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SUMÁRIO VOLUME 1

Aula 1 – Figuras de Linguagem I ............................................................................................................................... 01


Aula 2 – Figuras de Linguagem II .............................................................................................................................. 09
Aula 3 – Trovadorismo ............................................................................................................................................... 17
Aula 4 – Classicismo .................................................................................................................................................. 29
Aula 5 – Quinhetismo ................................................................................................................................................. 40
Aula 6 – Barroco I ...................................................................................................................................................... 50
Aula 7 – Barroco II ..................................................................................................................................................... 60
Aula 8 – Barroco III .................................................................................................................................................... 71
Aula 9 – Neoclassicismo ............................................................................................................................................ 80
Aula 10 – O Arcadismo no Brasil ............................................................................................................................... 88
Aula 11 – Romantismo I ............................................................................................................................................. 99
Aula 12 – Romantismo no Brasil ................................................................................................................................ 107
Aula 13 – Romantismo no Brasil – Segunda Geração ............................................................................................... 119
Aula 14 – Romantismo no Brasil – Terceira Geração ................................................................................................ 134
Aula 15 – Romantismo no Brasil – Prosa .................................................................................................................. 145
Aula 16 – Romantismo no Brasil – Prosa .................................................................................................................. 155
Aula 17 – Realismo e Naturalismo ............................................................................................................................. 167
Aula 18 – Realismo – Machado de Assis ................................................................................................................... 177
Aula 19 – Parnasianismo ........................................................................................................................................... 188
Aula 20 – Simbolismo ................................................................................................................................................ 199
Respostas e Comentários Exercícios de Fixação ...................................................................................................... 209
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

Quando uma mesma palavra pode assumir mais de um significado,


AULA 1 - FIGURAS DE LINGUAGEM I
estamos diante da polissemia (do Grego poli, "muitos", e sema,
1.1) A LINGUAGEM LITERÁRIA "significado").
Observe:
Antes de começarmos nossos estudos sobre a periodização da
Literatura Brasileira e acompanharmos a evolução desta arte
através das escolas que aqui se manifestaram, é importante que
façamos uma reflexão sobre o que é Literatura, o que a
caracteriza, como ela se manifesta, qual sua importância.
O que é literatura? O que escrevemos quando nos sentimos
melancólicos, com o coração doendo, ou que muitos escrevem por
vaidade, mas o fazendo sem nenhuma noção de teoria ou técnica
literária, pode ser considerado literatura? Na tirinha acima, a expressão “quebrar um galho” foi utilizada no
Jean Paul Sartre, em “O que é Literatura?”, afirmou que “Ninguém primeiro quadrinho em seu sentido conotativo, mas o personagem
é escritor por haver decidido dizer certas coisas, mas por haver Isaías a entendeu em sentido denotativo, gerando um problema de
decidido dizê-las de determinado modo.”. comunicação. Podemos perceber, então, que a expressão “quebrar
A literatura é a arte de manipulação das palavras, a linguagem um galho” é polissêmica, pois pode assumir diferentes significados,
verbal é a sua matéria prima. Todos nós temos sentimentos, temos dependendo do contexto.
lembranças, temos experiências de vida e bagagem cultural, mas
para transformar isso tudo em arte é preciso mergulhar no mundo 1.3) FIGURAS DE LINGUAGEM
das palavras, manipulá-las com uma intenção estética, ir além do
1.3.1) COMPARAÇÃO ou SÍMILE
referencial.
Trata-se de uma comparação explícita através do uso de
“Muitas vezes se diz que a ‘literariedade’ reside, sobretudo, na conectores do tipo: por exemplo, como, tal, assim, qual,
organização da linguagem que torna a literatura distinguível da semelhante a.
linguagem para outros fins. Literatura é linguagem que coloca em
primeiro plano a própria linguagem: torna-a estranha, atira-a em Exemplos:
você – “Veja” Sou a linguagem!” – assim você não pode se “Meu coração tombou na vida
esquecer de que está lidando com a linguagem configurada de tal qual uma estrela ferida
modos estranhos.” pela flecha de um caçador”.
CULLER, Jonathan. Teoria Literária - Uma Introdução. São Paulo: Cecília Meireles
Beca Produções Culturais LTDA, 1999.
“Amar é como ter sede, depois de muito ter bebido.”
Assim, a linguagem que se utiliza numa bula de remédio, numa Guimarães Rosa
receita de bolo, num artigo de divulgação científica é diferente da
linguagem utilizada em um poema, em um conto, em um romance. "Quero brincar no teu corpo feito bailarina.” Chico Buarque
Em textos não literários a linguagem é manipulada de modo mais
funcional, com grande predominância da linguagem denotativa. Já 1.3.2) METÁFORA
nos textos literários a linguagem é manipulada de modo a causar A metáfora também se constrói a partir de uma relação de
um estranhamento no leitor, que busca ser criativo, original, que semelhança. No entanto, na metáfora, a comparação é implícita,
faz uso intencional de recursos estilísticos de modo a chamar a ou seja, não há elemento comparativo expresso aproximando os
dois elementos associados. Assim, a associação comparativa é
atenção para a construção do texto, destacando-se, muitas vezes,
mais forte, mais próxima, estabelecendo uma relação de identidade
a linguagem conotativa, a polissemia, a função poética da entre os elementos aproximados.
linguagem.
Exemplos: “Diadorim é minha neblina.” João Guimarães Rosa
1.2) DENOTAÇÃO, CONOTAÇÃO E POLISSEMIA
Uma palavra pode ser empregada em seu sentido denotativo, ou “A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
seja, seu sentido real, dicionarizado; ou em seu sentido conotativo, Que importa restarem cinzas
quando empregada em sentido figurado, incomum, não se a chama foi bela e alta?
dicionarizado. Um texto pode ser predominantemente denotativo Em meio aos toros que desabam,
ou conotativo, dependendo de como as palavras e os sentidos por cantaremos a canção das chamas!”
elas construídos foram empregados. Mário Quintana

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

1.3.3) CATACRESE - O continente pelo conteúdo, ou vice-versa: "O estádio aplaudiu


A catacrese consiste na mudança da acepção de um nome, os jogadores."
fazendo este representar, com base numa pura analogia, um "Bebi uma lata de refrigerante e comi um pacote de biscoitos."
objeto, ou uma parte do objeto, para os quais não existem nomes
de referência particulares. Trata-se de uma metáfora desgastada - O físico pelo moral: "Ele é um enorme coração."
pelo uso contínuo.
- A matéria pela coisa: "O ferro fez um estrago na floresta."
Exemplos de catacrese:
- perna de mesa - A parte é expressa pelo todo e o todo é expresso pela parte:
- folha de papel
- braço da cadeira “O bonde passa cheio de pernas:
- asa da xícara pernas brancas pretas amarelas.
- cabeça de alfinete Para que tanta perna, meu Deus,
- banana de dinamite pergunta meu coração.” Carlos Drummond de Andrade
- braço da poltrona
- cabelo de milho 1.3.6) ANTONOMÁSIA
- dente de alho A antonomásia consiste na substituição de um nome próprio
por uma qualidade ou um epíteto, que o identifica ou define:
1.3.4) SINESTESIA
É a combinação ou fusão de diversas impressões sensoriais - “O repórter de Canudos” – Euclides da Cunha.
visuais, auditivas, olfativas, gustativas e tácteis - entre si, e também “O engenheiro da palavra” – João Cabral de Melo Neto.
entre as referidas sensações e sentimentos. “O rei do cangaço” – Lampião.
“O rei do pop” – Michael Jackson.
“O rei do futebol” – Pelé.
Exemplos: “O Rei” – Roberto Carlos.

A sua voz áspera intimidava a plateia. 1.3.7) ANTÍTESE


A antítese consiste na utilização de dois termos, na mesma
As saudades que sentia eram amargas. frase, que contrastam entre si.

“Brancuras imortais da Lua Nova, Exemplos:


frios de nostalgia e sonolência...
“O mito é o nada que é tudo”
Sonhos brancos da Lua e viva essência Fernando Pessoa
dos fantasmas noctívagos da Cova.”
Cruz e Sousa "O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer
1.3.5) METONÍMIA
da gente é coragem."
Se a metáfora se dá por uma relação de semelhança, a
João Guimarães Rosa
metonímia se dá por uma relação de contiguidade. A metonímia
consiste na designação de uma realidade não pelo termo que a
propriamente a designa, mas por outro termo que mantém com 1.3.8) PARADOXO OU OXÍMORO
esta realidade uma relação de contiguidade. É a reunião de ideias contraditórias e aparentemente
inconciliáveis num só pensamento. É a conciliação de contrários, o
Essa relação de contiguidade pode ser: contraste que se estabelece através de dois pontos de vista
simultâneos.
- A causa pelo efeito, ou vice-versa: "Respeite os meus cabelos
brancos." Exemplos:

- O autor pela sua obra: "Costumo estudar ouvindo Mozart." "Meu ultimo amor eterno acabou antes de ontem." Carlos Queiroz
Telles
- O lugar de origem pelo produto, ou vice-versa: "Bebi um ótimo
Porto durante o almoço!" “Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver;
- O específico pelo genérico e/ou o objetivo pelos meios: "É É ferida que dói e não se sente;
preciso acordar cedo para ganhar o pão.” É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;”
- O abstrato pelo concreto: "Reuniu-se na capital, para um Camões
congresso, a cultura do país."

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Aula 1 - Figuras De Linguagem I
1.3.9) EUFEMISMO burra como uma porta:
Consiste em suavizar o caráter desagradável, grosseiro, um amor!
ofensivo ou vulgar de um julgamento, de uma notícia, de um Mário de Andrade
pensamento, etc.
“A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar crianças”.
Exemplos: Monteiro Lobato
Consoada
1.3.13) PERÍFRASE
Quando a Indesejada das gentes chegar A perífrase ou circunlóquio se dá quando algo que poderia ser
(Não sei se dura ou caroável), expresso por meio de uma ou poucas palavras é expresso por
Talvez eu tenha medo. meio de expressões ou frases completas.
Talvez sorria, ou diga:
"... a gente chama
- Alô, iniludível!
Aquele que a salvar o mundo veio"
O meu dia foi bom, pode a noite descer. Camões
(A noite com seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, "Iam-se sombras lentas desfazendo
A mesa posta, Sobre as flores da terra em frio orvalho"
Com cada coisa em seu lugar. Camões
Manuel Bandeira
1.3.14) PROSOPOPEIA ou PERSONIFICAÇÃO
Consiste em atribuir qualidades ou características humanas a tudo
"Ele vivia de caridade pública" (em vez de "esmolas") o que não seja humano (ideias, animais, plantas, coisas, objetos
Machado de Assis inanimados, o irracional, etc.):

1.3.10) GRADAÇÃO ".... Deixa que o vento corra,


A gradação consiste numa seriação ou enumeração não de coroado de espuma,
elementos, mas de ideias, de modo que haja uma espécie de que me chame e me busque
hierarquia entre elas. galopando na sombra, enquanto eu,
mergulhado nos teus imensos olhos,
GRADAÇÃO CRESCENTE: manifesta uma intensificação nesta noite imensa, descansarei,
progressiva: meu amor..."
"Os vales aspiram a ser outeiros, e os outeiros a ser Mário Quintana
montes, e os montes a ser Olimpos e a exceder as nuvens."
Antônio Vieira "As estrelas foram chamadas e disseram: aqui estamos."
Antônio Vieira
GRADAÇÃO DECRESCENTE: manifesta uma intensificação
regressiva, os conceitos vão diminuindo de intensidade: 1.3.15) ALITERAÇÃO
A Aliteração incide sobre a repetição de sons consonantais.
Ele esperneou e gritou por um bom tempo. Cansou e ficou
resmungando em voz baixa, até que, ignorado, calou-se. "O rato roeu a roupa do rei de Roma.”

1.3.11) HIPÉRBOLE (ou AUXESE) "Que o fraco rei faz fraca a forte gente." - Camões
A hipérbole corresponde sempre a um exagero.
"(...) Vozes veladas, veludosas vozes,
"Meses depois fui para o seminário de S. José. Se eu Volúpias dos violões, vozes veladas
pudesse contar as lágrimas que chorei na véspera e na manhã, Vagam nos velhos vórtices velozes
somaria mais que todas as vertidas desde Adão e Eva. Há nisto Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas." (Cruz e Souza)
alguma exageração; mas é bom ser enfático, uma ou outra vez,
para compensar este escrúpulo de exatidão que me aflige". 1.3.16) ASSONÂNCIA
Machado de Assis, Dom Casmurro. É uma repetição de sons vocálicos, algumas vezes
prolongando o efeito da RIMA.
1.3.12) IRONIA
Consiste em dar a sensação de elogiar, exaltar o que se "Água fria fica quente,
pretende condenar, criticar. É dizer o inverso do que se pretende Água quente fica fria
deixar entender. A ironia é uma ótima ferramenta de crítica e Mas eu fico frio
normalmente está associada ao humor. Sem a tua companhia" (Manuel Bandeira)

Exemplos: "Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral."


“Moça linda bem tratada, (Caetano Veloso)
três séculos de família,

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

1.3.17) LITOTES O efeito de sentido da charge é provocado pela combinação de


De acordo com o dicionário Aurélio, a litotes é “modo de afirmação informações visuais e recursos linguísticos. No contexto da
por meio da negação do contrário”. ilustração, a frase proferida recorre a:
Exemplos:
a) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da expressão “rede
“Rubião, ao contrário, gostou de ver que o homem não se
esquecera da conversação.” social” para transmitir a ideia que pretende veicular.
Machado de Assis b) ironia para conferir um novo significado ao termo “outra coisa”.
c) homonímia para opor, a partir do advérbio de lugar, o espaço da
“Estes não são maus conselhos”. população pobre e o espaço da população rica.
“Até que você não está errada sobre isso”. d) personificação para opor o mundo real pobre ao mundo virtual
“O pobre coitado do cachorro não estava sem fome. Devorou em rico.
segundos os restos de comida que seu dono lhe atirara.”
e) antonímia para comparar a rede mundial de computadores com
a rede caseira de descanso da família.

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM Questão 03.


(Pucsp) Considere os seguintes trechos de "A Hora da Estrela":
Você sabia que com pouco esforço é possível ajudar o planeta e o
Embora a moça anônima da história seja tão antiga que podia ser
seu bolso?
uma figura bíblica. Ela era subterrânea e nunca tinha tido floração.
Ao usarmos a energia elétrica para aparelhos eletrônicos e Minto: ela era capim.
lâmpadas também emitimos gás carbônico, um dos principais
gases do efeito estufa. Atitudes simples como trocar lâmpadas Se a moça soubesse que minha alegria também vem de minha
incandescentes pelas fluorescentes e puxar da tomada os mais profunda tristeza e que a tristeza era uma alegria falhada.
aparelhos que não estão em uso reduzirão a sua conta de luz e as Sim, ela era alegrezinha dentro de sua neurose. Neurose de
nossas emissões de CO2 na atmosfera. guerra.
Planeta sustentável: conhecimento por um mundo melhor
Neles predominam, respectivamente, as seguintes figuras de
linguagem:
Questão 01 (Mackenzie) a) inversão e hipérbole.
Assinale a alternativa que indica recurso empregado no texto. b) pleonasmo e oximoro.
a) Intertextualidade, já que se pode notar apropriação explícita e c) metáfora e antítese.
marcada, por meio de citações, de trechos de outros textos. d) metonímia e metáfora.
e) eufemismo e antítese.
b) Conotação, uma vez que o texto emprega em toda a sua
extensão uma linguagem que adota tom pessoal e subjetivo. Questão 04.
c) Ironia, observada no emprego de expressões que conduzem o “Acendemos paixões no rastilho do próprio coração. O que
leitor a outra possibilidade de interpretação, sempre crítica. amamos é sempre chuva, entre o voo da nuvem e a prisão do
d) Denotação, pois há a utilização objetiva de palavras e charco. Afinal, somos caçadores que a si mesmo se azagaiam. No
expressões que destacam a presença da função referencial. arremesso certeiro vai sempre um pouco de quem dispara.”
e) Metalinguagem, uma vez que a linguagem adotada serve
Mia Couto, Cada Homem é Uma Raça
exclusivamente para tratar da própria linguagem.
No Primeiro período do texto de Mia Couto encontra-se a seguinte
Questão 02 (ENEM 2012) figura de linguagem:

A) Metáfora.
B) Metonímia.
C) Catacrese.
D) Personificação.
E) Símile.

Questão 05.
ESQUECIMENTO

Esse de quem eu era e era meu,


Que foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.

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Aula 1 - Figuras De Linguagem I
Questão 08 (Insper 2013)
Tudo em redor então escureceu, O "gilete" dos tablets
E foi longínqua toda a claridade! Num mundo capitalista como este em que vivemos, onde as
Ceguei... tateio sombras... que ansiedade! empresas concorrem para posicionar suas marcas e fixar logotipos
Apalpo cinzas porque tudo ardeu! e slogans na cabeça dos consumidores, a síndrome do "Gillette"
pode ser decisiva para a perpetuação de um produto. É isso que
Descem em mim poentes de Novembro... preocupa a concorrência do iPad, tablet da Apple.
A sombra dos meus olhos, a escurecer... Assim como a marca de lâminas de barbear tornou-se sinônimo de
Veste de roxo e negro os crisântemos... toda a categoria de barbeadores, eclipsando o nome das marcas
que ofereciam produtos similares, o mesmo pode estar
E desse que era meu já me não lembro... acontecendo com o tablet lançado por Steve Jobs. O maior temor
Ah! a doce agonia de esquecer do mercado é que as pessoas passem a se referir aos tablets
A lembrar doidamente o que esquecemos...! como "iPad" em geral, dizendo "iPad da Samsumg" ou "iPad da
Florbela Espanca Motorola", e assim por diante.

(Unifesp 2009) Na última estrofe, o eu lírico expressa, por meio de: (http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-edgard/o-gilete-
a) Hipérboles, a dificuldade de se tentar esquecer um grande amor. dos-tablets-260395-1.asp)
b) Metáforas, a forma de se esquecer plenamente a pessoa
amada. No campo da estilística, a figura de linguagem abordada na matéria
c) Eufemismos, as contradições do amor e os sofrimentos dele acima recebe o nome de
decorrentes. a) metáfora, por haver uma comparação subentendida entre a
d) Metonímias, o bem-estar ligado a amar e querer esquecer. marca e o produto.
e) Paradoxos, a impossibilidade de o esquecimento ser levado a b) hipérbole, por haver exagero dos consumidores na associação
cabo. do produto com a marca.
c) catacrese, por haver um empréstimo linguístico na referência à
Questão 06 marca do produto famoso.
d) metonímia, por haver substituição do produto pela marca, numa
relação de semelhança.
e) perífrase, por haver a designação de um objeto através de seus
atributos ou de um fato que o celebrizou.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Questão 01 (Fuvest 2014)


Leia o seguinte texto, que faz parte de um anúncio de um produto
alimentício:
(Espm) No diálogo transcrito anteriormente, constata-se:
a) Pleonasmo vicioso, pois associa-se aprendizagem com óbvia
EM RESPEITO A SUA NATUREZA, SÓ TRABALHAMOS COM O
facilidade.
MELHOR DA NATUREZA
b) Redundância, pois explicita-se a sinceridade com um comentário
repetitivo e desnecessário.
Selecionamos só o que a natureza tem de melhor para levar até a
c) Paradoxo, pois contrapõem-se duas ideias antagônicas:
sua casa. Porque faz parte da natureza dos nossos consumidores
fingimento e sinceridade.
querer produtos saborosos, nutritivos e, acima de tudo, confiáveis.
d) Ironia, pois desdenha-se a falta de conhecimento do padre sobre
www.destakjornal.com.br, 13/05/2013. Adaptado.
sucesso e liderança.
e) Eufemismo, pois suaviza-se a resposta ante uma pergunta tão
Procurando dar maior expressividade ao texto, seu autor
ingênua.
a) serve-se do procedimento textual da sinonímia.
b) recorre à reiteração de vocábulos homônimos.
Questão 07 (Fgv)
c) explora o caráter polissêmico das palavras.
Assinale a alternativa em que se identifica a figura de linguagem d) mescla as linguagens científica e jornalística.
predominante no trecho: e) emprega vocábulos iguais na forma, mas de sentidos contrários.
As rodas dentadas da pobreza, ignorância, falta de esperança e
baixa autoestima se engrenam para criar um tipo de máquina do Questão 02
fracasso perpétuo que esmigalha os sonhos de geração a geração.
Na frase: "No meio do inverno, eu aprendi, enfim, que havia em
Nós todos pagamos o preço de mantê-la funcionando. O
mim um verão invencível.", de Albert Camus, se destacam as
analfabetismo é a sua cavilha.
seguintes figuras de linguagem:
a) Eufemismo.
A) metáfora e metonímia.
b) Antítese.
B) antítese e paradoxo.
c) Metáfora.
C) hipérbole e metonímia.
d) Elipse.
D) metáfora e antítese.
e) Inversão.
E) paradoxo e hipérbole.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 03. Questão 06.


[José Dias] Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e E disse [Deus]: Certamente tornarei a ti por este tempo da vida; e
quatro palavras de louvor. Copiou as palavras, encaixilhou-as e eis que Sara tua mulher terá um filho. E Sara escutava à porta da
pendurou-as no quarto, por cima da cama. “Esta é a melhor tenda, que estava atrás dele.
apólice”, dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa E eram Abraão e Sara já velhos, e adiantados em idade;
autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e já a Sara havia cessado o costume das mulheres.
sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas Assim, pois, riu-se Sara consigo, dizendo: Terei ainda
nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu senhor
subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que já velho? (...)
da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que
E concebeu Sara, e deu a Abraão um filho na sua
enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e
velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha falado.
liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era
lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à (www.bibliaonline.com.br, Gn 18, 10-12; 21, 2.)
sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor (Unifesp) No trecho, afirma-se que Abraão e Sara já estavam
e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma "adiantados em idade" e que a Sara "já havia cessado o costume
viagem que fizera à Europa, e confessava que a não sermos nós, das mulheres". Essas expressões são
já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa a) eufemismos, que remetem, respectivamente, à velhice e ao ciclo
família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo. menstrual.
b) metáforas, que remetem, respectivamente, à idade adulta e ao
Machado de Assis, Dom Casmurro. vigor sexual.
c) hipérboles, que remetem, respectivamente, à velhice e à paixão
(Fuvest 2010) Considerado o contexto, qual das expressões feminina.
sublinhadas foi empregada em sentido metafórico? d) sinestesias, que remetem, respectivamente, à decrepitude e à
sensualidade.
a) “Teve um pequeno legado”. e) sinédoques, que remetem, respectivamente, à idade adulta e ao
b) “Esta é a melhor apólice”. amor.
c) “certa audiência, ao menos”.
d) “ao cabo, era amigo”. Questão 07 (Insper 2013)
e) “o bastante para divertir”. POÇAS D’ÁGUA
As poças d´água são um mundo mágico
Questão 04 Um céu quebrado no chão
Minha alma é como a pedra funerária Onde em vez de tristes estrelas
Erguida na montanha solitária Brilham os letreiros de gás Néon.
Interrogando a vibração dos céus! (Mario Quintana, Preparativos de viagem, São Paulo, Globo,
1994.)
O amor dum homem? – Terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada ... Levando-se em conta o texto como um todo, é correto afirmar que
Um homem? – Quando eu sonho o amor de um Deus! ... a metáfora presente no primeiro verso se justifica porque as poças
a) estimulam a imaginação.
(Adaptado de: ESPANCA, F. Sonetos. São Paulo: Martin Claret, b) permitem ver as estrelas.
2007. p.78.) c) são iluminadas pelo Néon.
d) se opõem à tristeza das estrelas.
(Uel 2010) No verso “minha alma é como a pedra funerária” (verso e) revelam a realidade como espelhos.
9), temos um recurso poético denominado.
a) Antítese. b) Metáfora. c) Símile. Questão 08
d) Sinestesia. e) Anáfora. TEXTO PARAS AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
Pastora de nuvens, fui posta a serviço por uma campina tão
Questão 05 (Espcex (Aman) 2014) desamparada que não principia nem também termina, e onde
Assinale a única alternativa que contém a figura de linguagem nunca é noite e nunca madrugada.
presente no trecho sublinha do: (Pastores da terra, vós tendes sossego, que olhais para o sol e
encontrais direção. Sabeis quando é tarde, sabeis quando é cedo.
As armas e os barões assinalados, Eu, não.)
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados, Esse trecho faz parte de um poema de Cecília Meireles, intitulado
Passaram ainda além da Taprobana, Destino, uma espécie de profissão de fé da autora.
a) metonímia
b) eufemismo (Fgv 2007) Em "campina desamparada", ocorre uma figura de
c) ironia linguagem que pode ser denominada como
d) anacoluto a) anáfora. b) hipérbole. c) personificação.
e) polissíndeto d) perífrase. e) eufemismo.

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Aula 1 - Figuras De Linguagem I
Questão 09 (FGV) Questão 12
No último verso da 2a estrofe - "Eu, não." - está presente a figura A invasão
chamada de
A divisão ciência/humanismo se reflete na maneira como as
a) ironia. pessoas, hoje, encaram o computador. Resiste-se ao computador,
b) metáfora. e a toda a cultura cibernética, como uma forma de ser fiel ao livro e
c) pleonasmo. à palavra impressa. Mas o computador não eliminará o papel. Ao
d) sinestesia. contrário do que se pensava há alguns anos, o computador não
e) zeugma. salvará as florestas. Aumentou o uso do papel em todo o mundo, e
não apenas porque a cada novidade eletrônica lançada no
Questão 10 (Uema 2015) HAB 01 mercado corresponde um manual de instrução, sem falar numa
embalagem de papelão e num embrulho para presente. O
No fragmento a seguir, há ocorrência de um recurso linguístico que computador estimula as pessoas a escreverem e imprimirem o que
aproxima sensações de planos sensoriais diferentes, conhecido escrevem. Como hoje qualquer um pode ser seu próprio editor,
como sinestesia. paginador e ilustrador sem largar o mouse, a tentação de passar
sua obra para o papel é quase irresistível.
“Ele entrou no seu passo macio, sem ruído, não chegava Desconfio que o que salvará o livro será o supérfluo, o
a ser felino: apenas um andar discreto. Polido. que não tem nada a ver com conteúdo ou conveniência. Até que
lancem computadores com cheiro sintetizado, nada substituirá o
¯ Rodolfo! Onde está você?... Dormindo? — perguntou
cheiro de papel e tinta nas suas duas categorias inimitáveis, livro
quando me viu levantar da poltrona e vestir a camisa. Baixou o tom novo e livro velho. E nenhuma coleção de gravações ornamentará
de voz. – Está sozinho?” uma sala com o calor e a dignidade de uma estante de livros. A
tudo que falta ao admirável mundo da informática, da cibernética,
O trecho que apresenta recurso sinestésico, a exemplo do do virtual e do instantâneo acrescente-se isso: falta lombada. No
fragmento anterior, é fim, o livro deverá sua sobrevida à decoração de interiores.

a) “A vaia amarela dos papagaios / rompe o silêncio da despedida.” (O Estado de S. Paulo, 31.05.2015.)
(Carlos Drummond de Andrade).
(Unesp 2016) Em “falta lombada” (2º parágrafo), o cronista se
b) “Duro é o pão que nós comemos. Dura é a cama que dormimos.”
utiliza, estilisticamente, de uma figura de linguagem que
(Carolina Maria de Jesus). a) representa uma imagem exagerada do que se quer exprimir.
c) “O cabelo louro, a pele bronzeada de sol, as mãos de estátua.” b) se baseia numa analogia ou semelhança.
(Lygia Fagundes Telles). c) emprega a palavra que indica a parte pelo todo.
d) “... Eu durmi. E tive um sonho maravilhoso. Sonhei que eu era d) emprega a palavra que indica o todo pela parte.
um anjo.” (Carolina Maria de Jesus). e) se baseia na simultaneidade de impressões sensoriais.
e) “No meio do caminho tinha uma pedra...” (Carlos Drummond de
Questão 13
Andrade).
Na fazenda
Questão 11 (Fgv 2006) Barulhinho vermelho de cajus
Emprega-se linguagem figurada, com predominância de metáforas, e o riacho passando
no trecho transcrito na alternativa: nos fundos do quintal...
a) O cartunista Bob Thaves desenhou uma de suas instigantes
tirinhas, que tem como personagens Frank & Ernest, os Dali
desleixados e eventualmente oportunistas representantes do se escutavam os ventos com a boca
como um dia ser árvore.
"homem comum" do mundo contemporâneo urbano.
b) Já ouviu dizer que o ócio é a mãe do pecado? Ou que o Eu era lutador de jacaré.
demônio sempre arruma ofício para quem está com as mãos As árvores falavam. (...)
desocupadas? Ou ainda que cabeça vazia é oficina do Diabo?
c) Não é por acaso que Paul Lafargue, um franco-cubano casado (BARROS, Manoel de. Compêndio para uso dos pássaros. 2.ed.
com Laura, filha de Karl Marx, e fundador do Partido Operário São Paulo: Leya, 2010. Adaptado)
Francês, foi pouco compreendido na ironia contida em alguns
(G1 - ifsp 2014) Sobre a figura de linguagem empregada pelo eu
de seus escritos.
lírico no primeiro verso do poema, é correto afirmar que se trata de
d) O genro de Marx publicou "Direito à Preguiça", uma a) metáfora, pois há a aproximação implícita entre os termos
desnorteante e - só na aparência - paradoxal análise da barulhinho e cajus.
alienação e da exploração humana no sistema capitalista. b) comparação, já que a palavra vermelho faz referência ao nome
e) Ou, como registrou Anatole France, conterrâneo e herdeiro, no cajus, que é a cor natural desse fruto.
século seguinte, da mordacidade voltairiana: "O trabalho é bom c) sinestesia, pois o verso mistura sensações auditivas e visuais
para o homem". com o uso da expressão “barulhinho vermelho”.

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7
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

d) metonímia, já que o verso “barulhinho vermelho de cajus”


representa toda a Mata Atlântica da região.
e) personificação, pois os cajueiros executam ações características
do homem ao emitirem sons e ficarem vermelhos.

Questão 14.
Poetas e tipógrafos

Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta


João Cabral de Melo Neto foi a um médico por causa de sua
crônica dor de cabeça. Ele lhe receitou exercícios físicos, para
“canalizar a tensão”. João Cabral seguiu o conselho.
Comprou uma prensa manual e passou a produzir à mão,
domesticamente, os próprios livros e os dos amigos. E, com tal
“ginástica poética”, como a chamava, tornou-se essa ave rara e
fascinante: um editor artesanal.
Um livro recém-lançado, “Editores Artesanais Brasileiros”,
de Gisela Creni, conta a história de João Cabral e de outros
sonhadores que, desde os anos 50, enriqueceram a cultura
brasileira a partir de seu quarto dos fundos ou de um galpão no
quintal.
(…)
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 17.08.2013. Adaptado.)

(Unifesp 2014) Com a frase – tornou-se essa ave rara e fascinante


– (2.º parágrafo), o autor vale-se de uma
a) hipérbole para sugerir que João Cabral melhorou após a prensa.
b) redundância para afirmar que João Cabral poderia dispensar a
prensa.
c) ironia para questionar João Cabral como editor artesanal.
d) metáfora para externar uma avaliação positiva de João Cabral.
e) metonímia para atribuir uma ideia de genialidade a João Cabral.

Questão 15
ESCRAVIDÃO POÉTICA
Escravidão.
Escrevidão.

Poesia:
– alforria?

Ou consentida
servidão?

(Sísifo desce a montanha)

(Uemg 2014) O poema explora os seguintes recursos literários:


a) metalinguagem, polissíndeto, metáfora e paradoxo.
b) metalinguagem, trocadilho, metáfora e paradoxo.
c) ironia, trocadilho, comparação e metonímia.
d) ironia, polissíndeto, comparação e metonímia.
e) metalinguagem, assíndeto, simile, antítese.

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8
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

"São uns olhos verdes, verdes, que podem brilhar.“


AULA 2 - FIGURAS DE LINGUAGEM II
Gonçalves Dias
2.1) ANÁFORA
2.4) ANADIPLOSE
Repetição sistemática de termos ou de estruturas sintáticas no
Consiste na repetição da última palavra de um seguimento de
princípio de diferentes frases ou de membros da mesma frase. É
verso ou de um membro da frase no início do seguinte:
um recurso de ênfase e coesão.

Exemplos:
Exemplos:
Vi uma estrela tão alta,
"Quero escrever sem saber, / Sem saber o que dizer."
Vi uma estrela tão fria!
Dante Milano
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
O mau-humor produz a impaciência; da impaciência nasce a
Manuel Bandeira
cólera; a violência; e a violência conduz ao crime.
"Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere,
Pecador contrito aos pés de Cristo crucificado
tudo acaba."
Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
Antônio Vieira
Verdade é, meu Senhor, que hei delinquido,
delinquido vos tenho, e ofendido,
2.2) EPÍSTROFE
ofendido vos tem minha maldade.
Consiste na repetição de uma mesma palavra, ou expressão no
final dos versos, de orações ou de frases.
Maldade, que encaminha a vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido,
Exemplos:
Vencido quero ver-me e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
"Não sou nada
Nunca serei nada
Arrependido estou de coração,
Não posso querer ser nada"
De coração vos busco, dai-me abraços,
Álvaro de Campos
Abraços, que me rendem vossa luz.

Eu...
Luz, que claro me mostra a salvação,
Tive um passado? Sem dúvida...
A salvação pretendo em tais braços,
Tenho um presente? Sem dúvida...
Misericórdia, amor, Jesus, Jesus!
Terei um futuro? Sem dúvida...
Gregório de Matos
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
2.5) EPÂNODO
Eu sou eu,
É a repetição, em separado, de palavras que anteriormente se
Eu fico eu,
encontravam juntas:
Eu...“
Álvaro de Campos
Exemplos:
2.3) EPIZEUXE
"Vi então uma moça e um homem que saíam da igreja e pararam;
Consiste em repetir uma palavra sem conjunção de coordenação.
e a moça olhava para mim falando ao homem, e o homem olhava
É a repetição de uma mesma palavra imediatamente após a outra.
para mim, ouvindo a moça."
Machado de Assis
Exemplos:
“A nuvem tem relâmpago, tem trovão e tem raio; relâmpago para
“Existe, existe o mundo
os olhos, trovão para os ouvidos, raio para o coração; com o
apenas pelo olhar
relâmpago alumia, com o trovão assombra, com o raio mata.”
que o cria e lhe confere
Padre Antônio Vieira
espacialidade?”
Carlos Drummond de Andrade

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

2.6) QUIASMO 2.9) POLISSÍNDETO


O QUIASMO é a repetição cruzada, estabelecendo uma espécie É o uso repetido da conjunção (do conectivo), entre elementos
de simetria invertida, representada por uma figura em cruz, ou pela coordenados. Esse recurso costuma acelerar o ritmo narrativo.
sigla AB BA. Exemplos:

Exemplos: “O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.”


Machado de Assis
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho “No aconchego do claustro, na paciência e no sossego
tinha uma pedra Trabalhe, e teima, e lima, e sofre, e sua!”
no meio do caminho tinha uma pedra. Olavo Bilac
Carlos Drummond de Andrade
2.10) PLEONASMO
”Na terra as crianças cantavam, cantavam as aves no alto.” Vicioso: Designa as redundâncias mal formadas. Acontece quando
palavras redundantes são utilizadas sem nenhuma função.
2.7) PARONOMASIA
Exemplos: "Subi para cima“; "Desceu para baixo“
Paronomásia é a figura de som que consiste no emprego de
palavras parônimas, ou seja, palavras semelhantes no som, porém Literário: consiste no uso de palavras redundantes com a finalidade
com significações diversas. de enfatizar o que está sendo dito.

Exemplos: “Chovia uma triste chuva de resignação.”


Manuel Bandeira
“Houve aquele tempo…
“E rir meu riso e derramar meu pranto”
(E agora, que a chuva chora, ouve aquele tempo! )”. Vinicius de Moraes
Ribeiro Couto
“Me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã”
"Debaixo daquela pipa Chico Buarque
Está uma pita.
Pinga a pipa, 2.11) ELIPSE
Chia a pita, Consiste na omissão de um ou mais termos de uma oração, o qual
se subentende.
Chia a pita,
Pinga a pipa." Exemplos:
Delgado, N. J.
Ao redor, bons pastos, boa gente, terra boa para se plantar.
2.8) ASSÍNDETO “Onde a minha namorada?
Vai e diz a ela as minhas penas e que eu peço,
É a coordenação de termos ou orações sem utilização de
peço apenas que ela lembre as nossas horas de poesia…”.
conectivo. Esse recurso costuma imprimir lentidão ao ritmo Edu Lobo e Vinicius de Moraes
narrativo.
2.12) ZEUGMA
Exemplos: A ZEUGMA pode ser vista como uma das formas da ELIPSE e dá-
se quando se faz participar de dois ou mais enunciados um termo
“Tive ouro, tive gado, tive fazendas. expresso apenas em um deles:
Hoje sou funcionário público.
"O professor suspirou. Fizera o seu melhor. Lembrou-se das
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
palavras de Guimarães Rosa: 'Ensinar é, de repente, aprender'.
Mas como dói!” Sim, aprendera muito com seus alunos. Inclusive aprendera sobre
Carlos Drummond de Andrade si mesmo."
Carrascoza
“Foi apanhar gravetos, trouxe do chiqueiro das cabras uma
braçada de madeira meio ruída pelo cupim, arrancou touceiras de Para alguns teóricos, no entanto, esta figura ocorre unicamente
macambira, arrumou tudo para a fogueira.” para os casos em que se omite um verbo anteriormente expresso:
Graciliano Ramos
"João Fanhoso abriu os olhos pesados de preguiça: primeiro um,
depois o outro."
Mário Palmério

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Aula 2 - Figuras de Linguagem II
2.13) SILEPSE Agora sim
É a chamada “concordância ideológica” e ocorre quando a Café com pão
concordância é feita com uma ideia subentendida e não com o que Agora sim
está expresso. Pode ser de gênero, de número ou de Voa, fumaça
pessoa. Corre, cerca
Ai seu fogista
- Silepse de Gênero: Vossa excelência está preocupado. Bota fogo
- Silepse de Número: A procissão saiu. Andaram por todas as ruas Na fornalha
da cidade de Salvador. Que eu preciso
- Silepse de Pessoa: Os professores temos orgulho de nosso Muita força
trabalho. Muita força
Muita força
2.14) HIPÉRBATO Oô...
É a inversão da ordem natural das palavras.
Foge, bicho
Exemplo:
Foge, povo
Passa ponte
“De tudo, ao meu amor serei atento antes”
Passa poste
Vinicius de Moraes
Passa pasto
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Passa boi
De um povo heroico o brado retumbante Passa boiada
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos Passa galho
Brilhou no céu da Pátria nesse instante” De ingazeira
Hino Nacional Debruçada
No riacho
2.15) ANACOLUTO Que vontade
Tem-se um anacoluto toda vez que a estrutura sintática de uma De cantar!
oração é interrompida e um termo ou expressão que parecia ser Oô...
essencial à sentença acaba ficando solto. Consiste, portanto, na
quebra da estrutura sintática de uma frase. Manuel Bandeira

Exemplos: 2.17) HIPÁLAGE


Crianças, como ter paciência para elas? Caracteriza-se pela atribuição de uma característica de um ser ou
objeto a outro ser ou objeto que se encontra próximo ou
Eu, ele está sempre querendo conversar comigo.
relacionado com ele.
"A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha." Segundo Massaud Moisés: Constitui um expediente retórico
Camilo Castelo Branco segundo o qual um determinante (artigo, adjetivo, complemento
nominal) troca o lugar que logicamente ocuparia junto de um
2.16) ONOMATOPÉIA determinado (substantivo) para associar-se a um outro”.
Onomatopeia é a palavra ou conjunto de palavras que representa
um ruído ou som. Exemplos:
Nas histórias em quadrinhos, podemos encontrar inúmeros
exemplos de onomatopeias.
“Fumando um pensativo cigarro.”
Eça de Queirós

“O silêncio desaprovador dos meus colegas.”


Camilo Castelo Branco

2.18) ALEGORIA
É a figura de retórica que consiste na representação de uma
realidade abstrata através de uma realidade concreta, por meio de
Trem de Ferro analogias, metáforas, imagens e comparações. Segundo o
dicionário Aurélio: “Simbolismo concreto que abrange o conjunto de
Café com pão toda uma narrativa ou quadro, de maneira que a cada elemento do
Café com pão símbolo corresponda um elemento significado ou simbolizado”.
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?

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11
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

anunciado, que gera a fagulha propulsora da criação ousada, cuja


escrita será um risco. Em virtude do ramerrame em que a
locomotiva vinha sendo conduzida, os olhos do leitor crítico, já
tomados pela malícia, serão surpreendidos. O julgamento sairá
estampado nos jornais.

No texto acima, o autor recorre à alegoria para argumentar


a) que os escritores devem evitar a ousadia para garantir
aprovação.
b) a favor da necessidade de se programar uma literatura moderna
e globalizada.
c) contra o mercado editorial contemporâneo que não dá espaço
aos jovens escritores.
d) a favor da criação de um movimento literário que despreze
planejamento.
Sermão da Sexagésima
e) que transcender velhos clichês literários e inovar envolve riscos.
O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a
palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa
Questão 02
em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os
espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos
riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para
pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é
palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos
corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das parecidos e iguais; 1nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não
coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia,
atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este
porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que,
os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se
e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, transforma, tudo varia - o amor, o ódio, o egoísmo. 2Hoje é mais
que se colhe cento por um. amargo o riso, mais dolorosa a ironia. Os séculos passam,
Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles fruto deslizam, 3levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis.
a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto, Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da
faz efeito. No Evangelho o temos. O trigo que caiu nos espinhos, rua.
nasceu, mas afogaram-no. O trigo que caiu nas pedras, nasceu João do Rio. A alma encantadora das ruas.
também, mas secou-se. O trigo que caiu na terra boa, nasceu e
frutificou com grande multiplicação. De maneira que o trigo que (Fuvest 2009) Em "nas cidades, nas aldeias, nos povoados" (ref.
caiu na boa terra, nasceu e frutificou; o trigo que caiu na má terra, 1), "hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia" (ref. 2) e
não frutificou, mas nasceu; porque a palavra de Deus é tão funda, "levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis" (ref. 3),
que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que nos maus ainda ocorrem, respectivamente, os seguintes recursos expressivos:
que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos, não frutificou, a) eufemismo, antítese, metonímia.
mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras, não frutificou, b) hipérbole, gradação, eufemismo.
mas nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de c) metáfora, hipérbole, inversão.
Deus, são as pedras e os espinhos. d) gradação, inversão, antítese.
Padre Antônio Vieira e) metonímia, hipérbole, metáfora.

Questão 03
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
O segundo turno nos agraciou com o prolongamento do
agradabilíssimo horário político obrigatório. Os candidatos nos
Questão 01 (Insper 2012)
horaram de novo com promessas e o anúncio de realizações e nos
Se apresentar problema mecânico, trem de ferro descarrila. O comoveram quase às lágrimas ao renegar o aborto. Quanto aos
desastre é escândalo e noticiado em todos os meios de programas, inesquecível foi um deles, de turno anterior, em que o
comunicação de massa. Em fins de julho, na China, dois vagões de locutor lembrava que certo político havia criado milhares de novos
um trem saíram do trilho e despencaram lá do alto do viaduto. 32 empregos. Sim, criado novos empregos.
pessoas mortas. Semelhante à escultura de José Resende, a foto Como sabemos todos, a Bíblia informa o seguinte no primeiro
do acidente é trágica e bela. No entanto, desacreditou em parte um versículo de seu primeiro livro, o Gênese: “No princípio, Deus criou
bem montado programa de modernização do país asiático. o Céu e a Terra.”
Quando a obra de artista ambicioso vem bamboleando na bitola Não importa qual o tradutor da vulgata vertida do hebraico, a
estreita da mesmice, ele deve dar-se conta de que a locomotiva tradução é sempre esta: o bom Deus criou o Céu e a Terra, como
que conduz apresenta sérias avarias. O maquinista tem de assumir diriam os presidenciáveis antes do fim do segundo turno. Dirão
ou não o risco do acidente regenerador. A assombrar o todos que ir do horário político à Bíblia é salto temerário, mas
planejamento do futuro livro, o descarrilamento estético pode teremos sempre o álibi de seguir o exemplo dos próprios
revigorar a obra literária à beira da insipidez. Tramas e candidatos. O salto serve, ademais, para lembrar como é distraída
personagens criados em obras anteriores morrem no desastre
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12
Aula 2 - Figuras de Linguagem II
a moçada que escreve programas e discursos para políticos. (Espm 2014) A repetição da expressão “um estilo tão” e o uso da
Josué Machado, Revista Língua Portuguesa. São Paulo, n.61, expressão “xadrez de palavras” compõem respectivamente as
nov. 2010, p. 27. figuras de linguagem:
a) anáfora e metáfora
No texto acima, Josué Machado faz uma crítica ao uso da b) polissíndeto e metonímia
expressão “criado novos empregos” nos discursos políticos escritos c) pleonasmo e anacoluto
por uma “distraída moçada”. O item em que a figura contida na d) metáfora e prosopopeia
expressão também pode ser identificada é: e) antonomásia e catacrese
A) O brasileiro é bravo e forte. Não fogem da luta.
B) Rio de Janeiro é linda. Vista daqui parece o paraíso. Questão 06
C) Como vai a turma? Estão bem? Pote Cru é meu Pastor. Ele me guiará.
D) Vossa Senhoria foi taxativo em seu discurso. Ele está comprometido de monge.
E) Quando jovens, todos temos muitos planos e projetos para o De tarde deambula no azedal entre torsos de
futuro. cachorro, trampas, trapos, panos de regra, couros,
de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas
Questão 04 (Uff) albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,
Assinale a opção em que os elementos destacados no texto linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em
exemplificam a figura de linguagem apresentada. gotas de orvalho etc. etc.
a) "Paronomásia" é o emprego de palavras semelhantes no som, Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento.
porém de sentido diferente./ "Entretanto, VIDA diferente não Foi encontrado em osso.
quer dizer VIDA pior; é outra coisa." Ele tinha uma voz de oratórios perdidos.
b) "Onomatopeia" é o emprego de palavra cuja pronúncia imita o
BARROS, M. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro:
som natural da coisa significada. / "Foi então que os bustos
Record, 2002.
pintados nas paredes entraram a FALAR-me e a DIZER-me
que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os
No verso, “Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento.” Há
tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns."
uma figura de linguagem conhecida como:
c) "Anáfora" é a repetição de uma ou mais palavras no princípio de
duas ou mais frases, de membros da mesma frase, ou de dois a) Metáfora.
ou mais versos. / "Ora, como tudo CANSA, esta monotonia b) Hipérbato.
acabou por EXAURIR-me também. Quis variar, e lembrou-me c) Anacoluto.
escrever um livro." d) Assíndeto.
d) "Metonímia" é a designação de um objeto por palavra e) Metonímia
designativa de outro objeto que tem com o primeiro uma
relação. / "O que aqui está é, mal comparando, semelhante à Questão 07
pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas "Elas são quatro mulheres, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas
conserva o hábito externo, COMO SE DIZ NAS AUTÓPSIAS; O cortam o pão e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam
INTERNO NÃO AGUENTA TINTA." batatas. Elas migam sêmeas e restos de comida azeda. Elas
e) "Eufemismo" é uma substituição de um termo, pela qual se pode chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças.
evitar usar expressões mais diretas ou chocantes, para referir- Elas enchem lancheiras e tarros e pastas de escola com latas e
se a determinados fatos. / "Os amigos que me restam são de buchas e fruta embrulhada em pano limpo."
data recente; todos os antigos FORAM ESTUDAR A Maria Velho da Costa
GEOLOGIA DOS CAMPOS SANTOS."
No trecho acima, há uma figura de repetição que tem como
Questão 05 objetivo acentuar a ideia de movimento. Tal figura é:
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo
tão empeçado¹, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um a) Assíndeto
estilo tão encontrado toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é b) Anáfora
também essa. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por c) Quiasmo
isso Cristo comparou o pregar ao semear, porque o semear é uma d) Polissíndeto
arte que tem mais de natureza que de arte (...) Não fez Deus o céu e) Aliteração
em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em
xadrez de palavras. Se uma parte está branco, da outra há de estar Questão 08 (Mackenzie)
negro (...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As I - "E treme, e cresce, e brilha, e afia o ouvido, e escuta..."
estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo II - "Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não."
da pregação, muito distinto e muito claro. III - "Aproximou-se do chiqueiro das cabras, viu o bode velho
¹empeçado: com obstáculo, com empecilho. fazendo um barulho feio com as ventas arregaçadas, lembrou-se
do acontecimento da véspera."
Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira IV - "Minha vida é uma pobre rosa ao vento."
V - "Não vi mais o acampo deles, as esporas tilintim."

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13
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Assinale a alternativa INCORRETA quanto aos recursos estilísticos Questão 04


das respectivas frases. Argumento (Paulinho da Viola)
a) I - Polissíndeto
b) II - Elipse do artigo Tá legal
c) III - Silepse Eu aceito o argumento
d) IV - Metáfora Mas não me altere o samba tanto assim
e) V - Onomatopeia Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Ou de um tamborim.
Sem preconceito
Questão 01 Ou mania de passado
Sem querer ficar do lado
É terminantemente proibido animais circulando nas áreas comuns
De quem não quer navegar
a todos, principalmente para fazerem suas necessidades Faça como um velho marinheiro
fisiológicas no jardim do condomínio, onde pode por em risco a Que durante o nevoeiro
saúde das crianças que alí brincam descalças. Leva o barco devagar Argu
(Extraído de um RELATÓRIO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS da
administração de um prédio.) (FGV-RJ 2015) Ao empregar, na letra da canção, o verbo
“navegar” em sentido metafórico e desdobrar esse sentido nos
versos seguintes, o compositor recorre ao seguinte recurso
(Ita) Assinale a opção que apresenta as figuras de linguagem
expressivo:
presentes no texto: a) alegoria.
a) Pleonasmo e eufemismo. b) personificação.
b) Metonímia e eufemismo. c) hipérbole.
c) Pleonasmo e polissíndeto. d) eufemismo.
d) Pleonasmo e metonímia. e) pleonasmo.
e) Eufemismo e polissíndeto.
Questão 05 (Ifsp 2013)
Questão 02 (Espm 2011) Leia o texto abaixo.
Hipálage, segundo Massaud Moisés, “designa um expediente Sem vós, ninfas do Tejo e do Mondego,
retórico próprio da poesia, mediante o qual uma palavra troca o Por caminho tão árduo, longo e vário!
lugar que logicamente ocuparia na sequência frásica por outro, Vosso favor invoco, que navego
junto de um termo ao qual se vincula gramaticalmente.” Em todas Por alto mar, com vento tão contrário
as frases abaixo, ocorre essa figura de linguagem, exceto em uma. Que, se não me ajudais, hei grande medo
Assinale-a: Que o meu fraco batel se alague cedo.
(www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000162.pdf.
a) “uma alvura de saia moveu-se no escuro” (Eça de Queirós)
Acesso em: 04.12.2012.)
b) “Mandados da rainha, que abundantes / Mesas de altos
manjares excelentes” (Camões) A estrofe acima pertence ao canto VII d’Os lusíadas, de Luís Vaz
c) “apetite necrófago da mosca” (Augusto dos Anjos) de Camões. Nele, observamos a figura de linguagem denominada
d) “o riscar dos fósforos espavoridos” (Clarice Lispector) anástrofe, que consiste na mudança da ordem direta dos termos da
e) “de um povo heroico o brado retumbante” (Osório Duque oração. Assinale a alternativa em que se observa essa ocorrência.
Estrada)
a) vós, ninfas do Tejo e do Mondego
b) Por caminho tão árduo, longo e vário!
Questão 03 (Espm 2012)
c) Vosso favor invoco
Na frase: “Mais vale escrever a coisa certa com as palavras d) que navego / Por alto mar
erradas que escrever a coisa errada com as palavras certas.”, e) com vento tão contrário / Que, se não me ajudais
está presente um procedimento chamado QUIASMO. Essa figura
retórica se baseia: Questão 06
a) no cruzamento de frases ou termos, invertidos simetricamente TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
como num espelho.
Sempre desconfiei
b) na fusão ou união de vocábulos opostos, gerando uma ideia
Sempre desconfiei de narrativas de sonhos. Se já nos é difícil
contraditória, absurda. recordar o que vimos despertos e de olhos bem abertos, imagine-
c) na aproximação de palavras antitéticas ou de pensamentos se o que não será das coisas que vimos dormindo e de olhos
antagônicos. fechados... Com esse pouco que nos resta, fazemos
d) num rodeio da frase para se chegar indiretamente ao termo ou reconstituições suspeitamente lógicas e pomos enredo, sem
ideia. querer, nas ocasionais variações de um calidoscópio. Me lembro
e) na repetição de palavras ou ideias para dar ênfase ou realce.

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14
Aula 2 - Figuras de Linguagem II
de que, quando menino, minha gente acusava-me de inventar os
sonhos. O que me deixava indignado.
Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão.
Por outro lado, o que mais espantoso há nos sonhos é
que não nos espantamos de nada. Sonhas, por exemplo, que estás
a conversar com o tio Juca. De repente, te lembras de que ele já
morreu. E daí? A conversa continua.
Com toda a naturalidade.
Já imaginaste que bom se pudesses manter essa
imperturbável serenidade na vida propriamente dita? c) hipérbole, pois há um exagero na solução drástica encontrada
pelo dono da empresa para demitir os comissários.
(Mario Quintana, A vaca e o hipogrifo. São Paulo: Globo,1995) d) metonímia, porque se percebe a indiferença do dono da
(Insper 2014) Infere-se que a principal justificativa para a empresa perante a sensação de terror da tripulação.
expressão contida no título e no primeiro período do texto é: e) eufemismo, pois o dono da empresa resolve, sem sutileza, como
a) Na reconstituição dos sonhos, a mente reorganiza de maneira cortar parte dos funcionários da empresa aérea.
coerente o que se consegue lembrar.
b) Habitualmente, os sonhos apenas refletem a incoerência dos Questão 10
fatos naturais da vida. BEM NO FUNDO
c) Tal como na montagem de um quadro com peças soltas e sem 1no fundo, no fundo,
sentido, os sonhos são ilógicos. bem lá no fundo,
d) Os adultos não encaram com seriedade os sonhos das crianças, 2a gente gostaria
mesmo quando esses são coerentes. de ver 3nossos problemas
e) Sendo incapaz de recordar os sonhos, a mente humana inventa resolvidos por decreto
histórias fantasiosas.
a partir desta data,
Questão 07 (Insper 2014) aquela mágoa sem remédio
Em “Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão”, o autor é considerada nula
recorre a uma figura de construção, que está corretamente e sobre ela − silêncio perpétuo
explicada em
a) silepse, por haver uma concordância verbal ideológica. extinto por lei todo o remorso,
b) elipse, por haver a omissão do objeto direto. maldito seja quem olhar pra trás,
c) anacoluto, por haver uma ruptura na estrutura sintática da frase. lá pra trás não há nada,
d) pleonasmo, por haver uma redundância proposital em “ambas e nada mais
as partes”.
e) hipérbato, por haver uma inversão da ordem natural e direta dos mas problemas não se resolvem,
termos da oração. problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
Questão 08 (Espm 2006) o problema, sua senhora
O escritor Paulo Lins em seu romance "Cidade de Deus" expressa e outros pequenos probleminhas
o avanço da violência no Brasil, nas últimas décadas, com a frase:
LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Cia.
"Falha a fala. Fala a bala." das Letras, 2013.
Nas duas frases só NÃO se pode identificar a seguinte figura de
linguagem: (Uerj 2015) no fundo, no fundo,
bem lá no fundo, (ref. 1)
a) Paronomásia, pelo trocadilho ou jogo de palavras com apelo
sonoro. Nesses versos iniciais do poema, a repetição de palavras e o
b) Aliteração, pela repetição de fonemas consonantais. emprego do vocábulo “bem” produzem um efeito de:
c) Assonância, pela repetição da vogal "a". a) ênfase
d) Perífrase, pela substituição de "violência" por um dos elementos b) eufemismo
que a compõe (bala). c) enumeração
e) Personificação, pela característica humana atribuída à "bala". d) ambiguidade
e) paradoxo
Questão 09 (G1 - cps 2014)
Analise a charge considerando que o personagem de terno seja o Questão 11 (Mackenzie 2003)
dono da empresa aérea. Analisando os elementos constitutivos da tira, percebe-se:
Nessa charge, identifica-se a figura de linguagem a) O tigre é irônico ao tecer seus comentários sobre o processo no
a) antítese, já que os comissários de bordo apresentam reação último quadrinho.
idêntica ao saberem da demissão. b) O menino demonstra falta de consciência sobre o que pode ser
b) personificação, visto que o objetivo principal da charge é criar considerado normal e o que pode ser considerado desvio na
uma cena divertida e plena de humor. língua.

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15
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

IV. “Te trago mil rosas roubadas / Pra desculpar minhas mentiras /
Minhas mancadas” (Cazuza)

Indica a correspondência correta a alternativa


a) I. Paradoxo, II. Aliteração, III. Ironia, IV. Sinestesia.
b) I. Pleonasmo, II. Anacoluto, III. Metáfora, IV. Hipérbole.
c) I. Antítese, II. Comparação, III. Ironia, IV. Hipérbole.
d) I. Antítese, II. Pleonasmo, III. Ironia, IV. Hipérbole.
e) I. Metáfora, II. Polissíndeto, III. Zeugma, IV. Hipérbole.
Questão 14 (Ufscar 2008)
Eu tinha o medo imediato. E tanta claridade do dia. O arrojo do rio
e só aquele estrape*, e o risco extenso d'água, de parte a parte.
Alto rio, fechei os olhos. Mas eu tinha até ali agarrado uma
esperança. Tinha ouvido dizer que, quando canoa vira, fica
boiando, e é bastante a gente se apoiar nela, encostar um dedo
c) A expressão facial do menino nos dois primeiros quadrinhos que seja, para se ter tenência, a constância de não afundar, e aí ir
evidencia sua apreensão por constatar que "verbar", apesar de ser seguindo, até sobre se sair no seco. Eu disse isso. E o canoeiro
gostoso, "esquisita o idioma". me contradisse: - "Esta é das que afundam inteiras. É canoa de
d) O tigre demonstra desespero em relação às novidades peroba. Canoa de peroba e de pau-d'óleo não sobrenadam..." Me
linguísticas introduzidas pelo garoto. deu uma tontura. O ódio que eu quis: ah, tantas canoas no porto,
e) Tanto o menino quanto o tigre preveem consequências boas canoas boiantes, de faveira ou tamboril, de imburana,
desastrosas para o idioma advindas da prática de "verbar vinhático ou cedro, e a gente tinha escolhido aquela... Até fosse
palavras". crime, fabricar dessas, de madeira burra!
(Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, p. 88-89.)
Questão 12 (G1 - cps 2015)
Leia este fragmento do poema A lua foi ao cinema, do escritor
Paulo Leminski. * instrumento de tortura
Diz Alfredo Bosi a respeito de Guimarães Rosa: "'Grande Sertão:
“A lua foi ao cinema, Veredas' e as novelas de 'Corpo de Baile' incluem e revitalizam
passava um filme engraçado, recursos da expressão poética: células rítmicas, aliterações,
a história de uma estrela onomatopeias, rimas internas, ousadias mórficas, elipses, cortes e
que não tinha namorado. deslocamentos de sintaxe, vocabulário insólito, arcaico ou de todo
Não tinha porque era apenas neológico, associações raras, metáforas, anáforas, metonímias,
uma estrela bem pequena, fusão de estilos, coralidade".
dessas que, quando apagam, (Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira, p. 430.)
ninguém vai dizer, que pena! (...)”

(http://tinyurl.com/n4oljo7 Acesso em: 24.07.2014. Adaptado) a) De qual dos recursos enumerados Guimarães Rosa faz uso no
trecho "Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse"? Explique.
A figura de linguagem predominante nesse poema é
a) hipérbole, pois a palavra estrela foi empregada para suavizar um b) Com qual desses recursos pode ser associada a frase "Até
termo. fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!"?
b) pleonasmo, pois a palavra história apresenta o mesmo sentido
de incidente.
c) sinestesia, pois a felicidade da estrela é tratada com indiferença Questão 15 (Eear 2017)
pelo poeta. Leia:
d) catacrese, pois a palavra pena foi empregada inadequadamente,
num sentido impróprio. I. “As derrotas e as frustrações são amargas”.
e) personificação, pois a lua vivencia uma situação que é própria II. “O rio tinha entrado em agonia, após tantos meses sem chuva”.
dos seres humanos. III. “As crianças cresceram, no devagar depressa do tempo”.
IV. “Maria Joaquina completava quinze primaveras”.
Questão 13 (G1 - ifce 2016)
Analise os trechos de músicas a seguir levando em consideração As figuras de linguagem encontradas nos textos acima são,
as figuras de linguagem. respectivamente,
a) metáfora, metonímia, paradoxo e prosopopeia.
I. “Não existiria som se não houvesse o silêncio / Não haveria luz b) antítese, prosopopeia, metáfora e metonímia.
se não fosse a escuridão / A vida é mesmo assim / Dia e noite, c) metonímia, metáfora, prosopopeia e antítese.
não e sim.” (Lulu Santos/Nelson Mota) d) metáfora, prosopopeia, paradoxo e metonímia.
II. “Chove chuva, chove sem parar” (Jorge Ben Jor) e) comparação, personificação, antítese e metáfora.
III. “Mentes tão bem que parece verdade, o que você me fala / Vou
acreditando” (Zezé Di Camargo e Luciano)

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16
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

península Ibérica, principalmente através da língua: o galego-


AULA 3 - TROVADORISMO português.
E é na corte dos reis portugueses, galegos e castelhanos que a
poesia galego-portuguesa floresce.
Nas cortes dos senhores feudais, centros de atividades artísticas
durante a Idade Média, cantadores e músicos eram contratados
pelo senhor para divertir a corte. As cantigas apresentadas eram
compostas, quase sempre, por nobres que se denominavam
“trovadores”.

1.3) As Cantigas Líricas são divididas em: Cantigas de Amor e


Cantigas de Amigo.

1.1) Contexto Histórico: Idade Média - Feudalismo a) Cantigas de Amor: O servilismo dos vassalos ao seu suserano
e de todos a Deus é a fonte do princípio básico da literatura
Durante a Idade Média, a Igreja Católica acumulou vastas
medieval: a afirmação da absoluta subserviência do trovador à sua
extensões de terra, enriqueceu e exerceu um imenso poder
dama (na poesia) ou de um cavaleiro à sua donzela (nas novelas
religioso e secular. No período conhecido como Alta Idade Média
de cavalaria).
(séculos XII e XIII), o poder da Igreja medieval era tão grande a
Essa subserviência é a base do amor cortês, um código de
ponto do papa Inocêncio III (século 1198-1216) afirmar que
comportamento amoroso idealizado, criado por Guilherme IX,
“Os príncipes têm poder na terra, os sacerdotes, sobre a alma. E
nobre e senhor de um dos mais poderosos feudos da Europa.
assim como a alma é muito mais valiosa do que o corpo, assim
De acordo com o código do amor cortês, o trovador deveria
também mais valioso é o clero do que a monarquia [...]. Nenhum
expressar seus galanteios e súplicas a uma mulher casada e
rei pode reinar com acerto a menos que sirva devotamente ao
pertencente à nobreza, que tivesse uma posição social de
vigário de Cristo.".
destaque.
PERRY, Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. São Paulo:
Martins Fontes, 1985. p 218. Uma vez que a mulher cortejada é casada, o amor não tem
possibilidade de se realizar, originando a “coita de amor”, o
A Igreja impôs uma ideologia teocêntrica, estimulando os fieis a sofrimento amoroso.
acreditarem que viviam no pecado e que a possibilidade de As cantigas de amor galego-portuguesas expressam a paixão
salvação residia na total submissão a Deus e à Igreja, sua infeliz, o amor não correspondido de um trovador pela sua senhora,
representante no mundo. como fica evidente na famosa Cantiga da Ribeirinha, de Paay
Soares de Taveiros:
*Teocentrismo: refere-se a uma visão de mundo cristã, que afirma
a perfeição e a superioridade de Deus. Assim, Deus seria o Cantiga da Ribeirinha
fundamento de tudo e responsável por todas as coisas. No mundo non me sei pareiha,
Mentre me for como me vai,
Outra manifestação do poder da Igreja manifestava-se no controle Ca já moiro por vós – e ai!
quase absoluto da produção cultural da época, uma vez que a Mia senhor branca e vermelha,
leitura e a escrita estavam restritas aos mosteiros e abadias: cabia Queredes que vos retraia
a monges e padres traduzir e reproduzir os textos sagrados do Quando vos eu vi em saia!
cristianismo e as obras de filósofos clássicos, como Platão e Mau dia me levantei,
Aristóteles. No entanto a circulação desses textos era restrita, pois Que vos enton non vi fea!
a Igreja proibia a circulação de obras que ameaçassem seu poder,
além de contar com o fato de que apenas dois por cento da E, mia senhor, dês aquel di’, ai!
população da Europa era alfabetizada. Me foi a mim mui mal,
E vós, filha de don Paai
Nesse contexto, a sociedade organizava-se ao redor dos grandes Moniz, e bem vos semelha
proprietários de terra, os senhores feudais, em torno dos quais se D’haver eu por vós guarvaia,
reunia uma pequena corte: membros de uma nobreza Pois, eu, mia senhor, d’alfaia
empobrecida, cavaleiros, camponeses livres e servos, unidos por Nunca de vós houve nen hei
uma relação de vassalagem. As relações entre nobres, cavaleiros Valia d’ua Correa.
e senhores feudais eram regidas por um código de cavalaria
baseado na lealdade, na honra, na bravura e na cortesia. Cantiga da Ribeirinha
Não há no mundo ninguém que se compare a
1.2) A Literatura Trovadoresca mim em infelicidade,
O nascimento da literatura em Portugal coincide com o nascimento enquanto a minha vida continuar assim,
do próprio país. Em 1140, Portugal tornou-se um estado porque morro por vós e, ai,
independente, mas manteve uma forte ligação cultural com a minha senhora branca e de faces rosadas,
quereis que vos retrate
quando vos vi sem manto.
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Mau dia foi esse em que me levantei, Mas, se sabendo-me abandonado,


Porque não vos vi feia! Ver-vos, senhora, me for dado,
E, minha senhora, desde aquele dia, ai, Vivendo assim eu quero estar
Tudo para mim foi muito mal, mas vós, E esperar, e esperar.
Filha de D. Paio Moniz, parece-vos muito
Bem que eu tenha de vós uma garvaia (manto Esses que veem tristemente
de luxo) Desamparada sua paixão,
Quando nunca recebi de vós Querendo morrer, loucos estão.
O simples valor de uma correia. Minha fortuna não é diferente;
Porém eu digo constantemente:
Características das cantigas de amor: Vivendo assim eu quero estar
- O eu lírico é sempre masculino; E esperar, e esperar.
- O eu lírico se autodenomina coitado, cativo, sofredor, João Garcia de Guilhade
enlouquecido; b) Cantigas de Amigo
- Destaca-se o tema da coita de amor (o sofrimento amoroso); As cantigas de amigo falam de uma relação amorosa concreta,
- O amor é não realizado; real, entre amantes que vivem no campo. O tema central é a
- A dama é identificada pelas suas qualidades físicas (fremosa, de saudade.
bem parecer, delgada...) e sempre superior às demais damas da Características das Cantigas de Amigo:
mesma corte; - Eu lírico femininos;
- O espaço é o da corte, espaço civilizado; - Amor concreto, realizado;
- Versos de 7 sílabas poéticas (redondilha maior); - Tema da saudade do amigo (namorado ou amante), que está
- Presença de refrão. ausente;
- Tom mais alegre e otimista;
Cantiga d’amor de refran - Presença de personagens que se relacionam, principalmente,
Quantos han gran coita d'amor com a donzela: a mãe, as amigas, as damas de companhia;
eno mundo, qual hoj'eu hei, - O cenário caracteriza um ambiente rural, campesino;
querrían morrer, eu o sei, - Versos de 5 sílabas poéticas (redondilha menor);
e haverían én sabor. - Presença de refrão.
Mais mentr'eu vos vir, mia senhor,
sempre m'eu querría viver, Cantiga de Amigo
e atender e atender! Levad', amigo, que dormides as manhanas frías;
toda-las aves do mundo d'amor dizían.
Pero ja non posso guarir, Leda m'and'eu.
ca ja cegan os olhos meus
por vós, e non me val i Deus Levad', amigo, que dormide-las frías manhanas;
nen vós; mais por vós non mentir, toda-las aves do mundo d'amor cantavan.
enquant'eu vós, mia senhor, vir, Leda m'and'eu.
sempre m'eu querría viver,
e atender e atender! Toda-las aves do mundo d'amor dizían;
do meu amor e do voss'en ment'havían.
E tenho que fazen mal sén Leda m'and'eu.
quantos d'amor coitados son
de querer sa morte se non Toda-las aves do mundo d'amor cantavan;
houveron nunca d'amor ben, do meu amor e do voss'i enmentavan.
com'eu faç'. E, senhor, por én Leda m'and'eu.
sempre m'eu querría viver,
e atender e atender! Do meu amor e do voss'en ment'havían;
vós lhi tolhestes os ramos en que siían.
João Garcia de Guilhade Leda m'and'eu.
Cantiga d’amor de refran Do meu amor e do voss'i enmentavan;
Quantos o amor faz padecer vós lhi tolhestes os ramos en que pousavan.
Penas que tenho padecido, Leda m'and'eu.
Querem morrer e não duvido
Que alegremente queiram morrer. Vós lhi tolhestes os ramos en que siían
Porém enquanto vos puder ver, e lhis secastes as fontes en que bevían.
Vivendo assim eu quero estar Leda m'and'eu.
E esperar, e esperar.
Vós lhi tolhestes os ramos en que pousavan
Sei que a sofrer estou condenado e lhis secastes as fontes u se banhavan.
E por vós cegam os olhos meus. Leda m'and'eu.
Não me iacudis; nem vós, nem Deus.
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Aula 3 - Trovadorismo
Nuno Fernandes Torneol dona fea, velha e sandia!
Cantiga de Amigo
Ai, dona fea! Se Deus me pardon!
Ergue-te, amigo, que dormes nas manhãs frias!
pois avedes [a] tan gran coraçon
Todas as aves do mundo, de amor, diziam:
Alegre eu ando! que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
Ergue-te, amigo, que dormes nas manhãs claras! e vedes qual será a loaçon:
Todas as aves do mundo, de amor, diziam: dona fea, velha e sandia!
Alegre eu ando!
Dona fea, nunca vos eu loei
Todas as aves do mundo, de amor, diziam;
en meu trobar, pero muito trobei;
Do meu amor e do teu se lembrariam:
Alegre eu ando! mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
Todas as aves do mundo, de amor, cantavam; e direi-vos como vos loarei:
Do meu amor e do teu se recordavam: dona fea, velha e sandia!
Alegre eu ando!
Cantiga de Escárnio
Do meu amor e do teu se lembrariam; Ai, senhora feia, foste-vos queixar
Tu lhes tolheste os ramos em que eu as via: porque nunca vos louvo em minhas cantigas
Alegre eu ando!
mas agora quero fazer um cantar
Do meu amor e do teu se recordavam; em que vos louvarei, todavia;
Tu lhes tolheste os ramos em que pousavam: e vede como vos quero louvar:
Alegre eu ando! senhora feia, velha e louca.!

Tu lhes tolheste os ramos em que eu as via; Senhora feia, assim Deus me perdoe,
E lhes secaste as fontes em que bebiam:
pois tendes tão bom coração
Alegre eu ando!
que eu vos louvo, e por esta razão
Tu lhes tolheste os ramos em que pousavam; eu vos quero louvar, todavia;
E lhes secaste as fontes que as refrescavam: e vede qual será a louvação:
Alegre eu ando! senhora feia, velha e louca!

Nuno Fernandes Torneol Senhora feia, eu nunca vos louvei


em meu trovar, mas muito já trovei;
1.4) CANTIGAS SATÍRICAS
entretanto, farei agora um bom cantar
As cantigas satíricas apresentavam críticas ao comportamento
em que eu todavia vos louvarei:
social, difamavam alguns nobres ou denunciavam as damas que
e vos direi como louvarei:
não cumpriam seu papel no jogo do amor cortês. Dividem-se em
senhora feia, velha e louca!
Cantigas de Escárnio e Cantigas de Maldizer.

a) Cantigas de Escárnio
Nas cantigas de escárnio o trovador faz uma crítica a alguém por HUMANISMO E RENASCIMENTO CULTURAL
meio de ironias, de palavras de duplo sentido, de trocadilhos,
portanto, a crítica é indireta. 1.5) O HUMANISMO

b) Cantigas de Maldizer “Desde o fim do século XIV, na Itália, um grande número de


Nas cantigas de maldizer, as críticas são feitas de modo direto, homens cultos, os humanistas (da palavra latina humanus, polido,
explícito, muitas vezes identificando a pessoa satirizada. A culto), apaixonou-se pela recordação da Antiguidade Greco-
linguagem costuma ser vulgar, ofensiva; e os textos tratam de Latina.” (GIRARDET, R e JAILLET, P.)
indiscrições amorosas de nobres e de membros do clero. Assim, dá-se o nome de Humanismo a esse movimento de
glorificação do homem como centro e medida de todas as coisas,
Cantiga de Escárnio aliado a um movimento intelectual de valorização da Antiguidade
Clássica.
Ai, dona fea! Foste-vos queixar
que vos nunca louv'en meu trobar; O Humanismo foi um movimento intelectual e artístico, surgido na
Itália no século XIV, que alcançou seu estado pleno durante o
mas ora quero fazer um cantar
Renascimento Cultural. Os humanistas rejeitavam a visão
en que vos loarei toda via; teocêntrica do mundo e os valores medievais, estabelecendo,
e vedes como vos quero loar: então, uma visão antropocêntrica.

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19
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

1.6) RENASCIMENTO CULTURAL 1.6.2) Características gerais da Arte Renascentista:


* Racionalidade e Rigor Científico

O termo Renascimento é utilizado para englobar o florescimento


artístico, cultural, científico e político ocorrido na Europa,
principalmente entre os séculos XV e XVI.

“Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio; tão vário na


capacidade; em forma e movimento, tão preciso e admirável, na
ação é como um anjo; no entendimento é como um Deus; a beleza
do mundo, o exemplo dos animais.”
Hamlet, William Shakespeare O Homem Vitruviano, Leonardo Da Vinci

A frase de Hamlet traduz perfeitamente o Antropocentrismo que * Antropocentrismo e Hedonismo


norteou o pensamento humano na época do Renascimento.
O rígido teocentrismo medieval, que centrava suas atenções na
relação Deus-Homem, foi substituído pela glorificação do Ser
Humano, pela relação Homem-Natureza.
Para que isso ocorresse, foram necessárias transformações
estruturais associadas ao Absolutismo e ao crescimento da
burguesia.
Enriquecida com o comércio, a burguesia procurou se firmar
socialmente, se opondo aos valores projetados pela Igreja e pela
nobreza feudal, difundindo seus valores através das artes, das
letras e das ciências, que seguiam concepções racionalistas,
individualistas, pagãs e antropocêntricas.
Da mesma forma, a política de centralização monárquica levou
diversos soberanos a estimular a produção artística e literária,
visando à promoção pessoal e à atração de partidários para o Davi, Michelangelo
absolutismo.

1.6.1) Principais características do Renascimento: Idade Média Renascimento


O Renascimento significou uma nova arte, novas mentalidades e
formas de ver, pensar e representar o mundo e os humanos. Teocentrismo Antropocentrismo
- antropocentrismo (o homem como centro do universo):
valorização do homem como ser racional e como a mais bela e Homem como ser Homem como criação divina,
perfeita obra da natureza; submisso e pecador; perfeita, dotada de razão /
Hedonismo;
- otimismo: os renascentistas tinham uma atitude positiva diante
do mundo – acreditavam no progresso e na capacidade humana e Deus como única fonte de A natureza como fonte de
conhecimento verdadeiro; conhecimento;
apreciavam a beleza do mundo tentando captá-la em suas obras
de arte;
Domínio cultural da Igreja. Resgate dos Valores da
- racionalismo: contrapondo-se à cultura medieval, que era Antiguidade clássica.
baseada na autoridade divina, os renascentistas valorizavam a
razão humana como base do conhecimento. O saber como fruto
da observação e da experiência das leis que governam o mundo. * Ideal Humanista - Resgate dos valores Clássicos

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Aula 3 - Trovadorismo
- Personagens que simbolizam um valor ou um comportamento
humano;
- Presença de alegorias (o agiota, no Auto da Barca do Inferno,
carrega consigo, mesmo depois de morto, uma bolsa de moedas
representando sua ganância);
- Teor moralizante;
- A estrutura cênica do teatro vicentino apresenta enredos simples;
- O teatro de Gil Vicente o padrão estabelecido pelo teatro clássico
(Grego e Romano);
- A ideologia das obras apresentam o confronto entre a idade
Média e o Renascimento - Teocentrismo X Antropocentrismo.

1.7.2) A obra teatral de Gil Vicente pode ser didaticamente


dividida em:
Escola de Atenas, Rafael Sanzio - Autos pastoris: peças teatrais de assunto religioso, como o Auto
pastoril português, ou profano, como o Auto pastoril da Serra da
* Paganismo Estrela.

- Autos de Moralidade: Tinham a finalidade de moralizar e difundir


a fé cristã. Suas obras mais célebres pertencem a essa categoria,
como a Trilogia das Barcas (Auto da Barca do Inferno, Auto da
Barca da Glória e Auto da Barca do purgatório); Auto da Feira.

- Farsas: são peças críticas, de teor cômico, de um só ato, com


enredo curto e poucas personagens, extraídas do cotidiano,
desenvolvem-se em torno de problemas sociais.
As farças mais famosas são a Farsa do Velho da Horta, que
satiriza a paixão de um velho casado por uma virgem, e a Farsa de
Inês Pereira, que retrata a história de uma jovem que pretende
ascender socialmente por meio do casamento.
O nascimento de Vênus – Botticelli
Auto da Lusitânia
1.7) GIL VICENTE (Gil Vicente - 1465? - 1536?)
Gil Vicente é considerado o primeiro dramaturgo português. Em Estão em cena os personagens "Todo o Mundo" (um rico
suas peças, faz um retrato, muitas vezes satírico, da sociedade mercador) e "Ninguém" (um homem vestido como pobre). Além
portuguesa do seu tempo, contribuindo para que tenhamos um deles, participam da cena dois diabos, Berzebu e Dinato, que
registro dos hábitos, costumes e valores de toda uma galeria de escutam os diálogos dos primeiros, comentando-os, e anotando-
tipos humanos: reis, cavaleiros, clérigos e camponeses, todos os.
estão retratados.
Ninguém para Todo o Mundo: E agora que buscas lá?
Apesar de ser frequentador da corte e de muitas de suas peças Todo o Mundo: Busco honra muito grande.
terem sido escritas para entreter reis e nobres, Gil Vicente não se Ninguém: E eu virtude, que Deus mande que tope co ela já.
priva de criticar os hábitos imorais da nobreza. Sem fazer distinção Berzebu para Dinato: Outra adição nos acude:
entre as classes sociais, o autor expõe em cena os vícios e Escreve aí, a fundo, que busca honra Todo o Mundo, e Ninguém
vaidades de ricos e pobres, de nobres e plebeus; censura a busca virtude.
hipocrisia dos frades que não fazem aquilo que pregam; denuncia Ninguém para Todo o Mundo: Buscas outro mor bem qu'esse?
a exploração do povo, seja por juízes ou por sapateiros; ridiculariza Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo quanto eu
os supersticiosos, os velhos luxuriosos e as alcoviteiras. fizesse.
Ninguém: E eu quem me repreendesse em cada cousa que
*Para Gil Vicente suas peças não tinham apenas o objetivo de errasse.
divertir e entreter, mas de moralizar, destacando os defeitos e os Berzebu para Dinato: Escreve mais.
vícios de uma sociedade em transformação, cada vez mais Dinato: Que tens sabido?
materialista, corrupta e distante dos ensinamentos divinos. Berzebu: Que quer em extremo grado Todo o Mundo ser louvado,
e Ninguém ser repreendido.
1.7.1) CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS PEÇAS DE GIL Ninguém para Todo o Mundo: Buscas mais, amigo meu?
VICENTE Todo o Mundo: Busco a vida e quem ma dê.
Ninguém: A vida não sei que é, a morte conheço eu.
- Caráter popular;
Berzebu para Dinato: Escreve lá outra sorte.
- Linguagem rica e variada das personagens, de acordo com sua
Dinato: Que sorte?
origem e posição social;
Berzebu: Muito garrida: Todo o Mundo busca a vida, e Ninguém
- Profunda crítica social;
conhece a morte.
- Personagens Tipo;
(Antologia do Teatro de Gil Vicente)
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores galego-portugueses.


Seleção, introdução, notas e adaptação de Natália Correia. 2. ed.
Questão 01 (Mackenzie 98) Lisboa: Estampa, 1978. p. 253.
Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é INCORRETO afirmar
que: Quem te viu, quem te vê
a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo teocentrismo, o
feudalismo e valores altamente moralistas. Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
b) representou um claro apelo popular à arte, que passou a ser Você era a favorita onde eu era mestre-sala
representada por setores mais baixos da sociedade. Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
c) pode ser dividida em lírica e satírica. Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua
d) em boa parte de sua realização, teve influência provençal.
e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores, Hoje o samba saiu procurando você
expressam o eu-lírico feminino. Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Questão 02 (G1 - ifsp 2016) Quem jamais a esquece não pode reconhecer
[...]
Assinale a alternativa correta no que se refere às cantigas de amor
Chico Buarque
trovadorescas.
a) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino lamenta a ausência
A cantiga do rei D. Dinis, adaptada por Natália Correia, e a canção
da mulher amada, que lhe é indiferente e que, por mais que seja
de Chico Buarque de Holanda expressam a seguinte característica
vista por ele como superior, pertence às classes populares.
trovadoresca:
b) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino manifesta
a) a vassalagem do trovador diante da mulher amada que se
insistentemente a coita, isto é, o sofrimento de amor, repleto de
encontra distante.
impulsos eróticos que lhe laceram o corpo e que conferem aos
b) a idealização da mulher como símbolo de um amor profundo e
poemas uma aura sardônica.
universal.
c) Nas cantigas de amor, o eu lírico feminino manifesta a falta que
c) a personificação do samba como um ser que busca a plenitude
sente do amigo – isto é, do homem amado – invocando-o por
amorosa.
meio de composições de matriz popular que se caracterizam por
d) a possibilidade de realização afetiva do trovador em razão de
construções paralelísticas.
estar próximo da pessoa amada.
d) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino confessa a coita,
isto é, o sofrimento amoroso por uma dama que lhe é
Questão 04 (Pucrj 2014)
inacessível devido à diferença social que existe entre ele e ela.
e) Nas cantigas de amor, a distância social existente entre o eu
lírico masculino e a mulher amada a quem ele se dirige permite
entrever que já grassava na sociedade portuguesa a ascensão
social pelo trabalho.
Questão 03 (Ueg 2015)
Senhora, que bem pareceis!
Se de mim vos recordásseis
que do mal que me fazeis
me fizésseis correção,
quem dera, senhora, então
que eu vos visse e agradasse.

Ó formosura sem falha


que nunca um homem viu tanto
para o meu mal e meu quebranto!
Senhora, que Deus vos valha! A imagem acima, “A Escola de Atenas”, é considerada uma das
Por quanto tenho penado maiores obras de arte renascentista. Foi elaborada sob a forma de
seja eu recompensado afresco, realizado entre os anos de 1506-1510, sob encomenda do
vendo-vos só um instante. Vaticano para ornar um dos aposentos do palácio principal. Rafael
Sanzio soube representar de modo magistral o espírito de sua
De vossa grande beleza época. No centro do afresco, as figuras dos filósofos Platão e
da qual esperei um dia Aristóteles bem como de outros sábios da Antiguidade.
grande bem e alegria,
só me vem mal e tristeza. Considerando o contexto histórico retratado na obra e as
Sendo-me a mágoa sobeja, proposições que se seguem, marque a alternativa CORRETA.
deixai que ao menos vos veja
no ano, o espaço de um dia. I. A realização da grandiosa obra foi em parte possível pela prática
Rei D. Dinis do mecenato, que propiciava ao artista as condições materiais
para a produção de obras de arte e de inventos científicos.

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22
Aula 3 - Trovadorismo
II. A técnica da perspectiva, a valorização do volume dos corpos matemáticos na representação artística produzida na época. A
pelo contraste claro-escuro, e a utilização, no original, de cores figura a seguir ilustra o estudo da perspectiva em uma obra desse
vivas revelam a preocupação em representar as pinturas da forma arquiteto. É correto afirmar que, a partir do Renascimento, a teoria
mais realista possível. da perspectiva
III. Apesar da crença em um conhecimento racional do mundo, os
intelectuais desse contexto acreditavam na existência de Deus,
que dotou o homem de raciocínio para desvendar as leis do
universo.
IV. Os intelectuais renascentistas buscaram inspiração nos
padrões estéticos e nos conhecimentos produzidos pelos clássicos
greco-romanos da Antiguidade.
a) I, II, III e IV.
b) I e IV, apenas.
c) II e III, apenas.
d) II e IV, apenas.
e) I e III, apenas.
a) foi aplicada nas artes e na arquitetura, com o uso de proporções
Questão 05 (Puccamp) harmônicas, o que privilegiou o domínio técnico e restringiu a
Leia o texto e observe o detalhe da pintura "Gioconda", de capacidade criativa dos artistas.
Leonardo da Vinci. b) evidencia, em sua aplicação nas artes e na arquitetura, que as
regras geométricas e de proporcionalidade auxiliam a
percepção tridimensional e podem ser ensinadas, aprendidas e
difundidas.
c) fez com que a matemática fosse considerada uma arte em que
apenas pessoas excepcionais poderiam usar geometria e
proporções em seus ofícios.
d) separou arte e ciência, tornando a matemática uma ferramenta
apenas instrumental, porque essa teoria não reconhece as
proporções humanas como base de medida universal.
e) teve sua aplicação restrita à arquitetura, diante da
impossibilidade de os artistas clássicos representarem
elementos tridimensionais em um plano.
"Quanto mais a vida econômica e social se emancipa dos grilhões Questão 07 (Pucsp 2007)
do dogma eclesiástico, tanto mais a arte se volta para a realidade
Considerando a peça "Auto da Barca do Inferno" como um todo,
imediata."
indique a alternativa que melhor se adapta à proposta do teatro
(Arnold Hauser. "História social da literatura e da arte". 2. ed.
vicentino.
Tradução de Walter H. Geenen. São Paulo: Mestre Jou, 1972. p.
a) Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo
358)
alcançar a consciência do homem, lembrando-lhe que tem uma
alma para salvar.
Com base no conhecimento histórico e tendo como referenciais a
b) As figuras do Anjo e do Diabo, apesar de alegóricas, não
pintura e o texto de Hauser, pode-se afirmar que o Renascimento
estabelecem a divisão maniqueísta do mundo entre o Bem e o Mal.
a) refletiu, no universo cultural, as transformações que ocorreram
c) As personagens comparecem nesta peça de Gil Vicente com o
no período de transição para uma sociedade fundamentada no
perfil que apresentavam na terra, porém apenas o Onzeneiro e o
antropocentrismo.
Parvo portam os instrumentos de sua culpa.
b) resgatou os princípios culturais fundamentais das antigas
d) Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade portuguesa da
sociedades orientais, servindo como um elemento de propagação
época, porém poupa, por questões ideológicas e políticas, a Igreja
desses princípios no mundo Ocidental.
e a Nobreza.
c) representou uma ruptura na forma de interpretar a natureza,
e) Entre as características próprias da dramaturgia de Gil Vicente,
propiciando inclusive a possibilidade de o artista pintar figuras
destaca-se o fato de ele seguir rigorosamente as normas do teatro
femininas o que era proibido pela Igreja cristã na Baixa Idade
clássico.
Média.
d) não alterou significativamente a interpretação que os artistas
Questão 08 (Pucsp 2008)
tinham da realidade, já que as imagens dos seres humanos
expressavam as figuras simbólicas de santos cristãos. Gil Vicente, criador do teatro português, realizou uma obra
e) não teve grandes repercussões na sociedade ocidental, uma vez eminentemente popular. Seu Auto da Barca do Inferno, encenado
que foi um fenômeno tipicamente italiano de rebeldia à influência em 1517, apresenta, entre outras características, a de pertencer ao
que a Igreja exercia no mundo das artes. teatro religioso alegórico. Tal classificação justifica-se por
a) ser um teatro de louvor e litúrgico em que o sagrado é
Questão 06 (Unicamp 2016 - Adaptada) plenamente respeitado.
b) não se identificar com a postura anticlerical, já que considera a
A teoria da perspectiva, iniciada com o arquiteto Filippo
igreja uma instituição modelar e virtuosa.
Bruneleschi (1377-1446), utilizou conhecimentos geométricos e
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23
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

c) apresentar estrutura baseada no maniqueísmo cristão, que c) Humanismo, visto que as personagens do teatro de Gil Vicente,
divide o mundo entre o Bem e o Mal, e na correlação entre a como os trovadores e os jograis, eram em sua maioria nobres e
recompensa e o castigo. constituíam a elite da época.
d) Classicismo, pois os temas presentes nas cantigas líricas e
satíricas vêm das narrativas da mitologia greco-latina.
e) Classicismo, visto que Camões inspirou-se, para escrever Os
Lusíadas, nas cantigas trovadorescas que narravam as aventuras
dos navegantes portugueses.

Questão 03 (Ifsp 2013)


Leia atentamente o texto abaixo.

Com’ousará parecer ante mi


o meu amigo, ai amiga, por Deus,
e com’ousará catar estes meus
d) apresentar temas profanos e sagrados e revelar-se radicalmente olhos se o Deus trouxer per aqui,
contra o catolicismo e a instituição religiosa. pois tam muit’há que nom veo veer
e) aceitar a hipocrisia do clero e, criticamente, justificá-la em nome mi e meus olhos e meu parecer?
da fé cristã.
(Com’ousará parecer ante mi de Dom Dinis. Fonte:
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO http://pt.wikisource.org/wiki/Com%27ousar%C3%A1_parecer_ante
_mi. Acesso em: 05.12.2012.)
Questão 01 (G1 - ifsp 2016)
A poesia do Trovadorismo português tem íntima relação com a per = tam = nom = veer = mi = parecer =
música, pois era composta para ser entoada ou cantada, sempre por tão não ver mim, me semblante
acompanhada de instrumental, como o alaúde, a viola, a flauta, ou
mesmo com a presença do coro. Sobre o fragmento anterior, pode-se afirmar que pertence a uma
cantiga de
A respeito dessa escola literária, assinale a alternativa correta. a) amor, pois o eu lírico masculino declara a uma amiga o
a) Os principais trovadores utilizavam a guitarra elétrica para sentimento de amor que tem por ela.
acompanhar a exibição. b) amigo, pois o eu lírico feminino expressa a uma amiga a falta de
b) As composições dividem-se em dois grandes grupos: líricas e seu amigo por quem sente amor.
satíricas. c) amor, pois o eu lírico é feminino e acha que seu amor não deve
c) Os principais trovadores são: Padre Antônio Viera e Camões. voltar para os seus braços.
d) O Trovadorismo é uma escola literária contemporânea. d) amigo, pois o eu lírico masculino entende que só Deus pode
e) São exemplos de Cantigas Satíricas as Cantigas de Amor e de trazer de volta sua amiga a quem não vê há muito tempo.
Amigo. e) amor, pois o eu lírico feminino não consegue enxergar o amor
que sente por seu amigo.
Questão 02 (G1 - ifsp 2014)
Questão 04 (Uepa 2012)
“A literatura do amor cortês, pode-se acrescentar, contribuiu para
transformar de algum modo a realidade extraliterária, atua como
componente do que Elias (1994) * chamou de processo
civilizador. Ao mesmo tempo, a realidade extraliterária penetra
processualmente nessa literatura que, em parte, nasceu como
forma de sonho e de evasão.”

(Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, v. 41, n. 1


e 2, p. 83-110, Abril e Outubro de 2007 pp. 91-92)

(*) Cf. ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Zahar,


1994, v.1.

Interprete o comentário acima e, com base nele e em seus


conhecimentos acerca do lirismo medieval galego-português,
Podemos associar corretamente essa pintura ao marque a alternativa correta:
a) Trovadorismo, pois os artistas compunham e cantavam para os a) as cantigas de amor recriaram o mesmo ambiente palaciano das
integrantes da Corte cantigas sobre as façanhas dos cavaleiros cortes galegas.
medievais. b) “a literatura do amor cortês” refletiu a verdade sobre a vida
b) Trovadorismo, pois as cantigas líricas e satíricas, escritas em privada medieval.
versos, eram cantadas pelos artistas ao som de instrumentos de
corda.
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24
Aula 3 - Trovadorismo
c) a servidão amorosa e a idealização da mulher foi o grande tema d) O texto explora o hedonismo ao destacar o homem como
da poesia produzida por vilões. “infinito nas faculdades, na expressão e nos movimentos”.
d) o amor cortês foi uma prática literária que aos poucos modelou o e) Hamlet apresenta uma ode ao homem, ilustrando o
perfil do homem civilizado. antropocentrismo característico do Renascimento Cultural.
e) nas cantigas medievais mulheres e homens submetem-se às
maneiras refinadas da cortesia. Questão 08 (Fuvest)
"Os próprios céus, os planetas e este centro [a Terra]
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Respeitam os graus, a precedência e as posições.
Cantiga de Amor Como poderiam as sociedades,
Afonso Fernandes Os graus nas escolas, as irmandades nas cidades,
O comércio pacífico entre praias separadas,
Senhora minha, desde que vos vi, A primogenitura e o direito de nascença,
lutei para ocultar esta paixão Os privilégios da idade, as coroas, cetros, lauréis,
que me tomou inteiro o coração; Manter-se em seu lugar certo - não fossem os graus?"
mas não o posso mais e decidi Estes versos de Shakespeare (da peça "Troilo e Cressida")
que saibam todos o meu grande amor, revelam uma visão de mundo
a tristeza que tenho, a imensa dor a) moderna e liberal, ao tratarem das cidades, do comércio e,
que sofro desde o dia em que vos vi. virtualmente, até do novo continente.
Já que assim é, eu venho-vos rogar b) medieval e aristocrática, ao defenderem privilégios, graus e
que queirais pelo menos consentir hierarquias como decorrentes de uma ordem natural.
que passe a minha vida a vos servir (...) c) universal e democrática, ao se referirem a valores e concepções
que ultrapassam seu próprio tempo histórico.
(www.caestamosnos.org/efemerides/118. Adaptado) d) clássica e monarquista, ao mencionarem instituições, como a
monarquia e o direito de primogenitura, que eram características
Questão 05 (G1 - ifsp 2012) do mundo greco-romano.
Observando-se a última estrofe, é possível afirmar que o e) particularista e elitista, ao expressarem hierarquias, valores e
apaixonado graus exclusivos da Inglaterra do século XVI.
a) se sente inseguro quanto aos próprios sentimentos.
b) se sente confiante em conquistar a mulher amada. Questão 09 (Upe 2013)
c) se declara surpreso com o amor que lhe dedica a mulher amada. Analise a imagem a seguir:
d) possui o claro objetivo de servir sua amada.
e) conclui que a mulher amada não é tão poderosa quanto parecia
a princípio.

Questão 06 (G1 - ifsp 2012)


Uma característica desse fragmento, também presente em outras
cantigas de amor do Trovadorismo, é
a) a certeza de concretização da relação amorosa.
b) a situação de sofrimento do eu lírico.
c) a coita de amor sentida pela senhora amada.
d) a situação de felicidade expressa pelo eu lírico.
e) o bem-sucedido intercâmbio amoroso entre pessoas de
camadas distintas da sociedade.

Questão 07 (Upe 2014)


Que obra de arte é o homem! Que nobre na razão, que infinito nas O quadro O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli, é uma das
faculdades, na expressão e nos movimentos, que determinado e grandes realizações da arte renascentista.
admirável nas ações; que parecido a um anjo de inteligência, que Sobre essa obra e seu contexto histórico, assinale a alternativa
semelhante a um deus! CORRETA.
(SHAKESPEARE, William. Hamlet. São Paulo: Abril Cultural, 1976. a) A temática pagã da obra, baseada na mitologia greco-romana,
p. 87.) constituiu-se numa ousadia que destoava do restante da produção
Partindo da análise da fala da personagem shakespeariana, artística do Renascimento.
assinale a alternativa que a associa às características do b) A nudez representada no quadro também aparece em obras de
Renascimento Cultural.
outros artistas da época, como Michelangelo.
a) A fala de Hamlet ilustra o teor teocêntrico do Renascimento ao
associar o homem a anjos e deuses. c) Botticelli, personagem símbolo do ideal humanista, também foi
b) O texto apresenta Deus como centro do universo ao explorar a arquiteto, engenheiro, músico e poeta.
semelhança entre o homem e o divino. d) O nascimento de Vênus, assim como a Última Ceia de Da Vinci,
c) Hamlet apresenta o homem como uma obra-prima nata, é uma pintura de temática bíblica.
dialogando com a perspectiva filosófica do empirismo. e) Botticelli destacou-se por sua produção em escultura.

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25
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 10
“Brunelleschi foi provavelmente o primeiro artista a demonstrar os
princípios da perspectiva linear; a geometria básica, contudo,
parece ter sido descoberta por Alberti, que a resumiu em seu
tratado Da Pintura (1436). A perspectiva linear é uma técnica na
qual o artista pode criar a impressão de profundidade
tridimensional numa superfície plana. Como ciência, a perspectiva
está relacionada à óptica (o estudo da visão e do olho humano),
mas como sistema pictórico ela só foi completamente desenvolvida
no começo do século XV, em meio à atmosfera intelectual e
artística da Renascença florentina. Pela primeira vez na história da
pintura havia um sistema matemático para calcular como
dimensionar proporcionalmente o tamanho dos personagens e
elementos em relação à distância.”
Tudo Sobre Arte – Stephen Farthing d)
Assinale o item cuja pintura é Renascentista e reflete a adoção Fonte:
plena dos princípios matemáticos expostos no texto acima: http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Duccio_di_Buoninsegna_036.
jpg

a)
Fonte: http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Cimabue_033.jpg

e)
Fonte:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a6/Cimab
ue_032.jpg/220px-Cimabue_032.jpg

Questão 11 (Puccamp 2002)


Observe os detalhes da pintura.
b)
Fonte:
http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:San_Francesco_Cimabue.jpg

"A Madona do Prado", de Giovanni Bellini.


c)
Fonte:
(Wendy Beckett. "História da Pintura". Tradução. São Paulo: Ática,
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6c/Fra_Filippo_Li
1997. p. 108)
ppi_010.jpg

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26
Aula 3 - Trovadorismo
A pintura renascentista expressa elementos do contexto histórico Frade: Por Deus! Essa seria ela?
na qual é produzida. A partir da pintura e do conhecimento Não vai em tal caravela
histórico, pode-se afirmar que na renascença minha senhora Florença?
a) os pintores analisam e retratam o mundo de acordo com Como? Por ser namorado
imagem do próprio homem. e folgar c’uma mulher?
b) os artistas mostram o seu desprezo pelos clérigos e pelos Se há um frade de perder,
princípios da Igreja Cristã. com tanto salmo rezado?!
c) as pinturas enfatizam demasiadamente os aspectos da vida Diabo: Ora estás bem arranjado!
coletiva, desprezando o individualismo. Frade: Mas estás tu bem servido.
d) os pintores têm os mesmos padrões estéticos e filosóficos, o Diabo: Devoto padre e marido,
que impede a criatividade. haveis de ser cá 11pingado…
e) as obras de arte adquirem um caráter popular, sendo adquiridas
sobretudo pelos servos. (Auto da Barca do Inferno, 2007.)

Para responder à questão a seguir, leia o excerto de Auto da Barca 1baixa: dança popular no século XVI.
do Inferno do escritor português Gil Vicente (1465? - 1536?). A 2Deo gratias: graças a Deus.
peça prefigura o destino das almas que chegam a um braço de mar 3tordião: outra dança popular no século XVI.

onde se encontram duas barcas (embarcações): uma destinada ao 4tanger: fazer soar um instrumento.

Paraíso, comandada pelo anjo, e outra destinada ao Inferno, 5clausura: convento.

comandada pelo diabo. 6hábito: traje religioso.


7val: vale.

Vem um Frade com uma Moça pela mão […]; e ele mesmo 8mundanal: mundano.

fazendo a 1baixa começou a dançar, dizendo 9detença: demora.


10avença: acordo.

Frade: Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã; 11ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo

Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã; (segundo o imaginário popular, processo de tortura que ocorreria


Tã-tã-ta-ri-rim-rim-rã, huha! no inferno).
Diabo: Que é isso, padre? Quem vai lá?
Frade: 2Deo gratias! Sou cortesão. Questão 12 (Unesp 2017)
Diabo: Danças também o 3tordião? Assinale a alternativa cuja máxima está em conformidade com o
Frade: Por que não? Vê como sei. excerto e com a proposta do teatro de Gil Vicente.
Diabo: Pois entrai, eu 4tangerei a) “O riso é abundante na boca dos tolos.”
e faremos um serão. b) “A religião é o ópio do povo.”
E essa dama, porventura? c) “Pelo riso, corrigem-se os costumes.”
Frade: Por minha a tenho eu, d) “De boas intenções, o inferno está cheio.”
e sempre a tive de meu. e) “O homem é o único animal que ri dos outros.”
Diabo: Fizeste bem, que é lindura!
Não vos punham lá censura Questão 13 (G1 - ifsp 2016)
no vosso convento santo? Considere o trecho para responder à questão.
Frade: E eles fazem outro tanto!
Diabo: Que preciosa 5clausura! No final do século XV, a Europa passava por grandes mudanças
Entrai, padre reverendo! provocadas por invenções como a bússola, pela expansão
Frade: Para onde levais gente? marítima que incrementou a indústria naval e o desenvolvimento do
Diabo: Para aquele fogo ardente comércio com a substituição da economia de subsistência, levando
que não temestes vivendo. a agricultura a se tornar mais intensiva e regular. Deu-se o
Frade: Juro a Deus que não te entendo! crescimento urbano, especialmente das cidades portuárias, o
E este 6hábito não me 7val? florescimento de pequenas indústrias e todas as demais mudanças
Diabo: Gentil padre 8mundanal, econômicas do mercantilismo, inclusive o surgimento da burguesia.
a Belzebu vos encomendo!
Frade: Corpo de Deus consagrado! Tomando-se por base o contexto histórico da época e os
Pela fé de Jesus Cristo, conhecimentos a respeito do Humanismo, marque (V) para
que eu não posso entender isto! verdadeiro ou (F) para falso e assinale a alternativa correta.
Eu hei de ser condenado? ( ) O Humanismo é o nome que se dá à produção escrita e
Um padre tão namorado literária do final da Idade Média e início da moderna, ou seja, parte
e tanto dado à virtude? do século XV e início do XVI.
Assim Deus me dê saúde, ( ) Fernão Lopes é um importante prosador do Humanismo
que eu estou maravilhado! português. Destacam-se entre suas obras: Crônica Del-Rei D.
Diabo: Não façamos mais 9detença Pedro I, Crônica Del-Rei Fernando e Crônica de El-Rei D. João.
embarcai e partiremos; ( ) Gil Vicente é um importante autor do teatro português e suas
tomareis um par de remos. principais obras são: Auto da Barca do Inferno e Farsa de Inês
Frade: Não ficou isso na 10avença. Pereira.
Diabo: Pois dada está já a sentença!
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27
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

( ) Gil Vicente é um autor não reconhecido em Portugal, em pressuposto das peças de Gil Vicente de que, rindo, é possível
virtude de sua prosa e documentação histórica não participarem da corrigir os costumes.
cultura portuguesa. d) O frade terá como destino o inferno porque é homem
a) V, V, V, F. “mundanal”, ligado aos gozos do mundo material, em cujo pano de
b) V, F, V, V. fundo percebe-se o sistema de valores do homem medieval, para o
c) F, V, V, F. qual não há salvação após a morte.
d) V, V, F, F. e) O sistema de valores que pode ser entrevisto nas peças de Gil
e) V, F, F, V. Vicente, e especialmente no Auto da Barca do Inferno, revela uma
mentalidade avessa aos valores da Idade Média.
Questão 14 (G1 - ifsp 2016)
Leia o texto abaixo, um trecho do Auto da Barca do Inferno, de Gil Questão 15 (Uepa 2014)
Vicente, para assinalar a alternativa correta no que se refere à obra Analise os trechos abaixo, retirados da peça Pranto de Maria
desse autor e ao Humanismo em Portugal. Parda, de Gil Vicente, e assinale aquele que comunica ao
Nota: foram feitas pequenas alterações no trecho para facilitar a leitor uma visão preconceituosa de caráter racial.
leitura. a) Eu só quero prantear
este mal que a muitos toca;
Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um 1broquel e uma que estou já como minhoca
espada na outra, e um 1casco debaixo do 2capelo; e, ele mesmo que puseram a secar.
fazendo a baixa, começou de dançar, dizendo: b) Ó bebedores irmãos
que nos presta ser cristãos,
FRADE Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã; pois nos Deus tirou o vinho?
ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã: tã-tã; c) Martim Alho, amigo meu,
ta-ri-rim-rim-rã. Huhá! Martim Alho, meu amigo,
DIABO Que é isso, padre?! Que vai lá? tão seco trago o umbigo
FRADE Deo gratias! Sou cortesão. como nariz de Judeu.
DIABO Sabes também o tordião? d) Ó Rua da Mouraria,
FRADE Por que não? Como ora sei! quem vos fez matar a sede
DIABO Pois entrai! Eu tangerei pela lei de Mafamede
e faremos um serão. com a triste da água fria?
Essa dama é ela vossa? e) Devoto João Cavaleiro
FRADE Por minha a tenho eu, que pareceis Isaías,
e sempre a tive de meu dai-me de beber três dias,
DIABO Fizestes bem, que é formosa! e far-vos-ei meu herdeiro.
E não vos punham lá 3grosa
no vosso convento santo?
FRADE E eles fazem outro tanto!
DIABO Que cousa tão preciosa...
Entrai, padre reverendo!
FRADE Para onde levais gente?
DIABO Pera aquele fogo ardente
que não temestes vivendo.
FRADE Juro a Deus que não te entendo!
E este hábito não me vale?
DIABO Gentil padre mundanal,
a Belzebu vos encomendo!
1broquel e casco – respectivamente, escudo e armadura para

cabeça – são elementos por meio dos quais o autor descreve o


frade.
2capelo – chapéu ou capuz usado pelos religiosos.
3pôr grosa – censurar.

a) O destino do frade é exemplar no que se refere à principal


característica da obra de Gil Vicente: a crítica severa, de sabor
renascentista, à Igreja Católica, de cuja moral se distancia a obra
do dramaturgo.
b) A proposta do teatro vicentino alegórico – especialmente a
Trilogia das Barcas – era a montagem de peças complexas, de
linguagem rebuscada, distante do falar popular, para criticar, nos
termos da moral medieval, os homens do povo.
c) A imagem cômica, mas condenável, de um frade que canta,
dança e namora, trazendo consigo uma dama, é exemplo cabal do

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28
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

- Visão Humanista: O destaque dado ao ser humano como uma


AULA 4 - CLASSICISMO criação divina perfeita faz com que os artistas adotem uma
concepção de beleza associada ao equilíbrio, à harmonia e à
simetria, respeitando uma relação de proporção entre as partes.
- Universalismo
- Resgate dos Valores da Antiguidade Clássica;
- Paganismo.

Lembre-se: O Classicismo desenvolve-se no contexto histórico do


Renascimento Cultural.

A POESIA LÍRICA DE CAMÕES

A Camões
Quando nalma pesar de tua raça
A névoa da apagada e vil tristeza,
Busque ela sempre a glória que não passa,
Em teu poema de heroísmo e de beleza.

Gênio purificado na desgraça,


Te resumiste em ti toda a grandeza:
Poeta e soldado… Em ti brilhou sem jaça
O amor da grande pátria portuguesa.

E enquanto o fero canto ecoar na mente


Da estirpe que em perigos sublimados
Plantou a cruz em cada continente,
Classicismo é a denominação da tendência artística que
revitalizou a tradição clássica de afirmar a superioridade humana. Não morrerá, sem poetas nem soldados,
Para recriar os ideais da Antiguidade greco-latina, o Classicismo A língua que cantaste rudemente
valorizou as proporções, o equilíbrio das composições, a harmonia As armas e os barões assinalados.
das formas e a idealização da realidade. Manifestou-se tanto nas Manuel Bandeira
artes plásticas quanto na música, na literatura e na filosofia.
Maria Luiza Abaurre CARACTERÍSTICAS FORMAIS
- A poesia lírica de Camões manifesta-se tanto na medida velha
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO CLASSICISMO: (redondilhas de 5 ou 7 sílabas poéticas) como na medida nova (o
verso decassílabo, de 10 sílabas poéticas);
- Criação e Imitação: Somente na Modernidade o conceito de
originalidade será desenvolvido. Assim, durante o Renascimento, - Os poemas em medida nova são formas poéticas ligadas à
os artistas buscavam modelos a serem seguidos, recriando temas tradição clássica, predominando o uso do soneto (composições
clássicos, partindo do princípio aristotélico da mimese (imitação). poéticas de 14 versos, distribuídas em dois quartetos e dois
- Racionalismo: Os artistas do Classicismo procuram interpretar a tercetos);
realidade a partir da observação racional, o que resulta numa
postura reflexiva. Na literatura, o poeta tenta entender e explicar - Além do soneto, desenvolveu outras formas clássicas como a
racionalmente os sentimentos e as emoções humanas. ode, a elegia e a écloga.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

TEMAS MAIS TRABALHADOS Transforma-se o amador na cousa amada

A) Destaca-se, na poesia lírica de Camões, o tema do Transforma-se o amador na cousa amada,


“desconcerto do mundo”, que reflete um sentimento de Por virtude do muito imaginar;
insatisfação diante dos males que atormentam o eu lírico. Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Ao desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar Se nela está minha alma transformada,
No Mundo graves tormentos; Que mais deseja o corpo de alcançar?
E pera mais me espantar Em si sómente pode descansar,
Os maus vi sempre nadar Pois consigo tal alma está liada.
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim Mas esta linda e pura semideia,
O bem tão mal ordenado, Que, como o acidente em seu sujeito,
Fui mau, mas fui castigado, Assim co'a alma minha se conforma,
Assim que só pera mim
Anda o Mundo concertado. Está no pensamento como ideia;
Luís de Camões [E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.
B) A constatação da efemeridade da vida e da transitoriedade Luís de Camões
de tudo e o carpe diem (carpe diem, quam minimum credula
postero): D) Apesar da predominância temática do Amor, não há
sentimentalismo. O Amor é trabalhado numa perspectiva
Ode a Leucónoe de Horácio (65 a.C.- 8 a.C.) racional: há uma tentativa de explicar racionalmente as
Não procures, Leucónoe — ímpio será sabê-lo —, emoções.
que fim a nós os dois os deuses destinaram;
não consultes sequer os números babilónicos: Quem diz que Amor é falso ou enganoso
melhor é aceitar! E venha o que vier!
Quer Júpiter te dê inda muitos Invernos, Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
quer seja o derradeiro este que ora desfaz Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno, Sem falta lhe terá bem merecido
vive com sensatez destilando o teu vinho Que lhe seja cruel ou rigoroso.
e, como a vida é breve, encurta a longa esp’rança.
De inveja o tempo voa enquanto nós falamos: Amor é brando, é doce, e é piedoso.
trata pois de colher o dia, o dia de hoje, Quem o contrário diz não seja crido;
que nunca o de amanhã merece confiança. Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Se males faz Amor em mim se vêem;
Muda-se o ser, muda-se a confiança; Em mim mostrando todo o seu rigor,
Todo o mundo é composto de mudança, Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Tomando sempre novas qualidades.
Mas todas suas iras são de Amor;
Continuamente vemos novidades, Todos os seus males são um bem,
Diferentes em tudo da esperança; Que eu por todo outro bem não trocaria.
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades. Amor é fogo que arde sem se ver

O tempo cobre o chão de verde manto, Amor é fogo que arde sem se ver;
Que já coberto foi de neve fria, É ferida que dói e não se sente;
E em mim converte em choro o doce canto. É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto: É um não querer mais que bem querer;
Que não se muda já como soía. (costumava) É solitário andar por entre a gente;
Luís de Camões É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
C) A poesia lírica de Camões tem o Amor como tema principal
e apresenta um conflito entre o amor carnal, marcado pelo É querer estar preso por vontade;
desejo e fonte de sofrimento, e o amor idealizado, puro, É servir a quem vence, o vencedor;
expressão no neoplatonismo. É ter com quem nos mata lealdade.

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30
Aula 4 - Classicismo
Mas como causar pode seu favor Que as magoadas iras me ensinaram
Nos corações humanos amizade, A não querer já nunca ser contente.
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões Errei todo o discurso dos meus anos;
Dei causa a que a fortuna castigasse
*Camões recorre com alguma frequência a antíteses e a As minhas mais fundadas esperanças.
paradoxos, numa tentativa de refletir sobre a complexidade do
sentimento amoroso. De amor não vi senão breves enganos.
Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse
Tanto de meu estado me acho incerto Este meu duro Gênio de vinganças!
Luís de Camões
Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio; A grande dor das cousas que passaram
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto. A grande dor das cousas que passaram
transmutou-se em finíssimo prazer
É tudo quanto sinto um desconcerto; quando, entre fotos mil que se esgarçavam,
Da alma um fogo me sai, da vista um rio; tive a fortuna e graça de te ver.
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto. Os beijos e amavios que se amavam,
descuidados de teu e meu querer,
Estando em terra, chego ao Céu voando; outra vez reflorindo, esvoaçaram
Numa hora acho mil anos, e é de jeito em orvalhada luz de amanhecer.
Que em mil anos não posso achar uma hora.
Ó bendito passado que era atroz,
Se me pergunta alguém porque assim ando, e gozoso hoje terno se apresenta
Respondo que não sei; porém suspeito e faz vibrar de novo minha voz
Que só porque vos vi, minha Senhora.
Luís de Camões para exaltar o redivivo amor
que de memória-imagem se alimenta
Busque Amor novas artes, novo engenho e em doçura converte o próprio horror!
Carlos Drummond de Andrade
Busque Amor novas artes, novo engenho
para matar-me, e novas esquivanças; A poesia Épica de Camões
que não pode tirar-me as esperanças
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!


vede que perigosas seguranças:
que não temo contrastes nem mudanças
andando em bravo mar perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto


onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê;

que dias há que na alma me tem posto


um não sei quê, que nasce não sei onde
vem não sei como e dói não sei porquê.“
Luís de Camões

E) Diálogo entre a modernidade e Camões

Erros meus, má fortuna, amor ardente

Erros meus, má fortuna, amor ardente


Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.
Um poema épico, ou epopeia, é um longo poema narrativo,
Tudo passei; mas tenho tão presente centrado na figura de um herói, em que um acontecimento histórico
A grande dor das cousas que passaram, é celebrado em estilo solene e grandioso.
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

A epopeia Os Lusíadas foi publicada em 1572 e dedicada Rei D. Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
Sebastião, tendo como como assunto central a viagem de Vasco A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!
da Gama às Índias (1497 - 1498). Destacando as perigosas
viagens “por mares nunca dantes navegados”, Camões exalta o E disse: "Ó gente ousada, mais que quantas
povo português, por meio da figura do herói Vasco da Gama. No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
Camões, assim, procura relembrar a grandeza de Portugal, já em E por trabalhos vãos nunca repousas,
franca decadência naquele momento, recorrendo ao modelo Pois os vedados términos quebrantas
estabelecido na Antiguidade por Homero, com Ilíada e Odisseia. E navegar nos longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
EPISÓDIO DO GIGANTE ADAMASTOR Nunca arados d’estranho ou próprio lenho:

ESTRUTURA DO POEMA
- O poema divide-se em 10 cantos, num total de 1.102 estrofes.
Cada estrofe contém 8 versos (oitavas), num total de 8.816 versos,
decassílabos (medida nova), predominando os decassílabos.
- O tema é: exaltar “a glória do povo navegador português” e a
memória dos reis que “foram ditando a Fé, o Império”.
- O herói é Vasco da Gama, através de quem se exalta o heroísmo
do povo português.

Os cantos dividem-se em:


1 - Proposição - É a apresentação do poema, com a identificação
do tema e do herói. Ocupa as três primeiras estrofes. Evidencia
algumas características fundamentais da obra: o caráter coletivo do
herói, a valorização do homem (antropocentrismo), a sobrevivência
do "ideal cruzada", a valorização da Antiguidade clássica e o
Porém já cinco sóis eram passados nacionalismo.
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados, 2 - Invocação – O poeta pede inspiração às musas. Camões elege
Prosperamente os ventos assoprando,
como suas inspiradoras as Tágides, ninfas do rio Tejo.
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
3 – Dedicatória – O poema é dedicado a D. Sebastião, rei de
Uma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece. Portugal.

