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A MARCHA DO APRENDIZ

Nossa vida maçônica se traduz no constante desbastar da Pedra Bruta que


somos. Com certeza não é a transmissão de instruções, nem o cumprimento do
interstício que determinarão que já somos Pedras Cúbicas ou Polidas, homens retos e
perfeitos, mas sim a conscientização que ser Maçom é algo sério e superior que
naturalmente nos deve colocar a refletir se nossos pensamentos, ações, tomada de
decisões estão condizentes com o que a Maçonaria prega.
Por que quisemos ser Maçons? Porque sendo livres e de bons costumes e
estando nas trevas, ambicionávamos a luz. Foi quando então um amigo, que depois
reconhecemos como Ir.’. nos trouxe à Loja. Aí, nem nu nem vestidos, despojaram-nos
de todos os metais e fomos recebidos MAÇONS numa Loja Justa, Perfeita e Regular.
Conseguimos, então, adentrar ao Templo por três batidas, que representam as
três promessas de todos os tempos e de todas as crenças: Pedi e recebereis, Buscai e
achareis, Batei e abrir-se-vos-á.

Em seguida, depois de colocados entre CCol .‘., fizeram-nos praticar três viagens
- a primeira viagem: A infância e a Família; a segunda viagem: A juventude: e a terceira
viagem: A idade madura, representando as três fases ascendentes da vida humana e o
desenvolvimento prático do princípio de solidariedade. Significam também, que a
descoberta da verdade exige esforços repetidos.
Podemos notar que o número três é marcante no Grau de Aprendiz. Está
presente na Bateria, na Marcha e na Idade do Aprendiz. E portanto devemos estudá-lo
cuidadosamente as suas propriedades, sendo recomendado as obras de Pitágoras,
sempre com foco na razão. A razão, que vê e julga; a força, que retém e modera; e o
conselho, que esclarece e adverte: com esse tríplice patrocínio, disse Pitágoras, o ser
humano virtuoso vive em segurança sob o amparo da sabedoria e ali encontra a
felicidade.
Desde as mais antigas civilizações, o emprego dos números é muito frequente, e neste
ponto a História vem em nosso auxílio, mostrando-nos que todos os povos da
antiguidade fizeram uso emblemático e simbólico dos números e das fórmulas, em geral
do número e das medidas.
Podemos encontrar informações no livro “A ciência misteriosa dos Faraós” escrito
pôr um sábio francês de nome Abade Moreaux, que nos conta de um modo absoluto
provando à evidência que as dimensões, orientação e forma das Pirâmides obedeceram
a razões poderosíssimas, pois que ela encerram além de outras verdades
(provavelmente ainda não encontradas), a direção do Meridiano Terrestre, o valor entre
a circunferência e seu raio, a medida de peso racional (libras inglesas) etc. e, até a
distância aproximada da Terra ao Sol.
É assim que o Aprendiz Maçom será reconhecido por seus irmãos quando lhe for
perguntado onde foi recebido, ele responderá: em uma loja justa e perfeita. Esta
resposta está na ciência fundamental. A iniciação maçônica ensina que a loja onde o
homem foi recebido é a sua forma corporal, que é o Templo da sua inteligência. Esta
forma tendo em sua origem o número 3, que expressa especificamente os três
princípios fundamentais simples de qualquer corporação chamados enxofre, sal e
mercúrio, e portanto corpo do homem se origina como todos os outros corpos da

