Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sumário
pág. 1
20. Prefácio .................................................................................................................................. 22
21. Receita ..................................................................................................................................... 22
22. Manual de instrução (Fragmento) .................................................................................. 23
23. Bula .......................................................................................................................................... 24
24. Fábula ..................................................................................................................................... 25
25. Crônica .................................................................................................................................... 26
Lista de questões ........................................................................................................................... 27
Gabarito ............................................................................................................................................ 38
Questões Comentadas ................................................................................................................ 39
pág. 2
Olá, pessoal!
Vimos na aula anterior que a tipologia textual estabelece a estrutura dos textos, seu objetivo
e finalidade.
Vamos começar esta aula falando de uma outra perspectiva textual: texto literário ou não
literário; texto verbal, não verbal ou misto.
Texto 2
A Lua! Ela não tarda aí, espera!
O mágico poder que ela possui!
Sobre as sementes, sobre o Oceano impera,
Sobre as mulheres grávidas influi...
Os dois textos tratam do tema: Lua. Mas qual dos dois textos é literário?
pág. 3
Antes de responder, tenha em mente que texto literário apresenta uma intenção estética, um
cuidado com a transmissão da emoção. Já o texto não literário tem uma intenção utilitária, isto é,
ele quer informar, convencer, explicar, responder, ordenar etc.
Na comparação entre esses dois textos, percebemos que o texto 1 trabalha a linguagem de
modo objetivo, utilizando a linguagem denotativa. O que importa neste texto é a informação. Não
houve preocupação com ajustes na sonoridade das palavras, rimas etc. Assim, é um texto não
literário.
No texto 2, percebemos que há um poema. A linguagem é voltada ao cuidado com a
sonoridade, com a rima, com a transmissão de emoção. A linguagem é subjetiva, pois parte da
impressão do poeta a respeito do mesmo tema: a Lua. Agora, ela não é vista apenas como um
satélite natural do sistema solar, ela mexe com o imaginário humano, embala noites de amor, traduz
um clima romântico. Assim, o texto 2 é literário.
"Meu pai sempre dizia que o sofrimento melhora o homem, desenvolvendo seu espírito e
aprimorando sua sensibilidade; ele dava a entender que quanto maior fosse a dor tanto ainda o
sofrimento cumpria sua função mais nobre; ele parecia acreditar que a resistência de um homem era
inesgotável."
Raduan Nassar - Lavoura Arcaica
pág. 4
Cada linha de um poema corresponde a um verso, e o agrupamento de versos, por sua vez,
compõe as estrofes.
Os sonetos são poemas que obedecem a uma forma fixa, são compostos por quatorze versos.
Veja um exemplo:
Este é um exemplo de soneto clássico. Note a rima ao final dos versos (marcada em negrito).
pág. 5
Mesmo sem a fala ou escrita, nós conseguimos entender a comunicação, concorda?
O que acabamos de ver foi um texto não verbal, isto é, um texto sem palavras, só imagens.
Dessa forma, podemos dividir o texto em verbal (somente palavras), não verbal (somente
imagens) e misto (palavras e imagens).
Normalmente, os textos trabalhados nas provas são mistos, pois procuram aliar a imagem às
palavras, muitas vezes porque são charges ou textos que fazem publicidade.
Veja agora, o texto misto a seguir.
pág. 6
GÊNEROS TEXTUAIS
Agora, devemos entender o que é gênero textual.
O gênero textual representa a função social, o desempenho da informação em relação ao
público-alvo desejado.
Por exemplo, se queremos fazer uma reunião de condomínio, é fato que devemos seguir certo
rito para evitar problemas de convivência social. Dessa forma, estabelece-se uma ata, isto é, um
documento formal em que todos os condôminos assinam as linhas de ação tomadas.
De outra parte, se queremos vender um produto ou serviço e queremos publicar em uma
mídia, naturalmente o texto não pode ter caráter cerimonioso. Ele deve ser objetivo, claro e bem
convidativo, por exemplo, com a inserção de imagens, a fim de conquistar o leitor.
1. Notícia
É um gênero textual jornalístico, informativo sobre um tema atual ou algum acontecimento
real, que está presente em nosso dia a dia, sendo encontrado nos principais meios de comunicação,
como jornais, revistas, meios televisivos, rádio, internet etc.
Como as notícias possuem teor informativo, podem ser textos descritivos e narrativos ao
mesmo tempo, apresentando, portanto, tempo, espaço e as personagens envolvidas.
As principais características do gênero notícia são: texto informativo, descritivo e/ou
narrativo, relativamente curtos, veiculado nos principais meios de comunicação, com linguagem
formal, clara e objetiva, expondo sobre fatos reais, atuais e cotidianos.
Apresenta título bem chamativo (manchete) e muitas vezes subtítulos, transmitindo a
chamada principal, a fim de atrair o leitor.
Veja um exemplo:
Operários cruzam os braços por melhores condições de trabalho
Centenas de operários que trabalham na obra de ampliação do aeroporto de Vitória
paralisaram as atividades nesta segunda-feira (29). Eles reivindicaram melhores condições de
trabalho. Além da troca do restaurante que serve aos trabalhadores, eles pediram o fim da dupla
função, auxílio periculosidade para eletricistas e o pagamento da rescisão de contrato por uma
empresa que saiu do consórcio. Os operários também pediram reajuste salarial. Todas as
reivindicações foram atendidas e a obra não corre risco de novas paralisações.
O estopim para o movimento foi na última semana, quando dezenas de funcionários teriam
passado mal com a comida do restaurante. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores
da Construção Civil do Estado (Sintracost), Paulo Peres, a principal exigência foi a substituição do
pág. 7
fornecedor da alimentação. “Semana passada teve um dia em que 70 operários passaram mal por
causa da alimentação e foram hospitalizados. Mas isso não é de hoje, tem seis meses que os
trabalhadores reclamam da qualidade da alimentação”, disse.
Na manhã desta terça-feira (30), os operários realizaram uma assembleia. O consórcio da obra
atendeu as reivindicações, além de conceder um aumento de 6%, de acordo com o sindicato.
Nenhum trabalhador quis comentar o assunto.
O diretor-presidente do consórcio JL, João Luiz Félix, responsável pelas obras no Aeroporto
de Vitória, informou que todas as questões foram resolvidas com a ideia de não haver discussões e,
consequentemente, atrasos na ampliação da estrutura do terminal aéreo. Ele acrescentou que no
total são 1.350 pessoas trabalhando no canteiro de obras, entre operários, engenheiros e
funcionários dos setores administrativos.
DIAS, Kaique. Operários cruzam os braços por melhores condições de trabalho. Disponível em:
<http://www.gazetaonline.com.br/cbn_vitoria/reportagens/2017/05/operarios-cruzam-os-bracospor-melhores-condicoes-de-trabalho-
1014060665.html>. Acesso em: 20 jan. 2018. (Adaptado).
Observe que o texto traz uma manchete “Operários cruzam os braços por melhores condições
de trabalho” para chamar a atenção do leitor.
No corpo do texto, há as informações necessárias para se entender por que os operários
cruzaram os braços (para pedir melhores condições de trabalho, após operários passarem mal com
a comida), quando (nesta segunda-feira (29)) e onde (Vitória-ES).
Além disso, há uma linguagem mais direta no texto, datas dos acontecimentos e, ainda, o
texto traz o posicionamento dos dois lados envolvidos na notícia, o presidente do Sindicato dos
Trabalhadores da Construção Civil do Estado (Sintracost), Paulo Peres, e o diretor-presidente do
consórcio JL, João Luiz Félix, responsável pelas obras no Aeroporto de Vitória.
2. Reportagem
Tem o propósito de expor informações sobre um determinado assunto para informar o leitor.
Texto veiculado nos meios de comunicação, como jornais, revistas, televisão, internet, rádio
etc.
Pode ter caráter expositivo, informativo, descritivo, narrativo ou até opinativo (pode
apresentar juízo de valor).
Estrutura:
Título principal (manchete) e secundário (subtítulo)
Lide: primeiros parágrafos, informações mais importantes, palavras-chave.
