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APRESENTA
NÚCLEO DE TEATRO MUSICAL
ATO I
1
NOTA DO AUTOR
Victor Hugo
2
PERSONAGENS
FANTINE (Lumi)
CORO
3
DESCRIÇÃO DAS PERSONAGENS
JEAN VALJEAN
Homem encarcerado por 19 anos devido ao roubo de um pedaço de pão para alimentar
seu sobrinho que passava fome e tentativa de fuga da prisão; durante o encarceramento
sofreu nas mãos de Javert, foi liberto em condicional com o estigma de grande perigo as
consequências de sua injustiça social até que abandonou sua antiga identidade,
tornando-se prefeito de uma cidadezinha e dono de negócios. Seu caminho se cruza com
o de Fantine, visto que prometeu a ela cuidar de sua filha, Cosette.
INSPETOR JAVERT
Inspetor fanático pela justiça, que revela ter vindo também da pobreza, nascido na
prisão; encontrou na lei e na ordem uma forma de se afastar dos traumas e dores de sua
origem, sem possuir nenhum escrúpulo para punir aqueles que julga infratores; nutre
uma obsessão por Valjean, pois vê nele um disruptor do modelo ideal de vida e
comportamento que moldou para si, determinado a caçá-lo e colocá-lo sob sua justiça a
qualquer preço.
FANTINE
Mãe vítima da injustiça social e fadada à pobreza; foi abandonada grávida de Cosette
pelo pai da criança e, sem ter a quem ou ao que recorrer, volta a sua cidadezinha de
origem para trabalhar arduamente numa fábrica de tecidos, deixando sua filha aos
cuidados dos Thénardier; após ser demitida injustamente pelo capataz da fábrica, vende
seus cabelos, dentes e, eventualmente, seu corpo; é brutalmente atacada ao negar
serviços a um guarda, perseguida por Javert e salva por Valjean, dono da fábrica da qual
foi demitida.
COSETTE
Menina doce, sonhadora e triste; vive com os Thénardier após ser deixada por sua mãe,
Fantine, em busca de uma vida melhor para elas; sofre e é explorada em sua casa por
seus tutores, até encontrar Valjean, que a adota; cresce junto ao pai adotivo, sem que ele
conte a ela quem ele realmente é, uma jovem exuberante e feliz; se vê numa paixão
conturbada junto a Marius, em meio ao cenário da revolução, e sem saber o segredo que
esconde seu pai.
4
SR. THÉNARDIER
Dono de um bar/hospedagem na cidadezinha, famoso por sua hospitalidade, bom
humor, carisma e bom tratamento com os clientes e quem passa por lá, mas na verdade é
um trambiqueiro que furta e aplica golpes em todo mundo o quanto é possível; se
importa apenas com sua família, a seu modo, não se importa em nada com Cosette e
possuí caráter jocoso, desengonçado e ardiloso.
SRA. THÉNARDIER
Esposa do Sr. Thénardier, é dona junto ao marido de um bar/hospedagem e pratica junto
a ele trambiques e furtos com os clientes; semelhante à madrasta da Cinderella, é má
com Cosette, fazendo de tudo para que ela não se sinta em casa nem parte da família,
afastando-a também do convívio com sua filha, Éponine; tem o humor ácido, foge da
aparência de mulher delicada, é cínica e sem escrúpulos.
ÉPONINE
Filha dos Thénardier, não tem ideia do que se passa em casa quando criança e, após a
falência dos pais, cresce em más condições financeiras; esperta, viva e sagaz, torna-se
amiga de Marius, que era hóspede no negócio de seus pais, se apaixonando pelo garoto;
ressentida, sente ciúmes de Cosette, por ter crescido em melhores condições e ter o
amor daquele que gosta, mas mesmo assim continua junto à Marius, inclusive ajudando
a ele e seus amigos na revolução dos estudantes.
MARIUS
Jovem estudante e militante político, é um dos cabeças e mais inteligentes de seu grupo
de revolucionários e exemplo para eles; se vê perdidamente apaixonado por Cosette,
pensamento que até o faz esquecer da causa por um breve instante; é alegre, leve e
carismático, maduro para idade.
ENJOLRAS
Parceiro de Marius, é a parte fervorosa e visceral da revolução; não apresenta a leveza e
o carisma de seu companheiro, mas é um rapaz forte, sempre pronto para agir e pronto
pra luta; focado, se chateia ao ver Marius dividir a atenção da causa com Cosette, porém
se entendem futuramente e lutam juntos; acaba por perder a vida pela causa e morre
como “mártir”.
GAVROCHE
É um garoto, criança, que anda junto com os revolucionários, servindo de mascote e
garoto de recados; é, com a melhor das intenções, aquela criança insolente, esperta,
malandra e que sabe se virar nas ruas e é inflamado pelo espírito revolucionário de seus
companheiros mais velhos.
5
OS MISERÁVEIS
PRÓLOGO
CORO:
Olhai, Olhai
Pro chão, olhai pro chão
Olhai, olhai
A eterna escuridão
PRISIONEIRO 1 [LUCAS]:
No céu o sol
Não há de arrefecer
CORO:
Olhai, olhai
Não há o que escolher
PRISIONEIRO 2 [RAFA]:
Não fiz, não fui
Oh! Deus! Vem me acudir!
CORO:
Olhai, olhai
Que Deus não vai ouvir
PRISIONEIRO 3 [GUSTAVO]:
Depois daqui
Me espera uma mulher
CORO:
Olhai, olhai
Ninguém vos vai querer
PRISIONEIRO 4 [LUCAS]:
Hei de voltar
E me vingar
Sem perdão
CORO:
Olhai, olhai
Pro chão, olhai pro chão
PRISIONEIRO 5 [RAFA]:
Oh Deus, meu Deus
Paraí meu coração
6
CORO:
Olhai, olhai
Escravo tu serás
Pisai, pisai
Na cova em que estarás
JAVERT:
Número: 23612. Venha até aqui, seu tempo chegou! Sabe o que é isso?
VALJEAN:
Estou livre??
JAVERT:
Livre nunca! Ladrão é ladrão e vai levar essa marca por toda vida! Condicional com um
atestado de grande perigo para a sociedade
VALJEAN:
Eu só roubei um pão. Meu sobrinho, ainda bebê...morria de fome nos braços de minha
irmã! Roubei só pra salvar a vida dele
JAVERT:
Vai caçar um jeito de se estrepar se não andar dentro da lei!
VALJEAN:
Dessa sua lei eu só fui escravo, passei 19 anos preso nisso aqui igual um animal!
JAVERT:
Cinco porque roubou, o resto por tentar fugir, 23612
VALJEAN:
Meu nome é Jean Valjean!
JAVERT:
Pois vai ser esse número daqui até depois da terra lhe comer! Como última tarefa, ajude
a arrumar aquele barco e traga ela aqui antes de ir!
CORO:
Olhai, Olhai
Pro chão, olhai pro chão
Olhai, olhai
A eterna escuridão
7
VALJEAN:
Senhor! Finalizei os deveres do estábulo, posso tomar um café?
FAZENDEIRO [LUCAS]:
Pegue aí, e outra coisa...(entrega dividendos) Aqui não dá mais pra tu ficar. Pega tuas
coisas,aí teu pagamento...pode ir!
VALJEAN:
Mas isso é metade do pagamento normal, sendo que eu trabalhei dobrado!
[Fazendeiro 2 entra]
FAZENDEIRO [RAFA]:
Bandido não tinha que ter direito a nem um centavo! Pau que nasce torto não endireita
mais! Raspa fora, ladrão!
CORO:
Não fiz, não fui
Oh Deus, vem me acudir
Olhai, olhai
Que Deus não vai me ouvir
TABERNEIRA [BERNARDO]:
Aqui não tem lugar pro senhor não e a cozinha já tá fechada, sinto muito, mas cabô
tudo!
VALJEAN:
Uma lasca de pão, mistura sobrada, nada? Não sou cachorro pra ser enxotado assim!
[Trabalhador entra]
TRABALHADOR [GUSTAVO]:
Some daqui por bem ou vai por mal que aqui não tem vez pra marginal, não!
[brigam brevemente]
CORO:
No céu, o sol
Não há de arrefecer
Olhai, olhai
Não há o que escolher
8
VALJEAN:
Então essa é a lei! Passaporte direto pro inferno com uma corda no pescoço que é a
liberdade que essa “justiça” me deu! (se recolhe após caminhar) Chão frio é serventia da
casa
BISPO [RAFA]:
Meu senhor, acorda! Aqui tu vai morrer de frio, venha! Durma conosco! Temos cama,
pão e vinho, descanse e amanheça o dia melhor!
