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Artrogripose múltipla congênita

Oscar Bertinode Almeida Oliveira Filho


lrina H issami Yamamoto de Barros

INTRODUÇÃO As fibras muS<."Ulares estriadas de seus portadores


O termo anrognpose, eumolog1camente, é de o ri - s.io substituídas por teC1do fibroso dem,o e gordura.
gem grega e s1gmfica articulação (orthros) encur\'ada com consequente lupotrofia; no ent.mto, .. sensibi-
(gryposu). É uuliudo como um subst.mti\'o, des1gn.m- lidade est.i preservada e a grande numna dos casos
do um grupo de doenças que apresentam como de- apresent.1 cognitivo adequado, fac1l11ando o trata-
nominador comum contratura\ articulan.>s múltipla.~. mento ortopédico e a reabil11aç.io.
e tam~m como ad1et1vo, para des1gnu uma contra- Em geral, as pnnc1pais caracter ística.~ clinicas da
tura arucular rígida (p.ex., quadril anrogripótico) . A..\1C s.io: atrofia muscular, ngidez e defomudades ar-
A pnme1ra descrição de um paciente com ess.is ticulares, contralura no~ tecidos penaruculan!s, esca~-
caracterísucas foi de AdolfWilhelm Otto, ' que re - sez ou ausência de tectdo sulx:ut.ineo nos membros.
latou, em 1841, "um hum.mo extraordin.ino com Atualmente, a AMC não se define como uma en-
membros encun·ados". No ent.1nto. foi Stern,' ·' em udade patológica especifica, j.i que apresenta apro:u-
1923. que empregou pela pnme1ra \'ez o termo ar- madamente 130 subtipos com expres.sões fenoúpicas
trogripose múltipla congémta. próprias catalogadas até o momento (Onlme Mende-
O termo amioplas1a. hoje reconhecido como a han lnhentance m Man - OMIM) .'
forma ma1S comum de artrognpose múlupla congê-
nita (AMC), foi utilizado por Sheldon 1·• l'm 1932 ao IHCIDb4CIA
clescre•,er paC1entes com quadro climco semelhante A artrognpose é um.1 doenç.1 rara \'tst.1 cm I a c.1da
e grande compmmeumento mus<.:u.lu. 3.000 nascidos vivos," sendo que a .1mmpl,151a repre-

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Reab1l1taçao - Seção 2 Patologias a te ndidas

~cnta mais de 1/ 3 dos ca..,;os. ou se1a. cm torno de 1 trínsecos. como oligoidr.imnio, exposição materna
a cada 10.000 n.1..~c1dos vivos.' a drogas teratogênicas, agentes bloqueadores mu~-
De acordo com Sells. • h.i acomeumento em am • culares e compressão uterina.
bos os membros superiores. mfenores e cmtur.is es• ~o Brastl, está des<.l'lla a .u.wci.içio do U!!.O de um
capular e pélvica em 84% dos casos, embora possa úpo de medicamento que. apesar de não ser preconi-
ocorrer .ipenas em parte do membro supenor (5%) udo pi~ esst' fim. é empregado como abonh•o. cha-
ou inferior e cintura pélnca (11 %) . A~ deformi - mado misoprostol (Cytotec•). com mc1dénc1a maior
dade~ na coluna vertebral, como escoliose, ,·arum de ca,;os de artrognpose, " reduçôes termmats trans-
em torno de 30 a 67 %, e podem progredir com o \'ersa1s de memhrm (hem1melias) , bandas de con~-
estirão do cresc1memo ponderoestatura.l dos seus tnç.io e sequência de Moebius. " Quando usado no
portadores.~ pnmeiro trimestre da gestação, causa m sufidênc1a
H.i algumas pesquisas no mundo para estabelecer Yascula.r uteroplacentána na o rganogênese, levando
dadm atu.u~ de pre\'alência d~ patologias congên11as, a retardo no <:re!>Cunento mtrautermo.
incluindo AMC. Em Albt>na. no ü.nadá. Hall ct ai.. 'º Estudos recentes apontam alterações gené11cas
cm 201 O, a,·ahuam o l»nco de dados do Sistema de como importante causa de dmúrb1os utrogripóu-
Vigil.inc1a para Anomalias Congênitas (ACASS: Alberta cos. S.io descritos como mutaçôes gêmeas seguindo
Congenüa.l Anomalies Surw1llance System) e cons- padrão m endeliano de herança autossômico domi -
tatar,un que a AMC ocorre em I a cada 3.300 até I a nante (anrogripose d1~tal upo 1. síndromes .1..ssoc1a -
cada S6.000 nascidos Vl\'OS. dos a pterígio. síndrome de Freeman-Sheldon e sín-
No Brasil. de acordo com o lm111uto Bra~1le1ro de drome de Bear,;), autoss<",mtco rece~1vo (síndrome
Geografia e Estatística (IBGE). " o Censo do ano 2.000 do pteríg10 múltiplo. síndrome de Escobar. síndrome
apresentou 1.41 ó .000 porta.dores de deficiência fí . cérebro -oculofacia.l) ; recessiva hgada ao cromosso-
~ka (aproximadamente 0,9% do total da popul.ição mo X, dJ~túrh10s cromos.sôm1cos (tnssomia do cro-
brasileira.), porém não h.i dados estraúficando cada mossomo 18 - síndrome de Edwards) e doenças
patologia para que se possa s11uar a AMC. mllocondnais. '"

