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UCDB Engenharia Civil Estruturas Pré Moldadas

A.2 Estabilidade global


Calcular os momentos fletores na base e no topo dos pilares, considerando os efeitos de primeira ordem e os
de segunda ordem globais pelo método do γz , para a estrutura da Fig. A.2

Fig. A.2 Esquema da estrutura e das ligações viga × pilar

Dados:
• distância entre eixos dos pilares ℓm = 15,0 m;
• seção transversal dos pilares de 0,4 m × 0,4 m;
• distância da fundação até o consolo hap = 6,50 m;
• ações (valores característicos): g = 13 kN/m, q = 7 kN/m e W = 80 kN;
• módulo de elasticidade do concreto Ec = 30 GPa.

Considerar:
• a ligação da viga nos pilares como articulação perfeita;
• desaprumo ( ad ) de 21,7 mm no topo dos pilares;
• ligações dos pilares na fundação perfeitamente rígidas (engastamento perfeito);
• três situações:
a) ações verticais permanentes e variáveis (G e Q);
b) ações verticais e ações laterais ( G , Q e W + desaprumo); e
c) ações verticais permanentes e ações laterais G e W (+ desaprumo).

Analisar:
• os efeitos da ligação do pilar com a fundação com uma rigidez Kf = 80 MNm (cada pilar);
• as diferenças em relação ao procedimento apresentado em Hogeslag (1990).

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A.2.1 Considerações iniciais


Ações que produzem momentos fletores de primeira ordem e tombamento da estrutura equivalente são as ações
laterais: vento ( W ) e o desaprumo. Em galpões, quando houver pontes rolantes, deve ser também prevista a
ação de frenagem.
Adota-se a situação extrema de todos os desaprumos serem na mesma direção. Uma avaliação mais realista
seria com uma redução que leve em conta a baixa probabilidade ocorrer desaprumos máximos em todos os
pilares na mesma direção.
A Fig. A.3 mostra o esquema da estrutura equivalente para a análise em questão.

Fig. A.3 Estrutura equivalente para a análise da estabilidade global

De forma simplificada, os coeficientes de combinações das ações são considerados com o valor de 1,4 para
todas as ações. Quando houver mais de uma ação variável, pode-se considerar uma das ações como principal
e as outras como secundárias, com coeficiente de ponderação reduzido.
Ações que produzem momentos fletores de 1ª ordem, mas não produzem tombamento na estrutura equivalente
são a carga permanente ( G ) e a carga variável ( Q ) das vigas.
Apenas os momentos fletores nos pilares são de interesse para esse exemplo e podem ser determinados de
forma expedita, com uma pequena aproximação, considerando, em função do carregamento e simetria, o
modelo da Fig. A.4a . Assim, tem-se:
a. O momento fletor no topo vale:
1,4 × (7 + 13) × 14,0 1,4 × (7 + 13) × 0,5
Mtopo = × 0,5 + × 0,5 = 101,5 kN. m
2 2

b. O momento fletor na base, igual à metade do momento aplicado no topo, vale:


Mbase = 50,7 kN. m

Na Fig. A.4b está mostrado o diagrama de momentos fletores de cálculo na estrutura, no qual apenas os valores
nos pilares que interessam nessa análise são fornecidos.

A.2.2 Considerando a ligação do pilar com a fundação perfeitamente rígida (engastamento)


a. Combinação de ações G e Q
Nesse caso, só ocorre M1d , pois essas ações não produzem tombamento na estrutura equivalente e, portanto,
não produzem efeito de segunda ordem global.

b. Combinação de ações G , Q e W + desaprumo


Na estrutura equivalente, tem-se:
• Força horizontal de cálculo
∑ Fhd = 1,4 × 80 = 112 kN
• Força vertical de cálculo
∑ Fvd = (1,4 × 13 + 1,4 × 7) × 15,0 × 2 = 840 kN

O momento de inércia da estrutura equivalente para esse caso é a soma das inércias de cada pilar:

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3 × 0,40 × 0, 403
EIeq = 3 Ip = = 6,4 × 10−3 m4
12

Levando em conta a redução da inércia de 0,4 (indicada para ligação viga × pilar articulada), têm-se:
EIeq,red = 0,4 EIeq = (0,4 × 30 × 106 ) × (6,4 × 10−3 ) = 76,8 × 103 kN. m2
M1d,t = 1,4 × 80 × 6,5 + 840 × 0,0217
M1d,t = 728 + 18 = 746 kN. m

Como se pode notar, o efeito do desaprumo é muito baixo nesse caso.


