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DIA PAISANO

DE STEVE DANUSER • ILUSTRAÇÕES DE LINDSEY BURCAR

hronormu acordou com os primeiros raios de sol da manhã. Ele bocejou,


espreguiçou-se e sorriu para as maravilhas do mundo desperto.
Uma brisa fria soprou alguns flocos de neve para o seu poleiro pelo arco
que servia de entrada.
Ali, bem no alto das montanhas, o frio era familiar e bem-vindo.
Chronormu andou sonolento até a beirada e olhou para os campos vastos
de neve e gelo que se estendiam até o Templo do Repouso das Serpes, a
grande torre erguida ao longe. Como se para saudá-lo nesse novo dia, as
nuvens carregadas se abriram e raios de sol vieram aquecer suas escamas de bronze.
É um belo dia para ser um dragão!, disse consigo mesmo, como dizia todas as manhãs. E ainda assim,
alguma coisa em seu coração, que deveria estar feliz, se agitou, um pequeno incômodo que o deixou
desconfortável.
Uma cintilação nos céus chamou sua atenção. Começou pequena e foi crescendo, até outro dragão
bronze chegar em seu poleiro. Chronormu sorriu ao reconhecer a grande amiga.
“Zidormi, bom dia! Trouxe café da manhã? Por favor, diga que sim.” Só de pensar em comida, a
barriga vazia de Chronormu roncou.
A bronze elegante pousou com um floreio gracioso na beirada e sorriu, respondendo com um aceno de

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cabeça brincalhão. “Não, bobinho. Eu vim aqui para ouvir a sua decisão. Que forma você vai escolher?”
De repente, o ronco deu lugar a um frio. A testa de Chronormu se franziu em uma expressão de
vergonha.
O queixo de Zidormi caiu. “Chronormu! Falta menos de uma quinzena para o seu Dia Paisano! E
você está dizendo que ainda não escolheu uma forma mortal?”
Era uma manhã tão fresca, clara e bela que o pensamento sequer havia passado pela cabeça de
Chronormu. Bom, na verdade, havia, mas ele não lhe dera atenção, esperando que isso o fizesse sair
voando para deixar o dragão em paz. E, por alguns minutos preciosos, deu certo. Mas ele voltou.
Chronormu desabou, seu grande pescoço desceu e ele repousou a cabeça sobre as garras dobradas.
“Ah, Zidormi, não consigo me decidir! São tantas possibilidades, e assim que eu acho que já sei o que
escolher, penso em outra coisa. E se eu fizer a escolha errada? Diga o que você faria, por favor.”
Zidormi suspirou e permitiu que os cantos da boca se arqueassem em um sorriso reconfortante. “Nós
dois sabemos que eu não posso escolher por você. O meu Dia Paisano só chegará daqui a muitas estações.”
Chronormu suspirou, soltando um fio de fumaça clara pelas narinas. “Aposto que você já sabe que
forma mortal vai escolher, não sabe?”
“Eu não voei até o seu poleiro para falar sobre o que eu escolhi, Chronormu.”
“Mas já escolheu, não foi?”
Zidormi desistiu de reclamar outra vez, mas soltou um breve arquejo de desistência. “Ah, sim, mas...”
“Eu sabia!”, gemeu Chronormu frustrado, balançando o pescoço de um lado para o outro. “Tomar
decisões é tão fácil para você. Aposto que você até já sabe quais deveres vai pedir, para onde vai, quem
vai conhecer, quando vai...”
“Pare!”, gritou ela. Mas quando Zidormi viu as lágrimas caindo dos grandes olhos verdes do
amigo, ela suspirou e inclinou o focinho para tocá-lo. “Pronto, pronto, querido Chronormu, chega de
preocupações.”
O jovem dragão soluçou. “Eu não sei como posso escolher como os outros vão me ver se eu mesmo
não sei como eu me vejo.”
Zidormi falou com calma e tranquilidade. “Quando o nosso mestre, o Atemporal, se depara com uma
escolha difícil, como você acha que ele encontra a solução?”
A pergunta conseguiu distraí-lo. “Ele deve pedir ajuda aos outros Aspectos.”
“E o nosso mestre é muito sábio, não é mesmo?”
Chronormu anuiu sério. “O mais sábio.”
Zidormi sorriu. “Então, sugiro que você busque os conselhos dele. Nozdormu já ajudou incontáveis
colegas da revoada dragônica a se preparar para o Dia Paisano. Com certeza ele também pode ajudar
você.”

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“Eu não sei como posso escolher como os
outros vão me ver se eu mesmo não sei como eu
me vejo.”

O coração de Chronormu cresceu com alívio e alegria. Era bom saber o que fazer. Ele dobrou as asas
ao redor da maravilhosa amiga e deu a Zidormi o maior abraço que podia.
“Eu vou, prometo. Mas pode tomar o café da manhã comigo antes? Isso é importante demais para ser
discutido com o estômago vazio!”