CORO:
Olhai, Olhai
Pro chão, olhai pro chão
Olhai, olhai
A eterna escuridão
VALJEAN:
A prata…o aparelho de jantar…os garfos, pratos, taças, valem mais que tudo que eu já
botei a mão em toda minha vida! Quanta riqueza num só lugar!…por que confiou em
mim?
VALJEAN:
Eu fico agradecido de todo coração! Mas é tanto pra se deixar na vista de quem não tem
mais nada! Só isso, agora já tenho o necessário e só me resta fugir quando nascer o
dia…
GUARDA 1 [BERNARDO]:
Conta agora a tua história
GUARDA 2 [LUCAS]:
Vamos ver se vai colar
GUARDA 1:
Hóspede, uma ova!
GUARDA 2:
Qual trouxa você quer que acredite que o bispo colocou um mendigo desse em casa por
bondade no coração, pra ouvir história furada?
GUARDA 1:
E pra agradecer a companhia do pé rapado deu esse tanto de prata de presente!
9
BISPO [RAFA]:
Meu senhores, agradeço seu serviço, cuidado e atenção! Mas a verdade é que abriguei
sim esse meu amigo e lhe presenteei com esses artefatos! Inclusive o amigo parece que
esqueceu ainda uma sacola...(para Valjean, pertinho) Use essa nova chance como um
meio para mudar seu destino e não um fim. (para todos) Vá em paz, amigo, e os
senhores também!
CORO:
Olhai, olhai
Escravo tu serás
Pisai, pisai
Na cova em que estarás
VALJEAN:
Eis o que eu sou
Meus Deus, eu sou o que sou
Que animal eu virei
Que grande mal me tomou
E já é tarde demais
E já não dá pra voltar
E nada restou
Só meu ódio a gritar
Os gritos em vão
Ninguém vai ouvir
Neste lugar de onde
Nunca vou sair!
10
Só vingança e rancor
Nesse meu coração
Dessa vida eu só levo
Essa amarga lição
[Sai Valjean]
FIM DO PRÓLOGO
11
1º ATO
[Entram pobres]
OS POBRES:
Ao final desse dia
És um dia mais velho
E não há outra vida
Pro pobre viver
É uma guerra, é lutar
E ninguém quer perder a partida
Mais um dia sob o sol
Quando acabar
Menos um nessa vida
CAPATAZ [LUCAS]:
Ao final desse dia
Não ganhas um puto
Quem só fica sentado
Não leva um tostão
Tem os filhos pra comer
As crianças precisam de pão
E tem sorte quem tem seu lugar
GAROTA 1 [DAYANE]:
E o seu colchão
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TRABALHADORAS:
E que Deus nos ajude!
GAROTA 2 [NAYARA]:
Olha só como bufa o seu capataz
Com seu hálito podre e tremores nas mãos
GAROTA 3 [BERNARDO]:
É que a tal da Fantine não quer se render
Os favores que pede, ela sempre diz não
GAROTA 1:
E o patrão que nunca vê
Os desmandos do seu capataz
GAROTA 3:
Se Fantine não se cuidar
Digo a você
Não trabalha aqui mais
OS POBRES:
Ao final desse dia é um dia cumprido
É no bolso a promessa de um dia melhor
Pague as contas, o aluguel
Faça mágica e corte a despesa
Corte a carne do pastel
Faça o pouco crescer sobre a mesa
Tudo só pra recomeçar
Quando o dia acabar
[Sai coro masculino, com as bacias. Música 03 - Instrumental para a cena “Ao final
desse dia”]
GAROTA 2:
Olhem, aqui, meninas! [retira carta de Fantine em jogo de “bobinho”] Dona Fantine
recebeu uma carta [se protege atrás das garotas e lê] “Cara Fantine, é preciso pressa!
A criança está doente e necessita cuidados urgentes! Mande dinheiro o mais rápido o
possível”!
FANTINE:
Me devolve! [toma a carta de volta com violência] Morde tua língua antes de falar dos
outros que seu marido nem sonha o que você faz! Quem tá atolado na lama tem lugar de
julgar ninguém!
[Entra Valjean]
13
VALJEAN:
Que baderna é essa aqui? Isso aqui não é circo, minha gente, é lugar de trabalho! Sou
prefeito da cidade e dessa lavanderia e aqui eu quero paz [ao capataz] Separa a briga e
descobre o que aconteceu, com paciência e compreensão.
CAPATAZ[LUCAS]:
Quem começou essa zorra?
[Sai Valjean]
GAROTA:
Foi essa aqui [aponta para Fantine] que além de ser ruim de serviço e se achar melhor
que todo mundo, tem filha escondida pra sustentar, vai saber os horrores ela faz pra tirar
dinheiro extra além daqui, meu deus, uma vergonha pra nós!
FANTINE:
Eu tenho uma filha sim! Abandonada pelo pai, eu e ela! Tive que deixar a menina com
um casal onde ela nasceu em troca de pagamento todo mês pra eles, pra vir atrás de
ganhar a vida e poder voltar pra ela, por isso preciso do dinheiro!
GAROTAS [intercalando]:
Tá vendo onde isso vai dar? Essa aí só da despesa e problema...dá problema pro senhor
e problema pra gente. A gente aqui pra trabalhar e essa querendo cama macia, manda a
vadia pro olho da rua antes que a gente tem que pagar o preço!
CAPATAZ:
Eu sabia, bem que tinha o que desconfiar, que gata que cria garra uma hora arranha! A
coitadinha que bate no peito pra dizer que é santa é quem tá causando a zorra! Faz a
virgem de manhã e de noite, a cortesã!
GAROTA:
Ela vive rindo da sua cara e arruma homem por trás dos pano
GAROTAS [intercalando]:
É vadia, é problema! Já chega disso, seu capataz
CAPATAZ:
Tá certo! O patrão não quer problema e tá todo mundo de saco cheio, some daqui,
mulher! Anda! Pra rua que é cama quente!
FANTINE:
Ao final desse dia é um dia cumprido
É no bolso a promessa de um dia melhor
Pague as contas, o aluguel
Faça mágica e corte a despesa
Corte a carne do pastel
Faça o pouco crescer sobre a mesa
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Tudo só pra recomeçar
Quando o dia acabar
MARINHEIRO 1 [ALLAN]:
Sinto cheiro
Cheiro de mulher
Vou jogar a âncora
No porto e me perder
MARINHEIRO 2 [GUSTAVO]:
Lindas moças
Sinto pelo ar
Cheio dessa fome
De quem veio lá do mar
MARINHEIRO 3 [RAFA]:
Marinheiro quer se alimentar!
[Entram mulheres]
MULHERES:
Lindas moças
Quem que vai querer?
Somos todas frutas
Tá na hora de colher
Lindas moças
Prontas pra levar
Seja pela proa
Pela popa, é só pegar
Pega e paga: preço a combinar!
FANTINE:
Madame, eu posso vender!
VELHA SENHORA:
Pago três tostões
FANTINE:
Mas três é pouco demais
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VELHA SENHORA:
Por cinco então
E tu precisa, eu sei
É só dizer
FANTINE:
É só o que tenho…
VELHA SENHORA:
Problema seu!
FANTINE:
Ao menos dez!
VELHA SENHORA:
É cinco só!
Meu bem, a vida
É mesmo um nó!
MULHERES:
Lindas moças
Pela escuridão
Prontas pra qualquer
Que seja a sua pretensão
PROSTITUTA 1 [GYO]:
Meia hora
Muita sarração!
Quem quiser a noite toda
Paga a condução
TODAS:
Rapidinha – tá na promoção!
CRONE [RAFA]:
Mas vejam bem
Que lindos cachos que tens
Mas é demais
E tem um preço, eu sei
Eu dou a mais
FANTINE:
Me larga, deixa-me em paz
CRONE:
Que preço, então?
16
Dez francos eu te darei
É só dizer
FANTINE:
São dez a mais…
CRONE:
É só dizer
FANTINE:
O que fazer? São dez a mais
Que vão enfim salvar Cosette
PROSTITUTA 2 [DAYANE]:
Tão cansada
Já não posso mais
Dói-me tanto o ventre
E as feridas são demais
[Entra cafetão]
CAFETÃO [GUSTAVO]:
Fica fria
Finja, meu amor
Que outras fazem fila
Pra sofrer da sua dor
PROSTITUTA 3 [NAYARA]:
Faço em dobro
Seja como for
CAFETÃO:
Aquela tal
De onde apareceu?
PROSTITUTA 1:
Ela é a tal
Que o cabelo vendeu
PROSTITUTA 2 :
Um filho tem
E é preciso manter
CAFETÃO:
Se desgraçou!
Eu devia saber
17
Linda moça, junte-se aos amigos
Linda moça!
