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FÍSICA 1.1
Setembro de 2011
INDICE
Cap 2. Vectores 8
2.1 Vectores e escalares 8
2.1 Algumas propriedades dos vectores 8
2.2.1 Igualdade de dois vectores 8
2.2.2 Adição geométrica de vectores 9
2.2.2.1Propriedade comutativa 9
2.2.2.2 Propriedade associativa 10
2.2.3 Subtracção de vectores 10
2.2.4 Multiplicação de um vector por um escalar 10
2.3 Vectores unitários e componentes de um vector 12
2.3.1 Vectores unitários ou versores 13
2.4 Operações com vectores, utilizando coordenadas cartesianas 13
2.4.1 Soma e subtracção de vectores 14
2.4.2 Multiplicação de vectores 14
2.4.2.1 Produto interno ou produto escalar 16
2.4.2.2 Produto externo ou produto vectorial 16
2.4.2.2.1 Algumas propriedades do produto externo ou vectorial
ii
3.7 Outro modo de obter as equações do movimento, com aceleração constante
iii
6.6 Conservação de energia mecânica 87
6.7 Forças não conservativas e teorema trabalho – energia 89
6.8 Relação entre forças conservativas e energia potencial 90
6.9 Conservação de energia
Cap 7. Sistemas de partículas e conservação de momento linear 92
7.1 Introdução 92
7.2 Centro de massa 96
7.3 Movimento do centro de massa 98
7.4 Momento linear 98
7.4.1 Momento linear de um sistema de partículas 99
7.4.2 Conservação do momento linear 101
7.5 Colisões 102
7.5.1 Impulso 103
7.5.2 Colisões a uma dimensão 106
7.5.3 Colisões a duas dimensões
iv
10.2 Lei da gravitação universal, de Newton 149
10.3 Peso e força gravitacional 149
10.3.1 Factores que alteram o valor de g 149
10.3.1.1 Altitude 150
10.3.1.2 A Terra não é uniforme 150
10.3.1.3 A Terra não é uma esfera 151
10.3.1.4 A Terra roda 151
10.4 Movimento de planetas e satélites. Leis de Kepler 155
10.5 Energia potencial gravitacional
10.6 Algumas considerações sobre energia, no movimento de planetas e 155
satélites 157
10.6.1 Velocidade de escape 159
10.7 Campo gravitacional
v
Cap 14. 2ª Lei da termodinâmica 205
14.1 Introdução 205
14.2 2ª lei da termodinâmica 207
14.3 Máquinas térmicas 209
14.4 Máquina de Carnot 210
14.5 Ciclo de Otto 211
14.6 O ciclo de Stirling
14.7 Frigoríficos e bombas de calor 214
Alguma bibliografia
vi
O Manual, que aqui se apresenta, faz parte do grupo de elementos de estudo elaborados
para a Unidade Curricular de Física 1.1, leccionada ao 1º ano dos cursos de licenciatura
em Bioquímica e Biotecnologia, da Universidade de Évora.
Apesar de a Física não ser disciplina fundamental nos cursos que irão trabalhar com este
Manual, os seus conceitos e princípios irão ser utilizados em muitos dos problemas e
aplicações que estes estudantes terão que resolver e fazer.
O Manual, constituído por catorze capítulos cobrindo áreas da Mecânica e
Termodinâmica, apresenta a parte teórica do curso. Para complementar o estudo feito
através do Manual, foi feito o “Caderno de Exercícios” constituído por catorze séries de
problemas, com numeração idêntica à do capítulo a que correspondem. No final do
caderno foram colocados os resultados dos problemas das diferentes séries. O conjunto
de elementos de estudo inclui ainda o “Caderno de Laboratório” onde foram colocadas
as instruções dos trabalhos que os alunos irão realizar nas aulas laboratoriais. No
caderno foram também inseridos apontamentos sobre erros e medições, e normas a ter
em conta na realização de gráficos de escala linear.
Os manuais que figuram na bibliografia apresentada, já têm, todos eles, várias edições,
sendo os originais escritos em inglês. Todos eles têm traduções, feitas por editoras
brasileiras, que não correspondem às últimas edições dos livros. A escolha destes
manuais deve-se ao facto de explicarem a matéria de forma clara, e de não existirem no
mercado manuais mais recentes. Existem na biblioteca do Colégio Luís A. Verney
alguns exemplares dos livros mencionados.
vii
Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1
1.1 .Introdução
A Física é a ciência que estuda os fenómenos naturais que ocorrem no nosso universo.
Podemos considerar a Física como a ciência mais fundamental pois, as suas leis e
princípios, fornecem o fundamento de outros campos científicos. A Física é uma ciência
baseada em observações experimentais e medições quantitativas.
Actualmente, podemos dividir a Física em Física Clássica e Física Moderna.. A Física
Clássica, descoberta antes de 1900, inclui teorias, conceitos, leis e experiências que se
podem agrupar em três campos ou três disciplinas: mecânica clássica, termodinâmica e
electromagnetismo.
Apesar de Galileu Galilei (1564-1642) ter contribuído, de uma maneira significativa,
para o desenvolvimento da mecânica clássica, com o seu trabalho sobre as leis do
movimento com aceleração constante, a contribuição mais importante foi dada por Isaac
Newton (1642-1727), que fez da mecânica clássica uma teoria sistematizada, sendo um
dos inventores do calculo infinitesimal e tendo-o utilizado como ferramenta matemática.
A termodinâmica, a electricidade e o magnetismo, só se desenvolveram na segunda
parte do século XIX, principalmente devido à dificuldade em realizar experiências
nesses campos. Apesar de terem sido estudados vários fenómenos eléctricos e
magnéticos, mais cedo, foi o trabalho realizado por James Clerk Maxwell (1831-1879),
que deu origem a uma teoria unificada, para o electromagnetismo. O sucesso da Física
Clássica, levou muitos cientistas a acreditar que a descrição física do universo estava
completa.
A Física Moderna começou no final do século XIX e início do século XX. Ela
desenvolveu-se, principalmente, por se ter descoberto que a Física Clássica não
explicava muitos fenómenos físicos. De entre eles, salientamos, a descoberta dos raios
X, por Roentgen (1895) e da radioactividade nuclear, por Becquerel (1896). As teorias
da relatividade, propostas por Albert Einstein, no início do século XX, vieram
contradizer as ideias existentes de espaço, tempo e energia. Entre outras coisas, a teoria
de Einstein corrigiu as leis de Newton do movimento, para descrever o movimento de
objectos, movendo-se a velocidades comparáveis à velocidade da luz. A teoria da
relatividade considera que nenhum objecto ou sinal se pode mover a velocidades
superiores à velocidade da luz, e mostrou a equivalência entre massa e energia. A
mecânica quântica, formulada por vários cientistas, no início do século XX, permite
uma descrição dos fenómenos físicos, ao nível atómico.
A Física Clássica descreve, correctamente e com precisão, o comportamento do mundo
físico, excepto para o interior do átomos ou para movimentos próximos da velocidade
da luz. É a Física Clássica que devemos conhecer, para perceber o mundo macroscópico
em que vivemos. A Física Moderna é construída com base em conceitos da Física
Clássica.
No nosso estudo, iremos apenas trabalhar com conceitos e fenómenos explicados com
base na física Clássica.
1.2 Medições
1.2.1.1. Massa
1.2.1.2. Tempo
Qualquer fenómeno que se repete, ao longo de intervalos de tempo iguais, pode ser
utilizado como unidade standard para o tempo. Em 1960, a unidade standard para o
tempo foi definida em função do dia solar médio, no ano de 1900. Sabe-se, agora, que
esta não é uma unidade boa, pois a rotação da Terra varia ao longo do tempo. Em 1967,
Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1
Intervalo (s)
Idade do Universo 5 X 1017
Idade da Terra 1,3 X 1017
Idade da pirâmide de Kéops 1 X 1011
Um ano 3,2 X 107
Um dia 8,6 X 104
Período de ondas sonoras audíveis 1 X 10-3
Período de ondas de luz visível 2 X 10-15
1.2.1.3 Comprimento
Em 1792, quando foi estabelecido, pela primeira vez, um sistema métrico em França, o
metro foi definido como sendo 10-7 vezes a distância que vai do Equador até ao Pólo
Norte, ao longo do meridiano que passa por Paris. Mais tarde, por razões práticas, esta
definição foi abandonada, e o metro passou a ser definido como a distância entre duas
linhas finas, marcadas perto das extremidades de uma barra de platina-irídio. Este
metro standard foi mantido no Bureau Internacional de Pesos e Medidas, perto de Paris.
Cópias precisas, desta barra, foram enviadas para outros laboratórios espalhados pelo
mundo. Estes metros Standard secundários foram , por sua vez, utilizados para fabricar
outros metros.
A ciência e tecnologia modernas, exigiram um metro mais preciso. Em 1960, foi
estabelecido um novo metro standard, definido como 1 650 763,73 vezes o
comprimento de onda da luz laranja-vermelha, emitida por uma lâmpada de crípton –
86. Em 1983, contudo, devido a necessidades de maior precisão, o metro foi redefinido
como sendo a distância percorrida pela luz num dado intervalo de tempo. O intervalo de
tempo escolhido foi 1/299 792 458s . O intervalo de tempo foi escolhido de modo que a
velocidade da luz no vácuo é exactamente c = 299 792 458 m/s. Na tabela 1.3,
apresentam-se os comprimentos de algumas grandezas conhecidas. Também aqui, os
comprimentos apresentados possuem ordens de grandeza diferentes.
Comprimento (m)
Distância da Terra à galáxia mais próxima 2 X 1022
Distância do Sol à estrela mais próxima 4 X 1016
Um ano-luz 9,46 X 1015
Distância média da Terra à Lua 3,8 X 108
Distância do Equador ao Pólo Norte 1 X 107
Raio médio da Terra 6,4 X 106
Comprimento de um campo de futebol 9,1 X 101
Raio do átomo de Hidrogénio 5 X 10-11
Raio de um protão 1 X 10-15
Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1
Uma distância pode ser medida em pés, metros ou quilómetros. Estas diferentes
unidades servem para medir uma distância. Dizemos que a sua dimensão é
comprimento.
Os símbolos que utilizamos para as dimensões comprimento, massa e tempo, são,
respectivamente, L, M e T. Por vezes, utilizam-se parêntesis rectos, para indicar que
estamos a trabalhar com dimensões de uma grandeza física. Por exemplo, a área de uma
superfície rectangular obtém-se multiplicando um comprimento por uma largura. O
comprimento e a largura são ambos distâncias. Assim as dimensões da área serão
[ A ]= L x L = L2.
A ideia de dimensão pode-se estender a outras grandezas não geométricas. As
dimensões de velocidade, por exemplo, são comprimento a dividir por tempo [ v ] =
L/T.
As dimensões de outras grandezas, tais como, força e energia, são escritas em termos
das unidades fundamentais ( comprimento, tempo e massa). Na tabela 1.4 apresentamos
as dimensões de algumas grandezas,
com que iremos trabalhar. Grandeza Símbolo Dimensão
Vamos pensar que temos que deduzir Área A L2
ou testar uma fórmula. Apesar de Volume V L3
termos esquecido os detalhes da Velocidade V L/T
dedução, existe um procedimento útil Aceleração a L/T2
e poderoso, chamado análise Força F M L/T2
dimensional, que pode ser utilizado Energia E M L2/T2
para obter a fórmula pretendida ( ver Potência P M L2/ T3
exemplo 1.1) ou para testar o
resultado.
Tabela 1.4 Dimensões de algumas grandezas
A análise dimensional trata as
dimensões como quantidades
algébricas. Por exemplo, se quisermos somar ou subtrair várias grandezas, elas terão
que ter as mesmas dimensões. Não se pode somar uma velocidade com um
comprimento.
Vamos, agora, ver como se pode testar um dado resultado, utilizando a análise
dimensional. Suponhamos que dizíamos que a área do círculo é A = 2 π r . Podemos
ver, facilmente, que a expressão não está correcta, pois 2 π r tem dimensões de
comprimento [ L] , e a área tem dimensões de quadrado do comprimento [ L2 ].
Suponhamos, agora, que queremos obter uma expressão para o calculo do espaço
percorrido por um carro, que se move com aceleração constante. Sabemos que essa
1
equação é x = a t 2 . Vamos testar esta igualdade utilizando análise dimensional. As
2
dimensões têm que ser iguais , nos dois lados da igualdade. A dimensão no lado
esquerdo da igualdade, é comprimento. A dimensão no lado direito também tem que ser
comprimento, para a igualdade estar correcta. Vamos substituir a aceleração e o tempo,
L
pelas suas dimensões. Teremos, então L = 2 T 2 = L . As dimensões de tempo
T
cancelam-se, ficando apenas a dimensão comprimento.
Física 1.1-Manual-Maria Rosa Duque - Cap 1
Exemplo 1.1.
Suponha que lhe diziam que a aceleração de uma partícula, movendo-se num círculo de
raio r, com uma velocidade v , constante, é proporcional a uma potência de r, digamos
rn, e a uma potência de v, digamos vm. Determinar as potências de r e de v..
Resolução:
Vamos considerar a = k rn vm sendo K uma constante sem dimensões. Utilizamos
a tabela 1.4, para obter as dimensões de a e de v. Substituindo valores, obteremos
m
L L
2
= Ln = Ln + m T − m
T T
Para a equação estar dimencionalmente correcta, teremos que ter n+m = 1 e m = 2.
Então, n = -1, e poderemos escrever
−1 2 v2
a=k r v = k
r
Exercício 1.1:
Para facilitar os cálculos em que se trabalha com valores muito elevados ou muito
pequenos, utiliza-se a notação científica. Nesta notação, o número é escrito como um
número entre 1 e 10 multiplicado por uma potência de 10. Vamos utilizar, como
exemplo, a distância média da Terra ao Sol . Sabemos que esse valor é
aproximadamente 150 000 000 000 m. Em notação científica, este valor escreve-se 1,5
X 1011m. O número 11 é chamado o expoente. Se o valor que estamos a utilizar for
inferior a 1, então o expoente será negativo. Por exemplo, o valor 0,000 000 492 s
escreve-se 4,92 X 10-7 s.
Esta notação é tão utilizada que existem prefixos para designar as diferentes potências
de 10. Na tabela 1.5 podemos ver o nome de alguns destes prefixos e a potência
correspondente. Assim, se tivermos o intervalo de tempo 2,35 X 10-9 s, diremos que
temos 2,35 nanosegundos = 2,35 ns. Todos sabemos que 10-3 m é equivalente a 1
milímetro (1 mm) e 103m é equivalente a 1 quilómetro (1 km). Do mesmo modo, 106
Volt corresponde a um megavolt ( 1 MV).
Muitos dos números utilizados em ciência, são o resultado de medições, sendo, por isso,
conhecidos com algum grau de incerteza. Essa incerteza depende da qualidade do
dispositivo utilizado para fazer a medição, da perícia do observador, e do número de
medições realizadas.
Suponhamos que, numa experiência laboratorial, necessitávamos de medir a área de
uma placa rectangular, utilizando como instrumento de medida uma régua com o
comprimento de um metro.
Vamos considerar que a precisão com que podemos fazer as medições é ± 0,1 cm.
Suponhamos que medíamos o comprimento da placa e obtínhamos 16,3 cm. Isto
significa que o valor do comprimento medido se situa entre 16,2 e 16,4 cm. Neste caso,
dizemos que o valor medido tem 3 algarismos significativos. Do mesmo modo, se a
largura medida for 4,5 cm, isso significa que o seu valor se situa entre 4,4 e 4,6 cm.
Dizemos, neste caso, que o resultado apresenta 2 algarismos significativos.
O número 0,00103 tem 3 algarismos significativos. Este valor , escrito em notação
científica, será 1,03 X 10-3.
Vamos, agora, supor que queríamos obter a área da placa, multiplicando o comprimento
pela largura. Fazendo a conta, na máquina de calcular, obteremos (16,3
cm)(4,5cm)=73,35 cm2, no entanto este valor não está correcto, pois ele contém 4
algarismos significativos e os valores medidos contêm 3 e 2 algarismos significativos.
Existe uma regra, para nos guiarmos, quando se combinam vários números, numa
multiplicação ou numa divisão. O número de algarismos significativos, no resultado
de uma multiplicação ou divisão, não deve exceder o menor número de algarismos
significativos dos diferentes factores da multiplicação.
Regressando ao nosso exemplo (área da placa ), vemos que os factores da multiplicação
têm 3 e 2 algarismos significativos, respectivamente. Assim, o resultado deve apresentar
apenas 2 algarismos significativos, ou seja, o valor da área deve ser 73 cm2.
Para a adição e a subtracção deve-se considerar o número de casas decimais. Quando se
somam ou se subtraem números, o número de casas decimais do resultado é igual
ao menor número de casas decimais que aparece nas parcelas. Se quisermos somar
123 com 5,35, a resposta será 128, pois o número 123 não possui casas decimais.
Vamos agora, supor que fazemos a operação 1,0001+ 0,0003=1,0004. O resultado
apresenta 4 casa decimais e 5 algarismos significativos, apesar de 0,0003 possuir apenas
1 algarismo significativo. Se fizermos a subtracção 1,005 – 0,987 = 0,018, o resultado
apresenta 3 casas decimais, de acordo com a regra utilizada, mas apenas contém 2
algarismos significativos.
Exemplo 1.2
Suponha que tem uma sala com um comprimento de 12,71 m e uma largura de 3,46 m.
Obtenha a área do soalho da sala.
Resolução:
resultado deve ter apenas 3 algarismos significativos, ele será 44,0 m2. Note-se que,
para obtermos o resultado final, fizemos um arredondamento, pois 7, o último algarismo
a desprezar, é superior a 5.
Exercício 1.2
Por vezes, é útil obter uma resposta aproximada de um problema físico, principalmente
se existe pouca informação disponível. Esse resultado pode ser utilizado para se saber se
é necessário obter uma resposta mais precisa. Estas aproximações são baseadas em
algumas hipóteses, que podem ser modificadas se for necessária uma maior precisão.
Ao fazer estes cálculos, trabalhamos com ordens de grandeza, ou seja, trabalhamos
com as potências de dez que estejam mais próximas do valor a utilizar. Por exemplo, a
altura de um pequeno insecto pode ser 8 X 10-4m ≅ 10-3 m. Dizemos que a ordem de
grandeza da altura de um pequeno insecto é 10-3 m. De modo semelhante, a altura da
maioria dos seres humanos adultos, situa-se entre 1,5 e 2 m. Podemos dizer que a ordem
de grandeza da altura de um ser humano adulto é 100 m. Isto não significa que a altura
do ser humano adulto é 1 m. Significa , apenas, que o seu valor está mais próximo de 1
m do que de 10-1= 0,1 m ou de 101= 10 m.
Uma ordem de grandeza não apresenta algarismos significativos.
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2
Cap 2. Vectores
Quando se faz a soma de dois ou mais vectores, deve-se ter o cuidado de verificar se, todos
eles, são expressos nas mesmas unidades. Por exemplo, não se vai somar um vector força
com um vector velocidade, pois eles representam grandezas físicas completamente
distintas.
8
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2
r
S
r A regra da soma de dois ou mais vectores
B pode mostrar-se graficamente. Para somar o
r r
vector B ao vector A , e obter o vector
r r r
r A + B , começa-se por desenhar o vector A ,
A utilizando uma escala adequada. Em seguida,
r r
Fig 2.3. O vector S é o vector soma desenha-se o vector B , com a sua origem na
r r r
de A com B
ponta da seta de A , e utilizando a mesma
r r r
escala. O vector soma, S = A + B , é o
r r
vector que vai da origem de A , até à ponta da seta de B . Podemos dizer que o vector
r r
soma é a diagonal de um paralelogramo de lados A e B .
2.2.2.3.Propriedade comutativa
A figura 2.4 (b) mostra que na adição vectorial se verifica a propriedade comutativa.
r
Olhando para a construção feita, verificamos que o lado paralelo a A , representa um
r r r
vector igual a A , e o lado paralelo a B representa um vector igual a B , Vemos assim que
r r r r r
A+ B=S = B + A
r
A
r
B
r
S
r
S r
r B
B
r
r A
A
(a) (b)
r r r
Fig 2.4. (a) O vector soma de A com B é o vector S , coincidente com a diagonal do paralelogramo
representado. (b) Este esquema mostra a propriedade comutativa da adição de vectores.
Se quisermos somar três ou mais vectores, o resultado final é independente da ordem pela
( ) ( )
r r r r r r
qual os vectores são somados. Isto significa que A + B + C = A + B + C
r r
C C
r r r r r r
S1 = B + C S r r r r
S S
S3 = A + B
( )
r r r r 2 S r 2 3
S2 = A + B + C 1
B r
B
Fig 2.5 Construção geométrica utilizada para verificar a propriedade distributiva da soma de vectores
9
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2
10
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2
r r
de A segundo OX. AY representa a projecção
Y r r
A de A segundo OY. Às intensidades ou módulos
destes vectores vamos chamar componentes
r r
AY escalares ou rectangulares do vector A . As
θ componentes podem ser positivas ou
negativas ( ver figura 2.9)
O r X
AX A partir da figura 2.9 e das definições de seno e
co-seno, podemos dizer que as componentes
r
Fig 2.8. Vector A ,decomposto nas suas escalares ou rectangulares do vector, serão
componentes segundo o eixo OX e OY dadas por
AY AY
tg θ = ; θ = arc tg (2.3)
AX AX
O conhecimento deste ângulo é muito importante, pois é ele que vai determinar o sinal das
componentes AX e AY. Por exemplo, se θ = 120º, então AX será negativo e AY será
positivo; se θ = 225º, então, AX e AY serão ambas negativas.
Y
II I
AX negativo AX positivo
AY positivo AY positivo
O X
III IV
AX negativo AX positivo
AY negativo AY negativo
Fig 2.9. Sistema de eixos coordenados e sinais das componentes escalares ou cartesianas
de um vector
Exemplo 2.1:
Um vector tem uma componente, segundo o eixo OX, igual a -10, e uma componente,
segundo OY, igual a +3
a) Trace o vector, num sistema de eixos XOY
11
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2
Resolução:
a) Se o vector tem a componente segundo OX negativa e a componente segundo OY
positiva, ele encontra-se no segundo quadrante ( ver figura 2.9)
Y
3
-10 -5
X
b) Para calcularmos o módulo do vector, vamos utilizar a expressão (2.2). Vamos chamar
r
ao vector A
r
A = A= (− 10)2 + (3)2 = 109 = 10,4 unidades
Para calcularmos o ângulo que o vector forma com OX, vamos utilizar as expressões (2.3).
r
Consideremos, então, o vector A , num sistema de eixos coordenados XOY. O produto da
r r
componente AX pelo versor i , é o vector AX i , paralelo a OX e de intensidade AX. Do
r
mesmo modo, o vector AY j é um vector de intensidade AY e paralelo a OY. Então, o
r r r r r r r
vector A , pode ser escrito na forma A = AX i + AY j ou A = AX e1 + AY e2
AY r
r O ângulo que o vector S forma com a parte positiva do
A eixo horizontal (OX) , é
AX BX
Fig 2.12. Construção geomé- SY A + BY
θ = arctg = arctg Y (2.6)
trica mostrando a relação entre
r Sx AX + B X
as componentes do vector S e
as componentes dos vectores
que foram somados
Se estivéssemos a trabalhar num espaço a três dimensões,
teríamos
r r r r r r r r r
A = AX i + AY j + AZ k e B = B X i + BY j + B Z k
r r r r r r
S = A + B = ( AX + B X ) i + ( AY + BY ) j + ( AZ + BZ ) k
r r
Se quisermos subtrair o vector B do vector A , então o vector resultante será
r r r r
A − B = ( AX − B X ) i + ( AY − BY ) j (2.7)
Exemplo 2.2:
r r r r r r
São dados três vectores, a = (4,2m ) i − (1,5m ) j , b = (− 1,6m ) i + (2,9m ) j e c = (− 3,7 m ) j .
r r
Determine o vector soma dos três vectores.
13
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2
Resolução:
O vector soma pode obter-se por dois métodos diferentes. Vamos começar por adicionar as
componentes dos vectores, eixo por eixo. Para o eixo OX teremos
S X = a X + b X + c X = 4,2 m − 1,6 m + 0 = 2,6 m
e para o eixo OY
S Y = aY + bY + cY = − 1,5 m + 2,9 m − 3,7 m = − 2,3m
Para obtermos o ângulo que o vector soma faz com o eixo OX, vamos utilizar a expressão
(2.6)
− 2,3 m
θ = arctg = − 41 º = 319º
2,6 m
O sinal – que aqui aparece significa que o ângulo é medido no sentido de rotação dos
ponteiros do relógio.
14
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2
( )
r r r r r r r
A• B + C = A• B + A•C (2.10)
A • B = AX B X (i • i ) + AX BY (i • j ) + AY B X ( j • i ) + AY BY ( j • j )
r r r r r r r r r r
ou seja
r r
A • B = AX B X + AY BY (2.11)
r r
No caso especial, em que A = B ,teremos
r r
A • A = AX2 + AY2 = A 2
Exemplo 2.3:
r r r r r r
Considere os vectores A = 2 i + 3 j e B = − i + 2 j
r r
a) Determine A • B
r r
b) Calcule o ângulo formado pelos vectores A e B
Resolução:
r r
a) A • B = AX B X + AY BY = [2 X (− 1)] + (3 X 2 ) = − 2 + 6 = 4
r r r r
b) Sabemos que A • B = A B cos θ
15
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2
r r
A = AX2 + AY2 = 4 + 9 = 13 ; B = B X2 + BY2 = 1 + 4 = 5
r r
A•B 4 4 4
cos θ = r r = = ; θ = arc cos = 60,3 º
A B 13 5 65 65
r r r
i j k
r r
A ∧ B = AX AY AZ
B X BY BZ
r r r r r
A ∧ B = ( AY B Z − AZ BY ) i + ( AZ B X − AX B Z ) j + ( AX BY − AY B X ) k (2.13)
16
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 2
r r r r
A∧B =−B∧ A
r r
- Se A for paralelo a B , então θ = 0º ou 180º, e sen θ = 0. Então
r r r r r r
A ∧ B = 0 e, portanto A ∧ A = 0 (2.14)
r r
- Se A for perpendicular a B , então θ = 90º, e sen θ = 1
r r r r
A∧B = A B (2.15)
( ) ( ) ( )
r r r r r r r
A ∧ B ∧C = A ∧ B + A ∧C (2.16)
Exemplo 2.4:
r r r r r r
Dados os vectores , A = 2 i + 3 j e B = − i + 2 j , calcular:
r r
a) A ∧ B
r r
b) O valor do ângulo entre A e B
Resolução:
r r r r r r
a) A ∧ B = ( AX BY − AY B X ) k = [(2 X 2 ) − (3 X (− 1))]k = (4 + 3) k = 7 k
17
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
18
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
∆ X X 2 − X1
v= = (3.2)
∆t t 2 − t1
A unidade em que se exprime a velocidade
média, no sistema SI, é o metro/ segundo.
Num gráfico de X em função de t, a
velocidade média é dada pelo declive da
recta que une os dois pontos da curva X(t),
X (t) no intervalo de tempo considerado.
Tal como para o deslocamento, também
devemos associar à velocidade média um
módulo, uma direcção e um sentido. A
velocidade média tem sempre o sinal do
deslocamento, visto que ∆t é sempre
Fig 3.2. Cálculo da velocidade média entre
t=1 s e t=4 s, como o declive da linha que liga
positivo.
os dois pontos, correspondentes aos dois Se considerarmos o exemplo representado
instantes referidos na figura 3.2, vemos que
∆X 6 m
v= = = 2m / s
∆t 3s
Exemplo 3.1
Suponha que entra numa corrida de 100 m, percorrendo os primeiros 50 m com uma
velocidade média de 10 m/s ,e os últimos 50 m com uma velocidade média de 8 m/s.
Qual será a velocidade média para os 100 m?
Resolução:
Vamos, primeiro, calcular o intervalo de tempo, necessário para percorrer os 100 m.
