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Apostila Noções de Anatomia Da Madeira
Apostila Noções de Anatomia Da Madeira
a do carvalho na fabricação de cortiça (Fig. 02), de largura e de algumas células a vários centíme-
acácia negra, barbatimão, angico vermelho, angico tros de altura. Porção de parênquima que percorre
preto, angico branco, etc., na produção de taninos. as linhas radiais cuja função é armazenar e transpor
Enfim, em inúmeras outras utilizações, como alimen tar horizontalmente substâncias nutritivas. Suas célu
to para gado, extensores para colas, fármacos, las como as demais células parenquimáticas, pos-
perfumaria, etc. suem uma longevidade maior que a dos outros
elementos anatômicos. Apresentam uma grande
3.2. Raios riqueza de detalhes quando observados nos cortes
Originários das iniciais radiais do câmbio, radial e tangencial, constituindo elementos importan
tendo número e aspecto constante num mesmo tes na identificação de espécies.
gênero de árvores. Varia de uma a quinze células
3.3. Alburno (Latin alburnu = branco) cos e ambientais. Há uma forte relação positiva en-
Porção externa, funcional do xilema, geral- tre a quantidade de alburno e a quantidade de fo-
mente clara (Fig. 03). Possui células vivas e mortas. lhas na árvore. Possui mecanismos de defesa ativo
Tem como função principal a condução ascendente e passivo contra os xilófagos: o ativo é induzido por
de água ou seiva bruta nas camadas externas próxi- ataque ou ferimento e o passivo é produzido antes
mas ao câmbio; também armazena água e substân da infecção. Contêm poucos extrativos tóxicos e
cias de reserva tais como amido, açucares, óleos e geralmente é susceptível ao apodrecimento. Aceita
proteínas, e produz tecidos ou compostos defensi- bem tratamentos com preservativos e para melho
vos em resposta as injúrias. Sua permeabilidade é rar suas características tecnológicas.
facilitada pela presença de pontuações funcionais A “zona de transição” entre alburno e cerne
não incrustadas. Sua largura varia entre espécies e – não aparente em todas as espécies – é uma cama
dentro da espécie devido a idade e fatores genéti- da estreita de coloração pálida, circundando regiões
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de cerne e injuriadas. Frequentemente possui célu- la é adicionada, retirada ou sofre modificação ana-
las vivas, é destituída de amido, é impermeável a tômica no processo.
líquidos, com umidade mais baixa que o alburno e Considerando o tronco um cilindro, ocorrem
algumas vezes também a do cerne. elevadas tensões de compressão e tração nas ca-
madas externas, donde se conclui que o cerne é
menos importante que o alburno no suporte estrutu-
ral. De fato, troncos ocos de árvores antigas persis-
tem por vários anos. No entanto o alburno é insufici-
ente na sustentação dessas árvores e o cerne provi-
dencia a necessária resistência a compressão: árvo-
res ocas tombam quando a camada externa de ma-
deira é inferior a 1/3 do raio total. No entanto, evidên-
cias demonstram que o cerne possui pouca ou míni-
ma contribuição mecânica em espécies com alburno
relativamente espesso.
Variação de cerne numa espécie ocorre devi
do a idade da árvore, tratos silviculturais, vigor da
árvore, estrutura anatômica, geadas, doenças, polui
ção, taxa de crescimento, site, controle genético,
etc.
A cernificação não é inteiramente conheci-
da, embora alguns eventos sejam evidentes (morte
do parênquima e formação de extrativos) e outros,
efêmeros. Entre as alterações observadas na cernifi
Figura 03. Diferentes tipos e proporções de alburno cação da madeira, algumas não respondem suficien
e cerne na madeira.
temente a variação dos modelos de formação do
cerne. As modificações são as seguintes:
3.4. Cerne
· morte do parênquima
É a camada interna e mais antiga do lenho,
· formação de extrativos
desprovida de células vivas e materiais de reserva.
· alteração no teor de umidade; ressecamento
Em algumas espécies difere do alburno pela cor
· degeneração dos núcleos dos parênquimas
mais escura, baixa permeabilidade e aumento da
· decréscimo de substâncias nitrogenadas
durabilidade natural. Há apenas mecanismo de defe
· produção e acúmulo de gases (etileno e CO2)
sa passiva contra os xilófagos, proveniente do arma
· obstrução da pontuação
zenamento de extrativos. Fornece suporte estrutu-
· remoção ou acúmulo de nutrientes (K, Mg, Ca, etc)
ral, otimiza o volume do alburno e mantém o ambien
· redução dos compostos armazenados
te. O volume do cerne é cumulativo, o de alburno
· atividade enzimática
não. Ou seja, a proporção de cerne aumenta com a
A cernificação é acompanhada de um au-
idade.
mento no conteúdo e no acúmulo abrupto ou gradu-
As células de suporte e condução morrem
al de extrativos. Os extrativos formam-se na “zona
após alguns dias de formadas. As camadas internas
de transição” ou no limite alburno/cerne a partir da
perdem gradativamente sua atividade fisiológica e a
disponibilidade de compostos locais e outros deloca
atividade parenquimática gradualmente declina ao
dos desde o floema e alburno. Compostos fenólicos
afastar-se do câmbio. Toxinas – subprodutos do
são produzidos e armazenados na “zona de transi-
metabolismo – podem provocar a morte das células
ção” ou seus precursores são acumulados no albur-
parenquimáticas. Este evento – a morte completa
no e depois transformados na “zona de transição”.
do parênquima – marca o início do processo de
Os extrativos podem impregnar a parede celular, ini-
transformação de alburno para cerne, denominado
ciando na lamela média e, posteriormente, na pare-
cernificação. Ao morrerem as células parenquimá-
de secundária. Os extrativos estão localizados majo
ticas, as substâncias de reserva são em parte
ritariamente nos raios. Há evidências de íntimas
removidas ou polimerizam formando resinas, coran-
associações químicas entre extrativos e componen-
tes, óleos, compostos fenólicos, taninos, gorduras e
tes estruturais da parede, porém a formação dos
outros químicos, que impregnam pontuações e
compostos do cerne difere do processo de lignifica-
paredes ou deposita-se nos lumens das células
ção.
proporcionando ao lenho durabilidade e coloração.
