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Física Quântica

Prof. Dr. Marcelo A. Leigui de Oliveira


Centro de Ciências Naturais e Humanas
Universidade Federal do ABC
Bloco B – Sala 1015
leigui@ufabc.edu.br
A quantização da carga elétrica

1803 John Dalton estabelece uma base científica para a hipótese atomística com
sua lei da composição constante: “Dois elementos (A e B) que formam uma série
de componentes combinam-se numa razão de pequenos números inteiros”.
CO2, H20, CO, H2O2, CH4, C2H2, ...

1811 Amedeo Avogadro: “Sob as mesmas condições de temperatura e pressão,


volmues iguais de quaisquer gases apresentam as mesmas quantidades de
moléculas”.
valor atual : N A  6,022 1023 mol 1
1834 Michael Faraday descobre as leis da eletrólise:

(q/m)H+ = 9,578 x 107 C/kg

q V
 F  , onde F  N A  e
m A
1874 George Johnstone Stoney usou uma estimativa para o número
de Avogadro para estimar: e  1020 C e “batizou” o elétron.

1897 John Joseph Thomson descobre o elétron.

q v
  1,759 1011C / kg
1906 m rB

Modelo de Thomson
1909 Robert Millikan mede a carga do elétron.

1923

valor atual : e  1,60217653 1019 C


e  1,6 1019 C
Radiação de corpo negro

Emissão de radiação térmica por objetos opacos.

1860 Gustav R. Kirchhoff formula que:


No equilíbrio térmico (à temperatura T):
Corpo negro (ideal):

• absorve toda a radiação incidente (sem refletir):

• quando aquecido emite radiação somente como resultado das vibrações


térmicas de seus átomos:

Espectro de corpo negro: contínuo.


Blackbody Radiation
Blackbody Radiation
Blackbody Radiation
Blackbody Radiation
Blackbody Radiation
Blackbody Radiation
Lei de Stefan-Boltzmann:

1879 Josef Stefan descobre experimentalmente:

1884 Ludwig Boltzmann deduz teoricamente:

R   T 4 , onde   5,67 108 W é a constante de Stefan - Boltzmann


m2 K 4

A taxa de emissão de radiação por unidade de área (potência por unidade de área) de objetos aquecidos é
proporcional à quarta potência da temperatura.
Lei de Stefan-Boltzmann:
R  T4

O Sol emite de sua fotosfera :


5800K
288K
  1,65 10
4
5

mais potência que a Terra.


0,002898[m  K]
Lei do deslocamento de Wien :  max

T

1911

T1  T2  T3  1max  max
2  3max

branco - azulado  amarelo  laranja  vermelho  infravermelho

 aqueciment o 
1860 Gustav Kirchhoff sugere que um orifício numa cavidade
aquecida à temperatura uniforme deve ter espectro de corpo
negro

c
R( )   u ( )
4

James Jeans

8kT
u ( )  n( )kT  , que é a fórmula de Rayleigh & Jeans
4
Mas a fórmula de Rayleigh & Jeans
tinha um probleminha ...

8kT
u ( ) 
4 James Jeans

A catástrofe do ultravioleta!
1900 Max Planck formula uma lei de distribuição que se
ajustava perfeitamente aos dados em todas os comprimentos de
onda:

1918

8hc5
u ( )  hc
e kT
1

Hipótese: as moléculas vibrantes somente podem ter valores discretos de energia:


En = nhf , onde f é a freqüência, n o número quântico e h a constante de Planck:
h = 6,626 x 10-34 J·s.
Na lápide de seu túmulo, em Göttingen (Alemanha):
Efeito fotoelétrico

1887 Heinrich Hertz descobre o


efeito fotoelétrico.
Efeito fotoelétrico

1897++ Philipp Lenard:

•Limiar de freqüência de 1015 Hz;


•A emissão ocorre a alto vácuo,
portanto, os portadores de carga não
são íons gasosos;
•A ação de um campo magnético
confirma a carga negativa dos
portadores. 1905
1905 Albert Einstein explica o efeito fotoelétrico. A luz
deve se comportar como partícula na interação com a
matéria.

E  hf  K  

 K max  hf  0

0
 0  hf 0   0  f 0  (freqüência de corte)
h

h 0
 K max  eV0  hf   0  V0    f 
e e

1921
1875 Sir William Crookes desenvolveu o tubo de raios catódicos.