Para isso, vamos utilizar a definição de velocidade média
∆ X1 ∆ X1 50 m
v1 = ∆ t1 = = = 5 ,0 s
∆ t1 v1 10 m / s
∆ X2 ∆ X2 50 m
v2 = ∆ t2 = = = 6,25s
∆ t2 v2 8m / s
então
∆ t = ∆ t1+ ∆ t2= 11,25 s
e
100 m
v= = 8,89 m / s = 9m / s
11,25 s
19
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
Exercício 3.1
Considere a figura 3.2. Calcule a velocidade média entre t=0s e t= 3 s. Em seguida, faça
um cálculo idêntico, para o intervalo de tempo entre 3 e 4 s. Que conclui? Compare os
resultados que obteve com o valor obtido de 2 m/s
Solução:
A velocidade média depende do intervalo de tempo escolhido.
distância total ∆ S
v= = ( 3.3 )
∆t ∆t
Atendendo à definição de velocidade média, vimos que ela pode variar, quando se varia
o intervalo de tempo, do cálculo. Vamos, agora, definir a velocidade de uma partícula,
num dado instante, ou num dado ponto do gráfico da posição em função do tempo.
Vamos chamar a este parâmetro velocidade instantânea.
X(m)
t(s)
20
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
dX
v= (3.4a)
dt
Exemplo 3.2
Resolução:
a) Ao observarmos o gráfico verificamos que, o instante t= 0 s, é aquele em que a
curva x(t) aumenta de um modo mais rápido. O declive da tangente à curva,
neste ponto, é positivo e v é positiva
b) A velocidade é nula em t=2 s. Nesse instante, x apresenta o valor máximo, e a
tangente à curva x(t) é horizontal. X mantém-se constante perto deste ponto e o
declive da tangente à curva é zero
c) Depois de t= 2s, o valor de x diminui. O valor da recta tangente à curva, no
ponto correspondente a t=3 s é negativo e a velocidade é negativa, possuindo o
seu módulo mais elevado
Exemplo 3.3
Considere o movimento de uma partícula, ao longo do eixo OX. A coordenada x varia,
ao longo do tempo, de acordo com a expressão X = - 4 t + 2 t2, sendo X expresso em
metros e t em segundos. O gráfico da posição em função do tempo, é mostrado na figura
3.5.
a) Determine o deslocamento da partícula, no intervalo de tempo que vai de t = 0s
a t = 1 s, e de t = 1 s a t = 3 s.
21
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
Resolução:
∆X01= X( 1 ) – X( 0 ) = [-4(1) +
2 (1)2] – [-4(0) + 2 (0)2] = - 2 m
∆X13= X( 3 ) – X ( 1 ) = [-4( 3)
+ 2 (3)2] – [-4( 1 ) + 2 (1)2]= 8 m Fig 3.5. Gráfico da posição de uma partícula em
função do tempo. A relação entre os dois parâmetros é
dada por X= -4t + 2 t2. Note-se que o declive das duas
b) Vamos, agora , calcular a rectas a azul não é o mesmo, apresentando sinal
velocidade média oposto
∆ X 01 − 2 m
v01 = = =−2m / s
∆ t 01 1s
∆ X 13 8 m
v13 = = = 4m/ s
∆ t13 2s
c) A velocidade instantânea obtém-se através do declive da tangente à curva x(t),
no ponto correspondente a t=2,5 s. Sabemos que este declive representa a
derivada da função, no ponto considerado
v=
dX
dt
=
d
dt
( )
− 4t + 2t 2 = − 4 + 4t
3.4. Aceleração
22
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
Vamos definir aceleração média a , entre os instantes t1 e t2, como o quociente entre a
variação da velocidade e o intervalo de tempo considerado.
∆ v v 2 − v1
a= = (3.5)
∆ t t 2 − t1
∆v d v
a = lim = (3.6)
∆ t →0 ∆t d t
d v d (d x / d t ) d 2 x
a= = = 2 (3.7)
dt dt dt
A aceleração é a segunda derivada de X, em ordem a t.
A figura 3.6, mostra-nos um
gráfico de v, em função de t.
Podemos ver que, entre A e
B, os declives das tangentes à
curva são todos positivos e,
portanto, a aceleração é
positiva. Entre B e C, v(t) é
uma recta horizontal, a
tangente à curva coincide
com a curva e o declive é
nulo. Neste intervalo a
aceleração é nula. Entre C e
D, os declives das tangentes Fig 3.6.Gráfico da velocidade em função do tempo, para uma
à curva v(t) são negativos, e, partícula que se move com aceleração variável
portanto, a aceleração é
negativa e a velocidade
diminui
Exemplo 3.4
A velocidade de uma partícula, que se move ao longo do eixo OX, é dada pela
expressão v = ( 40 – 5 t2 ) m/s, sendo t expresso em segundos.
a) Calcule a aceleração média, no intervalo de tempo entre t = 0 e t = 2 s
b) Determine a aceleração, no instante t = 2 s
23
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
Resolução:
v ( 2 s ) = 40 – 5 (2)2 = 40 – 20 = 20 m/s
v ( 0 s ) = 40 – 5 (0)2 = 40 – 0 = 40 m/s
dv d
a= = ( 40 − 5 t 2 ) = − 10 t
dt dt
a (t = 2 s ) = − 10 ( 2 ) = − 20 m / s 2
Exercício 3.2:
Sabe-se que uma partícula se move, ao longo do eixo OX, sendo a sua posição dada por
X = 4 − 27 t + t 3 , com o X expresso em metros e t em segundos
a) Obtenha uma expressão para a velocidade da partícula, em função do tempo, e
para a aceleração, em função do tempo
b) Existe algum instante em que v = 0 m/s?
c) Descreva o movimento da partícula para t = 0s, para 0<t<3 s, e para t = 3 s
24
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
ou
v = vo+ a t (para a= constante) (3.8)
v +v
∆ X = v ∆t = 0 t
2
ou
X − X0 =
1
(v0 + v0 + a t )t
2
ou
1
X − X 0 = v0 t + a t 2 (para a=constante) (3.11)
2
Finalmente, podemos obter uma relação entre velocidade, aceleração e espaço
percorrido, sem o parâmetro tempo. Para isso, obtemos o t a partir da equação (3.8), e
introduzimos a expressão obtida em (3.10).
25
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
(v9 + v ) v − v0 v − v0
2 2
1
X − X0 = =
2 a 2a
ou
v 2 = v02 + 2 a ( X − X 0 ) (para a=constante) (3.12)
Tabela 3.1. Equações cinemáticas do movimento em linha recta, submetido a aceleração constante.
Exemplo 3.5
Um motociclista, parte do repouso, com uma aceleração de 2,6 m/s2. Depois de percorre
uma distância de 120 m, ele abranda com uma aceleração de – 1,5 m/s2. até a sua
velocidade atingir 12 m/s. Calcule o deslocamento total, do motociclista.
Resolução:
26
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
Sabemos que a= - 1,5 m/s2 e que v= 12 m/s. Precisamos de calcular v0. Sabemos que se
trata da velocidade final alcançada pela moto na primeira parte do percurso. Sabemos
que, para essa parte do percurso se tem v0=0 m/s , a= 2,6 m/s2, e ∆X1= 120 m.
Aplicando a expressão indicada, virá
( )
v 2 = 2 2,6 m / s 2 (120 m ) = 624 m 2 / s 2
v = 25 m/s
Este será o valor da velocidade inicial, para a segunda parte do movimento.
Aplicando, novamente, a expressão utilizada, vem
∆X 2 =
(144 m 2
) (
/ s 2 − 625 m 2 / s 2 )
= 160 m
(−3m / s2 )
∆X total = ∆X 1 + ∆X 2 = 120 m + 160 m = 280 m
Exemplo 3.6
Suponha que baixa a velocidade do seu carro, de 100 km/h para 80 km/h, num percurso
de 88,0 m, com uma aceleração constante.
a) Qual é o valor da aceleração?
b) Qual o intervalo de tempo, necessário para diminuir a velocidade?
Resolução:
a) Vamos utilizar a expressão
v 2 = v02 + 2 a ∆X
Daqui obtemos
v 2 − v02
a=
2 ∆X
Antes de substituirmos valores, vamos escrever as velocidades em m/s.
100 x 10 3 m
v0 = 100 km / h = = 27,78 m / s
(60 x 60)s
80 x 10 3 m
v = 80 km / h = = 22,22 m / s
(60 x 60) s
a=
(22,22 m / s ) − (27,78 m / s )
2 2
= − 1,58 m / s 2
2 (88,0 m )
v − v0 (22,22 m / s − 27,78 m / s )
t= = = 3,52 s
a (
− 1,58 m / s 2 )
27
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
Exercício 3.3
Todos sabemos que, quando deixamos cair um objecto, ele se dirige para o solo, com
uma aceleração que é quase constante. Se utilizarmos dois corpos, como por exemplo,
uma maçã e uma pena, e os deixarmos cair da mesma altura, verificamos que a maçã
atinge primeiro o solo. Isto acontece porque o ar oferece resistência, ao movimento dos
dois corpos. Se a queda se realizasse em vácuo, o tempo de descida dos dois corpos
seria exactamente o mesmo. O seu movimento seria acelerado, com aceleração
constante. Esta aceleração é independente da massa, densidade ou forma dos corpos; ela
tem o mesmo valor, para todos os corpos. Durante a queda dos corpos, a sua velocidade
vai aumentando, sendo a sua aceleração a aceleração gravítica, representada por g. O
valor de g, varia ligeiramente, com a latitude e com a elevação. Vamos considerar que,
para latitudes médias, e ao nível do mar, o valor de g é 9,8 m/s2.
As equações do movimento, com aceleração constante (ver Tabela 3.1) também se
aplicam ao movimento de queda livre, perto da superfície da Terra. Elas aplicam-se ao
movimento de um corpo na direcção vertical, para cima ou para baixo, quando os
efeitos da resistência do ar. podem ser desprezados. Devemos, no entanto, notar que a
direcção do movimento é vertical, ao longo do eixo OY, com o sentido positivo para
cima. A aceleração gravítica é negativa, pois o seu sentido é para baixo, eo sentido
positivo é para cima. A aceleração de um corpo, em queda livre, perto da superfície da
Terra, é a= - g = - 9,8 m/s2.Suponha que atira uma maçã, directamente para cima, com
uma velocidade inicial vo, e apanha-a quando ela retoma a altura em que foi atirada.
Durante o movimento da maçã (depois de ser atirada, e antes de ser apanhada), a
aceleração é constante, mas a velocidade varia. Durante a subida, a velocidade diminui,
até atingir o valor zero, no ponto mais elevado do percurso, e aumenta, na descida. Até
atingir o valor com que foi atirada, no momento em que é apanhada.
Exemplo 3.7:
Um jogador de golfe, atira a sua bola, para cima, com uma velocidade inicial de 12 m/s.
a) Qual o intervalo de tempo necessário, para a bola atingir a altura máxima?
b) Qual a altura máxima que a bola atinge?(Suponha que a origem do eixo OY,
coincide com o ponto de onde a bola é lançada)
c) Qual o intervalo de tempo, necessário para a bola atingir uma altura de 5 m,
acima do ponto de onde é lançada?
Resolução:
a) Durante todo o movimento, a bola está sujeita à aceleração da gravidade, a= -g.
Como g é constante, podemos utilizar as expressões da Tabela 3.1. Sabemos
28
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
que, no instante inicial, vo= 12 m/s. Quando a bola atinge a altura máxima, a sua
velocidade é zero v = 0 m/s.
Vamos utilizar a expressão v = vo+a t. Resolvemos esta expressão em ordem a
t, e obtemos
v − v0 0 m / s −12 m / s
t= = = 1,2 s
a − 9,8 m / s 2
b) Vamos considerar que a bola parte de Y=0m. Podemos, então, dizer que
Y –Y0=Y. No ponto mais elevado da trajectória v=0 m/s. teremos, então
v 2 − v02 (0 m / s ) − (12 m / s )
2 2
Y= = = 7,3 m
2a (
2 − 9,8 m / s 2)
c)Como sabemos que Y0=0 m, podemos escrever a equação
1
Y = v0 t − g t 2
2
Substituindo valores, obtemos
(
5,0 m = (12 m / s ) t − 9,8 m / s 2 t 2
1
2
)
Resolvendo esta equação, em ordem a t, vamos obter duas raízes; t1=0,53 s e
t2=1,9 s. Este facto não é surpreendente, pois a bola passa, duas vezes, por
Y=5,0m; quando sobe e quando desce.
d v = a dt
Vamos calcular o integral indefinido (primitiva) dos dois lados da igualdade
∫ d v = ∫ a dt
Como a aceleração é constante, podemos passá-la para fora da integração, obtendo
∫ dv = a ∫ d t
Primitivando os dois lados da igualdade, obtemos
v =at +C (3.13)
29
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
∫ dX = ∫ v dt
Em geral, a velocidade não é constante, e, por isso, não a podemos passar para fora do
sinal de integração. Contudo podemos utilizar a equação (3.8) e fazer a substituição
∫ d X = ∫ (v 0 + a t ) dt
Como vo e a são constantes, podemos passá-las para fora do sinal de integração
∫ d X = v ∫ d t + a ∫ t dt
0
Integrando, vem
1
X = v0 t + a t 2 + C1 (3.14)
2
C1 é outra constante de integração (ou de primitivação). Para calcularmos o seu valor,
vamos dizer que , no instante inicial t=0 s, temos X = X0. Substituindo este resultado
em (3.14) obtém-se X 0 = v0 (0 s ) + a (0 s ) + C1 e, portanto, C1= X0. Substituindo
1 2
2
este resultado em (3.14), obtém-se
1
X − X 0 = v0 t + a t 2
2
que é a expressão (3.11).
Exemplo 3.8
A posição de uma bola, lançada verticalmente, para cima, é dada pela equação
Y=7 t – 4,9 t2, sendo o Y expresso em metros e o t em segundos. Obtenha
a) A velocidade inicial da bola, no instante t = 0s
b) A velocidade da bola, no instante t = 1,26 s
c) A aceleração da bola
Resolução
a) Vamos calcular a velocidade da bola, em função do tempo. Sabemos que a
velocidade é a derivada da posição em ordem ao tempo
v=
dY d
dt dt
= ( )
7 t − 4,9 t 2 = (7 t ) −
d
dt
d
dt
( )
4,9 t 2 = 7 − 9,8 t
30
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 3
dv d d d
a = = (7 − 9,8 t ) = (7 ) − (9,8 t ) = − 9,8 m / s 2
dt dt dt dt
Exemplo 3.9
Uma partícula move-se ao longo do eixo OX. A sua velocidade, em função do tempo, é
dada por v = 5 + 10 t, sendo o v expresso em m/s e o t em s. A posição da partícula, em
t=0s é 20 m. Calcule:
a) A aceleração da partícula
b) A posição da partícula, em função do tempo
c) A velocidade da partícula, em t=0s
Resolução:
a) A aceleração da partícula é a derivada da velocidade, em ordem ao tempo
= (5 + 10 t ) = 10 m / s 2
dv d
a=
dt dt
b) A posição da partícula, em função do tempo, obtém-se integrando a velocidade
t2
X = ∫ v dt = ∫ (5 + 10 t ) d t = ∫ 5 dt + ∫ 10 t dt = 5∫ d t + 10 ∫ t dt = 5 t + 10 + C
2
Para obtermos o valor de C, vamos utilizar o valor de X, no instante t=0 s
X (0 s ) = 5 (0 ) + 5 (0 ) + C = 20 m
2
31
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
4.1. Introdução
Neste capítulo, vamos tratar da cinemática de uma partícula, movendo-se a duas e a três
dimensões. Muitas das definições dadas no capítulo e, como deslocamento, velocidade,
e aceleração, são utilizados neste capítulo. No entanto, aqui, a sua definição torna-se
mais complexa, devido ao aparecimento de mais dimensões. Começaremos por mostrar
que, o deslocamento, a velocidade , e a aceleração, são grandezas vectoriais.
Para localizarmos uma partícula, no espaço, vamos utilizar um vector posição, que é
um vector que se estende desde um ponto de referência (geralmente a origem de um
sistema de eixos coordenados) até à partícula. Para uma partícula localizada num ponto
de coordenadas (X, Y), o vector posição será
r r r
r = X i +Y j (4.1)
r r r
sendo X i e Y j , as componentes vectoriais do vector r , e X e Y as componentes
escalares.
À medida que a partícula se move, o seu vector posição altera-se, verificando-se sempre
que ele liga o ponto de referência à partícula. Se o vector posição, num dado intervalo
r r
de tempo, digamos ∆t, se altera, passando de r1 para r2 , então o deslocamento da
r
partícula, ∆ r , nesse intervalo de tempo, será
r r r
∆ r = r2 − r1 (4.2)
Introduzindo (4.1), nesta expressão, podemos escrever
∆ r = (X 2 i + Y2 j )− (X 1 i + Y1 j ) =
r r r r r
r r
= ( X 1 + X 2 ) i + (Y1 + Y2 ) j
r r r
∆ r = ∆ X i + ∆Y j
P1
A figura 4.1, mostra o percurso ou
trajectória da partícula. No instante
t1, a partícula está no ponto P1, e no
instante t2, a partícula está em P2. A P2
alteração na posição da partícula é
traduzida pelo vector deslocamento
r
∆r .
Se considerarmos um espaço a três
dimensões, o vector posição será
r r r r
r = X i +Y j + Z k r
Fig 4.1.O vector deslocamento ∆r é igual à diferença entre
e o vector deslocamento, de P1 para P2, r r
os vectores posição ( r1 − r2 )
será
32
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
r r r
∆ r = ( X 2 − X 1 ) i + (Y2 − Y1 ) j + (Z 2 − Z 1 ) k
r
Exemplo 4.1
Resolução:
a) Vamos substituir t por 15 s, nas equações que nos dão as coordenadas da posição do
coelho.
( )
X (t = 15 s ) = (− 0,31) 15 2 + (7,2 )(15) + 28 = 66 m
e ( )
Y (t = 15 s ) = (0,22 ) 15 2 − (9,1)(15) + 30 = − 57 m
r
r = (66m )2 + (57 m)2 = 87 m
r
O ângulo que o vector r forma, com a parte positiva do eixo OX, será
− 57 m
θ = arc tg = − 41º
66 m
r
Como o vector r , tem a componente segundo OX, positiva, e segundo OY, negativa,
então, o coelho encontra-se no quarto quadrante. O ângulo θ será 360º - 41º=319º.
Instante Coordenadas
t=5s X (5 s) = - 0,31 (5)2 + 7,2 (5) + 28 = 56 m
Y (5 s) = 0,22 (5)2 – 9,1 (5) + 30 = - 10 m
X (10s) = -0,31 (10)2+ 7,2 (10)+ 28= 69m
t = 10 s Y(10s) = 0,22 (10)2- 9,1 (10) + 30 = -39 m
t = 20 s X (20s) = -0,31 (20)2+7,2 (20) + 28=48 m
Y (20s) = 0,22 (20)2- 9,1 (20)+30= - 64m
t = 25 s X (25s)= -0,31 (25)2+7,2 (25)+28 =14 m
Y (25s) =0,22 (25)2 – 9,1 (25) + 30=-60 m
33
Y (m)
34
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
r r
r ∆r d r
v = lim = (4.4)
∆t → 0 ∆ t dt
r
A direcção de v , é a direcção da tangente à trajectória, no instante em que calculamos a
velocidade.
Se considerarmos um problema, a três dimensões, teremos
r d
v=
dt
( r r
X i +Y j + Z k = )
r d X r dY r d Z r
dt
i+
dt
j+
dt
k=
(4.4a)
r r r
= v X i + vY j + v Z k
Exemplo 4.2
Resolução:
a) A velocidade média, calcula-se a partir da definição
r ∆ X r ∆ Y r X 2 − X 1 r Y2 − Y1 r
v média = i+ j= i + j
∆t ∆t t 2 − t1 t 2 − t1
r
v média =
(130 m −110 m) ir + (205 m − 218 m ) rj = (0,167m / s) ir − (0,108 m / s) rj
120 s 120 s
r
b) A intensidade, ou módulo, de v médio , é dada por
r
v média = (0,167 )2 + (0,108)2 = 0,199m / s
A direcção é dada pelo ângulo θ, que o vector forma com a parte positiva do eixo
OX
vY − 0,108 m / s
θ = arc tg = arc tg = arc tg (− 0,65) = − 33º = 327º
vx 0,167 m / s
c) A velocidade instantânea, para t ≥ 20 s, é a derivada do vector posição, em
ordem ao tempo
35
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
r d X ( t ) r d Y (t ) r d
v= i+ j=
1 r d
100m + m / s t i +
dt
(
200 + 1080 ms t −1 )
dt dt 6 dt
r 1 r r
v = m / s i − (1080 ms )t − 2 j
6
Exercício 4.1
r 1 r r r
Solução: v1 = m / s i − (0,30 m / s ) j ; v1 = 0,34 m / s e θ= -60.9º = 299,1 º
6
r r r r d X r dY r d Z r
v = v X i + vY j + v Z k = i+ j+ k
dt dt dt
r
r d v d v X r d vY r d v Z r d 2 X r d 2 Y r d 2 Z r
a= = i+ j+ k= i + 2 j+ 2 k (4.6a)
dt dt dt dt d t2 dt dt
r r r v
a = a X i + aY j + a Z k
Exemplo 4.3
36
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
Resolução:
Vamos calcular as componentes da velocidade
= [1,5 m + (12 m / s ) t ] =12 m / s
dX d
vX =
dt dt
vY =
dY d
=
dt dt
[ ( ) ] ( )
(16 m / s )t − 4,9 m / s 2 t 2 = (16 m / s ) − 9,8 m / s 2 t
A velocidade é
r
[ ( )]
r
v = (12 m / s ) i + (16 m / s ) − 9,8 m / s 2 t j
r
= (12 m / s ) = 0
d vX d
aX =
dt dt
aY =
d vY
dt
=
d
dt
[ ( )]
(16 m / s ) − 9,8 m / s 2 t = − 9,8 m / s 2
A aceleração é
( )
r r
a = − 9,8 m / s 2 j
Exemplo 4.4:
r r r
Uma partícula, com velocidade inicial v0 = − 2,0 i + 4,0 j (m/s) , está submetida a uma
aceleração constante, com módulo a= 3,0 m/s2, e fazendo um ângulo θ = 130º, com a
parte positiva do eixo OX.
a)Qual é a velocidade da partícula, no instante t = 5,0 s?
b) Qual o módulo e direcção deste vector?
Resolução:
a) Vamos obter a velocidade, a partir da aceleração. Sabemos que
r r r r
v = ∫ a dt = ∫ a X dt i + ∫ aY dt j
r r
v = (v0 X + a X t ) i + (v 0Y + aY t ) j
r
Sabemos, do enunciado, que vox=-2,0 e voy= 4,0. vamos, agora, ver qual é o valor de ax
e ay
( )
a X = a cos 130º = 3,0 m / s 2 (cos 130º ) = − 1,93 m / s 2
r
( )
aY = a sen130º = 3,0 m / s 2 (sen130º ) = 2,30 m / s 2
r
[ (
r
) ] [( (
r
v = (− 2,0 m / s ) + − 1,93 m / s 2 t i + 4,0 m / s + 2,30 m / s 2 t j
r
) )]
37
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
( )
v X = (− 2,0 m / s ) + − 1,93 m / s 2 (5,0 s ) = − 11,65 m / s
( )
vY = (4,0 m / s ) + 2,30 m / s 2 (5,0 s ) = 15,50 m / s
r
v =v= (12 m / s )2 + (16 m / s )2 = 19 m/s
A direcção do vector , é dada pelo ângulo θ
vY 16 m / s
θ = arc tg
= arc tg = − 53º = 127º
vX − 12 m / s
r
O ângulo θ mede 127º porque a componente de v , segundo OX, é negativa, e a
componente , segundo OY é positiva, logo, o vector está no segundo quadrante.
O X
Fig 4.4. Na parte ascendente do percurso da bola, vy é positivo. No ponto mais alto da trajectória, vy
é nulo e na parte descendente vy é negativo, aumentando o seu módulo, até atingir o solo.
A figura 4.4, mostra a trajectória de um projéctil (bola de ténis), lançado com uma
r r r
velocidade inicial vo = v0 x i + v0 y j . ( O valor das componentes vox e voy, pode obter-se,
38
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
r
se conhecermos o ângulo θ , que v0 forma, com a parte positiva do eixo OX).
r r
Analisando a figura 4.4, vemos que o vector velocidade v , e o vector posição r ,
r
variam continuamente, mas o vector aceleração a , é constante, e tem a direcção
vertical. Esta conclusão pode obter-se, a partir das componentes do vector velocidade. A
componente horizontal, do vector velocidade, mantém-se constante, durante todo o
movimento, o que significa que a componente horizontal da aceleração, é nula. Se
examinarmos a componente vertical da velocidade, veremos que durante a subida (lado
esquerdo da trajectória), vy é positivo e vai diminuindo até que o projéctil atinja a parte
mais elevada da trajectória, onde vy é nulo. Na parte da descida do projéctil, vy é
negativo, aumentando o seu módulo até atingir o solo.
Vamos considerar que temos duas bolas de aço, e que as libertamos, simultaneamente,
de um ponto acima do solo. A bola 1 é projectada, por uma mola, na direcção
horizontal. A bola 2 cai, livremente, seguindo um percurso vertical. Qual das bolas
atinge, primeiro, o solo?
As duas bolas têm, inicialmente, a mesma componente vertical da velocidade, voy= 0,
ocupam a mesma posição inicial e estão ambas submetidas à mesma aceleração. As
equações, que traduzem o movimento vertical, das duas bolas, são iguais. As bolas
devem atingir o solo, em simultâneo. Isto ilustra a ideia, de que o movimento na
direcção vertical, é independente do movimento na direcção horizontal. Vamos, então,
ver as equações do movimento.
v y = ∫ a y dt = ∫ − g dt = v0 y − g t (4.8)
∆y = ∫ v y dt = ∫ (v0 y − g t ) dt = v0 y t − g t 2
1
(4.9)
2
Mas, voy= vo sen θ, então
Podemos calcular, a altura máxima, atingida pelo projéctil, utilizando o facto de vy ser
nulo, nesse ponto. Utilizando (4.8a), determinamos o intervalo de tempo, necessário
para o projéctil atingir a altura máxima
39
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
v0 sen θ
t=
g
A altura máxima obtém-se, substituindo t , em (4.9a).
v sen θ 1 v 02 sen 2θ
hmax = (v0 sen θ ) 0 − g 2
g 2 g
1 v02 sen 2θ
hmax = (4.10)
2 g
Exemplo 4.5
Resolução:
1
∆y = − g t 2
2
1
( )
− 10 m = − 9,8 m / s 2 t 2 ⇒ t 2 =
2
10 m
2
= 2,0 s 2 ⇒ t = 1,4 s
4,9 m / s
Considerando o movimento, na direcção horizontal, vem
∆x = v0 x t ⇒ 40 m = v0 x (1,4 s ) ⇒ v0 x =
40 m
= 28 m / s
1,4 s
Exemplo 4.6
Um atleta faz um salto em comprimento, saindo do solo com uma velocidade de 11 m/s,
e fazendo um ângulo θ = 20º, com o solo.
a) Qual é o comprimento do salto?
b) Qual a altura máxima, atingida com o salto?
Resolução:
O movimento, na direcção horizontal, é um movimento uniforme, com vx= vo cos θ
∆x = (v0 cos θ )t = (11 m / s )(cos 20º )t
40
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
t1 =
(11 m / s )(sen 20º ) = 0,38 s
(9,8 m / s )
2
Note-se que t1 é apenas o intervalo de tempo, necessário para o saltador atingir a altura
máxima. Devido à simetria do movimento , podemos dizer que o saltador necessitará de
um intervalo de tempo igual, para atingir o solo t = 2 t1= 0,76 s
1
2
( )
y max = v0 y t − g t 2 = (11 m / s )(sen 20º )(0,38 s ) − 4,9 m / s 2 (0,38 s )
2
y max = 0,72 m
41
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
v2
ar = (4.11)
r
sendo r o raio do círculo e v a velocidade da
bola. Neste movimento, a bola percorre uma
rotação completa, durante um intervalo de
tempo, T, chamado período do movimento
2π r
T= (4.12)
v
42
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
r
r dv v d yp r v d xp r
a=
= − i + j
dt
r dt r dt
Analisando esta expressão, vemos que (dyp/dt)= vx= - v sen θ e (dxp/dt)= vy= v cos θ.