Desta vez, eu vou conseguir!


Chronormu baixou o focinho e começou a descer de novo. Aos poucos, a grande extensão gélida
do Ermo das Serpes ficou cada vez menor e seus infinitos rochedos profundos e montes de ossos
semienterrados sumiram de vista quando ele se aproximou dos espinhaços baixos dos penhascos ao redor
do Santuário Dragônico Bronze, um lugar sagrado onde Nozdormu, o Atemporal, fazia sua vigília entre
os dragões que ali repousavam há muito tempo.
Mas, conforme o chão se aproximava, as dúvidas de Chronormu também voltavam, e no último
instante ele arqueou as asas novamente e subiu para o céu. Ele voltou a circular o perímetro muito acima
do santuário.
Talvez fosse melhor adiar seu encontro com Nozdormu para a manhã seguinte. Afinal, disse consigo
mesmo, o Aspecto Bronze era um dragão muito ocupado e certamente tinha vários assuntos importantes
para supervisionar. Mas assim que se convenceu a voar de volta para seu poleiro, a mente de Chronormu
se voltou para uma lição dada por seu mestre na estação anterior.
“Apesar de abundantes, as Areias do Tempo são preciosas. Não desperdice um grão sequer.”
Chronormu se envergonhou ao lembrar. Ele estava sendo bobo, claro. Os dragões bronze eram os
zeladores dos percursos temporais. Ele sabia muito bem que, depois de iniciado, o tempo não pode parar
nem desacelerar pelo simples desejo de alguém. Ele podia se preparar para o Dia Paisano ou podia
enrolar.
Então, ele esticou as asas e deixou as correntes de ar o guiarem suavemente até o chão, ignorando os

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olhares de banda e as risadinhas jocosas dos dracos e dragonetinhos que estavam brincando nos arredores
do santuário e testemunharam sua indecisão. Chronormu ergueu a cabeça e caminhou entre eles com
uma autoconfiança falsa, oferecendo apenas um aceno sábio. Todos estarão tão nervosos quanto eu quando o Dia
Paisano deles se aproximar, consolou-se.
Enquanto caminhava por um caminho sinuoso até o cume, Chronormu inspirou um grande sopro
de ar fresco para se acalmar e o prendeu. O caminho de pedra natural se inclinava para baixo e se abria
em uma escada esculpida que levava ao vale arenoso do santuário. Ele soltou o ar ao chegar ao último
degrau e, quando tornou a inspirar, o ar veio absurdamente quente, banhado na luz dourada daquele
oásis mágico. Era como se parte do passado estivesse preservada ali, de uma época em que o clima em
Nortúndria era ensolarado e quente, ou talvez de um futuro que ainda não havia chegado. De um jeito
ou de outro, era uma prova resplandecente, admirável e concreta do poder do Atemporal. E lá estava
Nozdormu, sozinho no centro do santuário, à deriva em um mar de terra e ossos de dragão. Quieto.
Contemplativo. Sua mente com certeza estava concentrada em incontáveis momentos dos percursos
temporais.
Chronormu se aproximou lentamente de cabeça baixa, reverente. “Mestre Nozdormu, posso falar
com você?”
“É claro, Chronormu. Junte-se a mim na areia.” Sua voz era sábia e calorosa ao mesmo tempo.
Sempre que Nozdormu se sentava naquelas areias, formas intrincadas surgiam sozinhas ao redor dele.
O dragão menor andou com cuidado para causar o mínimo de perturbação possível. Chronormu achava
esses desenhos circulares muito mais bonitos que a arte, em parte porque eram muito frágeis. Mas, ainda
assim, eles mantinham a forma única, até a menor das espirais. Sentiu com uma pontada de inveja que a
areia era mais segura de si do que ele.
Ele se sentou de frente para o Atemporal, sentindo-se muito insignificante. Só de estar na presença do
líder da revoada dragônica, que testemunhara tantos acontecimentos importantes ao longo de tantas eras,
o jovem dragão já se sentiu menor que um grão de areia.
Houve um momento de serenidade compartilhada, que o jovem dragão estragou por completo.
“Bom, Mestre Nozdormu, o meu Dia Paisano está muito próximo, como deve saber. Quer dizer, é
claro que você sabe, você é o Atemporal, então já viu o que está para acontecer, o que aconteceu e o que
ainda vai acontecer. Mas eu sou só um pequeno dragão bronze sem importância e não sei o que está por
vir, não sei nem que forma escolher. Eu esperava que, como você já viu o futuro, talvez pudesse me dizer
que forma eu vou escolher, ou o que o eu do futuro escolheu, e isso não é trapaça, já que você já sabe que
vai acontecer mesmo. E sim, você tem regras para essas coisas, mas eu achei que dessa vez você poderia
dar um jeito de...”
“Chronormu”, disse o dragão com firmeza, mas com certa generosidade.

