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INTRODUÇÃO

O trabalho terapêutico busca, de maneira geral, a promoção de mudanças


comportamentais que levem a diminuição do sofrimento e ao aumento de contingências
reforçadoras. Isto posto, tem-se apontado que o sucesso na terapia está diretamente
ligado às técnicas e procedimentos específicos, bem como à qualidade da relação
terapêutica, isto é, uma interação de mútua influência entre terapeuta e cliente (Meyer &
Vermes, 2001).
Neste sentido, Meyer e Vermes (2001) trazem categorias de comportamentos do
terapeuta que são importantes dentre os quais se destacam: empatia, calor humano,
compreensão e concordância. Estes abarcam a disposição de colocar-se no lugar do
outro, bem como a postura de escuta, sem julgamentos dos pensamentos e dos
sentimentos da outra pessoa e finalmente a preocupação genuína com o bem-estar da
outra pessoa.
Assim, é importante que o profissional possua boas habilidades sociais e
qualidades pessoais, visto que, o resultado terapêutico eficaz deriva também das
características pessoais do terapeuta e do vínculo terapêutico estabelecido entre este e o
cliente (Meyer & Vermes, 2001).
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), aparece como uma proposta
terapêutica comportamental atual com objetivo de evidenciar o papel do contexto no
conceito de ambiente, reconhecendo a importância dos processos verbais e cognitivos
neste ambiente (Santos, Gouveia & Oliveira, 2015). Entendendo que um fenômeno só
pode ser entendido com seu ambiente e sua história de aprendizado (Santos, Gouveia &
Oliveira, 2015). Os objetivos da ACT consistem em olhar para o momento presente;
vivenciar abertamente emoções, sentimentos, pensamentos e memórias; definir o que é
importante e definir ações com compromisso.
Como dito anteriormente, uma boa relação terapêutica é vista como mediadora
significativa dos resultados positivos. Do mesmo modo, a ACT considera a relação
terapêutica como um componente importante da terapia (Hayes, Strosahl & Wilson,
2021). Isto porque a ACT enxerga na relação terapêutica, o meio por onde as
habilidades de flexibilidade é transmitidas para o cliente. Isso ocorre porque “o
consultório proporciona um ambiente seguro e acolhedor em que as ansiedades do
cliente podem ser incorporadas e usadas para ajudar a modelar maior flexibilidade
associada aos padrões valorizados” (Hayes, Strosahl & Wilson, 2021, p. 207). Com
isso, a relação terapêutica concede à terapia uma dimensão humanizada, proporcionando
um ambiente para a criação de relações profundas e intimamente transformadoras
(Hayes, Strosahl & Wilson, 2021).
Isto posto, tem-se buscado estratégias para categorização desta interação entre
terapeuta e cliente por meio da observação direta das sessões gravadas, para identificar
os processos de mudança resultantes da relação terapêutica ao longo da intervenção
(Zamignani & Meyer, 2007). Para tal, os comportamentos de cliente e terapeuta são
sistematizados em classes de categorias de comportamentos verbais. Assim, segundo
Zamignani & Meyer (2007) se evidencia os efeitos destas classes de comportamento
resultantes do processo de intervenção a partir do estudo do processo de mudança. À
vista disso, o estudo de concordância entre observadores é um dos principais métodos
para obtenção de fidedignidade de um instrumento (Zamignani & Meyer, 2007).
A obesidade e o sobrepeso apresentam rápido e progressivo aumento nas últimas
décadas, visto que, 30% da população mundial se encontram nessa condição,
representando assim, um processo pandêmico (Melo, 2020). No Brasil, segundo o IBGE
(2015, p. 52) mais da metade da população, 56,9%, encontra-se com excesso de peso. E
nesse contexto, o autoestigma do peso, ou seja, a internalização dos estereótipos
públicos, se apresenta como um fato que prejudica a anuência ao tratamento na busca
por hábitos mais saudáveis (Lillis, Luoma, Levin & Hayes, 2009). Isto ocorre porque o
autoestigma causa prejuízos consideráveis para a autoestima e a autoeficácia, devido à
internalização do estigma público (Link & Phelan, 2001).
Dessarte, o resultado do tratamento de controle de peso pode melhorar com o
tratamento do estigma do peso (Puhl & Heuer, 2009). Tendo isto em vista, o projeto de
pesquisa, ao qual o presente estudo está vinculado, realizou duas intervenções clínicas
em grupo para o autoestigma relacionado ao peso, em mulheres (n=20) com sobrepeso e
obesidade, sendo elas: (1) Intervenção em ACT; (2) Intervenção em ACT, com
direcionamento explícito para autocompaixão, incluindo elementos da TFC.
O problema a ser abordado nesse estudo, vinculado ao projeto de pesquisa da
orientadora, consistirá na análise dos dados verbais obtidos durante as sessões
provenientes das interações terapeuta-participante e participante-participante.