Tão temerosa vinha e carregada, 4 - Narração - A narração de Os Lusíadas compreende três ações
Que pôs nos corações um grande medo; principais: a viagem de Vasco da Gama às Índias, a narrativa da
Bramindo, o negro mar de longe brada, história de Portugal e as lutas e intervenções dos deuses do
Como se desse em vão nalgum rochedo. Olimpo. Paralelamente às ações históricas desenvolve-se uma
"Ó Potestade (disse) sublimada: ação mitológica: a luta que travam os deuses olímpicos Vênus e
Que ameaço divino ou que segredo Marte (favoráveis aos lusos) e Baco e Netuno (contrários às
Este clima e este mar nos apresenta, navegações).
Que mor cousa parece que tormenta?" A narrativa com Vasco da Gama e os navegadores já no Oceano
Índico, na costa leste da África, próximo ao Canal de Moçambique,
Não acabava, quando uma figura e termina com a partida de Calicute, não sendo narrado o regresso
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
a Lisboa. Os acontecimentos históricos anteriores são relatados
De disforme e grandíssima estatura;
por discursos dos protagonistas humanos (Vasco da Gama e seu
O rosto carregado, a barba esquálida,
irmão Paulo da Gama), e os acontecimentos futuros são
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida; anunciados pelos deuses ou outras personagens com o dom da
Cheios de terra e crespos os cabelos, profecia.
A boca negra, os dentes amarelos.
5 - Epílogo – É conclusão do poema, onde o poeta pede às musas
Tão grande era de membros, que bem posso que façam calar a voz da sua lira, pois se vê desiludido com a
Certificar-te que este era o segundo pátria decadente.
De Rodes estranhíssimo Colosso, Contrastando com o tom vibrante e ufanista do início, contém as
Que um dos sete milagres foi do mundo. lamentações e críticas do poeta, num tom agora pessimista,
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso, desencantado.
Que pareceu sair do mar profundo.
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Aula 4 - Classicismo
Episódio do Velho do Restelo
"Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:

- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça


Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

— "Dura inquietação d'alma e da vida,


Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens
De fazendas, de reinos e de impérios: artísticas diferentes, participaram do mesmo contexto social e
Chamam-te ilustre, chamam-te subida, cultural de produção pelo fato de ambos
Sendo dina de infames vitupérios; a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio
Chamam-te Fama e Glória soberana, presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema.
Nomes com quem se o povo néscio engana! b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoa e na
variação de atitudes da mulher, evidenciadas pelos adjetivos do
—"A que novos desastres determinas poema.
De levar estes reinos e esta gente? c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela
Que perigos, que mortes lhe destinas sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura, expressão e
Debaixo dalgum nome preminente? vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.
Que promessas de reinos, e de minas d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher
D'ouro, que lhe farás tão facilmente? como base da produção artística, evidenciado pelos adjetivos
Que famas lhe prometerás? que histórias? usados no poema.
Que triunfos, que palmas, que vitórias? e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela
emotividade e o conflito interior, evidenciados pela expressão da
moça e pelos adjetivos do poema.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
Questão 01 (Enem 2012) TEXTO
LXXVIII (Camões, 1525?-1580) Reinando Amor em dois peitos,
tece tantas falsidades,
Leda serenidade deleitosa, que, de conformes vontades,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso; faz desconformes efeitos.
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa; Igualmente vive em nós;
mas, por desconcerto seu,
Presença moderada e graciosa, vos leva, se venho eu,
Onde ensinando estão despejo e siso
me leva, se vindes vós.
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa; Camões
Questão 02 (Mackenzie 2009)
Fala de quem a morte e a vida pende, Assinale a alternativa CORRETA acerca do texto.
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
a) Exemplifica o padrão poético do Classicismo renascentista, na
Repouso nela alegre e comedido:
medida em que tematiza o amor, utilizando-se da chamada
"medida nova".
Estas as armas são com que me rende
b) Embora apresente versos redondilhos, de tradição medieval, a
E me cativa Amor; mas não que possa
linguagem dos versos revela contenção emotiva, traço estilístico
Despojar-me da glória de rendido.
valorizado na Renascença.
CAMÕES, L. Obra completa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 2008.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

c) Revela influência das cantigas medievais, pela sonoridade das e) a mitologia clássica – no soneto expressa em Amor, ou Eros,
rimas e linguagem emotiva própria da "coita de amor". presente nos dois primeiros quartetos – é característica
d) É um texto do Humanismo, pois traz uma reflexão filosófica predominante do Classicismo.
sobre o sentimento amoroso, afastando-se, assim, da influência
greco-romana. Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões).
e) Antecipa o estilo barroco do século XVII devido à sua linguagem
prolixa, em que se notam ousadas inversões sintáticas e metáforas Falaremos da hostilidade que Bloom,
obscuras. o nosso herói,
revelou em relação ao passado,
Questão 03 (Mackenzie 2009) levantando-se e partindo de Lisboa
No texto, o eu lírico: numa viagem à Índia, em que procurou sabedoria,
a) chama a atenção do leitor para as artimanhas que as mulheres e esquecimento.
apaixonadas costumam tramar a fim de conquistar os homens. E falaremos do modo como na viagem
b) dirige-se ao deus Amor, manifestando seu descontentamento levou um segredo e o trouxe, depois, quase intacto.
com relação às falsas atitudes da amada.
c) manifesta poeticamente a ideia de que o Amor, atendendo a [...]
diferentes vontades, produz diferentes efeitos. Esperamos, pois, Bloom, que cresças e que crescendo
d) declara que, embora o amor esteja presente em todas as vás directo à realidade
pessoas, nem todos o aceitam, fato que gera desentendimentos e não pares. Porque não basta
dolorosos. encostares-te aos acontecimentos,
e) dirige-se à pessoa amada para expressar seu entendimento a o que pensamos para ti é bem mais profundo,
respeito dos aspectos contraditórios do sentimento amoroso. não basta conheceres as sete teorias,
terás que subir a sete altas montanhas.
Questão 04 (G1 - ifsp 2016) E atravessar ainda os continentes
como se a terra fosse uma extensão temporal
Leia o soneto abaixo, de Luís Vaz de Camões, para responder à
capaz de medir os teus dias.
questão.
Atravessa as águas também, excelente amigo Bloom,
Eu cantarei de amor tão docemente,
quebra o mar em dois.
Por uns termos em si tão concertados
O mar é um mamífero,
que dois mil acidentes namorados
o barco, o punhal do sacrifício.
faça sentir ao peito que não sente.
Porque, como todos os animais,
o mar só é arrogante
Farei que amor a todos avivente,
até encontrar o seu dono.
pintando mil segredos delicados,
Falamos do mar, mas talvez
brandas iras, suspiros magoados,
seja a terra e o céu que exigem ser descritos.
temerosa ousadia e pena ausente.
Bloom, Bloom, Bloom.
Também, Senhora, do desprezo honesto TAVARES, Gonçalo M. Uma viagem à Índia: melancolia
de vossa vista branda e rigorosa contemporânea (um itinerário). São Paulo: Leya, 2010, p. 28 - 31.
contentar-me-ei dizendo a menos parte. (fragmento)

Porém, para cantar de vosso gesto Nota explicativa:


a composição alta e milagrosa, Bloom é o protagonista do livro de Gonçalo Tavares, que
aqui falta saber, engenho e arte. empreende uma viagem de Lisboa à Índia no século XXI.

TORRALVO, Izeti Fragata e MINCHILLO, Carlos Cortez. Sonetos Questão 05 (G1 - cftmg 2016)
de Camões. Cotia: Ateliê Editorial, 2011. p. 32. Aristóteles, em seu estudo da literatura, determinou gêneros
capazes de abranger e classificar textos literários, organizando-os
A leitura atenta do texto permite afirmar que a partir de suas estruturas e temáticas.
a) se trata de soneto em versos decassílabos, escrito, portanto, em O texto de Gonçalo M. Tavares, publicado em 2010, aproxima-se
medida nova, mas cuja temática e recursos retóricos opõem-se ao do gênero
Classicismo.
b) o eu lírico, nos dois quartetos, afirma sua capacidade de a) dramático, por manifestar diversas vozes.
b) épico, por construir um enredo heroico.
composição poética, mas a relativiza nos dois tercetos, diante da
c) lírico, por empregar uma estrutura rítmica.
beleza da “Senhora”. d) narrativo, por constituir um texto contemporâneo.
c) os conceitos de engenho e arte – respectivamente, domínio da
técnica e talento pessoal – são típicos da temática classicista. Questão 06 (G1 - cftmg 2016)
d) a Senhora, idealizada nas cantigas de amor, se vê, no soneto O texto de Gonçalo M. Tavares dialoga com a tradição literária
camoniano, de que o texto acima é exemplo cabal, sintetizada a portuguesa, especialmente com a obra Os Lusíadas, de Luis de
uma imagem desprezível. Camões. O trecho que caracteriza esse diálogo é:

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Aula 4 - Classicismo
a) “o mar só é arrogante Naquele engano da alma ledo e cego,
até encontrar o seu dono.” Que a fortuna não deixa durar muito,
b) “Falamos do mar, mas talvez Nos saudosos campos do Mondego,
seja a terra e o céu que exigem ser descritos.” De teus fermosos olhos nunca enxuito,
c) “E falaremos do modo como na viagem Aos montes ensinando e às ervinhas,
levou um segredo e o trouxe, depois, quase intacto.” O nome que no peito escrito tinhas.
d) “Esperamos, pois, Bloom, que cresças e que crescendo
vás directo à realidade "Os Lusíadas", obra de Camões, exemplificam o gênero épico na
e não pares.” poesia portuguesa, entretanto oferecem momentos em que o
lirismo se expande, humanizando os versos. O episódio de Inês de
Questão 07 (Pucrs 2013) Castro, do qual o trecho acima faz parte, é considerado o ponto
Leia o poema a seguir, de Luís de Camões. alto do lirismo camoniano inserido em sua narrativa épica. Desse
episódio, como um todo, pode afirmar-se que seu núcleo central
Transforma-se o amador na cousa amada, a) personifica e exalta o Amor, mais forte que as conveniências e
por virtude do muito imaginar; causa da tragédia de Inês.
não tenho, logo, mais que desejar, b) celebra os amores secretos de Inês e de D. Pedro e o
pois em mim tenho a parte desejada. casamento solene e festivo de ambos.
c) tem como tema básico a vida simples de Inês de Castro, legítima
Se nela está minha alma transformada, herdeira do trono de Portugal.
que mais deseja o corpo de alcançar? d) retrata a beleza de Inês, posta em sossego, ensinando aos
Em si somente pode descansar, montes o nome que no peito escrito tinha.
pois consigo tal alma está liada. e) relata em versos livres a paixão de Inês pela natureza e pelos
filhos e sua elevação ao trono português.
Mas esta linda e pura semideia,
que, como o acidente em seu sujeito,
assim coa alma minha se conforma, EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Está no pensamento como ideia; TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


[e] o vivo e puro amor de que sou feito, Tanto de meu estado me acho incerto,
como a matéria simples busca a forma. Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
Com base no poema e em seu contexto, afirma-se:
É tudo quanto sinto um desconcerto;
I. Criado no século XVI, o poema apresenta um eu lírico que reflete Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
sobre o amor e sobre os efeitos desse sentimento no ser Agora espero, agora desconfio,
apaixonado. Agora desvario, agora certo.
II. Camões é também o criador de Os Lusíadas, a mais famosa
epopeia produzida em língua portuguesa, que tem como grande Estando em terra, chego ao Céu voando;
herói o povo português, representado por Vasco da Gama. Numa hora acho mil anos, e é de jeito
III. Uma das características composicionais do poema é a presença Que em mil anos não posso achar uma hora.
de inversões sintáticas.
Se me pergunta alguém por que assim ando,
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são Respondo que não sei; porém suspeito
a) I, apenas. Que só porque vos vi, minha Senhora.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas. (www.fredb.sites.uol.com.br/lusdecam.htm)
d) II e III, apenas.
e) I, II e III. Questão 01 (G1 - ifsp 2012)
A leitura do poema permite afirmar que o eu lírico se sente
Questão 08 (Pucsp 2001)
Tu só, tu, puro Amor, com força crua a) confuso, provavelmente pelo amor que tem por uma senhora.
Que os corações humanos tanto obriga, b) alegre, provavelmente porque seu amor é correspondido.
Deste causa à molesta morte sua, c) triste, provavelmente porque não consegue amar ninguém.
Como se fora pérfida inimiga. d) desconcertado, provavelmente porque a senhora o ama demais.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua e) perdido, provavelmente porque foi rejeitado pela amada.
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano, Questão 02 (G1 - ifsp 2012)
Tuas aras banhar em sangue humano. Considere:
Estavas, linda Inês, posta em sossego, • ardor x frio
De teus anos colhendo doce fruito, • choro x rio

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

• abarco x nada aperto Como se desse em vão nalgum rochedo,


– Ó Potestade, disse, sublimada:
Esses jogos de palavras, exemplos do pré-Barroco na poesia de Que ameaço divino ou que segredo
Camões, constituem Este clima e este mar nos apresenta,
a) eufemismos que revelam o sofrimento do eu lírico.
b) antíteses que confirmam o desconcerto do eu lírico. Que mor coisa parece que tormenta?
c) sinestesias que marcam as contradições do eu lírico. Não acabava, quando uma figura
d) hipérboles que exageram o sofrimento do eu lírico. Se nos mostra no ar, robusta e válida,
e) metáforas que comparam a dor com a vida do eu lírico. De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Questão 03 (G1 - ifsp 2016) Os olhos encovados, e a postura
Considerando o Classicismo em Portugal, assinale a alternativa Medonha e má e a cor terrena e pálida;
correta. Cheios de terra e crespos os cabelos,
a) Os Lusíadas é a principal obra lírica de Camões e o tema central A boca negra, os dentes amarelos.
é o sofrimento por um amor não correspondido. (NEVES, João Alves das e TUFANO, Douglas. Luís de Camões.
São Paulo: Moderna, 1980.)
b) Os Lusíadas tem como temática a descoberta do Brasil e a
relação entre o colonizador e o índio. Questão 05 (G1 - ifsp 2014)
c) Luís Vaz de Camões é o principal autor do Classicismo em As estrofes referem-se ao
Portugal e destacou-se por sua produção épica e lírica. a) Velho do Restelo que, devido à sua insanidade e à sua
d) Uma característica dos versos de Camões é que eles não aparência marcada pela passagem do tempo, aterroriza os
apresentam uma métrica, são livres e brancos. marinheiros portugueses.
e) Uma característica de Camões é que ele desprezava Portugal e b) Velho do Restelo que recrimina os portugueses por partirem em
o povo português. busca de riquezas, abandonando mulheres, crianças e idosos à
própria sorte.
Questão 04 (Uern 2015) c) Gigante Adamastor, personagem que representa um dos perigos
enfrentados pelos portugueses, ressaltando o lado heroico dos
Os gêneros literários são empregados com finalidade estética.
protagonistas.
d) Gigante Adamastor que, submetido ao comando da deusa
Leia os textos a seguir.
Vênus, surge para proteger os navegantes contra o mar revolto do
Cabo das Tormentas.
Busque Amor novas artes, novo engenho,
e) ao soldado que, obedecendo às ordens do rei de Portugal, mata
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças, cruelmente Inês de Castro, jovem espanhola amante de D. Pedro.
Que mal me tirará o que eu não tenho.
(Camões, L. V. de. Sonetos. Lisboa: Livraria Clássica Editora. Questão 06 (Pucrs 2013)
1961. Fragmento.) Compare o poema de Camões e o poema “Encarnação”, leia as
Porém já cinco sóis eram passados afirmativas que seguem e preencha os parênteses com V para
Que dali nos partíramos, cortando verdadeiro e F para falso.
Os mares nunca doutrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando, Poema 1
Quando uma noite, estando descuidados Transforma-se o amador na cousa amada,
Na cortadora proa vigiando, por virtude do muito imaginar;
Uma nuvem, que os ares escurece, não tenho, logo, mais que desejar,
Sobre nossas cabeças aparece. pois em mim tenho a parte desejada.

(Camões, L. V. Os Lusíadas. Abril Cultural, 1979. São Paulo. Se nela está minha alma transformada,
Fragmento.) que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, a pois consigo tal alma está liada.
classificação dos textos.
Mas esta linda e pura semideia,
a) Épico e lírico. que, como o acidente em seu sujeito,
b) Lírico e épico. assim coa alma minha se conforma,
c) Lírico e dramático.
d) Dramático e épico. Está no pensamento como ideia;
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
Leia o trecho de Os Lusíadas. como a matéria simples busca a forma.

Tão temerosa vinha e carregada, Poema 2


Que pôs nos corações um grande medo; Carnais, sejam carnais tantos desejos,
Bramindo, o negro mar de longe brada, carnais, sejam carnais tantos anseios,

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36
Aula 4 - Classicismo
palpitações e frêmitos e enleios, Questão 08 (Unifesp 2016)
das harpas da emoção tantos arpejos... Uma das principais figuras exploradas por Camões em sua poesia
é a antítese. Neste soneto, tal figura ocorre no verso:
Sonhos, que vão, por trêmulos adejos,
à noite, ao luar, intumescer os seios a) “mas não servia ao pai, servia a ela,”
láteos, de finos e azulados veios b) “passava, contentando-se com vê-la;”
de virgindade, de pudor, de pejos... c) “para tão longo amor tão curta a vida.”
d) “porém o pai, usando de cautela,”
Sejam carnais todos os sonhos brumos e) “lhe fora assi negada a sua pastora,”
de estranhos, vagos, estrelados rumos
onde as Visões do amor dormem geladas...
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES.
Sonhos, palpitações, desejos e ânsias
formem, com claridades e fragrâncias, Questão 09 (Ufscar 2003)
a encarnação das lívidas Amadas! As questões adiante baseiam-se no poema épico "Os Lusíadas",
( ) Os dois poemas falam mais sobre o sentimento do amor do de Luís Vaz de Camões, do qual se reproduzem, a seguir, três
que sobre o objeto amado. estrofes.
( ) No poema de Camões, o amor figura-se no campo das ideias.
( ) Quanto à forma, os dois poemas são sonetos.
Mas um velho, de aspeito venerando, [= aspecto)
( ) O título “Encarnação” contém uma certa ambiguidade, aliando
um sentido espiritual a um erótico. Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima Três vezes a cabeça, descontente,
para baixo, é: A voz pesada um pouco alevantando,
a) F – F – V – F b) V – V – F – V Que nós no mar ouvimos claramente,
c) V – F – V – F d) V – V – V – V C’um saber só de experiências feito,
e) F – V – F – F
Tais palavras tirou do experto peito:
Questão 07 - (G1 - ifsp 2013)
São características das obras do Classicismo: "Ó glória de mandar, ó vã cobiça
a) o individualismo, a subjetividade, a idealização, o sentimento Desta vaidade a quem chamamos Fama!
exacerbado. Ó fraudulento gosto, que se atiça
b) o egocentrismo, a interação da natureza com o eu, as formas C'uma aura popular, que honra se chama!
perfeitas. Que castigo tamanho e que justiça
c) o contraste entre o grotesco e o sublime, a valorização da Fazes no peito vão que muito te ama!
natureza, o escapismo. Que mortes, que perigos, que tormentas,
d) a observação da realidade, a valorização do eu, a perfeição da
Que crueldades neles experimentas!
natureza.
e) a retomada da mitologia pagã, a pureza das formas, a busca da
perfeição estética. Dura inquietação d'alma e da vida
Fonte de desamparos e adultérios,
Leia o soneto do poeta Luís Vaz de Camões (1525?-1580) para Sagaz consumidora conhecida
responder à questão. De fazendas, de reinos e de impérios!
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sete anos de pastor Jacob servia
Sendo digna de infames vitupérios;
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela, Chamam-te Fama e Glória soberana,
e a ela só por prêmio pretendia. Nomes com quem se o povo néscio engana."

Os dias, na esperança de um só dia, Os versos de Camões foram retirados da passagem conhecida


passava, contentando-se com vê-la; como "O Velho do Restelo". Nela, o velho:
porém o pai, usando de cautela, a) abençoa os marinheiros portugueses que vão atravessar os
em lugar de Raquel lhe dava Lia. mares à procura de uma vida melhor.
b) critica as navegações portuguesas por considerar que elas se
Vendo o triste pastor que com enganos baseiam na cobiça e busca de fama.
lhe fora assi negada a sua pastora, c) emociona-se com a saída dos portugueses que vão atravessar
como se a não tivera merecida, os mares até chegar às Índias.
d) destrata os marinheiros por não o terem convidado a participar
começa de servir outros sete anos, de tão importante empresa.
dizendo: “Mais servira, se não fora e) adverte os marinheiros portugueses dos perigos que eles podem
para tão longo amor tão curta a vida”. encontrar para buscar fama em outras terras.
(Luís Vaz de Camões. Sonetos, 2001.)
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 10 Questão 13 (Insper 2012)


Entre os versos "Chamam-te ilustre, chamam-te subida, / Sendo Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
digna de infames vitupérios", a relação que se estabelece é de: muda-se o ser, muda-se a confiança;
a) oposição. todo o mundo é composto de mudança,
b) explicação. tomando sempre novas qualidades.
c) causa.
d) modo. Continuamente vemos novidades,
e) conclusão diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
Questão 11 (Fuvest - Adaptada) e do bem (se algum houve), as saudades.
Considere as seguintes afirmações sobre a fala do Velho do O tempo cobre o chão de verde manto,
Restelo, em "Os Lusíadas": que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
I. No seu teor de crítica às navegações e conquistas, encontra-se converte em choro o doce canto.
refletida e sintetizada a experiência das perdas que causaram,
experiência esta já acumulada na época em que o poema foi E, afora este mudar-se cada dia,
escrito. outra mudança faz de mor espanto,
lI. As críticas aí dirigidas às grandes navegações podem ser lidas que não se muda já como soía*.
como um reflexo do pensamento conservador, herança do Luís Vaz de Camões
feudalism, contrário às mudanças. *soía: Imperfeito do indicativo do verbo soer, que significa
III. A condenação enfática que aí se faz à empresa das costumar, ser de costume
navegações e conquistas revela que Camões, apesar de exaltá-la,
manteve uma postura crítica ao avaliá-la. Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido
dos versos de Camões.
Está correto apenas o que afirma em a) O foco temático do soneto está relacionado à instabilidade do
a) I. ser humano, eternamente insatisfeito com as suas condições de
b) II. vida e com a inevitabilidade da morte.
c) I e II. b) Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois tercetos, que, com o
d) I e III. passar do tempo, a recusa da instabilidade se torna maior, graças
e) I, II e III. à sabedoria e à experiência adquiridas.
O amor é feio c) Ao tratar de mudanças e da passagem do tempo, o soneto
Tem cara de vício expressa a ideia de circularidade, já que ele se baseia no
Anda pela estrada postulado da imutabilidade.
Não tem compromisso d) Na segunda estrofe, o eu lírico vê com pessimismo as
[...] mudanças que se operam no mundo, porque constata que elas são
geradoras de um mal cuja dor não pode ser superada.
e) As duas últimas estrofes autorizam concluir que a ideia de que
O amor é lindo
nada é permanente não passa de uma ilusão.
Faz o impossível
O amor é graça
Questão 14 (Enem 2ª aplicação 2010)
Ele dá e passa
Texto I
A.Antunes, C.Brown, M.Monte, “O amor é feio”
XLI
Questão 12 (Mackenzie 2010) Ouvia:
Cotejando a letra da canção com os famosos versos camonianos Que não podia odiar
Amor é fogo que arde sem se ver / É ferida que dói e não se sente, E nem temer
afirma-se corretamente que: Porque tu eras eu.
a) Assim como Camões, os compositores tematizam o amor, E como seria
valendo-se de uma linguagem espontânea, coloquial, como prova o Odiar a mim mesma
uso da expressão cara de vício. E a mim mesma temer.
b) O caráter popular da canção é acentuado pelo uso de HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento).
redondilhas, traço estilístico ausente nos versos camonianos
citados. Texto II
c) A concepção de amor como sentimento contraditório, típica de Transforma-se o amador na cousa amada
Camões, está ausente na letra da canção, uma vez que seus
versos não se compõem de paradoxos. Transforma-se o amador na cousa amada,
d) A ideia de que a dor do amor não é sentida pelos amantes, por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
presente nos versos de Camões, é parafraseada nos versos Anda
pois em mim tenho a parte desejada.
pela estrada /Não tem compromisso.
Camões. Sonetos. Disponível em:
e) A canção recupera o tom solene e altissonante presente nos
http://www.jornaldepoesia.jor.br. Acesso em: 03 set. 2010
versos camonianos. (fragmento).

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38
Aula 4 - Classicismo
Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a
temática comum é
a) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por
meio de uma espécie de fusão de dois seres em um só.
b) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda
Hilst, a afirmação do eu lírico de que odeia a si mesmo.
c) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém,
nos versos de Camões, certa resistência do ser amado.
d) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o
amor se produzem no imaginário, sem a realização concreta.
e) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos
I e II, respectivamente, o ódio o amor.

Questão 15 (Unicamp)
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;"
(Lírica de Camões, seleção, prefácio e Notas de
MASSAUD MOISÉS, S. P., Ed. Cultrix, 1963)

"Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo.

Mal de te amar neste lugar de imperfeição


Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa."
(SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, "Terror de
te amar", em Antologia Poética)

Dos dois textos transcritos, o primeiro é de Luís Vaz de Camões


(século XVI) e o segundo, de Sophia de Mello Breyner Andresen
(século XX). Compare-os, discutindo, através de critérios formais e
temáticos, aspectos em que ambos se aproximam e apectos em
que ambos se distanciam um do outro.

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39
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

transforma-se e os habitantes da terra são pintados como seres


AULA 5 - QUINHENTISMO bárbaros e primitivos.

2.1. Principais Textos sobre o Brasil e as condições primitivas


da nossa cultura:
- Carta de Pero Vaz de Caminha, dirigida ao rei D. Manuel,
relatando o descobrimento e as principais impressões da nova
terra;
- Diário de navegação, de Pero Lopes de Souza (1530);
- Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden (1557);
- Diálogo sobre a conversão dos gentios, do Pe. Manuel da
Nóbrega (1557);
- Tratado da terra do Brasil e história da Província de Santa Cruz, a
que vulgarmente chamamos de Brasil, de Pero de Magalhães
Gândavo (1576);
1. QUINHENTISMO (Século XVI) – denominação genérica de um - Viagem à terra do Brasil, de Jéan Léry (1578);
conjunto de textos sobre o Brasil, que evidenciam a condição - Narrativa epistolar e Tratado das terras e das gentes do Brasil, de
brasileira de terra nova a ser conquistada teritorial e Fernão Cardim (1583);
espiritualmente. - Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Souza (1587);
- Cartas escritas pelos jesuítas durante os dois primeiros séculos
- Os relatos de viagens são textos essencialmente da catequese;
informativos e caracterizam-se como uma espécie de crônica - História do Brasil, de Frei Vicente de Salvador (1627).
histórica.
Por esse motivo são conhecidos como Crônicas de viagens ou
Literatura de informação.

- Os textos escritos pelos religiosos com o objetivo de


converter os índios brasileiros são conhecidos como
Literatura de Catequese, ou jesuítica.

2. LITERATURA DE INFORMAÇÃO
“Os primeiros textos escritos sobre o Brasil são de portugueses
que, de algum modo, participaram do processo de “descoberta” e
colonização da “nova terra”: são informações que viajantes e
missionários colheram sobre a natureza e o homem brasileiro; por
isso uma das reações mais típicas é o espanto com a natureza
exuberante do país e com o costume dos índios. Esta presença do
natural, rico e estranho, ou até bizarro, aparece nos autores
sistematicamente. Enquanto informação, não pertencem à
categoria do literário, sendo pura crônica histórica. No entanto,
esses escritos interessam como reflexo da visão do mundo e da
linguagem que nos legaram os primeiros observadores do país.
Interessam, também, como sugestões temáticas e formais, pois em
mais de um momento a inteligência brasileira, reagindo contra Índios Tupinambás Guerreiros (data desconhecida),
processos agudos de europeização, procurou nas raízes da terra e xilogravura.
do nativo imagens para se afirmar em face do estrangeiro: então, “Jean de Láry conviveu durante cerca de um ano com os índios
os cronistas voltaram a ser lidos tanto por um Alencar romântico e tupinambás. As imagens desse artista são inspiradas nos modelos
saudosista como por um Mário ou Oswald de Andrade clássicos de representação. Léry retratou os índios como se eles
modernistas.” fossem heróis gregos.”
FONTE: http://www.itaucultural.org.br/viajantes/lery.html
Sergius Gonzaga
Outra importante fonte de informações sobre as primeiras
A Literatura de Informação é composta por documentos a impressões e intenções dos Europeus em relação ao Brasil é a
respeito das condições gerais da terra conquistada, as prováveis obra de Pero Magalhães Gândavo, historiador, gramático e
riquezas, a paisagem física e humana, etc. cronista português do século XVI nascido em Braga, em data
Em princípio, a visão européia é edênica: a América surge como o ignorada, autor do primeiro manual ortográfico da língua
paraíso perdido, e os nativos são pintados com belas cores. portuguesa e da primeira história do Brasil: História da Província de
Porém, na segunda metade do século XVI, à medida em que os Santa Cruz que vulgarmente chamamos Brasil (1576), citando pela
índios começam a se opor ao projeto colonizador, a visão favorável primeira vez o termo Brasil com referência a nova terra.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Diz Capistrano de Abreu que o projeto de Gândavo era: "mostrar A lingua deste gentio toda pela Costa he, huma: carece de tres
as riquezas da terra, os recursos naturais e sociais nela existentes, letras —scilicet, não se acha nella F, nem L, nem R, cousa
para excitar as pessoas pobres a virem povoá-la: seus livros são digna de espanto, porque assi não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e
uma propaganda de imigração." desta maneira vivem sem Justiça e desordenadamente.

Leiamos alguns trechos de sua mais famosa obra: 3. A Literatura Jesuítica

Tratado da Terra do Brasil, de Pêro de Magalhães Gândavo

Fonte: GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil;


História da Província Santa Cruz, Belo
Horizonte: Itatiaia, 1980.

Texto proveniente de:


A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
<http://www.bibvirt.futuro.usp.br>
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo
Permitido o uso apenas para fins educacionais.

TRATADO SEGUNDO
DAS COUSAS QUE SÃO GERAES POR TODA COSTA DO
BRASIL
CAPÍTULO SÉTIMO Os principais jesuítas que se dedicaram a Literatura de Catequese
foram:
DA CONDIÇAO E COSTUMES DOS INDIOS DA TERRA
Não se pode numerar nem comprender a multidão de barbaro José de Anchieta (1534-1597): considerado o precursor do teatro
gentio que semeou a natureza por toda esta terra do Brasil; porque no Brasil e figura principal da literatura de catequese, José de
ninguém pode pelo sertão dentro caminhar seguro, nem passar por Anchieta foi um padre jesuíta espanhol que escreveu cartas,
terra onde não acha povoações de indios armados contra todas as sermões, poemas e peças teatrais sobre o Brasil, das quais
nações humanas, e assi como são muitos permitiu Deos que merecem destaque: Arte de Gramática da Língua mais Usada na
fossem contrarios huns dos outros, e que houvesse entrelles Costa do Brasil; Poema à Virgem; A Cartilha dos Nativos
grandes odios e discordias, porque se assi não fosse os (Gramática Tupi-Guarani); Auto da festa de São Lourenço (peça
portuguezes não poderião viver na terra nem seria possivel teatral).
conquistar tamanho poder de gente.
Manuel da Nóbrega (1517-1570): jesuíta e missionário português,
Padre Manuel da Nóbrega chegou ao Brasil em 1549. De suas
obras, destacam-se: Diálogo Sobre a Conversão do Gentio (1557);
Caso de Consciência Sobre a Liberdade dos Índios (1567);
Informação das Coisas da Terra e Necessidade que há para Bem
Proceder Nela (1558); Cartas do Brasil (1549-1570) e Tratado
Contra a Antropofagia e contra os Cristãos Seculares e
Eclesiásticos que a Fomentam e a Consentem (1559).

Fernão Cardim (1549-1625): jesuíta português e membro da


Companhia de Jesus (Ordem dos Jesuítas) a partir de 1566, foi
enviado como missionário para o Brasil em 1583. De sua literatura
jesuítica destacam-se as obras: Do Clima e da Terra do Brasil; Do
Princípio e Origem dos Índios do Brasil; e Narrativa Epistolar de
Uma Viagem e Missão Jesuítica.

3.1 José de Anchieta Ingressa, em 1551, na Companhia de Jesus


Gravura de Theodore de Bry (1592) e, dois anos depois, ainda noviço, chega como missionário ao
Brasil.
Havia muitos destes indios pela Costa junto das Capitanias, tudo A catequização do indígena e do mameluco logo se torna seu
enfim estava cheio delles quando começarão os portuguezes a trabalho principal, especialmente em São Vicente, São Paulo, e em
povoar a terra; mas porque os mesmos indios se alevantarão São Paulo de Piratininga, atual cidade de São Paulo, vila formada
contra elles e fazião-lhes muitas treições, os governadores e em torno do colégio e que Anchieta ajuda a erguer.
capitães da terra destruirão-nos pouco a pouco e matarão muitos Em 1556, escreve a Arte de Grammatica da Lingva mais Vsada na
delles, outros fugirão pera o Sertão, e assi ficou a costa Costa do Brasil, a primeira gramática do tupi, que se torna um
despovoada de gentio ao longo das Capitanias. Junto dellas ficarão importante instrumento de trabalho dos missionários. Utiliza o
alguns indios destes nas aldêas que são de paz, e amigos dos teatro para a catequese e oito peças de sua autoria são
portugueses.
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Aula 5 - Quinhentismo
conhecidas. Sua farta correspondência com outros provinciais do penedo.
contam muito sobre o cotidiano, a fauna e a flora do século XVI na Levantam-se os erros,
Colônia, os costumes indígenas, a fundação e o desenvolvimento levanta-se o degredo
de vilas, como a de Sebastião do Rio de Janeiro. e tira-se a amargura
do fruto azedo!
Sua obra pode ser dividida com base em duas perspectivas.
José de Anchieta
A primeira compreende o conjunto dedicado à ação catequética,
como os autos - visando à doutrinação, à evangelização e à Texto II
conversão do gentio -, os sermões, o epistolário, parte de sua Vivemos como selvagens,
poesia e a gramática tupi. A segunda vertente vem representada somos filhos da floresta.
pelas poesias em latim, castelhano e português, concebidas Viemos saudar-te,
segundo modelos clássicos (Virgilio, Ovídio...) ou padrões renunciando aos vícios.
medievais e contemporâneos da poesia mística espanhola. Quem dera te acompanhássemos,
Enquanto a primeira vertente de sua obra tem por alvo ou entrando no reino de Deus!
destinatário as populações indígenas e os colonos, a segunda é Vem ensinar-nos
dirigida a um público mais culto, representado talvez apenas pelos a seguir tuas leis.
seus próprios pares da Companhia de Jesus, mas também com Do meio da mata
uma finalidade mais imediata de reforçar o amor divino, a fé e os venho, para assistir à tua recepção.
preceitos doutrinários. Vem, converte-me
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ à tua virtude.
Hoje, em homenagem à tua visita,
Assim, ao analisar-se as obras que Anchieta produziu, pode-se repudiarei meus defeitos.
dividi-la em dois grandes grupos: Aproximo-me do verdadeiro Deus.
Venerarei suas palavras...
• Uma produção refinada: poemas e monólogos em latim, Aqui estou à tua frente
mais voltados para suas aspirações espirituais; eu, que era um rebelde!
• Uma produção didática - hinos, canções e especialmente Vem abrigar-me
autos, que tinham como objetivo catequizar os silvícolas. em tua virtude!
Deixei a floresta
Texto I em tua honra.
Em Deus, meu criador Ama-me muito,
livra-me de todo o mal.
Não há coisa segura. José de Anchieta
Tudo quanto se vê
se vai passando. Texto III
A vida não tem dura.
O bem se vai gastando. Auto de São Lourenço
Toda criatura GUAIXARÁ
passa voando. Esta virtude estrangeira
Em Deus, meu criador, Me irrita sobremaneira.
está todo meu bem Quem a teria trazido,
e esperança, com seus hábitos polidos
meu gosto e meu amor estragando a terra inteira?
e bem-aventurança. Só eu permaneço nesta aldeia
Quem serve a tal Senhor como chefe guardião.
não faz mudança. Minha lei é a inspiração
Contente assim, minha alma, que lhe dou, daqui vou longe
do doce amor de Deus visitar outro torrão.
toda ferida, Quem é forte como eu?
o mundo deixa em calma, Como eu, conceituado?
buscando a outra vida, Sou diabo bem assado.
na qual deseja ser
toda absorvida. A fama me precedeu;
Do pé do sacro monte Guaixará sou chamado.
meus olhos levantando Meu sistema é o bem viver.
ao alto cume, Que não seja constrangido
vi estar aberta a fonte o prazer, nem abolido.
do verdadeiro lume, Quero as tabas acender
que as trevas de meu peito com meu fogo preferido
todas consume. Boa medida é beber
Correm doces licores cauim até vomitar.
das grandes aberturas Isto é jeito de gozar
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

a vida, e se recomenda Questão 02 (Ufsm 2014)


a quem queira aproveitar. A Carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro relato sobre a terra
que viria a ser chamada de Brasil. Ali, percebe-se não apenas a
A moçada beberrona curiosidade do europeu pelo nativo, mas também seu pasmo
trago bem conceituada. diante da exuberância da natureza da nova terra, que, hoje em dia,
Valente é quem se embriaga já se encontra degradada em muitos dos locais avistados por
e todo o cauim entorna, Caminha.
e à luta então se consagra. Tendo isso em vista, leia o fragmento a seguir.
Quem bom costume é bailar! Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra
o sul vimos, até outra ponta que contra o norte vem, de que nós
Adornar-se, andar pintado, deste ponto temos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte
tingir pernas, empenado ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, em
fumar e curandeirar, algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas, outras
andar de negro pintado. brancas; e a terra por cima é toda chã e muito cheia de grandes
Andar matando de fúria, arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e
amancebar-se, comer muito formosa.
Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque a
um ao outro, e ainda ser estender d’olhos não podíamos ver senão terra com arvoredos,
espião, prender Tapuia, que nos parecia muito longa.
desonesto a honra perder. Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata,
nem coisa alguma de metal ou ferro; nem o vimos. Porém a terra
Para isso com os índios convivi. em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de
Vêm os tais padres agora Entre-Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos
com regras fora de hora como os de lá.
prá que duvidem de mim. As águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa
Lei de Deus que não vigora. que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas
(José de Anchieta. Teatro. Trad. do tupi: Eduardo de Almeida que tem.
Navarro. CASTRO, Sílvio (org.). A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto
Alegre: L&PM, 2003, p. 115-6.
A estratégia de dominação ideológica se dá por meio do desmonte
dos mitos, crenças e rituais indígenas. A antropofagia, a poligamia, Esse fragmento apresenta-se como um texto
a embriaguez pelo cauim e a inspiração do fumo queimado nos a) descritivo, uma vez que Caminha ocupa-se em dar um retrato
maracás passam, assim, a ser associados à manifestação do objetivo da terra descoberta, abordando suas características físicas
demoníaco, encarnado por Anhangá, em oposição a Tupã, e potencialidades de exploração.
identificado a Deus, conforme o maniqueísmo próprio à concepção
cristã de mundo, na sua perpétua luta entre Bem e Mal b) narrativo, pois a “Carta” é, basicamente, uma narração da
viagem de Pedro Álvares Cabral e sua frota até o Brasil, relatando,
numa sucessão de eventos, tudo o que ocorreu desde a chegada
dos portugueses até sua partida.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
c) argumentativo, pois Caminha está preocupado em apresentar
Questão 01 (G1 - ifsp 2016) elementos que justifiquem a exploração da terra descoberta, os
quais se pautam pela confiabilidade e abrangência de suas
A respeito do Quinhentismo no Brasil, marque (V) para verdadeiro
observações.
ou (F) para falso e assinale a alternativa correta.
( ) A principal obra do período foi A moreninha, de Joaquim d) lírico, uma vez que a apresentação hiperbólica da terra por
Manuel de Macedo, cuja temática era o índio brasileiro. Caminha mostra a subjetividade de seu relato, carregado de
( ) Consta que o primeiro texto escrito no território do Brasil foi a emotividade, o que confere à “Carta” seu caráter especificamente
Carta de Pero Vaz de Caminha, em que registra suas impressões literário.
sobre a terra recém-descoberta. e) narrativo-argumentativo, pois a apresentação sequencial dos
( ) Entre as publicações daquela época, encontram-se cânticos elementos físicos da terra descoberta serve para dar suporte à
religiosos, poemas dos jesuítas, textos descritivos, cartas, relatos ideia defendida por Caminha de exploração do novo território.
de viagem e mapas.
( ) A produção das obras escritas naquele período apresenta um Questão 03 (Enem 2015)
caráter informativo, documentos que descreviam as características Ao se apossarem do novo território, os europeus ignoraram um
do Brasil e eram enviados para a Europa. universo de antiga sabedoria, povoado por homens e bens unidos
a) V, V, V, F. por um sistema integrado. A recusa em se inteirar dos valores
b) F, V, F, V culturais dos primeiros habitantes levou-os a uma descrição
c) F, V, V, F. simplista desses grupos e à sua sucessiva destruição.
d) V, F, V, V. Na verdade, não existe uma distinção entre a nossa arte e aquela
e) F, V, V, V. produzida por povos tecnicamente menos desenvolvidos. As duas
manifestações devem ser encaradas como expressões diferentes

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Aula 5 - Quinhentismo
dos modos de sentir e pensar das várias sociedades, mas também Estão CORRETOS, apenas,
como equivalentes, por resultarem de impulsos humanos comuns. a) I, II e IV. b) I, II, III e V. c) I, II e III.
SCATAMACHIA, M. C. M. In: AGUILAR, N. (Org.). Mostra do d) II e IV. e) I e II.
redescobrimento: arqueologia. São Paulo: Fundação Bienal de São
Paulo - Associação Brasil 500 anos artes visuais, 2000. Questão 05 (Enem 2013)
TEXTO I
De acordo com o texto, inexiste distinção entre as artes produzidas Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a
pelos colonizadores e pelos colonizados, pois ambas compartilham pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à
o(a) praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles
a) suporte artístico. traziam arcos e flechas, que todos trocaram por carapuças ou por
b) nível tecnológico. qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam todos tão bem-
c) base antropológica. dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito
d) concepção estética. agradavam.
e) referencial temático. CASTRO, S. “A carta de Pero Vaz de Caminha”. Porto Alegre:
L&PM, 1996 (fragmento).
Questão 04 (Upe 2014)
“Ali ficamos um pedaço, bebendo e folgando, ao longo dela, entre Texto II
esse arvoredo, que é tanto, tamanho, tão basto e de tantas
prumagens, que homens as não podem contar. Há entre ele muitas
palmas, de que colhemos muitos e bons palmitos.”
“Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e
eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não
têm, nem entendem nenhuma crença. E, portanto, se os
degredados, que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os
entenderem, não duvido que eles, segundo a santa intenção de
Vossa Alteza, se hão de fazer cristãos e crer em nossa santa fé, à
qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque, certo, esta gente
é boa e de boa simplicidade. E imprimir-se-á ligeiramente neles
qualquer cunho, que lhes quiserem dar. E pois Nosso Senhor, que
lhes deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens, por
aqui nos trouxe, creio que não foi sem causa.”

“Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem
cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que
costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse
inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e
as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz
nédios, que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos
comemos.” portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que
Partindo da leitura das três citações da Carta de Pero Vaz de a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras
Caminha, analise os itens a seguir: manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e
I. Trata-se de um documento histórico que exalta a terra preocupa-se apenas com a estética literária.
descoberta mediante o uso de expressões valorativas dos hábitos
e costumes de seus habitantes, o que, de um lado, revela a b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados,
surpresa dos portugueses recém-chegados, de outro, tem a cuja grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira
intenção de instigar o rei a dar início à colonização. e a contestação de uma linguagem moderna.
II. Ao afirmar que os habitantes da nova terra não têm nenhuma c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do
crença, Caminha faz uma avaliação que denota seu colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em
desconhecimento sobre a cultura daqueles que habitam a terra primeiro plano, a inquietação dos nativos.
descoberta, pois todos os grupos sociais, primitivos ou não, têm d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes —
suas crenças e mitos. verbal e não verbal —, cumprem a mesma função social e artística.
III. Caminha usa a conversão dos gentios como argumento para
e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos
atrair a atenção do Rei Dom Manuel sobre a terra descoberta,
étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momentos históricos,
colocando, mais uma vez, a expansão da fé cristã como bandeira
retratando a colonização.
dos conquistadores portugueses.
IV. Ao afirmar que os habitantes da terra descoberta não lavram
Questão 06 (Enem 2013)
nem criam, alimentam-se do que a natureza lhes oferece, Caminha
tece uma crítica à inaptidão e inércia daqueles que vivem mal, De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa.
utilizando, por desconhecimento, as riquezas naturais da região. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a
V. As citações revelam que a Carta do Achamento do Brasil tem estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que
por objetivo descrever a nova terra de modo a atrair os que estão nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que
distantes pela riqueza e beleza de que é possuidora. haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares [...]. Porém o com os seus hábitos polidos
melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta estragando a terra inteira?
gente. (...)
Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; Quem é forte como eu?
FARIA, R. História moderna através de textos. São Paulo: Como eu, conceituado?
Contexto, 2001. Sou diabo bem assado,
a fama me precedeu;
A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto Guaixará sou chamado
colonizador para a nova terra. Nesse trecho, o relato enfatiza o (...)
seguinte objetivo: Que bom costume é bailar!
a) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os povos nativos. Adornar-se, andar pintado,
b) Descrever a cultura local para enaltecer a prosperidade tingir pernas, empenado
portuguesa. fumar e curandeiar,
c) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o potencial andar de negro pintado.
econômico existente. (...)
d) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para demarcar a Para isso
superioridade europeia. com os índios convivi.
e) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para evidenciar a Vêm os tais padres agora
ausência de trabalho. com regras fora de hora
para que duvidem de mim.
Questão 07 Lei de Deus que não vigora."
Carta de Pero Vaz José de Anchieta. "Auto de São Lourenço" In: "Teatro de
A terra é mui graciosa, Anchieta".
Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear, (Unirio) A leitura de Anchieta nos permite afirmar que a ação da
No chão espeta um caniço, Companhia de Jesus no processo da colonização do Brasil foi
No dia seguinte nasce marcada pela(o):
Bengala de castão de oiro. a) completa aceitação das práticas culturais indígenas e pela sua
Tem goiabas, melancias, incondicional defesa diante da Coroa portuguesa.
Banana que nem chuchu. b) intolerância radical com relação às comunidades indígenas e
Quanto aos bichos, tem-nos muitos, pela defesa de escravização indiscriminada destas comunidades.
De plumagens mui vistosas. c) aceitação da cultura indígena e afirmação dos seus valores em
Tem macaco até demais. detrimento das bases culturais do catolicismo ocidental.
Diamantes tem à vontade, d) mecanismo de apropriação da cultura indígena, utilizando seus
Esmeralda é para os trouxas. elementos como forma de empreender a catequese dos nativos
Reforçai, Senhor, a arca, sob os moldes católicos.
Cruzados não faltarão, e) indiferentismo em relação à cultura indígena, por ser
Vossa perna encanareis, considerada demoníaca e irrecuperável, mesmo diante dos
Salvo o devido respeito. ensinamentos cristãos.
Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
(MENDES, Murilo. "História do Brasil". Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1991, p. 13.) Questão 01 (G1 - ifsp 2013)
Publicado em Veneza, em 1556, o mapa abaixo é um dos
(MACKENZIE) O texto acima ilustra umas das principais primeiros a mostrar o Brasil individualmente. Raro, ele faz parte de
características da Geração de 22 do Modernismo, a revisão crítica uma obra italiana, Atlas dele navigazione e Viaggi (Atlas de
do nosso passado histórico e cultural, pois: navegação e Viagens), de Giovanni Battista Ramusio.
a) faz referência a literatura jesuítica no Brasil no séc. XVI.
b) alude humoristicamente àquilo que se convencionou chamar de
Literatura de Informação.
c) parodia tendências próprias do Barroco brasileiro.
d) contraria as propostas temáticas do primeiro momento do
modernismo brasileiro.
e) apresenta elementos que o relacionam com o “grupo mineiro”,
basicamente responsável pelo Arcadismo no Brasil.

Questão 08
"Guaixará
Esta virtude estrangeira
me irrita sobremaneira
Quem a teria trazido,

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Aula 5 - Quinhentismo
Trata-se de uma pintura da época sobre o Brasil, a qual revela d) Em “pensam em separar ou pacificar os contendores” (ref. 3), se
pouca preocupação geográfica, mas que nos mostra: o termo destacado for substituído por combatentes, ainda assim
a) uma terra de riquezas: a exuberância das matas, a fartura de mantém-se o sentido e a coerência do texto.
peixes nos mares e a existência de povoadores fortes, sadios e e) Infere-se da leitura do final do texto que os selvagens faziam uso
trabalhadores. da “lei de talião”, ou seja, o castigo era dado na mesma proporção
b) indígenas extraindo troncos de pau-brasil que, depois, eram do dano causado.
empilhados nas feitorias. Chegando os portugueses, os nativos
eram recompensados através de um escambo com produtos Questão 03
europeus. Analise as proposições em relação à obra Cronistas do
c) o início da colonização do Brasil: os indígenas estão derrubando descobrimento, Antonio Carlos Olivieri e Marco Antonio Villa, e
as árvores para formar os campos onde seria feito o plantio da trecho retirado da mesma, e assinale (V) para verdadeira e (F) para
cana-de-açúcar e a construção dos engenhos. falsa.
d) o medo dos nativos brasileiros com a chegada das naus ( ) A leitura do texto leva o leitor a inferir que, embora se trate
portuguesas: eles estão abatendo árvores para construção de de um relato sobre nossos selvagens, o autor procura desmistificar
fortificações e defesa da ameaça europeia. a imagem de selvageria, justificado pela organização e pelo
e) homens nus, selvagens, que conviviam pacificamente com respeito social.
animais de grande porte, o que causava grande espanto e medo ( ) O uso da próclise em “ninguém lhes dirá nada” (ref. 4) é
aos colonizadores. justificado pela presença da palavra negativa ninguém. Se a
palavra destacada for substituída por alguém, ocorrerá mesóclise:
Texto para as próximas duas questões alguém dir-lhes-á nada.
Quanto à organização social de nossos selvagens, é coisa quase ( ) A leitura do texto leva o leitor a inferir que os índios viviam
incrível – e dizê-la envergonhará aqueles que têm leis divinas e dentro de um esquema de normalidade e respeito.
humanas – que, 1apesar de serem conduzidos apenas pelo seu ( ) Da leitura do período “Todavia, se alguém for ferido por seu
natural, ainda que um tanto degenerado, eles se deem tão bem e próximo” (ref. 5) infere-se que a palavra próximo está relacionada a
vivam em tanta paz uns com os outros. Mas com isso me refiro a outro selvagem e não ao homem branco.
cada nação em si ou às nações que sejam aliadas; pois quanto aos ( ) No período “ninguém lhes dirá nada” (ref. 4) em relação às
inimigos, já vimos em outra ocasião o tratamento terrível que lhes palavras destacadas, sequencialmente, na sintaxe, tem-se sujeito
dispensam2. Porque, em ocorrendo alguma briga (o que se dá com simples e objeto indireto.
tão pouca frequência que durante quase um ano em que com eles
estive só os vi brigar duas vezes), os outros nem sequer 3pensam Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima
em separar ou pacificar os contendores; ao contrário, se estes para baixo.
tiverem de arrancar-se mutuamente os olhos, 4ninguém lhes dirá a) V - F - F - V - F b) V - V - F - V - V
nada, e eles assim farão. 5Todavia, se alguém for ferido por seu c) F - F - V - F - V d) V - F - V - V - F
próximo, e se o agressor for preso, ser-lhe-á 6infligido o mesmo e) V - F - V - V - V
ferimento no mesmo lugar do corpo, por parte dos parentes
próximos do agredido, e caso este venha a morrer depois, ou caso Questão 04 (Puccamp)
morra na hora, os parentes do defunto tiram a vida ao assassino de (...) a pré-história das nossas letras interessa como reflexo da
um modo semelhante. De tal forma que, para dizer numa palavra, é visão do mundo e da linguagem que nos legaram os primeiros
vida por vida, olho por olho, dente por dente etc. Mas, como já observadores do país. É graças a essas tomadas diretas da
disse, são coisas que raramente se veem entre eles. paisagem, do índio e dos grupos sociais nascentes, que captamos
as condições primitivas de uma cultura que só mais tarde poderia
2O autor tratou do assunto no capítulo XIV, “Da guerra, combate e contar com o fenômeno da palavra-arte.
bravura dos selvagens”. (Alfredo Bosi. "História concisa da Literatura Brasileira". S. Paulo:
Olivieri, Antonio Carlos e Villa, Marco Antonio. Cronistas do Cultrix, 1970, p. 15)
descobrimento. São Paulo: Ed. Ática,1999, p.69. O período caracterizado, no trecho acima, como "a pré-história das
nossas letras", representa-se sobretudo em textos
Questão 02 (Udesc 2015) a) DISSERTATIVOS, que argumentam a favor do processo
Assinale a alternativa incorreta em relação à obra Cronistas do colonial.
descobrimento, Antonio Carlos Olivieri e Marco Antonio Villa, e ao b) marcados por uma preocupação NARRATIVA, de tom épico.
trecho retirado da mesma. c) DRAMATÚRGICOS, nos quais se encenam os anseios de uma
a) A ortoépia ou ortoepia ocupa-se da pronúncia correta das emancipação.
palavras e pronunciar inflingido ao invés de “infligido” (ref. 6) d) marcados por uma preocupação eminentemente DESCRITIVA.
constitui erro de ortoépia ou ortoepia. e) POÉTICOS, nos quais a natureza é idealizada segundo os
b) Da leitura do sintagma “apesar de serem conduzidos apenas padrões clássicos.
pelo seu natural, ainda que um tanto degenerado” (ref. 1) infere-se
que, para o autor do texto, os índios teriam melhor organização se Questão 05 (FMTM-MG)
seguissem as leis divinas. “Esta Província de Santa Cruz, além de ser tão fértil como digo, e
c) As crônicas do descobrimento, escritas no século XVI, têm abastada de todos os mantimentos necessários para a vida do
grande importância por constituírem fontes históricas do período do homem, é certo ser também muito rica, e haver nela muito ouro e
descobrimento do Brasil, por retratarem os primeiros anos da pedraria, de que se tem grandes esperanças.”
colônia e a vida dos nativos que, como os árcades, escreviam
Como demonstra esse excerto, de Pero de Magalhães Gândavo, a
sobre a vida simples do campo.
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

literatura dos que aqui estiveram nos séculos XVI e XVII: princípios do cristianismo.
a) Procura indicar, com a maior exatidão possível e com verdadeiro c) considerava os costumes tradicionais dos indígenas adequados
espírito científico, as potencialidades econômicas do novo território. aos mandamentos cristãos.
b) Mostra a atitude de superioridade e menosprezo com que o d) julgava os indígenas ociosos e inaptos para o trabalho na
europeu encarava a nova terra e a selvageria de seus habitantes. grande empresa agrícola.
c) Constituiu a primeira manifestação de sentimento nacionalista, e) advogava a sujeição dos índios aos portugueses como meio
que iria crescendo à medida que se desenvolveria a literatura para facilitar a sua conversão.
brasileira.
Questão 08
d) Adquiriu – não sendo propriamente ficção – inestimável valor
documental, por transmitir a primeira visão da terra virgem, A passagem abaixo foi extraída do diário de Darwin, quando de
encarada, por isso mesmo, como um lendário paraíso perdido. sua excursão pelas florestas ao redor da cidade de Salvador.
e) Contém mais ficção – como consequência do espanto do
descobridor diante das novas terras – do que propriamente Satisfação é um termo fraco para exprimir os sentimentos de um
informação. naturalista que passeia só, numa floresta brasileira, pela primeira
vez. Entre a quantidade de coisas notáveis estão os luxuriosos
Questão 06 (G1 - ifsp 2014) capins, a novidade das plantas parasitas, a beleza das flores, o rico
verde da folhagem. Tudo enche de alegria. A mistura mais
Leia um trecho do poema Ilha da Maré, do escritor brasileiro
paradoxal de sons e silêncio penetra nas partes sombrias do mato.
Manuel Botelho de Oliveira.
O ruído dos insetos é tão alto que pode ser ouvido até num navio
E, tratando das próprias, os coqueiros,
ancorado a várias centenas de jardas da praia; contudo, dentro dos
galhardos e frondosos
recessos da floresta, parece reinar um silêncio absoluto.
criam cocos gostosos;
Para quem gosta da história natural, um dia assim traz um prazer
e andou tão liberal a natureza
tão profundo que dificilmente se pode esperar ter outro (Apud
que lhes deu por grandeza,
LEITE, 1997, p.208).
não só para bebida, mas sustento,
o néctar doce, o cândido alimento.
A natureza brasileira obteve um papel de destaque em vários
De várias cores são os cajus belos,
períodos da nossa Literatura. A visão apresentada acima por
uns são vermelhos, outros amarelos,
Darwin aproxima-se mais daquela deixada pela (o):
e como vários são nas várias cores,
a) Literatura de Informação e sua visão edênica do Brasil,
também se mostram vários nos sabores;
bpresentada pelos primeiros europeus chegados ao Brasil.
e criam a castanha,
b) Arcadismo e a valorização da vida no campo como lugar perfeito
que é melhor que a de França, Itália, Espanha.
para o idílio amoroso.
(COHN, Sergio. Poesia.br Rio de Janeiro: Azougue, 2012.)
c) Romantismo e o ufanismo que elevou a natureza a símbolo de
brasilidade.
Podemos relacionar os versos desse poema ao Quinhentismo
d) Pré-modernismo e o cientificismo com a qual foi trabalhada,
Nacional, pois
como o presente em Os Sertões.
a) o eu lírico repudia a presença de colonizadores portugueses em
e) Romance de 30 e sua visão crítica na análise das condições do
nossa terra.
meio em que vivem os personagens.
b) a fauna e a flora tropicais são descritas de maneira minuciosa e
idealizada.
Textos para as próximas três questões
c) o poeta enriqueceu devido à exportação de produtos brasileiros
para a metrópole.
Texto I
d) a exuberância e a diversidade da natureza tropical são exaltadas
01 A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira,
pelo poeta.
02 9 de março. [...] E domingo, 22 do dito mês, às dez horas,
e) a natureza farta e bela é o cenário onde ocorrem os encontros
03 pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo
amorosos do eu lírico.
Verde, 04 ou melhor, da ilha de S. Nicolau [...]. E assim seguimos
nosso
Questão 07 (Unesp 2005)
05 caminho por este mar de longo, até que, terça-feira das Oitavas
O padre José de Anchieta escreveu sobre as dificuldades de 06 de Páscoa, que foram vinte e um dias de abril, estando da dita
conversão dos índios ao cristianismo. Por aqui se vê que os 07 ilha obra de 660 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos
maiores impedimentos nascem dos Portugueses, e o primeiro é 08 alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas
não haver neles zelo de salvação dos índios [...] e com isso pouco 09 compridas, a que os mareantes chamam botelho [...]. E quarta-
se lhes dá aos senhores que têm escravos, que não ouçam missa, 10 feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-
nem se confessem, e estejam amancebados. E, se o fazem, é 11 buxos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra!
pelos contínuos brados da Companhia, e logo se enxerga claro nos 12 Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo [...]; ao
tementes a Deus que seus escravos vivem diferentemente pelo 13 monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal, e à terra,
particular cuidado que têm deles. (José de Anchieta. "Informação 14 A Terra de Vera Cruz.
do Brasil e de suas Capitanias", 1584.) Pela leitura do texto, é Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal
correto afirmar que o jesuíta
a) entendia que a escravidão não poderia se tornar um obstáculo à Texto II
catequização do gentio. A descoberta
b) opunha-se à escravização dos índios por julgá-la contrária aos Seguimos nosso caminho por este mar de longo

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Aula 5 - Quinhentismo
Até a oitava Páscoa menção sobre o assunto no primeiro contato entre os portugueses
Topamos aves e os nativos, conforme relatado na Carta de Pero Vaz de Caminha.
E houvemos vista de terra De fato, Caminha escreve a respeito da reação de dois jovens
Oswald de Andrade, “Pero Vaz Caminha” nativos que foram ate a caravela de Cabral e que experimentaram
alimentos oferecidos pelos portugueses:
Questão 9
Assinale a alternativa correta acerca do texto I. Deram-lhe[s] de comer: pão e peixe cozido, confeitos, bolos, mel e
a) No contexto em que se inserem, as expressões topamos alguns figos passados. Não quiseram comer quase nada de tudo aquilo. E
sinais de terra (linhas 07 e 08) e houvemos vista de terra (linha 11) se provavam alguma coisa, logo a cuspiam com nojo. Trouxeram-
têm o mesmo sentido: “enxergamos o continente americano”. lhes vinho numa taça, mas apenas haviam provado o sabor,
b) As nomeações referidas na carta – O Monte Pascoal e A Terra imediatamente demonstraram não gostar e não mais quiseram.
de Vera Cruz (linhas 13 e 14) – refletem valores ideológicos da Trouxeram-lhes água num jarro. Não beberam. Apenas
cultura portuguesa. bochechavam, lavando as bocas, e logo lançavam fora.
c) Os mareantes, por influência da cultura indígena, apelidaram as
ervas compridas de botelho e as aves de fura-buxos (linhas de 09 Fonte: CASTRO, Silvio (org.) A carta de Pero Vaz de Caminha.
a 11). Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 93.
d) A expressão dita ilha (linhas 06 e 07) indica que os navegantes
portugueses confundiram a Ilha de S.Nicolau com o Brasil. A partir da leitura do fragmento, são feitas as seguintes afirmativas:
e) Embora se apresente em linguagem objetiva, o trecho da carta I. No fragmento, ao dar destaque as reações dos nativos frente à
revela, devido ao excesso de adjetivações, a euforia dos comida e a bebida oferecidas, Caminha registra o comportamento
portugueses ao descobrirem o tão sonhado “Eldorado”. diferenciado deles quanto aos itens básicos da alimentação de um
europeu.
Questão 10 II. No fragmento, percebe-se a antipatia de Caminha pelos nativos,
Assinale a alternativa correta acerca do texto I. o que se confirma na leitura do restante da carta quanto a outros
a) Trata-se de documento histórico que inaugura, em Portugal, um aspectos dos indígenas, como sua aparência física.
novo gênero literário: a literatura epistolar. III. O predomínio de verbos de ação, numa sequência de eventos
b) Exemplifica a literatura produzida pelos jesuítas brasileiros na interligados cronologicamente, confere um teor narrativo ao texto.
colônia e que teve como objetivo principal a catequese do silvícola.
c) Apesar de não ter natureza especificamente artística, interessa à Está(ão) correta(s)
história da literatura brasileira na medida em que espelha a a) apenas I.
linguagem e a respectiva visão de mundo que nos legaram os b) apenas II.
primeiros colonizadores. c) apenas II e III.
d) Pertence à chamada crônica histórica, produzida no Brasil d) apenas I e III.
durante a época colonial com objetivos políticos: criar a imagem de e) I, II e III.
um país soberano, emancipado, em condições de rivalizar com a
metrópole. Questão 13 (Enem 2ª aplicação 2010)
e) É um dos exemplos de registros oficiais escritos por Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou
historiadores brasileiros durante o século XVII, nos quais se oito. Eram pardos, todos nus. Nas mãos traziam arcos com suas
observam, como característica literária, traços do estilo barroco. setas. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas
vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.
Questão 11 Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus
Considere as seguintes afirmações acerca do texto II: ossos brancos e verdadeiros. Os cabelos seus são corredios.
I. Constituído de citações do texto I, compõe uma unidade poética CAMINHA, P. V. Carta. RIBEIRO, D. et al. Viagem pela história do
autônoma que atualiza o sentido da carta de Pero Vaz de Brasil: documentos. São Paulo: Companhia das Letras, 1997
Caminha. (adaptado).
II. O poeta chamou de A descoberta o que na verdade é O texto é parte da famosa Carta de Pero Vaz de Caminha,
apropriação de outro texto, sugerindo que a descoberta do Brasil documento fundamental para a formação da identidade brasileira.
possa também ser entendida como um tipo de apropriação. Tratando da relação que, desde esse primeiro contato, se
III. A ausência de elementos de coesão entre os versos resulta estabeleceu entre portugueses e indígenas, esse trecho da carta
num conjunto fragmentado de frases nominais, traço de estilo que revela a
lembra a estética futurista. a) preocupação em garantir a integridade do colonizador diante da
Está(ão) corresta(s): resistência dos índios à ocupação da terra.
a) apenas I. b) postura etnocêntrica do europeu diante das características
b) apenas II. físicas e práticas culturais do indígena.
c) apenas III. c) orientação da política da Coroa Portuguesa quanto à utilização
d) apenas I e II. dos nativos como mão de obra para colonizar a nova terra.
e) I, II e III. d) oposição de interesses entre portugueses e índios, que
dificultava o trabalho catequético e exigia amplos recursos para a
Questão 12 (Ufsm 2015) defesa recursos para a defesa da posse da nova terra.
Os hábitos alimentares estão entre os principais traços culturais de e) abundância da terra descoberta, o que possibilitou a sua
um povo. Era de se esperar, portanto, que houvesse alguma incorporação aos interesses mercantis portugueses, por meio da
exploração econômica dos índios.
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Questão 14
A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras;
convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de
espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e essa
maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta,
nem peso, nem medida.
GÂNGAVO, P M. A primeira história do Brasil: história da
província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio
de Janeiro: Zahar, 2004 (adaptado)

(Enem 2015) A observação do cronista português Pero de


Magalhães de Gândavo, em 1576, sobre a ausência das letras F, L
e R na língua mencionada demonstra a
a) simplicidade da organização social das tribos brasileiras.
b) dominação portuguesa imposta aos índios no início da
colonização.
c) superioridade da sociedade europeia em relação à sociedade
indígena.
d) incompreensão dos valores socioculturais indígenas pelos
portugueses.
e) dificuldade experimentada pelos portugueses no aprendizado da
língua nativa.

Questão 15 – (Unesp 2016)


Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul
vimos até a outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste
porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou
vinte e cinco léguas por costa. Traz, ao longo do mar, nalgumas
partes, grandes barreiras, delas vermelhas e delas brancas; e a
terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De
ponta a ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa. [...]
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata,
nem coisa alguma de metal nem de ferro; nem lho
vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares [...]. Águas são
muitas; infindas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a
aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém
o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar
esta gente. E esta deve ser a principal semente que vossa alteza
em ela deve lançar.
(Carta de Pero Vaz de Caminha, 1500. http://objdigital.bn.br.)

Identifique duas das motivações da colonização portuguesa do


Brasil citadas na Carta, indicando os trechos do documento que as
mencionam.

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49
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

atingirá o seu auge somente nos séculos XVIII e início do XIX, em


AULA 6 - BARROCO I Minas Gerais.
- Arte da Contrarreforma: expressa a crise do Renascimento e o
CONTEXTO HISTÓRICO conflito ideológico proposto pela Igreja, que tentava resgatar o
Durante a idade média, a sociedade feudal tinha na Igreja Católica Teocentrismo medieval.
seu principal sustentáculo ideológico. - Fusionismo: é a tentativa de conciliar forças antagônicas:
Com a crise do feudalismo e o Renascimento Comercial e Urbano, Antropocentrismo x Teocentrismo; matéria x espírito; terra x céu;
surge a burguesia, que para crescer e se fortalecer, junto com os pecado x perdão; culpa x salvação.
reis que defendiam o fortalecimento do Estado Nacional Assim, o homem do barroco oscila entre “a celebração do corpo,
absolutista, precisa atacar a organização central do feudalismo: a da vida terrena, do gozo mundano e do pecado e os cuidados com
Igreja. a alma visando à graça divina e à salvação para a vida eterna”.
Ideologicamente, a Igreja também foi atacada devido à influência - Temática do desengano: é a constatação da efemeridade da
do Humanismo e do Renascimento, visto que com eles expandiu- vida, da transitoriedade de tudo, da fugacidade do tempo, que,
se o espírito crítico, desenvolveu-se o individualismo e valorizou-se muitas vezes, leva ao carpe diem.
o apego à vida terrena. - Pessimismo. A vida terrena é marcada pela tristeza e pelo
Aliado a tudo isso, a Igreja sofria uma profunda crise em sua sofrimento, para caracterizá-la como oposta à felicidade e à glória
disciplina, devido ao comportamento escandaloso de alguns de da vida celestial.
seus representantes e da recorrência de práticas abusivas como a
simonia e a venda de indulgências. CARACTERÍSTICAS DAS ARTES PLÁSTICAS BARROCAS:
Destarte, a Reforma era inevitável, e os abusos cometidos pela * Predomínio emocional sobre o racional; seu propósito é
Igreja serviram de tema e pretexto para que esta fosse atacada e a impressionar os sentidos do observador, baseando-se no princípio
Reforma se precipitasse. segundo o qual a fé deveria ser atingida através dos sentidos e da
Portanto, “A Reforma foi produto de uma multiplicidade de fatores emoção e não, apenas, pelo raciocínio.
políticos – oposição dos reis ao supranacionalismo papal -, * Grande carga de dramaticidade
econômicos – interesse da nobreza pelas terras da Igreja e da * Busca de efeitos decorativos e visuais, através de curvas,
burguesia na extinção da doutrina do “justo preço” -, e intelectuais contracurvas, sinuosidades e colunas retorcidas;
– ação do Humanismo, na sua crítica à Igreja.”. * Violentos contrastes de luz e sombra;
Com a Reforma ganhando força e se espalhando pela Europa, a * Pintura com efeitos ilusionistas;
Igreja Católica convoca o Concílio de Trento (1545-1563), que se * Luz artificial.
configura como a principal manifestação da Contrarreforma.
A Contrarreforma foi, portanto, a reação da Igreja Católica a certas CARAVAGGIO
inovações propostas por segmentos reformadores e recorreu a Apesar de sua reputação duvidosa (teve inúmeros problemas com
instrumentos de perseguição, como a Inquisição e a Congregação as autoridade, foi acusado de assassinato e passou anos fugindo
do Índice (encarregada da censura de obras impressas e de da justiça), Caravaggio é o grande nome do Barroco na pintura e,
elaborar a Lista dos Livros Proibidos). até hoje, suas obras impressionam. Ao rejeitar qualquer tipo de
Foi nesse clima que o Barroco surgiu e floresceu. idealização e imprimir às suas obras um intenso realismo,
Interessada em popularizar a tradição e os ensinamentos cristãos, Caravaggio revolucionou a pintura da época.
a Igreja Católica patrocinou artistas e artesãos, multiplicou a Davi com a cabeça de Golias
produção de ornamentos e imagens para a decoração dos templos,
e irradiou essa tendência estética por diferentes lugares ao redor
do mundo.
As obras barrocas romperam o equilíbrio entre o sentimento e a
razão ou entre a arte e a ciência, que os artistas renascentistas
procuram realizar de forma muito consciente; na arte barroca
predominam as emoções e não o racionalismo da arte
renascentista.
É uma época de conflitos espirituais e religiosos. O estilo barroco
traduz a tentativa angustiante de conciliar forças antagônicas: bem
e mal; Deus e Diabo; céu e terra; pureza e pecado; alegria e
tristeza; paganismo e cristianismo; espírito e matéria. Davi, o personagem principal desta passagem bíblica, já havia
Destaque-se que o Barroco também se manifestou nos países sido inúmeras vezes retratado, mas não ainda de forma tão
protestantes. Porém, o Barroco protestante - que não nos interessa chocante como nessa obra de Caravaggio.
aqui - adquire uma feição burguesa e secular. A obra mostra o clímax da luta entre o pastor Davi e o gigante
Golias. Davi matou Golias com uma funda (ver Davi, de
CARACTERÍSTICAS GERAIS: Michelangelo) e cortou a cabeça do gigante com a espada deste.
- Surgiu na Europa em meados do século XVI e chega ao Brasil no Acredita-se que essa foi a primeira obra pintada por Caravaggio
início do século XVII. Vale lembrar que, no Brasil, o Barroco após ter matado um homem numa briga em Roma e sair fugido da
manifesta-se em dois momentos: a literatura barroca acaba no cidade. Como uma forma de expiar seus pecados e tentar
século XVII, junto com o declínio da sociedade açucareira baiana. conseguir o perdão papal, Caravaggio retratou-se como Golias,
Porém, na nas artes plásticas e na arquitetura, o estilo barroco fazendo uma espécie de autorretrato.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

O BARROCO NAS ARTES PLÁSTICAS E NA ARQUITETURA


BRASILEIRA
Em Minas Gerais, graças ao dinheiro da mineração, um grupo
de novos-ricos vai motivar a concorrência das Ordens Terceiras e
Irmandades, que concorrerão para ter a igreja mais bela e
ornamentada, possibilitando o surgimento de artistas como Mestre
Athaide e Aleijadinho, mulatos, que se apropriarão das
características do Barroco Europeu, reconfigurando-o sob uma
ótica brasileira.
Teremos, então, no Brasil, o que os críticos chamam de
“Barroco tardio”, uma vez que, quando o Barroco propaga-se pela
província de Minas Gerais, esse estilo já terá sido superado e
abandonado pelo resto do mundo.

A Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto

A importância da Igreja de São Francisco de Assis para a história “No momento das missas, ocasião em que os fiéis encontram-se
da arte brasileira deve-se ao encontro dos gênios de mestre reunidos, tudo é posto em movimento: a música real dos cânticos,
Athaide e de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. a música simbólica das pinturas, o retorcimento das formas
Mestre Athaide foi responsável pela realização da decoração do pintadas, o tremor das luzes de velas, castiçais e do candelabro
teto e por pinturas e douramentos. Aleijadinho foi responsável por central, a arquitetura que ressoa e fortalece os efeitos, as palavras
elementos do projeto arquitetônico e por esculturas, talhas e proferidas pelo sacerdote no púlpito. Um grande teatro em
ornamentações postas, também, a serviço da ilusão na igreja. movimento, capaz de comover o observador pelo estímulo
Todos os elementos artísticos, fundidos, com o objetivo de fazer da sensorial e pelo apelo afetivo.”.
Igreja um grande teatro, onde o todos os nossos sentidos são
estimulados com o objetivo de criar um ambiente mais propício ALEIJADINHO
para a propagação e vivência da fé. “O estilo barroco surge no Brasil um século após o surgimento do
barroco na Europa. Ligado ao movimento da contrarreforma
católica, o barroco se opõe ao classicismo renascentista, em que
os elementos formais das igrejas são mais simples e racionais. A
arte barroca possui exuberância e é repleta de ornamentos. As
expressões “barroco tardio” ou “barroco mineiro”, usadas para
descrever a obra de Aleijadinho, na qual este estilo atingiria seu
ápice, são controversas. A historiadora Myriam Andrade Ribeiro de
Oliveira (s.d;) se opõe ao crítico de arte Lourival Gomes Machado
(1917-1967), que cunha o termo “barroco mineiro”. Para ela,
Aleijadinho possui estilo rococó, no qual as rocalhas, as formas
arredondadas e os arabescos estão presentes e há, em relação ao
barroco, certa leveza e suavidade, expressa, por exemplo, no uso
de cores mais claras. Na bibliografia sobre a obra de Aleijadinho, é
possível encontrar historiadores que situam o escultor na transição
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51
Aula 6 - Barroco I
desses dois estilos (…). Questão 03 (UFSM 2015)
No fim de sua vida, Aleijadinho realiza as 12 esculturas intituladas
Os Profetas na pequena cidade de Congonhas do Campo. O
material usado é a pedra-sabão, característica em muitas obras do
escultor. Executadas entre 1796 e 1805, momento em que o artista
está debilitado por sua doença, são feitas com ajuda de outros
artesãos subordinados a Aleijadinho, o que explica as diferenças
entre seus estilos e leva a crer que nem todas foram feitas pelo
próprio escultor. Todos os profetas têm cabelos encaracolados
cobertos por turbantes e olhos levemente puxados – traço
recorrente nas esculturas do artista. Os profetas, localizados no
adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, têm caráter A igreja de São Francisco (foto), construída em Ouro Preto no
monumental e mesclam “realismo e caricatura”, como ressalta o século XVIII, é um marco do barroco e da arquitetura brasileira. O
contexto histórico que explica a realização dessa obra é criado
historiador da arte inglês John Bury (1917).
pelo(a)
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8614/aleijadinho a) crise do sistema colonial e eclosão das revoltas regenciais.
b) deslocamento do centro administrativo da Colônia para a cidade
*Rococó: Estilo desenvolvido no século XVIII, na Europa, e que se de Ouro Preto.
caracteriza por atenuar a complexidade formal e os excessos do c) exploração econômica das minas de ouro e consolidação da
Barroco, buscando maior leveza e fazendo uso de coloridos agricultura canavieira.
suaves. d) ciclo da mineração e decorrente diversificação do sistema
produtivo.
e) distanciamento em relação a autoridade colonial e consequente
maior liberdade de expressão.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
Questão 04 (UEMG 2015)
Questão 01 (UESPI)
Em 2014, foram comemorados os 200 anos da morte do criador
Assinale a alternativa correta acerca do Barroco. das belíssimas peças em pedra sabão, uma das quais é
a) Vincula-se ao mundo protestante, sendo a primeira estética apresentada na imagem acima, sendo a mesma de autoria do mais
exclusivamente representativa da nova abordagem do cristianismo. importante artista brasileiro do período colonial: Antônio Francisco
b) Trata-se, basicamente, do embate entre os valores Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814). Ele nasceu em Vila Rica, atual
antropocêntricos gregos e os valores teocêntricos medievais que Ouro Preto, e antes dos 50 anos, foi acometido por uma doença
acabavam de ser estabelecidos. degenerativa que atrofiava seu corpo. Mesmo assim, tornou-se um
c) Tem como principal característica o equilíbrio, a harmonia e a dos maiores mestres do Barroco no Brasil.
busca constante de uma explicação racional para o mecanismo do O Barroco teve terreno fértil para a expansão em Minas Gerais,
mundo. pois:
d) Ocorreu logo após a restauração do Feudalismo e consiste a) o enriquecimento provocado pela mineração e a forte
numa busca da verdade com base nos fundamentos da religiosidade dos povos das Minas, conjugados com a intensa vida
Escolástica, doutrina católica que propunha Deus como criador de cultural ligada ao catolicismo, favoreceram o desenvolvimento
todas as coisas, atribuindo à filosofia a incumbência de provar tal desse estilo artístico na região.
verdade. b) a pouca presença de protestantes na região, por causa da
e) Vincula-se à Contrarreforma, movimento católico que gerou um distância do litoral, fez com que não houvesse forte influência
conflito entre os valores antropocêntricos do Classicismo e os desse ramo religioso, deixando caminho livre para a expansão do
valores teocêntricos medievais que a Igreja tentava naquele Barroco, tão ligado ao catolicismo.
momento, resgatar.

Questão 02 (Unesp 2014)


A efervescência que conheceram nas Minas [Gerais, do século
XVIII] as artes e as letras também teve feição peculiar. Pela
primeira vez na Colônia buscava-se solução própria para a
expressão artística.
(Laura Vergueiro. Opulência e miséria das Minas Gerais, 1983.)

São exemplos do que o texto afirma:


a) a pintura e a escultura renascentistas.
b) a poesia e a pintura românticas.
c) a arquitetura barroca e a poesia árcade.
d) a literatura de viagem e a arquitetura gótica.
e) a música romântica e o teatro barroco.

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52
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

c) fortaleceu-se com os altos investimentos feitos pelo governo Questão 07 (ENEM 2012)
português na região, já que por causa da produção aurífera,
buscava-se fazer de Minas, e principalmente de Vila Rica, a
referência americana para a Europa.
d) a decadência da produção açucareira no Nordeste e a
descoberta do ouro em Minas levaram os principais artistas da
Colônia a migrarem para Vila Rica, em busca de financiamento
para suas obras e apoio para novos empreendimentos.

Questão 05 (PUCMG)
Observe com atenção a pintura do Mestre Ataíde no teto da Nave
da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.

BARDI, P. M. Em torno da escultura no Brasil.


São Paulo: Banco Sudameris Brasil, 1989.

Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas


feições, a escultura barroca no Brasil tem forte influencia do rococó
europeu e esta representada aqui por um dos profetas do pátio do
Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas (MG),
esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho. Profundamente
religiosa, sua obra revela
a) liberdade, representando a vida de mineiros a procura da
É INCORRETO afirmar que o Barroco Mineiro: salvação.
a) sugere uma pintura monumental, rica de detalhes e b) credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de Minas
rebuscamentos. Gerais.
b) apresenta uma arte de esplendor e opulência de grandes c) simplicidade, demonstrando compromisso com a contemplação
fortunas. do divino.
c) demonstra harmonia, simplicidade e equilíbrio simétrico. d) personalidade, modelando uma imagem sacra com feições
d) representa a paixão humana e o propósito da doutrinação populares.
religiosa. e) singularidade, esculpindo personalidades do reinado nas obras
divinas.
Questão 06 (UFRN)
Ao comentar a arte brasileira, Benedito L. de Toledo faz a seguinte EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
descrição:
E se olharmos para o teto, veremos o próprio céu retratado em Questão 01 (UFPR 2013)
pintura ilusionística no forro, que foi rompido para mostrar o As imagens a seguir retratam a mesma passagem bíblica – a
Paraíso com a Virgem, os anjos e os santos. dúvida do apóstolo Tomé diante do Cristo ressurrecto. A primeira, à
A talha usará colunas torcidas recobertas de vinhas e povoada de esquerda, é uma ilustração medieval do saltério de Saint Albans,
querubins, aves, frutos, cada elemento procurando vibrar e tomar do século XII (“A dúvida de São Tomé”, artista desconhecido), e a
todo o espaço possível. As colunas tortas serão as grandes eleitas segunda, à direita, é a pintura de Caravaggio “A incredulidade de
porque sua estrutura helicoidal é o próprio movimento sem fim. São Tomé”, de 1599.
À noite, os interiores das igrejas revelam novas surpresas. A
iluminação à vela produz uma luz vacilante que faz vibrar o ouro da
talha, dramatiza as pessoas e as imagens. Sente-se que se está
num espaço consagrado pelo perfume do incenso vindo do altar-
mor, onde é mais intenso o brilho do ouro na luz incerta das velas.
[adaptação] TOLEDO, Benedito Lima de. Apud FERREIRA, Olavo
Leonel, HISTÓRIA DO BRASIL. São Paulo: Ática, 1995. p.166.

O autor da descrição se refere ao caráter essencial do estilo:


a) Barroco - lirismo, apelo à emoção, busca de uma dinâmica
infinita, solicitação de todos os sentidos.
b) Naturalista - solidez, despertar da fé pela contemplação da
natureza, quer do reino animal, vegetal ou mineral.
c) Gótico - grandiosidade e leveza, tornada possível graças ao
emprego de arcos em forma de ogiva e de inúmeros vitrais.
d) Neoclássico - ênfase na harmonia e no equilíbrio, apelo às
faculdades racionais do homem e realce para os elementos
estruturais da construção.

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53
Aula 6 - Barroco I
A partir da análise dessas ilustrações e dos conhecimentos sobre o É uma época de conflitos espirituais e religiosos. O estilo barroco
papel das imagens no período medieval e no período moderno, traduz a tentativa angustiante de conciliar forças antagônicas: bem
identifique as afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou falsas e mal; Deus e Diabo; céu e terra; pureza e pecado; alegria e
(F): tristeza; paganismo e cristianismo; espírito e matéria.
( ) Enquanto as imagens produzidas no medievo tinham a Nas esculturas barrocas, a ausência de equilíbrio e o predomínio
função de evangelizar os fiéis dentro e fora dos templos, as da emoção são refletidos no predomínio das linhas curvas, nos
pinturas produzidas no período de Caravaggio tinham a função de drapeados das vestes e no uso do dourado, nos gestos e nos
promover a fé católica por meio da arte barroca, em reação à rostos das personagens, que revelam emoções violentas e atingem
Reforma Protestante. uma dramaticidade desconhecida no Renascimento.
( ) Enquanto as ilustrações produzidas na Idade Média serviam Diante disso, assinale o item cuja escultura seja típica do Barroco:
para combater heresias, as pinturas barrocas tinham o objetivo de
questionar a contrarreforma, para se alinhar aos ideais humanistas
do século XVII.
( ) Ambas as ilustrações indicam a intenção da Igreja Católica
em renunciar ao seu poder político, motivo pelo qual esses
exemplos enfatizam passagens de dúvida e de angústia.
( ) Enquanto as produções de ilustrações medievais eram
anônimas, imprimindo uma interpretação simbólica para passagens
e personagens religiosos, as pinturas de Caravaggio e de outros
artistas barrocos conferiam maior dramaticidade e realismo aos
personagens bíblicos, com dinamismo e jogos de claro-escuro.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima
para baixo.
a) V – F – F – V. b) F – V – F – V. c) V – V – F – V.
d) V – F – V – F. e) F – V – V – F. a)
Questão 02 (Unicamp 2011)
A arte colonial mineira seguia as proposições do Concílio de Trento
(1545-1553), dando visibilidade ao catolicismo reformado. O artífice
deveria representar passagens sacras.
Não era, portanto, plenamente livre na definição dos traços e
temas das obras. Sua função era criar, segundo os padrões da
Igreja, as peças encomendadas pelas confrarias, grandes mecenas
das artes em Minas Gerais.
(Adaptado de Camila F. G. Santiago, “Traços europeus, cores
mineiras: três pinturas coloniais inspiradas em uma gravura de
Joaquim Carneiro da Silva”, em Junia Furtado (org.), Sons, formas,
cores e movimentos na modernidade atlântica. Europa, Américas e
África. São Paulo: Annablume, 2008, p. 385.)

Considerando as informações do enunciado, a arte colonial mineira


pode ser definida como
a) renascentista, pois criava na colônia uma arte sacra própria do
catolicismo reformado, resgatando os ideais clássicos, segundo os b)
padrões do Concílio de Trento.
b) barroca, já que seguia os preceitos da Contrarreforma. Era
financiada e encomendada pelas confrarias e criada pelos artífices
locais.
c) escolástica, porque seguia as proposições do Concílio de
Trento. Os artífices locais, financiados pela Igreja, apenas
reproduziam as obras de arte sacra europeias.
d) popular, por ser criada por artífices locais, que incluíam
escravos, libertos, mulatos e brancos pobres que se colocavam
sob a proteção das confrarias.

Questão 03
As obras barrocas romperam o equilíbrio entre o sentimento e a
razão ou entre a arte e a ciência, que os artistas renascentistas
procuram realizar de forma muito consciente; na arte barroca
predominam as emoções e não o racionalismo da arte
renascentista. c)
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54
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

d) O apelo ao emocional e a sensação de movimento, dada pela


composição sinuosa e pelo panejamento elaborado das roupas,
inserem-nas no Barroco.
e) Ambas as imagens apresentam qualidades estéticas vinculadas
à tradição Neoclássica, trazidas ao Brasil pela Missão Artística
Francesa.

Questão 05 (Mackenzie 2010)


O altar Mor da Matriz de Nossa Senhora do Pilar (veja figura), pode
d) ser apontado como um bom exemplo do Barroco brasileiro (século
XVIII) ou Rococó. Acerca do tema, assinale a alternativa correta.
a) Esse movimento artístico foi importante instrumento didático de
propaganda evangelizadora utilizado pela Igreja Católica, nesse
contexto.
b) A arte foi uma das prioridades da administração metropolitana
no Brasil, uma vez que permitia o desenvolvimento de nossa
identidade nacional.
c) O artista português Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foi
enviado ao Brasil para influenciar a arte brasileira a partir de
características das matrizes portuguesas.

e)

Questão 04
Analise as imagens a seguir.

Manuel da Costa Ataíde. Forro da Igreja de São Francisco de


Assis, século XVIII.

d) Não existiu qualquer influência da arte europeia nas


manifestações artísticas coloniais, sendo, essas, consideradas
importantes focos de resistência ao domínio metropolitano.
e) Não existe relação entre o ciclo do ouro e o movimento artístico
em questão, uma vez que a Igreja Católica proibia aos fiéis
qualquer atividade que gerasse lucro excessivo.

Questão 06
Considere as imagens e o texto, para responder à(s) questão(ões).

Antonio Francisco Lisboa. Cristo da Flagelação, [s.d].

Sobre as obras, é correto afirmar:


a) O tratamento esquemático dado às figuras e a rigidez da
composição são típicos do românico medieval, período a que
pertencem.
b) São o resultado de uma visão intelectualizada, que transforma
as imagens em planos geométricos, a partir de vários pontos de
vista simultâneos.
c) A simplificação das formas e a ocupação geométrica do espaço
conferem a ambas as imagens um caráter racional e estático.
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55
Aula 6 - Barroco I
II / São Francisco de Assis* a) incorporou à arquitetura religiosa os vitrais góticos, auxiliando a
Igreja reformista na conversão das populações nativas ao
Senhor, não mereço isto. protestantismo.
Não creio em vós para vos amar. b) implicou em uma adaptação das técnicas às condições da
Trouxestes-me a São Francisco Colônia, utilizando como material a pedra-sabão em lugar do
e me fazeis vosso escravo. mármore.
c) consolidou a pintura como modalidade artística na Colônia,
Não entrarei, senhor, no templo, disseminando escolas para o ensino dessa técnica nas cidades.
seu frontispício me basta. d) privilegiou a proporcionalidade, a racionalidade e o equilíbrio,
Vossas flores e querubins associando-se às características da empresa colonial.
são matéria de muito amar. e) ampliou o horizonte temático dos artistas coloniais, enfatizando
cenas do cotidiano que substituíram as cenas bíblicas
Dai-me, senhor, a só beleza renascentistas.
destes ornatos. E não a alma.
Pressente-se dor de homem, Questão 09 (UEG 2012)
paralela à das cinco chagas. Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
Mas entro e, senhor, me perco É verdade, Senhor, que hei delinquido,
na rósea nave triunfal. Delinquido vos tenho, e ofendido
Por que tanto baixar o céu? Ofendido vos tem minha maldade.
por que esta nova cilada?
MATOS, Gregório de. Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade. In:
Senhor, os púlpitos mudos Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José Miguel
entretanto me sorriem. Wisnik. São Paulo: Cultrix, s.d. p. 299.
Mais que vossa igreja, esta
sabe a voz de me embalar.

Perdão, senhor, por não amar-vos.


Carlos Drummond de Andrade

*O texto faz parte do conjunto de poemas “Estampas de Vila Rica”,


que integra a edição crítica de Claro enigma. São Paulo: Cosac
Naify, 2012.

(Fuvest 2017) Analise as seguintes afirmações relativas à


arquitetura das igrejas sob a estética do Barroco:
I. Unem-se, no edifício, diferentes artes, para assaltar de uma vez
os sentidos, de modo que o público não possa escapar.
II. O arquiteto procurava surpreender o observador, suscitando
nele uma reação forte de maravilhamento.
III. A arquitetura e a ornamentação dos templos deviam encenar,
entre outras coisas, a preeminência da Igreja.

A experiência que se expressa no poema de Drummond registra,


em boa medida, as reações do eu lírico ao que se encontra
registrado em
a) I, apenas. b) II, apenas. c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas. e) I, II e III.

Questão 07 (Fuvest 2017)


Um aspecto do poema em que se manifesta a persistência de um
valor afirmado também no Modernismo da década de 1920 é o
a) destaque dado às características regionais.
b) uso da variante oral-popular da linguagem.
c) elogio do sincretismo religioso.
d) interesse pelo passado da arte no Brasil.
e) delineamento do poema em feitio de oração. Ambas as imagens são realizadas em períodos distintos da história
e apresentam em síntese semelhanças em relação
Questão 08 (UFG 2013) a) à complexidade e ao contraste.
O Barroco foi um estilo artístico predominante na Europa entre os b) à espontaneidade e à distorção.
séculos XVII e XVIII, alcançando a América Portuguesa. Esse c) à planura e ao geometrismo.
estilo é representativo do trânsito cultural entre os continentes, pois d) à suavidade e à organicidade.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 10 Questão 11
Texto I

Fonte: https://www.facebook.com/pages/Paw%C5%82a-
Kuczy%C5%84skiego/158506094232917?sk=wall
Acesso: 16\03\2014

Pawla Kuczynskiego é um caricaturista polaco nascisdo em 1976.


Desde 2004 suas ilustrações, em geral satíricas, já lhe renderam
92 prêmios e dinstinções. Na obra acima, o artista trabalha um
tema também presente no seguinte texto:
Texto II
a) Uma parte de mim sofre, outra pede amor,
Outra viaja, outra discute, uma última trabalha,
Sou todas as comunicações, como posso ser triste?”
Carlos Drummond de Andrade
b) Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
Mario Quintana
c) "Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.”
Drummond
d)“Além de toda a ira e as lágrimas,
O horror e a sombra se costuram
E ainda assim, a ameaça do tempo
Tudo encontra e encontrará, a mim, destemido.”
William E Henley
e) Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata a toda ligeireza,
E imprime em toda flor sua pisada.
Analisando as duas esculturas, de Michelangelo e Bernini,
Oh não aguardes, que a madura idade,
respectivamente, observamos como ambas são bastante
Te converta essa flor, essa beleza,
representativas de suas épocas. Comparando-as, podemos afirmar
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
que:
Gregório de Matos
a) ambas refletem o conflito entre antropocentrismo e teocentrismo,
vivenciado pelo homem durante a Contrarreforma.
Questão 12
b) ambas destacam-se pela contenção das emoções, reflexo da
I
primasia do racionalismo e do cientificismo da época do
Renascimento.
c) ambas comprovam o poder da Igreja Católica sobre o
pensamento do homem da época, levado à desprezar a ciência e
a razão nas manifestações artísticas.
d) a obra de Michelangelo reflete o racionalismo que marcou o
Renascimento, enquanto a de Bernine revela a dramaticidade
valorizada pela arte durante a Contrarreforma.
e) as duas obras se completam, representando um mesmo
contexto em que, apesar do racionalismo e do cientificismo, a
Religião ainda determinava valores e concepções artísticas. Fonte: http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/caravaggio/
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57
Aula 6 - Barroco I
II “A arte mineira caracterizou-se pelo estilo barroco que esteve em
voga na Europa até princípios do século XVIII.”
(José Alves de Freitas Neto e Célio Ricardo Tasinafo. História
Geral e do Brasil. HARBRA. p. 325).

As imagens acima nos permitem ter uma boa noção de como se


manifestou o Barroco em Minas Gerais, financiado pela riqueza
gerada na extração de metais preciosos. Observando-as podemos
afirmar que
a) como forma única de expressão, as imagens barrocas são
uniformes e regulares, conforme o pensamento religioso católico.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Aleijadinho b) o barroco expressava o racionalismo da época moderna,
condenando as expressões metafísicas e o sentimento religioso.
Uma obra de arte, em geral, funciona como o testemunho de uma c) era um estilo intimamente ligado à Contrarreforma, pois
época, de uma visão de mundo, uma vez que o artista reflete a expressava os fundamentos da devoção religiosa por meio de
sociedade em que se insere ao mesmo tempo em que procura construções, esculturas e iconografias que enalteciam os princípios
atuar sobre essa mesma sociedade. As obras acima, de da fé católica.
Caravaggio e Aleijadinho, respectivamente, inserem-se no Barroco, d) o barroco esteve intimamente ligado ao protestantismo,
uma vez que: condenando as iconografias e dando ênfase apenas ao estilo
a) apresentam um tratamento esquemático dado às figuras e uma arquitetônico.
rigidez na composição. e) o barroco mineiro desenvolveu características universais
b) são o resultado de uma visão intelectualizada, que transforma as evitando as especificidades e o regionalismo.
imagens em planos geométricos, a partir de vários pontos de vista
simultâneos. Questão 14
c) a simplificação das formas e a ocupação geométrica do espaço
conferem a ambas as imagens um caráter racional e estático.
d) o apelo ao emocional e a sensação de movimento refletem um
rebuscamento típico de um período de conflitos ideológicos.
e) ambas as imagens apresentam qualidades estéticas vinculadas
à tradição Clássica, como a visão objetiva da realidade e a
imitação do real.

Questão 13 (UEPB 2013)

Hans Baldung Grien - As Três Idades da Mulher

A pintura acima trata de um tema clássico na literatura universal,


comum tanto ao classicismo quanto ao Barroco. Observando os
elementos retratados na pintura, podemos afirmar que o tema em
questão é o(a):
a) fusionismo
Altar da Igreja de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, Minas b) carpe diem
Gerais. c) efemeridade da vida
d) paganismo
e) religiosidade

Questão 15
O NOME BARROCO
O termo parece nascer do vocábulo português barroco, que
designava uma pérola irregular. Há quem afirme que a palavra
origina-se de baroco, vocábulo utilizado por religiosos medievais
para indicar um raciocínio falso e sem sentido. Durante todo o
século XVII, barroco aparece com o sentido de extravagante e
grotesco. É usado também na acepção de irregularidade e falta de
harmonia em trabalhos artísticos. Todavia, podemos afirmar que os
criadores do período não sabiam que eram barrocos e tampouco
Caminho para o Calvário, Aleijadinho. seu público os rotularia assim.

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58
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Somente no século XIX, o conceito começa a se impor. Primeiro,


ele ainda carrega um significado pejorativo de degradação das
formas renascentistas. Depois, com o historiador da arte H.
Wölfflin, surge a ideia de um estilo barroco, com características
próprias e merecedoras de atenção.
Sergius Gonzaga

A partir das ideias contidas no texto, podemos afirmar tratar-se de


uma obra barroca a que se encontra no item:

a)

b)

c)

d)

e)

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59
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

E imprime em toda a flor sua pisada.


AULA 7 - BARROCO II
Oh não aguardes, que a madura idade
7.1) CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA BARROCA Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.”
7.1.1) FUSIONISMO E REBUSCAMENTO
As obras barrocas romperam o equilíbrio entre o sentimento e a Fonte:
razão ou entre a arte e a ciência, que os artistas renascentistas http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=downl
procuram realizar de forma muito consciente; na arte barroca oad&id=28615
predominam as emoções e não o racionalismo da arte
renascentista. Por vezes se destacará o sentimento de culpa, a noção de
É uma época de conflitos espirituais e religiosos. O estilo pecado e a busca por salvação através do perdão divino:
barroco traduz a tentativa angustiante de conciliar forças
antagônicas: bem e mal; Deus e Diabo; céu e terra; pureza e A CHRISTO S. N. CRUCIFICADO ESTANDO O POETA NA
pecado; alegria e tristeza; paganismo e cristianismo; espírito e ÚLTIMA HORA DE SUA VIDA
matéria. Na literatura barroca, essa tentativa de conciliação de
forças antagônicas, a que chamamos fusionismo, resultou num Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
estilo rebuscado, numa linguagem complexa, ornamental, Em cuja lei protesto viver,
repleta de figuras de linguagem. Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme, e inteiro.
MORALIZA O POETA NOS OCIDENTES DO SOL A
INCONSTANCIA DOS BENS DO MUNDO. Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minh vida anoitecer,
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, É, meu Jesus, a hora de se ver
Depois da Luz se segue a noite escura, A brandura de um Pai manso Cordeiro.
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria. Mui grande é vosso amor, e meu delito,
Porém pode ter fim todo o pecar,
Porém se acaba o Sol, por que nascia? E não o vosso amor, que é infinito.
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura? Esta razão me obriga a confiar,
Como o gosto da pena assim se fia? Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância, Fonte:
E na alegria sinta-se tristeza. http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=downl
oad&id=28622
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza 7.1.3) PESSIMISMO, CONDENAÇÃO DOS VÍCIOS
A firmeza somente na inconstância. Por conta da influência da religião, a vida terrena é vista
com pessimismo, como uma experiência de sofrimento que leva
Fonte: ao pecado; e a religião é apontada como alternativa que leva à
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=downl salvação:
oad&id=28600
CONTINUA O POETA COM ESTE ADMIRAVEL A QUARTA
7.1.2) EFERMIDADE DA VIDA, CARPE DIEM FEYRA DE CINZAS.
A arte Barroca reflete um momento de conflito ideológico entre a
mentalidade da Igreja Católica e o pensamento humanista do Que és terra Homem, e em terra hás de tornar-te,
Renascimento. Dividido entre o antropocentrismo renascentista Te lembra hoje Deus por sua Igreja,
e o teocentrismo medieval, o homem do Barroco procura De pó te faz espelho, em que se veja
conciliar a fruição do mundo material e dos prazeres mundanos A vil matéria, de que quis formar-te.
à salvação da alma.
Assim, por vezes se destacará o carpe diem (desejo de gozar o Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te,
momento presente), consequência da constatação da E como o teu baixel sempre fraqueja
efemeridade da vida: Nos mares da vaidade, onde peleja,
Te põe à vista a terra, onde salvar-te.
“Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza, Alerta, alerta pois, que o vento berra,

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

E se assopra a vaidade, e incha o pano, concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há-de
Na proa a terra tens, amaina, e ferra. concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se
ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e
Todo o lenho mortal, baixel humano luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de
Se busca a salvação, tome hoje terra, olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por
Que a terra de hoje é porto soberano. falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister
olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um
Fonte: homem dentro em si e ver-se a si mesmo?
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=downl Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é
oad&id=28622 necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é
a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem
7.2) AS CORRENTES DO BARROCO concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que
- Cultismo: É o rebuscamento da forma, do plano da a conversão das
expressão, que se manifesta através de um vocabulário erudito, almas por meio da pregação depende destes três concursos: de
de inversões sintáticas, trocadilhos e jogos de palavras e Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos
excesso de figuras de linguagem (principalmente, antíteses, entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do
paradoxos, metáforas e hipérboles). O cultismo predomina na pregador, ou por parte de Deus?”
poesia de Gregório de Matos.
Padre Antônio Vieira, Sermão da Sexagésima
QUIS O POETA EMBARCAR-SE PARA A CIDADE E
ANTECIPANDO A NOTÍCIA À SUA SENHORA, LHE VIU Fonte: http://www.bocc.ubi.pt/pag/vieira-antonio-sermao-
UMAS DERRETIDAS MOSTRAS DE SENTIMENTO EM sexagesima.pdf
VERDADEIRAS LÁGRIMAS DE AMOR.
7.3) O BARROCO NO BRASIL
Ardor em coração firme nascido! O Barroco, no Brasil, tem suas primeiras manifestações no
Pranto por belos olhos derramado! início do século XVII, com a publicação de Prosopopeia, de
Incêndio em mares de água disfarçado! Bento Teixeira, estendendo-se, cronologicamente, até 1768,
Rio de neve em fogo convertido! com a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da
Costa, que introduz o Arcadismo. No entanto, vale lembrar que,
Tu, que um peito abrasas escondido, apesar de a Literatura Barroca ter entrado em declínio junto
Tu, que em um rosto corres desatado, com a decadência da sociedade baiana açucareira no século
Quando fogo em cristais aprisionado, XVII, o Barroco só alcançará o seu momento máximo nas artes
Quando cristal em chamas derretido. plásticas e na arquitetura nos séculos XVIII e XIX, graças à
riqueza gerada pela descoberta do ouro em Minas Gerais.
Se és fogo como passas brandamente? Uma vez que não houve Classicismo no Brasil e que a literatura
Se és neve, como queimas com porfia? quinhentista possui uma relevância mais documental e histórica
Mas ai! que andou Amor em ti prudente. que estética, a literatura barroca, principalmente através de
Gregório de Matos e do Padre Antônio Vieira, ganha
Pois para temperar a tirania, importância por ser a primeira a cantar a realidade brasileira,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente, produto do meio geográfico e social.
Permitiu, parecesse a chama fria.
7.3.1) Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador, então
Fonte: capital do Brasil, em 1636, falecendo no Recife, em 1695, e é o
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=downl nome de maior expressão da literatura barroca brasileira.
oad&id=28615 Sua obra compreende:
- Poesia Amorosa: Em sua poesia amorosa, Gregório de Matos
- Conceptismo: É o rebuscamento do pensamento, do plano do apresenta duas visões. Ora seus poemas idealizam a mulher e
conteúdo, que se manifesta na organização das ideias de forma a relação amorosa, destacando, por vezes, o sofrimento
complexa. Predomina na prosa de Padre Antônio Vieira, que em amoroso, a efemeridade da vida, o carpe diem; ora apelam para
seus sermões recorria frequentemente a alegorias, analogias, a obscenidade e para uma visão mais vulgar da sexualidade.
estratégias de retórica, com um raciocínio pautado numa lógica QUIS O POETA EMBARCAR-SE PARA A CIDADE E
silogística, e à circularidade do desenvolvimento (as premissas ANTECIPANDO A NOTÍCIA À SUA SENHORA, LHE VIU
iniciais são retomadas exaustivamente no decorrer dos UMAS DERRETIDAS MOSTRAS DE SENTIMENTO EM
sermões). VERDADEIRAS LÁGRIMAS DE AMOR.

“Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder Ardor em coração firme nascido!
de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte Pranto por belos olhos derramado!
do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter Incêndio em mares de água disfarçado!
por meio de um sermão, há-de haver três concursos: há-de Rio de neve em fogo convertido!
concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há-de

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Aula 7 – Barroco II
Tu, que um peito abrasas escondido,
Tu, que em um rosto corres desatado, A fortunilha autora de entremezes
Quando fogo em cristais aprisionado, Transpõe em burro o Herói, que indigno cresce
Quando cristal em chamas derretido. Desanda a roda, e logo o homem desce,
Que é discreta a fortuna em seus reveses.
Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia? Homem (sei eu) que foi Vossenhoria,
Mas ai! que andou Amor em ti prudente. Quando o pisava da fortuna a Roda,
Burro foi ao subir tão alto clima.
Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente, Pois vá descendo do alto, onde jazia,
Permitiu, parecesse a chama fria. Verá, quanto melhor se lhe acomoda
Ser home em baixo, do que burro em cima.
Fonte:
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=downl Fonte:
oad&id=28615 http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=downl
oad&id=28610
- Poesia Sacra ou Religiosa: É a poesia que melhor reflete o
contexto da contrarreforma, uma vez que vai se construir com EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
base no dualismo (culpa x perdão; pecado x salvação; efêmero
x eterno; material x espiritual). Apresenta a imagem recorrente Questão 01
do eu lírico assumindo seus pecados e pedindo perdão, Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,
buscando a salvação. Te lembra hoje Deus por sua Igreja;
De pó te faz espelho, em que se veja
AO MESMO ASSUMPTO E NA MESMA OCCASIÃO. A vil matéria, de que quis formar-te.
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te,
Da vossa piedade me despido, E como o teu baixel sempre fraqueja
Porque quanto mais tenho delinquido, Nos mares da vaidade, onde peleja,
Vos tenho a perdoar mais empenhado. Te põe à vista a terra, onde salvar-te.
Se basta a vos irar tanto um pecado, Alerta, alerta, pois, que o vento berra.
A abrandar-nos sobeja um só gemido, Se assopra a vaidade e incha o pano,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Na proa a terra tens, amaina e ferra.
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Todo o lenho mortal, baixel humano,
Se uma ovelha perdida, e já cobrada Se busca a salvação, tome hoje terra,
Glória tal, e prazer tão repentino Que a terra de hoje é porto soberano.
vos deu, como afirmais na Sacra História: (MATOS, Gregório de. "Poemas escolhidos." São Paulo: Cultrix,
1997. p. 309)
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino, Gregório de Matos expressou em sua obra toda a tensão do
Perder na vossa ovelha a vossa glória. século XVII, ao abordar os temas predominantes do Barroco. O
Fonte: poema acima é revelador de uma visão de mundo:
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=downl a) irônica e cínica em relação à Igreja e à possibilidade de
oad&id=28622 salvação do ser humano.
b) hedonística, de valorização do corpo, da vida mundana e dos
- Poesia Satírica: Em sua poesia satírica, Gregório de Matos prazeres terrenos.
denunciou e condenou os vícios morais da sociedade baiana do c) antropocêntrica e racional, glorificando o homem como
período colonial, não poupando o governo, a nobreza da terra e perfeita criação divina.
nem mesmo o clero. Usando uma linguagem direta, por vezes d) pessimista, destacando a efemeridade da vida e o risco de
chula e vulgar, criticou ferrenhamente portugueses, índios, perdição espiritual.
negros e mulatos, ganhando o apelido de “Boca do Inferno”. e) esperançosa, pois reconhece tanto a fragilidade humana
A DESPEDIDA DO MAO GOVERNO QUE FEZ ESTE como sua grandeza moral.
GOVERNADOR.
Questão 02 (G1 - ifsp 2014)
Senhor Antão de Sousa de Meneses,
Descrição da Cidade de Sergipe d’El-Rei
Quem sobe a alto lugar, que não merece,
Homem sobe, asno vai, burro parece,
Três dúzias de casebres remendados,
Que o subir é desgraça muitas vezes.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Seis becos, de 1mentrastos entupidos, Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Quinze soldados, rotos e despidos, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
Doze porcos na praça bem criados.
Gregório de Matos Guerra
Dois conventos, seis frades, três letrados,
Um juiz, com bigodes, sem ouvidos, TEXTO 02
Três presos de piolhos carcomidos,
Por comer dois meirinhos esfaimados. Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da Vossa alta Piedade me despido:
As damas com sapatos de 2baeta, Porque quanto mais tenho delinquido,
Palmilha de tamanca como frade, Vos tenho - perdoar mais empenhado.
Saia de 3chita, cinta de raqueta.
Se basta, a vos tanto pecado,
O feijão, que só faz 4ventosidade A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Farinha de pipoca, pão que greta, Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade. Vos tem para o perdão lisonjeado.
(DIMAS, Antônio. Gregório de Matos. São Paulo: Nova Cultural,
1988.) Se uma ovelha perdida, e já cobrada,
1mentrasto: tipo de erva Glória tal e prazer tão repentino
2baeta: tecido felpudo Vos deu, como afirmais na Sacra História:
3chita: tecido de algodão de pouco valor
4ventosidade: que provoca flatulência Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não querereis Pastor Divino,
Pela leitura do soneto, é correto afirmar que o poeta Perder na vossa ovelha a vossa glória.
a) critica veladamente o governo português por ter escolhido
essa cidade para ser a sede administrativa da colônia. Gregório de Matos Guerra
b) escreve esse poema para expor as angústias vividas durante
o período em que cumpria a primeira ordem de desterro. TEXTO 03
c) comenta a elegância e a sensualidade das damas, visto que
sempre apreciou as mulheres brasileiras. A cada canto um grande conselheiro,
d) lamenta a inexistência de instituições religiosas, pois elas Que nos quer governar cabana e vinha:
organizariam moralmente a cidade. Não sabem governar sua cozinha
e) descreve as condições do local, mostrando que os habitantes E podem governar o mundo inteiro!
vivem rusticamente e com poucos recursos.
Em cada porta um bem frequente olheiro
Questão 03 Da vida do vizinho e da vizinha,
(Upe 2015) O Barroco no Brasil se desenvolveu com base em Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha
duas vertentes: o cultismo e o conceptismo. Na obra de Para o levar à praça e ao terreiro.
Gregório de Matos, há aspectos caracterizadores de ambas as
vertentes, além de uma produção de temática diversificada. Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés aos homens nobres;
Leia os poemas a seguir: Posta nas palmas toda a picardia.

TEXTO 01 Estupendas usuras nos mercados;


Todos os que não furtam, muito pobres;
Anjo no nome, Angélica na cara! Eis aqui a cidade da Bahia.
Isso é ser flor, e Anjo juntamente: Gregório de Matos Guerra
Ser Angélica flor e Anjo florente, Sobre eles, analise as afirmativas a seguir:
Em quem, se não em vós, se uniformara: I. No que se refere a esses poemas, apesar de os três
pertencerem a Gregório de Matos, eles não mantêm relação
Quem vira uma tal flor, que a não cortara, com o cultismo e o conceptismo, o que se configura como
Do verde pé, da rama florescente; exceção, além de apresentarem temáticas e formas diferentes,
E quem um Anjo vira tão luzente; tendo a cidade da Bahia como cenário.
Que por seu Deus, o não idolatrara? II. Os três poemas pertencem ao gênero lírico, pois tratam do
sentimento amoroso numa perspectiva cultista, característica
Se pois se como Anjo sois dos meus altares, única da poesia do autor baiano, cujo eu lírico sempre foi
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda, devotado a um sentimento amoroso, idealizado à moda de
Livrara eu de diabólicos azares. Platão.
III. Os textos se caracterizam formalmente como sonetos, que
Mas vejo, que por bela, e por galharda, pertencem a gêneros diferentes. Os dois primeiros são satíricos,

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Aula 7 – Barroco II
e o terceiro, lírico amoroso, razão pela qual a produção poética Questão 05 (Uepa 2014)
de Gregório de Matos é vista por críticos e historiadores como Costumes, usos e manhas nossas aparecem-lhe nos versos em
retrato da sociedade baiana do século XVII. alusões, referências, expressões, que documentam o grau
IV. Nos três textos, o poeta revela profundo desprezo por adiantado da mestiçagem entre os três fatores da nossa gente
aspectos diferentes: no primeiro, não valoriza a imagem da que aqui se vinha operando desde o primeiro século da nossa
mulher; no segundo, rejeita Deus, uma vez que, na terceira existência. É sobretudo esta feição documental da sociedade do
estrofe, o responsabiliza pelos pecados humanos. No terceiro seu tempo que sobreleva Gregório de Matos aos seus
texto, critica ardorosamente a sociedade baiana. contemporâneos e ainda a todos os poetas coloniais antes dos
V. Gregório de Matos, nos dois primeiros poemas, apresenta mineiros, todos eles sem fisionomia própria. O único que em
peculiaridades do estilo Barroco. No texto 1, “Anjo no nome, suma a tem é ele.
Angélica na cara”, há o conflito entre o espiritual e o terreno; no VERISSÍMO: 1998
texto 2, em “Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado”, há a
religiosidade, reveladora de contradição entre a vida de pecado Segundo Veríssimo, os poemas de Gregório de Matos Guerra,
e a confissão de arrependimento. pelo que documentam, isto é, comunicam, permitem afirmar
que:
Está CORRETO apenas o que se afirma em a) os versos do poeta registram a pureza étnico-racial da
a) I, II e III. sociedade baiana dos seiscentos.
b) I, II, III e IV. b) a poesia do poeta era inspirada em documentos oficiais da
c) I e IV. época.
d) IV. c) o teor documental de seus poemas expressa com fidelidade a
e) V. Bahia, e ainda é responsável pela originalidade de sua poética.
d) sua poesia, por ser um documento social da época, é
Questão 04 (Imed 2015) medíocre se comparada a dos árcades.
Leia o texto abaixo, de Gregório de Matos Guerra: e) o poeta é o único representante do Barroco brasileiro que
não tem fisionomia própria.
A INSTABILIDADE DAS COUSAS DO MUNDO
Questão 06 (ENEM 2014)
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Quando Deus redimiu da tirania
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura, Quando Deus redimiu da tirania
Em contínuas tristezas a alegria. Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Porém se acaba o Sol, por que nascia? Páscoa ficou da redenção o dia.
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura? Páscoa de flores, dia de alegria
Como o gosto da pena assim se fia? Àquele Povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza. Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Começa o mundo enfim pela ignorância, Nos livrou de tão vil calamidade.
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância. Quem pode ser senão um verdadeiro
Considere as seguintes assertivas a partir do texto: Deus, que veio estirpar desta cidade
I. Tal soneto é característico do período barroco brasileiro, O Faraó do povo Brasileiro.
momento em que o homem do século XVII está divido entre os DAMASCENO. D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos.
valores antropocêntricos do Renascimento e as amarras do
pensamento medieval restituído pela Contrarreforma. Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que
II. O soneto revela o dualismo que envolve o homem barroco, apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos
marcado por incertezas e inconstâncias. apresenta temática expressa por:
III. O soneto apresenta a preocupação do poeta com a a) visão cética sobre as relações sociais.
efemeridade da vida e das coisas. Quais estão corretas? b) preocupação com a identidade brasileira.
a) Apenas I. c) crítica velada à forma de governo vigente.
b) Apenas III. d) reflexão sobre os dogmas do cristianismo.
c) Apenas I e II. e) questionamento das práticas pagãs na Bahia.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III. Questão 07 (UFRGS)
Leia o seguinte soneto de Gregório de Matos.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Largo em sentir, em respirar sucinto, c) o processo de espalhamento e recolha, que auxilia na crítica
Peno, e calo, tão fino, e tão lento, virulenta a uma realidade degradada.
Que fazendo disfarce do tormento, d) a utilização de imagens poéticas fragmentárias, que retratam
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto. uma realidade em processo de modernização.
e) a prevalência de um lirismo nacionalista, exteriorizado
O mal, que fora encubro, ou me desminto,
também na utilização de neologismo.
Dentro no coração é que o sustento:
Com que, para penar é sentimento,
Para não se entender, é labirinto. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondo efeito: Questão 01 (Imed 2016)
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros. Leia o texto abaixo, de Gregório de Matos Guerra:

Mas oh do meu segredo alto conceito! A MARIA DE POVOS, SUA FUTURA ESPOSA
Pois não chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito. Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Considere as seguintes afirmações. Em tuas faces a rosada Aurora,
I - O poema é um exemplo da poesia satírica de Gregório de Em teus olhos e boca, o Sol e o dia:
Matos, a qual lhe valeu a alcunha de "Boca do Inferno", por
escarnecer de pessoas, situações e costumes de seu tempo. Enquanto, com gentil descortesia,
II - Na segunda estrofe, o poema expressa a oposição entre O ar, que fresco Adônis te enamora,
essência e aparência, sustentando que o sofrimento é ocultado Te espalha a rica trança voadora,
aos olhos do mundo. Da madeixa que mais primor te envia:
III - Segundo as duas últimas estrofes do poema, a opção pelo
silêncio com relação à dor e às angústias internas contrapõe-se Goza, goza da flor da mocidade,
aos ruídos da natureza. Que o tempo troca, a toda a ligeireza,
Quais estão corretas? E imprime em cada flor uma pisada.
a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III. e) I, II e III. Oh não guardes que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza,
Questão 08 Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da
República em todos os membros, e inteira definição do que em Analise as assertivas abaixo a partir do texto:
todos os tempos é a Bahia. I. O soneto lírico se estrutura na oposição entre dois campos
semânticos, que pode ser evidenciado, especialmente, na
Que falta nesta cidade?... Verdade. comparação entre a primeira a última estrofes.
Que mais por sua desonra?... Honra. II. Em tal soneto, percebe-se o tema do carpe diem, proveniente
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha. dos clássicos grecolatinos, que converge com a preocupação
do homem barroco brasileiro em relação à efemeridade da vida
O demo a viver se exponha, e à repulsa pela morte.
Por mais que a fama a exalta, III. O autor do soneto, Gregório de Matos Guerra, cultivou a
Numa cidade onde falta poesia sacra, lírica e satírica. Também escreveu poemas
Verdade, Honra, Vergonha. graciosos e pornográficos. Representante do período barroco,
também foi conhecido como “Boca de Inferno”.
Quem a pôs neste socrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição. Quais estão corretas?
E no meio desta loucura?... Usura. a) Apenas I.
Notável desaventura b) Apenas III.
De um povo néscio e sandeu, c) Apenas I e II.
Que não sabe que o perdeu d) Apenas II e III.
Negócio, Ambição, Usura. e) I, II e III.

Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto Questão 02 (G1 - ifsp 2016)


cultural do Barroco encontrados no poema de Gregório de Leia o soneto abaixo, de Gregório de Matos Guerra, para
Matos, são responder à questão.
a) a busca pela perfeição formal, privilegiando o tema da “arte
pela arte”. Fábio: que pouco entendes de finezas:
b) o uso de versos brancos, numa métrica heterogênea, Quem faz só o que pode, a pouco se obriga
buscando o lirismo presente em tudo que é irrisório e banal. Quem contra os impossíveis se fatiga,

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Aula 7 – Barroco II
a esse cede o Amor em mil 1ternezas. Simples aceitas do sagaz Brichote.

Amor comete sempre altas empresas: Oh se quisera Deus, que de repente


Pouco amor, muita sede não mitiga: Um dia amanheceras tão sisuda
Quem impossíveis vence, esse é que instiga Que fora de algodão o teu capote
vencer por ele muitas estranhezas. (Gregório de Matos)
Poema II
As durezas da cera, o Sol abranda,
a da terra as branduras endurece: Horas contando, numerando instantes,
Atrás do que resiste, o raio é que anda. Os sentidos à dor, e à glória atentos,
Cuidados cobro, acuso pensamentos,
Quem vence a resistência, se enobrece: Ligeiros à esperança, ao mal constantes.
Quem faz o que não pode, impera e manda:
Quem faz mais do que pode, esse merece. Quem partes concordou tão dissonantes?
Quem sustentou tão vários sentimentos?
1ternezas: ternuras Pois para a glória excedem de tormentos,
Para martírio ao bem são semelhantes.
GUERRA, Gregório de Matos. A um namorado, que se
presumia de obrar finezas. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. O prazer com a pena se embaraça;
Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Colonial. São Paulo: Porém quando um com outro mais porfia,
Perspectiva, 1979. p.65-66. O gosto corre, a dor apenas passa.

A leitura atenta do texto permite afirmar que Vai ao tempo alterando a fantesia,
a) se trata de soneto em versos decassílabos e que, portanto, Mas sempre com vantagem na desgraça,
escapa, em alguma medida, à forma e à temática do Barroco. Horas de inferno, instantes de alegria.
b) a temática da mitologia clássica – Amor, ou Eros, presente
nos dois primeiros quartetos – é o que caracteriza o soneto (Gregório de Matos)
acima como Barroco.
c) a recorrência do pronome “quem”, ao longo dos dois I. Além de poeta satírico, o Boca do Inferno também cultivou a
primeiros quartetos, que culmina na última estrofe, revela as poesia lírica, composta por temas diversificados, pois nos legou
contradições típicas do Barroco. uma lírica amorosa, erótica e religiosa e até de reflexão sobre o
d) o fato de o eu lírico dirigir-se a “Fábio” e de fazer-lhe sofrimento, a exemplo do poema II.
recomendações, na forma de soneto, assevera sua matriz
contraditória e, portanto, barroca. II. Considerado tanto poeta cultista quanto conceptista, o autor
e) a oposição entre fazer apenas o possível, de um lado, e fazer baiano revela criatividade e capacidade de improvisar, segundo
o impossível, de outro, confere feição barroca ao poema, comprovam os versos do poema I, em que realiza a crítica à
pontilhando-o de antíteses. situação econômica da Bahia, dirigida, na época, por Antônio
Luís da Câmara Coutinho.
Questão 03 (G1 - ifsp 2016)
Gregório de Matos, poeta baiano, que viveu no século XVI, III. Em Triste Bahia, poema I, musicado por Caetano Veloso,
produziu uma poesia em que satiriza a sociedade de seu tempo. Gregório de Matos identifica-se com a cidade, ao relacionar a
Execrado no passado por seus conterrâneos, hoje é situação de decadência em que se encontram tanto ele quanto
reconhecido como grande poeta, sendo, inclusive, sua poesia a cidade onde vive. O poema abandona o tom de zombaria,
satírica fonte de pesquisa histórica. atenuando a sátira contundente para tornar-se um quase
Leia os poemas e analise as proposições a seguir: lamento.

Poema I IV. Os dois poemas são sonetos, forma fixa herdada do


Classicismo, muito pouco utilizada pelo poeta baiano, que
Triste Bahia! Oh quão dessemelhante desprezou a métrica rígida e criou poesia em versos brancos e
Estás, e estou do nosso antigo estado! livres.
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vejo eu já, tu a mi abundante. V. Como poeta barroco, fez uso consciente dos recursos
estéticos reveladores do conflito do homem da época, como se
A ti tocou-te a máquina mercante, faz presente na antítese que encerra o II poema: “Horas de
Que em tua larga barra tem entrado, inferno, instantes de alegria”.
A mim foi-me trocando, e tem trocado
Tanto negócio, e tanto negociante. Estão CORRETAS apenas
a) I, II, III e V.
Deste em dar tanto açúcar excelente b) I, II e IV.
Pelas drogas inúteis, que abelhuda c) IV e V.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

d) I, III e IV. Questão 06


e) I, IV e V. (Uepa 2014) Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Definição do amor Gregório de Matos Guerra
Mandai-me, Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva Assinale a alternativa que contém uma característica da
do Amor a ilustre prosápia, comunicação poética, típica do estilo Barroco, existente no
E de Cupido as proezas. quarteto acima.
a) Reflexão sobre o caráter humano da divindade.
Dizem que de clara escuma, b) Associação da natureza com a permanência da realidade
dizem que do mar nascera, espiritual.
que pegam debaixo d’água c) Presença da irreverência satírica do poeta com base no
as armas que o Amor carrega. paradoxo.
d) Utilização do pleonasmo para reforçar a superioridade do
[...] cristianismo sobre o protestantismo.
e) Uso de ideias contrastantes com base no recurso da antítese.
O arco talvez de pipa,
A seta talvez esteira,
Questão 07 (Enem 2ª aplicação 2010)
Despido como um maroto,
Cego como uma toupeira. Gregório de Matos definiu, no século XVII, o amor e a
sensualidade carnal.
[...] O amor é finalmente um embaraço de pernas, união de
barrigas, um breve tremor de artérias.
E isto é o Amor? É um corno. Uma confusão de bocas, uma batalha de veias, um
Isto é o Cupido? Má peça. rebuliço de ancas, quem diz outra coisa é besta.
VAINFAS, R. “Brasil de todos os pecados”. Revista de História.
[...] Ano1, nº 1. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, nov. 2003.
O amor é finalmente
Um embaraço de pernas, Vilhena descreve de seu amigo Filopono, no século XVIII, a
Uma união de barrigas, sensualidade nas ruas de Salvador.
Um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas, Causa essencial de muitas moléstias nesta cidade é a
Uma batalha de veias, desordenada paixão sensual que atropela e relaxa o rigor da
Um reboliço de ancas, Justiça, as leis divinas, eclesiásticas, civis e criminais.
Quem diz outra coisa é besta. Logo que anoutece, entulham as ruas libidinosos, vadios e
ociosos de um e outro sexo. Vagam pelas ruas e, sem pejo,
Gregório de Matos: Poemas escolhidos (Seleção, prefácio e fazem gala da sua torpeza.
notas de José Miguel Wisnik). São Paulo: Cia. das Letras, 2010, VILHENA, L.S. “A Bahia no século XVIII”. Coleção Baiana. v. 1.
p. 301-312 (fragmento). Salvador: Itapuã, 1969 (adaptado).
Questão 04 (G1 - cftmg 2016)
O poema de Gregório de Matos demarca um processo de A sensualidade foi assunto recorrente no Brasil colonial.
interlocução que é evidenciado pelo(a) Opiniões se dividiam quando o tema afrontava diretamente os
a) voz narrativa atribuída ao autor. “bons costumes”. Nesse contexto, contribuía para explicar
b) evocação de Cupido, nas 4 primeiras estrofes. essas divergências
c) conselho dado, na 4ª estrofe, aos personagens. a) a existência de associações religiosas que defendiam a
d) pronome de tratamento direcionado ao ouvinte. pureza sexual da população branca.
b) a associação da sensualidade às parcelas mais abastadas da
Questão 05 (G1 - cftmg 2016) sociedade.
O termo grego “retórica” significa, literalmente, a arte de falar c) o posicionamento liberal da sociedade oitocentista, que
bem. Ele tem sido utilizado desde o Período Clássico para tratar reivindicava mudanças de comportamento na sociedade.
da organização do discurso e do uso da linguagem para fins d) a política pública higienista, que atrelava a sexualidade a
persuasivos. grupos socialmente marginais.
Dentre as estratégias retóricas utilizadas por Gregório de Matos, e) a busca do controle do corpo por meio de discurso ambíguo
distingue-se a que associava sexo, prazer, libertinagem e pecado.
a) presença de argumentos contrários ao senso comum.
b) construção de diálogos com diferentes interlocutores. Questão 08 (Ufes)
c) apresentação dos argumentos principais na introdução. O poema abaixo do "Boca de Inferno" representa uma fase e
d) menção a deuses gregos para confirmação dos argumentos. um estilo da literatura brasileira.

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Aula 7 – Barroco II
Leia o poema e as afirmativas seguintes e assinale a alternativa d) O Fidalgo de solar
CORRETA. se dá por envergonhado
de um tostão pedir prestado
Seis horas enche e outras tantas vaza para o ventre sustentar:
A maré pelas margens do oceano, diz, que antes o quer furtar
E não larga a tarefa um ponto no ano, por manter a negra honra
Porquanto o mar rodeia, e o sol abrasa. e) Que és terra homem, e em terra hás de tornar-te,
te lembra hoje Deus por sua Igreja.
Desde a esfera primeira opaca, ou rasa,
A Lua com impulso soberano Questão 10
Engole o mar por um secreto cano, (Ufsm 2012) A desarmonia e a contradição são características
E quando o mar vomita, o mundo arrasa. predominantes no Barroco. Observe os fragmentos poéticos de
Gregório de Matos, a seguir transcritos, e verifique qual(quais)
Muda-se o tempo, e suas temperanças, confirma(m) essas características.
Até o céu se muda, a terra, os mares, I. "Amanheceu o dia prometido,/famoso, alegre, claro e
E tudo está sujeito a mil mudanças. prazenteiro;/bom dia, disse eu, para viagem.”
II. "O ódio é da alma infame companhia/a paz deixou-a Deus à
Só eu, que todo o fim de meus pesares cristandade;/mas arrastar por força uma vontade,/em vez de
Eram de algum minguante as esperanças, caridade é tirania.”
Nunca o minguante vi de meus azares. III. "De que pode servir falar quem cala?/Nunca se há de falar o
que se sente,/Sempre se há de sentir o que se fala."
I - O poema, do período Barroco e autoria de Gregório de
Matos, tem como temática os males da vida do poeta, Está(ão) correta(s)
salientando a constante transformação das coisas, ressaltando a) apenas I.
que num mundo de eternas mudanças só a sua dor permanece. b) apenas I e II.
II - A primeira estrofe do poema expressa a consciência de c) apenas III.
mudança e do constante movimento da vida, contrastando com d) apenas I e III.
a última, que afirma a permanência de todos os males do poeta. e) apenas II e III.
III - O poema, construído em decassílabo, com hipérbatos e
metáforas, tem na personificação da Lua a expressão do Questão 11
cultismo, uma prática barroca referente aos astros celestes O cultismo e o conceptismo são partes construtivas do Barroco
oriunda da Contra-Reforma. que não se excluem, pois é possível localizar no mesmo autor e
Está(ão) correta(s) até no mesmo texto os dois elementos. O cultismo é perceptível
a) Apenas I. no rebuscamento da linguagem, pelo abuso no emprego de
b) Apenas II. figuras semânticas, sintáticas e sonoras. O conceptismo
c) Apenas III. valoriza a atitude intelectual, daí o emprego de sofismas,
d) Apenas I e II. silogismos, paradoxos... É correto identificar um de tais
e) I, II e III. elementos em:
A) Ornemos nossas testas com as flores
Questão 09 (Uepa 2012) E façamos de feno um breve leito;
Gregório de Matos Guerra apresenta, ao lado de versos líricos Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
amorosos e religiosos, versos de uma forte postura crítica Gozemos do prazer de sãos amores.
diante dos fatos ocorridos na Bahia do século XVII. Nestes
poemas, a ironia corrosiva do poeta expõe os hábitos hipócritas B) Anjo no nome, Angélica na cara!
da sociedade da época. Neles invadiu a vida privada dos Isso é ser flor, e Anjo juntamente
cidadãos baianos, mesmo a dos grupos de mais prestígio, Ser Angélica flor, e anjo florente;
apurando fatos, investigando, esquadrinhando a moral e Em quem se não em vós se uniformara?
costumes daquela sociedade imortalizando seu discurso
denunciador como o “Boca do Inferno”. Com base nesta C) Acaso são estes
afirmação, marque a alternativa que demonstra claramente o Os sítios formosos,
discurso irônico de Gregório de Matos. Aonde passava
a) Do Prado mais ameno a flor mais pura, Os anos gostosos?
Que em fragrâncias o alento há desatado São estes os prados
Hoje a fortuna insípida há roubado. Aonde brincava,
b) Filhós, fatias, sonhos, mal-assadas Enquanto pastava
Galinhas, porco, vaca, e mais carneiro, O manso rebanho?
Os perus em poder do Pasteleiro,
c) A Deus vão pensamento, a Deus cuidado, D) Almas, que um dia no meu peito ardente
Que eu te mando de casa despedido Derramastes dos sonhos a semente,
Porque sendo de uns olhos bem nascidos.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Mulheres, que eu amei! c) Os poemas religiosos de Gregório de Matos fundiram a


Anjos louros do céu! virgens serenas! contemplação da divindade, o complexo de culpa, o desejo de
Madonas, Querubins, ou Madalenas! arrependimento e o horror de ser pó, sensações, enfim,
Surgi! Aparecei! frequentes no atormentado espírito barroco.
d) O significado social do Barroco brasileiro foi marcante, uma
E) A praça! A praça é do povo vez que a poesia de Gregório de Matos revestiu-se de alto
Como o céu é do condor! sentido crítico aos vícios e violências da sociedade colonial.
É o antro onde a liberdade e) A vertente lírica da poética de Gregório de Matos cultuou o
Cria águias em seu calor. amor feito de pequenos afetos, da meiga ternura e dos torneios
gentis, tendo como cenário o ambiente campestre e pastoril.
Questão 12 (UFV)
Leia atentamente o poema: Questão 14 (Fatec 2002)
AS COUSAS DO MUNDO
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura, Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Em tristes sombras morre a formosura, Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Em contínuas tristezas a alegria. Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Mostra o patife da nobreza o mapa:
Como a beleza assim se transfigura? Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Como o gosto da pena assim se fia? Quem menos falar pode, mais increpa;
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância, A flor baixa se inculca por tulipa;
E na alegria sinta-se tristeza. Bengala hoje na mão, ontem garlopa.
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza Para a tropa do trapo vazo a tripa
(MATOS, Gregório de."Poemas escolhidos" São Paulo: Cultrix, E mais não digo, porque a Musa topa
1997. p. 317.) Em apa, epa, ipa, opa, upa.

Assinale a afirmativas que insere o autor e seu texto em uma (Gregório de Matos Guerra, "Seleção de Obras Poéticas")
visão do mundo de século XVII:
a) O poeta baiano vale-se da linguagem figurada para persuadir Fica claro, no poema acima, que a principal crítica do autor à
o leitor e convencê-lo da estabilidade da beleza e da felicidade. sociedade de sua época é feita por meio da
b) A aproximação de sentimentos contrastantes, como a tristeza a) denúncia da proteção que o mundo de então dava àqueles
e a alegria, nega a tendência paradoxal da poesia do século que agiam de modo condenável, embora sob a capa das leis da
XVII. Igreja.
c) O poema explora a inconstância dos bens mundanos através b) enumeração de certos tipos que, por seus comportamentos,
de um jogo de idéias e palavras que tanto motivou o escritor e revelam um roteiro que identifica e recomenda a ascensão
reflete uma herança classicista. social.
d) A retomada de elementos da natureza e da melancolia c) elaboração de uma lista de atitudes que deviam ser evitadas,
identifica o soneto com a produção poética de inspiração por não condizerem com as práticas morais encontradas na alta
byroniana. sociedade.
e) O traço temático caracteristicamente barroco presente no d) caracterização de comportamentos que, embora sejam
texto é o caráter fugidio das coisas do mundo. moralmente condenáveis, são dissimulados em seus opostos.
e) comparação de valores e comportamentos da faixa mais
Questão 13 (UFV) humilde daquela sociedade com os da faixa mais nobre e
As que se seguem vinculam a poesia de Gregório de Matos aos aristocrática.
princípios estéticos e ideológicos do Barroco brasileiro. Assinale
aquela que não se aplica a obra poética de Gregório: Questão 15
a) A produção literária de Gregório de Matos dividiu-se entre a A cada canto um grande conselheiro
temática lírico-religiosa e uma visão crítica das mazelas sociais que nos quer governar cabana e vinha:
oriundas do processo de colonização no Brasil. não sabem governar sua cozinha,
b) O "Boca do Inferno" insurgiu-se não só contra os desmandos e querem governar o mundo inteiro!
administrativos e políticos da Bahia do século XVII, mas contra
o próprio ser humano, que, na concepção do poeta, é por Em cada porta um bem frequente Olheiro
natureza corrupto e mau. da vida do Vizinho e da Vizinha,

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Aula 7 – Barroco II
pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha
para levar à Praça e ao Terreiro.

Muitos Mulatos desavergonhados


trazendo pelos pés aos Homens nobres:
posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados


todos os que não furtam, muito pobres:
eis aqui a Cidade da Bahia.
Gregório de Matos

(CEFET-PI/2005) Marque a alternativa que apresenta a visão do


autor destacada no texto.
a) Engajado nos movimentos políticos de seu tempo, o autor
critica os métodos cruéis da colonização portuguesa.
b) Refletindo as contradições e conflitos da época, o autor
dirige sua sátira para a denúncia dos vícios da sociedade
baiana.
c) Descontente com a coroa portuguesa, o autor denuncia a
exploração imposta pelo mercantilismo português.
d) Gregório descreve sua terra como expressão do sincretismo
cultural, político e religioso.
e) Retratando fielmente a realidade de seu tempo, o autor
mostra de forma lírica a convivência entre raças na Bahia.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

Na argumentação, corpo central do texto, o tema é esclarecido,


AULA 8 - BARROCO III confirmando-o com exemplos bíblicos, experiências pessoais,
ensinamento dos doutores da Igreja, da vida dos santos ou dos
1. Padre Antônio Vieira filósofos e escritores pagãos, amplificando-o com causas, com
“Todo rebuscamento que aflora na arte barroca é reflexo do efeitos e com circunstâncias. Deve-se ainda prever os argumentos
conflito entre o terreno e o celestial, o homem e Deus contrários e refutá-los. Pelos argumentos, o pregador induz seus
(antropocentrismo e teocentrismo), o pecado e o perdão, a ouvintes a uma ação ou a uma decisão. Por fim, a pregação
religiosidade medieval e o paganismo renascentista, o material e o encaminha-se para o seu final, para a peroração, passagem em
espiritual, dilema que tanto atormentava o homem do século XVII.” que o sermonista deve lançar suas conclusões, buscando persuadir
os ouvintes.
José de NICOLA
Sermão da Quinta Dominga da Quaresma, do Padre António
“A literatura barroca, no afã de traduzir em forma especial a Vieira
ideologia do homem seiscentista polarizado por forças O Domingo das verdades. No Maranhão a corte da mentira. O
contraditórias e inspirado pela exaltação do mistério galante apólogo do diabo. O M de Maranhão. No Maranhão até o
religioso,apresenta atributos identificáveis.È uma literatura que sol e os céus mentem.
exprime o sentido profundo do drama do homem e do mundo, a
vocação de sentir a vida dramaticamente, o sentimento trágico de A este Evangelho do Domingo Quinto da Quaresma chamais
existência, a angústia do homem em face do Cosmo a ideia da comumente o domingo das verdades. Para mim todos os domingos
salvaçãodo único humano por meio da arte.” Afrânio COUTINHO têm este sobrenome, porque em todos prego verdades, e muito
claras, como tendes visto. Por me não sair, contudo, do que hoje
* Lembrar que o Conceptismo é o rebuscamento do pensamento, todos esperam, estive considerando comigo que verdades vos diria,
do plano do conteúdo, que se manifesta na organização das ideias e, segundo as notícias que vou tendo desta nossa terra, resolvi-me
de forma complexa. a vos dizer uma só verdade. Mas que verdade será esta? Não
gastemos tempo. A verdade que vos digo é que no Maranhão não
Antônio Vieira nasceu em Lisboa, no ano de 1608, e morreu na há verdade.
Bahia, em 1697, deixando um legado de cerca de 200 sermões, (...) Cuida o homem nobre hoje que está em altura de honrado,
que fizeram com que o poeta Fernando Pessoa o chamasse de e amanhã acha-se infamado e envilecido. Cuida a donzela
“Imperador da língua portuguesa”. recolhida que está em altura de virtuosa, e amanhã acha-se
Vieira foi, nas palavras de Marco Maciel, “catequista de murmurada pelas praças. Cuida o eclesiástico que está em altura
indígenas, pregador jesuíta, orador em cortes europeias, de bom sacerdote, e amanhã acha-se com reputação de mau
missionário, professor de Humanidades e de Filosofia, homem de homem. Enfim, um dia estais aqui em uma altura, e ao outro dia
Estado, pensador de larga visão, de enorme atividade epistolar e noutra, porque os lábios são como o astrolábio. É isto assim? A vós
arguto ator em política externa, diplomata-síntese de sua época”. mesmos o ouço, que eu não o adivinhei. Vede se é certa a minha
Em seus sermões manifestou todo seu talento como orador e verdade: que não há verdade no Maranhão.
refletiu tanto sobre as mais elevadas questões espirituais, quanto
sobre questões cotidianas e diversos problemas sociais e políticos 1.2 Os Sermões
de seu tampo, no Brasil e em Portugal. Características gerais:
Os sermões de Vieira eram mais que uma forma de edificação · Utilização contínuas de passagens da Bíblia e de todos os
espiritual e moral; eram, também, instrumentos de ação política e recursos da oratória jesuítica para convencer os fiéis de sua
social, pois, através deles, o padre procurava intervir em defesa de mensagem, mesmo quando trata de temas cotidianos.
grandes causas como a do fim da escravidão dos índios. · Ataca os vícios (corrupção, violência, arrogância, etc.) e
Com seus sermões em estilo conceptista, Vieira ataca os vícios defende as virtudes cristãs (religiosidade, caridade, modéstia, etc.)
morais, defende as virtudes cristãs, exalta o império português, · Combate os hereges, os indiferentes à religião e os católicos
propõe o retorno dos cristãos novos (judeus) aos territórios lusos, desleixados em relação à Igreja.
combate os hereges e defende os índios, numa prosa repleta de · Defende abertamente os índios. Mantém-se ambíguo frente
metáforas, alegorias e inesperadas comparações e fazendo uso de aos escravos negros: ora tenta justificar a escravidão, ora condena
estratégias de retórica clássica. veementemente seus malefícios éticos e sociais.
De acordo com Karina de Freitas Silva Fernández, os sermões · Exalta os valores que nortearam a construção do grande
deviam ser construídos a partir de passos modelares rigorosamente império português. E julga (de forma messiânica) que este império
adotados pelo pregador. Deviam compor-se de prólogo, deveria ser reconstruído no Brasil.
argumentação e peroração. O prólogo, geralmente, era dividido em · Apresenta uma linguagem de tendência conceptista, de notável
tema, intróito e invocação. O tema consiste na enunciação e elaboração, grande riqueza de ideias e imagens espetaculares.
justificativa da escolha da sequência evangélica sobre a qual
pretende fundamentar o sermão. O intróito se constitui da Sermão da Sexagésima - Trechos
exposição de um plano para o sermão, ou seja, o pregador
Mas pergunto: E se esse semeador evangélico, quando saiu,
apresenta a ideia ou ideias fundamentais que deseja desenvolver.
achasse o campo tomado; se se armassem contra ele os espinhos;
E a invocação é a parte do prólogo em que se pede auxílio e
se se levantassem contra ele as pedras, e se lhe fechassem os
inspiração divina, quase sempre à Virgem Maria.
caminhos que havia de fazer? Todos estes contrários que digo e

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todas estas contradições experimentou o semeador do nosso omnipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do
Evangelho. Começou ele a semear (diz Cristo), mas com pouca que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a
ventura. «Uma parte do trigo caiu entre espinhos, e afogaram-no os palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, porque não vemos
espinhos». Outra parte caiu sobre pedras, e secou-se nas pedras hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão
por falta de humidade». «Outra parte caiu no caminho, e pisaram- importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar
no os homens e comeram-no as aves. Ora vede como todas as pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para
criaturas do Mundo se armaram contra esta sementeira. aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.
Agora torna a minha pergunta: E que faria neste caso, ou que devia
fazer o semeador evangélico, vendo tão mal logrados seus Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de
primeiros trabalhos? Deixaria a lavoura? Desistiria da sementeira? um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do
Ficar-se-ia ocioso no campo, só porque tinha lá ido? Parece que ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio
não. Mas se tornasse muito depressa a buscar alguns instrumentos de um sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer o
com que alimpar a terra das pedras e dos pregador com a doutrina, persuadindo; há-de concorrer o ouvinte
espinhos, seria isto desistir? Seria isto tornar atrás? -- Não por com o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a
certo. graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são
necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é
Não o desanimou nem a primeira nem a segunda nem a terceira cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e
perda; continuou por diante no semear, e foi com tanta felicidade, é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há
que nesta quarta e última parte do trigo se restauraram com mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma
vantagem as perdas do demais: nasceu, cresceu, espigou, alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo?
amadureceu, colheu-se, mediu-se, achou-se que por um grão
multiplicara cento. Oh que grandes esperanças me dá esta Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é
sementeira! Oh que grande exemplo me dá este semeador! necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a
doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem
O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a
palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa conversão das almas por meio da pregação depende destes três
em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles
espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do
riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pregador, ou por parte de Deus?
pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a
palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os Sendo, pois, certo que a palavra divina não deixa de frutificar por
corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das parte de Deus, segue-se que ou é por falta do pregador ou por falta
coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que dos ouvintes. Por qual será? Os pregadores deitam a culpa aos
atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, ouvintes, mas não é assim. Se fora por parte dos ouvintes, não
porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são fizera a palavra de Deus muito grande fruto, mas não fazer nenhum
os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende fruto e nenhum efeito, não é por parte dos ouvintes. Provo.
e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância,
que se colhe cento por um. Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles fruto
a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto,
Este grande frutificar da palavra de Deus é o em que reparo hoje; e faz efeito. No Evangelho o temos. O trigo que caiu nos espinhos,
é uma dúvida ou admiração que me traz suspenso e confuso, nasceu, mas afogaram-no: Simul exortae spinae suffocaverunt illud.
depois que subo ao púlpito. Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão O trigo que caiu nas pedras, nasceu também, mas secou-se: Et
poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus? Diz natum aruit. O trigo que caiu na terra boa, nasceu e frutificou com
Cristo que a palavra de Deus frutifica cento por um, e já eu me grande multiplicação: Et natum fecit fructum centuplum. De maneira
contentara com que frutificasse um por cento. Se com cada cem que o trigo que caiu na boa terra, nasceu e frutificou; o trigo que
sermões se convertera e emendara um homem, já o Mundo fora caiu na má terra, não frutificou, mas nasceu; porque a palavra de
santo. Este argumento de fé, fundado na autoridade de Cristo, se Deus é tão funda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que
aperta ainda mais na experiência, comparando os tempos nos maus ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos
passados com os presentes. espinhos, não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas
pedras, não frutificou, mas nasceu até nas pedras.
Lede as histórias eclesiásticas, e achá-las-eis todas cheias de
admiráveis efeitos da pregação da palavra de Deus. Tantos Supostas estas duas demonstrações; suposto que o fruto e efeitos
pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta reformação da palavra de Deus, não fica, nem por parte de Deus, nem por
de costumes; os grandes desprezando as riquezas e vaidades do parte dos ouvintes, segue-se por consequência clara, que fica por
Mundo; os reis renunciando os ceptros e as coroas; as mocidades parte do pregador. E assim é. Sabeis, cristãos, porque não faz fruto
e as gentilezas metendo-se pelos desertos e pelas covas; e hoje? -- a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores,
Nada disto. Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem porque não faz fruto a palavra de Deus? --
tantos pregadores como hoje. Por culpa nossa.
Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o
fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo
resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afectado, um
se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos estilo tão encontrado a toda a arte e a toda a natureza? Boa razão
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Aula 8 - Barroco III
é também esta. O estilo há-de ser muito fácil e muito natural. Por a aceitar os argumentos de dois pecadores.
isso Cristo comparou o pregar ao semear: Exiit, qui seminat, d) Jó, de acordo com Vieira, considera que a ocasião e a sorte
seminare. Compara Cristo o pregar ao impediram que a graça divina se manifestasse, enquanto para
semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza Gregório a graça divina não sofre restrições.
que de arte. (...)E possível que somos portugueses e havemos de
e) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da
ouvir um pregador em português e não havemos de entender o que
ovelha perdida, reforçam seus argumentos a favor do perdão como
diz?!
garantia da glória divina.
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM Questão 02 (Ufrgs 2014)
Considere as seguintes afirmações sobre os dois textos.
Questão 01 (Ufrgs 2014) I. Tanto Padre Vieira quanto Gregório de Matos dirigem-se a Deus
Leia o trecho do Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal mediante a segunda pessoa do plural (vós, vos): Gregório
contra as de Holanda, do Padre Antônio Vieira, e o soneto de argumenta que o Senhor está empenhado em perdoá-lo, enquanto
Gregório de Matos Guerra a seguir. Vieira dirige-se a Deus (E que fizestes vós...) para impedir que Jó
seja perdoado.
Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de II. Padre Vieira vale-se das palavras e do exemplo de Jó, figura do
Holanda Velho Testamento, para argumentar que o homem abusa da
Pede razão Jó a Deus, e tem muita razão de a pedir – responde por misericórdia divina ao pecar, e que Deus, de acordo com a ocasião
ele o mesmo santo que o arguiu – porque se é condição de Deus e os argumentos fornecidos por Jó, inclina-se para o castigo no
usar de misericórdia, e é grande e não vulgar a glória que adquire lugar do perdão.
em perdoar pecados, que razão tem, ou pode dar bastante, de os III. Tanto Padre Vieira como Gregório de Matos argumentam sobre
não perdoar? O mesmo Jó tinha já declarado a força deste seu a misericórdia e a glória divinas: assim como Jó, citado por Vieira,
argumento nas palavras antecedentes, com energia para Deus declara que Deus lhe deverá a glória por tê-lo perdoado; Gregório
muito forte: Peccavi, quid faciam tibi? Como se dissera: Se eu fiz, compara-se à ovelha desgarrada que, se não for recuperada, pode
Senhor, como homem em pecar, que razão tendes vós para não pôr a perder a glória de Deus.
fazer como Deus em me perdoar? Ainda disse e quis dizer mais:
Pequei, que mais vos posso fazer? E que fizestes vós, Jó, a Deus Quais estão corretas?
em pecar? Não lhe fiz pouco, porque lhe dei ocasião a me perdoar, a) Apenas I.
e, perdoando-me, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como b) Apenas III.
a causa, a graça que me fizer, e ele dever-me-á a mim, como a c) Apenas I e II.
ocasião, a glória que alcançar. d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Questão 03 (Fuvest 2014)
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Não há trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à
Da vossa piedade me despido; cruz e à paixão de Cristo, que o vosso em um destes engenhos [...].
Porque, quanto mais tenho delinquido, A paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia
Vos tenho a perdoar mais empenhado. sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo
despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo
Se basta a vos irar tanto um pecado, em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as
A abrandar-vos sobeja um só gemido: prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto
Que a mesma culpa, que vos há ofendido, se compõe a vossa imitação, que, se for acompanhada de
Vos tem para o perdão lisonjeado. paciência, também terá merecimento e martírio[...]. De todos os
mistérios da vida, morte e ressurreição de Cristo, os que pertencem
Se uma ovelha perdida e já cobrada por condição aos pretos, e como por herança, são os mais
Glória tal e prazer tão repentino dolorosos.
Vos deu, como afirmais na sacra história, P. Antônio Vieira, “Sermão décimo quarto”. In: I. Inácio & T. Lucca
(orgs.). Documentos do Brasil colonial. São Paulo: Ática, 1993,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada: p.73�75.
Cobrai-a, e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória. A partir da leitura do texto acima, escrito pelo padre jesuíta Antônio
Vieira em 1633, pode-se afirmar, corretamente, que, nas terras
Assinale a alternativa correta a respeito dos textos. portuguesas da América,
a) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da a) a Igreja Católica defendia os escravos dos excessos cometidos
ovelha perdida, elogiam a autoridade divina capaz de perdoar os pelos seus senhores e os incitava a se revoltar.
pecados, mesmo que à custa de sua glória e de seu discernimento.
b) as formas de escravidão nos engenhos eram mais brandas do
b) Jó, de acordo com Vieira, argumenta que há tanta glória em que em outros setores econômicos, pois ali vigorava uma ética
perdoar como em não perdoar, enquanto, para Gregório, o perdão religiosa inspirada na Bíblia.
concedido ao pecador renitente é a prova da glória de Deus.
c) a Igreja Católica apoiava, com a maioria de seus membros, a
c) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da escravidão dos africanos, tratando, portanto, de justificá-la com
ovelha perdida, inibem a autoridade divina que se vê constrangida
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

base na Bíblia. tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a
d) clérigos, como P. Vieira, se mostravam indecisos quanto às causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a
atitudes que deveriam tomar em relação à escravidão negra, pois a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os
própria Igreja se mantinha neutra na questão. pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se
não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que
e) havia formas de discriminação religiosa que se sobrepunham às
lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os
formas de discriminação racial, sendo estas, assim, pouco
pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se
significativas.
não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles
fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os
Questão 04 (Ufsm 2015)
pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não
Os hábitos alimentares variam não só conforme as diferentes deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a
culturas, mas também conforme as condições socioeconômicas das seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
pessoas e suas crenças religiosas. É a isso que se refere Padre (Antônio Vieira, Sermão de Santo Antônio, em:
Antônio Vieira no excerto do Sermão de Santo Antônio ou dos <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000033.pdf>.)
Peixes:
Mas ainda que o Céu e o Inferno se não fez para vós, irmãos O texto trabalha fundamentalmente com duas metáforas: o sal e a
peixes, acabo, e dou fim a vossos louvores, com vos dar as graças terra, que representam, respectivamente, os pregadores (aqueles
do muito que ajudais a ir ao Céu, e não ao Inferno, os que se que deveriam propagar a palavra de Cristo) e os ouvintes (aqueles
sustentam de vós. Vós sois os que sustentais as 1Cartuxas e os que deveriam ser convertidos). O tema central do texto é a reflexão
2Buçacos, e todas as santas famílias, que professam mais rigorosa
sobre as possíveis causas da ineficiência dos pregadores. Para
austeridade; vos os que a todos os verdadeiros cristãos ajudais a tanto, o autor levanta algumas hipóteses. Tendo isso em vista,
levar a penitência das quaresmas; vós aqueles com que o mesmo considere as seguintes afirmativas:
Cristo festejou a Páscoa as duas vezes que comeu com seus 1. Os pregadores não pregam o que deveriam pregar.
discípulos depois de ressuscitado. Prezem-se as aves e os animais 2. Os ouvintes se recusam a aceitar o que os pregadores pregam.
terrestres de fazer esplêndidos e custosos os banquetes dos ricos, 3. Os pregadores não agem de acordo com os valores que pregam.
e vós gloriai-vos de ser companheiros do jejum e da abstinência 4. Os ouvintes agem como os pregadores em vez de agir de acordo
dos justos! Tendes todos quantos sois tanto parentesco e simpatia com o que eles pregam.
com a virtude, que, proibindo Deus no jejum a pior e mais grosseira 5. Os pregadores promovem a si mesmos na pregação ao invés de
carne, concede o melhor e mais delicado peixe. E posto que na promover as palavras de Cristo.
semana só dois se chamam vossos, nenhum dia vos e vedado. Um
só lugar vos deram os astrólogos entre os signos celestes, mas os Constituem hipóteses levantadas pelo autor do texto:
que só de vós se mantêm na terra, são os que têm mais seguros os a) 1 e 3 apenas.
lugares do Céu. b) 3 e 5 apenas.
c) 1, 2 e 4 apenas.
Glossário d) 2, 4 e 5 apenas.
1Cartuxas e 2Buçacos: os pertencentes a essas Ordens Religiosas,
e) 1, 2, 3, 4 e 5.
as quais são conhecidas por sua austeridade.
Questão 06 (Ufpr 2017)
A partir desse fragmento, assinale a alternativa correta.
Vieira é um homem do século XVII. É possível detectar, no texto de
a) Por meio de uma alegoria, Vieira dirige-se, no sermão, aos
Vieira, características da língua portuguesa que divergem de seu
peixes, mostrando que estes merecem apenas elogios, ao passo
uso contemporâneo. Pensando nessa diferença entre o português
que os homens merecem apenas repreensões.
atual e o português usado por Vieira, considere as seguintes
b) Como se vê pelo excerto, Vieira dirige-se aos peixes de forma
afirmativas:
geral, sem fazer menções a espécies de peixes em particular, o que
1. Diferentemente de hoje, o pronome pessoal oblíquo átono
também ocorre no restante do sermão.
antecedia a negação.
c) Vieira, no excerto, estabelece uma antítese entre céu e inferno
2. O “porque” é empregado no texto como conjunção explicativa e
que é reproduzida simbolicamente na contraposição entre peixe e
sua grafia é a mesma usada atualmente.
carne.
3. A conjunção “ou” tem no texto um uso que não é o de
d) O objetivo de Vieira no “Sermão dos Peixes”, conforme se vê
alternância.
pelo excerto, e reforçar nos fiéis católicos a importância de jejuar
nos dias santos como forma de aproximarem-se de Deus.
Assinale a alternativa correta.
e) Contrariamente ao que se esperaria de um texto dessa época, o
a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira.
fragmento do “Sermão dos Peixes” não apresenta um estilo
b) Somente a afirmativa 3 é verdadeira.
rebuscado, muito menos o emprego de uma linguagem rica em
c) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
conceitos.
d) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
e) As afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
Questão 05 (Ufpr 2017)
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Questão 07 (Enem PPL 2014)
Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o
Sermão da Sexagésima
sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na
Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos
terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas
pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus,
quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo

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Aula 8 - Barroco III
como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão que tem mais de natureza que de arte (...) Não fez Deus o céu em
entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez
há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não de palavras. Se uma parte está branco, da outra há de estar negro
é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos (...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas
poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da
poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por pregação, muito distinto e muito claro.
que não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão (Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira)
grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero ¹empeçado: com obstáculo, com empecilho.
começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim,
para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir. Assinale a incorreta sobre o texto de Padre Vieira:
VIEIRA, A. Sermões Escolhidos, v. 2. São Paulo: Edameris, 1965. a) vale-se do estilo conceptista do Barroco, voltando-se para a
argumentação e raciocínio lógicos.
No Sermão da sexagésima, padre Antônio Vieira questiona a b) ataca duramente os pregadores cultistas, devido ao estilo
eficácia das pregações. Para tanto, apresenta como estratégia pomposo, de difícil acesso, e aos exageros da ornamentação.
discursiva sucessivas interrogações, as quais têm por objetivo c) critica o sermão que está preocupado com a suntuosidade
principal linguística e estilística.
a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo d) defende a pregação que tenha naturalidade, clareza e distinção.
que será abordado no sermão. e) mostra que, seguindo o exemplo de Cristo, pregar e semear
b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas afetam o estilo, porque ambas são práticas da natureza.
abordados nas pregações.
c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui Questão 02 (Fac. Albert Einstein - Medicin 2017)
respostas. Concedo-vos que esse índio bárbaro e rude seja uma pedra: vede
d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a o que faz em uma pedra a arte. Arranca o estatuário uma pedra
eficácia das pregações. dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe, e depois que
e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja desbastou o mais grosso, toma o maço, e o cinzel na mão, e
durante os sermões. começa a formar um homem, primeiro membro a membro, e depois
feição por feição, até a mais miúda: ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe
Questão 08 a testa, rasga-lhe os olhos, afia-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-
Leia o seguinte fragmento, extraído do "Sermão de Santo Antônio", lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços,
de Pe. Vieira espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos:
aqui desprega, ali arruga, acolá recama: e fica um homem perfeito,
"(...) o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuamente e talvez um santo, que se pode pôr no altar.
se come: isto é o que padecem os pequenos. São o pão cotidiano VIEIRA, Antônio. Sermões. Porto: Lello & Irmão, 1959.
dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com
tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, O texto, escrito no século XVII, pode ser interpretado como
nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não a) o reconhecimento da humanidade intrínseca dos indígenas e
multem, em que os não defraudem, em que os não comam, africanos, que deveriam possuir os mesmos direitos dos europeus.
traguem e devorem (...)" b) uma analogia entre o trabalho de evangelização desenvolvido
nas colônias e a criação do homem por Deus.
A) o texto é típico exemplo do estilo conceptista, ao apresentar um c) a exigência da escravização dos indígenas que, através do
vocabulário rebuscado e excesso de inversões sintáticas. trabalho forçado, poderiam alcançar a salvação eterna.
B) finaliza com uma gradação decrescente (comam, traguem, d) um discurso contra o trabalho desenvolvido nas missões
devorem) a fim de dar ênfase à voracidade da exploração sofrida jesuíticas implantadas pelos europeus nas colônias americanas.
pelos pequenos.
C) constrói a argumentação por meio da analogia, o que constitui Questão 03
um traço característico da prosa vieiriana. Texto para as próximas duas questões
D) afirma, ao estabelecer uma comparação entre os humildes e o Sermão do Bom Ladrão
pão, alimento de consumo diário, que a exploração dos pequenos é
aceitável porque cotidiana. “O texto de Santo Agostinho fala geralmente de todos os reinos, em
E) apresenta um estilo cultista, caracterizado pela exploração das que são ordinárias semelhantes opressões e injustiças, e diz que,
relações lógicas, da argumentação. entre os tais reinos e as covas dos ladrões — a que o santo chama
latrocínios — só há uma diferença. E qual é? Que os reinos são
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO latrocínios, ou ladroeiras grandes, e os latrocínios, ou ladroeiras,
são reinos pequenos? É o que disse o outro pirata a Alexandre
Questão 01 (Espm 2014) Magno. Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-
tão empeçado¹, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém, ele, que não
estilo tão encontrado toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é era medroso nem lerdo, respondeu assim. — Basta, senhor, que
também essa. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais
Cristo comparou o pregar ao semear, porque o semear é uma arte em uma armada, sois imperador? — Assim é. O roubar pouco é

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os


piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia
bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e
outros definiu com o mesmo nome. Se o Rei de Macedônia, ou
qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata
e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.”
Padre Antônio Vieira

Em relação à estratégia argumentativa empregada por Vieira nesse


trecho do sermão, pode-se afirmar que:
a) o autor utiliza uma linguagem preciosista, a fim de intimidar o fiel
e convencê-lo da veracidade de sua mensagem. C)
b) recorre a torcadilhos e jogos de palavras, com a intenção de http://imagensface.com.br/frases-e-mensagens/charge-politica/2
impressionar o ouvinte com a força da palavra divina. Acesso: 16\03\2014
c) constroi uma espécie de alegoria, recurso típico de sua prática
retórica, para construir uma mensagem com intenção moralizante.
d) prejudica a compreensão da mensagem pelo ouvinte, por conta
das inúmeras inversões sintáticas e do excesso de figuras de
linguagem.
e) faz uso do argumento de autoridade, ao citar Sêneca, para
defender a prática dos imperadores e condenar a prática dos
piratas.

Questão 04
O poeta Fernando Pessoa dizia que Padre Antônio Vieira foi o D)
imperador da Língua Portuguesa. No Sermão acima, o orador http://paulgettynascimento.blogspot.com.br/2012/03/charge-
critica um aspecto da sociedade de sua época que ainda hoje se politica.html
mantém atual e é também criticado na charge: Acesso: 16\03\2014

A)
E)
http://belverede.blogspot.com.br/2013_11_01_archive.html http://rizzolot.wordpress.com/2010/07/
Acesso: 16\03\2014 Acesso: 16\03\2014

Questão 05 (Enem 2012)


Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque
padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor
padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi
composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três.
Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes entraram na
Paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez
para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi
de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as
vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos;
Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós
maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas,
os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação,
B) que, se for acompanhada de paciência, também terá merecimento
http://barradoriachonews.blogspot.com.br/2011/07/charge-politica- de martírio.
kkkkkkkkkk.html VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951
Acesso: 16\03\2014 (adaptado).

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Aula 8 - Barroco III
O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma d) a comparação entre o homem e os elementos da natureza para
relação entre a Paixão de Cristo e comprovar a grandeza moral e espiritual do ser humano.
a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros. e) a negação da afirmação inicial, contrariando a tese da pequenez
b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana. do homem, que passa ser exaltado pela sua humildade.
c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios.
d) o papel dos senhores na administração dos engenhos. Questão 08
e) o trabalho dos escravos na produção de açúcar. O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a
palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa,
Questão 06 em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os
Quando jovem, Antônio Vieira acreditava nas palavras, espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com
especialmente nas que eram ditas com fé. No entanto, todas as riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As
palavras que ele dissera, nos púlpitos, na salas de aula, nas pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a
reuniões, nas catequeses, nos corredores, nos ouvidos dos reis, palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os
clérigos, inquisidores, duques, marqueses, ouvidores, corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das
governadores, ministros, presidentes, rainhas, príncipes, indígenas, coisas do mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que
desses milhões de palavras ditas com esforço de pensamento, atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus,
poucas - ou nenhuma delas - havia surtido efeito. O mundo porque ou a desatendem, ou a desprezam. Finalmente, a terra boa
continuava exatamente o de sempre. O homem, igual a si mesmo. são os corações bons, ou os homens de bom coração; e nestes
Ana Miranda, BOCA DO INFERNO prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e
abundância, que se colhe cento por um ...
“...milhões de palavras ditas com esforço de pensamento.”
(Padre Vieira, "Sermão da Sexagésima")
Essa passagem do texto faz referência a um traço da linguagem
barroca presente na obra de Vieira; trata-se do: Pode-se dizer que os sermões de Vieira revestem-se de um jogo
intelectual no qual se vê o prazer estético do autor para pregar a
a) gongorismo, caracterizado pelo jogo de idéias. palavra de Deus, por meio de uma linguagem altamente elaborada.
b) cultismo, caracterizado pela exploração da sonoridade das No sermão acima, percebe-se os seguintes recursos expressivos
palavras. típicos do barroco:
c) cultismo, caracterizado pelo conflito entre fé e razão. a) antíteses e paradoxos.
d) conceptismo, caracterizado pelo vocabulário preciosista e pela b) alegoria e hipérbatos.
exploração de aliterações. c) analogias e espalhamento e recolha.
e) conceptismo, caracterizado pela exploração das relações d) perífrases e vocabulário erudito.
lógicas, da argumentação. e) metáforas e hipérboles.

Questão 07 Questão 09 (Ufscar 2004 - Adaptada)


"Não é o homem um mundo pequeno que está dentro do mundo O pregar há-de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha
grande, mas é um mundo grande que está dentro do pequeno. ou azuleja. Ordenado, mas como as estrelas. (...) Todas as estrelas
Baste por prova o coração humano, que sendo uma pequena parte estão por sua ordem; mas é ordem que faz influência, não é ordem
do homem, excede na capacidade a toda a grandeza do mundo. que faça lavor. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os
(...) O mar, com ser um monstro indômito, chegando às areias, pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma
para; as árvores, onde as põem, não se mudam; os peixes parte há-de estar branco, da outra há-de estar negro; se de uma
contentam-se com o mar, as aves com o ar, os outros animais com parte está dia, da outra há-de estar noite; se de uma parte dizem
a terra. Pelo contrário, o homem, monstro ou quimera de todos os luz, da outra hão-de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu,
elementos, em nenhum lugar para, com nenhuma fortuna se da outra hão-de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num
contenta, nenhuma ambição ou apetite o falta: tudo confunde e sermão duas palavras em paz? Todas hão-de estar sempre em
como é maior que o mundo, não cabe nele". fronteira com o seu contrário? Aprendamos do céu o estilo da
Padre Antônio Vieira disposição, e também o das palavras.
(Vieira, "Sermão da Sexagésima".)
Em Padre Vieira fundem-se a formação jesuítica e a estética
barroca, que se materializam em sermões considerados a No texto, Vieira critica um certo estilo de fazer sermão, que era
expressão máxima do Barroco em prosa religiosa em língua comum na arte de pregar dos padres dominicanos da época. O uso
portuguesa, e uma das mais importantes expressões ideológicas e da palavra xadrez tem o objetivo de
literárias da Contrarreforma. No trecho acima se percebe na a) defender a ordenação das idéias em um sermão.
construção da argumentação: b) fazer alusão metafórica a um certo tipo de tecido.
a) a utilização da analogia, com o objetivo de condenar a ganância c) comparar o sermão de certos pregadores a uma verdadeira
do ser humano. prisão.
b) o uso recorrente de antíteses e paradoxos, com o intuito de d) mostrar que o xadrez se assemelha ao semear.
ressaltar os conflitos humanos. e) criticar o uso recorrente de antíteses.
c) a utilização da alegoria, como recurso oratório, visando à
persuasão do ouvinte da supremacia dos animais sobre os
homens.

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77
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 10 (Fatec 2005) grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os
Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande
grande fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça [...]. Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser
neles fruto, faz efeito. A palavra de Deus é tão fecunda, que nos como os peixes que se comem uns aos outros. Tão alheia cousa é
bons faz muito fruto e é tão eficaz, que nos maus, ainda que não não só da razão, mas da mesma natureza, que, sendo criados no
faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos não frutificou, mas mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos
nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras não frutificou, mas finalmente irmãos, vivais de vos comer.
nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de VIEIRA, Antônio. "Obras completas do padre Antônio
Deus são as pedras e os espinhos. E por quê? - Os espinhos por Vieira: sermões". Prefaciados e revistos pelo Pe. Gonçalo Alves.
agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e Porto: Lello e Irmão - Editores, 1993. v. III, p. 264-265.
ouvintes de vontades endurecidas são os piores que há. Os
ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm O texto de Vieira contém algumas características do Barroco.
só a ouvir sutilezas, a esperar alantarias, a avaliar pensamentos, e Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela em que NÃO se
às vezes também a picar quem os não pica. confirmam essas tendências estéticas:
a) A utilização da alegoria, da comparação, como recursos
Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um oratórios, visando à persuasão do ouvinte.
entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios, e vencer-se b) A tentativa de convencer o homem do século XVII, imbuído de
uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas práticas e sentimentos comuns ao semipaganismo renascentista, a
nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque retomar o caminho do espiritualismo medieval, privilegiando os
quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se valores cristãos.
despontam na pedra. c) A presença do discurso dramático, recorrendo ao princípio
E com os ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de horaciano de "ensinar deleitando" - tendência didática e
vontades endurecidas serem os mais rebeldes, é tanta a força da moralizante, comum à Contra-Reforma.
divina palavra, que, apesar da agudeza, nasce nos espinhos, e d) O tratamento do tema principal - a denúncia à cobiça humana -
apesar da dureza, nasce nas pedras. através do conceptismo, ou jogo de idéias.
(Padre Antônio Vieira, "Sermão da Sexagésima". Texto e) O culto do contraste, sugerindo a oposição bem x mal, em
editado.) linguagem simples, concisa, direta e expressiva da intenção
barroca de resgatar os valores greco-latinos.
Considere as afirmações seguintes sobre o texto de Vieira.
I - Trata-se de texto predominantemente argumentativo, no qual Questão 12 (Ufrs 2006)
Vieira emprega as metáforas do espinho e da pedra para referir-se Considere as seguintes afirmações sobre o padre Antônio Vieira
àqueles em que a palavra de Deus não prospera. I - Possui um estilo antigongórico, conceptista, caracterizado pela
II - Nota-se no texto a metalinguagem, pois o sermão trata da clareza e pelo rigor sintático, dialético e lógico.
própria arte da pregação religiosa. II - Recusa, como cultista, o elemento imagístico, transformando-o
em mero instrumento de convencimento dos fiéis.
III - À vista da construção essencialmente fundada no jogo de III - Recontextualiza passagens do Evangelho, uma vez que as
idéias, fazendo progredir o tema pelo raciocínio, pela lógica, o texto vincula às ideias que quer expressar, explorando a analogia.
caracteriza-se como conceptista. Quais estão corretas?
IV - Efeito da Revolução Industrial, que reforçou a perspectiva a) Apenas I.
capitalista e o individualismo, esse texto traduz a busca da natureza b) Apenas II.
(pedras, espinhos, .....) como refúgio para o eu lírico religioso. c) Apenas I e III.
V - Vincula-se ao Barroco, movimento estético entre cujos traços d) Apenas II e III.
destaca-se a oscilação entre o clássico (de matriz pagã) e o
medieval (de matriz cristã), a qual se traduz em estados de conflito Questão 13 – (Unifesp 2016)
religioso. Leia o excerto do “Sermão de Santo Antônio aos peixes” de Antônio
Vieira (1608-1697).
Estão corretas apenas as afirmações A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos
a) I, II e III. comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a
b) I, III e V. circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros,
c) II, III e IV. senão que os grandes comem os pequenos. [...] Santo Agostinho,
d) II, III, IV e V. que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste
e) I, II, III e V. escândalo mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes,
para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos
Questão 11 (Ufv) homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso
Leia atentamente o fragmento do sermão do Padre o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão?
Antônio Vieira: Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que
A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que só os tapuias se comem uns aos outros, muito maior açougue é o
comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele
circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e
senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes
era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo

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78
Aula 8 - Barroco III
é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se
hão de comer.
[...]
Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão
declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque a plebe e os
plebeus, que são os mais pequenos, os que menos podem, e os
que menos avultam na república, estes são os comidos. E não só
diz que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e os
devoram: Qui devorant. Porque os grandes que têm o mando das
cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os
pequenos um por um, poucos a poucos, senão que devoram e
engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam. E de que
modo se devoram e comem? Ut cibum panis: não como os outros
comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os
outros comeres é que, para a carne, há dias de carne, e para o
peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano;
porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e
continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos.
São o pão cotidiano dos grandes: e assim como pão se come com
tudo, assim com tudo, e em tudo são comidos os miseráveis
pequenos, não tendo, nem fazendo ofício em que os não
carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em
que os não comam, traguem e devorem: Qui devorant plebem
meam, ut cibum panis. Parece-vos bem isto, peixes?
(Antônio Vieira. Essencial, 2011.)

No sermão, Vieira critica


a) a preguiça desmesurada dos miseráveis.
b) a falta de ambição dos miseráveis.
c) a ganância excessiva dos poderosos.
d) o excesso de humildade dos miseráveis.
e) o excesso de vaidade dos poderosos.

Questão 14
(Unifesp 2016) No sermão, Vieira critica
a) a preguiça desmesurada dos miseráveis.
b) a falta de ambição dos miseráveis.
c) a ganância excessiva dos poderosos.
d) o excesso de humildade dos miseráveis.
e) o excesso de vaidade dos poderosos.

Questão 15
Em “Cuidais que só os tapuias se Comem uns aos outros, muito
maior açougue é o de cá, muito mais se
comem os brancos.” (1o. parágrafo), os termos em destaque foram
empregados, respectivamente, em sentido
a) literal, figurado e figurado.
b) figurado, figurado e literal.
c) literal, literal e figurado.
d) figurado, literal e figurado.
e) literal, figurado e literal.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

burguesia, que nela encontrou a justificativa para o assalto ao


AULA 9 - NEOCLASSICISMO poder nas últimas décadas do século.
Influenciado pelos ideais do Iluminismo, que tinham como base
o racionalismo e a enfatize no aperfeiçoamento pessoal e no
progresso social dentro de uma forte moldura ética, surge o
Neoclassicismo, movimento cultural que reage ao Barroco,
resgatando os valores da Antiguidade Clássica e da Renascença.
Com o Iluminismo, ocorreram mudanças filosóficas, políticas e
sociais. A arte deveria, assim, refletir essas mudanças. No entanto,
estas eram tantas que os homens da época ainda não as tinham
assimilado a ponto de gerar um novo estílo artístico.
Diante disso, os artistas recorreram aos modelos Clássicos,
pautados pelo racionalismo e pelo equilíbrio.

Características Arte Neoclássica:


- Retorno ao passado, pela imitação dos modelos antigos greco-
latinos;
Durante o Renascimento, a burguesia emergente, almejando - Academicismo: adoção dos modelos e das regras ensinadas nas
superar os entraves do sistema feudal, ajudou a sustentar o Antigo escolas ou academias de belas-artes;
Regime. - Arte entendida como imitação da natureza, num verdadeiro culto à
No entanto, apesar de fornecer os recursos humanos e teoria de Aristóteles: a natureza é o modelo de perfeição a ser
financeiros das monarquias absolutas, a burguesia estava imitado.
enquadrada no Terceiro Estado, abaixo do clero e da nobreza, e - Estilo sóbrio, antidecorativo, linear, antissensual, volta-se ao
seus interesses contrastavam com os das camadas dirigentes da desenho, simplicidade da natureza, nobre, sereno, histórico.
sociedade. - Formalismo na composição, refletindo o racionalismo dominante;
Fica claro, então, que a burguesia, dona do capital, logo
contestaria a ordem político-jurídica que organizava o Antigo * Exatidão nos contornos;
Regime.
Esse momento de contestação se deu na “Época das Luzes”. * Harmonia do colorido;
Os temas discutidos giravam em torno da liberdade, do progresso e
do homem. Os racionalistas defendiam a ideia de que o universo *Anatomia correta;
era mutável, estava em constante movimento. Assim, um sistema
estratificado, dividido em castas, logo receberia críticas, e as * Temas históricos ou pagãos.
instituições do Antigo Regime logo sistematicamente atacadas
pelos filósofos.
Os pensadores que mais se empenharam nessas críticas foram
Locke, Montesquieu, Voltaire e Jean-Jaques Rousseau.

Jacques-Louis David - cupido e psiquê


Características da Literatura ÁRCADE:

- Inutilia truncat (cortar o inútil) ― Os poetas árcades


manifestaram um rejeição radical do estilo e espírito barrocos, uma
"O homem só será livre quando o último déspota for vez que retomaram valores da antiguidade clássica: racionalismo,
estrangulado com as entranhas do último padre". equilíbrio, simplicidade, harmonia, beleza. Assim o estilo árcade é
simples, a ordem da frase é direta, sem muitas inversões sintáticas,
Diderot o poema assume, muitas vezes, o tom de diálogo.
Esses pensadores racionalistas afirmavam ter chegado o
“Século das Luzes” (Séc. XVIII). “Tu, Marília, agora vendo
O Iluminismo, portanto, foi um movimento intelectual de caráter Do Amor o lindo retrato
contestador, cuja ideologia se mostrou particularmente sensível à Contigo estarás dizendo

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Que é este o retrato teu. Sobre uma rocha sentado


Sim, Marília, a cópia é tua, Caladamente se queixa:
Que Cupido é Deus suposto: Que para formar as vozes,
Se há Cupido, é só teu rosto Teme, que o ar as perceba.
Que ele foi quem me venceu.”
Cláudio Manuel da Costa
Tomás Antônio Gonzaga
- Efemeridade da Vida e Carpe diem (aproveita o dia) ―
- Aurea mediocritas (dourada mediania, meio termo de ouro) e Fugacidade do tempo. Consciência da brevidade da vida leva o
Fugere urbem (evitar a cidade, fugir da civilização) ― O poeta a aproveitar o momento presente.
racionalismo, a propagação do saber e da ciência e a crença no
progresso moldado pela ética levaram os poetas árcade à “Que havemos de esperar, Marília bela?
exaltação da virtude, da humildade, do comedimento. Seus heróis que vão passando os florescentes dias?
não se caracterizam pela força, são pastores anônimos e felizes. As glórias que vêm tarde já vêm frias,
Deste modo, para que esse ideal de vida simples, humilde e digno e pode, enfim, mudar-se a nossa estrela.
seja alcançado, deve-se fugir da civilização, buscando-o em meio à Ah! não, minha Marília,
natureza. aprovei-te o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças,
LXII e ao semblante a graça!”
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros; Tomás Antônio Gonzaga
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Côrte rico, e fino. - O objetivismo e Universalismo. Neutralização da individualidade
do poeta, que recorria a emoções genéricas, dissolvendo suas
Aqui estou entre Almendro, entre Corino, emoções. O poeta evitava tratar na poesia de temas pessoais e
Os meus fiéis, meus doces companheiros, aspectos biográficos.
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino. - A retomada dos ideais clássicos: o Belo, o Bem, a Verdade e a
Perfeição. A arte encarada como imitação da natureza (mímese
Se o bem desta choupana pode tanto, aristotélica).
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da cidade o lisonjeiro encanto; "Minha bela Marilia, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Aqui descanse a louca fantasia; Se vem depois dos males a ventura,
E o que té agora se tornava em pranto, Vem depois dos prazeres a desgraça.
Se converta em afetos de alegria.
Estão os mesmos deuses
Cláudio Manuel da Costa Sujeitos ao poder do ímpio Fado:
Apolo já fugiu do Céu brilhante,
- Bucolismo, pastoralismo e Locus amoenus (lugar ameno, Já foi pastor de gado.
natureza aprazível). – Os poetas árcades, fugindo da civilização,
valorizam a vida no campo, o ambiente bucólico, onde a vida Ah! enquanto os Destinos impiedosos
simples e digna pode ser vivida em harmonia com a natureza. Não voltam contra nós a face irada,
Assim, passam-se por pastores, assumem pseudônimos pastoris Façamos, sim façamos, doce amada,
e vivem seus idílios amorosos ao lado das mulheres amadas Os nossos breves dias mais ditosos,
(pastoras). A natureza é o cenário (Locus amoenu). Natureza Um coração, que frouxo
artificial, repleta de álamos copados, montanhas floridas, pastos A grata posse de seu bem difere,
verdejantes – bem diversa da natureza que os cercava em Minas -, A si, Marília, a si próprio rouba,
composta pelo poeta para servir de moldura aos suaves idílios de E a si próprio fere.
pastores e pastoras.
Ornemos nossas testas com as flores;
ALTÉIA E façamos de feno um brando leito,
Aquele pastor amante, Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Que nas úmidas ribeiras Gozemos do prazer de sãos Amores.
Deste cristalino rio Sobre as nossas cabeças,
Guiava as brancas ovelhas; Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Aquele, que muitas vezes Também, Marilia, morre."
Afinando a doce avena,
Parou as ligeiras águas, Tomás Antônio Gonzaga
Moveu as bárbaras penhas;

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81
Aula 9 - Neoclassicismo
* Locus amoenus (lugar ameno, natureza aprazível) ― a natureza EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
é o cenário. Natureza artificial composta pelo poeta para servir de
moldura aos suaves idílios de pastores e pastoras. Questão 01 (Unifesp 2016)
Assinale a alternativa na qual se pode detectar nos versos do poeta
* Pastoralismo: o poeta empresta a sua voz a um pastor culto e português Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805) uma
artista. ruptura com a convenção arcádica do locus amoenus (“lugar
aprazível”).
* Carpe diem (gozar o dia) ― Fugacidade do tempo. Diante da
consciência da brevidade da vida, o poeta convida a aproveitar o A) “Olha, Marília, as flautas dos pastores
momento presente. Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
* A afetação, fingimento, convencionalismo: uma poesia feita de Os Zéfiros brincar por entre flores?”
regras e convenções.
B) “O ledo passarinho que gorjeia
Textos Da alma exprimindo a cândida ternura,
O rio transparente, que murmura,
Nada se Pode Comparar Contigo E por entre pedrinhas serpenteia:”
O ledo passarinho, que gorjeia
C) “Se é doce no recente, ameno Estio
Dalma exprimindo a cândida ternura; Ver tocar-se a manhã de etéreas flores,
O rio transparente, que murmura,
E, lambendo as areias e os verdores,
E por entre pedrinhas serpenteia; Mole e queixoso deslizar-se o rio;”
O Sol, que o céu diáfano passeia, D) “A loira Fílis na estação das flores,
A Lua, que lhe deve a formosura, Comigo passeou por este prado
O sorriso da Aurora, alegre e pura, Mil vezes; por sinal, trazia ao lado
A rosa, que entre os Zéfiros ondeia; As Graças, os Prazeres e os Amores.”
E) “Já sobre o coche de ébano estrelado,
A serena, amorosa Primavera,
Deu meio giro a Noite escura e feia;
O doce autor das glórias que consigo,
Que profundo silêncio me rodeia
A Deusa das paixões e de Citera;
Neste deserto bosque, à luz vedado!”
Quanto digo, meu bem, quanto não digo,
Leia o poema de Bocage para responder às questões.
Tudo em tua presença degenera.
Nada se pode comparar contigo.
Olha, Marília, as flautas dos pastores
Bocage
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Convite a Marília
Os Zéfiros brincar por entre flores?
Já se afastou de nós o Inverno agreste
Vê como ali, beijando-se, os Amores
Envolto nos seus úmidos vapores;
Incitam nossos ósculos ardentes!
A fértil primavera, a mãe das flores
Ei-las de planta em planta as inocentes,
O prado ameno de boninas veste:
As vagas borboletas de mil cores.
Varrendo os ares o sutil nordeste
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Os torna azuis; as aves de mil cores
Ora nas folhas a abelhinha para,
Adejam entre Zéfiros e Amores,
Ora nos ares, sussurrando, gira:
E toma o fresco Tejo a cor celeste:
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Vem, ó Marília, vem lograr comigo
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Destes alegres campos a beleza,
Mais tristeza que a morte me causara.
Destas copadas árvores o abrigo:
Questão 02 (Unifesp 2007)
Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quanto me agrada mais estar contigo A descrição que o eu-lírico faz do ambiente é uma forma de mostrar
Notando as perfeições da Natureza! à amada que o amor
Bocage a) acaba quando a morte chega.
b) tem pouca relação com a natureza.
c) deve ser idealizado, mas não realizado.
d) traz as tristezas e a morte.
e) é inspirado por tudo o que os rodeia.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 03 (Unifesp 2007) Questão 06


O emprego de "Mas", na última estrofe do poema, permite entender "Ao Amor cruel e esquivo
que Entreguei minha esperança,
a) todo o belo cenário só tem tais qualidades se a mulher amada Que me pinta na lembrança
fizer parte dele. Mais ativo o fero mal.
b) a ausência da mulher amada pode levar o eu-lírico à morte.
c) a morte é uma forma de o eu-lírico deixar de sofrer pela mulher Não verás em peito amante
amada. Coração de mais ternura;
d) a mulher amada morreu e, por essa razão, o eu-lírico sofre. Nem que guarde fé mais pura,
e) o eu-lírico sofre toda manhã pela ausência da mulher amada. Mais constante e mais leal.

Questão 04 Glaura! Glaura! não respondes?


O soneto de Bocage é uma obra do Arcadismo português, que E te escondes nestas brenhas?
apresenta, dentre suas características, o bucolismo e a valorização Dou às penhas meu lamento;
da cultura greco-romana, que estão exemplificados, Ó tormento sem igual!
respectivamente, em
Se não vens, porque te chamo:
a) Tudo o que vês, se eu te não vira/Olha, Marília, as flautas dos Aqui deixo junto ao Rio
pastores. Estas pérolas num fio,
b) Ei-las de planta em planta as inocentes/Naquele arbusto o Este ramo de coral.
rouxinol suspira.
c) Que bem que soam, como estão cadentes!/Os Zéfiros brincar por Entre a murta que se enlaça
entre flores? Com as flores mais mimosas,
d) Mais tristeza que a morte me causara./Olha o Tejo a sorrir-se! Acharás purpúreas rosas
Olha, não sentes. Numa taça de cristal. (...)"
e) Que alegre campo! Que manhã tão clara!/Vê como ali, beijando- Silva Alvarenga
se, os Amores.
Os versos explicitam traços marcantes da poesia neoclássica no
“Sobre Bocage, sabemos que foi um homem situado entre dois Brasil, EXCETO
mundos, entre as regras rígidas de um Arcadismo decadente, a) corte amorosa.
refletindo um mundo racional, ordenado e concreto, e a liberdade b) infelicidade no amor.
de um Romantismo ascendente, quando a literatura se abre c) aproximação mulher e natureza.
à individualidade e à renovação". d) linguagem elevada e decoro moral.
(www.lpm-editores.com.br – 03.09.11)
Questão 07 (Unifesp)
Questão 05 (UEPA 2012) Leia os versos do poeta português Bocage.
O comentário acima nos permite concluir que Bocage sofreu a
violência simbólica quando uma regra pastoril e neoclássica, Vem, oh Marília, vem lograr comigo
disfarçada de gosto e verdade inquestionáveis, impediu Destes alegres campos a beleza,
parcialmente a expressão de sua liberdade criadora. Interprete os Destas copadas árvores o abrigo.
versos abaixo e assinale os que tematizam a resistência a tal regra. Deixa louvar da corte a vã grandeza;
Quanto me agrada mais estar contigo,
a) Só eu ( tirano Amor ! tirana Sorte ! ) Notando as perfeições da Natureza!
Só eu por Nise ingrata aborrecido
Para ter fim meu pranto espero a morte. Nestes versos,
b) Ó trevas, que enlutais a Natureza, a) o poeta encara o amor de forma negativa por causa da
Longos ciprestes desta selva anosa, fugacidade do tempo.
Mochos de voz sinistra e lamentosa, b) a linguagem, altamente subjetiva, denuncia características pré-
Que dissolveis dos fados a incerteza; românticas do autor.
c) Das terras a pior tu és, ó Goa, c) a emoção predomina sobre a razão, numa ânsia de se aproveitar
Tu pareces mais ermo que cidade, o tempo presente.
Mas alojas em ti maior vaidade d) o amor e a mulher são idealizados pelo poeta, portanto,
Que Londres, que Paris ou que Lisboa. inacessíveis a ele.
d) Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga, e) o poeta propõe, em linguagem clara, que se aproveite o presente
Por cuja escuridão suspiro há tanto! de forma simples junto à natureza.
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga! Questão 08 (G1 - cftmg 2016)
e) Razão, de que me serve o teu socorro? Para cantar de amor tenros cuidados,
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo; Tomo entre vós, ó montes, o instrumento;
Dizes-me que sossegue: eu peno, eu morro. Ouvi pois o meu fúnebre lamento;
Se é que de compaixão sois animados:

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Aula 9 - Neoclassicismo
Já vós vistes, que aos ecos magoados E num voo feliz ave
Do trácio Orfeu parava o mesmo vento; Chego intrépido até onde
Da lira de 1Anfião ao doce acento Riso e pérolas esconde
Se viram os rochedos abalados. O suave e puro Amor.

Bem sei, que de outros gênios o 2Destino, Toco o néctar precioso,


Para cingir de 3Apolo a verde rama, Que a mortais não se permite;
Lhes influiu na lira estro divino: É o insulto sem limite,
Mas ditoso o meu ardor;
O canto, pois, que a minha voz derrama,
Porque ao menos o entoa um peregrino, Deixo, ó Glaura, a triste lida
Se faz digno entre vós também de fama. Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
COSTA, Cláudio Manuel da. A poesia dos inconfidentes. (Org.: Que lhe nega o teu rigor.
COSTA, MACHADO). São Paulo: Martins Fontes, 1966, p. 51 – 52. ALVARENGA, Manuel Inácio da Silva. “O Beija-Flor”, Rondó VII
[trecho]. In: Glaura: poemas eróticos. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996. p. 53-56.
Vocabulário:
Os procedimentos de composição empregados indicam que, no
1Anfião: Deus da mitologia grega, filho de Zeus e Antíope, que poema, o eu lírico mostra-se
recebeu uma lira como presente de Apolo, que também o ensinou a a) receoso pela profanação da amada.
tocá-la. Ele construiu a cidade de Tebas tocando a lira, pois, ao b) melancólico pela distância da amante.
som de sua música, as pedras se moviam sozinhas. c) afortunado pela possibilidade do amor.
2Destino: Na Grécia Antiga, o Destino dos deuses e dos homens d) ansioso pela correspondência amorosa.
era concedido às três irmãs Moiras, responsáveis por tecer e cortar
o fio da vida de cada um. Questão 02 (Espm 2014)
3Apolo: Filho de Zeus e Latona, é considerado o deus da juventude
Camões, grande Camões, quão semelhante
e da luz. Apesar de ser sempre associado à imagem de um jovem Acho teu 1fado ao meu quando os cotejo!
viril e talentoso, não teve sucesso no amor, devido à paixão não Igual causa nos fez perdendo o Tejo
correspondida por Dafne. O poeta Calímaco apresenta Apolo como 2Arrostar co sacrílego gigante (...)
o inventor da lira, mas outros textos indicam que quem o inventou Ludíbrio, como tu, da sorte dura,
foi seu irmão Hermes. Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura (...)
O soneto de Cláudio Manuel da Costa traz vários elementos (Bocage)
característicos da estética árcade, como a recuperação dos valores 1fado = destino
clássicos, percebida na menção aos deuses gregos. Por meio 2arrostar = encarar, afrontar
dessa estratégia, o autor indica a
a) aspiração do eu lírico a seu destino artístico. Assinale a afirmação correta sobre o poema. O eu lírico:
b) razão do eu lírico para suas escolhas poéticas. a) Expressa inveja de Camões por não ter tido igual sepultura.
c) subordinação do eu lírico ao desejo dos deuses. b) Compara-se a Camões, fazendo um desabafo enfático da
d) aproximação entre o eu lírico e os deuses do Panteão. amargura pela infelicidade ao longo de uma existência.
c) Segue o princípio clássico do relatar experiências humanas
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO negativas aplicáveis a todos.
d) Alterna versos alexandrinos (ou dodecassílabos) com versos
Questão 01 (G1 - cftmg 2017) decassílabos.
Deixo, ó Glaura, a triste lida e) Dirige-se ao "Céu" e ao "Tejo" com a intenção de aliar-se aos
Submergida em doce calma; elementos da natureza.
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Neste bosque alegre e rindo Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Sou amante afortunado; Porque (triste de mim!), porque não raia
E desejo ser mudado Já na esfera de Lísia* a tua aurora?
No mais lindo Beija-flor.
Da santa redenção é vinda a hora
Todo o corpo num instante A esta parte do mundo, que desmaia.
Se atenua, exala e perde: Oh!, venha... Oh!, venha, e trêmulo descaia
É já de oiro, prata e verde Despotismo feroz, que nos devora!
A brilhante e nova cor.
Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
[...] Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Movam nossos grilhões tua piedade; a) apego à metrificação tradicional


Nosso númen tu és, e glória, e tudo, b) bucolismo e paralelismo
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade! c) aurea mediocritas
(Bocage) d) inutilia truncat
Lísia = Portugal e) fugere urbem

MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa Através dos Questão 06 (Unifesp 2017)


Textos. São Paulo: Cultrix, 2006, p.239. Predomina neste movimento uma tônica mais cosmopolita,
Questão 03 (Uepa 2014) intimamente ligada às modas literárias da Europa, desejando
O poema de Bocage organiza uma situação comunicativa interna pertencer ao mesmo passado cultural e seguir os mesmos
em que se verificam os seguintes elementos fundamentais da modelos, o que permitiu incorporar os produtos intelectuais da
comunicação: emissor, receptor (contido no próprio texto) e colônia inculta ao universo das formas superiores de expressão. Ao
mensagem. No poema estes elementos são: lado disso, tal movimento continuou os esboços particularistas que
a) eu lírico, liberdade e crítica ao despotismo. vinham do passado local, dando importância relevante tanto ao
b) poema, liberdade e crítica ao despotismo. índio e ao contato de culturas, quanto à descrição da natureza,
c) eu lírico, povo português e crítica ao despotismo. mesmo que fosse em termos clássicos.
d) eu lírico, liberdade e língua portuguesa.
e) eu lírico, leitor e crítica ao despotismo. (Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)

Questão 04 (Uepa 2014) Tal comentário refere-se ao seguinte movimento literário brasileiro:
A leitura do soneto bocageano permite afirmar que há entre a a) Romantismo.
subjetividade do poeta e as questões sociais de Portugal uma b) Classicismo.
ampla interação comunicativa. Marque a alternativa que comprova c) Naturalismo.
este comentário. d) Barroco.
a) O eu lírico pede ao país que tenha, como ele, paciência para e) Arcadismo.
suportar o despotismo.
b) A pátria personificada que desmaia, é comparável ao eu lírico frio TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
e mudo.
c) O despotismo é a redenção muito esperada pelo eu lírico e pela Soneto VI
sociedade portuguesa. Brandas ribeiras, quanto estou contente
d) A saudade é representada no poema pelas imagens do cárcere De ver-vos outra vez, se isto é verdade!
e do poeta preso por grilhões. Quanto me alegra ouvir a suavidade,
e) O eu lírico e a pátria celebram a chegada da liberdade como um Com que Fílis entoa a voz cadente!
sol que surge no horizonte.
Os rebanhos, o gado, o campo, a gente,
Questão 05 (UEPA 2012) Tudo me está causando novidade:
LXII Oh! como é certo que a cruel saudade
Torno a ver-vos, ó montes; o destino Faz tudo, do que foi, mui diferente!
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros Recebi (eu vos peço) um desgraçado,
Pelo traje da Corte rico e fino. Que andou até agora por incerto giro,
Correndo sempre atrás do seu cuidado:
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros, Este pranto, estes ais com que respiro,
Vendo correr os míseros vaqueiros Podendo comover o vosso agrado,
Atrás de seu cansado desatino. Façam digno de vós o meu suspiro.
Cláudio Manoel da Costa
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia, Soneto
Que da cidade o lisonjeiro encanto; Estes os olhos são da minha amada,
Que belos, que gentis e que formosos!
Aqui descanse a louca fantasia; Não são para os mortais tão preciosos
E o que 'té agora se tornava em pranto, Os doces frutos da estação dourada.
Se converta em afetos de alegria.
Por eles a alegria derramada
O campo como locus amoenus, livre de mazelas sociais e morais, Tornam-se os campos de prazer gostosos.
foi o grande tema literário à época neoclássica, quando a literatura Em zéfiros suaves e mimosos
também expressou uma resistência à Cidade, considerada então Toda esta região se vê banhada.
violento símbolo do poder monárquico e da corrupção moral.
Interprete as opções abaixo e assinale aquela em que se sintetiza o Vinde olhos belos, vinde, e enfim trazendo
modo de resistência Do rosto do meu bem as prendas belas,
expresso nos versos de Cláudio Manuel da Costa acima transcritos. Dai alívio ao mal que estou gemendo.
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Aula 9 - Neoclassicismo
Não me alegra, ou me desgosta
Mas ah! delírio meu que me atropelas! Doutra o mimo, ou o desdém,
Os olhos que eu cuidei que estava vendo, Satisfaz-me e me contenta
Eram (quem crera tal!) duas estrelas. Só Arminda e mais ninguém.
Cláudio Manoel da Costa
Questão 07 (Mackenzie 2015) Cantem os outros pastores
É traço relevante na caracterização do estilo de época a que Outras pastoras também,
pertencem os poemas de Cláudio Manoel da Costa, EXCETO: Que eu canto e cantarei sempre
Só Arminda e mais ninguém.
a) a valorização do locus amoenus. (Viola de Lereno, 1980.)
b) a poesia bucólica. Questão 09 (Unesp 2015)
c) a utilização de pseudônimos pastoris. Além de outras características, a presença de dois vocábulos
d) a busca da aurea mediocritas. contribui para identificar o aspecto neoclássico desta modinha, a
e) a repulsa à tradição clássica da poesia. saber:
a) “alegra” e “desgosta”.
Questão 08 b) “mimo” e “desdém”.
(Mackenzie 2015) Na composição poética árcade, a natureza é c) “suspiros” e “segredos”.
tratada: d) “canto” e “cantarei”.
a) como uma lembrança da pátria da qual foram exilados. e) “pastores” e “pastoras”.
b) como um refúgio da vida atribulada das metrópoles do século
XIX. Questão 10 (Unesp 2015)
c) como um prolongamento do estado emocional do poeta. Na segunda estrofe, o eu lírico explora, seguindo a tradição
d) como um local em que se busca a vida simples, pastoril e poética, uma concepção sobre a sede dos sentimentos humanos.
bucólica. Segundo tal concepção, o amor
e) como uma fonte para o retrato crítico às desigualdades sociais.
a) situa-se na imaginação dos homens.
b) é um corpo estranho que passa a residir no de quem ama.
A(s) questão(ões) tomam por base uma modinha de Domingos
c) mora com a inveja e é irmão gêmeo do ódio.
Caldas Barbosa (1740-1800).
d) localiza-se no coração dos homens.
e) nasce no paraíso e conduz para lá quem ama.
Protestos a Arminda

1Conheço Questão 11 (Espcex (Aman) 2014)


muitas pastoras
Que beleza e graça têm, Leia os versos abaixo:
Mas é uma só que eu amo
Só Arminda e mais ninguém. “Se não tivermos lãs e peles finas,
podem mui bem cobrir as carnes nossas
Revolvam meu coração as peles dos cordeiros mal curtidas,
2Procurem meu peito bem, e os panos feitos com as lãs mais grossas.
Verão estar dentro dele Mas ao menos será o teu vestido
Só Arminda e mais ninguém. por mãos de amor, por minhas mãos cosido.”

De tantas, quantas belezas A característica presente na poesia árcade, presente no fragmento


Os meus ternos olhos veem, acima, é
Nenhuma outra me agrada
Só Arminda e mais ninguém. a) aurea mediocritas.
b) cultismo.
Estes suspiros que eu solto c) ideias iluministas.
3Vão buscar meu doce bem, d) conflito espiritual.
É causa dos meus suspiros e) carpe diem.
Só Arminda e mais ninguém.
Questão 12 (G1 - ifsp 2012)
Os segredos de meu peito “Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Guardá-los nele convém, Que viva de guardar alheio gado;
4Guardá-los aonde os veja De tosco trato, de expressões grosseiro,
Só Arminda e mais ninguém. Dos frios gelo e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
Não cuidem que a mim me importa Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
5Pareceràs outras bem, Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
Basta que de mim se agrade E mais as finas lãs de que me visto.
Só Arminda e mais ninguém. Graças, Marília bela,
Graças à minha estrela!
(fredb.sites.uol.com.br/lusdecam.htm, adaptado)
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Pode-se afirmar que se destaca no poema: palavras, a tensão entre os opostos e o conflito exposto pelos
a) o racionalismo, característica do Barroco. contrastes.
b) o conceptismo, característica do Arcadismo. ( ) Retoma o ideal de simplicidade, herdado do modelo clássico
c) o cultismo, característica do Barroco. greco-romano, correspondente à tradição do equilíbrio e da
d) o teocentrismo, característica do Barroco. racionalidade: a justa medida.
e) o pastoralismo, característica do Arcadismo.
A sequência correta é
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: a) 1 – 1 – 2 – 2. b) 2 – 1 – 1 – 2. c) 1 – 2 – 2 – 1.
d) 2 – 1 – 2 – 2. e) 1 – 2 – 1 – 2.
A beleza da forma física feminina constituiu assunto predileto da
poesia arcádica brasileira. Leia as seguintes estrofes da Lira 27 de Questão 14 (Ufsm 2012)
Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga: O Arcadismo volta aos princípios clássicos greco-romanos e
renascentistas. Nesse sentido, a estética árcade cria e segue um
Vou retratar a Marília, grupo de preceitos herdados do Classicismo. Assinale o trecho
a Marília, meus amores; poético de Marília de Dirceu que corresponde ao preceito em
porém como? se eu não vejo negrito.
quem me empreste as finas cores: a) “Verás em cima da espaçosa mesa/altos volumes de enredados
dar-mas a terra não pode; feitos;/ver-me-ás folhear os grandes livros,/e decidir os pleitos.” –
não, que a sua cor mimosa Fugere urbem.
vence o lírio, vence a rosa, b) “Enquanto pasta alegre o manso gado,/minha bela Marília, nos
o jasmim e as outras flores. sentemos/à sombra deste cedro levantado./Um pouco
meditemos/na regular beleza,/que em tudo quanto vive nos
Ah! socorre, Amor, socorre descobre/a sábia Natureza.” – Locus amoenus.
ao mais grato empenho meu! c) “Se não tivermos lãs e peles finas,/podem mui bem cobrir as
Voa sobre os astros, voa, carnes nossas/as peles dos cordeiros malcurtidas,/e os panos feitos
Traze-me as tintas do céu. com as lãs mais grossas./Mas ao menos será o teu vestido/por
[...] mãos de amor, por minhas mãos cosido.” – Inutilia truncat.
Entremos, Amor, entremos, d) “Pela Ninfa, que jaz vertida em Louro,/o grande Deus Apolo não
entremos na mesma esfera; delira?/Jove, mudado em Touro/e já mudado em velha não
venha Palas, venha Juno, suspira?/Seguir aos Deuses nunca foi desdouro./Graças, ó Nise
Venha a deusa de Citera. bela,/graças à minha Estrela!” – Carpe diem.
Porém, não, que se Marília e) “Quando apareces/Na madrugada,/Mal-embrulhada/Na larga
no certame antigo entrasse, roupa,/E desgrenhada/Sem fita, ou flor;/Ah! que então brilha/A
bem que a Páris não peitasse, natureza!/Então se mostra/Tua beleza/Inda maior.” – Aurea
a todas as três vencera. mediocritas.

Vai-te, Amor, em vão socorres Questão 15 (Ufv)


ao mais grato empenho meu: Leia o texto a seguir e faça o que se pede:
para formar-lhe o retrato
não bastam tintas do céu. Ornemos nossas testas com as flores
E façamos de feno um brando leito;
Vocabulário Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Certame: disputa Gozemos do prazer de sãos amores.
Juno: deusa da mitologia romana, esposa de Júpiter Sobre as nossas cabeças,
Palas: deusa da mitologia romana, presidia a guerra Sem que o possam deter, o tempo corre,
Deusa de Citera: Afrodite, deusa do amor E para nós o tempo, que se passa,
Páris: príncipe troiano, responsável por escolher a deusa mais bela Também, Marília, morre.
do Olimpo (TAG, MD, Lira XIV)
Todas as alternativas a seguir apresentam características do
Questão 13 (Ufsm 2012) Arcadismo, presentes na estrofe anterior, EXCETO:
Relacione as colunas e, na sequência, assinale a alternativa a) Ideal de ÁUREA MEDIOCRIDADE, que leva o poeta a exaltar o
correspondente. cotidiano prosaico da classe média.
b) Tema do CARPE DIEM - uma proposta para se aproveitar a vida,
1. Estética barroca desfrutando o ócio com dignidade.
2. Estética árcade c) Ideal de uma existência tranqüila, sem extremos, espelhada na
pureza e amenidade da natureza.
( ) Apresenta texto poético claro, conciso, objetivo, com estrutura d) Fugacidade do tempo, fatalidade do destino, necessidade de
frasal geralmente em ordem direta. envelhecer com sabedoria.
( ) Caracteriza-se por figuras de linguagem, tais como: metáfora, e) Concepção da natureza como permanente reflexo dos
antítese, hipérbole, alegoria. sentimentos e paixões do "eu" lírico.
( ) Registra a ambiguidade, valorizando os detalhes, os jogos de

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CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

AULA 10 - O ARCADISMO NO BRASIL Eu ando (vós me vêdes) tão pesado;


E a pastora infiel, que me faz guerra,
01. CONTEXTO HISTÓRICO É a mesma, que em seu semblante encerra
No Brasil, o Arcadismo se desenvolve no contexto da A causa de um martírio tão cansado.
descoberta do ouro em Minas Gerais, no final do século XVII, e as
consequentes mudanças na sociedade colonial brasileira, no século Se a quereis conhecer, vinde comigo,
XVIII. Vereis a formosura, que eu adoro;
A corrida pelo ouro atrai uma multidão de aventureiros e a Mas não; tanto não sou vosso inimigo:
extraordinária riqueza permite que rapidamente os primeiros
acampamentos transformem-se em cidades. O ouro abundante Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro;
enriquece os mineiros, os comerciantes que abastecem as cidades Que se seguir quiserdes, o que eu sigo,
mineiras, que nada produziam, o reino português e acaba, também, Chorareis, ó pastores, o que eu choro.
por, em parte, financiar a Revolução Industrial inglesa, devido a Cláudio Manuel da Costa
dependência econômica nas relações comerciais entre Portugal e
Inglaterra. A poesia de Cláudio Manuel da Costa reflete as contradições do
Vila Rica, atual Ouro Preto, chega a trinta mil habitantes e intelectual que foi estudar na Metrópole europeia, que lá constrói
exige de Portugal toda uma estrutura burocrática para organizar e racionalmente suas concepções literárias, mas que nasceu e vive
controlar a vida social, que ficava cada vez mais complexa, uma no meio rústico da Colônia, cercado pelas pedras e montanhas de
vez que, além do setor público, surge uma gama de profissionais Minas Gerais, pelos escravos e aventureiros extraindo ouro, o que
liberais e trabalhadores livres que se beneficiam da riqueza que o leva a, por vezes, romper com o convencionalismo árcade:
circula nas cidades mineradoras. Leia a posteridade, ó pátrio Rio,
A maior complexidade social desenvolvida nas cidades fará Em meus versos teu nome celebrado;
com que a elite, culta e abastada, reúna-se em sarais para ouvir Por que vejas uma hora despertado
recitais de poemas e apresentações musicais e crie Academias e O sono vil do esquecimento frio:
Arcádias, associações de artistas com princípios literários comuns.
Esse conjunto de novas circunstâncias, então, permite que, Não vês nas tuas margens o sombrio,
enfim, se consolide no Brasil o que o mestre Antonio Candido, em Fresco assento de um álamo copado;
sua obra Formação da Literatura Brasileira, chama de "sistema Não vês ninfa cantar, pastar o gado
literário", ou seja, “a existência de um conjunto de produtores Na tarde clara do calmoso estio.
literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de
receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a Turvo banhando as pálidas areias
obra não vive; um mecanismo transmissor, (de modo geral, uma Nas porções do riquíssimo tesouro
linguagem, traduzida em estilos), que liga uns a outros.”. O vasto campo da ambição recreias.
Por tanto, um sistema literário é formado por: um conjunto de
autores; suas obras, produzidas segundo princípios mais ou menos Que de seus raios o planeta louro
comuns; um publico leitor permanente, configurando uma tradição Enriquecendo o influxo em tuas veias,
cultural. E, ainda que timidamente, foi durante o Arcadismo que Quanto em chamas fecunda, brota em ouro.
nosso sistema literário começou a se estabelecer e nossos autores Cláudio Manoel da Costa
passaram a tomar consciência da sua função histórica dentro desse
sistema, como responsáveis pela construção de uma literatura no 2.2. TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA (1744-1810)
Brasil, ou para o Brasil. É autor de Marília de Dirceu (Parte I - 1792; Parte II - 1799; Parte III
- 1812), poemas líricos dos mais lidos no Brasil, e Cartas Chilenas
02. PRINCIPAIS AUTORES (1845), obra satírica.
Marília de Dirceu nos permite enxergar o poeta árcade em sua
2.1. CLÁUDIO MANOEL DA COSTA (1729 - 1789) plenitude, trabalhando o pastoralismo, o aurea mediocritas, o lugar
É o autor de Obras poéticas (1768), conjunto de poemas líricos que ameno, a efemeridade da vida e o carpe diem, numa linguagem
introduziu o arcadismo no Brasil, e Vila Rica (1839), poema épico que preza pela simplicidade e pela clareza, com a contenção de
que trata da fundação da cidade. sentimento, o racionalismo neoclássico, principalmente nas liras da
Apesar de se filiar ao arcadismo e incorporar o pastoralismo e primeira parte do livro.
alguns dos temas caros ao estilo, sua obra ainda guarda forte Nas vinte e três liras iniciais de Marília de Dirceu, Tomás Antônio
herança barroca e camoniana. Do Barroco, Cláudio Manoel da Gonzaga, através da figura do pastor Dirceu, corteja e louva de
Costa guarda certo cultismo, que se manifesta no gosto pela forma contida as qualidades da pastora Marília e almeja uma vida
antítese, e temas como a efemeridade dos sentimentos e o em comum com sua amada, uma vida simples, humilde, tranquila,
desencanto com a vida, sem, no entanto, a possibilidade de alívio mas digna:
através de Deus ou da religião. Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Pastores, que levais ao monte o gado, Que viva de guardar alheio gado;
Vêde lá como andais por essa serra; De tosco trato, de expressões grosseiro,
Que para dar contágio a toda a terra, Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Basta ver se o meu rosto magoado: Tenho próprio casal* e nele assisto;
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Dá-me vinho, legume, frutas, azeite. Fanfarrão em Chile.


Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto. Acorda, Doroteu, acorda, acorda;
Graças, Marília bela, Critilo, o teu Critilo é quem te chama:
Graças à minha Estrela! Levanta o corpo das macias penas;
*Casal: pequena propriedade rústica Ouvirás, Doroteu, sucessos novos,
Na segunda e terceiras parte das Liras, a prisão pelo seu suposto Estranhos casos, que jamais pintaram
envolvimento na Inconfidência Mineira faz com que o poeta assuma Na ideia do doente, ou de quem dorme
um tom de confissão, cantando sua tristeza, o sentimento de Agudas febres, desvairados sonhos.
injustiça, o medo do futuro e a lembrança de Marília, rompendo com Não és tu, Doroteu, aquele mesmo,
o convencionalismo e com o equilíbrio neoclássico. Ainda que os Que pedes, que te diga, se é verdade,
sentimentos continuem controlados, os poemas são mais emotivos
e há um tom de desabafo, inclusive com referência a elementos Carta 3ª Em que se contam as injustiças e violências que Fanfarrão
biográficos, que fazem com que Tomás Antônio Gonzaga seja executou por causa de uma cadeia, a que deu princípio.
apontado como pré-romântico. Pertende, Doroteu, o nosso chefe
Nesta triste masmorra, Erguer uma cadeia majestosa,
de um semivivo corpo sepultura, Que possa escurecer a velha fama
inda, Marília, adoro Da torre de Babel e mais dos grandes,
a tua formosura. Custosos edifícios que fizeram,
Amor na minha idéia te retrata; Para sepulcros seus, os reis do Egito.
busca, extremoso, que eu assim resista Talvez, prezado amigo, que imagine
à dor imensa, que me cerca e mata. Que neste monumento se conserve
Eterna, a sua glória, bem que os povos
Quando em meu mal pondero, Ingratos não consagrem ricos bustos
então mais vivamente te diviso: Nem montadas estátuas ao seu nome.
vejo o teu rosto e escuto Desiste, louco chefe, dessa empresa:
a tua voz e riso. Um soberbo edifício levantado
Movo ligeiro para o vulto os passos; Sobre ossos de inocentes, construído
eu beijo a tíbia luz em vez de face, Com lágrimas dos pobres, nunca serve
e aperto sobre o peito em vão os braços. De glória ao seu autor, mas, sim, de opróbrio.
Tomás Antônio Gonzaga
Conheço a ilusão minha;
a violência da mágoa não suporto; 2.3. A INCONFIDÊNCIA MINEIRA
foge-me a vista e caio, A Independência Americana, em 1776, os ideais iluministas e a
não sei se vivo ou morto. cobrança extorsiva dos impostos pela Coroa portuguesa incentivam
Enternece-se Amor de estrago tanto; o movimento nativista que ficou marcado como o mais significativo
reclina-me no peito, e com mão terna do nosso passado colonial, criando mitos e heróis.
me limpa os olhos do salgado pranto. O Iluminismo não incentivou na poesia apenas a ideia de um idílio
agradável no campo, uma vida bucólica e pastoril, mas favoreceu,
(...) também, a crença na evolução do homem através da instrução, a
noção de justiça, a virtude civil, a prática do bem:
Publicado no livro Marília de Dirceu: Segunda Parte (1799). O ser herói, Marília, não consiste
In: GONZAGA, Tomás Antônio. Obras completas. Ed. crít. M. Em queimar os Impérios: move a guerra,
Rodrigues Lapa. São Paulo: Ed. Nacional, 1942. (Livros do Brasil, Espalha o sangue humano,
5) E despovoa a terra
Também o mau tirano.
POESIA SATÍRICA Consiste o ser herói em viver justo:
Sob pseudônimo de Critilo, escreveu as célebres Cartas Chilenas E tanto pode ser herói o pobre,
onde satiriza os desmandos do governador de Minas Gerais, Como o maior Augusto.
apelidado no texto de Fanfarrão Minésio. Tomás Antônio Gonzaga

Cartas chilenas Nesse contexto, alguns poetas árcades, como Cláudio Manuel da
Na obra de teor satírico Cartas Chilenas, Tomás Antônio Gonzaga Costa e Alvarenga Peixoto, envolveram-se na Conjuração Mineira.
adota o pseudônimo de Critilo para ironizar a arrogância e os A efetiva participação de Tomás Antônio Gonzaga ainda é motivo
desmando do governador Luís da Cunha Meneses, que recebe, na de polêmica entre historiadores, mas, assim como muitos dos
obra, o nome de Fanfarrão Minésio. A obra, apesar do forte teor acusados, o poeta foi preso e condenado a 10 anos de degredo na
crítico, não apresenta intensão revolucionária, mas, provavelmente, África.
foi por conta de sua publicação que Tomás Antônio Gonzaga foi
acusado de ser um dos participantes da Inconfidência Mineira.

Carta 1a.
Em que se descreve a entrada, que fez
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Aula 10 - O Arcadismo No Brasil
Carinhosa e doce, ó Glaura,
Vem esta aura lisonjeira,
E a mangueira já florida
Nos convida a respirar.
Sobre a relva o sol doirado
Bebe as lágrimas da Aurora,
E suave os dons de Flora
Neste prado vê brotar.

*Rondó: composição poética com estribilho constante.


*Madrigal: composição poética galante e musical.

2.5. POESIA ÉPICA

Panteão dos Inconfidentes, no Museu da Inconfidência, em Ouro BASÍLIO DA GAMA (1741 -1795)
Preto, onde estão guardados os restos mortais dos inconfidentes. É autor do poema épico O Uraguai (1769), poema em cinco atos,
Fonte: http://museudainconfidencia.wordpress.com/about/ escrito em decassílabos brancos (sem rimas), sobre a destruição
das Missões jesuíticas dos Sete Povos pelas forças luso-
2.4. SILVA ALVARENGA (1749-1814) espanholas comandadas por Gomes de Freire de Andrade, em
Obra: Glaura (1799) 1756.
Identificado com o Iluminismo, Manuel Inácio da Silva Alvarenga, O poema retrata a batalha entre conquistadores e índios,
em Glaura, também cultiva uma lírica de inspiração galante. Trata- manobrados pelos jesuítas, e destaca a valentia e a nobreza dos
se de um poema composto por rondós* e madrigais*, onde o poeta, índios, que, apesar de não serem os heróis, não são apontados
sob o pseudônimo de Alcindo Palmireno, exalta a pastora Glaura, como vilões.
que, a princípio, parece se esquivar desse canto amoroso. O Características:
sofrimento de Alcindo acabará sendo recompensado pela - Celebração épica dos conquistadores brancos, representados
retribuição do afeto, porém Glaura morrerá em seguida, deixando o pelo general Gomes Freire de Andrade.
pastor imerso em depressão. - Os índios (Sepé e Cacambo) são apresentados como dotados de
inúmeras qualidades. É uma espécie de glorificação do homem
“Alvarenga leva às últimas consequências o desejo árcade de natural que enfrenta os representantes da civilização européia.
construir uma poesia repleta de naturalidade, em que a - Os vilões da história são os jesuítas, duramente criticados,
simplicidade e a expressão espontânea fossem cultivadas em destacando-se o padre Balda.
detrimento de imagens rebuscadas. Tais características podem ser - O Uraguai é um poema em cinco cantos e em versos brancos
observadas em Glaura: poemas eróticos de uma americano, livro (sem rima).
composto de 59 rondós e 57 madrigais. Os poemas, que têm como
tema central o sentimento amoroso são atravessados pela recusa à O trecho mais famoso do poema, no entanto, possui um teor lírico:
grandiloquência épica, que se faz sentir desde a epígrafe do a passagem que narra a morte da índia Lindoia, que, após ter seu
volume: "Adeus, ó Heróis, quem enfim/ Nas cordas da doce lira/ se marido, Cacambo, envenenado por ordens do padre Balda e na
respira terno amor". Trata-se, portanto, da recusa aos grandes iminência de casar-se com o índio Baldeta, filho natural do padre
temas e formas épicos e da valorização da expressão lírica corrupto, prefere morrer, deixando-se picar por uma serpente
pessoal, espontânea; da busca pela naturalidade contra os artifícios venenosa. .
da linguagem; da elaboração de formas breves, como são os
rondós e madrigais.” ( ) "Este lugar delicioso e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido,
Para morrer, a mísera Lindoia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores;
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola em seu corpo
Verde serpente..."
Basílio da Gama

No trecho abaixo o general Gomes Freire dialoga com os chefes


indígenas, Cacambo e Sepé:
O rei é vosso pai: quer-vos felizes.
Sois livres, como eu sou; e sereis livres,
Não sendo aqui, em qualquer outra parte.
Mas deveis entregar-nos estas terras.
Ao bem público cede o bem privado.
O sossego da Europa assim o pede.
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Assim o manda o rei. Vós sois rebeldes, EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM


Se não obedeceis; mas os rebeldes
Eu sei que não sois vós - são os bons padres, Questão 01 (Ufv)
Que vos dizem a todos que sois livres, Sobre o Arcadismo no Brasil, podemos afirmar que:
E se servem de vós como de escravos, a) produziu obras de estilo rebuscado, pleno de antíteses e frases
E armados de orações vos põem no campo. tortuosas, que refletem o conflito entre matéria e espírito.
b) não apresentou novidades, sendo mera imitação do que se fazia
SANTA RITA DURÃO (1722-1784) na Europa.
c) além das características européias, desenvolveu temas ligados à
O poema épico Caramuru (1781) segue o modelo camoniano de Os realidade brasileira, sendo importante para o desenvolvimento de
Lusíada, possuindo dez cantos, com estrofes de oito versos uma literatura nacional.
decassílabos e rimados, e procura cantar o início da colonização do d) apresenta já completa ruptura com a literatura européia,
Brasil. podendo ser considerado a primeira fase verdadeiramente
Caramuru relata a história de Diogo Álvares Correia, aventureiro nacionalista da literatura brasileira.
que naufraga na costa da Bahia, no século XVI, sendo recolhido e) presente, sobretudo, em obras de autores mineiros como Tomás
por índios. Após surpreendê-los e encantá-los com sua espingarda, Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Silva Alvarenga e
inicia um processo de catequese e colonização. Basílio da Gama, caracteriza-se como expressão da angústia
O jovem herói católico, então, noiva com Paraguaçu, filha de um metafísica e religiosa desses poetas, divididos entre a busca da
cacique e parte com ela rumo à Europa, ainda castos, para lá salvação e o gozo material da vida.
efetivar o matrimônio.
Caramuru configura-se, assim, como um canto de louvor ao Questão 02
processo de colonização e catequese português.
SONETO LXII
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
CARAMURU (Canto VI, Estrofe XLII)
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pelo traje da Corte rico, e fino.
Pálida a cor, o aspecto moribundo,
Com mão já sem vigor, soltando o leme, Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Entre as salsas escumas desce ao fundo. Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Mas na onda do mar, que irado freme, Vendo correr os míseros vaqueiros
Tornando a aparecer desde o profundo: Atrás de seu cansado desatino.
"Ah Diogo cruel!" disse com mágoa, Se o bem desta choupana pode tanto,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n'água. Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da cidade o lisonjeiro encanto;
Santa Rita Durão Aqui descanse a louca fantasia;
E o que te agora se tornava em pranto,
Caramuru é o elogio do trabalho de colonização e de catequese do Se converta em afetos de alegria.
europeu, especialmente da ação civilizadora do português. Mesmo Cláudio Manuel da Costa
não sendo padre, Diogo Álvares está interessado em conduzir o
índio ao caminho do cristianismo. Este é o seu principal objetivo. Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os
elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção
Desta forma, ainda que não haja teor nacionalista nessas obras, é correta acerca da relação entre o poema e o momento histórico de
através de O Uraguai e de Caramuru que começa a tradição sua produção.
indianista na literatura brasileira, posteriormente retomada pelos a) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são
Românticos com um viés nacionalista. imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta
se vestiu com traje “rico e fino”.
b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do
poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido
entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da
terra da Colônia.
c) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento
estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta
árcade em realizar uma representação literária realista da vida
nacional.
d) A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na
terceira estrofe, é formulação literária que reproduz a condição
histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
e) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil
Colônia está representada esteticamente no poema pela referência,
na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.

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Aula 10 - O Arcadismo No Brasil
Questão 03 (ENEM 2008) Questão 05 (UCS 2012)
Assinale a opção que apresenta um verso do soneto de Cláudio As obras literárias marcam diferentes visões de mundo, não apenas
Manoel da Costa em que o poeta se dirige ao seu interlocutor. dos autores, mas também de épocas históricas distintas. Reflita
a) “Torno a ver-vos, ó montes; o destino” (v.1) sobre isso e leia os fragmentos dos poemas de Gregório de Matos
b) “Aqui estou entre Almendro, entre Corino,” (v.5) e de Tomás Antônio Gonzaga.
c) “Os meus fiéis, meus doces companheiros,” (v.6)
d) “Vendo correr os míseros vaqueiros” (v.7) Arrependido estou de coração,
e) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,” (v.11) de coração vos busco, dai-me abraços,
abraços, que me rendem vossa luz.
Questão 04 (PUC-MG) Luz, que claro me mostra a salvação,
TEXTO I a salvação pretendo em tais abraços,
"Discreta e formosíssima Maria, misericórdia, amor, Jesus, Jesus!
Enquanto estamos vendo claramente (MATOS, Gregório. Pecador contrito aos pés do Cristo crucificado.
Na vossa ardente vista o sol ardente, In: TUFANO, Douglas. Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e
e na rosada face a aurora fria; ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 66.)

Enquanto pois produz, enquanto cria Minha bela Marília, tudo passa;
Essa esfera gentil, mina excelente a sorte deste mundo é mal segura;
No cabelo o metal mais reluzente, se vem depois dos males a ventura,
E na boca a mais fina pedraria. vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos deuses
Gozai, gozai da flor da formosura, sujeitos ao poder do ímpio fado:
Antes que o frio da madura idade. Apolo já fugiu do céu brilhante,
já foi pastor de gado.
Tronco deixe despido o que é verdura. (GONZAGA, Tomás António. Lira XIV. In: TUFANO, Douglas
Que passado o zenith da mocidade, Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo:
Sem a noite encontrar da sepultura, Moderna, 1988. p. 77.)
É cada dia ocaso da beldade."
(Gregório de Matos) Em relação aos poemas, analise a veracidade (V) ou a falsidade (F)
das proposições abaixo.
TEXTO II ( ) O poema de Gregório de Matos apresenta um sujeito lírico
"Ah! enquanto os Destinos impiedosos torturado pelo peso de seus pecados e desejoso de aproximar-se
Não voltam contra nós a face irada, do Divino.
Façamos, sim façamos, doce amada, ( ) Tomás Antônio Gonzaga, embora pertença ao mesmo período
Os nossos breves dias mais ditosos, literário de Gregório de Matos, revela neste poema um sujeito lírico
consciente da brevidade da vida.
Um coração, que frouxo ( ) Em relação às marcas de religiosidade, a visão antagônica
A grata posse de seu bem difere, que se coloca entre os dois poemas reflete, no Barroco, a influência
A si, Marília, a si próprio rouba, do cristianismo e, no Arcadismo, a da mitologia grega.
E a si próprio fere.
Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses,
Ornemos nossas testas com as flores; de cima para baixo.
E façamos de feno um brando leito, a) V – V – V b) V – F – F c) V – F – V
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, d) F – F – F e) F – V – F
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças, Questão 06 (Imed 2016)
Sem que o possam deter, o tempo corre; Sobre o arcadismo brasileiro, é correto afirmar que:
E para nós o tempo, que se passa, a) O arcadismo pregava a ressurreição do ideal clássico, visando
Também, Marilia, morre." resgatar os valores antropocêntricos do Renascimento.
(Tomás Antônio Gonzaga) b) Marília de Dirceu foi um dos grandes poemas do arcadismo, cujo
autor, Claudio Manuel da Costa, apresenta um eu lírico
O texto I é barroco; o texto II é arcádico. Comparando-os, é correto apaixonado, que expõe o conflito do amor de sua amada e a
afirmar, EXCETO: objeção do pai da moça.
a) os barrocos e árcades expressam sentimentos. c) Em Caramuru, Frei José de Santa Rita Durão faz uma ode aos
b) as construções sintáticas barrocas revelam um interior heróis indígenas que habitavam a Bahia, no período da chegada da
conturbado. frota de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.
c) o desejo de viver o prazer é dirigido à amada nos dois textos. d) Em O Uraguai, o herói Gomes Freire de Andrade divide as
d) os árcades têm uma visão de mundo mais angustiada que os honras com Cacambo, herói indígena. Poemeto épico, Silva
barrocos. Alvarenga traz o período da guerra dos portugueses e espanhóis
e) a fugacidade do tempo é temática comum aos dois estilos. contra os indígenas e jesuítas em Sete Povos das Missões do
Uruguai, em 1759.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

e) Alvarenga Peixoto, em Glaura, apresenta-nos poemas eróticos mitologia clássica mediante o uso de termos tais como “monte”,
utilizando-se de técnicas como a alegoria e o gesto teatral, as quais “Natureza” e “Jove”, respectivamente, nos textos 1, 2 e 3.
distingue sua produção de seus contemporâneos. II. Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa são poetas
árcades, embora o primeiro tenha se iniciado como barroco, daí os
Questão 07 (UPE 2015) trechos dos dois poemas de sua autoria revelarem traços desse
No Arcadismo brasileiro, encontram-se textos épicos, líricos e momento da Literatura. De outro modo, Cláudio Manuel da Costa,
satíricos. Com base nessa afirmação, leia os textos a seguir: no poema de número 1, se apresenta pré-romântico, razão pela
qual sua produção se encontra dividida em dois momentos
TEXTO 1 literários.
Pastores, que levais ao monte o gado, III. A referência a Critilo, autor textual do oitavo poema, sendo
Vede lá como andais por essa serra; espanhol, é um dado falso que tem por finalidade ocultar a
Que para dar contágio a toda a terra, nacionalidade do autor mineiro e, ao mesmo tempo, corroborar a
Basta ver-se o meu rosto magoado: camuflagem da autoria, em decorrência do tom satírico e agressivo
Eu ando (vós me vedes) tão pesado; da epístola em versos. Contudo, o desejo de ocultação não foi
E a pastora infiel, que me faz guerra, alcançado, porque Tomás Antônio Gonzaga foi preso e deportado,
É a mesma, que em seu semblante encerra por ter sido atribuída a ele a autoria das referidas Cartas.
A causa de um martírio tão cansado. IV. O tema do amor se faz presente nos poemas 1 e 2. Ambos
Se a quereis conhecer, vinde comigo, apresentam bucolismo, característica do Arcadismo, contudo existe
Vereis a formosura, que eu adoro; algo que os diferencia: o pessimismo do eu poético no texto 1 e a
Mas não; tanto não sou vosso inimigo: reciprocidade do sentimento amoroso no 2.
Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro; V. O texto 3, apesar de satírico, nega, pelos aspectos temáticos e
Que se seguir quiserdes, o que eu sigo, formais, qualquer característica do Arcadismo, pois o poeta se
Chorareis, ó pastores, o que eu choro. preocupa, de modo especial, com os acontecimentos históricos e
Cláudio Manuel da Costa se exime de preocupação estética, revelando desconhecimento da
produção épica de poetas gregos e latinos.
TEXTO 2
[...] Está(ão) CORRETO(S), apenas, o(s) item(ns):
Enquanto pasta alegre o manso gado, a) I, II e III. b) I e IV. c) II, IV e V.
minha bela Marília, nos sentemos d) IV. e) I.
à sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos Questão 08
na regular beleza,
TEXTO: VIVER
que em tudo quanto vive nos descobre
Vovô ganhou mais um dia. Sentado na copa, de pijama e chinelas,
a sábia Natureza.
enrola o primeiro cigarro e espera o gostoso café com leite.
[...]
Lili, matinal como um passarinho, também espera o café com leite.
Tomás Antônio Gonzaga
Tal e qual vovô.
Pois só as crianças e os velhos conhecem a volúpia de viver dia a
TEXTO 3
dia, hora a hora, e suas esperas e desejos nunca se estendem
[...]
além de cinco minutos...
Amigo Doroteu, não sou tão néscio,
(QUINTANA, Mário. "Sapato florido". 1 reimpressão.
Que os avisos de Jove não conheça.
Porto Alegre: Editora Globo, 2005)
Pois não me deu a veia de poeta,
Nem me trouxe, por mares empolados,
O texto de Mário Quintana, poeta modernista, destaca a
A Chile, para que, gostoso e mole,
consequência de um aspecto central da visão de mundo tanto
Descanse o corpo na franjada rede.
barroca quanto árcade:
Nasceu o sábio Homero entre os antigos,
a) a fruição do momento presente.
Para o nome cantar, do grego Aquiles;
b) a constatação da efemeridade da vida.
Para cantar, também, ao pio Enéias,
c) a valorização da vida no campo.
Teve o povo romano o seu Vergílio:
d) a condenação das vaidades humanas.
Assim, para escrever os grandes feitos
e) o ideal de uma vida simples e equilibrada.
Que o nosso Fanfarrão obrou em Chile,
Entendo, Doroteu, que a Providência
Lançou, na culta Espanha, o teu Critilo.
[...] EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Tomás Antônio Gonzaga - Cartas Chilenas
Leia o soneto XLVI, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), para
Sobre eles, analise os itens seguintes: responder à(s) questão(ões) a seguir.

I. Os três poemas são árcades e nada têm que possamos Não vês, Lise, brincar esse menino
considerá-los pertencentes a outro estilo de época, uma vez que Com aquela avezinha? Estende o braço,
seus autores só produziram poemas líricos e com características Deixa-a fugir, mas apertando o laço,
totalmente arcádicas. Além disso, todos eles trazem referências à A condena outra vez ao seu destino.

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93
Aula 10 - O Arcadismo No Brasil
Nessa mesma figura, eu imagino, c) V - F - V - V - F
Tens minha liberdade, pois ao passo d) V - V - F - F - V
Que cuido que estou livre do embaraço, e) V - F - V - F - V
Então me prende mais meu desatino.
Questão 04 (Ufpe)
Em um contínuo giro o pensamento "Basta senhor, porque roubo em uma barca sou ladrão, e vós que
Tanto a precipitar-me se encaminha, roubais em uma armada sois imperador? Assim é. Roubar pouco é
Que não vejo onde pare o meu tormento. culpa, roubar muito é grandeza. O ladrão que furta para comer, não
vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas que levam de que
Mas fora menos mal esta ânsia minha, eu trato, são os outros... ladrões de maior calibre e mais alta
Se me faltasse a mim o entendimento, esfera...Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam
Como falta a razão a esta avezinha. cidades e reinos, os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem
temor nem perigo; os outros se furtam são enforcados, e o
(Domício Proença Filho (org.). A poesia dos inconfidentes, 1996.) bucolismo estes furtam e enforcam."

