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- O autor pela sua obra: "Costumo estudar ouvindo Mozart." "Meu ultimo amor eterno acabou antes de ontem." Carlos Queiroz
Telles
- O lugar de origem pelo produto, ou vice-versa: "Bebi um ótimo
Porto durante o almoço!" “Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver;
- O específico pelo genérico e/ou o objetivo pelos meios: "É É ferida que dói e não se sente;
preciso acordar cedo para ganhar o pão.” É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;”
- O abstrato pelo concreto: "Reuniu-se na capital, para um Camões
congresso, a cultura do país."
1.3.11) HIPÉRBOLE (ou AUXESE) "Que o fraco rei faz fraca a forte gente." - Camões
A hipérbole corresponde sempre a um exagero.
"(...) Vozes veladas, veludosas vozes,
"Meses depois fui para o seminário de S. José. Se eu Volúpias dos violões, vozes veladas
pudesse contar as lágrimas que chorei na véspera e na manhã, Vagam nos velhos vórtices velozes
somaria mais que todas as vertidas desde Adão e Eva. Há nisto Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas." (Cruz e Souza)
alguma exageração; mas é bom ser enfático, uma ou outra vez,
para compensar este escrúpulo de exatidão que me aflige". 1.3.16) ASSONÂNCIA
Machado de Assis, Dom Casmurro. É uma repetição de sons vocálicos, algumas vezes
prolongando o efeito da RIMA.
1.3.12) IRONIA
Consiste em dar a sensação de elogiar, exaltar o que se "Água fria fica quente,
pretende condenar, criticar. É dizer o inverso do que se pretende Água quente fica fria
deixar entender. A ironia é uma ótima ferramenta de crítica e Mas eu fico frio
normalmente está associada ao humor. Sem a tua companhia" (Manuel Bandeira)
A) Metáfora.
B) Metonímia.
C) Catacrese.
D) Personificação.
E) Símile.
Questão 05.
ESQUECIMENTO
(Unifesp 2009) Na última estrofe, o eu lírico expressa, por meio de: (http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-edgard/o-gilete-
a) Hipérboles, a dificuldade de se tentar esquecer um grande amor. dos-tablets-260395-1.asp)
b) Metáforas, a forma de se esquecer plenamente a pessoa
amada. No campo da estilística, a figura de linguagem abordada na matéria
c) Eufemismos, as contradições do amor e os sofrimentos dele acima recebe o nome de
decorrentes. a) metáfora, por haver uma comparação subentendida entre a
d) Metonímias, o bem-estar ligado a amar e querer esquecer. marca e o produto.
e) Paradoxos, a impossibilidade de o esquecimento ser levado a b) hipérbole, por haver exagero dos consumidores na associação
cabo. do produto com a marca.
c) catacrese, por haver um empréstimo linguístico na referência à
Questão 06 marca do produto famoso.
d) metonímia, por haver substituição do produto pela marca, numa
relação de semelhança.
e) perífrase, por haver a designação de um objeto através de seus
atributos ou de um fato que o celebrizou.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
a) “A vaia amarela dos papagaios / rompe o silêncio da despedida.” (O Estado de S. Paulo, 31.05.2015.)
(Carlos Drummond de Andrade).
(Unesp 2016) Em “falta lombada” (2º parágrafo), o cronista se
b) “Duro é o pão que nós comemos. Dura é a cama que dormimos.”
utiliza, estilisticamente, de uma figura de linguagem que
(Carolina Maria de Jesus). a) representa uma imagem exagerada do que se quer exprimir.
c) “O cabelo louro, a pele bronzeada de sol, as mãos de estátua.” b) se baseia numa analogia ou semelhança.
(Lygia Fagundes Telles). c) emprega a palavra que indica a parte pelo todo.
d) “... Eu durmi. E tive um sonho maravilhoso. Sonhei que eu era d) emprega a palavra que indica o todo pela parte.
um anjo.” (Carolina Maria de Jesus). e) se baseia na simultaneidade de impressões sensoriais.
e) “No meio do caminho tinha uma pedra...” (Carlos Drummond de
Questão 13
Andrade).
Na fazenda
Questão 11 (Fgv 2006) Barulhinho vermelho de cajus
Emprega-se linguagem figurada, com predominância de metáforas, e o riacho passando
no trecho transcrito na alternativa: nos fundos do quintal...
a) O cartunista Bob Thaves desenhou uma de suas instigantes
tirinhas, que tem como personagens Frank & Ernest, os Dali
desleixados e eventualmente oportunistas representantes do se escutavam os ventos com a boca
como um dia ser árvore.
"homem comum" do mundo contemporâneo urbano.
b) Já ouviu dizer que o ócio é a mãe do pecado? Ou que o Eu era lutador de jacaré.
demônio sempre arruma ofício para quem está com as mãos As árvores falavam. (...)
desocupadas? Ou ainda que cabeça vazia é oficina do Diabo?
c) Não é por acaso que Paul Lafargue, um franco-cubano casado (BARROS, Manoel de. Compêndio para uso dos pássaros. 2.ed.
com Laura, filha de Karl Marx, e fundador do Partido Operário São Paulo: Leya, 2010. Adaptado)
Francês, foi pouco compreendido na ironia contida em alguns
(G1 - ifsp 2014) Sobre a figura de linguagem empregada pelo eu
de seus escritos.
lírico no primeiro verso do poema, é correto afirmar que se trata de
d) O genro de Marx publicou "Direito à Preguiça", uma a) metáfora, pois há a aproximação implícita entre os termos
desnorteante e - só na aparência - paradoxal análise da barulhinho e cajus.
alienação e da exploração humana no sistema capitalista. b) comparação, já que a palavra vermelho faz referência ao nome
e) Ou, como registrou Anatole France, conterrâneo e herdeiro, no cajus, que é a cor natural desse fruto.
século seguinte, da mordacidade voltairiana: "O trabalho é bom c) sinestesia, pois o verso mistura sensações auditivas e visuais
para o homem". com o uso da expressão “barulhinho vermelho”.
Questão 14.
Poetas e tipógrafos
Questão 15
ESCRAVIDÃO POÉTICA
Escravidão.
Escrevidão.
Poesia:
– alforria?
Ou consentida
servidão?
Exemplos:
Exemplos:
Vi uma estrela tão alta,
"Quero escrever sem saber, / Sem saber o que dizer."
Vi uma estrela tão fria!
Dante Milano
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
O mau-humor produz a impaciência; da impaciência nasce a
Manuel Bandeira
cólera; a violência; e a violência conduz ao crime.
"Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere,
Pecador contrito aos pés de Cristo crucificado
tudo acaba."
Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
Antônio Vieira
Verdade é, meu Senhor, que hei delinquido,
delinquido vos tenho, e ofendido,
2.2) EPÍSTROFE
ofendido vos tem minha maldade.
Consiste na repetição de uma mesma palavra, ou expressão no
final dos versos, de orações ou de frases.
Maldade, que encaminha a vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido,
Exemplos:
Vencido quero ver-me e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
"Não sou nada
Nunca serei nada
Arrependido estou de coração,
Não posso querer ser nada"
De coração vos busco, dai-me abraços,
Álvaro de Campos
Abraços, que me rendem vossa luz.
Eu...
Luz, que claro me mostra a salvação,
Tive um passado? Sem dúvida...
A salvação pretendo em tais braços,
Tenho um presente? Sem dúvida...
Misericórdia, amor, Jesus, Jesus!
Terei um futuro? Sem dúvida...
Gregório de Matos
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
2.5) EPÂNODO
Eu sou eu,
É a repetição, em separado, de palavras que anteriormente se
Eu fico eu,
encontravam juntas:
Eu...“
Álvaro de Campos
Exemplos:
2.3) EPIZEUXE
"Vi então uma moça e um homem que saíam da igreja e pararam;
Consiste em repetir uma palavra sem conjunção de coordenação.
e a moça olhava para mim falando ao homem, e o homem olhava
É a repetição de uma mesma palavra imediatamente após a outra.
para mim, ouvindo a moça."
Machado de Assis
Exemplos:
“A nuvem tem relâmpago, tem trovão e tem raio; relâmpago para
“Existe, existe o mundo
os olhos, trovão para os ouvidos, raio para o coração; com o
apenas pelo olhar
relâmpago alumia, com o trovão assombra, com o raio mata.”
que o cria e lhe confere
Padre Antônio Vieira
espacialidade?”
Carlos Drummond de Andrade
2.18) ALEGORIA
É a figura de retórica que consiste na representação de uma
realidade abstrata através de uma realidade concreta, por meio de
Trem de Ferro analogias, metáforas, imagens e comparações. Segundo o
dicionário Aurélio: “Simbolismo concreto que abrange o conjunto de
Café com pão toda uma narrativa ou quadro, de maneira que a cada elemento do
Café com pão símbolo corresponda um elemento significado ou simbolizado”.
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
Questão 03
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
O segundo turno nos agraciou com o prolongamento do
agradabilíssimo horário político obrigatório. Os candidatos nos
Questão 01 (Insper 2012)
horaram de novo com promessas e o anúncio de realizações e nos
Se apresentar problema mecânico, trem de ferro descarrila. O comoveram quase às lágrimas ao renegar o aborto. Quanto aos
desastre é escândalo e noticiado em todos os meios de programas, inesquecível foi um deles, de turno anterior, em que o
comunicação de massa. Em fins de julho, na China, dois vagões de locutor lembrava que certo político havia criado milhares de novos
um trem saíram do trilho e despencaram lá do alto do viaduto. 32 empregos. Sim, criado novos empregos.
pessoas mortas. Semelhante à escultura de José Resende, a foto Como sabemos todos, a Bíblia informa o seguinte no primeiro
do acidente é trágica e bela. No entanto, desacreditou em parte um versículo de seu primeiro livro, o Gênese: “No princípio, Deus criou
bem montado programa de modernização do país asiático. o Céu e a Terra.”
Quando a obra de artista ambicioso vem bamboleando na bitola Não importa qual o tradutor da vulgata vertida do hebraico, a
estreita da mesmice, ele deve dar-se conta de que a locomotiva tradução é sempre esta: o bom Deus criou o Céu e a Terra, como
que conduz apresenta sérias avarias. O maquinista tem de assumir diriam os presidenciáveis antes do fim do segundo turno. Dirão
ou não o risco do acidente regenerador. A assombrar o todos que ir do horário político à Bíblia é salto temerário, mas
planejamento do futuro livro, o descarrilamento estético pode teremos sempre o álibi de seguir o exemplo dos próprios
revigorar a obra literária à beira da insipidez. Tramas e candidatos. O salto serve, ademais, para lembrar como é distraída
personagens criados em obras anteriores morrem no desastre
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12
Aula 2 - Figuras de Linguagem II
a moçada que escreve programas e discursos para políticos. (Espm 2014) A repetição da expressão “um estilo tão” e o uso da
Josué Machado, Revista Língua Portuguesa. São Paulo, n.61, expressão “xadrez de palavras” compõem respectivamente as
nov. 2010, p. 27. figuras de linguagem:
a) anáfora e metáfora
No texto acima, Josué Machado faz uma crítica ao uso da b) polissíndeto e metonímia
expressão “criado novos empregos” nos discursos políticos escritos c) pleonasmo e anacoluto
por uma “distraída moçada”. O item em que a figura contida na d) metáfora e prosopopeia
expressão também pode ser identificada é: e) antonomásia e catacrese
A) O brasileiro é bravo e forte. Não fogem da luta.
B) Rio de Janeiro é linda. Vista daqui parece o paraíso. Questão 06
C) Como vai a turma? Estão bem? Pote Cru é meu Pastor. Ele me guiará.
D) Vossa Senhoria foi taxativo em seu discurso. Ele está comprometido de monge.
E) Quando jovens, todos temos muitos planos e projetos para o De tarde deambula no azedal entre torsos de
futuro. cachorro, trampas, trapos, panos de regra, couros,
de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas
Questão 04 (Uff) albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,
Assinale a opção em que os elementos destacados no texto linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em
exemplificam a figura de linguagem apresentada. gotas de orvalho etc. etc.
a) "Paronomásia" é o emprego de palavras semelhantes no som, Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento.
porém de sentido diferente./ "Entretanto, VIDA diferente não Foi encontrado em osso.
quer dizer VIDA pior; é outra coisa." Ele tinha uma voz de oratórios perdidos.
b) "Onomatopeia" é o emprego de palavra cuja pronúncia imita o
BARROS, M. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro:
som natural da coisa significada. / "Foi então que os bustos
Record, 2002.
pintados nas paredes entraram a FALAR-me e a DIZER-me
que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os
No verso, “Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento.” Há
tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns."
uma figura de linguagem conhecida como:
c) "Anáfora" é a repetição de uma ou mais palavras no princípio de
duas ou mais frases, de membros da mesma frase, ou de dois a) Metáfora.
ou mais versos. / "Ora, como tudo CANSA, esta monotonia b) Hipérbato.
acabou por EXAURIR-me também. Quis variar, e lembrou-me c) Anacoluto.
escrever um livro." d) Assíndeto.
d) "Metonímia" é a designação de um objeto por palavra e) Metonímia
designativa de outro objeto que tem com o primeiro uma
relação. / "O que aqui está é, mal comparando, semelhante à Questão 07
pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas "Elas são quatro mulheres, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas
conserva o hábito externo, COMO SE DIZ NAS AUTÓPSIAS; O cortam o pão e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam
INTERNO NÃO AGUENTA TINTA." batatas. Elas migam sêmeas e restos de comida azeda. Elas
e) "Eufemismo" é uma substituição de um termo, pela qual se pode chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças.
evitar usar expressões mais diretas ou chocantes, para referir- Elas enchem lancheiras e tarros e pastas de escola com latas e
se a determinados fatos. / "Os amigos que me restam são de buchas e fruta embrulhada em pano limpo."
data recente; todos os antigos FORAM ESTUDAR A Maria Velho da Costa
GEOLOGIA DOS CAMPOS SANTOS."
No trecho acima, há uma figura de repetição que tem como
Questão 05 objetivo acentuar a ideia de movimento. Tal figura é:
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo
tão empeçado¹, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um a) Assíndeto
estilo tão encontrado toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é b) Anáfora
também essa. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por c) Quiasmo
isso Cristo comparou o pregar ao semear, porque o semear é uma d) Polissíndeto
arte que tem mais de natureza que de arte (...) Não fez Deus o céu e) Aliteração
em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em
xadrez de palavras. Se uma parte está branco, da outra há de estar Questão 08 (Mackenzie)
negro (...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As I - "E treme, e cresce, e brilha, e afia o ouvido, e escuta..."
estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo II - "Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não."
da pregação, muito distinto e muito claro. III - "Aproximou-se do chiqueiro das cabras, viu o bode velho
¹empeçado: com obstáculo, com empecilho. fazendo um barulho feio com as ventas arregaçadas, lembrou-se
do acontecimento da véspera."
Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira IV - "Minha vida é uma pobre rosa ao vento."
V - "Não vi mais o acampo deles, as esporas tilintim."
IV. “Te trago mil rosas roubadas / Pra desculpar minhas mentiras /
Minhas mancadas” (Cazuza)
(http://tinyurl.com/n4oljo7 Acesso em: 24.07.2014. Adaptado) a) De qual dos recursos enumerados Guimarães Rosa faz uso no
trecho "Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse"? Explique.
A figura de linguagem predominante nesse poema é
a) hipérbole, pois a palavra estrela foi empregada para suavizar um b) Com qual desses recursos pode ser associada a frase "Até
termo. fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!"?
b) pleonasmo, pois a palavra história apresenta o mesmo sentido
de incidente.
c) sinestesia, pois a felicidade da estrela é tratada com indiferença Questão 15 (Eear 2017)
pelo poeta. Leia:
d) catacrese, pois a palavra pena foi empregada inadequadamente,
num sentido impróprio. I. “As derrotas e as frustrações são amargas”.
e) personificação, pois a lua vivencia uma situação que é própria II. “O rio tinha entrado em agonia, após tantos meses sem chuva”.
dos seres humanos. III. “As crianças cresceram, no devagar depressa do tempo”.
IV. “Maria Joaquina completava quinze primaveras”.
Questão 13 (G1 - ifce 2016)
Analise os trechos de músicas a seguir levando em consideração As figuras de linguagem encontradas nos textos acima são,
as figuras de linguagem. respectivamente,
a) metáfora, metonímia, paradoxo e prosopopeia.
I. “Não existiria som se não houvesse o silêncio / Não haveria luz b) antítese, prosopopeia, metáfora e metonímia.
se não fosse a escuridão / A vida é mesmo assim / Dia e noite, c) metonímia, metáfora, prosopopeia e antítese.
não e sim.” (Lulu Santos/Nelson Mota) d) metáfora, prosopopeia, paradoxo e metonímia.
II. “Chove chuva, chove sem parar” (Jorge Ben Jor) e) comparação, personificação, antítese e metáfora.
III. “Mentes tão bem que parece verdade, o que você me fala / Vou
acreditando” (Zezé Di Camargo e Luciano)
1.1) Contexto Histórico: Idade Média - Feudalismo a) Cantigas de Amor: O servilismo dos vassalos ao seu suserano
e de todos a Deus é a fonte do princípio básico da literatura
Durante a Idade Média, a Igreja Católica acumulou vastas
medieval: a afirmação da absoluta subserviência do trovador à sua
extensões de terra, enriqueceu e exerceu um imenso poder
dama (na poesia) ou de um cavaleiro à sua donzela (nas novelas
religioso e secular. No período conhecido como Alta Idade Média
de cavalaria).
(séculos XII e XIII), o poder da Igreja medieval era tão grande a
Essa subserviência é a base do amor cortês, um código de
ponto do papa Inocêncio III (século 1198-1216) afirmar que
comportamento amoroso idealizado, criado por Guilherme IX,
“Os príncipes têm poder na terra, os sacerdotes, sobre a alma. E
nobre e senhor de um dos mais poderosos feudos da Europa.
assim como a alma é muito mais valiosa do que o corpo, assim
De acordo com o código do amor cortês, o trovador deveria
também mais valioso é o clero do que a monarquia [...]. Nenhum
expressar seus galanteios e súplicas a uma mulher casada e
rei pode reinar com acerto a menos que sirva devotamente ao
pertencente à nobreza, que tivesse uma posição social de
vigário de Cristo.".
destaque.
PERRY, Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. São Paulo:
Martins Fontes, 1985. p 218. Uma vez que a mulher cortejada é casada, o amor não tem
possibilidade de se realizar, originando a “coita de amor”, o
A Igreja impôs uma ideologia teocêntrica, estimulando os fieis a sofrimento amoroso.
acreditarem que viviam no pecado e que a possibilidade de As cantigas de amor galego-portuguesas expressam a paixão
salvação residia na total submissão a Deus e à Igreja, sua infeliz, o amor não correspondido de um trovador pela sua senhora,
representante no mundo. como fica evidente na famosa Cantiga da Ribeirinha, de Paay
Soares de Taveiros:
*Teocentrismo: refere-se a uma visão de mundo cristã, que afirma
a perfeição e a superioridade de Deus. Assim, Deus seria o Cantiga da Ribeirinha
fundamento de tudo e responsável por todas as coisas. No mundo non me sei pareiha,
Mentre me for como me vai,
Outra manifestação do poder da Igreja manifestava-se no controle Ca já moiro por vós – e ai!
quase absoluto da produção cultural da época, uma vez que a Mia senhor branca e vermelha,
leitura e a escrita estavam restritas aos mosteiros e abadias: cabia Queredes que vos retraia
a monges e padres traduzir e reproduzir os textos sagrados do Quando vos eu vi em saia!
cristianismo e as obras de filósofos clássicos, como Platão e Mau dia me levantei,
Aristóteles. No entanto a circulação desses textos era restrita, pois Que vos enton non vi fea!
a Igreja proibia a circulação de obras que ameaçassem seu poder,
além de contar com o fato de que apenas dois por cento da E, mia senhor, dês aquel di’, ai!
população da Europa era alfabetizada. Me foi a mim mui mal,
E vós, filha de don Paai
Nesse contexto, a sociedade organizava-se ao redor dos grandes Moniz, e bem vos semelha
proprietários de terra, os senhores feudais, em torno dos quais se D’haver eu por vós guarvaia,
reunia uma pequena corte: membros de uma nobreza Pois, eu, mia senhor, d’alfaia
empobrecida, cavaleiros, camponeses livres e servos, unidos por Nunca de vós houve nen hei
uma relação de vassalagem. As relações entre nobres, cavaleiros Valia d’ua Correa.
e senhores feudais eram regidas por um código de cavalaria
baseado na lealdade, na honra, na bravura e na cortesia. Cantiga da Ribeirinha
Não há no mundo ninguém que se compare a
1.2) A Literatura Trovadoresca mim em infelicidade,
O nascimento da literatura em Portugal coincide com o nascimento enquanto a minha vida continuar assim,
do próprio país. Em 1140, Portugal tornou-se um estado porque morro por vós e, ai,
independente, mas manteve uma forte ligação cultural com a minha senhora branca e de faces rosadas,
quereis que vos retrate
quando vos vi sem manto.
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
Tu lhes tolheste os ramos em que eu as via; Senhora feia, assim Deus me perdoe,
E lhes secaste as fontes em que bebiam:
pois tendes tão bom coração
Alegre eu ando!
que eu vos louvo, e por esta razão
Tu lhes tolheste os ramos em que pousavam; eu vos quero louvar, todavia;
E lhes secaste as fontes que as refrescavam: e vede qual será a louvação:
Alegre eu ando! senhora feia, velha e louca!
a) Cantigas de Escárnio
Nas cantigas de escárnio o trovador faz uma crítica a alguém por HUMANISMO E RENASCIMENTO CULTURAL
meio de ironias, de palavras de duplo sentido, de trocadilhos,
portanto, a crítica é indireta. 1.5) O HUMANISMO
c) apresentar estrutura baseada no maniqueísmo cristão, que c) Humanismo, visto que as personagens do teatro de Gil Vicente,
divide o mundo entre o Bem e o Mal, e na correlação entre a como os trovadores e os jograis, eram em sua maioria nobres e
recompensa e o castigo. constituíam a elite da época.
d) Classicismo, pois os temas presentes nas cantigas líricas e
satíricas vêm das narrativas da mitologia greco-latina.
e) Classicismo, visto que Camões inspirou-se, para escrever Os
Lusíadas, nas cantigas trovadorescas que narravam as aventuras
dos navegantes portugueses.
Questão 10
“Brunelleschi foi provavelmente o primeiro artista a demonstrar os
princípios da perspectiva linear; a geometria básica, contudo,
parece ter sido descoberta por Alberti, que a resumiu em seu
tratado Da Pintura (1436). A perspectiva linear é uma técnica na
qual o artista pode criar a impressão de profundidade
tridimensional numa superfície plana. Como ciência, a perspectiva
está relacionada à óptica (o estudo da visão e do olho humano),
mas como sistema pictórico ela só foi completamente desenvolvida
no começo do século XV, em meio à atmosfera intelectual e
artística da Renascença florentina. Pela primeira vez na história da
pintura havia um sistema matemático para calcular como
dimensionar proporcionalmente o tamanho dos personagens e
elementos em relação à distância.”
Tudo Sobre Arte – Stephen Farthing d)
Assinale o item cuja pintura é Renascentista e reflete a adoção Fonte:
plena dos princípios matemáticos expostos no texto acima: http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Duccio_di_Buoninsegna_036.
jpg
a)
Fonte: http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Cimabue_033.jpg
e)
Fonte:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a6/Cimab
ue_032.jpg/220px-Cimabue_032.jpg
Para responder à questão a seguir, leia o excerto de Auto da Barca 1baixa: dança popular no século XVI.
do Inferno do escritor português Gil Vicente (1465? - 1536?). A 2Deo gratias: graças a Deus.
peça prefigura o destino das almas que chegam a um braço de mar 3tordião: outra dança popular no século XVI.
onde se encontram duas barcas (embarcações): uma destinada ao 4tanger: fazer soar um instrumento.
Vem um Frade com uma Moça pela mão […]; e ele mesmo 8mundanal: mundano.
Frade: Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã; 11ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo
( ) Gil Vicente é um autor não reconhecido em Portugal, em pressuposto das peças de Gil Vicente de que, rindo, é possível
virtude de sua prosa e documentação histórica não participarem da corrigir os costumes.
cultura portuguesa. d) O frade terá como destino o inferno porque é homem
a) V, V, V, F. “mundanal”, ligado aos gozos do mundo material, em cujo pano de
b) V, F, V, V. fundo percebe-se o sistema de valores do homem medieval, para o
c) F, V, V, F. qual não há salvação após a morte.
d) V, V, F, F. e) O sistema de valores que pode ser entrevisto nas peças de Gil
e) V, F, F, V. Vicente, e especialmente no Auto da Barca do Inferno, revela uma
mentalidade avessa aos valores da Idade Média.
Questão 14 (G1 - ifsp 2016)
Leia o texto abaixo, um trecho do Auto da Barca do Inferno, de Gil Questão 15 (Uepa 2014)
Vicente, para assinalar a alternativa correta no que se refere à obra Analise os trechos abaixo, retirados da peça Pranto de Maria
desse autor e ao Humanismo em Portugal. Parda, de Gil Vicente, e assinale aquele que comunica ao
Nota: foram feitas pequenas alterações no trecho para facilitar a leitor uma visão preconceituosa de caráter racial.
leitura. a) Eu só quero prantear
este mal que a muitos toca;
Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um 1broquel e uma que estou já como minhoca
espada na outra, e um 1casco debaixo do 2capelo; e, ele mesmo que puseram a secar.
fazendo a baixa, começou de dançar, dizendo: b) Ó bebedores irmãos
que nos presta ser cristãos,
FRADE Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã; pois nos Deus tirou o vinho?
ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã: tã-tã; c) Martim Alho, amigo meu,
ta-ri-rim-rim-rã. Huhá! Martim Alho, meu amigo,
DIABO Que é isso, padre?! Que vai lá? tão seco trago o umbigo
FRADE Deo gratias! Sou cortesão. como nariz de Judeu.
DIABO Sabes também o tordião? d) Ó Rua da Mouraria,
FRADE Por que não? Como ora sei! quem vos fez matar a sede
DIABO Pois entrai! Eu tangerei pela lei de Mafamede
e faremos um serão. com a triste da água fria?
Essa dama é ela vossa? e) Devoto João Cavaleiro
FRADE Por minha a tenho eu, que pareceis Isaías,
e sempre a tive de meu dai-me de beber três dias,
DIABO Fizestes bem, que é formosa! e far-vos-ei meu herdeiro.
E não vos punham lá 3grosa
no vosso convento santo?
FRADE E eles fazem outro tanto!
DIABO Que cousa tão preciosa...
Entrai, padre reverendo!
FRADE Para onde levais gente?
DIABO Pera aquele fogo ardente
que não temestes vivendo.
FRADE Juro a Deus que não te entendo!
E este hábito não me vale?
DIABO Gentil padre mundanal,
a Belzebu vos encomendo!
1broquel e casco – respectivamente, escudo e armadura para
A Camões
Quando nalma pesar de tua raça
A névoa da apagada e vil tristeza,
Busque ela sempre a glória que não passa,
Em teu poema de heroísmo e de beleza.
O tempo cobre o chão de verde manto, Amor é fogo que arde sem se ver;
Que já coberto foi de neve fria, É ferida que dói e não se sente;
E em mim converte em choro o doce canto. É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto: É um não querer mais que bem querer;
Que não se muda já como soía. (costumava) É solitário andar por entre a gente;
Luís de Camões É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
C) A poesia lírica de Camões tem o Amor como tema principal
e apresenta um conflito entre o amor carnal, marcado pelo É querer estar preso por vontade;
desejo e fonte de sofrimento, e o amor idealizado, puro, É servir a quem vence, o vencedor;
expressão no neoplatonismo. É ter com quem nos mata lealdade.
A epopeia Os Lusíadas foi publicada em 1572 e dedicada Rei D. Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
Sebastião, tendo como como assunto central a viagem de Vasco A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!
da Gama às Índias (1497 - 1498). Destacando as perigosas
viagens “por mares nunca dantes navegados”, Camões exalta o E disse: "Ó gente ousada, mais que quantas
povo português, por meio da figura do herói Vasco da Gama. No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
Camões, assim, procura relembrar a grandeza de Portugal, já em E por trabalhos vãos nunca repousas,
franca decadência naquele momento, recorrendo ao modelo Pois os vedados términos quebrantas
estabelecido na Antiguidade por Homero, com Ilíada e Odisseia. E navegar nos longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
EPISÓDIO DO GIGANTE ADAMASTOR Nunca arados d’estranho ou próprio lenho:
ESTRUTURA DO POEMA
- O poema divide-se em 10 cantos, num total de 1.102 estrofes.
Cada estrofe contém 8 versos (oitavas), num total de 8.816 versos,
decassílabos (medida nova), predominando os decassílabos.
- O tema é: exaltar “a glória do povo navegador português” e a
memória dos reis que “foram ditando a Fé, o Império”.
- O herói é Vasco da Gama, através de quem se exalta o heroísmo
do povo português.
Tão temerosa vinha e carregada, 4 - Narração - A narração de Os Lusíadas compreende três ações
Que pôs nos corações um grande medo; principais: a viagem de Vasco da Gama às Índias, a narrativa da
Bramindo, o negro mar de longe brada, história de Portugal e as lutas e intervenções dos deuses do
Como se desse em vão nalgum rochedo. Olimpo. Paralelamente às ações históricas desenvolve-se uma
"Ó Potestade (disse) sublimada: ação mitológica: a luta que travam os deuses olímpicos Vênus e
Que ameaço divino ou que segredo Marte (favoráveis aos lusos) e Baco e Netuno (contrários às
Este clima e este mar nos apresenta, navegações).
Que mor cousa parece que tormenta?" A narrativa com Vasco da Gama e os navegadores já no Oceano
Índico, na costa leste da África, próximo ao Canal de Moçambique,
Não acabava, quando uma figura e termina com a partida de Calicute, não sendo narrado o regresso
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
a Lisboa. Os acontecimentos históricos anteriores são relatados
De disforme e grandíssima estatura;
por discursos dos protagonistas humanos (Vasco da Gama e seu
O rosto carregado, a barba esquálida,
irmão Paulo da Gama), e os acontecimentos futuros são
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida; anunciados pelos deuses ou outras personagens com o dom da
Cheios de terra e crespos os cabelos, profecia.
A boca negra, os dentes amarelos.
5 - Epílogo – É conclusão do poema, onde o poeta pede às musas
Tão grande era de membros, que bem posso que façam calar a voz da sua lira, pois se vê desiludido com a
Certificar-te que este era o segundo pátria decadente.
De Rodes estranhíssimo Colosso, Contrastando com o tom vibrante e ufanista do início, contém as
Que um dos sete milagres foi do mundo. lamentações e críticas do poeta, num tom agora pessimista,
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso, desencantado.
Que pareceu sair do mar profundo.
VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência
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Aula 4 - Classicismo
Episódio do Velho do Restelo
"Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
c) Revela influência das cantigas medievais, pela sonoridade das e) a mitologia clássica – no soneto expressa em Amor, ou Eros,
rimas e linguagem emotiva própria da "coita de amor". presente nos dois primeiros quartetos – é característica
d) É um texto do Humanismo, pois traz uma reflexão filosófica predominante do Classicismo.
sobre o sentimento amoroso, afastando-se, assim, da influência
greco-romana. Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões).
e) Antecipa o estilo barroco do século XVII devido à sua linguagem
prolixa, em que se notam ousadas inversões sintáticas e metáforas Falaremos da hostilidade que Bloom,
obscuras. o nosso herói,
revelou em relação ao passado,
Questão 03 (Mackenzie 2009) levantando-se e partindo de Lisboa
No texto, o eu lírico: numa viagem à Índia, em que procurou sabedoria,
a) chama a atenção do leitor para as artimanhas que as mulheres e esquecimento.
apaixonadas costumam tramar a fim de conquistar os homens. E falaremos do modo como na viagem
b) dirige-se ao deus Amor, manifestando seu descontentamento levou um segredo e o trouxe, depois, quase intacto.
com relação às falsas atitudes da amada.
c) manifesta poeticamente a ideia de que o Amor, atendendo a [...]
diferentes vontades, produz diferentes efeitos. Esperamos, pois, Bloom, que cresças e que crescendo
d) declara que, embora o amor esteja presente em todas as vás directo à realidade
pessoas, nem todos o aceitam, fato que gera desentendimentos e não pares. Porque não basta
dolorosos. encostares-te aos acontecimentos,
e) dirige-se à pessoa amada para expressar seu entendimento a o que pensamos para ti é bem mais profundo,
respeito dos aspectos contraditórios do sentimento amoroso. não basta conheceres as sete teorias,
terás que subir a sete altas montanhas.
Questão 04 (G1 - ifsp 2016) E atravessar ainda os continentes
como se a terra fosse uma extensão temporal
Leia o soneto abaixo, de Luís Vaz de Camões, para responder à
capaz de medir os teus dias.
questão.
Atravessa as águas também, excelente amigo Bloom,
Eu cantarei de amor tão docemente,
quebra o mar em dois.
Por uns termos em si tão concertados
O mar é um mamífero,
que dois mil acidentes namorados
o barco, o punhal do sacrifício.
faça sentir ao peito que não sente.
Porque, como todos os animais,
o mar só é arrogante
Farei que amor a todos avivente,
até encontrar o seu dono.
pintando mil segredos delicados,
Falamos do mar, mas talvez
brandas iras, suspiros magoados,
seja a terra e o céu que exigem ser descritos.
temerosa ousadia e pena ausente.
Bloom, Bloom, Bloom.
Também, Senhora, do desprezo honesto TAVARES, Gonçalo M. Uma viagem à Índia: melancolia
de vossa vista branda e rigorosa contemporânea (um itinerário). São Paulo: Leya, 2010, p. 28 - 31.
contentar-me-ei dizendo a menos parte. (fragmento)
TORRALVO, Izeti Fragata e MINCHILLO, Carlos Cortez. Sonetos Questão 05 (G1 - cftmg 2016)
de Camões. Cotia: Ateliê Editorial, 2011. p. 32. Aristóteles, em seu estudo da literatura, determinou gêneros
capazes de abranger e classificar textos literários, organizando-os
A leitura atenta do texto permite afirmar que a partir de suas estruturas e temáticas.
a) se trata de soneto em versos decassílabos, escrito, portanto, em O texto de Gonçalo M. Tavares, publicado em 2010, aproxima-se
medida nova, mas cuja temática e recursos retóricos opõem-se ao do gênero
Classicismo.
b) o eu lírico, nos dois quartetos, afirma sua capacidade de a) dramático, por manifestar diversas vozes.
b) épico, por construir um enredo heroico.
composição poética, mas a relativiza nos dois tercetos, diante da
c) lírico, por empregar uma estrutura rítmica.
beleza da “Senhora”. d) narrativo, por constituir um texto contemporâneo.
c) os conceitos de engenho e arte – respectivamente, domínio da
técnica e talento pessoal – são típicos da temática classicista. Questão 06 (G1 - cftmg 2016)
d) a Senhora, idealizada nas cantigas de amor, se vê, no soneto O texto de Gonçalo M. Tavares dialoga com a tradição literária
camoniano, de que o texto acima é exemplo cabal, sintetizada a portuguesa, especialmente com a obra Os Lusíadas, de Luis de
uma imagem desprezível. Camões. O trecho que caracteriza esse diálogo é:
(Camões, L. V. Os Lusíadas. Abril Cultural, 1979. São Paulo. Se nela está minha alma transformada,
Fragmento.) que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, a pois consigo tal alma está liada.
classificação dos textos.
Mas esta linda e pura semideia,
a) Épico e lírico. que, como o acidente em seu sujeito,
b) Lírico e épico. assim coa alma minha se conforma,
c) Lírico e dramático.
d) Dramático e épico. Está no pensamento como ideia;
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
Leia o trecho de Os Lusíadas. como a matéria simples busca a forma.
Questão 15 (Unicamp)
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;"
(Lírica de Camões, seleção, prefácio e Notas de
MASSAUD MOISÉS, S. P., Ed. Cultrix, 1963)
2. LITERATURA DE INFORMAÇÃO
“Os primeiros textos escritos sobre o Brasil são de portugueses
que, de algum modo, participaram do processo de “descoberta” e
colonização da “nova terra”: são informações que viajantes e
missionários colheram sobre a natureza e o homem brasileiro; por
isso uma das reações mais típicas é o espanto com a natureza
exuberante do país e com o costume dos índios. Esta presença do
natural, rico e estranho, ou até bizarro, aparece nos autores
sistematicamente. Enquanto informação, não pertencem à
categoria do literário, sendo pura crônica histórica. No entanto,
esses escritos interessam como reflexo da visão do mundo e da
linguagem que nos legaram os primeiros observadores do país.
Interessam, também, como sugestões temáticas e formais, pois em
mais de um momento a inteligência brasileira, reagindo contra Índios Tupinambás Guerreiros (data desconhecida),
processos agudos de europeização, procurou nas raízes da terra e xilogravura.
do nativo imagens para se afirmar em face do estrangeiro: então, “Jean de Láry conviveu durante cerca de um ano com os índios
os cronistas voltaram a ser lidos tanto por um Alencar romântico e tupinambás. As imagens desse artista são inspiradas nos modelos
saudosista como por um Mário ou Oswald de Andrade clássicos de representação. Léry retratou os índios como se eles
modernistas.” fossem heróis gregos.”
FONTE: http://www.itaucultural.org.br/viajantes/lery.html
Sergius Gonzaga
Outra importante fonte de informações sobre as primeiras
A Literatura de Informação é composta por documentos a impressões e intenções dos Europeus em relação ao Brasil é a
respeito das condições gerais da terra conquistada, as prováveis obra de Pero Magalhães Gândavo, historiador, gramático e
riquezas, a paisagem física e humana, etc. cronista português do século XVI nascido em Braga, em data
Em princípio, a visão européia é edênica: a América surge como o ignorada, autor do primeiro manual ortográfico da língua
paraíso perdido, e os nativos são pintados com belas cores. portuguesa e da primeira história do Brasil: História da Província de
Porém, na segunda metade do século XVI, à medida em que os Santa Cruz que vulgarmente chamamos Brasil (1576), citando pela
índios começam a se opor ao projeto colonizador, a visão favorável primeira vez o termo Brasil com referência a nova terra.
Diz Capistrano de Abreu que o projeto de Gândavo era: "mostrar A lingua deste gentio toda pela Costa he, huma: carece de tres
as riquezas da terra, os recursos naturais e sociais nela existentes, letras —scilicet, não se acha nella F, nem L, nem R, cousa
para excitar as pessoas pobres a virem povoá-la: seus livros são digna de espanto, porque assi não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e
uma propaganda de imigração." desta maneira vivem sem Justiça e desordenadamente.
