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Aula - Tratamento on-line na obesidade e emagrecimento

Introdução

Por muito tempo o Conselho Federal de Psicologia não permitia o tratamento on-line
de casos graves. Devido a pandemia, o CFP mudou essa regra, através da
Resolução CFP nº 04/2020, e com isso vieram muitos estudos sobre os
atendimentos psicológicos on-line. Vale ressaltar que o tratamento on-line dos
Transtornos Alimentares (TAs) e da Obesidade seguem a mesma estrutura e
configuração do tratamento presencial, como vimos anteriormente neste curso.

Antes de adentrarmos no assunto, é possível já fazer algumas considerações


positivas sobre as intervenções on-line:
● menor custo;
● maior economia de tempo;
● rompimento de fronteiras e atendimento com pessoas em lugares diferentes.

Sobre isso, Silva, Retrão e Landim (2020) afirmam que a realidade virtual surgiu
como uma ferramenta promissora em muitos domínios do atendimento clínico e da
pesquisa, pois a capacidade dessa tecnologia cria estímulos multissensoriais e
controláveis que oferecem avaliação clínica, intervenção e treinamento. A terapia de
realidade virtual é um meio de terapia de exposição in vivo que é irreal, mas
depende de estimulação perceptual, pistas visuais, sons, toque e cheiro para
desencadear emoções, que é usado para integrar e melhorar as abordagens
terapêuticas reais. O valor único desta tecnologia continuou a crescer e a
desenvolver as áreas clínicas que há muito estavam atoladas nos métodos do
passado (WEGLOWSKA-RZEPA, 2016).

A terapia psicológica fornecida pela internet e outras formas de intervenções na


internet prometem ser uma forma de aumentar o acesso ao tratamento psicológico
baseado em evidências. Elas também podem servir como veículos para a inovação,
o que pode, subsequentemente, informar os tratamentos face a face. Embora
existam vários desafios profissionais ao mudar os modelos de serviço tradicionais, é
muito provável que as abordagens combinadas, que retêm as vantagens dos
métodos presenciais e impulsionadas pela tecnologia, ganharão mais popularidade
no futuro (ANDERSSON et al., 2019).

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Terapias inovadoras que incorporam redes sociais, jogos e humanos virtuais


parecem estar posicionadas para dar uma grande contribuição a essa área no
futuro próximo. Embora esses tratamentos possam ser familiares aos especialistas
em saúde mental, em termos das habilidades clínicas essenciais que promovem,
espera-se que a natureza e o estilo das interações alavanquem as possibilidades
únicas dos meios tecnológicos que usam. Os médicos podem se beneficiar ao
aprender mais sobre esses recursos que complementam ou estendem seus
esforços (SCHUELLER; STILES-SHIELDS; YAROSH, 2017).

Intervenções baseadas no on-line e combinadas (presencial e on-line) para


transtornos de saúde mental estão ganhando importância. No entanto, muitos
psicoterapeutas licenciados ainda têm atitudes cautelosas em relação à terapia
assistida por computador, dificultando os esforços de disseminação. Além disso, os
terapeutas inexperientes parecem não ter conhecimento sobre como se beneficiar
de tratamentos auxiliados por tecnologia. Sendo assim, para acelerar a
implementação, esses aspectos precisam ser considerados no desenvolvimento de
novas intervenções (SCHUSTER et al., 2018).

As intervenções digitais gradualmente encontrarão seu lugar nos sistemas de saúde


mental e as clínicas on-line se tornarão mais comuns. A avaliação e o tratamento
digital provavelmente se fundirão. O tratamento combinado pode deslocar alguns
tratamentos convencionais face a face, e as limitações e os efeitos negativos
dessas inovações provavelmente se tornarão evidentes (FAIRBURN; PATEL, 2017).

Alguns estudos recentes

Huurne et al. (2017) realizaram um estudo exploratório sobre o abandono do


tratamento em uma Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) on-line de duas partes
com suporte terapêutico assíncrono. O estudo identificou, em quase metade dos
participantes, que as circunstâncias pessoais foram o motivo do abandono da
terapia, enquanto outros participantes relataram principalmente motivos
relacionados à entrega on-line ou protocolo de tratamento. Os autores concluíram
que o tratamento on-line e o suporte terapêutico on-line foram avaliados
positivamente pelos participantes, embora os desistentes tenham classificado o
tratamento como significativamente pouco útil e eficaz do que os concluintes (SILVA;
RETRÃO; LANDIM, 2020).