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“Sim?”
“Respire.”
Chronormu respirou devagar, sem parar. Ele achava que, se pudesse fazer isso durar o suficiente,
talvez esquecesse o pavor.
“Mil desculpas”, respondeu baixinho.
A voz de Nozdormu fluiu como areia movediça. “Nenhum dragão bronze é pequeno ou insignificante.
Por favor, diga-me o que o Dia Paisano significa para você.”
“Ele mostra que você e os outros Aspectos confiam em mim para adotar a forma de uma das raças
mortais e viver entre ela. E, quanto mais eu me ligar a ela, mais eu posso ajudá-la a entender a nós, os
dragões. É por isso que escolher a paisana certa é tão importante. Eu quero que eles me vejam pelo que
eu sou, não pelas escamas e presas que eu uso.”
Nozdormu anuiu com sua grande cabeça de bronze, e, com uma lento piscar de olhos, toda a sua
forma foi envolvida por uma nuvem dourada de magia reluzente. Aos poucos, a nuvem foi diminuindo
e diminuindo até se dissipar, deixando para trás não a silhueta de um dragão, mas a forma de um elfo
superior de barba castanha.
Mesmo naquela forma, o Atemporal mantinha sua elegância e austeridade. Ele parecia um rei antigo
com uma postura majestosa que irradiava confiança e sabedoria. A armadura mortal que ele vestia era
cheia de escamas bronze, e sobre o ombro direito havia uma brafoneira em forma de cabeça de dragão
que segurava uma ampulheta de vidro de areia incessante.
Chronormu ficou embasbacado, certo de que jamais assumiria uma forma tão nobre.
O elfo fez um gesto e as areias sob os seus pés começaram a se mover outra vez. “Desde que nós,
Aspectos, percebemos que a nossa raça era destinada a compartilhar Azeroth com as raças jovens,
assumimos um semblante que nos ajuda a ver o mundo como eles. Mas, não menos importante, isso
orienta a forma como eles nos enxergam. Você quer que eles o vejam como um sábio confiável? Um
tirano a ser temido? Distante e alheio ou receptivo e generoso? Essa escolha é muito pessoal e diz muito
sobre quem você é como dragão. Então, não, eu não direi nada que possa enviesar a sua decisão.”
Chronormu suspirou. “Eu entendo”, disse ele, e de fato entendia. Mas sua incerteza quanto a escolher
uma forma mortal, e quem ele era como dragão, ainda o preocupava.
“Em vez disso, ofereço um conselho”, prosseguiu Nozdormu. “Encontre outros que tenham escolhido
uma forma. Não apenas amigos, mas aqueles que você ainda não conhece. Talvez até aqueles que teme.
Ouça as verdades que orientaram as escolhas deles, e talvez no processo você perceba que o seu caminho
se tornará mais claro.”
“Obrigado, mestre. Seguirei o seu conselho.” Essa não foi a resposta fácil que Chronormu estava
esperando, mas era uma boa resposta.

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“As areias guiarão você, meu jovem”, disse Nozdormu, sentando-se na luz dourada e quente e
voltando aos seus pensamentos.
Enquanto caminhava em direção à escada, Chronormu parou para observar o Atemporal meditando.
Ainda na forma mortal, ele estava sentado entre as marcas que sua forma de dragão havia deixado na
areia. Para Chronormu, parecia que não importava como o Aspecto se apresentava, ele sempre ocupava
toda a areia.
O jovem dragão bronze alçou voo e planou no céu, já com um princípio de ideia na cabeça.

Chronormu voou alto e rápido, observando a topografia gélida do Ermo das Serpes dar lugar aos
quentes campos de gêiser e à relva cor de ferrugem da tundra, em direção a uma névoa azul distante no
céu ocidental. Pouco a pouco, o brilho ficou mais forte, mais definido, até que formou um pilar de luz
que parecia cortar o próprio céu. Ele voou mais alto em direção aos grandes penhascos recortados ao
redor de Gelarra, o bastião da revoada dragônica azul.
O jovem dragão foi para o cume e observou maravilhado o Nexus, uma torre colossal de anéis
flutuantes envolvendo um pilar grosso de energia arcana. Chronormu já ouvira histórias a respeito das
maravilhas dentro daquele baluarte: artefatos antigos concedidos aos Aspectos pela vontade dos próprios
titãs. Hostes de grandes dragões azuis voavam patrulhando a estrutura, os arcos sincronizados com uma
precisão treinada.
Para não incomodar os graciosos azuis, Chronormu planou baixo e decidiu pousar num cume sobre
os campos de neve pontilhados de tufos de pinheiros altos. Uma luz púrpura preenchia o ar, com o som
de magia arcana crepitando suavemente no ouvido do dragão bronze. Dracos e dragões conjuravam raios
de energia, aperfeiçoando a destreza mágica pela qual sua revoada era conhecida.
Chronormu avistou um dragão lazúli voando em sua direção, vindo dos recônditos superiores do
Nexus. Com uma graça quase majestosa, o azul pousou tão suavemente que mal afetou o chão sob suas
garras.
“Você deve ser Chronormu”, afirmou o dragão, curvando a cabeça educadamente. “Eu sou Kalecgos.
É uma honra conhecê-lo.”
O bronze respondeu curvando a cabeça. “O prazer é meu, Kalecgos! Zidormi fala muito bem de você.
Muito obrigado por aceitar a minha visita. Sei que você é muito atarefado.”
Kalecgos sorriu. Havia algo de calmo e gentil nele. “O meu mestre, Malygos, espera que todos em
nossa revoada treinem incansavelmente. Mas eu sempre encontro tempo para fazer um favor a um amigo.
Zidormi me disse que você precisa de ajuda com o seu Dia Paisano.”

