Você está na página 1de 10

O MERCADO

Professor Bouzid Izerrougene


Faculdade de Economia
Universidade Federal da Bahia

É uma instituição em que interagem ofertantes e demandantes de mercadorias, serviços, mão


de obra, capital e contratos. Opera em âmbitos físicos (bens, serviços, trabalho, ...), nominais
(finanças, seguros, ...) e intangíveis (informação, cuidados, ...). Também, atua nos tempos
correntes e futuros e existe um mercado para cada bem ou serviço negociado.

Historicamente, pode-se dizer que o mercado, enquanto instituição, isto é, uma força capaz de
influenciar a ordem socioeconômica, não se iniciou sob uma lógica rural e produtiva local, mas,
sim, sob uma lógica internacional e financeira que caracterizou o comércio ultra marítimo da Era
dos Descobrimentos. Antes disso, o mercado tradicional, local e rural, somente confrontava a
oferta inicial com a demanda final, não deixando lugar para intermediações.
Consequentemente, não permitia o surgimento da figura do mercador, o qual irá, com o
surgimento do mercantilismo, formar a classe da burguesia comercial e submeter áreas cada
vez maiores da vida humana ao império do dinheiro.

Oferta, demanda e contratos são influenciados por diversos fatores:

• Nível do poder aquisitivo na sociedade, que depende originalmente das riquezas


naturais e da sua distribuição e, posteriormente, da produtividade do trabalho. Esta, por
sua vez, é basicamente função da formação dos trabalhadores, da educação e da
tecnologia;
• Hábitos e preferências de consumo, que são determinações culturais, influenciadas pela
moda, publicidade, etc.;
• Condições tecnológicas;
• Condições territoriais e climáticas;
• Importância do Estado na economia, a qual facilita ou dificulta o acesso aos mercados.

Os compradores (consumidores), em conjunto, definem a Demanda Agregada.

Os vendedores (ou produtores), em conjunto, definem a Oferta Total.

Em função dos poderes que detêm uns e outros se definem os tipos de mercado:

• Mercado de concorrência;
• Mercado de monopólio / monopsônio;
• Mercado de oligopólio / oligopsônio.

MERCADO CONCORRENCIAL / competitivo


Muitas condições, na atualidade difíceis de unir, são necessárias para que um mercado seja
concorrencial:

• Presença de inúmeros pequenos vendedores e compradores, o que significa dispersão


dos ofertantes e demandantes, configurando uma atomicidade do mercado. Assim, os
preços e as quantidades demandadas e ofertadas não são determinados por um número
pequeno de compradores ou vendedores, mas por todos na medida que interagem no
mercado. Cada um dos agentes econômicos exerce um controle negligenciável sobre
preços e todos são price takers e não price makers. O comprador não pode influenciar
o preço porque compra apenas uma fração da oferta e o vendedor, se cobrar mais que
o preço do mercado não vende e não tem motivo para cobrar menos.
• Homogeneidade e similaridade dos bens e serviços negociados, o que confere sua
perfeita substituibilidade;
• Fluidez e simetria da informação, o que significa que o acesso à informação acerca dos
preços e das qualidades dos bens e serviços seja o mesmo para todos; compradores e
vendedores saberiam, da mesma forma, o que ocorre no mercado. É verdade que essa
condição é um tanto mais difícil de observar, vez que implica em custo monetário e de
tempo para se informar, assim como para mudar de fornecedores, clientes ou contratos.

Apesar dessas exigências, pode se admitir a existência, ainda hoje, de mercados concorrenciais
que podem ser observados, particularmente, no varejo em geral, nos serviços, no mercado das
commodities, nos alimentos frescos, na indústria de cosméticos, etc..

Muitos mercados não são concorrenciais. Em alguns, há um só vendedor/produtor (monopólio),


ou um só comprador/consumidor (monopsônio). Outros mercados são dominados por um
número muito pequeno de vendedores (oligopólio) ou de compradores (oligopsônio)

Monopólio

Geralmente, um produtor adquire situação de monopólio quando possui uma das seguintes
vantagens

• segredo de produção, como no caso da coca cola ou da Monsanto/Bayer para os


transgênicos;
• posse exclusiva de patente de produção ou de propriedade intelectual, como é o caso
na produção de vários tipos de queijo, ou nos casos da Microsoft e da Macintosh que
possuem propriedade exclusiva de programas e processadores de informática;
• acesso exclusivo a algum recurso, matéria prima, como nos casos brasileiros da
fabricação dos chinelos havaianas ou no caso da Vale do Rio Doce, que domina toda a
extração do minério de ferro no país.

