Você está na página 1de 17

a noVa direita

Brasileira:
ideias, retóriCa
e PrátiCa PolítiCa

Jorge Chaloub
Cientista político

Fernando Perlatto
Historiador

janeirO • fevereirO • marçO 2016 25


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

a
cena cultural e políti- um primeiro momento, realizaremos
ca brasileira tem teste- um panorama mais amplo em torno
munhado, nos últimos de algumas grandes hipóteses que,
anos, um fenômeno so- embora não esgotem, ajudam a com-
ciológico com características muito preender o destaque que esses inte-
peculiares, vinculado ao destaque lectuais têm ganhado na esfera pú-
cada vez mais significativo na esfe- blica brasileira. Posteriormente, em
ra pública do país de uma nova fra- um segundo momento, abordaremos,
ção de intelectuais, portadores de de maneira mais geral, alguns dos
certo tipo de ideário claramente de argumentos defendidos por esses
direita, cujo protagonismo e atuação intelectuais, não no sentido de es-
merecem um esforço de compreen- miuçá-los, mas com uma pretensão
são mais sistemático.1 Intelectuais mais modesta de buscar pontos de
como Olavo de Carvalho, Reinaldo aproximação e distanciamento, bem
Azevedo, Luiz Felipe Pondé, Rodrigo como destacar as particularidades
Constantino, Guilherme Fiuza, Mar- que permitem classificar estes au-
co Antonio Villa, Denis Lerrer Rosen- tores como pertencentes ao campo
field, Diogo Mainardi, entre outros, político da “direita”.
vêm ganhando um espaço cada vez De forma sucinta, é possível
mais significativo no debate público formular seis grandes hipóteses
do país, e o destaque assumido por que contribuem para a compreen-
eles é indicativo da forte presença são do destaque que os intelectuais
é iMPortante de um determinado tipo de reflexão da “nova direita” vêm adquirindo na
destaCar QUe o abertamente de direita, que tem as- cena cultural e política do país. Em
FortaleCiMento de sumido protagonismo não apenas na primeiro lugar, é importante desta-
UM noVo disCUrso imprensa, mas também do mercado car que o fortalecimento de um novo
de direita não é UM editorial do país.2 discurso de direita não é um fenôme-
Ainda que muitos desses inte- no restrito às fronteiras brasileiras.
FenôMeno restrito
lectuais já tivessem presença desta- As últimas décadas registraram em
às Fronteiras cada nas páginas dos jornais e nas diversas partes do mundo o surgi-
Brasileiras redes sociais pelo menos desde os mento de distintas vertentes de pen-
anos 1990, a projeção deles na esfe- samento direitista, que se nutriram
ra pública nos últimos anos ganhou da crise, no campo político, do Es-
um novo impulso, adquirindo carac- tado de Bem-estar social e no plano
terísticas muito particulares, que me- teórico do marxismo, e que ganha-
recem maior atenção por parte dos ram força ainda maior com a que-
pesquisadores. da do Muro de Berlim. Essas novas
À guisa de refletir com maior torrentes ideológicas têm assumido,
amplitude sobre esses intelectuais entretanto, tanto do ponto de vista
da “nova direita” brasileira, dividi- intelectual quanto político, feições
remos o texto em duas partes. Em e características diversas da tradi-

26 rUa DireiTa
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

cionalmente esposadas pelo campo Uma segunda hipótese que con- consolidação do processo de rede-
conservador e reacionário. tribui para compreender o desta- mocratização do país com a Consti-
Em artigos de conjuntura re- que assumido pelos intelectuais da tuição de 1988, torna-se mais con-
digidos nos anos 1980, Jürgen Ha- “nova direita” na esfera pública do fortável para muitos desses autores
bermas identificava o surgimento de país se refere ao próprio distan- se intitularem abertamente como de
um “neoconservadorismo” nos con- ciamento temporal da ditadura mi- direita, defendendo publicamente as
textos alemão e norte-americano, o litar, identificada no imaginário so- ideias e as agendas políticas asso-
qual se distinguiria de correntes se- cial como sendo de “direita”, o que ciada a esse campo do espectro po-
melhantes anteriormente desenvol- contribui para que aqueles setores lítico. Soma-se a isso o fato de que,
vidas por uma relação mais tranqui- identificados com essa perspectiva a despeito da permanência de enor-
la com a modernidade capitalista. A se sintam mais à vontade para es- mes mazelas sociais, o país passou,
desconfiança de um conservadoris- posar suas opiniões publicamen- ao longo dos últimos anos, por um
mo de corte mais tradicional em re- te, sem maiores constrangimentos. processo de redistribuição de ren-
lação ao mercado e a hegemonia de Passadas mais de duas décadas da da, marcado por uma atuação dire-
uma lógica do interesse daria lugar
a um elogio da modernização econô-
mica, de modo que as resistências ao
moderno ficariam restritas ao mun-
do da cultura, este o grande respon-
sável por destruir antigos valores e
instituições.
O capitalismo seria desejável e
perfeitamente compatível com a visão
de mundo advogada por esse conjun-
to de pensadores, que conseguiriam,
assim, dar nova vida a uma tradição
que parecia incompatível com a lógica
progressista que marcava os dois la-
dos da Guerra Fria.3 Habermas identi-
fica como características desse con-
junto de pensadores algumas teses e
atitudes intelectuais comuns, como a
moralização dos debates e problemas
públicos, que seriam adequadamente
resolvidos por meio do recurso à re-
ligião ou a um senso comum esque-
cido, o ataque aos conteúdos da mo-
dernidade no campo da cultura e a
responsabilização dos “intelectuais
de esquerda” por grande parte das
mazelas contemporâneas.4

janeirO • fevereirO • marçO 2016 27


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

na Folha de S. Paulo, e Denis Rosen-


field, n’O Estado de S. Paulo, embora
seu texto também seja publicado em
O Globo. A maior parte deles mobi-
liza principalmente as redes sociais
– como Twitter e Facebook – para a
difusão de suas ideias. Além disso, al-
guns desses intelectuais se valem de
instrumentos como a rádio para se
projetarem publicamente, a exemplo
de Rodrigo Constantino, que possui
um programa na Rádio Jovem Pan,
a qual se transformou – como bem
demonstrado em reportagem recen-
te na revista Piauí – em um dos prin-
cipais veículos de defesa de agen-
das de “direita”, abrigando jornalis-
tas como Rachel Sheherazade, que,
por sua vez, divide parte do progra-
ma principal da emissora paulista
com Marco Antonio Villa.
Para além da forte presença no
debate público, outro aspecto a ser
ressaltado no que concerne aos in-
telectuais da “nova direita” diz res-
peito à sua presença cada vez mais
significativa no mercado editorial bra-
sileiro. Essa presença se insere em
ta do Estado, o que incentiva, como do editorial, no perfil dos jornais de um movimento mais amplo, marca-
estratégia política de diferenciação maior circulação – que passaram do pelo crescimento significativo, ao
e movimento de resistência a esse a dedicar mais espaço a colunistas longo dos últimos anos, de publica-
tipo de mudança, a defesa mais ra- “ideológicos” – e, sobretudo, à ex- ções direcionadas para um público,
dical de agendas liberais, ancoradas pansão e a popularização da inter- cada vez maior, interessado por uma
na ideia de Estado mínimo. net, que permitiu a esses intelectuais literatura de obras políticas com per-
Em terceiro lugar, o protagonis- adquirir uma capilaridade social não fil de “direita” ou conservador. Esse
mo desses intelectuais da “nova di- imaginada em outros tempos. Muitos movimento, inclusive, foi destacado
reita” está vinculado a transforma- desses intelectuais têm colunas nos pelo editor da Editora Record, Car-
ções que tiveram curso, ao longo das jornais de grande circulação do país los Andreazza, em entrevista recen-
últimas décadas, na própria indús- – a exemplo de Rodrigo Constantino te para o jornal O Globo, no qual re-
tria cultural do país, destacando-se, e Marco Antonio Villa, n’O Globo, Rei- conhece o crescimento deste “nicho”
nesse sentido, mudanças no merca- naldo Azevedo e Luiz Felipe Pondé, no mercado editorial brasileiro, des-

