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Aurora Philosophorum

Capítulo 01 – Sobre a Origem da Pedra Filosofal


Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus “Paracelso” von Hohenheim
Adão foi o primeiro inventor das artes, porque ele tinha conhecimento de todas as
coisas tanto depois da Queda quanto antes. Por isso, ele previu a destruição do mundo
pela água. Por essa razão, também, aconteceu que seus sucessores ergueram duas
tábuas de pedra, nas quais gravaram todas as artes naturais em caracteres hieroglíficos,
para que sua posteridade também se familiarizasse com essa predição, para que ela
pudesse ser levada em conta e para que fossem tomadas providências em tempos de
perigo. Posteriormente, Noé encontrou uma dessas tábuas sob o Monte Ararate, após o
Dilúvio. Nessa tábua estavam descritos os cursos do Firmamento superior e do globo
inferior, bem como dos planetas. Por fim, esse conhecimento universal foi dividido em
várias partes e diminuiu seu vigor e poder. Por meio dessa separação, um homem
tornava-se astrônomo, outro mago, outro məqūbbāl, e um quarto alquimista. Abraão, o
ferreiro vulcânico, um astrólogo e aritmético consumado, levou a arte de Canaã para o
Egito, de onde os egípcios alcançaram uma altura e uma dignidade tão grandes que essa
sabedoria foi derivada deles por outras nações.
O Patriarca Jacó pintou, por assim dizer, as ovelhas com várias cores; e isso foi
feito por magia, pois na teologia dos caldeus, hebreus, persas, e egípcios, eles
consideravam essas artes a mais alta filosofia, a ser aprendida por seus principais nobres
e sacerdotes. Assim foi na época de Moisés, quando tanto os sacerdotes quanto os
médicos eram escolhidos entre os magos — os sacerdotes para julgar o que estava
relacionado à saúde, especialmente no conhecimento da lepra.
Moisés, da mesma forma, foi instruído nas escolas egípcias, às custas e sob os
cuidados da filha do faraó, de modo que se destacou em toda a sabedoria e aprendizado
daquele povo. Assim também aconteceu com Daniel, que em sua juventude absorveu o
conhecimento dos caldeus, de modo que se tornou um məqūbbāl. Testemunhe suas
previsões divinas e sua exposição das palavras “Mənē, mənē, təqе̄l, p̄arsīn” (Daniel
5:25). Essas palavras podem ser entendidas pela arte profética e qabbālística. Essa arte
qabbālística era perfeitamente familiar a Moisés e aos profetas, e era constantemente
usada por eles. O Profeta Elias previu muitas coisas por meio de seus números
qabbālísticos.
Assim, os sábios da Antiguidade, por meio dessa arte natural e mística,
aprenderam a conhecer Deus corretamente. Eles se baseavam em Sua Lei e andavam
em Seus Mandamentos com grande firmeza. Também é evidente no Livro de Samuel
que os berelistas não seguiram a parte do Demônio, mas tornaram-se, por permissão
divina, participantes de visões e aparições verdadeiras, das quais trataremos mais
detalhadamente no Livro das Coisas Supracelestiais. Esse dom é concedido pelo Senhor
Deus aos sacerdotes que seguem os preceitos divinos.
Era costume entre os persas nunca admitir ninguém como rei a menos que fosse
um homem sábio, preeminente tanto na realidade quanto no nome. Isso fica claro pelo
nome habitual de seus reis, pois eles eram chamados de sábios. Assim eram os sábios
e magos persas que vieram do Oriente para ver o Senhor Jesus, chamados de
sacerdotes naturais. Os egípcios, também, tendo obtido essa magia e filosofia dos
caldeus e persas, desejavam que seus sacerdotes aprendessem a mesma sabedoria;
eles se tornaram tão frutíferos e bem-sucedidos nisso que todos os países vizinhos os
admiravam. Por essa razão, Hermes foi verdadeiramente chamado de “Trismegisto”,
porque era um rei, um sacerdote, um profeta, um mago, e um sofista das coisas naturais.
Outro foi Zoroastro.
Capítulo 02 – Sobre os Gregos e Egípcios
Quando um filho de Noé possuiu a terceira parte do mundo após o Dilúvio, essa
arte se espalhou pela Caldeia e pela Pérsia, e d’aí para o Egito. Tendo a arte sido
descoberta pelos gregos supersticiosos e idólatras, alguns deles, que eram mais sábios
do que os demais, procuraram os caldeus e os egípcios, para que pudessem extrair a
mesma sabedoria de suas escolas. Como, porém, o estudo teológico da Lei de Moisés
não os satisfazia, confiaram em seu próprio gênio peculiar e se afastaram do fundamento
correto desses segredos e artes naturais. Isso é evidente em suas concepções fabulosas
e em seus erros a respeito da Lei de Moisés.
Os egípcios tinham o costume de apresentar as tradições dessa sabedoria
extraordinária apenas em figuras enigmáticas e histórias e termos obscuros. Isso foi
posteriormente seguido por Homero com maravilhosa habilidade poética; e Pitágoras
também estava familiarizado com isso, visto que ele incluía em seus escritos muitas
coisas da Lei de Moisés e do Antigo Testamento. Da mesma forma, Hipócrates, Tales
de Mileto, Anaxágoras, Demócrito e outros não hesitaram em fixar suas mentes no
mesmo assunto.
No entanto, nenhum deles praticava a verdadeira astrologia, geometria,
aritmética, ou medicina, porque seu orgulho impedia isso, uma vez que não admitiam
discípulos pertencentes a outras nações que não a sua. Mesmo quando obtiveram algum
conhecimento dos caldeus e egípcios, eles se tornaram ainda mais arrogantes do que
eram antes por natureza e, sem qualquer hesitação, propuseram o assunto de forma
substancial, mas misturado com sutis ficções ou falsidades; e então tentaram elaborar
um certo tipo de filosofia que descendeu deles para os latinos. Estes, por sua vez, tendo
sido educados com ela, adornaram-na com suas próprias doutrinas, e por meio delas a
filosofia se espalhou pela Europa. Muitas academias foram fundadas para a propagação
de seus dogmas e regras, para que os jovens pudessem ser instruídos; esse sistema
floresce entre os alemães e outras nações até os dias atuais.
Capítulo 03 – Sobre as Escolas dos Egípcios
Os caldeus, persas e egípcios tinham todos o mesmo conhecimento dos segredos
da natureza e também a mesma religião. Apenas os nomes eram diferentes. Os caldeus
e os persas chamavam sua doutrina de sophía e magia; e os egípcios, por causa do
sacrifício, chamavam sua sabedoria de arte sacerdotal. A magia dos persas e a teologia
dos egípcios eram ensinadas nas escolas antigas.
Embora houvesse muitas escolas e homens eruditos na Arábia, na África e na
Grécia, como Abū Maʿshar, Abenzagel, Jābir, Rāzī, e ibn Sīnā, entre os árabes, e, entre,
os gregos, Macaonte, Podalírio, Pitágoras, Anaxágoras, Demócrito, Platão, Aristóteles,
e Rodiano, ainda assim havia opiniões diferentes entre eles quanto à sabedoria dos
egípcios em pontos dos quais eles próprios diferiam e, portanto, discordavam dela. Por
essa razão, Pitágoras não podia ser chamado de sábio, porque o sacerdócio e a
sabedoria egípcios não foram ensinados adequadamente, embora ele tenha recebido
deles muitos mistérios e arcanos; e o fato de Anaxágoras ter recebido muitos deles
também fica claro em suas discussões sobre o tema do Sol e a pedra que ele deixou
para trás após sua morte. No entanto, ele diferia dos egípcios em muitos aspectos. Nem
mesmo eles seriam chamados de sábios ou magos; seguindo Pitágoras, assumiram o
nome de “filósofos”, no entanto não reuniam mais do que alguns lampejos como sombras
da magia dos persas e egípcios.
Mas Moisés, Abraão, Salomão, Adão e os sábios que vieram do Oriente até o
Cristo eram verdadeiros magos, sofistas, e məqūbbālīm divinos. Dessa arte e sabedoria,
os gregos sabiam muito pouco ou nada; portanto, deixaremos essa sabedoria filosófica
dos gregos como mera especulação, totalmente distinta e separada de outras artes e
ciências verdadeiras.