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natureza elementar. Estes três princípios se manifestam nas diferentes substâncias que
o compõem, e é com razão que se reconhece a presença do enxofre ou do fogo no
fluido chamado sangue; aquele do Princípio sal ou água salgada nas partes moles ou
insensíveis; e o do mercúrio ou terra nas partes sólidas ou obscuras. Neste sentido
estritamente verdadeiro 3 formam a loja do homem, isto é, o seu envelope material.
Este número e outros são onipresentes na Maçonaria. Diz-se também, por outro
lado, ao aprendiz maçom “não se esquecer de que para aperfeiçoar o seu conhecimento
é preciso consultar as Escrituras.” Pois quem quer que bebe da fonte que é a Escritura
pode compreender a verdadeira natureza do sagrado e seu simbolismo e, assim, entrar
na busca humana do desejo de descobrir a Verdade, eis aqui o propósito do aprendiz
maçom recém-iniciado.
A Ciência dos números tem no simbolismo de algumas civilizações, mesmo antes
de Pitágoras, um papel de destaque como na China, Índia e a Grécia.
O Simbolismo do Número 1 – (O Uno)
Suponhamos o UM abstrato, como sempre, mas independente, primário e total e
não como unidade-medida ou como princípios de contagem das quantidades
descontinuam de corpos separados e da mesma espécie. Então teremos uma ideia do
UM em todos os números, ou da centelha da Essência em cada corpo, se é que os
corpos são números como sustentou a escola pitagórica ou itálica.
Para facilitar os estudos dos números a Maçonaria faz uso de emblemas para
atrair a atenção sobre suas propriedades essenciais. Partindo do princípio de que a
unidade está em nós e não no meio exterior, seja impossível a sua representação, mas
a condensação do ideal do Justo, no Belo e no verdadeiro, expressa o mais valioso
talismã que um iniciado pode possuir.
Simbolismo do Número 2 – (Binário)
Ao aprendiz se ensina que o DOIS pode representar a dúvida, a insegurança de
afirmação ou negação. Há instruções que começam a simbolizar a dúvida pelo
raciocínio 2 + 2 = 4, ou 2 x 2 = 4, isto é, de como a soma pode ser igual ao produto,
embora uma e outra não sejam definidos como a mesma relação aritmética, ao que se
acresce o fato de potência, soma e produto se igualarem, quando o dois é parcela, fator,
base e expoente.
O Simbolismo do Número 3 – (Ternário)
A “constância do ternário”, desde as primeiras crenças e até na ciência, é
apontada pela TRIMURTI – CRIAÇÃO, DESTRUIÇÃO E CONSERVAÇÃO – ou
Brahma, Shiva e Vishnu, e do fato de Lavoisier, haver formulado a LEI DA
CONSERVAÇÃO DA MATÉRIA, cujo enunciado “NA NATUREZA NADA SE CRIA (um),
NADA SE PERDE (dois), TUDO SE TRANSFORMA (Três).
A instabilidade da divisão ou da diferença, aniquilada pelo acréscimo de uma
terceira unidade, faz com que, simbolicamente, o número se converta também em
unidade.
A nova unidade, porém, não é vaga, indeterminada na qual não houve
intervenção alguma, não uma unidade idêntica com o próprio número, como se dá com
a primitiva, é uma unidade que absorveu e eliminou a primitiva, verdadeira, definida e
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perfeita. Foi assim que se formou o número TRÊS, que se tornou a unidade da vida, do
que existe por si próprio, do que é perfeito.
O Triângulo lembra o ternário, a começar de suas relações com os três pontos
que chegam a constar tradicionalmente nas abreviaturas maçônicas e no fim das
assinaturas dos maçons, a lembrarem o AMOR (ou sabedoria), VONTADE e
INTELIGÊNCIA bem como os três pontos dos vértices do Delta.
Entende-se o Triângulo como o principal dos símbolos maçônicos, pôr várias
razões, quando tratamos das inscrições do Tetragrama hebraico, da letra “G” (gott ou
god) e do “Olho Que Tudo Vê” ao que se acresce o fato histórico e universal de se
encontrar o ternário ou uni ternário em quase todas as religiões dos povos que
constituíram civilizações. Esse triângulo é o emblema da Ciência que esclarece e há de
esclarecer cada vez mais os homens. O olho aberto representa sabedoria que observa
e que prevê. É o resultado da busca através do método científico. Sabedoria em sentido
amplo (sabedoria da vida, previsão embasada, conhecimento sólidos) e sabedoria
maçônica (conhecimento dos símbolos e ensinamentos e sua aplicação na vida prática.
No Bramanismo encontramos Brahma, Visnu, e Civa e Sat, Chit e Amanda, no
antigo Egito, Re (ou Râ-Deus-Sol, Sol no Zênite), Horo (filho, nascimento, nascer do
Sol) e Osíris (esposo, pai, sol), Íris, (esposa, mãe, lua), e Horos (filho), entre os antigos
Caldeus Luz, Fogo e Chama (Ulomo, Olosuro e Elium). Entre os cristãos, Pai, Filho e
Espírito Santo, na religião mosaica, Aquele que É, Foi e Será.
Das instruções de Aprendiz Maçom ainda constam: Presente, Passado e Futuro;
Nascer, Viver e Morrer, Juventude, Maturidade e Velhice. Pai Mãe e Filho. Além das
observações expostas, lembra-se que pela Geometria, se aprende que o Triângulo
constrói e compõe todos os polígonos e que pela Trigonometria, quanto aos triângulos
retângulo há relações binárias e opostas, denominada seno e cosseno, tangente e
cotangente, secante e cossecante, pelas quais se conseguem cálculos importantes,
inclusive de altura e distancias imensas.
Finalmente o triângulo é uma figura plana que representa as três dimensões
cumprimento, largura e altura.
Nas Lojas Maçônicas uma das mais profundas representações do Ternário, é o
Delta Sagrado, e ainda podemos encontrar em Loja os ternários; os três Grandes
Pilares – (Sabedoria, Força e Beleza), as três Grandes Luzes (o Venerável Mestre, o
Primeiro Vigilante e o Segundo Vigilante) e as três portas do Templo de Salomão.
O número três na Marcha do Aprendiz
Marcha é o ato ou efeito de marchar, caminhar.
“Segundo o dicionário Aurélio, marcha é: 1 Ato de marchar; 2 Caminho, jornada.
3 Andadura; 4 Modo de andar; 5 Posição da transmissão de um veículo que permite
regular a velocidade ou o tipo de andamento; 6 Cortejo, préstito; 7 Peça de música ou
toque próprio para regular o passo militar; 8 Ordem, seguimento, andamento; 9 em
marcha: em andamento, em funcionamento ou a caminho; 10 marcha a ré: o mesmo
que marcha atrás; 11 marcha atrás: posição da transmissão de um veículo que permite
recuar; 12 movimento para trás ou para uma posição anterior; 13 marcha à vante:
movimento de uma embarcação na direção da proa; 14 marcha forçada: a que se faz a