Um outro estudo comandado por Watson et al. (2017) comparou uma versão
manual baseada na internet de uma TCC em grupo, para bulimia nervosa,

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conduzida por meio de um grupo de bate-papo terapêutico, com o mesmo


tratamento conduzido por meio de uma terapia de grupo tradicional face a face. O
desfecho deste estudo foi que a TCC fornecida on-line, em um formato de chat em
grupo, parece1 ser um tratamento eficaz para bulimia nervosa, embora a trajetória
de recuperação possa ser mais lenta do que a terapia de grupo face a face. Além
disso, os grupos de bate-papo on-line podem aumentar a acessibilidade ao
tratamento e representar uma abordagem econômica para a prestação de serviços
(SILVA; RETRÃO; LANDIM, 2020).

Zwaan et al. (2017) avaliaram a eficácia da autoajuda da TCC individual guiada pela
internet em comparação com a TCC individual tradicional. No geral, os resultados
dos autores sugeriram que a TCC face a face é provavelmente uma opção de
tratamento inicial melhor em comparação com TCC guiada pela internet. A terapia
face a face levou a reduções mais rápidas e maiores no número de dias de
episódios de compulsão alimentar, nas taxas de abstinência e nos achados
psicopatológicos de Transtorno Alimentar 2.

Huurne et al. (2015) realizaram outro estudo que avaliou os efeitos de uma
intervenção da TCC on-line usando suporte terapêutico assíncrono intensivo para
melhorar a psicopatologia dos Transtornos Alimentares, reduzir a insatisfação
corporal e os problemas de saúde relacionado com Transtornos Alimentares. Os
resultados deste estudo forneceram suporte para o uso de uma intervenção de TCC
on-line, para melhorar a psicopatologia, a insatisfação corporal e problemas de
saúde. Além disso, os resultados confirmaram que novas tecnologias podem ser
usadas para tratar pacientes que, de outra forma, evitam buscar ou receber ajuda
(SILVA; RETRÃO; LANDIM, 2020).

No entanto, Watson et al. (2017) identificaram os preditores e moderadores de falha


de engajamento e abandono tanto na TCC tradicional baseada na internet quanto
na tradicional face a face para Bulimia Nervosa. Aqueles com maior risco de não
engajamento tiveram um índice da massa corporal mais alto e perceberam o
tratamento como menos confiável e menos provável de ter sucesso. O abandono foi
associado a menos educação, maior busca por novidades, experiência anterior em
1
Importante destacar que os estudos quanto à eficácia do tratamento em grupo para pacientes com
bulimia nervosa ainda não são robustos. Sendo assim, é importante ir com calma, considerando
variáveis como: se os pacientes já estão com a purgação controlada, se já estão numa fase
adiantada do tratamento, o tamanho do grupo etc. Contudo, continua sendo desaconselhável realizar
tratamento em grupo para anorexia nervosa pelos motivos que já foram explicados na aula anterior.
2
Errata: no minuto 13:27 da aula, a Fernanda se confundiu ao dizer que “a taxa de abstinência e
desistência do tratamento nesse estudo foram menores no on-line”. Contudo, como apresentado
neste material, foi a terapia face a face que apresentou os melhores resultados.

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TCC e uma incompatibilidade entre o tratamento preferido e o atribuído.

O feedback qualitativo dos participantes de intervenções para prevenção de


Transtorno Alimentar conduzidas por colegas, clínicas e fornecidas pela internet foi
examinado por Shaw et al. (2016), o qual sugeriu a importância de se considerar o
valor terapêutico da associação a um grupo, e que os programas de prevenção
on-line podem ser aprimorados com o fornecimento de um mecanismo de apoio à
comunidade, como um fórum on-line. Dois programas on-line para prevenção de
Transtornos Alimentares em mulheres de alto risco (predominantemente de
minorias étnicas) foram avaliados por Chithambo e Huey (2017), no qual os
resultados dessa avaliação sugeriram que ambos os programas são eficazes na
redução dos fatores de risco para Transtornos Alimentares em uma população de
alto risco, predominantemente minoritária, em relação a nenhuma intervenção.
Além disso, os autores concluíram que estudos de intervenção baseados na
internet devem considerar o desenvolvimento de elementos interativos para
melhorar os resultados da intervenção.