A quantidade de extrativos no cerne aumen-
O resultado da alteração do alburno nesse processo
ta em direção ao alburno, consequentemente a ida-
recebe o nome de cerne.
de da árvore influencia no conteúdo de extrativos. O
O início da cernificação varia entre as espé-
baixo padrão quali e ou quantitativo de extrativos
cies. No eucalipto inicia-se aos 5 anos, nos pinus
próximos a medula reflete a degradação dos mes-
entre 14 e 20 anos e há espécies iniciando após os
mos com o tempo ou no incremento da deposição
80 anos ou mais. A velocidade do processo de
com a idade. O exterior do cerne é mais durável na
cernificação também varia com a espécie.
base da árvore e está associado com o decréscimo
A resistência da madeira não é essencial-
de extrativos em direção a medula e altura da copa.
mente afetada pela cernificação, pois nenhuma célu
Madeira de reação possui quantidades mais baixas
de extrativos em comparação à normal.
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A presença de extrativos no cerne pode: dificultar o movimento de xilófagos pelos vasos e
· reduzir a permeabilidade: torna-o lento durante a permitir o acúmulo de extrativos, evitando serem
secagem e dificulta a impregnação com preservan diluídos pelo fluxo da transpiração.
tes químicos; Ferimentos externos podem estimular a
· aumentar a estabilidade dimensional em condições formação de tilos visando bloquear a penetração de
de umidade variável; ar na coluna ascendente de líquidos, como também
· aumentar ligeiramente o peso; a degradação das membranas das pontuações por
· ser tóxico aos organismos xilófagos, aumentando a fungos. Excepcionalmente, tilos podem ser observa-
durabilidade da madeira; dos em fibras com pontuações grandes (algumas
· consumir mais químicos no branqueamento da pol- lauráceas e Magnoliáceas).
pa de celulose; Nas folhosas, o fator determinante da perme
· corroer metais (taninos); abilidade da madeira é a presença ou não de tilo-
· interferir na aplicação de tintas, vernizes e colas ses. Os tilos são importantes na identificação e prin-
· apresentar coloração agradável. cipalmente na utilização da madeira, por aumen-
tarem a densidade dentro de certos limites e dificul-
Em algumas folhosas, associada a for- tarem a secagem, a impregnação com preser-
mação do cerne, observa-se a ocorrência de tiloses, vantes ou estabilizantes químicos e a infiltração de
obstrução dos lumens dos vasos por tilos (Fig. 04). licores na polpação pois obstruem os caminhos
Tilos são expansões de células parenquimáticas naturais da circulação de líquidos. Tilos são também
que penetram nos vasos adjacentes através das encontrados em coníferas: ocorrem nos traqueóides
pontuações, podendo obstruir os lumens total ou axiais de espécies que apresentam pontuações do
parcialmente, além do fechamento das pontuações; campo de cruzamento fenestriforme, resultado de
formam-se quando a pressão no lúmen do parên- injúrias mecânicas, infecções ou estímulo químico.
quima projeta sua parede para o interior da cavida- É comum encontrar no cerne das coníferas,
de do vaso. Os tilos possuem paredes finas ou canais resiníferos obstruídos pela dilatação das
espessas, pontuadas ou não e conter ou não amido, células epiteliais que o circundam, fenômeno conhe-
cristais ou gomo-resinas. Tilos esclerosados apre- cido por tilosóide. Em conseqüência, a resina é
sentam parede espessa, laminada e lignificada, com expelida dos mesmos, impregnando os tecidos
pontuações simples coalescentes. adjacentes.
As tiloses integram a estratégia de defesa
da árvore ao reduzir a quantidade de ar e umidade,
Figura 04. Lúmen de um vaso invadido por tilos: (X) - Seção transversal; (T) – seção axial tangencial.
3.7. Câmbio
É um tecido meristemático, isto é, apto a
gerar novas células, constituído por uma camada de
células entre o xilema e o floema. Permanece ativo
durante toda a vida da árvore. A atividade cambial é
bastante sensível às condições climáticas.
4. FISIOLOGIA DA ÁRVORE
Figura 13. Diferentes tipos de células da madeira, derivadas das iniciais cambiais.
Figura 14. Esquema de divisão periclinal do câmbio para o crescimento em diâmetro do tronco.
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5. PLANOS ANATÔMICOS DE CORTE
6.1. Cor
Varia do quase branco ao negro, sendo de
grande importância do ponto de vista decorativo. A
coloração é resultante da deposição de corantes no
interior da célula e na parede celular, tais como tani-
nos, resinas, gomo-resinas, etc., depositados princi-
palmente no cerne. Algumas são tóxicas aos fun-
gos, insetos e brocas marinhas e, em geral, madei-
ras escuras apresentam grande durabilidade, prin-
cipalmente aquelas com elevado teor de taninos.
6.4. Grã
Refere-se ao arranjo e direção dos elemen-
tos anatômicos em relação ao eixo da árvore ou das
peças de madeira. São eles:
⋅ Grã reta ou direita - os elementos anatômicos se
dispõem mais ou menos paralelos ao eixo da árvore
ou peça de madeira.
facilita a serragem
contribui para a resistência da madeira
reduz o desperdício
não produz figuras ornamentais especiais
⋅ Grã irregular - todos os elementos do lenho apre- Figura 19. Madeira com grã entrecruzada: Acima – super-
fície quebrada; abaixo – superfície serrada.
sentam variações de inclinação em relação ao eixo
da tora ou peça de madeira, afetando a resistência
⋅ Grã ondulada - os elementos anatômicos
quando excessivo. Pode ser:
axiais freqüentemente mudam de direção, apresen-
⋅ Grã espiral - os elementos anatômicos se-
tando-se como linhas onduladas regulares (Fig. 20).
guem uma direção espiral ao longo do tronco (Fig.
As superfícies axiais apresentam faixas claras e
18). A inclinação pode ser tanto para o lado direito
escuras alternadas entre si, de belo efeito decora-
como para o esquerdo e variar a diferentes alturas.
tivo. Apresenta superfície radial corrugada e efeito
Uma volta completa em torno do eixo da árvore em
decorativo quando ocorre com grã entrecruzada,
menos de 10 metros, a madeira apresenta limita-
como p.ex., em imbuia.
ções industriais, sobretudo como material de
construção. As peças de madeira retiradas de um
tronco espiralado apresentam grã oblíqua.
reduz a resistência da madeira
dificulta a trabalhabilidade
apresenta sérias deformações na secagem
⋅ Grã entrecruzada - os elementos anatômi-
cos são inclinados alternadamente para o lado
direito e esquerdo. É uma forma modificada da grã
espiral. As sucessivas camadas de crescimento são
inclinadas em direções opostas (Fig. 19).
apresenta deformações na secagem
dificulta a trabalhabilidade
produz figuras atraentes
afeta a elasticidade e flexão estática Figura 20. Peças de madeira apresentando grã ondulada.