Corpo do texto: desenvolvimento, informações.
pág. 8
3. Propaganda / Texto publicitário
O texto publicitário tem por objetivo persuadir, convencer o leitor a consumir o produto ou a
ideia veiculados em anúncio de revista, outdoor ou internet.
Como a linguagem da publicidade é centrada no receptor ou destinatário da mensagem,
utiliza a criatividade para seduzir o consumidor. Para entendê-la, ou, ainda, para construí-la, muitas
vezes é necessário conseguir "ler" aquilo que não está escrito, entendendo as referências que a
publicidade faz.
Por exemplo, para promover os seus classificados (seção do jornal em que as pessoas
anunciam o que querem vender), um jornal paulistano adotou o rato como mascote. A escolha deste
animal pode ser entendida como uma alusão à expressão "rato de biblioteca", aquele que investiga
arquivos, que vive entre os papéis.
Linguagem publicitária: É a chamada linguagem de massas, que deve ser direta e acessível. Por isso
os textos publicitários usam uma linguagem simples e de fácil entendimento. Evita sintaxe rebuscada
ou termos eruditos. Apesar de a linguagem da publicidade ser a da norma culta, podem ser
encontrados desvios gramaticais intencionais, para provocarem o interesse do leitor, causar humor
ou aproximar-se do público-alvo.
Estrutura: Geralmente a peça publicitária é composta por imagem, título, texto, assinatura e slogan.
A assinatura é o nome do produto e do anunciante. Slogan é uma frase ou uma expressão concisa
e fácil de lembrar, que associamos imediatamente ao produto.
Veja alguns slogans nos textos publicitários!!!!
pág. 9
Se é Bayer é bom. (Bayer)
Não esqueça da minha Calói! (Bicicletas Calói)
É impossível comer um só! (Cheetos)
Legítimas, só Havaianas. (Sandálias Havaianas)
No rádio e na televisão, a linguagem da publicidade tem relação com a oralidade. Já em
jornais, revistas e na internet, a linguagem procura ser uma pouco mais formal.
Para conquistar o consumidor, o texto publicitário apela para o desejo e a fantasia das
pessoas. A linguagem da publicidade usa ambiguidades, omite, exagera, brinca, usa metáforas e
expressões de duplo sentido. Pode também conquistar usando a musicalidade, o ritmo e recursos
sonoros, como rimas e assonâncias. O uso dos recursos da língua é essencial para a publicidade
atingir seus objetivos. A publicidade deve divertir, motivar, seduzir, fazer sonhar, excitar ou
entusiasmar.
A linguagem publicitária apela à emoção. É importante conseguir ler nas entrelinhas, isto é,
perceber o sentido implícito de uma mensagem. Os textos publicitários merecem uma leitura crítica
e inteligente do consumidor.
Composição básica:
1. Imagem atraente.
2. Texto conciso e direto.
3. Slogan
4. Assinatura (a marca)
5. Endereço, se for o caso.
Se é Bayer é bom!
Com base no que vimos nos dois gêneros anteriores, entendemos que cada gênero textual
possui uma linguagem adequada, tendo em vista a intenção comunicativa do autor e o
direcionamento ao público-alvo.
pág. 10
4. Artigo de divulgação Científica
O artigo científico funciona como um outro texto qualquer: é necessário que ele tenha
começo, meio e fim, seja agradável de ler, gramaticalmente correto, compreensível, coerente e
mantenha conexões lógicas entre as ideias nele contidas.
Uma característica comum a praticamente todos os textos científicos é a organização nas
seguintes partes: Introdução, Objetivos, Materiais e Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões.
Também são encontrados nos textos científicos: o Título, a Autoria, Resumo, Figuras e
Tabelas, Agradecimentos e Referências Bibliográficas.
Veja abaixo instruções gerais sobre cada seção.
pág. 11
As Referências Bibliográficas: Invariavelmente, textos científicos fazem referência a outros
textos científicos, a fim de dar credibilidade às informações contidas no texto.
O Título: Deve informar em poucas palavras do que trata o texto.
O Resumo: Seleção de estrutura e palavras de forma a que o texto informe o mais importante
em menor número de palavras.
5. Anúncio
6. Cartaz
Pode-se encontrar esse gênero textual nas ruas, repartições públicas, estabelecimentos
comerciais, em cinemas, teatros, dentre outros. Ele tem finalidades específicas, como instruir,
informar ou até persuadir. Podemos citar como exemplos cartazes geralmente fixados em locais
públicos alertando-nos sobre uma questão de saúde pública, informando-nos sobre uma loja em
liquidação, sobre o lançamento de um produto no comércio e até mesmo sobre a realização de um
show artístico. O cartaz possui uma linguagem concisa, objetiva, normalmente se aliando a imagens.
Portanto, o cartaz figura-se como uma importante modalidade textual, informando-nos sobre um
determinado acontecimento ligado aos acontecimentos sociais ou instruindo-nos de alguma forma.
pág. 12
7. Verbete
Gênero de caráter informativo, tem por intuito apresentar definição, sinônimos de palavras
ou expressões e é comumente encontrado em dicionário ou enciclopédia.
Texto impessoal e escrito em linguagem mais formal.
pág. 13
8. Editorial
Texto argumentativo em que a revista ou jornal se manifestam sobre tema relevante na
sociedade. O autor fala em nome do periódico, há um corpo de editores que chancelam a opinião.
Normalmente, o texto é empregado na terceira pessoa do singular, pois a autoria é do corpo de
editores, mas um dos editores pode se manifestar em seu nome, com a autorização dos demais.
Assim, a estrutura do texto segue o dissertativo argumentativo e veicula assunto de relevância
política, econômica ou social na atualidade.
Debandada
Publicado no Estadão
O PT tenta apresentar-se como perseguido político. A enxurrada de escândalos, denúncias,
investigações e condenações envolvendo próceres petistas seria resultado de uma sórdida
campanha levada a cabo pelos inconformados com a revolução social promovida por Luiz Inácio Lula
da Silva desde sua posse na presidência da República em 2003. Tal versão, no entanto, não tem
qualquer suporte nos fatos. A realidade é bem mais caseira – simplesmente o partido começa a
sentir as consequências de seus atos imorais e ilegais, que vão sendo revelados à medida que
avançam as investigações da Operação Lava Jato. Num Estado Democrático de Direito, andar fora
da lei tem seu preço – jurídico e político.
O discurso de vítima do PT fica completamente desmascarado diante da vergonha dos
próprios petistas com a legenda utilizada largamente por seus dirigentes em benefício pessoal. Se
fosse verdade a existência de uma campanha de perseguição, a natural reação de seus membros
seria de orgulho e defesa da causa petista. Não é isso, porém, o que se vê. Os políticos petistas estão
em debandada. Conforme noticiou o Estadão, de meados do ano passado até o dia 2 de abril – fim
do prazo legal para mudança partidária –, um terço dos prefeitos eleitos pelo PT no Estado de São
Paulo deixou o partido. Nas eleições municipais passadas, o PT elegeu 72 prefeitos. Desse total, 24
já abandonaram a legenda.
Essa debandada não se deve a nenhum tipo de perseguição política. Sai quem se envergonha
de um partido que renegou a ética na política, no discurso e na prática. Como ficou evidente aos
olhos dos brasileiros – especialmente com as investigações da Operação Lava Jato, mostrando que
o Mensalão era coisa pequena diante do Petrolão –, o partido de Lula não apenas se lambuzou com
antigas práticas de corrupção, mas promoveu verdadeira revolução na arte de apropriar-se do
público em prol do interesse particular – partidário e pessoal. Obviamente, além das complicações
judiciais, esse modus operandi tem um alto preço político. (Fragmento)
http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/opiniao-2/editorial-do-estadao-debandada/
9. Artigo de opinião
Artigo de opinião é um texto em que o autor expõe seu posicionamento diante de algum tema
atual e de interesse de muitos, veiculado normalmente em periódicos, como jornais, revistas e
“blogs” na internet. É um texto dissertativo-argumentativo, em que o autor declara seu ponto de
pág. 14
vista de forma clara e objetiva. Diferentemente do editorial, as ideias defendidas no artigo de
opinião são de total responsabilidade do autor. No editorial, a responsabilidade é do periódico.