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Chronormu concordou sério. “Sim, ele está se aproximando. E eu não consigo decidir qual forma
mortal representa melhor quem eu sou. Busquei a ajuda do meu senhor e ele sugeriu que eu tentasse
aprender com aqueles que já tomaram essa decisão. Se me permite perguntar, Kalecgos, como você
escolheu uma forma?”
O dragão azul fechou os olhos e sussurrou um encantamento. Magia arcana rodopiou ao redor de
Kalecgos enquanto ele assumia sua aparência mortal. Quando a transformação acabou, Chronormu
manteve um silêncio educado.
“O que você acha da minha escolha?”, perguntou o ser de cabelo meio azulado que era um... elfo?
Humano? O que quer que fosse, Kalecgos vestia uma camisa branca simples, para dentro de uma caça
marrom discreta, e botas. Era um resultado tão mundano para uma transformação tão elaborada.
“Uma forma extremamente distinta, de fato!” Chronormu tentou disfarçar a confusão com entusiasmo.
Kalecgos riu. “Seja sincero, meu jovem amigo. Não era o que você esperava, não é mesmo?”
O dragão bronze corou. “É que... sabendo como vocês azuis são mágicos e depois de ver Malygos na
forma mortal e elegante dele, eu esperava algo um pouco mais...”
“Grandioso? Tudo bem, Chronormu. De verdade.” O sorriso caloroso dele fez o bronze relaxar. “Na
verdade, escolhi essa forma especialmente por ser diferente dos outros membros da minha revoada.”
Chronormu piscou uma vez. E depois outra. “Eu não entendi.”
“Bom”, começou o azul, “existem muitos motivos para escolher uma forma específica. Os Aspectos
exigem o respeito das nossas revoadas e dos mortais também, então suas aparências devem cumprir uma
função. Eles precisam ser elegantes e formais porque é isso o que se espera deles. Entendeu?”
Aquilo fazia sentido. O bronze concordou.
“Embora muitos da minha revoada sigam o exemplo dos Aspectos, eu quero caminhar ao lado dos
mortais como um igual. Eu escolhi uma paisana meio humana e meio elfa superior, uma mistura de
mundos mortais, porque tento unir o nosso mundo ao deles. Não queria que a minha aparência lembrasse
um dragão. Queria que me vissem como um amigo, um igual, alguém em quem pudessem confiar.
Eu diria que essa era a essência da minha escolha e da minha identidade, Chronormu. Eu queria ser
acessível.”
Aquilo fazia muito sentido. “E o cabelo azul?”
Kalecgos deu de ombros. “Combina comigo.”
“Compreensível”, respondeu Chronormu. “Obrigado por falar comigo hoje, Kalecgos. Você foi ainda
mais gentil do que Zidormi disse que seria.
O meio elfo sorriu. “O prazer foi todo meu. Gostaria de ouvir mais duas sugestões antes de partir?”
“Claro!” Chronormu falou logo, com os olhos arregalados.
“Primeiro, eu percebi que nome de dragão pode soar meio formal para os mortais. Se quiser caminhar

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entre eles como um aliado, sugiro que pense em um... Como é que eles chamam mesmo? Um apelido. Na
companhia de mortais, por exemplo, atendo por Kalec.”
“É mesmo? Gostei da ideia. Vou pensar nisso. E qual é a outra sugestão?”
Kalecgos ergueu a sobrancelha. “Posso dar conselhos do meu ponto de vista. Mas outros dragões
costumam ver a si mesmos e suas interações com mortais de forma diferente. Sugiro que você busque a
sabedoria de alguém com uma perspectiva diferente da minha.”
Chronormu sabia que era um bom conselho. Ele pensou nos outros dragões que o haviam marcado
e tentou identificar qual era o mais diferente possível de Kalecgos. Quando o nome lhe veio, a atitude
despreocupada ganhou um tom sinistro.
O meio elfo coçou o queixo. “Ao que parece, você tem um dragão em mente para a próxima visita.”
O bronze suspirou. “Na verdade, tenho.”