Capítulo 04 – Sobre os Magos Caldeus, Persas, e Egípcios
Muitas pessoas têm se esforçado para investigar e fazer uso da magia secreta
desses sábios, mas isso ainda não foi feito. Muitos, até mesmo em nossa própria época,
exaltam Trithemius, outros Bacon e Agrippa, por causa da magia e da Qabbālā — duas
coisas aparentemente bem distintas — sem saber por que o fazem. A magia, de fato, é
uma arte e uma faculdade por meio da qual os corpos elementares, seus frutos,
propriedades, virtudes e operações ocultas são compreendidos. Mas a Qabbālā, por
meio de uma compreensão sutil das Escrituras, parece traçar o caminho a Deus para os
homens, para mostrar-lhes como podem agir com Ele e profetizar a partir d’Ele.
A Qabbālā está repleta de mistérios divinos, assim como a magia está repleta de
segredos naturais. Ela ensina e prediz a partir da natureza das coisas futuras, bem como
das coisas presentes, uma vez que sua operação consiste em conhecer a constituição
interna de todas as criaturas, tanto dos corpos celestes quanto dos terrestres: o que está
latente dentro delas, quais são suas virtudes ocultas, para que foram originalmente
projetadas, e com que propriedades são dotadas. Esses e outros assuntos semelhantes
são os laços com os quais as coisas celestiais estão ligadas às coisas da Terra, como
às vezes pode ser visto em sua operação até mesmo com os olhos do corpo. Tal
conjunção de influências celestiais, por meio da qual as virtudes celestiais agiam sobre
os corpos inferiores, era antigamente chamada pelos magos de “gamahea”, ou o
casamento dos poderes e propriedades celestiais com os corpos elementares. Daí
resultaram as excelentes misturas de todos os corpos, celestes e terrestres, a saber, do
Sol e dos planetas, assim como dos vegetais, minerais e animais.
O Diabo tentou, com toda a sua força e empenho, obscurecer essa luz; e não foi
totalmente frustrado em suas esperanças, pois privou toda a Grécia dela e, em seu lugar,
introduziu entre aquele povo especulações humanas e simples blasfêmias contra Deus
e contra Seu Filho. A magia, é verdade, teve sua origem no ternário divino e surgiu da
Trindade de Deus. Pois Deus marcou todas as Suas criaturas com esse ternário e gravou
Seu hieróglifo nelas com Seu próprio dedo. Nada na natureza das coisas pode ser
atribuído ou produzido que não possua essa maestria do ternário divino ou que não o
comprove visivelmente. A criatura nos ensina a entender e ver o próprio Criador, como
São Paulo testifica aos romanos (cf. Romanos 1:20).
Essa aliança do ternário divino, difundida por toda a substância das coisas, é
indissolúvel. Por meio dele, também, temos os segredos de toda a natureza dos quatro
elementos. Pois o ternário, com o quaternário mágico, produz um septenário perfeito,
dotado de muitos arcanos e demonstrado por coisas que são conhecidas. Quando o
quaternário repousa no ternário, então surge a Luz do Mundo no horizonte da eternidade,
e, com a ajuda de Deus, nos dá todo o vínculo. Aqui também nos referimos às virtudes
e operações de todas as criaturas, e ao seu uso, uma vez que elas estão estampadas e
marcadas com seus arcanos, signos, caracteres e figuras, de modo que dificilmente resta
nelas o menor ponto oculto que não se torne claro ao ser examinado. Então, quando o
quaternário e o ternário se elevam até o denário, é realizada sua retrogressão, ou
redução, à unidade. Aqui está compreendida toda a sabedoria oculta das coisas que
Deus tornou claramente manifestas aos homens, tanto por Sua Palavra quanto pelas
criaturas de Suas mãos, para que eles possam ter um verdadeiro conhecimento delas.
Isso ficará mais claro em outro lugar.
Capítulo 05 – Sobre a Substância Suprema das Coisas
Os magos, em sua sabedoria, afirmaram que todas as criaturas poderiam ser
levadas a uma substância unificada, substância essa que, segundo eles, poderia, por
meio de purificações e purgações, atingir um grau tão elevado de sutileza, natureza
divina e propriedade oculta, a ponto de produzir resultados maravilhosos. Pois eles
consideravam que, ao retornar à terra e por meio de uma separação mágica suprema,
uma certa substância perfeita surgiria, a qual, por meio de muitas preparações laboriosas
e prolongadas, seria exaltada e elevada acima da gama de substâncias vegetais para
minerais, acima de minerais para metálicas, e acima de substâncias metálicas perfeitas
para uma quintessência perpétua e divina, incluindo em si mesma a essência de todas
as criaturas celestes e terrestres.
Os árabes e os gregos, por meio dos caracteres ocultos e das descrições
hieroglíficas dos persas e dos egípcios, chegaram a mistérios secretos e obscuros.
Quando esses mistérios foram obtidos e parcialmente compreendidos, eles viram com
seus próprios olhos, no decorrer dos experimentos, muitos efeitos maravilhosos e
estranhos. Mas, como as operações supracelestiais estavam mais profundamente
ocultas do que sua capacidade podia penetrar, eles não chamaram isso de arcano
supracelestial, de acordo com a instituição dos magos, mas de arcano da Pedra Filosofal,
de acordo com o conselho e o julgamento de Pitágoras. Quem quer que tenha obtido
essa pedra a encobriu com várias figuras enigmáticas, semelhanças enganosas,
comparações e títulos fictícios, de modo que sua matéria pudesse permanecer oculta.
Portanto, muito pouco ou nenhum conhecimento sobre ela pode ser obtido por meio
deles.
Capítulo 06 – Sobre os Erros quanto à Descoberta e Conhecimento
Os filósofos prefixaram os nomes mais ocultos para a matéria da Pedra Filosofal,
com base em meras semelhanças. Arnold, observando isso, diz em seu “Rosarium
Philosophorum” que a maior dificuldade é descobrir o material dessa pedra; pois eles a
chamaram de vegetal, animal, e mineral, mas não de acordo com o sentido literal, que é
bem conhecido pelos homens sábios que tiveram experiência com os segredos divinos
e os milagres dessa mesma Pedra Filosofal. Por exemplo, a “Lunaria” de Raimundo Lúlio
pode ser citada.
Isso dá flores de virtudes admiráveis, familiares aos próprios filósofos; mas não
era a intenção desses filósofos que se pensasse que eles se referiam a qualquer
projeção sobre metais, ou que tais preparações deveriam ser feitas; a mente abstrusa
dos filósofos tinha outra intenção. Da mesma forma, eles chamaram sua matéria pelo
nome de martagon, ao qual aplicaram uma operação alquímica oculta, quando, apesar
desse nome, ele denota nada mais do que uma semelhança oculta. Além disso, um erro
não pequeno surgiu no líquido dos vegetais, com o qual muitos tentaram coagular o
mercúrio e, depois, convertê-lo em lua com águas fixadoras, pois supunham que aquele
que conseguisse coagulá-lo dessa maneira sem a ajuda de metais teria sucesso em se
tornar o principal mestre.
Agora, embora os líquidos de alguns vegetais façam isso, o resultado se deve
meramente à resina, à gordura e ao enxofre terroso que os compõem. Isso atrai para si
a umidade do mercúrio que sobe com a substância no processo de coagulação, mas
sem qualquer vantagem resultante. Tenho certeza de que nenhum súlfur espesso e
externo nos vegetais é adequado para uma projeção perfeita na alquimia, como alguns
descobriram a seu custo. Certas pessoas, é verdade, coagularam mercúrio com o suco
branco e leitoso do tithymal, por causa do calor intenso que existe nele, e chamaram
esse líquido de “Lac Virginis”; no entanto, essa é uma base falsa. O mesmo pode ser
afirmado em relação ao suco de celidônia, embora ele tenha uma cor como se fosse
dotado de ouro. Por isso, as pessoas tiveram uma ideia vã. Em um determinado
momento fixo, eles arrancavam esse vegetal, do qual procuravam uma alma ou
quintessência, da qual poderiam fazer uma tintura coagulante e transmutadora. Mas d’aí
não surgiu nada além de um erro tolo.
Capítulo 07 – Sobre os Erros dos que Buscam a Pedra em Vegetais
Alguns alquimistas espremeram o suco da celidônia, ferveram-no até ficar
espesso e o colocaram ao Sol, para que coagulasse em uma massa dura que, depois de
ser triturada em um pó preto fino, transformaria mercúrio em sol por projeção. Também
descobriram que isso era em vão. Outros misturaram sal amoníaco com esse pó; outros,
as fezes do vidro, supondo que assim chegariam ao resultado desejado. Por meio de
suas soluções, eles o colocaram em uma água amarela, de modo que o sal amoníaco
permitiu a entrada da tintura na substância do mercúrio. Mais uma vez, nada foi
conseguido. Há ainda alguns que, em vez das substâncias mencionadas acima, tomam
os sucos de persicaria, bufonaria, dracunculus, folhas de salgueiro, tithymal, cataputia,
flammula, e similares, e os fecham em um recipiente de vidro com mercúrio por alguns
dias, mantendo-os em cinzas. Dessa forma, o mercúrio é transformado em cinzas, mas
de forma enganosa e sem nenhum resultado.