TRATADO SEGUNDO
DAS COUSAS QUE SÃO GERAES POR TODA COSTA DO
BRASIL
CAPÍTULO SÉTIMO Os principais jesuítas que se dedicaram a Literatura de Catequese
foram:
DA CONDIÇAO E COSTUMES DOS INDIOS DA TERRA
Não se pode numerar nem comprender a multidão de barbaro José de Anchieta (1534-1597): considerado o precursor do teatro
gentio que semeou a natureza por toda esta terra do Brasil; porque no Brasil e figura principal da literatura de catequese, José de
ninguém pode pelo sertão dentro caminhar seguro, nem passar por Anchieta foi um padre jesuíta espanhol que escreveu cartas,
terra onde não acha povoações de indios armados contra todas as sermões, poemas e peças teatrais sobre o Brasil, das quais
nações humanas, e assi como são muitos permitiu Deos que merecem destaque: Arte de Gramática da Língua mais Usada na
fossem contrarios huns dos outros, e que houvesse entrelles Costa do Brasil; Poema à Virgem; A Cartilha dos Nativos
grandes odios e discordias, porque se assi não fosse os (Gramática Tupi-Guarani); Auto da festa de São Lourenço (peça
portuguezes não poderião viver na terra nem seria possivel teatral).
conquistar tamanho poder de gente.
Manuel da Nóbrega (1517-1570): jesuíta e missionário português,
Padre Manuel da Nóbrega chegou ao Brasil em 1549. De suas
obras, destacam-se: Diálogo Sobre a Conversão do Gentio (1557);
Caso de Consciência Sobre a Liberdade dos Índios (1567);
Informação das Coisas da Terra e Necessidade que há para Bem
Proceder Nela (1558); Cartas do Brasil (1549-1570) e Tratado
Contra a Antropofagia e contra os Cristãos Seculares e
Eclesiásticos que a Fomentam e a Consentem (1559).
“Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem
cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que
costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse
inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e
as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz
nédios, que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos
comemos.” portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que
Partindo da leitura das três citações da Carta de Pero Vaz de a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras
Caminha, analise os itens a seguir: manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e
I. Trata-se de um documento histórico que exalta a terra preocupa-se apenas com a estética literária.
descoberta mediante o uso de expressões valorativas dos hábitos
e costumes de seus habitantes, o que, de um lado, revela a b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados,
surpresa dos portugueses recém-chegados, de outro, tem a cuja grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira
intenção de instigar o rei a dar início à colonização. e a contestação de uma linguagem moderna.
II. Ao afirmar que os habitantes da nova terra não têm nenhuma c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do
crença, Caminha faz uma avaliação que denota seu colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em
desconhecimento sobre a cultura daqueles que habitam a terra primeiro plano, a inquietação dos nativos.
descoberta, pois todos os grupos sociais, primitivos ou não, têm d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes —
suas crenças e mitos. verbal e não verbal —, cumprem a mesma função social e artística.
III. Caminha usa a conversão dos gentios como argumento para
e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos
atrair a atenção do Rei Dom Manuel sobre a terra descoberta,
étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momentos históricos,
colocando, mais uma vez, a expansão da fé cristã como bandeira
retratando a colonização.
dos conquistadores portugueses.
IV. Ao afirmar que os habitantes da terra descoberta não lavram
Questão 06 (Enem 2013)
nem criam, alimentam-se do que a natureza lhes oferece, Caminha
tece uma crítica à inaptidão e inércia daqueles que vivem mal, De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa.
utilizando, por desconhecimento, as riquezas naturais da região. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a
V. As citações revelam que a Carta do Achamento do Brasil tem estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que
por objetivo descrever a nova terra de modo a atrair os que estão nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que
distantes pela riqueza e beleza de que é possuidora. haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho
vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares [...]. Porém o com os seus hábitos polidos
melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta estragando a terra inteira?
gente. (...)
Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; Quem é forte como eu?
FARIA, R. História moderna através de textos. São Paulo: Como eu, conceituado?
Contexto, 2001. Sou diabo bem assado,
a fama me precedeu;
A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto Guaixará sou chamado
colonizador para a nova terra. Nesse trecho, o relato enfatiza o (...)
seguinte objetivo: Que bom costume é bailar!
a) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os povos nativos. Adornar-se, andar pintado,
b) Descrever a cultura local para enaltecer a prosperidade tingir pernas, empenado
portuguesa. fumar e curandeiar,
c) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o potencial andar de negro pintado.
econômico existente. (...)
d) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para demarcar a Para isso
superioridade europeia. com os índios convivi.
e) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para evidenciar a Vêm os tais padres agora
ausência de trabalho. com regras fora de hora
para que duvidem de mim.
Questão 07 Lei de Deus que não vigora."
Carta de Pero Vaz José de Anchieta. "Auto de São Lourenço" In: "Teatro de
A terra é mui graciosa, Anchieta".
Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear, (Unirio) A leitura de Anchieta nos permite afirmar que a ação da
No chão espeta um caniço, Companhia de Jesus no processo da colonização do Brasil foi
No dia seguinte nasce marcada pela(o):
Bengala de castão de oiro. a) completa aceitação das práticas culturais indígenas e pela sua
Tem goiabas, melancias, incondicional defesa diante da Coroa portuguesa.
Banana que nem chuchu. b) intolerância radical com relação às comunidades indígenas e
Quanto aos bichos, tem-nos muitos, pela defesa de escravização indiscriminada destas comunidades.
De plumagens mui vistosas. c) aceitação da cultura indígena e afirmação dos seus valores em
Tem macaco até demais. detrimento das bases culturais do catolicismo ocidental.
Diamantes tem à vontade, d) mecanismo de apropriação da cultura indígena, utilizando seus
Esmeralda é para os trouxas. elementos como forma de empreender a catequese dos nativos
Reforçai, Senhor, a arca, sob os moldes católicos.
Cruzados não faltarão, e) indiferentismo em relação à cultura indígena, por ser
Vossa perna encanareis, considerada demoníaca e irrecuperável, mesmo diante dos
Salvo o devido respeito. ensinamentos cristãos.
Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
(MENDES, Murilo. "História do Brasil". Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1991, p. 13.) Questão 01 (G1 - ifsp 2013)
Publicado em Veneza, em 1556, o mapa abaixo é um dos
(MACKENZIE) O texto acima ilustra umas das principais primeiros a mostrar o Brasil individualmente. Raro, ele faz parte de
características da Geração de 22 do Modernismo, a revisão crítica uma obra italiana, Atlas dele navigazione e Viaggi (Atlas de
do nosso passado histórico e cultural, pois: navegação e Viagens), de Giovanni Battista Ramusio.
a) faz referência a literatura jesuítica no Brasil no séc. XVI.
b) alude humoristicamente àquilo que se convencionou chamar de
Literatura de Informação.
c) parodia tendências próprias do Barroco brasileiro.
d) contraria as propostas temáticas do primeiro momento do
modernismo brasileiro.
e) apresenta elementos que o relacionam com o “grupo mineiro”,
basicamente responsável pelo Arcadismo no Brasil.
Questão 08
"Guaixará
Esta virtude estrangeira
me irrita sobremaneira
Quem a teria trazido,
literatura dos que aqui estiveram nos séculos XVI e XVII: princípios do cristianismo.
a) Procura indicar, com a maior exatidão possível e com verdadeiro c) considerava os costumes tradicionais dos indígenas adequados
espírito científico, as potencialidades econômicas do novo território. aos mandamentos cristãos.
b) Mostra a atitude de superioridade e menosprezo com que o d) julgava os indígenas ociosos e inaptos para o trabalho na
europeu encarava a nova terra e a selvageria de seus habitantes. grande empresa agrícola.
c) Constituiu a primeira manifestação de sentimento nacionalista, e) advogava a sujeição dos índios aos portugueses como meio
que iria crescendo à medida que se desenvolveria a literatura para facilitar a sua conversão.
brasileira.
Questão 08
d) Adquiriu – não sendo propriamente ficção – inestimável valor
documental, por transmitir a primeira visão da terra virgem, A passagem abaixo foi extraída do diário de Darwin, quando de
encarada, por isso mesmo, como um lendário paraíso perdido. sua excursão pelas florestas ao redor da cidade de Salvador.
e) Contém mais ficção – como consequência do espanto do
descobridor diante das novas terras – do que propriamente Satisfação é um termo fraco para exprimir os sentimentos de um
informação. naturalista que passeia só, numa floresta brasileira, pela primeira
vez. Entre a quantidade de coisas notáveis estão os luxuriosos
Questão 06 (G1 - ifsp 2014) capins, a novidade das plantas parasitas, a beleza das flores, o rico
verde da folhagem. Tudo enche de alegria. A mistura mais
Leia um trecho do poema Ilha da Maré, do escritor brasileiro
paradoxal de sons e silêncio penetra nas partes sombrias do mato.
Manuel Botelho de Oliveira.
O ruído dos insetos é tão alto que pode ser ouvido até num navio
E, tratando das próprias, os coqueiros,
ancorado a várias centenas de jardas da praia; contudo, dentro dos
galhardos e frondosos
recessos da floresta, parece reinar um silêncio absoluto.
criam cocos gostosos;
Para quem gosta da história natural, um dia assim traz um prazer
e andou tão liberal a natureza
tão profundo que dificilmente se pode esperar ter outro (Apud
que lhes deu por grandeza,
LEITE, 1997, p.208).
não só para bebida, mas sustento,
o néctar doce, o cândido alimento.
A natureza brasileira obteve um papel de destaque em vários
De várias cores são os cajus belos,
períodos da nossa Literatura. A visão apresentada acima por
uns são vermelhos, outros amarelos,
Darwin aproxima-se mais daquela deixada pela (o):
e como vários são nas várias cores,
a) Literatura de Informação e sua visão edênica do Brasil,
também se mostram vários nos sabores;
bpresentada pelos primeiros europeus chegados ao Brasil.
e criam a castanha,
b) Arcadismo e a valorização da vida no campo como lugar perfeito
que é melhor que a de França, Itália, Espanha.
para o idílio amoroso.
(COHN, Sergio. Poesia.br Rio de Janeiro: Azougue, 2012.)
c) Romantismo e o ufanismo que elevou a natureza a símbolo de
brasilidade.
Podemos relacionar os versos desse poema ao Quinhentismo
d) Pré-modernismo e o cientificismo com a qual foi trabalhada,
Nacional, pois
como o presente em Os Sertões.
a) o eu lírico repudia a presença de colonizadores portugueses em
e) Romance de 30 e sua visão crítica na análise das condições do
nossa terra.
meio em que vivem os personagens.
b) a fauna e a flora tropicais são descritas de maneira minuciosa e
idealizada.
Textos para as próximas três questões
c) o poeta enriqueceu devido à exportação de produtos brasileiros
para a metrópole.
Texto I
d) a exuberância e a diversidade da natureza tropical são exaltadas
01 A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira,
pelo poeta.
02 9 de março. [...] E domingo, 22 do dito mês, às dez horas,
e) a natureza farta e bela é o cenário onde ocorrem os encontros
03 pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo
amorosos do eu lírico.
Verde, 04 ou melhor, da ilha de S. Nicolau [...]. E assim seguimos
nosso
Questão 07 (Unesp 2005)
05 caminho por este mar de longo, até que, terça-feira das Oitavas
O padre José de Anchieta escreveu sobre as dificuldades de 06 de Páscoa, que foram vinte e um dias de abril, estando da dita
conversão dos índios ao cristianismo. Por aqui se vê que os 07 ilha obra de 660 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos
maiores impedimentos nascem dos Portugueses, e o primeiro é 08 alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas
não haver neles zelo de salvação dos índios [...] e com isso pouco 09 compridas, a que os mareantes chamam botelho [...]. E quarta-
se lhes dá aos senhores que têm escravos, que não ouçam missa, 10 feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-
nem se confessem, e estejam amancebados. E, se o fazem, é 11 buxos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra!
pelos contínuos brados da Companhia, e logo se enxerga claro nos 12 Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo [...]; ao
tementes a Deus que seus escravos vivem diferentemente pelo 13 monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal, e à terra,
particular cuidado que têm deles. (José de Anchieta. "Informação 14 A Terra de Vera Cruz.
do Brasil e de suas Capitanias", 1584.) Pela leitura do texto, é Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal
correto afirmar que o jesuíta
a) entendia que a escravidão não poderia se tornar um obstáculo à Texto II
catequização do gentio. A descoberta
b) opunha-se à escravização dos índios por julgá-la contrária aos Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Questão 14
A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras;
convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de
espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e essa
maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta,
nem peso, nem medida.
GÂNGAVO, P M. A primeira história do Brasil: história da
província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio
de Janeiro: Zahar, 2004 (adaptado)
A importância da Igreja de São Francisco de Assis para a história “No momento das missas, ocasião em que os fiéis encontram-se
da arte brasileira deve-se ao encontro dos gênios de mestre reunidos, tudo é posto em movimento: a música real dos cânticos,
Athaide e de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. a música simbólica das pinturas, o retorcimento das formas
Mestre Athaide foi responsável pela realização da decoração do pintadas, o tremor das luzes de velas, castiçais e do candelabro
teto e por pinturas e douramentos. Aleijadinho foi responsável por central, a arquitetura que ressoa e fortalece os efeitos, as palavras
elementos do projeto arquitetônico e por esculturas, talhas e proferidas pelo sacerdote no púlpito. Um grande teatro em
ornamentações postas, também, a serviço da ilusão na igreja. movimento, capaz de comover o observador pelo estímulo
Todos os elementos artísticos, fundidos, com o objetivo de fazer da sensorial e pelo apelo afetivo.”.
Igreja um grande teatro, onde o todos os nossos sentidos são
estimulados com o objetivo de criar um ambiente mais propício ALEIJADINHO
para a propagação e vivência da fé. “O estilo barroco surge no Brasil um século após o surgimento do
barroco na Europa. Ligado ao movimento da contrarreforma
católica, o barroco se opõe ao classicismo renascentista, em que
os elementos formais das igrejas são mais simples e racionais. A
arte barroca possui exuberância e é repleta de ornamentos. As
expressões “barroco tardio” ou “barroco mineiro”, usadas para
descrever a obra de Aleijadinho, na qual este estilo atingiria seu
ápice, são controversas. A historiadora Myriam Andrade Ribeiro de
Oliveira (s.d;) se opõe ao crítico de arte Lourival Gomes Machado
(1917-1967), que cunha o termo “barroco mineiro”. Para ela,
Aleijadinho possui estilo rococó, no qual as rocalhas, as formas
arredondadas e os arabescos estão presentes e há, em relação ao
barroco, certa leveza e suavidade, expressa, por exemplo, no uso
de cores mais claras. Na bibliografia sobre a obra de Aleijadinho, é
possível encontrar historiadores que situam o escultor na transição
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Aula 6 - Barroco I
desses dois estilos (…). Questão 03 (UFSM 2015)
No fim de sua vida, Aleijadinho realiza as 12 esculturas intituladas
Os Profetas na pequena cidade de Congonhas do Campo. O
material usado é a pedra-sabão, característica em muitas obras do
escultor. Executadas entre 1796 e 1805, momento em que o artista
está debilitado por sua doença, são feitas com ajuda de outros
artesãos subordinados a Aleijadinho, o que explica as diferenças
entre seus estilos e leva a crer que nem todas foram feitas pelo
próprio escultor. Todos os profetas têm cabelos encaracolados
cobertos por turbantes e olhos levemente puxados – traço
recorrente nas esculturas do artista. Os profetas, localizados no
adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, têm caráter A igreja de São Francisco (foto), construída em Ouro Preto no
monumental e mesclam “realismo e caricatura”, como ressalta o século XVIII, é um marco do barroco e da arquitetura brasileira. O
contexto histórico que explica a realização dessa obra é criado
historiador da arte inglês John Bury (1917).
pelo(a)
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8614/aleijadinho a) crise do sistema colonial e eclosão das revoltas regenciais.
b) deslocamento do centro administrativo da Colônia para a cidade
*Rococó: Estilo desenvolvido no século XVIII, na Europa, e que se de Ouro Preto.
caracteriza por atenuar a complexidade formal e os excessos do c) exploração econômica das minas de ouro e consolidação da
Barroco, buscando maior leveza e fazendo uso de coloridos agricultura canavieira.
suaves. d) ciclo da mineração e decorrente diversificação do sistema
produtivo.
e) distanciamento em relação a autoridade colonial e consequente
maior liberdade de expressão.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
Questão 04 (UEMG 2015)
Questão 01 (UESPI)
Em 2014, foram comemorados os 200 anos da morte do criador
Assinale a alternativa correta acerca do Barroco. das belíssimas peças em pedra sabão, uma das quais é
a) Vincula-se ao mundo protestante, sendo a primeira estética apresentada na imagem acima, sendo a mesma de autoria do mais
exclusivamente representativa da nova abordagem do cristianismo. importante artista brasileiro do período colonial: Antônio Francisco
b) Trata-se, basicamente, do embate entre os valores Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814). Ele nasceu em Vila Rica, atual
antropocêntricos gregos e os valores teocêntricos medievais que Ouro Preto, e antes dos 50 anos, foi acometido por uma doença
acabavam de ser estabelecidos. degenerativa que atrofiava seu corpo. Mesmo assim, tornou-se um
c) Tem como principal característica o equilíbrio, a harmonia e a dos maiores mestres do Barroco no Brasil.
busca constante de uma explicação racional para o mecanismo do O Barroco teve terreno fértil para a expansão em Minas Gerais,
mundo. pois:
d) Ocorreu logo após a restauração do Feudalismo e consiste a) o enriquecimento provocado pela mineração e a forte
numa busca da verdade com base nos fundamentos da religiosidade dos povos das Minas, conjugados com a intensa vida
Escolástica, doutrina católica que propunha Deus como criador de cultural ligada ao catolicismo, favoreceram o desenvolvimento
todas as coisas, atribuindo à filosofia a incumbência de provar tal desse estilo artístico na região.
verdade. b) a pouca presença de protestantes na região, por causa da
e) Vincula-se à Contrarreforma, movimento católico que gerou um distância do litoral, fez com que não houvesse forte influência
conflito entre os valores antropocêntricos do Classicismo e os desse ramo religioso, deixando caminho livre para a expansão do
valores teocêntricos medievais que a Igreja tentava naquele Barroco, tão ligado ao catolicismo.
momento, resgatar.
c) fortaleceu-se com os altos investimentos feitos pelo governo Questão 07 (ENEM 2012)
português na região, já que por causa da produção aurífera,
buscava-se fazer de Minas, e principalmente de Vila Rica, a
referência americana para a Europa.
d) a decadência da produção açucareira no Nordeste e a
descoberta do ouro em Minas levaram os principais artistas da
Colônia a migrarem para Vila Rica, em busca de financiamento
para suas obras e apoio para novos empreendimentos.
Questão 05 (PUCMG)
Observe com atenção a pintura do Mestre Ataíde no teto da Nave
da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.
Questão 03
As obras barrocas romperam o equilíbrio entre o sentimento e a
razão ou entre a arte e a ciência, que os artistas renascentistas
procuram realizar de forma muito consciente; na arte barroca
predominam as emoções e não o racionalismo da arte
renascentista. c)
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
e)
Questão 04
Analise as imagens a seguir.
Questão 06
Considere as imagens e o texto, para responder à(s) questão(ões).
Questão 10 Questão 11
Texto I
Fonte: https://www.facebook.com/pages/Paw%C5%82a-
Kuczy%C5%84skiego/158506094232917?sk=wall
Acesso: 16\03\2014
Questão 15
O NOME BARROCO
O termo parece nascer do vocábulo português barroco, que
designava uma pérola irregular. Há quem afirme que a palavra
origina-se de baroco, vocábulo utilizado por religiosos medievais
para indicar um raciocínio falso e sem sentido. Durante todo o
século XVII, barroco aparece com o sentido de extravagante e
grotesco. É usado também na acepção de irregularidade e falta de
harmonia em trabalhos artísticos. Todavia, podemos afirmar que os
criadores do período não sabiam que eram barrocos e tampouco
Caminho para o Calvário, Aleijadinho. seu público os rotularia assim.
a)
b)
c)
d)
e)
E se assopra a vaidade, e incha o pano, concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há-de
Na proa a terra tens, amaina, e ferra. concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se
ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e
Todo o lenho mortal, baixel humano luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de
Se busca a salvação, tome hoje terra, olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por
Que a terra de hoje é porto soberano. falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister
olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um
Fonte: homem dentro em si e ver-se a si mesmo?
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=downl Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é
oad&id=28622 necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é
a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem
7.2) AS CORRENTES DO BARROCO concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que
- Cultismo: É o rebuscamento da forma, do plano da a conversão das
expressão, que se manifesta através de um vocabulário erudito, almas por meio da pregação depende destes três concursos: de
de inversões sintáticas, trocadilhos e jogos de palavras e Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos
excesso de figuras de linguagem (principalmente, antíteses, entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do
paradoxos, metáforas e hipérboles). O cultismo predomina na pregador, ou por parte de Deus?”
poesia de Gregório de Matos.
Padre Antônio Vieira, Sermão da Sexagésima
QUIS O POETA EMBARCAR-SE PARA A CIDADE E
ANTECIPANDO A NOTÍCIA À SUA SENHORA, LHE VIU Fonte: http://www.bocc.ubi.pt/pag/vieira-antonio-sermao-
UMAS DERRETIDAS MOSTRAS DE SENTIMENTO EM sexagesima.pdf
VERDADEIRAS LÁGRIMAS DE AMOR.
7.3) O BARROCO NO BRASIL
Ardor em coração firme nascido! O Barroco, no Brasil, tem suas primeiras manifestações no
Pranto por belos olhos derramado! início do século XVII, com a publicação de Prosopopeia, de
Incêndio em mares de água disfarçado! Bento Teixeira, estendendo-se, cronologicamente, até 1768,
Rio de neve em fogo convertido! com a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da
Costa, que introduz o Arcadismo. No entanto, vale lembrar que,
Tu, que um peito abrasas escondido, apesar de a Literatura Barroca ter entrado em declínio junto
Tu, que em um rosto corres desatado, com a decadência da sociedade baiana açucareira no século
Quando fogo em cristais aprisionado, XVII, o Barroco só alcançará o seu momento máximo nas artes
Quando cristal em chamas derretido. plásticas e na arquitetura nos séculos XVIII e XIX, graças à
riqueza gerada pela descoberta do ouro em Minas Gerais.
Se és fogo como passas brandamente? Uma vez que não houve Classicismo no Brasil e que a literatura
Se és neve, como queimas com porfia? quinhentista possui uma relevância mais documental e histórica
Mas ai! que andou Amor em ti prudente. que estética, a literatura barroca, principalmente através de
Gregório de Matos e do Padre Antônio Vieira, ganha
Pois para temperar a tirania, importância por ser a primeira a cantar a realidade brasileira,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente, produto do meio geográfico e social.
Permitiu, parecesse a chama fria.
7.3.1) Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador, então
Fonte: capital do Brasil, em 1636, falecendo no Recife, em 1695, e é o
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=downl nome de maior expressão da literatura barroca brasileira.
oad&id=28615 Sua obra compreende:
- Poesia Amorosa: Em sua poesia amorosa, Gregório de Matos
- Conceptismo: É o rebuscamento do pensamento, do plano do apresenta duas visões. Ora seus poemas idealizam a mulher e
conteúdo, que se manifesta na organização das ideias de forma a relação amorosa, destacando, por vezes, o sofrimento
complexa. Predomina na prosa de Padre Antônio Vieira, que em amoroso, a efemeridade da vida, o carpe diem; ora apelam para
seus sermões recorria frequentemente a alegorias, analogias, a obscenidade e para uma visão mais vulgar da sexualidade.
estratégias de retórica, com um raciocínio pautado numa lógica QUIS O POETA EMBARCAR-SE PARA A CIDADE E
silogística, e à circularidade do desenvolvimento (as premissas ANTECIPANDO A NOTÍCIA À SUA SENHORA, LHE VIU
iniciais são retomadas exaustivamente no decorrer dos UMAS DERRETIDAS MOSTRAS DE SENTIMENTO EM
sermões). VERDADEIRAS LÁGRIMAS DE AMOR.
“Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder Ardor em coração firme nascido!
de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte Pranto por belos olhos derramado!
do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter Incêndio em mares de água disfarçado!
por meio de um sermão, há-de haver três concursos: há-de Rio de neve em fogo convertido!
concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há-de
Seis becos, de 1mentrastos entupidos, Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Quinze soldados, rotos e despidos, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
Doze porcos na praça bem criados.
Gregório de Matos Guerra
Dois conventos, seis frades, três letrados,
Um juiz, com bigodes, sem ouvidos, TEXTO 02
Três presos de piolhos carcomidos,
Por comer dois meirinhos esfaimados. Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da Vossa alta Piedade me despido:
As damas com sapatos de 2baeta, Porque quanto mais tenho delinquido,
Palmilha de tamanca como frade, Vos tenho - perdoar mais empenhado.
Saia de 3chita, cinta de raqueta.
Se basta, a vos tanto pecado,
O feijão, que só faz 4ventosidade A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Farinha de pipoca, pão que greta, Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade. Vos tem para o perdão lisonjeado.
(DIMAS, Antônio. Gregório de Matos. São Paulo: Nova Cultural,
1988.) Se uma ovelha perdida, e já cobrada,
1mentrasto: tipo de erva Glória tal e prazer tão repentino
2baeta: tecido felpudo Vos deu, como afirmais na Sacra História:
3chita: tecido de algodão de pouco valor
4ventosidade: que provoca flatulência Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não querereis Pastor Divino,
Pela leitura do soneto, é correto afirmar que o poeta Perder na vossa ovelha a vossa glória.
a) critica veladamente o governo português por ter escolhido
essa cidade para ser a sede administrativa da colônia. Gregório de Matos Guerra
b) escreve esse poema para expor as angústias vividas durante
o período em que cumpria a primeira ordem de desterro. TEXTO 03
c) comenta a elegância e a sensualidade das damas, visto que
sempre apreciou as mulheres brasileiras. A cada canto um grande conselheiro,
d) lamenta a inexistência de instituições religiosas, pois elas Que nos quer governar cabana e vinha:
organizariam moralmente a cidade. Não sabem governar sua cozinha
e) descreve as condições do local, mostrando que os habitantes E podem governar o mundo inteiro!
vivem rusticamente e com poucos recursos.
Em cada porta um bem frequente olheiro
Questão 03 Da vida do vizinho e da vizinha,
(Upe 2015) O Barroco no Brasil se desenvolveu com base em Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha
duas vertentes: o cultismo e o conceptismo. Na obra de Para o levar à praça e ao terreiro.
Gregório de Matos, há aspectos caracterizadores de ambas as
vertentes, além de uma produção de temática diversificada. Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés aos homens nobres;
Leia os poemas a seguir: Posta nas palmas toda a picardia.
Largo em sentir, em respirar sucinto, c) o processo de espalhamento e recolha, que auxilia na crítica
Peno, e calo, tão fino, e tão lento, virulenta a uma realidade degradada.
Que fazendo disfarce do tormento, d) a utilização de imagens poéticas fragmentárias, que retratam
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto. uma realidade em processo de modernização.
e) a prevalência de um lirismo nacionalista, exteriorizado
O mal, que fora encubro, ou me desminto,
também na utilização de neologismo.
Dentro no coração é que o sustento:
Com que, para penar é sentimento,
Para não se entender, é labirinto. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondo efeito: Questão 01 (Imed 2016)
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros. Leia o texto abaixo, de Gregório de Matos Guerra:
Mas oh do meu segredo alto conceito! A MARIA DE POVOS, SUA FUTURA ESPOSA
Pois não chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito. Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Considere as seguintes afirmações. Em tuas faces a rosada Aurora,
I - O poema é um exemplo da poesia satírica de Gregório de Em teus olhos e boca, o Sol e o dia:
Matos, a qual lhe valeu a alcunha de "Boca do Inferno", por
escarnecer de pessoas, situações e costumes de seu tempo. Enquanto, com gentil descortesia,
II - Na segunda estrofe, o poema expressa a oposição entre O ar, que fresco Adônis te enamora,
essência e aparência, sustentando que o sofrimento é ocultado Te espalha a rica trança voadora,
aos olhos do mundo. Da madeixa que mais primor te envia:
III - Segundo as duas últimas estrofes do poema, a opção pelo
silêncio com relação à dor e às angústias internas contrapõe-se Goza, goza da flor da mocidade,
aos ruídos da natureza. Que o tempo troca, a toda a ligeireza,
Quais estão corretas? E imprime em cada flor uma pisada.
a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III. e) I, II e III. Oh não guardes que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza,
Questão 08 Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da
República em todos os membros, e inteira definição do que em Analise as assertivas abaixo a partir do texto:
todos os tempos é a Bahia. I. O soneto lírico se estrutura na oposição entre dois campos
semânticos, que pode ser evidenciado, especialmente, na
Que falta nesta cidade?... Verdade. comparação entre a primeira a última estrofes.
Que mais por sua desonra?... Honra. II. Em tal soneto, percebe-se o tema do carpe diem, proveniente
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha. dos clássicos grecolatinos, que converge com a preocupação
do homem barroco brasileiro em relação à efemeridade da vida
O demo a viver se exponha, e à repulsa pela morte.
Por mais que a fama a exalta, III. O autor do soneto, Gregório de Matos Guerra, cultivou a
Numa cidade onde falta poesia sacra, lírica e satírica. Também escreveu poemas
Verdade, Honra, Vergonha. graciosos e pornográficos. Representante do período barroco,
também foi conhecido como “Boca de Inferno”.
Quem a pôs neste socrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição. Quais estão corretas?
E no meio desta loucura?... Usura. a) Apenas I.
Notável desaventura b) Apenas III.
De um povo néscio e sandeu, c) Apenas I e II.
Que não sabe que o perdeu d) Apenas II e III.
Negócio, Ambição, Usura. e) I, II e III.
A leitura atenta do texto permite afirmar que Vai ao tempo alterando a fantesia,
a) se trata de soneto em versos decassílabos e que, portanto, Mas sempre com vantagem na desgraça,
escapa, em alguma medida, à forma e à temática do Barroco. Horas de inferno, instantes de alegria.
b) a temática da mitologia clássica – Amor, ou Eros, presente
nos dois primeiros quartetos – é o que caracteriza o soneto (Gregório de Matos)
acima como Barroco.
c) a recorrência do pronome “quem”, ao longo dos dois I. Além de poeta satírico, o Boca do Inferno também cultivou a
primeiros quartetos, que culmina na última estrofe, revela as poesia lírica, composta por temas diversificados, pois nos legou
contradições típicas do Barroco. uma lírica amorosa, erótica e religiosa e até de reflexão sobre o
d) o fato de o eu lírico dirigir-se a “Fábio” e de fazer-lhe sofrimento, a exemplo do poema II.
recomendações, na forma de soneto, assevera sua matriz
contraditória e, portanto, barroca. II. Considerado tanto poeta cultista quanto conceptista, o autor
e) a oposição entre fazer apenas o possível, de um lado, e fazer baiano revela criatividade e capacidade de improvisar, segundo
o impossível, de outro, confere feição barroca ao poema, comprovam os versos do poema I, em que realiza a crítica à
pontilhando-o de antíteses. situação econômica da Bahia, dirigida, na época, por Antônio
Luís da Câmara Coutinho.
Questão 03 (G1 - ifsp 2016)
Gregório de Matos, poeta baiano, que viveu no século XVI, III. Em Triste Bahia, poema I, musicado por Caetano Veloso,
produziu uma poesia em que satiriza a sociedade de seu tempo. Gregório de Matos identifica-se com a cidade, ao relacionar a
Execrado no passado por seus conterrâneos, hoje é situação de decadência em que se encontram tanto ele quanto
reconhecido como grande poeta, sendo, inclusive, sua poesia a cidade onde vive. O poema abandona o tom de zombaria,
satírica fonte de pesquisa histórica. atenuando a sátira contundente para tornar-se um quase
Leia os poemas e analise as proposições a seguir: lamento.
Assinale a afirmativas que insere o autor e seu texto em uma (Gregório de Matos Guerra, "Seleção de Obras Poéticas")
visão do mundo de século XVII:
a) O poeta baiano vale-se da linguagem figurada para persuadir Fica claro, no poema acima, que a principal crítica do autor à
o leitor e convencê-lo da estabilidade da beleza e da felicidade. sociedade de sua época é feita por meio da
b) A aproximação de sentimentos contrastantes, como a tristeza a) denúncia da proteção que o mundo de então dava àqueles
e a alegria, nega a tendência paradoxal da poesia do século que agiam de modo condenável, embora sob a capa das leis da
XVII. Igreja.
c) O poema explora a inconstância dos bens mundanos através b) enumeração de certos tipos que, por seus comportamentos,
de um jogo de idéias e palavras que tanto motivou o escritor e revelam um roteiro que identifica e recomenda a ascensão
reflete uma herança classicista. social.
d) A retomada de elementos da natureza e da melancolia c) elaboração de uma lista de atitudes que deviam ser evitadas,
identifica o soneto com a produção poética de inspiração por não condizerem com as práticas morais encontradas na alta
byroniana. sociedade.
e) O traço temático caracteristicamente barroco presente no d) caracterização de comportamentos que, embora sejam
texto é o caráter fugidio das coisas do mundo. moralmente condenáveis, são dissimulados em seus opostos.
e) comparação de valores e comportamentos da faixa mais
Questão 13 (UFV) humilde daquela sociedade com os da faixa mais nobre e
As que se seguem vinculam a poesia de Gregório de Matos aos aristocrática.
princípios estéticos e ideológicos do Barroco brasileiro. Assinale
aquela que não se aplica a obra poética de Gregório: Questão 15
a) A produção literária de Gregório de Matos dividiu-se entre a A cada canto um grande conselheiro
temática lírico-religiosa e uma visão crítica das mazelas sociais que nos quer governar cabana e vinha:
oriundas do processo de colonização no Brasil. não sabem governar sua cozinha,
b) O "Boca do Inferno" insurgiu-se não só contra os desmandos e querem governar o mundo inteiro!
administrativos e políticos da Bahia do século XVII, mas contra
o próprio ser humano, que, na concepção do poeta, é por Em cada porta um bem frequente Olheiro
natureza corrupto e mau. da vida do Vizinho e da Vizinha,
todas estas contradições experimentou o semeador do nosso omnipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do
Evangelho. Começou ele a semear (diz Cristo), mas com pouca que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a
ventura. «Uma parte do trigo caiu entre espinhos, e afogaram-no os palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, porque não vemos
espinhos». Outra parte caiu sobre pedras, e secou-se nas pedras hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão
por falta de humidade». «Outra parte caiu no caminho, e pisaram- importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar
no os homens e comeram-no as aves. Ora vede como todas as pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para
criaturas do Mundo se armaram contra esta sementeira. aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.
Agora torna a minha pergunta: E que faria neste caso, ou que devia
fazer o semeador evangélico, vendo tão mal logrados seus Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de
primeiros trabalhos? Deixaria a lavoura? Desistiria da sementeira? um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do
Ficar-se-ia ocioso no campo, só porque tinha lá ido? Parece que ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio
não. Mas se tornasse muito depressa a buscar alguns instrumentos de um sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer o
com que alimpar a terra das pedras e dos pregador com a doutrina, persuadindo; há-de concorrer o ouvinte
espinhos, seria isto desistir? Seria isto tornar atrás? -- Não por com o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a
certo. graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são
necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é
Não o desanimou nem a primeira nem a segunda nem a terceira cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e
perda; continuou por diante no semear, e foi com tanta felicidade, é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há
que nesta quarta e última parte do trigo se restauraram com mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma
vantagem as perdas do demais: nasceu, cresceu, espigou, alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo?
amadureceu, colheu-se, mediu-se, achou-se que por um grão
multiplicara cento. Oh que grandes esperanças me dá esta Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é
sementeira! Oh que grande exemplo me dá este semeador! necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a
doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem
O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a
palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa conversão das almas por meio da pregação depende destes três
em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles
espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do
riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pregador, ou por parte de Deus?
pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a
palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os Sendo, pois, certo que a palavra divina não deixa de frutificar por
corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das parte de Deus, segue-se que ou é por falta do pregador ou por falta
coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que dos ouvintes. Por qual será? Os pregadores deitam a culpa aos
atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, ouvintes, mas não é assim. Se fora por parte dos ouvintes, não
porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são fizera a palavra de Deus muito grande fruto, mas não fazer nenhum
os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende fruto e nenhum efeito, não é por parte dos ouvintes. Provo.
e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância,
que se colhe cento por um. Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles fruto
a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto,
Este grande frutificar da palavra de Deus é o em que reparo hoje; e faz efeito. No Evangelho o temos. O trigo que caiu nos espinhos,
é uma dúvida ou admiração que me traz suspenso e confuso, nasceu, mas afogaram-no: Simul exortae spinae suffocaverunt illud.
depois que subo ao púlpito. Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão O trigo que caiu nas pedras, nasceu também, mas secou-se: Et
poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus? Diz natum aruit. O trigo que caiu na terra boa, nasceu e frutificou com
Cristo que a palavra de Deus frutifica cento por um, e já eu me grande multiplicação: Et natum fecit fructum centuplum. De maneira
contentara com que frutificasse um por cento. Se com cada cem que o trigo que caiu na boa terra, nasceu e frutificou; o trigo que
sermões se convertera e emendara um homem, já o Mundo fora caiu na má terra, não frutificou, mas nasceu; porque a palavra de
santo. Este argumento de fé, fundado na autoridade de Cristo, se Deus é tão funda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que
aperta ainda mais na experiência, comparando os tempos nos maus ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos
passados com os presentes. espinhos, não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas
pedras, não frutificou, mas nasceu até nas pedras.
Lede as histórias eclesiásticas, e achá-las-eis todas cheias de
admiráveis efeitos da pregação da palavra de Deus. Tantos Supostas estas duas demonstrações; suposto que o fruto e efeitos
pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta reformação da palavra de Deus, não fica, nem por parte de Deus, nem por
de costumes; os grandes desprezando as riquezas e vaidades do parte dos ouvintes, segue-se por consequência clara, que fica por
Mundo; os reis renunciando os ceptros e as coroas; as mocidades parte do pregador. E assim é. Sabeis, cristãos, porque não faz fruto
e as gentilezas metendo-se pelos desertos e pelas covas; e hoje? -- a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores,
Nada disto. Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem porque não faz fruto a palavra de Deus? --
tantos pregadores como hoje. Por culpa nossa.
Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o
fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo
resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afectado, um
se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos estilo tão encontrado a toda a arte e a toda a natureza? Boa razão
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72
Aula 8 - Barroco III
é também esta. O estilo há-de ser muito fácil e muito natural. Por a aceitar os argumentos de dois pecadores.
isso Cristo comparou o pregar ao semear: Exiit, qui seminat, d) Jó, de acordo com Vieira, considera que a ocasião e a sorte
seminare. Compara Cristo o pregar ao impediram que a graça divina se manifestasse, enquanto para
semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza Gregório a graça divina não sofre restrições.
que de arte. (...)E possível que somos portugueses e havemos de
e) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da
ouvir um pregador em português e não havemos de entender o que
ovelha perdida, reforçam seus argumentos a favor do perdão como
diz?!
garantia da glória divina.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM Questão 02 (Ufrgs 2014)
Considere as seguintes afirmações sobre os dois textos.
Questão 01 (Ufrgs 2014) I. Tanto Padre Vieira quanto Gregório de Matos dirigem-se a Deus
Leia o trecho do Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal mediante a segunda pessoa do plural (vós, vos): Gregório
contra as de Holanda, do Padre Antônio Vieira, e o soneto de argumenta que o Senhor está empenhado em perdoá-lo, enquanto
Gregório de Matos Guerra a seguir. Vieira dirige-se a Deus (E que fizestes vós...) para impedir que Jó
seja perdoado.
Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de II. Padre Vieira vale-se das palavras e do exemplo de Jó, figura do
Holanda Velho Testamento, para argumentar que o homem abusa da
Pede razão Jó a Deus, e tem muita razão de a pedir – responde por misericórdia divina ao pecar, e que Deus, de acordo com a ocasião
ele o mesmo santo que o arguiu – porque se é condição de Deus e os argumentos fornecidos por Jó, inclina-se para o castigo no
usar de misericórdia, e é grande e não vulgar a glória que adquire lugar do perdão.
em perdoar pecados, que razão tem, ou pode dar bastante, de os III. Tanto Padre Vieira como Gregório de Matos argumentam sobre
não perdoar? O mesmo Jó tinha já declarado a força deste seu a misericórdia e a glória divinas: assim como Jó, citado por Vieira,
argumento nas palavras antecedentes, com energia para Deus declara que Deus lhe deverá a glória por tê-lo perdoado; Gregório
muito forte: Peccavi, quid faciam tibi? Como se dissera: Se eu fiz, compara-se à ovelha desgarrada que, se não for recuperada, pode
Senhor, como homem em pecar, que razão tendes vós para não pôr a perder a glória de Deus.
fazer como Deus em me perdoar? Ainda disse e quis dizer mais:
Pequei, que mais vos posso fazer? E que fizestes vós, Jó, a Deus Quais estão corretas?
em pecar? Não lhe fiz pouco, porque lhe dei ocasião a me perdoar, a) Apenas I.
e, perdoando-me, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como b) Apenas III.
a causa, a graça que me fizer, e ele dever-me-á a mim, como a c) Apenas I e II.
ocasião, a glória que alcançar. d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Questão 03 (Fuvest 2014)
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Não há trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à
Da vossa piedade me despido; cruz e à paixão de Cristo, que o vosso em um destes engenhos [...].
Porque, quanto mais tenho delinquido, A paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia
Vos tenho a perdoar mais empenhado. sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo
despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo
Se basta a vos irar tanto um pecado, em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as
A abrandar-vos sobeja um só gemido: prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto
Que a mesma culpa, que vos há ofendido, se compõe a vossa imitação, que, se for acompanhada de
Vos tem para o perdão lisonjeado. paciência, também terá merecimento e martírio[...]. De todos os
mistérios da vida, morte e ressurreição de Cristo, os que pertencem
Se uma ovelha perdida e já cobrada por condição aos pretos, e como por herança, são os mais
Glória tal e prazer tão repentino dolorosos.
Vos deu, como afirmais na sacra história, P. Antônio Vieira, “Sermão décimo quarto”. In: I. Inácio & T. Lucca
(orgs.). Documentos do Brasil colonial. São Paulo: Ática, 1993,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada: p.73�75.
Cobrai-a, e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória. A partir da leitura do texto acima, escrito pelo padre jesuíta Antônio
Vieira em 1633, pode-se afirmar, corretamente, que, nas terras
Assinale a alternativa correta a respeito dos textos. portuguesas da América,
a) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da a) a Igreja Católica defendia os escravos dos excessos cometidos
ovelha perdida, elogiam a autoridade divina capaz de perdoar os pelos seus senhores e os incitava a se revoltar.
pecados, mesmo que à custa de sua glória e de seu discernimento.
b) as formas de escravidão nos engenhos eram mais brandas do
b) Jó, de acordo com Vieira, argumenta que há tanta glória em que em outros setores econômicos, pois ali vigorava uma ética
perdoar como em não perdoar, enquanto, para Gregório, o perdão religiosa inspirada na Bíblia.
concedido ao pecador renitente é a prova da glória de Deus.
c) a Igreja Católica apoiava, com a maioria de seus membros, a
c) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da escravidão dos africanos, tratando, portanto, de justificá-la com
ovelha perdida, inibem a autoridade divina que se vê constrangida
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73
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
base na Bíblia. tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a
d) clérigos, como P. Vieira, se mostravam indecisos quanto às causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a
atitudes que deveriam tomar em relação à escravidão negra, pois a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os
própria Igreja se mantinha neutra na questão. pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se
não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que
e) havia formas de discriminação religiosa que se sobrepunham às
lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os
formas de discriminação racial, sendo estas, assim, pouco
pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se
significativas.
não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles
fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os
Questão 04 (Ufsm 2015)
pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não
Os hábitos alimentares variam não só conforme as diferentes deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a
culturas, mas também conforme as condições socioeconômicas das seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
pessoas e suas crenças religiosas. É a isso que se refere Padre (Antônio Vieira, Sermão de Santo Antônio, em:
Antônio Vieira no excerto do Sermão de Santo Antônio ou dos <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000033.pdf>.)
Peixes:
Mas ainda que o Céu e o Inferno se não fez para vós, irmãos O texto trabalha fundamentalmente com duas metáforas: o sal e a
peixes, acabo, e dou fim a vossos louvores, com vos dar as graças terra, que representam, respectivamente, os pregadores (aqueles
do muito que ajudais a ir ao Céu, e não ao Inferno, os que se que deveriam propagar a palavra de Cristo) e os ouvintes (aqueles
sustentam de vós. Vós sois os que sustentais as 1Cartuxas e os que deveriam ser convertidos). O tema central do texto é a reflexão
2Buçacos, e todas as santas famílias, que professam mais rigorosa
sobre as possíveis causas da ineficiência dos pregadores. Para
austeridade; vos os que a todos os verdadeiros cristãos ajudais a tanto, o autor levanta algumas hipóteses. Tendo isso em vista,
levar a penitência das quaresmas; vós aqueles com que o mesmo considere as seguintes afirmativas:
Cristo festejou a Páscoa as duas vezes que comeu com seus 1. Os pregadores não pregam o que deveriam pregar.
discípulos depois de ressuscitado. Prezem-se as aves e os animais 2. Os ouvintes se recusam a aceitar o que os pregadores pregam.
terrestres de fazer esplêndidos e custosos os banquetes dos ricos, 3. Os pregadores não agem de acordo com os valores que pregam.
e vós gloriai-vos de ser companheiros do jejum e da abstinência 4. Os ouvintes agem como os pregadores em vez de agir de acordo
dos justos! Tendes todos quantos sois tanto parentesco e simpatia com o que eles pregam.
com a virtude, que, proibindo Deus no jejum a pior e mais grosseira 5. Os pregadores promovem a si mesmos na pregação ao invés de
carne, concede o melhor e mais delicado peixe. E posto que na promover as palavras de Cristo.
semana só dois se chamam vossos, nenhum dia vos e vedado. Um
só lugar vos deram os astrólogos entre os signos celestes, mas os Constituem hipóteses levantadas pelo autor do texto:
que só de vós se mantêm na terra, são os que têm mais seguros os a) 1 e 3 apenas.
lugares do Céu. b) 3 e 5 apenas.
c) 1, 2 e 4 apenas.
Glossário d) 2, 4 e 5 apenas.
1Cartuxas e 2Buçacos: os pertencentes a essas Ordens Religiosas,
e) 1, 2, 3, 4 e 5.
as quais são conhecidas por sua austeridade.
Questão 06 (Ufpr 2017)
A partir desse fragmento, assinale a alternativa correta.
Vieira é um homem do século XVII. É possível detectar, no texto de
a) Por meio de uma alegoria, Vieira dirige-se, no sermão, aos
Vieira, características da língua portuguesa que divergem de seu
peixes, mostrando que estes merecem apenas elogios, ao passo
uso contemporâneo. Pensando nessa diferença entre o português
que os homens merecem apenas repreensões.
atual e o português usado por Vieira, considere as seguintes
b) Como se vê pelo excerto, Vieira dirige-se aos peixes de forma
afirmativas:
geral, sem fazer menções a espécies de peixes em particular, o que
1. Diferentemente de hoje, o pronome pessoal oblíquo átono
também ocorre no restante do sermão.
antecedia a negação.
c) Vieira, no excerto, estabelece uma antítese entre céu e inferno
2. O “porque” é empregado no texto como conjunção explicativa e
que é reproduzida simbolicamente na contraposição entre peixe e
sua grafia é a mesma usada atualmente.
carne.
3. A conjunção “ou” tem no texto um uso que não é o de
d) O objetivo de Vieira no “Sermão dos Peixes”, conforme se vê
alternância.
pelo excerto, e reforçar nos fiéis católicos a importância de jejuar
nos dias santos como forma de aproximarem-se de Deus.
Assinale a alternativa correta.
e) Contrariamente ao que se esperaria de um texto dessa época, o
a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira.
fragmento do “Sermão dos Peixes” não apresenta um estilo
b) Somente a afirmativa 3 é verdadeira.
rebuscado, muito menos o emprego de uma linguagem rica em
c) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
conceitos.
d) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
e) As afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
Questão 05 (Ufpr 2017)
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Questão 07 (Enem PPL 2014)
Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o
Sermão da Sexagésima
sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na
Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos
terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas
pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus,
quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo
Questão 04
O poeta Fernando Pessoa dizia que Padre Antônio Vieira foi o D)
imperador da Língua Portuguesa. No Sermão acima, o orador http://paulgettynascimento.blogspot.com.br/2012/03/charge-
critica um aspecto da sociedade de sua época que ainda hoje se politica.html
mantém atual e é também criticado na charge: Acesso: 16\03\2014
A)
E)
http://belverede.blogspot.com.br/2013_11_01_archive.html http://rizzolot.wordpress.com/2010/07/
Acesso: 16\03\2014 Acesso: 16\03\2014
Questão 10 (Fatec 2005) grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os
Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande
grande fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça [...]. Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser
neles fruto, faz efeito. A palavra de Deus é tão fecunda, que nos como os peixes que se comem uns aos outros. Tão alheia cousa é
bons faz muito fruto e é tão eficaz, que nos maus, ainda que não não só da razão, mas da mesma natureza, que, sendo criados no
faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos não frutificou, mas mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos
nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras não frutificou, mas finalmente irmãos, vivais de vos comer.
nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de VIEIRA, Antônio. "Obras completas do padre Antônio
Deus são as pedras e os espinhos. E por quê? - Os espinhos por Vieira: sermões". Prefaciados e revistos pelo Pe. Gonçalo Alves.
agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e Porto: Lello e Irmão - Editores, 1993. v. III, p. 264-265.
ouvintes de vontades endurecidas são os piores que há. Os
ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm O texto de Vieira contém algumas características do Barroco.
só a ouvir sutilezas, a esperar alantarias, a avaliar pensamentos, e Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela em que NÃO se
às vezes também a picar quem os não pica. confirmam essas tendências estéticas:
a) A utilização da alegoria, da comparação, como recursos
Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um oratórios, visando à persuasão do ouvinte.
entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios, e vencer-se b) A tentativa de convencer o homem do século XVII, imbuído de
uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas práticas e sentimentos comuns ao semipaganismo renascentista, a
nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque retomar o caminho do espiritualismo medieval, privilegiando os
quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se valores cristãos.
despontam na pedra. c) A presença do discurso dramático, recorrendo ao princípio
E com os ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de horaciano de "ensinar deleitando" - tendência didática e
vontades endurecidas serem os mais rebeldes, é tanta a força da moralizante, comum à Contra-Reforma.
divina palavra, que, apesar da agudeza, nasce nos espinhos, e d) O tratamento do tema principal - a denúncia à cobiça humana -
apesar da dureza, nasce nas pedras. através do conceptismo, ou jogo de idéias.
(Padre Antônio Vieira, "Sermão da Sexagésima". Texto e) O culto do contraste, sugerindo a oposição bem x mal, em
editado.) linguagem simples, concisa, direta e expressiva da intenção
barroca de resgatar os valores greco-latinos.
Considere as afirmações seguintes sobre o texto de Vieira.
I - Trata-se de texto predominantemente argumentativo, no qual Questão 12 (Ufrs 2006)
Vieira emprega as metáforas do espinho e da pedra para referir-se Considere as seguintes afirmações sobre o padre Antônio Vieira
àqueles em que a palavra de Deus não prospera. I - Possui um estilo antigongórico, conceptista, caracterizado pela
II - Nota-se no texto a metalinguagem, pois o sermão trata da clareza e pelo rigor sintático, dialético e lógico.
própria arte da pregação religiosa. II - Recusa, como cultista, o elemento imagístico, transformando-o
em mero instrumento de convencimento dos fiéis.
III - À vista da construção essencialmente fundada no jogo de III - Recontextualiza passagens do Evangelho, uma vez que as
idéias, fazendo progredir o tema pelo raciocínio, pela lógica, o texto vincula às ideias que quer expressar, explorando a analogia.
caracteriza-se como conceptista. Quais estão corretas?
IV - Efeito da Revolução Industrial, que reforçou a perspectiva a) Apenas I.
capitalista e o individualismo, esse texto traduz a busca da natureza b) Apenas II.
(pedras, espinhos, .....) como refúgio para o eu lírico religioso. c) Apenas I e III.
V - Vincula-se ao Barroco, movimento estético entre cujos traços d) Apenas II e III.
destaca-se a oscilação entre o clássico (de matriz pagã) e o
medieval (de matriz cristã), a qual se traduz em estados de conflito Questão 13 – (Unifesp 2016)
religioso. Leia o excerto do “Sermão de Santo Antônio aos peixes” de Antônio
Vieira (1608-1697).
Estão corretas apenas as afirmações A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos
a) I, II e III. comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a
b) I, III e V. circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros,
c) II, III e IV. senão que os grandes comem os pequenos. [...] Santo Agostinho,
d) II, III, IV e V. que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste
e) I, II, III e V. escândalo mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes,
para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos
Questão 11 (Ufv) homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso
Leia atentamente o fragmento do sermão do Padre o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão?
Antônio Vieira: Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que
A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que só os tapuias se comem uns aos outros, muito maior açougue é o
comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele
circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e
senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes
era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo
Questão 14
(Unifesp 2016) No sermão, Vieira critica
a) a preguiça desmesurada dos miseráveis.
b) a falta de ambição dos miseráveis.
c) a ganância excessiva dos poderosos.
d) o excesso de humildade dos miseráveis.
e) o excesso de vaidade dos poderosos.
Questão 15
Em “Cuidais que só os tapuias se Comem uns aos outros, muito
maior açougue é o de cá, muito mais se
comem os brancos.” (1o. parágrafo), os termos em destaque foram
empregados, respectivamente, em sentido
a) literal, figurado e figurado.
b) figurado, figurado e literal.
c) literal, literal e figurado.
d) figurado, literal e figurado.
e) literal, figurado e literal.
Questão 04 (Uepa 2014) Tal comentário refere-se ao seguinte movimento literário brasileiro:
A leitura do soneto bocageano permite afirmar que há entre a a) Romantismo.
subjetividade do poeta e as questões sociais de Portugal uma b) Classicismo.
ampla interação comunicativa. Marque a alternativa que comprova c) Naturalismo.
este comentário. d) Barroco.
a) O eu lírico pede ao país que tenha, como ele, paciência para e) Arcadismo.
suportar o despotismo.
b) A pátria personificada que desmaia, é comparável ao eu lírico frio TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
e mudo.
c) O despotismo é a redenção muito esperada pelo eu lírico e pela Soneto VI
sociedade portuguesa. Brandas ribeiras, quanto estou contente
d) A saudade é representada no poema pelas imagens do cárcere De ver-vos outra vez, se isto é verdade!
e do poeta preso por grilhões. Quanto me alegra ouvir a suavidade,
e) O eu lírico e a pátria celebram a chegada da liberdade como um Com que Fílis entoa a voz cadente!
sol que surge no horizonte.
Os rebanhos, o gado, o campo, a gente,
Questão 05 (UEPA 2012) Tudo me está causando novidade:
LXII Oh! como é certo que a cruel saudade
Torno a ver-vos, ó montes; o destino Faz tudo, do que foi, mui diferente!
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros Recebi (eu vos peço) um desgraçado,
Pelo traje da Corte rico e fino. Que andou até agora por incerto giro,
Correndo sempre atrás do seu cuidado:
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros, Este pranto, estes ais com que respiro,
Vendo correr os míseros vaqueiros Podendo comover o vosso agrado,
Atrás de seu cansado desatino. Façam digno de vós o meu suspiro.
Cláudio Manoel da Costa
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia, Soneto
Que da cidade o lisonjeiro encanto; Estes os olhos são da minha amada,
Que belos, que gentis e que formosos!
Aqui descanse a louca fantasia; Não são para os mortais tão preciosos
E o que 'té agora se tornava em pranto, Os doces frutos da estação dourada.
Se converta em afetos de alegria.
Por eles a alegria derramada
O campo como locus amoenus, livre de mazelas sociais e morais, Tornam-se os campos de prazer gostosos.
foi o grande tema literário à época neoclássica, quando a literatura Em zéfiros suaves e mimosos
também expressou uma resistência à Cidade, considerada então Toda esta região se vê banhada.
violento símbolo do poder monárquico e da corrupção moral.
Interprete as opções abaixo e assinale aquela em que se sintetiza o Vinde olhos belos, vinde, e enfim trazendo
modo de resistência Do rosto do meu bem as prendas belas,
expresso nos versos de Cláudio Manuel da Costa acima transcritos. Dai alívio ao mal que estou gemendo.
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Aula 9 - Neoclassicismo
Não me alegra, ou me desgosta
Mas ah! delírio meu que me atropelas! Doutra o mimo, ou o desdém,
Os olhos que eu cuidei que estava vendo, Satisfaz-me e me contenta
Eram (quem crera tal!) duas estrelas. Só Arminda e mais ninguém.
Cláudio Manoel da Costa
Questão 07 (Mackenzie 2015) Cantem os outros pastores
É traço relevante na caracterização do estilo de época a que Outras pastoras também,
pertencem os poemas de Cláudio Manoel da Costa, EXCETO: Que eu canto e cantarei sempre
Só Arminda e mais ninguém.
a) a valorização do locus amoenus. (Viola de Lereno, 1980.)
b) a poesia bucólica. Questão 09 (Unesp 2015)
c) a utilização de pseudônimos pastoris. Além de outras características, a presença de dois vocábulos
d) a busca da aurea mediocritas. contribui para identificar o aspecto neoclássico desta modinha, a
e) a repulsa à tradição clássica da poesia. saber:
a) “alegra” e “desgosta”.
Questão 08 b) “mimo” e “desdém”.
(Mackenzie 2015) Na composição poética árcade, a natureza é c) “suspiros” e “segredos”.
tratada: d) “canto” e “cantarei”.
a) como uma lembrança da pátria da qual foram exilados. e) “pastores” e “pastoras”.
b) como um refúgio da vida atribulada das metrópoles do século
XIX. Questão 10 (Unesp 2015)
c) como um prolongamento do estado emocional do poeta. Na segunda estrofe, o eu lírico explora, seguindo a tradição
d) como um local em que se busca a vida simples, pastoril e poética, uma concepção sobre a sede dos sentimentos humanos.
bucólica. Segundo tal concepção, o amor
e) como uma fonte para o retrato crítico às desigualdades sociais.
a) situa-se na imaginação dos homens.
b) é um corpo estranho que passa a residir no de quem ama.
A(s) questão(ões) tomam por base uma modinha de Domingos
c) mora com a inveja e é irmão gêmeo do ódio.
Caldas Barbosa (1740-1800).
d) localiza-se no coração dos homens.
e) nasce no paraíso e conduz para lá quem ama.
Protestos a Arminda
Pode-se afirmar que se destaca no poema: palavras, a tensão entre os opostos e o conflito exposto pelos
a) o racionalismo, característica do Barroco. contrastes.
b) o conceptismo, característica do Arcadismo. ( ) Retoma o ideal de simplicidade, herdado do modelo clássico
c) o cultismo, característica do Barroco. greco-romano, correspondente à tradição do equilíbrio e da
d) o teocentrismo, característica do Barroco. racionalidade: a justa medida.
e) o pastoralismo, característica do Arcadismo.
A sequência correta é
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: a) 1 – 1 – 2 – 2. b) 2 – 1 – 1 – 2. c) 1 – 2 – 2 – 1.
d) 2 – 1 – 2 – 2. e) 1 – 2 – 1 – 2.
A beleza da forma física feminina constituiu assunto predileto da
poesia arcádica brasileira. Leia as seguintes estrofes da Lira 27 de Questão 14 (Ufsm 2012)
Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga: O Arcadismo volta aos princípios clássicos greco-romanos e
renascentistas. Nesse sentido, a estética árcade cria e segue um
Vou retratar a Marília, grupo de preceitos herdados do Classicismo. Assinale o trecho
a Marília, meus amores; poético de Marília de Dirceu que corresponde ao preceito em
porém como? se eu não vejo negrito.
quem me empreste as finas cores: a) “Verás em cima da espaçosa mesa/altos volumes de enredados
dar-mas a terra não pode; feitos;/ver-me-ás folhear os grandes livros,/e decidir os pleitos.” –
não, que a sua cor mimosa Fugere urbem.
vence o lírio, vence a rosa, b) “Enquanto pasta alegre o manso gado,/minha bela Marília, nos
o jasmim e as outras flores. sentemos/à sombra deste cedro levantado./Um pouco
meditemos/na regular beleza,/que em tudo quanto vive nos
Ah! socorre, Amor, socorre descobre/a sábia Natureza.” – Locus amoenus.
ao mais grato empenho meu! c) “Se não tivermos lãs e peles finas,/podem mui bem cobrir as
Voa sobre os astros, voa, carnes nossas/as peles dos cordeiros malcurtidas,/e os panos feitos
Traze-me as tintas do céu. com as lãs mais grossas./Mas ao menos será o teu vestido/por
[...] mãos de amor, por minhas mãos cosido.” – Inutilia truncat.
Entremos, Amor, entremos, d) “Pela Ninfa, que jaz vertida em Louro,/o grande Deus Apolo não
entremos na mesma esfera; delira?/Jove, mudado em Touro/e já mudado em velha não
venha Palas, venha Juno, suspira?/Seguir aos Deuses nunca foi desdouro./Graças, ó Nise
Venha a deusa de Citera. bela,/graças à minha Estrela!” – Carpe diem.
Porém, não, que se Marília e) “Quando apareces/Na madrugada,/Mal-embrulhada/Na larga
no certame antigo entrasse, roupa,/E desgrenhada/Sem fita, ou flor;/Ah! que então brilha/A
bem que a Páris não peitasse, natureza!/Então se mostra/Tua beleza/Inda maior.” – Aurea
a todas as três vencera. mediocritas.
Cartas chilenas Nesse contexto, alguns poetas árcades, como Cláudio Manuel da
Na obra de teor satírico Cartas Chilenas, Tomás Antônio Gonzaga Costa e Alvarenga Peixoto, envolveram-se na Conjuração Mineira.
adota o pseudônimo de Critilo para ironizar a arrogância e os A efetiva participação de Tomás Antônio Gonzaga ainda é motivo
desmando do governador Luís da Cunha Meneses, que recebe, na de polêmica entre historiadores, mas, assim como muitos dos
obra, o nome de Fanfarrão Minésio. A obra, apesar do forte teor acusados, o poeta foi preso e condenado a 10 anos de degredo na
crítico, não apresenta intensão revolucionária, mas, provavelmente, África.
foi por conta de sua publicação que Tomás Antônio Gonzaga foi
acusado de ser um dos participantes da Inconfidência Mineira.
Carta 1a.
Em que se descreve a entrada, que fez
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Aula 10 - O Arcadismo No Brasil
Carinhosa e doce, ó Glaura,
Vem esta aura lisonjeira,
E a mangueira já florida
Nos convida a respirar.
Sobre a relva o sol doirado
Bebe as lágrimas da Aurora,
E suave os dons de Flora
Neste prado vê brotar.
Panteão dos Inconfidentes, no Museu da Inconfidência, em Ouro BASÍLIO DA GAMA (1741 -1795)
Preto, onde estão guardados os restos mortais dos inconfidentes. É autor do poema épico O Uraguai (1769), poema em cinco atos,
Fonte: http://museudainconfidencia.wordpress.com/about/ escrito em decassílabos brancos (sem rimas), sobre a destruição
das Missões jesuíticas dos Sete Povos pelas forças luso-
2.4. SILVA ALVARENGA (1749-1814) espanholas comandadas por Gomes de Freire de Andrade, em
Obra: Glaura (1799) 1756.
Identificado com o Iluminismo, Manuel Inácio da Silva Alvarenga, O poema retrata a batalha entre conquistadores e índios,
em Glaura, também cultiva uma lírica de inspiração galante. Trata- manobrados pelos jesuítas, e destaca a valentia e a nobreza dos
se de um poema composto por rondós* e madrigais*, onde o poeta, índios, que, apesar de não serem os heróis, não são apontados
sob o pseudônimo de Alcindo Palmireno, exalta a pastora Glaura, como vilões.
que, a princípio, parece se esquivar desse canto amoroso. O Características:
sofrimento de Alcindo acabará sendo recompensado pela - Celebração épica dos conquistadores brancos, representados
retribuição do afeto, porém Glaura morrerá em seguida, deixando o pelo general Gomes Freire de Andrade.
pastor imerso em depressão. - Os índios (Sepé e Cacambo) são apresentados como dotados de
inúmeras qualidades. É uma espécie de glorificação do homem
“Alvarenga leva às últimas consequências o desejo árcade de natural que enfrenta os representantes da civilização européia.
construir uma poesia repleta de naturalidade, em que a - Os vilões da história são os jesuítas, duramente criticados,
simplicidade e a expressão espontânea fossem cultivadas em destacando-se o padre Balda.
detrimento de imagens rebuscadas. Tais características podem ser - O Uraguai é um poema em cinco cantos e em versos brancos
observadas em Glaura: poemas eróticos de uma americano, livro (sem rima).
composto de 59 rondós e 57 madrigais. Os poemas, que têm como
tema central o sentimento amoroso são atravessados pela recusa à O trecho mais famoso do poema, no entanto, possui um teor lírico:
grandiloquência épica, que se faz sentir desde a epígrafe do a passagem que narra a morte da índia Lindoia, que, após ter seu
volume: "Adeus, ó Heróis, quem enfim/ Nas cordas da doce lira/ se marido, Cacambo, envenenado por ordens do padre Balda e na
respira terno amor". Trata-se, portanto, da recusa aos grandes iminência de casar-se com o índio Baldeta, filho natural do padre
temas e formas épicos e da valorização da expressão lírica corrupto, prefere morrer, deixando-se picar por uma serpente
pessoal, espontânea; da busca pela naturalidade contra os artifícios venenosa. .
da linguagem; da elaboração de formas breves, como são os
rondós e madrigais.” ( ) "Este lugar delicioso e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido,
Para morrer, a mísera Lindoia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores;
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola em seu corpo
Verde serpente..."
Basílio da Gama
Enquanto pois produz, enquanto cria Minha bela Marília, tudo passa;
Essa esfera gentil, mina excelente a sorte deste mundo é mal segura;
No cabelo o metal mais reluzente, se vem depois dos males a ventura,
E na boca a mais fina pedraria. vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos deuses
Gozai, gozai da flor da formosura, sujeitos ao poder do ímpio fado:
Antes que o frio da madura idade. Apolo já fugiu do céu brilhante,
já foi pastor de gado.
Tronco deixe despido o que é verdura. (GONZAGA, Tomás António. Lira XIV. In: TUFANO, Douglas
Que passado o zenith da mocidade, Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo:
Sem a noite encontrar da sepultura, Moderna, 1988. p. 77.)
É cada dia ocaso da beldade."
(Gregório de Matos) Em relação aos poemas, analise a veracidade (V) ou a falsidade (F)
das proposições abaixo.
TEXTO II ( ) O poema de Gregório de Matos apresenta um sujeito lírico
"Ah! enquanto os Destinos impiedosos torturado pelo peso de seus pecados e desejoso de aproximar-se
Não voltam contra nós a face irada, do Divino.
Façamos, sim façamos, doce amada, ( ) Tomás Antônio Gonzaga, embora pertença ao mesmo período
Os nossos breves dias mais ditosos, literário de Gregório de Matos, revela neste poema um sujeito lírico
consciente da brevidade da vida.
Um coração, que frouxo ( ) Em relação às marcas de religiosidade, a visão antagônica
A grata posse de seu bem difere, que se coloca entre os dois poemas reflete, no Barroco, a influência
A si, Marília, a si próprio rouba, do cristianismo e, no Arcadismo, a da mitologia grega.
E a si próprio fere.
Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses,
Ornemos nossas testas com as flores; de cima para baixo.
E façamos de feno um brando leito, a) V – V – V b) V – F – F c) V – F – V
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, d) F – F – F e) F – V – F
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças, Questão 06 (Imed 2016)
Sem que o possam deter, o tempo corre; Sobre o arcadismo brasileiro, é correto afirmar que:
E para nós o tempo, que se passa, a) O arcadismo pregava a ressurreição do ideal clássico, visando
Também, Marilia, morre." resgatar os valores antropocêntricos do Renascimento.
(Tomás Antônio Gonzaga) b) Marília de Dirceu foi um dos grandes poemas do arcadismo, cujo
autor, Claudio Manuel da Costa, apresenta um eu lírico
O texto I é barroco; o texto II é arcádico. Comparando-os, é correto apaixonado, que expõe o conflito do amor de sua amada e a
afirmar, EXCETO: objeção do pai da moça.
a) os barrocos e árcades expressam sentimentos. c) Em Caramuru, Frei José de Santa Rita Durão faz uma ode aos
b) as construções sintáticas barrocas revelam um interior heróis indígenas que habitavam a Bahia, no período da chegada da
conturbado. frota de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.
c) o desejo de viver o prazer é dirigido à amada nos dois textos. d) Em O Uraguai, o herói Gomes Freire de Andrade divide as
d) os árcades têm uma visão de mundo mais angustiada que os honras com Cacambo, herói indígena. Poemeto épico, Silva
barrocos. Alvarenga traz o período da guerra dos portugueses e espanhóis
e) a fugacidade do tempo é temática comum aos dois estilos. contra os indígenas e jesuítas em Sete Povos das Missões do
Uruguai, em 1759.
e) Alvarenga Peixoto, em Glaura, apresenta-nos poemas eróticos mitologia clássica mediante o uso de termos tais como “monte”,
utilizando-se de técnicas como a alegoria e o gesto teatral, as quais “Natureza” e “Jove”, respectivamente, nos textos 1, 2 e 3.
distingue sua produção de seus contemporâneos. II. Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa são poetas
árcades, embora o primeiro tenha se iniciado como barroco, daí os
Questão 07 (UPE 2015) trechos dos dois poemas de sua autoria revelarem traços desse
No Arcadismo brasileiro, encontram-se textos épicos, líricos e momento da Literatura. De outro modo, Cláudio Manuel da Costa,
satíricos. Com base nessa afirmação, leia os textos a seguir: no poema de número 1, se apresenta pré-romântico, razão pela
qual sua produção se encontra dividida em dois momentos
TEXTO 1 literários.
Pastores, que levais ao monte o gado, III. A referência a Critilo, autor textual do oitavo poema, sendo
Vede lá como andais por essa serra; espanhol, é um dado falso que tem por finalidade ocultar a
Que para dar contágio a toda a terra, nacionalidade do autor mineiro e, ao mesmo tempo, corroborar a
Basta ver-se o meu rosto magoado: camuflagem da autoria, em decorrência do tom satírico e agressivo
Eu ando (vós me vedes) tão pesado; da epístola em versos. Contudo, o desejo de ocultação não foi
E a pastora infiel, que me faz guerra, alcançado, porque Tomás Antônio Gonzaga foi preso e deportado,
É a mesma, que em seu semblante encerra por ter sido atribuída a ele a autoria das referidas Cartas.
A causa de um martírio tão cansado. IV. O tema do amor se faz presente nos poemas 1 e 2. Ambos
Se a quereis conhecer, vinde comigo, apresentam bucolismo, característica do Arcadismo, contudo existe
Vereis a formosura, que eu adoro; algo que os diferencia: o pessimismo do eu poético no texto 1 e a
Mas não; tanto não sou vosso inimigo: reciprocidade do sentimento amoroso no 2.
Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro; V. O texto 3, apesar de satírico, nega, pelos aspectos temáticos e
Que se seguir quiserdes, o que eu sigo, formais, qualquer característica do Arcadismo, pois o poeta se
Chorareis, ó pastores, o que eu choro. preocupa, de modo especial, com os acontecimentos históricos e
Cláudio Manuel da Costa se exime de preocupação estética, revelando desconhecimento da
produção épica de poetas gregos e latinos.
TEXTO 2
[...] Está(ão) CORRETO(S), apenas, o(s) item(ns):
Enquanto pasta alegre o manso gado, a) I, II e III. b) I e IV. c) II, IV e V.
minha bela Marília, nos sentemos d) IV. e) I.
à sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos Questão 08
na regular beleza,
TEXTO: VIVER
que em tudo quanto vive nos descobre
Vovô ganhou mais um dia. Sentado na copa, de pijama e chinelas,
a sábia Natureza.
enrola o primeiro cigarro e espera o gostoso café com leite.
[...]
Lili, matinal como um passarinho, também espera o café com leite.
Tomás Antônio Gonzaga
Tal e qual vovô.
Pois só as crianças e os velhos conhecem a volúpia de viver dia a
TEXTO 3
dia, hora a hora, e suas esperas e desejos nunca se estendem
[...]
além de cinco minutos...
Amigo Doroteu, não sou tão néscio,
(QUINTANA, Mário. "Sapato florido". 1 reimpressão.
Que os avisos de Jove não conheça.
Porto Alegre: Editora Globo, 2005)
Pois não me deu a veia de poeta,
Nem me trouxe, por mares empolados,
O texto de Mário Quintana, poeta modernista, destaca a
A Chile, para que, gostoso e mole,
consequência de um aspecto central da visão de mundo tanto
Descanse o corpo na franjada rede.
barroca quanto árcade:
Nasceu o sábio Homero entre os antigos,
a) a fruição do momento presente.
Para o nome cantar, do grego Aquiles;
b) a constatação da efemeridade da vida.
Para cantar, também, ao pio Enéias,
c) a valorização da vida no campo.
Teve o povo romano o seu Vergílio:
d) a condenação das vaidades humanas.
Assim, para escrever os grandes feitos
e) o ideal de uma vida simples e equilibrada.
Que o nosso Fanfarrão obrou em Chile,
Entendo, Doroteu, que a Providência
Lançou, na culta Espanha, o teu Critilo.
[...] EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Tomás Antônio Gonzaga - Cartas Chilenas
Leia o soneto XLVI, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), para
Sobre eles, analise os itens seguintes: responder à(s) questão(ões) a seguir.
I. Os três poemas são árcades e nada têm que possamos Não vês, Lise, brincar esse menino
considerá-los pertencentes a outro estilo de época, uma vez que Com aquela avezinha? Estende o braço,
seus autores só produziram poemas líricos e com características Deixa-a fugir, mas apertando o laço,
totalmente arcádicas. Além disso, todos eles trazem referências à A condena outra vez ao seu destino.
Questão 12 (Unesp 2012) A leitura atenta deste poema do livro Marília de Dirceu revela que o
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: eu lírico
Leia o poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810). a) sente total desânimo perante a existência e os sentimentos.
b) aceita com resignação a velhice e a morte amenizadas pelo
Não vês aquele velho respeitável, amor.
que à muleta encostado, c) está em crise existencial e não acredita na durabilidade do amor.
apenas mal se move e mal se arrasta? d) protesta ao Criador pela precariedade da existência humana.
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo, e) não aceita de nenhum modo o envelhecimento e prefere morrer
o tempo arrebatado, ainda jovem.
que o mesmo bronze gasta!
Questão 13 (Unesp 2012)
Enrugaram-se as faces e perderam No conteúdo da quinta estrofe do poema encontramos uma das
seus olhos a viveza: características mais marcantes do Arcadismo:
voltou-se o seu cabelo em branca neve; a) paisagem bucólica.
já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo, b) pessimismo irônico.
nem tem uma beleza c) conflito dos elementos naturais.
das belezas que teve. d) filosofia moral.
e) desencanto com o amor.
Assim também serei, minha Marília,
daqui a poucos anos, Questão 14 (Enem 2016)
que o ímpio tempo para todos corre. Soneto VII
Os dentes cairão e os meus cabelos. Onde estou? Este sítio desconheço:
Ah! sentirei os danos, Quem fez tão diferente aquele prado?
que evita só quem morre. Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Mas sempre passarei uma velhice
muito menos penosa. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
Não trarei a muleta carregada, De estar a ela um dia reclinado:
descansarei o já vergado corpo Ali em vale um monte está mudado:
na tua mão piedosa, Quanto pode dos anos o progresso!
na tua mão nevada.
Árvores aqui vi tão florescentes,
As frias tardes, em que negra nuvem Que faziam perpétua a primavera:
os chuveiros não lance, Nem troncos vejo agora decadentes.
irei contigo ao prado florescente:
aqui me buscarás um sítio ameno, Eu me engano: a região esta não era;
onde os membros descanse, Mas que venho a estranhar, se estão presentes
e ao brando sol me aquente. Meus males, com que tudo degenera!
COSTA, C. M. Poemas. Disponível em:
Apenas me sentar, então, movendo www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012.
os olhos por aquela
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97
Aula 10 - O Arcadismo No Brasil
No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a contemplação da
paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece
uma
a) angústia provocada pela sensação de solidão.
b) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
c) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
d) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
e) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.
LVIII
AULA 11 – ROMANTISMO I
01. CONTEXTO HISTÓRICO
O Romantismo foi uma estética essencialmente burguesa.
