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Artigo Original

Cyberbullying: o complexo bullying


da era digital
Drº João Marcelo Rondina
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - FAMERP
Email: rondina@outlook.com

Julia Lucila Moura


Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - SP
Email: juhlucila@hotmail.com

Profª. M.e. Mônica Domingues de Carvalho


Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - São José do Rio Preto - SP
Email: monicadominguesc@gmail.com

Keywords: Cyberbullying. Bullying. Virtual


Resumo Environment. Internet.

Objetivo: expor a dinâmica do cyberbullying, o


impacto provocado em vítimas, agressores e INTRODUÇÃO
testemunhas, as estratégias de enfrentamento do
problema e as formas de prevenção. Métodos: Atualmente, os jovens expõem sua
Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratória,
identidade em múltiplos contextos
que utilizou procedimentos de coleta de dados
bibliográficos em publicações periódicas de digitais. À medida que crianças e
cunho científico e acadêmico. Resultados: as
medidas para combater o cyberbullying serão adolescentes intensificam sua interação
mais eficientes se cada usuário da internet com as novas tecnologias e aumentam
seguir a netiqueta, fazendo valer a ética no
ambiente virtual. sua participação em redes sociais,

Palavras-Chave: Cyberbullying. Bullying.


criando perfis públicos e
Ambiente virtual. Internet. compartilhando informações pessoais,
Cyberbullying: the complex bullying in the novos dispositivos tecnológicos são
digital age
criados em resposta a essa demanda (1).
Abstract
Objective: exposing the dynamics of Nesse cenário de tecnologia e mundo
cyberbullying, the impact caused victims, globalizado, a violência moral e
perpetrators and witnesses, the coping
strategies and prevention ways. Methods: This reacional não se limita mais ao espaço
is a research of the exploratory type, which used
bibliographic data collection procedures in físico. Dessa forma, o bullying
periodic publications of scientific and academic
nature. Results: measures to combat tradicional, frequentemente praticado
cyberbullying will be more efficient if internet
users follow netiquette, enforcing ethics in the nas escolas, ganha o ambiente virtual na
virtual environment. forma de cyberbullying.

RE. SAÚD. DIGI. TEC. EDU., Fortaleza, CE, v. 1, n. 1, p. 20-41, jan./jul. 2016.
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Bullying originalmente vem da palavra considerado cyberbullying se for


bully, que como adjetivo significa intencional. Todas as leis pertinentes
“valentão” e como verbo, “tiranizar, exigem que se avalie o ato como
brutalizar”, ou seja, maltratar, tratar proposital ou não, assim como prevê
abusivamente (2). Cyberbullying alguma forma de prejuízo à vítima (7).
consiste em um fenômeno recente
A ideia de repetição no cyberbullying é
considerado um tipo de ato ou
diferente do bullying convencional, uma
comportamento agressivo, praticado
vez que a publicação de uma foto na
repetidas vezes no ambiente virtual por
web, por exemplo, é compartilhada com
um grupo ou indivíduo contra uma
outras pessoas sem que necessariamente
vítima que não pode defender-se
o perpetrador esteja envolvido de modo
facilmente (3). Smith e seus
direto. Um único ato do perpetrador
colaboradores (4) relataram a
será repetido por outras pessoas e
prevalência, no Reino Unido, de 14,1%
afetará a vítima diversas vezes (3). Para
de cyberbullying em relação a outros
Gámez-Guadix e colegas (8), bem como
tipos, manifestado em mensagens
Ybarra e Mitchell (9), a execução de
escritas ou imagens enviadas através de
uma ou duas ações já satisfaz os
celulares ou mensagens instantâneas
requisitos de definição. Cabe esclarecer
(2,5).
que um ato isolado pode não se
As definições para cyberbullying são enquadrar na categoria de
muitas, mas convergem ao apontá-lo cyberbullying, porém basta para isso
como ato obrigatoriamente intencional, que uma única postagem se torne
prejudicial a outrem e feito repetidas “viral” na Internet e haja evidência de
vezes, causando desequilíbrio de poder compartilhamento e distribuição via e-
entre vítima e agressor, bem como mail, redes sociais ou outros recursos de
envolvendo dispositivos eletrônicos e o mídia digital (7).
ambiente virtual. Em um estudo
O ambiente virtual proporciona maior
holandês, os critérios para considerar
sensação de liberdade aos jovens, mas
um ato como cyberbullying são: ataque
também uma menor inibição de suas
intencional, proposital, recorrente e que
emoções, incluindo as negativas como a
causa estresse psicológico. (6).
raiva (10). Quanto mais tempo o jovem
O ato, analisado com base na interage virtualmente, maiores suas
perspectiva do agressor, só é chances de sofrer cyberbullying (1),

