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OBJETIVOS
Objetivo geral
Analisar e categorizar relatos verbais emitidos pelos participantes e terapeuta a fim de
identificar evidências dos efeitos dos processos terapêuticos aplicados.
Objetivo específico
Identificar evidencias dos efeitos da intervenção em mudanças nos processos da ACT na
flexibilidade psicológica (aceitação, desfusão, momento-presente, self-como-contexto,
valores, ações com compromisso);
Elaborar categorias e subcategorias que permitam a identificação, no relato das
participantes, dos processos de mudança da ACT;
Buscar identificar relatos verbais que apontem evidências de autoestigma relacionado ao
peso;
Elaborar categorias e subcategorias para identificar mudanças no autoestigma
relacionado ao peso.
MÉTODO
No período de setembro de 2022 até fevereiro de 2022 foram realizadas reuniões
semanais para o estudo sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT),
especialmente sobre os processos de fusão e desfusão, bem como sobre o autoestigma
do peso. Neste sentido, a partir de setembro de 2022, iniciou-se a revisão da literatura.
Visando o estudo sobre o Sistema Multidimensional para a Categorização e
Comportamentos na Interação terapêutica (SiMCCIT), foram realizadas leituras e
discussões de Zamignani (2007).
Foi realizado o treinamento online do SiMCCIT “Treinamento para o uso de
SiMCCIT e do software BORIS” nos dias 24 e 25 de junho no Instituto Paradigma –
Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento, a fim de aprofundar os
conhecimentos sobre as categorias do cliente e terapeuta a partir da análise preliminar
de sessões já existentes, utilizando o software BORIS. Após o treinamento, foi feito um
teste das categorias com um grupo terapêutico que havia sido conduzido por alunas de
iniciação científica e do curso de graduação sob a orientação da prof Drª Sônia Neves
no ano de 2019. O resultado das categorizações foi apresentado no VIII Congresso de
Ciência e Tecnologia da PUC Goiás sob o título “Análise de categorias de relatos
verbais do terapeuta e cliente: um exercício e descrição do processo terapêutico baseado
na ACT para mulheres acima do peso” (Rochael, Neves, Rodrigues, Castro, Rios &
Brito, 2022).
A partir destas categorizações, percebeu-se que o SiMCCIT não se adequava à
análise dos processos da ACT, visto que, as categorias não descreviam exatamente o
que se queria analisar (fusão/desfusão). Por esta razão, iniciou-se o estudo da tese de
doutorado de Daniel Assaz (2019) cuja metodologia é afinada para compreensão da
desfusão cognitiva na ACT: “Desfusão cognitiva na Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT): O processo de mudança clínica”. As categorias propostas para o
cliente por Assaz (2019) no SICARECC são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1
Categorias do Cliente no SICARECC
Obediência (C-OBE)
Exploratória (C-EXP)
Controladora (C-CONT)
Metacognitiva (C-MET)
Avaliativa (C-AVA)
Analítica (C-ANA)
Validante (C-VAL)
Concreta (C-CONC)
Dialógica (C-DIA)
Disruptiva (C-DRU)
Facilita progresso (C-FAC)
Dificulta progresso (C-DIF)
Também foi realizada a leitura e discussão do artigo “Análise do processo
terapêutico em grupo para pessoas com Transtorno Bipolar de Santos e Soares (2018),
objetivando o aprofundamento da categorização em práticas grupais, tal como foi
realizado neste estudo.
No início de 2023, foram selecionadas vinte participantes que foram submetidas
às intervenções clínicas em ACT ou ACT com elementos da TFC.
Critério de inclusão: mulheres acima de 18 anos com sobrepeso e obesidade,
classificados por IMC > 25 kg/m2; Score acima de 40 no Questionário de Autoestigma
de Peso (WSSQ) e abaixo de 90 na Escala de Autocompaixão (SCS).
Critério de exclusão: participar de outro grupo ou intervenção para perda de peso
durante a intervenção; gestantes; diagnósticos de Transtorno de Personalidade
Borderline, Transtorno Bipolar, Transtorno Depressivo Maior (em episódio ativo) e
Transtornos por Uso de Substâncias, avaliados em uma entrevista clínica inicial
conduzida pela mestranda. A partir da explicação da intervenção, as participantes
selecionadas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Com isso, foram conduzidas dez sessões de terapia com dois grupos para
mulheres acima do peso, a partir de intervenções clínicas em ACT ou ACT com
elementos da TFC realizadas pela mestranda Luciana Pacheco que atuava como
terapeuta principal e pela aluna de IC Fernanda Posch que atuou como apoio
terapêutico. Ao fim da condução dos grupos, foi realizada a transcrição das 20 sessões,
sendo que a aluna autora deste relatório ficou responsável pela transcrição de cinco
sessões do segundo grupo por meio do software Transkriptor.
Neste período, também foi realizado um treino de categorização por meio do
aprofundamento teórico de fusão e desfusão, no qual a mestranda e sua orientadora
trouxeram exemplos destes dois processos que se adequavam ao autoestigma do peso.
Com base nisso, foram conduzidos dois encontros para discussões das categorias
propostas na tese de Assaz (2019). Tendo finalizado o treino de categorização, foram
selecionados trechos da sessão 1 do Grupo Terapêutico 2 (GT2) que corresponderiam ao
processo de fusão ou desfusão e portanto, seriam categorizáveis. Tendo feito esta
seleção, efetuou-se um cálculo de concordância destes trechos entre a aluna de IC e a
mestranda.