Essas pessoas foram enganadas pelos rumores vãos dos vulgares, que dão a
entender que aquele que é capaz de coagular Mercúrio sem metais tem toda a maestria,
como dissemos antes. Muitos, também, extraíram sais, óleos e enxofres artificialmente
de vegetais, mas em vão. Desses sais, óleos e enxofres não se pode fazer nenhuma
coagulação de Mercúrio, projeção perfeita ou tintura. Mas quando os filósofos comparam
sua matéria a uma certa árvore dourada de sete ramos, eles querem dizer que tal matéria
inclui todos os sete metais em seu esperma, e que nela eles estão escondidos.
Por essa razão, eles chamaram sua matéria de vegetal, porque, como no caso
das árvores naturais, elas também produzem várias flores em seu tempo. Assim,
também, a matéria da Pedra Filosofal exibe as mais belas cores na produção de suas
flores. A comparação também é adequada, porque uma certa matéria surge da terra
filosófica, como se fosse uma moita de galhos e brotos: como uma esponja que cresce
na terra. Dizem, portanto, que o fruto de sua árvore tende para o Céu. Assim, então, eles
afirmam que tudo depende dos vegetais naturais, embora não quanto à sua matéria,
porque sua pedra contém em si um corpo, uma alma, e um espírito, como os vegetais.
Capítulo 08 – Sobre os que Buscam a Pedra em Animais
Por um nome baseado apenas em semelhanças, chamam essa matéria de “Lac
Virginis”, e o “Sangue Santo de Cor Rosada”, que, no entanto, serve apenas para os
profetas e filhos de Deus. Por isso, os sofistas concluíram que essa matéria filosófica
está no sangue dos animais ou do homem.
Algumas vezes, também, por se alimentarem de vegetais, outros a procuam em
cabelos, no sal da urina, no rebis; outros em ovos de galinha, no leite e no cálcio da
casca do ovo, com tudo isso pensam que poderiam fixar mercúrio. Alguns extraem sal
da urina fétida, supondo que essa fosse a matéria da Pedra Filosofal. Algumas pessoas,
por outro lado, consideram que as pequenas pedras encontradas no rebis são a matéria.
Outros maceram as membranas dos ovos em um lixivium afiado, com o qual também
misturam cascas de ovos calcinadas tão brancas quanto a neve. A esses atribuem o
arcano de fixação para a transmutação do mercúrio.
Outros, comparando a clara do ovo à prata e a gema ao ouro, escolheram-na
como matéria, misturando com ela sal comum, sal amoníaco, e tártaro queimado. Eles
os fecham em um recipiente de vidro e os purificam em um banho-maria até que a
substância branca se torne vermelha como o sangue. Essa substância, então, destilam
em um líquido muito ofensivo, totalmente inútil para o propósito que têm em vista. Outros
purificam a clara e a gema de ovos, a partir das quais é gerado um basilisco. Esse
basilisco é queimado até virar um pó vermelho intenso, e tentam tingir com ele, conforme
aprenderam com o tratado do Cardeal Gilbert.
Muitos maceram as galhas de boi, misturadas com sal comum, e as destilam em
um líquido, com o qual umedeceram os pós de cimento, supondo que, por meio dessa
maestria, tingiriam seus metais. Eles chamam isso de “uma parte com uma parte”, e d’aí
surge simplesmente nada. Outros tentam transmutar a tutia com a adição de sangue de
dragão e outras substâncias, e também transformar cobre e electrum em ouro.
Outros, de acordo com a “arte veneziana”, como eles a chamam, pegam vinte
animais parecidos com lagartos, mais ou menos, fecham-nos em um recipiente e os
deixam loucos de fome, de modo que eles possam devorar uns aos outros até que
apenas um deles sobreviva. Esse é então alimentado com limalha de cobre ou de
eletricidade. Eles supõem que esse animal, simplesmente pela digestão de seu
estômago, produzirá a transmutação desejada. Por fim, queimam esse animal até formar
um pó vermelho, que pensam ser ouro, mas estão enganados.
Outros, ainda, tendo queimado os peixes chamados “trutas”, às vezes, ao derretê-
los, encontram algum ouro neles; mas não há outra razão para isso além desta: esses
peixes, às vezes, em rios e córregos, encontram algumas pequenas escamas e faíscas
de ouro, que eles comem. No entanto, é raro encontrar tais charlatões, o que ocorre
principalmente nas cortes dos príncipes. A matéria dos filósofos não deve ser procurada
nos animais: isso eu anuncio a todos.
Ainda assim, é evidente que os filósofos chamavam sua Pedra Filosofal de animal,
porque em suas operações finais a virtude desse mais excelente mistério ardente faz
com que um líquido obscuro exsude gota a gota da matéria em seus vasos. Por isso,
eles previram que, nos Últimos Tempos, deveria vir um homem puríssimo sobre a Terra,
por meio do qual a Redenção Universal deveria ser realizada; e que esse homem deveria
enviar gotas sangrentas de cor vermelha, por meio das quais Ele deveria redimir o mundo
do pecado. Da mesma forma, segundo sua própria espécie, o sangue da Pedra Filosofal
liberta os metais leprosos de suas enfermidades e contágio. Com base nisso, portanto,
eles supõem que estavam justificados em dizer que sua Pedra Filosofal é animal. Com
relação a esse mistério, Mercurius falou o seguinte ao Rei Khālid:
“Esse mistério só é permitido aos profetas de Deus conhecer. Por isso, acontece
que essa Pedra Filosofal é chamada de animal, porque em seu sangue se esconde uma
alma. Da mesma forma, ela é composta de corpo, espírito, e alma. Pela mesma razão,
eles a chamaram de seu microcosmo, porque ela tem a semelhança de todas as coisas
do mundo, e por isso a chamaram de animal, assim como Platão chamou o grande
mundo de animal.”
Capítulo 09 – Sobre os que Buscam a Pedra em Minerais
A isso se somam os muitos homens ignorantes que supõem que a Pedra Filosofal
seja tripla e esteja escondida em um gênero triplo, a saber, vegetal, animal, e mineral.
Por isso, eles a procuraram nos minerais. Ora, isso está longe de ser a opinião dos
filósofos. Eles afirmam que sua pedra é uniformemente vegetal, animal, e mineral.
Observemos aqui que a natureza distribuiu sua semente mineral em vários tipos, como,
por exemplo, em súlfures, sais, bóraxes, nitratos, amoníacos, alúmenes, arsênicos,
atramentos, vitríolos, tutias, hematitas, orpimentas, realgares, magnésias, cinábrio,
antimônio, talco, cachimia, marcassitas, e assim por diante. Em todos eles, a natureza
ainda não alcançou nossa matéria, embora em algumas das espécies mencionadas ela
se mostre em um aspecto maravilhoso para a transmutação de metais imperfeitos que
devem ser levados à perfeição. De fato, a longa experiência e a prática com o fogo
mostram muitas e variadas permutações na matéria dos minerais, não apenas de uma
cor para outra, mas de uma essência para outra, e da imperfeição para a perfeição.
Embora a natureza tenha, por meio de minerais preparados, alcançado alguma
perfeição, os filósofos não admitem que a matéria da Pedra Filosofal proceda de
qualquer um dos minerais, embora digam que ela é universal.
Por isso, então, os sofistas aproveitam a ocasião para perseguir o próprio mercúrio
com vários tormentos, como sublimações, coagulações, águas mercuriais, aquafortis, e
coisas do gênero. Todas essas formas errôneas devem ser evitadas, juntamente a outras
preparações sofísticas de minerais e as purgações e fixações de espíritos e metais.
Portanto, todas as preparações da Pedra Filosofal, como as de Jābir, Alberto Magno, e
as demais, são sofísticas. Suas purgações, cimentações, sublimações, destilações,
retificações, circulações, putrefações, conjunções, soluções, ascensões, coagulações,
calcinações e incinerações são totalmente inúteis, tanto no tripé, no athanor, no forno
reverberatório, no forno de fusão, no accidioneum, no esterco, nas cinzas, ou na areia
quanto em qualquer outro lugar; e também na cucurbita, no pelicano, na retorta, na
ampola, no fixador, e no resto.
