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FLAVIANA TAVARES VIEIRA TEIXEIRA

SÉRGIO WILSON DE ARAÚJO


ORGANIZADORES

E S U A S A P L I C A Ç ÕES:
TINTAS AS E
T O S , T E C N O L O G I
CONCEI
POSSIBILIDADES
Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Sérgio Wilson de Araújo
(Organizadores)

Tintas e suas Aplicações:


Conceitos, Tecnologias e
Possibilidades

1ª edição
Diamantina - MG
UFVJM
2022
Sobre os organizadores
Flaviana Tavares Vieira Teixeira é
professora de Química no curso de
Engenharia Química do Instituto de
Ciência e Tecnologia da UFVJM.
Membro da Academia de Letras de
Teófilo Otoni. Membro do Instituto
Histórico e Geográfico do Mucuri. Foi
diretora do Instituto de Ciência,
Engenharia e Tecnologia no Campus
do Mucuri da UFVJM, coordenadora
do curso de Engenharia Química do
Instituto de Ciência e Tecnologia no
Campus JK, atuou na Direção de
Ensino da UFVJM, foi pró-reitora de
graduação desta instituição.
Fez seu doutorado em Química Inorgânica na UFMG, mestrado em
Agroquímica na UFV. A Licenciatura em Química e a graduação em
Ciências Naturais foram cursadas na UFSJ. Trabalhou com a
popularização da ciência através de programas radiofônicos, lançando 3
CDs com aproximadamente 500 pílulas radiofônicas. É autora da coleção
Pequenos Curiosos (36 volumes). Desenvolve trabalhos de pesquisa nas
áreas de química inorgânica, materiais e educação. É tutora do programa
de educação tutorial - PET - Estratégias para Diminuir a Evasão e
Retenção desde 2018. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4311164481574410.
Sérgio Wilson de Araújo é Mestre em
Educação pela Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri (2018),
Especialista em Tutoria em Educação à
Distância e Docência do Ensino Superior
pela Faculdade Única de Ipatinga (2021),
Especialista em Geografia e Meio
Ambiente pela Universidade Cândido
Mendes (2014), Tecnólogo em Gestão
Ambiental pela Universidade Norte do
Paraná (2011). Faz parte do quadro efetivo
da UFVJM, atuando como Técnico
Administrativo. Tem interesse pelas áreas
de Administração, Educação, Meio
Ambiente e Secretariado. CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4932342732786059.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.

As ideias e opiniões expressas nesta publicação são de responsabilidade de seus autores e


não refletem obrigatoriamente a opinião de seus organizadores.

Organizadores:
Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Sérgio Wilson de Araújo

Arte da Capa: Alexandre Leon


Diagramação: Ângelo Rafael Machado

Revisores Técnico-Científicos:
Ângelo Rafael Machado
Aroldo Luiz Pereira Cardoso
Bressane Maísa Reis de Souza
Everton Geraldo Ladeira de Carvalho
Ilva de Fátima Souza
Keyla Carvalho Pereira
Laisse Dias Ribeiro

Revisores de Texto
Alessandra Xavier Aguiar
Luiz Egídio Silva Tibães

Revisores de Normativas
Aroldo Luiz Pereira Cardoso
Lucas da Silva Gontijo
Maraísa Kíssila Oliveira Fernandes
Sérgio Wilson de Araújo

Apresentação
Frank Alison de Carvalho
Dedicamos esse trabalho a estudantes, pesquisadores
e entusiastas no tema.
Agradecimentos

Aos estudantes do curso de engenharia que aceitaram o desafio da escrita


dos capítulos.

Aos revisores dos textos e das normativas.

Aos colaboradores na criação da capa, diagramação e apresentação da


obra.

E, à Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM


Sumário
APRESENTAÇÃO ........................................................................................................ 10
CAPÍTULO 1 A química das cores na indústria têxtil ............................................ 16
CAPÍTULO 2 Termocromia: uma revisão bibliográfica acerca dos conceitos e
utilização. .......................................................................................................................... 48
CAPÍTULO 3 É possível produzir tintas menos tóxicas e com menos odores? 59
CAPÍTULO 04 Vidros coloridos: uma breve contextualização de sua origem,
técnicas e utilizações ....................................................................................................... 77
CAPÍTULO 05 Tintas, corantes e a indústria alimentícia....................................... 99
CAPÍTULO 06 Tintas na indústria automobilística .............................................. 121
CAPÍTULO 07 Tintas na indústria de cosméticos ................................................ 139
CAPÍTULO 08 A tinta nas estradas: Uma revisão abordando as melhorias
implementadas na pintura de marcação das rodovias. ............................................ 158
CAPÍTULO 09 Biodeteriorização de tintas por ação dos microrganismos,
especialmente os fungos filamentosos ....................................................................... 168
CAPÍTULO 10 Pichação e protetivos antipichação .............................................. 185
SOBRE OS AUTORES .............................................................................................. 201
SOBRE OS COLABORADORES ........................................................................... 204
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APRESENTAÇÃO
Talvez pelas condições atuais de percepção, entendamos que se
víssemos o mundo somente em uma frequência monocromática muitos
sentimentos não teriam se desenvolvido tanto em nós, seres humanos. A
natureza em seus diversos matizes é tão linda! Flores de tonalidades mil e
em tão perfeita harmonia nos faz invejar e tentar imitá-las o mais próximo
o possível em nossas criações. Para tal, se faz necessário conhecer a ciência
por traz das cores.

O Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) da UFVJM disponibiliza


aos seus discentes a disciplina Tintas Industriais, que tem como objetivo
apresentar os conceitos fundamentais sobre tintas, introduzir os processos
de fabricação, formulações e propriedades físico-químicas, e ainda
apresentar normas existentes no setor e as principais áreas de aplicação.
Atualmente, esta disciplina é encabeçada pela Profª. Flaviana Tavares.

Objetivando uma maior integração dos discentes com tal disciplina,


durante o período pandêmico da Covid-19 no ano 2020, esta professora
propôs aos participantes o desenvolvimento de um ebook que tratasse dos
variados temas enlaçados com a disciplina, tendo uma boa parte aderido à
proposta, produzindo um trabalho a diversas mãos com o título “Tintas e
suas aplicações: conceitos, tecnologias e possibilidades”, que vos apresento
como um produto de pesquisa por iniciantes da ciência, direcionados por
professores e técnicos do ICT compromissados com o bom trabalho,
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passivo de ser lido pelo público leigo ou mais envolvido com a disciplina
Química.

Este ebook é subdividido em 10 capítulos sendo que todos


apresentam apensados os respectivos referenciais bibliográficos,
possibilitando ao leitor mais curioso, buscar informações que venham
agregar seus conhecimentos sobre os assuntos discutidos.

O capítulo 1 trata das cores na indústria têxtil trazendo para o bom


entendedor da química as fundamentações de pigmentações de tecidos, e ao
leigo, uma interpretação generalizada de como os vestuários e outras peças
recebem e apresentam sua coloração. Inicialmente apresenta-se a teorização
de como as cores são percebidas pelo olho humano através da luz, seguido
das fundamentações químicas da fixação dos pigmentos nas fibras têxteis.
O capítulo não trata somente da química das cores, mas também do
processo da fabricação de tecidos e seu histórico, apresentando aos curiosos
novas palavras ao linguajar desta área técnica.

Para os curiosos de plantão, o 2º capítulo traz, a partir de uma


revisão bibliográfica de trabalhos acadêmicos, o que se esconde nas
mudanças de cores de determinadas tintas, a partir da alteração de
temperatura do item em contato com a mesma. Termocromia é a palavra da
vez e nos faz refletir sobre quanto se pode desenvolver em relação a esta
temática, em especial quanto à segurança dos que se expõem a itens que
naturalmente não indicariam temperaturas elevadas em suas superfícies,
colocando em risco os que os toquem.
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No capítulo 3, preocupada com os impactos ambientais, temática


importante e em voga, a autora traz um compilado de informações advindas
de treze outros trabalhos sobre tintas ecológicas, com foco naquelas
destinadas à aplicações na engenharia civil, em específico em alvenarias,
remetendo ao uso de solos como base dos pigmentos, evitando-se
composições classificadas como tóxicas ao ser humano e aos demais do
ambiente.

Dos vitrais das lindas igrejas aos espelhos de grandes dimensões, o


vidro sempre nos surpreende. Belos ou funcionais para diversas aplicações,
sempre se apresentam a partir das misturas de elementos químicos que lhes
dão propriedades diversas. As autoras do capítulo 04 trazem à baila histórico
e composições químicas que poderão levar os leitores ao mundo vítreo,
apresentando conceitos que descortinam as lindas cores deste versátil
material.

Como não poderia faltar, os autores do 5º capítulo nos apresentam


temática sobre as tintas na indústria alimentícia, e não somente sobre os
corantes adotados nos próprios alimentos, mas também sobre as
embalagens que necessitam de propriedades suficientes para proporcionar
a proteção do item em seu interior, como também, de se apresentar mais
atraente aos clientes e possibilitar a passagem de informações sobre os
produtos a serem adquiridos.

Com os principais objetivos de proteger e embelezar, as tintas


também estão presentes nos automóveis. É nesta toada que o capítulo 6 traz
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aos leitores informações sobre as tecnologias da indústria automotiva,


incluindo o tema Indústria 4.0, quanto à cobertura de latarias e demais peças.
É possível compreender com esse texto que é de camada sobre camada que
se proporciona a proteção dos automóveis que trafegam sobre as estradas.

No capítulo 07 os autores trazem informações sobre os cosméticos,


partindo desde a idade antiga aos dias de hoje, mostrando que há tempos o
ser humano busca se proteger ou embelezar a partir da utilização de
materiais naturais ou industrializados, que dentre as propriedades fazem o
uso das cores. Neste texto também poderão tomar conta sobre as
classificações dos cosméticos segundo a ANVISA que busca através de suas
regulamentações proporcionar maior segurança aos usuários destes
produtos.

Para os que trafegam pelas rodovias nem sempre vem à mente a


correlação da segurança com a química aplicada à tintas de sinalizações
horizontais e verticais. No capitulo 8 o autor nos apresenta principais
considerações, a partir de pesquisas bibliográficas, sobre as características
necessárias das tintas adotadas no setor de pavimentação rodoviária, sendo
que estes materiais devem ser o mais resistentes o possível, visto a exposição
a intemperes e esforços mecânicos como o transladar de veículos em suas
superfícies. A química indicando caminhos seguros pelas estradas.

Aos leitores que residem em ambientes propícios ao


desenvolvimento de bolores ou mofos em alvenarias internas ou externas,
sabem como é indesejável tal situação, caracterizada como uma patologia
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das edificações para a construção civil. No capítulo 09 o autor nos convida


a entrar no mundo dos microorganismos responsáveis por estas questões,
indicando as fontes em ambientes de aplicações como em materiais
adotados em construções, em especial as tintas.

Por fim, este livro disponibiliza aos interessados uma temática


recorrente principalmente nas áreas urbanas, as pichações, com foco em
estudos ao tratamento de superfícies passíveis de sofrerem com tais
intervenções, consideradas como degradantes. Neste capítulo 10 a autora,
baseada em uma revisão bibliográfica, apresenta a melhor ação entre
prevenção e remediação indicando os principais produtos industrializados
adotados como antipichação. Os que já sofreram ou que apresentam
potencial com tal questão em fachadas de suas edificações, não poderão
deixar de ler.

Considerando que um dos principais objetivos fora envolver os


discentes com a disciplina, entende-se que o mesmo fora cumprido diante
da qualidade dos textos, mas que além deste, lucros se apresentaram como:
desenvolvimento das habilidades de pesquisa e elaboração de texto
acadêmico, a disponibilização de um material propício para a leitura de
público interessado, assim como incentivo para a participação de novas
turmas desta e de outras disciplinas.

Apresentada a obra agradeço pelo prestigio de ler em primeira mão,


fazendo votos de que a proposta se mantenha, pensando que esta se trate
da primeira edição. Penso que se nesta temos 10 textos, poderemos conta
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daqui a dez anos com aproximadamente 200 textos, que também


proporcionarão aos futuros discentes embasamentos para o bom
desenvolvimento na disciplina.

Parabenizo a todos os envolvidos.

Frank Alison de Carvalho


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CAPÍTULO 1
A química das cores na indústria têxtil
Autores: Andressa de Oliveira Almeida, Beatriz Rodrigues Morais e Luísa
Mapeli Veríssimo
Orientadora: Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Colaboradores: Bressane Maísa Reis de Souza, Ilva de Fátima Souza,
Alessandra Xavier Aguiar e Lucas da Silva Gontijo

RESUMO
O presente artigo tem como finalidade apresentar aos leitores os aspectos
da colorimetria na indústria têxtil, sobretudo nos tipos de corantes, bem
como o histórico desse tipo de indústria que serviu de base para muitas
outras indústrias. Além disso, foi realizado um estudo bibliográfico com
artigos e apostilas técnicas a fim de mostrar como funcionam os aspectos
visuais das cores que interferem diretamente nas interações da fibra com o
corante. Por meio deste estudo, foi possível observar que a indústria têxtil
está cada vez mais preocupada em procurar novas alternativas para produzir
um produto de maior qualidade e que não agrida o meio ambiente, como a
utilização da nanotecnologia, da biotecnologia e de técnicas de tingimento
sem utilização de água.

Palavras-chave: Corantes. Fibras. Tingimento. Novas Tecnologias.


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1 INTRODUÇÃO

A arte de tingir tecidos ocorre a milhares de anos, sendo


considerado até mesmo artigo de luxo o uso de diferentes cores durante a
idade média. O setor têxtil foi um dos primeiros a surgir no processo
industrial, e faz parte da história mundial com as primeiras revoluções
industriais. A utilização de corantes nas fibras foi surgindo por meio da
necessidade de mostrar hierarquia e poder.

Inicialmente eram extraídas de plantas como o índigo (que dá a


coloração azul), além da utilização de minerais.

Somente a partir do aumento na população, com o advento das


cidades, as indústrias foram se desenvolvendo e surgiram os primeiros
corantes sintéticos como o vermelho congo.

A cadeia produtiva têxtil é representada pelas seguintes etapas:


fiação, tecelagem, malharia, acabamento e confecção (PEREIRA, 2010). O
enfoque do texto será a etapa de acabamento, em especial o processo de
tingimento, abordando os aspectos físico-químicos da tintura nas fibras, as
propriedades espectrométricas das cores e os tipos de corantes mais
utilizados.

2 HISTÓRICO DA INDÚSTRIA TÊXTIL

Segundo Ladchumananandasivam (2002, p.17), o termo têxtil é


derivado do latim texere que significa “para tecer”. Esse termo foi
inicialmente utilizado para designar tecidos, entretanto, nos dias atuais se
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tornou um termo mais geral utilizado tanto para tecidos quanto para fibras,
linhas, rendas, redes, entre outros.

As estruturas têxteis da forma que se conhece atualmente são


derivadas de dois tipos de fonte: artesanato ou artefato antigo e invenções
científicas modernas.

As provenientes de artefatos antigos incluem as redes e cestos


produzidos através do entrelaçamento de materiais como junco e palha.
Vale frisar que os exemplos de produtos de origem têxteis na pré-história
são escassos em decorrência da perecividade dos materiais utilizados na sua
fabricação. Entretanto, fontes históricas relatam que a tecelagem antecedeu
o processo de fiação e que a origem dos tecidos feitos utilizando o método
de tecelagem é a cestaria advinda da cultura neolítica de 5000 a.C. Já as fibras
de algodão, seda, lã e linho teriam sido usadas como material têxtil no Egito
antigo, segundo Encyclopaedia Britannica (1979 apud
LADCHUMANANANDASIVAM, 2002, p.17).

Na idade média algumas tribos turcas eram especializadas na


produção de tapetes, toalhas e roupas. Já a Sicília, conquistada pela França,
ficou conhecida pela produção de sedas com desenhos florais e por tecidos
entrelaçados em ouro. De acordo com Ladchumananandasivam (2002,
p.17), por volta de 1315, Florença se tornou um grande centro produtor de
lãs graças à chegada de tecelões sicilianos. Acredita-se também que nessa
mesma época passou a produzir veludo.

Segundo Ladchumananandasivam (2002, p.17), países como a


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França e a Alemanha também tiveram sua importância na história da


indústria têxtil produzindo tapetes, sedas e veludos. A Alemanha foi um
representativo centro de confecções, em especial de tecidos bordados em
ouro e imagens de santos. Na Inglaterra dos séculos XII a XIV, a produção
têxtil era representada pelo linho e lã, os tecidos de seda só vieram a ser
produzidos no século XV.

Por fim, nas Américas os processos têxteis antecederam a chegada


dos europeus. Alguns registros apontam que a tecelagem nos estágios mais
avançados estava nas Américas de Norte e Sul nos tempos pré-históricos.
Mexicanos e peruanos produziam tecidos finos. Já os tecidos produzidos
pelos Incas eram feitos de algodão e lã e ficaram conhecidos pela presença
de cores brilhantes nos mesmos.

Conforme aborda Ladchumananandasivam (2002, p.18) em 1638,


durante o século XVII, foi aberta uma fábrica na cidade de Massachusetts
por colonizadores ingleses, cujo produto consistia em fustões grossos de
algodão (“jeans” de sarja de algodão) e produziam um tecido de espessura
grossa decorrente da mistura de lã e linho. Já em 1654, as fábricas de
Massachusetts assumiram que a comunidade da cidade não mais seria
dependente da Inglaterra para a obtenção de linho e lã cardada. A Revolução
Industrial, que teve seu auge entre 1760 e 1815, foi de suma importância
para o crescimento do sistema fabril, assim como para a indústria têxtil.

A chegada do tear mecânico e a substituição da água pelo vapor foi


responsável pelo aumento da velocidade das máquinas. O sistema fabril
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estabeleceu-se primeiro na Inglaterra, em seguida na Europa e nos Estados


Unidos. Nos séculos XIX e XX houve um significativo melhoramento no
maquinário que resultou no aumento da produção e redução de custos dos
produtos têxteis (LADCHUMANANANDASIVAM, 2002, p.18).

