Você está na página 1de 7

WikimediaomnsC

História
Utopistas e Maquiavel
O que são, de fato, as utopias? Você conhece as principais
contribuições de Nicolau Maquiavel para a Filosofia política moderna?
Vamos compreender isso por meio do estudo das ideias dos principais
utopistas e do pensamento maquiaveliano.

Thomas More e a fundação


da ideia de utopia
Durante o período da Renascença

Wikimedia Commons
na Europa, houve o avanço de ideias
humanistas, que buscavam interpretar
o mundo não mais por meio das
influências teológicas da Igreja, mas
sim por meio da razão e dos elementos
que giram em torno do ser humano.
Dentro desse contexto, o filósofo
inglês Thomas More (1478-1535) refletiu
sobre a situação política de sua época,
percebendo diversos problemas,
como corrupção, desigualdade social,
violência, guerras, conflitos internos,
traições, entre outros males que
contribuíam para a infelicidade e o sofrimento do povo. O pensador
teve, então, a ideia de formular filosoficamente um conjunto de ideias
que pudesse influenciar positivamente a sociedade em que vivia. Surgiu,
então, a sua principal obra, intitulada Utopia. O nome desse escrito
deu origem a um conceito extremamente importante no campo de
discussão da Filosofia política, cuja origem etimológica vem dos termos
gregos oú, que significa “não”, e topos, que quer dizer “lugar”. Ou seja,
utopia significa um “não lugar” ou ainda um “lugar que ainda não é”.

Em seu livro, More descreve uma cidade perfeita, chamada de


Utopia, onde todos têm direito à mesma quantidade de riquezas,
a vida é segura e sem a ameaça de guerras, todos os cidadãos se
respeitam e colaboram entre si, os governantes são justos e governam
para o bem de toda a população. A cidade é próspera, tendo um

2
ótimo comércio e boas produções econômicas. Os habitantes são
evoluídos moralmente, pois fazem o uso da sã razão para o bem e
criam diversas obras artísticas que exaltam a sutileza e a beleza da
humanidade. Como é possível constatar, Utopia é um lugar bastante
diferente da realidade enfrentada pelo autor em sua época, sendo tal
realidade marcada exatamente pelo oposto daquilo que sua cidade
perfeita é. Qual teria sido, então, a verdadeira intenção de More ao
escrever essa obra? Podemos compreender que o objetivo do filósofo
era construir, por meio de Utopia, um modelo ideal, que servisse como
referência para a humanidade. A cidade perfeita exposta em seu livro
deveria servir como um objetivo a ser alcançado pelos indivíduos a
partir do momento em que estes tivessem a intenção de transformar
a sociedade em que viviam e de construir um mundo melhor para
todos. A partir dessa construção intelectual de Thomas More, outros
pensadores foram influenciados a igualmente criarem as suas próprias
utopias.

Tomás Campanella e a Cidade do Sol


Seguindo a mesma tendência iniciada por More, o filósofo italiano
Tomás Campanella (1568-1639) se propôs a refletir sobre a situação
política da sociedade em que viveu. Também constatou uma grande
quantidade de males e mazelas sociais que oprimiam os mais humildes
e tornavam cada vez mais difíceis as condições de vida nas cidades.
Desse modo, surge no autor a intenção de construir as bases filosóficas
para uma reforma no mundo, capaz de libertar a humanidade dos
grandes males que ela mesma criou ao longo de sua história. Tomás,
além de ser membro de uma ordem religiosa católica, também realizava
estudos sobre teorias místicas e astrologia, o que acabou exercendo
bastante influência sobre o seu pensamento.

Em sua principal obra, chamada Cidade do Sol, Tomás descreveu


uma comunidade utópica extremamente organizada, onde a
propriedade privada havia sido abolida. Esta era vista pelo filósofo
como uma das principais causas dos males na sociedade, pois ela

3
dava origem à desigualdade econômica e à miséria. Os indivíduos que
habitavam a cidade faziam o livre uso da razão para organizar suas vidas
e para orientar as suas ações em direção ao bem comum. O governo
era exercido pelo príncipe-sacerdote Sol, encarregado de conduzir a
cidade pelas vias da justiça e do progresso. Ele era auxiliado em suas
decisões políticas pelos príncipes Pon (Potência), Sin (Sapiência) e Mor
(Amor). Estes compõem uma simbologia que representa as qualidades
necessárias a um bom governante na concepção do autor. É possível
compreender que a intenção de Tomás ao escrever Cidade do Sol é
a mesma de More em sua obra Utopia, ou seja, construir a imagem e
as características de uma cidade perfeita, que pudesse servir como
modelo para que a humanidade conseguisse conduzir transformações
no mundo em prol de uma sociedade melhor e livre dos males que
causariam sofrimento aos seus cidadãos.

