Você está na página 1de 221

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/280236311

Física 1.1 - Manual de apoio a aulas teóricas

Research · July 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.1893.1041

CITATIONS READS

0 299

1 author:

Maria Rosa Alves Duque


Universidade de Évora
58 PUBLICATIONS 31 CITATIONS

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Elaboração de materiais para ensino na área da Física e Geofísica View project

Problemas associados a utilização intensiva de energia View project

All content following this page was uploaded by Maria Rosa Alves Duque on 21 July 2015.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


UNIVERSIDADE DE ÉVORA

FÍSICA 1.1

Manual de apoio às aulas


teóricas
por

Maria Rosa Duque

Setembro de 2011
INDICE

Cap 1. Física e medição


1.1 Introdução 1
1.2 Medições 1
2
1.2.1 Sistema Internacional de Unidades 2
1.2.1.1 Massa 2
1.2.1.2 Tempo 3
1.2.1.3 Comprimento 4
1.3 Análise dimensional 5
1.4 Notação científica 5
1.5 Algarismos significativos 7
1.6 Ordens de grandeza

Cap 2. Vectores 8
2.1 Vectores e escalares 8
2.1 Algumas propriedades dos vectores 8
2.2.1 Igualdade de dois vectores 8
2.2.2 Adição geométrica de vectores 9
2.2.2.1Propriedade comutativa 9
2.2.2.2 Propriedade associativa 10
2.2.3 Subtracção de vectores 10
2.2.4 Multiplicação de um vector por um escalar 10
2.3 Vectores unitários e componentes de um vector 12
2.3.1 Vectores unitários ou versores 13
2.4 Operações com vectores, utilizando coordenadas cartesianas 13
2.4.1 Soma e subtracção de vectores 14
2.4.2 Multiplicação de vectores 14
2.4.2.1 Produto interno ou produto escalar 16
2.4.2.2 Produto externo ou produto vectorial 16
2.4.2.2.1 Algumas propriedades do produto externo ou vectorial

Cap 3. Movimento rectilíneo a uma dimensão 18


3.1 Introdução 18
3.2 Posição e deslocamento 18
3.3 Velocidade média e velocidade instantânea 22
3.4 Aceleração 24
3.5 Movimento, a uma dimensão, com aceleração constante 28
3.6 Corpos em queda livre 29

ii
3.7 Outro modo de obter as equações do movimento, com aceleração constante

Cap 4. Movimento a duas e a três dimensões 32


4.1 Introdução 32
4.2 Vectores posição e deslocamento 34
4.3 Velocidade média e velocidade instantânea 36
4.4 Aceleração média e aceleração instantânea 38
4.5 Movimento de projécteis 41
4.6 Movimento circular uniforme 43
4.7 Aceleração radial e tangencial, no movimento curvilíneo 44
4.8 Velocidade relativa e aceleração relativa

Cap 5. Leis de Newton do movimento 48


5.1 Introdução 48
5.2 O conceito de força 49
5.3 O conceito de massa 49
5.4 Primeira lei de Newton 50
5.4.1 Referenciais inerciais 50
5.5 Segunda lei de Newton 52
5.6 Terceira lei de Newton 53
5.7 Algumas aplicações das leis de Newton 58
5.8 Atrito 62
5.9 Novas aplicações das leis de Newton 65
5.10 Movimento circular não uniforme

Cap 6. Trabalho e energia 68


6.1 Introdução 68
6.2 Trabalho 69
6.3 Trabalho e energia cinética 69
6.3.1 Trabalho realizado por uma força constante 71
6.3.2 Teorema trabalho – energia cinética 73
6.3.3 Trabalho realizado pela força gravítica 75
6.3.4 Trabalho realizado pela força de uma mola 75
6.3.4.1 Força da mola 76
6.3.4.2 Trabalho realizado 78
6.3.5 Trabalho realizado por uma força variável 79
6.3.5.1 Análise a três dimensões 80
6.3.6 Teorema trabalho – energia cinética, para uma força variável 81
6.4 Potência 82
6.5 Energia potencial 82
6.5.1 Trabalho e energia potencial 83
6.5.2 Forças conservativas e não conservativas 83
6.5.3 Determinação de variações de energia potencial 84
6.5.3.1 Energia potencial gravítica 84
6.5.3.2 Energia potencial elástica 85

iii
6.6 Conservação de energia mecânica 87
6.7 Forças não conservativas e teorema trabalho – energia 89
6.8 Relação entre forças conservativas e energia potencial 90
6.9 Conservação de energia
Cap 7. Sistemas de partículas e conservação de momento linear 92
7.1 Introdução 92
7.2 Centro de massa 96
7.3 Movimento do centro de massa 98
7.4 Momento linear 98
7.4.1 Momento linear de um sistema de partículas 99
7.4.2 Conservação do momento linear 101
7.5 Colisões 102
7.5.1 Impulso 103
7.5.2 Colisões a uma dimensão 106
7.5.3 Colisões a duas dimensões

Cap 8. Rotações 108


8.1 Introdução 108
8.2 Velocidade angular e aceleração angular 110
8.3 Cinemática de rotação. Movimento com aceleração angular constante 111
8.4 Variáveis angulares e variáveis tangenciais 113
8.5 Energia cinética de rotação 115
8.6 Momento de inércia 118
8.6.1 Teorema dos eixos paralelos 118
8.7 Momento de uma força (Torque) em relação a um eixo de rotação
8.8 Relação entre momento de uma força em relação a um eixo (Torque) e 121
aceleração angular 123
8.9 Trabalho e energia no movimento de rotação 124
8.9.1 teorema trabalho – energia, no movimento de rotação 125
8.10 Rolamento 129
8.11 Novamente o momento de uma força (torque) em relação a um ponto 129
8.12 Momento angular de uma partícula 131
8.12.1 Momento angular de um sistema de partículas 133
8.13 Rotação de um corpo rígido em torno de um eixo fixo 134
8.14 Conservação do momento angular

Cap 9. Equilíbrio 138


9.1 Introdução 138
9.2 Condições de equilíbrio 140
9.3 Centro de gravidade 141
9.4 Alguns exemplos de equilíbrio estático 145
9.5 Estabilidade do equilíbrio

Cap 10. Lei da atracção universal. Gravidade 147


10.1 Introdução 147

iv
10.2 Lei da gravitação universal, de Newton 149
10.3 Peso e força gravitacional 149
10.3.1 Factores que alteram o valor de g 149
10.3.1.1 Altitude 150
10.3.1.2 A Terra não é uniforme 150
10.3.1.3 A Terra não é uma esfera 151
10.3.1.4 A Terra roda 151
10.4 Movimento de planetas e satélites. Leis de Kepler 155
10.5 Energia potencial gravitacional
10.6 Algumas considerações sobre energia, no movimento de planetas e 155
satélites 157
10.6.1 Velocidade de escape 159
10.7 Campo gravitacional

Cap 11. Temperatura. Calor. Processos de transferência de


energia térmica 161
11.1 Introdução 161
11.2 Temperatura e equilíbrio térmico 161
11.3 Escalas de temperatura. Termómetros 165
11.4 Dilatação térmica 167
11.5 Capacidade térmica. Capacidade térmica mássica 169
11.6 Mudanças de estado 172
11.7 Processos de transferência de energia térmica 172
11.7.1 Condução 176
11.7.2 Convecção 177
11.7.3 Radiação

Cap 12. Gases ideais 181


12.1 Pressão 182
12.2 Lei dos gases ideais 185
12.3 Misturas de gases. Pressões parciais 186
12.4 Teoria cinética dos gases 186
12.4.1 Cálculo da pressão exercida por um gás 188
12.4.2 Interpretação molecular da temperatura 190
12.5 A equação de estado de van der waals

Cap 13. 1ª Lei da termodinâmica 192


13.1 Calor e trabalho em processos termodinâmicos 192
13.1.1 Trabalho realizado 194
13.1.2 Calor transferido 195
13.2 1ª Lei da termodinâmica 197
13.3 Algumas aplicações da 1ª lei da termodinâmica 199
13.4 Capacidades térmicas dos gases 202
13.5 Processo adiabático, para um gás ideal

v
Cap 14. 2ª Lei da termodinâmica 205
14.1 Introdução 205
14.2 2ª lei da termodinâmica 207
14.3 Máquinas térmicas 209
14.4 Máquina de Carnot 210
14.5 Ciclo de Otto 211
14.6 O ciclo de Stirling
14.7 Frigoríficos e bombas de calor 214

Alguma bibliografia

vi
O Manual, que aqui se apresenta, faz parte do grupo de elementos de estudo elaborados
para a Unidade Curricular de Física 1.1, leccionada ao 1º ano dos cursos de licenciatura
em Bioquímica e Biotecnologia, da Universidade de Évora.
Apesar de a Física não ser disciplina fundamental nos cursos que irão trabalhar com este
Manual, os seus conceitos e princípios irão ser utilizados em muitos dos problemas e
aplicações que estes estudantes terão que resolver e fazer.
O Manual, constituído por catorze capítulos cobrindo áreas da Mecânica e
Termodinâmica, apresenta a parte teórica do curso. Para complementar o estudo feito
através do Manual, foi feito o “Caderno de Exercícios” constituído por catorze séries de
problemas, com numeração idêntica à do capítulo a que correspondem. No final do
caderno foram colocados os resultados dos problemas das diferentes séries. O conjunto
de elementos de estudo inclui ainda o “Caderno de Laboratório” onde foram colocadas
as instruções dos trabalhos que os alunos irão realizar nas aulas laboratoriais. No
caderno foram também inseridos apontamentos sobre erros e medições, e normas a ter
em conta na realização de gráficos de escala linear.
Os manuais que figuram na bibliografia apresentada, já têm, todos eles, várias edições,
sendo os originais escritos em inglês. Todos eles têm traduções, feitas por editoras
brasileiras, que não correspondem às últimas edições dos livros. A escolha destes
manuais deve-se ao facto de explicarem a matéria de forma clara, e de não existirem no
mercado manuais mais recentes. Existem na biblioteca do Colégio Luís A. Verney
alguns exemplares dos livros mencionados.

Universidade de Évora, 21 de Setembro de 2011

Maria Rosa Alves Duque

vii
Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1

Cap 1. Física e medição

1.1 .Introdução

A Física é a ciência que estuda os fenómenos naturais que ocorrem no nosso universo.
Podemos considerar a Física como a ciência mais fundamental pois, as suas leis e
princípios, fornecem o fundamento de outros campos científicos. A Física é uma ciência
baseada em observações experimentais e medições quantitativas.
Actualmente, podemos dividir a Física em Física Clássica e Física Moderna.. A Física
Clássica, descoberta antes de 1900, inclui teorias, conceitos, leis e experiências que se
podem agrupar em três campos ou três disciplinas: mecânica clássica, termodinâmica e
electromagnetismo.
Apesar de Galileu Galilei (1564-1642) ter contribuído, de uma maneira significativa,
para o desenvolvimento da mecânica clássica, com o seu trabalho sobre as leis do
movimento com aceleração constante, a contribuição mais importante foi dada por Isaac
Newton (1642-1727), que fez da mecânica clássica uma teoria sistematizada, sendo um
dos inventores do calculo infinitesimal e tendo-o utilizado como ferramenta matemática.
A termodinâmica, a electricidade e o magnetismo, só se desenvolveram na segunda
parte do século XIX, principalmente devido à dificuldade em realizar experiências
nesses campos. Apesar de terem sido estudados vários fenómenos eléctricos e
magnéticos, mais cedo, foi o trabalho realizado por James Clerk Maxwell (1831-1879),
que deu origem a uma teoria unificada, para o electromagnetismo. O sucesso da Física
Clássica, levou muitos cientistas a acreditar que a descrição física do universo estava
completa.
A Física Moderna começou no final do século XIX e início do século XX. Ela
desenvolveu-se, principalmente, por se ter descoberto que a Física Clássica não
explicava muitos fenómenos físicos. De entre eles, salientamos, a descoberta dos raios
X, por Roentgen (1895) e da radioactividade nuclear, por Becquerel (1896). As teorias
da relatividade, propostas por Albert Einstein, no início do século XX, vieram
contradizer as ideias existentes de espaço, tempo e energia. Entre outras coisas, a teoria
de Einstein corrigiu as leis de Newton do movimento, para descrever o movimento de
objectos, movendo-se a velocidades comparáveis à velocidade da luz. A teoria da
relatividade considera que nenhum objecto ou sinal se pode mover a velocidades
superiores à velocidade da luz, e mostrou a equivalência entre massa e energia. A
mecânica quântica, formulada por vários cientistas, no início do século XX, permite
uma descrição dos fenómenos físicos, ao nível atómico.
A Física Clássica descreve, correctamente e com precisão, o comportamento do mundo
físico, excepto para o interior do átomos ou para movimentos próximos da velocidade
da luz. É a Física Clássica que devemos conhecer, para perceber o mundo macroscópico
em que vivemos. A Física Moderna é construída com base em conceitos da Física
Clássica.
No nosso estudo, iremos apenas trabalhar com conceitos e fenómenos explicados com
base na física Clássica.

1.2 Medições

A Física é baseada em medições. A medição de qualquer grandeza envolve a


comparação com algum valor, definido como valor unitário ou standard, da grandeza.
Por exemplo, para medir a distância entre dois pontos, precisamos de uma unidade
standard, como o metro. Quando dizemos que uma distância mede 25 metros, isso
Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1

significa que ela é 25 vezes o comprimento da unidade metro, ou que um metro


Standard cabe 25 vezes nessa distância. È importante apresentar a unidade metro a
seguir ao valor medido, pois existem outras unidades em uso para a distância, como ,
por exemplo , o quilómetro.

1.2.1 Sistema Internacional de Unidades

Apesar de existirem muitas grandezas físicas, existe um pequeno número de unidades


fundamentais, ou unidades standard, para expressar essas grandezas. Muitas das
grandezas que vamos estudar, tais como velocidade, força, trabalho, energia e potência,
podem exprimir-se em função de três unidades fundamentais: comprimento, tempo e
massa. A escolha das unidades standard para estas unidades fundamentais, determina
um sistema de unidades. O sistema utilizado actualmente, denomina-se Sistema
Internacional de Unidades ou Sistem SI. Neste sistema, as unidades de massa,
comprimento e tempo, são respectivamente, o quilograma, o metro e o segundo. Outras
unidades standard aprovadas são o Kelvin para a temperatura, o ampère para a
intensidade da corrente eléctrica, a candela para a intensidade luminosa e a mole para a
quantidade de uma substância. Esta sete unidades fundamentais, são as unidades básicas
do sistema SI. No estudo da mecânica, trabalharemos apenas com as unidades de massa,
comprimento e tempo.

1.2.1.1. Massa

A unidade SI de massa, o quilograma, é definida como a massa de um cilindro formado


por uma liga metálica de platina e irídio, mantido no Bureau Internacional de Pesos e
Medidas, em Sèvres, França. Foram feitas cópias precisas deste cilindro, e enviadas para
outros laboratórios, em outros países, para serem utilizadas como unidades standard. A
massa de outros corpo, pode ser determinada por comparação com a massa destes
cilindros.
As massas dos átomos podem ser comparadas, entre elas, de um modo mais preciso do
que quando comparadas com o quilograma standard. Por esta razão, existe actualmente
uma segunda massa standard. Esta massa
é a do átomo de carbono-12 que, por Massa ( kg)
acordo internacional, tem sido utilizada Via Láctea 7 X 1041
como a massa de 12 unidades de massa Sol 2 X 1030
atómica (u) .A relação entre a unidade de Terra 6 X 1024
massa atómica e o quilograma é Lua 7 X 1022
Rã 1 X 10-1
1 u = 1,6605402 X 10-27 kg Mosquito 1 X 10-5
Protão 2 X 10-27
Na Tabela 1.1 apresentam-se as massas de Electrão 9 X 10-31
vários corpos, que, como veremos em 1.4,
apresentam diferentes ordens de grandeza Tabela 1.1 Massas de vários corpos

1.2.1.2. Tempo

Qualquer fenómeno que se repete, ao longo de intervalos de tempo iguais, pode ser
utilizado como unidade standard para o tempo. Em 1960, a unidade standard para o
tempo foi definida em função do dia solar médio, no ano de 1900. Sabe-se, agora, que
esta não é uma unidade boa, pois a rotação da Terra varia ao longo do tempo. Em 1967,
Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1

o segundo foi redefinido, utilizando um relógio atómico. Neste aparelho, as frequências


associadas com algumas transições atómicas (que são muito estáveis e insensíveis ao
local onde se encontra o relógio) podem ser medidas com uma precisão de uma parte
em 1012. Assim, em 1967, o segundo foi definido como sendo o tempo requerido por
um átomo de Césio-133 para oscilar 9 192 631 770 vezes.
Na Tabela 1.2 são apresentados valores aproximados, para alguns intervalos de tempo.

Intervalo (s)
Idade do Universo 5 X 1017
Idade da Terra 1,3 X 1017
Idade da pirâmide de Kéops 1 X 1011
Um ano 3,2 X 107
Um dia 8,6 X 104
Período de ondas sonoras audíveis 1 X 10-3
Período de ondas de luz visível 2 X 10-15

Tabela 1.2 Valores aproximados para alguns intervalos de tempo

1.2.1.3 Comprimento

Em 1792, quando foi estabelecido, pela primeira vez, um sistema métrico em França, o
metro foi definido como sendo 10-7 vezes a distância que vai do Equador até ao Pólo
Norte, ao longo do meridiano que passa por Paris. Mais tarde, por razões práticas, esta
definição foi abandonada, e o metro passou a ser definido como a distância entre duas
linhas finas, marcadas perto das extremidades de uma barra de platina-irídio. Este
metro standard foi mantido no Bureau Internacional de Pesos e Medidas, perto de Paris.
Cópias precisas, desta barra, foram enviadas para outros laboratórios espalhados pelo
mundo. Estes metros Standard secundários foram , por sua vez, utilizados para fabricar
outros metros.
A ciência e tecnologia modernas, exigiram um metro mais preciso. Em 1960, foi
estabelecido um novo metro standard, definido como 1 650 763,73 vezes o
comprimento de onda da luz laranja-vermelha, emitida por uma lâmpada de crípton –
86. Em 1983, contudo, devido a necessidades de maior precisão, o metro foi redefinido
como sendo a distância percorrida pela luz num dado intervalo de tempo. O intervalo de
tempo escolhido foi 1/299 792 458s . O intervalo de tempo foi escolhido de modo que a
velocidade da luz no vácuo é exactamente c = 299 792 458 m/s. Na tabela 1.3,
apresentam-se os comprimentos de algumas grandezas conhecidas. Também aqui, os
comprimentos apresentados possuem ordens de grandeza diferentes.

Comprimento (m)
Distância da Terra à galáxia mais próxima 2 X 1022
Distância do Sol à estrela mais próxima 4 X 1016
Um ano-luz 9,46 X 1015
Distância média da Terra à Lua 3,8 X 108
Distância do Equador ao Pólo Norte 1 X 107
Raio médio da Terra 6,4 X 106
Comprimento de um campo de futebol 9,1 X 101
Raio do átomo de Hidrogénio 5 X 10-11
Raio de um protão 1 X 10-15
Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1

Tabela 1.3. Valores aproximados, de alguns comprimentos

1.3. Análise dimensional

Uma distância pode ser medida em pés, metros ou quilómetros. Estas diferentes
unidades servem para medir uma distância. Dizemos que a sua dimensão é
comprimento.
Os símbolos que utilizamos para as dimensões comprimento, massa e tempo, são,
respectivamente, L, M e T. Por vezes, utilizam-se parêntesis rectos, para indicar que
estamos a trabalhar com dimensões de uma grandeza física. Por exemplo, a área de uma
superfície rectangular obtém-se multiplicando um comprimento por uma largura. O
comprimento e a largura são ambos distâncias. Assim as dimensões da área serão
[ A ]= L x L = L2.
A ideia de dimensão pode-se estender a outras grandezas não geométricas. As
dimensões de velocidade, por exemplo, são comprimento a dividir por tempo [ v ] =
L/T.
As dimensões de outras grandezas, tais como, força e energia, são escritas em termos
das unidades fundamentais ( comprimento, tempo e massa). Na tabela 1.4 apresentamos
as dimensões de algumas grandezas,
com que iremos trabalhar. Grandeza Símbolo Dimensão
Vamos pensar que temos que deduzir Área A L2
ou testar uma fórmula. Apesar de Volume V L3
termos esquecido os detalhes da Velocidade V L/T
dedução, existe um procedimento útil Aceleração a L/T2
e poderoso, chamado análise Força F M L/T2
dimensional, que pode ser utilizado Energia E M L2/T2
para obter a fórmula pretendida ( ver Potência P M L2/ T3
exemplo 1.1) ou para testar o
resultado.
Tabela 1.4 Dimensões de algumas grandezas
A análise dimensional trata as
dimensões como quantidades
algébricas. Por exemplo, se quisermos somar ou subtrair várias grandezas, elas terão
que ter as mesmas dimensões. Não se pode somar uma velocidade com um
comprimento.
Vamos, agora, ver como se pode testar um dado resultado, utilizando a análise
dimensional. Suponhamos que dizíamos que a área do círculo é A = 2 π r . Podemos
ver, facilmente, que a expressão não está correcta, pois 2 π r tem dimensões de
comprimento [ L] , e a área tem dimensões de quadrado do comprimento [ L2 ].
Suponhamos, agora, que queremos obter uma expressão para o calculo do espaço
percorrido por um carro, que se move com aceleração constante. Sabemos que essa
1
equação é x = a t 2 . Vamos testar esta igualdade utilizando análise dimensional. As
2
dimensões têm que ser iguais , nos dois lados da igualdade. A dimensão no lado
esquerdo da igualdade, é comprimento. A dimensão no lado direito também tem que ser
comprimento, para a igualdade estar correcta. Vamos substituir a aceleração e o tempo,
L
pelas suas dimensões. Teremos, então L = 2 T 2 = L . As dimensões de tempo
T
cancelam-se, ficando apenas a dimensão comprimento.
Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1

Exemplo 1.1.

Suponha que lhe diziam que a aceleração de uma partícula, movendo-se num círculo de
raio r, com uma velocidade v , constante, é proporcional a uma potência de r, digamos
rn, e a uma potência de v, digamos vm. Determinar as potências de r e de v..

Resolução:
Vamos considerar a = k rn vm sendo K uma constante sem dimensões. Utilizamos
a tabela 1.4, para obter as dimensões de a e de v. Substituindo valores, obteremos
m
L L
2
= Ln   = Ln + m T − m
T T 
Para a equação estar dimencionalmente correcta, teremos que ter n+m = 1 e m = 2.
Então, n = -1, e poderemos escrever
−1 2 v2
a=k r v = k
r

Exercício 1.1:

O quadrado da velocidade de um objecto submetido a uma aceleração uniforme a, é


uma função de a e do deslocamento s, de acordo com a expressão v2 = k am sn , sendo
k uma constante sem dimensões. Mostre, utilizando análise dimensional, que a equação
se verifica somente se m=n=1.

1.4 Notação científica

Para facilitar os cálculos em que se trabalha com valores muito elevados ou muito
pequenos, utiliza-se a notação científica. Nesta notação, o número é escrito como um
número entre 1 e 10 multiplicado por uma potência de 10. Vamos utilizar, como
exemplo, a distância média da Terra ao Sol . Sabemos que esse valor é
aproximadamente 150 000 000 000 m. Em notação científica, este valor escreve-se 1,5
X 1011m. O número 11 é chamado o expoente. Se o valor que estamos a utilizar for
inferior a 1, então o expoente será negativo. Por exemplo, o valor 0,000 000 492 s
escreve-se 4,92 X 10-7 s.
Esta notação é tão utilizada que existem prefixos para designar as diferentes potências
de 10. Na tabela 1.5 podemos ver o nome de alguns destes prefixos e a potência
correspondente. Assim, se tivermos o intervalo de tempo 2,35 X 10-9 s, diremos que
temos 2,35 nanosegundos = 2,35 ns. Todos sabemos que 10-3 m é equivalente a 1
milímetro (1 mm) e 103m é equivalente a 1 quilómetro (1 km). Do mesmo modo, 106
Volt corresponde a um megavolt ( 1 MV).

Potência Prefixo Símbolo Potência Prefixo Símbolo


1012 tera- T 10-1 deci- d
109 giga- G 10-2 centi- c
106 mega- M 10-3 mili- m
103 quilo- K 10-6 micro- µ
102 hecto- H 10-9 nano- n
101 deca- da 10-12 pico- p

Tabela 1.5. Alguns prefixos utilizados para potências de dez


Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1

1.5 Algarismos significativos

Muitos dos números utilizados em ciência, são o resultado de medições, sendo, por isso,
conhecidos com algum grau de incerteza. Essa incerteza depende da qualidade do
dispositivo utilizado para fazer a medição, da perícia do observador, e do número de
medições realizadas.
Suponhamos que, numa experiência laboratorial, necessitávamos de medir a área de
uma placa rectangular, utilizando como instrumento de medida uma régua com o
comprimento de um metro.
Vamos considerar que a precisão com que podemos fazer as medições é ± 0,1 cm.
Suponhamos que medíamos o comprimento da placa e obtínhamos 16,3 cm. Isto
significa que o valor do comprimento medido se situa entre 16,2 e 16,4 cm. Neste caso,
dizemos que o valor medido tem 3 algarismos significativos. Do mesmo modo, se a
largura medida for 4,5 cm, isso significa que o seu valor se situa entre 4,4 e 4,6 cm.
Dizemos, neste caso, que o resultado apresenta 2 algarismos significativos.
O número 0,00103 tem 3 algarismos significativos. Este valor , escrito em notação
científica, será 1,03 X 10-3.
Vamos, agora, supor que queríamos obter a área da placa, multiplicando o comprimento
pela largura. Fazendo a conta, na máquina de calcular, obteremos (16,3
cm)(4,5cm)=73,35 cm2, no entanto este valor não está correcto, pois ele contém 4
algarismos significativos e os valores medidos contêm 3 e 2 algarismos significativos.
Existe uma regra, para nos guiarmos, quando se combinam vários números, numa
multiplicação ou numa divisão. O número de algarismos significativos, no resultado
de uma multiplicação ou divisão, não deve exceder o menor número de algarismos
significativos dos diferentes factores da multiplicação.
Regressando ao nosso exemplo (área da placa ), vemos que os factores da multiplicação
têm 3 e 2 algarismos significativos, respectivamente. Assim, o resultado deve apresentar
apenas 2 algarismos significativos, ou seja, o valor da área deve ser 73 cm2.
Para a adição e a subtracção deve-se considerar o número de casas decimais. Quando se
somam ou se subtraem números, o número de casas decimais do resultado é igual
ao menor número de casas decimais que aparece nas parcelas. Se quisermos somar
123 com 5,35, a resposta será 128, pois o número 123 não possui casas decimais.
Vamos agora, supor que fazemos a operação 1,0001+ 0,0003=1,0004. O resultado
apresenta 4 casa decimais e 5 algarismos significativos, apesar de 0,0003 possuir apenas
1 algarismo significativo. Se fizermos a subtracção 1,005 – 0,987 = 0,018, o resultado
apresenta 3 casas decimais, de acordo com a regra utilizada, mas apenas contém 2
algarismos significativos.

Exemplo 1.2

Suponha que tem uma sala com um comprimento de 12,71 m e uma largura de 3,46 m.
Obtenha a área do soalho da sala.

Resolução:

O valor do comprimento da sala possui 4 algarismos significativos e a largura possui


apenas 3. De acordo com a regra apresentada, a área do soalho da sala ( que se obtém
multiplicando o comprimento pela largura ) deverá ter 3 algarismos significativos.
Fazendo a multiplicação na máquina de calcular obteremos 43,9766 m2. Como o
Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1

resultado deve ter apenas 3 algarismos significativos, ele será 44,0 m2. Note-se que,
para obtermos o resultado final, fizemos um arredondamento, pois 7, o último algarismo
a desprezar, é superior a 5.

Exercício 1.2

Faça os cálculos que se indicam, apresentando o número de algarismos significativos,


correcto.
a) 1,58 X 0,03 ; b) 1,4+2,53 ; c) 2,34 X 102+ 4,93
Solução: a) 0,05 ; b) 3,9 ; c) 2,39 X 102

1.6 Ordens de grandeza

Por vezes, é útil obter uma resposta aproximada de um problema físico, principalmente
se existe pouca informação disponível. Esse resultado pode ser utilizado para se saber se
é necessário obter uma resposta mais precisa. Estas aproximações são baseadas em
algumas hipóteses, que podem ser modificadas se for necessária uma maior precisão.
Ao fazer estes cálculos, trabalhamos com ordens de grandeza, ou seja, trabalhamos
com as potências de dez que estejam mais próximas do valor a utilizar. Por exemplo, a
altura de um pequeno insecto pode ser 8 X 10-4m ≅ 10-3 m. Dizemos que a ordem de
grandeza da altura de um pequeno insecto é 10-3 m. De modo semelhante, a altura da
maioria dos seres humanos adultos, situa-se entre 1,5 e 2 m. Podemos dizer que a ordem
de grandeza da altura de um ser humano adulto é 100 m. Isto não significa que a altura
do ser humano adulto é 1 m. Significa , apenas, que o seu valor está mais próximo de 1
m do que de 10-1= 0,1 m ou de 101= 10 m.
Uma ordem de grandeza não apresenta algarismos significativos.
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2

Cap 2. Vectores

2.1 Vectores e escalares

Ao longo do curso, iremos falar de grandezas que podemos classificar em grandezas


escalares e grandezas vectoriais.
Um escalar é uma grandeza que é completamente especificada por um número, com
unidades adequadas. Por outras palavras, um escalar é caracterizado apenas pela sua
intensidade. São exemplos de grandezas escalares, a temperatura , amassa de um corpo, a
energia, o tempo, etc.
Um vector é uma grandeza que tem que ser especificada pela sua intensidade, direcção e
sentido. São exemplos de grandezas vectoriais, as forças ou o deslocamento de um objecto.
Para descrevermos, por exemplo, a força aplicada
P a um objecto, temos que conhecer a direcção e o
sentido em que a força é aplicada, e também a sua
intensidade.
Vamos pensar numa partícula que se move, de O
para P, ao longo de uma linha recta ( ver figura
O
Fig 2.1.A seta indica a direcção e o 2.1). Representamos o deslocamento pelo vector
r
sentido do vector O seu comprimento O P . O segmento de recta, representa a direcção
indica a intensidade. do deslocamento. A ponta da seta representa o
sentido do deslocamento. O comprimento da seta
representa a intensidade do deslocamento.

2.2 Algumas propriedades dos vectores


2.2.1 Igualdade de dois vectores
r r
Dois vectores A e B dizem-se iguais, se
tiverem a mesma intensidade, a mesma
Y
direcção e o mesmo sentido. Isto significa
r r r r
que A = B se A = B , se o sentido for o
mesmo e se os vectores forem paralelos.
Na figura 2.2 mostram-se vários
vectores, que são iguais, mas que têm
pontos iniciais ( origens) diferentes. Esta
propriedade dos vectores faz com que seja
O X possível efectuar translações de vectores,
sem os afectar
Fig 2.2. Quatro representações do mesmo vector

2.2.2. Adição geométrica de vectores

Quando se faz a soma de dois ou mais vectores, deve-se ter o cuidado de verificar se, todos
eles, são expressos nas mesmas unidades. Por exemplo, não se vai somar um vector força
com um vector velocidade, pois eles representam grandezas físicas completamente
distintas.

8
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2

r
S
r A regra da soma de dois ou mais vectores
B pode mostrar-se graficamente. Para somar o
r r
vector B ao vector A , e obter o vector
r r r
r A + B , começa-se por desenhar o vector A ,
A utilizando uma escala adequada. Em seguida,
r r
Fig 2.3. O vector S é o vector soma desenha-se o vector B , com a sua origem na
r r r
de A com B
ponta da seta de A , e utilizando a mesma
r r r
escala. O vector soma, S = A + B , é o
r r
vector que vai da origem de A , até à ponta da seta de B . Podemos dizer que o vector
r r
soma é a diagonal de um paralelogramo de lados A e B .

2.2.2.3.Propriedade comutativa

A figura 2.4 (b) mostra que na adição vectorial se verifica a propriedade comutativa.
r
Olhando para a construção feita, verificamos que o lado paralelo a A , representa um
r r r
vector igual a A , e o lado paralelo a B representa um vector igual a B , Vemos assim que
r r r r r
A+ B=S = B + A

r
A
r
B
r
S
r
S r
r B
B
r
r A
A
(a) (b)
r r r
Fig 2.4. (a) O vector soma de A com B é o vector S , coincidente com a diagonal do paralelogramo
representado. (b) Este esquema mostra a propriedade comutativa da adição de vectores.

2.2.2.4 Propriedade associativa

Se quisermos somar três ou mais vectores, o resultado final é independente da ordem pela
( ) ( )
r r r r r r
qual os vectores são somados. Isto significa que A + B + C = A + B + C
r r
C C
r r r r r r
S1 = B + C S r r r r
S S
S3 = A + B
( )
r r r r 2 S r 2 3
S2 = A + B + C 1
B r
B
Fig 2.5 Construção geométrica utilizada para verificar a propriedade distributiva da soma de vectores

9
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2

2.2.3. Subtracção de vectores


r
O vector simétrico do vector A , é definido como sendo
r
o vector que, somado a A , origina o vector nulo
( )
r r r
r r (vector cujo módulo é zero) A + − A =0.
A B r r
Os vectores A e - A , têm a mesma intensidade e a
r r mesma direcção, mas têm sentidos opostos.
S4 −B A operação de subtracção de vectores, obtém-se a
partir da definição de vector simétrico. Define-se
r r r
r r r A − B , como sendo a soma de com - B .
S4 = A − B
( )
r r r r
A− B = A+ − B .
Fig 2.6. Subtracção de dois
vectores

2.2.4. Multiplicação de um vector por um escalar


r r
Se um vector A for multiplicado por uma grandeza escalar m, o produto m A , é uma
r
grandeza vectorial com a direcção de A , e intensidade ma. Se m for uma grandeza
r r r
positiva, o sentido de m A é o sentido de A . Se m for negativo, então m A terá sentido
r r r
oposto ao de A . Por exemplo, o vector 2 A , tem o sentido do vector A (pois 2 é positivo),
r r
mas o vector -2 A tem sentido oposto ao do vector A

2.3. Vectores unitários e componentes de um vector

O método geométrico de somar vectores não é recomendado, em situações em que se exige


rigor, ou em problemas a três dimensões.
Vamos, agora, falar de um outro método.
Y Para isso, vamos considerar um sistema
de eixos coordenados fixo. Este é
constituído por um ponto de referência
P fixo O ( ver figura 2.7) , que se denomina
Y1 origem do sistema e eixos, e por eixos
com direcções específicas e escalas
apropriadas e convenientemente
especificadas. No nosso curso, vamos
O X1 X utilizar sistemas de coordenadas
cartesianas ou rectangulares, formados
por dois eixos OX e OY, que são
Fig 2.7. Componentes de um ponto, num sistema
de coordenadas cartesianas
perpendiculares.
Um ponto arbitrário P, num sistema de
eixos deste tipo, é definido por duas coordenadas, X1 e Y1, P(X1, Y1). OX é considerado
positivo para o lado direito da origem. OY é considerado positivo acima da origem.
r
Consideremos, o vector A , no plano XOY, e fazendo um ângulo θ com a parte positiva do
r r r
eixo OX. O vector A pode ser considerado como a soma de dois vectores AX e AY (ver
r r
figura 2.8) que são chamados componentes vectoriais de A . AX representa a projecção

10
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2

r r
de A segundo OX. AY representa a projecção
Y r r
A de A segundo OY. Às intensidades ou módulos
destes vectores vamos chamar componentes
r r
AY escalares ou rectangulares do vector A . As
θ componentes podem ser positivas ou
negativas ( ver figura 2.9)
O r X
AX A partir da figura 2.9 e das definições de seno e
co-seno, podemos dizer que as componentes
r
Fig 2.8. Vector A ,decomposto nas suas escalares ou rectangulares do vector, serão
componentes segundo o eixo OX e OY dadas por

AX= A cos θ e AY= A sen θ (2.1)

Estas componentes constituem os dois catetos de um triângulo rectângulo, de hipotenusa


r
A. A intensidade, ou módulo de A é dada por
r
A = A = AX2 + AY2 (2.2)

Podemos, ainda, calcular o ângulo θ pois

AY AY
tg θ = ; θ = arc tg (2.3)
AX AX

O conhecimento deste ângulo é muito importante, pois é ele que vai determinar o sinal das
componentes AX e AY. Por exemplo, se θ = 120º, então AX será negativo e AY será
positivo; se θ = 225º, então, AX e AY serão ambas negativas.

Y
II I
AX negativo AX positivo
AY positivo AY positivo

O X
III IV
AX negativo AX positivo
AY negativo AY negativo

Fig 2.9. Sistema de eixos coordenados e sinais das componentes escalares ou cartesianas
de um vector

Exemplo 2.1:

Um vector tem uma componente, segundo o eixo OX, igual a -10, e uma componente,
segundo OY, igual a +3
a) Trace o vector, num sistema de eixos XOY
11
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2

b) Calcule o módulo e a direcção do vector

Resolução:
a) Se o vector tem a componente segundo OX negativa e a componente segundo OY
positiva, ele encontra-se no segundo quadrante ( ver figura 2.9)

Y
3

-10 -5
X

b) Para calcularmos o módulo do vector, vamos utilizar a expressão (2.2). Vamos chamar
r
ao vector A
r
A = A= (− 10)2 + (3)2 = 109 = 10,4 unidades

Para calcularmos o ângulo que o vector forma com OX, vamos utilizar as expressões (2.3).

= − 0,3 θ = arctg (− 0,3) = 106,7 º


3
tg θ =
− 10
O vector está no segundo quadrante, e forma um ângulo de 106,7 º, com o eixo OX.

2.3.1. Vectores unitários ou versores

Os vectores são, geralmente, expressos em termos de


vectores unitários ou versores. Estes vectores não
Y têm dimensões, a sua intensidade (módulo) vale 1, e
são utilizados para definir uma dada direcção. Os
versores não têm outro significado físico. Eles servem,
apenas, para definir uma dada direcção no espaço.
j
Podemos utilizar os
i vectores unitários
O X r r r
i , j e k , para os
Fig 2.10. Sistema de eixos versores nas r
coordenado e respectivos versores r A
direcções OX, OY e AY j
OZ,
respectivamente. Por vezes, em vez destes vectores, são r
r r r A i
utilizados os versores e1 , e2 e e3 .. Estes vectores são X

mutuamente perpendiculares ( ver figura 2.10). r


Fig 2.11. Um vector A ,
localizado no plano XOY, tem
r
componentes vectoriais, AX i
r
e AY j , sendo AX e AY, com-
12
ponentes escalares ou rectangulares
r
de A
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2

r
Consideremos, então, o vector A , num sistema de eixos coordenados XOY. O produto da
r r
componente AX pelo versor i , é o vector AX i , paralelo a OX e de intensidade AX. Do
r
mesmo modo, o vector AY j é um vector de intensidade AY e paralelo a OY. Então, o
r r r r r r r
vector A , pode ser escrito na forma A = AX i + AY j ou A = AX e1 + AY e2

2.4. Operações com vectores, utilizando coordenadas cartesianas


2.4.1. Soma e subtracção de vectores
r r r
Vamos supor que queremos adicionar um vector B a um vector A O vector B , tem como
r
componentes BX e BY. O vector A tem como componentes AX e AY. Isto significa que
r r r r r r
B = B X i + BY j e A = AXr i + AY j

Vamos definir o vector soma dos dois vectores, como


r r r
S = ( AX + B X ) i + ( AY + BY ) j (2.4)

As componentes do vector soma são: S X = AX + B X e


Y S Y = AY + BY .
A intensidade ou módulo, deste vector, é dada por
r
BY r S = S = S X2 + S Y2 = ( AX + B X ) + ( AY + BY )
2 2
r (2.5)
S B

AY r
r O ângulo que o vector S forma com a parte positiva do
A eixo horizontal (OX) , é
AX BX
Fig 2.12. Construção geomé- SY A + BY
θ = arctg = arctg Y (2.6)
trica mostrando a relação entre
r Sx AX + B X
as componentes do vector S e
as componentes dos vectores
que foram somados
Se estivéssemos a trabalhar num espaço a três dimensões,
teríamos
r r r r r r r r r
A = AX i + AY j + AZ k e B = B X i + BY j + B Z k
r r r r r r
S = A + B = ( AX + B X ) i + ( AY + BY ) j + ( AZ + BZ ) k

r r
Se quisermos subtrair o vector B do vector A , então o vector resultante será
r r r r
A − B = ( AX − B X ) i + ( AY − BY ) j (2.7)
Exemplo 2.2:
r r r r r r
São dados três vectores, a = (4,2m ) i − (1,5m ) j , b = (− 1,6m ) i + (2,9m ) j e c = (− 3,7 m ) j .
r r
Determine o vector soma dos três vectores.

13
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2

Resolução:
O vector soma pode obter-se por dois métodos diferentes. Vamos começar por adicionar as
componentes dos vectores, eixo por eixo. Para o eixo OX teremos
S X = a X + b X + c X = 4,2 m − 1,6 m + 0 = 2,6 m
e para o eixo OY
S Y = aY + bY + cY = − 1,5 m + 2,9 m − 3,7 m = − 2,3m

O vector soma será


r r r r r r
S = a + b + c = (2,6 m ) i − (2,3 m ) j

O outro modo de resolver o problema consiste em obter o módulo do vector soma e o


ângulo que ele faz com a parte positiva do eixo OX. Utilizando (2.5), podemos obter o
módulo do vector soma
r
S = S = (2,6 m ) + (− 2,3 m ) ≅ 3,5m
2 2

Para obtermos o ângulo que o vector soma faz com o eixo OX, vamos utilizar a expressão
(2.6)
 − 2,3 m 
θ = arctg   = − 41 º = 319º
 2,6 m 
O sinal – que aqui aparece significa que o ângulo é medido no sentido de rotação dos
ponteiros do relógio.

2.4.2. Multiplicação de vectores

Existem dois tipos de multiplicação de vectores, por vectores: o resultado de um deles é


um escalar e por isso a operação chama-se produto interno ou produto escalar, e o outro
origina uma grandeza vectorial e chama-se produto externo ou produto vectorial.

2.4.2.1.Produto interno ou produto escalar


r r
Define-se produto interno ou produto escalar entre dois vectores A e B como sendo
r r r r
A • B = A B cos θ (2.8)
O produto interno, ou produto escalar, de dois vectores, é uma grandeza escalar, igual ao
produto das intensidades dos dois vectores vezes o co-seno do ângulo formado pelas
direcções dos dois vectores. Na realidade, os dois vectores definem dois ângulos: o ângulo
θ e 360º-θ. Podemos utilizar qualquer um pois o seu co-seno é igual.
O produto interno pode ser visto como o produto de duas quantidades: a intensidade de um
dos vectores e a componente escalar do segundo vector, segundo a direcção do primeiro
r r
vector. Vamos supor que queremos fazer o produto interno de A com B . Ele será igual a
r r
AB cos θ . Mas , B cos θ representa a projecção de B segundo a direcção de A .
Esta operação, entre vectores, goza da propriedade comutativa, ou seja
r r r r
A• B = B • A (2.9)

O produto interno obedece, ainda, à propriedade distributiva da multiplicação, ou seja

14
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2

( )
r r r r r r r
A• B + C = A• B + A•C (2.10)

Atendendo à definição de produto interno de dois vectores (2.8) vemos que:


r r r r
Se A for paralelo a B , θ = 0º , cos θ = 1, e A • B = A B
r r r r
Se A for perpendicular a B , θ = 90º, cos θ = 0, e A • B = 0
r r r r
Se A e B forem paralelos, de sentidos opostos, θ = 180º, cos θ = -1, e A • B = − A B
*
* *

Consideremos, agora, os vectores escritos em termos de componentes de um sistema de


eixos coordenadas.
r r
Os eixos são definidos pelos versores i e j , que são vectores unitários, e,
perpendiculares. Atendendo à definição de produto interno, teremos.
r r r r
i • i = j • j =1
r r r r
i • j = j •i =0
Consideremos, agora, dois vectores, escritos em termos das suas componentes
r r r r r r
A = AX i + AY j e B = B X i + BY j
então

A • B = AX B X (i • i ) + AX BY (i • j ) + AY B X ( j • i ) + AY BY ( j • j )
r r r r r r r r r r

ou seja
r r
A • B = AX B X + AY BY (2.11)
r r
No caso especial, em que A = B ,teremos
r r
A • A = AX2 + AY2 = A 2

O produto interno de um vector por ele próprio, é numericamente igual ao quadrado da


intensidade do vector

Exemplo 2.3:
r r r r r r
Considere os vectores A = 2 i + 3 j e B = − i + 2 j
r r
a) Determine A • B
r r
b) Calcule o ângulo formado pelos vectores A e B

Resolução:
r r
a) A • B = AX B X + AY BY = [2 X (− 1)] + (3 X 2 ) = − 2 + 6 = 4
r r r r
b) Sabemos que A • B = A B cos θ

15
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2

r r
A = AX2 + AY2 = 4 + 9 = 13 ; B = B X2 + BY2 = 1 + 4 = 5

r r
A•B 4 4 4
cos θ = r r = = ; θ = arc cos = 60,3 º
A B 13 5 65 65

2.4.2.2. Produto externo ou produto vectorial


r r
Dados dois vectores A e B , define-se produto externo ou produto vectorial,
r r r r r
A ∧ B = A X B , como sendo uma grandeza vectorial, C , cuja intensidade é dada por
r r r r r
C = A ∧ B = A B sen θ (2.12)
r r r
A direcção de C é perpendicular ao plano definido pelos dois vectores A e B , e o sentido
r r
é dado pela progressão de um saca-rolhas ou parafuso, quando se roda de A para B .
Uma outra regra, que também se pode utilizar para determinar o sentido do produto
externo de dois vectores, é a regra da mão direita. Esta regra diz que, se colocarmos os
r r
dedos da mão direita na direcção e sentido do vector A , e se rodarmos a mão, de A para
r
B ,seguindo o encurvamento natural dos dedos, o polegar indica-nos o sentido do vector
r
produto externo, C .
*
* *

Se considerarmos os vectores unitários que definem os eixos de um sistema de eixos


coordenados ortogonais ( versores), teremos:
r r r r r r v
i ∧i = j ∧ j =k ∧k = 0
r r r r r
i ∧ j =− j ∧i = k
r r r r r
j ∧k =−k ∧ j = i
r r r r r
i ∧ k = −k ∧ i = j
r r
Se escrevermos os vectores A e B , em função das suas componentes
r r r r r r r r
A = AX i + AY j + AZ k ; B = B X i + BY j + B Z k

r r r
i j k
r r
A ∧ B = AX AY AZ
B X BY BZ

r r r r r
A ∧ B = ( AY B Z − AZ BY ) i + ( AZ B X − AX B Z ) j + ( AX BY − AY B X ) k (2.13)

2.4.2.2.1. Algumas propriedades do produto externo ou vectorial

- Ao contrário do produto interno, o produto externo não é comutativo

16
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2

r r r r
A∧B =−B∧ A
r r
- Se A for paralelo a B , então θ = 0º ou 180º, e sen θ = 0. Então
r r r r r r
A ∧ B = 0 e, portanto A ∧ A = 0 (2.14)
r r
- Se A for perpendicular a B , então θ = 90º, e sen θ = 1
r r r r
A∧B = A B (2.15)

- O produto externo, obedece a propriedade distributiva da multiplicação

( ) ( ) ( )
r r r r r r r
A ∧ B ∧C = A ∧ B + A ∧C (2.16)

Exemplo 2.4:
r r r r r r
Dados os vectores , A = 2 i + 3 j e B = − i + 2 j , calcular:
r r
a) A ∧ B
r r
b) O valor do ângulo entre A e B

Resolução:
r r r r r r
a) A ∧ B = ( AX BY − AY B X ) k = [(2 X 2 ) − (3 X (− 1))]k = (4 + 3) k = 7 k

b) Para calcularmos o valor do ângulo θ utilizamos a definição de módulo do vector


produto externo
r r r r
(
A ∧ B = A B sen θ = 4 + 9 1 + 4 sen θ )( )
7 7
sen θ = = ; θ = 60,3º
( 13 )( 5 ) 65

17
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

Cap 3. Movimento rectilíneo a uma dimensão


3.1. Introdução

Vamos começar o nosso estudo da Mecânica, por descrever o movimento de corpos,


utilizando os conceitos de espaço e tempo, sem olhar para as causas do movimento. Esta
parte da Mecânica é chamada Cinemática.
Neste capítulo, vamos considerar o movimento ao longo de uma linha recta, ou seja, o
movimento a uma dimensão. Vamos considerar que o objecto que se move é uma
partícula (objecto pontual), ou um objecto que se move como uma partícula (objecto
em que todos os pontos se movem na mesma direcção e sentido, e com a mesma
velocidade)

3.2. Posição e deslocamento

Localizar um objecto, significa conhecer a sua posição, relativamente a um ponto de


referência, geralmente a origem de um eixo coordenado. Vamos considerar que o eixo
utilizado é o eixo OX. Se uma partícula estiver na posição X= 5 m, isto significa que ela
está afastada 5 m da origem, para o lado direito ( sentido positivo do eixo). Se a posição
da partícula for X=-5 m, isto significa que a partícula dista 5 m da origem do sistema de
eixos, mas, para o lado esquerdo (sentido negativo do eixo).
Se a partícula se move, da posição X1 para a posição X2, dizemos que ela sofreu um
deslocamento ∆X = X2 – X1 (3.1)

O deslocamento pode ser positivo (para a direita da origem) ou negativo (para a


esquerda da origem). Se considerarmos que X1= 6 m e X2 = 11 m, então, o
deslocamento será ∆X = X2 – X1= 11 m – 6 m= 5 m.
Como o sinal do deslocamento é positivo, a partícula desloca-se para a direita. Vemos
assim que, para caracterizar um deslocamento, necessitamos de indicar o seu módulo
( 5 m, no exemplo apresentado) mas, também, a sua direcção e sentido. Vemos, assim,
que o deslocamento é uma grandeza vectorial.

3.3. Velocidade média e velocidade instantânea

Uma maneira prática de descrever o


X(m)
movimento de uma partícula, durante um
intervalo de tempo ∆t, consiste em fazer um
gráfico, da posição em função do tempo. Na
figura 3.1, mostramos a posição de uma
partícula, desde o instante 0 até ao instante t
= 4 s. Podemos ver que, no instante inicial, a
partícula está na posição X = -5 m, ocupando
a posição X = 0 m, no instante t = 3 s e a
posição X = 2 m, no instante t = 4 s.
Olhando, com mais atenção, para o nosso
gráfico, vemos que foram necessários 3 s ,
para a partícula se deslocar de X = -5m até
X = 0 m, e apenas 1 s para se deslocar do
ponto X = 0 m para X = 2 m. Podemos dizer
Fig 3.1. Gráfico de X(t), para uma partícula que a partícula se deslocou de um modo
em movimento

18
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

mais rápido, na última parte do percurso.


Vamos definir velocidade média da
X (m) partícula v , como o quociente entre o
deslocamento da partícula e o intervalo de
tempo decorrido

∆ X X 2 − X1
v= = (3.2)
∆t t 2 − t1
A unidade em que se exprime a velocidade
média, no sistema SI, é o metro/ segundo.
Num gráfico de X em função de t, a
velocidade média é dada pelo declive da
recta que une os dois pontos da curva X(t),
X (t) no intervalo de tempo considerado.
Tal como para o deslocamento, também
devemos associar à velocidade média um
módulo, uma direcção e um sentido. A
velocidade média tem sempre o sinal do
deslocamento, visto que ∆t é sempre
Fig 3.2. Cálculo da velocidade média entre
t=1 s e t=4 s, como o declive da linha que liga
positivo.
os dois pontos, correspondentes aos dois Se considerarmos o exemplo representado
instantes referidos na figura 3.2, vemos que
∆X 6 m
v= = = 2m / s
∆t 3s

Exemplo 3.1

Suponha que entra numa corrida de 100 m, percorrendo os primeiros 50 m com uma
velocidade média de 10 m/s ,e os últimos 50 m com uma velocidade média de 8 m/s.
Qual será a velocidade média para os 100 m?

Resolução:
Vamos, primeiro, calcular o intervalo de tempo, necessário para percorrer os 100 m.
Para isso, vamos utilizar a definição de velocidade média

∆ X1 ∆ X1 50 m
v1 = ∆ t1 = = = 5 ,0 s
∆ t1 v1 10 m / s

∆ X2 ∆ X2 50 m
v2 = ∆ t2 = = = 6,25s
∆ t2 v2 8m / s
então
∆ t = ∆ t1+ ∆ t2= 11,25 s
e
100 m
v= = 8,89 m / s = 9m / s
11,25 s

19
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

Exercício 3.1

Considere a figura 3.2. Calcule a velocidade média entre t=0s e t= 3 s. Em seguida, faça
um cálculo idêntico, para o intervalo de tempo entre 3 e 4 s. Que conclui? Compare os
resultados que obteve com o valor obtido de 2 m/s

Solução:
A velocidade média depende do intervalo de tempo escolhido.

A velocidade com que a partícula se deslocou, é um parâmetro diferente, utilizado


para caracterizar o movimento. Ela define-se como o quociente entre a distância total
percorrida, e o intervalo de tempo necessário para a percorrer.

distância total ∆ S
v= = ( 3.3 )
∆t ∆t

Como a distância percorrida é sempre positiva, e o intervalo de tempo também, então a


velocidade é sempre positiva.

Atendendo à definição de velocidade média, vimos que ela pode variar, quando se varia
o intervalo de tempo, do cálculo. Vamos, agora, definir a velocidade de uma partícula,
num dado instante, ou num dado ponto do gráfico da posição em função do tempo.
Vamos chamar a este parâmetro velocidade instantânea.

X(m)

t(s)

Fig 3.3. Gráfico de X em função de t. A velocidade média, correspondente aos intervalos de


tempo indicados, é dada pelo declive (da recta a azul) que une os pontos P1 e P2. No limite,
quando o intervalo de tempo tende para zero, o declive da recta tende para o declive da tangente
à curva, no ponto considerado

20
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

Consideremos, então, o movimento de uma partícula entre dois pontos P1 e P2, no


gráfico da posição em função do tempo ( ver figura 3.3). Vamos, agora, pensar que o
ponto P2 se vai aproximar do ponto P1. À medida que isto acontece, os intervalos de
tempo necessários para a partícula ir de P1 para P2, vão-se tornando cada vez menores
(ver figura 3.3). A velocidade média, para cada intervalo de tempo, é dada pelo declive
da recta que une o ponto P1 ao ponto P2. À medida que P2 se aproxima de P1, o
intervalo de tempo tende para zero, e o segmento de recta que une os dois pontos tende
para a tangente à curva, no ponto P1. O declive da linha tangente à curva no ponto P1, é,
por definição, a velocidade instantânea, no instante t1
∆ X
v = lim (3.4)
∆ t→ 0 ∆t

Sabemos, da matemática, que este limite é chamado derivada de X em ordem a t.

dX
v= (3.4a)
dt

Exemplo 3.2

A figura 3.4 mostra um gráfico de X


em função de t, para um objecto em
movimento.
a) Em que instante é que o objecto
possui velocidade positiva, mais
elevada
b) Em que instante é que a velocidade
é zero?
c)Em que instante é que a velocidade é
negativa, possuindo o módulo mais Fig 3.4.gráfico da posição de um objecto, em função do
tempo
elevado?

