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Criado por Yaroslav Goncharov o aplicativo FaceApp foi o escolhido para ser analisado
principalmente por colocar em pauta a questão ética sobre a falta de transparência no
gerenciamento da política de privacidade de dados de usuários, bem como também por
ser possível através de sua análise discorrer sobre questões que levam à reflexão sobre
nosso papel na nova relação com os algoritmos e todas as demais circunstâncias que
derivam dessa relação.
Para além do aspecto lúdico e do fato de despertar tamanha curiosidade sobre como
podemos ver representada nossa imagem no futuro, ou como poderíamos aparentar se
tivéssemos outro gênero, é necessário refletir que por trás dessa “magia” há importantes
questões éticas sendo ignoradas e passando desapercebidas do grande público
consumidor.
A primeira e mais significativa observação a ser feita em relação aos aspectos éticos não
observados pelo aplicativo diz respeito ao que coloca muito bem Eduardo Magrini
quando aponta a necessidade de assegurar a proteção de informações pessoais
resguardadas pela própria Constituição Federal de 1988 que configura como direito
fundamental a “inviolabilidade da intimidade e da vida privada”. A política de
privacidade do aplicativo, não traduzida ainda para o português, permanece
escorregadia e enviesada.
O FaceApp também envolveu-se numa questão racial quando usava em seus filtros de
embelezamento o clareamento da pele mesmo quando a imagem usada era de uma
pessoa da cor preta. Situação essa corrigida em versão posterior em que já foi possível
fazer esse “embelezamento” considerando os tons de pele naturais do usuário.
O processo da produção de uma pós verdade percorre algumas etapas. A primeira delas
diz respeito a criação de um ambiente de consenso para conquistar a simpatia de todos,
seguido da colocação de uma dúvida sobre se há ou não comprovações ou estudos sobre
aquele consenso. A terceira etapa se dá quando os fatos são desqualificados em
decorrência da valorização de argumentos próprios e como última etapa a normalização
de argumentos através de uma publicização em massa desses argumentos.
Embora a relação estabelecida entre uma pós-verdade e o FaceApp não esteja ligada a
uma questão de desobediência a preceito ético diretamente praticada pelo aplicativo é
possível entender que a própria existência da ferramenta já torna viável tal
desobediência, uma vez que o usuário é quem fará uso inapropriado de sua imagem para
fins de ludibriar ou fazer-se passar por alguém que não é, causando prejuízos a
terceiros, criando perfis com imagens falsas em redes sociais ou até mesmo realizando
cadastro em sites de relacionamento.
Nesse sentido faz-se necessário apontar a teoria Ator-Rede (TAR) que ressalta em um
de seus aspectos que as ações das coisas na internet afetam as coisas fora dela. Nessa
perspectiva é importante reconhecer o debate em relação a divisão de responsabilidades
sobre o papel ético de cada um dos actantes (seres humanos e aplicativo) no ambiente
de discussão sobre ética digital.
Assim, na análise do FaceApp, no qual se pode observar muitas nuances que vão de
encontro a questões eticamente estabelecidas, no entanto sem arcabouço legal que as
parametrize no mundo digital, é preciso ressaltar que o uso de aplicações polêmicas
como essa deve ser exaustivamente submetido à luz da consciência moral, não
exaurindo nunca o uso das perguntas típicas que norteiam a ética: é bom? É justo? É
correto? E permitido?
REFERÊNICIAS BIBLIOGRÁFICAS:
O DILEMA das Redes. Direção: Jeff Orlowski. Produção: Larissa Rhodes. Estados
Unidos: Netflix. Documentary, 2020. TV Streaming.