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ESCOLA DE BELAS ARTES / UFBA

TÊMPERAS
&
TEMPEROS
LIVRO DE RECEITAS

ORGANIZADOR:
MIKE SAM CHAGAS

EBA A63
2020 - SLS
Universidade Federal da Bahia
Escola de Belas Artes

TÊMPERAS
&
TEMPEROS
LIVRO DE RECEITAS

Organizador:
Mike Sam Chagas

Semestre Letivo Suplementar 2020


Universidade Federal da Bahia

Reitor
João Carlos Salles Pires da Silva

Diretora da Escola de Belas Artes


Nanci dos Santos Novais

Professores da Disciplina

Luiz Mário Costa Freire


Doutor em Proyectos de Pintura pela Universitat Politècnica de
València, Espanha.

Maria Virgínia Gordilho Martins (Viga Gordilho)


Doutora em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo

Mike Sam Chagas


Mestre em Artes Visuais pelo PPGAV-EBA/UFBA

Túlio Vasconcelos Cordeiro de Almeida


Doutor em Arquitetura e Urbanismo, pelo PPGAU/UFBA

Monitora
Ana Leticia Ferreira Nascimento
Alunos matriculados no SLS

Agdo Calheiros João Pedro Moreira Silva


Nascimento João Victor Bahia Alves
Amanda Oliveira Gama E Jociene Vieira dos Santos
Narici Julia Godoy
Alexandre Pimenta Julia da Purificacao Chaves
Aldery Santo Fadigas
Adriana Sousa Fernandes da Kezia Chagas
Silva Leandro Conceicao
Barbara Cristina Ferreira Luiza Bispo dos Santos
Borges dos Santos Maria Luedy Mendes
Bárbara Lucena Velloso de Maria Santana
Almeida Maria Sophia Rebouças Franco
Cristiane Lorena Martins de Maryana Francisco
Melo Max Argollo
Claudia Loureiro Norma Suely Machado
Claudio Rafael Almeida de Cavalcante
Souza Norton Cardoso
Carolina Silva Raquel Cardoso
Euzeni Daltro Rosana de Melo Costa
Gabriel L. de Almeida Sena Sandra Lucena
Gisele Mara Hadlich Sandra Moreno
Graça Moura Thaianna Nascimento
Thiago de Aragao Vasconcelos

Salvador,
Semestre Letivo Suplementar de 2020
Ficha Técnica

Organizador: Mike Sam Chagas


Projeto Gráfico e Capa: Mike Sam Chagas
Imagem da Capa: Viga Gordilho
Textos: Mike Sam Chagas, Viga Gordilho, Luiz Mario C. Freire, Túlio
V. de Almeida e Alunos da Disciplina.

Crédito das Imagens: Professores e Alunos da Disciplina,


gentilmente cedidas.

Contato: pintura-eba@hotmail.com
Sobre têmperas e temperos

O Semestre Letivo Suplementar trouxe a nós, professores, alunos e funcionários


inúmeros desafios e inseguranças. As dificuldades impostas pela prática de uma
inédita modalidade de ensino para nossa Universidade, o ensino remoto, foram
grandes e talvez ainda persistam por um bom tempo, dada a urgência com que
tudo foi transformado.

A Escola de Belas Artes, mais que uma escola é um ponto de confluência para
artistas e amantes da arte na Bahia. Seu papel não se restringe à formação
acadêmica. É também peça importante na própria dinâmica do contexto cultural
da cidade, sendo um ponto de encontro para muitos.

Por isso foi tão difícil ficar longe dos seus jardins, das mangueiras, da resenha
no pátio entre uma aula e outra. Práticas e costumes de um cotidiano com
muitas dificuldades, porém prazeroso na mesma intensidade. Essa
impossibilidade do “estar juntos” nos revelou a condição de que a nossa casa, o
nosso espaço habitado, se converte em sala de aula, ateliê, galeria e finalmente
loja de materiais.

A ideia central deste curso foi de que olhássemos para os ingredientes que
permeiam nosso cotidiano, tentando transformar estes elementos prosaicos em
matéria cromática que nos permitiria através da pintura continuar expressando,
criando, agindo, existindo enfim. As receitas e práticas que compõe este
catálogo/livro de receitas foram pensadas para que pudéssemos criar e
produzir com elementos que estivessem à nossa mão em casa, na prateleira da
cozinha, no armário do banheiro, na geladeira.

Se atualmente podemos adquirir materiais de excelente qualidade e variedade


em lojas especializadas, esta mesma facilidade levou a maioria dos artistas a ter
uma relação distanciada com a matéria prima com que trabalha. A Cor nos é
dada pronta, como mágica.

Desconhecemos muito daquilo que compõem nossas tintas: as colas, as cargas,


os pigmentos. Afastados destes materiais, nos afastamos também de suas
origens, de sua histórias, logo, nos distanciamos das experiências humanas que
deram substância a estes produtos. Talvez a verdadeira mágica esteja em
redescobrir estas experiências, produtos e histórias. Assim, mesmo distantes,
nos conectamos através destes temperos, folhas, frutos, terras e sementes...

Profº Mike Sam Chagas


A Cozinha da Pintura

O componente EBA A63 – Têmperas e Temperos: Tintas artesanais em


experimentos caseiros foi ofertado na modalidade não presencial aos alunos
regulares da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, a partir de
08 de setembro de 2020, seguindo as recomendações emergenciais de saúde
pública, em combate a pandemia causada pelo novo Corona vírus, Covid – 19.

O conteúdo programático teórico e prático deste componente curricular foi


aplicado através de webconferências, abordando aspectos históricos das
têmperas e a evolução de outras técnicas pictóricas, desde as pinturas rupestres
elaboradas na Pré-História da Europa, passando também pelos sítios de arte
rupestres da Bahia, magnificamente registrada pelo Professor Carlos
Etchevarne, em 2007.

Nos ensaios para a elaboração dos estratos das pinturas à têmpera,


demonstrados pelo professor Mike Sam Chagas e professor Túlio Almeida,
foram utilizados conhecimentos teóricos em uma abordagem artística e
científica, aplicando noções inerentes da construção da base de preparação,
composta de aglutinantes proteicos e vegetais, adicionados a cargas inertes. São
saberes básicos citados nos tratados antigos de Cennini (1947), Vasari (2011) e
Nunes (1767), excelentes referências para a construção das pinturas clássicas e
contemporâneas que ainda empregam saberes antigos da arte, compatíveis
com aspectos mecânicos dos variados suportes rígidos ou maleáveis, testados
em ensaios laboratoriais.

Nas discussões sobre composição da película pictórica, foram sugeridos a


demonstrar conhecimentos científicos, trabalhando com os pigmentos ativos
inorgânicos, principalmente os óxidos de ferro, fáceis de serem adquiridos, com
possibilidades de manuseio nas fases de refinamento: limpeza (peneiramento) e
decantação, o que facilitará a elaboração das cores.

Diante da possibilidade de intoxicação através de inalação, ingestão ou


absorção cutânea dos solventes orgânicos voláteis e pigmentos tóxicos, nas
oficinas oferecidas para a manipulação dos pigmentos ativos e inertes, foram
liberadas informações básicas de segurança e prevenção de acidentes. Outra
preocupação foi à manipulação dos preservativos e fungicidas na constituição
das têmperas, sabendo-se que os experimentos do “Ateliê Livre”, seriam
desenvolvidos nas residências dos discentes.
Em continuidade a atividade programada esteve presente como Artista
Convidada, a professora Dra. Maria Virgínia Gordilho Martins, que diretamente
do seu ateliê, proferiu a palestra “Cores, Tintas e Afetos”, transmitindo
informações tecnológicas do vasto material do seu conhecimento artístico.
Foi sugerida pela professora, a proposta para a elaboração do “Livro de Artista”,
com registros das práticas desenvolvidas pelos alunos desta disciplina.Para o
conhecimento da cor na composição modular, o professor
Dr. Luiz Mário Costa Freire, também por webconferência, proferiu palestra com
breve retrospectiva de alguns trabalhos elaborados durante a sua vida artística,
enfocando estudos para composição decorativa de estampas, carimbos,
azulejos, painéis e tapeçarias, com a possibilidade de serem pintadas com as
tintas produzidas no Ateliê Livre.