A ascensão da burguesia europeia é um processo que se inicia
com o Mercantilismo, nos séculos XVI e XVII, passa pela
Revolução Inglesa, de 1688, pela Independência Americana, de
1776, e atinge o ápice com a Revolução Francesa, de 1789.
Com a Revolução Francesa, veio o fim das barreiras rígidas entre
as classes sociais e o estabelecimento de um novo modo de vida,
baseado na livre iniciativa, exaltando a competência e os méritos
pessoais de cada indivíduo, independentemente de seus títulos e
seus antepassados.
A publicação da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão Eugène Delacroix
tem um efeito quase que imediato no campo da Literatura,
principalmente através do artigo onze, que afirma: "A livre - Ilogismo, primado do sentimento em detrimento da razão.
comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais Exaltam-se os sentidos, e tudo o que é provocado pelo impulso é
preciosos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, permitido. O romântico oscila entre a alegria e a melancolia, entre
imprimir livremente." o entusiasmo e o tédio. Supervalorizam-se o amor, a virgindade, o
sentimento nostálgico, a melancolia, o sonho.
Assim, cada francês passa a ser um escritor em potencial, visto
que, com a Revolução, caem também as “Bastilhas acadêmicas”. - Culto ao fantástico e senso de mistério
Diante disso, o Romantismo se estabeleceu como uma estética O mundo romântico abre-se com facilidade para o mistério, para o
burguesa, libertária e que veio reagir aos valores éticos e sobrenatural. Representa com frequência o sonho, a imaginação.
intelectuais predominantes durante o Classicismo, associados à O que acontece na obra é impossível de acontecer na realidade,
Aristocracia. Destarte, à razão, o romantismo opôs o sentimento; pois é fruto de pura fantasia: não carece de fundamentação lógica.
ao objetivismo, o subjetivismo; ao materialismo, o espiritualismo;
ao equilíbrio, à expansão e o entusiasmo; ao universalismo,
buscou valorizar as raízes nacionais e populares etc.
Todas as transformações ocorridas graças às revoluções liberais
geraram, a principio, um sentimento de euforia, diante do poder do
indivíduo e de suas chances de triunfo e mobilidade social.
Acreditava-se que um homem competente e ambicioso poderia
mudar seu destino e atingir o ápice na escala social.
Mas, em um segundo momento, o romântico percebe as falácias
que eram as promessas revolucionárias. Dá-se conta que é
impossível uma nova experiência napoleônica e percebe a
mediocridade da burguesia, centrada apenas na acumulação de
capital.
Essas constatações geram uma profunda melancolia, um
sentimento de desilusão com o mundo e, em consequência, os
John Henry Fuseli – O pesadelo
artistas se voltam cada vez mais para o próprio eu, um eu
angustiado, marcado pelo tédio, pelo pessimismo.
- Idealização e Exagero
O sentimento de opressão, de inadaptação à civilização que se O romântico busca a perfeição. Assim, idealiza o amor, a mulher, o
construiu ao seu redor, faz com que o romântico sinta um profundo passado, a natureza, a pátria.
desejo de evasão: é o escapismo, que vai se manifestar na fuga
através da busca para uma natureza inóspita, exótica; no culto ao - Pessimismo
passado (passado histórico e individual); no sonho e na fantasia; A impossibilidade de realizar o sonho absoluto do “eu” gera a
na morte. melancolia, a angústia, a busca da solidão, a inquietude, o
desespero, a frustração que leva às vezes ao flerte com a morte,
CARACTERÍSTICAS GERAIS solução definitiva para o mal-do-século.
- Individualismo e subjetivismo
O romântico não retrata a realidade como ela é, objetivamente, - Escapismo
mas como ele a vê, como ele a sente. A realidade é retratada a Diante do tédio da vida, o romântico deseja evadir-se, fugir da
partir do seu ponto de vista, numa atitude pessoal e íntima. Assim, realidade para um mundo de sonho e fantasia, para um passado
a noção de beleza deixa de ser agregada ao equilíbrio e à (histórico ou individual) idealizado, para uma natureza exótica, ou
harmonia das formas, passando a ser relativa. para a morte.
- Reformismo
Refletindo um contexto histórico revolucionário, o romântico
associa-se a movimentos democráticos e libertários e exalta
personalidades militares e políticas que reflitam esses ideais.
- Culto à Natureza
A natureza adquire uma posição central no Romantismo. Ela é o
lugar de refúgio, puro e intocado, que o sujeito romântico busca Delacroix - A liberdade guiando o povo
para curar-se espiritualmente. Associada a essa ideia, há o mito do
“bom selvagem” de Rousseau, do homem bom, vivendo em estado - Liberdade Formal e Temática
de natureza. Tem-se, ainda, a perspectiva da natureza como Em consequência desse espírito libertário, a inspiração individual é
símbolo da grandeza da pátria, reforçando o nacionalismo. quem dita a expressão romântica, valorizando-se a
espontaneidade e o arrebatamento. A poesia origina-se no
coração, e toda a poesia é reduzida ao lirismo. Não há mais regras
e convenções a serem seguidas.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
Questão 01
Esta questão versa sobre aspectos do ROMANTISMO enquanto
estado de alma e estilo literário.
Amor
Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Diante disso, a tela acima pode ser considera uma obra De teus seios tão mimosos
representativa do: Quem gozasse o talismã!
a) Renascimento, visto que procura ressaltar a perfeição do ser Quem ali deitasse a fronte
humano diante da natureza, numa clara postura Antropocentrica. Cheia de amoroso afã!
b) Barroco, por trazer grande carga de dramaticidade, refletindo a E quem nele respirasse
angústica do homem face o dualismo mundo material/mundo A tua malva-maçã!
espiritual.
c) Romantismo, pois retrata a busca pelo exótico, pelo inóspito Dá-me essa folha cheirosa
numa clara busca de comunhão entre o homem e a natureza. Que treme no seio teu!
d) Expressionismo, visto que não apresenta a realidade de forma Dá-me a folha… hei de beijá-la
naturalista, como se fosse uma realidade objetiva e imutável. O Sedenta no lábio meu!
artista deforma a realidade. Não vês que o calor do seio
e) Naturalismo, por apresentar uma natureza opressora, que Tua malva emurcheceu...
determina o comportamento do ser humano de modo irremediável. [...]
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa.
Questão 06 Organização de Alexei Bueno.
Poema Há uma flor que está em redor de mim,
uma flor que nasce nos cabelos da aurora
Estrelas e desce sobre as águas e os ombros
Singelas, de todos nós. Não, não quero amar
Luzeiros, senão a natureza quando ela se abre
Fagueiros, como uma flor e suas corolas à madrugada;
Esplêndidos orbes, que o mundo aclarais! eu não quero amar, senão a mulher
Desertos e mares, - florestas vivazes! que está em redor de mim, a mulher
Montanhas audazes que o céu topeais! que me acolhe com seus braços
Abismos e me oferece o que há de mais íntimo,
Profundos! a sua pérola e sonho à madrugada.
Cavernas
Eternas! GARCIA, José Godoy. Poesia. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 153.
Extensos,
Imensos Nos poemas transcritos, a representação da figura feminina se
Espaços assemelha por apresentar
Azuis! a) a sensualidade da mulher metaforizada pelos elementos da
Altares e tronos, natureza.
Humildes e sábios, soberbos e grandes! b) a idealização de uma mulher única enfatizada pela fidelidade do
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz! eu lírico.
Só ela nos mostra da glória o caminho, c) o distanciamento da mulher exemplificado por sua indiferença
Só ela nos fala das leis de - Jesus! aos apelos do eu lírico.
d) a simplicidade da mulher evidenciada por suas qualidades
Levando em consideração que o poema acima é de autoria do morais.
poeta romântico Fagundes Varela, assinale o item correto a e) o exotismo da mulher emoldurado pela descrição de um cenário
respeito dos procedimentos de construção do texto utilizados pelo idílico.
autor, em relação ao Romantismo.
a) Representa perfeitamente o cânone poético do Romantismo, Questão 08
retomando a medida velha, de caráter mais popular. (Ifsp 2011) Leia o poema de Francisco Otaviano.
b) Mantém-se preso aos padrões formais clássicos, utilizando uma
linguagem erudita. Ilusões da Vida
c) Aproveita-se da liberdade de criação típica do Romantismo para
explorar a função imagética da linguagem poética. Quem passou pela vida em branca nuvem,
d) Rompe com o cânone romântico, evitando empregar a típica E em plácido repouso adormeceu;
adjetivação romântica. Quem não sentiu o frio da desgraça,
e) Aproxima-se da linguagem utilizada no Realismo, tanto pela Quem passou pela vida e não sofreu;
disposição das palavras no espaço da página, quanto pela forte Foi espectro de homem, não foi homem,
emotividade do texto. Só passou pela vida, não viveu.
Questão 03
(Ufrs) Leia o texto abaixo.
Uma das facetas do Romantismo é conceber o poeta como um
gênio inspirado, dono de uma sensibilidade extraordinária. Isso faz
com que ele expresse suas ideias e emoções de uma forma
original e seja capaz de revelar realidades inacessíveis ao homem
Acerca dos textos acima, assinale com V as afirmativas comum. Dos exemplos citados abaixo, identifique aquele(s) que
Verdadeiras e com F as Falsas. expressa(m) a concepção acima.
I - "Meia-noite soou na floresta
( ) É possível afirmar que esses textos têm em comum
No relógio de sino de pau;
complexos valores ideológicos, próprios da expressão plástica
E a velhinha, rainha da festa,
romântica.
Se assentou sobre o grande jirau."
( ) A Imagem 1 expressa uma das temáticas do Romantismo,
(Bernardo Guimarães)
isto é, a liberdade contra a tirania.
II - "Se é vate quem acesa a fantasia
( ) A Imagem 2 dialoga com o Romantismo por tratar de uma
Tem de divina luz na chama eterna;
temática cara aos românticos, que é a exaltação do passado
Se é vate quem do mundo o movimento
histórico e de caráter nacionalista.
Co'o movimento das canções governa;
( ) A Imagem 3 expressa, de forma dramática, a tragédia de um
(...)
naufrágio. Nessa obra, é possível identificar uma das
Se é vate quem dos povos, quando fala,
características do Romantismo, a hipervalorização dos
As paixões vivifica, excita o pasmo,"
sentimentos, tanto as do mundo físico natural como as emoções
(Laurindo Rabelo)
pessoais.
III - "Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
( ) A Imagem 4 dialoga com a obra de José de Alencar, O
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes,
Uraguai, cuja protagonista é Iracema.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
A sequência CORRETA, de cima para baixo é:
(...)
a) V – V – V – V – F
O véu da noite me atormenta em dores,
b) F – F – V – V – F
A luz da aurora me intumesce os seios,"
c) F – V – V – F – F
(Casimiro de Abreu)
d) V – V – V – F – V
e) V – F – V – F – V Quais exemplos correspondem à concepção citada?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
Questão 04 Questão 06
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES: No texto acima, estão presentes diversas funções da linguagem,
PREFÁCIO como a função poética, a função emotiva, a função conativa e a
São os primeiros cantos de um pobre poeta. Desculpai-os. As função metalinguística. A função metalinguística se mostra
primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de presente porque o autor:
amor. a) imprime ao texto as marcas de sua atitude pessoal, seus
É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma sentimentos.
coroa de folhas, mas sem viço. b) transmite informações objetivas sobre o tema de que trata o
Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas da lira interna texto.
que agitava um sonho, notas que o vento levou, – como isso dou a c) busca persuadir o receptor do texto a adotar certo
lume essas harmonias. comportamento.
São as páginas despedaçadas de um livro não lido... d) faz reflexões sobre a sua própria poesia, apresentando-a para o
E agora que despi a minha musa saudosa dos véus do mistério do leitor.
meu amor e da minha solidão, agora que ela vai seminua e tímida e) objetiva verificar ou fortalecer a eficiência da mensagem
por entre vós, derramar em vossas almas os últimos perfumes de veiculada.
seu coração, ó meus amigos, recebei-a no peito, e amai-a como o
consolo que foi de uma alma esperançosa, que depunha fé na Questão 07
poesia e no amor – esses dois raios luminosos do coração de (Ufg 2013) No prefácio, a cena enunciativa coloca o autor e o leitor
Deus. em um mesmo tempo e espaço. Quais elementos linguísticos
contribuem para esse efeito no diálogo?
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. a) As vozes em terceira pessoa e a palavra “primavera”.
Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. b) Os enunciados negativos e o termo “lira”.
p. 120. c) As orações adversativas e o substantivo “poeta”.
d) Os argumentos explicativos e o adjetivo “pobre”.
(Ufg 2013) O texto acima foi retirado do prefácio da obra Lira dos e) As frases imperativas e o advיrbio “agora”.
vinte anos, de Álvares de Azevedo, e tem como objetivo:
Questão 08
a) fazer uma leitura crítica da obra já lida pelo leitor, esclarecendo (Ueg 2015) Lembrança de morrer
passagens consideradas herméticas.
b) direcionar o olhar do leitor para um determinado caminho de [...]
leitura da obra, evitando interpretações equivocadas. Eu deixo a vida como deixa o tédio
c) defender a obra de julgamentos depreciativos feitos pela crítica Do deserto o poento caminheiro,
especializada, que condenou o autor pela sua imaturidade. - Como as horas de um longo pesadelo
d) destacar os aspectos positivos da obra, incentivando o leitor a Que se desfaz ao dobre sineiro
reconhecê-la como obra-prima. [...]
e) apresentar a obra ao leitor, incentivando-o à leitura, explicando a AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas de Álvares de Azevedo.
sua gênese e justificando possíveis falhas. 7. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. p. 37.
Essa areia solta e um tanto grossa tem cor uniforme que reverbera
com intensidade os raios do sol, quando nela batem de chapa. Em
alguns pontos é tão fofa e movediça que os animais das tropas
viageiras arquejam de cansaço, ao vencerem aquele terreno
Pedro Américo, "Independência ou Morte" (1888), conhecido incerto, que lhes foge de sob os cascos e onde se enterram até
como “O Grito do Ipiranga” meia canela.
TAUNAY, V. Inocência. São Paulo: Moderna. 1990. p. 3.
O nacionalismo romântico brasileiro se manifestará, principalmente,
através dos seguintes elementos: - Natureza
- Indianismo A natureza brasileira, que nos textos do Quinhentismo ganhou
Baseado no mito do “bom selvagem”, de Rousseau, constrói-se o relevância pelo seu exotismo, no Romantismo será utilizada como
símbolo da grandeza da pátria. A natureza exuberante é prova das
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Aula 12 - Romantismo No Brasil
potencialidades do Brasil: idealiza-se a natureza, para idealizar-se 2.2. GONÇALVES DE MAGALHÃES
a pátria. Foi o introdutor do Romantismo no Brasil. Seu livro Suspiros
Poéticos e Saudades traz em seu prefácio uma espécie de
programa poético, destacando a importância da religião, o
nacionalismo, o individualismo e a liberdade de criação.
“O poeta sem religião e sem moral é como veneno derramado
na fonte, onde morrem quantos aí procuram aplacar a sede.
Ora, nossa religião, nossa moral, é aquela que nos ensinou o
Filho de Deus, aquela que civilizou o mundo moderno, aquela que
ilumina a Europa, e a América: e só este bálsamo sagrado devem
verter os cânticos dos poetas brasileiros.”
Adeus à Europa
Adeus, oh terras da Europa!
Adeus, França, adeus, Paris!
Volto a ver terras da Pátria,
Taunay, Félix Émile (1850), Pedra da Mãe d´Água
Vou morrer no meu país.
(Paisagem da Tijuca)
Qual ave errante, sem ninho,
02. A POESIA ROMÂNTICA
Oculto peregrinando,
A poesia romântica brasileira é dividida em três gerações: Visitei vossas cidades,
Sempre na Pátria pensando.
Geração Denominação Componentes Temas
1 Nacionalista - Gonçalves de - O índio De saudade consumido,
Magalhães - A saudade da Dos velhos pais tão distante,
- Gonçalves Pátria Gotas de fel azedavam
Dias - A natureza O meu mais suave instante.
- A
religiosidade As cordas de minha lira
- O amor Longo tempo suspiraram,
impossível Mas enfim frouxas, cansadas
2 Individualista - Álvares de - O tédio De suspirar, se quebraram.
ou Azevedo - O pessimismo
Subjetivista - Casimiro de - O sofrimento Oh lira do meu exílio,
Abreu - O mal do Da Europa as plagas deixemos;
- Fagundes século Eu te darei novas cordas,
Varela - A morte Novos hinos cantaremos.
- Junqueira - A infância
Freire - O medo do Adeus, oh terras da Europa!
amor Adeus, França, adeus, Paris!
3 Social ou - Castro Alves - Defesa de Volto a ver terras da Pátria,
Condoreira - Sousândrade causas Vou morrer no meu país.
- Tobias humanitárias Paris, agosto de 1836
Barreto - Denúncia da Gonçalves de Magalhães
escravidão
- Amor erótico O dia 7 de setembro, em Paris
Longe do belo céu da Pátria minha,
2.1. A PRIMEIRA GERAÇÃO: NACIONALISMO Que a mente me acendia,
Os primeiros poetas românticos foram marcados pelo predomínio Em tempo mais feliz, em qu'eu cantava
do nacionalismo, do patriotismo e da ênfase que deram à natureza Das palmeiras à sombra os pátrios feitos;
brasileira em suas poesias. Nesse contexto emergiu o indianismo. Sem mais ouvir o vago som dos bosques,
O índio passou a ser visto como representante de um passado Nem o bramido fúnebre das ondas,
heroico brasileiro, à moda dos cavaleiros medievais enxergados Que n'alma me excitavam
pelos europeus. Altos, sublimes turbilhões de ideias;
O índio apareceu como formador do povo brasileiro e, como tal, foi Com que cântico novo
idealizado: era visto sempre de ângulo positivo; a ele foram O Dia saudarei da Liberdade?
atribuídas características de herói, como aconteceu nas obras de
Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães. Ausente do saudoso, pátrio ninho,
Nesta primeira geração romântica, destaca-se, também, o tema Em regiões tão mortas,
do amor impossível e uma forte religiosidade, identificando o Para mim sem encantos, e atrativos,
Romantismo com o Cristianismo, em oposição à tendência pagã Gela-se o estro ao peregrino vate.
dos neoclássicos. Tu também, que nos trópicos te ostentas
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108
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
(Gonçalves Dias)
Texto 02
Berimbau
Em seu contexto de origem, o quadro acima corresponde a uma
a) denúncia política das guerras entre as populações indígenas
Quem é homem de bem não trai
brasileiras.
O amor que lhe quer seu bem.
b) idealização romântica num contexto de construção da
Quem diz muito que vai não vai
nacionalidade brasileira.
E, assim como não vai, não vem.
c) crítica republicana à versão da história do Brasil difundida pela
Quem de dentro de si não sai
monarquia.
Vai morrer sem amar ninguém,
d) defesa da evangelização dos índios realizada pelas ordens
O dinheiro de quem não dá
religiosas no Brasil.
É o trabalho de quem não tem,
e) concepção de inferioridade civilizacional dos nativos brasileiros
Capoeira que é bom não cai
em relação aos indígenas da América Espanhola.
E, se um dia ele cai, cai bem!
Questão 04 (Unb 2011)
(Vinicius de Moraes e Baden Powell)
I-Juca Pirama
Questão 01 (Insper 2014) Gonçalves Dias
No fragmento poético de Gonçalves Dias, um pai explica ao filho
Meu canto de morte,
como se comporta um guerreiro no momento da morte. Esse
Guerreiros, ouvi:
conselho demonstra que os românticos viam os índios
Sou filho das selvas,
a) como retrato de uma sociedade em crise, pois eles estavam
Nas selvas cresci;
sendo dizimados pelos colonizadores europeus, que tinham grande
Guerreiros, descendo
poder militar.
Da tribo Tupi.
b) de modo cruel, uma vez que, em lugar de criticar as constantes
Da tribo pujante,
lutas entre tribos rivais, eles preferiam falar dos aspectos positivos
Que agora anda errante
da violência.
Por fado inconstante,
c) de modo idealizado, com valores próximos aos das Cruzadas
Guerreiros, nasci;
europeias, quando era nobre morrer por uma causa considerada
Sou bravo, sou forte,
justa.
Sou filho do Norte;
d) como símbolos de um país que surgia, sem nenhuma influência
Meu canto de morte,
dos valores europeus e celebrando apenas os costumes dos povos
Guerreiros, ouvi.
nativos da América.
e) com base no mito do “bom selvagem”, mostrando que eles
Aos golpes do imigo,
nunca entravam em conflitos entre si.
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
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114
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
Caiu junto a mi! esquema métrico e rítmico ágil, destacando-se a redondilha maior
Com plácido rosto, e as rimas cruzadas.
Sereno e composto, e) O índio, nesse poema de Gonçalves Dias e nas demais obras do
O acerbo desgosto indianismo romântico brasileiro, é representado segundo técnica
Comigo sofri. literária realista, por meio da qual se pretende revelar o índio como
legítimo dono das terras e da identidade cultural do país.
Meu pai a meu lado f) Verifica-se, nas últimas estrofes apresentadas, que o grande
Já cego e quebrado, temor do personagem narrador é a morte, apesar de a desdita que
De penas ralado, a vida reservou a ele e a seu pai ser apresentada em forma de
Firmava-se em mi: lamento.
Nós ambos, mesquinhos, g) O movimento romântico brasileiro, do qual o poema I-Juca
Por ínvios caminhos, Pirama é produção exemplar, procurou estabelecer as bases
Cobertos d’espinhos literárias da identidade cultural brasileira, objetivando a superação
Chegamos aqui! do cosmopolitismo expresso pela estética neoclássica,
característica do Arcadismo.
Eu era o seu guia h) Autores do modernismo brasileiro retomaram o tema do índio
Na noite sombria, moralmente forte como símbolo da nação, como se pode verificar
A só alegria na obra Macunaíma, de Mário de Andrade.
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava, Questão 05 (Upf 2014)
Em mim se firmava, Leia as seguintes afirmações sobre a obra I-Juca Pirama de
Em mim descansava, Gonçalves Dias.
Que filho lhe sou. I. O poema, exemplo marcante da descrição científica do elemento
indígena, narra o drama vivido pelo último descendente da tribo
Ao velho coitado dos tupis, feito prisioneiro pelos timbiras.
De penas ralado, II. O autor apresenta uma visão do índio integrado na tribo, nos
Já cego e quebrado, costumes, no sentimento de honra que, para os românticos, era a
Que resta? — Morrer. sua mais bela característica.
Enquanto descreve III. O movimento psicológico do poema, com suas alternativas de
O giro tão breve pasmo e exaltação, se apoia em variação rítmica bem marcada.
Da vida que teve,
Deixai-me viver! Está correto apenas o que se afirma em:
a) I e II.
Não vil, não ignavo, b) II e III.
Mas forte, mas bravo, c) I e III.
Serei vosso escravo: d) II.
Aqui virei ter. e) III.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro: Questão 06 (UPF 2014)
Se a vida deploro, Meu canto de morte,
Também sei morrer. Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
A partir do trecho apresentado, extraído do clássico poema do Nas selvas cresci;
indianismo brasileiro I-Juca Pirama, julgue os itens a seguir. Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
a) No contexto da literatura brasileira do século XIX, era incomum o
recurso a protagonistas ameríndios em poemas épicos e Da tribo pujante,
romances. Especialmente os autores que se filiavam ao Que agora anda errante
romantismo tenderam a dar destaque, nos seus textos a heróis de Por fado inconstante,
proveniência europeia, como forma de rejeitar o projeto de uma Guerreiros, nasci;
identidade brasileira, bem como de restaurar os laços com a Sou bravo, sou forte,
cultura europeia, que haviam sido cortados desde a independência. Sou filho do Norte;
b) O refrão do poema — “Meu canto de morte, / Guerreiros, ouvi” Meu canto de morte,
— remete ao passado do personagem épico I-Juca Pirama, como Guerreiros, ouvi.
indica o emprego da forma verbal “ouvi”, flexionada no pretérito do
indicativo. [...]
c) Ao utilizar como recurso de composição a narrativa em primeira Então, forasteiro,
pessoa do singular, o autor potencializa o apelo romântico do texto, Caí prisioneiro
fazendo que o drama do personagem Tupi seja sublinhado pela De um troço guerreiro
perspectiva íntima, a partir da qual os fatos são apresentados. Com que me encontrei:
d) Para conferir dramaticidade ao momento de tensão em que o O cru dessossego
índio Tupi se apresenta à tribo que o aprisionou, o poeta utiliza
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115
Aula 12 - Romantismo No Brasil
Do pai fraco e cego, Seu nome lá voa na boca das gentes,
Enquanto não chego Condão de prodígios, de glória e terror!
Qual seja, – dizei!
[...]
Eu era o seu guia (DIAS, Gonçalves. "I-Juca-Pirama." In: REIDEL, Dirce.
Na noite sombria, LITERATURA BRASILEIRA EM CURSO. Rio de Janeiro: Bloch,
A só alegria 1969. p.311)
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava, Reflita sobre as tendências da poesia romântica indianista e
Em mim se firmava, assinale a alternativa que NÃO confirma a visão idealizada do
Em mim descansava, poeta em relação ao indígena brasileiro:
Que filho lhe sou. a) "I-Juca-Pirama" expressa o nacionalismo de seu autor, que, ao
idealizar a coragem e o heroísmo do índio brasileiro, atribui-lhe
Ao velho coitado também alguns distúrbios de personalidade.
De penas ralado, b) O poeta romântico transformou o silvícola em um dos símbolos
Já cego e quebrado, da autonomia cultural e da superioridade da nação brasileira.
Que resta? – Morrer. c) O poema gonçalvino enalteceu e preservou as tradições
Enquanto descreve indígenas brasileiras, incorporando-as ao orgulho nacional.
O giro tão breve d) O índio de Gonçalves Dias ganhou o tom dos valorosos
Da vida que teve, cavaleiros medievais e reafirmou o sentimento nacionalista de
Deixai-me viver! nosso Romantismo.
e) A poesia romântica indianista resgatou o passado histórico do
Não vil, não ignavo1, Brasil e valorizou a bravura de seus habitantes naturais.
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo: Questão 08 (Enem PPL 2015)
Aqui virei ter. Em 1866, tendo encerrado seus estudos na Escola de Belas Artes,
Guerreiros, não coro em Paris, Pedro Américo ofereceu a tela A Carioca ao imperador
Do pranto que choro: Pedro II, em reconhecimento ao seu mecenas. O nu feminino
Se a vida deploro, obedecia aos cânones da grande arte e pretendia ser uma alegoria
Também sei morrer. feminina da nacionalidade. A tela, entretanto, foi recusada por
imoral e licenciosa: mesmo não fugindo à regra oitocentista relativa
DIAS, Gonçalves. Juca Pirama. à nudez na obra de arte, A Carioca não pôde, portanto, ser
absorvida de imediato. A sensualidade tangível da figura feminina,
1. Ignavo – fraco, covarde próxima do orientalismo tão em voga na Europa, confrontou-se não
Nas estrofes transcritas, o guerreiro tupi: somente com os limites morais, mas também com a orientação
a) aceita heroicamente a prisão e a morte ritual sem se preocupar estética e cultural do Império. O que chocara mais: a nudez frontal
com a velhice, a solidão e a fragilidade do seu pai. ou um nu tão descolado do que se desejava como nudez nacional
b) aceita resignadamente a morte ritual que os timbiras lhe aceitável, por exemplo, aquela das românticas figuras indígenas? A
destinam e o abandono a que ficará votado o seu velho pai. Carioca oferecia um corpo simultaneamente ideal e obsceno: o alto
c) acovarda-se perante a morte iminente, com a justificativa de ser – uma beleza imaterial – e o baixo – uma carnalidade excessiva.
a única pessoa que resta para cuidar do seu pai, velho, cego e Sugeria uma mistura de estilos que, sem romper com a regra do
enfraquecido. decoro artístico, insinuava na tela algo inadequado ao repertório
d) pretende conciliar o princípio de honra do guerreiro, que jamais simbólico oficial.
teme a morte, com o princípio do amor filial, que lhe exige cuidar A exótica morena, que não é índia – nem mulata ou negra –
do seu pai, cego e enfraquecido pela velhice. poderia representar uma visualidade feminina brasileira e desfrutar
e) rejeita orgulhosamente a morte ritual pelos timbiras, a fim de de um lugar de destaque no imaginário da nossa monarquia
cuidar do seu velho pai e restaurar o poder de sua tribo. tropical”?
OLIVEIRA, C. Disponível em: http://anpuh.org.br. Acesso em: 20
Questão 07 maio 2015.
(Ufv) Observe com atenção o fragmento abaixo:
I- Juca-Pirama
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos - cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d'altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
O texto revela que a aceitação da representação do belo na obra Sobre os documentos referentes ao Descobrimento do Brasil e à
de arte está condicionada à arte produzida no século XIX, é correto afirmar que
a) incorporação de grandes correntes teóricas de uma época, a) ignoram a participação dos indígenas no processo de formação
conferindo legitimidade ao trabalho do artista. da identidade nacional.
b) atemporalidade do tema abordado pelo artista, garantindo b) derrubam uma imagem hierarquizada do encontro das etnias
perenidade ao objeto de arte então elaborado. que formaram a nação brasileira.
c) inserção da produção artística em um projeto estético e c) consolidam uma visão da colonização marcada pela exploração
ideológico determinado por fatores externos. portuguesa das matérias-primas.
d) apropriação que o pintor faz dos grandes temas universais já d) constroem uma memória pacífica do nascimento da nação
recorrentes em uma vertente artística. fundada sob a égide do catolicismo.
e) assimilação de técnicas e recursos já utilizados por movimentos
anteriores que trataram da temática. Questão 11 (Upe 2014)
O Brasil da segunda metade do século XIX viveu um
Questão 09 (Puccamp 2016) desenvolvimento urbano e econômico, que gerou reflexos na sua
Costuma-se reconhecer que o Indianismo, na nossa literatura, é produção cultural. Espaço de surgimento e atuação de vários
marcado por idealizações que emprestam uma espécie de glória artistas e intelectuais, as cidades do Brasil Imperial foram o palco
artificial ao nosso passado como Colônia. Tais idealizações de uma efervescência artístico-cultural ímpar.
I. consistem, basicamente, em atribuir aos nossos silvícolas
atitudes e valores herdados da aristocracia medieval, caros ao Sobre essa realidade, assinale a alternativa CORRETA.
ideário romântico. a) Machado de Assis, principal escritor do Modernismo brasileiro,
II. processam-se com base em fidedignos documentos históricos, foi autor de várias obras que tiveram ampla aceitação popular, o
nos quais há registro detalhado dos usos e costumes das várias que lhe proporcionou, inclusive, fama no exterior.
nações indígenas. b) As pinturas de Pedro Américo refletiam um tom romântico e
III. ocorreram como reação às tendências nacionalistas do nosso nacionalista, retratando, inclusive, acontecimentos históricos
Romantismo, que valorizavam sobretudo a vida urbana e os pátrios.
valores burgueses. c) Aluísio de Azevedo, grande expoente do romantismo literário no
Brasil, sofreu com a censura imperial, em relação a sua obra.
Atende ao enunciado o que está em d) Castro Alves, grande símbolo do chamado ‘mal do século’, foi
a) I, II e III. autor de poesias que tiveram ampla repercussão nacional.
b) I e II, apenas. e) A produção teatral de Artur de Azevedo era marcada por uma
c) II e III, apenas. dramaturgia de conotações trágicas.
d) I e III, apenas.
e) I, apenas. Questão 12 (UFPB 2012)
A pintura é uma manifestação artística que pode ser utilizada como
Questão 10 (G1 - CFTMG 2015) fonte histórica, reforçando uma versão da história. Nesse sentido,
TEXTO 1 observe o quadro do pintor paraibano Pedro Américo:
Oh! não me chames coração de gelo! Quando bebo no teu hálito mais puro
Bem vês: traí-me no fatal segredo. Que o bafejo inefável das esferas,
Se de ti fujo é que te adoro e muito! E miro os róseos lábios que aviventam
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!... Imortais primaveras,
Casimiro de Abreu
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
Como tudo o que é vasto, eterno e belo; Quanta cena infernal sob essas telhas!
Tudo o que traz de Deus o nome escrito! Quanto infantil vagido de agonia!
Como a vida sem fim que além me espera Quanto adultério! Quanto escuro incesto!
No seio do infinito. Quanta infâmia escondida à luz do dia!
Uma leitura comparativa dos excertos permite afirmar que os dois Canto VI
eu líricos
a) sentem-se imperturbados pelo sentimento amoroso não XXXVII
correspondido. Copiosa multidão da nau francesa
b) realizam o amor na sua plenitude justamente porque sofrem com Corre a ver o espetáculo, assombrada;
ele. E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
c) censuram o descaso com que é tratado seu sentimento Pasma da turba feminil, que nada.
amoroso. Uma, que às mais precede em gentileza,
d) externam prazer quanto ao sentimento amoroso que despertam. Não vinha menos bela do que irada;
e) sentem-se satisfeitos com o sofrimento amoroso apesar da dor. Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
Questão 06 (Upe-ssa 1 2017)
Leia atentamente os textos verbais e não verbais a seguir. XXXVIII
— “Bárbaro (a bela diz:) tigre e não homem...
Texto 1 Porém o tigre, por cruel que brame,
Meus Oito Anos Acha forças no amor que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Oh! que saudades que eu tenho Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Da aurora de minha vida. Como não consumis aquele infame?
De minha infância querida Mas apagar tanto amor com tédio e asco...
Que os anos não trazem mais! Ah que corisco és tu... raio... penhasco?
Que amor, que sonhos, que flores, (...)
Naquelas tardes fagueiras José de Santa Rita Durão
À sombra das bananeiras,
Da rua de Santo Antônio Texto 5
Debaixo dos laranjais
Casimiro de Abreu
Texto 2
Meus Oito Anos
Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra!
Da rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
Oswald de Andrade
Texto 3
Achava o céu sempre lindo, / Adormecia sorrindo / E despertava a Que por minha tristeza te definhas!
cantar!
d) Minh’alma é triste como a flor que morre / Pendida à beira do De meu pai!... de meus únicos amigos,
riacho ingrato; / Nem beijos dá-lhe a viração que corre, / Nem doce Poucos - bem poucos - e que não zombavam
canto o sabiá do mato! Quando, em noite de febre endoudecido,
e) Tu, ontem, / Na dança / Que cansa, / Voavas / Co’as faces/ Em Minhas pálidas crenças duvidaram.
rosas / Formosas / De vivo, / Lascivo / Carmim; / Na valsa / Tão
falsa, / Corrias, / Fugias, / Ardente, / Contente,/ Tranquila, / Serena, Este trecho é de Álvares de Azevedo, famoso poeta romântico
/ Sem pena / De mim! brasileiro. Qual das características a seguir NÃO se encontra no
poema?
O “Adeus” de Teresa
pela mais profunda das violências foi a escravidão, que encontrou Das bandas de onde o sol vem;
em Castro Alves um adversário de peso, como mostram seus Esta terra é mais bonita.
poemas marcados Mas à outra eu quero bem.”
a) pelo tom oratório e pela retórica inflamada. ALVES, C. Poesias completas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995
b) por uma linguagem sensível e insinuante. (fragmento).
c) pela sátira combativa e pelas teses naturalistas.
d) pelo romantismo típico da primeira geração. TEXTO lI
e) pelo desencanto e pela melancolia de sua geração.
No caso da Literatura Brasileira, se é verdade que prevalecem as
Questão 05 reformas radicais, elas têm acontecido mais no âmbito de
A CRUZ DA ESTRADA movimentos literários do que de gerações literárias. A poesia de
Castro Alves em relação à de Gonçalves Dias não é a de negação
Caminheiro que passas pela estrada, radical, mas de superação, dentro do mesmo espírito romântico.
Seguindo pelo rumo do sertão, MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
Quando vires a cruz abandonada, 2003 (fragmento)
Deixa-a em paz dormir na solidão.
O fragmento do poema de Castro Alves exemplifica a afirmação de
É de um escravo humilde sepultura, João Cabral de Melo Neto porque
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz. a) exalta o nacionalismo, embora lhe imprima um fundo ideológico
Deixa-o dormir no leito de verdura, retórico.
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs. b) canta a paisagem local, no entanto, defende ideais do
liberalismo.
Dentre os braços da cruz, a parasita, c) mantém o canto saudosista da terra pátria, mas renova o tema
Num abraço de flores se prendeu. amoroso.
Chora orvalhos a grama, que palpita; d) explora a subjetividade do eu lírico, ainda que tematize a
Lhe acende o vaga-lume o facho seu. injustiça social.
e) inova na abordagem de aspecto social, mas mantém a visão
Caminheiro! Do escravo desgraçado lírica da terra pátria.
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado, Questão 07
Há pouco a liberdade o desposou. O Amor preside a vários poemas de Espumas flutuantes.
(ALVES, Castro. (1883) In: LAJOLO, Marisa & Considere estes dois fragmentos, em dois distintos momentos da
CAMPEDELLI, Samira (org.) "Literatura comentada". 2a ed. São poesia de Castro Alves:
Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 89-90.) I. E da alcova saía um cavalheiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Nesse fragmento do poema "A cruz da estrada", observa-se um Era eu... Era a pálida Teresa!
traço marcante da poesia romântica, que é II. Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
a) o egocentrismo exacerbado revelador das emoções do eu. Ao doudo afago de meus lábios mornos.
b) o nacionalismo expresso na origem histórica do nosso povo.
c) o envolvimento subjetivo dos elementos da natureza. Tais versos ilustram a seguinte característica da poesia de Castro
d) a evasão do eu para espaços distantes e exóticos. Alves:
e) a idealização da infância como uma época perfeita. a) a extremada idealização amorosa faz da amada um ser etéreo e
inatingível.
Questão 06 (Enem PPL 2012) b) o intimismo e a timidez levam o poeta a sugerir seu medo de
TEXTO I amar.
c) a virilidade e o erotismo convivem com a idealização amorosa.
A canção do africano d) a dimensão erótica é sobrepujada pela ternura e pela inclinação
platônica.
Lá na úmida senzala. e) o desejo amoroso, quando materializado, traz a culpa e o
Sentado na estreita sala, remorso.
Junto ao braseiro, no chão,
entoa o escravo o seu canto, Questão 08 (Ufsm 2015)
E ao cantar correm-lhe em pranto Poeticamente, o sal metaforiza o mar, as lágrimas, a força de viver.
Saudades do seu torrão... Castro Alves, em sua obra poética, lança mão desse recurso para
De um lado, uma negra escrava unir arte e crítica social.