Questão 01 (Unesp 2017) (Pe. Antônio Vieira. "Sermão do bom ladrão".)


No soneto, o menino e a avezinha, mencionados na primeira
estrofe, são comparados, respectivamente, "Que havemos de esperar, Marília bela ?
a) ao eu lírico e a Lise. Que vão passando os florescentes dias?
b) a Lise e ao eu lνrico. As glórias que vêm tarde já vêm frias;
c) ao desatino e ao eu lírico. E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
d) ao desatino e à liberdade.
e) a Lise e à liberdade. Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
Questão 02 (Unesp 2017) O estrago de roubar ao corpo as forças
O tom predominante no soneto é de E ao semblante a graça.
a) resignação. (Tomás Antônio Gonzaga. "Lira XIV")
b) nostalgia.
c) apatia. Sobre a obra desses autores, analise as afirmativas a seguir.
d) ingenuidade.
e) inquietude. 1) A obra de Gonzaga é exemplar do Arcadismo. O tema dos
versos acima é o "carpe diem" (gozar a vida presente), escrito
Questão 03 (Upe-ssa 1 2016) numa linguagem amena, sem arroubos, própria do Arcadismo.
Sobre a produção do Arcadismo no Brasil, analise as afirmativas a 2) Despojada de ousadias sintáticas e vocabulares, a linguagem
seguir e coloque V nas verdadeiras e F nas falsas. arcádica, no poema de Gonzaga, diferencia-se da linguagem
rebuscada, usada pelo Barroco.
( ) Tomás Antônio Gonzaga é considerado, ao lado de Cláudio 3) O texto de Vieira, sendo Barroco, está pleno de metáforas, de
Manuel da Costa, ícone da Literatura Árcade. Contudo, os dois linguagem figurada, de termos inusitados e eruditos, sendo de difícil
iniciaram suas produções poéticas de modo diverso: o primeiro compreensão.
como poeta árcade e o segundo ainda dentro dos preceitos do 4) Vieira adota a tendência barroca conceptista que leva para o
Barroco. texto o predomínio das ideias do raciocínio, da lógica, procurando
( ) Tomás Antônio Gonzaga tem a obra poética pertencente a adequar os textos religiosos à realidade circundante.
duas fases: a primeira é árcade, e a segunda tem traços
românticos. Além disso, foi poeta satírico em As Cartas Chilenas, e Está(ão) correta(s) apenas:
lírico, em Marília de Dirceu. a) 1, 2 e 3
( ) Como poeta árcade, o autor de As Cartas Chilenas utiliza o b) 1
pseudônimo de Dirceu, que nutre amor pela musa Marília. c) 2
Envolvido com o movimento dos inconfidentes, é degredado para a d) 1, 2 e 4
África, apenas regressando ao Brasil no final da vida. e) 2, 3 e 4
( ) O autor de Liras de Dirceu revela sentimentalismo e
emotividade em seus poemas, apontando, assim, para o pré- Questão 05 (Ufrs)
romantismo, que antecede o Arcadismo. O URAGUAI
( ) Tendo Tomás Antônio Gonzaga sido preso como inconfidente, Basilio da Gama
continuou a escrever poemas mais emotivos e pessimistas, Canto II
passando a falar de si mesmo e lastimando sua condição de
prisioneiro. A poesia que produz nesse período é a que mais (....)
contém características do Romantismo. Prosseguia talvez; mas o interrompe
Sepé, que entra no meio, e diz: - "Cacambo
Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA. Fez mais do que devia; e todos sabem
a) F - F - V - V - V Que estas terras, que pisas, o céu livres
b) F - V - F - V - F Deu aos nossos avós; nós também livres

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

As recebemos dos antepassados. A sequência correta é


Livres as hão de herdar os nossos filhos. a) F – V – F – V – V.
Desconhecemos, detestamos jugo b) F – F – V – V – V.
Que não seja o do céu, por mão dos padres. c) V – V – V – F – V.
As frechas partirão nossas contendas d) V – F – V – F – F.
Dentro de pouco tempo; e o vosso Mundo, e) V – F – F – F – V.
Se nele um resto houver de humanidade,
Julgará entre nós: se defendemos Questão 07 (Unifesp 2014)
- Tu a injustiça, e nós o Deus e a Pátria. - Onde estou? Este sítio desconheço:
Enfim quereis a guerra, e tereis guerra." Quem fez tão diferente aquele prado?
Lhe torna o General. - "Podeis partir-vos, Tudo outra natureza tem tomado;
Que tendes livre o passo." (....) E em contemplá-lo tímido esmoreço.

Segundo Sepé, em O URAGUAI, Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço


De estar a ela um dia reclinado;
a) os índios receberam a liberdade do céu e de seus antepassados Ali em vale um monte está mudado:
para que se associassem ao empreendimento colonial de Portugal Quanto pode dos anos o progresso!
e Espanha.
b) os índios recusam-se a lutar pelos padres cujo domínio causou Árvores aqui vi tão florescentes,
as hostilidades com as coroas portuguesa e espanhola. Que faziam perpétua a primavera:
c) os índios pretendem legar aos filhos as terras livres que Nem troncos vejo agora decadentes.
receberam de seus avós, os quais as receberam do céu.
d) os índios protestam contra o jugo do céu cujos representantes na Eu me engano: a região esta não era;
terra são os padres responsáveis pela conversão e catequese. Mas que venho a estranhar, se estão presentes
e) pretendem lutar aguerridamente contra a injustiça representada Meus males, com que tudo degenera!
pelo Deus e pela Pátria dos adversários. (Obras, 1996.)
São recursos expressivos e tema presentes no soneto,
Questão 06 (Ufsm 2012) respectivamente,
A luta é um dos assuntos preferidos da literatura épica. Leia o a) metáforas e a ideia da imutabilidade das pessoas e dos lugares.
seguinte trecho do poema épico O Uraguai, de Basílio da Gama, b) sinestesias e a superação pelo eu lírico de seus maiores
que trata desse assunto: problemas.
c) paradoxos e a certeza de um presente melhor para o eu lírico
Tatu-Guaçu mais forte na desgraça que o passado.
Já banhado em seu sangue pretendia d) hipérboles e a força interior que faz o eu lírico superar seus
Por seu braço ele só pôr termo à guerra. males.
Caitutu de outra parte altivo e forte e) antíteses e o abalo emocional vivido pelo eu lírico.
Opunha o peito à fúria do inimigo,
E servia de muro à sua gente. Questão 08 (Uel 2010)
Fez proezas Sepé naquele dia. Lira 83
Conhecido de todos, no perigo
Mostrava descoberto o rosto e o peito Que diversas que são, Marília, as horas,
Forçando os seus co'exemplo e co'as palavras. que passo na masmorra imunda e feia,
dessas horas felizes, já passadas
Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada uma das afirmações na tua pátria aldeia!
relacionadas com O Uraguai.
( ) O assunto d' O Uraguai é a expedição mista de portugueses e Então eu me ajuntava com Glauceste;
espanhóis contra as missões jesuíticas do Rio Grande do Sul, para e à sombra de alto cedro na campina
executar as cláusulas do tratado de Madrid, em1756. eu versos te compunha, e ele os compunha
( ) Mesmo se posicionando favoravelmente aos vencedores à sua cara Eulina.
europeus, o narrador de O Uraguai deixa perceber, em passagens
como a citada, sua simpatia e admiração pelo povo indígena. Cada qual o seu canto aos astros leva;
( ) No fragmento referido, Tatu-Guaçu, Sepé e Caitutu têm de exceder um ao outro qualquer trata;
exaltadas suas forças físicas e morais, lembrando os heróis épicos o eco agora diz: Marília terna;
da antiguidade. e logo: Eulina ingrata.
( ) A análise formal dos versos confirma que Basílio da Gama
imita fielmente a epopeia clássica, representada pelo modelo Deixam os mesmos sátiros as grutas:
vernáculo da época: Os Lusíadas, de Camões. um para nós ligeiro move os passos,
( ) A valorização do índio e da natureza brasileira corresponde ouve-nos de mais perto, e faz a flauta
aos ideais iluministas e árcades da vida primitiva e natural e cos pés em mil pedaços.
prenuncia uma tendência da literatura romântica: o nativismo.
— Dirceu — clama um pastor — ah! bem merece

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Aula 10 - O Arcadismo No Brasil
da cândida Marília a formosura. Questão 10 (UEL 2010)
E aonde — clama o outro — quer Eulina Com base no poema de Tomás Antônio Gonzaga, considere as
achar maior ventura? afirmativas a seguir:
I. Na primeira estrofe do poema, o eu-lírico coloca lado a lado sua
Nenhum pastor cuidava do rebanho, situação de prisioneiro político no presente da elaboração do
enquanto em nós durava esta porfia; poema e sua situação de estrangeiro no passado vivido em
e ela, ó minha amada, só findava ambiente urbano.
depois de acabar-se o dia. II. Na quinta estrofe do poema, há o registro da “porfia”, ou seja, da
disputa obstinada efetivada por meio de palavras, de dois pastores:
À noite te escrevia na cabana Dirceu (Tomás Antônio Gonzaga) e Glauceste (Cláudio Manuel da
os versos, que de tarde havia feito; Costa).
mal tos dava e os lia, os guardavas III. Nas estrofes de números 7 e 8, depara-se o leitor com ambiente
no casto e branco peito. distinto daquele compartilhado com Glauceste, pois agora o
ambiente é fechado e restrito ao convívio com a mulher amada.
IV. Na última estrofe do poema, o eu-lírico afirma continuar
Beijando os dedos dessa mão formosa,
cantando as graças de outros rostos, embora só consiga sentir o
banhados com as lágrimas do gosto,
ambiente fétido e repugnante da prisão.
jurava não cantar mais outras graças
que as graças do teu rosto. Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
Ainda não quebrei o juramento; b) Somente as afirmativas II e III são corretas.
eu agora, Marília, não as canto; c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
mas inda vale mais que os doces versos d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
a voz do triste pranto. e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
(GONZAGA, T. A. Marília de Dirceu & Cartas Chilenas. São Paulo:
Ática, 1997. p. 126-127.) Questão 11
LIRA III
Observando o poema acima e seus elementos constitutivos, Tu não verás, Marília, cem cativos
percebe-se a presença de características do Arcadismo brasileiro, Tirarem o cascalho, e a rica terra,
como Ou dos cercos dos rios caudalosos,
a) A presença do ambiente rústico; a transmissão da palavra Ou da minada serra.
poética ao autor; a celebração da vida familiar; a engenhosa
elaboração pictórica do poema de maneira a dominarem as figuras Não verás separar ao hábil negro
de linguagem. Do pesado esmeril a grossa areia,
b) A presença do ambiente nacional; a supressão da palavra E já brilharem os granetes de ouro
poética; a celebração da vida familiar; a construção pictórica do No fundo da bateia.
poema de maneira a dominarem as figuras de linguagem.
c) A presença do ambiente urbano; a transmissão da palavra Não verás derrubar os virgens matos;
poética ao autor; a celebração da vida rústica; a elaboração Queimar as capoeiras ainda novas;
predominantemente hiperbólica do poema. Servir de adubo à terra a fértil cinza;
d) A presença de ambiente bucólico; a delegação da palavra Lançar os grãos nas covas.
poética a um pastor; a celebração da vida simples; a clareza, a
lógica e a simplicidade na construção do poema. Não verás enrolar negros pacotes
e) A presença do ambiente nacional; a delegação da palavra Das secas folhas do cheiroso fumo;
poética a um pastor; a celebração da vida em sociedade; a Nem espremer entre as dentadas rodas
construção racional do poema enfatizando o decoro e a discrição. Da doce cana o sumo.

Questão 09 (UEL 2010) Verás em cima da espaçosa mesa


O ideal horaciano da “áurea mediocridade”, tão cultivado pelos Altos volumes de enredados feitos:
poetas árcades, faz-se presente pelo registro Ver-me-ás folhear os grandes livros,
a) de uma existência em contato com seres míticos, como é o caso E decidir os pleitos.
dos sátiros.
b) de uma vida raciocinante expressa por meio de linguagem Enquanto revolver os meus consultos,
elaborada mefaforicamente. Tu me farás gostosa companhia,
c) da aceitação obstinada dos reveses da vida impostos pela Lendo os fastos da sábia mestra história,
política. E os cantos da poesia.
d) do prazer suscitado pelas situações difíceis a serem
disciplinadamente encaradas. Lerás em alta voz a imagem bela,
e) de uma vida tranquila e amorosa em contato com a natureza E eu, vendo que lhe dás o justo apreço,
sempre amena. Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.

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96
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

(...) Tomás Antônio Gonzaga vistosa parte, que ficar fronteira,


apontando direi: — Ali falamos,
O poema acima faz parte da obra poética de Tomás Antônio ali, ó minha bela,
Gonzaga, principal porta do Arcadismo brasileiro. Levando em te vi a vez primeira.
conta os elementos constitutivos da estética árcade, percebe-se no
texto que o poeta: Verterão os meus olhos duas fontes,
a) adequa-se ao ideal de aurea mediocritas, ao equiparar-se a nascidas de alegria;
profissões que não exigem o conhecimento acadêmico. farão teus olhos ternos outro tanto;
b) assume uma posição de superioridade, valorizando o então darei, Marília, frios beijos
pastoralismo e menosprezando explicitamente profissionais não na mão formosa e pia,
especializados. que me limpar o pranto.
c) rompe com a convenção árcade, uma vez que não empresta sua
voz a um sujeito lírico pastor e destaca aspectos biográficos em sua Assim irá, Marília, docemente
poesia. meu corpo suportando
d) nega o ideal de vida simples e digna ao destacar seu status, do tempo desumano a dura guerra.
revelando-se ganancioso e preocupando-se com sua ascensão Contente morrerei, por ser Marília
social. quem, sentida, chorando
e) assume o bucolismo típico da escola árcade, ao destacar meus baços olhos cerra.
elementos da vida no campo, valorizando-a em detrimento da vida (Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e mais poesias. Lisboa:
na cidade. Livraria Sá da Costa Editora, 1982.)

Questão 12 (Unesp 2012) A leitura atenta deste poema do livro Marília de Dirceu revela que o
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: eu lírico
Leia o poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810). a) sente total desânimo perante a existência e os sentimentos.
b) aceita com resignação a velhice e a morte amenizadas pelo
Não vês aquele velho respeitável, amor.
que à muleta encostado, c) está em crise existencial e não acredita na durabilidade do amor.
apenas mal se move e mal se arrasta? d) protesta ao Criador pela precariedade da existência humana.
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo, e) não aceita de nenhum modo o envelhecimento e prefere morrer
o tempo arrebatado, ainda jovem.
que o mesmo bronze gasta!
Questão 13 (Unesp 2012)
Enrugaram-se as faces e perderam No conteúdo da quinta estrofe do poema encontramos uma das
seus olhos a viveza: características mais marcantes do Arcadismo:
voltou-se o seu cabelo em branca neve; a) paisagem bucólica.
já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo, b) pessimismo irônico.
nem tem uma beleza c) conflito dos elementos naturais.
das belezas que teve. d) filosofia moral.
e) desencanto com o amor.
Assim também serei, minha Marília,
daqui a poucos anos, Questão 14 (Enem 2016)
que o ímpio tempo para todos corre. Soneto VII
Os dentes cairão e os meus cabelos. Onde estou? Este sítio desconheço:
Ah! sentirei os danos, Quem fez tão diferente aquele prado?
que evita só quem morre. Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Mas sempre passarei uma velhice
muito menos penosa. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
Não trarei a muleta carregada, De estar a ela um dia reclinado:
descansarei o já vergado corpo Ali em vale um monte está mudado:
na tua mão piedosa, Quanto pode dos anos o progresso!
na tua mão nevada.
Árvores aqui vi tão florescentes,
As frias tardes, em que negra nuvem Que faziam perpétua a primavera:
os chuveiros não lance, Nem troncos vejo agora decadentes.
irei contigo ao prado florescente:
aqui me buscarás um sítio ameno, Eu me engano: a região esta não era;
onde os membros descanse, Mas que venho a estranhar, se estão presentes
e ao brando sol me aquente. Meus males, com que tudo degenera!
COSTA, C. M. Poemas. Disponível em:
Apenas me sentar, então, movendo www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012.
os olhos por aquela
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97
Aula 10 - O Arcadismo No Brasil
No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a contemplação da
paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece
uma
a) angústia provocada pela sensação de solidão.
b) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
c) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
d) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
e) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.

Questão 15 (Ufsm 2014)


O poeta árcade Cláudio Manuel da Costa valeu-se, em alguns
momentos, da natureza brasileira para compor sua poesia, fugindo,
assim, pelo menos em parte, do convencionalismo neoclássico. A
partir dessa ideia, leia o poema a seguir.

LVIII

1Altas serras, 3que ao Céu estais servindo

De muralhas, que o tempo não profana,


Se Gigantes não sois, que a forma humana
Em duras penhas foram confundindo;

Já sobre o vosso cume se está rindo


O 4Monarca da luz, que esta alma engana;
Pois na face, que ostenta, soberana,
O rosto de meu bem me vai fingindo.

Que alegre, que mimoso, que brilhante


Ele se me afigura! Ah qual efeito
Em minha alma se sente neste instante!

Mas ai! a que delírios me sujeito!


Se quando no Sol vejo o seu semblante,
Em vós descubro 2ó penhas o seu peito?

Acerca do poema, assinale a alternativa INCORRETA.


a) O poema é um soneto composto de versos decassílabos
heroicos, com rima intercalada nos quartetos e cruzada nos
tercetos.
b) O eu lírico tem como interlocutor de seu poema as “Altas serras”
(ref. 1), às quais se dirige diretamente também ao final, em “ó
penhas” (ref. 2), caracterizando assim o uso de apóstrofes.
c) O eu lírico emprega algumas inversões sintáticas no poema,
como em “[...] que ao Céu estais servindo! De muralhas” (ref. 3), a
que se chama de hipérbatos e que remetem mais ao estilo barroco
que ao árcade.
d) O eu lírico compara o Sol, a que chama de “Monarca da luz” (ref.
4), ao rosto de sua amada, o que caracteriza uma personificação.
e) Ao olhar o Sol sobre as serras, o eu lírico enxerga uma imagem
de sua amada, cujo peito seria composto então pelas penhas, visão
essa que enche sua alma de alegria.

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98
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

AULA 11 – ROMANTISMO I
01. CONTEXTO HISTÓRICO
O Romantismo foi uma estética essencialmente burguesa.
A ascensão da burguesia europeia é um processo que se inicia
com o Mercantilismo, nos séculos XVI e XVII, passa pela
Revolução Inglesa, de 1688, pela Independência Americana, de
1776, e atinge o ápice com a Revolução Francesa, de 1789.
Com a Revolução Francesa, veio o fim das barreiras rígidas entre
as classes sociais e o estabelecimento de um novo modo de vida,
baseado na livre iniciativa, exaltando a competência e os méritos
pessoais de cada indivíduo, independentemente de seus títulos e
seus antepassados.
A publicação da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão Eugène Delacroix
tem um efeito quase que imediato no campo da Literatura,
principalmente através do artigo onze, que afirma: "A livre - Ilogismo, primado do sentimento em detrimento da razão.
comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais Exaltam-se os sentidos, e tudo o que é provocado pelo impulso é
preciosos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, permitido. O romântico oscila entre a alegria e a melancolia, entre
imprimir livremente." o entusiasmo e o tédio. Supervalorizam-se o amor, a virgindade, o
sentimento nostálgico, a melancolia, o sonho.
Assim, cada francês passa a ser um escritor em potencial, visto
que, com a Revolução, caem também as “Bastilhas acadêmicas”. - Culto ao fantástico e senso de mistério
Diante disso, o Romantismo se estabeleceu como uma estética O mundo romântico abre-se com facilidade para o mistério, para o
burguesa, libertária e que veio reagir aos valores éticos e sobrenatural. Representa com frequência o sonho, a imaginação.
intelectuais predominantes durante o Classicismo, associados à O que acontece na obra é impossível de acontecer na realidade,
Aristocracia. Destarte, à razão, o romantismo opôs o sentimento; pois é fruto de pura fantasia: não carece de fundamentação lógica.
ao objetivismo, o subjetivismo; ao materialismo, o espiritualismo;
ao equilíbrio, à expansão e o entusiasmo; ao universalismo,
buscou valorizar as raízes nacionais e populares etc.
Todas as transformações ocorridas graças às revoluções liberais
geraram, a principio, um sentimento de euforia, diante do poder do
indivíduo e de suas chances de triunfo e mobilidade social.
Acreditava-se que um homem competente e ambicioso poderia
mudar seu destino e atingir o ápice na escala social.
Mas, em um segundo momento, o romântico percebe as falácias
que eram as promessas revolucionárias. Dá-se conta que é
impossível uma nova experiência napoleônica e percebe a
mediocridade da burguesia, centrada apenas na acumulação de
capital.
Essas constatações geram uma profunda melancolia, um
sentimento de desilusão com o mundo e, em consequência, os
John Henry Fuseli – O pesadelo
artistas se voltam cada vez mais para o próprio eu, um eu
angustiado, marcado pelo tédio, pelo pessimismo.
- Idealização e Exagero
O sentimento de opressão, de inadaptação à civilização que se O romântico busca a perfeição. Assim, idealiza o amor, a mulher, o
construiu ao seu redor, faz com que o romântico sinta um profundo passado, a natureza, a pátria.
desejo de evasão: é o escapismo, que vai se manifestar na fuga
através da busca para uma natureza inóspita, exótica; no culto ao - Pessimismo
passado (passado histórico e individual); no sonho e na fantasia; A impossibilidade de realizar o sonho absoluto do “eu” gera a
na morte. melancolia, a angústia, a busca da solidão, a inquietude, o
desespero, a frustração que leva às vezes ao flerte com a morte,
CARACTERÍSTICAS GERAIS solução definitiva para o mal-do-século.
- Individualismo e subjetivismo
O romântico não retrata a realidade como ela é, objetivamente, - Escapismo
mas como ele a vê, como ele a sente. A realidade é retratada a Diante do tédio da vida, o romântico deseja evadir-se, fugir da
partir do seu ponto de vista, numa atitude pessoal e íntima. Assim, realidade para um mundo de sonho e fantasia, para um passado
a noção de beleza deixa de ser agregada ao equilíbrio e à (histórico ou individual) idealizado, para uma natureza exótica, ou
harmonia das formas, passando a ser relativa. para a morte.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

- Reformismo
Refletindo um contexto histórico revolucionário, o romântico
associa-se a movimentos democráticos e libertários e exalta
personalidades militares e políticas que reflitam esses ideais.

Horace Vernet - Anjo da morte

- Culto à Natureza
A natureza adquire uma posição central no Romantismo. Ela é o
lugar de refúgio, puro e intocado, que o sujeito romântico busca Delacroix - A liberdade guiando o povo
para curar-se espiritualmente. Associada a essa ideia, há o mito do
“bom selvagem” de Rousseau, do homem bom, vivendo em estado - Liberdade Formal e Temática
de natureza. Tem-se, ainda, a perspectiva da natureza como Em consequência desse espírito libertário, a inspiração individual é
símbolo da grandeza da pátria, reforçando o nacionalismo. quem dita a expressão romântica, valorizando-se a
espontaneidade e o arrebatamento. A poesia origina-se no
coração, e toda a poesia é reduzida ao lirismo. Não há mais regras
e convenções a serem seguidas.

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM

Questão 01
Esta questão versa sobre aspectos do ROMANTISMO enquanto
estado de alma e estilo literário.

"Nenhuma força virá me fazer calar


Faço no tempo soar minha sílaba
Canto somente o que pede para se cantar
Caspar David Friedrich - Paisagem nas Montanhas da Silésia Sou o que soa
Eu não douro pílula.
- Religiosidade Tudo o que eu quero
Em oposição ao paganismo neoclássico, é a fé, pautada na É um acorde perfeito, maior
religiosidade Cristã, que comanda o espírito romântico. Com todo mundo podendo brilhar
Num cântico
Canto somente o que não pode mais se calar
Noutras palavras, sou muito romântico.“
Caetano Veloso / "Muito Romântico"

( ) É comum encontrarmos traços de romantismo até na literatura


dos nossos dias, a exemplo destes versos, em que o "EU LÍRICO"
mostra seu estado de alma romântico.
( ) Enquanto ESTADO DE ALMA , o romantismo encontra-se
unicamente concentrado no Romantismo Literário (primeira metade
do século XIX).
( ) Pela temática explorada, o compositor Caetano Veloso integra
o ESTILO DE ÉPOCA chamado Romantismo.
( ) Não há qualquer distinção entre ROMANTISMO (estado de
espírito) e ROMANTISMO (estilo de época).
Delacroix - Cristo na cruz ( ) Fuga da realidade através da imaginação, comportamento
baseado na liberdade, na emoção e na idealização da realidade
definem o estado de alma romântico.

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100
Aula 11 – Romantismo I
Questão 02 Vem, anjo, minha donzela,
(G1 - cftmg 2008) A questão é uma passagem, extraída do Minh‘alma, meu coração!
Prólogo da primeira edição do livro "Primeiros Cantos", de Que noite, que noite bela!
Gonçalves Dias. Como é doce a viração!
"Dei o nome de Primeiros Cantos às poesias que agora E entre os suspiros do vento
publico, porque espero que não serão as últimas. Da noite ao mole frescor,
Muitas delas não têm uniformidade nas estrofes, porque Quero viver um momento,
menosprezo regras de mera convenção; adotei todos os ritmos da Morrer contigo de amor!
metrificação portuguesa, e usei deles como me pareceram quadrar Álvares de Azevedo
melhor com o que eu pretendia exprimir.
Não têm unidade de pensamento entre si, porque foram Para acentuar o estado de ânimo emocionado o autor fez uso dos
compostas em épocas diversas - debaixo de céu diverso - e sob a seguinte recurso, tipicamente romântico:
influência de impressões momentâneas. Foram compostas nas A) uso recorrente de hipérboles
margens viçosas do Mondego e nos píncaros enegrecidos do B) adjetivação constante
Gerez - no Doiro e no Tejo - sobre as vagas do Atlântico, e nas C) pontuação expressiva
florestas virgens da América. D) metaforização com base na natureza
Escrevi-as para mim, e não para os outros; contentar-me-ei, E) uso de apóstrofes
se agradarem; e se não... é sempre certo que tive o prazer de as
ter composto." Questão 04
Nesse trecho do prólogo, o autor manifesta sua adesão aos (Fgvrj 2015) Caracteriza o Romantismo, na literatura brasileira,
princípios românticos de: I. o desejo de exprimir sentimentos como orgulho patriótico,
a) idealização e subjetivismo. considerado, então, algo de primordial importância;
b) sentimentalismo e nacionalismo. II. a intenção de criar uma literatura independente, diversa, de
c) escapismo e gosto pela imaginação. identidade bem marcada;
d) egocentrismo e liberdade de criação. III. a percepção da atividade literária como parte indispensável da
tarefa patriótica de construção nacional.
Questão 03
“Os românticos - em suas obsessões sentimentais - terminam Está correto o que se afirma em
indiscutivelmente por criar um novo significado para as paixões a) I, somente.
humanas. A expressão "amor romântico" ainda hoje é comum e b) II, somente.
indica profundidade, intensidade, delicadeza e até desmedida do c) I e II, somente.
afeto. Os sentimentos tornam-se mais importantes do que a d) II e III, somente.
racionalidade. A existência só adquire sentido, se guiada e e) I, II e III.
desenvolvida sob o seu domínio. Eles são sob medida da
interioridade de cada pessoa, medida de todas as coisas. Negar-se Questão 05
à expressão sentimental significa ser insensível e estúpido.” Observe a tela de Caspar David Friedrich
Sergius Gonzaga

Observe o trecho abaixo, de um poema de Álvares de Azevedo:

Amor
Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!

Na tu‘alma, em teus encantos


E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber


Caspar David Friedrich nasceu em um período em que a sociedade
Os teus amores do céu,
da Europa estava se movendo de uma forte inclinação materialista
Quero em teu seio morrer
para um sentimento de desilusão, onde novos impulsos espirituais
No enlevo do seio teu!
começavam a se fazer sentir. Essa mudança encontrou expressão
em uma reapreciação do mundo natural, visto com uma criação
Quero viver d´esperança,
divina pura, em contraste com a artificialidade da civilização
Quero tremer e sentir!
construída pelo homem, o que gerou uma arte muitas vezes
Na tua cheirosa trança
voltada para o escapismo.
Quero sonhar e dormir!

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101
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Diante disso, a tela acima pode ser considera uma obra De teus seios tão mimosos
representativa do: Quem gozasse o talismã!
a) Renascimento, visto que procura ressaltar a perfeição do ser Quem ali deitasse a fronte
humano diante da natureza, numa clara postura Antropocentrica. Cheia de amoroso afã!
b) Barroco, por trazer grande carga de dramaticidade, refletindo a E quem nele respirasse
angústica do homem face o dualismo mundo material/mundo A tua malva-maçã!
espiritual.
c) Romantismo, pois retrata a busca pelo exótico, pelo inóspito Dá-me essa folha cheirosa
numa clara busca de comunhão entre o homem e a natureza. Que treme no seio teu!
d) Expressionismo, visto que não apresenta a realidade de forma Dá-me a folha… hei de beijá-la
naturalista, como se fosse uma realidade objetiva e imutável. O Sedenta no lábio meu!
artista deforma a realidade. Não vês que o calor do seio
e) Naturalismo, por apresentar uma natureza opressora, que Tua malva emurcheceu...
determina o comportamento do ser humano de modo irremediável. [...]
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa.
Questão 06 Organização de Alexei Bueno.
Poema Há uma flor que está em redor de mim,
uma flor que nasce nos cabelos da aurora
Estrelas e desce sobre as águas e os ombros
Singelas, de todos nós. Não, não quero amar
Luzeiros, senão a natureza quando ela se abre
Fagueiros, como uma flor e suas corolas à madrugada;
Esplêndidos orbes, que o mundo aclarais! eu não quero amar, senão a mulher
Desertos e mares, - florestas vivazes! que está em redor de mim, a mulher
Montanhas audazes que o céu topeais! que me acolhe com seus braços
Abismos e me oferece o que há de mais íntimo,
Profundos! a sua pérola e sonho à madrugada.
Cavernas
Eternas! GARCIA, José Godoy. Poesia. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 153.
Extensos,
Imensos Nos poemas transcritos, a representação da figura feminina se
Espaços assemelha por apresentar
Azuis! a) a sensualidade da mulher metaforizada pelos elementos da
Altares e tronos, natureza.
Humildes e sábios, soberbos e grandes! b) a idealização de uma mulher única enfatizada pela fidelidade do
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz! eu lírico.
Só ela nos mostra da glória o caminho, c) o distanciamento da mulher exemplificado por sua indiferença
Só ela nos fala das leis de - Jesus! aos apelos do eu lírico.
d) a simplicidade da mulher evidenciada por suas qualidades
Levando em consideração que o poema acima é de autoria do morais.
poeta romântico Fagundes Varela, assinale o item correto a e) o exotismo da mulher emoldurado pela descrição de um cenário
respeito dos procedimentos de construção do texto utilizados pelo idílico.
autor, em relação ao Romantismo.
a) Representa perfeitamente o cânone poético do Romantismo, Questão 08
retomando a medida velha, de caráter mais popular. (Ifsp 2011) Leia o poema de Francisco Otaviano.
b) Mantém-se preso aos padrões formais clássicos, utilizando uma
linguagem erudita. Ilusões da Vida
c) Aproveita-se da liberdade de criação típica do Romantismo para
explorar a função imagética da linguagem poética. Quem passou pela vida em branca nuvem,
d) Rompe com o cânone romântico, evitando empregar a típica E em plácido repouso adormeceu;
adjetivação romântica. Quem não sentiu o frio da desgraça,
e) Aproxima-se da linguagem utilizada no Realismo, tanto pela Quem passou pela vida e não sofreu;
disposição das palavras no espaço da página, quanto pela forte Foi espectro de homem, não foi homem,
emotividade do texto. Só passou pela vida, não viveu.

Questão 07 (SECCHIN, Antonio Carlos. Roteiro da poesia brasileira –


(Ufg 2013) Leia os poemas apresentados a seguir. Romantismo. São Paulo: Global, 2007.)

MALVA-MAÇÃ Este poema pertence à estética romântica porque


A P... a) sugere que o leitor, para ser feliz, viva alienado e distante da
realidade.
b) são explícitas as referências a alguns cânones do Catolicismo.
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102
Aula 11 – Romantismo I
c) expõe os problemas sociais que afetavam a sociedade da Questão 02
época. (Insper 2012) Vagabundo
d) nele se percebe a vassalagem amorosa, isto é, a submissão do
homem em relação à mulher. Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,
e) sugere que é importante viver, de forma intensa e profunda, as Fumando meu cigarro vaporoso;
experiências da existência humana. Nas noites de verão namoro estrelas;
Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Questão 01 Mas tenho na viola uma riqueza:
(Upe-ssa 2 2017) O Romantismo não é só um período literário, ele Canto à lua de noite serenatas,
também é um movimento que abarca as artes plásticas. Assim, E quem vive de amor não tem pobrezas.
analise as imagens a seguir. (...)
(Álvares de Azevedo)

A visão de mundo expressa pelo eu lírico nos versos de Álvares de


Azevedo revela o(a)
a) desequilíbrio do poeta adolescente e indeciso, que não é capaz
de amar uma mulher nem a si próprio.
b) valorização da vida boêmia que proporciona um outro tipo
felicidade, desvinculada de valores materiais.
c) postura acrítica que o poeta tem diante da realidade, seja em
relação ao amor, seja em relação à vida social.
d) lamento do poeta que leva a vida peregrina e pobre, sem bens
materiais e nenhuma forma de felicidade.
e) constatação de que a música é o único expediente capaz de
levá-lo à obtenção de recursos materiais.

Questão 03
(Ufrs) Leia o texto abaixo.
Uma das facetas do Romantismo é conceber o poeta como um
gênio inspirado, dono de uma sensibilidade extraordinária. Isso faz
com que ele expresse suas ideias e emoções de uma forma
original e seja capaz de revelar realidades inacessíveis ao homem
Acerca dos textos acima, assinale com V as afirmativas comum. Dos exemplos citados abaixo, identifique aquele(s) que
Verdadeiras e com F as Falsas. expressa(m) a concepção acima.
I - "Meia-noite soou na floresta
( ) É possível afirmar que esses textos têm em comum
No relógio de sino de pau;
complexos valores ideológicos, próprios da expressão plástica
E a velhinha, rainha da festa,
romântica.
Se assentou sobre o grande jirau."
( ) A Imagem 1 expressa uma das temáticas do Romantismo,
(Bernardo Guimarães)
isto é, a liberdade contra a tirania.
II - "Se é vate quem acesa a fantasia
( ) A Imagem 2 dialoga com o Romantismo por tratar de uma
Tem de divina luz na chama eterna;
temática cara aos românticos, que é a exaltação do passado
Se é vate quem do mundo o movimento
histórico e de caráter nacionalista.
Co'o movimento das canções governa;
( ) A Imagem 3 expressa, de forma dramática, a tragédia de um
(...)
naufrágio. Nessa obra, é possível identificar uma das
Se é vate quem dos povos, quando fala,
características do Romantismo, a hipervalorização dos
As paixões vivifica, excita o pasmo,"
sentimentos, tanto as do mundo físico natural como as emoções
(Laurindo Rabelo)
pessoais.
III - "Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
( ) A Imagem 4 dialoga com a obra de José de Alencar, O
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes,
Uraguai, cuja protagonista é Iracema.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
A sequência CORRETA, de cima para baixo é:
(...)
a) V – V – V – V – F
O véu da noite me atormenta em dores,
b) F – F – V – V – F
A luz da aurora me intumesce os seios,"
c) F – V – V – F – F
(Casimiro de Abreu)
d) V – V – V – F – V
e) V – F – V – F – V Quais exemplos correspondem à concepção citada?
a) Apenas I.
b) Apenas II.

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103
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

c) Apenas I e II. e) a antítese instaurada na comparação entre realidade e ficção


d) Apenas II e III. produz a ideia de que a poesia deva realçar a aparência das
e) I, II e III. coisas.

Questão 04 Questão 06
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES: No texto acima, estão presentes diversas funções da linguagem,
PREFÁCIO como a função poética, a função emotiva, a função conativa e a
São os primeiros cantos de um pobre poeta. Desculpai-os. As função metalinguística. A função metalinguística se mostra
primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de presente porque o autor:
amor. a) imprime ao texto as marcas de sua atitude pessoal, seus
É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma sentimentos.
coroa de folhas, mas sem viço. b) transmite informações objetivas sobre o tema de que trata o
Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas da lira interna texto.
que agitava um sonho, notas que o vento levou, – como isso dou a c) busca persuadir o receptor do texto a adotar certo
lume essas harmonias. comportamento.
São as páginas despedaçadas de um livro não lido... d) faz reflexões sobre a sua própria poesia, apresentando-a para o
E agora que despi a minha musa saudosa dos véus do mistério do leitor.
meu amor e da minha solidão, agora que ela vai seminua e tímida e) objetiva verificar ou fortalecer a eficiência da mensagem
por entre vós, derramar em vossas almas os últimos perfumes de veiculada.
seu coração, ó meus amigos, recebei-a no peito, e amai-a como o
consolo que foi de uma alma esperançosa, que depunha fé na Questão 07
poesia e no amor – esses dois raios luminosos do coração de (Ufg 2013) No prefácio, a cena enunciativa coloca o autor e o leitor
Deus. em um mesmo tempo e espaço. Quais elementos linguísticos
contribuem para esse efeito no diálogo?
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. a) As vozes em terceira pessoa e a palavra “primavera”.
Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. b) Os enunciados negativos e o termo “lira”.
p. 120. c) As orações adversativas e o substantivo “poeta”.
d) Os argumentos explicativos e o adjetivo “pobre”.
(Ufg 2013) O texto acima foi retirado do prefácio da obra Lira dos e) As frases imperativas e o adv‫י‬rbio “agora”.
vinte anos, de Álvares de Azevedo, e tem como objetivo:
Questão 08
a) fazer uma leitura crítica da obra já lida pelo leitor, esclarecendo (Ueg 2015) Lembrança de morrer
passagens consideradas herméticas.
b) direcionar o olhar do leitor para um determinado caminho de [...]
leitura da obra, evitando interpretações equivocadas. Eu deixo a vida como deixa o tédio
c) defender a obra de julgamentos depreciativos feitos pela crítica Do deserto o poento caminheiro,
especializada, que condenou o autor pela sua imaturidade. - Como as horas de um longo pesadelo
d) destacar os aspectos positivos da obra, incentivando o leitor a Que se desfaz ao dobre sineiro
reconhecê-la como obra-prima. [...]
e) apresentar a obra ao leitor, incentivando-o à leitura, explicando a AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas de Álvares de Azevedo.
sua gênese e justificando possíveis falhas. 7. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. p. 37.

Questão 05 Este fragmento mostra uma atitude escapista típica do romantismo.


(Ufg 2013) Se ao invés de usar períodos compostos como em “É O eu lírico idealiza
uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma a) a vida como um ofício de prazer, destinado à fruição eterna.
coroa de folhas, mas sem viço.”, o autor tivesse escolhido períodos b) a morte como um meio de libertação do terrível fardo de viver.
simples: “É uma lira sem cordas. É uma primavera sem flores. É c) o tédio como a repetição dos fragmentos belos e significativos
uma coroa de folhas sem viço.”, a imagem construída a respeito de da vida.
sua obra não seria a mesma, porque d) o deserto como um destino sereno para quem vence as
a) o pressuposto produzido pelo uso do termo sem indica a hostilidades da vida.
impossibilidade de os poemas retratarem a completude das coisas
do mundo. Questão 09
b) a oposição entre os objetos naturais e os produzidos pelo (Enem 2ª aplicação 2016) O último longa de Carlão acompanha a
homem autoriza a interpretação de que a natureza seja a musa operária Silmara, que vive com o pai, um ex-presidiário, numa casa
inspiradora dos poemas. da periferia paulistana. Ciente de sua beleza, o que lhe dá certa
c) o subentendido produzido pelo uso do mas leva o leitor ao soberba, a jovem acredita que terá um destino diferente do de suas
entendimento de que a obra é comparada a produções colegas. Cruza o caminho de dois cantores por quem é
rudimentares. apaixonada. E constata, na prática, que o romantismo dos contos
d) a contradição marcada pelo uso do mas permite a compreensão de fada tem perna curta.
de que a essência das coisas se mantém mesmo quando lhes falta VOMERO, M. F. Romantismo de araque. Vida Simples, n. 121,
o atributo principal. ago. 2012.

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104
Aula 11 – Romantismo I
Reconhece-se, nesse trecho, uma posição crítica aos ideais de c) Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
amor e felicidade encontrados nos contos de fada. Essa crítica é Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
traduzida Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
a) pela descrição da dura realidade da vida das operárias. Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
b) pelas decepções semelhantes às encontradas nos contos de O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
fada. presentes,
c) pela ilusão de que a beleza garantiria melhor sorte na vida e no A vida presente.
amor.
d) A noite é mortal,
d) pelas fantasias existentes apenas na imaginação de pessoas
Completa, sem reticências,
apaixonadas.
A noite dissolve os homens,
e) pelos sentimentos intensos dos apaixonados enquanto vivem o
Diz que é inútil sofrer,
romantismo.
A noite dissolve as pátrias,
Apagou os almirantes
Questão 10 (Unicamp 2014)
Cintilantes! Nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo...
O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão

Questão 12 (UFPE 2003)


Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou se caroável)
Talvez eu tenha medo.
Talvez eu sorria, ou diga:
- Alô, Iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer
(a noite com seus sortilégios).
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa
A mesa posta.
Com cada coisa em seu lugar!
Observe a obra do pintor Delacroix, intitulada A Liberdade guiando
(Manuel Bandeira. "Consoada")
o povo (1830), e assinale a alternativa correta.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
a) Os sujeitos envolvidos na ação política representada na tela são Do deserto, o poente caminheiro
homens do campo com seus instrumentos de ofício nas mãos. - Como as horas de um longo pesadelo
b) O quadro evoca temas da Revolução Francesa, como a
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
bandeira tricolor e a figura da Liberdade, mas retrata um ato
............................................................................
político assentado na teoria bolchevique.
c) O quadro mostra tanto o ideário da Revolução Francesa Só levo uma saudade - é dessas sombras
reavivado pelas lutas políticas de 1830 na França quanto a posição Que eu sentia velar em noites minhas
política do pintor. De ti, ó minha mãe! pobre coitada
d) No quadro, vê-se uma barricada do front militar da guerra entre Que por minha tristeza te definhas!
nobres e servos durante a Revolução Francesa, sendo que a (Álvares de Azevedo. "Lembrança de Morrer")
Liberdade encarna os ideais aristocráticos.
Os dois poetas, um romântico, outro modernista, abordando o tema
Questão 11 - (Faculdade Albert Einstein 2016) da morte, apresentam um único ponto comum nos poemas que é:
Carlos Drummond de Andrade publicou em 1940 a obra a) a autopiedade que se revela na inadaptação à existência.
Sentimento do Mundo, poesia de cunho social e político e marcada b) a suavização da ideia da morte pelo uso de expressões
pela resistência diante dos totalitarismos. Poesia engajada e eufêmicas.
participante. Assim, indique nas alternativas abaixo a que contém c) a visão negativa da vida, caracterizada nos versos como um
trecho que indicia a recusa de escapismos e de fuga da realidade. longo pesadelo.
a) Tive ouro, tive gado, tive fazendas. d) o tédio de viver, presente nos dois poemas, com o tom de
Hoje sou funcionário público. angústia e desespero.
Itabira é apenas uma fotografia na parede e) a consciência da precariedade da vida expressa na não-
Mas como dói! aceitação da morte.
b) Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus
Tempo de absoluta depuração. Questão 13
Tempo em que não se diz mais: meu amor. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Porque o amor resultou inútil. Paisagens da minha terra,
E os olhos não choram. Onde o rouxinol não canta
E as mãos tecem apenas o rude trabalho. - Mas que importa o rouxinol?
E o coração está seco. Frio, nevoeiros da serra

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Quando a manhã se levanta b) no nacionalismo, reforçado pela distância da pátria e pelo


Toda banhada de sol! saudosismo em relação à paisagem agradável onde o eu lírico
[...] vivera a infância.
Sou assim, por vício inato. c) na liberdade formal, que se manifesta na opção por versos sem
Ainda hoje gosto de Diva, métrica rigorosa e temática voltada para o nacionalismo.
Nem não posso renegar d) no fazer anárquico, entendida a poesia como negação do
Peri, tão pouco índio, é fato, passado e da vida, seja pelas opções formais, seja pelos temas.
Mas tão brasileiro... Viva, e) no sentimentalismo, por meio do qual se reforça a alegria
Viva José de Alencar! presente em oposição à infância, marcada pela tristeza.
Manuel Bandeira, Sextilhas românticas
Questão 15 - (Cesgranrio)
(Mackenzie 2010) Assinale a alternativa correta. A S. PAULO
a) Em respeito ao cânone da estética modernista, o autor
Terra da liberdade!
formalizou harmonicamente seu poema, atendendo à regularidade
Pátria de heróis e berço de guerreiros,
de estrofação e à regularidade rítmica.
Tu és o louro mais brilhante e puro,
b) O título do poema ganha sentido irônico, quando relacionado à
O mais belo florão dos Brasileiros!
linguagem coloquial e marcadamente musical.
c) O padrão estético do poema, valorizando os versos
Foi no teu solo, em borbotões de sangue
heptassílabos, de caráter mais popular, em oposição à métrica
Que a fronte ergueram destemidos bravos,
clássica, recupera a tradição romântica.
Gritando altivos ao quebrar dos ferros:
d) A descrição idealizada da paisagem revela a influência
Antes a morte que um viver de escravos!
parnasiana presente nas primeiras obras do poeta.
e) A crítica à tradição literária reflete-se também na forma livre e na
Foi nos teus campos de mimosas flores,
linguagem satírica adotada pelo poeta.
À voz das aves, ao soprar do norte,
Que um rei potente às multidões curvadas
Questão 14 - (Enem 2ª aplicação 2010)
Bradou soberbo - Independência ou morte!
Texto I
Foi de teu seio que surgiu, sublime,
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Trindade eterna de heroísmo e glória,
Meu Deus! não seja já; Cujas estátuas, - cada vez mais belas,
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Dormem nos templos da Brasília história!
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e bem vês que eu morro Eu te saúdo, ó majestosa plaga,
Respirando esse ar; Filha dileta, - estrela da nação,
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo Que em brios santos carregaste os cílios
Os gozos do meu lar! À voz cruenta de feroz Bretão!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil; Pejaste os ares de sagrados cantos,
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, Ergueste os braços e sorriste à guerra,
O céu de meu Brasil! Mostrando ousada ao murmurar das turbas
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Bandeira imensa da Cabrália terra!
Meu Deus! Não seja já!
Eu quero ouvir cantar na laranjeira, à tarde, Eia! - Caminha o Partenon da glória
Cantar o sabiá! Te guarda o louro que premia os bravos!
Voa ao combate repetindo a lenda:
ABREU, C. Poetas românticos brasileiros. São Paulo: Scipione, - Morrer mil vezes que viver escravos!
1993.
Texto II (Fagundes Varela, O ESTANDARTE AURIVERDE. ln:___.
POESIAS COMPLETAS. São Paulo, Edição Saraiva, 1956, p. 85-
A ideologia romântica, argamassada ao longo do século XVIII e 86.)
primeira metade do século XIX, introduziu-se em 1836. Durante Tendo em vista o texto, assinale a opção com DUAS
quatro decênios, imperaram o “eu”, a anarquia, o liberalismo, o características do Romantismo PRESENTES NO POEMA:
sentimentalismo, o nacionalismo, através da poesia, do romance, a) entendimento racional do mundo / adjetivação abundante
do teatro e do jornalismo (que fazia sua aparição nessa época). b) polarização entre o Bem e o Mal / rigidez métrica
MOISÉS, M. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: c) exaltação do heroísmo / musicalidade acentuada
Cultrix, 1971 (fragmento). d) assimilação do ideário liberal / valorização da simplicidade do
povo brasileiro
De acordo com as considerações de Massaud Moisés no Texto II, e) temática de fundo histórico / presença da cor local
o Texto I centra-se
a) no imperativo do “eu”, reforçando a ideia de que estar longe do
Brasil é uma forma de estar bem, já que o país sufoca o eu lírico.

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106
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

modelo de antepassado heroico, que estaria na base da criação da


AULA 12 - ROMANTISMO NO BRASIL nossa raça e que ajudaria a compor um passado mítico. O nativo
brasileiro é idealizado e transformado em herói nacional,
01. CONTEXTO HISTÓRICO fornecendo à elite brasileira o motivo de orgulho e de legitimação
O Romantismo no Brasil tem no ano de 1836 as suas primeiras de sua posição recém-adquirida.
manifestações, com a publicação do livro de poemas Suspiros
Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães; e com o
lançamento de a Niterói-Revista Brasiliense, revista nacionalista
que propunha a publicação de artigos que pensassem e refletissem
o Brasil, organizada por Porto Alegre, Torres Homem, Pereira Silva
e, novamente, Gonçalves de Magalhães.
O nacionalismo foi um traço marcante em cada país onde o
romantismo se manifestou, individualizando assim o estilo nos
diversos países pela apreensão da atmosfera local.
No Brasil, essa valorização da chamada “cor local” se
desenvolveu no contexto pós-Independência do Brasil, fazendo do
nacionalismo uma característica decisiva do estilo, uma vez que os
autores românticos entenderam que ao processo de emancipação
política era necessário juntar-se uma emancipação intelectual,
artística, literária.
Portanto, a valorização da cor local era uma característica "Iracema" (1884), por José Maria de Medeiros
universal do Romantismo como estilo, que se manifestou em
diversos países, e, certamente, esse traço seria assimilado pelos - Regionalismo
nossos românticos. A proclamação da independência do Brasil (7 O Brasil tem uma longa tradição no romance regionalista, que se
de setembro de 1822), porém, tornou essa questão bem mais estende do Romantismo aos dias de hoje. Consideram-se
relevante e, desde o princípio, o nosso romantismo se caracterizou regionalistas aquelas obras que, saindo do espaço de um grande
pela busca de uma identidade nacional, por construir uma ideia de centro urbano, enfocam a realidade específica de uma região,
Brasil. habitada por tipos humanos que têm valores e práticas sociais e
“Aqui o romance, como tive ocasião de dizer, busca sempre a cor culturais semelhantes e fazem uso de uma linguagem própria.
local. A substância, não menos que os acessórios, reproduzem O Regionalismo, ou sertanismo, romântico ampliou os limites
geralmente a vida brasileira em seus diferentes aspectos e geográficos vislumbrados pelo público leitor, em geral habitante de
situações. Naturalmente os costumes do interior são os que grandes cidades do litoral, destacando as particularidades e a
conservam melhor a tradição nacional; os da capital do país, e em identidade de várias regiões.
parte, os de algumas cidades, muito mais chegados à influência Texto
europeia, trazem já uma feição mista e ademanes diferentes.” Ali começa o sertão chamado bruto.
Notícia da atual literatura brasileira, Machado de Assis Pousos sucedem a pousos, e nenhum teto habitado ou ruínas,
nenhuma palhoça ou tapera dá abrigo ao caminhante contra a
Assim, o nacionalismo ganhará não só a literatura, mas também as frialdade das noites, contra o temporal que ameaça, ou a chuva
artes plásticas brasileiras, com o objetivo criar mitos e heróis e que está caindo. Por toda a parte, a calma da campina não
despertar na população o orgulho de ser brasileiro, através do arroteada; por toda a parte, a vegetação virgem, como quando aí
ufanismo, da idealização. surgiu pela vez primeira.
A estrada que atravessa essas regiões incultas desenrola-se à
maneira de alvejante faixa, aberta que é na areia, elemento
dominante na composição de todo aquele solo, fertilizado aliás por
um sem-número de límpidos e borbulhantes regatos, ribeirões e
rios, cujos contingentes são outros tantos tributários do claro e
fundo Paraná ou, na contravertente, do correntoso Paraguai.

Essa areia solta e um tanto grossa tem cor uniforme que reverbera
com intensidade os raios do sol, quando nela batem de chapa. Em
alguns pontos é tão fofa e movediça que os animais das tropas
viageiras arquejam de cansaço, ao vencerem aquele terreno
Pedro Américo, "Independência ou Morte" (1888), conhecido incerto, que lhes foge de sob os cascos e onde se enterram até
como “O Grito do Ipiranga” meia canela.
TAUNAY, V. Inocência. São Paulo: Moderna. 1990. p. 3.
O nacionalismo romântico brasileiro se manifestará, principalmente,
através dos seguintes elementos: - Natureza
- Indianismo A natureza brasileira, que nos textos do Quinhentismo ganhou
Baseado no mito do “bom selvagem”, de Rousseau, constrói-se o relevância pelo seu exotismo, no Romantismo será utilizada como
símbolo da grandeza da pátria. A natureza exuberante é prova das
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Aula 12 - Romantismo No Brasil
potencialidades do Brasil: idealiza-se a natureza, para idealizar-se 2.2. GONÇALVES DE MAGALHÃES
a pátria. Foi o introdutor do Romantismo no Brasil. Seu livro Suspiros
Poéticos e Saudades traz em seu prefácio uma espécie de
programa poético, destacando a importância da religião, o
nacionalismo, o individualismo e a liberdade de criação.
“O poeta sem religião e sem moral é como veneno derramado
na fonte, onde morrem quantos aí procuram aplacar a sede.
Ora, nossa religião, nossa moral, é aquela que nos ensinou o
Filho de Deus, aquela que civilizou o mundo moderno, aquela que
ilumina a Europa, e a América: e só este bálsamo sagrado devem
verter os cânticos dos poetas brasileiros.”

Adeus à Europa
Adeus, oh terras da Europa!
Adeus, França, adeus, Paris!
Volto a ver terras da Pátria,
Taunay, Félix Émile (1850), Pedra da Mãe d´Água
Vou morrer no meu país.
(Paisagem da Tijuca)
Qual ave errante, sem ninho,
02. A POESIA ROMÂNTICA
Oculto peregrinando,
A poesia romântica brasileira é dividida em três gerações: Visitei vossas cidades,
Sempre na Pátria pensando.
Geração Denominação Componentes Temas
1 Nacionalista - Gonçalves de - O índio De saudade consumido,
Magalhães - A saudade da Dos velhos pais tão distante,
- Gonçalves Pátria Gotas de fel azedavam
Dias - A natureza O meu mais suave instante.
- A
religiosidade As cordas de minha lira
- O amor Longo tempo suspiraram,
impossível Mas enfim frouxas, cansadas
2 Individualista - Álvares de - O tédio De suspirar, se quebraram.
ou Azevedo - O pessimismo
Subjetivista - Casimiro de - O sofrimento Oh lira do meu exílio,
Abreu - O mal do Da Europa as plagas deixemos;
- Fagundes século Eu te darei novas cordas,
Varela - A morte Novos hinos cantaremos.
- Junqueira - A infância
Freire - O medo do Adeus, oh terras da Europa!
amor Adeus, França, adeus, Paris!
3 Social ou - Castro Alves - Defesa de Volto a ver terras da Pátria,
Condoreira - Sousândrade causas Vou morrer no meu país.
- Tobias humanitárias Paris, agosto de 1836
Barreto - Denúncia da Gonçalves de Magalhães
escravidão
- Amor erótico O dia 7 de setembro, em Paris
Longe do belo céu da Pátria minha,
2.1. A PRIMEIRA GERAÇÃO: NACIONALISMO Que a mente me acendia,
Os primeiros poetas românticos foram marcados pelo predomínio Em tempo mais feliz, em qu'eu cantava
do nacionalismo, do patriotismo e da ênfase que deram à natureza Das palmeiras à sombra os pátrios feitos;
brasileira em suas poesias. Nesse contexto emergiu o indianismo. Sem mais ouvir o vago som dos bosques,
O índio passou a ser visto como representante de um passado Nem o bramido fúnebre das ondas,
heroico brasileiro, à moda dos cavaleiros medievais enxergados Que n'alma me excitavam
pelos europeus. Altos, sublimes turbilhões de ideias;
O índio apareceu como formador do povo brasileiro e, como tal, foi Com que cântico novo
idealizado: era visto sempre de ângulo positivo; a ele foram O Dia saudarei da Liberdade?
atribuídas características de herói, como aconteceu nas obras de
Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães. Ausente do saudoso, pátrio ninho,
Nesta primeira geração romântica, destaca-se, também, o tema Em regiões tão mortas,
do amor impossível e uma forte religiosidade, identificando o Para mim sem encantos, e atrativos,
Romantismo com o Cristianismo, em oposição à tendência pagã Gela-se o estro ao peregrino vate.
dos neoclássicos. Tu também, que nos trópicos te ostentas
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Fulgurante de luz, e rei dos astros, Minha terra tem primores,


Tu, oh sol, neste céu teu brilho perdes. Que tais não encontro eu cá;
Gonçalves de Magalhães Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
2.3. GONÇALVES DIAS (1823 – 1864) Minha terra tem palmeiras,
Foi o grande poeta da primeira geração do Romantismo. Escreveu: Onde canta o Sabiá.
Primeiros cantos (1846); Segundos cantos (1848); Sextilhas de frei
Antão (1848); Últimos cantos (1851); Os timbiras (1857). Não permita Deus que eu morra,
O indianismo, em Gonçalves Dias, não ficou apenas na Sem que eu volte para lá;
superficialidade das cores, penas e costumes: seu índio possui Sem que desfrute os primores
sentimentos genuínos, com os quais o leitor se identificava – era Que não encontro por cá;
um filho, um pai, um amante -, adquiriu, para além dos hábitos e Sem qu'inda aviste as palmeiras,
costumes indígenas, uma universalidade. Onde canta o Sabiá.
Além do indianismo, destaca-se na obra poética de Gonçalves Dias Coimbra - julho 1843.
o típico sentimentalismo romântico, o confessionalismo; a
idealização do amor a partir de sentimentos puros; a tendência ao * - "Conheces a região onde florescem os limoeiros ?
isolamento, vivido em contato com a natureza; a associação entre laranjas de ouro ardem no verde escuro da folhagem;
a produção poética e o sentimento religioso; a riqueza e variedade conheces bem ? Nesse lugar,
métrica empregada em seus versos. eu desejava estar"
Observe o trecho de Dias e Dias, de Ana Miranda, em que a (Mignon, de Goethe)
autora, através da personagem Feliciana, destaca a idealização
O canto do guerreiro
dos índios na obra de Gonçalves Dias:
I
Só descobri que eram belos os índios, seus adornos, seus
Aqui na floresta
costumes, quando li as composições de Antônio, “I-Juca-Pirama”,
Dos ventos batida,
“Leito de folhas verdes”, “Marabá”, tão encantadoramente líricas,
Façanhas de bravos
que falam no índio gentil, nos moços inquietos enamorados da
Não geram escravos,
festa, índios que às vezes são rudos e severos mas atendem
Que estimem a vida
meigos à voz do cantor, aprendi que mesmo o sacrifício da morte e
Sem guerra e lidar.
do canibalismo é, Deus me perdoe, uma insígnia d ́honra, percebi
— Ouvi-me, Guerreiros,
que eles sofrem, se enternecem, sentem fome, choram, receiam
— Ouvi meu cantar.
morrer (...) e descobri que eu e eles até somos parecidos ao
menos numa coisa: os índios acordam com o estado de espírito do
II
sonho que tiveram na noite, ou ledos ou tristes, ou timoratos ou
Valente na guerra,
cheios de ardimento, ybá tyba, pomar, moanga, coisa imaginada,
Quem há, como eu sou?
caribêbê, anjo, anjo sem asas anjo caído... Falam Deuses nos
Quem vibra o tacape
cantos do Piaga, Anhangá me vedava sonhar, tudo o que escreve
Com mais valentia?
Antônio em suas composições deixa-me afundada como a flor de
Quem golpes daria
“Não me deixes”!
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
Ana MIRANDA, DIAS E DIAS, 2002, p. 30).
— Quem há, como eu sou?
III
Canção do exílio
Quem guia nos ares
Kennst du das Land, wo die Citronen blühen,
A frecha emplumada,
Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühen?
Ferindo uma presa,
Kennst du es wohl? — Dahin, dahin!
Com tanta certeza,
Möchtl ich... ziehn. *
Na altura arrojada
Goethe
onde eu a mandar?
Minha terra tem palmeiras,
— Guerreiros, ouvi-me,
Onde canta o Sabiá;
— Ouvi meu cantar.
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá. IV
Quem tantos imigos
Nosso céu tem mais estrelas, Em guerras preou?
Nossas várzeas têm mais flores, Quem canta seus feitos
Nossos bosques têm mais vida, Com mais energia?
Nossa vida mais amores. Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
Em cismar, sozinho, à noite, — Guerreiros, ouvi-me:
Mais prazer encontro eu lá; — Quem há, como eu sou?
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá. V
Na caça ou na lide,
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Aula 12 - Romantismo No Brasil
Quem há que me afronte?! Viver é lutar.
A onça raivosa A vida é combate,
Meus passos conhece, Que os fracos abate,
O imigo estremece, Que os fortes, os bravos
E a ave medrosa Só pode exaltar.
Se esconde no céu.
— Quem há mais valente, II
— Mais destro que eu? Um dia vivemos!
O homem que é forte
VI Não teme da morte;
Se as matas estrujo Só teme fugir;
Co’os sons do Boré, No arco que entesa
Mil arcos se encurvam, Tem certa uma presa,
Mil setas lá voam, Quer seja tapuia,
Mil gritos reboam, Condor ou tapir.
Mil homens de pé
Eis surgem, respondem III
Aos sons do Boré! O forte, o cobarde
— Quem é mais valente, Seus feitos inveja
— Mais forte quem é? De o ver na peleja
Garboso e feroz;
VII E os tímidos velhos
Lá vão pelas matas; Nos graves concelhos,
Não fazem ruído: Curvadas as frontes,
O vento gemendo Escutam-lhe a voz!
E as matas tremendo
E o triste carpido IV
Duma ave a cantar, Domina, se vive;
São eles — guerreiros, Se morre, descansa
Que faço avançar. Dos seus na lembrança,
VIII Na voz do porvir.
E o Piaga se ruge Não cures da vida!
No seu Maracá, Sê bravo, sê forte!
A morte lá paira Não fujas da morte,
Nos ares frechados, Que a morte há de vir!
Os campos juncados
De mortos são já: V
Mil homens viveram, E pois que és meu filho,
Mil homens são lá. Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
IX Valente serás.
E então se de novo Sê duro guerreiro,
Eu toco o Boré; Robusto, fragueiro,
Qual fonte que salta Brasão dos tamoios
De rocha empinada, Na guerra e na paz.
Que vai marulhosa,
Fremente e queixosa, VI
Que a raiva apagada Teu grito de guerra
De todo não é, Retumbe aos ouvidos
Tal eles se escoam D'imigos transidos
Aos sons do Boré. Por vil comoção;
— Guerreiros, dizei-me, E tremam d'ouvi-lo
— Tão forte quem é? Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Canção do Tamoio Pior que o trovão.
(Natalícia)
VII
I E a mão nessas tabas,
Não chores, meu filho; Querendo calados
Não chores, que a vida Os filhos criados
É luta renhida: Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
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110
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Que a gente inimiga Efêmero e precário — e após a morte;


Talvez não escute E me dissesse: "Escolhe" — oh! jubiloso,
Sem pranto, sem dor! Exclamara, senhor da minha sorte! —

VIII "Que tesouro na terra há i que a iguale?


Porém se a fortuna, Quero-a mil vezes, de joelhos — sim!
Traindo teus passos, Bendita a vida que tal preço vale,
Te arroja nos laços E que merece de acabar assim!"
Do inimigo falaz! Gonçalves Dias
Na última hora
Teus feitos memora, EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz. Questão 01 (Unicamp 2015)
Um elemento importante nos anos de 1820 e 1830 foi o desejo de
IX autonomia literária, tornado mais vivo depois da Independência.
E cai como o tronco (…) O Romantismo apareceu aos poucos como caminho favorável
Do raio tocado, à expressão própria da nação recém-fundada, pois fornecia
Partido, rojado concepções e modelos que permitiam afirmar o particularismo, e
Por larga extensão; portanto a identidade, em oposição à Metrópole (…).
Assim morre o forte! CANDIDO, Antonio. O Romantismo no Brasil. São Paulo:
No passo da morte Humanitas, 2004, p. 19.
Triunfa, conquista
Mais alto brasão. Tendo em vista o movimento literário mencionado no trecho acima,
e seu alcance na história do período, é correto afirmar que
X a) o nacionalismo foi impulsionado na literatura com a vinda da
As armas ensaia, família real, em 1808, quando houve a introdução da imprensa no
Penetra na vida: Rio de Janeiro e os primeiros livros circularam no país.
Pesada ou querida, b) o indianismo ocupou um lugar de destaque na afirmação das
Viver é lutar. identidades locais, expressando um viés decadentista e cético
Se o duro combate quanto à civilização nos trópicos.
Os fracos abate, c) os autores românticos foram importantes no período por
Aos fortes, aos bravos, produzirem uma literatura que expressava aspectos da natureza,
Só pode exaltar. da história e das sociedades locais.
d) a população nativa foi considerada a mais original dentro do
Se te amo, não sei! Romantismo e, graças à atuação dos literatos, os indígenas
passaram a ter direitos políticos que eram vetados aos negros.
Amar! se te amo, não sei.
Oiço aí pronunciar TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
Essa palavra de modo
Que não sei o que é amar. NOTÍCIA DA ATUAL LITERATURA BRASILEIRA - INSTINTO DE
NACIONALIDADE
Se amar é sonhar contigo,
Se é pensar, velando, em ti, Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe
Se é ter-te n'alma presente logo, como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia,
Todo esquecido de mim! romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-
se com as cores do país, e não há negar que semelhante
Se é cobiçar-te, querer-te preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro.
Como uma bênção dos céus As tradições de Gonçalves Dias, Porto Alegre e Magalhães
A ti somente na terra são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora
Como lá em cima a Deus; madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama
e Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal
Se é dar a vida, o futuro, acordo. Interrogando a vida brasileira e a natureza americana,
Para dizer que te amei: prosadores e poetas acharão ali farto manancial de inspiração e
Amo; porém se te amo irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional.
Como oiço dizer, — não sei. Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem
campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para
Sei que se um gênio bom me aparecesse sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas;
E tronos, glórias, ilusões floridas, muitos trabalharão para ela até perfazê-la de todo.
E os tesouros da terra me oferecesse (Machado de Assis, Crítica. Texto adaptado.)
E as riquezas que o mar tem escondidas;

E do outro lado — a ti somente, — e o gozo


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111
Aula 12 - Romantismo No Brasil
Questão 02 (Fatec 2008) Sem que eu volte para lá;
Assinale a alternativa que interpreta corretamente o texto. Sem que desfrute os primores
a) O texto afirma uma literatura nacionalista que tem suas raízes Que não encontro por cá;
na Proclamação da Independência, episódio inspirador de obras de Sem qu'inda aviste as palmeiras,
muitas gerações. Onde canta o Sabiá.
b) Com a metáfora presente em – “As tradições [...] são assim (Antônio Gonçalves Dias, "Primeiros Cantos")
continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga”
– Machado critica a tradição de valorizar o passado, presente em Gonçalves Dias consolidou o romantismo no Brasil. Sua "'Canção
escritores brasileiros. do exílio" pode ser considerada tipicamente romântica porque
c) Há, no texto, uma concepção de literatura que privilegia a a) apóia-se nos cânones formais da poesia clássica greco-romana;
escolha de temas da História pátria, como é o caso de obras que emprega figuras de ornamento, até com certo exagero; evidencia a
exaltam o Sete de Setembro. musicalidade do verso pelo uso de aliterações.
d) Para o autor, as raízes do Realismo remontam às obras dos b) exalta terra natal; é nostálgica e saudosista; o tema é tratado de
autores que ele menciona e cujos textos trazem as teses realistas modo sentimental, emotivo.
mais importantes. c) utiliza-se do verso livre, como ideal de liberdade criativa; sua
e) Machado de Assis entende o instinto de nacionalidade na linguagem é hermética, erudita; glorifica o canto dos pássaros e a
literatura brasileira como autonomia de ideias em relação a temas vida selvagem.
importados, a qual se constrói paulatinamente. d) poesia e música se confundem, como artifício simbólico; a
natureza e o tema bucólico são tratados com objetividade; usa com
Questão 03 (Fatec 2008) parcimônia as formas pronominais de primeira pessoa.
Assinale a alternativa contendo afirmação correta acerca de fato e) refere-se à vida com descrença e tristeza; expõe o tema na
linguístico do texto. ordem sucessiva, cronológica; utiliza-se do exílio como o meio
a) O pronome "lhe", destacado no 1 parágrafo, pode ser adequado de referir-se à evasão da realidade.
substituído, com correção, por "a ela".
b) É indiferente, para o sentido da frase, que as palavras "certo" e Questão 05
"semelhante", nos trechos em destaque no 1 parágrafo, Texto
posicionem-se antes ou depois dos substantivos a que se referem.
c) Os pronomes "aqueles" e "as", em destaque no 2 parágrafo, O primeiro navio destacado da conserva para levar a Portugal a
referem-se, respectivamente, a Gonçalves Dias, Porto Alegre e notícia do descobrimento do Brasil, e com instâncias ao rei de
Magalhães e a tradições. Portugal para que por amor da religião se apoderasse d'esta
d) Os pronomes "ela" e "-la", destacados no 3 parágrafo, referem- descoberta, cometera a violência de arrancar de suas terras, sem
se, respectivamente, a "obra" e "geração". que a sua vontade fosse consultada, a dois índios, ato contra o
e) A palavra "pausadamente", destacada no 3 parágrafo, expressa qual se tinham pronunciado os capitães da frota de Pedro Álvares.
circunstância de tempo. Fizera-se o índice primeiro do que era a história da colônia: era a
cobiça disfarçada com pretextos da religião, era o ataque aos
Questão 04 senhores da terra, à liberdade dos índios; eram colonos
Canção do Exílio degradados, condenados à morte, ou espíritos baixos e viciados
(...) que procuravam as florestas para darem largas às depravações do
Minha terra tem palmeiras, instinto bruto."
Onde canta o Sabiá; (DIAS, Gonçalves. "Revista do Instituto Histórico e Geográfico
As aves, que aqui gorjeiam, Brasileiro", 4° trim. 1867, p.274.)
Não gorjeiam como lá.
(Uff) ÍNDICE é tudo aquilo que indica ou denota uma qualidade ou
Nosso céu tem mais estrelas, característica especial. No texto, Gonçalves Dias, poeta que
Nossas várzeas têm mais flores, consolidou o Romantismo no Brasil, afirma que "fizera-se o índice
Nossos bosques têm mais vida, primeiro do que era a história da colônia" porque aquela história:
Nossa vida mais amores. a) seria produzida por pessoas moralmente condenáveis, que
alegavam razões religiosas para seus atos, mas que eram movidas
Em cismar, sozinho, à noite, pela ganância;
Mais prazer encontro eu lá; b) seria conduzida por personagens da mais alta idoneidade moral,
Minha terra tem palmeiras, que se dedicavam intensamente à causa da conversão do indígena
Onde canta o Sabiá. brasileiro;
c) seria arquitetada por colonos degradados, condenados à morte
Minha terra tem primores, ou espíritos baixos, que buscavam no Brasil a redenção de seus
Que tais não encontro eu cá; pecados;
Em cismar - sozinho, à noite - d) seria derivada da cobiça disfarçada com pretextos da religião,
Mais prazer encontro eu lá; que evitava o ataque dos colonos degradados aos senhores da
Minha terra tem palmeiras, terra e à liberdade dos índios;
Onde canta o Sabiá. e) seria causada pelos condenados à morte, ou espíritos baixos e
viciados que procuravam as florestas para se redimirem,
Não permita Deus que eu morra, convertendo os índios.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 06 (Insper 2014) E os arcos quebrados, Já cego e quebrado,


Texto E os piagas coitados De penas ralado,
Já sem maracás; Firmava-se em mi:
Canção do tamoio E os meigos cantores, Nós ambos, mesquinhos,
Servindo a senhores, Por ínvios caminhos,
(...) Porém se a fortuna, Que vinham traidores, Cobertos d’espinhos
Traindo teus passos, Com mostras de paz. Chegamos aqui!
Te arroja nos laços
Do imigo falaz! Glossário:
Na última hora Aimorés: índios botocudos que habitavam o estado da Bahia e do
Teus feitos memora, Espírito Santo;
Tranquilo nos gestos, Timbiras: Tapuias que habitavam o interior do Maranhão;
Impávido, audaz. Ignavos: fracos, covardes;
E cai como o tronco Piaga: pajé, chefe espiritual;
Do raio tocado, Maracá: chocalho indígena utilizado em festas religiosas e
Partido, rojado cerimônias guerreiras;
Por larga extensão; Talados: devastados;
Assim morre o forte! Acerbo: terrível, cruel;
No passo da morte Ínvios: intransitáveis.
Triunfa, conquista
Mais alto brasão. (...) Questão 07
Tendo em vista as estrofes acima transcritas, é correto afirmar que
(Gonçalves Dias) a) o índio Tupi descreve as vitórias de sua tribo sobre o colonizador
europeu.
No fragmento poético de Gonçalves Dias, um pai explica ao filho b) o ritual antropofágico é representado como uma manifestação
como se comporta um guerreiro no momento da morte. Esse da barbárie indígena.
conselho demonstra que os românticos viam os índios c) a submissão das nações indígenas pelo homem branco é
a) como retrato de uma sociedade em crise, pois eles estavam considerada um processo natural e desejável para o progresso da
sendo dizimados pelos colonizadores europeus, que tinham grande nova nação independente.
poder militar. d) o ponto de vista a partir do qual se elabora o poema é o do
b) de modo cruel, uma vez que, em lugar de criticar as constantes europeu português, que condena as práticas bárbaras e violentas
lutas entre tribos rivais, eles preferiam falar dos aspectos positivos das nações indígenas brasileiras.
da violência. e) as práticas colonizadoras portuguesas que levaram ao quase
c) de modo idealizado, com valores próximos aos das Cruzadas extermínio da nação Tupi são julgadas do ponto de vista do próprio
europeias, quando era nobre morrer por uma causa considerada índio.
justa.
d) como símbolos de um país que surgia, sem nenhuma influência Questão 08 (Uerj 2010)
dos valores europeus e celebrando apenas os costumes dos povos
nativos da América.
e) com base no mito do “bom selvagem”, mostrando que eles
nunca entravam em conflitos entre si.

Questão 07 (Ufpa 2013)


Gonçalves Dias foi considerado um dos maiores expoentes da
literatura romântica brasileira. Procurando seguir os preceitos do
romantismo, intencionou produzir uma poesia capaz de exprimir a
independência literária do Brasil. Na condição de poeta, dedicou-se
a vários gêneros literários, entre eles à poesia lírica e à poesia
indianista. Leia atentamente as estrofes 4, 5, 6 e 7 do canto IV do
poema I Juca Pirama, de Gonçalves Dias:

Andei longes terras, Aos golpes do imigo


Lidei cruas guerras, Meu último amigo, Essa tela foi produzida entre 1886 e 1888, momento de crise do
Vaguei pelas serras Sem lar, sem abrigo, Estado Imperial e de expansão do republicanismo.
Dos vis Aimorés; Caiu junto a mi! A imagem da independência do Brasil nela representada enfatiza
Vi lutas de bravos, Com plácido rosto, uma memória desse acontecimento político entendido como:
Vi fortes – escravos! Sereno e composto, a) ação militar dos grupos populares
De estranhos ignavos O acerbo desgosto b) fundação heroica do regime monárquico
Calcados aos pés. Comigo sofri. c) libertação patriótica pelos líderes brasileiros
d) luta emancipadora face ao domínio estrangeiro
E os campos talados, Meu pai a meu lado

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Aula 12 - Romantismo No Brasil

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Questão 02 (Insper 2014)


O modo como a morte é figurativizada no fragmento de Gonçalves
TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Dias é semelhante ao seguinte verso da canção de Vinicius e
Baden:
Texto 01 a) O amor que lhe quer seu bem
Canção do tamoio b) Vai morrer sem amar ninguém
c) O dinheiro de quem não dá
(...) Porém se a fortuna, d) É o trabalho de quem não tem
Traindo teus passos, e) E, se um dia ele cai, cai bem!
Te arroja nos laços
Do imigo falaz! Questão 03 (Fuvest 2014)
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranquilo nos gestos,
Impávido, audaz.
E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão. (...)

(Gonçalves Dias)

Texto 02
Berimbau
Em seu contexto de origem, o quadro acima corresponde a uma
a) denúncia política das guerras entre as populações indígenas
Quem é homem de bem não trai
brasileiras.
O amor que lhe quer seu bem.
b) idealização romântica num contexto de construção da
Quem diz muito que vai não vai
nacionalidade brasileira.
E, assim como não vai, não vem.
c) crítica republicana à versão da história do Brasil difundida pela
Quem de dentro de si não sai
monarquia.
Vai morrer sem amar ninguém,
d) defesa da evangelização dos índios realizada pelas ordens
O dinheiro de quem não dá
religiosas no Brasil.
É o trabalho de quem não tem,
e) concepção de inferioridade civilizacional dos nativos brasileiros
Capoeira que é bom não cai
em relação aos indígenas da América Espanhola.
E, se um dia ele cai, cai bem!
Questão 04 (Unb 2011)
(Vinicius de Moraes e Baden Powell)
I-Juca Pirama
Questão 01 (Insper 2014) Gonçalves Dias
No fragmento poético de Gonçalves Dias, um pai explica ao filho
Meu canto de morte,
como se comporta um guerreiro no momento da morte. Esse
Guerreiros, ouvi:
conselho demonstra que os românticos viam os índios
Sou filho das selvas,
a) como retrato de uma sociedade em crise, pois eles estavam
Nas selvas cresci;
sendo dizimados pelos colonizadores europeus, que tinham grande
Guerreiros, descendo
poder militar.
Da tribo Tupi.
b) de modo cruel, uma vez que, em lugar de criticar as constantes
Da tribo pujante,
lutas entre tribos rivais, eles preferiam falar dos aspectos positivos
Que agora anda errante
da violência.
Por fado inconstante,
c) de modo idealizado, com valores próximos aos das Cruzadas
Guerreiros, nasci;
europeias, quando era nobre morrer por uma causa considerada
Sou bravo, sou forte,
justa.
Sou filho do Norte;
d) como símbolos de um país que surgia, sem nenhuma influência
Meu canto de morte,
dos valores europeus e celebrando apenas os costumes dos povos
Guerreiros, ouvi.
nativos da América.
e) com base no mito do “bom selvagem”, mostrando que eles
Aos golpes do imigo,
nunca entravam em conflitos entre si.
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Caiu junto a mi! esquema métrico e rítmico ágil, destacando-se a redondilha maior
Com plácido rosto, e as rimas cruzadas.
Sereno e composto, e) O índio, nesse poema de Gonçalves Dias e nas demais obras do
O acerbo desgosto indianismo romântico brasileiro, é representado segundo técnica
Comigo sofri. literária realista, por meio da qual se pretende revelar o índio como
legítimo dono das terras e da identidade cultural do país.
Meu pai a meu lado f) Verifica-se, nas últimas estrofes apresentadas, que o grande
Já cego e quebrado, temor do personagem narrador é a morte, apesar de a desdita que
De penas ralado, a vida reservou a ele e a seu pai ser apresentada em forma de
Firmava-se em mi: lamento.
Nós ambos, mesquinhos, g) O movimento romântico brasileiro, do qual o poema I-Juca
Por ínvios caminhos, Pirama é produção exemplar, procurou estabelecer as bases
Cobertos d’espinhos literárias da identidade cultural brasileira, objetivando a superação
Chegamos aqui! do cosmopolitismo expresso pela estética neoclássica,
característica do Arcadismo.
Eu era o seu guia h) Autores do modernismo brasileiro retomaram o tema do índio
Na noite sombria, moralmente forte como símbolo da nação, como se pode verificar
A só alegria na obra Macunaíma, de Mário de Andrade.
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava, Questão 05 (Upf 2014)
Em mim se firmava, Leia as seguintes afirmações sobre a obra I-Juca Pirama de
Em mim descansava, Gonçalves Dias.
Que filho lhe sou. I. O poema, exemplo marcante da descrição científica do elemento
indígena, narra o drama vivido pelo último descendente da tribo
Ao velho coitado dos tupis, feito prisioneiro pelos timbiras.
De penas ralado, II. O autor apresenta uma visão do índio integrado na tribo, nos
Já cego e quebrado, costumes, no sentimento de honra que, para os românticos, era a
Que resta? — Morrer. sua mais bela característica.
Enquanto descreve III. O movimento psicológico do poema, com suas alternativas de
O giro tão breve pasmo e exaltação, se apoia em variação rítmica bem marcada.
Da vida que teve,
Deixai-me viver! Está correto apenas o que se afirma em:
a) I e II.
Não vil, não ignavo, b) II e III.
Mas forte, mas bravo, c) I e III.
Serei vosso escravo: d) II.
Aqui virei ter. e) III.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro: Questão 06 (UPF 2014)
Se a vida deploro, Meu canto de morte,
Também sei morrer. Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
A partir do trecho apresentado, extraído do clássico poema do Nas selvas cresci;
indianismo brasileiro I-Juca Pirama, julgue os itens a seguir. Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
a) No contexto da literatura brasileira do século XIX, era incomum o
recurso a protagonistas ameríndios em poemas épicos e Da tribo pujante,
romances. Especialmente os autores que se filiavam ao Que agora anda errante
romantismo tenderam a dar destaque, nos seus textos a heróis de Por fado inconstante,
proveniência europeia, como forma de rejeitar o projeto de uma Guerreiros, nasci;
identidade brasileira, bem como de restaurar os laços com a Sou bravo, sou forte,
cultura europeia, que haviam sido cortados desde a independência. Sou filho do Norte;
b) O refrão do poema — “Meu canto de morte, / Guerreiros, ouvi” Meu canto de morte,
— remete ao passado do personagem épico I-Juca Pirama, como Guerreiros, ouvi.
indica o emprego da forma verbal “ouvi”, flexionada no pretérito do
indicativo. [...]
c) Ao utilizar como recurso de composição a narrativa em primeira Então, forasteiro,
pessoa do singular, o autor potencializa o apelo romântico do texto, Caí prisioneiro
fazendo que o drama do personagem Tupi seja sublinhado pela De um troço guerreiro
perspectiva íntima, a partir da qual os fatos são apresentados. Com que me encontrei:
d) Para conferir dramaticidade ao momento de tensão em que o O cru dessossego
índio Tupi se apresenta à tribo que o aprisionou, o poeta utiliza
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Aula 12 - Romantismo No Brasil
Do pai fraco e cego, Seu nome lá voa na boca das gentes,
Enquanto não chego Condão de prodígios, de glória e terror!
Qual seja, – dizei!
[...]
Eu era o seu guia (DIAS, Gonçalves. "I-Juca-Pirama." In: REIDEL, Dirce.
Na noite sombria, LITERATURA BRASILEIRA EM CURSO. Rio de Janeiro: Bloch,
A só alegria 1969. p.311)
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava, Reflita sobre as tendências da poesia romântica indianista e
Em mim se firmava, assinale a alternativa que NÃO confirma a visão idealizada do
Em mim descansava, poeta em relação ao indígena brasileiro:
Que filho lhe sou. a) "I-Juca-Pirama" expressa o nacionalismo de seu autor, que, ao
idealizar a coragem e o heroísmo do índio brasileiro, atribui-lhe
Ao velho coitado também alguns distúrbios de personalidade.
De penas ralado, b) O poeta romântico transformou o silvícola em um dos símbolos
Já cego e quebrado, da autonomia cultural e da superioridade da nação brasileira.
Que resta? – Morrer. c) O poema gonçalvino enalteceu e preservou as tradições
Enquanto descreve indígenas brasileiras, incorporando-as ao orgulho nacional.
O giro tão breve d) O índio de Gonçalves Dias ganhou o tom dos valorosos
Da vida que teve, cavaleiros medievais e reafirmou o sentimento nacionalista de
Deixai-me viver! nosso Romantismo.
e) A poesia romântica indianista resgatou o passado histórico do
Não vil, não ignavo1, Brasil e valorizou a bravura de seus habitantes naturais.
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo: Questão 08 (Enem PPL 2015)
Aqui virei ter. Em 1866, tendo encerrado seus estudos na Escola de Belas Artes,
Guerreiros, não coro em Paris, Pedro Américo ofereceu a tela A Carioca ao imperador
Do pranto que choro: Pedro II, em reconhecimento ao seu mecenas. O nu feminino
Se a vida deploro, obedecia aos cânones da grande arte e pretendia ser uma alegoria
Também sei morrer. feminina da nacionalidade. A tela, entretanto, foi recusada por
imoral e licenciosa: mesmo não fugindo à regra oitocentista relativa
DIAS, Gonçalves. Juca Pirama. à nudez na obra de arte, A Carioca não pôde, portanto, ser
absorvida de imediato. A sensualidade tangível da figura feminina,
1. Ignavo – fraco, covarde próxima do orientalismo tão em voga na Europa, confrontou-se não
Nas estrofes transcritas, o guerreiro tupi: somente com os limites morais, mas também com a orientação
a) aceita heroicamente a prisão e a morte ritual sem se preocupar estética e cultural do Império. O que chocara mais: a nudez frontal
com a velhice, a solidão e a fragilidade do seu pai. ou um nu tão descolado do que se desejava como nudez nacional
b) aceita resignadamente a morte ritual que os timbiras lhe aceitável, por exemplo, aquela das românticas figuras indígenas? A
destinam e o abandono a que ficará votado o seu velho pai. Carioca oferecia um corpo simultaneamente ideal e obsceno: o alto
c) acovarda-se perante a morte iminente, com a justificativa de ser – uma beleza imaterial – e o baixo – uma carnalidade excessiva.
a única pessoa que resta para cuidar do seu pai, velho, cego e Sugeria uma mistura de estilos que, sem romper com a regra do
enfraquecido. decoro artístico, insinuava na tela algo inadequado ao repertório
d) pretende conciliar o princípio de honra do guerreiro, que jamais simbólico oficial.
teme a morte, com o princípio do amor filial, que lhe exige cuidar A exótica morena, que não é índia – nem mulata ou negra –
do seu pai, cego e enfraquecido pela velhice. poderia representar uma visualidade feminina brasileira e desfrutar
e) rejeita orgulhosamente a morte ritual pelos timbiras, a fim de de um lugar de destaque no imaginário da nossa monarquia
cuidar do seu velho pai e restaurar o poder de sua tribo. tropical”?
OLIVEIRA, C. Disponível em: http://anpuh.org.br. Acesso em: 20
Questão 07 maio 2015.
(Ufv) Observe com atenção o fragmento abaixo:
I- Juca-Pirama
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos - cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d'altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.

São rudos, severos, sedentos de glória,


Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

O texto revela que a aceitação da representação do belo na obra Sobre os documentos referentes ao Descobrimento do Brasil e à
de arte está condicionada à arte produzida no século XIX, é correto afirmar que
a) incorporação de grandes correntes teóricas de uma época, a) ignoram a participação dos indígenas no processo de formação
conferindo legitimidade ao trabalho do artista. da identidade nacional.
b) atemporalidade do tema abordado pelo artista, garantindo b) derrubam uma imagem hierarquizada do encontro das etnias
perenidade ao objeto de arte então elaborado. que formaram a nação brasileira.
c) inserção da produção artística em um projeto estético e c) consolidam uma visão da colonização marcada pela exploração
ideológico determinado por fatores externos. portuguesa das matérias-primas.
d) apropriação que o pintor faz dos grandes temas universais já d) constroem uma memória pacífica do nascimento da nação
recorrentes em uma vertente artística. fundada sob a égide do catolicismo.
e) assimilação de técnicas e recursos já utilizados por movimentos
anteriores que trataram da temática. Questão 11 (Upe 2014)
O Brasil da segunda metade do século XIX viveu um
Questão 09 (Puccamp 2016) desenvolvimento urbano e econômico, que gerou reflexos na sua
Costuma-se reconhecer que o Indianismo, na nossa literatura, é produção cultural. Espaço de surgimento e atuação de vários
marcado por idealizações que emprestam uma espécie de glória artistas e intelectuais, as cidades do Brasil Imperial foram o palco
artificial ao nosso passado como Colônia. Tais idealizações de uma efervescência artístico-cultural ímpar.
I. consistem, basicamente, em atribuir aos nossos silvícolas
atitudes e valores herdados da aristocracia medieval, caros ao Sobre essa realidade, assinale a alternativa CORRETA.
ideário romântico. a) Machado de Assis, principal escritor do Modernismo brasileiro,
II. processam-se com base em fidedignos documentos históricos, foi autor de várias obras que tiveram ampla aceitação popular, o
nos quais há registro detalhado dos usos e costumes das várias que lhe proporcionou, inclusive, fama no exterior.
nações indígenas. b) As pinturas de Pedro Américo refletiam um tom romântico e
III. ocorreram como reação às tendências nacionalistas do nosso nacionalista, retratando, inclusive, acontecimentos históricos
Romantismo, que valorizavam sobretudo a vida urbana e os pátrios.
valores burgueses. c) Aluísio de Azevedo, grande expoente do romantismo literário no
Brasil, sofreu com a censura imperial, em relação a sua obra.
Atende ao enunciado o que está em d) Castro Alves, grande símbolo do chamado ‘mal do século’, foi
a) I, II e III. autor de poesias que tiveram ampla repercussão nacional.
b) I e II, apenas. e) A produção teatral de Artur de Azevedo era marcada por uma
c) II e III, apenas. dramaturgia de conotações trágicas.
d) I e III, apenas.
e) I, apenas. Questão 12 (UFPB 2012)
A pintura é uma manifestação artística que pode ser utilizada como
Questão 10 (G1 - CFTMG 2015) fonte histórica, reforçando uma versão da história. Nesse sentido,
TEXTO 1 observe o quadro do pintor paraibano Pedro Américo:

No campo da historiografia, essa imagem:


a) sintetiza o verdadeiro sentimento de toda a nação em relação a
Portugal.
b) expõe a luta de classes existente no país no período da
TEXTO 2 independência.
c) expressa o apoio popular ao processo de autonomia política do
“A ciência e a arte, dentro de um processo intrincado, fabricavam Brasil.
realidades mitológicas que tiveram, e ainda têm vida prolongada e d) representa uma visão heroica e romanceada da separação
persistente”. política do país.
COLI, Jorge. A invenção da descoberta. In: Como estudar arte e) mostra a independência como anseio de grupos subalternos.
brasileira no século XIX? São Paulo: Senac, 2005, p. 23.

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117
Aula 12 - Romantismo No Brasil
Questão 13 (Unesp 2011) Considerando as imagens das telas e as informações do texto, as
pinturas históricas para o governo do Segundo Reinado tinham a
função essencial de:
a) consolidar o poder militar
b) difundir o pensamento liberal
c) garantir a pluralidade política
d) fortalecer a identidade nacional

Questão 15 (PUCRS 2004)


Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


A tela de Rodolfo Amoedo mostra a morte de Aimberê, líder da
Nossas várzeas têm mais flores,
Confederação dos Tamoios (1554-1567), revolta indígena contra a
Nossos bosques têm mais vida,
escravização. A pintura foi realizada mais de três séculos depois e
Nossa vida mais amores.
pode ser entendida como um esforço de:
a) representação do sacrifício de indígenas e do acolhimento e
proteção que os religiosos teriam dado aos nativos durante o
Em cismar, sozinho, à noite,
período colonial.
Mais prazer encontro eu lá;
b) denúncia do genocídio indígena durante a fase colonial,
Minha terra tem palmeiras,
responsabilizando a Igreja Católica por ter colaborado com a Coroa
Onde canta o Sabiá.
portuguesa.
c) construção de um passado heroico para o Brasil, associando o
Minha terra tem primores,
índio a um bom selvagem, corrompido posteriormente pela religião
Que tais não encontro eu cá;
católica.
Em cismar - sozinho, à noite -
d) recuperação do período pré-cabralino e apontamento da
Mais prazer encontro eu lá;
necessidade de valorização das formas de solidariedade então
Minha terra tem palmeiras,
existentes no Brasil.
Onde canta o Sabiá.
e) exposição dos confrontos entre religiosos e índios, que foram
constantes e violentos durante todo o período colonial.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Questão 14 (Uerj 2015)
Sem que eu desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Para responder à questão, analisar as afirmativas que seguem,


sobre o texto.

I. Através do texto, o poeta realiza uma viagem introspectiva a sua


terra natal - idéia reforçada pelo emprego do verbo "cismar".
II. A exaltação à pátria perdida se dá pela referência a elementos
culturais.
III. "Cá" e "lá" expressam o local do exílio e o Brasil,
respectivamente.
IV. O pessimismo do poeta, característica determinante do
A pintura histórica alcançou no século XIX importante lugar no Romantismo, expressa-se pela saudade da sua terra.
projeto político do Segundo Reinado. Esse gênero artístico
mantinha intenso diálogo com a produção do Instituto Histórico e Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corretas:
Geográfico Brasileiro. Por meio da pintura histórica, forjou-se um a) a I e a II, apenas.
passado épico e monumental, em que toda a população pudesse b) a I e a III, apenas.
se sentir representada nos eventos gloriosos da história nacional. c) a II e a IV, apenas.
O trabalho de Araújo Porto-Alegre como crítico de arte e diretor da d) a III e a IV, apenas.
Academia Imperial de Belas Artes possibilitou a visibilidade da e) a I, a II, a III e a IV.
pintura histórica com seus pintores oficiais, Pedro Américo e Victor
Meirelles.
CASTRO, Isis Pimentel de. Adaptado de periodicos.ufsc.br.
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118
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

torna experiência mais viva que a experiência, podendo causar


AULA 13 - ROMANTISMO NO BRASIL – tanto sofrimento quanto ela.”
SEGUNDA GERAÇÃO
Antonio Candido, Romantismo no Brasil
A SEGUNDA GERAÇÃO DO ROMANTISMO, A GERAÇÃO Amor e medo
SUBJETIVISTA O autor de Lira dos vinte anos o eu lírico acaba sendo traído pela
A segunda geração da poesia romântica intensificou o própria interioridade. O grande devasso, o amante cínico que se
subjetivismo, o culto ao “eu” e destacou-se por explorar os temas revela em alguns poemas e, principalmente, na prosa, revela
do pessimismo, do tédio da existência e do escapismo. O poeta inconscientemente um medo obscuro das relações amorosas.
sente-se um gênio incompreendido, não vê os ideais que cultiva Este medo se traduz, por exemplo, através da imagem da mulher
refletidos na sociedade e, assim, sente-se condenado à solidão. É adormecida. Numa série de poemas, a preparação erótica e a
a geração do mal-do-século, estado de espírito que levava ao vontade sexual do adolescente se frustram, pois ele não quer
desejo da morte como forma de fuga e libertação do fardo de viver. acordar ("profanar") o objeto de seu desejo:
Em relação ao tema do amor tem-se o “medo de amar”, oriundo de “Ó minha amante, minha doce virgem,
uma visão neoplatônica que exige um amor puro e casto e que não Eu não te profanei, e dormes pura
se realiza no plano carnal para se manter perfeito e eterno. No sono do mistério, qual na vida,
Podes sonhar ainda na ventura.”
ÁLVARES DE AZEVEDO (1831 – 1852) No poema Tereza, chega a confessar explicitamente o seu medo:
Apesar do pouco tempo de vida (morreu aos 21 anos, vítima da “Não acordes tão cedo! enquanto dormes
tuberculose), Álvares de Azevedo deixou uma obra relevante e Eu posso dar-te beijos em segredo...
extensa, destacando-se como o principal poeta da segunda Mas, quando nos teus olhos raia a vida,
geração do romantismo. Não ouso te fitar...eu tenho medo!”
Seu ultrarromantismo revela-se na visão pessimista da existência;
no consequente escapismo, através da bebida, do sonho e da POEMAS
morte; na preferência pela noite, pela escuridão; pela existência de
mulheres pálidas, quase incorpóreas, sempre puras e castas e por A CANTIGA DO SERTANEJO
um amor vivido em sonho, ou à distância, idealizado e não Donzela! Se tu quiseras
realizado. Ser a flor das primaveras
Assim, “na Lira dos vinte anos, a única obra que ele mesmo Que tenho no coração:
preparou para publicar (as outras são póstumas), detectam-se dois E se ouviras o desejo
poetas bem distintos: um, muito suave, cantor de mulheres pálidas, Do amoroso sertanejo
também suaves; outro, bem agressivo, macabro, que louva a morte Que descora de paixão!...
e tacha a vida de tediosa e enfadonha. Às vezes, pode-se notar a
predileção que o poeta tem pelas horas noturnas ou indefinidas do Se tu viesses comigo
crepúsculo; outras vezes, o que se torna notável é a ironia, o Das serras ao desabrigo
sarcasmo, o tédio.” Aprender o que é amar...
É, também, o representante brasileiro da chamada prosa gótica, — Ouvi-lo no frio vento,
tendo escrito o livro de contos Noite na Taverna, no qual seis Das aves no sentimento,
estudantes bêbados contam histórias que envolvem sexo, orgias, Nas águas e no luar!...
incesto, mortes e assassinatos; e a peça teatral Macário, peça
satânica, em que o personagem que dá nome a peça dialoga com Ouvi-lo nessa viola,
Satã sobre o bem e o mal, o amor e as mulheres. Onde a modinha espanhola
“Se encararmos a personalidade literária, de um ângulo romântico, Sabe carpir e gemer!...
não como integração harmoniosa da possibilidade e da realização, Que pelas horas perdidas
mas como disponibilidade interior para o dramático, talvez a (obra) Tem cantigas doloridas,
de Álvares de Azevedo seja a mais característica do nosso Muito amor, muito doer...
Romantismo.” Pobre amor! o sertanejo
“Se o Romantismo, como disse alguém, foi um movimento de Tem apenas seu desejo
adolescência, ninguém o representou mais tipicamente no Brasil. O E as noites belas do val!...
adolescente é muitas vezes um ser dividido, não raro ambíguo, Só o ponche adamascado,
ameaçado de dilaceramento, como ele, em cuja personalidade O trabuco prateado
literária se misturariam a ternura casimiriana e nítidos traços de E o ferro de seu punhal!...
perversidade; desejo de afirmar e submisso temor de menino E tem as lendas antigas
amedrontado; rebeldia dos sentidos, que leva duma parte à E as desmaiadas cantigas
extrema idealização da mulher e, de outra, à lubricidade que a Que fazem de amor gemer!...
degrada.” E nas noites indolentes
“O sonho é nele tão forte quanto a realidade; os mundo Bebe cânticos ardentes
imaginários, tão atuantes quanto o mundo concreto; e a fantasia se Que fazem estremecer!...

Tem mais... na selva sombria


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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Das florestas a harmonia, Recendesse os lábios seus!


Onde passa a voz de Deus, Quem lera, divina e bela,
E nos relentos da serra Teu romance de donzela
Pernoita na sua terra, Cheio de amor e de Deus!
No leito dos sonhos seus!
Se tu viesses, donzela, Álvares de Azevedo
Verias que a vida é bela
No deserto do sertão: SONETO
Lá têm mais aroma as flores Pálida, a luz da lâmpada sombria,
E mais amor os amores Sobre o leito de flores reclinada,
Que falam do coração! Como a lua por noite embalsamada,
É doce na minha terra Entre as nuvens do amor ela dormia!
Andar, cismando, na serra
Cheia de aroma e de luz, Era a virgem do mar! na escuma fria
Sentindo todas as flores, Pela maré das água embalada...
Bebendo amor nos amores — Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Das borboletas azuis! Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Os veados da campina Era mais bela! o seio palpitando...


Na lagoa, entre a neblina, Negros olhos as pálpebras abrindo...
São tão lindos a beber!... Formas nuas no leito resvalando...
Da torrente nas coroas
Ao deslizar das canoas Não te rias de mim, meu anjo lindo!
É tão doce adormecer!... Por ti — as noites eu velei chorando
Ah! Se viesses, donzela, Por ti — nos sonhos morrerei sorrindo!
Verias que a vida é bela
No silêncio do sertão! Álvares de Azevedo
Ah!... morena, se quiseras
Ser a flor das primaveras Saudades
Que tenho no coração!
Álvares de Azevedo Foi por ti que num sonho de ventura
A flor da mocidade consumi...
PÁLIDA INOCÊNCIA E às primaveras disse adeus tão cedo
Por que, pálida inocência, E na idade do amor envelheci!
Os olhos teus em dormência
A medo lanças em mim? Vinte anos! derramei-os gota a gota
No aperto de minha mão Num abismo de dor e esquecimento...
Que sonho do coração De fogosas visões nutri meu peito...
Tremeu-te os seios assim? Vinte anos!... sem viver um só momento!

E tuas falas divinas Contudo, no passado uma esperança


Em que amor lânguida afinas Tanto amor e ventura prometia...
Em que lânguido sonhar? E uma virgem tão doce, tão divina,
E dormindo sem receio Nos sonhos junto a mim adormecia!
Por que geme no teu seio Meu Deus! e quantas eu amei... Contudo
Ansioso suspirar? Das noites voluptuosas da existência
Só restam-me saudades dessas horas
Inocência! quem dissera Que iluminou tua alma d’inocência.
De tua azul primavera
As tuas brisas de amor! Foram três noites só... três noites belas
Oh! quem teus lábios sentira De lua e de verão, no val saudoso...
E que trêmulo te abrira Que eu pensava existir... sentindo o peito
Dos sonhos a tua flor! Sobre teu coração morrer de gozo.
Quem te dera a esperança
De tua alma de criança, E por três noites padeci três anos,
Que perfuma teu dormir! Na vida cheia de saudade infinda...
Quem dos sonhos te acordasse, Três anos de esperança e de martírio...
Que num beijo t’embalasse Três anos de sofrer — e espero ainda!
Desmaiada no sentir! A ti se ergueram meus doridos versos,
Reflexos sem calor de um sol intenso,
Quem te amasse! e um momento Votei-os à imagem dos amores
Respirando o teu alento Pra velá-la nos sonhos como incenso.
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Aula 13 - Romantismo No Brasil – Segunda Geração
Eu sonhei tanto amor, tantas venturas, Nunca virás iluminar meu peito
Tantas noites de febre e d’esperança... Com um raio de luz desses teus olhos?
Mas hoje o coração parado e frio,
Do meu peito no túmulo descansa. Ideias Íntimas X
Meu pobre leito! eu amo-te contudo!
Pálida sombra dos amores santos! Aqui levei sonhando noite belas
Passa quando eu morrer no meu jazigo, As longas horas olvidei libando
Ajoelha ao luar e entoa um canto... Ardentes gotas de licor doirado,
Que lá na morte eu sonharei contigo. Esqueci-as no fumo, na leitura
Das páginas lascivas do romance. .
12 de setembro, 1852. Meu leito juvenil, da minha vida
És a página d'oiro. Em teu asilo
Álvares de Azevedo Eu sonho-me poeta, e sou ditoso,
E a mente errante devaneia em mundos
Último soneto Que esmalta a fantasia! Oh! quantas vezes
Já da noite o palor me cobre o rosto, Do levante no sol entre odaliscas
Nos lábios meus o alento desfalece, Momentos não passei que valem vidas!
Surda agonia o coração fenece, Quanta música ouvi que me encantava!
E devora meu ser mortal desgosto! Quantas virgens amei! que Margaridas,
Que Elviras saudosas e Clarissas
Do leito, embalde num macio encosto, Mais trêmulo que Faust eu não beijava,
Tento o sono reter!... Já esmorece Mais feliz que Don Juan e Lovelace
O corpo exausto que o repouso esquece... Não apertei ao peito desmaiando!
Eis o estado em que a mágoa me tem posto! Ó meus sonhos de amor e mocidade,
Por que ser tão formosos, se devíeis
O adeus, o teu adeus, minha saudade, Me abandonar tão cedo... e eu acordava
Fazem que insano do viver me prive Arquejando a beijar meu travesseiro?
E tenha os olhos meus na escuridade. Álvares de Azevedo

Dá-me a esperança com que o ser mantive! Lembrança de morrer


Volve ao amante os olhos, por piedade, Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Olhos por quem viveu quem já não vive! Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Álvares de Azevedo Em pálpebra demente.

Ideias Íntimas E nem desfolhem na matéria impura


IX A flor do vale que adormece ao vento:
Oh! ter vinte anos sem gozar de leve Não quero que uma nota de alegria
A ventura de uma alma de donzela! Se cale por meu triste passamento.
E sem na vida ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo Eu deixo a vida como deixa o tédio
Meus olhos turvas se fechar de gozo! Do deserto o poento caminheiro...
Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas Como as horas de um longo pesadelo
Passam tantas visões sobre meu peito! Que se desfaz ao dobre de um sineiro...
Palor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo! Como o desterro de minh’alma errante,
Um doce nome os lábios meus suspiram, Onde fogo insensato a consumia,
Um nome de mulher . . e vejo lânguida Só levo uma saudade — é desses tempos
No véu suave de amorosas sombras Que amorosa ilusão embelecia.
Seminua, abatida, a mão no seio, Só levo uma saudade — é dessas sombras
Perfumada visão romper a nuvem, Que eu sentia velar nas noites minhas...
Senta-se junto a mim, nas minhas pálpebras E de ti, ó minha mãe! pobre coitada
O alento fresco e leve como a vida Que por minhas tristezas te definhas!
Passar delicioso. . .
Que delírios! De meu pai... de meus únicos amigos,
Acordo palpitante . . inda a procuro; Poucos, — bem poucos! e que não zombavam
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas Quando, em noites de febre endoudecido,
Banham meus olhos, e suspiro e gemo. . . Minhas pálidas crenças duvidavam.
Imploro uma ilusão. . . tudo é silêncio!
Só o leito deserto, a sala muda! Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Amorosa visão, mulher dos sonhos, Se um suspiro nos seios treme ainda,
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto! É pela virgem que sonhei!... que nunca
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Aos lábios me encostou a face linda! Namoro a cavalo


Ó tu, que à mocidade sonhadora Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
Do pálido poeta deste flores... Que rege minha vida malfadada
Se vivi... foi por ti! e de esperança Pôs lá no fim da rua do Catete
De na vida gozar de teus amores. A minha Dulcinéia namorada.
Beijarei a verdade santa e nua, Alugo (três mil réis) por uma tarde
Verei cristalizar-se o sonho amigo... Um cavalo de trote (que esparrela!)
Ó minha virgem dos errantes sonhos, Só para erguer meus olhos suspirando
Filha do céu! eu vou amar contigo! À minha namorada na janela...

Descansem o meu leito solitário Todo o meu ordenado vai-se em flores


Na floresta dos homens esquecida, E em lindas folhas de papel bordado
À sombra de uma cruz! e escrevam nela: Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
— Foi poeta, sonhou e amou na vida. — Algum verso bonito... mas furtado.

Sombras do vale, noites da montanha, Morro pela menina, junto dela


Que minh’alma cantou e amava tanto, Nem ouso suspirar de acanhamento...
Protegei o meu corpo abandonado, Se ela quisesse eu acabava a história
E no silêncio derramai-lhe um canto! Como toda a Comédia — em casamento.
Ontem tinha chovido... que desgraça!
Mas quando preludia ave d’aurora Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
E quando, à meia-noite, o céu repousa, Mas lá vai senão quando uma carroça
Arvoredos do bosque, abri as ramas... Minhas roupas tafuis encheu de lama...
Deixai a lua pratear-me a lousa! Eu não desanimei. Se Dom Quixote
Álvares de Azevedo No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
A FACE “CALIBAN” Fui mesmo sujo ver a namorada...
Prefácio da segunda parte
Cuidado, leitor, ao voltar esta página! Mas eis que no passar pelo sobrado
Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num Onde habita nas lojas minha bela
mundo novo, terra fantástica, verdadeira ilha Baratária de D. Por ver-me tão lodoso ela irritada
Quixote, onde Sancho é rei e vivem Panúrgio, sir John Falstaff, Bateu-me sobre as ventas a janela...
Bardolph, Fígaro e o Sganarello de D. João Tenório: — a pátria dos
sonhos de Cervantes e Shakespeare.
Quase que depois de Ariel esbarramos em Caliban.
A razão é simples. É que a unidade deste livro funda-se numa O cavalo ignorante de namoros
binomia: — duas almas que moram nas cavernas de um cérebro Entre dentes tomou a bofetada,
pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
medalha de duas faces. Com pernas para o ar, sobre a calçada...
Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
O Poeta Moribundo
Poetas! amanhã ao meu cadáver Circunstância agravante. A calça inglesa
Minha tripa cortai mais sonorosa! Rasgou-se no cair de meio a meio,
Façam dela uma corda, e cantem nela O sangue pelas ventas me corria
Os amores da vida esperançosa! Em paga do amoroso devaneio!...
Cantem esse verso que me alentava... Álvares de Azevedo
O aroma dos currais, o bezerrinho,
As aves que na sombra suspiravam, CASIMIRO José Marques DE ABREU (Barra de São João, 1839
E os sapos que cantavam no caminho! – Barra de São João, 1860)
Coração, por que tremes? Se esta lira Casimiro de Abreu é considerado um dos mais populares poetas
Nas minhas mãos sem força desafina, do Romantismo brasileiro, justamente por ter feito uma poesia
Enquanto ao cemitério não te levam bastante simples e repetitiva se comparada às poesias de outros
Casa no marimbau a alma divina! poetas românticos, seus contemporâneos.
Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia . . . MEUS OITOS ANOS
Como o cisne de outrora... que gemendo Oh! que saudades que tenho
Entre os hinos de amor se enternecia. Da aurora da minha vida,
Álvares de Azevedo Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
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Aula 13 - Romantismo No Brasil – Segunda Geração
Que amor, que sonhos, que flores, Minh’alma é triste
Naquelas tardes fagueiras Minh'alma é triste como a flor que morre
À sombra das bananeiras, Pendida à beira do riacho ingrato;
Debaixo dos laranjais! Nem beijos dá-lhe a viração que corre,
Como são belos os dias Nem doce canto o sabiá do mato!
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência E como a flor que solitária pende
Como perfumes a flor; Sem ter carícias no voar da brisa,
O mar é — lago sereno, Minh'alma murcha, mas ninguém entende
O céu — um manto azulado, Que a pobrezinha só de amor precisa!
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor! Amei outrora com amor bem santo
Que aurora, que sol, que vida, Os negros olhos de gentil donzela,
Que noites de melodia Mas dessa fronte de sublime encanto
Naquela doce alegria, Outro tirou a virginal capela.
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas, Oh! quantas vezes a prendi nos braços!
A terra de aromas cheia Que o diga e fale o laranjal florido!
As ondas beijando a areia Se mão de ferro espedaçou dois laços
E a lua beijando o mar! Ambos choramos mas num só gemido!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera! Dizem que há gozos no viver d'amores,
Que doce a vida não era Só eu não sei em que o prazer consiste!
Nessa risonha manhã! — Eu vejo o mundo na estação das flores
Em vez das mágoas de agora, Tudo sorri — mas a minh'alma é triste!
Eu tinha nessas delícias Casimiro de Abreu
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã! FAGUNDES VARELA (1841 – 1875)
Amor e medo
Quando eu te vejo e me desvio cauto Vivendo na última fase do Romantismo, Fagundes Varela aborda o
Da luz de fogo que te cerca, ó bela, problema da escravidão em poemas de teor abolicionistas. Sua
Contigo dizes, suspirando amores: obra, porém, segundo o crítico Antonio Candido, apresenta vários
— "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!" aspectos, dentre eles: o patriótico, o religioso, o amoroso e o
bucólico. Essa combinação de elementos temáticos, numa poesia
Como te enganas! meu amor, é chama em que predomina o sentimento de angústia e o sofrimento, faz
Que se alimenta no voraz segredo, com que Fagundes Varela seja considerado um poeta de transição,
E se te fujo é que te adoro louco... entre a segunda e a terceira fase da poesia romântica.
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...
Ai! se eu te visse em languidez sublime, “Vivendo na última fase do Romantismo, a sua poesia revela um
Na face as rosas virginais do pejo, hábil artista do verso. Em “Arquétipo”, um dos primeiros poemas,
Trêmula a fala, a protestar baixinho... faz profissão de fé de tédio romântico, em versos brancos. Embora
Vermelha a boca, soluçando um beijo!... o preponderante em sua poesia seja a angústia e o sofrimento,
evidenciam-se outros aspectos importantes: o patriótico, em O
Diz: — que seria da pureza de anjo, estandarte auriverde (1863) e Vozes da América (1864); o
Das vestes alvas, do candor das asas? amoroso, na fase lírica, dos poemas ligados à Natureza, e, por fim,
Tu te queimaras, a pisar descalça, o místico e religioso. O poeta não deixa de lado, também, os
Criança louca — sobre um chão de brasas! problemas sociais, como o Abolicionismo.”
Vampiro infame, eu sorveria em beijos Fonte: http://www.academia.org.br/academicos/fagundes-
Toda a inocência que teu lábio encerra, varela/biografia
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra. uvenília VII

Depois... desperta no febril delírio, Ah! quando face a face te contemplo,


— Olhos pisados — como um vão lamento, E me queimo na luz de teu olhar,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?... E no mar de tua alma afogo a minha,
Eu te diria: desfolhou-a o vento!... E escuto-te falar;

Oh! não me chames coração de gelo! Quando bebo no teu hálito mais puro
Bem vês: traí-me no fatal segredo. Que o bafejo inefável das esferas,
Se de ti fujo é que te adoro e muito! E miro os róseos lábios que aviventam
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!... Imortais primaveras,
Casimiro de Abreu
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Tenho medo de ti!... Sim, tenho medo A perfídia, a mentira, a desventura...


Porque pressinto as garras da loucura, Como é suave o aroma das florestas!
E me arrefeço aos gelos do ateísmo, Como é doce das serras a frescura!
Soberba criatura!
A cidade ali está: cada passante
Oh! eu te adoro como a noite Que se envolve das turbas no bulício
Por alto mar, sem luz, sem claridade, Tem a maldade sobre a fronte escrita,
Entre as refegas do tufão bravio Tem na língua o veneno e nalma o vício.
Vingando a imensidade!
Não, não é na cidade que se formam
Como adoro as florestas primitivas, Os fortes corações, as crenças grandes,
Que aos céus levantam perenais folhagens, Como também nos charcos das planícies
Onde se embalam nos coqueiros presas Não é que gera-se o condor dos Andes!

Como adoro os desertos e as tormentas, Não, não é na cidade que as virtudes,


O mistério do abismo e a paz dos ermos, As vocações eleitas resplandecem,
E a poeira de mundos que prateia Flores de ar livre, à sombra das muralhas
A abóbada sem termos! ... Pendem cedo a cabeça e amarelecem.

Como tudo o que é vasto, eterno e belo; Quanta cena infernal sob essas telhas!
Tudo o que traz de Deus o nome escrito! Quanto infantil vagido de agonia!
Como a vida sem fim que além me espera Quanto adultério! Quanto escuro incesto!
No seio do infinito. Quanta infâmia escondida à luz do dia!

Visões da noite Quanta atroz injustiça e quantos prantos!


Passai, tristes fantasmas! O que é feito Quanto drama fatal! Quantos pesares!
Das mulheres que amei, gentis e puras? Quanta fronte celeste profanada!
Umas devoram negras amarguras, Quanta virgem vendida aos lupanares!
Repousam outras em marmóreo leito! (…)

Outras no encalço de fatal proveito Fagundes Varela, "Cantos meridionais", 1869.