Resolução:
a) Ao observarmos o gráfico verificamos que, o instante t= 0 s, é aquele em que a
curva x(t) aumenta de um modo mais rápido. O declive da tangente à curva,
neste ponto, é positivo e v é positiva
b) A velocidade é nula em t=2 s. Nesse instante, x apresenta o valor máximo, e a
tangente à curva x(t) é horizontal. X mantém-se constante perto deste ponto e o
declive da tangente à curva é zero
c) Depois de t= 2s, o valor de x diminui. O valor da recta tangente à curva, no
ponto correspondente a t=3 s é negativo e a velocidade é negativa, possuindo o
seu módulo mais elevado

Exemplo 3.3
Considere o movimento de uma partícula, ao longo do eixo OX. A coordenada x varia,
ao longo do tempo, de acordo com a expressão X = - 4 t + 2 t2, sendo X expresso em
metros e t em segundos. O gráfico da posição em função do tempo, é mostrado na figura
3.5.
a) Determine o deslocamento da partícula, no intervalo de tempo que vai de t = 0s
a t = 1 s, e de t = 1 s a t = 3 s.

21
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

b) Calcule a velocidade média, no intervalo de tempo de t = 0s a t = 1 s e de t = 1 s


a t =3 s
c) Calcule a velocidade instantânea da partícula, no instante t = 2,5 s

Resolução:

Olhando para o gráfico de x em


função de t, verificamos que a
partícula começa por se mover no
sentido negativo do eixo OX, pára
instantaneamente em t= 1 s, e volta
para traz no sentido positivo do eixo
OX
a) O deslocamento da partícula,
no intervalo de tempo entre
t=0 e t= 1s, é dado por

∆X01= X( 1 ) – X( 0 ) = [-4(1) +
2 (1)2] – [-4(0) + 2 (0)2] = - 2 m

Para o intervalo de tempo entre 1


e 3 s teremos

∆X13= X( 3 ) – X ( 1 ) = [-4( 3)
+ 2 (3)2] – [-4( 1 ) + 2 (1)2]= 8 m Fig 3.5. Gráfico da posição de uma partícula em
função do tempo. A relação entre os dois parâmetros é
dada por X= -4t + 2 t2. Note-se que o declive das duas
b) Vamos, agora , calcular a rectas a azul não é o mesmo, apresentando sinal
velocidade média oposto

∆ X 01 − 2 m
v01 = = =−2m / s
∆ t 01 1s

∆ X 13 8 m
v13 = = = 4m/ s
∆ t13 2s
c) A velocidade instantânea obtém-se através do declive da tangente à curva x(t),
no ponto correspondente a t=2,5 s. Sabemos que este declive representa a
derivada da função, no ponto considerado

v=
dX
dt
=
d
dt
( )
− 4t + 2t 2 = − 4 + 4t

Para calcularmos a velocidade no instante t=2,5 s, basta substituir este valor de t


na derivada
v (t=2,5s) = -4 + 4 (2,5) = -4 + 10 = 6 m/s

3.4. Aceleração

Tal como o deslocamento, também a velocidade pode variar ao longo do tempo.


Quando isto acontece, dizemos que o corpo ou a partícula estão a ser acelerados.

22
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

Vamos definir aceleração média a , entre os instantes t1 e t2, como o quociente entre a
variação da velocidade e o intervalo de tempo considerado.

∆ v v 2 − v1
a= = (3.5)
∆ t t 2 − t1

A aceleração exprime-se, no sistema SI, em metros por segundo quadrado, m/s2.


Pode acontecer, em algumas situações, que a aceleração média seja diferente, para
diferentes intervalos de tempo. Para esses casos, é útil definir a aceleração instantânea,
como o limite da aceleração média, quando ∆t tende para zero

∆v d v
a = lim = (3.6)
∆ t →0 ∆t d t

Graficamente, a aceleração é o declive da tangente à curva v(t), no instante pretendido.


Se a aceleração for nula, então, isso significa que a velocidade é constante. Neste caso a
curva x(t) é uma linha recta. Se a aceleração for constante, mas diferente de zero, então
a velocidade varia linearmente com o tempo, e na curva x(t) vai-nos aparecer t2.
Se combinarmos a expressão (3.6) com (3.4a), obteremos

d v d (d x / d t ) d 2 x
a= = = 2 (3.7)
dt dt dt
A aceleração é a segunda derivada de X, em ordem a t.
A figura 3.6, mostra-nos um
gráfico de v, em função de t.
Podemos ver que, entre A e
B, os declives das tangentes à
curva são todos positivos e,
portanto, a aceleração é
positiva. Entre B e C, v(t) é
uma recta horizontal, a
tangente à curva coincide
com a curva e o declive é
nulo. Neste intervalo a
aceleração é nula. Entre C e
D, os declives das tangentes Fig 3.6.Gráfico da velocidade em função do tempo, para uma
à curva v(t) são negativos, e, partícula que se move com aceleração variável
portanto, a aceleração é
negativa e a velocidade
diminui

Exemplo 3.4

A velocidade de uma partícula, que se move ao longo do eixo OX, é dada pela
expressão v = ( 40 – 5 t2 ) m/s, sendo t expresso em segundos.
a) Calcule a aceleração média, no intervalo de tempo entre t = 0 e t = 2 s
b) Determine a aceleração, no instante t = 2 s

23
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

Resolução:

a)Antes de utilizarmos a definição de aceleração média, vamos calcular o valor da


velocidade nos instantes inicial e final do intervalo de tempo em estudo

v ( 2 s ) = 40 – 5 (2)2 = 40 – 20 = 20 m/s
v ( 0 s ) = 40 – 5 (0)2 = 40 – 0 = 40 m/s

Utilizando a definição de aceleração média, obteremos:


∆ v v (2 s ) − v (0 s ) (20 m / s ) − (40 m / s )
a= = = = − 10 m / s 2
∆t (2 − 0 ) 2s
A aceleração é negativa, o que significa que, no instante considerado, a velocidade
diminui.

b) Começamos por calcular a aceleração, para qualquer instante t

dv d
a= = ( 40 − 5 t 2 ) = − 10 t
dt dt

Vamos, agora, substituir t por 2 s

a (t = 2 s ) = − 10 ( 2 ) = − 20 m / s 2

Exercício 3.2:

Sabe-se que uma partícula se move, ao longo do eixo OX, sendo a sua posição dada por
X = 4 − 27 t + t 3 , com o X expresso em metros e t em segundos
a) Obtenha uma expressão para a velocidade da partícula, em função do tempo, e
para a aceleração, em função do tempo
b) Existe algum instante em que v = 0 m/s?
c) Descreva o movimento da partícula para t = 0s, para 0<t<3 s, e para t = 3 s

Solução : a) v = -27 + 3 t2; a = 6 t; b) 3 s

3.5. Movimento, a uma dimensão, com aceleração constante

Vamos, agora, estudar um movimento muito comum e simples. Trata-se do movimento


com aceleração constante ou uniforme.
Como a aceleração é constante, a aceleração média é igual à aceleração instantânea.
Consequentemente, a velocidade aumenta ou diminui, do mesmo modo, em todo o
movimento. Assim, podemos escrever
v −v
a= 2 1
t 2 − t1
Para simplificar os nossos cálculos, podemos dizer que t1= 0s e t2 é um instante
arbitrário, t. Consideramos, também, v1= v0 ( velocidade inicial em t= 0 s) e v2= v
(velocidade em qualquer instante t). Utilizando esta notação, podemos escrever
v − v0
a=
t

24
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

ou
v = vo+ a t (para a= constante) (3.8)

Esta expressão, permite-nos calcular


a velocidade, em qualquer instante,
se conhecermos a velocidade inicial e
a aceleração. Na figura 3.7b, mostra-
se um gráfico, da velocidade em
função do tempo, para este
movimento. Podemos ver que no
gráfico está representada um linha
recta, cujo declive é a aceleração e
cuja ordenada na origem é a
velocidade inicial. O gráfico da
aceleração em função do tempo (ver
figura 3.7c), é uma linha recta, com
declive nulo, pois a aceleração é
constante.
Como a velocidade varia linearmente
com o tempo, de acordo com (3.8),
podemos dizer que a velocidade
média, num dado intervalo de tempo,
é a média aritmética da velocidade
inicial com a velocidade final
v +v
v= 0 (para a=constante) (3.9)
2
Utilizando as equações (3.2) e (3.9),
podemos escrever

 v +v 
∆ X = v ∆t =  0 t
 2 
ou

Fig 3.7.(a) Posição da partícula, movendo-se com


aceleração constante. (b) Velocidade da partícula, em X − X0 =
1
(v0 + v )t (para
função do tempo. (c) Aceleração da partícula. Esta 2
aceleração é igual ao declive da recta v(t) a=constante) (3.10)
Se substituirmos a expressão (3.8)
em (3.10), obteremos:

X − X0 =
1
(v0 + v0 + a t )t
2
ou
1
X − X 0 = v0 t + a t 2 (para a=constante) (3.11)
2
Finalmente, podemos obter uma relação entre velocidade, aceleração e espaço
percorrido, sem o parâmetro tempo. Para isso, obtemos o t a partir da equação (3.8), e
introduzimos a expressão obtida em (3.10).

25
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

(v9 + v ) v − v0  v − v0
2 2
1
X − X0 =  =
2  a  2a
ou
v 2 = v02 + 2 a ( X − X 0 ) (para a=constante) (3.12)

Na figura 3.7a, mostra-se um gráfico da posição da partícula em função do tempo,


considerando a aceleração constante e positiva. A curva representada é um ramo de
parábola. O declive da tangente a esta curva, em t = 0 s, será a velocidade inicial, vo. O
declive da tangente à curva, em qualquer instante, representa a velocidade da partícula,
nesse instante.
As equações (3.8), (3.10), (3.11) e (3.12), são as quatro equações cinemáticas, que
podemos utilizar, para resolver qualquer problema, a uma dimensão, em que o
movimento seja acelerado, com aceleração uniforme. Por vezes, é útil considerar a
posição inicial da partícula, na origem do eixo, de modo que X0= 0, em t = 0. Nesse
caso, o deslocamento é, apenas, X. A Tabela 3.1 apresenta as quatro equações obtidas.
A escolha das equações a utilizar, numa dada situação, depende dos parâmetros que são
conhecidos. Por vezes é necessário utilizar mais que uma equação. Por exemplo, pode
ser necessário conhecer a posição e a velocidade da partícula, num dado instante,
sabendo a velocidade inicial e a aceleração. A velocidade pode-se obter utilizando (3.8),
e a posição num dado instante obtém-se utilizando (3.11).

Número da Equação Informação dada pela equação


equação
3.8 v = vo+ a t Velocidade em função do tempo
Deslocamento em função da velocidade e do
X − X 0 = (v0 + v ) t
1
3.10 2 tempo
1
3.11 X − X 0 = v0 t + a t 2 Deslocamento em função do tempo
2
3.12 v = v0 + 2 a ( X − X 0 )
2 2
Velocidade em função do deslocamento

Tabela 3.1. Equações cinemáticas do movimento em linha recta, submetido a aceleração constante.

Exemplo 3.5

Um motociclista, parte do repouso, com uma aceleração de 2,6 m/s2. Depois de percorre
uma distância de 120 m, ele abranda com uma aceleração de – 1,5 m/s2. até a sua
velocidade atingir 12 m/s. Calcule o deslocamento total, do motociclista.

Resolução:

O deslocamento total é a soma do deslocamento enquanto a velocidade esteve a


aumentar ( ∆ X1), com o deslocamento realizado enquanto a velocidade esteve a
diminuir (∆ X2). O deslocamento, na primeira parte do movimento, é 120 m
(∆X1=120m). vamos calcular o deslocamento na segunda parte do movimento. Vamos
utilizar a expressão
v 2 = v02 + 2 a ∆X

26
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

Sabemos que a= - 1,5 m/s2 e que v= 12 m/s. Precisamos de calcular v0. Sabemos que se
trata da velocidade final alcançada pela moto na primeira parte do percurso. Sabemos
que, para essa parte do percurso se tem v0=0 m/s , a= 2,6 m/s2, e ∆X1= 120 m.
Aplicando a expressão indicada, virá

( )
v 2 = 2 2,6 m / s 2 (120 m ) = 624 m 2 / s 2
v = 25 m/s
Este será o valor da velocidade inicial, para a segunda parte do movimento.
Aplicando, novamente, a expressão utilizada, vem

(12 m / s )2 = (25 m / s )2 + 2 (− 1,5 m / s 2 )∆X 2

∆X 2 =
(144 m 2
) (
/ s 2 − 625 m 2 / s 2 )
= 160 m
(−3m / s2 )
∆X total = ∆X 1 + ∆X 2 = 120 m + 160 m = 280 m

Exemplo 3.6

Suponha que baixa a velocidade do seu carro, de 100 km/h para 80 km/h, num percurso
de 88,0 m, com uma aceleração constante.
a) Qual é o valor da aceleração?
b) Qual o intervalo de tempo, necessário para diminuir a velocidade?

Resolução:
a) Vamos utilizar a expressão
v 2 = v02 + 2 a ∆X
Daqui obtemos
v 2 − v02
a=
2 ∆X
Antes de substituirmos valores, vamos escrever as velocidades em m/s.

100 x 10 3 m
v0 = 100 km / h = = 27,78 m / s
(60 x 60)s
80 x 10 3 m
v = 80 km / h = = 22,22 m / s
(60 x 60) s

a=
(22,22 m / s ) − (27,78 m / s )
2 2
= − 1,58 m / s 2
2 (88,0 m )

b) Vamos utilizar a expressão v = vo+ a t

v − v0 (22,22 m / s − 27,78 m / s )
t= = = 3,52 s
a (
− 1,58 m / s 2 )

27
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

Exercício 3.3

Um carro sai do repouso com uma aceleração de 8 m/s2.


a) Qual a velocidade do carro, no instante t = 10 s?
b) Qual o espaço percorridos nos primeiros 10 s de movimento?
c) Qual a velocidade média do carro, no intervalo de tempo que vai de t=0s a
t=10s?

Solução: a) 80 m/s ; b) 400 m ; c) 40 m/s

3.6. Corpos em queda livre

Todos sabemos que, quando deixamos cair um objecto, ele se dirige para o solo, com
uma aceleração que é quase constante. Se utilizarmos dois corpos, como por exemplo,
uma maçã e uma pena, e os deixarmos cair da mesma altura, verificamos que a maçã
atinge primeiro o solo. Isto acontece porque o ar oferece resistência, ao movimento dos
dois corpos. Se a queda se realizasse em vácuo, o tempo de descida dos dois corpos
seria exactamente o mesmo. O seu movimento seria acelerado, com aceleração
constante. Esta aceleração é independente da massa, densidade ou forma dos corpos; ela
tem o mesmo valor, para todos os corpos. Durante a queda dos corpos, a sua velocidade
vai aumentando, sendo a sua aceleração a aceleração gravítica, representada por g. O
valor de g, varia ligeiramente, com a latitude e com a elevação. Vamos considerar que,
para latitudes médias, e ao nível do mar, o valor de g é 9,8 m/s2.
As equações do movimento, com aceleração constante (ver Tabela 3.1) também se
aplicam ao movimento de queda livre, perto da superfície da Terra. Elas aplicam-se ao
movimento de um corpo na direcção vertical, para cima ou para baixo, quando os
efeitos da resistência do ar. podem ser desprezados. Devemos, no entanto, notar que a
direcção do movimento é vertical, ao longo do eixo OY, com o sentido positivo para
cima. A aceleração gravítica é negativa, pois o seu sentido é para baixo, eo sentido
positivo é para cima. A aceleração de um corpo, em queda livre, perto da superfície da
Terra, é a= - g = - 9,8 m/s2.Suponha que atira uma maçã, directamente para cima, com
uma velocidade inicial vo, e apanha-a quando ela retoma a altura em que foi atirada.
Durante o movimento da maçã (depois de ser atirada, e antes de ser apanhada), a
aceleração é constante, mas a velocidade varia. Durante a subida, a velocidade diminui,
até atingir o valor zero, no ponto mais elevado do percurso, e aumenta, na descida. Até
atingir o valor com que foi atirada, no momento em que é apanhada.

Exemplo 3.7:

Um jogador de golfe, atira a sua bola, para cima, com uma velocidade inicial de 12 m/s.
a) Qual o intervalo de tempo necessário, para a bola atingir a altura máxima?
b) Qual a altura máxima que a bola atinge?(Suponha que a origem do eixo OY,
coincide com o ponto de onde a bola é lançada)
c) Qual o intervalo de tempo, necessário para a bola atingir uma altura de 5 m,
acima do ponto de onde é lançada?

Resolução:
a) Durante todo o movimento, a bola está sujeita à aceleração da gravidade, a= -g.
Como g é constante, podemos utilizar as expressões da Tabela 3.1. Sabemos

28
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

que, no instante inicial, vo= 12 m/s. Quando a bola atinge a altura máxima, a sua
velocidade é zero v = 0 m/s.
Vamos utilizar a expressão v = vo+a t. Resolvemos esta expressão em ordem a
t, e obtemos
v − v0 0 m / s −12 m / s
t= = = 1,2 s
a − 9,8 m / s 2

b) Vamos considerar que a bola parte de Y=0m. Podemos, então, dizer que
Y –Y0=Y. No ponto mais elevado da trajectória v=0 m/s. teremos, então

v 2 − v02 (0 m / s ) − (12 m / s )
2 2
Y= = = 7,3 m
2a (
2 − 9,8 m / s 2)
c)Como sabemos que Y0=0 m, podemos escrever a equação

1
Y = v0 t − g t 2
2
Substituindo valores, obtemos
(
5,0 m = (12 m / s ) t − 9,8 m / s 2 t 2
1
2
)
Resolvendo esta equação, em ordem a t, vamos obter duas raízes; t1=0,53 s e
t2=1,9 s. Este facto não é surpreendente, pois a bola passa, duas vezes, por
Y=5,0m; quando sobe e quando desce.

3.7. Outro modo de obter as equações do movimento, com aceleração constante

Vamos obter as equações do movimento utilizando as definições de velocidade


instantânea e aceleração instantânea. A equação (3.6), pode ser escrita , na forma

d v = a dt
Vamos calcular o integral indefinido (primitiva) dos dois lados da igualdade

∫ d v = ∫ a dt
Como a aceleração é constante, podemos passá-la para fora da integração, obtendo

∫ dv = a ∫ d t
Primitivando os dois lados da igualdade, obtemos
v =at +C (3.13)

Para calcular o valor de C ( constante de primitivação), vamos dizer que, no instante


inicial (t=0 s) a velocidade v= vo. Substituindo estes valores em (3.13) (que é válida
para todos os valores de t), obtemos
v 0 = a (0 s ) + C e, por tan to C = v0
Substituindo este resultado, em (3.13) vem
v = v0 + a t
que é a expressão (3.8).

29
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

Para obtermos a expressão (3.11), vamos partir da definição de velocidade instantânea,


e escrevemos d X = v dt

Vamos calcular o integral indefinido (primitiva) dos dois lados da igualdade

∫ dX = ∫ v dt
Em geral, a velocidade não é constante, e, por isso, não a podemos passar para fora do
sinal de integração. Contudo podemos utilizar a equação (3.8) e fazer a substituição

∫ d X = ∫ (v 0 + a t ) dt
Como vo e a são constantes, podemos passá-las para fora do sinal de integração

∫ d X = v ∫ d t + a ∫ t dt
0

Integrando, vem
1
X = v0 t + a t 2 + C1 (3.14)
2
C1 é outra constante de integração (ou de primitivação). Para calcularmos o seu valor,
vamos dizer que , no instante inicial t=0 s, temos X = X0. Substituindo este resultado
em (3.14) obtém-se X 0 = v0 (0 s ) + a (0 s ) + C1 e, portanto, C1= X0. Substituindo
1 2

2
este resultado em (3.14), obtém-se
1
X − X 0 = v0 t + a t 2
2
que é a expressão (3.11).

Exemplo 3.8

A posição de uma bola, lançada verticalmente, para cima, é dada pela equação
Y=7 t – 4,9 t2, sendo o Y expresso em metros e o t em segundos. Obtenha
a) A velocidade inicial da bola, no instante t = 0s
b) A velocidade da bola, no instante t = 1,26 s
c) A aceleração da bola

Resolução
a) Vamos calcular a velocidade da bola, em função do tempo. Sabemos que a
velocidade é a derivada da posição em ordem ao tempo
v=
dY d
dt dt
= ( )
7 t − 4,9 t 2 = (7 t ) −
d
dt
d
dt
( )
4,9 t 2 = 7 − 9,8 t

Para obtermos a velocidade, no instante inicial, vamos substituir t por 0, nesta


equação
v(t = 0 s ) = 7 − 9,8 (0) = 7 m / s

b) v (t =1,26 s ) = 7 − 4,9 (1,26) = 7 − 6,2 = 0,8 m / s =1 m / s

c)A aceleração é a derivada da velocidade, em ordem ao tempo

30
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3

dv d d d
a = = (7 − 9,8 t ) = (7 ) − (9,8 t ) = − 9,8 m / s 2
dt dt dt dt

que é a aceleração da gravidade.

Exemplo 3.9

Uma partícula move-se ao longo do eixo OX. A sua velocidade, em função do tempo, é
dada por v = 5 + 10 t, sendo o v expresso em m/s e o t em s. A posição da partícula, em
t=0s é 20 m. Calcule:
a) A aceleração da partícula
b) A posição da partícula, em função do tempo
c) A velocidade da partícula, em t=0s

Resolução:
a) A aceleração da partícula é a derivada da velocidade, em ordem ao tempo
= (5 + 10 t ) = 10 m / s 2
dv d
a=
dt dt
b) A posição da partícula, em função do tempo, obtém-se integrando a velocidade
t2
X = ∫ v dt = ∫ (5 + 10 t ) d t = ∫ 5 dt + ∫ 10 t dt = 5∫ d t + 10 ∫ t dt = 5 t + 10 + C
2
Para obtermos o valor de C, vamos utilizar o valor de X, no instante t=0 s

X (0 s ) = 5 (0 ) + 5 (0 ) + C = 20 m
2

Para esta igualdade ser válida, o C tem que ser igual a 20 m.


X = 20 + 5 t + 5 t 2
c)Para calcularmos a velocidade da partícula, em t=0s, vamos substituir o t por 0, na
expressão da velocidade

v(t=0 s) = 5 + 10 (0) = 5 m/s

31
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

Cap 4. Movimento a duas e a três dimensões

4.1. Introdução

Neste capítulo, vamos tratar da cinemática de uma partícula, movendo-se a duas e a três
dimensões. Muitas das definições dadas no capítulo e, como deslocamento, velocidade,
e aceleração, são utilizados neste capítulo. No entanto, aqui, a sua definição torna-se
mais complexa, devido ao aparecimento de mais dimensões. Começaremos por mostrar
que, o deslocamento, a velocidade , e a aceleração, são grandezas vectoriais.

4.2. Vectores posição e deslocamento

Para localizarmos uma partícula, no espaço, vamos utilizar um vector posição, que é
um vector que se estende desde um ponto de referência (geralmente a origem de um
sistema de eixos coordenados) até à partícula. Para uma partícula localizada num ponto
de coordenadas (X, Y), o vector posição será
r r r
r = X i +Y j (4.1)
r r r
sendo X i e Y j , as componentes vectoriais do vector r , e X e Y as componentes
escalares.
À medida que a partícula se move, o seu vector posição altera-se, verificando-se sempre
que ele liga o ponto de referência à partícula. Se o vector posição, num dado intervalo
r r
de tempo, digamos ∆t, se altera, passando de r1 para r2 , então o deslocamento da
r
partícula, ∆ r , nesse intervalo de tempo, será
r r r
∆ r = r2 − r1 (4.2)
Introduzindo (4.1), nesta expressão, podemos escrever

∆ r = (X 2 i + Y2 j )− (X 1 i + Y1 j ) =
r r r r r
r r
= ( X 1 + X 2 ) i + (Y1 + Y2 ) j

r r r
∆ r = ∆ X i + ∆Y j
P1
A figura 4.1, mostra o percurso ou
trajectória da partícula. No instante
t1, a partícula está no ponto P1, e no
instante t2, a partícula está em P2. A P2
alteração na posição da partícula é
traduzida pelo vector deslocamento
r
∆r .
Se considerarmos um espaço a três
dimensões, o vector posição será

r r r r
r = X i +Y j + Z k r
Fig 4.1.O vector deslocamento ∆r é igual à diferença entre
e o vector deslocamento, de P1 para P2, r r
os vectores posição ( r1 − r2 )
será

32
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

r r r
∆ r = ( X 2 − X 1 ) i + (Y2 − Y1 ) j + (Z 2 − Z 1 ) k
r

Exemplo 4.1

Um coelho corre, num terreno. Sabe-se que as coordenadas da posição do coelho, em


função do tempo t, são dadas por
X = - 0,31 t2+ 7,2 t + 28 (a)
2
e Y = 0,22 t – 9,1 t + 30 (b)
sendo o t expresso em segundos, e X e Y , em metros.
a) Qual é o vector posição do coelho, no instante t= 15 s
b) Faça o gráfico do percurso do coelho ( trajectória) entre t=0 e t=25 s

Resolução:
a) Vamos substituir t por 15 s, nas equações que nos dão as coordenadas da posição do
coelho.
( )
X (t = 15 s ) = (− 0,31) 15 2 + (7,2 )(15) + 28 = 66 m
e ( )
Y (t = 15 s ) = (0,22 ) 15 2 − (9,1)(15) + 30 = − 57 m

Assim, em t= 15 s, o vector posição, é


r r
r = (66 m ) i − (57 m ) j
r
Vamos, agora, calcular a intensidade deste vector

r
r = (66m )2 + (57 m)2 = 87 m
r
O ângulo que o vector r forma, com a parte positiva do eixo OX, será

 − 57 m 
θ = arc tg   = − 41º
 66 m 
r
Como o vector r , tem a componente segundo OX, positiva, e segundo OY, negativa,
então, o coelho encontra-se no quarto quadrante. O ângulo θ será 360º - 41º=319º.

b) Vamos calcular as coordenadas da posição do coelho, para diferentes instantes.


Começamos com t=0 s X( 0 s )= 28 m e Y (0 s) = 30 m

Instante Coordenadas
t=5s X (5 s) = - 0,31 (5)2 + 7,2 (5) + 28 = 56 m
Y (5 s) = 0,22 (5)2 – 9,1 (5) + 30 = - 10 m
X (10s) = -0,31 (10)2+ 7,2 (10)+ 28= 69m
t = 10 s Y(10s) = 0,22 (10)2- 9,1 (10) + 30 = -39 m
t = 20 s X (20s) = -0,31 (20)2+7,2 (20) + 28=48 m
Y (20s) = 0,22 (20)2- 9,1 (20)+30= - 64m
t = 25 s X (25s)= -0,31 (25)2+7,2 (25)+28 =14 m
Y (25s) =0,22 (25)2 – 9,1 (25) + 30=-60 m

33
Y (m)

Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

Como, na alínea a), calculámos as


coordenadas da posição do coelho, temos
seis pontos, para construir o gráfico. A X (m)
figura 4.2 mostra o gráfico obtido com
estes pontos. A linha que une todos os
pontos dá-nos a trajectória do coelho

Este gráfico também poderia ser obtido


numa calculadora, mandando fazer um
gráfico de y em função de x, sendo as
coordenadas obtidas pelas equações (a) e
(b).
Fig 4.2.Percurso seguido pelo coelho,
mostrando a sua posição em seis instantes
diferentes

4.2. Velocidade média e velocidade instantânea


r
Se representarmos por ∆ r , o vector deslocamento de uma partícula, num intervalo de
tempo ∆t, então, a velocidade média, nesse intervalo de tempo, será
r
r ∆r
v médio = (4.3)
∆t
Este vector , tem a direcção e o sentido, do vector deslocamento.
r
Se escrevermos ∆ r , em função das componentes, teremos
r ∆ X r ∆Y r
v médio = i+ j (4.3a)
∆t ∆t

Quando falamos da velocidade de


uma partícula, referimo-nos à
velocidade instantânea, num dado Y
instante. Para a definirmos, vamos
considerar a figura 4.3. Ela mostra-
nos os vectores deslocamento,
quando a partícula ocupa,
sucessivamente, as posições, P2, P2’,
P2´´. Vemos que, à medida que a
distância entre P1 e um destes
pontos, tende para zero, o vector
r
∆ r , tende para a tangente à
trajectória, no ponto P1. vamos
definir velocidade instantânea ,
X
como o limite para que tende a
velocidade média, quando o
intervalo de tempo, ∆t , tende para Fig 4.3. À medida que o intervalo de tempo
zero. Isto significa que a velocidade se vai tornando menor, o vector
instantânea é a derivada do vector deslocamento aproxima-se da tangente à
posição, em ordem ao tempo. curva

34
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

r r
r ∆r d r
v = lim = (4.4)
∆t → 0 ∆ t dt
r
A direcção de v , é a direcção da tangente à trajectória, no instante em que calculamos a
velocidade.
Se considerarmos um problema, a três dimensões, teremos

r d
v=
dt
( r r
X i +Y j + Z k = )
r d X r dY r d Z r
dt
i+
dt
j+
dt
k=
(4.4a)
r r r
= v X i + vY j + v Z k

Exemplo 4.2

As coordenadas da posição de um barco, no instante t1= 60 s, são ( X1; Y1)= (110m;


218m). Dois minutos depois, no instante t2, as coordenadas da sua posição são (X2; Y2)
= ( 130m; 205m).
a) Calcule a velocidade média do barco, durante o intervalo de tempo referido.
b) Calcule o módulo e a direcção da velocidade média
c) Sabe-se que, para t ≥ 20 s, a posição do barco, em função do tempo, é dada por

X (t) = 100 m + (1/6 m/s) t


e Y (t) = 200 m + (1080 m s ) t-1

Calcule a velocidade instantânea, para t ≥ 20 s

Resolução:
a) A velocidade média, calcula-se a partir da definição

r ∆ X r ∆ Y r X 2 − X 1 r Y2 − Y1 r
v média = i+ j= i + j
∆t ∆t t 2 − t1 t 2 − t1

r
v média =
(130 m −110 m) ir + (205 m − 218 m ) rj = (0,167m / s) ir − (0,108 m / s) rj
120 s 120 s
r
b) A intensidade, ou módulo, de v médio , é dada por

r
v média = (0,167 )2 + (0,108)2 = 0,199m / s

A direcção é dada pelo ângulo θ, que o vector forma com a parte positiva do eixo
OX

vY − 0,108 m / s
θ = arc tg = arc tg = arc tg (− 0,65) = − 33º = 327º
vx 0,167 m / s
c) A velocidade instantânea, para t ≥ 20 s, é a derivada do vector posição, em
ordem ao tempo

35
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

r d X ( t ) r d Y (t ) r d 
v= i+ j=
1 r d
100m + m / s t  i +
dt
(
200 + 1080 ms t −1 )
dt dt 6  dt

r 1 r r
v =  m / s  i − (1080 ms )t − 2 j
6 

Exercício 4.1

Calcule o vector velocidade do barco, no instante t1= 60 s. calcule, também, a sua


intensidade e a sua direcção.

r 1 r r r
Solução: v1 =  m / s  i − (0,30 m / s ) j ; v1 = 0,34 m / s e θ= -60.9º = 299,1 º
6 

4.3. Aceleração média e aceleração instantânea


r r
Quando a velocidade de uma partícula, muda de v1 para v 2 , no intervalo de tempo ∆ t,
podemos definir a aceleração média nesse intervalo de tempo, como
r r r
r ∆ v v 2 − v1
a média = = (4.5)
∆ t t 2 − t1
Se considerarmos o limite da aceleração média, quando o intervalo de tempo, ∆t, tende
para zero, obteremos a aceleração instantânea
r r
r ∆v d v
a = lim = (4.6)
∆t → 0 ∆ t dt
r
Para calcularmos a aceleração instantânea, vamos escrever v , em coordenadas
rectangulares, e calcular a sua derivada.

r r r r d X r dY r d Z r
v = v X i + vY j + v Z k = i+ j+ k
dt dt dt

r
r d v d v X r d vY r d v Z r d 2 X r d 2 Y r d 2 Z r
a= = i+ j+ k= i + 2 j+ 2 k (4.6a)
dt dt dt dt d t2 dt dt

r r r v
a = a X i + aY j + a Z k

Exemplo 4.3

A posição de uma bola, é dada por


r
[ ( ) ]
r
r = [1,5 m + (12 m / s ) t ]i + (16 m / s )t − 4,9 m / s 2 t 2 j
r
Obtenha a sua velocidade e a sua aceleração.

36
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

Resolução:
Vamos calcular as componentes da velocidade
= [1,5 m + (12 m / s ) t ] =12 m / s
dX d
vX =
dt dt

vY =
dY d
=
dt dt
[ ( ) ] ( )
(16 m / s )t − 4,9 m / s 2 t 2 = (16 m / s ) − 9,8 m / s 2 t
A velocidade é
r
[ ( )]
r
v = (12 m / s ) i + (16 m / s ) − 9,8 m / s 2 t j
r

Vamos, agora, calcular as componentes da aceleração

= (12 m / s ) = 0
d vX d
aX =
dt dt

aY =
d vY
dt
=
d
dt
[ ( )]
(16 m / s ) − 9,8 m / s 2 t = − 9,8 m / s 2
A aceleração é
( )
r r
a = − 9,8 m / s 2 j

Este é um exemplo de movimento de projécteis, que iremos estudar, no ponto seguinte.

Exemplo 4.4:
r r r
Uma partícula, com velocidade inicial v0 = − 2,0 i + 4,0 j (m/s) , está submetida a uma
aceleração constante, com módulo a= 3,0 m/s2, e fazendo um ângulo θ = 130º, com a
parte positiva do eixo OX.
a)Qual é a velocidade da partícula, no instante t = 5,0 s?
b) Qual o módulo e direcção deste vector?

Resolução:
a) Vamos obter a velocidade, a partir da aceleração. Sabemos que
r r r r
v = ∫ a dt = ∫ a X dt i + ∫ aY dt j

r r
v = (v0 X + a X t ) i + (v 0Y + aY t ) j
r

Sabemos, do enunciado, que vox=-2,0 e voy= 4,0. vamos, agora, ver qual é o valor de ax
e ay
( )
a X = a cos 130º = 3,0 m / s 2 (cos 130º ) = − 1,93 m / s 2
r

( )
aY = a sen130º = 3,0 m / s 2 (sen130º ) = 2,30 m / s 2
r

Substituindo valores, obteremos

[ (
r
) ] [( (
r
v = (− 2,0 m / s ) + − 1,93 m / s 2 t i + 4,0 m / s + 2,30 m / s 2 t j
r
) )]

37
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

As componentes deste vector, no instante t=5,0s, serão

( )
v X = (− 2,0 m / s ) + − 1,93 m / s 2 (5,0 s ) = − 11,65 m / s

( )
vY = (4,0 m / s ) + 2,30 m / s 2 (5,0 s ) = 15,50 m / s

A velocidade da partícula, no instante t=5,0 s, é


r r
v = (− 12 m / s ) i + (16 m / s ) j
r

b) Vamos calcular o módulo, do vector velocidade

r
v =v= (12 m / s )2 + (16 m / s )2 = 19 m/s
A direcção do vector , é dada pelo ângulo θ

vY  16 m / s 
θ = arc tg
= arc tg   = − 53º = 127º
vX  − 12 m / s 
r
O ângulo θ mede 127º porque a componente de v , segundo OX, é negativa, e a
componente , segundo OY é positiva, logo, o vector está no segundo quadrante.

4.5. Movimento de projécteis

Dá-se o nome de projéctil, a uma partícula em movimento, sujeita apenas à acção da


gravidade. Como exemplos de projécteis, podemos citar os objectos que caem das
janelas, as bolas lançadas ou chutadas por jogadores, os animais aos saltos, etc. Vamos
analisar o movimento de projécteis, considerando movimento a duas dimensões, e
desprezando a resistência do ar. Nestas condições, o movimento do projéctil, depende
apenas da velocidade inicial e da aceleração gravítica.

O X

Fig 4.4. Na parte ascendente do percurso da bola, vy é positivo. No ponto mais alto da trajectória, vy
é nulo e na parte descendente vy é negativo, aumentando o seu módulo, até atingir o solo.

A figura 4.4, mostra a trajectória de um projéctil (bola de ténis), lançado com uma
r r r
velocidade inicial vo = v0 x i + v0 y j . ( O valor das componentes vox e voy, pode obter-se,

38
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

r
se conhecermos o ângulo θ , que v0 forma, com a parte positiva do eixo OX).
r r
Analisando a figura 4.4, vemos que o vector velocidade v , e o vector posição r ,
r
variam continuamente, mas o vector aceleração a , é constante, e tem a direcção
vertical. Esta conclusão pode obter-se, a partir das componentes do vector velocidade. A
componente horizontal, do vector velocidade, mantém-se constante, durante todo o
movimento, o que significa que a componente horizontal da aceleração, é nula. Se
examinarmos a componente vertical da velocidade, veremos que durante a subida (lado
esquerdo da trajectória), vy é positivo e vai diminuindo até que o projéctil atinja a parte
mais elevada da trajectória, onde vy é nulo. Na parte da descida do projéctil, vy é
negativo, aumentando o seu módulo até atingir o solo.
Vamos considerar que temos duas bolas de aço, e que as libertamos, simultaneamente,
de um ponto acima do solo. A bola 1 é projectada, por uma mola, na direcção
horizontal. A bola 2 cai, livremente, seguindo um percurso vertical. Qual das bolas
atinge, primeiro, o solo?
As duas bolas têm, inicialmente, a mesma componente vertical da velocidade, voy= 0,
ocupam a mesma posição inicial e estão ambas submetidas à mesma aceleração. As
equações, que traduzem o movimento vertical, das duas bolas, são iguais. As bolas
devem atingir o solo, em simultâneo. Isto ilustra a ideia, de que o movimento na
direcção vertical, é independente do movimento na direcção horizontal. Vamos, então,
ver as equações do movimento.

Movimento na direcção horizontal

Como não existe aceleração, na direcção horizontal, o movimento será uniforme, e a


velocidade do projéctil, nesta direcção, mantém-se constante. Nestas condições, se xo
for a coordenada horizontal do projéctil, no instante t = 0s, o deslocamento, na direcção
horizontal, será
x –xo = vox t ou x – xo= ( vo cos θ) t (4.7)

Movimento na direcção vertical


O movimento é acelerado, sendo ay= -g . Utilizando as definições de aceleração e de
velocidade instantâneas, podemos escrever

v y = ∫ a y dt = ∫ − g dt = v0 y − g t (4.8)

∆y = ∫ v y dt = ∫ (v0 y − g t ) dt = v0 y t − g t 2
1
(4.9)
2
Mas, voy= vo sen θ, então

v y = (v0 sen θ ) − g t (4.8a)


e
1
∆y = ( v0 sen θ ) t − g t 2 (4.9a)
2

Podemos calcular, a altura máxima, atingida pelo projéctil, utilizando o facto de vy ser
nulo, nesse ponto. Utilizando (4.8a), determinamos o intervalo de tempo, necessário
para o projéctil atingir a altura máxima

39
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

v0 sen θ
t=
g
A altura máxima obtém-se, substituindo t , em (4.9a).

 v sen θ  1  v 02 sen 2θ 
hmax = (v0 sen θ ) 0  − g  2

 g  2  g 

1 v02 sen 2θ
hmax = (4.10)
2 g

Esta expressão mostra-nos que a altura máxima, depende do módulo e da direcção da


velocidade inicial, e da aceleração da gravidade.

Exemplo 4.5

Uma bola é atirada , horizontalmente, de uma janela, localizada 10 metros acima do


solo, e atinge o solo a 40 metros de distância (medida na horizontal, desde o sopé da
parede). Qual a velocidade com que a bola foi lançada?

Resolução:

Vamos considerar, em primeiro lugar, o movimento na direcção vertical, e determinar o


intervalo de tempo necessário para a bola atingir o solo. Podemos, depois, entrar com
esse valor, na equação do movimento, na direcção horizontal, e calcular a velocidade
inicial.
Como a janela se situa 10 metros acima do solo, então, ∆y = -10 m

1
∆y = − g t 2
2
1
( )
− 10 m = − 9,8 m / s 2 t 2 ⇒ t 2 =
2
10 m
2
= 2,0 s 2 ⇒ t = 1,4 s
4,9 m / s
Considerando o movimento, na direcção horizontal, vem

∆x = v0 x t ⇒ 40 m = v0 x (1,4 s ) ⇒ v0 x =
40 m
= 28 m / s
1,4 s

Exemplo 4.6

Um atleta faz um salto em comprimento, saindo do solo com uma velocidade de 11 m/s,
e fazendo um ângulo θ = 20º, com o solo.
a) Qual é o comprimento do salto?
b) Qual a altura máxima, atingida com o salto?

Resolução:
O movimento, na direcção horizontal, é um movimento uniforme, com vx= vo cos θ
∆x = (v0 cos θ )t = (11 m / s )(cos 20º )t

40
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

Para obtermos o valor de t, vamos utilizar as equações do movimento, na direcção


vertical. Sabemos que a velocidade diminui até atingir a altura máxima, onde o seu
valor é 0 m/s.
vy= vo sen θ - g t1

0 = (11 m/s ) ( sen 20º) – (9,8 m/s2) t1

t1 =
(11 m / s )(sen 20º ) = 0,38 s
(9,8 m / s )
2

Note-se que t1 é apenas o intervalo de tempo, necessário para o saltador atingir a altura
máxima. Devido à simetria do movimento , podemos dizer que o saltador necessitará de
um intervalo de tempo igual, para atingir o solo t = 2 t1= 0,76 s

Substituindo este valor de T, na expressão que nos dá o x, obteremos

x = ( 11 m/s) ( cos 20º) (0,76 s)= 7,86 m = 7,9 m

b)A altura máxima atinge-se, no instante t1= 0,38 s

1
2
( )
y max = v0 y t − g t 2 = (11 m / s )(sen 20º )(0,38 s ) − 4,9 m / s 2 (0,38 s )
2

y max = 0,72 m

4.6. Movimento circular uniforme

A figura 4.5, mostra uma bola, fazendo


um percurso circular, e movendo-se com
velocidade linear constante, v. Apesar de
a bola se mover com velocidade
constante, ela está submetida a uma
aceleração. Este facto acontece, porque a
velocidade é uma grandeza vectorial.
Um vector pode ser alterado, de duas
maneiras diferentes; por uma mudança
no módulo ou intensidade do vector, ou
por uma alteração na direcção do vector.
Se olharmos, novamente, para a figura
4.5, veremos que o vector velocidade é
tangente à trajectória, em cada ponto do
percurso e, por isso, o vector velocidade Fig 4.5. Vectores aceleração e velocidade, para
uma partícula , movendo-se com movimento
muda de direcção. O vector velocidade é circular uniforme.
tangente ao percurso da bola (percurso
circular), sendo perpendicular ao raio r , em cada ponto do percurso.
Vamos, então, definir uma aceleração média, durante um intervalo de tempo ∆t, como
r
r ∆v
a médio =
∆t

41
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

Podemos mostrar que, neste caso, o vector


aceleração é perpendicular ao percurso,
sendo o sentido do vector, para o centro do
círculo (ver figura 4.5). Esta aceleração é
chamada aceleração centrípeta, e o seu
módulo é dado por

v2
ar = (4.11)
r
sendo r o raio do círculo e v a velocidade da
bola. Neste movimento, a bola percorre uma
rotação completa, durante um intervalo de
tempo, T, chamado período do movimento
2π r
T= (4.12)
v

Para obtermos a intensidade, direcção e


sentido do vector aceleração, para
movimento circular uniforme, vamos
considerar a figura 4.6. Na figura 4.6a,
vemos uma partícula, P, a mover-se, com
uma velocidade constante, num círculo de
raio r. No instante considerado, o ponto P
tem como coordenadas XP e YP. Podemos
r
ver, nesta figura, que o vector v é
perpendicular ao raio r, que liga o centro do
círculo à partícula P. O ângulo θ, que o
r
vector v forma com a direcção vertical, em
P é igual ao ângulo que o raio r forma com o
eixo OX.
Na figura 4.6b, mostram-se as componentes
r
escalares do vector v . Por essa figura,
vemos que
r r r r
v = v x i + v y j = (− v senθ )i + (v cos θ ) j
r

Utilizando a figura 4.6a, podemos calcular o


seno e o co-seno de θ.

r  yp r  xp  r Fig 4.6. Partícula P, movendo-se com


v =  − v  i +  v  j movimento circular uniforme. a) Posição e
 r   r 
velocidade da partícula, num dado instante.
Para obtermos a aceleração da partícula, b) Vector velocidade e suas componentes.
vamos derivar o vector velocidade, em c) Aceleração da partícula e suas
ordem ao tempo. Como r e v se mantêm componentes
constantes ao longo do tempo, teremos

42
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

r
r dv v d yp  r  v d xp  r
a=
=  −  i +   j
dt
 r dt  r dt 
Analisando esta expressão, vemos que (dyp/dt)= vx= - v sen θ e (dxp/dt)= vy= v cos θ.
Fazendo estas substituições, obteremos

r  v2  r  v2 r
a =  − cos θ  i +  senθ  j
 r   r 
A figura 4.6c, mostra este vector e as suas componentes. Se calcularmos o módulo de
r
a , obteremos
v2 2
a = a x2 + a y2 = (cosθ )2 + (senθ )2 = v
r r
r
que é o que queríamos provar. Para obtermos a orientação de a , vamos calcular o
ângulo φ
a y − (v 2 / r )sen θ
tg φ = = = tg θ
a x − (v 2 / r )cos θ
r
Vemos, assim, que φ=θ , o que prova que o vector a tem a direcção do raio e sentido na
direcção do centro da circunferência.

4.7. Aceleração radial e tangencial, no movimento curvilíneo

Vamos considerar o movimento de uma partícula, ao longo de um percurso curvo, onde


a velocidade varia, em intensidade e em direcção, como se mostra na figura 4.7. Nesta
situação, a velocidade da partícula, é sempre tangente à trajectória; contudo, o vector
r
aceleração, a , faz, agora, um ângulo com a trajectória, que pode ser diferente de 90º.

Percurso da
partícula
r
a

r
a
r
a

Fig 4.7. Or movimento de uma partícula, ao longo de um movimento curvilíneo. Se o vector


velocidade v , se altera, em intensidade e direcção, as componentes do vector aceleração, são a
aceleração tangencial at e a aceleração radial ar

Olhando para a figura 4.7, vemos que a direcção do vector aceleração muda, de ponto
para ponto. Este vector pode ser decomposto em duas componentes: uma componente
radial, ar, e uma componente tangencial, at. O vector aceleração pode ser escrito, na
forma
r r r
a = a r er + a t eθ (4.13)

43
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

A componente tangencial aparece porque a intensidade da velocidade, varia ao longo do


tempo. O seu valor obtém-se por
r
dv
at = (4.14)
dt

A componente radial aparece devido à variação da direcção do vector velocidade, ao


longo do tempo, e o seu valor obtém-se, por

v2
ar = (4.15)
r
sendo r , o raio de curvatura da trajectória, no ponto que estamos a considerar. Tal
r
como no movimento circular, uniforme, a componente a r aponta sempre para o centro
de curvatura da trajectória. Para uma dada velocidade, ar é grande, quando o raio de
curvatura for pequeno, e será pequeno se o raio de curvatura for grande (ver figura 4.7).
r
O sentido de a t é o da velocidade ( se v está a aumentar) ou o sentido oposto (se v está a
diminuir).
y É conveniente, escrever o vector
r aceleração, de uma partícula, movendo-
eθ se num percurso curvilíneo, utilizando
r
er vectores unitários. A figura 4.8, mostra-
nos estes vectores.
Neste caso, teremos
r
r r r d v r v2 r
a = at + a r = eθ − er (4.16)
dt r
r
O sinal menos, que aparece em a r ,
r
deve-se ao facto de er ser dirigido para
r
fora do percurso e a r ser dirigido para o
centro de curvatura.
Fig 4.8. Versores utilizados para definir as
componentes do vector aceleração, num
movimento curvilíneo.

Exercício 4.2

Um pêndulo, com um comprimento de 0,5 m, oscila num plano vertical, sob a acção da
gravidade. Quando o pêndulo faz um ângulo de 20º, com a direcção vertical, a
velocidade da extremidade do pêndulo é 1,5 m/s
a) Calcule a componente radial da aceleração, nesse instante
b) No instante considerado, a componente tangencial da aceleração é at= g sen 20º
=3,36 m/s2. Calcule a intensidade e direcção, do vector aceleração, nesse
instante.
r
Solução: a) 4,5 m/s2 ; b) a= 5,6 m/s2 e φ=36,7º . φ é o ângulo entre a e a corda do
pêndulo.

4.8. Velocidade relativa e aceleração relativa


Vamos ver como é que estão relacionadas, observações feitas por diferentes
observadores, em referenciais diferentes. Vamos ver que, observadores em diferentes

44
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

referenciais podem medir diferentes deslocamentos, velocidades e acelerações, para


uma partícula em movimento.
Vamos considerar dois carros que se movem na mesma direcção, e com o mesmo
sentido, com velocidades de 17 m/s e 22m/s. Um passageiro, que se encontra no carro
mais lento, dirá que a velocidade do carro mais rápido, em relação ao carro mais lento, é
5m/s. É claro que, um observador que se encontra parado, medirá a velocidade do carro
mais rápido como sendo 22 m/s. Este exemplo simples, mostra que as medições de
velocidade diferem , em diferentes sistemas de referência.
No nosso estudo, vamos definir o sistema de referência , como sendo o objecto físico,
ao qual nós ligamos o nosso sistema de coordenadas.
Para ilustrar melhor o conceito de velocidade relativa, vamos considerar o exemplo de
um comboio que se move, em relação ao solo, com uma velocidade de 9,0m/s. Dentro
do comboio, existe um passageiro que se move em direcção à parte da frente do
comboio. As pessoas sentadas, dentro do comboio, vêm o passageiro a mover-se com
uma velocidade de 2,0 m/s. Vamos supor que existe uma pessoa parada, no solo. Essa
pessoa dirá que o passageiro, dentro do comboio. Se move com uma velocidade de 11,0
m/s. Como auxílio, para definir a velocidade relativa, vamos utilizar os seguintes
símbolos:
r
v p c = Velocidade do passageiro, em relação ao comboio=2,0 m/s
r
vc s = Velocidade do comboio, em relação ao solo = 9,0 m/s
r
v p s = velocidade do passageiro em relação ao solo = 11,0 m/s

Tendo em conta os valores apresentados, podemos dizer que


r r r
v p s = v p c + vc s (4.17)
ou
r r r
v p s = (2,0 m / s ) i + (9,0 m / s ) i = (11,0 m / s ) i
r

r
Se o passageiro se deslocasse para a parte de trás do comboio, então v p c = (− 2,0 m / s ) i
r

e
r r r
v p s = (− 2,0 m / s ) i + (9,0 m / s ) i = (7,0 m / s ) i
r

De acordo com (4.17), vemos que a velocidade medida, em relação a um referencial


fixo (solo) é igual à velocidade medida em relação ao referencial móvel (comboio) mais
a velocidade do referencial móvel, em relação ao referencial fixo.

No nosso exemplo, considerámos que as pessoas e o comboio se moviam , uns em


relação aos outros e ao solo, com velocidade constante, e todos na mesma direcção.
Vamos , agora, considerar um exemplo em que dois carros se movem com direcções
diferentes.

Exemplo 4.7

Suponhamos que dois carros se aproximam de um cruzamento. O carro A, desloca-se


para Este, com uma velocidade, em relação ao solo, de 25,0 m/s.O carro B, dirige-se
para Norte, com uma velocidade, em relação ao solo , de 15,8 m/s.
a) Calcule a velocidade do carro A, em relação ao carro B

45
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

b) Calcule o módulo e direcção, do vector obtido em a).

Resolução:
r
a) Vamos designar a velocidade do carro A em relação ao carro B por, v A B , a
r
velocidade de A , em relação ao solo, é representada por v A s , e a velocidade de B, em
r
relação ao solo, será v BS .Se aplicarmos, directamente, a equação (4.17), teremos

r r r
v A s = v A B + vB S
ou seja
r r
v A B = v A S − v B S = (25,0 m / s ) i − (15,8 m / s ) j
r r r

b)
r
vAB = (v ) + (v )
AS
2
BS
2
= (25 m / s )2 + (− 15,8 m / s )2 = 29,6 m / s
e
 vAS 
 = arc cos  25,0 m / s  = 32,4º
vAS
cos θ = ou θ = arc cos   29,6 m / s 
vAB v   
 AB 

Exercício 4.3

Um barco quer atravessar um rio , com uma largura de 1800 m. A velocidade do barco,
em relação à água, é 4,0 m/s, numa direcção que é perpendicular à da corrente. A
velocidade da água, em relação à margem é 2,0 m/s
a) Qual é a velocidade do barco, em relação à margem?
b) Quanto tempo é que o barco demora, a atravessar o rio?

Soluções: a) 4,5 m/s , θ = 63º ; b) t=450 s


*
* *
Numa situação mais geral, consideremos uma partícula, localizada no ponto P, da figura
4.9. Imagine que o movimento
desta partícula, está a ser descrito
por dois observadores, estando
um no sistema de referência A,
r fixo em relação à Terra, e outro
rp A r num sistema de referência B,
rp B
movendo-se para a direita do
sistema A, com uma velocidade
r
constante u . A posição da
r
ut partícula, em relação ao sistema
r de referência A, é dada pelo
u
r
Fig 4.9.O movimento de uma partícula, localizada no vector rp A e a posição , em
ponto P, é descrito por dois observadores, estando um no relação a B, é dada pelo vector
referencial fixo A, e outro no referencial B que se move, r
rp B , num dado instante t. Vamos
para a direita, com velocidade constante.
supor que as origens dos sistemas

46
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4

r r
de referência coincidem, no instante t = 0s. Então, os vectores rp A e rp B , estão
relacionados por
r r r
rp A = rp B + u t
ou
r r r
rp B = rp A − u t (4.18)
Isto significa que, no intervalo de tempo que designámos por t, o referencial B se
deslocou, para a direita, uma distância ut.
Se derivarmos a expressão (4.18), em ordem a t, obteremos
r r
d rp B d r p A r
= −u
dt dt
ou
r r r
vpB =vp A −u (4.19)

r r
sendo v p B a velocidade da partícula, observada no referencial B, e v p A a velocidade
observada no referencial A.
Apesar dos observadores, medirem velocidades diferentes, para a mesma partícula, nos
r
dois sistemas de referência, eles medirão a mesma aceleração, quando u for constante.
Podemos chegar a esta conclusão, derivando (4,19), em ordem ao tempo
r r r
d vpB d vp A
du
= −
dt dt dt
Como (d u / d t ) = 0 , podemos concluir que
r
r r
apB =ap A (4.20)

47
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

Cap 5. Leis de Newton do movimento

5.1 Introdução

Nos capítulos anteriores, descrevemos o movimento das partículas, baseados nas


definições de deslocamento, velocidade e aceleração. Vamos, agora, falar das causas do
movimento. Vamos descrever as alterações no movimento das partículas, utilizando os
conceitos de força e massa . Para isso, iremos falar de três leis básicas do movimento,
baseadas em observações experimentais, e que foram formuladas por Sir Isaac Newton.
Iremos ver que, apesar das leis serem relativamente simples, elas explicam uma grande
variedade de fenómenos e resultados experimentais. Estas leis, juntamente com as leis
do movimento, são os fundamentos da mecânica clássica.