Fazendo estas substituições, obteremos
r v2 r v2 r
a = − cos θ i + senθ j
r r
A figura 4.6c, mostra este vector e as suas componentes. Se calcularmos o módulo de
r
a , obteremos
v2 2
a = a x2 + a y2 = (cosθ )2 + (senθ )2 = v
r r
r
que é o que queríamos provar. Para obtermos a orientação de a , vamos calcular o
ângulo φ
a y − (v 2 / r )sen θ
tg φ = = = tg θ
a x − (v 2 / r )cos θ
r
Vemos, assim, que φ=θ , o que prova que o vector a tem a direcção do raio e sentido na
direcção do centro da circunferência.
Percurso da
partícula
r
a
r
a
r
a
Olhando para a figura 4.7, vemos que a direcção do vector aceleração muda, de ponto
para ponto. Este vector pode ser decomposto em duas componentes: uma componente
radial, ar, e uma componente tangencial, at. O vector aceleração pode ser escrito, na
forma
r r r
a = a r er + a t eθ (4.13)
43
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
v2
ar = (4.15)
r
sendo r , o raio de curvatura da trajectória, no ponto que estamos a considerar. Tal
r
como no movimento circular, uniforme, a componente a r aponta sempre para o centro
de curvatura da trajectória. Para uma dada velocidade, ar é grande, quando o raio de
curvatura for pequeno, e será pequeno se o raio de curvatura for grande (ver figura 4.7).
r
O sentido de a t é o da velocidade ( se v está a aumentar) ou o sentido oposto (se v está a
diminuir).
y É conveniente, escrever o vector
r aceleração, de uma partícula, movendo-
eθ se num percurso curvilíneo, utilizando
r
er vectores unitários. A figura 4.8, mostra-
nos estes vectores.
Neste caso, teremos
r
r r r d v r v2 r
a = at + a r = eθ − er (4.16)
dt r
r
O sinal menos, que aparece em a r ,
r
deve-se ao facto de er ser dirigido para
r
fora do percurso e a r ser dirigido para o
centro de curvatura.
Fig 4.8. Versores utilizados para definir as
componentes do vector aceleração, num
movimento curvilíneo.
Exercício 4.2
Um pêndulo, com um comprimento de 0,5 m, oscila num plano vertical, sob a acção da
gravidade. Quando o pêndulo faz um ângulo de 20º, com a direcção vertical, a
velocidade da extremidade do pêndulo é 1,5 m/s
a) Calcule a componente radial da aceleração, nesse instante
b) No instante considerado, a componente tangencial da aceleração é at= g sen 20º
=3,36 m/s2. Calcule a intensidade e direcção, do vector aceleração, nesse
instante.
r
Solução: a) 4,5 m/s2 ; b) a= 5,6 m/s2 e φ=36,7º . φ é o ângulo entre a e a corda do
pêndulo.
44
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
r
Se o passageiro se deslocasse para a parte de trás do comboio, então v p c = (− 2,0 m / s ) i
r
e
r r r
v p s = (− 2,0 m / s ) i + (9,0 m / s ) i = (7,0 m / s ) i
r
Exemplo 4.7
45
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
Resolução:
r
a) Vamos designar a velocidade do carro A em relação ao carro B por, v A B , a
r
velocidade de A , em relação ao solo, é representada por v A s , e a velocidade de B, em
r
relação ao solo, será v BS .Se aplicarmos, directamente, a equação (4.17), teremos
r r r
v A s = v A B + vB S
ou seja
r r
v A B = v A S − v B S = (25,0 m / s ) i − (15,8 m / s ) j
r r r
b)
r
vAB = (v ) + (v )
AS
2
BS
2
= (25 m / s )2 + (− 15,8 m / s )2 = 29,6 m / s
e
vAS
= arc cos 25,0 m / s = 32,4º
vAS
cos θ = ou θ = arc cos 29,6 m / s
vAB v
AB
Exercício 4.3
Um barco quer atravessar um rio , com uma largura de 1800 m. A velocidade do barco,
em relação à água, é 4,0 m/s, numa direcção que é perpendicular à da corrente. A
velocidade da água, em relação à margem é 2,0 m/s
a) Qual é a velocidade do barco, em relação à margem?
b) Quanto tempo é que o barco demora, a atravessar o rio?
46
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 4
r r
de referência coincidem, no instante t = 0s. Então, os vectores rp A e rp B , estão
relacionados por
r r r
rp A = rp B + u t
ou
r r r
rp B = rp A − u t (4.18)
Isto significa que, no intervalo de tempo que designámos por t, o referencial B se
deslocou, para a direita, uma distância ut.
Se derivarmos a expressão (4.18), em ordem a t, obteremos
r r
d rp B d r p A r
= −u
dt dt
ou
r r r
vpB =vp A −u (4.19)
r r
sendo v p B a velocidade da partícula, observada no referencial B, e v p A a velocidade
observada no referencial A.
Apesar dos observadores, medirem velocidades diferentes, para a mesma partícula, nos
r
dois sistemas de referência, eles medirão a mesma aceleração, quando u for constante.
Podemos chegar a esta conclusão, derivando (4,19), em ordem ao tempo
r r r
d vpB d vp A
du
= −
dt dt dt
Como (d u / d t ) = 0 , podemos concluir que
r
r r
apB =ap A (4.20)
47
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
5.1 Introdução
Todos nós temos uma ideia do conceito de força, adquirida no nosso dia a dia . Se
empurrarmos ou puxarmos um objecto, estamos a exercer nele uma força. Neste
exemplo, a palavra força está associada com o resultado da actividade muscular, e
alguma alteração no estado de movimento do objecto. As forças nem sempre fazem com
que um objecto se mova. Por exemplo, se estamos sentados, a ler um livro, a força da
gravidade actua no nosso corpo e no livro e, no entanto, o nosso corpo permanece
parado, tal como o livro. Do mesmo modo, podemos empurrar um bloco de pedra, e ele
não se mover.
Se virmos a velocidade de um objecto, alterar-se , em intensidade ou direcção, isso
significa que algo externo interage com o objecto, originando essa aceleração. A esse
algo externo que pode causar aceleração num corpo, chamamos força.
Uma força , é medida pela aceleração que ela origina. Como a aceleração é uma
grandeza vectorial, pode-se mostrar experimentalmente, que a força também é uma
grandeza vectorial. Isto significa que, se duas ou mais forças actuarem em simultâneo
num corpo, podemos achar a força resultante, fazendo a soma vectorial de todas as
forças que estão a actuar. Uma única força com a intensidade, direcção e sentido, da
força resultante, tem o mesmo efeito no corpo que as forças actuando individualmente.
Este facto é chamado princípio da sobreposição das forças.
Para definirmos a unidade de força, vamos considerar um corpo com uma massa de um
quilograma. Colocamos o corpo numa mesa horizontal e sem atrito, e puxamos o corpo,
de modo a ele adquirir uma aceleração de 1m/s2. Nestas condições, dizemos que a força
aplicada ao corpo de massa 1 quilograma, tem uma intensidade de 1 newton ( 1 N).
48
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
As forças que nos aparecem, no dia a dia, actuando entre corpos macroscópicos, são
forças gravitacionais e forças electromagnéticas. Estas forças, actuam entre partículas
que estão separadas, no espaço. São forças de acção à distância, e aparecem associadas
a campos. Vamos considerar, por exemplo, a atracção da Terra pelo Sol. O Sol, devido à
sua massa, cria no espaço um campo gravitacional. Este campo exerce uma força na
Terra. De modo semelhante, a Terra cria no espaço um campo gravitacional, que exerce
uma força no Sol. O nosso peso é a força exercida pelo campo gravítico da Terra, no
nosso corpo.
Quando se estuda a electricidade e o magnetismo, estudam-se campos eléctricos
exercidos por cargas eléctricas, e campos magnéticos, exercidos por cargas eléctricas
em movimento.
Ao contrário das forças associadas a campos, existem muitas forças que são exercidas
por objectos em contacto directo ( empurrar ou puxar um objecto, dar um pontapé numa
bola, são exemplos destas forças). Trata-se de forças com origem electromagnética, e
são exercidas entre as moléculas de cada objecto. Consideremos, por exemplo, um livro
em cima de uma mesa. O peso do livro empurra-o “ para baixo”, pressionando-o contra
as moléculas da superfície da mesa, que resistem à compressão, exercendo uma força “
para cima”, no livro. Esta força, perpendicular à superfície da mesa, é chamada força
normal. Objectos em contacto, podem exercer forças, um sobre o outro, que são
paralelas à superfície de contacto. A componente paralela, da força de contacto, é
chamada força de atrito.
A experiência do dia a dia mostra-nos que a força necessária para alterar a velocidade
dos objectos, não é igual, para todos eles. Por exemplo, a força necessária para fazer
com que uma bicicleta ande e ganhe velocidade, causará uma alteração imperceptível no
deslocamento de um carro. Em comparação com a bicicleta, o carro tem uma maior
tendência para permanecer em repouso. Podemos dizer que o carro tem uma inércia
maior que a bicicleta.
A inércia de um objecto, é medida pela sua massa. Podemos definir a inércia de um
objecto, como a tendência natural do objecto para permanecer parado, ou em
movimento rectilíneo, com velocidade constante. Podemos dizer que a massa de um
corpo, é a característica que relaciona a força exercida no corpo, com a aceleração a que
ele fica sujeito. A unidade S. I. para a massa, é o quilograma. Em 1.2.1.1. falámos, com
detalhe, desta unidade. A tabela 1.1, mostra-nos massas de vários corpos, com ordens de
grandeza que vão de 10-31kg até 1041 kg.
49
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
Uma fina película de água, pode reduzir a força de atrito, e permitir que os corpos se
desloquem distâncias maiores, com menores alterações na velocidade.
De acordo com Galileu, se removermos todas as forças externas que actuam num
objecto, a sua velocidade não sofrerá alteração. Newton retomou o trabalho de Galileu,
tendo enunciado a primeira lei de Newton do movimento . Esta lei diz que um objecto
permanecerá no estado de repouso, ou em movimento rectilíneo uniforme, a não
ser que fique submetido a uma força externa ( ou a uma força resultante, não
nula).
A primeira lei de Newton, também chamada lei da inércia, define um tipo especial de
referenciais chamados referenciais de inércia. Um referencial é chamado referencial
de inércia, se nele for válida a primeira lei de Newton.
A melhor aproximação de um referencial de inércia, é um referencial que se move com
velocidade constante, relativamente a uma estrela distante. A Terra não é um referencial
de inércia, devido à sua trajectória elíptica, em torno do Sol, e ao movimento de
rotação, em torno do seu eixo. No entanto, em muitas situações, podemos considerar
que a Terra é um referencial inercial.
Se um objecto tiver um movimento rectilíneo uniforme, um observador num referencial
inercial, dirá que a aceleração do objecto é nula, e que não há forças exteriores a actuar
sobre ele, ou que a resultante das forças externas que sobre ele actuam é nula. Um
observador, em outro referencial inercial, também dirá que a aceleração e a força
externa, exercida no objecto, são nulas
50
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
r r
∑F = m a (5.1)
Note-se que, se a resultante das forças for nula, então, a aceleração é nula, e a
velocidade tem um valor constante.
A equação (5.1) é uma igualdade entre vectores. Se considerarmos as suas
componentes, num sistema de eixos coordenados, teremos
∑F X = m aX ; ∑F Y = m aY ; ∑F Z = m aZ (5.2)
Exemplo 5.1
Considere duas pessoas a empurrar um carro. A massa do carro é 1850 kg. Uma pessoa
aplica uma força de 275 N no carro, enquanto a outra aplica uma força de 395 N. As
duas forças actuam em direcções paralelas e com o mesmo sentido. Uma terceira força,
devida ao atrito, actua no carro, com sentido oposto ao das outras duas. A sua
intensidade é 560 N. Obtenha a aceleração do carro.
Resolução:
De acordo com a segunda lei de Newton, temos
r
r ∑F
a=
m
Como as forças que actuam no carro têm todas a mesma direcção, vamos preocupar-
nos, apenas, com o sentido das forças. Vamos supor que o sentido das forças exercidas
pelas duas pessoas é da esquerda para a direita. A força de atrito, actua contra o
movimento. Por isso, o seu sentido é da direita para a esquerda. Então
r r r
∑ F = (275 N + 395 N − 560 N ) i = (110 N ) i
Fazendo as substituições necessárias, obtemos
r
r (110 N ) i r
a= = (0,059 m / s 2 ) i
1850 kg
O sinal positivo da aceleração, significa que o seu sentido é da esquerda para a direita, e
a velocidade do carro está a aumentar.
Exemplo 5.2
51
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
Resolução:
Como, apesar de estarem a ser exercidas três forças no pneu, a sua aceleração é nula (o
pneu permanece parado), então o somatório das três forças, também é nulo ( Segunda lei
de Newton)
r r r r r
FA + FB + FC = m (0) = 0
r r r
FB = − FA − FC (a)
A figura 5.1 b, mostra o sistema de eixos que vamos utilizar, e cuja origem coincide
r r r
com o centro do pneu. Como a força FB é vertical, e o ângulo formado por FA com FB
r
é 137º, então o ângulo formado por FA com o eixo OX ( parte negativa ), é
r
137º-90º=47º.Designamos por φ, o ângulo formado por FC com o eixo OX.
Vamos escrever a equação (a), em função das suas componentes. Começamos com as
componentes verticais
FBY = − FAY − FCY
− FB = − FA sen (180º −47 º ) − FC sen φ
(b)
− FB = − (220 N ) sen (133º ) − (170 N ) sen φ
220 cos(133º )
φ = arc cos = 28,04º
− 170
FB =161N + 80 N = 241N
Esta lei diz-nos que as forças que ocorrem na natureza, aparecem aos pares, ou, que uma
força isolada, não pode existir.
A terceira lei de Newton, diz que, se dois corpos interagem, a força exercida no
corpo 1,pelo corpo 2, é igual e de sentido oposto à força exercida no corpo2, pelo
corpo 1.
Consideremos, por exemplo, a força que actua num projéctil. Se desprezarmos a
resistência do ar, teremos apenas o peso, a actuar no projéctil. O peso é a força que a
Terra exerce , no projéctil. De acordo com a terceira lei de Newton, o projéctil vai
exercer, sobre a Terra, uma força igual e de sinal contrário. Como a massa da Terra é
muito grande, comparada com a massa do projéctil, a aceleração da Terra, devido à
força exercida pelo projéctil, pode ser desprezada. Ao peso do projéctil (força exercida
pela Terra), vamos chamar força de acção. À força exercida pelo projéctil na Terra,
vamos chamar força de reacção.
52
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
Fig 5.2. A força que o martelo reacção será a força exercida pelo objecto, sobre a
r
exerce no prego é igual, em módulo, à Terra, Wr (ver figura 5.3). O objecto não acelera,
força que o prego exerce no martelo em direcção à superfície da Terra, porque é
impedido pela mesa. A mesa
exerce uma força, dirigida para r
cima, denominada força normal , N
r
N . A força normal, vai anular o
efeito do peso, e fazer com que
haja equilíbrio do objecto, sobre a
mesa. A força de reacção `a
normal, é a força que o bloco r r
r Nr W
exerce sobre a mesa, N r .Podemos
concluir que, na situação r
Wr
apresentada, temos
r r r r
W = − Wr e N = − Nr
Vamos apresentar algumas aplicações, simples, das leis de Newton, a corpos que
estejam em equilíbrio, ou movendo-se linearmente, sob a acção de forças externas,
constantes. No nosso modelo, vamos considerar que os corpos se comportam como
partículas. Iremos considerar apenas movimentos rectilíneos, sem rotação. Nos nosso
exemplos, iremos desprezar os efeitos do atrito, no movimento dos corpos. Iremos,
também, desprezar o peso das cordas ou cabos que seguram os corpos. Com esta
aproximação, a intensidade da força, exercida num ponto da corda, ou do cabo, é a
mesma em todos os pontos da corda, ou do cabo.
Quando aplicamos as leis de Newton, a um corpo, estamos interessados apenas nas
forças externas que actuam nesse corpo. Se considerarmos, por exemplo, a figura 5.3,
vemos que as forças externas que actuam no objecto que está em cima da mesa, são o
r r r r
seu peso, W , e a normal , N . As reacções a estas forças, Wr e N r ,actuam na Terra e na
53
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
N-F-W= 0 ou N=F+W
Exemplo 5.3
r
Um semáforo, pesando 100 N, r r T2
está suspenso por um cabo, que T3 T1
se encontra ligado a dois cabos,
como mostra a figura 5.4. Os
cabos superiores formam
ângulos de 37º e 53º , com a
direcção horizontal. Obtenha a
tensão nos três cabos. r
r − T3
W
Resolução:
Em primeiro lugar, vamos
identificar as forças que Fig 5.4. (a) Semáforo suspenso por cabos. (b) Forças que actuam
actuam no nosso sistema nas luzes. (c) Forças que actuam na junção dos cabos
(semáforo e cabos). A figura
r r
5.4b, mostra as forças que actuam nas luzes. Elas são, o peso W , e a tensão T3 . Como
r r
as luzes estão em equilíbrio, a sua aceleração é nula e T3 + W = 0 , ou T3= W = 100 N.
Vamos, agora, analisar o diagrama das forças que actuam na junção dos três cabos (ver
figura 5.4c).Escolhemos este ponto, pois ele é a origem de todas as forças que actuam
nos cabos.
Vamos ver as componentes das forças, segundo os eixos do sistema de eixos, escolhido.
Força Componente segundo OX Componente segundo OY
r
T1 - T1 cos 37º T1 sen 37º
r
T2 T2 cos 53º T2 sen 53º
r
T3 0 -100
De (1), obtemos
54
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
T1 cos 37 º
T2 = =1,33 T1
cos 53º
Introduzindo este resultado em (2), vem
T1 sen37º + (1,33T1 ) sen 53º −100 = 0
Exemplo 5.4
Vamos supor que temos um bloco, de massa m, a mover-se, num plano inclinado, que
faz, com a direcção horizontal , um ângulo θ ( ver figura 5.5)
a)Determine a aceleração do bloco, depois de ser libertado
b) Suponha que o bloco é libertado, quando está em repouso, na parte mais elevada do
plano, sendo a sua distância até ao final do plano, representada por d. Qual o intervalo
de tempo necessário para o bloco atingir o solo? Qual a velocidade do bloco,
imediatamente antes de atingir o solo ?
Y
r
N r
a
m g sen θ
m g cos θ
r
W X
Fig 5.5. ( a ) Bloco deslizando num plano inclinado. ( b ) Diagrama com as forças que actuam no
bloco.
Resolução:
r
a)As forças que actuam no bloco são o seu peso, W , que actua na direcção vertical, e a
r
força normal, N , que é perpendicular ao plano inclinado ( ver figura 5.5b). Para
facilitar os cálculos, vamos dizer que a origem do nosso sistema de eixos coordenados
está centrada no bloco, estando o eixo OX coincidente com o plano inclinado e sendo o
eixo OY perpendicular a ele.
Vamos decompor o peso nas suas componentes segundo os eixos. Obteremos
W X = m g sen θ e WY = − m g cos θ
Para obtermos a aceleração do bloco, vamos utilizar a segunda lei de Newton.
Atendendo à orientação dos eixos, podemos dizer que a aceleração tem componente
apenas segundo o eixo OX.
∑F X = m g sen θ = m a X (1)
55
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
∑F Y = N − mg cos θ = 0 (2)
Olhando para a expressão (1), vemos que a aceleração depende apenas da componente
do peso, na direcção do deslizamento
ax= g sen θ
A aceleração depende apenas do ângulo de inclinação do plano e do valor de g
1
b) Como ax é uma constante, podemos escrever x − xo = v xo t + a x t 2 . O enunciado diz-
2
nos que x-xo= d, e que a velocidade inicial é zero. Teremos, então
1 2d
d = g sen θ t 2 ; t=
2 g sen θ
Como se trata de um movimento uniformemente acelerado ( ax= constante), podemos
escrever
v x2 = v xo
2
+ 2 ax d
v x2 = 2 g d sen θ e v x = 2 g d sen θ
Exemplo 5.5.
Vamos considerar duas massas diferentes, ligadas por uma corda, que passa numa
roldana, de massa desprezável e sem atrito (ver figura 5.6). O bloco de massa m2 está
sobre um plano inclinado, fazendo um ângulo θ, com a horizontal. Calcule a aceleração
das duas massas e a tensão na corda.
r
N
r r
T a
r
r T
a
m2 g cos θ
r
m1 g r
m2 g
Fig 5.6. ( a )Duas massas, ligadas por intermédio de uma corda de massa desprezável, passando por
uma roldana de massa desprezável e sem atrito. ( b ) Diagrama das forças que actuam em m1. ( c )
Diagrama das forças que actuam em m2.
56
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
Resolução:
Como as duas massas estão ligadas por meio da corda, o módulo da aceleração é o
mesmo. As figuras 5.6b e 5.6c mostram diagramas das forças , que actuam em cada
massa, separadamente. Vamos supor que a aceleração da massa m1 é dirigida para cima.
Aplicando a segunda lei de Newton a m1, vem
∑ FX = 0 (1)
∑F Y = T − m1 g = m1 a (2)
Note que, para que a seja positiva, T tem que ser maior que m1g.
Para o corpo de massa m2, vamos escolher o eixo OX’ coincidente com o plano
inclinado, sendo o eixo OY’ perpendicular ao plano. Aplicando a segunda lei de
Newton, obtém-se
∑ FX ' = m2 g sen θ − T = m2 a (3)
m2 g sen θ − m1 g
a= (5)
m1 + m2
Substituindo, este resultado, em ( 2 ), virá
m1 m2 g (1 + sen θ )
T= (6)
m1 + m2
Analisando a expressão ( 5 ), vemos que m2 desce o plano inclinado, se m2 sen θ > m1.
Exercício 5.1.
57
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
Exercício 5.2
Solução: 10 m/s2 ; 20 N
5.8. Atrito
As forças de atrito, são forças de contacto que aparecem no contacto de duas ou mais
superfícies. Estas forças opõem-se ao movimento dos objectos. As forças de atrito são
muito importantes, pois são elas que nos permitem caminhar ou utilizar veículos com
rodas.
As forças de atrito em fluidos, são denominadas forças viscosas. Elas são pouco
intensas, quando comparadas com o atrito entre superfícies sólidas.
Para podermos quantificar o efeito do atrito, vamos considerar que temos um bloco
parado, numa superfície horizontal. Como o bloco está em repouso, então a sua
aceleração é nula, e a resultante das forças que actuam no bloco, também é nula.
r r
As forças verticais, que actuam no bloco, são o seu peso, W , e a força normal, N . De
acordo com o que dissemos, podemos escrever
r r
W + N =0 e W=N
Na direcção horizontal, não existem forças aplicadas, e não existe movimento. A força
de atrito nesta direcção é nula.
r
Vamos supor que aplicamos uma pequena força horizontal, T , para a direita. Se o bloco
r
permanecer em repouso, a força de atrito, f e , já não pode ser zero, pois, de acordo com
a 1ª lei de Newton, para o corpo permanecer em repouso, a resultante das forças que
nele actuam, tem que ser zero. Isto significa que
r r r
T + f e = 0 e T = fe
Se T aumentar gradualmente, então fe também aumenta. Quando T se torna
suficientemente intenso, o bloco começa a deslizar. Isto significa que existe um valor
r
máximo possível para a força de atrito estático f e (max) . Vamos ver algumas
propriedades desta força:
r
1. f e (max) é independente da área de contacto. Se o bloco for substituído por outro,
r
com igual massa e metade da área de contacto, f e (max) permanece o mesmo.
r
2. Para um dado par de superfícies, f e (max) é proporcional ao módulo da força normal,
N.
58
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
fc = µc N (5.4)
µc é chamado coeficiente de atrito cinético. Como fc < fe (max), então µc < µe.
Exemplo 5.6
Considere um bloco, numa superfície gelada, que se move com uma velocidade inicial
de 20 m/s. Calcule o coeficiente de atrito cinético, entre o bloco e o gelo, sabendo que o
bloco desliza, durante 120 m, até parar.
Resolução:
∑F X = − fc = − m a (1)
r
∑F Y = N − mg = 0 (2) W
v 2 = v02 + 2 a ∆x
Sabemos que , no final, o bloco pára. Por isso, a sua velocidade final é nula.
59
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
v02 + 2 a ∆x = 0 e v02 + 2 (− µ c g ) x = 0
Daqui obtém-se
µc =
v02
=
(20 m / s ) 2
= 0,17
( )
2 g x 2 9,8 m / s 2 (120 m )
Exemplo 5.7
Resolução:
As forças que actuam no bloco
r
são o seu peso ( m g ), a força
r
normal exercida pelo plano N ,
r
e a força de atrito f e ( ver
figura 5.10) . Para ângulos
inferiores ao ângulo crítico θc,
a força de atrito anula a
componente do peso, na r r
direcção do plano inclinado N fe
( mg sen θ ). No ângulo crítico,
fe= µe N.
Antes de ser atingido o ângulo
crítico, o corpo permanece
parado, e, por isso, a resultante
das forças aplicadas ao corpo, Fig 5.10. As forças externas que actuam num bloco
tem que ser nula. localizado num plano inclinado, com uma superfície rugosa,
Vamos aplicar a segunda lei de são a componente do peso na direcção do deslocamento, a
Newton, às componentes das força normal, e a força de atrito estático
forças, segundo os eixos que se
mostram na figura 5.10.
∑F Y = N − mg cos θ
∑F X = m g sen θ − f e = 0
m g sen θ − µ e N = 0
e
m g sen θ m g sen θ
µe = = = tg θ
N m g cos θ
60
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
Exemplo 5.8.
Um bloco de massa m1= 2 kg, está numa superfície rugosa, horizontal. Este bloco, está
ligado a uma massa m2 = 3 kg, por uma corda leve, que passa numa roldana sem atrito,
e de massa desprezável. Uma força de módulo F=50N, é aplicada à massa m1, como se
mostra na figura 5.11. O coeficiente de atrito cinético, entre a massa m1 e a superfície, é
µ. Determine a aceleração das massas, e a tensão na corda, considerando θ=15º e
µ=0.36
Resolução:
r
a
r
r F
F r
r N
T r
T
r
fc
r
W2 r
W1
r
Fig 5.11.(a) A força aplicada F , pode fazer com que o corpo de massa m1 se desloque para a
direita. (b) Diagrama das forças que actuam em m2 , quando ele se desloca para cima. (c ) Diagrama
das forças que actuam em m1. Note-se que, neste caso, a normal é inferior ao peso.
∑F X =0
∑F Y = T − m2 g = m2 a (3)
N = m1 g – F sen θ
o que nos conduz a
f c = µ (m1 g − F sen θ ) = 0,36 (19,6 N − 12,9 N ) = 2,4 N ( 4)
61
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
Isto significa que a força de atrito é reduzida, devido à componente da força, segundo
OY. Vamos retirar o valor de T de (3), e substituir, juntamente com ( 4 ), na expressão
(1 ). Obteremos
F (cos θ + µ sen θ ) − g (µ m1 + m2 )
a=
m1 + m2
Substituindo valores, obtém-se
Exercício 5.3
62
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
movimento, exercendo uma força na bola, que a obriga a seguir um percurso circular. A
direcção desta força, coincide com a corda, e o sentido é para o centro do círculo, como
se mostra na figura 5.13. Esta força chama-se força centrípeta. Se aplicarmos a
segunda lei de Newton, ao longo da direcção radial, obteremos
v2
Fr = m a r = m (5.5)
r
m
r
Fr
r
Fr
r
Fig 5.13. Uma bola movendo-se num percurso circular. A força Fr é dirigida para o centro do
círculo, e mantém a bola no seu percurso circular. Quando a corda parte,a bola move-se numa
direcção tangente ao percurso circular, no ponto onde a bola estava quando a corda partiu.
Tal como a aceleração centrípeta, a força centrípeta actua da trajectória para o centro do
percurso da partícula. No caso da bola em rotação, atada na extremidade de uma corda,
a tensão na corda, é a força centrípeta. Para um satélite, numa órbita circular, em torno
da Terra, a força centrípeta será a força da gravidade. A força centrípeta que actua num
carro ao fazer uma curva, numa estrada horizontal, é a força de atrito entre os pneus e o
pavimento.
Se a força centrípeta, que actua num dado objecto, se anular, o objecto deixará de ter um
percurso circular, e passará a mover-se em linha recta, tangente ao círculo, no ponto
onde a força se anula. Esta situação é mostrada na figura 5.13 b. Em geral, um corpo
pode mover-se num percurso circular, devido à acção de forças como o atrito, a força
gravitacional, ou uma combinação de forças.
