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Oração substantiva relativa vs.

oração adjetiva relativa

1. Qual é a diferença entre uma oração subordinada substantiva relativa e uma oração
subordinada adjetiva relativa restritiva?

As orações subordinadas substantivas relativas são introduzidas por pronomes relativos e


ocorrem sempre em posição argumental, ou seja, no mesmo contexto em que ocorrem
expressões linguísticas com a função de sujeito (cf. 1), de complemento direto (cf. 2),
complemento indireto (cf. 3), complemento oblíquo (cf. 4):

(1) «Quem entregou o trabalho não fará o exame.»

(2) «O professor elogiou quem entregou o trabalho.»

(3) «O professor ofereceu o livro a quem entregou o trabalho.»

(4) «O professor conversou com quem tinha dúvidas sobre o trabalho.»

As orações subordinadas adjetivas relativas desempenham a função típica dos adjetivos – a


função de modificador. Designam-se relativas por se construírem com subordinadores
relativos (pronomes ou advérbios), os quais implicam uma relação de correferência com um
antecedente de que dependem. Assim, por exemplo, na frase:

(5) «As revistas que estão no cesto são para rasgar.»

O pronome relativo que implica uma relação de correferência com o grupo nominal «as
revistas», o qual funciona como antecedente daquele. Subjacente à oração relativa «que estão
no cesto» está, pois, a oração «as revistas são para rasgar». O pronome relativo que substitui,
por conseguinte, esta segunda ocorrência do grupo nominal «as revistas».

As orações relativas podem ser restritivas ou explicativas.

As orações subordinadas relativas restritivas são orações introduzidas por pronomes relativos
e têm por função delimitar o universo de seres representado pelo nome que antecede o
relativo. Desempenham a função sintática de modificador restritivo.

«Os alunos que tiverem boa nota receberão uma bolsa de mérito.»
As orações subordinadas relativas explicativas são orações introduzidas por pronomes
relativos e têm por função fornecer um esclarecimento adicional acerca do nome que
antecede o relativo. Desempenham a função sintática de modificador apositivo e são sempre
separadas por vírgulas.

«O João, que é o melhor aluno da turma, recebeu uma bolsa de mérito.»

2. Oração subordinada adjetiva relativa restritiva ou substantiva relativa sem


antecedente?

Na frase «Fui jantar com o Pedro ao restaurante onde nos vimos pela primeira vez», a oração
«onde nos vimos pela primeira vez» é uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva, cuja
função sintática é modificador restritivo do nome. Todas as orações subordinadas adjetivas
relativas são modificadores do nome ao qual se referem. Nesta frase, a oração relativa é
introduzida pelo advérbio relativo onde.

Por outro lado, existem também orações subordinadas substantivas relativas sem
antecedente, introduzidas pelos advérbios relativos onde e como:

a) O João escreve os seus romances onde lhe apetece.

b) Ele estuda como lhe dá mais jeito.

Ambas as orações subordinadas («onde lhe apetece», em a) e «como lhe dá mais jeito», em b))
são introduzidas por um advérbio relativo sem antecedente; isto é, a expressão lexical a que
estão associados (a qual deve ocorrer à esquerda da palavra relativa, permitindo identificar a
entidade a que se refere) está ausente. A oração substantiva relativa sem antecedente pode
desempenhar várias funções sintáticas¹.

Na frase a), a oração «onde lhe apetece» e na frase b), a oração «onde lhe dá mais jeito»
desempenham a função sintática de modificador do grupo verbal da subordinante («O João
escreve os seus romances» em a) e «Ele estuda» em b)).

Assim, temos uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva em 1.

1. O sítio onde ele escreve é aprazível.


E em 2), uma oração subordinada substantiva relativa sem antecedente.

2. Ele escreve onde lhe apetece.

¹Sujeito (Quem não trabalha não progride.); complemento direto (Eu respeito quem me
ajuda.); predicativo do sujeito (Ele não é quem parece.); complemento indireto (É preciso dar
valor a quem trabalha.) complemento agente da passiva (O quadro foi comprado por quem fez
a melhor oferta); complemento oblíquo do verbo da subordinante (Ele pensa em quem
sempre o ajudou.) e modificador do grupo verbal (Eu canto onde me apetece).

(cf. Gramática prática de português, Lisboa editora, pp163-165)

3. Como distinguir uma oração subordinada substantiva completiva de uma oração


relativa sem antecedente?

O tema a abordar não é fácil porque há contextos em que os dois tipos de oração se
confundem, mas vamos procurar evidenciar a diferença.

Uma oração completiva segue-se geralmente a um verbo ou a uma locução verbal e


desempenha a função de sujeito ou de complemento direto na frase em que esse verbo
ocorre:

1. «Sei [QUE é tarde].»

2. «É sabido [QUE é tarde].»

Nos exemplos apresentados, a palavra que é um elemento de ligação (trata-se de uma


conjunção) entre um verbo e o resto da frase, que é uma oração que lhe completa o sentido:
em 1, a oração «que é tarde» tem a função de complemento direto; em 2, essa oração é
sujeito, visto o verbo se encontrar na voz passiva. A parte da frase que começa por que pode
ser substituída por «isso», conforme o teste utilizado em 4:

3. «Sei isso.»
4. «É sabido isso.» = «Isso é sabido.»

Note-se que, em 4, neste caso, a completiva que é substituída tem a função de sujeito de «é
sabido». Ao usarmos o pronome isso, convém que este apareça à cabeça da frase, visto ser
essa a ordem mais habitual com sujeitos por expressões formadas por substantivos ou
pronomes (isso é um pronome demonstrativo).

Passando ao outro tipo de oração, é preciso notar que uma oração relativa sem antecedente é
introduzida por um pronome relativo, geralmente quem ou o que:

5. «[QUEM vai ao mar] perde o lugar.»

6. «Detesto [QUEM se arma em esperto].»

7. «[O QUE fizeste] está errado.»

8. «Não percebi [O QUE disseste].»

Nos exemplos 5 e 6, quem pode ser substituído por «a(s) pessoa(s) que»; nos exemplos 7 e 8, o
que é substituível por «aquilo que».

Note-se que a palavra que, no começo de uma oração completiva, não pode ser substituída
pelas expressões «a(s) pessoa(s) que» e «aquilo que», como se pode comprovar se
procedermos a essa substituição nos exemplos 1 e 2, a seguir repetidos:

1´ «Sei *[a pessoa que é tarde].»

2´ «É sabido *[aquilo que é tarde].»

O resultado é agramatical, como assinala o asterisco (*).

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