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pois no ambiente virtual a livre MÉTODOS


expressão costuma se dar sem controle
Trata-se aqui de uma pesquisa do tipo
social, e é muito difícil remover as
exploratória, que utilizou procedimentos
informações de um website (11).
de coleta de dados bibliográficos em
Devido à grande abrangência da publicações periódicas de cunho
Internet na sociedade atual, o científico e acadêmico. Aplicou-se a
cyberbullying não é restrito a algumas técnica de revisão de literatura proposta
partes do mundo, mas um fenômeno por Sampieri, que apresenta uma
global que acomete grupos em sequência de ações e critérios para
diferentes culturas e contextos (12). Um realizar um levantamento bibliográfico
estudo realizado na Turquia comparou preciso e completo: usar bases de dados
os resultados registrados em 36 artigos confiáveis e referências recentes,
sobre o tema, de diversas publicadas nos últimos cinco anos;
nacionalidades, e concluiu que os consultar no mínimo quatro periódicos
problemas trazidos pelo cyberbullying científicos renomados e indexados;
são de fato globais (10). acessar pelo menos três motores de
busca acadêmica e cinco descritores
Tendo em vista ainda os aspectos do
(palavras-chave) sobre o tema.
desequilíbrio de poder e do prejuízo,
principalmente no âmbito psicológico, Para a realização do estudo, foram
alguns autores dividem o cyberbullying consultadas as bases de dados
em subcategorias. Por exemplo, para científicas: Literatura Latino-Americana
Tanrıkulu, Kınay e Arıcak (13), existem e do Caribe em Ciência da Saúde
duas: (LILACS), Medical Literature Analysis
and Retrieval System On-line
• a do bullying eletrônico: é o lado
(MEDLINE), Scientific Eletronic
técnico da agressão, que abrange
Library On-line (SciELO), SCOPUS,
mandar e-mails infectados ou com
Ovid e American Psychological
spam, invadir websites e capturar a
Association (APA-PsicINFO). São
senha dos outros on-line;
bases de dados que oferecem acesso a
• a da e-comunicação: é o lado periódicos de comprovada relevância na
psicológico da agressão, que abrange comunidade científica nacional e
provocações, apelidos, boatos e insultos internacional.
na Internet.

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Os motores de busca acadêmica (Google Acadêmico e sistema de busca


acessados foram o Portal Periódicos do Portal de Periódicos Capes).
Capes, Google Acadêmico, Biblioteca
RESULTADOS
Virtual em Saúde (BVS), CiteSeerX e
Pubmed-NCBI. Os descritores A vítima do cyberbullying tem de lidar
utilizados para busca das referências nas com novos desafios impostos pela
respectivas bases de dados científicas e Internet e pelas tecnologias da
motores de busca acadêmica foram: informação e comunicação (TICs): além
“bullying”, “cyberbullying”, “violência da difamação sofrida, há o sentimento
virtual”, “Internet” e “ciberespaço”. Os do agressor de menor inibição e
descritores foram validados em dois responsabilidade por seus atos,
sistemas de terminologias indexadas na conferido pelo ambiente virtual (14). Os
área da saúde: os Descritores em adolescentes que utilizam com
Ciências da Saúde (DeCS) e o Medical frequência as redes sociais e costumam
Subject Headings (MESH). encontrar outras pessoas on-line sem se
preocupar com a segurança dos seus
Os critérios estabelecidos na
dados pessoais divulgados no perfil são
metodologia adotada no estudo
mais vulneráveis (12). Evidências
permitiram a seleção de referências com
sugerem que a vítima adolescente tende
as seguintes características: artigos
a prolongar essa condição até a fase de
científicos, publicados
adulto jovem e que uma vítima de
preferencialmente nos últimos cinco
bullying convencional tende a sofrer
anos, nos idiomas português e inglês,
também cyberbullying (15, 16) O estudo
em revistas indexadas, presentes nos
de Svoboda (17) afirma que
índices Journal Citation Reports (JCR) e
aproximadamente um em cada quatro
Periódicos Qualis (WEBQUALIS).
adultos tem experimentado abuso on-
Foram atendidos todos os critérios
line ou conhece alguém que o tem.
necessários para a realização de uma
revisão de literatura com excelência, O cyberbullying não possui limite de
como, por exemplo, o uso de cinco espaço físico, não acabando quando se
motores de busca acadêmica, deixa a escola ou o ambiente em que a
especializados na área da saúde (BVS, agressão acontece (13). As vítimas
Pubmed), na área de ciência da tendem a ser alvos de pessoas
computação (CiteSeerX) e de uso geral conhecidas, e a invisibilidade dos

