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No momento você pode estar se perguntando, “então por que algumas pessoas ainda
insistem em procrastinar?”. Já entendemos que a procrastinação está relacionada ao atraso e
ao adiamento de uma tarefa ou tomada de decisão. Entretanto, apesar do atraso ser um fator
fundamental na procrastinação, apenas esse elemento não explica o fenômeno por completo.
Precisamos entender os principais motivos que levam uma pessoa a procrastinar.
Desta forma, adia-se com frequência atividades percebidas como desagradáveis a fim
de prevenir avaliações negativas sobre seu próprio desempenho. Esse comportamento
procrastinatório está muito ligado a um tipo de perfeccionismo social, ou seja, à ideia de que
os outros esperam o melhor do indivíduo e que, se ele não corresponder a essas expectativas
(irreais), não provará ser bom o suficiente.
O indivíduo pode ruminar pensamentos sabotadores, como: “hoje não haverá tempo
suficiente”, “estou cansado, amanhã terei mais energia para tentar fazer isso”, “pode ser que
ele desista de cobrar isso”, “preciso de mais informações, conversar com mais pessoas para
saber como vou começar”, “eu já passei por muitas dificuldades essa semana, mereço fazer
algo relaxante agora”.
A Figura 23.3 ilustra como um pensamento distorcido pode ser “ruminado” e conduzir
a reações emocionais e comportamentais disfuncionais numa “reação em cadeia”. Para se ter
maior clareza e entendimento de como a procrastinação acontece e pode afetar a vida de uma
pessoa, veja o exemplo.
Roberta tem 26 anos e está terminando sua graduação em medicina. Neste momento,
Roberta está passando por muita dificuldade por conta da sua monografia. Assim que
começou o projeto, ela havia feito um planejamento, diante do qual se sentia muito confiante
em conduzi-lo com início, meio e fim. Com o passar dos dias, Roberta preferia se engajar em
outras atividades mais prazerosas, pois sempre que sentava para fazer o trabalho, não
conseguia dar continuidade. Ora sentia tédio, ora se sentia incapaz, ora via outras tarefas
como prioridade. Para compensar, ela alterava o seu cronograma, acumulando obviamente
mais etapas em menos tempo, e prometia para si mesma que escreveria algo no dia seguinte.
No entanto, o dia seguinte virou uma semana, um mês e, quando se deu conta, já estava se
aproximando o prazo de entrega. Roberta subestimou o tempo necessário para completar a
tarefa e superestimou o tempo disponível para sua realização. Experimentava muitas emoções
negativas, como ansiedade, culpa, tristeza, medo, inadequação e arrependimento. Sabia que
deveria falar com seu orientador, mas tinha receio de que ele fosse achá-la incompetente.
Quando já não sabia mais o quefazer, pensou em mentir, talvez inventar uma doença na
família, entretanto seus valores morais a impediam de ter tal conduta. Por fim, resolveu de
fato conversar com o orientador. Contradizendo a avaliação inicial que fazia Roberta
procrastinar o contato, ele a ouviu atentamente, mostrou-se compreensivo e a orientou no que
precisava.
Como o meu problema pode estar sendo mantido?
Antes de qualquer coisa, precisamos entender como aumentamos a frequência de um
comportamento qualquer, seja ele adequado ou não. Após um comportamento podemos
então receber algo satisfatório ou nos livrar de algo insatisfatório. Sempre que uma dessas
consequências é apresentada após um comportamento qualquer, isso tenderá a aumentar a
frequência do mesmo.
Quando procrastinamos, nos vemos com menos tempo e maior pressão para realizar
uma tarefa conforme o prazo de entrega se aproxima. Neste momento, nós ativamos um
estado de alerta, liberamos mais adrenalina e aumentamos nossa capacidade de atenção e,
consequentemente, tendemos a ficar mais produtivos. Por fim, frequentemente conseguimos
realizar a tarefa (nos livramos de algo insatisfatório - a pressão) e podemos sentir uma grande
satisfação, especialmente quando recebemos uma boa avaliação (ganhamos algo satisfatório -
boa nota e elogio, por exemplo) (Leahy et ah, 2013).
Outro motivo pelo qual a procrastinação parece “funcionar” é porque ela pode trazer
um alívio momentâneo de seu estado de desconforto emocional. Ao sentirmos medo,
ansiedade ou tristeza por ter que realizar uma tarefa específica, o adiamento da mesma quase
que imediatamente reduz todo esse sofrimento. O risco de lidar desse modo com as exigências
do dia a dia, é que podemos desenvolver o hábito de sempre nos livrarmos de desconfortos
emocionais, o que pode nos manter nesse ciclo, aumentando o comportamento
procrastinatório.
Ativação comportamental: Muitas pessoas tendem a esperar surgir uma certa vontade
para então darem início a algum comportamento, porém a verdade é que nos motivamos à
medida que agimos. Quantas vezes você procrastinou por achar uma tarefa difícil e sem graça,
mas, depois que começou a fazer, percebeu que, na realidade, não era aquele “bicho de sete
cabeças” e até teve algum prazer enquanto fazia? Pois é, ao longo do tratamento você
também irá aprender a como se engajar nessas tarefas e por onde começar.
Regular suas emoções: Como vimos, a falta de habilidade em lidar com as próprias
emoções é um dos principais fatores que envolvem a procrastinação. Ao contrário de tentar
evitá-las (esquiva emocional através de alienação ou compulsões), temos que aprender com
elas, entendê-las e aceitá-las. Não é uma tarefa fácil, mas o seu terapeuta poderá ajudá-lo a
desenvolver essa habilidade. Lembrando que o enfrentamento de situações que geram
sentimentos desconfortáveis acontecerá de uma forma preparada e gradual.
Também vimos que mesmo possa parecer difícil lidar com a procrastinação, há
alternativas viáveis para se enfrentar e vencer o problema. Muitos indivíduos conseguem
superar seus obstáculos. Como vimos durante este texto, é preciso “nadar contra a maré”. Não
procrastine a busca por ajuda, a busca por mais informações, a busca por tratamento!
Você pode estar achando que será difícil parar de procrastinar, mas pense
rapidamente em todas as dificuldades que você conseguiu superar ao longo de sua vida,
apesar da sua recorrente procrastinação. Todos os projetos que conseguiu conduzir, apesar
das dificuldades, com início, meio e fim.
Além do mais, se você está lendo esse texto é porque já está engajado, de certa forma,
na mudança. Lembre-se também de que a procrastinação é um hábito e, como qualquer
hábito, pode ser mudado! Não será uma tarefa fácil, pois haverá desconforto. Um hábito que
nos acompanha ao longo de uma vida não se muda de um dia para outro, mas você pode
procurar procrastinar menos hoje do que ontem e fazer isso a cada dia. Assim, colherá
inevitavelmente os frutos de seu esforço.