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Literatura
Construção da poesia e do
eu lírico, da prosa e do narrador
O texto poético
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Odisseia e Ilíada de Homero, obras fundadoras da cultura ocidental, foram longos poemas épicos
cantados que só séculos depois foram reunidos em livros, cujas datas da compilação ainda são uma
incógnita. Esses mistérios geram dúvidas, como: será mesmo que foi Homero o autor dessas obras? Ou
ainda “Quem foi Homero?”
Enquanto a poesia estava presente desde os primórdios da comunicação, a prosa passou a ser
desenvolvida apenas na Idade Média com as transformações das canções em novelas também
chamadas de “romances de cavalaria”.
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Elementos da poesia
Leia o poema:
O POETA
AZEVEDO, Álvares de. O poeta. In: Grandes poetas românticos do Brasil. São Paulo : Discubra, 1978.)
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O texto em prosa
Como vimos, o texto poético é composto por versos, estrofes e rima e predominantemente
subjetivo. De forma diferente, o texto em prosa é corrido, orações e períodos vão até o final das
margens, dividido em parágrafos e mais objetivo. Em vez de um eu lírico enquanto voz do poema, na
prosa, há a figura do narrador.
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Elementos da prosa
A construção da narrativa é perpassada por alguns elementos estruturais, como tempo, espaço,
tipo de narrador. Os elementos básicos funcionam como respostas para perguntas, como: o quê
aconteceu? Como aconteceu? Quem participou ou estava presente? Onde e quando aconteceu?
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Perspectiva que o narrador usa para contar a história. Pode ser: 3ª pessoa - narrador
observador, que tem apenas a perspectiva de quem observa um acontecimento e o
Foco narrativo narra, ou onisciente, tem conhecimento integral do que acontece, inclusive do
psicológico dos personagens. 1ª pessoa - narrador personagem, é também um
observador, mas participa ativamente da história narrada.
Pode ser uma pessoa, objetos e/ou animais, ideias, entre outros. São aqueles
Personagens elementos que irão representar as ações e dar movimento à trama. Podem ser
protagonistas, antagonistas, caricaturais.
Lugar onde ocorrem as ações da narrativa, onde os personagens atuam. Esse lugar
Espaço pode ser físico (uma cidade, uma casa, por exemplo) ou psicológico (lugar interior do
personagem, constituído pela memória e pelas vivências dele).
Momento em que ocorrem as ações da narrativa. Ele pode ser cronológico, seguindo
Tempo a sucessão dos fatos da natureza, ou psicológico, quando está associado ao interior
de um personagem.
Tipos de narrativa
Conto: trata-se de uma narrativa breve. Os contos têm enredos condensados, com
desenvolvimento de poucos personagens. Há também aqueles que podem ser apenas uma ou duas
frases, com enredo condensado, os chamados microcontos. Vejamos um exemplo: “Tempo.
Inesperadamente, inventei uma máquina”, do Alan Moore. Uma narrativa compacta, mas com enredo,
narrador, personagem. Enfim, um texto curtinho e bastante curioso, esse microconto caberia em um
tweet, não é?
Novela: maior do que um conto, mas com mais personagens desenvolvidos para tornar a trama
também mais elaborada e dinâmica. Ainda não tão aprofundada quanto o romance.
Romance: tido como o gênero burguês, foi uma expressão narrativa que surgiu na Europa nos
séculos XVIII e XIX. O enredo é complexo, com vários núcleos narrativos, mais de um conflito, de espaço
e de tempo, o que torna a narrativa mais longa.
Crônica: narrativa curta, a crônica tem relação com o seu nome o qual vem do radical grego crono,
tempo. Nela narram-se acontecimentos do cotidiano. A crônica costumava ser veiculada em jornais,
suporte para textos de leitura rápida. Vejamos a crônica introspectiva de Clarice Lispector:
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Insônia infeliz e feliz
De repente os olhos bem abertos. E a escuridão toda escura. Deve ser noite alta. Acendo a luz da
cabeceira e, para o meu desespero, são duas horas da noite. E a cabeça clara e lúcida. Ainda arranjarei
alguém igual a quem eu possa telefonar às duas da noite e que não me maldiga. Quem? Quem sofre de
insônia? E as horas não passam. Saio da cama, tomo café. E ainda por cima com um desses horríveis
substitutos do açúcar porque o Dr. José Carlos Cabral de Almeida, dietista, acha que preciso perder os
quatro quilos que aumentei com a superalimentação depois do incêndio. E o que se passa na luz acesa
da sala? Pensa-se uma escuridão clara. Não, não se pensa. Sente-se. Sente-se uma coisa que só tem um
nome: solidão. Ler? Jamais. Escrever? Jamais. Passa-se um tempo, olha-se o relógio, quem sabe são
cinco horas. Nem quatro chegaram. Quem estará acordado agora? E nem posso pedir que me telefonem
no meio da noite, pois posso estar dormindo e não perdoar. Tomar uma pílula para dormir? Mas e o vício
que nos espreita? Ninguém me perdoaria o vício. Então fico sentada na sala, sentindo. Sentindo o quê?
O nada. E o telefone à mão. Mas quantas vezes a insônia é um dom. De repente acordar no meio da noite
e ter essa coisa rara: solidão. Quase nenhum ruído. Só o das ondas do mar batendo na praia. E tomo café
com gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me interrompe o nada. É um nada a um tempo vazio e rico.
E o telefone mudo, sem aquele toque súbito que sobressalta. Depois vai amanhecendo. As nuvens se
clareando sob um sol às vezes pálido como uma lua, às vezes de fogo puro. Vou ao terraço e sou talvez
a primeira do dia a ver a espuma branca do mar. O mar é meu, o sol é meu, a terra é minha. E sinto-me
feliz por nada, por tudo. Até que, como o sol subindo, a casa vai acordando e há o reencontro com meus
filhos sonolentos.