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A. Cenário histórico
O rei Acaz reinou Judá entre os anos 736 a 7l6 anos antes do nascimento de Jesus. Em
outras palavras, é o fim do século VIII a.C. O governo de Acaz estava medroso diante
das pressões internacionais (Is 7,1-9). Ao mesmo tempo, ele estava confiante na
promessa feita por Natã (por volta do ano 1000 a.C.), de que Deus daria e protegeria a
dinastia de Davi para sempre (2 Sm 7,1-17). Certamente, o rei Acaz sentia-se amparado
pelas palavras: Eu te livrarei de todos os teus inimigos (verso 11); Farei permanecer a
tua linhagem ... e firmarei tua realeza (verso 12); Estabelecerei para sempre o seu trono
(verso 13); A minha proteção não se afastará dele (verso 15); A tua casa e a tua realeza
subsistirão para sempre (verso16). Essa promessa lhe trazia muita confiança, bem como
a certeza de que os assírios não teriam sucesso no intento de invadir, dominar a cidade
de Jerusalém e destituir o rei Acaz. Entretanto, no ano 735-734 a.C., o profeta Isaías
adverte Acaz por seu medo diante da ameaça dos inimigos e sua atitude de não confiar
em Deus. Essa constatação está registrada em Isaías 7,1-9. Para o profeta, essa atitude
não era própria para um servo de Deus. A fé bíblica não legitima o medo (Sl 46).
(1) E aconteceu nos dias de Acaz, filho de Jotão, filho de Uzias, rei de Judá, subiu
Rezin, rei de Aram, e Peca, filho de Remalias, rei de Israel, a Jerusalém para a guerra
contra ela, mas não prevaleceu guerreando contra ela.
(2) E foi anunciado à casa de Davi, dizendo: Aram estabeleceu-se em Efraim. E fez
tremer seu coração e o coração de seu povo como tremem as árvores da mata diante do
vento.
(3) E disse Javé a Isaías: vai agora para encontrar Acaz, tu e um Um-resto-volta, teu
filho, para a extremidade do canal do Lago Superior, na estrada do campo do lavador
Esteja atento
e tenha tranqüilidade;
não temas e
não vacila teu coração por causa dos dois tocos de achas fumegantes;
por causa do ardor da ira de Rezin e Aram
e o filho de Remalias:
Aram,
Efraim e o filho de Remalia
planejaram contra ti maldade, dizendo:
Não erguerá!
e não acontecerá!
Esta reportagem sobre o encontro do profeta Isaías com o rei Acaz revela que havia um
conflito de opiniões entre os dois líderes. De um lado, o rei estava seguro e confiante no
seu cargo. Para ele, Deus concedeu à dinastia de seu ancestral Davi a segurança de que a
sua casa e a sua realeza subsistiriam para sempre (2Sm 7,1-17). Por conseguinte,
nenhum poder humano invadiria e tomaria o trono em Jerusalém. Por outro lado, estava
o profeta, recém chamado por Deus, para exercer uma missão muito difícil, em
Jerusalém. No relato de sua vocação, Isaías confessa assim: “Ai de mim, estou perdido!
Com efeito, sou homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de impuros
lábios” (Is 6,5). Isso significa que Deus chama Isaías para apontar erros na condução da
política dos reis que compõem a dinastia de Davi. O erro mais grave de Acaz era ter
medo das ameaças dos inimigos, isto é, não confiar em Deus (versos 2.4.6 e 9). O verso
9b é o cheque-mate do profeta: Se não confiardes, não permanecereis.
Para o profeta Isaías, Acaz era incapaz e incompetente: ele confiava na promessa de
Natã à dinastia de Davi de que ela seria eterna. Isaías não entendia assim. O
cumprimento da promessa dependia da confiança que ele depositasse em Deus. A
palavra de Isaías é importante para entender a advertência profética: Se não confiardes
(...) não permanecereis (Is 7,9). A compreensão da próxima ação do profeta Isaías (Is
7,10-17) depende dessa afirmação.
(13)E disse:
e escolher o bem,
será abandonada a terra cultivável
diante de cujos dois reis tu tens medo.
A relutância do vaidoso rei Acaz, em não aceitar a ajuda de Deus, deveu-se à convicção
de que Deus protegeria a dinastia de Davi para sempre (2Sm 7,1-17). Todavia, o profeta
Isaías constata que o rei não estava sendo fiel a um princípio básico da fé: confiar em
Deus. Após essa constatação, o profeta faz um desafio ao rei: Pede um sinal a Javé, teu
Deus (Is 7,11). Para conhecer o significado desse desafio, é preciso analisar o sentido do
termo hebraico ot que é traduzido por sinal. No AT, a palavra ot, sinal, é
freqüentemente empregada como sinônimo dos termos:
Qual então foi a intenção de Isaías ao recomendar ao rei Acaz pedir um sinal ot de Javé?