Os olhos no filho crava, Observe os fragmentos:
Que tem no colo a embalar...
E à meia-voz lá responde Fragmento 1 – “A Canção do Africano”
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez p’ra não o escutar! Lá, na úmida senzala,
“Minha terra é lá bem longe, Sentado na estreita sala,
VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
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CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1
- O amor como redenção: a temática central está exatamente na José de Alencar, Senhora.
exaltação do amor como força purificadora, redentora.
Na impossibilidade desse amor se realizar, a morte surge como
"- O amor purifica e dá sempre um novo encanto ao prazer. Há solução, permitindo o encontro das almas no plano espiritual.
mulheres que amam toda a vida; e o seu coração, em vez de
gastar-se e envelhecer, remoça como natureza quando volta a “O dia se passou na cruel agonia que só compreendem aqueles
primavera." que ajoelhados à borda de um leito viram finar-se gradualmente
uma vida querida.
"- Tive força para sacrificar-lhes outrora o meu corpo virgem; hoje Quebrado de fadiga e vencido por uma vigília de tantas noites,
depois de cinco anos de infâmia, sinto que não teria a coragem de tinha insensivelmente adormecido, sentado como estava à beira da
profanar a castidade de minha alma. Não sei o que sou, sei que cama, com os lábios sobre a mão gelada de Lúcia e a testa
começo a viver, que ressuscitei agora. - disse Lúcia após sentir a apoiada no encosto do leito. O sono foi curto, povoado de sonhos
afeição de Paulo." horríveis; acordei sobressaltado e achei-me reclinado sobre o peito
José de Alencar, Lucíola de Lúcia, que se sentara de encontro às almofadas para suster
minha cabeça ao colo, como faria uma terna mãe com seu filho.
- Amor e morte: No Brasil, como já foi dito, todos os romancistas Mesmo adormecido ela me sorria, me falava, e cobria-me de
românticos elegeram o amor como tema central de suas obras, beijos:
com a afirmação da liberdade do indivíduo de escolher seu - Se soubesses que gozo supremo é para mim beijar-te neste
parceiro para a vida e de ser feliz através do amor. momento! Agora que o corpo está morto e a carne álgida, não
Numa sociedade patriarcal, porém, o casamento era, muitas vezes, sente nem a dor nem o prazer, é a minha alma só que te beija, que
arranjado, sendo ditado não pelo amor, mas pelos interesses se une à tua e se desprende parcela por parcela para embeber em
econômicos e sociais. teu seio.
Assim, estabelece-se um conflito que gira em torno de três E seus lábios ávidos devoravam-me o rosto de carícias,
elementos: o amor, o casamento e a família; exigindo dos heróis e bebendo o pranto que corria abundante de meus olhos:
heroínas a superação dos obstáculos postos à realização do amor Se alguma coisa me pudesse salvar ainda, seria esse bálsamo
pleno. celeste, meu amigo!
Eu soluçava como uma criança.
Em Senhora, José de Alencar divide a obra em quatro partes: O - Beija-me também, Paulo. Beija-me como beijarás um dia tua
Preço, Quitação, Posse e Resgate. Essa divisão já aponta o noiva! Oh! agora posso te confessar sem receio. Nesta hora não se
caráter comercial que a sociedade atribuía ao casamento e contra mente. Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por
o qual Aurélia Camargo vai se impor: séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora
que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento
“Convencida de que todos os seus inúmeros apaixonados, sem por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as
exceção de um, a pretendiam unicamente pela riqueza, Aurélia afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda
reagia contra essa afronta, aplicando a esses indivíduos o mesmo a eternidade.”
estalão. José de Alencar, Lucíola
Assim costumava ela indicar o merecimento relativo de cada um
dos pretendentes, dando-lhes certo valor monetário. Em linguagem - Lealdade: o herói romântico é leal, fiel aos seus valores, à
financeira, Aurélia contava os seus adoradores pelo preço que família, ao amor. Inserido numa visão maniqueísta da vida, o
razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial.” homem ou nasce bom ou nasce mau e assim se conserva durante
toda a vida. Assim os personagens românticos são personagens
A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e planos, assumindo uma mesma linha de conduta durante sua
aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio, e que parecia trajetória.
ringir-lhe nos lábios como aço.
— Aurélia! Que significa isto? O ROMANCE URBANO
— Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos Muitos críticos apontam a obra O filho do pescador, de Teixeira e
o nosso papel com perícia consumada. Sousa, em 1843, como o primeiro romance brasileiro. Mas foi com
Podemos ter esse orgulho, que os melhores atores não nos A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, no ano seguinte,
excederiam. Mas é tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, que a cultura do folhetim se estabeleceu.
com que nos estamos escarnecendo mutuamente, senhor. O romance urbano procura traçar um perfil do burguês, geralmente
Entretemos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se vivendo no espaço da Corte, a cidade do Rio de Janeiro, sede da
cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem monarquia brasileira. Os enredos basicamente tratam de aventuras
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
amorosas e amores impossíveis, registrando os interesses, o nos legou, mas procurará abrasileirar o português em seus textos,
comportamento, os costumes e os valores da burguesia brasileira o que é talvez uma de suas mais importantes características de
do século XIX, sob uma perspectiva predominantemente otimista e estilo.
idealizada.
No entanto, as obras não funcionam, apenas, como espelho da O Romance Urbano de José de Alencar
sociedade burguesa em ascensão, que ansiava por se ver Alencar publicou um total de nove romances e novelas
representada positivamente. Muitas vezes, funcionavam, também, ambientadas no espaço urbano da Corte. Dessas, quatro foram
como um manual de boas maneiras, ora apontando valores e classificadas por ele como obras de “perfil de mulher” (A viuvinha,
comportamentos considerados positivos e importantes para o Lucíola, Diva e Senhora). Completam o conjunto: Cinco minutos, A
desenvolvimento de uma sociedade em formação, ora criticando pata da gazela, Sonhos d’ouro, Encarnação e Escabiosa.
valores e comportamentos considerados negativos. Assim como Macedo, e até superando-o, José de Alencar foi capaz
reconstituir cuidadosamente a vida social da burguesia de seu
Joaquim Manuel de Macedo tempo, registrando com detalhes a moda, as danças, os saraus
Principais obras: A moreninha. (1844); O moço loiro. (1845); A familiares, as recepções, as regras sociais, a linguagem.
luneta mágica. (1869). O núcleo temático, como era comum, gira em torno do problema do
Macedo publicou A Moreninha, seu livro de estreia e, até hoje, sua amor, ou do amor impossível, sendo a mulher o foco de interesse
mais lembrada obra, em 1844. A partir daí, publicou mais de vinte em torno do qual se desenvolvem os problemas econômicos e
livros, permanecendo por muito tempo como o autor mais lido e morais, uma vez que o casamento era a base da estrutura social,
querido pelo público. No entanto, ao final de sua carreira, perdeu servindo muitas vezes como forma de ascensão social.
seu prestígio e morreu esquecido e na pobreza. Inspiradas por uma visão idealizada do amor, as heroínas de
A maior qualidade de Macedo, como romancista, foi a capacidade Alencar protestam contra o casamento por conveniência,
de retratar com objetividade e com riqueza de detalhes aspectos construindo a tese segundo a qual o Amor (e não o dinheiro) devia
do mundo real e pequenos pormenores da vida familiar da classe ser a mola mestra da sociedade.
média brasileira do seu tempo.
Seus personagens são colhidos no quotidiano da classe média: MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA
negociantes, caixeiros, políticos, funcionários públicos, donas de Memórias de um sargento de milícias
casa, estudantes. Seus heróis são superficiais, convencionais; as
demais personagens são tipos caricaturais. O núcleo central de
suas obras, como no romantismo de uma maneira geral, é o
“problema do amor”, ou o amor impossível, com o casal de
mocinhos precisando enfrentar alguma dificuldade à realização do
amor e, consequentemente, do casamento.
Assim, Macedo, pelo fato de constantemente se limitar a
transcrever o que via e vivia na sociedade em que estava inserido,
atuou como uma espécie de cronista, registrando os usos e
costumes da sua época.
José de Alencar
Principais obras: O guarani. (1857); Cinco Minutos. Viuvinha. Memórias de um Sargento de Milícias, único romance de Manuel
(1860); Lucíola. (1862); Iracema. (1865); As minas de Prata. Antônio de Almeida, foi publicado no final de 1852 e no início de
(1865); Til. (1872); Ubirajara. (1874); Senhora. (1875); O sertanejo. 1853 sob a forma de folhetins.
(1876). O romance tem características que contrastam com os romances
românticos de sua época e apresentas traços que anunciam a
literatura modernista do século XX: primeiro, por ter como
protagonista um herói malandro (Leonardo é o primeiro malandro
da literatura brasileira), ou um “anti-herói”, de acordo com alguns
críticos; segundo, pelo tipo especial de nacionalismo que
apresenta, ao retratar traços específicos da sociedade brasileira do
tempo do rei D. João VI, com seus costumes, os comportamentos
e os tipos sociais de uma classe média baixa, até então ignorada
pela literatura; terceiro, pelo tom de crônica que dá leveza e
aproxima da fala sua linguagem direta, coloquial, irônica e próxima
do estilo jornalístico.
Identidade Nacional Trecho I
Em um momento em que é necessário estabelecer e afirmar a “Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe
identidade brasileira, José de Alencar toma para si a tarefa de fazer em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao
isso no âmbito literário. Seus romances pretendem apresentar os Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem,
aspectos que o autor distingue em nossa realidade e exaltar as alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia,
virtudes do país e de seu povo. De fato, Alencar vai se encarregar como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no
da tarefa com tamanho empenho que não se contentará em usar a mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça,
língua portuguesa "clássica", aquela que o colonizador português
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Aula 15 - Romantismo No Brasil – Prosa
quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota. O Dentre as afirmativas seguintes, assinale aquela que NÃO
Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua corresponde às tendências do "romance romântico":
mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do a) As obras românticas conhecidas como romance de "folhetins"
Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo caracterizaram-se pelo tom "água-com-açúcar", pela presença de
fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado elementos pitorescos e pela superficialidade de seus conflitos.
sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, b) As narrativas ambientadas na cidade foram rotuladas como
como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do "romances urbanos", sendo ainda conhecidas como obras de
gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão "perfis de mulher", por privilegiar as personagens femininas e seus
nas costas da mão esquerda. pequenos conflitos psicológicos.
Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: c) A narrativa romântica de caráter "regionalista" tematizou, de
levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se forma idealizada, a vida e os costumes do "brasileiro" do interior.
a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem d) O romance "indianista" enfatizou nossa "cor local" ao retratar as
desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois lendas, os costumes e a linguagem do índio brasileiro, acentuando
amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos ainda mais o cunho nacionalista do Romantismo.
anos. e) O romance romântico caracterizou-se por uma visão crítica da
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: sociedade, por apresentar personagens esféricos e por romperem
foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se com a idealização do índio construída por poetas como Gonçalves
claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois Dias.
teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de
comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o Questão 02 (PUC-RIO)
qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem Sobretudo compreendam os críticos a missão dos poetas,
largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que escritores e artistas, nesse período especial e ambíguo da
temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem formação de uma nacionalidade. São estes os operários
falamos é o herói desta história.” incumbidos de polir o talhe e as feições da individualidade que se
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de vai esboçando no viver do povo. (...) E de quanta valia não é o
milícias modesto serviço de desbastar o idioma novo das impurezas que
lhe ficaram na refusão do idioma velho com outras línguas? Ele
Trecho II prepara a matéria, bronze ou mármore, para os grandes escultores
“Afinal de contas a Maria sempre era saloia, e o Leonardo da palavra que erigem os monumentos literários da pátria.
começava a arrepender-se seriamente de tudo que tinha feito por (José de Alencar. "Benção paterna". In Sonhos D'Ouro.
ela e com ela. E tinha razão, porque, digamos depressa e sem Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1960, v. 1,
mais cerimônias, havia ele desde certo tempo concebido fundadas pp. 699-700)
suspeitas de que era atraiçoado. Havia alguns meses atrás tinha
notado que um certo sargento passava-lhe muitas vezes pela O texto de José de Alencar, redigido em 1872, destaca um dos
porta, e enfiava olhares curiosos através das rótulas: uma ocasião, aspectos da formação da nacionalidade brasileira em meados do
recolhendo-se, parecera-lhe que o vira encostado à janela. Isto século XIX.
porém passou sem mais novidade. Com base em seus conhecimentos e nas informações contidas no
Depois começou a estranhar que um certo colega seu o texto, analise as afirmativas a seguir.
procurasse em casa, para tratar de negócios do oficio, sempre em I - José de Alencar foi, entre os escritores associados ao
horas desencontradas: porém isto também passou em breve. Romantismo, um dos que por meio de sua obra buscaram construir
Finalmente aconteceu-lhe por três ou quatro vezes esbarrar-se e divulgar valores de uma identidade nacional brasileira, em
junto de casa com o capitão do navio em que tinha vindo de meados do século XIX.
Lisboa, e isto causou-lhe sérios cuidados. Um dia de manhã entrou II - A formação da nacionalidade brasileira impunha a existência de
sem ser esperado pela porta adentro; alguém que estava na sala um "idioma novo", diferente do "idioma velho" - a língua dos antigos
abriu precipitadamente a janela, saltou por ela para a rua, e colonizadores portugueses.
desapareceu. III - Para os escritores românticos, como José de Alencar, a
À vista disto nada havia a duvidar: o pobre homem perdeu, como pintura, o teatro e a música eram artes menores, que pouco ou
se costuma dizer, as estribeiras; ficou cego de ciúme. Largou nada contribuíam para a formação da nacionalidade brasileira.
apressado sobre um banco uns autos que trazia embaixo do braço, IV - Romances como "O Guarani" de José de Alencar tinham o
e endireitou para a Maria com os punhos cerrados.” índio e a natureza tropical como temas, no intuito de afirmar a
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de originalidade e a individualidade da nova nação americana.
milícias Assinale a alternativa correta.
O comentário do crítico Antonio Candido refere-se ao escritor As janelas e portas gradeadas com treliças não eram cadeias
a) Raul Pompeia. confessas, positivas; mas eram, pelo aspecto e pelo seu destino,
grande gaiolas, onde os pais e maridos zelavam, sonegadas à – que, além do mais, está escrito em tom humorístico.
sociedade, as filhas e as esposas.
MACEDO, J.M. “Memória da Rua do Ouvidor [1878]”. Disponível Quais estão corretas?
em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 maio 2013 a) Apenas I.
(adaptado). b) Apenas II.
c) Apenas III.
A representação social do feminino comum aos dois textos é o(a) d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
a) submissão de gênero, apoiada pela concepção patriarcal de
família. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
b) acesso aos produtos de beleza, decorrência da abertura dos
portos. Questão 01
c) ampliação do espaço de entretenimento, voltado às distintas Assinale a alternativa correta.
classes sociais.
d) proteção da honra, medida pela disputa masculina em relação José de Alencar, na variedade de romances que escreveu
às damas da corte. (urbanos, indianistas, de costumes, históricos, perfis de mulher),
e) valorização do casamento cristão, respaldado pelos interesses pretendia construir:
vinculados à herança. a) o novo romance brasileiro.
b) uma descrição da capacidade criativa do escritor brasileiro.
Questão 07 (Faculdade Albert Einstein 2016) c) uma oposição ao romance brasileiro sem qualidade literária que
Era no tempo do rei. o precedeu.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da d) uma obra romanesca com os aspectos fundamentais da vida
Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo – O brasileira.
Canto dos Meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí e) uma história indianista do Brasil.
o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe
(que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos Questão 02 (ENEM 2012)
de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu biografo, Lira Neto.
tempo do rei: esses eram gente temível e temida, respeitável e Ou, ainda, “um romancista que colecionava desafetos, azucrinava
respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia D. Pedro II e acabou inventando o Brasil”. Assim era José de
judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a Alencar (1829-1877), o conhecido autor de O guarani e Iracema,
demanda era entre nós e um elemento da vida: o extremo oposto tido como o pai do romance no Brasil. Alem de criar clássicos da
eram os desembargadores (...). literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e históricos,
ele foi também folhetinista, diretor de jornal, autor de pecas de
O trecho acima inicia o romance Memórias de um Sargento de teatro, advogado, deputado federal e ate ministro da Justiça. Para
Milícias, escrito em forma de folhetim entre 1852 e 1853 por ajudar na descoberta das múltiplas facetas desse personagem do
Manoel Antônio de Almeida. Deste romance como um todo, é século XIX, parte de seu acervo inédito será digitalizada.
correto afirmar que Historia Viva, n.° 99, 2011.
a) reveste-se de comicidade, na linha do pitoresco, e desenvolve
sátira saborosa aos costumes da época, que atinge todas as Com base no texto, que trata do papel do escritor José de Alencar
camadas sociais, em particular os políticos e os poderosos. e da futura digitalização de sua obra, depreende-se que
b) apresenta personagem feminina, Luisinha, cuja descrição fere a a) a digitalização dos textos e importante para que os leitores
caracterização sempre idealizada do perfil de mulher dentro da possam compreender seus romances.
estética romântica. b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante porque
c) caracteriza um romance histórico que pretende narrar fatos de deixou uma vasta obra literária com temática atemporal.
tonalidade épica e heroica da vida brasileira, ambientados no c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da
tempo do rei e vividos por seus principais protagonistas. digitalização, demonstra sua importância para a história do Brasil
d) configura personagens populares que, pela primeira vez, Imperial.
comparecem no romance brasileiro e que se tornam responsáveis d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante
pelo desprestígio da literatura brasileira junto ao público leitor da papel na preservação da memória linguística e da identidade
época. nacional.
e) o grande romancista José de Alencar é importante porque se
Questão 08 (Ufrgs 2014) destacou por sua temática indianista.
Considere as seguintes afirmações sobre o romance Memórias de
um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Questão 03 (Unifesp 2013)
I. O romance está integrado à estética romântica: o protagonista, TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES
Leonardo, é um herói nacional virtuoso e sem desvios de caráter.
II. O livro é narrado em primeira pessoa por Leonardo: trata-se de Um sarau é o bocado mais delicioso que temos, de telhado abaixo.
suas memórias desde o abandono da terra natal – Lisboa – até a Em um sarau todo o mundo tem que fazer. O diplomata ajusta,
nomeação como Sargento de Milícias no Rio de Janeiro. com um copo de champagne na mão, os mais intrincados
III. Personagens como o compadre, a comadre e a vizinha são negócios; todos murmuram, e não há quem deixe de ser
representantes da classe popular – a base constitutiva do romance murmurado. O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do
seu tempo, e o moço goza todos os regalos da sua época; as c) o diplomata é perspicaz; o velho, saudosista; os rapazes
moças são no sarau como as estrelas no céu; estão no seu usufruem prazerosamente a vida; e as moças encantam a todos.
elemento: aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa d) o diplomata é trapaceiro; o velho, desencantado; os rapazes
nas asas dos aplausos, por entre os quais surde, às vezes, um usufruem a vida de modo fútil; e as moças investem tão-somente
bravíssimo inopinado, que solta de lá da sala do jogo o parceiro na beleza exterior.
que acaba de ganhar sua partida no écarté, mesmo na ocasião em e) o diplomata é esperto; o velho, avançado; os rapazes usufruem
que a moça se espicha completamente, desafinando um sustenido; a vida com parcimônia; e as moças vivem de devaneios.
daí a pouco vão outras, pelos braços de seus pares, se deslizando
pela sala e marchando em seu passeio, mais a compasso que Questão 06 (Unifesp 2013)
qualquer de nossos batalhões da Guarda Nacional, ao mesmo Assinale a alternativa em que a eliminação do pronome em
tempo que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem destaque implica, contextualmente, mudança do agente da ação
olhaduras e risadinhas apreciáveis. Outras criticam de uma verbal.
gorducha vovó, que ensaca nos bolsos meia bandeja de doces que a) Ali vê-se um ataviado dandy [...].
veio para o chá, e que ela leva aos pequenos que, diz, lhe ficaram b) [...] aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas
em casa. Ali vê-se um ataviado dandy que dirige mil finezas a uma asas dos aplausos [...].
senhora idosa, tendo os olhos pregados na sinhá, que senta-se ao c) O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do seu tempo
lado. Finalmente, no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, [...].
porque, para alguns é regra, durante ele, pensar pelos pés e falar d) [...] mesmo na ocasião em que a moça se espicha
pelos olhos. completamente [...].
E o mais é que nós estamos num sarau. Inúmeros batéis e) [...] daí a pouco vão outras, pelos braços de seus pares, se
conduziram da corte para a ilha de... senhoras e senhores, deslizando pela sala [...].
recomendáveis por caráter e qualidades; alegre, numerosa e
escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e mostra em Questão 07 (Uneb 2014)
toda a parte borbulhar o prazer e o bom gosto. I.
Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que com aturado Chegou no verão, em janeiro, quando soube que Geraldo
empenho se esforçam para ver qual delas vence em graças, cancelara o contrato de locação da casa, nos Barris. Primeiro, e
encantos e donaires, certo sobrepuja a travessa Moreninha, logo que se deu a Geraldo como uma escrava, foi o Jardim da
princesa daquela festa. Piedade com a casa tão perto da igreja que acordava com o sino
(Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha, 1997.) batendo forte todas as manhãs. O Campo Grande, a seguir, lugar
de grandes árvores e muitos pássaros. Depois, o prédio magro de
A forma como se dá a construção do texto revela que ele é três andares na ruazinha da ladeira, no Rio Vermelho, onde
predominantemente permaneceria os últimos quinze anos ao lado do mar e de Geraldo.
a) dissertativo, com o objetivo de analisar criticamente o que é um E dali, após vender os móveis para apurar um pouco mais de
sarau. dinheiro, dali saiu enxotada para o Bângala.
b) descritivo, com o objetivo de mostrar o sarau como uma festa FILHO, Adonias. O Largo da Palma. Novelas. Rio de Janeiro:
fútil e sem atrativos. Civilização Brasileira, 1981. p. 29.
c) narrativo, com o objetivo de contar fatos inusitados ocorridos em
um sarau. II.
d) descritivo, com o objetivo de apresentar as características de um No momento de ajoelhar aos pés do celebrante, e de pronunciar o
sarau. voto perpétuo que a ligava ao destino do homem por ela escolhido,
e) dissertativo, com o objetivo de relatar as experiências humanas Aurélia, com o decoro que revestia seus menores gestos e
em um sarau. movimentos, curvara a fronte, envolvendo-se pudicamente nas
sombras diáfanas dos cândidos véus de noiva.
Questão 04 (Unifesp 2013) Malgrado seu, porém, o contentamento que lhe enchia o coração e
Levando em conta o contexto em que floresceu a literatura estava a borbotar nos olhos cintilantes e nos lábios aljofrados de
romântica, as informações textuais refletem, com sorrisos, erigia-lhe aquela fronte gentil, cingida nesse instante por
a) ufanismo, uma vida social de bem-aventurança. uma auréola de júbilo.
b) desprezo, a cultura de uma sociedade poderosa. No altivo realce da cabeça e no enlevo das feições cuja formosura
c) entusiasmo, uma sociedade frívola e hipócrita. se toucava de lumes esplêndidos, estava-se debuxando a soberba
d) nostalgia, os valores de uma sociedade decadente. expressão do triunfo, que exalta a mulher quando consegue a
e) amenidade, uma visão otimista da realidade social. realidade de um desejo férvido e longamente ansiado.
ALENCAR, José de. Senhora: perfil de mulher. 2. ed. São Paulo:
Questão 05 (Unifesp 2013) FTD, 1993. p. 73.
Considerando os papéis desempenhados pelas personagens no
texto, percebe-se que O texto II faz parte do romance Senhora, de José de Alencar, obra
a) o diplomata é oportunista; o velho, conservador; os rapazes representativa do Romantismo no Brasil.
usufruem exageradamente os prazeres da vida; e as moças são Comparando-o com o texto I, inserido na narrativa O Largo da
frívolas. Palma, sobre as figuras femininas em foco está correto o que se
b) o diplomata é astuto; o velho, intimista; os rapazes usufruem a afirma na alternativa
vida dentro de suas possibilidades; e as moças vivem de sonhos. a) Os perfis de Aurélia e Eliane atendem ao gosto estético
romântico.
b) Aurélia e Eliane são enfocadas como estereótipos da mulher pela seriedade, ciência e consciência técnica e artesanal com que
presa a convenções sociais. a escreveu, mas também pelas sugestões e soluções que
c) Aurélia e Eliane são personagens — cada uma em sua época — ofereceu, facilitando a tarefa da nacionalização da literatura no
representativas de um ideal de mulher a ser atingido. Brasil e da consolidação do romance brasileiro, do qual foi o
d) Os textos, embora se enquadrem em épocas literárias distintas, verdadeiro criador. Sendo a primeira figura das nossas letras, foi
apresentam o ser feminino como vítima de um destino previamente chamado “o patriarca da literatura brasileira”.”
traçado. No texto acima, Alencar comenta críticas feitas ao seu estilo e
e) Aurélia é apresentada sob uma perspectiva de idealização; já observa que:
Eliane é mostrada como uma mulher carente, que se frustra nas a) o cuidado com a forma deve ser uma preocupação menor, pois
relações amorosas. a reprodução do belo faz parte da alçada das artes plásticas e não
da literatura.
Questão 08 (Enem PPL 2013) b) a língua de um povo é reflexo imediato de sua cultura e que a
— Ora dizeis, não é verdade? Pois o Sr. Lúcio queria esse cravo, língua portuguesa, no Brasil, passa por um processo de
mas vós lho não podíeis dar, porque o velho militar não tirava os diferenciação motivada pela distância de Portugal.
olhos de vós; ora, conversando com o Sr. Lúcio, acordastes ambos c) com seu estilo, procura contribuir com a criação de uma nova
que ele iria esperar um instante no jardim... língua, que, apesar de gramaticalmente incorreta, procura revelar o
MACEDO, J. M. A moreninha. Disponível em: belo através de um estilo plástico.
www.dominiopublico.com.br. Acesso em: 17 abr. 2010 (fragmento). d) assim como ocorreu com outros idiomas, a língua portuguesa
falada no Brasil passará por uma transformação completa graças à
O trecho faz parte do romance A moreninha, de Joaquim Manuel emancipação política.
de Macedo. Nessa parte do romance, há um diálogo entre dois e) para que a língua portuguesa falada no Brasil reflita nossa
personagens. A fala transcrita revela um falante que utiliza uma cultura, é preciso que ela despreze convenções gramaticais e
linguagem preocupações com o estilo.
a) informal, com estruturas e léxico coloquiais.
b) regional, com termos característicos de uma região. Questão 10 (Upf 2016)
c) técnica, com termos de áreas específicas. Considere as afirmações a seguir em relação ao romance Senhora,
d) culta, com domínio da norma padrão. de José de Alencar.
e) lírica, com expressões e termos empregados em sentido I. A crítica aos valores da burguesia, desenvolvida a partir do mote
figurado. da “compra” de um marido, aproxima a obra do Realismo literário.
II. Os trajes suntuosos e os modos aristocráticos que pautam a
Questão 09 vida nos salões, e que tanto seduzem o jovem Seixas, são
Texto reprovados de forma ostensiva e continuada pelo narrador, ao
longo do texto.
Minhas opiniões em matéria de gramática têm-me valido a III. A vitória das “razões do coração” sobre o poder do dinheiro, que
reputação de inovador, quando não é a pecha de escritor incorreto se verifica no desfecho da narrativa, demonstra a sobrevivência da
e descuidado. visão de mundo romântica do autor.
Entretanto, poucos darão mais, se não tanta importância à
forma do que eu; pois entendo que o estilo é também uma arte Está correto o que se afirma em:
plástica, por ventura muito superior a qualquer das outras a) I apenas.
destinadas à revelação do belo. Como se explica, portanto, essa b) II apenas.
contradição? [...] c) I e II apenas.
Que a tendência, não para a formação de uma nova língua, mas d) I e III apenas.
para a transformação profunda do idioma de Portugal, existe no e) I, II e III.
Brasil, é fato incontestável. [...]
A revolução é irresistível e fatal, como a que transformou o Questão 11 (Ufba 2010)
persa em grego e céltico, o etrusco em latim, e o romano em O Lemos não estava a gosto; tinha perdido aquela jovialidade
francês, italiano, etc.; há de ser larga e profunda, como a saltitante, que lhe dava um gracioso ar de pipoca. Na gravidade
imensidade dos mares que separa os dois mundos a que desusada dessa conferência, ele, homem experiente e sagaz,
pertencemos. entrevia sérias complicações.Assim era todo ouvidos, atento às
Quando povos de uma raça habitam a mesma região, a palavras da moça.
independência política só por si forma sua individualidade. Mas se — Tomei a liberdade de incomodá-lo, meu tio, para falar-lhe de
esses povos vivem em continentes distintos, sob climas diferentes, objeto muito importante para mim.
não se rompem unicamente os vínculos políticos, opera-se, — Ah! muito importante?... repetiu o velho batendo a cabeça.
também, a separação nas ideias, nos sentimentos, nos costumes, — De meu casamento! disse Aurélia com a maior frieza e
e, portanto, na língua, que é a expressão desses fatos morais e serenidade. [...]
sociais. — Já sei! Deseja que eu aponte alguém... Que eu lhe procure um
(ALENCAR, José de. Pós-Escrito à 2 edição de Iracema. OBRA noivo nas condições precisas... Ham!... É difícil... um sujeito no
COMPLETA. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1958. pp.312/314) caso de pretender uma moça como você, Aurélia? Enfim há de se
fazer a diligência!
Sobre José de Alencar, diz o site da Academia Brasileira de Letras: — Não precisa, meu tio. Já o achei! [...]
“Sua obra é da mais alta significação nas letras brasileiras, não só — Sr. Lemos, disse a moça pausadamente e transpassando com
do agregado, e que afinal não era senão vida de enjeitado, que o teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de
leitor sem dúvida já adivinhou que ele o era. A troco disso dava-lhe comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o
o mestre sustento e morada, e pagava-se do que por ele tinha já qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem
feito. largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que
_____________________ temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem
(*) fâmulo: empregado, criado falamos é o 1herói desta história.
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de
milícias) ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. 3. ed. São
Paulo: FTD, 1996. p. 16-17.
Neste excerto, mostra-se que o compadre provinha de uma
situação de família irregular e ambígua. No contexto do livro, as Com base no trecho acima e no romance Memórias de um
situações desse tipo Sargento de Milícias e levando em consideração o contexto do
a) caracterizam os costumes dos brasileiros, por oposição aos dos Romantismo brasileiro, marque a(s) proposição(ões)
imigrantes portugueses. CORRETA(S).
b) são apresentadas como conseqüência da intensa mestiçagem 01) O namoro entre Leonardo e Maria respeita os cânones do amor
racial, própria da colonização. romântico, que é puro, ingênuo e até infantil.
c) contrastam com os rígidos padrões morais dominantes no Rio de 02) Leonardo-Pataca, o pai, emprega-se no Brasil como meirinho,
Janeiro oitocentista. profissão que lhe vale o respeito de Maria e que, por duas vezes,
d) ocorrem com freqüência no grupo social mais amplamente impede que ele seja preso pelo major Vidigal.
representado. 04) Mesmo pertencendo temporalmente ao Romantismo brasileiro,
e) começam a ser corrigidas pela doutrina e pelos exemplos do Memórias de um Sargento de Milícias apresenta várias
clero católico. características que o diferenciam de outros romances urbanos do
período, como o fato de a obra enfocar o cotidiano da classe baixa.
Questão 14 (Fuvest) 08) Já ao nascer, Leonardo é chamado pelo narrador de “herói”
Um traço de estilo, presente no excerto, também se encontrará nas (ref. 1), o que prenuncia importantes características que marcarão
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, onde mais tarde o caráter desse personagem: nobreza, coragem e alto
assumirá aspectos de provocação e acinte. Trata-se valor moral.
a) das referências diretas ao leitor e ao andamento da própria 16) A relação entre Maria e Leonardo é marcada por sucessivas
narração. traições do marido à esposa. Por fim, Maria foge com o capitão de
b) do uso predominante da descrição, que confere maior realismo um navio, levando consigo o filho do casal.
ao relato. 32) Nas referências 2, 3 e 4, observa-se a anteposição de uma
c) do emprego de adjetivação abundante e variada, que dá feição vírgula à conjunção “e”. Segundo as regras atuais de pontuação,
opinativa à narração. essas vírgulas poderiam ser omitidas, porque em cada caso o
d) da paródia dos clichês românticos anteriormente utilizados por sujeito da oração introduzida por “e” é o mesmo da oração anterior.
José de Alencar e Álvares de Azevedo.
e) da narração em primeira pessoa, realizada por um narrador-
personagem, que participa dos eventos narrados.
Pará e Amazonas, que não me são de todo desconhecidos; Ceará, Assim, pois, três graus na matéria romanesca, determinados pelo
torrão do meu nascimento; todo o Norte enfim, se Deus ajudar, virá espaço em que se desenvolve a narrativa: cidade, campo, selva;
a figurar nestes escritos, que não se destinam a alcançar outro fim ou, por outra, vida urbana, vida rural, vida primitiva. A figura
senão mostrar aos que não a conhecem, ou por falso juízo a dominante do período, José de Alencar, passou pelos três e nos
desprezam, a rica mina das tradições e crônicas das nossas três deixou boas obras: Lucíola, O sertanejo, Iracema. E é esse
províncias setentrionais. caráter de exploração e levantamento – não apenas em sua obra,
mas na dos outros – que dá a ficção romântica importância capital
As letras têm, como a política, um certo caráter geográfico; mais no como tomada de consciência da realidade brasileira no plano da
Norte, porém, do que no Sul abundam os elementos para a arte: verdadeira consecução do ideal de Nacionalismo literário,
proclamado pela Niterói.
VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
Por isso mesmo, o nosso romance tem fome de espaço e uma Texto Crítico
ânsia topográfica de apalpar todo o país. “A tendência universal do Romantismo, de remexer no passado
Antonio Candido, Formação da Literatura Brasileira nacional, de rebuscar nos escombros medievais o que de melhor aí
ficara da alma e da tradição de cada povo, encontraria no Brasil a
Trecho I melhor receptividade, pois um dos nossos problemas era o de
“Antes de sair da sala, deteve Pereira o hóspede com ar de quem afirmar frente a Portugal o espírito nacional brasileiro, graças ao
precisava ticar em assunto de gravidade e ao mesmo tempo de qual queríamos ser independentes, não só do ponto de vista
difícil explicação. político, mas também do ponto de vista cultural. A nossa idade
Afinal começou meio hesitante: média, o mais recôndito e autêntico do nosso passado teria de ser,
- Sr. Cirino, eu cá sou homem muito bom de gênio, muito amigo de pelo menos poeticamente, a civilização primitiva, pré-cabralina.
todos, muito acomodado e que tenho o coração perto da boca, Seria através da valorização poética das raças primitivas no
como vosmecê deve ter visto... cenário grandioso da natureza americana que alcançaríamos
- Por certo, concordou o outro. aquele nível mínimo de orgulho nacional de que carecíamos para
- Pois bem, mas... tenho um grande defeito; sou muito desconfiado. uma classificação em face do europeu.”
Vai o doutor entrar no interior da minha casa e... deve portar-se Afrânio Coutinho, A Literatura no Brasil
como...
- Oh, Sr. Pereira! Atalhou Cirino com animação, mas sem grande Assim, tendo Alencar estudado os cronistas da Literatura de
estranheza, pois conhecia o zelo com que os homens do sertão Informação e a vida dos nossos selvagens, só aproveitaria o que
guardam da vista dos profanos os seus aposentos domésticos, fosse positivo e favorável ao índio. “
posso gabar-me de ter sido recebido no seio de muita família “José de Alencar criou, com base mais lendária do que histórica, o
honesta e sei proceder como devo.” mundo poético e heroico das nossas origens, para afirmar a nossa
nacionalidade, para provar a existência de nossas raízes
- Nocência tem 18 anos, é muito ariscazinha de modos, mas bonita legitimamente americanas.”.
e boa deveras... Coitada, foi criada sem mãe, e aqui nestes
fundões. Vai se casar, por determinação do pai, com Manecão Tanto As minas de prata como Iracema, como O guarani
Doca, um homem às direitas, desempenado e trabucador como ele apresentam um caráter mítico: seja o do Eldorado, o do tesouro
só... fura estes sertões todos e vem tangendo pontas de gado que escondido que atraiu para o interior do Brasil os aventureiros e
metem pasmo." bandeirantes que ampliariam o povoamento do espaço brasileiro,
seja o do Bom Selvagem, inspirado em Rousseau.
Inocência, Visconde de Taunay
Trecho II
"- Esta obrigação de casar as mulheres é o diacho!... Se não
tomam estado, ficam jururus e fanadinhas...; se casam, podem cair
nas mãos de algum marido malvado... E depois, as histórias! Hi,
meu Deus, mulheres numa casa é coisa de meter medo... São
redomas de vidro que tudo pode quebrar (...) O Manecão que se
aguente, quando a tiver por sua... Com gente de saia não há que
fiar... Cruz! botam famílias inteiras a perder, enquanto o demo
esfrega um olho."
- Eu repito, disse ele com calor, isto de mulheres, não há que fiar.
Bem faziam os nossos do tempo antigo. As raparigas andavam
direitinhas que nem um fuso...Uma piscadela de olho mais
duvidosa, era logo pau...Contaram-me que hoje lá nas
cidades...arrenego!...não há menina, por pobrezinha que seja, que
não saiba ler livros de forma a garatujar no papel...que deixe de ir a
fonçonatas com vestidos abertos na frente como raparigas fadistas
e que saracoteiam em danças e falam alto e mostram os dentes
por dá cá aquela palha com qualquer tafulão malcriado...[...]”
Inocência, Visconde de Taunay
a fronte; a pupila negra, móbil, cintilante; a boca forte mas bem Poeta primitivo, canta a natureza na mesma linguagem da
modelada e guarnecida de dentes alvos, davam ao rosto pouco natureza; ignorante do que se passa nele, vai procurar nas
oval a beleza inculta da graça, da força e da inteligência. imagens que tem diante dos olhos, a expressão do sentimento
Tinha a cabeça cingida por uma fita de couro, à qual se prendiam vago e confuso que lhe agita a alma.
do lado esquerdo duas plumas matizadas, que descrevendo uma Sua palavra é a que Deus escreveu com as letras que formam o
longa espiral, vinham rogar com as pontas negras o pescoço livro da criação; é a flor, o céu, a luz, a cor, o ar, o sol; sublimes
flexível. coisas que a natureza fez sorrindo.”