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toda a pressa e sem o descanso habitual; 15 Fazer marcha; percorrer a pé; 16 Pôr-se a
caminho ou ir embora; 17 Prosseguir, continuar; 18 Morrer; 19 Ser bem vindo; calhar
bem.”
Na maçonaria uma marcha específica é usada para cada grau e cada Rito
Maçônico possui igualmente a sua marcha específica. Portanto, a marcha varia em
alguns casos de acordo com o Rito.
Os Maçons executam a marcha, pois esta representa a forma de caminhar em
Loja em busca da Luz do conhecimento. No caso do Aprendiz, este só sabe dar três
passos em busca dessa Luz.
A origem desses três passos, ou seja, o por quê dos mesmos, nunca foi
explicado, nem há qualquer registro na história. Alguns escritores maçônicos
especulam, acreditando que os três passos se devem ao fato do lugar onde eram feitas
as cerimônias maçônicas (as Tabernas) ser muito pequeno.
Outra especulação também é feita em relação ao número três dos passos. Este
número não é exclusivo da Maçonaria. A Maçonaria o adotou para o Grau de Aprendiz,
pois este número é considerado sagrado ou mágico e sempre foi usado por quase todos
os povos da antiguidade.
“A marcha do aprendiz é feita em linha reta, pois, simbolicamente, se sair do
caminho reto, não saberá a ele retornar. Ela tem início quando o Obreiro ingressa no
Templo e, no Rito Escocês Antigo e Aceito, ela é rompida com o pé esquerdo, o mesmo
ocorrendo em relação aos Ritos Brasileiro e Schroeder.
Nos Ritos Moderno e Adonhiramita os passos são rompidos com o pé direito. A
cada passo dado, é formada um esquad.”. com a junção dos calc.’., e sempre à ordem.
Esta é a única exceção em que o obreiro ao caminhar, o faz estando à ordem. Em
outras oportunidades o Obreiro caminha normalmente pelo Templo sem estar à ordem.
Também muito se tentou justificar a forma correta de romper a marcha ou seja,
se com o pé esquerdo ou o direito. Uns alegando que deveria ser com o pé esquerdo,
pois este é o lado do coração, da emoção; outros, com o pé direito, pois era o lado da
razão. A cada passo dado com o sentimento da emoção, juntava-se outro, com a razão.
Assim, emoção e razão estariam sempre em equilíbrio. No entanto, tudo isso é apenas
especulação, sem nenhuma justificativa histórica.
Originariamente, nas Lojas Inglesas, os passos eram rompidos com o pé direito.
Mas essa forma de executar a marcha foi revelada aos profanos, e a Grande Loja de
Londres resolveu mudar para impedir o ingresso de profanos nas reuniões maçônicas.
Os Ritos Moderno e Adonhiramita, de origem francesa, preferiram continuar segundo a
origem inglesa.” Ir.”. Silva, Robson Rodrigues, Londrina, 2009.
Simbologia da Marcha do Aprendiz
Simboliza os estágios necessários de preparação e progresso visando o acesso à
luz e à compreensão de sua verdade. O avanço do p.’. d.’. acompanhado do imediato
avanço do p.’. e.’., em esquadria com o primeiro, simboliza o caráter especulativo-
operativo que deve assumir a busca da verdade e do auto aperfeiçoamento.
“O primeiro p.’. do ap.’. simboliza aquele estado de consciência que caracteriza o
iniciando e já o diferencia do profano: a consciência intuitiva da existência da luz; a