Uma característica muito peculiar deste gênero textual é a persuasão, que consiste na
tentativa de o emissor convencer o leitor à sua opinião, inclusive se admitindo apelo emotivo,
acusações, humor satírico, ironia e fontes de informações precisas. Exemplo:
10. Ofício
Ofício é modalidade de comunicação oficial expedida para e por autoridades. Tem como
finalidade o tratamento de assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e
também com particulares.
As empresas privadas também utilizam ofício quando precisam comunicar ato oficial da
empresa.
Emprega linguagem objetiva, denotativa, impessoal, pois visa representar a empresa com
credibilidade.
pág. 15
11. Charge
As charges unem textos verbais e não verbais, normalmente com o intuito de criticar ou fazer
humor a respeito de assunto de grande relevância na sociedade, muitas vezes na política, economia,
esporte etc.
Elas não são apenas ilustrações que refletem a opinião de quem desenha, são tipos de
enunciados que podem ser objeto de uma rica análise linguística. Como prova de sua relevância,
estão cada vez mais presentes nas provas de concursos, quando o candidato tem sua habilidade de
interpretação de texto colocada em análise.
Bom humor, ironia, linguagem verbal e não verbal. Esses são alguns dos elementos que
constituem o gênero textual chamado charge. Veja um exemplo:
pág. 16
12. Cartum
13. Tirinha
A tira de jornal ou tirinha, como é mais conhecida, é um gênero textual que surgiu nos Estados
Unidos devido à falta de espaço nos jornais para a publicação de passatempos. O nome "tirinha"
remete ao formato do texto, que parece um "recorte" de jornal. Veja um exemplo:
pág. 17
Veja este outro exemplo:
14. Caricatura
pág. 18
15. Meme
Imagem com humor ou crítica que satiriza alguém ou alguma situação e tem muita
repercussão na internet.
16. Charada
Enigmas que, dependendo de seu conteúdo, podem nos fazem rir ou mesmo nos confundir.
Trabalha por vezes a incoerência aparente.
O que é o que é?
1. Sem sair do seu cantinho, é capaz de viajar ao redor do mundo.
Resposta: o selo.
2. É feito de água, mas se for colocado dentro da água morrerá.
pág. 19
Resposta: o gelo.
17. Carta
Diferentemente do ofício, visto anteriormente, a carta é um texto menos formal. Ela é uma
modalidade redacional livre, pois nela podem aparecer a narração, a descrição, a reflexão ou o
parecer dissertativo. O que determina a abordagem, a linguagem e os aspectos formais de uma carta
é o fim a que ela se destina: um amigo, um negócio, um interesse pessoal, um ente amado, um
familiar, uma seção de jornal ou revista.
A estrutura da carta varia conforme a intenção comunicativa do autor. Se o destinatário é um
órgão do governo, a carta deve observar procedimentos formais como a disposição da data, do
vocativo (nome, cargo ou título do destinatário), do remetente e a assinatura.
Tipos de cartas mais comuns:
Carta comercial, de cortesia ou de apresentação: com linguagem formal e informativa.
Carta familiar ou pessoal: utiliza linguagem informal, de cunho pessoal, dirigida a familiares e
amigos. Caracteriza-se por grande subjetividade, traduzindo a expressão pessoal do
emissor/destinador.
Carta de reclamação: defende um ponto de vista, devidamente fundamentado.
Circular: Carta formal dirigida, ao mesmo tempo, a várias pessoas, entidades ou instituições.
Carta de leitor: é escrita pelo leitor de uma revista ou jornal. Tem várias finalidades, dentre elas:
elogiar a publicação, a matéria ou até mesmo o jornalista pela qualidade ou pela abordagem do
assunto expressando aprovação aos fatos e ideias mencionadas; criticar a publicação ou o jornalista
pela qualidade ou pela abordagem do assunto da matéria ou da reportagem; discordar dos fatos ou
das ideias defendidas em um texto publicado na revista ou no jornal.
18. Texto didático
O texto didático é um gênero textual com objetivos pedagógicos. É disposto de maneira a que
todos os leitores tenham a clareza da informação. Ele se caracteriza por inserir explicações de termos
técnicos ou que causariam dúvidas ao leitor. Assim, sua intenção comunicativa é ensinar, deixar claro
o termo técnico ou palavra que causaria dúvidas. São exemplos de textos didáticos os livros didáticos
das diversas disciplinas escolares, de nível fundamental, médio e superior.
Em seus elementos linguísticos, observam-se fundamentalmente definições, denominações,
subdivisões, classificações, exemplos, explicações. Por isso, há vasto uso do verbo “ser”, expressões
explicativas, como “ou seja”, “isto é”, “por exemplo”. Veja um exemplo:
Física quântica é um ramo teórico da ciência que estuda todos os fenômenos que acontecem
com as partículas atômicas e subatômicas, ou seja, que são iguais ou menores que os átomos, como
os elétrons, os prótons, as moléculas e os fótons, por exemplo.
Todas essas micropartículas não podem ser estudadas sob a ótica da física clássica, pois não
são influenciadas pelas leis que a compõe, como a gravidade, a lei da inércia, ação e reação e etc.
pág. 20
Ao contrário da física clássica, a física quântica é classificada como “não intuitiva”, isso
significa que, neste ramo de estudo, determinadas coisas são verdadeiras mesmo quando
aparentam não ser. Aliás, por ser considerada não intuitiva, a física quântica ficou conhecida como
uma “falsa teoria”.
Também conhecida por mecânica quântica, essa teoria revolucionária da física moderna
surgiu durante os primeiros anos do século XX, sendo o físico Max Planck (1858 – 1947) um dos
pioneiros a desenvolver os seus princípios básicos, e que contrariam grande parte das leis
fundamentais da física clássica. Planck foi o responsável, por exemplo, pela criação da “constante
de Planck” (E = h.v).
pág. 21
20. Prefácio
Texto preliminar de apresentação, geralmente breve, escrito pelo autor ou por outrem,
colocado no começo do livro, com explicações sobre seu conteúdo, objetivos ou sobre a pessoa do
autor.
É um resumo do conteúdo de um livro, eventualmente contém algumas impressões de
terceiros sobre a obra.
Nele o autor busca puxar o interesse do leitor para o livro, aguçando a sua curiosidade.
21. Receita
A receita é um gênero textual que apresenta duas partes bem definidas: ingredientes e modo
de fazer
A primeira parte apenas relaciona os ingredientes, estipulando as quantidades necessárias,
indicadas em gramas, xícaras, colheres, pitadas, etc.
A segunda parte é o modo de fazer, em que os verbos se apresentam quase sempre no modo
imperativo (o modo verbal que expressa ordem, conselho, etc.), pois essa parte indica, passo a
passo, a sequência dos procedimentos e da junção dos ingredientes a ser seguida para se obter o
melhor resultado da receita.
Às vezes, o imperativo é substituído pelo infinitivo, como, por exemplo, “Preparar a massa:
misturar com as pontas dos dedos […]”, “Aos poucos, abrir pequenas porções da massa […]”, etc.
Caçarola Italiana (Pudim de padaria)
INGREDIENTES
CALDA
1 1/2 xícara (chá) de açúcar
1/2 xícara (chá) de água
PUDIM:
5 ovos
3 xícaras (chá) de leite
5 colheres (sopa) de farinha de trigo
5 colheres (sopa) de queijo ralado ou coco
1 colher (sopa) de manteiga ou margarina
500g de açúcar
MODO DE PREPARO
pág. 22
CALDA: Misture bem o açúcar com a água e leve ao fogo na forma de pudim para derreter.
Reserve.
PUDIM: Bata todos os ingredientes no liquidificador.
