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Madeira: material heterogéneo hidroscópico (capacidade de absorver agua) resultante

das plantas.

Características:

1. Apresenta boas condições naturais de isolamento térmico;


2. Material heterogéneo (diferenciação celular) e anisotrópico (reação com agua);
3. Vulnerável aos agentes externos e sua durabilidade é limitada quando não são
tomadas as medidas preventivas (aplicação de tintas, vernizes, etc)
4. Material combustível;

Constituição:

1. Casca- protege o lenho e é o veículo de seiva elaborada das folhas para o lenho
do tronco. Existem duas camadas:
1.1 Ritidoma- estrato externo epidérmico, formado por tecido morto;
1.2 Entrecasco- formado por tecido mole, vivo e húmido, portanto com atividade
fisiológica e condutor de seiva elaborada.
2. Câmbio vascular- situado entre a casca e o lenho, consiste numa fina e quase
invisível camada de tecidos vivos. No câmbio realiza-se a importante
transformação dos açúcares e amidos em celulose e lenhina, principais
constituintes do tecido lenhoso.
3. Lenho- núcleo de sustentação e resistência da árvore e é pela sua parte viva
que sobe a seiva bruta. É dividido em:
3.1 Alburno (externo) - tem a cor mais clara que o cerne e é formado poe células
vivas e ativas. Condutor de seiva bruta.
3.2 Cerne (interno) - tem a cor mais escura que o alburno e é formado por células
mortas. Tem maior densidade, compacidade, resistência mecânica e
principalmente maior durabilidade, pois sendo constituído por tecido morto,
sem seiva amido, açúcares, não atrai insetos nem outros agentes de
deterioração.
4. Medula- núcleo do lenho. Tecido mole e esponjoso, muitas vezes já
apodrecido. Não tem resistência mecânica, nem durabilidade, a sua presença
em pecas serradas constitui defeito.
5. Raios lenhosos- conjunto de células lenhosas transversais radiais, cuja função
principal é o transporte e armazenamento de nutriente. A sua presença quando
significativa é vantajosa na medida em que funcionam como uma amarração
transversal nas fibras.

Anatomia da madeira

Ramo da ciência botânica que se ocupa do estudo das várias células que compõem o
lenho, bem como da sua organização, função e relação com atividades biológicas do
vegetal. Através da anatomia é possível diferenciar espécies, identificando
corretamente a madeira.

Nas Gimnospermas a classe mais importante é a das coníferas, também designadas na


literatura internacional como Softwoods, ou seja madeiras moles.

Nas Angiospermas distinguem-se as Dicotiledóneas, usualmente designadas na


literatura internacional como hardwoods, ou seja madeiras duras.

Estrutura e Anatomia do Caule

Na árvore a madeira desempenha 3 funções: suprimento da planta em seiva bruta,


armazenamento de reservas e sustentação. Para se conhecer a estrutura da madeira
torna-se fundamenta o exame dos 3 cortes realizados: transversal, radial e tangencial.

Anéis de Crescimento- em um anel de crescimento distinguem-se normalmente duas


partes: Lenho inicial (primaveril) e Lenho tardio (outonal).
O lenho inicial corresponde ao crescimento da árvore na primavera, época em que as
plantas saem do período de dormência em que se encontram e reiniciam sua atividade
vital com toda intensidade.

No final do período vegetativo (outono) as células vão diminuindo sua atividade vital,
consequentes suas paredes se tornam mais espessas e seus lumens menores,
apresentando um especto escuro.

Para muitas arvores tropicais, os anéis de crescimento correspondem a períodos de


seca e períodos de chuva ou queda das folhas e deve-se ressaltar que os anéis de
crescimento não são sempre anuais. Em geral nas zonas de clima temperado, os anéis
de crescimento representam o incremento anual da árvore.

É comum encontrarem-se em troncos, anéis de crescimento descontínuos (não formam


um ciclo completo em torno da medula) e os chamados falsos anéis de crescimento
(quando se forma mais de um anel por período vegetativo) dificultando a determinação
da idade exata de uma árvore.

Planos de Corte ou de observação

Transversal- corte feito perpendicular ao eixo do caule. Um corte neste plano oferece
uma secção transversal ao eixo da árvore, correspondendo a secção transversal (ou de
topo) de um tronco ou peca de madeira.

Radial- corte orientado segundo os raios em secção transversal. Paralela aos raios ou
perpendicular ao limite dos anéis de crescimento, em um plano de corte passando pela
medula.