Em transmissão direta pelo Studio da EBA, montado na sala de restauração, os


professores Túlio Almeida e Mike Chagas, desenvolveram o “Laboratórios
de Cores e Tintas” onde demonstraram a possibilidade de trabalhar com
materiais não convencionais como corante vegetais, temperos, farinhas e
terras variadas. Nesta oportunidade, utilizaram algas marinhas de spirulina,
extrato da raiz do açafrão e urucum, tintura de água de feijão, fusão de casca
de caju, dissolução de sementes de uva, páprica (pimentão), em uma profusão
de cores vegetais, extratos impregnados a quente, em tecidos e papeis
acentuados por texturas de diferentes fibras, demonstrando as diversas
possibilidades do emprego dos corantes e pigmentos.

Os ensaios caseiros dos discentes frutificaram um aprendizado muito rico no


uso de fixativos, em uma busca incessante na estabilidade das cores. O manejo
individualizado dessa tecnologia esteve acompanhado de forma remota pelos
docentes. E diante do entusiasmo dos participantes, o Coordenador da
Disciplina, professor Mike Sam Chagas sugeriu a elaboração do “Livro de
Receitas”, digital, composto com registros de todos os participantes, lançado no
dia 17.12.2020, como parte das atividades de comemoração aos 143 anos da
Escola de Belas Artes.

A convivência artística impulsionada pela comunicação digital da disciplina


“Têmperas e Temperos”, despontou um caminho a percorrer. Novamente o
fazer artístico institui afinidades com a pesquisa científica, estimulando a
capacidade criadora dos indivíduos. Desta maneira, diante das experiências
vivenciadas, a arte que habitava os ateliês, também reconheceu nas bancadas
frias dos laboratórios uma nova morada.

Profº Túlio Vasconcelos


Agradecimentos

Aos professores-artistas Maria Luedy Mendes, Lucimar Bello, Hugo Fortes e


Renata Teles que contribuíram de maneira inestimável, com muito afeto e
generosidade para que este curso se expandisse através dos diálogos,
palestras e encontros compartilhados.

Aos funcionários Anderson, Paula, Sinval, Joana e Ivânia pelo auxílio e proteção
à Escola de Belas Artes.

A Graça Moura e Débora Passos pela dedicação e carinho com os gatos da EBA.

À monitora Ana Letícia Luz da Alegria pelo apoio na disciplina e amparo aos
estudantes.

Aos familiares e amigos pelo amor, compreensão e suporte em tempos tão


difíceis.
À Escola de Belas Artes da UFBA
pelos seus 143 anos
EXPERIMENTOS
Atenção:

Os procedimentos descritos neste catálogo são indicados


para uso profissional e adulto. Determinadas práticas não
deverão ser executadas por e para crianças, quer sejam em
escolas, oficinas ou em casa, pois oferecem riscos à saúde
devido a sua toxicidade. Os procedimentos considerados
seguros para o público infantil serão indicados no texto de
cada uma das receitas, porém mesmo estes deverão ocorrer
sob a supervisão de um adulto.

O descarte de materiais deverá ser feito conforme a


indicação dos fabricantes a fim de minimizarem os impactos
ao meio ambiente.

Mesmo que as receitas tenham sido todas testadas


previamente durante as pesquisas, não nos
responsabilizamos pela sua utilização ou por quaisquer
outros acidentes que possam vir a ocorrer por alterações ou
substituições das misturas e modos de preparo, bem como
quaisquer patologias, alergias ou intoxicações decorrentes
do manuseio dos produtos indicados.

Procedimentos de segurança deverão ser adotados e


equipamentos de proteção individual deverão sempre ser
utilizados a fim de evitar acidentes.
Alexandre Pimenta

Lake Pigment

Trata-se do produto da reação entre o alúmen de potássio


(pedra hume) e o carbonato de cálcio, dissolvidos em um
chá corante, de acordo com a receita:

CHÁ CORANTE A RECEITA

Para a extração dos corantes das Chá (extração a quente):


matérias escolhidas, foi feito um
chá. Depois da cocção a matéria Matérias sólidas.
sólida foi separada do líquido. 400 mL de água.

Nos experimentos desse trabalho


MORDENTE foram utilizados cascas de cebola
branca e roxa, hibisco, amora,
Para oportunizar que o corante, em páprica, casca de romã, repolho
sua forma líquida, retivesse as roxo, beterraba e chá verde.
propriedades de cor, foi utilizado o
alúmen de potássio em pó, também
conhecido como pedra hume.
OS CORANTES EM PÓ MOAGEM

Quando seco completamente, levar


Para a obtenção do corante em pó
o material ao almofariz, para
adiciona-se alúmen de potássio em
triturá-lo em um pó fino.
pó no chá/corante ainda morno.
Armazenar em frasco fechado e em
Espera a dissolução e se
local livre de luz e umidade.
acrescenta o carbonato de cálcio.

A REAÇÂO QUÍMICA A RECEITA

Com a mistura desses dois Solução:


compostos no corante, uma
reação química acontece, gerando 4 colheres de chá de alúmen de
gás carbônico e a precipitação de potássio em pó.
um sal. O alúmen faz a cor se
fixar nesse produto da reação. 4 colheres de chá de carbonato
de cálcio em pó.

FILTRAGEM

Quando a reação química se


finaliza, o líquido e o sal
precipitado são postos em um
filtro de papel para separá-los.
Após, abrir o filtro de papel e
deixá-lo secar naturalmente, fora
do alcance da luz solar.
A. Rosa Oliveira

Repolho Reagente
Há muitas formas de olhar algo tão comum quanto um item alimentício como o repolho.
Eu o encarei como um mistério. E como tal, investiguei seus caminhos e possibilidades.
Testei suas camadas e elas me testaram em retorno.

Ingredientes

Repolho inteiro
1 Colher de sopa de bicarbonato de
sódio
15ml de Vinagre
Meio litro de água

Modo de Fazer

Desfolhe todo o repolho, lave suas


folhas e descarte as que estiverem
estragadas. Em seguida, corte em
pequenos pedaços. Adicione uma
parte no liquidificador com um pouco
de água e triture.

A medida em que o repolho for


triturado, adiciona-se um pouco mais
de água e mais partes do repolho
cortado, até que ele inteiro esteja
triturado e numa textura pastosa. Leve
essa mistura ao fogo, numa panela
esmaltada, adicionando um pouco
mais de água.

Depois que levantar fervura, desligue


o fogo, deixe esfriar e coe tudo num
coador de pano. Adicione o líquido
coado a uma panela esmaltada,
adicione mais água e 1 colher de sopa
de bicarbonato de sódio, espere
efervescer, mexa e adicione o vinagre,
acenda o fogo.
A reação entre o bicarbonato e o vinagre no repolho transforma seu líquido de um
púrpura profundo em um tom turquesa vacilante entre verde e azul. Adicione o tipo de
fibra natural que deseja tingir, deixe absorver o corante enquanto o fogo ainda está
aceso, sempre brando, não deixar ferver mais que uma vez. Após aproximadamente 40
minutos, desligue o fogo e deixe as fibras de molho no corante por uma hora. Retirar as
fibras e lava-las em água corrente. Deixar secando a sombra. Usar como quiser.
É importante manter-se atenta a
elevação demasiada de temperatura. Se
esta elevar demais, o tom de azul
turquesa muda. Essa receita pode variar
de tom conforme a quantidade de
bicarbonato e vinagre adicionados,
podendo ir do verde escuro ao rosa
quase magenta.

Obs: Nem sempre o tom do líquido irá


manter-se com a mesma tonalidade Liquido corante resultado da receita apresentada.
depois de fixado nas fibras, como
podemos ver na imagem.

Resultado do tingimento de linha de algodão cru, linha de algodão branca e estopa.


Euzeni Daltro

OFERECER
O ATO QUE GERA O RECEBER

Alguidar. Esse utensílio circular de barro tem


utilidades não apenas nas nossas cozinhas,
mas sobretudo nas cozinhas sagradas das
religiões de matriz africana. Na umbanda, por
exemplo, o alguidar de barro é comumente
utilizado para colocar as oferendas que serão
feitas às divindades e entidades durante os
rituais, prática que liga esse utensílio ao ato
de oferecer. E, no meu modo de ver, o ato de
oferecer é inerente ao modo como cada
indivíduo se relaciona consigo mesmo e com
o outro.

Aqui, em Têmperas e Temperos, o alguidar foi


cuidadosamente trabalhado com duas bases
de preparação para receber a têmpera de
açafrão-da-terra, uma especiaria de origem
indiana com propriedades anti-inflamatórias
e capazes de aumentar a imunidade, entre
outros benefícios.