ETIOLOGIA DIAGNÓSTICO
A artrognpose é um fenótipo comum de uma gran - O diagnóstico é essenna.lmente clínico. b.a..seado na
de vanedade de doenças e sua etiologia é. portanto, ltm11ação de movimentos em pelo menm duas arti-
multifato rial. H.i um consenso na literatura de que culações, ;ao nasnmento. Além disso, também podem
a artrognpose está relaaonada com a lumtaç.io de ser utUJLldos estudos eletromlogr.íficos e de condu-
movimentos fetais após a décima se mana de gesta - ção nen-osa. quando a a.namnesc e o exame fisico
ção. A formação do membro e da artkulação. que s.io 111conclus1vos e, !.e necessário, h1óps1a. muscular
ocorre na, pnmeiras 8 \emana> (embn ogénese), e eMudo gené tico molecula.r.
é norm.11. Em razão das 111terferênc1as no período A m,·esugaç.io pré-natal dos c.a..'ios com suspeita. de
gestac1onal, o crescimento do membro fica com- A.\4C
. tem se baseado prinapalmente na dmunmç.ão
prometido. associando a.Iterações ósseas .is contra- dos mmimentos fetais e na presenç.a de contraturas
tura~ articulares. " Esse processo é conhecido por articular~ ou defomudades esqueléucas. logo após
se<1uênc1a de acinesia-hipocinesia fetal e foi descri - 16 a 18 semanas de gestação, por m eto de técnicas
to por Moessmge r"( 198 2). trahall1ando com ratm de ultrassonografia (US) fetal e marcadores ultras,;o-
curanza<lo~. Associados a redução ou au~ênc1a de nogrüicos. 11
movimentos fetalS mtrautennos estão relac10nados A ressonância magnética (RM) fo1 descrita
alguns fatore~ intrínsecos, como de~ordens neuro- como ad1u,·ante da US no período pré-natal. a fim
páticas ( comprometimento rmelínico, a.Iteração da de demonstrar \-;sualmente a acinesía feta.l e ano•
conexão e condução neurológica ou disfunção da mahas somáticas associadas.,.
estrutura do nervo), mi opáticos (distú rbms fun - A distinçfo entre as diferentes formas clínicas
c:iona1s ou estruturais da musculatura estnada) e de,·e ser feita baseada em uma das classmficaçôes
doenças do tecido conjuntivo; além de fatores ex- existentes.
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Artrogripose mult,ola congé nita

Classificação grande frouxidão hgamen tar. assoc1ad.s a uma face


A c:lass1ficação com1dcrada a mais sinté1ica é a pro- "aclu.t.ida" caracterímca (fronte alargada e aplana -
pos1a por Goldberg ( 1999) . Baseia-se em cri1énos mento nasal) . É um.1 síndrome rara. de herança au -
de anamnese e exame clinico. Dwide-se em três gru- tossôm1ca dominante ou recessiva. 1 1
pos de síndromes com contra1uras aniculare~; cada Os quadris quase sempre estão luxados; os joe-
grupo pcxle ser represent,do por uma doe.nç, que o lhos têm uma caracterisuca luxação anterior da tíbia
carac1enza. em rel.1.ção ao femur, e os pés podem ser equino
varo ou serpent1formes (valgo do retropé e o1duto
1. Síndromes com envolnmento dos qua1ro mem- do antepé) . Nos membro~ superiores. o~ cotovelos
bro~: pode haver maior ou menor envoh,1men1<> têm luxações complexas (rad10ulnar. rad1oumerais
de ou1ras p.r1es do corpo (llllloplasi.l; síndrome ou ulnoumerais).
de LLrse.n) . A diferença básica da a.rníoplasia está na presença
2. Síndr omes com envol\'lmento predomínmte. de de luxaçôes múluplas, com maior envolvimento da
ex1rem1dade~ (artrognpose distal, ~índrome de colun.1. e em um p.1.tognomônico centro de cresci•
Freennm -Sheldon). mcnto bmudeado do caldnco.
3. Síndrome~ com pteríg10 (p1eríg10 múluplo; p1e- Há s1gnificat1va tau de mortalidade precoce.
r íg10 poplí1eo). podendo atingir até 40°0 no primeiro ano de nda.
pnnc1palmente por problemas cardiovasculares. A
Síndromes com envolvimento traqueomalac1a est.í. presente. decorrente da redução
dos quatro membros de fibras elásttc.ts na laringe. traqueia e brônquios.
A amioplasia é o lipo mais comum das síndromes O tratamento deve corngir as defc,rnudades e es-
arlrognpóticas; é uma doença esporádica e sua m - tab1hzar a~ articulações. de modo con,;ervador nas
c1dênc1a descr11a na lneratura vana ent re 38 e 47% luxações dos quadris e 1oe.lhos e na correç.io dos pés.
dos ca,;o,; de anrognpose. Representa a anrognpose O trat.1.mcnto cirúrgico deve ser posterg.1.do até que
.. d.íssita ·· . o estado geral do paciente esteja eMabihzado.
Ocorre substimição do 1ec1do muscular por teci- A coluna cerv1c.il est.á frequentemente e111\'ol\'ida,
do fibróuco. ,. Os pacien1es apresen1am carac1e.nsu- com deformidade em cifose acentua& e mstah1hda -
camcntc os quatro membros em·olndos e hemangio- de. decorrentes de h1poplas1a dos corpos vertebrais.
mas na face.A postura úp1c, nos membros supenores Essa combinação pode levar a quadriplegu e morte.
é de rotação medial dos ombros, extensão do coto- ~endo imperativa a artmdese ver tebral precoce (an1es
velo e flexfo do punho. No~ memhro~ mferiores. a~ de 1 .1.no e mem de,;&), nessa 1-ituaç.io.
pos1çôes podem variar tom os quadris cm flexão e
ahdução. os joelhos cm flexão ou extensão e os pés Síndromes com envolvimento
geralmenlt! em aduto, cavo. varo e equino. O!. qua - predominante de extremidades
dns podem estar luxados ou subluxados em mais de Com mc1dênc1a relatada por HalF 1 ( 1982) de apro-
2/ 3 dos casos. x1mad.mente 10% dos casos de artrognpose. fo1
A coluna vertebral pode aprcsen1ar escoliose cm descrna a artrogripose distal com duas formas de
aprox1111.1d.une.nte 1/ 3 dos pacientes, podendo se apresentação: upo 1. acometendo apenas membros,
manifesu.r em diferentes fases do crescimento. e tipo li • .acometendo mt'mbrm e outr.i, man1fe~ta -
Qu,nto ao potencial de marcha. os pacientes com çôes ad1c1ona1s.
am1oplas1a que forem adequadamente tratados. ao Na artrogripose distal do tipo 1, .i~ defonmdadt's
atmg1rem S anos de idade. serão deambuladores. de da.., mio~ 'Ião caracte.nuda~ pelos dedo~ fft'x1<>nados
alguma forma. em 85°ô dos cal.os.:• A m.uona é m - e superpostos com de.s\'lo ulnar; o polegar apresen .
dependente aas ao~;dades de '\;da diána (AVD) e ta -se fixo cm adução. A deformidade dos pés vana
muitos estão matnculados em escolas regulares. na enlre calcãneo-valgo. ulo -\'e.rtical e equmo-varo. Na
séne comp.tÚ\'el com sua idade cronológica. C\'oluç.io do tratamento com a manipulação, a funç.io
A síndrome de Ltr~en c.uacteriza -se por múluplas da~ m.ios toma -se progressivamente melhor e ce rca
luxaçôe~ congênitas cm grandes articulaçôes. uma de 20°0 dos pacientes aprt'\entam dedo~ reuficados

