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A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo


Conselho Federal de Medicina Veterinária
e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos
(revisões, artigos de educação continuada, artigos originais)
e matérias de interesse da Medicina Veterinária e da Zootecnia.

A distribuição é gratuita aos inscritos no CFMV e CRMVs,


empresas e órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos
devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária
no seguinte endereço:

SCS, Quadra 1, Bloco “E”, nº 30, Ed. Ceará, 14º andar


Brasília - DF - CEP: 70.303-900
Fone: 55 (61) 322 7708 - Fax: 55 (61) 226 1326
Site: www.cfmv.org.br - E-mail: cfmv@cfmv.org.br

A Revista CFMV é indexada na base de dados AGROBASE

Revista CFMV. - v. 1, n.1 (1995) -


Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária,
1995 -

Quadrimestral

ISSN 1517 - 6959

1. Medicina Veterinária - Brasil - Periódicos.


I. Conselho Federal de Medicina Veterinária.

AGRIS L70
CDU 619(81)(05)
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ENTREVISTA 3
Dr. José Guilherme da Motta

PREMIAÇÃO 8
Dr. Gilvan de Almeida Maciel
agraciado com o Prêmio Paulo Dacorso Filho – 2003

TÍTULO DE ESPECIALISTA 10
Resolução dispõe sobre o Registro de Título de Especialista em
áreas da Medicina Veterinária

NOVAS TECNOLOGIAS 12
Descobertas do Dr. Marcelo Molento são destaque no Brasil e no Exterior

CÂMARA TEMÁTICA 14
Criada Câmara Temática de Ciências Agrárias

FARMACOLOGIA 15
Farmacologia Veterinária: considerações sobre farmacocinética que
contribuem para explicar as diferenças de respostas observadas entre as
espécies animais

SUPLEMENTO TÉCNICO 23
Diagnóstico e tratamento das arritmias de cães e gatos,
observadas no monitor cardíaco
Transplante renal em cães e gatos
Mecanismo de defesa uterino na fêmea bovina
Perda de qualidade do pescado, deteriora e putrefação

HISTORIOGRAFIA 67
Museus de Ciências e o Museu de Primatologia do CPRJ-FEEMA

HISTÓRIA 73
Curso de Medicina Veterinária da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Rio Grande do Sul

PUBLICAÇÕES 79
Estatística aplicada à pesquisa em ciência veterinária
Nutrição de bovinos a pasto
Anestesiologia veterinária
Dermatopatias em pequenos animais (CD-ROM)

AGENDA 81
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EDITORIAL

Cabe-nos registrar, neste final de 2003, que muitos foram os desafios


Ano IX nº 30 enfrentados pelo CFMV, contudo, obstinadamente, eles foram sendo
Setembro a Dezembro de 2003
CONSELHO FEDERAL DE superados pelos seus dirigentes e colaboradores. Tal constatação é
MEDICINA VETERINÁRIA auspiciosa e encorajadora para todos aqueles que sonham em poder
SCS - Quadra 1 - Bloco “E” contribuir, por diferentes meios e formas, para o fortalecimento das
nº 30 - Ed. Ceará - 14º andar
Brasília-DF - Cep: 70303-900 nossas profissões no cenário nacional. Uma dessas políticas passa pelo
Fone: (61) 322 7708 aperfeiçoamento gradual e constante da Revista CFMV, garantindo,
Fax: (61) 226 1326 assim, a sua inserção definitiva na comunidade acadêmica e científica.
www.cfmv.org.br
cfmv@cfmv.org.br
Tiragem: 56.500 mil exemplares Entre os artigos publicados nesta edição podemos destacar a nova
DIRETORIA EXECUTIVA Resolução que trata da concessão do Título de Especialista, no âmbito
Benedito Fortes de Arruda dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária, a qual sofreu
Presidente reformulações visando atender a nova demanda das especialidades
Eliel Judson D. de Pinheiro médico-veterinárias. Destacamos, também, a matéria que trata sobre
Vice-Presidente
André Luiz de Carvalho “Farmacologia Veterinária - considerações sobre farmacocinética que
Secretário-Geral contribuem para as diferenças de respostas observadas entre espécies
Élio João Ventura animais”, cujos conceitos são de grande aplicação na área de clínica
Tesoureiro
médica.
Conselheiros Efetivos
José Carlos Landeiro Fraga
Wilson de Souza Vieira Filho A partir deste número a Revista CFMV traz como novidade a relação dos
Geraldo Marcelino C. P. do Rêgo Consultores Ad hoc que, desde a criação do Suplemento Técnico, têm
Adeilton Ricardo da Silva emprestado uma relevante contribuição técnico-científica ao Conselho
Pedro Jeremias Borba Federal e, por extensão, às classes médico-veterinária e zootécnica
Alberto Neves Costa
brasileira. Desta feita inovamos, também, ao historiar sobre um curso de
Conselheiros Suplentes Medicina Veterinária ofertado por uma universidade privada - estamos
Paulo César O. dos Santos
Edson Nunes Lustosa nos referindo àquele ministrado pela tradicional Universidade Luterana
Enio Gomes da Silva do Brasil (ULBRA).
José Franklin de Paula da Silva
José Ivanildo de Vasconcelos Como sempre tem feito, O CFMV busca divulgar as principais
Nilza Dutra Alves
publicações editadas no Brasil, por renomados especialistas,
Editor possibilitando aos médicos veterinários, zootecnistas e estudantes
Alberto Neves Costa informações relevantes, em termos de livros textos e CD-ROMs
Os artigos assinados são de inteira lançados em suas respectivas especialidades. Sendo esta a última edição
responsabilidade dos autores, não
representando, necessariamente, da Revista em 2003, aproveitamos para informar sobre os congressos
a opinião do CFMV
nacionais e internacionais a serem realizados em 2004, com destaque
para o 15º Congresso Internacional de Reprodução Animal, em Porto
Seguro-Bahia e XIX Congresso Panamericano de Ciências Veterinárias,
em Buenos Aires-Argentina, dentre outros.

(61) 347 3501 - 8116 0969 Como estamos às vésperas dos festejos natalinos e de um Ano Novo que
www.medmidia.com se prenuncia como alvissareiro para a sociedade brasileira, sugerimos a
e-mail: medmidia@medmidia.com todos os leitores e aos colegas em especial, que reflitam sobre o futuro,
Divanir Jr. - MTb 4536/014/49v/DF sobre o que podemos fazer pela família, pelo próximo e por nós mesmos.
Edição Arte: Juscelino L. Reis Contra a miséria, a intolerância, a sede de poder e a falta de ética e
moral. A confraternização do Natal deve significar uma renovação das
Impressão: Impress - SP
esperanças em uma ordem social mais justa e fraterna entre os povos.
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ENTREVISTA

Dr. José Guilherme da Motta


Uma formação eclética a serviço da Medicina Veterinária
Nosso entrevistado é, antes de tudo, um batalhador
incansável no tocante à Medicina Veterinária,
principalmente quando se trata de Produção e Saúde
Animal, áreas nas quais tem diversos trabalhos
publicados. Nascido no Rio de Janeiro fez seu curso de
Medicina Veterinária na então Escola Nacional de
Veterinária da Universidade Rural do Brasil.
No entanto, quis o destino que a maior parte de sua vida
profissional fosse dedicada ao estado da Bahia, onde
reside até hoje.

O professor José Guilherme tem feito de sua vida um


exemplo de como é possível conciliar a pesquisa, a vida
profissional, o professorado, as atividades públicas e a
família, tudo com a maior competência. Como homem
público, tem já assegurado seu nome na história. Entre
os cargos de diretor, consultor e atividades no âmbito da
educação superior, pode-se destacar um rol de órgãos e
instituições pelas quais passou. Como Médico
Veterinário, manteve vínculo com a Secretaria de
Agricultura da Bahia. Entre julho de 1995 e abril deste
2003, foi o Superintendente e Gerente Executivo do
IBAMA na Bahia, demonstrando todo o seu
conhecimento sobre o assunto e sua afinidade com as
questões ambientais e a sustentabilidade. Foi Presidente
do Conselho de Representantes do IBAMA na Região
Nordeste, no período de 1998 a 2001. Há que se
destacar, sem dúvida, sua atuação como Secretário de
Agricultura do Estado da Bahia, entre 1975 e 1979.

No âmbito do ensino, foi Diretor da Escola de Medicina


Veterinária da Universidade Federal da Bahia e Coordenador do curso de Especialização em
Medicina Veterinária (UFBA), além de ter sido Diretor Presidente do Instituto Biológico da Bahia.
Além de cursos, palestras e conferências, o Dr. José Guilherme presta sua colaboração em prol do ensino
participando de bancas examinadoras em concursos para o magistério superior, na coordenação de cursos e
seminários. Também é Acadêmico Titular da Academia Baiana de Medicina Veterinária.

À sua visão de Brasil, principalmente do Nordeste, somam-se suas vivências internacionais, em viagens técnicas a
países como Argentina, Canadá, Chile, Estados Unidos, Japão, México, Inglaterra etc. Acima de tudo, o professor
José Guilherme tem sua vida atrelada às preocupações sociais, com a melhoria da qualidade de vida e na
vinculação da Medicina Veterinária com os necessários saltos qualitativos que o país precisa praticar.
Esta entrevista, portanto, apresenta-se com mais um registro histórico, um importante documento no qual se
expressa quem tem tanto a dizer, respaldado por suas inúmeras vivências.

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ENTREVISTA

Revista CFMV - Onde e quando estimulavam os alunos e, portanto, cio profissional estive vinculado à
o Senhor diplomou-se em Medici- sempre serão recordados. O prof. Escola de Medicina Veterinária, ao
na Veterinária? Paulo Dacorso Filho foi o principal Instituto Biológico da Bahia, à
Dr. José Guilherme - Fiz todo desses abnegados. Ainda são lembra- Fundação Gonçalo Moniz, à Secreta-
curso de Medicina Veterinária na en- dos Bruno Alípio Lobo, Werther ria de Agricultura e finalmente ao
tão Escola Nacional de Veterinária Duque Estrada, Hugo de Souza IBAMA.
da Universidade Rural, no Rio de Lopes, Jadir Vogel, Raul Briquet Foram épocas, conhecimentos e
Janeiro, onde nasci. Junior, Franklin de Almeida, Moacyr valores diferentes.
A Universidade foi implantada na Souza, Octávio Dupont e com certe- Na Escola, como Professor Adjun-
gestão do Ministro da za, existem outros per- to, sempre acompanhando o ritmo da
Agricultura Fernando didos na memória. disciplina de Patologia e Anatomia
Muitos profes-
Costa, com um padrão sores ultrapas- Cabe ser dado desta- Patológica, aulas teóricas, necropsia
de excelência compatí- savam o dever em que especial a um Mé- e histopatologia.
vel ao interesse do país dedicação ao dico Veterinário que, Como Diretor da Escola de Medi-
para o desenvolvimen- ensino, promoven- sem ser professor, teve cina Veterinária dei prioridade à ca-
to do então mais impor- do aulas práticas grande influência e inte- pacitação dos docentes e à identifi-
tante setor de formação de campo nos fins resse no aprendizado cação e seleção de valores entre os
de riquezas, colhendo de semana, dos alunos. Trata-se de alunos para encaminhá-los a cursos
divisas e gerando em- feriados ou férias, Altamir Gonçalves de de pós-graduação e posterior ingres-
pregos tanto no campo dando exemplo e Azevedo, na época Che- so no quadro docente da Universi-
como nas cidades. modelo de condu- fe da Defesa Sanitária dade. Em 1974 firmamos o convênio
Além da beleza cê- ta que estimula- Animal do Ministério da com a Escola de Veterinária de
nica do campus, amplos vam os alunos Agricultura, cargo equi- Hannover, culminando em gestões
auditórios, laboratórios valente hoje ao de subseqüentes com a ida de vários do-
diversos, equipamentos Secretário Nacional. No centes para cursos de pós-graduação
de última geração, Hospital início da década de 50, oferecia está- na Alemanha .
Veterinário, instalações destinadas à gios nos diferentes serviços do Considero esses avanços na capa-
criação de diversas espécies, aliado Ministério, em qualquer parte do citação de pessoal como decisivos
ao real interesse empreendido pelos país, custeando passagens para a elevação da
professores catedráticos e seus assis- de avião e com direito à qualidade de ensino da
tentes. pró-labore. Graças à sua Estes últimos Escola e na formação
Lá se contava também com alo- visão de futuro, abriu ho- trabalhos profissional dos Mé-
jamentos confortáveis, ginásio de es- rizontes para inúmeros realizados com a dicos Veterinários.
portes e quadras externas para diver- colegas e beneficiou es- participação do No Instituto Bioló-
sas modalidades. Enfeixando o pa- tados da federação caren- colega José gico participei ativa-
drão, bolsa de estudos para todos e tes de assistência veteri- Augusto Gaspar mente no desenvolvi-
ainda curso pré-vestibular gratuito, nária, já que quase todos de Gouvêa, mento do Laboratório
com direito a alojamento. acabaram se fixando nes- possibilitaram a de Cultivo de Tecidos
ses locais. Foi o precur- erradicação dos e em trabalhos com ví-
Revista CFMV - Quais foram os sor do Projeto Rondon caramujos rus da febre aftosa, po-
mestres que mais marcaram a sua que apareceria 18 anos transmissores da liomielite, doença de
vida acadêmica? mais tarde. esquistossomose Newcastle e raiva.
Dr. José Guilherme - Muitos No início dos anos
professores ultrapassavam o dever Revista CFMV - Em que insti- 60 fui trabalhar na Fundação Gonçalo
em dedicação ao ensino, promoven- tuições exerceu a profissão no Moniz, órgão da Secretaria da Saúde
do aulas práticas de campo nos fins estado da Bahia e como foi a sua do Governo do Estado, projetando e
de semana, feriados ou férias, dando trajetória técnica? implantando o Biotério da Instituição
exemplo e modelo de conduta que Dr. José Guilherme - No exercí- e, paralelamente, realizando traba-

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ENTREVISTA
ENTREVISTA

lhos com Esquistossomose experi- Estado; 5- Apoio e estímulo à cafei- rativismo, crédito rural, comerciali-
mental, doença de Chagas e pesqui- cultura, resultando na ampliação do zação de produtos, entre outros.
sas sobre a capacidade malacófaga parque cafeeiro em mais Nos últimos sete
de peixes e sua aplicação prática. de cinco vezes, possibi- anos e meio estive à
Estes últimos trabalhos realizados litando o aumento da ar- Vivemos a era da frente da Administração
com a participação do colega José recadação do ICM, di- geração e oferta do IBAMA, no Estado
Augusto Gaspar de Gouvêa, possi- namizando os setores da de conhecimento. da Bahia. Foi um perío-
bilitaram a erradicação dos caramu- indústria e comércio, Novos paradigmas do de muita atividade,
jos transmissores da esquistossomo- contribuindo na geração surgiram referen- participando das mudan-
se que proliferavam no Dique do de empregos e fixação tes à natureza, ças da sociedade com re-
Tororó, lagoa existente no perímetro do homem à terra, in- desenvolvimento lação aos valores am-
urbano da cidade de Salvador e que vertendo o fluxo migra- sustentável, bientais.
se constituía em fonte de infestação tório e elevando padrão trabalho,
da população humana. de tecnologia do setor; produção, Revista CFMV -
Em 1975 ascendeu ao cargo de 6- Programa de atração universidade, Tendo ocupado o car-
governador do estado da Bahia o ex- de empresários do setor empresa e espaço go de Professor e Dire-
Reitor da UFBA, Roberto Santos, agropecuário com expe- tor da Escola de Medi-
que já havia apoiado todas as inicia- riência de execução de grandes pro- cina Veterinária da UFBA durante
tivas da Escola de Veterinária, ten- jetos inovadores e oriundos de re- duas gestões, como o Senhor ana-
do me honrado com o convite para giões com tradição no setor. Empre- lisa a formação acadêmica dos
assumir o cargo de Secretário da sários do Rio Grande do Sul atende- nossos futuros colegas em relação
Agricultura. Foi um período rico em ram ao convite e lideram hoje o de- à demanda do mercado de traba-
realizações, na época do milagre senvolvimento do pólo granífero do lho?
brasileiro. Com bons projetos era Estado, na região de Barreiras (oes- Dr. José Guilherme - Compete
possível captar recursos a fundo per- te do rio São Francisco) tendo sido às Escolas cultivar a visão do futu-
dido, tanto do Governo Federal a força propulsora dessa região, com ro, estando atenta para as transfor-
como de organismos como o BID e mais de um milhão de hectares plan- mações do mercado produtor/consu-
o BIRD. tados com soja , alem da cafeicultu- midor e estimulando a criatividade
Algumas realizações ra e projetos de pecuá- para que ocorram as inovações.
importantes efetuadas ria; 7 - Dinamização do A Escola, ao ministrar conheci-
na época foram: Foi um período programa de controle mentos, deve estar atenta para formar
1- Construção do rico em realiza- das zoonoses e implan- profissionais donos do seu próprio
Parque de Exposi- ções, na época do tação de laboratórios re- destino, capazes de prescindir do pa-
ções de Animais, em milagre brasileiro. gionais de diagnóstico; ternalismo estatal e comprometidos
Salvador, considerado Com bons proje- 8 - Amplo programa de com a iniciativa de organizações e
modelar; 2- Criação da tos era possível treinamento de mão-de- empreendimentos privados, educan-
Empresa de Pesquisas captar recursos a obra rural, especialmen- do para a vida, preparando indivíduos
Agropecuárias da Ba- fundo perdido, te produtores de baixa para o uso do conhecimento em co-
hia; 3- Implantação de tanto do Governo renda; 9 - Programa de munhão com a natureza, marco do
oito Escolas para capa- Federal como de estímulo à caprinocultu- desenvolvimento sustentável.
citação em Agropecuá- organismos como ra do Estado; 10 -Im- Deve, ainda, a instituição educar
ria, de nível médio, o BID e o BIRD plantação de programas para a vida pelo trabalho, ensinando
atendendo as principais de desenvolvimento ru- como gerar as próprias oportunida-
vocações do setor em cada região; 4- ral integrado, objetivando reduzir o des de labor produtivo e digno.
Implantação de um sistema de nível de penúria das populações de Vivemos a era da geração e ofer-
Cooperativas de Pesca, atendendo os baixa renda, operando projetos de ta de conhecimento. Novos paradig-
principais núcleos de pescadores ar- pesquisas em agropecuária, assistên- mas surgiram referentes à nature-
tesanais do litoral de 980 km do cia técnica e extensão rural, coope- za, desenvolvimento sustentável,

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ENTREVISTA

trabalho, produção, universidade, em- deverá agir como consultor, assumin- são. Entretanto, ainda é fundamen-
presa e espaço. do o verdadeiro papel de educador tal que o Governo mantenha sua pre-
A capacitação deve ser orientada para a vida. sença nas áreas em processo de de-
no sentido de transfor- senvolvimento.
mar o aluno em profis- Revista CFMV – A Pesquisa sempre contribuiu ati-
sional, com conheci- Nessas circuns- Historicamente, qual a vamente acompanhando os avanços
mentos e condições de tancias, tem sido sua opinião acerca das da ciência e evolução do setor, tra-
ser EMPRESÁRIO da valiosa a participa- políticas públicas ado- balhando em áreas de interesse para
sua capacidade e procu- ção dos órgãos de tadas pelo Governo o desenvolvimento, identificando e
rar fazer acontecer, ha- classe, especial- federal para a pecuá- propondo soluções para os óbices
bilitado para perceber as mente os ria brasileira? existentes.
tendências, interpretar Conselhos Dr. José Guilherme - A Assistência Técnica e Extensão
fatos, avaliar circuns- Regionais e as Defesa Sanitária, Coo- Rural atuou em todos os segmentos
tancias e contextualizar Sociedades de perativismo, Pesquisa, produtivos, transferindo conhecimen-
o conjunto. Medicina Veteri- Assistência Técnica e tos, orientando e se constituindo em
Essa é a visão da Es- nária, os quais Extensão Rural, Crédito instrumento indispensável aos traba-
cola que tem condições agregam esforços e Educação, são os prin- lhos da agropecuária.
de preparar o cidadão àqueles das cipais exemplos da pre- A política de Crédito executada
do 3º milênio, na atual próprias Escolas sença do Governo no se- pelo Governo permitiu a incorpora-
fase de desenvolvimen- tor agropecuário que ção de muitas áreas ao processo pro-
to do país. fortaleceram as atividades. dutivo, embora as ofertas tenham
Entretanto, as transformações do Tradicionalmente, a Defesa Sani- sido limitadas e a maior parte delas
mercado são mais rápidas do que as tária Animal desempenhou papel im- de curto prazo, restringindo práticas
possibilidades de formalização dos portante na evolução do setor, seja conservacionistas no passado e tam-
ajustes dos cursos de Medicina no passado com os memoráveis tra- bém sofrendo as restrições do impac-
Veterinária, havendo um hiato entre balhos no diagnóstico e controle da to do complexo inflacionário que
o conhecimento desejável e o adqui- Raiva, as ações contra a Peste Suína acompanhou o país nas ultimas dé-
rido. Nessas circunstancias, tem sido Clássica, o controle da Doença de cadas.
valiosa a participação dos órgãos de Newcastle, o início e A agropecuária ne-
classe, especialmente os Conselhos consolidação da memo- cessita de definições
A agropecuária
Regionais e as Sociedades de rável campanha contra claras e objetivas sobre
necessita de
Medicina Veterinária, os quais agre- a Febre Aftosa, o diag- as intervenções do
definições claras
gam esforços àqueles das próprias nóstico, combate e erra- e objetivas sobre Governo, que estimulem
Escolas, também ministrando cursos dicação da Peste Suína as intervenções a transferência de capi-
de extensão e atualização profissio- Africana, até o presen- do Governo, que tal dos outros setores
nal. te com aplicação de téc- estimulem a para aplicação neste
As Instituições de ensino forne- nicas atualizadas para o transferência de segmento econômico
cem a base do conhecimento, a in- diagnóstico e medidas capital dos outros produtivo, gerador de
trodução, à vida profissional, o in- de controle de enfermi- setores para empregos e riqueza para
tróito, prefacio e índice. Alguns capí- dades. aplicação neste a economia global.
tulos serão mais densos e ricos de O Cooperativismo segmento
oportunidades. Cabe ao binômio pro- participou da organiza- econômico Revista CFMV -
fessor e aluno identificar as entreli- ção do setor, congregan- produtivo Tendo o Sr. também
nhas do processo. Neste aspecto é do, potencializando e atuado na área de ges-
que será exigido do mestre o interes- assessorando as forças existentes. tão ambiental, no IBAMA, qual a
se, o conhecimento de causa o dis- Nas regiões Sul e Centro Sul a so- sua expectativa em relação ao
cernimento e orientação. O autor de ciedade produtiva assumiu o contro- desenvolvimento sustentável da
cada capitulo é o mais experiente e le dessa política com grande dimen- nossa agropecuária, considerando

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ENTREVISTA

a complexidade dos nossos ecossis- me na necessidade de produzir e o tema produtivo, estando diretamente
temas? imperativo de conservar a natureza, correlacionado com todos os aspectos
Dr. José Guilherme - A agrope- de forma sustentável para as próxi- da preservação do meio ambiente, do
cuária foi a principal mas gerações. desenvolvimento sustentável, amplia-
responsável pelas trans- do e progressivo, em busca do equilí-
É necessário que a
formações socioeconô- Revista CFMV - De brio entre crescimento econômico e
relação desenvol-
micas e ambientais que maneira o Sr. vê a equidade social. É co-responsável pela
vimento - ambien-
ocorridas no Brasil, con- atuação profissional do implementação e sucesso da Agenda
te, incluindo o
tribuindo de forma efe- Médico Veterinário na 21, assimilando e aplicando seus prin-
tiva para o desenvolvi- aspecto social da execução da política cípios e valores, na dimensão possível
mento. Ainda hoje, em questão, seja ambiental no Brasil? a cada cidadão.
determinadas regiões, o considerada como Dr. José Guilherme -
aumento da produção objetivo As questões ambientais Revista CFMV - Finalizando,
ocorre com forte nexo permanente, estão muito além do exer- pediríamos que o Sr. traduzisse a sua
com a ampliação da visando atingir o cício profissional na longa e profícua experiência profis-
fronteira agrícola, como crescimento Medicina Veterinária, já sional em uma mensagem aos novos
no bioma cerrado na econômico que se situam no compro- médicos veterinários.
Bahia, com a prática de sustentável misso com a vida. Dr. José Guilherme - O mercado
queimadas e desmata- Qualquer que seja o de trabalho está em processo transi-
mentos visando a implantação de lugar onde o Médico Veterinário este- tório de retração. O desafio é a criação
projetos agropecuários, agravado, ja atuando, deve prevalecer o sentido de oportunidades de trabalho produti-
ainda, pelo uso indiscriminado de de- da preservação da natureza em todos vo, úteis às comunidades. O objetivo
fensivos e fertilizantes, produzindo os seus aspectos, pelo poder da lide- é ser sempre empresário do seu co-
riquezas mas degradando e poluindo rança e participação, construindo uma nhecimento, de sua experiência e com-
o solo e as águas. proposta que contemple os interesses petência.
A sociedade brasileira evolui, ain- econômicos, sociais, culturais e am- Sua remuneração será proporcio-
da que lentamente, de um conceito bientais. nal à produtividade. Você será dono
de conflito da economia com a eco- É, fundamental e indispensável que do seu destino. Seja o que fizer, deve-
logia, em direção ao desenvolvimen- o Médico Veterinário incorpore o co- rá ser transformado em centro de ex-
to sustentável. Realmente, o compor- nhecimento que os recur- celência e competência.
tamento dos empresários do setor sos naturais só estarão Há um mundo de coisas
vem sendo modificado positivamen- disponíveis para a atual e Você será dono para fazer.
te no sentido da adoção de práticas futura gerações se utiliza- do seu destino. O sucesso profissio-
ambientalmente corretas. dos de modo racional, Seja o que fizer, nal, aspiração legitima
Lamentavelmente, ainda existem compatível com a preser- deverá ser dos futuros colegas, é
produtores que infringem a legisla- vação e o tempo da rege- transformado em sempre possível e as
ção e muitos são penalizados pelos neração e recuperação do centro de oportunidades estão
órgãos governamentais, criticados bem utilizado. excelência e correlacionadas à visão
pela sociedade, sofrendo as conse- A Agenda 21 brasilei- de futuro, criatividade
competência. Há
qüências da própria degradação pra- ra é o instrumento básico e capacidade para ino-
ticada. para a construção do mo- um mundo de vações.
É necessário que a relação desen- delo de desenvolvimento coisas para fazer O aprendizado é um
volvimento - ambiente, incluindo o que otimiza as possibili- processo permanente e irá
aspecto social da questão, seja consi- dades de produção, reduzindo os im- perdurar durante toda a vida.
derada como objetivo permanente, pactos negativos. Finalmente, vale a lembrança de que
visando atingir o crescimento econô- O Médico Veterinário é um partici- as cidades de pequeno porte irão rece-
mico sustentável. pante indispensável na execução da po- ber os pioneiros, dispostos a crescer e
Basicamente, a questão se resu- lítica ambiental por sua inserção no sis- viver uma vida mais humana.

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PREMIAÇÃO

Dr. Gilvan de Almeida Maciel


agraciado com o Prêmio Paulo Dacorso Filho – 2003

Q
ções pela vida docente, atividades
científicas, literárias e artísticas, des-
uando graduou-se, em 1957, tacando-se sempre sua dedicação à
na Escola Superior de Veterinária da Medicina Veterinária.
Universidade Rural de Pernambuco, o Nascido na turística cidade de
jovem Gilvan de Almeida Maciel não Pesqueira, distante pouco mais de du-
poderia imaginar uma trajetória de zentos quilômetros do Recife, no agres-
vida tão rica e variada, com ramifica- te pernambucano, cidade conhecida

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PREMIAÇÃO

como a terra do doce, da renda e da Diretoria Estadual do Ministério da notável educador, homem ligado à so-
devoção, Dr. Gilvan Maciel desenvol- Agricultura, em Pernambuco, passan- ciabilização dos seus conhecimentos,
veu esforços no sentido de melhor se do, em 1976, a coordenar o Grupo ao ensino daquilo que a vida, a pesqui-
aperfeiçoar, ampliando seus conheci- Implantador da Federalização da sa e os estudos lhe oportunizaram.
mentos em nível de extensão univer- Inspeção de Carnes, em Pernambuco. Recentemente, aposentou-se como
sitária. Assim, ao correr do tempo, em As atividades ligadas à fiscalização Professor Adjunto 4, do Departamento
vários cursos no Brasil, foi apreenden- de produtos de origem animal, na ver- de Tecnologia Rural da Universidade
do conteúdos como: educação sanitária, dade, tornaram o Dr. Gilvan um espe- Federal Rural de Pernambuco. Sua par-
tecnologia de alimentos, imunologia cialista no assunto, respeitado em todo ticipação em Comissões e Bancas
das parasitoses, tecnologia do pesca- o país pelos seus conhecimentos em to- Examinadoras foi vasta, assim como
do, inspeção de carnes e inspeção e tec- das as suas particularidades. Por isso, teve significativa atuação na supervi-
nologia de alimentos utilizados em nu- credenciado para exercer a fiscaliza- são e ou orientação, tendo sido respon-
trição animal etc. ção das atividades que tratavam de leis sável, diretamente, por dezenas delas.
A trajetória de atividades profissio- específicas, por quase três décadas, Foi Consultor ‘Ad Hoc’ do Conselho
nais cumprida pelo Dr.Gilvan de Al- ocupou a chefia ou coordenação de Nacional de Desenvolvimento Cien-
meida Maciel não se limitou ao seu vários setores vinculados à fiscaliza- tífico e Tecnológico – CNPq, de 1983
querido estado de Pernambuco. No iní- ção de produtos de origem animal. Em a 1988, tendo relatado diversos proje-
cio da década de 60, era admitido como 1984, destacou-se na Coordenação do tos na área de Tecnologia de Alimentos.
Zoopatologista, na Divisão de Inspeção curso de Fiscalização de Alimentos Enunciamos aqui alguns dos prin-
de Produtos de Origem Animal, Animais, patrocinado pela DIFISA, sob cipais momentos deste notável homem
Inspetoria de São Paulo. Em 1963, por os auspícios da Comissão Permanente público que é o Dr. Gilvan de Almeida
designação, participava da Comissão de Treinamento do Ministério da Agri- Maciel. Sua vida e seus feitos são bem
de levantamento das condições dos es- cultura, em Recife. maiores do que aqui relatamos. Em seu
tabelecimentos abatedores do Estado A Medicina Veterinária, em toda essa pronunciamento, quando da sessão so-
de São Paulo. trajetória de vida, têm merecido aten- lene na qual lhe foi conferido o prêmio,
No período de 1967 a l971, por de- ção especial do Dr. Gilvan. Em 1992, o homenageado fez questão de desta-
signação do SIPAMA, respondeu pela foi o Presidente da Assembléia Eleitoral car a relevância para a Medicina Vete-
chefia da Inspetoria Regional do SIPA- para renovação da Diretoria e Corpo de rinária do saudoso Dr. Paulo Dacorso
MA, com sede em Recife e tendo como Conselheiros do CRMV/Alagoas, de- Filho, destacando ainda que saía de sua
jurisdição todos os estados das regiões signado pelo Presidente do CFMV, de- condição de homenageado para fazer
Norte e Nordeste. monstrando seu permanente interesse duas homenagens pessoais. Falou en-
Em 1974, na Faculdade de Medi- pela valorização profissional dos tão de sua admiração em relação ao Dr.
cina Veterinária da USP, em São Paulo, Médicos Veterinários e Zootecnistas bra- Benedito Fortes Arruda, presidente do
ministrou cursos de Inspeção e Tec- sileiros. Devido a isso, galgou os mais CFMV e do Dr. Gerson Harrop Filho,
nologia de Aves, já mesclando suas ati- relevantes postos, como: Presidente do presidente do CRMV/PE, para os quais
vidades práticas de Medicina CRMV/PE, Presidente da Sociedade citou palavras do então deputado Ulis-
Veterinária com o ensino superior. Ain- Pernambucana de Medicina Veterinária, ses Guimarães: “cumpriu-se o magis-
da em 1974, era designado Coordena- Conselheiro do CFMV e Conselheiro tério do filósofo: o segredo da felicida-
dor do Grupo de Levantamento de do Colégio Brasileiro de Médicos Vete- de é fazer o seu dever e o seu fazer”.
Matadouros de Aves e Coelhos, em São rinários Higienistas de Alimentos. Ser agraciado com o Prêmio Paulo
Paulo, com vistas à implantação da fe- Cumpre destacar também sua passagem, Dacorso Filho foi uma justa homena-
deralização dos serviços de Inspeção. 1992/94, como Presidente da Associação gem a este homem que tem pautado
Em seguida, cumprindo a alternância dos Professores da UFRPE. Atualmente sua vida em fazer bem, com humilda-
de estar em outros estados, sempre vol- é Presidente da Academia Pernam- de, o que pode fazer de melhor. Pelo
tado a seu estado de origem, passou a bucana de Medicina Veterinária, reeleito que tem feito e pelo que é, o Prêmio
ser o Assessor de Carnes e Derivados para um novo mandato. está em boas mãos.
do Grupo Executivo de Inspeção de Cumpre destacar também o Dr. Parabéns, Dr. Gilvan de Almeida
Produtos de Origem Animal, da Gilvan de Almeida Maciel como um Maciel!