Tangencial- corte tomando tangencialmente em relação aos limites dos anéis de


crescimento, ou perpendicular a direção dos raios, sendo esta, paralela ao eixo do
caule.
Com o auxílio desses planos de observação é possível reconstituir,
tridimensionalmente, a arquitetura da estrutura anatómica da madeira.

C
B
Figura 1: A) Seção transversal mostrando um anel de crescimento e a nítida separação entre os lenhos inicial e
tardio; B) Seção longitudinal tangencial mostrando elementos vasculares curtos (vaso), largura e altura dos raios
e parênquima axial; C) Seção longitudinal radial mostrando a composição dos raios e o parênquima axial.

Característica para identificação macroscópica

Vasos- estruturas que ocorrem, salvo raras exceções em todas angiospermas,


constituindo o principal elemento de diferenciação entre coníferas (gimnospermas) e
folhosas (angiospermas). Os vasos são responsáveis pela condução ascendente de
líquidos na árvore, quando observados em corte transversal na madeira, aparecem
como diminutos orifícios de formato circular a elíptico, recebendo, normalmente, o
nome de “poros”, sendo seu tamanho, distribuição e abundancia aspetos importantes
para identificação de madeiras.

Visibilidade dos vasos:


1. Distintos a olho nu;
2. Distintos apenas sob lente (com 10x);

3. Indistintos mesmo sob lente (10x);

Porosidade- refere-se ao tipo de dispersão dos vasos, quando observados em


secção transversal de amostra da madeira.

Porosidade difusa- quando os poros (vasos) apresentam-se dispersos de forma


aproximadamente uniforme pelo lenho, em secção transversal, independentemente
do limite dos anéis de crescimento. Este tipo de porosidade pode ser uniforme ou
não.

Porosidade em anéis- quando os poros (vasos) de maior diâmetro apresentam-se


dispostos de forma concêntrica no tronco, vistos em secção transversal, sendo os
de maior diâmetro localizados no inicio do período vegetativo (lenho inicial).
Esses anéis podem ser do tipo poroso circular ou semi-poroso.

Anel semi-poroso- observa-se a presença de poros de maior diâmetro tangencial


no lenho inicial e gradativa diminuição do diâmetro dos poros no lenho tardio
(final do anel de crescimento)

Anel poroso circular- observa-se a presença de poros de maior diâmetro no lenho


inicial e brusca transição coma diminuição do diâmetro dos poros no lenho tardio.

Figura 2: Representações
esquemáticas dos tipos de porosidade da madeira. A) Difusa uniforme; B) difusa não uniforme; C)
Semiporoso; D) Anel poroso.

Arranjo dos vasos


Distribuições especiais dos vasos, vistos em secção transversal, configurando padrões
característicos. Esses tipos podem ser classificados como:

Tangencial- os vasos estão dispostos tangencialmente de forma perpendicular aos


raios, mas não constituindo o limite dos anéis de crescimento.

Radial- os vasos estão dispostos, preferencialmente, de forma paralela aos raios e


perpendicular aos anéis de crescimento.

Diagonal/Obliquo- os vasos estão dispostos de forma intermediaria entre a posição


radial e tangencial, melhor dizendo, preferencialmente de forma obliqua ou em
diagonal. Padrão peculiar de Eucaliptos.

Dendritico- vasos dispostos em faixas ramificadas, obliqua aos raios, apresentando o


aspeto arquitetural de árvores. Este padrão esta presente no lenho tardio de certos
carvalhos.

Figura 3: Seção transversal mostrando diferentes arranjos de distribuição dos vasos. A) Tangencial (Carvalho
brasileiro – Roupala brasiliensis, Proteaceae); B) Radial (Morototó– Schefflera morototoni, Araliaceae); C)
Diagonal e/ou oblíquo (Eucalipto - Eucalyptus grandis, Myrtaceae); D) Dendrítico (Carvalho – Quercus petraea,
Fagaceae).
Obstrução dos vasos

A presença de conteúdos obstruindo os vasos podem ser tiloses/tilos, esses são


detalhes importantes para identificação de madeiras.

Vasos desobstruídos- vasos totalmente livres, sem conteúdo (ou tilos) em seu interior.

Vasos obstruídos por inclusões- todos os vasos ou apenas alguns deles da região do
cerne estão preenchidos por inclusões orgânicas (ex.: gomas, óleos, resinas ou gomo-
resinas, óleo, resinas, etc..)

Vasos obstruídos por tilos- os tilos constituem barreiras físicas que podem dificultar
a penetração de fungos xilófagos, inclusive sua secagem e tratamentos preservativos,
pelo facto de obstruírem a circulação natural de líquidos.