PROSTITUTA 3:
Nessa vida tudo é algoz
Não és mais do que qualquer de nós
Se essa vida te afundou no lamaçal
Ganhe a vida
PROSTITUTA 2:
Vendendo o seu mingau
PROSTITUTA 1:
Venda tudo
Tudo o que tiver
PROSTITUTA 2:
Venda tudo
Venda-se mulher
MULHERES:
Velhos, moços, venha o que vier
Ratos e lagartos, só não vem quem não quiser
Pobres, ricos, chefes da nação
Quando tira a calça
Todo mundo tem bundão
Tem dinheiro, eu nunca digo não!
Lindas moças
Prontas pra levar
Todos fazem fila
Mas nenhum vai demorar
PROSTITUTA 1:
Vamos, venha, nobre capitão
PROSTITUTA 2:
Venha com a certeza de que eu
Nunca digo não
FANTINE:
Vida fácil
Cama pra deitar
Ninguém faz idéia que
Há um ódio a me queimar
18
Eis o meu cadáver
Venham todos me usar
[Entra Bamatabois]
BAMATABOIS [RAFA]:
Que isso, tem carne nova na praça? Vem cá, mocinha, foge não!
FANTINE:
Me deixa em paz!
BAMATABOIS:
Tá de brincadeira, ô putinha? Tá querendo se ferrar sem ganhar?
FANTINE:
Sai daqui, rato nojento! Mesmo puta igual eu sem nada no mundo tem direito a negar!
(num impulso, fere o guarda)
BAMATABOIS:
Vaca desaforada, agora que tu me paga! Agora que eu acabo com a tua raça! Tá achando
que é quem? Eu sou a ordem, a lei, e agora tu vai pagar caro o que tu fez!
FANTINE:
Meu senhor, me perdoa! Eu...foi sem querer, não fiz por mal! Me perdoa, eu imploro!
BAMATABOIS:
Vai pedir teu perdão pra quem te come!
[Sai Bamatabois, prostitutas ficam a frente do palco. Fantine grita, logo após,
prostitutas saem. Música 05 - Um sonho que sonhei]
FANTINE:
Já houve um tempo de homens bons
De palavras gentis
E de vozes mansas
Já houve um tempo de outros tons
E de tantas canções
E de tantas lembranças
E tanto mais
Que já não há
19
Mas a noite então caiu
E na noite tantas feras
Me rasgaram o coração
E tudo aquilo que eu sonhei
JAVERT:
Que há, guarda? Houve agressão? Todo cuidado é pouco nesse ninho de cobra
disfarçado de mulher! Ferir um homem de bem é inadmissível! Quero a história toda em
detalhes.
BAMATABOIS:
O senhor não vai acreditar, inspetor! Eu tranquilamente caminhando no cumprir do
dever quando essa vagabunda louca veio me atacar, olha!
FANTINE:
Por favor, senhores, eu imploro perdão! Se não tiverem piedade de mim, pelo menos da
minha filha que eu preciso criar, por favor!
VALJEAN:
Inspetor Javert, espera! Deixe a moça, vamos ter ponderação, escutar o que ela diz! Ela
parece sincera e tudo foi apenas um mal entendido
JAVERT:
Mas seu prefeito, é inadmissível…
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VALJEAN:
Você cumpriu o seu dever de garantir a ordem, inspetor. De castigo já basta o que o
destino reservou pra essa infeliz, deixe estar!
JAVERT:
Mas seu prefeito…
FANTINE:
Sem dó, meu senhor, que nem meu orgulho eu tenho mais! Seu capataz tratou de me
desgraçar a vida sem eu ter feito nada e o senhor assistiu a tudo parado, sem mover um
dedo só sequer!
VALJEAN:
Você...você era da fábrica, naquele dia de confusão?
FANTINE:
A minha filha doente na beira da morte, eu fazendo tudo que podia trabalhando tanto
quanto as outras e fui enxotada por intriga e ciúme, sem razão...
VALJEAN:
Eu..eu...lhe peço perdão! Mil perdões! Não sabia de nada e recomendei ao capataz
resolver tudo com calma e paciência...Eu que peço, por favor, me deixa te ajudar e
compensar esse mal!
FANTINE:
Se existe mesmo um deus ele que me leve daqui que não há nada que o senhor possa
fazer!
VALJEAN:
Eu irei...irei te compensar esse mal!
JAVERT:6
Seu prefeito! E aqui, como fica a situação…
HOMEM 1 [VICTOR]:
Cuidado!
HOMEM 2 [GUSTAVO]:
A carroça!!!
21
VALJEAN:
Senhor! (corre até Fauchelevent atropelado e tenta ajudá-lo) Por deus, homens!
Ninguém vai me ajudar salvar esse senhor?
HOMEM 1 [VICTOR]:
Fique longe, seu prefeito
MULHER [GYO]:
O peso vai ceder
[Valjean levanta a carroça e salva o morto tal e qual pegou a bandeira da França
ou outro elemento enquanto preso]
FAUCHELEVENT [LUCAS]:
Seu prefeito, salvou minha vida! Não sei como começar a te agradecer!! (os homens se
cumprimentam)
VALJEAN:
Diga lá, inspetor, quero poder escutar o que te incomoda!
JAVERT:
Senhor prefeito, nada incomoda. Me admirou como o senhor conseguiu salvar o infeliz,
só vi força igual uma vez na vida...um miserável que ficou foragido por 10 anos! Mas,
conseguimos capturá-lo e hoje, mesmo negando desesperadamente, vai a julgamento!
Nem Jean Valjean consegue se esconder pra sempre!
VALJEAN:
Mas inspetor, se o homem nega assim com tanto desespero, certo que foi devidamente
averiguado e recolhidas as devidas provas para acusá-lo, não?
JAVERT:
Fui eu quem prendi o homem, senhor prefeito, conheço o desgraçado melhor que
qualquer um, como a palma de minha mão! Provas pra que se ele tem uma marca
inconfundível no corpo que quando for exposta o condenará, se deus for justo, à morte!
[Sai Javert]
22
VALJEAN:
A chance que eu pedi a deus...se condenarem esse homem eu me torno realmente livre
até morrer! Já cheguei tão longe nessa farsa que consegui negócio, empregados, famílias
que dependem de mim...esse outro infeliz por certo que não deve ter nada e ninguém
chorará seu destino...agora se eu falar a verdade eu me estrepo e tudo o que eu construí
e um mundo de gente que depende de mim vem abaixo...
VALJEAN:
Quem sou eu?
Pra condenar assim um outro ser
E me furtar da culpa, e me esconder
VALJEAN:
Sou Jean Valjean!
FANTINE:
Vem já dormir, Cosette
23
Cosette, está tão frio!
Você brincou demais
Já vai escurecer
FANTINE:
Vem deitar, que o sol já vai embora
Vem pra mim, que a noite não demora
Vem comigo, e eu vou cantar baixinho
Até você dormir, eu vou cantando de mansinho…
[Entra Valjean]
VALJEAN:
Oh Fantine, não há o que esperar
Mas Fantine, eu juro por meu Deus
FANTINE:
Vê, senhor, crianças a brincar
VALJEAN:
Fica em paz, fica em paz, por favor
FANTINE:
Vê, Cosette…
VALJEAN:
Eu hei de protegê-la
FANTINE:
Por favor…
VALJEAN:
Eu vou cuidar de tudo
FANTINE:
És tão bom, vieste como um anjo
VALJEAN:
Ninguém vai maltratar Cosette
Enquanto estou por perto
FANTINE:
Minhas mãos,
Senhor, eu vos entrego
VALJEAN:
Não há o que temer
24
FANTINE:
E Cosette
A vós estou deixando
VALJEAN:
Eu juro proteger
FANTINE:
Vou dormir, a noite não demora
Avise a Cosette que eu a verei
Quando acordar…
[Fantine estica o braço para Cosette. Fantine morre, sai Cosette. Entra Javert.
Música 09 - O confronto (Confrontation)]
JAVERT:
Valjean, então
Agora somos nós
Prefeito, eu sei
Seu tempo terminou
VALJEAN:
Antes que vá me condenar, Javert
Antes de tudo desabar em mim
Escute bem, há algo que é só meu
JAVERT:
Você enlouqueceu!
São tantos anos a fugir
Tantos anos eu atrás
E agora eu peguei
VALJEAN: JAVERT:
Mas creia em mim, pode crer Eu jamais irei mudar
Há um juramento e eu vou cumprir Tu jamais irás mudar
Não sou mais o que já fui Não, 23612
Já não sou mais quem rouba um pão
Agora é só a lei!
Minha história já mudou Sem conversa, nem pensar
E eu não vou morrer assim Dessa vez é o fim
Sem consertar um erro tão cruel… Eis que a história reverteu
25
Jean Valjean não é ninguém
VALJEAN:
Um juramento eu vou fazer
JAVERT:
Não há lugar pra se esconder
VALJEAN:
Essa criança vai vingar
JAVERT:
E onde quer que você vá
VALJEAN:
Essa criança vai crescer
VALJEAN e JAVERT:
E sempre lá eu hei de estar!