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⋅ Grã inclinada, diagonal ou oblíqua - desvio 7. ESTRUTURA ANATÔMICA DA MADEIRA
angular dos elementos axiais em relação ao eixo
axial da peça. Proveniente de árvores com troncos 7.1. Parede celular
excessivamente cônicos, espiralado, crescimento A parede celular é um compartimento dinâ-
excêntrico, etc. mico que se modifica ao longo da vida da célula,
afeta a resistência mecânica constituindo uma rígida armação fibrilar com determi
ocorrência de deformações na secagem nadas funções no elemento anatômico:
⋅ Resistência estrutural
6.5. Textura ⋅ Determinar e manter a forma
Refere-se a impressão visual produzida ⋅ Controlar a expansão
pelas dimensões, distribuição e percentagem dos ⋅ proporcionar estabilidade
elementos constituintes do lenho. A textura pode ⋅ Regular o transporte
ser: ⋅ Proteger contra xilófagos
Folhosas: ⋅ Armazenar alimento
⋅ Grossa ou grosseira - madeiras com: poros gran- ⋅ Atuar no crescimento e divisão
des e visíveis a olho nu (diâmetro tangencial >
⋅ Equilibrar a pressão osmótica
300 μm); raios muito largos e parênquima axial
⋅ Evitar perda de água.
muito abundante. Não recebe bom acabamento.
Ex: carvalho, louro faia, acapu, etc.
A compreensão das propriedades da parede
⋅ Média - diâmetro tangencial dos poros de 100 a celular inclui sua estrutura química e física, tais
300 μm e parênquima axial visível ou invisível a como:
olho nu. ⋅ importância e estrutura da matrix de polissacarí-
⋅ Fina - poros de pequenas dimensões (diâmetro deos.
tangencial < 100 μm) e parênquima axial invisível ⋅ importância e significado da lignina e glicoproteí-
a olho nu e ou escasso. Ex: pau marfim, pau nas.
amarelo, etc. ⋅ conhecimento de substâncias incrustantes como
oligo e polissacarídeos de baixo peso molecular,
Coníferas: refere-se a nitidez, espessura e enzimas e lipídeos.
regularidade das zonas de lenhos inicial e tardio dos
anéis de crescimento. Pode ser: 7.1.1. Formação
⋅ Grossa - contraste bem marcante entre as duas No processo de divisão cambial, a primeira
zonas, apresentando anéis largos, com aspecto camada de separação que surge entre as novas
heterogêneo. Ex. Pinus elliottii. células adjacentes é a lamela média, constituída
⋅ Média - anéis de crescimento distintos e estreitos. principalmente de pectinas, cuja função é unir as
⋅ Fina - contraste pouco evidente ou indistinto, a- células umas às outras (Fig. 21). É a camada mais
presentando aspecto homogêneo. Ex: externa da célula. A esta camada, deposita-se, pos-
Podocarpus sp. teriormente para o interior da célula, microfibrilas de
celulose em diversas orientações ao longo do eixo,
6.6. Brilho constituindo a parede primária. Muito elástica, a pa-
Refere-se a capacidade das paredes celula- rede primária expande durante o crescimento da cé-
res refletirem a luz incidente. A face radial é mais lula até seu tamanho definitivo. Em seguida, deposi-
reluzente pelo efeito das faixas horizontais dos ta-se junto à parede primária microfibrilas de celulo-
raios. A importância do brilho é de ordem estética, se, obedecendo orientações que distingue três ca-
podendo ser acentuado artificialmente com polimen- madas distintas. Essas camadas, designadas S1, S2
tos e acabamentos superficiais. A madeira deve ser e S3 na seqüência cronológica de formação, consti-
classificada como sem brilho e com brilho (acentua- tui a parede secundária. Essa progressiva deposi-
do e moderado). ção de novas camadas engrossa a parede celular
provocando a diminuição do diâmetro do lúmen. A
6.7. Figura característica mais notável da parede secundária é
Descreve a aparência natural das faces da a perda da elasticidade da célula. Nas camadas
madeira resultado das várias características macros secundárias, as microfibrilas apresentam orientação
cópicas: cerne, alburno, cor, grã, anéis de cresci- quase paralela ao eixo principal da célula (S2) e
mento, raios, além do plano de corte em si. É qual- quase perpendicular ao mesmo eixo (S1 e S3).
quer característica inerente à madeira que se Paralelamente à formação da parede secundária,
sobressai na superfície plana de uma peça, tirando inicia-se do exterior para o interior o processo de
sua uniformidade. lignificação, que é muito intenso na lamela média e
Desenhos atraentes têm origem em certas parede primária, finalizando com a completa forma-
anomalias como: grã irregular, galhos, troncos afor- ção da parede celular. Por outro lado, estudos indi-
quilhados, nós, crescimento excêntrico, deposições cam que a lignificação raramente ocorre na camada
irregulares de corantes, etc. S3. Freqüentemente ao término do espessamento
O conjunto de desenhos e alterações deco- da parede, a célula morre.
rativas que a madeira apresenta, pode torná-la facil- A estrutura da parede primária é a mesma
mente distinta das demais. para quase todos os tipos de células e espécies,
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Figura 21. Estrutura simplificada da parede celular com as diversas camadas e orientação das microfibrilas
de celulose. ML - lamela média; P – parede primária; S1, S2 e S3 – camadas da parede secundá-
ria. À esquerda, plano axial; à direita, plano transversal.
enquanto a parede secundária apresenta diferenças parede e une as células umas as outras.
quanto ao tipo de célula e espécie. 4) Morte – células de condução e suporte morrem
A estrutura da parede celular assemelha-se após formadas (dias em algumas madeiras), en-
ao concreto reforçado: a armação interna de microfi- quanto as parenquimáticas vivem vários anos –
brilas de celulose – análogas às barras de aço – é em algumas espécies, 15 anos.
embebida em uma substância amorfa, a matrix,
constituída de lignina e hemiceluloses – equivalente
ao cimento + areia.
A combinação da celulose, hemiceluloses e
lignina na construção da parede celular não está
inteiramente esclarecida. Um resumo das teorias
envolve:
⋅ Cadeias paralelas de celulose unidas por pontes
de hidrogênio formam microfibrilas.
⋅ As microfibrilas estão ligadas à lignina através das
hemiceluloses.
⋅ A matriz de microfibrilas e adesivo (lignina + hemi-
celuloses) formam progressivas camadas sobre a
parede celular.