Exemplo 5.9
63
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
Resolução :
m v2 v2
tg θ = =
mgr gr
v = ( g r tg θ ) = l g senθ tg θ
O período do pêndulo, na sua órbita, será
2π r 2π r L cos θ
TP = = = 2π
v g r tg θ g
Substituindo valores, obteremos
TP = 2 π
(1,00 m )(cos 20º ) =1,95 s
9,8 m / s 2
Exemplo 5.10
64
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
m1 m 2
F =G (5.6)
r2
sendo G = 6,672 X 10 −11 N m 2 / kg 2 . Esta expressão traduz a lei da atracção universal
de Newton.
Vamos considerar um satélite , de massa m, movendo-se numa órbita circular, em torno
da Terra, com uma velocidade constante v, e a uma altitude h (acima da superfície da
Terra)
a) Determine a velocidade do satélite, utilizando G , h, RT(raio da Terra) e MT
( massa da Terra)
b) Determine o período do satélite (intervalo de tempo necessário para o satélite dar
uma volta completa, em torno da Terra).
Resolução:
a) A força externa que actua no satélite é apenas a força da gravidade. Por esse facto,
podemos escrever
m m
Fr = G 1 2 2
r
A distância que aqui aparece será r= RT+ h. vamos, agora, aplicar a 2ª lei de Newton.
MT m v2
G = m
r2 r
Daqui, podemos obter
G MT G MT
v= = ( 5.7)
r RT + h
b) Como o satélite percorre uma órbita circular, num intervalo de tempo que
designamos por Ts, podemos escrever
2πr 2π r 2π 3 / 2
Ts = = = r (5.8)
v G M T / r G M T
Exercício 5.4.
Um satélite tem uma órbita circular a uma altitude de 1000 km. Sabe-se que o raio
médio da Terra mede 6,37 X 106 m. Obtenha a velocidade do satélite e o período da sua
órbita.
No capítulo 4, vimos que se uma partícula se move, num percurso circular, com
velocidade variável, a aceleração vai ter uma componente radial e uma componente
tangente à trajectória. Então, as forças responsáveis pelo movimento, também deverão
ter uma componente radial e outra tangente à trajectória. Isto significa que, se
r r r r r r
a = a r + a t , então F = Fr + Ft . A componente de F, na direcção radial, é responsável
65
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
Exemplo 5.11
Resolução:
Olhando para o diagrama representado na figura 5.15a, vemos que as forças que actuam
r
vsup
r
mg r
T
r
T r
T
r
vinf
r
mg
r
mg
Fig 5.15.(a) Forças que actuam num corpo de massa m, ligado a uma corda de comprimento R,
rodando num círculo vertical, centrado em O. (b) Forças que actuam no corpo quando está na parte
mais elevada, e na parte mais baixa, do percurso.
na esfera, são o seu peso, e a tensão na corda. Vamos, agora, decompor o peso, numa
componente tangencial (mg sen θ) e numa componente radial (mg cos θ). Aplicando a
segunda lei de Newton às forças que actuam na direcção tangencial, vem
∑ Ft = m g senθ = m at ⇒ at = g senθ (5.9)
dv
Esta componente, faz com que v varie , ao longo do tempo a t = .
dt
Aplicando a segunda lei de Newton, às forças na direcção radial, e notando que tanto T
como ar, apontam para o, teremos
v2
∑ r F = T − m g cos θ = m
R
66
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque - Cap 5
v2
T = m + g cos θ (5.10)
R
Na parte mais elevada do percurso, onde θ=180º, teremos
v2
T+elev = m − g
R
Este é o valor mínimo de T. Neste ponto at=0, sendo a aceleração radial, dirigida para
baixo ( ver figura 5.15 b).
Na parte mais baixa do percurso, θ = 0, e
v2
T−elev = m + g
R
Este é o valor mais elevado de T. Neste ponto temos, novamente, at=0, sendo a
aceleração radial e dirigida para cima.
67
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
6.1 Introdução
6.2 Trabalho
Quando se aplica uma força a um objecto, ele fica acelerado, e se o sentido da força for
o mesmo do deslocamento, a aceleração é positiva, a velocidade aumenta, e a energia
1
cinética do objecto ( K = m v 2 ) aumenta. De modo semelhante, se o sentido da força
2
for contrário ao sentido do deslocamento, a aceleração do objecto será negativa, a
velocidade diminuirá e o objecto perderá energia cinética. Dizemos, no primeiro caso,
que o nosso corpo transferiu energia cinética para o objecto e, no segundo caso, o
objecto transferiu energia cinética para o nosso corpo. Dizemos que, quando se dá uma
transferência de energia através da aplicação de uma força, a força realiza trabalho sobre
o objecto. Podemos definir trabalho, de um modo mais formal.
Trabalho (W) é a energia transferida de ou para um objecto, por meio de uma
força que actua no objecto. Quando se transfere energia para o objecto, o trabalho
é positivo. Se o objecto ceder energia, o trabalho é negativo.
As unidades em que se exprime o trabalho são as mesmas da energia ( Joule) e o
trabalho, tal como a energia, é uma grandeza escalar.
68
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Note-se que, esta definição de trabalho não coincide com a noção de trabalho do senso
comum. Por exemplo, se uma pessoa empurrar uma parede de tijolos, a pessoa exerce
uma força na parede, mas não realiza trabalho, pois a parede é fixa.
Se segurarmos um objecto nos braços, durante um dado intervalo de tempo, estamos a
aplicar uma força no objecto, no entanto não é realizado trabalho pois o objecto está
sempre na mesma altura.
Vamos, agora, ver como é que podemos calcular o trabalho realizado quando se aplica
uma força a um objecto
v 2 − v o2
v 2 = vo2 + 2 a x d ⇒ ax =
2d
Se substituirmos ax em (6.1), obteremos
1 1
m v 2 − m vo2 = Fx d (6.2)
2 2
W = Fx d = F cos θ d (6.3)
69
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Para calcular o trabalho realizado por uma força num objecto, durante um
deslocamento, utilizamos , apenas, a componente da força na direcção do deslocamento.
Se a força for perpendicular ao deslocamento, θ = 90º, e o trabalho realizado será nulo.
por isso, o trabalho realizado é igual a Fig 6.2. Quando um corpo é deslocado,
–f d . O trabalho realizado pela força horizontalmente, numa superfície com atrito, o peso
r
F , é ,neste caso, positivo, pois cos θ e a normal não realizam trabalho. O trabalho
realizado pela força de atrito é negativo. O trabalho
é positivo. r
F , é positivo.
realizado pela força
Podemos dizer que uma força realiza trabalho positivo, quando tem uma componente
na direcção e sentido do deslocamento, e realiza trabalho negativo, quando a
componente na direcção do deslocamento, tem sentido oposto ao deslocamento. A
força realizará trabalho nulo , se não tiver componente na direcção do deslocamento.
Quando duas ou mais forças actuam, em simultâneo, num dado objecto, o trabalho total
realizado no objecto, é a soma do trabalho realizado individualmente por cada força,
durante o deslocamento.
Exemplo 6.1
Uma caixa é arrastada, na direcção horizontal, devido há acção constante de uma força
de 50 N. A força faz um ângulo de 37º, acima da horizontal. Uma força de atrito de
10N, retarda o movimento da caixa, que se desloca 3 m , para a direita.
a) Calcule o trabalho realizado pela força de 50 N
b) Calcule o trabalho realizado pela força de atrito
c) Calcule o trabalho total, realizado por todas as forças que actuam na caixa.
70
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Resolução:
W = WF + W f = 120 J − 30 J = 90 J
Exercício 6.1
Calcule o trabalho realizado na caixa, se ela for arrastada durante 3 m, por uma força
horizontal de 50 N, considerando que a força de atrito é 15 N
Solução: 105 J
A equação (6.2), relaciona a variação de energia cinética sofrida por um corpo ( desde o
1 1
instante inicial K i = m vo2 , até um instante posterior K f = m v 2 ) com o trabalho
2 2
( W = Fx d ) realizado sobre o corpo. Podemos generalizar esta igualdade, para objectos
que se possam comportar como partículas. Seja ∆K a variação de energia cinética do
objecto, e W o trabalho realizado nele. Podemos escrever
∆K = Kf – Ki = W (6.5)
Esta expressão diz-nos que a variação na energia cinética de uma partícula, é igual, ao
trabalho realizado sobre a partícula.
Podemos escrever a relação (6.5) na forma
Kf = Ki + W (6.6)
Que diz que a energia cinética da partícula, depois de ser realizado trabalho, é igual à
energia cinética da partícula, antes de ser realizado trabalho, mais o trabalho
realizado.
Estas conclusões são conhecidas como o teorema trabalho - energia cinética. Elas são
válidas para trabalho positivo e para trabalho negativo. Se o trabalho total, realizado
sobre uma partícula , for positivo, a energia cinética da partícula aumenta de uma
quantidade igual ao trabalho realizado. Se o trabalho total for negativo, a energia
cinética da partícula decresce de uma quantidade igual ao trabalho realizado.
71
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Exemplo 6.2.
Um camião com uma massa de 3000 kg vai ser colocado num barco, por uma grua, que
exerce sobre o camião uma força vertical de 31 kN (dirigida para cima). Esta força, que
é suficiente para manter o camião no ar, é aplicada enquanto o camião sobe 2 m.
Obtenha:
a) O trabalho realizado pela grua
b) O trabalho realizado pela força gravítica
c) A velocidade com que o camião se move, para cima, no final de percorrer os 2 m
Resolução:
a) A força aplicada (pela grua) tem a direcção e o sentido do deslocamento. O
trabalho realizado é positivo
( )
Wap = Fap cos 0º ∆Y = 31X 10 3 N (1)(2 m ) = 62 X 10 3 J = 62 kJ
b) A força da gravidade (peso do corpo) é dirigida para baixo, e, por isso, teremos
( )
W g = m g cos 180º ∆Y = (3000 kg ) 9,8 m / s 2 (− 1)(2m ) = − 59 X 10 3 J = − 59 kJ
Wtotal = ∆K = K f − K i = K f
Wtotal = Wap + W g = 62 kJ − 59 kJ = 3 kJ
1 6 X 10 3 J
3 X 10 3 J = m v 2f ⇒ vf = = 1,4 m / s
2 3000 kg
Exercício 6.2
Calcule a velocidade final do camião se for aplicada a mesma força, para ele subir 2m,
mas considerando que ele já se estava amover para cima, com uma velocidade de 1 m/s.
Exemplo 6.3.
72
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Resolução:
a) Como podemos tratar a caixa como se fosse uma partícula, e como o vento se
mantém estacionário, em intensidade e direcção (força constante), podemos utilizar a
expressão (6.4) para calcular o trabalho realizado pelo vento
[ ][ ]
r r r r r
W = F • d = (2,0 N ) i + (− 6,0 N ) j • (− 3,0 m ) i
r r r r
W = (2,0 N )(− 3,0 m ) i • i + (− 6,0 N )(− 3,0 m ) j • i = − 6,0 J
O trabalho obtido é negativo, o que significa que o vento retira energia cinética da
caixa.
Vamos considerar, agora, o trabalho realizado por um tipo particular de força - a força
gravítica. A figura 6.3, mostra a situação
de uma partícula de massa m, que é
lançada “para cima” com uma velocidade
inicial vo e, portanto, com uma energia
1
cinética K i = m vo2 . À medida que a
2
partícula sobe, a sua velocidade diminui,
r r
devido à acção da força gravítica Fg ; isto mg
significa, que a energia cinética da
partícula diminui, devido ao trabalho
r
realizado pela força Fg . Suponhamos que
a partícula subiu uma distância d. O
trabalho realizado pela força gravítica, r
mg
será
73
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
O sinal mais indica-nos que a força gravítica transfere energia para a partícula. A sua
energia cinética aumenta, na descida. Esta conclusão está de acordo com o facto da
velocidade da partícula aumentar durante a sua queda para a superfície da Terra.
*
* *
Vamos supor que queremos levantar um objecto, e, por isso, vamos aplicar-lhe uma
r
força vertical F . Durante o deslocamento para cima, a força que aplicamos, realiza um
trabalho positivo Wa , sobre o objecto, enquanto a força gravítica realiza um trabalho
negativo Wg, sobre o objecto. A força que aplicamos tende a transferir energia para o
objecto enquanto a força gravítica tende a retirar-lhe energia. A variação de energia
cinética do objecto, durante o levantamento, será
∆K = Kf – Ki = Wa+ Wg (6.8)
Esta equação também se aplica se descermos o objecto, mas, nesse caso, o trabalho
realizado pela força gravítica é positivo enquanto o trabalho realizado pela força que
aplicamos será negativo
Exemplo 6.4.
Uma caixa com uma massa de 15,0 kg, que inicialmente se encontrava parada, é
puxada, por intermédio de um cabo, ao longo de um plano inclinado sem atrito, como
mostra a figura 6.4. Sabe-se que a distância percorrida pela caixa ao longo da rampa é
d= 5,70 m, até atingir uma altura
h=2,50m, onde pára.
Cabo a) Calcule o trabalho
realizado pela força
gravítica, sobre a caixa,
durante a subida.
b) Calcule o trabalho
realizado pela tensão do
r
cabo T , durante a subida
da caixa.
Resolução:
(a)
Na resolução do problema vamos
r tratar a caixa como se fosse uma
N r partícula, e utilizar a equação
d (6.7) para calcular o trabalho Wg,
r realizado pela força gravítica.
T
a) A figura 6.4b mostra-nos
um diagrama com as forças que actuam na caixa. Por ela, podemos ver que a
força gravítica forma , com a rampa, um ângulo de 90º+ θ, sendo θ a inclinação
da rampa (que é desconhecida). Aplicando a equação (6.7), teremos
( )
W g = − m g h = − (15,0 kg ) 9,8 m / s 2 (2,50 m ) = − 368 J
r
b) Como não conhecemos o valor da tensão T , exercida pelo cabo, não podemos
aplicar directamente a expressão (6.3). Vamos aplicar o teorema trabalho –
energia. Como a caixa estava parada antes da subida, e fica parada depois de
subir, a alteração na sua energia cinética é nula. Para calcularmos o trabalho
total, realizado sobre a caixa, temos que somar o trabalho realizado pela força
gravítica, com o trabalho realizado pela normal e com o trabalho realizado pela
tensão no cabo. O trabalho realizado pela força normal, sobre a caixa, é zero,
porque a normal forma, com o deslocamento, um ângulo de 90º. O trabalho
realizado pela força gravítica, foi calculado na alínea a) e é -368 J. Aplicando o
teorema trabalho – energia, teremos
∆K = W g + W N + WT
0 = - 368 J + 0 J + WT
e, portanto, WT= 368 J.
Vamos, agora, estudar o trabalho realizado por um tipo especial de força variável,
chamada força de uma mola. Muitas forças, na natureza, têm a mesma forma
matemática da força da mola. Assim, estudando esta força, podemos perceber muitas
outras
Na figura 6.5, mostramos um bloco numa superfície plana, horizontal. Este bloco está
ligado a uma mola. A figura 6.5b, mostra a mola em equilíbrio. O bloco encontra-se na
posição X=0. Se a mola for esticada ou comprimida, movendo-se uma pequena
distância, a partir da sua situação de equilíbrio, a mola exercerá uma força no bloco,
dada por
F = - kx (lei de Hooke) (6.9)
75
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Note-se que a força da mola é uma força variável, porque a sua intensidade e sentido
dependem da posição da extremidade da mola ligada ao bloco. No nosso caso, podemos
dizer que F é função de x, F(x).
F é negativa
X é positivo
F=0
X=0
F é positiva
X é negativo
Fig 6.5. A força que a mola exerce no bloco, varia com o deslocamento em relação à posição de
equilíbrio ,X=0. (a) Quando x é positivo (mola distendida), a força da mola é dirigida para a
esquerda. (b) Quando x=0, a força da mola é nula ( comprimento natural da mola). (c) Quando x é
negativo ( mola comprimida), a força da mola é dirigida para a direita
Precisamos encontrar, agora, uma expressão que nos permita calcular o trabalho
realizado por uma força que actua numa direcção fixa, mas que varia ao longo do
tempo. Para isso, vamos fazer duas simplificações acerca da mola. (1) Podemos
desprezar a massa da mola, em comparação com a massa do bloco. (2) A nossa mola é
uma mola ideal, que obedece exactamente à lei de Hooke. Vamos considerar ainda, que
não existe atrito na zona de contacto do bloco com a superfície horizontal, e que o bloco
se pode considerar como sendo uma partícula.
76
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Wmola = ∑ F j ∆x (6.10)
onde o índice j designa cada um dos segmentos. Este valor á apenas uma aproximação
do trabalho realizado pela mola. A aproximação será mais próxima do valor real, quanto
menor for o valor de ∆x. No limite, quando ∆x tender para zero, teremos
xf xf
Wmola = ∫ F dx =
xi
∫ (− kx ) dx
xi
(6.11)
xf
∫ x dx = − 2 k [x ]
1 2 xf 1 1
Wmola = − k xi = k xi2 − k x 2f (6.12)
xi
2 2
Este trabalho realizado pela força da mola pode ter sinal positivo ou negativo Se
considerarmos xi=0 e a posição final igual a x, então, pela equação (6.12) teremos
1
Wmola = − k x 2 (6.13)
2
*
* *
Vamos pensar que deslocamos o bloco, ao longo do eixo dos x, aplicando-lhe uma
r
força Fa . Durante o deslocamento, a nossa força aplicada realiza trabalho Wa e a força
da mola realiza trabalho Wmola. A variação da energia cinética do bloco ∆K, devido às
transferências de energia pelas forças, é
∆K = K f − K i = Wa + Wmola (6.14)
Wa = − Wmola (6.14a)
77
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Exemplo 6.5.
Considere uma pequena caixa, numa superfície plana horizontal e sem atrito, ligada à
extremidade livre de uma mola. Para manter a caixa parada em x1= 12 mm, é necessário
aplicar uma força Fa= 4,9 N.
a) Calcule o trabalho realizado pela força da mola, quando a caixa é empurrada
para a direita deslocando-se de xo= 0 até x2 =17 mm
b) Em seguida, a caixa é movida para a esquerda, sté ao ponto x3= - 12 mm. Qual o
trabalho realizado pela força da mola, durante este deslocamento?
Resolução:
1
2
( 1
2
) [(
Wmola = k xi2 − x 2f = (408 N / m ) 17 X 10 −3 ) − (−12 X 10 ) ]
2 −3 2
= 0,030 J = 30 mJ
O trabalho realizado pela força da mola, sobre a caixa, é positivo porque o trabalho
realizado, quando o bloco vai da posição xi= + 17 mm até à posição de equilíbrio, é
superior ao trabalho realizado quando o bloco vai da posição de equilíbrio até à posição
xf = - 12 mm.
Esta situação já nos apareceu, quando calculámos o trabalho realizado pela força da
mola. Vamos, agora, considerar que temos uma força dirigida ao longo do eixo dos x,
mas com uma intensidade que varia com a posição.
Fazendo uma análise idêntica à feita para a mola chegamos à conclusão que o trabalho
realizado pela força entre as posições xi e xf, é dado por
xf
W ≅ ∑ Fx ∆x
xi
78
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
W = ∫ Fx dx (6.15)
xi
Fig 6.6. (a) O trabalho realizado pela força Fx, para pequenos deslocamentos ∆x é igual à área do
rectângulo assinalado. O trabalho total é aproximadamente igual à soma de todos os rectângulos.
(b) O trabalho realizado pela força variável Fx é numericamente igual à área definida pela função e o
eixo OX, entre os pontos xi e xf.
É esta a expressão utilizada para o cálculo do trabalho realizado por uma força variável ,
que varia apenas com x. Geometricamente, o trabalho é igual à área entre a curva f(x) e
o eixo dos x, entre os limites xi e xf (ver figura 6.6)
Consideremos, agora, que uma força, a três dimensões, actua numa partícula.
r r r r
F = Fx i + Fy j + Fz k
em que as componentes Fx, Fy e Fz podem depender da posição da partícula. Vamos
fazer algumas simplificações: Fx pode depender de x, mas não pode depender de y ou de
z, Fy pode depender de y, mas não pode depender de x ou de z, Fz pode depender de z,
mas não pode depender de x ou de y.
Vamos considerar que a partícula sofre um deslocamento infinitesimal
r r r r
dr = dx i + dy j + dz k
r
O trabalho realizado pela força F , na partícula, durante este deslocamento é
r r
dW = F • dr = Fx dx + Fy dy + Fz dz
79
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
r
O trabalho realizado pela força F , sobre a partícula, quando a partícula se desloca da
posição inicial ri com coordenadas (xi, yi, zi) para a posição final rf com coordenadas
(xf, yf, zf), é, então
rf xf yf zf
W = ∫ dW = ∫ Fx dx + ∫ Fy dy + ∫ Fz dz (6.16)
ri xi yi zi
Exemplo 6.6
Resolução:
3 0 3 0
W = ∫ 3x dx + ∫ 4 dy = 3 ∫ x dx + 4 ∫ dy
2 2
2 3 2 3
3
x3
[ ]
= 3 + 4 [ y ]3 = 33 − 2 3 + 4 [0 − 3]= 7,0 J
0
3 2
b) O trabalho realizado pela força, tem sinal mais. Isto significa que é transferida
r
energia para a partícula, por intermédio da força F . A energia cinética da partícula
aumente e a sua velocidade também.
W = ∫ F ( x ) dx = ∫ m a dx (6.17)
xi xi
dv
m a dx = m dx (6.18)
dt
80
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Sabemos que a força varia com x, então a velocidade também varia com x. Utilizando a
regra de derivação para uma função composta, teremos
dv dv dx dv
= = v
dt d x dt d x
dv
m a dx = m v dx = m v dv
dx
e
vf vf
1 1
W= ∫ m v dv = m ∫ v dv = 2 m v − m vi2
2
f (6.19)
vi vi
2
No lado direito desta igualdade, temos a variação de energia cinética, quando a
velocidade se altera de vi para vf. Este resultado permite-nos escrever
W = Kf – Ki= ∆K
6.4 Potência
A potência P , fornecida por uma força, é a taxa á qual ela realiza trabalho. Se uma
dada força realizar um trabalho W, durante um intervalo de tempo ∆t , a potência média
fornecida pela força, no intervalo de tempo considerado, será
W
Pm = (6.20)
∆t
d W F cos θ dx dx
P= = = F cos θ = F v cos θ (6.21)
dt dt dt
81
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Se analisarmos o lado direito desta igualdade, veremos que, na realidade, ele representa
r r
o produto escalar, ou produto interno, dos vectores F e v .
r r
P = F •v (6.22)
Exemplo 6.7.
Um pequeno motor é utilizado para mover um elevador que sobe uma carga de tijolos,
pesando 800 N, a uma altura de 10 m, durante 20 s. Qual é a potência mínima , que o
motor deve produzir?
Resolução:
Vamos, agora, falar de outra forma de energia mecânica, chamada energia potencial, e
que está associada com a posição ou configuração dos objectos. Iremos ver que a
energia potencial de um sistema , pode ser vista como energia armazenada, que pode ser
convertida em energia cinética ou originar trabalho. O conceito de energia potencial só
pode ser utilizado quando trabalhamos com uma classe especial de forças, chamadas
forças conservativas. Quando num sistema só actuam forças conservativas, como a
força gravítica, ou a força exercida por uma mola, a energia cinética ganha (ou perdida)
pelo sistema quando os seus membros alteram as suas posições relativas, é compensado
por uma perda (ou ganho) igual de energia, na forma de energia potencial.
No nosso estudo, iremos falar da energia potencial gravítica que está associada com a
separação entre objectos, que se atraem devido ao facto de possuírem massa. Falaremos,
também, da energia potencial elástica, que está associada com o estado de extensão ou
compressão de um objecto elástico ( como, por exemplo, uma mola em hélice). Se
comprimirmos ou distendermos uma mola, realizamos trabalho . Esse trabalho realizado
vai alterar a energia potencial da mola
Vamos considerar que lançamos um objecto, que podemos considerar como uma
partícula, na direcção vertical. Já sabemos que o trabalho realizado, pela força da
gravidade, quando a partícula sobe é negativo e a partícula perde energia cinética
quando sobe. Podemos, agora, completar a nossa análise e dizer que a força gravítica
transfere esta energia para a forma de energia potencial gravítica do sistema Terra –
partícula. A nossa partícula pára, quando a velocidade se anula, e depois começa a
descer, devido à força gravítica. Durante a queda, o trabalho realizado pela força
82
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
∆U = - W (6.23)
Consideremos uma partícula que faz parte de um sistema em que actua uma força
r
conservativa, F . Quando essa força realiza trabalho na partícula, a variação ∆U, na
energia potencial associada com o sistema é igual a menos o trabalho realizado
∆U= - W. Para uma caso mais geral, em que a força varia com a posição, podemos
calcular o trabalho por
xf
W = ∫ F ( x) dx
xi
Esta equação dá-nos o trabalho realizado pela força. Quando o objecto se move de xi
para xf, alterando a configuração do sistema. Atendendo à relação que existe entre o
trabalho realizado e a variação de energia potencial, podemos escrever
83
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
xf
∆U = − ∫ F ( x) dx (6.24)
xi
Vamos considerar uma partícula de massa m, que se move verticalmente, para cima, ao
longo do eixo OY. Quando a partícula se desloca de yi para yf, a força gravítica realiza
trabalho. Para obter a variação na energia potencial gravítica do sistema Terra-
partícula, vamos utilizar a expressão (6.24)
yf yf
∆U = − ∫ (− m g ) dy = m g ∫ dy = mg [ y ] = m g ∆y
yf
yi
yi yi
U – Ui = ∆U = m g (y – yi) (6.25)
Agora, vamos considerar Ui como a energia potencial gravítica do sistema, quando ele
está numa configuração de referência, estando a partícula num ponto de referência yi.
Normalmente consideramos Ui= 0 quando yi= 0. Utilizando este facto, podemos
escrever
U (y) = m g y (6.25a)
Vamos considerar, novamente, o sistema formado por uma mola em hélice e um bloco
ligado à extremidade livre da mola. Quando o bloco se move de um ponto xi para xf, a
força da mola ( F= - k x) realiza trabalho no bloco.
Para determinarmos a variação de energia potencial elástica do sistema bloco-mola,
vamos utilizar a expressão (6.24).
xf xf
∆U = − ∫ (− kx ) dx = k ∫ x dx = k x 2f − k xi2
1 1
(6.26)
xi xi
2 2
84
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
E mec = K + U (6.27)
Vamos ver o que acontece a esta energia mecânica, quando apenas actuam forças
conservativas no sistema que estamos a considerar, ou seja, quando não há atrito a
actuar nos objectos do sistema. Vamos admitir que o sistema é isolado, do meio que o
rodeia. Como tal, não existem forças externas, capazes de provocar transferências de
energia dentro do sistema.
Quando uma força conservativa realiza trabalho, num objecto de um sistema, ele
transfere energia cinética de um objecto em energia potencial de um sistema. Pelo
teorema trabalho – energia cinética, sabemos que
∆K = W
e pela expressão (6.24)
∆U = -W
∆E = ∆K + ∆U = 0
e
∆K = - ∆U
K 2 − K 1 = − (U 2 − U 1 )
ou seja
K 2 + U 2 = K1 + U 1 (6.28)
Exemplo 6.8
Suponha que está no alto de um edifício, com 12m de altura, e dá um pontapé numa
bola, fazendo com que ela se mova a uma velocidade vi= 16 m/s, fazendo um ângulo de
60º, acima da direcção horizontal. Despreze o efeito da resistência do ar, e calcule:
a) A altura a que a bola sobe, acima do edifício
85
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Resolução:
a) A bola fica sujeita, apenas, à força da gravidade. Como se trata de uma força
conservativa, podemos aplicar o princípio da conservação da energia mecânica.
Na parte mais elevada do percurso da bola, viy= 0 m/s, tendo a velocidade da bola
apenas componente horizontal v= vix cos 60º. Vamos utilizar como nível de
referência, o telhado do edifício.
Sabemos que
E+alto= Ei
1 1
m v +2elev + mgh = m vi2
2 2
vi2 − v +2elev
h=
2g
Sabemos que vi= 16 m/s e v +elev = vi cos 60º = 8 m / s . Substituindo valores, obtém-se
h=
(16 m / s ) − (8 m / s )
2 2
= 9,8 m
(
2 9,8 m / s 2 )
b) Se considerarmos a energia mecânica da bola, imediatamente antes de tocar no
solo, teremos
1
E f = m v 2f + m g y
2
Podemos relacionar esta energia com a energia inicial
1 1
m v 2f + m g y = m vi2
2 2
v f = vi2 − 2 g y = 22,2 m / s
Exemplo 6.9
Resolução:
Depois do bloco ser libertado, as forças que realizam trabalho, são a força da mola e a
forças gravítica. Ambas são forças conservativas. A energia mecânica, total do sistema
mola-bloco-Terra é conservada.