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agressores pode criar uma sensação de depressão, sofrer sintomas do transtorno


vulnerabilidade para as vítimas, que não de estresse pós-traumático e até mesmo
sabem como escapar. Além disso, a pensar em suicídio (17).
amplitude do público potencial no
Incidentes envolvendo fotos e
cyberbullying pode agir para agravar
videoclipes são os piores para as vítimas
sentimentos de humilhação e
(15), porque, na maioria das vezes, são
isolamento.
compartilhados e visualizados inúmeras
As vítimas resistem a alertar os adultos vezes por centenas ou até milhares de
porque temem a perda do acesso às pessoas que a vítima nem sequer
tecnologias e uma retaliação maior por conhece. No cyberbullying, as
parte do agressor, bem como creem que testemunhas perpetuam o ato e podem
os adultos não poderiam fazer nada para ou não conhecer presencialmente a
mudar a situação mesmo que tentassem. vítima e o perpetrador (13).
No estudo de Cross e colegas, 45% dos
Um estudo feito com 118 alunos do
jovens que sofriam cyberbullying e
primeiro ano de psicologia de uma
contaram a um adulto relataram que as
universidade em Lisboa, com idades
agressões pioraram após a denúncia.
entre 19 e 50 anos, identificou três tipos
Outros motivos para o silêncio incluem de testemunhas (14):
não saber a identidade do agressor, não
• testemunhas das vítimas
confiar na capacidade dos educadores
(61,4%): aqueles que testemunharam
de compreender ou resolver a situação
algum episódio de cyberbullying a partir
de forma adequada, bem como temer
do conhecimento obtido por meio do
ser julgado mentiroso ou culpado pela
sofrimento da vítima;
própria resposta agressiva ao
cyberbullying. Temem que a situação • testemunhas dos agressores
seja banalizada e se preocupam em (10,0%): os que presenciaram o
serem rotulados como medrosos (18). comportamento hostil dos agressores;

O perfil das cybervítimas não é de • testemunhas do tipo misto


agressividade, o que sugere que sua (27,1%): aqueles que testemunharam
tendência à solidão se deve a tanto o sofrimento e desconforto das
experiências ruins que tiveram entre vítimas, como também o
pares (19). Podem desenvolver

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comportamento de intolerância dos 80,6% das cybervítimas já


agressores. testemunharam um ato de cyberbullying
com outra pessoa (21). Isso comprova a
Um único ataque pode permanecer on-
importância da ação das testemunhas
line ou no celular das testemunhas por
contra o cyberbullying, uma vez que
muito tempo, prolongando a exposição
elas podem ajudar a combatê-lo se o
e o sofrimento das vítimas (20, 3). Isso
denunciarem, bem como podem
faz das testemunhas peças fundamentais
perpetuá-lo se o omitirem.
no combate e na prevenção ao
cyberbullying. Elas precisam saber que, A característica principal a distinguir
sem acarretar consequências para si, um agressor é o anonimato: embora os
podem reduzir a agressão e, atos possam ser executados na frente de
consequentemente, o sofrimento das uma vasta plateia simultaneamente, a
vítimas pelo simples fato de mostrarem identidade do perpetrador permanece
desaprovar os posts e ataques on-line desconhecida (15). Tal anonimato torna
(17, 14). a situação mais difícil de ser enfrentada
pela vítima e menos compreensível. O
Para os indivíduos que testemunham
fato de as crianças e adolescentes não
atos de cyberbullying terem a iniciativa
saberem quem os agride nem o porquê
de combatê-lo, precisam de noções
os incita a um comportamento mais
básicas de netiqueta: amplo conceito
agressivo do que o normal e torna o
que abrange o senso de moralidade e
ambiente on-line propício para os
valores éticos no mundo virtual. Quanto
agressores e para vítimas de bullying
maior for o respeito à netiqueta de um
tradicional que queiram se vingar (22,
indivíduo, menos exposto estará a atos
10).
de cyberbullying.
Além disso, cyberbullying oferece
Uma pesquisa envolvendo 1200
menor oportunidade de empatia e
adolescentes da Coreia do Sul, em
remorso porque o agressor não tem
amostra randomizada, constatou que
contato direto com a vítima e seu
20,4% dos entrevistados praticam
sofrimento. Isso permite a desinibição e
cyberbullying com outras pessoas,
desindividualização do outro (18).
64,4% das cybervítimas também
Contudo, praticar cyberbullying está
praticaram cyberbullying e – o mais
mais relacionado à funcionalidade
alarmante – 87,8% dos cyberbullies e
psicológica precária e a dificuldades