Resumindo, a gênese da parede celular é
caracterizada pelas etapas a seguir (Fig. 14 e 22):
1) Expansão – parede primária delgada, maleável,
altamente deformável e baixa dureza, acompanha
o aumento em tamanho (> 100 vezes) e eventual-
mente em diâmetro. Figura 22. Etapas da gênese da parede celular. Adaptado
2) Espessamento – a deposição de microfibrilas na de Thibaut et al (2001) e Hertzberg et al (2001).
parede secundária altera a forma, espessura, ar-
quitetura e composição química. 7.1.2. Estrutura química
3) Lignificação – adição de lignina confere rigidez à
⋅ Celulose – É o mais abundante composto orgânico unidades de glucose unidas covalentemente, seme-
da natureza e principal constituinte estrutural da pa- lhantes às contas de um colar (Fig. 23). Muito está-
rede celular. É um polissacarídeo que se apresenta vel quimicamente e extremamente insolúvel. As
como um polímero composto de cadeias lineares de pontes de hidrogênio são tão fortes entre as cadeias
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que a celulose não derrete, gaseifica; parte do gás armação tal qual uma concha envolvendo a
queima, outra parte re-polimeriza como carvão. célula, formando tanto o esqueleto da célula como
Possui elevada resistência à tração. Constitui uma da árvore.
Figura 23. Celulose. À esquerda, estrutura química. À direita, unidade básica (molécula).
mente, torna a parede celular aparentemente intac Figura 30. Pontes de hidrogênio intra e inter cadeias de
ta quando removida. As pectinas preenchem espa- celulose.
ços entre as microfibrilas e as células e pode unir-
se as outras armações.
⋅ A armação de proteínas/glicoproteínas cujo maior
componente é a extensina, semelhante a um fio de
lã muito pequeno e duro. Sua função é pouco co-
nhecida, além da que endurece e estabiliza a pa-
rede celular.
⋅ A armação de lignina cessa a mobilidade da pare-
de celular e torna-a mais hidrofóbica e rígida.
Crassulae Identuras
Espiralado Calitrisóide
Figura 37. Traqueóides axiais. a e c – células do lenho inicial e b célula do lenho tardio; d – ilustração da
circulação de água através das pontuações areoladas dos traqueóides axiais.
ticidade do margo permite a circulação de líquidos ção da madeira (secagem, preservação, difusão de
de uma célula a outra (Fig. 37) e atua juntamente substâncias químicas na fabricação de papel, etc.).
com o torus, como uma válvula típica. A abertura da Regra geral as pontuações areoladas localizam-se
pontuação é circular nos gêneros mais primitivos e na face radial dos traqueóides axiais e, menos fre-
mais ou menos orbicular nos menos evoluidos. qüentemente, na tangencial. Portanto, devem ser
O estudo dessas pontuações e sua disposi- observadas no corte radial (Fig. 38).
ção têm grande importância na identificação e utiliza
A B B C
Figura 38. Disposição das pontuações areoladas nas paredes radiais dos traqueóides axiais.
A – uniseriadas. Multiseriadas: B – opostas, C – alternas.
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Os traqueóides axiais possuem dupla fun- 7.2.2. Raios
ção, ou seja, realizam a condução da seiva bruta e São células parenquimáticas de largura vari-
sustentação da árvore. ável que se estendem transversalmente no lenho,
Diferenças entre traqueóides axiais das dife- em sentido perpendicular aos traqueóides axiais
rentes espécies são sutis – em geral a aparência é (Fig. 39). Tem a função de armazenar e transportar
semelhante. As diferenças são principalmente nas horizontalmente substâncias nutritivas. Estão vivos
medições, isto é, no comprimento, no diâmetro tan- no alburno e mortos no cerne. Células parenquimá-
gencial, na espessura da parede e, características ticas caracterizam-se por apresentar paredes finas,
como a descrição precisa das pontuações de campo pontuações simples e em sua maioria, não lignifica-
de cruzamento. As medições dos traqueóides dos das. Produzem extrativos e “substâncias químicas
lenhos inicial e tardio devem ser feitas separada- de defesa” antes da formação do cerne ou após o
mente. ferimento de uma árvore.
Normalmente os traqueóides axiais do lenho Podem ser constituídos apenas de células
tardio são maiores do que os do lenho inicial.
parenquimáticas: raios homogêneos, como p.ex., ⋅ Cupressóide – pontuações com aberturas elípticas
Podocarpus spp e Araucaria angustifolia; ou apre- dentro da aréola.
sentarem traqueóides radiais em suas margens: ⋅ Taxodióide – pontuações com grandes aberturas
raios heterogêneos, p. ex., Cedrus spp, Cupressus dentro das aréolas, ovais (tendendo para arredon-
spp, Pinus spp e Picea spp. dadas).
Geralmente são unisseriados (uma única fi-
leira de células). Algumas vezes são multisseriados, Ocorrem no alburno e nas áreas adjacentes
normalmente quando incluem um canal resinífero aos canais resiníferos, raios com grãos de amido se
em seu interior e, nesse caso, são chamados de melhantes a inclusões brilhantes. No cerne podem
raios fusiformes (Pinus, Pseudotsuga Picea e Larix). aparecer alguns raios com compostos coloridos for-
A proporção de unisseriado para fusiforme é de 40:1 mando manchas escuras (Fig. 41).
a 60:1.
É grande a importância na identificação de 7.2.3. Parênquimas axiais
coníferas os diferentes tipos de pontuações que São células tipicamente prismáticas, de pare
surgem nas zonas de contato entre os raios e os des finas, dotadas de pontuações simples, seção ±
traqueóides axiais, denominadas pontuações do retangular no corte transversal e pode apresentar
campo de cruzamento. A forma, tamanho e número conteúdos escuros (Fig. 13). Vivas, tem a função de
de pontuações por campo variam entre as diversas transportar e armazenar substâncias nutritivas. Nem
espécies (Fig. 40). São observadas no lenho inicial todas as coníferas apresentam parênquima axial e,
e refere-se ao contato de um único traqueóide axial quando possui, esse é escasso. Está presente em
e um único raio. Em que pese as diversas variações Podocarpus e Pinus e ausente em Araucaria. Quan-
as pontuações por campo de cruzamento podem to a posição no anel de crescimento podem ser (Fig.
ser: 41):
⋅ Fenestriforme – de 1 a 2 (ou 3) pontuações retan- ⋅Marginal – apresenta-se no limite dos anéis.
gulares e quadradas, simples ou quase, ocupando ⋅Metatraqueal – pequenos grupos difusos ou faixas
quase todo o campo; tangenciais no interior dos anéis.
⋅ Pinóide – de 1 a 6 pontuações relativamente gran- ⋅Difuso – isolados e irregularmente distribuídos.
des, simples ou com aréolas estreitas; irregular e Quando associado aos canais resiníferos,
variável na forma e tamanho; distingue-se dos traqueóides em séries verticais
⋅ Piceóide – pontuações com fendas estreitas que pelas pontuações simples.
se estendem além da aréola;
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Fenestriforme Pinóide
Cupressóide Taxodióide
Figura 41. À esquerda, raios com grãos de amido. À direita, raio com compostos coloridos.
