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Relatório Final

Dados do Relatório
Nome do Plano EFEITOS DA TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO E DA TERAPIA
FOCADA NA COMPAIXÃO NO AUTOESTIGMA DO PESO: ANÁLISE DOS
RELATOS VERBAIS DO TERAPEUTA E DO CLIENTE

Nome do Estudante ELLEN FERREIRA DE CASTRO

Orientador(a) SONIA MARIA MELLO NEVES

Projeto de Pesquisa EFEITOS DA TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO (ACT) E


INTERVENÇÕES PARA AUTOCOMPAIXÃO NO AUTOESTIGMA RELACIONADO AO
PESO E NO RELATO VERBAL DO EU (SELF)

Grupo de Pesquisa LABORATÓRIO DE ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO

Introdução
A Acceptance and Commitment Therapy (ACT), tem sido desenvolvida há mais de três décadas e utiliza uma estratégia de
desenvolvimento do conhecimento fundamentada na Análise do Comportamento tradicional com ampliações, segundo Hayes
et al. (2021).

Carvalho (2011) aponta que a ACT se apresenta como uma terapia eficaz num amplo espectro de patologias e, em geral, os
efeitos verificam-se ainda mais promissores após as intervenções, no follow-up.

A divergência entre o corpo real e o idealizado incentiva a busca por dietas e procedimentos estéticos que podem perturbar a
saúde física e mental e contribuir para a distorção da imagem corporal (Le Breton, 2007). É interessante, portanto, que estudos
relacionados a intervenções eficazes com pessoas obesas sejam desenvolvidos.

Lillis et al. (2010) afirmam que o autoestigma consiste na autodesvalorização e no medo do estigma resultante da identificação
com um grupo estigmatizado. Consequências negativas podem ser desencadeadas pelo autoestigma, como evitação das
interações sociais, autodesvalorização, baixa autoestima, menor satisfação no trabalho, no funcionamento psicossocial e nos
relacionamentos, e percepção de desvalorização e marginnalização (Ritsher et al. 2003).

A ACT foca em proporcionar que a pessoa possa vivenciar da melhor forma as emoções e os pensamentos aversivos através
de uma mudança no contexto, levando o cliente a refletir sua experiência, conduzindo a uma mudança na função dos
estímulos aversivos, incentivando o contato com as contingências e gerando mudança comportamental, tornando o indivíduo
capaz de controlar suas respostas através do acesso ao reforço positivo mesmo na presença de estímulos aversivos.

A ACT se mostrou eficaz conforme o estudo de Lillis et al. (2009), que mediu o impacto da ACT na qualidade de vida das
pessoas obesas, no estigma e no sofrimento psíquico. Verificou-se o aumento dos esforços em ações voltadas à perda de
peso - sem que a terapia o tivesse como foco exclusivo, e os resultados mostraram que durante 3 meses os participantes
apresentaram melhorias na redução do estigma do peso, na qualidade de vida, no sofrimento psicológico e no Índice de Massa
Corporal (IMC), além de maior tolerância ao sofrimento e maior aceitação do peso, apresentando uma flexibilização
psicológica.
Para Hayes et al. (2021) a interação entre duas pessoas envolve processos de flexibilidade entre as partes. A ACT pressupõe
que esses processos de flexibilidade não são apenas o objetivo da terapia, mas também o seu contexto, e o terapeuta deve
implementá-la como um semelhante ao cliente.

O projeto de pesquisa ao qual este está vinculado realizará duas intervenções clínicas em grupo para o autoestigma do peso,
sobrepeso e obesidade, sendo elas: intervenção em ACT e intervenção em ACT com direcionamento para autocompaixão
incluindo elementos da Terapia Focada na Compaixão (TFC).

O problema abordado neste estudo, vinculado à pesquisa mais ampla “Efeitos da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)
e intervenções para autocompaixão no autoestigma relacionado ao peso e no relato verbal do eu (self)”, consistirá na análise
dos dados verbais das interações terapeuta-participante e participante-participante, obtidos durante as sessões

Zamignani (2014) aponta que a utilização de um sistema de categorização de comportamentos do terapeuta e cliente,
desenvolvido para intervenções individuais, mostrou-se uma alternativa producente para a análise da interação terapêutica em
um programa de intervenção de grupo.