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Reab,litaçào - Seção 2 Patolog ,as atendidas

e totalmente funnonais na vida adulta. As deformi- PROGMÓSTICO


dades dos pés ilpresenta.m melhor respostil il0 tutil- Bamshad et ai." descrevem que portadores de amio-
mcnto d o que as dos outros tipos de artrogri pose, plas1a apresentam graves contratura!, art1cul.lres asso -
nece!,Sitando de correções gessadas sen;&cl.u e even - ciad.is .i importante fraqueza muscular e requerem
tu.tlmeme liberações cirúrg ic;i.s. Os quadris podem normalmente v.ínas intcn~nçôes cirúrg1cas o rtopédi-
l'~tar ilÍet;ido~ cm ccn:a de ~0% do~ ca~o~ e o ~cu cas para correção dessas deformidades. Em con1unto
tratamento segue a mc~m;i onent;iç.io da ,1nuopl.1s1a. com o trabalho reabihtacmnal, a capacidade de andar
A heranç;& é autm~ôm1ca domm;inte e, portanto, e desempenhar asAVD é possível em 85°,. dos c.iso~. 11
h.i risco de soo,. de recorrência. O diagnóstico pré- No entanto, na vida adult.i. h.í um declímn funcmnal
-nat;il deve ,cr pesquisado, !>endo possível pela obser- e a m.uona dos indivíduos necessita de asststênaa na
vação cuidadosa dos movunentm fetais mtr,rntennos locomoç.io e cuidadm de vida d1.ína.
durmte o segundo trimestre de gestaç.io. Em ca~o~ de anrognpose distal, Fass1er et a.l. '" re -
A artrognpose drnal do tipo II abrange um grupo latam que o prognóstico de marcha mdepcndcntc
heterogt:neo de patologia.1. que apresentam envolvi- é favor.ível quando se m1c1a antes de 2 ano,; e meio
mento de m.ios e pés assoc1ido ao acometimento de de idade e em caso~ cuia a.mplitude de movimento
outrai. reg1ôes corporais. de quadris e joelhos é ativa, com contratura de fle-
A síndrome mais frequentemente relatadil entre xão do quadril, quando presente, menor que 20°, e
l'ssas patologias é a de Freeman-Sheldon. Possui a contratura de flex.io de Joelhos menor que 15° , !,Clll
face caracterísuca, com aspecto achatado e mexpres- assoaaç.io com deformidades cm coluna ve.rtebra.l.
sivo, e ocorre ptose palpebr.tl e estrabismo; o queixo
possui um sulco cm forma de "H". A fibrose dos TRATAMENTO REABILITACIOMAL
músculos ao redor da boca resulta cm m1crostom1a Em lmhas gerais, O!, pnncípws do tratamento de
e tnsmo, consequentemente, esses indivíduos têm artrognpose s.io relauv.imente simples. Em:·olvem a
dificuldade para .tlunentar-se. O .ispecto geral recebe presen,ção da musculatura existente sem atrofias por
a denominação de "face do assobiador". meio da mob11iução das amculações, prevenindo
o desenvolvimento de deformidades subsequentes,
Síndromes com pterígio promovendo o almhunento correto e mmte.ndo a ca-
A palavr, pterígw denv.i do grego e sigmfica "em pacidade funcional. A terapia é semelhante pua todos
forma de asa". É uma mmifest.iç.io comum a divers.is m tipos de contraturas congênitas, contudo, a respos-
patologi.as. Pode ser nsta como uma malformaç.io ta terapéuúca está rel.iaonada ao tipo de artrognpose
isolada, como na síndrome de Khppel -Feil (Pttry91um especifica. A meta a ser atmg1da cm uma crianç.i com
coll1) e em síndrom es com pterígios cm diversas ar• artrognpose é que ela tenha movimentos e seja inde-
uculações. Dentre elas. dest.ic.im-se as síndromes do pendente. Os fatore~ que podem interfcnr ncs~t.'S ob-
pteríg10 múltiplo e do ptcríg10 poplíteo. Jetivos s.io o desenvolnmento de escohose grave que
A síndrome do ptl'Tíg10 múluplo (síndrome de Es- comprometa a capaadade resp1ratón.1 e a ausência de
coba.r) " é um.i afecç.io rara. de hermça autossômica mm,culatura que p<>'-!>a ,cr tran~p<>Ma para contnbu1r
recessiva., cu.icterizada por h.11xa eMatura, escoliose, na funç.io dm membros supenores.
pé talo-vemcal, alteraçôes gcmta1s e a!, prega!, cut.i - Os pais desempenham um papel multo impor-
nea, que acometem as latera.1s do pescoço, Joelhos, tante no processo de reabilitação e devem ~c.r esti-
ombro!,, cotovelos, dedo~ e 11.1 região antenor dopes - muladm ;i trocarem expenências sobre o prrx:e!,so
coço até o quetxo. A ma.ioru dos pacientes apresem.a de recuperação de seus filhm.
marcha, boa funç.io da!, m.im e mtdigênaa normal. A abo rdagem dos portadores de A.\JIC exige in -
A síndrome do pterigio popli1eo tem hera.nça au- teração de diferentes profissionais que partiopam
tos.•;ómica dommantc; a prega poplítea que a caracten - na reab1l1taç.io, dentre o~ qwis, fa1.1tra, ortopedista,
u contém unu tJTa palp.ível de tecido con1unuvo que neurologista, geneticista, odontólogo. fuioterapeu •
pode engloba.r o nervo c1.íoco e a artéria poplite.i. Esse ta, terapeuta ocupacional, psicólogo, fonoaudiólogo,
fato de•,e sempre ser conSJderado qU.1J1do for re.ilizado assistente social, pedigogo. uteterapeuta, rnusicote-
um plme1unento cirúrgico ou mesmo fumter.ípico. rapeuta, técmco em Órteses e próteses e outros pro-

