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22.9.2023
O GOLPE
BATEU NA
w
TRAVE
77
CLUBE DE REVISTAS
/ Capa
O GOLPE BATEU NA TRAVE
3 | Almirante Garnier e o naufrágio da
fragata golpista de Bolsonaro, por Plínio
Teodoro
edição #77
/ Política
22 | Os absurdos da Lava Jato, por Henrique
Rodrigues
32 | A resposta do MST ao relatório final de
conteúdo |
/ Brasil
39 | Vitória dos povos indígenas: marco
temporal é derrotado, por Raphael Sanz
47 | Mariana (MG): “Nós não acreditamos
mais na Justiça brasileira”, por Raphael Sanz
/ Global
54 | Lula na ONU: o aclamado discurso do
presidente decifrado por especialistas, por
Ivan Longo
/ Moda e política
63 | A gravata da sorte de Lula, por Iara Vidal
/ Cinema
72 | Som da Liberdade é medíocre e
transforma drama infantil em delírio cristão,
por Marcelo Hailer
78 / Expediente
Fotos capa: : Marcos Corrêa/PR e Antônio Cruz/Agência Brasil
CLUBE DE REVISTAS
Capa
ALMIRANTE GARNIER
E O NAUFRÁGIO DA
FRAGATA GOLPISTA
DE BOLSONARO
por Plínio Teodoro
CLUBE DE REVISTAS
V
azadas a conta-gotas nas últimas
semanas, a divulgação na quinta-feira
(21) de novas informações reveladas por
Cid à Polícia Federal (PF) causou verdadeiro
tsunami na cúpula das Forças Armadas. E
asfixiou principalmente o ex-comandante da
Marinha, o almirante Almir Garnier Santos.
Segundo Cid, Garnier teria embarcado
prontamente na tramoia golpista proposta por
Jair Bolsonaro em reunião secreta com os
comandantes das Forças Armadas.
Servil ao ex-presidente, a quem devia favores,
o marinheiro teria colocado a tropa à disposição
do golpe, cobiçando surfar no mesmo enredo
do vice-almirante Augusto Rademaker, que,
juntamente com o general Costa e Silva e o
tenente-brigadeiro Correia de Melo, compôs a
tríade que decretou o Ato Institucional nº 1 em 9
de abril de 1964.
O golpe só não foi adiante pelo silêncio do
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“Se o senhor
for em frente
com isso, serei
obrigado a
prendê-lo”
General Marco Antônio
Freire Gomes para
Bolsonaro, segundo
Foto Alan Santos/PR
Mauro Cid
Olavismo e a obsessão
por prender Moraes
Na delação à PF, Cid deu detalhes que ainda
não vieram a público — e que irão inundar ainda
mais as investigações que sufocam Bolsonaro,
civis e militares golpistas.
O que se sabe é que, enquanto fazia cena
nas raras aparições públicas, Bolsonaro
tramava nos porões do Alvorada um plano para
perpetuação no poder em conluio com figuras
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que ascenderam das trevas fascistas durante
sua gestão.
Na reunião com a cúpula militar, Bolsonaro
teria apresentado uma minuta
golpista recebida das mãos de
Filipe Martins, então assessor
especial para Assuntos
Internacionais da Presidência.
A ideia era testar a receptividade
do golpe na cúpula militar.
Figura prepotente e burlesca, cunhada nas
teorias da conspiração de Olavo de Carvalho,
Martins teria entregado o documento a
Bolsonaro acompanhado de um advogado e de
um padre.
A minuta, segundo Cid, sugeria a
convocação de novas eleições e autorizava o
governo a prender adversários, entre eles Lula e
o ministro Alexandre de Moraes, presidente do
Tribunal Superior Eleitoral.
A PF investiga se se trata do mesmo
documento encontrado na busca e apreensão
em endereço do ex-ministro da Justiça
Anderson Torres, que previa ainda a formação
de uma junta, composta majoritariamente por
militares, para realizar uma intervenção na
Justiça Federal.