28 rUa DireiTa
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

tacando o interesse de sua editora bém publicou outros trabalhos com Julgamento do Maior Caso de Cor-
em explorá-lo. perspectivas semelhantes, como Pri- rupção da História Política Brasilei-
Entre os títulos publicados recen- vatize Já! Pare de Acreditar em In- ra e Um País Partido: 2014. As Elei-
temente, que evidenciam este aspec- trigas Eleitorais e Entenda como a ções mais Sujas da História, ambos
to, podemos destacar, entre outros, Privatização Fará do Brasil um País também de Villa. Outras publicações
Guia do Politicamente Incorreto da Melhor e, mais recentemente, Con- desses autores já possuem mais um
História do Brasil (Leandro Narloch), tra a Maré Vermelha. Um Intelectual tom de manifesto político, com des-
Guia do Politicamente Incorreto da sem Medo de Patrulhas, que reúne taque para a obra Por que Virei à
História da América Latina (Leandro oitenta crônicas publicadas no jornal Direita?, de Luiz Felipe Pondé, Denis
Narloch e Duda Teixeira) e Guia do O Globo entre 2009 e 2014. A práti- Rosenfield e João Pereira Coutinho.
Politicamente Incorreto da História ca de reunir em livros artigos origi- De maneira geral, todos os trabalhos
do Mundo (Leandro Narloch), além nalmente publicados em jornais e mencionados apresentam bons índi-
de obras como Pare de Acreditar no revistas é comum entre esses inte- ces de vendagem e estão expostos
Governo. Por que os Brasileiros não lectuais, do que são provas as obras com destaque em várias livrarias do
Confiam nos Políticos e Amam o Es- Não é a Mamãe: Para Entender a Era país, evidenciando a capilaridade de
tado (Bruno Garschagen), O Mito do Dilma, de Guilherme Fiuza, com ar- seus argumentos entre amplos seg-
Governo Grátis (Paulo Rabello de Cas- tigos publicados no jornal O Globo mentos da opinião pública.
tro) e As Ideias Conservadoras Ex- e na revista Época; A Tapas e Pon-
plicadas a Revolucionários e a Rea- tapés e Lula é Minha Anta, de Diogo
cionários (João Pereira Coutinho). Mainardi, que reúnem crônicas ori-
Mais recentemente, algumas edito- ginalmente escritas para a revista
ras vêm apostando na tradução de Veja; O País dos Petralhas e Obje-
obras com esse perfil, a exemplo do ções de um Rottweiler Amoroso, de
livro Como ser um Conservador, do Reinaldo Azevedo, que congregam
filósofo político inglês Roger Scru- colunas do autor publicadas em seu o ProtaGonisMo
ton, lançado recentemente no Brasil. blog na Veja e na Folha de S. Paulo; desses
assim como o já mencionado O Mí- inteleCtUais da

o
s intelectuais da “nova nimo que você Precisa para não ser “noVa direita”
direita” analisados neste um Idiota, de Olavo de Carvalho, com- está VinCUlado a
artigo vêm sendo bem-su- pilação organizada por Felipe Mou-
transForMações
cedidos ao se aproveita- ra Brasil, colunista da Veja, que reu-
QUe tiVeraM CUrso,
rem dessa “onda”, conquistando es- niu artigos publicados na imprensa
paços cada vez mais significativos no ao longo de mais de uma década. Es-
ao lonGo das
mercado editorial brasileiro. O livro sas publicações procuram analisar últiMas déCadas,
de Olavo de Carvalho, O Mínimo que a conjuntura política do país, seja a na PróPria
você Precisa para não ser um Idio- partir de uma perspectiva de maior indústria CUltUral
ta atingiu número alto de vendagens, duração – a exemplo do livro Déca- do País
assim como a obra Esquerda Caviar. da Perdida: Dez Anos de PT no Po-
A Hipocrisia dos Artistas e Intelec- der, de Marco Antonio Villa –, seja
tuais no Brasil e no Mundo, de Ro- a partir da investigação de fenôme-
drigo Constantino. Esse autor tam- nos recentes – como Mensalão. O

janeirO • fevereirO • marçO 2016 29


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

A isso se soma – e essa é a quar- testemunhando mudanças significa- esses intelectuais vêm adquirindo
ta hipótese que contribui para expli- tivas desde a ascensão de Rodrigo na cena pública se relaciona com os
car o protagonismo desses intelec- Constantino à presidência do Con- sucessos e fracassos da esquerda
tuais – a vinculação e a articulação selho Deliberativo, que substituiu a hegemônica no Brasil, representa-
de muitos desses personagens com tradicional ênfase na divulgação de da pelo Partido dos Trabalhadores
institutos como o Instituto Liberal, o clássicos liberais por uma militân- (PT). No que concerne aos sucessos,
Instituto Millenium, o Instituto Lu- cia social e virtual mais agressiva. procuramos sustentar o argumento
dwig Von Misses, o Instituto Liber- De maneira geral, esses insti- de que mesmo o “reformismo fraco”
dade, o Instituto de Estudos Empre- tutos reúnem empresários, econo- dos governos petistas, nos termos
sariais, o Estudantes pela Liberda- mistas, juristas, jornalistas e outros do André Singer, mexeu em pontos
de e o Instituto Ordem Livre. Essas intelectuais, e se comportam como sensíveis da estrutura social brasi-
instituições têm ou origem recente – think tanks5 orientados para a defe- leira, acabando por despertar fortes
como, por exemplo, o caso do Insti- sa dos valores e das políticas libe- reações de alguns segmentos, rea-
tuto Millenium, criado em 2005 – ou rais. Além disso, alguns desses ins- ções essas que têm sido muito ex-
passaram por grande reformulação titutos se engajam de forma mais di- ploradas por esses intelectuais em
recente – como o Instituto Liberal, reta em movimentos como o chama- suas intervenções públicas. A pola-
que, embora fundado em 1983, vem do “Escola sem Partido”, que procura rização da sociedade, à esquerda
aprovar um Projeto de Lei contra a e à direita, contribui decisivamente
“doutrinação” e “contaminação polí- para que ideias mais radicalizadas,
tico-ideológica” da esquerda nos es- como aquelas defendidas por esses
paços escolares. Os fortes vínculos intelectuais, possam encontrar es-
dessas instituições com relevantes coadouro e aceitação. De outra par-
grupos empresariais e da mídia são te, os fracassos dos governos do PT
claramente expostos por uma breve em promoverem alterações mais
a PolariZação
análise dos parceiros do Instituto Mi- estruturais da sociedade brasileira
da soCiedade, llenium, que incluem a Editora Abril, e o fato de o partido ter segmentos
à esQUerda e à a Gerdau, o Bank of America Mer- de seu quadro envolvidos em casos
direita, ContriBUi ry Lynch, o Grupo Suzano, o Grupo de corrupção contribuíram para o
deCisiVaMente Estadão, entre outros.6 Seus docu- enfraquecimento da agenda da es-
Para QUe mentos tecem fortes críticas à polí- querda, que, na atual conjuntura,
ideias Mais tica brasileira atual, que padeceria vê o discurso da direita crescer de
da ausência de verdadeiras forças forma cada vez mais significativa. No
radiCaliZadas
de direita e da escassa presença do vácuo político deixado pela oposição
PossaM enContrar liberalismo no país. Esses institutos partidária, que não conseguiu empla-
esCoadoUro e se vinculam a outras associações e car uma agenda alternativa, alguns
aCeitação grupos sociais, sendo muito bem- su- desses intelectuais, em articulação
cedidos no sentido de projetar com direta com movimentos “Brasil Livre”,
mais força as ideias liberais no de- “Vem pra Rua” e “Revoltados ON LINE”,
bate público brasileiro. vêm buscando se constituir como as
A quinta hipótese que contribui legítimas vozes da oposição.
para explicar o protagonismo que Por fim, uma última hipótese que