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Artrogn pose mult,o'a congên ita

fiss1onais de especialidades médicas que realizam denação e postur.1. Outro efe110 positivo do ambiente
acompanhamento clíruco con1unto ( otornnoarin- .iqu.ático é o esúmulo .io envolvimento dos p,icientes,
golog1sta, oftalmologista. ga.stroenterologista. pneu- prinapalmente cria.nças; é uma atindade a.gradável
molog1su, urologista) . e d1ve.rt1d.1, que uuhz.i recursos lúdicos e cnat1vos,
É fundamenu.J que cada membro da equipe de aumentolildo os ganhos da reabihtaç.io.
reabilitação determine as pnondades terapêuticas De .icordo com Wemstem e Bucl.:walter. u o pn•
de acordo com o envolnmento funcional, e assim me1ro mo de vida é o pnnc1pal período de aumento
d iscuta de forma periódica a melhor abordagem de n.i amplitude de monmentos, por mem de exercícios
tratamt•nto ao paciente e a orientação aos familiares, de a.Jongamento passivo. Além russo, o paaente p<xle
estabelecendo um vínculo de confiança e sucesso nas imaa.r. nesse período, a.Jgum tip<J de deslocamento
meta~ esubelecidas. corpor.il, me~mo com deformidade\ .issoc1ad.is; e
assim. se necessário. realizar .idaptações que possi-
Fisioterapia/fisioterapia aquática b1.htem e ~timulem e-.~ função uim ,;egur.i.oça, após
A equipe de fisioterapia den• .itu.ir precocemente cli.scussio com eqmpe multidisciplinar. A observação
nos caS0l, de AMC. visando a obter a m.íx1ma fun - do comportamento motor e cogmtn·o nes"l.1 fase é
ção possivcl para cada cnança pela abordagem de decmv.i par.i. traçar ob1euvos na reabtluação e avaliar
exercícios fis1cos (cme\ioterap1,1) O objetivo desYS o potencl.i.l funcional do p.iciente. É fundamt·n tal o
atividades em recém -nai.odos até o primeiro ano de envolvimento farmh.ir, nio somente cnIDdo vinculo
vida é realizar alongamentos passivos e relaxamento cmcx:1011,11. m,1~ t.imbém ,oopcrilildo n,1 reiltzo1ç.io
muscular. promovendo mobilidade e flex1b1hdade, de exercí<.:ios p.is.s1vos de mobilizaçio aruc:ul.ir em
com ganhos na amplitude de monmento das arucu - dom1cího. po~1cion.imento postur.il e colocação e
laçcies (ADM) 11 Devem-se mtentivar os monmento~ uulizaçio de órteses.
ative"' existentes de tronco e membro\, estimulando O .icompanhamento de pacientes submetidos a
O\ ~nemes a realizarem movimento, funaona1s que correções cirúrgicas ortopéd1C.1s. tendine.i., nu ússe.is.
auxiliem. no futuro. ~ua, AVD• .idequando o túnus t:om ob1euvo de promover a marcha. deve aprescnt.ir
mu,cular e e\llmulando o de,envolvunento psico- .i liberação do cirurg1io responsável ~ra fu101erapra
motor, que, muna, vezes, está em atra,o por causa e fisioterapia aqu.áuca. Os panentes submeudos .i
das deformidades instalada,. coloc.ição de fixadores extcrnm (upo lhzarn,·) ~ra
A mten·enção da fismterap1a aquática tem sido bc- correçio gr.idativ.i de deÍ<>rmidades devem re,1hz.ir
néfü:a param portadores de AMC, pois os pnncíp10s trat.imcnto fisio1er.áp1co mtens1vo. v1.~mdo a manter
fisicos e fis1ológ1cos da água fanluam os mcmmentos ,1 amplitude de monmentm d.i~ .iniculaçôes livres,
ativo,. quando exmentes, por meio da redução da .. descarregar peso com ad11.1mento ou auxího de ter
forças grantaoonais combmad,1 com m 1:fe11os da t:e1ros !.obre o membro contral.itera.l, fort.uecer o!.
flutuação, pressão hidrost..íuca e temperatura mais membros supenores para faciht.u trolllSferências e ava -
elevada da .água. Promove rel,ixamento muscular, h.ir d1smetria entre os mcmbrc"' mfenores u1ili1.ando
melhora .i. nrculação periférica e d1minu1 .i. carg.i. so- comperu.içio em pa.Jm11lu ou solado de calçado do
bre as uucul.içôes sustentadoras do peso corporal membro menor, quando possível, p.ir.i e\lt.ir obliqui-
imersas. aux1hmdo no alív10 d.i dor e entrodo ,1 pro- d.ide pé.lvic.i e alter.ições posturais em coluna verte-
gressão de lesões osteomuscul.ires. quando presentes. bral (escoliose func1ona.l) . É decisivo. nesse periodo.
Ohserv.i-se, dur.inte o tratamento, que há aumento que a famíli.i ,1g.1 a\ onent.içúes de posrc1onamento
na mob1.hdade das articulações acomeud.1S, que s.io e exercidos dom1cihares, bem como a ut1hzação de
submetidas a exercícios constantes. Os pacientes sem Órteses e aditamentos necessários, a fim de que opa •
c.ipac1dade de locomoção no solo podem adqumr ciente obtenha sucesso no resultado da arurgia.
postura onostáua, melhorando o controle do tronco
e da peh·e e, em alguns c.isos. obtendo de.imbuuçio. Terapia ocupacional
O meio lúdnco, por oferecer res1Stênc1a aos mm,;. O ponador de AMC com compromeúmento de mem-
mcntos auvos, promQvc o fortaJeç1mcntQ musçular, bro<; superiores d~·ve ser anliado pre,ocemente, Qb·
esumul.Lndo o desenvolvimento de eqmlíbno, coor- sen·IDdo mobihução .iuva espontãnea ou provocada,

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Reab,1,taçao - Seção 2 Patolog ia, atendida,