1895 Wilhelm Conrad Röntgen descobre os raios X.

1901
1913 Max Von Laue descobre a difração de raios X.

1914
1923 Arthur Compton investiga o espalhamento de raios X.

1927
Wilson &
Compton
1898 Ernest Rutherford identifica 2 tipos de radiação: α e β.

1905 Frederick Soddy e Rutherford constatam que o decaimento


radioativo resulta na transmutação do elemento.

1908 Rutherford (Química)


1909 Rutherford e seus estudantes Hans Geiger e Ernst Marsden fazem
experimentos de espalhamentos de partícula α em folhas de ouro.
1911 Rutherford propõe seu modelo atômico:
- O átomo de um elemento A,Z é formado por
A prótons, Z elétrons e (A-Z) elétrons nucleares;
- Praticamente toda a massa dos átomos está
contida no núcleo com dimensão ~10-14 m;
- Nascimento da física nuclear.

1) O que mantém o núcleo coeso?


2) Por que os elétrons não irradiam e caem no núcleo?
3)Por que existe o espectro discreto?
Newton relatou em seu livro Optiks (1704) diversos
experimentos com a luz (e sua visão corpuscular).

Experimentum Crucis (1666).


No século XIX

Em 1820 Auguste Comte afirma em seu Curso de Filosofia Positiva que


poderíamos conhecer tudo, menos a natureza físico-química das estrelas.
1814 Joseph Fraunhofer descobre 476 linhas de
absorção no espectro do Sol e linhas diferentes
no espectro de Sírius.

1860 Gustav Kirchhoff e Robert Bunsen


mostram que conjuntos diferentes de linhas
estão associadas a elementos diferentes .
Espectros atômicos
1885 Johann Jacob
Balmer descobre
empiricamente a série
visível do hidrogênio

1 1 1
 RH  2  2 
 2 n 
Outras séries do hidrogênio foram
descobertas posteriormente no UV
(Lyman) e no IV (Paschen, Brackett,
Pfund) generalizando:

1  1 1
 RH  2  2 
 m n 
1913 Neils Bohr propõe seu modelo atômico:
- Órbitas de Rutherford estacionárias (elétrons não emitem);
- Nestas órbitas: Ln  n h  n, n  1,2,3,
2
2 2
- De maneira que: r   , n  1,2,3,
n
n
Zme2

Z 2 me4
e que: En   , n  1,2,3,
2n 2  2

- As transições são tais que: E  hf

Bohr deduziu teoricamente as séries de Lyman, Balmer, etc


e calculou a constante de Rydberg

1922
1914 James Franck e Gustav Hertz comprovam
experimentalmente o modelo de Bohr:

1925
Ondas e Partículas

Partículas: pequenas distribuições de matéria capazes de transportar energia. Ex:


pedra em vôo, carro numa estrada, elétrons num tubo de raios catódicos, fóton (efeito
fotoelétrico);

Ondas: largas distribuições de energia que se propagam sem transportar matéria. Ex: onda
numa corda, som, elétron numa rede cristalina, luz;
Tipos de Ondas

1. Ondas mecânicas: ondas que se propagam num meio material. Ex: ondas numa corda,
som, ondas sísmicas;

2. Ondas eletromagnéticas: oscilações de E e B que se propagam no vácuo a velocidade


c=299 792 458 m/s ou em meios materiais;

3. Ondas de matéria: partículas fundamentais (prótons, elétrons, etc) ou átomos e


moléculas se comportando como ondas.

h 6.63 1034 J  s
 
p mv
Teoria corpuscular: Newton defendia que a luz era composta por uma “multidão de
pequenos corpúsculos de vários tamanhos que pulavam dos corpos iluminados”.

Sir Isaac Newton (1642-1727)

Teoria ondulatória: publicou Traté de la lumière de 1690, onde assumiu que o espaço
era preenchido por um meio (éter) e que as perturbações do meio que constituíam a luz
eram passadas para suas vizinhas que se tornam novas fontes de perturbação.

Christiaan Huygens (1629 - 1695)


ref.: http://www.olympusmicro.com/primer/lightandcolor/particleorwave.html
A teoria ondulatória ganha força após o experimento da dupla fenda de Young (1801):

Thomas Young(1773 - 1829)

Imagem do Google Earth


Em 1864 James C. Maxwell parte das 4 equações fundamentais do eletromagnetismo e verifica
que delas pode-se deduzir 2 equações de onda.