Despeje na forma com a calda e asse em banho maria com o forno em temperatura média por 40
min a uma hora, até que fique firme e dourado. Despeje quando estiver frio e leve para gelar.
pág. 23
23. Bula
(Fragmento)
Há outros exemplos de gêneros relativos ao texto descritivo, como Diário, Relatos (viagens,
históricos, etc.), Biografia e autobiografia, Notícia, Currículo, Lista de compras, Cardápio, Anúncios
de classificados.
pág. 24
24. Fábula
O gênero fábula é um texto narrativo, caracteristicamente curto, no qual os personagens da
história são, muitas vezes, animais que “falam” e têm características humanas. Essas narrativas
sempre apresentam uma lição de moral para o leitor.
pág. 25
As fábulas possuem linguagem simples, objetiva e direta, e pode haver diálogos com a
presença do discurso direto, como percebemos nas conversas entre a formiga e a cigarra neste texto.
Uma narrativa (contar uma história) pode ser expressa por vários gêneros textuais, como um
romance, fábulas, conto, novela, lendas etc.
25. Crônica
Ressentimento e Covardia
Tenho comentado aqui na Folha em diversas crônicas, os usos da internet, que se ressente
ainda da falta de uma legislação específica que coíba não somente os usos mas os abusos deste
importante e eficaz veículo de comunicação. A maioria dos abusos, se praticados em outros meios,
seriam crimes já especificados em lei, como a da imprensa, que pune injúrias, difamações e calúnias,
bem como a violação dos direitos autorais, os plágios e outros recursos de apropriação indébita.
No fundo, é um problema técnico que os avanços da informática mais cedo ou mais tarde
colocarão à disposição dos usuários e das autoridades. Como digo repetidas vezes, me valendo do
óbvio, a comunicação virtual está em sua pré-história.
Atualmente, apesar dos abusos e crimes cometidos na internet, no que diz respeito aos
cronistas, articulistas e escritores em geral, os mais comuns são os textos atribuídos ou deformados
que circulam por aí e que não podem ser desmentidos ou esclarecidos caso por caso. Um jornal ou
revista é processado se publicar sem autorização do autor um texto qualquer, ainda que em citação
longa e sem aspas. Em caso de injúria, calúnia ou difamação, também. E em caso de falsear a verdade
propositadamente, é obrigado pela justiça a desmentir e dar espaço ao contraditório.
Nada disso, por ora, acontece na internet. Prevalece a lei do cão em nome da liberdade de
expressão, que é mais expressão de ressentidos e covardes do que de liberdade, da verdadeira
liberdade.
(Carlos Heitor Cony, Folha de São Paulo, 16/05/2006 – adaptado)
O próprio autor classifica o seu texto no gênero textual denominado “crônica”.
pág. 26
Sabemos que a crônica pode ser um texto narrativo ou dissertativo a respeito de assunto
cotidiano, algo que está em voga.
Note que o autor não narra, ele faz considerações sobre a internet, fato do momento.
Veja mais exemplos de gêneros narrativos:
Romance: É uma narrativa longa das ações e sentimentos de personagens fictícios,
normalmente de complexidade.
Conto: Narrativa ficcional de pequena extensão, com seres e acontecimentos de ficção,
de fantasia ou imaginação. O conto apresenta um narrador, personagens, ponto
de vista e enredo, como ocorre com todos os textos de ficção.
Novela: Grosso modo, pode-se dizer que a novela é narrativa de menor extensão que o
romance e de maior extensão em relação ao conto.
Lenda: A lenda tem caráter fantástico e/ou fictício. Elas combinam fatos reais e históricos
com fatos irreais e geralmente fornecem explicações plausíveis, e até certo ponto
aceitáveis, para coisas que não têm explicações científicas comprovadas, como
acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais.
LISTA DE QUESTÕES
1. (CESPE / Prefeitura Barras dos Coqueiros SE Agente 2020)
pág. 27
Quanto ao gênero, o texto pode ser corretamente classificado como
A) meme.
B) caricatura.
C) charada.
D) cartum.
E) tirinha.
pág. 28
Assis Moreira. Valor econômico, 18/3/2019. Internet: <valor.globo.com> (com adaptações).
pág. 29
biodiversidade e a proteção ambiental. A bioeconomia contempla não apenas setores tradicionais
como agricultura, silvicultura e pesca, mas também setores como as biotecnologias e bioenergias.
Ao que tudo indica, o futuro será definitivamente bio.
Marina Santos Chiapetta. Internet: <www.ecycle.com.br> (com adaptações)
Sete anos após receber o título de Patrimônio Cultural do Brasil, o Complexo Cultural Bumba
Meu Boi, uma das manifestações culturais mais marcantes do estado do Maranhão, pode receber
reconhecimento internacional.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) entregou ao Ministério das
Relações Exteriores o dossiê de candidatura dessa manifestação cultural ao status de Patrimônio
Cultural Imaterial da Humanidade. O título é conferido pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
O Bumba Meu Boi é uma apresentação que mistura brincadeira, música, dança e artes
cênicas. Os participantes dramatizam a história dos personagens Pai Francisco e sua mulher grávida,
Mãe Catirina. Pai Francisco rouba a língua de um dos bois da fazenda onde trabalhava para satisfazer
os desejos de Catirina. O dono da fazenda, porém, perdoa o trabalhador após os participantes do
folguedo recuperarem a saúde do boi. A história termina com uma festa para celebrar o final feliz
de todos.
Internet: (com adaptações)
pág. 30
e) notícia informativa.
Trabalhar os gêneros textuais em sala de aula é uma excelente oportunidade de se lidar com
a língua nos seus mais diversos usos do cotidiano.
Se a comunicação se realiza por intermédio dos textos, devemos possibilitar aos estudantes
a oportunidade de produzir e compreender textos de maneira adequada a cada situação de
interação comunicativa. A melhor alternativa para trabalhar o ensino de gêneros textuais é envolver
os alunos em situações concretas de uso da língua, de modo que consigam, de forma criativa e
consciente, escolher meios adequados aos fins que se deseja alcançar.
É necessário ter a consciência de que a escola é um autêntico lugar de comunicação e as
situações escolares são ocasiões de produção e recepção de textos. Ao explorar a diversidade
textual, você, professor, aproxima o aluno das situações originais de produção dos textos não
escolares, o que proporciona condições para que o aprendiz compreenda o funcionamento dos
gêneros textuais. Além disso, o trabalho com gêneros contribui para que a sala de aula ensine a
prática da leitura, da compreensão e da produção textual.
Maria Eliza B Arnoni et al Trabalhando com tipologia de texto na perspectiva da metodologia da mediação dialética
In: Sheila Z de Pinho e José Roberto C Saglietti (orgs ) Núcleos de Ensino da UNESP – artigos 2006 São Paulo: UNESP,
2008, p 350 (com adaptações)
pág. 31
c) narração; inquérito policial
d) ofício; relação
e) argumentação; descrição
Não sou de choro fácil a não ser quando descubro qualquer coisa muito interessante sobre
ácido desoxirribonucleico. Ou quando acho uma carta que fale sobre a descoberta de um novo
modelo para a estrutura do ácido desoxirribonucleico, uma carta que termine com “Muito amor,
papai”. Francis Crick descobriu o desenho do DNA e escreveu a seu filho só para dizer que “nossa
estrutura é muito bonita”. Estrutura, foi o que ele falou. Antes de despedir-se ainda disse: “Quando
chegar em casa, vou te mostrar o modelo”. Não esqueça os dois pacotes de leite, passe para comprar
pão, guarde o resto do dinheiro para seus caramelos e, quando chegar, eu mostro a você o
mecanismo copiador básico a partir do qual a vida vem da vida.
Não sou de choro fácil, mas um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções
genéticas que coordenam o desenvolvimento e o funcionamento de todos os seres vivos me
comove. Cromossomas me animam, ribossomas me espantam. A divisão celular não me deixa
dormir, e olha que eu moro bem no meio das montanhas. De vez em quando vejo passarem os
aviões, mas isso nunca acontece de madrugada — a noite se guarda toda para o infinito silêncio.
Acho que uma palavra é muito mais bonita do que uma carabina, mas não sei se vem ao caso.
Nenhuma palavra quer ferir outras palavras: nem desoxirribonucleico, nem montanha, nem canção.
