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Síndrome unha-patela
(onicoosteoartrodisplasia hereditária)
Relato de duas famílias afetadas*
JOSÉ ALBERTO D. LEITE1, FRANCISCO MACHADO2, ANTÔNIO VAGNER M.P. FILHO3, ANTÔNIO CAPIBARIBE4
O objetivo deste trabalho é apresentar cinco casos de SUP, bém realizou exames. A mãe, ao exame físico, não apresentava
comparando os nossos achados clínicos e radiográficos com os sinais clássicos SUP. A tabela 2 resume os principais achados.
os da literatura. RESULTADOS
MATERIAL As tabelas 1 e 2 mostram as alterações encontradas ao exa-
Primeira família – Estudamos uma família composta por me físico e radiológico das respectivas famílias. Os heredo-
cinco membros (pai, mãe, duas filhas e um filho), sendo a gramas podem ser observados na fig. 4.
mãe e uma filha acometidas pela síndrome. DISCUSSÃO
A mãe compareceu ao nosso serviço referindo dor no coto- A síndrome unha-patela caracteriza-se pela tétrade sinto-
velo direito decorrente de traumatismo local originado de que- matológica: distrofia ungueal, displasias de joelho, cotovelo e
da. À inspeção, notamos alterações outras não pertinentes à pelve.
queixa, tais como: distrofia ungueal nos dedos das mãos, pre- A distrofia ungueal é a anomalia mais freqüente de acordo
gas cutâneas em ambos os cotovelos que limitavam a exten- com revisão de literatura feita por Laredo Filho et al.(3) e ocor-
são dos mesmos, e ausência de patela. No exame radiográfi- re em 97% dos casos. Em todos os nossos pacientes verifica-
co, constatamos luxação da cabeça do rádio, displasia univer- mos: unhas finas, quebradiças, curtas (hipoplásicas), com fen-
sal dos cotovelos e ausência de patelas. das longitudinais, sendo o polegar o dedo mais acometido.
Todos os componentes da família foram chamados ao ser- Tais alterações comumente são simétricas(4), o que foi visto
viço para investigação. Verificamos que a filha apresentava em nossos casos. As displasias ungueais podem acometer ar-
alterações similares. Submetemos todo o grupo ao exame clí-
nico, radiológico e laboratorial (tipagem sanguínea para sis-
tema ABO). Os principais dados coletados são apresentados
na tabela 1.
Segunda família – Esta família é composta de sete mem-
bros vivos, sendo o pai, o filho e uma filha acometidos da
síndrome. Tivemos contato com a família quando o pai levou
o filho ao ambulatório de ortopedia da Faculdade de Medici-
na; a queixa deste era uma deformidade em flexo de joelho.
Realizamos anamnese e exame físico do pai e filho, direcio-
nando nossos procedimentos para possíveis casos de síndro-
Fig. 1 – Paciente A.F.S., 37 anos, masculino. Observar a distrofia ungueal
me unha-patela. Solicitamos as principais incidências radiológi- em todos os dedos. Notar a hipoplasia, o adelgaçamento e as estrias longi-
cas para ambos, bem como pedimos a presença da filha, que tam- tudinais.
TABELA 1
R.O.A.O. 44 Distrofia ungueal em Forma e volume alte- Fletidos; presença de Projeção cônica ele-
Feminina. todos os dedos, sen- rados; ausência de pregas cutâneas bilate- vando-se da face dor-
Cor negra. do mais acentuada patela e hipoplasia de rais que limitam a exten- solateral de ambas as
Grupo nos polegares, apre- côndilo medial. Bilate- são em 60% da amplitu- lâminas dos ilíacos
sanguíneo “A” sentando fendas lon- ralmente. de; desvio póstero-late- (cornos ilíacos); acha-
gitudinais que se ral e hipoplasia da cabe- tamento das cristas
agravam no sentido ça do rádio, bilateral- ilíacas e proeminência
ulno-radial. mente ao RX. das espinhas ilíacas.
N.M.A.O. 12 Discreta distrofia un- Forma e volume alte- Limitação dos últimos
Feminina. gueal nos polegares; rados, com hipoplasia graus de extensão, ca-
Cor negra. ausência das pregas de patela e subluxa- beça do rádio luxada
Grupo dorsais das articula- ção lateral (bilateral) póstero-lateralmente ao
sanguíneo “A” ções interfalangianas confirmada ao RX. RX bilateral.
distais.
telhos (raro) (7) , sendo as A displasia do joelho é a segunda alteração mais freqüente,
unhas dos 1º, 2º e 3º dedos conforme a literatura por nós pesquisada (92,4%)(3), sendo
as mais freqüentemente afe- caracterizada por hipoplasia ou ausência de patela, hipoplasia
tadas(9), apresentando-se em de côndilo femoral lateral, podendo levar à luxação recidi-
um dos nossos casos (20%). vante de patela, contratura de quadríceps e hipotrofia de vasto
Ausência ou diminuição de medial(7). As deformidades estavam presentes em nossos cin-
pregas dorsais em articula- co pacientes, sendo a hipoplasia patelar existente em quatro
ções interfalangianas distais casos (80%). A subluxação de patela ocorreu em três pacien-
podem ocorrer(2), estando pre- tes (60%) e a ausência patelar em um (20%). O flexo de joe-
sentes em três afetados lho foi observado em dois portadores de SUP (40%). O côn-
(60%). O comprometimento dilo femoral medial estava aumentado em um caso (20%) e o
ungueal foi uma constante em lateral diminuído em dois pacientes (40%). Notamos hipopla-
todos os nossos casos (100% sia bilateral de côndilo femoral medial em um caso (20%).
Fig. 2 – Paciente A.F.S., 37 anos,
de predominância), variando masculino. Notar no cotovelo a lu- A displasia de cotovelo é a terceira anomalia mais eviden-
apenas a forma de apresenta- xação da cabeça do rádio, assim te, ocorrendo em 72,6% dos casos(3); as alterações são hipo-
como o marcado pterígio. Os cornos
ção, o que está de acordo com ilíacos apresentam-se bastante pro-
plasia do capítulo, do côndilo lateral e da cabeça do rádio,
os dados de outros autores(3,9). eminentes nesta visão de perfil. com subluxação ou luxação póstero-lateral desta última, alte-
TABELA 2
A.F.S. 37 Distrofia ungueal em Hipoplasia e subluxa- Luxação e hipoplasia da Cornos ilíacos; discre-
Masculino. todos os dedos: hipo- ção de patela; discre- cabeça do rádio; altera- ta flexão; aumento
Cor parda. plasia, adelgaçamen- to flexo de joelhos; ção de inserção muscu- das espinhas ilíacas
Grupo to, estrias longitudi- côndilo femoral me- lar e pterígio; limitação ântero-superiores.
sanguíneo “O” nais, sendo mais evi- dial aumentado e o la- dos últimos 90º de ex- Proteinúria assinto-
dentes nos polegares. teral diminuído. tensão (fig. 2). mática +/4.
Ausência de pregas
dorsais em articula-
ções interfalangianas
distais com limitação
na flexão. Artelhos
acometidos com se-
melhante distrofia
(fig. 1).
A.K.F.S. 4 Alterações ungueais Hipoplasia e subluxa- Limitação dos últimos Ao RX suspeita de cor-
Feminina. em todos os quirodác- ção patelar; hipoplasia 30º de extensão e sublu- nos ilíacos, mas não
Cor parda. tilos, exceto no 5º de- de côndilo femoral la- xação da cabeça do rá- tivemos oportunidade
Grupo do de ambas as mãos. teral. dio; pterígio. de realizar TC.
sanguíneo “B”