OBJETIVOS

Objetivo geral
Analisar e categorizar relatos verbais emitidos pelos participantes e terapeuta a fim de
identificar evidências dos efeitos dos processos terapêuticos aplicados.

Objetivo específico
Identificar evidencias dos efeitos da intervenção em mudanças nos processos da ACT na
flexibilidade psicológica (aceitação, desfusão, momento-presente, self-como-contexto,
valores, ações com compromisso);
Elaborar categorias e subcategorias que permitam a identificação, no relato das
participantes, dos processos de mudança da ACT;
Buscar identificar relatos verbais que apontem evidências de autoestigma relacionado ao
peso;
Elaborar categorias e subcategorias para identificar mudanças no autoestigma
relacionado ao peso.

MÉTODO
No período de setembro de 2022 até fevereiro de 2022 foram realizadas reuniões
semanais para o estudo sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT),
especialmente sobre os processos de fusão e desfusão, bem como sobre o autoestigma
do peso. Neste sentido, a partir de setembro de 2022, iniciou-se a revisão da literatura.
Visando o estudo sobre o Sistema Multidimensional para a Categorização e
Comportamentos na Interação terapêutica (SiMCCIT), foram realizadas leituras e
discussões de Zamignani (2007).
Foi realizado o treinamento online do SiMCCIT “Treinamento para o uso de
SiMCCIT e do software BORIS” nos dias 24 e 25 de junho no Instituto Paradigma –
Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento, a fim de aprofundar os
conhecimentos sobre as categorias do cliente e terapeuta a partir da análise preliminar
de sessões já existentes, utilizando o software BORIS. Após o treinamento, foi feito um
teste das categorias com um grupo terapêutico que havia sido conduzido por alunas de
iniciação científica e do curso de graduação sob a orientação da prof Drª Sônia Neves
no ano de 2019. O resultado das categorizações foi apresentado no VIII Congresso de
Ciência e Tecnologia da PUC Goiás sob o título “Análise de categorias de relatos
verbais do terapeuta e cliente: um exercício e descrição do processo terapêutico baseado
na ACT para mulheres acima do peso” (Rochael, Neves, Rodrigues, Castro, Rios &
Brito, 2022).
A partir destas categorizações, percebeu-se que o SiMCCIT não se adequava à
análise dos processos da ACT, visto que, as categorias não descreviam exatamente o
que se queria analisar (fusão/desfusão). Por esta razão, iniciou-se o estudo da tese de
doutorado de Daniel Assaz (2019) cuja metodologia é afinada para compreensão da
desfusão cognitiva na ACT: “Desfusão cognitiva na Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT): O processo de mudança clínica”. As categorias propostas para o
cliente por Assaz (2019) no SICARECC são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1
Categorias do Cliente no SICARECC
Obediência (C-OBE)
Exploratória (C-EXP)
Controladora (C-CONT)
Metacognitiva (C-MET)
Avaliativa (C-AVA)
Analítica (C-ANA)
Validante (C-VAL)
Concreta (C-CONC)
Dialógica (C-DIA)
Disruptiva (C-DRU)
Facilita progresso (C-FAC)
Dificulta progresso (C-DIF)
Também foi realizada a leitura e discussão do artigo “Análise do processo
terapêutico em grupo para pessoas com Transtorno Bipolar de Santos e Soares (2018),
objetivando o aprofundamento da categorização em práticas grupais, tal como foi
realizado neste estudo.
No início de 2023, foram selecionadas vinte participantes que foram submetidas