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Figura 44. A – Canal resinífero axial. B – raio fusiforme; C – canais resiníferos axiais traumáticos.
Difusa uniforme
semidifusa Em anel
Tangencial Diagonal
Dendrítico
a b c d
Figura 56. Fibras. a, libriforme; b, fibrotraqueóide; c, fibras septadas; d, fibras de paredes espessas.
Figura 57. Células parenquimáticas constituintes dos raios e os tipos básicos de raios.
33
As células parenquimáticas mais comuns ⋅ Homogêneos – formados apenas por células pro
nos raios são observadas na seção radial: cumbentes.
⋅ Procumbentes (deitada ou horizontal) – o compri- ⋅ Heterogêneos – incluem células de mais de um for-
mento da célula é maior radialmente; mato (procumbentes e eretas) nas mais diferentes
⋅ Eretas – o comprimento da célula é maior longitudi- combinações.
nalmente; dentro destas incluem-se as quadradas, Os raios homogêneos e heterogêneos po-
células de tamanho axial e horizontal similares. dem ser tanto unisseriados (uma fileira de células)
como multisseriados (3 ou mais fileiras de células).
Os raios recebem muitas classificações de Kribs classificou-os em:
acordo com seus diferentes aspectos. Kribs desen- ⋅ Homogêneos: inclui raios constituídos unicamente
voveu uma bastante elaborada, utilizada em algu- de células procumbentes; as células das margens
mas descrições de madeiras (Fig. 58). são comumente mais altas do que as células do
Segundo Kribs os raios podem ser: centro (várias espécies de leguminosas).
7.4.3. Inclusões
Apesar de não serem elementos anatômi- Figura 64. Alguns cristais presentes na madeira. A e B –
cos, sua presença é importante para a anatomia, drusas; C – romboédricos em câmara; D –
identificação e utilização da madeira. ráfides; E – estilóide.
Podem ser:
⋅ Sílica – material cuja fórmula química e grau de du- ⋅ Drusas – agrupamentos globulares multifacetados
reza assemelha-se ao do diamante (Fig. 63). Pode ⋅ Rombóides – monocristais prismáticos;
ocorrer no interior dos raios ou parênquima axial em ⋅ Ráfides – centenas ou milhares de cristais seme-
forma de partículas ou grãos e, raramente infiltra-se lhantes a acículas, freqüentemente com ranhuras,
nas paredes das fibras e vasos. Pode ocorrer tam- formando feixes compactos;
bém na forma de blocos compactos nos lumens de ⋅ Estilóides – grandes cristais alongados retângula-
vasos e fibras e, raramente, nos parênquimas. Des- res;
crever a forma, localização e o número por célula. ⋅ Cistólitos – concreções de carbonato de cálcio;
⋅ Cristais – são depósitos intra ou extracelular, em ⋅ Areia de cristal. – massa de pequenos cristais an-
sua grande maioria de oxalato de cálcio (síntese do gulares
ácido oxálico e cálcio do ambiente), que ocorre no
lúmen ou associados à parede celular, em diversos A deposição de cristais em qualquer cama-
tipos de células, principalmente as parequimáticas. da da parede celular é comum na maioria das célu-
A biomineralização nas plantas é um processo fisio- las, particularmente nas coníferas. Cristais romboé-
lógico normal, notadamente nos órgãos vegetativos, dricos são encontrados na parede celular, enquanto
reprodutivos, de armazenamento e desenvolvimen- os presentes no lúmen podem ser de qualquer um
to, além de tecidos fotossintéticos ou não. Uma com outro tipo.
36
7.4.4. Floema incluso
O câmbio pode formar eventualmente célu- 7.4.6. Conteúdos vasculares
las de floema para o interior do tronco em alguns Embora não sejam elementos anatômicos, a
gêneros e famílias. Pode ser: presença de conteúdos dentro dos vasos, designa-
⋅ Concêntrico (circumedular) – forma faixas concên- dos gomo-resinas, tem importância para a anato-
tricas no lenho. mia, identificação e propriedades da madeira. A cor,
⋅ Foraminoso – feixes axiais espalhados pelo lenho. consistência, abundância, etc., constituem detalhes
⋅ Difuso – disperso pelo lenho. de grande valor diagnóstico.
Figura78. Poros largos do lenho inicial e poros estreitos do lenho tardio. As setas indicam o local das pontuações inter-
vasculares no limite entre os dois lenhos. As escalas são 100 e 25 µm, respectivamente. Adaptado de Kitin
et ali (2004).
Vasos estreitos com pontuações intervascu- Espécies de regiões mais quentes, com
lares com torus constitui um sistema auxiliar conduti poros grandes, quando atingidas por geadas sofrem
vo de baixa eficiência, porém oferece grande resis- completa cavitação e morrem devido a total perda
tência a cavitação. A natureza homoplástica do to- de condutividade.
rus nas folhosas é provavelmente provocada por Nos traqueóides axiais os orifícios do mar-
adaptações funcionais, de significado ecológico e fi- go, grandes, são incapazes de impedir a cavitação,
siológico não inteiramente conhecido. tarefa realizada pelo torus aspirado. A entrada de ar
ocorre quando o torus deixa a posição aspirada. A
8.2..2 Cavitação provocada por estresse hídrico cavitação nas coníferas depende da diferença de
A cavitação ocorre quando a diferença de pressão através do margo e das propriedades mecâ
pressão entre a água do xilema e o ar circunvizinho nicas da membrana.
excede as forças capilares na interface ar-água. Os elementos condutores necessitam de
Sob essas condições o ar é aspirado para dentro do paredes reforçadas para evitar o risco de implosão
lúmen e as bolhas de ar formadas nucleiam a devido a elevada pressão de sucção. Grandes
mudança para vapor. A água no xilema encontra-se tensões de flexão surgem na parede dupla (t) entre
sob uma pressão negativa muito elevada. Portanto, o condutor saturado de água e o embolizado (Fig.
quando a disponibilidade de água no solo não é 79). As paredes devem ser robustas o suficiente
suficiente, a coluna ascendente de água rompe e os para resistir a tais esforços. Quanto mais espessa a
capilares ficam vazios. parede dupla em relação a distância máxima da
A maior quantidade de orifícios na parede abertura do lúmen (b), mais reforçada estará contra
celular localiza-se nas membranas das pontuações, a flexão, mantendo sua integridade estrutural. As
sendo esses os possíveis locais de admissão de ar. coníferas possuem um fator de segurança contra
O tamanho dos orifícios da membrana da pontuação implosão maior do que as folhosas devido a dupla
que provoca a entrada de ar está relacionado às função dos traqueóides axiais.
