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Prof.

: Erika Peterson Gonçalves

Aluno: _______________________________________
Ciência e Tecnologia dos Materiais I
Profª Erika Peterson Gonçalves

PLANO DE ENSINO

FACULDADE DE ENGENHARIAS,

ARQUITETURA E URBANISMO

UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA

CURSO: Engenharia de Materiais SEMESTRE: 2º ANO: 2012

DISCIPLINA: Ciência e Tecnologia dos Materiais I CÓDIGO: X520057

CARGAS HORÁRIAS: Semanal: 3h Teoria: 3h Prática: 0h Total: 60

PROFESSOR RESPONSÁVEL: Erika Peterson Gonçalves

EMENTA

Ciência e tecnologia dos materiais: Perspectiva histórica, interações processamento-estrutura-


propriedades-desempenho, critérios para seleção de materiais, classificação dos materiais e propriedades
(introdução).

Estrutura atômica e ligação interatômica: Conceitos fundamentais, forças e energias de ligação, ligações
interatômicas primárias, ligações secundárias. Estrutura dos sólidos cristalinos: Estruturas cristalinas,
células unitárias, estrutura cristalina dos metais, sistemas cristalinos, pontos, direções e planos
cristalográficos, materiais cristalinos e não-cristalinos. Imperfeições nos sólidos: Defeitos pontuais
(lacunas, impurezas), imperfeições diversas (defeitos lineares, interfaciais, volumétricos). Introdução a
diagrama de fase: Definições e conceitos básicos. Materiais metálicos: Estrutura, tipos de ligas metálicas
(ferrosas e não-ferrosas), principais propriedades. Materiais cerâmicos: Estruturas cerâmicas, tipos e
aplicações das cerâmicas, principais propriedades. Materiais poliméricos: Estrutura, peso molecular,
cristalinidade, principais propriedades.
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INTERFACES PARA A INTERDISCIPLINARIDADE:

A disciplina de ciência e tecnologia dos materiais é uma cadeira importante nos cursos de
engenharia, pois é base para o entendimento de outras disciplinas dos cursos de engenharia civil,
materiais, química, elétrica, computação ambiental e alimentos.

A interdisciplinaridade é obtida pois, nesta disciplina são apresentados e discutidos os conceitos


básicos na escala interatômica dos materiais, ainda são introduzidos as três grandes classes de materiais,
que são amplamente utilizados em todas as áreas acima citados.

PROGRAMAÇÃO GERAL

UNIDADES E SUB-UNIDADES Horas/ METODOLOGIA/RECURSOS INSTRUCIONAIS


Aula

1 Introdução à disciplina. Conceitos gerais 3h

2 Estrutura atômica e ligação interatômica 6h

3 Estrutura dos sólidos cristalinos 9h As aulas serão apresentadas no quadro


branco com auxílio do equipamento multimídia
4 Imperfeições nos sólidos 9h
e as práticas realizadas em laboratório de
5 Avaliação 1 3h processamento.

6 Introdução a diagrama de fase 6h

7 Materiais metálicos 6h

8 Materiais cerâmicos 6h

9 Materiais poliméricos 6h

10 Avaliação 2 3h

11 Avaliação final 3h

AVALIAÇÃO DO APRENDIZADO

A avaliação do aprendizado ocorrerá através de duas provas bimestrais e uma avaliação final.
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BIBLIOGRAFIA BÁSICA E COMPLEMENTAR:

 William D. Callister Jr. Ciência e Engenharia de Materiais – Uma introdução, Editora LTC. 2008.
 William F. Smith. Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais. Terceira edição. Editora
McGraw-Hill. 1998.
 Donald R. Askeland, Pradeep P. Phulé. Ciência e Engenharia dos Materiais. Cengage Learning.
2008.
 L. H Van Vlack, Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais, Campus, 1994.
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Prefácio

Esta apostila é um material de apoio ao estudo da disciplina de Ciência e Tecnologia dos


Materiais I, a adoção deste material NÃO isenta a utilização da bibliografia sugerida pelo professor.
Este material tem como objetivo norteá-los aos estudos da disciplina, conta com exemplos,
ilustrações, exercícios e texto básico das teorias apresentadas nas aulas expositivas, para uma
melhor compreensão da matéria em questão é INDISPENSÁVEL o empenho, a dedicação e a
utilização dos livros disponíveis no acervo da Universidade.

Este texto foi redigido com base, na bibliografia a seguir referida:

 William D. Callister Jr. – Ciência e Engenharia de Materiais – Uma introdução, Editora LTC.
2008.
 William F. Smith – Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais. Terceira edição. Editora
McGraw-Hill. 1998.
 Donald R. Askeland, Pradeep P. Phulé – Ciência e Engenharia dos Materiais. Cengage
Learning. 2008.
 L. H Van Vlack – Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Campus. 1994.
 Angelo Fernando Padilha – Materiais de Engenharia: Microestrutura e Propriedades. Hemus.
2007.
 José de Anchieta Rodrigues – Série Apontamentos: Introdução às Ligações Químicas. Série
Apontamentos. UFSCAR. 2010.
 R. E Reed-Hill & R. ABBASCHIAN, Principles of Physical Metallurgy, 3º ed. PWS Publishing
Company
 Sebastião V. Canevarolo Jr. – Ciência dos Polímeros: Um texto básico para tecnólogos e
engenheiros. Artliber. 2002
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1 INTRODUÇÃO

O que são os materiais?


Os materiais sólidos são frequentemente classificados em três grupos principais: materiais
metálicos, materiais cerâmicos e materiais poliméricos. Esta classificação é baseada na estrutura
atômica e nas ligações químicas predominantes em cada grupo.
Em linhas gerais os materiais metálicos são normalmente combinações de elementos metálicos.
Estes materiais apresentam um grande número de elétrons livres, que são responsáveis por muitas
das propriedades desses materiais, tais como: condutividades elétricas e térmicas não são
transparentes à luz, porém quando devidamente polida, reflete eficientemente a luz, são resistentes,
porém dúcteis.
Já os materiais cerâmicos são normalmente combinações de elementos metálicos e elementos
não metálicos. Os principais tipos são os óxidos, nitretos e carbetos além dos argilo-minerais,
cimentos e vidros. Do ponto de vista de ligações químicas, eles podem ser desde
predominantemente iônicos até predominantemente covalentes. Estes materiais são tipicamente
isolantes térmicos e elétricos, têm elevada resistência à elevadas temperaturas e à ambientes
corrosivos quando comparados aos metais e aos polímeros. Têm elevada dureza porém têm caráter
frágil.
Os materiais poliméricos são constituídos de macromoléculas orgânicas, sintéticas ou naturais.
Os plásticos e borrachas são exemplos de polímeros sintéticos, enquanto o couro, a seda, o chifre, o
algodão, a lã, a madeira e a borracha natural são constituídos de macromoléculas orgânicas naturais.
Os polímeros são baseados nos átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, flúor e em
outros elementos não metálicos. A ligação química entre átomos da cadeia é covalente, enquanto as
ligações intermoleculares são fracas, secundária, geralmente dipolar. Esses materiais são geralmente
leves, isolantes elétricos e térmicos, flexíveis e apresentam boa resistência à corrosão e baixa
resistência ao calor.
Por que estudar Ciência e Tecnologia dos Materiais?
Muitas vezes os engenheiros e cientistas, sejam eles, engenheiros de materiais, mecânicos, civis,
químicos, aeronáuticos, elétricos, ambientais, etc, irão ficar expostos a um problema de projeto que
envolva materiais. Os exemplos podem incluir uma engrenagem de transmissão, a superestrutura
para um edifício, um componente de uma refinaria de petróleo ou um chip de circuito integrado.

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Problemas de materiais consistem na seleção de um material adequado dentro de uma vasta


gama de opções para uma determinada aplicação. Vários critérios devem ser considerados, em
primeiro lugar, as condições de serviço devem ser caracterizadas, uma vez que estas irão ditar as
propriedades exigidas do material. Somente em raras ocasiões é que um material possui uma
combinação máxima ou ideal de propriedades. Desta forma pode ser necessário abrir mão de uma
propriedade por outra. Uma segunda consideração de seleção é qualquer deterioração das
propriedades dos materiais que possa ocorrer durante a operação em serviço. Por fim,
provavelmente a consideração dominante estará relacionada aos fatores econômicos: quanto irá
custar o produto acabado? É possível a redução de custo pela substituição do material?
Deste modo, quanto mais familiarizado estiver o profissional com as várias características e
relações estrutura-propriedade, bem como com as técnicas de processamento dos materiais, mais
capacitado e confiante estará para fazer opções ponderadas de materiais com base nestes critérios.

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2 ESTRUTURA ATÔMICA E TIPOS DE LIGAÇÕES

Os materiais são formados por átomos ou íons, os quais precisam se ligar para dar coesão
aos materiais. Se por alguma razão for preciso romper um pedaço de material ou então levá-lo ao
estado líquido, será preciso, necessariamente, realizar trabalho e gastar energia, respectivamente,
contra essa coesão dos materiais.
Chama-se ligação química o fenômeno em que um átomo se liga a outro pelo abaixamento
da energia total do sistema. Se ao comparar a energia dos dois átomos ligados com a energia dos
mesmos infinitamente separados, a situação “ligados” é de menor energia e, portanto, estável. Os
átomos que se ligam entre si podem ser do mesmo elemento químico ou de elementos químicos
distintos.
A ligação química entre os átomos é um dos aspectos mais interessantes e importantes dos
materiais, e é a partir dela que a parte intrínseca das propriedades dos materiais é determinada. O
arranjo atômico dos materiais também é consequência direta da ligação química.
Aqui serão estudados os diversos tipos de ligações químicas existentes e será discutido também,
o seu papel nos materiais.

2.1 Estrutura do átomo

Cada elemento químico é caracterizado pelo número de prótons no seu núcleo, ou o seu
número atômico (Z). Para um átomo eletricamente neutro, o número atômico é igual ao número de
elétrons. A massa atômica (A) de um átomo específico pode ser expressa como a soma das massas
de prótons seja o mesmo para todos os átomos de um dado elemento, o número de nêutrons (N)
pode ser variável. Assim, os átomos de alguns elementos possuem duas ou mais massas atômicas
diferentes; estes são chamados de isótopos. O peso atômico de um elemento corresponde a média
ponderada das massas atômicas dos isótopos mais comum do carbono (12C). Em um mol de uma
substância existem 6,023 . 1023 (número de Avogadro) átomos ou moléculas.
1 u.m.a./átomo (ou molécula) = 1g/mol
Por exemplo, o peso atômico do ferro é de 55,85 u.m.a./átomo, ou 55,85g/mol.

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2.2 Modelos atômicos

O modelo de Bohr de um átomo introduz a uma primeira visão do átomo: ele é constituído por
um núcleo que contém nêutrons e prótons, e os elétrons orbitam lembrando o sistema solar, como
ilustrado na Figura 1.

Figura 1 – Modelo atômico de Bohr

Os nêutrons não têm carga elétrica, os prótons são positivos, determinados a carga positiva dos
núcleos, e os elétrons têm carga negativa. Elétrons e prótons possuem mesmo valor, em módulo, de
carga, ou seja, 1,602 x 10-19C. O que mantém os elétrons em órbita é a atração eletrostática entre o
núcleo e os elétrons. Estas órbitas são estáveis e têm energia pré-determinada. A energia de um
elétron pode mudar, mas, ao fazê-lo, ele deve realizar um salto quântico para uma energia mais alta
absorvendo energia ou para uma energia mais baixa emitindo fótons.