Era de alta estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil e O guarani, José de Alencar
nervosa, ornada com uma axorca de frutos amarelos, apoiava-se
sobre um pé pequeno, mas firme no andar e veloz na corrida. Trecho III
Segurava o arco e as flechas com a mão direita calda, e com a Prefácio de Ubirajara
esquerda mantinha verticalmente diante de si um longo forcado de Este livro é irmão de Iracema.
pau enegrecido pelo fogo. Chamei-lhe de lenda como ao outro. Nenhum título responde
Perto dele estava atirada ao chão uma clavina tauxiada, uma melhor pela propriedade, como pela modéstia, às tradições da
pequena bolsa de couro que devia conter munições, e uma rica pátria indígena.
faca flamenga, cujo uso foi depois proibido em Portugal e no Brasil. Quem por desfastio percorrer estas páginas, se não tiver estudado
Nesse instante erguia a cabeça e fitava os olhos numa sebe de com alma brasileira o berço de nossa nacionalidade, há de
folhas que se elevava a vinte passos de distancia, e se agitava estranhar em outras coisas a magnanimidade que ressumbra no
imperceptivelmente. drama selvagem a formar-lhe o vigoroso relevo.
Ali por entre a folhagem, distinguiam-se as ondulações felinas de Como admitir que bárbaros, quais nos pintaram os indígenas,
um dorso negro, brilhante, marchetado de pardo; às vezes viam-se brutos e canibais, antes feras que homens, fossem suscetíveis
brilhar na sombra dois raios vítreos e pálidos, que semelhavam os desses brios nativos que realçam a dignidade do rei da criação?
reflexos de alguma cristalização de rocha, ferida pela luz do sol. Os historiadores, cronistas e viajantes da primeira época, senão de
Era uma onça enorme; de garras apoiadas sobre um grosso ramo todo o período colonial, devem ser lidos à luz de uma crítica
de árvore, e pés suspensos no galho superior, encolhia o corpo, severa. É indispensável sobretudo escoimar os fatos comprovados,
preparando o salto gigantesco. das fábulas a que serviam de mote, e das apreciações a que os
Batia os flancos com a larga cauda, e movia a cabeça monstruosa, sujeitavam espíritos acanhados, por demais imbuídos de uma
como procurando uma aberta entre a folhagem para arremessar o intolerância ríspida.
pulo; uma espécie de riso sardônico e feroz contraia-lhe as negras Homens cultos, filhos de uma sociedade velha e curtida por longo
mandíbulas, e mostrava a linha de dentes amarelos; as ventas trato de séculos, queriam esses forasteiros achar nos indígenas de
dilatadas aspiravam fortemente e pareciam deleitar-se já com o um mundo novo e segregado da civilização universal uma perfeita
odor do sangue da vítima. conformidade de ideias e costumes.
O índio, sorrindo e indolentemente encostado ao tronco seco, não Não se lembravam, ou não sabiam, que eles mesmos provinham
perdia um só desses movimentos, e esperava o inimigo com a de bárbaros ainda mais ferozes e grosseiros do que os selvagens
calma e serenidade do homem que contempla uma cena americanos.
agradável: apenas a fixidade do olhar revelava um pensamento de Releva ainda notar que duas classes de homens forneciam
defesa. informações acerca dos indígenas: a dos missionários e a dos
aventureiros. Em luta uma com outra, ambas se achavam de
Álvaro fitou no índio um olhar admirado. Onde é que este selvagem acordo nesse ponto, de figurarem os selvagens como feras
sem cultura aprendera a poesia simples, mas graciosa; onde humanas. Os missionários encareciam assim a importância da sua
bebera a delicadeza de sensibilidade que dificilmente se encontra catequese; os aventureiros buscavam justificar-se da crueldade
num coração gasto pelo atrito da sociedade? com que tratavam os índios.
A cena que se desenrolava a seus olhos respondeu-lhe; a natureza José de Alencar
brasileira, tão rica e brilhante, era a imagem que produzia aquele
espírito virgem, como o espelho das águas reflete o azul do céu. Trecho IV
Quem conhece a vegetação de nossa terra desde a parasita Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte,
mimosa até o cedro gigante; quem no reino animal desce do tigre e nasceu Iracema.
do tapir, símbolos da ferocidade e da força, até o lindo beija-flor e o Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais
inseto dourado; quem olha este céu que passa do mais puro anil negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de
aos reflexos bronzeados que anunciam as grandes borrascas; palmeira.
quem viu, sob a verde pelúcia da relva esmaltada de flores que O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha
cobre as nossas várzeas deslizar mil répteis que levam a morte recendia no bosque como seu hálito perfumado.
num átomo de veneno, compreende o que Álvaro sentiu. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão
Com efeito, o que exprime essa cadeia que liga os dois extremos e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande
de tudo o que constitui a vida? Que quer dizer a força no ápice do nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a
poder aliada à fraqueza em todo o seu mimo; a beleza e a graça verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
sucedendo aos dramas terríveis e aos monstros repulsivos; a José de Alencar, Iracema
morte horrível a par da vida brilhante?
Não é isso a poesia? O homem que nasceu, embalou-se e cresceu Prosa Gótica
nesse berço perfumado; no meio de cenas tão diversas, entre o Álvares de Azevedo explorou em poesia e prosa o universo
eterno contraste do sorriso e da lágrima, da flor e do espinho, do macabro, pérfido, imoral da humanidade; e foi além, explorando,
mel e do veneno, não é um poeta?
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Aula 16 - Romantismo No Brasil – Prosa
quanto mais juízes de paz... E além disso, cada um faz o que sabe. A corrente romântica indianista, além da ficção de José de Alencar,
(BATEM) encontrou também alta expressão
Quem é? a) na poesia de feitio lírico ou épico, como nos cantos de
MANUEL JOÃO - (dentro) "Um criado de Vossa Senhoria. Gonçalves Dias.
JUIZ - Pode entrar. b) na crônica de costumes, como as frequentadas pelos
Martins Pena, O Juiz de Paz na roça missionários do século XVI.
c) no teatro popular, como o desenvolvido por Martins Pena.
Trecho II d) na épica de recorte clássico, como a concebeu Tomás Antônio
Sala com uma porta no fundo, duas à direita e duas à esquerda, Gonzaga.
uma mesa com o que é e) na crítica satírica, como a elaborada por Gregório de Matos.
necessário para escrever-se, cadeiras, etc.
Paulina e Fabiana. Paulina junto à porta da esquerda e Fabiana no Questão 02 (Puccamp 2016)
meio da sala; mostram-se enfurecidas. Para responder à(s) questão(ões) a seguir, considere o texto
PAULINA (batendo o pé) - Hei de mandar!... abaixo.
FABIANA (no mesmo) - Não há de mandar!...
PAULINA (no mesmo) - Hei-de e hei-de mandar!... Há no Romantismo nacional uma expressão evidente do culto da
FABIANA - Não há-de e não há- de mandar!... nacionalidade, o qual, tomado num sentido mais amplo, se
PAULINA - Eu lho mostrarei. (Sai.) manifesta também em lutas pela afirmação da liberdade política e
FABIANA - Ai que estalo! Isto assim não vai longe... Duas determina a exaltação de valores e tradições. Esse sentimento é
senhoras a mandarem em uma casa... é o inferno! Duas senhoras? tomado também nos seus aspectos sociais, sob o apanágio dos
A senhora aqui sou eu; esta casa é de meu marido, e ela deve direitos do homem livre, razão de ser do movimento abolicionista e
obedecer-me, porque é minha nora. Quer também dar ordens; isso matéria para o romance, para o teatro e para a poesia da época.
veremos... (Adaptado de: CANDIDO, Antonio e CASTELLO, José Aderaldo.
PAULINA (aparecendo à porta) - Hei de mandar e hei de mandar, Presença da Literatura Brasileira I. Das origens ao Romantismo.
tenho dito! (Sai.) São Paulo: DIFE, 1974, p. 207-208)
FABIANA (arrepelando-se de raiva) - Hum! Ora, eis aí está para
que se casou meu filho, e trouxe a mulher para minha casa. É isto A evidência do culto da nacionalidade de que fala o texto pode ser
constantemente. Não sabe o senhor meu filho que comprovada no projeto de um copioso autor romântico, investido
quem casa quer casa... Já não posso, não posso, não posso! de seu papel de escritor brasileiro. Nesse projeto,
(Batendo com o pé:) Um dia arrebento, e então veremos! (Tocam a) José de Alencar busca alcançar épocas, espaços e culturas
dentro rabeca.) Ai, que lá está o outro com a maldita rabeca... É o distintas da nossa história.
que se vê: casa-se meu filho e traz a mulher para minha casa... É b) Machado de Assis abraça vários gêneros literários
uma desavergonhada, que se não pode aturar. Casa-se minha comprometidos com os vários regionalismos.
filha, e vem seu marido da mesma sorte morar comigo... É um c) Aluísio Azevedo dedica-se a estudar a fundo o que entendia por
preguiçoso, um indolente, que para nada serve. Depois que ouviu psicologia do caráter nacional.
no teatro tocar rabeca, deu-lhe a mania para aí, e leva todo o santo d) Manuel Antônio de Almeida estimulou, em suas crônicas, a
dia - vum,vum,vim,vim! Já tenho a alma esfalfada. (Gritando para a propagação de revoltas libertárias.
direita:) Ó homem, não deixarás essa maldita sanfona? Nada! e) Bernardo Guimarães investiu, em seus versos, contra o
(Chamando:) Olaia! (Gritando:) Olaia! despotismo dos mandatários portugueses.
Martins Pena, Quem casa, quer casa
Questão 03 (Ucs 2012)
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM José de Alencar, um dos mais importantes ficcionistas brasileiros
do século XIX, escreveu romances históricos, regionais, urbanos e
Questão 01 (Puccamp 2017) indianistas. Leia o fragmento do romance O Guarani, de José de
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Alencar.
José de Alencar retratou o seu herói goitacá em prosa, a Caía a tarde.
exemplo do que o escocês Walter Scott havia feito com os No pequeno jardim da casa do Paquequer, uma linda moça se
cavaleiros medievais na célebre novela Ivanhoé. Para evocar um embalançava indolentemente numa rede de palha presa aos ramos
mítico passado nacional, na falta dos briosos cavaleiros medievais de uma acácia silvestre [...].
de Scott, o índio seria o modelo de que Alencar lançaria mão. (...) Os grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se abriam
O índio entrara como tema na literatura universal por influência das languidamente como para se embeberem de luz [...].
ideias dos filósofos iluministas e especialmente, da obra de Jean- Os lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor da gardênia
Jacques Rousseau (...). As teses de Rousseau sobre o “bom dos nossos campos, orvalhada pelo sereno da noite [...].
selvagem”, por sua vez, bebiam na fonte das narrativas de Os longos cabelos louros, enrolados negligentemente em ricas
viajantes do século XVI, os primeiros europeus que haviam tranças, descobriam a fronte alva, e caíam em volta do pescoço
colocado os pés no chão americano. Foram esses viajantes os presos por uma rendinha finíssima de fios de palha cor de ouro. [...]
responsáveis pela propagação do juízo de que, do outro lado do Esta moça era Cecília.
oceano, existia um povo feliz, vivendo sem lei nem rei (...). (ALENCAR, José de. O guarani. 25. ed. São Paulo: Ática, 2001. p.
(NETO, Lira. O inimigo do Rei. Uma biografia de José de Alencar. 32.)
São Paulo: Globo, 2006. p. 166-167)
Em relação à obra O Guarani, ou ao fragmento acima descrito, escrava parece resignada ao lugar que ela ocupa na sociedade da
assinale a alternativa correta. época.
a) Neste trecho, a descrição de Cecília revela um ideal de beleza III. A obra A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, integra um
típico da sociedade do Brasil colonial. dos momentos cruciais do realismo literário brasileiro, no qual os
b) A visão de mundo realista está posta no retrato harmonioso autores se mostravam preocupados com a crítica social.
entre a beleza da jovem e a beleza da natureza brasileira.
c) No romance, um dos triângulos amorosos é formado por Cecília, Está/Estão correta(s) a(s) afirmativa(s)
Loredano e Isabel. a) I, apenas.
d) No fragmento, a languidez dos olhos de Cecília sugere um certo b) II, apenas.
erotismo, desvinculando a obra do movimento romântico. c) I e II, apenas.
e) Na obra, além da idealização da mulher, há elementos da d) II e III, apenas.
idealização do índio, personificado na figura de Peri. e) I, II, III.
"[...] escreveu o que é mais poema Por temperamento e cultura, o Visconde de Taunay tinha
Que romance, e poema menos condições para dar ao regionalismo romântico a sua versão mais
Que um mito, melhor que Vênus." sóbria. Homem de pouca fantasia, muito senso de observação,
formado no hábito de pesar com a inteligência as suas relações
Segundo Bandeira, em "Iracema", com a paisagem e o meio (era engenheiro, militar e pintor), Taunay
foi capaz de enquadrar a história de Inocência (1872) em um
a) Alencar parte da ficção literária em direção à narrativa mítica, cenário e em um conjunto de costumes sertanejos onde tudo é
dispensando referências a coordenadas e personagens históricas. verossímil. Sem que o cuidado de o ser turve a atmosfera agreste
b) o caráter poemático dado ao texto predomina sobre a narrativa e idílica que até hoje dá um renovado encanto à leitura da obra.
em prosa, sendo, por sua vez, superado pela constituição de um (BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2003, p.
mito literário. 144 -145).
c) a mitologia tupi está para a mitologia clássica, predominante no
texto, assim como a prosa está para a poesia. Com base no trecho acima, é possível dizer que:
d) ao fundir romance e poema, Alencar, involuntariamente, a) O romantismo de Visconde de Taunay é, de certa forma, um
produziu uma lenda do Ceará, superior à mitologia clássica. “realismo mitigado”.
e) estabelece-se uma hierarquia de gêneros literários, na qual o b) Visconde de Taunay, com Inocência, é o introdutor do realismo
termo superior, ou dominante, é a prosa romanesca, e o termo no Brasil.
inferior, o mito. c) Por sua pouca fantasia, Inocência não pode ser classificada
como obra do romantismo.
Questão 05 (Pucrs 2015) d) O senso de observação de Visconde de Taunay em Inocência o
Leia o trecho do romance A escrava Isaura, de Bernardo leva às portas do naturalismo.
Guimarães. e) A fantasia, aliada ao senso de observação, tornam esta obra o
– Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que és melhor representante do regionalismo ultrarromântico.
maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima de senhores
bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida que faria inveja Questão 07
a muita gente livre. Gozas da estima de teus senhores. Deram-te TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
uma educação como não tiveram muitas ricas e ilustres damas que “A escrava abandonada aos desprezos da escravidão, crescendo
eu conheço. És formosa, e tens uma cor linda, que ninguém dirá no meio da prática dos vícios mais escandalosos e repugnantes,
que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano. [...] desde a infância, desde a primeira infância testemunhando
– Mas senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais do que torpezas de luxúria, e ouvindo a eloquência lodosa da palavra sem
uma simples escrava? Essa educação que me deram e essa freio, fica pervertida muito antes de ter consciência de sua
beleza, que tanto me gabam, de que me servem?... São trastes de perversão, e não pode mais viver sem violenta imposição fora da
luxo colocados na senzala do africano. A senzala nem por isso atmosfera empestada de semelhantes costumes, e das suas ideias
deixa de ser o que é: uma senzala. sensuais; a mucama, pois, colocada ao pé da menina inocente,
– Queixas-te de tua sorte, Isaura? inexperiente e curiosa, leva-a, arrasta-a tanto quanto lhe é
– Eu não, senhora; não tenho motivo... o que quero dizer com possível, para a conversação que mais a encanta, para as ideias e
isto é que, apesar de todos esses dotes e vantagens que me os quadros do seu sensualismo brutal.
atribuem, sei conhecer o meu lugar. Além disso a mucama escrava, que é sempre escolhida entre as
mais inteligentes, compara-se com a senhora, e tendo muitas
Com base no texto e no contexto do qual o fragmento acima faz vezes presunção de excedê-la em dotes físicos, tem inveja da sua
parte, afirma-se: pureza e procura manchá-la para que ela não tenha essa auréola
I. De acordo com a primeira fala, a cor de Isaura é apontada como que nunca sentiu em si.
uma possível negação de sua origem africana. Finalmente, a mucama compreende por instinto que essa
II. Apesar de alguns questionamentos acerca da senzala, a profanação da inocência, essas conversações lúbricas que às
ocultas de seus pais a menina permite, estabelecem maiores e) A poesia de Álvares de Azevedo, como a dos outros românticos
condições de confiança, que lhe aproveitam, e por isso mesmo que brasileiros, define-se em torno de dois polos poéticos: a marcante
humilham a senhora, ensoberbecem a escrava. presença da natureza, explorada com destaque em Noites da
Lucinda era levada por todos esses sentimentos: mas taverna, e a constante viagem ao interior do sujeito para exprimir
principalmente pelo império que sobre ela tinha o demônio da sua dor e seus sentimentos.
luxúria.”
MACEDO, J. M. de. As vítimas-algozes: quadros da escravidão. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
4. ed. São Paulo: Zouk, 2005. p. 139-140
Questão 01 (UFRGS 2016)
O livro As Vítimas-Algozes, de Joaquim Manuel de Macedo, foi Assinale a alternativa correta sobre autores do Romantismo
escrito na segunda metade do século XIX, em 1869, 19 anos antes brasileiro.
da Abolição da Escravidão. Levando em conta as informações a) Gonçalves Dias, autor dos célebres Canção do exílio e I-Juca-
inferidas pela leitura do texto, assinale o item correto: Pirama, dedicou a maioria de seus poemas à temática da
a) O trecho, representativo da primeira geração do Romantismo, escravidão.
funciona como uma justificativa para a escravidão, visto que b) Joaquim Manuel de Macedo, em A Moreninha, afasta-se da
apresenta os escravos como moralmente degradados e danosos à estética romântica em muitos pontos, especialmente no tom
sociedade. paródico adotado pelo narrador que ridiculariza a sociedade
b) Ao retratar a degradação moral da escrava e sua influência burguesa fluminense.
sobre a senhora, o autor opõe-se à escravidão, mostrando como c) Álvares de Azevedo, em A noite na taverna, desvincula-se do
um sistema prejudicial à sociedade burguesa, utilizando as nacionalismo paisagista e indianista e ingressa no universo juvenil
mesmas justificativas que Castro Alves. da angústia, do erotismo e do sarcasmo.
c) Apesar de condenar a escravidão através da denúncia de seus d) Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um sargento de
malefícios, Macedo afasta-se da linha traçada por Castro Alves, ao milícias, vincula-se à estética romântica, em especial porque se
retratar o escravo não só como vítima, mas também como algoz. centra em personagens da classe média urbana fluminense.
d) Pelo trecho, percebe-se que Macedo antecipou-se ao Realismo, e) Castro Alves é o principal poeta do indianismo romântico, pois
ao mostrar a burguesia decadente, denunciando seus vícios morais toma o índio como figura prototípica da nacionalidade.
através da investigação psicológica.
e) Por ser obra de um autor romântico, é ausente do trecho Questão 02 (Pucpr 2016)
qualquer manifestação de teor Determinista na construção das
Alfredo Bosi, em sua História concisa da literatura brasileira, diz a
personagens, o que ressalta a culpabilidade da escrava.
respeito de Inocência, de Visconde de Taunay:
Questão 08 (Pucrs 2016)
Por temperamento e cultura, o Visconde de Taunay tinha
Leia o excerto abaixo, retirado da obra Macário, de Álvares de condições para dar ao regionalismo romântico a sua versão mais
Azevedo. sóbria. Homem de pouca fantasia, muito senso de observação,
formado no hábito de pesar com a inteligência as suas relações
(O DESCONHECIDO) Eu sou o diabo. Boa-noite, Macário. com a paisagem e o meio (era engenheiro, militar e pintor), Taunay
(MACÁRIO) Boa-noite, Satã. (Deita-se. O desconhecido sai). O foi capaz de enquadrar a história de Inocência (1872) em um
diabo! uma boa fortuna! Há dez anos que eu ando para encontrar cenário e em um conjunto de costumes sertanejos onde tudo é
esse patife! Desta vez agarrei-o pela cauda! A maior desgraça verossímil. Sem que o cuidado de o ser turve a atmosfera agreste
deste mundo é ser Fausto sem Mefistófeles. Olá, Satã! e idílica que até hoje dá um renovado encanto à leitura da obra.
(SATÃ) Macário. (BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2003, p.
(MACÁRIO) Quando partimos? 144 -145).
(SATÃ) Tens sono? Com base no trecho acima, é possível dizer que:
(MACÁRIO) Não. a) O romantismo de Visconde de Taunay é, de certa forma, um
(SATÃ) Então já. “realismo mitigado”.
(MACÁRIO) E o meu burro? b) Visconde de Taunay, com Inocência, é o introdutor do realismo
(SATÃ) Irás na minha garupa. no Brasil.
c) Por sua pouca fantasia, Inocência não pode ser classificada
Sobre o movimento literário em que se inscreve Álvares de como obra do romantismo.
Azevedo, é INCORRETO afirmar: d) O senso de observação de Visconde de Taunay em Inocência o
a) A representação de figuras do mundo sobrenatural também leva às portas do naturalismo.
constitui uma das características desse movimento, conforme se lê e) A fantasia, aliada ao senso de observação, tornam esta obra o
no excerto acima. melhor representante do regionalismo ultrarromântico.
b) José de Alencar é o autor de romances mais representativos
desse movimento, com obras como O Guarani, O sertanejo, As Questão 03 (Puccamp 2016)
minas de prata.
Costuma-se reconhecer que o Indianismo, na nossa literatura, é
c) A representação da nação, um dos temas do movimento em que
marcado por idealizações que emprestam uma espécie de glória
se inscreve a obra de Álvares de Azevedo, exaltou as belezas
artificial ao nosso passado como Colônia. Tais idealizações
naturais da terra brasileira.
I. consistem, basicamente, em atribuir aos nossos silvícolas
d) Os estados de alma em que o sujeito poético expressa seus
atitudes e valores herdados da aristocracia medieval, caros ao
sentimentos de tristeza, dor e angústia é tema recorrente no
ideário romântico.
movimento em que se inscreve a obra de Álvares de Azevedo.
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163
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
II. processam-se com base em fidedignos documentos históricos, fascinado pela serpente, vai declinando o lascivo talhe, que se
nos quais há registro detalhado dos usos e costumes das várias debruça enfim sobre o peito do guerreiro.
nações indígenas. José de Alencar, Iracema.
III. ocorreram como reação às tendências nacionalistas do nosso
Romantismo, que valorizavam sobretudo a vida urbana e os No texto, corresponde a uma das convenções com que o
valores burgueses. Indianismo construía suas representações do indígena
a) o emprego de sugestões de cunho mitológico compatíveis com o
Atende ao enunciado o que está em contexto.
a) I, II e III. b) a caracterização da mulher como um ser dócil e desprovido de
b) I e II, apenas. vontade própria.
c) II e III, apenas. c) a ênfase na efemeridade da vida humana sob os trópicos.
d) I e III, apenas. d) o uso de vocabulário primitivo e singelo, de extração oral-
e) I, apenas. popular.
e) a supressão de interdições morais relativas às práticas eróticas.
Questão 04 (Fuvest 2017)
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES Questão 07 (Fuvest 2017)
A adoção do cardápio indígena introduziu nas cozinhas e zonas Atente para as seguintes afirmações, extraídas e adaptadas de um
de serviço das moradas brasileiras equipamentos desconhecidos estudo do crítico Augusto Meyer sobre José de Alencar:
no Reino. Instalou nos alpendres roceiros a prensa de espremer I. “Nesta obra, assim como nos ‘poemas americanos’ dos nossos
mandioca ralada para farinha. Nos inventários paulistas é comum a poetas, palpita um sentimento sincero de distância poética e
menção de tal fato. No inventário de Pedro Nunes, por exemplo, exotismo, de coisa notável por estranha para nós, embora a
efetuado em 1623, fala-se num sítio nas bandas do Ipiranga “com rotulemos como nativa.”
seu alpendre e duas camarinhas no dito alpendre com a prensa no II. “Mais do que diante de um relato, estamos diante de um poema,
dito sítio” que deveria comprimir nos tipitis toda a massa cujo conteúdo se concentra a cada passo na magia do ritmo e na
proveniente do mandiocal também inventariado. Mas a farinha não graça da imagem.”
exigia somente a prensa – pedia, também, raladores, cochos de III. “O tema do bom selvagem foi, neste caso, aproveitado para um
lavagem e forno ou fogão. Era normal, então, a casa de fazer romance histórico, que reproduz o enredo típico das narrativas de
farinha, no quintal, ao lado dos telheiros e próxima à cozinha. capa e espada, oriundas da novela de cavalaria.”
Carlos A. C. Lemos, Cozinhas, etc.
É compatível com o trecho de Iracema aqui reproduzido,
Traduz corretamente uma relação espacial expressa no texto o que considerado no contexto dessa obra, o que se afirma em
se encontra em: a) I, apenas.
a) A prensa é paralela aos tipitis. b) III, apenas.
b) A casa de fazer farinha é adjacente aos telheiros. c) I e II, apenas.
c) As duas camarinhas são transversais à cozinha. d) II e III, apenas.
d) O alpendre é perpendicular às zonas de serviço. e) I, II e III.
e) O mandiocal e o Ipiranga são equidistantes do sítio.
Questão 08 (Fac. Pequeno Príncipe - Medicina 2016)
Questão 05 (Fuvest 2017) Leia as seguintes sentenças sobre a obra Iracema, de José de
Além de “tipitis”, constituem contribuição indígena para a língua Alencar.
portuguesa do Brasil as seguintes palavras empregadas no texto: I. Constitui obra de exaltação da flora e fauna brasileira, mas
a) “cardápio” e “roceiros”. apresenta o índio como representante de uma raça inferior e
b) “alpendre” e “fogão”. inculta.
c) “mandioca” e “Ipiranga”. II. A obra representa o mito alencariano composto pelo herói, o
d) “sítio” e “forno”. índio, resistente à colonização e à presença do ‘outro’, e o branco,
e) “prensa” e “quintal”. colonizador agressivo que deseja destruir o nativo.
III. A personagem Martim, representação do colonizador europeu,
Questão 06 (Fuvest 2017) apesar de seu amor por Iracema, resiste à cultura indígena e
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES rejeita a língua e os costumes nativos.
IV. A personagem Iracema, representação do índio exaltado pela
Nasceu o dia e expirou. literatura do período romântico, pode ser considerada um símbolo
Já brilha na cabana de Araquém o fogo, companheiro da noite. da terra mãe, o Brasil.
Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas, filhas da V. O romance apresenta, por meio de estilo lírico, uma idealização
lua, que esperam a volta da mãe ausente. do índio brasileiro.
Martim se embala docemente; e como a alva rede que vai e
vem, sua vontade oscila de um a outro pensamento. Lá o espera a Considerando-se as características da obra e os princípios
virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a virgem morena dos estéticos e ideológicos do período romântico brasileiro, pode-se
ardentes amores. afirmar que:
Iracema recosta-se langue ao punho da rede; seus olhos negros a) somente as sentenças I e II estão corretas.
e fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o estrangeiro, e lhe b) somente as sentenças III, IV e V estão corretas.
entram n’alma. O cristão sorri; a virgem palpita; como o saí, c) somente a sentença I está correta.
d) somente a sentença IV está correta. 16) Diferentemente de outras obras do Romantismo, praticamente
e) somente as sentenças IV e V estão corretas. não existem em Inocência referências à religião, quer nas falas das
personagens, quer nos comentários do narrador.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 32) O romance Inocência explora uma temática bastante comum
Mandara Pereira acender uma vela de sebo. Vinda a luz, no Romantismo, que é o amor impossível e trágico, mas a obra
aproximaram-se ambos do leito da enferma que, achegando ao tem alguns trechos de humor, como o episódio em que Meyer é
corpo e puxando para debaixo do queixo uma coberta de algodão atacado por formigas e tem que se despir.
de Minas, se encolheu toda, e voltou-se para os que entravam.
– Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez. Questão 10 (Puccamp 2017)
– Boas-noites, dona, saudou Cirino. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no seu José de Alencar retratou o seu herói goitacá em prosa, a
papel de médico, se sentava num escabelo junto à cama e tomava exemplo do que o escocês Walter Scott havia feito com os
o pulso à doente. cavaleiros medievais na célebre novela Ivanhoé. Para evocar um
Caía então luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto, parte do mítico passado nacional, na falta dos briosos cavaleiros medievais
colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por trás da de Scott, o índio seria o modelo de que Alencar lançaria mão. (...)
nuca. O índio entrara como tema na literatura universal por influência das
Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de ideias dos filósofos iluministas e especialmente, da obra de Jean-
beleza deslumbrante. Jacques Rousseau (...). As teses de Rousseau sobre o “bom
Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora selvagem”, por sua vez, bebiam na fonte das narrativas de
ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, viajantes do século XVI, os primeiros europeus que haviam
parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, colocado os pés no chão americano. Foram esses viajantes os
e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces. responsáveis pela propagação do juízo de que, do outro lado do
[...] oceano, existia um povo feliz, vivendo sem lei nem rei (...).
Ligeiramente enrubesceu Inocência e descansou a cabeça no (NETO, Lira. O inimigo do Rei. Uma biografia de José de Alencar.
travesseiro. São Paulo: Globo, 2006. p. 166-167)
– Por que amarrou esse lenço? perguntou em seguida o moço.
– Por nada, respondeu ela com acanhamento. A afirmação de que José de Alencar valeu-se do modelo heroico
– Sente dor de cabeça? dos cavaleiros medievais para compor personagens de cunho
– Nhor-não. nacionalista fez com que concebesse e apresentasse Peri,
– Tire-o, pois: convém não chamar o sangue; solte, pelo contrário, protagonista de O Guarani, como um
os cabelos. a) autêntico guerreiro goitacá.
Inocência obedeceu e descobriu uma espessa cabeleira, negra b) explorador aliado do colonizador.
como o âmago da cabiúna e que em liberdade devia cair até c) nativo com qualidades aristocráticas.
abaixo da cintura. Estava enrolado em bastas tranças, que davam d) lacaio valente de um nobre português.
duas voltas inteiras ao redor do cocoruto. e) pajé dotado de poderes sobrenaturais.
[...]
Não se descuidou Cirino, antes de se retirar, de novamente tomar Questão 11 (Enem 2009)
o pulso e, à conta de procurar a artéria, assentou toda a mão no No decênio de 1870, Franklin Távora defendeu a tese de que no
punho da donzela, envolvendo-lhe o braço e apertando-o Brasil havia duas literaturas independentes dentro da mesma
docemente. língua: uma do Norte e outra do Sul, regiões segundo ele muito
diferentes por formação histórica, composição étnica, costumes,
Saiu-se mal de tudo isso; porque, se tratava da cura de alguém, modismos linguísticos etc. Por isso, deu aos romances regionais
para si arranjava enfermidade e bem grave. que publicou o título geral de Literatura do Norte. Em nossos dias,
TAUNAY, A. d’E. Inocência. 3. ed. São Paulo: FTD, 1996. p. 57-58; um escritor gaúcho, Viana Moog, procurou mostrar com bastante
72. engenho que no Brasil há, em verdade, literaturas setoriais
Questão 09 (UFSC 2012) diversas, refletindo as características locais.
Com base no trecho acima e no romance Inocência e levando em CANDIDO, A. A nova narrativa. A educação pela noite e outros
consideração o contexto do Romantismo brasileiro, marque a(s) ensaios. São Paulo: Ática, 2003.
proposição(ões) CORRETA(S).
01) O episódio descrito no texto refere-se ao momento em que Com relação à valorização, no romance regionalista brasileiro, do
Cirino vê pela primeira vez Inocência e fica tão apaixonado pela homem e da paisagem de determinadas regiões nacionais, sabe-
moça que até sua atividade médica é afetada. se que
02) Dois atos de Cirino – pedir a Inocência que solte os cabelos e a) o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela temática
tomar-lhe o pulso logo depois de já tê-lo feito – podem ter sido essencialmente urbana, colocando em relevo a formação do
motivados não tanto por razões médicas, mas pelo desejo do rapaz homem por meio da mescla de características locais e dos
de ver melhor a moça e tocá-la. aspectos culturais trazidos de fora pela imigração europeia.
04) Inocência reúne algumas características bastante comuns em b) José de Alencar, representante, sobretudo, do romance urbano,
heroínas românticas: ousadia, agilidade, coragem e excepcional retrata a temática da urbanização das cidades brasileiras e das
beleza. relações conflituosas entre as raças.
08) No último parágrafo, percebe-se como Cirino é contagiado pela c) o romance do Nordeste caracteriza-se pelo acentuado realismo
malária, doença que acometia Inocência, vindo a ficar depois no uso do vocabulário, pelo temário local, expressando a vida do
gravemente enfermo.
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
homem em face da natureza agreste, e assume frequentemente o túmulo das glórias do passado. – Quem eu sou? Fui um poeta aos
ponto de vista dos menos favorecidos. vinte anos, um libertino aos trinta, sou um vagabundo sem pátria e
d) a literatura urbana brasileira, da qual um dos expoentes é sem crenças aos quarenta. Sentei-me à sombra de todos os sóis,
Machado de Assis, põe em relevo a formação do homem brasileiro, beijei lábios de mulheres de todos os países; e de todo esse
o sincretismo religioso, as raízes africanas e indígenas que peregrinar, só trouxe duas lembranças – um amor de mulher que
caracterizam o nosso povo. morreu nos meus braços na primeira noite de embriaguez e de
e) Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes Neto e Jorge febre – e uma agonia de poeta... Dela tenho uma rosa murcha e a
Amado são romancistas das décadas de 30 e 40 do século XX, fita que prendia seus cabelos. Dele olhai...
cuja obra retrata a problemática do homem urbano em confronto O velho tirou de um bolso um embrulho: era um lenço vermelho o
com a modernização do país promovida pelo Estado Novo. invólucro; desataram-no: dentro estava uma caveira.”
O trecho selecionado recupera a fala de um velho que interrompe a
Questão 12 (Enem Cancelado 2009) história, contada pelo jovem Bertram, um dos rapazes presentes na
O sertão e o sertanejo Taverna. As palavras dessa personagem expressam, nas
Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos, tão diversos entrelinhas,
pelo matiz das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do a) a confissão do arrependimento pela vida errante do passado e o
sol transforma-se em vicejante tapete de relva, quando lavra o desejo de um cotidiano mais regrado.
incêndio que algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia b) a descrição de cada um dos lugares por onde passou e viveu.
com uma faúlha do seu isqueiro. Minando à surda na touceira, c) a indignação frente à miséria e às injustiças presenciadas em
queda a vívida centelha. Corra daí a instantes qualquer aragem, todos os lugares visitados.
por débil que seja, e levanta-se a língua de fogo esguia e trêmula, d) a dificuldade de mostrar-se diante da plateia que escutava a
como que a contemplar medrosa e vacilante os espaços imensos narrativa de Bertram, o segundo, naquela noite, a relatar sua
que se alongam diante dela. O fogo, detido em pontos, aqui, ali, a trágica história.
consumir com mais lentidão algum estorvo, vai aos poucos e) o sofrimento de um amante e poeta que, durante toda a sua
morrendo até se extinguir de todo, deixando como sinal da peregrinação, não conseguiu realizar-se como Homem.
avassaladora passagem o alvacento lençol, que lhe foi seguindo os
velozes passos. Por toda a parte melancolia; de todos os lados Questão 14 (Unifesp 2016)
tétricas perspectivas. É cair, porém, daí a dias copiosa chuva, e A(s) questão(ões) a seguir focalizam uma passagem da comédia O
parece que uma varinha de fada andou por aqueles sombrios juiz de paz da roça do escritor Martins Pena (1815-1848).
recantos a traçar às pressas jardins encantados e nunca vistos. JUIZ (assentando-se): Sr. Escrivão, leia o outro requerimento.
Entra tudo num trabalho íntimo de espantosa atividade. ESCRIVÃO (lendo): Diz Francisco Antônio, natural de Portugal,
TAUNAY, Visconde de. Inocência. porém brasileiro, que tendo ele casado com Rosa de Jesus, trouxe
esta por dote uma égua. “Ora, acontecendo ter a égua de minha
O romance romântico teve fundamental importância na formação mulher um filho, o meu vizinho José da Silva diz que é dele, só
da ideia de nação. Considerando o trecho acima, é possível porque o dito filho da égua de minha mulher saiu malhado como o
reconhecer que uma das principais e permanentes contribuições seu cavalo. Ora, como os filhos pertencem às mães, e a prova
do Romantismo para construção da identidade da nação é a disto é que a minha escrava Maria tem um filho que é meu, peço a
a) possibilidade de apresentar uma dimensão desconhecida da V. Sa. mande o dito meu vizinho entregar-me o filho da égua que é
natureza nacional, marcada pelo subdesenvolvimento e pela falta de minha mulher”.
de perspectiva de renovação. JUIZ: É verdade que o senhor tem o filho da égua preso?
b) consciência da exploração da terra pelos colonizadores e pela JOSÉ DA SILVA: É verdade; porém o filho me pertence, pois é
classe dominante local, o que coibiu a exploração desenfreada das meu, que é do cavalo.
riquezas naturais do país. JUIZ: Terá a bondade de entregar o filho a seu dono, pois é aqui
c) construção, em linguagem simples, realista e documental, sem da mulher do senhor.
fantasia ou exaltação, de uma imagem da terra que revelou o JOSÉ DA SILVA: Mas, Sr. Juiz...
quanto é grandiosa a natureza brasileira. JUIZ: Nem mais nem meios mais; entregue o filho, senão, cadeia.
d) expansão dos limites geográficos da terra, que promoveu o (Martins Pena. Comédias (1833-1844), 2007.)
sentimento de unidade do território nacional e deu a conhecer os
lugares mais distantes do Brasil aos brasileiros. O efeito cômico produzido pela leitura do requerimento decorre,
e) valorização da vida urbana e do progresso, em detrimento do principalmente, do seguinte fenômeno ou procedimento linguístico:
interior do Brasil, formulando um conceito de nação centrado nos a) paródia. d) paráfrase.
modelos da nascente burguesia brasileira. b) intertextualidade. e) sinonímia.
c) ambiguidade.
Questão 13
Leia o trecho de Noite na taverna, de Álvares de Azevedo. Questão 15 (Unifesp 2016)
“– Quem eu sou? na verdade fora difícil dizê-lo: corri muito mundo, O emprego das aspas no interior da fala do escrivão indica que tal
a cada instante mudando de nome e de vida. Fui poeta e como trecho
poeta cantei. Fui soldado e banhei minha fronte juvenil nos últimos a) reproduz a solicitação de Francisco Antônio.
raios de sol da águia de Waterloo. b) recorre a jargão próprio da área jurídica.