O alguidar nos lembra que tudo o que a gente


recebe está diretamente relacionado ao que a
gente oferece. E nos questiona: o que você
tem colocado no seu alguidar? O que você
tem oferecido no seu alguidar? O que você
tem permitido que coloquem no seu alguidar?
A têmpera: açafrão-da-terra
NOME CIENTÍFICO: CURCUMA LONGA L./
FAMÍLIA: ZINGIBERACEAE

O açafrão-da-terra, também conhecido


como cúrcuma, é uma especiaria originária
da Índia, onde tem lugar de destaque na
culinária. Por lá, esse condimento é muito
usado na preparação de massalas, uma
mistura de especiarias utilizada em
refeições diversas, mas também no
tingimento de tecidos.

Além da cor e sabor marcantes, o açafrão-


da-terra possui diversas propriedades
terapêuticas e isso o colocou no foco de
pesquisas científicas que investigam sua
relação com a prevenção e o tratamento de
diversas doenças, a exemplo do câncer.

Como se não bastasse, o açafrão-da-terra


ainda rende boas têmperas. Na receita que
segue, é possível obter tons mais
avermelhados se retirar o polvilho doce e
colocar uma quantidade menor de
bicarbonato de sódio. Ou seja, em vez de
seis colheres de chá, quatro ou duas
colheres de chá. Durante as primeiras
horas após a preparação, a têmpera sofre
mudanças na tonalidade, mas depois a cor
estabiliza.
Vamos aos ingredientes:
1 gema
2 colheres de chá de açafrão-da-terra
1 colher de sopa de cola de CMC
(Carboximetilcelulose)
6 colheres de chá de bicarbonato de sódio
7 gotas de óleo essencial de melaleuca
1/4 de colher de chá de alúmen de potássio
1 colher de sopa de albumina (liberada
alguns minutos após bater a clara do ovo
em neve)
1 colher de sopa de polvilho doce
As bases de preparação
CÁLCIO DE OSTRA E FÉCULA DE BATATA

Para este trabalho, foram desenvolvidas duas receitas de base de preparação,


sendo uma com o cálcio de ostra e a outra com a fécula de batata. As fotos ao
lado mostram o processo da base com a fécula de batata, a qual deixa a
superfície do suporte com um aspecto liso. Em ambos os casos, a cola utilizada
foi a de CMC e o fungicida o óleo essencial de melaleuca. As duas bases foram
feitas com as mesmas proporções de ingredientes, mas, caso prefira uma
textura mais fluida, acrescente um pouco de água filtrada.

Vamos às proporções: 1 colher de sopa de cola de CMC, 1 colher de sopa de


cálcio de ostra/ fécula de batata, 3 gotas de óleo essencial de melaleuca.

O suporte
Alguidar de Barro

O utensílio deve passar por um processo de lixação antes de receber a


primeira camada de base de preparação, feita com o cálcio de ostra.
Sobre essa base já seca, deve-se aplicar uma camada de cola de CMC e
depois mais duas camadas de base de preparação de fécula de batata.
Estas últimas devem ser intercaladas por uma camada de cola de CMC. É
necessário esperar o tempo de secagem de cada ingrediente, antes de
acrescentar o próximo. Só então, o alguidar estará pronto para receber a
têmpera de açafrão-da-terra.

Esse alguidar de barro


é parte de uma obra,
cujo desenvolvimento
está em processo.
Júlia da Purificação
Chaves Fadigas

Tintas de terra: no Rastro do Samba

Tinta a base de terra é uma opção econômica por ser um recurso natural, além
de serem usadas de diversas formas e em suporte diferentes como: papel,
parede, tecido entre outros. A vantagem de usar a terra como pigmento que
não tem custo e é sustentável. Pode ser encontrada em qualquer lugar de
cores variadas, seu pigmento é bem ativo que pode ser diluído em aglutinante
como: goma arábica e para deixar mais espessa a diluída, além de ser bastante
fluida.

Misture o pigmento da terra junto a goma arábica e mexa com uma espátula
até ficar uniforme, se quiser colocar água ela fica mas fluida, para isso coloque
com um contra gota se tiver, se não, use aos poucos e vá vendo a consistência
desejada, para deixar transparente coloque mais um pouco de água.
Importante:
quando for pegar a terra observe se a mesma solta a cor ao manuseá-la, pois,
quanto mais pigmento soltar melhor.
ANA doNascimento
Tinta Para Exu.

Materiais:

Tinta Para Exu.


Materiais

Aglutinante: óleo de linhaça;


Pigmentos: bastão de carvão para desenho (38 uni.) e tabaco
(1 charuto);
Almofariz;
Mesa de vidro ou outro suporte similar (foi utilizado um
Espelho apoiado no chão sobre tecido grosso)
Moleta (foi utilizado um cristal como substituição);
Recipientes para colocar os pigmentos e a tinta pronta;
Espátula (foi utilizada a nº 24);
Frigideira;
Fogão;
Pincel e papel ou tecido para testes

Passo 1: Triturar os pigmentos

O carvão pode ser triturado diretamente no almofariz até


que se obtenha um pó bem fino, também pode ser lixado
antes de passar pelo almofariz, dependerá da textura que
se quer dar à tinta. Quanto mais fino, mais próximo das
tintas industriais irá ficar. Mo meu caso, optei por uma
tinta com mais textura, então, não lixei o carvão antes.

Já para o tabaco é necessário desfazer o charuto e tostar


as folhas na frigideira, sem deixar queimar, só o suficiente
para que saia o máximo possível de água das folhas, que
já estão secas, mexendo e "esfarelando" com a mão ainda
na panela. Depois, basta retirar as fibras que ficam mais
evidentes e passar o "farelo" das folhas no almofariz.
Passo 2: Misturar a tinta

Despeje o pigmento sobre o vidro, abra um espaço quadrangular no meio para acrescentar
o óleo, misture bem com a espátula. Repita o processo quantas vezes for necessário até
obter uma textura pastosa, sempre acrescentando o óleo aos poucos.
Depois de obter uma pasta que se aproxime do que é uma tinta à óleo, passe a moleta (ou o
cristal, no caso) em movimentos circulares, com pressão e força para que pigmento e óleo
se fundam bem. Ao finalizar, basta colocar a tinta em uma embalagem própria para tintas à
óleo, ou em um pote de vidro, hermético de preferência, e utilize quando quiser.
Gisele Mara
Ovos e Ninhos

A decoração de ovos representa, há mais de 3 mil anos, festejos da chegada da primavera,


da fertilidade terra e dos animais. Simboliza o início da vida. Para saudar a vida: OVOS! E
onde há ovos, há NINHOS!

Ao utilizar o ovo quebre-o o mais


na ponta possível e retire a pele
interna passando a ponta do
dedo na casca. Deixe secar.

Para fazer os ninhos, junte


fiapos/fibras de manga; lave em
água corrente e deixe secar. Pese
a fibra e coloque para ferver, por
uma hora em água com
bicarbonato de sódio (1colher
sopa/3l de água); escoe. Repita a
operação até que a água escoada
esteja limpa. Enxágue em água
corrente.
Coloque fibra em solução com alúmen(10g/100g de fibra seca). Ferva por 5 minutos e
desligue. Deixe esfriar e tire o excesso de água. Prepare as soluções para o tingimento com
pigmentos ou coreantes que desejar. Coloque as cascas de ovos e a fibra de manga
umedecida nas soluções e deixe ferver por uma hora. Retire o material da solução e deixe
secar. Para modelar os ninhos, deixando-os mais rígidos aplique uma camada de Cola de
CMC durante a modelagem.
Kézia Chagas

Pintando com café

O alto, intenso e vibrante canto dos pássaros compõem a trilha sonora do meu
estar em casa. O lançar de sementes na terra curiosamente fértil do nosso
quintal fez germinar um pé de chuchu que agora trepa sobre o varal, abraçando
toda superfície que encontrar como apoio para seu constante crescer.

O cheirinho do melhor café feito por minha mãe, agora desperta a vontade de
pintar provocada pela descoberta deste como corante dono dos meus novos e
preferidos tons de marrom e sépia aquarelados.

Técnica, matéria e inspiração encontrados em simples e pequenos atos do meu


dia-a-dia, capazes de despertar um brilho nos olhos e afetar meu fazer e ser
artístico...
Misture uma colher de pó
de café solúvel com uma
pitada de sal.

Acrescente água aos


poucos (em temperatura
ambiente), dosando a
quantidade a fim de
alcançar a concentração
desejada para a fluidez.

Com base em técnicas de


aquarela, realize a pintura.

Utilize como suporte uma superficie


de maior gramatura que permite a
aplicação de diversas camadas de
aguada.