5.2. O conceito de força

Todos nós temos uma ideia do conceito de força, adquirida no nosso dia a dia . Se
empurrarmos ou puxarmos um objecto, estamos a exercer nele uma força. Neste
exemplo, a palavra força está associada com o resultado da actividade muscular, e
alguma alteração no estado de movimento do objecto. As forças nem sempre fazem com
que um objecto se mova. Por exemplo, se estamos sentados, a ler um livro, a força da
gravidade actua no nosso corpo e no livro e, no entanto, o nosso corpo permanece
parado, tal como o livro. Do mesmo modo, podemos empurrar um bloco de pedra, e ele
não se mover.
Se virmos a velocidade de um objecto, alterar-se , em intensidade ou direcção, isso
significa que algo externo interage com o objecto, originando essa aceleração. A esse
algo externo que pode causar aceleração num corpo, chamamos força.
Uma força , é medida pela aceleração que ela origina. Como a aceleração é uma
grandeza vectorial, pode-se mostrar experimentalmente, que a força também é uma
grandeza vectorial. Isto significa que, se duas ou mais forças actuarem em simultâneo
num corpo, podemos achar a força resultante, fazendo a soma vectorial de todas as
forças que estão a actuar. Uma única força com a intensidade, direcção e sentido, da
força resultante, tem o mesmo efeito no corpo que as forças actuando individualmente.
Este facto é chamado princípio da sobreposição das forças.
Para definirmos a unidade de força, vamos considerar um corpo com uma massa de um
quilograma. Colocamos o corpo numa mesa horizontal e sem atrito, e puxamos o corpo,
de modo a ele adquirir uma aceleração de 1m/s2. Nestas condições, dizemos que a força
aplicada ao corpo de massa 1 quilograma, tem uma intensidade de 1 newton ( 1 N).

Na natureza, conhecemos quatro tipos de forças. O primeiro tipo de força é a da


gravidade. O simples facto de podermos fazer uma caminhada, deve-se à existência
desta força. É esta força que determina o nosso peso e que orienta o curso dos rios. É
esta força que mantém os planetas nas suas órbitas e que possibilita a formação das
estrelas.
O segundo tipo, é a força electromagnética, que se verifica entre cargas eléctricas e
entre pólos magnéticos. A força electromagnética é responsável pela geração de luz e
existência de raios X e raios gama.
O terceiro tipo de força, é chamado força nuclear forte. É uma força de curto alcance, e
que é responsável pela coesão dos átomos. Sem ela não seria possível a existência de
matéria como a conhecemos, porque a força electromagnética, faria com que os protões

48
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

do núcleo se dispersassem, e jamais teríamos os agrupamentos de partículas, que


caracterizam os diferentes átomos.
O quarto tipo de força, é a força nuclear fraca, que aparece no decaimento radioactivo
de alguns nuclidos.

As forças que nos aparecem, no dia a dia, actuando entre corpos macroscópicos, são
forças gravitacionais e forças electromagnéticas. Estas forças, actuam entre partículas
que estão separadas, no espaço. São forças de acção à distância, e aparecem associadas
a campos. Vamos considerar, por exemplo, a atracção da Terra pelo Sol. O Sol, devido à
sua massa, cria no espaço um campo gravitacional. Este campo exerce uma força na
Terra. De modo semelhante, a Terra cria no espaço um campo gravitacional, que exerce
uma força no Sol. O nosso peso é a força exercida pelo campo gravítico da Terra, no
nosso corpo.
Quando se estuda a electricidade e o magnetismo, estudam-se campos eléctricos
exercidos por cargas eléctricas, e campos magnéticos, exercidos por cargas eléctricas
em movimento.
Ao contrário das forças associadas a campos, existem muitas forças que são exercidas
por objectos em contacto directo ( empurrar ou puxar um objecto, dar um pontapé numa
bola, são exemplos destas forças). Trata-se de forças com origem electromagnética, e
são exercidas entre as moléculas de cada objecto. Consideremos, por exemplo, um livro
em cima de uma mesa. O peso do livro empurra-o “ para baixo”, pressionando-o contra
as moléculas da superfície da mesa, que resistem à compressão, exercendo uma força “
para cima”, no livro. Esta força, perpendicular à superfície da mesa, é chamada força
normal. Objectos em contacto, podem exercer forças, um sobre o outro, que são
paralelas à superfície de contacto. A componente paralela, da força de contacto, é
chamada força de atrito.

5.3. O conceito de massa

A experiência do dia a dia mostra-nos que a força necessária para alterar a velocidade
dos objectos, não é igual, para todos eles. Por exemplo, a força necessária para fazer
com que uma bicicleta ande e ganhe velocidade, causará uma alteração imperceptível no
deslocamento de um carro. Em comparação com a bicicleta, o carro tem uma maior
tendência para permanecer em repouso. Podemos dizer que o carro tem uma inércia
maior que a bicicleta.
A inércia de um objecto, é medida pela sua massa. Podemos definir a inércia de um
objecto, como a tendência natural do objecto para permanecer parado, ou em
movimento rectilíneo, com velocidade constante. Podemos dizer que a massa de um
corpo, é a característica que relaciona a força exercida no corpo, com a aceleração a que
ele fica sujeito. A unidade S. I. para a massa, é o quilograma. Em 1.2.1.1. falámos, com
detalhe, desta unidade. A tabela 1.1, mostra-nos massas de vários corpos, com ordens de
grandeza que vão de 10-31kg até 1041 kg.

5.4. Primeira lei de Newton

Antes de Galileu, pensava-se que , para um objecto se manter em movimento, com


velocidade constante, era necessário aplicar uma força a esse objecto. Galileu e Newton,
reconheceram que o abrandar dos objectos, nas experiências do dia a dia, se deve às
forças de atrito. Se o atrito for reduzido, a diminuição da velocidade, será mais reduzida.

49
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

Uma fina película de água, pode reduzir a força de atrito, e permitir que os corpos se
desloquem distâncias maiores, com menores alterações na velocidade.
De acordo com Galileu, se removermos todas as forças externas que actuam num
objecto, a sua velocidade não sofrerá alteração. Newton retomou o trabalho de Galileu,
tendo enunciado a primeira lei de Newton do movimento . Esta lei diz que um objecto
permanecerá no estado de repouso, ou em movimento rectilíneo uniforme, a não
ser que fique submetido a uma força externa ( ou a uma força resultante, não
nula).

5.4.1. Referenciais inerciais

A primeira lei de Newton, também chamada lei da inércia, define um tipo especial de
referenciais chamados referenciais de inércia. Um referencial é chamado referencial
de inércia, se nele for válida a primeira lei de Newton.
A melhor aproximação de um referencial de inércia, é um referencial que se move com
velocidade constante, relativamente a uma estrela distante. A Terra não é um referencial
de inércia, devido à sua trajectória elíptica, em torno do Sol, e ao movimento de
rotação, em torno do seu eixo. No entanto, em muitas situações, podemos considerar
que a Terra é um referencial inercial.
Se um objecto tiver um movimento rectilíneo uniforme, um observador num referencial
inercial, dirá que a aceleração do objecto é nula, e que não há forças exteriores a actuar
sobre ele, ou que a resultante das forças externas que sobre ele actuam é nula. Um
observador, em outro referencial inercial, também dirá que a aceleração e a força
externa, exercida no objecto, são nulas

5.5. Segunda lei de Newton

A primeira lei de Newton, explica o que acontece a um objecto quando a resultante de


todas as forças externas, que nele actuam, é zero. Nesses casos, o objecto permanecerá
em repouso ou em movimento rectilíneo uniforme. A segunda lei de Newton, diz-nos o
que acontece a um objecto, se a resultante das forças externas que sobre ele actuam, for
diferente de zero.
Imaginemos uma situação em que se empurra um bloco de gelo, numa superfície plana,
horizontal, onde se possam desprezar as forças de atrito. Quando se exerce, no bloco,
r r
uma força horizontal F , o bloco de gelo move-se, com uma aceleração, a . Se
duplicarmos a intensidade da força, verificamos que a aceleração passa para o dobro.
Do mesmo modo, se a intensidade da força for 3F, o módulo da aceleração será 3a, e
assim sucessivamente. Destas observações concluímos que, a aceleração de um objecto
é directamente proporcional à força que nele actua.
A aceleração de um corpo, depende, também, da sua massa. Suponhamos que o nosso
bloco de gelo, que ficou submetido a uma aceleração de módulo a, quando sob a acção
de uma força de módulo F, tem uma massa de 1 quilograma. Suponhamos, agora, que
duplicamos a massa do bloco, e aplicamos a mesma força. Veremos que a aceleração do
bloco diminui, passando para a/2. Se a massa triplicar, a mesma força originará uma
aceleração igual a a/3, e assim sucessivamente.
De acordo com esta observação, podemos concluir que para uma dada força, a
aceleração de um objecto, é inversamente proporcional à sua massa.
A segunda lei de Newton diz-nos que a aceleração de um objecto é directamente
proporcional à resultante das forças que nele actuam, e inversamente proporcional
à sua massa

50
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
r r
∑F = m a (5.1)

Note-se que, se a resultante das forças for nula, então, a aceleração é nula, e a
velocidade tem um valor constante.
A equação (5.1) é uma igualdade entre vectores. Se considerarmos as suas
componentes, num sistema de eixos coordenados, teremos

∑F X = m aX ; ∑F Y = m aY ; ∑F Z = m aZ (5.2)

Exemplo 5.1

Considere duas pessoas a empurrar um carro. A massa do carro é 1850 kg. Uma pessoa
aplica uma força de 275 N no carro, enquanto a outra aplica uma força de 395 N. As
duas forças actuam em direcções paralelas e com o mesmo sentido. Uma terceira força,
devida ao atrito, actua no carro, com sentido oposto ao das outras duas. A sua
intensidade é 560 N. Obtenha a aceleração do carro.

Resolução:
De acordo com a segunda lei de Newton, temos
r
r ∑F
a=
m
Como as forças que actuam no carro têm todas a mesma direcção, vamos preocupar-
nos, apenas, com o sentido das forças. Vamos supor que o sentido das forças exercidas
pelas duas pessoas é da esquerda para a direita. A força de atrito, actua contra o
movimento. Por isso, o seu sentido é da direita para a esquerda. Então
r r r
∑ F = (275 N + 395 N − 560 N ) i = (110 N ) i
Fazendo as substituições necessárias, obtemos
r
r (110 N ) i r
a= = (0,059 m / s 2 ) i
1850 kg

O sinal positivo da aceleração, significa que o seu sentido é da esquerda para a direita, e
a velocidade do carro está a aumentar.

Exemplo 5.2

Considere que três pessoas


puxam um pneu de um carro,
como mostra a figura 5.1.
Sabe-se que, apesar de serem
exercidas três forças, o pneu
permanece parado. Sabe-se,
ainda, que a intensidade da
força A é 220 N e a de C é
170 N. A direcção de C é
desconhecida. A força B é
Fig 5.1.(a) Vista do pneu, agarrado por três pessoas. (b)
Representação gráfica das forças que actuam no pneu

51
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

vertical. Calcule a intensidade desta força.

Resolução:
Como, apesar de estarem a ser exercidas três forças no pneu, a sua aceleração é nula (o
pneu permanece parado), então o somatório das três forças, também é nulo ( Segunda lei
de Newton)
r r r r r
FA + FB + FC = m (0) = 0
r r r
FB = − FA − FC (a)
A figura 5.1 b, mostra o sistema de eixos que vamos utilizar, e cuja origem coincide
r r r
com o centro do pneu. Como a força FB é vertical, e o ângulo formado por FA com FB
r
é 137º, então o ângulo formado por FA com o eixo OX ( parte negativa ), é
r
137º-90º=47º.Designamos por φ, o ângulo formado por FC com o eixo OX.
Vamos escrever a equação (a), em função das suas componentes. Começamos com as
componentes verticais
FBY = − FAY − FCY
− FB = − FA sen (180º −47 º ) − FC sen φ
(b)
− FB = − (220 N ) sen (133º ) − (170 N ) sen φ

Utilizando as componentes segundo o eixo OX, teremos:

FBX + FAX + FCX = 0

0 = − FA cos(133º ) − (170 N ) cos φ

 220 cos(133º ) 
φ = arc cos   = 28,04º
 − 170 

Introduzindo este resultado em (b), obteremos

FB =161N + 80 N = 241N

5.6. Terceira lei de Newton

Esta lei diz-nos que as forças que ocorrem na natureza, aparecem aos pares, ou, que uma
força isolada, não pode existir.
A terceira lei de Newton, diz que, se dois corpos interagem, a força exercida no
corpo 1,pelo corpo 2, é igual e de sentido oposto à força exercida no corpo2, pelo
corpo 1.
Consideremos, por exemplo, a força que actua num projéctil. Se desprezarmos a
resistência do ar, teremos apenas o peso, a actuar no projéctil. O peso é a força que a
Terra exerce , no projéctil. De acordo com a terceira lei de Newton, o projéctil vai
exercer, sobre a Terra, uma força igual e de sinal contrário. Como a massa da Terra é
muito grande, comparada com a massa do projéctil, a aceleração da Terra, devido à
força exercida pelo projéctil, pode ser desprezada. Ao peso do projéctil (força exercida
pela Terra), vamos chamar força de acção. À força exercida pelo projéctil na Terra,
vamos chamar força de reacção.

52
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

Um outro exemplo, é o que vemos na figura 5.2. A


força que o martelo exerce no prego (força de
acção) é igual, e de sentido oposto, à força que o
prego exerce no martelo (força de reacção).
Vamos, agora, ver o exemplo da figura 5.3. Ela
mostra um corpo em repouso, sobre uma mesa. O
corpo está sujeito à acção da gravidade. Vamos
r
representar por W , o seu peso ( força exercida pela
Terra no objecto – força de acção ). A força de

Fig 5.2. A força que o martelo reacção será a força exercida pelo objecto, sobre a
r
exerce no prego é igual, em módulo, à Terra, Wr (ver figura 5.3). O objecto não acelera,
força que o prego exerce no martelo em direcção à superfície da Terra, porque é
impedido pela mesa. A mesa
exerce uma força, dirigida para r
cima, denominada força normal , N
r
N . A força normal, vai anular o
efeito do peso, e fazer com que
haja equilíbrio do objecto, sobre a
mesa. A força de reacção `a
normal, é a força que o bloco r r
r Nr W
exerce sobre a mesa, N r .Podemos
concluir que, na situação r
Wr
apresentada, temos
r r r r
W = − Wr e N = − Nr

As forças que actuam no objecto,


são apenas o seu peso e a força Fig 5.3. Quando um bloco permanece parado, rsobre
normal. São estas, as forças uma mesa, as forças que nele actuam são o peso, W ,e a
r
externas que nos vão interessar, no força normal, N .
estudo do movimento do objecto.
Pela primeira lei, vemos que se o corpo está em equilíbrio, a sua aceleração é nula e,
portanto, W = N = m g.

5.7. Algumas aplicações das leis de Newton

Vamos apresentar algumas aplicações, simples, das leis de Newton, a corpos que
estejam em equilíbrio, ou movendo-se linearmente, sob a acção de forças externas,
constantes. No nosso modelo, vamos considerar que os corpos se comportam como
partículas. Iremos considerar apenas movimentos rectilíneos, sem rotação. Nos nosso
exemplos, iremos desprezar os efeitos do atrito, no movimento dos corpos. Iremos,
também, desprezar o peso das cordas ou cabos que seguram os corpos. Com esta
aproximação, a intensidade da força, exercida num ponto da corda, ou do cabo, é a
mesma em todos os pontos da corda, ou do cabo.
Quando aplicamos as leis de Newton, a um corpo, estamos interessados apenas nas
forças externas que actuam nesse corpo. Se considerarmos, por exemplo, a figura 5.3,
vemos que as forças externas que actuam no objecto que está em cima da mesa, são o
r r r r
seu peso, W , e a normal , N . As reacções a estas forças, Wr e N r ,actuam na Terra e na

53
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

mesa, respectivamente, e não aparecem, quando se aplica a segunda lei de Newton, ao


objecto. Nesse mesmo exemplo, vimos que o peso do corpo era igual, em módulo, e de
sentido oposto à força normal. Isto nem sempre acontece. Suponhamos, por exemplo,
que empurrávamos o objecto para baixo, com a mão. Neste caso, se aplicarmos a
segunda lei de newton ao objecto, teremos ∑ FY = aY = 0 , porque o objecto está em
repouso, em cima da mesa.
As forças verticais, que actuam no objecto, são o seu peso, e a força exercida pela mão
(ambas dirigidas para baixo) e a normal (dirigida para cima). Teremos, então

N-F-W= 0 ou N=F+W
Exemplo 5.3
r
Um semáforo, pesando 100 N, r r T2
está suspenso por um cabo, que T3 T1
se encontra ligado a dois cabos,
como mostra a figura 5.4. Os
cabos superiores formam
ângulos de 37º e 53º , com a
direcção horizontal. Obtenha a
tensão nos três cabos. r
r − T3
W
Resolução:
Em primeiro lugar, vamos

identificar as forças que Fig 5.4. (a) Semáforo suspenso por cabos. (b) Forças que actuam
actuam no nosso sistema nas luzes. (c) Forças que actuam na junção dos cabos
(semáforo e cabos). A figura
r r
5.4b, mostra as forças que actuam nas luzes. Elas são, o peso W , e a tensão T3 . Como
r r
as luzes estão em equilíbrio, a sua aceleração é nula e T3 + W = 0 , ou T3= W = 100 N.
Vamos, agora, analisar o diagrama das forças que actuam na junção dos três cabos (ver
figura 5.4c).Escolhemos este ponto, pois ele é a origem de todas as forças que actuam
nos cabos.
Vamos ver as componentes das forças, segundo os eixos do sistema de eixos, escolhido.
Força Componente segundo OX Componente segundo OY
r
T1 - T1 cos 37º T1 sen 37º
r
T2 T2 cos 53º T2 sen 53º
r
T3 0 -100

Como o sistema se encontra em equilíbrio, podemos escrever


∑ FX = 0 e ∑ FY = 0
Substituindo valores, obtém-se
∑F X = − T1 cos 37º + T2 cos 53º = 0 (1)
∑F Y = T1 sen 37º + T2 sen 53º − 100 = 0 (2)

De (1), obtemos

54
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

T1 cos 37 º
T2 = =1,33 T1
cos 53º
Introduzindo este resultado em (2), vem
T1 sen37º + (1,33T1 ) sen 53º −100 = 0

T1 = 60,2 N e T2 = 1,33T1 = 80,0 N

Exemplo 5.4

Vamos supor que temos um bloco, de massa m, a mover-se, num plano inclinado, que
faz, com a direcção horizontal , um ângulo θ ( ver figura 5.5)
a)Determine a aceleração do bloco, depois de ser libertado
b) Suponha que o bloco é libertado, quando está em repouso, na parte mais elevada do
plano, sendo a sua distância até ao final do plano, representada por d. Qual o intervalo
de tempo necessário para o bloco atingir o solo? Qual a velocidade do bloco,
imediatamente antes de atingir o solo ?
Y

r
N r
a

m g sen θ
m g cos θ

r
W X

Fig 5.5. ( a ) Bloco deslizando num plano inclinado. ( b ) Diagrama com as forças que actuam no
bloco.

Resolução:
r
a)As forças que actuam no bloco são o seu peso, W , que actua na direcção vertical, e a
r
força normal, N , que é perpendicular ao plano inclinado ( ver figura 5.5b). Para
facilitar os cálculos, vamos dizer que a origem do nosso sistema de eixos coordenados
está centrada no bloco, estando o eixo OX coincidente com o plano inclinado e sendo o
eixo OY perpendicular a ele.
Vamos decompor o peso nas suas componentes segundo os eixos. Obteremos

W X = m g sen θ e WY = − m g cos θ
Para obtermos a aceleração do bloco, vamos utilizar a segunda lei de Newton.
Atendendo à orientação dos eixos, podemos dizer que a aceleração tem componente
apenas segundo o eixo OX.

∑F X = m g sen θ = m a X (1)

55
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

∑F Y = N − mg cos θ = 0 (2)

Olhando para a expressão (1), vemos que a aceleração depende apenas da componente
do peso, na direcção do deslizamento
ax= g sen θ
A aceleração depende apenas do ângulo de inclinação do plano e do valor de g

1
b) Como ax é uma constante, podemos escrever x − xo = v xo t + a x t 2 . O enunciado diz-
2
nos que x-xo= d, e que a velocidade inicial é zero. Teremos, então
1 2d
d = g sen θ t 2 ; t=
2 g sen θ
Como se trata de um movimento uniformemente acelerado ( ax= constante), podemos
escrever
v x2 = v xo
2
+ 2 ax d

Substituindo valores, obtemos

v x2 = 2 g d sen θ e v x = 2 g d sen θ

Exemplo 5.5.

Vamos considerar duas massas diferentes, ligadas por uma corda, que passa numa
roldana, de massa desprezável e sem atrito (ver figura 5.6). O bloco de massa m2 está
sobre um plano inclinado, fazendo um ângulo θ, com a horizontal. Calcule a aceleração
das duas massas e a tensão na corda.

r
N
r r
T a
r
r T
a

m2 g cos θ

r
m1 g r
m2 g

Fig 5.6. ( a )Duas massas, ligadas por intermédio de uma corda de massa desprezável, passando por
uma roldana de massa desprezável e sem atrito. ( b ) Diagrama das forças que actuam em m1. ( c )
Diagrama das forças que actuam em m2.

56
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

Resolução:

Como as duas massas estão ligadas por meio da corda, o módulo da aceleração é o
mesmo. As figuras 5.6b e 5.6c mostram diagramas das forças , que actuam em cada
massa, separadamente. Vamos supor que a aceleração da massa m1 é dirigida para cima.
Aplicando a segunda lei de Newton a m1, vem
∑ FX = 0 (1)

∑F Y = T − m1 g = m1 a (2)

Note que, para que a seja positiva, T tem que ser maior que m1g.

Para o corpo de massa m2, vamos escolher o eixo OX’ coincidente com o plano
inclinado, sendo o eixo OY’ perpendicular ao plano. Aplicando a segunda lei de
Newton, obtém-se
∑ FX ' = m2 g sen θ − T = m2 a (3)

∑F Y' = N − m2 g cos θ = 0 (4)

As expressões ( 1 ) e ( 4 ), não fornecem informação sobre a aceleração.


Retirando o T da expressão ( 2 ), e introduzindo o resultado obtido, em ( 3 ), virá

m2 g sen θ − m1 g
a= (5)
m1 + m2
Substituindo, este resultado, em ( 2 ), virá

m1 m2 g (1 + sen θ )
T= (6)
m1 + m2

Analisando a expressão ( 5 ), vemos que m2 desce o plano inclinado, se m2 sen θ > m1.

Exercício 5.1.

Considere duas massas diferentes , colocadas nas


extremidades de uma corda, que passa numa roldana, de
massa desprezável e sem atrito. As massas estão
penduradas na vertical ( ver figura 5.7) . Este dispositivo é
conhecido por máquina de Atwood. Determine a aceleração
das duas massas, e a tensão, na corda. Suponha que m1= 1
kg e m2= 1,5 kg. Não se esqueça de fazer os diagramas
das forças que actuam em cada massa.

Solução: a= 2 m/s2 e T= 11,8 N

Fig 5.7. Máquina de Atwood

57
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

Exercício 5.2

Dois blocos, de massa m1 e m2, são colocados


em contacto, sobre uma mesa plana e
horizontal, como se pode ver, na figura 5.8.
Aplica-se uma força constante, horizontal, ao
bloco de massa m1.
a) Obtenha a aceleração do sistema
b) Determine a intensidade da força de
contacto, entre os dois blocos Fig 5.8 Blocos em movimento devido à acção
de uma força, que actua no bloco de massa m1
Nota: Na resolução, considere m1= 3 kg ,
m2 = 2 kg, e F = 50 N. Não se esqueça de fazer os diagramas com as forças que actuam
em cada bloco.

Solução: 10 m/s2 ; 20 N

5.8. Atrito

As forças de atrito, são forças de contacto que aparecem no contacto de duas ou mais
superfícies. Estas forças opõem-se ao movimento dos objectos. As forças de atrito são
muito importantes, pois são elas que nos permitem caminhar ou utilizar veículos com
rodas.
As forças de atrito em fluidos, são denominadas forças viscosas. Elas são pouco
intensas, quando comparadas com o atrito entre superfícies sólidas.
Para podermos quantificar o efeito do atrito, vamos considerar que temos um bloco
parado, numa superfície horizontal. Como o bloco está em repouso, então a sua
aceleração é nula, e a resultante das forças que actuam no bloco, também é nula.
r r
As forças verticais, que actuam no bloco, são o seu peso, W , e a força normal, N . De
acordo com o que dissemos, podemos escrever
r r
W + N =0 e W=N
Na direcção horizontal, não existem forças aplicadas, e não existe movimento. A força
de atrito nesta direcção é nula.
r
Vamos supor que aplicamos uma pequena força horizontal, T , para a direita. Se o bloco
r
permanecer em repouso, a força de atrito, f e , já não pode ser zero, pois, de acordo com
a 1ª lei de Newton, para o corpo permanecer em repouso, a resultante das forças que
nele actuam, tem que ser zero. Isto significa que
r r r
T + f e = 0 e T = fe
Se T aumentar gradualmente, então fe também aumenta. Quando T se torna
suficientemente intenso, o bloco começa a deslizar. Isto significa que existe um valor
r
máximo possível para a força de atrito estático f e (max) . Vamos ver algumas
propriedades desta força:
r
1. f e (max) é independente da área de contacto. Se o bloco for substituído por outro,
r
com igual massa e metade da área de contacto, f e (max) permanece o mesmo.
r
2. Para um dado par de superfícies, f e (max) é proporcional ao módulo da força normal,
N.

58
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

3. O coeficiente que relaciona fe (max) com N, é chamado coeficiente de atrito estático,


µe , que é definido por
fe (max) = µe N (5.3)

O coeficiente µe depende da natureza das duas superfícies em contacto, do seu grau de


limpeza e alisamento, do conteúdo em humidade. Tipicamente, se tivermos duas
superfícies de metal, em contacto, µe varia entre 0,3 e 1,0.
4. A força necessária para manter um objecto em deslizamento, a velocidade constante,
é menor do que a requerida para iniciar o movimento. A força de atrito cinético, fc, é
menor que fe (max). Esta força é independente da área de contacto, e satisfaz a relação

fc = µc N (5.4)

µc é chamado coeficiente de atrito cinético. Como fc < fe (max), então µc < µe.

Exemplo 5.6

Considere um bloco, numa superfície gelada, que se move com uma velocidade inicial
de 20 m/s. Calcule o coeficiente de atrito cinético, entre o bloco e o gelo, sabendo que o
bloco desliza, durante 120 m, até parar.

Resolução:

As forças que actuam no bloco, depois Movimento


de estar em movimento, são o peso do r
bloco, a força normal, e a força de N
atrito. Vamos pensar que esta força fc
permanece constante, originando uma
aceleração negativa, no bloco.
r
Aplicando a segunda lei de Newton, fc
ao bloco, obteremos:

∑F X = − fc = − m a (1)

r
∑F Y = N − mg = 0 (2) W

Fig 5.9. Depois de dar ao bloco uma velocidade


Sabemos que fc= µc N. Da expressão inicial, as forças externas, que nele actuam, são o
(2), obtemos N= mg. Vamos substituir peso, a normal, e a força de atrito cinético
este resultado em (1)
− µ c m g = − ma e a = − µc g
O sinal negativo, significa que o sentido da aceleração, é para a esquerda, sendo o
sentido do movimento para a direita. Vemos, por esta expressão, que a aceleração é
independente da massa do bloco, e é constante, desde que µc seja constante.
Como a aceleração é constante, podemos utilizar as equações da cinemática, e escrever

v 2 = v02 + 2 a ∆x
Sabemos que , no final, o bloco pára. Por isso, a sua velocidade final é nula.

59
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

v02 + 2 a ∆x = 0 e v02 + 2 (− µ c g ) x = 0
Daqui obtém-se

µc =
v02
=
(20 m / s ) 2
= 0,17
( )
2 g x 2 9,8 m / s 2 (120 m )

Exemplo 5.7

Um bloco permanece parado, na superfície de um plano inclinado. O ângulo de


inclinação do plano, aumenta até atingir um ângulo crítico θc, a partir do qual, o bloco
começa a deslizar. Obtenha o coeficiente de atrito estático.

Resolução:
As forças que actuam no bloco
r
são o seu peso ( m g ), a força
r
normal exercida pelo plano N ,
r
e a força de atrito f e ( ver
figura 5.10) . Para ângulos
inferiores ao ângulo crítico θc,
a força de atrito anula a
componente do peso, na r r
direcção do plano inclinado N fe
( mg sen θ ). No ângulo crítico,
fe= µe N.
Antes de ser atingido o ângulo
crítico, o corpo permanece
parado, e, por isso, a resultante
das forças aplicadas ao corpo, Fig 5.10. As forças externas que actuam num bloco
tem que ser nula. localizado num plano inclinado, com uma superfície rugosa,
Vamos aplicar a segunda lei de são a componente do peso na direcção do deslocamento, a
Newton, às componentes das força normal, e a força de atrito estático
forças, segundo os eixos que se
mostram na figura 5.10.
∑F Y = N − mg cos θ
∑F X = m g sen θ − f e = 0

Substituindo a força de atrito pelo seu valor, no ângulo crítico, vem

m g sen θ − µ e N = 0
e
m g sen θ m g sen θ
µe = = = tg θ
N m g cos θ

60
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

Exemplo 5.8.

Um bloco de massa m1= 2 kg, está numa superfície rugosa, horizontal. Este bloco, está
ligado a uma massa m2 = 3 kg, por uma corda leve, que passa numa roldana sem atrito,
e de massa desprezável. Uma força de módulo F=50N, é aplicada à massa m1, como se
mostra na figura 5.11. O coeficiente de atrito cinético, entre a massa m1 e a superfície, é
µ. Determine a aceleração das massas, e a tensão na corda, considerando θ=15º e
µ=0.36

Resolução:

r
a
r
r F
F r
r N
T r
T
r
fc

r
W2 r
W1

r
Fig 5.11.(a) A força aplicada F , pode fazer com que o corpo de massa m1 se desloque para a
direita. (b) Diagrama das forças que actuam em m2 , quando ele se desloca para cima. (c ) Diagrama
das forças que actuam em m1. Note-se que, neste caso, a normal é inferior ao peso.

Em primeiro lugar, vamos construir, separadamente, os diagramas das forças que


r
actuam em cada massa. Note-se que a força F , tem componente segundo OX
( Fx= F cos θ) e segundo OY (FY= F sen θ ).
Vamos aplicar a segunda lei de Newton, e considerar que o movimento de m1, é para a
direita.
Para o movimento de m1, vamos obter
∑ FX = F cos θ − f c − T = m1 a (1)
∑F
= N + F sen θ − m1 g = 0
Y (2)
Para o movimento de m2, vamos obter

∑F X =0
∑F Y = T − m2 g = m2 a (3)

sabemos que fc= µc N. De ( 2 ), vemos que

N = m1 g – F sen θ
o que nos conduz a
f c = µ (m1 g − F sen θ ) = 0,36 (19,6 N − 12,9 N ) = 2,4 N ( 4)

61
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

Isto significa que a força de atrito é reduzida, devido à componente da força, segundo
OY. Vamos retirar o valor de T de (3), e substituir, juntamente com ( 4 ), na expressão
(1 ). Obteremos

F cos θ − µ (m1 g − F sen θ ) − m2 ( g + a ) = m1 a


Daqui, retiramos o valor de a

F (cos θ + µ sen θ ) − g (µ m1 + m2 )
a=
m1 + m2
Substituindo valores, obtém-se

50 N (cos 15º + 0,36 sen 15º ) − 9,8m / s 2 (0,36 (2kg ) + 3 kg )


a= = 3,3 m / s 2
2 kg + 3 kg

Substituindo este valor em ( 3 ), obtemos o valor de T. T= 39 N

Exercício 5.3

A massa m2, na figura 5.12, foi


ajustada para que o bloco m1 fique
à beira de deslizar.
a) Determine o coeficiente de atrito
estático, entre a prateleira e o
bloco, sabendo que m1= 7 kg e
m2= 5 kg.
b) Com um pequeno empurrão, o
bloco de sloca-se com aceleração
r
a , Obtenha o valor de a, sabendo
que o coeficiente de atrito cinético, Fig 5.12. O bloco de massa m1 desliza sobre a
entre a prateleira e o bloco, é prateleira devido à acção do peso do bloco m2.
µc=0,54.
c) Qual é a tensão na corda, quando o bloco está a deslizar?

Solução: a) µe = 0,714 ; b) a = 0,997 m/s2 ; c) T = 44,1 N

5.9. Novas aplicações das leis de Newton

No capítulo 4, já falámos do movimento circular, de raio r, com velocidade uniforme v.


Tínhamos visto que, apesar do módulo da velocidade ser constante, a sua direcção muda
continuamente ao longo da trajectória, e, por isso, temos, neste movimento, uma
aceleração que é radial, sendo o seu módulo dado por
v2
ar =
r
Consideremos, agora, uma bola de massa m, atada a uma corda de comprimento r, e
movemos a corda de maneira que a bola fique com um percurso circular horizontal.
Vamos considerar que o módulo da velocidade com que a bola se desloca, é constante.
A inércia da bola tende a mantê-la num percurso linear, no entanto, a corda impede este

62
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

movimento, exercendo uma força na bola, que a obriga a seguir um percurso circular. A
direcção desta força, coincide com a corda, e o sentido é para o centro do círculo, como
se mostra na figura 5.13. Esta força chama-se força centrípeta. Se aplicarmos a
segunda lei de Newton, ao longo da direcção radial, obteremos

v2
Fr = m a r = m (5.5)
r

m
r
Fr

r
Fr

r
Fig 5.13. Uma bola movendo-se num percurso circular. A força Fr é dirigida para o centro do
círculo, e mantém a bola no seu percurso circular. Quando a corda parte,a bola move-se numa
direcção tangente ao percurso circular, no ponto onde a bola estava quando a corda partiu.

Tal como a aceleração centrípeta, a força centrípeta actua da trajectória para o centro do
percurso da partícula. No caso da bola em rotação, atada na extremidade de uma corda,
a tensão na corda, é a força centrípeta. Para um satélite, numa órbita circular, em torno
da Terra, a força centrípeta será a força da gravidade. A força centrípeta que actua num
carro ao fazer uma curva, numa estrada horizontal, é a força de atrito entre os pneus e o
pavimento.
Se a força centrípeta, que actua num dado objecto, se anular, o objecto deixará de ter um
percurso circular, e passará a mover-se em linha recta, tangente ao círculo, no ponto
onde a força se anula. Esta situação é mostrada na figura 5.13 b. Em geral, um corpo
pode mover-se num percurso circular, devido à acção de forças como o atrito, a força
gravitacional, ou uma combinação de forças.

Exemplo 5.9

Um pequeno corpo, de massa m, encontra-se suspenso de uma corda, de comprimento


L. O corpo move-se num círculo horizontal, de raio r, com velocidade constante ,v,
como mostra a figura 5.14. Como a corda roda, gerando uma superfície cónica, chama-
se a este dispositivo pêndulo cónico. Obtenha a velocidade do corpo e o período do
movimento. Considere L= 1,00m e θ = 20º.

63
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

Resolução :

Na figura 5.14b, mostra-se um


diagrama com as forças que
actuam no corpo. Vemos que a r
tensão foi decomposta, na T cos θ
componente horizontal T sen θ , r
e na componente vertical T cos
T
θ. Como o corpo não acelera, na
direcção vertical, a soma das r
forças que actuam nesta T sen θ
direcção, deve ser nula, e T cos θ r
deve compensar o peso do corpo mg
r
mg (a) ( b)
T cos θ = mg (1) Fig 5.14 Pêndulo cónico e o diagrama das forças que nele
actuam
A força centrípeta, neste
exemplo, é a componente horizontal da tensão, e se aplicarmos a segunda lei de
Newton, teremos
v2
T sen θ = m a r = m (2)
r
Dividindo ( 2 ) por ( 1 ), virá

m v2 v2
tg θ = =
mgr gr

da geometria, sabemos que r = L sen θ, e

v = ( g r tg θ ) = l g senθ tg θ
O período do pêndulo, na sua órbita, será

2π r 2π r L cos θ
TP = = = 2π
v g r tg θ g
Substituindo valores, obteremos

TP = 2 π
(1,00 m )(cos 20º ) =1,95 s
9,8 m / s 2

Exemplo 5.10

Vamos considerar um satélite, em órbita circular, em volta da Terra. Antes de


começarmos a resolução do problema, vamos relembrar que a força gravitacional, entre
duas partículas possuindo massas m1 e m2, separadas por uma distância r, é atractiva e
tem uma intensidade dada por

64
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

m1 m 2
F =G (5.6)
r2
sendo G = 6,672 X 10 −11 N m 2 / kg 2 . Esta expressão traduz a lei da atracção universal
de Newton.
Vamos considerar um satélite , de massa m, movendo-se numa órbita circular, em torno
da Terra, com uma velocidade constante v, e a uma altitude h (acima da superfície da
Terra)
a) Determine a velocidade do satélite, utilizando G , h, RT(raio da Terra) e MT
( massa da Terra)
b) Determine o período do satélite (intervalo de tempo necessário para o satélite dar
uma volta completa, em torno da Terra).

Resolução:
a) A força externa que actua no satélite é apenas a força da gravidade. Por esse facto,
podemos escrever
m m
Fr = G 1 2 2
r

A distância que aqui aparece será r= RT+ h. vamos, agora, aplicar a 2ª lei de Newton.

MT m v2
G = m
r2 r
Daqui, podemos obter
G MT G MT
v= = ( 5.7)
r RT + h

b) Como o satélite percorre uma órbita circular, num intervalo de tempo que
designamos por Ts, podemos escrever
2πr 2π r  2π  3 / 2
Ts = = = r (5.8)
v G M T / r  G M T 

Exercício 5.4.

Um satélite tem uma órbita circular a uma altitude de 1000 km. Sabe-se que o raio
médio da Terra mede 6,37 X 106 m. Obtenha a velocidade do satélite e o período da sua
órbita.

Solução: 7,35 X 103 m/s; 6,31 X 103 s = 105 min

5.10 Movimento circular não uniforme

No capítulo 4, vimos que se uma partícula se move, num percurso circular, com
velocidade variável, a aceleração vai ter uma componente radial e uma componente
tangente à trajectória. Então, as forças responsáveis pelo movimento, também deverão
ter uma componente radial e outra tangente à trajectória. Isto significa que, se
r r r r r r
a = a r + a t , então F = Fr + Ft . A componente de F, na direcção radial, é responsável

65
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

pela aceleração centrípeta. A componente tangencial, é responsável pela aceleração


tangencial, que faz com que a velocidade da partícula varie ao longo do tempo. Vamos
ver um exemplo, que demonstra este tipo de movimento.

Exemplo 5.11

Uma pequena esfera de massa m, é atada a uma extremidade de uma corda, de


comprimento R, que roda, num circulo vertical, em torno de um ponto fixo O ( ver
figura 5.15). Vamos determinar a tensão na corda, no instante em que a velocidade da
esfera é v, e a corda faz um ângulo θ, com a vertical.

Resolução:
Olhando para o diagrama representado na figura 5.15a, vemos que as forças que actuam
r
vsup

r
mg r
T

r
T r
T

r
vinf

r
mg
r
mg

Fig 5.15.(a) Forças que actuam num corpo de massa m, ligado a uma corda de comprimento R,
rodando num círculo vertical, centrado em O. (b) Forças que actuam no corpo quando está na parte
mais elevada, e na parte mais baixa, do percurso.

na esfera, são o seu peso, e a tensão na corda. Vamos, agora, decompor o peso, numa
componente tangencial (mg sen θ) e numa componente radial (mg cos θ). Aplicando a
segunda lei de Newton às forças que actuam na direcção tangencial, vem
∑ Ft = m g senθ = m at ⇒ at = g senθ (5.9)

dv
Esta componente, faz com que v varie , ao longo do tempo a t = .
dt
Aplicando a segunda lei de Newton, às forças na direcção radial, e notando que tanto T
como ar, apontam para o, teremos
v2
∑ r F = T − m g cos θ = m
R

66
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5

 v2 
T = m  + g cos θ  (5.10)
R 
Na parte mais elevada do percurso, onde θ=180º, teremos

 v2 
T+elev = m  − g 
R 
Este é o valor mínimo de T. Neste ponto at=0, sendo a aceleração radial, dirigida para
baixo ( ver figura 5.15 b).
Na parte mais baixa do percurso, θ = 0, e

 v2 
T−elev = m  + g 
R 
Este é o valor mais elevado de T. Neste ponto temos, novamente, at=0, sendo a
aceleração radial e dirigida para cima.

67
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Cap 6. Trabalho e energia

6.1 Introdução

As leis de Newton do movimento permitem-nos analisar vários tipos de movimento,


contudo, a análise pode tornar-se muito complicada, exigindo detalhes acerca do
movimento, que simplesmente não conhecemos. Consideremos, como exemplo, um
corpo a deslizar ao longo de uma rampa, sem atrito, mas apresentando vales e zonas
elevadas, e com diferentes formas. Para calcularmos a velocidade do corpo, no final do
movimento, utilizando as leis de Newton, necessitamos de conhecer, de modo
detalhado, como a altura da rampa varia ao longo do percurso, e o cálculo pode tornar-
se muito complicado.
Vamos, agora, falar de outra técnica , que pode ser utilizada para analisar o movimento.
Esta técnica, pode ser estendida a outras situações, tais como reacções químicas,
processos geológicos, e funções biológicas, que não envolvem movimento. Este método
é particularmente útil quando a força que actua no corpo em movimento, não é
constante e, por isso, a aceleração do corpo não é constante, podendo a análise do
movimento ser muito complicada.
Na nossa análise, vamos utilizar o conceito de energia. Este conceito é, actualmente,
um dos mais importantes que são utilizados em ciências físicas e engenharia.
A energia apresenta-se em várias formas, incluindo energia mecânica, energia
electromagnética, energia química, energia térmica e energia nuclear. As várias formas
de energia estão relacionadas entre si, pois quando se dá a transformação de uma forma
de energia noutra forma, a quantidade total de energia permanece constante. É este facto
que faz com que o conceito de energia seja tão útil. Se um sistema isolado, perder
energia nalguma forma, então a lei da conservação da energia, diz que o sistema
ganhará uma quantidade igual de energia, noutra forma. Por exemplo, quando um motor
eléctrico se liga a uma bateria, parte da energia química da bateria é convertida em
energia eléctrica que, por sua vez, é convertida em energia mecânica.
Neste capítulo vamos falar apenas de energia mecânica nas formas de energia cinética e
energia potencial.

6.2 Trabalho

Quando se aplica uma força a um objecto, ele fica acelerado, e se o sentido da força for
o mesmo do deslocamento, a aceleração é positiva, a velocidade aumenta, e a energia
1
cinética do objecto ( K = m v 2 ) aumenta. De modo semelhante, se o sentido da força
2
for contrário ao sentido do deslocamento, a aceleração do objecto será negativa, a
velocidade diminuirá e o objecto perderá energia cinética. Dizemos, no primeiro caso,
que o nosso corpo transferiu energia cinética para o objecto e, no segundo caso, o
objecto transferiu energia cinética para o nosso corpo. Dizemos que, quando se dá uma
transferência de energia através da aplicação de uma força, a força realiza trabalho sobre
o objecto. Podemos definir trabalho, de um modo mais formal.
Trabalho (W) é a energia transferida de ou para um objecto, por meio de uma
força que actua no objecto. Quando se transfere energia para o objecto, o trabalho
é positivo. Se o objecto ceder energia, o trabalho é negativo.
As unidades em que se exprime o trabalho são as mesmas da energia ( Joule) e o
trabalho, tal como a energia, é uma grandeza escalar.

68
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Note-se que, esta definição de trabalho não coincide com a noção de trabalho do senso
comum. Por exemplo, se uma pessoa empurrar uma parede de tijolos, a pessoa exerce
uma força na parede, mas não realiza trabalho, pois a parede é fixa.
Se segurarmos um objecto nos braços, durante um dado intervalo de tempo, estamos a
aplicar uma força no objecto, no entanto não é realizado trabalho pois o objecto está
sempre na mesma altura.

6.3. Trabalho e energia cinética

Vamos, agora, ver como é que podemos calcular o trabalho realizado quando se aplica
uma força a um objecto

6.3.1. Trabalho realizado por uma força constante


r
Consideremos um corpo que sofre um deslocamento d , ao longo de uma linha recta
v r
(eixo OX) , devido à acção de uma força constante F , que faz um ângulo θ com d .
Pela segunda lei de Newton,
r sabemos que o corpo adquire
F uma aceleração, segundo o eixo
OX, que pode ser calculada
r utilizando a expressão
F cos θ
Fx= F cos θ = m ax (6.1)

Em que m designa a massa do


d corpo. Enquanto o corpo se
desloca, a força está a actuar,
fazendo com que a velocidade do
Fig 6.1. Se um objecto sofre um deslocamento d, devido
r r r
corpo aumente de vo para v .
à acção de uma força F , o trabalho realizado é igual a
(F cos θ) d. Como a força é constante, a
aceleração também é constante.
Então, podemos utilizar as equações do movimento, deduzidas no capítulo 3, e dizer
que

v 2 − v o2
v 2 = vo2 + 2 a x d ⇒ ax =
2d
Se substituirmos ax em (6.1), obteremos

1 1
m v 2 − m vo2 = Fx d (6.2)
2 2

No lado esquerdo desta igualdade, temos a variação de energia cinética do corpo,


durante o deslocamento d, enquanto a força esteve a actuar. O lado direito da igualdade
diz-nos que a variação da energia cinética do corpo é, numericamente igual a Fx d.
Então o trabalho ,W, realizado pela força F (energia transferida pela força) é

W = Fx d = F cos θ d (6.3)

69
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Para calcular o trabalho realizado por uma força num objecto, durante um
deslocamento, utilizamos , apenas, a componente da força na direcção do deslocamento.
Se a força for perpendicular ao deslocamento, θ = 90º, e o trabalho realizado será nulo.

A equação (6.3) é útil para calcular o trabalho, se conhecermos os valores de F, d e θ.


Como o lado direito desta igualdade é equivalente ao produto interno ou produto escalar
r r
F • d , podemos escrever
r r
W = F •d (6.4)
Devemos relembrar aqui, que as expressões (6.3) e (6.4) só são válidas se a força
aplicada for constante; a força não pode variar em intensidade nem em direcção ou
sentido, enquanto o corpo se move. Consideramos também que o corpo se comporta
como uma partícula. O corpo deve ser rígido; todas as partes do corpo se devem mover
em conjunto, na mesma direcção e sentido.

Olhando para a figura 6.2, podemos r


r F
ver um bloco que se move numa N
superfície horizontal, com atrito.
Atendendo à expressão (6.3), podemos
dizer que o peso do corpo e a normal, r
f
não realizam trabalho quando o corpo
se desloca, pois o ângulo que elas
formam com a direcção do
deslocamento é 90º e cos 90º=0.
A força de atrito forma, com o r
mg
deslocamento, um ângulo de 180º e,

por isso, o trabalho realizado é igual a Fig 6.2. Quando um corpo é deslocado,
–f d . O trabalho realizado pela força horizontalmente, numa superfície com atrito, o peso
r
F , é ,neste caso, positivo, pois cos θ e a normal não realizam trabalho. O trabalho
realizado pela força de atrito é negativo. O trabalho
é positivo. r
F , é positivo.
realizado pela força
Podemos dizer que uma força realiza trabalho positivo, quando tem uma componente
na direcção e sentido do deslocamento, e realiza trabalho negativo, quando a
componente na direcção do deslocamento, tem sentido oposto ao deslocamento. A
força realizará trabalho nulo , se não tiver componente na direcção do deslocamento.

Quando duas ou mais forças actuam, em simultâneo, num dado objecto, o trabalho total
realizado no objecto, é a soma do trabalho realizado individualmente por cada força,
durante o deslocamento.

Exemplo 6.1

Uma caixa é arrastada, na direcção horizontal, devido há acção constante de uma força
de 50 N. A força faz um ângulo de 37º, acima da horizontal. Uma força de atrito de
10N, retarda o movimento da caixa, que se desloca 3 m , para a direita.
a) Calcule o trabalho realizado pela força de 50 N
b) Calcule o trabalho realizado pela força de atrito
c) Calcule o trabalho total, realizado por todas as forças que actuam na caixa.

70
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Resolução:

a) Vamos utilizar a expressão (6.3). Sabemos que F = 50 N, θ = 37º e d = 3 m.

WF = (F cos θ ) d = (50 N )(cos 37º )(3 m ) =120 N m = 120 J


b) Como a força de atrito tem sentido oposto ao deslocamento, θ = 180º

W f = ( f cos θ ) d = (10 N )(cos 180º )(3 m ) = − 30 Nm = − 30 J


r r
c) Como a força normal N , e a força exercida pela gravidade mg ,são
perpendiculares ao deslocamento, o trabalho realizado por estas forças é nulo. O
trabalho realizado sobre a caixa será

W = WF + W f = 120 J − 30 J = 90 J

Exercício 6.1

Calcule o trabalho realizado na caixa, se ela for arrastada durante 3 m, por uma força
horizontal de 50 N, considerando que a força de atrito é 15 N

Solução: 105 J

6.3.2.Teorema trabalho - energia cinética

A equação (6.2), relaciona a variação de energia cinética sofrida por um corpo ( desde o
1 1
instante inicial K i = m vo2 , até um instante posterior K f = m v 2 ) com o trabalho
2 2
( W = Fx d ) realizado sobre o corpo. Podemos generalizar esta igualdade, para objectos
que se possam comportar como partículas. Seja ∆K a variação de energia cinética do
objecto, e W o trabalho realizado nele. Podemos escrever

∆K = Kf – Ki = W (6.5)

Esta expressão diz-nos que a variação na energia cinética de uma partícula, é igual, ao
trabalho realizado sobre a partícula.
Podemos escrever a relação (6.5) na forma

Kf = Ki + W (6.6)

Que diz que a energia cinética da partícula, depois de ser realizado trabalho, é igual à
energia cinética da partícula, antes de ser realizado trabalho, mais o trabalho
realizado.

Estas conclusões são conhecidas como o teorema trabalho - energia cinética. Elas são
válidas para trabalho positivo e para trabalho negativo. Se o trabalho total, realizado
sobre uma partícula , for positivo, a energia cinética da partícula aumenta de uma
quantidade igual ao trabalho realizado. Se o trabalho total for negativo, a energia
cinética da partícula decresce de uma quantidade igual ao trabalho realizado.

71
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Exemplo 6.2.

Um camião com uma massa de 3000 kg vai ser colocado num barco, por uma grua, que
exerce sobre o camião uma força vertical de 31 kN (dirigida para cima). Esta força, que
é suficiente para manter o camião no ar, é aplicada enquanto o camião sobe 2 m.
Obtenha:
a) O trabalho realizado pela grua
b) O trabalho realizado pela força gravítica
c) A velocidade com que o camião se move, para cima, no final de percorrer os 2 m

Resolução:
a) A força aplicada (pela grua) tem a direcção e o sentido do deslocamento. O
trabalho realizado é positivo
( )
Wap = Fap cos 0º ∆Y = 31X 10 3 N (1)(2 m ) = 62 X 10 3 J = 62 kJ

b) A força da gravidade (peso do corpo) é dirigida para baixo, e, por isso, teremos

( )
W g = m g cos 180º ∆Y = (3000 kg ) 9,8 m / s 2 (− 1)(2m ) = − 59 X 10 3 J = − 59 kJ

c) Para calcularmos a velocidade final do camião, vamos considerar que


inicialmente ele estava parado (possivelmente no chão), sendo a sua energia
cinética nula.
Vamos aplicar o teorema trabalho – energia cinética

Wtotal = ∆K = K f − K i = K f

Wtotal = Wap + W g = 62 kJ − 59 kJ = 3 kJ

1 6 X 10 3 J
3 X 10 3 J = m v 2f ⇒ vf = = 1,4 m / s
2 3000 kg

Exercício 6.2

Calcule a velocidade final do camião se for aplicada a mesma força, para ele subir 2m,
mas considerando que ele já se estava amover para cima, com uma velocidade de 1 m/s.

Solução: 1,73 m/s.

Exemplo 6.3.

Considere que, durante uma tempestade, uma caixa sofre um deslizamento


r r
d = (− 3,0m ) i enquanto um vento estacionário sopra contra a caixa, com uma força
r r r
F = (2,0 N ) i + (− 6,0 N ) j .
a) Calcule o trabalho realizado pela força do vento, sobre a caixa
b) Considere que a caixa tem uma energia cinética de 10 J, no início do
r
deslocamento. Qual é a sua energia cinética, no final do deslocamento d ?

72
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Resolução:

a) Como podemos tratar a caixa como se fosse uma partícula, e como o vento se
mantém estacionário, em intensidade e direcção (força constante), podemos utilizar a
expressão (6.4) para calcular o trabalho realizado pelo vento

[ ][ ]
r r r r r
W = F • d = (2,0 N ) i + (− 6,0 N ) j • (− 3,0 m ) i
r r r r
W = (2,0 N )(− 3,0 m ) i • i + (− 6,0 N )(− 3,0 m ) j • i = − 6,0 J

O trabalho obtido é negativo, o que significa que o vento retira energia cinética da
caixa.

b) Vamos utilizar o teorema trabalho – energia cinética. Sabemos que o trabalho


realizado pelo vento é negativo. Então, podemos escrever
Kf = Ki + W = 10 J + (- 6,0 J ) = 4,0 J
Como a energia cinética diminuiu, durante o movimento, isso significa que a velocidade
de deslocamento da caixa abrandou.