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TÍTULO DE ESPECIALISTA

Registro de Título de Especialista em


áreas da Medicina Veterinária
Foi publicado, no Diário RESOLUÇÃO Nº 756, DE 17 DE Art. 3º Para o registro do título de espe-
OUTUBRO DE 2003 cialista junto ao Conselho Regional, o
Oficial da União de 12 de Dispõe sobre o Registro de Título de médico veterinário deverá recolher à tesou-
novembro de 2003, a Especialista em áreas da Medicina raria do órgão o valor estipulado em resolu-
Veterinária, no âmbito dos Conselhos ção do CFMV.
Resolução nª 756, do Regionais de Medicina Veterinária. Art. 4º Os Conselhos Regionais de
CFMV, que trata do O CONSELHO FEDERAL DE MEDI- Medicina Veterinária procederão o registro
CINA VETERINÁRIA – CFMV, no uso dos títulos de especialista conferidos pelas
registro de título de das atribuições que lhe confere a alínea “f” sociedades, associações e colégios de âmbi-
especialista, considerando do art. 16 da Lei 5.517, de 23-10-68, com- to nacional que congregam contingentes de
binado com o art. 3º, alíneas “n” e “o”, do médicos veterinários dedicados às áreas
a necessidade de se Regimento Interno do CFMV, baixado pela específicas do seu domínio de conheci-
estabelecer normas e Resolução nº 04, de 28-07-69, mento.
considerando a necessidade de estabele- Art. 5º As sociedades, associações e os
procedimentos específicos cer normas e procedimentos para o registro colégios que pretenderem habilitar-se a
junto aos CRMVs. de título de especialista nos Conselhos conferir títulos de especialista, em condi-
Regionais de Medicina Veterinária; ções de registro junto aos Conselhos
Transcrevemos a considerando que os avanços científicos Regionais, ficam sujeitos à apresentação,
Resolução na íntegra, e tecnológicos têm aumentado progressiva- ao CFMV, dos critérios que nortearão a
mente o campo de trabalho do médico vete- oferta desses títulos.
pela importância que rinário, com tendência a determinar o surgi- § 1º A entidade interessada em habili-
ela tem em relação à mento contínuo de especialidades; tar-se para concessão de títulos de especia-
considerando que compete ao Conselho lista terá que encaminhar ao CFMV reque-
Medicina Veterinária. Federal de Medicina Veterinária estabelecer rimento instruído com os seguintes docu-
os requisitos para concessão e registro de mentos:
título de especialista, no âmbito do exercí- I - cópia do estatuto aprovado e registra-
cio profissional; do, em cartório de títulos e documentos,
RESOLVE: constando no seu texto que a entidade tem
Art. 1º Instituir, no âmbito dos como finalidade, também, emitir título de
Conselhos Regionais de Medicina especialista;
Veterinária, as normas para registro do títu- II - cópia das normas regulamentadoras
lo de especialista em áreas de Medicina de concessão de título de especialista, con-
Veterinária com vistas a disciplinar o dis- tendo:
posto no art. 13, inciso XIV do Código de a) o sistema de seleção dos candidatos;
Ética do Médico Veterinário. b) conteúdo programático mínimo a ser
Art. 2º Caberá ao Plenário do Conselho cumprido pelo candidato em cursos de
Regional de Medicina Veterinária, o exame especialização;
dos documentos probatórios, assim como a c) o sistema e o período de avaliação,
aprovação do registro do título de especia- relacionando o nome, a titulação dos avalia-
lista. dores e a forma de divulgação dos resulta-
§ 1º É vedado o registro de duas especia- dos;
lidades com base no mesmo curso realizado. d) a definição da carga horária e a dura-
§ 2º O médico veterinário poderá obter ção dos cursos de especialização, indicando
o registro de até 02 (dois) títulos de especia- a distribuição percentual dos conteúdos teó-
lista no Conselho Regional. ricos e práticos;

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TÍTULO DE ESPECIALISTA

e) Os cursos deverão ter uma carga possa comprovar que o requerente desen- fissional nela qualificado, descartada a pos-
horária mínima de 500 h, das quais 80% na volve atividades na área da especialidade sibilidade de enquadramento em área de
área específica, a serem cumpridas no requerida por mais de 03 (três) anos. especialização correspondente ou afim.
máximo em 36 meses. Art. 8º Os títulos de mestre e doutor § 1º A alteração da lista que trata o
f) critérios para revalidação do título de obtidos no exterior somente serão aceitos caput deste artigo fica sujeita à aprovação
especialista a cada cinco anos. após haverem sido revalidados em institui- do Plenário do CFMV, devendo-se levar
§ 2º Só será permitido habilitar-se uma ção de ensino superior nacional, atendidas em conta a fundamentação da necessidade
sociedade, associação ou colégio, por espe- as exigências da Coordenação de desta alteração.
cialidade. Aperfeiçoamento de Pessoal Nível § 2º Os pedidos de alteração na lista de
§ 3º A habilitação se efetivará por meio Superior - CAPES/MEC. especialidades poderão ser subscritos por
de resolução do CFMV, após apreciação do Art. 9º O médico veterinário dirigirá o entidades que já estejam habilitadas a con-
processo devidamente instruído. seu requerimento ao Conselho Regional no ferir título de especialista ou aquelas cujos
Art. 6º É vedado o registro de título de qual se encontra com inscrição principal, processos de habilitação estejam em trâmi-
especialista por entidade que não tenha instruindo-o com cópias das peças de docu- te no CFMV, com parecer preliminar de
obtido do CFMV a homologação dos crité- mentos que houverem feito parte do pro- uma Comissão Mista de Especialidades
rios para a concessão destes títulos. cesso que dera origem ao título junto à instituída pelo Conselho Federal.
Art. 7º Os critérios para concessão de sociedade, associação e colégio de âmbito Art. 12. O título de especialista regis-
títulos de especialista por uma determinada nacional, qual seja, o Certificado conferido trado no Conselho Regional terá validade
sociedade, associação ou colégio somente pela entidade, o memorial, eventuais atas pelo período de 05 (cinco) anos, contados
poderão contar com a homologação do de julgamento e/ou resultados de exames da data do seu registro no CRMV, após o
CFMV quando o título conferido estiver prestados junto às entidades citadas, certifi- que o especialista deverá encaminhar ao
condicionado aos seguintes instrumentos: cados conferidos por instituição de ensino Conselho Regional, através da entidade de
I - título de doutor na área específica, superior ou qualquer outra entidade minis- especialistas pertinente, a comprovação de
conferido por instituição de ensino superior trante de cursos de especialização, mestra- que está atuando na área, mediante a apre-
reconhecida pela CAPES/ MEC; do ou doutorado. sentação de certificados pela realização de
II - título de mestre na área específica, § 1º O Conselho Regional após a análi- palestras, cursos, participação em concla-
conferido por instituição de ensino superior se da documentação apresentada e consta- ves técnicos e publicação de trabalhos.
reconhecida pela CAPES/MEC; tada a autenticidade, emitirá um parecer Parágrafo único. O não atendimento ao
III - certificado de curso de especializa- conclusivo sobre a concessão do título de que estabelece o caput deste artigo implica-
ção na área específica, conferido por insti- Médico Veterinário Especialista, e subme- rá no cancelamento do registro do título de
tuição de ensino superior reconhecida pelo terá à homologação do Plenário do CFMV; especialista.
CNE/MEC ou entidades de especialistas, § 2º O ato de homologação de que trata Art. 13. Ficam convalidados os títulos
cujo curso atenda aos requisitos desta o parágrafo anterior constará de resolução de especialistas registrados sob a égide da
Resolução; exarada pelo CFMV e ensejará o retorno do Resolução CFMV nº 625, de 16 de março
IV - certificado de conclusão de processo ao Conselho Regional de origem; de 1995, embora sujeitos a reavaliação de
Programa de Residência em Medicina § 3º O Conselho Regional procederá ao que trata o art. 12 desta Resolução.
Veterinária (R1 e/ou R2), desde que atenda pertinente registro de concessão do título, Art. 14. Esta Resolução entra em vigor
às exigências previstas na Resolução fazendo constar na Cédula de Identidade na data de sua publicação e revoga as dis-
CFMV nº 752, de 17 de outubro de 2003; Profissional a especialidade correspon- posições em contrário, especificamente a
V - resultado de prova de conhecimen- dente. Resolução nº 625 de 16 de março de 1995.
to específico fornecido pela sociedade, Art. 10. A lista das especialidades e
associação ou colégio credenciado pelo áreas de atuação, objeto de registro junto Méd. Vet. Benedito Fortes de Arruda
CFMV sempre que o requerente não for aos Conselhos Regionais, é a que consta do Presidente - CRMV-GO Nº 0272
portador de qualquer dos títulos menciona- Anexo à presente Resolução.
dos nos incisos I e II deste parágrafo; Art. 11. A lista das especialidades e Méd. Vet. André Luiz de Carvalho
Parágrafo único. É obrigatório em áreas de atuação de que trata o art.10 pode- Secretário-Geral - CFMV Nº 0622
todos os casos previstos nos incisos deste rá ser alterada sempre que novas áreas do
artigo a apresentação de memorial onde se conhecimento passarem a contar com pro-

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TÍTULO DE ESPECIALISTA

ANEXO

ESPECIALIDADE ÁREA DE ATUAÇÃO


Acupuntura Veterinária
Anestesiologia Veterinária
Bem-Estar e Comportamento Animal
Clínica e Técnica Cirúrgica
Clínica Médica de Grandes Animais Ruminantes, Eqüídeos e Suínos
Clínica Médica de Pequenos Animais Cardiologia, Dermatologia, Odontologia, Oftalmologia, Ortopedia
e Traumatologia
Ecologia e Gestão Ambiental
Economia Rural e Gestão do Agronegócio Organização de cadeias produtivas, comercialização e
“marketing” da indústria animal
Farmacologia e Terapêutica Veterinária
Fisiologia e Endocrinologia Veterinária
Genética e Melhoramento Animal
Homeopatia Veterinária
Inspeção Higiênica, Sanitária e Tecnológica de Carnes e Derivados, Leite e Derivados, Pescado e Derivados,
Produtos de Origem Animal Ovos e Derivados, Mel e Derivados, Controle Físico-Químico e
Microbiológico de Produtos de Origem Animal
Medicina e Produção de Animais Aquáticos
Medicina e Produção de Animais de Laboratório
Medicina e Produção de Animais Silvestres
Medicina Veterinária Legal
Medicina Veterinária Preventiva Saúde Pública, Epidemiologia, Zoonoses e Planejamento em
Saúde Animal, Doenças Infecciosas e Parasitárias,Vigilância
Sanitária
Microbiologia Veterinária Virologia, Bacteriologia e Micologia
Morfologia Veterinária Anatomia, Histologia, Citologia e Embriologia
Nutrição Animal Ruminantes, Não Ruminantes e Agrostologia
Parasitologia Veterinária
Patologia Clínica Veterinária
Patologia Veterinária Anatomia Patológica, Histopatologia e Ornitopatologia
Produção Animal Bovinocultura, Bubalinocultura, Caprinocultura, Ovinocultura,
Equideocultura, Suinocultura, Avicultura, Cunicultura, Apicultura,
Sericicultura e Estrutiocultura
Radiologia e Diagnóstico por Imagem Ultra-sonografia, Ressonância Magnética, Tomografia e
Veterinária Videolaparoscopia
Reprodução Animal Andrologia, Tecnologia do Sêmen e Inseminação Artificial,
Ginecologia e Obstetrícia Veterinária, Produção “in vitro” de
Embriões, Transferência de Embriões, Clonagem Animal,
Transgênese Animal, Fisiologia e Manejo Reprodutivo
Tecnologia de Produtos de Origem Animal Carnes e Derivados, Leite e Derivados, Ovos e Derivados,
Mel e Derivados
Toxicologia Veterinária

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NOVAS TECNOLOGIAS

Descobertas do Dr. Marcelo


Molento são destaque no Brasil e no Exterior

O
da descoberta com grandes laborató- Nas palavras do Dr. Marcelo
rios quanto ao uso dos resultados da Molento: “Trata-se de uma descober-
pesquisador e professor de pesquisa na elaboração de medica- ta extremamente importante devido ao
Medicina Veterinária da Universidade mentos antiparasitários. fato de que, agora, com essa nova tec-
Paranaense (Unipar), Marcelo Beltrão Partindo do princípio de que moscas nologia, podemos aumentar a eficácia
Molento, tem merecido destaque no do chifre, vermes e demais moscas são das drogas antiparasitárias contra or-
Brasil e em países como Canadá e os principais causadores de significati- ganismos resistentes. Descobrimos
Estados Unidos, graças a sua partici- vas perdas na pecuária – porque redu- que, quando drogas do grupo das aver-
pação em descobertas no campo do zem a produção de leite e carne, além mectinas/milbemicinas são utilizadas
controle de parasitas. A pesquisa par- de prejudicar a qualidade do produto associadas com drogas moduladoras,
tiu de um estudo sobre o uso do vera- – buscou-se criar uma alternativa a elas podem ter um aumento significa-
pimil que, combinado com outras mais, de maior eficácia, no combate tivo em sua eficácia”.
drogas, no tratamento de determina- de tais pragas. O estudo da Universi- O Dr. Marcelo Molento é PhD em
dos tipos de câncer, alcançava melho- dade McGill, confirmou o papel da gli- parasitologia, título recebido este ano
res resultados. O Dr. Marcelo, em tra- coproteina-P, uma estrutura de defesa pela renomada McGill University,
balho de equipe que vem sendo reali- presente na parede celular, como fator Montreal – Canadá. Dentre seus princi-
zado há mais de seis anos na universi- responsável pelo desenvolvimento da pais objetivos estão os de ampliar seus
dade canadense McGill, chegou a resistência dos parasitos a determinadas conhecimentos neste tema de interesse
resultados bastante animadores. O drogas. O verapamil bloqueia a protei- médico, paralelamente, aplicar e socia-
grupo patenteou a descoberta nos na, permitindo a ação da droga antipa- bilizar tais avanços com outros estudio-
EEUU e está negociando a aplicação rasitária. sos e alunos de medicina veterinária.

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CÂMARA
RETRANCA
TEMÁTICA

Criada
Câmara Temática de Ciências Agrárias

E
Ciências Agrárias. Segundo informou
o Dr. Alexander Estermann, represen-
m dois de novembro último, tante do CFMV na Câmara: “ é preci-
em Belo Horizonte, quando da reali- so saber quem somos e quantos
zação do XXIII Congresso Brasileiro somos”. A partir disso se poderá fazer
de Agronomia, foi oficialmente insta- um planejamento mais realista da
lada a Câmara Temática em Ciências absorção de todos os técninos que
Agrárias que, dentre seus propósitos, atuam no segmento agrícola, nas suas
está o de promover uma maior inte- diversas categorias.
gração da Pesquisa, Ensino e O Dr. Alexander Estermann é médi-
Extensão para que o importante seg- co veterinário formado na 1a. turma da
mento agrícola brasileiro, incluindo aí UFV - Viçosa/MG, em Dez/81 com atu-
o agronegócio, aprimore-se e amplie ação no Mato Grosso e representante do
sua já destacada participação no cená- CFMV na Câmara Temática. Para ele,
rio mundial. uma das razões da presença do CFMV
A primeira reunião da Câmara na Câmara se deve ao fato de ser o
aconteceu no dia 29/10/03, sendo ins- Médico Veterinário um dos atores do
talada pelo Ministro da Agricultura, processo, ocupando importante espaço
Pecuária e Abastecimento para atender no Agronegócio, atuando no campo, no
as questões relativas aos profissionais gerenciamento agroindustrial, na saúde
de Ciências Agrárias, visando seu apri- pública, na fiscalização de produtos de
moramento, valorização profissional, origem animal, na nutrição animal, na
geração de empregos e renda, bem sanidade animal e no controle das zoo-
estar social e responsabilidade am- noses. Frisa o Dr. Estermann: “Somos
biental. O tema é amplo, porém são profissionais inseridos no contexto das
esses profissionais que estão fazenda a Ciências Agrárias e ocupando importan-
diferença no campo e na lavoura, alia- tes espaços no desenvolvimento e na
dos aos empresários empreendedores e consolidação de posições do Agro-
a natural vocação do homem rural. negócio Brasileiro. Muito já se falou do
Para seus membros, a Câmara papel desbravador e de ocupação da
Temática de Ciências Agrária têm fronteira agrícola da pecuária de corte
uma longa jornada de trabalho pela na expansão do Agronegócio. Pois bem,
frente, uma vez que os objetivos serão onde está a pecuária, lá está o Médico
estabelecidos ao longo das dis- Veterinário, pioneiro e empreendedor,
cussões, mas o primeiro deles já foi dando suporte técnico e garantindo o
designado na reunião, que é o de se sucesso da atividade.”
fazer o diagnóstico do perfil e quanti- Com a participação do Dr.
dade de profissionais das Ciências Alexander Estermann, o Conselho
Agrárias que atuam no país. O objeti- Federal de Medicina Veterinária está
vo é conhecer o número de cursos téc- representado à altura na Câmara
nicos e superiores existentes, sua dis- Temática de Ciências Agrárias e,
tribuição geográfica, o número anual principalmente, em nossa revista,
de formandos e o número de profis- procurar-se-á divulgar os encaminha-
sionais registrados nos diferentes mentos e resultados alcançados no
Conselhos Regionais da área de âmbito da Câmara.

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FARMACOLOGIA

Farmacologia Veterinária: considerações sobre


farmacocinética que contribuem para explicar as
diferenças de respostas observadas entre
as espécies animais
O Médico Veterinário pode pres- tro do organismo de cada espécie ani-
Silvana Lima Gorniak crever medicamentos para uma gran- mal. Portanto, é importante que o Mé-
Médica Veterinária, CRMV-SP nº. 3990, de variedade de espécies animais e, dico Veterinário tenha plena cons-
Dra., Professora Associada do Departa-
mento de Patologia - Faculdade de neste aspecto, a Farmacologia Veteri- ciência de que a extrapolação de po-
Medicina Veterinária e Zootecnia da nária se distingue da Farmacologia sologia de uma para outra espécie,
USP - São Paulo - SP Humana. Já é bastaste conhecido que pode resultar em conseqüências ca-
e-mail: gorniak@usp.br
o efeito induzido por uma mesma tastróficas. Por exemplo, a extrapola-
Helenice de Souza Spinosa
Médica Veterinária, CRMV-SP nº. 1798, dose (em mg/kg) de um dado medica- ção de doses de medicamentos, consi-
Dra., Professora Titular do Departa- mento pode variar bastante entre as derando-se apenas o peso corporal, é
mento de Patologia - Faculdade de espécies animais. Esta grande varia- totalmente desaconselhada, já que se
Medicina Veterinária e Zootecnia da
USP - São Paulo - SP
ção na resposta pode ser atribuída, sabe que espécies animais de pequeno
e-mail: hspinosa@usp.br freqüentemente, às características far- porte, como o frango de corte, devido
macocinéticas do medicamento den- a sua alta taxa de biotransformação,

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FARMACOLOGIA

necessitam, de maneira geral, de sagem” no fígado, ou seja, parte deste ção da maioria dos medicamentos
maiores doses por unidade de peso medicamento já pode sofrer biotrans- administrados por via oral, em função
corporal. Assim, via de regra, a meia- formação, antes mesmo de atuar em de sua extensa área e rica vasculariza-
vida de uma substância que é bio- seu sítio de ação. Neste caso a biodis- ção. No entanto, pode haver uma
transformada e eliminada pelo orga- ponibilidade pode diminuir substan- absorção bastante significativa em
nismo decai, quando a taxa de bio- cialmente. outros locais do TGI, como, por
transformação aumenta. Considerando que uma das vias exemplo, no rúmen - retículo, onde a
O conhecimento da farmacocinéti- mais comuns de administração de capacidade de volumétrica é ao redor
ca é a maneira mais segura, e de medicamentos é a oral para as dife- de 100 – 225 L em bovinos adultos.
menor custo, para responder aos rentes espécies de animais domésti- Portanto, pode haver diferenças
questionamentos relativos à posolo- cos, e que as maiores discrepâncias importantes na absorção de medica-
gia (dose, freqüência e via de admi- no que se refere à absorção, são mentos quando se compara animais
nistração e duração do tratamento), encontradas quando se administra o mono e poligástricos.
influência da dieta quando da admi- medicamento por esta via, a seguir Deve ser ressaltado também que
nistração por via oral, adaptação da será dada ênfase à administração por mesmo entre os monogástricos exis-
posologia frente a certas patologias via oral. tem consideráveis discrepâncias en-
que acometem o animal etc. De maneira geral, pode-se afirmar tre espécies, no que se refere ao TGI.
Considerando estes aspectos, este que a biodisponibilidade de um medi- Os eqüinos, por exemplo, são mono-
artigo pretende comentar como algu- camento administrado por via oral gástricos herbívoros com reservató-
mas características farmacocinéticas, decresce de acordo com a sua apre- rio gástrico relativamente pequeno e
ou seja, como a absorção, a distribui- sentação, na seguinte ordem: solução, grande comprimento do ceco - cólon,
ção, a biotransformação e a excreção suspensão, cápsulas, comprimidos e onde a participação da microbiota é
das substâncias podem causar gran- drágeas. importante. Cães, ao contrário, têm
des disparidades de respostas, nas Em relação às espécies animais, a uma extensão estomacal relativa-
diferentes espécies animais, aos disposição anatômica do trato gas- mente grande e pequeno tamanho do
medicamentos. trointestinal e a sua fisiologia digesti- ceco - cólon; enquanto os suínos
va determinam a característica de ocupam uma posição intermediária
I - ABSORÇÃO absorção do medicamento. Para que (Quadro 1). Outro importante fator
ocorra a absorção de um medicamen- díspar entre monogástricos herbívo-
A absorção descreve a taxa pela to no trato gastrointestinal (TGI) é ros e os carnívoros/ omnívoros é o
qual o medicamento deixa o seu sítio necessário que este seja liberado de pH estomacal. O pH do estômago de
de administração e adentra a corrente sua forma farmacêutica e tenha a eqüinos é bem menos acídico (ao
sangüinea, e em que extensão isso capacidade de atravessar as barreiras redor de 5,5) do que o de cães, gatos
ocorre. Por outro lado, para o Médico celulares, atingindo a circulação san- (aproximadamente 3 - 4) e, depen-
Veterinário o que interessa é a biodis- güínea. Ressalte-se que o intestino dendo da dieta, também dos omnívo-
ponibilidade deste medicamento, delgado é o principal local de absor- ros.
mais do que sua taxa de absorção. O
termo biodisponibilidade se refere à Quadro 1 - Capacidade relativa de compartimentos do sistema digestivo de
quantidade de um medicamento, con- algumas espécies animais domésticas monogástricas
tido em determinada forma farmacêu-
Capacidade Relativa (%)
tica, que, ao ser administrada, atinge
Compartimento Eqüino Suíno Cão
o local de ação. Por exemplo, um
medicamento administrado por via Estômago 8,5 29,2 62,3
oral atinge o trato gastrointestinal, Intestino delgado 30,2 33,5 23,3
atravessa as barreiras celulares, ganha Ceco 15,9 5,6 1,3
a circulação sangüínea, em particular Cólon ascendente 38,4 31,5 13,1
a veia porta hepática, ocorrendo o Cólon descendente e reto 7,0
denominado “efeito de primeira pas- Fonte: Baggot (2002).

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FARMACOLOGIA

Deve-se, também, considerar os Ainda neste contexto, deve se consi- deravelmente a disponibilidade de
contrastes entre os herbívoros e os derar que a velocidade de esvazia- medicamentos lipossolúveis que
carnívoros/omnívoros. Assim, ao mento gástrico representa um dos sofrem biotransformação intensa no
contrário dos carnívoros, os herbívo- fatores fisiológicos de grande impor- fígado, como, por exemplo, o diaze-
ros possuem complexa biota anaeró- tância no controle da velocidade de pam.
bica no rúmen - retículo ou no ceco – absorção de um medicamento, já que Merece destaque, ainda, a admi-
cólon. Desta maneira, esta microbiota esta se faz, principal- nistração oral de medica-
pode promover a degradação de mente, no intestino del- mentos às aves, tanto em
De fato, os
medicamentos, de maneira significa- gado, quando se consi- função desta ser a via
microrganismos
tiva, já no TGI destas espécies herbí- deram os carnívoros/ mais comum de adminis-
do rúmen têm a
voras. De fato, os microrganismos do omnívoros. Por outro capacidade de tração de medicamentos
rúmen têm a capacidade de biotrans- lado, em herbívoros ru- biotransformar, nestes animais (é bastan-
formar, por hidrólise ou redução, minantes os fatores que por hidrólise ou te rara a administração
vários medicamentos, inativando-os, determinam a absorção redução, vários por outras vias), como
como, por exemplo, o trimetoprim, o não incluem o esvazia- medicamentos, também devido as suas
cloranfenicol e o nitroxinil. Por outro mento estomacal, já que inativando-os, particularidades anatô-
lado, deve-se considerar que a utiliza- dificilmente os compar- como, por micas e fisiológicas, bas-
ção de alguns medicamentos por via timentos gástricos ficam exemplo, o tante peculiares. Assim,
oral, como alguns antibióticos, pode vazios. Ainda, em rela- trimetoprim, o quanto ao papo, a absor-
causar a morte de parte da fauna e ção ao rúmen, como o cloranfenicol e o ção neste compartimento
flora ruminal ou do ceco – cólon e, alimento fica retido (e, nitroxinil parece ser mínima ou au-
consequentemente, inibir a quebra da consequentemente, o sente. Por outro lado,
celulose, causando, assim, um pro- medicamento) neste local de 16 – 48 h, deve-se considerar o papo como um
fundo dano no ecossistema do TGI. O é importante considerar o pK (que é local de “depósito”, sendo que os ali-
exemplo marcante deste efeito é o uso definido como o logaritmo negativo mentos secos ficam ai armazenados
de lincosamidas em eqüinos. A admi- da constante de ionização, ou de dis- por maior período de tempo que os
nistração deste antimicrobiano acar- sociação do medicamento.) O rúmen alimentos úmidos. Considerando-se
reta a morte de parte da flora normal possui um pH que varia entre 5,8 – este fato, deve ser ressaltado que,
do cólon, favorecendo a proliferação 6,4, portanto, substâncias de caráter dependendo do tipo de alimento
de cepas de Clostridia resistentes às básico neste compartimento estarão administrado junto com a medicação,
lincosamidas, que levam o animal a na sua forma ionizada, tendo maior o papo pode retardar a biodisponibili-
apresentar um quadro de colite dificuldade para serem absorvidas e, dade do mesmo. Exemplificando, em
hemorrágica e diarréia, que pode cul- consequentemente, poderão ficar aí um estudo no qual administrou-se aos
minar com a morte do animal. retidas. Deve-se, finalmente, conside- frangos amoxicilina em tabletes, veri-
O tamanho relativo do TGI é, rar o efeito da primeira passagem que, ficou-se que o tempo de biodisponibi-
ainda, outro fator relevante quando se como citado anteriormente, se aplica lidade deste medicamento variou
considera a absorção de um medica- a todas as espécies animais e, neste entre 0,5 – 6,0 h, dependendo da com-
mento no TGI de herbívoros e de car- particular, as espécies herbívoras têm posição do alimento ingerido pelo
nívoros/omnívoros. Neste sentido, maior capacidade de biotransforma- animal. Ainda em relação ao papo das
sabe-se que o TGI de herbívoros ção de substâncias, podendo-se con- aves, deve-se considerar o pH, que
ocupa uma porcentagem relativamen- cluir que a biodisponibilidade de um está ao redor de 4,3; portanto, depen-
te grande do organismo do animal; determinado medicamento adminis- dendo do pK do medicamento, este
portanto, pode-se supor que as intera- trado pela via oral deverá ocorrer, poderá se precipitar neste segmento
ções físico – químicas com a “massa como regra geral, em menor extensão do TGI, ficando aderido a partículas
digestiva” e a cinética do fluxo diges- nos herbívoros, quando comparado de comida ou da mucosa. Não deve
tivo afetam sobremaneira a taxa de com os não herbívoros. Assim, em ser esquecida, também, a flora exis-
passagem do medicamento, bem herbívoros, o efeito da primeira pas- tente no papo. Neste sentido, verifi-
como influenciam a sua absorção. sagem pelo fígado pode reduzir consi- cou-se que o tratamento de galinhas

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FARMACOLOGIA

com antibióticos macrolídeos ficou então, se na molécula existir grupos cessos estão diretamente relacionados
comprometido, devido à ação de Lac- funcionais passíveis para sofrer ao conceito de meia–vida, a qual é
tobacillus existentes na flora do papo, hidrólise ou redução, estas podem ser definida como o tempo necessário
causando a inativação de grande parte parcialmente inativadas por microrga- para que a concentração (geralmente
do medicamento administrado. nismos ruminais. expressa em mg/ml) de uma determi-
As características anatômicas do Embora a ligação de proteínas nada substância no sangue se reduza à
estômago e dos intestinos das aves plasmáticas com o medicamento varie metade. O conhecimento deste con-
também devem ser consideradas. entre as diferentes espécies animais, a ceito é fundamental para se preconi-
Assim, em relação ao estômago, este extensão de variação é relativamente zar a posologia.
se apresenta como duas câmaras, o pequena, não apresentando, usual- A meia-vida é o parâmetro farma-
proventrículo (porção glandular) e a mente, diferenças clínicas significan- cocinético utilizado para avaliar a
moela (ou ventrículo). A moela pode tes entre elas. Por outro lado, pode taxa de eliminação do medicamento.
ser comparada a uma máquina tritura- haver diferenças na ligação às proteí- É importante ressaltar que a maioria
dora; portanto, se o medicamento for nas plasmáticas com medicamentos dos medicamentos, que são primaria-
administrado em forma sólida junta- de caráter acídico, sendo este fato, de mente eliminados pela biotransforma-
mente com o alimento particulado, a maneira geral, relacionado à albumina ção hepática, tem grande variação
ação mecânica da moela irá moer efi- plasmática. Assim, a menor concen- neste parâmetro, entre as diferentes
cientemente a forma medicamentosa, tração de albumina nas aves, quando espécies de animais domésticas. O
facilitando a absorção. Quanto aos comparada a de mamíferos, faz com Quadro 2 apresenta alguns exemplos
intestinos, deve-se também conside- que haja menor ligação de medica- de medicamentos e suas respectivas
rar que, neste compartimento, existe mentos de caráter acídico em aves e, meia-vida em algumas espécies ani-
uma flora exuberante que pode produ- consequentemente, pode-se supor que mais e no homem. De maneira geral,
zir a inativação de certos medicamen- estes medicamentos de caráter acídico pode-se dizer que a meia vida das
tos, por meio de biotransformação são mais eficientemente distribuídos substâncias é menor em espécies her-
(hidrólise ou redução). nas aves do que em mamíferos. bívoras do que em carnívoras, en-
quanto que no ser humano as substân-
II – DISTRIBUIÇÃO III – BIOTRANSFORMAÇÃO cias têm meia vida maior do que nos
animais domésticos. Por outro lado,
Uma vez absorvido o medicamen- Antes de tecer alguns comentários deve-se salientar que há várias exce-
to, este pode permanecer sob a forma sobre a biotransformação, deve-se ções a esta regra, como as metilxanti-
livre no sangue, ligar-se a proteínas definir meia–vida de um medicamen- nas (por exemplo, a teofilina) em
plasmáticas ou, então, ser seqüestrado to. A eliminação dos medicamentos eqüinos e a fenilbutazona em bovinos.
para depósitos no organismo. Deve consiste na sua perda irreversível do A biotransformação consiste na
ser ressaltado que somente o medica- organismo. Este efeito ocorre por transformação química de substâncias
mento na forma livre é distribuído meio de dois processos: a biotransfor- (por exemplo, medicamentos), dentro
para os tecidos. mação e a excreção. Estes dois pro- do organismo vivo, visando favorecer
Existem diferenças significantes
na distribuição de medicamentos, par- Quadro 2 - Variação na meia vida (em horas) entre as espécies de alguns
ticularmente as bases orgânicas lipos- medicamentos
solúveis, entre ruminantes e mono-
Medicamentos Bovino Eqüino Cão Homem
gástricos. De fato, após a administra-
Pentobarbital 0,8 1,5 4,5 22,3
ção parenteral, as bases lipofílicas
difundem-se passivamente da circula- Salicilatos 0,8 1,0 8,6 12,0
ção sistêmica para o fluxo ruminal Trimetoprim 1,25 3,2 4,6 10,6
(onde o pH está ao redor de 5,8 – 6,4), Enrofloxacina 3,8 18,2 4,25 4,9
dissociando-se e, desta forma, ficam Teofilina 6,9 14,8 5,5 9,0
retidas neste compartimento e, apenas Fenilbutazona 42 - 66 4,1 - 4,7 2,5 - 6,0 72,0
lentamente são reabsorvidas, ou Fonte: Baggot (2002).