86
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Exercício 6.3
Nos sistemas físicos reais, aparecem forças não conservativas como , por exemplo, o
atrito. Nesses casos, a energia mecânica já não é constante. Contudo, podemos continuar
a utilizar o teorema trabalho – energia.
Seja Wnc o trabalho realizado por forças não conservativas, e Wc o trabalho realizado
por forças conservativas. Podemos utilizar o teorema trabalho – energia, e escrever
Wnc + Wc = ∆ K
Como Wc= - ∆U (Eq. 6.24), esta equação reduz-se a
Wnc = ∆K + ∆U = (K f − K i ) + (U f − U i )
87
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Isto significa que o trabalho realizado pelas forças não conservativas, é igual à variação
da energia cinética, somada com a variação da energia potencial. Como a energia
mecânica total é E = K + U, podemos escrever
Wnc = (K f + U f )− (K i − U i ) = E f − E i (6.29)
Exemplo 6.10
r
f
r
m g sen 30º
r
m g cos 30º
Fig 6.8. a) Um bloco desliza ao longo de um plano inclinado, com atrito, devido à acção da
gravidade. b) Diagrama com as forças que actuam no bloco
parte do repouso, na parte mais elevada do plano, e fica submetido a uma força de atrito
constante de 5 N. O ângulo de inclinação do plano é 30º.
a) Utilize variações de energia, para calcular a velocidade do bloco, quando acaba
de percorrer 1 metro.
b) Utilize as leis de Newton, para obter a aceleração do bloco, e, de seguida, teste o
resultado obtido em a).
Resolução:
a) Como o bloco parte do repouso, vi= 0 m/s e Ki= 0 J. A energia potencial
gravítica, na parte mais elevada do plano é Ui = mg yi (consideramos que o eixo
dos y tem início na base do plano inclinado). A energia mecânica do bloco, na
parte mais elevada do percurso é
E i = m g y i = (3 kg ) (9,8 m / s 2 )(0,5m ) = 14,7 J
Quando o bloco atinge a parte mais baixa do percurso, a sua energia potencial
1
gravítica vai ser nula (pois y=0 m ) e a energia cinética será K f = m v 2f . Então, a
2
1
energia mecânica total, no final do percurso, será E f = m v 2f . Neste caso não
2
podemos dizer que Ei = Ef pois está a actuar uma força de atrito, que não é
conservativa.
88
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
O trabalho realizado pela força de atrito no bloco, vai ser Wnc= f s cos (180º)= -fs ,
sendo s o deslizamento do bloco, ao longo do plano. Substituindo valores, teremos
Wnc= (5,0 N) (1,0 m) = - 5,0 J.
Aplicando o teorema trabalho – energia, envolvendo forças não conservativas
1
Wnc= Ef – Ei ⇒ m v 2f = − 5,0 J + 14,7 J = 9,7 J
2
v 2f =
(2 X 9,7 ) J = 6,47 m 2 / s 2 ⇒ v f = 2,5 m / s
3 kg
m g sen 30º - fc = m a
fc
a = g sen30 º −
m
(
= 9,8 m / s 2 sen30 º − )
5,0 N
3 kg
= 3,2 m / s 2 Como a
aceleração é
constante, podemos utilizar a expressão
v 2f = vi2 + 2 a s
89
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
dU
Fx = − (6.31)
dX
A força conservativa é igual a menos a derivada da função energia potencial, em ordem
a x.
Podemos, facilmente, testar esta relação, utilizando dois exemplos já apresentados.
Vimos que a energia potencial de uma mola elástica era
1
U mola = k x 2
2
então
d U mola
= − k (2 x ) =
1
Fmola = −
dX 2
= −k x
que é, como vimos, a força
exercida pela mola (lei de
Hooke).
Se considerarmos a energia
potencial gravítica Ug= m g y ,
obteremos
dUg
Fg = − = − mg
dy
A figura 6.9a, mostra-nos um
gráfico da função energia
potencial U(x), para um sistema
onde uma partícula sofre um
movimento, a uma dimensão,
Fig 6.9 a) Curva da energia potencial de um sistema, quando a força conservativa F(x)
contendo uma partícula que se move segundo OX. b) realiza trabalho sobre o sistema.
Força F(x) que actua na partícula
Podemos, facilmente, obter o
valor de F(x) através do declive da tangente à curva, em vários pontos do gráfico. A
figura 6.9b mostra-nos o gráfico de F(x), obtido deste modo.
No gráfico a) podemos ver uma linha horizontal que corresponde à energia total do
sistema. Sabendo o valor da energia potencial (retirado da curva), podemos saber o
valor da energia cinética (por subtracção com a energia total.
Vimos que a energia mecânica total de um sistema é conservada, quando apenas actuam
no sistema forças conservativas. Vimos, também, que podemos associar a cada força
conservativa, uma função energia potencial. Por outras palavras, perde-se energia
mecânica quando forças não conservativas como , por exemplo, o atrito, estão presentes.
Podemos generalizar o princípio de conservação da energia mecânica, para incluir todas
as forças que actuam no sistema. Já vimos que, quando actuam forças de atrito, parte da
energia mecânica é transformada em energia térmica. Por exemplo, quando um bloco
desliza sobre uma superfície rugosa, a energia mecânica perdida, é transformada em
energia interna, temporariamente armazenada no bloco e zona de contacto, aumentando
a sua temperatura. Se incluirmos este aumento de energia interna do sistema, no nosso
teorema trabalho – energia, a energia total é conservada.
90
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 6
Este é apenas um exemplo de como um sistema pode ser analisado, concluindo-se que a
energia total de um sistema isolado, não sofre alteração, desde que se tenha em conta
todas as formas de energia. Daqui podemos concluir que a energia não pode ser criada
nem destruída. A energia pode ser transformada de uma forma para outra, mas a
energia total de um sistema isolado, é sempre constante. Podemos generalizar e dizer
que a energia do universo é constante. Se uma parte ganha energia ( seja qual for a
forma de energia), existe outra parte que perde uma quantidade igual de energia.
91
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
7.1. Introdução
Vamos ver como se calcula o centro de massa de vários sistemas. Vamos considerar um
sistema simples, constituído por
duas partículas, localizadas no eixo
OX. A partícula de massa m1 está (a)
localizada no ponto x1, e a
partícula de massa m2 localiza-se
no ponto x2.
A posição do centro de massa é
dada por
m x + m2 x 2
X CM = 1 1 (7.1) (b)
m1 + m2
localiza-se na linha existente entre Fig 7.1 Centro de massa de um sistema formado por duas
elas. Se as massas forem iguais, o massas. (a) As massas são diferentes e o centro de massa
centro de massa localiza-se, está mais próximo da que tem maior massa. (b) As massas
exactamente, a meio da distância são iguais e o centro de massa está a meio da distância
entre as duas massas. Se as entre as duas massas
partículas tiverem massas
diferentes, o centro de massa estará mais próxima da partícula com maior massa.
Se considerarmos x1=0 (a partícula de massa m1 está na origem do sistema de eixos) e
se x2= d, teremos
m2
X CM = d (7.1a)
m1 + m2
92
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
Note-se que, apesar de ter sido alterada a origem do sistema de eixos, o centro de massa
encontra-se à mesma distância de m1 e de m2. Se considerarmos a massa total do
sistema M= m1+ m2, teremos
m x + m2 x2
X CM = 1 1 (7.2)
M
Podemos estender esta equação a um sistema mais geral, constituído por n partículas,
localizadas ao longo do eixo OX. A massa total do sistema, será M = m1+m2+… .+ mn,
e a sua localização será
m x + m 2 x 2 + ...... + mn x n 1 n
X CM = 1 1 = ∑ mi x i (7.3)
M M i =1
Podemos generalizar esta definição, para um sistema de muitas partículas, a três
dimensões. Nestes casos, os vectores posição de cada partícula, irão ter componentes
segundo os eixos OX,OY e OZ. O vector posição do centro de massa, também irá ter
três coordenadas.
n n n
1 1 1
X CM =
M
∑m
i =1
i xi ; YCM =
M
∑m
i =1
i yi ; Z CM =
M
∑m z
i =1
i i (7.4)
r r r r
Atendendo a que ri = xi i + y i j + z i k e o vector posição do centro de massa é dada
por
r r r r
rCM = X CM i + YCM j + Z CM k (7.5)
v 1 n r
rCM = ∑ mi ri (7.6)
M i =1
sendo M, a massa total do sistema.
Vamos, agora, ver como se determina a posição do centro de massa de um objecto
formado por um meio contínuo, de dimensões finitas. Em vez de considerarmos
partículas, vamos considerar elementos de volume dV, com massa dm; nestas
condições, os somatórios das expressões (7.4) passam a integrais, e teremos
1 1 1
X CM =
M ∫ x dm ; YCM =
M ∫ y dm ; Z CM =
M ∫ z dm (7.7)
dm M
= ρ= (7.8)
dV V
sendo dV o volume ocupado pela massa dm, e V o volume total do objecto. Se
substituirmos dm por (M/V) dV, nas equações (7.7), teremos
93
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
1 1 1
V∫ V∫ V∫
X CM = x dV ; YCM = y dV ; Z CM = z dV (7.9)
Pode-se evitar o cálculo destes integrais, se o objecto possuir um ponto, uma linha ou
um plano de simetria. O centro de massa desse objecto, irá localizar-se no ponto, na
linha ou no plano de simetria. O centro de massa de uma esfera uniforme, por exemplo,
localiza-se no centro da esfera (que é o ponto de simetria). O centro de massa de um
cone uniforme (cujo eixo é uma linha de simetria) localiza-se no eixo do cone. O centro
de massa de uma banana ( que tem um plano de simetria que divide a banana em duas
partes iguais) localiza-se algures, nesse plano. O centro de massa de um objecto não tem
que se localizar no próprio objecto. O centro de massa de um donut, localiza-se na
ponto central (onde não existe massa ).
Exemplo 7.1
Resolução:
1 3
m1 x1 + m2 x 2 + m3 x3 (2,5kg )(140 cm ) + (3,4 kg )(70 cm )
X CM =
M
∑m x
i =1
i i =
M
=
7,1kg
= 83 cm
1 3
m1 y1 + m2 y 2 + m3 y 3 (3,4 kg )(121cm )
YCM =
M
∑m i =1
i yi =
M
=
7,1 kg
= 58 cm
r r r
rCM = 83 i + 58 j ( cm )
94
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
Exemplo 7.2.
Calcular o centro de massa da folha representada (ver figura 7.3), sabendo que a sua
espessura é uniforme.
Resolução:
A folha pode ser dividida em duas partes simétricas. O centro de massa de cada parte,
Fig 7.3 Para determinar o centro de massa da folha, com densidade uniforme, dividimo-la em duas
folhas, 1 e 2, calculando o Centro de massa destas porções por simetria
coincide com o seu centro geométrico. Seja m1 a massa da parte 1 e m2 a massa da parte
2. A massa total do sistema será M = m1+ m2. Como a espessura é uniforme, as massas
são proporcionais às áreas.
Vamos aplicar as expressões (7.4)
M X CM = m1 x1 + m2 x 2
M YCM = m1 y1 + m2 y 2
Como a massa é proporcional à área, vamos calcular as áreas dos dois rectângulos
A1= (0,8 m X 0,4 m) = 0,32 m2 A2= (0,2 m X 0,2 m)=0,04 m2
(A1/ A2 ) = 8 ⇒ m1 = 8 m2 e M = 8 m2 + m2 = 9 m2
Atendendo à simetria do problema, podemos dizer que o centro de massa está no centro
de cada rectângulo de placa. Assim, teremos:
95
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
r r r
rCM = 0,43 i + 0,23 j ( m )
r
sendo M a massa total do sistema e rCM o vector posição do centro de massa. Derivando
esta expressão, em ordem ao tempo, obtemos
r r r r
M vCM = m1v1 + m2 v 2 + ...... + mn v n (7.12)
r r
r d rCM r d ri
onde vCM = é a velocidade do centro de massa, e vi = é a velocidade da
dt dt
partícula i. Derivando, novamente, em ordem ao tempo, obtemos
r r r r
M a CM = m1 a1 + m 2 a 2 + ...... + m n a n (7.13)
r r
r dv r dv
sendo aCM = CM , a aceleração do centro de massa, e ai = i ,a aceleração da
dt dt
partícula i.
96
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
Apesar do centro de massa ser apenas um ponto geométrico, ele tem uma posição, uma
velocidade e uma aceleração, como se fosse uma partícula. Se aplicarmos a segunda lei
de Newton a (7.13), obteremos
r r r r
M aCM = F1 + F2 + ...... + Fn (7.14)
Nas forças que estão no lado direito desta igualdade, estão incluídas as forças que as
partículas constituintes do sistema exercem umas sobre as outras ( forças internas), e
forças externas ao sistema, exercidas sobre as partículas. De acordo com a terceira lei de
Newton, as forças internas apresentam-se aos pares e cancelam-se. No lado direito da
igualdade (7.14) ficam apenas as forças externas ao sistema.
Exemplo 7.3
Resolução:
97
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
a CM = a CM
2
, x + a CM , y = 1,16 m / s = 1,2 m / s
2 2 2
r r
dp
FR = (7.16)
dt
Podemos, facilmente, verificar esta igualdade
r r r
dp d r dv r
FR = = (m v ) = m =ma
dt dt dt
98
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
Comparando (7.11) com (7.19), podemos escrever a segunda lei de Newton para um
sistema de partículas
r r
dp
FR = (7.20)
dt
r
sendo FR a resultante das forças externas, que actuam no sistema.
Exemplo 7.4
Resolução:
Vamos supor que a resultante das forças externas, que actuam num sistema, é zero, e
que não há partículas a entrar ou a sair do sistema (o sistema está fechado). De acordo
com (7.20), teremos
r
dp r
0= ⇒ p = cons tan te
dt
ou seja
r r r
p = ∑ mi vi = M vCM = cons tan te
i
99
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
r r
pi = p f (7.21)
Exemplo 7.5
Uma caixa com uma massa de 6,0 kg, desliza com uma velocidade de 4,0 m/s sobre solo
horizontal, sem atrito, no sentido positivo do eixo OX. De repente, a caixa rebenta,
ficando dividida em duas partes. Uma parte, com massa m1=2,0 kg, move-se na
direcção positiva do eixo OX, com velocidade v1= 8 m/s. Qual é a velocidade da
segunda parte da caixa, com massa m2 ?
Resolução:
O nosso sistema, que inicialmente é constituído pela caixa, e , depois, pelas duas partes
da caixa, é um sistema fechado mas não isolado. A caixa e as partes estão submetidas à
força normal, exercida pelo solo, e à força gravítica. Contudo, estas forças são verticais,
e não vão alterar a componente horizontal do momento linear do sistema.
As forças produzidas pela explosão, também não afectam o momento linear do sistema,
porque são forças internas do sistema. Assim, a componente horizontal do momento
linear do sistema mantém-se constante, antes e depois da explosão.
r r
O momento linear inicial do sistema, será pi = m v . O momento linear final será a
r r r
soma dos momentos lineares das duas partes p f = m1 v1 + m2 v 2 . Como há
r r
conservação de momento linear, podemos escrever pi = p f . Como as velocidades têm
a direcção do eixo OX, esta igualdade reduz-se a
m v = m1 v1 + m2 v 2
(6,0 kg) (4,0 m/s)= (2,0 kg) (8,0 m/s) + (4,0 kg) v2
v2 =
(24,0 kg m / s ) − (16 kg m / s ) = 2,0 m / s
4,0 kg
Como o resultado é positive, a segunda parte da caixa também se move no sentido
positivo do eixo OX, tendo uma velocidade inferior à da parte1 da caixa.
Exemplo 7.6
Uma bala é disparada horizontalmente, entrando num bloco de madeira, suspenso por
cordas. A bala pára dentro do bloco, que, devido ao impacto, sobe 0,2 m. A massa da
bala é 0,03Kg e a massa do bloco é 2 kg.
a) Determine a velocidade do bloco, imediatamente após a bala se ter alojado nele?
b) Determine a velocidade da bala, antes de atingir o bloco
Resolução:
Vamos dividir o problema em duas partes. A primeira é a colisão rápida entre a bala e o
bloco de madeira; a segunda parte é a subida do bloco com a bala. As forças que actuam
depois da colisão, são a gravidade e a tensão nas cordas. A tensão forma ângulos de 90º
com o deslocamento e, por isso, não realiza trabalho. Assim, podemos dizer que a
energia mecânica do sistema ( energia potencial gravítica mais energia cinética) é
100
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
conservada, quando o bloco sobe. Isto vai permitir-nos, relacionar a altura atingida
(h)com a velocidade v, imediatamente após a bala ter parado, dentro do bloco.
a) Vamos dizer que a velocidade do bloco, com a bala, depois do impacto é V,
sendo a sua energia cinética K = (m + M ) v 2 . No ponto onde o bloco está mais
1
2
elevado, a energia cinética é zero. A energia potencial gravítica, nesse ponto,
será U= (m+M) gh. Como a energia mecânica não sofre alterações, teremos
1
(m + M ) v 2 = (m + M ) g h
2
Resolvendo, em ordem a v, obtém-se
v = (2 gh )
1/ 2
[( ) ]
= 2 9,8m / s 2 (0,2m )
1/ 2
=1,98 m / s
r
b) Vamos designar por m v1 o momento linear da bala, antes de atingir o bloco.
Depois da bala parar, dentro do bloco, o momento linear do sistema
(bala+bloco) é (m + M ) v . Como há conservação do momento linear do sistema,
r
podemos dizer que
m v1 = (m + M ) v
r r
Como os vectores velocidade são ambos na direcção do eixo OX, podemos dizer
que
m v1= (m+M) v
e
v1 =
(m + M ) v = (0,03 kg + 2 kg ) (1,98 m / s ) =134 m / s
m (0,03 kg )
7.5. Colisões
101
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
Vamos definir colisão elástica como sendo uma colisão onde há conservação de
momento linear e de energia cinética. As colisões entre bolas de bilhar e das moléculas
de ar com as paredes dos reservatório a temperaturas normais, são exemplos de colisões
elásticas.
Define-se colisão inelástica como sendo uma colisão onde há conservação de momento
linear mas não há conservação de energia cinética. A colisão de uma bola de borracha
com uma parede é inelástica, pois parte da energia cinética da bola é perdida quando ela
se deforma, em contacto com a parede. Quando os dois ou mais objectos colidem e
ficam unidos, depois da colisão, a colisão diz-se perfeitamente inelástica. Este é um
caso extremo de colisão inelástica. Se um meteorito colidir com a Terra, ele fica
enterrado e a colisão é perfeitamente inelástica. Contudo, a energia cinética inicial não
tem que ser totalmente perdida, pois os corpos podem mover-se, depois da colisão.
7.5.1. Impulso
r tf r
I = ∫ F (t ) dt (7.22)
ti
Esta equação diz-nos que o módulo do impulso é igual à área definida pela curva F(t)
com o eixo dos t.
Atendendo à relação (7.20) podemos dizer que
tf
r r r r
∆p = p f − p i = ∫ F (t ) dt
ti
(7.23)
Comparando esta expressão com (7.22),
podemos dizer que
r r
I =∆ p
(7.23a)
Fig 7.7.(a) A força que actua numa diferente de zero, no intervalo de tempo ∆t =
partícula, pode variar ao longo do tempo. tf – ti. A direcção e sentido do vector impulso,
(b) A força média origina o mesmo é o mesmo da variação do momento linear.
impulso à partícula, se actuar no mesmo
intervalo de tempo
102
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
Note-se que o impulso não é uma propriedade da partícula, mas uma quantidade que
mede o valor com que uma força externa altera o momento linear de uma partícula.
Quando dizemos que foi dado um impulso a uma partícula, isso significa que um agente
externo à partícula transferiu, para ela, momento linear.
Como a força varia ao longo do tempo, é conveniente definir uma força média F , dada
por
tf
1 r
∆ t ∫ti
F = F dt
sendo ∆t = tf – ti. Sendo assim, a equação (7.23a) pode ser substituída por
r r
I =∆ p = F ∆t (7.24)
Esta força média, pode ser considerada uma força constante, que no intervalo de tempo
considerado, dará um impulso à partícula, que é igual ao impulso fornecido pela força
que varia ao longo do tempo.
Exemplo 7.7:
Uma força média de 1200 N, é aplicada a uma bola de aço com uma massa de 0,40 kg,
movendo-se a 14 m/s, numa colisão que demora 27 ms: Calcule a velocidade final e a
direcção da bola, sabendo que a força tem um sentido oposto ao da velocidade inicial da
bola.
Resolução:
r
Vamos supor que vi = (− 14 m / s ) i . Sabemos que
r
( )
I = F ∆ t = (1200 N ) 27 X 10 −3 s = 32,4 kg m / s
e
r r r r
∆ p = I = m v f − m vi
32,4 i = (0,40 kg ) (v f + 14)i
r r
r
vf =
(32,4 − 5,6) ir = (67 m / s ) ir
0,40
Nesta secção vamos analisar colisões a uma dimensão e considerar dois tipos de colisão:
primeiro vamos considerar uma colisão perfeitamente inelástica, e, depois, uma colisão
elástica. Em ambos os casos verifica-se conservação de momento linear, antes e depois
da colisão. Na colisão elástica verifica-se também conservação de energia cinética.
103
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
r
vf
r r
v1i v 2i
Fig 7.8. representação esquemática de uma colisão frontal, perfeitamente inelástica. (a) Antes da
colisão. (b) Depois da colisão.
Exemplo 7.8
Resolução:
a) Depois da colisão, a bala fica parada dentro do bloco. O bloco fica com uma
velocidade vB e adquirindo energia cinética. A força de atrito actua durante o
deslizamento do bloco, diminuindo a sua energia cinética, até parar. O trabalho
total, realizado pela força de atrito é igual à variação de energia cinética do
bloco.
Vamos calcular a intensidade da força de atrito, para calcularmos o trabalho
realizado por ela.
f = µ c N = (0,20 )(2,4 + 4,5 X 10 −3 )(9,8) = 4,7 N
W= f d = (4,7N) (1,8m)=8,46 J
A energia cinética do bloco vai ser dissipada pela força de atrito
M v B2 = (2,4 kg ) v B2 = 8,46 J
1 1
Ec =
2 2
Daqui retiramos o valor da velocidade do bloco vB= 2,66 m/s
b) Para sabermos a velocidade com que a bala foi disparada, vamos utilizar o
princípio de conservação do momento linear
(4,5 X 10 −3
) ( )
kg v A + 0 = 4,5 X 10 −3 kg + 2,4kg (2,66 m / s )
104
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
Colisões elásticas
Exemplo 7.9:
Os blocos da figura 7.10, deslizam sem
atrito.
a) Qual é a velocidade do bloco de
1,6 kg, depois da colisão?
b) A colisão é elástica ?
Resolução:
Para obtermos a velocidade do bloco,
vamos utilizar o princípio de conservação Fig 7.10. Os blocos indicados deslizam, sem
do momento linear. atrito. Antes da colisão, o bloco de 1,6 kg tem
m1 v1i + m2 v 2i = m1 v1 f + m2 v 2 f uma velocidade superior indo colidir com o outro
bloco. Depois da colisão, os bloco continuam a
mover-se na mesma direcção e sentido.
( 1,6 kg) (5,5 m/s)+ (2,4 kg) (2,5 m/s) =
(1,6kg) v1f + (2,4 kg) (4,9 m/s)
105
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
1
(1,6kg )(5,5 m / s )2 + 1 (2,4kg )(2,5 m / s )2 = 1 (1,6kg )(1,9 m / s )2 + 1 (2,4kg )(4,9 m / s )2
2 2 2 2
31,7 J = 31,7 J
r r
v1 f sen θ v1 f
r
v1 f cos θ
r
v1i r
v 2 f cos φ
r
− v 2 f sen φ
r
v2 f
Se considerarmos que a colisão é elástica, teremos que escrever uma terceira condição
que traduza a conservação da energia cinética
1 1 1
m1 v12i = m1 v12f + m 2 v 22 f (conservação de energia cinética)
2 2 2
106
Física 1.1-Manual- Maria Rosa Duque -Cap 7
Exemplo 7.10
Dois corpos A e B, com 2,0 kg cada, colidem. As velocidades, antes da colisão, são
r r r
r r r
v A = 15 i + 30 j
v B = − 10 i + 5,0 j
e
r r r
Depois da colisão, a velocidade de A é v 'A = − 5,0 i + 20 j . Todas as velocidades são
expressas em m/s.
a) Qual é a velocidade final de B ?
b) Que quantidade de energia cinética é ganha ou perdida, durante a colisão?
Resolução:
a) Vamos aplicar o principio de conservação do momento linear, e dizer que
r
r r r
m A v A + m B v B = m A v A' + m B v B'
Componente segundo OX
(2,0kg )(15 m / s ) + (2,0kg )(− 10m / s ) = (2,0 kg )(− 5,0m / s ) + (2,0kg ) v BX
'
obtendo-se
'
v BX =10 m / s
Componente segundo OY
(2,0kg )(30m / s ) + (2,0kg )(5,0m / s ) = (2,0kg )(20m / s ) + (2,0kg ) v By'
obtendo-se
'
v BY = 15 m / s
107
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Cap 8. Rotações
8.1 Introdução
Se examinarmos o mundo que nos rodeia, facilmente verificamos que as rotações estão
presentes, desde o nível molecular até ao nível das galáxias.
Até aqui, tratámos os objectos como sendo partículas, com a massa centrada num ponto.
No entanto, se examinarmos a rotação de um objecto, em torno de um eixo fixo (por
exemplo uma roda gigante num parque de diversões, um disco num gira-discos, um
prato de um microondas, etc) vemos que não o podemos considerar como sendo uma
partícula, pois num dado instante, partes diferentes do corpo apresentam valores
diferentes de velocidade e de aceleração.
Para estudarmos o movimento de rotação, vamos considerar que os corpos se
comportam como corpos rígidos. Isto significa que os corpos não sofrem deformação,
ou que a separação entre as partículas constituintes do corpo não sofre alteração, ao
longo do tempo.
108
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
2π r
∆θ = = 2 π radianos = 360º
r
ω 2 − ω1 ∆ω
α= = (8.4)
t 2 − t1 ∆t
Por analogia com a aceleração linear, vamos definir a aceleração angular instantânea,
como o limite da aceleração angular média, quando ∆t tende para zero
∆ω d ω
α = lim = (8.5)
∆t →0 ∆ t dt
109
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
ω = ωo + α t (α constante) (8.6)
Do mesmo modo, se integrarmos a expressão (8.6), considerando que θ = θo, para t=0s,
obteremos
1
θ =θ o + ωo t + α t 2 (8.7)
2
ω 2 = ω o2 + 2 α (θ − θ 0 ) (8.8)
Note-se que estas expressões para o movimento de rotação, com aceleração angular
constante são da mesma forma das obtidas para o movimento linear com aceleração
linear constante. A equivalência obtém-se substituindo x por θ, v por ω e a por α. A
tabela 8.1, mostra as equações para os dois tipos de movimento.
Exemplo 8.1.
Uma roda move-se, com uma aceleração angular constante, de 3,5 rad/s2. Suponha que a
velocidade angular da roda é 2,0 rad/s, em t= 0s.
a) Qual o valor do ângulo, varrido pela roda, num intervalo de tempo de 2 s?
b) Qual a velocidade angular da roda em t= 2 s?
110
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Resolução:
1
a) Vamos utilizar a equação θ − θ o = ω o t + α t 2 .Substituindo valores,
2
obteremos
θ − θ o= (2,0 rad / s )(2s ) +
1
2
( )
3,5 rad / s 2 (2 s ) = 11 radianos = 630º = 1,75 rotações
2
Exercício 8.1:
111
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
dv dω
at = =r
dt dt
ou seja
at = r α (8.10)
a = at2 + a r2 = r 2α 2 + r 2ω 4 = r α 2 + ω 4 (8.12)
Exemplo 8.2:
Resolução:
a) Relembremos que uma rotação corresponde a 2 π radianos. A velocidade
angular, em t=0s, vai ser
1 min
ω o = (33 rot / min )(2π rad / rot ) = 3,46 rad / s
60 s
112
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Exercício 8.2:
Qual é a velocidade linear, inicial, de um ponto na borda do gira-discos?