O draconídeo de escamas escuras se aproximou de Chronormu e falou com um rosnado grave e áspero.
“Minha senhora o verá agora. Venha.”
O dragão bronze, sentindo-se absolutamente deslocado, engoliu em seco. Os draconídeos eram servos
dos dragões, uma raça bípede, corpulenta, moldada pelos mestres para ser útil e leal. Nunca nenhum o
assustara antes. Ali, no entanto, naquelas cavernas tomadas de cinzas, isoladas em um recôndito sombrio
do Ermo das Serpes, o jovem dragão de fato sentiu medo.
Quando o draconídeo negro se virou para conduzi-lo por um dos túneis, que esperava de boca
escancarada para levá-los para as estranhas vulcânicas da montanha, o medo de Chronormu se
transformou em pena. A criatura parecia extenuada, combalida, e arrastava um pouco uma das pernas.
Por que a senhora não o cura?, indagou-se o dragão bronze. As únicas razões em que ele podia pensar
eram, no mínimo, perturbadoras. Enquanto acompanhava o draconídeo coxeante, Chronormu viu
outros como seu acompanhante laborando junto de poços de lava fervendo ou empurrando vagonetes
abarrotados de minério. Todos pareciam esgotados. Não havia felicidade à vista, nenhuma alegria. Só
obediência.
O túnel dava em uma vasta câmara iluminada por braseiros acesos e pela lava, que fluía e se acumulava
em poços ardentes. Havia mais draconídeos espalhados, alguns trabalhando, outros treinando técnicas
marciais com dracos de obsidiana. Os jovens dragões atacavam ferozmente, e Chronormu percebeu por
que tantos servos pareciam feridos.
A revoada negra treina para causar dor de forma mais eficiente. Essa imagem mental era suficiente para encher
seu coração de vergonha e pesar.

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Chronormu caminhava devagar para não deixar seu guia para trás. O túnel serpentava e cruzava
afloramentos rochosos irregulares que guardavam uma semelhança notável com dentes de dragão
malformados antes de dar em uma caverna onde o ar se tornava denso e repugnante. Ele se sentia
submerso em uma água negra, pesada, refreando o ímpeto de fugir.
Você está seguro, Chronormu. Você está entre seu próprio povo. Não há o que temer. Embora se convencer de algo
não fosse o mesmo que realmente acreditar, ele sabia.
Em uma ilha de pedra escura no centro da caverna estava alcandorada uma imponente dragonesa
negra. Ela emitia ordens. Sua voz era altiva. A enorme cabeça se movia de um lado para o outro, a
superfície lustrosa dos chifres curvados refletindo a luz do fogo, vigiando para que nenhum daqueles que
ela supervisionava negligenciasse suas tarefas. O draconídeo conduziu o convidado de bronze por uma
passarela estreita de obsidiana que coleava para lá e para cá na direção da dragonesa negra. Chronormu
desacelerou o passo ao se aproximar, acometido de medo e reverência.
“Senhora, trago o forasteiro para uma audiência.” O servo desceu tão baixo ao se ajoelhar que
quase se deitou na rocha. A dragonesa virou a cabeça e observou o draconídeo com seus olhos amarelos
penetrantes. Logo, as pupilas felinas se voltaram para Chronormu.
O dragão bronze tentou pensar na saudação adequada e ficou um pouco atrapalhado. “O-olá, minha
senhora. Agradeço por...”
“É assim que demonstra respeito pela filha de um Aspecto?” A voz dela era firme, inquisitória.
O jovem bronze se ajoelhou, abaixando a cabeça o máximo que pôde. “Perdão. Obrigado por me
receber, Grã-senhora Onyxia.”
A dragonesa negra parecia satisfeita. “Levante-se e diga seu nome.”
“Sou Chronormu. Trago saudações da revoada dragônica bronze e os melhores votos do Atemporal.”
Ele se ergueu como a anfitriã ordenou, mas estava consciente do tremor nas pernas.
Onyxia nem sequer piscou. “Não acredito que banalidades triviais o tenham trazido aqui, filhote.
Diga o que busca.”
A boca de Chronormu secou completamente. “Seu conselho, minha senhora”, respondeu ele
suavemente.
“É mesmo?” O comportamento dela mudou e sua postura ficou mais relaxada. No entanto, se era por
interesse genuíno ou meramente para se entreter, o jovem dragão não sabia. “Prossiga.”
Chronormu respirou fundo. Ele havia preparado uma longa explicação repleta de humor e deferência,
mas mesmo diante da aparente benevolência de Onyxia, ele não gostaria de permanecer mais tempo que
o necessário no interior das cavernas sepulcrais. “Meu Dia Paisano se aproxima e eu não sei que forma
assumir. Quero saber como você tomou a sua decisão.”
A dragonesa negra permaneceu imóvel por tempo suficiente para causar desconforto, depois rompeu