30 rUa DireiTa
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

nadas agendas da conjuntura política


brasileira contemporânea. Uma breve
análise do seu conjunto revela uma
manifesta diversidade de trajetórias,
crenças e estilos retóricos, por ve-
zes ofuscados pela coincidência em
relação a adversários preferenciais
e pautas concretas. A atenção às di-
ferenças em meio às concordâncias,
que também serão devidamente des-
tacadas, é fundamental para que se
possa compreender com mais cla-
reza as ideias e os movimentos des-
ses atores no cenário político atual.
Ainda que reconhecendo as estrei-
tezas e os riscos de simplificações
e limitações de quaisquer tipos de
classificação, procuraremos, com
o intuito analítico, dividir os intelec-
tuais investigados em dois grandes
grupos, a saber: direita teórica e di-
reita militante.
A direita teórica reclamaria seu
lugar à direita no debate público a
partir de argumentos de ampla du-
ração histórica, de modo que as ra-
zões para a recusa à esquerda mo-
contribui para explicar o fortalecimen- tuais no debate público, inclusive, se bilizariam ideias e noções que ultra-
to desses intelectuais no debate pú- valendo dele para a criação de novos passam em muito o contexto imedia-
blico diz respeito à própria crise que partidos, a exemplo do Partido Novo, to, destacando os equívocos dos se-
o sistema partidário atravessa hoje criado em 2011 com o apoio de Ro- tores de esquerda em relação à mo-
no Brasil, exposta, de uma forma ou drigo Constantino, que teve seu re- dernidade e à natureza humana. As
de outra, nas manifestações que to- gistro aprovado recentemente no Tri- questões de política contemporânea
maram as ruas do país em junho de bunal Superior Eleitoral (TSE), com o ocupam a maior parte dos seus textos
2013. Nesse cenário de forte crítica declarado objetivo de defender um atuais, mas são sempre enquadra-
e de elevado ceticismo em relação à liberalismo de fato, que nunca teria das em uma narrativa de mais longa
política, o discurso de “terra arrasa- sido experimentado no país. amplitude, mesmo que muitas vezes
da” contra os políticos e as institui- Os intelectuais da nova direita não distante do tema em questão. O estilo
ções tradicionais ganha repercus- compõe um todo monolítico, mesmo de argumentação não exclui amplas
são, reproduzindo pressupostos ex- que, por vezes, pareçam agir como mudanças ao longo dos anos, muitas
plorados por muitos desses intelec- tal, sobretudo em relação a determi- delas impulsionadas pelas transfor-

janeirO • fevereirO • marçO 2016 31


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

mações na conjuntura, mas leva ao pensamento católico como uma das tras quadras históricas, no mais das
esforço de sempre vincular as opi- suas principais influências. O grupo vezes influenciadas pelos autores do
niões políticas a bases mais amplas é majoritariamente composto pelos primeiro grupo, desempenham papel
e longevas. Os autores buscam se que argumentam a partir do campo de ornamento, são ou laterais para
distinguir pela mobilização de am- filosófico, como Olavo de Carvalho e a estrutura de suas ideias centrais
plo material bibliográfico, que inclui Luiz Felipe Pondé. ou motivadas por disputas coloca-
desde clássicos de vertente liberal e A direita militante, por sua vez, é das na ordem do dia. É possível, por
conservadora, amplamente presentes composta, sobretudo, por polemistas exemplo, que eles se ponham a alar-
na bibliografia mais corrente das hu- públicos, com seus intelectuais cir- dear os bons feitos da ditadura mili-
manidades, até teóricos menos cita- cunscritos às questões da conjuntura tar, mas esse exercício se faz com o
dos, muitas vezes brandidos de modo mais imediata e sua argumentação olhar voltado para embates contem-
a demonstrar a precariedade do am- raramente ultrapassando os marcos porâneos, como a identidade da atual
biente intelectual brasileiro. Há em al- mais evidentes do debate contempo- esquerda e as mobilizações em torno
guns autores do grupo, como Olavo râneo. As eventuais menções a ques- da Comissão da Verdade. Essa con-
de Carvalho, assumida presença do tões mais amplas ou o retorno a ou- duta faz com que tais personagens
se concentrem, sobretudo, no ataque
a seus inimigos mais próximos e evi-
dentes, sem grandes mediações em
sua argumentação.
Em que pese esse afã pelo ime-
diato, os intelectuais dessa verten-
te também buscam se vincular, até
como forma de legitimação, a linha-
gens mais longevas da história do
pensamento, esforço no qual eles
acabam por reivindicar mais explici-
tamente uma tradição liberal que os
citados anteriormente, mais afeitos
à linha conservadora. Há nesses in-
telectuais um constante esforço em
demonstrar erudição, o que por ve-
zes os leva a mencionar um grande
número de autores, mas suas ela-
borações estão usualmente ampa-
radas em princípios basilares de
um extremado liberalismo econô-
mico, onde são frequentes as men-
ções a Mises e Hayek, e nas formu-
lações de alguns atores do primei-
ro grupo. A heterogeneidade, toda-
via, é a marca desse conjunto, que

32 rUa DireiTa
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

tem no polemismo antiesquerdista por uma “frente direitista” convivam


o cimento que consolida suas teses com uma rotina de brigas e recon-
e percepções centrais. Nesse cam- ciliações, pode-se afirmar que, para
po, se situam, com suas diferenças, além dos movimentos políticos cons-
a direita
Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constan- cientes, as representações do cená-
tino, Guilherme Fiuza, Marco Anto- rio contemporâneo desses dois gru-
Militante é
nio Villa, Diogo Mainardi, Denis Ler- pos já oferecem uma ampla platafor- CoMPosta,
rer Rosenfield, entre outros. Deve-se ma para a composição de uma ação soBretUdo, Por
ressaltar que alguns desses perso- conjunta, ao ressaltar aspectos coin- PoleMistas
nagens, como é o caso de Rosenfield cidentes do discurso dos dois gru- PúBliCos, CoM
e Villa, possuem reflexões de maior pos. Apontaremos, em seguida, seis seUs inteleCtUais
fôlego em seus trabalhos acadêmi- pontos de convergência entre essas
CirCUnsCritos
cos, mas usualmente não transpor- duas direitas.
às QUestões da
tam esse modelo de expressão para

U
sua atuação enquanto intelectuais ma primeira aproxima-
ConJUntUra Mais
públicos. Um ótimo exemplo é o ca- ção decorre do que se iMediata
pítulo escrito por Rosenfield no livro pode chamar de retóri-
Por que virei à Direita?, que se des- ca da “terra arrasada”.
taca pela quase ausência de recur- Nessa perspectiva, tanto o momen-
sos a argumentos de vertente mais to atual quanto a história brasilei-
geral, distintamente de Pondé e Cou- ra, são marcados por uma radical
tinho, os outros dois autores da cole- ausência de virtudes e conquistas.
tânea-manifesto. Desse modo, como O argumento é mais forte na pena
estamos tratando da persona públi- do primeiro grupo, a direita teórica,
ca desses intelectuais, faz mais sen- cujo discurso se ampara na comple-
tido enquadrá-los na categoria da di- ta aversão a qualquer tipo de contex-
reita militante. tualismo, o qual é sempre criticado7 Olavo de Carvalho explicita os radi-
As variações retóricas, assim por seu viés relativista.8 A recusa às cais fundamentos desse tipo de ar-
como as distinções de crença e ên- ideias de pontos de vista ou lugares gumentação: “Em quinhentos anos de
fase, acabam, todavia, nubladas em de fala leva a uma naturalização da existência, a cultura deste país não
um cenário no qual o adversário ideo- cultura vinda dos países “centrais” deu ao mundo um único registro de
lógico e político ganha feição mui- como única digna de ser chamada experiência cognitiva originária. Nos-
to clara, como na atual conjuntura por esse nome e nega a validade a sa contribuição ao conhecimento do
política. Em que pese a permanên- qualquer produção que fuja de um sentido espiritual é, rigorosamente,
cia de algumas disputas internas a cânone tomado como evidente por nula” (CARVALHO, 2013, p. 59).
esse campo mais amplo, a atenção si mesmo. Por esse olhar, a cultura O argumento não é inédito na tra-
se volta, sobretudo, para a derrota e a história brasileira são retrata- dição da direita nacional, que muitas
dos inimigos esquerdistas, que justi- das como uma sequência de equívo- vezes se defendeu a ideia de ruptura
ficam o esquecimento de discordân- cos. Em texto redigido ainda antes do com o passado como movimento ne-
cias e a moderação de ânimos. Mes- adensamento da influência desses in- cessário para o acesso à moderni-
mo que eventuais esforços em com- telectuais da nova direita, em 1999, dade. Personagens como Francisco