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FARMACOLOGIA

a sua eliminação. Este processo permi- Quadro 3 - Defeitos em reações de conjugação verificados em algumas
te a formação de metabólitos que são espécies animais domésticas
habitualmente mais polares e menos
Espécie Reação de conjugação Grupo – alvo Característica da
lipossolúveis do que a molécula origi-
reação
nal, favorecendo, portanto, a elimina-
ção da mesma. Usualmente, a bio- Gato Glicuronidação - OH, -COOH, -NH2 presente, mas em
pequena extensão
transformação, além de promover a
eliminação, pode também inativar far- Cão Acetilação =NH, -SH Ausente
macologicamente o medicamento; Suíno Conjugação com sulfato Ar-OH, Ar – NH2 presente, mas em
contudo, esta regra também possui pequena extensão
várias exceções, pois existem metabó-
Fonte: Baggot (1977).
litos de medicamentos que apresentam
atividade farmacológica, os quais, em
alguns casos, são responsáveis pelos As reações de biotransformação certas espécies animais. O Quadro 3
efeitos tóxicos observados após a são divididas em duas fases: fase I e apresenta alguns exemplos de altera-
administração dos medicamentos. fase II. Na fase I, ocorre a conversão ções na conjugação de medicamentos
Além disto, há os “pró-medicamen- do medicamento original em um em algumas espécies animais. Este
tos”, como o anti-helmíntico triclanbe- metabólito mais polar, por meio de fato tem importante implicação no
dazole que, somente quando biotrans- oxidação, redução ou hidrólise. Estas uso de determinados medicamentos
formado (metabólito sulfóxido), se reações acontecem, geralmente, no em Medicina Veterinária, uma vez
converte em substância com atividade sistema microssomal hepático, no que a ausência de conjugação do
anti-helmíntica. A quase totalidade da interior do retículo endoplasmático medicamento com uma determinada
biotransformação ocorre no fígado, no liso e, para que as mesmas ocorram, é substância endógena poderá levar o
entanto, este processo pode também necessária a participação do sistema animal a um quadro tóxico grave,
ocorrer em outros tecidos, como intes- P–450. Este sistema compreende uma conduzindo até mesmo ao óbito. Um
tino, rim, pulmão e sangue, além do grande família (superfamília) de enzi- exemplo disto é o uso do acetamino-
rúmen, como citado anteriormente. mas relacionadas, porém distintas, feno (paraminofenol ou parecetamol)
A composição da dieta pode cau- que diferem uma das outras na em felinos. Este analgésico-antitérmi-
sar um profundo impacto na biotrans- seqüência de aminoácidos, na regula- co sofre a biotransformação, pelas
formação de substâncias. Neste senti- ção por inibidores e por agentes indu- enzimas denominadas de oxidases de
do, deve-se considerar que os carní- tores e, ainda, na especificidade da função mista, sendo o produto conju-
voros não tiveram a necessidade de reação que catalizam. A fase I ocorre gado principalmente com o ácido gli-
desenvolver um sistema microssomal de maneira ubiquitária e são quantita- curônico. Como os felinos têm defi-
de enzimas muito sofisticado, já que, tivamente similares em mamíferos, ciência da enzima glicuroniltransfera-
de maneira geral, há pequena varia- aves e peixes, porém diferem signifi- se, o acetaminofeno passa, então, a
ção de compostos estranhos (xeno- cativamente na velocidade e extensão sofrer a biotransformação apenas
bióticos) na sua dieta. Por outro lado, com que ocorrem. pelas oxidases de função mista, sendo
os herbívoros precisaram desenvolver As reações de fase II, denomina- o metabólito produzido nesta reação
um sofisticado sistema, pois na sua das também de reações sintéticas ou extremamente tóxico. Uma parte
dieta há uma gama variada de xeno- de conjugação, envolvem a ligação do deste metabólito tóxico é conjugado
bióticos, o que exigiu o desenvolvi- medicamento ou seu metabólito a um com a glutationa e excretado, porém a
mento de inúmeras enzimas. Por- substrato endógeno, como o ácido gli- maior parte liga-se à nucleófilos, cau-
tanto, pode-se considerar que, de curônico, radicais sulfatos, acetatos sando a toxicidade hepática.
maneira geral, tomando-se como ou aminoácidos. Ao contrário do que
parâmetro a biotransformação, a ocorre na fase I, as reações de fase II IV – EXCREÇÃO
meia-vida de eliminação de substân- diferem substancialmente entre as
cias no organismo de herbívoros é espécies, sendo que estas reações Os medicamentos podem ser
menor que em carnívoros/omnívoros. podem ser deficientes ou ausentes em excretados após a biotransformação

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FARMACOLOGIA

ou mesmo na sua forma inalterada. Quadro 4 - Valores do clearance renal da inulina, de animais adultos,
Embora o rim seja a via mais impor- em algumas espécies
tante de excreção, alguns medicamen-
Espécie animal Valores médios (ml/min/kg)
tos podem também ser eliminados
pela bile. Outras vias de eliminação Eqüinos 1,66 (1,00 – 2,32)a
que também devem ser consideradas Bovinos 1,84 (1,02 – 1,90)
são: saliva, suor, glândulas mamárias,
Suínos 2,10 (1,80 – 2,50)
ovos e pulmões.
Cães 3,77 (1,74 – 5,86)
Excreção pelos rins
a
os limites da variação são apresentados entre parêntesis.
Fonte: Baggot (1977).
A excreção renal é a principal via
de eliminação de medicamentos que
têm como características serem alta- mento de caráter básico, na qual a estas características acima citadas.
mente ionizados e com baixa liposso- reabsorção da substância é bem maior Portanto, o clearence da inulina mede
lubilidade. Pode haver uma grande na urina de herbívoros do que de car- o volume de plasma filtrado no glo-
variação no tempo de eliminação des- nívoros. Exemplificando: a aspirina mérulo por minuto. O Quadro 4 mos-
tas substâncias, sendo que este fato se (pK 3,0) e o sulfisoxazol (pK 5,0) têm tra o clearence da inulina para algu-
deve, principalmente, a dois fatores: o excreção bem mais lenta em cão que mas espécies de animais domésticos.
pH urinário e o clearence (depuração) no eqüino; por outro lado, substâncias Assim, este Quadro mostra, por
renal. As moléculas do medicamento de caráter básico, como a anfetamina exemplo, que cães têm uma alta taxa
e/ou seus metabólitos, passam do (pK 9,0) têm meia-vida de eliminação de filtração, enquanto eqüinos a pos-
capilar glomerular para o lúmen tubu- maior em herbívoros que em carnívo- suem baixa. Este fato pode ter impor-
lar. A quantidade de substância que ros. Em relação às espécies omnívo- tância para a avaliação da meia-vida
irá adentrar ao túbulo renal é depen- ras, o pH da urina irá variar conforme de alguns medicamentos, como gen-
dente da taxa de filtração glomerular. a dieta, mas, de maneira geral, o pH tamicina, ampicilina, carbenicilina,
Uma vez que há o aumento da con- da urina é ácido, comportando-se, benzilpenicilina, cefaloridina, oxite-
centração da substância ao longo do portanto, da mesma maneira do que traciclina e furosemida que sofrem
néfron, vai se estabelecendo um gra- nos carnívoros. pouca biotransformação no organis-
diente favorável para a sua reabsor- Outro parâmetro também muito mo, sendo a taxa de eliminação renal
ção. Por outro lado, deve ser conside- utilizado para avaliar a eliminação de o principal fator que determina a
rado também que o epitélio tubular é substâncias via renal, é o clearence duração de sua ação. Portanto, com-
permeável somente a moléculas (ou depuração) renal. Este parâmetro parativamente aos cães, os eqüinos
lipossolúveis e que o grau de ioniza- varia de maneira acentuada entre os devem apresentar maior meia–vida de
ção é determinado pelo pK da subs- medicamentos, e também entre as eliminação desses medicamentos.
tância e o pH urinário. Assim, saben- diferentes espécies animais. O clea-
do-se que a urina de carnívoros tem rence é definido como o volume de Excreção pela bile
caráter acídico (pH 5,5 – 7,0) e a de plasma que é completamente depura-
herbívoros é alcalina (pH 7,2 – 8,4), do pelos rins por unidade de tempo, A excreção biliar pode, para um
substâncias de caráter acídico na sendo expresso por ml/min. Esta taxa determinado medicamento, ter ou não
urina de carnívoros formam maior de filtração pode ser determinada, importância, dependendo da espécie
quantidade de moléculas lipossolú- medindo-se o clearence renal de animal. Cães e aves são consideradas
veis do que se fosse em herbívoros; substâncias que são filtráveis pelos espécies boas excretoras; já os felinos
consequentemente, medicamentos de capilares renais, mas não são secreta- e ovinos são animais que apresentam
caráter acídico são reabsorvidos mais das nem absorvidas, nem tampouco como característica serem moderada-
eficazmente da urina de carnívoros do exercem qualquer função no túbulo mente excretores. Por outro lado, os
que de herbívoros. O mesmo raciocí- renal. Usualmente se mede o clearen- leporinos, macacos e o ser humano
nio é feito em relação a um medica- ce renal com a inulina, que apresenta são espécies animais consideradas

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FARMACOLOGIA

más excretoras. No entanto, esta clas- local da infecção. Portanto, na escolha das substâncias se faz em camadas. A
sificação leva em consideração subs- de um medicamento de uso sistêmico quantidade absoluta do medicamento
tâncias com peso molecular ao redor para o tratamento de mastites, deve-se e/ou metabólitos a ser depositado na
de 300 a 500 daltons; para moléculas levar em consideração, não só a suscep- gema vai depender da fase de forma-
maiores, a via biliar é sempre consi- tibilidade do agente infeccioso, mas ção do ovo (estágio de desenvolvi-
derada de excreção, para qualquer também a concentração do medicamen- mento do oócito), da concentração da
espécie animal. to no úbere. substância no plasma e das proprieda-
Deve-se ressaltar que algumas Em relação à deposição de medi- des físicas e químicas da substância
substâncias eliminadas pela bile, ao camentos no ovo, vários estudos vêm (solubilidade em lipídeos e valor do
alcançarem o intestino, podem ser mostrando que, de fato, há grande pK). A deposição reversa, isto é, a
reabsorvidas (ciclo êntero–hepático), possibilidade de deposição de subs- saída do medicamento do oócito para
acarretando num retardo da excreção tâncias, tanto na clara como na gema. a membrana plasmática e daí para o
total desta substância. Por exemplo, o Em relação à clara, deve ser ressalta- sistema vascular é pouco provável;
antiinflamatório ibuprofeno, apresen- do que esta consiste de duas frações, portanto, uma vez que a substância se
ta este ciclo êntero–hepático, acarre- uma fina aquosa e escorregadia, e depositou na gema, esta permanece
tando uma meia–vida bastante longa, outra fina e gelatinosa, sendo secreta- lá. Quanto maior a lipossolubilidade
sendo, portanto, desaconselhável o das principalmente no magnum, antes do medicamento, melhor a penetração
seu uso nesta espécie animal. da formação da casca. A oxitetracicli- na gema. Observa-se a máxima con-
na e as sulfas e seus metabólitos são centração de medicamento deposita-
Excreção pelo leite e ovos exemplos de substâncias que podem do na gema, quando a postura do ovo
difundir-se rapidamente através des- ocorrer 3 dias após a máxima concen-
Sem dúvidas, o Médico Veteriná- tas membranas. Quanto à deposição tração plasmática deste medicamento.
rio deve estar sempre atento ao uso de de substâncias na gema, parece que
medicamentos e à possibilidade des- esta se faz no período final (últimos 8 Conclusão
tes e/ou de seus metabólitos serem a 11 dias antes da postura), quando os
excretados pelo leite ou ovos. O fato oócitos tornam-se altamente vascula- Concluindo, o sucesso de um tra-
de medicamentos se difundirem para rizados e crescem exponencialmente, tamento pode ser resumido, de manei-
o leite e ovos ganha relevância quan- de 8 para 35 mm de diâmetro. Neste ra singela, nesta frase: “que o medica-
do se considera a possibilidade de período, junto com a deposição de mento seja capaz de induzir os efeitos
atingirem a espécie humana. nutrientes, vários tipos de substâncias específicos desejados, com o mínimo
O epitélio secretor da glândula lipofílicas são também depositadas. O de efeitos colaterais”. Desta maneira,
mamária tem característica de uma transporte de material (nutrientes, a prescrição e a administração de me-
membrana lipídica e separa o sangue do medicamentos, metabólitos) para o dicamentos de maneira racional, sem
leite. O leite tem pH levemente inferior oócito ocorre através de vesículas que acarretar em riscos para o animal,
ao do sangue, variando entre 6,4 a 6,8, sofrem sucessivas fusões, originando nem para os consumidores de alimen-
em animais sadios. Assim, há maior o aumento do ovo. Todo este proces- tos de origem animal tem sido o desa-
facilidade para que substâncias de cará- so ocorre em uma estreita zona na fio principal da Farmacologia Veteri-
ter básico, sejam excretadas pelo leite. periferia da célula, sendo que estas nária e, sem dúvida, o conhecimento e
Vale também lembrar que nas mastites, esferas tornam-se fortemente compri- o aprimoramento dos estudos em far-
o pH do leite freqüentemente varia, midas e compactas (como as estrutu- macocinética, realizados nas diferen-
podendo influenciar na concentração de ras da cebola), formando camadas tes espécies animais, são indispensá-
um determinado antimicrobiano no concêntricas; portanto, a deposição veis para atingir estas metas.

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FARMACOLOGIA

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DOBSON, A. Physiological Peculiarities of the ruminant rele-
vant to drug distribution. Federal Proceedings, v. 26, p. 994 – NEBBIA, C. Biotransformation enzymes as determinants of
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DORRESTEIN, G.M. Formulation and (bio) availability pro-


blems of drug formulations in birds. Journal of Veterinary
Pharmacology and Therapeutics, v.15, p. 143 – 150, 1992.

22 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003


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Revista CFMV – Brasília/DF


Ano IX - Nº 30
Setembro a Dezembro de
2003

CONSELHO FEDERAL
DE MEDICINA
VETERINÁRIA Diagnóstico e tratamento das Arritmias de
Cães e Gatos, observadas no Monitor Cardíaco 25
SCS - Quadra 1 - Bloco “E”
nº 30 - Ed. Ceará - 14º andar Eduardo Alberto Tudury, Aparecido Antônio Camacho,
Brasília-DF - Cep: 70303-900 Ilvio Mendes Vidal; Cynthia Mary Gomes Lagêdo;
Fone: (61) 322 7708 Pedro Paulo Vissotto de Paiva Diniz
Fax: (61) 226 1326
www.cfmv.org.br
cfmv@cfmv.org.br

CONSELHO EDITORIAL Transplante renal em cães e gatos 39


Benedito Fortes de Arruda Simone Domit Guérios
CRMV-GO 0272
Gisele Sprea
Eliel Judson D. de Pinheiro
CRMV-BA 0140
André Luiz de Carvalho
CFMV-0622
Elio João Ventura Mecanismo de defesa uterino na fêmea bovina 49
CRMV-PR 0448
Angelita Silva Dias Galindo;
EDITOR Tiago Luiz Kunz; Maria Lúcia Gambarini;
Benedito Dias de Oliveira Filho
Alberto Neves Costa
CRMV-PE 0382

COMITÊ CIENTÍFICO
Elisabeth Gonzales
CRMV-SP 1427
Perda de qualidade do pescado,
Presidente deteriora e putrefação 59
Aurino Alves Simplício Glênio Cavalcanti de Barros
CRMV-CE 1282
Rômulo José Vieira
CRMV-PI 0080
José Luiz Laus
CRMV-SP 3375
Mônica Maria O. Pinho
Cerqueira
CRMV-MG 30511
Angela Maria Vieira Batista
CRMV/Z-PE 0035
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LISTA DE CONSULTORES “AD HOC”


Antônio Duarte de Lima Júnior José Luiz Laus
Antônio Felipe Paulino Figueiredo Wouk José Renato Junqueira Borges
Arlete Dell´Porto Lêucio Câmara Alves
Benedito Dias de Oliveira Filho Marcelo Weinstein Teixeira
Carlos Eduardo Larsson Maria Helena Matiko Akao Larsson
Eduardo Alberto Tudury Marileda Bonafim de Carvalho
Ekaterina Akimovna Bootovchenco Rivera Maria José de Sena
Elizabeth Gonzáles Mônica Maria Oliveira Pinho Cerqueira
Fernando Leandro dos Santos Rafael Resende Faleiros
Geraldo Eleno Silveira Alves Renato César Sacchetto Tôrres
Glênio Cavalcanti de Barros Rinaldo Aparecido Mota
Hélio Langoni Rômulo Cerqueira Leite
Janes Gonzáles Rômulo José Vieira
João Palermo Neto Sérgio Carmona de São Clemente
José Augusto Bastos Afonso Tomoe Noda Sankas

ERRATA
Na Revista CFMV tem-se buscado, a cada número, alcançar
um grau de qualidade editorial que satisfaça os pradrões de
excelência que os nossos leitores exigem e merecem. Por
problemas técnicos que escaparam ao nosso controle – no
processo de pré-impressão de responsabilidade da MedMídia
Associados, na conversão do PostScript para PDF, ocorreu uma
falha de leitura, ocasionando mudanças no arquivo original,
fazendo com que a matéria Diagnóstico e tratamento das
Arritmias de Cães e Gatos, observadas no Monitor Cardíaco,
publicada na edição anterior deste Suplemento Técnico,
aparecesse com uma série de erros e alterações de ordem de
alguns gráficos, inviabilizando o perfeito entendimento do artigo.
Com nossas excusas e em respeito aos conceituados autores e a
todos os nossos leitores, estamos republicando a matéria, na íntegra.

24 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003


CFMV_FINAL_18-DEZ-2003 12/19/03 10:15 AM Page 25

Diagnóstico e tratamento das Arritmias de


Cães e Gatos, observadas no Monitor Cardíaco
Eduardo Alberto Tudury INTRODUÇÃO
Médico Veterinário, CRMV - PE nº 2358, Doutor, Prof. Adjunto III. Depto de
Medicina Veterinária da UFRPE. R. Dom Manoel de Medeiros s/n, Bairro Dois A monitorização do ECG é uma
Irmãos – Recife-PE. CEP: 52171-900. prática padronizada na moderna aneste-
Aparecido Antônio Camacho sia clínica; apesar de monitorizar ape-
Médico Veterinário, CRMV - SP nº 2212, Doutor, Professor do Departamento de nas a atividade elétrica do coração, per-
Clínica e Cirurgia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da
UNESP Jaboticabal-SP. mite inferir informações importantes
acerca da função de bomba, pois as ar-
Ilvio Mendes Vidal
Médico Veterinário, CRMV - PE nº 2759, Professor Substituto de Anestesiologia Veterinária; ritmias cardíacas podem estar associ-
Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE - E-mail: ilvio@hotmail.com adas à disfunção cardíaca significati-
Cynthia Mary Gomes Lagêdo va (Rogers et al., 1993). O eletrocar-
Médica Veterinária, CRMV - PE nº 2359, Clínica Veterinária VET & LAB; Serviço de diograma atua como um excelente
Cardiologia Veterinária, Rua Ébano, 32, Ouro Preto – Olinda-PE - CEP: 53370-580. monitor de pulso, ao mesmo tempo que
Pedro Paulo Vissotto de Paiva Diniz fornece outras informações a respeito
Médico Veterinário Aprimorando, CRMV - SP nº 12463, Hospital Veterinário da natureza das irregularidades (Lee &
“Governador Laudo Natel” Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da
UNESP – Jaboticabal - SP. Atkinson, 1975).
A monitorização elétrica do coração
é apenas uma das avaliações das suas
RESUMO condições de funcionabilidade e deve
ser interpretado juntamente com outros
Na Medicina Veterinária, o uso do aparelho de monitorização cardíaca vem sendo de
grande auxílio na identificação, diagnóstico e tratamento das arritmias cardíacas com- parâmetros antes de se instituir um trata-
plicadoras de procedimentos anestésicos e cirúrgicos de pequenos animais. Este tra- mento.1 Sob nenhuma circunstância o
balho visa facilitar a identificação das diversas arritmias observáveis à monitorização ECG fornece o grau de eficiência de con-
cardíaca, através de uma abordagem simplificada e direcionada para o uso em tração do miocárdio, ou do débito cardía-
emergências. Nas arritmias causadas por afecções e manipulações bem como co. De fato pode ocorrer uma atividade
naquelas geradas por drogas pré-anestésicas e anestésicas, o anestesista encon-
trará orientações relacionadas às prováveis causas e as medidas terapêuticas corre- elétrica normal quando a pressão
tas e imediatas a serem efetuadas. sangüínea é baixa, a ponto de não poder
medi-la (Lee & Atkinson, 1975).
Palavras chaves: arritmia cardíaca, anestesia animal, monitor cardíaco. As arritmias passíveis de serem di-
agnosticadas no monitor cardíaco são:
taquicardia sinusal, “flutter” atrial, fibri-
lação atrial, bradicardia sinusal, blo-
ABSTRACT queio sino-atrial, bloqueio átrioven-
DIAGNOSIS AND TREATMENT OF DOGS AND CATS ARRHYTHMIAS, tricular de 2º e 3º graus, complexo ven-
OBSERVED IN THE CARDIAC MONITOR tricular prematuro, taquicardia ven-
In Veterinary Medicine, the use of the cardiac monitor comes being of great aid in the tricular, fibrilação ventricular e assis-
identification, diagnosis and treatment of the cardiac arrhythmias complicating anes- tolia ventricular (Severin, 1992; Tilley,
thetic and surgical procedures in small animals. The purpose of this paper is to facili- 1992; Miller & Tilley, 1995; Lunney
tate the identification of the several arrhythmias observed in the cardiac monitor,
through a simplified and objective approache for the use in emergencies. In arrhyth-
& Ettinger, 1997; Smith et al., 1998;
mias caused by diseases and manipulations, and in those generated by pre-anes- Tyers et al., 1998). As causas e trata-
thetic and anesthetic drugs, the anaesthetist will find orientations related to the prob- mentos das arritmias inseridas neste
able causes, including correct and immediate therapeutic procedures to execute. trabalho estão de acordo com a liter-
atura atual, assim como as doses indi-
Key words: cardiac arrhythmia, animal anaesthesia, cardiac monitor. cadas na terapêutica a ser adotada
(Michael, 1976; Papich, 1992; Severin,

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1992; Tilley, 1992; Massone, 1994; Os gráficos eletrocardiográficos in- Campus de Jaboticabal, de publicações
Miller & Tilley, 1995; Labato, 1997; seridos no trabalho foram disponibi- científicas (Severin, 1992; Tilley, 1992;
Kittleson & Kienle, 1998; Muir & lizados pelo Serviço de Cardiologia do Tyers et al., 1998) e através da inter-
Bonagura, 1998; Smith et al., 1998; Hospital Veterinário “Governador net (GE Marquette, 1999; KU Medical
Tyers et al., 1998; Fox et al., 1999; Laudo Natel” da Faculdade de Ciências Center, 1999; The Online Journal of
Ferreira, 2000). Agrárias e Veterinárias – Unesp – Cardiology, 1999).

Taquicardia (sinusal) Bradicardia (sinusal)


FC ≥180 bpm - Cães Pequenos; FC ≤70 bpm - Cães Pequenos;
FC ≥220 bpm - Filhotes de cães; FC ≤60 bpm - Cães Grandes;
FC ≥140 bpm - Cães Grandes; FC ≤120 bpm - Gatos.
FC ≥240 bpm - Gatos.
Causas Causas
Exercícios; Compressão ocular ou dos seios carotídeos;
Dor; Aumento da pressão intracraniana;
Excitação; Hipotermia;
Febre / infecções; Hipotireoidismo;
Choque; Uremia;
Anemia; Prenúncio de parada cardíaca;
Fármacos: atropina, adrenalina, vasodilatadores Fármacos: tranqüilizantes, propanolol, digitálicos,
opiáceos, lesões do SNC.
Tratamento Tratamento
Tranqüilizantes; Superficializar a anestesia;
Aprofundar a anestesia (dor); Aquecer o paciente;
Oxigenação (saturação da cal sodada); Atropinização (Atropina 0,01 a 0,04 mg/kg IV, IM);
Verificar troca de gases; Oxigenação;
Combater choque; Determinar e remover a causa.
Combater hipovolemia (soro ou transfusão);
Combater hipertermia.

Taquicardia Sinusal (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Bradicardia Sinusal (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

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Taquicardia Atrial (FC ≥ 220 bpm Filhotes de Cães e FC ≥240 bpm Gatos)
Ritmo rápido originado de um foco no átrio em direção ao nodo Sino-Atrial
“Flutter” Atrial (FC ≥ 300 bpm) e Fibrilação Atrial (FC ≥ 300 bpm)
Alta freqüência de ondas P sucessivas e/ou intercalando-se aos complexos QRS-T

Taquicardia Atrial (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

“Flutter” Atrial (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Fibrilação Atrial (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Causas Tratamento
Anestesia geral; Taquicardia Atrial:
Alterações atriais patológicas; Diferenciar de taquicardia sinusal, pressionando os globos oculares ou o seio
Hipocalemia; carotídeo (a freqüência cardíaca não reduz nos casos de taquicardia atrial);
Digitálicos; Digoxina: 0,02mg/kg IV (observação: rápida digitalização não é recomendada,
exceto em emergências);
Quinidina;
Propanolol (0,2 a 1mg/kg TID ou Atenolol (0,25 a 1mg/kg BID);
Trauma cardíaco;
Procainamida (8 a 20mg/kg IM).
Dirofilariose;
“Flutter” Atrial e Fibrilação Atrial:
Defeitos valvulares;
Cães:
Cardiomiopatias
Digoxina (0,01 a 0,02mg/kg BID PO no primeiro dia, depois 5 a 8µg/kg BID PO).
Se a freqüência cardíaca permanecer >160bpm depois de 5 dias, pode-se
administrar Diltiazem (0,5 a 1,5mg/kg TID PO);
Propanolol (0,2 a 1mg/kg TID PO) ou Atenolol (0,25 a 1mg/kg BID PO).
Gatos:
Diltiazem (1 a 2,5 mg/kg TID PO) ou Atenolol (6,25 a 12,5mg/kg SID PO) se a
freqüência cardíaca permanecer elevada, acrescentar Digoxina (0,005mg/kg PO,
cada 24 a 48 horas).

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Extra-Sístole Atrial ou Complexo Atrial Prematuro


Impulsos originados de focos ectópicos nos átrios, causados por doença cardíaca e que podem conduzir à
taquicardia atrial, “flutter” atrial ou fibrilação atrial.

Complexo Atrial Prematuro (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Complexos Atriais Prematuros - paroxísticos (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Causas Tratamento
Qualquer afecção atrial: Identificar e retirar a causa de base quando possível;
defeitos congênitos cardíacos, Tratamento antiarrítmico usualmente não é necessário caso o animal é
tumores metastáticos, assintomático;
endocardiose de vávulas Em casos graves: Digoxina (0,0055 a 0,011mg/kg PO ou 0,02mg/kg IV) se houver
atrioventriculares. ICC ou Beta-bloqueadores (Propanolol 0,02 a 0,06mg/kg em 5 a 10min IV) se não
Alargamento atrial secundário à houver ICC;
cardiomiopatia hipertrófica; Quinidina (6 a 20mg/kg VO) ou Procainamida (20 a 50µg/kg/min IV),
Toxicidade Digitálica; podem ser utilizados como segunda escolha;
Anestesia Geral. Propanolol em gatos com cardiomiopatia hipertrófica
normalmente é efetivo (2,5 a 5mg/gato TID PO).

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Bloqueio Sino-Atrial (“Sinus Arrest”)


Pausa equivalente ao comprimento de 2 ou mais intervalos R-R.

Bloqueio Sino-Atrial (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Causas Tratamento
Cães braquiocefálicos (normal); Determinar a causa e retirá-la, se possível;
Compressão ocular ou do seio carotídeo; Atropina (0,022mg/kg a 0,22mg/kg IV);
Manipulação do nervo vago; Isoproterenol (0,04 a 0,09µg/kg/min IV até efeito).
Xilazina;
Patologias atriais;
Intoxicação digitálica em gatos;
Neoplasias cervicais ou torácicas.

Bloqueio Átrio-Ventricular de 1° Grau


Caracterizado por um aumento do intervalo PR (maior que 0,13seg em cães e 0,09seg em gatos),
causado por uma falha na condução Átrio-Ventricular.

Bloqueio Atrio-Ventricular de 1º Grau (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Causas Tratamento
Pode acontecer em cães saudáveis; Não necessita de terapia específica,
Normal em cães geriátricos, principalmente Cocker Spaniel e Dachshunds; mas deve-se determinar as causas e
Associada à intoxicação digitálica ou beta-bloqueadores; corrigi-las.
Desequilíbrio eletrolítico (hiper ou hipocalemia).

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Bloqueio Átrio-Ventricular de 2°Grau


Caracterizado por uma intermitente falha da condução átrio-ventricular,
onde uma onda P aparece sozinha sem o complexo QRS-T. Uma ou mais ondas P não são seguidas do complexo QRS.

Bloqueio Átrio-Ventricular de 2º Grau – Mobitz tipo I (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Bloqueio Atrio-Ventricular do 2º grau – Mobitz tipo II (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Causas Tratamento
Normal em cães jovens; Para BAV 2ºGrau - Mobitz tipo I:
Associada à arritmias sinusais Geralmente não necessita de tratamento;
e aumento do tônus vagal; Em casos de intoxicação digitálica, suspender o fármaco;
Intoxicação digitálica; Atropina (0,01 a 0,04mg/kg IV, IM) freqüentemente anula a arritmia;
Intoxicação por Quinidina; Corrigir o balanço eletrolítico, se presente.
Baixas doses de atropina; Para BAV 2ºGrau - Mobitz tipo II:
Xilazina e outros anestésicos; Atropina (0,01 a 0,04mg/kg IV, IM) ou Glicopirrolato (0,005 a 0,01mg/kg IV, IM) em
Desequilíbrio eletrolítico. curta terapia da bradicardia;
Isoproterenol (0,04 a 0,09µg/kg/min IV até efeito) ou Dopamina (2 a 20µg/kg/min
até efeito) podem ser usados em quadros emergenciais.