6.3.3. Trabalho realizado pela força gravítica

Vamos considerar, agora, o trabalho realizado por um tipo particular de força - a força
gravítica. A figura 6.3, mostra a situação
de uma partícula de massa m, que é
lançada “para cima” com uma velocidade
inicial vo e, portanto, com uma energia
1
cinética K i = m vo2 . À medida que a
2
partícula sobe, a sua velocidade diminui,
r r
devido à acção da força gravítica Fg ; isto mg
significa, que a energia cinética da
partícula diminui, devido ao trabalho
r
realizado pela força Fg . Suponhamos que
a partícula subiu uma distância d. O
trabalho realizado pela força gravítica, r
mg
será

Fig 6.3. Quando uma partícula, de massa m,


W g = m g d cos θ = m g d cos (180º ) sobe, a sua velocidade diminui devido à acção
(6.7) da força gravítica. Por isso, a sua energia
=−mg d cinética também diminui à medida que a
O sinal menos, significa que, durante a partícula sobe.
subida, a força gravítica retira energia
cinética à partícula. Isto está de acordo com a diminuição de velocidade que acontece
quando a partícula sobe.
Depois da partícula ter atingido a altura máxima, ela começará a descer, e o ângulo θ,
formado pela força gravítica com o vector deslocamento, passa a ser 0º. Neste caso o
trabalho realizado pela força gravítica será

73
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

W g = m g d cos θ = m g d cos 0º = m g d (6.7a)

O sinal mais indica-nos que a força gravítica transfere energia para a partícula. A sua
energia cinética aumenta, na descida. Esta conclusão está de acordo com o facto da
velocidade da partícula aumentar durante a sua queda para a superfície da Terra.
*
* *
Vamos supor que queremos levantar um objecto, e, por isso, vamos aplicar-lhe uma
r
força vertical F . Durante o deslocamento para cima, a força que aplicamos, realiza um
trabalho positivo Wa , sobre o objecto, enquanto a força gravítica realiza um trabalho
negativo Wg, sobre o objecto. A força que aplicamos tende a transferir energia para o
objecto enquanto a força gravítica tende a retirar-lhe energia. A variação de energia
cinética do objecto, durante o levantamento, será

∆K = Kf – Ki = Wa+ Wg (6.8)

Esta equação também se aplica se descermos o objecto, mas, nesse caso, o trabalho
realizado pela força gravítica é positivo enquanto o trabalho realizado pela força que
aplicamos será negativo

Exemplo 6.4.

Uma caixa com uma massa de 15,0 kg, que inicialmente se encontrava parada, é
puxada, por intermédio de um cabo, ao longo de um plano inclinado sem atrito, como
mostra a figura 6.4. Sabe-se que a distância percorrida pela caixa ao longo da rampa é
d= 5,70 m, até atingir uma altura
h=2,50m, onde pára.
Cabo a) Calcule o trabalho
realizado pela força
gravítica, sobre a caixa,
durante a subida.
b) Calcule o trabalho
realizado pela tensão do
r
cabo T , durante a subida
da caixa.

Resolução:
(a)
Na resolução do problema vamos
r tratar a caixa como se fosse uma
N r partícula, e utilizar a equação
d (6.7) para calcular o trabalho Wg,
r realizado pela força gravítica.
T
a) A figura 6.4b mostra-nos

Fig 6.4 (a) Uma caixa é puxada por um


cabo, ao longo de uma rampa , sem
atrito. (b) Diagrama das forças que
actuam na caixa
r
mg
(b)
74
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

um diagrama com as forças que actuam na caixa. Por ela, podemos ver que a
força gravítica forma , com a rampa, um ângulo de 90º+ θ, sendo θ a inclinação
da rampa (que é desconhecida). Aplicando a equação (6.7), teremos

W g = m g d cos (90 + θ ) = − m g d sen θ (1)


Pela figura 6.4a, vemos que sen θ = h/d, e d sen θ = h. Substituindo este
resultado em (1), obteremos

( )
W g = − m g h = − (15,0 kg ) 9,8 m / s 2 (2,50 m ) = − 368 J

r
b) Como não conhecemos o valor da tensão T , exercida pelo cabo, não podemos
aplicar directamente a expressão (6.3). Vamos aplicar o teorema trabalho –
energia. Como a caixa estava parada antes da subida, e fica parada depois de
subir, a alteração na sua energia cinética é nula. Para calcularmos o trabalho
total, realizado sobre a caixa, temos que somar o trabalho realizado pela força
gravítica, com o trabalho realizado pela normal e com o trabalho realizado pela
tensão no cabo. O trabalho realizado pela força normal, sobre a caixa, é zero,
porque a normal forma, com o deslocamento, um ângulo de 90º. O trabalho
realizado pela força gravítica, foi calculado na alínea a) e é -368 J. Aplicando o
teorema trabalho – energia, teremos
∆K = W g + W N + WT
0 = - 368 J + 0 J + WT
e, portanto, WT= 368 J.

6.3.4. Trabalho realizado pela força de uma mola

Vamos, agora, estudar o trabalho realizado por um tipo especial de força variável,
chamada força de uma mola. Muitas forças, na natureza, têm a mesma forma
matemática da força da mola. Assim, estudando esta força, podemos perceber muitas
outras

6.3.4.1. Força da mola

Na figura 6.5, mostramos um bloco numa superfície plana, horizontal. Este bloco está
ligado a uma mola. A figura 6.5b, mostra a mola em equilíbrio. O bloco encontra-se na
posição X=0. Se a mola for esticada ou comprimida, movendo-se uma pequena
distância, a partir da sua situação de equilíbrio, a mola exercerá uma força no bloco,
dada por
F = - kx (lei de Hooke) (6.9)

sendo x o deslocamento do bloco (medido a partir da sua posição de equilíbrio), e K é


uma constante positiva, chamada constante da mola. O sinal negativo que aparece na
expressão (6.9), significa que a força exercida pela mola, tem sempre sentido oposto ao
do deslocamento. Por exemplo, quando x>0 (ver figura 6.5a), a força da mola é negativa
(virada para a esquerda). Quando x<0 (ver figura 6.5c), a força da mola é positiva
(virada para a direita). Como a força da mola tende sempre a colocá-la numa situação de
equilíbrio, ela é, por vezes, chamada força restauradora.

75
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Note-se que a força da mola é uma força variável, porque a sua intensidade e sentido
dependem da posição da extremidade da mola ligada ao bloco. No nosso caso, podemos
dizer que F é função de x, F(x).
F é negativa

X é positivo

F=0

X=0

F é positiva

X é negativo

Fig 6.5. A força que a mola exerce no bloco, varia com o deslocamento em relação à posição de
equilíbrio ,X=0. (a) Quando x é positivo (mola distendida), a força da mola é dirigida para a
esquerda. (b) Quando x=0, a força da mola é nula ( comprimento natural da mola). (c) Quando x é
negativo ( mola comprimida), a força da mola é dirigida para a direita

6.3.4.2. Trabalho realizado

Precisamos encontrar, agora, uma expressão que nos permita calcular o trabalho
realizado por uma força que actua numa direcção fixa, mas que varia ao longo do
tempo. Para isso, vamos fazer duas simplificações acerca da mola. (1) Podemos
desprezar a massa da mola, em comparação com a massa do bloco. (2) A nossa mola é
uma mola ideal, que obedece exactamente à lei de Hooke. Vamos considerar ainda, que
não existe atrito na zona de contacto do bloco com a superfície horizontal, e que o bloco
se pode considerar como sendo uma partícula.

76
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Vamos puxar ligeiramente o bloco para a direita e, em seguida largamo-lo. Quando o


r
bloco se move para a direita, a força da mola F , realiza trabalho, diminuindo a energia
cinética do bloco.
Para fazermos o cálculo do trabalho realizado pela força da mola, vamos considerar que,
inicialmente, o bloco se encontra na posição xi e posteriormente se encontrará na
posição xf. Vamos dividir a distância entre esta duas posições em vários segmentos
iguais, com um comprimento que designaremos por ∆x. Vamos considerar que estes
segmentos são suficientemente pequenos para podermos considerar que a força da mola
se mantém constante, em cada segmento.
Com a força constante em cada segmento, nós podemos calcular o trabalho realizado em
cada segmento utilizando a expressão (6.3). Neste caso θ = 0º e cos θ = 1. O trabalho
total, realizado pela força da mola, será a soma de todos os trabalhos calculados

Wmola = ∑ F j ∆x (6.10)
onde o índice j designa cada um dos segmentos. Este valor á apenas uma aproximação
do trabalho realizado pela mola. A aproximação será mais próxima do valor real, quanto
menor for o valor de ∆x. No limite, quando ∆x tender para zero, teremos

xf xf

Wmola = ∫ F dx =
xi
∫ (− kx ) dx
xi
(6.11)

Fazendo o cálculo deste integral, obteremos

xf

∫ x dx =  − 2 k  [x ]
 1  2 xf 1 1
Wmola = − k xi = k xi2 − k x 2f (6.12)
xi
2 2
Este trabalho realizado pela força da mola pode ter sinal positivo ou negativo Se
considerarmos xi=0 e a posição final igual a x, então, pela equação (6.12) teremos

1
Wmola = − k x 2 (6.13)
2
*
* *

Vamos pensar que deslocamos o bloco, ao longo do eixo dos x, aplicando-lhe uma
r
força Fa . Durante o deslocamento, a nossa força aplicada realiza trabalho Wa e a força
da mola realiza trabalho Wmola. A variação da energia cinética do bloco ∆K, devido às
transferências de energia pelas forças, é

∆K = K f − K i = Wa + Wmola (6.14)

sendo Kf a energia cinética no final do deslocamento, e Ki a energia cinética no início


do deslocamento. Se o bloco permanecer parado, antes e depois do deslocamento, a
expressão (6.14) reduz-se a

Wa = − Wmola (6.14a)

77
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Exemplo 6.5.

Considere uma pequena caixa, numa superfície plana horizontal e sem atrito, ligada à
extremidade livre de uma mola. Para manter a caixa parada em x1= 12 mm, é necessário
aplicar uma força Fa= 4,9 N.
a) Calcule o trabalho realizado pela força da mola, quando a caixa é empurrada
para a direita deslocando-se de xo= 0 até x2 =17 mm
b) Em seguida, a caixa é movida para a esquerda, sté ao ponto x3= - 12 mm. Qual o
trabalho realizado pela força da mola, durante este deslocamento?

Resolução:

a) Para calcularmos o trabalho realizado pela força da mola, poderemos utilizar a


expressão (6.12). verificamos, no entanto, que não conhecemos o valor da
constante da mola, k. Para a calcularmos, vamos utilizar o facto de a mola estar
parada na posição x1=12mm,quando se aplica uma força de 4,9 N. Nestas
condições a força da mola deve ser igual e de sinal contrário à força aplicada.

F = - k x1 ⇒ k= - F/ x1 = - (-4,9)/(12 X 10-3m)= 408 N/m


1 1
(
Wmola = − k x 22 = − (408 N / m) 17 X 10 −3 m
2 2
)
2
= − 0,059 J

b) Agora, temos a posição final e inicial, da caixa. Podemos aplicar directamente a


expressão (6.12)

1
2
( 1
2
) [(
Wmola = k xi2 − x 2f = (408 N / m ) 17 X 10 −3 ) − (−12 X 10 ) ]
2 −3 2

= 0,030 J = 30 mJ

O trabalho realizado pela força da mola, sobre a caixa, é positivo porque o trabalho
realizado, quando o bloco vai da posição xi= + 17 mm até à posição de equilíbrio, é
superior ao trabalho realizado quando o bloco vai da posição de equilíbrio até à posição
xf = - 12 mm.

6.3.5. Trabalho realizado por uma força variável

Esta situação já nos apareceu, quando calculámos o trabalho realizado pela força da
mola. Vamos, agora, considerar que temos uma força dirigida ao longo do eixo dos x,
mas com uma intensidade que varia com a posição.
Fazendo uma análise idêntica à feita para a mola chegamos à conclusão que o trabalho
realizado pela força entre as posições xi e xf, é dado por
xf

W ≅ ∑ Fx ∆x
xi

78
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Este resultado é aproximado, pois resulta de termos considerado F constante, no


intervalo ∆x. ( ver figura 6.6). Para fazermos o cálculo exacto do trabalho temos que
considerar o limite desta soma, quando o valor ∆x tender para zero .
xf

W = ∫ Fx dx (6.15)
xi

Fig 6.6. (a) O trabalho realizado pela força Fx, para pequenos deslocamentos ∆x é igual à área do
rectângulo assinalado. O trabalho total é aproximadamente igual à soma de todos os rectângulos.
(b) O trabalho realizado pela força variável Fx é numericamente igual à área definida pela função e o
eixo OX, entre os pontos xi e xf.

É esta a expressão utilizada para o cálculo do trabalho realizado por uma força variável ,
que varia apenas com x. Geometricamente, o trabalho é igual à área entre a curva f(x) e
o eixo dos x, entre os limites xi e xf (ver figura 6.6)

6.3.5.1.Análise a três dimensões

Consideremos, agora, que uma força, a três dimensões, actua numa partícula.
r r r r
F = Fx i + Fy j + Fz k
em que as componentes Fx, Fy e Fz podem depender da posição da partícula. Vamos
fazer algumas simplificações: Fx pode depender de x, mas não pode depender de y ou de
z, Fy pode depender de y, mas não pode depender de x ou de z, Fz pode depender de z,
mas não pode depender de x ou de y.
Vamos considerar que a partícula sofre um deslocamento infinitesimal
r r r r
dr = dx i + dy j + dz k
r
O trabalho realizado pela força F , na partícula, durante este deslocamento é
r r
dW = F • dr = Fx dx + Fy dy + Fz dz

79
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

r
O trabalho realizado pela força F , sobre a partícula, quando a partícula se desloca da
posição inicial ri com coordenadas (xi, yi, zi) para a posição final rf com coordenadas
(xf, yf, zf), é, então

rf xf yf zf

W = ∫ dW = ∫ Fx dx + ∫ Fy dy + ∫ Fz dz (6.16)
ri xi yi zi

Exemplo 6.6

Uma força F = (3 x 2 N )i + (4 N ) j , com x em metros, actua numa partícula, alterando a


r r r

sua energia cinética.


a) Qual o trabalho realizado pela força, quando a partícula se move de um ponto de
coordenadas (2 m, 3m ) para (3 m, 0 m)?
b) A velocidade da partícula, aumenta, diminui, ou permanece constante ?
Justifique a sua resposta.

Resolução:

a) A força é variável e tem componentes segundo o eixo dos x e segundo o eixo


dos y. para calcularmos o trabalho realizado, vamos utilizar a expressão (6.16)

3 0 3 0
W = ∫ 3x dx + ∫ 4 dy = 3 ∫ x dx + 4 ∫ dy
2 2

2 3 2 3

3
 x3 
[ ]
= 3   + 4 [ y ]3 = 33 − 2 3 + 4 [0 − 3]= 7,0 J
0

 3 2

b) O trabalho realizado pela força, tem sinal mais. Isto significa que é transferida
r
energia para a partícula, por intermédio da força F . A energia cinética da partícula
aumente e a sua velocidade também.

6.3.6. Teorema trabalho – energia cinética, para uma força variável

Consideremos uma partícula de massa m, movendo-se ao longo do eixo dos x,


submetida à acção de uma força F(x). O trabalho realizado por essa força, quando a
partícula se desloca de uma posição inicial xi até uma posição final xf , pode ser
calculado por
xf xf

W = ∫ F ( x ) dx = ∫ m a dx (6.17)
xi xi

utilizando a definição de aceleração, podemos escrever

dv
m a dx = m dx (6.18)
dt

80
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Sabemos que a força varia com x, então a velocidade também varia com x. Utilizando a
regra de derivação para uma função composta, teremos

dv dv dx dv
= = v
dt d x dt d x

Substituindo este resultado em (6.18), obteremos

dv
m a dx = m v dx = m v dv
dx
e
vf vf
1 1
W= ∫ m v dv = m ∫ v dv = 2 m v − m vi2
2
f (6.19)
vi vi
2
No lado direito desta igualdade, temos a variação de energia cinética, quando a
velocidade se altera de vi para vf. Este resultado permite-nos escrever

W = Kf – Ki= ∆K

que é o teorema trabalho – energia cinética.

6.4 Potência

A potência P , fornecida por uma força, é a taxa á qual ela realiza trabalho. Se uma
dada força realizar um trabalho W, durante um intervalo de tempo ∆t , a potência média
fornecida pela força, no intervalo de tempo considerado, será

W
Pm = (6.20)
∆t

A potência instantânea define-se como a derivada do trabalho realizado, em ordem ao


tempo.
dW
P= (6.20a)
dt
A unidade SI de potência é o Joule por segundo, que recebeu o nome de watt (W). Por
vezes, utiliza-se o kilowatt- hora.

1 kilowatt- hora= 1X 103 W. h = ( 1 X 103W) ( 3600 s) = 3,60 X 106 J = 3,60 MJ


r
Se considerarmos o trabalho realizado por uma força constante F , fazendo um ângulo θ
com a direcção do eixo OX, actuando sobre uma partícula que se move
horizontalmente, teremos

d W F cos θ dx dx
P= = = F cos θ = F v cos θ (6.21)
dt dt dt

81
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Se analisarmos o lado direito desta igualdade, veremos que, na realidade, ele representa
r r
o produto escalar, ou produto interno, dos vectores F e v .
r r
P = F •v (6.22)

Exemplo 6.7.

Um pequeno motor é utilizado para mover um elevador que sobe uma carga de tijolos,
pesando 800 N, a uma altura de 10 m, durante 20 s. Qual é a potência mínima , que o
motor deve produzir?

Resolução:

Se considerarmos que os tijolos são elevados a uma velocidade constante, a força


exercida pelo motor, é igual ao peso dos tijolos, F = 800 N. A velocidade com que os
tijolos se movem é v= (10 m)/ (20 s) = 0,5 m/s.
r r
Sabemos que P = F v cos θ , sendo θ o ângulo formado pelos vectores F e v . A força
e o vector velocidade têm a mesma direcção e o mesmo sentido (vertical, de baixo para
cima ), logo o ângulo θ é igual a 0º.

P = F v = (800 N ) (0,5 m/s) = 400 W

6.5 Energia potencial

Vamos, agora, falar de outra forma de energia mecânica, chamada energia potencial, e
que está associada com a posição ou configuração dos objectos. Iremos ver que a
energia potencial de um sistema , pode ser vista como energia armazenada, que pode ser
convertida em energia cinética ou originar trabalho. O conceito de energia potencial só
pode ser utilizado quando trabalhamos com uma classe especial de forças, chamadas
forças conservativas. Quando num sistema só actuam forças conservativas, como a
força gravítica, ou a força exercida por uma mola, a energia cinética ganha (ou perdida)
pelo sistema quando os seus membros alteram as suas posições relativas, é compensado
por uma perda (ou ganho) igual de energia, na forma de energia potencial.
No nosso estudo, iremos falar da energia potencial gravítica que está associada com a
separação entre objectos, que se atraem devido ao facto de possuírem massa. Falaremos,
também, da energia potencial elástica, que está associada com o estado de extensão ou
compressão de um objecto elástico ( como, por exemplo, uma mola em hélice). Se
comprimirmos ou distendermos uma mola, realizamos trabalho . Esse trabalho realizado
vai alterar a energia potencial da mola

6.5.1. Trabalho e energia potencial

Vamos considerar que lançamos um objecto, que podemos considerar como uma
partícula, na direcção vertical. Já sabemos que o trabalho realizado, pela força da
gravidade, quando a partícula sobe é negativo e a partícula perde energia cinética
quando sobe. Podemos, agora, completar a nossa análise e dizer que a força gravítica
transfere esta energia para a forma de energia potencial gravítica do sistema Terra –
partícula. A nossa partícula pára, quando a velocidade se anula, e depois começa a
descer, devido à força gravítica. Durante a queda, o trabalho realizado pela força

82
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

gravítica é positivo ( o deslocamento tem o mesmo sentido da força), ou seja, a força


gravítica transfere energia potencial do sistema Terra – partícula para a forma de
energia cinética da partícula.
A variação ∆U, da energia potencial gravítica, na subida ou na descida, é igual a menos
a trabalho realizado pela força gravítica na partícula. Podemos escrever

∆U = - W (6.23)

Esta igualdade aplica-se, também, a um sistema bloco-mola , de que já falámos.

6.5.2. Forças conservativas e não conservativas

A força gravítica tem uma propriedade interessante, quando um objecto é movido de um


local para outro, o trabalho realizado pela força gravítica não depende do percurso
seguido pelo objecto, depende apenas das suas posições inicial e final. Por esta razão, a
força gravítica é chamada força conservativa.
Podemos dizer que uma força é conservativa quando o trabalho por ela realizado, no
movimento de um objecto, é independente do percurso seguido pelo objecto,
dependendo apenas da posição inicial e da posição final do objecto.
Um outro modo de definir uma força conservativa é quando o trabalho realizado num
objecto que se move num percurso fechado, em que a posição final coincide coma
posição inicial, é nulo.
São exemplos de forças conservativas, para além da força gravítica, a força elástica de
uma mola e a força eléctrica entre partículas carregadas com carga eléctrica.
Uma força que não é conservativa é chamada força não conservativa. As forças de atrito
são exemplos de forças não conservativas. Consideremos, por exemplo, um bloco que
se move ao longo de uma superfície rugosa. Durante o deslizamento, a força de atrito
cinético, realiza trabalho negativo, sobre o bloco, diminuindo a sua velocidade e
fazendo com que parte da energia cinética do bloco se transforme em energia térmica.
Sabemos, por via experimental, que não é possível fazer a conversão desta energia
térmica em energia cinética. Assim, apesar de termos um sistema, e de as forças que
estamos a considerar originem transferências de energia, estas forças não são
conservativas. A energia térmica não é uma energia potencial.

6.5.3. Determinação de variações de energia potencial

Consideremos uma partícula que faz parte de um sistema em que actua uma força
r
conservativa, F . Quando essa força realiza trabalho na partícula, a variação ∆U, na
energia potencial associada com o sistema é igual a menos o trabalho realizado
∆U= - W. Para uma caso mais geral, em que a força varia com a posição, podemos
calcular o trabalho por
xf

W = ∫ F ( x) dx
xi

Esta equação dá-nos o trabalho realizado pela força. Quando o objecto se move de xi
para xf, alterando a configuração do sistema. Atendendo à relação que existe entre o
trabalho realizado e a variação de energia potencial, podemos escrever

83
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

xf

∆U = − ∫ F ( x) dx (6.24)
xi

Esta é a relação geral que procurávamos. Vamos, agora, utilizá-la.

6.5.3.1. Energia potencial gravítica

Vamos considerar uma partícula de massa m, que se move verticalmente, para cima, ao
longo do eixo OY. Quando a partícula se desloca de yi para yf, a força gravítica realiza
trabalho. Para obter a variação na energia potencial gravítica do sistema Terra-
partícula, vamos utilizar a expressão (6.24)

yf yf

∆U = − ∫ (− m g ) dy = m g ∫ dy = mg [ y ] = m g ∆y
yf
yi
yi yi

Só as variações de energia potencial gravítica ( ou qualquer energia potencial) têm


significado físico. Contudo, para simplificar os cálculos, nas gostaríamos de falar de um
certo valor de energia potencial gravítica U, associado ao sistema partícula- Terra,
quando a partícula está a uma altitude Y. para isso, vamos escrever

U – Ui = ∆U = m g (y – yi) (6.25)
Agora, vamos considerar Ui como a energia potencial gravítica do sistema, quando ele
está numa configuração de referência, estando a partícula num ponto de referência yi.
Normalmente consideramos Ui= 0 quando yi= 0. Utilizando este facto, podemos
escrever
U (y) = m g y (6.25a)

A energia potencial gravítica, associada com um sistema partícula- Terra, depende


apenas da posição vertical da partícula, em relação à posição de referência y= 0.

6.5.3.2. Energia potencial elástica

Vamos considerar, novamente, o sistema formado por uma mola em hélice e um bloco
ligado à extremidade livre da mola. Quando o bloco se move de um ponto xi para xf, a
força da mola ( F= - k x) realiza trabalho no bloco.
Para determinarmos a variação de energia potencial elástica do sistema bloco-mola,
vamos utilizar a expressão (6.24).

xf xf

∆U = − ∫ (− kx ) dx = k ∫ x dx = k x 2f − k xi2
1 1
(6.26)
xi xi
2 2

Para associar um valor de energia potencial U, com o bloco numa posição x,


escolhemos a configuração de referência como sendo a posição do bloco na posição
xi=0, estando a mola relaxada (nem comprimida nem distendida). Assim, a energia
potencial elástica Ui é nula, e teremos
1
U = k x2 (6.26a)
2

84
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

6.6. Conservação de energia mecânica

A energia mecânica e um sistema é a soma da energia cinética com a energia potencial

E mec = K + U (6.27)

Vamos ver o que acontece a esta energia mecânica, quando apenas actuam forças
conservativas no sistema que estamos a considerar, ou seja, quando não há atrito a
actuar nos objectos do sistema. Vamos admitir que o sistema é isolado, do meio que o
rodeia. Como tal, não existem forças externas, capazes de provocar transferências de
energia dentro do sistema.

Quando uma força conservativa realiza trabalho, num objecto de um sistema, ele
transfere energia cinética de um objecto em energia potencial de um sistema. Pelo
teorema trabalho – energia cinética, sabemos que
∆K = W
e pela expressão (6.24)
∆U = -W

Combinando estas duas expressões, temos

∆E = ∆K + ∆U = 0
e
∆K = - ∆U

Se considerarmos dois estados do sistema, em dois instantes diferentes, teremos

K 2 − K 1 = − (U 2 − U 1 )
ou seja
K 2 + U 2 = K1 + U 1 (6.28)

Por outras palavras, podemos dizer que:

Num sistema isolado, onde só forças conservativas podem originar transferências de


energia, a energia cinética e a energia potencial, podem sofrer alterações, mas a sua
soma, a energia mecânica do sistema, não pode variar. Este resultado é conhecido como
princípio de conservação da energia mecânica.

Quando a energia mecânica de um sistema, é conservada, podemos relacionar a soma da


energia cinética com a energia potencial, num dado instante, com a soma da energia
cinética e da energia potencial, noutro instante, sem considerar o movimento intermédio
e sem calcular o trabalho realizado pelas forças envolvidas

Exemplo 6.8

Suponha que está no alto de um edifício, com 12m de altura, e dá um pontapé numa
bola, fazendo com que ela se mova a uma velocidade vi= 16 m/s, fazendo um ângulo de
60º, acima da direcção horizontal. Despreze o efeito da resistência do ar, e calcule:
a) A altura a que a bola sobe, acima do edifício

85
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

b) A velocidade da bola quando atinge o solo

Resolução:
a) A bola fica sujeita, apenas, à força da gravidade. Como se trata de uma força
conservativa, podemos aplicar o princípio da conservação da energia mecânica.

Na parte mais elevada do percurso da bola, viy= 0 m/s, tendo a velocidade da bola
apenas componente horizontal v= vix cos 60º. Vamos utilizar como nível de
referência, o telhado do edifício.
Sabemos que
E+alto= Ei

1 1
m v +2elev + mgh = m vi2
2 2

vi2 − v +2elev
h=
2g

Sabemos que vi= 16 m/s e v +elev = vi cos 60º = 8 m / s . Substituindo valores, obtém-se

h=
(16 m / s ) − (8 m / s )
2 2
= 9,8 m
(
2 9,8 m / s 2 )
b) Se considerarmos a energia mecânica da bola, imediatamente antes de tocar no
solo, teremos
1
E f = m v 2f + m g y
2
Podemos relacionar esta energia com a energia inicial

1 1
m v 2f + m g y = m vi2
2 2

v f = vi2 − 2 g y = 22,2 m / s

Exemplo 6.9

Um bloco de 2kg é empurrado em direcção a uma mola em hélice, colocada


horizontalmente (ver figura 6.7), com uma constante de 500 N/m, comprimindo-o 20
cm. Em seguida, o bloco é libertado, e a mola projecta-o, ao longo de uma superfície
horizontal, sem atrito, e em seguida, ao longo de uma rampa que forma coma direcção
horizontal, um ângulo de 45º. Qual o deslocamento que o bloco sofre, em cima da
rampa, antes de parar?

Resolução:
Depois do bloco ser libertado, as forças que realizam trabalho, são a força da mola e a
forças gravítica. Ambas são forças conservativas. A energia mecânica, total do sistema
mola-bloco-Terra é conservada.

86
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Vamos aplicar o princípio de


conservação da energia mecânica
e calcular a altura h (altura a que
subiu o bloco). Em seguida,
calculamos a distância
percorrida, sabendo que
sen 45º=h/s.
A energia mecânica inicial, do
sistema, é apenas energia
potencial elástica
1
Ei = k x 2
2
A energia mecânica final, é
apenas energia potencial
gravítica
Ef = m g h
Aplicando o princípio de
conservação de energia Fig 6.7. O bloco ao ser empurrado pela mola vai subir até
que a energia potencial gravítica seja igual à energia
mecânica, teremos potencial elástica da mola quando o bloco se começa a
mover
1 2
k x =mg h
2
k x2
h= = 0,5 m
2mg

Sabendo que h= s sen 45º, teremos


h
s= = 0,7 m
sen θ

Exercício 6.3

Obtenha a velocidade do bloco, imediatamente depois de ele deixar a mola.

Solução: 3,16 m/s

6.7 Forças não conservativas e teorema trabalho – energia

Nos sistemas físicos reais, aparecem forças não conservativas como , por exemplo, o
atrito. Nesses casos, a energia mecânica já não é constante. Contudo, podemos continuar
a utilizar o teorema trabalho – energia.
Seja Wnc o trabalho realizado por forças não conservativas, e Wc o trabalho realizado
por forças conservativas. Podemos utilizar o teorema trabalho – energia, e escrever

Wnc + Wc = ∆ K
Como Wc= - ∆U (Eq. 6.24), esta equação reduz-se a

Wnc = ∆K + ∆U = (K f − K i ) + (U f − U i )

87
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Isto significa que o trabalho realizado pelas forças não conservativas, é igual à variação
da energia cinética, somada com a variação da energia potencial. Como a energia
mecânica total é E = K + U, podemos escrever

Wnc = (K f + U f )− (K i − U i ) = E f − E i (6.29)

O trabalho realizado pelas forças não conservativas é igual à variação da energia


mecânica total do sistema.

Exemplo 6.10

Um bloco de 3 kg desliza 1 m, ao longo de um plano inclinado (ver figura 6.8). O bloco


r
N

r
f

r
m g sen 30º
r
m g cos 30º

Fig 6.8. a) Um bloco desliza ao longo de um plano inclinado, com atrito, devido à acção da
gravidade. b) Diagrama com as forças que actuam no bloco

parte do repouso, na parte mais elevada do plano, e fica submetido a uma força de atrito
constante de 5 N. O ângulo de inclinação do plano é 30º.
a) Utilize variações de energia, para calcular a velocidade do bloco, quando acaba
de percorrer 1 metro.
b) Utilize as leis de Newton, para obter a aceleração do bloco, e, de seguida, teste o
resultado obtido em a).

Resolução:
a) Como o bloco parte do repouso, vi= 0 m/s e Ki= 0 J. A energia potencial
gravítica, na parte mais elevada do plano é Ui = mg yi (consideramos que o eixo
dos y tem início na base do plano inclinado). A energia mecânica do bloco, na
parte mais elevada do percurso é
E i = m g y i = (3 kg ) (9,8 m / s 2 )(0,5m ) = 14,7 J
Quando o bloco atinge a parte mais baixa do percurso, a sua energia potencial
1
gravítica vai ser nula (pois y=0 m ) e a energia cinética será K f = m v 2f . Então, a
2
1
energia mecânica total, no final do percurso, será E f = m v 2f . Neste caso não
2
podemos dizer que Ei = Ef pois está a actuar uma força de atrito, que não é
conservativa.

88
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

O trabalho realizado pela força de atrito no bloco, vai ser Wnc= f s cos (180º)= -fs ,
sendo s o deslizamento do bloco, ao longo do plano. Substituindo valores, teremos
Wnc= (5,0 N) (1,0 m) = - 5,0 J.
Aplicando o teorema trabalho – energia, envolvendo forças não conservativas

1
Wnc= Ef – Ei ⇒ m v 2f = − 5,0 J + 14,7 J = 9,7 J
2

v 2f =
(2 X 9,7 ) J = 6,47 m 2 / s 2 ⇒ v f = 2,5 m / s
3 kg

b) As forças que actuam, ao longo do plano, são a força de atrito e a componente


do peso, na direcção do deslocamento

m g sen 30º - fc = m a

fc
a = g sen30 º −
m
(
= 9,8 m / s 2 sen30 º − )
5,0 N
3 kg
= 3,2 m / s 2 Como a
aceleração é
constante, podemos utilizar a expressão

v 2f = vi2 + 2 a s

Substituindo valores, obtemos


( )
v 2f = 2 3,2 m / s 2 (1m ) = 6,4 m 2 / s 2 ⇒ v f = 2,5 m / s
*
* *
Consideremos a situação do exemplo 6.10 . Por via experimental, sabe-se que o bloco e
o plano, na zona de deslizamento do bloco, aquecem quando o bloco desliza. Se a
temperatura de um objecto aumenta, isso significa que a energia térmica Eter (energia
associada com o movimento aleatório dos átomos e moléculas) do objecto também
aumenta. Aqui, a energia térmica do bloco e do plano aumentam porque existe atrito
entre eles e o bloco desliza. O deslizamento aumenta a energia térmica Eter. Por via
experimental, sabe-se que
∆ Eter= fc s (6.30)

6.8 Relação entre forças conservativas e energia potencial

Já vimos que o conceito de energia potencial está relacionado com as coordenadas ou


com a configuração do sistema. Calculámos a energia potencial a partir de forças
conservativas. Vimos, também, que a variação na energia potencial de uma partícula,
submetida a uma força conservativa, é igual a menos o trabalho realizado por essa força
(Eq 6.23).
Se um sistema, sofrer um deslocamento infinitesimal dx, a variação da energia potencial
do sistema será d U = - Fx dx
Daqui, vemos que a força conservativa está relacionada com a função energia potencial,
através de

89
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

dU
Fx = − (6.31)
dX
A força conservativa é igual a menos a derivada da função energia potencial, em ordem
a x.
Podemos, facilmente, testar esta relação, utilizando dois exemplos já apresentados.
Vimos que a energia potencial de uma mola elástica era
1
U mola = k x 2
2
então
d U mola
= − k (2 x ) =
1
Fmola = −
dX 2
= −k x
que é, como vimos, a força
exercida pela mola (lei de
Hooke).

Se considerarmos a energia
potencial gravítica Ug= m g y ,
obteremos
dUg
Fg = − = − mg
dy
A figura 6.9a, mostra-nos um
gráfico da função energia
potencial U(x), para um sistema
onde uma partícula sofre um
movimento, a uma dimensão,
Fig 6.9 a) Curva da energia potencial de um sistema, quando a força conservativa F(x)
contendo uma partícula que se move segundo OX. b) realiza trabalho sobre o sistema.
Força F(x) que actua na partícula
Podemos, facilmente, obter o
valor de F(x) através do declive da tangente à curva, em vários pontos do gráfico. A
figura 6.9b mostra-nos o gráfico de F(x), obtido deste modo.
No gráfico a) podemos ver uma linha horizontal que corresponde à energia total do
sistema. Sabendo o valor da energia potencial (retirado da curva), podemos saber o
valor da energia cinética (por subtracção com a energia total.

6.9. Conservação de energia

Vimos que a energia mecânica total de um sistema é conservada, quando apenas actuam
no sistema forças conservativas. Vimos, também, que podemos associar a cada força
conservativa, uma função energia potencial. Por outras palavras, perde-se energia
mecânica quando forças não conservativas como , por exemplo, o atrito, estão presentes.
Podemos generalizar o princípio de conservação da energia mecânica, para incluir todas
as forças que actuam no sistema. Já vimos que, quando actuam forças de atrito, parte da
energia mecânica é transformada em energia térmica. Por exemplo, quando um bloco
desliza sobre uma superfície rugosa, a energia mecânica perdida, é transformada em
energia interna, temporariamente armazenada no bloco e zona de contacto, aumentando
a sua temperatura. Se incluirmos este aumento de energia interna do sistema, no nosso
teorema trabalho – energia, a energia total é conservada.

90
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6

Este é apenas um exemplo de como um sistema pode ser analisado, concluindo-se que a
energia total de um sistema isolado, não sofre alteração, desde que se tenha em conta
todas as formas de energia. Daqui podemos concluir que a energia não pode ser criada
nem destruída. A energia pode ser transformada de uma forma para outra, mas a
energia total de um sistema isolado, é sempre constante. Podemos generalizar e dizer
que a energia do universo é constante. Se uma parte ganha energia ( seja qual for a
forma de energia), existe outra parte que perde uma quantidade igual de energia.

91
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

Cap 7. Sistemas de partículas e conservação de momento


linear

7.1. Introdução

Nos capítulos 4,5,e 6, apresentámos e utilizámos as leis de Newton, considerando que


os objectos se comportavam como partículas pontuais, mas em muitas aplicações, temos
necessidade de considerar as dimensões e forma do nosso objecto em estudo. Vamos,
mostrar que , em cada sistema, existe um ponto, o centro de massa, que se move como
se toda a massa do sistema estivesse concentrada nele, e todas as forças externas que
actuam no sistema estivessem a actuar exclusivamente nele. O movimento de qualquer
objecto, ou sistema de partículas, pode ser descrito através do movimento do centro de
massa, mais o movimento das partículas individuais no sistema, relativamente ao centro
de massa.
Iremos, ainda, introduzir o conceito de momento linear de um sistema de partículas, e
mostrar que ele se conserva, quando o sistema está isolado da sua vizinhança, ou
quando a soma das forças externas que nele actuam é zero. Iremos ver, também, como o
princípio da conservação do momento linear é útil para estudar problemas como
colisões entre bolas de bilhar, carros, e partículas sub atómicas.

7.2. Centro de massa

Vamos ver como se calcula o centro de massa de vários sistemas. Vamos considerar um
sistema simples, constituído por
duas partículas, localizadas no eixo
OX. A partícula de massa m1 está (a)
localizada no ponto x1, e a
partícula de massa m2 localiza-se
no ponto x2.
A posição do centro de massa é
dada por
m x + m2 x 2
X CM = 1 1 (7.1) (b)
m1 + m2

Neste caso em que só temos duas


partículas, o centro de massa

localiza-se na linha existente entre Fig 7.1 Centro de massa de um sistema formado por duas
elas. Se as massas forem iguais, o massas. (a) As massas são diferentes e o centro de massa
centro de massa localiza-se, está mais próximo da que tem maior massa. (b) As massas
exactamente, a meio da distância são iguais e o centro de massa está a meio da distância
entre as duas massas. Se as entre as duas massas
partículas tiverem massas
diferentes, o centro de massa estará mais próxima da partícula com maior massa.
Se considerarmos x1=0 (a partícula de massa m1 está na origem do sistema de eixos) e
se x2= d, teremos
m2
X CM = d (7.1a)
m1 + m2

92
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

Note-se que, apesar de ter sido alterada a origem do sistema de eixos, o centro de massa
encontra-se à mesma distância de m1 e de m2. Se considerarmos a massa total do
sistema M= m1+ m2, teremos
m x + m2 x2
X CM = 1 1 (7.2)
M

Podemos estender esta equação a um sistema mais geral, constituído por n partículas,
localizadas ao longo do eixo OX. A massa total do sistema, será M = m1+m2+… .+ mn,
e a sua localização será
m x + m 2 x 2 + ...... + mn x n 1 n
X CM = 1 1 = ∑ mi x i (7.3)
M M i =1
Podemos generalizar esta definição, para um sistema de muitas partículas, a três
dimensões. Nestes casos, os vectores posição de cada partícula, irão ter componentes
segundo os eixos OX,OY e OZ. O vector posição do centro de massa, também irá ter
três coordenadas.

n n n
1 1 1
X CM =
M
∑m
i =1
i xi ; YCM =
M
∑m
i =1
i yi ; Z CM =
M
∑m z
i =1
i i (7.4)

r r r r
Atendendo a que ri = xi i + y i j + z i k e o vector posição do centro de massa é dada
por
r r r r
rCM = X CM i + YCM j + Z CM k (7.5)

Utilizando as expressões (7.4) e a notação vectorial, podemos escrever

v 1 n r
rCM = ∑ mi ri (7.6)
M i =1
sendo M, a massa total do sistema.
Vamos, agora, ver como se determina a posição do centro de massa de um objecto
formado por um meio contínuo, de dimensões finitas. Em vez de considerarmos
partículas, vamos considerar elementos de volume dV, com massa dm; nestas
condições, os somatórios das expressões (7.4) passam a integrais, e teremos

1 1 1
X CM =
M ∫ x dm ; YCM =
M ∫ y dm ; Z CM =
M ∫ z dm (7.7)

sendo M a massa total do objecto.


O cálculo destes integrais, pode tornar-se muito difícil, para objectos de uso comum.
Vamos considerar apenas, objectos com uma densidade uniforme, dada por

dm M
= ρ= (7.8)
dV V
sendo dV o volume ocupado pela massa dm, e V o volume total do objecto. Se
substituirmos dm por (M/V) dV, nas equações (7.7), teremos

93
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

1 1 1
V∫ V∫ V∫
X CM = x dV ; YCM = y dV ; Z CM = z dV (7.9)

Pode-se evitar o cálculo destes integrais, se o objecto possuir um ponto, uma linha ou
um plano de simetria. O centro de massa desse objecto, irá localizar-se no ponto, na
linha ou no plano de simetria. O centro de massa de uma esfera uniforme, por exemplo,
localiza-se no centro da esfera (que é o ponto de simetria). O centro de massa de um
cone uniforme (cujo eixo é uma linha de simetria) localiza-se no eixo do cone. O centro
de massa de uma banana ( que tem um plano de simetria que divide a banana em duas
partes iguais) localiza-se algures, nesse plano. O centro de massa de um objecto não tem
que se localizar no próprio objecto. O centro de massa de um donut, localiza-se na
ponto central (onde não existe massa ).

Exemplo 7.1

Três partículas de massas m1=1,2 kg,


m2=2,5 kg e m3=3,4 kg, estão colocadas
nos vértices de um triângulo equilátero,
de lado a=140 cm. Onde se situa o
centro de massa destas três partículas?

Resolução:

Como estamos a lidar com três YCM r


partículas, podemos utilizar as rCM
expressões (7.4). As partículas estão no
plano do triângulo, sendo necessário
XCM
apenas duas coordenadas, para as
Fig 7.2. Centro de massa do sistema constituído
localizar. Vamos escolher o sistema de por 3 partículas nos vértices de um triângulo de
eixos, de modo que uma das partículas lados a
esteja na origem do sistema (ver figura
7.2), e um dos lados do triângulo coincida com o eixo OX. As três partículas têm as
seguintes coordenadas
Partícula Massa (kg) X (cm) Y ( cm )
1 1,2 0 0
2 2,5 140 0
3 3,4 70 121

A massa total do sistema é M=(1,2kg+2,5kg+3,4kg)=7,1 kg. Vamos, agora, utilizar as


expressões (7.4)

1 3
m1 x1 + m2 x 2 + m3 x3 (2,5kg )(140 cm ) + (3,4 kg )(70 cm )
X CM =
M
∑m x
i =1
i i =
M
=
7,1kg
= 83 cm

1 3
m1 y1 + m2 y 2 + m3 y 3 (3,4 kg )(121cm )
YCM =
M
∑m i =1
i yi =
M
=
7,1 kg
= 58 cm

r r r
rCM = 83 i + 58 j ( cm )

94
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

Exemplo 7.2.

Calcular o centro de massa da folha representada (ver figura 7.3), sabendo que a sua
espessura é uniforme.

Resolução:

A folha pode ser dividida em duas partes simétricas. O centro de massa de cada parte,

Fig 7.3 Para determinar o centro de massa da folha, com densidade uniforme, dividimo-la em duas
folhas, 1 e 2, calculando o Centro de massa destas porções por simetria

coincide com o seu centro geométrico. Seja m1 a massa da parte 1 e m2 a massa da parte
2. A massa total do sistema será M = m1+ m2. Como a espessura é uniforme, as massas
são proporcionais às áreas.
Vamos aplicar as expressões (7.4)

M X CM = m1 x1 + m2 x 2
M YCM = m1 y1 + m2 y 2
Como a massa é proporcional à área, vamos calcular as áreas dos dois rectângulos
A1= (0,8 m X 0,4 m) = 0,32 m2 A2= (0,2 m X 0,2 m)=0,04 m2

(A1/ A2 ) = 8 ⇒ m1 = 8 m2 e M = 8 m2 + m2 = 9 m2

Atendendo à simetria do problema, podemos dizer que o centro de massa está no centro
de cada rectângulo de placa. Assim, teremos:

x1= 0,4 m ; x2= 0,7 m ; y1= 0,2 m ; y2= 0,5 m

Substituindo valores, obteremos

8 m2 (0,4m ) + m2 (0,7 m ) 3,9 m2


X CM = = = 0,43 m
9 m2 9 m2

95
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

8 m2 (0,2m ) + m2 (0,5 m ) 2,1 m2


YCM = = = 0,23m
9 m2 9 m2

r r r
rCM = 0,43 i + 0,23 j ( m )

7.3. Movimento do centro de massa

A figura 7.4 mostra-nos como se torna mais


simples fazer o estudo de um movimento
utilizando o percurso do centro de massa.
Apesar do movimento do saltador ser
complicado, o seu centro de massa descreve
uma trajectória parabólica.
Para podermos relacionar o movimento do
centro de massa, com as forças externas que
actuam no corpo, necessitamos conhecer a
aceleração do centro de massa. De acordo
com a 2ª lei de Newton, podemos escrever
r r
Fr = M aCM (7.10)
r
onde Fr é a resultante de todas as forças
externas que actuam no sistema. De acordo
com a 3ª lei de Newton, por cada força
interna que actua numa partícula, existe uma
força igual e de sentido oposto, actuando
noutra partícula. Ao somarmos as forças
internas, o resultado final vai ser zero. Fig 7.4 O centro de massa do saltador
Vamos, então, ver como se calcula a move-se segundo uma trajectória de um
aceleração do centro de massa de um projéctil, depois de ele sair da prancha
sistema formado por n partículas. Utilizando
a relação (7.6), podemos escrever
r r r r
M rCM = m1 r 1 + m2 r2 + .... + m n rn . (7.11)

r
sendo M a massa total do sistema e rCM o vector posição do centro de massa. Derivando
esta expressão, em ordem ao tempo, obtemos
r r r r
M vCM = m1v1 + m2 v 2 + ...... + mn v n (7.12)

r r
r d rCM r d ri
onde vCM = é a velocidade do centro de massa, e vi = é a velocidade da
dt dt
partícula i. Derivando, novamente, em ordem ao tempo, obtemos
r r r r
M a CM = m1 a1 + m 2 a 2 + ...... + m n a n (7.13)
r r
r dv r dv
sendo aCM = CM , a aceleração do centro de massa, e ai = i ,a aceleração da
dt dt
partícula i.

96
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

Apesar do centro de massa ser apenas um ponto geométrico, ele tem uma posição, uma
velocidade e uma aceleração, como se fosse uma partícula. Se aplicarmos a segunda lei
de Newton a (7.13), obteremos
r r r r
M aCM = F1 + F2 + ...... + Fn (7.14)

Nas forças que estão no lado direito desta igualdade, estão incluídas as forças que as
partículas constituintes do sistema exercem umas sobre as outras ( forças internas), e
forças externas ao sistema, exercidas sobre as partículas. De acordo com a terceira lei de
Newton, as forças internas apresentam-se aos pares e cancelam-se. No lado direito da
igualdade (7.14) ficam apenas as forças externas ao sistema.

Exemplo 7.3

Considere três partículas, inicialmente


em repouso. Elas ficam submetidas a
forças externas ao sistema. As CM
direcções e sentidos das forças, são
indicadas na figura, sendo F1= 6,0 N,
F2 = 12 N e F3= 14 N. Calcule a
aceleração do centro de massa do
sistema, e a direcção e sentido em que
se move.

Resolução:

Vamos tratar o centro de massa como


se fosse uma partícula real, com massa
igual à massa do sistema M= (4,0 kg
+ 8,0 kg + 4,0 kg) = 16 kg. Podemos
tratar as três forças externas como se
actuassem no centro de massa
r r r r Fig 7.5 (a) As forças indicadas actuam em três
F1 + F2 + F3 = M aCM ⇒ massas, inicialmente em repouso. O centro de
r r r massa do sistema está assinalado. (b) As forças são
r F1 + F2 + F3 deslocadas para o centro de massa do sistema, que
⇒ a CM = se comporta como uma partícula com uma massa
M
M, igual à massa do sistema
Esta equação diz-nos que a aceleração do centro de massa tem a direcção e o sentido da
soma das três forças que actuam no sistema. Vamos, então, calcular as componentes da
aceleração, segundo o eixo OX e segundo o eixo OY

F1x + F2 x + F3 x (− 6 N ) + (12 N ) cos 45º + (14 N )


aCM , x = = =1,03 m / s 2
M 16 kg

F1 y + F2 y + F3Y 0 + (12 N ) sen 45º + 0


a CM , y = = = 0,530 m / s 2
16 kg 16 kg

A partir destas componentes, podemos obter o módulo da aceleração

97
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

a CM = a CM
2
, x + a CM , y = 1,16 m / s = 1,2 m / s
2 2 2

O ângulo que o vector aceleração forma com OX, será


 a CM , y 
θ = arc tg   = 27 º

 a CM , x 

7.4. Momento linear


O momento linear de uma partícula, é uma grandeza vectorial, dada por
r r
p=mv (7.15)
r
onde m designa a massa da partícula, e v a sua velocidade. O momento linear tem
r
sempre a direcção e sentido de v , pois m é uma grandeza escalar. A unidade SI, para o
momento linear, é o kg m s-1.
Newton enunciou a sua segunda lei do movimento, em termos de momento linear – A
taxa de variação do momento linear, de uma partícula, é igual à força resultante, que
nela actua, e tem a direcção e o sentido dessa força

r r
dp
FR = (7.16)
dt
Podemos, facilmente, verificar esta igualdade

r r r
dp d r dv r
FR = = (m v ) = m =ma
dt dt dt

7.4.1. Momento linear de um sistema de partículas

Consideremos um sistema de n partículas, tendo cada uma a sua massa, a sua


velocidade e o seu momento linear. As partículas podem interagir, umas com as outras,
e podem ficar submetidas à acção de forças externas. O sistema, como um todo, tem um
r
momento linear p , igual a
r r r r r r r
p = p1 + p 2 + ...... + p n = m1 v1 + m2 v 2 + ...... + mn v n (7.17)

Se compararmos esta expressão com (7.12), podemos escrever


r r
p = M vCM (7.18)
O momento linear de um sistema de partículas, é igual ao produto da massa do sistema,
pela velocidade do centro de massa do sistema

Derivando (7.18) em ordem ao tempo, obtemos


r r
dP d vCM r
=M = M a CM (7.19)
dt d t

98
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

Comparando (7.11) com (7.19), podemos escrever a segunda lei de Newton para um
sistema de partículas

r r
dp
FR = (7.20)
dt
r
sendo FR a resultante das forças externas, que actuam no sistema.

Exemplo 7.4

A figura 7.6, mostra um carrinho de brinquedo de 2,0


kg, antes e depois de fazer uma curva. A sua
velocidade é 0,50 m/s, antes da curva, e 0,40 m/s
depois da curva. Qual é a variação no momento linear
do carro, devido à curva?

Resolução:

Atendendo ao sistema de eixos da figura 7.6,


r
podemos dizer que vi = − (0,50 m / s ) j
r
e Fig 7.6 Carro de brinquedo fazendo
r r
v f = (0,40 m / s ) i . O momento linear, antes da uma curva. Eixos utilizados na
resolução do problema
curva,será
r r
pi = m vi = (2,0 kg )(− 0,50 m / s ) j = − (1,0 kg m / s ) j
r r

e depois da curva, será


r r
p f = m v f = (2,0 kg )(0,40 m / s ) i = (0,80 kg m / s ) i
r r

A variação de momento linear será


r r
∆ p = p f − p i = (0,80 kg m / s ) i − (− 1,0 kg m / s ) j
r r r

= (0,80 i + 1,0 j ) (kg m / s )


r r

7.4.2. Conservação do momento linear

Vamos supor que a resultante das forças externas, que actuam num sistema, é zero, e
que não há partículas a entrar ou a sair do sistema (o sistema está fechado). De acordo
com (7.20), teremos
r
dp r
0= ⇒ p = cons tan te
dt
ou seja
r r r
p = ∑ mi vi = M vCM = cons tan te
i

Este resultado é conhecido como princípio de conservação do momento linear. Se a


resultante das forças externas, que actuam num sistema (fechado) for nula, o momento
linear do sistema permanece constante.

99
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

r r
pi = p f (7.21)
Exemplo 7.5

Uma caixa com uma massa de 6,0 kg, desliza com uma velocidade de 4,0 m/s sobre solo
horizontal, sem atrito, no sentido positivo do eixo OX. De repente, a caixa rebenta,
ficando dividida em duas partes. Uma parte, com massa m1=2,0 kg, move-se na
direcção positiva do eixo OX, com velocidade v1= 8 m/s. Qual é a velocidade da
segunda parte da caixa, com massa m2 ?

Resolução:
O nosso sistema, que inicialmente é constituído pela caixa, e , depois, pelas duas partes
da caixa, é um sistema fechado mas não isolado. A caixa e as partes estão submetidas à
força normal, exercida pelo solo, e à força gravítica. Contudo, estas forças são verticais,
e não vão alterar a componente horizontal do momento linear do sistema.
As forças produzidas pela explosão, também não afectam o momento linear do sistema,
porque são forças internas do sistema. Assim, a componente horizontal do momento
linear do sistema mantém-se constante, antes e depois da explosão.
r r
O momento linear inicial do sistema, será pi = m v . O momento linear final será a
r r r
soma dos momentos lineares das duas partes p f = m1 v1 + m2 v 2 . Como há
r r
conservação de momento linear, podemos escrever pi = p f . Como as velocidades têm
a direcção do eixo OX, esta igualdade reduz-se a
m v = m1 v1 + m2 v 2

Sabemos que m=6,0 kg e m1=2,0 kg. Como há conservação de matéria (sistema


fechado) então m2= m- m1=4,0 kg. Substituindo valores, obtém-se

(6,0 kg) (4,0 m/s)= (2,0 kg) (8,0 m/s) + (4,0 kg) v2

v2 =
(24,0 kg m / s ) − (16 kg m / s ) = 2,0 m / s
4,0 kg
Como o resultado é positive, a segunda parte da caixa também se move no sentido
positivo do eixo OX, tendo uma velocidade inferior à da parte1 da caixa.