3 ALGUNS CONCEITOS SOBRE O PROCESSO DE


FABRICAÇÃO TÊXTIL

3.1 Cadeia Produtiva Têxtil

De maneira geral, o processo produtivo da cadeia têxtil inicia-se no


setor agropecuário (com as fibras de origem natural) ou na indústria química
(com as fibras de origem não-natural). A cadeia produtiva têxtil está
representada na Figura 1, segundo Pereira (2010, p.2):
21

Figura 1 – Cadeia Produtiva Têxtil

Fonte: PEREIRA, 2010, p.2

Com auxílio da Figura 1 pode-se observar que a cadeia produtiva


têxtil envolve a produção de fibras (sintéticas, artificiais ou naturais), fiação,
tecelagem, malharia, acabamento e a confecção. Todas as etapas são
descritas a seguir conforme Bastian e Rocco (2009, p.6):

● Fiação: consiste na etapa de obtenção do fio a partir das fibras


têxteis que pode ser enviada para o acabamento ou diretamente para
tecelagem e malharia.
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● Tecelagem: consiste na etapa de elaboração de tecido com estrutura


plana, é caracterizado pelo entrelaçamento de fios em estruturas
lineares.

● Malharia: nessa etapa a malha é formada por laçadas com os fios.


Quando se fala de malharia, é possível observar dois tipos de
categorias: malharia de trama e a malharia de urdume.

● Acabamento: consiste na etapa de preparação dos fios para uso


final, envolve o processo de tingimento, engomagem, retorção e
tratamentos especiais.

● Confecção: consiste na etapa de desenvolvimento da peça de roupa.

O enfoque do artigo, no entanto, será a etapa de acabamento, em


especial o processo de tingimento e colorimetria dos tecidos.

3.2 Fibras e sua Classificação

A fibra têxtil é a matéria prima fundamental na produção de insumos


têxteis, seja fios ou tecidos. As fibras podem ser obtidas tanto de uma fonte
natural (vegetal, animal ou mineral), assim como também de uma fonte
química (artificial ou sintética). Segundo Miúra e Munoz (2015, p.5) as fibras
têxteis podem ser classificadas de acordo com sua origem em:

● Fibra têxtil animal: também denominadas como proteicas, são


aquelas provenientes de pêlos ou secreções de insetos. Exemplo: lã,
seda e cashmere.
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● Fibra têxtil mineral: são as fibras provenientes de rochas com


estruturas fibrosas, constituídas principalmente por silicatos.

● Fibra têxtil vegetal: também denominadas como celulósicas


naturais, são aquelas provenientes da extração de sementes, folhas,
caules ou frutos. Exemplos: algodão, linho, juta e rami.

● Fibra têxtil artificial: são as fibras produzidas pelo ser humano, mas
que utiliza como matéria-prima polímeros naturais orgânicos e
inorgânicos. Exemplos: acetato, viscose, vidro, liocel e modal.

● Fibra têxtil sintética: são as produzidas pelo ser humano, mas que
utiliza como matéria-prima produtos da indústria petroquímica.
Exemplo: poliéster, poliamida, acrílico e elastano.

4 FUNDAMENTOS DA COLORIMETRIA

O rápido avanço tecnológico do setor têxtil, exige que o controle da


cor seja rigoroso.

Em vários outros setores é possível perceber a influência da cor,


para o sucesso do produto no mercado. Como, por exemplo, na indústria
alimentícia, onde a cor é usada para uniformizar a aparência do alimento, e
nas embalagens, onde a escolha de cores resulta em grande atratividade do
produto. O oposto também ocorre: nos casos em que não há a
uniformidade do produto ou da embalagem, o cliente pode não confiar na
qualidade do produto (LOPES, 2009).

A cor que um objeto apresenta depende de vários fatores. Entre eles,


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temos: a iluminação, a textura da amostra, o tamanho, e cor do ambiente


onde a mesma está sendo analisada. Lopes (2009, p.19) diz que a
“Colorimetria é a técnica, e a ciência, que busca com o auxílio de modelos
matemáticos, descrever, quantificar e simular a percepção da cor pelo
homem”. Essa percepção pode variar de acordo com as propriedades da
luz, do objeto, ou do olho humano.

4.1 Propriedades espectrais da luz iluminante

Fazendo uma análise física da luz, ela pode ser definida pela
composição do espectro da radiação refletida, emitida ou transmitida, e
pode ter sua composição verificada por meio do comprimento de onda, ou
do efeito dela na cor do objeto.

Segundo Lopes (2009, p.20), a “luz é uma forma de energia


constituída por ondas eletromagnéticas irradiadas de sua origem a uma
velocidade de aproximadamente 300.000 km/s, no vácuo”. Para o olho
humano, o comprimento de onda perceptível fica compreendido entre 380
nm e 760 nm.

A luz do sol apresenta vários comprimentos de onda, os quais


correspondem a uma determinada cor.

Isaac Newton, em 1672, realizou um experimento utilizando um


prisma e, ao incidir um feixe de luz (branca) sobre esse prisma, houve a
projeção de várias cores (Figura 2). Na Figura 3, observam-se os
comprimentos de onda com as cores correspondentes do espectro.
25

Figura 2 – Feixe de luz em um prisma

Fonte: HELERBROCK, [20--]

Figura 3. – Cores e seus respectivos comprimentos de onda

Fonte: MARTINS; SUCUPIRA; SUAREZ, 2015, p.05.

Em Colorimetria, o termo “fonte de luz” é usado para identificar a


fonte física de luz, enquanto a “distribuição espectral de potência radiante”
(Spectral Power Distribution – SPD), corresponde à expressão numérica da
potência relativa que esta fonte emite. Na Figura 4, tem-se a SPD de três
26

fontes luminosas padrão onde:

Fonte padrão A: corresponde à lâmpada de


incandescência. Praticamente não possui radiações ultra
violeta.

Fonte padrão C: tem seu espectro com distribuição de


energia semelhante à luz do dia, possuindo radiações
ultra-violeta e remição na banda do azul.

Fonte padrão D-65: De espectro semelhante à fonte


padrão C, possuindo, porém, uma maior quantidade de
radiações ultra-violeta. Tende a substituir a fonte
padrão C. (BITTENCOURT, 2020, p.32)

Figura 4 – Distribuição espectral de iluminantes padrões

Fonte: Konica Minolta Sensing Americas, [20--]


27

A CIE (Commission Internationale de I’Eclairage) é a responsável pela


padronização dos termos relacionados à iluminação, e possui um comitê
que tem como função o estudo do sistema visual e das cores.

4.2 Propriedades espectrais do objeto

A existência de cor em objetos que não possuem luz própria, só


pode ocorrer quando esse objeto é exposto às radiações de uma fonte de
luz. Existem três formas distintas por meio das quais um corpo modifica a
luz que incide sobre ele (LOPES, 2009):

1) distorção (fenômeno no qual ocorre a transferência de energia de


um feixe de radiação para o meio que ele atravessa);

2) transmitância (fenômeno onde parte da energia é transmitida pelo


sistema); e

3) refletância (a fração da luz que não foi absorvida ou transmitida, mas


sim refletida pelo sistema)

Na Figura 5, temos a reflexão especular dos raios de luz, o que causa


a sensação de brilho nas superfícies. Já na Figura 6, podemos observar a
reflexão difusa, que produz o que chamamos de cor.
28

Figura 5 – Reflexão especular Figura 6 – Reflexão difusa

Fonte: Mendes, 2019 Fonte: Mendes, 2019

4.3 Propriedades espectrais do olho humano

Estruturas do olho humano denominadas de bastonetes e cones


(Figura 7), são fotorreceptores (células sensíveis à luz) encontrados na
retina que é, portanto, a parte mais sensível à luz.

Figura 7 – Cones e bastonetes do olho humano

Fonte: O SALTO, 2018.


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Os bastonetes não percebem cores, e respondem a estímulos de


baixa intensidade. Desse modo, eles só separam branco, cinza e preto. Para
a visão colorida são necessários os cones. Essas células são sensíveis a
distintos comprimentos de onda, e são também os encarregados da
transmissão do sinal elétrico para o processamento no cérebro.

Essas duas células utilizam um eficiente sistema para o


processamento dos vários comprimentos de onda: fazem a separação do
espectro em três regiões mais dominantes, sendo elas o azul (cone S), o
verde (cone M), e o vermelho (cone L). Esses três tipos de cones enviam
sinais de cores oponentes, ou seja, vermelho-verde, azul-amarelo, preto-
branco para serem processadas e interpretadas pelo cérebro. (LOPES,
2009).

5 ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS DO TINGIMENTO

O tingimento na indústria têxtil é o beneficiamento secundário,


sendo realizado o processo de coloração dos tecidos de forma homogênea,
mediante a aplicação de corantes. Os corantes têxteis são compostos
orgânicos usados com o propósito de dar cor a uma fibra. Diferentes tipos
de fibras (sintéticas e naturais) necessitam de corantes que se adequam a
cada categoria.

Segundo Guaratini e Zanoni (2000), durante o processo de


tingimento, três etapas são muito importantes: a montagem, a fixação e o
tratamento final. Nessas três etapas ocorrem três processos físico-químicos:
migração, absorção e difusão ou também chamada a fixação do corante. O
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processo de migração é a passagem do corante dissolvido para a superfície


da fibra. A fixação ou absorção do corante na fibra envolve reações
químicas, nesta etapa que demonstra a importância de escolher
corretamente o corante conforme o tipo de fibras. Os corantes geralmente
são dissolvidos em soluções aquosas, assim a fixação das moléculas envolve
quatro tipos de interações, conforme Guaratini e Zanoni (2000) descreve
em:

● Interações iônicas: A reação iônica é resultante da atração de duas


cargas de átomos, positivos e negativos, ocorrendo à transferência
de elétrons. Nos tecidos ocorre a interação positiva dos centros
entre os aminos e carboxilatos da fibra com o corante e vice-versa.
Esse tipo de interação ocorre em fibras de lã, poliamida e seda. Na
Figura 8 demonstra a interação iônica entre o corante (D) e os
grupos amino da fibra da lã.

Figura 8 – Interação iônica

Fonte: (GUARATINI; ZANONI, 2000, p.72).

● Interação de Van der Walls: Representam a atração de duas forças


de compostos apolares, quando as moléculas se aproximam e se
31

atraem. São os tingimentos baseados na interação máxima de


orbitais π do corante e da fibra. Ocorre essa interação em tintura de
lã e poliéster com corantes com alta afinidade por celulose.

● Interações de Hidrogênio: É o tipo de interação em que o


hidrogênio aceita o par de elétrons eletronegativos ligado por
ligação covalente e forças eletrostáticas. São ligações entre átomos
de hidrogênio no corante ligados com átomos livre dos centros da
fibra. São interações em fibras de tintura de lã, seda e fibras sintéticas
como acetato de celulose. Através da Figura 9 a interação de
hidrogênio entre o corante sulfonado e os grupos carboxilas da fibra
de lã.

Figura 9 – Interação de hidrogênio

Fonte: (GUARATINI; ZANONI, 2000 p.72).

● Interação covalente: É a interação que resulta no compartilhamento


de elétrons dos átomos. É uma ligação entre a molécula do corante
com o grupo reativo (eletrofílico) e a fibra (nucleofílica). Esse tipo
de interação ocorre em tintura de fibra de algodão. Conforme
demonstrado na Figura 10 a interação covalente entre um corante
contendo grupos reativos (triazina) e grupos hidroxila presentes na
32

celulose da fibra de algodão.

Figura 10 – Interação covalente

Fonte: (GUARATINI; ZANONI, 2000 p.72).

No processo de difusão ou também chamada a fixação do corante,


ocorre a etapa em que os produtos químicos são auxiliares como sais
tensoativos, ácidos e outros onde ocorre a influência da ação mecânica para
agitação de banho entre a fibra e o corante com estes produtos. Para depois
finalizar e ir para o processo de lavagem em banhos correntes, visando
retirar o excesso de corante não fixado à fibra nas etapas anteriores.

Segundo o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro 2


Pequenas Empresas, 2012) uma tintura de qualidade depende de quatro
fatores, além da boa qualidade da fibra, para que seja satisfatório e seja aceito
para os padrões das indústrias. A Tabela 1 demonstra quais são eles.
33

Tabela 1 – Principais fatores relacionados ao tingimento

Itens para Descrição


tingimento

Afinidade Matéria corante passa a fazer parte integrante da


fibra.

Igualização Uniformidade na cor aplicada (dependendo do


poder de uniformização do corante, da sua
velocidade e temperatura de montagem e de
dificuldades inerentes ao material).

Grau de solidez Grau de resistência aos diversos agentes de


alteração e desgaste.

Economia Capacidade de tingir peso relativamente


elevado de material.

Fonte: SEBRAE (2012).

6 CORANTE TÊXTIL

Os corantes são classificados conforme a sua estrutura química ou


pelo método de fixação à fibra têxtil. A coloração dos tecidos com diferentes
corantes começou em torno de 1400 anos, onde já se conheciam corantes
capazes de tingir inúmeros tipos de tecidos. Os primeiros corantes não
aplicavam tratamento com mordentes, eram feitos apenas com soluções de
sais de alumínio, cobre, ferro e os metais que eram depositados nas fibras e
reagiam com os corantes. O primeiro corante sintético apareceu em 1856,
já os corantes dispersos foram desenvolvidos em 1923 e os corantes reativos
a partir de 1956. (ABQCT,1995).
34

Para um corante ser considerado apto para utilizar na indústria têxtil


ele deve cumprir alguns requisitos. Conforme Bittencourt (2020) afirma
sendo eles:

● Cor:

Os corantes, em geral, são compostos orgânicos complexos com


instaurações alternadas. Os grupos cromóforos que são a cor, e, os que se
ligam aos grupos doadores ou atraem os elétrons são os auxócromos, essa
combinação que dá a cor intensa aos corantes.

Os cromóforos são a estrutura responsável pela coloração, que possui


uma absorção na região ultravioleta. Ao receber essa luz, os elétrons são
excitados a um nível energético muito maior e, ao retornarem ao estado
fundamental, emitem essa radiação. A cor vista é o comprimento de onda
não absorvido. Um exemplo é o corante alimentício tartrazina, como
demonstra a Figura 11, pertencente ao grupo funcional dos azos compostos,
responsável pela coloração amarela de diversos alimentos. Os azos são
definidos como compostos orgânicos que apresentam nitrogênio em sua
estrutura química. PRADO(2003)
35

Figura 11 – Estrutura da tartrazina.

Fonte: PRADO (2003).

Os auxócromos fazem parte de um grupo funcional responsável por


contribuir na diversificação das cores, pois podem causar o deslocamento
batocrômico das bandas de absorção do corante dos cromóforos, ou ainda
substâncias como os holocromos que são substâncias que mudam de cor
com a variação do pH.

● Solubilidade:

Para a aplicação de corantes por esgotamento, eles necessitam de ter


alguma solubilidade em água.

A solubilidade de corantes têxteis pode ser temporária ou


permanente de acordo com a substância presente no corante, que são
identificados conforme o composto orgânico. A Figura 12 apresenta alguns
grupos solubilizantes.
36

Figura 12 – Grupos solubilizantes.

Fonte: Salem, V – Curso de Tingimento Têxtil – Módulo 1 (2000).

● Substantividade:

A substantividade é a capacidade corante de se deslocar do banho de


tingimento para a fibra e tem que permanecer resistindo a operações
normais de lavagem. Para cada tipo de ligação química ele tem um efeito
sobre a fibra, conforme apresentado na Tabela 2 com alguns exemplos de
grupo e o efeito da substantividade.

Tabela 2 – Grupos e efeito sobre a substantividade

Grupo Descrição

Aniônico Dá solubilidade e substantividade para corantes


diretos, e, substantividade para fibras proteicas e
celulósicas

Catiônico Solubilizante e substantividade em relação à fibras


Grupos polares acrílicas
Exemplo (-OH, NH2 e -NHME), aumenta
substantividade de corantes dispersos em fibras de
poliéster
Fonte: (Bittencourt, 2020 p.44).
37

● Solidez:

A análise de solidez é importante, pois é necessário analisar como os


corantes se apresentam e processo de lavagem, exposição à luz, calor e gases.
Os testes de solidez são realizados conforme a aplicação de cada fibra,
geralmente na indústria é realizada após a incorporação do corante à fibra e
tem padrões específicos para cada uma delas.

Os fatores que afetam a solidez são: umidade ao qual aumenta a


degradação, presença de oxigênio e a intensidade dos tingimentos.

6.1 Tipos de corantes

Para realizar o tingimento de uma fibra é necessário entender qual tipo


de fibra está sendo trabalhada, seja natural ou sintética. Assim cada tipo de
tingimento possui corantes específicos que são classificados conforme a sua
estrutura química, pois cada tipo de corante tem na sua composição grupos
funcionais diversificados e métodos de fixação diferentes. Os tipos de
corantes são: ácidos, básicos, diretos, à Cuba, dispersos, relativos, ao
enxofre e azóicos (BITTENCOURT, 2020).

● Corantes ácidos: são um grupo de corantes aniônicos com três


grupos sulfônicos, são facilmente ionizáveis e solúveis em água.
Além disso, têm alto poder de igualização, alta solidez à luz e solidez
à lavagem moderada e suas moléculas são menores e demandam alta
acidez. Em processo de tingimento é necessário neutralizar o
corante com soluções do tipo cloreto, acetato e outras, ele se liga à
38

fibra por meio de interações iônicas envolvendo elétrons livres dos


grupos amino e carboxilado. Esses corantes têm na sua estrutura
química compostos do tipo azo, antraquinona, triarilmetano, azina,
xanteno, ketonimina, nitro e nitroso, ao qual são compostos que dão
alta coloração. Os corantes ácidos são usados para o tingimento de
fibras nitrogenadas, lã, couro e seda e para fibras sintéticas acrílicas
como o nylon. A Figura 13 demonstra a estrutura do corante de
auramina utilizada para tingir couros e dar a coloração amarela.
39

Figura 13 – Estrutura molecular auramina

Fonte: (SARUBI, 2008).