às intervenções clínicas em ACT ou ACT com elementos da TFC.
Critério de inclusão: mulheres acima de 18 anos com sobrepeso e obesidade,
classificados por IMC > 25 kg/m2; Score acima de 40 no Questionário de Autoestigma
de Peso (WSSQ) e abaixo de 90 na Escala de Autocompaixão (SCS).
Critério de exclusão: participar de outro grupo ou intervenção para perda de peso
durante a intervenção; gestantes; diagnósticos de Transtorno de Personalidade
Borderline, Transtorno Bipolar, Transtorno Depressivo Maior (em episódio ativo) e
Transtornos por Uso de Substâncias, avaliados em uma entrevista clínica inicial
conduzida pela mestranda. A partir da explicação da intervenção, as participantes
selecionadas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Com isso, foram conduzidas dez sessões de terapia com dois grupos para
mulheres acima do peso, a partir de intervenções clínicas em ACT ou ACT com
elementos da TFC realizadas pela mestranda Luciana Pacheco que atuava como
terapeuta principal e pela aluna de IC Fernanda Posch que atuou como apoio
terapêutico. Ao fim da condução dos grupos, foi realizada a transcrição das 20 sessões,
sendo que a aluna autora deste relatório ficou responsável pela transcrição de cinco
sessões do segundo grupo por meio do software Transkriptor.
Neste período, também foi realizado um treino de categorização por meio do
aprofundamento teórico de fusão e desfusão, no qual a mestranda e sua orientadora
trouxeram exemplos destes dois processos que se adequavam ao autoestigma do peso.
Com base nisso, foram conduzidos dois encontros para discussões das categorias
propostas na tese de Assaz (2019). Tendo finalizado o treino de categorização, foram
selecionados trechos da sessão 1 do Grupo Terapêutico 2 (GT2) que corresponderiam ao
processo de fusão ou desfusão e portanto, seriam categorizáveis. Tendo feito esta
seleção, efetuou-se um cálculo de concordância destes trechos entre a aluna de IC e a
mestranda.
Desta forma, transcorreu a categorização dos trechos selecionados e a análise de
concordância posterior. Com isso, sucedeu-se um segundo treinamento para
alinhamento do olhar entre as categorias e a categorização do relato verbal de duas
participantes (P8 e P11) de uma nova sessão (2ª) do Grupo Terapêutico 1 (GT1). Tendo
calculado o índice de concordância entre a aluna e a mestranda, foi marcado um
treinamento com Daniel Assaz, autor da tese, onde foram explicadas as categorias e
ocorreu um treino de categorização. Por fim, foi feita a categorização das falas de P11
durante as dez sessões de GT1 mediante o que cada observadora observasse como
trecho categorizável.
Em uma nova reunião de orientação do sistema SICARECC com Assaz,
acordou-se que a mestranda selecionasse quais trechos seriam categorizados. Assim, foi
realizada a categorização de relatos de P13 do GT2 em todas as dez sessões do grupo.
A seleção das participantes cujo trechos seria feita a análise de dados e
categorização foi de quem apresentou melhoras observadas nas medidas indiretas
através do Questionário de Autoestigma de Peso (WSSQ) e aa Escala de
Autocompaixão (SCS), aplicados antes e depois que a intervenção foi finalizada. O
índice de concordância foi calculado ao término de cada etapa de categorização por
meio da fórmula IC = [(eventos concordantes) / eventos concordantes + eventos
discordantes)] x 100.