A atuação dos clientes no papel de coterapeuta viabiliza a formação do vínculo entre os participantes e possibilita que o
próprio grupo monitore o seguimento das instruções e forneça consequências diferenciais, em suma, que compartilhe com o
terapeuta as propriedades reforçadoras, enquanto minimiza o impacto de intervenções diretivas. (Zamignani, 2014).

Objetivo Geral
Analisar e categorizar relatos verbais emitidos pelos participantes e terapeuta a fim de identificar evidências dos
efeitos dos processos terapêuticos aplicados.

Objetivos Específicos
Identificar evidências dos efeitos da intervenção em mudanças nos processos da ACT na flexibilidade
psicológica (aceitação, desfusão, momento-presente, self-como-contexto, valores, ações com compromisso);
Elaborar categorias e subcategorias que permitam a identificação, no relato das participantes, dos processos de
mudança da ACT e da ACT com elementos da TFC; Buscar identificar relatos verbais que apontem evidências de
autoestigma relacionado ao peso; Elaborar categorias e subcategorias para identificar mudanças no autoestigma
relacionado ao peso.

Materiais e Métodos
Participantes

Foram selecionadas para os dois grupos terapêuticos 20 participantes do sexo feminino, que foram recrutadas por meios físico
e virtual. Foram divididas em 2 grupos terapêuticos nos quais foram submetidas às intervenções clínicas em ACT ou em ACT
com elementos da TFC, realizadas no projeto de pesquisa ao qual este estudo se vincula.

Critérios de inclusão: mulheres acima de 18 anos com sobrepeso ou obesidade classificados por IMC > 25 kg/m 2; Score acima
de 40 no Questionário de Autoestigma de Peso (WSSQ) e abaixo de 90 na Escala de Autocompaixão (SCS).

Critérios de exclusão: participar de outro grupo para perda de peso durante a intervenção; gestantes; diagnósticos de
Transtorno de Personalidade Borderline, Transtorno Bipolar (em episódio ativo), Transtorno Depressivo Maior (em episódio
ativo) e Transtornos por Uso de Substâncias, avaliados em uma entrevista clínica inicial conduzida pela mestranda e
psicóloga, vinculada ao projeto de pesquisa.

Local

As análises dos relatos verbais, obtidos por meio de gravações, foram realizadas em uma sala de orientação do Laboratório de
Análise Experimental do Comportamento (LAEC).

Materiais

Computador
Software Zoom
Vídeos das sessões
Sistema de categorização SICARECC, software Transkiptor, Word e Excel;
Tabelas com categorização de comportamentos para a pesquisa de processo em psicoterapia.

Procedimento

A seleção de participantes, assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), desenvolvimento e realização
das intervenções clínicas fazem parte de um projeto de pesquisa submetido ao Comitê de Ética (Parecer n° 5.351.454).

As sessões foram gravadas para análise dos dados, que foram armazenados de forma segura.

Etapas

Conforme necessidade de conhecimento da teoria foram realizadas reuniões semanais entre setembro de 2022 e fevereiro de
2023.

Em setembro de 2022 teve início a revisão da literatura para identificação das metodologias sensíveis aos efeitos e mudanças
importantes nos processos terapêuticos em ACT.

Após leitura e discussão, foi selecionado inicialmente o Sistema Multidimensional para a Categorização de Comportamentos
na Interação Terapêutica (SiMCCIT) de Zamignani (2007). Em conjunto, foi realizada a discussão de Assaz (2019) para
compreensão da desfusão cognitiva na ACT.

Para domínio da prática de categorização, foi realizado um treinamento online do SiMCCIT (Zamignani, 2007) oferecido pelo
Instituto Paradigma - Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento.

Na ocasião do VIII Congresso de Ciência & Tecnologia da PUC-GO (2022), para treino do SiMCCIT, foi realizada uma análise
para categorização dos relatos verbais de participantes de um grupo terapêutico conduzido anteriormente por alunos ao final
do curso de graduação e de IC sob a orientação da prof.ª Drª Sônia Neves. Os dados foram provenientes de intervenção em
ACT. O estudo contou com 4 participantes mulheres e foram realizadas doze sessões de terapia semanal em grupo.