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externas: os praticantes têm pior cara com a vítima ou tem medo de fazê-
qualidade de vida apesar de não terem lo; e a daqueles baseados no fato do
dificuldade de relacionamento social e alvo ser diferente de alguma forma, por
entre pares (15). Pesquisas mostram que exemplo, na aparência (3).
tanto as vítimas quanto os agressores
Cyberbullies são mais propensos a
usam a Internet como forma de lidar
relatar o uso de substâncias ilícitas e
com os sentimentos de angústia,
participação em atos delinquentes, a ser
estresse e sofrimento (12). O ambiente
intimidados off-line, a exibir
virtual serve para aperfeiçoar modos de
comportamentos problemáticos, a ter
agressão, agravando os atos violentos e
menor compromisso com a escola, a
tornando-os constantes (23).
fazer maior consumo de tabaco e álcool,
Uma pesquisa em escolas australianas a comportar-se de maneira mais
com 3112 estudantes da 6ª à 12ª série agressiva e a quebrar regras (18).
avaliou praticantes de cyberbullying. O Segundo o estudo de Park, Na e Kim
resultado foi que 8,9% dos estudantes (21), o bullying frequentemente decorre
relataram agredir outros virtualmente e de fatores morais, de modo que pessoas
a maioria dos que agridem não achou com fortes crenças normativas sobre
que o seu ato era rude ou que teve agressão são mais propensas a praticá-
impacto sobre as vítimas. Em lo.
contrapartida, os agressores tiveram
Ybarra e Mitchell (9) descobriram que
maiores pontuações nas escalas de
os intimidadores virtuais se avaliam
estresse, depressão e ansiedade (24).
como peritos da Internet em
Os motivos para que ocorra o comparação com aqueles que não fazem
cyberbullying foram investigados em cyberbullying. Alguns atos realmente
um estudo qualitativo de Varjas, Talley, necessitam de conhecimento mais
Meyers, Parris e Cutts (25), que aprofundado, como invadir a página na
descobriram poderem dividi-los em três web da vítima, mas outros, nem tanto,
categorias: a dos internos – vingança, como mandar mensagens ofensivas (3).
tédio, ciúme, experimentar uma nova Quanto maior a habilidade no uso da
persona ou redirecionar sentimentos; a Internet, maior a exposição do indivíduo
dos externos (não confrontacionais e a experiências negativas, inclusive
sem consequências) – quando o cyberbullying, uma vez que
cyberbully não quer um encontro cara a intimidadores virtuais tendem a gastar

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mais tempo on-line, participando de se consideram novatos. Entre os não


atividades como discussões on-line, assediadores, 29% se consideram
downloads, jogos de azar e pornografia especialistas e 25%, novatos. A chance
(21). de relatar um comportamento de assédio
na Internet é duas vezes maior no caso
O agressor é tanto aquele que faz uma
de quem avalia por conta própria a
postagem ofendendo outro indivíduo
importância da Internet. O anonimato na
numa página pública da web, quanto
rede pode servir para reduzir a
aquele que compartilha tal postagem
consciência de si e a própria
(7). Dentre os adolescentes que usam a
individualidade, o que enfraquece a
Internet, os que entram com maior
capacidade de regular o próprio
frequência em salas de bate-papo têm
comportamento e resulta em uma menor
3,5 vezes mais chance de praticar
probabilidade de preocupar-se com o
cyberbullying do que aqueles que usam
que os outros pensam a seu respeito
a rede mais para outros fins, exceto e-
(12).
mails e mensagens instantâneas. 54%
dos assediadores on-line se consideram
especialistas em Internet, contra 6% que

Mídias utilizadas na prática do cyberbullying

Tabela 1. Mídias mais utilizadas para praticar cyberbullying


compartilhamen

pessoal digital
Salas de bate-

Sites de redes

Website para

to de vídeos
Mensagens

telefônicas

Jogos pela
Assistente
Websites

Autores
Ligações

Internet
E-mail

sociais

Blogs
papo

Shariff (2011) apud (1) X X X X


(2) X X X X X
(3) X X X X
(4) X X X X X X
(5) X X X X X
(6) X X X X
(7) X X X X X X
Spears (2011) apud (8) X X X X
(9) X X X
(5) X X X
(10) X X X X
(11) X

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(12) X X X X X
(13) X X X
(14) X X
TOTAL 13 15 6 5 9 3 4 2 1 1
Fonte: Elaborado pelos autores