A flecha no topo da estrutura equivalente, calculada como viga em balanço sujeita a forças na sua extremidade
devidas à ação horizontal e à componente da força vertical produzida pelo desaprumo ad, vale:

Fig. A.4 Modelo simplificado e diagrama de momentos fletores na estrutura


a 2,17
Fhd h3a Fvd d h3a 112 × 6, 53 840 × × 6, 53
ha 650
a= + = + = 136,8 × 10−3 m = 136,8 mm
3 EIeq,red 3 EIeq,red 3 × 76,8 × 103 3 × 76,8 × 103

A primeira avaliação do momento de segunda ordem, calculada com a estrutura deslocada pelo momento de
primeira ordem, vale:
∆Md = Fvd a = 840 × 0,1368 = 114,9 kN. m

Com base nesses valores, tem-se:


1 1
γz = = = 1,182
∆Md 114,9
1− M 1 − 746
1d

Como γz é maior que 1,1 e menor que 1,3, pode-se considerar o efeito de segunda ordem utilizando esse
parâmetro. Como o seu valor está entre 1,1 e 1,2, multiplicam-se os esforços devidos aos momentos fletores
de primeira ordem por 0,95 γz , conforme a NBR 9062 (ABNT, 2017a). Portanto:
M1d,t = 0,95 × 1,182 × 746 = 838 kN. m

A Fig. A.5 mostra a superposição dos momentos fletores em cada um dos pilares. Essa superposição é feita
somando os momentos fletores de primeira ordem, que não produzem tombamento, com os momentos fletores
que produzem tombamento, já corrigidos, M1d,t. Observar que o momento M1d,t foi dividido por 3, que é o
número de pilares, resultando em 279 kN.m em cada um dos pilares.
Utilizando um software de análise estrutural que considera a não linearidade geométrica, os momentos fletores
na base dos pilares passariam de 228, 279 e 330 kNm, para os pilares da esquerda, central e da direita,
respectivamente, para 250, 292 e 350 kNm.
Como o γz foi multiplicado por 0,95, é de esperar que os momentos fletores fossem menores. Se for considerado
o valor integral de γz na correção, os momentos fletores na base dos pilares passariam para 243, 294 e 345
kNm, para os pilares da esquerda, central e da direita, respectivamente. Dessa forma, a comparação seria mais

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representativa e a diferença cálculo considerando a não linearidade geométrica mais precisa, feita com o
software de análise estrutural, seria de no máximo (pilar da esquerda) 7 kNm, o que corresponderia a
aproximadamente 3%.

Fig. A.5 Superposição de momentos fletores nos pilares

c. Ações G, W e desaprumo
Nesse caso, têm-se os seguintes resultados:
Fvd = (1,4 × 13) × 15,0 × 2 = 546 kNm
M1d,t = 1,4 × 80 × 6,5 (W) + 546 × 0,0217 ( desaprumo) = 740 kNm
a 2,17
Fhd h3a Fvd d h3a 112 × 6, 53 546 × × 6, 53
ha 650
a= + = + = 135,6 × 10−3 m = 135,6 mm
3 EIeq,red 3 EIeq,red 3 × 76,8 × 103 3 × 76,8 × 103
∆Md = Fvd a = 546 × 0,1356 = 74,0 kN. m
1 1
γz = = = 1,111
∆Md 74,0
1− 1−
M1d,t 740

M1d,t = 0,95 × 1,111 × 740 = 781 kN. m

Com base nesses resultados, pode-se determinar os momentos fletores nos pilares. Como é de esperar, os
efeitos de segunda ordem são menores e os momentos fletores nos pilares são menores que no caso anterior.
No entanto, essa combinação de ações pode ser crítica quando se considera no dimensionamento dos pilares a
força normal, o que está fora do objetivo desse exemplo.

A.2.3 Considerando as deformações das ligações dos pilares com a fundação


Essa análise é feita apenas para a combinação de ações G Q e W + desaprumo, por ser a situação em que os
efeitos de segunda ordem são maiores.
Nesse caso, a flecha na extremidade é afetada pela deformação da ligação dos pilares na base, conforme mostra
a Fig. A.6 , para a estrutura equivalente.