Após o início da coleta de dados em janeiro de 2023 foram realizadas dez sessões de terapia em grupo para mulheres acima
do peso, utilizando a ACT no GT1 e ACT com elementos da TFC no GT2, conduzidas pela mestranda Luciana Pacheco com
apoio terapêutico da aluna de IC Fernanda Posch.

Paralelamente, iniciou-se a revisão das transcrições das sessões, obtidas pelo software Transkriptor.

Após os treinos no SiMCCIT, notou-se a carência de categorias mais sensíveis ao processo terapêutico em estudo. Passa-se
então a um aprofundamento teórico sobre os processos de fusão e desfusão e sobre as categorias propostas no SICARECC
em Assaz (2019), que são (Tabela 1):

Figura 1

Categorias do Cliente no SICARECC:

Obediência (C-OBE)

Exploratória (C-EXP)

Controladora (C-
CONT)
Metacognitiva (C-
MET)

Avaliativa (C-AVA)

Analítica (C-ANA)

Validante (C-VAL)

Concreta (C-CONC)

Dialógica (C-DIA)

Disruptiva (C-DRU)

Facilita progresso (C-


FAC)

Dificulta progresso (C-


DIF)

Foram realizadas reuniões de treinamento do SICARECC. A princípio o objetivo do treino foi de selecionar trechos de relatos
de todas as participantes na 1ª sessão do Grupo Terapêutico 2 (GT2), que corresponderiam a processos de fusão ou
desfusão, ainda sem a aprofundar no treino de categorias propriamente dito, apenas selecionando trechos categorizáveis. Em
seguida efetuou-se a análise do índice de concordância entre observadores utilizando a fórmula IC = [(eventos concordantes) /
eventos concordantes + eventos discordantes)] x100, e realizada uma discussão para alinhamento.

Repetiu-se este processo, mas inserindo a utilização das categorias (treino da categorização propriamente dita), com base nos
relatos verbais de duas participantes (P8 e P11) na 2ª sessão do GT1 e calculou-se o índice de concordância.

Seguiu-se para treinamento mais específico utilizando todas as categorias na análise dos relatos de (P11) em todas as 10
sessões do GT1, conforme cada observadora entendesse que o trecho era passível de categorização. O grupo de pesquisa
posteriormente realizou uma reunião para esclarecimentos a respeito do sistema SICARECC com o autor.

O autor orientou que a mestranda definisse os trechos categorizáveis e após esta seleção a equipe realizasse as
categorizações dos trechos pré-definidos. Também orientou que para cada trecho fosse considerada apenas uma categoria, a
que fosse mais adequada, e em caso de dúvidas seguisse uma ordem de hierarquia estabelecida em Assaz (2019).

Após nova categorização, dos relatos de todas as dez sessões de P13 do GT2, foi enviada ao autor a tabela contendo os
dados e foi marcada uma nova reunião, em que foram discutidas as compreensões acerca das categorias.

Para a análise de dados e categorização foram selecionadas as participantes que apresentaram melhoras observadas nas
medidas indiretas através dos escores obtidos no WSSQ (Weight Self-Stigma Questionnaire) que mede o autoestigma,
aplicado antes e depois da intervenção.

Após a categorização efetuou-se o cálculo do Índice de Concordância entre observadores.

Resultados
Os dados apresentados na Tabela 1 são relativos ao primeiro treino de categorização utilizando o sistema SICARECC
para seleção dos trechos de relatos de todas as participantes da Sessão 1 do GT2, que corresponderiam a processos de
fusão-desfusão. A análise de concordância entre observadores (sendo a aluna de mestrado responsável pela condução dos
grupos terapêuticos a CAT 1 e a aluna de IC autora do presente relatório a CAT 4). A concordância entre observadores
apresentou o índice de 6,12%.