Buscam à noite as saturnais escuras,
Onde, empenhando as murchas formosuras, EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
Ao demônio do ouro rendem preito!
Questão 01 - (Unifesp 2010)
Todas sem mais amor! sem mais paixões! Leia os versos de Fagundes Varela.
Mais uma fibra trêmula e sentida!
Mais um leve calor nos corações! Roem-me atrozes ideias,
A febre me queima as veias,
Pálidas sombras de ilusão perdida, A vertigem me tortura!...
Minh’alma está deserta de emoções, Oh! por Deus! quero dormir,
Passai, passai, não me poupeis a vida! Deixem-me os braços abrir
- Fagundes Varela, em "Cantos do Ermo e da Cidade", 1869. Ao sono da sepultura!
Despem-se as matas frondosas,
A cidade Caem as flores mimosas
Da morte na palidez:
A cidade ali está com seus enganos, Tudo, tudo vai passando,
Seu cortejo de vícios e traições, Mas eu pergunto chorando
Seus vastos templos, seus bazares amplos, — Quando virá minha vez?
Seus ricos paços, seus bordéis salões.
Os versos filiam-se ao estilo
A cidade ali está: sobre seus tetos a) árcade, flagrado pela alusão à natureza como forma de fugir dos
Paira dos arsenais o fumo espesso, problemas.
Rolam nas ruas da vaidade os coches b) ultrarromântico, influenciado pelo Mal do Século, e presentificam
E ri-se o crime à sombra do progresso. o pessimismo e a morte.
c) condoreiro, distanciado da visão egocêntrica, pois estão voltados
A cidade ali está: sob os alpendres aos problemas sociais.
Dorme o mendigo ao sol do meio-dia, d) neoclássico, cuja busca de perfeição formal é mais relevante
Chora a viúva em úmido tugúrio, que a expressão da emoção.
Canta na catedral a hipocrisia. e) barroco, em que o pessimismo e a dor existencial levam o eu
lírico à transcendência.
A cidade ali está: com ela o erro,
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Aula 13 - Romantismo No Brasil – Segunda Geração
Questão 02 - (UFG 2013)
Leia o poema a seguir. Minh’alma tenebrosa se entristece,
É muda como sala mortuária...
A CANTIGA DO SERTANEJO Deito-me só e triste, sem ter fome
Vejo na mesa a ceia solitária.
[...]
Pobre amor! o sertanejo Ó lua, ó lua bela dos amores,
Tem apenas seu desejo Se tu és moça e tens um peito amigo,
E as noites belas do val! Não me deixes assim dormir solteiro,
Só – o ponche adamascado, À meia-noite vem cear comigo!
O trabuco prateado AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa.
E o ferro de seu punhal! Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
[...] p. 232.
Se tu viesses, donzela,
Verias que a vida é bela Fenômeno recorrente na estética romântica, o processo de
No deserto do sertão! adjetivação permite ao eu lírico, no poema transcrito,
Lá têm mais aroma as flores a) intensificar sua tristeza, ressaltando uma perspectiva pessimista
E mais amor os amores da vida.
Que falam no coração! b) demarcar sua individualidade, expressando seu estado de
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. espírito.
Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. c) detalhar suas intenções amorosas, nomeando seus sentimentos.
p. 131. d) descrever as coisas circundantes, apresentando uma visão
objetiva da realidade.
Álvares de Azevedo é um importante representante do e) revelar um sentimento platônico, enumerando as qualidades da
Romantismo brasileiro oitocentista. No trecho da obra citada, o amada.
autor constrói uma imagem do sertão, decorrente
Questão 04 (UPF 2015)
a) do compromisso dos artistas com o projeto de centralização do É ELA! É ELA!
Império, que buscava integrar as províncias do interior ao Estado
nacional. É ela! é ela! — murmurei tremendo,
b) do contato com as artes europeias, que favorecia a avaliação E o eco ao longe murmurou — é ela!...
dos elementos individualizadores da identidade nacional Eu a vi... minha fada aérea e pura,
emergente com a Independência. A minha lavadeira na janela!
c) da crítica aos problemas sociais das cidades litorâneas, que
reforçava o saudosismo diante do declínio da economia cafeeira. Dessas águas-furtadas onde eu moro
d) da elaboração de personagens caricatos, que marcava a Eu a vejo estendendo no telhado
geração de poetas influenciados pelos trabalhos da missão Os vestidos de chita, as saias brancas...
francesa. Eu a vejo e suspiro enamorado!
e) da inspiração da literatura descritiva de jesuítas, que relatava o
interior do Brasil, destacando o desenvolvimento da economia Esta noite eu ousei mais atrevido
agropastoril. Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
QUESTÃO 03 - (UFG 2013) Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
Leia o fragmento do poema apresentado a seguir.
Como dormia! que profundo sono!...
SPLEEN E CHARUTOS Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
I Quase caí na rua desmaiado!
SOLIDÃO ÁLVARES DE AZEVEDO – É ela! É ela!

[…] Nas estrofes iniciais de “É ela! É ela!”, de Álvares de Azevedo, o


sujeito lírico mostra-se atordoado diante das facetas discrepantes
As árvores prateiam-se na praia, de sua amada, que ora lhe aparece como “fada aérea e pura”, ora
Qual de uma fada os mágicos retiros... como simples “lavadeira”. O autor explora essa duplicidade da
Ó lua, as doces brisas que sussurram figura da amada com o propósito evidente de _______ uma das
Coam dos lábios teus como suspiros! características centrais da estética ultrarromântica, qual seja,
____________.
Falando ao coração que nota aérea
Deste céu, destas águas se desata? Assinale a alternativa cujas informações preenchem corretamente
Canta assim algum gênio adormecido as lacunas do enunciado.
Das ondas moças no lençol de prata? a) ridicularizar / a representação das classes operárias.
b) ilustrar / a religiosidade.
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125
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

c) ironizar / o uso do poema-piada. Quero tremer e sentir!


d) ilustrar / a preocupação com a atividade econômica. Na tua cheirosa trança
e) ironizar / a idealização da figura feminina. Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Questão 05 (Enem PPL 2014) Minha'alma, meu coração!
Soneto Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
Oh! Páginas da vida que eu amava, E entre os suspiros do vento
Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!... Da noite ao mole frescor,
Ardei, lembranças doces do passado! Quero viver um momento,
1Morrer contigo de amor!
Quero rir-me de tudo que eu amava!
AZEVEDO, Álvares de. Disponível em:
E que doido que eu fui! como eu pensava http://www.revista.agulha.nom.br/avz.html#amor. Consultado em
Em mãe, amor de irmã! em sossegado junho de 2014.
Adormecer na vida acalentado
Pelos lábios que eu tímido beijava! Sobre o texto, analise as afirmativas a seguir:
I. O eu lírico, nos versos do poema, expressa seus sentimentos de
Embora – é meu destino. Em treva densa forma polida, cuidadosa, ponderada e sem quaisquer extremismos,
Dentro do peito a existência finda razão pela qual a poesia de Álvares de Azevedo não pode ser
Pressinto a morte na fatal doença! entendida como exemplo claro de um texto dito romântico.
II. Há, no poema em análise, versos que apontam a necessidade
A mim a solidão da noite infinda! de o eu lírico amar profundamente. Esse amor é tomado por uma
Possa dormir o trovador sem crença. subjetividade também profunda, afastando-se, quase por completo,
Perdoa minha mãe – eu te amo ainda! das raias da racionalidade.
AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, III. Os versos “Morrer contigo de amor” (ref. 1) e “Sofrer e amar
1996. essa dor” (ref. 2) explicitam a intensidade que o eu lírico pretende
dar vida a essa relação. Temas como amor e morte são
A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, recorrentes nos textos de Álvares de Azevedo, exímio
período conhecido na literatura brasileira como Ultrarromantismo. representante da poesia romântica.
Nesse poema, a força expressiva da exacerbação romântica IV. Não apenas no texto em análise, mas também nos textos de
identifica-se com o(a) Álvares de Azevedo, de modo geral, há uma exacerbação da
a) amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o objetividade dos sentimentos, espécie de refutação ao que é
eu lírico. demasiadamente onírico e evasivo, taciturno e escapista.
b) saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da V. O verso “Que noite, que noite bela!” remete o leitor a perceber
mãe e da irmã. que o amor do eu lírico será vivenciado na sua forma mais
c) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com completa e qualitativa sob a regência da Lua. Nos poemas de
aparência melancólica. Álvares de Azevedo, a noite é o tempo privilegiado para o amor.
d) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu
desejo de dormir. Está CORRETO, apenas, o que se afirma em
e) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir um a) I, II e III.
tormento constante. b) I, III e IV.
c) II, III e V.
Questão 06 (UPE 2015) d) II, IV e V.
Amor e) III, IV e V.

Quand la mort est si belle, Il est doux de mourir. Questão 07


V. Hugo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Amemos! Quero de amor "Quando eu te fujo e me desvio cauto


Viver no teu coração! Da luz de fogo que te cerca, oh! bela,
2Sofrer e amar essa dor Contigo dizes, suspirando amores:
Que desmaia de paixão! '- Meu Deus! Que gelo, que frieza aquela!'
Na tu'alma, em teus encantos Como te enganas! Meu amor é chama
E na tua palidez Que se alimenta no voraz segredo,
E nos teus ardentes prantos E se te fujo é que te adoro louco...
Suspirar de languidez! És bela - eu moço; tens amor - eu medo!..."
Quero em teus lábios beber (Casimiro de Abreu, Amor e medo)
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer (Pucpr 2005) Assinale o sentimento dos artistas românticos do
No enlevo do seio teu! século XIX expresso nos versos citados:
Quero viver d'esperança, a) sentimento de desencontro amoroso devido à frieza de um dos
amantes;
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126
Aula 13 - Romantismo No Brasil – Segunda Geração
b) receio de declarar-se devido à oposição da sociedade;
c) trata do sentimento amoroso enquanto um paradoxo, pois se Quero ver esse céu da minha terra
mostra indefinível e confuso; Tão lindo e tão azul!
d) a impossibilidade de amar tem como justificativa o temor de E a nuvem cor de rosa que passava
assumir o sentimento; Correndo lá do sul!
e) o amor existe entre os dois namorados, mas o rapaz teme que o (...)
prazer sensual destrua o sentimento amoroso.
As cachoeiras chorarão sentidas
Questão 08 Porque cedo morri,
SONETO E eu sonho no sepulcro os meus amores
Ao sol do meio-dia eu vi dormindo Na terra onde nasci!
Na calçada da rua um marinheiro,
Roncava a todo o pano o tal brejeiro Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Do vinho nos vapores se expandindo! Meu Deus! não seja já
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Além um Espanhol eu vi sorrindo Cantar o sabiá!
Saboreando um cigarro feiticeiro,
Enchia de fumaça o quarto inteiro. Lisboa — 1857
Parecia de gosto se esvaindo!
Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e
Mais longe estava um pobretão careca as concepções artísticas românticas, conclui-se que o poema
De uma esquina lodosa no retiro acima
Enlevado tocando uma rabeca! a) é ufanista, pois expressa orgulho excessivo da pátria a partir da
natureza idealizada.
Venturosa indolência! não deliro b) é condoreiro, porque valoriza a paisagem tropical realçada pela
Se morro de preguiça... o mais é seca! imagem do sabiá.
Desta vida o que mais vale um suspiro? c) é nativista, pois idealiza a natureza a partir de uma visão mais
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. objetiva e racional.
p. 183. d) é crítico, pois, por meio de um discurso irônico, a infância é
descaracterizada.
Exemplar da segunda parte de Lira dos vinte anos, o poema e) é histórico, porque faz referência ao exílio e à pátria por meio da
transcrito encarna o lado Caliban do poeta, que se manifesta ao natureza de ambos.
empregar a ironia como recurso para expressar
Questão 02 (Insper 2014)
a) uma distinção da imagem do artista, presente nos versos “De Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas
uma esquina lodosa no retiro / Enlevado tocando uma rabeca!”. Passam tantas visões sobre meu peito!
b) uma visão pejorativa do homem, que se evidencia nos Palor de febre meu semblante cobre,
vocábulos do verso “Mais longe estava um pobretão careca”. Bate meu coração com tanto fogo!
c) um rebaixamento da condição humana, o que se confirma na Um doce nome os lábios meus suspiram (...).
descrição depreciativa dos espaços, na terceira estrofe. (Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos)
d) uma perspectiva escandalizada da sociedade, comprovada pela
representação depravada dos sujeitos, na primeira estrofe. Nessa passagem, há marcas textuais típicas da função emotiva da
e) um deboche da moralidade, visível nos versos “Venturosa linguagem. Essas marcas estão associadas a uma característica
indolência! não deliro / Se morro de preguiça... o mais é seca!”. fundamental da poesia byroniana brasileira, que é o
a) egocentrismo.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO b) indianismo.
c) medievalismo.
Questão 01 d) nacionalismo.
Canção do Exílio (Casimiro de Abreu) e) nativismo.

Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Questão 03 (Imed 2016)


Meu Deus! não seja já; Leia os poemas a seguir, de Casimiro de Abreu e Carlos
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Drummond de Andrade, respectivamente:
Cantar o sabiá!
(...) MEUS OITO ANOS

O país estrangeiro mais belezas Oh! que saudades que tenho


Do que a pátria, não tem; Da aurora da minha vida,
E este mundo não vale um só dos beijos Da minha infância querida
Tão doces duma mãe! - Que os anos não trazem mais!
(...)

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Que amor, que sonhos, que flores,


Naquelas tardes fagueiras Questão 04 (Unesp 2016)
À sombra das bananeiras, Outro traço importante da poesia de Álvares de Azevedo é o gosto
Debaixo dos laranjais! […] pelo prosaísmo e o humor, que formam a vertente para nós mais
moderna do Romantismo. A sua obra é a mais variada e complexa
Rezava às Ave-Marias, no quadro da nossa poesia romântica; mas a imagem tradicional
Achava o céu sempre lindo, de poeta sofredor e desesperado atrapalhou a reconhecer a
Adormecia sorrindo importância de sua veia humorística.
E despertava a cantar!
(Antonio Candido. “Prefácio”. In: Álvares de Azevedo. Melhores
Que doce a vida não era poemas, 2003. Adaptado.)
Em vez das mágoas de agora.
A veia humorística ressaltada pelo crítico Antonio Candido na
CONSOLO NA PRAIA poesia de Álvares de Azevedo está bem exemplificada em:
a) Cavaleiro das armas escuras,
Vamos, não chores... Onde vais pelas trevas impuras
A infância está perdida. Com a espada sanguenta na mão?
A mocidade está perdida. Por que brilham teus olhos ardentes
Mas a vida não se perdeu. E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?
O primeiro amor passou. b) Ontem tinha chovido... Que desgraça!
O segundo amor passou. Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
O terceiro amor passou. Mas lá vai senão quando uma carroça
Mas o coração continua. Minhas roupas tafuis encheu de lama...
c) Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Perdeste o melhor amigo. Sobre o leito de flores reclinada,
Não tentaste qualquer viagem. Como a lua por noite embalsamada,
Não possuis casa, navio, terra. Entre as nuvens do amor ela dormia!
Mas tens um cão. d) Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Algumas palavras duras, Minha mãe de saudades morreria
em voz mansa, te golpearam. Se eu morresse amanhã!
Nunca, nunca cicatrizam. e) Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Mas, e o humour? Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
A injustiça não se resolve. Em pálpebra demente.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido. Questão 05 (Ufsm 2015)
Mas virão outros. Por que mentias? Por que mentias leviana e bela?
Se minha face pálida sentias
Tudo somado, devias Queimada pela febre, e se minha vida
precipitar-te, de vez, nas águas. Tu vias desmaiar, por que mentias?
Estás nu na areia, no vento... Acordei da ilusão, a sós morrendo
Dorme, meu filho. Sinto na mocidade as agonias.
Por tua causa desespero e morro...
Analise as seguintes afirmações a partir dos poemas: Leviana sem dó, por que mentias?
I. Embora Casimiro de Abreu integre o período literário romântico, e [...]
Carlos Drummond de Andrade, o modernismo, ambos os poemas Vê minha palidez ‒ a febre lenta
abordam a passagem do tempo e a ideia de perda de momentos Esse fogo das pálpebras sombrias...
da vida humana: infância e juventude. Pousa a mão no meu peito! Eu morro! eu morro!
II. No primeiro poema, o eu lírico apresenta a infância com certo Leviana sem dó, por que mentias?
escapismo, fugindo, assim, do momento presente, o qual é Fonte: ÁLVARES DE AZEVEDO, 1994. p. 87.
resgatado no último verso.
III. Identifica-se que, em ambos os poemas, o eu lírico mostra-se Ainda uma vez ‒ adeus! ‒ [XVIII]
pesaroso e inconformado com a passagem do tempo e da vida. Lerás porém algum dia
Meus versos, d'alma arrancados,
Quais estão corretas? D'amargo pranto banhados,
a) Apenas I. Com sangue escritos; ‒ e então
b) Apenas III. Confio que te comovas,
c) Apenas I e II. Que a minha dor te apiade,
d) Apenas II e III. Que chores, não de saudade,
e) I, II e III.
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Aula 13 - Romantismo No Brasil – Segunda Geração
Nem de amor, ‒ de compaixão. Texto 4
Fonte: GONCALVES DIAS, 2000. p. 63-68. CARAMURU

Uma leitura comparativa dos excertos permite afirmar que os dois Canto VI
eu líricos
a) sentem-se imperturbados pelo sentimento amoroso não XXXVII
correspondido. Copiosa multidão da nau francesa
b) realizam o amor na sua plenitude justamente porque sofrem com Corre a ver o espetáculo, assombrada;
ele. E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
c) censuram o descaso com que é tratado seu sentimento Pasma da turba feminil, que nada.
amoroso. Uma, que às mais precede em gentileza,
d) externam prazer quanto ao sentimento amoroso que despertam. Não vinha menos bela do que irada;
e) sentem-se satisfeitos com o sofrimento amoroso apesar da dor. Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
Questão 06 (Upe-ssa 1 2017)
Leia atentamente os textos verbais e não verbais a seguir. XXXVIII
— “Bárbaro (a bela diz:) tigre e não homem...
Texto 1 Porém o tigre, por cruel que brame,
Meus Oito Anos Acha forças no amor que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Oh! que saudades que eu tenho Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Da aurora de minha vida. Como não consumis aquele infame?
De minha infância querida Mas apagar tanto amor com tédio e asco...
Que os anos não trazem mais! Ah que corisco és tu... raio... penhasco?
Que amor, que sonhos, que flores, (...)
Naquelas tardes fagueiras José de Santa Rita Durão
À sombra das bananeiras,
Da rua de Santo Antônio Texto 5
Debaixo dos laranjais
Casimiro de Abreu

Texto 2
Meus Oito Anos
Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra!
Da rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
Oswald de Andrade

Texto 3

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Texto 6 Minha lira também seus tons varia, (Álvares de Azevedo)


( ) Eis o que sou! - A dúvida encarnada,
Que perenal vacila (Junqueira Freire)
( ) Escrevi porque a alma tinha cheia
Numa insônia que o spleen entristecia
De vibrações convulsas de ironia! (Álvares de Azevedo)
( ) Adeus meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade! (Álvares de Azevedo)

A correspondência correta entre os fragmentos e suas


características ultrarromânticas resulta na seguinte sequência:

a) (4) (5) (2) (1) (3).


b) (4) (5) (3) (2) (1).
c) (5) (4) (1) (2) (3).
d) (4) (5) (2) (3) (1).
e) (1) (4) (5) (3) (2).
Com base nos textos 1, 2, 3, 4, 5 e 6, analise as afirmativas a TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES
seguir e assinale com V as Verdadeiras e com F as Falsas. Namoro a cavalo
( ) É considerado um intertexto todo aquele texto que cruza com Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
outro texto e estabelece com este uma inter-relação nova e Que rege minha vida malfadada
singular. Dessa forma, pode-se afirmar que os Textos 1 e 2 são Pôs lá no fim da rua do Catete
considerados um intertexto. A minha Dulcinéia namorada.
( ) O Texto 3 se trata de um cartaz sobre uma campanha Alugo (três mil réis) por uma tarde
publicitária promovida pelo Ministério da Educação, em 2003. Nele Um cavalo de trote (que esparrela!)
se observa a predominância de uma função da linguagem, que é a Só para erguer meus olhos suspirando
função emotiva ou expressiva. À minha namorada na janela...
( ) O Texto 4 é um trecho do poema lírico do Barroco brasileiro, o
qual narra os feitos heroicos de Diogo Álvares Correia, que ensina Todo o meu ordenado vai-se em flores
aos índios tupinambás as leis e a cultura dos europeus. Esse E em lindas folhas de papel bordado
poema foi parodiado no filme Caramuru – A Invenção do Brasil, Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
conforme está indicado no Texto 5. Algum verso bonito... mas furtado.
( ) A paródia é a recriação de um texto com a finalidade de Ontem tinha chovido... que desgraça!
ironizar, criticar, provocar humor, satirizar um outro texto que serviu Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
de referência. Assim, pode-se afirmar que o Texto 6 é um exemplo Mas lá vai senão quando uma carroça
de paródia. Minhas roupas tafuis encheu de lama...
Eu não desanimei. Se Dom Quixote
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é: No Rocinante erguendo a larga espada
a) V – V – F – V Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
b) F – V – V – F Fui mesmo sujo ver a namorada...
c) F – F – V – F
d) V – F – V – F Mas eis que no passar pelo sobrado
e) V – F – F – V Onde habita nas lojas minha bela
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Questão 07 (UFRRJ 2004) Bateu-me sobre as ventas a janela...
Relacione aos fragmentos de texto abaixo as seguintes
características da poesia ultra-romântica no Brasil. O cavalo ignorante de namoros
Entre dentes tomou a bofetada,
(1) temática da morte. Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
(2) angústia existencial. Com pernas para o ar, sobre a calçada...
(3) tédio da vida. Dei ao diabo os namoros. Escovado
(4) melancolia. Meu chapéu que sofrera no pagode
(5) busca de um princípio universal. Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
( ) Oh! Vem depressa, minha vida foge... Circunstância agravante. A calça inglesa
Sou como o lírio que já murcho cai! (Casimiro de Abreu) Rasgou-se no cair de meio a meio,
( ) Como varia o vento, o céu - o dia, O sangue pelas ventas me corria
Como estrelas e estrelas e nuvens e mulheres, Em paga do amoroso devaneio!...
Pela regra geral de todos os seres, Álvares de Azevedo

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Aula 13 - Romantismo No Brasil – Segunda Geração
Questão 08 ninho e apresentai-o d'improviso em Paris: será por um momento
O texto acima é de autoria de um dos principais poetas do fascinado diante dessas ruas, desses templos, desses mármores;
romantismo brasileiro. Estabelecendo relação entre o texto literário mas depois falam-lhe ao coração as lembranças da pátria, e
e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto trocará de bom grado ruas, praças, templos, mármores, pelos
histórico e social, podemos afirmar que o poema: campos de sua terra, pela sua choupana na encosta do monte,
a) reflete perfeitamente o ultrarromantismo do autor, uma vez que pelos murmúrios das florestas, pelo correr dos seus rios. Arrancai a
apresenta como núcleo temático a idealização do amor. planta dos climas tropicais e plantai-a na Europa: ela tentará
b) por conta do seu caráter cômico, se afasta dos ideais românticos reverdecer, mas cedo pende e murcha, porque lhe falta o ar natal,
e não deixa entrever os verdadeiros hábitos e valores da burguesia o ar que lhe dá vida e vigor. Como o índio, prefiro a Portugal e ao
da época. mundo inteiro, o meu Brasil, rico, majestoso, poético, sublime.
c) parodia o estilo romântico, criticando e negando através do Como a planta dos trópicos, os climas da Europa enfezam-me a
humor a ideia de que o amor é a mola mestra da sociedade. existência, que sinto fugir no meio dos tormentos da saudade.
d) reflete e ironiza os hábitos e valores da sociedade burguesa de (ABREU, Casimiro de."Obras de Casimiro de Abreu". Rio
sua época, que apresentava uma visão idealizada da relação de Janeiro: MEC, 1955.)
amorosa.
e) faz uso da linguagem pomposa do romantismo, para mostrar os Casimiro de Abreu costuma ser classificado pela crítica literária
sacrifícios necessários a uma vivência pela do amor. como integrante da segunda geração do Romantismo. No entanto,
o texto acima reflete bem o projeto literário do Romantismo no
Questão 09 Brasil e dialoga com o contexto histórico da época, pois o poeta:
O texto acima está concentrado, principalmente, sobre qual a) de forma impessoal detalha as riquezas naturais do Brasil, de
elemento do sistema de comunicação: modo a engrandecê-lo frente a Portugal, reforçando o sentimento
a) o código, porque há explicação do significado das expressões. da época contra o iminente rompimento com o pacto colonial.
b) o receptor, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma b) exalta tanto o Brasil quanto Portugal, elencando as qualidades
ação. de ambos, como uma forma de evitar que o processo de
c) o emissor, pois a linguagem é subjetiva e traz constantes Independência, que ganhava força, trouxesse prejuízo para a
marcas de pessoalidade. relação entre os dois países.
d) o referente, já que são apresentadas informações sobre c) ressalta que, apesar da superioridade de Portugal no que diz
acontecimentos e fatos reais. respeito à sua riqueza natural e cultural, sente-se um exilado, o
e) a mensagem, pois se chama a atenção para a elaboração que reflete o caráter essencialmente nacionalista do Romantismo.
especial e artística da estrutura do texto. d) compara-se a um índio para destacar seu desprezo por Portugal
e, consequentemente, pelo pacto colonial, apoiando a
Questão 10 Independência recém proclamada e refletindo o caráter
Meus oito anos nacionalista do Romantismo.
e) ao destacar o sentimento de exílio, exaltar a natureza brasileira
Oh! que saudades que tenho e fazer referência ao índio, exemplifica boa parte da produção
Da aurora da minha vida, romântica, marcada pelo nacionalismo ufanista, reflexo, também,
Da minha infância querida do processo de Independência.
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras, Casimiro de Abreu pertence à geração dos poetas que morreram
Debaixo dos laranjais! prematuramente, na casa dos vinte anos, como Álvares de
Casemiro de Abreu Azevedo e outros, acometidos do “mal” byroniano. Sua poesia,
reflexo autobiográfico dos transes, imaginários e verídicos, que lhe
O estilo dos versos de Casimiro de Abreu agitaram a curta existência, centra-se em dois temas fundamentais:
a) é brando e gracioso, adotando um ritmo popular carregado de a saudade e o lirismo amoroso. Graças a tal fundo de juvenilidade
musicalidade. e timidez, sua poesia saudosista guarda um não sei quê de infantil.
b) traduz-se em linguagem grandiosa, por meio das quais (Massaud Moisés. A literatura brasileira através dos textos, 2004.
estabelece a crítica social. Adaptado.)
c) é preciso e objetivo, deixando em segundo plano o subjetivismo.
d) reflete o padrão ultrarromântico da morbidez e melancolia. Questão 12 (Unifesp 2014)
e) é rebuscado e altamente subjetivo, o que o aproxima do estilo Os versos de Casimiro de Abreu que se aproximam da ideia de
de Castro Alves. saudade, tal como descrita por Massaud Moisés, encontram- se
em:
Texto para a próxima questão: a) Se eu soubesse que no mundo / Existia um coração, / Que só
por mim palpitasse / De amor em terna expansão; / Do peito calara
Já dois anos se passaram longe da pátria. Dois anos! Diria dois as mágoas, / Bem feliz eu era então!
séculos. E durante este tempo tenho contado os dias e as horas b) Oh! não me chames coração de gelo! / Bem vês: traí-me no fatal
pelas bagas do pranto que tenho chorado. Tenha embora Lisboa segredo. / Se de ti fujo é que te adoro e muito, / És bela – eu moço;
os seus mil e um atrativos, ó eu quero a minha terra; quero respirar tens amor, eu – medo!...
o ar natal (...). Nada há que valha a terra natal. Tirai o índio do seu c) Naqueles tempos ditosos / Ia colher as pitangas, / Trepava a tirar
as mangas, / Brincava à beira do mar; / Rezava às Ave-Marias, /
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131
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Achava o céu sempre lindo, / Adormecia sorrindo / E despertava a Que por minha tristeza te definhas!
cantar!
d) Minh’alma é triste como a flor que morre / Pendida à beira do De meu pai!... de meus únicos amigos,
riacho ingrato; / Nem beijos dá-lhe a viração que corre, / Nem doce Poucos - bem poucos - e que não zombavam
canto o sabiá do mato! Quando, em noite de febre endoudecido,
e) Tu, ontem, / Na dança / Que cansa, / Voavas / Co’as faces/ Em Minhas pálidas crenças duvidaram.
rosas / Formosas / De vivo, / Lascivo / Carmim; / Na valsa / Tão
falsa, / Corrias, / Fugias, / Ardente, / Contente,/ Tranquila, / Serena, Este trecho é de Álvares de Azevedo, famoso poeta romântico
/ Sem pena / De mim! brasileiro. Qual das características a seguir NÃO se encontra no
poema?

Soneto a) O autor demonstra um desencanto precoce pela vida e vê na


Já da morte o palor me cobre o rosto, morte a solução de seus problemas
Nos lábios meus o alento desfalece, b) Álvares de Azevedo, como outros escritores de sua geração,
Surda agonia o coração fenece, revela intensa necessidade de fugir do real através da lembrança
E devora meu ser mortal desgosto! de um passado idealizado.
c) Os principais motivos da lânguida tristeza sentida pelo poeta são
Do leito embalde no macio encosto a desilusão amorosa e a incompreensão de falsos amigos.
Tento o sono reter!... já esmorece d) O autor de "Lembrança de Morrer" é um representante da
O corpo exausto que o repouso esquece... segunda geração romântica, também chamada "mal do século",
Eis o estado em que a mágoa me tem posto! caracterizada pela melancolia e pelo sentimentalismo exacerbados.
e) Através da leitura deste poema, percebe-se que Álvares de
O adeus, o teu adeus, minha saudade, Azevedo pode ser considerado um representante da primeira
Fazem que insano do viver me prive geração romântica, a dos autores nacionalistas.
E tenha os olhos meus na escuridade.
Questão 15
Dá-me a esperança com que o ser mantive! (Pucsp 2001) Fragmento I
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive! Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Questão 13 (ENEM 2010)
O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração Era a virgem do mar na escuma fria
romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além Pela maré das águas embalada!
desse momento específico. O fundamento desse lirismo é Era um anjo entre nuvens d'alvorada
A) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da Que em sonhos se banhava e se esquecia!
morte.
B) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da
perda. Fragmento II
C) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade.
D) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa. É ela! é ela! - murmurei tremendo,
E) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento. E o eco ao longe murmurou - é ela!
Eu a vi - minha fada aérea e pura -
Questão 14 A minha lavadeira na janela!
(Fei) LEMBRANÇA DE MORRER (...)
(Fragmento) Esta noite eu ousei mais atrevido
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Eu deixo a vida como deixa o tédio Ir espiar seu venturoso sono,
Do deserto, o poento caminheiro Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro Como dormia! que profundo sono!...
Tinha na mão o ferro do engomado...
Como o desterro de minh' alma errante, Como roncava maviosa e pura!...
Onde fogo insensato a consumia: Quase caí na rua desmaiado!
Só levo uma saudade - é desses tempos (...)
Que amorosa ilusão embelecia. É ela! é ela! - repeti tremendo;
Mas cantou nesse instante uma coruja...
Só levo uma saudade - é dessas sombras Abri cioso a página secreta...
Que eu sentia velar nas noites minhas... Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!
De ti, ó minha mãe, pobre coitada

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132
Aula 13 - Romantismo No Brasil – Segunda Geração
Os fragmentos acima são de Alvares de Azevedo e desenvolvem o
tema da mulher e do amor. Caracterizam duas faces diferentes da
obra do poeta. Comparando os dois fragmentos, podemos afirmar
que,
a) no primeiro, manifesta-se o desejo de amar e a realização
amorosa se dá plenamente entre os amantes.
b) no segundo, apesar de haver um tom de humor e sátira, não se
caracteriza o rebaixamento do tema amoroso.
c) no primeiro, o poeta figura a mulher adormecida e a toma como
objeto de amor jamais realizado.
d) no segundo, o poeta expressa as condições mais rasteiras de
seu cotidiano, porém, atribui à mulher traços de idealização iguais
aos do primeiro fragmento.
e) no segundo, ao substituir a musa virginal pela lavadeira entretida
com o rol de roupa suja, o poeta confere ao tema amoroso
tratamento idêntico ao verificado no primeiro fragmento.

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133
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

E o atlântico humilde se estende a seus pés!


AULA 14 - ROMANTISMO NO BRASIL –
TERCEIRA GERAÇÃO Ó pátria, desperta... Não curves a fronte
Que enxuga-te os prantos o Sol do Equador.
A TERCEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO: A GERAÇÃO Não miras na fímbria do vasto horizonte
CONDOREIRA A luz de alvorada de um dia melhor?

Já falta bem pouco. Sacode a cadeia


Que chamam riquezas... que nódoas te são!
Não manches a folha da tua epopeia
No sangue do escravo, no imundo balcão.

Sê pobre, que importa? Sê livre... És gigante,


Bem como os condores dos píncaros teus!
Arranca este peso das costas do Atlante,
Levanta o madeiro dos ombros de Deus.
Castro Alves

CASTRO ALVES (1846 – 1871)


Castro Alves é o nome de maior destaque na terceira geração. Sua
poesia abolicionista, que lhe rendeu o epíteto de “poeta dos
escravos”, é dramática, expressiva, repleta de hipérboles e rica em
Debret sugestões visuais e sonoras, dotada de uma retórica inflamada e
indignada contra a escravidão.
Além da poesia sobre os escravos, renovou o tema amoroso,
retratando uma mulher mais sensual e dando destaque ao amor
carnal, numa visão mais erotizada do amor e da mulher.

O “Adeus” de Teresa

A vez primeira que eu fitei Teresa,


Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala...

E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”


Debret
Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
A terceira geração da poesia romântica brasileira foi influenciada E da alcova saía um cavaleiro
pela visão social do francês Victor Hugo, autor de Os Miseráveis, e Inda beijando uma mulher sem véus...
adotou uma linguagem exaltada e um discurso libertário. Era eu... Era a pálida Teresa!
O termo condoreiro vem de condor, ave que habita a Cordilheira “Adeus” lhe disse conservando-a presa...
dos Andes. O Condor, por conseguir alcançar grandes altitudes,
representa o alto voo que a palavra pode alcançar em defesa da E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”
liberdade e contra as injustiças sociais. Passaram tempos... séc’los de delírio
Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barretos seus melhores Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
representantes no Brasil. ... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...”
América Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”
À tépida sombra das matas gigantes,
Da América ardente nos Pampas do Sul, Quando voltei... era o palácio em festa!...
Ao canto dos ventos nas palmas brilhantes, E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra
À luz transparente de um céu todo azul, Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
A filha das matas – cabocla morena – Foi a última vez que eu vi Teresa!...
Se inclina indolente sonhando talvez!
À fronte nos Andes reclina serena. E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”
Castro Alves
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Boa Noite Vivo — que vaga sobre o chão da morte,


Morto — entre os vivos a vagar na terra.
Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora. Castro Alves
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! é tarde... é tarde... Observe que, diferente de Álvares de Azevedo em “Lembrança de
Não me apertes assim contra teu seio. morrer”, o eu lírico não taxa a vida de tediosa, mas, ao contrário,
grita que quer viver, canta seu amor pelas mulheres, a sua vontade
Boa-noite!... E tu dizes - Boa noite, de sorver a vida e construir um futuro glorioso. Porém, a morte
Mas não digas assim por entre beijos... precocemente se aproxima e o lírico já a pressente. Castro Alves
Mas não mo digas descobrindo o peito, morreu aos vinte e quatro anos.
- Mar de amor onde vagam meus desejos.
Maria
Julieta do céu! Ouve... a calhandra Onde vais à tardezinha,
Já rumoreja o canto da matina. Mucama tão bonitinha,
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira... Morena flor do sertão?
... Quem cantou foi teu hálito, divina! A grama um beijo te furta
Castro Alves Por baixo da saia curta,
Que a perna te esconde em vão...
Mocidade e morte
Mimosa flor das escravas!
Oh! eu quero viver, beber perfumes O bando das rolas bravas
Na flor silvestre, que embalsama os ares; Voou com medo de ti!...
Ver minh'alma adejar pelo infinito, Levas hoje algum segredo...
Qual branca vela n'amplidão dos mares. Pois te voltaste com medo
No seio da mulher há tanto aroma... Ao grito do bem-te-vi!
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
— Árabe errante, vou dormir à tarde Serão amores deveras?
A sombra fresca da palmeira erguida. Ah! Quem dessas primaveras
Pudesse a flor apanhar!
Mas uma voz responde-me sombria: E contigo ao tom d'aragem,
Terás o sono sob a lájea fria. Sonhar na rede selvagem...
À sombra do azul palmar!
Morrer... quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas: Bem feliz quem na viola
Não! o seio da amante é um lago virgem... Te ouvisse a moda espanhola
Quero boiar à tona das espumas. Da lua ao frouxo clarão...
Vem! formosa mulher — camélia pálida, Com a luz dos astros - por círios,
Que banhou de pranto as alvoradas, Por leito - um leito de lírios...
Minh'alma é a borboleta, que espaneja E por tenda - a solidão!
O pó das asas lúcidas, douradas ... Castro Alves

E a mesma voz repete-me terrível, Tragédia no lar


Com gargalhar sarcástico: — impossível! Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Eu sinto em mim o borbulhar do gênio, Trocar tapetes e salas
Vejo além um futuro radiante: Por um alcouce cruel,
Avante! — brada-me o talento n'alma Que o teu vestido bordado
E o eco ao longe me repete — avante! — Vem comigo, mas ... cuidado ...
O futuro... o futuro... no seu seio... Não fique no chão manchado,
Entre louros e bênçãos dorme a glória! No chão do imundo bordel.
Após — um nome do universo n’alma,
Um nome escrito no Panteon da história. Não venhas tu que achas triste
Às vezes a própria festa.
E a mesma voz repete funerária: Tu, grande, que nunca ouviste
Teu Panteon — a pedra mortuária! Senão gemidos da orquestra
Por que despertar tu'alma,
E eu sei que vou morrer... dentro em meu peito Em sedas adormecida,
Um mal terrível me devora a vida: Esta excrescência da vida
Triste Ahasverus, que no fim da estrada, Que ocultas com tanto esmero?
Só tem Por braços uma cruz erguida. E o coração - tredo lodo,
Sou o cipreste, qu'inda mesmo florido, Fezes d'ânfora doirada
Sombra de morte no ramal encerra! Negra serpe, que enraivada,
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135
Aula 14 - Romantismo No Brasil – Terceira Geração
Morde a cauda, morde o dorso Cisma da noite nos véus ...
E sangra às vezes piedade, ...Adeus, ó choça do monte,
E sangra às vezes remorso?... ...Adeus, palmeiras da fonte!...
Não venham esses que negam ...Adeus, amores... adeus!...
A esmola ao leproso, ao pobre. Depois, o areal extenso...
A luva branca do nobre Depois, o oceano de pó.
Oh! senhores, não mancheis... Depois no horizonte imenso
Os pés lá pisam em lama, Desertos... desertos só...
Porém as frontes são puras E a fome, o cansaço, a sede...
Mas vós nas faces impuras Ai! quanto infeliz que cede,
Tendes lodo, e pus nos pés. E cai p'ra não mais s'erguer!...
Castro Alves Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
O Navio Negreiro Acha um corpo que roer.
(Tragédia no mar) Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
IV O sono dormido à toa
Era um sonho dantesco... o tombadilho Sob as tendas d'amplidão!
Que das luzernas avermelha o brilho. Hoje... o porão negro, fundo,
Em sangue a se banhar. Infecto, apertado, imundo,
Tinir de ferros... estalar de açoite... Tendo a peste por jaguar...
Legiões de homens negros como a noite, E o sono sempre cortado
Horrendos a dançar... Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas Ontem plena liberdade,
Magras crianças, cujas bocas pretas A vontade por poder...
Rega o sangue das mães: Hoje... cúm'lo de maldade,
Outras moças, mas nuas e espantadas, Nem são livres p'ra morrer. .
No turbilhão de espectros arrastadas, Prende-os a mesma corrente
Em ânsia e mágoa vãs! — Férrea, lúgubre serpente —
E ri-se a orquestra irônica, estridente... Nas roscas da escravidão.
E da ronda fantástica a serpente E assim zombando da morte,
Faz doudas espirais ... Dança a lúgubre coorte
Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ao som do açoute... Irrisão!...
Ouvem-se gritos... o chicote estala. Senhor Deus dos desgraçados!
E voam mais e mais... Dizei-me vós, Senhor Deus,
Presa nos elos de uma só cadeia, Se eu deliro... ou se é verdade
A multidão faminta cambaleia, Tanto horror perante os céus?!...
E chora e dança ali! Ó mar, por que não apagas
Um de raiva delira, outro enlouquece, Co'a esponja de tuas vagas
Outro, que martírios embrutece, Do teu manto este borrão?
Cantando, geme e ri! Astros! noites! tempestades!
No entanto o capitão manda a manobra, Rolai das imensidades!
E após fitando o céu que se desdobra, Varrei os mares, tufão!...
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros: VI
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Existe um povo que a bandeira empresta
Fazei-os mais dançar!..." P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . E deixa-a transformar-se nessa festa
E da ronda fantástica a serpente Em manto impuro de bacante fria!...
Faz doudas espirais... Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Qual um sonho dantesco as sombras voam!... Que impudente na gávea tripudia?
Gritos, ais, maldições, preces ressoam! Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
E ri-se Satanás!... Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

V Auriverde pendão de minha terra,


Lá nas areias infindas, Que a brisa do Brasil beija e balança,
Das palmeiras no país, Estandarte que a luz do sol encerra
Nasceram crianças lindas, E as promessas divinas da esperança...
Viveram moças gentis... Tu que, da liberdade após a guerra,
Passa um dia a caravana, Foste hasteado dos heróis na lança
Quando a virgem na cabana Antes te houvessem roto na batalha,
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Que servires a um povo de mortalha!... Morderam dessa mãe querida o seio,


A contrair-se aos beijos, denegridos,
Fatalidade atroz que a mente esmaga! O desespero se imprimi-los veio, -
Extingue nesta hora o brigue imundo “Que ressentiu-se verdejante e válido,
O trilho que Colombo abriu nas vagas, O floripôndio em flor; e quando o vento
Como um íris no pélago profundo! Mugindo estorce-o doloroso, pálido,
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga Gemidos se ouvem no amplo firmamento!
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! “E o sol, que resplandece na montanha
Andrada! arranca esse pendão dos ares! As noivas não encontra, não se abraçam
Colombo! fecha a porta dos teus mares! No puro amor; e os fanfarrões d’Espanha,
Castro Alves Em sangue edêneo os pés lavando, passam.”
Sousândrade
Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade)
Seu poema mais famoso é o Guesa Errante, composto por treze
Por vezes classificado como poeta da segunda geração da poesia cantos e escrito entre 1858 e 1888.
romântica, noutras como pertencente à Terceira geração, a obra de "Os grandes méritos de O Guesa residem, em grande parte, nas
Sousândre é marcada pela originalidade temática e pela ousadia inovações estéticas do poema, especialmente nos episódios
de um vocabulário que trazia tanto palavras indígenas como epigramáticos que Haroldo e eu denominamos Tatuturema e O
termos em inglês e neologismos. Tendo viajado pela América Inferno de Wall Street. Uma das primeiras edições parciais do
Latina, pela Europa e vivido por alguns anos em Nova York, poema, publicada em 1877, em Nova York, onde o poeta residiu
Sousândrade conheceu mais a fundo o Sistema capitalista. Em por vários anos, já traz essas sequências, nas quais ele usa
seus poemas, então, critica a aristocracia rural brasileira, mas recursos inusitados. Colagens de eventos colhidos nos jornais The
critica, também, as inversões de valor próprias de um Sistema New York Herald e The Sun, neologismos como "sobre-rum-
capitalista industrializado, que louvava o dinheiro como a um novo nadam" ou "fossilpetrifique" e a diversidade tipográfica dão um
Deus. Além disso, Sousândrade, abolicionista que era, mostra-se aspecto incomum a esses epigramas dialogados. Mas não são
sensível ao sofrimento da raça negra. apenas essas inovações, presentes em outros versos do poema,
Em seus poemas, Sousândrade procurou criar uma identidade que lhe conferem particular interesse. Trata-se de um poema épico
cultural que alcançasse toda a América, fazendo refência aos com uma visão transamericana atípica: o personagem principal, o
povos nativos não apenas do Brasil, mas de outros países da "guesa" - sem-lar ou errante -, extraído da mitologia dos antigos
América do Sul. muíscas, índios colombianos, era um menino sacrificado em
homenagem a Bochica, o deus do Sol."
Guesa Errante - Canto I

“Eia, imaginação divina! Augusto de Campos


Os Andes "Assumindo alegoricamente a sua "persona", Sousândrade
Vulcânicos elevam cumes calvos, percorre vários países sul e centro-americanos e termina
Circundados de gelos, mudos, alvos, sacrificado pelos especuladores da Bolsa de Nova York. O poema
Nuvens flutuando – que espetac’los grandes! constitui uma ferina crítica social e um documento notável das
Lá onde o ponto do condor negreja, transformações ocorridas nos EUA no fim do século 19, em fase de
Cintilando no espaço como brilhos pré-industrialização. Republicano convicto, tendo vivido em pleno
D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos segundo império brasileiro, o poeta vê o país do Norte como
Do lhama descuidado; onde deserto, exemplo de democracia, mas ao mesmo tempo critica o sistema,
O azul sertão, formoso e deslumbrante, flagrando-o em suas contradições e turbulências num período
Arde do sol o incêndio, delirante notório pela grande corrupção financeira. Não conheço nada igual
Coração vivo em céu profundo aberto! na literatura poética do seu tempo. Embora se alimente de uma
“Nos áureos tempos, nos jardins da América utopia - a sociedade igualitária dos incas -, a visão poética de
Infante adoração dobrando a crença Sousândrade mantém grande atualidade em relação às
Ante o belo sinal, nuvem ibérica vicissitudes que apresentam ainda hoje as Américas. Tematiza, de
Em sua noite a envolveu ruidosa e densa. maneira realista, diferentemente dos românticos brasileiros, a
“Cândidos Incas! Quando já campeiam degradação cultural dos índios do Amazonas, antecipando
Os heróis vencedores do inocente preocupações ecológicas e antropológicas da atualidade."
Índio nu; quando os templos s’incendeiam,
Já sem virgens, sem ouro reluzente, Augusto de Campos
“Sem as sombras dos reis filhos de Manco, Sousândrade, por sua originalidade, passou despercebido pela
Viu-se… (que tinham feito? e pouco havia crítica e pelo público de seu tempo. Sua obra foi “descoberta” na
A Fazer-se…) num leito puro e branco década de 60, principalmente, pelos poetas concretistas Haroldo e
A corrupção, que os braços estendia! Augusto de Campos. Em tom quase profético, o próprio
“E da existência meiga, afortunada, Sousândrade teria dito em 1877:
O róseo fio nesse albor ameno “Ouvi dizer já por duas vezes que o Guesa Errante será lido 50
Foi destruído. Como ensaguentada anos depois; entristeci – decepção de quem escreve 50 anos
A terra fez sorrir ao céu sereno! antes.”
“Foi tal a maldição dos que caídos
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Aula 14 - Romantismo No Brasil – Terceira Geração

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM E assim roubados à morte,


Dança a lúgubre coorte
Questão 01 (UFTM 2011) Ao som do açoite... Irrisão!...
Leia o poema de Tobias Barreto. (Castro Alves. Fragmento de O navio negreiro – tragédia no
mar.)
A Escravidão
Nesse fragmento do poema,
Se é Deus quem deixa o mundo a) o poeta se vale do recurso ao paralelismo de construção apenas
Sob o peso que o oprime, na primeira estrofe.
Se ele consente esse crime, b) o eu-poemático aborda o problema da escravidão segundo um
Que se chama escravidão, jogo de intensas oposições.
Para fazer homens livres, c) os animais evocados – leão, jaguar e serpente – têm,
Para arrancá-los do abismo, respectivamente, sentidos denotativo, denotativo e metafórico.
Existe um patriotismo d) o tom geral assumido pelo poeta revela um misto de emoção,
Maior que a religião. vigor e resignação diante da escravidão.
e) os versos são constituídos alternadamente por sete e oito
Se não lhe importa o escravo sílabas poéticas.
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha Questão 03 (Unifesp 2011)
A face dos anjos seus, Considere as seguintes afirmações.
Em delírio inefável, I. O texto é um exemplo de poesia carregada de dramaticidade,
Praticando a caridade, própria de um poeta-condor, que mostra conhecer bem as lições
Nesta hora a mocidade do “mestre” Victor Hugo.
Corrige o erro de Deus! II. Trata-se de um poema típico da terceira fase romântica, voltado
para auditórios numerosos, em que se destacam a preocupação
Considerando a temática abordada no poema, é correto afirmar social e o tom hiperbólico.
que ele se enquadra no movimento romântico III. É possível reconhecer nesse fragmento de um longo poema de
a) condoreiro, a exemplo de Castro Alves que, com o poema Navio teor abolicionista o gosto romântico por uma poesia de recursos
Negreiro, aborda a questão da escravidão no Brasil. sonoros.
b) indianista, a exemplo de Gonçalves Dias que, com o poema I –
Juca Pirama, analisa a condição dos excluídos socialmente. Está correto o que se afirma em
c) ultrarromântico, a exemplo de Fagundes Varela que, com o a) I, apenas.
poema Cântico do Calvário, mostra o sofrimento do negro no b) II, apenas.
Brasil. c) III, apenas.
d) condoreiro, a exemplo de Castro Alves que, com o poema Vozes d) I e II, apenas.
d’África, exalta a força e a simpatia dos negros africanos. e) I, II e III.
e) ultrarromântico, a exemplo de Casimiro de Abreu que, com o
poema Meus oito anos, recorda a escravidão que conhecera na Questão 04
infância. A expressão "crime contra a humanidade" tem um duplo sentido.
Designa um crime tão abominável que a humanidade inteira é
Questão 02 (Unifesp 2011) ferida pela crueldade dos atos. Mas designa também e talvez
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES sobretudo um crime contra a ideia de humanidade, ou seja, contra
a ideia de que, além ou aquém de nossas diferenças religiosas,
Ontem a Serra Leoa, nacionais etc., somos semelhantes membros de uma mesma
A guerra, a caça ao leão, espécie. Perseguir, exterminar uma população por sua diferença
O sono dormido à toa significa negar a existência da comunidade dos humanos, quebrar
Sob as tendas d’amplidão! um pressuposto que talvez seja a melhor conquista de nossa
Hoje... o porão negro, fundo, cultura.
Infecto, apertado, imundo, (Contardo Calligaris. "Terra de ninguém". S. Paulo: "Publifolha",
Tendo a peste por jaguar... 2004)
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado, “Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
E o baque de um corpo ao mar... Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Ontem plena liberdade, Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
A vontade por poder... É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Hoje... cúm’lo de maldade, Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”
Nem são livres p’ra morrer...
Prende-os a mesma corrente Castro Alves, Navio Negreiro
– Férrea, lúgubre serpente –
Nas roscas da escravidão. Um crime contra a humanidade que perdurou e se caracterizou

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

pela mais profunda das violências foi a escravidão, que encontrou Das bandas de onde o sol vem;
em Castro Alves um adversário de peso, como mostram seus Esta terra é mais bonita.
poemas marcados Mas à outra eu quero bem.”
a) pelo tom oratório e pela retórica inflamada. ALVES, C. Poesias completas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995
b) por uma linguagem sensível e insinuante. (fragmento).
c) pela sátira combativa e pelas teses naturalistas.
d) pelo romantismo típico da primeira geração. TEXTO lI
e) pelo desencanto e pela melancolia de sua geração.
No caso da Literatura Brasileira, se é verdade que prevalecem as
Questão 05 reformas radicais, elas têm acontecido mais no âmbito de
A CRUZ DA ESTRADA movimentos literários do que de gerações literárias. A poesia de
Castro Alves em relação à de Gonçalves Dias não é a de negação
Caminheiro que passas pela estrada, radical, mas de superação, dentro do mesmo espírito romântico.
Seguindo pelo rumo do sertão, MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
Quando vires a cruz abandonada, 2003 (fragmento)
Deixa-a em paz dormir na solidão.
O fragmento do poema de Castro Alves exemplifica a afirmação de
É de um escravo humilde sepultura, João Cabral de Melo Neto porque
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz. a) exalta o nacionalismo, embora lhe imprima um fundo ideológico
Deixa-o dormir no leito de verdura, retórico.
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs. b) canta a paisagem local, no entanto, defende ideais do
liberalismo.
Dentre os braços da cruz, a parasita, c) mantém o canto saudosista da terra pátria, mas renova o tema
Num abraço de flores se prendeu. amoroso.
Chora orvalhos a grama, que palpita; d) explora a subjetividade do eu lírico, ainda que tematize a
Lhe acende o vaga-lume o facho seu. injustiça social.
e) inova na abordagem de aspecto social, mas mantém a visão
Caminheiro! Do escravo desgraçado lírica da terra pátria.
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado, Questão 07
Há pouco a liberdade o desposou. O Amor preside a vários poemas de Espumas flutuantes.
(ALVES, Castro. (1883) In: LAJOLO, Marisa & Considere estes dois fragmentos, em dois distintos momentos da
CAMPEDELLI, Samira (org.) "Literatura comentada". 2a ed. São poesia de Castro Alves:
Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 89-90.) I. E da alcova saía um cavalheiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Nesse fragmento do poema "A cruz da estrada", observa-se um Era eu... Era a pálida Teresa!
traço marcante da poesia romântica, que é II. Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
a) o egocentrismo exacerbado revelador das emoções do eu. Ao doudo afago de meus lábios mornos.
b) o nacionalismo expresso na origem histórica do nosso povo.
c) o envolvimento subjetivo dos elementos da natureza. Tais versos ilustram a seguinte característica da poesia de Castro
d) a evasão do eu para espaços distantes e exóticos. Alves:
e) a idealização da infância como uma época perfeita. a) a extremada idealização amorosa faz da amada um ser etéreo e
inatingível.
Questão 06 (Enem PPL 2012) b) o intimismo e a timidez levam o poeta a sugerir seu medo de
TEXTO I amar.
c) a virilidade e o erotismo convivem com a idealização amorosa.
A canção do africano d) a dimensão erótica é sobrepujada pela ternura e pela inclinação
platônica.
Lá na úmida senzala. e) o desejo amoroso, quando materializado, traz a culpa e o
Sentado na estreita sala, remorso.
Junto ao braseiro, no chão,
entoa o escravo o seu canto, Questão 08 (Ufsm 2015)
E ao cantar correm-lhe em pranto Poeticamente, o sal metaforiza o mar, as lágrimas, a força de viver.
Saudades do seu torrão... Castro Alves, em sua obra poética, lança mão desse recurso para
De um lado, uma negra escrava unir arte e crítica social.
Os olhos no filho crava, Observe os fragmentos:
Que tem no colo a embalar...
E à meia-voz lá responde Fragmento 1 – “A Canção do Africano”
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez p’ra não o escutar! Lá, na úmida senzala,
“Minha terra é lá bem longe, Sentado na estreita sala,

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139
Aula 14 - Romantismo No Brasil – Terceira Geração
Junto ao braseiro, no chão, ( ) Na poesia condoreira de Castro Alves, o poeta descreve
Entoa o escravo o seu canto, como os negros sã desterritorializados, os maus-tratos que sofrem
E ao cantar correm-lhe em pranto nos navios negreiros e o modo como perde a liberdade ao serem
Saudades do seu torrão... vendidos como escravos aos senhores de engenho.
Fonte: CASTRO ALVES, 1995, p. 100.
Analise a alternativa que contém a sequência CORRETA.
Fragmento 2 - “O Navio Negreiro” a) F - F - V - V - F
b) V - V - V - F - F
Senhor Deus dos desgraçados! c) F - V - F - V - V
Dizei-me vós, Senhor Deus! d) F - F - F - F - V
Se eu deliro... ou se e verdade e) V - V - F - V - V
Tanto horror perante os céus...
O mar, por que não apagas Questão 02 (Uff 2010)
Co'a esponja de tuas vagas Senhor, não deixes que se manche a tela
De teu manto este borrão?... Onde traçaste a criação mais bela
Astros! noite! tempestades! De tua inspiração.
Rolai das imensidades! O sol de tua glória foi toldado...
Varrei os mares, tufão!... Teu poema da América manchado,
Fonte: CASTRO ALVES, 1995, p. 137. Manchou-o a escravidão.
Castro Alves
Em relação a esses versos, é possível afirmar: Na poesia de Castro Alves, a temática da escravidão é tratada pelo
I. O canto, as saudades e o pranto do escravo, no primeiro eu lírico como denúncia de uma injustiça social cuja solução
fragmento, são decorrentes do cativeiro resultante da escravidão, pertence à esfera divina. Diferentemente dessa postura, há uma
situação aviltante ao ser humano. poesia em língua portuguesa que trata essa questão pelo viés da
II. O “horror perante os céus” a que se refere o eu lírico, no busca da liberdade pela consciência e atuação do negro capaz de
segundo fragmento, corresponde ao tráfico de escravos, mácula reescrever sua história.
sociomoral que envergonha o Brasil.
III. Em ambos os fragmentos, a crueldade da escravidão se faz Assinale a passagem que apresenta o negro como construtor ativo
presente. de sua própria liberdade.
a) Eu sou carvão!
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s) E tu acendes-me, patrão
a) I apenas. b) II apenas. c) I e II apenas. Para te servir eternamente como força motriz
d) III apenas. e) I, II e III. Mas eternamente não
Patrão! (Craveirinha)
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO b) Das velas
Que conduziam pelas estrelas negras
Questão 01 (Upe-ssa 2 2016) O pálido escaravelho
Em relação à produção literária de Gonçalves Dias e Castro Alves, Dos mares
ambos preocupados, em suas temáticas, com a problemática das Cada degredado era um rei
etnias, que determina o homem brasileiro como ser culturalmente Magro insone incolor
híbrido, analise as afirmativas e coloque V nas Verdadeiras e F nas Como barro (Oswald de Andrade)
Falsas. c) Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe.
( ) A poética de Gonçalves Dias trata do homem indígena em Mas eu, que nunca principio nem acabo,
sua essência, apresentando-o integrado aos aspectos culturais de Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo (José Régio)
seu grupo. d) Cantando os homens
Perdidos em aventuras da vida
( ) A poética de Castro Alves toma como princípio a defesa dos Espalhados por todo o mundo!
negros, escravos que eram vendidos aos colonos no Brasil para Em Lisboa?
serem explorados pelos senhores, principalmente no plantio da Na América?
cana e no fabrico do açúcar. No Rio? (Francisco José Tenreiro)
e) Por que chora o homem?
( ) Tanto Gonçalves Dias quanto Castro Alves ficaram alheios às Que choro compensa
questões históricas brasileiras, pois produziram poemas de o mal de ser homem? (Carlos Drummond de Andrade)
tonalidade épica, embora neles não fossem contempladas as
temáticas indígena e abolicionista. Questão 03 (Ufsm)
Relacione as duas colunas.
( ) Nos poemas líricos, eles exaltaram o sentimento amoroso de 1. Álvares de Azevedo
modo diversificado. Enquanto Gonçalves Dias idealiza a imagem 2. Castro Alves
feminina, Castro Alves imprime-lhe um sentido sensual, o que já 3. Casimiro de Abreu
prenuncia o movimento posterior ao Romantismo.

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140
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

( ) Sua poesia apresenta angústia, aspiração à morte e, ao Questão 04 (UEL 2011)


mesmo tempo, temor dela. Sobre o poema, considere as afirmativas a seguir.
( ) É autor de versos simples, ternos e passivamente I. Na primeira estrofe, o eu-lírico dirige-se ao vento frio do deserto;
melancólicos. na segunda, dirige-se à amada distante.
( ) Seus versos, de ânimo arrebatado e impulsivo, projetam II. O eu-lírico pergunta ao vento sobre o paradeiro de sua amada,
experiências amorosas intensamente vividas. revelando a dor pela distância que os separa.
( ) É autor de poemas consagrados, como "Se eu morresse III. O eu-lírico acusa os ventos do Norte, que passam como gritos
amanhã". de agonia, por ter finda sua sorte e estar morto seu passado.
( ) Representa uma tendência do Romantismo brasileiro IV. “Estrela” e “rosa” são usadas pelo eu-lírico para designar sua
caracterizada pela preocupação social. agonia; “íris” e “ilusão” referem-se à ventania.
Assinale a alternativa correta.
A sequência correta é a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
a) 3 - 2 - 2 - 3 - 1. b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
b) 1 - 3 - 2 - 1 - 2. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
c) 1 - 2 - 3 - 1 - 1. d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
d) 2 - 1 - 1 - 3 - 2. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
e) 3 - 1 - 2 - 2 - 3.
Questão 05 (UEL 2011)
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES: Assinale a alternativa que relaciona corretamente versos do poema
a figuras de linguagem.
“Onde estás” a) A comparação entre o vento e a amada é verificada nos versos
“Mas por que tardas, querida?... / Já tenho esperado assaz...”.
1 É meia-noite... e rugindo b) Em “Como um verbo de desgraça, / Como um grito de agonia.”,
2 Passa triste a ventania, a antítese opõe a fugacidade do vento à tristeza da ventania.
3 Como um verbo de desgraça, c) Os versos “Tu foste, mulher formosa! / Tu foste, ó filha do céu!...”
4 Como um grito de agonia. comparam a amada à triste e fugaz ventania, pois ambas impedem
5 E eu digo ao vento, que passa seu brando sono.
6 Por meus cabelos fugaz: d) A comparação presente nos versos “Mas, como um hálito
7 “Vento frio do deserto, incerto, / Responde-me o eco ao longe:” reforça a ausência de
8 Onde ela está? Longe ou perto?” resposta sobre o paradeiro da amada.
9 Mas, como um hálito incerto, e) A antítese, presente em todo o poema, é exemplificada pelos
10 Responde-me o eco ao longe: versos “... E hoje que o meu passado / Para sempre morto jaz...”.
11 “Oh! minh’amante, onde estás?...”
Questão 06 (UEL 2011)
12 Vem! É tarde! Por que tardas? Pode-se afirmar que são temas de Espumas flutuantes, de Castro
13 São horas de brando sono, Alves:
14 Vem reclinar-te em meu peito a) A culpa, a religiosidade e a morte.
15 Com teu lânguido abandono!... b) A religiosidade, o fazer poético e o indianismo.
16 ’Stá vazio nosso leito... c) A morte, o fazer poético e o amor.
17 ’Stá vazio o mundo inteiro; d) O indianismo, a pátria e o amor.
18 E tu não queres qu’eu fique e) A pátria, a culpa e a melancolia.
19 Solitário nesta vida...
20 Mas por que tardas, querida?... Questão 07
21 Já tenho esperado assaz...
Trechos de Navio Negreiro, de Castro Alves
22 Vem depressa, que eu deliro
23 Oh! minh’amante, onde estás?...
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
24 Estrela – na tempestade,
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
25 Rosa – nos ermos da vida,
Como o teu mergulhar no brigue voador!
26 Íris – do náufrago errante,
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
27 Ilusão – d’alma descrida!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
28 Tu foste, mulher formosa!
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
29 Tu foste, ó filha do céu!...
(...)
30 ... E hoje que o meu passado
31 Para sempre morto jaz...
Era um sonho dantesco... o tombadilho
32 Vendo finda a minha sorte,
Que das luzernas avermelha o brilho.
33 Pergunto aos ventos do Norte...
Em sangue a se banhar.
34 “Oh! minh’amante, onde estás?”
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
(CASTRO ALVES, A. F. Espumas flutuantes. São Paulo:
Horrendos a dançar...
Companhia Editora Nacional, 2005. p. 84-85.)
(...)
Senhor Deus dos desgraçados!

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Aula 14 - Romantismo No Brasil – Terceira Geração
Dizei-me vós, Senhor Deus, Questão 08 (UFF 2012)
Se eu deliro... ou se é verdade Analisando os aspectos constitutivos do poema de Castro Alves
Tanto horror perante os céus?!... percebe-se elementos característicos do estilo romântico. Das
Ó mar, por que não apagas afirmações feitas a seguir, não está compatível com a leitura do
Co'a esponja de tuas vagas poema em relação ao Romantismo:
Do teu manto este borrão? a) A valorização de elementos da natureza confere sentidos
Astros! noites! tempestades! particulares ao poema e indicia sua identificação com propostas
Rolai das imensidades! estéticas do Romantismo.
Varrei os mares, tufão! ... b) O poema se organiza a partir de um episódio registrado pela
Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/calves.html memória do sujeito lírico, o que amplia a subjetividade romântica
Acesso: 04\04\2014 presente em seu discurso.
c) O poema se constitui, principalmente, como descrição de uma
Castro Alves é o grande nome da terceira geração do romantismo, cena, repleta de elementos românticos, configurando-se de forma
conhecida como Condoreira. O estilo de seus versos reflete bem o plástica e visual.
ideal poético dessa geração, pois: d) O poema é percorrido por um tom melancólico, próprio do
a) é brando e gracioso, adotando um ritmo popular carregado de Romantismo, empregado pelo poeta para expressar a frustração
musicalidade. amorosa do eu lírico.
b) traduz-se em linguagem grandiloquente, por meio da qual realiza e) O ambiente noturno, privilegiado pelos poetas românticos,
uma crítica social. contribui, no poema, para o estabelecimento de uma atmosfera de
c) é preciso e objetivo, deixando em segundo plano o subjetivismo. sonho, de calma e de desejo.
d) reflete o gosto ultrarromântico pela morbidez e pela melancolia.
e) é impessoal e imparcial, aproximando-se da visão crítica da TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES
escola realista.
O “Adeus” de Teresa
ADORMECIDA
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia A vez primeira que eu fitei Teresa,
Numa rede encostada molemente... Como as plantas que arrasta a correnteza,
Quase aberto o roupão... solto o cabelo A valsa nos levou nos giros seus...
E o pé descalço do tapete rente. E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala...
‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina... E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina. Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
De um jasmineiro os galhos encurvados, Inda beijando uma mulher sem véus...
Indiscretos entravam pela sala, Era eu... Era a pálida Teresa!
E de leve oscilando ao tom das auras, “Adeus” lhe disse conservando-a presa...
Iam na face trêmulos — beijá-la.
E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”
Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia... Passaram tempos... séc’los de delírio
Quando ela serenava... a flor beijava-a... Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia... ... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...”
Dir-se-ia que naquele doce instante Ela, chorando mais que uma criança,
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes. Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
Quando voltei... era o palácio em festa!...
E o ramo ora chegava ora afastava-se... E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra
Mas quando a via despeitada a meio. Preenchiam de amor o azul dos céus.
P’ra não zangá-la... sacudia alegre Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Uma chuva de pétalas no seio... Foi a última vez que eu vi Teresa!...

Eu, fitando a cena, repetia E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”


Naquela noite lânguida e sentida: (CASTRO ALVES, Antonio Frederico. Espumas flutuantes. São
“Ó flor! – tu és a virgem das campinas! Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. p. 51.)
“Virgem! — tu és a flor da minha vida!...”
CASTRO ALVES. Espumas flutuantes. In Obra compIeta Rio de
Janeiro: Nova Aguar, 1986. p. 124-125.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 09 (UEL 2011) Tenho medo de mim, de ti, de tudo,


Acerca do poema, é correto afirmar: Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes,
I. A palavra “adeus” apresenta variações de significado. Das folhas secas, do chorar das fontes,
II. Na terceira estrofe, a ausência do eu lírico é marcada por Das horas longas a correr velozes.
hipérboles. (...)
III. Há ruptura da idealização da figura feminina.
IV. O amor espiritual sobrepõe-se ao amor carnal.
BOA-NOITE
Assinale a alternativa correta. Castro Alves
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e III são corretas. Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. A lua nas janelas bate em cheio.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. Boa-noite, Maria! é tarde... é tarde...
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. Não me apertes assim contra teu seio.

Questão 10 (UEL 2011) Boa-noite!... E tu dizes - Boa noite,


Sobre características do estilo de Castro Alves presentes no Mas não digas assim por entre beijos...
poema, considere as afirmativas a seguir. Mas não mo digas descobrindo o peito,
I. Presença de uma visão erotizada do amor e da mulher. - Mar de amor onde vagam meus desejos.
II. Abandono do tom aclamatório presente nos poemas sobre os
escravos. Julieta do céu! Ouve... a calhandra
III. Confirma sua inserção na segunda geração do Romantismo. Já rumoreja o canto da matina.
IV. Revela influência do sentimentalismo amoroso adulto. Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
... Quem cantou foi teu hálito, divina!
Assinale a alternativa correta. (...)
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
b) Somente as afirmativas II e III são corretas. Em "Boa Noite", Castro Alves
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. a) apresenta uma cena de amor interrompida pelo canto de um
e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. pássaro que anuncia o surgimento de uma terceira pessoa na sala.
b) despede-se da amada, que retribui o adeus demonstrando em
Questão 11 (UEL 2011) sua atitude a vontade de que o amante permaneça.
Considerando os recursos de composição utilizados no poema, c) despede-se da amada alegando que o luar, ao bater nas janelas,
assinale a alternativa correta. há de denunciá-los aos demais moradores da casa.
a) As reticências acentuam a emotividade do par amoroso e d) apresenta uma cena em que o amante amedrontado avalia
assinalam suspensões temporais. depreciativamente os dotes físicos da amada.
b) O uso do verso decassílabo reproduz o ritmo da valsa que e) despede-se da amada que se encontra no leito, desnuda e
embala o casal durante todo o poema. temerosa de que eles sejam surpreendidos.
c) A alternância do comportamento de Teresa entre amor e ódio é
marcada pelo refrão. Questão 13 (UFRS)
d) As inversões sintáticas são utilizadas para intensificar o Em "Amor e medo", Casimiro de Abreu
sofrimento de Teresa. a) recomenda cautela à amada para que a luz de fogo que a cerca
e) O uso da comparação na primeira estrofe revela o caráter firme não revele a terceiros os segredos do casal.
de Teresa. b) evita os encantos da amada justamente por desejar a moça em
excesso, respondendo ao amor dela com seu medo.
Questão 12 (UFRS) c) nota que a amada engana-se ao julgá-lo ardente e amoroso,
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES. pois se trata apenas de uma impressão causada pela distância que
os separa.
AMOR E MEDO d) evita aproximar-se da amada porque as horas longas a correr
Casimiro de Abreu velozes em breve prejudicarão a intensidade do desejo que os une.
e) discorda da amada que afirma que ele foge dela para evitar a
Quando eu te fujo e me desvio cauto intensidade do amor que se alimenta no voraz segredo.
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores: Questão 14 (UFRS)
"- Meu Deus, que gelo, que frieza aquela!" Considere as afirmativas seguintes.
I - Os dois poemas apresentam mulheres envolvidas pela atração
Como te enganas! meu amor é chama, amorosa: em "Amor e medo" a moça suspira e ressente-se da
Que se alimenta no voraz segredo, suposta indiferença do poeta; em "Boa-noite" ocorre o contato
E se te fujo é que te adoro louco... físico entre o casal, e a mulher insinua com alguma veemência que
És bela - eu moço; tens amor, eu - medo!... não deseja a partida do amante.

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Aula 14 - Romantismo No Brasil – Terceira Geração
lI - Os dois poemas são constituídos de estrofes de quatro versos Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
decassílabos dos quais o segundo e o quarto de cada estrofe Auriverde pendão de minha terra,
rimam entre si. Que a brisa do Brasil beija e balança,
III - Nos dois poemas aparece a primeira pessoa do singular, que Estandarte que a luz do sol encerra
manifesta o eu-lírico do poeta em contato com a mulher amada; E as promessas divinas da esperança...
eu-lírico que, em "Amor e medo", afirma amor ardente e medo Tu que, da liberdade após a guerra,
enorme e, em "Boa-noite", encontra-se envolvido em uma cena Foste hasteado dos heróis na lança
íntima e erótica. Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Quais estão corretas? ALVES, Castro. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1960. pp.
a) Apenas I 281-283)
b) Apenas lI
c) Apenas I e III O texto é um fragmento do poema “Navio negreiro”, de 1868, sobre
d) Apenas lI e III o tráfico de escravos no Brasil. Por meio desse poema, o autor faz
e) I, lI e III uma crítica à sociedade brasileira e à política do Império,
responsáveis pela manutenção de um regime escravista. A figura
Questão 15 (UFJF-PISM 2 2016) que sustenta metaforicamente essa crítica é:
Navio negreiro – fragmentos a) a bandeira nacional.
(Castro Alves) b) a providência divina.
c) a força da natureza.
Senhor Deus dos desgraçados! d) a inspiração da musa.
Dizei-me vós, Senhor Deus! e) a nobreza dos selvagens.
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados


Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,


Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...
(...)

VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
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144
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

- Romances regionalistas: O Gaúcho, Til e O Sertanejo, de José


AULA 15 - ROMANTISMO NO BRASIL – de Alencar; Inocência, de Visconde de Taunay; A escrava Isaura,
PROSA de Bernardo Guimarães; O Cabeleira, de Franklin Távora.

O ROMANCE ROMÂNTICO BRASILEIRO


Contemporaneamente, as telenovelas cumprem o papel de refletir
e, de certa forma, documentar a vida dos habitantes ou de grupos
sociais das grandes cidades brasileiras, principalmente do Rio de
Janeiro e de São Paulo. No século XIX, era o romance, surgido no
Brasil durante o Romantismo, que cumpria essa função, servindo,
ao mesmo tempo para entreter e para refletir os costumes, os
valores, os conflitos da sociedade brasileira.
Publicados em folhetins, os romances divertiam, ajudavam o leitor
a compreender a realidade, formava opiniões e, sobretudo,
contribuíram decisivamente para o projeto romântico de construção
da nossa identidade cultural.
- Romances indianistas: O Guarani, Iracema e Ubirajara, de José
Observe o que diz a esse respeito Antonio Candido: de Alencar.
“No Brasil, o romance romântico, nas suas produções mais
características (em Machado, Alencar, Bernardo Guimarães,
Franklin Távora, Taunay), elaborou a realidade graças ao ponto de
vista, à posição intelectual e afetiva que norteou todo o nosso
Romantismo, a saber, o Nacionalismo literário.”
Nacionalismo, na literatura brasileira, constituiu basicamente, como
vimos, escrever sobre coisas locais; no romance, a consequência
imediata e salutar foi a descrição de lugares, cenas, fatos,
costumes do Brasil. É o vínculo que une as Memórias de um
sargento de milícias ao Guarani e a Inocência, e significa, por
vezes, menos o impulso espontâneo de descrever a nossa
realidade, do que a intenção programática, a resolução patriótica
de fazê-lo. - Romances históricos: As Minas de Prata e A Guerra dos
Esta tendência naturalizou a literatura portuguesa no Brasil, dando- Mascates, de José de Alencar.
lhe um lastro ponderável de coisas brasileiras. E como, além de
recurso estético, foi um projeto nacionalista, fez do romance
verdadeira forma de pesquisa e descoberta do país.
A nossa cultura intelectual encontrou nisto um elemento
dinamizador de primeira ordem, que contribuiu para fixar uma
consciência mais viva da literatura como estilização de
determinadas condições locais. O ideal romântico-nacionalista de
criar a expressão nova de um país novo encontra no romance a
linguagem mais eficiente.”
Antonio Candido, Formação da Literatura Brasileira

AS VERTENTES DO ROMANCE ROMÂNTICO


Quanto à realidade que os romances românticos põem em foco, PRINCIPAIS TEMAS
poderemos empreender uma divisão temática em quatro tendência, - A solidão: o sentimento de solidão, de inquietude diante da vida
das quais destaca-se alguns títulos mais importantes: e de frustração com o mundo levam o homem romântico a procurar
- Romances Urbanos: A moreninha, de Joaquim Manuel de refúgios, por vezes no passado ou na natureza, por vezes no
Macedo; Lucíola e Senhora, de José de Alencar. simples isolamento social.

“As futilidade brilhantes que dantes a alegravam e que ela chama


de flores da vida, tornaram-se, para o seu espírito mais calmo,
flores do vento, rosas efêmeras e sem perfumes; e foi assim que
pouco a pouco se isolou do mundo. Sentia um tédio indefinível
pelos divertimentos, e só achava prazer na solidão.”
José de Alencar, Encarnação.

“Criamos assim um pequeno mundo, unicamente nosso;


depositamos nele todas as belas reminiscências de nossas

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Aula 15 - Romantismo No Brasil – Prosa

viagens, toda a poesia dessas ruínas seculares em que as vendido.


gerações que morreram, falam ao futuro pela voz do silêncio; (...) — Vendido! Exclamou Seixas ferido dentro d'alma.
Achamos na quebrada de uma montanha um lindo retiro, um — Vendido sim; não tem outro nome. Sou rica, muito rica, sou
verdadeiro berço de relva suspenso entre o céu e a terra por uma milionária; precisava de um marido, traste indispensável às
ponta de rochedo. Aí abrigamos o nosso amor e vivemos tão mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o.
felizes que só pedimos a Deus que nos conserve o que nos deu; a Custou-me cem mil cruzeiros, foi barato; não se fez valer. Eu daria
nossa existência é um longo dia, calmo e tranquilo, que começou o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento.
ontem, mas que não tem amanhã.” Aurélia proferiu estas palavras desdobrando um papel no qual
José de Alencar, Cinco Minutos Seixas reconheceu a obrigação por ele passada ao Lemos.”

- O amor como redenção: a temática central está exatamente na José de Alencar, Senhora.
exaltação do amor como força purificadora, redentora.
Na impossibilidade desse amor se realizar, a morte surge como
"- O amor purifica e dá sempre um novo encanto ao prazer. Há solução, permitindo o encontro das almas no plano espiritual.
mulheres que amam toda a vida; e o seu coração, em vez de
gastar-se e envelhecer, remoça como natureza quando volta a “O dia se passou na cruel agonia que só compreendem aqueles
primavera." que ajoelhados à borda de um leito viram finar-se gradualmente
uma vida querida.
"- Tive força para sacrificar-lhes outrora o meu corpo virgem; hoje Quebrado de fadiga e vencido por uma vigília de tantas noites,
depois de cinco anos de infâmia, sinto que não teria a coragem de tinha insensivelmente adormecido, sentado como estava à beira da
profanar a castidade de minha alma. Não sei o que sou, sei que cama, com os lábios sobre a mão gelada de Lúcia e a testa
começo a viver, que ressuscitei agora. - disse Lúcia após sentir a apoiada no encosto do leito. O sono foi curto, povoado de sonhos
afeição de Paulo." horríveis; acordei sobressaltado e achei-me reclinado sobre o peito
José de Alencar, Lucíola de Lúcia, que se sentara de encontro às almofadas para suster
minha cabeça ao colo, como faria uma terna mãe com seu filho.
- Amor e morte: No Brasil, como já foi dito, todos os romancistas Mesmo adormecido ela me sorria, me falava, e cobria-me de
românticos elegeram o amor como tema central de suas obras, beijos:
com a afirmação da liberdade do indivíduo de escolher seu - Se soubesses que gozo supremo é para mim beijar-te neste
parceiro para a vida e de ser feliz através do amor. momento! Agora que o corpo está morto e a carne álgida, não
Numa sociedade patriarcal, porém, o casamento era, muitas vezes, sente nem a dor nem o prazer, é a minha alma só que te beija, que
arranjado, sendo ditado não pelo amor, mas pelos interesses se une à tua e se desprende parcela por parcela para embeber em
econômicos e sociais. teu seio.
Assim, estabelece-se um conflito que gira em torno de três E seus lábios ávidos devoravam-me o rosto de carícias,
elementos: o amor, o casamento e a família; exigindo dos heróis e bebendo o pranto que corria abundante de meus olhos:
heroínas a superação dos obstáculos postos à realização do amor Se alguma coisa me pudesse salvar ainda, seria esse bálsamo
pleno. celeste, meu amigo!
Eu soluçava como uma criança.
Em Senhora, José de Alencar divide a obra em quatro partes: O - Beija-me também, Paulo. Beija-me como beijarás um dia tua
Preço, Quitação, Posse e Resgate. Essa divisão já aponta o noiva! Oh! agora posso te confessar sem receio. Nesta hora não se
caráter comercial que a sociedade atribuía ao casamento e contra mente. Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por
o qual Aurélia Camargo vai se impor: séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora
que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento
“Convencida de que todos os seus inúmeros apaixonados, sem por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as
exceção de um, a pretendiam unicamente pela riqueza, Aurélia afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda
reagia contra essa afronta, aplicando a esses indivíduos o mesmo a eternidade.”
estalão. José de Alencar, Lucíola
Assim costumava ela indicar o merecimento relativo de cada um
dos pretendentes, dando-lhes certo valor monetário. Em linguagem - Lealdade: o herói romântico é leal, fiel aos seus valores, à
financeira, Aurélia contava os seus adoradores pelo preço que família, ao amor. Inserido numa visão maniqueísta da vida, o
razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial.” homem ou nasce bom ou nasce mau e assim se conserva durante
toda a vida. Assim os personagens românticos são personagens
A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e planos, assumindo uma mesma linha de conduta durante sua
aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio, e que parecia trajetória.
ringir-lhe nos lábios como aço.
— Aurélia! Que significa isto? O ROMANCE URBANO
— Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos Muitos críticos apontam a obra O filho do pescador, de Teixeira e
o nosso papel com perícia consumada. Sousa, em 1843, como o primeiro romance brasileiro. Mas foi com
Podemos ter esse orgulho, que os melhores atores não nos A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, no ano seguinte,
excederiam. Mas é tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, que a cultura do folhetim se estabeleceu.
com que nos estamos escarnecendo mutuamente, senhor. O romance urbano procura traçar um perfil do burguês, geralmente
Entretemos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se vivendo no espaço da Corte, a cidade do Rio de Janeiro, sede da
cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem monarquia brasileira. Os enredos basicamente tratam de aventuras
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

amorosas e amores impossíveis, registrando os interesses, o nos legou, mas procurará abrasileirar o português em seus textos,
comportamento, os costumes e os valores da burguesia brasileira o que é talvez uma de suas mais importantes características de
do século XIX, sob uma perspectiva predominantemente otimista e estilo.
idealizada.
No entanto, as obras não funcionam, apenas, como espelho da O Romance Urbano de José de Alencar
sociedade burguesa em ascensão, que ansiava por se ver Alencar publicou um total de nove romances e novelas
representada positivamente. Muitas vezes, funcionavam, também, ambientadas no espaço urbano da Corte. Dessas, quatro foram
como um manual de boas maneiras, ora apontando valores e classificadas por ele como obras de “perfil de mulher” (A viuvinha,
comportamentos considerados positivos e importantes para o Lucíola, Diva e Senhora). Completam o conjunto: Cinco minutos, A
desenvolvimento de uma sociedade em formação, ora criticando pata da gazela, Sonhos d’ouro, Encarnação e Escabiosa.
valores e comportamentos considerados negativos. Assim como Macedo, e até superando-o, José de Alencar foi capaz
reconstituir cuidadosamente a vida social da burguesia de seu
Joaquim Manuel de Macedo tempo, registrando com detalhes a moda, as danças, os saraus
Principais obras: A moreninha. (1844); O moço loiro. (1845); A familiares, as recepções, as regras sociais, a linguagem.
luneta mágica. (1869). O núcleo temático, como era comum, gira em torno do problema do
Macedo publicou A Moreninha, seu livro de estreia e, até hoje, sua amor, ou do amor impossível, sendo a mulher o foco de interesse
mais lembrada obra, em 1844. A partir daí, publicou mais de vinte em torno do qual se desenvolvem os problemas econômicos e
livros, permanecendo por muito tempo como o autor mais lido e morais, uma vez que o casamento era a base da estrutura social,
querido pelo público. No entanto, ao final de sua carreira, perdeu servindo muitas vezes como forma de ascensão social.
seu prestígio e morreu esquecido e na pobreza. Inspiradas por uma visão idealizada do amor, as heroínas de
A maior qualidade de Macedo, como romancista, foi a capacidade Alencar protestam contra o casamento por conveniência,
de retratar com objetividade e com riqueza de detalhes aspectos construindo a tese segundo a qual o Amor (e não o dinheiro) devia
do mundo real e pequenos pormenores da vida familiar da classe ser a mola mestra da sociedade.
média brasileira do seu tempo.
Seus personagens são colhidos no quotidiano da classe média: MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA
negociantes, caixeiros, políticos, funcionários públicos, donas de Memórias de um sargento de milícias
casa, estudantes. Seus heróis são superficiais, convencionais; as
demais personagens são tipos caricaturais. O núcleo central de
suas obras, como no romantismo de uma maneira geral, é o
“problema do amor”, ou o amor impossível, com o casal de
mocinhos precisando enfrentar alguma dificuldade à realização do
amor e, consequentemente, do casamento.
Assim, Macedo, pelo fato de constantemente se limitar a
transcrever o que via e vivia na sociedade em que estava inserido,
atuou como uma espécie de cronista, registrando os usos e
costumes da sua época.

José de Alencar
Principais obras: O guarani. (1857); Cinco Minutos. Viuvinha. Memórias de um Sargento de Milícias, único romance de Manuel
(1860); Lucíola. (1862); Iracema. (1865); As minas de Prata. Antônio de Almeida, foi publicado no final de 1852 e no início de
(1865); Til. (1872); Ubirajara. (1874); Senhora. (1875); O sertanejo. 1853 sob a forma de folhetins.
(1876). O romance tem características que contrastam com os romances
românticos de sua época e apresentas traços que anunciam a
literatura modernista do século XX: primeiro, por ter como
protagonista um herói malandro (Leonardo é o primeiro malandro
da literatura brasileira), ou um “anti-herói”, de acordo com alguns
críticos; segundo, pelo tipo especial de nacionalismo que
apresenta, ao retratar traços específicos da sociedade brasileira do
tempo do rei D. João VI, com seus costumes, os comportamentos
e os tipos sociais de uma classe média baixa, até então ignorada
pela literatura; terceiro, pelo tom de crônica que dá leveza e
aproxima da fala sua linguagem direta, coloquial, irônica e próxima
do estilo jornalístico.
Identidade Nacional Trecho I
Em um momento em que é necessário estabelecer e afirmar a “Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe
identidade brasileira, José de Alencar toma para si a tarefa de fazer em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao
isso no âmbito literário. Seus romances pretendem apresentar os Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem,
aspectos que o autor distingue em nossa realidade e exaltar as alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia,
virtudes do país e de seu povo. De fato, Alencar vai se encarregar como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no
da tarefa com tamanho empenho que não se contentará em usar a mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça,
língua portuguesa "clássica", aquela que o colonizador português
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147
Aula 15 - Romantismo No Brasil – Prosa

quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota. O Dentre as afirmativas seguintes, assinale aquela que NÃO
Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua corresponde às tendências do "romance romântico":
mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do a) As obras românticas conhecidas como romance de "folhetins"
Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo caracterizaram-se pelo tom "água-com-açúcar", pela presença de
fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado elementos pitorescos e pela superficialidade de seus conflitos.
sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, b) As narrativas ambientadas na cidade foram rotuladas como
como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do "romances urbanos", sendo ainda conhecidas como obras de
gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão "perfis de mulher", por privilegiar as personagens femininas e seus
nas costas da mão esquerda. pequenos conflitos psicológicos.
Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: c) A narrativa romântica de caráter "regionalista" tematizou, de
levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se forma idealizada, a vida e os costumes do "brasileiro" do interior.
a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem d) O romance "indianista" enfatizou nossa "cor local" ao retratar as
desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois lendas, os costumes e a linguagem do índio brasileiro, acentuando
amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos ainda mais o cunho nacionalista do Romantismo.
anos. e) O romance romântico caracterizou-se por uma visão crítica da
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: sociedade, por apresentar personagens esféricos e por romperem
foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se com a idealização do índio construída por poetas como Gonçalves
claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois Dias.
teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de
comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o Questão 02 (PUC-RIO)
qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem Sobretudo compreendam os críticos a missão dos poetas,
largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que escritores e artistas, nesse período especial e ambíguo da
temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem formação de uma nacionalidade. São estes os operários
falamos é o herói desta história.” incumbidos de polir o talhe e as feições da individualidade que se
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de vai esboçando no viver do povo. (...) E de quanta valia não é o
milícias modesto serviço de desbastar o idioma novo das impurezas que
lhe ficaram na refusão do idioma velho com outras línguas? Ele
Trecho II prepara a matéria, bronze ou mármore, para os grandes escultores
“Afinal de contas a Maria sempre era saloia, e o Leonardo da palavra que erigem os monumentos literários da pátria.
começava a arrepender-se seriamente de tudo que tinha feito por (José de Alencar. "Benção paterna". In Sonhos D'Ouro.
ela e com ela. E tinha razão, porque, digamos depressa e sem Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1960, v. 1,
mais cerimônias, havia ele desde certo tempo concebido fundadas pp. 699-700)
suspeitas de que era atraiçoado. Havia alguns meses atrás tinha
notado que um certo sargento passava-lhe muitas vezes pela O texto de José de Alencar, redigido em 1872, destaca um dos
porta, e enfiava olhares curiosos através das rótulas: uma ocasião, aspectos da formação da nacionalidade brasileira em meados do
recolhendo-se, parecera-lhe que o vira encostado à janela. Isto século XIX.
porém passou sem mais novidade. Com base em seus conhecimentos e nas informações contidas no
Depois começou a estranhar que um certo colega seu o texto, analise as afirmativas a seguir.
procurasse em casa, para tratar de negócios do oficio, sempre em I - José de Alencar foi, entre os escritores associados ao
horas desencontradas: porém isto também passou em breve. Romantismo, um dos que por meio de sua obra buscaram construir
Finalmente aconteceu-lhe por três ou quatro vezes esbarrar-se e divulgar valores de uma identidade nacional brasileira, em
junto de casa com o capitão do navio em que tinha vindo de meados do século XIX.
Lisboa, e isto causou-lhe sérios cuidados. Um dia de manhã entrou II - A formação da nacionalidade brasileira impunha a existência de
sem ser esperado pela porta adentro; alguém que estava na sala um "idioma novo", diferente do "idioma velho" - a língua dos antigos
abriu precipitadamente a janela, saltou por ela para a rua, e colonizadores portugueses.
desapareceu. III - Para os escritores românticos, como José de Alencar, a
À vista disto nada havia a duvidar: o pobre homem perdeu, como pintura, o teatro e a música eram artes menores, que pouco ou
se costuma dizer, as estribeiras; ficou cego de ciúme. Largou nada contribuíam para a formação da nacionalidade brasileira.
apressado sobre um banco uns autos que trazia embaixo do braço, IV - Romances como "O Guarani" de José de Alencar tinham o
e endireitou para a Maria com os punhos cerrados.” índio e a natureza tropical como temas, no intuito de afirmar a
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de originalidade e a individualidade da nova nação americana.
milícias Assinale a alternativa correta.

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM a) Somente as afirmativas I e III estão corretas.


b) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
Questão 01 c) Somente as afirmativas I, II e IV estão corretas.
O gênero "romance" surgiu no Brasil durante o Romantismo e d) Somente a afirmativa IV está correta.
moldou-se segundo os gostos e preferências da burguesia em e) Todas as afirmativas estão corretas.
ascensão. Com uma temática diversificada, logo tornou-se o tipo
de leitura mais acessível a essa nova classe social.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 03 (Fatec 2016) b) Manuel Antônio de Almeida.


Leia o fragmento da obra “Senhora”, de José de Alencar. c) José de Alencar.
d) Machado de Assis.
Quando Seixas achava-se ainda sob o império desta nova e) Aluísio Azevedo.
contrariedade, apareceu na sala a Aurélia Camargo, que chegara
naquele instante. Sua entrada foi como sempre um Questão 05 (Enem PPL 2015)
deslumbramento; todos os olhos voltaram-se para ela; pela Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o
numerosa e brilhante sociedade ali reunida passou o frêmito das firmamento da corte como brilhante meteoro e apagou-se de
fortes sensações. Parecia que o baile se ajoelhava para recebê-la repente no meio do deslumbramento que produzira seu fulgor?
com o fervor da adoração. Seixas afastou-se. Essa mulher Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na
humilhava-o. Desde a noite de sua chegada que sofrera a sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avidez
desagradável impressão. Refugiava-se na indiferença, esforçava- informações acerca da grande novidade do dia. Dizia-se muita
se por combater com o desdém a funesta influência, mas não o coisa que não repetirei agora, pois a seu tempo saberemos a
conseguia. A presença de Aurélia, sua esplêndida beleza, era uma verdade, sem os comentos malévolos de que usam vesti-la os
obsessão que o oprimia. Quando, como agora, a tirava da vista noveleiros. Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha
fugindo-lhe, não podia arrancá-la da lembrança, nem escapar à parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a
admiração que ela causava e que o perseguia nos elogios acompanhava na sociedade. Mas essa parenta não passava de
proferidos a cada passo em torno de si. No Cassino, Seixas tivera mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da
um reduto onde abrigar-se dessa cruel fascinação. sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda
<http://tinyurl.com/ou5m65d> Acesso em: 17.09.2015. certa emancipação feminina. Guardando com a viúva as
Adaptado. deferências devidas à idade, a moça não declinava um instante do
firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como
É correto afirmar que essa obra pertence ao entendesse. Constava também que Aurélia tinha um tutor; mas
a) Romantismo, pois ela critica os valores burgueses, exalta a essa entidade era desconhecida, a julgar pelo caráter da pupila,
natureza e a vida simples do campo, denunciando a corrupção e a não devia exercer maior influência em sua vontade, do que a velha
hipocrisia na sociedade fluminense do século XX. parenta.
b) Romantismo, pois ela enaltece a fragilidade da mulher e exprime ALENCAR, J. Senhora. São Paulo: Ática, 2006.
de forma contida os sentimentos das personagens, situando-as no
contexto da sociedade paulista do século XX. O romance Senhora, de José de Alencar, foi publicado em 1875.
c) Romantismo, pois ela exalta a figura feminina, expõe, de No fragmento transcrito, a presença de D. Firmina Mascarenhas
maneira exacerbada, os sentimentos das personagens, tendo como “parenta” de Aurélia Camargo assimila práticas e convenções
como pano de fundo os costumes da sociedade fluminense do sociais inseridas no contexto do Romantismo, pois
século XIX. a) o trabalho ficcional do narrador desvaloriza a mulher ao retratar
d) Modernismo, pois ela idealiza a mulher e a juventude e trata da a condição feminina na sociedade brasileira da época.
infelicidade dos amores não correspondidos, inserindo as b) O trabalho ficcional do narrador mascara os hábitos no enredo
personagens na sociedade fluminense do século XX. de seu romance.
e) Modernismo, pois ela se opõe ao exagero na expressão dos c) as características da sociedade em que Aurélia vivia são
sentimentos e ao papel de submissão destinado às mulheres, remodeladas na imaginação do narrador romântico.
retratando o cotidiano da sociedade paulista do século XX. d) o narrador evidencia o cerceamento sexista à autoridade da
mulher, financeiramente independente.
Questão 04 (Unesp 2016) e) o narrador incorporou em sua ficção hábitos muito avançados
Ultrapassando o nível modesto dos predecessores e demonstrando para a sociedade daquele período histórico.
capacidade narrativa bem mais definida, a obra romanesca deste
autor é bastante ambiciosa. A partir de certa altura, este autor Questão 06 (Enem 2013)
pretendeu abranger com ela, sistematicamente, os diversos TEXTO I
aspectos do país no tempo e no espaço, por meio de narrativas
sobre os costumes urbanos, sobre as regiões, sobre o índio. Para Ela acorda tarde depois de ter ido ao teatro e à dança; ela lê
pôr em prática esse projeto, quis forjar um estilo novo, adequado romances, além de desperdiçar o tempo a olhar para a rua da sua
aos temas e baseado numa linguagem que, sem perder a correção janela ou da sua varanda; passa horas no toucador a arrumar o
gramatical, se aproximasse da maneira brasileira de falar. Ao fazer seu complicado penteado; um número igual de horas praticando
isso, estava tocando o nó do problema (caro aos românticos) da piano e mais outra na sua aula de francês ou de dança.
independência estética em relação a Portugal. Com efeito, caberia Comentário do Padre Lopes da Gama acerca dos costumes
aos escritores não apenas focalizar a realidade brasileira, femininos [1839] apud SILVA, T. V. Z.Mulheres, cultura e literatura
privilegiando as diferenças patentes na natureza e na população, brasileira.
mas elaborar a expressão que correspondesse à diferenciação Ipotesi — Revista dos Estudos Literários, Juiz de Fora, v. 2. n. 2,
linguística que nos ia distinguindo cada vez mais dos portugueses, 1998.
numa grande aventura dentro da mesma língua.
(Antonio Candido. O romantismo no Brasil, 2002. Adaptado.) TEXTO II

O comentário do crítico Antonio Candido refere-se ao escritor As janelas e portas gradeadas com treliças não eram cadeias
a) Raul Pompeia. confessas, positivas; mas eram, pelo aspecto e pelo seu destino,

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Aula 15 - Romantismo No Brasil – Prosa

grande gaiolas, onde os pais e maridos zelavam, sonegadas à – que, além do mais, está escrito em tom humorístico.
sociedade, as filhas e as esposas.
MACEDO, J.M. “Memória da Rua do Ouvidor [1878]”. Disponível Quais estão corretas?
em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 maio 2013 a) Apenas I.
(adaptado). b) Apenas II.
c) Apenas III.
A representação social do feminino comum aos dois textos é o(a) d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
a) submissão de gênero, apoiada pela concepção patriarcal de
família. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
b) acesso aos produtos de beleza, decorrência da abertura dos
portos. Questão 01
c) ampliação do espaço de entretenimento, voltado às distintas Assinale a alternativa correta.
classes sociais.
d) proteção da honra, medida pela disputa masculina em relação José de Alencar, na variedade de romances que escreveu
às damas da corte. (urbanos, indianistas, de costumes, históricos, perfis de mulher),
e) valorização do casamento cristão, respaldado pelos interesses pretendia construir:
vinculados à herança. a) o novo romance brasileiro.
b) uma descrição da capacidade criativa do escritor brasileiro.
Questão 07 (Faculdade Albert Einstein 2016) c) uma oposição ao romance brasileiro sem qualidade literária que
Era no tempo do rei. o precedeu.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da d) uma obra romanesca com os aspectos fundamentais da vida
Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo – O brasileira.
Canto dos Meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí e) uma história indianista do Brasil.
o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe
(que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos Questão 02 (ENEM 2012)
de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu biografo, Lira Neto.
tempo do rei: esses eram gente temível e temida, respeitável e Ou, ainda, “um romancista que colecionava desafetos, azucrinava
respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia D. Pedro II e acabou inventando o Brasil”. Assim era José de
judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a Alencar (1829-1877), o conhecido autor de O guarani e Iracema,
demanda era entre nós e um elemento da vida: o extremo oposto tido como o pai do romance no Brasil. Alem de criar clássicos da
eram os desembargadores (...). literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e históricos,
ele foi também folhetinista, diretor de jornal, autor de pecas de
O trecho acima inicia o romance Memórias de um Sargento de teatro, advogado, deputado federal e ate ministro da Justiça. Para
Milícias, escrito em forma de folhetim entre 1852 e 1853 por ajudar na descoberta das múltiplas facetas desse personagem do
Manoel Antônio de Almeida. Deste romance como um todo, é século XIX, parte de seu acervo inédito será digitalizada.
correto afirmar que Historia Viva, n.° 99, 2011.
a) reveste-se de comicidade, na linha do pitoresco, e desenvolve
sátira saborosa aos costumes da época, que atinge todas as Com base no texto, que trata do papel do escritor José de Alencar
camadas sociais, em particular os políticos e os poderosos. e da futura digitalização de sua obra, depreende-se que
b) apresenta personagem feminina, Luisinha, cuja descrição fere a a) a digitalização dos textos e importante para que os leitores
caracterização sempre idealizada do perfil de mulher dentro da possam compreender seus romances.
estética romântica. b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante porque
c) caracteriza um romance histórico que pretende narrar fatos de deixou uma vasta obra literária com temática atemporal.
tonalidade épica e heroica da vida brasileira, ambientados no c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da
tempo do rei e vividos por seus principais protagonistas. digitalização, demonstra sua importância para a história do Brasil
d) configura personagens populares que, pela primeira vez, Imperial.
comparecem no romance brasileiro e que se tornam responsáveis d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante
pelo desprestígio da literatura brasileira junto ao público leitor da papel na preservação da memória linguística e da identidade
época. nacional.
e) o grande romancista José de Alencar é importante porque se
Questão 08 (Ufrgs 2014) destacou por sua temática indianista.
Considere as seguintes afirmações sobre o romance Memórias de
um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Questão 03 (Unifesp 2013)
I. O romance está integrado à estética romântica: o protagonista, TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES
Leonardo, é um herói nacional virtuoso e sem desvios de caráter.
II. O livro é narrado em primeira pessoa por Leonardo: trata-se de Um sarau é o bocado mais delicioso que temos, de telhado abaixo.
suas memórias desde o abandono da terra natal – Lisboa – até a Em um sarau todo o mundo tem que fazer. O diplomata ajusta,
nomeação como Sargento de Milícias no Rio de Janeiro. com um copo de champagne na mão, os mais intrincados
III. Personagens como o compadre, a comadre e a vizinha são negócios; todos murmuram, e não há quem deixe de ser
representantes da classe popular – a base constitutiva do romance murmurado. O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

seu tempo, e o moço goza todos os regalos da sua época; as c) o diplomata é perspicaz; o velho, saudosista; os rapazes
moças são no sarau como as estrelas no céu; estão no seu usufruem prazerosamente a vida; e as moças encantam a todos.
elemento: aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa d) o diplomata é trapaceiro; o velho, desencantado; os rapazes
nas asas dos aplausos, por entre os quais surde, às vezes, um usufruem a vida de modo fútil; e as moças investem tão-somente
bravíssimo inopinado, que solta de lá da sala do jogo o parceiro na beleza exterior.
que acaba de ganhar sua partida no écarté, mesmo na ocasião em e) o diplomata é esperto; o velho, avançado; os rapazes usufruem
que a moça se espicha completamente, desafinando um sustenido; a vida com parcimônia; e as moças vivem de devaneios.
daí a pouco vão outras, pelos braços de seus pares, se deslizando
pela sala e marchando em seu passeio, mais a compasso que Questão 06 (Unifesp 2013)
qualquer de nossos batalhões da Guarda Nacional, ao mesmo Assinale a alternativa em que a eliminação do pronome em
tempo que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem destaque implica, contextualmente, mudança do agente da ação
olhaduras e risadinhas apreciáveis. Outras criticam de uma verbal.
gorducha vovó, que ensaca nos bolsos meia bandeja de doces que a) Ali vê-se um ataviado dandy [...].
veio para o chá, e que ela leva aos pequenos que, diz, lhe ficaram b) [...] aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas
em casa. Ali vê-se um ataviado dandy que dirige mil finezas a uma asas dos aplausos [...].
senhora idosa, tendo os olhos pregados na sinhá, que senta-se ao c) O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do seu tempo
lado. Finalmente, no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, [...].
porque, para alguns é regra, durante ele, pensar pelos pés e falar d) [...] mesmo na ocasião em que a moça se espicha
pelos olhos. completamente [...].
E o mais é que nós estamos num sarau. Inúmeros batéis e) [...] daí a pouco vão outras, pelos braços de seus pares, se
conduziram da corte para a ilha de... senhoras e senhores, deslizando pela sala [...].
recomendáveis por caráter e qualidades; alegre, numerosa e
escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e mostra em Questão 07 (Uneb 2014)
toda a parte borbulhar o prazer e o bom gosto. I.
Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que com aturado Chegou no verão, em janeiro, quando soube que Geraldo
empenho se esforçam para ver qual delas vence em graças, cancelara o contrato de locação da casa, nos Barris. Primeiro, e
encantos e donaires, certo sobrepuja a travessa Moreninha, logo que se deu a Geraldo como uma escrava, foi o Jardim da
princesa daquela festa. Piedade com a casa tão perto da igreja que acordava com o sino
(Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha, 1997.) batendo forte todas as manhãs. O Campo Grande, a seguir, lugar
de grandes árvores e muitos pássaros. Depois, o prédio magro de
A forma como se dá a construção do texto revela que ele é três andares na ruazinha da ladeira, no Rio Vermelho, onde
predominantemente permaneceria os últimos quinze anos ao lado do mar e de Geraldo.
a) dissertativo, com o objetivo de analisar criticamente o que é um E dali, após vender os móveis para apurar um pouco mais de
sarau. dinheiro, dali saiu enxotada para o Bângala.
b) descritivo, com o objetivo de mostrar o sarau como uma festa FILHO, Adonias. O Largo da Palma. Novelas. Rio de Janeiro:
fútil e sem atrativos. Civilização Brasileira, 1981. p. 29.
c) narrativo, com o objetivo de contar fatos inusitados ocorridos em
um sarau. II.
d) descritivo, com o objetivo de apresentar as características de um No momento de ajoelhar aos pés do celebrante, e de pronunciar o
sarau. voto perpétuo que a ligava ao destino do homem por ela escolhido,
e) dissertativo, com o objetivo de relatar as experiências humanas Aurélia, com o decoro que revestia seus menores gestos e
em um sarau. movimentos, curvara a fronte, envolvendo-se pudicamente nas
sombras diáfanas dos cândidos véus de noiva.
Questão 04 (Unifesp 2013) Malgrado seu, porém, o contentamento que lhe enchia o coração e
Levando em conta o contexto em que floresceu a literatura estava a borbotar nos olhos cintilantes e nos lábios aljofrados de
romântica, as informações textuais refletem, com sorrisos, erigia-lhe aquela fronte gentil, cingida nesse instante por
a) ufanismo, uma vida social de bem-aventurança. uma auréola de júbilo.
b) desprezo, a cultura de uma sociedade poderosa. No altivo realce da cabeça e no enlevo das feições cuja formosura
c) entusiasmo, uma sociedade frívola e hipócrita. se toucava de lumes esplêndidos, estava-se debuxando a soberba
d) nostalgia, os valores de uma sociedade decadente. expressão do triunfo, que exalta a mulher quando consegue a
e) amenidade, uma visão otimista da realidade social. realidade de um desejo férvido e longamente ansiado.
ALENCAR, José de. Senhora: perfil de mulher. 2. ed. São Paulo:
Questão 05 (Unifesp 2013) FTD, 1993. p. 73.
Considerando os papéis desempenhados pelas personagens no
texto, percebe-se que O texto II faz parte do romance Senhora, de José de Alencar, obra
a) o diplomata é oportunista; o velho, conservador; os rapazes representativa do Romantismo no Brasil.
usufruem exageradamente os prazeres da vida; e as moças são Comparando-o com o texto I, inserido na narrativa O Largo da
frívolas. Palma, sobre as figuras femininas em foco está correto o que se
b) o diplomata é astuto; o velho, intimista; os rapazes usufruem a afirma na alternativa
vida dentro de suas possibilidades; e as moças vivem de sonhos. a) Os perfis de Aurélia e Eliane atendem ao gosto estético
romântico.

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151
Aula 15 - Romantismo No Brasil – Prosa

b) Aurélia e Eliane são enfocadas como estereótipos da mulher pela seriedade, ciência e consciência técnica e artesanal com que
presa a convenções sociais. a escreveu, mas também pelas sugestões e soluções que
c) Aurélia e Eliane são personagens — cada uma em sua época — ofereceu, facilitando a tarefa da nacionalização da literatura no
representativas de um ideal de mulher a ser atingido. Brasil e da consolidação do romance brasileiro, do qual foi o
d) Os textos, embora se enquadrem em épocas literárias distintas, verdadeiro criador. Sendo a primeira figura das nossas letras, foi
apresentam o ser feminino como vítima de um destino previamente chamado “o patriarca da literatura brasileira”.”
traçado. No texto acima, Alencar comenta críticas feitas ao seu estilo e
e) Aurélia é apresentada sob uma perspectiva de idealização; já observa que:
Eliane é mostrada como uma mulher carente, que se frustra nas a) o cuidado com a forma deve ser uma preocupação menor, pois
relações amorosas. a reprodução do belo faz parte da alçada das artes plásticas e não
da literatura.
Questão 08 (Enem PPL 2013) b) a língua de um povo é reflexo imediato de sua cultura e que a
— Ora dizeis, não é verdade? Pois o Sr. Lúcio queria esse cravo, língua portuguesa, no Brasil, passa por um processo de
mas vós lho não podíeis dar, porque o velho militar não tirava os diferenciação motivada pela distância de Portugal.
olhos de vós; ora, conversando com o Sr. Lúcio, acordastes ambos c) com seu estilo, procura contribuir com a criação de uma nova
que ele iria esperar um instante no jardim... língua, que, apesar de gramaticalmente incorreta, procura revelar o
MACEDO, J. M. A moreninha. Disponível em: belo através de um estilo plástico.
www.dominiopublico.com.br. Acesso em: 17 abr. 2010 (fragmento). d) assim como ocorreu com outros idiomas, a língua portuguesa
falada no Brasil passará por uma transformação completa graças à
O trecho faz parte do romance A moreninha, de Joaquim Manuel emancipação política.
de Macedo. Nessa parte do romance, há um diálogo entre dois e) para que a língua portuguesa falada no Brasil reflita nossa
personagens. A fala transcrita revela um falante que utiliza uma cultura, é preciso que ela despreze convenções gramaticais e
linguagem preocupações com o estilo.
a) informal, com estruturas e léxico coloquiais.
b) regional, com termos característicos de uma região. Questão 10 (Upf 2016)
c) técnica, com termos de áreas específicas. Considere as afirmações a seguir em relação ao romance Senhora,
d) culta, com domínio da norma padrão. de José de Alencar.
e) lírica, com expressões e termos empregados em sentido I. A crítica aos valores da burguesia, desenvolvida a partir do mote
figurado. da “compra” de um marido, aproxima a obra do Realismo literário.
II. Os trajes suntuosos e os modos aristocráticos que pautam a
Questão 09 vida nos salões, e que tanto seduzem o jovem Seixas, são
Texto reprovados de forma ostensiva e continuada pelo narrador, ao
longo do texto.
Minhas opiniões em matéria de gramática têm-me valido a III. A vitória das “razões do coração” sobre o poder do dinheiro, que
reputação de inovador, quando não é a pecha de escritor incorreto se verifica no desfecho da narrativa, demonstra a sobrevivência da
e descuidado. visão de mundo romântica do autor.
Entretanto, poucos darão mais, se não tanta importância à
forma do que eu; pois entendo que o estilo é também uma arte Está correto o que se afirma em:
plástica, por ventura muito superior a qualquer das outras a) I apenas.
destinadas à revelação do belo. Como se explica, portanto, essa b) II apenas.
contradição? [...] c) I e II apenas.
Que a tendência, não para a formação de uma nova língua, mas d) I e III apenas.
para a transformação profunda do idioma de Portugal, existe no e) I, II e III.
Brasil, é fato incontestável. [...]
A revolução é irresistível e fatal, como a que transformou o Questão 11 (Ufba 2010)
persa em grego e céltico, o etrusco em latim, e o romano em O Lemos não estava a gosto; tinha perdido aquela jovialidade
francês, italiano, etc.; há de ser larga e profunda, como a saltitante, que lhe dava um gracioso ar de pipoca. Na gravidade
imensidade dos mares que separa os dois mundos a que desusada dessa conferência, ele, homem experiente e sagaz,
pertencemos. entrevia sérias complicações.Assim era todo ouvidos, atento às
Quando povos de uma raça habitam a mesma região, a palavras da moça.
independência política só por si forma sua individualidade. Mas se — Tomei a liberdade de incomodá-lo, meu tio, para falar-lhe de
esses povos vivem em continentes distintos, sob climas diferentes, objeto muito importante para mim.
não se rompem unicamente os vínculos políticos, opera-se, — Ah! muito importante?... repetiu o velho batendo a cabeça.
também, a separação nas ideias, nos sentimentos, nos costumes, — De meu casamento! disse Aurélia com a maior frieza e
e, portanto, na língua, que é a expressão desses fatos morais e serenidade. [...]
sociais. — Já sei! Deseja que eu aponte alguém... Que eu lhe procure um
(ALENCAR, José de. Pós-Escrito à 2 edição de Iracema. OBRA noivo nas condições precisas... Ham!... É difícil... um sujeito no
COMPLETA. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1958. pp.312/314) caso de pretender uma moça como você, Aurélia? Enfim há de se
fazer a diligência!
Sobre José de Alencar, diz o site da Academia Brasileira de Letras: — Não precisa, meu tio. Já o achei! [...]
“Sua obra é da mais alta significação nas letras brasileiras, não só — Sr. Lemos, disse a moça pausadamente e transpassando com

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

um olhar frio a vista perplexa do velho; completei dezenove anos;


posso requerer um suplemento de idade mostrando que tenho
capacidade para reger minha pessoa e bens; com maioria de razão
obterei do juiz de órfãos, apesar de sua oposição, um alvará de
licença para casar-me com quem eu quiser. Se estes argumentos
jurídicos não lhe satisfazem, apresentar-lhe-ei um que me é
pessoal.
— Vamos a ver! acudiu o velho para quebrar o silêncio.
— É a minha vontade. O senhor não sabe o que ela vale, mas
juro-lhe que para a levar a efeito não se me dará de sacrificar a
herança de meu avô.
— É próprio da idade! São ideias que somente se têm aos
dezenove anos; e isso mesmo já vai sendo raro.
— Esquece que desses dezenove anos, dezoito os vivi na
extrema pobreza e um no seio da riqueza para onde fui
transportada de repente. Tenho as duas grandes lições do mundo:
a da miséria e a da opulência. Conheci outrora o dinheiro como um
tirano; hoje o conheço como um cativo submisso. Por conseguinte
devo ser mais velha do que o senhor que nunca foi nem tão pobre,
como eu fui, nem tão rico, como eu sou. Texto II
ALENCAR, J. de. Ficção completa e outros escritos. Rio de Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos:
Janeiro: Companhia Aguilar Editora, 1965. v. 1, p. 673-674. foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se
(Biblioteca Luso-Brasileira. Série Brasileira). claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois
teve a Maria um filho (...) E este nascimento é certamente de tudo
Em relação ao fragmento transcrito e considerando-se a leitura da o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de
obra, é correto afirmar: quem falamos é o herói desta história.
01) O diálogo entre Lemos e Aurélia revela a influência decisiva do (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de
dinheiro nas relações sociais do contexto evidenciado no romance. Milícias.)
02) A última fala de Aurélia antecipa, na trama romanesca, seu
perfil prepotente, egoísta e manipulador. Com base nas informações verbais e visuais, é CORRETO afirmar
04) Ao retrucar “Já sei! Deseja que eu aponte alguém... Que eu lhe que o beliscão de Maria representa:
aponte um noivo nas condições precisas...”, Lemos reage com a) A cumplicidade na situação de aproximação desencadeada pela
coerência, tendo em vista a concepção do casamento como pisadela.
transação comercial na sociedade focalizada na narrativa. b) O desdém da quitandeira frente à intenção de aproximação de
08) A segurança dos argumentos utilizados por Aurélia para atingir Leonardo.
seus objetivos atende à expectativa do seu tio. c) A condenação à atitude de Leonardo, por supor uma intimidade
16) Ao dizer “É a minha vontade”, Aurélia afirma a força subjetiva indesejada.
de seu desejo de vingança contra Seixas, o que evidencia um traço d) O repúdio da quitandeira à situação, vendo Leonardo como
do Romantismo. homem desprezível.
32) O conhecimento das normas vigentes nas operações jurídicas e) A aceitação de uma amizade, mas não de uma aproximação
e comerciais era habitual nas ricas herdeiras da época. íntima entre ambos.
64) Aurélia demonstra consciência da maturidade adquirida através
de sua variada experiência de vida. Questão 13 (Fuvest)
Texto
Questão 12 (Unifesp 2009)
Texto I Os leitores estarão lembrados do que o compadre dissera quando
estava a fazer castelos no ar a respeito do afilhado, e pensando
em dar-lhe o mesmo ofício que exercia,
isto é, daquele arranjei-me, cuja explicação prometemos dar.
Vamos agora cumprir a promessa. Se alguém perguntasse ao
compadre por seus pais, por seus parentes, por seu nascimento,
nada saberia responder, porque nada sabia a respeito. Tudo de
que se recordava de sua história reduzia-se a bem pouco. Quando
chegara à idade de dar acordo da vida achou-se em casa de um
barbeiro que dele cuidava, porém que nunca lhe disse se era ou
não seu pai ou seu parente, nem tampouco o motivo por que
tratava da sua pessoa. Também nunca isso lhe dera cuidado, nem
lhe veio a curiosidade de indagá-lo.
Esse homem ensinara-lhe o ofício, e por inaudito milagre também a
ler e a escrever. Enquanto foi aprendiz passou em casa do seu...
mestre, em falta de outro nome, uma vida que por um lado se
parecia com a do fâmulo*, por outro com a do filho, por outro com a
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153
Aula 15 - Romantismo No Brasil – Prosa

do agregado, e que afinal não era senão vida de enjeitado, que o teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de
leitor sem dúvida já adivinhou que ele o era. A troco disso dava-lhe comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o
o mestre sustento e morada, e pagava-se do que por ele tinha já qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem
feito. largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que
_____________________ temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem
(*) fâmulo: empregado, criado falamos é o 1herói desta história.
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de
milícias) ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. 3. ed. São
Paulo: FTD, 1996. p. 16-17.
Neste excerto, mostra-se que o compadre provinha de uma
situação de família irregular e ambígua. No contexto do livro, as Com base no trecho acima e no romance Memórias de um
situações desse tipo Sargento de Milícias e levando em consideração o contexto do
a) caracterizam os costumes dos brasileiros, por oposição aos dos Romantismo brasileiro, marque a(s) proposição(ões)
imigrantes portugueses. CORRETA(S).
b) são apresentadas como conseqüência da intensa mestiçagem 01) O namoro entre Leonardo e Maria respeita os cânones do amor
racial, própria da colonização. romântico, que é puro, ingênuo e até infantil.
c) contrastam com os rígidos padrões morais dominantes no Rio de 02) Leonardo-Pataca, o pai, emprega-se no Brasil como meirinho,
Janeiro oitocentista. profissão que lhe vale o respeito de Maria e que, por duas vezes,
d) ocorrem com freqüência no grupo social mais amplamente impede que ele seja preso pelo major Vidigal.
representado. 04) Mesmo pertencendo temporalmente ao Romantismo brasileiro,
e) começam a ser corrigidas pela doutrina e pelos exemplos do Memórias de um Sargento de Milícias apresenta várias
clero católico. características que o diferenciam de outros romances urbanos do
período, como o fato de a obra enfocar o cotidiano da classe baixa.
Questão 14 (Fuvest) 08) Já ao nascer, Leonardo é chamado pelo narrador de “herói”
Um traço de estilo, presente no excerto, também se encontrará nas (ref. 1), o que prenuncia importantes características que marcarão
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, onde mais tarde o caráter desse personagem: nobreza, coragem e alto
assumirá aspectos de provocação e acinte. Trata-se valor moral.
a) das referências diretas ao leitor e ao andamento da própria 16) A relação entre Maria e Leonardo é marcada por sucessivas
narração. traições do marido à esposa. Por fim, Maria foge com o capitão de
b) do uso predominante da descrição, que confere maior realismo um navio, levando consigo o filho do casal.
ao relato. 32) Nas referências 2, 3 e 4, observa-se a anteposição de uma
c) do emprego de adjetivação abundante e variada, que dá feição vírgula à conjunção “e”. Segundo as regras atuais de pontuação,
opinativa à narração. essas vírgulas poderiam ser omitidas, porque em cada caso o
d) da paródia dos clichês românticos anteriormente utilizados por sujeito da oração introduzida por “e” é o mesmo da oração anterior.
José de Alencar e Álvares de Azevedo.
e) da narração em primeira pessoa, realizada por um narrador-
personagem, que participa dos eventos narrados.