Todos esses conceitos têm os seus sinônimos, veja só, ácido desoxirribonucleico e DNA são
exatamente a mesma coisa, e os do resto das palavras você acha. É tudo uma questão de amor e
prisma, por favor não abra os canhões. Que coisa mais linda esse ácido despenteado, caramba. Olhei
com mais atenção o desenho da estrutura e descobri: a raça humana é toda brilho.
Matilde Campilho. Notícias escrevinhadas na beira da estrada. In: Jóquei. São Paulo: Editora 34, 2015, p. 26-7 (com
adaptações)
Eu ia começar com “Em tese, o cronista”, mas penso melhor e me dou conta de que deveria
começar com “Na prática, o cronista”, pois o cronista só existe na prática. O Amor, o Perdão, a
pág. 32
Saudade, Deus e outras maiúsculas celestes nós deixamos para os poetas, alpinistas muito mais
hábeis que com dois ou três pontos de apoio chegam ao cume de qualquer abstração.
O cronista é um pedestre. O que existe para o cronista é a gaveta de meias, a lancheira do
filho, o boteco da esquina. Verdade que às vezes, na gaveta de meias, na lancheira do filho, no
boteco da esquina, o cronista até resvala no amor, trisca no perdão, se lambuza na saudade, tropeça
num deusinho ou outro (desses deuses de antigamente, também pedestres, que se cansam do
Olimpo e vão dar umas bandas pela 25 de Março), mas é de leve, é sem querer, pois na prática (e é
assim que eu devo começar) o cronista trata do pequeno, do detalhe, do que está tão perto que a
gente nem vê.
Antonio Prata. É uma crônica, companheira. Internet (com adaptações).
pág. 33
d) notícia.
e) relato histórico.
Tinha chegado o tempo da colheita, era uma manhã risonha, e bela, como o rosto de um
infante, entretanto eu tinha um peso enorme no coração. Sim, eu estava triste, e não sabia a que
atribuir minha tristeza. Era a primeira vez que me afligia tão incompreensível pesar. Minha filha
sorria para mim, era ela gentilzinha, e em sua inocência semelhava um anjo. Desgraçada de mim!
Deixei-a nos braços de minha mãe e fui-me à roça colher milho. Ah! Nunca mais devia eu vê-la...
Ainda não tinha vencido cem braças de caminho, quando um assobio, que repercutiu nas
matas, me veio orientar acerca do perigo iminente que aí me aguardava. E logo dois homens
apareceram e me amarraram com cordas. Era uma prisioneira — era uma escrava! Foi embalde que
supliquei, em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-se das
minhas lágrimas e me olhavam sem compaixão. Julguei enlouquecer, julguei morrer, mas não me foi
possível... a sorte me reservava ainda longos caminhos.
Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito
e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é
mais necessário à vida passamos nessa sepultura, até que aportamos nas praias brasileiras. Para
caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio de
revolta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos
potentados da Europa. Davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez; a comida má e
ainda mais porca: vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de
água. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa
a consciência de levá-los à sepultura, asfixiados e famintos.
Maria Firmina dos Reis. Úrsula. Florianópolis: Ed. Mulheres, 2004, p. 116-7 (com adaptações).
pág. 34
Recebi a sua cartinha. Ver que você se tem adiantado muito me deu muito prazer.
Fiquei muito contente quando sua mãe me disse que em princípio de maio estarão cá, pois
estou com muitas saudades de vocês todos. Vovó te manda muitas lembranças.
A menina de Zulmira está muito engraçadinha. Já tem 2 dentinhos.
Com muitas saudades te abraça sua Dindinha e Amiga,
Bárbara
Carta de Bárbara ao neto Mizael (carta de 1883). Corpus Compartilhado Diacrônico: cartas pessoais brasileiras. Rio
de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras. Internet: (com adaptações).
pág. 35
Considerando os gêneros e tipos textuais, o texto em apreço configura-se como uma crônica em que
se combinam ficcionalidade e narratividade.
pág. 36
pouco de otimismo, seria possível apostar que ler literatura seja um jeito de se precaver contra
sociopatia e psicopatia.
Em suma, o texto literário é aquele que pede esforços de interpretação por aquelas
caraterísticas que foram notadas pelos melhores leitores do século 20: por ser ambíguo (William
Empson), aberto (Umberto Eco) e repleto de significações secundárias (Roland Barthes).
Contardo Calligaris In:. Folha de S.Paulo, 13/10/2013. Internet: <http://www1.folha.uol.com.br/> (com adaptações).
O monstro
Os seguidores de Ned Ludd, chamados luditas, trabalhadores da indústria têxtil inglesa, se
revoltaram contra a invenção de teares automatizados, que ameaçavam seus empregos, no começo
do século XIX, e pregaram a destruição de todas as máquinas que substituíssem o trabalho humano.
A história social e econômica dos Estados Unidos da América se divide em antes e depois da
massificação, pela Ford, da produção dos seus carros — que empestavam o ambiente, além de
assustar os cavalos, e, por isso, foram duramente combatidos.
Reações a novidades tecnológicas se repetem ao longo da história, movidas pelo medo à
obsolescência, como no caso dos luditas, incompreensão ou apego ao passado. O capítulo mais
recente e mais curioso dessa briga é a decisão do governo inglês de restringir o uso, no país, das
redes sociais, que todo o mundo achava maravilhosas até revelarem um potencial subversivo que
ninguém previra. Enquanto twitter e facebook animaram as revoltas contra os déspotas e por
aberturas democráticas nas ruas árabes, tudo bem. Eram as redes sociais, o produto mais moderno
da engenhosidade humana, usadas para modernizar sociedades atrasadas. Mas descobriram que os
quebra-quebras e queima-queimas nas ruas inglesas estavam sendo, em grande parte, também
tramados na Internet. Epa — ou o equivalente em inglês — disseram os ingleses. Aqui não.
Conservadores e trabalhistas se uniram para condenar a violência e o vandalismo e negar
qualquer outra motivação, além de banditismo nato, para a rebelião. E todos, presumivelmente,
concordaram com as medidas do governo para evitar novos distúrbios, incluindo o controle das
redes sociais. Resta saber se o controle ainda é possível. O monstro talvez não seja mais domável. Já
acabou com qualquer pretensão a se manterem segredos oficiais secretos, já invadiu a privacidade
de meio mundo e já sentiu o gosto do sucesso como instigador de revoltas — sem falar que ninguém
mais consegue viver sem ele.
Agora pode não haver mais o que fazer. Se tivessem parado na invenção do trem...
pág. 37
Luís Fernando Veríssimo. Internet: <www.estadao.com.br/noticias> (com adaptações).
GABARITO
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
D E C E A B C C B C
C C E E
pág. 38
QUESTÕES COMENTADAS
1. (CESPE / Prefeitura Barras dos Coqueiros SE Agente 2020)
pág. 39
A) meme.
B) caricatura.
C) charada.
D) cartum.
E) tirinha.
Comentário: O texto representa uma pessoa negligente na direção de um veículo usando o celular
e causando prejuízo a outrem. Assim, a alternativa (D) é a correta, pois o "cartum" é associado a
fatos ou situações atemporais, com a caracterização de um motorista negligente e que não se
importa com o outro.
A alternativa (A) está errada, pois "meme" é uma imagem com humor ou crítica que satiriza
alguém ou alguma situação e tem muita repercussão na internet.
A alternativa (B) está errada, pois "caricatura" é uma imagem facial com exagero de alguma
característica.
A alternativa (C) está errada, pois "charada" são enigmas, com perguntas e respostas, o que
não ocorre neste texto.
A alternativa (E) está errada, pois "tirinha" envolve uma sequência de quadros, o que não
ocorre neste texto.
Gabarito: D
pág. 40
resultados na implementação de programas de sustentabilidade, como o setor de material de
construção, em comparação ao de telecomunicações.
Os professores alertam que o tempo está esgotando. Estudos mostram que a poluição de
carbono precisa ser cortada quase pela metade até 2030 para evitar 1,5 grau de aquecimento do
planeta. Isso requer revisões ainda mais drásticas das indústrias globais e dos governos.