O meio mais utilizado é o celular et al. (16) distribuiu em quatro classes


porque foge do controle parental. as formas de praticar cyberbullying
Quanto maior este, menor a exposição (11):
do jovem a comportamentos de risco
 escrita-verbal: ligações
(1). Em 2013, 75,2% da população
telefônicas, mensagens de texto e e-
brasileira e 76,7% de jovens entre 15 e
mails;
17 anos tinham telefone móvel celular
 visual: divulgação de imagens
para uso pessoal, de acordo com o
constrangedoras e/ou fotos;
IBGE (2015), o que cria um cenário
 representação: forma mais
propício a altas taxas de cyberbullying.
sofisticada – uso ou roubo da identidade
O computador, por sua vez, é utilizado
de alguém para revelar informações
para enviar e-mails, invadir a conta da
pessoais usando a conta on-line alheia;
vítima em sites na web e mandar
 exclusão: ato de excluir
obscenidades e mensagens ofensivas,
deliberadamente o alvo de um grupo on-
contendo ameaças e humilhações (13).
line.
O estudo de Huang e Chou (26)
O estudo de Tippett e Kwak (27)
investigou os tipos de cyberbullying nos
encontrou sete tipos de mídia para
três grupos: vítimas, agressores e
praticar cyberbullying descritos pelos
espectadores. Os comportamentos mais
alunos em pesquisa: chamadas de
comuns relatados por vítimas e
celular, mensagens de texto,
agressores foram ameaças ou assédios,
imagem/videoclipe de assédio moral, e-
seguidos por piadas denegrindo a vítima
mails, chat, mensagens instantâneas e
e, por último, rumores sobre a vítima
sites. Na Coreia do Sul, têm-se
(3).
detectado os jogos pela Internet como
A prática pode ser feita via e-mails, meio muito comum para cyberbullying
salas de bate-papo, mensagens (3).
instantâneas, votações on-line, redes
sociais, dentre outros meios. Nocentini

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No ambiente virtual, a livre expressão é cyberbullying mostrou que, dentre as


permitida e não sujeita a controle social, meninas, é ligeiramente mais comum
o que dificulta sobremaneira remover as ser vítima do que agressora (11% contra
informações divulgadas on-line (11). 9%), enquanto, dentre os meninos, a
Nesse contexto, estão chegando novas proporção é de aproximadamente 10%
palavras descritivas: sexting descreve a para ser igualmente vítima, agressor ou
circulação de imagens de cunho sexual testemunha (34).
por meio de celulares ou da Internet
Estudos feitos em Hong Kong e no
sem o consentimento das pessoas
Canadá concluíram que, apesar de
envolvidas; trolling descreve
variar a proporção entre os gêneros (em
comentários abusivos persistentes em
Hong Kong predominam meninos,
um site; griefing descreve a perseguição
enquanto, no Canadá, meninas mais
de alguém em um jogo ou mundo
ativamente envolvidas no
virtual (3).
cyberbullying), as meninas são em geral
A proporção entre os gêneros mais suscetíveis a serem vítimas (15).

Não há consenso na literatura científica Jackson e colegas (35) relataram que as

sobre o gênero mais frequente dos meninas eram mais propensas a

envolvidos no cyberbullying. Por experimentar certas formas de

exemplo, para Calvete e colaboradores cyberbullying (assédio com base no

(28), bem como para Campbell e gênero, exclusão, postagem on-line de

colegas (24), meninos se envolvem mais informações pessoais) e a sofrer

do que meninas; em contrapartida, para impacto negativo das mensagens.

Smith et al. (29) e Livingstone, Görzig e Meninas relatam com maior frequência

Olafsson (30), há pouca ou nenhuma o sentimento de ter a reputação afetada

diferença significativa; segundo Rivers pelo cyberbullying. Também lhes são

e Noret (31),Völlink e colegas (32) e atingidas a concentração e a capacidade

Wade e Beran (33), por sua vez, as de fazer amigos, o que as induz a querer

meninas se envolvem mais do que os intimidar os agressores ou a ter

meninos (3). pensamentos suicidas (18).

Um estudo feito com 5516 adolescentes Segundo o estudo de Wendt e Lisboa

finlandeses de 12, 14, 16 e 18 anos que (1), a maioria das vítimas é do sexo

responderam a um questionário sobre feminino, mas não há diferença

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significativa de gênero entre os pessoa como se esta fosse um objeto;


perpetradores. Já no estudo supracitado inseguro, porque depende da vítima
de Souza, Simão e Caetano (14), da para afirmar-se, identificando-se, de
amostra de 118 alunos, 64,1% certo modo, com ela e dela necessitando
informaram que o perpetrador se tratava para poder ser reconhecido.
de uma pessoa do gênero feminino;
Quanto à vítima, exposta a situações de
13,5%, de uma pessoa do gênero
humilhações e agressões psíquicas ou
masculino; 3,7%, de um grupo do
físicas, pode adquirir vários transtornos,
gênero feminino; 9,8%, de um grupo do
como baixa autoestima, depressão,
gênero masculino; e 8,6%, de um grupo
pensamentos e ações suicidas, bem
misto.
como violência explícita contra o
Perfil psicológico dos envolvidos em agressor ou o meio social (36). Na
cyberbullying tabela abaixo, estão relacionados os
principais problemas psicológicos
Segundo a psicanálise, o agressor é,
relacionados ao cyberbullying de acordo
antes de tudo, sádico e inseguro. Sádico,
com os artigos analisados:
porque exerce a violência sobre outra