RESULTADOS
Os resultados da seleção de trechos que corresponderiam ao processo de fusão e
desfusão atingiu uma concordância 80% entre a aluna e a mestranda. Entretanto, quando
se categorizou os trechos selecionados a partir das categorias de Assaz (2019), o nível
de concordância reduziu para 17,34% entre as mesmas, como mostra a Tabela 2 abaixo.
Tabela 2
Categorização da Sessão 1 do Grupo 2
C- C- C- C- C- C- C-
Sessão 1 C- C- CO ME AV AN VA CO C- DR C- C- Tota
GT2 OBE EXP NT T A A L NC DIA U FAC DIF l
P12 CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CAT 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
P13 CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CAT 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
P14 CAT 1 1 1 0 1 0 4 1 0 0 0 0 0 8
CAT 3 3 2 0 2 0 1 1 0 2 0 0 0 11
P15 CAT 1 0 0 1 1 2 1 2 0 0 5 0 0 12
CAT 3 1 3 0 3 0 1 2 0 3 2 0 0 15
P16 CAT 1 1 0 0 3 1 1 0 0 0 0 0 0 6
CAT 3 0 1 0 0 0 4 0 0 3 0 0 0 8
P17 CAT 1 3 1 0 0 0 5 0 0 0 0 0 0 9
CAT 3 1 3 0 0 1 1 1 0 0 0 0 0 7
P18 CAT 1 1 2 0 1 0 3 0 1 0 0 0 0 8
CAT 3 2 1 0 0 0 1 0 0 5 0 0 0 9
P19 CAT 1 0 1 1 0 1 1 0 0 1 0 0 0 5
CAT 3 2 2 0 0 0 2 0 0 2 0 0 0 8
P20 CAT 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
CAT 3 0 1 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 3

A Tabela 2, descreve a frequência de categorias identificadas pela mestranda


(CAT 1) e pela aluna de IC (CAT 3) correspondentes as falas das participantes do
Grupo 2 na sessão 1. Nesta sessão, as participantes P12 e P13 não compareceram, e
assim, a frequência de categorias identificadas é zero.
A Tabela 3 contém a frequências de categorias identificadas nas falas das
participantes P8 e P11 na segunda sessão do Grupo 1. Nesta etapa, o índice de
concordância entre as categorizadoras foi de 6,6%. Percebe-se que a quantidade de
categorias identificadas por CAT1 e CAT 3 tem uma diferença de 10 categorizações
para P8 e de 11 categorizações para P11. Em uma reunião de alinhamento com Daniel
Assaz, chegou-se à conclusão que seria importante uma prévia seleção dos trechos que
deveriam ser categorizados com quantitativo comum as categorizadoras.
Tabela 3
Categorização de P8 e P11 da Sessão 2 de GT1
C- C- C- C- C- C- C-
Sessão 2 C- C- CO ME AV AN VA CO C- DR C- C- Tota
GT1 OBE EXP NT T A A L NC DIA U FAC DIF l
CAT 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 2
P8
CAT 2 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1
CAT 1 4 1 0 4 0 3 0 0 0 0 0 0 12
P11
CAT 2 1 2 0 2 2 2 0 0 3 0 0 0 12