Os dois professores destacam que os investidores reconhecem cada vez mais o impacto, para
a sociedade, das empresas nas quais investem. Eles notam que a necessidade de desenvolver
modelos de negócios mais sustentáveis está aumentando tão rapidamente quanto os níveis de
dióxido de carbono na atmosfera. E sugerem um forte senso de foco que chamam de “vetorização”,
que inclui programas de sustentabilidade corporativa mais acelerados.
Os pesquisadores alertam que companhias que trabalham em boas causas sem relação com
seus negócios centrais tendem a ser menos efetivas.
Assis Moreira. Valor econômico, 18/3/2019. Internet: <valor.globo.com> (com adaptações).
pág. 41
sustentabilidade empresarial. Outro campo de estudos voltado para o consumo consciente e
equilibrado com o meio ambiente é a bioeconomia, ou economia sustentável, cujo objetivo é
promover a utilização de recursos de base biológica, recicláveis e renováveis, e consequentemente
mais sustentáveis.
Hoje, a sustentabilidade é um imperativo para o sucesso das empresas, que precisam cada
vez mais entregar ao cliente valor agregado e estilo de vida, e não somente mercadorias. A
preocupação com o meio ambiente converte-se, portanto, em vantagem competitiva, notadamente
em mercados cada vez mais exigentes e desafiadores. Isso amplia a perenidade da marca, em virtude
do fortalecimento de sua reputação e credibilidade.
Para o desenvolvimento sustentável, os negócios devem estar amparados em boas práticas
de governança, com benefícios sociais e ambientais. Essa metodologia influencia os ganhos
econômicos, a competitividade e o sucesso das organizações.
Qual é o motivo de a sustentabilidade ser tão importante para a economia? A população
cresce em número e em capacidade de consumo; com isso, a demanda pela utilização de recursos
naturais recrudesce de forma quase insustentável. A utilização de matrizes não renováveis tende ao
esgotamento e à poluição progressiva do meio ambiente. Para quebrar esse paradigma, mobilizam-
se conceitos econômicos que propõem um novo modo de gestão da sociedade, como a economia
circular e a bioeconomia.
A bioeconomia está ligada à melhoria de nosso desenvolvimento e à busca por novas
tecnologias que priorizem a qualidade de vida da sociedade e do meio ambiente em seu eixo de
elaboração. Ela, agora, reúne todos os setores da economia que utilizam recursos biológicos. Assim,
a bioeconomia surgiu para possibilitar soluções eficazes e coerentes para os problemas
socioambientais contemporâneos: mudanças climáticas, crise econômica mundial, substituição do
uso de energias fósseis, saúde, qualidade de vida da população, entre outros.
O objetivo é criar uma economia inovadora com baixas emissões de poluentes, que concilie
as exigências para a agricultura sustentável e a pesca, a segurança alimentar e o uso sustentável dos
recursos biológicos renováveis para fins industriais, e que assegure, ao mesmo tempo, a
biodiversidade e a proteção ambiental. A bioeconomia contempla não apenas setores tradicionais
como agricultura, silvicultura e pesca, mas também setores como as biotecnologias e bioenergias.
Ao que tudo indica, o futuro será definitivamente bio.
Marina Santos Chiapetta. Internet: <www.ecycle.com.br> (com adaptações)
pág. 42
e) um prefácio que combina argumentação com descrição.
Comentário: Notamos que o texto é dissertativo, pois transmite informações acerca do
desenvolvimento sustentável.
Assim, fica fácil perceber que o texto não é uma peça publicitária, pois não demonstra querer
vender nada, tampouco é uma reportagem, pois não tem a intenção de investigar algo numa
estrutura de reportagem.
Fica fácil perceber que não é um verbete, pois não houve a intenção de conceituar nada ou
transmitir os sentidos de palavras ou expressões.
Também não é um prefácio, pois não tem a intenção de apresentar um livro, uma obra.
Assim, resta a alternativa (C) como a correta, pois, apesar de percebermos certas expressões
opinativas, como "Atitudes para um desenvolvimento sustentável tornaram-se uma urgência e estão
inseridas de forma definitiva na agenda da sociedade.", "Hoje, a sustentabilidade é um imperativo
para o sucesso das empresas", "Para o desenvolvimento sustentável, os negócios devem estar
amparados em boas práticas de governança, com benefícios sociais e ambientais.", não predomina
a argumentação, isto é, a defesa de um ponto de vista, mas a informação, a explanação, a exposição
de ideias. Por isso, realmente o texto é um artigo em que predomina a tipologia expositiva.
Gabarito: C
Sete anos após receber o título de Patrimônio Cultural do Brasil, o Complexo Cultural Bumba
Meu Boi, uma das manifestações culturais mais marcantes do estado do Maranhão, pode receber
reconhecimento internacional.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) entregou ao Ministério das
Relações Exteriores o dossiê de candidatura dessa manifestação cultural ao status de Patrimônio
Cultural Imaterial da Humanidade. O título é conferido pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
O Bumba Meu Boi é uma apresentação que mistura brincadeira, música, dança e artes
cênicas. Os participantes dramatizam a história dos personagens Pai Francisco e sua mulher grávida,
Mãe Catirina. Pai Francisco rouba a língua de um dos bois da fazenda onde trabalhava para satisfazer
os desejos de Catirina. O dono da fazenda, porém, perdoa o trabalhador após os participantes do
folguedo recuperarem a saúde do boi. A história termina com uma festa para celebrar o final feliz
de todos.
Internet: (com adaptações)
pág. 43
c) ensaio.
d) artigo de opinião.
e) notícia informativa.
Comentário: Note que o texto é basicamente informativo, pois apenas expõe que o Complexo
Cultural Bumba Meu Boi é uma das manifestações culturais mais marcantes do estado do Maranhão
e pode receber reconhecimento internacional. Ao longo do texto, o autor insere as características,
o que marca um texto altamente expositivo.
A alternativa (A) está errada, pois "conto" é uma narrativa e não tem relação neste contexto.
A alternativa (B) está errada, pois "crônica" pode ser uma narrativa ou uma argumentação
sobre algo cotidiano, o que não tem relação neste contexto.
A alternativa (C) está errada, pois "ensaio" é um texto argumentativo de aprofundamento
teórico e de fundamentos, o que também não ocorre neste contexto.
A alternativa (D) está errada, pois "artigo de opinião" é um texto argumentativo com a defesa
do ponto de vista do autor expressa em primeira pessoa.
A alternativa (E) é a correta, pois predomina no texto a intenção de informar, de noticiar.
Gabarito: E
Trabalhar os gêneros textuais em sala de aula é uma excelente oportunidade de se lidar com
a língua nos seus mais diversos usos do cotidiano.
Se a comunicação se realiza por intermédio dos textos, devemos possibilitar aos estudantes
a oportunidade de produzir e compreender textos de maneira adequada a cada situação de
interação comunicativa. A melhor alternativa para trabalhar o ensino de gêneros textuais é envolver
os alunos em situações concretas de uso da língua, de modo que consigam, de forma criativa e
consciente, escolher meios adequados aos fins que se deseja alcançar.
É necessário ter a consciência de que a escola é um autêntico lugar de comunicação e as
situações escolares são ocasiões de produção e recepção de textos. Ao explorar a diversidade
textual, você, professor, aproxima o aluno das situações originais de produção dos textos não
escolares, o que proporciona condições para que o aprendiz compreenda o funcionamento dos
gêneros textuais. Além disso, o trabalho com gêneros contribui para que a sala de aula ensine a
prática da leitura, da compreensão e da produção textual.
Maria Eliza B Arnoni et al Trabalhando com tipologia de texto na perspectiva da metodologia da mediação dialética
In: Sheila Z de Pinho e José Roberto C Saglietti (orgs ) Núcleos de Ensino da UNESP – artigos 2006 São Paulo: UNESP,
2008, p 350 (com adaptações)
pág. 44
a) uma realização linguística concreta definida por propriedades sociocomunicativas.
b) um constructo teórico definido por propriedades linguísticas intrínsecas.
c) um todo semântico registrado apenas por meio da modalidade escrita.
d) uma realização linguística abstrata desvinculada de propriedades sociocomunicativas.
e) um todo semântico ideal registrado por meio da modalidade escrita ou oral.