30 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003


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Bloqueio Átrio-Ventricular de 3°Grau


O átrio e o ventrículo têm marcapassos diferentes pelo qual ocorre independência entre as ondas P e os complexos QRS
(a freqüência ventricular oscila de 40 a 65bpm). Sintomas: síncope e falha cardíaca congestiva.

Bloqueio Átrio-Ventricular de 3º grau (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Causas Tratamento
Bloqueio átrio-ventricular congênito; Tratamento com fármacos geralmente é ineficaz:
Cardiomiopatia hipertrófica; Atropina (0,01 a 0,04mg/kg IV), se não efetivo Dopamina
Infarto do miocárdio; (2 a 20µg/kg/min em infusão constante IV);
Endocardite bacteriana; Isoproterenol (0,04 a 0,09µg/kg/min até efeito) pode auxiliar no aumento
Hipercalemia e hipocalemia; da frequência cardíaca ventricular;
Doença de Lyme; Epinefrina (0,02 a 0,2mg/kg IV).
Intoxicação por digitálicos;
Cardiomiopatias infiltrativas ou fibróticas.

Complexo Ventricular Prematuro (CVP)


Aparecimento inesperado e ao esmo de complexos QRS bizarros.

Um Complexo Ventricular Prematuro(Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

T
R

R
P T

CVP CVP CVP

S
Três Complexos Ventriculares Prematuros (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

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Complexos Ventriculares Prematuros – Bigeminismo (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Causas Tratamento
Hipoxia; Corrigir distúrbios ácido-basicos e eletrolíticos (hipocalemia, hipomagnesemia,
Anemia; etc), oxigenação e
Parvovirose; repor sangue caso necessário.
Piometra; Terapia em Cães:
Uremia; Lidocaína 2% (2 a 8mg/kg IV lento; 25 a 75µg/kg/min em infusão contínua);
Dilatação gástrica; Procainamida (2 mg/kg IV ao longo de 3 a 5 minutos; 20 a 50µg/kg/min em
Epinefrina; infusão);
Anestésicos; Quinidina (5 a 10mg/kg IV lentamente; 6 a 20mg/kg IM);
Atropina; Propanolol (0,02 a 0,06mg/kg IV acima de 5 a 10 minutos);
Insuficiência cardíaca congestiva; Amiodarona como último recurso (7,5 a 10mg/kg IV lento).
Pericardite; Terapia em Gatos:
Infarto do miocárdio; Raramente necessitam de terapia agressiva, pois geralmente tendem a
Cardiomiopatias; diminuir e desaparecer espontaneamente;
Neoplasias cardíacas. Propanolol (0,02 a 0,06mg/kg IV ao longo de 5 a 10 minutos).

Taquicardia Ventricular
Grupos seriados de 3 ou mais complexos ventriculares prematuros

Q
T

Taquicardia Ventricular Paroxística (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

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Taquicardia Ventricular Sustentada (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Causas Tratamento
Hipoxia; Corrigir distúrbios ácido-básicos e eletrolíticos.
Anemia; Terapia em Cães:
Parvovirose; Batida no peito;
Piometra; Lidocaína 2% (2 a 8mg/kg IV lento; 25 a 75µg/kg/min em infusão contínua);
Uremia; Procainamida (2 mg/kg IV ao longo de 3 a 5 minutos; 20 a 50µg/kg/min em
Dilatação vólvulo-gástrica; infusão);
Epinefrina; Quinidina (5 a 10mg/kg IV lentamente; 6 a 20mg/kg IM);
Anestésicos; Se a arritmia persistir, combinar fármacos citados com Propanolol (0,02 a
0,06mg/kg IV acima de 5 a 10 minutos);
Atropina;
Cardioversão elétrica nos casos refratários e emergenciais.
Insuficiência cardíaca congestiva;
Terapia em Gatos:
Pericardite;
Usar Lidocaína (0,2mg/kg IV lento chegando até 0,8mg/kg total) com cautela,
Cardiomiopatias;
pelos efeitos e neurotoxicidade;
Infarto do miocárdio; Propanolol (0,02 a 0,06mg/kg IV ao longo de 5 a 10 minutos) Corrigir
Neoplasias cardíacas. distúrbios ácido-básicos e eletrolíticos.

Fibrilação Ventricular
Eletrocardiograma exibindo deflexões irregulares, caóticas e deformadas com amplitudes: altas ou baixas; e formas variadas,
levando a contrações ventriculares fracas e desordenadas, com rendimento cardíaco nulo, levando rapidamente à parada cardíaca.

Fibrilação Ventricular Grossa (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Fibrilação Grossa tornando-se Fina (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

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Fibrilação Ventricular Fina (Velocidade = 50mm/s; Sensibilidade = 1) HVGLN - FCAV - UNESP

Causas Tratamento
Choque; Iniciar o ABC da ressuscitação cárdio-pulmonar (vide algoritmo em anexo)
Anoxia; Intubação do paciente;
Anestésicos como halotano e Ventilação mecânica;
barbitúricos; Massagem cardíaca;
Intoxicação por digitálicos; Desfibrilador elétrico:
Cirurgia cardíaca; 2 Joules/kg para animais < 7kg;
Catecolaminas endógenas e 5 Joules/kg para animais entre 8 e 40 kg;
exógenas; 5 a 10 Joules/kg se >40 kg.
Hipotermia; Epinefrina (0,02 a 0,2mg/kg IV) para conversão da fibrilação fina em fibrilação
Hipocalemia; larga e logo após utilizar o desfibrilador;
Hipocalcemia; Lidocaina 2%: 2 a 8 mg/kg IV lentamente e em seguida usar o desfibrilador;
Alcalose; Bicarbonato de sódio (1mEq/kg) deve ser dado para cada 10 minutos de
Infarto do miocárdio; parada cardíaca;
Miocardite. Pode instituir pancada pré-cordial ou cardioversão química caso não haja
desfibrilador elétrico. Cloridrato de potásio (1mEq/kg) e 6mg por kg de acetil
colina IC

Assistolia Ventricular (Parada Cardíaca)


Paciente sem pulso - Morte em 4 minutos - Traçado eletrocardiográfico sem complexos QRS.

Assistolia Ventricular (Velocidade = 50mm/s) HVGLN - FCAV - UNESP

Causas Tratamento
Fibrilação ventricular; Iniciar o ABC da ressuscitação cárdio-pulmonar (vide algoritmo em anexo)
Bloqueio AV completo; Intubação do paciente;
Severa acidose; Ventilação mecânica;
Hipocalemia Massagem cardíaca.;
Epinefrina (0,02 a 0,2mg/kg IV) para conversão da fibrilação fina em fibrilação larga e
logo após utilizar o desfibrilador;
Bicarbonato de sódio (1mEq/kg) deve ser dado para cada 10 minutos de parada
cardíaca;
Em Bradicardia sinusal severa associada ou não à bloqueio atrio-ventricular usar
Atropina (0,02 a 0,05mg/kg IV) ou Isoproterenol (infusão contínua de 0,04 a
0,09µg/kg/min IV);
As causas da assistolia devem ser identificadas e tratadas após a reversão inicial do
quadro;
Dopamina (2 a 20µg/kg/min até atingir efeito) nos casos de dissociação eletromecânica.

34 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003


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Arritmias Causadas por Procedimentos, Agentes Anestésicos e Pré-Anestésicos

Manipulação vagal: Bradicardia, bloqueio AV, assistolia cardíaca, taquicardia ou fibrilação ventricular.
Intubação: Estimulação vagal (gerando as mesmas alterações da manipulação vagal).
Manipulação do coração: Arritmias diversas.
Recuperação anestésica: 30% dos cães apresentam arritmias.
Acepromazina: Bradicardia e hipotensão.
Diazepam e Midazolam: Sem alterações.
Droperidol + Fentanil (Innovar-Vet): Bradicardia e baixo rendimento cardíaco.
Quetamina: Taquiarritmia sinusal, taquicardia e hipertensão.
Tiletamina + Zolazepam (Zoletil): Taquiarritmia sinusal.
Xilazina: ↓FC, ° ou ↓PA, ↓débito cardíaco, arritmias como: bradicardia, bloqueio sino-atrial e bloqueio átrio-ventricular,
arritmias ventriculares em presença de epinefrina ou halotano.
Tiopental: ° FC, ↓PA, ↓débito cardíaco, arritmias ventriculares persistindo durante a anestesia, complexo ventricular
prematuro.
Halotano: ↓FC, arritmias ventriculares severas frente a catecolaminas; utilizar na MPA tranqüilizantes fenotiazínicos do
tipo adrenolíticos.
Adrenalina: ° FC, taquicardia sinusal, taquicardia atrial, fibrilação ventricular junto ao halotano.
Atropina: 1° bradicardia e 2° taquicardia; dar como MPA em animais com FC ≤ 140 bpm.
Legenda: ° = Aumento; ↓ = Diminuição; MPA = Medicação Pré-Anestésica; FC = Freqüência Cardíaca; PA = Pressão Arterial

Fármacos, Apresentação Comercial, Doses, Volume de Administração e


Vias de Administração, Indicadas na Terapêutica das Arritmias Cardíacas Observáveis no Monitor Cardíaco
Apresentação Volume de Vias de
Fármacos Comercial Dose administração administração
Amiodarona Atlansil® 5 a 10mg/kg IV lento 0,1 a 0,2ml/kg IV
50mg/ml
Atropina Atropina® 0,01 a 0,04mg/kg IV 0,2ml a 2ml/kg IV
0,25mg/ml
Bicarbonato de Sódio Bicarbonato 1mEq/kg 1ml/kg para cada 10 min. IV
8,4%® de assistolia
Digoxina Digoxina® 0,02mg/kg sendo 1/4 0,02ml/kg a cada hora até atingir IV lento
0,25mg/ml a cada hora 0,08ml/kg total
Dobutamina Dobutrex® 2,5 a 20µg/kg/min até 1ml diluido em 250ml de Glicose IV
12,5mg/ml atingir efeito 5%: 1 a 8 gotas/kg/min
Dopamina Revivan® 2 a 20µg/kg/min até 4ml em 500ml de Glicose IV
5mg/ml atingir efeito 5%: 1 a 10gotas/kg/min
Epinefrina Epinefrina® 0,02 a 0,2mg/kg 0,02 a 0,2ml/kg IV ou IC
1mg/ml
Isoproterenol Isuprel® 0,04 a 0,09µg/kg/min 0,0002 a 0,00045ml/kg/min IV
0,2mg/ml até efeito até efeito
Lidocaína Xilocaína® 2 a 4mg/kg (bolus) 0,1 a 0,2 ml/kg (bolus). IV
20mg/ml 25-75µg/kg/min 1,6ml/100ml (soro)
Procainamida Procamide® 2mg/kg ao longo de 3 a 5 minutos 0,04ml/kg ao longo de 3 a 5 IV
50mg/ml até dose total de 20mg/kg 20 a minutos até dose total de
50µg/kg/min 0,4ml/kg
Propanolol Propranolol® 0,02 a 0,06mg/kg em 5 a 10min 0,02 a 0, 06ml/kg IV
1mg/ml
Quinidina Quinicardine® 6 a 20mg/kg 1comprimido para cada PO
200mg/comp. 10kg de peso vivo
Legenda: mg = Miligrama; ml = Mililitro; kg = Kilograma; µg = Micrograma; mEq = Miliequivalente; min. = Minuto; IV = Intra-venoso; IC = Intracardíaco; PO = Oral.

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Procedimentos Emergenciais
Ressuscitação Cárdio-Pulmonar
Procedimento na Parada Cardiopulmonar
Falta de responsividade
Ausência de pulso ou sons cardíacos
Apnea ou respiração inefetiva

Avaliar as
Vias Respiratórias

Aberta Obstruída

Atividade respiratória efetiva? Desobstruir

SIM NÃO

Manter via aérea (esticar o pescoço e deitar cabeça mais baixa) Respiração boca-boca ou boca-nariz
Monitorar o paciente Intubação endotraqueal e ventilaçào com oxigênio a 100%
Estabilizar as causas da parada cardiopulmonar
Tratamento apropriado

Realizar 4 respirações e avaliar o pulso ou sons cardíacos

Presente Ausente

Continuar Ventilação a 12-20 rpm Compressão cardíaca externa e continuar respiração artificial -
até observação de respiração espontânea paciente intubado (60-80 compressões/min - 1 resp / 5 compr.
ou uma insuflação simultânea com a compressão a cada
3 compressões e comprimir o abdômen alternado com o tórax)

Manejo Pós-Ressuscitação: Ligar o Monitor Cardíaco


Vetilação, oxigênio e fluídos adequados
Dobutamina, dopamina ou atropina (vasopressores e inotrópicos)
Dexametasona, manitol ou furosemida (citoprotetor e anti-edema)
Dobutamina 5-10 microgramas/kg/min
Dopamina 5-10 microgramas/kg/min
Atropina 0,044 mg/kg Seguir tratamento apropriado da arritmia observável
Dexametasona 0,5 mg/kg
Manitol 1-2 g/kg
Furosemida 1-2 mg/kg
1) Fibriação Ventricular 2) Assistolia 3) Dissociação Eletromecânica
Checar o pulso
Chegar colocação dos eletrodos do ECG
Tentar uma derivação perpendicular a
anterior

* Anestesiado com halotano 0,02 mg/kg


** Sem anestésico 0,2 mg/kg Epinefrina 0,05 mg/kg*
Anestesiado sem halotano 0,1 mg/kg (repetir após 5 min)**
Anestesiado com halotano 0,02 mg/kg

Continuar ventilação e
massagem cardíaca se
continuar assitolia

Atropina 0,05mg/kg
(repetir após 3-5 min)

Continuar ventilação e
massagem cardíaca se
continuar assitolia

Bicarbonato de Sódio 8,4%


1 ml/kg

Continuar ventilação e
massagem cardíaca se
continuar assitolia

Considerar óbito ou tentar


Algoritmo do ABC da ressuscitação cárdio-pulmonar (Tilley, 1999) resuscitação cardiopulmonar

36 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003


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Fibrilação Ventricular
Fibrilação Ventricular

Desfibrilador Disponível Desfibrilador Indisponível

Desfibrilar Soco Precordial


2 J/kg (até 7 kg) Confirmar Fibrilação Ventricular
6 J/kg (8-40 kg)
6-10 J/kg (> 40 kg)

Fibrilação Ventricular Complexos Ventriculares Assistolia Epinefrina 0,05 mg/kg*


Prematuros Multiformes
Freqüentes

Desfibrilar a 1,5 x Lidocaína 2% sem epinefrina 2 mg/kg (bolus) Checar os eletrodos Lidocaína 2% sem epinefrina 2 mg/kg (bolus)
da energia inicial e 50 microgramas/kg/min (1,6 ml/100ml soro) Testar uma derivação e 50 microgramas/kg/min (1,6 ml/100 ml soro)
ou Procainamida 10-20 mg/kg e 25-50 perpendicular a anterior
microgramas/kg/min (0,8-1,6 ml/100ml soro)

Recomeçar ressuscitação Epinefrina 0,05 mg/kg* Desfibrilação Química:


cardiopulmonar Cloreto de Potássio 1mEq/kg
Acetilcolina G mg/kg

* Anestesiado com halotano 0,02 mg/kg


Epinefrina 0,05 mg/kg* ** Sem anestesia 0,2 mg/kg epinefrina 0,2 mg/kg** Cloreto de Cálcio 0,1 ml/kg
Anestesiado sem halotano 0,1 mg/kg epinefrina 0,2 mg/kg**
Anestesiado com halotano 0,02 mg/kg

Repetir ciclo de desfibrilalção Atropina 0,05 mg/kg

Eplinefrina 0,2 mg/kg** Bicarbonato de Sódio 1 ml/kg

Repetir ciclo de desfibrilação

Considerar:
Bicarbonato de Sódio 8,4% 1 ml/kg
Lidocalilna 2% sem epinefrina 2 mg/kg (bolus) e
50 microgramas/kg/min (1,6 ml/100 ml soro)
Algoritmo para desfibrilação ventricular (Tilley, 1999)
Desfibrilar novamente

Dissociação Eletro-Mecânica
Dissociação Eletromecânica

Epinefrina 0,05 mg/kg*

Hipocalemia Severa Acidose Hipotemia Bradiarritmias


Hipercalemia Resuscitação Prolongada (idioventricular)
Hipomagnesimia

Gluconato de Cálcio 10 mg/kg Bicarbonato de Sódio 8,4% 1 ml/kg Aquecimento Peritoneal Atropina 0,05 mg/kg
Aquecer Fluidos Administrados
Colchão Térmico

DEM (apresenta complexo QRS, mas sem pulso nem pressão arterial)
Observar: Epinefrina 0,05 mg/kg*
Tramponamento cardíaco
Hipovolemia profunda
Hipoxia
Hipercalemia
Hipocalemia
Acidose
Hipotermia
Pneumotórax de tensão Algoritmo para identificação de dissociação eletro-mecânica (Tilley, 1999)

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003 37


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Considerações Finais rência do próprio estado orgânico do díaco, nos períodos trans e pós-anes-
paciente, acrescido a efeitos provo- tésicos, identificar essas anormalida-
Distúrbios do ritmo, freqüência cados pelos fármacos administrados des, implementando as medidas tera-
e/ou funcionamento cardíaco pode- previamente à anestesia. O Médico pêuticas necessárias à preservação da
rão ocorrer durante os procedimentos Veterinário Anestesista deve estar ca- vida dos animais colocados sob a sua
cirúrgicos dos cães e gatos, em decor- pacitado para, através do monitor car- responsabilidade.

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Transplante renal
em cães e gatos
Simone Domit Guérios INTRODUÇÃO
CRMV-PR nº 4044
Professora do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do O êxito alcançado nas técnicas de
Paraná – Campus Curitiba transplantes de órgãos em humanos
Rua dos Funcionários, 1540, Curitiba/PR
possibilitou que o transplante renal
Fone: (41) 350-5724
e-mail: domitsi@hotmail.com em cães e gatos fosse considerado
como uma recente opção no tratamen-
Gisele Sprea to da Insuficiência Renal Crônica
CRMV-PR nº 4968 (IRC), o qual não só prolonga a vida
Médica Veterinária, Pós-graduanda da UFPR. do paciente, mas também permite que
e-mail: gica79@hotmail.com
este retorne às suas atividades nor-
mais (Gregory et al., 1993). O suces-
so do transplante renal na Medicina
RESUMO
Veterinária depende de uma combina-
O transplante renal em cães e gatos é considerado uma excelente opção para o trata- ção de fatores que envolvem o uso de
mento de insuficiência renal crônica, pois promove qualidade de vida aos pacientes e agentes imunossupressores, aperfei-
tempo de sobrevida entre 1 a 3 anos. Fatores como os rigorosos critérios na seleção
çoamento das técnicas microcirúrgi-
dos doadores e receptores, aprimoramento na técnica cirúrgica, uso de agentes
imunossupressores e a rápida identificação e instituição de tratamento das compli- cas, melhor conhecimento da resposta
cações pós-transplantes, contribuíram para o sucesso que tem sido alcançado neste imune frente a tecidos e órgãos enxer-
tratamento. A presente revisão descreve os conceitos práticos relevantes sobre o tados, seleção do paciente que recebe-
transplante renal em cães e gatos. rá o transplante, seleção do doador,
identificação precoce da doença e a
Palavras chaves: insuficiência renal crônica, transplante, pequenos animais. correta escolha do protocolo anestési-
co (Gregory et al., 1992).
A utilização de agentes imunossu-
pressores deu início à nova era de
ABSTRACT
transplantes renais, sendo que, a
RENAL TRANSPLANTATION IN DOGS AND CATS ciclosporina foi o primeiro agente que
demonstrou grandes resultados frente
Renal transplantation in dogs and cats is now a proven treatment for chronic renal fail- a rejeição de órgãos e tecidos. O meca-
ure. It allows patient to return to normal activity and survival time of 1 to 3 years.
Factors as criteria of recipient and donor selection, improvement in surgical thec- nismo primário da rejeição de tecidos
niques, methods of immunosuppression and early identification and treatment of com- consiste em estimulação de linfócitos
plications that occur after renal transplantation, have helped to obtain success in these T, que são citotóxicos ao enxerto, e em
treatment. These review describes the practical relevant knowledges on renal trans- ação direta ou indireta de outros
plantation in dogs and cats. mediadores celulares como os linfóci-
tos B, células plasmáticas, macrófa-
Key words: chronic renal failure, transplantation, small animals.
gos, plaquetas e leucócitos (Gregory et
al., 1993). O mecanismo de ação da
ciclosporina consiste em bloqueio de
interleucina-2, que é liberada das célu-
las T-auxiliares, prevenindo a ação das
células T-citotóxicas, células-B e
macrófagos. A ciclosporina também
apresenta ação inibitória sobre a libe-
ração do °-interferon, fator de diferen-

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ciação citotóxica, fator de diferencia- 2001). Outros fatores relacionados teinúria leve a moderada e sedimento
ção das células–B, porém não inibe a com a etiologia da IRC são as neopla- urinário inativo. Os valores séricos da
ação dos linfócitos T-supressores sias, amiloidose, processos inflamató- fosfatase alcalina podem estar
(Gregory e Gourley, 1992). A predini- rios ou infecciosos, como a pielone- aumentados em pacientes com osteo-
sona, outro agente amplamente utiliza- frite, glomerulonefrite, nefrite tubu- distrofia renal (Shaw e Hihle, 1997).
do nos protocolos imunossupressores, lointersticial, nefrolitíase, obstrução O tratamento adotado para pacien-
age por inibição da produção de diver- do trato urinário, nefrotoxinas como o te com insuficiência renal varia con-
sas citocinas essenciais como a IL-1, etilenoglicol, antibióticos aminogli- forme a condição clínica do animal e a
IL-2 e o °-interferon, que são essen- cosídios, insuficiência renal aguda e causa primária da doença. O tratamen-
ciais para a geração e função das célu- isquemia renal (Brown, 1997). to conservativo visa minimizar as
las T (Mathews et al., 2000). O diagnóstico da IRC geralmente conseqüências clínicas e fisiopatoló-
se baseia numa associação de fatores, gicas da função renal reduzida, atra-
Insuficiência Renal Crônica os quais englobam a história, o exame vés do controle nos sinais da uremia,
clínico e as alterações histopatológicas manutenção do equilíbrio hídro-ele-
A Insuficiência renal é uma condi- (Nelson e Couto, 1998). Os sinais clí- trolítico e ácido-básico e fornecimen-
ção patológica decorrente da perda de nicos da IRC variam com o grau de to nutricional adequado (Elliot, 2000).
3/ ou mais da capacidade funcional A fluidoterapia deve ser instituída
4 insuficiência renal e sua causa. No his-
dos néfrons em ambos os rins; pode tórico pode ser relatado poliúria, poli- nos casos em que há poliúria e quando
ser causada por anormalidades funcio- dipsia, emaciação, apetite seletivo ou o consumo de água não for suficiente
nais e/ou orgânicas, que são classifi- ausente, letargia, náuseas, vômito, para manter a hidratação do animal,
cadas em aguda ou crônica, reversível diarréia e fraqueza (Coelho et al., pela administração de solução de rin-
ou irreversível (Ducrocq e Biourge, 2001). Ao exame físico pode-se obser- ger-lactato, por via intravenosa ou subcu-
1998). A IRC é definida como insufi- var úlceras na cavidade oral, halitose, tânea (Forrester e Less, 1998). A hipo-
ciência renal primária irreversível e mucosa pálida, desidratação, depres- calemia pode ocorrer devido a redução
progressiva que persiste por longo são, condição corpórea ruim, letargia e do consumo e/ou pelo aumento nas per-
período de tempo, geralmente meses conjuntivas injetadas (Brown, 1997). das de potássio urinário, que deve ser
ou anos (Forrester e Less, 1998). As Em muitos casos pode-se observar suplementado com cloreto de potássio
alterações fisiopatológicas na IRC osteodistrofia renal, ou seja, osteofi- diluído em ringer-lactato, por via intra-
resultam na incapacidade dos rins em brose devido ao hiperparatiroidismo venosa (Nelson e Couto, 1998).
realizar a função excretora promoven- secundário renal (Shaw e Hihle, 1997). Os pacientes renais devem receber
do o acúmulo de substâncias nitroge- A palpação abdominal geralmente dietas com restrição de fósforo, sódio
nadas (creatinina e uréia) que seriam revela rins pequenos e com forma irre- e proteínas, com o objetivo de reduzir
eliminadas através da filtração glome- gular, mas as dimensões renais podem a quantidade de resíduos nitrogenados,
rular, a função reguladora que resulta estar normais ou mesmo aumentadas, que se traduzem em azotemia e
em alterações nos equilíbrios hidro- dependendo da causa da IRC. As cau- aumento na pressão arterial. Os níveis
eletrolítico e ácido-básico, e a função sas responsáveis pelo aumento nos protéicos recomendados para cães
de síntese de eritropoetina, causando contornos renais incluem rim policísti- com IRC são de 2 a 2,5g/kg/dia e para
anemia não regenerativa e redução na co, obstrução urinária crônica ou neo- gatos de 3,8 a 4,5g/kg/dia, sendo que a
conversão de vitamina D, causando plasia renal, e as dimensões renais ingestão de calorias deve ser ajustada
alterações na absorção de cálcio e diminuídas refletem a perda de néfrons para a otimização do anabolismo pro-
hiperparatiroidismo secundário renal e sua subseqüente substituição por téico (Polzin et al., 1992). A hiperfos-
(Osborne et al., 1972). tecido conjuntivo (Polzin et al., 1992). fatemia no início da IRC é controlada
O fator etiológico da IRC é de As alterações laboratoriais obser- com a restrição de fósforo na dieta,
difícil determinação; dentre as possí- vadas freqüentemente na IRC são porém com a progressão da doença é
veis causas estão as alterações heredi- azotemia, hiperfosfatemia, acidose necessário a administração oral de
tárias ou congênitas como displasia metabólica, hipermagnesemia, hipo- conjugadores de fosfato intestinal,
ou hipoplasia renal, rim policístico e calemia, hiper ou hipocalcemia e ane- para diminuir a absorção de fósforo
nefropatias familiais, alterações imu- mia não-regenerativa, normocítica e pelo intestino (Shaw e Hihle, 1997).
nológicas como lúpus eritematoso e normocrômica (Polzin et al., 1992). A O tratamento da acidose metabóli-
glomerulonefrite (Coelho et al., urinálise revela densidade baixa, pro- ca tem por objetivo manter os valores

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normais do pH sangüíneo (> 7,2), do transplantes entre indivíduos sem como as cardiomiopatias. A condição
bicarbonato (> 14mmol/L) e do CO2 parentesco genético não foram possí- corporal é um fator importante na
total (> 15 mmol/L) (Forrester e Less, veis até o aparecimento da azatiopri- escolha do candidato, pois, se o animal
1998). Quando estes valores estive- na no início de 1960, e em 1969, pela apresentar perda de peso crônico o
rem alterados administra-se bicarbo- primeira vez, realizou-se o transplan- transplante só é considerado como
nato de sódio via oral, na dose de te renal em cães com o uso da imu- opção de tratamento quando a perda
15mg/kg a cada 8 horas, exceto em nossupressão. A azatioprina e os cor- for no máximo de 10 a 20% do peso
pacientes com hipertensão ou insufi- ticosteróides serviram de amparo à corporal. Esta perda permite que o
ciência cardíaca congestiva (Brown, imunossupressão até o início de 1980, paciente suporte o estresse anestésico
1997). quando surgiu a ciclosporina que e cirúrgico, sendo que as perdas acima
Quando o hematócrito de pacien- revolucionou o transplante de órgãos de 20% do peso corporal predispõem
tes renais estiver <25% nos gatos e devido sua ação de inibição seletiva ao choque e à insuficiência cardíaca
< 30% nos cães faz-se necessário a sobre os linfócitos T, responsáveis (Nèmeth et al., 1997). Para evitar a
transfusão sangüínea ou a administra- pela rejeição do tecido transplantado descompensação renal e a deterioriza-
ção de eritropoetina humana recombi- (Nèmeth et al., 1997). ção corporal, deve-se fornecer alimen-
nante (EPOHur). Os animais que Em Medicina Veterinária, o suces- tação enteral e parenteral antes do pro-
apresentam sinais típicos de anemia so do transplante renal clínico foi cedimento cirúrgico. A presença de
como, fraqueza, letargia e dispnéia, obtido em um gato persa em 1984, na outras doenças como infecções do
devem receber sangue total fresco ou Escola de Medicina Veterinária da trato urinário, diabete, leucemia felina,
papa de hemáceas (Polzin et al., Universidade da Califórnia, Davis, disfunções cardíacas, neoplasias, oxa-
1992). relatado por Gregory et al. em 1987. lúria ou gastrenterites impossibilitam
Até há pouco tempo atrás, o trata- O gato sobreviveu por 2 anos com que o transplante renal seja realizado.
mento conservativo era a única opção função renal normal e foi à óbito Para detecção desses problemas, é
para os casos de insuficiência renal devido Insuficiência Cardíaca necessário a execução de exames clí-
irreversível e progressiva, mas com o Congestiva (Gregory, 1993). nicos pré-operatórios que incluem
sucesso alcançado no transplante de hemograma, perfil bioquímico, uriná-
órgãos em humanos, o transplante Seleção do Paciente lise, cultura urinária, radiografia torá-
renal em cães e gatos se tornou uma cica, ECG, ultra-sonografia, teste de
excelente opção de tratamento na IRC O paciente ideal para a realização Elisa para detecção de Felv e a imuno-
(Gregory, 1993). do transplante renal apresenta insufi- florescência indireta contra Fiv
ciência renal crônica descompensada, (Mathews et al., 2000). Os parâmetros
Histórico decorrente de nefropatia bilateral sangüíneos que caracterizam as
refratária ao tratamento de rotina. condições da função renal devem
O primeiro experimento com Dentre as doenças que justificam a se apresentar abaixo dos limites críti-
transplante renal em animais foi rela- realização do transplante estão a glo- cos, como exemplo, a uréia sangüínea
tado por Imre Ullmann, em Viena, merulonefrite ou pielonefrite crônica, < 25-30mmol/L, creatinina sérica
1902. A partir de 1905, nos Estados fibrose renal, doença renal policística < 500-600mmol/L e fósforo < 4-
Unidos, a técnica cirúrgica do trans- e displasia renal (Nèmeth et al., 5mmol/L. As funções hepáticas tam-
plante renal foi aperfeiçoada por 1997). O transplante renal não deve bém são averiguadas, principalmente,
Alexis Carrel, sendo esta utilizada até ser realizado nos casos de emergência devido ao uso de fármacos imunossu-
os dias atuais. O fenômeno de rejei- ou como o último tratamento para sal- pressores no período pós-operatório
ção ao tecido transplantado foi docu- var a vida de pacientes terminais ou (Gregory, 1993).
mentado pela primeira vez por Carl severamente doentes (Gregory, 1993). Com os resultados desses exames
Williamson (1923), o qual indicou a O paciente nefropata que recebe obtém-se consciência das condições
realização de transplante renal entre como indicação de tratamento o trans- clínicas do paciente para ultrapassar
indivíduos aparentados, sendo que em plante renal, só será encaminhado para com sucesso o trans-operátorio, supe-
Boston (1954), Merryl e Murray rea- este procedimento se estiver enquadra- rar possíveis complicações pós-ope-
lizaram, com sucesso, o primeiro do em determinados critérios de sele- ratórias e atingir o objetivo do trata-
transplante renal humano entre ção, que envolvem a condição corpó- mento, que consiste num maior tempo
gêmeos idênticos (Gregory, 1993). Os rea e a ausência de doenças sistêmicas, e em melhor qualidade de vida. É

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003 41


CFMV_FINAL_18-DEZ-2003 12/19/03 10:15 AM Page 42

Figura 1 a transfusão sangüínea se faz necessá-


Critérios de seleção ria para a manutenção do hematócrito
entre 25 a 30% em cães e 15 a 20%
em gatos (Pereira e Ramalho, 2001).
Condição Ausência de Ao doador e ao receptor adminis-
Corporal Doenças tra-se ampicilina ou amoxicilina, 30
minutos antes da intervenção cirúrgi-
ca, como profilaxia de infecção
(Nèmeth et al., 1997).
A ciclosporina é iniciada aos
Sem perda Com perda Infecção trato urinário
de peso de peso Diabetes Mellitus pacientes receptores, um a dois dias
Cardiopatias antes da cirurgia, na dose de 7,5
Neoplasia mg/kg, a cada 12 horas por via oral,
Gastrenterites
Máximo Oxalúria podendo ser iniciada em casa pelo
10-20% dono do animal. A prednisolona
começa a ser administrada pela
Critérios de seleção do paciente com insuficiência renal crônica, para indicação manhã no dia do procedimento cirúr-
do transplante renal. gico, na dose de 0,25mg/kg a cada 12
horas, por via oral (Gregory, 1995).
importante que informações como o al., 1996). O paciente com IRC, na No dia do transplante, 12 horas após a
prognóstico do paciente, as complica- maioria das vezes, apresenta anemia, última dose de ciclosporina, coleta-se
ções e as conseqüências da imunossu- sendo que o hematócrito pode dimi- sangue do paciente para mensuração
pressão sejam relatadas com detalhes nuir para 12 a 15%, principalmente das concentrações séricas do fármaco
ao proprietário (Nèmeth et al., 1997). após a rehidratação. Nestes casos se através de cromatografia líquida de
faz necessária a transfusão sangüínea alta pressão. Essa monitoração é rea-
no período pré-operatório, para man- lizada no pré e pós-operatório devido
Seleção do Doador ter o hematócrito em torno de 30% a variabilidade na absorção e no
(Gregory, 1993). metabolismo da ciclosporina oral em
O doador renal deve ter porte Nos Estados Unidos, muitos dos diferentes pacientes, possibilitando
similar ao receptor ou um pouco cães e gatos doadores de órgãos, que a concentração terapêutica seja
maior, apresentar compatibilidade como os rins, são animais abandona- mantida, os efeitos tóxicos minimiza-
sangüínea com o receptor e estar com dos que serão submetidos a eutanásia dos e a dose após o transplante seja
a saúde perfeita. Para confirmação do nos Canis Municipais. O Conselho de reajustada conforme necessário
estado de saúde do animal realiza-se Ética Veterinária permite o uso destes (Mcanulty e Lensmeyer, 1998). Em
hemograma, perfil bioquímico, uriná- pacientes como doadores, mas enfati- gatos, a concentração desejada da
lise, urografia excretora e pielografia za a importância da adoção destes ciclosporina sérica é de 500ng/L, a
para verificar a forma e a vasculariza- animais por parte dos proprietários do qual é mantida nos 30 primeiros dias
ção renal; e os gatos são testados para paciente que receberá o órgão pós-operatórios e de 250ng/mL após a
leucemia e imunodeficiência felina (Gregory, 1993). redução na dose, nos 3 meses subse-
(Gregory, 1993). A compatibilidade quentes. A prednisolona permanece
sangüínea entre o doador e o receptor Pré-operatório na dose de 0,25 mg/kg, com seu inter-
é um fator importante, visto que o valo entre doses reduzido para cada
antígeno presente nas células verme- No período pré-operatório admi- 24 horas, com alguns dias de pós-ope-
lhas do sangue também estão presen- nistra-se, ao paciente que receberá o ratório (Gregory e Gourley, 1992).
tes no endotélio vascular do tecido órgão, soluções hidro-eletrolíticas Ambos os medicamentos são adminis-
transplantado e a produção de anti- balanceadas, como o ringer com lac- trados por tempo indefinido e ao con-
corpos para esses antígenos promove tato, num volume de 75 a 100mL/kg trário do que se observa em humanos,
o aparecimento de coágulos nos vasos de peso, por via SC ou IV, por 24 a ciclosporina não tem ocasionado
do enxerto e enfarto do órgão no horas, antes da intervenção (Mathews nefro ou hepatotoxicicade em gatos
momento do transplante (Mishina et e Gregory, 1997). Em alguns animais (Gregory, 1993).