● Corantes básicos: são solúveis em água e têm interações catiônicas


devido à presença do grupamento amino; São corantes com carga
positiva e com boa solubilidade em água. Caracterizados por cores
brilhantes e muitos apresentam o fenômeno de fluorescência. ‘Suas
aplicações são para a lã, seda, fibras acrílicas e acetato de celulose,
porém pela pouca solidez a luz ainda pouco utilizada na indústria
têxtil’. (KUASNE, 2008)

● Corantes diretos: são compostos insolúveis em água e tem


interações do tipo Van der Waals. A adsorção do corante sobre a
fibra é aumentada com o uso de eletrólitos devido a planaridade do
corante ou com uma dupla ligação. Constituído por corante que tem
na sua composição o grupo azo. Apresenta também grande variação
na solidez à lavagem, suor e água de piscina. São aplicados em fibras
naturais de algodão, fibras artificiais de viscose, couro e papel. Além
disso, foi o primeiro corante direto sintetizado na cor vermelha do
Congo, em 1884, (FERRAZ,2010) conforme mostra a Figura 14 a
estrutura molecular da cor vermelho congo.
40

Figura 14 – Estrutura molecular do vermelho congo

Fonte: Rodrigues, 2010

● Corantes a cuba: são baseados na composição de índigos,


tioindigóides e antraquinóides. São insolúveis em água, porém
durante a tintura eles são reduzidos a ditionito em solução alcalina
e torna-se um composto solúvel. Os corantes são mais utilizados
para produzir cores sem brilho que requerem excelente solidez à
lavagem e ao cloro. São aplicados em substratos contendo algodão
ou viscose, mas também para nylon e para “sujar” o poliéster em
misturas com fibras celulósicas. Um exemplo de corante é o ácido
violento baseado na composição antraquinóides, conforme mostra
a Figura 15.

Figura 15 – Estrutura molecular do ácido violeta

Fonte: Guaratini e Zanoni (2000, p.72)


41

● Corantes dispersos: são substâncias insolúveis em água, elas têm


afinidade com fibras hidrofóbicas. Devido ao grau de solubilidade
ser muito baixo, sendo assim um processo de hidrólise muito
pequeno. No processo de tintura é adicionado de agentes
dispersantes com longas cadeias que normalmente estabilizam a
suspensão do corante facilitando o contato entre o corante e a fibra
hidrofóbica. Esse tipo de corante é utilizado para fibras sintéticas
como acetato, celulose, nylon, polyester e poliacrilonitrila.

● Corantes reativos: são corantes que contêm grupo eletrolítico que


podem formar, ligação covalente com grupos hidroxila das fibras
celulósicas, com grupos amino, hidroxila e tióis e fibra proteica e
também com grupos amino das poliamidas. Eles têm uma excelente
solidez à ligação covalente entre as moléculas do corante e as fibras
tornam bem estáveis e com grande solidez de lavagem. São
utilizados em fibras naturais de algodão, fibras artificiais de viscose,
couro e papel.

● Corante ao enxofre: são insolúveis em água e se caracterizam por


compostos macromoleculares com pontes de polissulfetos. Quando
realizado a tintura é necessário em banho de ditionito de sódio que
confere a forma solúvel, são reoxidados subsequentemente sobre a
fibra pelo contato com ar. São corantes de cores intensas, não muito
brilhantes, com exceções e com excelente solidez à lavagem e luz e
custos às vezes mais baixos que outro tipo de corantes, mas resistem
muito pouco ao cloro. São utilizados principalmente na tintura de
42

fibras celulósicas.

● Corantes azóicos: são insolúveis em água. o tingimento com


corantes azóicos baseiam-se na impregnação do material têxtil com
um naftol de nenhuma ou alguma afinidade pela fibra com posterior
reação química com uma base diazotada. Devido a esse fato, ocorre
a tintura direto na fibra. Os mesmos podem ser usados em fibras
celulósicas com alto padrão de fixação e alta resistência contra luz e
umidade. Estes corantes são aplicados em linho, juta, viscose e
algodão em batelada, ou por tingido em fios o qual oferece uma
grande variedade de cores como laranjas, amarelos, vermelhos,
violetas, azuis e escarlates.

7 NOVAS TECNOLOGIAS NA INDÚSTRIA TÊXTIL

Grande parte dos países têm a produção têxtil como base de seu
desenvolvimento industrial. Mas mesmo assim, muitas pessoas que não
estão na área, consideram esse setor como uma “indústria de pouca
tecnologia”. O que é algo muito longe da realidade. A cada dia, a indústria
têxtil está se desenvolvendo e descobrindo novas possibilidades de
crescimento. Tecnologias como a utilização de materiais biodegradáveis, é
só um dos muitos exemplos do que a tecnologia possibilita criar.

A preocupação com o meio ambiente e a necessidade de alcançar


uma maior produção com custo reduzido é o objetivo de vários setores da
indústria. Com o setor têxtil, não é diferente. Esse ramo da indústria busca
continuamente uma produção eficiente, com baixo consumo de água e o
43

mínimo de emissão de gases poluentes possível. Nesse sentido, estão sendo


desenvolvidos diversos métodos para substituir o atual sistema de
tingimento.

7.1 Tingimento sem água

Os atuais sistemas de tingimento são completamente dependentes


da água, mas a previsão é que isso se torne completamente diferente, em
um futuro não tão distante. Nesses sistemas de tingimento, a água é usada
como solvente para os corantes.

O uso de líquidos supercríticos, como o gás carbônico líquido, já foi


realizado e comprovou-se que a transferência de corantes às fibras é
superior para esse solvente. Os pontos negativos desse sistema, são a
necessidade de trabalhar em altas pressões (200 bar) e o alto custo de
engenharia vinculados a ele. E algumas das vantagens são uma grande
redução do tempo do processo de tingimento, e eliminação completa do
estado de secagem (LADCHUMANANANDASIVAM, 2002).

7.2 Biotecnologia

A biotecnologia possui grande relevância na indústria têxtil há


muitos anos, como exemplo tem o uso de enzimas, bioagentes
importantes para o processo de desengomagem. Atualmente, elas estão
sendo utilizadas para o acabamento de têxteis. O processo mais famoso
com o uso de enzimas, é a substituição de pedras de calcário para a
lavagem de tecidos jeans. Usam-se enzimas como a celulase para fazer a
44

remoção da camada superficial do índigo, proporcionando à peça, um


aspecto de gasto/usado (LADCHUMANANANDASIVAM, 2002).

7.3 Nanotecnologia em tecidos

A presença da nanotecnologia na produção de tecidos já era


percebida, mas atualmente, houve a necessidade de um maior
desenvolvimento nessa área. Um exemplo é a invenção de tecidos com a
capacidade de eliminar vírus em pouco tempo, desenvolvida por cientistas
da Universidade Bar-Ilan, em Israel. Já aqui no Brasil, temos uma empresa
que está trabalhando no desenvolvimento de tecidos desse tipo
(LADCHUMANANANDASIVAM, 2002).

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este texto foi possível observar como são os aspectos de


coloração dos tecidos, sobretudo como a escolha do corante é fundamental
para o bom tingimento. Além disso, foi possível entender os erros ocorridos
nas peças que são utilizadas no cotidiano, por meio das possíveis falhas na
coloração ou em processos finais como a solidez. Ademais, também pôde-
se observar como a indústria têxtil está evoluindo com as novas tecnologias,
por meio de utilização fibras cada vez mais inteligentes, como por exemplo
tecidos que auxiliam a combater vírus utilizando nanotecnologia. Nos
aspectos ambientais o setor têxtil busca a redução na utilização de água, ou
mesmo a extinção desse solvente nos processos de tingimento. Uma outra
preocupação desse ramo da indústria é o tratamento dos seus resíduos.
Através desse trabalho foi possível conhecer um pouco desta área industrial
45

e as novas oportunidades que ela pode trazer para cientistas, pesquisadores


e engenheiros.

REFERÊNCIAS

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TÊXTEIS.Química Têxtil.São Paulo.: ABQCT[1995].Disponível em
https://www.abqct.com.br/wp-content/uploads/2019/05/QT_41.pdf
Acesso em: 24 maio. 2021.

BASTIAN, E.Y. O; ROCCO, J. L. S. Guia técnico ambiental da indústria


têxtil. São Paulo: CETESB, p. 85, 2009.

BITTENCOURT, E. Apostila do Minicurso Química Têxtil. São Paulo,


2020.

FERRAZ Junior, Antonio Djalma Nunes. Tratamento de efluentes têxtil


em reator UASB seguido de biofiltro aerado submerso. Recife: Dissertação
(Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco. CTG. Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, 2010.

GUARATINI, C. C. I.; ZANONI, M. V. B. Corantes têxteis. Química nova,


v. 23, n. 1, p. 71-78, 2000.

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Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/fisica/a-dispersao-luz-
branca.htm. Acesso em: 28 mar. 2021.
46

KELLY RODRIGUES (org.). Viabilidade do tratamento de água residuária


sintética têxtil em reator aeróbio de leito fixo. Engenharia Sanitária e
Ambiental, [S.L.], v. 15, n. 1, p. 99-106, mar. 2010. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/s1413-41522010000100012.

Konica Minolta Sensing Americas, Inc. Compreenda os iluminantes padrão


na medição de cor. [20--]. Disponível em:
https://sensing.konicaminolta.us/br/blog/compreenda-os-iluminantes-
padrao -na-medicao-de-cor/. Acesso em: 23 maio 2021.

KUASNE, A. Apostila curso têxtil em malharia e confecção. 2º módulo -


fibras têxteis. CEFET/SC.Araraguá [2008]. Disponível em:
https://wiki.ifsc.edu.br/mediawiki/images/8/88/Apostila_fibras.pdf.
Acesso em: 24 maio 2021.

LADCHUMANANANDASIVAM, R. Introdução à engenharia têxtil.


Apostila do curso de Engenharia Têxtil. Centro de Tecnologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2002.

LOPES, L. C. Controle metrológico da cor aplicada à estamparia digital de


materiais têxteis. 2009. 142 f. Dissertação (Mestrado em Metrologia para a
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MENDES, E. Fenômeno óptico relacionado com a propagação da luz.


Educa + Brasil. [20--] Disponível em:
https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/fisica/reflexao-da-luz.
Acesso em: 28 mar. 2021.

MIURA, M.; MUNOZ, S. P. V. Manual técnico têxtil e vestuário: Fibras


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O Salto. Cones dentro da Retina: O que o ENEM quis saber? Disponível


em: https://osalto.com.br/cones-dentro-da-retina/. Acesso em: 28 mar.
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PEREIRA, G. S. Introdução à tecnologia têxtil. Apostila do curso têxtil em


malharia e confecção, módulo II. Centro Federal de Educação Tecnológica
de Santa Catarina, Unidade de ensino Aranguá, 2010.

PRADO, M. A.; GODOY, H. T. Alim. Nutr., v. 14, n. 2, p. 237, 2003.

SARUBI, J. C. Estudo comparativo das técnicas de Ziehl-Neelsen e


Auramina na baciloscopia do raspado dérmico de quatro e seis sítios em
casos novos de hanseníase, em serviço de referência de Belo Horizonte
[manuscrito]. / Belo Horizonte: 2008.

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS


EMPRESAS. Tinturaria e beneficiamento têxtil. Florianópolis: SEBRAE-
SC, [2012]. Disponível em: http://www.sebrae-
sc.com.br/ideais/default.asp?vcdtexto=2587&%5E%5E . Acesso em: 24
maio. 2021.
48

CAPÍTULO 2
Termocromia: uma revisão bibliográfica
acerca dos conceitos e utilização.
Autora: Rebecca Jasmim Pereira Ribeiro
Orientadora: Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Colaboradores: Laisse Dias Ribeiro, Luiz Egídio Silva Tibães e Maraísa
Kíssila Oliveira Fernandes

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre a
técnica de termocromia utilizando pesquisas onde foram analisados quatro
estudos, sendo duas dissertações de mestrado e dois de trabalho de
conclusão de curso, nos quais foi possível encontrar o funcionamento do
processo de termocromia e a descrição dos princípios químicos dos
pigmentos termocromáticos, bem como sua utilização em produtos
fabricados na indústria.

Palavras-chave: Pigmentos. Termocrômico. Tintas

1 INTRODUÇÃO

A termocromia é uma técnica na qual ocorre o fenômeno de


mudança na coloração de um objeto conforme a alteração de temperatura.
A tinta utilizada é denominada termocrômica, palavra que vem do grego
thermos que significa temperatura e chroma significa cor, ou seja, em uma
49

certa temperatura a coloração aparece e em outra desaparece.

O químico, Hans Meyer, iniciou em 1909 uma investigação dos


materiais termocrômicos, e notou que certos materiais orgânicos
apresentavam um comportamento termocrômico, porém o entendimento
desse fenômeno só foi possível em 1954 por Harnik e Schmidt e em 1963
por Mills e Nyburg. (MOURA, 2014)

Os compostos em que se observam mudança de coloração podem


ser orgânicos ou inorgânicos. Nos orgânicos a termocromia pode ocorrer
através de rearranjos moleculares e reações químicas reversíveis, já nos
compostos inorgânicos ela pode acontecer por reações químicas reversíveis
e também por variações na esfera de coordenação dos compostos e com
alterações na geometria molecular. (MOURA, 2014)

A temperatura de transição caracteriza o ponto que ocorre a


mudança da coloração do material, sendo que dependendo das
características do material, essa temperatura pode ser específica ou gradual.
A transição baseia-se no equilíbrio químico existente entre dois estados de
uma molécula ou entre duas fases cristalinas. (SOUSA, 2018)

Pelo fato de possuir pouca resistência às radiações ultravioleta,


visível e azul, os pigmentos termocrômicos não podem ser utilizados em
ambientes exteriores. Eles têm sido constantemente utilizados para uma
coloração lúdica em brinquedos infantis, em latas de refrigerantes e de
energéticos, na indústria têxtil para coloração de roupas como camisetas,
etc. Todas essas mudanças de coloração se revertem à medida que o objeto
50

volta a temperatura inicial. (SOUTO, 2015)

Os artigos e pesquisas encontrados sobre a técnica de


t ermocromia abordam o funcionamento da técnica explicando os
princípios químicos por trás do fenômeno. Observa-se também alguns
estudos sobre a utilização de pigmentos termocrômicos em diferentes
compostos.

O objetivo deste trabalho é realizar um levantamento bibliográfico


sobre a técnica de ttermocromia, elucidar como ocorre o processo e qual a
teoria por trás dele, bem como apresentar algumas aplicações em
compostos que foram encontrados.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O pigmento termocrômico é responsável por conferir a


propriedade de mudança de cor à tinta de acordo com a temperatura
empregada, sendo que eles podem ser orgânicos ou inorgânicos. Os tipos
de pigmentos mais utilizados atualmente para utilização dessa técnica são
do tipo cristais líquidos e corantes orgânicos leuco. (MOURA, 2014)

2.1 Cristais Líquidos

Os cristais líquidos possuem três classificações: nemáticos,


esméticos e colestéricos.

Os nemáticos apresentam seus mesógenos (moléculas) orientados


em relação a direção do diretor que éum eixo comum, porém a posição de
um mesógeno em relação ao outro é irregular. (MOURA, 2014)
51

Nos esméticos as posições dos mesógenos também são irregulares


apesar de possuir camadasbem determinadas em sua organização. Já nos
colestéricos os mesógenos estão em um arranjo que formam
macroestruturas helicoidais e apresentam uma organização em maior
escala. (MOURA, 2014)

De uma forma geral as moléculas dos cristais líquidos estão


dispostas de forma helicoidal conforme mostra a Figura 1. Esses cristais
passam do estado sólido cristalino para um estado líquido isotrópico
através da ação da temperatura. A modificação da cor, que é observada pelo
olho humano e provoca o efeito termocrômico é causada por essa
mudança de conformação da estrutura e pela influência do índice de
refração no comprimento de onda da luz que é refletida. (SOUTO, 2015)

Figura 1 – Moléculas em conformação helicoidal (a seta indica a direção


média da orientação moelcular)

Fonte: SILVA, 2015.

2.2 Corantes Orgânicos Leuco

Os corantes orgânicos leuco são utilizados em materiais têxteis,


cerâmica dentre outros. Eles se constituem com um tipo de corante que
possuem uma forma colorida e uma incolor.
52

O composto responsável pela formação de cor é um componente


orgânico cromogênico, doador de elétrons que é normalmente um éster
cíclico e o componente revelador de cor, um ácido fraco, atua como
receptor de elétrons. A reação que ocorre entre o ácido e o éster origina o
efeito termocrômico, como ilustra a Figura 2. Nesse sistema também está
incluso um solvente polar que pode ser um éter, um álcool ou uma cetona.
(SOUTO, 2015)

Figura 2 – Moléculas em conformação helicoidal

Fonte: MOURA, 2014.

2.3 Usos da termocromia

A marca Chamyto da fabricante Nestlé® utilizou a tinta


termocromática microencapsulada em um cartão promocional que
acompanhava o produto. A tinta do produto ao ser friccionada ou
aquecida desaparecia e mostrava um texto impresso embaixo da pintura,
como mostra a Figura 3 (FERNANDO, 2010):
53

Figura 3 – Chamyto

Fonte: FERNANDO, 2010.

A revista americana Wired Design utilizou tinta termocromática


na sua capa onde o calor do toque da mão da revista fazia a cor mudar,
Figura 4 (FERNANDO, 2010).

Figura 4 – Revista Wired Design

Fonte: FERNANDO, 2010.


54

A marca australiana Smart Lid utilizou uma tinta termocrômica


para coloração da tampa de copos que mudam de cor quando o vapor de
líquido chega até a tampa. Figura 5. (FERNANDO, 2010)

Figura 5 – Tampa que muda de coloração

Fonte: FERNANDO, 2010.