propriedades mecânicas da membrana (resistência Um denso conjunto de fibras auxilia os
e elasticidade, além da sua anatomia interna). Ou vasos no transporte de água, protegendo-os contra
seja, o estado das membranas das pontuações, o colapso. Uma densa matrix de fibras compensa
esticada ou “relaxada” influi no tamanho dos orifí- áreas de considerável fragilidade devido a presença
cios dessas membranas. Os orifícios de uma mem- de poros largos ou abundância de poros
brana “repousada” são consideravelmente menores racemiformes.
do que os de uma outra estirada pelo ingresso de Madeira densa resiste melhor a pressão
ar. negativa nos condutores. Elevada densidade repre-
senta alto custo de construção, reduzida taxa de
42
Nas folhosas, os diferentes tipos de célu-
las adjacentes a um vaso formam uma matrix condu
tora com a devida importância funcional no transpor-
te de água. Um conjunto de vasos apresenta uma
maior eficiência condutiva do que um único vaso,
alcançando longas distâncias. Entretanto, essa ca-
racterística oferece pouca resistência à cavitação.
Traqueóides saturados adjacentes aos
vasos, atuam como escudo, protegendo-os contra a
entrada de ar. Os vasos estão embebidos em uma
matrix de fibras mortas e ou vivas, ou adjacentes
aos raios ou as “células de contato” (trocam solu-
ções salinas com os vasos). Há evidências de que
as células de contato apresentam elevada atividade
Fig. 80. A) Tensões na parede do condutor por pressão enzimática na liberação de açúcar na seiva bruta ge
negativa (Pi) em um lúmen saturado de água rando pressões positivas nas madeiras de algumas
(sombreado). Tensão de flexão (bending stress) árvores e ativo papel na reversão da cavitação.
ocorre na parede comum entre um capilar satura- As árvores apresentam uma diminuição da
do e outro cavitado. Tensões de flexão estão re- condutividade da água do tronco em direção aos
lacionadas a espessura da parede dupla (t), a galhos secundários e as folhas. Segundo a “hipóte-
abertura máxima do lúmem (b) e a diferença de se da segmentação” este declínio é uma adaptação
pressão (Pi – Po). B) Corte longitudinal da parede
dupla entre um capilar saturado (sombreado) e
na qual a cavitação fica restrita aos órgãos “inferio-
outro cavitado. Adaptado de Hacke et al., (2001). res” distantes, sacrificados durante uma seca. Essa
perda planejada de folhas e pequenos galhos alivi-
crescimento e baixa capacidade de armazenamen- am a pressão na base da árvore, contribuindo para
to. Não há relação entre o diâmetro dos capilares e sua sobrevivência durante o período de seca.
a densidade nas folhosas e pouca nas coníferas. A cavitação varia não só entre galhos, mas
Ao contrário da provocada por congelamen- também entre raízes e galhos. As raízes, principal-
to, a cavitação pela seca apresenta fraca relação mente as pequenas, são mais susceptiveis que os
com os diâmetros dos capilares das coníferas e galhos.
nenhuma com os das folhosas, onde depende das Há uma correlação positiva entre o tamanho
características da membrana da pontuação. e o diâmetro dos vasos. Nas árvores com porosida-
A aparente simplicidade estrutural da madei- de em anel, os poros do lenho inicial e os das videi-
ra de coníferas ajusta-se a estratégia de crescimen- ras possuem vários metros; nas com porosidade
to a longo prazo, como também a cavitação por difusa e arbustos, são muito estreitos e abaixo de 1
congelamento e o sucesso em ambientes frios. A metro. Comportamento semelhante ocorre nas
baixa eficiência condutiva dos traqueóides axiais e grandes raízes.
as respectivas baixas capacidades de troca gasosa O dilema eficiência-segurança também fixa
e fotossintética das coníferas representa vantagem o limite máximo para o tamanho dos vasos. Admitin-
sobre as folhosas, contribuindo para que possuam do-se que a membrana da pontuação é o principal
árvores altas (sequóias) e antigas (Pinus longaeva componente da eficiência condutiva, a evolução dos
com 4.900 anos, Fig. 80). vasos conduz a longos tubos que ofereçam baixa
resistência condutiva.
A estrutura das pontuações é vital na susce-
ptibilidade a cavitação por estresse hídrico:
⋅ Orifícios grandes nas membranas das pontuações
facilitam a condutividade. Entretanto, no caso das
folhosas, permitem a propagação da embolia.
⋅ Relação eficiência condutiva x resistência da pare-
de celular. Maiores e mais freqüentes menbranas de
pontuações facilitam o transporte, porém requer
uma parede secundária espessa. Grandes abertu-
ras das pontuações aumentam a condutividade,
porém aumentam o risco de implosão devido a
pressão de sucção da água.
⋅ Há evidências de que microcanais nas membranas
das pontuações alteram-se quando as pectinas in-
cham e desincham, pois atuam como hidrogéis.
⋅ A forma e dimensões da câmara e da abertura da
pontuação determinam o limite máximo no qual a
membrana deforma sob pressão.
⋅ As finíssimas membranas das pontuações inter-
Figura 80. Pinus longaeva, árvore mais antiga. vasculares permitem a passagem de água enquanto
previnem a entrada de bolhas de ar e xilófagos.
43
⋅ Quando localizada dentro da câmara, as guarni- vascular, no espessamento da parede celular,
ções limitam o deslocamento da membrana, reduzin nas placas de perfuração simples, nos vasos
do a susceptibilidade da pontuação intervascular a agrupados e dimorfismo nos vasos.
entrada de ar através das membranas. ⋅ Decréscimo no diâmetro e tamanho do elemento
⋅ Em determinadas espécies pontuações guarneci- vascular e nas placas de perfuração escalarifor-
das estão presentes no lenho tardio e ausentes no me e números de barras.
lenho inicial. ⋅ Ambientes tropicais mésicos:
⋅ Alta incidência de placas de perfuração escalari-
8.3. Tendências ecológicas e evolutivas das caracte forme com muitas barras em vasos de paredes fi-
rísticas anatômicas finas, longos, estreitos e angulares.