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consciência de ainda não a possuir, e finalmente, o desejo veemente de recebê-la.
Nesta interpretação, representa o desabrochar do primeiro atributo do espírito maçônico
- o espírito de busca. Representa, também, o primeiro estágio do progresso iniciático – o
progresso moral.
O segundo p.’. da mar.’. do Ap.’. simboliza a dedicação à causa, a perseverança
no trabalho aplicativo materializador de todo ideal acalentado em função do progresso
alcançado no estágio anterior: aperfeiçoamento na arte de manejar o cinzel da razão e o
maço da vontade.
Tais conquistas interiores condicionam o desabrochar do segundo atributo do espírito
maçônico - o espírito de luta. Representa, também, o desabrochar do segundo estágio
do progresso iniciático – o progresso intelectual.
O terceiro p.’. da mar.’. simboliza a consciência do ideal coletivo, a sua
identificação com o ideal iniciático de cada obreiro. É o desabrochar da sensibilidade
esotérica que descobre o sentido do eterno e do infinito, assim como os mistérios que
unem os maçons no seio da sublime instituição. É o desabrochar do terceiro atributo do
espírito maçônico - o espírito fraterno. Representa, também, o terceiro e decisivo
estágio do progresso maçônico – o progresso espiritual.”*¹
A alternância dos pp.’. d.’. e e.’. mostra, também, que o progresso maçônico se
efetiva através da constante associação entre os vários aspectos que representam o
auto aperfeiçoamento do iniciado. Mostra que deve haver um crescimento associado e
harmonizado entre: conhecimento e sentimento; busca da verdade e prática da virtude.

Concluímos que para podermos atingir a perfeição e podermos caminhar do


Ocidente para o Oriente devemos primeiramente ser iniciados, dando assim o primeiro
passo na busca do conhecimento.
Com base na simbologia maçônica da marcha na retidão do esquadro e no
trabalho perseverante possamos cada vez mais nos desbastar a fim de nos tornarmos
uma pedra polida, e que todo o símbolo, todo o rito (que são os símbolos em ação)
perdem o seu valor e não passam de “afetação” desde que deixam de ser respeitados
exatamente como deveriam ser.
E pelos compromissos assumidos na iniciação, o Maçom é lembrado de
que: “1 ) deve trabalhar incessantemente pela realização dos fins da Maçonaria; 2) deve
estudar, sem descanso, e com cuidado, todas as questões que agitam as sociedades
humanas, procurar sua solução pelas vias pacíficas, e propagar ao redor de si os
conhecimentos que tiver adquirido; e 3) deve ser bom, justo, digno dedicado, corajoso,
isento de orgulho e ambição, livre de todo preconceito e de toda servidão, pronto a
todos os sacrifícios pelo triunfo do Direito e da Verdade.”*²

Geraldo Calzá – MM - GODF

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*¹ Comentários ao Ritual de Aprendiz, Aslan, Nicola
*² Camargo, Alexandre Magno, O APRENDIZ NO RITO MODERNO, outubro, 2005.

Bibliografia
- Comentários ao Ritual de Aprendiz - Nicola Aslan, Ed. Maçônica – A Trolha
- Camargo, Alexandre Magno. O Aprendiz no Rito Moderno, 1ª edição, out 2005 Editora A Gazeta
Maçônica
- D’Elia Junior, Raymundo. Maçonaria: 100 instruções de aprendiz , São Paulo, Masdras, 2015.
- https://focoartereal.blogspot.com.br/2015/10/a-marcha-do-aprendiz.html (acesso em 29/09/16)
- http://fraternidadefarroupilha.org/artigos/marcha.htm(acesso em 29/09/2016)
- Ritual do Simbolismo de Aprendiz Maçom, 1ª edição, GLOMARON, 2002.
- http://www.revistauniversomaconico.com.br/simbologia/simbolismo-dos-numeros-1-2-e-3/
acessado em 18/10/2016
- Ritual do Grau de Aprendiz do R.E.A.A, edições do Gob. Silva, Robson Rodrigues, Ed A
Trolha, Londrina, 2009.

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