Temos a mesma opinião sobre a sublimação do mercúrio por espíritos minerais,
para o branco e para o vermelho, como por vitríolo, salitre, alúmen, crocus, etc., a
respeito de todos os assuntos que aquele sofista, John de Rupescissa, romanceia em
seu tratado sobre a Pedra Filosófica branca e vermelha. Em sua totalidade, esses são
apenas sonhos enganosos. Evite-se também os sofismas específicos de Jābir; por
exemplo, suas sete sublimações ou mortificações, e também as revivificações de
mercúrio, com suas preparações de sais de urina ou sais feitos por um sepulcro, todas
as quais não são confiáveis. Alguns outros tentaram fixar mercúrio com os súlfures de
minerais e metais, mas foram muito enganados. É verdade que vimos o mercúrio, por
meio dessa arte e de tais fixações, ser transformado em um corpo metálico que se
assemelhava e falsificava a boa prata em todos os aspectos; mas, quando testado, isso
se mostrou falso.
Capítulo 10 – Sobre os que Buscam a Pedra e Partículas em Minerais
Alguns sofistas tentaram extrair um óleo fixo de Mercúrio sete vezes sublimado e
outras tantas dissolvido por meio de aquafortis. Dessa forma, eles tentaram levar metais
imperfeitos à perfeição, mas foram obrigados a desistir de seu esforço vão.
Alguns purificaram o vitríolo sete vezes por meio de calcinação, solução, e
coagulação, com a adição de duas partes de sal amoníaco, e por sublimação, de modo
que ele pudesse ser dissolvido em uma água branca, à qual adicionaram uma terceira
parte de mercúrio, para que pudesse ser coagulado pela água. Depois disso, sublimaram
o mercúrio várias vezes a partir do vitríolo e do sal amoníaco, de modo que ele se tornou
uma pedra. Eles afirmaram que essa pedra, concebida a partir do vitríolo, é o súlfur
vermelho dos filósofos, com o qual, por meio de soluções e coagulações, fizeram algum
progresso na obtenção da Pedra Filosofal; mas, na projeção, tudo deu em nada.
Outros coagularam mercúrio com água de alúmen em uma massa dura como o
próprio alúmen; e isso eles fixaram infrutiferamente com águas fixadoras. Os sofistas
propõem a si mesmos muitas maneiras de fixar o mercúrio, mas sem nenhum propósito,
pois nada perfeito ou constante pode ser obtido. Portanto, é em vão adicionar minerais
a ele por meio de processos sofísticos, uma vez que por todos eles ele é estimulado a
uma maior malícia, torna-se mais vivo e é levado a uma maior impureza do que a
qualquer tipo de perfeição. Portanto, a matéria dos filósofos não deve ser buscada lá.
Mercúrio é um tanto imperfeito; e levá-lo à perfeição será muito difícil, ou melhor,
impossível para qualquer sofista. Não há nada nele que possa ser agitado ou forçado à
perfeição. Alguns tomaram arsênico várias vezes sublimado e frequentemente dissolvido
com óleo de tártaro e coagulado. Eles fingiram fixar esse arsênico e, com ele, transformar
o cobre em prata. Isso, no entanto, é apenas um branqueamento sofístico, pois o
arsênico não pode ser fixado a menos que o operador seja um artista e conheça bem
seu espírito tingidor.
De fato, nesse aspecto, todos os filósofos falharam, tentando em vão realizar
qualquer coisa. Portanto, quem quer que seja ignorante com relação a esse espírito não
pode ter nenhuma esperança de fixá-lo ou de dar-lhe o poder que o tornaria capaz da
virtude da transmutação. Assim, aviso a todos que o branqueamento do qual acabei de
falar está fundamentado em uma base falsa e que, por meio dele, o cobre é
enganosamente branqueado, mas não transformado.
Os sofistas misturaram essa vênus falsa com o dobro do seu peso de lua e a
venderam aos ourives e mestres da casa da moeda, até que finalmente se
transformaram em falsos cunhadores de moedas — não apenas os que venderam, mas
também os que compraram. Alguns sofistas, em vez de arsênico branco, usam arsênico
vermelho, e isso se tornou uma arte falsa, porque, seja qual for a forma como é
preparado, ele não passa de brancura.
Mais, alguns foram além e lidaram com o súlfur comum, que, por ser tão amarelo,
era fervido em vinagre, lixívia ou nos vinhos mais fortes, por um dia e uma noite, até ficar
branco. Em seguida, sublimavam-no com sal comum e calda de ovos, repetindo o
processo várias vezes; ainda assim, embora branco, ele sempre era combustível. No
entanto, com isso, eles tentaram fixar o mercúrio e transformá-lo em ouro, mas em vão.
No entanto, d’aí vem o cinábrio mais excelente e belo que já vi. Eles propõem fixá-lo com
o óleo de súlfur por meio de cimentação e fixação. Isso, de fato, dá uma certa aparência,
mas ainda não atinge o objetivo desejado.
Outros reduziram o súlfur comum à forma de um hepar, fervendo-o em vinagre
com a adição de óleo de linhaça ou azeite de oliva. Em seguida, despejam-no em um
almofariz de mármore e o transformam na forma de hepar, que primeiro destilam em um
óleo citrino com fogo brando. Mas eles descobriram, para seu prejuízo, que não
conseguiam fazer nada para transmutar lua em sol, como supunham ser capazes.
Assim como existe um número infinito de metais, também há muita variedade na
preparação deles; não faremos mais menção a eles neste lugar, pois cada um deles
exigiria um tratado especial. Deve-se ter cuidado também com os óleos sofisticados de
vitríolo e antimônio. Da mesma forma, estar atento aos óleos dos metais, perfeitos ou
imperfeitos, como sol ou lua; porque, embora a operação deles seja muito potente na
natureza das coisas, ainda assim o verdadeiro processo é conhecido, mesmo nos dias
de hoje, por pouquíssimas pessoas. Deve-se abster também das preparações sofísticas
de mercúrio comum, arsênico, súlfur, e similares, por sublimação, descensão, fixação
por vinagre, salitre, tártaro, vitríolo, sal amoníaco, de acordo com as fórmulas prescritas
nos livros dos sofistas. Da mesma forma, evitar as tinturas sofisticadas tiradas de
marcassitas e açafrão de marte, e também aquela sofisticação chamada de “uma parte
com uma parte”, de lua fixa e ninharias semelhantes. Embora tenham alguma aparência
superficial de verdade, como a fixação da lua por meio de pouco trabalho e indústria,
ainda assim o progresso da preparação é inútil e fraco.
Por isso, movidos pela compaixão para com os operadores bem-intencionados
dessa arte, decidimos abrir toda a base da filosofia em três arcanos separados, a saber,
em um explicado pelo arsênico, em um segundo pelo vitríolo, e em um terceiro pelo
antimônio; por meio dos quais ensinarei a verdadeira projeção sobre mercúrio e sobre
os metais imperfeitos.
Capítulo 11 – Sobre o Verdadeiro e Especial Arcano do Arsênico
Algumas pessoas escreveram que o arsênico é composto de mercúrio e súlfur,
outras de terra e água; mas a maioria dos escritores diz que ele é da natureza do súlfur.
Mas, seja como for, sua natureza é tal que ele transmuta o cobre vermelho em branco.
Ele também pode ser levado a um estado de preparação tão perfeito que seja capaz de
tingir. Mas isso não é feito da maneira apontada por maus sofistas como Jābir em
“Summa Perfectionis”, Alberto Magno, Aristóteles, o químico, no “Livro da Maestria
Perfeita”, Rāzī, e Polidoro; pois esses escritores, por mais numerosos que sejam, ou
estão em erro ou escrevem falsamente por pura inveja, e apresentam receitas sem
ignorar a verdade.
O arsênico contém em si três espíritos naturais. O primeiro é volátil, combustível,
corrosivo e penetra em todos os metais. Esse espírito embranquece vênus e, após
alguns dias, torna-a esponjosa. Mas esse artifício se refere apenas àqueles que praticam
a arte cáustica. O segundo espírito é cristalino e doce. O terceiro é um espírito matizante
separado dos outros mencionados anteriormente. Os verdadeiros filósofos buscam
essas três propriedades naturais no arsênico com o objetivo de obter a projeção perfeita
dos sábios. Mas os barbeiros que praticam cirurgia buscam aquela natureza doce e
cristalina separada do espírito tingidor para uso na cura de feridas, bubões, carbúnculos,
antraz e outras úlceras semelhantes que não são curáveis a não ser por meios suaves.
Quanto a esse espírito tingido, entretanto, a menos que o puro seja separado do
impuro, o fixo do volátil e a tintura secreta do combustível, ele não terá sucesso de forma
alguma, de acordo com o seu desejo de projeção em mercúrio, vênus, ou qualquer outro
metal imperfeito. Todos os filósofos ocultaram esse arcano como um excelente mistério.
