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Relatório Dialógico

Vânia Fátima
01 sessão 19/05/2023

Observações da sessão:
Tive uma impressão agradável da paciente, apesar de tudo ela é bem humorada, o que fez eu
me sentir à vontade durante a sessão. Senti um pesar muito grande pela história dela

Estagiária: .Oi, Vânia! como você está


Paciente: Estou indo, né!? A gente vai como dá
Estagiária: Antes de começarmos, gostaria de me apresentar e ler o Termo de
Consentimento. Prazer meu nome é Lívia, eu sou estagiária na clínica de psicologia da
Unieuro, estou sendo supervisionada por um Professor de psicologia, o seu caso é
compartilhado em supervisão para que eu possa ser melhor orientada. Esse espaço é seu e
espero que se sinta segura para compartilhar suas questões. Irei realizar a leitura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, se houver alguma dúvida, pode me interromper.

(Realizei a leitura do termo na íntegra )

Estagiária: Você tem dúvidas quanto ao Termo?


Vânia Não, tenho não
Estagiária: Eu preciso só do seu de acordo para poder assinar, posso assinar?
Vânia: Estou de acordo, Lívia!
Estagiária: Ok! Bom, agora podemos dar início… Me conte um pouco sobre você?
Vânia: Então.. Fui casada 12 anos, (casei com 15 anos), tive uma filha, o pai dela nos
abandonou quando ela tinha 7 meses

(Nessa hora meu áudio falhou e eu entendi “perdi uma filha quando ela tinha sete meses
e a interrompi)

Estagiária: Desculpe, o meu áudio está falhando! Perdeu uma filha com sete meses?
Vânia: Assim, o pai dela nos abandonou quando ela tinha sete meses. No início ele queria
levar ela com ele mas eu não deixei, porque filho é da mãe, né!? Filho é com a mãe. Depois
casei de novo, tive dois filhos, Weverton e Pedro, separei e continuei com meus filhos, não
quis deixar com o pai de novo. Agora os dois só ajudam com dinheiro e porque tive que ir na
justiça, agora você imagina, se eu deixo eles com os pais, não ia dar certo, filho é da mãe
mesmo.
Estagiária: Compreendi. E como era seu relacionamento com ele?
Vânia: Ah! No início era bom, depois ele passou a me deixar muito só, me traiu e foi embora
de casa e não nos falamos mais, se quer cuida dos filhos, mas pelo menos dá uma assistência
financeira, né, Lívia!?
Estagiária: Compreendi, Vania! E você tem algum relacionamento atualmente?
Vânia: Não, costumo dizer que estou procurando a tampa da minha panela (risos)
Estagiária: (Risos) E como está sendo essa procura?
Vânia: Complicado, né!? Ainda mais hoje em dia, você deve saber, ninguém presta, não,
minha filha (risos)
Estagiária: (Risos) Não é nada fácil se relacionar, né!?
Vânia: (Diz que sim com a cabeça) Pois é.
Estagiaria: Você já teve outros relacionamentos além do seu ex marido ?
Vânia: Sim, há um tempo atrás, me relacionei com uma pessoa, que também era um
TRASTE, Lívia… (risos)
Estagiária: (Risos) E como foi ?
Vânia: Trouxe para minha casa, ficou aqui um bom tempo, depois descobri que era um
babaca, descobri que ele tava comigo e com outra, que também é uma trouxa, Lívia. Aí ela
acolheu esse traste lá (risos) Aí botei esse pra fora também e agora to aqui, na procura.
Estagiária: (risos) Entendi!
Vânia: Aí, Lívia! Deixa eu falar logo sobre isso, porque está me sufocando
Estagiária: (Fiz um sinal positivo com a cabeça). Sim, sinta-se à vontade.
Vânia: Então, é sobre a situação do meu pai, né!? Tudo começou há um tempo atrás fui
visitar meu pai e vi que a situação que ele estava não era digna de ninguém viver, daí, tomei a
iniciativa de tirá-lo de lá, né!?
Estagiária: Entendi! E em quais situações ele vivia ?
Vânia: Ah… Sujo, não comia direito, não se cuidava, a casa era uma zona. Me comovi, achei
um absurdo aquilo, aí eu e meus irmãos, nos juntamos e tiramos ele de lá, ele veio morar na
minha casa e desde então, meus irmãos não me ajudam, não tenho suporte de ninguém, nem
financeiro e nem emocional, isso me deixa extremamente cansada, eu vivo para o meu pai, o
dia todo.
Estagiária:: Entendi! Há quanto tempo mais ou menos ele está na sua casa?
Vânia: Isso já tem cinco anos já. Noite passada ele mexeu na sonda, passou a noite toda
acordado, inquieto, e eu também, fico sem conseguir dormir de novo, passo a noite em claro,
no outro dia não tenho energia para cuidar dele.
Estagiária: Imagino que seja muito cansativo para você mesmo…
Vânia: E assim, meu pai tem uma situação bem difícil, amputou 3 dedos, fez angioplastia
Estagiária: Qual o diagnóstico que seu pai tem ?
Vânia: Não, ele era fumante, né!? Aí ficou muito ruim de saúde e teve que fazer diversos
procedimentos. E aí, meus irmãos trouxeram ele pra minha casa e não me dão nenhum tipo de
suporte, nem financeiro, sabe!? Por mais que eu ache errado que os próprios filhos deixem de
cuidar do pai, eu não estou pedindo para que eles levem ele para a casa deles, eu só preciso
de uma ajuda financeira, porque eu não tenho condições de bancar tudo. Aí eu preciso ficar
indo lá no CREAS, que não resolve nada.
Estagiária: E como é o andamento das coisas no CREAS!? porque sei que sempre tem muita
fila, demora muito
Vania: Bom, Lívia.. É essa enrolação que a gente sabe como é, uma enrolação horrível,
demora muito, o que me deixa ainda mais cansada, porque a gente sai daqui para ir lá e
ficamos o dia todo fora, aí já é mais um gasto, com uber, que de planaltina para lá sempre dá
uns 100,00 reais, chegamos cedo e saímos muito tarde, às vezes os motoristas não querem
entrar aqui na rua, tem que comprar comida lá, que não é barato… Sabe, Lívia!?
Estagiaria: Eu imagino, Vania! É muito difícil lidar com isso sozinha sem o apoio da
família, né?
Vânia: Nossa, Lívia! Demais, assim, eu fico muito cansada
Estagiária: Moram só você e ele ?
Vânia: Sim, eu moro em casa atrás da minha mãe, no mesmo terreno, sabe?! ela mora na
frente e eu atrás.
Estagiária: Ela te dá algum tipo de suporte ?
Vânia: Nenhum, Lívia! Olha, meus pais são separados, né!? Aí ela não ajuda em nada, é cada
um no seu espaço, eu também não costumo pedir nada para ela
Estagiária: Como se acostumou em não pedir nada para ela ?
Vânia: Ai, Lívia (olhou para os lados e sussurrou ) Sabe como é pai e mãe, né!?
Estagiária: Me explica um pouco de como é sua relação com ela?
Vânia: Uma pessoa muito difícil de lidar, muito bruta, ignorante. Aí é melhor que fique cada
uma no seu quadrado.
Estagiária: Compreendi! Com seu pai também é assim ?
Vânia: Ele também não foi um bom pai, né!? Mas não é justo e nem justificável que eu o
abandone por coisas que ele fez no passado, acho que isso não é digno de um filho fazer..
Estagiária: Você gostaria de estar cuidando do seu pai?
Vânia: Não nessas condições, de estar cuidando só,queria só que diminuíssem o peso sobre
mim. Só Deus sabe o porquê dele estar nessa situação, talvez um castigo mas Deus também
não se agradaria se eu o abandonasse ou fingisse que não estou vendo.
Estagiária: Você tem alguma religião, Vania?
Vânia: Sim, sou católica.
Estagiária: Praticante?
Vânia: Vou a missa de vez em quando
Estagiária: Entendi! Seu pai era presente na sua infância?
Vânia: Pouco, era muito ignorante também, grosso, ríspido a gente evitava estar com ele