A marca de cervejas Skol em parceria com a Ambev e a empresa


de embalagens Rexan utilizou a impressão de tintas termocrômática do
design das latas para que a mudança de coloração indicasse quando a
bebida estivesse na temperatura adequada para consumo, Figura 6.
(FERNANDO, 2010)

Figura 6 – Lata da cerveja Skol

Fonte: FERNANDO, 2010.


55

O britânico Chris Ebejer lançou na Europa uma roupa infantil para


crianças de 0 a 12 meses com tingimento termocromático, que indica
quando o bebê está com febre, nesse momento ocorre uma mudança de
coloração na roupa quando a temperatura corporal do bebê passa de 37°C,
Figura 7. (FERNANDO, 2010).

Figura 7 – Roupa de bebê

Fonte: FERNANDO, 2010.

3 METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão da literatura sobre a técnica de


Termocromia, para confecção desse capítulo. A revisão bibliográfica foi
realizada a partir de consultas ao google acadêmico utilizando os seguintes
descritores: “termocromia” e “pigmentos termocromáticos”. Utilizou-se
como fonte de estudo dissertações de mestrado e trabalhos de conclusão
de curso, publicados nos últimos 10 anos.
56

4 DESENVOLVIMENTO

O objeto de estudo da presente revisão é a descrição dos


princípios químicos e as aplicações da técnica de termocromia.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base na busca realizada, foram encontrados como base para


realização desta revisão bibliográfica, duas dissertações de mestrado e dois
trabalhos de conclusão de curso que abordavam a termocromia descritiva e
apresentavam exemplos claros de sua utilização.

Após a realização da busca de dados, utilizando os critérios de


inclusão e exclusão foram encontrados quatro artigos nas bases de dados
do google acadêmico. Nesses quatro artigos informaram o funcionamento
da técnica de termocromia (MOURA, 2014; FERNANDO, 2010; SOUSA
(2018); SOUTO, 2015).

Na dissertação feita por Fernando (2010) foram encontrados


vários exemplos de aplicações da técnica de termocromia em produtos
fabricados na indústria, os quais foram abordados neste texto, como a
termocromia nas latinhas de cerveja, capas de revista e embalagens de
alimentos. Na dissertação de Souto (2015) e nos trabalhos acadêmicos de
Sousa (2018) e Moura (2014) foram apresentados fundamentos científicos
por trás dos pigmentos termocromáticos, onde avaliou-se os tipos de
pigmentos utilizados que são os cristais líquidos e corantes orgânicos leuco.
57

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a


técnica de Termocromia e suasaplicações.

Os trabalhos de mestrado e de conclusão de curso utilizados como


referência bibliográfica auxiliaram na compreensão da técnica e trouxeram
exemplos de sua aplicação em objetos do cotidiano.

REFERÊNCIAS

FERNANDO, Luiz. Design de superfície: Um estudo sobre a


aplicação do termocromismo em camisetas. Porto Alegre, 2010.
Disponível em <http://www.bibliotecadigital.ufrgs.br/da.php?

nrb=000772055&loc=2011&l=85673a703efb87e5>. Acesso em 22 de
abr de 2021.

MOURA, Hadassa, A Termocromia, os brinquedos e o ensino de


química contextualizado. Brasília, 2014. Disponível em
<https://bdm.unb.br/bitstream/10483/9468/1/2014_HadassadeSouza
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SOUSA, Jessica. Inovação em embalagem para bebida energética.


2018. Disponível em <
https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/61035876/Inovacao_em_Embala
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mentos_Google.pdf&Expire
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em 22 de abr de 2021.

SOUTO, Thiago. Tintas termocrômicas para conforto térmico e


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<https://core.ac.uk/download/pdf/302924687.pdf >. Acesso em 22 de
abr de 2020.
59

CAPÍTULO 3

É possível produzir tintas menos tóxicas e


com menos odores?
Autora: Clediane Marciana da Silva.
Orientadora: Flaviana Tavares Vieira Teixeira.
Colaboradores: Keyla Cavalho Pereira, Luiz Egídio Silva Tibães e Maraísa
Kíssila Oliveira Fernandes.

RESUMO
As tintas são amplamente empregadas nos mais diversos setores, desde a
construção civil ao artesanato. Devido a isso, tem-se estudado cada vez mais
novas formas de se produzir tintas sem que elas sejam tão nocivas às pessoas
e ao meio ambiente. Este trabalho é uma revisão do estado da arte, a qual
visa buscar, na literatura o que há de mais novo em tecnologias ambientais
voltadas para a produção das tintas, sobretudo, que as tornem menos
tóxicas. Os resultados obtidos mostram que a busca pela produção de tintas
ecológicas à base de terra é a vertente mais recorrente, apesar de haver
estudos em torno da substituição dos solventes e de alguns outros
componentes que tornem a tinta menos agressiva. Apesar de estudos em
andamento, faltam informações acerca das reais eficiência e eficácia desses
produtos alternativos em longo prazo

Palavras-chave: Tintas Ecológicas. Sustentabilidade. Tintas. Inovações


Tecnológicas. Solventes. COVs.
60

1 INTRODUÇÃO

O consumo de tintas está diretamente associado ao uso de solventes


orgânicos que emitem compostos orgânicos voláteis, os COVs, que são
compostos altamente tóxicos às pessoas que trabalham tanto com a
produção quanto com a aplicação de tintas, sobretudo se houver alta taxa
de exposição a concentrações elevadas. Assim, é preciso fazer o
levantamento e a quantificação desses compostos nas tintas a fim de reduzir
as suas emissões e os riscos associados às mesmas (MO, LU & SHAO,
2021).
Os COVs presentes nas atmosferas poluídas apresentam
hidrocarbonetos, halocarbonos e hidrocarbonetos oxigenados em sua
composição e alguns são tóxicos e causam danos à saúde humana, bem
como a atmosfera. Exposições a altas concentrações de COVs, sejam elas
acidentais ou de curto prazo, podem irritar olhos e vias respiratórias
superior e inferior, bem como causar danos hepáticos, renais e ao sistema
nervoso central. Em contrapartida, exposições de longo prazo,
independente da concentração, podem culminar em asma, disfunções
pulmonares, cardiovasculares e cânceres (MO, LU & SHAO, 2021).
São muitos os impactos socioambientais associados à produção das
tintas, compostos que, geralmente, são líquidos viscosos contendo dois ou
mais componentes dispersos, que quando aplicados, passam pelo processo
de cura, formando uma camada pelicular protetora que se adere à superfície
que as receberam (STRASSBURGER, 2021). Por carregarem em sua
composição produtos químicos voláteis, que desprendem vapores tóxicos
61

ou até mesmo metais pesados, é de extrema necessidade que se estudem


alternativas para a produção de tintas que causem menos impactos
ambientais e, ainda assim, cumpram o seu principal objetivo, que é garantir
uma cobertura de qualidade para determinadas superfícies
(NASCIMENTO, 2018).
A fim de combater a deterioração de diversas superfícies é comum
recobri-las com um filme polimérico que impeça a ação dos agentes
deteriorantes. Para este fim, surgiram as tintas que, geralmente são líquidas
e quando aplicadas, se aderem à superfície garantindo este filme sólido que
impede a deterioração do local recoberto. Entretanto, essas substâncias
podem ser nocivas tanto a quem as produz quanto a quem as aplica e/ou
permanece no ambiente que foi recoberto, devido à presença de substâncias
tóxicas em sua composição, seja nos pigmentos, no solvente, ou nas resinas
e aglutinantes utilizados (SIQUEIRA & PARISI, 2018). As tintas têm por
objetivo aumentar a vida útil de determinada superfície, contribuindo para
a sua melhor conservação, com menores custos de manutenção e facilitando
a limpeza, além de evitar a proliferação de microrganismos indesejados, bem
como impurezas em superfícies porosas (SCHNEIDER et al., 2017). Uma
tinta é constituída por “uma mistura de pigmentos, solventes, aditivos e
adesivos ou colas”, substâncias que conferem coloração, fluidez e fixação
aos produtos e suas matérias-primas e podem ser provenientes de minerais,
animais, vegetais, água, óleos e solventes orgânicos, além disso, muitas
podem ser sintetizadas em laboratório (LEITE, DA COSTA PACHECO
& ANTUNES, 2016).
62

A tinta é uma mistura de várias substâncias, onde as partículas


sólidas estão distribuídas em um solvente. Ela é aplicada sobre um substrato
apropriado, que quando seca, libera os COVs por meio de evaporação e
forma uma película sólida, para dar acabamento, fornecer proteção ou
apenas decorar a superfície em questão (SIQUEIRA & PARISI, 2018). Os
solventes empregados na produção das tintas podem ser compostos
orgânicos (hidrocarbonetos, álcoois, cetonas, éter de petróleo) ou água.
Essas substâncias garantem a fluidez e ajustam a cura da tinta, além de
influenciarem na forma de aplicação e na estabilidade do produto. Já os
adesivos são compostos por aglutinantes que garantem a aderência das
tintas às superfícies recoberta (LEITE, DA COSTA PACHECO &
ANTUNES, 2016). Entretanto, os solventes orgânicos podem liberar
substâncias tóxicas, como os compostos orgânicos voláteis (COVs). As
emissões dos COVs têm sido cada vez mais controladas pelas agências de
regulamentação ambiental, tendo em vista os riscos que eles podem causar
à saúde humana e ao meio ambiente. Assim, o desenvolvimento de tintas
com baixo impacto ambiental tem sido cada vez mais estimulado
(STRASSBURGER, 2021).
O desenvolvimento sustentável está sendo cada vez mais propagado
como forma de proteção e conservação do meio ambiente ao passo que
garante o desenvolvimento tecnológico e a utilização de recursos sem causar
grandes impactos ambientais, promovendo uma melhor qualidade de vida.
Com isso, as empresas devem buscar, cada vez mais, manter uma postura
voltada para a redução das emissões de vapores e/ou substâncias tóxicas
63

que causam impactos ambientais, principalmente as indústrias químicas, de


tintas e vernizes. As matérias-primas envolvidas na fabricação das tintas,
apresentam certa toxicidade, sobretudo devido aos solventes envolvidos no
processo produtivo e que permanecem mesmo após o produto ter sido
aplicado, podendo prejudicar a saúde do consumidor, dos pintores e dos
envolvidos no processo produtivo (MORENO, 2017).
A busca por de tecnologias menos agressivas ao meio ambiente têm
sido cada vez maior. Assim, estimula-se o desenvolvimento de novas
tecnologias que supram as necessidades de desenvolvimento e, ao mesmo
tempo, promovam a preservação do meio ambiente (STRASSBURGER,
2021). O uso da água como solvente para tintas é vantajoso por reduzir os
odores e a inflamabilidade de tais produtos, além de conferirem a eles
melhor flexibilidade, resistência ao craqueamento e ao amarelamento e,
principalmente, não emite COVs, o que aumenta o espaço de tintas
ecológicas no mercado (DE AZEVEDO & VITAL, 2018).
Com base nisso, tem-se estudado cada vez mais, novas formas de
fabricação desses produtos eliminando as substâncias tóxicas da sua
composição e adicionando alternativas naturais. Nesse sentido se
intensificaram as produções em laboratório de tintas à base de solo para
verificar a aplicabilidade e a possibilidade de utilização em escala industrial
(SIQUEIRA & PARISI, 2018).

2 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento deste texto utilizou-se de pesquisa


bibliográfica baseada em conteúdos indexados, presentes nas bases de dados
64

ScienceDirect e Google Acadêmico. As palavras-chave “ecológica”; “tintas”;


“toxicidade”, “sustentabilidade”, “desenvolvimento sustentável”, “COVs”,
“produção de tintas” e “tintas ecológicas” foram utilizadas para as buscas,
em inglês e português.

3 DESENVOLVIMENTO

Foi feita leitura minuciosa de cada um dos artigos pré-selecionados


a fim de se obter o melhor resultado para a elaboração desta revisão. A partir
da leitura, descartou-se aqueles que não forneciam os dados necessários para
a elaboração desde trabalho. Primeiramente, foi feita uma leitura geral e, em
seguida uma leitura detalhada, destacando-se os pontos principais que
deveriam ser incorporados ao trabalho.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 51 artigos, dos quais 34 foram pré-selecionados


para a leitura e, destes, 21 foram descartados, sendo, portanto, utilizados 13
artigos para a elaboração da presente revisão de literatura do estado da arte.
A discussão em torno desses resultados bibliográficos é feita na sequência.
A maioria dos autores estudados apontam o solo como um
pigmento de fácil acesso e barato, que pode ser utilizado na produção de
tintas como uma fonte sustentável. A utilização do solo como revestimento
ocorre em diversos locais do Brasil, principalmente no interior de Minas
Gerais, por meio da diluição do barro para cobrir fogões a lenha, fornalhas,
paredes, dentre outros (LEITE, DA COSTA PACHECO & ANTUNES,
2016; GÓIS & MIRANDA, 2018; SIQUEIRA & PARISI, 2018). O amido
65

é utilizado como base para a produção do grude, o qual atua como uma cola
nas tintas à base do solo. É uma cola com boa resistência e durabilidade,
que garante boa fixação da tinta e é uma alternativa sustentável e menos
agressiva à saúde (LEITE, DA COSTA PACHECO & ANTUNES, 2016).
Os recentes avanços tecnológicos das indústrias de recobrimentos
provenientes de pesquisas cientificas que comprovam a composição
altamente tóxica das tintas, que causam danos à saúde de quem tem contato
direto com ela. A partir disso se iniciaram a busca por alternativas chegando
às tintas à base de terra, pois os pigmentos obtidos são sustentáveis e não
causam danos a quem lida com eles, sendo menos tóxicos (DE FREITAS
& CARVALLHO, 2019).
Os estudos de Leite, Da Costa Pacheco & Antunes (2016) propõem
uma forma de melhorar a aderência do barreamento, melhorando a
qualidade, a resistência e a durabilidade das tintas à base de solo. O objetivo
principal era ampliar a escala da produção artesanal de tintas à base de solo,
sem reduzir as características de sustentabilidade e preço propostas por esse
tipo de revestimento. Os autores observaram que a tinta produzida
apresenta baixo tempo de secagem em virtude das suas matérias-primas e
que não foi percebido nenhum odor, além de o aspecto estético ter sido
satisfatório, com grande poder de cobertura e aderência. Observaram ainda
que os custos de produção da tinta giraram em torno de 10 vezes mais
baratos que o preço comercial de tintas imobiliárias disponíveis no mercado.
Com relação à toxicidade e aos impactos ambientais, Leite, Da Costa
Pacheco & Antunes (2016) avaliaram que os riscos associados aos
66

pigmentos são quase nulos uma vez que o mesmo está disponível na
natureza (argila), diferentemente dos pigmentos de tintas comercias que,
podem conter metais pesados em sua composição e, caso os resíduos
produzidos sejam dispostos de forma inadequada, pode causar diversos
desequilíbrios ambientais e problemas de saúde. Para o solvente, destaca-se
que o uso da água não apresenta os riscos característicos dos solventes
orgânicos geralmente empregados nas tintas comerciais. Em relação ao
grude, utilizado como cola, as vantagens em relação às resinas comumente
empregadas, são associadas à sua composição que é simples e com produtos
que não agridem tanto o meio ambiente. Os autores finalizam dizendo que
a tinta à base de solo, com os três ingredientes escolhidos para a sua
produção resulta em uma tinta ecológica e menos agressiva ao meio
ambiente. Entretanto, salientam a necessidade de estudos futuros que
considerem a durabilidade desse tipo de tinta, a sua aplicabilidade em
edificações e a possibilidade de variabilidade das cores produzidas.
As amostras de terra coletadas por Góis & Miranda (2018) passaram
pelo processo de moagem, permitindo a obtenção de pigmentos mais finos.
Em seguida foram feitos os processos de decantação e calcinação para a
completa extração dos pigmentos.
Para a confecção das tintas foram utilizados óleo de linhaça, cola
branca, glicerina, gema de ovo e cera de abelha como aglutinantes,
produzindo respectivamente tinta a óleo, tinta acrílica, tinta aquarela, tinta
têmpera e tinta encáustica. Com os produtos prontos, foram feitos testes de
aplicação em papel canson, cerâmica e painel de madeira. Os resultados
67

alcançados mostraram que os pigmentos naturais associados aos mais


diversos tipos de aglutinantes têm bom potencial de fixação, aderência e
fluidez, garantindo uma cobertura atóxica e sustentável, sobretudo para as
técnicas artesanais. Entretanto, carecem de estudos para a aplicação em
escala industrial (GÓIS & MIRANDA, 2018).
Dar um novo destino aos resíduos gerados na exploração do caulim
é o intuito do trabalho proposto por De Azevedo & Vital (2018). As autoras
propuseram a criação de uma geotinta tendo como pigmento os resíduos da
mineração do caulim. Assim, é uma alternativa sustentável e que coloca em
prática o conceito de logística reversa. O preparo da tinta ecológica pelas
autoras tinha como proposta produzir tinta à base de rejeito, água e cola
branca. Foram feitos testes de pintura com a tinta obtida e os resultados
alcançados foram positivos, apontando que a tinta produzida tem potencial
para ser produzida em larga escala e utilizada no revestimento de superfícies
internas. Afirmam ainda que é viável a utilização dos resíduos da exploração
do caulim para a produção de tinta ecológica e reduz o descarte desses
resíduos no ambiente.
As autoras destacam a crescente busca das empresas por
desenvolver tecnologias que permitam a elaboração de tintas menos tóxicas
e sem cheiro, além de, por vezes, ser completamente isento de COVs, com
reformulação de solventes, substituição de pigmentos à base de metais
pesados, por pigmentos sintéticos, tintas em pó, tintas ecológicas, dentre
outras alterações. As tintas ecológicas carregam, em sua composição,
matérias-primas naturais, pigmentos, aglutinantes e solventes que não são
68