O modelo de Bohr é considerado limitado devido à sua incapacidade de explicar vários


fenômenos envolvendo os elétrons. Foi obtida uma solução com um modelo mecânico-ondulatório,
no qual considera-se que o elétrons exibe características tanto de uma onda como de uma partícula.
Com este modelo, um elétron não é mais tratado como uma partícula que se move em um orbital
distinto; em vez disto, a posição do elétron é considerada como sendo a probabilidade de um elétron
estar em vários locais ao redor do núcleo. Em outras palavras, a posição é descrita por uma
distribuição de probabilidades de um elétron estar em vários locais ao redor do núcleo. Em outras
palavras, a posição é descrita por uma distribuição de probabilidades ou uma nuvem eletrônica. A
Figura 2 compara os modelos de Bohr e mecânico-ondulatório para o átomo de hidrogênio.

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Figura 2 – Comparação entre os modelos atômicos de (a) Bohr e (b) mecânico-ondulatório em termos de distribuição
eletrônica.

2.2.1 Números quânticos

Cada elétron em um átomo é caracterizado por quatro parâmetros chamados números


quânticos. As camadas são especificadas por um número quântico principal n, que pode assumir
números inteiros a partir da unidade; algumas vezes essas camadas são designadas pelas letras
K,L,M,N,O e assim por diante, que correspondem, respectivamente, a n=1,2,3,4,5, ... , conforme está
indicado na Tabela 1.
O segundo número quântico, l, significa a subcamada, que é identificada por uma letra
minúscula – s, p, d ou f, ele está relacionado à forma da subcamada eletrônica.
O número de estados energéticos para subcamada é determinado pelo terceiro número
quântico, ml . Para uma subcamada s, existe um único estado energético, enquanto que para as
subcamadas p, d e f existem respectivamente 3, 5, 7 estados ou orbitais.
A Figura 3 mostra a configuração dos orbitais

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(a) (b)

(c) (d)
Figura 3 – Representação do contorno dos orbitais. a) s, b) p, c) d e d) f.

O número de estados energéticos para subcamada é determinado pelo terceiro número


quântico, ml . Para uma subcamada s, existe um único estado energético, enquanto que para as
subcamadas p, d e f existem respectivamente 3, 5, 7 estados ou orbitais.
Associado a cada elétron está um momento de spin, que deve estar orientado para cima ou para
baixo. O quarto número quântico, ms, está relacionado a este momento de spin, para o qual existem
dois valores possíveis (+½ e – 1/2), um para cada uma das orientações de spin.
Tabela 1 – O número de estados eletrônicos disponíveis em algumas camadas e subcamadas eletrônicas

Nº quântico principal Designação da Subcamadas Número de Número de elétrons


(n) camada estados Por subcamada Por camada
1 K S 1 2 2
2 L s, p 1,3 2,6 8
3 M s, p,d 1,3,5 2,6,10 18
4 N s,p,d,f 1,3,5,7 2,6,10,14 32

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2.2.2 Configurações Eletrônicas

Para determinar a maneira pela qual estes estados são preenchidos com elétrons, nós usamos
o princípio da exclusão de Pauli. Este princípio estipula que cada estado ou orbital eletrônico pode
comportar um máximo de dois elétrons, que devem possuir valores de spin opostos. Nesse sentido,
as subcamadas s, p, d e f podem acomodar, cada uma, um total de 2, 6, 10 e 14 elétrons,
respectivamente.
A configuração eletrônica ou a estrutura de um átomo representa a maneira segundo a qual
estes orbitais são ocupados.
Os elétrons de valência são aqueles que ocupam a camada preenchida mais externa. Esses
elétrons são extremamente importantes. Como será visto, eles participam da ligação entre os
átomos para formar os agregados atômicos e moleculares. Além disso, muitas das propriedades
físicas e químicas dos sólidos estão baseadas nesses elétrons de valência.

2.3 Tipos de Ligações Químicas presentes nos sólidos

O estado sólido só pode ocorrer se os átomos se agruparem por meio de ligações químicas que
dão coesão ao material, conferindo-lhes certa rigidez mecânica compatível com os requisitos de um
projeto, de uma aplicação, de um uso, etc. Essa razão é o abaixamento total da energia de um
sistema de dois ou mais átomos, tomando-se por referencia a situação desses mesmos átomos
distantes infinitamente um do outro.
A ligação química é o agente fundamental da construção de um sólido.
Basicamente são cinco os tipos possíveis de ligação química: metálica, iônica, covalente, por
dipolos permanentes e por dipolos flutuantes.
Na realidade ocorrem ligações mistas nos materiais, isto é, as vezes não se pode dizer que um
dado material é 100% coeso por meio de um único tipo de ligação química, e isso é muito frequente.

2.4 Ligações primárias e secundárias.

As ligações químicas primárias são aquelas em que os elétrons de valência dos átomos tomam
parte diretamente na ligação.

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Quando elétrons de valência são transferidos definitivamente de um átomo para outro,


formando cátions e ânions, ocorre a chamada ligação iônica.
Quando acontece o compartilhamento de elétrons de valência entre dois átomos, mantendo
esse par predominantemente localizado entre os dois átomos, ocorre o que se denomina ligação
covalente.
A liberação dos elétrons de valência de átomos para uma nuvem eletrônica que abarca todo o
conjunto de átomos que se ligam, perdendo-se a relação de correspondência entre um núcleo
especifico e seu antigo elétron, é denominada ligação metálica.
As duas primeiras ligações químicas apresentadas anteriormente são do tipo “localizadora” de
elétrons. Os elétrons de valência que participam dessas ligações ficam localizados ou sobre os íons
ou entre o par covalentemente ligado. O terceiro tipo de ligação, a metálica, é do tipo
“deslocalizadora”, pois os antigos elétrons de valência passam a pertencer a todos os núcleos
simultaneamente.
Esse aspecto de localização e deslocalização dos elétrons de valência têm consequências diretas
para o comportamento eletrônico dos materiais. Os materiais ligados metalicamente têm seus
elétrons “livres” (deslocalizados) para conduzir eletricidade sob a ação de um campo elétrico
externo.
As ligações químicas secundárias são consideradas fracas, pois não provocam forte coesão nos
materiais, cujos átomos se ligam por meio delas. Nessas ligações não acontece a participação direta
de elétrons de valência. Elas são típicas de materiais moleculares, ou seja, aqueles formados por
moléculas.
O segundo grupo geral de ligações é o das ligações secundárias, em que os elétrons de valência
não participam diretamente da ligação, ou seja, não são os agentes diretos da ligação. Essas ligações
decorrem da interação atrativa de dipolos elétricos. As forças de ligações secundárias surgem de
dipolos atômicos ou moleculares. Essencialmente, um dipolo elétrico existirá sempre que houver
alguma separação entre as frações positiva e negativa de um átomo ou molécula. A ligação resulta da
atração coulombiana entre a extremidade positiva de um dipolo e a região negativa de um dipolo
adjacente. As interações de dipolo ocorrem entre dipolos induzidos, entre dipolos induzidos e
moléculas polares. A ligação de hidrogênio, um tipo especial de ligação secundária, existe entre
algumas moléculas que possuem hidrogênio como um de seus constituintes.

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2.5 Força e energia da ligação

A compreensão de muitas propriedades físicas dos materiais está baseada no conhecimento das
forças interatômicas que unem os átomos, prendendo-os. Talvez os princípios das ligações atômicas
possam ser mais bem ilustrados considerando-se a interação entre dois átomos isolados à medida
que eles são colocados em proximidade desde uma separação infinita. A grandes distâncias, as
interações entre eles são desprezíveis; no entanto, à medida que os átomos aproximam, cada um
exerce forças sobre o outro. Essas forças são de dois tipos, atrativas e repulsiva, e a magnitude de
cada uma delas é função da separação ou distância interatômica. A origem de uma força atrativa FA
depende do tipo especifico de ligação que existe entre os dois átomos. A sua magnitude varia com a
distância, como está representado esquematicamente na Figura 4. No final das contas, as camadas
eletrônicas mais externas dos dois átomos começam a se superpor, e uma intensa força repulsiva FR
entra em ação. A força liquida FL entre os dois átomos é exatamente a soma das componentes de
atração e de repulsão, isto é:

Que também é uma função da separação interatômica, como também esta plotado na Figura 4.
Quando FA e FR se anulam, ou se tornam iguais, não existe qualquer força líquida ou resultante, isto
é:

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Figura 4 – (a) dependência das forças repulsivas e atrativas e líquida sobre a separação interatômica para dois átomos
isolados. (b) a dependência das energias repulsiva, atrativa e potencial líquida sobre a separação interatômica para dois
átomos.

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3 ESTRUTURAS CRISTALINAS

Os materiais sólidos podem ser classificados de acordo com a regularidade com que seus
átomos ou íons são arranjados com respeito uns aos outros, deste modo um cristal é geralmente
definido como um sólido com seus átomos ou íons arranjados em um reticulado periódico
tridimensional.
O arranjo mais estável dos átomos ou íons em um cristal será aquele que minimiza a energia
livre por unidade de volume ou, em outras palavras, aquele que:
 Preserva a neutralidade elétrica
 Satisfaz o caráter direcional das ligações covalentes
 Minimiza as repulsões íon-íon
 Agrupa os átomos o mais compactamente possível.

Algumas propriedades dos sólidos cristalinos dependem da estrutura cristalina do material, ou


seja, a maneira com que átomos, íons ou moléculas estão arranjados no espaço. Existe um número
extremamente grande de diferentes estruturas cristalinas, todas possuindo ordem a grandes
distâncias; estas variam de estruturas relativamente simples como a dos metais, até as
excessivamente complexas como as dos materiais cerâmicos e poliméricos.

3.1 Conceitos Fundamentais

A grande maioria dos sólidos é cristalina porém, nem todos os sólidos são cristalinos, tais como
os vidros, e os polímeros, estes são chamados de amorfos.
Existem 3 níveis de arranjos atômicos:
Sem ordem: Como nos gases, os átomos não possuem um arranjo ordenado. Os átomos preenchem
aleatoriamente o espaço em que o gás está confinado figura 5a.
Ex: Argônio
Ordem a curta distância: O material exibe um arranjo ordenado a distância que se estendem até os
vizinhos mais próximos (1 ou 2 espaços atômicos)(figura 5b e 5c).

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Ex. Cada molécula de água no vapor tem ordem devido às ligações covalentes entre átomos H e O,
entretanto as moléculas não apresentam nenhum arranjo entre si. Cerâmicos (vidros) e polímeros
que apresentam estas características são materiais amorfos.
Ordem a longa distância: os átomos são dispostos em arranjos bem definidos que se estendem por
todo o material. Os átomos formam um padrão repetitivo ou rede (figura 5d). A rede é uma coleção
de pontos de rede e são dispostos periodicamente de forma que a vizinhança de cada ponto na rede
é idêntica. Um ou mais átomos estão associados a cada ponto de rede. A rede difere em dois
materiais na forma e tamanho, dependendo do tamanho dos átomos e do tipo de ligações entre eles.
A estrutura cristalina do material se refere ao tamanho, forma e arranjo atômico dentro da rede.

Figura 5 – níveis de arranjo atômico nos materiais: (a) gases inertes são possuem uma ordem regular de átomos, (b,c)
alguns materiais, incluindo gases e vidros, possuem ordem a pequenas distancias. (d) metais e muitos outros sólidos
possuem ordenamento regular de átomos que se estende por todo material

3.2 Célula unitária

A ordenação atômica em sólidos cristalinos indica que pequenos grupos de átomos formam
um padrão repetitivo. Dessa forma, ao descrever estruturas cristalinas, com frequência torna-se
conveniente subdividir a estrutura em pequenas entidades que se repetem, chamadas células
unitárias.
Assim, célula unitária é uma subdivisão da rede cristalina que ainda retém todas as
características da rede inteira. Ela define a estrutura cristalina em virtude da geometria e posição dos
átomos dentro dela.