(Esqueci de questionala sobre possíveis episódios em que o pai era ríspido e/ou
grosseiro)

Estagiária: Como você se sente agora cuidando dele nessa situação ?


Vânia: Sinto que estou cumprindo minha parte, de não abandoná-lo, sabe, Lívia?
Estagiária: Consigo imaginar, Vania! Não deve ser nada fácil dedicar seu tempo todo para
cuidar de outro e estar cada vez mais distante de cuidar de si mesma.
Vânia: Sim, Lívia..
Estagiária: Você não trabalha, certo ?
Vania: Isso, não trabalho
Estagiária: Com o que trabalhava ?
Vânia: Manicure! Nossa eu gostava muito, sou apaixonada por esse trabalho
Estagiária: Que legal! É um trabalho manual muito legal e muito rentável, né?
Vania: Sim! Eu fazia uma boa grana. Manicure não fica sem emprego, né!?
Estagiária: Faz quanto tempo que parou de atender?
Vânia: Tem uns 5 anos.
Estagiária: Parou para cuidar do seu pai?
Vânia: Sim, eu atendia aqui em casa, né!? tinha muita cliente
Estagiária: Gostaria de voltar a atender?
Vania: Sim, mas agora não daria, nem tão cedo, né!? Não consigo, Lívia, fico muito cansada.
Estagiária: Imagino! E o que mais você gostava de fazer ?
Vania: (Pausa longa) ah, não sei, sair, curtir um pouco a vida, tem tempo que não faço isso
Estagiária: O que te impede de fazer isso é a situação do seu pai?
Vania: Sim, porque se eu saio não tem ninguém para ficar com ele
Estagiária: Muita sobrecarga sobre você
Vania: Demais, me sinto cansada…
Estagiária: Olha, Vania… Estamos encaminhando nossa sessão para o fim, espero que você
tenha a oportunidade e interesse em dar continuidade. Te vejo na próxima sessão ? sexta-
feira, às 16:30 ?
Vânia: Tá bom, Lívia! Confirmado, no mesmo horário.
Estagiaria: Se precisar de alteração é só me avisar com antecedência, certo?
Vania: Sim! você também, se precisar alterar, qualquer horário estou em casa mesmo, não
tem problemas.
Estagiária: Certo, obrigada! Até semana que vem.
Vania: Obrigada, tchau!

A paciente precisou desmarcar as sessões, devido ao estado debilitante que o pai dela
estava no dia da segunda sessão e nas semanas seguintes, então, de acordo com o
supervisor responsável, foi tomada a decisão de arquivamento do caso da paciente.

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