Com uma folha de sua preferência,


aplique a mistura de uma colher de
café mais 4 gotas de mel. A utilize
como carimbo sobre a pintura,
pressionando com os dedos por
cerca de 30 segundos.

Use o pó do café para experimentar


texturas e intensidades diferentes
em um mesmo trabalho
Luíza Bispo

Têmpera Acerola
Corante

400 g de acerola

Modo de preparo:
Para a extração do
corante, coloque a acerola
num recipiente e macere
até extrair todo o caldo da
fruta.

Em seguida, coe numa


peneira de malha fina.

Tingimento

200 ml do corante quente;


½ de café de alúmen de potássio;
1 colher de sopa de água quente;
½ colher de café de bicarbonato de sódio.

Modo de preparo:
Para uma cor mais vibrante, adicione o
alúmen de potássio, a água num
recipiente e misture até dissolver,
acrescente também o corante.
Em seguida, ponha o tecido da sua
preferencia e deixe por cerca de 1 hora.
Para uma cor mais clara, basta adicionar o
bicarbonato de sódio.
Têmpera
com Maltodextrina

2 colheres de sopa de do corante;


1 colher de café de maltodextrina;
2 gotas de óleo de cravo.

Modo de Preparo:
Num recipiente pequeno,
adicione o corante, a maltodextrina e o
óleo de cravo e misture até ficar
homogêneo

Têmpera com Goma Xantana

3 colheres de sopa de do corante;


1 colher de café de goma;
150 ml de água;
2 gotas de óleo de cravo.

Modo de Preparo:
Num recipiente, adicione a água, a goma
xantana e deixe hidratar por cerca de 2
horas ou até formar uma pasta
translúcida. Caso ainda possua grumos,
leve ao liquidificador até dissolvê-los.
Com a incorporação de ar, fica uma pasta
mais turva e cuidado para não danificar o
liquidificador, devido à espessura nesse
processo. Num recipiente pequeno,
adicione o corante, ½ colher de café da
pasta da goma e o óleo de cravo,
misturando até ficar homogêneo.
Max Victor
de Castro Argollo

Fazendo Nós

É bastante acessível tingir pequenos fios, tudo que precisa são os materiais que irá
usar como corante; um recipiente para a mistura (que suporte ser levado ao fogo);
água; mordente (utilizei ou sal ou bicarbonato de sódio); e o fio.

- Coloque no recipiente (de preferência de 250 a 300ml) água até a metade;


- Em seguida o material que deseja extrair corante (proporcional à tonalidade que
deseja alcançar, ex: Duas colheres de chá com açafrão)
- Adicione o mordente (para essa proporção de água, apenas uma colher de chá
basta) e misture;
- Ponha o fio e leve ao fogo até começar a borbulhar, ou o fio afundar na mistura;
- Mantenha o fio ainda na mistura, mas fora do fogo, por 30 minutos;
- Após o tempo, retire o fio e deixe secar (secagem no sol ou na sombra interfere na
absorção final dos corantes).
Nós,
amar(r)ações.
Nós,
primeira pessoa do
plural.
Maria Sophia
Rebouças Franco

A Metamorfose das Cores


com repolho roxo
Uma das belezas de pintar com
ingredientes naturais é observar como as
colorações se alteram. Uma das receitas
com que mais gostei de trabalhar,
exatamente por essa razão foram as das
têmperas de corante de repolho roxo,
com a qual podemos obter três
tonalidades: roxo, rosa carmim e azul.

Ingredientes: Um repolho roxo pequeno - ¼ de limão - Uma colher de chá


de bicarbonato de sódio - Alúmen de potássio ou sal - Um filtro de café ou
um pano antigo - Algum tipo de goma para usar como aglutinante (goma
arábica, goma xantana, de tapioca ou até mesmo cola branca) - Óleo ou
essência de cravo (para usar como fungicida).
Modo de preparo:

1. Rale seu repolho roxo e com o


filtro de café ou pano esprema até
sair seu suco em um potinho,
adicione uma pitada de alúmen ou
sal e mexa até derreter. Reserve um
pouco desta parte, ela já é o nosso
corante roxo;

2. Divida o restante do conteúdo em


dois recipientes, em um deles
adicione o limão e no outro o
É importante dizer que por essas
bicarbonato de sódio. Vá adicionando
tintas terem sido feitas a partir
tanto o limão quanto o bicarbonato
de corantes e não de pigmentos
devagar e pare quando tiver chegado
elas tendem a desbotar com o
aos tons desejados;
tem e com a ação da luz.

E continue a observar suas 3. Separe três recipientes do


pinturas porque elas também aglutinante de sua escolha
podem mudar de cor! diferentes e adicione 10 gotas de
óleo de cravo em cada um;
O meu azul virou verde
amarelado e meu rosa fico mais 4. Vá adicionando os corantes aos
roxo com alguns pontos azuis. poucos até atingir a cor e a
consistência adequados, é pronto!
MIKE SAM CHAGAS

Têmpera Spirulina

A Spirulina é um suplemento em pó obtido a partir de algas. Pode ser


encontrada em lojas de suplementos, ervas, feiras e supermercados. Rende
boas tintas para gravura (se mais espessa) para aquarelas (se mais diluída) ou
para guache, se acrescentada carga.

- Misture o pó com uma parte igual de goma arábica e mexa com espátula até
ficar uniforme. Acrescente água aos poucos, variando a quantidade conforme a
fluidez desejada. Para torná-la opaca ou clarear acrescente pasta de dente ou
talco.

- Para suporte o guardanapo de papel pode receber imprimaturas de gesso cré


mais cola ou encolagem de resina acrílica para ficar menos absorvente e mais
resistente.
Corpo, meu Corpo o que será do Corpo?
Raquel Cardoso
Tecendo Memórias

MACERAÇÃO E DECANTAÇÃO
Macerar a terra até que fique em grãos bem
finos. Colocar essa terra macerada e
peneirada em um pode de vidro com água e
deixar decantar por 48 horas, depois desse
tempo ir retirando a parte mais fina, a que
está por cima, a parte mais grossa pode ser
usada para o tingimento, colocar essa terra
decantada em pequenas bonecas de tecidos e deixar secar. No processo
realizado para maceração foi usado uma placa de vidro e um cristal.

MORDANÇAGEM
colocar o tecido na água fervente
com 1 colher (sobremesa) de
alúmen de potássio, deixar ferver
por 30 minutos. Aconselha-se
usar de 8 a 15% de alúmen sobre
o peso da fibra.
ÓXIDO DE FERRO - colocar uma
palha de aço de molho no vinagre
com um pouco de água, deixar
por no mínimo 72 horas.

TINGIMENTO COM TERRA

Colocar duas bonecas contendo


a terra na água fervente,
acrescentar a água da
mordançagem e duas colheres
(sobremesa) de cloreto de sódio
(sal), colocar o tecido ainda
molhado da mordançagem e
deixar por 1 hora e 20 minutos
em fogo médio/baixo, desligar o
fogo, deixar esfriar e lavar em
água corrente até sair todo
excesso do corante.
TINGIMENTO COM A ÁGUA
DO FEIJÃO PRETO

Colocar 01 Kg de feijão preto de


molho por 10 horas, trocar a água e
deixar por mais 1 hora. Levar essas
duas águas ao fogo, quando estiver
bem quente acrescentar a água da
mordançagem e colocar o tecido,
deixar em fogo médio/baixo por 1
hora, deixar esfriar e lavar em água
corrente.
Antes de colocar o tecido na água
do feijão é necessário fazer o
processo da purga e da
mordançagem.

IMPRESSÃO BOTÂNICA

Embebecer o tecido no vinagre por 4 horas, esticar o tecido e colocar as folhas


banhadas no óxido de ferro, de duas em duas, uma de frente para outra,
dobrar os tecidos duas vezes e enrolar no tubo de PVC (pode ser em tubo de
alumínio ou no bambu), amarrar bem firme com barbante, colocar em água
fervente com duas colheres (sobremesa) de alúmen de potássio.

Deixar em fogo médio por 1 hora e 30 minutos, desligar o fogo e deixar esfriar,
retirar da água e deixar secar ainda enrolado por umas 6 horas, desenrolar,
retirar as folhas, lavar e deixar secar a sombra.
PINTURAS E BORDADOS

Pegar dois cabos de


vassoura, fazer uma ponta
em uma das extremidades
dos cabos e lixar. Misturar
massa acrílica com
pigmento de terra e aplicar
na bola de isopor, lixar e
colar na outra extremidade
do cabo de vassoura.
As pinturas foram feitas com pigmentos de açafrão, terra, beterraba e pó
xadrez diluídos em água e cola. Os círculos são tecidos tingidos com terra e
água do feijão. Os bordados são feitos com linhas tingidas com corantes
naturais de açafrão, água do feijão, casca de cebola e salsa.

