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CLÍNICA
DA
CRIANÇA
III
1 MÉTODO PSICANALÍTICO I
Org. Prof.º ME. Ozias Figueiredo Gomes
SUMÁRIO
1. …03
a. Jogos …………………………………………………………………………………. 14
h. Dramatização …………………………………………………………………………. 15
5. REFERÊNCIAS ……………………………………………………………………………... 17
Mesmo a adesão ao tratamento e sua eficácia são muitas vezes constatadas como inteiramente
dependentes do funcionamento psíquico parental, ocorrendo de a psicoterapia da criança ser
interrompida precocemente por decisão unilateral da família, decisão esta a respeito da qual por vezes
não se tem conhecimento da real motivação e questões subjacentes que a ocasionaram.
Assim, o estudo da relação que se dá entre os pais e a psicoterapia do filho pode ser
considerado importante para a compreensão dos motivos que acarretam tais fenômenos, para que se
possa, a partir disso, gerir formas de manejo das questões envolvidas.
Estima-se que de 10 a 20% das crianças brasileiras sofram de problemas psiquiátricos, entre as
quais uma parcela diminuta recebe atendimento especializado (Gastaud, Basso, Soares, Eizirik, &
Nunes, 2011).
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Deakin e Nunes (2009), e Nunes, Silvares, Marturano, e Oliveira (2009) abordam a
importância da realização de psicoterapia na infância com crianças que demandam tais serviços, na
prevenção do desenvolvimento posterior de desordens mentais ou mesmo do agravamento dos
sintomas.
Segundo aponta Rosemberg (1994), a partir das obras de Freud, autores fizeram suas próprias
leituras do método e da teoria psicanalítica, que deram origem ao desenvolvimento da compreensão da
relação dos pais com a psicanálise da criança sob diferentes perspectivas, afetando em muito o manejo
clínico.
Ao comentar a análise do pequeno Hans, realizada por Freud praticamente através do contato
exclusivo com o pai da criança, Mannoni (1987) aponta que a criança doente apresenta-se como o "...
suporte daquilo que os pais não podem enfrentar - o problema sexual" (p. 15), que se mostra presente
na relação dos pais de Hans, comprometendo seu relacionamento conjugal.
No entanto, no desconhecimento ante a experiência com crianças ainda imatura, Freud não
explorou essas questões ao lidar primeiramente apenas com aqueles pais da realidade, confiando até
mesmo o próprio tratamento do garoto a eles.
Quanto à postura em relação aos pais, se comparada ao proposto por Mannoni (1987), Klein
(1997) situava-se, em contrapartida, favorável à manutenção de um contato com os pais que se
restringisse ao mínimo essencial.
Para Klein (1997), o contato com os pais não deveria exceder a explicação básica sobre os
significados e efeitos da análise, bem como intervenções de caráter mais ativo seriam utilizadas apenas
quando a criança se encontrasse em risco real, ou seja, quando o ambiente cometesse para com ela
erros grosseiros.
A primazia dessa postura justificava-se, para a autora, por pressupor uma relação
ambivalente e delicada dos pais com relação à psicanálise da criança, com os quais o ideal seria
manter uma relação de cooperação e confiança.
Sua aposta no sucesso do tratamento estava depositada, muito mais, na capacidade da criança
de entrar em um processo analítico e se beneficiar dele, do que na implicação subjetiva dos pais neste
processo.
Para ela, se o desenvolvimento da análise depende das informações cedidas pelos pais,
devido a fortes e longos períodos de resistência, algo de errado pode estar ocorrendo com o
tratamento, comprometendo sua eficácia e a relação de sigilo com o paciente.
Interessado na
constituição da
subjetividade, Freud
(1905/1980)
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apresentou as fases psicossexuais do desenvolvimento infantil, além de reconhecer e dar sentido ao
sofrimento psíquico das crianças.
Apesar de considerar essa intervenção satisfatória, Freud afirmou que o método psicanalítico
não era adequado para ser aplicado em outras crianças, como evidencia Caron: “devido à
dependência e à própria idade delas, fatos que impedem o estabelecimento do enquadre apropriado,
necessário ao tratamento.
Melanie Klein (1923/1996), na busca da superação desses obstáculos, estruturou uma técnica
para a análise de crianças, sustentada pela relação transferencial, em que o brincar se apresentava em
seus aspectos simbólicos.
Segundo Petot (1979/1991), para psicanalisar seus pequenos pacientes, Klein realizava visitas
domiciliares em que utilizava os próprios brinquedos das crianças para acessar suas angústias,
fantasias inconscientes e mecanismos de defesa. Entretanto, essa proposta terapêutica
apresentou dificuldades, tanto pela interferência de pais, irmãos e demais participantes da cena
doméstica quanto pela descontinuidade do material produzido na análise, já que este não era
privativo àquela criança.
Nessa conjunção, Klein transfere os atendimentos para um lugar privado, em sua própria
residência, e organiza uma caixa com brinquedos simples e pequenos para cada criança, com o intuito
de preservar o setting analítico e buscar a menor interferência possível do entorno (pais, irmãos,
família extensa etc.).
Dava pouca atenção, porém, à condição de dependência da criança em relação aos seus
responsáveis: “A solução seria uma transposição quase direta do setting adulto para a criança, sendo
esta responsável por sua doença e tratamento” (Caron, 2014, p. 69).
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Ao tecer este breve panorama histórico, observamos como a criança foi ganhando
centralidade na cena social e, consequentemente, no cenário psicanalítico.
Esse aspecto se intensifica na contemporaneidade, uma vez que, com o isolamento das
famílias, há uma valorização nunca antes vista das crianças e o estabelecimento de um lugar muito
especial para elas.
Segundo Monti (2008), elas se tornaram as soberanas de suas famílias e ainda mais centrais no
plano social. Passaram a ser o ideal da cultura contemporânea, como se portassem a felicidade plena e
o prazer ilimitado.
Dessa forma, elas são muitas vezes direcionadas ao cargo de gerir a vida dos adultos e a tarefa
de desenvolver habilidades e autonomia, as quais ainda não têm capacidade física e psíquica para
alcançar.
Nos dias atuais, os pais não são mais os únicos guardiões das informações sobre sua prole;
também as detêm babás, professores, avós, médicos, juízes, analistas… Não há diferenciação clara
entre as funções, as informações e os espaços públicos e privados para as crianças.
Muitos trabalhos discutem o dilema vivenciado pelo analista quando convocado a responder a
demandas do entorno de seus pequenos analisandos, refletindo principalmente sobre o lugar dos pais
na análise de crianças (Coimbra, 2014; Lisondo, 2001; Petricciani, 2011; Rosemberg, 1994; entre
outros).
Nosso olhar recai tanto no entorno da criança como nos cuidados para a preservação do campo
privado da sala de análise, que pode
também, ocasionalmente, ocorrer na sala de
espera, no banheiro, no jardim, entre outros.
O risco reside no pólo da resistência do analista, que pode limitar o trabalho pela
formação de alianças inconscientes (Kaës, 2009) ou pactos denegativos (Kaës, 2004).
A psicanálise acontece através da experiência e de quem pode aprender com ela. É nesse
caminho que nos dedicamos a refletir sobre inúmeras vivências clínicas com a criança e seu entorno,
engajados na complexa e delicada tarefa que envolve a construção contínua de espaços em que o terror
advindo de dificuldades, invasões, rupturas, riscos, entre tantos outros, possa ser pensado e
transformado, desde que nos coloquemos disponíveis para o desenvolvimento contínuo da função
analítica.
O lugar do analista de crianças, portanto, não é um lugar fixo, mas um lugar em trânsito.
O movimento do analista nos espaços privado e público estabelece um elo de comunicação com
os estados mentais da criança e com os participantes do seu entorno.
Esses elos formam uma rede que sustenta tanto a instauração e a manutenção do trabalho
analítico com a criança quanto a qualidade da relação do entorno com o analista e com a criança.
A disponibilidade física e psíquica do analista, o uso de seu repertório onírico e lúdico e a
habilidade de se comunicar e transitar entre o privado e o público são condições sine qua non para
que o trabalho analítico com a infância seja tecido artesanalmente com os fios da função analítica,
num interjogo constante entre a realidade psíquica e a realidade externa.
Assim, fio a fio, o analista tecerá seu próprio lugar na análise de crianças. Seu olhar para os
desafios/buracos que surgem na sala de análise poderá, com o uso de sua função analítica, tecer uma
rede de sustentação e criar diversas possibilidades para a construção de uma clínica viva, que se mova
entre o privado e o público, a serviço do desenvolvimento de seu pequeno analisando.
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4 CAIXA LÚDICA
Quem realmente introduziu a caixa de brinquedos no setting foi Arminda Aberastury. Ela via
esse recurso como representação do mundo interno da criança e contingente de suas representações
inconscientes e relações objetais (Reghlin, 2008, p. 169).
Há psicoterapeutas, por exemplo, que utilizam uma caixa lúdica diferente para cada criança e
outros que trabalham com uma caixa em comum para todas elas.
A maioria das caixas lúdicas são feitas de papel, madeira ou plástico e, de uma forma geral, os
principais itens encontrados em seus interiores são:
2. Papel kraft,
3. Lápis,
4. Lápis de cor,
5. Aquarela,
6. Apontador,
7. Giz de cera,
8. Massinha,
9. Retalhos,
10. Perflex,
13. Barbante,
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14. Jogos (como damas, dominó, jogo do mico ou pega varetas),
Vale citar a preocupação que alguns têm em colocar ou não a borracha e a tesoura dentro das
caixas, isto é, a não borracha faz lidar com a frustração de um desenho falho e a não tesoura obriga a
utilização de outros meios para separar os objetos, por exemplo. “Klein sugere que os materiais sejam
pequenos, permitindo que a criança os manipule, ou seja, tenha controle sobre os mesmos, mas não tão
pequenos que possam colocar sua vida em risco.” (Trapiá et al., 2012, p. 239)
5 BIBLIOGRAFIA
1. SILVA, Julia Montazzolli; REIS, Maria Elizabeth Barreto Tavares dos. Psicoterapia
psicanalítica infantil: o lugar dos pais. Temas psicol., Ribeirão Preto , v. 25, n. 1, p.
235-250, mar. 2017 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2017000100
015&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 14 nov. 2023.
http://dx.doi.org/10.9788/TP2017.1-15Pt.
2. O lugar do analista de crianças Tecendo as tramas entre o espaço privado da clínica e
o público;Revista Brasileira de Psicanálise · Volume 51, n. 4, 55-70 · 2017
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