Tabela 1

Categorização dos relatos verbais - Todas as participantes GT2 Sessão 1

C- C- C- C- C- C- C- C- C- C- C- C-
GT2 Sessão 1 OBE EXP CONT MET AVA ANA VAL CONC DIA DRU FAC DIF Total

Não
P12 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 foi

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Não
P13 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 foi

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

P14 CAT 1 1 1 0 1 0 3 1 0 0 0 0 0 7

CAT 4 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1

P15 CAT 1 0 0 1 1 1 1 2 0 0 3 0 0 9

CAT 4 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1

P16 CAT 1 1 0 0 2 1 1 0 0 0 0 0 0 5

CAT 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

P17 CAT 1 1 1 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 5

CAT 4 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2

P18 CAT 1 1 2 1 1 0 2 0 0 0 0 0 0 7

CAT 4 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3

P19 CAT 1 0 1 1 0 1 1 0 0 1 0 0 0 5

CAT 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

P20 CAT 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1

CAT 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
A Tabela 2 contém os dados relativos ao segundo treino de categorização que foi semelhante ao primeiro mas com duas
participantes (P8 e P11) na sessão 2 do GT1. O índice de concordância aumentou para 17,64%.

Tabela 2

Categorização dos relatos verbais P8 e P11 GT1 Sessão 2

C- C- C- C- C- C- C- C- C- C- C- C-
GT1 Sessão 2 OBE EXP CONT MET AVA ANA VAL CONC DIA DRU FAC DIF Total

P8 CAT 1 0 0 0 0 1 3 0 0 0 0 0 0 4

CAT 4 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1

P11 CAT 1 4 1 0 4 0 3 0 0 0 0 0 0 12

CAT 4 0 0 0 0 1 12 0 0 0 0 0 0 13

Na Tabela 3 estão apresentados os dados referentes ao treino de categorização dos relatos de P11 durante todas as 10
sessões do GT1. O índice de concordância obtido foi de 32,43%.

Tabela 3

Categorização dos relatos verbais P11 Todas as sessões GT1

C- C- C- C- C- C- C- C- C- C-
P11 OBE EXP CONT MET AVA ANA VAL CONC C-DIA DRU FAC C-DIF Total

S1 CAT 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1

CAT 4 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1

S2 CAT 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 2

CAT 4 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 2

S3 CAT 1 2 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4

CAT 4 1 0 0 0 0 2 0 0 1 0 0 0 4

S4 CAT 1 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 3

CAT 4 0 2 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 3

S5 CAT 1 0 1 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 3

CAT 4 0 1 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 3
S6 CAT 1 0 1 1 2 0 0 0 1 0 0 0 0 5

CAT 4 0 0 0 0 0 1 0 1 2 0 0 0 4

S7 CAT 1 1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 4

CAT 4 0 0 0 1 0 0 1 1 0 1 0 0 4

S8 CAT 1 1 3 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 5

CAT 4 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 3

S9 CAT 1 0 0 0 1 0 1 2 0 2 2 0 0 8

CAT 4 0 0 0 1 0 1 3 0 2 1 0 0 8

S10 CAT 1 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 2

CAT 4 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 2

Por fim, após reuniões de esclarecimento de dúvidas e alinhamento entre o grupo e o autor do sistema utilizado, a Tabela 4
demonstra a categorização dos relatos de P13 ao longo das 10 sessões do GT2 (a participante não compareceu às sessões 1,
5 e 8). A taxa de concordância entre observadores foi de 11,7%.

Tabela 4

Categorização dos relatos verbais P13 Todas as sessões GT2

C- C- C- C- C- C- C- C- C- C- C- C-
P13 OBE EXP CONT MET AVA ANA VAL CONC DIA DRU FAC DIF Total

S1 Não
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 foi

CAT 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

S2 CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 2 2 0 0 4

CAT 4 1 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 4

S3 Sem
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 relato

CAT 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

S4 CAT 1 0 0 0 2 0 1 1 0 3 0 0 0 7

CAT 4 3 0 0 0 0 2 0 0 0 1 0 1 7

S5
Não
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 foi

CAT 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

S6 CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 1 2 0 0 0 3

CAT 4 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3

S7 CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1

CAT 4 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1

S8 Não
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 foi

CAT 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

S9 Sem
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 relato

CAT 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

S10 CAT 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 2

CAT 4 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 2

Para analisar a evolução e identificar se houve melhora nas participantes P11 (GT1) e P13 (GT2) após a intervenção em ACT
e ACT com elementos da TFC, respectivamente, foram realizados agrupamentos das categorias que se referem aos
processos de fusão e desfusão em ACT em conformidade com Assaz (2019):

Categorias de fusão: obediente (C-OBE), controladora (C-CONT) e avaliativa (C-AVA);


Categorias de desfusão: concreta (C-CONC), dialógica (C-DIA) e disruptiva (C-DRU).