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Protocolo Anestésico Técnica Cirúrgica vando o suprimento sangüíneo.


Quando a preparação do paciente que
Os protocolos anestésicos variam O transplante renal envolve dois receberá o rim estiver concluída, a
de acordo com os pacientes, mas em procedimentos cirúrgicos importan- artéria e a veia renal do doador são
geral, a medicação pré-anestésica uti- tes: a nefrectomia do animal doador e ligadas e seccionadas (Gregory,
lizada para o transplante renal consis- o transplante desse rim para o pacien- 1995). O rim do doador é lavado com
te em sulfato de atropina (0,01 a te portador de IRC. O tempo do trans- solução contendo cloreto de sódio a
0,04mg/kg) e oximorfina (0,05mg/ plante não deve ultrapassar 60 minu- 0,9% (500L), lidocaína 2% sem epi-
kg), ambos por via subcutânea. A tos, com o intuito de minimizar a nefrina (6L) e heparina (2.000
indução e manutenção da anestesia isquemia do rim (Gregory e Gourley, Unidades), injetada através da artéria
são obtidas com mistura de isoflurano 1992). Ao paciente doador adminis- renal até que a veia renal esteja livre
e oxigênio em aparelho de anestesia tra-se manitol (1 a 2g/kg) por via de coágulos sangüíneos (Mathews et
inalatória (Gregory, 1995). Durante o intravenosa, 15 a 20 minutos antes do al., 2000).
procedimento cirúrgico são adminis- inicio da nefrectomia, para reduzir a Realiza-se a laparotomia mediana
trados, por via intravenosa, soluções incidência e a duração da necrose pré-retro-umbilical no paciente que
hidro-eletrolíticas balanceadas (10 a tubular aguda associada com a isque- receberá o órgão. Para que as anasto-
20mL/kg/hora) e/ou sangue para mia renal (Gregory, 1993). moses dos vasos sejam obtidas com
manutenção do hematócrito ≥ 30% A nefrectomia do doador começa maior facilidade, o rim esquerdo é
(Gregory, 1993). antes da preparação do paciente que transplantado na fossa ilíaca direita e
A pressão arterial sistêmica é receberá o transplante. O doador é vice versa, estas devem ser feitas com
monitorada diretamente por catete- posicionado em decúbito dorsal e ini- o auxílio de lupa de magnificação (2 a
rização arterial ou indiretamente cia-se a laparotomia através da inci- 10X), sendo que maiores magnifica-
com o auxílio do Doppler, sendo são mediana pré-retro-umbilical da ções são necessárias para a uretero-
que se mensurada por cateterização pele, subcutâneo e linha alba neocistostomia. A fossa ilíaca escolhi-
deve apresentar valores maiores (Mathews et al., 2000). Lupas com da é preparada para a anastomose tér-
que 60mmHg, enquanto a mensura- magnificação de 2 a 3 vezes são reco- mino terminal da artéria renal com a
da com o auxílio do Doppler deve mendadas para a dissecação vascular. artéria ilíaca, e término lateral da veia
ser ≥ 90mmHg (Gregory, 1993). Os pedículos vasculares dos rins renal com a veia ilíaca (Figura 2a).
Para suporte da pressão arterial esquerdo e direito são examinados, Devido a maior dificuldade de expo-
administra-se dopamina (3 a pois necessita-se de um segmento da sição da veia ilíaca e pela sua locali-
5mg/kg/minuto) por infusão veno- artéria renal com comprimento míni- zação mais lateral e mais profunda
sa. A gasometria venosa e arterial e mo de 0,5cm e, se houver ramifica- quando comparada com a artéria ilía-
os eletrólitos devem ser mensura- ções nos vasos renais, preservam-se a ca, a anastomose da veia renal é reali-
dos com freqüência para que, se artéria e a veia de maior calibre para zada antes da artéria renal.
necessário, seja feita a correção as anastomoses (Gregory, 1993). A artéria ilíaca é isolada e sua
(Gregory et al., 1992). Quando a Normalmente, dá-se preferência à oclusão é obtida com o auxílio de
concentração de cálcio ionizado for remoção do rim esquerdo, uma vez uma pinça vascular de bulldog, que é
< 0,7mmol/L faz-se necessário a que este apresenta maior comprimen- posicionada próxima à bifurcação da
administração de solução de cloreto to do pedículo vascular que o rim aorta e à aplicação de ligadura, mais
de cálcio IV, pelo período de 20 a direito (Mathews et al., 1994). distalmente, próximo ao anel femo-
30 minutos e, se a concentração de Remove-se o máximo da camada ral; na seqüência, procede-se a inci-
potássio sérico for <3mmol/L admi- adventícia que envolve a artéria e veia são entre as pinças. A porção livre da
nistra-se cloreto de potássio renal e o tecido adiposo da região pél- artéria é dilatada com o auxílio de
(0,5mmoL/kg/hora/IV) (Mathews e vica. Na seqüência, a veia ovariana ou forcepes e a adventícia é excisada em
Gregory, 1997). testicular é ligada e todos os ramos torno de 0,25 a 1mm de comprimen-
A analgesia intra e pós-operatória menores cauterizados, antes da sec- to, a partir da porção proximal da
pode ser alcançada com a administra- ção da artéria e veia renais. O ureter é artéria. A veia ilíaca é isolada e as
ção de morfina epidural ou butorfa- liberado dos tecidos adjacentes em veias tributárias são ligadas antes do
nol, por via intramuscular (0,05 a todo o seu comprimento até o ponto posicionamento de duas pinças vas-
0,1mg/kg) (Mathews et al., 2000). de inserção à bexiga, sempre preser- culares bulldog. As pinças são colo-

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Figura 2 cadas na veia ilíaca com a máxima


distância entre elas; na seqüência,
promove-se um defeito na parede da
veia, ligeiramente mais largo que o
diâmetro da veia renal do doador
(Figura 2b). Para a anastomose da
veia ilíaca à veia renal aplicam-se
duas suturas interrompidas, com fio
de seda siliconizado ou prolene nº 6-
0, no aspecto cranial e caudal à veia
(Figura 3a). A anastomose é concluí-
da com a aplicação de duas suturas
contínua simples posicionadas late-
ral e medial à veia (Figura 3b). Após
Figura 2a - Relação anatômica entre a artéria ilíaca externa e a veia. Figura 2b - a anastomose venosa, a artéria renal
A artéria ilíaca foi preparada para anastomose término-terminal com a artéria e a artéria ilíaca são alinhadas e se
renal e a veia ilíaca preparada para anastomose látero-lateral com a veia renal. aplicam duas suturas de reparo, com
(Adaptado do GOURLEY, M.I.; GREGORY C.R. Atlas of Small Animal Surgery). uma distância de 180º entre elas; na
Figura 3 seqüência, pontos interrompidos
simples com fio de náilon ou prolene
nº 8-0 concluem a anastomose arte-
rial (Figura 4a/b/c/d/e) (Gregory,
1993). Durante a anastomose arterial
administra-se manitol (0,75mg/kg)
por via intravenosa. Para prevenir
torções no pedículo vascular e conse-
qüente isquemia no tecido transplan-
tado, o rim é suturado na parede
abdominal adjacente, com dois pon-
Figura 3a - Anastomose da veia ilíaca com a veia renal pela aplicação de 2 pontos
tos interrompidos simples e fio poli-
interrompidos posicionados nos aspectos cranial e caudal à veia. Figura 3b -
propilene nº 5-0, que são colocados
Aplicação de duas suturas contínuas simples entre as veias ilíaca e renal.
(Adaptado do GOURLEY, M.I.; GREGORY C.R. Atlas of Small Animal Surgery). ao longo da curvatura maior transfi-
xando a cápsula renal e o peritônio
Figura 4 (Mathews et al., 2000).
A ureteroneocistostomia extrave-
sicular justapõe a mucosa ureteral
com a mucosa intacta da bexiga. Esta
técnica tem como função diminuir a
incidência da obstrução ureteral, que
ocorre principalmente em gatos, devi-
do ao pequeno diâmetro do ureter,
aproximadamente 0,3mm. Inicia-se
com a cistotomia na face ventral da
bexiga; na seqüência, a porção livre
do ureter é passada através de um
túnel, pela parede dorsal da bexiga,
A artéria renal e a artéria ilíaca são alinhadas e se aplicam dois pontos de reparo, a sendo que apenas 1 a 2cm do segmen-
uma distância de 180º entre eles. Na seqüência pontos interrompidos simples com to livre do ureter penetra, para o inte-
fio de náilon ou polipropileno nº 8-0 concluem a anastomose arterial. (Adaptado do
rior da bexiga (Figura 5a/b). Com o
GOURLEY, M.I.; GREGORY C.R. Atlas of Small Animal Surgery).
ureter inserido no lume da bexiga

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Figura 5

Ureteroneocistostomia. (Adaptado do GOURLEY, M.I.; GREGORY C.R. Atlas of Small Animal Surgery).

remove-se sua porção final e 3 a 4mm plante com o objetivo de minimizar as kg/12 h) continuam sendo administra-
do tecido peri-ureteral (Figura 5c). A chances de hipertensão sistêmica ou das no pós-operatório por tempo inde-
artéria ureteral, se possível, é isolada são mantidos a fim de servir como terminado (Mishina et al., 1996).
e ligada com fio absorvível sintético reserva, caso o rim do doador apre- A avaliação do hemograma, pro-
nº 5-0 ou 6-0, com o objetivo de pre- sente alguma falha ou atraso funcio- teína plasmática total, creatinina séri-
venir hemorragias (Figura 5d). O ure- nal. Nestes casos, 3 meses após o ca e a concentração de ciclosporina
ter é cateterizado com fio de polipro- transplante os rins são removidos, no sangue são mensurados a interva-
pileno nº 5-0, que auxilia a sutura do para evitar infecções recorrentes do los de 2 a 4 dias, enquanto a densida-
ureter à mucosa vesical que é realiza- trato urinário, rins policísticos e sen- de de urina é verificada diariamente.
da com a aplicação de dois pontos sibilidade dolorosa no local (Gregory, Normalmente, até o terceiro dia de
interrompidos simples com náilon nº 1993). pós-operatório, observa-se aumento
8-0, distanciados um do outro em gradativo da densidade urinária, redu-
120º (Figura 5e). Realiza-se a síntese Pós-operatório ção das concentrações séricas de crea-
da parede da bexiga e o ureter é anco- tinina e o paciente demonstra aumen-
rado na camada serosa por meio de Após o transplante renal o pacien- to no apetite e comportamento normal
dois pontos interrompidos simples e te recebe solução hidro-eletrolítica (Gregory e Gourley, 1992). Quando o
fio de náilon nº 8-0 (Figura 5f/g) balanceada (50mL/kg/24 horas, IV), transplante falha, o animal se apre-
(Gregory, 1993). antibioticoterapia e agentes imunos- senta apático, anoréxico e isostenúri-
Os rins naturais do paciente supressores. A ciclosporina (7,5mg/ co. Após a alta hospitalar as avalia-
podem ser removidos durante o trans- kg/12 h) e a prednisolona (0,25mg/ ções clínicas e laboratoriais passam a

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Figura 6 prednisolona na dose de 2 a 5mg/kg.


Protocolo de imunossupressão utilizado em pacientes A administração desses medicamen-
submetidos a transplante renal tos por via oral só é retomada quando
o animal voltar a se alimentar espon-
Dia - 2 Iniciar ciclosporina 7,5mg/kg/bid/vo taneamente e as concentrações séricas
da ciclosporina se tornarem elevadas
Dia 0 Iniciar prednisona 0,25mg/kg/bid/vo (Mathews e Gregory, 1997).
Transplante
Renal Mensurar ciclosporina 12h antes da sua administração A Síndrome Urêmica Hemolítica
associada à administração de ciclos-
porina é uma complicação pouco fre-
Ciclosporina sérica = 500ng/ml
1º Mês qüente e caracterizada por hemólise
Prednisona 0,25mg/kg/sid/vo
microangiopática, trombocitopenia e
insuficiência renal (Aronson e Gre-
Ciclosporina sérica = 250ng/ml gory, 1999).
1º ao 3º Mês Os sinais neurológicos, tais como
(após redução na dose de ciclosporina)
depressão, convulsões e coma são
comumente relatados entre o primeiro
Observação: Realiza-se o reajuste das doses de imunossupressores conforme as e quinto dia de pós-operatório em
dosagens séricas da ciclosporina gatos. Possivelmente, o controle da
hipertensão nesses pacientes reduziria
a freqüência dessas complicações
ser semanais, nas primeiras quatro Complicações neurológicas (Kyles et al.,1999).
semanas, sendo que com 10 dias de As infecções bacterianas acarre-
pós-operatório é feito a ultra-sonogra- A rejeição renal aguda é rara, mas tam grandes problemas aos pacientes
fia abdominal a fim de notificar alte- pode ocorrer nos trinta primeiros dias transplantados, pois levam a bacteriú-
rações, como hidronefrose ou hidrou- após o transplante e tem como princi- ria e imunossupressão. Quando loca-
reter, secundárias a obstrução ureteral pal causa a falha na resposta ao trata- lizadas no trato urinário são causas
(Gregory, 1995). As avaliações labo- mento imunossupressor. Os sinais diretas de morbidade, mortalidade e
ratoriais se tornam mensais, após 30 físicos como anorexia, emese e podem estar associados ao processo
dias. De 4 em 4 meses recomenda-se depressão severa precedem a eleva- de rejeição (Mathews e Gregory,
o hemograma e o perfil bioquímico e, ção das concentrações séricas de crea- 1997). O tratamento se baseia na cul-
a cada 6 meses, a avaliação cardíaca tinina e uréia (Gregory e Gourley, tura e antibiograma, e no conheci-
(Mathews & Gregory 1997). 1992). Normalmente, os pacientes mento da toxicidade de alguns anti-
A maioria dos rins transplantados que sofrem rejeição do enxerto apre- bióticos quando usados com a ciclos-
retorna sua função 72 horas após o sentam baixas concentrações de porina. Os medicamentos mais indi-
procedimento cirúrgico, mas os valo- ciclosporina sangüínea (80ng/mL) e cados são as cefalosporinas e as fluor-
res normais de creatinina plasmática e assim que estes valores se tornam ele- quinolonas (Hall, 1983).
densidade urinária são observados 15 vados (250 a 500ng/mL) a função A Insuficiência Cardíaca Conges-
dias após o transplante. No entanto, o renal retorna. A rejeição pode ser con- tiva pode ser um problema primário
rim transplantado pode não exercer firmada por biópsia do tecido trans- ou secundário à hipertensão causada
sua função de maneira adequada no plantado, sendo que o achado histopa- pela insuficiência renal ou pela admi-
período de 7 a 10 dias de pós-operató- tológico observado com maior fre- nistração de ciclosporina. Recomen-
rio; nesses casos, faz-se necessária a qüência é a nefrite intersticial linfo- da-se que 2 a 3 meses após o trans-
administração de soluções hidro-ele- plasmocítica severa, difusa ou multi- plante seja feita a remoção dos rins
trolíticas e alimentação enteral balan- focal (Gregory et al., 1992). O trata- naturais do paciente, pois estes resul-
ceada com baixo nível protéico, mento à rejeição consiste na adminis- tam em fonte crônica de hipertensão,
sendo que um novo transplante pode tração de ciclosporina intravenosa na levando a falência cardíaca pelos efei-
ser necessário (Gregory, 1993). dose de 6mg/kg durante 4 horas e tos na circulação local e alterações no

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sistema renina-angiotensina (Gre- Conclusão novos protocolos imunossupressores,


gory, 1995). que utilizam múltiplos medicamentos
A obstrução ureteral ocorre quan- O tempo de sobrevida dos pacien- em doses baixas, conseguindo siner-
do há constante exposição do tecido tes após o transplante renal aumentou gismo entre os fármacos e diminuição
peri-ureteral com formação de granu- de 10 para 18 meses em cães dos efeitos colaterais (Mathews et al.,
loma; também há a possibilidade de (Mathews et al., 2000), e pode chegar 2000).
obstrução na junção ureterocística a 3 anos em gatos (Gregory, 1993). O maior tempo de sobrevida com
(Gregory et al., 1993). Suspeita-se de Este sucesso foi alcançado devido a qualidade, no período pós-operatório,
obstrução quando as concentrações dois fatores principais, o primeiro faz com que o transplante renal seja
séricas de creatinina aumentam, a corresponde ao uso de critérios mais considerado uma excelente opção,
densidade urinária diminui e obser- rígidos na seleção de pacientes que cada vez mais freqüente, no tratamen-
vam-se células inflamatórias na urina, receberão o órgão, pois a maioria dos to da Insuficiência Renal Crônica.
sendo que o diagnóstico definitivo é óbitos após os transplantes ocorria em
obtido com o exame ultra-sonográfi- animais severamente debilitados e/ou
co, que permite identificar a presença com cardiopatias, infecções fúngicas
de hidronefrose e/ou hidroureter. O e bacterianas no período pré-operató-
tratamento consiste em nova uretero- rio (Mathews e Gregory, 1997). Outro
neocistostomia (Gregory, 1993). fator importante é a pesquisa de

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Mecanismo
de defesa uterino na fêmea bovina

INTRODUÇÃO
Angelita Silva Dias Galindo
Médica Veterinária, CRMV-GO nº 2949, M.Sc., DFA - Ministério da Agricultura
Praça Cívica – Goiânia/GO - e-mail: angeldia@bol.com.br Para que se consiga maximizar a
Tiago Luiz Kunz eficiência reprodutiva de qualquer
Médico Veterinário, CRMV-GO nº 2653 - M.Sc., Escola de Veterinária / CAJ / sistema de produção animal, é
UFG - Centro de Ciências Agrárias – Jataí/GO - e-mail: tiagolk@hotmail.com necessário trabalhar no sentido de se
Maria Lúcia Gambarini
Médica Veterinária, CRMV-SP nº 3648 - Departamento de Produção Animal, buscar a obtenção de um produto por
Escola de Veterinária da UFG – Goiânia/GO - e-mail: mlgambarim@hotmail.com ano de todas as vacas do rebanho, e
Benedito Dias de Oliveira Filho para isto é necessária uma integração
Médico Veterinário, CRMV-GO nº 438 - Dr., Departamento de Produção Animal, entre aspectos fisiológicos, nutricio-
Escola de Veterinária – UFG - Cx. P. 131, Goiânia – GO - e-mail: bene@vet.ufg.br
nais e de manejo.
Apesar de toda a evolução que a
reprodução animal tem experimenta-
RESUMO do, especialmente na biotecnologia,
Apesar de toda a evolução ocorrida nos últimos anos, na área da reprodução animal, as desordens uterinas continuam tra-
as desordens uterinas continuam trazendo graves prejuízos, pois influenciam a ativi- zendo grandes prejuízos, pois, o tra-
dade ovariana, taxa de concepção, número de serviços por concepção e sobrevivên- tamento é um assunto controverso. A
cia embrionária, aumentando, assim, o intervalo de partos e os custos com tratamen- maioria destas desordens tem efeito
tos, sendo que pouca atenção é dispensada ao mecanismo natural com que o útero
responde às agressões. O mecanismo de defesa do útero envolve uma interação deletério sobre a atividade ovariana,
entre componentes da resposta imunológica celular e humoral, além da atuação do taxa de concepção, número de servi-
mecanismo físico, tendo sido relatado como a mais importante forma de combate às ços por concepção e sobrevivência
infecções. O conhecimento dos fatores que atuam neste complexo mecanismo é embrionária, provocando aumento
muito importante para o estabelecimento de estratégias de controle e tratamento das no intervalo entre partos, além de
infecções uterinas.
aumentar os gastos com tratamentos,
muita vezes insatisfatórios, e risco
Unitermos: Vaca, infecções uterinas, mecanismo de defesa uterina.
de descarte de animais de alta produ-
ção.
ABSTRACT Segundo Lewis (1997) há pouca
Uterine defense mechamism in the cow concordância entre os especialistas
sobre os métodos adequados de tra-
Despite all evolution occurred in the last years in the animal reproduction area, the tamento, porque atenção insuficiente
uterine disorders are still one of the most important causes of low fertility rates in dairy é dada para o processo normal de
cattle, because of the influence on ovarian activity, conception rate, number of servic- defesa uterina, principalmente,
es per conception and embryonic survival, increasing the parturition interval and the durante o período pós-parto, quando
costs with treatments, and by the risk of discards of animal of high production. A bet-
ter understanding of the natural mechanism through which the uterus responses to o animal se encontra mais susceptí-
aggressions could be profitable, since the uterine defense mechanism involves an vel a contrair infecções. O mecanis-
interaction between cellular immunological response and humoral components, mo de defesa uterino tem sido relata-
besides the physical mechanism performance, which could be consider the most do como a mais importante forma de
important factor for proper uterine defense during infections. The knowledge of facts combater infecções, pois o uso de
involved in this complex mechanism may help in the design of improved measures to
prevent or to control uterine infections.
antibióticos, anti-sépticos e hormô-
nios pode ser antieconômico, tanto
Key words: Cow uterine infections, uterine defense mechanism. pela necessidade de descarte do
leite, como também pelo comporta-

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Figura 1 partos. Segundo Hussain e Daniel


(1992) a defesa inicial do útero con-
tra infecções bacterianas é a fagoci-
tose e, eventualmente, a digestão de
bactérias pelos leucócitos uterinos,
principalmente neutrófilos, os quais
exercem um papel crucial na defesa
antibacteriana, impedindo o estabe-
lecimento de infecções no período
pós-parto. Acrescentam, ainda, que
em casos de complicações no parto,
tais como retenção dos envoltórios
fetais e cesariana, a fagocitose uteri-
na pelos leucócitos pode estar supri-
mida, sendo adiada por quatro a
cinco, ou até vinte dias. Importante
fator negativo também é o uso de
infusões de antibióticos ou outras
substâncias, que podem funcionar
como inibidores da resposta uterina
às agressões microbianas (Bordin,
Representação esquemática da diapedese das células polimorfonucleadas (PMN) 2000).
atuantes no mecanismo celular da defesa uterina (Adaptado de Galindo, 2002)
A fagocitose leucocitária é um
importante fator para debelar estes
mento da fertilidade (Hussain e matéria seca. A incidência de lesões problemas, e muito tem sido estuda-
Daniel,1991a). uterinas é influenciada por diferentes do sobre a participação destas célu-
Na busca de soluções, é necessá- fatores como manejo, condições sani- las nos mecanismos de defesa uteri-
rio que se tenha conhecimento de tárias, nutrição, sanidade geral, entre no, procurando relacioná-la com as
todos os processos que acontecem no outros, devendo-se encontrar meios alterações presentes no útero
útero, incluindo aspectos microbioló- para impedir decisivamente o estabe- (Rocha, 1998).
gicos, histopatológicos e citológicos, lecimento dessa patologia e sua cas- Portanto, o útero normal, no
relacionando tais aspectos com todos cata de eventos (Bordin, 2000). período pós-parto, pode controlar
os eventos que envolvem o próprio O mecanismo pelo qual o útero rapidamente as infecções por meio
mecanismo de defesa uterino frente a responde aos agentes agressores de aumento do afluxo sangüíneo, da
qualquer processo patológico. envolve uma interação entre os com- infiltração de leucócitos e do relaxa-
ponentes da resposta imunológica mento da cérvix. Evidentemente,
MECANISMO celular, representada pela fagocitose nos casos em que a patogenicidade
DE DEFESA UTERINO e morte pelos leucócitos uterinos, do agente agressor não seja severa o
resposta humoral (imunoglobulinas), suficiente a ponto de quebrar esta
mecanismos físicos e drenagem lin- linha de defesa (Bordin, 2000).
Considerações gerais fática (Paisley et al.,1986, Barros,
1997). Mecanismo celular
A infecção uterina representa uma As endometrites bacterianas são
das maiores causas de perdas econô- as causas mais comuns de infertili- O mecanismo celular é represen-
micas para a pecuária, sobretudo a dade na vaca, causando graves pre- tado principalmente pelos neutrófi-
leiteira. Observações recentes indi- juízos econômicos porque atrasam a los. A presença dessas células é a
cam perdas de aproximadamente involução uterina, prolongam o característica mais importante num
15% com o declínio na produção de intervalo parto-cio, aumentam o processo inflamatório agudo, consti-
leite, em conseqüência da redução número de serviços por concepção e, tuindo a primeira linha de defesa do
aproximada de 25% na ingestão de conseqüentemente, o intervalo entre organismo.

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Com a alteração da permeabilida- quimiotaxia foi utilizado para avaliar Segundo Holt et al. (1989) os
de vascular, a saída do fluido reduz a aquela função, verificando que a neutrófilos são as primeiras células
pressão osmótica dos vasos. Este quimiotaxia foi menor nos animais que migram para a área de infecção
fato impulsiona as células brancas de que apresentaram algum tipo de e os linfócitos aparecem mais tarde,
defesa para a periferia do endotélio. desordem no periparto, indicando sendo que a presença destes é indica-
A partir dessa posição, as células que um defeito na função neutrofíli- tivo de condição crônica.
podem migrar para os tecidos. A ca pode predispor à apresentação
migração é composta cronologica- mais severa destas desordens. Mecanismo humoral
mente por marginação vascular, ade- O aumento fisiológico no número
são à superfície endotelial e diapede- de leucócitos polimorfonucleares O mecanismo humoral da res-
se, que representa a transposição da (PMN) no lúmen uterino, em fase posta imune contribui na defesa ute-
parede capilar e a mobilização dos precoce do puerpério, tem sido rina através das imunoglobulinas
neutrófilos para o local da lesão demonstrado por muitos autores, (Ig). No início do processo inflama-
(Figura 1). A migração dos neutrófi- mas pouco é sabido sobre a regula- tório, a permeabilidade do endotélio
los é direcionada pela quimiotaxia, ção da migração e suas propriedades da circulação local está alterada,
locomoção orientada através de um funcionais. O útero, portanto, parece permitindo a saída de fluidos do sis-
gradiente químico (Tizard, 1985). ser altamente capaz de responder a tema vascular para os tecidos e cavi-
Os neutrófilos presentes no tecido uma infecção com liberação de dades. As imunoglobulinas são anti-
atuam, na maior parte, englobando os mediadores quimiotáticos, resultan- corpos produzidos a partir de deter-
agentes invasores pelo processo de do em uma rápida migração dos neu- minados antígenos e são constituí-
fagocitose, conforme pode ser obser- trófilos no lúmen uterino (Barros, das basicamente por proteínas, as
vado nas Figuras 2 e 3. A seguir, o an- 1997). Produtos bactericidas especí- globulinas (Soncini, 1988). O fluido
tígeno é decomposto através da libera- ficos, além de vários mediadores uterino é composto basicamente de
ção de grânulos presentes no citoplas- inflamatórios, também são conside- imunoglobulinas, proteínas plasmá-
ma do neutrófilo e seus subprodutos rados fatores quimiotáticos para neu- ticas e células inflamatórias (Barros,
são apresentados a um tipo especial de trófilos. 1997).
leucócito responsável pelo reconheci-
mento e pela intensificação da respos- Figura 2
ta imunológica, o linfócito T4, que
produz e libera moléculas que funcio-
nam como mediadores químicos, esti-
mulando linfócitos B, T8 e macrófagos
em repouso (Soncini, 1988).
Kaneko et al. (1997) analisaram o
percentual de neutrófilos e linfócitos
presentes no fluido uterino de vacas
com retenção dos envoltórios fetais e
com puerpério normal, verificando
que houve aumento significativo na
taxa de neutrófilos, 30 dias após o
parto, nas vacas com retenção dos
envoltórios fetais comparadas às do
grupo controle, sendo que aos 60
dias pós-parto estes valores não tive-
ram diferença significativa.
Cai et al. (1994) estudaram a
associação entre as funções neutrofí-
licas no periparto em casos de desor-
Severa infiltração neutrofílica observada no tecido uterino por meio da coloração H&E
dens como retenção de envoltórios 40x (Fonte: Galindo, 2002) (indicação pela seta)
fetais, metrites e mastites. O teste da

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Figura 3 O endométrio apresenta grandes


modificações, nesta fase de involu-
ção, caracterizadas por diminuição
de sua superfície, formação de inú-
meras pregas e secreção intensa de
lóquio que é eliminado pela cérvix
através da contratilidade uterina
(Grunert, Birgel, 1989).
A manutenção das contrações
uterinas após a expulsão fetal favo-
rece a eliminação do conteúdo, redu-
zindo a proliferação de microrganis-
mos inespecíficos, pois nesta fase
poderá ocorrer comprometimento da
cavidade uterina e, consequentemen-
te, da vida reprodutiva desta fêmea
(Oliveira Filho, 1996).
Alguns fatores como tipo de
parto e retenção dos envoltórios
fetais atrasam a involução uterina e
favorecem o crescimento bacteriano.
O estímulo da mamada atua benefi-
Infiltração neutrofílica no tecido endometrial – mecanismo celular de defesa uterino camente neste processo, promoven-
H&E – 100x (Fonte: Galindo, 2002) (indicação pela seta)
do liberação de ocitocina pela neuro-
hipófise, sendo que esta promove
Slama et al. (1991) observaram Embora as imunoglobulinas contrações da musculatura lisa, aju-
diminuição nas concentrações de sejam componentes essenciais na dando na remoção física de fluido e
IgG e IgM em secreções uterinas no defesa, ainda não está bem claro se partículas do útero, atuando como
pós-parto e aumento na incidência e sua deficiência estaria implicada um componente do mecanismo de
severidade das infecções uterinas, com a susceptibilidade às infecções defesa uterino (Yougquist, Braun,
especialmente naquelas causadas (Barros, 1997). 1993).
pelo Actinomyces pyogenes. As contrações uterinas são mais
Paisley et al. (1986) resumindo Mecanismo físico intensas nos primeiros cinco dias,
informações de vários autores, devido a ação do estímulo da ocito-
concluíram que a função das imu- A remoção física do fluido e par- cina nas fibras musculares lisas.
noglobulinas na defesa contra tículas do útero tem papel muito Com o recomeço dos ciclos estrais e
infecções não específicas não tem importante no mecanismo de defesa a síntese de estrógenos pelos folícu-
sido muito investigada em bovinos. uterino. No pós-parto observa-se los, o útero readquire a capacidade
Anticorpos específicos contra uma rápida redução no tamanho do de se contrair (Grunert e Birgel,
Streptococcus hemolyticus e Acti- útero, em conseqüência da vasocons- 1989), sendo este um dos mecanis-
nomyces pyogenes foram encontra- trição e das contrações miometriais, mos que justifica o uso de estróge-
dos no soro de novilhas sexual- continuando até 40-50 dias, quando nos no tratamento de vacas com
mente maduras, mas não no muco se aproxima do tamanho anterior à retenção dos envoltórios fetais. Os
cérvico-vaginal até várias semanas gestação. Essa redução chega a 50% estrógenos atuam capacitando as
após o primeiro parto. A falta de do diâmetro dos cornos nos primei- fibras musculares uterinas a receber
anticorpos contra Actinomyces ros dias, sendo que o máximo de estímulos da ocitocina, causando
pyogenes, em primíparas, pode contrações coincide com a primeira aumento na motilidade uterina, auxi-
explicar porque a metrite pós-parto onda de crescimento folicular que liando, conseqüentemente, na elimi-
é mais severa nestes animais do acontece entre o 10o e 14o dia pós- nação do conteúdo uterino anormal
que em multíparas. parto (Hussain e Daniel, 1991b). (Viveiros, 1997).