CORTAR E TECER

Cortando fios, tecendo


histórias, assim é esse meu
trabalho, referência de vida
e memórias impregnadas
no tecido manchado pela
tinta. Pintados, bordados,
recortados. Nesse extenso
fio de vida entrelaçado aos
largos passos da agulha:

a busca,
a construção,
o crescimento
e o desenvolvimento.
Bahia
ENCÁUSTICA COM PARAFINA DE CARNAÚBA
Munido da falta de dinheiro e revoltado com a quantidade insuficiente de
insumos para criação de pinturas a cera, eu fui atrás de opções mais baratas
porem teoricamente duradouras de encaustica, logo me deparei com uma
ideia que eu já vinha contemplando a algum tempo, uma tentativa de
encaustica com parafina então me inspirei e fui buscar criar um médium mais
acessível mas que também poderia se moldar muito melhor as minhas
necessidades enquanto artista.

Na imagem: EPI's, insumos para preparação, panela, fogareiro, tinta pronta em formas redondas, colheres
para mistura, bastões de cera encaustica pinceis e espatula para aplicação.

Para essa receita são necessários os seguintes instrumentos: uma panela, um


fogareiro elétrico ou outra fonte de calor (de preferência sem chama), uma
forma para deixar o médium endurecer.
Dito isso, algumas precauções devem ser tomadas ao trabalhar na confecção
de médium e ao pintar com encaustica, deve-se usar os EPI tais como: luvas de
proteção para líquidos quentes (acima de 80°), avental, sapatos fechados, calça
comprida, máscara de proteção com filtro, óculos de proteção. Há risco de
queimaduras, intoxicação por gases e chamas neste experimento então é
recomendável ter o devido respeito e cautela.
Para este médium são necessários os seguintes insumos: cera parafina, cera
carnaúba, óleo de linhaça comum, verniz damar e carbonato de cálcio, nas
seguintes proporções medidas em gramas:

INSUMO %%%%%%
Carbonato de cálcio 11%
Verniz damar 5,6%
Óleo de linhaça 11%
Cera parafina 39%
Cera de carnaúba 33%

A receita deve ser feita da seguinte maneira:

Em uma panela junta se em ordem e mexendo de maneira constante a


parafina e a carnaúba, depois o damar e o óleo e por fim o carbonato de cálcio,
mexendo tudo muito bem até ficar completamente homogêneo. A fonte de
calor deve permanecer constante e baixo. Pode-se separar esse médium em
forminhas criando pequenos tabletes ou em uma grande forma tornando-o um
grande solido. Pode-se também caso seja este o desejo do criador adicionar o
pigmento conforme o tom desejado e começar a pintar.
O carbonato de cálcio foi adicionado para conferir um pouco mais de opacidade
e diminuir o amarelo do médium. O verniz damar e o óleo de linhaça foram
adicionados para diminuir o ponto de fusão da encaustica e conferir a ela maior
elasticidade. A cera parafina é o que compõe maior parte do corpo da
substancia, ela tem um ponto de fusão muito baixo e tende a craquelar. A cera
carnaúba serve para conferir um maior ponto de fusão e dureza ao médium
quando seco.

tintas quentes no fogareiro prontas para pintar, pintura completa, pigmentos em


pó e bastões de cera encaustica
Sandra Lucena
Primavera na Quarentena

Orquídeas e Têmperas

Têmpera Açafrão Têmpera Páprica


Ingredientes Ingredientes

Açafrão da Terra em pó Páprica em Pó


Alúmen de Potássio Alúmen de Potássio
Água Água

têmpera usada na pintura da têmpera usada na pintura da


bandeja de MDF bandeja de MDF
Quadro com fundo de
estopa usando orquídeas
secas e folhas caídas que
fui recolhendo ao longo
desta "primavera na
quarentena"
Gisele Mara
Preparando a Cola de Pele de Coelho

A cola de pele coelho é um aglutinante orgânico e foi muito utilizada em


séculos passados, como adesivo e selador. Ainda hoje é utilizada em
douração e como aglutinante na pintura artística.

Pegue uma pele de coelho fresca e limpe-a, raspando com faca os restos
de carne e gordura da parte interna. Em seguida, mergulhe a pele de
coelho em água quente (máximo 80ºC) e retire-a; ao puxar os pelos, eles
soltarão facilmente da pele. Corte a pele em pedaços bem pequenos e
deixe de molho por, no mínimo, 24 horas. A água deve cobrir os pedaços
de pele.
Leve a pele com água ao banho-
maria e, com termômetro,
mantenha a temperatura entre 60 e
70º C por uma hora, mexendo de vez
em quando. Coe o material ainda
quente e acrescente 10 gotas de óleo
de cravo. Guarde na geladeira e use
em até três dias. Ou deixe secar ao
sol. Após secagem guarde os
pedacinhos em local seco. Para
usar, adicione 100 mL de água para
cada 10g de cola e deixe de molho
por 24 horas.

Para dissolver a cola, aqueça em


banho-maria, sem ferver. Adicione
gotas de óleo ou essência de cravo.
Use para fazer encolagens ou
imprimações.
Graça Moura
Têmpera Buganvília
sobre Papietagem

Papel Artesanal e Papel machê


(Através de técnicas francesas)

Técnica do amolecimento do papel, em água


com cloro, por uns 15 dias. Depois tritura no
liquidificador, põe num balde e com uma
peneira fina vai retirando pequenas porções
de papel, deixa escorrer a água, com cuidado, bate a peneira num pano e põe
pra secar no varal com pegadores. Depois retira o papel, já seco, preso ao
pano.*Papietagem:*Técnica que usa recortes de papel grosso ou papelão
fino, mergulha esses recortes numa cola diluída, em um pouco de água, e vai
construindo, em alguma superfície, camadas de papel coladas uma sobre as
outras. Obtem-se, com essa técnica, uma superfície rígida, com a dureza da
madeira.
Norton Cardoso
Tingimento de Aroeira

Há magia nas olheiras debaixo de meus olhos. Há magia nas luas que gastei
entre orações e pesquisa, medindo água e sais, misturando ervas,
procurando incansavelmente a cura para as feridas de um povo que, assim
como eu, morre por existir e amar fora da norma.

No meu jardim, encontro a árvore de minha vida e minha morte: a aroeira,


poderosa cicatrizante, que como eu, precisa ser ferida para fechar as veias
abertas do mundo.

Tomo duas mãos cheias de suas cascas, ponho em uma caçarola a fogo alto,
e as fervo por meia hora em um litro de água limpa.

Os panos para o curativo descansam submersos numa solução de meio litro


de água e uma colher de sal grosso por pelo menos 40 minutos, para que o
tingimento se fixe.
E sobre os corações, mentes,
almas, peles e pulsos feridos –
que também são meus – ponho a
cura: um punhado das folhas de
minha vida e morte, macerado
em uma tigela, com água quente
suficiente para formar uma pasta
consistente.

Aplico direto sobre a ferida, cobrindo com duas camadas de gaze, e ponho o
pano tingido logo em seguida. Assim, fecham-se anos de culpa e autoflagelo.

Anos longe do sol, sob as cinzas da condenação, apodrecendo em normas


engessadas que apagam o brilho de minha essência. A paz está feita. A cura foi
encontrada.

Até a completa cicatrização, o curativo deve ser renovado diariamente, com o


amor e cuidado devidos à pele que abriga o paciente – e que também é
minha..
Sandra Moreno
Quem você convidaria para jantar?
ConVIDA!

O Projeto foi pensado para integrar os ingredientes da


cozinha às pessoas num evento socializante, como um
jantar. Quem você convidaria para jantar? ConVIDA! Nesse
contexto de isolamento social, provocado pelo COVID-19,
convidar alguém para jantar é convidar para estar perto, o
que hoje é uma ação de risco, mas aqui se propõe a um
convite à esperança, um convite ao afeto, um convite a
servir o outro, a compartilhar alimentos, sentimentos,
emoções, sentidos. É um convite à VIDA!

A disciplina Têmperas e Temperos: tintas artesanais em experimentos caseiros, oferecida para o


Semestre Letivo Suplementar - SLS, elevou e ampliou o meu olhar para outras possibilidades,
quando nos propôs conhecer o potencial pictórico que a cozinha pode nos oferecer, através de
raízes, plantas e ingredientes.