Questão 15 (Ufsc 2012)


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se


porém do negócio2, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe
por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos
empossado, e que exercia [...] desde tempos remotos. Mas viera
com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da
hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e
bonitona. [...] Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda
do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela3, e
com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé
direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como
envergonhada do gracejo4, e deu-lhe também em ar de disfarce um
tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma
declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto
do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena
de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um
pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão
extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos:
foram os dois morar juntos; e daí a um mês manifestaram-se
claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois

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CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula – VOLUME 1

formação de uma literatura propriamente brasileira, filha da terra.


AULA 16 - ROMANTISMO NO BRASIL –
PROSA A razão é óbvia: o Norte ainda não foi invadido como está sendo o
Sul de dia em dia pelo estrangeiro. A feição primitiva, unicamente
ROMANCE REGIONALISTA modificada pela cultura que as raças, as índoles, e os costumes
Obras: O gaúcho, O tronco do Ipê, Til e O sertanejo, de José de recebem dos tempos ou do progresso, pode-se afirmar que ainda
Alencar; Escrava Isaura e o Seminarista, de Bernardo Guimarães; se conserva ali em sua pureza, em sua genuína expressão.
O cabeleira, de Franklin Távora.
Por infelicidade do Norte, porém, dentre os muitos filhos seus que
Com a finalidade de registrar a vida brasileira como um todo, José figuram com grande brilho nas letras pátrias, poucos têm
de Alencar e outros autores como Bernardo Guimarães, Visconde seriamente cuidado de construir o edifício literário dessa parte do
de Taunay e Franklin Távora vão ampliar seus campos de império que, por sua natureza magnificente e primorosa, por sua
observação e produzir obras que representem a vida no espaço do história tão rica de feitos heroicos, por seus usos, tradições e
campo, longe da corte, em regiões que guardavam um estilo de poesia popular há de ter cedo ou tarde uma biblioteca
vida bem diferente daquele do habitante da cidade grande do especialmente sua.
litoral, principalmente o Rio de Janeiro, marcado por uma maior
influência europeia. Não vai nisto, meu amigo, um baixo sentimento de rivalidade que
Assim, o olhar se volta para o norte, para o centro e para o sul, não aninho em meu coração brasileiro. Proclamo uma verdade
registrando tanto a natureza dessas regiões como os hábitos, os irrecusável. Norte e Sul são irmãos, mas são dois.
valores, as tradições, o folclore, as relações sociais, a cultura,
enfim, da população local. Cada um há de ter uma literatura sua, porque o gênio de um não
se confunde com o do outro.
Como já dissemos, o Romance Regionalista cumpre um papel Cada um tem suas aspirações, seus interesses, e há de ter, se já
fundamental no projeto nacionalista romântico: o papel de mostrar não tem, sua política.
o brasil para o brasileiro, de ampliar os limites geográficos Franklin Távora
abordados literariamente, de retratar o Brasil da forma mais ampla
possível. Nessa perspectiva, além de retratar paisagens, hábitos, costumes,
Veja o que diz Franklin Távora a respeito da importância de uma valores, práticas sociais e culturais, o romance regionalista registra,
“literatura do Norte” e de se focalizar regiões diversas, saindo do também, na voz das personagens, a linguagem coloquial, popular,
espaço da Corte (Rio de Janeiro) e do Sul. característica de cada região (arcaísmos, corruptelas, provérbios,
expressões típicas). O narrador, porém, costuma utiliza-se da
“É tempo de cumprir a promessa extorquida pela amizade, que não norma culta da língua para contar a história em terceira pessoa.
atendeu às mais legitimas escusas. Essa natureza brilhante e
móvel estava a cada instante convidando o meu desânimo a Texto Crítico
romper o silêncio a que vivo recolhido desde que cheguei do Enredos e tipos: eis o que terá a princípio; e até a maturidade de
extremo norte do império. Machado de Assis não passará realmente muito além destes
elementos básicos, a que se vai juntando a consciência cada vez
Depois de cerca de dois anos de hesitações, dispus-me enfim a mais apurada do quadro geográfico e social. (...)
escrever estas pálidas linhas — notas dissonantes de uma musa Quanto à matéria, o romance brasileiro nasceu regionalista e de
solitária, que no retiro onde se refugiou com os desenganos da costumes; ou melhor, tendeu desde cedo para descrição dos tipos
vida não pode esquecer-se da pátria, anjo das suas esperanças e humanos e formas de vida social nas cidades e nos campos. O
das suas tristezas. romance histórico se enquadrou aqui nessa mesma orientação; o
Inicio esta série de composições literárias, para não dizer estudos romance indianista constitui desenvolvimento à parte do ponto de
históricos, com o Cabeleira, que pertence a Pernambuco, objeto de vista da evolução do gênero, e corresponde não só à imitação de
legítimo orgulho para ti, e de profunda admiração para todos os Chateaubriand e Cooper, como a certas necessidades já
que têm a fortuna de conhecer essa refulgente estrela da assinaladas, poéticas e históricas, de estabelecer um passado
constelação brasileira. Tais estudos, meu amigo, não se limitarão heroico e lendário para a nossa civilização, a que os românticos
somente aos tipos notáveis e aos costumes da grande e gloriosa desejavam, numa utopia retrospectiva, dar tanto quanto possível
província, onde tiveste o berço. traços autóctones.

Pará e Amazonas, que não me são de todo desconhecidos; Ceará, Assim, pois, três graus na matéria romanesca, determinados pelo
torrão do meu nascimento; todo o Norte enfim, se Deus ajudar, virá espaço em que se desenvolve a narrativa: cidade, campo, selva;
a figurar nestes escritos, que não se destinam a alcançar outro fim ou, por outra, vida urbana, vida rural, vida primitiva. A figura
senão mostrar aos que não a conhecem, ou por falso juízo a dominante do período, José de Alencar, passou pelos três e nos
desprezam, a rica mina das tradições e crônicas das nossas três deixou boas obras: Lucíola, O sertanejo, Iracema. E é esse
províncias setentrionais. caráter de exploração e levantamento – não apenas em sua obra,
mas na dos outros – que dá a ficção romântica importância capital
As letras têm, como a política, um certo caráter geográfico; mais no como tomada de consciência da realidade brasileira no plano da
Norte, porém, do que no Sul abundam os elementos para a arte: verdadeira consecução do ideal de Nacionalismo literário,
proclamado pela Niterói.
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Por isso mesmo, o nosso romance tem fome de espaço e uma Texto Crítico
ânsia topográfica de apalpar todo o país. “A tendência universal do Romantismo, de remexer no passado
Antonio Candido, Formação da Literatura Brasileira nacional, de rebuscar nos escombros medievais o que de melhor aí
ficara da alma e da tradição de cada povo, encontraria no Brasil a
Trecho I melhor receptividade, pois um dos nossos problemas era o de
“Antes de sair da sala, deteve Pereira o hóspede com ar de quem afirmar frente a Portugal o espírito nacional brasileiro, graças ao
precisava ticar em assunto de gravidade e ao mesmo tempo de qual queríamos ser independentes, não só do ponto de vista
difícil explicação. político, mas também do ponto de vista cultural. A nossa idade
Afinal começou meio hesitante: média, o mais recôndito e autêntico do nosso passado teria de ser,
- Sr. Cirino, eu cá sou homem muito bom de gênio, muito amigo de pelo menos poeticamente, a civilização primitiva, pré-cabralina.
todos, muito acomodado e que tenho o coração perto da boca, Seria através da valorização poética das raças primitivas no
como vosmecê deve ter visto... cenário grandioso da natureza americana que alcançaríamos
- Por certo, concordou o outro. aquele nível mínimo de orgulho nacional de que carecíamos para
- Pois bem, mas... tenho um grande defeito; sou muito desconfiado. uma classificação em face do europeu.”
Vai o doutor entrar no interior da minha casa e... deve portar-se Afrânio Coutinho, A Literatura no Brasil
como...
- Oh, Sr. Pereira! Atalhou Cirino com animação, mas sem grande Assim, tendo Alencar estudado os cronistas da Literatura de
estranheza, pois conhecia o zelo com que os homens do sertão Informação e a vida dos nossos selvagens, só aproveitaria o que
guardam da vista dos profanos os seus aposentos domésticos, fosse positivo e favorável ao índio. “
posso gabar-me de ter sido recebido no seio de muita família “José de Alencar criou, com base mais lendária do que histórica, o
honesta e sei proceder como devo.” mundo poético e heroico das nossas origens, para afirmar a nossa
nacionalidade, para provar a existência de nossas raízes
- Nocência tem 18 anos, é muito ariscazinha de modos, mas bonita legitimamente americanas.”.
e boa deveras... Coitada, foi criada sem mãe, e aqui nestes
fundões. Vai se casar, por determinação do pai, com Manecão Tanto As minas de prata como Iracema, como O guarani
Doca, um homem às direitas, desempenado e trabucador como ele apresentam um caráter mítico: seja o do Eldorado, o do tesouro
só... fura estes sertões todos e vem tangendo pontas de gado que escondido que atraiu para o interior do Brasil os aventureiros e
metem pasmo." bandeirantes que ampliariam o povoamento do espaço brasileiro,
seja o do Bom Selvagem, inspirado em Rousseau.
Inocência, Visconde de Taunay

Trecho II
"- Esta obrigação de casar as mulheres é o diacho!... Se não
tomam estado, ficam jururus e fanadinhas...; se casam, podem cair
nas mãos de algum marido malvado... E depois, as histórias! Hi,
meu Deus, mulheres numa casa é coisa de meter medo... São
redomas de vidro que tudo pode quebrar (...) O Manecão que se
aguente, quando a tiver por sua... Com gente de saia não há que
fiar... Cruz! botam famílias inteiras a perder, enquanto o demo
esfrega um olho."
- Eu repito, disse ele com calor, isto de mulheres, não há que fiar.
Bem faziam os nossos do tempo antigo. As raparigas andavam
direitinhas que nem um fuso...Uma piscadela de olho mais
duvidosa, era logo pau...Contaram-me que hoje lá nas
cidades...arrenego!...não há menina, por pobrezinha que seja, que
não saiba ler livros de forma a garatujar no papel...que deixe de ir a
fonçonatas com vestidos abertos na frente como raparigas fadistas
e que saracoteiam em danças e falam alto e mostram os dentes
por dá cá aquela palha com qualquer tafulão malcriado...[...]”
Inocência, Visconde de Taunay

ROMANCE INDIANISTA / ROMANCE HISTÓRICO


Obras: O guarani; Iracema; Ubirajara; As minas de prata; O
garatuja; O ermitão da glória; A guerra dos mascates.

O romance histórico se inicia com a temática do indianismo, de


modo que os romances indianistas de José de Alencar são,
também, romances históricos. Porém, vale ressaltar, que a
imaginação do autor e a poetização exagerada da vida dos
selvagens acarretaram numa deturpação dos costumes indígenas
e na inexatidão com que lidou com fatos e personagens reais.

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Aula 16 - Romantismo No Brasil – Prosa

‘Peri, guerreiro livre, tu és meu escravo; tu me seguirás por toda a


parte, como a estrela grande acompanha o dia’.

A lua tinha voltado o seu arco vermelho, quando tornamos da


guerra; todas as noites Peri via a senhora na sua nuvem; ela não
tocava a terra, e Peri não podia subir ao céu.
O cajueiro quando perde a sua folha parece morto; não tem flor,
nem sombra; chora umas lágrimas doces como o mel dos seus
frutos.
Assim Peri ficou triste.
A senhora não apareceu mais; e Peri via sempre a senhora nos
seus olhos.
As árvores ficaram verdes; os passarinhos fizeram seus ninhos; o
sabiá cantou; tudo ria: o filho de Ararê lembrou-se de seu pai.
Veio o tempo da guerra.
Trecho I Partimos; andamos; chegamos ao grande rio. Os guerreiros
“O índio começou, na sua linguagem tão rica e poética, com a doce armaram as redes; as mulheres fizeram fogo; Peri olhou o sol.
pronúncia que parecia ter aprendido das auras da sua terra ou das Viu passar o gavião.
aves das florestas virgens, esta simples narração: Se Peri fosse o gavião, ia ver a senhora no céu.
Viu passar o vento.
"Era o tempo das árvores de ouro. Se Peri fosse o vento, carregava a senhora no ar.
A terra cobriu o corpo de Ararê, e as suas armas; menos o seu Viu passar a sombra.
arco de guerra. Se Peri fosse a sombra, acompanhava a senhora de noite.
Os passarinhos dormiram três vezes.
Peri chamou os guerreiros de sua nação e disse:
‘Pai morreu; aquele que for o mais forte entre todos, terá o arco de "Sua mãe veio e disse:
Ararê. Guerra!’ ‘Peri, filho de Ararê, guerreiro branco salvou tua mãe; virgem
branca também’.
"Assim falou Peri; os guerreiros responderam: ‘Guerra!’
Peri tomou suas armas e partiu; ia ver o guerreiro branco para ser
Enquanto o sol alumiou a terra, caminhamos; quando a lua subiu amigo; e a filha da senhora para ser escravo.
ao céu, chegamos. Combatemos como Goitacás. Toda a noite foi O sol chegava ao meio do céu e Peri chegava também ao rio;
uma guerra. Houve sangue, houve fogo. avistou longe a tua casa grande.
Quando Peri abaixou o arco de Ararê, não havia na taba dos A virgem branca apareceu.
brancos uma cabana em pé, um homem vivo; tudo era cinza. Era a senhora que Peri tinha visto; não estava triste como da
Veio o dia e alumiou o campo; veio o vento e levou a cinza. primeira vez; estava alegre; tinha deixado lá a nuvem e as estrelas.
Peri tinha vencido; era o primeiro de sua tribo, e o mais forte de Peri disse:
todos os guerreiros. ‘A senhora desceu do céu, porque a lua sua mãe deixou; Peri, filho
do sol, acompanhará a senhora na terra’.
Sua mãe chegou e disse: Os olhos estavam na senhora; e o ouvido no coração de Peri. A
‘Peri, chefe dos Goitacás, filho de Ararê, tu és grande, tu és forte pedra estalou e quis fazer mal à senhora.
como teu pai; tua mãe te ama’. A senhora tinha salvado a mãe de Peri, Peri não quis que a
senhora ficasse triste, e voltasse ao céu.
Os guerreiros chegaram e disseram: Guerreiro branco, Peri, primeiro de sua tribo, filho de Ararê, da
‘Peri, chefe dos Goitacás, filho de Ararê, tu és o mais valente da nação Goitacá, forte na guerra, te oferece o seu arco; tu és amigo."
tribo e o mais temido do inimigo; os guerreiros te obedecem’. O índio terminou aqui a sua narração.

As mulheres chegaram e disseram: José de Alencar, O guarani


‘Peri, primeiro de todos, tu és belo como o sol, e flexível como a
cana selvagem que te deu o nome; as mulheres são tuas Trecho II
escravas’. “Quando a cavalgata chegou à margem da clareira, ai se passava
uma cena curiosa.
Peri ouviu e não respondeu; nem a voz de sua mãe, nem o canto Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de
dos guerreiros, nem o amor das mulheres, o fez sorrir. árvores, encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se
Na casa da cruz, no meio do fogo, Peri tinha visto a senhora dos um índio na flor da idade.
brancos; era alva como a filha da lua; era bela como a garça do rio. Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam
Tinha a cor do céu nos olhos; a cor do sol nos cabelos; estava aimará, apertada à cintura por uma faixa de penas escarlates, caía-
vestida de nuvens, com um cinto de estrelas e uma pluma de luz. lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado
O fogo passou; a casa da cruz caiu. e esbelto como um junco selvagem.
Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor do cobre,
De noite Peri teve um sonho; a senhora apareceu; estava triste e brilhava com reflexos dourados; os cabelos pretos cortados rentes,
falou assim: a tez lisa, os olhos grandes com os cantos exteriores erguidos para
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

a fronte; a pupila negra, móbil, cintilante; a boca forte mas bem Poeta primitivo, canta a natureza na mesma linguagem da
modelada e guarnecida de dentes alvos, davam ao rosto pouco natureza; ignorante do que se passa nele, vai procurar nas
oval a beleza inculta da graça, da força e da inteligência. imagens que tem diante dos olhos, a expressão do sentimento
Tinha a cabeça cingida por uma fita de couro, à qual se prendiam vago e confuso que lhe agita a alma.
do lado esquerdo duas plumas matizadas, que descrevendo uma Sua palavra é a que Deus escreveu com as letras que formam o
longa espiral, vinham rogar com as pontas negras o pescoço livro da criação; é a flor, o céu, a luz, a cor, o ar, o sol; sublimes
flexível. coisas que a natureza fez sorrindo.”
Era de alta estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil e O guarani, José de Alencar
nervosa, ornada com uma axorca de frutos amarelos, apoiava-se
sobre um pé pequeno, mas firme no andar e veloz na corrida. Trecho III
Segurava o arco e as flechas com a mão direita calda, e com a Prefácio de Ubirajara
esquerda mantinha verticalmente diante de si um longo forcado de Este livro é irmão de Iracema.
pau enegrecido pelo fogo. Chamei-lhe de lenda como ao outro. Nenhum título responde
Perto dele estava atirada ao chão uma clavina tauxiada, uma melhor pela propriedade, como pela modéstia, às tradições da
pequena bolsa de couro que devia conter munições, e uma rica pátria indígena.
faca flamenga, cujo uso foi depois proibido em Portugal e no Brasil. Quem por desfastio percorrer estas páginas, se não tiver estudado
Nesse instante erguia a cabeça e fitava os olhos numa sebe de com alma brasileira o berço de nossa nacionalidade, há de
folhas que se elevava a vinte passos de distancia, e se agitava estranhar em outras coisas a magnanimidade que ressumbra no
imperceptivelmente. drama selvagem a formar-lhe o vigoroso relevo.
Ali por entre a folhagem, distinguiam-se as ondulações felinas de Como admitir que bárbaros, quais nos pintaram os indígenas,
um dorso negro, brilhante, marchetado de pardo; às vezes viam-se brutos e canibais, antes feras que homens, fossem suscetíveis
brilhar na sombra dois raios vítreos e pálidos, que semelhavam os desses brios nativos que realçam a dignidade do rei da criação?
reflexos de alguma cristalização de rocha, ferida pela luz do sol. Os historiadores, cronistas e viajantes da primeira época, senão de
Era uma onça enorme; de garras apoiadas sobre um grosso ramo todo o período colonial, devem ser lidos à luz de uma crítica
de árvore, e pés suspensos no galho superior, encolhia o corpo, severa. É indispensável sobretudo escoimar os fatos comprovados,
preparando o salto gigantesco. das fábulas a que serviam de mote, e das apreciações a que os
Batia os flancos com a larga cauda, e movia a cabeça monstruosa, sujeitavam espíritos acanhados, por demais imbuídos de uma
como procurando uma aberta entre a folhagem para arremessar o intolerância ríspida.
pulo; uma espécie de riso sardônico e feroz contraia-lhe as negras Homens cultos, filhos de uma sociedade velha e curtida por longo
mandíbulas, e mostrava a linha de dentes amarelos; as ventas trato de séculos, queriam esses forasteiros achar nos indígenas de
dilatadas aspiravam fortemente e pareciam deleitar-se já com o um mundo novo e segregado da civilização universal uma perfeita
odor do sangue da vítima. conformidade de ideias e costumes.
O índio, sorrindo e indolentemente encostado ao tronco seco, não Não se lembravam, ou não sabiam, que eles mesmos provinham
perdia um só desses movimentos, e esperava o inimigo com a de bárbaros ainda mais ferozes e grosseiros do que os selvagens
calma e serenidade do homem que contempla uma cena americanos.
agradável: apenas a fixidade do olhar revelava um pensamento de Releva ainda notar que duas classes de homens forneciam
defesa. informações acerca dos indígenas: a dos missionários e a dos
aventureiros. Em luta uma com outra, ambas se achavam de
Álvaro fitou no índio um olhar admirado. Onde é que este selvagem acordo nesse ponto, de figurarem os selvagens como feras
sem cultura aprendera a poesia simples, mas graciosa; onde humanas. Os missionários encareciam assim a importância da sua
bebera a delicadeza de sensibilidade que dificilmente se encontra catequese; os aventureiros buscavam justificar-se da crueldade
num coração gasto pelo atrito da sociedade? com que tratavam os índios.
A cena que se desenrolava a seus olhos respondeu-lhe; a natureza José de Alencar
brasileira, tão rica e brilhante, era a imagem que produzia aquele
espírito virgem, como o espelho das águas reflete o azul do céu. Trecho IV
Quem conhece a vegetação de nossa terra desde a parasita Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte,
mimosa até o cedro gigante; quem no reino animal desce do tigre e nasceu Iracema.
do tapir, símbolos da ferocidade e da força, até o lindo beija-flor e o Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais
inseto dourado; quem olha este céu que passa do mais puro anil negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de
aos reflexos bronzeados que anunciam as grandes borrascas; palmeira.
quem viu, sob a verde pelúcia da relva esmaltada de flores que O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha
cobre as nossas várzeas deslizar mil répteis que levam a morte recendia no bosque como seu hálito perfumado.
num átomo de veneno, compreende o que Álvaro sentiu. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão
Com efeito, o que exprime essa cadeia que liga os dois extremos e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande
de tudo o que constitui a vida? Que quer dizer a força no ápice do nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a
poder aliada à fraqueza em todo o seu mimo; a beleza e a graça verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
sucedendo aos dramas terríveis e aos monstros repulsivos; a José de Alencar, Iracema
morte horrível a par da vida brilhante?
Não é isso a poesia? O homem que nasceu, embalou-se e cresceu Prosa Gótica
nesse berço perfumado; no meio de cenas tão diversas, entre o Álvares de Azevedo explorou em poesia e prosa o universo
eterno contraste do sorriso e da lágrima, da flor e do espinho, do macabro, pérfido, imoral da humanidade; e foi além, explorando,
mel e do veneno, não é um poeta?
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Aula 16 - Romantismo No Brasil – Prosa

também, o sobrenatural. morena, branca, loura, de cabelos castanhos ou negros. Tenho-as


Destaca-se da sua produção em prosa as obras “Macário”, uma visto que fazem empalidecer-me, meu peito parece sufocar meus
peça teatral que explora o satanismo, a presença do diabo, e lábios se gelam, minha mão se esfria...Parece-me então que, se
“Noite na taverna”, livro de narrativas satânicas. aquela mulher que me faz estremecer assim, soltasse sua roupa
de veludo e me deixasse por os lábios sobre seu seio um
UMA PEÇA SATÂNICA momento, eu morreria num desmaio de prazer! Mas depois desta
Álvares de Azevedo nutria uma grande ambição em relação ao vem outra, mais outra e o amor se desfaz numa saudade que se
teatro, mas sua morte precoce impediu que ele desenvolvesse seu desfaz no esquecimento. Como eu te disse, nunca amei.
projeto dramático. Ficou-nos Macário, uma peça marcada pela O desconhecido: Ter vinte anos e nunca ter amado! E para
ironia e pelo spleen, usando o sobrenatural para refletir sobre seu quando esperas o amor?
tempo e para dar voz a um pessimismo marcante, manipulando Macário: Não sei. Talvez eu ame quando estiver impotente!
diversas das características românticas já trabalhas, como a O desconhecido: E o que exigirias para a mulher de teus amores?
intensa subjetividade, o tédio da vida, o escapismo e a oposição Macário: Pouca coisa. Beleza, virgindade, inocência, amor.
“amor x sexo”. O desconhecido: Admira-me uma coisa. Tens vinte anos: deverias
Na peça teatral, Macário, Álvares de Azevedo faz com que o ser puro como um anjo e és devasso como um cônego!
protagonista, Macário, interaja com o diabo, que o convida para Álvares de Azevedo, Macário
peregrinar por várias cidades do mundo, montado num burro
negro. Enquanto viajam, conversam sobre o amor, as mulheres, o Trecho II
bem e o mal, os comportamentos transgressores, os pecados de Macário: Por acaso há mulheres ali? (Em São Paulo)
membros da Igreja... No segundo ato, que se passa na Itália, Satã: Mulheres, padres, soldados e estudantes. (...) Para falar
encontram-se com outro personagem, Peneroso, e continuam o mais claro as mulheres são lascivas, os padres dissolutos, os
diálogo do ato anterior. soldados ébrios, os estudantes vadios. Isso salvo honrosas
A peça termina com Satã pedindo a Macário que observe pela exceções, por exemplo, de amanhã em diante tu
janela uma cena de orgia e bebedeira de seis jovens em uma Macário: Esta cidade deveria ter o teu nome.
taverna, sugerindo que a cena vista no final da peça é a cena Satã: Tem o de um santo: é quase o mesmo. Não é o hábito que
inicial de “Noites na taverna”. faz o monge. Demais essa terra é devassa como uma cidade,
Os românticos, através, da figura do Diabo possibilitaram ao insípida como uma vila e pobre como uma aldeia. (...) Até as
indivíduo a total liberdade de ação, a transgressão, escapando de calçadas...
qualquer controle moral ou de convenções sociais. Macário: Que têm?
Satã: São intransitáveis. Parecem encastoadas* as tais pedras. As
Trecho I calçadas do inferno são mil vezes melhores. Mas o pior da história
Macário: (bebe) Eu vos dizia pois... Onde tínhamos ficado? é que as beatas e os cônegos cada vez que saem, a cada topada,
O desconhecido: Não sei. Parece-me que falávamos sobre o blasfemam tanto com o rosário na mão que já estou enjoado.
Papa. Álvares de Azevedo, Macário
Macário: - Não sei: creio que o vosso vinho subiu-me à cabeça.
O desconhecido: Falas como um descrido, como um saciado! E NOITE NA TAVERNA
contudo ainda tens os beiços de criança! Quantos seios de mulher Em “Noite na Taverna”, em que seis estudantes bêbados, reunidos
beijaste além do seio de tua ama de leite? Quantos lábios além dos em uma taverna, narram as mais aventuras marcadas por orgias,
de tua irmã? incestos, assassinatos, fratricídio, mistérios e morte.
Macário: A vagabunda que dorme nas ruas, a mulher que se
vende corpo e alma, porque sua alma é tão desbotada como seu Logo no primeiro capítulo de Noite na taverna, Azevedo louva o
corpo, te digam minhas noites. Talvez muita virgem tenha conhaque como a um deus, exaltado o culto ao prazer, que, no
suspirado por mim! Talvez agora mesmo alguma donzela se entanto, é uma fuga diante da inquietude, do tédio da vida.
ajoelhe na cama e reze por mim!
O desconhecido: Na verdade és belo. Que idade tens? Os jovens que narram suas histórias, Solfieri, Bertram, Gennaro,
Macário: Vinte anos. Mas meu peito tem batido nesses vinte anos Claudius Herrmann e Johann, não apresentam profissões
tantas vezes como o de um outro homem em quarenta. definidas, vivem de maneira desregrada, uma vida boêmia que
O desconhecido: E amaste muito? reflete o desencanto, a angústia, a incapacidade de se alcançar
Macário: Sim e não. Sempre e nunca. uma vida plena, mascarados, muitas vezes, pela ironia. As
O DESCONHECIDO - Fala claro. histórias narradas giram em torno de casos amorosos que resultam
Macário: Mais claro que o dia. Se chamas o amor a troca de duas em tragédia.
temperaturas, o aperto de dois sexos, a convulsão de dois peitos Antônio Carlos Secchin faz a seguinte afirmação sobre a obra “a
que arquejam, o beijo de duas bocas que tremem, de duas vidas condição marginal do herói se revela também em sua indefinição
que se fundem... tenho amado muito e sempre!... Se chamas o profissional: os personagens de Álvares de Azevedo são
amor o sentimento casto e puro que faz cismar o pensativo, que invariavelmente alijados do trabalho ou a ele avessos, consumindo
faz chorar o amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o -se num espaço noturno e entregues ao jogo, à bebida e aos
perfume dela na brisa, que pergunta às aves, à manhã, à noite, às amores.
harmonias da música, que melodia é mais doce que sua voz; e ao Tal alijamento lhes soa com o irreversíveis, o que imprime a suas
seu coração, que formosura mais divina que a dela...eu nunca falas um certo tom de autopunição e masoquismo, como se
amei. Ainda não achei uma mulher assim. Entre um charuto e uma lamentassem algo que lhes superassem a força consciente. Não
chávena de café lembro-me às vezes de alguma forma divina, há vanglória onde não houve opção.”.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Trecho O TEATRO ROMÂNTICO - MARTINS PENA


— Silêncio! moços!! acabai com essas cantilenas horríveis! Martins Pena figura, no Brasil, como o fundador da comédia de
Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como costumes. Inserido no Romantismo, trouxe o caráter nacional ao
defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro teatro da época, deixando uma obra de aproximadamente trinta
naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?? peças, dentre as quais se destacam “O noviço” e “O Juiz de Paz na
—Cala-te, Johann! enquanto as mulheres dormem e Arnold— Roça”.
o loiro—cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia Nas suas comédias e farsas, o dramaturgo retratou, normalmente
de Tieck, que musica mais bela que o alarido da saturnal? Quando num tom satírico, rivalidades políticas, abusos das autoridades,
as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos irregularidades no comércio, a busca por ascensão social, através
errantes, e a lua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a de personagens comuns, numa linguagem marcada pela
alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada espontaneidade. Suas peças criaram um “retrato” da vida cotidiana
ao reflexo das tachas? do Rio de Janeiro.
—És um louco, Bertram! não e a lua que lá vai macilenta: e o Segundo Silvio Romero, Martins Pena “fotografa o seu meio com
relâmpago que passe e ri de escárnio as agonies do povo que uma espontaneidade de pasmar, e essa espontaneidade, essa
morre, aos soluços que seguem as mortalhas do cólera! facilidade, quase inconsciente e orgânica, é o maior elogio de seu
—O cólera! e que importa? Não há por ora vida bastante nas talento. Se perdessem todas as leis, escritos, memória da história
veias do homem? não borbulha a febre ainda as ondas do vinho? brasileira dos primeiros cinquenta anos deste século, que está a
não reluz em todo o seu fogo a lâmpada da vida na lanterna do findar, e nos ficassem somente as comédias de Pena era possível
crânio? reconstruir por elas a fisionomia moral de toda essa época.”.
—Vinho! vinho! Não vês que as taças estão vazias bebemos Martins Pena criou personagens que, ainda que carecessem de
o vácuo, como um sonâmbulo? maior profundidade psicológica, representavam diferentes tipos
—E o Fichtismo na embriguez! Espiritualista, bebe a sociais do Brasil do século XIX: escravos, funcionários públicos,
imaterialidade da embriaguez! comerciantes, artesãos, soldados, padres, representantes da
—Oh! vazio meu copo esta vazio! Olá taverneira, não vês Corte, etc.
que as garrafas estão esgotadas? Não sabes, desgraçada, que os Por meio do humor e da sátira, censurou os valores e os costumes
lábios da garrafa são como os da mulher: só valem beijos enquanto considerados imorais, assumindo um tom de crítica e destacando,
o fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa de lava? muitas vezes, problemas sociais, expondo, por exemplo, a
—O vinho acabou-se nos copos, Bertram, mas o fumo ondula corrupção nos serviços públicos, o contrabando de escravos, a
ainda nos cachimbos! Após os vapores do vinho os vapores da exploração do sentimento religioso, a desonestidade dos
fumaça! Senhores, em nome de sodas as nossas reminiscências, comerciantes.
de todos os nossos sonhos que mentiram, de sodas as nossas Assim, Martins Pena reproduziu os costumes de sua época
esperanças que desbotaram, uma ultima saúde! A taverneira ai nos contribuindo para que o público compreendesse a identidade
trouxe mais vinho: uma saúde! O fumo e a imagem do idealismo, e cultural brasileira.
o transunto de tudo quanto ha mais vaporoso naquele
espiritualismo que nos fala da imortalidade da alma! e pois, ao Trecho I
fumo das Antilhas, a imortalidade da alma! Casa do Juiz. Entra o JUIZ DE PAZ E (o) ESCRIVÃO.
—Bravo! bravo! JUIZ - Agora que estamos com a pança cheia, vamos trabalhar um
Um urrah tríplice respondeu ao moco meio ébrio. pouco. (ASSENTAM-SE À MESA)
Um conviva se ergueu entre a vozeria: contrastavam-lhe com ESCRIVÃO - Vossa Senhoria vai amanhã à cidade?
as faces de moco as rugas da fronte e a rouxidão dos lábios JUIZ - Vou, sim. Quero-me aconselhar com um letrado para saber
convulsos. Por entre os cabelos prateava-se-lhe o reflexo das luzes como hei-de despachar
do festim. Falou: alguns requerimentos que cá tenho.
—Calai-vos, malditos! a imortalidade da alma? pobres ESCRIVÃO - Pois Vossa Senhoria não sabe despachar?
doidos! e porque a alma e bela, porque não concebeis que esse JUIZ - Eu? Ora essa é boa! Eu entendo cá disso? Ainda quando é
ideal posse tornar-se em loco e podridão, como as faces belas da algum caso de embigada, passe; mas casos sérios, é outra cousa.
virgem morta, não podeis crer que ele morra? Doidos! nunca Eu lhe conto o que me ia acontecendo um dia. Um meu amigo me
velada levastes porventura uma noite a cabeceira de um cadáver? aconselhou que, tôdas as vêzes que eu não soubesse dar um
E então não duvidastes que ele não era morto, que aquele peito e despacho, que eu não soubesse dar um despacho, que desse o
aquela fronte iam palpitar de novo, aquelas pálpebras iam abrires, seguinte: "Não tem lugar." Um dia apresentaram-me um
que era apenas o ópio do sono que emudecia aquele homem? requerimento de certo sujeito, queixando-se que sua mulher não
Imortalidade da alma! e por que também não sonhar a das flores, a queria viver com êle, etc.
das brisas, a dos perfumes? Oh! não mil vezes! a alma não e, Eu, não sabendo que despacho dar, dei o seguinte: " Não tem
como a lua, sempre moca, nua e bela em sue virgindade eterna! a lugar." Isto mesmo é que queria a mulher; porém (o marido) fêz
vida não e mais que a reunião ao acaso das moléculas atraídas: o uma bulha de todos os diabos; foi à cidade, queixou-se ao
que era um corpo de mulher vai porventura transformar-se num Presidente, e eu estive quase não quase suspenso. Nada, não me
cipreste ou numa nuvem de miasmas; o que era um corpo do acontece outra.
verme vai alvejar-se no cálice da flor ou na fronte da criança mais ESCRIVÃO - Vossa senhoria não se envergonha, sendo um juiz de
loira e bela. Como Schiller o disse, o átomo da inteligência de paz?
Platão foi talvez pare o coração de um ser impuro. Pôr isso eu vo- JUIZ - Envergonhar-me de quê? O senhor ainda está muito de cor.
lo direi: se entendeis a imortalidade pela metempsicose, bem! Aqui para nós, que ninguém nos ouve, quantos juízes de direito há
talvez eu creia um pouco:— pelo Platonismo, não! por estas comarcas que não sabem aonde têm sua mão direita,
Álvares de Azevedo, Noite na Taverna
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Aula 16 - Romantismo No Brasil – Prosa

quanto mais juízes de paz... E além disso, cada um faz o que sabe. A corrente romântica indianista, além da ficção de José de Alencar,
(BATEM) encontrou também alta expressão
Quem é? a) na poesia de feitio lírico ou épico, como nos cantos de
MANUEL JOÃO - (dentro) "Um criado de Vossa Senhoria. Gonçalves Dias.
JUIZ - Pode entrar. b) na crônica de costumes, como as frequentadas pelos
Martins Pena, O Juiz de Paz na roça missionários do século XVI.
c) no teatro popular, como o desenvolvido por Martins Pena.
Trecho II d) na épica de recorte clássico, como a concebeu Tomás Antônio
Sala com uma porta no fundo, duas à direita e duas à esquerda, Gonzaga.
uma mesa com o que é e) na crítica satírica, como a elaborada por Gregório de Matos.
necessário para escrever-se, cadeiras, etc.
Paulina e Fabiana. Paulina junto à porta da esquerda e Fabiana no Questão 02 (Puccamp 2016)
meio da sala; mostram-se enfurecidas. Para responder à(s) questão(ões) a seguir, considere o texto
PAULINA (batendo o pé) - Hei de mandar!... abaixo.
FABIANA (no mesmo) - Não há de mandar!...
PAULINA (no mesmo) - Hei-de e hei-de mandar!... Há no Romantismo nacional uma expressão evidente do culto da
FABIANA - Não há-de e não há- de mandar!... nacionalidade, o qual, tomado num sentido mais amplo, se
PAULINA - Eu lho mostrarei. (Sai.) manifesta também em lutas pela afirmação da liberdade política e
FABIANA - Ai que estalo! Isto assim não vai longe... Duas determina a exaltação de valores e tradições. Esse sentimento é
senhoras a mandarem em uma casa... é o inferno! Duas senhoras? tomado também nos seus aspectos sociais, sob o apanágio dos
A senhora aqui sou eu; esta casa é de meu marido, e ela deve direitos do homem livre, razão de ser do movimento abolicionista e
obedecer-me, porque é minha nora. Quer também dar ordens; isso matéria para o romance, para o teatro e para a poesia da época.
veremos... (Adaptado de: CANDIDO, Antonio e CASTELLO, José Aderaldo.
PAULINA (aparecendo à porta) - Hei de mandar e hei de mandar, Presença da Literatura Brasileira I. Das origens ao Romantismo.
tenho dito! (Sai.) São Paulo: DIFE, 1974, p. 207-208)
FABIANA (arrepelando-se de raiva) - Hum! Ora, eis aí está para
que se casou meu filho, e trouxe a mulher para minha casa. É isto A evidência do culto da nacionalidade de que fala o texto pode ser
constantemente. Não sabe o senhor meu filho que comprovada no projeto de um copioso autor romântico, investido
quem casa quer casa... Já não posso, não posso, não posso! de seu papel de escritor brasileiro. Nesse projeto,
(Batendo com o pé:) Um dia arrebento, e então veremos! (Tocam a) José de Alencar busca alcançar épocas, espaços e culturas
dentro rabeca.) Ai, que lá está o outro com a maldita rabeca... É o distintas da nossa história.
que se vê: casa-se meu filho e traz a mulher para minha casa... É b) Machado de Assis abraça vários gêneros literários
uma desavergonhada, que se não pode aturar. Casa-se minha comprometidos com os vários regionalismos.
filha, e vem seu marido da mesma sorte morar comigo... É um c) Aluísio Azevedo dedica-se a estudar a fundo o que entendia por
preguiçoso, um indolente, que para nada serve. Depois que ouviu psicologia do caráter nacional.
no teatro tocar rabeca, deu-lhe a mania para aí, e leva todo o santo d) Manuel Antônio de Almeida estimulou, em suas crônicas, a
dia - vum,vum,vim,vim! Já tenho a alma esfalfada. (Gritando para a propagação de revoltas libertárias.
direita:) Ó homem, não deixarás essa maldita sanfona? Nada! e) Bernardo Guimarães investiu, em seus versos, contra o
(Chamando:) Olaia! (Gritando:) Olaia! despotismo dos mandatários portugueses.
Martins Pena, Quem casa, quer casa
Questão 03 (Ucs 2012)
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM José de Alencar, um dos mais importantes ficcionistas brasileiros
do século XIX, escreveu romances históricos, regionais, urbanos e
Questão 01 (Puccamp 2017) indianistas. Leia o fragmento do romance O Guarani, de José de
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Alencar.
José de Alencar retratou o seu herói goitacá em prosa, a Caía a tarde.
exemplo do que o escocês Walter Scott havia feito com os No pequeno jardim da casa do Paquequer, uma linda moça se
cavaleiros medievais na célebre novela Ivanhoé. Para evocar um embalançava indolentemente numa rede de palha presa aos ramos
mítico passado nacional, na falta dos briosos cavaleiros medievais de uma acácia silvestre [...].
de Scott, o índio seria o modelo de que Alencar lançaria mão. (...) Os grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se abriam
O índio entrara como tema na literatura universal por influência das languidamente como para se embeberem de luz [...].
ideias dos filósofos iluministas e especialmente, da obra de Jean- Os lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor da gardênia
Jacques Rousseau (...). As teses de Rousseau sobre o “bom dos nossos campos, orvalhada pelo sereno da noite [...].
selvagem”, por sua vez, bebiam na fonte das narrativas de Os longos cabelos louros, enrolados negligentemente em ricas
viajantes do século XVI, os primeiros europeus que haviam tranças, descobriam a fronte alva, e caíam em volta do pescoço
colocado os pés no chão americano. Foram esses viajantes os presos por uma rendinha finíssima de fios de palha cor de ouro. [...]
responsáveis pela propagação do juízo de que, do outro lado do Esta moça era Cecília.
oceano, existia um povo feliz, vivendo sem lei nem rei (...). (ALENCAR, José de. O guarani. 25. ed. São Paulo: Ática, 2001. p.
(NETO, Lira. O inimigo do Rei. Uma biografia de José de Alencar. 32.)
São Paulo: Globo, 2006. p. 166-167)

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161
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Em relação à obra O Guarani, ou ao fragmento acima descrito, escrava parece resignada ao lugar que ela ocupa na sociedade da
assinale a alternativa correta. época.
a) Neste trecho, a descrição de Cecília revela um ideal de beleza III. A obra A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, integra um
típico da sociedade do Brasil colonial. dos momentos cruciais do realismo literário brasileiro, no qual os
b) A visão de mundo realista está posta no retrato harmonioso autores se mostravam preocupados com a crítica social.
entre a beleza da jovem e a beleza da natureza brasileira.
c) No romance, um dos triângulos amorosos é formado por Cecília, Está/Estão correta(s) a(s) afirmativa(s)
Loredano e Isabel. a) I, apenas.
d) No fragmento, a languidez dos olhos de Cecília sugere um certo b) II, apenas.
erotismo, desvinculando a obra do movimento romântico. c) I e II, apenas.
e) Na obra, além da idealização da mulher, há elementos da d) II e III, apenas.
idealização do índio, personificado na figura de Peri. e) I, II, III.

Questão 04 (Fuvest 2009) Questão 06 (Pucpr 2016)


Em um poema escrito em louvor de "Iracema", Manuel Bandeira Alfredo Bosi, em sua História concisa da literatura brasileira, diz a
afirma que, ao compor esse livro, Alencar respeito de Inocência, de Visconde de Taunay:

"[...] escreveu o que é mais poema Por temperamento e cultura, o Visconde de Taunay tinha
Que romance, e poema menos condições para dar ao regionalismo romântico a sua versão mais
Que um mito, melhor que Vênus." sóbria. Homem de pouca fantasia, muito senso de observação,
formado no hábito de pesar com a inteligência as suas relações
Segundo Bandeira, em "Iracema", com a paisagem e o meio (era engenheiro, militar e pintor), Taunay
foi capaz de enquadrar a história de Inocência (1872) em um
a) Alencar parte da ficção literária em direção à narrativa mítica, cenário e em um conjunto de costumes sertanejos onde tudo é
dispensando referências a coordenadas e personagens históricas. verossímil. Sem que o cuidado de o ser turve a atmosfera agreste
b) o caráter poemático dado ao texto predomina sobre a narrativa e idílica que até hoje dá um renovado encanto à leitura da obra.
em prosa, sendo, por sua vez, superado pela constituição de um (BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2003, p.
mito literário. 144 -145).
c) a mitologia tupi está para a mitologia clássica, predominante no
texto, assim como a prosa está para a poesia. Com base no trecho acima, é possível dizer que:
d) ao fundir romance e poema, Alencar, involuntariamente, a) O romantismo de Visconde de Taunay é, de certa forma, um
produziu uma lenda do Ceará, superior à mitologia clássica. “realismo mitigado”.
e) estabelece-se uma hierarquia de gêneros literários, na qual o b) Visconde de Taunay, com Inocência, é o introdutor do realismo
termo superior, ou dominante, é a prosa romanesca, e o termo no Brasil.
inferior, o mito. c) Por sua pouca fantasia, Inocência não pode ser classificada
como obra do romantismo.
Questão 05 (Pucrs 2015) d) O senso de observação de Visconde de Taunay em Inocência o
Leia o trecho do romance A escrava Isaura, de Bernardo leva às portas do naturalismo.
Guimarães. e) A fantasia, aliada ao senso de observação, tornam esta obra o
– Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que és melhor representante do regionalismo ultrarromântico.
maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima de senhores
bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida que faria inveja Questão 07
a muita gente livre. Gozas da estima de teus senhores. Deram-te TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
uma educação como não tiveram muitas ricas e ilustres damas que “A escrava abandonada aos desprezos da escravidão, crescendo
eu conheço. És formosa, e tens uma cor linda, que ninguém dirá no meio da prática dos vícios mais escandalosos e repugnantes,
que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano. [...] desde a infância, desde a primeira infância testemunhando
– Mas senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais do que torpezas de luxúria, e ouvindo a eloquência lodosa da palavra sem
uma simples escrava? Essa educação que me deram e essa freio, fica pervertida muito antes de ter consciência de sua
beleza, que tanto me gabam, de que me servem?... São trastes de perversão, e não pode mais viver sem violenta imposição fora da
luxo colocados na senzala do africano. A senzala nem por isso atmosfera empestada de semelhantes costumes, e das suas ideias
deixa de ser o que é: uma senzala. sensuais; a mucama, pois, colocada ao pé da menina inocente,
– Queixas-te de tua sorte, Isaura? inexperiente e curiosa, leva-a, arrasta-a tanto quanto lhe é
– Eu não, senhora; não tenho motivo... o que quero dizer com possível, para a conversação que mais a encanta, para as ideias e
isto é que, apesar de todos esses dotes e vantagens que me os quadros do seu sensualismo brutal.
atribuem, sei conhecer o meu lugar. Além disso a mucama escrava, que é sempre escolhida entre as
mais inteligentes, compara-se com a senhora, e tendo muitas
Com base no texto e no contexto do qual o fragmento acima faz vezes presunção de excedê-la em dotes físicos, tem inveja da sua
parte, afirma-se: pureza e procura manchá-la para que ela não tenha essa auréola
I. De acordo com a primeira fala, a cor de Isaura é apontada como que nunca sentiu em si.
uma possível negação de sua origem africana. Finalmente, a mucama compreende por instinto que essa
II. Apesar de alguns questionamentos acerca da senzala, a profanação da inocência, essas conversações lúbricas que às

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162
Aula 16 - Romantismo No Brasil – Prosa

ocultas de seus pais a menina permite, estabelecem maiores e) A poesia de Álvares de Azevedo, como a dos outros românticos
condições de confiança, que lhe aproveitam, e por isso mesmo que brasileiros, define-se em torno de dois polos poéticos: a marcante
humilham a senhora, ensoberbecem a escrava. presença da natureza, explorada com destaque em Noites da
Lucinda era levada por todos esses sentimentos: mas taverna, e a constante viagem ao interior do sujeito para exprimir
principalmente pelo império que sobre ela tinha o demônio da sua dor e seus sentimentos.
luxúria.”
MACEDO, J. M. de. As vítimas-algozes: quadros da escravidão. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
4. ed. São Paulo: Zouk, 2005. p. 139-140
Questão 01 (UFRGS 2016)
O livro As Vítimas-Algozes, de Joaquim Manuel de Macedo, foi Assinale a alternativa correta sobre autores do Romantismo
escrito na segunda metade do século XIX, em 1869, 19 anos antes brasileiro.
da Abolição da Escravidão. Levando em conta as informações a) Gonçalves Dias, autor dos célebres Canção do exílio e I-Juca-
inferidas pela leitura do texto, assinale o item correto: Pirama, dedicou a maioria de seus poemas à temática da
a) O trecho, representativo da primeira geração do Romantismo, escravidão.
funciona como uma justificativa para a escravidão, visto que b) Joaquim Manuel de Macedo, em A Moreninha, afasta-se da
apresenta os escravos como moralmente degradados e danosos à estética romântica em muitos pontos, especialmente no tom
sociedade. paródico adotado pelo narrador que ridiculariza a sociedade
b) Ao retratar a degradação moral da escrava e sua influência burguesa fluminense.
sobre a senhora, o autor opõe-se à escravidão, mostrando como c) Álvares de Azevedo, em A noite na taverna, desvincula-se do
um sistema prejudicial à sociedade burguesa, utilizando as nacionalismo paisagista e indianista e ingressa no universo juvenil
mesmas justificativas que Castro Alves. da angústia, do erotismo e do sarcasmo.
c) Apesar de condenar a escravidão através da denúncia de seus d) Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um sargento de
malefícios, Macedo afasta-se da linha traçada por Castro Alves, ao milícias, vincula-se à estética romântica, em especial porque se
retratar o escravo não só como vítima, mas também como algoz. centra em personagens da classe média urbana fluminense.
d) Pelo trecho, percebe-se que Macedo antecipou-se ao Realismo, e) Castro Alves é o principal poeta do indianismo romântico, pois
ao mostrar a burguesia decadente, denunciando seus vícios morais toma o índio como figura prototípica da nacionalidade.
através da investigação psicológica.
e) Por ser obra de um autor romântico, é ausente do trecho Questão 02 (Pucpr 2016)
qualquer manifestação de teor Determinista na construção das
Alfredo Bosi, em sua História concisa da literatura brasileira, diz a
personagens, o que ressalta a culpabilidade da escrava.
respeito de Inocência, de Visconde de Taunay:
Questão 08 (Pucrs 2016)
Por temperamento e cultura, o Visconde de Taunay tinha
Leia o excerto abaixo, retirado da obra Macário, de Álvares de condições para dar ao regionalismo romântico a sua versão mais
Azevedo. sóbria. Homem de pouca fantasia, muito senso de observação,
formado no hábito de pesar com a inteligência as suas relações
(O DESCONHECIDO) Eu sou o diabo. Boa-noite, Macário. com a paisagem e o meio (era engenheiro, militar e pintor), Taunay
(MACÁRIO) Boa-noite, Satã. (Deita-se. O desconhecido sai). O foi capaz de enquadrar a história de Inocência (1872) em um
diabo! uma boa fortuna! Há dez anos que eu ando para encontrar cenário e em um conjunto de costumes sertanejos onde tudo é
esse patife! Desta vez agarrei-o pela cauda! A maior desgraça verossímil. Sem que o cuidado de o ser turve a atmosfera agreste
deste mundo é ser Fausto sem Mefistófeles. Olá, Satã! e idílica que até hoje dá um renovado encanto à leitura da obra.
(SATÃ) Macário. (BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2003, p.
(MACÁRIO) Quando partimos? 144 -145).
(SATÃ) Tens sono? Com base no trecho acima, é possível dizer que:
(MACÁRIO) Não. a) O romantismo de Visconde de Taunay é, de certa forma, um
(SATÃ) Então já. “realismo mitigado”.
(MACÁRIO) E o meu burro? b) Visconde de Taunay, com Inocência, é o introdutor do realismo
(SATÃ) Irás na minha garupa. no Brasil.
c) Por sua pouca fantasia, Inocência não pode ser classificada
Sobre o movimento literário em que se inscreve Álvares de como obra do romantismo.
Azevedo, é INCORRETO afirmar: d) O senso de observação de Visconde de Taunay em Inocência o
a) A representação de figuras do mundo sobrenatural também leva às portas do naturalismo.
constitui uma das características desse movimento, conforme se lê e) A fantasia, aliada ao senso de observação, tornam esta obra o
no excerto acima. melhor representante do regionalismo ultrarromântico.
b) José de Alencar é o autor de romances mais representativos
desse movimento, com obras como O Guarani, O sertanejo, As Questão 03 (Puccamp 2016)
minas de prata.
Costuma-se reconhecer que o Indianismo, na nossa literatura, é
c) A representação da nação, um dos temas do movimento em que
marcado por idealizações que emprestam uma espécie de glória
se inscreve a obra de Álvares de Azevedo, exaltou as belezas
artificial ao nosso passado como Colônia. Tais idealizações
naturais da terra brasileira.
I. consistem, basicamente, em atribuir aos nossos silvícolas
d) Os estados de alma em que o sujeito poético expressa seus
atitudes e valores herdados da aristocracia medieval, caros ao
sentimentos de tristeza, dor e angústia é tema recorrente no
ideário romântico.
movimento em que se inscreve a obra de Álvares de Azevedo.
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163
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

II. processam-se com base em fidedignos documentos históricos, fascinado pela serpente, vai declinando o lascivo talhe, que se
nos quais há registro detalhado dos usos e costumes das várias debruça enfim sobre o peito do guerreiro.
nações indígenas. José de Alencar, Iracema.
III. ocorreram como reação às tendências nacionalistas do nosso
Romantismo, que valorizavam sobretudo a vida urbana e os No texto, corresponde a uma das convenções com que o
valores burgueses. Indianismo construía suas representações do indígena
a) o emprego de sugestões de cunho mitológico compatíveis com o
Atende ao enunciado o que está em contexto.
a) I, II e III. b) a caracterização da mulher como um ser dócil e desprovido de
b) I e II, apenas. vontade própria.
c) II e III, apenas. c) a ênfase na efemeridade da vida humana sob os trópicos.
d) I e III, apenas. d) o uso de vocabulário primitivo e singelo, de extração oral-
e) I, apenas. popular.
e) a supressão de interdições morais relativas às práticas eróticas.
Questão 04 (Fuvest 2017)
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES Questão 07 (Fuvest 2017)
A adoção do cardápio indígena introduziu nas cozinhas e zonas Atente para as seguintes afirmações, extraídas e adaptadas de um
de serviço das moradas brasileiras equipamentos desconhecidos estudo do crítico Augusto Meyer sobre José de Alencar:
no Reino. Instalou nos alpendres roceiros a prensa de espremer I. “Nesta obra, assim como nos ‘poemas americanos’ dos nossos
mandioca ralada para farinha. Nos inventários paulistas é comum a poetas, palpita um sentimento sincero de distância poética e
menção de tal fato. No inventário de Pedro Nunes, por exemplo, exotismo, de coisa notável por estranha para nós, embora a
efetuado em 1623, fala-se num sítio nas bandas do Ipiranga “com rotulemos como nativa.”
seu alpendre e duas camarinhas no dito alpendre com a prensa no II. “Mais do que diante de um relato, estamos diante de um poema,
dito sítio” que deveria comprimir nos tipitis toda a massa cujo conteúdo se concentra a cada passo na magia do ritmo e na
proveniente do mandiocal também inventariado. Mas a farinha não graça da imagem.”
exigia somente a prensa – pedia, também, raladores, cochos de III. “O tema do bom selvagem foi, neste caso, aproveitado para um
lavagem e forno ou fogão. Era normal, então, a casa de fazer romance histórico, que reproduz o enredo típico das narrativas de
farinha, no quintal, ao lado dos telheiros e próxima à cozinha. capa e espada, oriundas da novela de cavalaria.”
Carlos A. C. Lemos, Cozinhas, etc.
É compatível com o trecho de Iracema aqui reproduzido,
Traduz corretamente uma relação espacial expressa no texto o que considerado no contexto dessa obra, o que se afirma em
se encontra em: a) I, apenas.
a) A prensa é paralela aos tipitis. b) III, apenas.
b) A casa de fazer farinha é adjacente aos telheiros. c) I e II, apenas.
c) As duas camarinhas são transversais à cozinha. d) II e III, apenas.
d) O alpendre é perpendicular às zonas de serviço. e) I, II e III.
e) O mandiocal e o Ipiranga são equidistantes do sítio.
Questão 08 (Fac. Pequeno Príncipe - Medicina 2016)
Questão 05 (Fuvest 2017) Leia as seguintes sentenças sobre a obra Iracema, de José de
Além de “tipitis”, constituem contribuição indígena para a língua Alencar.
portuguesa do Brasil as seguintes palavras empregadas no texto: I. Constitui obra de exaltação da flora e fauna brasileira, mas
a) “cardápio” e “roceiros”. apresenta o índio como representante de uma raça inferior e
b) “alpendre” e “fogão”. inculta.
c) “mandioca” e “Ipiranga”. II. A obra representa o mito alencariano composto pelo herói, o
d) “sítio” e “forno”. índio, resistente à colonização e à presença do ‘outro’, e o branco,
e) “prensa” e “quintal”. colonizador agressivo que deseja destruir o nativo.
III. A personagem Martim, representação do colonizador europeu,
Questão 06 (Fuvest 2017) apesar de seu amor por Iracema, resiste à cultura indígena e
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES rejeita a língua e os costumes nativos.
IV. A personagem Iracema, representação do índio exaltado pela
Nasceu o dia e expirou. literatura do período romântico, pode ser considerada um símbolo
Já brilha na cabana de Araquém o fogo, companheiro da noite. da terra mãe, o Brasil.
Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas, filhas da V. O romance apresenta, por meio de estilo lírico, uma idealização
lua, que esperam a volta da mãe ausente. do índio brasileiro.
Martim se embala docemente; e como a alva rede que vai e
vem, sua vontade oscila de um a outro pensamento. Lá o espera a Considerando-se as características da obra e os princípios
virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a virgem morena dos estéticos e ideológicos do período romântico brasileiro, pode-se
ardentes amores. afirmar que:
Iracema recosta-se langue ao punho da rede; seus olhos negros a) somente as sentenças I e II estão corretas.
e fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o estrangeiro, e lhe b) somente as sentenças III, IV e V estão corretas.
entram n’alma. O cristão sorri; a virgem palpita; como o saí, c) somente a sentença I está correta.

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Aula 16 - Romantismo No Brasil – Prosa

d) somente a sentença IV está correta. 16) Diferentemente de outras obras do Romantismo, praticamente
e) somente as sentenças IV e V estão corretas. não existem em Inocência referências à religião, quer nas falas das
personagens, quer nos comentários do narrador.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 32) O romance Inocência explora uma temática bastante comum
Mandara Pereira acender uma vela de sebo. Vinda a luz, no Romantismo, que é o amor impossível e trágico, mas a obra
aproximaram-se ambos do leito da enferma que, achegando ao tem alguns trechos de humor, como o episódio em que Meyer é
corpo e puxando para debaixo do queixo uma coberta de algodão atacado por formigas e tem que se despir.
de Minas, se encolheu toda, e voltou-se para os que entravam.
– Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez. Questão 10 (Puccamp 2017)
– Boas-noites, dona, saudou Cirino. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no seu José de Alencar retratou o seu herói goitacá em prosa, a
papel de médico, se sentava num escabelo junto à cama e tomava exemplo do que o escocês Walter Scott havia feito com os
o pulso à doente. cavaleiros medievais na célebre novela Ivanhoé. Para evocar um
Caía então luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto, parte do mítico passado nacional, na falta dos briosos cavaleiros medievais
colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por trás da de Scott, o índio seria o modelo de que Alencar lançaria mão. (...)
nuca. O índio entrara como tema na literatura universal por influência das
Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de ideias dos filósofos iluministas e especialmente, da obra de Jean-
beleza deslumbrante. Jacques Rousseau (...). As teses de Rousseau sobre o “bom
Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora selvagem”, por sua vez, bebiam na fonte das narrativas de
ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, viajantes do século XVI, os primeiros europeus que haviam
parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, colocado os pés no chão americano. Foram esses viajantes os
e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces. responsáveis pela propagação do juízo de que, do outro lado do
[...] oceano, existia um povo feliz, vivendo sem lei nem rei (...).
Ligeiramente enrubesceu Inocência e descansou a cabeça no (NETO, Lira. O inimigo do Rei. Uma biografia de José de Alencar.
travesseiro. São Paulo: Globo, 2006. p. 166-167)
– Por que amarrou esse lenço? perguntou em seguida o moço.
– Por nada, respondeu ela com acanhamento. A afirmação de que José de Alencar valeu-se do modelo heroico
– Sente dor de cabeça? dos cavaleiros medievais para compor personagens de cunho
– Nhor-não. nacionalista fez com que concebesse e apresentasse Peri,
– Tire-o, pois: convém não chamar o sangue; solte, pelo contrário, protagonista de O Guarani, como um
os cabelos. a) autêntico guerreiro goitacá.
Inocência obedeceu e descobriu uma espessa cabeleira, negra b) explorador aliado do colonizador.
como o âmago da cabiúna e que em liberdade devia cair até c) nativo com qualidades aristocráticas.
abaixo da cintura. Estava enrolado em bastas tranças, que davam d) lacaio valente de um nobre português.
duas voltas inteiras ao redor do cocoruto. e) pajé dotado de poderes sobrenaturais.
[...]
Não se descuidou Cirino, antes de se retirar, de novamente tomar Questão 11 (Enem 2009)
o pulso e, à conta de procurar a artéria, assentou toda a mão no No decênio de 1870, Franklin Távora defendeu a tese de que no
punho da donzela, envolvendo-lhe o braço e apertando-o Brasil havia duas literaturas independentes dentro da mesma
docemente. língua: uma do Norte e outra do Sul, regiões segundo ele muito
diferentes por formação histórica, composição étnica, costumes,
Saiu-se mal de tudo isso; porque, se tratava da cura de alguém, modismos linguísticos etc. Por isso, deu aos romances regionais
para si arranjava enfermidade e bem grave. que publicou o título geral de Literatura do Norte. Em nossos dias,
TAUNAY, A. d’E. Inocência. 3. ed. São Paulo: FTD, 1996. p. 57-58; um escritor gaúcho, Viana Moog, procurou mostrar com bastante
72. engenho que no Brasil há, em verdade, literaturas setoriais
Questão 09 (UFSC 2012) diversas, refletindo as características locais.
Com base no trecho acima e no romance Inocência e levando em CANDIDO, A. A nova narrativa. A educação pela noite e outros
consideração o contexto do Romantismo brasileiro, marque a(s) ensaios. São Paulo: Ática, 2003.
proposição(ões) CORRETA(S).
01) O episódio descrito no texto refere-se ao momento em que Com relação à valorização, no romance regionalista brasileiro, do
Cirino vê pela primeira vez Inocência e fica tão apaixonado pela homem e da paisagem de determinadas regiões nacionais, sabe-
moça que até sua atividade médica é afetada. se que
02) Dois atos de Cirino – pedir a Inocência que solte os cabelos e a) o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela temática
tomar-lhe o pulso logo depois de já tê-lo feito – podem ter sido essencialmente urbana, colocando em relevo a formação do
motivados não tanto por razões médicas, mas pelo desejo do rapaz homem por meio da mescla de características locais e dos
de ver melhor a moça e tocá-la. aspectos culturais trazidos de fora pela imigração europeia.
04) Inocência reúne algumas características bastante comuns em b) José de Alencar, representante, sobretudo, do romance urbano,
heroínas românticas: ousadia, agilidade, coragem e excepcional retrata a temática da urbanização das cidades brasileiras e das
beleza. relações conflituosas entre as raças.
08) No último parágrafo, percebe-se como Cirino é contagiado pela c) o romance do Nordeste caracteriza-se pelo acentuado realismo
malária, doença que acometia Inocência, vindo a ficar depois no uso do vocabulário, pelo temário local, expressando a vida do
gravemente enfermo.
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

homem em face da natureza agreste, e assume frequentemente o túmulo das glórias do passado. – Quem eu sou? Fui um poeta aos
ponto de vista dos menos favorecidos. vinte anos, um libertino aos trinta, sou um vagabundo sem pátria e
d) a literatura urbana brasileira, da qual um dos expoentes é sem crenças aos quarenta. Sentei-me à sombra de todos os sóis,
Machado de Assis, põe em relevo a formação do homem brasileiro, beijei lábios de mulheres de todos os países; e de todo esse
o sincretismo religioso, as raízes africanas e indígenas que peregrinar, só trouxe duas lembranças – um amor de mulher que
caracterizam o nosso povo. morreu nos meus braços na primeira noite de embriaguez e de
e) Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes Neto e Jorge febre – e uma agonia de poeta... Dela tenho uma rosa murcha e a
Amado são romancistas das décadas de 30 e 40 do século XX, fita que prendia seus cabelos. Dele olhai...
cuja obra retrata a problemática do homem urbano em confronto O velho tirou de um bolso um embrulho: era um lenço vermelho o
com a modernização do país promovida pelo Estado Novo. invólucro; desataram-no: dentro estava uma caveira.”
O trecho selecionado recupera a fala de um velho que interrompe a
Questão 12 (Enem Cancelado 2009) história, contada pelo jovem Bertram, um dos rapazes presentes na
O sertão e o sertanejo Taverna. As palavras dessa personagem expressam, nas
Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos, tão diversos entrelinhas,
pelo matiz das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do a) a confissão do arrependimento pela vida errante do passado e o
sol transforma-se em vicejante tapete de relva, quando lavra o desejo de um cotidiano mais regrado.
incêndio que algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia b) a descrição de cada um dos lugares por onde passou e viveu.
com uma faúlha do seu isqueiro. Minando à surda na touceira, c) a indignação frente à miséria e às injustiças presenciadas em
queda a vívida centelha. Corra daí a instantes qualquer aragem, todos os lugares visitados.
por débil que seja, e levanta-se a língua de fogo esguia e trêmula, d) a dificuldade de mostrar-se diante da plateia que escutava a
como que a contemplar medrosa e vacilante os espaços imensos narrativa de Bertram, o segundo, naquela noite, a relatar sua
que se alongam diante dela. O fogo, detido em pontos, aqui, ali, a trágica história.
consumir com mais lentidão algum estorvo, vai aos poucos e) o sofrimento de um amante e poeta que, durante toda a sua
morrendo até se extinguir de todo, deixando como sinal da peregrinação, não conseguiu realizar-se como Homem.
avassaladora passagem o alvacento lençol, que lhe foi seguindo os
velozes passos. Por toda a parte melancolia; de todos os lados Questão 14 (Unifesp 2016)
tétricas perspectivas. É cair, porém, daí a dias copiosa chuva, e A(s) questão(ões) a seguir focalizam uma passagem da comédia O
parece que uma varinha de fada andou por aqueles sombrios juiz de paz da roça do escritor Martins Pena (1815-1848).
recantos a traçar às pressas jardins encantados e nunca vistos. JUIZ (assentando-se): Sr. Escrivão, leia o outro requerimento.
Entra tudo num trabalho íntimo de espantosa atividade. ESCRIVÃO (lendo): Diz Francisco Antônio, natural de Portugal,
TAUNAY, Visconde de. Inocência. porém brasileiro, que tendo ele casado com Rosa de Jesus, trouxe
esta por dote uma égua. “Ora, acontecendo ter a égua de minha
O romance romântico teve fundamental importância na formação mulher um filho, o meu vizinho José da Silva diz que é dele, só
da ideia de nação. Considerando o trecho acima, é possível porque o dito filho da égua de minha mulher saiu malhado como o
reconhecer que uma das principais e permanentes contribuições seu cavalo. Ora, como os filhos pertencem às mães, e a prova
do Romantismo para construção da identidade da nação é a disto é que a minha escrava Maria tem um filho que é meu, peço a
a) possibilidade de apresentar uma dimensão desconhecida da V. Sa. mande o dito meu vizinho entregar-me o filho da égua que é
natureza nacional, marcada pelo subdesenvolvimento e pela falta de minha mulher”.
de perspectiva de renovação. JUIZ: É verdade que o senhor tem o filho da égua preso?
b) consciência da exploração da terra pelos colonizadores e pela JOSÉ DA SILVA: É verdade; porém o filho me pertence, pois é
classe dominante local, o que coibiu a exploração desenfreada das meu, que é do cavalo.
riquezas naturais do país. JUIZ: Terá a bondade de entregar o filho a seu dono, pois é aqui
c) construção, em linguagem simples, realista e documental, sem da mulher do senhor.
fantasia ou exaltação, de uma imagem da terra que revelou o JOSÉ DA SILVA: Mas, Sr. Juiz...
quanto é grandiosa a natureza brasileira. JUIZ: Nem mais nem meios mais; entregue o filho, senão, cadeia.
d) expansão dos limites geográficos da terra, que promoveu o (Martins Pena. Comédias (1833-1844), 2007.)
sentimento de unidade do território nacional e deu a conhecer os
lugares mais distantes do Brasil aos brasileiros. O efeito cômico produzido pela leitura do requerimento decorre,
e) valorização da vida urbana e do progresso, em detrimento do principalmente, do seguinte fenômeno ou procedimento linguístico:
interior do Brasil, formulando um conceito de nação centrado nos a) paródia. d) paráfrase.
modelos da nascente burguesia brasileira. b) intertextualidade. e) sinonímia.
c) ambiguidade.
Questão 13
Leia o trecho de Noite na taverna, de Álvares de Azevedo. Questão 15 (Unifesp 2016)
“– Quem eu sou? na verdade fora difícil dizê-lo: corri muito mundo, O emprego das aspas no interior da fala do escrivão indica que tal
a cada instante mudando de nome e de vida. Fui poeta e como trecho
poeta cantei. Fui soldado e banhei minha fronte juvenil nos últimos a) reproduz a solicitação de Francisco Antônio.
raios de sol da águia de Waterloo. b) recorre a jargão próprio da área jurídica.
Apertei ao fogo da batalha a mão do homem do século. Bebi numa c) reproduz a fala da mulher de Francisco Antônio.
taverna com Bocage – o português, ajoelhei-me na Itália sobre o d) é desacreditado pelo próprio escrivão.
túmulo de Dante e fui à Grécia para sonhar como Byron naquele e) deve ser interpretado em chave irônica.

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166
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula

Por força da corrente científica liderada por Charles Darwin – o


AULA 17 - REALISMO E NATURALISMO evolucionismo -, a arte realista-naturalista postula também que a
seleção natural do homem na sociedade é o veículo de
INTRODUÇÃO transformação. Vence o mais forte; o fraco acaba sendo explorado
Realismo e Naturalismo e esmagado.
“Devem-se encarar o Realismo e o Naturalismo como movimentos
estéticos específicos do século XIX. Porquanto, antes de se - O Socialismo Científico de Karl Marx e Friederich Engels –
concretizarem numa época histórica, eles eram categorias teoria científica que estimula as lutas de classe e a organização
estéticas ou temperamentos artísticos, tendências gerais da alma política do proletariado. É uma tentativa de resposta à exploração
humana em diversos tempos, como Classicismo e Romantismo, do operário nas fábricas e nos grandes centros urbanos. Nessa
surgindo o Realismo sempre que se dá a união do espírito à vida, teoria, Marx e Engels mostram o quanto o aspecto social está
pela objetiva pintura da realidade. (...) Do mesmo modo, o vinculado ao processo econômico e político.
Naturalismo existe sempre que se reage contra a espiritualização
excessiva, como em certas expressões do erotismo Barroco ou na REALISMO E NATURALISMO NO BRASIL
ficção naturalista do século XIX.” A partir do final da década de 1860, a produção literária brasileira
Afrânio Coutinho, A Literatura no Brasil já anunciava uma mudança na postura dos autores diante da
realidade, prenunciando o fim do Romantismo: Castro Alves,
O CONTEXT HISTÓRICO Sousândrade e Tobias Barreto faziam uma poesia romântica na
O Realismo reflete as profundas transformações econômicas, forma e na expressão, mas apresentando temas voltados para a
políticas, sociais e culturais da segunda metade do século XIX. A realidade político-social. Em 1872, José de Alencar, com Senhora,
Revolução Industrial, iniciada no Século XVIII, entra numa nova fazia uma severa crítica à burguesia.
fase, caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da Na década de 70 o Brasil passava por um conturbado
eletricidade. O capitalismo se estrutura em moldes modernos, com momento histórico, sob o signo do abolicionismo, do ideal
o surgimento de grandes complexos industriais, e resulta em um republicano e da crise da monarquia. Em ressonância a isso,
maior abismo entre ricos e pobres, formando uma população surge a chamada Escola de Recife, com Tobias Barreto, Sílvio
marginalizada que não partilha dos benefícios gerados pelo Romero e outros, aproximando-se das ideias europeias ligadas ao
progresso industrial, mas pelo contrário, é explorada e sujeita a Positivismo, ao Evolucionismo e, principalmente, à filosofia alemã.
condições subumanas de trabalho. Em 1857, o mesmo ano em que no Brasil era publicado O
Guarani, de José de Alencar, na França é publicado Madame
Esta nova sociedade motiva uma nova interpretação da realidade, Bovary, de Gustave Flaubert, considerado o primeiro romance
gerando teorias de variadas posturas ideológicas. Surgem, então, realista da literatura universal. Em 1865, Claude Bernard publica
diversas teorias científicas e filosóficas, que influenciarão não só a Introdução à medicina experimental, com uma tese sobre a
política, a economia, as ciências naturais, mas também a arte hereditariedade. Em 1867 Émile Zola publica Thérèse Raquim,
Realista e Naturalista: inaugurando o romance naturalista.
1881 é considerado o ano inaugural do Realismo no Brasil.
CIENTIFICISMO Nesse ano foram publicados dois livros que mudaram o curso da
- O Positivismo, de Auguste Comte – teoria científica que nossa literatura: Memórias Póstumas de Brás Cubas, o primeiro
defende posturas exclusivamente materialistas e que afirma só ser romance realista da nossa literatura, e O mulato, de Aluísio
válido o conhecimento passível ser provado cientificamente. Azevedo, primeiro romance naturalista do Brasil.
O pensamento positivista, elaborado por Auguste Comte,
estabelecia que o saber, baseado nas leis científicas, era superior
ao saber teológico ou metafísico. Foi uma forma de pensamento
que valorizou o progresso material como um elemento capaz de
eliminar os males sociais.

- O Determinismo de Hippolyte Taine – defende a tese de que o


comportamento humano é determinado por três fatores: o meio, a
raça, e o contexto histórico.
O Realismo e, sobretudo, o Naturalismo radicalizaram a teoria do
determinismo elaborado por Hipólito Taine: o homem é um produto
de leis físicas e sociais. A arte realista/naturalista vê o homem
como produto do meio ambiente em que vive: a raça, o meio, o
momento histórico – e como produto da cultura a que está sujeito.
Características Comuns Ao Realismo E Ao Naturalismo
- O Evolucionismo de Charles Darwin – teoria científica que Os escritores, diante desse quadro de mudanças ideológicas
mostra o processo de evolução das espécies a partir da seleção e sociais, sentem a necessidade de criar uma literatura sintonizada
natural, ou seja, “os fortes”, aqueles que têm condições de se com a nova realidade, capaz de abordá-la de modo mais objetivo e
adaptar as adversidades, sobrevivem, enquanto os mais fracos realista do que, até então, fazia o Romantismo.
morrem. As teorias científicas, as ideias de reformas políticas e de
revolução social exigiam dos escritores, por um lado, uma literatura

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Aula 17 - Realismo e Naturalismo
de ação, comprometida com a crítica e com a reforma da Eça de Queirós. Idealismo e realismo. In: Cartas inéditas de
sociedade, e de outro, uma abordagem mais profunda e complexa Fradique Mendes. Apud: SIMÕES, J. G.: Eça de Quirós – trechos
do ser humano, visto agora à luz dos conhecimento das correntes escolhidos. Rio de Janeiro, Agir, 1968.
científico-filosóficas da época.
Surge, então, o Realismo, que procura, na literatura, atender DIFERENÇAS ENTRE REALISMO E NATURALISMO
às necessidades impostas pelo novo contexto histórico-cultural. O Naturalismo é fortemente influenciado pela teoria
Assim, que o objetivismo aparece como negação do subjetivismo evolucionista de Charles Darwin. Por isso, vê o homem sempre
romântico e nos mostra o homem voltado para aquilo que está pelo lado biológico. Assim, para o naturalista o Homem se
diante e fora dele; o personalismo cede terreno para o comporta como um animal, guiado mais por seus instintos
universalismo. naturais do que pela razão.
Dessa forma, os personagens de romances realistas- O determinismo também é levado ao extremo no
naturalistas são, em geral, personagens esféricos e estão muito Naturalismo, que cria personagens e situações com o objetivo de
próximos das pessoas comuns, com seus problemas cotidianos. defender a tese segundo a qual o comportamento humano nada
Há, também, uma grande incidência de personagens tipificados, mais é do que o reflexo do meio e do context histórico em que
ou seja, personagens representativos de uma categoria: uma o homem vive (esse meio é composto por educação, pressão
empregada, um patrão, uma dona de casa, um agregado... Os social, o próprio meio ambiente etc.) e o homem, que ainda é
personagens típicos permitem estabelecer relações críticas entre o subjugado pelo fator hereditariedade física, estando preso a um
texto e a realidade histórica em que eles se insere, apresentando destino que ele não consegue mudar.
comportamentos e valores típicos, posturas padõres de classes O Naturalismo, portanto, aprofunda a visão científica do
específicas diante de determinadas realidades e situações. Realismo.
A linguagem é outra preocupação importante: ela deve ser simples,
direta, predominantemente denotative. A temática também é um dos pontos em que há diferenças
No Realismo e no Naturalismo, o materialismo leva à significativas entre o Naturalismo e o Realismo.
negação do sentimentalismo e da metafísica. O nacionalismo e a Os autores Naturalistas, sempre por meio de uma análise rigorosa
volta ao passado histórico perdem importância; os artistas só se do meio social e dos aspectos patológicos, trazem para sua obra
preocupam com o presente, com a contemporaneidade. temas como a miséria, a criminalidade, o alcoolismo e os
Realismo e naturalismo criticam fortemente a burguesia e todas problemas relacionados ao sexo como o adultério, a prostituição e
as instituições burguesas (escola, Igreja, Governo e, o homossexualismo feminino e masculino.
principalmente, a família, célula-mãe da sociedade). Esses temas são abordados, geralmente, por meio de
personagens que representam os grupos marginalizados da
CARACTERÍSTICAS DO REALISMO/NATURALISMO: sociedade.
- Concepção materialista da realidade: o homem, a natureza e o
universo estão intimamente associados num todo orgânico, sujeitos Trecho I
às mesmas leis naturais. Uma bela noite, porém, o Miranda, que era homem de sangue
- A realidade deve ser captada através da observação, esperto e orçava então pelos seus trinta e cinco anos, sentiu-se em
objetivamente, de modo imparcial, como faz o cientista em seu insuportável estado de lubricidade. Era tarde já e não havia em
laboratório. casa alguma criada que lhe pudesse valer.
- Os fatores psicológicos e sociais estão sujeitos às leis naturais; Lembrou-se da mulher, mas repeliu logo esta ideia com
nada têm de espirituais ou transcendentais. escrupulosa repugnância. Continuava a odiá-la. Entretanto este
- Preocupação em ser objetivo no trato dos personagens. mesmo fato de obrigação em que ele se colocou de não servir-se
- Retrata a vida contemporânea dos personagens, pois só a vida dela, a responsabilidade de desprezá-la, como que ainda mais lhe
do momento pode ser objeto de análise e observação. assanhava o desejo da carne, fazendo da esposa infiel um fruto
- A narrativa realista move-se lentamente e é cheia de pormenores, proibido.
usados propositalmente para retratar de modo mais fiel a realidade. Afinal, coisa singular, posto que moralmente nada diminuísse a sua
- Não existe o livre-arbítrio. O comportamento humano é motivado repugnância pela perjura, foi ter ao quarto dela.
por forças biológicas, atávicas e sociais. A mulher dormia a sono solto. Miranda entrou pé ante pé e
- Clareza e harmonia; correção gramatical; linguagem próxima da aproximou-se da cama. “Devia voltar!... pensou. Não lhe ficava
realidade. bem aquilo!...” Mas o sangue latejava-lhe, reclamando-a. Ainda
hesitou um instante, imóvel, a contemplá-la no seu desejo.
“Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o homem, Estela, como se o olhar do marido lhe apalpasse o corpo, torceu-se
inventava-o. Hoje o romance estuda-o na sua realidade social. sobre o quadril da esquerda, repuxando com as coxas o lençol
Outrora no drama, no romance, concebia-se o jogo das paixões a para a frente e patenteando uma nesga de nudez estofada e
priori; hoje analisa-se a posteriori, por processos tão exatos como branca. O Miranda não pôde resistir, atirou-se contra ela, que, num
os da própria fisiologia. Desde que se descobriu que a lei que rege pequeno sobressalto, mais de surpresa que de revolta, desviou-se,
os corpos brutos é a mesma que rege os seres vivos, que a tornando logo e enfrentando com o marido. E deixou-se empolgar
constituição intrínseca duma pedra obedeceu às mesmas leis que pelos rins, de olhos fechados, fingindo que continuava a dormir,
a constituição do espírito duma donzela, que há no mundo uma sem a menor consciência de tudo aquilo.
fenomenalidade única, que a lei que rege os movimentos dos Ah! ela contava como certo que o esposo, desde que não teve
mundos não difere da lei que rege as paixões humanas, o coragem de separar-se de casa, havia, mais cedo ou mais tarde,
romance, em lugar de imaginar, tinha simplesmente de observar. de procurá-la de novo. Conhecia-lhe o temperamento, forte para
(...) A arte tornou-se o estudo dos fenômenos vivos e não a desejar e fraco para resistir ao desejo.
idealização das imaginações inatas...”
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168
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Consumado o delito, o honrado negociante sentiu-se tolhido de verde, a açorda e o caldo de unto foram repelidos pelos ruivos e
vergonha e arrependimento. Não teve animo de dar palavra, e gostosos quitutes baianos, pela munqueca, pelo vatapá e pelo
retirou-se tristonho e murcho para o seu quarto de desquitado. Oh! caruru; a couve à mineira destronou a couve à portuguesa; o pirão
como lhe doía agora o que acabava de praticar na cegueira da sua de fubá ao pão de rala, e, desde que o café encheu a casa com o
sensualidade. seu aroma quente, Jerônimo principiou a achar graça no cheiro do
— Que cabeçada!... dizia ele agitado. Que formidável cabeçada!... fumo e não tardou a fumar também com os amigos.
No dia seguinte, os dois viram-se e evitaram-se em silêncio, como E o curioso é que quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes
se nada de extraordinário houvera entre eles acontecido na brasileiros, tanto mais os seus sentidos se apuravam, posto que
véspera. Dir-se-ia até que, depois daquela ocorrência, o Miranda em detrimento das suas forças físicas. Tinha agora o ouvido menos
sentia crescer o seu ódio contra a esposa. E, à noite desse mesmo grosseiro para a música, compreendia até as intenções poéticas
dia, quando se achou sozinho na sua cama estreita, jurou mil dos sertanejos, quando cantam à viola os seus amores infelizes;
vezes aos seus brios nunca mais, nunca mais, praticar semelhante seus olhos, dantes só voltados para a esperança de tornar à terra,
loucura. Mas, daí a um mês, o pobre homem, acometido de um agora, como os olhos de um marujo, que se habituaram aos largos
novo acesso de luxúria, voltou ao quarto da mulher. horizontes de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta
O Cortiço, Aluísio Azevedo luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte
dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem
Trecho II fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante, que o
Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, todos sol veste de ouro e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens tocam
os seus atos, todos, fosse o mais simples, visavam um interesse de alvos turbantes de cambraia, num luxo oriental de arábicos
pecuniário. Só tinha uma preocupação: aumentar os bens. Das príncipes voluptuosos.
suas hortas recolhia para si e para a companheira os piores O cortiço, Aluísio Azevedo
legumes, aqueles que, por maus, ninguém compraria; as suas
galinhas produziam muito e ele não comia um ovo, do que no Trecho IV
entanto gostava imenso; vendia-os todos e contentava-se com os Depois da refeição, Dona Isabel, que não estava habituada a tomar
restos da comida dos trabalhadores. Aquilo já não era ambição, era vinho, sentiu vontade de descansar o corpo; Léonie franqueou-lhe
uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular; um bom quarto, com boa cama, e, mal percebeu que a velha
de reduzir tudo a moeda. E seu tipo baixote, socado, de cabelos à dormia, fechou a porta pelo lado de fora, para melhor ficar em
escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a liberdade com a pequena.
venda, da venda às hortas e ao capinzal, sempre em mangas de Bem! Agora estavam perfeitamente a sós!
camisa, de tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, — Vem cá, minha flor!... disse-lhe, puxando-a contra si e deixando-
com o seu eterno ar de cobiça, apoderando-se, com os olhos, de se cair sobre um divã. Sabes? Eu te quero cada vez mais!... Estou
tudo aquilo de que ele não podia apoderar-se logo com as unhas. louca por ti!
O Cortiço, Aluísio Azevedo E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que
sufocavam a menina, enchendo-a de espanto e de um instintivo
Trecho III temor, cuja origem a pobrezinha, na sua simplicidade, não podia
Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, saber qual era.
uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois A cocote percebeu o seu enleio e ergueu-se, sem largar-lhe a mão.
dedos de parati “pra cortar a friagem”. — Descansemos nós também um pouco... propôs, arrastando-a
Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, para a alcova.
hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, Pombinha assentou-se, constrangida, no rebordo da cama e, toda
num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia perplexa, com vontade de afastar-se, mas sem animo de protestar,
afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. por acanhamento, tentou reatar o fio da conversa, que elas
A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora sustentavam um pouco antes, à mesa, em presença de Dona
aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se Isabel. Leonie fingia prestar-lhe atenção e nada mais fazia do que
dos seus primitivos sonhos de ambição; para idealizar felicidades afagar-lhe a cintura, as coxas e o colo. Depois, como que
novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e distraidamente, começou a desabotoar-lhe o corpinho do vestido.
franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, — Não! Para quê!... Não quero despir-me...
tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso resignando-se, — Mas faz tanto calor... Põe-te a gosto...
vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que — Estou bem assim. Não quero!
o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a — Que tolice a tua...! Não vês que sou mulher, tolinha?... De que
pátria contra os conquistadores aventureiros. tens medo?... Olha! Vou dar exemplo!
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus E, num relance, desfez-se da roupa, e prosseguiu na campanha.
hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. A menina, vendo-se descomposta, cruzou os braços sobre o seio,
A sua casa perdeu aquele ar sombrio e concentrado que a vermelha de pudor.
entristecia; já apareciam por lá alguns companheiros de estalagem, — Deixa! segredou-lhe a outra, com os olhos envesgados, a pupila
para dar dois dedos de palestra nas horas de descanso, e aos trêmula.
domingos reunia-se gente para o jantar. A revolução afinal foi E, apesar dos protestos, das súplicas e até das lágrimas da infeliz,
completa: a aguardente de cana substituiu o vinho; a farinha de arrancou-lhe a última vestimenta, e precipitou-se contra ela, a
mandioca sucedeu à broa; a carne-seca e o feijão-preto ao beijar-lhe todo o corpo, a empolgar-lhe com os lábios o róseo bico
bacalhau com batatas e cebolas cozidas; a pimenta-malagueta e a do peito.
pimenta-de-cheiro invadiram vitoriosamente a sua mesa; o caldo

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Aula 17 - Realismo e Naturalismo
— Oh! Oh! Deixa disso! Deixa disso! reclamava Pombinha Robustecer o intelecto desde o desabrochar da razão, perscrutar
estorcendo-se em cócegas, e deixando ver preciosidades de nudez com paciência, aturadamente, de dia, de noite, a todas as horas,
fresca e virginal, que enlouqueciam a prostituta. quase todos departamentos do saber humano, habituar o cérebro a
— Que mal faz?... Estamos brincando... demorar-se sem fadiga na análise sutil dos mais abstrusos
— Não! Não! balbuciou a vitima, repelindo-a. problemas da matemática transcendental, e cair de repente, com
— Sim! Sim! insistiu Léonie, fechando-a entre os braços, como os arcanjos de Milton, do alto do céu no lodo da terra, sentir-se
entre duas colunas; e pondo em contacto com o dela todo o seu ferida pelo aguilhão da carne, espolinhar-se nas concupiscências
corpo nu. do cio, como uma negra boçal, como uma cabra, como um animal
Pombinha arfava, relutando; mas o atrito daquelas duas grossas qualquer... era a suprema humilhação.
pomas irrequietas sobre seu mesquinho peito de donzela impúbere A Carne, Júlio Ribeiro
e o rogar vertiginoso daqueles cabelos ásperos e crespos nas
estações mais sensitivas da sua feminilidade, acabaram por Trecho VI
foguear-lhe a pólvora do sangue, desertando-lhe a razão ao rebate O amor é filho da necessidade tirânica, fatal, que tem todo o
dos sentidos. organismo de se reproduzir,
Agora, espolinhava-se toda, cerrando os dentes, fremindo-lhe a de pagar a dívida do antepassado segundo a fórmula bramática. A
carne em crispações de espasmo; ao passo que a outra, por cima, palavra amor é um eufemismo para abrandar um pouco a verdade
doida de luxúria, irracional, feroz, revoluteava, em corcovos de ferina da palavra cio. Fisiologicamente, verdadeiramente, amor e
égua, bufando e relinchando. cio vêm a ser uma coisa só. O início primordial do amor está, como
E metia-lhe a língua tesa pela boca e pelas orelhas, e esmagava- dizem os biólogos, na afinidade eletiva de duas células diferentes,
lhe os olhos debaixo dos seus beijos lubrificados de espuma, e ou melhor, de duas células diferentemente eletrizadas. A
mordia-lhe o lóbulo dos ombros, e agarrava-lhe convulsivamente o complexidade assombrosa do organismo humano converte essa
cabelo, como se quisesse arrancá-lo aos punhados. afinidade primitiva, que deveria ter sempre como resultado uma
Até que, com um assomo mais forte, devorou-a num abraço de criança, em uma batalha de nervos que, contrariada ou mal
todo o corpo, ganindo ligeiros gritos, secos, curtos, muito agudos, e dirigida, produz a cólera de Aquiles, os desmandos de Messalina,
afinal desabou para o lado, exânime, inerte, os membros atirados os êxtases de Santa Teresa. Não há recalcitrar contra o amor,
num abandono de bêbedo, soltando de instante a instante um força é ceder. À natureza não se resiste, e o amor é natureza. Os
soluço estrangulado. antigos tiveram uma intuição clara da verdade quando
A menina voltara a si e torcera-se logo em sentido contrário à simbolizaram em uma deusa formosíssima implacavelmente
adversária, cingindo-se rente aos travesseiros e abafando o seu vingativa, na Vênus Afrodite, o laço que prende os seres, a alma
pranto, envergonhada e corrida. que lhes dá vida.
A impudica, mal orientada ainda e sem conseguir abrir os olhos, Lenita se lhe oferecia, pois bem, ele seria o amante de Lenita.
procurou animá-la, ameigando-lhe a nuca e as espáduas. Mas A Carne, Júlio Ribeiro
Pombinha parecia inconsolável, e a outra teve de erguer-se a meio
e puxá-la como uma criança para o seu colo, onde ela foi ocultando Dica de Filme
o rosto, a soluçar baixinho.
O cortiço, Aluísio Azevedo

Trecho V
A cerviz taurina, os bíceps encaroçados, o tórax largo, a pélvis
estreita, os pontos retraídos das inserções musculares da estátua,
tudo parecia corresponder a um ideal plástico que lhe vivera
sempre latente no intelecto, e que despertava naquele momento,
revelando brutalmente a sua presença.
Lenita não se podia arredar, estava presa, estava fascinada.
Sentia-se fraca e orgulhava-se de sua fraqueza. Atormentava-a um
desejo de coisas desconhecidas, indefinido, vago, mas imperioso,
mordente. Antolhava-se-lhe que havia de ter gozo infinito se toda a
força do gladiador se desencadeasse contra ela, pisando-a,
machucando-a, triturando-a, fazendo-a em pedaços.
E tinha ímpetos de comer de beijos as formas masculinas
estereotipadas no bronze. Queria abraçar-se, queria confundir-se
com elas. De repente corou até à raiz dos cabelos.
Em um momento, por uma como intussuscepção súbita, aprendera
mais sobre si própria do que em todos os seus longos estudos de
fisiologia. Conhecera que ela, a mulher superior, apesar de sua
poderosa mentalidade, com toda a sua ciência, não passava, na Uma boa adaptação cinematográfica da obra de Machado de
espécie, de uma simples fêmea, e que o que sentia era o desejo, Assis
era a necessidade orgânica do macho.
Invadiu-a um desalento imenso, um nojo invencível de si própria.

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170
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM que esse gênero de negócio requeria, e não se pode


honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro
Questão 01 efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha
Leia atentamente: sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor
que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova
A Segunda Revolução Industrial, o cientificismo, o progresso irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e
tecnológico, o socialismo utópico, a filosofia positivista de Augusto irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o
Comte, o evolucionismo formam o contexto sócio-político- que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é
econômico-filosófico-científico em que se desenvolveu a estética que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora
realista. juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
O escritor realista acerca-se dos objetos e das pessoas de um ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro:
modo pessoal, apoiando-se na intuição e nos sentimentos. Nova Aguilar, 1992.
Os maiores representantes da estética realista-naturalista no Brasil
foram: Machado de Assis, Aluísio de Azevedo e Raul Pompéia. Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias
Podemos citar como características da estética realista: o póstumas de Brás Cubas condensa uma expressividade que
individualismo, a linguagem erudita e a visão fantasiosa da caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral
sociedade. de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina
a percepção irônica ao
Verificamos que em relação ao Realismo-Naturalismo está(estão) a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado
correta(s): na divisão da herança paterna.
a) apenas I e II b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade, com que
b) apenas I e III Cotrim prendia e torturava os escravos.
c) apenas II e IV c) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo
d) apenas II e III personagem quando da perda da filha Sara.
e) apenas III e IV d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e
membro remido de várias irmandades.
Questão 02 (Fuvest 2016) e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e
egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.
Nesse livro, ousadamente, varriam-se de um golpe o
sentimentalismo superficial, a fictícia unidade da pessoa humana,
Questão 04 (Uece 2014)
as frases piegas, o receio de chocar preconceitos, a concepção do
predomínio do amor sobre todas as outras paixões; afirmava-se a Capítulo CXIX / Parêntesis
possibilidade de construir um grande livro sem recorrer à natureza,
desdenhava-se a cor local; surgiram afinal homens e mulheres, e Quero deixar aqui, entre parêntesis, meia dúzia de máximas das
não brasileiros (no sentido pitoresco) ou gaúchos, ou nortistas, e, muitas que escrevi por esse tempo. 1São bocejos de enfado;
finalmente, mas não menos importante, patenteava-se a influência podem servir de epígrafe a discursos sem assunto.
inglesa em lugar da francesa. ***
2Suporta-se com paciência a cólica do próximo.

Lúcia Miguel-Pereira, História da Literatura Brasileira – Prosa de ***


3Matamos o tempo; o tempo nos enterra.
ficção – de 1870 a 1920. Adaptado.
***
O livro a que se refere a autora é Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem
a) Memórias de um sargento de milícias. seria diminuto, se todos andassem de carruagem.
b) Til. ***
c) Memórias póstumas de Brás Cubas. Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros.
d) O cortiço. ***
4Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo
e) A cidade e as serras.
com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro.
Questão 03 (Enem 2014) ***
5Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não
nuvens, que de um terceiro andar.
souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo
MACHADO DE ASSIS. In: MACHADO DE ASSIS. Memórias
fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário
Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1971 (Obra
de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguiam-no de
completa. v.I.) p. 617.
avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a
exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os
Escreva V ou F, conforme seja verdadeiro ou falso o que se diz
orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco
sobre o texto.
de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro.
( ) Na primeira máxima (ref. 2), a obviedade é um dos elementos
O único fato alegado neste particular era o de mandar com
responsáveis pela ironia.
frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer
( ) Na segunda máxima (ref. 3), a ironia se expressa por meio do
sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os
paradoxo.
fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em
( ) Na quinta máxima (ref. 4), a ironia se constrói pela quebra de
escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro
expectativa.
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171
Aula 17 - Realismo e Naturalismo
( ) Na sexta máxima (ref. 5), a ironia se instaura pela quebra de torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar
paralelismo, que leva à quebra de expectativa. gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do
caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra
A sequência correta, de cima para baixo, é: verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que
a) V – V – F – F. esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele,
b) V – V – V – V. assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras
c) F – F – V – V. embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para
d) F – V – V – F. lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor
setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer,
Questão 05 (Espm 2014) uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da
Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência
afrodisíaca.
Aluísio Azevedo, O cortiço.

O efeito expressivo do texto – bem como seu pertencimento ao


Naturalismo em literatura – baseia-se amplamente no
procedimento de explorar de modo intensivo aspectos biológicos
da natureza. Entre esses procedimentos empregados no texto, só
NÃO se encontra a
a) representação do homem como ser vivo em interação constante
com o ambiente.
b) exploração exaustiva dos receptores sensoriais humanos
(audição, visão, olfação, gustação), bem como dos receptores
mecânicos.
(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a c) figuração variada tanto de plantas quanto de animais, inclusive
sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da observados em sua interação.
mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no d) ênfase em processos naturais ligados à reprodução humana e à
europeu o macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, metamorfose em animais.
cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa, sua e) focalização dos processos de seleção natural como principal
congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a vo- força direcionadora do processo evolutivo.
lúpia, era o fruto dourado e acre destes sertões americanos, onde
a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu Questão 07 (Fuvest 2015)
corpo porejou o cheiro sensual dos bodes. Entre as características atribuídas, no texto, à natureza brasileira,
sintetizada em Rita Baiana, aquela que corresponde, de modo
(Aluísio Azevedo, O Cortiço) mais completo, ao teor das transformações que o contato com
essa mesma natureza provocará em Jerônimo é a que se expressa
Tendo em vista as características naturalistas e cientificistas, em:
sobretudo do Determinismo, que predominam no romance O a) “era o calor vermelho das sestas da fazenda”.
Cortiço, o trecho (assinale o item não pertinente): b) “era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma
outra planta”.
a) explicita a personagem que age de acordo com os impulsos c) “era o veneno e era o açúcar gostoso”.
característicos de sua raça. d) “era a cobra verde e traiçoeira”.
b) põe em evidência o zoomorfismo, em que se destacam os e) “[era] a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em
elementos instintivos de prazer, sensualidade e desejo. torno do corpo dele”.
c) faz alusão à competição entre os mais fortes (europeus) e os
mais fracos (brasileiros). Questão 08 (Fuvest 2015)
d) ressalta o homem sucumbindo aos fatores preponderantes do Para entender as impressões de Jerônimo diante da natureza
meio. brasileira, é preciso ter como pressuposto que há
e) condena veladamente o sexo e defende indiretamente os a) um contraste entre a experiência prévia da personagem e sua
princípios morais. vivência da diversidade biológica do país em que agora se
encontra.
Questão 06 (Fuvest 2015) b) uma continuidade na experiência de vida da personagem, posto
TEXTO PARA A(S) PRÓXIMA(S) QUESTÃO(ÕES) que a diversidade biológica aqui e em seu local de origem são
muito semelhantes.
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma c) uma ampliação no universo de conhecimento da personagem,
pelos olhos enamorados. que já tinha vivência de diversidade biológica semelhante, mas a
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das expande aqui.
impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente d) um equívoco na forma como a personagem percebe e vivencia a
do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o diversidade biológica local, que não comporta os organismos que
aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas ele julga ver.
matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não

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172
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

e) um estreitamento na experiência de vida do personagem, que personagem: a fala de Leonor não segue o registro linguístico
vem de um local com maior diversidade de ambientes e de adotado pelo narrador.
organismos. ( ) As personagens femininas descritas no trecho – e no
romance de maneira geral – são estereotipadas, respondem ao
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO imaginário da mulata sensual e ociosa, especialmente Bertoleza e
Rita Baiana.
Questão 01 (Enem 2012) ( ) O narrador em terceira pessoa simpatiza com as personagens
— É o diabo!... praguejava entre dentes o brutalhão, enquanto populares; tal simpatia está presente em todo o romance, nas
atravessava o corredor ao lado do Conselheiro, enfiando às inúmeras vezes em que a narração em terceira pessoa cede
pressas o seu inseparável sobretudo de casimira alvadia. — E o espaço para o diálogo entre escravos.
diabo! Esta menina já devia ter casado!
— Disso sei eu... balbuciou o outro. — E não é por falta de A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima
esforços de minha parte; creia! para baixo, é
— Diabo! Faz lástima que um organismo tão rico e tão bom para a) V – V – F – F. b) F – F – V – V. c) F – F – F – V.
procriar, se sacrifique desse modo! Enfim — ainda não é tarde; d) F – V – F – V. e) V – V – V – F.
mas, se ela não se casar quanto antes — hum... hum.. Não
respondo pelo resto! Questão 03 (Ufjf-pism 2 2015)
— Então o Doutor acha que...? TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
Lobão inflamou-se: Oh! o Conselheiro não podia imaginar o que (...)
eram aqueles temperamentozinhos impressionáveis!... eram O brasileiro tinha já recebido pauladas na testa, no pescoço,
terríveis, eram violentos, quando alguém tentava contrariá-los! Não nos ombros, nos braços, no peito, nos rins e nas pernas. O sangue
pediam — exigiam — reclamavam! inundava-o inteiro; ele rugia e arfava, iroso e cansado, investindo
AZEVEDO, A. O homem. Belo Horizonte: UFMG. 2003 ora com os pés, ora com a cabeça, e livrando-se daqui, livrando-se
(fragmento). dali, aos pulos e às cambalhotas.
A vitória pendia para o lado do português. Os espectadores
O romance O homem, de Aluísio Azevedo, insere-se no contexto aclamavam-no já com entusiasmo; mas, de súbito, o capoeira
do Naturalismo, marcado pela visão do cientificismo. No fragmento, mergulhou, num relance, até as canelas do adversário e surgiu-lhe
essa concepção aplicada à mulher define-se por uma rente dos pés, grupado nele, rasgando-lhe o ventre com uma
a) conivência com relação à rejeição feminina de assumir um navalhada.
casamento arranjado pelo pai. Jerônimo soltou um mugido e caiu de borco, segurando os
b) caracterização da personagem feminina como um estereótipo da intestinos.
mulher sensual e misteriosa. – Matou! Matou! Matou! exclamaram todos com assombro.
c) convicção de que a mulher é um organismo frágil e condicionado Os apitos esfuziaram mais assanhados.
por seu ciclo reprodutivo. Firmo varou pelos fundos do cortiço e desapareceu no
d) submissão da personagem feminina a um processo que a capinzal.
infantiliza e limita intelectualmente. – Pega! Pega!
e) incapacidade de resistir às pressões socialmente impostas, – Ai, o meu rico homem! ululou Piedade, atirando-se de
representadas pelo pai e pelo médico. joelhos sobre o corpo ensanguentado do marido. Rita viera
também de carreira lançar-se ao chão junto dele, para lhe afagar
Questão 02 (Ufrgs 2016) as barbas e os cabelos.
Leia o seguinte trecho de O cortiço. – É preciso o doutor! suplicou aquela, olhando para os lados à
procura de uma alma caridosa que lhe valesse.
A criadagem da família do Miranda compunha-se de Isaura, mulata Mas nisto um estardalhaço de formidáveis pranchadas
ainda moça, moleirona e tola, que gastava todo o vintenzinho que estrugiu no portão da estalagem. O portão abalou com estrondo e
pilhava em comprar capilé na venda de João Romão; uma gemeu.
negrinha virgem, chamada Leonor, muito ligeira e viva, lisa e seca – Abre! Abre! reclamavam de fora.
como um moleque, conhecendo de orelha, sem lhe faltar um termo, João Romão atravessou o pátio, como um general em perigo,
a vasta tecnologia da obscenidade, e dizendo, sempre que os gritando a todos:
caixeiros ou os fregueses da taverna, só para mexer com ela, lhe – Não entra a polícia! Não deixa entrar! Aguenta! Aguenta!
davam atracações: “Óia, que eu me queixo ao juiz de orfe!”; e (...)
finalmente o tal Valentim, filho de uma escrava que foi de Dona A polícia era o grande terror daquela gente, porque, sempre
Estela e a quem esta havia alforriado. que penetrava em qualquer estalagem, havia grande estropício; à
capa de evitar e punir o jogo e a bebedeira, os urbanos invadiam
Sobre o texto acima, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as os quartos, quebravam o que lá estava, punham tudo em
seguintes afirmações. polvorosa. Era uma questão de ódio velho.
( ) O fragmento reflete o tom geral do romance, no qual o AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 1990, p. 87-88.
narrador em terceira pessoa distancia-se das personagens
populares – especialmente as negras –, pois está atrelado às
reduções do cientificismo naturalista que antepõe raça superior a
raça inferior.
( ) A linguagem do narrador é diferente da linguagem da

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Aula 17 - Realismo e Naturalismo
Nas opções abaixo, todos os textos são de autoria de Oswald de Há umas plantas que nascem e crescem depressa; outras
Andrade, autor modernista, que criou uma ampla interpretação da são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; brotou com tal
cultura brasileira em poemas curtos e humorados. Assinale a ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta,
opção em que o poema de Oswald de Andrade descreve uma folhuda e exuberante criatura dos bosques. Não lhes poderei dizer,
situação similar àquela narrada no fragmento do romance O ao certo, os dias que durou esse crescimento. Lembra-me, sim,
cortiço. que, em certa noite, abotoou-se a flor, ou o beijo, se assim lhe
quiserem chamar, um beijo que ela me deu, trêmula, – coitadinha,
a) Os selvagens – trêmula de medo, porque era ao portão da chácara. Uniu-nos
Mostraram-lhes uma galinha esse beijo único, – breve como a ocasião, ardente como o amor,
1prólogo de uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de
Quase haviam medo dela 2prazeres que rematavam em dor, de aflições que desabrochavam
E não queriam pôr a mão
em alegria, – uma 3hipocrisia paciente e sistemática, único freio de
E depois a tomaram como espantados
uma 4paixão sem freio, – vida de agitações, de cóleras, de
b) Relicário desesperos e de ciúmes, que uma hora pagava à farta e de sobra;
No baile da Corte mas outra hora vinha e engolia aquela, como tudo mais, para
Foi o Conde d'Eu quem disse deixar à tona as agitações e o resto, e o resto do resto, que é o
Pra Dona Benvinda fastio e a saciedade: tal foi o 5livro daquele prólogo.
Que farinha de Suruí Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
Pinga de Parati
Fumo de Baependi Dentre os recursos expressivos empregados no texto, tem papel
preponderante a :
É comê bebê pitá e caí
a) metonímia (uso de uma palavra fora do seu contexto semântico
c) Pobre alimária normal, com base na relação de contiguidade existente entre ela e
O cavalo e a carroça o referente).
Estavam atravancados no trilho b) hipérbole (ênfase expressiva resultante do exagero da
E como o motorneiro se impacientasse significação linguística).
Porque levava os advogados para os escritórios c) alegoria (sequência de metáforas logicamente ordenadas).
Desatravancaram o veículo d) sinestesia (associação de palavras ou expressões em que
E o animal disparou ocorre combinação de sensações diferentes numa só impressão).
Mas o lesto carroceiro e) prosopopeia (atribuição de sentimentos humanos ou de palavras
Trepou na boleia a seres inanimados ou a animais).
E castigou o fugitivo atrelado
Questão 06 (Fuvest 2017)
Com um grandioso chicote
Considerado no contexto de Memórias póstumas de Brás Cubas, o
d) Crônica “livro” dos amores de Brás Cubas e Virgília, apresentado no breve
Era uma vez capítulo aqui reproduzido, configura uma
O mundo. a) demonstração da tese naturalista que postula o fundamento
biológico das relações amorosas.
e) O Capoeira b) versão mais intensa e prolongada da típica sequência de
– Qué apanhá sordado? animação e enfado, característica da trajetória de Brás Cubas.
– O quê? c) incorporação, ao romance realista, dos triângulos amorosos,
– Qué apanhá? cuja criação se dera durante o período romântico.
Pernas e cabeças na calçada. d) manifestação da liberdade que a condição de defunto-autor dava
a Brás Cubas, permitindo-lhe tratar de assuntos proibidos em sua
Questão 04 (Ufjf-pism 2 2015) época.
A frase “Era uma questão de ódio velho”, que conclui o fragmento e) crítica à devassidão que grassava entre as famílias da elite do
citado do romance O cortiço, de Aluísio de Azevedo, revela um Império, em particular, na Corte.
problema das relações sociais no Brasil, que fica melhor
caracterizado como: Questão 07 (Fuvest 2017)
a) a indefinição entre ordem pública e vida privada. No último período do texto, o ritmo que o narrador imprime ao
b) a violência do Estado contra as classes populares. relato de seus amores corresponde, sobretudo, ao que se encontra
c) as manifestações populares contra a polícia. expresso em
d) a violência pelo uso de armas de fogo. a) “prólogo de uma vida de delícias” (ref. 1).
e) a falta de acesso do povo à cultura. b) “prazeres que rematavam em dor” (ref. 2).
c) “hipocrisia paciente e sistemática” (ref. 3).
Questão 05 (Fuvest 2017) d) “paixão sem freio” (ref. 4).
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES: e) “o livro daquele prólogo” (ref. 5).
CAPÍTULO LIII

Virgília é que já se não lembrava da meia dobra; toda ela


estava concentrada em mim, nos meus olhos, na minha vida, no
meu pensamento; – era o que dizia, e era verdade.
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174
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 08 (Enem 2014) nas referências 1, 2 e 3 respectivamente, assumem uma


O mulato conotação positiva para a mulher de Jerônimo, ao definirem o
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero espaço da felicidade perdida na velha terra.
dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de francês e tocava III. As ações dos animais, pintadas com os tons fortes do
modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era estúpida; Naturalismo, narram os perigos que Jerônimo e sua mulher vivem
tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes na selva.
lamentara não ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de
IV. A expressão "lá", nas referências 4 e 5, indica o espaço das
agulha; bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha
virtudes do marido, da paz doméstica e de uma vida simples e
de contralto que fazia gosto de ouvir.
Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: tranquila.
“Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corretas apenas
nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que a) I e III. b) II e III. c) III e IV.
estrangulava todas as outras ideias. d) I, II e IV. e) II, III e IV.
– Mulato!
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos Questão 10 (Ufsm 2015)
escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele. Bom-Crioulo não pensou em dormir, cheio, como estava, de ódio e
Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as desespero. [...]
reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva e Amigado, o Aleixo! [...] Amigar-se, viver com uma mulher, sentir o
a cautela dos que, em sua presença, discutiam questões de raça e contato de outro corpo que não o seu, deixar-se beijar, morder, nas
de sangue. ânsias do gozo, por outra pessoa que não o Bom-Crioulo!...
AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996 (fragmento). Agora é que tinha um desejo enorme, uma sofreguidão louca de
vê-lo rendido, a seus pés [...] As palavras de Herculano (aquela
O texto de Aluísio Azevedo é representativo do Naturalismo, história do grumete com uma rapariga) tinham-lhe despertado o
vigente no final do século XIX. Nesse fragmento, o narrador sangue, fora como uma espécie de urtiga brava arranhando-lhe a
expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois pele, excitando-o, enfurecendo-o de desejo. [...] Não, não era
a) relaciona a posição social a padrões de comportamento e à somente o gozo comum, a sensação ordinária, o que ele queria
condição de raça. depois das palavras de Herculano: era o prazer brutal, doloroso,
b) apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no fora de todas as leis, de todas as normas...
século XIX. Fonte: CAMINHA, 2002. p. 108-109.
c) mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de saberes
entre homens e mulheres. No trecho destacado, predominam as seguintes características da
d) ilustra os diferentes modos que um indivíduo tinha de ascender narrativa de Adolfo Caminha:
socialmente. a) a temática da sexualidade e a análise detalhista do meio.
e) critica a educação oferecida às mulheres e os maus-tratos b) a temática da sexualidade e a prevalência do instinto sobre a
dispensados aos negros. razão.
c) a prevalência do instinto sobre a razão e a análise detalhista do
Questão 09 (Pucrs 2007) meio.
Para responder à questão, leia o fragmento do romance "O d) a corrupção moral e religiosa e a análise social da personagem.
cortiço", de Aluísio Azevedo e as afirmativas que seguem. e) a temática da sexualidade e o dilema ético do protagonista.
E maldizia soluçando a hora em que saíra da sua terra; essa boa
Questão 11 (PUCRS 2008)
terra 1cansada, velha como que 2enferma; essa boa terra tranquila,
sem sobressaltos nem desvarios de juventude. Sim, lá os campos O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias
eram 3frios e melancólicos, de um verde alourado e quieto, e não acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas só um
ardentes e esmeraldinos e afogados em tanto sol e em tanto ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer
perfume como o deste inferno, onde em cada folha que se pisa há compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas;
debaixo um réptil venenoso, como em cada flor que desabotoa e ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se.
em cada moscardo que adeja há um vírus de lascívia. Lá, nos Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de
saudosos campos da sua terra, não se ouvia em noites de lua clara plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e
roncar a onça e o maracajá, nem pela manhã ao romper do dia, nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação
rilhava o bando truculento das queixadas, lá não varava pelas de respirar sobre a terra.
florestas a anta feia e terrível, quebrando árvores; lá a sucuruju não Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como
chocalhava a sua campainha fúnebre, anunciando a morte, nem a formigas; fazendo compras.
coral esperava traidora o viajante descuidado para lhe dar o bote Sobre o texto, afirma-se:
certeiro e decisivo; 4lá o seu homem não seria anavalhado pelo I. O lugar é descrito por meio de ações e sensações que remetem
ciúme de um capoeira; 5lá Jerônimo seria ainda o mesmo esposo à presença humana.
casto, silencioso e meigo; seria o mesmo lavrador triste e II. A imagem do formigueiro pode ser associada ao contexto que
contemplativo como o gado que à tarde levanta para o céu de automatiza as pessoas.
opala o seu olhar humilde, compungido e bíblico. III. As referências às sensações auditivas remetem a aspectos
I. A diferença entre a velha e a nova terra é marcada pela força da individuais das personagens.
IV. A vida na pequena comunidade harmoniza-se com a natureza.
natureza que transforma a vida e o comportamento do homem.
II. Expressões como "cansada", "enferma", "frios e melancólicos",
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Aula 17 - Realismo e Naturalismo
As afirmativas corretas são: Questão 13 (Fuvest 2012)
a) I e II, apenas. Os costumes a que adere Jerônimo em sua transformação,
b) I e III, apenas. relatada no excerto, têm como referência, na época em que se
c) II e IV, apenas. passa a história, o modo de vida
d) III e IV, apenas. a) dos degredados portugueses enviados ao Brasil sem a
e) I, II, III e IV. companhia da família.
b) dos escravos domésticos, na região urbana da Corte, durante o
Questão 12 (Fuvest 2012) Segundo Reinado.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES c) das elites produtoras de café, nas fazendas opulentas do Vale
Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, do Paraíba fluminense.
uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e 1tragava dois d) dos homens livres pobres, particularmente em região urbana.
dedos de parati 2“pra cortar a friagem”. e) dos negros quilombolas, homiziados em refúgios isolados e
Uma 3transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, anárquicos.
hora a hora, 4reviscerando-lhe o corpo e 5alando-lhe os sentidos,
num 6trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia Questão 14 (Fuvest 2012)
afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida Considere as seguintes afirmações, relacionadas ao excerto de O
americana e a natureza do Brasil 7patenteavam-lhe agora aspectos cortiço:
imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus I. O sol, que, no texto, se associa fortemente ao Brasil e à “pátria”,
primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicidades novas, é um símbolo que percorre o livro como manifestação da natureza
picantes e violentas; 8tornava-se liberal, imprevidente e franco, tropical e, em certas passagens, representa o princípio masculino
mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava da fertilidade.
gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, 9resignando-se, II. A visão do Brasil expressa no texto manifesta a ambiguidade do
vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que intelectual brasileiro da época em que a obra foi escrita, o qual
o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a acatava e rejeitava a sua terra, dela se orgulhava e envergonhava,
pátria contra os conquistadores aventureiros. nela confiava e dela desesperava.
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus III. O narrador aceita a visão exótico-romântica de uma natureza
hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. (brasileira) poderosa e transformadora, reinterpretando-a em chave
(...) naturalista.
E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes
brasileiros, tanto mais os seus sentidos se apuravam, 10posto que Aplica-se ao texto o que se afirma em
em detrimento das suas forças físicas. Tinha agora o ouvido menos a) I, somente.
grosseiro para a música, compreendia até as intenções ,poéticas b) II, somente.
dos sertanejos, quando cantam à viola os seus amores infelizes; c) II e III, somente.
seus olhos, dantes só voltados para a esperança de tornar à terra, d) I e III, somente.
agora, como os olhos de um marujo, que se habituaram aos largos e) I, II e III.
horizontes de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta
luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte Questão 15 (Fuvest 2012)
11dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras
Um traço cultural que decorre da presença da escravidão no Brasil
sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante, e que está implícito nas considerações do narrador do excerto é a
que o sol veste de ouro e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens a) desvalorização da mestiçagem brasileira.
toucam de alvos turbantes de cambraia, num luxo oriental de b) promoção da música a emblema da nação.
arábicos príncipes voluptuosos. c) desconsideração do valor do trabalho.
Aluísio Azevedo, O cortiço. d) crença na existência de um caráter nacional brasileiro.
e) tendência ao antilusitanismo.
Ao comparar Jerônimo com uma crisálida, o narrador alude, em
linguagem literária, a fenômenos do desenvolvimento da borboleta,
por meio das seguintes expressões do texto:
I. “transformação, lenta e profunda” (ref.3);
II. “reviscerando” (ref.4);
III. “alando” (ref.5);
IV. “trabalho misterioso e surdo” (ref.6).