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MECANISMO DE DEFESA palmente no puerpério (Lewis, 9% entre 46-60 dias (Elliot et


UTERINO NO PUERPÉRIO 1997). al.1968).
Isolamentos bacterianos realiza- Embora a atividade neutrofílica
De acordo com Olson et al. dos a partir do conteúdo uterino de esteja diminuída logo após o parto,
(1986) o puerpério compreende o vacas com puerpério anormal e nor- nos bovinos, a alta capacidade dos
período desde o parto até o primeiro mal, durante a segunda semana pós- placentomas em favorecer a migra-
estro com ovulação, que permite parto, revelaram positividade para ção celular (quimiotaxia) promove a
nova gestação, constituindo o perío- agentes em 61,9% e 33,3% dos elevação do número de neutrófilos
do necessário para que ocorram ajus- casos, respectivamente. Novos testes no útero nos dias subseqüentes ao
tes fisiológicos que vão interferir no foram realizados durante a quarta parto, ativando, de alguma forma, os
intervalo das sucessivas gestações semana e os valores decaíram para mecanismos naturais de defesa uteri-
(Deaver, 1997), incluindo: 23,8%, nas vacas com puerpério na (Chebel, 1989). Outro fator
Involução uterina anormal (Torres et al., 1997). A importante é o aumento do aporte
Retorno à ciclicidade ovariana infecção experimental com cepas de sangüíneo local em decorrência das
Manutenção de taxas adequadas Lactobacillus levou a uma grande concentrações elevadas de estróge-
de fertilidade infiltração de células de defesa em nos totais durante o parto, favore-
Durante a primeira semana ocor- amostras de tecido endometrial e tais cendo o aumento do número de neu-
re a eliminação do conteúdo denomi- infiltrações permaneceram ativas até trófilos uterinos (Roth et al., 1983).
nado lóquio, que é constituído de o 12º dia pós-inoculação, eviden-
muco, sangue e restos celulares e de ciando que os mecanismos de defesa INFLUÊNCIA DO CICLO
envoltórios fetais. A involução uteri- uterino são rapidamente ativados ESTRAL E DA ATIVIDADE
na é quase sempre um processo sép- quando ocorrem contaminações OVARIANA
tico. Os organismos mais comumen- (Kumer et al., 1997).
te isolados são Streptococcus, Hussain e Daniel (1992) verifica- Em relação ao mecanismo celular
Staphylococcus, Escherichia coli e ram que o número de neutrófilos envolvido na defesa uterina, acredi-
Actinomyces pyogenes, sendo este presentes no fluido uterino, fagoci- ta-se que o estrógeno estimule a fun-
último altamente correlacionado tando ativamente, alcançou seu valor ção dos neutrófilos, enquanto a pro-
com bactérias anaeróbias e células máximo no quinto dia e declinou até gesterona possui efeito oposto. De
segmentadas de inflamação, e estas o vigésimo dia pós-parto. acordo com estudos feitos por Rocha
alterações mostram aumento pro- A tendência de redução no núme- (1998), alterações hormonais duran-
gressivo com o passar dos dias ro de isolamentos de bactérias no de- te a gestação e puerpério possuem
(Bonett et al. 1991). correr do puerpério pode ser devido a uma estreita relação com a atividade
Em contrapartida, relatos feitos alguns fatores: a) eliminação espon- leucocitária.
por Paisley et al. (1986) sugerem tânea dos microorganismos devido à
que apesar das condições ideais para limpeza pelas contrações miometriais Progesterona
crescimento bacteriano no útero pós- e secreções glandulares; b) atividade
parto, sob circunstâncias normais as fagocitária devido ao aumento de leu- A progesterona é um hormônio
bactérias são removidas do útero em cócitos no fluido uterino; c) aumento esteróide que atua sobre o miométrio
poucos dias ou semanas. Elas são dos níveis de enzimas lisossomais no favorecendo a quiescência da camada
removidas pela contração do miomé- fluido uterino, as quais possuem efei- muscular uterina e sobre o endomé-
trio que força o lóquio através da to bactericida; d) contínua involução trio, promovendo a secreção glandu-
cérvix e pela atividade fagocítica dos uterina e fechamento da cérvix lar. Quando o útero encontra-se sob
leucócitos nos fluidos uterinos e no (Hussain et al., 1990). ação deste hormônio ele está mais
endométrio. Infecções uterinas Nos primeiros quinze dias pós- susceptível à instalação de processos
podem estar associadas a diversos parto, 93% dos úteros estão contami- infecciosos, pois esta fase secretora
fatores, salientando que evidências nados por diferentes bactérias. A favorece o crescimento de microrga-
de alterações na função imune uteri- seguir, ocorre uma diminuição pro- nismos. Concentrações atípicas de
na predispõe a infecções, justifican- gressiva, encontrando-se somente progesterona têm sido detectadas no
do a necessidade de cuidados espe- 30% de animais com corrimento soro ou plasma de vacas que apresen-
ciais que devem ser tomados princi- anormal na sexta semana e menos de tam problemas depois do parto, tais

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como retenção dos envoltórios fetais, Após o estabelecimento da gesta- Nas últimas três semanas antes
metrites, cervicites e vaginites ção, segue-se um período de domi- do parto ocorre elevação dos níveis
(Grunert e Birgel, 1989). nância hormonal da progesterona estrogênicos até a expulsão do feto,
Segundo Paisley et al. (1986), o secretada pelo corpo lúteo. As con- quando os níveis são máximos
mecanismo de defesa uterino é baixo centrações séricas são elevadas até (Grunert e Birgel, 1989). Gambarini
na fase progesterônica porque: aproximadamente 250 dias após a (1989) observou que os estrógenos
O pH uterino é baixo, sendo favo- fecundação, quando ocorrerá um têm papel decisivo no período pós-
rável ao crescimento bacteriano; declínio pelos efeitos desencadeado- parto imediato. Vacas com altera-
O epitélio uterino é menos per- res do parto (Hafez, 1988). ções patológicas durante as 48 horas
meável, impedindo estimulação do subseqüentes ao parto mostraram
sistema leucocitário; Estrógenos diminuição na concentração sangüí-
O aparecimento dos leucócitos na nea deste hormônio mais lentamente
luz uterina é atrasado; e Os estrógenos, também esterói- do que vacas com condições de par-
A secreção uterina não tem efeito des, são hormônios responsáveis tos normais. Segundo Paisley et al.
detoxicante. pela fase proliferativa do útero. Este (1986), a utilização dos estrógenos
Kennedy e Miller (1993) afirma- hormônio tem sido associado à ele- para aumentar a atividade miome-
ram a partir de seus estudos que o vação da resposta de defesa do útero trial, fagocitose e resposta imune do
útero gestante, por sua alta concen- e demais órgãos adjacentes por pro- útero tem sido muito usada.
tração de progesterona associada à mover aumento da circulação na Paisley et al. (1986) demonstra-
inibição leucocitária por substâncias musculatura uterina e espessura das ram a correlação entre a função de
imunodepressivas, é mais susceptí- fibras musculares, causando aumen- leucócitos PMN e os níveis séricos
vel a contrair infecções, ao contrário to na motilidade uterina, capacidade de estrógenos e progesterona. Altos
do útero não gestante que tem uma de resposta a ocitocina e favorecen- valores de estrógenos não alteraram
grande resistência às infecções ines- do a migração leucocitária (Viveiros, a função dos PMN, os quais estavam
pecíficas (Figura 4). 1997). diretamente correlacionados com
atividade bacteriana, mas níveis
Figura 4 fisiológicos de progesterona inibi-
Influência da progesterona ram consideravelmente a função dos
sobre o mecanismo de defesa uterino PMN. Os autores sugeriram que a
resistência aumentada do útero a
Alta concentração infecções, quando os valores de
Útero gestante
de progesterona estrógenos são altos, pode estar rela-
cionada ao fato de que os níveis de
progesterona são baixos neste
momento. Sugeriram, ainda, que o
Inibição leucocitária desenvolvimento da piometra pode
estar relacionado à presença de altos
níveis de progesterona coincidindo
com a invasão do útero por patóge-
nos, tais como Actinomyces pyoge-
liberação de
substâncias imunodepressivas nes e outras bactérias Gram-negati-
vas, o que é geralmente observado
durante as duas primeiras semanas
pós-parto. Estes microorganismos
Maior susceptibilidade à contrair infecções
causam danos no reparo do endomé-
trio, diminuindo a liberação de pros-
taglandinas (PGF2α) e, portanto,
favorecendo a persistência do corpo
Representação esquemática da influência da progesterona sobre o mecanismo lúteo e conseqüentemente prolon-
de defesa uterino
gando a produção de progesterona.

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O efeito esperado quando os dos, Paisley et al. (1986) relataram mente na capacidade do útero em
níveis estrogênicos prevalecem que vacas com puerpério normal e eliminar infecções bacterianas pela
sobre os progesterônicos é a ativação que completam involução em tempo ação dos estrógenos.
da quimiotaxia local pelo aumento mais curto têm maior liberação pós- A restauração da função ovariana
de afluxo sangüíneo uterino, tornan- parto de PGF2α, sugerindo que a após o parto tem estreita relação com
do mais eficiente a resposta miome- liberação deste hormônio reflete o os mecanismos de defesa uterina,
trial à ação da ocitocina (Chebel, grau de lesão e/ou reparo endome- principalmente por desencadear os
1989). trial, sendo que vacas com placenta mecanismos estrogênicos, provocan-
retida ou função uterina anormal têm do a reabilitação do tecido endome-
Prostaglandinas uma liberação prolongada deste hor- trial. A partir do 10º dia pós-parto
mônio, devido à necessidade de pode-se observar folículos com mais
A prostaglandina F2alpha reparos extensivos no útero ou à de 10 mm de diâmetro, capazes de
(PGF2α) é uma substância derivada ação de toxinas bacterianas que esti- liberar estrógenos, que atuarão no
do ácido araquidônico, sendo um mulam liberação de PGF2α. mecanismo de defesa uterino
hormônio tecidual que é metaboliza- De fato, um aumento na secreção (Cupps, 1991). O estímulo estrogê-
do muito rapidamente. É sintetizada de PGF2α ocorre na época do parto, nico proveniente dos primeiros folí-
pelo endométrio, sendo o hormônio promovendo a regressão do corpo culos que cresceram auxilia na defe-
de maior responsabilidade na redu- lúteo, persistindo ainda por 10-20 sa uterina promovendo a eliminação
ção do corpo lúteo. Nas vacas com dias no pós-parto (Lindell et al., de infecções persistentes, o que
parto normal o aumento da concen- 1982). Os autores também assinalam favorece em muitos casos, a cura
tração de PGF2α coincide com a que vacas com liberação prolongada espontânea do processo (Hussain,
redução dos níveis séricos de pro- de PGF2α apresentam involução Daniel, 1992).
gesterona e aumento nos valores mais rápida, através do aumento do
sangüíneos de estrógeno. Após o tônus uterino. O pico de liberação CONSIDERAÇÕES FINAIS
parto e a expulsão dos envoltórios deste hormônio ocorre durante a
fetais, essas concentrações vão redu- luteólise (Hafez, 1988). O mecanismo pelo qual o útero
zindo rapidamente, a menos que De acordo com Paisley et al. responde aos agentes agressores
ocorram complicações decorrentes (1986) a atividade ovariana tem envolve uma interação entre compo-
de retenção de placenta ou de insta- atuação direta na habilidade do útero nentes da resposta imunológica celu-
lações de processos infecciosos em resistir ou eliminar infecções, lar e humoral, mecanismos físicos e
(Gambarini, 1989, Wischral, 1999). sendo que o útero é altamente sus- relações hormonais entre estrógeno,
As concentrações da PGF2α ceptível na fase progesterônica e progesterona e PGF2α.
durante os primeiros dias pós-parto muito resistente na fase estrogênica, A defesa inicial contra infecções
são elevadas. A maior concentração fato confirmado por Faundez et al. é a fagocitose, realizada principal-
ocorre logo após o parto e decai com (1994) que observaram significante mente por neutrófilos, os quais exer-
o decorrer do período, até dez dias migração de células PMN para o cem um papel crucial, impedindo o
após o parto. A supressão parcial da lúmen da tuba uterina durante os pri- estabelecimento de infecções, prin-
síntese de PGF2α logo após o parto meiros dias depois da ovulação. cipalmente no pós-parto.
reduziu a atividade ovariana em O retorno da atividade ovariana O puerpério envolve um processo
ambos ovários, por 60 dias pós- no pós-parto é bastante complexo e que é quase sempre séptico, mas sob
parto, em vacas da raça Pardo Suíça regido por fatores hormonais (Zerbe condições normais, o útero através
(Saturnino, 1989). et al. 1996, Deaver, 1997). Assim dos mecanismos de defesa é capaz
A PGF2α está associada à regula- sendo, o tempo para que os ovários de eliminar as infecções, desde que a
ção do aporte sangüíneo para o útero retornem à sua atividade plena, com agressão não seja severa o suficiente
e placenta, podendo ter um efeito alternância entre fase folicular e fase para fragilizar esta linha de defesa.
estimulatório sobre a fagocitose pro- lútea, é variável (Marques e Horta, O conhecimento exato das modi-
movida pelos leucócitos uterinos, 1987). Nogueira et al. (1993) obser- ficações fisiológicas, ou ainda, das
além disso estimula contrações mio- varam que a involução uterina não alterações patológicas é de funda-
metriais que auxiliam na expulsão está diretamente ligada à atividade mental importância para a adoção de
do conteúdo uterino. Em seus estu- ovariana, mas esta influencia direta- procedimentos corretos que visem o

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restabelecimento da função reprodu- menor tempo possível, bem como o


tiva, por meio de medidas sanitárias estabelecimento de uma nova gesta-
ou medicamentosas, cujo objetivo ção, alcançando intervalos parto-
final deve ser o de possibilitar o concepção e de partos dentro de
retorno da ciclicidade ovariana, em parâmetros zootécnicos adequados.

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Perda de qualidade do pescado,


deteriora e putrefação

Glênio Cavalcanti de Barros INTRODUÇÃO


Médico Veterinário, CRMV-PE n° 2318, PhD,
Prof.Adjunto II do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE. Antes de tecer considerações sobre
Rua Dom Manoel Medeiros, s/n – Dois Irmãos – CEP 52171-900 – Recife – PE a qualidade do pescado, necessário se
e-mail: gbarros@uol.com.br faz compreender o que é qualidade e
o que é pescado.
Qualidade, segundo Ferreira
RESUMO (1975), são “propriedades, atributos
ou condições das coisas ou pessoas,
Foi descrito, de forma resumida, as fases que caracterizam a perda de qualidade dos
capazes de distinguir uma das outras e
peixes e a deteriora. As modificações bioquímicas que ocorrem no pré-rigor (autólise
e degradação do ATP), a degradação das proteínas, através reações enzimáticos lhes determinar a natureza, permitin-
(descarboxilação, desaminação e transaminação), ressaltando em cada fase as do portanto agrupá-las”.
características sensoriais, até a putrefação que determina a sua impropriedade para Na ótica dos produtores, dos con-
consumo. sumidores e das autoridades que fis-
calizam a qualidade do pescado, nem
Unitermos: peixe, bacterioses, decomposição. sempre é a mesma, mas pode-se afir-
mar que, qualidade, tendo em vista os
conceitos básicos que a regem (con-
formidade com as especificações,
ABSTRACT adequação, atratividade no mercado
LOSS OF QUALITY OF FISH, DETERIORATION AND PUTREFACTION próprio, valor em dinheiro etc.), sig-
nifica “conjunto de atributos ou
The stages that characterize the loss of quality of fish and the deterioration were características inerentes que satisfaz
briefly described. The biochemical modifications that occur in pre-rigor (autolysis and requisitos”, entendido por “caracterís-
degradation of ATP), the degradation of proteins, through enzymatic reactions (decar-
ticas” a propriedade diferenciadora, e
boxylation, deamination and transamination), pointing out on each stage the sensorial
characteristics, until putrefaction which determines its impropriety for consumption. por “requisitos” a necessidade ou a
expectativa, expressa geralmente de
Key words: fish, bacterioses, decomposition. forma implícita ou obrigatória.
Pescado é tudo aquilo que pode ser
retirado de águas oceânicas ou inte-
riores que, direta ou indiretamente
possa servir para alimentar o homem
ou os animais. Portanto, um termo
genérico, envolvendo peixes, crustá-
ceos, moluscos, rãs cefalópodes, etc.
O peixe, tendo em vista sua com-
posição química é um dos alimentos
que perde qualidade e se deteriora
com relativa facilidade (Stansby,
1944; Le Gall, 1950; Ogawa e Maia,
1999) e pode-se afirmar que, entre a
captura e o aparecimento do “rigor
mortis” ocorre perda de qualidade,

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que se caracteriza por dois fenômenos mais rápida. Na carne bovina há simultânea, dá origem ao dihidroxia-
bioquímicos: a autólise e a degrada- maior quantidade de glicogênio e de cetofosfato e ao ácido a-glicerofosfó-
ção do ATP (adenosinatrifosfato) que, proteção da musculatura e menor rico (NAD, NADH como intermediá-
mesmo ocorrendo simultaneamente, valor de pH e de substâncias extrati- rios). O dihidroxiacetofosfato por
permite diferenciação. vas nitrogenadas. ação de aldolases e da triasefosfatoi-
Segundo Ogawa e Maia (1999), o Assim, as considerações sobre somerase (também por ação simultâ-
peixe vivo, composto de músculo perda de qualidade e deteriora de pei- nea) dá origem ao gliceroaldeido-3-
ordinário (branco) e escuro (sanguí- xes, objeto do presente trabalho, fosfato. Este, por ação do gliceraldei-
neo), pela ótica bioquímica apresenta poderá contribuir para um melhor do-3-fosfatodesidrogenase (NAD a
diferenças significativas. O músculo entendimento das diferentes fases que NADH) passa a 1,3-difosforoglicera-
ordinário é composto de fibras mus- o peixe passa, desde a captura até a to que, passa a 3-fosfogliceroquinase
culares grandes, se apresenta multian- putrefação. (quando o ADP ganha uma molécula
gular ao corte histológico transversal, de fósforo e passa a ATP). O 3-fosfo-
a proporção miofíbrila/sarcoplasma é Pré – “rigor mortis” glicerato por ação da gliceromutase
grande, a quantidade de membranas passa a 2-fosfoglicerato que, por ação
(externas e internas) é relativamente Dois fenômenos caracterizam esta da enolase passa a ácido fosfoenolpi-
pequena e a distribuição de vasos san- fase: a autólise e a degradação do ATP. rúvico, que, pela ação da piruvatoqui-
guíneos é dispersa ou de pequena irri- No peixe vivo as células utilizando o nase (ADP a ATP) passa a ácido pirú-
gação, mas o músculo escuro, deno- oxigênio, realizam simultaneamente: vico e este finalmente a ácido lático
minado de “superficialis lateralis decomposição e biosíntese, mas após (NADH a NAD). Portanto, em condi-
trunci ou de Vogt”, denominado na a morte a glicólise anaeróbica e a ções anaeróbias a glucólise passa a
literatura inglesa de “dark muscle”, degradação do ATP, precedem o “rigor ácido lático que, abaixando o pH per-
apresenta maior proporção de proteí- mortis”e, após o “rigor-mortis”, a mite a liberação de enzimas que esta-
nas sarcoplasmáticas (glicolítica, par- decomposição de aminoácidos e a vam contidas pelo equilíbrio do meta-
valbumina, mioglobina) e do estroma rancificação devido a alta insaturação bolismo em organelas próprias, pas-
(colágeno, elastina, elastoidina, dos seus ácidos graxos conduzem aos sando estes a atuarem em seus subs-
conectina). O músculo escuro possui radicais finais que, em conjunto, reve- tratos próprios.
maior conteúdo de glicogênio, mais lam o estado putrefativo.
rico em lipídeos, aminoácido sulfôni- Degradação do ATP
co, ferro, nitrogênio extrativo e histi- Glucólise
dina. Caracteriza a musculatura escu- O ATP após a morte do peixe é
ra, o teor de hemoproteinas e o teor de Muito embora exista elevada dife- decomposto, através da ação de enzi-
vitaminas lipossolúveis, principal- renciação entre espécies quanto ao mas, quando a passagem do ATP a
mente A e D, hidrossolúveis B1, B2, conteúdo de glicogênio, nos peixes, ADP perdendo uma molécula de fos-
B12 e ácido pantotênico. depende essencialmente do método foro por ação da adenosina-trifosfata-
Ocorrem variações na carne do utilizado na sua captura. A degrada- se e este (ADP) passa a AMP por ação
pescado em função do estado fisioló- ção da glicose até ácido lático sofre, da mioquinase. O AMP passa a IMP
gico, da época do ano, da salinidade e inicialmente, a ação de dois enzimas: por ação da AMPdeaminase (onde já
da temperatura da água, da alimenta- a amilase e a hexoquinase. A amilase ocorre a produção de NH3). O IMP
ção e das alterações metabólicas atuando sobre o glicogênio por ação para hipoxantina por ação da IMPfos-
durante o processo de desenvolvi- da fosforilase passa a glucosilfosfato, fatase, e esta, por ação da nucleosídeo
mento do peixe até a maturação este por ação da fosfoglucomutase, hidrolase proporciona a hipoxantina e
sexual. passa a glucose-6-fosfato, para, por ribose, e também por ação da nucleo-
Se compararmos as causas da rápi- ação da fosfoglucoisomerase passar a sídeo fosforilase proporciona a hipo-
da decomposição do peixe frente a transformá-lo em frutose-6-fosfato. xantina e a ribose-1-fosfato (Bertullo,
carne bovina, verificamos que: no Nesta fase, o ATP passa a ADP por 1975).
peixe existe menos quantidade de ação da hexoquinase, passando a glu- As reações até IMP se processam
tecido conjuntivo, maior quantidade cose-6-fosfato e a frutose 1,6 difosfa- rapidamente, mas quando o pH se tor-
de água, de ácidos graxos insaturados, to (ação simultânea e reversível). A na mais estável, a transformação da
catepsinas e a degradação do ATP é frutose, também por ação reversível e IMP a hipoxantina é mais demorada,

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Figura 1 o início de subida do pH. Sua duração


depende da espécie, de fatores fisioló-
gicos, do grau de exaustão, do tama-
nho do peixe, das condições de captu-
ra e principalmente da temperatura
(Huss, 1997).

Pós-“rigor mortis”

Como conseqüência da proteólise


que se processa nos miofilamentos e
no estroma, o amolecimento da mus-
Características sensoriais de um peixe com possibilidade de consumo culatura e perda de firmeza e de elas-
(Truta arco-iris - Salmo Gardineri)
ticidade, a textura progressivamente
se altera (Figura 2).
razão porque a hipoxantina é sempre mando o complexo acto-miosina, A produção de aminoácidos, di, tri
buscada para determinar o estágio de irreversível, estabelecendo o “rigor- e polipeptídios começa a aumentar,
degradação do ATP, servindo como mortis”. favorecendo as bactérias, principal-
contribuição para estimar a qualidade mente pertencentes aos gêneros
do pescado nesta fase. “Rigor mortis” Pseudomonas, Vibrio e Aeromonas
Nesta fase de pré- “rigor mortis” (que decompõem a glucólise por fer-
as características macroscópicas do As proteínas (miofibrilares, sarco- mentação), Moraxella e Acineto-
peixe são: mole e flexível, textura plasmáticas e do estroma) atingindo o bacter (antigamente classificadas
firme e elástica, pigmentação brilhan- ponto isoelétrico perdem a capacida- como Achromobacter), Clostridium,
te e iridescente, olhos convexos de de reter água, proporcionando o Flavobacterium e Cytophaga; depen-
(salientes), brânquias vermelhas bri- aumento da dureza e o encolhimento dendo suas atuações principalmente
lhantes praticamente sem muco e a dos sarcômeros. do pH, temperatura, salinidade etc.
cavidade abdominal quando da aber- As características macroscópicas Pode-se afirmar que, as Alteromonas
tura do peixe permite diferenciar os do peixe em “rigor mortis”se verifica putrefaciens, Pseudomonas sp. e
órgãos (coloração e formas próprias), pela rigidez (sarcômeros contraídos), Aeromonas proliferam bastante nesta
conforme se verifica na Figura 1. desoxigenação da hemoglobina, por- fase (Ogawa e Maia, 1999).
Em resumo, o que ocorre após a tanto, as guelras já não se apresentam Considerando que essas bactérias
captura e parada da respiração celular vermelhas e brilhantes, mas escureci- habitam o muco superficial, brân-
pela falta de oxigênio, a síntese do das e as franjas branquiais começando quias e tubo digestório, com a lava-
ATP (ADP + creatinina + fosfato) e a se aglutinarem. Fase em que ocorre gem e a evisceração tanto quanto pos-
quando falta a creatinina o ATP se
regenera a partir da refosforilação Figura 2
durante a glicólise. No músculo escu-
ro, através do ciclo de Embdem-
Meyerhof-Parnas a hidrólise é o meio
pelo qual o glicogênio se desdobra. O
ácido lático resultante, abaixa o pH
do músculo. Em paralelo, a decompo-
sição do ATP, por desfosforilação e
desaminação, e a desoxigenação da
hemoglobina promove mudanças na
cor das brânquias. As proteínas, em
especial a actina e a miosina (proteí-
nas miofibrilares que respondem pela Características sensoriais alteradas, não sendo recomendado para consumo
contração muscular) se fundem for- (Truta arco-iris - Salmo Gardineri)

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sível, aumenta-se consideravelmente refrigeração (±5ºC), ainda atua a aminoácido dá origem a uma amina
o tempo de vida útil (comercial) dos Shewanella putrefaciens, as Aero- correspondente e CO2, independente
peixes. monas sp. e outras bactérias, depen- do pH (neutro ou alcalino).
Entre os extrativos nitrogenados, dendo da temperatura. Por exemplo,
não proteicos, o óxido de trimetilami- em águas temperadas, Pseudomonas, Exemplo:
CH2.NH2.COOH ––––––––––––––––––– CH3NH2 + CO2
na (OTMA) alem de participar do Moraxella e Flavobacterium, podem Glicina Glicina-descarboxilase Metilamina
odor dos peixes marinhos é um esti- contribuir para a deteriora. Em tem-
mulante seletivo. peraturas da faixa mesofílica (20 a Assim, sucessivamente temos o
O elevado teor de proteínas e 30ºC) as Aeromonas e principalmente aminoácido que por ação da sua des-
nitrogenados não protéicos (OTMA, a A. hidrophyla participam mais ati- carboxilase própria produz, a amina
creatinina etc) e o baixo teor de hidra- vamente do processo de deteriora, correspondente: Alanina (Etilamina);
tos de carbono (pH alto >6,0) que mas outros autores citam os gêneros Leucina (Isoamilamina); Arginina
caracterizam o tecido muscular do Flavobacterium e Micrococcus como (Agmatina); Lisina (cadaverina); Gli-
peixe, aliado aos lipídeos de cadeia participantes. cina (Metilamina); Serina (Hidro-
longa, com elevada insaturação, prin- Na degradação inicial das ptoteí- xetilamina); Metionina (°-metiltiol-
cipalmente em peixes gordos (pelági- nas dos peixes, após o “rigor mortis”, propilamina); Cistina (Tioltilamina);
cos), são os elementos que causam a o número de bactérias aumenta consi- Treonina (b – hidroxipropilamina);
rápida deteriora dos peixes proporcio- deravelmente e como conseqüência Colina (Trimetilamina); Oritina (Pu-
nam: odores e sabores desagradáveis, suas enzimas. triscina); Tirosina (Tiramina); Histi-
formação de muco, produção de Considerando que as proteínas e dina (Histamina); Triptifano (Tripta-
gases, coloração anormal e alterações suas primeiras frações, como as pro- mina); Ac. Glutâmico (°-Amino buti-
significativas na textura. teoses, não se constituem fontes de rato).
As reações bioquímicas que ocor- nitrogênio e carbono assimiláveis, A mais importante de todas as
rem nos peixes após o “rigor mortis”, necessário se faz quebrar as macro- aminas é a histamina por provocar
e que sucedem aos principais fenôme- moléculas da proteína através de enzi- intoxicações de natureza alérgica,
nos do pré-“rigor mortis”, autólise e mas específicas (endopeptidase, exo- quando do consumo de peixes de
degradação de ATP, são proporciona- peptidases, carboxipeptidases e ami- carne vermelha (atum, sardinha, boni-
das pelo desenvolvimento bacteriano, nopeptidases) para que a atuação das to, cavalinha etc.). Bactérias como
fenômenos químicos e físicos (Huss, bactérias possam reduzí-las a aminoá- Proteus morganii, Proteus vulgaris,
1997). cidos livres, peptídeos (di e tripeptí- Hafnia alvei, Photobacterium phos-
A flora inicial dos peixes é muito deos). phorium, entre outras são produtores
diversificada, geralmente dominada O valor nutritivo do peixe degra- da histidina – descarboxilase.
por bactérias psicrotróficas, Gram- dado até aminoácidos, ainda perma- Posteriormente, estas aminas são
negativas e halofílicas. Os peixes cap- nece, mas a partir da degradação des- decompostas em NH3 + CO2 + H2O,
turados em áreas tropicais, via de ses aminoácidos até os radicais finais como conseqüência da ação da ami-
regra, apresentam uma carga micro- que, em conjunto denunciam o estado noxidase de origem bacteriana
biana discretamente mais elevada. de putrefação, não existe mais valor Ogawa e Maia (1999).
Durante a armazenagem, parte dessa nutritivo. A desaminação de aminoácidos
flora contribui para o processo de Segundo Sale (1975), as reações segue vários cursos, segundo as enzi-
deteriora. de degradação, as ptomaínas (aminas mas presentes nos microrganismos e
As bactérias que participam da e diaminas básicas) resultam da ação as condições do ambiente.
deteriora do peixe fresco em tempera- de bactérias putrefativas sobre ami-
tura baixa (0ºC) são: Shewanella noácidos e bases orgânicas, com- 1 - A desaminação oxidativa dá ori-
putrefaciens e Pseudomonas sp, preendendo: descarboxilação, desa- gem a um a – cetoácido.
sendo a S. putrefaciens em condições minações e transaminação. Exemplo:
HC.CH3.NH2.COOH + 1/2O2 –––– CH3.CO.COOH + NH3
aeróbias produtora de TMA e H2S e A descarboxilação de aminoácidos Alanina Acido pirúvico
outros sulfuretos voláteis (Dalgaard resulta da ação de enzimas específicas
et al., 1993; Ogawa e Maia, 1999; de cada aminoácido (Ex: valina- vali- Podendo alguns microrganismos
Donald e Gibson, 1992; Jorgensen e na-descarboxilase – Isobutilamina) produzir desaminação oxidativa
Huss, 1989). Em temperaturas de que, reagindo com a carboxila do dos ácidos dicarboxílicos (aspárti-