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Para a maioria das estruturas cristalinas, a célula unitária é um paralelepípedo ou prisma com
três faces paralelas. A célula unitária é escolhida para representar a simetria as estrutura cristalina,
dentro da qual todas as posições do cristal podem ser geradas pela translação da mesma em
distâncias iguais às de sua aresta.
As descrever as estruturas cristalinas, os átomos (ou íons) são considerados como se fossem
esferas rígidas com diâmetros definidos.
O termo retículo descreve uma matriz tridimensional de pontos que coincidem com as
posições dos átomos (centro das esferas). Deste modo, o termo ponto de retículo, ou ainda, ponto
de rede, designa a posição regular ocupada por átomos ou íons. A Figura 6 mostra um modelo de
arranjo de esferas rígidas e a representação de um ponto de rede.

Figura 6 – uma rede é um arranjo periódico de pontos que define o espaço. A célula unitária, em destaque, é uma
subdivisão que ainda retém as características da rede.

3.3 Sistemas Cristalinos

A geometria das células unitárias é completamente definida em termos de seis parâmetros: os


comprimentos das três arestas, a, b, c, e os três ângulos entre os eixos α, β, γ. São chamados de
parâmetros de rede.
São 14 tipos de células unitárias ou redes de Bravais podem ser identificadas, agrupadas em 7
sistemas cristalinos.

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Figura 7 – Os 14 reticulados de Bravais

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3.4 Parâmetros de rede

Descrevem o tamanho e a forma da célula unitária – dimensões dos lados e ângulos formados. A
Tabela 2 apresenta os parâmetros de rede e os ângulos dos 7 sistemas de Bravais, sistema que
descreve a geometria de cada estrutura cristalina.

Tabela 2 – Parâmetros de rede e ângulos dos 7 sistemas de Bravais.

Sistema Parâmetro de rede Ângulos


Cúbico a=b=c α = β = γ = 90°
Tetragonal a=b≠c α = β = γ = 90°
Ortorrômbico a≠b≠c α = β = γ = 90°
Romboédrico a=b=c α ≠ β ≠ γ ≠ 90°
Hexagonal a=b≠c α = β = 90° γ = 120°
Monoclínico a≠b≠c α = β = 90° γ > 90°
Triclínico a≠b≠c α ≠ β ≠ γ ≠ 90°

3.5 Estrutura Cristalina dos metais

Em metais, são encontrados frequentemente os três tipos de células mostradas na figura. O


cúbico de corpo centrado (CCC), cúbico de faces centradas (CFC) e hexagonal compacto (HCP). Alguns
outros tipos são encontrados ocasionalmente em poucos metais.

(a) (b) (c)


Figura 8 – Esquema das células cristalinas. (a) CCC, (b) CFC e (c) HCP

3.5.1 Cúbica de Faces Centradas

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A estrutura cristalina encontrada em muitos metais possui uma célula unitária com geometria
cúbica, com os átomos localizados em cada um dos vértices e nos centros de todas as faces do cubo.
Esta é adequadamente chamada de estrutura cristalina cúbica de faces centradas (CFC). Alguns dos
metais mais familiares que possuem essa estrutura cristalina são o cobre, o alumínio, a prata e o
ouro.

(a) (b) (c)


Figura 9 – Para a estrutura cristalina cúbica de faces centradas: (a) uma representação da célula unitária através de
esferas rígidas, (b) uma célula unitária com esferas reduzidas, e (c) um agregado de muitos átomos.

A Figura 9 a mostra um modelo de esferas rígidas para a célula unitária CFC, enquanto na Figura
9 b os centros dos átomos estão representados por pequenos círculos com o objetivo de
proporcionar melhor perspectiva das posições dos átomos. O agregado mostrado na Figura 9 c
representa uma seção de cristal que consiste em muitas células unitárias CFC. Estas esferas se tocam
umas às outras através de uma diagonal da face; o comprimento da aresta do cubo a e o raio
atômico R estão relacionados através da expressão:

Para a estrutura cristalina CFC, cada átomo em um vértice é compartilhado por oito células
unitárias, enquanto um átomo centrado em uma face pertence a apenas duas. Portanto, um oitavo
de cada um dos oito átomos em vértices e metade de cada um dos seis átomos localizados nas faces,
ou um total de quatro átomos inteiros, pode ser atribuído a uma dada célula unitária. A célula
compreende o volume do cubo, que é gerado a partir dos centros dos átomos nos vértices.
As posições nos vértices e nas faces são na realidade equivalentes; isto é, uma translação do
vértice do cubo de um átomo originalmente de um vértice para um átomo localizado no centro de
uma das faces não irá alterar a estrutura da célula.
Duas outras características importantes de uma estrutura cristalina são o número de
coordenação e o fator de empacotamento atômico (FEA). Para os metais, cada átomo possui o
mesmo número de vizinhos mais próximos ou de átomos em contato, o que constitui no seu número
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de coordenação. No casso das estruturas cristalinas CFC o número de coordenação é 12. Isto pode
ser confirmado através de um exame na Figura 9 a; o átomo na face frontal possui quatro átomos
vizinhos mais próximos localizados nos vértices ao seu redor, quatro átomos de face que se
encontram em contato pelo lado de trás e quatro outros átomos de face equivalentes localizados na
próxima célula unitária, à frente, que não é mostrada.
Para as estruturas CFC, o fator de empacotamento é de 0,74, que consiste no máximo
empacotamento possível para um conjunto de esferas onde todas possuem o mesmo diâmetro.
Tipicamente, os metais possuem fatores de empacotamento atômico relativamente elevados, a fim
de maximizar a proteção dada pela nuvem de elétrons livres.

3.5.2 Cúbica de Corpo Centrado

Outro tipo comum de estrutura cristalina encontrada em metais também possui uma célula
unitária cúbica, com átomos localizados em todos os oito vértices e um único átomo localizado no
centro do cubo. Esta é conhecida por estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC). Um
conjunto de esferas demonstrando essa estrutura está mostrado na Figura 10 c , enquanto as Figura
10 a e b são diagramas das células unitárias CCC onde os átomos são representados segundo os
modelos de esferas rígidas e esferas reduzidas, respectivamente.

(a) (b) (c)


Figura 10 – Para a estrutura cristalina de corpo centrado, (a) uma representação da célula unitária através de esferas
rígidas, (b) uma célula unitária com esferas reduzidas, e (c) um agregado de muitos átomos.

Os átomos no centro e nos vértices tocam-se ao longo da diagonal do cubo, e o comprimento


célula unitária a e o raio R estão relacionados através da expressão:

O cromo, o ferro, o tungstênio, bem como diversos outros metais exibem estrutura do tipo CCC.

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Dois átomos estão associados a cada célula CCC; o equivalente a um átomo, distribuído entre os
oito vértices, onde cada átomo do vértice é compartilhado por oito células unitárias, e o único átomo
do centro que está totalmente contido dentro de sua célula. Além disso, as posições atômico as
central e no vértice são equivalentes. O número de coordenação para a estrutura cristalina CCC é 8;
cada átomo central possui como vizinhos mais próximos os seus oito átomos de vértice do cubo.
Uma vez que o numero de coordenação é menor na CCC do que na CFC, o fator de empacotamento
atômico na CCC também é menor do que na CFC, sendo de 0,68, contra 0,74 na CFC.

3.5.3 Hexagonal Compacta

Nem todos os metais têm células unitárias com simetria cúbica; a estrutura cristalina metálica
comum final a ser discutida tem uma célula unitária que é hexagonal. A Figura 11 a mostra uma
célula unitária de esfera reduzida para esta estrutura, que é denominada hexagonal compacta (HC);
uma montagem de várias células unitárias HC é apresentada na Figura 11b. As faces do topo e da
base da célula unitária consiste de 6 átomos que formam hexágonos regulares e circundam um único
átomo no centro. Outro plano que fornece 3 átomos adicionais à célula unitária está situado entre os
planos do topo e da base. Os átomos neste plano intermediário têm como átomos vizinhos mais
próximos em ambos os 2 planos adjacentes. A equivalência de 6 átomos está contida em cada célula
unitária; 1/6 de cada um dos 12 átomos dos cantos das faces do topo e da base, 1/2 de cada um dos
2 átomos da face central, e todos os 3 átomos do plano intermediário interior. Se a e c
representarem, respectivamente, as dimensões curta e longa da célula unitária da Figura 11 a, a
razão c/a deveria ser 1,633; entretanto, para alguns metais HC, esta razão se desvia do valor ideal.

(a) (b)
Figura 11 - Para a estrutura cristalina hexagonal compacta, (a) uma célula unitária de esfera reduzida (a e c representam
os comprimentos das arestas curta e longa, respectivamente, e (b) um agregado de átomos.

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O número de coordenação e o fator de empacotamento atômico para a estrutura cristalina HC


são os mesmos daqueles para CFC: 12 e 0,74, respectivamente.

3.6 Número de átomos por células unitária

Um número específico de pontos de rede define cada célula unitária. Considerando que cada
ponto de rede é compartilhado por mais de uma célula.
Ex: no sistema cúbico, cada canto do cubo é compartilhado por mais sete células.

O número de átomos por célula é o produto do número de átomos por ponto de rede pelo
número de pontos de rede.
Na maioria dos materiais o número de átomos por célula unitária é igual ao número de
pontos de rede. A Figura 12, mostra esquematicamente número de átomos por célula em um
modelo de esferas rígidas.
Exemplo:
Determine o número de pontos de rede no sistema cristalino cúbico

Solução:
No sistema cúbico simples:
Pontos de rede / célula unitária = (8 cantos) x (1/8) = 1
No sistema cúbico de corpo centrado:
Pontos de rede/ célula unitária = (8 cantos) x (1/8) + (1 centro) (1) = 2
No sistema cúbico de face centrada:
Pontos de rede/célula unitária = (8 cantos) x (1/8) + (6 faces) (1/2) = 4

Figura 12 – desenho esquemático do número de átomos por célula no modelo de esferas rígidas.

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3.7 Raio atômico x Parâmetro de rede

Os valores de parâmetro de rede e do raio atômico são diferentes em cada caso. Em outras
palavras, o raio atômico depende não somente do elemento e substância, mas também da sua
estrutura cristalina. Para um mesmo elemento químico, quanto maior for o seu número de vizinhos
mais próximos, maior será seu raio atômico, devido às forças de repulsão entre os seus elétrons.
Exemplo: Determine entre o raio atômico e os parâmetros de rede no sistema cristalino cúbico.

Cúbico simples cúbico de corpo centrado cúbico de face centrada

3.8 Número de coordenação

O número de átomos que tocam um átomo particular ou número de n vizinhos mais próximos. O
número de coordenação é um indicativo da eficiência do empacotamento dos átomos num
determinado sistema. A Figura 13 mostra um esquema representativo do número de coordenação
nas células unitárias cúbicas de face centrada e cúbica simples.

Figura 13 – Esquema representativo do número de coordenação das células (a) CS e (b) CCC

Exemplo:
No sistema cúbico simples = 6
No sistema cúbico de corpo centrado = 8
No sistema cúbico de face centrado = 12
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3.9 Fator de Empacotamento Atômico

O grau de ocupação e quantidade de vazios (interstícios) também é diferente para as estruturas


cristalinas. Este grau de ocupação é denominado fator de empacotamento atômico. Em outras
palavras, o fator de empacotamento atômico é a fração do espaço de uma célula unitária ocupado
pelos átomos, considerando o átomo como esferas rígidas.