Comentário: O texto trabalha o conceito de gênero textual e esta questão é mais de interpretação
de texto do que propriamente de gênero textual. Porém, como trabalha justamente o tema gênero
textual, foi escolhida para ser trabalhada nesta aula.
A alternativa (A) é a correta, pois o texto afirma que "A melhor alternativa para trabalhar o
ensino de gêneros textuais é envolver os alunos em situações concretas¹ de uso da língua, de modo
que consigam, de forma criativa e consciente, escolher meios adequados aos fins que se deseja
alcançar.".
Além disso, o texto afirma que "Trabalhar os gêneros textuais em sala de aula é uma excelente
oportunidade de se lidar com a língua nos seus mais diversos usos do cotidiano²." e que "Se a
comunicação se realiza por intermédio dos textos, devemos possibilitar aos estudantes a
oportunidade de produzir e compreender textos de maneira adequada a cada situação de interação
comunicativa²."
Portanto, notamos que com dados literais do texto, entendemos que o conceito de gênero
textual explicitado no texto corresponde a uma realização linguística concreta¹ definida por
propriedades sociocomunicativas².
A alternativa (B) está errada, pois o texto não transmite a ideia de um constructo teórico
definido por propriedades linguísticas intrínsecas. Os gêneros textuais têm uma relação pragmática
e interativa.
A alternativa (C) está errada, pois o texto não transmite a ideia de um todo semântico
registrado apenas por meio da modalidade escrita. A relação textual não se reduz apenas à
modalidade escrita.
A alternativa (D) está errada, pois o texto não transmite a ideia de uma realização linguística
abstrata e desvinculada de propriedades sociocomunicativas. É o contrário, ela é concreta e
altamente vinculada às propriedades sociocomunicativas.
A alternativa (E) está errada, pois o texto não transmite a ideia de um todo semântico ideal
registrado por meio da modalidade escrita ou oral. A relação é concreta, como o texto defende.
Gabarito: A
pág. 45
a) cardápio; relação
b) carta comercial; dissertação
c) narração; inquérito policial
d) ofício; relação
e) argumentação; descrição
Comentário: Observe que a questão pediu um exemplo de gênero textual e uma designação de tipo
textual, respectivamente.
A alternativa (A) está errada, pois cardápio e relação são gêneros textuais. Assim, não houve
nenhuma tipologia textual.
A alternativa (B) é a correta, pois carta comercial é um gênero textual e dissertação é uma
tipologia textual.
A alternativa (C) está errada, pois narração é uma tipologia textual, e inquérito policial é um
gênero textual.
A alternativa (D) está errada, pois ofício e relação são gêneros textuais. Assim, não houve
nenhuma tipologia textual.
A alternativa (E) está errada, pois argumentação e descrição fazem parte de tipologias
textuais. Assim, não houve nenhum gênero textual.
Gabarito: B
Não sou de choro fácil a não ser quando descubro qualquer coisa muito interessante sobre
ácido desoxirribonucleico. Ou quando acho uma carta que fale sobre a descoberta de um novo
modelo para a estrutura do ácido desoxirribonucleico, uma carta que termine com “Muito amor,
papai”. Francis Crick descobriu o desenho do DNA e escreveu a seu filho só para dizer que “nossa
estrutura é muito bonita”. Estrutura, foi o que ele falou. Antes de despedir-se ainda disse: “Quando
chegar em casa, vou te mostrar o modelo”. Não esqueça os dois pacotes de leite, passe para comprar
pão, guarde o resto do dinheiro para seus caramelos e, quando chegar, eu mostro a você o
mecanismo copiador básico a partir do qual a vida vem da vida.
Não sou de choro fácil, mas um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções
genéticas que coordenam o desenvolvimento e o funcionamento de todos os seres vivos me
comove. Cromossomas me animam, ribossomas me espantam. A divisão celular não me deixa
dormir, e olha que eu moro bem no meio das montanhas. De vez em quando vejo passarem os
aviões, mas isso nunca acontece de madrugada — a noite se guarda toda para o infinito silêncio.
Acho que uma palavra é muito mais bonita do que uma carabina, mas não sei se vem ao caso.
Nenhuma palavra quer ferir outras palavras: nem desoxirribonucleico, nem montanha, nem canção.
Todos esses conceitos têm os seus sinônimos, veja só, ácido desoxirribonucleico e DNA são
pág. 46
exatamente a mesma coisa, e os do resto das palavras você acha. É tudo uma questão de amor e
prisma, por favor não abra os canhões. Que coisa mais linda esse ácido despenteado, caramba. Olhei
com mais atenção o desenho da estrutura e descobri: a raça humana é toda brilho.
Matilde Campilho. Notícias escrevinhadas na beira da estrada. In: Jóquei. São Paulo: Editora 34, 2015, p. 26-7 (com
adaptações)
Eu ia começar com “Em tese, o cronista”, mas penso melhor e me dou conta de que deveria
começar com “Na prática, o cronista”, pois o cronista só existe na prática. O Amor, o Perdão, a
Saudade, Deus e outras maiúsculas celestes nós deixamos para os poetas, alpinistas muito mais
hábeis que com dois ou três pontos de apoio chegam ao cume de qualquer abstração.
O cronista é um pedestre. O que existe para o cronista é a gaveta de meias, a lancheira do
filho, o boteco da esquina. Verdade que às vezes, na gaveta de meias, na lancheira do filho, no
boteco da esquina, o cronista até resvala no amor, trisca no perdão, se lambuza na saudade, tropeça
num deusinho ou outro (desses deuses de antigamente, também pedestres, que se cansam do
Olimpo e vão dar umas bandas pela 25 de Março), mas é de leve, é sem querer, pois na prática (e é
assim que eu devo começar) o cronista trata do pequeno, do detalhe, do que está tão perto que a
gente nem vê.
Antonio Prata. É uma crônica, companheira. Internet (com adaptações).
pág. 47
8. (CESPE / TRF 1ªR Analista Judiciário Taquígrafo 2017)
O emprego de expressões coloquiais como “dar umas bandas” (2º parágrafo) e “de leve” (2º
parágrafo) é adequado ao gênero em que se classifica o texto.
Comentário: Como a crônica é um gênero textual que permite uma linguagem mais desprendida do
rigor culto, as expressões coloquiais “dar umas bandas” e “de leve” são adequadas ao gênero em
que se classifica o texto.
Gabarito: C
pág. 48
A alternativa (C) está errada, pois verbete transmite predominantemente conceito, definição
de uma palavra, o que não ocorre neste texto.
A alternativa (D) está errada, pois a intenção do texto não é trazer uma notícia, a informação
de ocorrência de algum fato.
A alternativa (E) está errada, pois a intenção do texto não é trazer uma notícia, a informação
de ocorrência de algum fato.
Gabarito: B
Tinha chegado o tempo da colheita, era uma manhã risonha, e bela, como o rosto de um
infante, entretanto eu tinha um peso enorme no coração. Sim, eu estava triste, e não sabia a que
atribuir minha tristeza. Era a primeira vez que me afligia tão incompreensível pesar. Minha filha
sorria para mim, era ela gentilzinha, e em sua inocência semelhava um anjo. Desgraçada de mim!
Deixei-a nos braços de minha mãe e fui-me à roça colher milho. Ah! Nunca mais devia eu vê-la...
Ainda não tinha vencido cem braças de caminho, quando um assobio, que repercutiu nas
matas, me veio orientar acerca do perigo iminente que aí me aguardava. E logo dois homens
apareceram e me amarraram com cordas. Era uma prisioneira — era uma escrava! Foi embalde que
supliquei, em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-se das
minhas lágrimas e me olhavam sem compaixão. Julguei enlouquecer, julguei morrer, mas não me foi
possível... a sorte me reservava ainda longos caminhos.
Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito
e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é
mais necessário à vida passamos nessa sepultura, até que aportamos nas praias brasileiras. Para
caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio de
revolta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos
potentados da Europa. Davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez; a comida má e
ainda mais porca: vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de
água. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa
a consciência de levá-los à sepultura, asfixiados e famintos.