Quanto ao monopsônio, trata-se de um agente econômico que compra tudo o que é produzido
por fornecedores, como no caso das concessionárias de energia elétrica que compram toda
energia gerada por terceiros. Aliás, nesses casos de concessionárias configura-se uma situação
de monopólio e monopsônio ao mesmo tempo. Ainda, na maioria dos serviços que exigem a
instalação de redes pesadas de distribuição, tais como oferta de água e luz, os custos fixos são
de tal forma elevados que fica economicamente mais eficiente prestar o serviço com uma só
empresa do que com mais de uma. Essa situação é conhecida como de monopólio natural.
Oligopólio

Na economia moderna, o tipo oligopolístico de mercado é predominante, particularmente nos


segmentos mais dinâmicos, a exemplo da internet, TVs a cabo, telefonia, imprensa (agências
Reuter, NBC, AFP), das redes de supermercados no mundo e do sistema bancário no Brasil.

Empresas oligopolísticas podem evitar a concorrência e formar carteis para auferir maiores
lucros, elevando os preços. Esses acordos entre as empresas são ilícitos e são combatidos por
leis antitrustes.

Em muitos mercados, hoje, os vendedores oferecem produtos diferenciados, mesmo quando a


distinção não seja profunda, o que exclui uma das condições para que haja concorrência
perfeita: a homogeneidade dos bens e serviços. Se os bens não são idênticos, cada vendedor
pode determinar o seu preço dentro de um limite marcado pelas possibilidades dos
compradores em recorrer a um outro bem substituto.

Existem mercados modernos que são monopolisticamente concorrentes, como no exemplo


típico do mercado da informática, em que duas grandes empresas, Microsoft e Macintosh,
dominam. Seus processadores desenvolvem a mesma função, colocando-as como oligopolistas,
ao passo que seus programas ou softwares são exclusivos, deixando-as numa posição de
monopólio.

Analisamos primeiro o mercado de concorrência perfeita e o que se aprende nessa análise pode
ser útil no estudo dos demais tipos de mercado. Veremos que há sempre um grau de
concorrência, mesmo nos casos de monopólio

O MERCADO PERFEITAMENTE COMPETITIVO - CONCORRENCIAL

No mercado concorrencial, preços e quantidades ofertados e demandados dependem de um


grande número de vendedores e compradores, de modo que nenhum desses atores possa
exercer algum controle sobre o mercado.

DEMANDA
Partimos do princípio de que o comportamento dos compradores determina a quantidade
demandada, Qd, de quaisquer bens e serviços.

Suponhamos que a demanda, D, acompanhe o preço P. Quando P aumenta, D cai e, vis versa,
quando P cai, D aumenta.

ΔP → ΔD

Essa interação entre P e D é a LEI DA DEMANDA

Como é essa relação? é proporcional? mais ou menos que proporcional? Ou seja, de quanto
aumenta ou cai D de um produto quando seu P cai ou amenta? Isso depende basicamente do
quão necessário seja o bem em questão, da existência de outro(s) produto(s) que possa(m)
substituir o bem demandado e, também, do grau dessa substituibilidade.
Quando dois produtos, x e y, são substitutos, como, por exemplo, gasolina e álcool no
combustível de um automóvel Flex, a variação do preço de um gera variação na demanda do
outro.

ΔPx → ΔDy

Evidentemente, a demanda não depende somente do preço, mas também do nível de renda, R.
Por uma renda menor, uma demanda menor e vis versa. Todavia, existem bens e serviços cuja
demanda varia no sentido inverso da variação da renda.

ΔR ↓ → Dx ↑

Nesse caso, o produto é considerado como bem relativamente inferior. Por exemplo, uma
família consume apenas 1 quilo de salsicha por mês, porque a sua dieta em proteínas animais é
completada por outras carnes mais caras. Depois que sofre queda na sua renda, essa família
passa a demandar 6 quilos do produto. A salsicha seria, nesse caso e no justo momento em que
a mudança ocorre, um bem inferior.

Ocorre também que a variação do preço de um bem x pode causar variação na demanda do
próprio produto x e, também, na quantidade demandada de outro bem ou até de um conjunto
de outros produtos.

ΔPx→ΔDx, ΔDy, ΔDz, ...

Uma elevação no preço da gasolina, por exemplo, causa queda na demanda pelo combustível,
pelos pneus, automóveis; redução do número de passageiros, etc.

Nesse caso, os bens e serviços são complementares, como o café e o açúcar; o cimento e a areia;
o processador de informática e o programa associado, etc.

A demanda é influenciada pelos gostos e outros inúmeros fatores históricos, culturais, religiosos,
psicológicos e, ainda, pelas expectativas. De fato, o que se espera no futuro, em termo de renda,
gastos, tecnologia e da evolução dos preços, afeta diretamente a demanda de hoje.

Enfim, considerando todos esses fatores (renda, gostos, expectativas) constantes, uma mudança
de preço, P, acarreta variação na quantidade demandada, Q.

ΔPx→ΔQx

Para fim de análise, os economistas supõem constante o que varia, operando uma abstração
problemática, porém necessária, vez que não se pode capturar todas as interações em
movimento na economia. Utilizam a cláusula ceteris paribus (as outras coisas sendo iguais) para
fixar variáveis e acompanhar a trajetória de distintos fenômenos econômicos. Todavia, importa
atentar para o que é mantido constante e o que está mudando na análise do economista, isto é,
distinguir a variável do dado.