Exemplo:
Calcule o fator de empacotamento atômico para a célula cúbica de face centrada.
Solução:
CFC = (4 pontos de rede/célula) x (1 átomo por ponto de rede)
Volume átomo = 4πr3/3
Volume da célula unitária = a03
FEA= (4 átomos/cel)(4/3 πr3)
a03

Para CFC,

3.10 Densidade

Um conhecimento da estrutura cristalina de um sólido metálico permite o cálculo da sua


densidade verdadeira, ρ, que é obtida através da relação:

Obs.: massa atômica= massa em gramas de 1 mol (6,02 . 1023 átomos)

A Tabela 3 mostra de maneira resumida as informações importantes sobre as células


unitárias mais frequentes nos materiais metálicos.
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Tabela 3 – Resumo de informações relevantes das principais células unitárias mais comuns para metais

Estrutura a0 versus r Átomos/célula Nº coordenação FEA Metais típicos


CS 1 6 0,52 -
CCC 2 8 0,68 Fe, Ti, W, Mo, Nb,Ta,
K, V, Cr
CFC 4 12 0,74 Fe, Cu, Al, Au,Ag, Pb,
Ni, Pt
HCP 6 12 0,74 Ti, Mg, Zr, Be,Co, Cd

3.11 Transformações alotrópicas e polimórficas


Vários elementos apresentam no estado sólido diferentes estruturas cristalinas. A denominação
para isto é alotropia. Quando o sólido é uma substância composta, a denominação habitualmente
usada é polimorfismo. Estas mudanças de estrutura geralmente ocorrem em função de variações de
temperatura e pressão. Elas causam variações de volume.
Em outras palavras materiais alotrópicos ou polimórficos são materiais que possuem mais do
que uma estrutura cristalina em temperaturas e/ou pressões diferentes.
Alotropia: refere-se a sólidos elementares
Polimorfismo: refere-se a sólido formado por 2 ou mais elementos.
Exemplos:
O ferro e titânio possuem estrutura CCC em baixas temperaturas CFC em altas temperaturas.
Estas transformações são base para os tratamentos térmicos de aço e titânio.
Muitos materiais cerâmicos, tais como a sílica (SiO2) são também polimórficos. Uma mudança
de volume acompanha a transformação durante o aquecimento e resfriamento.
O carbono é a grafite nas condições ambientais e diamante em pressões extremamente altas.

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4 PONTOS, DIREÇÕES E PLANOS NAS CÉLULAS UNITÁRIAS

4.1 Coordenadas de pontos

É possível localizar posições atômicas na rede ou célula unitária construindo um sistema de


coordenadas. A Figura 14 mostra exemplos de coordenadas de pontos.

Figura 14 - Coordenadas de pontos selecionados na célula unitária cúbica, Os números se referem as distancias da origem
em termos do número de parâmetros de rede

Distâncias da origem medida em termos de parâmetros de rede expressam frações ou


múltiplos das dimensões da célula unitária.
Um aspecto importante da estrutura cristalina é que uma dada posição na célula unitária é
estruturalmente equivalente a uma posição em outra célula da mesma estrutura.
As posições equivalentes são conectadas por translações da rede, consistindo de múltiplos
integrais da constante de rede ao longo das direções paralelas aos eixos cristalográficos, como
exemplificado na Figura 15.

Figura 15 - translação da rede conecta posições estruturalmente equivalentes

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4.2 Direções na célula unitária

Uma direção cristalográfica é definida como sendo uma linha entre dois pontos, ou um vetor. As
seguintes etapas devem ser seguidas para se determinar os índices de Miller referentes à uma
direção cristalográfica:
1. Determine as coordenadas de 2 pontos que caem nesta direção.
2. Subtrair o ponto de “origem” do ponto “final”
3. Reduzir aos menores inteiros
4. Representar os números entre colchetes e sem vírgulas.

Importância: metais deformam em direções nas quais os átomos estão em contato mais intimo.

Ex: FEAferro(CCC) é maior na direção diagonal do cubo do que na direção da aresta da célula.
Exemplo:

Figura 16 – Direções cristalográficas e coordenadas

Direção A:
1) dois pontos são 1,0,0 e 0,0,0
2) 1,0,0 – 0,0,0 = 1,0,0
4) [1 0 0]

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Direção B:
1) dois pontos são 1,1,1 e 0,0,0
2) 1,1,1 – 0,0,0 = 1,1,1
4) [1 1 1]

Direção C:
1) dois pontos são 0,0,1 e ½,1,0
2) 0,0,1 – ½ ,1,0 = – ½,-1,1
3) 2 x (– ½,-1,0) = -1,-2,0
4)

Aspectos importantes

a) Direção é um vetor, [100] e representam a mesma linha nas direções opostas


b) A direção e seu múltiplo são idênticas –[100] = [200] (forma não reduzida)
c) Certos grupos de direções são equivalentes. Elas têm seus índices particulares por causa da
maneira pela qual as coordenadas são definidas.

Exemplo:

Figura 17 – Equivalência das direções cristalográficas no sistema cúbico

Direções equivalentes

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Família de direções <110> =

As propriedades dos materiais são as mesmas nas direções equivalentes.

Exemplo: Todas as diagonais do cubo são estruturalmente idênticas, diferindo apenas a sua
orientação no espaço.

4.3 Planos na célula unitária

Importância: Metais deformam ao longo dos planos onde os átomos estão mais fortemente
empacotados.

As seguintes etapas devem ser seguidas para determinar os índices de Miller para os planos
cristalográficos.

Procedimento:
1 – Identificar os pontos nos quais o plano intercepta os eixos x, y, z. Se o plano passa pela origem, o
sistema de coordenadas deve ser mudado.
2 – Tome o recíproco destes pontos 1/x, 1/y, 1/z.
3 – Eliminar frações, mas não reduzir a menores inteiros.
4 – Represente o resultado entre parênteses e sem vírgulas.
Exemplo:

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Figura 18 - planos cristalográficos e intercessões

Plano A
1- x = 1, y = 1, z =1
2- 1/x = 1, 1/y = 1, 1/z = 1
4- (111)

Plano B
1- x = 1, y = 2, z =
2- 1/x = 1, 1/y = ½, 1/z =0
3- limpar frações
1/x = 2, 1/y = 1, 1/z = 0
4– (2 1 0)

Plano C
1– Mover a origem, porque o plano passa em 0,0,0. Mover um parâmetro de rede na direção y.
2- 1/x = 0 , 1/y = -1 , 1/z = 0
4-

Aspectos importantes:

1) Planos e seus negativos são idênticos


(0 2 0) =
2) Planos e seus múltiplos não são idênticos

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4.4 Densidade Linear e densidade planar

Densidade linear: A fração do comprimento da linha, numa determinada direção que passa pelo
centro dos átomos.
Densidade planar: Fração da área total do plano que é ocupada por átomos.
Exemplo:
Calcular a densidade planar e a fração de empacotamento planar para planos(010) e (020)
em um cristal cúbico simples, com parâmetro de rede 0,334 nm.

Figura 19 - densidade planar dos planos (010) e (020) na célula CS não são idênticas

Plano (010) – Átomos estão centrados em cada canto da face do cubo, com ¼ de cada átomo
pertencente a face da célula unitária.

Densidade Planar (010) = átomos por face / área da face = 1/(0,334)2 = 8,96 at/nm2
Fator de empacotamento Planar = área átomo por face / área da faca = (1 at)(πr2) / a02 = πr2 / (2r)2 =
0,79

Plano (020) – nenhum átomo é centrado no plano (020)


Densidade Planar = 0
Fator de empacotamento planar = 0

Plano (010) e (020) não são equivalentes.


No sistema cúbico a direção com mesmos índices do plano é perpendicular a este.
Planos equivalentes: representados por { }

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4.5 Direções e Planos compactos

Aqueles em que os átomos estão em contato contínuo.


Os planos e direções mais compactos são importantes, visto que a deformação dos materiais
metálicos está diretamente relacionada com a movimentação destes.
A Tabela 4 apresenta os planos e direções compactos para cada uma das células estudadas.
Tabela 4 - Direções e planos compactos

Estrutura Direção Planos


CS <100> Nenhum
CCC <111> Nenhum
CFC <110> {111}
HCP <100>,<110> ou <1120> (0001), (0002)

4.6 Comportamento Isotrópico e Anisotrópico:

Propriedades podem variar com a direção por causa das diferentes no arranjo atômico do cristal.

Material Anisotrópico: material que exibe diferentes valores de uma propriedade em diferentes
direções cristalográficas.
Ex: Alumínio: E<111> = 75,9 GPa e E<100> = 63,4 GPa

Material Isotrópico: material que possui valores idênticos de uma propriedade em todas as direções
cristalográficas.

4.7 Sítios Intersticiais

Pequenos vazios entre átomos da estrutura cristalina nos quais outros átomos podem ocupar.

Figura 20 – Localização dos sítios intersticiais na célula cúbica


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Aos átomos intersticiais, cujo raio é ligeiramente maior do que o raio do sítio intersticial,
conseguem entrar no sítio empurrando os átomos vizinhos. Os átomos cujos raios são menores do
que o raio do espaço intersticial. Não é permitido a este átomo ocupar o espaço.
Se o átomo intersticial se torna muito grande, ele prefere ocupar os espaços que propiciam
um maior número de coordenação. Portanto, um átomo que possui uma razão de tamanhos com o
átomo da rede em torno de 0,225 e 0,414, ocupa o espaço tetraedral; se a razão for maior que a
0,414, ocupa o espaço octaedral. Quando os átomos possuem o mesmo tamanho, como é o caso dos
metais puros, a razão de raios é igual a um e o número de coordenação é 12, que é o caso de metais
com estruturas CFC e HCP.
Tabela 5 - Número de coordenação e razão de raios.

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5 Imperfeições nos sólidos

Até o momento, os cristais foram considerados isentos de defeitos, porém, na realidade,


cristais perfeitos não existem, pois acima de 0 K sempre existe uma determinada concentração de
defeitos em equilíbrio termodinâmico dentro do cristal.
Existem 4 tipos de imperfeições em sólidos:
 Defeito de pontos (vacâncias e intersticiais)
 Solução sólida (impurezas em sólidos – solução sólida intersticial e substitucional)
 Defeitos de linha (discordâncias em cunha e hélice)
 Defeitos de superfície (contornos de grãos e macias)
Defeitos de pontos são rupturas, ou descontinuidades, localizadas na rede cristalina. Podem ser
introduzidas pelo movimento dos átomos quando ganham energia por aquecimento, durante o
processamento do material, pela introdução de impurezas ou intencionalmente pela formação de
liga. Todos os defeitos interrompem o arranjo perfeito dos átomos vizinhos.

Figura 21 – Imperfeições em sólidos

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5.1 Vacâncias

São causadas pela ausência de um átomo na posição normal da rede, ou seja, são sítios atômicos
vagos na estrutura cristalina, também conhecido como vazios ou lacunas.

Figura 22 – Desenho esquemático de uma vacância

As vacâncias são normalmente obtidas durante o processo de solidificação; pelo tratamento


em altas temperaturas ou por danos causados por radiação.
O número de vacâncias aumenta exponencialmente com a temperatura conforme a equação
de Arrhenius:

Nv = número de vacâncias por cm3


n = número de pontos de rede por cm3
Q = energia requerida para produzir uma vacância (cal/mol)
R = constante dos gases (1,987 cal/mol.k), (1,38 X 1023 J/atom.K), (8,62 x 10-5eV/atom.K), (8,31
J/mol.K)
T = Temperatura (K)

5.2 Defeitos Intersticiais

Trata-se de um átomo extra que é inserido na rede, nas posições que normalmente não são
ocupadas, são átomos extras ocupando posições entre os sítios atômicos, ou seja, ocupando
posições intersticiais.