Esse espírito tingido, separado dos outros dois como descrito acima, deve ser unido ao
espírito da lua, e digerido em conjunto por um período de trinta e dois dias, ou até que
eles tenham assumido um novo corpo. Depois de, no quadragésimo dia natural, ter sido
aceso em chamas pelo calor do Sol, o espírito aparece em uma brancura brilhante e é
dotado de um arcano tingido perfeito. Então, finalmente, ele está apto para projeção, ou
seja, uma parte dele sobre dezesseis partes de um corpo imperfeito, de acordo com a
nitidez da preparação. D’aí surge a lua brilhante e excelente, como se tivesse sido
extraída das entranhas da Terra.
Capítulo 12 – Instrução Geral sobre o Arcano do Vitríolo
O vitríolo é um mineral muito nobre entre os demais, e sempre foi tido em alta
estima pelos filósofos, porque o Deus Altíssimo o adornou com dons maravilhosos. Eles
ocultaram seu arcano em figuras enigmáticas como as seguintes: “Visita interiorem
Terræ rectificando invenies occultum lapidem”. Por “Terra” eles entendiam o próprio
vitríolo; e por “interior da Terra” sua doçura e vermelhidão, porque na parte oculta do
vitríolo está escondido um suco sutil, nobre e muito perfumado, e um óleo puro
O método de sua produção não deve ser abordado por calcinação ou destilação,
pois ele não deve ser privado de sua cor verde por nenhum motivo. Se isso acontecesse,
ele perderia ao mesmo tempo seu arcano e seu poder. De fato, deve-se observar neste
ponto que os minerais, bem como os vegetais e outras coisas semelhantes que
apresentam cor verde no exterior, contêm em si um óleo vermelho como o sangue, que
é seu arcano. Portanto, está claro que as destilações dos farmacêuticos são inúteis, vãs,
tolas e sem valor, porque essas pessoas não sabem como extrair a vermelhidão
semelhante ao sangue dos vegetais.
A própria natureza é sábia e transforma todas as águas dos vegetais em uma cor
de limão e, depois disso, em um óleo que é muito vermelho como o sangue. A razão pela
qual isso acontece tão lentamente é a pressa excessiva dos operadores ignorantes que
a destilam, o que faz com que o verde seja consumido. Eles não aprenderam a fortalecer
a natureza com seus próprios poderes, que é o modo pelo qual essa nobre cor verde
deve ser retificada em vermelho por si mesma. Um exemplo disso é o vinho branco se
digerindo em uma cor de limão; e, com o passar do tempo, a cor verde da uva é
transformada por si mesma no vermelho que está por trás do coágulo. Portanto, se o
verde dos vegetais e minerais for perdido pela incapacidade dos operadores, a essência
e o espírito do óleo e do bálsamo, que é o mais nobre entre os arcanos, também
perecerão.
Capítulo 13 – Instrução Especial sobre o Arcano do Vitríolo
O vitríolo contém em si muitas imperfeições lamacentas e viscosas. Portanto, seu
verde deve ser frequentemente extraído com água e retificado até que elimine todas as
impurezas da Terra. Quando todas essas retificações estiverem concluídas, tome
cuidado, acima de tudo, para que a matéria não seja exposta ao Sol, pois isso
empalidece seu verde e, ao mesmo tempo, absorve o arcano. Mantenha-a coberta em
um fogão quente para que nenhuma poeira a contamine. Depois disso, deixe-a ser
digerida em um recipiente de vidro fechado por vários meses ou até que apareçam cores
diferentes e vermelhidão profunda. Ainda assim, não se deve supor que, com esse
processo, a vermelhidão esteja suficientemente fixada.
Além disso, ela deve ser purificada das impurezas internas e acidentais da terra,
da seguinte maneira: deve ser retificada com acetum até que a impureza da Terra seja
completamente removida e os resíduos sejam retirados. Essa é agora a verdadeira e
melhor retificação de sua tintura, da qual o óleo abençoado deve ser extraído. A partir
dessa tintura, que é cuidadosamente colocada em um recipiente de vidro, com um
alambique posteriormente colocado sobre ele e com uma cuba para que nenhum espírito
possa escapar, o espírito desse óleo deve ser extraído por destilação em fogo brando e
lento. Esse óleo é muito mais agradável e doce do que qualquer bálsamo aromático dos
boticários, sendo totalmente isento de qualquer acidez. No fundo da cucurbitácea, haverá
uma terra muito branca, brilhante e reluzente como a neve. Ela deve ser mantida e
protegida de toda poeira. Essa mesma terra está completamente separada de sua
vermelhidão.
Segue-se o maior arcano, ou seja, o casamento supracelestial da alma,
consumadamente preparado e lavado pelo sangue do cordeiro, com seu próprio corpo
esplêndido, brilhante e purificado. Esse é o verdadeiro casamento supracelestial pelo
qual a vida é prolongada até o último e predestinado dia. Dessa forma, portanto, a alma
e o espírito do vitríolo, que são seu sangue, unem-se ao seu corpo purificado, para que
sejam inseparáveis por toda a eternidade.
Pegue, portanto, essa nossa terra foliada em um frasco de vidro. Despeje nela
gradualmente seu próprio óleo. O corpo receberá e abraçará sua alma, uma vez que o
corpo é afetado por um desejo extremo pela alma, e a alma fica perfeitamente satisfeita
com o abraço do corpo. Coloque essa conjunção em uma fornalha de arcanos e
mantenha-a lá por quarenta dias. Quando esses dias tiverem expirado, haverá um óleo
absoluto de perfeição maravilhosa, no qual mercúrio e qualquer outro metal imperfeito
serão transformados em ouro.
Capítulo 14 – Sobre os Segredos e Arcanos do Antimônio
O antimônio é o verdadeiro banho de ouro. Os filósofos o chamam de examinador
e de stilanx. Os poetas dizem que, nesse banho, Vulcano lavou Febo e o purificou de
toda sujeira e imperfeição. É produzido a partir do mais puro e nobre mercúrio e súlfur,
sob o gênero de vitríolo, em forma metálica e brilho. Alguns filósofos o chamam de
chumbo branco dos sábios, ou simplesmente chumbo.
Assim, pegue a quantidade que quiser de antimônio, o melhor de sua espécie.
Dissolva-o em sua própria aquafortis e jogue-o em água fria, acrescentando um pouco
do açafrão de marte, para que ele possa afundar no fundo do recipiente como um
sedimento, pois, caso contrário, ele não se desprende de suas borras. Depois de ter sido
dissolvido dessa maneira, ele terá adquirido uma beleza suprema. Coloque-o em um
recipiente de vidro, bem preso por todos os lados com uma alaúde bem grossa, ou então
em uma bacia de pedra, e misture com ele um pouco de tutia calcinada, sublimada até
o grau perfeito de fogo. Deve-se tomar cuidado para que ela não se liquefaça, pois com
muito calor ela quebra o vidro. Com uma libra desse antimônio é feita uma sublimação,
aperfeiçoada por um espaço de dois dias. Coloque essa substância sublimada em uma
ampola, de modo que ela possa tocar a água com sua terceira parte, em um recipiente
com alça, para que o espírito não escape. Suspenda-a sobre o tripé de arcanos e que o
trabalho seja iniciado inicialmente com um fogo lento igual ao calor do Sol no meio do
verão. Depois, no décimo dia, aumente gradualmente o fogo. Com o calor excessivo, os
recipientes de vidro se quebram e, às vezes, até mesmo a fornalha se despedaça.
Enquanto o vapor está subindo, aparecem cores diferentes. Deixe o fogo ser moderado
até que se veja uma matéria vermelha. Em seguida, dissolva em acetum muito forte e
jogue fora os resíduos. Extraia o acetum e dissolva novamente em água destilada
comum. Isso deve ser novamente extraído, e o sedimento deve ser destilado com fogo
muito forte em um recipiente de vidro bem fechado.