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co e glutâmico) com formação dos 8 - A decomposição mediante reação 12 - A decomposição do triptofano


correspondentes a – cetoácidos e pela mutasa, se oxida em molécula por ação da triptofanase produzi-
outros, metabolizam os compostos de um aminoácido e se reduz outra. da por Pseudomonas, Vibrio,
para produzir ácido acético, amo- Exemplo: Escherichia etc, dá origem ao
3CH3.CH.NH2.COOH + 2H2O ––– 2CH3.CH2.COOH +
níaco e CO2. Alanina CH3COOH + 3NH + CO2 indol.
Ác. Propiônico Exemplo:
+ Ác. acético
2 - A desaminação redutiva dá origem CH2
CH COOH

a um ácido saturado 9 - A transaminação ocorre quando se


NH2

Exemplo:
HC.CH3.NH2.COOH + 2H –––––– HC2CH3.COOH + NH3
transfere um grupo amínico de N
N

Alanina Àcido propiônico aminoácido di-carboxílico (glutâ- Triptofano Indol

3 - A desaminação hidrolítica dá ori- mico ou aspártico) para a posição


gem a um hidroácido a de um α cetoácido, originando A redução do oxido de trimetila-
Exemplo:
um novo aminoácido e um novo mina (OTMA), componente nitroge-
HC.CH3.NH2.COOH + H2O ––– HC.OH.CH3.COOH + NH3
Alanina Àcido lático cetoácido. nado não protéico do pescado, por
Exemplo: ação da OTMA-redutase, resulta da
4 - A desaminação e saturação no COOH.(CH2)2.CHNH2.COOH+COOH.CH2.C=O.COOH ––– ação de Alteromonas, Flavobac-
Ác. Glutâmico COOH(CH2)2.C=OCOOH
enlace α e β dá origem a um ácido + Ác. Oxalacético + COOH.CH2.CH.NH2.COOH terium etc. A TMA, resultado desta
não saturado. Ác. a-cetoglutárico redução, é um importante componen-
+ Ác. Aspártico
Exemplo: te do odor característico do pescado
R.HCH3.HC.NH2.COOH ––––– R.CH = CH.COOH + NH3 de baixa qualidade ou do processo de
Aminoácido Ácido não saturado 10 - Oxidação e redução mútua
deteriora.
(Reação de Stickland) mediante
5 - A desaminação hidrolítica e des- pares de aminoácidos. Alguns Exemplo:

carboxilação, forma um álcool aminoácidos, como alamina, vali- CH3.CH3.CH3.N=O –––– CH3.CH3CH3.N
OTMA TMA
primário com um átomo de carbo- na, leucina e fenilalanina, podem
no a menos. oxidar-se ao atuar em como doa- A uréia produzida a partir da
Exemplo: dores de hidrogênio, e outros, decomposição da arginina, degradada
HC. CH3.NH2.COOH + H2O ––– CH2CH3.OH + CO2 + NH3
Alanina Álcool etílico
como glicina, prolina, hidroxipro- a NH3 e CO2, como resultado da ação
lina, ornitina e arginina, se redu- da urease produzida por Pseudomo-
6 - A descarboxilação ou eliminação zem, servindo como receptores de nas, Proteus, Bacillus, Micrococcus.
do dióxido de carbono, com for- hidrogênio. Estas reações ocor- Os elasmobrânquios (tubarões, ar-
mação de uma amina com um rem em condições anaeróbicas. raias) apresentam forte odor de amô-
Exemplo:
átomo de carbono a menos. CH2 CH3 nia quando perdem qualidade.
Exemplo:
HC. CH3.NH2.COOH –––– CH2.CH3.NH2 + CO2 NH +CH2.CH.NH3.COOH + H2O –––– Exemplo:
Alanina Amina com um átomo a menos 2NH2(CH2)4.COOH + CO(NH2)2 + H2O –––––– 2NH3 + CO2
de carbono CH3.COOH + NH3 + CO2 Uréia Amônia
Alanina Ác. d- aminovalérico
As descarboxilases geralmente são + Ác. acético
produzidas em cultivos de bacté- CH2 CH.COOH
Prolina
rias com pH baixo utilizando no
meio carboidrato fermentável.
11 - A decomposição de aminoácidos
que contem enxôfre (metionina,
7 - A decomposição anaeróbica, com
cistina e cisteína) ocorre por ação
liberação de hidrogênio
Exemplo:
de Pseudomonas, Alteromonas,
5COOH.(CH2)2.CH.NH2.COOH + 6H2O –– 6CH3.COOH entre outros gêneros, produzindo
Ác. Glutâmico + 2CH3(CH2)3.COOH
+ 5CO2 + 5NH3 + H2
como radical final o H2S, metil-
Ácido acético mercaptana, etilmercaptana etc.
+ Ác. Butirico Exemplo:
CH2.S.CH3.CH2.CH.NH2.COOH + H2O ––––
Metionina CH3SH + CH3CH2CO.COOH + NH3
Metilmercaptana + a-Ác. cetobutirico

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Considerações finais sumidor, quando entende que, o con- A importância social e econômica
junto dos radicais finais, provenientes da função, legal e privativa, do
O Médico Veterinário, atuando na da decomposição de aminoácidos, Médico Veterinário, no que tange aos
Inspeção de Pescado, conhecedor das através dessas reações e de outras ori- produtos da pesca de um modo geral
modificações bioquímicas que carac- ginadas de componentes nitrogenados é significativa sob o ponto de vista de
terizam as diferentes fases que os pei- não protêicos, conferem ao pescado o Saúde Pública.
xes atravessam, desde a sua captura até odor pútrido inconfundível, tornando-
a putrefação, defende a saúde do con- o impróprio para o consumo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTULLO, V. Tecnologia de los produtos y subprodutos de Le GALL, Y. Le fumage da poisson. Rev. Trav.Péches Marit.
pescados, moluscos e crustáceos. Hemisfério Sur: Buenos XI. v.41, n.1, p. 59-106, 1950.
Aires-Argentina. 1975. 537p.
HUSS, H.H. Garantia da qualidade dos produtos da Pesca.
DALGAARD, P.L.; HUSS, H.H. Spoilage and shell life of cod FDO: Documento Técnico sobre pescas, n.344, 1997. 176p.
filets packed in vacuum or modified atmosfere. International
Journal of Food Microbiology, v.14, n.283-294, 1993. OGAWA, M.S.; MAIA, E.L. Manual de Pesca. Ciência e
Tecnologia do Pescado, v.I. Varela. 1999. 429p.
DONALD, B.; GIBSON, D. Spoilage of MAP salmon steaks
stored at 5ºC EEC on the FAR project UP-2-545. Torry Research SALE, A.S. Bacteriologia. Gustavo Gili: Barcelona-España.
Station Aberdeen Scotland. 1992. 1975. 846p.

FERREIRA, A.B.H. Novo dicionário da língua portuguesa. STANSBY, M.E. Judding the quality and freshness of fish by
Nova Fronteira AS. 1975. 1499p. organoleptic method. Ibid. Fisher, Leaflet, n.94, 1944.

JORGENSEN, B.R.; HUSS, H.H. Growth and activity of


Shewanella putrefaciens isolated from spoiling fish. Inter-
national Journal of Food Microbiology, v.9, n.51-62, 1989.

64 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003


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INFORMAÇÕES GERAIS Artigo Científico


Os Artigos Científicos deverão conter dados conclusi-
A Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária vos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract, Unitermos,
tem como objetivo principal a publicação de artigos de revi- Key Words, Introdução, Material e Métodos, Resultados,
são e de educação continuada, básica, geral ou profissionali- Discussão, Conclusão(ões), Referências Bibliográficas,
zante, que contribuam para o desenvol-vimento da ciência nas Agradecimentos(s) (quando houver) e Tabela(s) e Figura(s)
áreas de Medicina Veterinária e Zootecnia, podendo ser apre- (quando houver). A critério do(s) autores e/ou do Conselho
sentados também manuscritos de investigação cientifica. Os ar- Editorial, os itens Resultados e Discussão poderão ser apre-
tigos, cujos conteúdos serão de inteira responsabilidade dos sentados como uma única seção. Quando a pesquisa envol-
autores, devem ser originais e previamente submetidos à apre- ver a utilização de animais, os princípios éticos de experi-
ciação do Conselho Editorial do CFMV, bem como, de asses- mentação animal preconizados pelo Conselho Brasileiro de
sores ad hoc de reconhecido saber na especialidade. A publi- Experimentação Animal (COBEA) e aqueles contidos no
cação do artigo dependerá da sua apresentação dentro das Decreto nº 24.645 de 10 de julho de 1934 e na Lei º 6.638
Normas Editoriais e de pareceres favoráveis do Comitê de 8 de maio de 1979 devem ser observados.
Científico da Revista. Os pareceres terão caráter sigiloso e
imparcial. A periodicidade da publicação será quadrimestral. Apresentação
Os artigos e toda a correspondência pertinente deverão Os manuscritos deverão ser encaminhados na primeira
ser encaminhados para: submissão em três vias (uma original e duas cópias). A pri-
REVISTA CFMV meira página da via original conterá o título do trabalho, o
Conselho Editorial nome completo do(s) autor(es), suas respectivas afiliação(
SCS, Quadra 01 Bl. E, nº 30, Edf. Ceará, 14 º andar ões) e o nome e endereço, telefone, fax e endereço eletrôni-
70703-900 – Brasília – DF co do autor para correspondência. As diferentes instituições
Tel: (61) 322-7708 dos autores serão indicadas por número sobrescrito. Nas
Fax: (61) 226-1326 duas cópias, a página de rosto deve omitir o(s) nome(s) do(s)
E-mail: cfmv@cfmv.org.br autor(es). Uma vez aceita a publicação, além de uma cópia
impressa, deve ser enviada uma gravação do artigo em mí-
NORMAS EDITORIAIS dia magnética (disquete 3,5” ou CD) de alta densidade, iden-
tificado com o título do trabalho e nome(s) do(s) autor(es).
Os textos de revisão e de educação continuada e cientí-
ficos devem ser inéditos, de primeira submissão, escritos Digitação
segundo as normas ortográficas oficiais da língua portugue- O texto será digitado com o uso do editor de texto
sa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract e Key Microsoft Word for Windows, versão 6.0 ou superior, for-
Words que serão apresentados em inglês. mato A4 (21,0 x 29,7 cm), com espaço simples em uma só
face de papel, com margens laterais de 3,0 cm e margens
Artigo de Revisão e de Educação Continuada superior e inferior de 2,5 cm, fonte Times New Roman de
Os Artigos de Revisão e de Educação Continuada serão 16 cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para rodapé
publicados por especialistas, nacionais ou internacionais, a e informações de tabelas e figuras. As páginas e as linhas de
convite do Comitê Editorial, atendendo à solicitação dos cada página devem ser numeradas.
profissionais Médicos Veterinários e Zootecnistas. Devem
ser estruturados para conter Resumo, Abstract, Unitermos, Título
Key Words, Referências Bibliográficas e Agradecimentos O título do artigo, com 25 palavras no máximo, deverá
(quando houver). A divisão e subtítulos do texto principal fi- ser escrito em negrito e centralizado na página. Não utilizar
carão a cargo do(s) autor(es). abreviaturas.

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Resumo e Abstract mestiços com charolês, fleckvieh e cianina, em três dietas 1.


O Resumo e a sua tradução para o inglês, o Abstract, Ganho de peso e conversão alimentar. Revista Brasileira de
não podem ultrapassar 250 palavras, com informações que Zootecnia. v. 26, n. 1, p.66-72, 1997.
permitam uma adequada caracterização do artigo como um
todo. No caso de artigos científicos, o Resumo deve infor- 2. Livros
mar o objetivo, a metodologia aplicada, os resultados prin-
cipais e conclusões. MACARI, M., FURLAN, R.L., GONZALES, E. Fisiología
aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal: FUNEP,
Unitermos e Keywords 1994. 296p.
No máximo 5 palavras serão representadas em seguida
ao Resumo e Abstract. As palavras serão escolhidas do tex- 3. Capítulos de livro
to e não necessariamente do título. WEEKES, T.E.C. Insulin and growth. Ins: Buttery, P. J.,
LINDSAY, D.B., HAYNES, N.B. (ed). Control and ma-
Texto Principal nipulation of animal growth. Londres: Butterworths, 1986,
Não há número limite de páginas para a apresentação do p. 187-206.
artigo. No entanto, recomenda-se que sejam concisos.
Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo Sistema 4. Teses (doutorado) ou dissertações (mestrado)
Métrico Internacional; exemplo kg, g, cm, mL, EM, etc.
Quando for o caso, abreviaturas não usuais serão apresen- MARTINEZ, F. Ação de desinfetantes sobre Salmonella
tadas no rodapé da primeira página do trabalho. Exemplo na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998. 53p.
GH = hormônio do crescimento, etc. As citações bibliográ- Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências Agrárias e
ficas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) se- Veterinárias. Universidade Estadual Paulista.
guido do ano. Quando houver 2 autores, somente o sobre-
nome do primeiro será citado, seguido da expressão et al. 5. Artigos apresentados em congressos, reuniões, se-
Exemplos: Rodrigues (1999), (Rodrigues, 1999), Silva e minários, etc
Santos (2000), (Silva e Santos, 2000), Gonçalves et al.,
(1998), (Gonçalves et al., 1998). RAHAL, S.S., SAAD, W.H., TEIXEIRA, E.M.S. Uso de
fluoreseina na identificação dos vasos linfáticos superficiais
Referências Bibliográficas das glândulas mamárias em cadelas. In: CONGRESSO
A lista de referências bibliográficas será apresentada em BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINARIA, 23,
ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo com a Recife, 1994. Anais...Recife: SPEMVE, 1994, 9.19.
Norma ABNT/NBR-6023 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas. Inicia-se a referencia com o último sobrenome do(s) Tabelas e Ilustrações
autor(es) seguido do(s) prenome(s), exceto aqueles de ori- As Tabelas e Ilustrações (gráficos, fotografias, desenhos,
gem espanhola ou de dupla entrada, registrando-se os dois etc,) devem ser apresentados nas últimas páginas do artigo,
últimos sobrenomes. Todos os autores devem ser citados. uma em cada página. Serão numeradas consecutivamente
Obras anônimas têm sua entrada pelo título do artigo ou com números arábicos. A tabela deve ter a sua estrutura
pela entidade responsável por sua publicação. A referência construída segundo as Normas de Apresentação Tabular do
deve ser alinhada à esquerda e a sua segunda linha iniciada Conselho Nacional de Estatística (Ver. Bras. Est. v. 24, p.42-
abaixo do primeiro caractere de primeira linha. Os títulos 60,1963.
de periódicos da referência podem ser abreviados, segun-
do a notação do BIOSES (BIOSIS. Serial sources for the Revisões
BIOSIS previews database. Philadelphia, 1996, 486p). Os artigos sofrerão as seguintes revisões antes da publi-
Abaixo são apresentados alguns exemplos de Referências cação: 1) Revisão técnica por consultor ad hoc; 2) Revisão
Bibliográficas. de língua portuguesa e inglesa por revisores profissionais;
3) Revisão de Normas Técnicas por revisor profissional; 4)
Revisão final pelo Comitê Editorial; 5) Revisão Final pelo(s)
1. Artigos de periódico autor(es) do texto antes da publicação.
EUCLIDES FILHO, K., EUCLIDES, V.P.B., FIGUEIREDO,
G. R., OLVIEIRA, M. P. Avaliação de animais nelore e seus

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RETRANCA
HISTORIOGRAFIA
RETRANCA

Museus de Ciências
e o Museu de Primatologia do CPRJ-FEEMA
O interesse pelas belezas naturais, com que a fauna nos atinge, fato tra-
Alcides Pissinatti pela fauna e flora, sempre esteve pre- duzido através das esculturas e pintu-
Médico Veterinário – CRMV-RJ 0702
Doutor em Biologia Animal – UFRRJ sente entre os povos e nas suas cultu- ras, realizadas por artistas notáveis
Diretor do Centro de Primatologia do Rio ras. Já havia sido enfatizado por desde a pré-história.
de Janeiro – CPRJ-DEP/FEEMA Aristóteles e Galeno em estudos ana- Considerando essa importância, é
Prof. Titular de Ecologia Aplicada e
Animais Selvagens – Centro Universitário tômicos, e cultuado entre outros imenso o pragmatismo dos Museus de
Plínio Leite – UNIPLI e Fundação povos, por egípcios e indianos, em Ciências como promissora fonte de
Educacional Serra dos Órgãos – FESO
e-mail: pissinatticprj@terra.com.br
cujas culturas aparecem de modo des- desenvolvimento cultural e de oportu-
Lorenzo Pissinatti tacado em escritos e até nos seus nidades nos mais diversos campos da
Médico Veterinário – CRMV-RJ 6891 monumentos. pesquisa científica.
e-mail: pissinatticprj@terra.com.br O grande viajante Marco Pólo des- Os Museus de Ciências tiveram
Carlos Henrique Freitas Burity creveu em detalhe as maravilhas seu surgimento em 1980, tendo em
Biólogo CRB-RJ 21556-02
Doutor em Biociências Nucleares – UERJ observadas nas andanças pela ampla vista difundir a cultura científica para
Prof. Adjunto e Coordenador da Disciplina região oriental, destacando os par- público diverso e amplo. No contexto
Morfologia I e II – UNIGRANRIO ques, jardins e criatórios de animais internacional a idéia desses museus
Prof. Assistente da Disciplina Morfologia I
e II na Faculdade de Odontologia da selvagens mantidos pelo grande con- teve início nos primórdios de 1960,
Universidade Estácio de Sá quistador Kublai Kahn. Admirável principalmente nos Estados Unidos,
e-mail: burity.rlk@terra.com.br
era também a coleção de animais sel- onde adquiriu caráter multidisciplinar
vagens do Califa de Bagdá, Harum Al através da integração das ciências,
Rashid, ao tempo de Alexandre tecnologia e da arte, com recursos
Magno. interativos de caráter experimental,
Não há dúvidas sobre o fascínio com a denominação de “Science

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HISTORIOGRAFIA
RETRANCA
RETRANCA

Figura 1 do atual Centro de Primatologia do


Rio de Janeiro.
Desde a inauguração do CPRJ-
FEEMA, em novembro de 1979, até
os dias atuais, suas coleções primato-
lógicas crescem muito, exigindo a
organização cuidadosa desse mate-
rial, como peles, crânios, peças for-
molizadas, lâminas coradas, blocos
em parafina, raios X, fotografias,
esqueletos e peças dissecadas e man-
tidas em solução de formol, etc.
(Coimbra-Filho et al., 1986).
A maior parte do material colecio-
nado é proveniente e preparado no
próprio Centro, sendo a outra parcela
oriunda de doações de entidades
afins, ou de especialistas nacionais e
estrangeiros. Dentre as instituições
que mais freqüentemente tem colabo-
Parte do acervo do Museu Primatológico do CPRJ/FEEMA rado e fornecido valioso material,
destaca-se a Fundação Jardim
Centers”, onde o interessado partici- (Gohn, 1999), com a sociedade bus- Zoológico do Rio de Janeiro, que,
pa de experimentos do tipo “faça cando alternativas de conhecimento recentemente cedeu a carcaça do
você mesmo”. No “National mais amplas, através de vários cam- conhecido macaco Tião (Pan tro-
Zoological Park – Washington/D.C.” pos de novas idéias em diferentes glodytes), chimpanzé muito benquisto
há interessante programa de interação níveis, estabelecendo assim relações pelo povo, cujo esqueleto agora inte-
homem-animal – “Think Tank O- entre a educação formal e a não for- gra as coleções do Museu de
Line”, que nos desafia a considerar mal e levando à formação de redes Primatologia do CPRJ.
como os primatas ou outros animais cotidianas de conhecimentos (Gouvea Sob a forma de “casts”, algumas
processam o mundo à sua volta. et al., 2001). Nesse particular, o espa- das peças fósseis clássicas de
Interessantes e criativos, os orango- ço, objetos ou conjunto de ilustrações Platyrrhini, podem ser encontradas no
tangos no Think Tank fazem parte de devem ser organizados de modo a Museu de Primatologia-material
um extenso período de aprendizagem facilitar a interpretação pelos visitan- colocado à disposição dos interessa-
no estudo da linguagem. O público tes a partir de concepções que possi- dos. Tais peças foram doadas por pes-
pode fazer parte observando testes bilitem a compreensão e a interação quisadores, ou instituições internacio-
científicos da habilidade de usar e informativa e educativa do que está nais (vide Figura 1 e Tabela 1), atra-
entender o mundo dos símbolos ali exposto (Valente, 1995). vés de permutas com o Centro, por
(Benjamin Beck – personnal commu- Apesar da exigüidade de tempo e outros materiais.
nication). Experiências semelhantes da quase absoluta carência de recur- O Museu de Primatologia do
devem ser desenvolvidas em nosso sos, o Centro de Primatologia do Rio CPRJ-FEEMA adota metodologia
País, e entre nós destaca-se, nesse de Janeiro (CPRJ-FEEMA) com moderna, que segue as técnicas usuais
sentido, o que foi realizado pelo muita persistência conseguiu reunir empregadas atualmente nas boas ins-
Museu de Astronomia e Ciências valioso acervo primatológico, cujo tituições. O material é cuidadosamen-
Afins (MAST) na cidade do Rio de colecionamento vem se processando te estudado para sua correta identifi-
Janeiro. desde 1972, quando dos primórdios cação, recebendo numeração de con-
Ressalte-se o novo campo da edu- do então Banco Biológico da Tijuca, trole. Todos são registrados em fichas
cação sobre a educação não formal passando posteriormente a fazer parte e livros próprios.

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HISTORIOGRAFIA
RETRANCA
RETRANCA

la no domínio das áreas científica,


TABELA 1 – MATERIAL PALEONTOLÓGICO (Casts)
conservacionista, educativa e cultu-
ral. A título de se concretizar alguns
ENTRADA Nº MUSEU DISCRIMINAÇÃO
14-08-81 0278 DPC 1103 - Propliopithecus chirobates - mandíbula fêmea desses projetos, pretende-se estabele-
14-08-81 0279 Parapithecus fraasi - espécie tipo, mandíbula completa cer novas unidades nesses campos na
14-08-81 0280 YPM 23940 - Aegyptopithecus zeuxis - ulna direita Estação Ecológica Estadual do
14-08-81 0282 DPC 1029 - Propliopithecus chirobates - mandíbula macho Paraíso, no Município de Guapimi-
14-08-81 0283 CGM Apidium moustafi - espécie tipo rim/RJ.
14-08-81 0284 Branisella boliviana - esquerda p4 - M2 Assim, já foram projetadas e estão
14-08-81 0285 DPC 1089 - Apidium phiomense - mandibula macho
14-08-81 0286 CGM 26912 - Parapithecus grangeri - espécie tipo,
em início de implantação, iniciativas
mandíbula esquerda importantes nesse sentido, quais
14-08-81 0287 Propliopithecus haeckeli - espécie tipo, mandíbulas sejam:
esquerda e direita
Fonte: Acervo do Museu de Primatologia do Rio de Janeiro – CPRJ/FEEMA I. O MUSEU
DE PRIMATOLOGIA
Importância de um Museu de tos, apesar de muitos dos participan- II. O PARQUE
Primatologia tes, não terem ainda muita noção da PRIMATOLÓGICO
importância dessa problemática.
É evidente que tal importância Durante o XV Congresso Brasi- Tais iniciativas objetivam:
somente será melhor alcançada em leiro de Zoologia em Curitiba, em
toda a sua extensão à medida que o 1988, organizou-se “mesa redonda” RESTAURAR HABITATS;
desaparecimento desses animais atin- abordando o tema: significado do ESTUDO E PRESERVAÇÃO DA
gir estágio um pouco mais avançado, Museu de História Natural. BIODIVERSIDADE DA MATA
quando tornar-se praticamente impos- Buscaram-se, nas discussões, ATLÂNTICA;
sível a obtenção de algum importante idéias que propusessem a criação de PESQUISAS AMBIENTAIS;
material primatológico indispensável um tipo de museu diferenciado dos EDUCAÇÃO AMBIENTAL;
a investigações específicas de grande antigos modelos estáticos, tais como FORMAÇÃO DE RECURSOS
significado pragmático. os “Museus Universitários, Museus HUMANOS NA ÁREA
A propósito é importante ressaltar Estaduais e Museus Nacionais” (Mari- AMBIENTAL;
o que dissera Marinoni (1988): noni, 1988; Thomé, 1988 e Martins, MANUTENÇÃO DOS
“Uma das realidades nacionais é 1988). Dessa discussão a proposta de MANANCIAIS HÍDRICOS;
a falta de Museus de História Natural maior aceitação foi a que sugeriu a CONVERGÊNCIA E
que propiciem desenvolvimento cultu- concretização de um museu com SOBREPOSIÇÃO DAS
ral e científico. Aos poucos existentes características especiais, cuja dinâmi- INICIATIVAS CITADAS
faltam condições humanas e mate- ca de funcionamento envolvesse a ANTERIORMENTE (ITENS 1 a 6)
riais. O trabalho que apresentam é participação do visitante interessado, PARA DEFINIÇÃO DE UM
resultado que diz mais do ideal e pai- através de recursos interativos, de cur- GRANDE CAMPUS DE ESTUDOS
xão pelas coisas da natureza que de sos ou tarefas voluntárias, para que, ao AMBIENTAIS.
um esforço unicamente profissional interagir com a instituição, fosse cria-
de seus membros”. da uma nova conscientização acerca Com o objetivo de fundamentar as
Considere-se, porém, que no caso do pragmatismo do modelo proposto, proposições ora encaminhadas pela
do museu aqui em pauta sua impor- cuja finalidade encontra-se além de ADMINISTRAÇÃO DO CPRJ-
tância amplia-se sobremaneira porque simples fonte cultural ou da salva- FEEMA, passamos às seguintes con-
se trata de material de grande impor- guarda de elementos da natureza. siderações:
tância para estudos destinados ao bem Teríamos uma autêntica construção e A Floresta Atlântica que possuía a
estar da humanidade. expansão do conhecimento humano. maior biodiversidade do planeta
Durante encontros científicos tem- Com a criação do museu do CPRJ, encontra-se hoje reduzida a fragmen-
se discutido muito sobre esses assun- a direção da entidade propõe expandi- tos muito degradados e distribuídos

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HISTORIOGRAFIA
RETRANCA

principalmente entre os Estados de total entre a natureza e as comunida- geral e dos humanos em particular,
São Paulo e do Rio de Janeiro, e ainda des técnico-científica e entidades divulgando também aspectos etnográ-
assim, REDUZIDA A CERCA DE organizadas, com o intuito de aumen- ficos específicos de tribos indígenas
MENOS DE 1% (um por cento) DO tar a cultura científica do povo brasi- que outrora habitaram o território flu-
TOTAL DE SUA ÁREA PRIMITI- leiro em geral. minense, e também sobre a contribui-
VA; Distando cerca de 100 Km do cen- ção do negro e do branco na cultura
O Estado do Rio de Janeiro fora tro da Cidade do Rio de Janeiro, a brasileira.
outrora inteiramente coberto pela implantação do Parque Primatológico A apresentação museológica
Mata Atlântica, RESTANDO HOJE deverá vir a ser importante iniciativa moderna será organizada e montada
APENAS CERCA DE 10% DE SUA de grande alcance educativo e cultural em salas apropriadas para divulgar
ÁREA ORIGINAL; além de total- além de, por outro lado, ampliar objetivamente aspectos da biologia
mente alterada quanto à sua estrutura sobremaneira o turismo nacional e dos símios brasileiros e do que se
e composição. internacional. conhece da etnografia dos indígenas
O CENTRO DE PRIMATOLO- Além de inédita no mundo, a idéia que habitavam esse Estado.
GIA DO RIO DE JANEIRO quanto começa a ser comentada no exterior,
às suas atividades é uma Instituição sendo a concretização desse Parque EXEMPLOS:
modelar, que goza de ótimo conceito motivo de marcante reconhecimento
nacional e internacional, devendo o internacional na área da moderna con- 1º Salão
Estado apoiá-lo como iniciativa histó- servação da natureza. 1.1 – Origem da vida, há aproxi-
rica e de grande significado para a Na formação desse parque serão madamente 3,5 bilhões de
ciência do Brasil e para o benefício da planejados: anos. Frisar quão longo foi o
humanidade. início do processo vital, a
A proposta de viabilizar na área da a) Viveiros ecológicos evolução dos animais e das
Estação Ecológica Estadual do Serão construídos 80 viveiros, dis- plantas superiores, que ape-
Paraíso, criada pelo Decreto tribuídos de acordo com critério filo- nas apareceram após muitos
Estadual Nº 9.803 de 12 de março genético, onde serão alojados os milhões de anos.
de 1987, o Museu de Primatologia e o símios que ocorrem no território bra-
Parque Primatológico do CPRJ, con- sileiro (cerca de 100 formas). Os alo- 2º Salão
figuraria extraordinária conquista jamentos serão de arquitetura funcio- 2.1 – O homem atual (Homo
conservacionista do Governo do nal e integrados à paisagem e cuja sapiens) e seus ancestrais:
Estado do Rio de Janeiro, fato que construção em parte do CPRJ, será das formas menos evoluídas
denota cuidado da administração feita em área desprovida de vegetação até os primeiros hominí-
estadual na manutenção e no reconhe- natural. dios.
cimento da valiosa biodiversidade 2.2 – Classificação dos Primatas
regional, mantendo-a para a atual e b) Museu de Primatologia do atuais: prossímios, símios e
para as futuras gerações humanas. É Rio de Janeiro antropóides.
portanto dever de todos lutar pela A implantação do Museu de 2.3 – A separação de massa conti-
concretização da idéia, pois, trata-se Primatologia objetiva organizar uma nental única nos atuais conti-
de realização ímpar em todo o amostra pedagógica, com base em nentes. A Teoria de Wegener
mundo! material iconográfico dos primatas da separação da América do
que ocorrem naturalmente no territó- Sul da África e a origem dos
Parque Primatológico do Rio de rio brasileiro, o mais rico em espécies primatas Neotrópicos.
Janeiro primatas em todo o mundo. 2.4 – As modernas classificações
Através de recursos pouco dispen- dos Primatas. A classificação
A implantação de um Parque diosos pretende o CPRJ-FEEMA básica de Simpson em três
Primatológico no Estado do Rio de apresentar os fundamentos básicos da super-famílias: Ceboidea,
Janeiro, que se constituirá em unidade origem da vida e do processo evoluti- Cercopitecoidea e Homi-
do CPRJ, deverá manter integração vo dos primatas não-humanos em noidea.