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Figura 23 – Desenho esquemático de um Defeito Intersticial

A presença de átomos extra causa distorção na rede cristalina, como mostrado pelas linhas
vermelhas na Figura 23.
Ex: Carbono é adicionado ao ferro parar produzir o aço, o carbono ocupa posições
intersticiais na rede cristalina do ferro.

5.3 Defeitos Substitucionais

Ocorre quando átomos que ocupam uma posição normal na rede são substituídos por outros
átomos de elementos diferentes.
Quando o raio atômico do átomo adicionado na rede é menor do que os átomos da rede, a
região próxima ao átomo substitucional fica sujeita a tensões de tração. Quando o raio atômico do
átomo adicionado na rede for maior a região fica sujeita a tensões de compreensão.
Essas tensões geradas na rede cristalina causam aumento na resistência mecânica dos
materiais.
Esses átomos podem ser introduzidos como impureza ou como elementos de liga.

5.4 - Defeito de Frenkel e Defeito de Schottky

Frenkel – Em um sólido iônico, um par cátion-lacuna e cátion-intersticial, criado pelo deslocamento


de um átomo da posição normal para um sítio intersticial, apresentado na Figura 24.

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Figura 24 – Defeito de Frenkel

Schottky – Em um sólido iônico, um defeito que consiste em um par cátion-lacuna e ânion-lacuna. As


vacâncias são geradas em um cristal, de forma a manter a neutralidade elétrica do cristal, conforme
mostrado na Figura 25.

Figura 25 – Defeito Schottky

Ex: Comum em materiais cerâmicos com ligações iônicas.

5.5 Importância dos defeitos de pontos:

 Aumentam a resistência mecânica dos materiais por causa da distorção na rede em


distâncias de até centenas de espaçamentos atômicos a partir do defeito.
 Uma tensão mais alta é necessária para forçar a discordância a passar pelo defeito.

5.6 Solução Sólida (imperfeições químicas)

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Conceito: equivalente a uma mistura líquida de água + álcool. A completa solubilidade do álcool em
água resulta da mistura molecular completa.
Uma fase cristalina homogênea que contém dois ou mais componentes químicos. São
possíveis soluções sólidas tanto substitucionais como intersticiais.

Ex: Solução Sólida de Cu e Ni, onde Ni é o soluto e Cu é o solvente.

Solução Sólida Substitucional


Solução sólida em que os átomos de soluto repõem ou substituem os átomos da rede, como
mostrado na Figura 26.

Figura 26 – Solução sólida Substitucional.

A miscibilidade completa de dois átomos em uma solução sólida substitucional metálica é


definida pelas regras de Hume-Rothery:
 Tamanho atômico. Os raios atômicos dos dois elementos não devem diferir entre si de mais
de 15%.
 Estrutura Cristalina. O tipo de estrutura cristalina deve ser o mesmo.
 Valência Química. As valências dos dois elementos não devem diferir de mais de uma
unidade.
 Eletronegatividade. As eletronegatividades devem ser quase iguais. Em caso contrário,
poderá formar-se um composto, em consequência da diferença de afinidade por elétrons.

Para a solubilidade parcial apenas uma ou mais de uma das regras de Hume-Rothery são
violadas.

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Solução solida Intersticial

Uma solução sólida onde átomos de soluto relativamente pequenos ocupam posições
intersticiais entre os átomos de solvente ou átomos hospedeiros.
Quando os tamanhos dos átomos são muito diferentes, torna-se energeticamente mais
estável para o átomo menor ocupar os espaços intersticiais.

Ex: Carbono em Ferro-α para produzir o aço. São adicionado menos de 1% de carbono

Os princípios da formação de soluções sólidas são aplicados tanto para sistemas elementares
quanto para compostos.

Ex: solução sólida de NiO em MgO (ocorre a substituição do Mg+2 pelo Ni+2)

Regra adicional para solução sólida em compostos:


1 – manutenção da neutralidade de cargas

Ex: solução sólida de Al2O3 em MgO (2 íons Al+3 substituem e íons Mg+2 com formação de uma
vacância para cada 2 substituições de Al+3), conforme observado na Figura 27.

Figura 27 – Solução sólida de Al2O3 em MgO.

A maior valência do Al+3 aumenta a carga explosiva do composto, criando uma situação
altamente instável. De acordo com a regra adicional, 2 íons Al+3 ocupam três sítios do Mg+2, levando a
uma vacância de Mg+2.
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5.7 Defeitos de linha (discordâncias)

Definição: Defeito em uma dimensão ao redor do qual alguns átomos encontram-se desalinhados;
translação incompleta de uma das partes da rede em relação às outras.

Introduzidas tipicamente durante a solidificação ou quando o material é deformado. Embora


estejam presentes em todos os materiais, elas são particularmente úteis para explicar a deformação
e mecanismos de reforço em metais.

Existem três tipos:


 Discordância em aresta
 Discordância em espiral
 Discordância combinada

É necessário definir o termo vetor de Burgers, que é um vetor que representa a magnitude e
a direção da distorção de um retículo associada a uma discordância.

Discordância em cunha ou aresta

Um defeito cristalino linear associado com a distorção do retículo cristalino que é produzida
na vizinhança da extremidade de um semiplano adicional de átomos no interior de um cristal. O
vetor de Burgers é perpendicular à linha de discordância.

Figura 28 – Esquema de discordância em cunha ou aresta

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(a) (b) (c)


Figura 29 - a) O cristal perfeito, b) o cristal é cortado e inserido nele um plano extra de átomos. A linha inferior do plano é
a linha de discordância, c) O vetor de burger b, necessário para fechar a volta em torno da discordância.

Figura 30 – a)b) vetor de Burgers c)As posições atômicas em torno da discordância em cunha; o plano extra de átomos é
mostrado em perspectiva.

Os átomos acima da discordância estão mais próximos. A rede é perturbada ao redor da


discordância.

Discordância em Hélice ou espiral

Um defeito cristalino linear associado com a distorção do retículo criada quando planos
normalmente paralelos são unidos entre si para formar uma rampa helicoidal. O vetor de Burgers é
paralelo à linha de discordância.

Figura 31 – Esquema discordância em espiral.

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Um cristal perfeito é cortado e as duas metades são afastadas em uma direção como
mostrado na Figura 31.
Se continuar a rotação em volta da discordância, uma espiral é desenhada. A linha em volta da qual é
formada a espiral é a linha de discordância.

Figura 32 – a) O cristal perfeito, b) e c) O cristal é cortado e cisalhado na distancia de um espaço atômico. A linha ao
longo de onde ocorre o cisalhamento é chamada de discordância. O vetor de Burgers é requerido para completar a volta
em torno da discordância.

Discordâncias mistas
Uma discordância que possui componentes tanto em cunha como hélice. O vetor de Burgers
permanece o mesmo para as porções de discordância mista

Figura 33 – Discordância mista. A discordância em hélice na face do cristal muda gradualmente para uma discordância
em cunha no lado do cristal.

Quando uma força de cisalhamento atuando na direção do vetor de Burgers é aplicada ao


cristal contendo a discordância, esta pode se mover, quebrando as ligações de átomo em um plano.
O plano parcial separado se desloca para formar ligações com o plano de átomos original. Esta

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movimentação causa o deslocamento da discordância de um espaçamento atômico para o lado,


como mostrado na Figura 34.
Se o processo é continuado, a discordância se move através do cristal e um degrau é
produzido na parte exterior do cristal; o cristal é então deformado. O processo pelo qual é produzido
na parte exterior do cristal; o cristal é então deformado. O processo pelo qual a discordância se move
para causar a deformação é chamado de escorregamento de planos.

Figura 34 – a) Quando uma tensão de cisalhamento é aplicada a discordância, (b) Os átomos escorregam, causando a
movimentação de um vetor de Burgers na direção de escorregamento, c) o movimento continuado cria um degrau e o
cristal é deformado.

Figura 35 – Representação esquemática da movimentação de uma discordância em cunha

A tensão de Peierls-Nabarro é necessária para mover à discordância de uma posição de


equilíbrio a outra.

b= vetor de Burgers
c e d = constantes do material

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Fatores que determinam o sistema de escorregamento mais ativo (sistema de


escorregamento = plano + direção de escorregamento), ou o que consome menos energia.

1 – A tensão aumenta exponencialmente com o comprimento de b.

Portanto, a direção de escorregamento deve conter a menor distância repetitiva ou maior densidade
linear = direções compactas em metais.

2 – A tensão decresce exponencialmente com a distância interplanar dos planos de escorregamento.

Portanto o escorregamento ocorre mais facilmente entre os planos com maior espaçamento d.
Tipicamente os planos compactos.

3 – Por causa da força e direcionalidade das ligações covalentes, as discordâncias não movem
facilmente no silício e em polímeros.

Os materiais sofrem fratura frágil antes das forças alcançarem valores suficientes para o
escorregamento.

4 – Materiais com ligações iônicas (cerâmicos) são resistentes ao escorregamento. O movimento de


discordâncias causa ruptura na ligação entre ânions e cátions. Sofrem fratura frágil.

Importância das discordâncias

1 – Explica porque a resistência dos metais é menor do que a prevista para a ligação metálica.
Se o escorregamento ocorre, apenas uma pequena fração de ligações metálicas na interface é
quebrada e a força necessária para deformar o metal é pequena.

2 – O escorregamento produz ductilidade em metais.


Caso contrário não seria possível fabricar peças por forjamento.

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3 – É possível controlar as propriedades mecânicas do metal interferindo no movimento das


discordâncias.
A introdução de um obstáculo dentro do cristal impede o escorregamento da discordância a menos
que uma força maior seja aplicada, aumento na resistência mecânica do material.

5.8 Defeitos de Superfície

São as fronteiras que separam regiões de mesma estrutura cristalina, mas de diferentes
orientações dentro dos materiais.

Superfície: representa a dimensão exterior do material onde a rede cristalina termina abruptamente.
As ligações são interrompidas.

Contornos de grãos: superfície que separa os grãos individuais. Podem conter regiões sujeitas a
esforços de compreensão ou tração variando com as distâncias entre átomos que não possuem
espaçamentos de equilíbrio. A Figura 36 mostra esquematicamente a região de contorno de grão.

Figura 36 - Os átomos perto do contorno de três grãos não possuem espaçamento de equilíbrio ou arranjo.

Os átomos estão ligados com menor regularidade ao longo do contorno (ângulos de ligação
são maiores) e consequentemente existe uma energia interfacial ou energia de contorno de grão. A
magnitude desta energia é função do grau de desorientação, sendo maior para o contorno de alto
ângulo.

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Os contornos de grão são mais reativos do que os grãos propriamente ditos, por causa da
energia envolvida no contorno, esta energia é devido ao desarranjo atômico. Por este mesmo
motivo, impurezas são segregadas no contorno.
A energia interfacial total é menor em materiais com grãos maiores, porque o total de
contornos é menor.

Propriedades x tamanhos de grãos

A diminuição do tamanho de grão aumenta o número de contornos de grão. Contornos de


grão impedem o movimento de discordâncias com o consequente aumento da resistência do
material.

Equação de Hall-Petch

σy= tensão para a deformação permanente do material


σ0 e K = constantes do material
d= diâmetro médio dos grãos

O tamanho de grãos em metais pode ser controlado por solidificação, tratamentos térmicos
ou formação de ligas. Em cerâmicos, alternando parâmetros de sinterização e tamanho de partículas
no pó.

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Figura 37 – Fotomicrografia obtida por microscopia ótica mostrando os contornos de grãos (linhas escuras) em palácio
policristalino.