res1x,st.1 à c<x>rdenação mowra gros.'1.1 e fina. resposta a sobre o prognós11co. Uma má indicação cirúrgica
el>tÍmulol> audiuvos e visu.us. e desempenho 1us auv1- pode gerar falsa expecta.uva na fanúha ou n.i equipe
dades de ahmentação, higiene e vestu.irio (ava..hando o terapêutica para o desempenho de aundades que o
loc.:al uubudo, postcionamento do paciente nesse mo- paciente não rea.hu e não irá reahza.r no pós-opera-
mento e adapt.1ções/recursos existentes). O prognma tório. além de submetê-lo a uma mtervenção inva -
de terapia ocupaoonal tem como ohjetin> ohter ganho -;iv.a com risco-; desneces....inos, mclu'it\'e de pmra d.a
de amplitude de movimemos e adequado along.unen- deform 1d.1de.
to/fonalec.:1mento muscular. por meio dl· esumul.tç.io
au,·a dos monmentos functona.Js, abordagem fam1har Psicologia
quanto is dificuldades do paciente, e confecç.ã o de A defiaénc1a {isica impõe à nda emocional do pa-
óneses de postcionamento e/ou func10nais, ,;=do ciente e seus familiares uma condição difial de bdar,
à capaa14çio para realizar aundades de ,;da pr.iuca e gerando sentimentos angusuantes e ambn·alentes,
imrrumental dt.ina de fonna independente. A adesão como sensação de culpa pela família e ha1xa autoes•
ao UM> da.s úrteses para evitar progressão de defor- 11ma no paciente. Com base ne-;ses e em outro\ C<lll ·
midades tem papel importante no posicio namento finos. a psicologia é fundamental na área da reab1b -
.idequado da .l.J'Uculação afetada. Deve-se e~umular e taç.io, para reestruturaç.io emocion.al do paciente e
factlit.u todo upo de rnmuruc.içio e locomoçio. rnm de sru grupo famtli.u. prop1ci,mdo um processo de
tL-.o de cadeiras de roda., ou metol> de ad1wnento (mu- adequação e habi.lita.ç.io func10nal.
letas. andador) de fonna independente. O objetivo da atuação da psicologia é esumular
Noi. casos em que o ga.nho funoonal de membros e auxiliar a formação de imagem corporal mais sau -
superiores não for possível com correção cirúrgica, dável. favorecendo os senumentos de a.utoaceitação
seja por mtcn~a fraqueza mu~·ular ou porque a ant- e .autoconfiança. podendo ~er deci-;ivo para o futuro
culaç.io apresenta nsco de perda da íunção. uuhzam- desenvolnmento de hab1hdades e talentos, levan -
-se recur;os de adequaçôes ou adaptaçôes, além das do .i reahzaç.io pesso.il e profiss10nal. No ca'io dos
órte!>Cs de pos1cmnamen10. Podem-se u..ar compu- po rtado res dl· AMC, a cognição eMá preservada na
tador com teclado e moUSt adaptados, prato com bor- ma.Jort.a dos pacientes, logo, a percepção das hm1 -
das altas e ventosas para fixação na mesa, tecnologia tações impostas pelas deformidades é precocemente
assisuva para mob1bários. cadeira de rodai. motori - obsen•ada, gerando frustração no desempenho das
zada e outros recursos. confeccionados conforme a aundades dtánas prática.s e instrumentais e levando
neces,1dade de cada paciente. à dependência de !>eU'i famihare'i .
Quando o J»ciente com A.'v!C aprcsent.l.J' deform1 - O setor de psicologia também atua em ca~os de
dadt.cos ve:rtehra1s acentuada.~ (ofoescoliose), com qua- pacientes com programaç.io de correções d rúrg1cas,
dro motor gra,·ementc comprometido, deve ser realiza • realizando preparo pré-operatório que consiste na
da avahaç.io de adequação postural. confeccionando-se aval1aç.io da aceit.1ção do paciente ao procedimento
moh1b.ino adequado para melhorar o pos1do11aJ11ento cirúrg1co, seu perfil emocional, colaboração e expcc-
na sedestnção e pre\'erur úlceras de pressão. tauva do paaente e de sw família diante dos objeti-
Como regra. o tratamento pós-cirúrgico de mem vo'i traçados. hem como a aceitação do possível uso
brm superiores deve ser 1111cudo após a hhe:raç.io do de órteses no pós-operatóno.
etrurg1ão m;pons.ívd. Os procedimentos e cuidados Em crianças m enores. de aproximadamente até
nes'ie período engloham a re.ilizaç.io de massagem 2 anm de idade, que apresentem dificuldade de m -