agressivos ao meio ambiente nem à saúde das pessoas (DE AZEVEDO &
VITAL, 2018).
Os testes com a tinta de rejeito caulínico feito por De Azevedo &
Vital (2018) retornaram resultados satisfatórios, uma vez que a tinta não
apresentou descascamento, nem formação de fissuras, manchas,
desbotamento ou bolhas nas superfícies pintadas, durante o tempo em que
foram feitas as observações. Os resultados permitem dizer que, a partir da
matéria prima obtida de materiais alternativos como os rejeitos da
mineração, é possível preparar tintas sócio ecologicamente melhores. A
geotinta, proveniente do rejeito do caulim apresentou similaridades com as
tintas industrializadas com relação à cobertura, ao tempo de secagem e à
resistência, além de boa aderência à superfície recoberta. Tudo isso
associado ao baixo custo de produção e a um mercado promissor,
aumentam as possibilidades de produção em escala de tintas desse tipo.
Siqueira & Parisi (2018) também abordaram as questões de
sustentabilidade e desenvolvimento sustentável para a produção de tinta
ecológica mineral à base de terra. São tintas originadas por processos físicos
que requerem pouca energia de produção. A determinação da cor desse tipo
de tinta requer a determinação da composição mineral do solo utilizado
como base para a sua produção. A vantagem das tintas ecológicas, além dos
custos produtivos, está no fato de não emitirem substâncias tóxicas durante
o seu processo produtivo e seus resíduos não causarem tantos impactos
ambientais quanto as tintas convencionais, uma vez que são biodegradáveis.
O trabalho desenvolvido pelos autores levou em consideração as técnicas
69

para a obtenção das matérias primas para a produção da tinta, a composição


mineral da terra utilizada, para determinação da cor, dos aglutinantes e
solventes necessários, da preparação e da aplicação da tinta obtida
De Freitas & Carvallho (2019) buscaram, em seu trabalho, obter
uma formulação correta para as tintas naturais à base de terra e caracterizá-
las por meio de testes laboratoriais. As autoras produziram quatro
formulações de tintas, a saber: argila de construção civil, cola PVA e água;
argila medicinal, cola PVA e água; argila medicinal, banha de porco e água;
solo, cola PVA e água. Os resultados alcançados nos testes indicaram que
as tintas obtidas são satisfatórias e que é possível fabricar tintas artesanais
de baixo custo sem afetar a saúde humana e ambiental. Destacam que as
tintas de argila medicinal, cola PVA e água e a de solo, cola PVA e água
apresentaram melhor cobertura, aderência e estética pós aplicação.
Strassburger (2021) apresenta, em seu trabalho, o desenvolvimento
de tintas intumescentes à base de água, que apresentam menor índice de
toxicidade. As tintas intumescentes à base de água é uma linha promissora
de desenvolvimento, já que apresenta emissão de COVs próxima de zero,
baixo odor e são menos inflamáveis que aquelas à base de solventes
orgânicos. Os resultados obtidos mostraram eficiência da tinta produzida
quanto à não liberação de gases tóxicos durante a pirólise.
O aumento do consumo de tintas imobiliárias nos últimos anos fez
com que se aumentasse o número de pesquisas acerca da adequação das
questões ambientais. Mesmo que já tenha ocorrido a redução do uso de
substâncias tóxicas, necessitam-se de mais estudos que permitam a
70

formulação de tintas cada vez menos prejudiciais ao meio ambiente,


sobretudo com a redução da emissão dos COVs para a atmosfera. Embora
as tintas à base de água tenham sido o maior passo em direção as tintas
sustentáveis, até então, pode haver incompatibilidade entre as resinas e este
solvente, o que reduz a variedade de tintas de base aquosa. Além disso, essas
tintas precisam de novas tecnologias para melhorar as suas propriedades.
Os aditivos de preservação destas tintas podem apresentar substâncias
tóxicas em sua composição e os agentes biocidas também podem causar
danos ambientais (MATOS, 2017).
Schneider et al. (2017) propõem a fabricação de tintas através da
combinação casca de laranja gerada como resíduo nas indústrias produtoras
de sucos e do poliestireno expandido (EPS) que, no Brasil, é mais conhecido
como isopor. A tinta produzida teria melhor aplicação na construção civil e
na indústria moveleira, com foco nas superfícies de madeira. A casca de
laranja seria a provedora do solvente utilizado na base da tinta (óleo
essencial e D-limoneno), como alternativa sustentável aos compostos
aromáticos comumente empregados para tal finalidade. Sendo assim, além
de uma produção ecológica, sustentável e de menor custo, emprega-se o
conceito de logística reversa, onde os materiais já descartados são destinados
a outro tipo de produção ao invés de virarem rejeitos.
Os estudos dos autores mostraram que alguns agentes plastificantes
retornaram bons resultados de compatibilidade com os solventes naturais,
indicando que os mesmos podem substituir os solventes orgânicos sem
causar prejuízos às tintas produzidas. Os autores finalizam afirmando que
71

os seus resultados deixam claro que, para formular uma tinta, não há a
necessidade de se utilizar solventes aromáticos, já que os solventes naturais
tem viabilidade técnica conforme o estudo evidenciou. Além disso é
inegável que são diversos os benefícios de tal substituição, que vão desde
ambientais até mesmo à saúde das pessoas que aplicam as tintas, já que não
há solventes agressivos à saúde. Um outro ponto que se deve evidenciar é o
custo consideravelmente menor, já que as etapas de extração da matéria são
simples e não necessitam de refino, tendo potencial aplicabilidade comercial
(SCHNEIDER et al., 2017).
De acordo com Santiago et al. (2020) o Brasil é um dos maiores
produtores de soja do mundo e, dentre os resíduos da produção desta
leguminosa, encontra-se o caule, o qual tem propriedades lignocelulósicas,
que pode ser utilizado na produção de nanofibras de celulose as quais
podem ser aplicadas na produção de tintas de parede mais resistentes para
a construção civil. Os autores propõem a incorporação deste componente
nas tintas comerciais a fim de garantir uma aplicação para um dos resíduos
da soja, entretanto afirmam a carência de estudos práticos relacionados ao
tema e sugerem que em trabalhos futuros possa-se fazer a extração dos
nanocristais de celulose e caracterizá-los para ver a sua real aplicabilidade
nas tintas comerciais à base de água, já existentes. Isso porque a intenção é
conferir maior resistência a aderência dessas tintas e reduzir a utilização de
tintas à base de solventes orgânicos tóxicos.
Além das tintas à base de solo, que são a principal linha de pesquisa
para desenvolver tintas mais sustentáveis, menos tóxicas e livres de odores,
72

há estudos em outras vertentes, como em relação aos solventes empregados


na produção das tintas e até mesmo materiais que possam ser incorporados
a elas (TORNERO et al., 2018; DE AZEVEDO & VITAL, 2018;
SANTIAGO et al., 2020).
A redução da utilização de tintas à base de solventes culmina em
uma menor emissão de COVs, mas não tornam as tintas 100% ecológicas,
uma vez que tintas à base de água necessitam de aditivos de antimicrobianos
para evitar danos indesejados à pintura. Pensando neste ponto alguns
pesquisadores estudaram a incorporação nanopartículas de óxido de zinco
associado a um átomo de prata nas tintas à base de água, a fim de aproveitar
as propriedades antimicrobianas deste composto. Tal proposta tecnológica
garante a melhoria da qualidade de vida das pessoas que aplicam as tintas
bem como das que permanecem no ambiente recoberto. Esse revestimento
pode ser aplicado em diversas superfícies dos mais diversos locais, desde
uso residencial a uso em indústrias de alimentos e hospitais (TORNERO et
al., 2018).
Tornero et al. (2018) concluíram que a tinta antimicrobiana
produzida à base de água atende aos critérios ecológicos exigidos para
pinturas internas e externas, pois apresentam baixíssimas emissões de
COVs. Finalizam dizendo que acreditam que o invento é um caminho para
melhorar muito a qualidade da saúde humana por meio das tintas
arquitetônicas, apesar de ainda serem necessários estudos acerca do
complexo entre oxido de zinco e prata em nanopartículas.
73

Como o mercado oferece uma vasta variedade de tintas, muitas


dúvidas assombram os consumidores na hora de escolher o melhor e mais
adequado produto para utilizar e, muitas vezes, por falta de conhecimento,
eles acabam por optar pelo produto de menor valor e não levar em conta a
qualidade e/ou as condições de descarte e aplicação relacionadas à saúde e
ao meio ambiente. Neste sentido, tintas à base de água e com pigmentos
sintéticos têm sido cada vez mais produzidas em substituição às
convencionais, visando a redução da emissão de COVs e de metais tóxicos
após a aplicação e com a disposição final dos resíduos (NASCIMENTO,
2018).
Nascimento (2018) destaca também a necessidade e a importância
de se aprofundar os conhecimentos e a as pesquisas nesta área de produção
de tintas menos tóxicas e mais sustentáveis, uma vez que o mercado
consumidor desses produtos cresce cada dia mais e os processos produtivos
são diversos, gerando cada vez mais resíduos tóxicos, sendo necessário
manter a evolução tecnológica, mas garantindo que o meio ambiente não
seja tão comprometido para as gerações futuras.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização desta revisão foi possível perceber que, dentre as


tintas ecológicas disponíveis, aquelas que contêm terra têm sido as mais
estudadas nos últimos anos, devido ao fato de terem baixo custo de
produção, permitirem que as superfícies recobertas respirem, permitirem
um controle da umidade do ar, não desbotarem, terem aplicabilidade interna
e externa e serem inodoras. A incorporação de matérias-primas alternativas
74

no processo produtivo das tintas é uma opção eficiente e sustentável para a


substituição de recursos não renováveis, permitindo a redução de impactos
ambientais causados pelos COVs, além de proporcionar ambientes mais
saudáveis.
Assim, é possível dizer que a busca por produtos que agridam
menos a saúde humana e a natureza é crescente também no mercado das
tintas, sobretudo devido à sua vasta aplicação. Entretanto, faltam dados de
estudos disponíveis na literatura que comprovem os resultados a longo
prazo e ampliem a escala de produção para o nível industrial. Acredita-se
que nos próximos anos esse setor se desenvolverá ainda mais e será possível
encontrar nos mercados produtos alternativos e com boa qualidade de
revestimento.

REFERÊNCIAS

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da Faculdade Salesiana, n. 3, p. 2-9, 2016.

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ambiental. 2017. 28 f. Monografia (Especialização)-Curso de Química,
Universidade Federal de São João Del-rei, São João Del-rei, 2017.

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on novel hybrid nanoparticles of zinc oxide partially coated with
silver. Progress in Organic Coatings, v. 121, p. 130-141, 2018.
77

CAPÍTULO 04

Vidros coloridos: uma breve


contextualização de sua origem, técnicas e
utilizações

Autoras: Ana Paula Barbosa de Souza, Anne Carmen Ten Boom e


Fernanda Hugo Figueiró
Orientadora: Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Colaboradores: Aroldo Luiz Pereira Cardoso, Alessandra Xavier Aguiar e
Lucas da Silva Gontijo

RESUMO
O vidro, sendo natural ou sintético, tem uma grande importância na
história da humanidade. Esse material é amorfo e pode conter coloração
ou não. Sua cor é devido às impurezas ou óxidos adicionados em sua
estrutura. Os vidros coloridos podem ser utilizados tanto para decoração
como para aplicações mais práticas, como a proteção contra a radiação
UV. O objetivo deste artigo é apresentar técnicas de coloração dos vidros
ao longo da história, assim como a sua aplicabilidade. Para isso foi feita
uma busca bibliográfica sobre a temática. Foi observado que a presença
de vitrais está ligada diretamente a coloração de vidros, possuindo
diferentes técnicas ao longo do tempo. Além disso, a coloração também
está relacionada a embalagens da indústria alimentícia, farmacêutica e a
produção de lentes fotocrômicas e fotossensíveis, que as utilizam como
método de proteção. Por fim, é possível perceber a importância dos
vidros coloridos e que novas pesquisas devem ser feitas para a atualização
com relação às suas técnicas de coloração.

Palavras-chave: Vidro. Coloração. Vitrais. Processo histórico.


Aplicações.
78

1 INTRODUÇÃO

O vidro é composto principalmente por sílica, mesmo que haja a


presença de outras impurezas (metais). Em geral, ele se encontra em
colorações transparentes e incolor. No entanto, com a adição de
impurezas, o vidro adquire uma cor diferenciada dependendo do metal
que é acrescentado (VILARIGUES, 2008; AKERMAN, 2000; BABISK,
2009).

Além disso, esse material não tem uma forma definida podendo
ter várias características diferentes. Diante disso, existem vidros que
podem ser trabalhados em temperaturas elevadas, outros que são bem
resistentes, alguns podem refletir raios eletromagnéticos, entre diversas
outras propriedades (MARÇAL, 2011). A estrutura do vidro pode ser
observada pelas Figuras 1, em que mostra o tetraedro composto pela
estrutura da molécula individual de SiO2, e Figura 2, que mostra o arranjo
dessas moléculas para formar a estrutura amorfa do vidro.

O vidro pode ser produzido com diferentes materiais e


composições, dessa forma, seu desempenho é variado para cada tipo. Sob
o ponto de vista da Química, o vidro pode ser classificado em cinco
grupos, são eles: vidros de sílica fundida ou quartzo, de sodo-cálcico, de
borossilicatos, de chumbo e de alumino-borosilicato (BABISK, 2009).
79

Figura 1 – Estrutura da sílica

Fonte: Akerman, 2000.

Figura 2 – Estrutura amorfa do vidro

Fonte: Akerman, 2000.

Vidros de sílica fundida ou quartzo requerem elevadas


temperaturas de fusão, sendo que os seus coeficientes de expansão
térmica são baixos e possuem alto grau de inércia química. Devido ao seu
ponto de fusão, a sua fabricação é um processo extremamente difícil com
um custo muito alto. Esse tipo de vidro tem aplicações em laboratórios,
janelas de aeronaves, espelhos astronômicos, etc (BABISK, 2009).

Vidros de sodo-cálcico é o grupo mais antigo e mais utilizado. Em


sua composição há de 8 a 12% de óxido de cálcio e de 12 a 17% de óxido
de um elemento alcalino, sendo o sódio usado com frequência. Quando
há alta concentração de cálcio no vidro, ele tende a cristalizar durante a
80

sua produção, já quando sua concentração é baixa, a sua durabilidade é


reduzida. Com isso, é importante a adição de alumina (óxido de alumínio)
na faixa de 0,6 a 2,5% na composição, para que sua durabilidade seja
aumentada. Esse tipo de vidro é utilizado em bulbos de televisão, janelas,
potes, garrafas, entre outros materiais (AKERMAN, 2000).

Já, os de borossilicatos são vidros de sodo-cálcico com no


mínimo de 5% de óxido de boro em sua composição. O boro é
empregado para diminuir a viscosidade da sílica fundida, não gerando
aumento do coeficiente de expansão térmica e, assim, sua resistência é
melhorada em elevadas temperaturas e a choques térmicos. Eles são
usados em indústrias químicas, bulbos de lâmpadas, utensílios de cozinha,
entre outras aplicações (FELISBERTO, 2009).

Os vidros de chumbo possuem longas faixas de trabalho, quando


a temperatura é reduzida, a viscosidade sofre modificação. Além disso, o
óxido de chumbo é capaz de alterar a rede vítrea ou formá-la. Nesse tipo
de vidro, o índice de refração é mais alto, possibilitando assim, aumento
de seu brilho. Esse grupo é aplicado em taças e copos finos, na indústria
eletrônica, na ótica, etc. (AKERMAN, 2000).

Vidros de alumino-borossilicato são feitos pelo incremento de


alumina na composição, com isso, a viscosidade aumenta em
temperaturas altas. A alumina é a substância responsável pela formação
da rede vítrea, contudo, ela não é capaz de formá-la sozinha. Além do
mais, ela tem coordenação tetraédrica, que possibilita aumento na coesão
81

estrutural, fazendo com que vidros dessa classe não sofram deformação
quando aquecidos em elevadas temperaturas. As aplicações desse grupo
geralmente são em tubos de combustão, fibras de reforço e indústria
farmacêutica (AKERMAN, 2000).

O vidro é um material que é bastante utilizado desde muito tempo


na história da humanidade. Durante a Idade da Pedra, o ser humano já
utilizava os vidros naturais, que são formados através de erupções
vulcânicas, como por exemplo a obsidiana e o tektites, para a confecção
de ferramentas. Esses vidros naturais também possuíam grande
importância no Egito antigo, sendo usado para adornar tumbas de faraós
(ALVES, GIMENEZ, MAZALI, 2001).

Apesar de se ter a certeza de que os fenícios, babilônios e egípcios


já utilizavam o vidro em 7000 a.C., não se sabe ao certo a origem de sua
fabricação (FELISBERTO, 2006; VILARIGUES, 2008). Plínio atribuiu
a criação do vidro sintético aos fenícios, em 7000 a.C, ao chegar na região
da Síria (ALVES, GIMENEZ, MAZALI, 2001; AKERMAN, 2000;
FELISBERTO, 2006).

Em 1500 a.C., no Egito, o vidro era utilizado como adornos, jóias


e recipientes (FELISBERTO, 2006). A produção de recipientes de vidro
era realizada por meio de filetes de vidro fundido enrolados em moldes
de argila, em que o vidro era resfriado e endurecido, sendo então
formado. Como essa técnica não era muito simples, esses objetos eram
destinados aos mais ricos (AKERMAN, 2000). Datam também dessa
82

época, as cerâmicas revestidas com uma camada vitrificada, que eram


obtidas pela queima das areias ricas em cálcio e ferro em associação ao
carbonato de sódio presentes na cerâmica quando essas eram queimadas;
assim como a produção de vidros sem a presença de cerâmica e de vidros
com tonalidades azuladas graças a adição de cobre e cobalto
(FELISBERTO, 2006).

Em relação aos vidros coloridos, esses já são utilizados desde a


antiguidade, como, por exemplo, no Egito antigo como adornos ou
decorações. Atualmente, ele pode ter desde funções estéticas, como
decoração, até aplicações mais práticas, como as embalagens de vidro
âmbar que servem de proteção para seu conteúdo contra a radiação UV.
Com isso, o objetivo desse texto é apresentar algumas técnicas de
coloração do vidro desde às usadas antigamente até as atuais, ainda, visa
destacar a aplicabilidade industrial das cores nesses materiais.