Desta forma, transcorreu a categorização dos trechos selecionados e a análise de
concordância posterior. Com isso, sucedeu-se um segundo treinamento para
alinhamento do olhar entre as categorias e a categorização do relato verbal de duas
participantes (P8 e P11) de uma nova sessão (2ª) do Grupo Terapêutico 1 (GT1). Tendo
calculado o índice de concordância entre a aluna e a mestranda, foi marcado um
treinamento com Daniel Assaz, autor da tese, onde foram explicadas as categorias e
ocorreu um treino de categorização. Por fim, foi feita a categorização das falas de P11
durante as dez sessões de GT1 mediante o que cada observadora observasse como
trecho categorizável.
Em uma nova reunião de orientação do sistema SICARECC com Assaz,
acordou-se que a mestranda selecionasse quais trechos seriam categorizados. Assim, foi
realizada a categorização de relatos de P13 do GT2 em todas as dez sessões do grupo.
A seleção das participantes cujo trechos seria feita a análise de dados e
categorização foi de quem apresentou melhoras observadas nas medidas indiretas
através do Questionário de Autoestigma de Peso (WSSQ) e aa Escala de
Autocompaixão (SCS), aplicados antes e depois que a intervenção foi finalizada. O
índice de concordância foi calculado ao término de cada etapa de categorização por
meio da fórmula IC = [(eventos concordantes) / eventos concordantes + eventos
discordantes)] x 100.
RESULTADOS
Os resultados da seleção de trechos que corresponderiam ao processo de fusão e
desfusão atingiu uma concordância 80% entre a aluna e a mestranda. Entretanto, quando
se categorizou os trechos selecionados a partir das categorias de Assaz (2019), o nível
de concordância reduziu para 17,34% entre as mesmas, como mostra a Tabela 2 abaixo.
Tabela 2
Categorização da Sessão 1 do Grupo 2
C- C- C- C- C- C- C-
Sessão 1 C- C- CO ME AV AN VA CO C- DR C- C- Tota
GT2 OBE EXP NT T A A L NC DIA U FAC DIF l
P12 CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CAT 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
P13 CAT 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CAT 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
P14 CAT 1 1 1 0 1 0 4 1 0 0 0 0 0 8
CAT 3 3 2 0 2 0 1 1 0 2 0 0 0 11
P15 CAT 1 0 0 1 1 2 1 2 0 0 5 0 0 12
CAT 3 1 3 0 3 0 1 2 0 3 2 0 0 15
P16 CAT 1 1 0 0 3 1 1 0 0 0 0 0 0 6
CAT 3 0 1 0 0 0 4 0 0 3 0 0 0 8
P17 CAT 1 3 1 0 0 0 5 0 0 0 0 0 0 9
CAT 3 1 3 0 0 1 1 1 0 0 0 0 0 7
P18 CAT 1 1 2 0 1 0 3 0 1 0 0 0 0 8
CAT 3 2 1 0 0 0 1 0 0 5 0 0 0 9
P19 CAT 1 0 1 1 0 1 1 0 0 1 0 0 0 5
CAT 3 2 2 0 0 0 2 0 0 2 0 0 0 8
P20 CAT 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
CAT 3 0 1 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 3
Figura 1
Frequência relativa das categorias de fusão e desfusão de P11
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10
C-FUS C-DESF
Figura 2.
Frequência relativa das categorias de fusão e desfusão de P13
C-FUS C-DESF
DISCUSSÃO
Em relação ao objetivo 1, os resultados apresentados na figura 1, evidenciam
que P11 apresenta uma melhora ao longo do processo de intervenção com ACT, visto
que, ocorre uma redução da frequência relatos verbais de categorias de fusão e o
aumento da frequência das categorias de desfusão. Já a participante P13, não apresentou
frequência de relatos verbais de fusão no processo de intervenção (figura 2), enquanto
as categorias e desfusão aparecem ao longo do processo. Assim, com relação ao
processo de intervenção em ACT com elementos da TFC (aplicado em GT2 ao qual P13
pertenceu), não podemos afirmar que a ACT teve a função de aumentar a desfusão, pois
o repertório verbal já se apresentava desde as sessões iniciais.
Quanto ao objetivo 1, pode-se afirmar que evidenciou-se efeitos da intervenção
em mudanças no processo de fusão e desfusão da ACT na flexibilidade psicológica
apenas para P11. Os outros processos não foram evidenciados, visto que, apenas os
processos analisados (fusão e desfusão), possuem categorias desenvolvidas, enquanto os
outros processos não possuem (aceitação, momento-presente, self-como-contexto,
valores, ações com compromisso).
No que tange ao objetivo 2, não foram elaboradas categorias e subcatgerias que
permitam a identificação, no relato das participantes, dos processos de mudança da
ACT. Isto porque utilizou-se categorias que já estavam desenvolvidas, buscando a
validade do instrumento utilizado, SICARECC (Assaz, 2019).
Com relação ao objetivo 3, não tem evidências de relatos que apontem
autoestigma relacionado ao peso. Também não foram elaboradas categorias e
subcategorias para identificar mudanças no autoestigma relacionado ao peso, visado
pelo objetivo 4.
Portanto, o estudo analisou e categorizou relatos verbais emitidos pelos
participantes buscando identificar e evidenciar os efeitos dos processos terapêuticos
aplicados, como objetivo geral. Os relatos verbais do terapeuta não foram categorizados.
CONCLUSÃO
A Categorização dos relatos verbais das participantes utilizando o SICARECC
se mostrou afinada para análise da relação terapêutica, especialmente dos processos de
fusão e desfusão. Fica evidente os efeitos dos processos, já que, se evidencia uma
melhora, com a diminuição da frequência de fusão de P11 e aumento da frequência de
desfusão de P11.
Tendo em vista que a concordância entre os categorizadores não foi alta, sugere-
se um treino mais longo entre observadores para obtenção de maior concordância.
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