Exemplo 7.6

Uma bala é disparada horizontalmente, entrando num bloco de madeira, suspenso por
cordas. A bala pára dentro do bloco, que, devido ao impacto, sobe 0,2 m. A massa da
bala é 0,03Kg e a massa do bloco é 2 kg.
a) Determine a velocidade do bloco, imediatamente após a bala se ter alojado nele?
b) Determine a velocidade da bala, antes de atingir o bloco

Resolução:

Vamos dividir o problema em duas partes. A primeira é a colisão rápida entre a bala e o
bloco de madeira; a segunda parte é a subida do bloco com a bala. As forças que actuam
depois da colisão, são a gravidade e a tensão nas cordas. A tensão forma ângulos de 90º
com o deslocamento e, por isso, não realiza trabalho. Assim, podemos dizer que a
energia mecânica do sistema ( energia potencial gravítica mais energia cinética) é

100
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

conservada, quando o bloco sobe. Isto vai permitir-nos, relacionar a altura atingida
(h)com a velocidade v, imediatamente após a bala ter parado, dentro do bloco.
a) Vamos dizer que a velocidade do bloco, com a bala, depois do impacto é V,
sendo a sua energia cinética K = (m + M ) v 2 . No ponto onde o bloco está mais
1
2
elevado, a energia cinética é zero. A energia potencial gravítica, nesse ponto,
será U= (m+M) gh. Como a energia mecânica não sofre alterações, teremos

1
(m + M ) v 2 = (m + M ) g h
2
Resolvendo, em ordem a v, obtém-se

v = (2 gh )
1/ 2
[( ) ]
= 2 9,8m / s 2 (0,2m )
1/ 2
=1,98 m / s
r
b) Vamos designar por m v1 o momento linear da bala, antes de atingir o bloco.
Depois da bala parar, dentro do bloco, o momento linear do sistema
(bala+bloco) é (m + M ) v . Como há conservação do momento linear do sistema,
r
podemos dizer que
m v1 = (m + M ) v
r r
Como os vectores velocidade são ambos na direcção do eixo OX, podemos dizer
que
m v1= (m+M) v
e
v1 =
(m + M ) v = (0,03 kg + 2 kg ) (1,98 m / s ) =134 m / s
m (0,03 kg )
7.5. Colisões

Numa colisão, dois ou mais objectos aproximam-se e interagem fortemente, durante um


período de tempo muito curto. Durante o intervalo de tempo da colisão, as forças de
interacção entre os objectos são tão fortes que as forças externas que possam estar a
actuar no sistema serão muito menores que elas. Assim, vamos considerar que as forças
que actuam nos objectos que colidem, são forças de interacção, iguais e opostas, e o
momento linear do sistema não se altera. O tempo de colisão é, em geral, tão pequeno
que o deslocamento dos objectos, durante a colisão, pode ser desprezado. Antes e
depois da colisão, a interacção entre os dois objectos é pequena, comparada com a
interacção durante a colisão.
Uma colisão pode ser definida como sendo um acontecimento isolado, no qual dois ou
mais corpos (os corpos que colidem) exercem, entre si, forças relativamente fortes,
durante intervalos de tempo relativamente curtos. São exemplos comuns de colisões as
que ocorrem entre: bolas de bilhar, um martelo e um prego ,dois carros, etc. Em todas
estas colisões, as forças que actuam nos objectos são forças de contacto. No entanto, se
considerarmos colisões à escala atómica, por exemplo, uma colisão entre um protão e
uma partícula alfa (núcleo do átomo de Hélio), como as duas partículas têm carga
positiva, elas repelem-se devido à força electrostática, que existe entre elas. Neste caso,
a colisão não exige contacto entre os objectos.
As colisões podem ocorrer desde escalas microscópicas (entre partículas sub atómicas)
até escalas astronómicas (entre estrelas ou entre galáxias).

101
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

Vamos definir colisão elástica como sendo uma colisão onde há conservação de
momento linear e de energia cinética. As colisões entre bolas de bilhar e das moléculas
de ar com as paredes dos reservatório a temperaturas normais, são exemplos de colisões
elásticas.
Define-se colisão inelástica como sendo uma colisão onde há conservação de momento
linear mas não há conservação de energia cinética. A colisão de uma bola de borracha
com uma parede é inelástica, pois parte da energia cinética da bola é perdida quando ela
se deforma, em contacto com a parede. Quando os dois ou mais objectos colidem e
ficam unidos, depois da colisão, a colisão diz-se perfeitamente inelástica. Este é um
caso extremo de colisão inelástica. Se um meteorito colidir com a Terra, ele fica
enterrado e a colisão é perfeitamente inelástica. Contudo, a energia cinética inicial não
tem que ser totalmente perdida, pois os corpos podem mover-se, depois da colisão.

7.5.1. Impulso

Vamos definir impulso de uma força num intervalo de tempo ∆t = tf – ti , como

r tf r
I = ∫ F (t ) dt (7.22)
ti

Esta equação diz-nos que o módulo do impulso é igual à área definida pela curva F(t)
com o eixo dos t.
Atendendo à relação (7.20) podemos dizer que

tf
r r r r
∆p = p f − p i = ∫ F (t ) dt
ti

(7.23)
Comparando esta expressão com (7.22),
podemos dizer que
r r
I =∆ p
(7.23a)

O impulso de uma força é igual à variação


do momento linear da partícula. A direcção
e o sentido do vector impulso são os mesmos
da variação do momento linear. O impulso tem
as dimensões do momento linear. As unidades
em que se exprime, no sistema Si, são o kg
m/s. Através da definição apresentada, vemos
que o impulso é uma grandeza vectorial, cuja
intensidade é igual à área delimitada pela
curva da força em função do tempo, como se
mostra na figura 7.7. Nesta figura, considera-
se que a força varia ao longo do tempo, sendo

Fig 7.7.(a) A força que actua numa diferente de zero, no intervalo de tempo ∆t =
partícula, pode variar ao longo do tempo. tf – ti. A direcção e sentido do vector impulso,
(b) A força média origina o mesmo é o mesmo da variação do momento linear.
impulso à partícula, se actuar no mesmo
intervalo de tempo

102
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

Note-se que o impulso não é uma propriedade da partícula, mas uma quantidade que
mede o valor com que uma força externa altera o momento linear de uma partícula.
Quando dizemos que foi dado um impulso a uma partícula, isso significa que um agente
externo à partícula transferiu, para ela, momento linear.
Como a força varia ao longo do tempo, é conveniente definir uma força média F , dada
por
tf
1 r
∆ t ∫ti
F = F dt

sendo ∆t = tf – ti. Sendo assim, a equação (7.23a) pode ser substituída por
r r
I =∆ p = F ∆t (7.24)
Esta força média, pode ser considerada uma força constante, que no intervalo de tempo
considerado, dará um impulso à partícula, que é igual ao impulso fornecido pela força
que varia ao longo do tempo.

Exemplo 7.7:

Uma força média de 1200 N, é aplicada a uma bola de aço com uma massa de 0,40 kg,
movendo-se a 14 m/s, numa colisão que demora 27 ms: Calcule a velocidade final e a
direcção da bola, sabendo que a força tem um sentido oposto ao da velocidade inicial da
bola.

Resolução:
r
Vamos supor que vi = (− 14 m / s ) i . Sabemos que
r

( )
I = F ∆ t = (1200 N ) 27 X 10 −3 s = 32,4 kg m / s
e
r r r r
∆ p = I = m v f − m vi
32,4 i = (0,40 kg ) (v f + 14)i
r r

r
vf =
(32,4 − 5,6) ir = (67 m / s ) ir
0,40

7.5.2. Colisões a uma dimensão

Nesta secção vamos analisar colisões a uma dimensão e considerar dois tipos de colisão:
primeiro vamos considerar uma colisão perfeitamente inelástica, e, depois, uma colisão
elástica. Em ambos os casos verifica-se conservação de momento linear, antes e depois
da colisão. Na colisão elástica verifica-se também conservação de energia cinética.

Colisão perfeitamente inelástica

Consideremos duas partículas de massas m1 e m2 , movendo-se com velocidades


r r
v1i e v 2i , ao longo de uma linha recta, como se mostra na figura 7.8. Vamos supor que,
r
depois do choque, as partículas ficam unidas, movendo-se com uma velocidade v f .
Como se trata de uma colisão perfeitamente inelástica, só há conservação de momento
linear. O momento linear do sistema, antes do choque, vai ser igual ao momento linear
das partículas, depois do choque.
m1 v1i + m2 v 2i = (m1 + m 2 ) v f
r r r

103
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

r
vf
r r
v1i v 2i

Fig 7.8. representação esquemática de uma colisão frontal, perfeitamente inelástica. (a) Antes da
colisão. (b) Depois da colisão.

A velocidade final, das duas partículas, vai ser


r r
r m1 v1i + m2 v 2i
vf =
m1 + m2

Exemplo 7.8

Uma bala de massa m=4,5 g, é disparada horizontalmente, para um bloco de madeira de


2,4 kg, que se encontra em repouso, numa superfície horizontal. O coeficiente de atrito
cinético, entre o bloco e a superfície, é 0,20. A bala pára dentro do bloco, que desliza
durante 1,8 m (sem rotação).
a) Qual é a velocidade do bloco, imediatamente após a bala ter parado dentro dele?
b) A que velocidade é que a bala foi disparada?

Resolução:
a) Depois da colisão, a bala fica parada dentro do bloco. O bloco fica com uma
velocidade vB e adquirindo energia cinética. A força de atrito actua durante o
deslizamento do bloco, diminuindo a sua energia cinética, até parar. O trabalho
total, realizado pela força de atrito é igual à variação de energia cinética do
bloco.
Vamos calcular a intensidade da força de atrito, para calcularmos o trabalho
realizado por ela.
f = µ c N = (0,20 )(2,4 + 4,5 X 10 −3 )(9,8) = 4,7 N

W= f d = (4,7N) (1,8m)=8,46 J
A energia cinética do bloco vai ser dissipada pela força de atrito

M v B2 = (2,4 kg ) v B2 = 8,46 J
1 1
Ec =
2 2
Daqui retiramos o valor da velocidade do bloco vB= 2,66 m/s

b) Para sabermos a velocidade com que a bala foi disparada, vamos utilizar o
princípio de conservação do momento linear

(4,5 X 10 −3
) ( )
kg v A + 0 = 4,5 X 10 −3 kg + 2,4kg (2,66 m / s )

104
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

Daqui retiramos o valor pretendido, vA= 1,4 X 103 m/s.

Colisões elásticas

Vamos considerar duas partículas que se movem


ao longo do eixo OX, e que sofrem uma colisão
frontal, afastando-se de seguida (ver figura 7.9).
Neste caso, há conservação de momento linear e
conservação de energia cinética; podemos
r r escrever as seguintes igualdades
v1i v 2i
m1 v1i + m2 v 2i = m1 v1 f + m2 v 2 f

(conservação de momento linear)


r r
v1 f v2 f

Fig. 7.9. Representação esquemática 1 1 1 1


m1 v12i + m2 v 22i = m1 v12f + m2 v 22 f
de uma colisão frontal , entre duas 2 2 2 2
partículas (conservação de energia cinética)

em que consideramos valores de v positivos, se a partícula se deslocar para a direita e


valores negativos se a partícula se mover para a esquerda.

Exemplo 7.9:
Os blocos da figura 7.10, deslizam sem
atrito.
a) Qual é a velocidade do bloco de
1,6 kg, depois da colisão?
b) A colisão é elástica ?

Resolução:
Para obtermos a velocidade do bloco,
vamos utilizar o princípio de conservação Fig 7.10. Os blocos indicados deslizam, sem
do momento linear. atrito. Antes da colisão, o bloco de 1,6 kg tem
m1 v1i + m2 v 2i = m1 v1 f + m2 v 2 f uma velocidade superior indo colidir com o outro
bloco. Depois da colisão, os bloco continuam a
mover-se na mesma direcção e sentido.
( 1,6 kg) (5,5 m/s)+ (2,4 kg) (2,5 m/s) =
(1,6kg) v1f + (2,4 kg) (4,9 m/s)

Resolvendo esta igualdade, em ordem a v1f, obtemos v1f = 1,9 m/s

b)Para respondermos a esta questão temos que verificar se há conservação de energia


cinética. Para isso calculamos a energia cinética do sistema formado pelos dois corpos,
antes e depois da colisão.
1 1 1 1
m1 v12i + m2 v 22i = m1 v12f + m2 v 22 f
2 2 2 2

105
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

1
(1,6kg )(5,5 m / s )2 + 1 (2,4kg )(2,5 m / s )2 = 1 (1,6kg )(1,9 m / s )2 + 1 (2,4kg )(4,9 m / s )2
2 2 2 2
31,7 J = 31,7 J

7.5.3. Colisões a duas dimensões

Já vimos que o momento linear total de um sistema de partículas, é conservado, se o


sistema estiver isolado. Vimos , também que o momento linear é uma grandeza
vectorial. Sendo assim, se considerarmos uma colisão entre duas ou mais partículas,
teremos que considerar conservação do momento linear, na direcção OX, OY e OZ.
Para um problema a duas dimensões, teremos duas equações que traduzem a
conservação do momento linear.
Consideremos um problema a duas dimensões, em que uma partícula de massa m1colide
com uma partícula de massa m2, inicialmente em repouso (Ver figura 7.11). A colisão

r r
v1 f sen θ v1 f

r
v1 f cos θ
r
v1i r
v 2 f cos φ
r
− v 2 f sen φ
r
v2 f

Fig.7.11. Representação esquemática de uma colisão elástica entre duas partículas


não é frontal. Depois da colisão, m1 move-se fazendo um ângulo θ com a direcção
horizontal, e m2 move-se fazendo um ângulo φ, com a direcção horizontal. Aplicando o
princípio de conservação do momento linear às componentes segundo OX e segundo
OY, teremos:
m1 v1i = m1 v1 f cos θ + m 2 v 2 f cos φ
(conservação de momento linear)
0 = m1 v1 f sen θ − m2 v 2 f sen φ

Se considerarmos que a colisão é elástica, teremos que escrever uma terceira condição
que traduza a conservação da energia cinética

1 1 1
m1 v12i = m1 v12f + m 2 v 22 f (conservação de energia cinética)
2 2 2

É importante reter que, se a colisão for inelástica não há conservação de energia


cinética; teremos apenas conservação de momento linear.

106
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7

Exemplo 7.10

Dois corpos A e B, com 2,0 kg cada, colidem. As velocidades, antes da colisão, são
r r r
r r r
v A = 15 i + 30 j
v B = − 10 i + 5,0 j
e
r r r
Depois da colisão, a velocidade de A é v 'A = − 5,0 i + 20 j . Todas as velocidades são
expressas em m/s.
a) Qual é a velocidade final de B ?
b) Que quantidade de energia cinética é ganha ou perdida, durante a colisão?

Resolução:
a) Vamos aplicar o principio de conservação do momento linear, e dizer que
r
r r r
m A v A + m B v B = m A v A' + m B v B'
Componente segundo OX
(2,0kg )(15 m / s ) + (2,0kg )(− 10m / s ) = (2,0 kg )(− 5,0m / s ) + (2,0kg ) v BX
'

obtendo-se
'
v BX =10 m / s

Componente segundo OY
(2,0kg )(30m / s ) + (2,0kg )(5,0m / s ) = (2,0kg )(20m / s ) + (2,0kg ) v By'
obtendo-se
'
v BY = 15 m / s

O vector velocidade de B, depois do choque, será


r v r
v B' = 10 i + 15 j

b) Para sabermos se a energia cinética sofreu alteração, depois do choque,


precisamos de obter os módulos dos vectores velocidade, antes e depois do
choque

(15)2 + (30)2 (10)2 + (5)


2
vA = = 33,5 m / s vB = = 11,2 m / s

(− 5)2 + (20) (10 )2 + (15)2


2
v A' = = 20,6 m / s v B' = = 18,0 m / s

Vamos, agora, calcular a energia cinética, antes e depois do choque


Antes do choque
1
(2,0 kg )(33,5 m / s )2 + 1 (2,0kg )(11,2 m / s )2 =1,247 X 10 3 J
2 2
Depois do choque
1
(2,0kg )(20,6m / s )2 + 1 (2,0kg )(18,0m / s )2 = 748 J
2 2
Energia cinética perdida: 1,247 X 103 – 748 = 499 J

107
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Cap 8. Rotações

8.1 Introdução

Se examinarmos o mundo que nos rodeia, facilmente verificamos que as rotações estão
presentes, desde o nível molecular até ao nível das galáxias.
Até aqui, tratámos os objectos como sendo partículas, com a massa centrada num ponto.
No entanto, se examinarmos a rotação de um objecto, em torno de um eixo fixo (por
exemplo uma roda gigante num parque de diversões, um disco num gira-discos, um
prato de um microondas, etc) vemos que não o podemos considerar como sendo uma
partícula, pois num dado instante, partes diferentes do corpo apresentam valores
diferentes de velocidade e de aceleração.
Para estudarmos o movimento de rotação, vamos considerar que os corpos se
comportam como corpos rígidos. Isto significa que os corpos não sofrem deformação,
ou que a separação entre as partículas constituintes do corpo não sofre alteração, ao
longo do tempo.

8.2. Velocidade angular e aceleração angular

A figura 8.1, mostra-nos um corpo


rígido plano, de forma arbitrária,
localizado no plano XOY, e que roda em
torno de um eixo que passa por O e é
perpendicular ao plano da figura.
Vamos considerar um ponto P do corpo
rígido. A figura 8.1, mostra-nos que,
quando o corpo rígido dá uma rotação
completa , em torno do eixo que passa
por O, o ponto P descreve uma
circunferência, cujo raio é a distância do
ponto P até ao eixo de rotação. Pontos
com valores elevados de r, movem-se
com velocidade mais elevada que pontos
próximos do eixo de rotação. Fig 8.1. Rotação de um corpo rígido, em torno
Para localizarmos o ponto P, vamos de um eixo fixo, que passa pelo ponto O, e é
utilizar coordenadas polares (r; θ). Neste perpendicular ao plano XOY
caso, vemos que o ponto P, está sempre
à mesma distância de O (r é constante), mas o ângulo θ varia ao longo do tempo.
Se considerarmos que o corpo sofre uma rotação, num dado intervalo de tempo,
passando a partícula que estava no ponto P para o ponto Q, no intervalo de tempo
considerado essa partícula descreve um arco de circunferência, que designamos por ds.
Pela figura 8.2, vemos que
ds = r dθ (8.1)

sendo o dθ medido em radianos. A distância ds varia com a distância da partícula ao


eixo de rotação, mas o ângulo dθ, chamado deslocamento angular, é igual para todos
os pontos do corpo em rotação.
Para uma rotação completa ∆s = 2 π r, e o deslocamento angular ∆θ, é igual a

108
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

2π r
∆θ = = 2 π radianos = 360º
r

Note-se que ∆θ é o quociente entre o perímetro do arco descrito, e a distância do ponto


que estamos a considerar, até ao eixo de rotação.
Consideremos, agora, a figura 8.2. Quando uma partícula se desloca de P para Q, num
intervalo de tempo ∆t, o raio varre um ângulo ∆θ =
θ2 - θ1 . Vamos definir velocidade angular média
ω como
θ −θ ∆ θ
ω = 2 1 = (8.2)
t 2 − t1 ∆t

Por analogia com a velocidade linear, vamos definir


velocidade angular instantânea ω, como o limite
da velocidade angular média, quando ∆t tende para
zero
Fig 8.2. Uma partícula, num corpo
em rotação, move-se do ponto P
∆θ d θ
para o ponto Q,num intervalo de ω = lim = (8.3)
tempo ∆t. Nesse intervalo de tempo, ∆t →0 ∆t d t
o raios varre um ângulo θ2 - θ1
A velocidade angular, no sistema SI, tem unidades
-1
de rad/s ou s , pois o radiano não tem dimensões. O valor da velocidade angular é o
mesmo, para todas as partículas constituintes do corpo.
Por convenção, vamos dizer que, se o corpo rodar no sentido contrário ao do
movimento dos ponteiros dos relógios, θ aumenta e ω é positivo. Se a rotação for em
sentido oposto, θ diminui e ω é negativo.
Se a velocidade angular instantânea, de um corpo, variar de ω1 para ω2, num intervalo
de tempo ∆t, o corpo tem uma aceleração angular.
A aceleração angular média α , de um corpo em rotação, é definida como o quociente
entre a variação da velocidade angular e o intervalo de tempo em que ela ocorre.

ω 2 − ω1 ∆ω
α= = (8.4)
t 2 − t1 ∆t

Por analogia com a aceleração linear, vamos definir a aceleração angular instantânea,
como o limite da aceleração angular média, quando ∆t tende para zero

∆ω d ω
α = lim = (8.5)
∆t →0 ∆ t dt

A aceleração angular exprime-se em rad/s2 ou s-2. Note-se que α é positiva, quando ω


aumenta, sendo negativa quando ω diminui.

Quando consideramos a rotação, em torno de um eixo fixo, vemos que todas as


partículas que formam o corpo rígido, têm a mesma velocidade angular e a mesma
aceleração angular. Isto significa que as quantidades α e ω caracterizam o movimento

109
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

rotacional do corpo rígido. Utilizando estas quantidades, podemos simplificar


grandemente a análise da rotação de um corpo rígido.

8.3. Cinemática de rotação. Movimento com aceleração angular constante

Vimos, no estudo do movimento linear, que a fórmula mais simples de um movimento


acelerado é o movimento com aceleração constante. Para o movimento de rotação em
torno de um eixo fixo, como para o movimento linear, o movimento acelerado mais
simples de analisar, é o movimento com aceleração angular constante. Vamos, então
analisar este tipo de movimento e compará-lo com o movimento linear com aceleração
constante.
Se escrevermos a equação (8.5) na forma dω = α dt, e considerarmos que ω = ωo, em
t=0s, podemos integrar a expressão, obtendo

ω = ωo + α t (α constante) (8.6)

Do mesmo modo, se integrarmos a expressão (8.6), considerando que θ = θo, para t=0s,
obteremos

1
θ =θ o + ωo t + α t 2 (8.7)
2

Se eliminarmos o t das expressões (8.6) e (8.7) obteremos

ω 2 = ω o2 + 2 α (θ − θ 0 ) (8.8)

Note-se que estas expressões para o movimento de rotação, com aceleração angular
constante são da mesma forma das obtidas para o movimento linear com aceleração
linear constante. A equivalência obtém-se substituindo x por θ, v por ω e a por α. A
tabela 8.1, mostra as equações para os dois tipos de movimento.

Movimento de rotação, em torno de Movimento linear, com a


um eixo fixo, com α constante. constante.Variáveis x e v
Variáveis θ e ω
ω = ωo + α t v = vo+ a t
1 1
θ =θ o + ωo t + α t 2 x = xo+ vot+ a t 2
2 2
ω = ω o + 2 α (θ − θ o )
2 2 v = vo + 2 a (x − xo )
2 2

Tabela 8.1. Comparação das equações para o movimento de rotação, em torno de


um eixo fixo, com α constante e para o movimento linear, com a constante.

Exemplo 8.1.
Uma roda move-se, com uma aceleração angular constante, de 3,5 rad/s2. Suponha que a
velocidade angular da roda é 2,0 rad/s, em t= 0s.
a) Qual o valor do ângulo, varrido pela roda, num intervalo de tempo de 2 s?
b) Qual a velocidade angular da roda em t= 2 s?

110
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Resolução:
1
a) Vamos utilizar a equação θ − θ o = ω o t + α t 2 .Substituindo valores,
2
obteremos
θ − θ o= (2,0 rad / s )(2s ) +
1
2
( )
3,5 rad / s 2 (2 s ) = 11 radianos = 630º = 1,75 rotações
2

b) Vamos, agora, utilizar a expressão ω = ω o + α t . Substituindo valores, nesta


igualdade, obteremos ω = (2,0 rad / s ) + (3,5 rad / s 2 )(2s ) = 9,0 rad / s

Exercício 8.1:

Calcule o ângulo que a roda descreve, no intervalo de tempo entre 2s e 3s ?

Solução: 10,8 radianos

8.4. Variáveis angulares e variáveis tangenciais

Vamos obter relações entre


velocidade linear e velocidade
angular, aceleração tangencial e
aceleração angular e aceleração
radial e velocidade angular, para
um ponto arbitrário de um corpo
rígido.
Vamos, em primeiro lugar,
relacionar a velocidade angular de
um corpo em rotação, com a
velocidade tangencial de um ponto
P do corpo.
Como P se move num círculo, o
vector velocidade linear é sempre
tangente ao percurso circular, daí
que se chame velocidade
tangencial.
O módulo da velocidade
tangencial, no ponto P, é, por
definição ds/dt, sendo s a distância Fig 8.3.Quando um corpo rígido roda , em torno de um
eixo que passa pelo ponto O, o ponto P tem uma
percorrida pelo ponto P, medida ao velocidade linear, que é sempre tangente ao percurso
longo do percurso circular. Já circular de raio r, percorrido pelo ponto P.
vimos que ds = r dθ , e , se
considerarmos que r é constante, teremos
ds dθ
v= =r
dt dt
ou seja
v=rω (8.9)
A velocidade tangencial de um ponto num corpo rígido , em rotação, é igual à distância
que vai do ponto até ao eixo de rotação ( r ), multiplicada pela velocidade angular (ω).
Apesar de todos os pontos de um corpo rígido terem a mesma velocidade angular,
nem todos os pontos têm a mesma velocidade linear. De facto, a equação (8.9)

111
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

mostra-nos que a velocidade linear de um corpo em rotação, aumenta quando nos


dirigimos do interior para a parte externa do corpo.
Podemos relacionar a aceleração angular de um corpo rígido, em rotação, com a
aceleração tangencial do ponto P, fazendo a derivada de v, em ordem a t.

dv dω
at = =r
dt dt
ou seja
at = r α (8.10)

A componente tangencial da aceleração


linear de um ponto, num corpo rígido em
rotação, é igual ao produto da distância do
ponto ao eixo de rotação, com a
aceleração angular.
Já vimos, anteriormente, que um corpo
que se mova num percurso circular, fica
submetido a uma aceleração centrípeta ou
radial, de intensidade v2/r, e dirigido para
o centro de rotação (ver figura 8.4). Como
já vimos que v= r ω para um ponto P num
corpo em rotação, podemos dizer que
v2
ar = =rω2 (8.11)
r
A aceleração linear total da partícula é
r r r Fig 8.4.Quando o corpo rígido roda em torno
a = a t + a r . Então, a intensidade da de um eixo fixo ,passando por O, o ponto P fica
aceleração linear total do ponto P, num submetido a uma componente tangencial da
corpo rígido em rotação, é dada por aceleração at e a uma componente centrípeta
ar.

a = at2 + a r2 = r 2α 2 + r 2ω 4 = r α 2 + ω 4 (8.12)

Exemplo 8.2:

Um gira-discos roda, inicialmente, com uma velocidade de 33 rotações por minuto, e


demora 20 s a parar.
a) Qual é a aceleração angular, do gira-discos ?
b) Quantas rotações é que o gira-discos descreve, antes de parar?
c) Qual é o valor da componente tangencial e radial da aceleração linear de um
ponto, no bordo do gira-discos, se o raio do gira –discos for 14 cm ?

Resolução:
a) Relembremos que uma rotação corresponde a 2 π radianos. A velocidade
angular, em t=0s, vai ser

 1 min 
ω o = (33 rot / min )(2π rad / rot )  = 3,46 rad / s
 60 s 

112
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Utilizando a relação ω = ω o + α t , e o facto de que ω= 0 rad/s, quando t=20s,


podemos escrever
ω − ωo 3,46 rad / s
α= =− = − 0,173 rad / s 2
t 20 s
onde o sinal negativo indica uma aceleração angular negativa, o que significa que ω está
a diminuir.
1
b) Vamos utilizar a relação ∆θ = θ − θ o = ω o t + α t 2 . Substituindo valores, obteremos
2

∆θ = (3,46 rad / s )(20 s ) +


1
2
( )
− 0,173 rad / s 2 (20 s ) = 34,6 rad
2

Isto corresponde a (34,6/2 π)= 5,50 rotações


c) Podemos utilizar as relações at = r α e ar= r ω2, o que nos dá

at= r α= (14 cm) (-0,173 rad/ s2)= - 2,42 cm/ s2

a r = r ω o2 = (14 cm )(3,46 rad / s ) = 168 cm / s 2


2

Exercício 8.2:
Qual é a velocidade linear, inicial, de um ponto na borda do gira-discos?

Solução: 48,4 cm/s

8.5. Energia cinética de rotação

Vamos considerar um corpo rígido,


formado por um grupo elevado de
pequenas partículas, e consideramos
que o corpo roda em torno do eixo
fixo OZ, com uma velocidade
angular ω (ver figura 8.5). cada
partícula do corpo possui alguma
energia cinética, que depende da sua
massa e da sua velocidade.
Consideremos que a massa da
partícula i é mi e a sua velocidade vi.
A energia cinética da partícula, vai
ser
1
K i = mi vi2
2
Para prosseguir, vamos relembrar
que, apesar de todas as partículas de
Fig 8.5. Corpo rígido rodando, em torno do eixo OZ,
um corpo rígido possuírem a mesma
com velocidade angular ω. A energia cinética da
velocidade angular, ω, a velocidade partícula de massa mi é (!/2) mi vi2. A energia cinética
linear de cada partícula depende da total, do corpo é (1/2) I ω2.
sua distância ao eixo de rotação, ri,

113
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

de acordo com a expressão vi= ri ω. A energia cinética total, de um corpo rígido em


rotação, é a soma das energias cinéticas das partículas individuais.
1 1
K = ∑ K i = ∑ mi vi2 = ∑ mi ri ω 2
i i 2 2 i

1 
K =  ∑ mi ri 2  ω 2 (8.13)
2 i 

O ω2 fica fora do parêntesis, pois ele tem o mesmo valor, para todas as partículas. A
quantidade que está dentro do parêntesis é chamada momento de inércia, I

I= ∑m
i
i ri 2 (8.14)

Utilizando esta notação, podemos dizer que a energia cinética de rotação de um corpo
rígido é
1
K = I ω2 (8.15)
2

A partir da definição de momento de inércia, podemos ver que as suas dimensões são
M L2, sendo as suas unidades, no sistema SI, o kg m2. Esta variável toma o papel da
massa em todas as equações que envolvam movimento de rotação. Apesar de podermos
1
dizer que a quantidade I ω 2 é a energia cinética de rotação, ela não é uma forma
2
nova de energia. Trata-se de energia cinética normal, pois ela resultou da soma da
energia cinética das diferentes partículas, constituintes do corpo rígido. A forma de
energia representada pela equação (8.15) é conveniente para se utilizar em movimento
de rotação, desde que possamos calcular o I (momento de inércia).
É importante reconhecer a analogia entre energia cinética associada com movimento
1 1
linear m v 2 , e a energia cinética de rotação, I ω 2 . As quantidades I e ω, no
2 2
movimento de rotação, são análogas a m e v, no movimento linear.

Exemplo 8.3

Vamos supor que temos quatro


massas, dispostas como se mostra na
figura 8.6, no plano XOY. Vamos
supor que a massa dos eixos que as
unem se pode desprezar.
a)Suponha que o sistema roda, em
torno do eixo OY, com uma
velocidade angular ω. Calcule o
momento de inércia, em torno do eixo
OY, e a energia cinética de rotação, em Fig 8.6 Quatro partículas separadas por distâncias
torno do mesmo eixo. fixas. O momento de inércia depende do eixo em
b)Suponha, agora, que o sistema roda, relação ao qual é calculado
no plano XOY, em torno de um eixo que passa por O (eixo OZ). Calcule o momento de
inércia em torno do eixo OZ, e a energia cinética de rotação, em torno do mesmo eixo

114
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Resolução:

a) Primeiro, notemos que as partículas de massa m, localizadas no eixo OY, não


contribuem para o momento de inércia, pois neste caso ri= 0 m. Aplicando a
equação (8.14), obtemos
I Y = ∑ mi ri 2 = M a 2 + M a 2 = 2 M a 2
i
A energia cinética de rotação, em torno do eixo OY,é

1
2
1
( )
K = I ω 2 = 2 M a2 ω 2 = M a2 ω 2
2
O facto de as partículas de massa m não entrarem neste resultado, faz sentido, pois estas
partículas não têm movimento em torno do eixo OY.

b) Como ri, na equação (8.14), é a distância perpendicular ao eixo de rotação,


teremos:

IZ = ∑m
i
i ri 2 = M a 2 + M a 2 + m b 2 + m b 2

I Z = 2 M a2 + 2 m b2

1 1
( ) (
K = I ω 2 = 2 M a2 + 2 m b2 ω 2 = M a2 + m b2 ω 2
2 2
)
Comparando os resultados obtidos para a) e b), concluímos que o momento de inércia e
também a energia cinética de rotação, depende do eixo de rotação.

8.6. Momento de inércia

Podemos calcular o momento de inércia de um corpo, imaginando que o corpo é


formado por elementos de volume, tendo cada um uma massa ∆m. Podemos utilizar a
definição I = ∑ r 2 ∆m , e calcular o limite desta soma, quando ∆m→0. Neste limite, a
soma transforma-se num integral estendido a todo o corpo, sendo r a distância,
perpendicular, desde o elemento de massa ∆m até ao eixo de rotação. Nesta situação,
teremos
I = lim ∑ r 2 ∆m = ∫ r 2 d m (8.16)
∆m → 0
Para calcular o momento de inércia utilizando esta equação, é necessário escrever este
elemento de massa dm, em função das suas coordenadas. É comum definir a densidade
de massa em várias formas. Para um corpo a três dimensões, é apropriado utilizar a
densidade de volume, ou seja, a massa por unidade de volume. Neste caso, podemos
escrever
 ∆m  d m
ρ = lim  = ou seja d m = ρ dV
∆V →0 ∆V
  dV
O momento de inércia pode calcular-se através da expressão

I = ∫ ρ r 2 dV (8.17)

115
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Se o corpo for homogéneo, ρ é constante, e podemos calcular o integral, para uma dada
geometria. Se ρ não for constante, a variação com a posição, deve ser especificada.

Quando se trata de um objecto com a forma de uma folha de espessura uniforme, t, é


costume definir uma densidade superficial de carga, σ = ρ t, que significa massa por
unidade de área. Finalmente, quando a massa é distribuída uniformemente, ao longo de
uma vara de secção A, é costume utilizar a densidade linear, λ= ρ A, sendo ρ definido
como massa por unidade de comprimento.

Exemplo 8.4 : Ringue uniforme

Calcular o momento de inércia de um ringue


uniforme, de massa m e raio R, em torno de um
eixo perpendicular ao plano do ringue, que passe
pelo seu centro de curvatura.

Resolução:

Todos os elementos de massa ∆m se encontram à Fig 8.7. Os elementos de massa de um


mesma distância do eixo de rotação (ver figura ringue, estão todos a igual distância do
8.7), R. Assim, podemos aplicar a equação (8.16) centro.
e escrever

I Z = ∫ r 2 dm = R 2 ∫ d m = M R 2

Exemplo 8.5: Vara rígida uniforme

Calcular o momento de inércia de uma


vara rígida uniforme, de comprimento L
e massa M, em relação a um eixo
perpendicular à vara (eixo OY) e
passando pelo seu centro de massa.

Resolução:

O elemento de massa assinalado, tem


um comprimento dx e massa dm, que é
igual à massa por unidade de
Fig 8.8. Vara rígida uniforme de comprimento
comprimento, multiplicada pelo L
elemento de comprimento dx. Isto quer
dizer que d m = (M/L) dx. Fazendo as substituições na equação (8.16), com r=x,
teremos
L/2
M  x3  M  L3 L3  1
L/2 L/2
M M
I Y = ∫ r dm = ∫ x
2
dx =
2
∫ x2
dx =   =  + = ML
2

−L / 2
L L −L / 2
L 3
  −L / 2 L  24 24  12

116
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Exercício 8.3:
Calcule o momento de inércia de uma vara rígida, uniforme, em relação a um eixo
perpendicular à vara, localizado numa extremidade .
Note que o cálculo requer que os limites de integração sejam de x=0 a x=L
1
Solução: M L2
3

A Tabela 8.2 mostra os momentos de inércia, para um conjunto de corpos, mostrando-se


os eixos em relação aos quais se verifica rotação.

Tabela 8.2. Momentos de inércia de corpos rígidos e homogéneos, com os respectivos eixos de
rotação.

117
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

8.6.1. Teorema dos eixos paralelos

Podemos simplificar o cálculo dos


momentos de inércia, para vários corpos,
utilizando o teorema dos eixos paralelos,
que relaciona o momento de inércia em
relação a um eixo que passa pelo centro de
massa do corpo, com o momento de
inércia em relação a um segundo eixo
paralelo ( ver figura 8.9).
Seja ICM o momento de inércia em relação
a um eixo que passa pelo centro de massa
do corpo com massa M, e, seja I o
momento de inércia em relação ao eixo
paralelo, a uma distância h, do centro de
massa. O teorema dos eixos paralelos, diz Fig 8.9. Um corpo rodando em torno de um
eixo que é paralelo ao eixo que passa pelo
que centro de massa do corpo

I = ICM+ M h2 (8.17)

Exemplo 8.6

Como exemplo de aplicação deste teorema, podemos considerar novamente a vara da


figura 8.8, com massa M e comprimento L. Vamos obter o momento de inércia em
relação a um eixo perpendicular à vara, e que passa numa extremidade.

Resolução:

Este problema foi resolvido no exercício 8.3, tendo-se obtido o valor (1/3) M L2.
Vimos, no exemplo 8.5, que o momento de inércia da vara, em relação a um eixo
perpendicular, que passa no centro da vara é (1/12) M L2, e a distância entre este eixo e
o eixo que passa na extremidade da vara é h=L/2. Aplicando o teorema dos eixos
paralelos, obtemos
1 L2 1
I = I CM + M h 2 = M L2 + M = M L2
12 4 3

Exercício 8.4

Calcule o momento de inércia da vara, em relação a um eixo perpendicular à vara, e que


passa pelo ponto x=(L/4).

7
Solução: M L2
48

8.7 Momento de uma força em relação a um eixo de rotação (Torque)


r r
A figura 8.10 mostra-nos um disco que é posto a rodar, por meio das forças F1 e F2 ,
exercidas nos bordos do disco. Estas forças são de sentido oposto e têm linhas de acção
paralelas. As mesmas forças, aplicadas de modo que as suas linhas de acção passem

118
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

pelo centro do disco (figura 8.10 b) não produzem rotação do disco. Sendo assim, para
obtermos rotação, é importante o ponto de aplicação das forças. Uma única força, pode
ser responsável pela rotação do corpo (ver figura 8.11).

(a) (b)

Fig 8.10 (a) Forças de linhas de acção paralelas e com sentidos opostos, originam rotação do
disco. (b) Forças de sentidos opostos mas com a mesma linha de acção e passando pelo centro
de massa do corpo, não originam rotação.

A tendência de uma força para rodar um corpo em torno de um eixo, é medida por uma
quantidade chamada momento da força
r r
F sen φ F em relação ao eixo ou torque (ττ).
Consideremos a chave a apertar o
parafuso, que roda em torno de O (ver
r
figura 8.11). A força aplicada F faz um
r ângulo φ com a direcção horizontal.
F cos φ Vamos definir intensidade do torque, τ,
r
resultante da força F , pela expressão

τ = r F sen φ = F d (8.18)
r
Fig 8.11. A força F vai fazer rodar a chave. É importante reconhecer que o torque só é
A rotação aumente com o valor de F e com o
valor do braço da força, d. definido se existir eixo de rotação. A
quantidade d= r sen φ, é chamada braço da
r
força F , e representa a distância na perpendicular do eixo de rotação até à linha de
r
acção da força. Note-se que a componente de F , capaz de produzir rotação, é apenas F
sen φ, a componente perpendicular a r. A componente horizontal, F cos φ, cuja linha de
acção passa por O, não produz rotação.
r
A figura 8.12, mostra-nos que F2 tem tendência a rodar o corpo, no sentido do
r
movimento dos ponteiros do relógio, e F1 tem tendência em fazê-lo rodar no sentido
oposto.
Podemos utilizar a convenção que diz que o sinal do torque , resultante de uma força, é
positivo se a sua tendência é para rodar no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio
e negativo se a tendência é para rodar no sentido do movimento dos ponteiros do
r
relógio. Por exemplo, na figura 8.12, o torque resultante de F1 , com braço da força d1 é

119
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

positivo e igual a F1d1; o torque , r


r F1
resultante de F2 é negativo e igual a –F2
d2. Então, o torque resultante das forças
que actuam no corpo será

τ =τ 1 + τ 2 = F1 d1 − F2 d 2

Pela definição de torque, podemos ver que


a tendência para haver rotação, aumenta
com o valor força F e com o valor de d.
Por exemplo, os puxadores das portas r
encontram-se sempre afastados das F2
dobradiças, para ser mais fácil fazer rodar
as portas. r
O torque não deve ser confundido com Fig 8.12. A força F1 tende a rodar o corpo no
força. O torque tem unidades de força sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. A
r
vezes comprimento ou Nm no sistema SI, força F2 tende a rodar o corpo no sentido dos
a mesma unidade que é utilizada para o ponteiros do relógio.
trabalho.

Exemplo 8.7
r
F1
Consideremos um cilindro sólido, que pode rodar
em torno de um eixo fixo, que passa por O (ver
figura 8.13). Uma corda, enrolada em torno da
parte externa do cilindro, de raio R1, exerce uma
r
força F1 , para a direita do cilindro. Uma segunda
corda, enrolada em torno de outra secção, de raio
r
R2, exerce uma força para baixo, F2 .
r
F2 a) Qual é o torque que actua no cilindro, em

Fig 8.13. Um cilindro sólido, torno do eixo dos z, e que passa por O?
rodando em torno de um eixo que b) Suponha que F1= 5 N, R1= 1,0 m, F2= 6 N
passa por O e R2= 0,5 m. Qual é o torque resultante, e
como vai rodar o cilindro?

Resolução:
r
a) O torque originado por F1 é τ1= - R1 F1 ( o sinal negativo, indica que a força faz
rodar o cilindro no sentido do movimento dos ponteiros do relógio). O torque,
r
originado por F2 é τ2= R2 F2 (o sinal positivo indica que a força faz rodar o
cilindro no sentido contrário ao do movimento dos ponteiros do relógio). Então,
o torque resultante será

τ =τ 1 + τ 2 = − R1 F1 + R2 F2

b) τ = (0,5 m )(6 N ) − (1,0 m )(5 N ) = 3 − 5 = − 2 Nm

120
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Como o torque resultante é negativo, o cilindro irá rodar no sentido do movimento dos
ponteiros do relógio

8.8. Relação entre momento de uma força em relação a um eixo (torque) e


aceleração angular

Consideremos uma partícula de massa m, descrevendo uma circunferência de raio r, sob


r r
a acção de uma força tangencial Ft , e uma força centrípeta Fr ( A força centrípeta é
necessária para manter a partícula no seu percurso). A força tangencial é responsável
r
por uma aceleração tangencial a t , e Ft = m at
r
O torque da força Ft , em relação a um eixo que passe por O (centro de curvatura da
circunferência), é o produto da força pelo braço da força
τ = Ft r = (m at ) r
Como a aceleração tangencial está relacionada com a aceleração angular, at = r α , o
torque pode ser escrito na forma
( )
τ = (m r α ) r = m r 2 α
Recordando que mr2 é o momento de inércia, podemos escrever

τ=Iα (8.19)
Isto significa que o torque que actua na partícula, é proporcional à sua aceleração
angular, e a constante de proporcionalidade é o momento de inércia. É importante notar
que esta relação (8.19), válida para o movimento rotacional, é idêntica à 2ª lei de
r r
Newton ( F = m a ) para o movimento de translação.
É possível mostrar que esta igualdade também é válida para um corpo rígido, de forma
arbitrária, rodando em torno de um eixo fixo.

Exemplo 8.8
Uma vara uniforme de comprimento L e
massa M, pode rodar livremente em torno de
um eixo localizado numa extremidade da vara
(ver figura 8.14). A vara é libertada na
posição horizontal. Qual é a aceleração
angular inicial da vara e a aceleração linear
inicial, da extremidade do lado direito da

vara?
Fig 8.14 Vara uniforme com um eixo de
rotação na extremidade do lado esquerdo
Resolução:
Para fins de cálculo do torque na vara, podemos considerar que o peso ( M g ) está
localizado no centro geométrico da vara, que consideramos como sendo o seu centro de
massa. A intensidade do torque, associado a esta força, em relação ao eixo localizado na
extremidade esquerda da vara é
L
τ =M g
2
A força exercida no eixo de rotação tem torque nulo, pois r=0.

121
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

1 L
Como τ = I α sendo I = M L2 , teremos I α = M g , e
3 2
3 g
α=
2 L

Esta aceleração angular é a mesma para todos os pontos da vara.


Para obter a aceleração linear, na extremidade do lado direito da vara, usamos a relação
at = R α , com R = L. Teremos, então
3
at = R α = g
2
Este resultado é bastante interessante, pois at > g.

Exemplo 8.9

Uma roda de raio R, massa M e momento de


inércia I, está montada num eixo horizontal, sem
atrito (ver figura 8.15). Uma corda, enrolada à
volta da roda, suporta um corpo de massa m.
Calcule a aceleração linear do corpo suspenso, a
aceleração angular da roda, e a tensão na corda.

Resolução:
O torque, que actua na roda, em relação ao seu
eixo de rotação, é τ = T R. O peso da roda e a
força normal do eixo na roda, passam pelo eixo de
rotação e o seu torque é nulo. Como τ= I α,
teremos

T R
τ = I α =T R ⇒ α = (1)
I
Vamos, agora, aplicar a segunda lei de Newton, à
massa suspensa m.

m g −T
∑F y = T − m g = − ma ⇒ a =
m
(2)
A aceleração linear da massa suspensa, é igual à

aceleração tangencial de um ponto na borda da Fig 8.15 A corda que suspende o corpo m
roda. A aceleração angular da roda, e esta está enrolada á volta da roda

aceleração linear, estão relacionadas por a = R α. Utilizando este facto, junto com as
relações (1) e (2), obteremos

T R T R 2 m g −T
a= Rα = R = =
I I m
e

122
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

mg
T=
m R2
1+
I
Podemos, também, obter o valor de a e de α

T R2 mg R2 g
a= = 2
=
I mR I I
1+ 1+
I mR 2
a g
α= =
R I
R+
mR
Exercício 8.5:

A roda da figura 8.15, é um disco sólido, de massa M=2,0kg, R = 30 cm, e I=0,09kg m2.
O objecto suspenso, tem uma massa m=0,5 kg. Calcule a tensão na corda, e a aceleração
angular da roda.

Solução: 3,27 N; 10,9 rad/s2.

8.9. Trabalho e energia no movimento de rotação

O estudo do movimento de rotação de um


r
corpo rígido, não estaria completo, sem F
uma discussão acerca da energia cinética
de rotação, e de como a sua alteração está
relacionada com o trabalho realizado por
forças externas.
Vamos restringir o nosso estudo a rotações
em torno de um eixo fixo, localizado num
sistema inercial. Iremos ver que a relação
τ= I α, obtida no ponto anterior, pode ser
obtida considerando a taxa a que a energia
se altera com o tempo. Consideremos um
corpo rígido, rodando em torno de um
eixo que passa pelo ponto O (ver figura Fig. 8.16 Um corpo rígido roda em torno de
8.16). Suponhamos que uma força externa um eixo que passa por O, devido à acção da
r r
F é aplicada no ponto P. O trabalho força externa F , aplicada no ponto P
r
realizado por F , quando o corpo roda
uma distância infinitesimal ds = r dθ, num intervalo de tempo dt, é
r r
dW = F • ds = (F sen φ ) r dθ
r
onde F sen φ é a componente tangencial de F , ou a componente da força ao longo do
r
deslocamento. Através da figura 8.16, podemos ver que a componente radial de F , não
produz trabalho, pois é perpendicular ao deslocamento.
Como a intensidade do torque em relação ao eixo que passa por O, é r F sen φ, podemos
dizer que o trabalho realizado por esta rotação infinitesimal é

d W= τ dθ (8.20)

123
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

r
A taxa à qual está a ser realizado trabalho, pela força F , para haver rotação em torno do
eixo que passa por O, é obtida formalmente dividindo por dt, cada membro da igualdade
(8.20)
dW dθ
=τ (8.21)
dt dt
Mas, (dW/ dt) é, por definição, a potência instantânea P, e dθ/dt é a velocidade angular,
ω. Teremos, então
P=τω (8.22)

Esta expressão é idêntica a P=Fv, no caso do movimento linear. A expressão dW=τ dθ é


análoga a dW= Fx dx.

8.9.1. Teorema trabalho-energia, no movimento de rotação

Através das definições já apresentadas, podemos escrever

dω dω dθ dω
τ =Iα =I =I =I ω
dt dθ d t dθ

Se relembrarmos que τ dθ = dW, teremos

I ω dω = τ dθ = dW

Integrando esta expressão, teremos o trabalho total realizado

θ ω
1 1
W = ∫ τ dθ = ∫ I ω dω = I ω 2 − I ω 02 (8.23)
θ0 ω0
2 2

Nesta expressão, a velocidade angular varia entre ω0 e ω, quando o deslocamento


angular varia de θ0 a θ. Esta expressão é análoga à expressão do teorema trabalho-
energia, no movimento linear, com I substituído por m e ω2 por v2, ou seja:

O trabalho total, realizado por forças externas, num corpo rígido simétrico, em rotação
em torno de um eixo fixo, é igual à variação da energia cinética de rotação, no corpo.

Exemplo 8.10

Voltemos, novamente, ao exemplo da vara uniforme de comprimento L e massa M, que


pode rodar livremente, em torno de um eixo fixo, numa extremidade da vara (lado
esquerdo da figura 8.17).
a) Qual a velocidade angular da vara, quando ela estiver na sua posição mais
baixa?
b) Determine a velocidade linear do centro de massa, e a velocidade linear do ponto
mais baixo da vara, na posição vertical

124
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Resolução:
a) A questão pode ser resolvida
facilmente se considerarmos a
energia do sistema. Quando a vara
está na posição horizontal, a sua
energia cinética é nula. A sua
energia potencial, em relação ao
ponto mais baixo do seu centro de
massa é Ep= M g (L/2). Quando a
vara atinge a sua posição mais
baixa, a sua energia é inteiramente

1 Fig. 8.17.Vara rígida uniforme com um eixo


energia cinética Ec = I ω 2 ,
2 de rotação que passa pelo ponto O, movendo-se
sendo I o momento de inércia, em no plano vertical
1
relação ao eixo de rotação. Como I = M L2 e a energia é conservada, teremos
3
1 1 11 
M g L = I ω 2 =  M L2  ω 2
2 2 23 
e
3g
ω=
L
Se a vara tiver o comprimento de 1 metro, vemos que o ω = 5,42 rad/s

b) A velocidade linear do centro de massa é

L 1
vc = r ω = ω = 3g L
2 2
O ponto mais baixo da vara tem uma velocidade linear igual a

3g
vc = r ω = L = 3g L
L
8.10. Rolamento

Rolamento numa superfície plana, horizontal

Consideremos uma bola de raio R, rolando sem


deslizamento, ao longo de uma superfície plana e
horizontal. Quando a bola roda um ângulo φ (ver figura
8.18), o ponto de contacto entre a bola e a superfície,
move-se uma distância s, que está relacionada com φ, por

s=Rφ (8.24)
Esta condição, é chamada condição de não deslizamento,
para o deslocamento. Fig 8.18.Bola rodando um
Como o centro de massa da bola se situa directamente por ângulo φ descreve um arco de
cima do ponto de contacto da bola com a superfície, então comprimento s

125
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

ele também se move uma distância s. A velocidade do centro de massa vai ser
ds dφ
vCM = =R
dt dt
ou
vCM = R ω (8.25)

Esta é a condição de não deslizamento, para a velocidade. Se diferenciarmos cada


termo desta igualdade, vamos obter

aC M = R α (8.26)

Esta é a condição de não deslizamento, para a aceleração.

Quando a bola roda, com velocidade angular ω, a parte superior e a parte inferior da

Fig 8.19.(a) Rotação sem translação. A velocidade na parte superior da bola é igual à velocidade na
parte inferior (b) Quando a bola rola a velocidade na parte superior da bola é o dobro da velocidade
do centro de massa. Na parte inferior da bola a velocidade á nula.

bola movem-se com velocidade v = R ω, relativamente ao centro de massa da bola (ver


figura 8.19a). Quando a bola rola , com velocidade v, sem deslizamento, a parte
superior da bola move-se com velocidade 2 v, e a parte inferior da bola, em contacto
com a superfície, tem, instantaneamente, velocidade zero (ver figura 8.19 b). Se a
superfície exercer na bola uma força de atrito, será atrito estático, não havendo
dissipação de energia.
Já vimos, anteriormente, que a energia cinética de um sistema pode ser escrita como a
soma da energia cinética do centro de massa, mais a energia cinética de rotação em
relação ao centro de massa. Para um objecto a rolar, a energia cinética relativa ao centro
1
de massa é I C M ω 2 . Assim, a energia cinética de um objecto em rolamento é
2
1 1
K = I CM ω 2 + m vC2 M (8.27)
2 2

126
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Exemplo 8.11

Uma bola com um raio de 11cm e uma massa de 7,2kg, rola, sem deslizamento, numa
superfície horizontal, com uma velocidade de 2m/s. Em seguida, ela sobe uma rampa de
altura h, antes de ficar momentaneamente parada. Obtenha h.

Resolução:

No problema vamos considerar que há conservação de energia mecânica. A energia


cinética inicial, que é a soma da energia cinética de translação do centro de massa
1 1
2
m vCM , mais a energia cinética de rotação em torno do centro de massa, I CM ω 2 , é
2 2
convertida em energia potencial, mgh. Como a esfera rola, sem sofrer deslizamento, as
velocidades linear e angular estão relacionadas por vCM = R ω . Vamos, então, aplicar o
principio de conservação da energia mecânica

E f = Ei ou U f = Ki

1 1
Ki = m vC2 M + I C M ω 2
2 2
Substituindo valores, obtemos
2
1 12   vC M  7
K i = m vC2 M +  m R 2    = m vC2 M
2 25   R  10
Igualando a energia inicial com a energia final, vem

2
7 7 vC M
mgh = m vC2 M e, portanto h= = 0,285m = 28,5 cm
10 10 g

Rolamento num plano inclinado

Quando um objecto rola, a descer um plano inclinado, o seu centro de massa é


acelerado. Para a análise deste problema vamos utilizar a 2ª lei de Newton para um
movimento de rotação, e dizer que
τ C M = IC Mα (8.28)

Note-se que, aqui, o torque é calculado em relação ao centro de massa e o momento de


inércia é calculado em relação a um eixo que passa pelo centro de massa.

Exemplo 8.12

Vamos considerar uma bola sólida, uniforme, de massa m e raio R, que rola, sem
deslizar, oo longo de um plano inclinado, fazendo um ângulo θ com a direcção
horizontal. Obtenha a aceleração do centro de massa da bola.

127
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Resolução:

Vamos aplicar a segunda lei de Newton.