2 METODOLOGIA

Para a realização do presente trabalho, foi feita uma revisão


bibliográfica em que se utilizou buscas na literatura acerca da história da
indústria vidreira, assim como os processos de coloração dos vidros. A
coleta de informações a respeito do tema foi feita em fontes como artigos
e trabalhos acadêmicos, tendo como ferramenta a internet para coleta de
dados.
83

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Uma revolução na fabricação de vidros ocorreu com a descoberta


da técnica de sopro de vidro, que consiste em utilizar um tubo para soprar
o material fundido, ou seja, coloca-se uma quantidade do vidro fundido
em uma extremidade do tubo e, pela outra extremidade, sopra-se o
material, dando forma à peça de vidro (AKERMAN, 2000; ALVES,
GIMENEZ, MAZALI, 2001; FELISBERTO, 2006; VILARIGUES,
2008). Existem controvérsias acerca de sua criação. De acordo com
Akerman (2000), essa técnica foi descoberta por volta de 300 a.C.
Segundo Alves, Gimenez e Mazakali (2001), ela foi descoberta por volta
de 200 a.C., na região da Babilônia e do Sidom, pelos sírios. De acordo
com Felisberto (2006), ela foi inventada em 100 a.C. pelos fenícios. Já de
acordo com Vilarigues (2008), ela foi descoberta na Babilônia no século
I a.C.. Nessa mesma época, também o uso de moldes de madeira auxiliou
na introdução de vidros com medidas padronizadas (FELISBERTO,
2006; VILARIGUES, 2008).

Durante o Império Romano, a produção de vidro se difundiu,


com a utilização do vidro para vasos, garrafas, joias e até mesmo janelas,
sendo considerada a época de ouro ou de luxo do vidro (FELISBERTO,
2006; VILARIGUES, 2008; AKERMAN, 2000; ALVES, GIMENEZ,
MAZALI, 2001).

Os primeiros vidros incolores foram produzidos em Alexandria,


por volta de 100 d.C.. Tal fato se deu pelo acréscimo de óxido de
84

manganês nas formulações do vidro e através da melhora da qualidade


dos fornos, que permitiu o alcance de temperaturas de fusão mais altas e
o controle da atmosfera de combustão (AKERMAN, 2000; ALVES,
GIMENEZ, MAZALI, 2001).

No século X, os nórdicos substituíram os vidros sódicos dos


mediterrâneos pelos vidros potássicos. Eles produziam os vidros a partir
de cinzas de faias, que eram mais abundantes que a matéria prima dos
vidros sódicos, que eram cinzas de plantas marinhas ou de um mineral
denominado natrão (VILARIGUES, 2008).

A técnica de sopragem dos vidros também era utilizada para a


produção de vidros planos. O vidro era soprado e em seguida cortado e
aplainado enquanto ainda estava quente (AKERMAN, 2000;
VILARIGUES, 2008). Essa técnica surgiu na Alemanha no século XI e
foi aperfeiçoada em Veneza no século XIII (VILARIGUES, 2008).
Diante disso, Veneza se tornou o polo vidreiro do mundo ocidental,
desenvolvendo técnicas de produção em coroas, fabricação de cristais,
dentre outras (AKERMAN, 2000; ALVES, GIMENEZ, MAZALI,
2001; VILARIGUES, 2008; FELISBERTO, 2006).

A revolução industrial fez com que a demanda da produção de


vidro aumentasse. Com isso, os últimos três séculos foram marcados por
diversos avanços na produção de vidro como: produção de vidro
contínuo, a prensa de vidro, a descoberta do vidro “float”, novos usos
para o vidro, como por exemplo, a fibra ótica (AKERMAN, 2000;
85

ALVES, GIMENEZ, MAZALI, 2001; VILARIGUES, 2008;


FELISBERTO, 2006). A Tabela 1 mostra o desenvolvimento da
indústria vidreira.

Tabela 1 – Histórico da produção de vidro

Período Região Desenvolvimento


7000 a.C Egito Fabricação de vidro
669-626 a.C. Assíria Vidros encontrados em tábuas
300/200/100 Babilônia e Criação da técnica de sopragem
a.C Sidom do vidro
100 d.C Alexandria Vidro incolor
1000-1100 Alemanha e Criação da técnica de vitrais
França
1200 Alemanha Criação dos espelhos (peças de
vidros planos com uma camada
de chumbo - antimônio)
1688 França Espelhos com grandes superfícies
1765 Europa Produção de vidro cristal
1787 Europa Uso do vidro para estudar
propriedades físicas do
vidro
1800 Europa Vidros padronizados pela
Revolução Industrial
1840 Europa Criação do forno tipo tanque
onde são confeccionados vidros
planos
1863 Europa Processo Solvay
86

1875 Alemanha Vidros especiais


1881 Europa Estudo do vidro que
proporcionou o desenvolvimento
do microscópio
1886 Europa Máquina que sopra o vidro
1920 Europa Compreensão da resistência
do bulbo do vidro por
Griggith
1926 Europa Máquina que fabrica bulbos
e invólucros de vidro
1970 Estados A Corning Glass americana
Unidos desenvolve a primeira fibra óptica
de sílica.
1980 - Até os - Desenvolvimentos de novos
dias atuais processos de fabricação de
vidros, como o processo sol-gel

Fonte: Alves, Guimenez, Mazali, 2001 (ADAPTADO).

A cor dos primeiros vidros era devido às espécies minerais


indesejadas presentes na composição do vidro quando ele era formado.
No século XVII, a Inglaterra fabricou pela primeira vez o “vidro de
garrafa preto” no qual possuía coloração marrom ou verde, sendo escuro,
em razão de impurezas de ferro e de enxofre (HELMENSTINE, 2018).

O incremento de minerais ou pigmentos na estrutura vítrea


também possibilita o surgimento de cor nos vidros, a relação entre o
elemento acrescentado e a cor pode ser observada na Tabela 2. Quando
se tem o intuito de produzir um vidro transparente ou um vidro que ainda
receberá uma coloração, é imprescindível que a impureza seja eliminada
87

com descolorantes como dióxido de manganês e de cério, que precipitam


ferro e compostos sulfurados. Além desses, o selênio também pode ser
utilizado para essa finalidade, no entanto, por ter alto valor, ele é menos
usado (HELMENSTINE, 2018; ALVES, 2008; FELISBERTO, 2006).

Tabela 2 – Elementos responsáveis pela coloração dos vidros

Elemento Valência Cor Valência Cor


Cobalto Co2+ azul escuro Co3+ azul violeta
Níquel Ni2+ amarelo Ni3+ marrom
amarronzado escuro
Cromo Cr3+ verde Cr3+ verde
amarelado
Cobre Cr1+ incolor Cu2+ azul
Ferro Fe2+ verde azulado Fe3+ verde
amarelado
Manganês Mn2+ incolor Mn3+ rosa
violácea
Manganês Mn4+ violeta Mn6+ violeta
Selênio Se0 rosa Se2- Incolor
Selênio Se4+ incolor Se6+ incolor
Enxofre S2+ âmbar S6+ incolor
Cádmio Cd2+ marrom
Neodímio Nd2+ rosa violeta

Fonte: Felisberto, 2006.

Uma das aplicações bastante recorrentes do vidro colorido é o


vitral. Na Idade Média, são tidos um dos mais vastos registros dos vitrais
em igrejas. Nesse período, os vitrais são caracterizados como estruturas
metálicas principalmente de chumbo, onde são colocados mosaicos de
vidros coloridos ou não. No entanto, a partir do século XIX começaram
88

a ser usados outros tipos de metais como suporte (WERTHEIMER,


2011). Uma característica interessante desse vidro é que quando a luz
natural o intercepta, dá a ilusão de que o material alterou suas cores.
(MONTEIRO et al., 2013)

O vitral como é caracterizado atualmente, surgiu no século X,


influenciado pela arquitetura cristã, que os utilizava para representar
passagens bíblicas. Os vitrais auxiliavam na criação de uma atmosfera
espiritual e mística, ao projetar cores e formas no interior das igrejas. Seu
auge se deu durante o período da arquitetura gótica, graças ao uso de
janelas amplas. A partir do século XVI, há um declínio na produção dos
vitrais e apenas no século XVIII, as técnicas de fabricá-las são
redescobertas (SANTOS, 2017).

Os materiais utilizados para a pintura dos vitrais eram: a grisalha,


amarelo de prata, esmaltes e sanguine. A grisalha, por ter uma coloração
escura, algo entre o castanho e o preto, era utilizada para a realização de
contornos, sombra e definição de volume, aplicada geralmente no avesso
do vitral, que é o lado voltado para o interior. Sua função era a regulagem
da passagem de luz. Era composta por um fundente (pó de vidro), um
corante e um ligante (vinagre, vinho ou urina), em uma suspensão de
óxidos metálicos na matriz vítrea constituída por 50 a 70 % de vidro de
chumbo, 25 a 50 % de pigmento como Fe2O3 e CuO, resultando em uma
pintura heterogênea. Essa tinta pode ter variações nas cores por meio de
acréscimo de substâncias como CuO, Mn2O3 e Co3O4. Após sua aplicação
sobre o vidro, o conjunto era submetido a queima a uma temperatura de
89

600 a 750 °C.

Um exemplo de vitral produzido com grisalha é o vitral


representando São Pedro, da Igreja de São Pedro em Porto Alegre,
mostrado na Figura 3 (SANTOS, 2017; WERTHEIMER, 2011).

Figura 3 – Imagem de São Pedro

Fonte: Wertheimer, 2011.

No século XVII, os métodos de pintura de vitrais obtiveram um


grande desenvolvimento graças à utilização de sais de prata, que
promoviam uma coloração que variava entre o amarelo limão e o amarelo
torrado, dependendo da quantidade de óxido utilizada, da composição do
vidro, da temperatura de cozimento e do número de aplicações. O
amarelo de prata é uma suspensão coloidal de sais de prata em argila. A
utilização se dá através de sua aplicação sobre um vidro incolor, que em
seguida é cozido (atualmente a temperatura de cozimento é de 540 a 560
°C), promovendo a dispersão de nanopartículas de prata no interior do
vidro, conferindo-lhe a coloração amarela. A camada de argila é retirada
90

após o cozimento. Além disso, pode ser utilizado em conjunto com


esmalte azul para a obtenção da coloração verde. Assim como a grisalha,
ele é utilizado no avesso do vitral (SANTOS, 2017; WERTHEIMER,
2011).

A partir do século XVII, começaram a ser usados esmaltes, que


são pigmentos à base de vidro colorido, para a coloração de vitrais, que
eram aplicados em seu avesso. Entretanto, eles só permitiam a aplicação
de cor em uma determinada área de superfície. Esses esmaltes eram
produzidos através de uma matriz vítrea, exemplo SiO 2-PbO que era
fundida com uma substância com propriedades colorantes, como, por
exemplo, CoO, CuO, dentre outros. Após a produção da matriz, ela era
finamente moída. Por fim, acrescentava-se o veículo, que era composto
por água, água de goma ou óleos (SANTOS, 2017).

No fim do século XV ou início do século XVI, a técnica de


sanguine começou a ser usada. O sanguine é uma tinta composta por
óxidos de ferro, geralmente a hematita (Fe 2O3). As características da
coloração são definidas pela espessura da camada de tinta aplicada e do
tamanho de suas partículas. As partículas pequenas, de 0,001 a 0,01 μm,
garantem um tom amarelo-avermelhado e transparente. Além disso,
partículas de tamanho intermediário, de 0,1 a 1 μm, promovem uma
tonalidade entre laranja e violeta. E partículas mais grossas, de 10 a 100
μm, levam a tons mais escuros como cinza-escuro. Geralmente, o
sanguine era utilizado para representar rostos e corpos, representado na
Figura 4, e suas tonalidades mais escuras, para representar o mármore,
91

tijolo ou colorir roupas. Essa tinta pode ser aplicada em ambos os lados
do vitral (SANTOS, 2017).

Figura 4 – Vitral de L’Air et Jupiter

Fonte: Santos, 2017.

No processamento de fabricação dos vidros, técnicas especiais


são introduzidas para influenciar a cor e aparência desses objetos. O vidro
iridescente é produzido inserindo compostos metálicos em sua
constituição ou pulverizando a face superior com cloreto de estanho ou
de chumbo, para em seguida ser aquecido através de uma atmosfera
redutora. Um exemplo de vidro iridescente é o vidro dicróico. Ele
aparenta mudar de cor dependendo do ângulo de onde é visto, motivado
pela inserção de finas camadas de compostos metálicos, como o ouro e a
prata. Para que não haja desgastes, é crucial que essas superfícies sejam
revestidas com vidro transparente (HELMENSTINE, 2018). Um
exemplo de vidro dicróico é o cálice Lycurgus, um cálice romano que data
92

do século IV, no qual os metais de ouro e prata presentes em sua


composição fazem com que o cálice possua cor verde quando os raios de
luz são refletidos na sua superfície e coloração vermelha quando os raios
de luz provenientes do interior do cálice são transmitidos através da
superfície (MARTINS, TRINDADE, 2012).

Os vidros são capazes de propagar grande quantidade da luz


incidente devido sua transparência. Um vidro será visualizado colorido
quando essa propagação suceder de maneira desigual em referência aos
comprimentos da luz visível (FELISBERTO, 2006). A cor do vidro não
se resume a apenas decoração, pois ela é usada para proteger o vidro de
ações externas, por meio do bloqueio de radiações ultravioletas. Um
exemplo disso, é a coloração âmbar ou verde que impede essa
interferência, além disso, lentes fotocrômicas e fotossensíveis são obtidas
por processo que envolve cores (MARÇAL, 2011).

A radiação ultravioleta, infravermelha e a luz visível são capazes


de provocar alterações nas características de produtos fotossensíveis.
Sendo assim, reações de degradação bioquímica podem ser iniciadas ou
aceleradas, consequentemente, são gerados compostos oxidantes,
radicais livres e íons, esses por sua vez causam mudanças na qualidade
dos produtos. Nesse sentido, a coloração de embalagens é fundamental
para a criação de uma barreira protetora em torno do conteúdo estocado
(ALVES, 2008). Com isso, a cor em vidros possui grande importância em
vários setores industriais, exemplo disso é a indústria alimentícia, em que
embalagens são produzidas com o objetivo de proteger o alimento de
93

radiações ultravioleta, como o fato das garrafas de cerveja serem de cores


verde ou âmbar, evitando a alteração das propriedades da bebida
(MARÇAL, 2011). Além disso, os vidros de coloração âmbar também são
muito utilizados na indústria farmacêutica para evitar a degradação de
medicamentos (ALVES, 2008; JAIME, BOCOLI, FARIA, 2018). A
Figura 5 mostra exemplos de embalagens coloridas.

Figura 5: Embalagens coloridas

Fonte: Felisberto, 2006.

A introdução de espécies responsáveis pelas cores deve ser


realizada antes da fase de fusão e pode-se enxergar o vidro colorido
depois dessa etapa e ao finalizar o resfriamento (BABISK, 2009). Por
exemplo, a coloração âmbar é obtida pela associação do ferro com
enxofre em fornos com atmosfera bastante redutora (ALVES, 2008;
JAIME, BOCOLI, FARIA, 2018).

A coloração também possui grande relevância na produção de


lentes fotocrômicas e fotossensíveis. Essas lentes têm a capacidade de
mudarem sua cor quando expostas a radiação ultravioleta (UV), ou seja,
quando recebem luz solar, elas escurecem e quando se encontram em
ambientes com baixa iluminação mantêm-se claras. Esse fato está
94

relacionado ao processo de fabricação, sendo possível lentes de cristais e


de resinas (OLIVEIRA; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2001).

O processo para as lentes de cristais, conhecidas como


fotocrômicas, consiste na inserção de microcristais de prata em todos os
pontos da lente, então, quando incide radiação UV sobre elas, ocorre a
dissociação desses microcristais gerando prata livre formando colóides,
que absorvem a radiação e ficam escuras. Por outro lado, não havendo
exposição UV, acontece a reação inversa na qual ficam claras. Em
consequência de o elemento fotocromático estar espalhado, essas lentes
não possuem coloração uniforme, sendo esta mais acentuada na região
de maior espessura e menos na de menor espessura (OLIVEIRA;
OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2001).

Já, para as lentes de resina, que são as fotossensíveis, a espécie que


causa o efeito fotocromático é transformada em um corante orgânico,
absorvendo radiação e possibilitando a alteração da coloração. Nesse
caso, a cor é constante em toda a lente, já que a substância fotocrômica
apresenta a mesma espessura por toda a face (OLIVEIRA; OLIVEIRA;
OLIVEIRA, 2001).

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse capítulo, foi possível observar alguns métodos de


coloração de vidros, através da exposição sobre o processo histórico da
produção e usos desse material. Portanto, percebe-se que a indústria
vidreira é bastante antiga e possui relevância até os dias atuais. O vidro
95

colorido possui várias aplicações em diversas áreas, desde a utilização


como objetos decorativos até aplicações na indústria alimentícia e ótica
como forma de proteção.

Fica evidente, então, que a indústria vidreira possui grande


importância no contexto social atual e antigo. Além disso, os elementos
químicos que dão origem a coloração aos vidros, são cruciais para o
desenvolvimento de novos materiais vítreos, por isso é necessário a
realização de trabalhos futuros, com o intuito de aprofundar o
conhecimento dessas substâncias, como também, estudar novas técnicas
de coloração desse material tão versátil.