COSETTE JOVEM:
Tem um castelo lá no céu
Onde eu vou sempre me esconder
Lá nada tenho que varrer
No meu castelo lá no céu
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E no seu calor
Me diz: Cosette, tu és o meu amor
MADAME THÉNARDIER:
Ah, mas olha só, que lindo! Que anjinho! Fugindo da obrigação fingindo de boa
mocinha, ai de ti que se eu te pego eu te envergo, menina! Sua mãe paga uma merreca
que não sobra nem pra tirar o ranço das suas lambanças! Pega esse balde e some daqui,
vai pro poço pegar água e trazer pra cá que é o mínimo, moleca insolente! Maldita hora
que eu te botei dentro de casa, ai que burra que eu fui! Peste, tal mãe, tal filha, da pior
das laias...Éponine, meu amor, vem cá, toma aqui filha! Que linda meu bebê com esse
chapéu! Como é bom ver uma menina que sabe andar, se vestir, se comportar...Cossette,
que merda, ainda tá aqui?! Cadê a água que eu pedi? Ta achando que vai chorar até
encher esse balde? Te mete pra fora e vai pro poço antes que eu perco a cabeça!
COSETTE JOVEM:
Não, por favor, lá fora, não, tá muito escuro agora!
MADAME THÉNARDIER:
Cala a boca! Mimada! Eu já mandei uma, mandei duas e na terceira eu vou esquentar
teu lombo pra aprender virar gente!
FREGUÊS 1 [LUCAS]:
Bora lá, rapaz
FREGUÊS 2 [GUSTAVO]:
Manda ver o que é bom, chefia
FREGUÊS 3 [RAFA]:
Enche o copo até o talo
THÉNARDIER:
Essa é da boa, tu vai gostar! Se não, não me chamo Thénardier!
FREGUÊS 4 [GYO]:
Para com essa falação e bora encher a cara, meu povo!
THÉNARDIER:
Claro, seu bundão! Tudo bem, freguesia!
FREGUÊS 1 [LUCAS]:
Essa merda tá pior
27
FREGUÊS 2 [GUSTAVO]:
Mas pra mim foi sempre assim
THÉNARDIER:
Entra M’sieur
Vem se sentar
Peço atenção
Pra me apresentar
Sou o patrão
Dou meu suor
Não poupo a mão
Pra dar o melhor
Outro como eu
Tu não conheceu
Um cara tão capaz
Que só faz o seu…
Seu anfitrião
Chefe de vocês
Que não poupa esforço
Pra ‘agradá’ o freguês!
Sabe divertir
Sabe acompanhar
Mais que tudo, sabe a hora de parar
Seu anfitrião
Chefe do quartel
Pronto pra esquecer
Seu troco no chapéu
Água no licor
Óleo no balcão
Escorrega o cotovelo
E abre a mão!
28
THÉNARDIER e CORO:
Seu anfitrião
Sempre a controlar
Sempre vigiando
Pra não se estrepar
Pronto pra servir
Sempre ao seu dispor
Pároco e filósofo e até doutor
Todo mundo é camarada
Todo mundo é como irmão
THÉNARDIER:
Mas é melhor cuidar do bolso
Pois eu tenho comichão
[Entra freguês]
THÉNARDIER:
Entre M’sieur
Vem se sentar
Tire o chapéu
Vem relaxar
Mas isso aqui
Pesa demais
Pode deixar
Que eu guardo lá atrás
O melhor pernil
Já vem vindo aí
Ninguém jamais serviu
Como eu sirvo aqui
Santa refeição
Dá pra acreditar
Que esse picadinho
É mesmo de babar?
29
Dez por cento que é
Pro rato não entrar
Banho a combinar
Taxa pro sabão
Pra fazer espuma
Tá na promoção
THÉNARDIER e CORO:
Seu anfitrião
Sempre a controlar
Sempre vigiando
Pra não se estrepar
Pronto pra servir
Sempre ao seu dispor
Pároco e filósofo e até doutor!
Todo mundo é camarada
Todo mundo é bom freguês!
THÉNARDIER:
Bando de panacas
Ai! Por que não morrem de uma vez!
MADAME THÉNARDIER:
E eu que sonhei
Com um príncipe galã
Pois olha o sapo
E eu agora sou a rã
“Seu anfitrião”
Olha o que ele faz
Pároco e filósofo
E que merda mais?
Cérebro de cú
Bafo de leitão
Diz que é bom de cama
Mas não tem pintão
30
THÉNARDIER e CORO:
Seu anfitrião
MADAME:
Seu afanador
THÉNARDIER e CORO:
Pároco e filósofo
MADAME:
Enganador!
THÉNARDIER e CORO:
Pronto pra servir
Sempre ao seu dispor
MADAME:
Bêbado, hipócrita e
Bajulador!
THÉNARDIER e CORO:
Todo mundo faça um brinde
Pra patroa e o patrão!
THÉNARDIER:
Todo mundo vai brindar
MADAME:
Todo mundo vou roubar
TODOS:
Todo mundo vai brindar, sim
Ao nosso anfitrião
[Saem todos. Entram Cosette Jovem e Valjean. Cosette no poço (boca de cena -
com o balde para fora do palco) - Valjean chega e ela se assusta]
VALJEAN:
Olá…Cosette? Venho em nome de sua mãe! Eu e Fantine somos grandes amigos e ela
me mandou para que te buscasse e cuidasse de você! Primeiro precisamos acertar as
contas com os Thenardiers, pode me levar até eles?
[Cosette e Valjean vão juntos até chegar à casa dos Thénardiers. Sra. Thénardier
entra com Sr. Thénardier e vai até ela com fúria e disfarça ao perceber Valjean]
MADAME THÉNARDIER:
Ah, sua desgra… ças a Deus querida! Onde você estava? Vai jantar, vai! [abraça a
menina forçadamente e empurra ela para fora de cena]
31
VALJEAN:
Eu encontrei essa criança sozinha no meio da floresta à essa hora da noite, como pode
isso? Bom, vim pra ajudar e me disponho a pagar toda e qualquer compensação pra
levar Cosette comigo.
MADAME THÉNARDIER:
Seu casaco, senhor, da aqui...
VALJEAN:
Prometi à mãe dela no leito de morte que cuidaria da menina como se fosse minha e falo
agora em nome de Fantine, que descanse em paz, que a partir de hoje estou em seu
lugar; Cosette é agora minha filha!
THÉNARDIER:
Seja muitíssimo bem-vindo aqui, senhor…
MADAME:
Vem sentar
THÉNARDIER:
Vem beber
VALJEAN:
Levarei Cosette comigo! Aqui uns honorários pelo tempo da garota com vocês!
THÉNARDIER:
Ele quer levar nosso bibelô, nossa mina de ouro, menina linda, formosa, sentirei tantas
saudades da Colette!!
MADAME:
Cosette…
THÉNARDIER:
Cosette! Sinto muito por Fantine, pobre alma, que descanse em paz!
MADAME THÉNARDIER:
Que generosidade a do senhor! Mas sabe, né, a menina adoeceu, ferveu de febre, tanto
remédio, a inflação na farmácia, longe de mim abusar da sua generosidade senhor, mas
sabe…
THÉNARDIER:
E aliás, hoje em dia o mundo anda tão de cabeça pra baixo. não é mesmo?
MADAME THÉNARDIER:
As coisas andam perigosas, como a gente vai saber o que lá o senhor quer com a nossa
menina…
VALJEAN:
Já, já! Toma aqui mais umas notas pros senhores. Grato pelos seus serviços e não vai
demorar a ficarem muito bem pelas saudades da garota!
32
[Saem M. & Madame Thénardier]
COSETTE:
E lá terá um castelo pra eu brincar??
[Música 12- Castelo No Céu X Olhai, Olhai (Reprise). Saem Cosette Jovem e
Valjean. Entram mendigos e Gavroche]
MENDIGOS:
Olhai pra ver, mendigo aos vossos pés
Olhai, por Deus, e tende compaixão
Olhai pra ver
São ratos de convés
Olhai, olhai
Que todos são irmãos
GAVROCHE:
Oi, como vai, eu sou Gavroche
Eis o meu povo, eis o meu chão
Nada pra ver além do pó
Nenhum refresco pra visão
MENDIGOS:
Olhai, por Deus, e tende compaixão
Olhai, olhai, que todos são irmãos
MARIUS:
Cadê os líderes daqui
Cadê quem faz andar o show?
ENJOLRAS:
É só um homem, só Lamarque
Fala com a voz de quem calou
33
TODOS:
Fome e solidão
Ilhas de terror
Tudo por um magro pão
Em nome do senhor
SOLO FEMINIO:
Por amor do senhor
TODOS:
Do senhor
Do senhor
Do senhor
MARIUS:
Lamarque doente, muito mal
Dizem que está chegando ao fim
ENJOLRAS:
Por isso a revolta é geral
Quando vai chegar, enfim…
O dia que não iremos mais temer?