(Is 7,11.14).
(1) Fica claro que o profeta Isaías usou o termo ot, sinal, com o sentido teológico. No
AT, as ocorrências de ot, sinal, estão mais concentradas nos relatos dos eventos
históricos do êxodo.
(2) O sinal, mencionado por Isaías, não é uma concessão de sabedoria ou poderes
mágicos, como encontrado em Gn 4,15; 9,12-13; Ex 7,3 e 13,9. Contudo, o emprego do
termo ot, sinal, visa motivar o rei Acaz a crer na ação de Javé em sua vida e na sua
política de governo. As últimas recomendações da perícope anterior substanciam este
argumento: Se não crerdes (...) não permanecereis (verso 9b).
(3) Por outro lado, a resposta do rei Acaz carrega um tom de irritação: Não pedirei e não
testarei a Javé (7,12). A irritação e a negação de Acaz mostram que o rei se fechou para
a palavra de Deus. Acaz está esquivando-se de assumir a fé. Ele mostra ser um bom
teólogo, pois interpreta bem a promessa de Natã (2Sm 7,1-17) e conhece as Escrituras
Sagradas (Ex 17,2.7; Dt 6,16).
(4) Na verdade, Acaz estava escondendo-se atrás de uma teologia montada sobre textos
piedosos para justificar o seu medo dos adversários. Tomar o caminho da fé não é tentar
Deus, mas acreditar no Seu sinal que traz Sua ação salvífica.
C. Cenário histórico:
O profeta Isaías, corajosamente, anunciou ao rei Acaz que Deus decidiu substituir a
promessa da dinastia de Davi pela promessa do Imanuel. O conteúdo dessa nova
promessa está definida no próprio nome Imanuel: conosco está Deus. Deus não estava
satisfeito com o governo empreendido pela dinastia de Davi. Os motivos dessa
espetacular substituição são claros no texto:
(2) Acaz não quer confiar no sinal, isto é, no milagre da intervenção de Deus.
(1)O povo que andava em trevas viu uma grande luz, Uma luz raiou para os que
habitavam uma terra sombria.
(2)Multiplicasse o povo,
Segunda parte
D. Cenário histórico
Miquéias foi um profeta contemporâneo de Isaías. Havia, porém, uma diferença entre
eles: Miquéias vivia e profetizava no campo, isto é, nas regiões que circundavam a
capital de Judá, Jerusalém. Vêm desse profeta essas palavras que pregou sobre a
esperança de um Messias. Miquéias não citou o nome Imanuel, mas sua expectativa
girava em torno da mesma figura que viria salvar o povo. O contexto da palavra
profética de Miquéias é a queda de Samaria (722 a.C.), o agressivo e inescrupuloso
domínio assírio e as demonstrações de infidelidade do povo israelita.
(2) (...)
(3) Ele erguerá e apascentará o rebanho pela força de Javé, pela glória do nome de seu
Deus. Eles se estabelecerão, pois então ele será grande até os confins da terra.(Mq 5,2-
5)
É interessante observar que Miquéias continuava afirmar que o Messias viria de Belém
e que ele possuía as características de um pastor. Crescia e fortalecia a esperança de um
governo justo que conduziria povo com o cajado do pastor, negligenciando o uso do
cetro de ferro. Esse pronunciamento do profeta sugere que havia uma forte tensão entre
os que esperavam um messias guerreiro que comandaria a nação com o cetro de ferro e
os que aguardavam um messias que viesse governar o povo com as características de
um pastor. Para o profeta, o novo tempo esperado marcará o fim do sofrimento. A
característica desse novo tempo messiânico será o governo de paz.
Terceira parte
Quarta parte
F. Cenário histórico: a chama da esperança messiânica não apaga entre os
exilados.
O povo israelita fora levado cativo para a Babilônia, pelos exércitos de Nabucodonosor,
em três levas:
em 597 a.C.;
em 587 a.C.;
em 592 a.C.
A Bíblia registra que dois profetas estavam entre os exilados, na Babilônia: Ezequiel e
um outro anônimo que nos deixou os capítulos 40-55, incluídos no livro de Isaías. Foi
em meio ao desespero e sofrimento do povo que Ezequiel fez este pronunciamento:
Suscitarei para eles um pastor que os apascentará, a saber, o meu servo Davi:
Ele os apascentará ,
Ele lhes servirá de pastor.(Ez 34,23-31).
Cenário histórico
Por volta do ano 520 anos antes do nascimento de Jesus, o profeta Zacarias foi um
daqueles que levou a bandeira da esperança e da fé na vinda de um líder que pudesse
trazer justiça e paz para o povo, agora, abatido, dividido e desorganizado diante da
possibilidade de retornar à terra de Judá. Como um dos componentes de um dos grupos
que decidiu retornar do exílio para a terra, Zacarias anunciou alto e bom som a
esperança da chegado do messias salvador.