  
E 
0
 
 B  0


  B
 E  
t

   E 
  B  0  j   0 
James Clerk Maxwell (1831 - 1879)  t 


 1  E
2
2 E  2 2
c t


 1  B
2
2 B  2 2
c t
No século XX começam a surgir evidências do comportamento corpuscular da luz:

Radiação de corpo negro Efeito fotoelétrico Efeito Compton


Dualidade onda-partícula

1924 Louis de Broglie propõe que o elétron se comporta como onda.

 hp
1929

Ex.1) Calcule o comprimento de onda de de Broglie para :


a) um elétron a 1/100 da velocidad e da luz
h 6,63 10 34 o
  10
 2,43 10 m  2,43 A ~ raio X
mv 9,110 31 10  2  3 108

b) um prótron a 1/100 da velocidad e da luz


h 6,63 10 34
   27 2
 1,32  10 13
m  132 fm ~ raio 
mv 1,67 10 10  3 10 8

c) uma bola de gude de 5 g viajando a 1 m/s


h 6,63 10 34
  3
 1,33 10 31 m muito pequeno para ser detectado
mv 5 10 1
Interpretação para o 3 postulado de Bohr :
l  n  nh  2 l  2 rp ,
onde substituimos o momento angular de uma órbita circular : l  rp ,
nh
então : 2 rp  nh  2 r 
p
h
que, usando a relação de de Broglie :   , vem :
p
2 r  n
que significa que a circunferê ncia da órbita deve ser tal que contenha números
inteiros do comprimento de onda das ondas estacionár ias

ondas estacionárias em um círculo para n  3,4 ,5,6


Verificação experimental da
dualidade onda-partícula

1927 Davisson e Germer observam a interferência de elétrons.

1937 Davisson & Thomson


Verificação experimental da
dualidade onda-partícula

1927 G.P. Thomson observa a difração de elétrons.

1937 Davisson & Thomson


Ondas Progressivas

y ( x, t )  f ( x  vt)
y ( x, t )  ym cosk x  x   ym cosk x  vt ,
onde k é uma constante com dimensão [k]  L-1
Ondas Progressivas

  comprimento de onda :    L
y  f ( x, t )  f ( x  vt)
y ( x,0)  ym cos kx, onde k   L1
y ( x   ,0)  ym cos k x     ym cos kx
então k  2 
2
Número de onda angular : k 

Ondas Progressivas

y ( x, t )  ym cos kx  t 
y (0, t )  ym cos  t , onde    T 1
y (0, t  T )  ym cos  t  T   ym cos   t 
então T  2 
2
Freqüência angular :    2 f
T

y ( x, t )  ym cos kx  t 
Ondas Progressivas

dx    
Mas, v    f  2 f   v 
dt T 2 k k
v é a velocidade de fase
Princípio de Superposição de Ondas
Duas ou mais ondas que passam pela mesma região se superpõem

y' ( x, t )  y1 ( x, t )  y2 ( x, t )

 ondas superpostas se somam algebricamente para produzirem uma


onda resultante.
Batimentos
Sejam 2 ondas se propagando no mesmo meio, de igual amplitude, mas de
freqüências ligeiramente diferentes:

  1  2 1    
  2
 1  2  
       
2  2 2
k  k1  k 2 k1  k  k
  2
 k1  k 2  
 k   k 2  k  k
2  2
Teremos :
i[( k  k ) x  (   ) t ]
y1 ( x, t )  Ae 2 2

i[( k  k ) x  (   ) t ]
y2 ( x, t )  Ae 2 2
Velocidade de grupo
Note que o envelope no batimento também é uma onda progressiva:

y ' ( x, t )  2 y0 cos k x   t  cos(k x  t )


  2 2 
o padrão de batimento se propaga à velocidad e :
' 
v 
k ' k
tomando - se o limite infinitesi mal, definimos a
d
velocidade de grupo : vg 
dk
Pacotes de ondas

kx  1
Princípio da incerteza

1927 Werner Heisenberg formula o princípio da incerteza.

 
p  x  E  t 
2 2

1932

melhor precisão da posição :


Δx ~ λ
o fóton fornece ao elétron o recuo (momento) :
h
Δp ~
λ
tal que :
p  x ~ h
Princípio da incerteza