Apertei ao fogo da batalha a mão do homem do século. Bebi numa c) reproduz a fala da mulher de Francisco Antônio.
taverna com Bocage – o português, ajoelhei-me na Itália sobre o d) é desacreditado pelo próprio escrivão.
túmulo de Dante e fui à Grécia para sonhar como Byron naquele e) deve ser interpretado em chave irônica.
Consumado o delito, o honrado negociante sentiu-se tolhido de verde, a açorda e o caldo de unto foram repelidos pelos ruivos e
vergonha e arrependimento. Não teve animo de dar palavra, e gostosos quitutes baianos, pela munqueca, pelo vatapá e pelo
retirou-se tristonho e murcho para o seu quarto de desquitado. Oh! caruru; a couve à mineira destronou a couve à portuguesa; o pirão
como lhe doía agora o que acabava de praticar na cegueira da sua de fubá ao pão de rala, e, desde que o café encheu a casa com o
sensualidade. seu aroma quente, Jerônimo principiou a achar graça no cheiro do
— Que cabeçada!... dizia ele agitado. Que formidável cabeçada!... fumo e não tardou a fumar também com os amigos.
No dia seguinte, os dois viram-se e evitaram-se em silêncio, como E o curioso é que quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes
se nada de extraordinário houvera entre eles acontecido na brasileiros, tanto mais os seus sentidos se apuravam, posto que
véspera. Dir-se-ia até que, depois daquela ocorrência, o Miranda em detrimento das suas forças físicas. Tinha agora o ouvido menos
sentia crescer o seu ódio contra a esposa. E, à noite desse mesmo grosseiro para a música, compreendia até as intenções poéticas
dia, quando se achou sozinho na sua cama estreita, jurou mil dos sertanejos, quando cantam à viola os seus amores infelizes;
vezes aos seus brios nunca mais, nunca mais, praticar semelhante seus olhos, dantes só voltados para a esperança de tornar à terra,
loucura. Mas, daí a um mês, o pobre homem, acometido de um agora, como os olhos de um marujo, que se habituaram aos largos
novo acesso de luxúria, voltou ao quarto da mulher. horizontes de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta
O Cortiço, Aluísio Azevedo luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte
dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem
Trecho II fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante, que o
Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, todos sol veste de ouro e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens tocam
os seus atos, todos, fosse o mais simples, visavam um interesse de alvos turbantes de cambraia, num luxo oriental de arábicos
pecuniário. Só tinha uma preocupação: aumentar os bens. Das príncipes voluptuosos.
suas hortas recolhia para si e para a companheira os piores O cortiço, Aluísio Azevedo
legumes, aqueles que, por maus, ninguém compraria; as suas
galinhas produziam muito e ele não comia um ovo, do que no Trecho IV
entanto gostava imenso; vendia-os todos e contentava-se com os Depois da refeição, Dona Isabel, que não estava habituada a tomar
restos da comida dos trabalhadores. Aquilo já não era ambição, era vinho, sentiu vontade de descansar o corpo; Léonie franqueou-lhe
uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular; um bom quarto, com boa cama, e, mal percebeu que a velha
de reduzir tudo a moeda. E seu tipo baixote, socado, de cabelos à dormia, fechou a porta pelo lado de fora, para melhor ficar em
escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a liberdade com a pequena.
venda, da venda às hortas e ao capinzal, sempre em mangas de Bem! Agora estavam perfeitamente a sós!
camisa, de tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, — Vem cá, minha flor!... disse-lhe, puxando-a contra si e deixando-
com o seu eterno ar de cobiça, apoderando-se, com os olhos, de se cair sobre um divã. Sabes? Eu te quero cada vez mais!... Estou
tudo aquilo de que ele não podia apoderar-se logo com as unhas. louca por ti!
O Cortiço, Aluísio Azevedo E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que
sufocavam a menina, enchendo-a de espanto e de um instintivo
Trecho III temor, cuja origem a pobrezinha, na sua simplicidade, não podia
Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, saber qual era.
uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois A cocote percebeu o seu enleio e ergueu-se, sem largar-lhe a mão.
dedos de parati “pra cortar a friagem”. — Descansemos nós também um pouco... propôs, arrastando-a
Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, para a alcova.
hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, Pombinha assentou-se, constrangida, no rebordo da cama e, toda
num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia perplexa, com vontade de afastar-se, mas sem animo de protestar,
afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. por acanhamento, tentou reatar o fio da conversa, que elas
A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora sustentavam um pouco antes, à mesa, em presença de Dona
aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se Isabel. Leonie fingia prestar-lhe atenção e nada mais fazia do que
dos seus primitivos sonhos de ambição; para idealizar felicidades afagar-lhe a cintura, as coxas e o colo. Depois, como que
novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e distraidamente, começou a desabotoar-lhe o corpinho do vestido.
franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, — Não! Para quê!... Não quero despir-me...
tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso resignando-se, — Mas faz tanto calor... Põe-te a gosto...
vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que — Estou bem assim. Não quero!
o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a — Que tolice a tua...! Não vês que sou mulher, tolinha?... De que
pátria contra os conquistadores aventureiros. tens medo?... Olha! Vou dar exemplo!
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus E, num relance, desfez-se da roupa, e prosseguiu na campanha.
hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. A menina, vendo-se descomposta, cruzou os braços sobre o seio,
A sua casa perdeu aquele ar sombrio e concentrado que a vermelha de pudor.
entristecia; já apareciam por lá alguns companheiros de estalagem, — Deixa! segredou-lhe a outra, com os olhos envesgados, a pupila
para dar dois dedos de palestra nas horas de descanso, e aos trêmula.
domingos reunia-se gente para o jantar. A revolução afinal foi E, apesar dos protestos, das súplicas e até das lágrimas da infeliz,
completa: a aguardente de cana substituiu o vinho; a farinha de arrancou-lhe a última vestimenta, e precipitou-se contra ela, a
mandioca sucedeu à broa; a carne-seca e o feijão-preto ao beijar-lhe todo o corpo, a empolgar-lhe com os lábios o róseo bico
bacalhau com batatas e cebolas cozidas; a pimenta-malagueta e a do peito.
pimenta-de-cheiro invadiram vitoriosamente a sua mesa; o caldo
Trecho V
A cerviz taurina, os bíceps encaroçados, o tórax largo, a pélvis
estreita, os pontos retraídos das inserções musculares da estátua,
tudo parecia corresponder a um ideal plástico que lhe vivera
sempre latente no intelecto, e que despertava naquele momento,
revelando brutalmente a sua presença.
Lenita não se podia arredar, estava presa, estava fascinada.
Sentia-se fraca e orgulhava-se de sua fraqueza. Atormentava-a um
desejo de coisas desconhecidas, indefinido, vago, mas imperioso,
mordente. Antolhava-se-lhe que havia de ter gozo infinito se toda a
força do gladiador se desencadeasse contra ela, pisando-a,
machucando-a, triturando-a, fazendo-a em pedaços.
E tinha ímpetos de comer de beijos as formas masculinas
estereotipadas no bronze. Queria abraçar-se, queria confundir-se
com elas. De repente corou até à raiz dos cabelos.
Em um momento, por uma como intussuscepção súbita, aprendera
mais sobre si própria do que em todos os seus longos estudos de
fisiologia. Conhecera que ela, a mulher superior, apesar de sua
poderosa mentalidade, com toda a sua ciência, não passava, na Uma boa adaptação cinematográfica da obra de Machado de
espécie, de uma simples fêmea, e que o que sentia era o desejo, Assis
era a necessidade orgânica do macho.
Invadiu-a um desalento imenso, um nojo invencível de si própria.
e) um estreitamento na experiência de vida do personagem, que personagem: a fala de Leonor não segue o registro linguístico
vem de um local com maior diversidade de ambientes e de adotado pelo narrador.
organismos. ( ) As personagens femininas descritas no trecho – e no
romance de maneira geral – são estereotipadas, respondem ao
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO imaginário da mulata sensual e ociosa, especialmente Bertoleza e
Rita Baiana.
Questão 01 (Enem 2012) ( ) O narrador em terceira pessoa simpatiza com as personagens
— É o diabo!... praguejava entre dentes o brutalhão, enquanto populares; tal simpatia está presente em todo o romance, nas
atravessava o corredor ao lado do Conselheiro, enfiando às inúmeras vezes em que a narração em terceira pessoa cede
pressas o seu inseparável sobretudo de casimira alvadia. — E o espaço para o diálogo entre escravos.
diabo! Esta menina já devia ter casado!
— Disso sei eu... balbuciou o outro. — E não é por falta de A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima
esforços de minha parte; creia! para baixo, é
— Diabo! Faz lástima que um organismo tão rico e tão bom para a) V – V – F – F. b) F – F – V – V. c) F – F – F – V.
procriar, se sacrifique desse modo! Enfim — ainda não é tarde; d) F – V – F – V. e) V – V – V – F.
mas, se ela não se casar quanto antes — hum... hum.. Não
respondo pelo resto! Questão 03 (Ufjf-pism 2 2015)
— Então o Doutor acha que...? TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
Lobão inflamou-se: Oh! o Conselheiro não podia imaginar o que (...)
eram aqueles temperamentozinhos impressionáveis!... eram O brasileiro tinha já recebido pauladas na testa, no pescoço,
terríveis, eram violentos, quando alguém tentava contrariá-los! Não nos ombros, nos braços, no peito, nos rins e nas pernas. O sangue
pediam — exigiam — reclamavam! inundava-o inteiro; ele rugia e arfava, iroso e cansado, investindo
AZEVEDO, A. O homem. Belo Horizonte: UFMG. 2003 ora com os pés, ora com a cabeça, e livrando-se daqui, livrando-se
(fragmento). dali, aos pulos e às cambalhotas.
A vitória pendia para o lado do português. Os espectadores
O romance O homem, de Aluísio Azevedo, insere-se no contexto aclamavam-no já com entusiasmo; mas, de súbito, o capoeira
do Naturalismo, marcado pela visão do cientificismo. No fragmento, mergulhou, num relance, até as canelas do adversário e surgiu-lhe
essa concepção aplicada à mulher define-se por uma rente dos pés, grupado nele, rasgando-lhe o ventre com uma
a) conivência com relação à rejeição feminina de assumir um navalhada.
casamento arranjado pelo pai. Jerônimo soltou um mugido e caiu de borco, segurando os
b) caracterização da personagem feminina como um estereótipo da intestinos.
mulher sensual e misteriosa. – Matou! Matou! Matou! exclamaram todos com assombro.
c) convicção de que a mulher é um organismo frágil e condicionado Os apitos esfuziaram mais assanhados.
por seu ciclo reprodutivo. Firmo varou pelos fundos do cortiço e desapareceu no
d) submissão da personagem feminina a um processo que a capinzal.
infantiliza e limita intelectualmente. – Pega! Pega!
e) incapacidade de resistir às pressões socialmente impostas, – Ai, o meu rico homem! ululou Piedade, atirando-se de
representadas pelo pai e pelo médico. joelhos sobre o corpo ensanguentado do marido. Rita viera
também de carreira lançar-se ao chão junto dele, para lhe afagar
Questão 02 (Ufrgs 2016) as barbas e os cabelos.
Leia o seguinte trecho de O cortiço. – É preciso o doutor! suplicou aquela, olhando para os lados à
procura de uma alma caridosa que lhe valesse.
A criadagem da família do Miranda compunha-se de Isaura, mulata Mas nisto um estardalhaço de formidáveis pranchadas
ainda moça, moleirona e tola, que gastava todo o vintenzinho que estrugiu no portão da estalagem. O portão abalou com estrondo e
pilhava em comprar capilé na venda de João Romão; uma gemeu.
negrinha virgem, chamada Leonor, muito ligeira e viva, lisa e seca – Abre! Abre! reclamavam de fora.
como um moleque, conhecendo de orelha, sem lhe faltar um termo, João Romão atravessou o pátio, como um general em perigo,
a vasta tecnologia da obscenidade, e dizendo, sempre que os gritando a todos:
caixeiros ou os fregueses da taverna, só para mexer com ela, lhe – Não entra a polícia! Não deixa entrar! Aguenta! Aguenta!
davam atracações: “Óia, que eu me queixo ao juiz de orfe!”; e (...)
finalmente o tal Valentim, filho de uma escrava que foi de Dona A polícia era o grande terror daquela gente, porque, sempre
Estela e a quem esta havia alforriado. que penetrava em qualquer estalagem, havia grande estropício; à
capa de evitar e punir o jogo e a bebedeira, os urbanos invadiam
Sobre o texto acima, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as os quartos, quebravam o que lá estava, punham tudo em
seguintes afirmações. polvorosa. Era uma questão de ódio velho.
( ) O fragmento reflete o tom geral do romance, no qual o AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 1990, p. 87-88.
narrador em terceira pessoa distancia-se das personagens
populares – especialmente as negras –, pois está atrelado às
reduções do cientificismo naturalista que antepõe raça superior a
raça inferior.
( ) A linguagem do narrador é diferente da linguagem da
morais e política para as despesas da conversação. Tratei-os como - Na obra de Machado, as mulheres são dissimuladas,
tratei a história e a jurisprudência. Colhi de todas as coisas a ambíguas, sensuais e, principalmente, astuciosas.
fraseologia, a casca, a ornamentação (...)" - Memórias Póstumas “Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu?
de Brás Cubas Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim.
Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com
- Análise psicológica profunda das contradições humanas, as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo.
revelando dramas e conflitos internos. Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados,
os olhos de uma na linha da boca do outro. Pedi-lhe que
“Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço.
Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu.
janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava — Levanta, Capitu!
aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar
pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus,
era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, e...
para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida,
amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a eu recuei até à parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os
enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas olhos escuros. Quando eles me clarearam, vi que Capitu tinha os
até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade. seus no chão. Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse,
— Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, faltava-me língua. Preso, atordoado, não achava gesto nem ímpeto
pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, que me descolasse da parede e me atirasse a ela com mil palavras
apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos cálidas e mimosas... Não mofes dos meus quinze anos, leitor
morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia precoce. Com dezessete, Des Grieux (e mais era Des Grieux) não
uma desgraça...” – pensava ainda na diferença dos sexos.
Quincas Borba Ouvimos passos no corredor; era D. Fortunata. Capitu
compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à
“Só me falara na doença, como negócio simples; mas o porta, ela abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo,
chamado, o silêncio, os suspiros podiam dizer alguma coisa mais. nenhuma contração de acanhamento, um riso espontâneo e claro,
O coração batia-me com força, as pernas bambeavam-me, mais de que ela explicou por estas palavras alegres:
uma vez cuidei cair... — Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me
O anseio de escutar a verdade complicava-se em mim penteou; pediu-me para acabar o penteado, e fez isto. Veja que
com o temor de a saber. Era a primeira vez que a morte me tranças!
aparecia assim perto, me envolvia, me encarava com os olhos — Que tem? acudiu a mãe, transbordando de
furados e escuros. Quanto mais andava aquela Rua dos Barbonos, benevolência. Está muito bem, ninguém dirá que é de pessoa que
mais me aterrava a ideia de chegar a casa, de entrar, de ouvir os não sabe pentear.
prantos, de ver um corpo defunto... Oh! eu não poderia nunca — O que, mamãe? Isto? redarguiu Capitu, desfazendo as
expor aqui tudo o que senti naqueles terríveis minutos. A rua, por tranças. Ora, mamãe!
mais que José Dias andasse superlativamente devagar, parecia E com um enfadamento gracioso e voluntário que às
fugir-me debaixo dos pés, as casas voavam de um e outro lado, e vezes tinha, pegou do pente e alisou os cabelos para renovar o
uma corneta que nessa ocasião tocava no quartel dos Municipais penteado. D. Fortunata chamou-lhe tonta, e disse-me que não
Permanentes ressoava aos meus ouvidos como a trombeta do fizesse caso, não era nada, maluquices da filha. Olhava com
juízo final. ternura para mim e para ela. Depois, parece-me que desconfiou.
Fui, cheguei aos Arcos, entrei na Rua de Mata-cavalos. A Vendo-me calado, enfiado, cosido à parede, achou talvez que
casa não era logo ali, mas muito além da dos Inválidos, perto da do houvera entre nós algo mais que penteado, e sorriu por
Senado. Três ou quatro vezes, quisera interrogar o meu dissimulação...
companheiro, sem ousar abrir a boca; mas agora, já nem tinha tal Como eu quisesse falar também para disfarçar o meu
desejo. Ia só andando, aceitando o pior, como um gesto do estado, chamei algumas palavras cá de dentro, e elas acudiram de
destino, como uma necessidade da obra humana, e foi então que a pronto, mas de atropelo, e encheram-me a boca sem poder sair
Esperança, para combater o Terror, me segredou ao coração, não nenhuma. O beijo de Capitu fechava-me os lábios. Uma
estas palavras, pois nada articulou parecido com palavras, mas exclamação, um simples artigo, por mais que investissem com
uma ideia que poderia ser traduzida por elas: "Mamãe defunta, força, não logravam romper de dentro. E todas as palavras
acaba o seminário". recolheram-se ao coração, murmurando: "Eis aqui um que não fará
Leitor, foi um relâmpago. Tão depressa alumiou a noite, como se grande carreira no mundo, por menos que as emoções o
esvaiu, e a escuridão fez-se mais cerrada, pelo efeito do remorso dominem..."
que me ficou. Foi uma sugestão da luxúria e do egoísmo. A Assim, apanhados pela mãe, éramos dois e contrários,
piedade filial desmaiou um instante, com a perspectiva da ela encobrindo com a palavra o que eu publicava pelo silêncio. D.
liberdade certa, pelo desaparecimento da dívida e do devedor; foi Fortunata tirou-me daquela hesitação, dizendo que minha mãe me
um instante, menos que um instante, o centésimo de um instante, mandara chamar para a lição de latim; o Padre Cabral estava à
ainda assim o suficiente para complicar a minha aflição com um minha espera. Era uma saída; despedi-me e enfiei pelo corredor.
remorso.” – Dom Casmurro Andando, ouvi que a mãe censurava as maneira da filha, mas a
filha não dizia nada.” – Dom Casmurro
“Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo Capítulo CXXXIX / De como não Fui Ministro D’estado
fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um ............................................................................................................
ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro ............................................................................................................
não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: — ............................................................................................................
“Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o primeiro ............................................................................................................
não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada ............................................................................................................
nova. ............................................................................................................
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado! ............................................................................................................
— Meu senhor! gemia o outro. ..........................................................................................
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada Capítulo CXL / Que Explica Anterior
menos que o meu moleque Prudêncio, — o que meu pai libertara Há coisas que melhor se dizem calando; tal é a matéria do capítulo
alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a anterior. Podem entendê-lo os ambiciosos malogrados. Se a
bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele. paixão do poder é a mais forte de todas, como alguns inculcam,
— É, sim, nhonhô. imaginem o desespero, a dor, o abatimento do dia em que perdi a
— Fez-te alguma coisa? cadeira da Câmara dos Deputados. Iam-se-me as esperanças
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na todas; terminava a carreira política.”
quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a
quitanda para ir na venda beber. Capítulo LV - O Velho Diálogo de Adão e Eva
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu. Brás Cubas
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, . . . . . ?
bêbado!” - Memórias Póstumas de Brás Cubas Virgília
. . . . . .
- Enredo não segue uma ordem cronológica: o narrador dá Brás Cubas
saltos temporais e interrompe várias vezes a narrativa para . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
refletir e comentar sobre assuntos diversos (digressão). .
Virgília
“Antes de concluir este capítulo, fui à janela indagar da . . . . . . !
noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se Brás Cubas
esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não . . . . . . .
continuam mais. A noite não me respondeu logo. Estava Virgília
deliciosamente bela, os morros palejavam de luar e o espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
morria de silêncio. Como eu insistisse, declarou-me que os sonhos . . . . . . . . . . . ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
já não pertencem à sua jurisdição. Quando eles moravam na ilha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu palácio, e donde os Brás Cubas . . . . . . . . . . . . .
fazia sair com as suas caras de vária feição, dar-me-ia explicações Virgília . . . . . . .
possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os sonhos antigos foram Brás Cubas
aposentados, e os modernos moram no cérebro da pessoa. Estes, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha
VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência
180
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que
enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e Questão 01 (Espm 2013)
liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à
sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor
e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma
viagem que fizera à Europa, e confessava que a não sermos nós,
já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa
família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo.
IV. O título Dom Casmurro não caracteriza adequadamente o cabelos. Viam Rômulo passar, lançavam-lhe o apelido: mestre-
personagem Bentinho. cuca!
Esta provocação era, além de tudo, inverdade. Cozinheiro,
Estão corretas apenas Rômulo! Só porque lembrava culinária, com a carnosidade bamba,
a) I e II. d) II e IV. fofada dos pastelões, ou porque era gordo das enxúndias
b) I e III. e) III e IV. enganadoras dos fregistas, dissolução mórbida de sardinha e
c) II e III. azeite, sob os aspectos de mais volumosa saúde?
(...)
Questão 12 (Fuvest 2013) Rômulo era antipatizado. Para que o não manifestassem
Em quatro das alternativas abaixo, registram-se alguns dos excessivamente, fazia-se temer pela brutalidade. Ao mais
aspectos que, para bem caracterizar o gênero e o estilo das insignificante gracejo de um pequeno, atirava contra o infeliz toda a
Memórias póstumas de Brás Cubas, o crítico J. G. Merquior pôs corpulência das infiltrações de gordura solta, desmoronava-se em
em relevo nessa obra de Machado de Assis. A única alternativa socos. Dos mais fortes vingava-se, resmungando intrepidamente.
que, invertendo, aliás, o juízo do mencionado crítico, aponta uma Para desesperá-lo, aproveitavam-se os menores do escuro.
característica que NÃO se aplica à obra em questão é: Rômulo, no meio, ficava tonto, esbravejando juras de morte,
a) ausência praticamente completa de distanciamento enobrecedor mostrando o punho. Em geral procurava reconhecer algum dos
na figuração das personagens e de suas ações. impertinentes e o marcava para a vindita. Vindita inexorável.
b) mistura do sério e do cômico, de que resulta uma abordagem No decorrer enfadonho das últimas semanas, foi Rômulo
humorística das questões mais cruciais. escolhido, principalmente, para expiatório do desfastio.
c) ampla liberdade do texto em relação aos ditames da Mestrecuca! Via-se apregoado por vozes fantásticas, saídas da
verossimilhança. terra; mestre-cuca! Por vozes do espaço rouquenhas ou
d) emprego de uma linguagem que evita chamar a atenção sobre si esganiçadas. Sentava-se acabrunhado, vendo se se lembrava de
mesma, apagando-se, assim, por detrás da coisa narrada. haver tratado panelas algum dia na vida; a unanimidade
e) uso frequente de gêneros intercalados — por exemplo, cartas ou impressionava. Mais frequentemente, entregava-se a acessos de
bilhetes, historietas etc. — embutidos no conjunto da obra global. raiva. Arremetia bufando, espumando, olhos fechados, punhos
para trás, contra os grupos. Os rapazes corriam a rir, abrindo
Questão 13 (Enem 2ª aplicação 2016) caminho, deixando rolar adiante aquela ambulância danada de
elefantíase.
Esaú e Jacó
(Raul Pompeia. O Ateneu.)
Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe quisesse pôr
alguma, e não me ocorresse outra. Não é somente um meio de
Considere as seguintes afirmações.
completar as pessoas da narração com as ideias que deixarem,
I. A alcunha de mestre-cuca, recebida por Rômulo, advinha do fato
mas ainda um par de lunetas para que o leitor do livro penetre o
de ter praticado, anteriormente, a arte culinária.
que for menos claro ou totalmente escuro.
II. As agressões e humilhações sofridas por Rômulo eram
Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história
essencialmente motivadas por sua antipatia.
colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei de solidariedade,
III. As reações de Rômulo às provocações dos colegas variavam
espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus
conforme as circunstâncias.
trebelhos.
Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e o
De acordo com o texto, está correto o que se afirma apenas em
cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre, nem a torre de
a) I.
peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não
b) II.
tira o poder da marcha de cada peça, e afinal umas e outras
c) III.
podem ganhar a partida, e assim vai o mundo.
d) I e II.
ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964
e) II e III.
(fragmento).
Questão 15 (Unifesp 2011)
O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra como o narrador
concebe a leitura de um texto literário. Com base nesse trecho, tal Sobre o texto, é correto afirmar:
leitura deve levar em conta a) A atmosfera tensa presente no cotidiano do colégio era produto,
a) o leitor como peça fundamental na construção dos sentidos. sobretudo, da marcação cerrada dos inspetores, que intervinham
b) a luneta como objeto que permite ler melhor. nos muitos conflitos.
c) o autor como único criador de significados. b) Rômulo, devido às provocações que sofre, perde as certezas
d) o caráter de entretenimento da literatura. sobre si mesmo e assume um comportamento que oscila entre a
e) a solidariedade de outros autores. angústia e ataques de fúria.
c) Alguns alunos, por serem muito suscetíveis, importunavam
Questão 14 (Unifesp 2011) outros colegas, puxando-lhes o cabelo ou colocando-lhes apelidos.
d) A brutalidade física de Rômulo era a única solução que
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
encontrava para enfrentar a chacota dos alunos mais fortes.
As provocações no recreio eram frequentes, oriundas do
e) A unanimidade dos alunos em chamar Rômulo de cozinheiro
enfado; irritadiços todos como feridas; os inspetores a cada passo
fazia com que preponderasse sua atitude de entregar-se ao
precisavam intervir em conflitos; as importunações andavam em
acabrunhamento.
busca das suscetibilidades; as suscetibilidades a procurar a sarna
das importunações. Viam de joelhos o Franco, puxavam-lhe os
Artistas todos são, e ali, naquela sala, Esta de áureos relevos, trabalhada
emudeceram todos; somente o piano fala. De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Celso Magalhães. Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Também Carvalho Júnior buscou romper com o ideário e com a
linguagem romântica, destacando-se a forma como encarou as Era o poeta de Teos que o suspendia
mulheres e o sexo: Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Profissão de fé Toda de roxas pétalas colmada.
Odeio as virgens pálidas, cloróticas,
Belezas de missal que o romantismo Depois... Mas, o lavor da taça admira,
Hidrófobo apregoa em peças góticas, Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Escritas num acesso de histerismo. Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
Alberto de Oliveira
É, porém, em 1883, com a publicação do segundo livro de Alberto
de Oliveira, Meridionais, que o Parnasiano parece despontar na
poesia brasileira. A partir dessa obra, o poeta passa a preocupar-
se cada vez mais com as exigências clássicas de correção métrica
e gramatical, de precisão vocabular e de economia de figuras,
seguindo uma doutrina estética antecipada por Machado de Assis.
Vaso Grego
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Aula 19 - Parnasianismo
E o vinho do prazer em nossa taça Superficial nele são os quadros históricos e mitológicos, o erotismo
Verte-nos ela, verte-nos e passa... de salão, as miniaturas descritivas e o nacionalismo ufanista. Os
Passa, e não torna atrás o seu caminho. temas, em geral, não estão à altura do domínio técnico e dos
recursos de linguagem. Como acentua o próprio Antonio Candido,
Nós chamamo-la em vão; em nossos lábios o poeta transforma tudo, o drama humano e a natureza, em
Restam apenas tímidos ressábios, "espetáculo", em coisa, em matéria-prima dos recursos esculturais
Como recordações daquele vinho. do verso. Com algumas exceções, seus poemas nada aprofundam
Raimundo Correia e ainda passam uma sensação de frieza.
As Pombas A um poeta
Vai-se a primeira pomba despertada... Longe do estéril turbilhão da rua,
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas Beneditino escreve! No aconchego
De pombas vão-se dos pombais, apenas Do claustro, na paciência e no sossego,
Raia sanguínea e fresca a madrugada... Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!
Quanta gente que ri, talvez, consigo Por isso, corre, por servir-me,
Guarda um atroz, recôndito inimigo, Sobre o papel
Como invisível chaga cancerosa! A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste Corre; desenha, enfeita a imagem,
Em parecer aos outros venturosa! A ideia veste:
Raimundo Correia Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
OLAVO BILAC
Obras principais: Poesias (Reunião dos livros Panóplias, Via- Torce, aprimora, alteia, lima
láctea e Sarças de fogo -1888); Tarde (1918) . A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Antonio Candido definiu Olavo Bilac como um "admirável poeta Como um rubim.
superficial".
Segundo Sergius Gonzaga, é Admirável a sua habilidade técnica Quero que a estrofe cristalina,
que o leva a versificar com meticulosa precisão: parece que jamais Dobrada ao jeito
erra métrica ou rima. Admirável, por fim, são os inúmeros sonetos Do ourives, saia da oficina
que rompem com os mitos da impassibilidade e da objetividade Sem um defeito:
absoluta - indicando uma herança romântica da qual o poeta não
pode ou não quer se livrar. E que o lavor do verso, acaso,
Por tão subtil,
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
E eu, solitário, volto a face, e tremo, Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vendo o teu vulto que desaparece Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Na extrema curva do caminho extremo.
Olavo Bilac Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
Ora (direis) ouvir estrelas! Olavo Bilac
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto … Questão 01 (Uftm 2011)
Considere as informações.
E conversamos toda a noite, enquanto “É na convergência de ideais antirromânticos, como a objetividade
A via láctea, como um pálio aberto, no trato dos temas e o culto da forma, que se situa a poética
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, [desse movimento literário].
Inda as procuro pelo céu deserto. (...)
Seus traços de relevo: o gosto da descrição nítida (a
Direis agora: “Tresloucado amigo! mimese pela mimese), concepções tradicionalistas sobre metro,
Que conversas com elas? Que sentido ritmo e rima e, no fundo, o ideal da impessoalidade que
Tem o que dizem, quando estão contigo?” partilhavam com os [escritores] do tempo.
(Alfredo Bosi. História concisa da Literatura Brasileira.)
Texto II Questão 07
Esta, de áureos relevos, trabalhada TEXTO
De divas mãos, brilhante copa, um dia, "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Já de aos deuses servir como cansada, Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
Alberto de Oliveira E abro as janelas, pálido de espanto...
O Arcadismo (no século XVIII) e o Parnasianismo (em fins do E conversamos toda a noite, enquanto
século XIX) apresentam, em sua caracterização, pontos em A via láctea, como um pátio aberto,
comum, perceptíveis nos trechos acima. São eles: Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
a) bucolismo e busca da simplicidade de expressão. Inda as procuro pelo céu deserto.
b) amor galante e temas pastoris.
c) ausência de subjetividade e presença da temática e da mitologia Direis agora: "Tresloucado amigo!
greco-latina. Que conversas com elas? Que sentido
d) preferência pelas formas poéticas fixas, como o soneto, e pelas Tem o que dizem, quando estão contigo?"
rimas ricas.
e) a arte pela arte e o retorno à natureza. E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Questão 06 Capaz de ouvir e de entender estrelas."
Inania Verba
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava, Olavo Bilac
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregada a' tua cruz, e, em breve, Olavo Bilac é um dos maiores representantes do Parnasianismo
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava... brasileiro. Observando os procedimentos de construção desse
poema e as concepções artísticas da estética parnasiana, conclui-
O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava: se que esse texto
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve... a) encarna a impassibilidade defendida pelos parnasianos, uma
E a Palavra pesada abafa a Ideia leve, vez que a emoção se desloca do eu lírico para o interlocutor.
Que, perfume e dano, refulgia e voava. b) confirma a tendência dos parnasianos no sentido de construção
de uma poética voltada para temas cotidianos.
Quem o molde achará para a expressão de tudo? c) contraria a tese parnasiana, segundo a qual a beleza da poesia
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas estaria na ausência dos sentimentos e na descrição objetiva.
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta? d) ironiza os sentimentos amorosos, ao criar um diálogo fictício
entre o eu lírico e seu interlocutor, numa situação real absurda.
E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo? e) destaca os sentimentos amorosos como o fio condutor da
E as palavras de fé que nunca foram ditas? existência: sem amor, o mundo perde o brilho e nada mais tem
E as confissões de amor que morrem na garganta?! sentido.
Olavo Bilac
Questão 08 (UFG)
Olavo Bilac é o principal representante do Parnasianismo no Brasil. Leia o soneto a seguir.
No poema acima, o poeta XXXI
a) confirma sua filiação ao Parnasianismo, ao destacar que a frieza Longe de ti, se escuto, porventura,
e a impassibilidade típicas do movimento impedem que o eu lírico Teu nome, que uma boca indiferente
sinta-se dominado por sentimentos exaltados. Entre outros nomes de mulher murmura,
b) revela a dificuldade de adequar-se a imposição parnasiana de Sobe-me o pranto aos olhos, de repente...
frieza emocional e impassibilidade na expressão poética, diante
dos sentimentos que se revelam presentes no eu lírico. Tal aquele, que, mísero, a tortura
c) afirma que o que se passa em seu foro íntimo reflete a tese Sofre de amargo exílio, e tristemente
parnasiana de que a poesia deve ser racional, objetiva e não A linguagem natal, maviosa e pura,
expressar o envolvimento emocional do eu lírico com o tema Ouve falada por estranha gente...
tratado.
d) nega a influência das teses parnasianas em sua poesia, uma Porque teu nome é para mim o nome
vez que revela sentir-se dominado por fortes sentimentos, a que dá De uma pátria distante e idolatrada,
vazão através de sua expressão poética marcada pela Cuja saudade ardente me consome:
subjetividade.
e) assume, metalinguisticamente, não submeter sua poesia E ouvi-lo é ver a eterna primavera
parnasiana à necessidade de se buscar a forma perfeita, mesmo E a eterna luz da terra abençoada,
em detrimento do conteúdo, uma vez que precisa dar vazão aos Onde, entre flores, teu amor me espera.
sentimentos que o dominam. (BILAC, Olavo. "Melhores poemas".)
Questão 03
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO "Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
Questão 01 (Acafe 2017) A pena, como em prata firme
“Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se voltavam Corre o cinzel.
para o exame e para a crítica da realidade, o Parnasianismo Corre; desenha, enfeita a imagem,
representou na poesia um retorno ao clássico, com todos os seus A idéia veste:
ingredientes: o princípio do belo na arte, a busca do equilíbrio e da Cinge-lhe o corpo a ampla roupagem
perfeição formal. Os parnasianos acreditavam que o sentido maior Azul-Celeste
da arte reside nela mesma, em sua perfeição, e não na sua relação Torce, aprimora, alteia, lima
com o mundo exterior.” A frase; e, enfim,
CEREJA; MAGALHÃES, 1999, p. 334. No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim."
Sobre o Parnasianismo, assinale a alternativa correta. Olavo Bilac
a) Os maiores expoentes do Parnasianismo, na poesia e na prosa,
ocuparam-se da literatura indianista, na qual exaltavam a dignidade O Parnasianismo tem como uma de suas características mais
do nativo e a beleza superior da paisagem tropical. marcantes o ideal de “Arte pela Arte”, que se desdobra no “Arte
b) Um exemplo de poesia parnasiana é a obra Suspiros poéticos e sobre a Arte”. O poema acima, perfeita expressão desses ideais,
saudade, de Gonçalves de Magalhães, na qual o poeta anuncia a a) tem como referente o próprio código, o que é típico da
revolução literária, libertando-se dos modelos românticos, metalinguagem.
considerados ultrapassados.
b) imprime ao poema as marcas de sua atitude pessoal, seus
c) Os parnasianos consideravam que certos princípios românticos,
sentimentos.
como a simplicidade da linguagem, valorização da paisagem
nacional, emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiros, c) busca persuadir o receptor a adotar certo comportamento.
sentimentalismo, tudo isso ocultava as verdadeiras qualidades da d) faz uso da primeira pessoa, eivando o poema de subjetividade.
poesia. e) concentra-se no processo de construção do texto, abusando de
d) Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa figuras de linguagem.
exemplificam a tendência de uma poesia pura, indiferente às
contingências históricas, com sátira à mestiçagem e elogio à
Questão 04 (Unifesp 2013)
nobreza local.
Essa poesia não logrou estabelecer-se em Portugal. De origem
Questão 02 (Unesp 2017) francesa, suas primeiras manifestações datam de 1866, quando
um editor parisiense publica uma coletânea de poemas; em 1871 e
Os parnasianos brasileiros se distinguem dos românticos pela
1876, saem outras duas coletâneas. Os poetas desse movimento
atenuação da subjetividade e do sentimentalismo, pela ausência
literário pregam o princípio da Arte pela Arte, isto é, defendem uma
quase completa de interesse político no contexto da obra e pelo
arte que não sirva a nada e a ninguém, uma arte inútil, uma arte
cuidado da escrita, aspirando a uma expressão de tipo plástico.
voltada para si própria. A Arte procuraria a Beleza e a Verdade que
(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)
existiriam nos seres concretos, e não no sentimento do artista. Por
A referida “atenuação da subjetividade e do sentimentalismo” está isso, o belo se confundiria com a forma que o reveste, e não com
bem exemplificada na seguinte estrofe do poeta parnasiano Alberto algo que existiria dentro dele. Daí vem que esses poetas sejam
de Oliveira (1859-1937): formalistas e preguem o cuidado da forma artística como exigência
a) Quando em meu peito rebentar-se a fibra, preliminar. Para consegui-lo, defendem uma atitude de
Que o espírito enlaça à dor vivente, impassibilidade diante das coisas: não se emocionar jamais; antes,
Não derramem por mim nem uma lágrima impessoalizar-se tanto quanto possível pela descrição dos objetos,
Em pálpebra demente. via de regra inertes ou obedientes aos movimentos próprios da
b) Erguido em negro mármor luzidio, Natureza (o fluxo e refluxo das ondas do mar, o voo dos pássaros,
Portas fechadas, num mistério enorme, etc.). Esteticistas, anseiam uma arte universalista.
Numa terra de reis, mudo e sombrio, Em Portugal, tentou-se introduzir esse movimento; certamente,
Sono de lendas um palácio dorme. impregnou alguns poetas, exerceu influência, mas não passou de
c) Eu vi-a e minha alma antes de vê-la prurido, que pouco alterou o ritmo literário do tempo. Na verdade, o
Sonhara-a linda como agora a vi; modo fortuito como alguns se deixaram contaminar da nova moda
Nos puros olhos e na face bela, poética revelava apenas veleidade francófila, em decorrência de
Dos meus sonhos a virgem conheci.
VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)
razões de gosto pessoal ou de grupos restritos: faltou-lhes intuito Furtivas glórias, tácitos favores,
comum. Hei-de enfim possuir: porém segredo!”
(Massaud Moisés. A literatura portuguesa, 1999. Adaptado.)