c1l·atnl-.al para cntar aderências tcc1dua1i. e redução teração com terapeuta., e n.a desvmcul.aç.io da proxi-
do edema e dor IOGJ.!. moblliLlç.io passiva das .J.ftlcu- rrudade do cuidador, rmpossibihtando bom desem-
laçôes. mob1bzaç.io atfra máxima de membro superio• penho nas terapias de re.ab11itaç.io ou sociabiliuç.io
r1..cos em meio líquido, utilização de óneses e onent.ição com outrai. crianças, está mdtt:ada a paruapação no
da famíha sobre evolução e esnmulação funeton.u . grupo de estimulação precoce. cm que participam
As ind1caçôes de correção cirúrgica devem ser outros pacientes de f,uxa etária e quadro motor sí-
sempre d1scu11das cm con1unto com a familia e a m1lare'i, possihilit.indo .i troca de expenénc1a. t.anto
equipe especializada. traça.ndo -se ohjetivos claros entre cu1d.1dores quanto entre paaentes, [)<lí mem
108
Artrognpose r,ult,pla congên ita

de atividades programadas, proporc10nando melhor A tranYeri>nc1a do tríceps para o bíceps tem mdicação
interação e ;ice1tação entre o s membros do grupo. preasa qu.1ndo o tríceps uver força mix1ma e pude
,rnx1liu na função de levu a mão .i hoca.
Fonoaudiologia Quando exbte mob1hd.1de do cotovelo. o u~o
o~ portadores de A~C podem apresentar. t'm 2 S~. do~ da m.io é de~em·olndo -.em que ha1a necessidade
c;isos. acometunento m.u:ilofaaal, sendo que ;is .utera- de procedimento cirúrgico. com gr.inde c;apac1dad e
çi>es incluem m1crogna1ia. palato alto, fonda palatina, de adaptação. Algum.u órtese,; e adaptaçôes para ali -
fraqueza dos músculos m;isttgatónos, luputonu orofa- menução ou escnta podem ser útelS, com prescrição
aa.l e comprometimento da aruculação temporoman • md1nduahzada.
d1hular. ,~ Em casos nUI.~ gril\-es, pode ot:orrer hnutação
na degluução e rnastigaç..io com necessidade de utili - Deformidades dos quadris
zação de nas alternativas de .tlunemação, como sonda Aproximadamente 2/ 3 dos pac1ent~ têm displasia
nasogástrica, sonda nasoenteral e até gastrostomia. ou luxação dos quadris, e o trat.imento é contro-
Para incrementar a expressão de lmguagem e (<>· ver,;o. Alguns autores referem hon~ result;idos ope-
municação. quando há comprometimento unportante. rando todos os c.isos .intes de 2 anos de idade. por
utilizam-se pr,mch;is com figur;is e letra,; pua o pa- n;i med1.1I. 10 cm uma ;ihordagcm p;irttculanzada aos
ciente w express.ir, além do u.w de computador com quadns .inrogripóucos que, via de regr•. n.io respon -
teclado ad;iptado. porém dew ~r av.uiado o potenc1;il dem ao tratamento conservador. Outros autores não
de alfahet1z.1ção e ,;cu desempenho no ~tor escolar. 111d1c.im qualquer tut;ime.nto, ha~eado~ em que n.io
há estudos cm longo prazo que comprovem a dor em
Tratamento ortopédico p.ic1entes que permaneçan1 com os quadn~ luxados.
O tratamento ortopédico visa .i correção precoce das havendo potenci.il poss1b1hdade de pio ra da função
defornudades. O tratamento mcruento pode ser msu - dos quadns operados.
tuído por mem de mampulaçôes e aparelhos gessados Em nossa institU1ção, a indicação de tr.itamento
sucessivos, atuando na~ deformidade~ mai~ flexíveis. cirúrgico está re.ervada ao~ casos umlaterat~ que pos-
Entretanto. na maioria das vezes. procedimentos ci- suam alguma mob1hdade ao ex.ime cliruco ( "quadril
rúrgicos são necessários para a correção d;is defor- móvel"), sendo rcahz.ido por via anterolate-ral, com
midade~ mats graves. técruc.i semelhante .i empregada nos outros casos de
As eq utpes médica e terapêutica que atu.im nesse d1spl;is1;a do desenvoh;mento do quadnl. vanando
proca,o devem ter experiência na t:cmduç.io des.ws de acordo com a faixa etána. 11 A maioria da~ ind1 -
caso~ e serem cap.icit.idas p.ira resolver intercorrên- caçôes é feita em p.ioentes com .ité 2 anos de idade.
c1a~ potencialmente grave,; que podem ocorrer du - com potencial dt· marc h;i ou J.Í de;imhuladnres.
rante o trat.imento As deformidadL'\ cm flexão frequentemente ~o as
OU-!,<> de órteses tem gr.tnde valor na manutenção encontrad.i.~. Qu;indo o prognóstico de de;imhu -
111,11~