⋅ Porosidade em anel comum nas folhosas tempera- Geograficamente, o diâmetro dos poros
das e raras nas tropicais. aumenta em direção aos trópicos. Poros largos (>
⋅ Diâmetro estreito dos poros associados a ambien- 200 µm) e poucos poros estreitos são encontrados
tes mais secos. na Amazônia. Entretanto, mesmo nos trópicos há
⋅ Abundância de parênquima axial decresce com au- um limite máximo para o diâmetro útil do vaso, pois
mento da latitude. se o poro perde a função, a condutividade diminui
⋅ Vasos e traqueóides vasculares estreitos com es- com o aumento do tamanho do vaso.
pessamento espiralado ocorrem frequentemente ⋅ nas regiões quentes prevalecem madeiras de co-
em áreas secas ou frias. res variadas e mais escuras que as de clima frio,
⋅ Pontuações intervasculares com torus ocorrem em onde predominam as “madeiras brancas”.
madeira com porosidade em anel, vasos estreitos
(diâmetro < 20 μm) e climas temperados frios. 9. VARIABILIDADE DA MADEIRA
⋅ Pontuações intervasculares guarnecidas tem ele-
vada incidência em ambientes com altas taxas de Ocorre variação na estrutura e nas proprie-
transpiração ou altas tensões no xilema, como p. dades da madeira de espécie para espécie, na
ex. florestas tropicais, sazonais e desérticas, suge- mesma espécie e na própria árvore. As causas des-
rindo que as guarnições reduzem a aspiração ou sas variações são:
ruptura da membrana ao apoiá-la contra grandes · genéticas,
pressões, podendo ainda, auxiliar na dissolução da · ambientais e
embolia e na funcionalidade dos vasos. · cambiais (idade do câmbio ao produzir lenho juve-
⋅ Ambientes frios ou montanhosos: nil ou maduro).
⋅ Incremento na freqüência de vasos e espessa-
mentos helicoidais 9.1 Madeira juvenil
Madeira juvenil é aquela produzida pelo
⋅ Decréscimo no diâmetro e tamanho do elemento
câmbio jovem; ocupa o centro de todas as árvores.
vascular.
Árvores jovens seriam totalmente de madeira juve-
⋅ Planícies tropicais:
nil; árvores antigas possuem lenho maduro com o
⋅ Incremento no diâmetro dos poros e nas placas centro de lenho juvenil (Fig. 81). A transição de
de perfuração simples madeira juvenil para madura é gradual, ocorrendo o
⋅ Decréscimo na freqüência de vasos e nas placas mesmo com relação às propriedades. É difícil de ser
de perfuração escalariforme e número de barras. detectada com um simples exame.
⋅ Ambientes secos:
⋅ Incremento em diâmetro e tamanho do elemento
⋅ Encanoamento – ocorre devido a secagem mais ⋅ Arqueamento - ocorre pela diferença de contração
rápida de uma face ou quando uma face se contrai axial entre laterais da mesma peça de madeira;
mais que a outra mesmo com secagem uniforme, ⋅ Encurvamento (abaulamento) - ocorre devido às
em função do plano em que foi feito o corte da peça diferenças de retração nas faces de uma peça de
de madeira (radial ou tangencial); madeira quando uma delas seca mais que a outra,
⋅ Torcimento - as causas podem ser as anteriores ou além de irregularidades da grã e tensões desenvolvi
pela combinação de contrações diferentes e desvios das durante o crescimento da árvore;
da grã (espiralada, diagonal, entrecruzada, ondula- ⋅ Diamante – ocorre em peças de seção quadrada,
da); resultado da diferença entre as contrações tangen-
48
cial e radial, quando os anéis de crescimento vão, espaço para o ar, além de baixa permeabilidade.
diagonalmente, de um canto a outro da seção. A intensidade de colapso aumenta com a
temperatura; para diminuí-la deve-se reduzir a
11.1.2. Rachaduras - aparecem como conseqüência temperatura de secagem até a madeira atingir o psf.
da diferença de retração nas direções radial e tan- A temperatura no início não deve ultrapassar 50oC.
gencial da madeira e de diferenças de umidade
entre regiões contíguas de uma peça. Essas diferen
ças levam ao aparecimento de tensões que, tornan-
do-se superiores à resistência dos tecidos lenhosos,
provocam a ruptura da madeira. As rachaduras, for-
madas no início e acentuadas durante a secagem,
são comuns nas madeiras de densidade mais alta,
nas menos permeáveis e em peças mais espessas,.
Podem ser evitadas mediante a secagem lenta e
uniforme da madeira. Os tipos de rachaduras são:
⋅ Rachaduras de topo (fendas) - aparecem nas extre
midades das peças, causadas pela secagem mais
rápida dessas regiões em relação ao resto da peça.
Nesse caso, os extremos começam a contrair
rapidamente e, como o resto da peça não acompa- Figura 87. Colapso.
nha, ocorrem as rachaduras, que em casos mais
sérios pode transformar-se em verdadeiras fendas; 11.1.4. Endurecimento superficial - é causado pelos
⋅ Rachaduras superficiais - normalmente ocorrem no esforços de tração e compressão que ocorrem na
período inicial de secagem, principalmente quando madeira durante o processo de secagem. Este
a umidade relativa do ar atinge valor muito baixo (< defeito é devido a secagem muito rápida e
50%) gerando, assim, uma rápida evaporação da desuniforme. Essa situação permanece mesmo
superfície. Essas rachaduras podem aparecer quan- depois da madeira atingir um teor uniforme de
do as condições de secagem são muito severas, umidade. O processo de endurecimento superficial
isto é, baixas umidades relativas, provocando a rápi- pode originar rachaduras internas tipo favos de mel.
da secagem das camadas superficiais até valores Pode ser reduzido ou eliminado se ao final da
inferiores ao psf, enquanto as camadas internas es- secagem a madeira for submetida a um tratamento
tão acima do psf. Como as camadas internas impe- com vapor (condicionamento), deixando-a exposta
dem as superficiais de se retraírem, aparecem ten- por determinados períodos de tempo a elevadas
sões que, excedendo a resistência à tração perpen- umidades relativas.
dicular às fibras, provocam o rompimento dos teci-
dos lenhosos. 11.2. Defeitos na estrutura anatômica
⋅ Rachaduras internas ou em favos de mel -
resultam de rachaduras superficiais que se fecha- 11.2.1. Nós
ram ou de rupturas por tração no interior da peça; Nó é uma porção do ramo de uma árvore
aparecem principalmente em madeiras mais densas incorporada à peça de madeira, com propriedades
quando secam a altas temperaturas e cuja resistên- diferentes da madeira circundante (Fig. 88).
cia à tração transversal é inferior as tensões de se- Os nós podem ser:
cagem. Podem também estar associada ao colapso ⋅ Nó firme ou vivo - fica firmemente retido na
e ao endurecimento superficial. Em muitos casos, madeira seca em condições normais. Corresponde
este tipo de defeito não é visível na superfície e no a época em que o ramo esteve fisiologicamente
topo da peça e, somente após o processamento ativo na árvore, havendo uma perfeita continuidade
(corte), poderá ser observado. Uma vez desenvolvi- de seus tecidos com os do tronco.