Ao longo do plano inclinado, vamos ter
translação do centro de massa e rotação ,
em torno de um eixo que passa pelo
centro de massa. Teremos, então
r r
∑F = ma
ou seja m g sen θ − f = m a C M (1)

Fig 8.20. Esfera sólida rolando num plano


∑τ C M = I C M α ou seja f R = IC Mα inclinado.

Utilizando a condição de não deslizamento, para eliminar α e calcular f, teremos

aC M aC M
f R = IC M ⇒ f = IC M
R R2

Substituindo valores em (1), obtemos

IC M g sen θ
m g sen θ − 2
aC M = m aC M e aC M =
R IC M
1+
m R2
2
Como I C M = m R 2
5
5
aC M = g sen θ
7

Note-se que aCM é inferior a g sen θ, devido à acção da força de atrito


Podemos, também, utilizar o princípio de conservação da energia, para analisar o
problema do rolamento num plano inclinado e calcular a velocidade da bola, no final do
plano inclinado.

Antes de resolvermos o problema, convém notar que o rolamento só é possível, se


existir uma força de atrito, entre o objecto e o plano inclinado, que produza um torque
em relação ao centro de massa. Apesar da presença do atrito, não existe dissipação de
energia mecânica, pois o ponto de contacto da esfera com o plano está em repouso, em
relação ao plano, em qualquer instante. Por outro lado, se a bola estiver a deslizar,
haverá dissipação de energia mecânica, à medida que o movimento progride.
Utilizando a condição de não deslizamento vC M = R ω , para rolamento puro, podemos
escrever
2
1  vC M  1 1I 
K = I C M   + m vC2 M =  C M2 + m  vC2 M (2)
2  R  2 2 R 

128
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Quando a bola, que está a rolar, atinge a parte final do plano inclinado, ela perdeu
energia potencial mgh, sendo h a altura do plano inclinado. Se a bola partir do repouso,
a sua energia cinética no fim do plano é dada por (2) e deve igualar a energia potencial,
na parte mais elevada do percurso.

1/ 2
 
 
1  IC M   2gh 
m g h =  2 + m  vC2 M ⇒ vC M =  (8.29)
2 R  I
 1 + C M2 
 mR 
 

8.11. Novamente o momento de uma força (torque) em relação a um ponto


r
Consideremos uma força F que actua no
ponto P de um corpo rígido, localizado pelo
r
vector posição r (ver figura 8.21). Vamos
considerar que o ponto O é a origem de um
sistema inercial . Já dissemos, em 8.7, que a r r r
τ =r×F
intensidade do momento da força (torque)
r
F , em relação à origem é, por definição
τ = r F sen φ
sendo φ o ângulo formado pelos vectores
r r r
r e F . O eixo em torno do qual F
originará rotação, passa por O e é
r
perpendicular ao plano definido por r e por
r
F . Se a força se localizar no plano XY, r
r F
então o torque τ é representado por um
vector paralelo ao eixo OZ. O torque
associado à força da figura 8.21, tende a r
Fig 8.21. O vector momento de uma força τ
rodar o corpo no sentido contrário ao do em relação a um eixo que passa pelo ponto O,
movimento dos ponteiros do relógio e, por tem uma direcção perpendicular ao plano
r
isso, o sentido de τ é o sentido positivo do formado pelos vectores rr e Fr
r
eixo OZ. Se invertêssemos o sentido de F ,
r
na figura 8.21, τ teria o sentido negativo do
eixo OZ.
Na realidade, o torque pode obter-se fazendo o produto externo ou produto vectorial de
r r
r e F
r r r r r
τ =r ×F =r ∧ F (8.30)
As propriedades desta operação foram estudadas no capítulo 1. Para obtermos o sentido
r
do vector τ , podemos utilizar a regra da mão direita ou a progressão de um saca-rolhas.

8.12. Momento angular de uma partícula


r
Consideremos uma partícula de massa m, com um vector posição r , e movendo-se a
r
uma velocidade v (ver figura 8.22).

129
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Vamos definir momento angular instantâneo


r
da partícula, L , em relação à origem O, como
r r r
sendo o produto externo entre o vector L= r×p
posição instantâneo e o momento linear
r
instantâneo p
r r r r r
L = r ∧ p = r ∧mv (8.31)
A unidade em que se exprime o momento
angular, no sistema SI, é o kg m2s-1. É

importante notar que, tanto a intensidade r


r Fig 8. 22.O momento angular, L , de
como o sentido de L dependem da escolha da uma partícula de massa m e momento
r
origem. A direcção de L é perpendicular ao linear pr , com vector posição rr , é dado
r r r r r
plano definido por r e por p e o sentido é
por L = r × p
dado pela regra da mão direita. Por exemplo,
r r r
na figura 8.21, r e p estão no plano XOY e L tem a direcção do eixo OZ. Como
r r r
p = m v , a intensidade de L será

L = m v r sen φ (8.32)
r r r
sendo φ o ângulo definido por r e por p . Sendo assim, L será zero quando r for
r
paralelo a p (φ=0 ou 180º). Por outras palavras, quando uma partícula se move ao longo
de uma linha que passa pela origem, ela terá momento angular nulo, em relação à
r r
origem. Por outro lado, se r for perpendicular a p (φ= 90º), então L terá o valor
máximo, igual a m v r. Neste caso, a partícula tem uma tendência máxima, para rodar
em torno da origem. De facto, nesse instante, a partícula move-se exactamente como se
r
estivesse no bordo da roda , rodando em torno da origem, num plano definido por r e
r
por p .
Em alternativa, podemos notar que a partícula tem momento angular diferente de zero,
em relação a um ponto, se o seu vector posição, medido a partir desse ponto, roda em
torno do ponto. Por outro lado, se o vector posição só aumenta ou diminui de
comprimento, a partícula move-se ao longo de uma linha passando pela origem, e tem
momento angular nulo, em relação à origem.
No caso do movimento linear de uma partícula, vimos que a força resultante era igual à
derivada do momento linear em ordem ao tempo. Já vimos, no ponto anterior, que
r
r r r r dp
τ =r ∧F =r ∧ (8.33)
dt
Vamos, agora, calcular a derivada do momento angular, em ordem ao tempo.
r r r
d L d r r r d p d r r
= (r ∧ p ) =  r ∧ + ∧ p 
dt dt  d t   d t 
r r
dr r dr
O último termo do lado direito é nulo, pois = v ,o que significa que é paralelo a
dt dt
r
p .Ficamos, então, com
r r
dL r d p r
=r ∧ =τ (8.34)
dt dt

130
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Este resultado diz que o torque que actua numa partícula é igual à derivada do momento
angular da partícula, em ordem ao tempo. É importante notar que (8.34) só é válida se a
r r
origem de τ e de L forem comuns. A expressão é ainda válida, quando existem várias
r
forças actuando na partícula, sendo τ o torque resultante. A expressão é válida para
qualquer origem fixa num referencial inercial. É claro que deve ser utilizada a mesma
origem, para o cálculo do torque de cada força e também do momento angular.

8.12.1. Momento angular de um sistema de partículas


r
O momento angular total de um sistema de partículas em relação a um ponto, L , é
definido como o vector resultante da soma do momento angular de cada partícula

r r r r n r
L = L1 + L2 + ...... + Ln = ∑L
i =1
i

Como os momentos individuais de cada partícula podem variar no tempo, o momento


angular total também pode variar no tempo. De facto, a derivada em ordem ao tempo do
momento angular total, é igual ao vector resultante do somatório de todos os torques,
incluindo os associados a forças internas, entre as partículas, e os associados a forças
externas. Já vimos que o somatório dos torques associados com todas as forças internas
é nulo. Concluímos então que o momento angular total de um sistema de partículas, só
pode variar com o tempo, se existir no sistema um torque externo diferente de zero.
Nesse caso, teremos
r r
r d Li d r dL
∑τ ext = ∑ d t = d t ∑ Li = d t (8.35)

A derivada em ordem ao tempo do momento angular total de um sistema de partículas,


em relação a uma origem num referencial inercial, é igual ao vector resultante dos
torques, em relação à origem, das forças externas ao sistema.

Exemplo 8.13

Uma partícula de massa m, move-se num


r
plano XOY, com uma velocidade v , ao longo
de uma linha recta (ver figura 8.23). Qual é a
intensidade, direcção e sentido, do seu
momento angular, em relação à origem O ?

Resolução:

Vamos utilizar a definição de momento


angular
r r r
L =r × p

r Fig. 8.23. Uma partícula movendo-se


r
A intensidade de L vai ser L= r m v sen φ = numa linha recta, com velocidade v , tem
m v d , sendo d = r sen φ a distância mais um momento angular, em relação a O, de
intensidade igual a mvd, sendo d=r sem φ
próxima da partícula à origem. O sentido de
r
L é dado pelos dedos da mão direita, e é “para

131
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

r r
baixo”; podemos, portanto, escrever L = − m v d k . O momento angular em relação a
O’ é zero, pois φ = 0.

Exemplo 8.14

Uma partícula move-se, no plano XOY,


segundo um percurso circular, de raio r (ver
r
figura 8.24). v
a) Obtenha a intensidade, direcção e
sentido, do seu momento angular em
relação a O, quando a sua velocidade for r
r
v.
b) Obtenha uma expressão alternativa para
L, em termos da velocidade angular ω.

Resolução:
r r
a) Como r é perpendicular a v , então
r
φ= 90º, e a intensidade de L é Fig 8.24. Uma partícula movendo-se
num percurso circular de raio r tem um
L = m v r sen 90º = m v r momento angular, em relação ao centro
r do percurso, de intensidade igual a m v r
A direcção de L é perpendicular ao plano da
circunferência, e o seu sentido depende do
r r r
sentido de v . Se o sentido de rotação ( de r para v ) for no sentido contrário ao do
movimento dos ponteiros do relógio, como indica a figura 8.24, então, pela regra da
r
mão direita vemos que o sentido de L é “para cima”. Podemos, então, escrever
r r
L = (m v r ) k
Se a partícula se mover no sentido do movimento dos ponteiros do relógio, o sentido de
r r r
L será “para baixo”, e teremos L = − (mvr ) k

b)Atendendo a que v= r ω, para uma partícula rodando num círculo, podemos escrever

L = ( m r2 ω) = I ω
Sendo I o momento de inércia da partícula, em relação ao eixo dos Z, que passa pelo
ponto O. Neste caso, o momento angular tem o sentido do vector velocidade angular e,
r r
por isso, podemos escrever L =Iωk

Exercício 8.6

Um carro com uma massa de 1500 kg, move-se num percurso circular, com um raio de
50m e uma velocidade de 40 m/s. Qual é a intensidade do seu momento angular em
relação ao centro do percurso?

Solução: 3,00 X 108 kg m2 s-1.

132
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

8.13. Rotação de um corpo rígido em torno de um eixo fixo

Vamos considerar um corpo rígido,


rodando em torno de um eixo fixo. Vamos
considerar que o eixo OZ coincide com o r
eixo de rotação (ver figura 8.25). Todas as ω
partículas, constituintes do corpo rígido,
rodam no plano XOY, em torno do eixo
r
OZ, com uma velocidade angular ω. L
A intensidade do momento angular de
uma partícula de massa mi, em relação à
origem O, é mi vi ri. Como vi = ri ω,
podemos escrever a intensidade do
momento angular da partícula i como
Li = mi ri 2 ω
r
O vector Li tem a direcção do eixo OZ e o
r
sentido de ω . Fig 8.25. Quando um corpo rígido roda em
Podemos obter a componente Z do r
torno de um eixo, O momento angular, L ,
momento angular do corpo rígido, fazendo com sentido idêntico ao da velocidade angular,
r
a soma dos Li , para todas as partículas do ω
corpo

 
LZ = ∑ mi ri 2 ω =  ∑ mi ri 2  ω = I ω (8.36)
i  i 

sendo LZ a componente, segundo OZ, do momento angular, e I é o momento de inércia


do corpo rígido, em torno do eixo OZ.
Vamos, agora, derivar (8.36) em ordem ao tempo

d Lz dω
=I =Iα (8.37)
dt dt
sendo α a aceleração angular. Como I α é igual ao torque resultante, podemos escrever

d Lz
∑τ Re s
dt
= =Iα (8.37a)

O torque das forças externas que actuam num corpo rígido, em rotação em torno de um
eixo fixo, é igual ao momento de inércia em relação a esse eixo, multiplicado pela
aceleração angular do corpo, em relação ao mesmo eixo.

Se o corpo rígido for simétrico, e se rodar em torno de um eixo fixo, passando pelo seu
centro de massa, podemos escrever (8.36) na forma
r r
L =I ω (8.38)
r
sendo L o momento angular total, em relação ao eixo de rotação.

133
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Exemplo 8.15

Uma esfera sólida, uniforme, de raio


R=0,50m e massa M= 15 kg, roda em torno
do eixo dos Z, que passa no seu centro (ver r
L
figura 8.26). Obtenha o momento angular da
esfera, quando a velocidade angular for 3
rad/s

Resolução:

O momento de inércia da esfera em relação


a um eixo que passa pelo seu centro é

I = M R 2 = (15 kg )(0,5 m ) =1,5 kg m 2


2 2 2 Fig 8.26. uma esfera que roda em torno do
5 5 eixo OZ, com o sentido indicado, tem um
r
A intensidade do momento angular é momento angular L cujo sentido é o sentido
positivo do eixo dos z. se o sentido de
(
L = I ω = 1,5 kg m 2
)(3 rad / s ) = 4,5 kg m 2
s −1 rotação fosse invertido o sentido do momento
angular seria o sentido negativo do eixo dos z

8.14. Conservação do momento angular

Já vimos que o momento linear total, de um sistema de partículas, permanece constante


quando a resultante das forças externas que actuam sobre o sistema for nula. Temos
uma lei de conservação análoga, no movimento de rotação, que diz que o momento
angular total de um sistema é constante, se a resultante dos torque das forças externas
actuando no sistema for nulo. Este resultado vem ,directamente, da expressão (8.35)
r
dLr r
∑ ext d t
τ = = 0 ⇒ L = Cons tan te (8.39)

Se tivermos um sistema de partículas, podemos escrever esta relação na forma


r
∑ i = Cons tan te
L
i
Se o corpo sofrer uma redistribuição da sua massa, o seu momento de inércia altera-se, e
podemos expressar a conservação do momento angular na forma
r r
Li = L f = Cons tan te

Se o sistema em estudo for um corpo rodando em torno de um eixo fixo, como por
exemplo o eixo OZ, podemos escrever LZ= I ω , sendo LZ a componente do momento
angular, segundo o eixo de rotação, e I é o momento de inércia em relação a esse eixo.
Neste caso, podemos escrever
I i ω i = I f ω f = Cons tan te (8.40)

Esta expressão é válida para rotações em torno de um eixo fixo, ou em torno de um eixo
que passe pelo centro de massa do sistema.

134
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

O torque resultante, das forças que actuam num corpo, em relação a um eixo que passa
pelo centro de massa, é igual à derivada em ordem ao tempo da variação do momento
angular, seja qual for o movimento do centro de massa,

Podemos, agora dizer que, a energia, o momento linear e o momento angular, de um


sistema isolado, permanecem constantes.

Existem muitos exemplos que demonstram a conservação do momento angular. Vamos


ver alguns.

Exemplo 8.16 . A plataforma rotativa

Consideremos uma plataforma horizontal, com a forma de um disco, rodando em torno


de um eixo vertical sem atrito.

A plataforma tem uma massa de 100kg e


um raio de 2 m. Um estudante com uma
massa de 60 kg caminha, lentamente, da
borda da plataforma para o centro.
Considere que a velocidade angular do
sistema é 2 rad/s quando o estudante está
no bordo da plataforma.
a) Calcule a velocidade angular
quando o estudante está a 0,5 m do
centro da plataforma
b) Calcule a energia cinética inicial e
Fig.8.27 Quando o estudante se dirige para o
final do sistema centro, aumenta a velocidade de rotação da
plataforma

Resolução:

a) Vamos designar o momento de inércia da plataforma por Ip e o momento de


inércia do estudante por Ie. Se considerarmos o estudante como uma massa
pontual, m, teremos para momento de inércia inicial do sistema

sendo M e R a massa e o raio da plataforma, respectivamente. Quando o


estudante caminha para o centro, o momento de inércia diminui, passando a ser

Como não existem momentos de forças externas a actuar no sistema, podemos


dizer que há conservação de momento angular, e escrever

135
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

ou seja

Substituindo valores, obteremos

b)

Como se pode ver, a energia cinética aumenta. Isto deve-se ao facto de, no processo de
caminhar para o centro da plataforma, o estudante ter que exercer algum esforço
muscular e realizar trabalho positivo, que é transformado em energia cinética do
sistema. Por outras palavras, forças internas no sistema realizam trabalho.

Exemplo 8.17. O banco rotativo

Consideremos um estudante que se senta num banco, que pode rodar em torno de um
eixo vertical, com atrito desprezável. O estudante tem os braços abertos e pesos nas
mãos. O banco está em rotação.
Porque é que a velocidade angular do
sistema aumenta quando o estudante
dobra os braços e fica com os pesos
junto ao peito?

Resolução:
Vamos considerar que o momento
angular inicial do sistema é , sendo
Ii o momento de inércia de todo o
sistema (estudante + pesos + banco).
Depois de os braços estarem dobrados,
o momento angular será If ωf. Como os
pesos, neste caso, estão mais próximos Fig. 8.28. Quando o estudante fecha os braços
do eixo de rotação If < Ii. aumenta a velocidade de rotação do banco
Atendendo a que a resultante dos
momentos das forças externas é nula, podemos aplicar o princípio da conservação do
momento angular, e, portanto
Ii ωi = If ωf

Para se verificar esta igualdade, ωf terá que ser superior a ωi, o que significa que a
velocidade angular aumenta.

136
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8

Tal como no exemplo anterior, a energia cinética de rotação aumenta quando o


estudante dobra os braços. Este aumento deve-se ao facto de o estudante realizar
trabalho ao dobrar os braços e colocar os pesos junto do peito.

137
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9

Cap 9. Equilíbrio
9.1 Introdução

Vamos ver quais as forças e momentos necessários para manter corpos rígidos, com
dimensões apreciáveis, em equilíbrio estático. O termo equilíbrio significa que o corpo
está parado, ou que o seu centro de massa se move com velocidade constante.

Já vimos que, uma condição necessária para se obter equilíbrio, é que a resultante de
todas as forças que actuam, no objecto em estudo, seja zero. Se o objecto for tratado
como uma partícula, esta é a condição suficiente para o objecto estar em equilíbrio. Se a
resultante de todas as forças que actuam na partícula for zero, ela permanecerá parada,
ou mover-se-á com velocidade constante segundo uma linha recta.

A situação com objectos reais é mais complexa, pois os objectos não podem ser tratados
como partículas. Um objecto tem dimensões, forma e distribuição de massa, bem
definidas. Para que um objecto esteja em equilíbrio estático, a resultante de todas as
forças que nele actuam, tem que ser zero, e o objecto não poderá rodar. Esta segunda
condição de equilíbrio requer que a soma de todos os momentos das forças que actuam
num corpo, em relação a um mesmo ponto, seja zero.

Para se saber se um objecto está em equilíbrio estático, devemos conhecer a forma e


dimensões do objecto, as forças que actuam nas diferentes partes do objecto, e os pontos
de aplicação das forças.

9.2. Condições de equilíbrio

Consideremos uma força  actuando num objecto, como mostra a figura 9.1. O efeito
da força no objecto depende do seu ponto de
aplicação, P. O momento desta força em
relação ao ponto O será

 =  × 

Convém lembrar que o vector  tem que ser


simultaneamente perpendicular a  e a  . A
força  vai fazer com que o corpo rode no
sentido contrário ao do movimento dos
ponteiros dos relógios. Como se pode ver
pela figura 9.1, a rotação que a força irá
imprimir ao corpo vai depender de d
chamado braço da força ( distância, na Fig 9.1 O efeito da força  , sobre o corpo,
vai depender da distância d
perpendicular, do ponto O à linha de acção
da força), e também da intensidade da força.
Por definição o módulo de  é

τ = F r sen θ = F d

138
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9

Vamos, agora, supor que duas forças  1 e


 2 actuam num corpo rígido. As duas
forças terão o mesmo efeito no corpo,
somente se tiverem a mesma intensidade,
direcção, sentido e linha de acção. A
figura 9.2 mostra duas forças com a
mesma intensidade, actuando num corpo,
no entanto, o corpo não está em
equilíbrio, pois a linha de acção das
forças não é a mesma. A força com
sentido para a direita, originará uma

rotação, em torno de O, no sentido dos Fig 9.2. Apesar das forças aplicadas terem a
ponteiros do relógio, enquanto a força mesma intensidade elas vão originar rotação do
com sentido para a esquerda tende a corpo pois as linhas de acção são diferentes
movê-lo no sentido contrário ao do
movimento dos ponteiros dos relógios.

Consideremos um objecto com um eixo passando


pelo seu centro de massa. O objecto ficará com uma
aceleração angular, em torno deste eixo, se existir
pelo menos um momento de uma força, actuando
no objecto. Consideremos o objecto da figura 9.3.
O eixo de rotação passa pelo centro de massa, e
existem duas forças aplicadas ao corpo, como
mostra a figura. Um par de forças, actuando desta
forma, recebe o nome de dipólo. O módulo do
momento de cada força é fd, e o corpo irá rodar no
Fig 9.3. O dipólo da figura vai
sentido do movimento dos ponteiros do relógio.
originar um movimento de rotação do
objecto em torno do seu centro deEsta é uma situação de não equilíbrio, no que diz
massa. respeito à rotação. O momento resultante, das
forças que actuam no objecto, dá origem a uma
aceleração angular α pois, pela segunda lei de Newton aplicada à rotação, podemos
escrever

 = + = (9.1)

Em geral, um objecto permanecerá em equilíbrio rotacional, se a sua aceleração angular


for nula ( α = 0 ) . Como  = , então a condição de equilíbrio é que a resultante
dos momentos das forças, em relação a um mesmo ponto, seja nula.

As condições necessárias para o equilíbrio de um corpo, são:

 = 
1ª – A soma de todas as forças externas que actuam no corpo deve ser zero ∑ 

139
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9

2ª – A soma de todos os momentos das forças que actuam no corpo, em relação a


um ponto qualquer, deve ser zero ∑ 
 = 

9.3 Centro de gravidade

Sempre que estamos a trabalhar com corpos rígidos, uma das forças que deve ser
considerada é o peso do corpo, ou seja, a força da
gravidade actuando no corpo considerado. Para
calcular o momento originado pela força peso,
podemos considerar todo o peso como se estivesse
concentrado num único ponto, chamado centro de
gravidade.

A figura 9.4 mostra um corpo rígido em equilíbrio


estático, onde se pode ver um ponto O, em relação
ao qual se vão calcular os momentos dos pesos
dos elementos de massa que vamos considerar
como constituintes do corpo. Consideremos ,
então, um elemento de massa mi. O peso deste
elemento de massa será  gi e o peso total do
objecto será  g=∑  gi. Seja i o vector posição do
nosso elemento de massa, relativamente ao ponto
O. O momento do peso do elemento de massa
considerado, relativamente ao ponto O, é dado por
i = i ×  gi

O momento global total, exercido pelos pesos de


todos os elementos de massa será
Res=∑( i ×  gi). No caso do campo gravítico ser
uniforme, em todo o corpo, podemos escrever Fig 9.4 (a) Momento da força
 gi,actuando no elemento de massa mi.
∑  gi= ∑   , ou seja  g = M  , sendo M a
(b) Momento da força gravítica total,
massa de todo o corpo. com ponto de aplicação no centro de
gravidade, em relação ao ponto O
Relativamente aos momentos das forças, podemos
escrever:

Res= ∑(i ×  gi) = ∑(i ×   ) = ∑(  i × ) = ( ∑  i) ×  (9.2)

Utilizando a definição de vector posição do centro de massa ( M CM= ∑  i) obtemos

Res= M CM×  = CM×   = CM×  g (9.3)

Estas equações são válidas para qualquer ponto O, desde que se verifique a relação
cg=CM. Isto significa que o centro de massa e o centro de gravidade coincidem se o
corpo se encontrar num campo gravítico uniforme.

140
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9

Se O estiver acima do centro de gravidade, então cg e  g estão ambos na mesma


direcção e sentido (para baixo) e Res= cg×  g= 0. Quando um corpo for suspenso, com
o centro de gravidade abaixo do seu ponto de suspensão, o momento do peso, em
relação ao ponto de suspensão, é zero e o corpo está em equilíbrio estático.

Vamos, de seguida, estudar alguns exemplos de equilíbrio estático em corpos rígidos.

9.4 Alguns exemplos de equilíbrio estático

Vamos analisar três exemplos de equilíbrio estático. Em cada exemplo seleccionamos


um ou mais objectos aos quais aplicamos as condições de equilíbrio estático. As forças
envolvidas estão todas no plano XOY, portanto os momentos das forças em relação a
um ponto são todos paralelos ao eixo OZ. Apesar do equilíbrio poder ser testado com
qualquer eixo escolhido, iremos ver que certas escolhas podem simplificar os cálculos,
eliminando um ou mais termos desconhecidos relacionados com as forças.

Exemplo 9.1

Uma prancha uniforme de comprimento L=3,00 m e massa M=35 kg, é suportada por
duas balanças que distam d= 0,50 m
de cada extremidade da prancha,
como se mostra na figura 9.5.

a) Calcule o peso medido pelas


balanças quando uma
senhora, com uma massa
m=45 kg, se coloca na
extremidade esquerda da
prancha?
b) Um rapaz sobe para a prancha
e caminha para a senhora, que
salta para o chão quando a
prancha começa a inclinar-se.
O rapaz continua a andar para
o lado esquerdo da prancha, e
quando chega lá, a balança do
lado direito lê zero. Obtenha
a massa do rapaz.

Resolução: Fig 9.5 Esquema mostrando a senhora em cima da prancha,


e forças exercidas.
a) Em primeiro lugar vamos
considerar as forças envolvidas no nosso problema. Sabemos que a 1ª condição
de equilíbrio exige que a soma das forças seja nula. Como no problema as forças
são todas na direcção vertical, então ∑  = 0. Olhando para a figura 9.5 e

141
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9

considerando positivas as forças dirigidas para cima, teremos


FL+ FR – M g – mg = 0 (9.4)
Vamos , agora, aplicar a segunda condição de equilíbrio que diz que a soma dos
momentos das forças em relação a um ponto tem que ser zero. No nosso caso, os
momentos das forças têm todos a direcção do eixo dos Z. Vamos calcular os
momentos das forças em relação a um eixo que passa pelo ponto de aplicação da
força  Le somá-los.
!−2
  =  (0) +  (! − 2 ) −  $ % +  = 0 (9.5)
2
Resolvendo esta equação, em ordem a FR, obtemos:

( *
 = '  − -  (9.6)
) +,)*

Introduzindo este resultado em (9.4) virá

( * ( +,*
+ =  +  − ')  − -  = ')  + -  (9.7)
+,)* +,)*

Vamos, agora , substituir as letras por valores numéricos

1 0,50 
 = $ 35/ − 45 /% (9,81 3//) = 61,3 3 = 61 3
2 3,0 − 1,0

1 3,0  − 0,5 
+ = $ 35 / + 45 /% (9,81 3//) = 723 3
2 3,0 − 1,0
= 7,2 × 10) 3

b) Neste caso, a balança localizada no lado direito marca zero, portanto FR= 0.
Utilizando (9.6), e resolvendo em ordem a m, obtemos

* ( ( +,)* 7,89,(,8 9
 = ) e =  = 35 / = 70 /
+,)* ) * (,89

Exemplo 9.2

Suponhamos que uma pessoa segura um corpo com uma massa de 6,0 kg na sua mão,
fazendo com o braço um ângulo de 90º (ver figura 9.6). O músculo bíceps exerce uma
força para cima,  m, cujo ponto de aplicação dista 3,4 cm do ponto O, localizado na
junção do cotovelo. Consideramos o antebraço e a mão como sendo uma vara rígida, de
30 cm de comprimento e com uma massa de 1,0 kg.

142
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9

a) Obtenha a intensidade de  m
b) Obtenha a intensidade e direcção da
força exercida pelo braço, na junção do
cotovelo.

Resolução:

a) A figura 9.6 mostra-nos um esquema


com o braço, antebraço e corpo na mão
(esquema superior). O esquema inferior
mostra-nos todas as forças que estão
aplicadas no sistema.

A força mais desconhecida é a exercida pelo


braço na junção do cotovelo, Para
calcularmos os momentos das forças, vamos
considerar um eixo passando pelo cotovelo e
perpendicular à folha de papel (paralelo ao
eixo dos z). Vamos aplicar a 2ª condição de
equilíbrio

!
:; (0) − <  + 9 − ! = 0
2
Daqui tiramos
( + (
9 = ') < + -  * = ') (1,0 /) +
78 =9
6,0 /- (9,8 3 /,( ) ' - = 563 3
7,> =9

b) Para obtermos a força exercida, no Fig 9.6 No esquema superior mostra-se o


cotovelo, pelo braço, vamos aplicar a 1ª braço com o objecto na mão. O esquema
inferior mostra as forças aplicadas ao sistema
condição de equilíbrio.
∑  x= 0 implica Fuax+0+0+0 = 0 , ou
seja Fuax= 0

∑  y = 0 implica Fuay+ Fm – mhg – mg= 0 ou seja Fuay= - Fm+ mhg + mg.

Substituindo valores, obtemos:


Fuay= -563N +(1,0 kg+6,0 kg) (9,81 N7 kg) = -494 N

Como a componente da força é negativa a força será vertical e dirigida para


baixo.

143
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9

Exemplo 9.3

Consideremos uma escada uniforme,


com 5,0 m de comprimento e pesando
60N. A escada está encostada a uma
parede vertical, sem atrito, como se
mostra na figura 9.7. O pé da escada
está a uma distância de 3,0 m da parede.
Qual é o valor mínimo do coeficiente de
atrito estático, entre a escada e o chão,
necessário para a escada não deslizar?

Resolução:
As duas condições de equilíbrio, podem
transformar-se ,aqui, em três condições:
∑  x = 0 ; ∑  y = 0 ; ∑  = 0.
Sabemos, ainda, que fe ≤ µ e Fn . O
esquema intermédio da figura 9.7,
mostra as forças que estão aplicadas ao
sistema e os respectivos pontos de
aplicação. As forças que actuam na
escada são a força gravítica,  g , a força
exercida pela parede,  1, (como se
despreza o atrito da parede, só
consideramos a força normal), e a força
exercida pelo solo, que na figura
aparece decomposta em duas
componentes: a normal  n, e a força de
atrito ?s.

Vamos aplicar a 1ª condição de


equilíbrio às forças que actuam na
escada.
Fig.9.7 Esquema mostrando a escada
∑  x= 0 ou seja fs – F1 = 0 ; encostada à parede e forças que nela actuam.
∑  y= 0 ou seja Fn – Fg= 0 O último esquema mostra o ponto resultante
da intercepção das três forças

Daqui obtemos fs= F1 e Fn= Fg= 60 N

Aplicando a 2ª condição de equilíbrio a um eixo que passa pelo pé da escada e é


perpendicular à página, obtém-se

144
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9

  = ( (4,0 ) − @ (1,5 ) = 0
Resolvendo esta expressão em ordem a F1 obtém-se

AB ((,C 9) (D8 E )((,C 9)


( = = = 22,5 N
>,8 9 (>,8 9)

Vamos utilizar este valor para determinar fs. fs= F1=22,5 N


O coeficiente de atrito estático será
? 22,5 3
F = = = 0,375 = 0,38
G 60 3

9.5 Estabilidade do equilíbrio

Existem três categorias para o equilíbrio rotacional de um objecto: estável,


instável e neutro ou indiferente. O equilíbrio rotacional estável ocorre quando
ao originarmos um pequeno deslocamento a partir da posição de equilíbrio os
momentos das forças que existem, tendem a rodar o objecto novamente para a
sua posição de equilíbrio. A figura 9.8a ilustra a situação de equilíbrio estável.

Fig 9.8 Figura mostrando os vários tipos de equilíbrio. (a) Equilíbrio estável. (b)
Equilíbrio instável. (c) Equilíbrio neutro ou indiferente

Quando o cone é inclinado ligeiramente o momento da força gravitica faz com


que ele retorne à sua posição inicial. Note-se que esta pequena inclinação vai
elevar o centro de gravidade aumentando a energia potencial gravítica.
A figura 9.8b ilustra uma situação de equilíbrio rotacional instável. Uma
pequena inclinação do objecto tende a rodar o objecto de modo a afastar-se da
sua posição de equilíbrio. Uma pequena inclinação do cone irá baixar o seu
centro de gravidade e diminuir a sua energia potencial gravítica.
A figura 9.8c ilustra a situação de equilíbrio rotacional neutro ou indiferente.
Se rodarmos ligeiramente o cone, não existem momentos de forças que o façam
rodar para a sua posição de equilíbrio. Neste caso, quando o cone roda, a altura
do seu centro de gravidade não sofre alteração, e a energia potencial gravítica
mantém-se constante.

145
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9

Podemos aumentar a estabilidade de


um sistema diminuindo a posição do
seu centro de gravidade ou
aumentando a base de suporte. A
figura 9.9a mostra uma vara não
uniforme que é levantada de modo
que o seu centro de gravidade esteja
próximo do solo. A situação 9.9b,
mostra a mesma vara, levantada, com
o centro de gravidade próximo da
extremidade mais elevada. Neste
Fig 9.9 . Quando uma vara com furos é
caso, a situação é menos estável que
levantada, o seu equilíbrio é mais estável
a 9.9a. quando o centro de gravidade se situa mais
próximo da extremidade inferior

146
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

Cap 10. Lei da atracção universal. Gravidade.

10.1 Introdução

Antes de 1665, já existiam dados sobre o movimento da Lua e outros planetas, no


entanto não se conheciam as forças responsáveis pelos seus movimentos. Foi nesse ano
que Newton formulou a sua lei da gravitação universal, tendo mostrado que a força
que faz com que a Lua não se afaste da
Terra é a mesma que faz com que uma
maçã caia da macieira para o chão.
Hoje sabemos que esta lei é fundamental
para explicar como os corpos celestes se
movem e interagem, como as galáxias se
expandem ou contraiam, e como se
desenvolvem os buracos negros. É a força
gravítica que faz com que a Terra e os
outros planetas do sistema solar se
mantenham nas suas órbitas. É ela
Fig 10.1. O material constituinte das galáxias
também que é responsável por nos que existem no universo encontra-se aglomerado
encontrarmos à superfície da Terra. devido à força gravitacional que se faz sentir
A força gravítica contudo não é
constante em toda a superfície da Terra. As suas variações são difíceis de detectar, por
serem muito pequenas, no entanto, actualmente é possível medi-las e utilizá-las para,
por exemplo, detectar jazigos de petróleo ou de minerais.

10.2 Lei da gravitação universal, de Newton

Newton, com os seus estudos, concluiu que não é só a Terra que atrai a Lua ou a maçã,
mas que qualquer corpo existente no universo tem a propriedade de atrair outros corpos.
Em 1687, Newton publicou a sua lei da atracção universal, que diz que
Qualquer partícula existente no universo atrai outras partículas com uma força
que é directamente proporcional ao produto das massas das partículas e
inversamente proporcional ao quadrado das distâncias entre elas.
Vamos considerar duas partículas de massas m1 e m2, separadas por uma distância r. A
 
intensidade da força existente entre elas será
 =     (10.1)

sendo G uma constante universal, chamada constante gravitacional, que pode ser
medida experimentalmente. O seu valor, no sistema SI, é

G= 6,67 X 10-11 N m2/kg2 (10.2)

A figura 9.2, mostra duas partículas, e as forças exercidas entre elas. Estas forças são
iguais em módulo, mas de sentido oposto. Estas forças formam um par acção – reacção
(terceira lei de Newton). A força de que estamos a falar é uma força de acção à
distância, que existe sempre entre as duas partículas, seja qual for o meio que as separa.
A força é directamente proporcional à massa de cada partícula.
Um outro facto importante é que a força gravitacional exercida por uma distribuição de
massa de dimensões finitas, com simetria esférica, numa partícula fora da esfera, é igual

147
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

à força obtida como se toda a massa da esfera


estivesse concentrada no seu centro. Por exemplo,
a força exercida pela Terra numa partícula de
massa m1, localizada à sua superfície, tem a
intensidade
 
= 

sendo MT e RT, a massa e o raio da Terra, Fig 10.2 Forças exercidas entre duas
massas
respectivamente. Esta força é dirigida para o
centro da Terra.

Exemplo 10.1

Três esferas uniformes, de massas 2kg, 4 kg e 6 kg,


estão colocadas nos vértices de um triângulo rectângulo,
como mostra a figura 9.3. Calcule a força gravitacional
exercida na massa de 4 kg, pelas outras esferas,
considerando que as três esferas estão isoladas do resto
do universo.

Resolução:

Fig 10.3 Localização das três Em primeiro lugar, vamos calcular separadamente as
esferas nos vértices do triângulo forças exercidas na massa de 4 kg pela massa de 2kg e
rectângulo pela massa de 6 kg, e depois vamos somar estas forças.
A força exercida pela massa de 2kg, será

  4 2 
=  = 6,67  10     
 3 

  = 5,93  10  

A força exercida pela massa de 6 kg, será

 % 46 
 % =  −'  = −6,67  10     '
% 4  
 % = −10,0  10 '

A força resultante é a soma destas duas.

 =   +  % = −10,0  10 ' + 5,93  10 

A intensidade da força, será

 = )10,010  + 5,9310  = 11,6  10 

A direcção da força é dada pelo ângulo que ela forma com OX

148
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

5,93  10
*+ = = −0,593
− 10,0  10

+ = ,-* −0,593 = 149˚

10.3 Peso e força gravitacional

Determinamos o peso de um corpo utilizando a expressão mg, sendo m a massa do


corpo e g o módulo da aceleração exercida pela gravidade. Vamos, agora, ver melhor o
que é o g.
Vamos considerar um corpo à superfície da Terra. Sabemos que a força exercida pela
Terra no corpo é mg, então podemos dizer que

/0 
 = 
10

/0
O que implica que
= 10.3
10

sendo MT e RT a massa e o raio da Terra, respectivamente. Utilizando o facto de que à


superfície da Terra g=9,8 m s-2, e o raio da Terra é aproximadamente 6,38 X 106 m,
obteremos para MT o valor 5,98 X 1024 kg. A partir deste resultado podemos obter o
valor médio da massa volúmica da Terra

/0 5,98  10 
30 = = = 5,50  107  7
40 4
3 6 6,36  10 
% 7

Como este valor é aproximadamente o dobro do valor da massa volúmica da maior parte
das rochas existentes à superfície da Terra, podemos concluir que, no seu interior, a
massa volúmica terá valores mais elevados que o valor médio obtido.
*
* *

As deduções feitas, até agora, consideram a Terra como sendo uma esfera uniforme,
existindo em toda a superfície o mesmo valor de g. Sabemos que, na realidade, tal facto
não se verifica pois existem factores que alteram o valor de g

10.3.1 Factores que alteram o valor de g

10.3.1.1 Altitude

Consideremos um corpo de massa m, a uma altitude h, acima do nível do mar. A


distância ao centro da Terra será r = RT+ h. A intensidade da força com que a Terra atrai

/0  /0 
este corpo é
= =
 10 + ℎ

149
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

Se o corpo puder cair livremente, teremos F= mg´, sendo g´a aceleração da gravidade à
altura h, acima do nível do mar. Então

/0
´ =  10.4
10 + ℎ 

Daqui podemos concluir que g´ é menor que g. Quando a altitude aumenta a


aceleração gravítica diminui.

Exemplo 10.2

Determine o valor da aceleração gravítica, a uma altitude de 500 km. Qual é a redução
que se observa no peso de um corpo a esta altitude?

Resolução:

Vamos utilizar a expressão (9.4), substituindo h por 500 km= 5 X 105m

/0 6,67  10     5,98  10 


´ =  = = 8,43  : 
10 + ℎ 6,38  10% + 0,5  10% 

Como g´/ g = 8,43/9,80 = 0,86, concluímos que o peso do corpo é reduzido em 14%, a
uma altitude de 500 km.

10.3.1.2 A Terra não é uniforme

A densidade da Terra não é uniforme,


diminuindo radialmente quando se caminha do
centro para a crusta. A densidade da crusta da
Terra varia ao longo da sua superfície, de acordo
com o tipo de rocha existente. Assim, g varia à
superfície da Terra. São estas pequenas
alterações no valor de g, provocadas por
materiais com massas volúmicas diferentes das
do meio em que se encaixam, que são o
fundamento da chamada prospecção gravítica,
que permite aos geofísicos detectar depósitos de
minério, cavidades vazias e até jazidas de
petróleo.
Fig 10.4 Mapa gravítico , podendo
observar-se diferentes valores de g, à
10.3.1.3 A Terra não é uma esfera superfície da Terra

A Terra tem a forma aproximada de um elipsóide, achatado nos pólos. O raio equatorial
mede cerca de 21km a mais que o raio polar. Um ponto localizado nos pólos está mais
perto do centro da Terra que um ponto localizado no Equador. Esta é a razão pela qual a
aceleração gravítica, ao nível do mar, aumenta quando caminhamos do Equador para os
Pólos.

150
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

10.3.1.4 A Terra roda

O eixo de rotação da Terra liga o Pólo Norte ao Pólo Sul, passando pelo centro da Terra.
Um objecto localizado à superfície da Terra, fora dos Pólos, descreve uma
circunferência em torno do eixo de rotação, tendo uma aceleração centrípeta, dirigida
para o centro da circunferência. Se existe uma aceleração centrípeta então também
existe uma força com a mesma direcção e sentido.
Vamos considerar um objecto que esteja à superfície da Terra, fora dos Pólos. As forças
que actuam nesse objecto vão ser a força gravitacional , m ag, (dirigida para o centro da
Terra) e a força normal, perpendicular à superfície e dirigida para fora da Terra. O

submetido a uma aceleração centrípeta, igual a ; 1, sendo ω a velocidade angular e R a


objecto vai descrever uma circunferência em torno do eixo de rotação. Por isso, ele fica

distância ao eixo de rotação.


Aplicando a 2ª lei de Newton, obtemos:

 −  ,< =  −; 1
O módulo da força normal é igual ao peso do corpo no local N=mg. Substituindo na

 −  ,< =  − ; 1
equação virá

 = ,< − ; 1 10.5
ou seja

A aceleração da gravidade no local, vai ser igual à aceleração gravitacional menos


a aceleração centrípeta.

Como se pode ver por (10.5), a aceleração centrípeta tem o valor mais elevado no
Equador, sendo nula nos Pólos.
Para termos uma ideia dos valores de que estamos a falar, vamos considerar que o nosso
objecto se encontra no Equador, onde o raio da Terra é R= 6,37 X 106 m. Como ω

Terra. Nesse caso =+ = 2 6 radianos e ∆t = 24 h= 8,64 X 104 s. A aceleração centrípeta


representa a velocidade angular, ω = ∆+/∆t. Vamos considerar uma rotação completa da

, = ; 1 = 0,034  :  . Este valor, comparado com 9,8 m s-2, pode ser desprezado,
a não ser que tenhamos necessidade de medições muito precisas de g.

10.4 Movimento de planetas e satélites. Leis de Kepler

No final do século XVI, o astrónomo Tycho Brahe estudou o movimento dos planetas e
fez medições mais precisas que as existentes na época. Utilizando os dados de Tycho
Brahe, Johannes Kepler descobriu que as trajectórias dos planetas em torno do Sol eram
elipses. Ele mostrou também que a velocidade dos planetas aumentam quando eles se
aproximam do sol e diminuem quando eles se afastam. Kepler descobriu também uma
relação matemática entre o período orbital de um planeta e a sua distância média ao Sol.
As suas descobertas são expressas em 3 leis empíricas que receberam o nome de leis de
Kepler. Mais tarde, estas leis serviram de base para Newton descobrir a sua lei da
gravitação.
Apesar das leis de Kepler terem sido descobertas através do estudo do movimento dos
planetas em torno do Sol, elas também são válidas no caso de satélites naturais ou
artificiais, que orbitem em torno da Terra ou de outro corpo com massa suficiente para
que isso aconteça.

151
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

1ª lei de Kepler – Lei das órbitas – Todos os planetas se movem com órbitas
elípticas, com o Sol localizado num dos focos.

A figura 10.5 mostra um


planeta rodando em torno do
Sol, que ocupa um dos focos da
elipse. A órbita da Terra é
aproximadamente circular,
sendo a distância mínima ao Sol
1,48 X 1011 m, e a distância
máxima 1,52 x 1011 m. A órbita
dos planetas é descrita pelo
semieixo maior a e a
excentricidade e. Na figura 10.5
Fig 10.5 Movimento de um planeta em torno do Sol, eixos mostram-se os eixos da elipse.
da elipse e localização dos focos. A excentricidade e = c/a ,
sendo c = ea a distância do
centro da elipse aos focos. O Sol, como já foi dito, ocupa um dos focos da elipse.

2ª lei de Kepler – lei das áreas – O raio vector que liga o Sol a qualquer planeta,
varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais (ver Figura 10.6).
Consideremos um planeta de massa m, movendo-se numa trajectória elíptica, em torno
do Sol. A força gravítica que actua no planeta, tem a direcção do raio, sendo por esse

relação a um ponto no centro do Sol, é nulo, pois  é paralelo a  , ou seja


motivo designada força central, com o sentido para o Sol. O momento desta força, em

> =  ×  = 0 10.6

Mas, já vimos que o momento de uma força está relacionado com a variação do
momento angular
@ A
> = @ B 10.7
Neste caso, como τ = 0, o momento angular do planeta mantém-se constante

C =  × D =  ×  E = FGH:* 10.8

vector  varre uma área dA, no intervalo


Consideremos a figura 10.6. O raio

| × J| que é a área do paralelogramo


de tempo dt. Esta área é metade da área

formado pelos vectores  e J. Como o

tempo dt, é dado por J = E J*,


deslocamento do planeta, no intervalo de

podemos escrever

| × J| = | × E J*| =


 
JK =
A
J* Fig 10.6 Quando um planeta roda em torno do Sol o
 seu raio varre áreas iguais em intervalos de tempo
iguais
Daqui tiramos a relação

152
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

JK C
= = FGH:* 10.9
J* 2

sendo L e m constantes do movimento.


Assim, concluímos que o raio vector, que
liga o Sol ao planeta, varre áreas iguais
em intervalos de tempo iguais.
Não nos podemos esquecer que este facto,
que é a 2ª lei de Kepler, é uma
consequência de a força gravítica ser uma
força central, facto que implica haver
conservação de momento angular. A lei
aplica-se a qualquer situação que envolva
uma força central. Da expressão (10.9),
podemos concluir que nas regiões onde r é
menor o v terá que ser mais elevado. O
Fig 10.7 Quando um planeta se move em torno ponto onde a velocidade é mais elevada e
do Sol, verifica-se conservação do momento o planeta está mais próximo do Sol chama-
angular. Então, m va ra = m vp rp, designando o se Periélio e o ponto onde a velocidade é
índice a Afélio e o p Periélio. menor chama-se Afélio.

3ª lei de Kepler – O quadrado do período orbital de qualquer planeta é


proporcional ao cubo do semieixo maior da órbita (elíptica).

Para deduzirmos esta lei, vamos considerar um planeta de massa Mp, que se move em
torno do Sol, cuja massa vamos designar por MS, numa órbita que vamos considerar
como sendo circular. Para o planeta se manter na sua órbita, a força gravitacional tem
que ser igual à força centrifuga , que se faz sentir num movimento circular

/L /M /M E
 = 10.10
 

A velocidade orbital do planeta é v= (2 π r) / T, sendo T o período do movimento.

/L 46  46 
Podemos, então, escrever
 = =
 N  N

46
e
N = O P  7 = QL  7 10.11
 /L

sendo KS uma constante igual a 2,97 X 10-19 s2/m3. Note-se que esta constante tem o
mesmo valor para todos os planetas pois ela só depende de G (constante gravitacional) e
da massa do Sol.
A Tabela 10.1 contém dados que mostram como esta lei se verifica no nosso sistema
solar

153
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

Planeta Semieixo Maior Período T 2/ a 3


a ( 1010 m ) T (anos) (10 ano2/m3)
-34

Mercúrio 5,79 0,241 2,99


Vénus 10,8 0,615 3,00
Terra 15,0 1,00 2,96
Marte 22,8 1,88 2,98
Júpiter 77,8 11,9 3,01
Saturno 143 29,5 2,98
Urano 287 84,0 2,98
Neptuno 450 165 2,99
Plutão 590 248 2,99
Tabela 10.1 Dados sobre as trajectórias dos planetas do nosso sistema solar, que
ilustram a 3ª lei de Kepler

Exemplo 10.3

O cometa Halley te m uma órbita em torno do Sol com um período de 76 anos e, em


1986, ele esteve à distância mais próxima do Sol (Periélio) que é 8,9 X 1010 m. A
Tabela 10.1 mostra que esta órbita se situa entre as órbitas de Mercúrio e de Vénus.
a) Qual é a distância ao Sol, no ponto onde o cometa está mais afastado (Afélio)?
b) Qual é o valor da excentricidade do cometa Halley?

Resolução:
a) Pela figura 10.5, vemos que RP + Ra = 2a, sendo a o semieixo maior da órbita do
cometa. Assim, podemos obter Ra , se conhecermos o valor de a. O valor de a
pode ser obtido utilizando a expressão (10.11) onde substituímos o r por a

/N
,7 = O P
46

Se substituirmos a massa do Sol por 1,99 X 1030 kg, e o período T do cometa por
76 anos = 2,4 X 109 s, obteremos a = 2,7 X 1012 m. Mas já vimos que

Ra= 2a - Rp= (2) (2,7 X 1012m ) – (8,9 X 1010 m ) = 5,3 X 1012 m

A Tabela 10.1 mostra que este valor é ligeiramente inferior ao semieixo maior da órbita
de Plutão. Vemos , portanto, que o cometa está mais próximo do Sol que Plutão.

b) Pela Figura 10.5, vemos que e a = a – Rp. Podemos, então escrever

, − 1M 1M 8,9  10S 
R= =1− = 1− = 0,97
, , 2,7  10 

Esta órbita do cometa, com uma excentricidade muito próxima de 1, é uma elipse longa
e achatada.

154
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

10.5 Energia potencial gravitacional

Perto da superfície da Terra, a força de atracção exercida pela Terra num objecto é
essencialmente uniforme, porque a distância ao centro da Terra, r = RT+ h, é
aproximadamente RT, para h<< RT.
A energia potencial gravítica de um objecto perto da superfície da Terra é
mgh = mg (r-RT), se escolhermos U= 0, à superfície da Terra (r = RT).
Quando nos afastamos da superfície da Terra, devemos ter em conta que a força
gravitacional exercida pela Terra não é uniforme e diminui quando r aumenta.
Já vimos, no capítulo 6 , que a variação da energia

deslocamento infinitesimal JT , devido à acção de uma


potencial que ocorre quando uma partícula sofre um

força conservativa  , é dada por


JU = −  ∙ JT

Vamos considerar que  é a força gravitacional, dada por


 g =−    Rr. Teremos então
 

JU =  g∙ JT = −   Rr∙ JT =    J 10.12


   

tendo-se considerado dr= dl cos θ. Integrando os dois


membros desta igualdade, obtemos
   X
Uf – Ui= G MT m W X   J = G MT m Z–  \ =
Y ]
 
= - G M T m ^ − ]
_ Fig 10.7. A distância da
X partícula à Terra aumenta dr
quando a partícula sofre um
Vamos escolher o ponto de referência para a energia deslocamento dl
potencial como sendo o ponto onde a força gravitacional é
nula. Se considerarmos Ui= 0, quando r tende para infinito,
vamos obter
 
U=-G  10.13

Esta expressão mostra-nos que a energia potencial gravitacional varia com 1/r. Vemos ,
ainda, que a energia potencial é negativa, pois a força é atractiva e considerámos a
energia potencial nula quando a distância da partícula de massa m é infinita. Como a
força entre a Terra e a partícula é atractiva, então, para aumentar a separação entre a
Terra e a partícula deve ser realizado trabalho positivo, por um agente externo. Este
trabalho vai aumentar a energia potencial, quando a separação entre a Terra e a partícula
aumenta.

10.6 Algumas considerações sobre energia, no movimento de planetas e satélites

Consideremos um corpo de massa m, movendo-se com velocidade v, na vizinhança de


um corpo com massa elevada M, sendo M>> m. O sistema pode ser um planeta
movendo-se em torno do Sol, ou um satélite em órbita à volta da Terra.
Se considerarmos que o corpo de massa M está parado, num referencial inercial, então a
energia total E, do sistema formado pelos dois corpos, quando estão separados por uma

155
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

distância r, é a soma da energia cinética do corpo de massa m, com a energia potencial


do sistema
 
E=K+U= E −  10.14


Esta energia total será conservada, se considerarmos o sistema isolado. Se


considerarmos que na figura 10.8, o corpo de massa m se move de P para Q, teremos

1 / 1 /
`=  Ea − =  Eb − 10.15
2 a 2 b

Este resultado mostra que E pode ser


negativa, positiva, ou nula, dependendo da
velocidade da massa m. Contudo, para um
sistema como a Terra e o Sol, E é
necessariamente menor que zero.
Vamos considerar um sistema formado por
um corpo de massa m, rodando numa órbita
circular, em torno de um corpo parado, com
massa M (ver figura 10.9). Se aplicarmos a
segunda lei de Newton ao corpo de massa
m, podemos escrever Fig 10.8 Quando uma partícula se desloca de
P para Q, acima da superfície da Terra, a
energia potencial muda mas a energia total
permanece constante
/ E
=
 

Multiplicando os dois membros da igualdade


por r, e dividindo por 2, obtemos

/ 1
= E
2 2

Fig 10.9 Um corpo de massa m roda em Substituindo este resultado em (10.14), obtemos
torno de um corpo de massa M, com uma
trajectória circular
/ / /
`= − = − 10.16
2  2

Este resultado mostra-nos que a energia total, para órbitas circulares, é negativa. No
caso de trajectórias elípticas obtém-se um resultado idêntico, com o r do denominador
substituído pelo semieixo maior da elipse, a.

Exemplo 10.4

Um projéctil é lançado, na vertical, do Pólo Sul da Terra, com uma velocidade inicial
vi= 8,0 km/s. Calcule a altura máxima que ele atinge, desprezando os efeitos da
resistência do ar.

156
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

Resolução:
Como desprezamos a resistência do ar, podemos dizer que há conservação de energia.
Quando o projéctil atinge a altura máxima, a sua velocidade é nula. Como o projéctil é
lançado da superfície da Terra então ri = RT. Se há conservação de energia mecânica

Kf + Uf = Ki + Ui

1  /0  1  /0 
 Eb − =  Ea −
2 b 2 a

Como a velocidade final é nula, virá

 /0  1  /0 
− =  Ea −
b 2 a

Vamos dividir os dois membros da igualdade por - G MT m, e obtemos

1 Ea 1
= − +
b 2  /0 10

Vamos, agora, substituir valores

1 8 000 /: 1
= − +
b 2 6,67  10   / 5,98  10  6,37  10% 


b = 1,30  10d 
Atendendo a que h = rf - RT, teremos

h= 1,30  10d  - 6,37  10%  = 6,7 X 106 m = 6 700 km

Exercício 10.1

Faça novamente o cálculo, considerando g constante e igual a 9,81 m/s2, e calcule a


altura máxima do projéctil. Compare o seu resultado com este obtido.