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Fig. A.6 Consideração da deformação da fundação


Assim, à deformação do pilar na estrutura equivalente considerada engastada na base, deve-se acrescentar o
deslocamento devido à deformação da ligação. Para o cálculo dessa parcela, determina-se a rotação na base
com:
M
θ=
Kf

em que Kf corresponde, na estrutura equivalente, à soma das rigidezes de cada ligação do pilar na fundação.
Assim, têm-se:
Kf = 3 × 80 = 240 MNm
M1d,t = 746 kNm

M1d,t 746
θ= = = 3,11 × 10−3 rad
Kf 240 × 103
af = hap θ = (6,5 × 103 ) × (3,11 × 10−3 ) = 20,2 mm

O efeito da deformação da fundação é somado ao efeito de G , Q e W + desaprumo, determinado no ΔMd ,


calculado na seção anterior:
∆Md = (∆Md )ant + 840 × 20,2 × 10−3 = 114,9 + 16,97 = 131,9 kN. m
1 1
γz = = = 1,215
∆Md 131,9
1− 1−
M1d,t 746

Como é de esperar, o efeito de segunda ordem é maior, amplificando os momentos fletores que produzem
tombamento na proporção de 1,182 para 1,215, para esse caso.
Os momentos fletores nos pilares podem ser determinados como no caso anterior. No entanto, deve-se destacar
que os momentos fletores que não produzem tombamento na estrutura não são os mesmos do caso anterior,
devido à deformação da ligação dos pilares na fundação.

A.2.4 Comparação com o procedimento apresentado em Hogeslag


Essa comparação é limitada à comparação dos coeficientes que multiplicam os momentos fletores que
produzem tombamento, para a combinação de ações G , Q e W + desaprumo.

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a. Para fundação indeformável


Empregando a redução de rigidez dos pilares conforme o procedimento proposto, tem-se:
EIeq,red = EIeq /3 = (30,0 × 106 × 6,4 × 10–3 )/3 = 64,0 × 10–3 kNm2

O valor da força Fe calculada considerando o comprimento de flambagem da Tab. 2.15 com dois vãos é de:
π2 EIeq π2 × 64 × 103
Fe = = = 5,84 MN
ℓ2e (1,6 × 6,5)2

Como a fundação é considerada indeformável ( Ff = ∞), tem-se:


1 1 1
= +
Fref Fe Ff

E, assim:
Fref = 5,84 MN

Portanto, o parâmetro β e o coeficiente γ valem:


Fref 5,84 × 103
β= = = 6,95
∑ Fvd 840
1 1
γz = = = 1,168
1 1
1− 1−
β 6,95

Esse valor pode ser comparado com o valor de 0,95 × 1,182 = 1,123 do coeficiente γz .

Com ligação deformável


Nesse caso, o valor de Ff vale:
K 3 × 80 × 103
Ff = = = 36,9 MN
ha 6,5

Portanto:
1 1 1 1 1
= + = +
Fref Fe Ff 5,84 36,9
∴ Fref = 5,04 MN

5,04 × 103
β= = 6,00
840
1 1
γz = = = 1,200
1 1
1− 1−
β 6,00

Nota: está sendo utilizada a recomendação da NBR 9062 (ABNT, 2017a), que indica a correção dos momentos
fletores de primeira ordem com γz para 1,20 ≤ γz ≤ 1,30. Caso fosse aplicada a NBR 6118 (ABNT, 2014a), a
correção seria feita com 0,95 × 1,214 = 1,152.

A.2.5 Análise dos resultados e considerações finais


O exemplo foi propositadamente desenvolvido para ser feito sem necessitar de softwares de análise estrutural
e com simplificações que podem não ser aceitáveis em projetos reais, uma vez que o objetivo principal é a
fixação dos conceitos.

Para fazer uma combinação de ações referente a esse assunto, recomenda-se ver a análise desenvolvida em
Marin (2009), voltada para edifícios múltiplos pavimentos, na qual se pode notar a importância de fazer as
várias combinações na análise da estabilidade global e no dimensionamento dos elementos estruturais.

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Nesse exemplo, o efeito da deformação da fundação não foi significativo. No entanto, a rigidez da ligação do
pilar na base varia bastante em função do tipo de fundação e das características do solo. Se a rigidez da ligação
for, por exemplo, 20% da empregada, o que não seria incomum, o valor do γz passaria de 1,214 para 1,365, o
que extrapolaria o seu campo de validade de processo aproximado.

Os efeitos de segunda ordem avaliados com o coeficiente γz com o procedimento apresentado em Hogeslag
(1990) são relativamente próximos, principalmente se levar o valor integral de γz. Cabe também registrar que
o coeficiente γz. é de entendimento mais fácil e não necessita do cálculo da força de flambagem, que pode
exigir um cálculo mais trabalhoso. Cabe registrar, conforme adiantado na seção 3.8, que a tendência é de
considerar a não linearidade geométrica de forma mais precisa diretamente nos softwares, o que tornaria
desnecessária a utilização desses processos aproximados.

Concreto pré-moldado: fundamentos e aplicações


Mounir Khalil El Debs
Oficina de Textos

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