Todo o corpo do antimônio subirá como um óleo muito vermelho, como a cor de
um rubi, e fluirá para o recipiente, gota a gota, com um odor muito perfumado e um sabor
muito doce. Esse é o arcano supremo dos filósofos no antimônio, que eles consideram
o mais elevado entre os arcanos dos óleos. Então, por fim, que o óleo de sol seja feito
da seguinte maneira: pegue do sol mais puro o quanto quiser e dissolva-o em espírito de
vinho retificado. Retire o espírito várias vezes e, em um número igual de vezes, deixe-o
ser dissolvido novamente. Mantenha a última solução com o espírito de vinho a circular
por um mês. Depois disso, destile o ouro volátil e o espírito do vinho três ou quatro vezes
por meio de um alambique, de modo que ele possa fluir para o receptor e ser levado à
sua essência suprema. Para quinze gramas desse ouro dissolvido, adicione trinta
gramas do óleo de antimônio. Esse óleo o envolve no calor do banho, de modo que não
o solta facilmente, mesmo que o espírito do vinho seja extraído. Dessa forma, terá o
supremo mistério e arcano da natureza, ao qual dificilmente se pode atribuir algo igual
na natureza das coisas.
Deixe esses dois óleos combinados serem fechados juntos em um frasco da
maneira descrita, pendurados em um tripé por um mês filosófico e aquecidos com um
fogo muito suave; embora, se o fogo for regulado em proporção extrema, essa operação
seja concluída em trinta e um dias e levada à perfeição. Com isso, mercúrio e quaisquer
outros metais imperfeitos adquirem a perfeição do ouro.
Capítulo 15 – Sobre a Projetação pelo Mistério e Arcano do Antimônio
Nenhum peso exato pode ser atribuído a esse trabalho de projeção, embora a
tintura em si possa ser extraída de um determinado objeto, em uma proporção definida
e com aparelhos adequados. Por exemplo, a medicina tinge às vezes trinta, quarenta,
ocasionalmente até sessenta, oitenta ou cem partes do metal imperfeito. Assim, então,
todo o negócio depende principalmente da purificação do medicamento e do trabalho do
operador, e, em seguida, da maior ou menor limpeza e pureza do corpo imperfeito em
questão.
Por exemplo, uma vênus é mais pura do que outra e, portanto, não é possível
especificar um peso fixo na projeção. Só isso já é digno de nota, pois se o operador tiver
tomado uma quantidade excessiva da tintura, ele poderá corrigir esse erro adicionando
mais do metal imperfeito. Porém, se houver uma quantidade excessiva do objeto, de
modo que os poderes da tintura sejam enfraquecidos, esse erro é facilmente corrigido
por um cineritium, por cimentações ou por abluções em antimônio bruto. Não há nada
nesse estágio que precise atrasar o operador; que ele apenas coloque diante de si um
fato que tem sido ignorado pelos filósofos, e por alguns estudiosamente velado, a saber,
que nas projeções deve haver uma revivificação, ou seja, uma animação de corpos
imperfeitos — não, por assim dizer, uma espiritualização; a respeito da qual alguns
disseram que seus metais não são comuns, pois eles vivem e têm uma alma.

A Produção da Animação
Pegue de vênus, forjada em pequenas placas, a quantidade que desejar, dez,
vinte ou quarenta libras. Deixe que elas sejam incrustadas com um pulso feito de
arsênico e tártaro calcinado e calcinado em seu próprio recipiente por vinte e quatro
horas. Em seguida, deixe vênus ser pulverizada, lavada, e completamente purificada. A
calcinação com ablução deve ser repetida três ou quatro vezes. Dessa forma, ela é
purgada e purificada de seu verde espesso e de seu próprio enxofre impuro.
É preciso ficar atento às calcinações feitas com súlfur comum. Pois tudo o que é
bom no metal é estragado por ele, e o que é ruim se torna pior. Para dez marcas dessa
vênus purgada, adicione-se uma de lua pura. Mas, para que o trabalho da Mmdicina
possa ser acelerado pela projeção e penetrar mais facilmente no corpo imperfeito e
expulsar todas as porções que se opõem à natureza da lua, isso é realizado por meio de
um fermento perfeito. Pois o trabalho é contaminado por meio de um súlfur impuro, de
modo que uma nuvem se estende sobre a superfície da substância transmutada, ou o
metal é misturado com os resíduos do enxofre e pode ser lançado fora com ele. Mas se
for necessário fazer uma projeção de uma pedra vermelha, com o objetivo de obter uma
transmutação vermelha, ela deve cair primeiro sobre o ouro, depois sobre a prata ou
sobre algum outro metal completamente purificado, conforme explicamos acima. D’aí
surge o ouro mais perfeito.
Capítulo 16 – Sobre a Matéria Universal da Pedra Filosofal
Após a mortificação dos vegetais, eles são transmutados, pela concorrência de
dois minerais, como o súlfur e o sal, em uma natureza mineral, de modo que, por fim,
eles próprios se tornam minerais perfeitos. Assim, nas tocas e cavernas minerais da
terra, são encontrados vegetais que, com a longa sucessão de tempo e pelo calor
contínuo do enxofre, abandonam a natureza vegetal e assumem a natureza mineral. Isso
acontece, na maior parte das vezes, quando o nutriente apropriado é retirado dos
vegetais desse tipo, de modo que eles são obrigados a obter sua nutrição do enxofre e
dos sais da terra, até que o que antes era vegetal passe a ser um mineral perfeito. Desse
estado mineral, também, às vezes surge uma essência metálica perfeita, e isso acontece
pelo progresso de um grau a outro.
Mas voltemos à Pedra Filosofal. A questão dessa pedra, como alguns escritores
já mencionaram, é sobretudo difícil de descobrir e obscura de entender. O método e a
regra mais segura para descobrir isso, bem como outros assuntos — o que eles
abrangem ou são capazes de realizar — é um exame cuidadoso da raiz e da semente
pelas quais eles chegaram ao nosso conhecimento. Para isso, antes de qualquer outra
coisa, é absolutamente necessária uma consideração dos princípios e também da
maneira pela qual a natureza procede da imperfeição até o fim da perfeição.
Ora, para essa consideração, é bom que se entenda bem, desde o início, que
todas as coisas criadas pela natureza consistem em três elementos primordiais, a saber,
mercúrio natural, súlfur, e sal combinados, de modo que em algumas substâncias eles
são voláteis, em outras, fixos. Sempre que o sal corporal é misturado com o mercúrio
espiritual e o súlfur animado em um só corpo, a natureza começa a trabalhar, nos lugares
subterrâneos que servem para seus vasos, por meio de um fogo separador. Com isso, o
súlfur espesso e impuro é separado do puro, a terra é separada do sal, e as nuvens do
mercúrio, enquanto as partes mais puras são preservadas, as quais a natureza solda
novamente em um corpo geogâmico puro.
Essa operação é considerada pelos magos como uma mistura e conjunção pela
união de três constituintes: corpo, alma, e espírito. Quando essa união é concluída,
resulta dela um mercúrio puro. Agora, se este, ao fluir por suas passagens e veias
subterrâneas, encontrar um súlfur caótico, o mercúrio é coagulado por ele de acordo com
a condição do súlfur. No entanto, ele ainda é volátil, de modo que dificilmente em cem
anos é transformado em um metal. D’aí surgiu a ideia vulgar de que o mercúrio e o súlfur
são a matéria dos metais, como certamente é relatado pelos mineiros. No entanto, o
mercúrio e o súlfur comuns não são a matéria dos metais, mas o mercúrio e o súlfur dos
filósofos são incorporados e inatos nos metais perfeitos e em suas formas, de modo que
eles nunca saem do fogo, nem são depravados pela força da corrupção causada pelos
elementos. É verdade que, com a dissolução dessa mistura natural, nosso mercúrio é
subjugado, como dizem todos os filósofos. Sob essa forma de palavras, nosso mercúrio
vem a ser extraído de corpos perfeitos e das forças dos planetas terrestres.
É isso que Hermes afirma nos seguintes termos: “O Sol e a Lua são as raízes
dessa arte”. O filho de Hamuel diz que a Pedra Filosofal é água coagulada, ou seja, em
sol e lua. A partir disso, fica mais claro do que o Sol que o material da Pedra Filosofal
nada mais é do que sol e lua. Isso é confirmado pelo fato de que o semelhante produz o
semelhante. Sabemos que existem apenas duas pedras, a branca e a vermelha. Há
também duas matérias da Pedra Filosofal, sol e lua, formadas juntas em um casamento
adequado, tanto natural quanto artificial.
Agora, como vemos que o homem ou a mulher, sem a semente de ambos, não
pode gerar, da mesma forma nosso homem, sol, e sua esposa, lua, não podem conceber
ou fazer qualquer coisa no caminho da geração, sem a semente e o esperma de ambos.
Por isso, os filósofos concluíram que uma terceira coisa era necessária, a saber, a
semente animada de ambos, o homem e a mulher, sem a qual eles julgaram que todo o
seu trabalho seria infrutífero e em vão. Tal semente é mercúrio, que, pela conjunção
natural de ambos os corpos sol e lua, recebe a natureza deles em si mesmo em união.