Figura 4: Seção transversal mostrando vasos obstruídos por tilos. A) Cardeiro, (Scleronema micranthum,
Malvaceae); B) ucuúba-punã (Iryanthera tricornis, Myristcaceae); C) Seringueira (Hevea brasiliensis,
Euphorbiaceae); D) Matamatá, sapucaia cheirosa, tauari (Eschweilera coriacea, Sin.: E. odora, Lecythidaceae),
sendo D em seção longitudinal radial.

Agrupamentos dos vasos


Os vasos, quando observados em secção transversal, podem ocorrer de forma isolada
ou em agrupamento múltiplos de dois ou mais.

1. Solitários
2. Múltiplos de dois, três ou mais poros- esses podem estar alinhados em series
múltiplas radiais, tangenciais e em agrupamento racemiforme (em cachos), em
número superior a 4 poros.
3. Series radiais
4. Series tangenciais
5. Cachos

Figura 5: Aspecto dos poros, segundo o seu agrupamento, observado em seção transversal.

Parênquima axial- o parênquima é um tecido composto por células geralmente


cilíndricas ou prismáticas, orientadas paralelamente ao maior eixo da árvore. Esse
tecido desempenha funções de armazenamento de reservas do metabolismo geral das
plantas, sendo normalmente mais abundante nas angiospermas do que nas
gimnospermas. Distinguem-se dois tipos básicos de distribuição:
Apotraqueal- quando o parênquima não esta associado aos vasos.

Paratraqueal- quando o parênquima esta em contacto com os vasos.

O Parênquima axial pode ser: distinto sob lente e indistinto sob lente.

O parênquima axial apotraqueal pode ser:

 Difuso

A B

Figura 6: Parênquima axial apotraqueal difuso. A) representação esquemática; B) Exemplo de madeira: cupiúba
(Goupia glabra, Goupiaceae).

 Difuso em agregados

Figura 7: Parênquima axial apotraqueal difuso em agregados. A) representação esquemática; B) Exemplo de


madeira: piquiá (Caryocar glabrum, Caryocaraceae).

O parênquima axial paratraqueal pode ser:


 Paratraqueal escasso

Figura 8: Parênquima axial paratraqueal escasso. A) representação esquemática; B) Exemplo de madeira:


andiroba (Carapa guianensis, Meliaceae).

 Paratraqueal Unilateral

Figura 9: Parênquima axial paratraqueal unilateral. A) representação esquemática; B) Exemplo de madeira:


piquiá marfim (Aspidosperma obscurinervium, Apocynaceae).
 Paratraqueal Vasicêntrico

Figura 10: Parênquima axial paratraqueal vasicêntrico. A) representação esquemática; B) Exemplo de madeira:
tachi branco (Tachigali myrmecophila, Fabacea
 Paratraqueal Aliforme
 Aliforme losangular

A B

Figura 11: . Parênquima axial paratraqueal aliforme losangular. A) representação esquemática; B) Exemplo de
madeira: cumaru (Dipteryx odorata, Fabaceae).

 Aliforme de extensão linear

Figura 12: Parênquima axial paratraqueal de extensão linear. A) representação esquemática; B) Exemplo de
madeira: marupá (Simarouba amara, Simaroubaceae).
 Aliforme Confluente

Figura 13:
Parênquima axial paratraqueal aliforme confluente. A) representação esquemática; B) Exemplo de
madeira: melancieira (Alexa grandiflora, Fabaceae).

 Parenquima axial em faixas


 Linhas

A B

Figura 14: Parênquima axial em linhas. A) representação esquemática; B) Exemplo de madeira: balata (Manilkara
bidentata, Sapotaceae).

 Faixas

Figura 15: . Parênquima axial em faixas. A) representação esquemática; B) Exemplo demadeira: angelim-pedra
(Hymenolobium petraeum Fabaceae).
 Reticulado

Figura 16: Parênquima axial reticulado. A) representação esquemática; B) Exemplo de madeira: tauari (Cariniana
integrifolia, Lecythidaceae).

 Escalariforme

Figura 17: Parênquima escalariforme. A) representação esquemática; B) Exemplo de madeira: araticum (Annona
glabra, Annonaceae).

 Marginal

Figura 18:
Parênquima marginal. A) representação esquemática; B) Exemplos de
madeiras: cedro (Cedrela fissilis, Meliaceae); C) Ucuúba-punã (Iryanthera
tricornis, Myristicaceae).

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