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Índice
Nossos mandamentos 4
Quem é Alice? 8
O gênero epistolar 9
De um coração a outro 11
Perguntas dirigidas 14
Nossos mandamentos
II - Mantenha o foco
Para muitas de nós, é praticamente impossível fazer alguma atividade sem
que o celular esteja por perto e sem uma ou outra olhadinha em visita à web. No
entanto, permitir-se desnecessariamente tal dispersão é como deixar aberta a
torneira do tempo. Assim, se você não precisa realmente estar conectada, afaste-
se do telefone na hora da leitura. A maioria de nós já dispõe de pouco tempo livre
ao longo do dia, de modo que esbanjá-lo durante o momento reservado à leitura é
um atalho certo para não conseguir aproveitar toda a riqueza daqueles breves
instantes. Aquelas que usam o tablet, o celular ou o kindle para leitura podem
sugiro o uso de algum material de anotação para que essa mesma disposição
diante do livro seja obtida.
É claro, porém, que o objetivo de ter um lápis entre os dedos não é segurá-
lo simplesmente, como se fosse algum tipo de objeto mágico, mas usá-lo. Assim,
não tema ao fazê-lo: sublinhe o que achar importante, circule a palavra
desconhecida, assinale aquilo que vale uma pesquisa, faça setas naquilo que gera
insights, escreva notas sobre o que pensa a respeito etc. Tais sinais servirão como
guia para futuras consultas e ainda muito mais, como veremos a seguir.
VI - Escreva
Muitas vezes, durante a leitura, ocorrem-nos boas ideias, insights
interessantes, paráfrases importantes e nada mais frustrante do que pensar
determinada coisa que ilumina nossa inteligência para depois esquecê-la. Por isso
é bastante útil rascunhar esses pensamentos. Com o tempo eles também nos
servirão como uma espécie de retrato, registrando, ainda que imperfeitamente,
nosso estado cognitivo, intelectual e, às vezes, até emocional naquela ocasião.
Enfim, escrever, registrar nossos pensamentos, ajuda-nos a avaliar nosso
VII - Associe
Não tenha receio de achar que determinada passagem lembra alguma outra
coisa que você leu em algum outro lugar, ou que o que foi lido remete você a certa
lembrança. Estas são associações importantes e a sua identificação é muito útil,
pois são as referências que comporão a malha dos nossos conhecimentos. Nada é
inútil, nada é irrelevante: tudo, quando devidamente contextualizado e
hierarquizado, tem a sua utilidade e pode contribuir para a nossa formação.
VIII - Repita
Mortimer Adler, o grande expoente da educação liberal norte-americana,
dizia que os livros precisam ser lidos ao menos duas vezes a fim de serem
realmente compreendidos. Nem todas temos esse tempo, mas esta é, sem dúvida,
uma prática que contribui e muito para um melhor aproveitamento da obra e,
consequentemente, para o aprimoramento da nossa formação. Quem puder não
deve furtar-se à repetição.
IX – Medite
Você já reparou como pressa e meditação parecem ser coisas antagônicas?
E aqui me refiro à meditação no sentido de reflexão demorada a respeito, de
“ruminação” interior, que nada tem a ver com sentar em alguma posição
específica e ficar “esvaziando a mente”. Pelo contrário, a ideia aqui é justamente
encher a mente com os bons conteúdos lidos, refletir demoradamente sobre eles,
imaginar-se vivendo/pensando/dizendo aquilo que foi lido e deixando que criem
raízes em nós. Para isso é preciso tempo. Não necessariamente um tempo em que
precisemos ficar paradas, apenas pensando no assunto, mas um tempo em que
voltamos voluntariamente a nossa mente para ele, independente do que
estejamos fazendo. Sem a meditação, os aspectos mais profundos das leituras
costumam passar despercebidos, e os frutos que poderiam nos auxiliar a crescer
permanecem ocultos a nós.
Quem é Alice?
O gênero epistolar
“Se não posso nem sei respeitar o domínio e o tom de cada gênero literário,
por que saudar em mim um poeta? Por que a falsa modéstia de preferir a
ignorância ao estudo?
A um tema cômico repugna ser desenvolvido em versos trágicos; doutro lado,
o Jantar de Tiestes indigna-se de ser contado em composições caseiras,
dignas, por assim dizer, do soco. Guarde cada gênero o lugar que lhe coube e
que lhe assenta.
Assim, o que define o gênero epistolar não é tanto o conteúdo, mas mais a
forma com que ele é apresentado. Apesar das muitas variações ocorridas ao longo
da história, pouco importando se o destinatário era um indivíduo ou um grupo,
real ou fictício, o objetivo sempre foi abordar os mais diferentes assuntos em uma
linguagem o mais próxima possível da cotidiana, ainda que com grande limpidez
na exposição e grande perícia na técnica empregada.
No século XX o gênero praticamente desapareceu, sendo substituído pela
troca real de correspondência entre os autores, sem pretensão literária. Em
outras palavras, abandonou-se quase que por completo a obra literária sob a
forma epistolar. Felizmente, porém, “Conselhos a uma recém-casada” é uma
agradável exceção.
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De um coração a outro
Composta de 66 cartas que cobrem os dois primeiros anos de casamento de
Julie, Alice divide conosco seus conselhos neste diálogo entre madrinha e
afilhada. As palavras de Julie, suas cartas, não estão inclusas no livro, mas
aparecem apenas de modo indireto, sob a menção de Alice. Entretanto, o que
poderia se tornar um problema pela aparente fragmentação do diálogo, não
resulta em prejuízo algum, pois Alice sempre retoma o “fio da meada” das
questões trazidas por Julie, de modo que conseguimos vislumbrar e compreender
o todo dos assuntos abordados.
Tão variadas quanto as questões enfrentadas no matrimônio são os
assuntos das cartas, que passam pelos corriqueiros problemas de adaptação
entre os cônjuges, a influência de terceiros na união do casal, o trabalho, até o
propósito último do casamento e a geração de filhos. Em todas elas, porém, das
mais ordinárias às mais extraordinárias, Alice oferece a perspectiva certa, isto é,
a perspectiva da eternidade sobre a temporalidade. Em outras palavras, Alice é
capaz de mostrar à Julie, na prática dos desafios da vida a dois, aquilo a que nos
exorta o sábio Salomão: “reconhece-O em todos os teus caminhos e Ele
endireitará as tuas veredas”. Assim, num certo sentido, pode-se dizer que a
comunicação entre as duas mulheres se resume a um esforço para tentar
perceber, compreender e aprender com as “pistas” que Deus oferece no dia a dia
matrimonial para a nossa santificação e salvação, nossa e de nosso cônjuge.
Embora não seja psicóloga nem possua credenciais que a autorizariam
formalmente a estender os seus conselhos para outras pessoas além de sua
afilhada, Alice possui o certificado que neste caso realmente importa: um
casamento feliz e duradouro. Além disso, no entanto, Alice tem uma imensa e
dolorosa vantagem: ela redige suas cartas desde a completude de sua experiência
de casada, ou seja, enquanto viúva, e este é um difícil privilégio. Na viuvez não há
mais mudança, não há outra chance, não há correções. Tudo o que se tem é o
que está irreversivelmente consumado e esta condição derrama uma nova e
sóbria luz sobre o presente daqueles de quem o fio ainda não se partiu e que têm,
portanto, a possibilidade de mudar, de corrigir, de dar outra chance.
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Interioridade
As duas primeiras cartas já apontam para algo que, embora não seja
explicitamente mencionado, perpassará todas as demais: a ênfase na dimensão
interior do indivíduo (sua disposição espiritual, poderíamos dizer) e como ela
determina, em grande medida, o modo como vivemos a exterioridade.
Atenção
A necessidade de atenção, de cuidado, de um voltar-se atento, focado,
exclusivamente dedicado é outro aspecto enfatizado de diferentes modos em
várias cartas. É deste tipo de atenção que dependem os relacionamentos, tanto
com o nosso cônjuge, quanto com Deus.
Natureza humana
Por não sermos meros animais como as demais criaturas da natureza,
mesmo nossa dimensão instintiva se processa de maneira diversa, isto é, comer,
dormir, proteger-se e reproduzir-se são atividades que envolvem muito mais do
que apenas o nosso corpo: envolvem nossa alma. Assim, mesmo aí há dois modos
de proceder: um que nos aproxima das bestas e outro que nos aproxima dos
anjos.
Reverência
A irreverência como caminho para a intimidade é, na verdade, um atalho
para o desrespeito e para o desprezo. Já a reverência reconhece a nobreza no que
é reverenciado e enobrece aquele que reverencia.
Contexto
Saber discernir o contexto naquilo que é falado e naquilo que é vivido é
fundamental. A autoreferencialidade viciada, onde se é sempre o centro de tudo,
impede a correta compreensão do que o outro diz e também do que exigem as
situações. O resultado costuma ser desastre sobre desastre. Abrir-se, discernindo
o contexto, não só amplia a compreensão como reconcilia com a realidade.
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Questões dirigidas
2. Na terceira carta, a autora fala sobre as “ninharias”. Você concorda que não
existam coisas irrelevantes em um casamento? Por quê?
5. Num país como o nosso, onde a extroversão e as piadas são vistas como
virtudes em si mesmas, independente da ocasião, como resgatar ou
adquirir o senso de reverência?
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