Francis Bacon e a Nova Atlântida


De modo paralelo à Renascença e ao surgimento das utopias,
floresceu também na Europa a chamada Revolução Científica, por
meio da qual finalmente havia mais liberdade para que os cientistas
da época pudessem realizar as suas pesquisas e experimentações.
Influenciado por essa tendência, o filósofo inglês Francis Bacon (1561-
1626) elaborou diversas obras filosóficas, que giravam sobretudo em
torno do conhecimento humano. No entanto, o pensador também
construiu a sua própria utopia, intitulada A Nova Atlântida, na qual é
descrita e explorada a cidade perfeita de Bensalem. Nesta comunidade,
a vida dos cidadãos era pacífica e harmoniosa, pois na localidade
havia um enorme progresso científico, onde máquinas e grandes
mecanismos eram capazes de exercer as tarefas necessárias para a
existência humana. Nesse cenário, Bacon descreve uma cidade onde o
avanço das tecnologias melhorou completamente a qualidade de vida
dos indivíduos, de modo que até mesmo os conflitos sociais e políticos
haviam sido resolvidos, devido ao fato de que os habitantes da cidade
se dedicavam aos estudos da Filosofia e das ciências e, assim, puderam
se tornar pessoas melhores e mais cooperativas.

4
A maneira como a cidade de Bensalem era organizada, segundo
o pensamento do autor, seguia princípios formulados a partir
da observação e da experimentação científica. As decisões dos
governantes, as políticas públicas e as organizações sociais seguiam
padrões pautados no uso da razão e eram fundamentadas nas
descobertas realizadas pelas ciências naturais. Problemas como a
desigualdade social, as guerras e a corrupção já não estavam mais
presentes na comunidade, pois o avanço racional e moral da sociedade
conseguiu abolir esses males. Mais uma vez, a ideia da construção
intelectual de uma cidade perfeita, que servisse como referência
para a humanidade, faz-se presente na Filosofia, dessa vez dentro
das reflexões de Bacon. O fato de a tecnologia e a ciências terem um
papel tão importante na utopia construída pelo filósofo representa a
esperança que ele tinha no avanço imensurável e no progresso que
estas poderiam proporcionar à humanidade.

Nicolau Maquiavel e o realismo


no pensamento político
Foi no contexto político de uma
Wikimedia Commons

Itália fragmentada em pequenos reinos


que viviam em constantes conflitos
entre si que surgiu o pensamento
de Nicolau Maquiavel (1469-1527). As
reflexões maquiavelianas sobre a
sociedade tinham um caráter bastante
diferente da abordagem desenvolvida
pelos utopistas. Enquanto estes
trabalhavam com a ideia de um modelo
perfeito de como a sociedade deveria
se organizar, Maquiavel procedeu em
seu pensamento a partir da situação
de como as comunidades humanas
são de fato: marcadas por violência, traição, desonestidade, roubos e
todo o tipo de comportamento nocivo ao bem viver. A teoria política

5
do autor é marcada por um profundo realismo, que procura tratar os
desafios da vida social da maneira que eles realmente são.

Em suas teses, Maquiavel defende que a administração política de


um governo deve ter total autonomia e não pode sofrer a influência de
preceitos religiosos, pois as ações do soberano são de vital importância
para a manutenção da paz e do bem comum. Ao tratar da conduta
do governante, o filósofo define que as leis e regras que devem reger
o comportamento do príncipe precisam ser diferentes daquelas
que se aplicam aos comportamentos dos cidadãos comuns, pois as
decisões daquele determinam o futuro de todas as outras instâncias
da sociedade. Na perspectiva de Maquiavel, existem duas virtudes
imprescindíveis ao bom príncipe: virtú e fortuna. Força, capacidade de
ação e de tomar decisões sem hesitar constituem o conceito de virtú,
enquanto a habilidade de aproveitar as boas oportunidades, agir no
tempo certo e não desperdiçar os bons momentos de ação constituem
a fortuna. O príncipe, segundo a visão do filósofo, deve possuir ambas
em pleno equilíbrio.

Você também pode gostar