E as barricadas vão se erguer!
GAVROCHE:
Vejam, lá vai Thenardier
Toda família se ferrou
Teve uma casa pra viver
Mas foi na rua que acabou
São uma gangue
De facínoras
Até a filha dele faz
É Eponine, pequena víbora
Pronta pra dar um bote a mais
Quem dá mais?
Quem de nós?
Ai de nós!
Ai de nós!
MENDIGOS:
Olhai, por Deus, e tende compaixão
Olhai, olhai, que todos são irmãos
THÉNARDIER:
Prestem atenção, seus idiotas! Você! Vai ficar de vigia! Você, minha filhinha linda,
chora como a gente ensaiou, ok? O resto dos beberrões, concentrem-se em não foder
tudo!
34
MADAME THÉNARDIER:
Praga de estudantes, sujando tudo, fazendo balbúrdia!
MARIUS:
Ei, Éponine! Éponine! Ta sumida, que aconteceu? Por onde anda? Como vai a vida?
ÉPONINE:
Nada de mais, estou sempre por aqui.
MARIUS:
Isso porque a polícia ainda não te pegou!
ÉPONINE:
Quantos livros você carrega, que inteligente! Sabe, eu também gosto de ler. Sou mais
inteligente que parece.
MARIUS:
Ah! Mas sua inteligência é das ruas!
ÉPONINE:
O seu cabelo já cresceu!
MARIUS:
Você é sempre tão gentil
MADAME THÉNARDIER:
Psiu! Éponine! Atenção!
ÉPONINE:
Some daqui!
MARIUS:
Mas, Éponine…
ÉPONINE:
Melhor você sair, vai embora!
THÉNARDIER:
Oh por favor, m’sieur, teria um trocado que seja? Veja, a criança está nas últimas, olha a
cara de doente! Ela precisa comer, pelo amor de Deus! E que ele te dê em dobro! Mas…
Pera aí, esse mundo é pequeno demais! Você não é o…
MADAME THÉNARDIER:
Foi o que levou nossa Cosette!
35
VALJEAN:
É o que? O senhor seria quem? Está entorpecido?
THÉNARDIER:
Socorro! Tem um ladrão aqui! Alguém chama a polícia!
ÉPONINE:
A polícia está vindo, e o inspetor Javert também!
JAVERT:
Mas confusão outra vez? Por conta de um zé ninguém? Você, me conte já o que se passa
aqui! Tudo que eu vejo é um bando de urubus… mas aquele ali é diferente…aquele eu
sei quem é. O senhor, me ajude a encontrá-lo já!
THÉNARDIER:
Bem… eu não sei de nada, eu estava apenas passando quando aquele marginal me
atacou. Mas eu vi, eu vi a marca no peito.
JAVERT:
Mas será que é possível? Um bandido que foge ao ouvir meu nome…e a garota junto
dele… será que é Jean Valjean outra vez?
THÉNARDIER:
Não querendo atrapalhar… eu já to indo, ok? Boa sorte e se você pegá-lo, lembra que
fui eu quem te ajudou.
[Sai Thénardier]
JAVERT:
Deixa ele correr! Deixa ele fugir! Eu vou atrás desse desgraçado pra sempre até o
inferno! O resto, sumam daqui!
[Música 13 - Estrelas|Stars]
JAVERT:
Lá dentro das trevas
Um homem que foge
Órfão da graça
Órfão de Deus
36
Na escuridão ele vai
Enquanto eu sigo o senhor
Quem caminha do lado dos justos
Terá o seu valor
E quem cair
O inferno verá
Terá, o horror!
E sentinelas são
Mudas e sós
Céu que a todos conduz
Deus que a todos conduz
E assim há de ser
Assim foi escrito
Nas estrelas e páginas
Que quem for fraco
E sair da luz
Irá pagar
Deus me dê forças
Hei de buscá-lo
Como um troféu!
Eu não vou ceder
Eu juro, na lei
Das estrelas no céu!
GAVROCHE:
O inspetor se acha muito
Mas quem manda aqui sou eu
Meu teatro nunca fecha
Se a cortina não desceu
37
Sou Gavroche! Creia em mim!
Tudo fica bem no fim…
ÉPONINE:
Cosette! Cosette! É claro, a gente cresceu juntas, eu me lembro dela!
[Entra Marius]
ÉPONINE:
Meu Deus! Que mundo pequeno…
MARIUS:
Pelo amor de Deus, Éponine, quem é ela?
ÉPONINE:
Javert maldito, ele nunca vai conseguir!
MARIUS:
Éponine! Quem ela é?
ÉPONINE:
Ah, uma tonta aí! Mas pra que quer saber?
MARIUS:
Éponine, encontre ela!
ÉPONINE:
E eu ganho o que com isso?
MARIUS:
O que você quiser, Éponine! Só pedir!.
ÉPONINE:
Que aconteceu que você mudou do nada? Eu não quero nada não!
MARIUS:
Éponine, faz por mim, por favor! Descubra onde ela mora, mas não conte ao seu pai! Eu
preciso saber!
ESTUDANTE 1 [RAFA]:
Já começaram os preparativos em Notre Dame.
ESTUDANTE 2 [LUCAS]:
Na Rue de Bac, a pressão já é forte.
38
ESTUDANTE 3 [GUSTAVO]:
É isso! Todos prontos pra lutar! Nossa mensagem espalhada por toda Paris.
ENJOLRAS:
Também já sinto o sangue ferver, mas precisamos de foco. Existe uma grande luta que
espera por nós e não vai ser fácil. Os guardas não vão ter dó. Vão tentar destruir nossos
sonhos. Mas unidos conseguiremos, camaradas!
[Entra Marius]
ENJOLRAS:
Marius chegou!
ESTUDANTE 1 [RAFA]:
Que cara é essa? Parece que viu assombração…
ESTUDANTE 2 [LUCAS]:
Um vinho vai resolver…
MARIUS:
Talvez foi assombração…ela veio, iluminou minha vida, e depois sumiu…
ESTUDANTE 3 [GUSTAVO]:
Por Deus! Marius encontrou o amor! Seus olhos só dizem “ooh” e “ahh”. Vamos deixar
tudo para amanhã, porque o garanhão aqui precisa de uma bebida!
ENJOLRAS:
Larga o menino, vamos focar no que importa!
ENJOLRAS:
Já é tempo de ser cada qual o que é
Encontrar seu lugar e lutar! Brincadeira não é!
Já pensaram talvez que há um preço a pagar?
Já pensou que é mais que um jogo pra brincar?
As cores já não são as mesmas pra se olhar…
MARIUS:
Você deve entender
essa tal sensação
Essa coisa que dentro nos toca
Com tanto prazer
39
e tudo se inverter
O certo errado ser
Errado é não viver!
ENJOLRAS:
Marius, é preciso crescer
Eu sei que é forte o que sentiu
Mas não há tempo pra sonhar
Não dá pra contemplar o amor
Ao som e à fúria do tambor
A vida agora é só lutar
CORO:
Há vermelho no rancor!
Não, à triste escuridão!
Há vermelho amanhecer!
Não, a triste noite, não!
ENJOLRAS:
Revisem as armas e avisem todos: a hora chegou!
Ei, chega de beber, todos prontos pra luta?
ESTUDANTE [LUCAS]:
Só um conhaque para coragem!
[Entra Gavroche]
GAVROCHE:
Ouçam, ouçam aqui! O general Lamarque morreu! [Música 16- Musica de Suspense
(Morte do General Lamarque)]
ENJOLRAS:
Lamarque… morreu? Lamarque morreu por nós!Sua morte agora é um sinal! Vamos,
companheiros, todos na rua!
ENJOLRAS:
Ouçam todos a cantar
Eis nossa fúria na canção
Eis os acordes de um povo
Contra toda escravidão!
Corações a disparar
Como os tambores em furor
40
Há uma vida a despertar
Em um novo amor!
ESTUDANTE 1 [RAFA]:
Cada vez aumenta mais
A multidão atrás de nós
Ninguém aguenta mais,
Seremos todos uma voz!
ESTUDANTE 2[LUCAS]:
Cantemos então
A canção de uma luta feroz!
[Entra coro]
CORO:
Ouçam todos a cantar
Eis nossa fúria na canção
Eis os acordes de um povo
Contra toda escravidão
Corações a disparar
Como os tambores em furor
Há uma vida a despertar
Em um novo amor!
ESTUDANTE 3[GUSTAVO]:
Nossas mãos num gesto só
Vão a bandeira costurar
Quanto sangue e quanto pó
Quando a bandeira desfraldar
O sangue dos bravos
Regando os canteiros e o mar!