10.6.1 Velocidade de escape

Suponha que um objecto, de massa m, é projectado verticalmente, para cima, a partir da


superfície da Terra, com uma velocidade igual a vi (ver figura 10.10). Vamos ver qual o
valor mínimo que esta velocidade deve ter para que o objecto possa sair do campo
gravitacional da Terra.
A equação (10.15) dá a energia total do objecto, em qualquer ponto, quando a sua
velocidade e distância até ao centro da Terra forem conhecidas. À superfície da Terra.,
vi= v e ri = RT. Quando o objecto atinge a sua altitude máxima, vf= 0 e rf= rmax. Como a
energia total do sistema é conservada, podemos escrever

1  /0   /0 
 Ea − =−
2 10 ef
e

157
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

1 1
Ea = 2  /0 ^ − _ 10.17
10 ef

Se a velocidade inicial for conhecida, podemos, através desta


expressão, calcular rmax ou h= rmax- RT. Se, em (10.17),
fizermos rmax= ∞, obteremos a velocidade de escape
( velocidade mínima que o objecto deve ter à superfície da
Terra, para poder sair do seu campo gravitacional)

2  /0
Eghi = j 10.18
10

Esta expressão é independente da massa do objecto que se


pretende lançar no espaço. Se utilizarmos G = 6,67 X 10-11N
m2 kg-2, MT= 5,98 X 1024 kg e RT= 6,37 X 106 m, obteremos
para velocidade de escape

Vesc= 11,2 X 103 m/s= 11,2 km/s

Um objecto projectado com esta velocidade poderá sair do


campo de atracção da Terra, mas não conseguirá sair do Fig 10.10 Um corpo de
sistema solar devido à influência do Sol e de outros planetas. massa m projectado da
A equação (10.18) pode ser aplicada a outros planetas e ao superfície da Terra com uma
Sol. A tabela 10.2 velocidade inicial vi atinge
Planetas Vesc ( km/s) mostra as velocidades uma altura máxima h
Mercúrio 4,3 de escape do Sol e de outros planetas. Note-se que
Vénus 10,3 os valores apresentados variam desde 1,1 km/s,
Terra 11,2
para Plutão, até 618 km/s, para o Sol.
Lua 2,3
Marte 5,0 Iremos ver, mais tarde, que a energia cinética
Júpiter 60 média das moléculas de gás está relacionada com
Saturno 36 a temperatura e com a massa das moléculas.
Urano 22 Átomos mais leves, como por exemplo o
Neptuno 24 Hidrogénio e o Hélio, têm uma velocidade média
Plutão 1,1 mais elevada que átomos mais pesados. Quando a
Sol 618 velocidade dos átomos mais leves se aproximar da
velocidade de escape, uma parte significativa das
Tabela 10.2 Velocidades de escape moléculas tem possibilidade de escapar da
para vários corpos celestes atmosfera terrestre. Este mecanismo explica
porque é que a Terra não retém moléculas de
Hidrogénio e de Hélio, na atmosfera, mas moléculas de Oxigénio e de Azoto são
retidas. Podemos ver também, pela tabela 10.2, que Júpiter possui uma velocidade de
escape de 60 km/s, o que lhe permite reter Hidrogénio, como principal constituinte da
sua atmosfera.

158
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

10.7 Campo gravitacional

A força de atracção exercida por uma partícula pontual de massa m1 numa outra
partícula pontual de massa m2, localizada a uma distância r12, é obtida através de

 12= −    Rr
k 
(10.19)


sendo Rr um vector unitário, com a direcção de r12 e dirigido da partícula de massa
m1para a partícula de massa m2.
Para obtermos o campo gravitacional, num ponto P do espaço, colocamos uma partícula

outras partículas com massa, existentes no espaço em estudo,  g.


pontual, de massa m, em P, e calculamos a força de atracção nela exercida por todas as

O campo gravitacional, no ponto P, é igual ao quociente entre  g e a massa m

 =  g/ m (10.20)

O ponto P é um ponto do campo. O campo gravitacional , gerado pelas massas de duas


ou mais partículas num ponto P, é o vector soma dos campos originados por cada massa
e calculados no ponto P.

 = ∑a i

Estas partículas com massa são chamadas fontes do campo. Como se trata de partículas
pontuais, são fontes pontuais.

num ponto P do campo, obtemos o campo J, originado por um elemento de massa dm,
Para obtermos o campo gravitacional, gerado por uma distribuição contínua de massa,

e fazemos a integração correspondente a toda a massa

 = m J 

O campo gravitacional da Terra, a uma distância r>> RT, aponta para a superfície da
Terra, e tem uma intensidade g(r), dada por
no k
=
 
g(r)= (10.21)

Exemplo 10.5

Considere duas partículas pontuais ,


tendo cada uma massa M, fixadas no eixo
dos y, em y= + a e y = -a. Obtenha o
campo gravitacional num ponto do eixo
dos x, em função de x.

Resolução:

Vamos, em primeiro lugar, fazer um Fig 10.11. Campos originados por duas
esquema com as duas partículas, os eixos partículas pontuais.

159
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10

coordenados, e os campos originados por cada partícula, num ponto localizado no eixo
OX a uma distância xp do origem do eixo. O campo que queremos obter será a soma
vectorial dos dois campos mencionados.
Para calcularmos o campo originado por cada partícula precisamos da distância r entre
cada partícula e o ponto P r = )pM + , . Vamos, agora, calcular g1 e g2. Estes
valores são iguais , pois as distâncias a p são iguais e as massas das partículas, também.
k

g1= g2 =

Os campos que estamos a estudar têm componente segundo x e segundo y. Vamos


calculá-las
gy= g1y+ g2y= g1 sen θ – g2 sen θ = 0
k

gx= g1x+g2x= g1 cos θ + g2 cos θ = 2 g1 cos θ = cos θ

fq

De acordo com a figura, podemos escrever cos θ = , e teremos

k  fq k  fq
  r
gx = =

Como as componentes segundo y se anulam, o campo resultante vai ser segundo x. Pela
figura vemos que o sentido do campo é negativo, pelo que temos

2  / pM
 = − '
p + , 7/

160
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

Cap 11. Temperatura. Calor. Processos de transferência de


energia térmica
11.1 Introdução

Todos nós sabemos quando um objecto está quente ou frio. No entanto nem todos
sabemos qual é a sua temperatura ou o instrumento mais adequado para medi-la. Vamos
começar o nosso estudo da Termodinâmica, pela temperatura, o modo como se mede, e
as diferentes escalas utilizadas. Passaremos, de seguida, para o conceito de calor e
transições de fase. Terminaremos com os vários modos de transferência de energia
térmica.

11.2 Temperatura e equilíbrio térmico

Através do nosso sentido do tacto podemos ver com facilidade de um dado objecto está
quente ou está frio. Sabemos que, para aquecer um objecto frio, devemos pô-lo em
contacto com um objecto quente, e para arrefecer um objecto quente, devemos pô-lo em
contacto com um objecto frio.

Quando um objecto é aquecido ou arrefecido, algumas das suas propriedades físicas


sofrem alteração. Se um sólido ou um líquido for aquecido, o seu volume em geral
aumenta. Se um gás for aquecido mantendo a sua pressão constante, o seu volume
aumenta. Contudo, se um gás for aquecido, mantendo o seu volume constante, a sua
pressão aumentará. Se um condutor eléctrico for aquecido, a sua resistência sofrerá
alterações. Uma propriedade física que varia com a temperatura é chamada
propriedade termométrica. Uma alteração numa propriedade termométrica significa
uma alteração na temperatura do objecto.

Suponhamos que colocamos uma barra de cobre quente, em contacto com uma barra de
ferro frio, de modo que a barra de cobre arrefeça e a de ferro aqueça. Dizemos , neste
caso, que as barras estão em contacto térmico. Durante este processo, a barra de cobre
contrai-se ligeiramente, e a barra de ferro expande-se ligeiramente. Este processo deverá
parar num dado instante a partir do qual as dimensões das barras ficarão constantes.
Dizemos nesta altura que as barras estão em equilíbrio térmico.

Para se testar o equilíbrio térmico, utiliza-se um terceiro corpo, chamado termómetro.


Ao fazê-lo estamos a utilizar a chamada lei zero da Termodinâmica que diz que

Se dois objectos estão em equilíbrio térmico com um terceiro, então os três


objectos estão em equilíbrio térmico entre eles.

Diz-se que dois corpos têm a mesma temperatura se estão em equilíbrio térmico entre si.

11.3. Escalas de temperatura. Termómetros.

Qualquer propriedade termométrica pode ser utilizada para definir uma escala de
temperatura. Os termómetros mais divulgados são:

161
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

Termómetros de vidro contendo um líquido no seu interior ( os mais divulgados contêm


mercúrio ou álcool) – quando aumenta a temperatura, o volume do líquido aumenta
mais que o volume do bolbo de vidro, e o líquido sobe no tubo capilar.

Termómetros de metal – a parte principal deste termómetro é constituída por duas


placas de ligas metálicas diferentes, soldadas uma à outra. Quando aumenta a
temperatura, a dilatação não é igual dos dois lados da placa, verificando-se um
encurvamento. Ligado à parte superior da placa, existe um ponteiro, que nos dá conta
das variações de temperatura.

Resistências (as mais utilizadas são as de platina) – a propriedade termométrica é a


resistência eléctrica.

Termopares – a propriedade em estudo é a diferença de potencial detectada entre as


junções de dois fios de metais diferentes, quando existe entre elas uma diferença de
temperatura.

Termómetros de gás a volume constante - neste caso uma quantidade conhecida de gás
é mantido a volume constante. Quando a temperatura aumenta, aumenta a pressão do
gás.

Os termómetros, tal como foram descritos, dão-nos conta apenas das variações de
temperatura. Para podermos quantificar a temperatura, é necessário introduzir uma
escala de temperaturas.

Consideremos um termómetro de vidro, contendo mercúrio no seu interior. Para


podermos pôr uma escala neste tipo de termómetros (fazer a calibração do termómetro)
utilizam-se, em geral, duas temperaturas de referência, e divide-se o intervalo entre elas
por um número de intervalos iguais.

Em geral, tomam-se como temperaturas de referência o ponto de fusão do gelo e o


ponto de ebulição da água, à pressão atmosférica normal. O intervalo entre estas duas
temperaturas é dividido em 100 partes iguais. Esta escala de temperaturas é chamada
escala Celsius. A temperatura de fusão do gelo corresponde a 0 graus Celsius e a
temperatura de ebulição da água corresponde a 100 graus Celsius. As temperaturas
acima de 100 graus e abaixo de 0 graus são marcadas por extrapolação.

Esta escala de temperaturas não é única. Por vezes, nos livros, aparece-nos uma outra
escala de temperaturas, a escala Fahrenheit. Nesta escala, o ponto de fusão do gelo
corresponde a 32 graus Fahrenheit e a temperatura de ebulição da água corresponde a
212 graus Fahrenheit, existindo um intervalo de 180 graus entre estes dois pontos fixos.

Para fazermos a conversão de temperatura entre as duas escalas, utiliza-se a expressão

5
 =   − 32 11.1
9
sendo TC a temperatura na escala Celsius e TF a temperatura na escala Fahrenheit.

162
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

Exemplo 11.1

Converta a temperatura 40,0º C em graus Fahrenheit.

Resolução:
 
Sabemos que  =   − 32 . Substituindo valores vem 40 =  − 32
 

9
 =  + 32 = 104 ° 
5 
Exercício 11.1

a) Obtenha a temperatura, na escala Celsius, equivalente a 68° F.


b) Obtenha a temperatura, na escala Fahrenheit, equivalente a -40 ˚C.

Quando diferentes tipos de termómetros com escala Celsius são calibrados pelo método
descrito ( utilizando a temperaturas de fusão do gelo e de ebulição da água) os
resultados obtidos com os diferentes termómetros coincidem para 0˚C e 100˚C, mas
para leituras entre estes valores, os resultados obtidos são, em geral, ligeiramente
diferentes. As diferenças obtidas aumentam substancialmente para temperaturas acima
de 100 ˚C e abaixo de 0˚C. Um outro problema relacionado com este tipo de
termómetros é o intervalo de temperaturas em que podem ser utilizados, Os
termómetros de mercúrio, por exemplo, não podem ser utilizados para medir
temperaturas abaixo do ponto de congelação do mercúrio, que é -39˚C. Os termómetros
de álcool não podem ser utilizados para medir temperaturas iguais ou superiores à
temperatura de vaporização do álcool ( 78 ˚C).Existe, no entanto, um outro grupo de
termómetros, os termómetros de gás em que as temperaturas obtidas pelos diversos
termómetros coincidem, mesmo para valores longe dos pontos de calibração.

Num termómetro de gás a volume constante, medem-se variações de pressão, para obter
variações de temperatura. Estes termómetros podem ser calibrados colocando-os em
banhos a 0˚C, para obter a pressão P0 e a 100˚C para obter a pressão P100. O intervalo
entre estes dois pontos será dividido em 100 partes iguais, para obtermos a temperatura
na escala Celsius.

Suponhamos que temos 4 termómetros de gás, contendo cada um, um gás diferente.
Vamos supor que os gases utilizados são: ar, hidrogénio, azoto e oxigénio. Os
termómetros são calibrados pelo processo descrito e, em seguida, são colocados em
enxofre em ebulição, até atingirem equilíbrio térmico com o enxofre. Nessa altura
mede-se a pressão indicada pelos diferentes termómetros. Todos os termómetros
indicarão a mesma temperatura, desde que a densidade dos gases utilizados seja
suficientemente baixa.

Uma medida da densidade do gás pode ser obtida pela pressão correspondente ao ponto
de ebulição da água P100. A figura 11.1 mostra os resultados obtidos para a temperatura
163
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

de fusão do enxofre, utilizando os


quatro termómetros descritos, em
função da pressão obtida para os
100˚C. Podemos ver que à medida que
a quantidade de gás diminui no
termómetro, os valores lidos
aproximam-se e coincidem para
valores de P100 relativamente baixos. Fig 11.1 A pressões relativamente baixas os valores
No limite, quando a densidade do gás obtidos com os diferentes termómetros convergem para
se aproxima de zero, todos os um único valor.
termómetros de gás dão o mesmo
valor para a temperatura de fusão do enxofre. Estas medições de temperatura utilizando
gases de baixa densidade, são independentes do gás utilizado. Os termómetros de gás a
volume constante, que utilizam baixas densidades de gás, dão valores coincidentes ,
para qualquer temperatura..

Consideremos, agora, uma série de


medições de temperatura utilizando um
termómetro de gás a volume constante, que
contém um pequeno mas constante volume
de gás. Os valores da pressão no
termómetro variam linearmente com a
temperatura medida . A figura 11.2 mostra
um gráfico das pressões obtidas em função
a temperatura. Quando se faz a extrapolação
Fig 11.2 Quando a pressão tende para zero, a deste gráfico até à pressão zero do gás, a
temperatura obtida é -273,15 ˚ C temperatura aproxima-se de -273,15˚ C.
Este limite tem sempre o mesmo valor, seja
qual for o gás utilizado.

Associada a este tipo de termómetros aparece-nos a escala Kelvin ou escala de


temperaturas absolutas. Por definição o zero na escala Celsius corresponde a uma
temperatura de um gás ideal de 273,15 kelvin. A temperatura na escala Kelvin
relaciona-se com a temperatura obtida na escala Celsius pela expressão

TK = TC + 273,15 K (11.2)

A temperatura mais baixa que se consegue medir com um termómetro de gás a volume
constante, é cerca de 4,2 K, sendo necessário utilizar o gás hélio. Abaixo desta
temperatura o hélio liquefaz-se.

Apesar da escala Celsius ser a mais conveniente no uso do dia a dia, a escala Kelvin é a
mais utilizada para fins científicos.

164
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

Escala Kelvin Escala Celsius Escala Fahrenheit


Temperatura na superfície do
Sol 6000K 6000 ˚C 10 000˚F
Fusão do ouro 1336K 1063˚C 1945˚F
Ebulição da água 373K 100˚C 212˚F
Congelação da água 273K 0˚C 32˚F
Congelação do mercúrio 234K -39˚C -38˚F
Liquefacção do azoto 77K -196˚C -321˚F
Liquefacção do hélio 4,2K -269˚C -452˚F

Tabela 11.1 Alguns valores de temperatura expressos nas três escalas de que falámos.

11.4 Dilatação térmica

Quando aumenta a temperatura de uma substância verifica-se, em geral, uma dilatação


do seu volume, com uma aumento (de comprimento) em todas as direcções. Esta
dilatação pode ser explicada em termos de um aumento de energia cinética dos átomos
ou moléculas. Este aumento de energia cinética resulta das colisões entre moléculas
serem mais frequentes a temperaturas mais elevadas. As moléculas empurram-se
mutuamente, e o material dilata-se. Vamos fazer o nosso estudo, do ponto de vista
macroscópico.

Consideremos uma régua com um comprimento L, a uma temperatura T. vamos


submeter a nossa régua a uma variação de temperatura ∆ T. Por este facto, a régua irá
sofrer uma variação no seu comprimento, que designaremos por ∆ L. A variação de
temperatura e a variação de comprimento estão relacionadas por

∆L=αL∆T (11.3)

α é uma constante característica do material constituinte da régua, e que se chama


coeficiente de dilatação linear. Este coeficiente varia com a temperatura.

Consideremos, agora, uma superfície quadrada, e uma face de um cubo com área inicial

A = L2

Consideremos que a temperatura aumenta de um valor dT. O lado do quadrado


aumentará um comprimento dL. Por (11.3) sabemos que

dL = α L dT

Utilizando um artifício matemático, podemos escrever


 = 


165
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

A área do quadrado A = L2. Se diferenciarmos esta expressão, teremos dA = 2L dL. Se


substituirmos o valor de dL, teremos sucessivamente

dA= 2Lα L dT = 2α L2 dT = 2 α A dT (11.4)

Para uma variação finita de temperatura, teremos:

∆ A = 2α A ∆T (11.4a)

Podemos, assim, concluir que a variação em área é o dobro da variação linear.

Para calcularmos variações de volume, podemos fazer um raciocínio análogo ao feito


para a área.

Consideremos um cubo, de volume V= L3. Uma variação de temperatura dT irá


provocar uma variação no comprimento das arestas do cubo. Seja dL a variação de cada
aresta. Utilizando um artifício matemático, podemos escrever


 = 

Fazendo a derivada e utilizando (11.3), obteremos

dV = 3 L2 dL = 3 L2 α L dT = 3 α L3 dT = 3 α V dT (11.5)

Este último resultado pode ser escrito na forma

dV = β V dT (11.6)

sendo β o coeficiente de expansão volumétrica.

Comparando (11.5) com (11.6), teremos

β=3α (11.7)

O coeficiente de expansão volumétrica é triplo do coeficiente de dilatação linear.

Sólidos α ( K-1) Líquidos e gases β (K-1)


Alumínio 2,4 X 10-5 Álcool Etílico 1,1 X 10-3
Latão 1,9 X 10-5 Mercúrio 1,8 X 10-4
Cobre 1,7 X 10-5 Azeite 7,2 X 10-4
Diamante 1,2 X 10-6 Água 2,1 X 10-4
Ouro 1,4 X 10-5 Ar 3,67 X 10-3
Grafite 2 X 10-6 Hidrogénio 3,66 X 10-3
Gelo 5,1 X 10-5 Azoto 3,67 X 10-3
Aço 1,2 X 10-5
Vidro 4 X 10-6 a 1 X 10-5

Tabela 11.2 Valores do coeficiente de dilatação linear e do coeficiente de expansão volumétrica


obtidos à pressão e temperatura ambiente.

166
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

A Tabela 11.2 mostra-nos valores do coeficiente de dilatação linear e do coeficiente de


expansão volumétrica, para várias substâncias. Os valores apresentados são válidos para
as temperaturas a que foram obtidos. Podemos ver que todos os valores apresentados
são positivos. Devemos, no entanto, dizer que a água apresenta um coeficiente de
expansão volumétrica negativo, para temperaturas entre 0 e 4˚C.

Exemplo 11.2

O tabuleiro de uma ponte tem 1280 metros de comprimento. Ao longo do ano, a


temperatura no local onde se encontra a ponte, varia entre -12˚C e 38˚C. Determine a
diferença no comprimento da ponte a estas temperaturas, sabendo que ela é feita de aço.

Resolução:

A variação de temperatura, neste caso, é ∆ T= 38 – (-12) = 50 ˚C = 50 K.

Vamos aplicar a expressão (11.3).

∆L= α L ∆T = (1,27 X 10-5 K-1) (1280 m) (50K) = 0,81 m

Esta variação substancial no comprimento da ponte, deve ser prevista na sua construção.
Se a estrutura não conseguir alterar o seu comprimento quando ocorrem variações de
temperatura, poderão ocorrer estragos apreciáveis na ponte.

11.5 Capacidade térmica . Capacidade térmica mássica

Imaginemos um objecto a uma dada temperatura, que é colocado em contacto térmico


com outro objecto, a temperatura mais elevada. Todos sabemos que vai haver
transferência de energia térmica, para o objecto a temperatura menos elevada, de modo
que a sua temperatura suba até se atingir o equilíbrio térmico. Essa transferência de
energia térmica entre os dois objectos, devido apenas à existência de uma diferença de
temperatura entre eles, designa-se, em geral, por calor.

Se pensarmos na energia antes de ser transferida e depois de chegar ao outro objecto, ela
não é chamada calor, mas energia térmica ou energia interna (este termo serve para
designar a energia potencial e a energia cinética associada ao movimento aleatório dos
átomos e moléculas).

A quantidade de energia térmica que é necessário transferir para um corpo, para elevar
de um grau a temperatura desse corpo, é chamada capacidade térmica. A capacidade
térmica só é válida para um dado corpo.

Na prática, é costume utilizar-se o termo capacidade térmica mássica de uma


substância para designar a quantidade de energia necessária para elevar de um grau a
temperatura de um quilograma dessa substância. Este parâmetro serve para todos os
corpos feitos de uma dada substância.

Atendendo às duas definições, podemos dizer que

167
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11


= 11.8)


sendo M a massa do corpo que estamos a considerar, e C a sua capacidade térmica. O


quociente entre estes dois valores dá-nos a capacidade térmica mássica da substância
constituinte do corpo.

* *

Atendendo à definição de capacidade térmica mássica, podemos dizer que a quantidade


de energia térmica que é preciso fornecer a um corpo (calor) para elevar a sua
temperatura de um valor , será

Q = m c ∆T (11.9)

sendo m a massa do corpo e c a capacidade térmica mássica da substância de que ele é


feito. O valor de c depende da temperatura. Por esse motivo, a expressão (11.9) só é
válida para pequenos valores de ∆T. Para valores relativamente elevados de ∆T, será
necessário utilizar um valor médio, para a capacidade térmica mássica.

Na tabela 11.3 mostram-se valores da capacidade térmica mássica para várias


substâncias. Analisando a tabela, podemos dizer que os valores apresentados são todos

Substância Capacidade térmica mássica


(kJ kg-1 K-1)
Alumínio 0,900
Cobre 0,386
Ferro 0,443
Vidro 0,840
Ouro 0,126
Aço 0,447
Gelo (263 K) 2,05
Prata 0,233
Zinco 0,387
Água 4,186
Água do mar (323K) 3,890
Mercúrio 0,140
Vapor de água (373 K) 1,760
Oxigénio 0,915

Tabela 11.3 Valores da capacidade térmica mássica para várias substâncias. Os resultados foram
obtidos à pressão atmosférica normal.

positivos, sendo de salientar o elevado valor apresentado para a água, e os valores


relativamente baixos apresentados para alguns metais, sendo de referir o valor
relativamente baixo, apresentado para o ouro.

168
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

Na prática, os valores de c, são determinados utilizando calorímetros. Em alguns


calorímetros, a energia térmica é fornecida através de uma resistência eléctrica que se
encontra no dentro do vaso, onde colocamos a amostra de material a estudar e o
termómetro utilizado para medir a variação de temperatura ∆T.

Suponhamos, então, que a nossa amostra de massa m e capacidade térmica mássica c,


vai absorver energia térmica m c ∆T. O calorímetro também absorve alguma energia
mccc∆T.

Fazendo a soma da energia térmica absorvida pela amostra e da energia térmica


absorvida pelo calorímetro, teremos

Q = m c ∆T + mc cc ∆T (11.10)

Esta expressão pode ser utilizada para calcular a capacidade térmica mássica da
substância que constitui a amostra, desde que conheçamos a capacidade térmica mássica
do material de que é feito o calorímetro.

Os calorímetros que irão utilizar nas aulas laboratoriais são diferentes. São constituídos
essencialmente por um vaso, onde é colocado um líquido (geralmente água) a uma
temperatura superior à temperatura ambiente.

A amostra em estudo, é colocada dentro do calorímetro, à temperatura ambiente.


Devido ao contacto térmico entre a água e a amostra, vai haver transferência de energia
térmica, até se atingir o equilíbrio térmico.

Suponhamos que a temperatura de equilíbrio é Tf. Seja Tx a temperatura inicial da


amostra, e Ti a temperatura inicial da água e do calorímetro. Se o nosso sistema estiver
totalmente isolado, a soma das transferências de energia envolvidas no processo, terá
que ser nula. Teremos, então:

Energia térmica perdida pela água -----------ma ca ( Tf – Ti)

Energia térmica perdida pelo calorímetro – mc cc ( Tf – Ti)

Energia térmica ganha pela amostra -------- mx cx ( Tf – Tx)

ma ca ( Tf – Ti) + mc cc ( Tf – Ti) + mx cx ( Tf – Tx) = 0 (11.11)

Se conhecermos a capacidade térmica mássica da água e do calorímetro, podemos


determinar a capacidade térmica mássica da substância de que é feita a amostra

11.6 Mudanças de estado

A absorção de energia térmica (calor) por uma substância produz sempre algumas
alterações. Para além da dilatação térmica de que já falámos em 11.4. a substância pode
sofrer um aumento da sua temperatura (ver 11.5), ou pode sofrer uma mudança de fase

169
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

na qual as suas características físicas são alteradas, sem haver qualquer variação de
temperatura (mantendo-se constante a pressão).

Vamos pensar em gelo inicialmente a uma temperatura inferior a 0˚C.Se for fornecida
energia térmica (calor) ao gelo, à pressão atmosférica normal, verifica-se que a sua
temperatura sobe até atingir zero graus (ver figura 11.3), A esta temperatura, o gelo
começa a fundir, sofrendo uma
mudança de fase, e passando ao
estado líquido. Quando todo o
gelo estiver fundido, verifica-se
um aumento da temperatura da
água, até se atingir a
temperatura de 100˚C. A esta
temperatura, e à pressão

Fig 11.3 Variações de temperatura e transições de fase atmosférica normal, a água, se


sofridas pelo gelo, quando lhe é fornecida energia térmica. receber mais energia térmica
(calor), sofre nova mudança de
fase, e passa a vapor.

Se começarmos com vapor de água a uma temperatura superior a 100˚C, e fizermos o


percurso inverso, as transições de fase chamam-se condensação e solidificação ou
congelação. Quando um sólido passa directamente do estado sólido para o estado de
vapor, sem passar pelo estado líquido, a mudança de fase chama-se sublimação. Este
processo de sublimação é muito importante na congelação de alimentos.

Pelo gráfico da figura 11.3, podemos ver que, durante a transição de fase, a temperatura
se mantém constante. A energia térmica (calor) recebida pelo sistema serve apenas para
a mudança de fase.

Para se verificar uma mudança de fase é necessário que o sistema receba ou forneça
energia térmica ao exterior. A energia térmica necessária para se dar a transição de fase,
chama-se calor de transição de fase ou calor latente ou entalpia de transição de fase.
Note-se ainda que o calor latente ou entalpia de fusão tem um valor igual e de sinal
contrário ao calor latente ou entalpia de congelação. Este facto verifica-se com todas as
transições de fase. A energia térmica envolvida na transição de fase é a mesma nos dois
sentidos, mas num caso é necessário fornecer energia ao sistema e no outro caso é o
sistema que fornece energia ao meio exterior.

A energia térmica que é necessário fornecer, para se verificar mudança de fase num
material de massa m é:

Q=mL (11.12)

sendo L a entalpia ou calor de transição de fase. Na tabela 11.4, mostram-se alguns


valores de L e a temperatura a que ocorrem as transições de fase, à pressão atmosférica
normal. Examinando-a, podemos ver que a água apresenta valores superiores a todas as

170
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

substâncias apresentadas, quer para o calor latente de fusão quer para o calor latente de
vaporização. O mercúrio apresenta valores relativamente baixos para as transições de
fase referidas.

Substância Ponto de fusão Calor latente de Ponto de Calor de vaporização


(˚ C) fusão (kJ kg-1) ebulição (˚C ) (kJ kg-1)
Hélio -268,9 21
Dióxido de -78,55 573
carbono
Álcool Etílico -114 104 78 854
Cobre 1083 205 2566 4726
Ouro 1063 62,8 2808 1701
Prata 961 105 2163 2323
Chumbo 327 24,7 1750 858
Mercúrio -39 11,3 357 296
Azoto -210 25,7 -195,65 199
Oxigénio -218,6 13,8 -182,8 213
Água 0 333,5 100 2257

Tabela 11.4 Valores do calor de fusão e do calor de vaporização para várias substâncias, à pressão
atmosférica normal.

Exemplo 11.3

Suponha que tem 2Kg de gelo a -30˚C, à pressão atmosférica normal. Qual a energia
térmica necessária, para o gelo se transformar em vapor, a 100˚C?

Resolução:

Para resolver o problema temos que considerar os diferentes processos por que vai
passar o gelo.

1. Energia térmica (calor) necessária para elevar a temperatura do gelo até 0˚C

Q1= mgelo cgelo ∆Tgelo= (2Kg) (2,05 X 103 J Kg K-1) ( 0 – (-30)) = 123 X 103 J

2. Energia térmica (calor) necessária para o gelo passar a água líquida

Q2= mgelo Lfusão= (2 Kg) ( 333,5 X 103 J Kg-1) = 667 X 103 J

3. Energia térmica (calor) necessária para elevar a temperatura da água até 100˚C

Q3= mágua cágua ∆Tágua= ( 2 Kg) (4186 J Kg-1 K-1) (100-0) =837,2 X 103 J

4. Energia térmica (calor) necessária para a água passar a vapor

171
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

Q4= mágua Lvap= (2 Kg) ( 2257 X 103 J Kg-1) = 4514 X 103 J

A energia térmica (calor) total necessária será

Qtotal= Q1+Q2+Q3+Q4

Qtotal= (123 X 103+ 667 X 103 + 837,2 X 103 + 4514 X 103) J = 6141,2 X 103 J

11.7 Processos de transferência de energia térmica

Os processos de transferência de energia térmica podem ser agrupados em três modos


distintos: Condução, convecção e radiação.

Vamos falar de cada um deles, de maneira detalhada.

11.7.1. Condução

Consideremos um corpo com a forma de paralelepípedo rectângulo, colocado entre dois


reservatórios a temperaturas T1 e T2,
respectivamente (ver figura 11.4). Se
T2 for maior que T1, irá haver
transferência de energia térmica
(calor) da extremidade a temperatura
T2, para a extremidade a temperatura

Fig 11.4 Existe transferência de calor ,por T1. A energia térmica (calor)
condução, através da barra colocada entre dois transferida por unidade de tempo, será
reservatório de temperatura
 !
= −  (11.13)
 "

A dQ/dT vamos chamar corrente térmica, I. A constante K, chama-se condutividade


térmica e depende da substância de que é feito o corpo. O calor é transferido para a
extremidade onde a temperatura é menor. A unidade em que se exprime a corrente
térmica, no sistema SI, é o J/s = W e a condutividade térmica é o W K-1m-1. A tabela
11.5 contém valores da condutividade térmica de várias substâncias. Podemos ver que
os bons condutores, como os metais, apresentam valores relativamente elevados, de
condutividade térmica. Os isolantes térmicos, como o ar ou a madeira, apresentam
valores relativamente baixos de condutividade térmica.

Voltemos, novamente, à expressão (11.13). Podemos escrevê-la na forma

|∆&|
∆ =$ '( ∆ = $ ) 11.14

|∆"|
Sendo ∆T a variação de temperatura, na direcção da corrente térmica, e *+
é a
resistência térmica.

172
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

|∆-|
R= (11.15)
./

Substância Condutividade térmica


( W K-1 m-1)
Prata 429
Cobre 401
Ouro 318
Alumínio 237
Ferro 80.4
Aço 46
Chumbo 35,3
Vidro 0,7 a 0,9
Àgua a 300 K 0,609
Gelo 0,592
Madeira de pinho 0,11
Ar a 300 K 0,026

Tabela 11.5 Condutividade térmica de alguns materiais, obtida à pressão e temperatura ambientes

Em muitos exemplos práticos, necessitamos de estudar a transferência de energia


térmica entre dois ou mais corpos em série (ver figura 11.5). Podemos querer saber, por
exemplo, o efeito da junção de material isolante, de uma espessura e condutividade
térmica conhecidas, no espaço entre duas camadas de
gesso. A figura 11.5 mostra duas placas condutoras, com
secções de áreas iguais, mas feitas de materiais diferentes,
e com diferentes espessuras. Seja T1 a temperatura mais
elevada, T2 a temperatura na interface entre as placas e T3
a temperatura mais baixa, na face externa.

Vamos supor que a transferência de energia térmica


atinge um regime estacionário. Nestas condições, a
Fig 11.5 Duas barras de
corrente térmica I através de cada placa, deve ser a
materiais diferentes colocadas
mesma. Este facto ocorre devido à conservação de energia em série
( a quantidade de energia que entra, tem que ser igual à
que sai, pois não há fontes nem sumidouros, no domínio em estudo).

Sejam R1 e R2, as resistências térmicas das duas placas. Aplicando a equação (11.14) a
cada placa, teremos

T1-T2 = I R1 e T2-T3= I R2

Somando as duas equações obtém-se

T1-T3= I( R1+ R2) = I Req (11.15)

sendo Req a resistência equivalente, do conjunto.

173
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

Para calcular a taxa à qual a energia térmica de uma sala se perde por condução, é
necessário conhecer o calor perdido pelas paredes, janelas, soalho e tecto. Para este tipo
de problema, em que existem vários percursos possíveis para o calor, diz-se que as
resistências térmicas estão em paralelo. A diferença de temperatura é a mesma para cada
percurso, mas a corrente térmica é diferente. Neste caso, a corrente total é a soma de
todas as correntes térmicas.
∆! ∆! 5 5
Itotal= I1+ I2+ ….= + + … = ∆ 4 + + ⋯.7
01 02 01 02

∆
$89: = 11.16
);<

sendo válida a relação

1 1 1
= + +⋯ 11.17
);< )5 )>

Exemplo 11.4

Duas barras de metal isoladas, tendo cada uma


um comprimento de 5,0 cm e secção
rectangular com lados de 2,0 cm e 3,0 cm, são
colocadas entre duas paredes, como mostra a
figura 11.6. Uma das paredes encontra-se a
100˚C e a outra a 0˚C. Uma das barras é de
chumbo e a outra é de prata.

a) Calcule a corrente térmica através das


duas barras
b) Calcule a temperatura na interface das Fig 11.6 Duas barras colocadas em série
barras entre duas paredes a temperaturas diferentes

Resolução:

a) As barras são condutores térmicos, ligados em série. Sabemos que


∆!
$0;@ = 0 (11.18)
AB C0DE

|∆&| 0,05 I
)FG = = = 2,36 J K5
FG FG 35,3 J IK5 K5 0,02I L 0,03 I

|∆&| 0,05 I
)+M = = = 0,194 J K5
+M +M 429 J IK5 K5 0,02I L 0,03I

Substituindo valores, em (11.18) , obteremos

174
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

100°N − 0°N 100


$0;@ = = = 39,1 J
 2,360 + 0,194 J K5 2,55 J K5

b) Para calcular a temperatura na interface, vamos utilizar a relação

∆ TPb= IRes RPb= (39,1 W ) (2,36 H W-1) = 92,4 K= 92,4˚C

T2= 100˚C-∆ TPb= 100˚C -92˚C = 8˚C

Exemplo 11.5

As barras de metal da figura 11.7, estão montadas


em paralelo, fazendo a ligação entre duas paredes
que estão a 100˚C e a 0˚C, respectivamente.

a) Calcule a corrente térmica em cada barra


b) Calcule a corrente térmica total
c) Calcule a resistência térmica equivalente,
para o sistema formado pelas duas barras

Resolução:

a) A corrente térmica, em cada barra, é Fig 11.7 Duas barras de metais


calculada através da relação I = ∆T/ R. diferentes, colocadas em paralelo, entre
duas paredes , a temperaturas diferentes.
Teremos, então
∆ 100
$FG = = = 42,4 J
)FG 2,36 J K5

∆ 100
$+M = = = 515 J
)+M 0,194 J K5
b)

ITotal= IPb+ IAg= 42,4 W+ 515 W= 557 W

c) Para o cálculo da resistência equivalente, vamos utilizar a relação (11.17)

1 1 1 1 1
= + = +
);< )FG )+M 2,36 J K5 0,194 J K5

Req= 0,179 K W-1


Podemos testar o resultado obtido, utilizando a relação
∆ ∆ 100
$!89: = → );< = = = 0,179 J K5
);< $!89: 557 J

175
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

11.7.2 Convecção

Já todos aquecemos as mãos colocando-as sobre uma chama. Nestes casos, o ar


localizado directamente por cima da chama, é aquecido por condução, e dilata-se. Como
resultado da dilatação, a massa volúmica do ar diminui e o ar sobe. Ao subir, a massa de
ar passa pelas mãos e aquece-as.

A energia térmica transferida pelo movimento de uma substância aquecida, diz-se


transferida por convecção.

Quando o movimento se origina devido apenas a alterações na massa volúmica, como


no exemplo citado, teremos convecção natural. Quando a substância aquecida é
forçada a mover-se (por exemplo, por uma ventoinha ou por uma bomba) teremos
convecção forçada.A convecção envolve sempre movimento macroscópico do fluido.

Vamos falar apenas da convecção livre. Este fenómeno ocorre quando aquecemos água
numa panela ou quando aquecemos uma casa com um aquecedor.

É difícil desenvolver uma teoria quantitativa para a convecção, pois existem muitos
factores que vão ter influência no movimento do fluido.

A convecção que se verifica de uma superfície a temperatura elevada, para o meio


ambiente (ar),vai depender da forma e orientação dessa superfície; uma superfície
vertical perde energia mais lentamente que uma superfície horizontal. Outros factores
importantes são a massa volúmica, a viscosidade ,a condutividade térmica, a capacidade
térmica mássica eo coeficiente de expansão térmica do fluido. Também é importante
saber se o movimento é laminar ou turbulento. O movimento turbulento está, em geral,
associado a velocidades mais elevadas, o que nos leva a uma maior transferência de
energia num dado intervalo de tempo.

O papel de todos estes factores é traduzido quantitativamente pelo coeficiente de


transferência de energia térmica por convecção, h.

Pode-se mostrar, experimentalmente, que a taxa de transferência de energia térmica por


convecção, de uma superfície de área A, para o ar, é dada aproximadamente por

∆Q/∆t = h A ∆T (11.19)

Esta expressão é empírica, sendo ∆T a diferença entre a temperatura da superfície


aquecida e a temperatura do ar relativamente longe da superfície.

Exemplo 11.6

Vamos analisar a transferência de energia térmica (calor) através do vidro de uma


janela, com 2 mm de espessura e uma área de 1,5 m2, quando a temperatura do interior
da casa for 22 ˚C e a temperatura no exterior for 0˚C, num dia sem vento.

Se representarmos graficamente a temperatura junto do vidro, dentro de casa e no


exterior (ver figura 11.8), verificaremos que a sua variação não é linear. Este facto
176
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

acontece porque junto da janela se


formam correntes de convecção. A
experiência mostra que, nas condições
apresentadas, e devido à baixa
condutividade térmica do ar, a diferença
de temperatura entre as superfícies
interna e externa do vidro é apenas
0,2˚C= 0,2K.

Nestas condições, a energia térmica


perdida, por unidade de tempo, devido a Fig 11.8 Temperaturas verificadas num dia frio e
sem vento. Note-se a pequena variação entre as
condução térmica é
temperaturas interna e externa, do vidro
P ∆ 0,2
=  = 0,8 J IK5 K5 1,5 I> T U = 120 J
∆Q R 0,002I

Esta energia térmica, transferida por condução, deve ser igual à energia térmica
transferida por convecção, pois não existem outras fontes.

Se considerarmos que a temperatura da superfície externa do vidro é 11˚C (valor médio


das temperaturas externa e interna), poderemos calcular o coeficiente de transferência
de energia por convecção

P 1 120 J
ℎ= = = 7,27 J IK> K5
∆Q  ∆ 1,5 I> 11

Quando existe vento, as camadas de ar são removidas mais rapidamente. Isto faz com
que a temperatura da superfície externa do vidro seja menor, aumentando a perda de
energia térmica, e processo será convecção forçada.

11.7.3. Radiação

A energia térmica pode ser transmitida através do vácuo, como acontece com a energia
proveniente do Sol e que atinge a Terra. O processo pelo qual esta transferência de
energia ocorre é chamado radiação electromagnética. A energia térmica transmite-se
através de ondas electromagnéticas, que se propagam no espaço, com uma dada
velocidade.

A luz visível, as ondas de rádio e os raios X, são exemplos de ondas electromagnéticas.

Uma onda é caracterizada pela sua velocidade de propagação,v, pelo seu comprimento
de onda, λ, e pela sua frequência , f.

O comprimento de onda, λ, è a distância entre duas cristas sucessivas; a frequência , f, é


o número de cristas, que passam num dado ponto, durante um segundo.

O comprimento de onda vezes a frequência é igual à velocidade de propagação da onda.

fλ=v (11.20)

177
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

Todos os corpos emitem e recebem radiação electromagnética em todos os


comprimentos de onda. A radiação emitida depende da natureza da superfície
emissora e da temperatura absoluta a que se encontra o corpo.

Quando um objecto está em equilíbrio térmico com o meio que o rodeia, ele emite e
absorve a mesma quantidade de energia por unidade de tempo.

A figura 11.9 mostra-nos a energia


emitida, por unidade de tempo e por
unidade de área, em função do
comprimento de onda, para três
temperaturas diferentes. Se examinarmos
a figura, veremos que as áreas
delimitadas pelas curvas e o eixo OX são
maiores, para temperaturas mais
elevadas. Esta área representa a energia
emitida por unidade de área, durante um
segundo. Josef Stefan, em 1879,
conseguiu mostrar, por via empírica, e
cinco anos depois, Boltzmann mostrou
teoricamente, que a energia emitida por

unidade de tempo está relacionada com a Fig 11.9 Potência, emitida por radiação, por um
área da superfície emissora e com a corpo negro, em função do comprimento de onda.
quarta potência da temperatura absoluta. O comprimento de onda a que corresponde o
A lei que relaciona a potência emitida máximo da radiação emitida, varia inversamente
com a temperatura.
com os parâmetros referidos é conhecida
como lei de Stefan-Boltzmann , e traduz-se matematicamente por

Pe= σ e A T4 (11.21)

sendo σ uma constante denominada constante de Stefan e tendo o valor

σ = 5,6703 X 10-8 W m-2K-4 (11.22)

A representa a área da superfície emissora e e é a emissividade da superfície emissora.


Este parâmetro não tem unidades associadas, os seus valores variam entre 0 e 1, e
dependem da composição da superfície do objecto.

Quando a radiação electromagnética incide num objecto opaco, parte da radiação é


reflectida e parte é absorvida. A energia absorvida por um objecto, por unidade de
tempo é dada por

Pa= σ e A To4 (11.23)

sendo To a temperatura da fonte da radiação e e é a emissividade da superfície do


objecto que absorve a radiação.

178
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

Suponhamos, agora, que um objecto a uma temperatura T, está rodeado por objectos a
temperatura To. O objecto vai emitir radiação pois a sua temperatura é diferente de zero
Kelvin, mas o objecto vai absorver radiação proveniente dos objectos que o rodeiam. Se
a energia emitida, por unidade de tempo for superior à energia absorvida, por unidade
de tempo, o objecto vai perder energia e arrefece. Se o objecto absorver, por unidade de
tempo, mais energia do que a que ele emite, o objecto vai aquecer. A potência emitida
por um corpo a uma temperatura T, num meio a uma temperatura To, será

Pres= σ e A ( T4- To4) (11.24)

Quando um objecto estiver em equilíbrio térmico com o meio que o rodeia, T = To, e a
energia emitida, por unidade de tempo, é igual à energia absorvida, no mesmo intervalo
de tempo.

Um objecto que absorve toda a radiação que nele incide, tem emissividade igual a 1, e
chama-se corpo negro. Um corpo negro também é um emissor ideal. O corpo negro
não reflecte radiação. Um objecto com emissividade zero é aquele que reflecte toda a
radiação que nele incide, não emitindo radiação. A estes corpos chamamos corpos
brancos.

Voltemos, novamente, à figura 11.9. Podemos ver que o valor máximo da radiação
emitida não ocorre sempre no mesmo comprimento de onda. Quando a temperatura da
superfície emissora diminui o comprimento de onda em que se verifica o máximo de
radiação emitida desloca-se para a direita do eixo OX (para comprimento de onda mais
elevados). A radiação emitida por objectos a temperaturas inferiores a cerca de 600˚C
não é visível a “olho nu”. O comprimento de onda a que corresponde o máximo de
radiação emitida está longe dos comprimentos de onda em que ocorre a luz visível.

O comprimento de onda a que corresponde o máximo de radiação emitida, é dado pela


lei do deslocamento de Wien

W >,XX Y 5Z[\ ] *
λmax= = (11.25)
! !

Exemplo 11.7

a) A radiação maxima, emitida pela superfície do Sol, ocorre num comprimento de


onda de cerca de 500 nm. Considere que o sol é um corpo negro, e calcule a
temperatura da sua superfície
b) Calcule o comprimento de onda, a que corresponde o máximo de radiação
emitida por um corpo negro, a uma temperatura de 300 K.

Resolução:

>,XX Y 5Z[\ ] * >,XX Y 5Z[\ ] *


a) Sabemos que λmax= = = 5796 = 5800
! ZZ Y 5Z[^ ]

179
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11

b) Aplicamos, novamente, a lei do deslocamento de Wien

>,XX Y 5Z[\ ] *
λmax= = 9,66 µ m
_ZZ *

180
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12

Cap 12. Gases Ideais


Começaremos o capítulo, por estudar propriedades dos gases ideais, utilizando as
variáveis macroscópicas, pressão, volume e temperatura. Mostraremos, de seguida, que
estas propriedades podem ser descritas numa escala microscópica, onde a matéria é
tratada como sendo constituída por moléculas em movimento contínuo, colidindo umas
com as outras, e com as paredes do recipiente.

12.1 Pressão

Quando nos referimos à pressão exercida por um gás, nas paredes do recipiente, ou à
pressão exercida num líquido para produzir escoamento, estamos a pensar numa força.

Consideremos um cilindro, com gás no seu interior. O cilindro é fechado por um


êmbolo, de área A, como mostra a figura
12.1.

A intensidade da força, F, que o gás exerce


sobre o êmbolo, dividida pela área da base
do êmbolo, A, dá-nos a pressão P

 Fig. 12.1 A pressão no êmbolo é igual à


P= (12.1)

força, exercida pelo gás, a dividir pela área A,
do êmbolo
O gás exerce uma força por unidade de área, que é igual a P, e perpendicular às paredes
do vaso, em cada ponto.

A Unidade utilizada para definir a pressão, no sistema SI, é o Pascal 1Pa = 1 N m-2.

A pressão atmosférica normal (ao nível do mar) é

1 atm = 1,013 X 105 Pa = 760 mm Hg= 1,013 bar

O bar e o milibar são unidades muito utilizadas em meteorologia.

Para vermos a relação entre força e pressão, consideremos o seguinte exemplo:

Exemplo 12.1

Um gás a uma pressão de 10 atm, está contido num recipiente de forma cúbica, com 0,1
metro de lado. A pressão externa é a pressão atmosférica.

Qual é a força real, exercida na parede do recipiente?

Resolução:

A força exercida pelo gás, na parede do lado de dentro do recipiente é:

Fi = Pi A = ( 10 atm) (1,013 x105 Pa atm-1) (0,1 m2) = 1,013 X 104 N

A força externa, exercida pela atmosfera, na mesma parede, do lado de fora é:


181
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12

Fe = Pa A = (1 atm) (1,013 x105 Pa atm-1) (0,1 m2) = 0,1013 X 104 N

Como as forças têm sentidos opostos, a força resultante será:

Fi – Fe = 1,013 X 104 N - 0,1013 X 104 N= 0,912 X 104 N

Neste exemplo, a força na parede é proporcional à diferença entre a pressão interna e a


pressão externa. Esta diferença de pressão é chamada pressão relativa do gás.

Quando falamos apenas de pressão, estamos a referir-nos à pressão absoluta do gás.

12.2 Lei dos gases ideais

Vamos, agora, falar das propriedades de um gás de massa m, contido num recipiente de
volume V, a pressão P e temperatura T. É útil saber como estas propriedades estão
relacionadas entre si.

Muitos gases, à pressão atmosférica normal e temperaturas da ordem da temperatura


ambiente, comportam-se como gases ideais.

Suponhamos uma dada massa de um gás ideal, contido num reservatório cilíndrico, cujo
volume pode variar, por intermédio de um êmbolo. Com um sistema deste tipo,
podemos fazer dois tipos de experiências:

- Se a temperatura do gás se mantiver constante, e se se impuser uma diminuição de


volume, então, verifica-se um aumento de pressão. Este aumento de pressão está
directamente relacionado com a variação de volume, de tal modo que se verifica a
relação P V = Const (12.2)

Esta lei chama-se lei de Boyle-Mariotte

- Um outro tipo de experiência consiste em variar a temperatura a que se encontra o gás,


mantendo constante a pressão. Neste caso verifica-se uma alteração do volume do gás.
Quando a temperatura diminui, verifica-se uma diminuição no volume.A variação de
volume e de temperatura são proporcionais. Matematicamente, teremos


=  (12.3)

Esta lei é conhecida por Lei de Charles.

Poderíamos, ainda, verificar a variação da pressão com a temperatura, mantendo


constante o volume, e obteríamos


=  (12.4)

A lei dos gases ideais engloba as leis referidas, e é traduzida matematicamente pela
expressão

182
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12


=   = (12.5)

sendo C uma constante com valor positivo. Podemos ver que esta constante está
relacionada com o número de moléculas do gás.

Consideremos dois recipientes com volumes iguais, contendo a mesma quantidade do


mesmo gás, à mesma temperatura e à mesma pressão. Vamos, agora, unir os dois
recipientes e retirar a parede central, de modo a formar um único recipiente, com o
dobro do volume inicial, e o dobro do gás, mas à mesma temperatura e à mesma
pressão. Duplicámos a quantidade PV/T = C, duplicando a quantidade de gás. Podemos
dizer que C é igual a uma constante k, vezes o número N, de moléculas de gás

C=Nk

Substituindo este resultado na equação (12.5), teremos

PV=NkT (12.6)

A constante k é chamada constante de Boltzmann. Provou-se, experimentalmente, que


esta constante tem o mesmo valor para todos os gases

k = 1,381 X 10-23J K-1 = 8,617 X 10-5 eV K-1 (12.7)

A quantidade de um gás pode ser expressa em moles. Se tivermos n moles de uma


substância, o número de moléculas será

N = n NA (12.8)

sendo NA o número de Avogadro

NA= 6,022 X 1023 mole-1 (12.9)

Podemos, então, escrever

P V = n NAk T = n R T (12.10)

sendo R = NA k a constante universal dos gases ideais.

R = 8,314 J mole-1K-1=

=0,08206 L atm mole-1 K-1 (12.11)

A figura 12.2 mostra um gráfico de PV/ nT,


em função da pressão, para diversos gases.
Podemos ver que, para pressões
relativamente baixas, se verifica que PV/nT é
aproximadamente constante. Os gases para os
Fig 12.2 Gráfico de PV/nT em função da
quais se verifica esta relação são chamados
pressão, para gases reais

183
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12

gases ideais.

Um gás ideal, é definido como sendo um gás para o qual PV/nT é constante, para
todos os valores de pressão. A pressão, temperatura e volume de um gás ideal,
estão relacionados por

PV = n R T (12.12)

Esta expressão traduz, matematicamente, a chamada lei dos gases ideais e é chamada
equação de estado dos gases ideais. Esta equação só é válida para gases submetidos a
pressões relativamente baixas. Para gases com densidades elevadas (pressões elevadas)
tem que se fazer correcções a esta equação. No nosso curso iremos falar de outra
equação de estado, a equação de van der Waals que inclui as correcções referidas. Para
qualquer densidade de gás, existe uma equação de estado, relacionando P, V e T, para
uma dada quantidade de gás. Assim, o estado de uma dada quantidade de gás fica
completamente definido, se conhecermos duas das três variáveis de estado P,V e T.

Exemplo 12.2

Um gás tem um volume de 2,0 X 10-3 m3, à pressão de 1,013 X 105 Pa e temperatura de
30,0˚C . Qual será a nova pressão do gás quando a sua temperatura passar para 60,0˚C e
o seu volume for 1,5 X 10-3 m3?

Resolução:

Como a quantidade de gás permanece fixa, podemos utilizar a lei dos gases ideais, e
escrever

   
=
 

A partir desta igualdade, podemos escrever

    
 = = 
    

Sabemos que T1= 273+ 30˚C = 303 K e T2= 273 + 60˚C = 333 K

Substituindo valores, obtemos

2,0  10  333 


 = (1,013  10  ) = 1,489  10 
1,5  10  303 

Exemplo 12.3

Quantas moles de gás existem no sistema com que estivemos a trabalhar?

184
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12

Resolução:

Vamos utilizar a equação de estado dos gases ideais

P1 V1= n R T1

Substituindo valores, obtém-se

(1,013 X 105 Pa) (2,0 X 10-3 m3) = n (8,314 J mole-1 K-1) ( 303 K)

(1,013 X 105 Pa) (2,0 X 10 − 3 m3)


= = 0,08 -.
(8,314 J mole K  )(303 K)

12.3 Misturas de gases. Pressões parciais.

O ar seco tem cerca de 21% de Oxigénio e 79% de Azoto. Se tivermos uma mistura
confinada, de dois ou mais gases, e se as pressões forem relativamente baixas, de modo
a podermos considerar os gases como ideais, podemos pensar que cada gás ocupa todo o
volume do recipiente onde está contido. Isto acontece porque o volume das moléculas
individuais do gás é desprezável, quando comparado com volume do espaço (vazio)
entre elas.