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“Ouça, pequeno: você é um dragão, um caçador,
com garras para rasgar e dentes para matar. A
forma paisana em nada muda isso.”

o silêncio com uma pergunta. “Por que adotamos uma forma paisana?”, questionou.
“Para melhorar nossa relação com as raças mortais”, respondeu o bronze. “Ficamos acessíveis e
podemos estabelecer contato com elas.”
Onyxia riu com escárnio, soltando uma lufada de fumaça negra pelas narinas. “Isso parece algo que
Nozdormu diria aos seus dragonetes. Não, filhote. Escolhemos uma forma paisana que nos permita
controlá-los.”
A imensa dragonesa negra abriu as asas e se ergueu sobre as patas traseiras. Chronormu ficou de
queixo caído, observando como a silhueta de Onyxia parecia preencher por completo a câmara imensa.
Ela manteve a pose por um instante, depois recolheu as asas com tanta força que uma nuvem de cinzas
engoliu Chronormu. O bronze tossiu e arquejou, sentindo os olhos arderem devido à fuligem. Quando
ele finalmente conseguiu abrir novamente os olhos, Onyxia não era mais uma dragonesa, e sim uma
mulher humana de cabelos negros como a noite, ostentando uma bela túnica.
“Entre todas as raças mortais, são os humanos que oferecem a maior ameaça aos povos dracônicos”,
disse ela. “Eles não são os mais fortes, tampouco os mais inteligentes, mas são os mais incansáveis. Ainda que
dotados de grande sagacidade, são criaturas fúteis, facilmente influenciáveis por bajulação. Escolhi uma forma
que conquistasse os corações deles, que me permitiria obter tudo aquilo que almejasse. Ouça, pequeno: você é
um dragão, um caçador, com garras para rasgar e dentes para matar. A forma paisana em nada muda isso. E,
assim como seus outros dons, a forma paisana é um meio de conseguir aquilo que busca.”
Sentindo-se como se o fôlego tivesse sido arrancado dos seus pulmões, Chronormu não sabia o que
dizer. “Não... não é assim que quero que os mortais me vejam.”
Os lábios humanos de Onyxia desenharam um sorriso quase imperceptível. Ela se aproximou de
Chronormu, estendendo a mão de porcelana para tocar o pescoço do bronze. As palavras saíam de sua
boca lenta e suavemente. “Você não pode mudar sua natureza, filhote. Se permanecer aqui, ao meu lado,
eu lhe direi tudo que é preciso saber acerca dos mortais. Com meu treinamento e escolhendo a forma ideal,
você ascenderá e dominará sua revoada. Até mesmo o Atemporal um dia se ajoelhará diante de você.”
Embora as palavras cruéis revirassem o estômago de Chronormu, o jovem dragão percebeu que ela
estava apenas se divertindo. Ele deu um passo para trás, desvencilhando-se do toque meloso dela. “Sua

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proposta é muito... gentil, Grã-senhora Onyxia. Acredito já ter aprendido muito com você. Porém, está
na hora de ir.”
A mulher caiu na gargalhada com sua voz ribombante de dragonesa. “É uma pena você não ter
estômago para confrontar a verdade, filhote. Você sempre será minúsculo e insignificante. A proximidade
com os mortais um dia será sua ruína.”
Chronormu não esperou alguém para escoltá-lo. Ele se virou e partiu, esperando de todo o coração
lembrar que túnel levava ao lado de fora. Às suas costas, gargalhadas ecoavam pela câmara. O som o
perseguiu pelos corredores de pedra negra, desaparecendo somente quando ele por fim se livrou das
garras da caverna e pôde respirar o ar puro da noite uma vez mais.
O dragão deixou o corpo cair em um monte de neve fresca, usando-a para limpar a fuligem das
escamas. Lágrimas encheram seus olhos, um transbordamento de medo, pesar e alívio. Ele jamais se
sentira tão mal por ser um dragão como naquela caverna. No entanto, fosse qual fosse a intenção da Grã-
senhora Onyxia, Chronormu havia aprendido algo com ela.
“Sei o que eu quero ser”, disse ele em voz alta. Embora as palavras tivessem saído trêmulas de seus
lábios, o coração de Chronormu continha força e determinação.