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Disponível em:
<http://www.repositorio.ufpel.edu.br/handle/123456789/1050>.
Acesso em: 01 dez. 2020.
99

CAPÍTULO 05

Tintas, corantes e a indústria alimentícia

Autores: Amanda Souza Félix, Fabiana Costa Santos e Gabriel Augusto


Câmara Paiva Lima
Orientadora: Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Colaboradores: Keyla Carvalho Pereira, Alessandra Xavier Aguiar e
Aroldo Luiz Pereira Cardoso

RESUMO
As indústrias alimentícias geram produtos para a alimentação dos seres
humanos. Para atrair os consumidores, essas indústrias utilizam das cores
provenientes das tintas e corantes. As cores são responsáveis por grande
parte da aceitação desses produtos, pois esta característica sensorial é de
suma importância na indução da sensação global em conjunto com outras
características, como o aroma, o sabor e a textura dos alimentos. Sendo
assim, a aparência do alimento pode exercer efeito benéfico ao apetite.
Neste contexto, as tintas são muito usadas pela indústria de alimentos.
Dessa maneira, foi realizada uma revisão de artigos, teses, dossiês sobre a
aplicação das tintas na indústria de alimentos, sendo possível observar
que quando se trata de alimentos um dos principais assuntos abordados
pelos autores é sobre os riscos que o uso desses corantes pode trazer para
o consumidor.

Palavras-chave: Tintas. Indústria de Alimentos. Revisão de Literatura.


100

1 INTRODUÇÃO

Desde os tempos pré-históricos os indivíduos utilizam as tintas


como forma de registro por meio de figuras pintadas nas paredes das
cavernas. Por volta de 1500 a.C., os egípcios desenvolveram tintas de
diferentes cores. Em 1000 a.C. eles usavam resinas naturais ou cera de
abelha como agentes formadores de película (CRISTINA, SD).

Atualmente, existe um avanço constante nas tintas, as quais são


definidas de acordo com Fazenda (2009) como:

Tinta é uma composição líquida, geralmente viscosa,


constituída de um ou mais pigmentos dispersos em um
aglomerante líquido que, ao sofrer um processo de cura
quando estendida em película fina, forma um filme opaco
e aderente ao substrato. Esse filme tem a finalidade de
proteger e embelezar as superfícies.

As tintas possuem diversas aplicações, sendo utilizadas para


cobrir as superfícies, assegurando cor e proteção. Os componentes
básicos das tintas são: resina, pigmentos, diluentes e aditivos (CRISTINA,
SD). Resina é a parte não volátil da tinta, que serve para aglomerar as
partículas de pigmentos, que são materiais sólidos finamente divididos,
insolúveis no meio. São utilizados para conferir cor, opacidade, certas
características de resistência e outros efeitos. Aditivo é um ingrediente
que, adicionado às tintas, proporciona características especiais às mesmas
ou melhorias nas suas propriedades. Por fim, o solvente é um líquido
volátil, geralmente de baixo ponto de ebulição, utilizado nas tintas e
101

correlatos para dissolver a resina. (FAZENDA, 2009).

Os produtos provenientes das indústrias alimentícias são cruciais


para a alimentação dos indivíduos. Essas indústrias utilizam das cores
provenientes das tintas para atrair os consumidores, uma vez que a maior
percepção é pela visão utilizada para detectar as cores. As cores, por sua
vez, são responsáveis por grande parte da aceitação dos produtos gerados
pelas indústrias alimentícias. Esta característica sensorial é de suma
importância na indução da sensação global juntamente com outras
características, como o aroma, o sabor e a textura dos alimentos.
Portanto, a aparência do alimento pode exercer efeito benéfico ao apetite
(DE SOUZA, 2012).

Neste contexto, a coloração é amplamente aplicada pela indústria


de alimentos, já que a cor é a primeira qualidade sensorial pelo qual os
alimentos são julgados (DE SOUZA, 2012). Dessa maneira, este estudo
tem o objetivo de realizar uma revisão de artigos, teses, dossiês sobre a
aplicação das tintas e corantes na indústria de alimentos.

2 METODOLOGIA

O percurso metodológico seguido foi a revisão bibliográfica (ou


revisão de literatura). Dessa forma, a análise foi realizada por meio de
artigos, teses, dossiês, entre outros. A revisão desenvolvida é classificada
como narrativas convencionais, com menor rigor metodológico.

Nesse sentido, o presente estudo foi realizado a partir de uma


102

revisão de literatura sobre as tintas e corantes aplicadas na indústria


alimentícia. O estudo foi realizado no período de dezembro de 2020.
Foram incluídos estudos publicados nos últimos dez anos, revisões e
artigos originais completos com relação ao tema descrito.

3 DESENVOLVIMENTO

Utilizados pelos homens desde os tempos mais remotos, como


aditivos de alimentos extraídos de plantas e de minérios, os corantes são
substâncias que intensificam ou modificam a cor de alimentos ou de
outros produtos (TONETTO et al., 2008). Os corantes representados
(Quadro 1), são classificados por TONETTO et al. (2008) da seguinte
maneira:

Corantes orgânicos ou naturais: são provenientes de animais e


plantas, sendo isolado com o emprego tecnológico adequado,
apresentando grau de pureza compatível com o seu emprego para fins
alimentares. Os corantes orgânicos ou naturais são divididos em quatro
categorias: pigmentos porfirínicos (clorofila); flavonoides e derivados
(antocianinas); carotenóides (β-caroteno, licopeno, xantofila); quinonas
(ácido carmínico, carmim).

Corantes orgânicos sintéticos: são obtidos por síntese orgânica


mediante emprego de processo tecnológico adequado. Esses corantes
podem ser artificiais, logo não são encontrados em produtos naturais,
sendo produzidos por síntese química. Também podem ser corantes
orgânicos sintéticos idênticos ao natural, possuindo princípio ativo igual
103

ao do corante natural, e são obtidos por síntese orgânica através de


processos tecnológicos.

Corantes inorgânicos: são obtidos a partir de substâncias minerais


e são submetidos a processos de elaboração e purificação adequados a
seu emprego em alimentos.

Caramelo: é o produto obtido a partir do aquecimento de açúcares


a temperaturas superiores ao seu ponto de fusão e ulterior tratamento
indicado pela tecnologia. Tanto as composições como o poder corante
dependerão do tipo de matéria-prima e de qual processo foi utilizado.
Sendo o caramelo o mais utilizado de todos os corantes alimentícios.
104

Quadro 1 – Esquema geral de classificação

CLASSIFICAÇÃO CORANTES
Orgânico Natural Curcumina, Riboflavina
Cochonilha/ácido carmínico
Urzela/orceína/orecína sulfonada
Clorofila
Carvão medicinal.
Carotenóides:
- alfa, beta, e gama-caroteno
- bixina, norbixina
- capsantina, capsorubina
- licopeno, xantofilas:
- flavoxantina, luteína
- criptoxantina
- rubixantina
- violaxantina
- rodoxantina
- cantaxantina
- Vermelho de beterraba
-betanina Antocianinas:
- pelargonidina, cianidina
- peonidina, delfinidina
-petunidina, malvidina
Orgânico sintético Amarelo crepúsculo
artificial Laranja GGN
Amarelo ácido ou amarelo sólido
Tartrazina
Azul brilhante
Azul de idantreno ou Azul de alizarina
Indigotina
Bodeaux ou amaranto
Eritrosina
Escarlate
Vermelho sólido
105

Ponceau
Vermelho 40
Orgânico Sintético Beta-caroteno
idêntico ao natural Beta-Apo-8’-carotenal
Éster etílico do ácido beta-Apo-8’
carotênico
Cantaxanteno
Complexo cúprico da clorofila e
clorofilina
Caramelo amônia
Inorgânico(pigmentos Carbonato de cálcio
limitado à superfície) Dióxido de Titânio
Óxido e hidróxido de ferro
Alumínio
Prata
Ouro

Fonte: TOLLETO et al., 2008.

Sobre a interação entre os materiais de embalagens e alimentos


um dos processos estudados é o fenômeno de migração de tintas de
impressão e vernizes em papéis impressos e em contato com os
alimentos. A transferência de substâncias dos materiais de embalagem e
tintas de impressão para Tinta é uma composição líquida, geralmente
viscosa, constituída de um ou mais pigmentos dispersos em um
aglomerante líquido que, ao sofrer um processo de cura quando estendida
em película fina, forma um filme opaco e aderente ao substrato. Esse
filme tem a finalidade de proteger e embelezar as superfícies. Os
alimentos podem gerar impacto negativo e podem afetar a qualidade dos
alimentos – alterações a nível sensorial e segurança dos alimentos –
ingestão de substâncias que migram da embalagem (Pinto, 2013, apud
106

Barros, 2010). Esta transferência pode ocorrer através de face gasosa ou


diretamente para o alimento – migração direta; através do contato da face
impressa com a não impressa – set-off (PINTO, 2013).

De acordo com BORNES et al. (2007) a utilização de tintas e


vernizes para impressão em embalagens alimentares apresentam as
seguintes funções:

• Diferenciar os produtos;

• Fornecer as informações necessárias sobre o produto


embalado, como informar o consumidor o modo de armazenamento e
preparo de alimento, a lista de ingredientes, etc;

• Dar uma imagem positiva do conteúdo.

As tintas de impressão são compostas por corantes aglutinantes,


solventes e aditivos, tendo a porcentagem variada de acordo com o tipo
de tinta (PINTO, 2013). Com a finalidade de dar cor ao substrato são
usados os corantes, já os ligantes ou resinas ligam o pigmento ao
substrato, melhoram a resistência geral da impressão à umidade ou
gordura e evitam a sedimentação do pigmento na tinta e proporcionam
algum brilho à superfície impressa (Sutter et al., 2011).

Existem vários processos de impressão, e o utilizado para


produtos de pastelaria, que é o estudado por PINTO (2013), é o offset.

De acordo com PINTO (2013):


107

O envernizamento ou revestimento do papel impresso, é


um processo de acabamento, onde rolos aplicam uma
camada fina e transparente de verniz ou laca sobre o
material impresso. O objetivo é proteger a impressão de
manchas e riscos, melhorar o brilho e nivelar a superfície.
O verniz é uma espécie de tinta sem corante. Por vezes é
também aplicado na superfície de contacto com alimentos,
a fim de melhorar a resistência à humidade e gordura. O
termo verniz é também utilizado para a combinação entre
ligante e solvente em tintas de impressão offset.

Das regulamentações para os materiais que estão em contato com


alimentos na União Europeia se tem para tintas de impressão e vernizes
a Resolução AP (2005) 2, que se aplica à superfície que não estará em
contato com os alimentos e exclui o set-off, a transferência através da fase
gasosa ou quando há evidências de que um substrato impede a migração
de qualquer componente; a Ordiance of the FDHA on articles and
materials (SR 817.023.23), que se aplica a substâncias autorizadas na
fabricação de tintas para embalagens alimentares; e o Guia EuPIA, que
especifica as matérias-primas que devem ser selecionadas de acordo com
um esquema específico, a produção das tintas deve ser de acordo com o
GMP da EuPIA, onde inclui requisitos para formulação e produção das
tintas (PINTO, 2013).

Os indivíduos conseguem captar cerca de 87% de suas


percepções pela visão, 9% pela audição e os 4% restantes por meio do
olfato, do paladar e do tato. Logo, a maior percepção é pela visão, a qual
108

é responsável por detectar as cores. As cores, por sua vez, são


responsáveis por grande parte da aceitação dos produtos gerados pelas
indústrias alimentícias. Esta característica sensorial é fundamental na
indução da sensação global resultante de outras características, como o
aroma, o sabor e a textura dos alimentos. Sendo assim, a aparência do
alimento pode exercer efeito benéfico ao apetite (DE SOUZA, 2012).

Neste contexto, a coloração é amplamente aplicada pela indústria


de alimentos, já que a cor é a primeira qualidade sensorial pelo qual os
alimentos são julgados ( DE SOUZA, 2012). Por esse motivo, o setor
alimentício se atenta à aplicação de cores por meio do uso de corantes e
obtenção de alimentos que agradem aos olhos do consumidor. Como
consequência disso, a cautela quanto aos riscos toxicológicos desses
produtos tem aumentado (KAPOR, 2001).

O consumo dos produtos alimentícios dá-se, primeiramente, pela


visão, uma vez que alimentos coloridos e vistosos são muito mais
atraentes para o consumidor. A aparência, segurança, aceitabilidade e
características sensoriais dos alimentos são afetadas pela cor, a qual é
obtida em grande parte pelo uso de corantes. Essas características
interferem na escolha dos produtos, assim a indústria alimentícia utiliza o
efeito do corante para estimular o apetite do consumidor (DE SOUZA,
2012).

No trabalho de conclusão de curso DE SOUZA (2012) revisou a


literatura com o objetivo de analisar o uso dos corantes alimentícios mais
109

presentes na dieta do consumidor, fazendo uma avaliação sobre seus


benefícios e riscos à saúde. De acordo com ela, os corantes são substâncias
ou mistura delas, as quais são adicionadas, pela indústria alimentícia, aos
alimentos e bebidas, com o intuito de conferir ou intensificar a coloração
própria do produto.

Os corantes tradicionalmente utilizados pela indústria alimentícia


são os artificiais, pois eles apresentam menores custos de produção e
maior estabilidade quando comparado com os corantes naturais.
Entretanto, muitos autores demonstram cuidados com a ingestão dos
artificiais, “além de resultados cada vez mais preocupantes das pesquisas
envolvendo os prejuízos para a saúde em longo prazo devido ao consumo
dessa classe de corantes, o que tem levado a substituição, ainda que
discreta, dos corantes artificiais pelos naturais” (DE SOUZA, 2012).

Ainda de acordo com DE SOUZA (2012):

A busca crescente por parte dos consumidores por


produtos naturais têm levado à substituição dos corantes
artificiais pelos naturais. Busca essa, resultado das
preocupações relacionadas ao impacto da utilização dos
corantes artificiais sobre a saúde, além do questionamento
da inocuidade desta classe de corantes, o que levou até
mesmo à proibição de alguns deles em função da
descoberta de efeitos tóxicos.

Os corantes naturais promovem vários benefícios à saúde como


as propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Dessa forma, a sua
110

aplicação torna-se mais interessante, pois tanto melhora a aparência dos


alimentos quanto ajuda a promover a saúde de quem os consome.
Contudo, existe um grande desafio de substituir os corantes artificiais
pelos naturais devido à instabilidade destes corantes, o que torna o
processamento mais complexo (DE SOUZA, 2012).

No dossiê técnico Veloso (2012) descreve os corantes


alimentícios como sendo a substância ou a mistura delas que conferem
ou intensificam a coloração de produtos da indústria de alimentos que
não possuem cor própria. Os corantes são para restituir a aparência
original do produto após as etapas de processo de produção, estocagem
e embalagem; para tornar o alimento visualmente mais atraente e para
conferir e/ou reforçar as cores já presentes nos alimentos. Essa aplicação
exige avaliações de sua toxicidade; solubilidade (em água e/ou solventes
alcoólicos); reatividade química com outros componentes do alimento;
estabilidade quanto à luz, calor e umidade, entre outros.

Veloso (2012) classifica os corantes alimentícios em natural e


sintético além de mostrar a obtenção dos mesmos, como pode-se
observar no Quadro 2.
111

Quadro 2 – Classificação e obtenção de corantes alimentícios.


N = natural e S = sintético

Corante Obtenção Classificação

Orgânico A partir de vegetal, ou eventualmente, de N


natural animal, cujo princípio corante tenha sido
isolado com o emprego de processo
tecnológico adequado

Orgânico Por síntese orgânica mediante o emprego S


sintético do processo tecnológico adequado:
● Corante artificial - Corante
orgânico sintético não encontrado
em produtos naturais;
● Corante orgânico sintético ao
natural- corante orgânico sintético
cuja estrutura química é
semelhante à do principal ativo
isolado de corante orgânico
natural.

Inorgânico A partir de substâncias minerais e N


submetido a processos de elaboração e
purificação adequados a seu emprego em
alimentos.

Caramelo Por aquecimento de açúcares à N


temperatura superior ao ponto de fusão.

Caramelo Pelo processo amônia, desde que o teor S


(processo de 4-metil,imidazol não exceda no
amônia) mesmo a 200 mg/kg (duzentos
miligramas por quilo).

Fonte: VELOSO, 2012.


112

Também é apresentado através da Figura 1 a utilização, pelas


indústrias de alimentos e bebidas, dos corantes pelo mundo.

Figura 1 – Porcentagem de uso de corantes, no mundo, pelas indústrias


de alimentos e bebidas

Fonte: VELOSO, 2012.

Já DA COSTA et al. (2014) realizaram o desenvolvimento de tinta


epóxi base água com excelente resistência a abrasão úmida e com alta
ação antibacteriana, sendo indicada para locais onde não se deseja a
proliferação de microrganismos, como na indústria alimentícia. Essa
função é de suma importância já que, atualmente, uma das causas mais
previsíveis da proliferação de doenças é a contaminação por bactérias ou
contaminação biológica. Nesse processo ocorre a introdução e adaptação
de espécies que não fazem parte naturalmente de produto alimentício,
mas que se naturalizam e passam a provocar mudanças em seu
funcionamento. A introdução pode acontecer de maneira intencional ou
acidentalmente, por vias humanas ou não.
113

No tocante às tintas com ação antibacteriana, ultimamente existe


uma maior atenção à existência e proliferação de bactérias em superfícies
internas pintadas, fazendo com que as grandes marcas de tintas busquem
desenvolver produtos para essa finalidade. “Embora o crescimento de
bactérias sempre tenha sido uma preocupação em hospitais e instalações
de processamento de alimentos, aumenta hoje o interesse em superfícies
internas pintadas em geral” (DA COSTA et al., 2014).

No desenvolvimento dessa pesquisa, os testes foram realizados


com o intuito de garantir que as formulações iriam contemplar os
requisitos desejados na concepção do estudo. Os testes foram gerados de
acordo com as normas específicas para os dois parâmetros que serviram
como critério para a aprovação da fórmula. Esses parâmetros foram a
análise de abrasão úmida e o teste de ação antibacteriana. O primeiro
informa “a resistência do filme da tinta após a sua completa secagem,
medindo a quantidade de vezes que uma tinta resiste ser lavada, que é
expressa em ciclos de lavabilidade; este teste segue a norma NBR
14940:2010 do programa da ABRAFATI”. Já o segundo foi desenvolvido
de acordo com a norma japonesa JIS Z 2801, a qual foi elaborada para
testar a ação antibacteriana de materiais sólidos incorporados, como
agentes antimicrobianos, para inibir o crescimento de microrganismos ou
eliminá-los, ao longo de um período de 24 horas de contato (DA COSTA
et al., 2014).

