja comum da entrada dos agentes na cavidade uterina, em usuárias de anticoncepcional de baixa tornando-se maior quando o conteúdo dosagem, deve ser investigado, na suspeita de purulento contamina a cavidade pélvica DIP ○ Dispareunia ○ Disúria ○ Dor lombar ○ Náusea e vômitos ○ Segundo dados do CDC, 60% dos casos se apresentam na forma silenciosa e subclínica.
4. Entender o diagnóstico e tratamento da DIPA:
a. Diagnóstico: ○ O diagnóstico da DIP pode ser difícil devido à ampla variação de sinais e sintomas, que podem incluir desde sinais leves até dor abdominal intensa. ○ O diagnóstico é baseado primeiramente na 0 Cervicites evolução clínica, devendo-se iniciar o tratamento antes da confirmação laboratorial 1a Endometrite ou de imagem. ○ A DIP deve ser suspeitada, como diagnóstico 1b Salpingite sem peritonite diferencial, principalmente em mulheres com 2 Salpingite com peritonite idade entre 15 e 44 anos com dor abdominal baixa ou dor pélvica à mobilização da cérvice, 3 Piossalpinge/abscesso mesmo se os sintomas forem leves tubo-ovariano ○ Nem a história clínica, nem exame físico ou testes laboratoriais são sensíveis ou específicos 4a Abscesso tubo-ovariano roto o suficiente para definir o diagnóstico com 4b Hidrossalpinge/hidrooforossalpinge certeza ○ Os exames laboratoriais podem ser normais em pacientes com DIP, e para o diagnóstico definitivo em alguns casos, pode ser necessário exame laparoscópico ○ Diagnóstico diferencial: ★ Gravidez ectópica ★ Tumor, torção ou cisto ovariano ★ Aborto séptico incompleto ★ Endometriose, adenomiose, leiomioma uterino, endometrioma roto; ○ Critérios específicos´: ★ Nefrolitíase, pielonefrite, cistite ★ USG endovaginal ou RM ou outro método de ★ Litíase urinária imagem sugerindo a presença de ATO ou ★ Apendicite, síndrome do intestino irritável e complexo tubo-ovariano (coleção diversa outras doenças gastrointestinais podendo conter alças intestinais, epíplon e/ou ○ Exames complementares: conteúdo líquido em forma associada); ★ Hemograma completo que possa sugerir ★ Biópsia endometrial demonstrando a presença de processo inflamatório presença de endometrite; (leucocitose e/ou bastonetose) ★ Laparoscopia demonstrando sinais sugestivos ★ Exames de urina tipo I e urocultura, para de infecção tubária ou tuboperitoneal. afastar infecção do trato urinário b. Tratamento: ★ Provas bioquímicas inflamatórias (velocidade ○ Tem a finalidade de resolver o quadro de hemossedimentação – VHS – e proteína C infeccioso atual e prevenir as possíveis reativa). complicações futuras ★ Exame bacterioscópico para avaliar vaginose ○ Deve ser iniciado o mais precocemente bacteriana; possível, mesmo que o diagnóstico seja apenas ★ Identificação do agente preferencialmente presumível por provas de biologia molecular para ○ Orientações: diagnóstico de clamídia e gonococo, bem ★ Individualizar o tratamento conforme como por cultura para gonococo e, se disponibilidade, custo e aceitação do possível, com antibiograma e determinação paciente. de resistência; ★ Atentar para a presença de outras ISTs ★ Teste de gravidez, se essa não pode ser associadas e rastrear outras infecções excluída com certeza, principalmente para ★ Compreender que a contaminação nem afastar gravidez ectópica; sempre ocorreu recentemente, mas que o ★ Ultrassonografia transvaginal (USTV): método parceiro atual é aconselhado a ser de escolha para a avaliação inicial de dor examinado, mesmo que ele não tenha queixas pélvica ★ Orientar medidas gerais como repouso e → Espessamento da parede tubária maior que hidratação, e que nos casos de condução 5 mm (100% de sensibilidade); ambulatorial a temperatura seja aferida e a → Septos incompletos intratubários; curva térmica seja anotada para análise ao → Sinal da roda dentada (corte transversal) retorno. (95% a 99% de especificidade); ★ Nos casos de associação com DIU, a remoção → Espessamento e líquido tubário; ou permanência do dispositivo deverá ser → ATO individualizada ★ Tomografia computadorizada da pelve ★ Nos casos de DIP leve ou moderada, o ★ Ressonância magnética (RM) tratamento oral ou parenteral parece ★ Laparoscopia pode ser usada para confirmar apresentar eficácia semelhante o diagnóstico ○ Os esquemas de antibioticoterapia são → Melhora do quadro térmico (requisitar considerados de forma empírica e devem ser aferição da temperatura na forma de quadro de amplo espectro e instituídos precocemente. térmico ao mínimo a cada 6 horas); Devem focar em cobrir aeróbios e anaeróbios → Melhora da dor evidenciada por meio da participantes da flora vaginal que se palpação e toque vaginal; encontram envolvidos no processo infeccioso e, → Melhora das provas inflamatórias na mesma ocasião, ou posteriormente, atingir a (leucocitose, bastonetose, VHS e proteína C clamídia, gonococo e micoplasmas. reativa), que devem ser realizadas a cada dois ○ Nos casos de ATO, idealmente devem fazer dias; parte do esquema de antibióticos o → Ecografia demonstrando manutenção ou metronidazol ou a clindamicina, sempre ausência de aumento das dimensões nos iniciados em nível hospitalar endovenoso, com casos de ATO. Deverá ser realizada ao mínimo a tempo mínimo de internamento de 24 horas. À cada dois dias. medida que a paciente melhora e não ★ Em casos de não evidência de melhora, apresenta quadro de temperatura elevada, o avaliar a necessidade de intervenção esquema pode ser trocado para VO, a cirúrgica, sobretudo na possibilidade de clindamicina (450 mg VO de 6 em 6 horas) ou o existência de foco de abscessos em outros metronidazol (500 mg VO 12 em 12 horas), para locais abdominais completar pelo menos 14 dias de tratamento, com doxiciclina ou azitromicina. ○ Nos casos de abscesso que se estenda até o fundo de saco vaginal ou mesmo abscesso em fundo de saco de Douglas que se encontre acoplado à cúpula vaginal em algumas situações, opta-se por drenagem dele pela via vaginal, com coleta de material para pesquisa de agentes. ○ O procedimento de culdocentese (punção do fundo de saco de Douglas) também pode ser realizado em determinadas ocasiões como auxiliar no diagnóstico. ○ Segmento: ★ Nos casos de tratamento ambulatorial, acompanhar a paciente a cada dois dias e instruí-la a retornar ao serviço a qualquer tempo caso haja piora dos sintomas. ★ Nos casos de internamento, avaliar clinicamente, duas vezes ao dia ★ Avaliar a resposta após 48 a 72 horas da instituição da antibioticoterapia, sobretudo em relação às queixas de dor e temperatura ★ A resposta ao tratamento deverá ser avaliada por meio de: → Melhora do estado geral;