Segundo depoimento anterior de Cid, em
março deste ano, a prisão de Moraes era uma
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Eu já sabia
Sócio de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) na
Braz Global Holding, empresa criada em maio
do ano passado em Arlington, no Texas, Paulo
Generoso antecipou pela rede X (antigo Twitter)
o encontro entre Bolsonaro e a cúpula das
Forças Armadas, revelado em delação premiada
pelo tenente-coronel Mauro Cid.
Em sequência de tuítes publicados no dia
20 de dezembro de 2022, Generoso confirma
que, "em reunião esta semana com o alto
comando das Forças Armadas, Bolsonaro pediu
apoio para barrar o avanço do judiciário sobre
os outros poderes e pediu para que a posse
de Lula fosse adiada por seis meses, até que
equipe de juristas fizesse uma investigação
sobre favorecimento à (sic) Lula".
Em seguida, o sócio de Eduardo Bolsonaro
faz menção a uma resistência do então
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comandante do Exército, o general Marco
Antônio Freire Gomes, que vinha sendo
pressionado pela horda bolsonarista a apoiar a
tentativa de golpe.
"Freire Gomes foi contra [o apoio ao golpe
de Bolsonaro] e disse que não valia a pena ter
20 anos de problemas por 20 dias de glória e
falou que não apoiaria ou atenderia o chamado
do presidente para moderar a situação mesmo
após Bolsonaro apresentar vários indícios de
parcialidade em favor de Lula pelo TSE e STF",
escreveu Generoso.
Atitudes isoladas
Atuando como porta-voz das Forças
Armadas, o ministro da Defesa, José Múcio
Monteiro, comemorou as informações reveladas
por Cid e trazidas à tona.
Buscando blindar a alta cúpula a todo custo,
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Múcio encontrou na delação de Cid amparo à
sua tese de que o golpe não foi levado adiante
justamente por oposição das Forças Armadas.
Bolsonaro e a
fake news da defesa
Após o vazamento do trecho da delação que
envolve a cúpula militar na tentativa de golpe
proposta por Bolsonaro, integrantes do núcleo
duro de apoio ao ex-presidente viajaram às
pressas a Brasília.
Objetivo é avaliar com o ex-presidente a
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estratégia em resposta ao vazamento da última
delação do tenente-coronel.
Há uma grande possibilidade de Bolsonaro,
que até então tratava seu ex-ajudante de ordens
como aliado, ir para o confronto.
Nas redes, a ordem é propagar que no Brasil
não há "intenção de crime". E, segundo a tese
bolsonarista, como o golpe não foi consumado,
não há o que se punir.
A teoria, no entanto, não passa de mais
uma fake news para enganar os apoiadores,
segundo o jurista Pedro Serrano, professor de
direito consitucional da PUC-SP.
FILMES
EP.2
Festa da Selma
Integrantes da
Política
E
" u não entendo por que não vão em cima
dela. A gente até vê sair uma coisinha
aqui ou ali, até alguns procedimentos
foram instaurados. Mas ninguém questiona e vai
diretamente nela, e só ela tem conhecimento de
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todos os absurdos da Lava Jato”. A afirmação
é de um servidor da Justiça Federal do Paraná
e se refere à também servidora Flávia Cecília
Maceno Blanco, que ocupou a função de
diretora de secretaria da 13ª Vara Federal de
Curitiba durante o período em que o então juiz
Sergio Moro esteve por lá, ganhando fama em
todo o Brasil com a Lava Jato.
Por questões funcionais e de segurança,
o servidor do Judiciário Federal na capital
paranaense, que falou com exclusividade à
Fórum, não se identificará. Informações que
possam levar à sua identidade também serão
omitidas, permitindo-nos dizer apenas que ele
tem bem mais de dez anos como funcionário
de carreira na Justiça Federal do Paraná, tendo
passado por vários órgãos e varas, inclusive a
“célebre” 13ª Vara Federal, por onde estiveram
como juízes, desde o início da Lava Jato, Sergio
Moro (2014-2018), Gabriela Hardt (2018-2019
e 2023), Luiz Antonio Bonat (2019-2022),
Eduardo Fernando Appio (2023) e Fábio Nunes
de Martino (atual).