da~ correçôes obtidas . .ilém do o bjetivo de prl!'· enir laç.io for favorável . está md1cado o trat.imentt >cirúrgi-
a rec1d1v;i da~ deform1d;ide~. t:o par;i deformidade~ aanu de 2Sº. O procedtmt!nto
indic;ido na maior p.irte dos casos é ;i liberação an -
Membros superiores tenor. com tenotonua dos espmha1s e e..-entualmente
Os membros superiores respondem melhor ao tra - c.ipsulotmrua antenor do quadril. Ger.ilmente. não se
tamento conservado r, sendo que a manipulação au - utihz.i imobilização gessada no pÓs•operatón o, sendo
menta a mobilidade passiva, porém não modifica a insutuída a movimentação precoce.
força muscular existente. que permanece .i mesma Rar.imente. alguns p.iaentes apresent.im contratu-
até a \ida adulta. Os omhro,; têm l!\·olução '>,1t1Sfatóna, ra em extensão dos quadris. a maioria é portadora
sem necessuar de procedimentos ad1c1ona1S. Os co• de amtopl;isia. fasa l11rutaç.io unpossib1hu que os pa-
tovclos dewm obter, cm pelo menos um lado, flexão cientes assumam a posição sen tada. causando grave
de .1té 90° . Se necessário, o procedimento nrúrgico lliruução funcionaJ. Qu.indo ~a s11uaçio ocorrer. está
empreg.1do é a liberação d;i cápsula .1rtkul.ir postenor indicada a liberação pcxterior do~ qu.-idns, mm ampla
e alongamento do tendão 1rtc1p1t;al. unil;iter.1lmente. dL'iSeCÇ.io do nervo c1.íuco. seguid;i de tenotrnma dos
109
Reab,1,taçao - Seção 2 Patolog ias atend,oas