CORO:
Ouçam todos a cantar
Eis nossa fúria na canção
Eis os acordes de um povo
Contra toda escravidão
Corações a disparar
Como os tambores em furor
Há uma vida a despertar
Em um novo amor!
COSETTE:
Será
Que a vida começou em mim, enfim?
41
Não há
Ninguém pra me dizer que o amor é assim
O que há com você, Cosette?
Você sempre viveu em si
Há tanto que aprender
Há tanto mais que eu vi
Eu vivi
Entre tantas perguntas
Respostas de sim e de não
Eu vivi
Em silêncio ouvindo ao longe
O som de uma certa canção
De um lugar
Que um dia eu sonhei pra mim
Um lugar
Que é tão longe daqui
Longe de mim
Eu vivi
Pela vida esperando vencer
Pra chegar só aqui
Vem pra mim
Eis-me aqui
[Entra Valjean]
VALJEAN:
Oh, Cosette
Que tanta solidão
Eu sinto tão triste que é você
Mas creia, faria o que eu pudesse
Que tudo acontecesse
Pra nada mais doer em você
Mas já não sei o que fazer
COSETTE:
É tão pouco o que eu sei
É tão mais que eu não sei
Da criança que eu fui
Tanto tempo lá atrás
42
Que segredo cruel
Eu não devo saber?
Cruel como a como a prisão
Viver na escuridão
Eu vivi
Tendo tudo o que eu quero
Carinho, calor e um lar
Mas papai, oh papai
Em teus olhos sou sempre
A criança perdida a vagar
VALJEAN:
Por favor!
Por favor, eu não quero falar
Por favor
Há palavras que a dor
Deve calar
COSETTE:
Eu vivi
E agora eu preciso saber
A verdade que há sobre mim
Quem sou eu… De onde eu vim!
VALJEAN:
Saberás
Quando Deus entender
Que tu deves saber
Tu verás!
MARIUS:
Eu vivi
Pra chegar esse dia em que ela
Entrou como um sol
Eu a vi
Tudo em volta deixou de existir
Ela agora é meu norte e farol!
ÉPONINE:
São facadas em mim
Tudo mais que ele diz!
43
Eu vivi
Uma vida inteira e nunca
Senti nada assim
Ele está… Todo em mim!
MARIUS:
Esperei
ÉPONINE:
Eu sonhei!
[Sai Éponine. Marius atira uma pedra na casa de Valjean para chamar Cosette.
Entra Cosette. Música 19 - No meu coração]
MARIUS:
No meu coração
Só cabe você
Me sinto tolo por dizer
Meu Deus, não sei
Nem mesmo o nome, eu não sei
Ah, por favor
Diz pra mim
Por Favor
COSETTE:
No meu coração
O sol já nasceu
MARIUS:
Meu nome é Marius Pontmercy
COSETTE:
Cosette, o meu
MARIUS:
Cosette, eu não sei o que dizer!
COSETTE:
Então, não diz!
MARIUS:
Louco estou
COSETTE:
Eu, feliz
44
MARIUS:
No meu coração
MARIUS:
Meu mundo agora é todo seu
Cosette, Cosette!
COSETTE:
É como um sonho acontecer
MARIUS:
É sonhar
COSETTE:
É viver
[Entra Éponine]
MARIUS:
No meu coração
COSETTE:
Como eu sei
45
[Saem Éponine, Marius e Cosette. Entram Thénardier e bêbados]
BÊBADO 1 [RAFA]:
É aqui! É essa casa!
BÊBADO 2[LUCAS]:
É aqui que ele se esconde!
THÉNARDIER:
Senhores! Esse tem dinheiro! Ele comprou Cosette de mim, mas foi muito barato.
Agora, viemos cobrar o juros!
BÊBADO 3[GUSTAVO]:
Tanto faz, só quero que sobre para mim!
[Entra Éponine]
THÉNARDIER:
Seu puto! Vai ter para todos nós!
ÉPONINE:
Pai…
THÉNARDIER:
Éponine? Sai daqui, vaza, some!
ÉPONINE:
Eu já vim aqui, e juro aos senhores, não tem nada. Só um homem velho e sua filha. Não
há dinheiro ou bens de valor.
THÉNARDIER:
Tá, tá, tá… agora vê se desaparece da nossa frente.
BÊBADO 1[RAFA]:
Vai embora!
BÊBADO 3[GUSTAVO]:
Tá tarde para uma garotinha!
BÊBADO 2[LUCAS]:
Obedece ao seu pai, hein!
ÉPONINE:
Se vocês invadirem… eu vou gritar!
THÉNARDIER:
Grita, meu anjo, grita, e eu faço você se arrepender!
ÉPONINE:
Ahhhhhhhhh!!!
46
THÉNARDIER:
Puta merda! Corram! Fujam!
[Saem bêbados]
THÉNARDIER:
Quanto a você, nem volte para casa se não quiser apanhar!
VALJEAN:
Por Deus, Cosette! Que gritos são esses? Pulei da cama de susto, parecia uma algazarra!
COSETTE:
Fui eu, papai!! Quando gritei, espantei os homens que arrombaram aqui, contei 3!
VALJEAN:
Será Javert? Finalmente conseguiu nos alcançar? Maldito destino que não se escapa!
Cosette, minha filha, pegue suas coisas! Corre! Precisamos ir pra onde estejamos
seguros!
VALJEAN:
Só mais um!
Um outro dia, um destino a mais
A estrada torta onde eu não sigo em paz
Pois hão de vir atrás de mim
Atrás da marca de Caim
Só mais um
[Entra Marius]
MARIUS:
Como eu cheguei até aqui?
Como eu irei sem teus abraços?
VAJEAN:
Só mais um
[Entra Cosette]
ÉPONINE:
Mais um dia e eu tão só
47
MARIUS & COSETTE:
Vou te ver mais uma vez?
ÉPONINE:
Mais um dia e eu sem ele
ÉPONINE:
Minha vida é como um nó
ÉPONINE:
E ele nunca vai saber
[Entra Enjolras]
ENJOLRAS:
Mais um dia pra vencer
MARIUS:
Vou atrás do meu amor?
ENJOLRAS:
Pelo sol da liberdade
MARIUS:
Ou irei com meus irmãos?
ENJOLRAS:
Nossas tropas vão crescer
MARIUS:
Meu destino em minhas mãos
ENJOLRAS:
É preciso decidir
[Entra coro]
CORO:
Lutar por nós
Gritar, vencer
[Entra Valjean]
48
VALJEAN:
Só mais um…
JAVERT:
Mais um dia de revoltas
E vão todos se queimar
Estudantes e os seus livros VALJEAN:
Vão com sangue se molhar Só mais um…
THÉNARDIERS:
Olha aquele ali
Pega aquele lá
Tira a sorte grande
Quem souber jogar
Puxa por aqui
Tira pra levar
Lá pr’onde eles vão
Ninguém vai precisar
ESTUDANTES REBELDES:
Mais um dia, um novo tempo
(As bandeiras desfraldar)
Todo homem vai ser rei
(Todo homem vai ser rei)
Há um novo firmamento
(Há um mundo a conquistar)
Ouçam todos a cantar
MARIUS:
Eu vou seguir
Eu vou lutar!
VALJEAN:
Só mais um…
VALJEAN:
Só mais um… E os planos que farão
49
MARIUS & COSETTE (ÉPONINE): JARVERT: THÉNARDIERS:
Eu já não sei viver sem ti Mais um dia de revolta Olha aquele ali, pega aquele lá
(Passa o dia e eu tão só) E vão todos se queimar Tira a sorte grande, quem souber jogar
Eu só respiro entre os teus braços Estudantes e os seus livros
VALJEAN:
Só mais um dia pra viver
Só mais um dia pra perder
TODOS:
Só mais um dia pra saber
Da nossa guerra ou nossa paz
Mais um sol
Só mais um
Só um mais!
FIM DO 1º ATO
50
2º ATO
ENJOLRAS:
Nesse ponto aqui
Barricadas vão se erguer
A cidade nos guarda
No seu coração
Que venham com tudo
E logo verão, não!
Eu preciso saber
Qual a força que têm
[Entra Javert]
JAVERT:
É bem fácil pra mim
Conheço-os bem
Pois já fui
Um dos seus
Já lutei,
Vai por mim
ESTUDANTE 1[RAFA]:
Todos hão de lutar
[Sai Javert]
ESTUDANTE 2[LUCAS]:
E se empenhar
Eles vão
É se estrepar
ESTUDANTE 3[GUSTAVO]:
Todos tem que lutar!
MARIUS:
Éponine, o que faz aqui?
ÉPONINE:
Sei que eu não posso ficar aqui, vim só para te ver.
MARIUS:
Sai daqui, é perigoso demais!
