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A medição da circunferência da Terra

Eratóstenes (275-194 a. C.)1

O método de Eratóstenes depende de um argumento geométrico e dá a impressão de ser


difícil de acompanhar. Mas a sua afirmação se tornará mais clara se estabelecemos como premissas
o seguinte. Vamos supor, neste caso também, que Siena e Alexandria estão localizadas no mesmo
circulo meridiano; segundo, que a distância entre as duas cidades é de 5000 estádios; terceiro que
os raios enviados desde as diferentes partes do Sol até as diferentes partes da Terra são paralelos;
essa é a hipótese sobre a qual procedem os geômetras. Em quarto lugar, vamos assumir que,
conforme foi provado pelos geômetras, que uma linha reta inclinada sobre retas paralelas formam
ângulos alternos internos iguais, e em quinto lugar, que os arcos posicionados (isto é, subtendido
por ângulos iguais são similares, isto é, tem a mesma proporção e razão com seus próprios círculos
– isto também é um fato provado pelos geômetras). Portanto, toda vez que arcos de círculos
estiverem submetidos por ângulos iguais, se um deles for, por exemplo, um décimo do seu próprio
círculo, todos os outros, serão décimas partes dos seus próprios círculos.
Qualquer um que tenha assumido estes fatos não terá dificuldades em entender o método
de Eratóstenes descrito a seguir. Siena e Alexandria posicionam-se, diz ele, sob o mesmo circulo
meridiano. Já que círculos meridianos são círculos máximos do mundo, os círculos da Terra que
repousam sobre eles são círculos máximos também. Portanto por este método calcula-se o círculo
máximo da Terra, seja qual for o círculo que passa por Siena e Alexandria. Agora Eratóstenes
afirma, e isto é de fato, que Siena localiza-se sob o Trópico de Verão. Portanto, sempre que o Sol,
estando na constelação de Câncer durante o solstício de verão, ele está exatamente no meio do
céu, os ponteiros do relógio de Sol necessariamente não lançam sombra, a posição do Sol entre
eles sendo exatamente vertical: em um diâmetro de três centenas de estádios é sabido que isso é
verdade. Mas em Alexandria na mesma hora, os ponteiros do relógio lançam sombra, porque
Alexandria localiza-se mais ao norte que Siena. Como as duas cidades ficam sobre o mesmo
meridiano máximo, se nós traçamos um arco da extremidade da sombra até a base do ponteiro do
relógio em Alexandria, pode-se dizer que o arco será um segmento de círculo da superfície esférica
do relógio, pois essa superfície esférica do relógio encosta no círculo máximo (do meridiano). Se
agora nós supusermos as retas prolongadas desde cada um dos ponteiros em direção da Terra, elas

1
Traduzido por Denise Vilela, a partir de SCHWARTZ, G. & BISHOP, P. (Ed.) Momentz of Discovery. New York. Basic
Books, 1958.
irão se encontrar no centro da Terra. Sendo que o relógio de Siena está verticalmente sob o Sol, se
supusermos uma linha reta que liga o Sol ao topo do ponteiro do relógio esta reta coincide com a
reta que vai desde o Sol até o centro da Terra. Se agora supusermos outra linha traçada ascendente
desde a extremidade da ponta do ponteiro de Alexandria, passando pelo topo do ponteiro indo até
o Sol, esta linha reta e a linha acima citada serão paralelas, uma vez que elas são linhas vindas
desde as diferentes partes do Sol até as diferentes partes da Terra. Nessas retas paralelas incide a
reta que vai desde o centro da Terra até o ponteiro em Alexandria, de modo que, por conseguinte,
os ângulos alternos formados são iguais. Um desses ângulos é aquele formado no centro da Terra,
pela interseção das retas que ligam o centro da Terra aos relógios; o outro está no ponto de
interseção formado pelo topo do ponteiro em Alexandria e a reta que vai da extremidade de sua
sombra até o Sol, passando pelo ponto onde (a reta) encontra o topo do ponteiro, enquanto que o
ângulo do centro da Terra subtende o arco que abrange desde Siena até Alexandria. Mas os arcos
são similares desde que são iguais os ângulos que subtendem esses arcos. Portanto, qualquer que
for a razão que o arco na cavidade do relógio estabelecer, com o círculo (do relógio), o arco que
envolve de Siena à Alexandria mantém a mesma razão com seu próprio círculo (da Terra). Mas o
arco no bojo é sabido ser um cinquenta avos de seu próprio círculo. Portanto a distância de Siena à
Alexandria deve ser necessariamente uma ciquentagésima parte do círculo máximo da Terra. E a
dita distância é 5000 estádios; portanto o círculo grande completo mede 250.000 estádios. Este é o
método de Eratóstenes.

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