E  hf  E  hf
como ΔfΔt  1   ΔE / h Δt  1  ΔEΔt  h

p  k  Δp  Δk

como ΔkΔx  2   Δp /  Δx  2  ΔpΔx 


h
2  ΔpΔx  h
2
Interpretação probabilística

1924 Max Born formula a interpretação probabilística da


mecânica quântica: função de onda Ψ

1954 Born & Bothe

A função de onda  contém toda a informação sobre a partícula (em 1 dimensão) :


  ( x) é uma função complexa da posição;
  ( x)   * ( x) ( x)  densidade de probabilidade
2

de encontrar a partícula em x;

 contínua e finita em todo o espaço :   ( x) dx  1
2
-
Interpretação probabilística

Ex.2)
a)  ( x)  cos kx
 ( x)   * ( x) ( x)  cos kx cos kx  cos 2 kx
2 *

b)  ( x)  eikx  cos kx  i sen kx


 ( x)   * ( x) ( x)  cos kx  i sen kx cos kx  i sen kx 
2 *

 cos kx  i sen kxcos kx  i sen kx  cos 2 kx  sen 2 kx  1



  ( x) dx  1 : probabilidade 100% para encontrar a partícula em qualquer x
2
-

 partícula livre
e como calcular Ψ?

1925 Werner Heisenberg desenvolve a mecânica (quântica) matricial

Ĥ  E 1932

1926 Erwin Schrödinger desenvolve a mecânica (quântica) ondulatória,

propondo sua equação de onda (Equação de Schrödinger)


 2 d 2
 2
 V   E
2m dx 1933 Schrödinger
& Dirac
A equação de Schrödinger
Caso mais simples : independente do tempo, partícula livre unidimensi onal
E  K  V  1 2 mv 2  V ( x) , onde V(x) é o potencial (função da posição)
m 2v 2 p 2 
lembrando que : K  2 mv 
1 2
  p2
2m 2m   E 
 2m
e que para a partícula livre : V ( x)  0 
seja a função de onda :Ψ(x)  A sen kx  B cos kx
d 2Ψ
 Ak cos kx  Bk sen kx  2  k 2  A sen kx  B cos kx   k 2Ψ

dx dx
d 2Ψ
 2  k 2Ψ  0 (equação de Helmholtz)
dx
h hk  h 
de de Broglie : p      k  k  p   k
 2  2 
p 2 k   2 k 2
2
2mE
E    k2  2
2m 2m 2m 
d 2Ψ 2mE  2 d 2Ψ
 2  k Ψ   2 Ψ  
2
 EΨ
dx  2m dx 2
 2 d 2Ψ ( x)
somando o potencial nulo :   V ( x)Ψ ( x)  EΨ ( x)
2m dx 2
A equação de Schrödinger
Caso dependente do tempo (unidimens ional) :

Representamos a partícula de matéria como uma onda de energia :


E  hf  ω
e momento :
h
p  k .
λ

Definindo :Ψ(x,t)  Ψ 0 e i kx ωt   Ψ 0 e i  px Et  /

calculamos as derivadas :
 2Ψ ( x, t ) p2 Ψ iE Ψ
  k 2
Ψ ( x , t )   Ψ ( x , t ) ;   Ψ ( x , t )  i   EΨ ( x, t )
x 2 2 t  t

de forma que chegamos à equação de Schrödinge r dependente do tempo :

 2  2Ψ ( x, t ) Ψ ( x, t )
  V ( x )Ψ ( x , t )  i 
2m x 2 t

Obs.: esta equação pode ser generaliza da para 3 dimensões e para qualquer função de onda ou potencial
Partícula livre em uma caixa
Um elétron confinado no átomo (ou um próton no núcleo) pode ser tratado
como uma partícula presa dentro de uma caixa :
0, 0  x  L
V(x)  
, x  0 ou x  L
A função de onda deve ser a da partícula livre dentro da caixa e zero fora :
e i kx t  , 0  x  L
Ψ(x)  
0, x  0 ou x  L
As ondas dentro da caixa se interferem formando ondas estacionár ias :
Ψ n(x)  An sen k n x  cos nt 
2 2L
condição de contorno em x  L : k n L  n  L  n  n 
n n
pn2 h2 h2n2 h2n2
com energias : E    E
2m 2m2n 2m4 L2 8mL2
onde n  1,2,3,

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