Então, finalmente, e não antes, o trabalho está apto para o congresso, o ingresso, e a
geração; pelo poder e virtude masculinos e femininos.
Por isso, os filósofos disseram que esse mesmo mercúrio é composto de corpo,
espírito e alma, e que assumiu a natureza e a propriedade de todos os elementos.
Portanto, com seu gênio e intelecto mais poderosos, eles afirmaram que sua Pedra
Filosofal era animal. Eles até a chamaram de seu Adão, que carrega sua própria Eva
invisível escondida em seu corpo, a partir daquele momento em que foram unidos pelo
poder do Deus Supremo, o Criador de Todas as Criaturas. Por essa razão, pode-se dizer
que o mercúrio dos filósofos não é outro senão seu mercúrio mais abstruso e composto,
e não o mercúrio comum. Assim, eles sabiamente disseram aos sábios que há em
mercúrio tudo o que os sábios procuram.
Al-Mahdī, o filósofo, diz: “Extraímos nosso mercúrio de um corpo perfeito e de
duas condições naturais perfeitas incorporadas em conjunto, que de fato apresenta
externamente sua perfeição, por meio da qual é capaz de resistir ao fogo, de modo que
sua imperfeição interna possa ser protegida pelas perfeições externas”. Por essa
passagem do filósofo sagaz, entende-se a matéria adâmica, o limbo do microcosmo e a
matéria homogênea e única dos filósofos. As palavras desses homens, que
mencionamos anteriormente, são simplesmente douradas e sempre devem ser tidas na
mais alta estima, pois não contêm nada supérfluo ou sem força.
Resumidamente, então, a matéria da Pedra Filosofal não é outra senão um
mercúrio ardente e perfeito extraído pela natureza e pela arte; isto é, o Adão hermafrodita
artificialmente preparado e verdadeiro, e o microcosmo; o mais sábio dos filósofos,
Mercurius, fazendo a mesma declaração, chamou a Pedra Filosofal de órfã. Nosso
mercúrio, portanto, é o que contém em si todas as perfeições, a força, e as virtudes do
Sol, que percorre todas as ruas e casas de todos os planetas e que, em seu
renascimento, adquiriu a força das coisas acima e das coisas abaixo pelo casamento do
qual deve ser comparado, claro pela brancura e vermelhidão combinadas nele.
Capítulo 17 – Sobre a Preparação da Matéria para a Pedra Filosofal
O que a natureza requer principalmente é que seu próprio homem filosófico seja
trazido para uma substância mercurial, para que possa nascer na Pedra Filosofal. Além
disso, deve-se observar que essas preparações comuns de Jābir, Alberto Magno, Tomás
de Aquino, Rupescissa, Polidoro e outros homens nada mais são do que algumas
soluções, sublimações e calcinações particulares, não tendo nenhuma referência à
nossa substância universal, que precisa apenas do fogo mais secreto dos filósofos.
Portanto, que o fogo e o azoth sejam suficientes.
Pelo fato de os filósofos fazerem menção a certas preparações, como putrefação,
destilação, sublimação, calcinação, coagulação, dealbação, rubificação, ceração, fixação
e similares, deve-se entender que, na Substância Universal, a própria natureza realiza
todas as operações na matéria mencionada, e não o operador, apenas em um recipiente
filosófico e com um fogo semelhante, mas não o fogo comum. O branco e o vermelho
brotam de uma única raiz sem nenhum intermediário. Ela se dissolve por si mesma,
copula por si mesma, torna-se branca, torna-se vermelha, torna-se cor de açafrão e
negra por si mesma, casa-se consigo mesma e concebe em si mesma. Portanto, ele
deve ser decocto, cozido, fundido; ele sobe e desce. Todas essas operações são uma
única operação e são produzidas apenas pelo fogo.
Ainda assim, alguns filósofos, por meio de uma essência altamente graduada de
vinho, dissolveram o corpo de Sol e o tornaram volátil, de modo que ele deveria subir
através de um alambique, pensando que essa é a verdadeira matéria volátil dos filósofos,
embora não seja assim. E embora não seja um arcano desprezível reduzir esse corpo
metálico perfeito a uma substância volátil e espiritual, eles estão errados em sua
separação dos elementos. Esse processo dos monges, como Lúlio, Ricardo da
Inglaterra, Rupescissa, e os demais, é errôneo.
Por esse processo, eles pensavam que separariam o ouro em um poder sutil,
espiritual e elementar, cada um por si só, e depois, por circulação e retificação,
combinariam-os novamente em um — mas em vão. Pois, embora um elemento possa,
em certo sentido, ser separado de outro, ainda assim, todo elemento separado dessa
maneira pode ser novamente separado em outro elemento, mas esses elementos não
podem, posteriormente, por circulação em um pelicano, ou por destilação, ser novamente
reunidos em um só; mas eles sempre permanecem como uma certa matéria volátil, e
aurum potabile, como eles mesmos a chamam.
A razão pela qual eles não conseguiram atingir sua intenção é que a natureza se
recusa a ser arrastada e separada dessa maneira pelas disjunções do homem, como por
óculos e instrumentos terrestres. Somente ela conhece suas próprias operações e os
pesos dos elementos, cujas separações, retificações e cópulas ela realiza sem a ajuda
de qualquer operador ou artifício manual, desde que a matéria esteja contida no fogo
secreto e em seu recipiente oculto apropriado. A separação dos elementos, portanto, é
impossível para o homem.
Pode parecer que isso acontece, mas não é verdade, independentemente do que
possa ser dito por Raimundo Lúlio e daquela famosa obra dourada inglesa que ele
falsamente supõe ter realizado. A própria natureza tem em si o separador adequado, que
junta novamente o que foi separado, sem a ajuda do homem. Ela conhece melhor a
proporção de cada elemento, o que o homem não conhece, por mais que os escritores
enganadores romanceiem suas receitas frívolas e falsas sobre esse ouro volátil.
Esta é a opinião dos filósofos: quando eles colocam sua matéria no fogo mais
secreto e, quando com um calor filosófico moderado, ela é estimulada por todos os lados,
começando a se corromper, ela se torna negra. Essa operação é denominada putrefação
e a escuridão é chamada de Cabeça de Corvo. Sua ascensão e descida são chamadas
de destilação, ascensão, e descensão. A exsicação é chamada de coagulação; e a
dealbação é chamada de calcinação; enquanto que, por se tornar fluida e macia no calor,
mencionam a ceração. Quando deixa de subir e permanece líquido no fundo, eles dizem
que há fixação.
É dessa maneira que os termos das operações filosóficas devem ser entendidos,
e não de outra.
Capítulo 18 – Sobre os Instrumentos e o Vaso Filosófico
Os falsos filósofos entenderam mal o vaso filosófico oculto e secreto, e pior ainda
é o que foi dito por Aristóteles, o alquimista (não o famoso filósofo acadêmico grego),
que afirma que a matéria deve ser decocada em um vaso triplo. O pior de tudo é o que
é dito por outro, a saber, que a matéria em sua primeira separação e primeiro grau requer
um vaso metálico; em seu segundo grau de coagulação e dealbação de sua terra, um
vaso de vidro; e no terceiro grau, para fixação, um vaso de barro.
No entanto, aqui os filósofos entendem um único recipiente em todas as
operações até a perfeição da pedra vermelha. Uma vez que, então, nossa matéria é
nossa raiz para o branco e o vermelho, necessariamente nosso vaso deve ser moldado
de modo que a matéria nele contida possa ser governada pelos corpos celestes. Pois as
influências celestiais invisíveis e as impressões das estrelas são, em primeiro lugar,
necessárias para o trabalho; caso contrário, seria impossível realizar as pedras orientais,
caldeias e egípcias. Com isso, Anaxágoras conhecia os poderes de todo o Firmamento
e previu que uma grande pedra desceria do céu para a Terra, o que de fato aconteceu
após sua morte.
Para os məqūbbālīm, nosso recipiente é perfeitamente conhecido, pois deve ser
feito de acordo com proporção e medida verdadeiramente geométricas, e a partir de uma
quadratura definida do círculo, de modo que o espírito e a alma de nossa matéria,
separados de seu corpo, possam ser capazes de erguer esse recipiente consigo mesmos
em proporção à altitude do céu.