Parado. Não fique impaciente! Não saia do lugar! A cerimônia começará em breve!
Na cabeça de Chronormu, um misto de pensamentos e sensações. Seu estômago parecia repleto de
dragonetinhos hiperativos correndo de um lado para o outro. Enfim havia chegado. Seu Dia Paisano.
A tradição exigia uma cerimônia realizada no topo do Templo do Repouso das Serpes, a imensa torre
de pedra cinzenta de onde os Aspectos podiam ver todo o Ermo das Serpes. Ele esperava a presença de
Nozdormu, algo comum para todos os membros da revoada. Contudo, quando foi avisado que a própria
Rainha Dragonesa conduziria a solenidade, ele quase caiu estatelado.
Alexstrasza! No meu Dia Paisano! Pensar nisso não contribuía em nada para o apaziguamento dos
dragonetinhos.
Portanto, em vez disso, ele observou todos que estavam reunidos. Zidormi, alguém muito querida, havia
chegado cedo, como era esperado, e fazia o possível para aplacar o nervosismo dele. A revoada bronze
contava com a mais numerosa representação, inclusive rostos familiares que Chronormu conhecera por
toda a vida. Todas as revoadas enviaram emissários, como mandava o costume. Havia dragões vermelhos,
dragões verdes e dragões azuis. Até mesmo a Grã-senhora Onyxia viera, acompanhada de todo o séquito,
muito embora sua revoada estivesse em maus termos com as outras. Imóvel, Nozdormu mantinha os
olhos fixos no horizonte, à espera da hora certa para começar.

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“Olá de novo, Chronormu.”
O jovem bronze estava tão imerso nos próprios pensamentos que não percebera a aproximação do
afável dragão azul.
“Kalecgos! Que bom ver você! Obrigado por vir.” Alívio e alegria inundaram Chronormu, que
envolveu o azul em um abraço contente e caloroso. Não era algo costumeiro, mas ajudou a confortar sua
mente irrequieta, mesmo que pouco.
O dragão sorriu. “Eu não perderia por nada. Aguardo ansioso a sua nomeação.”
Minha nomeação. Chronormu havia repetido as mesmas palavras em voz alta umas cem vezes, sem falar
no feitiço de forma paisana, mas ainda tinha certeza de que estragaria tudo quando estivesse diante de
todos, inclusive a Rainha Dragonesa. Ele abriu um sorriso amarelo e soltou uma risada atravessada para
tentar lutar contra o impulso de correr.
“Chegou a hora”, anunciou Nozdormu de forma direta e serena, embora sua voz se impusesse sobre
o ciciar dos presentes.
Os outros dragões se alinharam ao redor da câmara a céu aberto, enquanto Chronormu se postava no
centro, de frente para o Atemporal. O silêncio reinava, e o jovem bronze teve um súbito ataque de pânico.
Eles estão esperando que eu diga alguma coisa? O que vem depois?
Como que em resposta, uma sombra enorme tapou a luz verdejante que vinha de cima. Era a Rainha
Dragonesa, que descia lenta e graciosamente dos céus e vinha se postar ao lado de Nozdormu. Muitas
vezes, Chronormu havia visto Alexstrasza de longe. De perto, a Mãe da Vida era uma visão magnífica,
com suas escamas rubras e chifres majestosos adornados de ouro, mas eram sua ternura e sua compaixão
que o jovem dragão admirava.
“Adiante, Chronormu, o Bronze”, ordenou ela com uma voz melodiosa.
O jovem dragão avançou em um ritmo comedido. A pedra fria em suas garras nervosas eram um
alento. Ele se postou diante dos dois Aspectos.
Alexstrasza se inclinou, falando docemente apenas para os ouvidos de Chronormu. “Soube que você
teve dúvidas a respeito de sua escolha, rapazinho. Se preferir, posso postergar a cerimônia para outro
momento.” Ela sorriu afetuosamente. “Saiba que desejo apenas o melhor para você, criança.”
Chronormu não sabia se já havia se sentido tão compreendido, tão amado. Ele assentiu. “Estou
pronto, minha rainha. Seguir adiante com esta cerimônia seria a maior honra da minha vida.”
Alexstrasza fez que sim com a cabeça e se voltou para os convivas. “Muitas eras se passaram desde
que nós, dragões, olhamos para baixo de nossas alcândoras e vimos as jovens raças mortais se espalharem
por Azeroth. Enquanto testemunhávamos vilarejos se tornando cidades e as cidades, reinos, os percursos
temporais revelaram que era preciso encontrar uma forma de conviver com elas. Por isso, ficou decidido
que cada um de nós assumiria uma forma que nos permitisse caminhar livremente entre elas, e ver o