113
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
1
K = ∑ mi ri 2 ω 2 (8.13)
2 i
O ω2 fica fora do parêntesis, pois ele tem o mesmo valor, para todas as partículas. A
quantidade que está dentro do parêntesis é chamada momento de inércia, I
I= ∑m
i
i ri 2 (8.14)
Utilizando esta notação, podemos dizer que a energia cinética de rotação de um corpo
rígido é
1
K = I ω2 (8.15)
2
A partir da definição de momento de inércia, podemos ver que as suas dimensões são
M L2, sendo as suas unidades, no sistema SI, o kg m2. Esta variável toma o papel da
massa em todas as equações que envolvam movimento de rotação. Apesar de podermos
1
dizer que a quantidade I ω 2 é a energia cinética de rotação, ela não é uma forma
2
nova de energia. Trata-se de energia cinética normal, pois ela resultou da soma da
energia cinética das diferentes partículas, constituintes do corpo rígido. A forma de
energia representada pela equação (8.15) é conveniente para se utilizar em movimento
de rotação, desde que possamos calcular o I (momento de inércia).
É importante reconhecer a analogia entre energia cinética associada com movimento
1 1
linear m v 2 , e a energia cinética de rotação, I ω 2 . As quantidades I e ω, no
2 2
movimento de rotação, são análogas a m e v, no movimento linear.
Exemplo 8.3
114
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Resolução:
1
2
1
( )
K = I ω 2 = 2 M a2 ω 2 = M a2 ω 2
2
O facto de as partículas de massa m não entrarem neste resultado, faz sentido, pois estas
partículas não têm movimento em torno do eixo OY.
IZ = ∑m
i
i ri 2 = M a 2 + M a 2 + m b 2 + m b 2
I Z = 2 M a2 + 2 m b2
1 1
( ) (
K = I ω 2 = 2 M a2 + 2 m b2 ω 2 = M a2 + m b2 ω 2
2 2
)
Comparando os resultados obtidos para a) e b), concluímos que o momento de inércia e
também a energia cinética de rotação, depende do eixo de rotação.
I = ∫ ρ r 2 dV (8.17)
115
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Se o corpo for homogéneo, ρ é constante, e podemos calcular o integral, para uma dada
geometria. Se ρ não for constante, a variação com a posição, deve ser especificada.
Resolução:
I Z = ∫ r 2 dm = R 2 ∫ d m = M R 2
Resolução:
−L / 2
L L −L / 2
L 3
−L / 2 L 24 24 12
116
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Exercício 8.3:
Calcule o momento de inércia de uma vara rígida, uniforme, em relação a um eixo
perpendicular à vara, localizado numa extremidade .
Note que o cálculo requer que os limites de integração sejam de x=0 a x=L
1
Solução: M L2
3
Tabela 8.2. Momentos de inércia de corpos rígidos e homogéneos, com os respectivos eixos de
rotação.
117
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
I = ICM+ M h2 (8.17)
Exemplo 8.6
Resolução:
Este problema foi resolvido no exercício 8.3, tendo-se obtido o valor (1/3) M L2.
Vimos, no exemplo 8.5, que o momento de inércia da vara, em relação a um eixo
perpendicular, que passa no centro da vara é (1/12) M L2, e a distância entre este eixo e
o eixo que passa na extremidade da vara é h=L/2. Aplicando o teorema dos eixos
paralelos, obtemos
1 L2 1
I = I CM + M h 2 = M L2 + M = M L2
12 4 3
Exercício 8.4
7
Solução: M L2
48
118
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
pelo centro do disco (figura 8.10 b) não produzem rotação do disco. Sendo assim, para
obtermos rotação, é importante o ponto de aplicação das forças. Uma única força, pode
ser responsável pela rotação do corpo (ver figura 8.11).
(a) (b)
Fig 8.10 (a) Forças de linhas de acção paralelas e com sentidos opostos, originam rotação do
disco. (b) Forças de sentidos opostos mas com a mesma linha de acção e passando pelo centro
de massa do corpo, não originam rotação.
A tendência de uma força para rodar um corpo em torno de um eixo, é medida por uma
quantidade chamada momento da força
r r
F sen φ F em relação ao eixo ou torque (ττ).
Consideremos a chave a apertar o
parafuso, que roda em torno de O (ver
r
figura 8.11). A força aplicada F faz um
r ângulo φ com a direcção horizontal.
F cos φ Vamos definir intensidade do torque, τ,
r
resultante da força F , pela expressão
τ = r F sen φ = F d (8.18)
r
Fig 8.11. A força F vai fazer rodar a chave. É importante reconhecer que o torque só é
A rotação aumente com o valor de F e com o
valor do braço da força, d. definido se existir eixo de rotação. A
quantidade d= r sen φ, é chamada braço da
r
força F , e representa a distância na perpendicular do eixo de rotação até à linha de
r
acção da força. Note-se que a componente de F , capaz de produzir rotação, é apenas F
sen φ, a componente perpendicular a r. A componente horizontal, F cos φ, cuja linha de
acção passa por O, não produz rotação.
r
A figura 8.12, mostra-nos que F2 tem tendência a rodar o corpo, no sentido do
r
movimento dos ponteiros do relógio, e F1 tem tendência em fazê-lo rodar no sentido
oposto.
Podemos utilizar a convenção que diz que o sinal do torque , resultante de uma força, é
positivo se a sua tendência é para rodar no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio
e negativo se a tendência é para rodar no sentido do movimento dos ponteiros do
r
relógio. Por exemplo, na figura 8.12, o torque resultante de F1 , com braço da força d1 é
119
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
τ =τ 1 + τ 2 = F1 d1 − F2 d 2
Exemplo 8.7
r
F1
Consideremos um cilindro sólido, que pode rodar
em torno de um eixo fixo, que passa por O (ver
figura 8.13). Uma corda, enrolada em torno da
parte externa do cilindro, de raio R1, exerce uma
r
força F1 , para a direita do cilindro. Uma segunda
corda, enrolada em torno de outra secção, de raio
r
R2, exerce uma força para baixo, F2 .
r
F2 a) Qual é o torque que actua no cilindro, em
Fig 8.13. Um cilindro sólido, torno do eixo dos z, e que passa por O?
rodando em torno de um eixo que b) Suponha que F1= 5 N, R1= 1,0 m, F2= 6 N
passa por O e R2= 0,5 m. Qual é o torque resultante, e
como vai rodar o cilindro?
Resolução:
r
a) O torque originado por F1 é τ1= - R1 F1 ( o sinal negativo, indica que a força faz
rodar o cilindro no sentido do movimento dos ponteiros do relógio). O torque,
r
originado por F2 é τ2= R2 F2 (o sinal positivo indica que a força faz rodar o
cilindro no sentido contrário ao do movimento dos ponteiros do relógio). Então,
o torque resultante será
τ =τ 1 + τ 2 = − R1 F1 + R2 F2
120
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Como o torque resultante é negativo, o cilindro irá rodar no sentido do movimento dos
ponteiros do relógio
τ=Iα (8.19)
Isto significa que o torque que actua na partícula, é proporcional à sua aceleração
angular, e a constante de proporcionalidade é o momento de inércia. É importante notar
que esta relação (8.19), válida para o movimento rotacional, é idêntica à 2ª lei de
r r
Newton ( F = m a ) para o movimento de translação.
É possível mostrar que esta igualdade também é válida para um corpo rígido, de forma
arbitrária, rodando em torno de um eixo fixo.
Exemplo 8.8
Uma vara uniforme de comprimento L e
massa M, pode rodar livremente em torno de
um eixo localizado numa extremidade da vara
(ver figura 8.14). A vara é libertada na
posição horizontal. Qual é a aceleração
angular inicial da vara e a aceleração linear
inicial, da extremidade do lado direito da
vara?
Fig 8.14 Vara uniforme com um eixo de
rotação na extremidade do lado esquerdo
Resolução:
Para fins de cálculo do torque na vara, podemos considerar que o peso ( M g ) está
localizado no centro geométrico da vara, que consideramos como sendo o seu centro de
massa. A intensidade do torque, associado a esta força, em relação ao eixo localizado na
extremidade esquerda da vara é
L
τ =M g
2
A força exercida no eixo de rotação tem torque nulo, pois r=0.
121
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
1 L
Como τ = I α sendo I = M L2 , teremos I α = M g , e
3 2
3 g
α=
2 L
Exemplo 8.9
Resolução:
O torque, que actua na roda, em relação ao seu
eixo de rotação, é τ = T R. O peso da roda e a
força normal do eixo na roda, passam pelo eixo de
rotação e o seu torque é nulo. Como τ= I α,
teremos
T R
τ = I α =T R ⇒ α = (1)
I
Vamos, agora, aplicar a segunda lei de Newton, à
massa suspensa m.
m g −T
∑F y = T − m g = − ma ⇒ a =
m
(2)
A aceleração linear da massa suspensa, é igual à
aceleração tangencial de um ponto na borda da Fig 8.15 A corda que suspende o corpo m
roda. A aceleração angular da roda, e esta está enrolada á volta da roda
aceleração linear, estão relacionadas por a = R α. Utilizando este facto, junto com as
relações (1) e (2), obteremos
T R T R 2 m g −T
a= Rα = R = =
I I m
e
122
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
mg
T=
m R2
1+
I
Podemos, também, obter o valor de a e de α
T R2 mg R2 g
a= = 2
=
I mR I I
1+ 1+
I mR 2
a g
α= =
R I
R+
mR
Exercício 8.5:
A roda da figura 8.15, é um disco sólido, de massa M=2,0kg, R = 30 cm, e I=0,09kg m2.
O objecto suspenso, tem uma massa m=0,5 kg. Calcule a tensão na corda, e a aceleração
angular da roda.
d W= τ dθ (8.20)
123
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
r
A taxa à qual está a ser realizado trabalho, pela força F , para haver rotação em torno do
eixo que passa por O, é obtida formalmente dividindo por dt, cada membro da igualdade
(8.20)
dW dθ
=τ (8.21)
dt dt
Mas, (dW/ dt) é, por definição, a potência instantânea P, e dθ/dt é a velocidade angular,
ω. Teremos, então
P=τω (8.22)
dω dω dθ dω
τ =Iα =I =I =I ω
dt dθ d t dθ
I ω dω = τ dθ = dW
θ ω
1 1
W = ∫ τ dθ = ∫ I ω dω = I ω 2 − I ω 02 (8.23)
θ0 ω0
2 2
O trabalho total, realizado por forças externas, num corpo rígido simétrico, em rotação
em torno de um eixo fixo, é igual à variação da energia cinética de rotação, no corpo.
Exemplo 8.10
124
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Resolução:
a) A questão pode ser resolvida
facilmente se considerarmos a
energia do sistema. Quando a vara
está na posição horizontal, a sua
energia cinética é nula. A sua
energia potencial, em relação ao
ponto mais baixo do seu centro de
massa é Ep= M g (L/2). Quando a
vara atinge a sua posição mais
baixa, a sua energia é inteiramente
L 1
vc = r ω = ω = 3g L
2 2
O ponto mais baixo da vara tem uma velocidade linear igual a
3g
vc = r ω = L = 3g L
L
8.10. Rolamento
s=Rφ (8.24)
Esta condição, é chamada condição de não deslizamento,
para o deslocamento. Fig 8.18.Bola rodando um
Como o centro de massa da bola se situa directamente por ângulo φ descreve um arco de
cima do ponto de contacto da bola com a superfície, então comprimento s
125
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
ele também se move uma distância s. A velocidade do centro de massa vai ser
ds dφ
vCM = =R
dt dt
ou
vCM = R ω (8.25)
aC M = R α (8.26)
Quando a bola roda, com velocidade angular ω, a parte superior e a parte inferior da
Fig 8.19.(a) Rotação sem translação. A velocidade na parte superior da bola é igual à velocidade na
parte inferior (b) Quando a bola rola a velocidade na parte superior da bola é o dobro da velocidade
do centro de massa. Na parte inferior da bola a velocidade á nula.
126
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Exemplo 8.11
Uma bola com um raio de 11cm e uma massa de 7,2kg, rola, sem deslizamento, numa
superfície horizontal, com uma velocidade de 2m/s. Em seguida, ela sobe uma rampa de
altura h, antes de ficar momentaneamente parada. Obtenha h.
Resolução:
E f = Ei ou U f = Ki
1 1
Ki = m vC2 M + I C M ω 2
2 2
Substituindo valores, obtemos
2
1 12 vC M 7
K i = m vC2 M + m R 2 = m vC2 M
2 25 R 10
Igualando a energia inicial com a energia final, vem
2
7 7 vC M
mgh = m vC2 M e, portanto h= = 0,285m = 28,5 cm
10 10 g
Exemplo 8.12
Vamos considerar uma bola sólida, uniforme, de massa m e raio R, que rola, sem
deslizar, oo longo de um plano inclinado, fazendo um ângulo θ com a direcção
horizontal. Obtenha a aceleração do centro de massa da bola.
127
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Resolução:
aC M aC M
f R = IC M ⇒ f = IC M
R R2
IC M g sen θ
m g sen θ − 2
aC M = m aC M e aC M =
R IC M
1+
m R2
2
Como I C M = m R 2
5
5
aC M = g sen θ
7
128
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Quando a bola, que está a rolar, atinge a parte final do plano inclinado, ela perdeu
energia potencial mgh, sendo h a altura do plano inclinado. Se a bola partir do repouso,
a sua energia cinética no fim do plano é dada por (2) e deve igualar a energia potencial,
na parte mais elevada do percurso.
1/ 2
1 IC M 2gh
m g h = 2 + m vC2 M ⇒ vC M = (8.29)
2 R I
1 + C M2
mR
129
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
L = m v r sen φ (8.32)
r r r
sendo φ o ângulo definido por r e por p . Sendo assim, L será zero quando r for
r
paralelo a p (φ=0 ou 180º). Por outras palavras, quando uma partícula se move ao longo
de uma linha que passa pela origem, ela terá momento angular nulo, em relação à
r r
origem. Por outro lado, se r for perpendicular a p (φ= 90º), então L terá o valor
máximo, igual a m v r. Neste caso, a partícula tem uma tendência máxima, para rodar
em torno da origem. De facto, nesse instante, a partícula move-se exactamente como se
r
estivesse no bordo da roda , rodando em torno da origem, num plano definido por r e
r
por p .
Em alternativa, podemos notar que a partícula tem momento angular diferente de zero,
em relação a um ponto, se o seu vector posição, medido a partir desse ponto, roda em
torno do ponto. Por outro lado, se o vector posição só aumenta ou diminui de
comprimento, a partícula move-se ao longo de uma linha passando pela origem, e tem
momento angular nulo, em relação à origem.
No caso do movimento linear de uma partícula, vimos que a força resultante era igual à
derivada do momento linear em ordem ao tempo. Já vimos, no ponto anterior, que
r
r r r r dp
τ =r ∧F =r ∧ (8.33)
dt
Vamos, agora, calcular a derivada do momento angular, em ordem ao tempo.
r r r
d L d r r r d p d r r
= (r ∧ p ) = r ∧ + ∧ p
dt dt d t d t
r r
dr r dr
O último termo do lado direito é nulo, pois = v ,o que significa que é paralelo a
dt dt
r
p .Ficamos, então, com
r r
dL r d p r
=r ∧ =τ (8.34)
dt dt
130
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Este resultado diz que o torque que actua numa partícula é igual à derivada do momento
angular da partícula, em ordem ao tempo. É importante notar que (8.34) só é válida se a
r r
origem de τ e de L forem comuns. A expressão é ainda válida, quando existem várias
r
forças actuando na partícula, sendo τ o torque resultante. A expressão é válida para
qualquer origem fixa num referencial inercial. É claro que deve ser utilizada a mesma
origem, para o cálculo do torque de cada força e também do momento angular.
r r r r n r
L = L1 + L2 + ...... + Ln = ∑L
i =1
i
Exemplo 8.13
Resolução:
131
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
r r
baixo”; podemos, portanto, escrever L = − m v d k . O momento angular em relação a
O’ é zero, pois φ = 0.
Exemplo 8.14
Resolução:
r r
a) Como r é perpendicular a v , então
r
φ= 90º, e a intensidade de L é Fig 8.24. Uma partícula movendo-se
num percurso circular de raio r tem um
L = m v r sen 90º = m v r momento angular, em relação ao centro
r do percurso, de intensidade igual a m v r
A direcção de L é perpendicular ao plano da
circunferência, e o seu sentido depende do
r r r
sentido de v . Se o sentido de rotação ( de r para v ) for no sentido contrário ao do
movimento dos ponteiros do relógio, como indica a figura 8.24, então, pela regra da
r
mão direita vemos que o sentido de L é “para cima”. Podemos, então, escrever
r r
L = (m v r ) k
Se a partícula se mover no sentido do movimento dos ponteiros do relógio, o sentido de
r r r
L será “para baixo”, e teremos L = − (mvr ) k
b)Atendendo a que v= r ω, para uma partícula rodando num círculo, podemos escrever
L = ( m r2 ω) = I ω
Sendo I o momento de inércia da partícula, em relação ao eixo dos Z, que passa pelo
ponto O. Neste caso, o momento angular tem o sentido do vector velocidade angular e,
r r
por isso, podemos escrever L =Iωk
Exercício 8.6
Um carro com uma massa de 1500 kg, move-se num percurso circular, com um raio de
50m e uma velocidade de 40 m/s. Qual é a intensidade do seu momento angular em
relação ao centro do percurso?
132
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
LZ = ∑ mi ri 2 ω = ∑ mi ri 2 ω = I ω (8.36)
i i
d Lz dω
=I =Iα (8.37)
dt dt
sendo α a aceleração angular. Como I α é igual ao torque resultante, podemos escrever
d Lz
∑τ Re s
dt
= =Iα (8.37a)
O torque das forças externas que actuam num corpo rígido, em rotação em torno de um
eixo fixo, é igual ao momento de inércia em relação a esse eixo, multiplicado pela
aceleração angular do corpo, em relação ao mesmo eixo.
Se o corpo rígido for simétrico, e se rodar em torno de um eixo fixo, passando pelo seu
centro de massa, podemos escrever (8.36) na forma
r r
L =I ω (8.38)
r
sendo L o momento angular total, em relação ao eixo de rotação.
133
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
Exemplo 8.15
Resolução:
Se o sistema em estudo for um corpo rodando em torno de um eixo fixo, como por
exemplo o eixo OZ, podemos escrever LZ= I ω , sendo LZ a componente do momento
angular, segundo o eixo de rotação, e I é o momento de inércia em relação a esse eixo.
Neste caso, podemos escrever
I i ω i = I f ω f = Cons tan te (8.40)
Esta expressão é válida para rotações em torno de um eixo fixo, ou em torno de um eixo
que passe pelo centro de massa do sistema.
134
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
O torque resultante, das forças que actuam num corpo, em relação a um eixo que passa
pelo centro de massa, é igual à derivada em ordem ao tempo da variação do momento
angular, seja qual for o movimento do centro de massa,
Resolução:
135
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
ou seja
b)
Como se pode ver, a energia cinética aumenta. Isto deve-se ao facto de, no processo de
caminhar para o centro da plataforma, o estudante ter que exercer algum esforço
muscular e realizar trabalho positivo, que é transformado em energia cinética do
sistema. Por outras palavras, forças internas no sistema realizam trabalho.
Consideremos um estudante que se senta num banco, que pode rodar em torno de um
eixo vertical, com atrito desprezável. O estudante tem os braços abertos e pesos nas
mãos. O banco está em rotação.
Porque é que a velocidade angular do
sistema aumenta quando o estudante
dobra os braços e fica com os pesos
junto ao peito?
Resolução:
Vamos considerar que o momento
angular inicial do sistema é , sendo
Ii o momento de inércia de todo o
sistema (estudante + pesos + banco).
Depois de os braços estarem dobrados,
o momento angular será If ωf. Como os
pesos, neste caso, estão mais próximos Fig. 8.28. Quando o estudante fecha os braços
do eixo de rotação If < Ii. aumenta a velocidade de rotação do banco
Atendendo a que a resultante dos
momentos das forças externas é nula, podemos aplicar o princípio da conservação do
momento angular, e, portanto
Ii ωi = If ωf
Para se verificar esta igualdade, ωf terá que ser superior a ωi, o que significa que a
velocidade angular aumenta.
136
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque - Cap 8
137
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9
Cap 9. Equilíbrio
9.1 Introdução
Vamos ver quais as forças e momentos necessários para manter corpos rígidos, com
dimensões apreciáveis, em equilíbrio estático. O termo equilíbrio significa que o corpo
está parado, ou que o seu centro de massa se move com velocidade constante.
Já vimos que, uma condição necessária para se obter equilíbrio, é que a resultante de
todas as forças que actuam, no objecto em estudo, seja zero. Se o objecto for tratado
como uma partícula, esta é a condição suficiente para o objecto estar em equilíbrio. Se a
resultante de todas as forças que actuam na partícula for zero, ela permanecerá parada,
ou mover-se-á com velocidade constante segundo uma linha recta.
A situação com objectos reais é mais complexa, pois os objectos não podem ser tratados
como partículas. Um objecto tem dimensões, forma e distribuição de massa, bem
definidas. Para que um objecto esteja em equilíbrio estático, a resultante de todas as
forças que nele actuam, tem que ser zero, e o objecto não poderá rodar. Esta segunda
condição de equilíbrio requer que a soma de todos os momentos das forças que actuam
num corpo, em relação a um mesmo ponto, seja zero.
Consideremos uma força actuando num objecto, como mostra a figura 9.1. O efeito
da força no objecto depende do seu ponto de
aplicação, P. O momento desta força em
relação ao ponto O será
= ×
τ = F r sen θ = F d
138
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9
rotação, em torno de O, no sentido dos Fig 9.2. Apesar das forças aplicadas terem a
ponteiros do relógio, enquanto a força mesma intensidade elas vão originar rotação do
com sentido para a esquerda tende a corpo pois as linhas de acção são diferentes
movê-lo no sentido contrário ao do
movimento dos ponteiros dos relógios.
= + = (9.1)
=
1ª – A soma de todas as forças externas que actuam no corpo deve ser zero ∑
139
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9
Sempre que estamos a trabalhar com corpos rígidos, uma das forças que deve ser
considerada é o peso do corpo, ou seja, a força da
gravidade actuando no corpo considerado. Para
calcular o momento originado pela força peso,
podemos considerar todo o peso como se estivesse
concentrado num único ponto, chamado centro de
gravidade.
Estas equações são válidas para qualquer ponto O, desde que se verifique a relação
cg=CM. Isto significa que o centro de massa e o centro de gravidade coincidem se o
corpo se encontrar num campo gravítico uniforme.
140
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9
Exemplo 9.1
Uma prancha uniforme de comprimento L=3,00 m e massa M=35 kg, é suportada por
duas balanças que distam d= 0,50 m
de cada extremidade da prancha,
como se mostra na figura 9.5.
141
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9
( *
= ' − - (9.6)
) +,)*
( * ( +,*
+ = + − ') − - = ') + - (9.7)
+,)* +,)*
1 0,50
= $ 35/ − 45 /% (9,81 3//) = 61,3 3 = 61 3
2 3,0 − 1,0
1 3,0 − 0,5
+ = $ 35 / + 45 /% (9,81 3//) = 723 3
2 3,0 − 1,0
= 7,2 × 10) 3
b) Neste caso, a balança localizada no lado direito marca zero, portanto FR= 0.
Utilizando (9.6), e resolvendo em ordem a m, obtemos
* ( ( +,)* 7,89,(,8 9
= ) e = = 35 / = 70 /
+,)* ) * (,89
Exemplo 9.2
Suponhamos que uma pessoa segura um corpo com uma massa de 6,0 kg na sua mão,
fazendo com o braço um ângulo de 90º (ver figura 9.6). O músculo bíceps exerce uma
força para cima, m, cujo ponto de aplicação dista 3,4 cm do ponto O, localizado na
junção do cotovelo. Consideramos o antebraço e a mão como sendo uma vara rígida, de
30 cm de comprimento e com uma massa de 1,0 kg.
142
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9
a) Obtenha a intensidade de m
b) Obtenha a intensidade e direcção da
força exercida pelo braço, na junção do
cotovelo.
Resolução:
!
:; (0) − < + 9 − ! = 0
2
Daqui tiramos
( + (
9 = ') < + - * = ') (1,0 /) +
78 =9
6,0 /- (9,8 3 /,( ) ' - = 563 3
7,> =9
143
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9
Exemplo 9.3
Resolução:
As duas condições de equilíbrio, podem
transformar-se ,aqui, em três condições:
∑ x = 0 ; ∑ y = 0 ; ∑ = 0.
Sabemos, ainda, que fe ≤ µ e Fn . O
esquema intermédio da figura 9.7,
mostra as forças que estão aplicadas ao
sistema e os respectivos pontos de
aplicação. As forças que actuam na
escada são a força gravítica, g , a força
exercida pela parede, 1, (como se
despreza o atrito da parede, só
consideramos a força normal), e a força
exercida pelo solo, que na figura
aparece decomposta em duas
componentes: a normal n, e a força de
atrito ?s.
144
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9
= ( (4,0 ) − @ (1,5 ) = 0
Resolvendo esta expressão em ordem a F1 obtém-se
Fig 9.8 Figura mostrando os vários tipos de equilíbrio. (a) Equilíbrio estável. (b)
Equilíbrio instável. (c) Equilíbrio neutro ou indiferente
145
Física 1.1 – Manual - Maria Rosa Duque – Cap 9
146
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
10.1 Introdução
Newton, com os seus estudos, concluiu que não é só a Terra que atrai a Lua ou a maçã,
mas que qualquer corpo existente no universo tem a propriedade de atrair outros corpos.
Em 1687, Newton publicou a sua lei da atracção universal, que diz que
Qualquer partícula existente no universo atrai outras partículas com uma força
que é directamente proporcional ao produto das massas das partículas e
inversamente proporcional ao quadrado das distâncias entre elas.
Vamos considerar duas partículas de massas m1 e m2, separadas por uma distância r. A
intensidade da força existente entre elas será
= (10.1)
sendo G uma constante universal, chamada constante gravitacional, que pode ser
medida experimentalmente. O seu valor, no sistema SI, é
A figura 9.2, mostra duas partículas, e as forças exercidas entre elas. Estas forças são
iguais em módulo, mas de sentido oposto. Estas forças formam um par acção – reacção
(terceira lei de Newton). A força de que estamos a falar é uma força de acção à
distância, que existe sempre entre as duas partículas, seja qual for o meio que as separa.
A força é directamente proporcional à massa de cada partícula.
Um outro facto importante é que a força gravitacional exercida por uma distribuição de
massa de dimensões finitas, com simetria esférica, numa partícula fora da esfera, é igual
147
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
sendo MT e RT, a massa e o raio da Terra, Fig 10.2 Forças exercidas entre duas
massas
respectivamente. Esta força é dirigida para o
centro da Terra.
Exemplo 10.1
Resolução:
Fig 10.3 Localização das três Em primeiro lugar, vamos calcular separadamente as
esferas nos vértices do triângulo forças exercidas na massa de 4 kg pela massa de 2kg e
rectângulo pela massa de 6 kg, e depois vamos somar estas forças.
A força exercida pela massa de 2kg, será
4 2
= = 6,67 10
3
% 46
% = −' = −6,67 10 '
% 4
% = −10,0 10 '
148
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
5,93 10
*+ = = −0,593
− 10,0 10
/0
=
10
/0
O que implica que
= 10.3
10
/0 5,98 10
30 = = = 5,50 107 7
40 4
3 6 6,36 10
% 7
Como este valor é aproximadamente o dobro do valor da massa volúmica da maior parte
das rochas existentes à superfície da Terra, podemos concluir que, no seu interior, a
massa volúmica terá valores mais elevados que o valor médio obtido.
*
* *
As deduções feitas, até agora, consideram a Terra como sendo uma esfera uniforme,
existindo em toda a superfície o mesmo valor de g. Sabemos que, na realidade, tal facto
não se verifica pois existem factores que alteram o valor de g
10.3.1.1 Altitude
/0 /0
este corpo é
= =
10 + ℎ
149
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
Se o corpo puder cair livremente, teremos F= mg´, sendo g´a aceleração da gravidade à
altura h, acima do nível do mar. Então
/0
´ = 10.4
10 + ℎ
Exemplo 10.2
Determine o valor da aceleração gravítica, a uma altitude de 500 km. Qual é a redução
que se observa no peso de um corpo a esta altitude?