flexores dos joelhos e dos glúteos. a..•,scx:iado .i capsu- trat.unento àrúrgico.A mdicaçio consiste na liheraç.io
lotomia posterior. Deve-se prcxurar obter pelo menos posteromediol.u er.tl ampl.i e radical. Os tendões são
900 de flexio. possibilitando que o paciente realize ati- ressecados, em vez de .ilongados, pois pertencem a
\-idades essenu.iis na pogç.io sentada. como se .tlrmen- músntlos paralíucos. dlffllnwndo o risco de irecidiva.s.
tar e uul= cadeira de rodas. Dessa maneira. ele ter.i O rest.ibelecimento d.i a.natom1a óssea deve ser res-
acesso a escol.1, ativ1dadt,s scx:u1s e lahorais. no futuro. taurado e mantido com fixa.çio por fios de K1rschner.
Em c.1.sos de insucesso com esSil liberação, pode-se remm;dos a.pós 6 sema.nas. O gesso cruropod.ilico
reali1..1r a. ressecção da..~ caheças femorais. como pnx-e- pós-operatório deve ser trocado no mnmt·nto d.i re-
d1111ento e..xtremo visando .i aungu a posição sentild.i. urada dos fios e permanece por mais 6 semanas. Em
segu1d.i da retirada do gesso. é confeccmnada uma
Tratamento das deformidades dos joelhos únese sumpodálic.1 em pohpropileno. de U-.<> contínuo.
Os joelhos em extensão podem ser submetidos a Os p.icientes que m1aam o tratamento mais tar-
manipulaçôes. seguid.is da colocação de aparelhos diamente ou que têm rec1d1va da deformidade, ~e
gessados progressivamente em maior flexão, até .itm- apresentarem prognóstico de marcha, podem ser
g1rem 90º. Caso se perceb.1. n.1 troca de gesso. que suhmeudos i talectom1a. ~se procedimento de sal -
o 1oelho não retorna .i posição estendida. deve -se vaç~o tem melhores resultados quando a.~onado a
aceitar a posição de extens.io, sob o risco de haver hber.iç.io posteromed1ol.iteral e precedido de man1 -
perda da capacidade de de.imbulaç.io com a defor - pul.ições LOlll colocação de aparelho!. gesS.1dos ~uce~
midade cm flex.io. sivos. O objetivo final é a obtenção de um pé satl~-
As contr.itur.is cm flexão de\'em ~er 1ra1.1d.i~ ape - fatonamente plantígr.ido. com .ilgum.i mobilidade e
na, em pacientes com prognóstico favorável p.u-a or- mdolor. compatível com o UM> de ónese.
tmtatL\mo e tl"t'mo de dem1bulação. As defornudade~ Ocas1on.ilmente, no mesmo .ito cirú rgico, po-
acima de 30º são submeud.is a manipulações com dem -se assoei.ir técmc.as de encurtamento da coluna
gessos sucessivos t'.m mamr ex terL\.io. Em muaçôes lateral, como o~teo1<>1111a de cncurta1rn:ntc> do cal-
que n.io respondam a e\\e método. o tratamento c1- cine<> (L1c hthlau) ou ressecção parci,il do cuboide
rúrg1co está mdicado. empregando-se a liberação de (Ogston) . Deve-se .i~oc1ar. quando necess.ir m. a ad1 -
partes moles postenores. .asscx:iada ou não a osteo• ç.io de cunha medial . .i fim de obter equ.ihuçio das
tom1a supracondilear de extcrn,.io do fcmur dtMal. duas colunas e prevemr rec1diva~.
Serviços com experiênci.i no método. podem O tr.itamcnto com fixadores nternos tem apre -
realiz.ir a correç.io de~~a deformidade com o uso de sentado resultados excelentes cm pés mveterados.
fixadorel> arcul.u-es (lliu.rov) de m.u1e1ra progressiva, multo gr.ave!, ou rec1d1v.ido!,, descritm t'lll nuiore!,
obtendo-se correção de deformidade~ cm flexão dm det.alhes no Capítulo 2 S - "Fixadores externm na
joelhm em .itt: de 90".11 reconstruç.io e along.imento ósseo".
Em q u.tlquer método uuhu.do, o uso de órteses
diuturna.~ após a correção ser.i neces~rio, prevenin- CONSIDERAÇÕES FINAIS
do .l\ readivli. Seri ;ipresenuda a emluç.io dt! uma p.toente portadora
de amiopla.sia, com 1O a.nos de acompanh.amento, que
Tratamento das deformidades dos pés ilustra unu situação comum de ca.so de .u-trogripose.
A deform1dadt.' em equino varo é a mais frequente, C.R.S.B.. sexo femmmo. 1mciou acomp,mh.unento
~endo caracterísuca ~ua ng1dez .u-ucular, a~i.cx:1.ad.i .i n.a A.-\CD aos 4 m~e!, de idade. FeL ui.o de gesso nos
paralisia muscular. Embora se1a esteticamente seme- pés desde o primeiro mês de v1d.i em outro sen.;ço.
lhante ao pé torto congên110. i.eu tratamemo em:ontra ~a a\,1.liação global. com S meses. fo1 enquadrada
ma.ior resistênaa .i correçio. O método de Ponseti tem no grupo de acolhimento nos setores de Psicologia e
sido des<;.Tito com rt-suh.ados anim.adort-s, porém sem- Fisioterapia. Apresentava, nessa época. controle cervi -
pre mfenores aos rel.itildos nos pés 1cuop.incos. Mesmo c.tl, !>em controle de tronco e sem monmeruaç.io auva
quando não se obtém correção completa. o micio do de membros superiores: não realizava trocas posturais.
tut.unento por nunipul.ições gess.idas dmunm os ris- Iniciou atendimento na füioterap1a aos S mt•scs e 1u
cos de complicações de partes moles cm um futuro terapia ocup.icion.al aos 8 meses (Figuras I e 2).

110
Arl rng ripose múlliplA congénita

Aos 4 anos, foi o peracia em outro serviço, sub-


metida à lalectomia bilateral para correção dos pés
aduto equino varo rígidos.
Recebeu alta da fisioterapia com 6 anos, apresen-
tando marcha domiciliar independente com um par
de tutores curtos (goteiras) e cadeira de rodas para
longas distâncias. Estava mais participativa em lrocas
postura is.
Também recebeu alta, aos 6 anos, da terapia ocupa-
cional. Ern.:ontrava-se independente na alimentação e
na higien e oral, com adaptação de escova de cabo en-
grossado; no vestuârio, consegue tirar meias goteiras
e sapatos. É auxiliada no banho, sentada cm cadeira de
plástico. Explora brinquedos. Édependente na higiene.
Estuda em escola regular, cursando o 2° ano ao~
7 anos de idade. Permanece cm acompanhamento
médico e nos setores de psicologia e pedagogia (Fi-
guras 3 a 6) .

Figura 3 Paciente aos 8 a nos de idade, independ ente


em alimentaçao, parcialmente dependente em vestuá-
r io; mantém membros superiores sem flexo-ex.tensi'lo
ativa de cotovelos e maos sem ca pacidade de p reensão.

Figura 1 Am iop las ia, nicial aos 9 meses de idade:


membros super iores pendentes.

■ 1

Figura 4 Paciente ao s 8 a nos de idade: poslu ra ortostâ-


Figura 2 Pés em equi no varo aos 9 meses de id ade. tica, march a i ndependente, pés p lantígrados.

111
Reab,1,taçao - Seção 2 Patolog ,as atendidas

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