Tais fenômenos estão corretamente indicados em


a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula

complexidade humana, revelando contradições internas,


AULA 18 - REALISMO – MACHADO DE ambiguidades, crises existenciais e contrastes entre essência e
ASSIS aparência.
Assim, avultam personagens hipócritas, dissimulados, que, para
transitar com competência pelo meio social em que se inserem e
alcançar seus objetivos, precisam mentir, mascarar seus reais
interesses, camuflar suas ações.
O principal interesse de Machado é pelo o Humano, por nossa
complexidade, pela profusão de sentimentos que motivam nossas
ações: amor, ciúme, insegurança, vaidade, ambição, cobiça, medo,
devoção, instinto de sobrevivência, sadismo... Seus personagens
refletem a humanidade, no que lhe é atemporal e universal.
Machado, ao contrário dos naturalistas, entende que nenhum
“ismo”, seja ele científico, filosófico, ou religioso é capaz de definir
o ser humano; por isso despreza a visão fatalista da existência e a
extrema objetividade que marcou o Naturalismo e assume uma
postura mais cética, mais questionadora.
Mas Machado é também um analista social. Suas obras
desmascaram a burguesia, criticam suas instituições, refletem a
sociedade brasileira do final do século XIX, com o que ela tinha de
reflexo daquele período histórico, mas também com aquilo que
perduraria na nossa estrutura social pelos séculos posteriores.

BIBLIOGRAFIA: CARACTERÍSTICAS GERAIS DO REALISMO DE MACHADO DE


ASSIS
Poesia - Visão crítica da realidade, rompendo com a idealização
Crisálidas, 1864; Falenas, 1870; Americanas, 1875; Poesias romântica.
completas, 1901. “Virgília? Mas então era a mesma senhora que alguns
anos depois?... A mesma; era justamente a senhora, que em 1869
Romance devia assistir aos meus últimos dias, e que antes, muito antes, teve
Românticos: Ressurreição, 1872; A mão e a luva, 1874; Helena, larga parte nas minhas mais íntimas sensações. Naquele tempo
1876; Iaiá Garcia, 1878. contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais
Realistas: Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881; Quincas atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais
Borba, 1891; voluntariosa. Não digo que ia lhe coubesse a primazia da beleza,
Dom Casmurro, 1899; Esaú Jacó, 1904; Memorial de Aires, 1908. entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o
autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e
Conto: espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto
Contos Fluminenses,1870; Histórias da meia-noite, 1873; Papéis nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos
avulsos, 1882; Histórias sem data, 1884; Várias histórias, 1896; da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o
Páginas recolhidas, 1899; Relíquias de casa velha, 1906. indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril,
Teatro cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma
Queda que as mulheres têm para os tolos, 1861; Desencantos, devoção, — devoção, ou talvez medo; creio que medo.” –
1861; Hoje avental, amanhã luva, 1861; O caminho da porta, 1862; Memórias Póstumas de Brás Cubas
O protocolo, 1862; Quase ministro, 1863; Os deuses de casaca,
1865; Tu, só tu, puro amor, 1881. - Visão objetiva e pessimista da vida, do mundo e das
pessoas.
“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a
celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não
conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas,
coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu
rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a
semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras,
qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e
MACHADO DE ASSIS E O REALISMO PSICOLÓGICO conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal;
Com Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881, Machado de porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um
Assis não só inaugurou o Realismo no Brasil, como introduziu, em pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de
nossa literatura, o romance psicológico. Machado mergulha nos negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o
pensamentos dos personagens, expondo-os e expondo toda a legado da nossa miséria.” – Memórias Póstumas de Brás Cubas

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Aula 18 – Realismo – Machado De Assis
“— Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando à papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar
missa, viu entrar a dama, que devia ser sua colaboradora na vida beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas
de D. Plácida. deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que
Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou, eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai
disse-lhe alguma graça, pisou-lhe o pé, ao acender os altares, nos tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à
dias de festa. Ela gostou dele, acercaram-se, amaram-se. Dessa vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-
conjunção de luxúrias vadias brotou D. Plácida. É de crer que D. me beijos.
Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a
dizer aos autores de seus dias: — Aqui estou. Para que me quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus;
chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente lhe mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se
responderiam. — Chamamos-te para queimar os dedos nos não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes
tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de puxei pelo rabicho das cabeleiras.
um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de Outrossim, afeiçoei-me à contemplação da injustiça humana,
tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, inclinei-me a atenuá-la, a explicá-la, a classifiquei-a por partes, a
amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos entendê-la, não segundo um padrão rígido, mas ao sabor das
na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso circunstâncias e lugares. Minha mãe doutrinava-me a seu modo,
que te chamamos, num momento de simpatia.” – Memórias fazia-me decorar alguns preceitos e orações; mas eu sentia que,
Póstumas de Brás Cubas mais do que as orações, me governavam os nervos e o sangue, e
a boa regra perdia o espírito, que a faz viver, para se tornar uma vã
“Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras fórmula. De manhã, antes do mingau, e de noite, antes da cama,
humanas, sejam velhas ou novas. Onze meses depois, Ezequiel pedia a Deus que me perdoasse, assim como eu perdoava aos
morreu de uma febre tifoide, e foi enterrado nas imediações de meus devedores; mas entre a manhã e a noite fazia uma grande
Jerusalém, onde os dois amigos da universidade lhe levantaram maldade, e meu pai, passado o alvoroço, dava-me pancadinhas na
um túmulo com esta inscrição, tirada do profeta Ezequiel, em cara, e exclamava a rir: Ah! brejeiro! ah! brejeiro!
grego: "Tu eras perfeito nos teus caminhos”. Mandaram-me ambos Sim, meu pai adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de
os textos, grego e latino, o desenho da sepultura, a conta das pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente
despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o triplo para piedosa, — caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de
não tornar a vê-lo. abastada; temente às trovoadas e ao marido. O marido era na
Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Terra o seu deus. Da colaboração dessas duas criaturas nasceu a
Vulgata, e achei que era exato, mas tinha ainda um complemento: minha educação, que, se tinha alguma coisa boa, era no geral
"Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia da tua criação”. viciosa, incompleta, e, em partes, negativa.
Parei e perguntei calado: "Quando seria o dia da criação de (...)
Ezequiel?" Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério para O que importa é a expressão geral do meio doméstico, e essa aí
ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui fica indicada, — vulgaridade de caracteres, amor das aparências
ao teatro.” – Dom Casmurro rutilantes, do arruído, frouxidão da vontade, domínio do capricho, e
o mais. Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor.” –
- Crítica irônica das situações humanas, das relações entre as Memórias Póstumas de Brás Cubas
pessoas e dos padrões de comportamento. Casamento,
família, religião (ideias burguesas) são envenenados pelo *Relações Amorosas: “Teve duas fases a nossa paixão, ou
interesse, pelas segundas intenções e pela malícia. ligação, ou qualquer outro nome, que eu de nomes não curo, teve
a fase consular e a fase imperial. Na primeira, que foi curta,
*Família: “Cresci; e nisso é que a família não interveio; cresci regemos o Xavier e eu, sem que ele jamais acreditasse dividir
naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos. Talvez os comigo o governo de Roma; mas, quando a credulidade não pôde
gatos são menos matreiros, e com certeza, as magnólias são resistir à evidência, o Xavier depôs as insígnias, e eu concentrei
menos inquietas do que eu era na minha infância. Um poeta dizia todos os poderes na minha mão; foi a fase cesariana.
que o menino é pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns Era meu o universo; mas, ai triste! não o era de graça. Foi-me
lineamentos do menino. preciso coligir dinheiro, multiplicá-lo, inventá-lo. Primeiro explorei as
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e larguezas de meu pai; ele dava-me tudo o que eu lhe pedia, sem
verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do repreensão, sem demora, sem frieza; dizia a todos que eu era
meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por rapaz e que ele o fora também. Mas a tal extremo chegou o abuso,
exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me que ele restringiu um pouco as franquezas, depois mais, depois
negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não mais. Então recorri a minha mãe, e induzi-a a desviar alguma
contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, coisa, que me dava às escondidas. Era pouco; lancei mão de um
não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é recurso último: entrei a sacar sobre a herança de meu pai, a
que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. assinar obrigações, que devia resgatar um dia com usura.
Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os ...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis;
dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à nada menos.” – Memórias Póstumas de Brás Cubas
guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão,
fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, — * Educação: “Não digo que a Universidade me não tivesse
algumas vezes gemendo, — mas obedecia sem dizer palavra, ou, ensinado alguma; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o
quando muito, um — “ai, nhonhô!” — ao que eu retorquia: — “Cala vocabulário, o esqueleto. Tratei-a como tratei o latim – embolsei
a boca, besta!” — Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de três versos de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

morais e política para as despesas da conversação. Tratei-os como - Na obra de Machado, as mulheres são dissimuladas,
tratei a história e a jurisprudência. Colhi de todas as coisas a ambíguas, sensuais e, principalmente, astuciosas.
fraseologia, a casca, a ornamentação (...)" - Memórias Póstumas “Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu?
de Brás Cubas Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim.
Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com
- Análise psicológica profunda das contradições humanas, as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo.
revelando dramas e conflitos internos. Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados,
os olhos de uma na linha da boca do outro. Pedi-lhe que
“Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço.
Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu.
janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava — Levanta, Capitu!
aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar
pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus,
era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, e...
para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida,
amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a eu recuei até à parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os
enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas olhos escuros. Quando eles me clarearam, vi que Capitu tinha os
até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade. seus no chão. Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse,
— Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, faltava-me língua. Preso, atordoado, não achava gesto nem ímpeto
pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, que me descolasse da parede e me atirasse a ela com mil palavras
apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos cálidas e mimosas... Não mofes dos meus quinze anos, leitor
morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia precoce. Com dezessete, Des Grieux (e mais era Des Grieux) não
uma desgraça...” – pensava ainda na diferença dos sexos.
Quincas Borba Ouvimos passos no corredor; era D. Fortunata. Capitu
compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à
“Só me falara na doença, como negócio simples; mas o porta, ela abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo,
chamado, o silêncio, os suspiros podiam dizer alguma coisa mais. nenhuma contração de acanhamento, um riso espontâneo e claro,
O coração batia-me com força, as pernas bambeavam-me, mais de que ela explicou por estas palavras alegres:
uma vez cuidei cair... — Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me
O anseio de escutar a verdade complicava-se em mim penteou; pediu-me para acabar o penteado, e fez isto. Veja que
com o temor de a saber. Era a primeira vez que a morte me tranças!
aparecia assim perto, me envolvia, me encarava com os olhos — Que tem? acudiu a mãe, transbordando de
furados e escuros. Quanto mais andava aquela Rua dos Barbonos, benevolência. Está muito bem, ninguém dirá que é de pessoa que
mais me aterrava a ideia de chegar a casa, de entrar, de ouvir os não sabe pentear.
prantos, de ver um corpo defunto... Oh! eu não poderia nunca — O que, mamãe? Isto? redarguiu Capitu, desfazendo as
expor aqui tudo o que senti naqueles terríveis minutos. A rua, por tranças. Ora, mamãe!
mais que José Dias andasse superlativamente devagar, parecia E com um enfadamento gracioso e voluntário que às
fugir-me debaixo dos pés, as casas voavam de um e outro lado, e vezes tinha, pegou do pente e alisou os cabelos para renovar o
uma corneta que nessa ocasião tocava no quartel dos Municipais penteado. D. Fortunata chamou-lhe tonta, e disse-me que não
Permanentes ressoava aos meus ouvidos como a trombeta do fizesse caso, não era nada, maluquices da filha. Olhava com
juízo final. ternura para mim e para ela. Depois, parece-me que desconfiou.
Fui, cheguei aos Arcos, entrei na Rua de Mata-cavalos. A Vendo-me calado, enfiado, cosido à parede, achou talvez que
casa não era logo ali, mas muito além da dos Inválidos, perto da do houvera entre nós algo mais que penteado, e sorriu por
Senado. Três ou quatro vezes, quisera interrogar o meu dissimulação...
companheiro, sem ousar abrir a boca; mas agora, já nem tinha tal Como eu quisesse falar também para disfarçar o meu
desejo. Ia só andando, aceitando o pior, como um gesto do estado, chamei algumas palavras cá de dentro, e elas acudiram de
destino, como uma necessidade da obra humana, e foi então que a pronto, mas de atropelo, e encheram-me a boca sem poder sair
Esperança, para combater o Terror, me segredou ao coração, não nenhuma. O beijo de Capitu fechava-me os lábios. Uma
estas palavras, pois nada articulou parecido com palavras, mas exclamação, um simples artigo, por mais que investissem com
uma ideia que poderia ser traduzida por elas: "Mamãe defunta, força, não logravam romper de dentro. E todas as palavras
acaba o seminário". recolheram-se ao coração, murmurando: "Eis aqui um que não fará
Leitor, foi um relâmpago. Tão depressa alumiou a noite, como se grande carreira no mundo, por menos que as emoções o
esvaiu, e a escuridão fez-se mais cerrada, pelo efeito do remorso dominem..."
que me ficou. Foi uma sugestão da luxúria e do egoísmo. A Assim, apanhados pela mãe, éramos dois e contrários,
piedade filial desmaiou um instante, com a perspectiva da ela encobrindo com a palavra o que eu publicava pelo silêncio. D.
liberdade certa, pelo desaparecimento da dívida e do devedor; foi Fortunata tirou-me daquela hesitação, dizendo que minha mãe me
um instante, menos que um instante, o centésimo de um instante, mandara chamar para a lição de latim; o Padre Cabral estava à
ainda assim o suficiente para complicar a minha aflição com um minha espera. Era uma saída; despedi-me e enfiei pelo corredor.
remorso.” – Dom Casmurro Andando, ouvi que a mãe censurava as maneira da filha, mas a
filha não dizia nada.” – Dom Casmurro

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Aula 18 – Realismo – Machado De Assis
- Ceticismo, questiona todos os dogmas: religiosos, dos sonhos, como a dos amores, como todas as ilhas de todos os
científicos, morais... mares, são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa e
“— Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a dos Estados Unidos.” – Dom Casmurro
expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma
delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a - Metalinguagem, conversa com o leitor.
supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a “Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu
destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos
conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da
e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa
uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior
montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o
mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo
chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios,
nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam,
tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...” –
vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os Memórias Póstumas de Brás Cubas
demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais
demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o - Citação de autores clássicos e da bíblia (cultura e
homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e intertextualidade).
pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação
que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao - Machado de Assis inova na temática, na estrutura e na
vencedor, as batatas.”- Quincas Borba linguagem.

“Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo Capítulo CXXXIX / De como não Fui Ministro D’estado
fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um ............................................................................................................
ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro ............................................................................................................
não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: — ............................................................................................................
“Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o primeiro ............................................................................................................
não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada ............................................................................................................
nova. ............................................................................................................
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado! ............................................................................................................
— Meu senhor! gemia o outro. ..........................................................................................
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada Capítulo CXL / Que Explica Anterior
menos que o meu moleque Prudêncio, — o que meu pai libertara Há coisas que melhor se dizem calando; tal é a matéria do capítulo
alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a anterior. Podem entendê-lo os ambiciosos malogrados. Se a
bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele. paixão do poder é a mais forte de todas, como alguns inculcam,
— É, sim, nhonhô. imaginem o desespero, a dor, o abatimento do dia em que perdi a
— Fez-te alguma coisa? cadeira da Câmara dos Deputados. Iam-se-me as esperanças
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na todas; terminava a carreira política.”
quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a
quitanda para ir na venda beber. Capítulo LV - O Velho Diálogo de Adão e Eva
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu. Brás Cubas
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, . . . . . ?
bêbado!” - Memórias Póstumas de Brás Cubas Virgília
. . . . . .
- Enredo não segue uma ordem cronológica: o narrador dá Brás Cubas
saltos temporais e interrompe várias vezes a narrativa para . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
refletir e comentar sobre assuntos diversos (digressão). .
Virgília
“Antes de concluir este capítulo, fui à janela indagar da . . . . . . !
noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se Brás Cubas
esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não . . . . . . .
continuam mais. A noite não me respondeu logo. Estava Virgília
deliciosamente bela, os morros palejavam de luar e o espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
morria de silêncio. Como eu insistisse, declarou-me que os sonhos . . . . . . . . . . . ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
já não pertencem à sua jurisdição. Quando eles moravam na ilha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu palácio, e donde os Brás Cubas . . . . . . . . . . . . .
fazia sair com as suas caras de vária feição, dar-me-ia explicações Virgília . . . . . . .
possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os sonhos antigos foram Brás Cubas
aposentados, e os modernos moram no cérebro da pessoa. Estes, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

. . . . . . . . . . ! . . . . . . . . ! . . . . . . . . . . . . . . . . com a maior regularidade, e bocejava até às duas, torcendo-me de


. . . . . . . . . . . . . . . . ! insipidez sobre os carcomidos bancos que o colégio comprara, de
Virgília pinho e usados, lustrosos do contato da malandragem de não sei
. . . . . . . . . . . . . . . . . ? quantas gerações de pequenos. Ao meio-dia, davam-nos pão com
Brás Cubas manteiga. Esta recordação gulosa é o que mais pronunciadamente
. . . . . . . ! me ficou dos meses de externato; com a lembrança de alguns
Virgília companheiros -- um que gostava de fazer rir à aula, espécie
. . . . . . . ! interessante de mono louro, arrepiado, vivendo a morder, nas
costas da mão esquerda, uma protuberância calosa que tinha;
Raul Pompéia outro adamado, elegante, sempre retirado, que vinha à escola de
Raul Pompéia, com O Ateneu, produziu um romance híbrido, branco, engomadinho e radioso, fechada a blusa em diagonal do
incapaz de ser classificado em uma determinada escola, mas que ombro à cinta por botões de madrepérola. Mais ainda: a primeira
o colocou como um nome de destaque em nossas Letras. vez que ouvi certa injúria crespa, um palavrão cercado de terror no
estabelecimento, que os partistas denunciavam às mestras por
O livro é narrado em primeira pessoa por Sérgio, que, por meio da duas iniciais como em monograma.
narrativa, vai recompor sua vida de estudante de colégio interno.
Lecionou-me depois um professor em domicílio.
Sérgio chama a sua narrativa de “crônica de saudades”, mas o
passado resgatado pela memória, apesar trazer alguns momentos Apesar deste ensaio da vida escolar a que me sujeitou a família,
alegres, é marcado por tristezas, decepções e indignação contra a antes da verdadeira provação, eu estava perfeitamente virgem
rotina escolar, tediosa e burocrática, e contra as experiências de para as sensações novas da nova fase. O internato! Destacada do
brigas e discórdias entre os alunos. conchego placentário da dieta caseira, vinha próximo o momento
de se definir a minha individualidade. Amarguei por antecipação o
Em O Ateneu, Raul Pompeia, apresenta características que o adeus às primeiras alegrias; olhei triste os meus brinquedos,
aproximam do Realismo, como a análise psicológica; que o antigos já! os meus queridos pelotões de chumbo! espécie de
aproximam no Naturalismo, como a presença do cientificismo; que museu militar de todas as fardas, de todas as bandeiras, escolhida
o aproximam do Expressionismo, pelas descrições extremamente amostra da força dos estados, em proporções de microscópio, que
plásticas e caricaturais; e até do Impressionismo, pelo registro da eu fazia formar a combate como uma ameaça tenebrosa ao
subjetividade, pela realidade pintada a partir das impressões do equilíbrio do mundo; que eu fazia guerrear em desordenado aperto,
narrador-personagem. No entanto, não há um consenso quanto a -- massa tempestuosa das antipatias geográficas, encontro
predominância de uma dessas correntes em sua obra. definitivo e ebulição dos seculares ódios de fronteira e de raça, que
eu pacificava por fim, com uma facilidade de Providência Divina,
Trecho intervindo sabiamente, resolvendo as pendências pela concórdia
"Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. promíscua das caixas de pau. Força era deixar à ferrugem do
Coragem para a luta." Bastante experimentei depois a verdade abandono o elegante vapor da linha circular do lago, no jardim,
deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança onde talvez não mais tornasse a perturbar com a palpitação das
educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do rodas a sonolência morosa dos peixinhos rubros, dourados,
amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, argentados, pensativos à sombra dos tinhorões, na transparência
que parece o poema dos cuidados maternos um artifício adamantina da água...
sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a (Raul Pompéia. O Ateneu, cap I.)
criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera
brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso.
Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto,
não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a Questão 01 (UFRGS 2015)
enfiada das decepções que nos ultrajam. Assinale a alternativa correta sobre a obra de Machado de Assis.
Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros a) O primeiro romance publicado por Machado de Assis foi Dom
que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como Casmurro (1899), totalmente integrado à estética romântica, ao pôr
melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as em evidência a história de amor entre Bentinho e Capitu.
datas. Feita a compensação dos desejos que variam, das b) Brás Cubas, o protagonista do romance Memórias Póstumas de
aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente do Brás Cubas, é um humanista oriundo da classe trabalhadora,
mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças, a defensor dos direitos dos escravos.
atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das horas, um pouco c) Quincas Borba, único romance de Machado de Assis que
de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao apresenta narrador em primeira pessoa, é narrado pelo próprio
crepúsculo -- a paisagem é a mesma de cada lado beirando a Quincas.
estrada da vida. d) Várias histórias reúne alguns dos principais contos de Machado
de Assis, entre eles A causa secreta, que narra o prazer mórbido
Eu tinha onze anos. que sente Fotunato ao presenciar o sofrimento alheio.
Frequentara como externo, durante alguns meses, uma escola e) Helena é um romance da última fase de Machado de Assis, já
familiar do Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas, sob a integrado ao realismo, na qual se destaca a ironia que consagrou o
direção do pai, distribuíam educação à infância como melhor lhes autor.
parecia. Entrava às nove horas, timidamente, ignorando as lições

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181
Aula 18 – Realismo – Machado De Assis
Questão 02 (Fac. Albert Einstein - Medicina 2017) ( ) Em muitos contos machadianos o tema adultério é explorado,
Uma Reflexão imoral seja de maneira implícita, apenas sugerindo, seja de maneira
Ocorre-me uma reflexão imoral, que é ao mesmo tempo uma explícita.
correção de estilo. Cuido haver dito, no capítulo XIV, que Marcela ( ) A visão de mundo de Machado de Assis é a mesma em seus
morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a romances e contos, procura, de uma forma geral, explicar a alma
mesma coisa que morrer; assim o afirmam todos os joalheiros humana.
desse mundo, gente muito vista na gramática. Bons joalheiros, que
seria do amor se não fossem os vossos dixes e fiados? Um terço Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para
ou um quinto do universal comércio dos corações. Esta é a baixo.
reflexão imoral que eu pretendia fazer, a qual é ainda mais obscura a) F – V – F – V – F
do que imoral, porque não se entende bem o que eu quero dizer. O b) V – V – V – F – V
que eu quero dizer й que a mais bela testa do mundo não fica c) V – V – V – V – V
menos bela, se a cingir um diadema de pedras finas; nem menos d) V – F – V – V – V
bela, nem menos amada. Marcela, por exemplo, que era bem e) F – F – V – V – F
bonita, Marcela amou-me... (...) Marcela amou-me durante quinze
meses e onze contos de réis; nada menos. Questão 05 (Ufrn 2012)
A passagem transcrita abaixo faz parte do capítulo IX (“Transição”),
Do texto em pauta, integrante do romance Memórias Póstumas de
de Memórias Póstumas de Brás Cubas:
Brás Cubas, de Machado de Assis, é ERRADO entender que
a) há nele um segundo sentido em relação ao que parece ser que
E vejam agora com que destreza, com que arte faço eu a maior
se esconde atrás da linguagem e das atitudes.
transição deste livro. Vejam: o meu delírio começou em presença
b) há uma ironia que perpassa o texto, e que faz dos joalheiros os
de Virgília; Virgília foi meu grão pecado da juventude; não há
garantidores do universal comércio dos corações.
juventude sem meninice; meninice supõe nascimento; e eis aqui
c) exemplifica, no amor de Marcela pelo narrador, a veracidade da
como chegamos nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de 1805,
reflexão imoral apresentada.
em que nasci. Viram? Nenhuma juntura aparente, nada que divirta
d) chama de reflexão imoral e obscura porque não se faz entender
a atenção pausada do leitor: nada.
nem no âmbito da linguagem nem no da interpretação dos
(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São
sentimentos de Marcela.
Paulo: Ática, 2000.)
Questão 03 (Unicamp 2017)
Este fragmento ilustra bem o estilo narrativo da obra, que é
O romance Memórias póstumas de Brás Cubas é considerado um marcada pela
divisor de águas tanto na obra de Machado de Assis quanto na a) liberdade técnica com que se encadeiam os eventos da história.
literatura brasileira do século XIX. Indique a alternativa em que b) rigidez da técnica narrativa, indispensável à Escola Realista.
todas as características mencionadas podem ser adequadamente c) fidelidade à ordem cronológica linear dos acontecimentos.
atribuídas ao romance em questão. d) negação da cientificidade narrativa típica da Escola Romântica.
a) Rejeição dos valores românticos, narrativa linear e fluente de um
defunto autor, visão pessimista em relação aos problemas sociais. Questão 06 (Fac. Pequeno Príncipe - Medicina 2016)
b) Distanciamento do determinismo científico, cultivo do humor e
A construção narrativa da obra Dom Casmurro, de Machado de
digressões sobre banalidades, visão reformadora das mazelas
Assis, atesta
sociais.
a) sua relação com o Realismo, considerando-se que o narrador-
c) Abandono das idealizações românticas, uso de técnicas pouco
personagem, sem utilizar digressões e de forma objetiva, elabora
usuais de narrativa, sugestão implícita de contradições sociais.
seus argumentos, mas expressa seu arrependimento pela
d) Crítica do realismo literário, narração iniciada com a morte do
acusação feita.
narrador-personagem, tematização de conflitos sociais.
b) sua circunscrição em um discurso persuasivo, elaborado com
objetividade, com evidências que comprovam o adultério cometido.
Questão 04 (Udesc 2015)
c) a formulação de um enigma, apresentado pela voz do narrador-
Machado de Assis é autor de mais de uma centena de contos, o personagem, em uma narrativa permeada de ambiguidades.
que o situa – pela qualidade do que escreveu – entre os melhores d) a credibilidade do narrador por sua isenção, imparcialidade e
contistas. Foi sem dúvida um contista extraordinário porque equilibrado distanciamento emocional dos acontecimentos
trabalhou as regras do conto com excepcionalidade. Em relação ao narrados.
gênero conto e a Machado de Assis, analise as proposições, e e) a competência narrativa de Bentinho, advogado, que utiliza
assinale (V) para verdadeira e (F) para falsa. termos jurídicos para argumentar e comprovar a traição de Capitu.
( ) O conto é uma narrativa curta, deve prender a atenção do
leitor e manter um perfeito equilíbrio narrativo, apresenta poucas Questão 07 (Fuvest 2010)
personagens, tempo exíguo e pequenos ou poucos ambientes.
[José Dias] Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e
( ) As personagens femininas também asseguram lugar de
quatro palavras de louvor. Copiou as palavras, encaixilhou-as e
destaque nos contos machadianos. Preservam – como nos
pendurou-as no quarto, por cima da cama. “Esta é a melhor
romances – as ambiguidades típicas do universo feminino.
apólice”, dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa
( ) Os contos machadianos são relatos que recriam, às vezes, a
autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e
vida real, principalmente o ambiente carioca do final do século XIX,
sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas
revelam, também, em uma versão em miniatura, a forma como o
nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma
autor interpreta a sociedade.
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182
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que
enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e Questão 01 (Espm 2013)
liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à
sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor
e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma
viagem que fizera à Europa, e confessava que a não sermos nós,
já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa
família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo.

Machado de Assis, Dom Casmurro.

No texto, o narrador diz que José Dias “sabia opinar obedecendo”.


Considerada no contexto da obra, essa característica da
personagem é motivada, principalmente, pelo fato de José Dias ser
a) um homem culto, porém autodidata. Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de
b) homeopata, mas usuário da alopatia. duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas,
c) pessoa de opiniões inflexíveis, mas também um homem rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma
naturalmente cortês. é a condição da sobrevivência da outra e a destruição não atinge o
d) um homem livre, mas dependente da família proprietária. princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico
e) católico praticante e devoto, porém perverso. da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas.
As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que
Questão 08 (Mackenzie 2012) assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra
Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos
dir-me-ia, como no seu cap.IX, vers. 1: “Não tenhas ciúmes de tua dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se
mulher, para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a
aprender de ti”. Mas eu creio que não, 1e tu concordarás comigo; destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a
se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos,
estava dentro da outra, 2como a fruta dentro da casca. aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das
Machado de Assis, D.Casmurro ações bélicas. (...) Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as
batatas.
Considerado o fragmento no contexto do romance, assinale a (Machado de Assis, Quincas Borba)
alternativa correta.
Entende-se do trecho que:
a) O narrador onisciente, ao confirmar sua insegurança afetiva, dá
a) a paz é destruidora porque não produz alimentos em
pistas ao leitor de que Capitu, mesmo adulta, manteve o
abundância para os povos.
comportamento ingênuo da infância, tendo na verdade sido vítima
b) a paz é destruidora porque sempre provoca a inanição da
da malícia do amigo Escobar.
sociedade mais fraca.
b) O narrador protagonista, buscando a cumplicidade do leitor (e tu
c) a guerra é benéfica porque assegura a sobrevivência da espécie
concordarás comigo, ref. 1), afirma sua convicção de que a
mais forte.
esposa, já falecida, desde muito jovem já manifestara indícios de
d) a guerra é benéfica porque permite a eliminação dos fracos e
um comportamento suspeito.
incompetentes.
c) A ambiguidade do discurso de Bento Santiago converge para a
e) a guerra é benéfica porque corrompe o princípio universal e
expressão como a fruta dentro da casca (ref. 2) que pode ser lida
comum.
tanto como prova da inocência da esposa como, ao contrário,
prova de sua culpa. Questão 02 (Insper 2013)
d) Valendo-se de um discurso tendencioso, o advogado Bento As imagens abaixo fazem parte do game “Filosofighters”. Inspirado
Santiago evita ressalvas e modalizações na fala, expondo ao leitor em jogos de lutas, ele propõe uma batalha verbal entre importantes
inquestionáveis indícios da traição de sua mulher Capitu. filósofos. Nele os argumentos dos pensadores valem como golpes,
e) O discurso bíblico citado no início do fragmento revela que o conforme se verifica na ilustração abaixo.
narrador, preocupado em caracterizar o comportamento da esposa
infiel, omite informações importantes acerca de si próprio.

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Aula 18 – Realismo – Machado De Assis
* ARISTÓTELES X SARTE Questão 04 (FGV-RJ 2015)
Somos realmente livres? Dois filósofos testam todos os TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
limites da liberdade.
- Aristóteles dizia que o homem é livre, desde que não tenha Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo
obstáculos para exercer a liberdade. Ou seja, assim como no vale- princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu
tudo, não vale furar o olho, o homem é livre só dentro das regras. nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar
- Mas Jean-Paul Sarte contra-ataca: para ele, somos tão livres, que pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar
podemos até escolher furar as regras, porque podemos nos diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um
responsabilizar pelas consequências e ser punidos. Quer dizer, autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro
furo nos zoio de Aristóteles. berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais
novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no
ROUSSEAU X HOBBES introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o
O homem nasce bom e a sociedade o estraga? Ou a espécie Pentateuco.
humana não tem jeito? Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-
- Na floresta, o homem era bom e vivia da natureza, sem guerras. feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
Até que alguém criou a propriedade privada e a sociedade. Daí Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era
para frente, ficamos competitivos e egoístas. Pelo menos é o que solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao
dizia Jean-Jacques Rousseau. cemitério por onze amigos.
- Mas Thomas Hobbes acaba de vez com a luta: para ele, a
competição e a noção de que o mais forte vence são inerentes à Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
natureza humana. Por isso, não poderíamos ter criado um mundo
sem brigas. A leitura do excerto permite inferir vários traços de caráter do
narrador-personagem. Entre os traços relacionados abaixo, o único
Relacione as teorias dos pensadores citados ao excerto de que NÃO é abonado ou confirmado pelo texto é o que está em
Machado de Assis. Por defender posição similar, infere-se que, no a) exibicionismo.
jogo, o “filósofo” Quincas Borba NÃO poderia ser adversário de b) populismo.
a) Aristóteles, pois ao definir a paz como “destruição” e a guerra c) presunção.
como “conservação”, Quincas Borba recupera a ideia de que “o d) irreverência.
homem é livre só dentro de regras”. e) vaidade.
b) Jean Paul-Sartre, pois, assim como o filósofo existencialista, o
mentor do Humanitismo mostra que a necessidade de alimentação Questão 05 (FGV-RJ 2015)
determina a obediência ou a violação às regras. Ao configurar as Memórias póstumas de Brás Cubas como
c) Hobbes, pois a tese do Humanitismo reafirma a ideologia do narrativa em primeira pessoa, conforme se verifica no trecho,
autor de “Leviatã”, entendendo que o estado natural é o conflito. Machado de Assis
d) Rousseau, pois defende os mesmos princípios do filósofo
iluminista, mostrando que, embora pareça ser uma solução, a a) deu um passo decisivo em direção ao Realismo, adotando os
guerra traz grandes prejuízos à humanidade. procedimentos mais típicos dessa escola.
e) nenhum dos pensadores citados, pois Quincas Borba, ao b) visa a criticar o subjetivismo romântico e os excessos
contrário deles, prevê um destino promissor para a humanidade. sentimentalistas em que este incorrera.
c) deu a palavra ao proprietário escravista e rentista brasileiro do
Questão 03 (Faculdade Albert Einstein 2016) Oitocentos, para que ele próprio exibisse sua desfaçatez.
Um dos capítulos do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, d) parodia as Memórias de um sargento de milícias, retomando o
de Machado de Assis, denomina-se O Humanitismo. Partilha da registro narrativo que as caracterizava.
grande sátira que constitui a obra e se torna um “nonsense” das e) confere confiabilidade aos juízos do narrador, uma vez que este
memórias nela apresentadas. - Assim, a respeito do Humanitismo, conhece os acontecimentos de que participou.
de acordo com o romance, é INCORRETO afirmar que
a) é uma teoria que, criada por Brás Cubas e difundida por Quincas Questão 06 (Pucsp 2015)
Borba, apoia-se no princípio de humanitas que, segundo seu autor, O Velho Diálogo de Adão e Eva
rege as condicionantes da vida e da morte, não obstante revigorar
o sintoma da hipocondria e exaltar a existência da dor. Brás Cubas................................................................?
b) é uma teoria, espécie de mescla bufa de pensamentos Virgília................................................................
filosóficos que vão da tradição grega até o século XIX, utilizada por Brás Cubas..................................................................
Machado de Assis para fazer caricatura do Positivismo e do ......................................................................................
Evolucionismo, teorias científicas e filosóficas em voga na época. Virgília.........................................................................!
c) é uma doutrina de valorização da vida, defendida por um Brás Cubas........................................................
mendigo que acaba seus dias em plena loucura, caracterizando, Virgília..........................................................................
essa situação, forte ironia como marca estruturante desta obra ..........................................?..........................................
machadiana. ......................................................................................
d) é uma teoria que convém a Brás Cubas para justificar a Brás Cubas...................................................
vacuidade de sua existência e dar a ele uma ilusão da descoberta Virgília.....................................................................
de um sentido para sua vida e pela qual ele acaba se orientando. Brás Cubas.................................................................

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

...............................................!...................................... d) ampliação do acesso à educação, com a negociação dos custos


............................................!....................... escolares.
Virgília........................................................................? e) cumplicidade entre educadores e famílias, unidos pelo interesse
Brás Cubas................................................................! comum do avanço social.
Virgília..................................................................!
Questão 08 (FGV-RJ 2013)
A representação gráfica acima subentende um texto vazio de CAPÍTULO 73 - O Luncheon*
palavras, mas pleno de significações. Integra o romance Memórias O despropósito fez-me perder outro capítulo. Que melhor não era
Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Dessa proposta dizer as coisas lisamente, sem todos estes solavancos! Já
gráfico-visual NÃO é correto concluir que envolve comparei o meu estilo ao andar dos ébrios. Se a ideia vos parece
indecorosa, direi que ele é o que eram as minhas refeições com
a) jogo semiótico de expressão das emoções, configurado no uso Virgília, na casinha da Gamboa, onde às vezes fazíamos a nossa
de pontuação interrogativa e exclamativa. patuscada, o nosso luncheon. Vinho, frutas, compotas. Comíamos,
b) alusão bíblica ao pecado original da descoberta do sexo e é verdade, mas era um comer virgulado de palavrinhas doces, de
encarnação dos desejos humanos. olhares ternos, de criancices, uma infinidade desses apartes do
c) exercício de fantasia de Brás Cubas que alude ao encontro coração, aliás o verdadeiro, o ininterrupto discurso do amor. Às
amoroso dos amantes, pondo em diálogo seu pensamento com o vezes vinha o arrufo temperar o nímio adocicado da situação. Ela
de Virgília. deixava-me, refugiava-se num canto do canapé, ou ia para o
d) recurso gráfico inovador, mas negativo porque desestruturante interior ouvir as denguices de Dona Plácida. Cinco ou dez minutos
da sequência da narrativa e obstáculo para o claro entendimento depois, reatávamos a palestra, como eu reato a narração, para
do leitor. desatá-la outra vez. Note-se que, longe de termos horror ao
e) representação gráfica do encontro amoroso que dispensa método, era nosso costume convidá-lo, na pessoa de Dona
palavras e instiga a imaginação/participação do leitor, pela Plácida, a sentar-se conosco à mesa; mas Dona Plácida não
obviedade da situação da experiência humana. aceitava nunca.

Questão 07 (Enem 2015) Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.


Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a
testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti. (*) Luncheon (Ing.): lanche, refeição ligeira, merenda.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de Considere as seguintes afirmações sobre o excerto das Memórias
nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos póstumas de Brás Cubas, obra fundamental da literatura brasileira:
reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de
novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com I. Depois de haver comparado seu estilo ao andar dos ébrios, o
artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado narrador resolve compará-lo também ao “luncheon”, penitenciando-
crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da se, assim, dos vícios que praticara em vida – entre eles, o do
meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios. alcoolismo.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do II. Nas comparações com o “luncheon”, presentes no excerto, o
Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome narrador revela ser o capricho (ou arbítrio) o móvel dominante tanto
de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, de seu estilo quanto das ações que relata.
conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à III. Na autocrítica do narrador, realizada com ingenuidade no
substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, excerto, oculta-se a crítica do realista Machado de Assis ao
sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o Naturalismo dominante em sua época.
ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente
anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Está correto o que se afirma em
Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua a) I, apenas.
invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de b) II, apenas.
Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos c) I e II, apenas.
esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os d) II e III, apenas.
não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, e) I, II e III.
gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a
farinha daquela marca para o pão do espírito. Questão 09 (Pucpr 2009)
POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005. Leia o capítulo IV de "Dom Casmurro", de Machado de Assis,
transcrito integralmente a seguir:
Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador
revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela "José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição
a) ideologia mercantil da educação, repercutida nas vaidades monumental às ideias; não as havendo, servia a prolongar as
pessoais.
frases. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior
b) interferência afetiva das famílias, determinantes no processo
da casa. Cosime muito à parede, e vi-o passar com as suas calças
educacional.
brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos
c) produção pioneira de material didático, responsável pela
facilitação do ensino. últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste
mundo. Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem

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Aula 18 – Realismo – Machado De Assis
esticadas. A gravata de cetim preto, com um arco de aço por defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o
dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo
chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios,
Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam,
cinquenta e cinco anos. Levantou-se com o passo vagaroso do urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...
costume, não aquele vagar arrastado se era dos preguiçosos, mas E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como
um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia
antes da consequência, a consequência antes da conclusão. uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que,
Um dever amaríssimo!". se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar...
Fonte: Machado de Assis, "Dom Casmurro" Heis de cair.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
Aponte, entre as alternativas, a que for INCORRETA em relação ao
capítulo: Nas primeiras versões das Memórias póstumas de Brás Cubas,
a) O "dever amaríssimo" assumido por José Dias é o de lembrar constava, no final do capítulo LXXI, aqui reproduzido, o seguinte
Dona Glória - a quem respeita com um misto de veneração e trecho, posteriormente suprimido pelo autor:
interesse - de que ela havia feito, anos antes, a promessa de
enviar seu único filho, Bentinho, para estudar em um seminário. [... Heis de cair.] Turvo é o ar que respirais, amadas folhas.
Para reforçar seus argumentos, diz que isto deve ocorrer para que O sol que vos alumia, com ser de toda a gente, é um sol
se interrompa o nascente relacionamento de Bentinho com Capitu, opaco e reles, de ........................ e ........................ .
antes que seja tarde.
As duas palavras que aparecem no final desse trecho, no lugar dos
b) José Dias representa no romance a figura do agregado, alguém espaços pontilhados, podem servir para qualificar, de modo
sem recursos que vive de favor na casa de uma família de posses figurado, a mescla de tonalidades estilísticas que caracteriza o
e que, no relacionamento com esta, cumpre pequenas "tarefas" capítulo e o próprio livro. Preenchem de modo mais adequado as
como uma espécie de paga. Em relação a Dona Glória e a lacunas as palavras
Bentinho, José Dias tanto é o conselheiro - que simula ilustração e a) ocaso e invernia.
conhecimento - como o humilde serviçal, sempre prevendo as b) Finados e ritual.
vantagens que levará com seus atos. c) senzala e cabaré.
c) José Dias terá grande importância no transcurso da ação, após d) cemitério e carnaval.
a denúncia que faz a Dona Glória dos perigos que a amizade de e) eclipse e cerração.
Bentinho e Capitu pode trazer. Na verdade, sua atitude é a de
quem "joga" com seus "protetores". De um lado, ele suscita em Questão 11 (ITA 2012)
Dona Glória a necessidade de cumprir a promessa. De outro, O texto abaixo é o início da obra Dom Casmurro, de Machado de
quando solicitado, oferecerá ajuda a Bentinho para que ele não vá Assis.
para o seminário.
Uma noite dessas, vindo da cidade para o Engenho Novo,
d) Pode-se dizer que, a despeito de sua atitude intrometida ao encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu
aconselhar Dona Glória sobre a necessidade de separar Bentinho conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé
de Capitu - quando os dois ainda eram crianças - José Dias é o de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me
primeiro a perceber os defeitos da futura esposa de Bentinho. Sua versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem
observação a respeito dela aponta para o fato de ser "desmiolada", inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava
filha de uma família de moral condenável e intenções talvez cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para
interesseiras em relação àquela amizade. que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
e) José Dias, descrito com ironia no fragmento citado, é a [...] No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou
personificação dos vícios da aristocracia decaída e empobrecida alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos
depois do processo de Independência do Brasil no século XIX. meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que
Outrora rico e influente - tendo sido sócio do falecido marido de afinal pegou.
Dona Glória - José Dias tornou-se, com o tempo, uma figura pouco [...] Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido
que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e
relevante nas rodas sociais de seu tempo, razão pela qual vive dos
metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de
favores que lhe dirige a mãe de Bentinho, a quem respeita
fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título
incondicionalmente, sem lhe pedir nada.
para a minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro,
vai este mesmo.
Questão 10 (Fuvest 2014)
O senão do livro Considere as afirmações abaixo referentes ao trecho, articuladas
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu ao romance:
não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos I. O narrador já apresenta seu estilo irônico de narrar.
para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da II. O narrador assume uma alcunha que o caracteriza ao longo do
enredo.
eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa
III. Os eventos narrados no trecho inicial desencadeiam o conflito
contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior
central da obra.
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186
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

IV. O título Dom Casmurro não caracteriza adequadamente o cabelos. Viam Rômulo passar, lançavam-lhe o apelido: mestre-
personagem Bentinho. cuca!
Esta provocação era, além de tudo, inverdade. Cozinheiro,
Estão corretas apenas Rômulo! Só porque lembrava culinária, com a carnosidade bamba,
a) I e II. d) II e IV. fofada dos pastelões, ou porque era gordo das enxúndias
b) I e III. e) III e IV. enganadoras dos fregistas, dissolução mórbida de sardinha e
c) II e III. azeite, sob os aspectos de mais volumosa saúde?
(...)
Questão 12 (Fuvest 2013) Rômulo era antipatizado. Para que o não manifestassem
Em quatro das alternativas abaixo, registram-se alguns dos excessivamente, fazia-se temer pela brutalidade. Ao mais
aspectos que, para bem caracterizar o gênero e o estilo das insignificante gracejo de um pequeno, atirava contra o infeliz toda a
Memórias póstumas de Brás Cubas, o crítico J. G. Merquior pôs corpulência das infiltrações de gordura solta, desmoronava-se em
em relevo nessa obra de Machado de Assis. A única alternativa socos. Dos mais fortes vingava-se, resmungando intrepidamente.
que, invertendo, aliás, o juízo do mencionado crítico, aponta uma Para desesperá-lo, aproveitavam-se os menores do escuro.
característica que NÃO se aplica à obra em questão é: Rômulo, no meio, ficava tonto, esbravejando juras de morte,
a) ausência praticamente completa de distanciamento enobrecedor mostrando o punho. Em geral procurava reconhecer algum dos
na figuração das personagens e de suas ações. impertinentes e o marcava para a vindita. Vindita inexorável.
b) mistura do sério e do cômico, de que resulta uma abordagem No decorrer enfadonho das últimas semanas, foi Rômulo
humorística das questões mais cruciais. escolhido, principalmente, para expiatório do desfastio.
c) ampla liberdade do texto em relação aos ditames da Mestrecuca! Via-se apregoado por vozes fantásticas, saídas da
verossimilhança. terra; mestre-cuca! Por vozes do espaço rouquenhas ou
d) emprego de uma linguagem que evita chamar a atenção sobre si esganiçadas. Sentava-se acabrunhado, vendo se se lembrava de
mesma, apagando-se, assim, por detrás da coisa narrada. haver tratado panelas algum dia na vida; a unanimidade
e) uso frequente de gêneros intercalados — por exemplo, cartas ou impressionava. Mais frequentemente, entregava-se a acessos de
bilhetes, historietas etc. — embutidos no conjunto da obra global. raiva. Arremetia bufando, espumando, olhos fechados, punhos
para trás, contra os grupos. Os rapazes corriam a rir, abrindo
Questão 13 (Enem 2ª aplicação 2016) caminho, deixando rolar adiante aquela ambulância danada de
elefantíase.
Esaú e Jacó
(Raul Pompeia. O Ateneu.)
Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe quisesse pôr
alguma, e não me ocorresse outra. Não é somente um meio de
Considere as seguintes afirmações.
completar as pessoas da narração com as ideias que deixarem,
I. A alcunha de mestre-cuca, recebida por Rômulo, advinha do fato
mas ainda um par de lunetas para que o leitor do livro penetre o
de ter praticado, anteriormente, a arte culinária.
que for menos claro ou totalmente escuro.
II. As agressões e humilhações sofridas por Rômulo eram
Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história
essencialmente motivadas por sua antipatia.
colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei de solidariedade,
III. As reações de Rômulo às provocações dos colegas variavam
espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus
conforme as circunstâncias.
trebelhos.
Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e o
De acordo com o texto, está correto o que se afirma apenas em
cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre, nem a torre de
a) I.
peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não
b) II.
tira o poder da marcha de cada peça, e afinal umas e outras
c) III.
podem ganhar a partida, e assim vai o mundo.
d) I e II.
ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964
e) II e III.
(fragmento).
Questão 15 (Unifesp 2011)
O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra como o narrador
concebe a leitura de um texto literário. Com base nesse trecho, tal Sobre o texto, é correto afirmar:
leitura deve levar em conta a) A atmosfera tensa presente no cotidiano do colégio era produto,
a) o leitor como peça fundamental na construção dos sentidos. sobretudo, da marcação cerrada dos inspetores, que intervinham
b) a luneta como objeto que permite ler melhor. nos muitos conflitos.
c) o autor como único criador de significados. b) Rômulo, devido às provocações que sofre, perde as certezas
d) o caráter de entretenimento da literatura. sobre si mesmo e assume um comportamento que oscila entre a
e) a solidariedade de outros autores. angústia e ataques de fúria.
c) Alguns alunos, por serem muito suscetíveis, importunavam
Questão 14 (Unifesp 2011) outros colegas, puxando-lhes o cabelo ou colocando-lhes apelidos.
d) A brutalidade física de Rômulo era a única solução que
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
encontrava para enfrentar a chacota dos alunos mais fortes.
As provocações no recreio eram frequentes, oriundas do
e) A unanimidade dos alunos em chamar Rômulo de cozinheiro
enfado; irritadiços todos como feridas; os inspetores a cada passo
fazia com que preponderasse sua atitude de entregar-se ao
precisavam intervir em conflitos; as importunações andavam em
acabrunhamento.
busca das suscetibilidades; as suscetibilidades a procurar a sarna
das importunações. Viam de joelhos o Franco, puxavam-lhe os

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187
CURSO ANUAL DE LITERATURA
Prof. Steller de Paula

b) Rimas ricas: os poetas devem evitar as rimas pobres, isto é,


AULA 19 - PARNASIANISMO aquelas estabelecidas por palavras da mesma classe gramatical,
como substantivo com substantivo, adjetivo com adjetivo, etc.
PARNASIANISMO c) Preferência pelo soneto: os parnasianos reivindicam a tradição
O Parnasianismo foi um movimento essencialmente poético que clássica do soneto, composição poética de quatorze versos -
reagiu contra os exageros sentimentais do romantismo. articulada obrigatoriamente em dois quartetos e dois tercetos - e
Alguns críticos consideram-no uma manifestação do Realismo na que se encerra com uma "chave de ouro", espécie de síntese do
poesia. Essa aproximação, porém, é questionável, pois, apesar de poema, manifesta tão somente no último verso.
apresentarem pontos em comum (objetivismo, busca pela d) Descritivismo: eliminando o Eu, a participação pessoal e social,
perfeição formal) as duas correntes apresentam visões de mundo só resta ao parnasiano uma poética baseada no mundo dos
distintas. objetos, objetos mortos: vasos, joias, estátuas, paisagens, etc. São
O autor realista costuma ser crítico em relação à imagem elogiosa quadros, fortemente plásticos (visuais), com grande precisão
que a burguesia europeia procurou construir de si no romantismo, vocabular e frequente superficialidade.
muitas vezes produzindo uma poesia com manifestada influência
socialista. - Temática Greco-Romana, Paganismo
O parnasiano, por outro lado, mantém-se indiferente aos dramas Apesar de todo o esforço, os parnasianos não conseguem articular
do cotidiano, isolando-se na sua "torre de marfim“, ou no seu poemas sem conteúdo e são obrigados a encontrar um assunto
“claustro”, “longe do estéreo turbilhão da rua” buscando a “arte pela desvinculado no mundo concreto para motivo de suas criações.
arte”. Escolhem a Antiguidade Clássica, aspectos de sua história e de
Seu surgimento deu-se na década de 60, através da revista sua mitologia.
Parnase contemporain, dirigida por Théophile Gautier. Nos deparamos ,então, com inúmeros textos que falam de deuses,
heróis, personagens históricos, fatos mitológicos e até mesmo
CARACTERÍSTICAS GERAIS objetos.
- Objetivismo e Impessoalidade
O poeta deve ser neutro diante da realidade, esconder seus O Parnasianismo no Brasil
sentimentos, sua vida pessoal. A confissão íntima e o Antes mesmo que o Parnasianismo se estabelecesse em nossas
extravasamento subjetivo, tão fundamentais aos românticos, são letras, alguns poetas que, hoje, não figuram entre os clássicos
vistos como inimigos da poesia. O Eu precisa se apagar frente do tentaram romper com a visão poética romântica e fizeram uma
mundo objetivo. O espetáculo humano, cenas da natureza ou poesia considerada realista, procurando fazer uso da observação.
simples objetos são registrados, descritos, sem que haja É o caso, por exemplo, do poema “Quadro artístico”, de Celso
interferências da interioridade do artista. A exemplo do que Magalhães, publicado em 1873:
ocorrera no Realismo e no Naturalismo, o escritor é aquele que
observa e reproduz a realidade concreta, que se apresenta fora do A cena é numa sala pequena e atravancada;
eu. Uma mesa redonda de livros empilhada,
- Arte pela Arte um piano de um lado, e de outro um velador,
Os parnasianos ressuscitam o preceito latino de que a arte é uma estante com livros, mobília multicor,
gratuita, que só vale por si própria. Ela não tem nenhum sentido
utilitário: não é feita para comover, para despertar o pensamento garrafas de cerveja, charutos e bolinhos,
crítico do leitor, para fazer denúncia social. É autossuficiente e cigarros sobre a mesa, o piano de mansinho
justifica-se apenas por sua beleza formal. Qualquer tipo de
investigação do social, referência ao prosaico, interesse pelas a gemer sob os dedos dum inspirado artista;
coisas comuns a todos os homens seria "matéria impura" a cinco sujeitos sérios, cravada e atenta a vista
comprometer o texto.
Prevalece, por tanto, o esteticismo, a busca pela perfeição formal. no teclado que brota harmonias tristonhas,
A poesia passa a ser encarada como um exercício da técnica. ou então se alvorota em volatas risonhas.
- Culto à forma No mocho a fronte erguida, um rapaz aloirado,
O resultado da visão descompromissada com a realidade social é a com um charuto na boca, olhar vivo, inspirado,
celebração dos processos formais do poema. A verdade de uma
obra de arte passa a residir apenas em sua beleza formal. Daí improvisa; distante, um outro no sofá,
falar-se em esteticismo, em busca pela perfeição formal. de mão no queixo, absorto, embevecido está.
*Características formais: Os cigarros apagam-se esquecidos, e, frias,
a) Metrificação rigorosa: os versos devem ter o mesmo número no chão as cinzas caem ao som das harmonias.
de sílabas poéticas, preferencialmente doze sílabas (versos
alexandrinos), os preferidos na época, Ou apresentar uma simetria Na secretária, um outro, escutando esses trinos,
constante, do tipo: primeiro verso de oito sílabas, segundo de escreve numa tira alguns alexandrinos.
quatro sílabas, terceiro de oito sílabas, quarto com quatro sílabas,
etc.
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Artistas todos são, e ali, naquela sala, Esta de áureos relevos, trabalhada
emudeceram todos; somente o piano fala. De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Celso Magalhães. Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Também Carvalho Júnior buscou romper com o ideário e com a
linguagem romântica, destacando-se a forma como encarou as Era o poeta de Teos que o suspendia
mulheres e o sexo: Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Profissão de fé Toda de roxas pétalas colmada.
Odeio as virgens pálidas, cloróticas,
Belezas de missal que o romantismo Depois... Mas, o lavor da taça admira,
Hidrófobo apregoa em peças góticas, Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Escritas num acesso de histerismo. Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Sofismas de mulher, ilusões óticas, Ignota voz, qual se da antiga lira


Raquíticos absortos do lirismo, Fosse a encantada música das cordas,
Sonhos de carne, compleições exóticas, Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
Desfazem-se perante o realismo. Alberto de Oliveira

Não servem-me esses vagos ideais RAIMUNDO CORREIA (1859-1911)


Da fina transparência dos cristais;
Almas de santa e corpo de alfenim.

Prefiro a exuberância dos contornos,


As belezas da forma, seus adornos,
A saúde, a matéria, a vida enfim.
Carvalho Júnior, 1879

Alberto de Oliveira
É, porém, em 1883, com a publicação do segundo livro de Alberto
de Oliveira, Meridionais, que o Parnasiano parece despontar na
poesia brasileira. A partir dessa obra, o poeta passa a preocupar-
se cada vez mais com as exigências clássicas de correção métrica
e gramatical, de precisão vocabular e de economia de figuras,
seguindo uma doutrina estética antecipada por Machado de Assis.

Obras principais: Meridionais (1884); Versos e rimas (1895); O


livro de Ema (1900) Obras principais: Sinfonias (1883); Aleluias (1891)
A exemplo dos demais componentes da tríade parnasiana,
Vaso Chinês Raimundo Correia foi um consumado artesão do verso, dominando
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, com perfeição as técnicas de montagem e construção do poema.
Casualmente, uma vez, de um perfumado Alguns críticos valorizam nele o sentido plástico de suas
Contador sobre o mármor luzidio, descrições da natureza.
Entre um leque e o começo de um bordado. Segundo Afrânio Coutinho, “A nota mais constante da poesia de
Raimundo Correia é um agudo sentimento da transitoriedade das
Fino artista chinês, enamorado, coisas, que o faz mover-se frequentemente num pensamento
Nele pusera o coração doentio antitético e o levaria finalmente ao amargor do pessimismo.”, como
Em rubras flores de um sutil lavrado, se percebe no terceto abaixo e no seu famoso poema “As
Na tinta ardente, de um calor sombrio. pombas”:

Mas, talvez por contraste à desventura, O vinho de Hebe


Quem o sabe?... de um velho mandarim Quando do Olimpo nos festins surgia
Também lá estava a singular figura. Hebe risonha, os deuses majestosos
Os copos estendiam-lhe, ruidosos,
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, E ela, passando, os copos lhes enchia...
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa. A Mocidade, assim, na rubra orgia
Alberto de Oliveira Da vida, alegre e pródiga de gozos,
Passa por nós, e nós também, sequiosos,
Nossa taça estendemos-lhe, vazia...

Vaso Grego
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Aula 19 - Parnasianismo
E o vinho do prazer em nossa taça Superficial nele são os quadros históricos e mitológicos, o erotismo
Verte-nos ela, verte-nos e passa... de salão, as miniaturas descritivas e o nacionalismo ufanista. Os
Passa, e não torna atrás o seu caminho. temas, em geral, não estão à altura do domínio técnico e dos
recursos de linguagem. Como acentua o próprio Antonio Candido,
Nós chamamo-la em vão; em nossos lábios o poeta transforma tudo, o drama humano e a natureza, em
Restam apenas tímidos ressábios, "espetáculo", em coisa, em matéria-prima dos recursos esculturais
Como recordações daquele vinho. do verso. Com algumas exceções, seus poemas nada aprofundam
Raimundo Correia e ainda passam uma sensação de frieza.

As Pombas A um poeta
Vai-se a primeira pomba despertada... Longe do estéril turbilhão da rua,
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas Beneditino escreve! No aconchego
De pombas vão-se dos pombais, apenas Do claustro, na paciência e no sossego,
Raia sanguínea e fresca a madrugada... Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!

E à tarde, quando a rígida nortada Mas que na forma se disfarce o emprego


Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Do esforço: e trama viva se construa
Ruflando as asas, sacudindo as penas, De tal modo, que a imagem fique nua
Voltam todas em bando e em revoada... Rica mas sóbria, como um templo grego

Também dos corações onde abotoam, Não se mostre na fábrica o suplicio


Os sonhos, um por um, céleres voam, Do mestre. E natural, o efeito agrade
Como voam as pombas dos pombais; Sem lembrar os andaimes do edifício:

No azul da adolescência as asas soltam, Porque a Beleza, gêmea da Verdade


Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, Arte pura, inimiga do artifício,
E eles aos corações não voltam mais... É a força e a graça na simplicidade.
Raimundo Correia Olavo Bilac

Mal Secreto Profissão de fé


Se a cólera que espuma, a dor que mora Invejo o ourives quando escrevo:
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, Imito o amor
Tudo o que punge, tudo o que devora Com que ele, em ouro, o alto relevo
O coração, no rosto se estampasse; Faz de uma flor.

Se se pudesse o espírito que chora Imito-o. E, pois, nem de Carrara


Ver através da máscara da face, A pedra firo:
Quanta gente, talvez, que inveja agora O alvo cristal, a pedra rara,
Nos causa, então piedade nos causasse! O ônix prefiro.

Quanta gente que ri, talvez, consigo Por isso, corre, por servir-me,
Guarda um atroz, recôndito inimigo, Sobre o papel
Como invisível chaga cancerosa! A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste Corre; desenha, enfeita a imagem,
Em parecer aos outros venturosa! A ideia veste:
Raimundo Correia Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
OLAVO BILAC
Obras principais: Poesias (Reunião dos livros Panóplias, Via- Torce, aprimora, alteia, lima
láctea e Sarças de fogo -1888); Tarde (1918) . A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Antonio Candido definiu Olavo Bilac como um "admirável poeta Como um rubim.
superficial".
Segundo Sergius Gonzaga, é Admirável a sua habilidade técnica Quero que a estrofe cristalina,
que o leva a versificar com meticulosa precisão: parece que jamais Dobrada ao jeito
erra métrica ou rima. Admirável, por fim, são os inúmeros sonetos Do ourives, saia da oficina
que rompem com os mitos da impassibilidade e da objetividade Sem um defeito:
absoluta - indicando uma herança romântica da qual o poeta não
pode ou não quer se livrar. E que o lavor do verso, acaso,
Por tão subtil,
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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Possa o lavor lembrar de um vaso E eu vos direi: “Amai para entendê-las!


De Becerril. Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
E horas sem conto passo, mudo, Olavo Bilac
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo Poema: XXX
O pensamento. Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Porque o escrever - tanta perícia, Não basta o afeto simples e sagrado
Tanta requer, Com que das desventuras me protejo.
Que oficio tal... nem há notícia
De outro qualquer. Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Assim procedo. Minha pena Ter nos braços teu corpo delicado,
Segue esta norma, Ter na boca a doçura de teu beijo.
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma! E as justas ambições que me consomem
Olavo Bilac Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
Porém, apesar de típico parnasiano em boa parte de sua obra,
Olavo Bilac também produziu poemas que fogem à típica E mais eleva o coração de um homem
impassibilidade parnasiana, ora trabalhando temas amorosos com Ser de homem sempre e, na maior pureza,
uma dose maior de subjetividade, ora apresentando uma voz Ficar na terra e humanamente amar.
poética exaltada diante da pátria, retratada de modo idealizada. Olavo Bilac

Nel mezzo del camin… A Pátria


Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
E triste, e triste e fatigado eu vinha. Criança! não verás nenhum país como este!
Tinhas a alma de sonhos povoada, Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
E alma de sonhos povoada eu tinha… A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
E paramos de súbito na estrada Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Da vida: longos anos, presa à minha Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
A tua mão, a vista deslumbrada Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Tive da luz que teu olhar continha. Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Hoje segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece, Boa terra! jamais negou a quem trabalha
Nem te comove a dor da despedida. O pão que mata a fome, o teto que agasalha...

E eu, solitário, volto a face, e tremo, Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vendo o teu vulto que desaparece Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Na extrema curva do caminho extremo.
Olavo Bilac Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
Ora (direis) ouvir estrelas! Olavo Bilac
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto … Questão 01 (Uftm 2011)
Considere as informações.
E conversamos toda a noite, enquanto “É na convergência de ideais antirromânticos, como a objetividade
A via láctea, como um pálio aberto, no trato dos temas e o culto da forma, que se situa a poética
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, [desse movimento literário].
Inda as procuro pelo céu deserto. (...)
Seus traços de relevo: o gosto da descrição nítida (a
Direis agora: “Tresloucado amigo! mimese pela mimese), concepções tradicionalistas sobre metro,
Que conversas com elas? Que sentido ritmo e rima e, no fundo, o ideal da impessoalidade que
Tem o que dizem, quando estão contigo?” partilhavam com os [escritores] do tempo.
(Alfredo Bosi. História concisa da Literatura Brasileira.)

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Aula 19 - Parnasianismo
O texto alude aos poetas c) Poesia caracterizada pelo escapismo, ou seja, pela fuga do
a) ultrarromânticos, que romperam com a poesia indianista e mundo real para um mundo ideal caracterizado pelo sonho, pela
ufanista, a exemplo de Álvares de Azevedo. solidão, pelas emoções pessoais.
b) realistas, que trataram, em sua obra poética, de temas ligados d) Predomínio dos sentimentos sobre a razão, gosto pelas ruínas e
ao cotidiano, tal como o fez Machado de Assis. pela atmosfera de mistério.
c) parnasianos, que, afastando-se dos ideais românticos, e) Poesia impregnada de religiosidade e que faz uso recorrente de
buscavam a linguagem isenta de subjetivismo, a exemplo de Olavo sinestesias.
Bilac.
d) simbolistas, que romperam com o pessimismo romântico e Questão 04 (Unb 2012)
propuseram uma poética espiritualizada, como o fez Cruz e Souza. Vaso grego
e) modernistas, que, negando os preceitos da poesia romântica,
buscavam uma poética nacional, a exemplo de Mário de Andrade. Esta, de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Questão 02 (Ufal) Já de aos deuses servir como cansada,
As afirmações seguintes referem-se ao Parnasianismo no Brasil: Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
I. Para bem definir como entendia o trabalho de um poeta, Olavo
Bilac comparou-o ao de um joalheiro, ou seja: escrever poesia Era o poeta de Teos que a suspendia
assemelha-se à perfeita lapidação de uma matéria preciosa. Então e, ora repleta ora esvazada,
II. Pelas convicções que lhe são próprias, esse movimento se A taça amiga aos dedos seus tinia
distancia da espontaneidade e do sentimentalismo que muitos Toda de roxas pétalas colmada.
românticos valorizavam.
III. Por se identificarem com os ideais da antiguidade clássica, é Depois... Mas o lavor da taça admira,
comum que os poetas mais representativos desse estilo aludam Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
aos mitos daquela época. Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Está correto o que se afirma em Ignota voz, qual se da antiga lira


a) II, apenas. Fosse a encantada música das cordas,
b) I e II, apenas Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.
c) I e III, apenas Alberto de Oliveira. Poesias completas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III Acerca do soneto Vaso grego, de Alberto de Oliveira, e do período
histórico-literário a que ele remete, julgue os itens a seguir.
Questão 03 (Unesp 2010)
Arte suprema a) No período em que o Parnasianismo se destacou, o Brasil,
Tal como Pigmalião, a minha ideia especialmente o Rio de Janeiro, vivia forte influxo de modernização
Visto na pedra: talho-a, domo-a, bato-a; tardia em relação aos centros europeus, o que incentivou o
E ante os meus olhos e a vaidade fátua consumo de mercadorias culturais luxuosas, mas desligadas da
Surge, formosa e nua, Galateia. realidade local. Assim, verifica-se que a recorrência a temas
advindos da Antiguidade Clássica era a correspondência estética
Mais um retoque, uns golpes... e remato-a; dessa tendência manifestada na objetividade social brasileira.
Digo-lhe: “Fala!”, ao ver em cada veia b) O refinamento da linguagem e as formas labirínticas dos versos
Sangue rubro, que a cora e aformoseia... do soneto Vaso grego atestam o quanto a poesia parnasiana no
E a estatua não falou, porque era estatua. Brasil, país de desigualdade social, asseverou a distância entre a
língua falada e a escrita.
Bem haja o verso, em cuja enorme escala c) A temática abordada no soneto Vaso grego é representativa da
Falam todas as vozes do universo, tendência atribuída pela crítica literária ao Parnasianismo no Brasil:
E ao qual também arte nenhuma iguala: a descrição apaixonada de objetos antigos, por meio da qual se
expressava, de forma evidente, a subjetividade do eu lírico.
Quer mesquinho e sem cor, quer amplo e terso,
Em vão não e que eu digo ao verso: “Fala!” Questão 05
E ele fala-me sempre, porque e verso. Texto I
Júlio César da Silva. De amar, minha Marília, a formosura
Não se podem livrar humanos peitos.
O soneto Arte suprema apresenta as características comuns da Adoram os heróis; e os mesmos brutos
poesia parnasiana. Assinale a alternativa em que as características Aos grilhões de Cupido estão sujeitos.
descritas se referem ao parnasianismo. Quem, Marília, despreza uma beleza,
a) Busca da objetividade, preocupação acentuada com o apuro A luz da razão precisa;
formal, com a rima, o ritmo, a escolha dos vocábulos, a E se tem discurso, pisa
composição e a técnica do poema. A lei, que lhe ditou a Natureza.
b) Tendência para a humanização do sobrenatural, com a oposição Tomás Antônio Gonzaga
entre o homem voltado para Deus e o homem voltado para a terra.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Texto II Questão 07
Esta, de áureos relevos, trabalhada TEXTO
De divas mãos, brilhante copa, um dia, "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Já de aos deuses servir como cansada, Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
Alberto de Oliveira E abro as janelas, pálido de espanto...

O Arcadismo (no século XVIII) e o Parnasianismo (em fins do E conversamos toda a noite, enquanto
século XIX) apresentam, em sua caracterização, pontos em A via láctea, como um pátio aberto,
comum, perceptíveis nos trechos acima. São eles: Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
a) bucolismo e busca da simplicidade de expressão. Inda as procuro pelo céu deserto.
b) amor galante e temas pastoris.
c) ausência de subjetividade e presença da temática e da mitologia Direis agora: "Tresloucado amigo!
greco-latina. Que conversas com elas? Que sentido
d) preferência pelas formas poéticas fixas, como o soneto, e pelas Tem o que dizem, quando estão contigo?"
rimas ricas.
e) a arte pela arte e o retorno à natureza. E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Questão 06 Capaz de ouvir e de entender estrelas."
Inania Verba
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava, Olavo Bilac
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregada a' tua cruz, e, em breve, Olavo Bilac é um dos maiores representantes do Parnasianismo
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava... brasileiro. Observando os procedimentos de construção desse
poema e as concepções artísticas da estética parnasiana, conclui-
O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava: se que esse texto
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve... a) encarna a impassibilidade defendida pelos parnasianos, uma
E a Palavra pesada abafa a Ideia leve, vez que a emoção se desloca do eu lírico para o interlocutor.
Que, perfume e dano, refulgia e voava. b) confirma a tendência dos parnasianos no sentido de construção
de uma poética voltada para temas cotidianos.
Quem o molde achará para a expressão de tudo? c) contraria a tese parnasiana, segundo a qual a beleza da poesia
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas estaria na ausência dos sentimentos e na descrição objetiva.
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta? d) ironiza os sentimentos amorosos, ao criar um diálogo fictício
entre o eu lírico e seu interlocutor, numa situação real absurda.
E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo? e) destaca os sentimentos amorosos como o fio condutor da
E as palavras de fé que nunca foram ditas? existência: sem amor, o mundo perde o brilho e nada mais tem
E as confissões de amor que morrem na garganta?! sentido.
Olavo Bilac
Questão 08 (UFG)
Olavo Bilac é o principal representante do Parnasianismo no Brasil. Leia o soneto a seguir.
No poema acima, o poeta XXXI
a) confirma sua filiação ao Parnasianismo, ao destacar que a frieza Longe de ti, se escuto, porventura,
e a impassibilidade típicas do movimento impedem que o eu lírico Teu nome, que uma boca indiferente
sinta-se dominado por sentimentos exaltados. Entre outros nomes de mulher murmura,
b) revela a dificuldade de adequar-se a imposição parnasiana de Sobe-me o pranto aos olhos, de repente...
frieza emocional e impassibilidade na expressão poética, diante
dos sentimentos que se revelam presentes no eu lírico. Tal aquele, que, mísero, a tortura
c) afirma que o que se passa em seu foro íntimo reflete a tese Sofre de amargo exílio, e tristemente
parnasiana de que a poesia deve ser racional, objetiva e não A linguagem natal, maviosa e pura,
expressar o envolvimento emocional do eu lírico com o tema Ouve falada por estranha gente...
tratado.
d) nega a influência das teses parnasianas em sua poesia, uma Porque teu nome é para mim o nome
vez que revela sentir-se dominado por fortes sentimentos, a que dá De uma pátria distante e idolatrada,
vazão através de sua expressão poética marcada pela Cuja saudade ardente me consome:
subjetividade.
e) assume, metalinguisticamente, não submeter sua poesia E ouvi-lo é ver a eterna primavera
parnasiana à necessidade de se buscar a forma perfeita, mesmo E a eterna luz da terra abençoada,
em detrimento do conteúdo, uma vez que precisa dar vazão aos Onde, entre flores, teu amor me espera.
sentimentos que o dominam. (BILAC, Olavo. "Melhores poemas".)

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193
Aula 19 - Parnasianismo
Olavo Bilac, mais conhecido como poeta parnasiano, expressa d) Longe da pátria, sob um céu diverso
traços românticos em sua obra. No soneto apresentado observa-se Onde o sol como aqui tanto não arde,
o seguinte traço romântico: Chorei saudades do meu lar querido
a) objetividade do eu lírico. – Ave sem ninho que suspira à tarde. –
b) predominância de descrição. e) Eu morro qual nas mãos da cozinheira
c) utilização de universo mitológico. O marreco piando na agonia…
d) erudição do vocabulário. Como o cisne de outrora… que gemendo
e) idealização do tema amoroso. Entre os hinos de amor se enternecia.

Questão 03
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO "Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
Questão 01 (Acafe 2017) A pena, como em prata firme
“Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se voltavam Corre o cinzel.
para o exame e para a crítica da realidade, o Parnasianismo Corre; desenha, enfeita a imagem,
representou na poesia um retorno ao clássico, com todos os seus A idéia veste:
ingredientes: o princípio do belo na arte, a busca do equilíbrio e da Cinge-lhe o corpo a ampla roupagem
perfeição formal. Os parnasianos acreditavam que o sentido maior Azul-Celeste
da arte reside nela mesma, em sua perfeição, e não na sua relação Torce, aprimora, alteia, lima
com o mundo exterior.” A frase; e, enfim,
CEREJA; MAGALHÃES, 1999, p. 334. No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim."
Sobre o Parnasianismo, assinale a alternativa correta. Olavo Bilac
a) Os maiores expoentes do Parnasianismo, na poesia e na prosa,
ocuparam-se da literatura indianista, na qual exaltavam a dignidade O Parnasianismo tem como uma de suas características mais
do nativo e a beleza superior da paisagem tropical. marcantes o ideal de “Arte pela Arte”, que se desdobra no “Arte
b) Um exemplo de poesia parnasiana é a obra Suspiros poéticos e sobre a Arte”. O poema acima, perfeita expressão desses ideais,
saudade, de Gonçalves de Magalhães, na qual o poeta anuncia a a) tem como referente o próprio código, o que é típico da
revolução literária, libertando-se dos modelos românticos, metalinguagem.
considerados ultrapassados.
b) imprime ao poema as marcas de sua atitude pessoal, seus
c) Os parnasianos consideravam que certos princípios românticos,
sentimentos.
como a simplicidade da linguagem, valorização da paisagem
nacional, emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiros, c) busca persuadir o receptor a adotar certo comportamento.
sentimentalismo, tudo isso ocultava as verdadeiras qualidades da d) faz uso da primeira pessoa, eivando o poema de subjetividade.
poesia. e) concentra-se no processo de construção do texto, abusando de
d) Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa figuras de linguagem.
exemplificam a tendência de uma poesia pura, indiferente às
contingências históricas, com sátira à mestiçagem e elogio à
Questão 04 (Unifesp 2013)
nobreza local.
Essa poesia não logrou estabelecer-se em Portugal. De origem
Questão 02 (Unesp 2017) francesa, suas primeiras manifestações datam de 1866, quando
um editor parisiense publica uma coletânea de poemas; em 1871 e
Os parnasianos brasileiros se distinguem dos românticos pela
1876, saem outras duas coletâneas. Os poetas desse movimento
atenuação da subjetividade e do sentimentalismo, pela ausência
literário pregam o princípio da Arte pela Arte, isto é, defendem uma
quase completa de interesse político no contexto da obra e pelo
arte que não sirva a nada e a ninguém, uma arte inútil, uma arte
cuidado da escrita, aspirando a uma expressão de tipo plástico.
voltada para si própria. A Arte procuraria a Beleza e a Verdade que
(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)
existiriam nos seres concretos, e não no sentimento do artista. Por
A referida “atenuação da subjetividade e do sentimentalismo” está isso, o belo se confundiria com a forma que o reveste, e não com
bem exemplificada na seguinte estrofe do poeta parnasiano Alberto algo que existiria dentro dele. Daí vem que esses poetas sejam
de Oliveira (1859-1937): formalistas e preguem o cuidado da forma artística como exigência
a) Quando em meu peito rebentar-se a fibra, preliminar. Para consegui-lo, defendem uma atitude de
Que o espírito enlaça à dor vivente, impassibilidade diante das coisas: não se emocionar jamais; antes,
Não derramem por mim nem uma lágrima impessoalizar-se tanto quanto possível pela descrição dos objetos,
Em pálpebra demente. via de regra inertes ou obedientes aos movimentos próprios da
b) Erguido em negro mármor luzidio, Natureza (o fluxo e refluxo das ondas do mar, o voo dos pássaros,
Portas fechadas, num mistério enorme, etc.). Esteticistas, anseiam uma arte universalista.
Numa terra de reis, mudo e sombrio, Em Portugal, tentou-se introduzir esse movimento; certamente,
Sono de lendas um palácio dorme. impregnou alguns poetas, exerceu influência, mas não passou de
c) Eu vi-a e minha alma antes de vê-la prurido, que pouco alterou o ritmo literário do tempo. Na verdade, o
Sonhara-a linda como agora a vi; modo fortuito como alguns se deixaram contaminar da nova moda
Nos puros olhos e na face bela, poética revelava apenas veleidade francófila, em decorrência de
Dos meus sonhos a virgem conheci.
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194
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

razões de gosto pessoal ou de grupos restritos: faltou-lhes intuito Furtivas glórias, tácitos favores,
comum. Hei-de enfim possuir: porém segredo!”
(Massaud Moisés. A literatura portuguesa, 1999. Adaptado.)
• Os árcades produziram poesia de concepção clássica; daí a
As informações apresentadas no texto referem-se à literatura
notória presença de referências à mitologia. Os versos de Bocage
a) simbolista, cuja busca pelo Belo implicou a liberdade na são a confirmação desta prática poética.
expressão dos sentimentos. O texto deixa claro que essa literatura
alcançou notável aceitação entre os poetas da época. d) “Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma
b) simbolista, cuja preocupação com a expressão do sentimento A esta tortura de homem e de artista:
filia-se à tradição poética do Renascimento. O texto deixa claro que Desdém pelo que encerra a minha palma,
essa literatura teve um desenvolvimento tímido na cena literária E ambição pelo mais que não exista;”
portuguesa.
c) parnasiana, cuja preocupação com a objetividade a opõe ao • No texto parnasiano, é comum a identificação de elementos de
subjetivismo romântico. O texto deixa claro que essa literatura não conformação subjetiva, como se observa nos versos de Bilac
se impôs na cena literária portuguesa. transcritos acima.
d) parnasiana, cuja liberdade de expressão e cujo compromisso
e) “Assim eu te amo, assim; mais do que podem
social permitem fundamentar a Arte pela Arte. O texto deixa claro
Dizer-te os lábios meus, – mais do que vale
que essa literatura teve pouco espaço na cena literária portuguesa.
Cantar a voz do trovador cansada:
e) realista, cuja influência da tradição clássica é fundamental para O que é belo, o que é justo, santo e grande
se chegar à perfeição. O texto deixa claro que essa literatura teve Amo em tí. – Por tudo quanto sofro,
uma disseminação irregular na cena literária portuguesa. Por quando já sofri, por quanto ainda
Me resta sofrer, por tudo eu te amo!”
Questão 05 (Ufpa 2012)
Estilo de época corresponde a um conjunto de características de • Gonçalves Dias, ainda que reconhecido como o autor de
um grupo de escritores pertencentes à mesma circunstância textos assinalados por motivos de grande nacionalismo,
histórica e sociocultural, mantendo-se o respeito às características produziu poemas de expressão lírico-amorosa indiscutível.
individuais de cada autor. Assim sendo, o artista, mesmo sob a
orientação de um sistema de normas, padrões literários, vistos de Questão 06 (Insper 2012)
maneira genérica, produz a sua criação literária de modo a Texto
conferir-lhe características próprias, tendo em vista sua visão de Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via
mundo. Dessa forma, o artista torna perceptível sua capacidade de Que, aos raios do luar iluminada,
trabalhar a linguagem de forma particularizada e de manifestar-se, Entre as estrelas trêmulas subia
segundo escolhas que melhor atendam a sua perspectiva e Uma infinita e cintilante escada.
capacidade de apreensão do mundo.
E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada
Considerando-se os comentários feitos sobre cada texto literário Degrau, que o ouro mais límpido vestia,
transcrito abaixo, identifique a alternativa em que as afirmações Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada,
sobre os autores citados não estão em consonância com o estilo Ressoante de súplicas, feria...
de época que eles representam.
a) “Quem a primeira vez chegou a ver-vos, Tu, mãe sagrada! vós também, formosas
Nise, e logo se pôs a contemplar-vos, Ilusões! sonhos meus! Íeis por ela
Bem merece morrer por conversar-vos Como um bando de sombras vaporosas.
E não poder viver sem merecer-vos.”
E, ó meu amor! eu te buscava, quando
• Gregório de Matos Guerra é poeta do Barroco brasileiro, cuja Vi que no alto surgias, calma e bela,
obra se caracteriza por temas variados: poesia religiosa, lírico- O olhar celeste para o meu baixando...
amorosa e satírica. Olavo Bilac,Via-Láctea.

b) “No entanto o capitão manda a manobra, Embora seja identificado como o principal poeta parnasiano
E após fitando o céu que se desdobra, brasileiro, Olavo Bilac, nesse soneto, explora um aspecto do
Tão puro sobre o mar, Romantismo, o qual está explicitado na seguinte alternativa:
Diz do fumo entre os densos nevoeiros: a) objetividade e racionalismo do eu lírico.
‘Vibrai rijo o chicote, marinheiros! b) subjetividade numa atmosfera onírica.
Fazei-os mais dançar!...’" c) forte presença de elementos descritivos.
d) liberdade de criação e de expressão.
• Castro Alves, pertencente à terceira geração romântica, e) valorização da simplicidade, bucolismo.
emprestou o seu gênio criador à causa dos escravos; daí a sua
relação com a poesia de tema social. Questão 07 (Enem 2013)
Mal secreto
c) “Sabei, amigos Zéfiros, que cedo, Se a cólera que espuma, a dor que mora
Entre os braços de Nise, entre estas flores,

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Aula 19 - Parnasianismo
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora a) "dela" (verso 4, primeira estrofe) refere-se a uma mulher.
O coração, no rosto se estampasse; b) "A dolorosa angústia vespertina" (verso 2, primeira estrofe)
refere-se a uma mulher.
Se se pudesse, o espírito que chora, c) "dela" (verso 4, primeira estrofe) refere-se a "tarde".
Ver através da máscara da face, d) "dentro dela" (verso 4, primeira estrofe) refere-se a "janela".
Quanta gente, talvez, que inveja agora e) "céu de opala" (verso 3, quarta estrofe) refere-se a um céu
Nos causa, então piedade nos causasse! sombrio.

Quanta gente que ri, talvez, consigo Questão 09


Guarda um atroz, recôndito inimigo, A um poeta
Como invisível chaga cancerosa! Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Quanta gente que ri, talvez existe, Do claustro, na paciência e no sossego,
Cuja ventura única consiste Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!
Em parecer aos outros venturosa!
Mas que na forma se disfarce o emprego
CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Do esforço: e trama viva se construa
Correia. Brasília: Alhambra, 1995. De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e
racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Não se mostre na fábrica o suplicio
Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são Do mestre. E natural, o efeito agrade
julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse Sem lembrar os andaimes do edifício:
julgamento revela que
a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir Porque a Beleza, gêmea da Verdade
de forma dissimulada. Arte pura, inimiga do artifício,
b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado É a força e a graça na simplicidade.
por um grupo social. Olavo Bilac
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o
sentimento de inveja. Com base no texto acima e em seus conhecimentos sobre o
d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do Parnasianismo, assinale V para o que for verdadeiro e F para o
próximo. que for falso, quanto a essa estética literária. Foi um movimento
e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao essencialmente poético, que reagiu ao sentimentalismo romântico.
convívio social. I - Para os parnasianos, a poesia é, sobretudo, forma que se
sobrepõe ao conteúdo e às ideias.
Questão 08 (Fgv 2007) II - No Parnasianismo, a arte tinha um sentido utilitário e um
Leia o poema de Olavo Bilac: compromisso social.
Vê-se no espelho; e vê, pela janela, III - Para os parnasianos a verdade residia na beleza da obra, e
A dolorosa angústia vespertina: essa, na sua perfeição formal.
IV - O Parnasianismo revela preferência pela objetividade, pelos
Pálido morre o sol... Mas, ai! Termina
temas greco-latinos e por formas fixas, como o soneto.
Outra tarde mais triste, dentro dela;
Está(ão) correto(s):
Outra queda mais funda lhe revela a) apenas I e II
O aço feroz, e o horror de outra ruína; b) apenas III e IV
c) apenas I, II, III
Rouba-lhe a idade, pérfida e assassina,
d) apenas II e III
Mais do que a vida, o orgulho de ser bela! e) apenas I, III e IV

Fios de prata... Rugas. O desgosto Questão 10


Enche-a de sombras, como a sufocá-la. Inania Verba
O pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
Numa noite que aí vem... E no seu rosto
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,
Uma lágrima trêmula resvala, Que, perfume e clarão, refulgia e voava.
Trêmula, a cintilar, - como, ao sol posto,
Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Uma primeira estrela em céu de opala.
Ai! Quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? E o céu que foge à mão que se levanta?
A respeito do poema, pode-se dizer que: (Olavo Bilac, POESIAS)

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CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Questão 12 (Uerj)
Indique a alternativa que NÃO ESTÁ de acordo com o poema. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
a) O poeta parnasiano privilegiou a forma, a maneira mais perfeita Sempre que se agita esta questão das "reivindicações",
que encontrou para efetivar sua arte, mesmo que, para isso, ele escovam-se os velhos chavões, e, com um grande ar de
tivesse que sacrificar suas emoções. Nesse sentido, os versos de importância, os 1filósofos decidem sem apelação que a mulher não
Olavo Bilac são uma crítica ao Parnasianismo. pode ser mais do que o anjo do lar, a vestal encarregada de vigiar
b) O poeta fala da luta entre ideias e palavras e entre forma e o fogo sagrado, a 2depositária das tradições da família... e das
conteúdo, quando estes fracassam ao traduzirem nossos chaves da despensa. Todo esse dispêndio de palavras 3inúteis
sentimentos. As estrofes citadas são um derramamento da alma serve apenas para encobrir a 4fealdade da única razão séria que
sobre essa luta, contrariando os preceitos parnasianos de podemos apresentar contra as pretensões das mulheres: o nosso
contenção lírica. egoísmo, o receio que temos de que nos despojem das nossas
c) O tema básico das estrofes é o amor irrealizado, que causa prerrogativas seculares - o medo de perder as posições, as
sofrimentos ao poeta. regalias, as honras que o preconceito bárbaro confiou
d) Os versos são alexandrinos, muito apreciados pelos exclusivamente ao nosso século. Compreende-se: quem se
parnasianos. habituou a empunhar o bastão do comando não se resigna
e) O verso "E a Palavra pesada abafa a Ideia leve" contém uma facilmente a passá-lo a outras mãos: é mais fácil deixar a vida do
antítese, que representa a contradição entre forma e conteúdo que deixar o poder.
exposta pelo poeta. (18/08/1901)
(BILAC, Olavo. VOSSA INSOLÊNCIA. São Paulo: Cia. das Letras,
Questão 11 1997, p. 313.)
O Vinho de Hebe
Quando do Olimpo nos festins surgia O narrador do texto critica o papel atribuído à mulher em nossa
Hebe risonha, os deuses majestosos sociedade.
Os copos estendiam-lhe, ruidosos,
Dos trechos a seguir, o único que corresponde ao papel criticado é:
E ela, passando, os copos lhes enchia...
a) "Ser mulher, e oh! atroz, tantálica, tristeza! / ficar na vida qual
A Mocidade, assim, na rubra orgia uma águia inerte, presa / nos pesados grilhões dos preceitos
Da vida, alegre e pródiga de gozos, sociais!" (Gilka Machado)
Passa por nós, e nós também, sequiosos, b) "Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste,
Nossa taça estendemos-lhe, vazia... assim magro, / nem estes olhos tão vazios, / nem o lábio amargo."
(Cecília Meireles)
E o vinho do prazer em nossa taça c) "Já agora as feministas venceram radicalmente e não há
Verte-nos ela, verte-nos e passa... profissão masculina que elas não ataquem e onde não vençam."
Passa, e não torna atrás o seu caminho. (Rachel de Queiroz)
d) "É com um pouco de pudor que sou obrigada a reconhecer que
Nós chamamo-la em vão; em nossos lábios o que mais interessa à mulher é o homem." (Clarice Lispector)
Restam apenas tímidos ressábios,
Como recordações daquele vinho. Questão 13 (UFF)
Raimundo Correia Texto para as próximas duas questões

Após a leitura do poema, percebe-se que os parnasianos, na A pátria


virada do século, notabilizaram-se por: Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
a) elaborarem poemas de métrica rigorosa nos quais a Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
impessoalidade do sujeito lírico permitia a perspectiva filosofante e A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
a visada descritiva. É um seio de mãe a transbordar carinhos.
b) denunciarem o autoritarismo da República Velha e as más Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
condições de vida da maioria da população dá cidade do Rio de Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Janeiro. Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
c) revelarem perícia na elaboração de poemas de quatro a seis Vê que grande extensão de matas, onde impera
versos cujos temas principais eram o amor não correspondido e as Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
características da natureza nacional.
d) escreverem longos poemas narrativos em verso livre misturando Boa terra! jamais negou a quem trabalha
mitos greco-latinos e o cotidiano das modernas metrópoles. O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
e) recusarem-se a participar da vida política no início da República
e por retomarem a lírica religiosa de tradição renascentista e Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
barroca. Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!

Criança! não verás país nenhum como este:


Imita na grandeza a terra em que nasceste!
(Olavo Bilac)

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Aula 19 - Parnasianismo
As estéticas literárias, embora costumem ser datadas nos livros
didáticos com início e término pós-determinados, não se deixam
aprisionar pela rigidez cronológica.
Assinale o comentário adequado em relação à expressão estética
do poema "A Pátria" de Olavo Bilac (1865-1918).
a) O poema transcende a estética parnasiana ao tratar a temática
da exaltação da terra, segundo a estética romântica.
b) O poema exemplifica os preceitos da estética parnasiana e
valoriza a forma na expressão comedida do sentimento nacional.
c) O poema se antecipa ao discurso crítico da identidade nacional -
tema central da estética modernista.
d) O poema se insere nas fronteiras rígidas da estética parnasiana,
dando ênfase à permanência do ideário estético, no eixo temporal
das escolas literárias.
e) O poema reflete os valores essenciais e perenes da realidade,
distanciando-se de um compromisso com a afirmação da
nacionalidade.

Questão 14 (Enem 2015)


Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se com um
projeto ideológico em construção na Primeira República. O
discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em
que
a) a paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto
brasileiro de grandeza.
b) a prosperidade individual, como a exuberância da terra,
independe de políticas de governo.
c) os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados
também aos ícones nacionais.
d) a capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que
se verifica naquele momento.
e) a valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-
estar social experimentado.

Questão 15 (Enem PPL 2014)


Abrimos o Brasil a todo o mundo: mas queremos que o Brasil seja
Brasil! Queremos conservar a nossa raça, a nossa história, e,
principalmente, a nossa língua, que é toda a nossa vida, o nosso
sangue, a nossa alma, a nossa religião.
BILAC, O. Últimas
conferências e discursos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1927.

Nesse trecho, Olavo Bilac manifesta seu engajamento na


constituição da identidade nacional e linguística, ressaltando a
a) transformação da cultura brasileira.
b) religiosidade do povo brasileiro.
c) abertura do Brasil para a democracia.
d) importância comercial do Brasil.
e) autorreferência do povo como brasileiro.

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CURSO ANUAL DE LITERATURA
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Elevação
AULA 20 - SIMBOLISMO Por sobre os pantanais, os vales orvalhados,
As montanhas, os bosques, as nuvens, os mares,
INTRODUÇÃO Para além do ígneo sol e do éter que há nos ares,
Para além dos confins dos tetos estrelados,

Flutuas, meu espírito, ágil peregrino,


E, como um nadador que nas águas afunda,
Sulcas alegremente a imensidão profunda
Com um lascivo e fluido gozo masculino.

Vai mais, vai mais além do lodo repelente,


Vai te purificar onde o ar se faz mais fino,
E bebe, qual licor translúcido e divino,
O puro fogo que enche o espaço transparente.

Depois do tédio e dos desgostos e das penas


Que gravam com seu peso a vida dolorosa,
Feliz daquele a quem uma asa vigorosa
Pode lançar às várzeas claras e serenas;

Aquele que, ao pensar, qual pássaro veloz,


De manhã rumo aos céus liberto se distende,
Obra de Odilon Redon Que paira sobre a vida e sem esforço entende
A linguagem da flor e das coisas sem voz!
Charles Baudelaire
O berço do Simbolismo é o mesmo do Parnasianismo: a
publicação do primeiro volume do Parnasse Contemporain, em No poema acima, já encontramos algumas das
1866. características que serão marcas da estética Simbolista, como a
O poeta francês Charles Baudelaire, porém, é considerado um busca por transcendência, o desejo de se integrar espiritualmente
precursor do simbolismo, com a obra As Flores do Mal, publicada à natureza e um pessimismo que resulta numa dor existencial.
Diante dessas características, assim como vimos que
em 1857, obra que já exibe traços do movimento. Mas é só em
podemos estabelecer um paralelo entre Classicismo,
1881 que o escritor francês Paul Bourget define o novo estilo, Neoclassicismo (Arcadismo) e Parnasianismo, também podemos
chamando-o de “decadentismo”. Apenas em 1886, o termo observar a relação que se estabelece entre Simbolismo e
decadentismo é substituído por simbolismo em um manifesto Romantismo. Veja o que diz a esse respeito Afrânio Coutinho:
publicado em 1886 no suplemento Figaro Littéraire. “O Simbolismo foi assim uma forma do espírito romântico, sob
“O Simbolismo surge não apenas como uma estética oposta à certos aspectos uma continuação, um Romantismo indireto e
literatura racional objetiva, plástica e descritiva realizada por extremado, tanto quanto ele fugindo do mundo exterior por
Realismo, Naturalismo e Parnasianismo, mas como uma recusa a acreditar que só real aquilo que é refletido pela consciência
todos os valores ideológicos e existenciais da burguesia. Em vez individual. Destarte, para o Simbolismo o que importa são os
da "belle époque" do capitalismo financeiro e industrial, do estados de alma e destes somente os que podem ser conhecidos –
imperialismo que se ampliava por boa parte do mundo, temos o os seus próprios. Daí sua religião do eu, a forte nota individualista,
marginalismo de Verlaine, o amoralismo de Rimbaud e a destruição oposta à filosofia social – e a religião das sensações em lugar da
da linguagem por Mallarmé. filosofia da estética. E como decorrência natural desses dois
O artista experimenta agora, à maneira dos românticos, um princípios, as atitudes antirracionais e místicas, o tom idealista e
profundo mal-estar na cultura e na realidade. Mergulha então no religioso, a tendência ao isolamento, o respeito pela música, a
irracional, fugindo ao mundo proposto pelo racionalismo burguês, e teoria das correspondências sensoriais, a religião da beleza. A
descobrindo neste mergulho um universo estranho de associações poesia foi separada da vida social, confundida com a música,
de ideias, lembranças sem um significado definido. Universo etéreo explorando o inconsciente, à custa de símbolos e sugestões,
e brumoso, de sensações evanescentes que o poeta deve preferindo o mundo invisível ao visível, querendo compreender a
reproduzir através da palavra escrita, se é que existem palavras vida pela intuição e pelo irracional, explorando a realidade situada
para exprimi-las. além do real e da razão.
O Simbolismo define-se pelo anti-intelectualismo. Propõe a Sendo a vida misteriosa e inexplicável, como pensavam os
poesia pura, não racionalizada, que use imagens e não conceitos. simbolistas, era natural que fosse representada de maneira
É uma poesia difícil, hermética, misteriosa, que destrói a poética imprecisa, vaga, nebulosa, ininteligível e obscura.”
tradicional.” Afrânio Coutinho, A Literatura no Brasil

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Aula 20 - Simbolismo
“O Simbolismo foi assim uma forma do espírito romântico, sob Cárcere das almas
certos aspectos uma continuação, um Romantismo indireto e Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
extremado, tanto quanto ele fugindo do mundo exterior por Soluçando nas trevas, entre as grades
acreditar que só real aquilo que é refletido pela consciência Do calabouço olhando imensidades,
individual. Destarte, para o Simbolismo o que importa são os Mares, estrelas, tardes, natureza.
estados de alma e destes somente os que podem ser conhecidos –
os seus próprios. Daí sua religião do eu, a forte nota individualista, Tudo se veste de uma igual grandeza
oposta à filosofia social – e a religião das sensações em lugar da Quando a alma entre grilhões as liberdades
filosofia da estética. E como decorrência natural desses dois Sonha e, sonhando, as imortalidades
princípios, as atitudes antirracionais e místicas, o tom idealista e Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
religioso, a tendência ao isolamento, o respeito pela música, a
teoria das correspondências sensoriais, a religião da beleza. A Ó almas presas, mudas e fechadas
poesia foi separada da vida social, confundida com a música, Nas prisões colossais e abandonadas,
explorando o inconsciente, à custa de símbolos e sugestões, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
preferindo o mundo invisível ao visível, querendo compreender a
vida pela intuição e pelo irracional, explorando a realidade situada Nesses silêncios solitários, graves,
além do real e da razão.” que chaveiro do Céu possui as chaves
Afrânio Coutinho, A Literatura no Brasil para abrir-vos as portas do Mistério?!
Cruz e Sousa
SIMBOLISMO NO BRASIL
A literatura brasileira, no final do século XIX, estava dominada Incensos
pelos ideais e pelas normas estéticas manifestadas a partir de Dentre o chorar dos trêmulos violinos,
1870. Vigorava o propósito de retratar a realidade objetivamente, o Por entre os sons dos órgãos soluçantes
que refletia o materialismo da época. Sobem nas catedrais os neblinantes
No entanto, à medida que se aproximava o fim do século, ficava Incensos vagos, que recordam hinos...
evidente que essas escolas aproximavam-se do esgotamento.
Ressurge, então, a herança romântica, sob a forma do Simbolismo, Rolos d'incensos alvadios, finos
e uma visão de mundo pautada pela subjetividade volta a se E transparentes, fulgidos, radiantes,
manifestar artisticamente. Que elevam-se aos espaços, ondulantes,
Em Quimeras e Sonhos diamantinos.
CRUZ E SOUSA
Relembrando turíbulos de prata
Obras Principais: Incensos aromáticos desata
Poesia Teu corpo ebúrneo, de sedosos flancos.
Broquéis (1893); Faróis (1900); Últimos Sonetos (1905); O livro
Derradeiro (1961). Claros incensos imortais que exalam,
Que lânguidas e límpidas trescalam
Prosa poética As luas virgens dos teus seios brancos.
Tropos e Fanfarras (1885), em conjunto com Virgílio Várzea; Missal Cruz e Sousa
(1893); Evocações (1898).
Lubricidade
A obra de Cruz e Sousa, segundo os críticos, alcança uma Quisera ser a serpe venenosa
densidade lírica e dramática só comparável ao dos grandes Que dá-te medo e dá-te pesadelos
simbolistas franceses, como Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Para envolverem, ó Flor maravilhosa,
Stéphane Mallarmé. Negro, filhos de escravos e pobre, Nos flavos turbilhões dos teus cabelos.
encontramos em sua obra uma síntese entre as formas de
expressão prestigiadas na Europa e o drama espiritual de um Quisera ser a serpe veludosa
homem marginalizado socialmente e atormentado filosoficamente. Para, enroscada em múltiplos novelos,
Antonio Candido comenta que as maiores influências que o poeta Saltar-te aos seios de fluidez cheirosa
sofreu, e que o marcaram para sempre, foram a de Baudelaire e a E babujá-los e depois mordê-los...
de Antero de Quental. ―Ao primeiro, deve não apenas o domínio
do poema em prosa, mas certo satanismo, o senso dos contrastes Talvez que o sangue impuro e flamejante
e das correspondências, o gosto pela forma lapidar. Ao segundo Do teu lânguido corpo de bacante,
deve o pendor pela poesia filosófica, o culto da noite, a tensão Da langue ondulação de águas do Reno
meditativa e a predileção pelo soneto.

Temas básicos Estranhamente se purificasse...


- A obsessão pela cor branca; Pois que um veneno de áspide vorace
- O erotismo e sua sublimação; Deve ser morto com igual veneno...
- O sofrimento da condição negra; Cruz e Sousa
- A espiritualização, a busca pela transcendência.

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200
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Tristeza do infinito Antífona


Anda em mim, soturnamente, "Ó Formas , brancas, Formas claras
uma tristeza ociosa, De luares, de neves, de neblinas!...
sem objetivo, latente, Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
vaga, indecisa, medrosa. Incensos dos turíbulos das aras...

Como ave torva e sem rumo, Formas do Amor, constelarmente puras,


ondula, vagueia, oscila De Virgens e de Santas vaporosas...
e sobe em nuvens de fumo Brilhos errantes, mádidas frescuras
e na minh'alma se asila. E dolências de lírios e de rosas...

Uma tristeza que eu, mudo, Indefiníveis músicas supremas,


fico nela meditando Harmonias da Cor e do Perfume.
e meditando, por tudo Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
e em toda a parte sonhando. Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume.
Cruz e Sousa
Tristeza de não sei donde,
de não sei quando nem como... Litania dos pobres
flor mortal, que dentro esconde Os miseráveis, os rotos
sementes de um mago pomo. São as flores dos esgotos
São espectros implacáveis
Dessas tristezas incertas, Os rotos, os miseráveis
esparsas, indefinidas... São prantos negros de furnas
como almas vagas, desertas Caladas, mudas, soturnas (...)
no rumo eterno das vidas. Faróis à noite apagados
Por ventos desesperados(...)
Tristeza sem causa forte, Bandeiras rotas, sem nome,
diversa de outras tristezas, Das barricadas da fome.
nem da vida nem da morte Bandeiras estraçalhadas
gerada nas correntezas... Das sangrentas barricadas.
Cruz e Sousa
Tristeza de outros espaços,
de outros céus, de outras esferas, O Emparedado
de outros límpidos abraços, Se caminhares para a direita baterás e esbarrarás ansioso, aflito,
de outras castas primaveras. numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e
Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de
Dessas tristezas que vagam Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira, te mergulhará
com volúpias tão sombrias profundamente no espanto! Se caminhares para a frente, ainda
que as nossas almas alagam nova parede, feita de Despeitos e Impotências, tremenda, de
de estranhas melancolias. granito, broncamente se elevará ao alto! Se caminhares, enfim,
para trás, ah! Ainda, uma derradeira parede, fechando tudo,
Dessas tristezas sem fundo, fechando tudo — horrível! — parede de Imbecilidade e Ignorância,
sem origens prolongadas, te deixará num frio espasmo de terror absoluto [...].
sem saudades deste mundo, E, mais pedras, mais pedras se sobreporão às pedras já
sem noites, sem alvoradas. acumuladas, mais pedras, mais pedras [...] Pedras destas ódios as,
caricatas e fatigantes Civilizações e Sociedades [...] Mais pedras,
Que principiam no sonho mais pedras! E as estranhas paredes hão de subir, — longas,
e acabam na Realidade, negras, terríficas! Hão de subir, subir, subir mudas, silenciosas, até
através do mar tristonho às Estrelas, deixando-te para sempre perdidamente alucinado e
desta absurda Imensidade. emparedado dentro do teu Sonho.
Cruz e Sousa
Certa tristeza indizível,
abstrata, como se fosse ALPHONSUS DE GUIMARAENS
a grande alma do Sensível
Obras: Poesia
magoada, mística, doce.
Septenário das Dores de Nossa Senhora e Câmara Ardente
(1899); Dona Mística (1899); Kyriale (1902), seu primeiro livro,
Ah! tristeza imponderável,
publicado tardiamente; Pauvre Lyre (1921); Pastoral dos Crentes
abismo, mistério, aflito,
do Amor e da Morte (1923), A Escada de Jacó (1938); Pulvis
torturante, formidável...
(1938).
ah! tristeza do Infinito!
Cruz e Sousa Prosa: Os Mendigos (1920).

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201
Aula 20 - Simbolismo
Alphonsus de Guimaraens é apontado como um dos principais EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM
representantes do Simbolismo. Sua obra apresenta uma linguagem
simples, repleta de lirismo, e um ritmo bem musical, carregado de Questão 01
aliterações e sinestesias. (UFV) Considere as alternativas abaixo, relativas ao
O poeta sofreu, quando jovem, a morte de uma prima de 17 anos a Simbolismo:
quem amava, Constança, e a presença da amada perdida será I - No plano temático, o Simbolismo foi marcado pelo mistério e
constante em sua poesia: a mulher é apresentada como uma pela inquietação mística com problemas transcendentais do
deusa, perfeita e intocável, acessível apenas espiritualmente, homem. No plano formal, caracterizou-se pela musicalidade e
através da morte. Sua obra apresentará, então, um profundo certa quebra no ritmo do verso, precursora do verso livre do
misticismo e uma frequente referência à morte. modernismo.
II - O Simbolismo, surgido contemporaneamente ao
Ismália materialismo cientificista, enquanto atitude de espírito, passou
Quando Ismália enlouqueceu, ao largo dos maiores problemas da vida nacional. Já a
Pôs-se na torre a sonhar... literatura realista-naturalista acompanhou fielmente os modos
Viu uma lua no céu, de pensar das gerações que fizeram e viveram a Primeira
Viu outra lua no mar. República.
III - O Simbolismo, com Cruz e Sousa e Alphonsus de
No sonho em que se perdeu, Guimaraens, nossos maiores poetas do período, legou-nos
Banhou-se toda em luar... uma produção poética que se caracterizou pela busca da "arte
Queria subir ao céu, em arte", isto é, uma preocupação com o verso artesanal,
Queria descer ao mar... friamente moldado. Devido a essa tendência à objetividade na
composição, o movimento também se denominou
E, no desvario seu, "decadentista".
Na torre pôs-se a cantar...
Estava longe do céu... Assinale a alternativa CORRETA:
Estava longe do mar... a) II e III verdadeiras.
b) I, II e III são verdadeiras.
E como um anjo pendeu c) Apenas I é verdadeira.
As asas para voar. . . d) apenas I e II são verdadeiras.
Queria a lua do céu, e) apenas II é verdadeira.
Queria a lua do mar...
Questão 02 (Espm 2006)
As asas que Deus lhe deu
O poeta francês Charles Baudelaire, citado por Ferreira Gullar,
Ruflaram de par em par...
escreveu em "As Flores do Mal" os famosos versos
Sua alma, subiu ao céu,
(traduzidos):
Seu corpo desceu ao mar...
"Como longos ecos que ao longe se confundem
Alphonsus de Guimaraens
Em uma tenebrosa e profunda unidade,
Vasta como a noite e como a claridade,
Eras a sombra do poente
Os perfumes, as cores e os sons..."
Eras a sombra do poente
Em calmarias bem calmas; Esses versos traduzem algo de influência destacada na literatura
E no ermo agreste, silente, brasileira nos fins do século XIX. Trata-se da:
Palmeira cheia de palmas. a) "torre-de-marfim", lugar isolado e distante dos problemas sociais
Eras a canção de outrora, e existenciais, para onde se refugiavam os parnasianos.
Por entre nuvens de prece;
b) "teoria do Humanitismo", princípio norteador das personagens
Palidez que ao longe cora
machadianas, no qual prevalece a lei do mais forte.
E beijo que aos lábios desce.
Eras a harmonia esparsa c) "teoria das correspondências", relação entre as diferentes
Em violas e violoncelos: esferas dos sentidos, ideário tão fundamental aos simbolistas.
E como um vôo de garça d) "poesia marianista", poemas de culto e exaltação a Virgem
Em solitários castelos. Maria (figura que se confunde com a amada do poeta).
Eras tudo, tudo quanto e) "poesia pau-brasil", poesia de exportação que resgata o
De suave esperança existe; primitivismo cultural.
Manto dos pobres e manto
Com que as chagas me cobriste. Questão 03
Eras o Cordeiro, a Pomba,
Texto I
A crença que o amor renova...
Com o capitalismo e a evolução da ciência e da tecnologia, o
És agora a cruz que tomba
mundo volta seu olhar para os interesses materiais. Entretanto,
À beira da tua cova.
a classe trabalhadora não obteve melhorias em suas condições
Alphonsus de Guimaraens
de vida, principalmente por causa da exploração de mão de
obra como meio de auferir grandes lucros pelos

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202
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

empreendedores capitalistas. Isso gerou insatisfação e noites de solidão, noites remotas


frustração ao homem comum, que passa a buscar conforto no que nos azuis da Fantasia bordo,
lado místico e espiritual do universo. vou constelando de visões ignotas.
Tal busca pelo subjetivismo revela-se na arte como um retorno
ao Romantismo, em que o anseio pelo refúgio fora do mundo Sutis palpitações à luz da lua,
real era valorizado. Nesse sentido, o predomínio da emoção anseio dos momentos mais saudosos,
supera o cientificismo e o objetivismo do período anterior, mas quando lá choram na deserta rua
uma emoção carregada de frustrações e tristezas em as cordas vivas dos violões chorosos.
decorrência do momento vivido na época. Cruz e Sousa
Fonte:
http://educacao.globo.com/literatura/assunto/movimentos- Questão 04 (ITA 2013)
literarios/simbolismo.html O poema acima traz a seguinte característica da escola literária
em que se insere:
Texto II a) tendência à morbidez.
Ânsia inocente b) lirismo sentimental e intimista.
Ai! Como bom para nós dois seria c) precisão vocabular e economia verbal.
Se o bom Deus, dessas lendas milagrosas, d) depuração formal e destaque para a sensualidade feminina.
Cheio de amor, nos concedesse um dia e) registro da realidade através da percepção sensorial do
Dois brancos pares de asas vaporosas! poeta.

Questão 05 (Espcex (Aman) 2013)


Não sei mesmo, de alegre, o que eu faria!
Deixando os lírios e deixando as rosas, Leia a estrofe que segue e assinale a alternativa correta,
feliz contigo às nuvens subiria quanto às suas características.
para o noivado em flor das nebulosas...
“Visões, salmos e cânticos serenos
na carícia de pluma de uma Trova. Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Viveríamos nós, nós dois sozinhos, Dormências de volúpicos venenos
Lá nas terras fiéis da Lua-Nova... Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...”

a) valorização da forma como expressão do belo e a busca


Morrer longe dos homens e das casas
pela palavra mais rara – Parnasianismo.
Se Deus nos desse, como aos passarinhos,
b) linguagem rebuscada, jogos de palavras e jogos de
Dois brancos pares de travessas asas!
imagens, característica do cultismo – corrente do Barroco.
c) incidência de sons consonantais (aliterações) explorando o
Maranhão Sobrinho, Papéis Velhos... Roídos pela Traça do
caráter melódico da linguagem – Simbolismo.
Símbolo
d) pessimismo da segunda geração romântica, marcada por
vocábulos que aludem a uma existência mais depressiva –
(Uema 2015) A voz poética do texto II, explorando
Romantismo.
possibilidades expressivas propostas no Simbolismo, insere-se
e) lírica amorosa marcada pela sensualidade explícita que
no contexto histórico explicitado no texto I, pois revela a
substitui as virgens inacessíveis por mulheres reais, lascivas e
existência de
sedutoras – Naturalismo.
a) saudade intensa da amada, o que faz o eu-lírico buscá-la
nos sonhos, evidenciada nos versos da última estrofe. Questão 06 (Uem 2015)
b) expressão de desejo de morrer, uma vez que o locutor vive Assinale o que for correto sobre o poema abaixo e sobre seu
distante da amada, anunciada, sobretudo, nos versos da autor, Cruz e Souza.
segunda estrofe.
c) diálogo entre o enunciador e um interlocutor imaginário em Beleza morta
que aquele expressa o desejo de ambos transcenderem como De leve, louro e enlanguescido helianto
dois anjos, sobretudo, nos versos da primeira estrofe. Tens a flórea dolência contristada...
d) referência constante aos milagres da vida eterna, em que o Há no teu riso amargo certo encanto
enunciador busca o amor infinito, metaforizado pelas palavras De antiga formosura destronada.
do último verso da terceira estrofe.
e) ideia expressa de sonho materializado, em que o locutor No corpo, de um letárgico quebranto
demonstra já ter vivenciado essas viagens nebulosas, Corpo de essência fina, delicada,
sobretudo, nos versos da terceira estrofe. Sente-se ainda o harmonioso canto
Da carne virginal, clara e rosada.
Violões que Choram... Sente-se o errante, as harmonias
Ah! plangentes violões dormentes, mornos, Quase apagadas, vagas, fugidias
soluços ao luar, choros ao vento... E uns restos de clarão de Estrela acesa...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
bocas murmurejantes de lamento. Como que ainda os derradeiros haustos
De opulências, de pompas e de faustos,
Noites de além, remotas, que eu recordo, As relíquias saudosas da beleza.
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203
Aula 20 - Simbolismo
Questão 08 (Uepa 2012)
01) O primeiro verso do poema já apresenta uma característica Respirando os ares da modernidade literária, a estética simbolista
formal marcante do Simbolismo, escola da qual Cruz e Sousa faz revela-se uma reação artística à referencialidade que
parte: o uso de aliterações, recurso que intensifica o potencial violentamente restringe a palavra poética ao mundo das coisas e
melódico da linguagem. conceitos. No intuito de libertar a linguagem poética, o Simbolismo
02) No primeiro terceto, as referências ao vago e ao fugidio explora diversos recursos sensoriais a fim de sugerir mistérios.
relacionam-se com a proposta literária do Simbolismo, que opta Simbolista, Alphonsus de Guimaraens escreve muitos textos que
pelo sugestivo e pelo intuitivo em detrimento de uma representação apelam para o símbolo visual, a imagem, carregado de insinuações
objetiva e direta da realidade. de misticismo e morte.
04) Reagindo aos ditames formais do Parnasianismo
contemporâneo, a lírica de Cruz e Sousa apresenta, em diversas Marque a alternativa cujos versos se relacionam ao comentário
ocasiões, poemas em versos nos quais a métrica irregular antecipa acima.
o Modernismo vindouro. A ode “Beleza morta” é um exemplo de tal
procedimento. a) Queimando a carne como brasas,
08) O reconhecimento imediato do valor artístico da obra de Cruz e Venham as tentações daninhas,
Sousa, que se mostrou semelhante, no fim do século XIX, àquele Que eu lhes porei, bem sob as asas,
experimentado pela de Olavo Bilac, contrasta com a crítica A alma cheia de ladainhas.
generalizada que essa obra sofreu no início do século seguinte, b) Quando Ismália enlouqueceu,
sobretudo por parte de Manuel Bandeira em seu primeiro livro Pôs-se na torre a sonhar...
publicado, Cinza das horas. Viu uma lua no céu,
16) A utilização de termos preciosos e vocábulos incomuns por Viu outra lua no mar.
parte dos autores simbolistas, tal como se percebe no poema c) Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? agosto,
“Beleza morta”, é fruto da recuperação de um dos procedimentos Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,
mais marcantes do Barroco: o conceptismo, no qual se verifica Brilhasse o luar, que importa? ou fosse o sol já posto,
uma elaboração rebuscada da linguagem. No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.
d) Lua eterna que não tiveste fases,
Questão 07 (Ucs 2012) Cintilas branca, imaculada brilhas,
O Simbolismo foi um movimento literário de grande E poeiras de astros nas sandálias trazes...
repercussão na produção dos escritores brasileiros. Nesse e) Venham as aves agoireiras,
período, eles buscaram evocar e sugerir imagens, explorando De risada que esfria os ossos...
as experiências sensoriais. Minh’alma, cheia de caveiras,
Leia o fragmento do poema Cárcere das Almas, de Cruz e Está branca de padre-nossos.
Souza, um dos representantes do Simbolismo.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades Questão 01 (Unifesp 2016)
Sonha e sonhando, as imortalidades O Simbolismo é, antes de tudo, antipositivista, antinaturalista e
Rasga no etéreo Espaço da Pureza. anticientificista. Com esse movimento, nota-se o despontar de uma
poesia nova, que ressuscitava o culto do vago em substituição ao
(TUFANO, Douglas. Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e culto da forma e do descritivo.
ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 173.) (Massaud Moisés. A literatura portuguesa, 1994. Adaptado.)
Analise a veracidade (V) ou a falsidade (F) das proposições Considerando esta breve caracterização, assinale a alternativa em
abaixo, sobre o fragmento do poema. que se verifica o trecho de um poema simbolista.
a) “É um velho paredão, todo gretado,
( ) Nesse fragmento, é possível perceber o estado onírico, Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
uma das características típicas do período literário em questão. Deixou num cacto em flor ensanguentado
( ) O sujeito-lírico deseja a liberdade, buscando encontrá-la E num pouco de musgo em cada fenda.”
no mundo das aparências.
( ) Ao grafar as palavras Espaço e Pureza em maiúsculo, o b) “Erguido em negro mármor luzidio,
poeta sugere uma personificação das ideias contidas nesses Portas fechadas, num mistério enorme,
vocábulos. Numa terra de reis, mudo e sombrio,
Sono de lendas um palácio dorme.”
Assinale a alternativa que preenche corretamente os c) “Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
parênteses de cima para baixo.
Casualmente, uma vez, de um perfumado
a) V – F – F
Contador sobre o mármor luzidio,
b) V – V – V
Entre um leque e o começo de um bordado.”
c) F – V – F
d) V – F – V d) “Sobre um trono de mármore sombrio,
e) F – V – V Num templo escuro e ermo e abandonado,
Triste como o silêncio e inda mais frio,
Um ídolo de gesso está sentado.”
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204
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

e) “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras de uma ironia e de uma dor violenta.
De luares, de neves, de neblinas!...
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
agita os guizos, e convulsionado
Incensos dos turíbulos das aras...”
salta, 1gavroche, salta clown, varado
pelo 2estertor dessa agonia lenta...
Questão 02 (Pucrs 2013)
Leia o poema “Encarnação”. Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Carnais, sejam carnais tantos desejos, Vamos! retesa os músculos, retesa
carnais, sejam carnais tantos anseios, nessas macabras piruetas d’aço...
palpitações e frêmitos e enleios,
das harpas da emoção tantos arpejos... E embora caias sobre o chão, 3fremente,
afogado em teu sangue 4estuoso e quente,
Sonhos, que vão, por trêmulos adejos, ri! Coração, tristíssimo palhaço.
à noite, ao luar, intumescer os seios (Cruz e Sousa)
1gavroche: garotos de Paris, figuradamente artista.
láteos, de finos e azulados veios
2estertor: respiração anormal própria de moribundos.
de virgindade, de pudor, de pejos...
3fremente: vibrante, agitado, violento.