Resolução:
Como g´/ g = 8,43/9,80 = 0,86, concluímos que o peso do corpo é reduzido em 14%, a
uma altitude de 500 km.
A Terra tem a forma aproximada de um elipsóide, achatado nos pólos. O raio equatorial
mede cerca de 21km a mais que o raio polar. Um ponto localizado nos pólos está mais
perto do centro da Terra que um ponto localizado no Equador. Esta é a razão pela qual a
aceleração gravítica, ao nível do mar, aumenta quando caminhamos do Equador para os
Pólos.
150
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
O eixo de rotação da Terra liga o Pólo Norte ao Pólo Sul, passando pelo centro da Terra.
Um objecto localizado à superfície da Terra, fora dos Pólos, descreve uma
circunferência em torno do eixo de rotação, tendo uma aceleração centrípeta, dirigida
para o centro da circunferência. Se existe uma aceleração centrípeta então também
existe uma força com a mesma direcção e sentido.
Vamos considerar um objecto que esteja à superfície da Terra, fora dos Pólos. As forças
que actuam nesse objecto vão ser a força gravitacional , m ag, (dirigida para o centro da
Terra) e a força normal, perpendicular à superfície e dirigida para fora da Terra. O
− ,< = −; 1
O módulo da força normal é igual ao peso do corpo no local N=mg. Substituindo na
− ,< = − ; 1
equação virá
= ,< − ; 1 10.5
ou seja
Como se pode ver por (10.5), a aceleração centrípeta tem o valor mais elevado no
Equador, sendo nula nos Pólos.
Para termos uma ideia dos valores de que estamos a falar, vamos considerar que o nosso
objecto se encontra no Equador, onde o raio da Terra é R= 6,37 X 106 m. Como ω
, = ; 1 = 0,034 : . Este valor, comparado com 9,8 m s-2, pode ser desprezado,
a não ser que tenhamos necessidade de medições muito precisas de g.
No final do século XVI, o astrónomo Tycho Brahe estudou o movimento dos planetas e
fez medições mais precisas que as existentes na época. Utilizando os dados de Tycho
Brahe, Johannes Kepler descobriu que as trajectórias dos planetas em torno do Sol eram
elipses. Ele mostrou também que a velocidade dos planetas aumentam quando eles se
aproximam do sol e diminuem quando eles se afastam. Kepler descobriu também uma
relação matemática entre o período orbital de um planeta e a sua distância média ao Sol.
As suas descobertas são expressas em 3 leis empíricas que receberam o nome de leis de
Kepler. Mais tarde, estas leis serviram de base para Newton descobrir a sua lei da
gravitação.
Apesar das leis de Kepler terem sido descobertas através do estudo do movimento dos
planetas em torno do Sol, elas também são válidas no caso de satélites naturais ou
artificiais, que orbitem em torno da Terra ou de outro corpo com massa suficiente para
que isso aconteça.
151
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
1ª lei de Kepler – Lei das órbitas – Todos os planetas se movem com órbitas
elípticas, com o Sol localizado num dos focos.
2ª lei de Kepler – lei das áreas – O raio vector que liga o Sol a qualquer planeta,
varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais (ver Figura 10.6).
Consideremos um planeta de massa m, movendo-se numa trajectória elíptica, em torno
do Sol. A força gravítica que actua no planeta, tem a direcção do raio, sendo por esse
> = × = 0 10.6
Mas, já vimos que o momento de uma força está relacionado com a variação do
momento angular
@ A
> = @ B 10.7
Neste caso, como τ = 0, o momento angular do planeta mantém-se constante
C = × D = × E = FGH:* 10.8
podemos escrever
152
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
JK C
= = FGH:* 10.9
J* 2
Para deduzirmos esta lei, vamos considerar um planeta de massa Mp, que se move em
torno do Sol, cuja massa vamos designar por MS, numa órbita que vamos considerar
como sendo circular. Para o planeta se manter na sua órbita, a força gravitacional tem
que ser igual à força centrifuga , que se faz sentir num movimento circular
/L /M /M E
= 10.10
/L 46 46
Podemos, então, escrever
= =
N N
46
e
N = O P 7 = QL 7 10.11
/L
sendo KS uma constante igual a 2,97 X 10-19 s2/m3. Note-se que esta constante tem o
mesmo valor para todos os planetas pois ela só depende de G (constante gravitacional) e
da massa do Sol.
A Tabela 10.1 contém dados que mostram como esta lei se verifica no nosso sistema
solar
153
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
Exemplo 10.3
Resolução:
a) Pela figura 10.5, vemos que RP + Ra = 2a, sendo a o semieixo maior da órbita do
cometa. Assim, podemos obter Ra , se conhecermos o valor de a. O valor de a
pode ser obtido utilizando a expressão (10.11) onde substituímos o r por a
/N
,7 = O P
46
Se substituirmos a massa do Sol por 1,99 X 1030 kg, e o período T do cometa por
76 anos = 2,4 X 109 s, obteremos a = 2,7 X 1012 m. Mas já vimos que
A Tabela 10.1 mostra que este valor é ligeiramente inferior ao semieixo maior da órbita
de Plutão. Vemos , portanto, que o cometa está mais próximo do Sol que Plutão.
, − 1M 1M 8,9 10S
R= =1− = 1− = 0,97
, , 2,7 10
Esta órbita do cometa, com uma excentricidade muito próxima de 1, é uma elipse longa
e achatada.
154
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
Perto da superfície da Terra, a força de atracção exercida pela Terra num objecto é
essencialmente uniforme, porque a distância ao centro da Terra, r = RT+ h, é
aproximadamente RT, para h<< RT.
A energia potencial gravítica de um objecto perto da superfície da Terra é
mgh = mg (r-RT), se escolhermos U= 0, à superfície da Terra (r = RT).
Quando nos afastamos da superfície da Terra, devemos ter em conta que a força
gravitacional exercida pela Terra não é uniforme e diminui quando r aumenta.
Já vimos, no capítulo 6 , que a variação da energia
Esta expressão mostra-nos que a energia potencial gravitacional varia com 1/r. Vemos ,
ainda, que a energia potencial é negativa, pois a força é atractiva e considerámos a
energia potencial nula quando a distância da partícula de massa m é infinita. Como a
força entre a Terra e a partícula é atractiva, então, para aumentar a separação entre a
Terra e a partícula deve ser realizado trabalho positivo, por um agente externo. Este
trabalho vai aumentar a energia potencial, quando a separação entre a Terra e a partícula
aumenta.
155
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
1 / 1 /
`= Ea − = Eb − 10.15
2 a 2 b
/ 1
= E
2 2
Fig 10.9 Um corpo de massa m roda em Substituindo este resultado em (10.14), obtemos
torno de um corpo de massa M, com uma
trajectória circular
/ / /
`= − = − 10.16
2 2
Este resultado mostra-nos que a energia total, para órbitas circulares, é negativa. No
caso de trajectórias elípticas obtém-se um resultado idêntico, com o r do denominador
substituído pelo semieixo maior da elipse, a.
Exemplo 10.4
Um projéctil é lançado, na vertical, do Pólo Sul da Terra, com uma velocidade inicial
vi= 8,0 km/s. Calcule a altura máxima que ele atinge, desprezando os efeitos da
resistência do ar.
156
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
Resolução:
Como desprezamos a resistência do ar, podemos dizer que há conservação de energia.
Quando o projéctil atinge a altura máxima, a sua velocidade é nula. Como o projéctil é
lançado da superfície da Terra então ri = RT. Se há conservação de energia mecânica
Kf + Uf = Ki + Ui
1 /0 1 /0
Eb − = Ea −
2 b 2 a
/0 1 /0
− = Ea −
b 2 a
1 Ea 1
= − +
b 2 /0 10
1 8 000 /: 1
= − +
b 2 6,67 10 / 5,98 10 6,37 10%
b = 1,30 10d
Atendendo a que h = rf - RT, teremos
Exercício 10.1
1 /0 /0
Ea − =−
2 10 ef
e
157
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
1 1
Ea = 2 /0 ^ − _ 10.17
10 ef
2 /0
Eghi = j 10.18
10
158
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
A força de atracção exercida por uma partícula pontual de massa m1 numa outra
partícula pontual de massa m2, localizada a uma distância r12, é obtida através de
12= − Rr
k
(10.19)
sendo Rr um vector unitário, com a direcção de r12 e dirigido da partícula de massa
m1para a partícula de massa m2.
Para obtermos o campo gravitacional, num ponto P do espaço, colocamos uma partícula
= g/ m (10.20)
= ∑a i
Estas partículas com massa são chamadas fontes do campo. Como se trata de partículas
pontuais, são fontes pontuais.
num ponto P do campo, obtemos o campo J, originado por um elemento de massa dm,
Para obtermos o campo gravitacional, gerado por uma distribuição contínua de massa,
= m J
O campo gravitacional da Terra, a uma distância r>> RT, aponta para a superfície da
Terra, e tem uma intensidade g(r), dada por
no k
=
g(r)= (10.21)
Exemplo 10.5
Resolução:
Vamos, em primeiro lugar, fazer um Fig 10.11. Campos originados por duas
esquema com as duas partículas, os eixos partículas pontuais.
159
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 10
coordenados, e os campos originados por cada partícula, num ponto localizado no eixo
OX a uma distância xp do origem do eixo. O campo que queremos obter será a soma
vectorial dos dois campos mencionados.
Para calcularmos o campo originado por cada partícula precisamos da distância r entre
cada partícula e o ponto P r = )pM + , . Vamos, agora, calcular g1 e g2. Estes
valores são iguais , pois as distâncias a p são iguais e as massas das partículas, também.
k
g1= g2 =
fq
De acordo com a figura, podemos escrever cos θ = , e teremos
k fq k fq
r
gx = =
Como as componentes segundo y se anulam, o campo resultante vai ser segundo x. Pela
figura vemos que o sentido do campo é negativo, pelo que temos
2 / pM
= − '
p + , 7/
160
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Todos nós sabemos quando um objecto está quente ou frio. No entanto nem todos
sabemos qual é a sua temperatura ou o instrumento mais adequado para medi-la. Vamos
começar o nosso estudo da Termodinâmica, pela temperatura, o modo como se mede, e
as diferentes escalas utilizadas. Passaremos, de seguida, para o conceito de calor e
transições de fase. Terminaremos com os vários modos de transferência de energia
térmica.
Através do nosso sentido do tacto podemos ver com facilidade de um dado objecto está
quente ou está frio. Sabemos que, para aquecer um objecto frio, devemos pô-lo em
contacto com um objecto quente, e para arrefecer um objecto quente, devemos pô-lo em
contacto com um objecto frio.
Suponhamos que colocamos uma barra de cobre quente, em contacto com uma barra de
ferro frio, de modo que a barra de cobre arrefeça e a de ferro aqueça. Dizemos , neste
caso, que as barras estão em contacto térmico. Durante este processo, a barra de cobre
contrai-se ligeiramente, e a barra de ferro expande-se ligeiramente. Este processo deverá
parar num dado instante a partir do qual as dimensões das barras ficarão constantes.
Dizemos nesta altura que as barras estão em equilíbrio térmico.
Diz-se que dois corpos têm a mesma temperatura se estão em equilíbrio térmico entre si.
Qualquer propriedade termométrica pode ser utilizada para definir uma escala de
temperatura. Os termómetros mais divulgados são:
161
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Termómetros de gás a volume constante - neste caso uma quantidade conhecida de gás
é mantido a volume constante. Quando a temperatura aumenta, aumenta a pressão do
gás.
Os termómetros, tal como foram descritos, dão-nos conta apenas das variações de
temperatura. Para podermos quantificar a temperatura, é necessário introduzir uma
escala de temperaturas.
Esta escala de temperaturas não é única. Por vezes, nos livros, aparece-nos uma outra
escala de temperaturas, a escala Fahrenheit. Nesta escala, o ponto de fusão do gelo
corresponde a 32 graus Fahrenheit e a temperatura de ebulição da água corresponde a
212 graus Fahrenheit, existindo um intervalo de 180 graus entre estes dois pontos fixos.
5
= − 32 11.1
9
sendo TC a temperatura na escala Celsius e TF a temperatura na escala Fahrenheit.
162
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Exemplo 11.1
Resolução:
Sabemos que = − 32 . Substituindo valores vem 40 = − 32
9
= + 32 = 104 °
5
Exercício 11.1
Quando diferentes tipos de termómetros com escala Celsius são calibrados pelo método
descrito ( utilizando a temperaturas de fusão do gelo e de ebulição da água) os
resultados obtidos com os diferentes termómetros coincidem para 0˚C e 100˚C, mas
para leituras entre estes valores, os resultados obtidos são, em geral, ligeiramente
diferentes. As diferenças obtidas aumentam substancialmente para temperaturas acima
de 100 ˚C e abaixo de 0˚C. Um outro problema relacionado com este tipo de
termómetros é o intervalo de temperaturas em que podem ser utilizados, Os
termómetros de mercúrio, por exemplo, não podem ser utilizados para medir
temperaturas abaixo do ponto de congelação do mercúrio, que é -39˚C. Os termómetros
de álcool não podem ser utilizados para medir temperaturas iguais ou superiores à
temperatura de vaporização do álcool ( 78 ˚C).Existe, no entanto, um outro grupo de
termómetros, os termómetros de gás em que as temperaturas obtidas pelos diversos
termómetros coincidem, mesmo para valores longe dos pontos de calibração.
Num termómetro de gás a volume constante, medem-se variações de pressão, para obter
variações de temperatura. Estes termómetros podem ser calibrados colocando-os em
banhos a 0˚C, para obter a pressão P0 e a 100˚C para obter a pressão P100. O intervalo
entre estes dois pontos será dividido em 100 partes iguais, para obtermos a temperatura
na escala Celsius.
Suponhamos que temos 4 termómetros de gás, contendo cada um, um gás diferente.
Vamos supor que os gases utilizados são: ar, hidrogénio, azoto e oxigénio. Os
termómetros são calibrados pelo processo descrito e, em seguida, são colocados em
enxofre em ebulição, até atingirem equilíbrio térmico com o enxofre. Nessa altura
mede-se a pressão indicada pelos diferentes termómetros. Todos os termómetros
indicarão a mesma temperatura, desde que a densidade dos gases utilizados seja
suficientemente baixa.
Uma medida da densidade do gás pode ser obtida pela pressão correspondente ao ponto
de ebulição da água P100. A figura 11.1 mostra os resultados obtidos para a temperatura
163
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
TK = TC + 273,15 K (11.2)
A temperatura mais baixa que se consegue medir com um termómetro de gás a volume
constante, é cerca de 4,2 K, sendo necessário utilizar o gás hélio. Abaixo desta
temperatura o hélio liquefaz-se.
Apesar da escala Celsius ser a mais conveniente no uso do dia a dia, a escala Kelvin é a
mais utilizada para fins científicos.
164
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Tabela 11.1 Alguns valores de temperatura expressos nas três escalas de que falámos.
∆L=αL∆T (11.3)
Consideremos, agora, uma superfície quadrada, e uma face de um cubo com área inicial
A = L2
dL = α L dT
=
165
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
∆ A = 2α A ∆T (11.4a)
=
Fazendo a derivada e utilizando (11.3), obteremos
dV = 3 L2 dL = 3 L2 α L dT = 3 α L3 dT = 3 α V dT (11.5)
dV = β V dT (11.6)
β=3α (11.7)
166
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Exemplo 11.2
Resolução:
Esta variação substancial no comprimento da ponte, deve ser prevista na sua construção.
Se a estrutura não conseguir alterar o seu comprimento quando ocorrem variações de
temperatura, poderão ocorrer estragos apreciáveis na ponte.
Se pensarmos na energia antes de ser transferida e depois de chegar ao outro objecto, ela
não é chamada calor, mas energia térmica ou energia interna (este termo serve para
designar a energia potencial e a energia cinética associada ao movimento aleatório dos
átomos e moléculas).
A quantidade de energia térmica que é necessário transferir para um corpo, para elevar
de um grau a temperatura desse corpo, é chamada capacidade térmica. A capacidade
térmica só é válida para um dado corpo.
167
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
= 11.8)
* *
Q = m c ∆T (11.9)
Tabela 11.3 Valores da capacidade térmica mássica para várias substâncias. Os resultados foram
obtidos à pressão atmosférica normal.
168
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Q = m c ∆T + mc cc ∆T (11.10)
Esta expressão pode ser utilizada para calcular a capacidade térmica mássica da
substância que constitui a amostra, desde que conheçamos a capacidade térmica mássica
do material de que é feito o calorímetro.
Os calorímetros que irão utilizar nas aulas laboratoriais são diferentes. São constituídos
essencialmente por um vaso, onde é colocado um líquido (geralmente água) a uma
temperatura superior à temperatura ambiente.
A absorção de energia térmica (calor) por uma substância produz sempre algumas
alterações. Para além da dilatação térmica de que já falámos em 11.4. a substância pode
sofrer um aumento da sua temperatura (ver 11.5), ou pode sofrer uma mudança de fase
169
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
na qual as suas características físicas são alteradas, sem haver qualquer variação de
temperatura (mantendo-se constante a pressão).
Vamos pensar em gelo inicialmente a uma temperatura inferior a 0˚C.Se for fornecida
energia térmica (calor) ao gelo, à pressão atmosférica normal, verifica-se que a sua
temperatura sobe até atingir zero graus (ver figura 11.3), A esta temperatura, o gelo
começa a fundir, sofrendo uma
mudança de fase, e passando ao
estado líquido. Quando todo o
gelo estiver fundido, verifica-se
um aumento da temperatura da
água, até se atingir a
temperatura de 100˚C. A esta
temperatura, e à pressão
Pelo gráfico da figura 11.3, podemos ver que, durante a transição de fase, a temperatura
se mantém constante. A energia térmica (calor) recebida pelo sistema serve apenas para
a mudança de fase.
Para se verificar uma mudança de fase é necessário que o sistema receba ou forneça
energia térmica ao exterior. A energia térmica necessária para se dar a transição de fase,
chama-se calor de transição de fase ou calor latente ou entalpia de transição de fase.
Note-se ainda que o calor latente ou entalpia de fusão tem um valor igual e de sinal
contrário ao calor latente ou entalpia de congelação. Este facto verifica-se com todas as
transições de fase. A energia térmica envolvida na transição de fase é a mesma nos dois
sentidos, mas num caso é necessário fornecer energia ao sistema e no outro caso é o
sistema que fornece energia ao meio exterior.
A energia térmica que é necessário fornecer, para se verificar mudança de fase num
material de massa m é:
Q=mL (11.12)
170
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
substâncias apresentadas, quer para o calor latente de fusão quer para o calor latente de
vaporização. O mercúrio apresenta valores relativamente baixos para as transições de
fase referidas.
Tabela 11.4 Valores do calor de fusão e do calor de vaporização para várias substâncias, à pressão
atmosférica normal.
Exemplo 11.3
Suponha que tem 2Kg de gelo a -30˚C, à pressão atmosférica normal. Qual a energia
térmica necessária, para o gelo se transformar em vapor, a 100˚C?
Resolução:
Para resolver o problema temos que considerar os diferentes processos por que vai
passar o gelo.
1. Energia térmica (calor) necessária para elevar a temperatura do gelo até 0˚C
Q1= mgelo cgelo ∆Tgelo= (2Kg) (2,05 X 103 J Kg K-1) ( 0 – (-30)) = 123 X 103 J
3. Energia térmica (calor) necessária para elevar a temperatura da água até 100˚C
Q3= mágua cágua ∆Tágua= ( 2 Kg) (4186 J Kg-1 K-1) (100-0) =837,2 X 103 J
171
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Qtotal= Q1+Q2+Q3+Q4
Qtotal= (123 X 103+ 667 X 103 + 837,2 X 103 + 4514 X 103) J = 6141,2 X 103 J
11.7.1. Condução
Fig 11.4 Existe transferência de calor ,por T1. A energia térmica (calor)
condução, através da barra colocada entre dois transferida por unidade de tempo, será
reservatório de temperatura
!
= − (11.13)
"
|∆&|
∆ =$ '( ∆ = $ ) 11.14
|∆"|
Sendo ∆T a variação de temperatura, na direcção da corrente térmica, e *+
é a
resistência térmica.
172
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
|∆-|
R= (11.15)
./
Tabela 11.5 Condutividade térmica de alguns materiais, obtida à pressão e temperatura ambientes
Sejam R1 e R2, as resistências térmicas das duas placas. Aplicando a equação (11.14) a
cada placa, teremos
T1-T2 = I R1 e T2-T3= I R2
173
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Para calcular a taxa à qual a energia térmica de uma sala se perde por condução, é
necessário conhecer o calor perdido pelas paredes, janelas, soalho e tecto. Para este tipo
de problema, em que existem vários percursos possíveis para o calor, diz-se que as
resistências térmicas estão em paralelo. A diferença de temperatura é a mesma para cada
percurso, mas a corrente térmica é diferente. Neste caso, a corrente total é a soma de
todas as correntes térmicas.
∆! ∆! 5 5
Itotal= I1+ I2+ ….= + + … = ∆ 4 + + ⋯.7
01 02 01 02
∆
$89: = 11.16
);<
1 1 1
= + +⋯ 11.17
);< )5 )>
Exemplo 11.4
Resolução:
|∆&| 0,05 I
)FG = = = 2,36 J K5
FG FG 35,3 J IK5 K5 0,02I L 0,03 I
|∆&| 0,05 I
)+M = = = 0,194 J K5
+M +M 429 J IK5 K5 0,02I L 0,03I
174
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Exemplo 11.5
Resolução:
∆ 100
$+M = = = 515 J
)+M 0,194 J K5
b)
1 1 1 1 1
= + = +
);< )FG )+M 2,36 J K5 0,194 J K5
175
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
11.7.2 Convecção
Vamos falar apenas da convecção livre. Este fenómeno ocorre quando aquecemos água
numa panela ou quando aquecemos uma casa com um aquecedor.
É difícil desenvolver uma teoria quantitativa para a convecção, pois existem muitos
factores que vão ter influência no movimento do fluido.
∆Q/∆t = h A ∆T (11.19)
Exemplo 11.6
Esta energia térmica, transferida por condução, deve ser igual à energia térmica
transferida por convecção, pois não existem outras fontes.
P 1 120 J
ℎ= = = 7,27 J IK> K5
∆Q ∆ 1,5 I> 11
Quando existe vento, as camadas de ar são removidas mais rapidamente. Isto faz com
que a temperatura da superfície externa do vidro seja menor, aumentando a perda de
energia térmica, e processo será convecção forçada.
11.7.3. Radiação
A energia térmica pode ser transmitida através do vácuo, como acontece com a energia
proveniente do Sol e que atinge a Terra. O processo pelo qual esta transferência de
energia ocorre é chamado radiação electromagnética. A energia térmica transmite-se
através de ondas electromagnéticas, que se propagam no espaço, com uma dada
velocidade.
Uma onda é caracterizada pela sua velocidade de propagação,v, pelo seu comprimento
de onda, λ, e pela sua frequência , f.
fλ=v (11.20)
177
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Quando um objecto está em equilíbrio térmico com o meio que o rodeia, ele emite e
absorve a mesma quantidade de energia por unidade de tempo.
unidade de tempo está relacionada com a Fig 11.9 Potência, emitida por radiação, por um
área da superfície emissora e com a corpo negro, em função do comprimento de onda.
quarta potência da temperatura absoluta. O comprimento de onda a que corresponde o
A lei que relaciona a potência emitida máximo da radiação emitida, varia inversamente
com a temperatura.
com os parâmetros referidos é conhecida
como lei de Stefan-Boltzmann , e traduz-se matematicamente por
Pe= σ e A T4 (11.21)
178
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
Suponhamos, agora, que um objecto a uma temperatura T, está rodeado por objectos a
temperatura To. O objecto vai emitir radiação pois a sua temperatura é diferente de zero
Kelvin, mas o objecto vai absorver radiação proveniente dos objectos que o rodeiam. Se
a energia emitida, por unidade de tempo for superior à energia absorvida, por unidade
de tempo, o objecto vai perder energia e arrefece. Se o objecto absorver, por unidade de
tempo, mais energia do que a que ele emite, o objecto vai aquecer. A potência emitida
por um corpo a uma temperatura T, num meio a uma temperatura To, será
Quando um objecto estiver em equilíbrio térmico com o meio que o rodeia, T = To, e a
energia emitida, por unidade de tempo, é igual à energia absorvida, no mesmo intervalo
de tempo.
Um objecto que absorve toda a radiação que nele incide, tem emissividade igual a 1, e
chama-se corpo negro. Um corpo negro também é um emissor ideal. O corpo negro
não reflecte radiação. Um objecto com emissividade zero é aquele que reflecte toda a
radiação que nele incide, não emitindo radiação. A estes corpos chamamos corpos
brancos.
Voltemos, novamente, à figura 11.9. Podemos ver que o valor máximo da radiação
emitida não ocorre sempre no mesmo comprimento de onda. Quando a temperatura da
superfície emissora diminui o comprimento de onda em que se verifica o máximo de
radiação emitida desloca-se para a direita do eixo OX (para comprimento de onda mais
elevados). A radiação emitida por objectos a temperaturas inferiores a cerca de 600˚C
não é visível a “olho nu”. O comprimento de onda a que corresponde o máximo de
radiação emitida está longe dos comprimentos de onda em que ocorre a luz visível.
W >,XX Y 5Z[\ ] *
λmax= = (11.25)
! !
Exemplo 11.7
Resolução:
179
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 11
>,XX Y 5Z[\ ] *
λmax= = 9,66 µ m
_ZZ *
180
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12
12.1 Pressão
Quando nos referimos à pressão exercida por um gás, nas paredes do recipiente, ou à
pressão exercida num líquido para produzir escoamento, estamos a pensar numa força.
A Unidade utilizada para definir a pressão, no sistema SI, é o Pascal 1Pa = 1 N m-2.
Exemplo 12.1
Um gás a uma pressão de 10 atm, está contido num recipiente de forma cúbica, com 0,1
metro de lado. A pressão externa é a pressão atmosférica.
Resolução:
Vamos, agora, falar das propriedades de um gás de massa m, contido num recipiente de
volume V, a pressão P e temperatura T. É útil saber como estas propriedades estão
relacionadas entre si.
Suponhamos uma dada massa de um gás ideal, contido num reservatório cilíndrico, cujo
volume pode variar, por intermédio de um êmbolo. Com um sistema deste tipo,
podemos fazer dois tipos de experiências:
= (12.3)
Esta lei é conhecida por Lei de Charles.
= (12.4)
A lei dos gases ideais engloba as leis referidas, e é traduzida matematicamente pela
expressão
182
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12
= = (12.5)
sendo C uma constante com valor positivo. Podemos ver que esta constante está
relacionada com o número de moléculas do gás.
C=Nk
PV=NkT (12.6)
N = n NA (12.8)
P V = n NAk T = n R T (12.10)
R = 8,314 J mole-1K-1=
183
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12
gases ideais.
Um gás ideal, é definido como sendo um gás para o qual PV/nT é constante, para
todos os valores de pressão. A pressão, temperatura e volume de um gás ideal,
estão relacionados por
PV = n R T (12.12)
Esta expressão traduz, matematicamente, a chamada lei dos gases ideais e é chamada
equação de estado dos gases ideais. Esta equação só é válida para gases submetidos a
pressões relativamente baixas. Para gases com densidades elevadas (pressões elevadas)
tem que se fazer correcções a esta equação. No nosso curso iremos falar de outra
equação de estado, a equação de van der Waals que inclui as correcções referidas. Para
qualquer densidade de gás, existe uma equação de estado, relacionando P, V e T, para
uma dada quantidade de gás. Assim, o estado de uma dada quantidade de gás fica
completamente definido, se conhecermos duas das três variáveis de estado P,V e T.
Exemplo 12.2
Um gás tem um volume de 2,0 X 10-3 m3, à pressão de 1,013 X 105 Pa e temperatura de
30,0˚C . Qual será a nova pressão do gás quando a sua temperatura passar para 60,0˚C e
o seu volume for 1,5 X 10-3 m3?