Se o recipiente for mais largo, mais estreito, mais alto ou mais baixo do que é
adequado e do que o espírito e a alma operadores dominantes desejam, o calor de nosso
fogo filosófico secreto (que é, de fato, muito severo) excitará violentamente a matéria e
a levará a uma operação excessiva, de modo que o recipiente seja fragmentado em mil
pedaços, com perigo iminente para o corpo e até mesmo para a vida do operador. Por
outro lado, se o recipiente tiver uma capacidade maior do que a necessária, na devida
proporção, para que o calor tenha efeito sobre a matéria, o trabalho será desperdiçado
e jogado fora. Portanto, nosso recipiente filosófico deve ser feito com o maior cuidado. O
material do recipiente deve ser compreendido apenas por aqueles que, na primeira
solução de nossa matéria fixa e aperfeiçoada, trouxeram essa matéria à sua própria
quintessência primordial. Já foi dito o suficiente sobre esse ponto.
O operador também deve observar com muita precisão o que, em sua primeira
solução, a matéria envia e rejeita de si mesma.
O método para descrever a forma do vaso é difícil. Ele deve ser tal como a
natureza exige e deve ser buscado e investigado em todas as fontes possíveis, de modo
que, do alto do céu filosófico, elevado acima da terra filosófica, ele possa ser capaz de
operar sobre o fruto de seu próprio corpo terreno. Ele também deve ter essa forma, para
que a separação e a purificação dos elementos, quando o fogo separa um do outro,
possam ser realizadas, e para que cada um tenha o poder de ocupar o lugar ao qual
adere; e também para que o Sol e os outros planetas possam exercer suas operações
ao redor da terra elementar, enquanto seu curso em seu circuito não é impedido nem
agitado por um movimento muito rápido. Em todos esses aspectos que foram
mencionados, ela deve ter uma proporção adequada de rotundidade e altura.
Os instrumentos para a primeira purificação de corpos minerais são vasos de
fusão, foles, pinças, capelas, copos, testes, vasos de cimentação, cinerícios,
cucurbitáceos, bacias para aquafortis e água régia; e também os aparelhos necessários
para a projeção no clímax do trabalho.
Capítulo 19 – Sobre o Fogo Secreto dos Filósofos
Essa é uma frase bem conhecida dos filósofos: “Que o fogo e o azoth sejam
suficientes para ti”. Somente o fogo é todo o trabalho e toda a arte. Além disso, aqueles
que fazem seu fogo e mantêm seu recipiente nesse calor estão em erro. Em vão alguns
tentaram fazer isso com o calor do esterco de cavalo. Pelo fogo do carvão, sem um meio,
eles sublimaram sua matéria, mas não a dissolveram. Outros obtiveram seu calor de
lâmpadas, afirmando que esse é o fogo secreto dos filósofos para fazer sua Pedra
Filosofal. Alguns a colocaram em um banho, primeiramente em montes de ovos de
formigas; outros, em cinzas de zimbro. Alguns buscaram o fogo na cal virgem, no tártaro,
no vitríolo, no nitrogênio, etc. Outros, ainda, buscaram-no na água fervente.
Tomás de Aquino fala falsamente sobre esse fogo, dizendo que Deus e os anjos
não podem passar sem esse fogo, mas o usam diariamente. Que blasfêmia é essa?!
Não é uma mentira manifesta que Deus não possa passar sem o calor elementar da
água fervente? Não nos deixemos enganar por Arnaldo de Vilanova, que escreveu sobre
o assunto do fogo de carvão, pois nesse assunto ele se engana.
Al-Mahdī diz que os raios invisíveis de nosso fogo, por si só, são suficientes. Outro
cita, como ilustração, que o calor celestial, por seus reflexos, tende à coagulação e à
perfeição de mercúrio, assim como, por seu movimento contínuo, tende à geração de
metais. Novamente, diz essa mesma autoridade: “Faça um fogo, vaporoso, digerindo,
como para cozinhar, contínuo, mas não volátil ou fervente, fechado, isolado do ar, não
queimando, mas alterando e penetrando”. Agora, em verdade, mencionamos todos os
modos de fogo e de excitação de calor. Se você for um verdadeiro filósofo, entenderá”.
Isso é o que ele diz.
Salmānašarēd observa: “Nosso fogo é corrosivo, o que traz sobre nossa
embarcação um ar semelhante a uma nuvem, na qual os raios desse fogo estão ocultos.
Se esse orvalho do caos e essa umidade da nuvem falharem, um erro foi cometido”.
Novamente, al-Mahdī diz que, a menos que o fogo tenha aquecido nosso sol com sua
umidade, pelo excremento da montanha, com uma subida moderada, não seremos
participantes nem da pedra vermelha nem da pedra branca.
Todas essas questões nos mostram abertamente o fogo oculto dos sábios.
Finalmente, esta é a questão de nosso fogo, ou seja, que ele seja aceso pelo espírito
calmo do fogo sensível, que impulsiona para cima, por assim dizer, o caos aquecido do
lado oposto e acima de nossa matéria filosófica. Esse calor, brilhando acima de nosso
vaso, deve impulsioná-lo ao movimento de uma geração perfeita, de forma moderada,
mas contínua, sem interrupções.
Capítulo 20 – Sobre o Fermento dos Filósofos
Os filósofos trabalharam muito na arte dos fermentos e das fermentações, que
parece ser mais importante do que todas as outras. Com relação a isso, alguns fizeram
um voto a Deus e aos filósofos de que nunca divulgariam seus arcanos por meio de
semelhanças ou parábolas.
No entanto, Hermes, o pai de todos os filósofos, no “Livro dos Sete Tratados”,
revela mais claramente o segredo dos fermentos, dizendo que eles consistem apenas
em sua própria pasta; e, mais detalhadamente, ele diz que o fermento clareia a
confecção, impede a combustão, retarda completamente o fluxo da tintura, consola os
corpos e amplia as uniões. Ele diz, também, que essa é a chave e o fim do trabalho,
concluindo que o fermento nada mais é do que a pasta, assim como o do sol nada mais
é do que o sol, e o da lua nada mais é do que a lua. Outros afirmam que o fermento é a
alma e que, se ela não for corretamente preparada a partir do magistério, não produzirá
efeito algum. Alguns fanáticos dessa arte buscam a arte no súlfur comum, no arsênico,
na tutia, no auripigmento, no vitríolo, etc., mas em vão, pois a substância que se busca
é a mesma da qual ela deve ser extraída. Deve-se observar, portanto, que as
fermentações desse tipo não são bem-sucedidas, de acordo com os desejos dos
fanáticos, da maneira que eles desejam, mas, como fica claro pelo que foi dito acima,
simplesmente da maneira dos sucessos naturais.
Mas, para falar mais detalhadamente sobre o peso, isso deve ser observado de
duas maneiras. A primeira é natural, a segunda é artificial. A natural alcança seu
resultado na terra por meio da natureza e da concordância. Sobre isso, Arnaldo diz que,
se for adicionada mais ou menos terra do que a natureza exige, a alma é sufocada, e
nenhum resultado é percebido, nem qualquer fixação. O mesmo acontece com a água.
Se mais ou menos dessa água for usada, haverá uma perda correspondente. Um
excesso torna a matéria excessivamente úmida, e uma deficiência a torna seca e dura
demais. Se houver muito ar presente, ele ficará muito forte na tintura; se houver muito
pouco, o corpo ficará pálido. Da mesma forma, se o fogo for muito forte, a matéria é
queimada; se for muito frouxo, não tem o poder de secar, nem de dissolver ou aquecer
os outros elementos. Nessas coisas consiste o calor elementar.
O peso artificial é bastante oculto. Ele está incluído na arte mágica das
ponderações. Entre o espírito, a alma, e o corpo, dizem os filósofos, o peso consiste no
súlfur como diretor da obra, pois a alma deseja fortemente o súlfur e necessariamente o
observa por causa de seu peso.
Pode-se entender isso da seguinte forma: nossa matéria está unida a um enxofre
vermelho fixo, ao qual foi confiada uma terceira parte do regime, até o último grau, de
modo que possa aperfeiçoar até o infinito a operação da Pedra Filosofal, possa
permanecer com ela junto com seu fogo e possa consistir em um peso igual ao da própria
matéria, em tudo e por tudo, sem variação de qualquer grau. Portanto, após a matéria
ter sido adaptada e misturada em seu peso proporcional, ela deve ser fechada com seu
selo no vaso dos filósofos e entregue ao fogo secreto. Assim, o Sol Filosófico se erguerá
e surgirá, e iluminará todas as coisas que estiverem procurando pela luz, aguardando-a
com a mais alta esperança.
Com essas poucas palavras, concluiremos o arcano da Pedra Filosofal, um arcano
que não está de forma alguma mutilado ou defeituoso, pelo qual agradecemos
eternamente a Deus. Abrimos para vós nosso tesouro, que não pode ser pago com as
riquezas do mundo inteiro.

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