Em 11 de novembro de 2018, poucos dias
após a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, Moro
anunciou ao Brasil que deixava a carreira de
juiz federal. Ele abandonava os mais de 20
anos de magistratura para entrar numa barca
furada: assumir o cargo de ministro da Justiça
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A resposta do MST ao
relatório final de Salles na
CPI: "Final melancólico"
Réu por corrupção e contrabando de madeira,
relator da CPI que busca criminalizar o
movimento social pede indiciamento de
11 pessoas; expectativa é de derrota dos
ruralistas e bolsonaristas
por Ivan Longo
O
deputado federal Ricardo Salles (PL-
SP), que recentemente se tornou
réu na Justiça Federal por corrupção
passiva, associação criminosa, facilitação
ao contrabando, advocacia administrativa e
obstrução à fiscalização ambiental, apresentou
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na quinta-feira (21) seu relatório final produzido a
partir da Comissão Parlamentar de Inquérito que
visa criminalizar o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra, a CPI do MST.
Relator do colegiado instalado em maio
deste ano, Salles propõe, no documento, o
indiciamento de 11 pessoas — a maior parte
dirigentes do MST. Estão na lista nomes como
o do ex-ministro do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI) general Gonçalves Dias e
José Rainha, ex-líder do MST e atualmente
coordenador da Frente Nacional de Lutas
Campo e Cidade (FNL).
As outras:
• Paulo Cesar Souza, integrante do MST
• Diego Dutra Borges, integrante do MST
• Juliana Lopes, integrante do MST
• Cirlene Barros, integrante do MST
• Welton Souza Pires, integrante do MST
• Lucinéia Durans, integrante do MST e
assessora na Câmara dos Deputados
• Oronildo Lores Costa, integrante do MST e
assessor na Câmara dos Deputados
• Jaime Messias Silva, presidente do
Instituto de Terras e Reforma Agrária de
Alagoas (Iteral)
• Débora Nunes, integrante da coordenação
nacional do MST
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Brasil
C
om o voto do ministro Luiz Fux, o
Supremo Tribunal Federal (STF) formou
maioria na quinta-feira (21) para rejeitar
a tese do marco temporal. O magistrado se
juntou ao relator Edson Fachin e aos ministros
Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso,
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Cristiano Zanin e Dias Toffoli, somando 6 votos
pela rejeição da tese.
Logo após o voto de Fux, a ministra Cármen
Lúcia também votou contra o marco temporal
e ampliou o placar da maioria para 7 a 2. Os
ministros Gilmar Mendes, o decano, e Rosa
Weber, a presidente da Corte, deram números
finais à goleada jurídica: 9 a 2. Favoráveis
à tese votaram os dois ministros indicados
ao Supremo por Jair Bolsonaro (PL): André
Mendonça e Kássio Nunes Marques.
Kerexu Yxapyry,
educadora, professora e
liderança da Terra Indígena
do Morro dos Cavalos, na
grande Florianópolis, também
comemora a decisão. Ela relembra
toda a trajetória de resistência dos últimos
523 anos dos povos indígenas e aponta a
importância da mobilização popular e indígena.
“Estamos mais uma vez desenhando para o
setor da sociedade brasileira que contrário aos
direitos indígenas que ‘direito é direito’, ainda
mais quando está registrado na Carta Magna
do nosso país. Nós, povos indígenas, que
desde 1500 viemos fazendo o enfrentamento
desse massacre e extermínio, mostramos
mais uma vez para todos que o movimento
indígena e suas organizações trazem e reforçam
o direito inato e congênito, anterior à criação
do próprio estado brasileiro. Estamos muito
felizes, comemorando e agradecendo nossa
ancestralidade, nossos povos e todos os
apoiadores", contou à Fórum.
Além da vida e da cultura dos povos
indígenas estarem ameaçadas, também está
em risco a própria preservação da natureza e
da vida dos não indígenas. De acordo com o
último relatório do MapBiomas sobre perda de
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vegetação no Brasil, as terras indígenas são
responsáveis por preservar 19% de toda a
vegetação nativa do país. Apenas 1% da perda
de área nativa ocorreu nessas terras nos últimos
37 anos.
"Não é uma vitória apenas dos povos
indígenas aldeados e dos indígenas em
contexto urbano, mas sim de toda a
humanidade. Nesse momento de emergência
climática, é preciso garantir floresta em pé.