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HISTORIOGRAFIA
RETRANCA

3º Salão Villegaignon (1555). Suas que em termos conservacionistas a


3.1 – Taxonomia de Primatas interações com os Tamoios FEEMA já colabora de modo objetivo
(vide, Groves, 2001). confederados. na preservação do patrimônio bioló-
3.2 – Processo evolutivo do Homo gico nacional, por conseguinte agora
sapiens. 6.2 – Ataque dos portugueses com pretende também divulgar conheci-
apoio dos Tupiniquins mentos básicos sobre aspectos da bio-
4º Salão (Chefe Araribóia), mamelu- logia e da evolução dos primatas em
4.1 – O Homem brasileiro anterior cos e Padre Anchieta aos geral e da espécie humana em particu-
à chegada dos colonizado- Tamoios confederados. lar. Essa iniciativa da FEEMA irá
res. 6.3 – Fundação da Cidade do Rio colaborar para despertar entre jovens
4.1.1 – A chegada do homem de Janeiro (20 de janeiro de estudantes vocações dirigidas à dife-
à América do Norte 1567). rentes setores da pesquisa científica
pelo estreito de 6.3.1 – Vitória de Mem de Sá relacionados à conservação do meio-
Berhing há cerca de sobre os Tamoios. ambiente em geral.
40 mil anos. 6.3.2 – Morte de Estácio de Considerando a inclusão dessas
4.1.2 – Os primeiros habitan- Sá (Quadro de Ary duas novas entidades na estrutura do
tes do Brasil. Parreiras). CPRJ pretende-se organizar e ampliar
a sua já razoável biblioteca primato-
4.2 – Aspectos da cultura Tupi- 7º Salão lógica, ampliando-se para melhor
Guarani no Estado do Rio de – Estruturação da Cultura Bra- atender à crescente demanda de inte-
Janeiro (Pré-História). sileira. ressados em estudos sobre o assunto,
4.2.1 – Cerâmica, artefatos de – Contribuição do negro. notadamente a conservação das espé-
pedra e ossos lasca- – Contribuição do branco. cies brasileiras e de seus habitats.
dos, idem – polidos,
picoteados, material O Museu de Primatologia do A Visitação
conchífero, dentes tra- CPRJ-FEEMA, a ser construído den-
balhados, matéria tro dessa filosofia deve ser o primeiro Em prosseguimento à visita aos
corante, fogueiras etc. na América do Sul e quiçá no mundo viveiros situados no Parque
4.2.2 – Desenvolvimento da (Vide exemplo do Japan Monkey Primatológico, o interessado será
cerâmica de 400 a Center e principalmente a citação no orientado a percorrer e visitar o
166 d.C. trabalho Primate Park A Conservation “Museu de Primatologia”, onde com-
Center, 1989). plementará passeio cultural incomum,
4.3 – Tribos indígenas brasileiras Anexo ao Museu de Primatologia observando como se processou a ori-
à época do Descobrimento. projeta-se construir um pequeno audi- gem da vida e a evolução dos prima-
Mapa ilustrando os cinco tório (cerca de 150 pessoas), destina- tas em geral, e da espécie humana em
grupos distintos. Painéis do à educação e informação científica particular, inclusive através da visão
sobre a situação desses gru- a população em geral, com aulas, de material autêntico ou modelos de
pos. palestras, conferências, cursos, deba- fósseis, mapas, fotografias, painéis,
tes, exposições artísticas, mesas- etc. Nesse trajeto o interessado rece-
5º Salão redondas, lançamento de livros, pro- berá enorme quantidade de informa-
5.1 – Situar e caracterizar as tribos jeções de filmes, seminários etc. ções muito úteis a sua formação, além
que habitavam o Estado do Prevê-se também uma atualizada de considerar a preservação dos
Rio de Janeiro à época do Biblioteca especializada em símios brasileiros ameaçados de
Descobrimento. Primatologia e Conservação. extinção, e em especial as espécies da
Ao idealizar um Parque Mata Atlântica, quando se completa o
6º Salão Primatológico e um Museu de alvo a ser alcançado pela iniciativa.
6.1 – A colonização francesa no Primatologia, o órgão ambiental do Uma das idéias do Museu de
Rio de Janeiro. Estado, visa atender o uso popular, já Primatologia do CPRJ é informar e

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HISTORIOGRAFIA
RETRANCA

educar o povo, conscientizando-o Ao IBAMA, pelo reconhecimento de Anatomia da Faculdade de Medi-


para um maior respeito ao e a constante ajuda no desenvolvi- cina da UFRJ, pela orientação e ajuda
Ambiente Natural, uma vez que mento da primatologia no Brasil. no preparo de peças.
conservar o ambiente natural do Ao Dr. Alfred L. Rosemberger A Dr. Ken Nozawa, Diretor do
homem deve ser considerado o ver- (Department of Illinois), Dr. J.G. Fle- Primate Research Institute – Kyoto
dadeiro conceito de Progresso. agle (State University of New York, University – Japan e Dr. Leobert de
Além disso, faz-se necessário cada USA) e Dr. Russell A. Mittermeier do Bôer (Apenheul Zoo), pelo envio de
vez mais a preparação de espaços Conservation International, que muito esqueletos para o acervo do Museu de
onde a aprendizagem possa ser com- contribuíram com as doações de Primatologia do CPRJ-FEEMA.
partilhada em contato com a natureza “casts” de fósseis primatas para a À FAPERJ, pelo apoio ao desen-
para incutir nas pessoas uma forte e coleção do CPRJ-FEEMA. volvimento científico e tecnológico
sadia consciência conservacionista. Ao Dr. Vicente Cantini e equipe da no Centro de Primatologia do Rio de
Fundação Jardim Zoológico do Rio Janeiro – CPRJ-FEEMA (Proc. Nº E-
Agradecimentos de Janeiro, de cuja visão científica 26/171.573/2000-APQ1).
muito temos a agradecer, a oferta de
Ao Dr. Adelmar F. Coimbra-Filho, carcaças de diferentes espécies de
ex-diretor do CPRJ, co-autor das símios.
idéias e esboços originais desse proje- À Dra. Susanne Queiroz e Dra.
to, além da revisão deste texto. Monica Anecchino do Departamento

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
COIMBRA-FILHO, A.F.; PISSINATTI, A.; SILVA, R.R. O MARTINS, V.R. Museus Universitários. Revista Brasileira de
acervo do Museu de Primatologia no Brasil 2, Ed. Milton Zoologia, v. 5, n. 4, p. 623-627, 1988.
Thiago de Mello, Belo Horizonte: UFMG, 1986, p.505-514.
PRIMATE PARK. A Conservation Center as a contribution to
GOHN, M.G. Educação não formal e cultura política: impac- the global efforts for the conservation of biodiversity. Germany:
tos sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo: Bielefeld, 1989, 48 p.
Cortez, 1999.
THOMÉ, J.W. Os Museus Estaduais. Revista Brasileira de
GOUVEIA, G.; VALENTE, M.E.; CAZELLI, S.; MARANDI- Zoologia, v. 5, n. 4, p. 629-631, 1988.
NO, M. Redes cotidianas de conhecimentos e os museus de
ciência. Ministério da Ciência e Tecnologia: Parcerias VALENTE, M.E. Educação em Museu: o público de hoje no
Estratégicas, v.11, p.169-174, 2001. museu de ontem. Rio de Janeiro, 1995, 47p. Dissertação
(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação.
GROVES, C.P. Primate Taxonomy. Washington DC: Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica.
Smithsonian Institution Press, 2001. 350p.

MARINONI, R.C. Os Museus de História Natural. Revista


Brasileira de Zoologia, v. 5, n. 4, p. 621-622, 1988.

72 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003


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T radicionalmen

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano VI - Nº 23 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2001


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HISTÓRIA
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Vista parcial da Universidade Luterna de Brasil - Campus Canoas/RS

Curso de Medicina Veterinária da ULBRA


Rio Grande do Sul
A Universidade Luterana do Brasil Desde a sua criação, o objetivo da
(ULBRA) comemorou, no dia 16 de Universidade Luterana do Brasil é
agosto de 2003, seus 31 anos de atua- proporcionar educação. Da educação
ção na área da graduação. A primeira infantil à pós-graduação, passando
escola surgiu em 1911, quando os pelos cursos de extensão, a ULBRA
imigrantes alemães construíram a pri- não mede esforços para oferecer um
meira capela da Comunidade ensino de qualidade, capaz de prepa-
Evangélica Luterana São Paulo. rar todos os seus alunos para enfrentar

74 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003


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RETRANCA
HISTÓRIA
RETRANCA

fissionalizante, Hospital Veterinário e


Campo Experimental (CEULBRA),
onde são mantidas as criações de ani-
mais de produção e animais silves-
tres. O Curso de Medicina Veterinária
viabiliza aos seus alunos, atividades
de monitorias clinicas e acadêmicas e
plantões no Hospital Veterinário; pos-
sibilita ainda estágios para estudantes
de outras instituições do país e do
Mercosul.

Hospital Veterinário

Hospital Veterinário da ULBRA O Hospital Veterinário da ULBRA


atua como um agente integrador no
e se integrar a uma sociedade cada mentos e materiais priorizando a processo ensino-aprendizagem, onde
vez mais competitiva e exigente. implantação das disciplinas; no final a prática supervisionada possibilita ao
Atuando em seis estados brasileiros, a de 1996, o Hospital Veterinário abriu aluno o aprimoramento do seu conhe-
ULBRA possui 46 cursos de gradua- suas portas para o atendimento à cimento teórico. Nas dependências do
ção, 18 escolas de ensino fundamen- comunidade. O Curso de Medicina Hospital Veterinário são desenvolvi-
tal e médio e cinco programas de pós- Veterinária da ULBRA completou, das as aulas práticas, tanto nas áreas
graduação stricto sensu. Atualmente, neste ano de 2003, 10 anos de criação, de clínica e cirurgia, como na parte
tem 77.797 alunos matriculados em tendo formado 10 turmas de médicos referente ao diagnóstico das diferen-
seus diferentes cursos de graduação veterinários com perfil generalista, tes enfermidades que afetam os ani-
em todo os campis que mantém no voltados para o mercado de trabalho e mais domésticos.
território nacional. a realidade nacional, fornecendo ao O Hospital Veterinário tornou-se
egresso os conhecimentos necessários um pólo de referência na sua área de
Curso de Medicina Veterinária nas diferentes áreas de atuação profis- abrangência, prestando atendimento
sional. clinico, cirúrgico e de diagnóstico às
O Curso de Medicina Veterinária Com uma duração de cinco anos, e diferentes espécies animais, e conso-
da ULBRA teve seu primeiro vestibu- regime semestral, o Curso de lidando-se como tal. Desde o início
lar realizado em janeiro de 1993. No Medicina Veterinária está estruturado
decorrer do ano de 1993 foi iniciada a em um Conselho de Curso, presidido
construção do Hospital Veterinário e pelo Diretor do Curso, com represen-
dos laboratórios específicos para o tantes das áreas de pesquisa, pós-gra-
Curso, com um cronograma de obras duação, extensão, graduação e repre-
que priorizava as disciplinas do currí- sentação discente. Seu corpo docente
culo que iam sendo implantadas. As é formando por 61 professores, sendo
disciplinas básicas do curso eram que 77% possuem titulação de mestre
ministradas em laboratórios já exis- e doutor. A grade curricular é com-
tentes na Universidade. posta por 62 disciplinas organizadas
Em 1996 a área física do Hospital em seqüência recomendada de estu-
Veterinário encontrava-se 80% pronta dos, sendo que no último semestre o
e teve início a utilização dessas estru- acadêmico realiza o estágio curricular
turas para o ensino, com as discipli- supervisionado em área de sua elei-
nas de clínica e cirurgia. No decorrer ção. Para seus estudos, o aluno conta
desse ano foram adquiridos equipa- com laboratórios da área básica e pro- Ambulatório clinico do Hospital Veterinário

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HISTÓRIA
RETRANCA
RETRANCA

uma média seis filhotes, considerando


três machos e três fêmeas, com uma
gestação a cada seis meses, ao final de
um ano a esterilização de uma cadela
equivale a 54 filhotes não gerados.
Extrapolando esses números para o
número de fêmeas esterilizadas pelo
projeto no ano de 2002, que foram ao
redor de 130, entre cadelas e gatas,
concluímos que deixaram de ser gera-
dos 8 320 filhotes neste ano. Esses
dados mostram a conscientização dos
proprietários para a posse responsável
do seu animal e mostra o sucesso do
projeto implantado pela Univer-
Sala de cirurgia de grandes animais sidade, contribuindo, assim, para a
saúde pública e para o bem estar
de suas atividades como prestador de parceria com a comunidade, realizan- animal.
serviços vem aumentando ano a ano a do dessa maneira a retro-alimentação Projeto de atendimento de eqüinos
casuística de atendimentos de ani- tão necessária ao ensino e a pesquisa. de proprietários de baixa renda – A
mais, chegando a quase 8.000 animais O Curso de Medicina Veterinária da utilização do eqüino no trabalho pro-
no ano de 2002. ULBRA tem uma trajetória em ativi- picia com freqüência a ocorrência de
dades extensionistas que buscam lesões traumáticas e enfermidades
Centro de Diagnóstico Veterinário principalmente o bem-estar animal e a
educação em saúde. O Curso de
Fazem parte do Centro de Medicina Veterinária possui cinco
Diagnóstico Veterinário da ULBRA projetos de extensão permanentes,
os laboratórios de anatomia patológi- além de atividades eventuais.
ca, parasitologia, microbiologia clíni- Projeto de esterilização de cães e
ca e de alimentos, reprodução animal, gatos de donos carentes – A procria-
análises clínicas e ainda o setor de ção descontrolada de cães e gatos é
diagnóstico por imagem. Os laborató- um problema com que as autoridades
rios prestam serviços a comunidade e de saúde se deparam freqüentemente.
dão suporte ao Hospital Veterinário, Uma das alternativas éticas para esses
além de fornecerem uma casuística casos é a castração de cães e gatos
importante as aulas práticas do Curso. para evitar crias indesejáveis aos pro-
Acompanhando o número de atendi- prietários, pois em alguns casos ocor-
mentos do Hospital Veterinário, os re abandono desses filhotes nas ruas
exames laboratoriais apresentaram das cidades. Pensando em minimizar
um aumento significativo, atingindo esse problema, e ao mesmo tempo
cerca de 14.000 exames realizados no inserir o aluno na prática cirúrgica, o
ano de 2002. programa teve início em 1998. Os
cães são de proprietários que se
Atividades de Extensão enquadrem nas exigências sócioeco-
nômicas do projeto. Até o ano de
As atividades de extensão possibi- 2002 foram castrados 699 animais.
litam a aplicação do conhecimento Tendo em conta que uma fêmea cani-
teórico-prático dos acadêmicos em na ou felina pare uma ninhada com Laboratório de Microbiologia

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HISTÓRIA
RETRANCA
RETRANCA

ção de manejo e prevenção, tendo alguns projetos apoiados pelo próprio


como foco o rebanho e não o indiví- CNPq e FAPERGS. O programa de
duo. Ainda como projetos permanen- Iniciação Científica e Tecnológica
tes, o Curso realiza o Projeto de aten- (PROICT) busca estimular o desen-
dimento buço-maxilo-facial de volvimento do pensar criativo do
pequenos animais na área de abran- aluno de graduação, aplicando o
gência do Hospital Veterinário e o método científico como coadjuvante
Projeto EXPOINTER, onde os acadê- do processo ensino-aprendizagem.No
micos, supervisionados por professo- programa estão alunos bolsistas e
res, prestam atendimento clínico aos voluntários que atuam supervisiona-
animais expostos nesse evento agro- dos por professores nas diferentes
pecuário. linhas de pesquisa da Medicina Vete-
rinária.
Atividades de Pesquisa
Pós-Graduação e Residência
As pesquisas realizadas na Médica Veterinária
Laboratório de Histopatologia ULBRA abrangem todas as áreas do
conhecimento previstas pela CAPES O Curso de Medicina Veterinária
infecciosas. Dependendo da gravida- e CNPq. Na Universidade são 771 possui os cursos de especialização em
de podem ocorrer sérios prejuízos ao projetos de pesquisa que envolve 874 Clínica e Cirurgia de Cães e Gatos e
animal e, conseqüentemente, ao seu docentes e 382 alunos de Iniciação em Odontologia Veterinária, sempre
proprietário, prejudicando assim o Científica dos Programas PROICT/ com a totalidade das vagas preenchi-
trabalho e muitas vezes o sustento de ULBRA, PROBIC/FAPERGS e das por profissionais que buscam a
toda uma família. Buscando inserir PIBIC/CNPq. Na área específica das qualificação e o aperfeiçoamento.
nosso aluno na vivência prática, pos- Ciências Agrárias, onde está inserida A Residência Médica Veterinária
sibilitando o contato direto com pro- a Medicina Veterinária, são 8 grupos foi criada em 1998, com prova de
blemas que afligem os proprietários de pesquisa cadastrados no CNPq, em seleção muito concorrida, onde pro-
de baixa renda de cavalos, da área em plena atividade, que vem desenvol- fissionais recém-formados de vários
torno do Campus Canoas, foi criado o vendo projetos importantes para o estados brasileiros vem buscar quali-
projeto que teve início em agosto de desenvolvimento da ciência, com ficação. O programa desenvolve-se
1999 e atendeu até o final de 2002,
302 cavalos de propriedade principal-
mente de carroceiros, que utilizam o
animal como fonte de receita. O pro-
jeto além de atendimento clínico
incentiva os proprietários a melhora-
rem as condições de vida dos seus
animais.
Projeto de atendimento clínico
veterinário a animais de pequenos
proprietários rurais da área de
abrangência de Canoas – propicia
tecnologia através do atendimento
aos pequenos proprietários rurais,
levando aos mesmos o conhecimento
e as técnicas que garantam índices de
produtividade compatíveis com a
moderna pecuária, através da aplica- Projeto de atendimento eqüino

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HISTÓRIA
RETRANCA
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em clínica e cirurgia, onde os residen- áreas biomédicas. No


tes atuam em regime de treinamento setor agropecuário, o
em serviço, supervisionados por pro- programa privilegia a
fessores do Curso de Medicina detecção de doenças
Veterinária. A Residência Médico- genéticas em animais,
Veterinária, em conjunto com a microrganismos em
Residência Médica Humana da alimentos, associado
ULBRA, é reconhecida pela Pró- à caracterização de
Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação genes de interesse
da Universidade, estando o projeto, econômico e a análise
atualmente, em tramitação no CFMV. de patógenos de ani-
Um programa de pós-graduação mais e plantas. Visan-
multidisciplinar é ofertado em nível do a tomada de deci-
de mestrado, que é o Mestrado sões em questões de
Profissionalizante em Diagnóstico conservação e manejo
Genético e Molecular, que objetiva as da fauna/flora, a ava- Apresentação na EXPOINTER
aplicações do diagnóstico genético- liação da biodiversi-
molecular centrado nas diferentes dade centrada nas potencialidades de ensino da Instituição, fornecen-
biotecnológicas dos recursos genéti- do material para as aulas práticas
cos regionais e ao estudo de marcado- dos cursos das áreas afins. Em uma
res moleculares para o melhoramento área de 320 Ha são desenvolvidas
genético de plantas e animais, é outra atividades ligadas a área da pecuá-
estratégia de diagnóstico genético- ria, agricultura, piscicultura, cria-
molecular oferecida pelo programa a ção e preservação de animais sil-
profissionais das diversas áreas bio- vestres, flora e fauna, estando devi-
médicas. damente registrada no IBAMA
(Instituto Brasileiro de Meio
Campo Experimental da ULBRA Ambiente), e sendo dotada de
(CEULBRA) vários módulos produtivos. Os pro-
fessores dos Cursos das áreas afins
A ULBRA possui uma área são os responsáveis pelos vários
denominada de CEULBRA (Campo módulos produtivos, estando a
Experimental da ULBRA) que é coordenação geral a cargo do Curso
Cabanha de ovinos do Curso de Medicina Veterinária utilizada como apoio às atividades de Medicina Veterinária.

AUTORIDADES ACADÊMICAS ENDEREÇOS


Reitor Pró-Reitor de Beatriz Kosachenco (Pós-Graduação e
Dr. Ruben Eugen Becker Pós-Graduação e Pesquisa Residência); Prof.Med. Vet. Dr. Sérgio José
Vice-Reitor Prof. Dr. Edmundo Kanan Marques de Oliveira (Pesquisa); Profª Med.Vet.Dra.
Eng. Leandro Eugênio Becker Capelão geral Glória Boff (Gerência de Estágios); Prof.
Gerhard Grasel Med.Vet. Dr. Luiz César Fallavena
Pró-Reitor de Administração (Laboratórios de Diagnóstico); Prof.Med.Vet.
Prof. Pedro Menegat Diretora do Esp. Carlos Guilherme Petrucci (Assessoria
Pró-Reitor de Graduação Curso de Medicina Veterinária Hospital Veterinário); Profª Med.Vet. Esp.
prof. Dr. Nestor Luiz João Beck Profª Norma Centeno Rodrigues Évelin de Azevedo (Assessoria coordenação
Conselho do do Curso); Representação discente:
Pró-Reitora de Jussandro Bortolon
Orientação e Assistência ao Curso de Medicina Veterinária
Estudante Profª Med.Vet. MSc Norma Centeno
Profa. Dra.Eurilda Dias Roman Rodrigues (Diretora); Profª Med.Vet. MSc

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PUBLICAÇÕES
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Estatística aplicada à pesquisa em ciência Nutrição de bovinos a pasto


veterinária A questão da nutrição dos bovinos é uma das temáticas que mais
O lançamento oportuno deste livro vem preencher uma lacuna no interesse desperta entre criadores, profissionais de Medicina Veterinária
campo da estatística aplicada à ciência veterinária. Como o próprio e Zootecnia, pesquisadores, professores e estudantes. Tanto na pecuária
autor menciona em seu prefácio, há uma aversão natural dos de leite quanto na de corte, o melhor equacionamento da nutrição dos
estudantes no tocante a números, certamente nutrida no decorrer de bovinos é o ponto de equilíbrio entre saúde, crescimento, produção e
toda a trajetória estudantil diante da matemática. No entanto, quando lucratividade. Portanto, o lançamento do livro dos notáveis Lee Russel
a estatística é apresentada de forma prática e aplicada à pesquisa, MacDowell, Fernando Antônio Nunes Carvalho e Fabiano Alvim
aumenta a compreensão e, consequentemente, a aceitação por parte Barbosa é bastante oportuno e, certamente, prestará um grande serviço à
dos alunos de graduação e pós-graduação. área de nutrição animal pela seriedade e pela somatória de experiência
Para os profissionais da Ciência Veterinária torna-se cada vez mais reunida por seus autores.
importante ultrapassar o patamar de alguém que dispõe apenas de A obra é resultado da trajetória profissional destes profissionais que,
noções sobre estatística e passar à condição de quem tem capacidade apesar de afirmarem que não pretendem esgotar o assunto, o apresentam
de avaliar e explorar adequadamente os dados estatísticos recolhidos, de uma maneira ampla e cronológica, estabelecendo uma ponte entre os
tomando as melhores decisões, livrando-se, assim, de conclusões primórdios da nutrição de bovinos e a modernidade. Partindo-se dos
errôneas. pioneiros em pesquisa com nutrição de bovinos no Brasil, é traçada uma
O autor, Dr. José de Carvalho Reis, é professor de Estatística e de trajetória didática onde se evidenciam questões e momentos
Genética da Reprodução Animal do Programa de Pós-Gradução em significativos quanto às condições nutricionais do solo e das forragens
Ciência Veterinária da UFRPE desde 1978, razão pela qual oferece, das principais zonas pastoris onde se desenvolve a pecuária de corte e de
de uma maneira clara e didática, condições de embasamento quanto a leite brasileira.
tópicos relevantes como a organização de dados em tabelas e sua Ricamente ilustrado, o livro coloca-se como uma alternativa de leitura,
apresentação, a teoria dos atributos quantitativos, a estatística vital, fonte de consulta e pesquisa aos que se interessam por este importante
estatística e economia da saúde animal. Em seus 28 capítulos, quesito que é a nutrição bovina.
destacam-se um específico sobre a pesquisa em ciência veterinária e
o que apresenta ensaios clínicos e terapêuticos no âmbito da Edição dos autores:
Medicina Veterinária no qual, entre diversos aspectos, encontra-se o Fernando Antônio Nunes Carvalho
Estatística e Ética em Pesquisas Farmaco-Clínicas. Rua Isaltino Brochado, 220 – CEP 19300-000 – Presidente Bernardes – SP
Uma leitura obrigatória, portanto. Tel/Fax (18) 262-1608 – e-mail: fer.a.n.carvalho@uol.com.br

Edição do autor Fabiano Alvim Barbosa


Av. Getúlio Vargas, nº 1529 Alameda Serra da Mantiqueira,951 – Vila Del Rey
CEP 53030-010 – Olinda-PE CEP 34000-000 – Nova Lima – MG – Tel (31) 3581-1180
Tel (81) 3429-0178 e-mail: fabianoalvim@superig.com.br

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PUBLICAÇÕES

Anestesiologia veterinária Dermatopatias em pequenos animais (CD-ROM)


Para o autor Flávio Massone, criador da primeira disciplina Com o advento da informática e suas múltiplas
específica de Anestesiologia Veterinária no Brasil, seu livro possibilidades, torna-se cada vez mais usual a
tem três finalidades básicas: apoiar os estudantes que sistematização de conteúdos, a apresentação de matérias
buscam sanar dúvidas quanto ao assunto e evidenciar as e mesmo cursos na modalidade de CD-ROM. Além das
principais dificuldades que deverão ser encontradas no vantagens da portabilidade, o CD-ROM oferece uma
início da prática profissional; levar aos profissionais que
trabalham em clínicas de pequenos animais conhecimentos
forma de pesquisa rápida e de maneira comunicativa.
que eles próprios, segundo o autor, o ajudaram a adquirir e, Não se trata de uma substituição de livros e revistas por
por último, objetiva também apresentar técnicas compatíveis um meio informático. O CD-ROM se apresenta com
àqueles que se dedicam à cirurgia experimental. mais uma alternativa. E esta possibilidade foi utilizada
pelas Médicas Veterinárias Fabiana Buassaly e Sônia
Nesta 4ª edição, além das necessárias atualizações e dos
Regina Verde de S. Franco que, apoiadas por
oportunos aperfeiçoamentos, a obra é enriquecida com a
colaboração dos profissionais Mariângela Louzano Cruz e especialistas da empresa TechnoVet Informática e
Adauto Luís Veloso Nunes no capítulo sobre Técnicas Consultoria Ltda, colocaram no mercado o CD-ROM
Anestésicas em Animais Silvestres. Distribuído nas suas 326 Dermatopatias em Pequenos Animais.
páginas, com 21 capítulos, 12 apêndices e contando com o O produto, contém seis áreas de consulta, como
apoio de fotos, gravuras e tabelas, o livro representa o que Demartopatias por tipo, Diagnóstico conforme
há de mais completo e moderno no que tange a questão da
Anestesiologia Veterinária. localização etc, além de bibliografia e ficha técnica. O
CD-ROM é de fácil instalação, compatível até mesmo
com equipamentos com Windows 95 ou 98, desde que
disponham de um Processador 486 e um mínimo de 8Mb
de RAM.
Editora Guanabara Koogan S.A.
Travessa do Ouvidor, 11
CEP 20040-040 – Rio de Janeiro – RJ Duplicação e Comercialização:
Tel (21) 2221-9621 / Fax (21) 2221-3202 Portal iVet de Pesquisa para Veterinários
Site: www.editoraguanabara.com.br www.ivet.com.br

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AGENDA

VI Simpósio Goiano de Avicultura


14 a 16 de Abril de 2004
Local: Castro's Park Hotel - Goiânia/GO
Informações: (62) 203.3665 - www.agagyn.com.br -
aga@terra.com.br

VIII Simpósio em
Bovinocultura de Leite da Região Sul
12 a 14 de Maio de 2004
Auditório da Faculdade de Agronomia da UFPel
Informações: (53) 227.6603 - www.vetesul.com.br
vetesul@terra.com.br
XXV Congresso Brasileiro
de Clínicos Veterinárias de Pequenos Animais
De 20 a 23 de maio de 2004
Expogramado – Gramado – Rio Grande do Sul
Informações: www.anclivepa-rs.com.br
Fone: (51) 3330-3082

V Congresso Brasileiro de Bioética


Recife/ Pernambuco
De 13 a 15 de maio de 2004
Centro de Convenções do Mar Hotel
Informações: home page - www.cro-pe.org.br/bioetica
FACTOS PROMOÇÃO MARKETING E EVENTOS
(Secretaria Executiva)
Rua Ernesto de Paula Santos, 1368 – Sala 604 – Boa
Viagem – Recife – PE - CEP 51021.330
Fone: (81) 3463.0871/9601.6906 - Fax: (81) 3463.0853
e-mail: bioetica@factos.com.br

82 Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003


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AGENDA
RETRANCA
RETRANCA

Curso de Capacitação para Médicos Veterinários


Responsáveis Técnicos em Estabelecimentos
Produtores de Alimentos de Origem Animal
27 de Fevereiro a 20 de Junho de 2004
Local: Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias -
Campus de Jaboticabal/UNESP - Jaboticabal/SP
Informações: (16) 3203.1322
eventos@funep.fcav.unesp.br

XVI Congresso Estadual de Medicina Veterinária;


V Congresso de Medicina Veterinária do Conesul;
IX Feira de Produtos e Serviços em Medicina
Veterinária
De 1º a 5 de Junho de 2004
Local: Passo Fundo/RS
Informações: SOVERGS
Rua Andrade Neves, 159/123 - CEP 90010-210
Porto Alegre/RS
Fone: (51) 3228.1194
sovergs@pro.via-rs.com.br
www.sovergs.com.br

XXXI CONBRAVET - Congresso Brasileiro de


Medicina Veterinária
De 21 a 25 de Agosto de 2004
Local: São Luís/MA
Informações: Real Promoções e Treinamentos Ltda.
Av. São Luís Rei da França nº 111, Turú - São Luís/MA
Fone: (98) 248.3126, 248.6838, 248.2580
realpromocoes@elo.com.br

Zootec2004
VI Congresso Internacional de Zootecnia;
XIV Congresso Nacional de Zootecnia;
X Reunião Nacional de Ensino em Zootecnia
XVII Fórum de Entidades de Zootecnistas
De 28 a 31 de maio de 2004
Local: Blue Tree Park, em Brasília-DF.
Informações: www.upis.br/zootec2004 e acesse a
programação, inscrições dos trabalhos científicos
e outras informações.

Revista CFMV – Brasília/DF – Ano IX - Nº 30 Setembro a Dezembro de 2003 8383


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REVISTA CFMV - FICHA DE ASSINATURA


CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA
Assinatura anual – 3 (três) edições: R$ 15,00 (quinze reais)
Depósito: Banco do Brasil S.A., Agência 2883-5, conta corrente nº 5477-1
Nome:
Endereço:
Bairro:
Cidade: CEP: UF:
Tel - 1: (0xx....) Tel - 2: (0xx....)
e-mail:
Pessoa física Formação profissional:
Estudante Curso:
Pessoa jurídica Ramo de atividade:
Preencha os dados acima, recorte a ficha e encaminhe juntamente com o comprovante de depósito para o endereço:
SCS, Quadra 01, Bloco E, nº 30, Ed. Ceará, 14º Andar, Brasília – DF, CEP 70303-900.
Tel: (0xx61) 322 7708 - Fax: (0xx61) 226 1326 - e-mail: cfmv@cfmv.org.br

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