janeirO • fevereirO • marçO 2016 33


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

Campos, Carlos Lacerda e Roberto sas, que assolam o Brasil. O panora- serviu à esquerda e aos ‘sociólogos’
Campos, por exemplo, antes viam na ma extremamente negativo sobre o para se liberarem da responsabilida-
tradição um obstáculo do que uma país muitas vezes é relacionado ao de moral. Esse é também um traço
base para a construção do futuro. predomínio da esquerda no cenário ‘mau-caráter’ da esquerda.” (PONDÉ,
O que surpreende no trecho, contu- político e intelectual nacional. Há, 2002, p. 35). A centralidade do argu-
do, é sua radicalidade, que abdica por vezes, um esforço de localização mento moral surge como olhar “cor-
de qualquer mediação na constru- dessa hegemonia da esquerda, que, reto” para o mundo e elemento que
ção do argumento e recorre a cla- em diversos momentos, é remetida distingue o joio do trigo. A esquerda
ros exageros, sem qualquer senti- aos anos que se sucederam à dita- seria não apenas equivocada, mas
do irônico, em todos os momentos dura militar, como muitas vezes afir- moralmente vil, como bem compro-
do raciocínio. ma Luiz Felipe Pondé.11 No mais das va a história pessoal dos seus mais
O tema também se faz, de certo vezes, entretanto, a esquerda passa destacados intelectuais.12
modo, presente na “direita militan- a ser diretamente identificada com

a
te”, constantemente retomado por o mal, sintetizando os mais diversos s ideias seriam, nesse sen-
Rodrigo Constantino, Diogo Mainar- aspectos negativos aparentemente tido, índices de moralida-
di e Reinaldo Azevedo. Constantino, dispersos na sociedade e na história. de e exporiam o lado su-
por exemplo, estabelece um víncu- O argumento decorre da visão perior ou rebaixado dos
lo direto entre esse cenário e a au- extremamente moralizada desses indivíduos. O argumento não se re-
sência de um verdadeiro liberalismo autores acerca da política e da so- duz à “direita teórica”, mas também
em terras brasileiras. Em artigo sin- ciedade. A moral, em seu procedi- se faz presente na “direita militante”,
tomaticamente intitulado “Liberalis- mento mais corriqueiro, remete às como bem demonstra o conceito de
mo no Brasil Colônia: o que podería- divergências a valores transcenden- “esquerdopata”, cunhado por Reinal-
mos ter sido” (CONSTANTINO, 2015), tes e absolutos, impassíveis de qual- do Azevedo e largamente utilizado por
ele retoma um pensador lusitano da quer contestação (DELEUZE, 2002, outros desses intelectuais. Segundo
Colônia com forte inspiração do ilu- p. 29), o que a torna extremamen- tal discurso, a afinidade com ideais de
minismo escocês, José Antônio Gon- te útil para representações biná- esquerda não seria simples crença
çalves, para apontar como a histó- rias, que tomam o opositor ideológi- ou afinidade política, mas patologia
ria nacional poderia ter sido outra co como inimigo. Em face ao inimigo psíquica: “Existe na política o corre-
caso os pressupostos liberais tives- não cabe o diálogo, mas a guerra. A lato da psicopatia, manifestado, no
sem sido plenamente aplicados em reivindicação da superioridade da caso, não como uma doença mental,
terras brasileiras. O raciocínio ex- moral ante a política é não apenas do indivíduo, mas como uma moléstia
põe sua aversão a eventuais relati- evidente na ampla maioria dos au- coletiva, ideológica. Há tempos em-
vismos, que ofuscariam a evidência tores, como aparece como um dos prego a palavra ‘esquerdopata’ para
de que apenas o liberalismo propõe critérios para distinguir a direita da definir certo tipo de comportamento.”
fundamentos adequados para a or- esquerda. Como destacado por Luiz (AZEVEDO, 2011). Algumas das pos-
ganização social.9 Felipe Pondé: “uma das posições do síveis consequências de semelhan-
Ambas as correntes também se pensamento conservador que mais te imaginário no campo da ação po-
aproximam – sendo esse o segundo me encantam é que, para ele, o pro- lítica não são difíceis de imaginar. É
ponto de convergência – na dire- blema do homem é, sobretudo, mo- difícil o diálogo democrático com in-
ta responsabilização da esquerda10 ral, e só secundariamente, político. divíduos portadores de uma doen-
pelas mazelas, recentes e pregres- A negação disso, porém, sempre ça. Patologias, ademais, requerem

34 rUa DireiTa
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

representante da esquerda,14 assim A nova direita retoma esse tema


como o restante do quadro partidá- e, como já exposto, em outros casos,
rio brasileiro; Obama é comunista e o abraça com grande radicalidade. É
Luciano Huck pertence ao campo da comum a quase todos os intelectuais
o Caráter “esquerda caviar” (CONSTANTINO, do campo a ideia de que apenas um
aUtoCentrado do 2013, p. 219). olhar distante dos esquerdismos
Os intelectuais da nova direi- pode perceber os reais traços do
disCUrso Moral
ta usualmente recorrem, e esse é mundo. Pondé, por exemplo, afirma
taMBéM leVa a UMa
o terceiro ponto de aproximação, a sem maiores mediações que a “es-
rePresentação um clássico topos conservador, que querda é abstrata e mau-caráter por-
do Cenário pretende conferir ao próprio discur- que nega a realidade histórica huma-
PolítiCo QUe so uma maior capacidade de repre- na a fim de construir seu domínio no
destoa Bastante sentação do mundo. Nesse discurso, mundo” (PONDÉ, 2012, p. 81), enquan-
da PerCePção da as teses da direita teriam uma maior to Reinaldo Azevedo, em artigo sin-
aMPla Maioria proximidade com o real, colocando-se tomaticamente intitulado “Ainda es-
mais próximas da “vida como ela é”, querda e direita” afirma: “Esquerdis-
dos ProtaGonistas
ao passo que a esquerda se carac- mo é ideologia sim. No mais das ve-
desse CaMPo terizaria por seus devaneios e abs- zes, aquilo a que se chama ‘direita’
trações completamente alheios, por é só bom senso aplicado” (AZEVEDO,
inépcia ou má-fé, ao funcionamento 2013). A retórica do realismo leva os
do mundo. Os argumentos da direi- intelectuais da nova direita ao traba-
ta seriam, nesse sentido, não apenas lho de desconstrução de supostos
superiores moralmente como tam- cânones da esquerda. Há redobra-
um tratamento que não as conser- bém sobranceiros em sua capaci- do esforço em demonstrar como su-
va, mas busca sua exclusão do es- dade de compreender o que os cer- postas verdades não passariam de
paço social. ca. Mais uma vez estamos diante de invenções esquerdistas, amparadas
O caráter autocentrado do dis- um corriqueiro argumento do pen- na hegemonia na mídia e na acade-
curso moral também leva a uma re- samento conservador, fortemente mia para enganar a maior parte da
presentação do cenário político que reproduzido pelo pensamento auto- população, que se mostrariam sem
destoa bastante da percepção da am- ritário brasileiro. Analisando a obra qualquer fundamento teórico e his-
pla maioria dos protagonistas desse de Azevedo Amaral e Francisco Cam- tórico. A academia, aliás, é fruto de
campo. Para essa nova direita, a es- pos, Marcelo Jasmin (2007) identifi- pesadas críticas e retratada como
querda ocupa a quase totalidade dos ca em suas obras modelos retóricos antro de doutrinação esquerdista
postos de poder não apenas no Bra- que reivindicavam às ideias expos- e devassidão moral, onde o que so-
sil, onde o cenário é especialmente tas especial verossimilhança antes bra são títulos, cursos e escritos tão
crítico, mas no mundo, onde é eviden- o tempo do mundo e a fisionomia do inúteis quanto viciados.15
te, segundo Olavo de Carvalho, a he- país, por ele definidos como “mímesis Em meio a essa perspectiva mais
gemonia esquerdista.13 Nessa pers- do tempo” e “mímesis da nação”. Há, ampla, destacam-se alguns campos
pectiva, o PSDB, responsável por uma nesse sentido, a pretensão de cons- nos quais a “nova direita” aborda rei-
reforma neoliberal do Estado bra- truir um pensamento que expresse teradamente temas que ela reputa
sileiro, é, para muitos deles, franco fielmente o mundo. como particularmente dominados pe-