Na tabela 4, cujos dados se referem à categorização das falas da participante


P11 durante as dez sessões, o nível de concordância foi de 24,32%. Já a tabela 5, que
contém as categorizações das falas de P13 a análise de concordância revelou o índice de
35,22% entre a mestranda e a aluna de IC. É possível observar que durante as sessões
S1, S5 e S8, a participante P13 não compareceu e nas sessões S3 e S9 não foram
identificados relatos categorizáveis emitidos por ela.
Tabela 4
Categorização das falas de P11 durantes as dez sessões
C- C- C- C-
C- C- CON C- AV AN C- CON C- C- C- C-
P11 OBE EXP T MET A A VAL C DIA DRU FAC DIF Total
CAT 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
S1
CAT 3 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
CAT 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 2
S2
CAT 3 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2
CAT 1 2 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4
S3
CAT 3 1 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 4
CAT 1 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 3
S4
CAT 3 0 2 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 3
CAT 1 0 1 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 3
S5
CAT 3 0 1 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 3
CAT 1 0 1 1 2 0 0 0 1 0 0 0 0 5
S6
CAT 3 0 2 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 5
CAT 1 1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 4
S7
CAT 3 1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 4
CAT 1 1 3 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 5
S8
CAT 3 0 1 0 1 3 0 0 0 0 0 0 0 5
CAT 1 0 0 0 1 0 1 2 0 2 2 0 0 8
S9
CAT 3 0 1 0 0 0 3 1 0 3 0 0 0 8
S1 CAT 1 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 2
0 CAT 3 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 2
Tabela 5
Categorizações das falas de P13 durantes as dez sessões
C- C- C- C- C- C-
C- C- CO ME AV AN C- CO C- DR C- C- Tota
P13 OBE EXP NT T A A VAL NC DIA U FAC DIF l
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
S1
CAT 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 2 2 0 0 4
S2
CAT 3 0 0 0 0 0 2 1 0 1 0 0 0 4
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
S3
CAT 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CAT 1 0 0 0 2 0 1 1 0 3 0 0 0 7
S4
CAT 3 0 2 0 2 0 1 0 1 1 0 0 0 7
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
S5
CAT 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 1 2 0 0 0 3
S6
CAT 3 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0 3
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1
S7
CAT 3 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
S8
CAT 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
S9
CAT 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CAT 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 2
S10
CAT 3 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 2

Diante disto, foi realizado um agrupamento das categorias do cliente segundo


Assaz (2019) que se referem a fusão e desfusão para analisar a evolução de P11 (GT1) e
P13 (GT2) após as intervenções realizadas. Assim, as categorias de fusão são: obediente
(C-OBE), controladora (C-CONT) e avaliativa (C-AVA). Já as categorias de desfusão
são: concreta (C-CONC), dialógica (C-DIA) e disruptiva (C-DRU).
Após o agrupamento, a partir da categorização de CAT-1, os dados de
frequência absoluta e relativa foram tabulados. As tabelas 6 e 7 e os gráficos 1 e 2
apresentam os dados tabulados.
Tabela 6
Frequência absoluta das categorias de fusão e desfusão de P11
Frequência absoluta P11 (GT1) Total
Relativo
Absoluto
Sessão S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 (%)
C-FUS 0 1 2 0 0 1 1 1 0 0 6 46,15
C-DESF 0 0 0 0 0 1 1 1 4 0 7 53,85
Total 0 1 2 0 0 2 2 2 4 0 13 100

Figura 1
Frequência relativa das categorias de fusão e desfusão de P11

Frequência relativa de P11


100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10

C-FUS C-DESF

A tabelas 6 e a Figura 1 apresentam a frequência absoluta e relativa das


categorias de fusão e desfusão de P11, respectivamente. Os trechos que apresentam
categorias de fusão aparecem nas sessões 2, 3, 6, 7 e 8 e não aparecem nas sessões finais
(9 e 10) do grupo. Já as categorias de desfusão aparecem após a metade da intervenção,
nas sessões 6, 7, 8 e 9. Deste modo, as categorias de fusão representaram 46,15% (6
trechos) dos trechos categorizados, enquanto as categorias de desfusão aparecem
53,85% (7 trechos). Com a frequência relativa, percebe-se que no começo da
intervenção, P11 apresentava apenas categorias de fusão, e no meio da intervenção
começa a presentar trechos de desfusão. No final da intervenção, a participante
apresenta apenas trechos de desfusão.
Tabela 8
Frequência absoluta das categorias de fusão e desfusão de P13
Frequência absoluta P11 (GT1) Total
Relativo
Sessão S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 Absoluto (%)
C-FUS 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
C-DESF 0 4 0 3 0 3 1 0 0 1 12 100
Total 0 4 0 3 0 3 1 0 0 1 12 100

Figura 2.
Frequência relativa das categorias de fusão e desfusão de P13

Frequência Relativa de P13


100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10

C-FUS C-DESF

A tabela 8 e a figura 2 apresentam a frequência absoluta e relativa das categorias


de fusão e desfusão de P13, respectivamente. A participante não apresenta relatos
verbais de fusão. Já as categorias de desfusão aparecem nas sessões 2, 4, 6 e 7. Deste
modo, as categorias de desfusão representaram 100% (12) dos trechos categorizados.