Ao longo do processo de conhecimento e experimento dos materiais, a cozinha se transformou


num ateliê. Pigmentos e corantes naturais foram obtidos da natureza, da despensa da cozinha, das
feiras, mercados e foram utilizados para tingir roupas, corpos, cabelos, pintar objetos e pratos do
Cardápio.
O FOGO e o CARVÃO esquentam a comida. O
VINHO aguça os sentidos e desperta os
sentimentos. A SALADA, o PRATO PRINCIPAL,
a SOBREMESA e o CAFÉ compõem o
Cardápio.
Profª Viga Gordilho
Artista convidada
Para a TTT:
turma de
têmperas & temperos.

O semestre suplementar da
UFBA de 2020 foi um
verdadeiro ritual de passagem
para mim – uma celebração!

Em novembro desse ano, me


aposentei. Em minha
despedida da graduação, uma
experiência singular: retomar,
o significado original e o
sentido, no contexto atual, da
comparTRILHAmentos com a TTT e a artista africana
palavra têmpera. Celia DeVilliers

Sua origem latina remete a temperare: combinar em proporções devidas,


temperar, abrandar, regular, ordenar, modular, moderar, refrear, e adentrar,
literalmente, na cozinha, lugar preferido dos alquimistas, na Europa
renascentista, onde aproveitavam a proximidade do fogo para tramar suas
fórmulas mágicas...

Com essa inspiração, os estudantes trabalharam com diferentes materiais,


condimentos e ingredientes: açafrão, urucum, chás, verduras, sementes e
flores coloridas, beterraba, cenoura, repolho roxo, cebola, feijão, abacate,
hibiscos, aroeira... Testaram a alcalinidade e a acidez de variados mordentes –
sal, vinagre, alúmen de potássio, cal, sulfato ferroso, cola de metil celulose...
Temperaram pigmentos inorgânicos com gema e albumina, simulando, às
vezes, a ação de fungos e bactérias, em páginas de diferentes suportes, para
criação de um “livro de artista”. Há, nesse percurso, um comprometimento
estético, intrínseco à dimensão sinestésica. O ambiente se foi tornando parte
dos sujeitos por meio da porosidade corpórea – pele, boca, nariz, ouvidos –,
inundando-os com têmperas e temperos emergentes da experiência,
transmutados em sensações e fruições estéticas.

Essas vivências me levaram a reconstruir cada cena vivenciada no Mestrado,


enquanto escrevia minha dissertação: Terra, homem e signo, uma criação
plástica com pigmentos, corantes e fibras naturais brasileiras associadas a
possibilidades sintéticas. Pigmentos e corantes ficaram impregnados na minha
pele e na minha alma... Retomá-los com os colegas Mike, Luiz Mário, Túlio, e os
inquietos alunos da disciplina foi uma rememoração, em tempos tão difíceis,
em que a experiência da morte me apresentou a vida em toda sua
intensidade...
Seguramente, nessa abordagem da impregnação, integrante da experiência
estética, encontra-se presente o ponto de vista fenomenológico de Merleau-
Ponty (1908-1961), que defende a sinestesia como colaboração unificada de
todos os sentidos. Assim, através de conferências e inúmeras trocas virtuais a
despedida da graduação foi plena, desenhando-se com as cores da natureza,
impulsionada pela experiência de superação da passividade, em que a
apreensão estética cria possibilidade de sermos atores, agentes, receptores e
fruidores multissensoriais.

Agora, como artista convidada, visito os registros e me encanto com os


documentos dos percursos criativos, as receitas tingidas e tecidas que ecoam,
aqui – configurando o universo particular de cada aluno que mantém acesa,
em si, a chama alquímica...

Pensem numa mestra feliz!...

Viga Gordilho
Prof.ª Titular aposentada da EBA/UFBA

cena montada para a TTT


Têmperas & Temperos,

duas palavras que sempre estiveram no nosso vocabulário, que não recordo
jamais tê-las pronunciado assim, uma na sequência da outra. Como pintor
sempre labutei com o mesclar das matérias em busca de tintas, corantes e
suportes capazes de revelar textura, cor, tom, fluidez e maleabilidade, possíveis
de resultar obra plástica a ser sorvida pelo olhar. Utilizando mesmo
movimento, mas esse de forma empírica como desafio pessoal, sempre que
posso passeio por fazeres culinários, lidando com ingredientes diversos,
objetivando alcançar outros sentidos a fim de despertar o prazer do alimentar
o corpo.

Assim, ao ouvir o Profº Mike Sam Chagas pronunciar as duas palavras como
título de um possível transito experimental do Atelier para a Cozinha, de
imediato, sem hesitar, aceitei o honroso convite. Recorrendo aos meus
guardados no Casatelier¹ , encontrei uma receita que escrevi em uma
publicação² , datada de 1999, para as Celebrações dos 450 Anos de Fundação
da Cidade de Salvador, que assim dizia:

Coloque um pingado de amarelo,


salpicado de branco espumante, e deixe marinar em águas azuis de
profundos verdes...reserve.
Em superfícies de texturas lilás, contorne vermelhos ardentes
recheados de alaranjadas contas.
Misture tudo e polvilhe com pigmentos ocres; leve ao tempo para cristalizar por
450 breves períodos, e pronto!
Sirva acompanhado de fluidos transparentes
que brotam de muitas nascentes da terra.
Sinhô pode até exprementar...
Todavia, pra provar deste quitute no inteiro da emoção, tem que
nascer brasileiro, iniciado Bahia, amamentado Salvador e, por fim, batizado
soteropolitano.³

Vinte e um anos depois, considerando que a ordem mundial para esse ano de
2020, em decorrência do Vírus Chinês, é “fique em casa”, transitar nesses
ambientes (Atelier/Cozinha), onde a alquimia suscita o prazer da descoberta, se
revelou antidoto contra o tedio decorrente do confinamento involuntário sem
“tornozeleira”. Pronto, juntamente com os Professores Viga Gordilho e Túlio
Vasconcelos a equipe estava formada e os preparativos metodológicos do
“Banquete Estético” a ser partilhado com outros “Comensais da Arte”,
começavam a se delinear.

1 CASATELIER, meu atelier/residência entre 2000 e 2011,


atualmente Espaço de Arte e Eventos em Itapagipe. SSA-BA.
2 ADAIR, Atelier Maria. ARTE ARTE SALVADOR 450 ANOS, Fundação Gregório de Mattos. Salvador-
Bahia, 1999
3 ADAIR, Atelier Maria. Ibid. pag. 52.
Quase nos mesmos moldes poéticos da receita supracitada, recorrendo
estrategicamente apenas ao que se tem à mão e em casa, para se fazer, a igual
que diversas culturas, “algo de comer”, basicamente produzido com as sobras
(exemplo: risoto francês, paella espanhola, ou mesmo feijoada e sarapatel
brasileiro), listamos o passo a passo para a criação do cardápio artístico a ser
construído no SLS.

E assim foi: Recorra a sua dispensa e/ou ao seu jardim, ou


quintal e colete condimentos, plantas, talos, caules, galhos, troncos, folhas,
raízes, sementes, grãos, peles, óleos, extratos, essências e outros.
Depois lave, escorra, ferva, esprema, peneire, seque, torça, enrole, embrulhe,
amarre, desfie, estique, estenda, macere, liquidifique e reserve.
Separe instrumentos e equipamentos de produção, manipulação,
proteção e mãos a obra.
Catalogue, acondicione, escreva, calcule, desenhe, fotografe,
filme e registre tudo que segue fazendo em um caderno que seja somente seu.
Agora vai à indicação principal: não guarde nada para você.
Compartilhe tudo.

Fato que, quando não enchíamos as caixas de WhatsApp do nosso grupo


diariamente, nas tardes das terças e quintas-feiras de setembro a dezembro,
sorvemos com disciplina, entusiasmos e prazer os resultados das descobertas
individuais. Assim apareceram chás, corantes, colas, pigmentos, suportes,
emplastos, módulos, pinturas, desenhos, bordados, colagens, cadernos,
objetos e outras expressões artísticas transitando criativamente pelo
salão/atelier virtual propiciado pela plataforma Google Meet.

Vibramos, enquanto equipe que tem um desafio a cumprir e uma


responsabilidade a exercer. Efetivamente, me refiro ao crescer de todos vocês,
enquanto indivíduos, pesquisadores, solidários, parceiros, criativos, sensíveis e,
sobretudo entusiastas do saber. Dito isso, a igual que no último parágrafo da
receita ilustrativa a essa resenha, peço licença para afirmar que apenas nós,
umas quatro dezenas de artistas da nossa Escola de Belas Artes envolvidos em
Temperas & Temperos, somos capazes de “provar deste quitute no inteiro da
emoção”.