janeirO • fevereirO • marçO 2016 35


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

versitário, como Rosenfield e Pondé, mentação, o autor sempre pode re-


em um grupo que despreza o meio correr às limitações de quem o in-
acadêmico, Villa dedicou boa par- quire, que não seria capaz de ver o
te da sua trajetória intelectual para óbvio e provavelmente estaria en-
o entUsiasMo ante contestar supostos consensos sobre feitiçado ou pela mídia conivente ou
a Modernidade a Ditadura e o Golpe.16 Atualmente, pela doutrinação esquerdista que
eConôMiCa porém, ele destina a maior parte do toma a educação e silencia as vozes
aPareCe de Modo seu tempo ao papel de comentaris- da direita. O discurso repagina ar-
Mais eVidente ta político, que, como já dito, exercita gumentação anticomunista comum
regularmente na Rádio Jovem Pan e nos anos 1960,19 que justificava as
na “direita
em seu blog. O adversário a ser com- incompreensões do seu raciocínio
Militante”, batido por Villa é a memória e a his- pela ação da ideologia adversária,
QUe toMa o toriografia construída pelas esquer- a qual impedia a visão da verdade.
liBeralisMo das, que idealizariam o passado e a Se o esquerdismo é uma doença –
eConôMiCo CoMo própria trajetória; perspectiva, que como aponta o termo “esquerdopa-
úniCo eVanGelHo na visão do autor, é amplamente he- ta” – um dos seus sintomas é a perda
Para a ConstrUção gemônica na opinião pública.17 da capacidade de ver o óbvio. A pró-
A obstinada crença no acesso pria acusação de cultor de teorias da
de UMa Boa ordeM
privilegiado ao real é uma das mais conspiração é uma prova da situação
diretas causas da tendência à cons- de descalabro na qual se encontra-
trução de teorias da conspiração ria o país: “‘teoria da conspiração’ é
que marcam esses intelectuais. O uma entre mil muletas léxicas a ser-
discurso começa por reclamar uma viço dos deficientes mentais loqua-
superior capacidade de compreen- zes que orientam e dirigem o país”
las falsificações esquerdistas. Dois der o mundo e logo passa a enxer- (CARVALHO, 2013, p. 322).
deles, que merecem insistentes co- gar traços ocultos da realidade, sem Como consequência do discurso
mentários de diversos personagens os quais ela não pode ser adequa- que atribui aos opositores à incapa-
do grupo, são a ditadura militar bra- damente interpretada. As dinâmi- cidade de perceber a verdade, está
sileira e o Golpe de 1964. Mesmo que cas políticas e sociais são, assim, presente na pena desses intelectuais
vários autores, como Olavo de Car- muitas vezes explicadas por meio da nova direita outro mote retórico,
valho, Constantino e Reinaldo Azeve- de desconhecidos acordos inter- o quarto ponto de convergência en-
do, dediquem várias manifestações nacionais e grandes conjurações tre as direitas militante e teórica: o
ao tema – sempre empenhados em desapercebidas pela multidão. As esforço em aproximar a direita dos
demonstrar a justeza e necessida- conjecturas de Olavo de Carvalho interesses e opiniões da população.
de do golpe, fundamental para evi- acerca do Foro de São Paulo e das A identificação entre formulações
tar a dominação esquerdista então articulações comunistas internacio- da direita e crenças do senso co-
em curso, e expor a injustiça com a nais – amplamente replicadas por mum é retomada por outros auto-
qual é tratado o regime autoritário – outros intelectuais – são um ótimo res, que contrastam uma esquerda
não resta dúvida de que o mais em- exemplo dessa tendência.18 hegemônica, isolada do povo e preo-
penhado na tarefa é o historiador Uma vez confrontado com a au- cupada em realizar apenas os pró-
Marco Antonio Villa. Professor uni- sência de evidências em sua argu- prios interesses – o que afastaria

36 rUa DireiTa
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

as massas do poder –, com uma di- se sempre se amparam em temas mais evidente na “direita militante”,
reita que representaria fielmente a relacionados a direitos de minorias, que toma o liberalismo econômico
população. Até mesmo personagens como mulheres, negros e homosse- como único evangelho para a cons-
da “direita teórica”, como Olavo de xuais. Em termos semelhantes aos trução de uma boa ordem. A valo-
Carvalho, que costumavam direcio- identificados por Habermas (2015) rização da noção de “meritocracia”
nar sua veia crítica também contra no neoconservadorismo alemão, es- aparece em praticamente todos os
o povo brasileiro, sempre retratado ses novos intelectuais conjugam um autores desse campo, que criticam
a partir de termos majoritariamente forte elogio à modernidade econômi- a esquerda por sempre buscar so-
pejorativos, passaram a adotar, mais ca com uma profunda ojeriza ante a brepor o social ao individual. Não
recentemente, esse mote retórico.20 suas construções no campo da cul- é diferente o cenário, todavia, nos
As evidências levantadas por es- tura e dos valores, ridicularizando a textos da “direita teórica”, que ar-
ses autores para comprovar as dis- agenda do reconhecimento. gumenta a plena conformidade en-
sonâncias entre a maioria da popu- O entusiasmo ante a moderni- tre um forte conservadorismo mo-
lação e a minoria esquerdista qua- dade econômica aparece de modo ral e a adesão ao mundo do capita-
lismo liberal. Aspecto que constitui
o quinto ponto de aproximação. Está
ausente do pensamento desses auto-
res o velho temor conservador, que
receava que ampla expansão da ló-
gica da mercadoria, inerente ao ca-
pitalismo, acabasse por solapar os
valores sobre os quais se fundavam
as sociedades tradicionais. Olavo de
Carvalho é exemplar nesse sentido:
“a consciência de que o capitalismo,
com todos os seus inconvenientes e
fora de toda intervenção estatal pre-
tensamente corretiva, é em si e por
essência mais cristão que o mais
lindinho dos socialismos, eis o de-
ver número um dos intelectuais libe-
rais” (CARVALHO, 2013, p. 199-200).
A clara afirmação dessa com-
patibilidade é central para a cons-
trução e manutenção do campo da
nova direita, permitindo a formula-
ção de uma agenda comum a atores
que, em outros momentos, não ne-
cessariamente estariam nas mes-
mas hostes. Para além dos funda-
mentos teóricos, a coesão nasce do