Isso é fundamental para amenizar o aumento
climático, principal desafio dessa geração.
Logo, quem se beneficia é o conjunto da
humanidade", avaliou Giva.
Nesse sentido, Xerexu Yxapyry, que tem
como uma de suas principais pautas a
recuperação da Mata Atlântica, também vê a
rejeição da tese do marco temporal como uma
vitória da humanidade e disse que está com a
alma lavada após o julgamento.
Indenização de fazendeiros
Outra questão em discussão que preocupa
as organizações indígenas para além da
validade da tese é o voto favorável de Alexandre
de Moraes à indenização de fazendeiros que se
consideram proprietários de terras indígenas.
De acordo com o texto, o valor pago pela
desapropriação da terra e sua subsequente
homologação como terra indígena seria integral,
o que poderia dificultar as demarcações devido
aos problemas orçamentários do Estado
brasileiro, deixando as populações indígenas
dependentes desse pagamento para terem
acesso a suas terras. Atualmente, a indenização
é proporcional às construções feitas, as
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Mariana (MG)
“Nós, atingidos pelo crime
da Samarco/Vale/BHP,
não acreditamos mais na
Justiça brasileira”
Liderança da comunidade quilombola de
Gesteira, Simone Silva, 46, fala à Fórum sobre
os últimos oito anos de luta, denunciando o
racismo ambiental sofrido pelo seu povo
por Raphael Sanz
G
" arra", essa é a palavra que define
Simone Silva, de 46 anos, liderança
da comunidade quilombola, ribeirinha
e indígena da Gesteira, em Barra Longa, a
60 km da Barragem do Fundão — a mesma
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que, gerida pelas mineradoras Vale, Samarco
e BHP Billiton, em Mariana (MG), rompeu em
5 de novembro de 2015, gerando um colossal
tsunami de lama tóxica que varreu centenas
de quilômetros ao longo da bacia do Rio Doce.
Simone viu sua comunidade ser completamente
destruída após o episódio.
Lula na ONU: o
aclamado discurso do
presidente decifrado por
especialistas
Mandatário recoloca o Brasil em lugar de
protagonismo no cenário internacional ao
levantar pautas importantes sem deixar de
fazer críticas contundentes ao próprio sistema
de governança global das Nações Unidas
por Ivan Longo
A
pós 20 anos de sua primeira participação
em uma Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU),
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a
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discursar na abertura da 78ª edição do mais
importante fórum internacional do mundo, em
Nova York (EUA), na terça-feira (19). Dessa
vez, Lula retorna à ONU não só como chefe de
Estado do Brasil, mas também como presidente
do G20 e do Mercosul.
A gravata da
sorte de Lula
Presidente brasileiro já usou a peça com
as cores nacionais em várias ocasiões
importantes, inclusive no encontro cara a cara
com Sergio Moro; em contraponto, Volodymyr
Zelensky segue com seu visual "verde-bélico"
por Iara Vidal
N
o discurso histórico proferido pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva na
abertura da 78ª Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) na
terça-feira (19), para além do conteúdo, merece
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destaque o visual escolhido pelo brasileiro, que
optou por usar a sua "gravata da sorte".
Lula abordou os principais temas globais,
como desigualdade, guerras, mudança
climática e uma reforma na governança global.
Enquanto a "gravata da sorte", listrada com as
cores nacionais do Brasil — verde, amarelo,
azul e branco —, é repleta de simbologia.
Pelas redes sociais, a primeira-
dama, Janja Lula da Silva, deu
spoiler do look de Lula e o
fotografou enquanto se arrumava
para cumprir a agenda em Nova
York (EUA).
A peça estampada com as
cores da bandeira nacional já
faz parte do acervo imagético
da população brasileira. Lula
costuma usar essa gravata
em eventos internacionais e
nacionais importantes.
A primeira vez que o presidente brasileiro
vestiu a gravata foi na cerimônia de abertura
dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008,
durante seu segundo mandato presidencial.
Neste ano, no terceiro mandato à frente da
Presidência da República, Lula usou a peça
durante encontro com o presidente chinês, Xi
Jinping, em abril.