Tabela 2. Impacto psicológico provocado pelo cyberbullying

Problemas psicológicos Autores


Suicídio ou ideação suicida (15, 12, 18)
Ansiedade (15, 12, 44, 24)
Solidão ou insegurança (19, 12, 3, 15)
Baixa autoestima (15, 18)
Raiva (15, 3, 43)
Estresse (15, 3, 44, 24)
Fobia/medo (15, 3, 13, 36, 45)
Depressão (15, 19, 12, 3, 13, 18, 44, 37, 32, 24, 45)
Uso de álcool e outras drogas (19, 13)
Timidez (19, 12)
Problemas psicossomáticos (15, 18, 11)
Fonte: Elaborada pelos autores
pelos referidos autores: depressão,
Observa-se, pela tabela acima, que solidão ou insegurança e suicídio ou
existe uma variedade de problemas ideação suicida.
psicológicos associados ao
Os jovens usam a Internet para diminuir
cyberbullying, sendo os mais citados
seu sentimento de solidão e se

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comunicar com outras pessoas, e agressor (15), quando a solidão é um


cyberbullies precisam de suporte social, sentimento comum, relacionado a
têm sentimentos infelizes e propensão alcoolismo, infelicidade e timidez (19).
ao uso de drogas (19). Grande parte desse impacto se deve ao
fato de que aproximadamente 25% das
As vítimas passam por grande estresse
vítimas de cyberbullying não buscam
emocional, e grande parte delas vem de
atendimento especializado, com esse
famílias monoparentais com problemas
afastamento da clínica podendo causar
psicossomáticos (11) que se traduzem
prejuízos sérios (1).
por efeitos físicos como perda ou ganho
de peso, abuso de substâncias, A maioria das vítimas se incomoda, se
enxaqueca, dor abdominal e problemas constrange e tem danos emocionais. A
para dormir. Crescem também os raiva – o sentimento mais comum da
problemas na escola, como baixo vítima – revela-se como resposta
desempenho acadêmico, agressão, saudável ao cyberbullying. Porém, há
insegurança no ambiente e evasão (15). pessoas que relatam não se importar,
A pesquisa de Low e Espelage (37) mostrando haver estratégias de
avaliou 1023 adolescentes entre a 5ª e a enfrentamento e de resiliência
7ª séries e constatou que o bullying não adaptativa, capazes de minimizar os
físico, que abrange o cyberbullying, danos emocionais (11). Para iniciar a
associa-se em maior grau com violência prática de estratégias de enfrentamento,
familiar do que com monitoramento exige-se o diagnóstico da situação
parental, o que explica os relacionados vivida pela vítima: o contexto, a
sintomas depressivos. intensidade, a frequência, o tempo de
duração (14).
Quanto maior a proximidade da pré-
adolescência, piores os sintomas de Considerando a relação já citada entre o
estresse emocional, cujo risco aumenta tempo gasto na Internet e o
diante de certos fatores: o fato de o cyberbullying, uma intervenção on-line
agressor ser adulto, a publicação de foto pode ajudar a vítima a lidar com o
da criança ou adolescente e episódios de trauma e suas consequências, sendo o
contato agressivo off-line (11). ciberespaço o local perfeito para isso.
As terapias pela Internet – consultas
O pior impacto psicológico recai sobre
terapêuticas baseadas nas
quem acumula os papéis de vítima e
convencionais, mas feitas pela rede

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internacional via celular e/ou e-mail – terapia de realidade, que têm foco no
têm mostrado efeitos positivos. Um conceito de responsabilidade. Uma ideia
estudo de meta-análise de Andersson e subjacente é que pessoas com um
colegas (38) mostrou que uma CBT desenvolvido senso de responsabilidade
(cognitive behavioral therapy) on-line sabem definir seus objetivos e o que
surte efeitos muito semelhantes aos da fazer para alcançá-los. Os participantes
terapia tradicional, com uma relação do programa, ao final do processo,
custo-benefício e acessibilidade maiores devem estar conscientes das suas
(15). responsabilidades em ambientes virtuais
e tomar precauções eficazes,
Outro exemplo é a Online
aumentando o seu nível de sensibilidade
Pestkoppenstoppen, uma intervenção
em relação a situações perigosas (13).
on-line que objetiva ensinar as vítimas a
lidar com os sentimentos de ansiedade e Como prevenir o cyberbullying:
depressão decorrentes do cyberbullying responsabilidade de pais, professores,
sofrido. Trata-se de um programa colegas e instituições de ensino
extremamente interativo que ensina as
vítimas a substituir pensamentos A legislação sobre cyberbullying é

irracionais por racionais, promovendo nova, porque o fenômeno é recente.