ÉPONINE:
Está tão preocupado comigo, isso significa que me ama?
51
MARIUS:
Se quer me ajudar, aqui! Leve esta carta a Cosette, por favor.
ÉPONINE:
Mal olha para mim, e nem quer saber…
ÉPONINE:
Senhor, trago essa carta para Cosette, vem de um rapaz das barricadas.
VALJEAN:
Pode entregar pra mim, deixa que eu entrego.
ÉPONINE:
Mas é uma carta pra Cosette!
VALJEAN:
Eu te asseguro que ela vai receber. Pode ir.
[Sai Éponine]
ÉPONINE:
E eis então mais uma vez
Que eu estou aqui sozinha
Nem um amigo pra falar
Nenhuma voz além da minha
Já vai anoitecer
E ele vai aparecer
Só pra mim
Eu finjo que ele chega
São pra mim
As flores que ele trouxe
Invento que estou entre os seus braços
52
E se eu fechar os olhos
Ele vem guiar meus passos
ENJOLRAS:
Liberdade enfim!
MARIUS:
Os guardas vão chegar! Mantenham-se firmes, rapazes!
ENJOLRAS:
Não percam a fé! Não deixem cair!
ESTUDANTE 1[RAFA]:
Se eu devo morrer para ser finalmente livre, quero para mim a mais dura batalha!
ENJOLRAS:
Se eles ousam nos atacar, vamos revidar com tudo!
53
ENJOLRAS:
Ah, mas eles vão nos ouvir! Não vamos nos render!
TODOS:
Ah, mas eles vão nos ouvir! Não vamos nos render!
ESTUDANTE 3 [GUSTAVO]:
Ele voltou
[Entra Javert]
JAVERT:
Me ouçam, senhores! Eu sei como eles são, como pensam, como agem. Precisamos nos
planejar bem ou a derrota é certa!
ENJOLRAS:
Muito bem! Se conhece os planos deles, nos diga.
JAVERT:
Eles não vão atacar essa noite. Querem esperar até ficarmos sem comida. Aí é quando
eles se enfrentam.
[Entra Gavroche]
GAVROCHE:
Mentiroso! Boa tarde, seu polícia, como vai, tudo bem? Esse cara é o famoso inspetor
Javert! Um farsante! Eu sou pequeno, mas sou muito esperto! Vamos acabar com ele!
ESTUDANTE 1[RAFA]:
Bravo, garotinho, bravo.
ESTUDANTE 2[LUCAS]:
E então? O que faremos com esse rato imundo?
ENJOLRAS:
Vamos amarrá-lo e deixar o povo decidir o que fazer com ele.
JAVERT:
Me matem logo! Não vão tirar nada de mim! Vamos, acabem logo com isso!
ENJOLRAS:
Levem ele lá pros fundos, decidimos depois!
ESTUDANTE 3[GUSTAVO]:
Eles estão atirando!
[Sons de tiros]
54
[Entra Éponine]
MARIUS:
Éponine! O que você está fazendo aqui? Perdeu a cabeça?
ÉPONINE:
Fiz o que você pediu, entreguei a carta ao pai. E agora eu já não aguento mais…
MARIUS:
Éponine, que foi? Há algo estranho em você…
ÉPONINE:
Tudo bem, Marius
Agora nada dói
A chuva fina cai
E não machuca mais
Você chegou pra não doer
Chegou pra me cuidar
Chegou pra me aquecer
E eu sei que as flores vão crescer
MARIUS:
Você não vai morrer
Oh, por favor
Eu vou curar você
Com meu amor
ÉPONINE:
Me abraça então
E fique aqui
Junto aqui
Dentro aqui
MARIUS:
Vai nascer um novo sol
E outros muitos mais
E eu não te deixo mais…
ÉPONINE:
Eu já não sinto mais
A dor, a chuva vai levar
Só vai ficar você
Só vou lembrar você
E vou dormindo assim te amar
Abençoada a chuva
Que te traz
O céu se abre e eu vou
55
Seguindo em paz
Um pouco mais
E eu vou partir
Bem longe, eu vou dormir
[Éponine morre]
ENJOLRAS:
A primeira a morrer, a primeira a derramar sangue…
MARIUS:
Seu nome é Éponine. Teve uma vida triste, mas nunca teve medo.
ESTUDANTE 1[RAFA]:
Lutemos em nome dela!
ESTUDANTE 2[LUCAS]:
Do seu heróico amor!
ESTUDANTE 3[GUSTAVO]:
E esse homem de uniforme aqui? O que a gente faz com ele?
[Entra Valjean]
VALJEAN:
Sou voluntário pra luta!
ESTUDANTE 2[LUCAS]:
Com essa idade? Acha que aguenta o tranco? Tem idade para ser avô!
56
ESTUDANTE 3[GUSTAVO]:
E vem em um uniforme oficial! Muito suspeito!
VALJEAN:
Sim, posso ajudar! E o uniforme foi para eu conseguir chegar até aqui!
ENJOLRAS:
Então pega essa, vai nos ajudar! E se ousar de nos trair, vai pagar com sangue!
ESTUDANTE 1[RAFA]:
Tem um pelotão avançando contra nós!
ESTUDANTE 2[LUCAS]:
Várias tropas, homens aos montões!
ENJOLRAS:
Fogo!
[Sons de tiros]
ESTUDANTE 3[GUSTAVO]:
Atiradores!
ESTUDANTE 1[RAFA]:
Estão recuando!
ESTUDANTE 2[LUCAS]:
Vencemos dessa vez!
ENJOLRAS:
Mas eles vão voltar! E a você, devo agradecer, nos ajudou bastante. Realmente é um
homem habilidoso!
VALJEAN:
Não há o que agradecer! Mas poderia pedir um favor?
ENJOLRAS:
Se estiver ao meu alcance…
VALJEAN:
Me dê o tal do Javert. Eu cuido dele!
[Entra Javert]
JAVERT:
Está tudo uma bagunça, a lei não existe mais!
ENJOLRAS:
Faça o que bem quiser, agora Javert é seu!
57
VALJEAN:
E agora nós
JAVERT:
É, Valjean…agora é nós! Tanto corri atrás de ti que acabei encurralado! Faça de mim o
que quiser, Valjean, tenha sua vingança! Mata-me
VALJEAN:
Não vim aqui atrás de vingança, muito menos o que matar!
JAVERT:
Como assim?
VALJEAN:
Some daqui, Javert, vai!
JAVERT:
Pense bem, Valjean.
VALJEAN:
Só fuja…
JAVERT:
Uma vez ladrão, sempre ladrão. Se me deixar vivo vou atrás de você para sempre. Isso
só acaba quando um de nós morrer!
VALJEAN:
Não é possível, homem! Só enxerga o próprio umbigo! Não vê um palmo além do
próprio nariz! Cabeça dura igual pedra! E se eu sair dessa aqui vivo, a própria vida vai
dar um jeito de me botar no teu caminho de novo…vou estar no velho endereço da Rue
Plumet.
[Sai Javert]
[Som de tiro]
ENJOLRAS:
Fique a postos, todos. Essa noite não vamos dormir! Podem atacar a qualquer momento!
VALJEAN:
Deus do céu
Vais-me ouvir?
Vais olhar
Este jovem por mim?
Dai-lhe o sol
Dai-lhe a luz
E mostrai
58
Ensinai
A viver
A viver
A viver
Dai a paz
Que ele quer
Ele é bom
Ele pode aprender
Sois o sol
Sois o mar
Onde eu vou
Descansar
ENJOLRAS:
Os outros não virão, os que não morreram por tiro, morreram de fome, mas não vamos
desistir, ficaremos juntos! Sempre!
[Sons de tiros]
ENJOLRAS:
O que aconteceu?
ESTUDANTE 1[RAFA]:
A gente tá quase sem munição!
MARIUS:
Vou sair na rua pra revistar os corpos e ver consigo algo!
ENJOLRAS:
Não posso deixar você morrer!
MARIUS:
Mas alguém tem que fazer alguma coisa!
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VALJEAN:
Eu vou! Na minha idade já não faz diferença!
GAVROCHE:
Mas é preciso de alguém rápido!
ESTUDANTE 1[RAFA]:
Você não, garoto!
ESTUDANTE 2[LUCAS]:
O garoto vai se estrepar
GAVROCHE:
Olha só! Tô quase lá!
[Som de tiro]
OFICIAL DO EXÉRCITO[GYO]:
Atenção pro que vamos dizer: rendam-se agora ou vamos investir com tudo!
ENJOLRAS:
A gente morre, mas mata também!
ESTUDANTE 1[RAFA]:
Eles vão sofrer!
ESTUDANTE 2[LUCAS]:
Vamo entregar pra eles o inferno!
ENJOLRAS:
Podem vir!