Resolução:
Como a quantidade de gás permanece fixa, podemos utilizar a lei dos gases ideais, e
escrever
=
= =
Sabemos que T1= 273+ 30˚C = 303 K e T2= 273 + 60˚C = 333 K
Exemplo 12.3
184
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12
Resolução:
P1 V1= n R T1
(1,013 X 105 Pa) (2,0 X 10-3 m3) = n (8,314 J mole-1 K-1) ( 303 K)
O ar seco tem cerca de 21% de Oxigénio e 79% de Azoto. Se tivermos uma mistura
confinada, de dois ou mais gases, e se as pressões forem relativamente baixas, de modo
a podermos considerar os gases como ideais, podemos pensar que cada gás ocupa todo o
volume do recipiente onde está contido. Isto acontece porque o volume das moléculas
individuais do gás é desprezável, quando comparado com volume do espaço (vazio)
entre elas.
A pressão total, exercida pela mistura de gases, é a soma das pressões individuais,
chamadas pressões parciais, exercidas por cada gás individualmente, na mistura. A
pressão parcial de cada gás, na mistura, é a pressão que ele exerceria se estivesse
sozinho no recipiente. Este resultado, a pressão total é a soma das pressões parciais, é
conhecido como lei das pressões parciais.
Exemplo 12.4
Um tanque contém 20 litros de Oxigénio a uma pressão de 0,30 Patm, e outro tanque
contém 30 litros de Azoto a uma pressão de 0,60 Patm. Ambos os gases estão a uma
temperatura de 300 K. O Oxigénio é transferido para o tanque com o Azoto, e os dois
gases misturam-se, ocupando o volume de 30 litros.
Resolução:
P = P(O2) + P(N2)
A temperatura dos gases não sofre alteração. Por isso, podemos utilizar a lei de Boyle-
Mariotte, e escrever
185
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12
01 21
Pi Vi= Pf Vf → / =
23
20 -
(4 ) = (0,3 567 ) = 0,20 567
30 -
: ;
(8 ) = (0,6 567 ) =0,60 Patm
: ;
- O gás é constituído por um grande número de massas idênticas, que não têm
dimensões apreciáveis, comparadas com a distância média entre partículas. A massa de
cada partícula será designada por m
A pressão que um gás exerce, no seu recipiente, deve-se a colisões entre as moléculas
de gás e as paredes do recipiente. A pressão é uma força por unidade de área, e pela
186
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12
segunda lei de Newton, esta força é a taxa de variação do momento linear das moléculas
de gás que colidem com as paredes do recipiente.
A componente, segundo OX, do momento linear de uma molécula é mvx, antes de bater
na parede e –m vx , depois de sofrer uma colisão elástica com a parede. A variação do
momento linear será, em módulo, 2m|?@ |. O valor da variação do momento linear total
|∆DE|, de todas as moléculas, durante o intervalo de tempo ∆t, é 2m |?@ | multiplicado
pelo número de moléculas que batem na parede durante esse intervalo de tempo.
C C
|∆DE| = 2 |?@ |( |?@ | ∆ B = ?@ B ∆ (12.13)
2 2
F 1 |∆DE| 8
= = = ?@
B B ∆
ou
= 8 ?@ (12.14)
Como as moléculas contidas no recipiente não têm todas a mesma velocidade, vamos
substituir ?@ pelo seu valor médio GGG
?@ . A expressão (12.14) ficará
187
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12
GGGGG
=28( ? @)
(12.15)
Esta expressão relaciona o produto PV com a energia cinética média das moléculas,
segundo o eixo OX.
GGG
? GGG GGG
@ = ?H = ?I
JJJJE
? = ?GGG GGG GGG GGG
@ + ?H + ?I = 3 ?@
(12.16)
=
C
(
GGG )
? (12.17)
2
Esta equação diz-nos que a pressão é proporcional ao número de moléculas por unidade
de volume e à energia cinética média de translação por molécula.
Para além da energia cinética de translação, as moléculas poderão ter energia cinética de
rotação. Contudo, só a energia cinética de translação é relevante para o cálculo da
pressão exercida por um gás nas paredes do recipiente.
2 1 GGGG
= 8( ? )
3 2
Se compararmos esta expressão com (12.6), podemos escrever
K=
GGG
?
@ (12.18)
188
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12
GGGGGG GGG N =
6L5 = 8 M ?
8K =
O (12.19)
sendo Nk = n NA k = n R.
GGG
? =
PQ
=
CR P Q
=
SQ
(12.20)
7 CR 7 T
?L7U = VGGG
PQ SQ
? =W 7 = W T (12.21)
Exemplo 12.5
A molécula de oxigénio, O2, tem uma massa molar de 32,0 g/mole, e a de hidrogénio,
H2, é cerca de 2,0 g/mole
Resolução:
Com este exercício, verificamos que as moléculas mais leves têm maior velocidade.
Todas as moléculas possuirão a mesma energia cinética média, à mesma temperatura,
mas as suas velocidades serão diferentes.
Exercício 12.1
189
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12
Nas deduções feitas com base na teoria cinética dos gases desprezámos o volume
ocupado pelas moléculas e considerámos que as forças intermoleculares se podiam
desprezar. Vamos agora investigar o comportamento dos gases reais e as condições em
que se devem esperar desvios do comportamento de um gás ideal.
O segundo motivo está relacionado com as forças intermoleculares que se fazem sentir
quando as moléculas estão próximas. Quando as separações são pequenas, as moléculas
atraem-se, como seria de esperar, visto que os gases condensam para formar líquidos.
Quando uma molécula se aproxima de uma parede do recipiente, ela é empurrada para
trás pelas moléculas que a rodeiam, com uma força que é proporcional à densidade de
moléculas n/V. Como o número de moléculas que batem na parede, num dado intervalo
de tempo, é também proporcional à densidade de moléculas, a diminuição de pressão
devido à atracção de moléculas é proporcional ao quadrado da densidade, n2/V2.
190
Física 1.1 –Manual - Maria Rosa Duque – Cap 12
Na equação aparece, ainda, uma constante a que depende do gás e é pequena para gases
inertes, que têm interacções químicas muito fracas A equação de van der Waals, para n
moles de gás, tem a seguinte forma:
5 cd
M + N ( − e) = O (12.22)
2d
Gás a b
(L2 atm/ mole2) (mL/mole)
He 0,0346 23,80
Ne 0,211 17,1
Ar 1,34 32,2
H2 0,244 26,6
N2 1,370 38,70 Fig 12.6 Isotérmicas obtidas com CO2.
O2 1,382 31,86 Para temperaturas relativamente elevadas
H2O 5,46 30,5 (T5) o gás comporta-se como um gás ideal
CO2 3,59 42,7
191
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
Neste capítulo iremos fazer a distinção entre energia interna e o calor transferido,
devido a uma alteração de temperatura do sistema. O trabalho realizado sobre (por) um
sistema, está relacionado com a energia transferida entre o sistema e a sua vizinhança,
enquanto a energia mecânica (cinética e/ou potencial) é uma consequência do
movimento e posição das moléculas do sistema. Quando se realiza trabalho sobre o
sistema, transfere-se energia para o sistema. Neste capítulo iremos ver quais as
relações existentes entre energia interna de um sistema, calor transferido de/ para o
sistema e trabalho realizado pelo sistema ou sobre ele.
Um sistema pode realizar trabalho de muitos modos. Vamos obter uma expressão para o
cálculo do trabalho realizado por um sistema quando varia o seu volume. Quando um
sistema sofre uma dilatação ou compressão, o trabalho, W, realizado pelo sistema ou
sobre ele, pode ser relacionado com as variações de volume.
192
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
contendo um gás no seu interior. O volume do cilindro e do gás pode ser alterado
movendo um êmbolo, de área A, que constitui uma das bases do cilindro. O gás do
cilindro está a uma pressão P e ocupa um volume V.
F=PA (13.1)
Vamos pensar que o êmbolo se move uma distância ∆ X paralela à força. O trabalho
realizado pelo gás será
∆W = F ∆ X = P A ∆X (13.2)
Mas, A ∆X, representa a variação de volume sofrida pelo gás. Então, o trabalho
realizado pelo gás será
∆ W = P ∆V (13.3)
Vamos supor, agora, que o êmbolo sofre um deslocamento grande. Podemos dividir
esse deslocamento em pequenos deslocamentos ∆ Xj, a que correspondem alterações de
volume ∆ Vj= A ∆Xj, e trabalho realizado ∆ Wj= P ∆ Vj.
Para podermos calcular este integral devemos saber como é que a pressão varia durante
todo o processo. Em geral, a pressão não é
constante, dependendo do volume e da
temperatura. Se a pressão e o volume forem
conhecidos em cada passo do processo, os
diferentes estados do gás podem ser representados
num gráfico, tendo como variáveis P e V. Os
estados sucessivos por que passa o gás vão
formar, no gráfico referido, uma curva (ver Fig
13.2). A um gráfico deste tipo chamamos em
Fig 13.2 Expansão de um gás que termodinâmica diagrama PV. Olhando para a
passa do estado i ao estado f. O
figura 13.2 e atendendo à definição de trabalho,
trabalho realizado durante a expansão é
representado pela área a amarelo
podemos dizer que o trabalho realizado durante a
expansão do gás, do estado inicial até ao estado
final, é igual à área delimitada pela curva PV entre o volume inicial e o volume final, e
o eixo P=0.
Como se pode ver pela figura 13.2, o trabalho realizado pelo gás para ir do estado
inicial, i, para o estado final, f, depende do percurso seguido pelo gás entre os dois
estados. Para vermos melhor esta dependência vamos considerar a figura 13.3. Ela
193
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
Fig 13.3 O trabalho realizado por um sistema para ir de um estado inicial para um estado final
depende do percurso seguido para ir para o estado final.
mostra três diagramas PV onde se podem ver percursos diferentes seguidos por um
sistema entre um estado inicial, i, e um estado final, f, que são iguais para os três casos.
Em (a) podemos ver que o sistema sofre, em primeiro lugar, uma diminuição de pressão
mantendo o volume constante, e, posteriormente sofre um aumento de volume,
mantendo a pressão constante. O trabalho realizado, durante todo o percurso, será
apenas Pf (Vf – Vi).Em (b), podemos ver que o sistema sofre, em primeiro lugar, um
aumento de volume, mantendo constante a pressão e de seguida, sofre uma diminuição
de pressão, mantendo o volume constante. Neste caso, o trabalho realizado é igual a
Pi(Vf – Vi). Olhando para os gráficos da figura 13.3, vemos que o trabalho realizado
durante estas transformações é superior ao realizado em (a). Finalmente, temos o caso
(c), onde a pressão e o volume variam continuamente. Neste caso o trabalho realizado
terá um valor intermédio entre o valor obtido em (b) e o valor obtido em (a). Para
podermos calcular este trabalho necessitamos de uma expressão matemática que traduza
a forma da curva PV.
Como conclusão, podemos dizer que o trabalho realizado por um sistema depende
do processo pelo qual o sistema vai do estado inicial ao estado final. O trabalho
realizado pelo sistema depende do estado inicial, do estado final, e , dos estados
intermédios porque passa o sistema
Vamos ver que, tal como o trabalho, o calor (energia térmica transferida) transferido
de/para o sistema, depende do processo seguido pelo sistema. Podemos mostrar este
facto, recorrendo a figura 13.4. vamos considerar que estamos a trabalhar com um gás
ideal e que os volume, pressão e temperatura iniciais são iguais, nos dois casos. No caso
(a), o gás está em contacto com um reservatório de calor. Se a pressão do gás for
ligeiramente superior à pressão atmosférica, o gás expande-se e o êmbolo sobe. Durante
esta expansão até um volume final Vf, é transferido calor do reservatório, de modo a
manter a temperatura constante.
194
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
Vamos , agora,
considerar o sis-
tema representado
em (b). Quando a
membrana é rom-
pida, o gás expan-
de-se rapidamente
, até ocupar o
volume final Vf.
Neste caso, o gás
não realiza
trabalho pois não
Fig 13.4 (a) Um gás, a uma temperatura Ti, expande-se lentamente, existe aqui um
recebendo calor de um reservatório à mesma temperatura. êmbolo móvel.
No processo
(b) Um gás expande-se rapidamente numa região onde existia vácuo. Depois
descrito não
de se ter rompido uma membrana
houve trans-
ferência de calor para o sistema pois a parede é isolante, vamos-lhe chamar parede
adiabática. Este processo é designado por expansão adiabática livre ou expansão
livre. Em geral, um processo adiabático é aquele em que não existem transferências de
calor entre o sistema e a sua vizinhança.
Os estados iniciais e finais do gás, nos processos (a) e (b), são idênticos, mas os
percursos seguidos são diferentes.
No primeiro caso existe uma transferência lenta de calor do reservatório para o gás, e o
gás realiza trabalho sobre o êmbolo.
Podemos concluir que o calor, tal como o trabalho, depende do estado inicial, do
estado final, e dos estados intermédios por que passa o sistema. Por este motivo,
chamamos ao trabalho e ao calor funções de linha ou de percurso.
195
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
Já vimos que a energia pode ser transferida entre um sistema e a sua vizinhança de dois
modos distintos. Um deles é através da realização de trabalho por/sobre o sistema. Este
modo de transferência dá origem a alterações macroscópicas das variáveis do sistema,
tais como pressão, volume, temperatura. O outro modo é a transferência de calor
(energia térmica ) que ocorre a nível microscópico
Consideremos agora um sistema, por exemplo um gás, cuja pressão e volume variam de
Pi Vi para Pf Vf, vamos considerar vários percursos possíveis para ir do estado inicial ao
estado final. Se medirmos a quantidade Q-W que ocorre em cada um dos percursos
possíveis, veremos que o resultado obtido é o mesmo, em todos os percursos
considerados. Concluímos, então, que a quantidade Q-W depende apenas do estado
inicial e do estado final do sistema, e chamamos a esta quantidade variação da energia
interna do sistema. Apesar de Q e de W dependerem do percurso seguido, Q-W não
depende do percurso, dependendo apenas do estado inicial e do estado final. Por esse
motivo, chamamos à energia interna de um sistema uma variável de estado.
∆ U = Uf – Ui = Q – W (13.5)
Quando um sistema sofre uma variação infinitesimal no seu estado, sendo transferida
uma pequena quantidade de calor, dQ, e realizado trabalho dW,a energia interna sofrerá
uma pequena variação dU. Assim, para processos infinitesimais, podemos aplicar a 1ª
lei, obtendo
dU = dQ – dW (13.6)
Sistemas isolados
Um sistema isolado é um sistema que não interactua com a sua vizinhança. Neste caso
não há transferência de calor, nem é realizado trabalho; a energia interna do sistema,
permanece constante
Q = W=0 → ∆ U= 0 → Uf = Ui (13.7)
Processos cíclicos
A nível microscópico, não existe uma distinção real entre calor e trabalho. Ambos
podem originar variações de energia interna do sistema. Apesar das quantidades
macroscópica do sistema não serem funções de estado do sistema, elas estão
relacionadas com a energia interna do sistema, através da 1ª lei da termodinâmica
Transformação isocórica
Podemos concluir facilmente que, se não existe variação de volume, o sistema não
realiza trabalho. Aplicando a 1ª lei da termodinâmica, teremos:
Quando se fornece calor a um sistema mantido a volume constante, ele vai apenas
aumentar a energia interna do sistema.
Transformação isobárica
Uma transformação isobárica é aquela que se realiza a pressão constante. Num processo
deste tipo, o calor transferido e o trabalho realizados, não são nulos.
197
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
H = U + PV (13.12)
Q = Hf – Hi = ∆ H (13.13)
Esta função de estado é particularmente útil, pois grande parte dos processos naturais,
são realizados à pressão atmosférica normal. A entalpia é um parâmetro útil na
discussão da transferência de calor.
= ln (13.14)
Exemplo 13.1
Uma barra de cobre de 1Kg é aquecida à pressão atmosférica. Suponha que a sua
temperatura sobe de 20 ˚C para 50˚C.
198
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
Resolução:
∆ V = 1,5 X 10-3 & = 1,7 ) 10+, -.
, ! "# /%#
Como o aumento de volume se verifica à pressão atmosférica, podemos dizer
que a transformação ocorreu a volume constante. O trabalho realizado pelo
cobre será
W = P ∆ V = (1,013 X 105 Pa ) (1,7 X 10-7 m3) = 1,9 X 10-2 J
b) Vamos retirar a capacidade térmica mássica do cobre da Tabela 11.3.
c = 386 J Kg-1 K-1. Utilizando a expressão (11.9), teremos
Note-se que quase todo o calor transferido para o sistema serve para aumentar a energia
interna. Por este motivo, na expansão térmica de um sólido ou de um líquido, o trabalho
realizado é geralmente ignorado.
Exemplo 13.2
Calcule o trabalho realizado por uma mole de um gás ideal, mantido o 0˚C, numa
expansão de 3 para 10 litros.
Resolução:
Trata-se de uma expansão isotérmica. Vamos utilizar a expressão (13.14) para o cálculo
do trabalho.
W = ln = (1 mole) (8,314 J mole-1 K-1) ln (10/3) = 2,73 X 103 J
O calor que deve ser fornecido ao gás, para manter a sua temperatura constante, é
2,73 X 103 J.
Já vimos que a temperatura de um gás está relacionada com a energia cinética média de
translação das moléculas constituintes do gás. Esta energia cinética está associada com
199
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
o movimento do centro de massa de cada molécula de gás. Ela não inclui vibrações ou
rotações, em torno do centro de massa da molécula.
Vamos considerar gases ideais monoatómicos como , por exemplo, hélio, néon ou
árgon. Quando se adiciona energia a um gás deste tipo, contido num recipiente com
volume fixo, toda a energia adicionada vai aumentar a energia cinética de translação das
moléculas. Não existe outro modo de armazenar energia num gás monoatómico.
Já vimos que, para um gás ideal, a energia interna é apenas função da temperatura.
3 3
/= 23=
2 2
Se transferirmos calor para o sistema, mantendo o volume constante, o trabalho
realizado vai ser nulo. Então, pela 1ª lei da termodinâmica, vemos que
.
∆/ =− = = ∆ (13.16)
3
5 ∆ = ∆
2
e
Fig 13.6 Adicionou-se calor a
.
5 = (13.17) um gás, por dois processos
diferentes. O processo i→f
realizou-se a volume constante e o
CV representa a capacidade térmica molar do gás, a processo i→f ‘ realizou-se a
volume constante. Isto significa que, para todos os pressão constante.
gases ideais monoatómicos
.
5 = (8,314 8 -9:; + < + ) = 12,5 8 -9:; + < + (13.18)
A variação da energia interna de um gás ideal monoatómico, pode ser obtida por
∆ U = n CV ∆ T
e
>?
5 = (13.19)
>
200
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
Vamos supor que fornecemos calor ao sistema mas mantemos constante a pressão. A
variação de temperatura que se obtém é, de novo, ∆ T. O calor transferido neste caso
será Q = n CP ∆ T , sendo CP a capacidade térmica molar do gás, a pressão
constante. Como o volume aumenta no processo ( ver figura 13.6), o gás vai realizar
trabalho, W = P ∆ V. Aplicando a 1ª lei da termodinâmica a este processo, teremos
∆ U = Q – W = n CP ∆ T – P ∆ V (13.20)
Neste caso, o calor transmitido ao gás vai servir para realizar trabalho e também para
aumentar a energia interna do gás. A variação de energia interna neste processo (i→ f ’)
tem que ser igual à verificada no processo (i→ f), pois as temperaturas inicial e finais,
são iguais. Substituindo valores, obtemos
n CV ∆ T = n CP ∆ T – P ∆ V (13.21)
Como estamos a trabalhar com gases ideais, podemos utilizar a sua equação de estado
PV= n R T, e dizer que, para um processo a pressão constante, se tem P∆V = n R ∆T.
Substituindo esta expressão em (13.21), obtemos
n CV ∆ T = n CP ∆ T - n R ∆T
CV= CP – R ou CP – CV = R (13.22)
Esta relação pode ser aplicada a qualquer gás ideal. Ela mostra que a capacidade térmica
molar a pressão constante, é superior à capacidade térmica molar a volume constante.
Como CV= (3/2) R então
@
CP = CV + R = = 20,8 J mole-1 K-1 (13.23)
201
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
Gás CP CV CP - CV γ= CP/ CV
Gases Monoatómicos
He 20,79 12,52 8,27 1,67
Ar 20,79 12,45 8,34 1,67
Ne 20,79 12,68 8,11 1,64
Kr 20,79 12,45 8,34 1,69
Gases Diatómicos
N2 29,12 20,80 8,32 1,40
H2 28,82 20,44 8,38 1,41
O2 29,37 20,98 8,39 1,40
CO 29,04 20,74 8,30 1,40
Gases Poliatómicos
CO2 36,62 28,17 8,45 1,30
N2O 36,90 28,39 8,51 1,30
H2S 36,12 27,36 8,76 1,32
-1 -1
Tabela 13.1 Capacidades térmicas molares, em J mole K , para vários gases, obtidas a 25˚ C.
Um processo em que não haja trocas de calor entre o sistema e a sua vizinhança é
chamado processo adiabático. Na natureza, não é possível realizar um processo em que
as trocas de calor sejam rigorosamente zero. Na prática, os processos adiabáticos
ocorrem quando o sistema está muito bem isolado, ou quando os processos se realizam
rapidamente. Um processo quase-estático e adiabático é um processo que se desenrola
lentamente, de forma a permitir que o sistema esteja sempre perto do equilíbrio térmico,
mas suficientemente rápido comparado com o tempo que o sistema demora a trocar
calor com a sua vizinhança.
202
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
n CV dT = - P dV (13.25)
Vamos utilizar a equação de estado dos gases ideais P V = n R T, para obter P = n RT/V
tendo-se
5 = −
Esta expressão pode ser escrita na forma
+ =0
5
ln + ln = 5
5
ou
ln + ln BD = : I BD J = 5
BC + BD
Atendendo a que CP – CV = R, podemos escrever
BD
= = A−1,e
BD
K+ = 5. (13.26)
Utilizando, novamente, a equação de estado dos gases ideais, vem T= (PV)/ (nR) e
K+
= K
ou
K = C4 (13.27)
Vamos, agora, calcular o trabalho realizado pelo gás, durante a expansão. Pela 1ª lei da
termodinâmica, podemos escrever
- dW = dU- dQ
mas
5P 5 1
= =
5L − 5P A−1
203
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 13
NL +L O
= (13.28)
K+
Que é a expressão que nos permite calcular o trabalho realizado durante uma expansão
adiabática.
Exemplo 13.3
Resolução
Sabemos que numa transformação adiabática é válida a relação P Vγ= Const. Sendo
assim, podemos escrever
204
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14
É frequente ouvirmos dizer que é necessário poupar energia. De acordo com a 1ª lei da
termodinâmica, a energia conserva-se na natureza, no entanto existem algumas formas
de energia que são mais úteis que outras.
-O sal dissolve-se espontaneamente em água, mas para extrair sal da água, é preciso
influência externa.
-Quando se atira uma bola de borracha para o solo, ela saltará algumas vezes, até ficar a
deslizar no solo.
A 1ª lei da termodinâmica diz-nos que a energia existe em várias formas, e que ela pode
passar de uma forma para outra, de tal modo que ela (energia) não se pode criar nem
destruir; ela conserva-se.
Outra forma deste enunciado será: Não existe transferência de energia térmica de um
objectoa baixas temperaturas, para um objecto a temperaturas mais elevadas, sem
interveniência externa.
205
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14
A figura 14.1, mostra-nos um esquema de uma máquina térmica. Vamos analisar esta
máquina. Como ela funciona ciclicamente, a variação
da sua energia interna, durante um ciclo, é nula; pela 1ª
lei da termodinâmica, vemos que
∆U = Q – W
ou seja
Q=W
O calor Q2 é produzido queimando carvão, petróleo ou gasolina, que têm que ser pagos;
por isso, é desejável obter uma máquina com um rendimento que seja o maior possível.
O melhor rendimento de uma máquina a vapor é de cerca de 40%. O melhor motor de
combustão interna tem um rendimento de cerca de 50%.
206
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14
Exemplo 14.1
Durante um ciclo, uma máquina térmica absorve 200 J do reservatório quente, realiza
trabalho e lança no reservatório frio 160 J. Qual é o rendimento da máquina?
Resolução:
Sadi Carnot apresentou em 1824 um ciclo de trabalho de uma máquina térmica, hoje
chamado ciclo de Carnot, constituído por quatro processos reversíveis, sendo dois
isotérmicos e dois adiabáticos. Carnot mostrou que uma máquina térmica operando
neste ciclo, retirando calor de um reservatório a uma temperatura T2 e lançando o calor
excedente para um reservatório a uma temperatura T1, apresenta o rendimento máximo
para este tipo de máquinas.
O trabalho realizado durante um ciclo é igual à área delimitada pelo percurso ABCDA
no diagrama PV (ver figura 14.2).
207
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14
De modo semelhante, o calor que a máquina rejeita para o reservatório frio, no processo
C→D, é dado por:
Q1 = WCD = n R T1 ln (14.3)
Os outros dois processos que ainda não analisámos são processos adiabáticos. Sabemos
que, nestes casos, é válida a relação
T Vγ-1 = Constante
208
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14
Exemplo 14.2
A fonte quente de uma máqui a vapor está a uma temperatura de 500 K. a temperatura
da fonte fria é a do ar próximo da máquina, 300 K. Qual é o rendimento máximo desta
máquina a vapor ?
Resolução:
Este é o rendimento teórico maior que pode ser obtido pela máquina. Na prática, os
rendimentos obtidos são menores.
O ciclo de Otto é utilizado nos motores a gasolina. Na figura 14.3 está representado um
diagrama PV com o ciclo de Otto. As
transformações sofridas pelo ar e gasolina, são
as seguintes:
Em primeiro lugar, vamos calcular o trabalho realizado pelo gás, durante cada ciclo.
Nos processos B→C e D→A, não há realização de trabalho, pois os processos decorrem
209
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14
WAB + WCD = Q2 – Q1
Q2 = n Cv ( TC – TB)
Q1 = n Cv ( TD – TA)
Atendendo a que os processos A→B e C→D são adiabáticos, podemos utilizar a relação
T Vγ-1 = const. Podemos utilizar, ainda, as igualdades VA = VD= V1 e VC = VB= V2.
0
= . / (14.11)
η= 1- / "12 (14.12)
Este ciclo, utilizado no motor de Stirling,é composto por quatro processos representados
no diagrama PV da figura 14.4.
210
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14
Q1= n R T1 ln
Se olharmos para o diagrama PV, veremos que VA= VB e VC = VD. Assim, teremos
#! #,
=
#% #$
Esta expressão é igual à da Máquina de Carnot. Este é o ciclo que mais se aproxima do
ciclo teórico com maior rendimento.
211
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14
Uma bomba de calor, no modo aquecimento, utiliza trabalho para transferir calor do
exterior de uma casa, a temperaturas relativamente baixas, para o interior da casa, a
temperaturas mais elevadas. Existem bombas de calor que, no verão, podem funcionar
em sentido contrário, servindo para refrigerar as casas.
Exemplo 14.3
Suponha que coloca 1,00 L de água a 10˚ C no congelador, porque precisa de cubos de
gelo daí a meia hora. O frigorífico tem uma eficiência de 5,5 e uma potência de 550W.
Estima-se que só 10% da potência eléctrica contribui para o arrefecimento e congelação
da água. Será que consegue ter gelo à hora pretendida?
Resolução:
Sabemos que a eficiência do frigorífico é 6 = . O tempo necessário está relacionado
com a potência disponível, e o trabalho necessário
8 8
7= → ∆: =
∆: 7
212
Física 1.1 – Manual – Maria Rosa Duque – Cap 14
O calor Q1, retirado pelo frigorífico, é igual ao calor que a água tem de perder para a sua
temperatura chegar a 0ᵒ C, mais o calor necessário para a água congelar
Q1= m C ∆T + m Lf
Q1= (1,00 Kg) ( 4180 J Kg-1K-1)(10,0 K) + (1,00 Kg) (333,5 X 103J Kg-1)
Vamos substituir este valor na expressão da eficiência, para obter o trabalho necessário
8 68,2 @ 10& A
∆: = = = 1240 C = 20,7 DEF
7 0,10"550 8 "
Exemplo 14.4
Um frigorífico apresenta uma eficiência de 4,0. Qual a quantidade de calor, por ciclo,
que é absorvida pelo reservatório quente, se 200 KJ de calor forem libertados pelo
reservatório simples, por ciclo?
Resolução:
G I J
6= →W = = = 50 000 A
H K,
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