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Ânsia Eterna

Gerência de produção editorial e gráfica

Caroline Mori Ferreira

Direitos autorais

Aldrey Barbosa

Edilza Leite

Edição

Monique Gonçalves

Assistência editorial

Mariane Cristina de Oliveira

Roteiro e ilustrações

Verônica Berta

Letras

Ana Parracho

Astigmatic One Eye Typographic Institute

Imagex Fonts
Paulo Cunha Jr.

Revisão

Jaqueline Kanashiro

Produção gráfica

Rafael Zemantauskas

Vanessa Lopes dos Santos

Diagramação

Globaltec Editora

© SESI-SP Editora, 2018

© Verônica Berta, 2018

SESI-SP Editora

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Gerência Executiva de Operações

Roberta Salles Mendes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Berta, Verônica

Ânsia eterna / Verônica Berta. -- São Paulo : SESI-SP Editora, 2018.

56 p. : il. -- (SESI-SP Quadrinhos)

ISBN 978-85-504-0748-7

1. História em quadrinhos I. Título. II. SESI-SP Quadrinhos.

CDD: 741.5

Índices para catálogo sistemático:

1. História em quadrinhos

Bibliotecária responsável: Enisete Malaquias CRB-8 5821


Ânsia Eterna

Verônica Berta

Baseado nos contos de Júlia Lopes de Almeida


Posfácio

Se você entrar no site dominiopublico.gov para procurar autoras literárias, vai


encontrar algumas poetisas e pouquíssimas romancistas. Estou falando de meia
dúzia de gata pingada, mesmo. E, se procurar no Google, você não encontra a
biografia da maioria delas.

Cito uma das VANTAGENS DE SER UMA ARTISTA MULHER, das Guerrilla
Girls:

“Ser incluída em versões revisadas da história da arte”.

Pois é, se você nunca tinha ouvido falar de Júlia Lopes de Almeida, é porque ela
é mais uma dessas autoras metade escondidas, metade recuperadas pela crítica
feminista.

Júlia teve grande importância na literatura brasileira e foi uma das idealizadoras
da Academia Brasileira de Letras... mas não pôde ser membro por ser mulher. O
veto à participação de mulheres na ABL acabou em 1977. Hoje, 5 das 40
cadeiras da Academia Brasileira de Letras são ocupadas por mulheres brancas.
Nenhuma delas é ocupada por pessoas negras.
Inclusive, poderíamos aproveitar para refletir também sobre como anda a cena
de quadrinhos no Brasil. Mas deixemos esse assunto para um outro momento.

Ao escrever os roteiros desta HQ, eu não pude deixar de pensar sobre a posição
social de Júlia em relação a suas personagens, já que a autora se propõe a
apresentar em sua obra o universo feminino e tudo que ela considerava
politicamente relevante dentro desse universo.

Estamos falando de uma pessoa branca e feminista nascida em 1862. Não


podemos ser anacrônicos, mas temos a responsabilidade de lembrar que, por
mais abolicionista que Júlia fosse, seu feminismo só podia ser branco. Seu
discurso provavelmente refletia a mentalidade de uma elite carioca abolicionista,
ainda no início de um processo de desconstrução da visão que os brancos tinham
dos negros.

Um trecho – claramente racista – do livro A Falência, da mesma autora, talvez


ilustre bem essa visão:

“...a história da Sancha: uma negrinha vinda aos sete anos da roça para a casa
das tias, com sentido no pão e no ensino. Era dos últimos rebentões dessa raça
que vai desaparecendo, como um bando de animais perseguidos.

E tudo dela repugnava a Ruth: a estupidez, a humildade, a cor, a forma, o cheiro;


mas percebera que também ali havia uma alma e sofrimento e, então, com
lágrimas nos olhos, perguntava a Deus, ao grande Pai misericordioso, por que a
criara, a ela, tão branca e tão bonita, e fizera com o mesmo sopro aquela carne de
trevas, aquele corpo feio da Sancha imunda? Que reparasse aquela injustiça
tremenda e alegrasse em felicidade perfeita o coração da negra.

– Sim, o coração dela deve ser da mesma cor que o meu, cismava Ruth, confusa,
com os olhos no altar.“

Esse sentimento de “tadinhos dos negros” não deixa de estar por trás da
construção das personagens Umbelina e a Caolha. É justamente nesse paradigma
que a Caolha se insere. A mulher cujo “aspecto infundia terror às crianças e
repulsão aos adultos” tem o cabelo crespo, “desses cabelos cujo contacto parece
dever ser áspero e espinhento”... mas é isenta de culpa ou maldade.

Enquanto roteirista e ilustradora eu estaria então reproduzindo essas ideias


racistas.

Depois de ter conversado rapidamente sobre isso com algumas pessoas, eu


acabei escolhendo não modificar as características físicas das personagens aqui
representadas, porque isso serviria apenas para “limpar a barra” da autora diante
de um público atual. E ler criticamente é muito mais produtivo.

Espero que eu tenha acertado na maior parte das minhas escolhas.


Este livro provavelmente não existiria se a minha família não apoiasse as
loucuras que eu invento pra minha vida. Acho que agradecer nunca será o
suficiente.

Laurent nem sabe, mas ele me deu coragem pra fazer um projeto pessoal. Deu no
que deu. E o produto final não seria nem um terço do que é sem Latorre, meu
mestre e companheiro de café da tarde. A pessoa mais envolvida, analisadora do
discurso, modelo vivo, cancionista e amante de bolo foi Matheus. Isa e Bebeto
me ouviram reclamar diariamente e me levaram pra passear de vez em quando
(ainda ouvem, ainda levam). Romão foi editor na época em que eu era apenas
uma artista incompreendida. Nami, Minari e Richard me ajudaram com o design
e com o moral. O capítulo Porcos não seria a mesma coisa sem a revisão do
Tainan e da Julia. Cida examinou o posfácio. Se não fosse a Mel e a terapia
cognitivo-comportamental esse quadrinho não ficaria pronto nunca na minha
vida.

Finalmente, queria agradecer todos os meus professores de arte e, em especial,


Florence Dupré La Tour, que nunca vai ler isso aqui mas devo minha paixão,
pelos quadrinhos às aulas dela.

Verônica Berta
Suspense, surpresa, grotesco e tragédia. Os elementos presentes em Ânsia Eterna
(1903) são transpostos por Verônica Berta como meio de se expressar em uma
organização da forma através das histórias em quadrinhos.

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