Sejam carnais todos os sonhos brumos 4estuoso: que ferve, ardente, febril.

de estranhos, vagos, estrelados rumos


onde as Visões do amor dormem geladas... Ainda sobre o soneto, assinale a afirmação errônea:

Sonhos, palpitações, desejos e ânsias a) há uma alusão ao fato de o palhaço, interiormente dilacerado,
formem, com claridades e fragrâncias, mascarar seus sentimentos para transmitir alegria.
a encarnação das lívidas Amadas! b) a fachada de alegria e o sofrimento interior compõem a natureza
conflitante do coração do poeta, sensibilizando o público.
Com base no poema e em seu contexto, afirma-se: c) há um vocabulário sugestivo, remetendo ao coração:
I. A atmosfera onírica, a sugestão através de símbolos, a “gargalhada sanguinolenta”, “convulsionado”, “retesa os
musicalidade das palavras por meio da aliteração são músculos”.
características que permitem associar o poema à escola simbolista. d) o poema pode ser visto também como uma metáfora da
II. O eu lírico, em tom quase de súplica, ambiciona a concretização condição do artista, em que se revelam as relações entre arte e
daquilo que pensa e deseja. poeta.
III. O autor do poema também escreveu as obras Missal e e) a condição do artista se espelha na do palhaço, sendo este
Broquéis. Seu nome é Alphonsus de Guimaraens. forçado a rir, numa espécie de tortura interna e eterna.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são
a) I, apenas. Questão 04 (Espm 2017)
b) III, apenas.
Fazendo uma análise mais detalhada do soneto, assinale a
c) I e II, apenas.
afirmação incorreta:
d) II e III, apenas.
a) ao longo do texto, constata-se que o acrobata da dor,
e) I, II e III.
desempenhando o papel de um triste e sofrido palhaço, é
metáfora do próprio coração.
Questão 03 (Espm 2017)
b) o acrobata precisa acolher a manifestação da audiência e seguir
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES desempenhando seu papel, mesmo que o leve à morte.
c) essa espécie de clown, que vive de agradar às multidões, paga
um preço alto: a ocultação de sua dor interior.
d) cena grotesca, o bis é a sedução da plateia que acaba
conduzindo o acrobata para a tragédia.
e) a plateia pedindo bis corresponde à elite política que exige do
cidadão, em sua luta diária, as maiores acrobacias.

Questão 05 (Espm 2017)


Assinale a alternativa em que a indicação entre parênteses não
está de acordo com o verso:
a) “Gargalha, ri, num riso de tormenta,” (pleonasmo vicioso)
b) “salta, gavroche, salta clown, varado” (assonância)
c) “Da gargalhada atroz, sanguinolenta,” (sinestesia)
d) “nessas macabras piruetas d’aço...” (metáfora)
Acrobata da Dor e) “afogado em teu sangue estuoso e quente,” (aliteração)
Questão 06 (Enem 2014)
Gargalha, ri, num riso de tormenta, Vida obscura
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,

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205
Aula 20 - Simbolismo
ó ser humilde entre os humildes seres, c) a religiosidade como forma de superação do sofrimento humano;
embriagado, tonto de prazeres, metáforas e antíteses reforçam o negativismo da desagregação
o mundo para ti foi negro e duro. existencial nos versos livres.
d) a apresentação da condição existencial do eu lírico, marcada
Atravessaste no silêncio escuro pelo sofrimento, em uma abordagem transcendente; assonâncias e
a vida presa a trágicos deveres aliterações reforçam a sonoridade nos versos decassílabos.
e chegaste ao saber de altos saberes e) o apelo à subjetividade e à espiritualidade denota a conciliação
tornando-te mais simples e mais puro. entre o eu lírico e o mundo; metáforas e sinestesias reforçam o
sentido de transcendentalidade nos versos de doze sílabas.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto, Questão 08 (Insper 2011)
que o coração te apunhalou no mundo, Ismália

Mas eu que sempre te segui os passos Quando Ismália enlouqueceu,


sei que cruz infernal prendeu-te os braços Pôs-se na torre a sonhar...
e o teu suspiro como foi profundo! Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961.
Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz No sonho em que se perdeu,
e Sousa transpôs para seu lirismo uma sensibilidade em conflito Banhou-se toda em luar...
com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se Queria subir ao céu,
em : Queria descer ao mar...
a) sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação.
E, no desvario seu,
b) tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social.
Na torre pôs-se a cantar...
c) extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes.
Estava perto do céu,
d) frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais.
Estava longe do mar...
e) vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.
E como um anjo pendeu
Questão 07 (Unifesp 2015) As asas para voar...
Leia o soneto de Cruz e Sousa. Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
Silêncios
As asas que Deus lhe deu
Largos Silêncios interpretativos, Ruflaram de par em par...
Adoçados por funda nostalgia, Sua alma subiu ao céu,
Balada de consolo e simpatia Seu corpo desceu ao mar...
Que os sentimentos meus torna cativos; (Alphonsus de Guimaraens)

Harmonia de doces lenitivos, Coloque V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações que


Sombra, segredo, lágrima, harmonia seguem.
Da alma serena, da alma fugidia ( ) Os temas centrais desse poema, bem marcados nas duas
Nos seus vagos espasmos sugestivos. primeiras estrofes, são o amor e a saudade.
( ) Um dos mais significativos poemas simbolistas, Ismália
Ó Silêncios! Ó cândidos desmaios, aborda a dualidade entre corpo e alma.
Vácuos fecundos de celestes raios ( ) A partir de um jogo intertextual, o poema de Alphonsus de
De sonhos, no mais límpido cortejo... Guimaraens parodia o drama de Narciso diante do espelho.

Eu vos sinto os mistérios insondáveis A sequência correta é:


Como de estranhos anjos inefáveis a) F, V, F.
O glorioso esplendor de um grande beijo! b) V, V, F.
c) V, F, F.
(Cruz e Sousa. Broquéis, Faróis, Últimos Sonetos, 2008.) d) F, F, V.
e) V, F, V.
A análise do soneto revela como tema e recursos poéticos,
respectivamente: Questão 09 (UFES)
"O Assinalado"
a) a aura de mistério e de transcendentalidade suaviza o
sofrimento do eu lírico; rimas alternadas e sinestesias se Tu és o louco da imortal loucura,
evidenciam nos versos de redondilha maior. O louco da loucura mais suprema.
b) o esforço de superação do sofrimento coexiste com o A Terra é sempre a tua negra algema,
esgotamento das forças do eu lírico; assonâncias e metonímias Prende-te nela a extrema Desventura.
reforçam os contrastes das rimas alternadas em versos livres.
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206
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

Mas essa mesma algema de amargura, Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito
Mas essa mesma Desventura extrema Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Faz que tu'alma suplicando gema Cava nas fundas eras insondáveis
E rebente em estrelas de ternura. O cavador do trágico Infinito.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado E quanto mais pelo Infinito cava


Que povoas o mundo despovoado, Mais o Infinito se transforma em lava
De belezas eternas, pouco a pouco ... E o cavador se perde nas distâncias...

Na Natureza prodigiosa e rica Alto levanta a lâmpada do Sonho


Toda a audácia dos nervos justifica E com seu vulto pálido e tristonho
Os teus espasmos imortais de louco! Cava os abismos das eternas ânsias!

O poema acima encontra-se na obra "Últimos sonetos", de Cruz e SOUZA, Cruz e. Últimos Sonetos. www.dominiopublico.gov.br.
Sousa, poeta cujo centenário de morte foi comemorado em 1998.
Leia as afirmativas seguintes acerca do poema e assinale a opção Analise as proposições em relação ao soneto “Cavador do Infinito”,
CORRETA. Cruz e Souza.

I - Ocorre hipérbole no verso 4; anáfora, nos versos 5 e 6; antítese, I. A leitura do poema leva o leitor a inferir que o cavador do infinito
no verso 9; sinestesia, nos versos13-14. é a representação da imagem do próprio poeta, ou seja, um
II - O poeta é considerado um ser diferente cuja alma, mesmo autorretrato do poeta simbolista.
algemada à Terra, rebenta "em estrelas de ternura". II. Da leitura do poema infere-se que a metáfora está centrada na
III - O uso da letra maiúscula em substantivos comuns singulariza- lâmpada do sonho, a qual se refere à imaginação onírica do poeta
os e empresta-lhes uma dimensão simbólica. e ilumina o seu inconsciente.
III. O sinal de pontuação – reticências – no verso 11, acentua o
a) Apenas a afirmativa I está correta. clima de indefinível, levando o leitor a inferir sobre a situação – o
b) Apenas a afirmativa II está correta. drama vivido pelo eu lírico.
c) Apenas a afirmativa III está correta. IV. No plano formal, o uso de letra maiúscula em substantivos
d) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. comuns é uma característica do Simbolismo, como ocorre em:
e) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. “Sonho” (versos 1 e 12), “Ânsias” e “Desejos” (verso 5); “Infinito”
(versos 8 e 9). Usada como alegoria, a letra maiúscula tenciona dar
Questão 10 (Espm 2014) um sentido de transcendência, de valor absoluto.
Para as Estrelas de cristais gelados V. Da leitura do poema e do contexto literário simbolista, infere-se
que o título do poema “Cavador do Infinito” reforça a ideia a que o
As ânsias e os desejos vão subindo, soneto remete: o poeta simbolista busca a transcendência, a
Galgando azuis e siderais noivados transfiguração da realidade cotidiana para uma dimensão
De nuvens brancas a amplidão vestindo... metafísica, que é uma característica da estética simbolista.
(Cruz e Sousa)
Assinale a alternativa correta.
Assinale a opção em que expresse incorretamente a análise do a) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
poema: b) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, III, IV e V são verdadeiras.
a) As “nuvens brancas” mencionadas sugerem as vestes d) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras.
tradicionais de noiva. e) Todas as afirmativas são verdadeiras.
b) A aliteração do /s/ em “As ânsias e os desejos vão subindo”
produz cacofonia. Questão 12
c) Os “cristais gelados” estão de acordo com a frialdade do espaço Texto para as próximas 2 questões
sideral.
d) As “Estrelas”, com maiúscula alegorizante, podem significar uma SIDERAÇÕES
dimensão humana superior.
e) Galgar “azuis e siderais noivados” é imagem que remete ao Para as Estrelas de cristais gelados
anseio de atingir um mundo espiritual. As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
Questão 11 (Udesc 2014) De nuvens brancas a amplidão vestindo...
Cavador do Infinito
Num cortejo de cânticos alados
Com a lâmpada do Sonho desce aflito Os arcanjos, as cítaras ferindo,
E sobe aos mundos mais imponderáveis, Passam, das vestes nos troféus prateados,
Vai abafando as queixas implacáveis, As asas de ouro finamente abrindo...
Da alma o profundo e soluçado grito.
Dos etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve,
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207
Aula 20 - Simbolismo
Ondas nevoentas de Visões levanta... II - O fragmento apresenta uma construção apoiada na
justaposição de frases nominais, com o intuito de descrever os
E as ânsias e os desejos infinitos objetos com clareza.
Vão com os arcanjos formulando ritos III - O fragmento mostra alguns procedimentos estilísticos do
Da Eternidade que nos Astros canta... Simbolismo, como, por exemplo, a musicalidade das palavras, o
uso de reticências, o emprego de letras maiúsculas e a
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural identificação do referente.
do Simbolismo encontrados no poema Siderações, de Cruz e Conforme se verifica, está correto o que se afirma
Souza, são a) apenas em I e II
A) uso da linguagem simples e direta na abordagem de temas b) apenas em I e III
filosóficos. c) apenas em II e III
B) a prevalência do lirismo em relação à temática purista d) apenas em I
parnasiana. e) em I, II e III
C) o refinamento da linguagem e a busca do transcendental.
D) a evidente preocupação com a realidade social expressa Questão 15 (UFPA 2012)
através da poesia. “CREPUSCULAR”
E) a liberdade formal da estrutura poética quanto ao uso de rimas e
métricas Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, dais comprimidos...
Questão 13 Uma ternura esparsa de balidos,
Observa-se uma aproximação entre Simbolismo e Romantismo Sente-se esmorecer como um perfume.
uma vez que
a) o poeta idealiza seus desejos, projetando-os para uma instância As madressilvas murcham nos silvados
inatingível. E o aroma que exalam pelo espaço,
b) o poema emprega descrições nítidas que garantem uma Tem delíquios de gozo e de cansaço,
compreensão exata dos versos. Nervosos, femininos, delicados.
c) o poeta expõe a sua avaliação sobre a realidade objetiva,
utilizando imagens da natureza em linguagem precisa e direta. Sentem-se espasmos, agonias dave,
d) o poema, em forma de epigrama, traduz uma visão materialista Inapreensíveis, mínimas, serenas...
do amor e da sensualidade. Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
e) se trata da descrição de fantasias e alucinações apresentadas O meu olhar no teu olhar suave.
nos moldes de ficção científica.
As tuas mãos tão brancas danemia...
Questão 14 (Pucsp 98) Os teus olhos tão meigos de tristeza...
Leia o fragmento do poema "Antífona", de Cruz e Sousa, e É este enlanguescer da natureza,
responda Este vago sofrer do fim do dia.

"Ó Formas , brancas, Formas claras Camilo Pessanha é considerado o expoente máximo da poesia
De luares, de neves, de neblinas!... simbolista portuguesa. Os seus versos reúnem o que há de mais
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... marcante nesse estilo de época por traduzirem sugestões, imagens
Incensos dos turíbulos das aras... visuais, sonoras e estados de alma, além de notória ausência de
elementos que se detenham em descrição ou em referência
Formas do Amor, constelarmente puras, objetiva.
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras É correto afirmar que os versos do soneto “Crepuscular” transcritos
E dolências de lírios e de rosas... nas opções, a seguir, traduzem as considerações postas nesses
comentários, com exceção de:
Indefiníveis músicas supremas, a) “Uma ternura esparsa de balidos,”
Harmonias da Cor e do Perfume. b) “As madressilvas murcham nos silvados”
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, c) “É este enlanguescer da natureza,”
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume..." d) “Há no ambiente um murmúrio de queixume,”
e) “Este vago sofrer do fim do dia.”
Esse trecho do poema, que abre o livro BROQUÉIS, é considerado
uma espécie de profissão de fé simbolista.

Reflita sobre as afirmações a seguir.

I - O fragmento revela a preocupação do eu lírico pelas formas


caracterizadas pela cor branca, pelas cintilações, pela vaguidade,
pelo diáfano o pelo transparente.

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208
Respostas e Comentários
Prof. Steller de Paula

Semana 1 - Figuras de Linguagem I [D] Não há verso que represente toda a Mata Atlântica nem o eu
01. Resposta: [C] lírico dá a entender isso em nenhum momento do breve poema.
O autor usa o recurso da polissemia da palavra “natureza”, repetida [E] Não há personificação de nenhum elemento no poema.
quatro vezes no anúncio com dois significados distintos (na
segunda e terceira aparições como “conjunto de elementos do 14. Resposta: [D]
mundo natural” e, na primeira e quarta, como “o que compõe a As alternativas [A], [B], [C] e [E] não apresentam designação
substância do ser; essência”), conforme sua aplicação no contexto. correta para a figura de linguagem usada na frase “tornou-se essa
ave rara e fascinante”, pois a hipérbole expressa exagero, a
02. Resposta: [D] redundância está associada a tudo o que é demasiado ou
Inverno metaforicamente representa uma fase difícil, complicada, supérfluo, a ironia declara o contrário do que se pensa e a
obscura; enquanto verão significa força, energia, vitalidade, metonímia substitui um termo por outro do mesmo domínio.
vontade de superar as dificuldades. O par inverno\verão estabelece Apenas [D] é correta, pois a associação de ave rara com a
a antítese. genialidade de João Cabral constitui uma metáfora.

03. Resposta: [B] 15. Resposta: [B]


04. Resposta: [C] Dentre os recursos literários – especificamente figuras de
linguagem – percebe-se o emprego de:
05. Resposta: [A] - metalinguagem: a partir do próprio título, o código versa sobre o
Metonímia é uma figura de linguagem que consiste em designar próprio código. O simples emprego da palavra “poética” justifica tal
um objeto por palavra designativa de outro objeto, no caso, classificação, uma vez que o radical das palavras é o mesmo.
estabelecendo uma relação de parte pelo todo. No poema, “praia” - trocadilho: pode ser considerado o par formado por “escravidão /
lusitana se refere a todo o território português banhado pelo escrevidão”; vale ressaltar, no entanto, que ambas remetem, na
Oceano Atlântico, de onde saíam as caravelas portuguesas. verdade, à paronomásia, figura sonora que explora as diversas
associações a partir de uma dupla de vocábulos.
06. Resposta: [A] - metáfora: aproximação implícita de termos principalmente em
“Poesia: / - alforria?”, sugerindo que a poesia pode ser
07. Resposta:[ A] considerada, em um primeiro momento, um momento de liberdade.
As poças de água despertam sensações que estimulam o mistério - paradoxo: aproximação de termos, à primeira vista, excludentes,
e a imaginação, como se afirma em [A]. conforme se verifica em “consentida / servidão”, uma vez que o ato
de praticar servidão não seria, logicamente, algo consentido.
08. Resposta: [C]
09. Resposta: [E] Semana 2 - Figuras de Linguagem II
01. Resposta: [A]
10. Resposta: [A]
No trecho apresentado, a sinestesia é empregada em “passo 02. Resposta: [E]
macio, sem ruído”, no qual os sentidos de tato (“macio”) e de Em [E], ocorre hipérbato (forte inversão dos termos da oração- “de
audição (“sem ruído”) são associados ao mesmo substantivo um povo heroico o brado retumbante”- a que, na ordem direta,
(“passo”). corresponderia “o brado retumbante de um povo heroico”) e não
A alternativa em que sentidos diferentes são associados é a [A]: hipálage.
em “A vaia amarela dos papagaios / rompe o silêncio da
despedida.”, os sentidos de audição (“A vaia”) e de visão 03. Resposta: [A]
(“amarela”) estão associados a um mesmo substantivo Trata-se da figura de estilo que consiste em inverter a ordem das
(“papagaio”). palavras de duas frases que se opõem (disposição em X).
11. Resposta: [B]
04. Resposta: [A]
12. Resposta: [C] A alegoria é uma figura de linguagem, de uso retórico, cuja função
Ao utilizar a palavra “lombada” em vez de “livro”, o cronista recorre é expressar um ou mais sentidos para uma palavra além do literal.
à metonímia ou sinédoque: substituição lógica de uma palavra por Na letra de música, navegar adquire a significação de “ir adiante”,
outra semelhante, mantendo uma relação de proximidade entre o não estagnar no passado.
sentido de um termo e o sentido do termo que o substitui.
05. Resposta: [C]
13. Resposta: [C] Em “Os Lusíadas”, as estrofes são constituídas de oito versos
[A] Nenhuma imagem do poema é metafórica. decassílabos, com esquema rimático ABABABCC. O texto
[B] Vermelho, neste caso, é uma metonímia. apresentado representa apenas um excerto dessa estrofe, o que
[C] Correta. A sinestesia é uma figura de linguagem criada para dificulta a identificação da anástrofe que exige reconhecimento dos
traduzir em uma só imagem diversos sentidos, portanto, sensações termos da oração e sua disposição no período. Assim, a estrofe
auditivas e visuais como barulhinho vermelho de cajus são uma completa…
sinestesia. “Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego
eu, que cometo, insano e temerário,

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209
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula)

sem vós, ninfas do Tejo e do Mondego, (mil). Há, assim, uma hipérbole.
por caminho tão árduo, longo e vário! 14. Resposta:
Vosso favor invoco, que navego a) No trecho "Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse", observa-
por alto mar, com vento tão contrário se o uso de aliteração, na reiteração do fonema consonantal
que, se não me ajudais, hei grande medo sibilante /s/ (diSSe/iSSo/contradiSSe), de rima interna
que o meu fraco batel se alague cedo.” (dISSE/contradISSE) e de células rítmicas, pois tal passagem
constitui exemplo de prosa que pode ser desmembrada em três
…adquiriria, na forma direta, a seguinte disposição: Tinha um ramo versos tetrassílabos, com acentos regulares nas quartas sílabas
na mão…Mas eu, ó ( como sou) cego, que cometo insano e poéticas destacadas:
temerário sem vós, ninfas do Tejo e do Mondego, por caminho tão Eu/ di/sse/ I/sso.
árduo, longo e vário, invoco vosso favor, que navego por alto mar E o/ ca/no/EI/ro
com vento tão contrário que hei grande medo que o meu fraco me/ con/tra/DI/sse.
batel se alague cedo se não me ajudais. Considerando que a b) Na frase "Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!",
anástrofe se aplica somente à inversão da ordem normal dos ocorre aliteração dos fonemas /f/ ("Fosse [...] Fabricar"), /r/
termos numa frase, como esclarece o enunciado, é correta a opção ("cRime, fabRicaR [...] madeiRa buRRa"), /d/ (Dessas, De
[C], em que o objeto direto precede o verbo com sujeito elíptico. maDeira) e /s/ ("foSSe [...] deSSas"). Também há um
anacoluto: a forma verbal "fosse" não se integra sintaticamente
06. Resposta: [A] com o segmento posterior.
A desconfiança do autor é relacionada à reconstrução lógica dos
sonhos, pois ele não confia na lembrança – conforme indica em 15. Resposta: [D]
“Se já nos é difícil recordar o que vimos despertos e de olhos bem [I] Há uma comparação implícita entre as “derrotas” e as
abertos, imagine-se o que não será das coisas que vimos dormindo “frustrações” e o amargor, assim, uma metáfora.
e de olhos fechados”. [II] Em “O rio tinha entrado em agonia, após tantos meses sem
chuva”, há personificação do rio.
07. Resposta: [A] [III] Um paradoxo é uma aparente falta de nexo, uma contradição.
O trecho destacado indica ocorrência da concordância ideológica, É o que ocorre entre as ideias de “devagar” e “depressa”, parece
ou seja, silepse de pessoa em “ambas as partes tínhamos”: inconcebível, logicamente, um “devagar depressa”.
“ambas as partes” faz referência à 3ª pessoa, e “tínhamos”, à 1ª [IV] Em “Maria Joaquina completava quinze primaveras”, a relação
pessoa, de modo que o autor inclui-se na situação retratada. de parte (primavera) pelo todo (idade, anos), implica na figura de
linguagem metonímia. Maria não completou apenas 15
08. Resposta: [D] “primaveras”, mas 15 “primaveras, verões, outonos e invernos”, ou
seja, 15 anos completos.
09. Resposta: [C]
A figura de linguagem que representa adequadamente a intenção Semana 3 - Trovadorismo
do autor está assinalada em [C], pois é a hipérbole que exagera a
significação linguística ao apresentar o dono da empresa em Questão 01
atitude radical para demitir os funcionários.
O Trovadorismo data da época Medieval (por volta do século XII) e
foi uma literatura oral acompanhada de alaúde, viola, flauta ou
10. Resposta: [A]
coro. Dessa forma, as alternativas [A] e [D] são descartadas.
É correta a alternativa [A], pois a repetição da expressão “no
O trovador podia optar por dois tipos distintos de cantigas: as
fundo”, assim como o advérbio “bem”, (correspondente a muito,
líricas (de Amor e de Amigo) e satíricas (Maldizer e Escárnio). Isso
bastante) realçam o sentido que se pretende imprimir ao contexto
confirma a alternativa [B] e invalida a [E].
do poema.
O Padre Antônio Viera pertenceu ao período do Barroco, e
Camões ao Renascimento e, portanto, [C] também está incorreta.
11. Resposta: [A]
Resposta: [B]
12. Resposta: [E]
Questão 02
A poesia é marcada pela personificação que é a figura de
linguagem predominante indicada logo no primeiro verso: A lua foi [A] Apesar de muitas retratarem as Cruzadas, as cantigas têm
ao cinema, e é dessa cena inusitada de que vai tratar o poema. temáticas mais variadas e complexas que variam do amor à ironia.
[B] Correta. As cantigas eram assim chamadas por serem
13. Resposta: [D] cantadas e acompanhadas ao som de alaúdes.
A alternativa [D] é a correta, pois, analisando os fragmentos. [C] A pintura mostra um cantador não um ator do teatro de Gil
[I] temos termos opostos como “som” e “silêncio”, “luz” e Vicente.
“escuridão, “noite” e “dia”, “não e “sim”. Há, portanto, várias [D] Os temas presentes nas cantigas refletiam os costumes e a
antíteses. forma de amar da Europa medieval e cristã.
[II] apresenta-se uma redundância expressa em “chove chuva”. Há, [E] Camões não se inspirou nas cantigas trovadorescas para
portanto, um pleonasmo. escrever os Lusíadas, mas sim pelos épicos greco-romanos.
[III] ocorre uma ironia, uma vez que o cantor coloca que a pessoa Resposta: [B]
mente tão bem que parece verdade, ou seja, critica de forma
irônica a capacidade dessa pessoa de mentir.
[IV] percebe-se um exagero no número de rosas que o cantor traz
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210
RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Questão 03 Resposta: [B]


De origem popular, a cantiga de amigo da poesia trovadoresca
caracteriza-se pela presença de um eu lírico feminino que expressa Questão 10: Resposta: [C]
o sofrimento por amor (coita). Assim, é correta a opção [B], pois o Questão 11: Resposta: [A]
fragmento transcreve liricamente o lamento de uma moça a uma
amiga, queixando-se do “amigo” que tarda em vir ao seu encontro:
“pois tam muit’há que nom veo veer / mi e meus olhos e meu Questão 12
parecer?”. Está correta a alternativa [C], pois Gil Vicente usava a sátira para
Resposta: [B] fazer uma crítica à sociedade e aos costumes do seu tempo.
Assim, sugeria ao público uma reflexão sobre seus próprios atos e,
Questão 04 consequentemente, uma revisão dos valores.
É correta a alternativa [D]. Segundo o texto, a literatura do amor Resposta: [C]
cortês transformou a realidade extraliterária que, por sua vez,
interferiu no processo civilizador do Homem. Questão 13
Última afirmação incorreta: Gil Vicente foi um autor do teatro
Resposta: [D] português, como colocado na terceira afirmativa. Sua importância
para Portugal é bastante reconhecida, uma vez que é considerado
Questão 05 o primeiro dramaturgo do país. Suas peças tinham um caráter
O eu lírico dirige-se à mulher amada, confessando-se incapaz de moralizante, e faziam coro com as mudanças que aconteciam na
continuar a esconder os sentimentos que nutre por ela. Perante a transição da Idade Média para a Idade Moderna.
não correspondência amorosa, resigna-se e pede-lhe Resposta: [A]
veementemente que o deixe servi-la (“Já que assim é, eu venho- Questão 14
vos rogar/que queirais pelo menos consentir/que passe a minha A obra de Gil Vicente faz crítica a algumas práticas corruptas da
vida a vos servir”). sociedade, ao mesmo tempo em que se aproxima de valores
Resposta: [D] religiosos. Assim, ao criar uma personagem de um frade
corrompido pelos pecados da luxúria, mas que a princípio deveria
Questão 06 seguir as regras morais, o autor faz uma crítica social. É
As cantigas de amor caracterizam-se pela presença do eu lírico interessante notar que a crítica é feita de forma cômica, a partir do
masculino que expressa à mulher amada o sofrimento provocado perfil do Frade: nota-se que ele chega à barca acompanhado de
pela inviabilidade da concretização amorosa. uma mulher, o que por si só já é cômico, tratando-se de um frade.
Resposta: [B] Dessa forma, a partir do riso, Gil Vicente constrói uma obra de
caráter moralista e correcional dos costumes.
Questão 07
Somente a proposição [E] está correta. O Renascimento Cultural Resposta: [C]
ocorreu na Europa entre os séculos XIV, XV e XVI começando no
norte da Itália e depois se propagou para outras regiões. Este Questão 15
movimento defendeu o humanismo, o antropocentrismo, Na alternativa [C], Maria Parda dirige-se a Martim Alho, implorando
racionalismo, empirismo, hedonismo, individualismo, entre outros. que lhe dê de beber. Como justificativa, diz que tem o estômago
Inspirado nos valores da Antiguidade Clássica, Grécia e Roma, tão seco como o nariz de um judeu (“tão seco trago o umbigo/como
este movimento valorizou o homem e suas potencialidades. As nariz de Judeu”), comparação que demonstra uma visão
demais alternativas estão incorretas. A fala de Hamlet não ilustra o preconceituosa de caráter racial.
teocentrismo e sim o antropocentrismo. Portanto, não defende a Resposta: [C]
ideia de que Deus é o centro do universo. Embora hedonismo e
empirismo sejam características deste movimento cultural, a fala de Semana 4 - Classicismo
Hamlet remete ao antropocentrismo que é a valorização do
homem. As proposições [C] e [D] podem confundir o candidato. 01. Resposta: [A]
Resposta: [E]
A forte presença de antíteses (“choro” X “rio”, “fogo” X “rio”, “terra”
Questão 08: Resposta: [B] X “céu”) e oxímoros (“em vivo ardor tremendo estou de frio”, “em
mil anos não posso achar uma hora”) expressa sentimentos
Questão 09 contraditórios, típicos da paixão amorosa e reveladores da
Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi, ou Sandro Botticelli, pintor confusão que esse estado provoca no eu lírico.
e retratista do Renascimento, participou da pintura da Capela
Sistina juntamente com Michelangelo. Ele foi protegido pela família 02. Resposta: [B]
dos Médicis e do monge beneditino Girolamo Savonarola.
A temática pagã, presente do quadro e do Cristianismo, é Trata-se de antítese, figura de linguagem que consiste na
frequente nas obras do Renascimento. Botticelli, um dos maiores aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.
pintores do período, foi exclusivamente um pintor, diferentemente Recurso especialmente utilizado pelos autores do período Barroco,
de outros expoentes da época, como Leonardo da Vinci, com estabelece jogos de contraste que enfatizam os conceitos
trabalhos e estudos em diversas áreas, como Anatomia, envolvidos e realçam a expressividade.
Arquitetura, Engenharia e obras em Esculturas.

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211
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03. Resposta: [C] Renascimento Cultural, séculos XIV ao XVI, e na música, na


metade do século XVIII.
[A] Incorreta: o tema central dos Lusíadas é a viagem feita pelos
portugueses rumo às Índias. 08. Resposta: [C]
[B] Incorreta: o foco temático é o trajeto, cheio de desafios,
realizado pelos portugueses para chegar às Índias. Não há O soneto “Sete anos de pastor Jacob servia” alicerça-se numa
abordagem da descoberta do Brasil e da relação dos portugueses construção linear em que os quartetos expõem a narrativa, o
com os índios. primeiro terceto funciona como núcleo e o segundo, como remate.
[D] Incorreta: a métrica em Camões na verdade é bastante As palavras finais do soneto, em que se configura a antítese longo
importante. Nos Lusíadas, por exemplo, é possível observar uma × curta, são pronunciadas pela própria personagem em estilo
estrutura rígida com versos decassílabos divididos em ABABABCC. direto, manifestam o ânimo firme de Jacob, que exprime que
[E] Incorreta: uma das intenções de Os Lusíadas foi destacar os estaria disposto a servir Labão ainda mais tempo para conseguir
feitos portugueses, sendo a obra dedicada ao rei de Portugal. Raquel. Assim, é correta a opção [C].
Camões não desprezava sua pátria nem o seu povo.
09. Resposta: [B]
04. Resposta: [B] 10. Resposta: [A]
11. Resposta: [E]
Lírico é o gênero de poesia em que o poeta expõe suas emoções e
sentimentos. Exemplo desse gênero é o primeiro texto, cujo tema é 12. Resposta: [B]
o amor. Os versos da canção em questão podem ser considerados
O épico pode ser definido como um gênero constituído de longo redondilhos menores (possuem cinco sílabas poéticas), o que não
poema acerca de assunto grandioso e heroico. Os Lusíadas, de ocorre nos versos de Camões.
Camões, é considerado o grande épico da Língua Portuguesa e
canta os atos heroicos dos portugueses, durante as grandes 13. Resposta: [D]
navegações marítimas no século XV. A primeira estrofe apresenta uma generalização filosófica: a
inconstância faz parte de tudo que existe (“todo o mundo é
05. Resposta: [C] composto de mudança”), devido a permanente instabilidade do
mundo exterior e interior do ser humano (“Mudam-se os tempos,
[A] O que caracteriza o Velho do Restelo é a lucidez diante da mudam-se as vontades”). Assim, não é específica do homem, nem
ganância demonstrada pelos pescadores portugueses. do grau de experiência que vai adquirindo ao longo da vida, como
[B] No épico, o personagem do Velho do Restelo recrimina a se afirma em [A] e [B]. Tampouco as opções [C] e [E] analisam
excessiva ambição pela riqueza em troca do abandono das corretamente o sentido dos versos de Camões, pois a ideia de
famílias portuguesas que ficariam à mercê das invasões dos circularidade presente nas últimas estrofes confirma a constância
mouros, no entanto não é o que estas estrofes representam. das transformações a ponto de que nem a própria mudança
[C] Correta. O Gigante Adamastor é a representação monstruosa, acontece sempre da mesma forma e no mesmo ritmo. Assim, é
uma alegoria para representar as dificuldades encontradas no mar. correta apenas [D], já que a segunda estrofe apresenta um eu lírico
[D] O Gigante Adamastor representava uma ameaça não uma desiludido que vê o seu “doce canto” convertido em triste “choro”.
entidade protetora.
[E] As estrofes citadas nada têm a ver com o episódio da bela Inês 14. Resposta: [A]
de Castro. Ambos os poemas refletem conceitos do platonismo amoroso. Para
Platão, as realidades concretas deste mundo, dito mundo sensível,
06. Resposta: [D] são sombras das ideias que existem no mundo inteligível,
reminiscências de um mundo ideal a que volveremos após a morte.
Verdadeiro. Os dois poemas falam do amor distante e irrealizável, Em Cantares de Hilda Hilst, o eu lírico afirma não poder odiar nem
entre o desejo e a idealização. temer o outro, já que o outro é o ser em que ele mesmo se
Verdadeiro. O poema de Camões trata a amada à moda do transformou em virtude da idealização amorosa (“Porque tu eras
platonismo neoclássico. Portanto, o amor será sempre distante e eu”). Camões também compartilha da ideia de que o amor torna os
idealizado. amantes inseparáveis, fazendo-os voltar à “antiga condição” de ser
Verdadeiro. Os dois poemas são sonetos, pois são compostos por uno e perfeito (“por virtude do muito imaginar (...) em mim tenho a
dois quartetos e dois tercetos com versos decassílabos. parte desejada”).
Verdadeiro. O título Encarnação tem a ver com o sentido espiritual
idealizador e com o sentido mais sensual característicos do 15. Resposta:
Simbolismo. Aproximam-se pelo tema do amor e pela utilização de anáforas.
Distanciam-se pela métrica (versos decassílabos em Camões e
07. Resposta: [E] livres em Andresen) e pela forma de tratar o amor (em Camões o
amor é impessoal, refeltindo o racionalismo que marcou sua
É correta a opção [E], pois as obras do Classicismo reproduzem produção, e em Andresen é pessoal).
modelos ou padrões baseados na busca de equilíbrio,
simplicidade, contenção e universalidade, valorizando e resgatando Semana 5 - Quinhentismo
elementos artísticos da cultura greco-romana. Nas artes plásticas,
teatro e literatura, o Classicismo ocorreu no período do 01. Resposta: [B]

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RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Questão de interpretação da imagem que, de fato, não tem 12. Resposta: [D]
precisão geográfica, mas destaca uma das atividades [I] Verdadeiro. Ao mencionar a oferta de elementos europeus (“pão
desenvolvidas pelos portugueses no Brasil colônia, a exploração e peixe cozido, confeitos, bolos, mel e figos passados”, “vinho”) e a
do pau-brasil, através da prática do escambo. Na data da reação dos indígenas (“cuspiam com nojo” e “demonstraram não
publicação do mapa, já havia a exploração açucareira; no entanto, gostar e não mais quiseram”), percebe-se a diferença de
o extrativismo da madeira continuou apesar da perda de comportamento entre os dois povos.
importância. [II] Falso. Não há menção à antipatia aos indígenas, tanto no
trecho apresentado como na obra em geral. Caminha deteve-se a
02. Resposta: [C] observar e relatar fatos, abstendo-se desse tipo de juízo.
[A] Embora a questão esteja correta, não é a correta para a [III] Verdadeiro. O emprego de verbos no pretérito perfeito do
questão. O correto é infligido, trata-se de um erro de ortoepia e indicativo, relatando cronologicamente as ações dos portugueses e
também de ortografia. as reações dos indígenas, são elementos próprios da narrativa.
[B] Degenerado, neste contexto, pode referir-se ao paganismo dos
indígenas.
[C] Correta. Não dá para comparar a literatura de informação dos
primeiros navegantes, que descreviam as terras recém- 13. Resposta: [B]
encontradas, com a estética árcade, que apesar de valorizar o O etnocentrismo pressupõe a avaliação de um determinado grupo
bucolismo, não tinha compromisso com a realidade, somente com social a partir de valores de outro. Neste caso, o europeu, partindo
a arte, diferentemente da literatura quinhentista. de seus valores, analisa as características físicas, costumes e o
[D] Tanto contendores quanto combatentes apresentam sentido comportamento do indígena. O etnocentrismo não manifesta,
equivalente na oração. Logo, poderá ser substituída uma pela necessariamente, o preconceito de forma acintosa ou explicita.
outra.
[E] Nos raros momentos que havia algum problema entre os índios, 14. Resposta: [D]
as punições eram na mesma medida, ou seja, lei de talião, que A questão mostra um texto escrito por um português sobre o Brasil
consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena. no período colonial. Nele podemos perceber o estranhamento do
europeu ao chegar no Brasil. Ou seja, o português não entendia
03. Resposta: [D] bem os valores socioculturais indígenas dos portugueses.
[V] O texto leva-nos crer que os índios vivem bastante felizes e Letra D.
convivem muito bem uns com os outros.
[F] Tanto o pronome ninguém como alguém atraem o pronome 15. Resposta: O trecho transcrito permite identificar duas das
oblíquo para si, logo, não haverá alteração no que concerne à motivações que levariam Portugal a colonizar o Brasil: a atividade
colocação pronominal no caso de uma suposta mudança. agrícola (“a terra [...] Em tal maneira é graciosa que, querendo-a
[V] Segundo os autores, os índios vivam em um clima de aproveitar, dar-se-á nela tudo”) e o propósito de converter os
normalidade e respeito: (...) apesar de serem conduzidos apenas nativos à fé católica (“Porém o melhor fruto, que nela se pode
pelo seu natural, ainda que um tanto degenerado, eles se deem tão fazer, me parece que será salvar esta gente.”).
bem e vivam em tanta paz uns com os outros.
[V] A referência ao próximo tem a ver com outro índio, faz parte da Semana 6 - Barroco I
cultura silvícola.
[F] As palavras destacadas são sujeito simples e objeto direto 01. Resposta: [A]
respectivamente. A segunda e terceira afirmativas são falsas, pois as ilustrações na
Idade Média deveriam ter como motivo a questão religiosa e
04. Resposta: [D] reforçar, na mente dos fiéis, o controle ideológico da Igreja.
Se observarmos melhor, na primeira ilustração não há movimentos.
05. Resposta: [D] Jesus, representado no meio, está em destaque de tal modo que
as pessoas em volta dele parecem frágeis e pequenas. Em
06. Resposta: [D] segundo plano (no fundo), aparecem os muros dos castelos e
[A] Nos versos acima, não há menção a respeito da colonização grandes torres que reforçam a presença da Igreja, bem como seu
portuguesa no Brasil. poder. Já a segunda ilustração, deixa bem clara a mudança de
[B] O poema descreve as qualidades do coco e do caju brasileiros. mentalidade e de valores que vinham ocorrendo no contexto da
[C] Trata-se de um poema, não de um anúncio, portanto, é Baixa Idade Média, especialmente o movimento Renascentista, a
impossível saber do enriquecimento do poeta. Reforma Religiosa, o Antropocentrismo, o Humanismo.
[D] Correta. As qualidades de dois frutos tropicais tão brasileiros
são exaltadas através dos versos, aproximando o poema das 02. Resposta: [B]
descrições locais típicas dos poemas Quinhentistas. Segundo o texto a arte produzida em Minas Gerais seguiu as
[E] Não há menção de nenhum encontro amoroso. orientações do Concílio de Trento, ou seja, do movimento
conhecido como Contra Reforma (ou Reforma Católica). Os efeitos
07. Resposta: [A] desse movimento foram muito significativos nos países da
08. Resposta: [A] Península Ibérica e, consequentemente, em suas colônias – como
09. Resposta: [B] o Brasil – sendo que a arte sacra que se desenvolveu nas Minas
10. Resposta [C] Gerais se enquadra na ideia de “barroco tardio”.
11. Resposta: [D]

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03. Resposta: [C]


04. Resposta: [D] 14. Resposta: [C]
A pintura mostra uma criança, uma mulher adulta e uma mulher
05. Resposta: [A] idosa, com a figura da morte segurando um relógio sobre suas
A arte barroca surgiu no contexto das guerras de religião entre cabeças, ressaltando a efemeridade da vida.
católicos e protestantes e de declínio da arte renascentista na
Europa do século XVI, tornando-se um importante instrumento de 15. Resposta: [C]
evangelização pela Igreja Católica. A escultura apresenta as características básicas do Barroco:
O barroco foi amplamente difundido nas colônias luso-espanholas dramatização, sugestão de movimento e rebuscamento.
na América em razão da forte ligação das metrópoles com a Igreja
e pela ação das inúmeras ordens missionárias presentes nas Semana 7 - Barroco II
colônias.
01. Resposta: [E]
06. Resposta: [E] [I] Correta. Característica típica da literatura barroca, a temática
Todas as proposições são verdadeiras. conflituosa é percebida ao se confrontar a 1ª e a 4ª estrofes: na 1ª,
Maria é apresentada pelo eu lírico no auge de sua beleza e
07. Resposta: [D] juventude; na última, sua beleza é finda (“Te converta essa flor,
A primeira geração do Modernismo brasileiro apresentava como essa beleza,/ Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.”)
proposta a reconstrução da cultura brasileira sobre bases [II] Correta. O carpe diem pode ser verificado na voz do próprio eu
nacionais, através de uma revisão crítica do passado histórico e lírico, preocupado em convencer Maria a aproveitar a vida (“Goza,
das tradições culturais. No Manifesto Pau-Brasil, Oswald de goza da flor da mocidade”) enquanto a vida ou a beleza não
Andrade, defende a tese de que a literatura deveria estar vinculada chegam ao inevitável fim.
à realidade brasileira e às características culturais do povo [III] Correta. Gregório de Matos Guerra é o principal nome do
brasileiro para formação de uma verdadeira consciência nacional. Barroco brasileiro. Sua obra abrange diversas temáticas, seja lírica
Assim, é correta a opção [D]. (amorosa, filosófica e religiosa) ou satírica (de teor crítico ou
pornográfico). Este é o motivo para seu apelido.
08. Resposta: [B]
Quando trazido para a colônia, o Barroco, assim como outros 02. Resposta: [E]
movimentos artísticos, precisou passar por um processo de O Barroco foi caracterizado, sobretudo, pelo conflito. Assim, era
adaptação, uma vez que colônias e metrópoles eram bastante comum observar nos poemas várias antíteses, que demarcam
diferentes em termos de desenvolvimento e estrutura. justamente uma oposição. Nesse soneto de Gregório de Matos
No caso do Barroco, especificamente, não só a utilização dos podemos observar uma oposição entre as ideias de fazer apenas o
materiais teve que ser adaptada (substituição do mármore pela possível e de fazer o impossível. Assim, o poeta constrói essa
pedra-sabão), bem como a mão de obra artística (aqui, negros oposição a partir das estruturas “quem faz só o que pode” e “quem
trabalhavam o Barroco) e a sofisticação das obras (usava-se muito contra os impossíveis se fatiga” e cria variações destas ao longo do
mais ouro e dourado na Europa). poema. Esse conflito confere justamente uma feição barroca ao
poema.
09. Resposta: A
As imagens reproduzem partes de esculturas, uma de Antônio 03. Resposta: [A]
Maria Lisboa, o Aleijadinho, e outra de Adriana Varejão, artista I. Correta. Vasta foi a produção literária de Gregório de Matos,
brasileira contemporânea cuja obra estabelece uma ponte entre a abarcando uma gama de assuntos. O Poema I é representante de
modernidade e o estilo Barroco. Em ambas, a presença de sua veia satírica, em que critica o governo baiano, e o Poema II
volumes inflados e vazados do alto e baixo relevo, a profusão de representa sua vertente lírica.
detalhes e ornamentos, sugerindo a dualidade intrínseca do II. Correta. Gregório de Matos contempla tanto o estilo cultista (em
homem que se debate num mundo pleno de contrastes, permite que jogos de imagens se fazem presentes) quanto o conceptista
que se estabeleça relação de semelhança relativamente à (em que o jogo argumentativo se faz marcante) em sua obra. Em
complexidade e ao contraste, como se afirma em [A]. Triste Bahia¸ a crítica se volta ao modo de governo: “Deste em dar
tanto açúcar excelente / Pelas drogas inúteis, que abelhuda /
10. Resposta: [D] Simples aceitas do sagaz Brichote”.
III. Correta. O eu lírico se equipara à situação da Bahia desde os
11. Resposta: [E] A obra de Pawla Kuczynskiego reflete sobre o primeiros versos, nos quais ambos estão diferentes do que já
tema da efemeridade da vida, tema também trabalhado no poema foram: “Triste Bahia! Oh quão dessemelhante / Estás, e estou do
barroco de Gregório de Matos, que destaca a fugacidade do nosso antigo estado!”. Finalmente, o poema é encerrado pelo tom
tempo. de lamentação diante dos problemas: “Oh se quisera Deus, que de
repente / Um dia amanheceras tão sisuda /Que fora de algodão o
12. Resposta: [D] teu capote”.
IV. Incorreta. Ambos textos realmente são sonetos, forma fixa
13. Resposta: [C] bastante empregada por Gregório de Matos, principalmente em
A arte barroca pode ser considerada uma arte sacra, pois suas seus textos filosóficos e amorosos. Porém, quando o assunto era
expressões estão intimamente ligadas à exaltação dos símbolos menos grave, o poeta optava por redondilhas.
católicos. Portanto, o Barroco estava ligado ao movimento
contrarreformista, que buscava reafirmar a fé católica no mundo.
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214
RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

V. Correta. A poesia barroca é marcada pela presença de 03. Resposta: [C]


antíteses, figura de linguagem em que as ideias opostas são Padre Antônio Vieira recorre à história do encontro de Alexandre
aproximadas. É exatamente o que ocorre entre horas x instantes; com o pirata para transmitir uma mensagem moralizante aos fieis
inferno x alegria. que ouviam seu sermão sobre uma realidade do seu tempo,
04. Resposta: [D] condenando qualquer tipo de exploração e roubo, seja praticado
Logo no primeiro verso há o pronome de tratamento “Senhores”, por homens comuns, seja praticado por líderes políticos.
que marca o processo de interlocução com os ouvintes.
05. Resposta: [A] 04. Resposta: [B]
O senso comum costuma idealizar o amor. Gregório de Matos O texto de Vieira, apesar de escrito séculos atrás, mostra-se
utiliza argumentos que vão justamente na contramão dessa bastante atual ao destacar que a corrupção política, as opressões
idealização, desnudando o sentimento amoroso e fazendo uma e injustiças cometidas nas grandes esferas do poder costumam
crítica à idealização. Dessa forma, consegue estabelecer uma ficar sem punição, enquanto os pequenos delitos e os crimes
estratégia retórica com argumentos contrários ao senso comum. cometidos por pessoas das baixas classes são punidos com rigor.
06. Resposta: [E] Assim, a charge que melhor se adequa à critica feita por Vieira é a
A antítese é uma figura de estilo que apresenta exposição de do item B, que mostra bandidos querendo entrar na política para
ideias opostas e que foi amplamente utilizada pelos autores do escaperem das punições. A fala do político, ao dizer que na sua
período Barroco. No quarteto do enunciado, o contraste que se área de atuação não se fala em “gangue”, mas em “partido”,
estabelece entre vida/morte, claro/escuro e tristeza/alegria enfatiza corrobora essa visão.
os conceitos dualísticos típicos daquele momento histórico:
antropocentrismo (homem) opondo-se ao teocentrismo (Deus). 05. Resposta: [E]
07. Resposta: [E] Apesar de considerado como de difícil leitura, as alternativas
Os dois textos apresentados diferem quanto à questão; no entanto facilitam a obtenção da resposta. O texto retrata todo o processo
o enunciado se refere ao conteúdo colocado no segundo texto, de sofrimento de Cristo e, na colônia, somente pode ser
quando afirma “quando o tema afrontava (...) os bons costumes”. relacionado com a vida e trabalho do escravo. Enquanto, para
Nesse sentido, visto o sexo e o prazer como uma afronta à muitos, na época o africano escravizado era apenas um objeto de
sociedade e aos bons costumes, coloca-se a necessidade de trabalho ou um se sem alma que, portanto, poderia ser
repressão por parte das autoridades religiosas, jurídicas e policiais. escravizado, o Padre Antonio Vieira faz um tratamento
08. Resposta: [D] diferenciado, de cunho religioso, apesar de justificar a escravidão.
09. Resposta: [D]
Nos versos “O Fidalgo de solar / se dá por envergonhado / de um 06. Resposta: [E]
tostão pedir prestado / para o ventre sustentar: / diz, que antes o
quer furtar / por manter a negra honra”, Gregório de Matos é irônico 07. Resposta: [A]
ao afirmar que o fidalgo tem vergonha de pedir emprestado, mas No primeiro período do texto, o autor estabelece uma analogia
não tem vergonha de roubar. entre o homem e o mundo. Em seguida, compara o mar e o
homem a um monstro, com o objetivo de criticar a ganância.
10. Resposta: [E]
Na primeira frase não se encontram desarmonia e contradição, 08. Resposta: [C]
pelo contrário, os versos saúdam, alegremente, o dia: "Amanheceu
o dia prometido,/famoso, alegre, claro e prazenteiro”. 09. Resposta: [E]
11. Resposta: [B]
12. Resposta: [E] 10. Resposta: [E]
13. Resposta: [E]
14. Resposta: [D] 11. Resposta: [E]
15. Resposta: [B]
12. Resposta: [C]
Semana 8 - Barroco III
13. Resposta: [C]
01. Resposta: [E] Em vários excertos do Sermão de Santo Antônio aos peixes, é
Padre Antônio Vieira é um autor barroco em cujos textos evidente a critica de Vieira à ganância excessiva dos poderosos,
predomina o estilo conceptista, uma vez que defende pontos de como no seguinte: “os grandes que têm o mando das cidades e
vista; neste caso, defende que o pregar e o semear são ações que das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos
se assemelham tendo em vista seu caráter “fácil e natural”. um por um”. Assim, é correta a opção [C].

02. Resposta: [B] 14. Resposta: [C]


O fragmento do texto do padre Antônio Vieira faz uma analogia do Padre Antônio Vieira critica “a ganância excessiva dos poderosos”.
processo de catequese realizado pelos religiosos católicos diante Essa crítica pode ser notada nesta passagem, entre outras:
dos gentios com o trabalho de um artista que, utilizando uma “Porque os grandes que têm o mando das cidades e das
matéria-prima, como uma pedra, produz um homem perfeito ou um províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um
santo no altar. A proposição [B] é a única que contempla o teor do por um, pouco a poucos, senão que devoram e engolem os povos
texto de Vieira. inteiros”.

15. Resposta: [A]


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Havia entre algumas tribos indígenas brasileiras o hábito de comer valorização da natureza e uso da mitologia. Expressões latinas
a carne dos inimigos: antropofagia. Portanto, o sentido é literal. como Inutilia truncat: "cortar o inútil", Fugere urbem: "fugir da
“Açougue” foi empregado em sentido figurado, referindo-se à cidade", Locus amoenus: "lugar ameno" e Carpe diem: "aproveitar
matança generalizada promovida pelos “brancos”, que “mais a vida” sugerem crítica aos excessos do movimento anterior, o
se comem”, ou seja, mais se destroem. Barroco, assim como, no aspecto político, aos abusos
da nobreza e do clero praticados no Antigo Regime. Assim, todas
Semana 9 - Arcadismo I as opções são corretas, exceto [E].

01. Resposta: [C] 08. Resposta: [D]


No poema, o eu lírico menciona em vários momentos sua A alternativa [D] é correta, pois, na poesia árcade, a natureza
felicidade, sobretudo nos versos “Neste bosque alegre e rindo/ Sou adquire sentido de simplicidade, harmonia e verdade, onde o
amante afortunado”. Assim, definindo-se como “amante homem adquire a serenidade e o equilíbrio.
afortunado” revela que se sente afortunado pela possibilidade do
amor. 09. Resposta: [E]
Pastores e pastoras são imagens poéticas típicas do Arcadismo,
02. Resposta: [B] movimento estético do século XVIII, quando há uma retomada da
“Cotejar” é sinônimo de “comparar”; o eu lírico compara o próprio paisagem campestre e pastoril, do idílio e da inocência
destino com o de Camões, julgando-os semelhantes quanto à caracterizadas através de um cenário bucólico entre os amores e
desgraça: “perderam o Tejo (foram exilados), a paz não é as pequenas alegrias de pastores e pastoras.
encontrada quando vivos”.
10. Resposta: [D]
03. Resposta: [A] Segundo a tradição poética ocidental, ao coração estará reservada
É correta a alternativa [A], pois, no soneto “Liberdade, onde estás? a sede, a morada do amor. Na modinha de Domingos Caldas
Quem te demora?”, o emissor é o eu lírico, o receptor, a liberdade, Barbosa não será diferente: Revolvam meu coração / Procurem
e o objetivo da mensagem é criticar o sistema político opressor do meu peito bem,/ Verão estar dentro dele /Só Arminda e mais
país, o despotismo. ninguém.

04. Resposta: [B] 11. Resposta: A


A subjetividade do eu lírico, expressa sobretudo nos pronomes Do latim, “mediocridade dourada”, aurea mediocritas é um termo
“nós”, “mim” e “nos”, sugere reciprocidade de seus sentimentos e usado pelo poeta latino Horácio para exalter as vantagens de uma
anseios com os da pátria, que sofre a opressão do sistema político vida simples, humilde, sem luxo, mas também sem pobreza. No
instaurado em Portugal após a morte do rei D. José. Dirigindo-se texto, esse conceito é apresentando quando o eu lírico propõe a
diretamente à Liberdade, o eu lírico indaga as razões de ela não sua amada vestimentas rústicas, em oposição às “lãs e peles
estar presente em “esta parte do mundo”, que não reage à tirania e finas”.
que, como ele “frio e mudo”, assiste impassível aos desmandos
dos déspotas que governam o país. Assim, é correta a alternativa 12. Resposta: [E]
[B]. O Arcadismo, escola literária surgida na Europa no século XVIII e,
por isso, também denominada setecentismo ou neoclassicismo,
05. Resposta: E valoriza a vida simples, bucólica e pastoril (locus ameonus), refúgio
Os versos de Cláudio Manuel da Costa revelam o desejo do eu para quem sentia a opressão dos centros urbanos dominados pelo
lírico de se afastar da cidade e refugiar-se no campo. regime do absolutismo monárquico.

06. Resposta: [E] 13. Resposta: [B]


A referência a “formas superiores de expressão” e “termos O Barroco foi um estilo artístico que se iniciou no final do século
clássicos” alude a movimentos artísticos que privilegiavam a XVI na Itália. O termo “barroco”, em sua origem, significa “pérola
perfeição formal e o uso de uma linguagem sóbria, sem excesso de irregular”, o que indica sua característica de excesso, excesso de
figuras literárias. Também o último período do texto assinala que sentimentos (o homem barroco vivia entre altos e baixos), de
tal movimento não abandonou totalmente as características de palavras, de figuras de linguagem, de oposições, de contrastes. Já
estilo anterior que dava importância ao contato das duas culturas, o Arcadismo, escola literária surgida no século XVIII, valorizava o
indígena e europeia. No Brasil, o movimento das Academias em equilíbrio e a simplicidade, inclusive na forma, tendo em vista sua
Minas Gerais e no Rio de Janeiro expôs um novo modo de ver o retomada dos valores clássicos. Assim, é correta a disposição: 2 –
confronto entre colonizadores e indígenas, de que foi exemplo a 1 – 1 – 2.
obra Caramuru, de Frei Santa Rita Durão, que seguiu o modelo
camoniano de Os Lusíadas (divisão em dez cantos e uso do verso 14. Resposta: [B]
decassílabo em oitava heroica). Assim, é correta a opção [E]. O conceito Locus amoenus do Arcadismo diz respeito à busca de
uma vida simples, bucólica, pastoril; ao refugiar-se em um local
07. Resposta: [E] tranquilo, ameno, em oposição à vida nos centros urbanos. No
Claudio Manuel da Costa está inserido no período literário do trecho em questão, isso é claramente evidenciado: “nos
Arcadismo, também conhecido como Setecentismo ou sentemos/à sombra deste cedro levantado./Um pouco
Neoclacissismo. Sua característica principal consiste na defesa do meditemos/na regular beleza,/que em tudo quanto vive nos
retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos, na descobre/a sábia Natureza”.

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216
RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

15. Resposta: E lembranças de um passado distante (“Árvores aqui vi tão


O item E caracteriza a literatura romântica. No arcadismo, a florescentes,/Que faziam perpétua a primavera:/Nem troncos vejo
paisagem é trabalhada, predominantemente, apenas como cenário agora decadentes“). A última estrofe do poema coloca em
. evidência também a sensação de nostalgia que advém da
Semana 10 - Arcadismo II constatação da mutabilidade e efemeridade da vida, o que permite
considerar correta a alternativa [E].
01. Resposta: [B]
No soneto, Lise age em relação ao eu lírico da mesma forma que o 08. Resposta: [D]
menino age com a avezinha, isto é, como dona da liberdade Tomás Antônio Gonzaga, autor dos mais significativos poemas do
daquele que a ama. Se a avezinha está presa fisicamente aos arcadismo luso-brasileiro, expressa suas vivências em uma
caprichos do menino, o eu lírico está preso sentimentalmente a trajetória que abrange o período vivido em Vila Rica, Minas Gerais,
Lise. e sua reclusão na ilha das Cobras, Rio de Janeiro. A construção do
poema em versos redondilhos menores ou em decassílabos
02. Resposta: [E] quebrados, a linguagem simples, a referência constante a
O soneto revela certa ansiedade do eu lírico, que fica bem evidente ambientes bucólicos, em que o eu lírico se mimetiza com a figura
na última estrofe, quando afirma que sua inquietude (“ânsia”) seria de um pastor, são típicas do Arcadismo.
mais branda se a ele faltasse o entendimento de sua situação.
09. Resposta: [E]
03. Resposta: [D] O Arcadismo opõe-se aos exageros e rebuscamentos do Barroco,
I. Verdadeiro. Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa expresso pela expressão latina "inutilia truncat" ("cortar o inútil"). O
são os grandes nomes do Arcadismo brasileiro. A crítica literária ideal horaciano da “áurea mediocridade” simboliza a valorização de
indica que, no início das atividades como poetas, o primeiro já uma vida tranquila, o cotidiano simples orientado pela razão, o
inovava com o estilo árcade, mas o segundo ainda apresentava amor idílico em ambiente bucólico, como se afirma em [E].
resquícios do conflito Barroco.
II. Verdadeiro. A produção de Tomás Antônio Gonzaga é bastante 10. Resposta: [B]
marcada pela própria biografia do poeta. Em Marília de Dirceu, sua A 2ª parte da obra Liras de Marília de Dirceu, a que pertence a Lira
primeira parte é árcade; já a segunda, marcada pela prisão do 83, foi escrita na prisão da ilha das Cobras. Os poemas exprimem
autor, apresenta traços românticos, como a subjetividade e a a solidão, a saudade e o temor do futuro de Dirceu. Na primeira
presença da Morte. Cartas Chilenas, por sua vez, é a obra satírica estrofe, o eu lírico, em tom confessional pleno de pessimismo,
em que o contexto da Inconfidência Mineira foi exposto. dirige-se à amada e informa-a da sua situação de prisioneiro em
III. Falso. Dirceu é o pseudônimo empregado na obra lírica Marília um ambiente contrastante com as paisagens bucólicas em que, no
de Dirceu, não em Cartas Chilenas; nesta obra, optou por Critilo. passado, haviam transcorrido os seus encontros (“dessas horas
Além disso, o poeta faleceu no exílio. felizes, já passadas/na tua pátria aldeia!”).
IV. Falso. Tomás Antônio Gonzaga realmente demonstra Na última estrofe, o eu lírico confirma o juramento que havia feito
características pré-românticas, porém apenas na segunda parte de na anterior (“jurava não cantar mais outras graças/que as graças
Marília de Dirceu. do teu rosto”). Apenas constata que a alegria do passado vivido
V. Verdadeiro. Marília de Dirceu está dividida em duas partes: a com ela é substituída pela tristeza da sua condição de prisioneiro,
primeira parte é árcade; já a segunda, marcada pela prisão do sensação sugerida pela antítese “canto”X”pranto” (“eu agora,
inconfidente, apresenta traços românticos, como a subjetividade e Marília, não as canto;/mas inda vale mais que os doces versos/a
a presença da Morte. voz do triste pranto”). Assim, são incorretas as afirmativas I e IV.

04. Resposta: D 11. Resposta: C


Apesar do conceptismo característico de sua obra, seus sermões Segundo a convenção árcade, o poeta não deve tratar de questões
não são de difícil compreensão, e é visível que o vocabulário é biográficas em sua poesia. No poema em questão, Tomás Antônio
culto, mas não erudito. rompe com o pastoralismo, pois o eu lírico se coloca como juiz,
profissão do poeta.
05. Resposta: C

06. Resposta: [C] 12. Resposta: [B]


Basílio da Gama escreveu O Uraguai inspirado em Os Lusíadas, Em vários momentos, o eu lírico confessa-se resignado com a
de Luís Vaz de Camões. No entanto, Basílio da Gama não imita aproximação da velhice e inevitabilidade da morte, momentos que
fielmente a epopeia clássica de Camões. Enquanto Os Lusíadas é serão amenizados pela presença e amor de Marília.
composto por 8.816 versos decassílabos, distribuídos em dez
cantos, O Uraguai possui 1.377 versos brancos, sem estrofação 13. Resposta: [A]
regular, distribuídos em cinco cantos. Assim, a única afirmação Expressões como “prado florescente”, “sítio ameno” e “brando sol”
falsa é a quarta, e a sequência correta é: V – V – V – F – V. reproduzem o cenário idílico característico da poesia árcade.
Inspirados na frase fugere urbem (fugir da cidade), do escritor
07. Resposta: [E] latino Horácio, os autores árcades voltavam-se para a natureza em
O poema expressa as vivências do eu lírico em face de duas busca de uma vida simples, bucólica, pastoril, do locus amoenus
realidades, duas situações com sentido antagônico, que (refúgio ameno).
acontecem na realidade do presente e na evocação das
14. Resposta: [E]
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Ao longo do soneto, o eu lírico manifesta estranheza pelas argumento que restringe o que foi dito ou um argumento que
mudanças que observa na natureza: “Quem fez tão diferente funciona como ressalva ao que foi enunciado antes. Assim, é
aquele prado?”, “ Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço”, “Ali correta a alternativa [D], pois, se o autor usasse períodos simples,
em vale um monte está mudado”, “Nem troncos vejo agora não seria passível de deduzir que “a essência das coisas se
decadentes”. No último terceto, reconhece que também nele mantém mesmo quando lhes falta o atributo principal”.
aconteceu a mesma deterioração que encontra na natureza: “Mas
que venho a estranhar, se estão presentes/Meus males, com que 06. Resposta: [D]
tudo degenera!”. Nesse sentido, deduz-se que existe empatia entre
os sofrimentos do eu lírico e a deterioração da terra, como se 07. Resposta: [E]
afirma em [E]. O diálogo entre autor e leitor está implícito nos verbos no modo
imperativo ( “desculpai”, “recebei”, “amai”), pois o termo verbal
15. Resposta: [E] indica um pedido, uma sugestão do enunciador para o receptor,
Todas as alternativas são corretas, exceto [E]. Ao associar a assim como o advérbio “agora” os coloca a ambos em um mesmo
imagem do sol ao rosto da sua amada (“O Monarca da luz, que tempo e espaço. Assim, é correta a alternativa [E].
esta alma engana; /Pois na face, que ostenta, soberana, /O rosto
de meu bem me vai fingindo”), o eu lírico percebe que é vítima de 08. Resposta: [B]
ilusão, pois são as “penhas” que metaforicamente representam a A morte como forma de libertação desta realidade mundana e
verdadeira essência da amada, que resiste aos rogos do poeta. A sofrida era um dos temas mais caros da segunda geração
figura feminina é retratada exterior e interiormente, através de romântica, sobretudo em Álvares de Azevedo.
elementos da paisagem, no que ela parece ser e no que ela é
verdadeiramente. 09. Resposta: [C]
O excerto revela duas características de Silmara: a beleza e a
Semana 11 - Romantismo I soberba. O fato de se saber bonita leva-a a pensar que isso seria
suficiente para lhe garantir sorte na vida e no amor e, portanto, um
01. Resposta: [A] destino diferente do das suas colegas. Esse tipo de ilusão é
Verdadeira. As imagens representam valores caros ao explorado nos contos de fada em que aparecem elementos
Romantismo. As imagens 1 e 3 fazem menção ao combatido estilo pertencentes a um mundo imaginário e maravilhoso, não
de arte clássico: Delacroix retrata o elemento feminino em um correspondente à realidade em que vive a maioria das pessoas.
contexto violento, ressaltando a liberdade pós contexto de tirania, e Assim, é correta a opção [C].
Géricault retoma a questão da violência pela ocorrência de
canibalismo após o naufrágio que o inspirou, no típico exagero 10. Resposta: [C]
sentimental romântico; já as imagens 2 e 4 representam o A pintura de Delacroix é uma homenagem à Revolução de 1830 na
Nacionalismo no Brasil, nação recém-independente. França, que pôs fim ao governo de Carlos X. Segundo palavras do
Verdadeira. Delacroix retrata o elemento feminino em um contexto próprio Delacroix, “ainda que não tenha lutado por meu país, posso
violento, ressaltando a liberdade pós contexto de tirania. representa-lo”. Além disso, a pintura relembra o ideário da
Verdadeira. A Batalha dos Guararapes foi um episódio brasileiro Revolução Francesa, em especial na bandeira tricolor nas mãos da
marcado pelo embate de brasileiros contra invasores holandeses Liberdade.
no século XVII.
Verdadeira. Géricault retoma a questão da violência pela 11. Resposta: [C]
ocorrência de canibalismo após o naufrágio que o inspirou, no Escapismo ou desejo de evasão de realidades desagradáveis é
típico exagero sentimental romântico. marca característica dos poetas da segunda geração do
Falsa. Iracema é um romance indianista de José de Alencar, Romantismo brasileiro, que, incapazes de se adaptarem ao mundo
retratado por José Maria de Medeiros. burguês, se evadiam da realidade através do uso da imaginação e
da idealização. Em “Sentimento do mundo”, Carlos Drummond de
02. Resposta: [B] Andrade rejeita a alienação romântica para retratar um tempo de
No poema “Vagabundo” de Álvares de Azevedo, o eu lírico valoriza guerras e de pessimismo sob uma perspectiva crítica e política,
a vida boêmia (“Fumando meu cigarro vaporoso;/ Nas noites de como se pode observar nos versos da opção [C]. Neste excerto, o
verão namoro estrelas”, “Canto à lua de noite serenatas”) ao eu lírico recusa uma atitude escapista e idealizadora da realidade
mesmo tempo que se considera feliz por possuir riquezas que não (“não serei o cantor de uma mulher (...) / não direi os suspiros ao
estão associadas a bens materiais (“Ando roto, sem bolsos nem anoitecer, a paisagem vista da janela, / não distribuirei
dinheiro”, “Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!”), como se afirma entorpecentes ou 10 cartas de suicida”) e simbolista (“não fugirei
em [B]. para as ilhas nem serei raptado por serafins”) e rejeita o
compromisso com o mundo passado (“caduco”) ou futuro. Seu
03. Resposta: [B] compromisso é com a “vida” e os “companheiros”.
Apenas o texto II traz a ideia do poeta (vate) como uma espécie de
gênio, capaz de vivificar as paixões com sua pena. 12. Resposta: [B]

04. Resposta: [E] 13. Resposta: [C]


O poema em questão apresenta sete sílabas poéticas em seus
05. Resposta: [D] versos (heptassílabos), não prioriza a forma e nos remete ao
A conjunção adversativa “mas” tem o propósito de introduzir um Romantismo, quando cita José de Alencar. No entanto, mantém a
irreverência e o caráter mais popular dos modernistas.
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RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

moderna, pois a personagem-título é um herói sem nenhum caráter


14. Resposta: [B] (anti-herói) que mostra atração pela cidade grande de São Paulo e
O Romantismo, sobretudo a Primeira Geração, foi importante na pela máquina, distante por isso da visão idealizada do índio
construção da identidade nacional, porque exaltava os valores da moralmente forte a que se refere a alínea [F].
cultura nacional e as belezas naturais do Brasil. O poema de
Casimiro de Abreu expressa os anseios do eu lírico em rever a sua 05. Resposta: [B]
pátria distante (“... dá-me de novo/ os gozos do meu lar”, “quero [I] Incorreta. Trata-se de um poema romântico, portanto, o índio é
ouvir.../ cantar o sabiá”), num manifesto apelo saudosista de uma descrito de maneira idealizada, jamais de maneira científica.
infância vivida numa paisagem idealizada (“sítios gentis”, “O céu do [II] Correta. O poema apresenta um índio integrado, que implora
meu Brasil”). aos algozes para que não o matem nem o devorem porque tem o
pai velhinho que precisa de cuidados. As características
15. Resposta: [C] idealizadas do bom selvagem como a lealdade ao pai e a honra a
seu povo foram sempre muito caras aos românticos brasileiros.
Semana 12 - Romantismo II [III] Correta. A variação rítmica é precisamente marcada através de
sonora versificação, contribuindo, dessa forma, com a
01. Resposta: [C] expressividade poética marcada pela exaltação e pelo pasmo.
O trecho de Canção do Tamoio exulta a coragem que o índio deve
manter mesmo no momento em que a fortuna trai seus passos: os 06. Resposta: [D]
feitos devem ser recordados para, em seguida, morrer em glória. [A] O guerreiro aceita o seu destino oferecendo-se como escravo,
Tal idealização moral corresponde ao ideário das Cruzadas, em no entanto, roga pela vida somente por ser o único a poder cuidar
que os guerreiros davam a própria vida em nome da causa que do pai velho e doente.
defendiam. [B] O guerreiro não aceita resignadamente sua morte por causa da
velhice do pai.
02. Resposta: [E] [C] O guerreiro também não se acovarda, mas pede pela vida,
O eu lírico de Canção do Tamoio defende a morte honrosa em apenas para cuidar de seu velho pai.
nome de um ideal, o que corresponde ao verso “E, se um dia ele [D] Correta. O guerreiro tenta argumentar para manter o princípio
cai, cai bem!”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell. da honra, mas a preocupação com o pai faz com que implore pela
vida.
03. Resposta: [B] [E] Não rejeita orgulhosamente a morte ritual, pelo contrário, o
O pintor Victor Meirelles pertence à Escola Romântica de Pintura. guerreiro implora pela vida.
Um dos principais admiradores de sua obra foi o Imperador Pedro
II, que se tornou seu mecenas em um projeto de construção da 07. Resposta: A
identidade nacional através de símbolos da nossa origem, como a
figura dos indígenas. O quadro Moema, acima retratado, enquadra- 08. Resposta: [C]
se nesse contexto. O autor do excerto tece várias hipóteses que justificariam o fato de
a tela “A carioca” ter sido recusada pelo imperador Pedro II: limites
04. Resposta: morais da sociedade da época, exposição de um tipo de
a) Incorreta. carnalidade que escapava aos padrões estéticos em voga naquele
b) Incorreta. período e o exotismo de uma representação corpórea de uma
c) Correta. mulher que não era índia, mulata nem negra. Assim, é correta a
d) Incorreta. opção [C] que afirma que a aceitação da representação do belo na
e) Incorreta. obra de arte está condicionada a fatores externos de um
f) Incorreta. determinado contexto cultural e ideológico.
g) Correta.
h) Incorreta. 09. Resposta: [E]
Estão incorretas as alíneas [A], [B], [D], [E], [F] e [H]. A vertente As proposições II e III são incorretas, pois, as idealizações que
indianista da poesia do século XIX privilegia a volta ao passado emprestam uma espécie de glória artificial ao nosso passado como
histórico e a criação do herói nacional na figura do índio totalmente Colônia
idealizado, distante, portanto, de uma visão realista, como símbolo [II] não se baseiam em documentos históricos cientificamente
da pureza e da inocência do homem não corrompido pela credíveis. Pelo contrário, o indígena é retratado como um mítico
sociedade, o que contraria as afirmações em [A] e [E]. O refrão herói nacional, representando a inocência do homem não
apresenta verbo no imperativo afirmativo, expressando o apelo do corrompido pela sociedade, como exemplo da teoria do “bom
índio timbira para que ouçam a história do tupi que, prestes a ser selvagem” de Rousseau;
sacrificado, pediu que o poupassem, não por medo da morte, mas [III] as tendências nacionalistas do Romantismo brasileiro
para evitar que o seu velho pai, alquebrado e cego, ficasse sem apresentaram como características a exaltação da natureza, a
amparo, o que invalida as afirmações em [B] e [F]. É incorreto volta ao passado histórico, a criação do herói nacional na figura do
também o que se afirma em [D], pois este excerto do poema é índio, o sentimentalismo e a religiosidade.
constituído de versos redondilhos menores (cinco sílabas), com
rimas que seguem o esquema AAA (paralelas) e BCCB (opostas e 10. Resposta: [D]
intercaladas). A obra Macunaíma, de Mário de Andrade, escrita em O caráter pacífico conferido ao descobrimento do Brasil e ao
tom irreverente e jocoso, está filiada a uma vertente indianista surgimento da Colônia pode ser facilmente encontrado no quadro
que compõe o TEXTO 1 da questão: europeus e indígenas
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reunidos para celebrar a primeira missa no solo recém-descoberto.


03. Resposta: [C]
11. Resposta: [B] [I] Correta. Ambos os poemas apresentam eu lírico em estado de
A proposição [B] está correta. Ao longo do século XIX no Brasil, nostalgia, percebendo que a passagem do tempo não foi benéfica:
sobretudo, a partir de 1831 com a abdicação de D. Pedro I que em Casimiro de Abreu, poeta romântico da 2ª geração, lê-se: “Que
retornou para Portugal, o Brasil procurou construir elementos para doce a vida não era / Em vez das mágoas de agora”; em Carlos
a formação da nossa identidade nacional e cultural. Assim, a Drummond de Andrade, poeta modernista da 2ª geração, lê-se:
literatura e as artes foram fundamentais para esta construção. O “Vamos, não chores... / A infância está perdida. / A mocidade está
Romantismo forneceu elementos simbólicos para a formação da perdida. / Mas a vida não se perdeu.”
identidade nacional. Temos como exemplo a poesia de Gonçalves [II] Correta. O eu lírico de “Meus Oito Anos” menciona, inicialmente,
Dias chamada “Canção de Tamoio” (... “a vida é luta, viver é lutar, a nostalgia pela infância (“Oh! que saudades que tenho / Da aurora
a vida é combate que os fracos abatem...”). O quadro de Pedro da minha vida”): para tanto, descreve o espaço em que estava e
Américo retratando a independência do Brasil possui uma boa emprega verbos conjugados no passado; ao término, no entanto,
dose de romantismo e idealização. retorna ao momento presente, contrapondo-o à doçura anterior.
[III] Incorreta. O emprego sistemático da conjunção adversativa
12. Resposta: [D] “mas” ao término das estrofes de Drummond indica que há
O quadro “Independência ou morte”, também conhecido como “o resignação diante da passagem do tempo e da vida.
grito do Ipiranga”, foi produzido pelo pintor brasileiro Pedro
Américo, em Florença, encomendado por D. Pedro II e concluído 04. Resposta: [B]
em 1888. O imperador sempre foi visto como grande incentivador O humor em Álvares de Azevedo fica evidente no trecho da
da cultura e das artes e neste momento investia na Construção do alternativa [B]. Isso decorre da descrição de uma cena cômica em
Museu do Ipiranga, hoje denominado Museu Paulista. É um quadro que o eu lírico, elegantemente vestido (roupas tafuis), se vê
simbólico, que exalta um determinado evento, a proclamação da enlameado por conta da passagem de uma carroça após um dia de
Independência, destacando a figura do realizador no centro da tela. chuva.

13. Resposta: [A] 05. Resposta: [C]


A análise da pintura permite perceber a idealização da relação Em ambos os trechos, o eu lírico não aceita a forma pela qual é
entre nativo e jesuíta, tida, neste caso, como harmoniosa e tratado pela amada. Em “Por que mentias? Por que mentias,
consensual, na qual o religioso ignora qualquer rivalidade que leviana e bela?”, a voz poemática questiona o comportamento da
possa existir para lamentar a perda de uma vida de um inocente amada, que não se compadece perante o sofrimento dele. Já em
que para eles também poderia ser convertido em um membro da Ainda uma vez ‒ adeus! ‒ [XVIII], o eu lírico implora por atenção
sociedade cristã. É preciso lembrar que José de Anchieta da amada, mesmo que ela leia seus versos apenas no futuro.
permaneceu como refém dos Tamoios durante o conflito – o Padre
Anchieta foi um dos interlocutores do conflito no sentido de resolvê- 06. Resposta: [E]
lo, pois falava a língua dos nativos. [V] O poema de Oswald de Andrade dialoga com o de Casimiro de
Abreu. Outros poetas modernistas também utilizaram esse recurso,
14. Resposta: [D] geralmente para satirizar poetas de outros movimentos literários,
Como o texto deixa claro, “por meio da pintura histórica, forjou-se como o Romantismo e o Parnasianismo.
um passado épico e monumental, em que toda a população [F] No texto 3 se observa a predominância da função apelativa ou
pudesse se sentir representada”. Logo, as pinturas eram usadas conativa, já que é evidente o intuito de influenciar o destinatário, de
para fortalecer a identidade nacional. modo a convencê-lo da importância do livro na infância.
[F] O poema de Santa Rita Durão (texto 4) pertence ao Arcadismo:
15. Resposta: B os versos são camonianos; a epopeia, clássica; há referências
Semana 13 - Romantismo III frequentes à mitologia grega, entre outros aspectos.
[V] A “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci é parodiada no texto 6.
01. Resposta: A
07. Resposta: D
02. Resposta: [A]
[A] Correta. O egocentrismo era uma das características principais 08. Resposta: D
da segunda geração modernista, representada, sobretudo, por O autor foge do estilo ultrarromântico que o consagrou e apresenta
Álvares de Azevedo e destacada pelos verbos subjetivos utilizados uma visão cínica e irônica dos costumes em voga à época do
na primeira pessoa, enfatizando as dores do amor platônico, romantismo, que impôs uma série de hábitos à burguesia da época
também uma outra característica da poesia Romântica da segunda para sustentar a visão idealizada do amor e da conquista amorosa.
geração.
[B] O indianismo pertence à primeira geração romântica. 09. Resposta: C
[C] O medievalismo foi mais trabalhado na primeira fase do
Romantismo europeu, substituído pelo indianismo local. 10. Resposta: A
[D] O nacionalismo é característica do primeiro movimento Cada verso apresenta sete sílabas poéticas, configurando a
Romântico no Brasil. redondilha maior (medida de caráter popular por imprimir uma
[E] Qualquer menção nativista não pertence à poesia byroniana maior musicalidade ao texto).
brasileira.
11. Resposta: E
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RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

extravasar a sua dor, valendo-se de metáforas em que “estrela”,


12. Resposta: [C] “rosa”, “íris” e “ilusão” se associam à imagem da mulher amada.
A temática da poesia saudosista a que Massaud Moisés faz
referência está explícita em [C], como comprovam os versos que 05. Resposta: [D]
remetem à idealização do mundo infantil através das descrições Enquanto que a antítese ocorre quando há uma aproximação de
dum cenário idílico onde o eu lírico se sentia completamente feliz palavras ou expressões de sentidos opostos, a comparação
(“Naqueles tempos ditosos”, “Achava o céu sempre lindo”, aproxima dois termos entre os quais existe alguma relação de
“Adormecia sorrindo”, “E despertava a cantar!”). semelhança através de um conectivo (que, como), situação que se
observa em [D].
13. Resposta: B
O fundamento desse lirismo é uma melancolia que inviabiliza 06. Resposta: [C]
qualquer possibilidade de reação diante da perda, confirmado nos Espumas Flutuantes foi o único livro publicado em vida por Castro
versos: “Do leito embalde no macio encosto/ Tento o sono reter!... Alves e editado no final de 1870, poucos meses antes da sua
já esmorece/ O corpo exausto que o repouso esquece.../Eis o morte. Nesta obra, transparece a ânsia de viver, a exaltação do
estado em que a mágoa me tem posto!”. amor sem culpa e realizado fisicamente, as preocupações
existenciais de quem sabe que o seu fim está próximo e de que
14. Resposta: E “Boa Noite”, “O adeus de Teresa” e “Mocidade e Morte” são alguns
exemplos. Em “O Livro e a América”, “Ode ao Dous de Julho”, e
15. Resposta: C “Pedro Ivo” revela influências de Vítor Hugo, que o situam na
vertente condoreira do Romantismo brasileiro e em Sub Tegmine
Semana 14 - Romantismo IV Fag e Aves de Arribação, as preocupações com o fazer poético.
Assim, é correta a opção [C].
01. Resposta: [E]
I. Verdadeiro. Gonçalves Dias é representante da 1ª geração 07. Resposta: B
romântica brasileira, cuja preocupação era mostrar o heroísmo do
indígena e sua cultura, como tão bem representa em I-Juca 08. Resposta: [D]
Pirama. A valorização da natureza, a subjetividade expressa no poema
II. Verdadeiro. Castro Alves é representante da 3ª geração através de pronomes em 1ª pessoa, o uso de imagens expressivas
romântica brasileira, cujo objetivo era defender a causa que reproduzem um ambiente noturno propício ao devaneio e de
abolicionista. Para tanto, recorre a imagens um tanto hiperbólicas grande apelo erótico validam as opções [A], [B], [C] e [E]. É
com a intenção de sensibilizar o público. incorreto o que se afirma em [D], pois as apóstrofes nos dois
III. Falso. Os autores, como explicado nos itens anteriores, fazem últimos versos do poema (“Ó flor!”, “Virgem!”) expressam a
da poesia uma forma de divulgar a história brasileira. plenitude do sentimento amoroso do eu lírico perante a mulher
IV. Verdadeiro. Gonçalves Dias idealiza a amada, com índices de amada.
subjetividade; já Castro Alves, afastando-se dos tradicionais
moldes românticos, ainda supervaloriza a mulher amada, porém
menção direta à sensualidade. Em Castro Alves, portanto,
coexistem valores subjetivos e objetivos – estes relacionados ao 09. Resposta: [B]
estilo posterior, o Realismo. É verdadeira a afirmativa I, já que a palavra “adeus” assume
V. Verdadeiro. Tal abordagem se faz presente em obras como Os variações significativas ao longo do poema, desde o “adeus, até
Escravos e O Navio Negreiro. breve” da primeira estrofe, até o “adeus, até nunca mais” da última.
O fato de Teresa ter um novo envolvimento contraria a visão
02. Resposta: [A] idealizada da mulher típica do Romantismo, como se afirma em III.
No excerto do poema de Craveirinha (poeta moçambicano falecido Já as assertivas II e IV estão erradas, pois as hipérboles da
em 2003), transcrito na alínea [A], o eu lírico expressa consciência terceira estrofe sugerem o arrebatamento, a exaltação do momento
da sua condição de escravo, trabalhador braçal que serve aos de paixão, assim como o amor carnal é também evidente nas
interesses do seu dono. Os dois últimos versos reproduzem a expressões “séculos de delírio”, “Prazeres divinais”, “gozos do
veemente convicção de que essa situação irá terminar: “Mas Empíreo”.
eternamente não/Patrão!”.
10. Resposta: [E]
03. Resposta: B Castro Alves é o representante máximo 3ª Geração do
Romantismo brasileiro. Em Espumas Flutuantes, a experiência
04. Resposta: [A] amorosa transparece em sua plenitude sentimental e carnal,
Na primeira estrofe, o eu lírico interpela o vento frio do deserto contrapondo-se ao amor irrealizado e não correspondido que
sobre o paradeiro da amada (“Vento frio do deserto,/Onde ela vigorava até então. Assim, são corretas todas as afirmativas,
está? Longe ou perto?”), enquanto que, na segunda, se dirige a exceto a III.
essa mulher distante revelando a dor que essa ausência lhe
provoca (“Mas por que tardas, querida?.../Já tenho esperado 11. Resposta: [A]
assaz.../Vem depressa, que eu deliro”). Assim, estão corretas as Apenas na primeira estrofe existe menção à valsa para estabelecer
afirmativas I e II. Em III e IV, a interpretação é inadequada, pois o uma analogia entre o ritmo da música e a correnteza que arrasta
eu lírico usa o elemento da natureza como confidente para as plantas, o que invalida as opções [B] e [E]. Também [C] e [D]
estão erradas, pois em nenhum momento o poema faz referência à
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alternância de sentimento de amor e ódio, e as inversões sintáticas reveladoras de carências e abandonos (“logo que se deu a Geraldo
são recurso de exigência métrica e rimática em um poema como uma escrava”, “dali saiu enxotada para o Bângala”), de
constituído por versos decassílabos com rimas emparelhadas e acordo com as narrativas regionalistas de cunho universalista,
interpoladas. típicas da terceira fase do Modernismo.

12. Resposta: B 08. Resposta: [D]


A concordância entre o sujeito (vós) e o verbo (podíeis), o emprego
13. Resposta: B do objeto direto e indireto a partir da contração entre “lhe” e “o” e a
colocação pronominal seguindo o padrão da Gramática Normativa
14. Resposta: E indicam que a linguagem empregada seja culta – como bem
defendiam os autores românticos ao retratar a elite do país.
15. Resposta: [A]
A bandeira nacional é evocada por representar a nação e o povo 09. Resposta: B
brasileiro responsável pela manutenção da crueldade que foi a
escravidão no país. 10. Resposta: [D]
[I] Verdadeira. A exposição do comportamento da elite brasileira
Semana 15 - Romantismo V distanciado da idealização romântica, como a intenção de Aurélia
comprar Seixas como marido, comprova aproximação com o estilo
01. Resposta: D realista.
02. Resposta: D [II] Falsa. O enredo mostra que o gosto por trajes suntuosos e o
03. Resposta: [D] comportamento aristocrático da elite, elementos que seduzem
O predomínio de verbos de ligação, a presença constante de Seixas a ponto de aceitar um casamento que lhe conviesse
adjetivos ou locuções adjetivas para caracterizar o evento e a financeiramente, dizem respeito a uma classe social, não apenas à
ausência de qualquer tipo de manifestação de desagrado por parte personagem citada.
do narrador revelam que se trata de um texto descritivo que tem [III] Verdadeira. O desfecho do enredo indica a capitulação de
como finalidade apresentar acriticamente as características de um Aurélia ao sentimento, assim como a transformação de Seixas, o
sarau. Assim, é correta a opção [D]. qual percebe que a conveniência financeira não atendia às suas
reais necessidades.
04. Resposta: [E]
Publicado em 1844, o romance “A Moreninha”, de Joaquim Manuel 11. Resposta: 01 + 04 + 16 + 64 = 85
de Macedo, atende ao interesse do público leitor da época, É incorreto o que se afirma em:
constituído sobretudo por uma burguesia alienada e ávida por uma - 02: pois Aurélia não tem perfil prepotente, egoísta e manipulador.
literatura que correspondesse às projeções dos seus anseios Ela, em alguns momentos da narrativa, age assim para defender-
pessoais em frequentar ambientes luxuosos e conviver com a nata se de pessoas inescrupulosas e interesseiras;
da sociedade. Assim, as descrições detalhadas do sarau e a - 08: porque, de acordo com o texto, o tio de Aurélia fica surpreso
idealização dos personagens ofereciam condições e qualidades com a sua argumentação: “Sr. Lemos, disse a moça
que despertavam sensação de prazer e bem-estar, expressando pausadamente e transpassando com um olhar frio a vista perplexa
uma visão otimista da realidade social, como se afirma em [E]. do velho”; e
- 32: tendo em vista que de modo algum se pode afirmar que o
05. Resposta: [C] conhecimento das normas vigentes nas operações jurídicas e
Ao apresentar as personagens que habitualmente frequentavam os comerciais era habitual nas ricas herdeiras da época. Para
saraus da época, o autor destaca a habilidade e esperteza do compreender o porquê de Aurélia possuir tal conhecimento,
diplomata em acertar os seus negócios, o prazer dos mais velhos devemos recordar que a obra pertence ao movimento romântico,
em resgatar as memórias do passado e a satisfação dos rapazes de cujas características faz parte a idealização da realidade.
em frequentar espaços luxuosos onde as moças se empenhavam
em exibir os seus dotes de beleza e elegância. Assim, é correta a 12. Resposta: [A]
opção [C].
13. Resposta: D
06. Resposta: [A]
Na opção [A], existe uma frase em que a partícula “se” é pronome 14. Resposta: A
apassivador de uma oração na voz passiva sintética, sendo “um
ataviado dandy”, o seu sujeito. Se o pronome fosse eliminado (Ali 15. Resposta: 04 + 32 = 36.
vê um ataviado dandy), o sujeito passaria a ser elíptico (ele, ela) e O namoro entre Leonardo e Maria está bem distante dos cânones
“ataviado dandy”, o objeto direto do verbo ver. do amor romântico, a começar que nenhum dos dois é perfil de
típicos personagens do Romantismo: ele, um malandro; ela, feia e
07. Resposta: [E] desajeitada. Maria, em momento algum demonstra respeitar
No texto II, Aurélia é apresentada de forma idealizada (“sombras Leonardo, tanto que o trai e foge com o amante.
diáfanas dos cândidos véus de noiva”, “fronte gentil”, “formosura se Nobreza, coragem e alto valor moral são características de heróis
toucava de lumes esplêndidos”), conforme os preceitos da escola românticos típicos, o que não é o caso de Leonardo, um anti-herói
romântica a que pertenceu José de Alencar. Já no texto I, percebe- que desde a infância demonstra traços de malandragem.
se a visão subjetiva de Eliane através das lembranças do passado A relação entre Maria e Leonardo é marcada pela traição da
esposa ao marido, e não o contrário.
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222
RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Assim, estão corretas apenas as afirmativas [04] e [32].


05. Resposta: [C]
Semana 16 - Romantismo VI O termo “Ipiranga”, formado pela junção de “y” (rio) mais
“pyrang” (vermelho), tem origem indígena, assim como “mandioca”,
01. Resposta: [C] planta bastante usada na sua alimentação. Assim, é correta a
A alternativa [A] está incorreta, pois Gonçalves Dias ficou opção [C].
conhecido por dedicar-se ao indianismo.
Está incorreta também a alternativa [B], já que A moreninha é 06. Resposta: [A]
justamente um dos primeiros romances do Romantismo brasileiro O segundo parágrafo do excerto (“Já brilha na cabana de Araquém
por trazer vários elementos desse movimento, como a idealização o fogo, companheiro da noite. Correm lentas e silenciosas no azul
do amor puro, a cultura nacional (por meio da lenda da gruta), o do céu, as estrelas, filhas da lua, que esperam a volta da mãe
registro de costumes (e não a sua ridicularização) e o final feliz. ausente”) é indicativo da influência das crenças mitológicas dos
Quanto à alternativa [D], embora a obra Memórias de um sargento povos indígenas na observação e interpretação da realidade.
de milícias possa ser vinculada à estética romântica pelo registro Assim, é correta a opção [A].
de costumes, a impulsividade dos personagens e o final feliz, de
fato promove uma inversão do Romantismo. O humor ocupa o 07. Resposta: [C]
centro da narrativa e o herói romântico sofre uma “carnavalização”. A proposição [III] é incorreta, pois o enredo da narrativa não
Por isso é considerada uma obra que faz a transição para o reproduz as de “capa e espada”, oriundas da novela de cavalaria.
Realismo, e isso se dá justamente por centrar-se em personagens Trata-se de um romance histórico-indianista que desenvolve uma
de classes sociais mais baixas. narrativa épico-lírica ou mitopoética. Como as demais são
Já a alternativa [E] não está correta porque Castro Alves se verdadeiras, é correta a opção [C].
dedicou à temática dos negros escravizados e ficou conhecido
como o “poeta dos escravos”. 08. Resposta: [E]
[I] Incorreta. Iracema, anagrama de América, é uma heroína
02. Resposta: [A] tipicamente romântica: a idealização é inerente a ela.
[A] Correta. O crítico literário destaca que Taunay era um “Homem [II] Incorreta. Assim como na obra alencariana, o índio passa por
de pouca fantasia, muito senso de observação, formado no hábito um processo de aculturação, permitindo a associação ao elemento
de pesar com a inteligência as suas relações com a paisagem e o colonizador, tal qual ocorre com Poti e Martim.
meio”; percebe-se, portanto, certo distanciamento dos parâmetros [III] Incorreta. Martim é batizado segundo os costumes indígenas e
subjetivos do Romantismo – trata-se, portanto, de um foco realista recebe o nome de Coatiabo (“guerreiro pintado”). Sua amizade
atenuado. com Poti, da tribo pitiguara, é decisiva na narrativa.
[B] Incorreta. O marco do Realismo no Brasil é Memórias Póstumas [IV] Correta. Iracema não só simboliza o Brasil como a América;
de Brás Cubas, de Machado de Assis. seu filho, Moacir, é considerado o primeiro brasileiro.
[C] Incorreta. Trata-se de uma obra romântica, conforme o crítico [V] Correta. O lirismo presente na narrativa, caracterizada como
aponta em “Visconde de Taunay tinha condições para dar ao prosa poética, é fator preponderante para a idealização do índio
regionalismo romântico a sua versão mais sóbria”. brasileiro, principalmente o sofrimento amoroso de Iracema por
[D] Incorreta. O Naturalismo reduz o homem à animalização, o que Martim.
não é visto em Inocência.
[E] Incorreta. Não há referência no texto quanto à obra ser a 09. Resposta: 01 + 02 + 32 = 35.
melhor dentre os romances regionalistas. Inocência é uma moça simples, tímida e delicada, não reúne as
características enunciadas na afirmação [04]: ousadia e agilidade.
03. Resposta: [E] No último parágrafo, a doença a que o narrador se refere é o amor,
As proposições II e III são incorretas, pois, as idealizações que a que Cirino é acometido ao conhecer Inocência.
emprestam uma espécie de glória artificial ao nosso passado como Em Inocência, como em diversas outras obras românticas, há
Colônia recurso constante à religiosidade.
Assim, estão corretas as afirmativas [01], [02] e [32].
[II] não se baseiam em documentos históricos cientificamente
credíveis. Pelo contrário, o indígena é retratado como um mítico 10. Resposta: [C]
herói nacional, representando a inocência do homem não O leitor brasileiro, influenciado pelas aventuras de um Ivanhoé, viu
corrompido pela sociedade, como exemplo da teoria do “bom na obra de Alencar, O guarani, a história daquele que poderia ser
selvagem” de Rousseau; considerado o primeiro super-herói brasileiro: o índio Peri. Como
[III] as tendências nacionalistas do Romantismo brasileiro romance histórico, apresenta personagens com base em figuras
apresentaram como características a exaltação da natureza, a que realmente existiram, como D. Antônio de Mariz e seu filho
volta ao passado histórico, a criação do herói nacional na figura do Diogo, transformados na ficção em verdadeiros cavaleiros
índio, o sentimentalismo e a religiosidade. medievais, com direito a vassalagem e a juramento de eterna
lealdade dos aventureiros que formavam o seu exército. Peri
04. Resposta: [B] apaixona-se por Ceci, abandona sua tribo, sua língua e, por fim,
Analisando o texto, o trecho “Era normal, então, a casa de fazer sua religião para prestar eterna vassalagem amorosa a sua
farinha, no quintal, ao lado dos telheiros e próxima à cozinha” senhora. Assim, é correto afirmar que Peri é apresentado como um
indica que a casa de fazer farinha é adjacente aos telheiros nativo com qualidades aristocráticas como se afirma em [C].
(“adjacente” é sinônimo de “ao lado de”).
11. Resposta: C
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223
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freio” e “uma hipocrisia paciente e sistemática” no relacionamento


12. Resposta: D do casal. Da mesma forma, a vida de Brás Cubas é uma sucessão
de momentos de grande euforia com outros de grande tédio, como
13. Resposta: E se afirma em [B].

14. Resposta: [C] 07. Resposta: [D]


Trata-se de ambiguidade ou anfibologia, que ocorre quando há O último período do texto reproduz a sucessão de emoções
duplicidade de sentido da frase. O termo “égua” pode ser entendido contraditórias experimentadas por Brás Cubas no seu romance
como atributo negativo da mulher ou como designação do animal. com Virgília, ou seja, uma “paixão sem freio”, como enunciado em
Assim, é correta a opção [C]. [D].

15. Resposta: [A] 08. Resposta: [A]


As aspas foram usadas como recurso gráfico para atribuir a autoria O trecho mostra a inquietação da personagem Ana Rosa ao
da fala a outrem, que não o produtor do texto, ou seja, reproduzir a perceber as dificuldades que a paixão por Raimundo a fariam
solicitação de Francisco Antônio, como assinala a opção [A]. passar. Ela é descrita como filha da pequena burguesia, com certo
grau de instrução e habilidades manuais desenvolvidas pelas
Semana 17 - Realismo e Naturalismo moças da época. Com isso, começou a perceber o preconceito
quase velado que a sociedade maranhense tinha com relação a
01. Resposta: [C] sua paixão por Raimundo, simplesmente por ser mulato.
O romance “Homem”, de Aluísio de Azevedo, tematiza, através do
comportamento da personagem Magdá, as consequências 09. Resposta: [D]
da insatisfação sexual que pode levar ao desenvolvimento de
comportamentos histéricos, segundo determinadas visões 10. Resposta: [B]
cientificistas. No fragmento, essa concepção aplicada à mulher A leitura do trecho indica a temática da sexualidade (“Amigado, o
define-se por uma convicção de que ela é um organismo frágil e Aleixo! [...] Amigar-se, viver com uma mulher, sentir o contato de
condicionado por seu ciclo reprodutivo, como se afirma em [C]. outro corpo que não o seu, deixar-se beijar, morder, nas ânsias do
gozo, por outra pessoa que não o Bom-Crioulo!”) e a prevalência
02. Resposta: [A] do instinto sobre a razão (“As palavras de Herculano (aquela
A terceira afirmação é falsa porque – embora as personagens história do grumete com uma rapariga) tinham-lhe despertado o
sejam realmente estereotipadas –, sobretudo em relação à sangue, fora como uma espécie de urtiga brava arranhando-lhe a
Bertoleza, não cabe a caracterização de ociosa. pele, excitando-o, enfurecendo-o de desejo.”), assim como se
A última proposição também é falsa justamente porque em parte espera de uma obra naturalista.
contradiz a primeira afirmação. O narrador, diferentemente do
afirmado aqui, tenta manter a imparcialidade e a postura científica 11. Resposta: [A]
para comprovar sua tese de degeneração social provocada pela
mestiçagem e pelo meio. 12. Resposta: [E] Em todas as proposições existem termos ou
expressões que aludem à metamorfose da borboleta:
03. Resposta: [E] “transformação”, “reviscerando” (formando nova carne), “alando”
No trecho de O cortiço, vemos uma cena de violência ser retratada, (desenvolvendo asas), trabalho misterioso e surdo (invisível e
com “pauladas” e “sangue”. No poema “O Capoeira”, a mesma silencioso).
temática da violência é retratada: vemos o diálogo entre duas
pessoas, no qual um ameaça o outro e, no final, “pernas e cabeças 13. Resposta: [D] Jerônimo é o personagem que representa o
na calçada”, ou seja, houve briga e morte. grupo de trabalhadores braçais que chegavam à cidade do Rio de
Janeiro no final do século XIX em busca de emprego. O salário
04. Resposta: [B] precário obrigava a economia de gastos com moradia, o que deu
No último parágrafo, o narrador apresenta a polícia como motivo de origem à existência de cortiços, tipo de habitação coletiva e ponto
terror “daquela gente”, isto é, das pessoas do cortiço, que de encontro dos descendentes de escravos negros, de mulatos e
representam as classes populares no romance. Assim, vê-se uma de imigrantes europeus de várias origens. As estatísticas revelam
violência policial, representativa do Estado que a controla, contra que, na cidade do Rio de Janeiro, existiam aproximadamente 505
as classes populares. cortiços, em 1867, alojando cerca de 15.000 pessoas.

05. Resposta: [C] 14. Resposta: [E] É adequado o que se afirma em I, pois o sol é
A sucessão de metáforas ("plantas que nascem e crescem agente transformador dos personagens na paisagem tropical em
depressa", ”abotoou-se a flor, ou o beijo, se assim lhe quiserem”), que se insere a narrativa. Jerônimo, em contato com a realidade
assim como as comparações implícitas do primeiro beijo como brasileira e seduzido pela voluptuosidade de Ritinha, abandona a
"prólogo de uma vida de delícias" e o desenlace do romance como postura de homem sério e devotado ao trabalho para entregar-se
o final do “livro” dos amores configuram uma alegoria, como se ao ócio e ao prazer (“vencido, às imposições do sol e do calor”).
afirma em [C]. Também são verdadeiras as afirmativas II e III, pois o texto revela,
através das falas do narrador, a ambiguidade do intelectual que ora
06. Resposta: [B] enaltecia, ora criticava a sua terra natal, atendendo à filosofia
O “livro” dos amores de Brás Cubas e Virgília alterna a “paixão sem determinista que justifica a transformação do homem em função do
meio em que vive.
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224
RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

I. a comparação do estilo literário ao andar dos ébrios nada tem a


15. Resposta: [C] ver com problemas de alcoolismo, mas sim com o fluxo zigue-
A escravidão no Brasil gerou o conceito de que o trabalho, por ser zagueante da narrativa. As ações não são apresentadas segundo a
executado por escravos, não era prestigioso, como se afirma em cronologia dos fatos, mas conforme o encadeamento das reflexões
[C]. do personagem narrador;
III. vincular a autocrítica de Brás Cubas a uma avaliação
Semana 18 - Realismo - Machado de Assis desfavorável de Machado de Assis relativamente ao Naturalismo é
inverossímil. O narrador apenas pretende chamar a atenção para o
01. Resposta: [C] emprego do tempo psicológico no encadeamento da narrativa.
De acordo com o texto, “a supressão de uma [tribo] é a condição Assim, é correta apenas a II: [B].
da sobrevivência da outra”, o que torna a guerra benéfica, pois, do
contrário, ambas as tribos morreriam. Com a guerra, a tribo mais 09. Resposta: [E]
forte sobrevive.
10. Resposta: [D]
02. Resposta: [C] Hobbes e Quincas Borba não poderiam ser
adversários, pois ambos defendem a tese de que o conflito é 11. Resposta: [A] As proposições III e IV são incorretas, pois os
inerente à natureza humana. Assim, é correta a opção [C]. eventos narrados no trecho inicial apenas apresentam a razão do
apelido do personagem em função de suas características de
03. Resposta: [A] personalidade e comportamento: ensimesmado e avesso a
A opção [A] é incorreta, pois o autor da teoria “Humanitismo” é convívio social. O conflito central da obra baseia-se na interferência
Quincas Borba e não Brás Cubas. da subjetividade na análise concreta da realidade, fator decisivo
para a culpabilização de Capitu e de Ezequiel por parte do
04. Resposta: [B] personagem narrador, Bentinho.
De acordo com o dicionário Michaelis da Língua Portuguesa,
populismo é a “política que se baseia em angariar as simpatias das 12. Resposta: [D]
classes menos favorecidas da sociedade”. Bem, considerando que A opção [D] apresenta exatamente o oposto ao que acontece no
compareceram ao enterro de Brás Cubas apenas 11 pessoas, estilo machadiano e especificamente com o narrador de “Memórias
depreende-se que, em vida, ele não foi uma pessoa muito popular. póstumas de Brás Cubas”. De fato, o enredo adquire importância
secundária para que a linguagem irônica e ambígua do enunciador
05. Resposta: [C] se constitua na representação tácita da hipocrisia social.
Brás Cubas, protagonista e narrador da obra, pertencia à elite
carioca do século XIX. Nunca trabalhou (era rentista, ou seja, vivia 13. Resposta: [A]
de renda) e possuía escravos. Durante a leitura, não é difícil para o O excerto, predominantemente metalinguístico, expõe o fazer
leitor perceber a falta de caráter e as incoerências de discurso do literário da narrativa em que o autor deve deixar implícitas as
personagem: por exemplo, ao encontrar um amigo de infância, características do personagem para que o leitor as desvende no
Quincas Borba, na mendicância, Brás Cubas faz apologia ao decorrer da ação (“par de lunetas para que o leitor do livro penetre
trabalho, de maneira moralista. Tal atitude é extremamente cínica, o que for menos claro ou totalmente escuro”). Assim, é correta a
uma vez que ele, como afirma no último capítulo da obra, teve a opção [A].
“boa fortuna de não comprar o pão com o suor do seu rosto”.
14. Resposta: [C]
06. Resposta: [D] As agressões e humilhações sofridas por Rômulo deviam-se ao
Recurso gráfico inovador que dispensa palavras e instiga a fato de ser obeso, o que também motivava a alcunha de mestre-
imaginação do leitor para o diálogo entre dois amantes cheios de cuca. Reagia de forma variada, dependendo das circunstâncias. Se
desejos ardentes e secretos, por conta do adultério cometido por o admoestador era pequeno e conhecido, atirava-se a ele com toda
Virgília, uma mulher casada, com seu amante Brás Cubas. a sua força física. Se não conseguia identificá-lo, fazia juras de
vingança em momento oportuno, mas, se era corpulento, apenas
07. Resposta: [A] resmungava. Assim, é correta a opção [C].
O terceiro parágrafo coloca em evidência os objetivos de Aristarco
como mantenedor do colégio Ateneu. As estratégias usadas para 15. Resposta: [B]
promover o estabelecimento limitavam-se a distribuir abundante Nos últimos períodos do texto, o narrador descreve a oscilação do
propaganda e a embelezar o edifício, como as de qualquer comportamento de Rômulo que, ora se sentava acabrunhado a
comerciante que pretende atrair comprador para a sua mercadoria. pensar nas razões da perseguição de que era vítima, ora se irritava
Além do mais, percebe-se que Aristarco se promove e arremetia contra os agressores.
indevidamente como pedagogo, ao colocar o seu nome em livros
que, na verdade, haviam sido escritos por outros professores. Semana 19 - Parnasianismo
Assim, é correta a opção [A], pois o narrador coloca em evidência a
ideologia mercantil da educação, repercutida nas vaidades 01. Resposta: [C]
pessoais de Aristarco. É correta a opção [C], pois o Parnasianismo surgido no Brasil na
década de 80 do século XIX, impôs novos parâmetros e valores
08. Resposta: [B] artísticos, propondo a restauração da poesia clássica, desprezada
As proposições I e III são incorretas, pois pelos românticos.

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225
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produtiva da terra (“Boa terra! Jamais negou a quem trabalha/ O


02. Resposta: [B] pão que mata a fome, o teto que agasalha”). Os versos “Quem com
A “atenuação da subjetividade e do sentimentalismo” está presente o seu suor a fecunda e umedece,/Vê pago o seu esforço, e é feliz,
na alternativa [B], pois a estrofe assume um tom extremamente e enriquece!” expressam a opinião do poeta de que a exuberância
descritivo na forma como caracteriza o palácio. Enfatiza-se, assim, da terra permitia por si só a prosperidade individual,
o caráter plástico e preciosista da poesia em detrimento da independentemente de políticas do governo. Assim, é correta a
expressão de sentimentos e da pessoalidade. opção [B].

03. Resposta: A 15. Resposta: [E]


Deve-se entender por autorreferência a propriedade que se tem
04. Resposta: [C] através de uma linguagem, no caso a verbal, de falar sobre si
A referência à busca da perfeição formal sem nenhum tipo de mesma. O orador em seu discurso enaltece o Brasil, a cultura e o
compromisso com o contexto social (“princípio da Arte pela Arte… povo brasileiro e ao incluir-se no discurso autorreferencializa-se,
uma arte que não sirva a nada e a ninguém, uma arte inútil, uma bem como através de referências próprias de nosso país
arte voltada para si própria”, “Esteticistas, anseiam uma arte eternamente em busca de uma identidade. Portanto, ao dizer que
universalista”), ao objetivismo que exigia a contenção das emoções se deve abrir o Brasil para o mundo, autorreferencializa-se ao
(“o belo se confundiria com a forma que o reveste, e não com algo enumerar as características primordiais de nossa cultura: língua,
que existiria dentro dele”) indicam que Massaud Moisés se referia sangue, alma e religião, que são a base da construção do povo e
ao Parnasianismo, estética que, em Portugal, contou com poucos da nação brasileira.
seguidores, dos quais se destacam Gonçalves Crespo e Cesário
Verde. Assim, é correta a opção [C]. Semana 20 - Simbolismo

05. Resposta: [D] 01. Resposta: [E]


É incorreto o que se afirma em [D], pois uma das características do A linguagem simbolista caracteriza-se pela sugestão, musicalidade,
Parnasianismo é a defesa da objetividade para retratar a realidade uso de sinestesias, metáforas, preferência por vocabulário litúrgico,
como é, sem deformá-la pela maneira pessoal de ver, sentir ou valorização de temas ligados aos mistérios da morte e dos sonhos
pensar. e, no caso de Cruz e Sousa, autor do excerto apresentado em [E],
a preferência pela cor branca, simbolizando pureza e
06. Resposta: B espiritualidade. Embora use linguagem hermética, deduz-se que o
Sonho, devaneio provocado pelo uso da imaginação, emotividade, eu lírico invoca as formas para que fecundem o mistério dos seus
preferência pelo ambiente noturno, referência a imagens estelares versos, ou seja, dirige-se a forças indefinidas, diáfanas e
e subjetividade expressa pelos pronomes “eu”, “meu”, assim como transcendentes para pedir-lhes inspiração para seus versos.
pelos sujeitos elípticos de verbos conjugados na primeira pessoa
do singular, caracterizam os poemas de “Via-Láctea” de Olavo 02. Resposta: [C]
Bilac, fiel aos princípios parnasianos no aspecto formal, mas [I] Correta. O clima de sonho, de símbolos e de etéreas imagens
sensível aos preceitos do Romantismo no conteúdo. Assim, é sinestésicas são algumas das características mais determinantes
correta a opção [B]. do Simbolismo.
[II] Correta. Os versos representam um eu lírico angustiado com
07. Resposta: [A] seus pensamentos por um amor distante que não se concretiza,
No soneto “Mal secreto”, de Raimundo Correia, o eu lírico expressa mas que gera um desejo insuportável.
a sensação de que o comportamento social do indivíduo pode [III] Os livros Missal e Broquéis são de autoria de Cruz e Souza e
dissimular as agruras de uma vida penosa que não quer revelar a não de Alphonsus de Guimaraens.
ninguém. Na última estrofe, os versos “Quanta gente que ri, talvez,
consigo/guarda um atroz, recôndito inimigo” explicam que o
indivíduo age muitas vezes de forma dissimulada para ser 03. Resposta: [B]
socialmente aceito, como se afirma em [A]. O sofrimento não transparece para a plateia, apenas a alegria, por
isso o público não poderia se sensibilizar.
08. Resposta: [A]
04. Resposta: [E]
09. Resposta: E O poeta retrata um triste palhaço que oculta o seu sofrimento,
enquanto diverte à plateia, que pede bis, conduzindo-o à tragédia.
10. Resposta: C Não há, no poema, qualquer referência, direta ou indireta, a uma
elite política.
11. Resposta: A
05. Resposta: [A]
12. Resposta: [A] O pleonasmo é considerado vicioso quando a repetição não é
necessária, nem possui função estilística ou literária. Quando há
13. Resposta: A função literária, como nos versos de Cruz e Souza, em que a
palavra “riso” aparece em seguida de “ri”, mas tem o objetivo de
14. Resposta: [B] caracterizar poeticamente esse ato, trata-se de uma figura de
No poema de Bilac, o eu lírico exalta as belezas naturais do Brasil linguagem.
(“Olha que céu! Que mar! Que rios! Que floresta!”) e a capacidade
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226
RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DOS EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

metafisicamente simbolista. Contudo, as demais afirmativas estão


06. Resposta: [A] corretas.
Trata-se de um soneto simbolista, cujas características são [C] A afirmativa [I] também está correta.
compatíveis com a obra de Cruz e Souza como um todo: são a da [D] As afirmativas [II] e [III] também estão corretas.
crítica dos excluídos, da dor de se viver em um mundo de [E] CORRETA. Todas as afirmativas estão corretas.
indiferença, de injustiça e de miséria. No poema, o eu lírico
lamenta o fim de uma existência que passou despercebida pela 12. Resposta: C
vida por conta de sua humilde condição social, a despeito do seu 13. Resposta: A
sofrimento e de suas privações. 14. Resposta: B

07. Resposta: [D] 15. Resposta: [B]


[A] Incorreta. O erro nesta alternativa não está na interpretação, Todas as opções transcrevem versos carregados de sugestões e
mas nos versos em redondilha maior. O soneto foi composto em sinestesias, típicas da poesia simbolista, exceto [B], em que se
versos decassílabos. descreve a paisagem de forma impessoal e concreta.
[B] Incorreta. Não se pode afirmar que os versos indicam uma
superação a um sofrimento propriamente dito, bem como não se
trata de versos livres, mas sim de decassílabos.
[C] Incorreta. Não há indicação de forte religiosidade nos versos
simbolistas. Os versos do soneto são decassílabos, não livres.
[D] Correta. A condição existencial do eu lírico é de intensa
subjetividade e vem marcada por um sofrimento que busca evadir-
se através de um apelo transcendente. Quanto à forma, trata-se de
um soneto composto por versos decassílabos.
[E] Incorreta. A interpretação está correta, os versos apresentam
apelo à subjetividade e à espiritualidade, porém os versos não são
dodecassílabos.

08. Resposta: [A]


São inadequadas a primeira e a última afirmações, pois o tema
central do poema é a dualidade corpórea e espiritual, expressa nas
antíteses “céu” X “mar”, “subir” X “descer”, “perto” X “longe” e não o
fascínio pela própria imagem a que remete o drama de Narciso.
Assim, é correta a opção [A]: F,V,F.

09. Resposta: [E]

10. Resposta: [B]


O ideário Simbolista busca a sugestão inclusive por meio da
sonoridade; para tanto, é constante o uso de assonâncias e
aliterações, o que não é considerado um demérito do texto.

11. Resposta: [E]


[A] A afirmativa [II] está correta. É com a lâmpada que o poeta
desce ao mundo dos sonhos e ilumina o inconsciente escuro e
misterioso e é sobre ela que o poema está pautado, tanto que há
referências na primeira estrofe: Com a ‘lâmpada do Sonho’ desce
aflito (...) e na última: Alto levanta a ‘lâmpada do Sonho’(...). A
afirmativa [III] também está correta. A imponderabilidade dos
sentimentos e sensações tem nas reticências um sinal para indicar
o abismo em que o poeta se perde, por isso é possível inferir o
drama vivido pelo eu lírico. Contudo, as demais afirmativas estão
corretas.
[B] A afirmativa [I] está correta. Após atenta leitura, percebe-se que
o poema retrata as angústias vividas pela mente, pela alma ou pelo
inconsciente de um poeta simbolista. A afirmativa [III] também está
correta. A imponderabilidade dos sentimentos e sensações tem
nas reticências um sinal para indicar o abismo em que o poeta se
perde, por isso é possível inferir o drama vivido pelo eu lírico. A
afirmativa [V] também está correta. O título Cavador do Infinito
remete à estética simbolista por ser o infinito o abismo
imponderável em que o poeta deve descer para buscar
transcender, ou melhor, transubstanciar para um mundo
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