Em seguida foram tabuladas as frequências das categorias referentes a estes agrupamentos, utilizando os dados das
categorizações da CAT 1, que apresentaram índice de concordância entre observadores maior com o autor do SICARECC
(Assaz, 2019).

A análise visual da Figura 2 permite afirmar que P11 apresentou respostas verbais de fusão nas sessões 2, 3, 6, 7 e 8 e
nenhuma nas sessões finais 9 e 10. Apresentou respostas categorizadas como desfusão nas sessões 6, 7 e 8 e na penúltima
sessão emitiu uma taxa mais alta de respostas categorizadas como desfusão (4).

Figura 2

Relatos verbais de fusão e desfusão P11 GT1


A Figura 3 dispõe dados que permitem aferir que P13 não emitiu respostas verbais de fusão ao longo do processo terapêutico
em grupo e emitiu uma taxa total de 12 respostas de desfusão ao longo das sessões 2, 4, 6, 7 e 10.

Figura 3

Relatos verbais de fusão e desfusão P13 GT2

Os dados contidos na Figura 4 possibilitam observar que ambas as participantes apresentaram diminuição nos escores do
WSSQ após a intervenção terapêutica em grupo.

Figura 4

Escores no WSSQ pré e pós-intervenção - P11 e P13


Discussão
A intervenção em grupo com aplicação do protocolo da ACT foi planejada para que as participantes alcançassem melhoria na
qualidade de vida através da redução dos impactos do estigma do peso, através dos processos de flexibilização psicológica
propostos pela ACT, além de auxiliar no controle e manejo do peso sem que este fosse o foco em si, conforme Lillis et al.
(2009).

Avaliando a efetividade da aplicação dos protocolos ACT e ACT com elementos da TFC, bem como dos procedimentos de
categorização dos relatos verbais das participantes, os dados dispostos nos gráficos 1 e 2 indicam que P11 e P13
apresentaram melhora. Esta é corroborada pela diminuição dos escores de ambas no WSSQ, que mede o autoestigma do
peso - um processo que está relacionado com a fusão cognitiva e consequentemente com a inflexibilidade psicológica.

A diminuição nestes escores sugerem que houve melhoras no impacto do autoestigma nas participantes, como resultado da
intervenção terapêutica, corroborando o estudo de Lillis et al. (2009), que afirma que os participantes expostos à intervenção
em ACT apresentaram reduções maiores no estigma relacionado ao peso, maior tolerância ao sofrimento e maior aceitação do
peso, apresentando flexibilização psicológica ao final das intervenções.

Os índices de concordância entre os observadores CAT 1 e CAT 4 sugerem que embora o SICARECC tenha indicado ser
mais sensível aos processos em análise, seria necessário um tempo maior de prática e alinhamento para sua aplicação final.
Em decorrência de ter sido selecionado em fase mais adiantada do estudo, foi necessário ao grupo de pesquisa se adequar ao
cronograma e por isso não foi possível prosseguir com uma nova etapa de categorizações para verificar melhor adequação do
grupo de pesquisa ao instrumento.

Conclusão
O processo de categorização através do SICARECC permitiu à equipe de pesquisa analisar a interação terapêutica das
participantes observando a ocorrência de processos de flexibilização psicológica – mais especificamente o processo de
desfusão cognitiva, promovido pela aplicação da ACT e ACT com elementos da TFC, conforme disposto nos resultados.

Os dados apresentados nos resultados possibilitaram observar evidências dos efeitos da intervenção realizada na flexibilidade
psicológica de P11 e P13, através das medidas dos relatos verbais de fusão e desfusão ao longo das sessões e da redução
dos escores obtidos pelas participantes no WSSQ.

Ao longo do estudo, foi identificado que não seria interessante a elaboração de categorias e subcategorias para analisar a
aplicação da intervenção em ACT ou para analisar a redução do autoestigma do peso, uma vez que outros instrumentos se
mostraram mais adequados e suficientes para o estudo proposto.

Referências
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