das, as rachaduras internas não podem ser elimina- ⋅ Nó morto ou solto - não fica firmemente retido na
das e, na grande maioria dos casos, a madeira será madeira seca. Corresponde a um galho que morreu
inutilizada. e deixou de participar do desenvolvimento do tron-
co. Não há continuidade estrutural e a sua fixação
11.1.3. Colapso - é caracterizado por ondulações depende da compressão exercida pelo cresci-
nas superfícies das peças, que se apresentam bas- mento diametral do fuste.
tante distorcidas (Fig. 87). A principal causa do Os nós são mais densos, escuros e lignifica-
colapso é a tensão capilar, que se manifesta na fase dos do que a madeira circundante e por isso mesmo
inicial de secagem quando a umidade da madeira mais duros e quebradiços. Dificultam a trabalhabili-
está acima do psf. Os fatores que influenciam o co- dade e apresenta deformação desigual da madeira
lapso são pequeno diâmetro dos capilares e das normal.
pontuações, altas temperaturas no início da seca- Reduz acentuadamente as propriedades da
gem, baixa densidade e alta tensão superficial do madeira, principalmente à tração e flexão.
líquido que é removido da madeira. O desenvolvi- Pode apresentar efeito decorativo.
mento do colapso requer considerável número de
células completamente saturadas, não havendo
49
a b c d
Figura 90. a) Seção do tronco. b) e d) Traqueóides axiais de seção arredondada, espaços intercelulares entre eles e
rachaduras nas paredes; c) e d) paredes com sulcos espiralados.
Figura 91. À esquerda, localização do lenho de tração. Ao centro e a direita, fibras gelatinosas.
ção distinta, mais clara, brilhante e superfície felpu- ⋅ elevada instabilidade dimensional (principalmente
da (Fig. 92). Vasos mais curtos e menos numero- axial)
sos. Fibras com lumens pequenos e espessa cama-
da gelatinosa nas paredes (denominadas fibras
gelatinosas), caracterizando e conferindo à madeira
um brilho especial. A camada gelatinosa é celulose
quase pura, apenas levemente lignificada.
Possui propriedades e características bem
distintas da madeira normal:
⋅ elevada densidade
⋅ fraca adesão entre as paredes primária e a secun-
dária
⋅ camada S1 mais fina que o normal
⋅ microfibrilas da camada gelatinosa quase aproxima
damente paralelas ao eixo principal
⋅ Alta resistência à tração e baixa à compressão e
a flexão
⋅ quase ausência de lignina e elevado teor de celulo-
se Figura 92. Madeira de tração apresentando superfície
felpuda após serragem.
51
crescimento. O retorno do tronco a sua posição
⋅ difícil trabalhabilidade, apresentando superfície ás- normal e estável origina tensões de crescimento.
pera e lanosa Há dois tipos de tensões de crescimento:
⋅ compensados empenados, corrugados e rachados ⋅ Tensões axiais – Nas camadas externas do tronco
⋅ coloração anormal e depreciativa e ocorrem tensões de tração; para compensar, no in-
⋅ polpação difícil e baixa qualidade do papel. terior do fuste ocorrem tensões de compressão.
Esforços de flexão provocados p.ex., pelo vento,
11.3. Danos causados por esforços mecânicos representam um perigo especialmente às regiões da
árvore opostas ao esforço, onde a madeira sofre
11.3.1. Tensões de crescimento tensão de compressão.
Os troncos e ramos das árvores encon- ⋅ Tensões transversais – Comportam-se de maneira
tram-se normalmente sob forte tensões de cresci- inversa, de forma que o interior apresenta tensões
mento. As células produzidas pelo câmbio, durante de tração e mais externamente, de compressão.
o curto período de amadurecimento, apresentam Quando a árvore está em pé, há uma com-
mudança drástica de comportamento mecânico na pensação entre as tensões internas e externas do
parede celular – de baixa rigidez e elevada elastici- tronco, ou seja, ocorre equilíbrio. Porém o abate,
dade para elevada dureza e baixa deformação – seccionamento ou desdobro pode liberá-las, ocasio-
expandindo transversalmente e contraindo axialmen nando fendas e deformações muitas vezes exage-
te. No entanto, a forte adesão da célula jovem à ma- radas (Fig. 94).
deira formada anteriormente impede a contração axi Árvores com tensões de crescimento eleva-
al, provoca tração axial e compressão tangencial na das possuem maior comprimento de fibras, de va-
parede e desenvolve um estado de tensões como sos, de espessura da parede celular, de contração
mostra a Fig. 93. Na direção radial as tensões são volumetrica e de módulo de elasticidade, e menor
quase ilimitadas. A soma das tensões de sustenta proporção de lignina do que aquelas com tensões
ção e amadurecimento é denominada de tensões de inferiores.
Figura 93. Distribuição das tensões de crescimento. À esquerda, no tronco. À direita, na parede celular.
Figura 94. Deformações provocadas pelas tensões de crescimento antes e após o desdobro.
voque acentuada curvatura do tronco sem quebrar. Apresentam zonas de lenho translúcido ou
As falhas de compressão constituem um gra manchas que podem liquefazer quando aquecidas
ve defeito, pois afetam profundamente as proprieda- no processo industrial.
des mecânicas da madeira, fazendo com que esta
quebre inesperadamente.
Bastante comum em madeiras de guapuru-
vu e Angelim-pedra.
11.3.3. Aceboladura
Fenda circular que ocorre no interior do tron-
co. Corresponde a uma zona frágil em decorrência
de um espaçamento brusco e exagerado entre
anéis de crescimento (Fig. 95). Danos mecânicos
externos ou tensões de crescimento provocam este
defeito, podendo inutilizar completamente a
madeira.
Figura 95. Aceboladura.
11.3.4. Bolsas de resina ou de goma
Quando a cavidade do defeito anterior é 11.4. Outros defeitos
preenchida com resina ou goma têm-se as chama-
das bolsas de resina ou goma (Fig. 96). Resultam 11.4.1. Esmoada (quina morta)
de fendas tangenciais no câmbio praticadas por É o canto arredondado, formado pela curva-
esforços mecânicos. Afeta as propriedades de resis- tura natural do tronco (Fig. 97). Caracteriza elevada
tência e a aparência da madeira, além de prejudicá- proporção de alburno. Defeito ocasionado no desdo-
la para folheados e compensados. bro, pois o pranchão e posteriormente a tábua,
apresentam vestígios de casca, mostrando clara-
mente a seção circular do tronco.
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