• Os árcades produziram poesia de concepção clássica; daí a
As informações apresentadas no texto referem-se à literatura
notória presença de referências à mitologia. Os versos de Bocage
a) simbolista, cuja busca pelo Belo implicou a liberdade na são a confirmação desta prática poética.
expressão dos sentimentos. O texto deixa claro que essa literatura
alcançou notável aceitação entre os poetas da época. d) “Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma
b) simbolista, cuja preocupação com a expressão do sentimento A esta tortura de homem e de artista:
filia-se à tradição poética do Renascimento. O texto deixa claro que Desdém pelo que encerra a minha palma,
essa literatura teve um desenvolvimento tímido na cena literária E ambição pelo mais que não exista;”
portuguesa.
c) parnasiana, cuja preocupação com a objetividade a opõe ao • No texto parnasiano, é comum a identificação de elementos de
subjetivismo romântico. O texto deixa claro que essa literatura não conformação subjetiva, como se observa nos versos de Bilac
se impôs na cena literária portuguesa. transcritos acima.
d) parnasiana, cuja liberdade de expressão e cujo compromisso
e) “Assim eu te amo, assim; mais do que podem
social permitem fundamentar a Arte pela Arte. O texto deixa claro
Dizer-te os lábios meus, – mais do que vale
que essa literatura teve pouco espaço na cena literária portuguesa.
Cantar a voz do trovador cansada:
e) realista, cuja influência da tradição clássica é fundamental para O que é belo, o que é justo, santo e grande
se chegar à perfeição. O texto deixa claro que essa literatura teve Amo em tí. – Por tudo quanto sofro,
uma disseminação irregular na cena literária portuguesa. Por quando já sofri, por quanto ainda
Me resta sofrer, por tudo eu te amo!”
Questão 05 (Ufpa 2012)
Estilo de época corresponde a um conjunto de características de • Gonçalves Dias, ainda que reconhecido como o autor de
um grupo de escritores pertencentes à mesma circunstância textos assinalados por motivos de grande nacionalismo,
histórica e sociocultural, mantendo-se o respeito às características produziu poemas de expressão lírico-amorosa indiscutível.
individuais de cada autor. Assim sendo, o artista, mesmo sob a
orientação de um sistema de normas, padrões literários, vistos de Questão 06 (Insper 2012)
maneira genérica, produz a sua criação literária de modo a Texto
conferir-lhe características próprias, tendo em vista sua visão de Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via
mundo. Dessa forma, o artista torna perceptível sua capacidade de Que, aos raios do luar iluminada,
trabalhar a linguagem de forma particularizada e de manifestar-se, Entre as estrelas trêmulas subia
segundo escolhas que melhor atendam a sua perspectiva e Uma infinita e cintilante escada.
capacidade de apreensão do mundo.
E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada
Considerando-se os comentários feitos sobre cada texto literário Degrau, que o ouro mais límpido vestia,
transcrito abaixo, identifique a alternativa em que as afirmações Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada,
sobre os autores citados não estão em consonância com o estilo Ressoante de súplicas, feria...
de época que eles representam.
a) “Quem a primeira vez chegou a ver-vos, Tu, mãe sagrada! vós também, formosas
Nise, e logo se pôs a contemplar-vos, Ilusões! sonhos meus! Íeis por ela
Bem merece morrer por conversar-vos Como um bando de sombras vaporosas.
E não poder viver sem merecer-vos.”
E, ó meu amor! eu te buscava, quando
• Gregório de Matos Guerra é poeta do Barroco brasileiro, cuja Vi que no alto surgias, calma e bela,
obra se caracteriza por temas variados: poesia religiosa, lírico- O olhar celeste para o meu baixando...
amorosa e satírica. Olavo Bilac,Via-Láctea.
b) “No entanto o capitão manda a manobra, Embora seja identificado como o principal poeta parnasiano
E após fitando o céu que se desdobra, brasileiro, Olavo Bilac, nesse soneto, explora um aspecto do
Tão puro sobre o mar, Romantismo, o qual está explicitado na seguinte alternativa:
Diz do fumo entre os densos nevoeiros: a) objetividade e racionalismo do eu lírico.
‘Vibrai rijo o chicote, marinheiros! b) subjetividade numa atmosfera onírica.
Fazei-os mais dançar!...’" c) forte presença de elementos descritivos.
d) liberdade de criação e de expressão.
• Castro Alves, pertencente à terceira geração romântica, e) valorização da simplicidade, bucolismo.
emprestou o seu gênio criador à causa dos escravos; daí a sua
relação com a poesia de tema social. Questão 07 (Enem 2013)
Mal secreto
c) “Sabei, amigos Zéfiros, que cedo, Se a cólera que espuma, a dor que mora
Entre os braços de Nise, entre estas flores,
Questão 12 (Uerj)
Indique a alternativa que NÃO ESTÁ de acordo com o poema. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
a) O poeta parnasiano privilegiou a forma, a maneira mais perfeita Sempre que se agita esta questão das "reivindicações",
que encontrou para efetivar sua arte, mesmo que, para isso, ele escovam-se os velhos chavões, e, com um grande ar de
tivesse que sacrificar suas emoções. Nesse sentido, os versos de importância, os 1filósofos decidem sem apelação que a mulher não
Olavo Bilac são uma crítica ao Parnasianismo. pode ser mais do que o anjo do lar, a vestal encarregada de vigiar
b) O poeta fala da luta entre ideias e palavras e entre forma e o fogo sagrado, a 2depositária das tradições da família... e das
conteúdo, quando estes fracassam ao traduzirem nossos chaves da despensa. Todo esse dispêndio de palavras 3inúteis
sentimentos. As estrofes citadas são um derramamento da alma serve apenas para encobrir a 4fealdade da única razão séria que
sobre essa luta, contrariando os preceitos parnasianos de podemos apresentar contra as pretensões das mulheres: o nosso
contenção lírica. egoísmo, o receio que temos de que nos despojem das nossas
c) O tema básico das estrofes é o amor irrealizado, que causa prerrogativas seculares - o medo de perder as posições, as
sofrimentos ao poeta. regalias, as honras que o preconceito bárbaro confiou
d) Os versos são alexandrinos, muito apreciados pelos exclusivamente ao nosso século. Compreende-se: quem se
parnasianos. habituou a empunhar o bastão do comando não se resigna
e) O verso "E a Palavra pesada abafa a Ideia leve" contém uma facilmente a passá-lo a outras mãos: é mais fácil deixar a vida do
antítese, que representa a contradição entre forma e conteúdo que deixar o poder.
exposta pelo poeta. (18/08/1901)
(BILAC, Olavo. VOSSA INSOLÊNCIA. São Paulo: Cia. das Letras,
Questão 11 1997, p. 313.)
O Vinho de Hebe
Quando do Olimpo nos festins surgia O narrador do texto critica o papel atribuído à mulher em nossa
Hebe risonha, os deuses majestosos sociedade.
Os copos estendiam-lhe, ruidosos,
Dos trechos a seguir, o único que corresponde ao papel criticado é:
E ela, passando, os copos lhes enchia...
a) "Ser mulher, e oh! atroz, tantálica, tristeza! / ficar na vida qual
A Mocidade, assim, na rubra orgia uma águia inerte, presa / nos pesados grilhões dos preceitos
Da vida, alegre e pródiga de gozos, sociais!" (Gilka Machado)
Passa por nós, e nós também, sequiosos, b) "Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste,
Nossa taça estendemos-lhe, vazia... assim magro, / nem estes olhos tão vazios, / nem o lábio amargo."
(Cecília Meireles)
E o vinho do prazer em nossa taça c) "Já agora as feministas venceram radicalmente e não há
Verte-nos ela, verte-nos e passa... profissão masculina que elas não ataquem e onde não vençam."
Passa, e não torna atrás o seu caminho. (Rachel de Queiroz)
d) "É com um pouco de pudor que sou obrigada a reconhecer que
Nós chamamo-la em vão; em nossos lábios o que mais interessa à mulher é o homem." (Clarice Lispector)
Restam apenas tímidos ressábios,
Como recordações daquele vinho. Questão 13 (UFF)
Raimundo Correia Texto para as próximas duas questões
Elevação
AULA 20 - SIMBOLISMO Por sobre os pantanais, os vales orvalhados,
As montanhas, os bosques, as nuvens, os mares,
INTRODUÇÃO Para além do ígneo sol e do éter que há nos ares,
Para além dos confins dos tetos estrelados,
e) “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras de uma ironia e de uma dor violenta.
De luares, de neves, de neblinas!...
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
agita os guizos, e convulsionado
Incensos dos turíbulos das aras...”
salta, 1gavroche, salta clown, varado
pelo 2estertor dessa agonia lenta...
Questão 02 (Pucrs 2013)
Leia o poema “Encarnação”. Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Carnais, sejam carnais tantos desejos, Vamos! retesa os músculos, retesa
carnais, sejam carnais tantos anseios, nessas macabras piruetas d’aço...
palpitações e frêmitos e enleios,
das harpas da emoção tantos arpejos... E embora caias sobre o chão, 3fremente,
afogado em teu sangue 4estuoso e quente,
Sonhos, que vão, por trêmulos adejos, ri! Coração, tristíssimo palhaço.
à noite, ao luar, intumescer os seios (Cruz e Sousa)
1gavroche: garotos de Paris, figuradamente artista.
láteos, de finos e azulados veios
2estertor: respiração anormal própria de moribundos.
de virgindade, de pudor, de pejos...
3fremente: vibrante, agitado, violento.
Sejam carnais todos os sonhos brumos 4estuoso: que ferve, ardente, febril.
Sonhos, palpitações, desejos e ânsias a) há uma alusão ao fato de o palhaço, interiormente dilacerado,
formem, com claridades e fragrâncias, mascarar seus sentimentos para transmitir alegria.
a encarnação das lívidas Amadas! b) a fachada de alegria e o sofrimento interior compõem a natureza
conflitante do coração do poeta, sensibilizando o público.
Com base no poema e em seu contexto, afirma-se: c) há um vocabulário sugestivo, remetendo ao coração:
I. A atmosfera onírica, a sugestão através de símbolos, a “gargalhada sanguinolenta”, “convulsionado”, “retesa os
musicalidade das palavras por meio da aliteração são músculos”.
características que permitem associar o poema à escola simbolista. d) o poema pode ser visto também como uma metáfora da
II. O eu lírico, em tom quase de súplica, ambiciona a concretização condição do artista, em que se revelam as relações entre arte e
daquilo que pensa e deseja. poeta.
III. O autor do poema também escreveu as obras Missal e e) a condição do artista se espelha na do palhaço, sendo este
Broquéis. Seu nome é Alphonsus de Guimaraens. forçado a rir, numa espécie de tortura interna e eterna.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são
a) I, apenas. Questão 04 (Espm 2017)
b) III, apenas.
Fazendo uma análise mais detalhada do soneto, assinale a
c) I e II, apenas.
afirmação incorreta:
d) II e III, apenas.
a) ao longo do texto, constata-se que o acrobata da dor,
e) I, II e III.
desempenhando o papel de um triste e sofrido palhaço, é
metáfora do próprio coração.
Questão 03 (Espm 2017)
b) o acrobata precisa acolher a manifestação da audiência e seguir
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES desempenhando seu papel, mesmo que o leve à morte.
c) essa espécie de clown, que vive de agradar às multidões, paga
um preço alto: a ocultação de sua dor interior.
d) cena grotesca, o bis é a sedução da plateia que acaba
conduzindo o acrobata para a tragédia.
e) a plateia pedindo bis corresponde à elite política que exige do
cidadão, em sua luta diária, as maiores acrobacias.
Mas essa mesma algema de amargura, Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito
Mas essa mesma Desventura extrema Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Faz que tu'alma suplicando gema Cava nas fundas eras insondáveis
E rebente em estrelas de ternura. O cavador do trágico Infinito.
O poema acima encontra-se na obra "Últimos sonetos", de Cruz e SOUZA, Cruz e. Últimos Sonetos. www.dominiopublico.gov.br.
Sousa, poeta cujo centenário de morte foi comemorado em 1998.
Leia as afirmativas seguintes acerca do poema e assinale a opção Analise as proposições em relação ao soneto “Cavador do Infinito”,
CORRETA. Cruz e Souza.
I - Ocorre hipérbole no verso 4; anáfora, nos versos 5 e 6; antítese, I. A leitura do poema leva o leitor a inferir que o cavador do infinito
no verso 9; sinestesia, nos versos13-14. é a representação da imagem do próprio poeta, ou seja, um
II - O poeta é considerado um ser diferente cuja alma, mesmo autorretrato do poeta simbolista.
algemada à Terra, rebenta "em estrelas de ternura". II. Da leitura do poema infere-se que a metáfora está centrada na
III - O uso da letra maiúscula em substantivos comuns singulariza- lâmpada do sonho, a qual se refere à imaginação onírica do poeta
os e empresta-lhes uma dimensão simbólica. e ilumina o seu inconsciente.
III. O sinal de pontuação – reticências – no verso 11, acentua o
a) Apenas a afirmativa I está correta. clima de indefinível, levando o leitor a inferir sobre a situação – o
b) Apenas a afirmativa II está correta. drama vivido pelo eu lírico.
c) Apenas a afirmativa III está correta. IV. No plano formal, o uso de letra maiúscula em substantivos
d) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. comuns é uma característica do Simbolismo, como ocorre em:
e) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. “Sonho” (versos 1 e 12), “Ânsias” e “Desejos” (verso 5); “Infinito”
(versos 8 e 9). Usada como alegoria, a letra maiúscula tenciona dar
Questão 10 (Espm 2014) um sentido de transcendência, de valor absoluto.
Para as Estrelas de cristais gelados V. Da leitura do poema e do contexto literário simbolista, infere-se
que o título do poema “Cavador do Infinito” reforça a ideia a que o
As ânsias e os desejos vão subindo, soneto remete: o poeta simbolista busca a transcendência, a
Galgando azuis e siderais noivados transfiguração da realidade cotidiana para uma dimensão
De nuvens brancas a amplidão vestindo... metafísica, que é uma característica da estética simbolista.
(Cruz e Sousa)
Assinale a alternativa correta.
Assinale a opção em que expresse incorretamente a análise do a) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
poema: b) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, III, IV e V são verdadeiras.
a) As “nuvens brancas” mencionadas sugerem as vestes d) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras.
tradicionais de noiva. e) Todas as afirmativas são verdadeiras.
b) A aliteração do /s/ em “As ânsias e os desejos vão subindo”
produz cacofonia. Questão 12
c) Os “cristais gelados” estão de acordo com a frialdade do espaço Texto para as próximas 2 questões
sideral.
d) As “Estrelas”, com maiúscula alegorizante, podem significar uma SIDERAÇÕES
dimensão humana superior.
e) Galgar “azuis e siderais noivados” é imagem que remete ao Para as Estrelas de cristais gelados
anseio de atingir um mundo espiritual. As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
Questão 11 (Udesc 2014) De nuvens brancas a amplidão vestindo...
Cavador do Infinito
Num cortejo de cânticos alados
Com a lâmpada do Sonho desce aflito Os arcanjos, as cítaras ferindo,
E sobe aos mundos mais imponderáveis, Passam, das vestes nos troféus prateados,
Vai abafando as queixas implacáveis, As asas de ouro finamente abrindo...
Da alma o profundo e soluçado grito.
Dos etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve,
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207
Aula 20 - Simbolismo
Ondas nevoentas de Visões levanta... II - O fragmento apresenta uma construção apoiada na
justaposição de frases nominais, com o intuito de descrever os
E as ânsias e os desejos infinitos objetos com clareza.
Vão com os arcanjos formulando ritos III - O fragmento mostra alguns procedimentos estilísticos do
Da Eternidade que nos Astros canta... Simbolismo, como, por exemplo, a musicalidade das palavras, o
uso de reticências, o emprego de letras maiúsculas e a
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural identificação do referente.
do Simbolismo encontrados no poema Siderações, de Cruz e Conforme se verifica, está correto o que se afirma
Souza, são a) apenas em I e II
A) uso da linguagem simples e direta na abordagem de temas b) apenas em I e III
filosóficos. c) apenas em II e III
B) a prevalência do lirismo em relação à temática purista d) apenas em I
parnasiana. e) em I, II e III
C) o refinamento da linguagem e a busca do transcendental.
D) a evidente preocupação com a realidade social expressa Questão 15 (UFPA 2012)
através da poesia. “CREPUSCULAR”
E) a liberdade formal da estrutura poética quanto ao uso de rimas e
métricas Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, dais comprimidos...
Questão 13 Uma ternura esparsa de balidos,
Observa-se uma aproximação entre Simbolismo e Romantismo Sente-se esmorecer como um perfume.
uma vez que
a) o poeta idealiza seus desejos, projetando-os para uma instância As madressilvas murcham nos silvados
inatingível. E o aroma que exalam pelo espaço,
b) o poema emprega descrições nítidas que garantem uma Tem delíquios de gozo e de cansaço,
compreensão exata dos versos. Nervosos, femininos, delicados.
c) o poeta expõe a sua avaliação sobre a realidade objetiva,
utilizando imagens da natureza em linguagem precisa e direta. Sentem-se espasmos, agonias dave,
d) o poema, em forma de epigrama, traduz uma visão materialista Inapreensíveis, mínimas, serenas...
do amor e da sensualidade. Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
e) se trata da descrição de fantasias e alucinações apresentadas O meu olhar no teu olhar suave.
nos moldes de ficção científica.
As tuas mãos tão brancas danemia...
Questão 14 (Pucsp 98) Os teus olhos tão meigos de tristeza...
Leia o fragmento do poema "Antífona", de Cruz e Sousa, e É este enlanguescer da natureza,
responda Este vago sofrer do fim do dia.
"Ó Formas , brancas, Formas claras Camilo Pessanha é considerado o expoente máximo da poesia
De luares, de neves, de neblinas!... simbolista portuguesa. Os seus versos reúnem o que há de mais
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... marcante nesse estilo de época por traduzirem sugestões, imagens
Incensos dos turíbulos das aras... visuais, sonoras e estados de alma, além de notória ausência de
elementos que se detenham em descrição ou em referência
Formas do Amor, constelarmente puras, objetiva.
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras É correto afirmar que os versos do soneto “Crepuscular” transcritos
E dolências de lírios e de rosas... nas opções, a seguir, traduzem as considerações postas nesses
comentários, com exceção de:
Indefiníveis músicas supremas, a) “Uma ternura esparsa de balidos,”
Harmonias da Cor e do Perfume. b) “As madressilvas murcham nos silvados”
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, c) “É este enlanguescer da natureza,”
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume..." d) “Há no ambiente um murmúrio de queixume,”
e) “Este vago sofrer do fim do dia.”
Esse trecho do poema, que abre o livro BROQUÉIS, é considerado
uma espécie de profissão de fé simbolista.
Semana 1 - Figuras de Linguagem I [D] Não há verso que represente toda a Mata Atlântica nem o eu
01. Resposta: [C] lírico dá a entender isso em nenhum momento do breve poema.
O autor usa o recurso da polissemia da palavra “natureza”, repetida [E] Não há personificação de nenhum elemento no poema.
quatro vezes no anúncio com dois significados distintos (na
segunda e terceira aparições como “conjunto de elementos do 14. Resposta: [D]
mundo natural” e, na primeira e quarta, como “o que compõe a As alternativas [A], [B], [C] e [E] não apresentam designação
substância do ser; essência”), conforme sua aplicação no contexto. correta para a figura de linguagem usada na frase “tornou-se essa
ave rara e fascinante”, pois a hipérbole expressa exagero, a
02. Resposta: [D] redundância está associada a tudo o que é demasiado ou
Inverno metaforicamente representa uma fase difícil, complicada, supérfluo, a ironia declara o contrário do que se pensa e a
obscura; enquanto verão significa força, energia, vitalidade, metonímia substitui um termo por outro do mesmo domínio.
vontade de superar as dificuldades. O par inverno\verão estabelece Apenas [D] é correta, pois a associação de ave rara com a
a antítese. genialidade de João Cabral constitui uma metáfora.
sem vós, ninfas do Tejo e do Mondego, (mil). Há, assim, uma hipérbole.
por caminho tão árduo, longo e vário! 14. Resposta:
Vosso favor invoco, que navego a) No trecho "Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse", observa-
por alto mar, com vento tão contrário se o uso de aliteração, na reiteração do fonema consonantal
que, se não me ajudais, hei grande medo sibilante /s/ (diSSe/iSSo/contradiSSe), de rima interna
que o meu fraco batel se alague cedo.” (dISSE/contradISSE) e de células rítmicas, pois tal passagem
constitui exemplo de prosa que pode ser desmembrada em três
…adquiriria, na forma direta, a seguinte disposição: Tinha um ramo versos tetrassílabos, com acentos regulares nas quartas sílabas
na mão…Mas eu, ó ( como sou) cego, que cometo insano e poéticas destacadas:
temerário sem vós, ninfas do Tejo e do Mondego, por caminho tão Eu/ di/sse/ I/sso.
árduo, longo e vário, invoco vosso favor, que navego por alto mar E o/ ca/no/EI/ro
com vento tão contrário que hei grande medo que o meu fraco me/ con/tra/DI/sse.
batel se alague cedo se não me ajudais. Considerando que a b) Na frase "Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!",
anástrofe se aplica somente à inversão da ordem normal dos ocorre aliteração dos fonemas /f/ ("Fosse [...] Fabricar"), /r/
termos numa frase, como esclarece o enunciado, é correta a opção ("cRime, fabRicaR [...] madeiRa buRRa"), /d/ (Dessas, De
[C], em que o objeto direto precede o verbo com sujeito elíptico. maDeira) e /s/ ("foSSe [...] deSSas"). Também há um
anacoluto: a forma verbal "fosse" não se integra sintaticamente
06. Resposta: [A] com o segmento posterior.
A desconfiança do autor é relacionada à reconstrução lógica dos
sonhos, pois ele não confia na lembrança – conforme indica em 15. Resposta: [D]
“Se já nos é difícil recordar o que vimos despertos e de olhos bem [I] Há uma comparação implícita entre as “derrotas” e as
abertos, imagine-se o que não será das coisas que vimos dormindo “frustrações” e o amargor, assim, uma metáfora.
e de olhos fechados”. [II] Em “O rio tinha entrado em agonia, após tantos meses sem
chuva”, há personificação do rio.
07. Resposta: [A] [III] Um paradoxo é uma aparente falta de nexo, uma contradição.
O trecho destacado indica ocorrência da concordância ideológica, É o que ocorre entre as ideias de “devagar” e “depressa”, parece
ou seja, silepse de pessoa em “ambas as partes tínhamos”: inconcebível, logicamente, um “devagar depressa”.
“ambas as partes” faz referência à 3ª pessoa, e “tínhamos”, à 1ª [IV] Em “Maria Joaquina completava quinze primaveras”, a relação
pessoa, de modo que o autor inclui-se na situação retratada. de parte (primavera) pelo todo (idade, anos), implica na figura de
linguagem metonímia. Maria não completou apenas 15
08. Resposta: [D] “primaveras”, mas 15 “primaveras, verões, outonos e invernos”, ou
seja, 15 anos completos.
09. Resposta: [C]
A figura de linguagem que representa adequadamente a intenção Semana 3 - Trovadorismo
do autor está assinalada em [C], pois é a hipérbole que exagera a
significação linguística ao apresentar o dono da empresa em Questão 01
atitude radical para demitir os funcionários.
O Trovadorismo data da época Medieval (por volta do século XII) e
foi uma literatura oral acompanhada de alaúde, viola, flauta ou
10. Resposta: [A]
coro. Dessa forma, as alternativas [A] e [D] são descartadas.
É correta a alternativa [A], pois a repetição da expressão “no
O trovador podia optar por dois tipos distintos de cantigas: as
fundo”, assim como o advérbio “bem”, (correspondente a muito,
líricas (de Amor e de Amigo) e satíricas (Maldizer e Escárnio). Isso
bastante) realçam o sentido que se pretende imprimir ao contexto
confirma a alternativa [B] e invalida a [E].
do poema.
O Padre Antônio Viera pertenceu ao período do Barroco, e
Camões ao Renascimento e, portanto, [C] também está incorreta.
11. Resposta: [A]
Resposta: [B]
12. Resposta: [E]
Questão 02
A poesia é marcada pela personificação que é a figura de
linguagem predominante indicada logo no primeiro verso: A lua foi [A] Apesar de muitas retratarem as Cruzadas, as cantigas têm
ao cinema, e é dessa cena inusitada de que vai tratar o poema. temáticas mais variadas e complexas que variam do amor à ironia.
[B] Correta. As cantigas eram assim chamadas por serem
13. Resposta: [D] cantadas e acompanhadas ao som de alaúdes.
A alternativa [D] é a correta, pois, analisando os fragmentos. [C] A pintura mostra um cantador não um ator do teatro de Gil
[I] temos termos opostos como “som” e “silêncio”, “luz” e Vicente.
“escuridão, “noite” e “dia”, “não e “sim”. Há, portanto, várias [D] Os temas presentes nas cantigas refletiam os costumes e a
antíteses. forma de amar da Europa medieval e cristã.
[II] apresenta-se uma redundância expressa em “chove chuva”. Há, [E] Camões não se inspirou nas cantigas trovadorescas para
portanto, um pleonasmo. escrever os Lusíadas, mas sim pelos épicos greco-romanos.
[III] ocorre uma ironia, uma vez que o cantor coloca que a pessoa Resposta: [B]
mente tão bem que parece verdade, ou seja, critica de forma
irônica a capacidade dessa pessoa de mentir.
[IV] percebe-se um exagero no número de rosas que o cantor traz
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RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Questão de interpretação da imagem que, de fato, não tem 12. Resposta: [D]
precisão geográfica, mas destaca uma das atividades [I] Verdadeiro. Ao mencionar a oferta de elementos europeus (“pão
desenvolvidas pelos portugueses no Brasil colônia, a exploração e peixe cozido, confeitos, bolos, mel e figos passados”, “vinho”) e a
do pau-brasil, através da prática do escambo. Na data da reação dos indígenas (“cuspiam com nojo” e “demonstraram não
publicação do mapa, já havia a exploração açucareira; no entanto, gostar e não mais quiseram”), percebe-se a diferença de
o extrativismo da madeira continuou apesar da perda de comportamento entre os dois povos.
importância. [II] Falso. Não há menção à antipatia aos indígenas, tanto no
trecho apresentado como na obra em geral. Caminha deteve-se a
02. Resposta: [C] observar e relatar fatos, abstendo-se desse tipo de juízo.
[A] Embora a questão esteja correta, não é a correta para a [III] Verdadeiro. O emprego de verbos no pretérito perfeito do
questão. O correto é infligido, trata-se de um erro de ortoepia e indicativo, relatando cronologicamente as ações dos portugueses e
também de ortografia. as reações dos indígenas, são elementos próprios da narrativa.
[B] Degenerado, neste contexto, pode referir-se ao paganismo dos
indígenas.
[C] Correta. Não dá para comparar a literatura de informação dos
primeiros navegantes, que descreviam as terras recém- 13. Resposta: [B]
encontradas, com a estética árcade, que apesar de valorizar o O etnocentrismo pressupõe a avaliação de um determinado grupo
bucolismo, não tinha compromisso com a realidade, somente com social a partir de valores de outro. Neste caso, o europeu, partindo
a arte, diferentemente da literatura quinhentista. de seus valores, analisa as características físicas, costumes e o
[D] Tanto contendores quanto combatentes apresentam sentido comportamento do indígena. O etnocentrismo não manifesta,
equivalente na oração. Logo, poderá ser substituída uma pela necessariamente, o preconceito de forma acintosa ou explicita.
outra.
[E] Nos raros momentos que havia algum problema entre os índios, 14. Resposta: [D]
as punições eram na mesma medida, ou seja, lei de talião, que A questão mostra um texto escrito por um português sobre o Brasil
consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena. no período colonial. Nele podemos perceber o estranhamento do
europeu ao chegar no Brasil. Ou seja, o português não entendia
03. Resposta: [D] bem os valores socioculturais indígenas dos portugueses.
[V] O texto leva-nos crer que os índios vivem bastante felizes e Letra D.
convivem muito bem uns com os outros.
[F] Tanto o pronome ninguém como alguém atraem o pronome 15. Resposta: O trecho transcrito permite identificar duas das
oblíquo para si, logo, não haverá alteração no que concerne à motivações que levariam Portugal a colonizar o Brasil: a atividade
colocação pronominal no caso de uma suposta mudança. agrícola (“a terra [...] Em tal maneira é graciosa que, querendo-a
[V] Segundo os autores, os índios vivam em um clima de aproveitar, dar-se-á nela tudo”) e o propósito de converter os
normalidade e respeito: (...) apesar de serem conduzidos apenas nativos à fé católica (“Porém o melhor fruto, que nela se pode
pelo seu natural, ainda que um tanto degenerado, eles se deem tão fazer, me parece que será salvar esta gente.”).
bem e vivam em tanta paz uns com os outros.
[V] A referência ao próximo tem a ver com outro índio, faz parte da Semana 6 - Barroco I
cultura silvícola.
[F] As palavras destacadas são sujeito simples e objeto direto 01. Resposta: [A]
respectivamente. A segunda e terceira afirmativas são falsas, pois as ilustrações na
Idade Média deveriam ter como motivo a questão religiosa e
04. Resposta: [D] reforçar, na mente dos fiéis, o controle ideológico da Igreja.
Se observarmos melhor, na primeira ilustração não há movimentos.
05. Resposta: [D] Jesus, representado no meio, está em destaque de tal modo que
as pessoas em volta dele parecem frágeis e pequenas. Em
06. Resposta: [D] segundo plano (no fundo), aparecem os muros dos castelos e
[A] Nos versos acima, não há menção a respeito da colonização grandes torres que reforçam a presença da Igreja, bem como seu
portuguesa no Brasil. poder. Já a segunda ilustração, deixa bem clara a mudança de
[B] O poema descreve as qualidades do coco e do caju brasileiros. mentalidade e de valores que vinham ocorrendo no contexto da
[C] Trata-se de um poema, não de um anúncio, portanto, é Baixa Idade Média, especialmente o movimento Renascentista, a
impossível saber do enriquecimento do poeta. Reforma Religiosa, o Antropocentrismo, o Humanismo.
[D] Correta. As qualidades de dois frutos tropicais tão brasileiros
são exaltadas através dos versos, aproximando o poema das 02. Resposta: [B]
descrições locais típicas dos poemas Quinhentistas. Segundo o texto a arte produzida em Minas Gerais seguiu as
[E] Não há menção de nenhum encontro amoroso. orientações do Concílio de Trento, ou seja, do movimento
conhecido como Contra Reforma (ou Reforma Católica). Os efeitos
07. Resposta: [A] desse movimento foram muito significativos nos países da
08. Resposta: [A] Península Ibérica e, consequentemente, em suas colônias – como
09. Resposta: [B] o Brasil – sendo que a arte sacra que se desenvolveu nas Minas
10. Resposta [C] Gerais se enquadra na ideia de “barroco tardio”.
11. Resposta: [D]
Havia entre algumas tribos indígenas brasileiras o hábito de comer valorização da natureza e uso da mitologia. Expressões latinas
a carne dos inimigos: antropofagia. Portanto, o sentido é literal. como Inutilia truncat: "cortar o inútil", Fugere urbem: "fugir da
“Açougue” foi empregado em sentido figurado, referindo-se à cidade", Locus amoenus: "lugar ameno" e Carpe diem: "aproveitar
matança generalizada promovida pelos “brancos”, que “mais a vida” sugerem crítica aos excessos do movimento anterior, o
se comem”, ou seja, mais se destroem. Barroco, assim como, no aspecto político, aos abusos
da nobreza e do clero praticados no Antigo Regime. Assim, todas
Semana 9 - Arcadismo I as opções são corretas, exceto [E].
Ao longo do soneto, o eu lírico manifesta estranheza pelas argumento que restringe o que foi dito ou um argumento que
mudanças que observa na natureza: “Quem fez tão diferente funciona como ressalva ao que foi enunciado antes. Assim, é
aquele prado?”, “ Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço”, “Ali correta a alternativa [D], pois, se o autor usasse períodos simples,
em vale um monte está mudado”, “Nem troncos vejo agora não seria passível de deduzir que “a essência das coisas se
decadentes”. No último terceto, reconhece que também nele mantém mesmo quando lhes falta o atributo principal”.
aconteceu a mesma deterioração que encontra na natureza: “Mas
que venho a estranhar, se estão presentes/Meus males, com que 06. Resposta: [D]
tudo degenera!”. Nesse sentido, deduz-se que existe empatia entre
os sofrimentos do eu lírico e a deterioração da terra, como se 07. Resposta: [E]
afirma em [E]. O diálogo entre autor e leitor está implícito nos verbos no modo
imperativo ( “desculpai”, “recebei”, “amai”), pois o termo verbal
15. Resposta: [E] indica um pedido, uma sugestão do enunciador para o receptor,
Todas as alternativas são corretas, exceto [E]. Ao associar a assim como o advérbio “agora” os coloca a ambos em um mesmo
imagem do sol ao rosto da sua amada (“O Monarca da luz, que tempo e espaço. Assim, é correta a alternativa [E].
esta alma engana; /Pois na face, que ostenta, soberana, /O rosto
de meu bem me vai fingindo”), o eu lírico percebe que é vítima de 08. Resposta: [B]
ilusão, pois são as “penhas” que metaforicamente representam a A morte como forma de libertação desta realidade mundana e
verdadeira essência da amada, que resiste aos rogos do poeta. A sofrida era um dos temas mais caros da segunda geração
figura feminina é retratada exterior e interiormente, através de romântica, sobretudo em Álvares de Azevedo.
elementos da paisagem, no que ela parece ser e no que ela é
verdadeiramente. 09. Resposta: [C]
O excerto revela duas características de Silmara: a beleza e a
Semana 11 - Romantismo I soberba. O fato de se saber bonita leva-a a pensar que isso seria
suficiente para lhe garantir sorte na vida e no amor e, portanto, um
01. Resposta: [A] destino diferente do das suas colegas. Esse tipo de ilusão é
Verdadeira. As imagens representam valores caros ao explorado nos contos de fada em que aparecem elementos
Romantismo. As imagens 1 e 3 fazem menção ao combatido estilo pertencentes a um mundo imaginário e maravilhoso, não
de arte clássico: Delacroix retrata o elemento feminino em um correspondente à realidade em que vive a maioria das pessoas.
contexto violento, ressaltando a liberdade pós contexto de tirania, e Assim, é correta a opção [C].
Géricault retoma a questão da violência pela ocorrência de
canibalismo após o naufrágio que o inspirou, no típico exagero 10. Resposta: [C]
sentimental romântico; já as imagens 2 e 4 representam o A pintura de Delacroix é uma homenagem à Revolução de 1830 na
Nacionalismo no Brasil, nação recém-independente. França, que pôs fim ao governo de Carlos X. Segundo palavras do
Verdadeira. Delacroix retrata o elemento feminino em um contexto próprio Delacroix, “ainda que não tenha lutado por meu país, posso
violento, ressaltando a liberdade pós contexto de tirania. representa-lo”. Além disso, a pintura relembra o ideário da
Verdadeira. A Batalha dos Guararapes foi um episódio brasileiro Revolução Francesa, em especial na bandeira tricolor nas mãos da
marcado pelo embate de brasileiros contra invasores holandeses Liberdade.
no século XVII.
Verdadeira. Géricault retoma a questão da violência pela 11. Resposta: [C]
ocorrência de canibalismo após o naufrágio que o inspirou, no Escapismo ou desejo de evasão de realidades desagradáveis é
típico exagero sentimental romântico. marca característica dos poetas da segunda geração do
Falsa. Iracema é um romance indianista de José de Alencar, Romantismo brasileiro, que, incapazes de se adaptarem ao mundo
retratado por José Maria de Medeiros. burguês, se evadiam da realidade através do uso da imaginação e
da idealização. Em “Sentimento do mundo”, Carlos Drummond de
02. Resposta: [B] Andrade rejeita a alienação romântica para retratar um tempo de
No poema “Vagabundo” de Álvares de Azevedo, o eu lírico valoriza guerras e de pessimismo sob uma perspectiva crítica e política,
a vida boêmia (“Fumando meu cigarro vaporoso;/ Nas noites de como se pode observar nos versos da opção [C]. Neste excerto, o
verão namoro estrelas”, “Canto à lua de noite serenatas”) ao eu lírico recusa uma atitude escapista e idealizadora da realidade
mesmo tempo que se considera feliz por possuir riquezas que não (“não serei o cantor de uma mulher (...) / não direi os suspiros ao
estão associadas a bens materiais (“Ando roto, sem bolsos nem anoitecer, a paisagem vista da janela, / não distribuirei
dinheiro”, “Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!”), como se afirma entorpecentes ou 10 cartas de suicida”) e simbolista (“não fugirei
em [B]. para as ilhas nem serei raptado por serafins”) e rejeita o
compromisso com o mundo passado (“caduco”) ou futuro. Seu
03. Resposta: [B] compromisso é com a “vida” e os “companheiros”.
Apenas o texto II traz a ideia do poeta (vate) como uma espécie de
gênio, capaz de vivificar as paixões com sua pena. 12. Resposta: [B]
alternância de sentimento de amor e ódio, e as inversões sintáticas reveladoras de carências e abandonos (“logo que se deu a Geraldo
são recurso de exigência métrica e rimática em um poema como uma escrava”, “dali saiu enxotada para o Bângala”), de
constituído por versos decassílabos com rimas emparelhadas e acordo com as narrativas regionalistas de cunho universalista,
interpoladas. típicas da terceira fase do Modernismo.
05. Resposta: [C] 14. Resposta: [E] É adequado o que se afirma em I, pois o sol é
A sucessão de metáforas ("plantas que nascem e crescem agente transformador dos personagens na paisagem tropical em
depressa", ”abotoou-se a flor, ou o beijo, se assim lhe quiserem”), que se insere a narrativa. Jerônimo, em contato com a realidade
assim como as comparações implícitas do primeiro beijo como brasileira e seduzido pela voluptuosidade de Ritinha, abandona a
"prólogo de uma vida de delícias" e o desenlace do romance como postura de homem sério e devotado ao trabalho para entregar-se
o final do “livro” dos amores configuram uma alegoria, como se ao ócio e ao prazer (“vencido, às imposições do sol e do calor”).
afirma em [C]. Também são verdadeiras as afirmativas II e III, pois o texto revela,
através das falas do narrador, a ambiguidade do intelectual que ora
06. Resposta: [B] enaltecia, ora criticava a sua terra natal, atendendo à filosofia
O “livro” dos amores de Brás Cubas e Virgília alterna a “paixão sem determinista que justifica a transformação do homem em função do
meio em que vive.
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RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO