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Brazilian Journal of Health Review 23047

ISSN: 2595-6825

Resposta Inflamatória e Dimorfismo Sexual Perante uma Infecção

Inflammatory Response and Sexual Dimorphism to an Infection

DOI:10.34119/bjhrv4n5-384

Recebimento dos originais: 05/09/2021


Aceitação para publicação:26/10/2021

Luana Alves Lisboa


Acadêmica de Medicina da Faculdade Santo Agostinho
Instituição de atuação atual: Faculdade Santo Agostinho
Endereço :Avenida Olívia Flores, 200 – Candeias, Vitória da Conquista/BA. CEP:
45028-100
E-mail: luanaaalisboa@hotmail.com

Deborah Cruz dos Santos


Mestra em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal da Bahia. Doutoranda em
Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal da Bahia
Instituição de atuação atual: Faculdade Santo Agostinho
Endereço :Avenida Olívia Flores, 200 – Candeias, Vitória da Conquista/BA. CEP:
45028-100
E-mail: deborah.santos@vic.fasa.edu.br

Cristina da Costa Oliveira


Doutora em Fisiologia e Farmacologia pela Universidade Feral de Minas Gerais
Instituição de atuação atual: Faculdade Santo Agostinho
Endereço completo: Avenida Olívia Flores, 200 – Candeias, Vitória da Conquista/BA.
CEP: 45028-100
E-mail: cristina.oliveira@vic.fasa.edu.br

Ivan Gilson Silva Moura


Pós-graduado em Psiquiatria pela Facinepe.
Instituição de atuação atual: Faculdade Santo Agostinho
Endereço :Avenida Olívia Flores, 200 – Candeias, Vitória da Conquista/BA. CEP:
45028-100
E-mail: ivan.moura@vic.fasa.edu.br

Leonardo Pereira Bastos


Especialista em Saúde da Família com Ênfase nas Linhas de Cuidado pela Escola
Estadual de Saúde Pública. Mestrando em Saúde da Família pelo Centro Universitário
UNINOVAFAPI
Instituição de atuação atual: Faculdade Santo Agostinho
Endereço :Avenida Olívia Flores, 200 – Candeias, Vitória da Conquista/BA. CEP:
45028-100
E-mail: leonardo.bastos@vic.fasa.edu.br

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.5, p. 23047-23056 sep./oct. 2021
Brazilian Journal of Health Review 23048
ISSN: 2595-6825

Thais Oliveira Leite


Acadêmica de Medicina da Faculdade Santo Agostinho.
Instituição de atuação atual: Faculdade Santo Agostinho
Endereço :Avenida Olívia Flores, 200 – Candeias, Vitória da Conquista/BA. CEP:
45028-100
E-mail: thaisoleite@hotmail.com

RESUMO
Objetivo: Identificar as diferenças na resposta imunológica e inflamatória em homens e
mulheres diante de uma infeção. Métodos: Trata-se de um estudo de revisão sistemática
da literatura que utilizou como critério de inclusão artigos científicos publicados nas bases
de dados eletrônicas Cientific Eletronic Libray Online (SciELO), PubMed/Medline e
Bireme. Os descritores escolhidos foram “resposta inflamatória”, “dimorfismo sexual”,
“infecção”. Assim, 23 artigos entre 2017 a 2020 foram escolhidos. Para alcançar o
objetivo proposto, foi elaborada a seguinte questão de pesquisa: “Quais os riscos e
benefícios diante das diferenças nas respostas inflamatórias entre os sexos feminino e
masculino?”. Resultados: Observou-se relação do sexo com a via imunológica, então é
possível que os hormônios sexuais, principalmente o estrogênio, progesterona e
testosterona, possam agir na proteção ou exacerbação de uma resposta inflamatória. Além
disso, percebe-se influência dos cromossomos sexuais X e Y sobre a via inflamatória,
uma vez que o cromossomo X está relacionado com a proteção contra infecções e o Y
como fator de exacerbação. Considerações finais: Cabe enfatizar a atividade dos
hormônios sexuais e cromossomos sexuais, de modo que cada um deles possui ação
específica sobre o sistema imunológico humano.

Palavras-chave: Infecção, Inflamação, Hormônios Sexuais, Sistema Imunológico.

ABSTRACT
Objective: To identify differences in immune and inflammatory response in men and
women facing an infection. Methods: This is a systematic literature review study that
used scientific articles published in the electronic databases Cientific Electronic Libray
Online (SciELO), PubMed/Medline and Bireme as inclusion criteria. The descriptors
chosen were “inflammatory response”, “sexual dimorphism”, “infection”. Thus, 23
articles from 2017 to 2020 were chosen. To achieve the proposed objective, the following
research question was elaborated: “What are the risks and benefits in view of the
differences in inflammatory responses between females and males?”. Results: There was
a relationship between sex and the immune pathway, so it is possible that sex hormones,
especially estrogen, progesterone and testosterone, may act to protect or exacerbate an
inflammatory response. In addition, the influence of sex chromosomes X and Y on the
inflammatory pathway can be seen, since the X chromosome is related to protection
against infections and the Y as an exacerbation factor. Conclusion: It is worth
emphasizing the activity of sex hormones and sex chromosomes, so that each of them has
a specific action on the human immune system.

Key words: Infection, Inflammation, Sex Hormones, Immune System.

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1 INTRODUÇÃO
Desde os séculos passados, com o avanço do campo de pesquisas, alguns
estudiosos perceberam a importância da diferença entre as respostas inflamatórias entre
os sexos feminino e masculino diante de uma infecção. Sendo assim, trabalhos sobre o
assunto vem sendo desenvolvidos há muitos anos, como por exemplo Calzoari A (1898)
que, em 1898, já havia registrado a ligação entre hormônios sexuais e o sistema
imunológico.
A resposta inflamatória é dependente do sistema imunológico e formado por
diferentes células, tecidos e órgãos, o que garante a proteção do corpo humano contra
infecções. Nesse sistema, observa-se estruturas especializadas como o baço e os
linfonodos, essenciais para o funcionamento desse conjunto e para o reconhecimento de
substâncias invasoras (SHERPHERD R, et al., 2021).
Com isso, a resposta inflamatória causa diversos sintomas característicos, como
calor e rubor, em resposta à vasodilatação sofrida, edema decorrente do aumento da
permeabilidade vascular, dor ocasionada pelo aumento da pressão tissular e, em último
estágio, perda de função (NETEA MG, et al., 2020).
Por outro lado, a infecção significa a invasão de tecidos corporais por outros
organismos capazes de provocar doenças, o que ocasiona a reação dos tecidos do
hospedeiro aos invasores e às possíveis toxinas por eles produzidas (DEKKERS KF, et
al., 2019).
Nesse contexto, é possível perceber que, diante de uma infecção, haverá uma
resposta inflamatória pelo organismo hospedeiro (SHERPHERD R, et al., 2021). No
entanto, desconfia-se que existem diferenças na resposta infecciosa entre o sexo feminino
e masculino, pois, na maioria dos casos há maior acometimento infeccioso e
desenvolvimento de doenças em homens quando comparado a mulheres. Além disso,
sabe-se que, independentemente da idade, as mulheres possuem menores taxas de
mortalidade por câncer, doenças cardíacas, gripe ou pneumonia (JAILON S, et al., 2019).
Desse modo, o sistema imunológico e endócrino exibe diferenças significativas
em relação ao sexo, uma vez que o sistema imunológico interage com os hormônios
esteroides sexuais e, juntos, impactam na etiologia e patogenia de muitas doenças
infecciosas (DEKKERS KF, et al., 2019; NETEA MG, et al., 2020).
Ao citar os hormônios esteroides sexuais, cabe exemplificar os efeitos do estradiol
e da testosterona no organismo, pois atuam de modo oposto sobre as células do sistema
imunológico adaptativo e inato, sendo que o estradiol é principalmente intensificador e a

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testosterona, em grande parte, supressor desses sistemas (LINOWIECKA K, et al., 2019;


KASUBUCHI M, et al., 2017).
Paralelo a isso, percebe-se também certa influência dos cromossomos sexuais no
que diz respeito à expressão da resposta inflamatória, pois sabe-se que o cromossomo X
expressa genes relacionados nos processos imunológicos, enquanto o cromossomo Y,
presente exclusivamente no sexo masculino, codifica genes da via inflamatória
(KUZNETSONA T, et al., 2020; SCHUMACHER A, et al., 2017). Assim, reconhecendo
a importância do tema para a área médica, essa breve revisão de literatura tem como
objetivo identificar os fatores relacionados ao sexo que influenciam na expressão da
resposta inflamatória, além de demonstrar os riscos e benefícios decorrentes da diferença
gerada por tais fatores.

2 MÉTODOS
Esta é uma revisão integrativa de literatura, que visa o aprofundamento do
conhecimento sobre a relação dos hormônios sexuais masculinos e femininos diante de
uma infecção e, consequentemente, avaliar os riscos e benefícios envolvidos nesse
âmbito. Por meio do levantamento bibliográfico nas bases de dados eletrônicas Scientific
Eletronic Libray Online (SciELO), PubMed/Medline e Bireme, foram utilizadas palavras-
chave, incluídas nos Descritores em Ciências de Saúde (DeCS), “resposta inflamatória”,
“dimorfismo sexual”, “infecção”, para incluir e identificar os estudos utilizados nesta
revisão.
A busca dos artifos foi realizada no período entre agosto de 2020 e agosto de 2021
e considerou-se artigos científicos publicados e datados entre os anos de 2017 e 2020, no
entanto, uma obra citada é anterior a esse intervalo de tempo, como forma de comprovar
a longevidade histórica do estudo do tema. Os critérios de inclusão adotados para esse
estudo foram: artigos que abordavam sobre resposta inflamatória e dimorfismo sexual,
em português ou inglês. Como critérios de exclusão, considerou-se não utilizar artigos
com informações incompletas, artigos duplicados, bem como trabalhos fora do período
pré-estabelecido (artigos publicados nos últimos 4 anos) e irrelevantes para a pesquisa.
Para alcançar o objetivo proposto, foi elaborada a seguinte questão de pesquisa:
“Quais os riscos e benefícios diante das diferenças nas respostas inflamatórias entre o
sexo feminino e masculino?”.

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3 RESULTADOS
Dentre os 22 artigos selecionados, o Quadro 1 mostra o resultado do estudo de
10 artigos, de modo que todos relacionam a prevalência e mortalidade de doenças entre
os sexos feminino e masculino. O número de casos estudados variou de acordo com cada
estudo mas, em suma, o sexo masculino aparece com maior prevalência nas infecções por
COVID-19, Helicobacter pylori, Hepatite B, Apergillus fumigatu e Campylobacter
jejuni. Do mesmo modo, dentre os estudos que abordaram casos que necessitaram de
internação e nos casos com pior desfecho que das internações em Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) e consequente mortalidade, o sexo masculino predomina nos índices por
COVID-19 e sepse. Ainda, o sexo masculino apresenta resposta imunológica mais fraca
após vacinas contra o vírus trivalente da influenza e o vírus da hepatite B, quando
comparado com a resposta imunológica feminina.

Quadro 1 - Comparação do dimorfismo sexual no acometimento de algumas patologias.


Autores (Ano) Evento estudado Principais Resultados
A mortalidade e gravidade do COVID-19
Gravidade e mortalidade do COVID-19 na China,
KLEIN S, et al. (2020) são consistentemente mais baixas nas
Europa e Estados Unidos.
mulheres do que nos homens.
Na coorte de 1.099 pacientes hospitalizados
GUAN WJ, et al. (2020) Hospitalização por COVID-19 em Wuhan, China. por COVID-19 em Wuhan, China, apenas
42% dos pacientes eram mulheres.
As mulheres representavam apenas 18%
Admissão em Unidades de Terapia Intensiva (UTI)
GRASSELI G, et al. (2020) de todas as admissões na UTI por COVID-
por COVID-19 na região da Lombardia, Itália.
19.
Na cidade de Nova York, entre 5.700
RICHARDSON S, et al. Hospitalização e mortalidade por COVID-19 em pacientes hospitalizados, as mulheres
(2020) Nova York. representavam 33% dos casos e 39% das
mortes.
O sexo masculino foi associados à uma
Prevalência da infecção por Helicobacter pylori
IBRAHIM A, et al. (2017) maior prevalência de infecção por H.
entre os sexos em 244 estudos.
pylori tanto em crianças quanto em adultos.
As mulheres demonstraram taxas de
Prevalência da infecção pelo vírus da Hepatite B
SILVA RSC, et al. (2017) infecção reduzidas em comparação aos
em um município do interior do Acre.
homens.
Os homens apresentaram maior taxa de
JAILLON S, et al. (2019) Prevalência da infecção por Apergillus fumigatus. infecção quando comparados com o grupo
do sexo feminino.
Usando-se camundongos infectados,
VÁZQUEZ-MARTÍNEZ observou-se a colonização de
Dimorfismo sexual nas infecções bacterianas.
ER, et al. (2018) Campylobacter jejuni em 100% dos
machos contra 25% das fêmeas.
Os pacientes do sexo masculino com sepse
Associação do sexo em relação à mortalidade por tiveram uma taxa de mortalidade em 1
XU J, et al. (2019)
Sepse. ano mais alta, assim como a taxa de
mortalidade em 90 dias.
Mulheres exibem resposta imunológica
Resposta imunológica dependente do sexo em mais forte após algumas vacinas, incluindo
KOEKEN V, et al. (2020)
resposta a vacinas. o vírus trivalente da Influenza e o vírus da
Hepatite B.
Fonte: Lisboa LA, et al., 2021.

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4 DISCUSSÃO
Diante dos resultados expostos, o presente estudo reafirma a influência de alguns
fatores sobre a resposta imune do organismo humano. Sendo assim, o sexo é um dos
importantes fatores que interferem no sistema imunológico inato (SHERPHERD R, et al.,
2021). A atuação do sexo nesse aspecto se dá principalmente devido à ligação dos
hormônios sexuais com o sistema imune e com a forma com que a resposta inflamatória
vai se manifestar (DEKKERS KF, et al., 2019). Nesse sentido, os estudos evidenciam
que, de modo geral, o estrogênio, presente abundantemente nas mulheres, estimula o
sistema imunológico, enquanto a progesterona e a testosterona exercem principalmente
papel imunossupressor, deprimindo o sistema imunológico (KLEIN S, et al., 2020).
Nossos resultados apresentaram que a mortalidade e gravidade do COVID-19 são
consistentemente mais baixas nas mulheres do que nos homens. O sexo masculino foi
associado a uma maior prevalência de infecção por Helicobacterpylori tanto em crianças
quanto em adultos. Além disso, o sexo masculino apresentou maior risco de sepse em
homens do que em mulheres. Em um estudo com animais, a colonização de
Campylobacter jejuni foi também maior em machos do que em fêmeas. Dessa forma, é
válido explicitar que as ações da testosterona decorrem principalmente do seu efeito
depressor do sistema imune, que pode contribuir para uma resposta imunológica
“amortecida” à infecção e vacinação em homens, por exemplo (SHERPHERD R, et al.,
2021). Enquanto isso, o efeito geral do estrogênio parece depender de fatores como forma
do estrogênio, concentração (níveis fisiológicos X suprafisiológicos e níveis relacionados
com a gravidez), tipo de célula, sexo e as vias de sinalização do receptor. Isso porque
surge certa complexidade em associação com o meio hormonal variável feminino ao
longo do ciclo da vida, com pico de estrógeno sérico durante a fase ovulatória e pico de
progesterona sérica durante a fase lútea. Porém, de modo geral, os baixos níveis de
estrogênio fisiológico aumentam a capacidade pró-inflamatória de macrófagos e
monócitos humanos, enquanto os níveis de estrogênio suprafisiológicos observados no
final da gravidez, suprimem essa capacidade pró-inflamatória (SHAH NM, et al., 2019).
Em relação à gravidez, durante esse período, ocorrem mudanças hormonais
profundas e também imunológicas. A gonadotrofina coriônica (hCG), normalmente
indetectável em mulher não grávidas, é produzida inicialmente pelo concepto implantado
e, posteriormente, pela placenta (SCHUMACHER A, 2017). A progesterona e o estradiol,
produzidos pelo corpo lúteo do ovário em mulheres não grávidas, são produzidos em
níveis bastante elevados pela placenta no segundo e terceiro trimestre da gestação. Ainda,