A pressão total, exercida pela mistura de gases, é a soma das pressões individuais,
chamadas pressões parciais, exercidas por cada gás individualmente, na mistura. A
pressão parcial de cada gás, na mistura, é a pressão que ele exerceria se estivesse
sozinho no recipiente. Este resultado, a pressão total é a soma das pressões parciais, é
conhecido como lei das pressões parciais.

Exemplo 12.4

Um tanque contém 20 litros de Oxigénio a uma pressão de 0,30 Patm, e outro tanque
contém 30 litros de Azoto a uma pressão de 0,60 Patm. Ambos os gases estão a uma
temperatura de 300 K. O Oxigénio é transferido para o tanque com o Azoto, e os dois
gases misturam-se, ocupando o volume de 30 litros.

Qual é a pressão da mistura, sabendo que a sua temperatura permanece constante?

Resolução:

A pressão da mistura é a soma das pressões parciais de cada gás

P = P(O2) + P(N2)

A temperatura dos gases não sofre alteração. Por isso, podemos utilizar a lei de Boyle-
Mariotte, e escrever

185
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12

01 21
Pi Vi= Pf Vf → / =
23

O volume final do Oxigénio é 30 litros, e o inicial é 20 litros.

20 -
(4 ) = (0,3 567 ) = 0,20 567
30 -
: ;
 (8 ) = (0,6 567 ) =0,60 Patm
: ;

 =  (4 ) +  (8 ) = 0,20 567 + 0,60 567 = 0,80 567

12.4 Teoria cinética dos gases

A descrição do comportamento de um gás, em termos de variáveis macroscópicas P, V e


T, pode ser relacionada com médias simples de quantidades microscópicas, tais como
massa e velocidade das moléculas constituintes de um gás. A teoria resultante, chamada
teoria cinética dos gases, dá-nos um modelo utilizado para gases a baixas pressões.

Do ponto de vista da teoria cinética, um gás confinado é formado por um número


elevado de partículas que se movem rapidamente. Num gás monoatómico, como o hélio
ou o néon, estas partículas são átomos, mas nos gases poli atómicos, como o oxigénio e
o dióxido de carbono, estas partículas são moléculas. Na teoria cinética é prática comum
referir as partículas como moléculas.

O nosso modelo de gás ideal considera que:

- O gás é constituído por um grande número de massas idênticas, que não têm
dimensões apreciáveis, comparadas com a distância média entre partículas. A massa de
cada partícula será designada por m

- As partículas sofrem movimentos desordenados, e vão chocar entre elas e com as


paredes do reservatório, onde estão contidas. Estas colisões são elásticas havendo
conservação de energia.

- Não existem forças a actuar entre as partículas e as paredes, excepto durante os


choques. Vamos considerar que os choques ocorrem durante um intervalo de tempo que
é muito pequeno, e que podemos desprezar, face ao intervalo de tempo entre choques
consecutivos (Este facto permite-nos desprezar a energia potencial gravítica e
considerar a energia mecânica, associada às partículas, como energia cinética)

- O movimento das partículas é aleatório. O valor médio do quadrado das velocidades, é


igual em todas as direcções

12.4.1 Cálculo da pressão exercida por um gás

A pressão que um gás exerce, no seu recipiente, deve-se a colisões entre as moléculas
de gás e as paredes do recipiente. A pressão é uma força por unidade de área, e pela

186
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12

segunda lei de Newton, esta força é a taxa de variação do momento linear das moléculas
de gás que colidem com as paredes do recipiente.

Consideremos um recipiente com um volume V, contendo N moléculas de gás. Cada


molécula tem uma massa m e move-se com
velocidade v. Vamos calcular a força
exercida por estas moléculas, na parede do
lado direito, que é perpendicular ao eixo OX
e tem área A (ver figura 12.3).

As moléculas que batem nesta parede, num


intervalo de tempo ∆t, são as que estão a
uma distância |?@ |∆ , da parede, e que se
movem para a direita. Assim, o número de
moléculas que batem na parede, no intervalo
Fig 12.3 Moléculas de gás contidas num
de tempo ∆t, é o número de moléculas
recipiente rectangular. As moléculas que se
existentes, por unidade de volume N/V, movem para a direita e que estão a uma
multiplicado pelo volume B|?@ |∆ , distância, em relação à parede do lado direito,
multiplicado por ½ porque, em média, só inferior a vx∆t, irão chocar com a parede.
metade das moléculas é que se movem para
a direita. Assim, o número de moléculas que batem na parede, no intervalo de tempo ∆t
 C
será |?@ |∆ .
 2

A componente, segundo OX, do momento linear de uma molécula é mvx, antes de bater
na parede e –m vx , depois de sofrer uma colisão elástica com a parede. A variação do
momento linear será, em módulo, 2m|?@ |. O valor da variação do momento linear total
|∆DE|, de todas as moléculas, durante o intervalo de tempo ∆t, é 2m |?@ | multiplicado
pelo número de moléculas que batem na parede durante esse intervalo de tempo.
 C C
|∆DE| = 2 |?@ |( |?@ | ∆ B =  ?@ B ∆ (12.13)
 2 2

A intensidade da força ,exercida pela parede nas moléculas, e a intensidade da força


exercida pelas moléculas na parede, é igual a |∆DE|/ ∆t. A pressão é a intensidade da
força, a dividir pela área onde actua

F 1 |∆DE| 8
= = =  ?@
B B ∆ 
ou

  = 8  ?@ (12.14)

Como as moléculas contidas no recipiente não têm todas a mesma velocidade, vamos
substituir ?@ pelo seu valor médio GGG
?@ . A expressão (12.14) ficará

187
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12

GGGGG
 =28( ? @)
 
(12.15)


Esta expressão relaciona o produto PV com a energia cinética média das moléculas,
segundo o eixo OX.

No nosso modelo não existem direcções privilegiadas para as moléculas se moverem, e,


por isso, os valores médios dos quadrados das velocidades são iguais em todas as
direcções. Consequentemente, podemos escrever

GGG
? GGG GGG
@ = ?H = ?I


JJJJE
? = ?GGG GGG GGG GGG
@ + ?H + ?I = 3 ?@
 (12.16)

Se substituirmos este resultado em (12.15), obteremos

=
 C
(
 GGG )
 ? (12.17)
 2 

Esta equação diz-nos que a pressão é proporcional ao número de moléculas por unidade
de volume e à energia cinética média de translação por molécula.

Com este modelo simplificado de um gás ideal, chegámos a um resultado importante


que relaciona as propriedades macroscópicas pressão e volume com uma propriedade
microscópica, o valor médio da velocidade molecular.

Para além da energia cinética de translação, as moléculas poderão ter energia cinética de
rotação. Contudo, só a energia cinética de translação é relevante para o cálculo da
pressão exercida por um gás nas paredes do recipiente.

12.4.2 Interpretação molecular da temperatura

A expressão (12.17) pode ser escrita na forma

2 1 GGGG
= 8( ?  )
3 2
Se compararmos esta expressão com (12.6), podemos escrever

K=
 GGG
? 
@ (12.18)
 

O segundo membro desta igualdade representa a energia cinética média de translação


das moléculas de gás. Podemos ver, por esta expressão, que a energia cinética média de
translação das moléculas de gás está directamente relacionada com a temperatura
absoluta, a que o gás se encontra.

A energia cinética média de translação de n moles de gás, contendo N moléculas, é

188
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12

GGGGGG  GGG N =
6L5 = 8 M  ?

8K  =

O (12.19)
 

sendo Nk = n NA k = n R.

Podem-se utilizar estes resultados, para estimar a ordem de grandeza da velocidade


média das moléculas constituintes do gás

GGG
? =
PQ
=
 CR P Q
=
SQ
(12.20)
7 CR 7 T

sendo M = NA m, a massa molecular do gás.

A raiz quadrada de GGG


?  é designada por velocidade quadrática média (rms)

?L7U = VGGG
PQ SQ
?  =W 7 = W T (12.21)

Exemplo 12.5

A molécula de oxigénio, O2, tem uma massa molar de 32,0 g/mole, e a de hidrogénio,
H2, é cerca de 2,0 g/mole

a) Calcule a velocidade quadrática média, para a molécula de oxigénio, quando a


temperatura for 300 K
b) Faça o mesmo cálculo para a molécula de hidrogénio

Resolução:

S Q  (X,Y Z 7[;\ ]^ _]^ )(:: _) 7


a) ?L7U = W = W = 483,6 = 484  
T ,: ` :]a _b 7[;\ ]^ U

SQ  (X,Y Z 7[;\ ]^ _]^ )(:: _)


b) ?L7U = W T
= W  ` :]a _b 7[;\ ]^
= 1934  

Com este exercício, verificamos que as moléculas mais leves têm maior velocidade.
Todas as moléculas possuirão a mesma energia cinética média, à mesma temperatura,
mas as suas velocidades serão diferentes.

Exercício 12.1

Calcule a velocidade quadrática média das moléculas de azoto ( M= 28 g mole-1) a uma


temperatura de 300 K.

Resposta: 517 m s-1.

189
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12

12.5 A equação de estado de van der Waals

Nas deduções feitas com base na teoria cinética dos gases desprezámos o volume
ocupado pelas moléculas e considerámos que as forças intermoleculares se podiam
desprezar. Vamos agora investigar o comportamento dos gases reais e as condições em
que se devem esperar desvios do comportamento de um gás ideal.

Consideremos um gás contido num cilindro que


tem, numa extremidade, um êmbolo que se pode
mover ( ver fig. 12.1). Suponhamos que a
temperatura se mantém constante e movemos o
êmbolo de modo a obter diferentes volumes. Se o
gás utilizado fosse um gás ideal veríamos que as
pressões aumentariam quando o volume diminuísse,
sendo válida a lei de Boyle- Mariotte. Se fizéssemos
um gráfico de P em função de V, obteríamos uma
curva chamada isotérmica (ver fig. 12.4). Fig 12.4 Gráfico da pressão em
função do volume, para um gás ideal,
Vamos, agora, ver o submetido a um processo isotérmico
que acontece com
um gás real. A figura 12.5 mostra várias curvas, obtidas
experimentalmente. Podemos ver que, para
temperaturas elevadas, o gás se comporta como uma gás
ideal. Contudo, para temperaturas mais baixas verifica-
se que o comportamento difere bastante do gás ideal.

Existem dois motivos para se verificar este


Fig 12.5 Isotérmicas obtidas comportamento. Em primeiro lugar, devemos
para um gás real, a várias considerar o volume ocupado pelas moléculas de gás.
temperaturas. Para temperaturas Se V for o volume do recipiente onde está contido o gás
mais elevadas o comportamento e b for o volume ocupado por uma mole de moléculas,
aproxima-se do dos gases ideais
então V-bn será o volume sem matéria. A constante b é
igual ao número de moléculas a multiplicar pelo volume molecular. Quando V decresce
para uma dada quantidade de gás, a fracção de volume ocupado pelas moléculas
aumenta.

O segundo motivo está relacionado com as forças intermoleculares que se fazem sentir
quando as moléculas estão próximas. Quando as separações são pequenas, as moléculas
atraem-se, como seria de esperar, visto que os gases condensam para formar líquidos.
Quando uma molécula se aproxima de uma parede do recipiente, ela é empurrada para
trás pelas moléculas que a rodeiam, com uma força que é proporcional à densidade de
moléculas n/V. Como o número de moléculas que batem na parede, num dado intervalo
de tempo, é também proporcional à densidade de moléculas, a diminuição de pressão
devido à atracção de moléculas é proporcional ao quadrado da densidade, n2/V2.

190
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12

Na equação aparece, ainda, uma constante a que depende do gás e é pequena para gases
inertes, que têm interacções químicas muito fracas A equação de van der Waals, para n
moles de gás, tem a seguinte forma:
5 cd
M + N ( − e) = O (12.22)
2d

Quando o volume for grande e as densidades baixas, os termos bn e an2/V2, podem


desprezar-se, e a equação (12.22) torna-se a equação de estado dos gases ideais.

A figura (12.6) mostra um gráfico de P em função de V, para várias transformações a T


constante (isotérmicas), obtidas com dióxido
de carbono.. As curvas obtidas obedecem à
equação de van der Waals, excepto nas
regiões onde coexistem líquido e vapor.

A Tabela 12.1 Mostra valores de a e de b,


obtidos para diferentes gases.

Gás a b
(L2 atm/ mole2) (mL/mole)
He 0,0346 23,80
Ne 0,211 17,1
Ar 1,34 32,2
H2 0,244 26,6
N2 1,370 38,70 Fig 12.6 Isotérmicas obtidas com CO2.
O2 1,382 31,86 Para temperaturas relativamente elevadas
H2O 5,46 30,5 (T5) o gás comporta-se como um gás ideal
CO2 3,59 42,7

Tabela 12.1 Valores dos coeficientes a e b


da equação de van der Waals para diferentes
gases

191
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

Cap 13. 1ª Lei da termodinâmica


No capítulo anterior descrevemos as relações entre a temperatura de uma substância
(gás) e a energia mecânica média das suas moléculas, utilizando um gás ideal, como
exemplo. A esta energia média das moléculas demos o nome de energia interna.
Vimos que quanto mais elevada for a temperatura de um gás, maior será a sua energia
interna.

Neste capítulo iremos fazer a distinção entre energia interna e o calor transferido,
devido a uma alteração de temperatura do sistema. O trabalho realizado sobre (por) um
sistema, está relacionado com a energia transferida entre o sistema e a sua vizinhança,
enquanto a energia mecânica (cinética e/ou potencial) é uma consequência do
movimento e posição das moléculas do sistema. Quando se realiza trabalho sobre o
sistema, transfere-se energia para o sistema. Neste capítulo iremos ver quais as
relações existentes entre energia interna de um sistema, calor transferido de/ para o
sistema e trabalho realizado pelo sistema ou sobre ele.

13.1 Calor e trabalho em processos termodinâmicos

No estudo macroscópico da termodinâmica, descrevemos o estado de um sistema


utilizando as variáveis pressão, volume, temperatura e energia interna. O número de
variáveis macroscópicas necessárias para caracterizar um sistema, depende da natureza
do sistema. Para um gás homogéneo contendo apenas um tipo de moléculas, só serão
necessárias duas variáveis, como a pressão e o volume. Contudo, é importante referir
que o estado macroscópico de um sistema isolado só pode ser especificado se estiver em
equilíbrio térmico internamente. No caso de um gás num recipiente, todas as partes do
recipiente devem estar à mesma pressão e temperatura.

13.1.1 Trabalho realizado

Um sistema pode realizar trabalho de muitos modos. Vamos obter uma expressão para o
cálculo do trabalho realizado por um sistema quando varia o seu volume. Quando um
sistema sofre uma dilatação ou compressão, o trabalho, W, realizado pelo sistema ou
sobre ele, pode ser relacionado com as variações de volume.

Por convenção, em termodinâmica


considera-se W positivo quando o
trabalho é realizado pelo sistema. Se
o trabalho é realizado pelo meio
exterior sobre o sistema, então W
será negativo.

Para deduzirmos a expressão que nos


Fig 13.1 Gás encerrado num cilindro termicamente permite calcular o trabalho realizado
isolado. O volume pode ser alterado por intermédio do por/sobre um sistema, vamos
êmbolo representa um cilindro fechado,

192
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

contendo um gás no seu interior. O volume do cilindro e do gás pode ser alterado
movendo um êmbolo, de área A, que constitui uma das bases do cilindro. O gás do
cilindro está a uma pressão P e ocupa um volume V.

O gás exerce, sobre o êmbolo, uma força

F=PA (13.1)

Vamos pensar que o êmbolo se move uma distância ∆ X paralela à força. O trabalho
realizado pelo gás será

∆W = F ∆ X = P A ∆X (13.2)

Mas, A ∆X, representa a variação de volume sofrida pelo gás. Então, o trabalho
realizado pelo gás será

∆ W = P ∆V (13.3)

Vamos supor, agora, que o êmbolo sofre um deslocamento grande. Podemos dividir
esse deslocamento em pequenos deslocamentos ∆ Xj, a que correspondem alterações de
volume ∆ Vj= A ∆Xj, e trabalho realizado ∆ Wj= P ∆ Vj.

Se somarmos os trabalhos realizados, então, no limite, quando ∆Vj se aproxima de zero,


o trabalho realizado pelo sistema quando o seu volume passa de Vi para Vf é dado por:

W =     (13.4)


Para podermos calcular este integral devemos saber como é que a pressão varia durante
todo o processo. Em geral, a pressão não é
constante, dependendo do volume e da
temperatura. Se a pressão e o volume forem
conhecidos em cada passo do processo, os
diferentes estados do gás podem ser representados
num gráfico, tendo como variáveis P e V. Os
estados sucessivos por que passa o gás vão
formar, no gráfico referido, uma curva (ver Fig
13.2). A um gráfico deste tipo chamamos em

Fig 13.2 Expansão de um gás que termodinâmica diagrama PV. Olhando para a
passa do estado i ao estado f. O
figura 13.2 e atendendo à definição de trabalho,
trabalho realizado durante a expansão é
representado pela área a amarelo
podemos dizer que o trabalho realizado durante a
expansão do gás, do estado inicial até ao estado
final, é igual à área delimitada pela curva PV entre o volume inicial e o volume final, e
o eixo P=0.

Como se pode ver pela figura 13.2, o trabalho realizado pelo gás para ir do estado
inicial, i, para o estado final, f, depende do percurso seguido pelo gás entre os dois
estados. Para vermos melhor esta dependência vamos considerar a figura 13.3. Ela
193
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

Fig 13.3 O trabalho realizado por um sistema para ir de um estado inicial para um estado final
depende do percurso seguido para ir para o estado final.

mostra três diagramas PV onde se podem ver percursos diferentes seguidos por um
sistema entre um estado inicial, i, e um estado final, f, que são iguais para os três casos.

Em (a) podemos ver que o sistema sofre, em primeiro lugar, uma diminuição de pressão
mantendo o volume constante, e, posteriormente sofre um aumento de volume,
mantendo a pressão constante. O trabalho realizado, durante todo o percurso, será
apenas Pf (Vf – Vi).Em (b), podemos ver que o sistema sofre, em primeiro lugar, um
aumento de volume, mantendo constante a pressão e de seguida, sofre uma diminuição
de pressão, mantendo o volume constante. Neste caso, o trabalho realizado é igual a
Pi(Vf – Vi). Olhando para os gráficos da figura 13.3, vemos que o trabalho realizado
durante estas transformações é superior ao realizado em (a). Finalmente, temos o caso
(c), onde a pressão e o volume variam continuamente. Neste caso o trabalho realizado
terá um valor intermédio entre o valor obtido em (b) e o valor obtido em (a). Para
podermos calcular este trabalho necessitamos de uma expressão matemática que traduza
a forma da curva PV.

Como conclusão, podemos dizer que o trabalho realizado por um sistema depende
do processo pelo qual o sistema vai do estado inicial ao estado final. O trabalho
realizado pelo sistema depende do estado inicial, do estado final, e , dos estados
intermédios porque passa o sistema

13.1.2 Calor transferido

Vamos ver que, tal como o trabalho, o calor (energia térmica transferida) transferido
de/para o sistema, depende do processo seguido pelo sistema. Podemos mostrar este
facto, recorrendo a figura 13.4. vamos considerar que estamos a trabalhar com um gás
ideal e que os volume, pressão e temperatura iniciais são iguais, nos dois casos. No caso
(a), o gás está em contacto com um reservatório de calor. Se a pressão do gás for
ligeiramente superior à pressão atmosférica, o gás expande-se e o êmbolo sobe. Durante
esta expansão até um volume final Vf, é transferido calor do reservatório, de modo a
manter a temperatura constante.

194
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

Vamos , agora,
considerar o sis-
tema representado
em (b). Quando a
membrana é rom-
pida, o gás expan-
de-se rapidamente
, até ocupar o
volume final Vf.
Neste caso, o gás
não realiza
trabalho pois não

Fig 13.4 (a) Um gás, a uma temperatura Ti, expande-se lentamente, existe aqui um
recebendo calor de um reservatório à mesma temperatura. êmbolo móvel.
No processo
(b) Um gás expande-se rapidamente numa região onde existia vácuo. Depois
descrito não
de se ter rompido uma membrana
houve trans-
ferência de calor para o sistema pois a parede é isolante, vamos-lhe chamar parede
adiabática. Este processo é designado por expansão adiabática livre ou expansão
livre. Em geral, um processo adiabático é aquele em que não existem transferências de
calor entre o sistema e a sua vizinhança.

Os estados iniciais e finais do gás, nos processos (a) e (b), são idênticos, mas os
percursos seguidos são diferentes.

No primeiro caso existe uma transferência lenta de calor do reservatório para o gás, e o
gás realiza trabalho sobre o êmbolo.

No segundo caso, não existe qualquer transferência de calor, e o trabalho realizado é


nulo.

Podemos concluir que o calor, tal como o trabalho, depende do estado inicial, do
estado final, e dos estados intermédios por que passa o sistema. Por este motivo,
chamamos ao trabalho e ao calor funções de linha ou de percurso.

13.2 1ª Lei da termodinâmica

Quando se fala na lei da conservação de energia, na mecânica, diz-se que, na ausência


de forças não conservativas, como por exemplo o atrito, a energia mecânica de um
sistema é conservada. Não estamos a incluir alterações na energia interna do sistema. A
1ª lei da termodinâmica é uma generalização da lei da conservação da energia, e
inclui variações possíveis na energia interna. Ela é uma lei universal, que pode ser
aplicada a todos os tipos de processos, e que nos faz uma ligação entre o mundo
microscópico e o mundo macroscópico.

195
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

Já vimos que a energia pode ser transferida entre um sistema e a sua vizinhança de dois
modos distintos. Um deles é através da realização de trabalho por/sobre o sistema. Este
modo de transferência dá origem a alterações macroscópicas das variáveis do sistema,
tais como pressão, volume, temperatura. O outro modo é a transferência de calor
(energia térmica ) que ocorre a nível microscópico

Consideremos agora um sistema, por exemplo um gás, cuja pressão e volume variam de
Pi Vi para Pf Vf, vamos considerar vários percursos possíveis para ir do estado inicial ao
estado final. Se medirmos a quantidade Q-W que ocorre em cada um dos percursos
possíveis, veremos que o resultado obtido é o mesmo, em todos os percursos
considerados. Concluímos, então, que a quantidade Q-W depende apenas do estado
inicial e do estado final do sistema, e chamamos a esta quantidade variação da energia
interna do sistema. Apesar de Q e de W dependerem do percurso seguido, Q-W não
depende do percurso, dependendo apenas do estado inicial e do estado final. Por esse
motivo, chamamos à energia interna de um sistema uma variável de estado.

A diferença entre a energia térmica fornecida ou retirada e o trabalho realizado,


representa a variação de energia interna do sistema - 1ª lei da termodinâmica.

∆ U = Uf – Ui = Q – W (13.5)

Q será positivo se for transferida energia térmica ao sistema. W é positivo se for


realizado trabalho pelo sistema.

Quando um sistema sofre uma variação infinitesimal no seu estado, sendo transferida
uma pequena quantidade de calor, dQ, e realizado trabalho dW,a energia interna sofrerá
uma pequena variação dU. Assim, para processos infinitesimais, podemos aplicar a 1ª
lei, obtendo

dU = dQ – dW (13.6)

A nível microscópico, a energia interna de um sistema inclui a energia cinética e


potencial das moléculas que o constituem.

Vamos, agora, considerar alguns casos especiais.

Sistemas isolados

Um sistema isolado é um sistema que não interactua com a sua vizinhança. Neste caso
não há transferência de calor, nem é realizado trabalho; a energia interna do sistema,
permanece constante

Q = W=0 → ∆ U= 0 → Uf = Ui (13.7)

Processos cíclicos

Um processo cíclico é aquele em que o estado inicial e o estado final do sistema


coincidem. Neste caso, a variação de energia interna é nula, e o calor fornecido ao
sistema deve igualar o trabalho realizado por ele.
196
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

∆U=0→ Q=W (13.8)

Se representarmos as transformações sofridas pelo sistema, num diagrama PV, veremos


que o trabalho realizado num ciclo, é igual à área delimitada pela linha que representa as
várias transformações porque passa o sistema

Se ocorrer um processo em que o trabalho realizado é nulo, a variação de energia


interna vai ser igual ao calor recebido ou cedido pelo sistema. Se o sistema receber
calor, a energia interna vai aumentar. Se o sistema fornecer calor, a energia interna irá
diminuir. Para um gás, podemos associar um aumento de energia interna com um
aumento na energia cinética das moléculas. Por outro lado, se ocorrer um processo em
que não haja calor transferido para o sistema, a variação de energia interna é igual a
menos o trabalho realizado pelo sistema; neste caso a energia interna irá diminuir.

A nível microscópico, não existe uma distinção real entre calor e trabalho. Ambos
podem originar variações de energia interna do sistema. Apesar das quantidades
macroscópica do sistema não serem funções de estado do sistema, elas estão
relacionadas com a energia interna do sistema, através da 1ª lei da termodinâmica

13.3 Algumas aplicações da 1ª lei da termodinâmica

Transformação isocórica

Uma transformação isocórica ocorrre a volume constante. Atendo à definição de


trabalho

W =    


Podemos concluir facilmente que, se não existe variação de volume, o sistema não
realiza trabalho. Aplicando a 1ª lei da termodinâmica, teremos:

∆U=Q–W e como W = 0, então ∆ U = Q (13.9)

Quando se fornece calor a um sistema mantido a volume constante, ele vai apenas
aumentar a energia interna do sistema.

Transformação isobárica

Uma transformação isobárica é aquela que se realiza a pressão constante. Num processo
deste tipo, o calor transferido e o trabalho realizados, não são nulos.

O trabalho realizado será:



W =     =  ( −  ) (13.10)


Como pela 1ª lei da termodinâmica se tem ∆ U = Q – W, teremos

Q = ∆ U + W = Uf – Ui + P Vf – P Vi = (Uf + P Vf) – ( Ui + P Vi) (13.11)

197
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

Se definirmos um nova função de estado

H = U + PV (13.12)

A que vamos chamar entalpia, teremos

Q = Hf – Hi = ∆ H (13.13)

Num processo em que a pressão se mantém constante, o calor (energia térmica


transferida ) envolvido contribui apenas para uma variação da entalpia do sistema.

Esta função de estado é particularmente útil, pois grande parte dos processos naturais,
são realizados à pressão atmosférica normal. A entalpia é um parâmetro útil na
discussão da transferência de calor.

Expansão isotérmica de um gás ideal

Neste caso, a temperatura do gás mantém-se


constante, mas o sistema vai sofrendo alterações que
fazem com que ele vá do estado inicial ( Pi Vi) até ao
estado final ( Pf Vf). Num diagrama P V, teremos uma
curva do tipo da representada na figura 13.5.

Pela lei dos gases ideais, sabemos que PV = n R T e,


portanto P = (nRT)/V. Atendendo à definição de
trabalho, teremos:
    
W =     =    =       =
Fig 13.5 Diagrama PV para uma
   
 expansão isotérmica. A curva
   (ln  − ln  ) representada é uma hipérbole.


 =    ln (13.14)


Pela 1ª lei da termodinâmica, sabemos que ∆ U = Q – W. Como a energia interna está


associada ao movimento aleatório de átomos e moléculas, então, para um gás ideal, U
depende apenas da temperatura. Como num processo isotérmico a temperatura não sofre
variações, então, ∆ U = 0, e

 =  =    ln  (13.15)


O calor fornecido ao sistema, é convertido integralmente em trabalho realizado


pelo sistema, sobre o mundo exterior.

Exemplo 13.1

Uma barra de cobre de 1Kg é aquecida à pressão atmosférica. Suponha que a sua
temperatura sobe de 20 ˚C para 50˚C.

a) Calcule o trabalho realizado pelo cobre

198
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

b) Que quantidade de calor é transferida para o cobre?


c) Calcule o aumento verificado na energia interna do cobre

Resolução:

a) A variação de volume do cobre pode ser calculada utilizando a expressão (11.5)


e o coeficiente de dilatação linear do cobre, retirado da tabela 11.2.
∆ V = 3 α V ∆T = 3 [1,7 X 10-5 K-1] ( 50˚C - 20˚ C) V = 1,5 X 10-3 V
Precisamos, agora, calcular o volume do cobre. Sabemos que V=m/ρ, sendo ρ a
massa volúmica do cobre = 8,92 X 103 Kg/m3. Teremos, então

 
∆ V = 1,5 X 10-3 & = 1,7 ) 10+, -.
, ! "# /%#
Como o aumento de volume se verifica à pressão atmosférica, podemos dizer
que a transformação ocorreu a volume constante. O trabalho realizado pelo
cobre será
W = P ∆ V = (1,013 X 105 Pa ) (1,7 X 10-7 m3) = 1,9 X 10-2 J
b) Vamos retirar a capacidade térmica mássica do cobre da Tabela 11.3.
c = 386 J Kg-1 K-1. Utilizando a expressão (11.9), teremos

Q = m c ∆T = (1 Kg) (386 J Kg-1 K-1) ( 30 K ) = 1,16 X 104 J


c) Para calcularmos o aumento de energia interna, vamos utilizar a 1ª lei da
termodinâmica
∆ U = Q – W = (1,16 X 104 J) – (1,9 X 10-2 J) = 1,16 X 104 J

Note-se que quase todo o calor transferido para o sistema serve para aumentar a energia
interna. Por este motivo, na expansão térmica de um sólido ou de um líquido, o trabalho
realizado é geralmente ignorado.

Exemplo 13.2

Calcule o trabalho realizado por uma mole de um gás ideal, mantido o 0˚C, numa
expansão de 3 para 10 litros.

Resolução:

Trata-se de uma expansão isotérmica. Vamos utilizar a expressão (13.14) para o cálculo
do trabalho.

W =    ln  = (1 mole) (8,314 J mole-1 K-1) ln (10/3) = 2,73 X 103 J


O calor que deve ser fornecido ao gás, para manter a sua temperatura constante, é
2,73 X 103 J.

13.4 Capacidades térmicas dos gases

Já vimos que a temperatura de um gás está relacionada com a energia cinética média de
translação das moléculas constituintes do gás. Esta energia cinética está associada com

199
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

o movimento do centro de massa de cada molécula de gás. Ela não inclui vibrações ou
rotações, em torno do centro de massa da molécula.

Vamos considerar gases ideais monoatómicos como , por exemplo, hélio, néon ou
árgon. Quando se adiciona energia a um gás deste tipo, contido num recipiente com
volume fixo, toda a energia adicionada vai aumentar a energia cinética de translação das
moléculas. Não existe outro modo de armazenar energia num gás monoatómico.

Já vimos que, para um gás ideal, a energia interna é apenas função da temperatura.

3 3
/= 23= 
2 2
Se transferirmos calor para o sistema, mantendo o volume constante, o trabalho
realizado vai ser nulo. Então, pela 1ª lei da termodinâmica, vemos que
.
∆/ =− = =   ∆ (13.16)

Por outras palavras, podemos dizer que todo o calor


fornecido vai servir para aumentar a energia
interna do gás. O processo de i para f, a volume
constante, está representado na figura 13.6, sendo ∆
T a diferença de temperatura entre as duas
isotérmicas representadas. Substituindo o valor de Q,
dado por (13.16), teremos

3
 5 ∆  = ∆
2
e
Fig 13.6 Adicionou-se calor a
.
5 =  (13.17) um gás, por dois processos
diferentes. O processo i→f
realizou-se a volume constante e o
CV representa a capacidade térmica molar do gás, a processo i→f ‘ realizou-se a
volume constante. Isto significa que, para todos os pressão constante.
gases ideais monoatómicos
.
5 = (8,314 8 -9:; + < + ) = 12,5 8 -9:; + < + (13.18)

A variação da energia interna de um gás ideal monoatómico, pode ser obtida por

∆ U = n CV ∆ T

e
 >?
5 = (13.19)
 >

200
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

Vamos supor que fornecemos calor ao sistema mas mantemos constante a pressão. A
variação de temperatura que se obtém é, de novo, ∆ T. O calor transferido neste caso
será Q = n CP ∆ T , sendo CP a capacidade térmica molar do gás, a pressão
constante. Como o volume aumenta no processo ( ver figura 13.6), o gás vai realizar
trabalho, W = P ∆ V. Aplicando a 1ª lei da termodinâmica a este processo, teremos

∆ U = Q – W = n CP ∆ T – P ∆ V (13.20)

Neste caso, o calor transmitido ao gás vai servir para realizar trabalho e também para
aumentar a energia interna do gás. A variação de energia interna neste processo (i→ f ’)
tem que ser igual à verificada no processo (i→ f), pois as temperaturas inicial e finais,
são iguais. Substituindo valores, obtemos

n CV ∆ T = n CP ∆ T – P ∆ V (13.21)

Como estamos a trabalhar com gases ideais, podemos utilizar a sua equação de estado
PV= n R T, e dizer que, para um processo a pressão constante, se tem P∆V = n R ∆T.
Substituindo esta expressão em (13.21), obtemos

n CV ∆ T = n CP ∆ T - n R ∆T

Se dividirmos a igualdade por n ∆T, obteremos

CV= CP – R ou CP – CV = R (13.22)

Esta relação pode ser aplicada a qualquer gás ideal. Ela mostra que a capacidade térmica
molar a pressão constante, é superior à capacidade térmica molar a volume constante.
Como CV= (3/2) R então
@
CP = CV + R =  = 20,8 J mole-1 K-1 (13.23)

O quociente entre as capacidades térmicas, é um parâmetro sem dimensões, que se


costuma representar por γ
E
BC  @
A= = F
# = = 1,67 (13.24)
BD  .
F

Os valores obtidos para CP e γ estão de acordo com os valores experimentais, obtidos


para gases monoatómicos, mas estão em desacordo com os valores obtidos para gases
mais complexos, como se pode ver na tabela 13.1.

O valor de CP é superior ao valor de CV porque na transformação a pressão constante a


energia fornecida vai ser utilizada para realizar trabalho e para variar a energia interna
do sistema e no processo a volume constante o calor fornecido serve apenas para alterar
a energia interna do gás.

201
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

No caso dos sólidos e líquidos, aquecidos a pressão constante, o trabalho realizado é


muito pouco, pois a expansão volumétrica é pequena. Consequentemente, CP e CV são
praticamente iguais, para sólidos e para líquidos.

Gás CP CV CP - CV γ= CP/ CV
Gases Monoatómicos
He 20,79 12,52 8,27 1,67
Ar 20,79 12,45 8,34 1,67
Ne 20,79 12,68 8,11 1,64
Kr 20,79 12,45 8,34 1,69
Gases Diatómicos
N2 29,12 20,80 8,32 1,40
H2 28,82 20,44 8,38 1,41
O2 29,37 20,98 8,39 1,40
CO 29,04 20,74 8,30 1,40
Gases Poliatómicos
CO2 36,62 28,17 8,45 1,30
N2O 36,90 28,39 8,51 1,30
H2S 36,12 27,36 8,76 1,32
-1 -1
Tabela 13.1 Capacidades térmicas molares, em J mole K , para vários gases, obtidas a 25˚ C.

13.5 Processo adiabático, para um gás ideal

Um processo em que não haja trocas de calor entre o sistema e a sua vizinhança é
chamado processo adiabático. Na natureza, não é possível realizar um processo em que
as trocas de calor sejam rigorosamente zero. Na prática, os processos adiabáticos
ocorrem quando o sistema está muito bem isolado, ou quando os processos se realizam
rapidamente. Um processo quase-estático e adiabático é um processo que se desenrola
lentamente, de forma a permitir que o sistema esteja sempre perto do equilíbrio térmico,
mas suficientemente rápido comparado com o tempo que o sistema demora a trocar
calor com a sua vizinhança.

Vamos supor que temos um gás ideal que sofre


uma expansão adiabática. O gás está contido num
cilindro isolado termicamente, não existindo trocas
de calor entre o gás e a sua vizinhança ( Q= 0). A
transformação está representada no diagrama PV
da figura 13.7.Vamos considerar uma alteração de
volume dV, a que corresponde uma alteração de
temperatura dT. O trabalho realizado pelo gás,
quando o seu volume aumenta dV vai ser P dV.
Como a energia interna de um gás ideal, depende
Fig 13.7 Diagrama PV para uma
só da temperatura, a variação da energia interna
expansão adiabática. Note-se que,
será dU = n CV dT. neste caso, a temperatura final é
menor que a temperatura inicial
Aplicando a 1ª lei da termodinâmica, teremos

202
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

n CV dT = - P dV (13.25)

Vamos utilizar a equação de estado dos gases ideais P V = n R T, para obter P = n RT/V

tendo-se


 5  = −  

Esta expressão pode ser escrita na forma

  
+ =0
 5 

Integrando esta expressão, obtemos


ln  + ln  = 5
5

ou
 
ln  + ln  BD = : I  BD J = 5

 BC + BD
Atendendo a que CP – CV = R, podemos escrever
BD
= = A−1,e
BD

  K+ = 5. (13.26)

Utilizando, novamente, a equação de estado dos gases ideais, vem T= (PV)/ (nR) e

  K+ 
 = K
 
ou

  K = C4 (13.27)

Vamos, agora, calcular o trabalho realizado pelo gás, durante a expansão. Pela 1ª lei da
termodinâmica, podemos escrever

- dW = dU- dQ

Como a transformação é adiabática, dQ=0 e dW= - dU= - n Cv dT. O trabalho realizado


durante todo o processo será
L L BM
W =- n Cv ∆ T = n Cv ( Ti – Tf) = n Cv   − &= N  −   O
 

mas

5P 5 1
= =
 5L − 5P A−1
203
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13

Substituindo este resultado, na expressão anterior, teremos

NL  +L  O
= (13.28)
K+

Que é a expressão que nos permite calcular o trabalho realizado durante uma expansão
adiabática.

Exemplo 13.3

O ar de um cilindro de uma máquina a diesel, é comprimido a 20˚C, passando de uma


pressão inicial de 1 atm e volume de 800 cm3, para um volume de 60 cm3. Considere
que o ar se comporta como um gás ideal (γ=1,40) e a compressão é adiabática, e
obtenha a pressão e temperatura finais.

Resolução

Sabemos que numa transformação adiabática é válida a relação P Vγ= Const. Sendo
assim, podemos escrever

 =  ( Vi/Vf)γ = ( 1 atm) ( 800 cm3/ 60 cm3)1,4= 37,6 atm

Para calcularmos a temperatura, vamos utilizar o facto de se tratar de um gás ideal e de


nenhum gás se escapar do cilindro

    (37,6 RS-)(60 T-. )


= → =  = (293 <) = 826 < = 553 ℃
   ( 1 RS-)(800 T-. )

204
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14

Cap 14. 2ª Lei da termodinâmica


14.1 Introdução

É frequente ouvirmos dizer que é necessário poupar energia. De acordo com a 1ª lei da
termodinâmica, a energia conserva-se na natureza, no entanto existem algumas formas
de energia que são mais úteis que outras.

De acordo com a 1ª lei da termodinâmica, a energia interna de um sistema pode


aumentar se lhe fornecermos calor, ou se realizarmos trabalho sobre ele. No entanto,
existem diferenças entre calor e trabalho. Por exemplo, é possível converter
completamente trabalho em calor mas, na prática, é impossível converter
completamente calor em trabalho, sem alterar as vizinhanças do sistema em estudo.
Cientistas e engenheiros trabalham, mas nunca em sentido contrário.

-O sal dissolve-se espontaneamente em água, mas para extrair sal da água, é preciso
influência externa.

-Quando se atira uma bola de borracha para o solo, ela saltará algumas vezes, até ficar a
deslizar no solo.

O processo inverso não ocorre.

Estes processos são chamados processos irreversíveis.

A 1ª lei da termodinâmica diz-nos que a energia existe em várias formas, e que ela pode
passar de uma forma para outra, de tal modo que ela (energia) não se pode criar nem
destruir; ela conserva-se.

A 2ª lei da termodinâmica vem dizer que nem todas as transformações de energia se


podem realizar.

14.2 2ª lei da termodinâmica

Vamos enunciar a 2ª lei da termodinâmica de dois modos diferentes. O primeiro


enunciado é o de Kelvin-Planck, e diz que é impossível construir uma máquina
térmica, funcionando ciclicamente, que com verta energia térmica em trabalho,
tendo um rendimento de 100%.

Vamos, agora, ver o enunciado de Clausius. É impossível construir uma máquina


térmica, que transfira energia térmica de um objecto a baixas temperaturas para
um objecto a altas temperaturas, sem ser realizado trabalho sobre a máquina, pelo
mundo exterior.

Outra forma deste enunciado será: Não existe transferência de energia térmica de um
objectoa baixas temperaturas, para um objecto a temperaturas mais elevadas, sem
interveniência externa.

205
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14

Veremos mais adiante que o enunciado de Kelvin-Planck e o enunciado de Clausius são


equivalentes.

14.3 Máquinas térmicas

A 2ª lei da termodinâmica fala de máquinas térmicas. Vamos definir máquina térmica


como sendo um aparelho que funciona ciclicamente, e que tem por finalidade
transformar calor em trabalho. Uma máquina térmica contém um fluido (numa máquina
a vapor é agua) que absorve uma dada quantidade de calor Q2 de um reservatório a
temperaturas elevadas, realiza trabalho W, e liberta calor Q1, a temperaturas
relativamente baixas, quando retoma o estado inicial. Os valores de Q2, W e Q1,
aparecem sempre em módulo. Vamos definir reservatório de calor como sendo uma
fonte térmica mantida a temperatura constante, independentemente do calor que cede ou
recebe.

A figura 14.1, mostra-nos um esquema de uma máquina térmica. Vamos analisar esta
máquina. Como ela funciona ciclicamente, a variação
da sua energia interna, durante um ciclo, é nula; pela 1ª
lei da termodinâmica, vemos que

∆U = Q – W

ou seja

Q=W

O trabalho realizado pela máquina, vai ser igual ao


calor líquido que a máquina recebe, sendo o calor
líquido = Q2 – Q1.

Vamos definir rendimento de uma máquina térmica


Fig 14.1Esquema de funcio- η, como sendo o quociente entre o trabalho realizado e
namento de uma máquina térmica o calor (energia térmica) recebido pela máquina,
durante um ciclo.
    
η= = =1− (14.1)
  

O calor Q2 é produzido queimando carvão, petróleo ou gasolina, que têm que ser pagos;
por isso, é desejável obter uma máquina com um rendimento que seja o maior possível.
O melhor rendimento de uma máquina a vapor é de cerca de 40%. O melhor motor de
combustão interna tem um rendimento de cerca de 50%.

Uma máquina com um rendimento de 100% transformaria todo o calor recebido em


trabalho. O calor transferido para o reservatório a temperatura menos elevada seria nulo.
A 2ª lei da termodinâmica vem dizer que tal máquina não existe.

206
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14

Exemplo 14.1

Durante um ciclo, uma máquina térmica absorve 200 J do reservatório quente, realiza
trabalho e lança no reservatório frio 160 J. Qual é o rendimento da máquina?

Resolução:

Vamos utilizar a definição de rendimento da máquina. Sabemos, por (14.1), que


 
η= = 1− =1− = 1 − 0,80 = 0,20 = 20%
   

14.4 Máquina de Carnot

Sadi Carnot apresentou em 1824 um ciclo de trabalho de uma máquina térmica, hoje
chamado ciclo de Carnot, constituído por quatro processos reversíveis, sendo dois
isotérmicos e dois adiabáticos. Carnot mostrou que uma máquina térmica operando
neste ciclo, retirando calor de um reservatório a uma temperatura T2 e lançando o calor
excedente para um reservatório a uma temperatura T1, apresenta o rendimento máximo
para este tipo de máquinas.

A figura 14.2 mostra um diagrama PV, onde


está representado o ciclo de Carnot, formado por
dois processos adiabáticos e dois processos
isotérmicos.

1. O processo A→B é uma expansão


isotérmica a uma temperatura T2, na qual
o gás é colocado em contacto térmico
com o reservatório a temperatura
elevada. Durante este processo o gás
recebe calor e realiza trabalho WAB.
Fig 14.2 Diagrama PV ilustrando as
2. Durante o processo B→C, o gás sofre transformações do ciclo de Carnot
uma expansão adiabática, não havendo
entrada nem saída de calor da máquina. Durante este processo a temperatura
diminui de T2 para T1, e o gás realiza trabalho WBC.
3. Durane o processo C→D, o gás é colocado em contacto térmico com o
reservatório a baixa temperatura T1, e é comprimido isotérmicamente à
temperatura T1. Durante este processo, o gás cede calor, Q1, ao reservatório e é
realizado trabalho sobre o gás, por um agente externo, WCD.
4. No processo C→A, o gás é comprimido adiabáticamente. A temperatura do gás
aumenta para T2, eo trabalho realizado sobre o gás, por um agente externo, será
WDA.

O trabalho realizado durante um ciclo é igual à área delimitada pelo percurso ABCDA
no diagrama PV (ver figura 14.2).

207
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14

Vamos, agora, ver qual o rendimento da máquina de Carnot. Durante a expansão


isotérmica, de A para B, a máquina realiza trabalho. De acordo com a 1ª lei da
termodinâmica, a energia térmica fornecida á máquina é igual ao trabalho por ela
realizado.

Q2= WAB = n R T2 ln (14.2)


De modo semelhante, o calor que a máquina rejeita para o reservatório frio, no processo
C→D, é dado por:

Q1 = WCD = n R T1 ln (14.3)


Dividindo as duas expressões obtemos


    /! "   / "
= = (14.4)
     / "   / "

Os outros dois processos que ainda não analisámos são processos adiabáticos. Sabemos
que, nestes casos, é válida a relação

T Vγ-1 = Constante

Aplicando esta relação ao processo B→C, virá

T2 VBγ-1= T1 VCγ-1 (14.5)

e para o processo D→A, será

T2 VAγ-1= T1 VDγ-1 (14.6)

Se dividirmos (14.5) por (14.6), obteremos

#$ /#% "γ-1 = ( VC / VD )γ-1 (14.7)

Se substituirmos (14.7) em (14.4), obteremos


 
= (14.8)
 

O rendimento de uma máquina térmica é dado por


    
η= 1 -  = 1 − = (14.9)
  

para se conhecer o rendimento de uma máquina de Carnot, basta conhecer as


temperaturas das fontes quente e fria.

208
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14

Exemplo 14.2

A fonte quente de uma máqui a vapor está a uma temperatura de 500 K. a temperatura
da fonte fria é a do ar próximo da máquina, 300 K. Qual é o rendimento máximo desta
máquina a vapor ?

Resolução:

O rendimento máximo é o obtido com uma máquina de Carnot.


 & '
η=1- =1− = 0,4 *+ 40%
 ( '

Este é o rendimento teórico maior que pode ser obtido pela máquina. Na prática, os
rendimentos obtidos são menores.

14.5 Ciclo de Otto

O ciclo de Otto é utilizado nos motores a gasolina. Na figura 14.3 está representado um
diagrama PV com o ciclo de Otto. As
transformações sofridas pelo ar e gasolina, são
as seguintes:

1. Durante o processo O→A, entra ar no


cilindro à pressão atmosférica, havendo um
aumento de volume de V2 para V1.
2. No processo A→B, a mistura de ar e
gasolina é comprimida adiabáticamente,
passando do volume V1 para V2, e a
temperatura aumenta de TA para TB.
Fig 14.3 Diagrama PV ilustrando as 3. No processo B→C ocorre a combustão,
transformações do ciclo de Otto sendo adicionado calor Q2 ao gás. Durante esta
fase, a temperatura e a pressão crescem
rapidamente, mas o volume permanece constante. Não há realização de trabalho.
4. No processo C→D, o gás expande-se adiabáticamente, o volume aumenta,
passando de V2 para V1 e a temperatura diminui de T2 para T1.
5. No processo D→A é retirado calor do gás e a sua pressão diminui a volume
constante. Não há realização de trabalho durante este processo.
6. No processo final A→O, os gases residuais são expelidos a pressão constante, e
o volume passa de V1 para V2.

Vamos considerar a mistura de gasolina e ar como sendo um gás ideal e deduzir o


rendimento de um motor deste tipo.

Em primeiro lugar, vamos calcular o trabalho realizado pelo gás, durante cada ciclo.
Nos processos B→C e D→A, não há realização de trabalho, pois os processos decorrem

209
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14

a volume constante. Durante a compressão adiabática A→B é realizado trabalho sobre o


gás, e na expansão C→D o gás realiza trabalho. Como a variação de energia interna
num ciclo é nula, podemos dizer que o trabalho realizado neste ciclo será

WAB + WCD = Q2 – Q1

sendo Q2 o calor fornecido à máquina no processo B→C e Q1 o calor cedido pela


máquina no processo D→A. Atendendo a que estamos atrabalhar com um gás ideal,
podemos escrever

Q2 = n Cv ( TC – TB)

Q1 = n Cv ( TD – TA)

Vamos, então, calcular o rendimento


   ,-    "    "
η=  = 1 − =1− = 1 −   (14.10)
   ,-   "   "

Atendendo a que os processos A→B e C→D são adiabáticos, podemos utilizar a relação
T Vγ-1 = const. Podemos utilizar, ainda, as igualdades VA = VD= V1 e VC = VB= V2.

TA V1γ-1= TB V2γ-1 e TC V2γ-1=TD V1γ-1

(TD- TA) V1γ-1 = ( TC- TB) V2γ-1

   0
 
= . / (14.11)


Substituindo este resultado na expressão do rendimento obteremos

η= 1-  / "12 (14.12)
 

Atendendo a que ( V2/V1)γ-1= (TA/TB) = (TD / TC), podemos obter o rendimento em


função das temperaturas
 
η= 1-  = 1 − (14.13)
 

14.6 O ciclo de Stirling

Este ciclo, utilizado no motor de Stirling,é composto por quatro processos representados
no diagrama PV da figura 14.4.

1. No processo A→B, o gás é aquecido a volume constante, com subida da


temperatura de T1 para T2.

210
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14

2. No processo B→C, dá-se uma expansão


isotérmica, a temperatura T2, com
realização de trabalho.
3. No processo C→D, o gás é arrefecido, a
volume constante, passando a temperatura
de T2 para T1.
4. No processo D→A, dá-se uma compressão
isotérmica à temperatura T1, sendo
realizado trabalho sobre o gás. Fig 14.4 Diagrama PV ilustrando as
transformações do ciclo de Stirling
O gás utilizado nos modelos mais simples deste
motor é o ar. Nas versões de alta potência e alto rendimento, utiliza-se hélio ou
hidrogénio. Ao contrário dos motores de combustão interna, o gás utilizado nunca sai do
motor; trata-se de uma máquina de ciclo fechado.

Vamos calcular o rendimento deste ciclo, constituído por duas transformações


isotérmicas, e duas transformações a volume constante. Vamos começar com as
transformações isotérmicas. Sabemos que o trabalho realizado nestas transformações é
igual ao calor transferido

Q2= n R T2 ln 



Q1= n R T1 ln 


Nas transformações a volume constante, não há realização de trabalho.

Se olharmos para o diagrama PV, veremos que VA= VB e VC = VD. Assim, teremos

#! #,
=
#% #$

Podemos, agora, calcular o rendimento


5 5 5
   3 4            " 
   
5 5 5
η= = 5 = 5 = = 1− (14.14)
  3 4      
5 5

Esta expressão é igual à da Máquina de Carnot. Este é o ciclo que mais se aproxima do
ciclo teórico com maior rendimento.

14.7 Frigoríficos e bombas de calor

Nos processos naturais, as transferências de calor dão-se das regiões a temperaturas


mais elevadas para regiões a temperaturas menos elevadas. Se for realizado trabalho
sobre o sistema, podem conseguir-se transferências de calor de regiões a temperaturas
menos elevadas para regiões a temperaturas mais elevadas. É o que acontece nos
frigoríficos, bombas de calor, e dispositivos de ar condicionado.

211
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14

Na figura 14.5, podemos ver uma representação


esquemática de um frigorífico. Podemos ver que
estes aparelhos utilizam trabalho para retirar calor
do reservatório a temperatura T1 e transferi-lo para
o reservatório a temperatura mais elevada, T2.
Comparando esta figura com a figura 14.1, vemos
que o sentido das setas associadas ao trabalho e
transferência de calor num processo de refrigeração,
é oposto ao verificado nas máquinas térmicas.

A qualidade de um frigorífico ou de uma bomba de


calor, traduz-se pela sua eficiência. A eficiência de
um frigorífico é o quociente entre o calor removido
e o trabalho realizado
Fig 14.5 Esquema de funciona-

6= (14.15) mento de um frigorífico


Valores típicos deste parâmetro variam entre 5 e 6.

Uma bomba de calor, no modo aquecimento, utiliza trabalho para transferir calor do
exterior de uma casa, a temperaturas relativamente baixas, para o interior da casa, a
temperaturas mais elevadas. Existem bombas de calor que, no verão, podem funcionar
em sentido contrário, servindo para refrigerar as casas.

A eficiência de uma bomba de calor define-se como o quociente entre o calor


introduzido na casa, e o trabalho que é preciso realizar

6= (14.16)


A eficiência das bombas depende das temperaturas a que operam. Os valores


apresentados pelos fabricantes variam entre 3 e 4.

Exemplo 14.3

Suponha que coloca 1,00 L de água a 10˚ C no congelador, porque precisa de cubos de
gelo daí a meia hora. O frigorífico tem uma eficiência de 5,5 e uma potência de 550W.
Estima-se que só 10% da potência eléctrica contribui para o arrefecimento e congelação
da água. Será que consegue ter gelo à hora pretendida?

Resolução:

Sabemos que a eficiência do frigorífico é 6 = . O tempo necessário está relacionado

com a potência disponível, e o trabalho necessário

8 8
7= → ∆: =
∆: 7

212
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14

O calor Q1, retirado pelo frigorífico, é igual ao calor que a água tem de perder para a sua
temperatura chegar a 0ᵒ C, mais o calor necessário para a água congelar

Q1= m C ∆T + m Lf

Q1= (1,00 Kg) ( 4180 J Kg-1K-1)(10,0 K) + (1,00 Kg) (333,5 X 103J Kg-1)

Q1= 41800 + 333500 = 375 300 J = 375 KJ

Vamos substituir este valor na expressão da eficiência, para obter o trabalho necessário

< 375 @ 10& A


8= = = 68,2 @ 10& A
6 5,5

Podemos, agora, calcular o intervalo de tempo necessário para termos gelo

8 68,2 @ 10& A
∆: = = = 1240 C = 20,7 DEF
7 0,10"550 8 "

É possível ter gelo há hora pretendida.

Exemplo 14.4

Um frigorífico apresenta uma eficiência de 4,0. Qual a quantidade de calor, por ciclo,
que é absorvida pelo reservatório quente, se 200 KJ de calor forem libertados pelo
reservatório simples, por ciclo?

Resolução:

G   I J
6= →W = = = 50 000 A
 H K,

Q2= Q1+ W = (200 + 50 ) KJ = 250 KJ

213

View publication stats

Você também pode gostar