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Lula usa a gravata na cerimônia de abertura dos Jogos Fotos Ricardo Stuckert/PR
A N O S
22JORNALISMO
DE
INDEPENDENTE
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Foto Divulgação
Cinema
Som da Liberdade
é medíocre e transforma
drama infantil em
delírio cristão
Longa-metragem transforma agente da CIA
em "enviado de Deus" para libertar as crianças
dos "latinos selvagens"
por Marcelo Hailer
N
os últimos dias, um fato inusitado
tem ocorrido em relação à claque
bolsonarista nas redes sociais: inúmeros
perfis de influenciadores e parlamentares
da extrema direita estão empenhados na
divulgação de um filme e afirmam que o objetivo
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da "elite" é esconder tal produção do grande
público. Puro delírio.
O filme em questão chama-se Som da
Liberdade (Sound of Freedom/2023), dirigido
por Alejandro Monteverde. Narra a história real
do agente da CIA Tim Ballard (Jim Caviezel),
que trabalha em um departamento da agência
de inteligência estadunidense focado em
desbaratar quadrilhas que traficam crianças
para crimes sexuais.
Foto Divulgação
Missão divina
Após uma bem-sucedida primeira missão,
Tim Ballard trava um diálogo com uma criança
chamada Miguel, que lhe conta que a sua
irmã também foi sequestrada e ainda está sob
controle da quadrilha. Com isso, Ballard pede
autorização para ir à Colômbia tentar resgatar a
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Foto Divulgação
Alejandro Monteverde dirige cena do filme Som da Liberdade
irmã do garoto.
A partir desse momento, o filme mergulha em
mediocridade, estereótipos racistas e delírios
cristãos. Vamos por partes: na Colômbia, ele
faz uma parceria com Vampiro, homem que
atuava no narcotráfico, mas, após um chamado
de Deus, muda de lado e passa a ajudar a
desbaratar quadrilhas que traficam pessoas.
O próprio Tim Ballard também entende que
atende a um chamado divino, prova disso é
que, após a sua primeira busca pela garota
fracassar, ele recebe um chamado da CIA
para que volte imediatamente. Diante disso,
ele resolve enfrentar a burocracia, demite-se e
monta um grupo para enfrentar as quadrilhas.
Ao justificar a sua demissão para o seu chefe
na CIA, Tim Ballard diz a seguinte frase para ele:
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"Os filhos de Deus não estão à venda". É com
esse espírito que ele vai para a Colômbia.
Foto Divulgação
"Latinos selvagens"
Além de ser uma produção completamente
apelativa, o filme Som da Liberdade é
profundamente racista, o que fica evidente na
maneira como ele contrapõe Tim Ballard aos
personagens colombianos: Ballard é retratado
como angelical, ingênuo e saudável, enquanto
os latinos são apresentados como rudes,
fumantes, quase sempre bêbados e violentos.
Isso remete à clássica definição colonial sobre
os habitantes da América Latina.
Os filtros utilizados para demarcar essas
diferentes civilizações também gritam na tela,
visto que as cenas nos Estados Unidos são
sempre limpas e harmoniosas, enquanto do
lado colombiano prosperam o caos, a sujeira
e a corrupção.
Há outro paralelo que podemos fazer com o
personagem Tim Ballard e a maneira como ele
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é retratado no filme: trata-se de um missionário
que veio libertar as crianças das mãos dos
selvagens. Ballard é o tipo homem branco
desbravador, mas a sua missão colonial, que
também é catequizadora, tem por objetivo
salvar as crianças, pois estas ainda podem ser
modeladas conforme os valores coloniais.
Não é à toa que o filme em momento algum
toca no ponto do tráfico de pessoas jovens e
adultas, mas sim nas crianças. A base do roteiro
é a mesma que alimenta o pânico moral da
extrema direita, que cresce em cima do “tirem
as mãos das crianças” e transforma tudo em
“ideologia de gênero” e fim da família.
Diretor de Redação
_ Renato Rovai
Editora executiva
_ Dri Delorenzo
Designer Revisão
_ Marcos Guinoza _ Laura Pequeno
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