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o estriol, um tipo de estrogênio produzido exclusivamente na gravidez, é sintetizado pela


unidade fetoplacentária (SHERPHERD R, et al., 2021). Com isso, de modo geral, o
sistema imunológico materno aumenta fatores inflamatórios à medida que a gravidez
progride. Desse modo, as adaptações imunológicas associadas à gravidez afetam a
imunidade e a autoimunidade maternas, de modo que mulheres grávidas são mais
susceptíveis a infecções graves por variados patógenos (SCHUMACHER A, 2017).
Outro ponto a ser observado é o efeito da progesterona sobre as células imunes
inatas, que pode divergir a depender da sua concentração. Assim, doses muito baixas de
progesterona parecem aumentar a atividade de interleucina-1 (IL-1), enquanto doses
muito altas parecem reduzir a atividade de IL-1 em monócitos. Dessa forma, os efeitos
supressores da progesterona da imunidade inata, que provavelmente influencia a resposta
à infecção, pode ser mais observada durante estados fisiológicos, incluindo a fase lútea
do ciclo menstrual ou gravidez (MA W-T, et al., 2019).
Além disso, é importante considerar o período da menopausa que corrobora os
dados descritos anteriormente, uma vez que nessa fase da vida da mulher, haverá cessação
da produção de estradiol nos ovários e a progesterona será sintetizada apenas a níveis
basais, da mesma forma que haverá uma elevação do Hormônio Folículo Estimulante
(FSH) e do Hormônio Luteinizante (LH). Portanto, a menopausa impacta diretamente o
sistema imune feminino, pois haverá redução das células protetoras como linfócitos (B,
T CD4+) e as mulheres, de certa forma, perdem sua “vantagem imunológica” após a
menopausa (KIM GW, et al., 2018).
Soma-se a isso, o papel dos cromossomos sexuais X e Y que enfatiza ainda mais
os resultados mostrados acima. Partindo do fato de que as mulheres carregam dois
cromossomos X (genótipo XX) no seu cariótipo e os homens apenas um cromossomo X
unido a um cromossomo Y (genótipo XY), percebe-se certa vantagem das mulheres ao
carregarem o cromossomo X em dobro, pois tal cromossomo está relacionado com a
expressão de genes importantes em processos imunológicos, como receptores de Toll-
like, receptores de citocinas, fatores regulatórios de transcrição e tradução, assim como
genes envolvidos na atividade das células de proteção imunológica T e B (DEKKERS
KF, et al., 2019). Ao mesmo tempo, o cromossomo Y, que é expresso exclusivamente em
homens, está implicado com a codificação de genes da via inflamatória, ou seja, além de
perderem a dupla proteção do cromossomo X, ainda carregam genes do cromossomo Y
que ativam de forma mais intensa a via inflamatória no organismo (SHERPHERD R, et
al., 2021).

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Ainda, levando em consideração o cenário atual dos últimos dois anos da COVID-
19, cabe enfatizar que os desfechos mais graves da doença estão associados a respostas
imunes inatas exageradas e, na maioria das vezes, tardias, o que inclui hipercitocinemia
e infiltração de células inflamatórias nos pulmões, observada na maioria dos pacientes do
sexo masculino. Conclui-se, portanto, que os pacientes não morrem necessariamente pela
replicação do vírus no organismo, mas das consequências da chamada “tempestade de
citocinas”, encontrada de forma exacerbada no organismo masculino (CHEN G, et al.,
2020).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há algum tipo de influência do sexo relacionado com a via imunológica. Em
consonância com o estudo, é possível que fatores como os hormônios sexuais, dentre eles
o estrogênio, possa ser fator protetor do organismo contra uma infecção no sexo feminino.
Enquanto isso, a progesterona e a testosterona parecem estar associadas a uma
exacerbação de tal infecção no organismo masculino. Além disso, percebe-se a influência
e a relação dos cromossomos sexuais X e Y com a resposta inflamatória, sendo o
cromossomo X implicado como fator protetor contra infecções e o cromossomo Y,
presente exclusivamente no sexo masculino, como fator de exacerbação da resposta
inflamatória. Assim, tal assunto é de suma importância na área médica pois, além de
promover avanço do conhecimento, pode auxiliar e direcionar o tratamento mais
agressivo ou não diante de algumas patologias, levando em consideração o sexo
acometido. Do mesmo modo, trata-se de uma grande evolução para o público feminino,
uma vez que, por muito tempo, a maioria das pesquisas eram voltadas para os homens,
havendo, portanto, maior desenvolvimento e avanços na área médica voltados apenas
para esse grupo da população mundial.

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