Zacarias inicia a sua pregação apelando para o povo abatido, diante das ruínas da cidade
e do Templo de Jerusalém, pelos sucessivos reveses políticos: Exulta! Grita de alegria!
(9,9). Como os outros profetas, anteriores a ele, sua pregação parecia não ter lógica. Ele
anunciava a vinda de um rei humilde, negando trazer os artefatos necessários para uma
guerra de conquista. O seu plano de governo é a justiça que restaura a vida dos humildes
e a sua palavra de ordem é o anúncio da paz às nações. Provavelmente, a maioria dos
ouvintes não entendeu este pronunciamento de Zacarias, pois o messias anunciado aqui
é tão singular e diferente de todos os reis existentes, mesmo Davi e Josias que possuíam
poder e exército. O perfil do rei-messias, aqui apresentado, aprofunda a idéia de um
governante esvaziado de toda pompa, poder e arma de morte. Mas essa idéia não é
novidade na pregação messiânica: Miquéias, no fim do século VIII a.C., afirmou que o
projeto do rei-messias era converter as espadas em relhas de arado e lanças em
podadeiras (4,3); Isaías também anunciou que o rei-messias iria julgar os pobres com
justiça (11,4).
Sexta parte
A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento, com
José, antes que coabitassem achou-se grávida pelo Espírito Santo. José, seu esposo,
sendo justo e não querendo difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Enquanto assim
decidia, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho, dizendo: “José, filho
de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do
Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele
salvará o seu povo dos seus pecados”. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que
o Senhor havia dito pelo profeta:
A teologia bíblica mostra, inicialmente, o Deus-Criador. Ele faz tudo bom, mas a
reportagem de Gênesis 3 mostra que Ele ficou frustrado com a desobediência humana.
A partir desse episódio, Deus procura resgatar o mundo bom da criação. Muitas
tentativas foram feitas: lavar o mundo de toda maldade (Gn 6,5-8,22) para estabelecer
uma nova ordem do mundo (Gn 9,1-17); organizar o mundo em família, dando ao justo
Abraão essa missão (Gn 12,1-50,26); libertar, organizar o povo como nação e dar-lhe
uma terra para morar, plantar e criar suas famílias. O principal ingrediente desse povo,
que o alimentava e sustentava em todos os seus empreendimentos, era a esperança da
presença do Deus-Criador-Salvador entre ele. A proclamação de uma figura, ungida por
Deus, não era novidade. O que foi difícil de aceitar foi a descrição do perfil desse
messias-ungido. Essa característica foi sempre mantida através dos séculos na pregação
dos profetas. O evangelista Mateus resgata a memória da pregação de Isaías (Is 7,14;
8,10).
Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram
magos do Oriente a Jerusalém, perguntando:”Onde está o rei dos judeus recém-nascido?
(...) Ouvindo isso, rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. E, convocando
todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia
de nascer o Cristo. Eles responderam: “Em Belém da Judéia, pois é isto que foi escrito
pelo profeta:
É muito claro que o Evangelho segundo Lucas forma com o livro Atos dos Apóstolos
uma só obra. A intenção básica de Lucas é destacar o significado dos testemunhos dos
primeiros seguidores de Jesus. Isso quer dizer que o relato do nascimento de Jesus está
na base da história da salvação (Lc 2,8-20).
Lucas, o autor dessa obra histórica, não perdeu o contato com a remota tradição bíblica:
primeiro, a origem do messias está entre os pastores de ovelhas (verso 8). Em segundo
lugar, o medo é uma realidade concreta nos dias do nascimento de Jesus. Finalmente,
essa reportagem tem muita relação com o texto de Isaías 7,1-17: a constatação do medo
(verso 10); o nascimento de Jesus é o sinal esperado por todo o povo crente (verso 12);
a paz na terra é a conseqüência após o nascimento de Jesus (verso 14).
Na mesma região havia pastores que estavam nos campos (...). O anjo do Senhor
apareceu-lhes e a glória envolveu-os de luz (...). O anjo, porém, disse-lhes: “Não
temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos
hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal:
encontrareis um recém nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura”. E de
repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar a Deus dizendo:
“Glória a Deus no mais alto dos céus
E paz na terra aos homens que ele ama”!
(...) (Lc 2,8-20).
A descrição de Lucas é muito sugestiva, pois ela resgata a figura dos pastores, da luz
que irrompe nas trevas da noite, da humildade, do medo e da alegria. O outro detalhe é a
reafirmação que o alvo da vinda do Messias é a paz no mundo, particularmente, entre os
seres humanos.