DISCUSSÃO
Em relação ao objetivo 1, os resultados apresentados na figura 1, evidenciam
que P11 apresenta uma melhora ao longo do processo de intervenção com ACT, visto
que, ocorre uma redução da frequência relatos verbais de categorias de fusão e o
aumento da frequência das categorias de desfusão. Já a participante P13, não apresentou
frequência de relatos verbais de fusão no processo de intervenção (figura 2), enquanto
as categorias e desfusão aparecem ao longo do processo. Assim, com relação ao
processo de intervenção em ACT com elementos da TFC (aplicado em GT2 ao qual P13
pertenceu), não podemos afirmar que a ACT teve a função de aumentar a desfusão, pois
o repertório verbal já se apresentava desde as sessões iniciais.
Quanto ao objetivo 1, pode-se afirmar que evidenciou-se efeitos da intervenção
em mudanças no processo de fusão e desfusão da ACT na flexibilidade psicológica
apenas para P11. Os outros processos não foram evidenciados, visto que, apenas os
processos analisados (fusão e desfusão), possuem categorias desenvolvidas, enquanto os
outros processos não possuem (aceitação, momento-presente, self-como-contexto,
valores, ações com compromisso).
No que tange ao objetivo 2, não foram elaboradas categorias e subcatgerias que
permitam a identificação, no relato das participantes, dos processos de mudança da
ACT. Isto porque utilizou-se categorias que já estavam desenvolvidas, buscando a
validade do instrumento utilizado, SICARECC (Assaz, 2019).
Com relação ao objetivo 3, não tem evidências de relatos que apontem
autoestigma relacionado ao peso. Também não foram elaboradas categorias e
subcategorias para identificar mudanças no autoestigma relacionado ao peso, visado
pelo objetivo 4.
Portanto, o estudo analisou e categorizou relatos verbais emitidos pelos
participantes buscando identificar e evidenciar os efeitos dos processos terapêuticos
aplicados, como objetivo geral. Os relatos verbais do terapeuta não foram categorizados.

CONCLUSÃO
A Categorização dos relatos verbais das participantes utilizando o SICARECC
se mostrou afinada para análise da relação terapêutica, especialmente dos processos de
fusão e desfusão. Fica evidente os efeitos dos processos, já que, se evidencia uma
melhora, com a diminuição da frequência de fusão de P11 e aumento da frequência de
desfusão de P11.
Tendo em vista que a concordância entre os categorizadores não foi alta, sugere-
se um treino mais longo entre observadores para obtenção de maior concordância.

REFERÊNCIAS
Assaz, D. A. (2019). Desfusão cognitiva na Terapia de Aceitação e Compromisso
(ACT): o processo de mudança clínica (Tese de Doutorado). Universidade de
São Paulo, São Paulo.

Hayes, S. C.; Strosahl, K. D. & Wilson K. G. (2021). A relação terapêutica na ACT. In:
Terapia de aceitação e compromisso (2ª ed., pp 204-232). Artmed.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2015). Pesquisa Nacional de


Saúde 2013: ciclos de vida: Brasil e grandes regiões. IBGE.

Lillis, J., Luoma, J. B., Levin, M. E., & Hayes, S. C. (2009). Measuring weight
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Link, B. G., & Phelan, J. C. (2001). Conceptualizing stigma. Annual review of
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Epidemiologia, v. 23. https://doi.org/10.1590/1980-549720200036.
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Psicoterapias cognitivo-comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria. São
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