Determinação do tamanho de grão

O tamanho de grão é às vezes determinado quando as propriedades de um material


policristalino estiverem sendo consideradas. Neste sentido, existe um número de técnicas pelas quais
o tamanho é especificado em termos de volume médio de grão, diâmetro médio de grão ou área
média de grão. Tamanho de grão pode ser estimado pelo uso de um método do intercepto, descrito
a seguir. Linhas retas todas de mesmo comprimento são traçadas através de várias fotomicrografias
que mostram a estrutura do grão. Os grãos intersectados por cada segmento de linha são contados;
o comprimento da linha é então dividido pelo número médio de grãos intersectados. Para a
obtenção dessa média são considerados todos os segmentos de linha. O diâmetro médio de grão é
encontrado pela divisão deste resultado pela ampliação linear das fotomicrografias.
Provavelmente o método mais comum utilizado é, entretanto, aquele desenvolvido pela
American Society for Testing and Materials (ASTM). Uma amostra deve ser apropriadamente
preparada para revelar a estrutura de grão, que é fotografada numa ampliação de 100x. Tamanho de
grão é expresso em termos do número de tamanho de grão do gráfico que mais de perto se ajusta
aos grãos na micrografia. Assim uma determinação visual relativamente simples e conveniente de

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número de tamanho de grão é possível. Número de tamanho de grão é usado extensivamente na


especificação de aços.
A justificativa racional por trás da atribuição do número de tamanho de grão a estes vários
gráficos é a seguinte. Seja n representando o número de tamanho de grão, e N o número médio de
grãos por polegada quadrada numa ampliação de 100x. Estes 2 parâmetros estão relacionados um ao
outro através da expressão

N= número de grãos por polegadas quadrada


n = tamanho de grãos ASTM

Maclas: Um plano que separa duas regiões cristalinas que são, estruturalmente, imagens espelhadas
uma da outra, como apresentado na Figura 38. Ocorrem durante a deformação ou tratamento
térmico de certos metais. Também aumentam a resistência mecânica do material. Os movimentos
das maclas causam deformação nos metais.

Figura 38 - a) aplicação de tensão em um cristal perfeito, b) pode causar o escorregamento dos átomos, provocando o
aparecimento de uma macia. O cristal é deformado como resultado da formação da macla.

Mecanismos de reforço
 Endurecimento por deformação a frio, encruamento.
 Reforço por solução sólida
 Reforço pelo controle de tamanho de grão

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6 INTRODUÇÃO AOS DIAGRAMAS DE FASES

A compreensão de diagrama de fases para sistemas de ligas é importante pois existe


correlação entre a microestrutura e as propriedades mecânicas, o desenvolvimento da
microestrutura está relacionado às características do seu diagrama de fases.
Os diagramas de fases fornecem informações sobre fenômenos da fusão, fundição, cristalização
entre outros.

6.1 Definições e conceitos teóricos

 Componente: são metais puros e/ou compostos que compõem uma liga. Exemplo: latão
cobre-zinco os componentes são Cu e Zn soluto e solvente.
 Sistema: 1 – pode-se referir a um corpo específico de material (panela de fundição com aço
fundido)
2 – está relacionado à série de possíveis ligas que consistem nos mesmos
componentes. Por exemplo: sistema Fe-C.
 Solução sólida: pelo menos dois tipos diferentes de átomos, os átomos de soluto ocupam
posições substitutivas ou intersticiais no reticulo cristalino do solvente, e a estrutura
cristalina do solvente é mantida.
 Limite de solubilidade: Quantidade máxima de átomos de soluto que se pode dissolver a
uma determinada temperatura no solvente para formar uma solução sólida. A adição de
soluto em excesso pode formar outra solução sólida ou outro composto que possui
composição diferente.
Exemplo: H2O + açúcar “saturada”

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Figura 39 – a solubilidade do açúcar (C12H22O11) em um xarope açúcar-água.

Uma vez que apenas dois componentes estão envolvidos, a soma das concentrações de
qualquer composição será igual a 100%.
O limite de solubilidade a uma dada temperatura é a composição que corresponde a intersecção
da dada temperatura com a curva do limite de solubilidade.
 Fases: porção homogênea de um sistema que possui características físicas e químicas
uniformes. Todo material puro é considerado uma fase da mesma forma são todas as
soluções.
Se mais de uma fase estiver presente em um sistema, cada fase terá suas propriedades
individuais, existirá uma fronteira separando-as através da qual há uma mudança descontínua e
abrupta nas características.
 Sistema homogêneo: sistema que possui apenas uma fase
 Sistema heterogêneo: Sistema que possui mais de uma fase. Chamado também como
mistura.
Geralmente as fases podem interagir de tal maneira que a combinação das propriedades do
sistema multifásico é diferente de qualquer uma das fases individuais e mais atrativas.
 Microestrutura: em ligas metálicas é caracterizada pelo número de fases presentes, pelas
proporções e pela maneira que estão distribuídas e arranjadas. Depende de variáveis tais
como elementos de ligas presentes, suas composições e tratamento térmico.
 Equilíbrio de fases: é refletido pela constância no que se refere as características da fase de
um sistema em relação ao tempo.

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 Metaestável: a condição de equilíbrio NUNCA é completamente atingida, a taxa é


extremamente lenta. Neste caso o material sofre alterações muito pequenas e praticamente
imperceptíveis.

6.2 Diagrama de Fases em condição de equilíbrio

Mostram de maneira conveniente e concisa informações sobre o controle microestrutural ou


estrutura de fases dos sistemas de ligas. Frequentemente são chamados de diagrama de equilíbrio de
fases ou diagrama constitucional.
Os diagramas de fases representam as relações entre temperaturas e composição, e as quantidades
de cada fase em condição de equilíbrio.
A pressão e um parâmetro que influencia na estrutura de fases, contudo, na prática, a pressão
permanece constante na maioria das aplicações, assim, os diagramas de fases correspondem a
pressão constante de 1 atm.

6.3 Sistema Isomorfo Binário

No diagrama apresentado abaixo, ocorrem três regiões, ou campos, de fases diferentes


aparecem no diagrama, um campo α (alfa); um campo líquido (L) e um campo bifásico (α+L).
Cada região é definido pela fase ou fases que existem ao longo das faixas de temperatura e de
composições delimitadas pelas curvas.
 O líquido L consiste em uma solução líquida homogênea, composta por cobre e níquel.
 Fase α consiste em uma solução sólida substitutiva que contém átomos de cobre e níquel e
que possui estrutura cristalina CFC. A temperatura abaixo de 1080ºC o cobre e níquel são
mutualmente solúveis um no outro no estado sólido para qualquer composição.
 Regra de Hume-Rothery: os átomos de cobre e níquel têm a mesma estrutura cristalina
(CFC), têm raios atômicos e eletronegatividades com valores próximos, e têm valências
semelhantes.

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Figura 40 – Diagrama Cu-Ni

6.3.1 Nomenclatura

 Sistemas isomorfos: completa solubilidade dos átomos tanto no estado líquido quanto no
estado sólido
 Soluções sólidas em ligas metálicas são designadas por letras gregas minúsculas.
 A linha que delimita as fases L e L+α é chamada de curva liquidus. Acima da qual só existe
liquidos.
 A linha que delimita as fases L+α e α é chamada de curva solidus. Abaixo da qual só existe
sólido.

As curvas solidus e liquidus se interceptam nas extremidades de composição; esses pontos


correspondem ao ponto de fusão do metal puro.
Para composições diferentes das componentes puros, o fenômeno de fusão ocorrerá ao longo de
uma faixa de temperatura entre as curvas solidus e liquidus.

6.4 Interpretação dos Diagramas de Fases

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Estão disponíveis três tipos de informação: fases presentes, composição dessas fases, fração de
fases.
 Fases presentes: Localiza-se o ponto temperatura-composição no diagrama de fases e
observa-se quais fases o campo de fases correspondente está identificada.
 Determinação da composição de fases: localiza-se o ponto temperatura-composição. Para
regiões monofásicas a composição desta fase é simplesmente a composição global da liga.
Para regiões bifásicas, imagina-se diversas linhas horizontais, uma a cada temperatura
diferente, conhecidas como linhas de amarração. Essas linhas se estendem através da região
bifásica e terminam nas curvas de fronteira de fase. Para calcular as concentrações das duas
fases é usado o procedimento:
1. Constrói-se uma linha de amarração através da região bifásica à temperatura
determinada.
2. Anotam-se as intersecções da linha de amarração com as fronteiras entre as fases
em ambos os lados.
3. Traçam-se linhas perpendiculares à linha de amarração a partir dessas intersecções
até o eixo horizontal das composições, onde a composição de cada fase pode ser
lida.
CL: composição da fase líquida (Linha liquidus)
CS: composição da fase sólida (Linha solidus)
 Determinação das quantidades das fases: para regiões monofásicas a fração da fase é 1,0 ou
100%. Para regiões bifásicas, a linha de amarração deve ser usado em conjunto com a regra
da alavanca.
1. Constrói-se a linha de amarração
2. A composição global da liga é localizada sobre a linha de amarração
3. A fração da fase é calculada tomando-se o comprimento da linha de amarração
desde CG (composição global) até a fronteira entre fases com a outra fase e então
dividindo-se esse valor pelo comprimento total da linha de amarração.
4. A fração da outra fase é determinada de maneira semelhante.
5. Se for desejada porcentagem multiplica-se a fração encontrada por 100.

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6.5 Sistemas Eutéticos Binários

Ponto Invariante é o encontro das curvas liquidus com a isoterma é designado pela composição
CE (composição eutética), TE (temperatura eutética). Envolvem três fases diferentes. Ligas com
composição CE ao passar por TE sofre reação eutética (eutético significa facilmente fundido).
 Reação eutética: uma fase líquida se transforma em duas fases sólidas
 Reação eutetóide: uma fase sólida se transforma em outros dois sólidos
 Reação peritética: uma fase sólida se transforma em uma fase liquida e em outra fase sólida

Figura 41 – Diagrama Cu-Ag

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7 MATERIAIS METÁLICOS

Materiais metálicos são normalmente combinações de elementos metálicos. Eles possuem


um número grande de elétrons não-localizados; isto é, estes elétrons não estão ligados a qualquer
átomo em particular. Muitas propriedades dos metais são atribuídas diretamente a estes elétrons.
Os metais são condutores extremamente bons de eletricidade e calor, e não são transparentes à luz
visível; uma superfície metálica polida possui uma aparência lustrosa. Além disso, os metais são
muitos resistentes, e ainda assim deformáveis, o que é responsável pelo seu uso extenso e aplicações
estruturais.
Os metais monofásicos são compostos por metais puros e por ligas metálicas monofásicas. As
ligas monofásicas são aquelas onde o limite de solubilidade entre os componentes não é
ultrapassada.

Exemplo de metais puros: COBRE aplicado em fiação elétrica


ZINCO aplicado em revestimento de aço galvanizado
ALUMÍNIO aplicado em utensílios domésticos

Exemplo de ligas monofásicas: LATÃO: liga monofásica de Cu e Zn


BRONZE: liga monofásica de Cu e Sn

A Figura 42 mostra a solubilidade de níquel em cobre, e o diagrama de fases da liga.

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Figura 42 – propriedades de ligas de cobre

As ligas polifásicas, são ligas que contém fases adicionais porque o limite de solubilidade foi
ultrapassado.

Exemplo de ligas polifásicas: Aços (ferro α (ferrita) + Fe3C (cementita)


Liga Pb – Sn
Liga Cu – Zn

7.1 Propriedades das ligas monofásicas

A adição de elementos de liga melhoram as propriedades mecânicas dos metais, tais como
resistência mecânica e dureza, quando comparado ao metal puro. Esta influencia nas propriedades é
causada visto que a presença dos átomos de soluto causam distorções localizadas na rede cristalina,
o que dificulta o caminho das discordâncias, consequentemente dificultando a deformação plástica
dos materiais metálicos.
Os átomos de soluto diminuem a condutividade elétrica e térmica. Os elétrons sofrem mais
desvios com a consequente redução do caminho livre médio.
Esses efeitos estão ilustrados esquematicamente na Figura 43.