Satisfeito, só me resta agradecer o tanto que me foi ensinado por todos e


desejar que o sucesso individual seja alimento/meta na trilha profissional de
vocês. Agradecimentos especiais para a mais nova Profª Aposentada da EBA -
UFBA, a Colega Viga Gordilho pelos “comparTrilhamentos”, ao Profº Mike pelo
convite e ao Profº Túlio pela parceria de sempre.

Pela Vida e para a Vida, bom apetite!


Luiz Mario
Dezembro 2020
GLOSSÁRIO
Acessórios: Materiais auxiliares para a construção, integração, fixação e proteção da
obra de arte.
Acidez: refere-se a um composto capaz de transferir Íons (H+) numa reação química
podendo assim diminuir o pH de uma solução aquosa. Em pintura a acidez é um
elemento prejudicial às tintas e suportes.
Aditivos: Quaisquer substâncias adicionadas à tinta para propiciar efeitos
específicos.
Aglutinantes: Substância orgânica ou sintética que irá unir as moléculas da tinta e
fixar o pigmento/corante na superfície do suporte. Os aglutinantes são podem ser
resinas (vegetais, acrílicas, fósseis), colas, óleos, gomas etc.
Alúmen: mineral extraído de pedreiras vulcânicas ou sintético. Funciona como
mordente na fixação da cor no tecido. O mais utilizado em tingimento é o alúmen de
potássio.
Ancoragem: ou dente, refere-se ao relevo e textura da tela. Quanto mais áspera e
rugosa for o suporte mais espaço entre as fibras existe para que a base de
preparação e a camada pictórica adiram ao suporte.
Artificial: elemento que sofreu interferência, beneficiamento ou processamento de
técnicas humanas. Neste sentido, todos os pigmentos ou corantes são artificiais, pois
dependem das técnicas de extração ou beneficiamento.
Base de Preparação: sequência de camadas que visam isolar o suporte da
tinta. De um modo geral a Base de Preparação é um processo composto por duas
encolagens e duas imprimações, comumente feitas a partir da mistura de um
carbonato mais aglutinante.
Boneca: Trouxinha feita de algodão amarrada por fio de prumo com um cordão que
permite a imersão ou cozimento de determinadas substâncias em água ou solvente.
Serve também para secagem de materiais.
Camada Pictórica: filme ou película microscópica feita a partir das tintas, que
caracteriza a própria pintura.
Carbonato: substâncias minerais que são beneficiadas para obtenção de um pó fino
e opaco. Em pintura o carbonato mais utilizado é o de Cálcio, que pode ter origem
rochosa (gipsita, dolomita) ou em partes duras de elementos orgânicos
(ostras, algas, casca de ovos).
Cargas: tipo de insumo mineral utilizado como enchimento e redutor de custo,
propiciando maior rendimento à fatura de tinta. Em geral as cargas servem como
agente opacificante, isto é, tornam as cores opacas, retirando sua transparência. A
característica fundamental das cargas é serem inertes, ou seja, não possuírem poder
cromático garantindo que não alterem a cor dos pigmentos.
Cartão: Suporte de papel espesso, geralmente feito de Papelão, Papel Couro ou
Panamá.
Corantes: substâncias de natureza variada (orgânica, vegetal, mineral, sintética) que
possuem a capacidade de reter determinadas ondas de luz específicas e refletir
outras de maneira predominante, gerando a cor. Os corantes diferem-se dos
pigmentos no sentido de que são substâncias solúveis em qualquer meio, e que, se
adicionadas à outra substância, alteram a cor desta.
Decantação: processo de separação que permite separar misturas heterogêneas.
Utilizada principalmente em misturas bifásicas, como sólido-líquido (areia e água).
Encolagem: camada de cola aplicada às superfícies com o intuito de isolar a camada
pictórica do suporte.
Fungicidas: substâncias que ajudam na preservação e durabilidade das tintas,
principalmente das tintas artesanais. Também chamados de preservantes ou
conservantes.
Gesso: mineral abundante na natureza produzido a partir do aquecimento da gipsita,
e sua posterior redução a pó da mesma. Em Arte os gessos mais utilizados são o Cré e
o Acrílico tanto para imprimação quanto para carga na fatura das tintas.
Goma: cola feita a partir de amidos extraídos de plantas ou exsudações de
determinadas madeiras. Na pintura as gomas servem como aglutinantes ou para
encolagens.
Gramatura: unidade de medida para se calcular a espessura do papel que
se refere ao seu peso em gramas/m².
Higroscópica: que absorve água.
Imprimação: Uma das etapas da Base de Preparação. Consiste na aplicação de um
Carbonato diluído em água e cola que resultará numa superfície dura e elástica.
Atualmente a imprimação é feita com gessos acrílicos ou cré, ou ainda com tinta PVA.
Mediuns: São misturas ou emulsões geralmente feitas a partir de um aglutinante e
um solvente, no intuito de equilibrar a fatura da tinta.
Mordente: substância associada ao tingimento com a função específica de manter a
durabilidade da cor, conferindo maior resistência às lavagens e exposição ao sol.
Pode ser de origem vegetal, como o tanino (substância extraída da casca de algumas
plantas) ou mineral como sais de crómio o alúmen (pedra-ume).
Natural: substância produzida pela Natureza, sem beneficiamento ou interferência
humana.
Óleo Essencial: extratos oleosos obtidos a partir de vegetais (Cravo, lavanda,
Melaleuca, Capim Limão, Bergamota, Canela etc.). Destacam-se por suas
propriedades antifúngicas e antibacterianas. São eficazes na utilização em têmperas
de qualquer natureza.
Orgânico: que não possui adição de substâncias químicas sintéticas.
Pilão: também conhecido como moleta ou almofariz é um instrumento para moagem
de pigmentos ou materiais. Para pintura os mais indicados são os de ferro ou pedra.
Pigmentos: substâncias de natureza variada (orgânica, vegetal, mineral, sintética) que
possuem a capacidade de reter determinadas ondas de luz específicas e refletir
outras de maneira predominante, gerando a cor. São classificados em opacos
(cobrem a superfície completamente), semitransparentes (cobrem parcialmente a
superfície) e transparentes (não cobrem a superfície onde são aplicados). Os
pigmentos são compostos químicos insolúveis, ou seja, não se dissolvem em nenhum
meio. Para a composição da tinta o que irá ocorrer é a produção de uma dispersão
em emulsão (as partículas do pigmento são finamente moídas até que poderem ser
transportada pelos veículos: água, óleo etc.).
Poética: Conjunto de elementos expressivos (forma, cor, tema, estilo, discurso) que
dão sentido estético à pintura. A poética pode influenciar na escolha ou abordagem
do suporte, da tinta e da cor a serem trabalhados.
Polímero: matéria prima feita a partir de processo industrial do qual é produzido
uma emulsão acrílica que serve para a produção de tintas, vernizes, resinas, colas,
massas, selantes. As formas mais conhecidas da aplicação na Arte são o Gesso
Acrílico, a Cola PVA (Acetato de Polivinila, Cola Branca), Vernizes Acrílicos e a tinta
Acrílica. Como aglutinante a Cola PVA pode ser usada nas têmperas.
Resina: grupo de substâncias vegetais (extraídas das folhas, casca e raízes) ou
sintéticas. Estas substâncias são usadas na fabricação de vernizes, remédios, sabões e
tintas. Em geral têm gosto e cheiro ativos e podem ser sólidas ou líquidas.
Sintético: Produção em laboratório de reações químicas que imitam substâncias
naturais, estas geram materiais obtidos artificialmente, ou seja, que contém
substâncias desenvolvidas em laboratório e não extraídas diretamente da natureza.
Secantes: Substâncias que aceleram a secagem da tinta, em particular da tinta à óleo.
Sua utilização deve ser evitada o máximo possível, pois pode causar um efeito
contrário caso seja usada em demasia.
Solúvel: que se dissolve em um líquido, o oposto de insolúvel.
Solvente: também chamado dissolvente ou dispersante aquela substância que na
pintura têm a propriedade de diminuir a concentração de outro líquido, sem que
sejam alteradas suas características químicas. Também chamados de veiculo ou meio,
permitem a dispersão de outra substância em seu meio.
Suporte: local sobre onde a camada pictórica será construída (papéis, paredes,
tecidos, madeiras, telas, chapas etc.). O que dá sustentação à pintura.
Verniz: são preparados que servem de proteção para a camada pictórica. Sua
composição é uma resina diluída em solvente ou de polímeros sintéticos.
Outras Receitas

sugestões de preparos
misturas e materiais para
produção de pigmentos,
corantes, aglutinantes, extratos
e tingimentos.
Receita básica de têmpera

Quando nos referimos a Têmpera, atualmente nos vem a ideia da tempera à


ovo, como sendo a têmpera original. De fato a têmpera ovo recebeu esta
distinção ao longo dos séculos, muito devido a uma maior especialização da
produção industrial de tintas, que precisava diferenciar os seus produtos para
os pintores. Hoje temos a tinta óleo, tinta acrílica, tinta guache e tinta aquarela,
das mais populares. Porém, de um modo geral podemos considerar todas as
tintas contemporâneas ainda como têmperas, pois assim como a têmpera ovo,
são um produto de uma mistura de variados insumos (pigmentos, aglutinantes,
cargas, preservantes e aditivos).