janeirO • fevereirO • marçO 2016 37


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

entretanto, fez avanços, ainda que tí-


midos, na área dos direitos de mino-
rias, sobretudo através do fortaleci-
mento de secretarias temáticas e da
ampliação das cotas, e em certa va-
lorização do Estado, abrindo campo
para a exploração do desconforto
e dos preconceitos de certa parce-
la da população em relação a esses
movimentos. Na falta de movimentos
de afronta ao capital que forneces-
sem combustível ao discurso do ter-
ror comunista, – os governos petis-
tas não fizeram, por exemplo, movi-
mentos semelhantes ao de Jango no
Comício da Central – a nova direita
foi em busca de pautas morais e de
combate às agendas de reconheci-
mento das minorias como agendas
para justificar os ataques ao campo
da esquerda.
A conduta muitas vezes mode-
rada não impediu que o PT surgis-
se como alvo preferencial. Aspecto
que constitui o sexto, e último, ele-
mento de aproximação entre as di-
inimigo comum, detestado por suas A atenção às minorias decorre reitas. São inúmeros os textos e al-
ressalvas ante a visão capitalista do também das ações do mais evidente guns livros destinados a atacar não
mundo, mas também, como já dito, inimigo dessa nova direita: PT. A op- somente a experiência petista à fren-
por seu discurso de defesa das mi- ção do PT por um “reformismo fra- te do governo – associada sempre à
norias, retratadas por neologismos co”, nas palavras de André Singer, ideia de corrupção –, mas a própria
como ‘feminazis’, ‘gayzistas’, abortis- sempre cioso em destacar sua ple- constituição do partido. A retórica
tas.21 Se o campo comum nasce do na adesão ao capitalismo, dificulta os inflamada, comum aos atores que
elogio dos conservadores ao libera- ataques ao partido com o argumen- integram o grupo, alcança tons es-
lismo econômico, ele também decor- to da “comunização”, que se ampara pecialmente altos quando trata da
re da adesão dos liberais econômi- em teorias conspiratórias do corte do instituição e dos seus principais lí-
cos ao conservadorismo moral, for- Foro de São Paulo e em ataques con- deres, que figuram como constante
temente presente, por exemplo, nos tra os excessos da intervenção esta- alvo de qualificações pejorativas e,
diversos ataques do colunista Rodri- tal, ambos argumentos que não en- por vezes, de diretas ofensas. O PT,
go Constantino, presidente do Insti- contram evidente apoio popular, nem nesse discurso, não apenas retoma
tuto Liberal, a grupos minoritários.22 mesmo na classe média.23 O partido, velhos vícios do passado, represen-

38 rUa DireiTa
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

tante maior do comunismo em terras por um lado, se ancoram em agendas da e na execução de políticas afir-
nacionais, como produz graves pro- clássicas da direita, por outro, pas- mativas orientadas para a inclusão
blemas para o futuro, já que não vige sam por um processo de aggiorna- de “minorias” e forte objeção à es-
no Brasil uma democracia, mas uma mento para se vincular às disputas querda, de maneira geral, e ao PT,
ditadura que silencia as vozes da di- políticas colocadas na conjuntura. em particular –, eles possuem pontos
reita e ilegitimamente lega o poder à Nesse sentido, apontamos seis de divergências que não podem ser
esquerda.24 A plena deslegitimação grandes hipóteses que contribuem negligenciados. Procuramos explo-
do sistema democrático, presente no para a compreensão do destaque rar essas divergências a partir das
discurso de Olavo de Carvalho, en- que os intelectuais da “nova direi- categorias “direita teórica” e “direi-
contra versões mais amenas em ou- ta” vêm adquirindo na cena cultural ta militante”, reconhecendo, por um
tros intelectuais. Permanece, entre- e política do país: as mudanças no lado, os pontos de contato entre os
tanto, a chave que pinta o predomínio contexto internacional, a crescente intelectuais agrupados nessas duas
da esquerda, escancarada pelos go- distância da memória da ditadura categorias e valorizando, por outro,
vernos petistas, como incompatível militar, as transformações que tive- aspectos divergentes dos intelec-
com a democracia representativa. ram curso na própria indústria cul- tuais associados a cada um desses
Não basta derrotar essa esquerda tural do país, sua capacidade ade- grupos específicos.
nas urnas, mas é necessário apa- rir e construir uma forte rede insti- O texto parte do pressuposto de
gar seus vestígios do cenário políti- tucional, a habilidade de se valer dos que a análise da retórica e das cliva-
co brasileiro, já que não há eleições sucessos e fracassos da esquerda gens que organizam esses autores é
democráticas com a atual situação, no Brasil e, por fim, a própria crise fundamental para um mais refinado
que artificialmente transforma mi- que o sistema partidário atravessa panorama do debate brasileiro con-
norias ineptas em maiorias. hoje no país. temporâneo, seja pela ampla influên-
Ao longo deste texto, procura- cia que eles desempenham ou pelo

B
mos analisar sociologicamente o des- uscamos também cha- que sua atuação expressa em rela-
taque na cena pública brasileira de mar a atenção para a di- ção às feições do atual estado da nos-
uma fração de intelectuais que cha- ficuldade de representar sa ordem político-social. Para além
mamos de “nova direita”. O que bus- esses intelectuais como de eventuais simpatias ideológicas
camos sustentar é que, não obstante pertencentes a um todo homogêneo ou apreciações intelectuais, não se
a presença de intelectuais de direita e monolítico, devendo-se, pelo con- pode ignorar os meandros de pers-
não seja um fenômeno novo na história trário, ser ressaltadas as diferen- pectivas que atravessam tão gran-
do Brasil, o protagonismo no debate ças, particularidades e heteroge- de parte do espectro social, sob pena
público dos autores aqui analisados neidades em suas formas de inscri- de perder elementos fundamentais
é uma novidade, quer seja quando se ção na cena pública e nos argumen- para a compreensão do país que hoje
investiga a forma de inscrição deles tos por eles esposados nos debates desponta no horizonte.
na imprensa, na internet, nas rádios, travados com os diferentes setores
no mercado editorial e nos diferentes da esquerda brasileira. Nesse sen- Jorge Chaloub é professor do IBMEC-RIO.
institutos de perfil liberal que se for- tido, ainda que seja possível identifi- jchaloub84@gmail.com
taleceram ao longo dos últimos anos, car pontos de aproximação em suas Fernando Perlatto é Professor do Departa-
quer seja quando se considera a re- agendas – crítica ao papel do Esta- mento de História e do Programa de Pós-Gra-
duação em História da Universidade Federal
tórica e os argumentos por eles mo- do na regulação do livre mercado, na de Juiz de Fora (UFJF).
bilizados no debate público que, se promoção da redistribuição de ren- fperlatto@yahoo.com.br