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Figura 43 – Propriedades das ligas de Cu-Zn

7.2 Microestrutura de ligas monofásicas

As microestruturas de metais monofásicos podem variar com mudanças no tamanho, forma


e orientação dos grãos, conforme mostrado na Figura 44.

Figura 44 – Tamanho do grão = A x B; Forma do grão = A x C; Orientação preferencial = B x D

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Orientação dos grãos em uma direção preferencial pode aumentar o desempenho dos
componentes.

Exemplo:
- Fe na direção [100] exibe maior permeabilidade magnética
- Chapa com grãos alinhados aumentam o desempenho de transformador

7.3 Processamento de ligas monofásicas

A maioria dos metais é processada inicialmente por fundição. Para a formação de ligas, a
adição de soluto é feita no metal fundido, pois no metal fundido a dissolução é facilitada e se torna
uniformemente distribuído. Após a mistura dos elementos o processo prossegue com a solidificação,
onde a liga fundida é vazada no interior de um molde onde se solidificará em um produto final ou um
lingote que será posteriormente conformado na forma final. (barra, arame, tubo, chapa, etc.)
Porém há alguns anos, a tecnologia de metalurgia do pó vem se desenvolvendo e crescendo
no mercado. Nesta técnica, o metal em pó é misturado aos elementos de liga, também em pó, e esta
massa metálica é conformada no formato da peça final. As propriedades mecânicas dos metais
produzidos por esta técnica são alcançadas após o processo de sinterização, que se trata de um
processo em altas temperaturas para junção das finas partículas metálicas.
Os metais produzidos por métodos convencionais de fundição, passam por processos de
conformação mecânica, que podem ser divididos em trabalho mecânico primário e trabalho
mecânico secundário.

7.3.1 Trabalho mecânico primário

Operações de conformação são aquelas em que as formas da peça metálica são mudadas por
deformação plástica. A deformação é induzida por uma força ou tensão externa. O tamanho da força
aplicada deve ser superior a resistência ao escoamento do material
No trabalho mecânico primário, grandes deformações são necessárias, consequentemente o
processamento é feito em altas temperaturas, onde o material é tipicamente mais macio e dúctil. Em

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altas temperaturas é necessário menos energia para a deformação e há menos chances de fratura
durante o processo.
Trabalho mecânico quente: temperatura acima da temperatura de recristalização. No
trabalho a quente, a deformação pode ser repetida sucessivamente. O material sofre oxidação da
superfície que resulta em perda de material e acabamento superficial final inferior.

Figura 45 – Trabalho mecânico primário

7.3.2 Trabalho mecânico secundário

O trabalho a frio produz aumento da resistência mecânica com decréscimo da ductilidade e o


metal endurece por deformação (encruamento). As discordâncias são formadas no processo de
obtenção do material ou na deformação. Encruamento é o endurecimento do material metálico pelo
aumento do número de discordâncias, o aumento do número de discordâncias dificulta a
deformação plástica, aumentando assim a resistência mecânica do metal. Com o recozimento
recupera-se todo o efeito do encruamento obtido pela deformação a frio.

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Vantagens: O acabamento superficial de melhor qualidade, melhores propriedades mecânicas e bom


controle dimensional da peça.

Figura 46 – Trabalho mecânico secundário

7.4 Microestrutura

Durante a deformação, uma microestrutura fibrosa é produzida conforme os grãos dentro do


metal se tornam alongados como mostrado na Figura 47

Figura 47 – Microestrutura produzida por deformação a frio em um aço carbono

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Características do trabalho a frio:


a) Pode-se endurecer o material e produzir a forma desejada simultaneamente
b) Obtenção de tolerâncias dimensionais excelentes e acabamento superficial
c) Método barato para produção de pequenas peças
d) Diminuição da condutividade elétrica é menor que para a adição de elemento de liga

7.5 Propriedades mecânicas

As propriedades dos materiais se originam de sua estrutura interna, ligações químicas, átomos,
arranjos cristalinos e microestrutura. O processamento pode provocar mudanças nas propriedades,
por exemplo, o forjamento e os tratamentos térmicos.
O comportamento mecânico de um material reflete a relação entre sua resposta ou deformação
para uma carga ou força aplicada.
Fatores a serem considerados são a natureza da carga aplicada (tração, compressão ou
cisalhamento), duração da tensão aplicada, magnitude (constante, intermitente, cíclico) e
temperatura.

7.6 Conceito tensão-deformação

tensão de engenharia

deformação de engenharia

O grau de deformação da estrutura depende da magnitude da tensão imposta. Para a


maioria dos metais tracionados com tensões relativamente baixas, a tensão e a deformação são
proporcionais conforme a relação:

Lei de Hooke

Onde E é o módulo de elasticidade ou módulo de Young.

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A deformação na qual a variação dimensional é proporcional à tensão é chamada de


deformação elástica.
O módulo de elasticidade representa a rigidez do material ou a resistência à deformação elástica.
Quanto maior for o módulo, maior será a rigidez do material, ou menor será a deformação elástica
não é permanente, o que significa que quando a carga é aliviada, o material retorna às suas
dimensões originais. Na escala atômica a deformação elástica é manifestada como uma variação na
distância interatômica ou uma “esticada” nas ligações entre os átomos adjacentes, ou seja, das
forças de ligação entre os átomos. O módulo elástico é proporcional à inclinação da curva tensão
deformação.
Os valores do módulo de elasticidade para cerâmicos são maiores do que para os metais.
Para polímeros são mais baixos, como consequência direta dos diferentes tipos de ligações.
Para a maioria dos metais a deformação elástica persiste somente para a deformação em
torno de 0,005. Como o material é deformado acima deste ponto, a tensão não será mais
proporcional a deformação, ou seja, a lei de Hooke não será mais válida, e uma permanente, não
recuperável ou deformação plástica ocorre. Na transição ocorre uma curvatura na curva tensão x
deformação que coincide com o inicio da deformação plástica.
Uma curva esquemática de tensão-deformação de metais está apresentada na Figura 48.

Figura 48 – Curva típica tensão x deformação

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Microscopicamente, a deformação plástica corresponde à quebra de ligações entre átomos


vizinhos e a formação de novas ligações com novos vizinhos. Os átomos se movem uns em relação
aos outros e já não retornam quando cessada a tensão.

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8 Materiais Cerâmicos

Os cerâmicos são compostos entre os elementos metálicos e não metálicos: eles são
frequentemente óxidos, nitretos e carbetos. A grande variedade de materiais que se enquadra nesta
classificação inclui cerâmicos que são compostos por minerais argilosos, cimento e vidro. Estes
materiais são tipicamente isolantes à passagem de eletricidade e calor, e são mais resistentes a altas
temperaturas e ambientes abrasivos do que os metais e polímeros. Com relação ao comportamento
mecânico, os materiais cerâmicos são duros, porém muito quebradiços.
Exemplo: Al2O3
Alumínio – metálico
Oxigênio – não metálico

O termo cerâmica vem da palavra grega Keramikos, que significa “matéria-prima queimada”,
indicando que as propriedades desejáveis desses materiais são normalmente atingidas por meio de
um processo de tratamento térmico de alta temperatura, chamado de sinterização.
Até aproximadamente os últimos cinqüenta anos, os materiais mais importantes que se
enquadram nessa categoria eram conhecidos por “cerâmicas tradicionais” e eram aquelas pelas
quais a matéria-prima primária é a argila: os produtos considerados cerâmicas tradicionais são a
louça, a porcelana, os tijolos, as telhas, os azulejos e, ainda, os vidros e as cerâmicas refratárias
(resistentes à alta temperatura ).
Recentemente houve um progresso muito grande em relação à compreensão da natureza
desses materiais e dos fenômenos que ocorrem neles e que são responsáveis pelas suas
propriedades únicas. Conseqüentemente, uma nova geração desses materiais foi desenvolvida, e o
termo “cerâmica” tomou um significado muito mais amplo. Em um determinado nível ou outro,
esses novos materiais possuem um efeito consideravelmente dramático sobre nossas vidas; as
indústrias de componentes eletrônicos, de computadores, de comunicação, a indústria aeroespacial
e uma gama de outras indústrias dependem desses materiais.
Formados por ligações químicas iônicas/covalentes – usualmente são materiais de alta
dureza, frágeis, possuem alto ponto de fusão, baixa condutividade elétrica e térmica, boa
estabilidade química e térmica e alta resistência a compressão.

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Possuem uma larga faixa de propriedades mecânicas e físicas; possuem aplicações que
variam de cerâmica artística, tijolos, azulejos, louça de cozinha, refratários, cerâmicas magnéticas,
componentes eletrônicos, fibras, abrasivos, proteção térmica, biocerâmicas, etc.

8.1 Estruturas Cristalinas

A estrutura cristalina de materiais cerâmicos que possuem ligações caracteristicamente


iônicas pode ser considerada como sendo compostas por íons eletricamente carregados em vez de
átomos. Os íons metálicos, ou cátions, estão carregados positivamente e os íons não metálicos, ou
ânions, estão carregados negativamente. Duas características dos íons componentes em materiais
cerâmicos cristalinos influenciam a estrutura do cristal: a magnitude da carga elétrica em cada um
dos íons componentes e os tamanhos relativos dos cátions e ânions. Em relação à primeira
característica, o cristal deve ser eletricamente neutro; isto é, todas as cargas positivas dos cátions
devem ser contrabalanceadas por um número igual de cargas negativas dos ânions. A fórmula
química de um composto indica a razão entre o número de cátions e o número de ânions ou a
composição que atinge esse balanço de cargas. Por exemplo, no fluoreto de cálcio, cada íons cálcio
possui uma carga elétrica +2 (Ca+2), enquanto a cada íon flúor esta associada uma carga negativa (F -
1
). Dessa forma devem existir duas vezes mais íons F-1 do que íons Ca+2, o que esta refletindo na
fórmula química para o fluoreto de cálcio, CaF2.
O segundo critério evolve os tamanhos ou raios iônicos dos cátions e ânions, rc e ra,
respectivamente. Uma vez que os elementos metálicos cedem elétrons quando ficam ionizados, os
cátions são, ordinariamente, menores do que os ânions, consequentemente, a razão rc/ra é menor do
que a unidade. Cada cátion prefere ter tantos ânions como vizinhos mais próximos quanto for
possível. Os ânions também desejam um número máximo de cátions como vizinhos mais próximos.
Estruturas cerâmicas cristalinas estáveis se formam quando aqueles íons que circundam um
cátion estão todos em contato com aquele cátion, como está ilustrado na Figura 49.

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-
Figura 49 - Configurações de coordenação anion - cátion estáveis e instáveis. No centro se encontram os cátions.

O número de coordenação (isto é, o número de ânions vizinhos mais próximos para o cátion)
esta relacionado com a razão entre o raio do cátion e o raio do ânion. Para um número de
coordenação específico, existe uma razão rc/ra crítica ou mínima para o qual esse contato cátion-
anion é estabelecido.

9.1.1 ESTRUTURAS CRISTALINAS TIPO AX

Estrutura do sal-gema (AX)

Talvez a estrutura cristalina mais comum seja aquela do tipo cloreto de sódio (NaCl), ou sal
gema. O número de coordenação tanto para os cátions como para os ânions é de 6.
Uma célula unitária para essa estrutura cristalina é gerada a partir de uma configuração dos
ânions do tipo CFC, com um cátion situado no centro do cubo e outro localizado no centro de cada
uma das 12 arestas do cubo. Dessa forma, a estrutura cristalina do sal-gema pode ser considerada
como sendo composta por duas redes cristalinas CFC que se interpenetram, uma composta de
cátions, a outra composta por ânions. Alguns dos materiais cerâmicos mais comuns que se formam
segundo essa estrutura cristalina são NaCl, MgO, MnS, LiF e FeO.