Maria Firmina dos Reis. Úrsula. Florianópolis: Ed. Mulheres, 2004, p. 116-7 (com adaptações).
pág. 49
Comentário: Já no primeiro parágrafo, notamos que o texto é narrativo e a história é contada em
primeira pessoa:
"Tinha chegado o tempo da colheita, era uma manhã risonha, e bela, como o rosto de um
infante, entretanto eu tinha um peso enorme no coração. Sim, eu estava triste, e não sabia a que
atribuir minha tristeza. Era a primeira vez que me afligia tão incompreensível pesar. Minha filha
sorria para mim, era ela gentilzinha, e em sua inocência semelhava um anjo. Desgraçada de mim!
Deixei-a nos braços de minha mãe e fui-me à roça colher milho. Ah! Nunca mais devia eu vê-la..."
Além desse parágrafo, também os demais apresentam a história em primeira como relato
pessoal, isto é, a própria história sendo narrada pela personagem.
Assim, a alternativa (C) é a correta.
A alternativa (A) está errada, pois o texto não requer um direito. Assim, não cabe como
manifesto.
A alternativa (B) está errada, pois o texto não é direcionado a um interlocutor que recebe a
informação com interlocução direta.
A alternativa (D) está errada, pois o texto não conta uma história com se os animais tivessem
características humanas, por isso não cabe fábula.
A alternativa (E) está errada, pois o texto não conta uma piada. Assim, não cabe anedota.
Gabarito: C
pág. 50
Assim, a afirmação está correta.
Gabarito: C
Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de
cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar
dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de
escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz
tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora
você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende. Corrige. Uma tela
vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Mas quando você o manda
fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz “Errado”. Não diz “Burro”, mas está implícito. É pior,
muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz “bip”. Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a
usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: “Bip!” “Olha aqui,
pessoal: ele errou”.
Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor
em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa
não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais
aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu
potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos
que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os
humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior
impaciência conosco, jamais faria “bip” em público.
Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em
casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a
pobrezinha.
Luis Fernando Veríssimo. Tecnologia. In: Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1990, p. 58-
60.
pág. 51
Qual romance você está lendo?
Sempre pensei que fosse sábio desconfiar de quem não lê literatura. Ler ou não ler romances
é para mim um critério. Quer saber se tal político merece seu voto? Verifique se ele lê literatura.
Quer escolher um psicanalista ou um psicoterapeuta? Mesma sugestão.
E, cuidado, o hábito de ler, em geral, pode ser melhor do que o de não ler, mas não me basta:
o critério que vale para mim é ler especificamente literatura — ficção literária.
Algo que eu acreditava intuitivamente foi confirmado em pesquisa que acaba de ser publicada
pela revista Science (migre.me/gkK9J), Reading Literary Fiction Improves Theory of Mind (ler ficção
literária melhora a teoria da mente), de David C. Kidd e Emanuele Castano.
Uma explicação. Na expressão “teoria da mente”, “teoria” significa “visão” (esse é o sentido
originário da palavra). Em psicologia, a “teoria da mente” é nossa capacidade de enxergar os outros
e de lhes atribuir de maneira correta crenças, ideias, intenções, afetos e sentimentos.
A teoria da mente emocional é a capacidade de reconhecer o que os outros sentem e,
portanto, de experimentar empatia e compaixão por eles; a teoria da mente cognitiva é a capacidade
de reconhecer o que os outros pensam e sabem e, portanto, de dialogar e de negociar soluções
racionais. Obviamente, enxergar o que os outros sentem e pensam é uma condição para ter uma
vida social ativa e interessante.
Existem vários testes para medir nossa “teoria da mente” — os mais conhecidos são o RMET
e o DANVA, testes de interpretação da mente do outro pelo seu olhar ou pela sua expressão facial.
Em geral, esses testes são usados no diagnóstico de transtornos que vão desde o isolamento autista
até a inquietante indiferença ao destino dos outros de que dão prova psicopatas e sociopatas.
Kidd e Castano aplicaram esses testes em diferentes grupos, criados a partir de uma amostra
homogênea: 1) um grupo que acabava de ler trechos de ficção literária, 2) um grupo que acabava de
ler trechos de não ficção, 3) um grupo que acabava de ler trechos de ficção popular, 4) um grupo
que não lera nada.
Conclusão: os leitores de ficção literária enxergam melhor a complexidade do outro e, com
isso, podem aumentar sua empatia e seu respeito pela diferença de seus semelhantes. Com um
pouco de otimismo, seria possível apostar que ler literatura seja um jeito de se precaver contra
sociopatia e psicopatia.
Em suma, o texto literário é aquele que pede esforços de interpretação por aquelas
caraterísticas que foram notadas pelos melhores leitores do século 20: por ser ambíguo (William
Empson), aberto (Umberto Eco) e repleto de significações secundárias (Roland Barthes).
Contardo Calligaris In:. Folha de S.Paulo, 13/10/2013. Internet: <http://www1.folha.uol.com.br/> (com adaptações).
pág. 52
Estruturalmente, o texto se organiza como uma reportagem científica em que o protagonismo
concentra-se nos dados colhidos pelos autores da pesquisa, com a devida omissão da opinião do
autor do artigo.
Comentário: Primeiramente, notamos que a opinião do autor do texto está explícita em várias
passagens, como no primeiro parágrafo:
Sempre pensei que fosse sábio desconfiar de quem não lê literatura. Ler ou não ler romances
é para mim um critério. Quer saber se tal político merece seu voto? Verifique se ele lê literatura.
Quer escolher um psicanalista ou um psicoterapeuta? Mesma sugestão.
Assim, já sabemos que a afirmação de que houve omissão da opinião do autor do artigo está
errada.
Além disso, o texto não é uma reportagem, mas um artigo de opinião e o autor usa dados
científicos para comprovação de sua argumentação.
Gabarito: E
O monstro
Os seguidores de Ned Ludd, chamados luditas, trabalhadores da indústria têxtil inglesa, se
revoltaram contra a invenção de teares automatizados, que ameaçavam seus empregos, no começo
do século XIX, e pregaram a destruição de todas as máquinas que substituíssem o trabalho humano.
A história social e econômica dos Estados Unidos da América se divide em antes e depois da
massificação, pela Ford, da produção dos seus carros — que empestavam o ambiente, além de
assustar os cavalos, e, por isso, foram duramente combatidos.
Reações a novidades tecnológicas se repetem ao longo da história, movidas pelo medo à
obsolescência, como no caso dos luditas, incompreensão ou apego ao passado. O capítulo mais
recente e mais curioso dessa briga é a decisão do governo inglês de restringir o uso, no país, das
redes sociais, que todo o mundo achava maravilhosas até revelarem um potencial subversivo que
ninguém previra. Enquanto twitter e facebook animaram as revoltas contra os déspotas e por
aberturas democráticas nas ruas árabes, tudo bem. Eram as redes sociais, o produto mais moderno
da engenhosidade humana, usadas para modernizar sociedades atrasadas. Mas descobriram que os
quebra-quebras e queima-queimas nas ruas inglesas estavam sendo, em grande parte, também
tramados na Internet. Epa — ou o equivalente em inglês — disseram os ingleses. Aqui não.
Conservadores e trabalhistas se uniram para condenar a violência e o vandalismo e negar
qualquer outra motivação, além de banditismo nato, para a rebelião. E todos, presumivelmente,
concordaram com as medidas do governo para evitar novos distúrbios, incluindo o controle das
redes sociais. Resta saber se o controle ainda é possível. O monstro talvez não seja mais domável. Já
acabou com qualquer pretensão a se manterem segredos oficiais secretos, já invadiu a privacidade
de meio mundo e já sentiu o gosto do sucesso como instigador de revoltas — sem falar que ninguém
mais consegue viver sem ele.
Agora pode não haver mais o que fazer. Se tivessem parado na invenção do trem...
pág. 53
Luís Fernando Veríssimo. Internet: <www.estadao.com.br/noticias> (com adaptações).
pág. 54