seu bem-estar, diminuindo as Além disso, ela varia de país para país e

dificuldades no ambiente escolar e de estado para estado. Nos Estados

orientando sobre formas de prevenção Unidos da América, por exemplo, todos

(15). os estados têm leis que punem ao menos


o bullying tradicional, enquanto, em
Para quem não se adapta a um alguns e no nível federal, já foram
tratamento on-line, há também as propostas leis que abrangem a
formas convencionais. Uma das mais modalidade eletrônica (7).
populares e bem-sucedidas é o
Programa de Desenvolvimento de No Brasil, há a Lei nº 12.737/2012 (39),

Sensibilidade Contra o Cyberbullying, que trata como crimes virtuais tanto a

que objetiva ensinar os alunos a invasão de computadores alheios ou

desenvolver a sensibilidade para redes, alterando ou furtando dados e/ou

detectar situações propícias ao apagando informações e arquivos,

cyberbullying e se proteger da agressão, quanto a falsificação de cartões de

baseando-se na teoria da escolha e na débito e crédito (40). Há também uma

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lei recente (13.185), sancionada em convencional, o espectador no


novembro de 2015 (41), que institui o cyberbullying se envolve mais em ações
Programa de Combate à Intimidação do KiVa. Por isso, ações que mudem a
Sistemática, o qual inclui bullying e indiferença predominante para uma
cyberbullying, com o objetivo de dar atitude responsável pode ajudar a parar
assistência psicológica, social e jurídica as agressões (15).
a vítimas e agressores, além de
Além das leis e dos programas
promover a empatia e a cidadania,
antibullying, é necessário saber quais
capacitando docentes, equipes
são os comportamentos de risco e as
pedagógicas, pais e familiares para a
características de potenciais vítimas e
implementação das ações de discussão,
agressores para poder intervir e
prevenção, orientação e solução do
prevenir. Por tais ações, são
problema e para a disseminação de
responsáveis pais, colegas, professores e
campanhas de educação,
instituições de ensino (1).
conscientização e informação (42).
Sabe-se que, quanto mais um indivíduo
Há exemplos que deveriam ser seguidos
segue a netiqueta, menor o risco de
mundialmente como uma lei do Catar
envolvimento com cyberbullying. No
que trata de abuso através de meios
entanto, há também uma relação muito
tecnológicos, além de outros exemplos
forte entre noção de netiqueta e
como o OBPP (Owels Bullying
comunicação diária com os pais. A
Prevention Program) e o programa
influência parental nos valores sociais e
antibullying KiVa. No OBPP, pais,
a qualidade do tempo gasto com os
professores, estudantes e a comunidade
filhos estão relacionadas ao mau
são incentivados a trabalhar juntos para
comportamento on-line (21).
reduzir as taxas de bullying, redução
essa que, de fato, vem ocorrendo em A tutela inadequada dos pais ou
diferentes grupos etários pelo mundo. O responsáveis e comportamentos
KiVa é mais recente, originado na violentos arraigados na cultura do
Finlândia em 2006, e possui foco no indivíduo afetam o jovem, que se torna
espectador e na responsabilidade deste mais vulnerável ao cyberbullying, daí
de intervir e denunciar os casos de ser imprescindível não apenas ensinar
bullying. Apesar de a denúncia não ser os jovens a ter empatia, mas também
pública, como no bullying modificar crenças de apoio à agressão,

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orientar sobre comportamento seguro na  intervenção primária: ocorre