A quantidade demandada é uma função decrescente do preço. Graficamente, apresenta uma


curva decrescente.
Com a variação de P, a curva da demanda varia no eixo, ao longo da curva.

Mas, quando varia um outro fator de demanda, que não seja o preço, como renda, gosto dos
consumidores ou surgimento de produto substituto, a curva de demanda se desloca.

Qualquer alteração que aumente a quantidade, Q, demandada a cada preço, desloca a curva de
demanda para a direita.

Da mesma forma, qualquer redução em Q significa deslocamento da curva para esquerda.

GRÁFICO - deslocamento da curva da demanda

Variação de P gera movimento ao longo da curva da demanda

Variação de outros fatores que afetam a demanda fora o preço, causa deslocamento da curva
da demanda.
OFERTA
A relação entre o preço, P, e a quantidade ofertada, Q, forma a LEI DA OFERTA.

Q=f(P)

É claro, a quantidade ofertada de cada bem ou serviço depende também de outros fatores fora
o preço deste bem ou serviço. Depende basicamente:

• Do preço dos insumos (trabalho, matéria prima, energia, equipamentos, financiamento,


etc. );
• Da produtividade do trabalho que, por sua vez, vem da tecnologia, das habilidades do
trabalho, da organização da produção, etc;
• Das expectativas dos ofertantes quanto ao retorno de suas operações e à trajetória da
demanda no futuro.

Quando todos esses impactantes da quantidade demanda estiverem constantes (ceteris


paribus), a variação do preço causa mudança na quantidade ofertada.

ΔPx → ΔOx

GRÁFICO Curva da oferta

A curva da oferta se desloca ao longo da curva quando P varia.


Se houver alguma mudança que não seja de preço - variação do custo dos insumos, mudança
tecnológica, nova organização da oferta -, a curva da oferta se desloca. Vai à direita quando
aumenta a quantidade ofertada e à esquerda, caso contrário.

OFERTA E DEMANDA

Colocamos as duas curvas no mesmo gráfico

GRÁFICO – oferta e demanda


Q*: quantidade ofertada de equilíbrio.

P*: preço de equilíbrio.

Se o preço vier a cair abaixo do P*, os produtores revisariam seus planos de produção para baixo.
A quantidade de oferta cairia, ficaria abaixo da quantidade demandada e a consequente
escassez elevaria o preço, levando-o de volta ao nível P*.

Da mesma forma, se o preço subir acima do P*, a quantidade ofertada aumentaria de forma
excessiva, o que implicaria numa queda do preço rumo ao P*. O preço varia e é acompanhado
por decisões empresais que alteram a alocação dos recursos para a produção.

GRÁFICO – excesso e escassez de oferta

Em P1: D < O → excesso

Em P2: D > O → escassez

Quando algum fator desloca uma dessas curvas, o equilíbrio do mercado se altera e passa para
um novo ponto de equilíbrio. Equilíbrio antigo seguido por equilíbrio novo, configurando uma
estática comparativa. A estática é o estudo de sistemas sob ação de forças que se equilibram.
GRÁFICOS - Movimento de equilíbrio

Variação da demanda

Variação da oferta

Evidentemente, as quantidades de oferta e de demanda pode variar em conjunto.

Quando variam de forma proporcional, o ponto de equilíbrio permanece no mesmo nível

Quando a mudança não é proporcional, haverá um novo ponto de equilíbrio.

Enfim, as quantidades de oferta e de demanda no mercado, ao determinar o nível de preços,


impactam a orientação da alocação de recursos, pois a mudança de preço afeta as decisões
empresariais de investir e produzir.

Uma mudança significativa do preço da cenoura gera mudança no plantio e na oferta do legume,
levando, via ajustes sucessivos, a um novo ponto de equilíbrio.
O problema é que os ajustes de oferta e demanda não ocorrem de modo instantâneo, mas de
forma ex-post, uma vez que já houve escassez ou excesso. Nos dois casos há desperdício de
recursos, flutuações anárquicas e depressões que podem inviabilizar a eficácia do mercado em
garantir o equilíbrio. Economistas heterodoxos (Marx e Keynes, notadamente) exploraram essa
incapacidade do mercado como prova da natureza instável da economia capitalista.

Embora não seja de maneira instantânea, a resposta dos vendedores e compradores às


condições de mercado (que são aqui o preço do produto, o custo de produção, a tecnologia, a
renda, etc.) impacta necessariamente a oferta e a demanda no mercado.

O grau desse impacto pode ser proporcional, mais que proporcional ou menos que proporcional.

Para avaliar a resposta dos agentes econômicos (consumidores e produtores / compradores e


vendedores) às variáveis econômicas, os economistas utilizam o conceito de ELASTICIDADE,
objeto do próximo capítulo.

Você também pode gostar