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Figura 50 – Estrutura do tipo sal gema

Estruturas do Cloreto de Césio (AX)

O número de coordenação para ambos os tipos de íons é 8. Os ânions estão localizados em


cada um dos vértices de um cubo, enquanto o centro do cubo contém um único cátion. Essa não é
uma estrutura cristalina CCC, pois estão envolvidos íons de duas espécies diferentes.

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Figura 51 – Estrutura do tipo cloreto de césio

Estrutura da Blenda de Zinco

Uma terceira estrutura do tipo AX em que o número de coordenação é 4; isto é, todo os


átomos estão coordenados tetraedricamente. Essa estrutura é conhecida por estrutura de blenda de
zinco, ou esfarelita, em função do termo mineralógico para o sulfeto de zinco. Todos os vértices e
posições faciais da célula cúbica estão ocupados por átomos de S enquanto os átomos de Zn
preenchem posições tetraédricas inferiores. Desta forma cada átomo de Zn esta ligado a quatro
átomos de S e vice e versa. Estão incluídos nesse grupo os compostos ZnS, ZnTe, SiC.

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Figura 52 – Estrutura Blenda de zinco

9.1.2 Estrutura Cristalina do tipo AmXp

Se as cargas dos cátions e ânions não forem iguais, pode existir um composto com a fórmula
química AmXp onde m e/ou p ≠ 1. Um exemplo seria o composto AX2 para o qual uma estrutura típica
é encontrada para a fluorita (CaF2). O número de coordenação é 8 e os íons cálcio estão posicionados
nos centros do cubo, com os íons flúor localizados no vértices. A fórmula química mostra que para
um determinado número de íons flúor existe apenas metade de íons Ca+2 e, portanto a estrutura
cristalina seria semelhante aquela representada pelo CsCI, exceto pelo fato de que apenas metade
das posições centrais do cubo estariam ocupadas por íons Ca+2. Uma célula unitária consiste em oito
cubos.

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Figura 53 – Estrutura cristalina do CaF2

Estruturas Cristalinas tipo AmBnXp

Também é possível que os compostos cerâmicos possuem mais do que um tipo de cátion; no
caso de dois tipos de cátions(representados por A e B). O titanato de bário(BaTiO3), que possui
cátions de Ba+2 e Ti+4, se enquadra nessa classificação. Esse material possui a estrutura cristalina da
perovskita. As temperaturas acima de 120°C, a estrutura cristalina é cúbica. Os íons Ba+2 estão
localizados em todos os oito vértices do cubo, enquanto um único íon Ti encontra-se posicionado no
centro do cubo, com os íons O-2 localizados no centro de cada uma das seis faces

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Figura 54 – Estrutura Cristalina do tipo perovskita

8.2 Propriedades Mecânicas de Materiais Cerâmicos

Em temperatura ambiente, os cerâmicos quando submetidos a um carregamento,


apresentam inicialmente a deformação elástica, não apresentam deformação plástica e ocorre
ruptura. Isso é conhecido como fratura frágil. O comportamento de deformação em função da
tensão aplicada para cerâmicos pode ser visto comparativamente com outros materiais na figura.

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Figura 55 – Curvas tensão-deformação para diversos materiais.

A magnitude do módulo elástico é determinada pela resistência das ligações atômicas do


material. Quando maior a força das ligações atômicas, maior será a tensão necessária para aumentar
os espaçamentos interatômicos e consequentemente maior será o módulo de elasticidade. A tabela
apresenta o módulo elástico médio de diversos materiais.

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9.2.1 Resistência Mecânica Teórica

A resistência teórica pode ser definida como tensão necessária para romper as ligações
atômicas e gerar duas novas superfícies e pode ser descrita pela equação:

Onde,
E= módulo elástico
γ = energia de fratura superficial
a0 = espaçamento atômico

A tensão teórica para materiais cerâmicos ocupa valores de 1/10 a 1/15 do módulo elástico.
A tabela abaixo apresenta valores comparativos de resistência teórica de Al2O3 e SiC. Os valores
foram obtidos com tensões típicas relatadas em corpos cerâmicos fabricados por diferentes
processos. As resistências a fratura em corpos cerâmicos fabricados por diferentes processos. As
resistências a fratura encontradas na pratica para Al2O3 e SiC policristalinos apresentam valores de
apenas 1/100 da resistência teórica, como mostrado na Tabela 6.

Tabela 6 – Comparação entre resistência teórica e encontradas na prática.

Material E (GPa) Resistência Res. Medida em Res. Amostras


teórica (GPa) fibras (GPa) policristalinas (GPa)

Al2O3 380 38 16 0,4


SiC 440 44 21 0,7

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9 Materiais Poliméricos

A palavra polímeros origina-se do grego poli (muitos) e mero (unidade de repetição). Assim,
um polímero é uma macromolécula composta por muitas unidades de repetição denominadas
meros, ligados por ligação covalente. A matéria-prima para a produção de um polímero é o
monômero, isto é, uma molécula com uma (mono) unidade de repetição.
Assim, polímero é em geral um material orgânico de alta massa molecular (acima de 10.000
podendo chegar até a 10.000.000), cuja estrutura consiste na repetição de pequenas unidades
(meros). Macromolécula formada pela união de moléculas simples, ligadas por ligações covalentes.
Deste modo, pode-se definir mero como a unidade de repetição da cadeia polimérica, e
monômero como uma molécula simples que dá origem ao polímero, que deve ter funcionalidade de
no mínimo 2, ou seja, no mínimo bifuncional.
Como já comentado, dentro de cada molécula os átomos estão ligados por ligações
covalentes; essas moléculas são cadeias longas e flexíveis, cujo esqueleto principal consiste em uma
serie de átomos de carbono, como esquematicamente apresentado na Figura 56.

Figura 56 – Esquema de ligações covalentes entre carbonos

Podem ocorrer ligações laterais com átomos ou radicais. As longas cadeias são construídas
por meros que são as unidades estruturais que se repetem sucessivamente ao longo da cadeia.
Um único mero é chamado de monômero. Lembrando, mero é uma unidade de repetição e o
monômero é uma molécula formada por uma única unidade de repetição.

9.1 Classificação Geral

Polímeros termoplásticos: polímero com a capacidade de amolecer e fluir quando sujeito a um


aumento de temperatura e pressão. Quando é retirado desse processo, o polímero solidifica em um
produto com forma definida. Novas aplicações de temperatura e pressão produzem o mesmo efeito
de amolecimento e fluxo. Essa alteração é uma transformação física, reversível. Quando o polímero é

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semicristalino, o amolecimento se dá com a fusão da fase cristalina. São fusíveis, solúveis e


recicláveis.

Polímeros termorrígidos: também chamados de termofixos, são polímeros que com o aquecimento
amolece uma vez, sofre o processo de cura, que é uma transformação química irreversível, tornando-

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se rígido. Posteriores aquecimentos não alteram mais seu estado físico. Após a cura, ele é infusível e
insolúvel.
Ex.

O termo cura é usado para designar a mudança das propriedades físicas de uma resina por
reação química, pela ação de um catalisador e/ou calor e uma agente de cura. A cura gera a

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formação de ligações cruzadas entre as cadeias poliméricas, formando uma rede tridimensional.
Antes da cura, o termorrígido é um polímero líquido ou em pó.

Elastômeros: polímero que à temperatura ambiente pode ser deformado repetidamente a pelo
menos duas vezes o seu comprimento original. Retirado o esforço, deve voltar rapidamente ao
tamanho original. O termo borracha, muitas vezes é utilizado para nomear os elastômeros. As
propriedades mecânicas de um elastômero são adquiridas após o processo de vulcanização.
Ex.

Vulcanização é um processo químico de fundamental importância às borrachas introduzindo


a elasticidade e melhorando a resistência mecânica. Esta se dá por meio da formação de ligações
cruzadas entre as cadeias. O enxofre é o principal agente de vulcanização.

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9.2 Classificação Física

A Figura 57 mostra esquematicamente as classificações físicas descritas a seguir.

Polímeros lineares: aqueles em que os meros estão unidos ponta-a-ponta em cadeias únicas. São
flexíveis, podendo existir grande quantidade de ligações de Van der Waals entre as cadeias.

Ramificado: possuem cadeias laterais que estão ligadas à cadeia principal por ligações covalentes.
As ramificações são formadas por reações durante a síntese. Reduz a compactação das
cadeias, o que diminui a densidade de polímero.

Polímeros com ligações cruzadas: as cadeias lineares adjacentes estão unidas umas as outras em
varias posições por ligações covalentes. A formação das ligações cruzadas é atingida por uma reação
química irreversível em alta temperatura (cura) através de átomos de aditivos ligados
covalentemente a cadeia. No caso das borrachas esse processo é chamado de vulcanização.

Polímero em rede: formados por monômeros trifuncionais formam redes tridimensionais.

Figura 57 – Classificação Física de Polímeros

9.3 Configuração Molecular

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A regularização e a simetria do arranjo do grupo lateral podem influenciar as propriedades.


Na maioria ocorre a configuração cabeça-cauda, pois ocorre repulsão polar entre os radicais.

Figura 58 – Tipos de encadeamento de meros

Isomerismo trata-se do posicionamento do grupo lateral na cadeia principal, podem ser do


tipo cis e do tipo trans.

Estereoisomerismo – quando os átomos estão ligados na mesma ordem (cabeça-cauda) mas com
diferente arranjo espacial, taticidade.
Taticidade é a regularidade espacial com que grupos lateriais são alocados na cadeia
polimérica. Podem ser divididos em isotático, sindiotático e atático, a Figura 59 apresenta
esquematicamente as classes.
Isotático: neste caso, todos os grupos laterais são dispostos de um mesmo lado do plano
definido pelos átomos da cadeia principal.
Sindiotático: os grupos laterais são dispostos de maneira alternada, ora para cima ora para
baixo, com relação ao plano da cadeia principal.
Atático: não há regularidade na disposição dos grupos laterais.

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Figura 59 – Taticidade em polímeros

9.4 Copolímero

Polímero onde a cadeia principal é composta por duas ou mais unidades de meros diferentes.
Podem estar dispostos de maneira aleatória, alternada, em bloco ou por enxerto, conforme
mostrado na Figura 60.

Figura 60 – Configuração de copolímeros

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9.5 Cristalinidade

A estrutura do estado sólido em polímeros consiste no modo como as cadeias moleculares


estão empacotadas, formando a massa sólida. Este pode ser desordenado, formando a fase amorfa,
ou ordenado, regular e repetitivo, definido a fase cristalina. Assim, a cristalinidade em polímeros
consiste no alinhamento de segmentos de cadeias em um arranjo tridimensional perfeito. A Figura
61 apresenta esquematicamente as regiões amorfas e cristalizadas em uma matriz polimérica.

Figura 61 – Esquema de cristalização de polímeros.

À medida que o grau de cristalinidade de um polímero aumenta, o módulo elástico, a


resistência ao escoamento e a dureza também aumentam.
A cristalinidade de uma dada massa polimérica é influenciada principalmente por três tipos
de fatores: estruturais, presença de uma segunda molécula, e das condições de processamento. Em
todos os casos, quando a influência é no sentido de aumentar a ordem ou regularidade espacial da
molécula e facilitar o empacotamento, tem-se um favorecimento para a formação de cristalitos e
consequentemente a cristalinidade.

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