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mundo como elas o veem.”
A Mãe da Vida se virou outra vez para o pequeno dragão à sua frente. “Agora, Chronormu, o Bronze,
em honra ao seu Dia Paisano, aqueles de nós que tiverem escolhido uma forma a assumirão.”
Com essas palavras, ela fez um gesto e muitos dos presentes, inclusive a própria rainha, revelaram sua
aparência mortal. Alexstrasza se tornou uma bela elfa superior, com cabelos escarlate e ouro adornando
os chifres. Nozdormu assumiu novamente sua austera forma élfica. Olhando em volta, Chronormu viu
sorrisos estampados em faces humanas, noctiélficas, taurenas e de outras raças mortais. Era magnífico.
Uma visão de tirar o fôlego.
As palavras da rainha chamaram sua atenção. “A hora chegou, Chronormu. Confronte seus iguais e
declare sua nomeação.”
Ele engoliu em seco, curvando a cabeça para Alexstrasza em agradecimento. Depois, virando para aqueles
que vieram prestigiá-lo em um momento tão especial, começou a dizer as palavras que tinha ensaiado.
“Caros amigos, honrados irmãos, acalenta meu coração olhar em volta e ver presentes todos que
me ofereceram apoio ao longo da vida. Que me conduziram por provações e compartilharam minhas
alegrias e meus lamentos. Sei que nem sempre foi fácil”, disse ele, lançando um olhar encabulado para
Zidormi, “mas vocês continuaram ao meu lado. Por tudo isso, só posso agradecer. Muitos de vocês sabem
que não foi... que não foi...” Chronormu gaguejava, sua mente tomada pela dúvida.
Ao voltar os olhos para Nozdormu, ele esperava em resposta um olhar severo. Em vez disso, viu apenas
orgulho. Voltando-se para Alexstrasza, ele esperava piedade. Em vez disso, viu apenas afeto. Seu olhar
saltava de um dragão para outro; na expressão de todos, viu apenas amor e ternura.
Chronormu deixou de lado o discurso que havia ensaiado e permitiu que seu coração falasse.
“Não foi uma escolha fácil. Por muito tempo, achei que havia algo errado comigo, pois para todos
a escolha parecia vir de forma natural. Isso me levou a buscar o aconselhamento de amigos, dos meus
honrados mestres e de...” Ele encarou a Grã-senhora Onyxia nos olhos sem hesitação. “Bem, de pessoas
que não eram amigas, mas que me ensinaram mesmo assim. Por fim, eu pude compreender o verdadeiro
significado dessa escolha.
“Não é somente uma questão de como queremos ser vistos. Diz respeito a como nos vemos, como
vivenciamos o mundo ao lado daqueles com quem o dividimos. Isso me fez ver que meu desejo não é olhar
para Azeroth ou para os mortais que aqui vivem através dos olhos de um herói ou conquistador. Quero
ver o mundo como as menores e mais otimistas criaturas o veem. Quero ser alguém capaz de se empenhar
para construir um futuro melhor, mas sempre respeitando as leis dos percursos temporais, claro!” Ele fez um
pequeno aceno com a cabeça para Nozdormu, que o Atemporal respondeu com um sorriso.
“Portanto, minha nomeação é...” Chronormu fechou os olhos e proferiu o encantamento que definiria
sua forma mortal. Magia bronze reluziu à sua volta, envolvendo-o até sua forma dragônica desaparecer

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em meio a uma nuvem cintilante.
Então, quando tudo se esvaiu, diante dos dois Aspectos e de uma multidão de amigos, restava apenas
uma pequena gnomida, trajando uma veste branca com adornos dourados.
“Oizinho! Podem me chamar de Crona!”, disse ela.
Uma ovação ecoou entre os presentes, enquanto a gnomida se deleitava com o sorriso da Rainha
Dragonesa.
“É um prazer conhecer você, Crona”, saudou-a Alexstrasza. “Bem-vinda ao seu lar.”
Zidormi foi a primeira a abraçar a amiga, tomando todo o cuidado para não machucar a minúscula
Crona. Nozdormu disse que ela tinha feito uma escolha sábia, embora se recusasse a revelar se sabia o
tempo todo qual seria a decisão dela. A Grã-senhora Onyxia nada disse, mas, antes de deixar os festejos,
cumprimentou a jovem bronze com um ligeiro aceno de cabeça, que Crona achou por bem considerar
um sinal de aceitação.
Kalec, sua forma paisana ainda adornada com vestes humildes, caminhou até Crona e se curvou com
pompa. “Você nos procurou, a mim e a outros, em busca de aconselhamento. Por que tenho a sensação
de que fomos nós que aprendemos uma lição?”
Ela riu. “Talvez possamos todos aprender uns com os outros.”
O dragão azul assentiu com a cabeça. “Acho que
entendo por que você escolheu uma forma gnômica.
Se me permite perguntar, contudo, por que uma
gnomida, em vez de um gnomo?”
Crona abriu um sorriso. “Combina
comigo”, disse ela, dando em Kalecgos
um abraço repleto de felicidade.
Com isso, um dia glorioso se tornou
uma noite esplendorosa. Os dragões
dançaram, se banquetearam e cantaram
juntos canções do passado. A jovem bronze
foi para a cama naquela noite se sentindo
mais completa e mais contente do que
nunca.
Na manhã seguinte, Crona acordou
com os primeiros raios de sol da manhã.
Ela bocejou, espreguiçou-se e sorriu para as
maravilhas do mundo desperto.

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