janeirO • fevereirO • marçO 2016 39


I N S I G H T INTELIGÊNCIA

NOTAS DE RODAPÉ

1. Assumimos neste texto uma concepção de “in- viram seu número e influência crescer exponen- (...) Em contrapartida, os representantes das cor-
telectual” abrangente, privilegiando uma dimen- cialmente na década de 2000. Sobre o tema ver: rentes opostas, conservadoras ou reacionárias,
são mais analítica do que normativa, encarando- THUNERT, 2003; MORAES, 2015, ROCHA, 2015. conforme fui descobrindo com ainda maior sur-
-o como uma “categoria social definida por seu presa, eram quase invariavelmente seres huma-
papel ideológico”, ou seja, como “produtores di- 6. Disponível em http://www.institutomillenium. nos de alta qualidade moral, atestada não só na
retos da esfera ideológica, os criadores de pro- org.br/institucional/parceiros/ idoneidade do seu trabalho intelectual, (...) mas
dutos ideológico-culturais”, o que engloba “es- também nas circunstâncias do cotidiano e nos
critores, artistas, poetas, filósofos, sábios, pes- 7. A crítica ao relativismo é um argumento reite- testes mais rigorosos da existência (...)” (CAR-
quisadores, publicistas, teólogos, certos tipos de rado de certo conservadorismo. Um bom exemplo VALHO, 2013, p. 137-138).
jornalistas, certos tipos de professores e estu- é a longa argumentação de Leo Strauss (2008)
dantes etc.” (LÖWY, 1976, p.1-2). contra os pressupostos historicistas e relativis- 13. “O projeto do governo mundial é originaria-
tas abraçados por Max Weber. mente comunista, e os grupos econômicos oci-
2. O termo “direita” é aqui utilizado, de maneira dentais que se deixaram seduzir pela ideia, es-
mais ampla, a designar uma perspectiva crítica 8. O relativismo não passa, segundo Olavo de perando tirar proveito dela, sempre acabaram
em relação a determinados valores e orienta- Carvalho de recente moda: “Educado nos prin- financiando movimentos comunistas ao mesmo
ções políticas comumente associadas ao chama- cípios do relativismo, (...) tive enorme dificuldade tempo que expandiam globalmente seus próprios
do campo progressista e à “esquerda”, a exemplo de admitir que no mundo há pessoas muito boas negócios. As fundações Ford e Rockefeller são os
da defesa do papel do Estado (1) na regulação do e pessoas muito más, separadas por um abismo exemplos mais notórios. (...) Uma coisa é certa:
livre mercado, (2) na promoção da redistribuição irredutível. Hoje em dia, quem quer que proclame nos anos setenta e oitenta, a globalização pare-
de renda, (3) na execução de políticas afirmativas em voz alta a existência dessa diferença, que sal- cia favorecer os EUA, mas, na década seguinte,
orientadas para a inclusão de “minorias”. Ainda ta aos olhos na vida diária, é imediatamente acu- ela tomou o rumo bem claro de uma articulação
que com perspectivas diversas, todos os intelec- sado de ‘maniqueísmo’.” (CARVALHO, 2013, p. 59) mundial antiamericana e, por tabela, anti-israe-
tuais analisados neste artigo se identificam na lense.” (CARVALHO, 2013, p. 154)
crítica a um ou a todas estas três perspectivas 9. O diagnóstico acerca da ausência do liberalis-
políticas identificadas com o campo progressis- mo no Brasil é, aliás, tema comum no discurso 14. “Não resta dúvida de que os tucanos são me-
ta. É especialmente relevante destacar o fato de dos principais think tanks da nova direita, como lhores do que os petistas, de que o PSDB é uma
que esses intelectuais não renegam, sob a pecha o Instituto Millenium e o Instituto Liberal, e jus- esquerda mais civilizada e que respeita em parte
de um arcaísmo retórico, como o faziam outrora, tificativa para a fundação do Partido Novo. Não o mercado. Mas, ainda assim, a agenda do PSDB
por exemplo, Carlos Lacerda e José Guilherme à toa Constantino está vinculado a essas insti- está muito distante do liberalismo que funcionou
Merquior, a divisão da sociedade entre direita e tuições. Em outro texto, o autor identifica as su- como alavanca para o progresso ocidental.” (CON-
esquerda, este, por sua vez, um usual mote de postas razões do nosso atraso: “Esse precon- STANTINO, Rodrigo, Quem teme o novo?”. O Globo,
intelectuais vinculados a tal campo ideológico. ceito ideológico anticapitalista tem sido o gran- 29/09/2015) “Nas próximas eleições, por exemplo,
A maior parte dos intelectuais aqui analisados de responsável por nossa incapacidade de mi- o país terá de optar novamente entre PT e PSDB,
reforça, em seus discursos, a divisão entre es- grar para o time dos países desenvolvidos (...). O isto é, os dois filhotes monstruosos gerados no
querda e direita, assim como requer e mobiliza Brasil testou vários “ismos” (...) O que realmente ventre da USP, a mãe da esterilidade nacional, ou
orgulhosamente o título de direitistas, colocan- ainda não experimentamos foi mesmo o capita- como bem a sintetizou o poeta Bruno Tolentino, a
do sobre a esquerda o peso dos problemas en- lismo liberal.” (CONSTANTINO, 2015b) “p... que não pariu”...” (CARVALHO, 2013, p. 576).
frentados pelo país.
10. Cabe lembrar que a ampla responsabilização 15. O tema é recorrente nos textos do acadêmi-
3. “A doutrina neoconservadora, que ao longo das forças de esquerda pelas mais diversas ma- co Pondé: “As ciências humanas se tornaram
dos anos 1970 se infiltrou no nosso cotidiano po- zelas é uma das características dos neoconser- incapazes de dialogar com a realidade. Criaram
lítico por meio da imprensa, segue um esquema vadores alemães segundo a obra acima citada um ‘mundinho bobo de teses emancipatórias’ a
simples. De acordo com ela, o mundo moderno de Jürgen Habermas. serviço da masturbação intelectual. Afirmam
se restringe ao progresso técnico e ao cresci- que tudo é ‘construção social’, mesmo que uma
mento capitalista; moderna e desejável é toda di- 11. “após a ditadura, a esquerda tinha nas mãos pedra lhes caia sobre a cabeça todo dia. O nome
nâmica social que remonta, em última instância, as universidades, as escolas, as redações de jor- disso é surto psicótico” (PONDÉ, 2015).
aos investimentos privados; carecem de proteção nal, grande parte dos tribunais e os principais
também as reservas motivacionais das quais se partidos políticos (PT e PSDB são filhotes da es- 16. Foram dois livros sobre o tema: VILLA, 2003, 2014.
nutre essa dinâmica. E, contrapartida, são imi- querda).” (PONDÉ, 2012, p. 81)
nentes os perigos provocados pelas mudanças 17. Deve-se ressaltar que Villa constrói visão bem
culturais, pelas mudanças de motivação e nas 12. “Quem quer que estude as vidas de cada um mais amena do que outros intelectuais da nova
atitudes, dos deslocamentos nos padrões valo- deles descobrirá que Voltaire, Diderot, Jean-Jac- direita, já que ele reconhece a dificuldade da di-
rativos e identitário, atribuídas a uma irrupção ques Rousseau, (...) Noam Chomsky e tutti quanti reita em lidar com a democracia de então e des-
de inovações culturais no mundo da vida, criando foram indivíduos sádicos, obsessivamente men- taca o papel relevante das forças sociais envolvi-
assim curtos-circuitos. Por isso, as reservas da tirosos, aproveitadores cínicos, vaidosos até a das no processo de redemocratização. Não é sim-
tradição deveriam ser congeladas na medida do demência, desprovidos de qualquer sentimento ples, entretanto, coordenar a produção do autor
possível.” (HABERMAS, 2015, p. 83-84) moral superior e de qualquer boa intenção por sobre o período com as ilações que ele constrói
mais mínima que fosse, exceto, talvez, no sentido sobre o período atual, que também chama de di-
4. Em obra mais recente, Jacques Rancière (2014) de usar as palavras mais nobres para nomear tadura, já que Villa muitas vezes parece sugerir,
analisa intelectuais de perfil semelhante aos abor- os atos mais torpes. Muitos cometeram assassi- com total desprezo ante a experiência democrá-
dados por Habermas, preocupados, sobretudo, natos pessoalmente, sem jamais demonstrar re- tica recente, que o cenário contemporâneo é tão
com a conjunção, em certos autores, do elogio morso. Outros foram estupradores ou explora- ou mais nefasto às liberdades individuais quanto
à expansão global autocrática de governos di- dores de mulheres, opressores vis de seus em- o período autoritário.
tos democráticos e com a recusa a qualquer ex- pregados, agressores de suas esposas e filhos.
pansão mais significativa da democracia social. Outros, orgulhosamente pedófilos. Em suma, o 18. “Tudo na vida de uma democracia depende do
panteão dos ídolos do esquerdismo universal seguinte: os cidadãos deixam-se mais facilmente
5. O modelo seguido parece ser o dos think tanks era uma galeria de deformidades morais de fa- persuadir por provas e documentos ou por um
conservadores americanos e canadenses, que zer inveja à lista de vilões da literatura universal. sorriso sarcástico de superioridade vagamen-