Internet e, o mais cedo possível, antes da agressão. Trata-se de observar
desenvolver laços positivos entre pais e o comportamento dos alunos, informá-
filhos. Pais com mais envolvimento e los sobre os perigos da tecnologia e
conhecimento das atividades de seus realizar ações sobre o cyberbullying.
filhos na Internet reduzem o risco de  intervenção secundária: tem seu
que estes tenham um comportamento foco nas vítimas. Trata-se de confortá-
perigoso na web (12). las, desencorajar o comportamento
agressor e incentivar a denúncia;
Os pais são os principais parceiros dos
 intervenção terciária: trata-se de
educadores na busca de soluções para
contatar pais e familiares, envolvendo
cyberbullying. O desconhecimento
também a comunidade.
desse papel por muitos pais ocorre, em
parte, pela falta de consciência sobre o Embora existam essas diversas
ambiente tecnológico de seus filhos, estratégias úteis, 2,5% dos participantes
sobre os comportamentos que apontam para uma “intervenção
acontecem nesse espaço e sobre a limitada ou até mesmo inexistente” por
ineficácia das respostas punitivas (18). parte dos docentes, dado que expõe
tanto a significativa dificuldade desse
Essa parceria é importante, dada a forte
grupo em lidar com o fenômeno do
ligação entre interações negativas no
cyberbullying, quanto a necessidade de
ambiente escolar e cyberbullying
capacitar a comunidade acadêmica para
praticado e/ou sofrido através do
poder intervir com eficácia e de forma
computador de casa. Além disso, as
sistêmica.
crianças tendem a confiar mais em seus
pais do que em professores ou Os colegas também são fundamentais
funcionários das escolas para contar no combate e na prevenção ao
sobre o cyberbullying. cyberbulling. São eles as testemunhas,
os que têm o poder de reforçar o ato do
O estudo de Souza, Simão e
agressor ou de repudiá-lo, chegando até
Caetano (14) apresenta uma lista com
a denunciá-lo. As estratégias dependem
algumas estratégias dos professores
do alvo da ação (14):
frente ao cyberbullying na percepção
dos 118 alunos consultados:  face ao agressor: ruptura
(romper contato com os agressores);

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evitar envolvimento (não incentivar o Hinduja e Patchin (7) sugerem que o


comportamento e ignorar provocações); cyberbullying pode ser reduzido através
 face ao fenômeno: confronto de medidas como as seguintes: aprender
(ajudar a esclarecer os fatos, contatar os nomes dos alunos para que não se
autoridades policiais); sintam anônimos; construir a
 apoio à vítima: ajuda direta comunidade através do reconhecimento
(ajudar e ouvir a vítima, dialogar sobre e da recompensa de boas práticas;
o assunto, não recriminá-la); ajuda atualizar-se tecnologicamente para saber
indireta (buscar apoio profissional, em que os estudantes estão interessados
apoiar a vítima nas medidas necessárias e como estão gastando o tempo; definir
e na credibilidade, falar com familiares e comunicar limites claros, monitorando
e/ou amigos sobre o fato); evitar o comportamento; responder de forma
prolongar o evento (evitar comentar justa e consistente; incentivar não
sobre o fato). apenas a participação dos alunos no
processo de tomada de decisões, mas
Outro fator importante é o ambiente
também a comunicação de
escolar, que deve inspirar a confiança
comportamentos impróprios (incluindo
dos alunos. Em ambientes positivos que
relatórios anônimos). Além disso, é
incentivam o diálogo e se caracterizam
importante que todos os adultos na
pela liberdade de discussão entre eles e
escola, independentemente da função
com os professores, os alunos tendem a
que exerçam, sejam o modelo daquilo
relatar a adultos os incidentes de
que defendem, de modo a não haver
cyberbullying (18).
desconexão alguma entre o que é dito e
As vítimas se sentem ameaçadas e o que é feito no cotidiano.
desamparadas, o que pode ter um
Sabemos que as mensagens morais
impacto negativo no desenvolvimento
são comunicadas aos estudantes
acadêmico no ensino superior e nas
informalmente através de diversos
áreas econômica, social e de saúde, daí
meios e que o professor mais poderoso
a suma importância da ajuda de
é muitas vezes o chamado currículo
psicólogos escolares e outros
informal (18), ou seja, um conjunto de
profissionais de saúde, desde os
medidas que deveriam ser adotadas
primeiros anos até o ensino médio (43).
pelas instituições de ensino e dadas a
conhecer aos alunos sem

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necessariamente serem objeto de TICs e se informem sobre os riscos do


avaliações formais. Além de uso da Internet. Para minimizar as
simplesmente ensinar sobre consequências do cyberbullying, são
cyberbullying, o currículo deve essenciais o engajamento dos colegas de
capacitar os alunos em termos de alunos e o avanço de estudos sobre
letramento digital, competências formas de terapia e estratégias de
tecnológicas, habilidades de enfrentamento, juntamente com as
pensamento crítico, netiqueta, e- ações de prevenção para diminuir o
segurança, avaliação dos próprios riscos número de pessoas atingidas.
on-line e medidas para proteger a
Podemos combater com força o
reputação e a privacidade na Internet
cyberbullying através de políticas,
(18,21).
programas anti-bullying/cyberbullying e
Para que isso seja possível, professores, a implantação e o aprimoramento do
prestadores de serviços psicológicos e currículo informal. Mas tudo isso só
administradores escolares precisam ser terá o efeito desejado se cada usuário da
melhor informados sobre essas questões Internet seguir a netiqueta, fazendo
e melhorar as próprias habilidades, já valer a ética no ambiente virtual.
que poucos estão familiarizados com até
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