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[Sons de tiros. Enjolras e Estudantes morrem, Marius cai no chão ferido, Valjean
sai arrastando Marius. Entram Javert e soldados tirando os corpos. Todos saem e
o cenário muda para o esgoto. Entra Thénardier arrastando um corpo]
THÉNARDIER:
Oh, mil perdões M’sieur, só vou pegar um dente aqui! E outro anel ali! Não é como se
você fosse usar ainda, não é mesmo? Ah, não me olhe com essa cara, tem muitos corpos
por Paris, alguém precisa fazer essa faxina. E por que não eu? Agora você fique aqui
com os ratos e eu vou no varejão vender tudo isso.
[Sai Thénardier. Entra Valjean carregando Marius. Valjean cai. Entra Thénardier
roubando Marius]
THÉNARDIER:
Mas que belo anel! Lindo camafeu! Mas seria um crime penhorar tal beleza! Muito
obrigado, meu senhor! E no garotinho aqui, o coração já parou, mas consigo escutar o
tic-tac do relógio! Tantas frutas boas nesse pomar!
THÉNARDIER:
Valjean? Esse mundo é pequeno demais!
VALJEAN:
Mas não podia ter melhor hora pra um reencontro, ein, Javert! O rapaz é um bom
homem, tá pelo fim e precisa de um médico urgente!
JAVERT:
Eu te avisei que não ia te deixar em paz!
VALJEAN:
E promessa é dívida! Só mais uma hora, até eu encaminhar o rapaz pra alguém que o
salve…depois sou todo seu e vai poder finalmente me botar dentro da sua lei!
JAVERT:
Do que sai da sua boca eu já tô farto! Vou te botar dentro da minha lei é agora!
VALJEAN:
O menino tá no fim, Javert! Olha pra ele e se ainda te restou um pingo de humanidade e
senso de justiça me deixa salvar ele!
JAVERT:
Vai, Valjean…leva seu rapaz, salva a vida dele! Vou te esperar pra acertar as contas,
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JAVERT:
Mais uma vez
Esse demônio que vem
Me perseguir outra vez
E dar-me o troco também
Quando ele pôde vingar
E decretar o meu fim
Pra se livrar
Do seu passado e de mim
Um gesto só
Só um golpe fatal
Mas ele quis que eu vivesse afinal
É preciso pensar
Se a verdade ele diz
Deve ser perdoado
Seu destino infeliz?
Eu me afundo em confusão
Céu de chumbo sobre mim
No vazio, olhos meus
Os princípios não têm fim
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Desse mundo vou sair
É o mundo Jean Valjean
Já não há lugar pra mim
Já não há um amanhã…
CORO DE MULHERES:
Fim da luta
Diga quem sobrou
Jovens das trincheiras
Nenhum deles retornou
Não sabiam
Nem como atirar
Só queriam ver
Um mundo novo despertar
Nada muda
Nada vai mudar
Todo ano é mais
Uma outra boca pra criar
Velha história,
E pra que sofrer?
E pra que rezar
Se nada vai acontecer?
MARIUS:
Há uma dor que segue muda
Gosto amargo que não sai
Tantas mesas e cadeiras
E ninguém se senta mais
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Era aqui que se encontravam
Foi aqui que começou
O amanhã que procuravam
E o amanhã jamais chegou
[Saem rebeldes]
MARIUS:
Nessas mesas e cadeiras
Já não há amigos meus
[Entra Cosette]
COSETTE:
Cada dia é um passo a mais em seu novo caminho, Marius
MARIUS:
Ainda me pergunto quem foi que me trouxe vivo da batalha…
COSETTE:
Não pense muito nisso! De agora em diante temos um ao outro e sempre estarei aqui!
[Entra Valjean]
MARIUS:
Senhor, nunca vou poder agradecer o suficiente por me permitir casar com Cosette! Me
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deu o maior presente da minha vida, me acolhendo em sua família e confiando a mim o
nosso amor!
[Sai Cosette]
VALJEAN:
Preciso que se cale agora e me escute, rapaz, tenho algo sério pra dizer! Minha filha
sempre soube que eu escondia algo e eu engoli esse segredo a seco por muito tempo e
tempo é algo que já não tenho mais. Houve uma vez um homem, Jean Valjean. Roubou
um pão pra ajudar a irmã e passou boa parte, muito, encarcerado sem perdão nenhum
até ser solto em condicional. Mudou de vida, foi pra longe, arrumou profissão, cresceu,
se fez na vida…até que um dia precisou fugir, forjar um novo nome…ele fez tudo por
amor e cuidado com uma filha que a lhe deu, pra que ela crescesse bem e segura e
concluído sua missão é preciso que ele vá e a deixe viver bem e feliz!
MARIUS:
Foi pela Cosette, o senhor é Jean Valjean! Mas…pra que ir agora? Não há nada que
possamos fazer? Cosette, coitada, vai sofrer demais com a sua ausência, ela te ama
muito!
VALJEAN:
Fala pra ela que eu tive que viajar, tinha coisas pra resolver, dívidas de muito
antes…não quis me despedir, seria triste demais pra mim e não poderia ir em paz! Só
me prometa que ela nunca saberá da verdade!
MARIUS:
Sei o quanto a ama e que faria tudo pelo seu bem. Se acha que assim ela será mais feliz
e segura, pode contar comigo e ir em paz!
CORO:
Bate o sino
Pois o dia chegou
Que os anjos todos
Venham se juntar
Para cantar
Pelo amor que vingou
E a paz assim
Pra sempre abençoar
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THÉNARDIER:
Ora pois, meu bom gajo! Onde foi que nos conhecemos? Será que foi em um jantar com
o rei?
MARIUS:
Não, Barão de Thenard, jamais frequentei um lugar tão nobre. Espera…Sai daqui,
Thénardier. Não sei o que está tramando, mas não vai funcionar!
MADAME THÉNARDIER:
Eu falei, não vai dar! Mostra logo pra ele!
THÉNARDIER:
Enfim, viemos cobrar nossos quinhentos francos, por favor!
MARIUS:
E por que eu daria toda essa grana a vocês?
MADAME THÉNARDIER:
Ah, mas vai pagar!
THÉNARDIER:
O homem que você defende é um assassino! Se me lembro bem… vi Valjean
carregando um corpo morto, um cadáver. E ele usava um anel muito lindo, um anel
igual a esse!
MADAME THÉNARDIER:
E tem mais, lembro bem que foi na noite de tiros na barricada.
MARIUS:
Como assim? Isso é meu! Então foi isso, Valjean me salvou aquela noite… e você
Thénardier, tome aqui seus quinhentos francos!
[Soca Thénardier]
MARIUS:
Vem Cosette, meu amor!
THÉNARDIER:
Isso é demais
Isso é que é
Nós dois ali
Além da ralé
Conde pra lá
Duque pra cá
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Olha essa aí
Que bicha vulgar!
Dá pra acreditar
Que hoje eu tô aqui?
Comendo canapé
Com a melhor “Paree”!
MADAME THÉNARDIER:
Entre os figurões
Gente tão gentil
Todos falam baixo
E olham de perfil
THÉNARDIER:
Todo mundo vai à igreja
Pra rezar ao Salvador
[Saem convidados]
VALJEAN:
Na sombra só eu espero
E conto as horas pra dormir
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Sonhei um sonho em que Cosette
Se faz chorar porque eu morri
COSETTE:
Papai!! Meu pai, o que aconteceu? Você foi embora logo no casamento sem falar nada,
o que tá acontecendo com você?
VALJEAN:
Minha filha, meu coração fica muito feliz em poder te ver mais uma vez…Me perdoem,
os dois.
MARIUS:
Eu que devo pedir desculpas, por não te agradecer o suficiente! Cosette, seu pai me
salvou, naquele tempo da barricada, quando todos morreram, ele me carregou igual um
filho e conseguiu salvar minha vida.
VALJEAN:
Já agradecem demais por estarem aqui comigo, meu filho! Agora sim, eu posso ir em
paz!
COSETTE:
Ir como, papai? Não! Vai ficar aqui com a gente!!
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VALJEAN:
Meu último segredo, filha, aqui, toma! Quando eu descansar você lê! Tua mãe morreu
buscando uma vida melhor pra vocês duas. No leito de morte dela eu prometi que eu
cuidaria sempre de você e honrei minha promessa com todo o amor e prazer do mundo!
FANTINE:
Vem pra mim, pois nada mais importa
Toda dor ficou atrás da porta
Deus do céu, olhai-o com piedade
VALJEAN:
Perdoa meus pecados
E me leva em tua glória
[Entra coro]
CORO:
Ouça o povo a cantar
Dentro da noite o seu refrão
Eis a canção de todo um povo
Que atravessa a escuridão
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Ouça o povo a cantar
Junto aos tambores em furor
Há uma vida a despertar
E um novo amor!
BLACKOUT
[FIM]
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