Desta forma temos inúmeras possibilidades de produção das tintas artesanais


sendo que a sua formatação mais básica é aquela composta de um pigmento +
aglutinante. Outros elementos que entram nesta fatura visam estabilizar ou
adicionar características específicas à tinta. Logo, as temperas são produzidas a
partir da seguinte receita:

Pigmento
(orgânico, sintético)
+
Aglutinante
(colas, gomas, resinas orgânicas ou acrílicas, óleos, gorduras, ceras)
+
Cargas
(carbonatos, gessos, talcos)
+
Preservantes
(fungicidas, óleos essenciais)
+
Aditivos
(espessantes, vernizes, solventes, secantes)

a partir desta fórmula temos por exemplo na têmpera ovo:

Azul Cobalto (pigmento) + Gema de Ovo (aglutinante) + Kaulim (carga)


+ Óleo de Cravo (preservante) + Mel (aditivo).

A proporção dos ingredientes varia conforme a natureza dos mesmos, haja


visto que a produção das pinturas deste catálogo utilizou receitas bem
específicas para cada trabalho. O equilíbrio particular entres os insumos, que
muitas vezes depende da compatibilidade entre eles, virá conforme a prática, e
é o que garante uma boa tinta, que seja colorida, durável e estável.
Têmpera Ovo Clássica (pode-se usar a gema, a clara ou as duas em conjunto)

Gema
1 parte de gema de ovo sem pele
1 parte de água
3 gotas de óleo de cravo
1 parte de pigmento

Retire a película que envolve a gema (usando um separador ou peneira) e em


um recipiente misture o pigmento até obter a uniformidade. Acrescente os
demais ingredientes e mantenha em um pote fechado. Havendo sobra pode-se
guardar por alguns dias na geladeira.

Clara
1 clara de ovo
3 gotas de óleo de cravo
1 parte de pigmento

Bata a clara em neve, e deixe-a descansar num recipiente com tampa até que o
soro resultante da decantação escorra por completo. O soro funcionará como
o aglutinante para a tinta. Repita o mesmo procedimento da gema.

Ovo Inteiro
Repita o procedimento da gema e da clara misturando os dois líquidos. Esta
receita possuirá entretanto uma durabilidade menor que as anteriores.

Têmpera Palha de Aço


3 palhas de aço ( para obtenção do pigmento)
1 parte de Goma Arábica (aglutinante)
1 parte de água (solvente para diluição)

Molhe completamente a palha de aço e deixe secar. Aos poucos acontecerá a


oxidação do aço, fazendo a palha se tornar quebradiça. Moa até obter um pó
bem fino. Repita a mistura os ingredientes. Nesta receita temos uma têmpera
mais aguada, que ficará semelhante a uma aquarela. Caso queira uma tinta
com maior cobertura acrescente uma carga (gesso, talco, carbonato) e a tinta
ficará semelhante a um guache.
Têmpera Acrílica Açafrão
1 parte de Resina Acrílica (Cola Isopor, Cola PVA, Cola Slime)
1 parte de água
1 parte de Açafrão

As têmperas acrílicas, são assim denominadas pois o aglutinante utilizado é


uma resina acrílica sintética, comum na composição das colas
contemporâneas. Seu aspecto é idêntico à Tinta Acrílica industrial pois ambas
utilizam a mesma base. A grande vantagem destas têmperas são a dispensa de
fungicidas, devido a alta conservação das colas. A desvantagens é que assim
como a tinta acrílica uma vez seca, é impossível de ser reutilizada, por isso
recomenda-se guardá-las em potes herméticos e longe do calor. Para retardar
a secagem usa-se o medium acrílico, um composto de glicerina e água.

Têmpera Óleo Tijolo


1 parte de óleo de linhaça (ou algum óleo secativo)
1 Tijolo Cerâmico (para obtenção do pigmento)
1 parte de terebentina (solvente para diluição)

Triture o tijolo e moa até obter um pó mais fino possível. Numa superfície
plana (vidro, pedra de mármore, azulejo) misture o pó obtido ao óleo
misturando com espátula até gerar uma mistura bem uniforme. Para variar a
fluidez adicione durante a pintura gotas de Terebentina (se mais rala) ou verniz
(se mais espessa). O pigmento terroso obtido a partir do tijolo pode ser
substituído por qualquer argila, por exemplo a conhecida areia para gatos.

Têmpera de Uva com Pasta de Dentes

1 parte de extrato de Uva (ou algum extrato colorido, Hibiscus, Urucum)


1 parte de Pasta de Dentes
1 parte de água

A pasta de dente neste caso servirá como aglutinante e carga ao mesmo


tempo, fazendo com que a tinta seja muito semelhante a um guache.

Têmpera EBA
20 amoras maduras colhidas na Escola de Belas Artes
1 parte de verniz acrílico
300 ml de álcool
5 gotas de mel

Lave as amoras e deixe-as de molho no álcool por alguns dias. Macere bem até
obter uma espessura de uma geléia e mantenha refrigerado.
Este preparo servirá como um pigmento base para a produção da tinta que,
deve ser feita sempre na hora da pintura. Retire uma parte da base e vá
acrescentando o verniz acrílico.

Têmpera Gelatina

1 pacote de gelatina colorida


Gotas de Óleo de Cravo
1 parte de água morna
Talco (caso queira opacidade)

A gelatina será ao mesmo tempo o pigmento e aglutinante, pois sua


formulação já contem tanto o corante quanto a cola animal. Num recipiente vá
adicionando a água aos poucos observando que não fique nem tão espessa
nem tão rala. Acrescente as gotas de cravo. caso queira uma tinta semelhante a
uma aquarela mantenha, para uma tinta semelhante ao guache adicione talco,
ou algum carbonato.
REFERÊNCIAS

BARCELOS, João. Pintura além do Pincel. Disponível em:


http://www.joaobarcelos.com.br/alem_pincel.htm

CENNINI, Cennino. El libro del arte. Buenos Aires: Argos, 1947.

DOERNER, Max . Los materiales de pintura y su empleo en la arte. Barcelona:


Reverte , 1947.

ETCHEVARNE, Carlos. Escrito na pedra, cor, forma e movimento nos grafismos


rupestre da Bahia. Rio de Janeiro: Odebrecht, 2007.

FAZANO, Carlos Alberto T.V. Tintas, métodos de controle de pinturas e


superfícies. 2 ed. São Paulo: Hemus, 1995.

MAYER, Ralph. Manual do Artista. 5ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015.

MOTA, Edson. Iniciação à Pintura [por] Edson Mota e Maria Luiza Guimarães
Salgado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976.

PEDROSA, Israel. Da cor a cor inexistente. Rio de Janeiro: Léo Christiano


Editorial, 1982.

RESCALA, João José. Restauração de obras de arte. Salvador: UFBA, 1985.


NUNES, Filipe. Arte da pintura, symmetria e perspectiva. Lisboa: Officina de
João Baptista Alvares, 1767.

SEGURADO, João Emílio dos Santos. Acabamentos das construções. Lisboa:


Bertrand, 1904.

VASARI, Giorgio. Vidas dos artistas. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

Complementares

Cozinha da Pintura, disponível em: http://www.cozinhadapintura.com/.


http://www.fineart.sk/
Manual do Artista, disponível em: http://manualdoartista.com.br/
http://www.dezenovevinte.com.br
Moinho Brasil, papéis artesanais: https://www.moinhobrasil.com.br/

Youtube
Canal Flower Power

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