40 rUa DireiTa
I N S I G H T INTELIGÊNCIA

te atemorizante? O sucesso de Barack Hussein portas da democracia e da participação” (CAR- 23. A demanda das classes mais pobres por um
Obama nos EUA, bem como o do Foro de São Pau- VALHO, 2013, p. 244). Estado fortemente interventor é um dos argu-
lo na América Latina, deveu-se inteiramente ao mentos esposados por SINGER, 2012. Em recen-
predomínio da segunda hipótese. Lá como cá, a 21. “O que separa da humanidade normal os te pesquisa sobre as manifestações que ocorre-
grande mídia, em massa, esquivou-se à obriga- abortistas, gayzistas, globalistas, marxistas, li- ram no dia 16 de agosto, Pablo Ortellado e Esther
ção elementar de investigar e informar, preferin- berais materialistas e outras criaturas afeta- Solano também identificaram no público, majori-
do um jogo de cena destinado a inibir, mediante a das de “mentalidade revolucionária” não é uma tariamente pertencente às faixas mais altas de
ameaça velada da humilhação e do ridículo, to- questão de opinião ou crença: é uma diferença renda, uma forte simpatia à forte presença do
das as perguntas politicamente indesejadas. (...). mais profunda, de ordem imaginativa e afetiva.” Estado nas áreas da saúde e da educação. (OR-
Leiam as atas do Foro de São Paulo. Cuba gover- (CARVALHO, 2013, p. 181) TELLADO, SOLANO, 2015)
na o continente.” (CARVALHO, 2013, p. 253-254).
22. “As feministas, por meio do politicamente cor- 24. “...a democracia brasileira é um doente em es-
19. Um bom exemplo é BILAC PINTO, 1964. reto, tentam nos convencer de que gênero é so- tado quase terminal. O jogo normal de esquerda
mente uma “construção social”, que segue uma e direita, que permite a continuidade do proces-
20. Como neste texto de 2009: “a maioria abso- criação arbitrária machista para o domínio pa- so democrático e mantém os extremismos sob
luta dos brasileiros, especialmente jovens, é um triarcal. Besteira! Meninos, desde muito cedo, rédea curta, foi substituído por um sistema de
eleitorado maciçamente conservador desprovi- mostram certas tendências diferentes das me- controle monopolístico não só do poder estatal
do de representação política, de ingresso nos de- ninas no que diz respeito às brincadeiras. Até como da cultura e da mentalidade pública; con-
bates intelectuais e de espaço na ‘grande mídia’. com outros animais isso acontece. Hormônios trole tão eficiente que já não é percebido como
É um povo marginalizado, escorraçado da cena talvez expliquem a diferença.” (CONSTANTINO, tal” (CARVALHO, 2013, p. 99-100).
pública por aqueles que prometeram abrir-lhe as 2013 p. 206)

BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO, Reinaldo. Esquerdopatia, a psicopatia DELEUZE, Gilles. Espinosa: Filosofia Prática. São PONDÉ, Luiz Felipe. Samurais x Ciências Huma-
da política. Disponível em http://veja.abril.com.br/ Paulo: Escuta, 2002. nas. Folha de S. Paulo, 28/09/2015.
blog/reinaldo/geral/esquerdopatia-a-psicopa-
tia-da-politica-ou-primeiro-eles-tentam-desuma- HABERMAS, Jürgen. A crítica neoconservadora PONDÉ, Luiz Felipe; COUTINHO, João; ROSEN-
niza-lo-para-entao-mata-lo-foi-assim-que-elimi- da cultura nos Estados Unidos e na Alemanha. FIELD, Denis Lerrer. Por que virei à direita?, São
naram-mais-de-100-milhoes-no-seculo-passa- In: A nova obscuridade: pequenos escritos polí- Paulo: Três Estrelas, 2012.
do/ Publicado em 30/11/2011. ticos V. São Paulo: Unesp, 2015.
RANCIÈRE, Jacques. O ódio à Democracia. São
. Ainda esquerda e direita. Dis- JASMIN, Marcelo. Mímesis e recepção: en- Paulo: Boitempo, 2014.
ponível em http://veja.abril.com.br/blog/reinal- contros transatlânticos do pensamento au-
do/geral/ainda-esquerda-e-direita-esquerdis- toritário brasileiro da década de 1930. In: ROCHA, Camila. Direitas em rede: think tanks de
mo-e-ideologia-sim-no-mais-das-vezes-aquilo- JASMIN, Marcelo, FERES JR., João, História direita na América Latina. In: VELASCO E CRUZ;
-a-que-se-chama-direita-e-so-bom-senso-apli- dos conceitos: diálogos transatlânticos. PUC- KAYSEL; CODAS. Direita Volver! O retorno da di-
cado/ Publicado em 14/10/2013. -RIO/Loyola, 2007 reita e o ciclo político brasileiro. São Paulo, Per-
seu Abramo, 2015.
PINTO, Bilac. Guerra Revolucionária. Rio de Ja- LOWY, Michel. Para uma Sociologia dos Intelectuais
neiro: Editora Forense, 1964. Revolucionários: a evolução política de Lukács, SINGER, Andre. Os sentidos do lulismo. São Pau-
1909-1929. São Paulo: LECH, 1979. lo: Companhia das Letras, 2012.
CONSTANTINO, Rodrigo. “Liberalismo no Brasil
colônia: o que poderíamos ter sido”. Disponível MORAES, Reginaldo C. A organização das células STRAUSS, Leo. Droit Naturel et Histoire. Champ
em http://rodrigoconstantino.com/artigos/li- neoconservadoras de agitprop: o fator subjetivo Essais, 2008.
beralismo-no-brasil-colonia-o-que-poderiamos- da contrarrevolução. In: VELASCO E CRUZ, KAY-
-ter-sido/ Publicado em 29/04/2015. SEL, CODAS. Direita Volver! O retorno da direi- THUNERT, Martin. Conservative Think Tanks in
ta e o ciclo político brasileiro. São Paulo, Perseu the United States and Canada In: SCHULTZE,
. Quem teme o novo?”. O Globo, Abramo, 2015. STURM, EBERLE, Conservative Parties and Ri-
29/09/2015. Citado como CONSTANTINO, 2015b. ght-Wing Politics in North America: reaping the
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o ‘pe- benefits of na ideological victory?. Leske + Budri-
. Esquerda Caviar. Rio de Janei- rigo vermelho’: o anticomunismo no Brasil (1917- ch, Oplanden, 2003.
ro: Record, 2013. 1964). São Paulo: Perspectiva, 2002.
VILLA, Marco Antonio. Jango: um perfil (1945-
CARVALHO, Olavo de. O Mínimo que você preci- ORTELLADO, Pablo; SOLANO, Esther. Um desacordo 1964). Editora Globo, 2003.
sa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: entre manifestantes e os convocantes dos protes-
Record, 2013. tos? Disponível em http://brasil.elpais.com/bra- . Ditadura à brasileira (1964-
sil/2015/08/18/opinion/1439933844_328207. 1985). A democracia golpeada à direita e à es-
. O jardim das aflições. Rio de htm Publicado em 18/08/2015. querda. São Paulo: LeYa, 2014.
Janeiro: Topbooks, 1998.

janeirO • fevereirO • marçO 2016 41

Você também pode gostar