Silva, Retrão e Landim (2020) também apresentaram um estudo que examinou a


eficácia de uma intervenção cognitiva comportamental baseada na internet para
adultos com limiar de Transtorno de Compulsão Alimentar periódica. A estabilidade
dos efeitos do tratamento ao longo de 12 meses provou que a intervenção baseada
na internet é eficaz, reduzindo significativamente o número de episódios de
compulsão alimentar e patologia de Transtorno Alimentar em longo prazo. Os
autores desse estudo, Wagner et al. (2016), concluíram que intervenções de saúde
de baixo limiar devem ser avaliadas para melhorar o acesso ao tratamento para
pacientes que sofrem de Transtorno de Compulsão Alimentar periódica.

Conclusão

Os estudos mostraram que as intervenções on-line apresentam resultados


semelhantes quando comparados às intervenções tradicionais. Alguns autores
encontraram resultados negativos entre seus participantes como: falta de
engajamento por considerarem o tratamento pouco útil e eficaz; abandono por
considerarem o tratamento menos confiável e menos provável de ter sucesso;
incompatibilidade com o tratamento on-line e preferência pelo presencial (SILVA;
RETRÃO; LANDIM, 2020).

Contudo, a maioria dos estudos demonstrou que o suporte terapêutico pela internet
para os Transtornos Alimentares foi eficaz entre os participantes, dando ênfase às

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Terapias Cognitivas-Comportamentais on-line, que se apresentaram como


intervenções de maior valor terapêutico para a redução e controle da psicopatologia,
da insatisfação corporal e dos problemas de saúde causados pelo Transtorno
Alimentar.

Sugere-se, no entanto, o desenvolvimento de mais estudos clínicos que consolide a


eficácia dessas intervenções inovadoras que prometem o acesso fácil, rápido e
econômico para busca de tratamento alternativo para o Transtorno Alimentar.

REFERÊNCIAS

ANDERSSON, G., et al. Internet-delivered psychological treatments: from innovation


to implementation. World Psychiatry, v. 18, n. 1, p. 20- 28, 2019.

CHITHAMBO, T. P.; HUEY JR, S. J. Internet-delivered eating disorder prevention: A


randomized controlled trial of dissonance-based and cognitive-behavioral
interventions. International Journal of Eating Disorders, v. 50, n. 10, p.
1142-1151, 2017.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional dos


Psicólogos, Resolução nº 4, de 26 de março de 2020. Disponível em:
https://bityli.com/egLRku. Acesso em: 13 set. 2022.

FAIRBURN, C. G.; PATEL, V. The impact of digital technology on psychological


treatments and their dissemination. Behaviour research and therapy, v. 88, p.
19-25, 2017.

HUURNE, E. D., et al. Treatment dropout in web-based cognitive behavioral therapy


for patients with eating disorders. Psychiatry research, v. 247, p. 182-193, 2017.

SCHUELLER, S. M.; STILES-SHIELDS, C.; YAROSH, L. on-line treatment and


virtual therapists in child and adolescent psychiatry. Child and Adolescent
Psychiatric Clinics, v. 26, n. 1, p. 1-12, 2017.

SCHUSTER, R., et al. The advantages and disadvantages of on-line and blended
therapy: survey study amongst licensed psychotherapists in Austria. Journal of
medical Internet research, v. 20, n. 12, 2018.

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SHAW, H.; ROHDE, P.; STICE, E. Participant feedback from peer-led, clinician-led,
and internet-delivered eating disorder prevention interventions. International
Journal of Eating Disorders, v. 49, n. 12, p. 1087-1092, 2016.

SILVA, F. F.; RETRÃO, E. V. S.; LANDIM, L. A. S. R. As evidências científicas das


intervenções on-line para os transtornos alimentares feitas em ensaios clínicos
randomizados: uma revisão integrativa. Research, Society and Development, v. 9,
n. 10, 2020. Disponível em: https://bityli.com/kuowJyJ. Acesso em: 13 set. 2022.

WATSON, H. J., et al. Predictors of dropout in face-to-face and internet-based


cognitive-behavioral therapy for bulimia nervosa in a randomized controlled trial.
International Journal of Eating Disorders, v. 50, n. 5, p. 569-577, 2017.

WEGLOWSKA-RZEPA, K. Virtual reality in psychological treatment and


psychotherapy. ICTM, v. 239, 2016.

ZWAAN, M., et al. Effect of internet-based guided self-help vs individual face-to-face


treatment on full or Subsyndromal binge eating disorder in overweight or obese
patients: the INTERBED randomized clinical trial. JAMA psychiatry, v. 74, n. 10, p.
987-995, 2017.

WAGNER, B., et al. Randomized controlled trial of an internet-based


cognitive-behavioral treatment program for binge-eating disorder. Behavior
Therapy, v. 47, n. 4, p. 500-514, 2016.

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