Depois disso DA COSTA et al. (2014) concluíram que, a partir


dos resultados obtidos, o sistema epóxi base água foi eficiente no teste de
114

abrasão, suportando 1000 ciclos de lavabilidade. Este resultado é de


grande valia, uma vez que a tinta poderá ser aplicada em locais onde é
necessário ser lavado diariamente tais como indústria alimentícia, centros
cirúrgicos câmaras frigoríficas dentre vários outros locais. Além disso, a
ação de inibição de crescimento de microrganismos é eficiente tanto para
o aditivo à base de prata quanto à base de zinco.

Na tese disponibilizada pela Faculdade de Ciências e Tecnologia


e a Universidade Nova de Lisboa, GONÇALVES (2010) desenvolveu-se
soluções fotocrômicas para aplicação em embalagens inteligentes, as quais
podem ser aplicadas na indústria de alimentos. De acordo com ele, as
embalagens usuais ajudaram na ampliação dos sistemas de distribuição de
alimentos. Entretanto, o consumo dos alimentos é algo cada vez mais
complexo, demandando sistemas inovadores de embalagem com mais
funções. Isso ocorre principalmente para produtos minimamente
processados. Sendo assim, os sistemas de embalagem inovadores são
muito importantes.

Neste contexto, os produtos da indústria de alimentos, quando


expostos à radiação UV solar ou artificial sofrem a degradação por foto-
oxidação. Tal degradação gera “odores e sabores estranhos, perda de cor
do produto, inativação de vitaminas, polimerização e rancidez, originando
produtos de baixa qualidade nutricional, inaceitáveis organolépticamente
e impróprios para consumo. Assim, os produtos não são aceitos pelo
consumidor” (GONÇALVES, 2010).
115

Nesse sentido, o estudo visou o desenvolvimento de tinta


fotocrómica a qual será usada em algumas embalagens, informando o
consumidor para a má utilização ou manipulação de certos produtos e
possibilitando aos produtores/fornecedores do produto a segurança no
consumo. Dessa forma, as tintas foram produzidas por meio da técnica
de sol-gel e estudos sobre tintas/soluções fotocrômicas para aplicação futura
em etiquetas/embalagens inteligentes de produtos da indústria de
alimentos foram realizados. Por fim os autores caracterizaram diferentes
composições de tintas visando sua impressão pela técnica de ink-jet
futuramente (GONÇALVES, 2010).

Os materiais ativos utilizados no processo foram os óxidos de


tungstênio, molibdênio e titânio, sendo que os dois últimos foram
utilizados como dopantes. Além disso, todas as soluções preparadas
foram depositadas por drop-coating em 2 substratos de papel com
espessuras diferentes (GONÇALVES, 2010).

De acordo com GONÇALVES (2010):

Relativamente à influência da presença de óxido de


molibdênio nas soluções, verificamos exatamente o
oposto do comportamento da presença de óxido de
titânio. As amostras contendo óxido de molibdênio
apresentam memória óptica mesmo após um mês depois
de coloradas devido à radiação de luz UV, possuindo
também uma densidade óptica bastante razoável. Assim, é
possível o desenvolvimento de etiquetas com ou sem
memória óptica consoante a aplicação que queiramos.
116

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a elaboração do presente estudo, foram encontrados e pré-


selecionados para serem lidos 15 artigos utilizando as palavras chaves
descritas nas bases de dados. Destes, 9 artigos foram excluídos por serem
artigos não disponíveis na íntegra com acesso livre, por fugirem da
temática do trabalho proposto ou serem relatos de caso sem revisão de
literatura. Deste modo, 6 artigos foram incluídos no presente trabalho.

A partir da análise dos artigos e teses observa-se que todos possuem


argumentos importantes, estando dentro do escopo do tema sobre tintas
utilizadas na indústria de alimentos. Dessa forma, é possível realizar uma
organização única para uma visão atualizada do tema.

TONETTO et al. (2008) classificam e caracterizam os corantes em:


orgânicos ou naturais, orgânicos sintéticos, inorgânicos e caramelo.
SOUZA (2012) revisou a literatura objetivando analisar o uso dos
corantes alimentícios mais presentes na dieta do consumidor, fazendo
uma avaliação sobre seus benefícios e riscos à saúde. No dossiê técnico
VELOSO (2003) descreve a classificação e obtenção de corantes
alimentícios, apresentando a porcentagem de uso de corantes, no mundo,
pelas indústrias de alimentos e bebidas.

PINTO (2013) descreve sobre a interação que existe entre os materiais de


embalagens e os alimentos contidos nessas embalagens. Dessa forma, um dos
processos estudados é o fenômeno de migração de tintas de impressão e
vernizes em papéis impressos e em contato com os alimentos. Nesse contexto,
117

PINTO (2013) apud BORNES et al. (2007), apresenta as funções da utilização


de tintas e vernizes para impressões em embalagens alimentares. Já COSTA et
al. (2014) realizaram o desenvolvimento de tinta epóxi base água com excelente
resistência a abrasão úmida e com alta ação antibacteriana, sendo indicada para
locais onde não se deseja a proliferação de microrganismos, como na indústria
alimentícia

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, nos trabalhos utilizados consegue-se por TONETTO


et al., (2008) definir o que são os corantes, já VELOSO (2013) traz uma
definição mais específica sobre os corantes alimentícios, que são
utilizados na indústria de alimentos e nos processos produtivos. As duas
definições se completam, não tendo ideias distintas, mas a definição
utilizada por TONETTO et al., (2008) é mais genérica e pode ser usada
para qualquer tipo de corante.

A utilização de corantes e tintas na indústria de alimentos pode


ser usada tanto na produção como em embalagens. São vários aspectos
analisados quanto ao uso dentro da indústria, como SOUZA (2012) avalia
sobre os efeitos dos corantes na dieta do consumidor, já PINTO (2013)
faz a análise dos componentes das tintas de impressão em embalagens e
em papel para bolo, analisando como esses componentes podem migrar
para o alimento e trazer algum risco para a saúde. GONÇALVES (2010)
também tem uma abordagem sobre as embalagens na indústria de
alimentos e como cada vez mais elas estão tendo mais funções. PINTO
(2013) mostra também quais normas regem toda a parte de utilização
118

dessas tintas na indústria de alimentos de acordo com a EuPIA, e quais


parâmetros devem ser seguidos.

Pode-se observar que quando se trata de alimentos um dos


principais assuntos abordados pelos autores é sobre os riscos que o uso
desses corantes pode trazer para o consumidor. A utilização de tintas em
embalagens alimentícias vai além das informações do alimento, tem-se
que avaliar outros fatores e riscos que podem trazer pela migração delas
para o alimento, por isso observam-se esses estudos relacionados à
inovação das embalagens alimentícias e como podem contribuir para a
indústria alimentícia e para o consumidor final.

6 REFERÊNCIAS

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PINTO, M. C. Migração de componentes de tintas de impressão de rótulos


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SUTTER, J.; DUDLER, V.; MEUWLY, R. Packaging materials 8. Printing


inks for food packaging composition and properties of printing inks. ILSI
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aditivos de cor e sabor em produtos alimentícios. Faculdade de Ciências
Farmacêuticas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2008.

VELOSO,L. A. Dossiê técnico - Corantes e Pigmentos. Instituto de


Tecnologia do Paraná – Fevereiro 2012.
121

CAPÍTULO 06

Tintas na indústria automobilística

Autores: Arthur Gomes Pereira, João Vitor Mendes Cordeiro Dias e Maria
Emília Lemos Spíndola
Orientadora: Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Colaboradores: Everton Geraldo Ladeira de Carvalho, Alessandra Xavier
Aguiar e Lucas da Silva Gontijo

RESUMO
Este texto tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica acerca das
técnicas e processos produtivos que regem o mercado de tintas na indústria
automobilística. Foram detalhadas as etapas de preparação de cada camada
da superfície automotiva e suas respectivas finalidades, bem como as
técnicas envolvidas na eliminação de sistemas corrosivos, os tipos e
particularidades das tintas mais empregadas nesse setor industrial e a
modernização das montadoras frente aos impactos gerados pela Revolução
Industrial 4.0.

Palavras-chave: Tintas. Indústria Automobilística. Indústria 4.0.


Revestimentos. Sistemas Anticorrosivos. Engenharia Química.
122

1 INTRODUÇÃO

O setor automotivo colabora de forma acentuada para o


desenvolvimento econômico e social do Brasil (STOICOV e FERRONI,
2012). Nos últimos anos, observou-se um crescimento no que tange à
criação de novos produtos, aplicação de investimentos, geração de
serviços e emprego, aumento da renda e o desenvolvimento de novas
tecnologias (BARROSO e ANDRADE, 2012).

Neste contexto, a indústria automobilística brasileira enfrentou


grandes transformações graças ao crescimento da capacidade produtiva,
uma vez relacionado a incentivos orçamentários em tecnologias de
processos e produtos, diminuição de custos e considerável melhoria da
qualidade do produto (LIMA, 2016).

No ano de 2012, a indústria automobilística do Brasil foi a sétima


produtora de automóveis no mercado mundial, correspondendo a 18,7%
do PIB Industrial (ANFAVEA, 2014). Dessa forma, justifica-se a
importância desta indústria no cenário econômico brasileiro, bem como
as características relacionadas às inovações de processos organizacionais
que visam o aumento de competitividade, redução de custos e maiores
lucros (GARO JÚNIOR, 2014).

Nesse aspecto, um processo que pode contribuir de forma


importante é a pintura do automóvel. Assim, ao longo dos anos, os
sistemas de pintura no ramo automobilístico se desenvolveram de tal
forma que conduziu a uma quase padronização do processo. A evolução
123

de alguns sistemas nas etapas de pré-tratamento, proteção anticorrosiva e


acabamento estimulou que estes fossem cada vez mais utilizados em
diferentes plantas industriais, à medida que foram se destacando
(FAZENDA, 2009, p. 696).

De acordo com Fazenda (2005, p. 706), a estrutura do automóvel


é composta por partes metálicas e plásticas, as quais podem admitir
pintura. Segundo o autor, há um aumento na variedade dos tipos de
plásticos usados nos veículos, sendo os parachoques as áreas mais
constituídas de plásticos que recebem pintura. Ainda nesse sentido, a
etapa de pintura dessas peças plásticas pode ser subdivida em aplicação
do primer (preparador de superfícies) e posterior aplicação da base e do
verniz, seguido da secagem da peça em estufa. De uma forma geral, o
emprego do primer se dá pelo intuito de aumentar a adesão à superfície
pela camada de acabamento (verniz e base) e promover o nivelamento da
peça (FERNANDES, 2017).

Os componentes usados no revestimento de um automóvel


atualmente formam um compósito complexo, segundo Fazenda (2009,
p.696), e estão representados na figura abaixo:
124

Figura 1 – Componentes de revestimento de um automóvel

Fonte: Adaptado de Fazenda (2009, p. 696).

2 METODOLOGIA

O referido trabalho foi realizado por meio de revisão


bibliográfica, através da pesquisa em sites e artigos pelo Google
Acadêmico, fazendo um levantamento de obras científicas que abordam
questões técnicas a respeito da aplicação das tintas na indústria
automobilística, bem como algumas vertentes específicas envolvidas
nesse processo. A primeira etapa da pesquisa se definiu pela pesquisa
bibliográfica, por meio da qual embasaram-se as informações teóricas e
técnicas que deram início e desenvolvimento ao estudo.

A revisão da literatura e teoria foi feita no início e no andamento


125

do processo de pesquisa, pois, de acordo com Stumpf (2005), a revisão


da literatura acompanha o trabalho acadêmico desde a sua concepção até
a sua conclusão.

3 DESENVOLVIMENTO

3.1 Preparação da superfície

De acordo com Pijpers e Meier (2001 apud SOUZA, 2015, P. 31),


o processo de pintura requer que o material e a superfície de aplicação da
tinta e de outros componentes químicos usados no revestimento estejam
em condições adequadas.

Segundo Fazano (2002, p. 40), o desempenho obtido no


revestimento pode ser diretamente associado ao tratamento e qualidade
do preparo da superfície que receberá a pintura. Os esquemas de
preparação da superfície são distintos para cada tipo de material que
constituem as partes componentes do veículo. Então, os substratos
metálicos e plásticos devem receber um preparo adequado para seu bom
desempenho (FAZENDA, 2005, p. 706).

Fazano (2002, p. 40) revela que há várias maneiras de se fazer a


limpeza da superfície a ser pintada. A Tabela 1 apresenta estes processos
de limpeza e como funcionam.
126

Tabela 1 – Processos de limpeza de superfície

Limpeza de superfície
Limpeza Processo operado manualmente por meio de lixas,
mecânica raspadeiras, escovas para remover trincas ou
manual impurezas, entre outros. Pode ser operada tanto em
substratos metálicos como não-metálicos, mas não
possui alta eficiência.

Limpeza Processo semelhante à limpeza manual, mas que se


mecânica diferencia quanto às ferramentas utilizadas, que
motorizada incluem politrizes motorizadas, marteletes
pneumáticos, entre outras, que diminuem a
exigência de força física do operador.
Jateamento Processo em que se utiliza meios abrasivos, como
granalha de aço e areia, os quais são lançados no
material por ar comprimido ou pela água.
Desengra- Processo de retirada de poeira, graxas e oleosidade
xamento por meio da aplicação de solventes orgânicos de
baixa inflamabilidade e toxidez.
Limpeza por Processo de lavagem da superfície no qual podem
processos ser utilizadas dois tipos de soluções químicas:
químicos - Ácidas (ácidos nítrico, clorídrico e sulfúrico):
usada para promover a decapagem química do
material;
- Alcalinas (silicato de sódio e hidróxido de sódio):
promove, por meio da lavagem da superfície, a
neutralização da ação de decapagem.

Lixamento Processo de desbaste que utiliza de lixas para


realizar a limpeza e acabamento da superfície de
interesse.
Fonte: FAZANO, 2002.
127

Conforme o Instituto ITP (2019), após a identificação da


superfície a ser pintada, um exemplo de procedimento a ser seguido é
iniciado com a limpeza, a fim de remover contaminantes e impurezas.
Depois, se a superfície em questão for metálica, deve receber uma
proteção anticorrosiva na parte exposta, através da aplicação de um wash
primer, por exemplo. No caso de plásticos, um promotor de aderência
deve ser usado para trincas e desplacamentos. A seguir, um primer de boa
qualidade deve ser aplicado, para que os efeitos anticorrosivos sejam
ampliados e os impactos sofridos posteriormente pelo veículo possam ser
absorvidos por esse primer. Assim que este seca, deve-se fazer o lixamento
adequado para que um melhor acabamento seja obtido.

3.2 Camada de fosfato

Os revestimentos fosfáticos são aplicados nas superfícies das


peças componentes dos veículos para oferecer resistência à corrosão. Os
compósitos revestidos com camada de fosfato rica em zinco apresentam
melhor desempenho quando comparados aos que receberam aplicação de
fosfato de ferro (FAZENDA, 2005, p. 639).

Fazenda (2005, p. 640) ressalta que a etapa de aplicação da camada


fosfática pode ser feita por spray ou imersão. Ele ainda reforça que, em
testes acelerados de corrosão feitos em compósitos revestidos da mesma
composição de camada de fosfato, aquele que recebeu a camada por meio
de imersão obteve melhor desempenho.
128

3.3 Revestimento anticorrosivo ou e-coat

De acordo com Fernandes (2019), o revestimento anticorrosivo -


que Pierozan (2001, p. 74) traz em novos termos como pintura por
eletrodeposição, cataforese e ELPO - tem como principal função garantir
uma resistência anticorrosiva do compósito. Fazenda (2009, p. 701) salienta
que o e-coat deve ser de fácil aplicação para grandes volumes de produção,
além de não agredir o meio ambiente, entre outras características.

Segundo Pierozan (2001, p. 75), no processo de aplicação, a peça


é banhada em tinta diluída em água. Fazenda (2009, p. 701) ressalta que
esse banho apresenta, de maneira geral, uma composição de 83 a 76% de
água, 17 a 21% de sólidos (cargas, resinas e pigmentos), e 0 a 3% de
solventes orgânicos.

Além dessa imersão, utiliza-se uma corrente contínua para que


ocorra hidrólise das moléculas de água, o que altera o pH na superfície
da peça (um catodo) e, consequentemente, favorece a coagulação da
pintura (FAZENDA, 2009, p. 701).

É afirmado por Pierozan (2001, p.75) que este tipo de


revestimento pode ser anódico ou catódico e Fazenda (2009, p. 701)
acrescenta que a diferenciação vai depender do sistema de resinas. Tanto
os sistemas anódicos quanto os catódicos são solubilizados em água; a
diferença é que, nos sistemas catódicos, a solubilização ocorre porque há
neutralização dos grupos básicos da resina por ácidos orgânicos,
viabilizando-a; já nos sistemas anódicos, o que torna essa solubilização
129

possível é a neutralização dos grupos ácidos por meio de uma base


(FAZENDA, 2009, p. 701).

Atualmente, o sistema catódico é mais aplicado no revestimento


anticorrosivo em detrimento do sistema anódico, desenvolvido
inicialmente (PIEROZAN, 2001, p. 75).

3.4 Camada de primer (primer surfacer)

A aplicação da camada de primer, de acordo com Fernandes


(2019), deixa a superfície lisa, eliminando irregularidades, e além disso,
segundo Fazenda (2009, p. 721), oferece ao revestimento catódico
proteção contra radiação UV e também contra batidas de pedras.

A cor da tinta primer pode ser específica ou genérica. Na primeira


opção, a tinta apresenta cor muito similar à cor final do veículo. Isso traz
algumas vantagens, como a possível redução no custo final de cada
unidade, uma vez que a camada de tinta final aplicada (que é mais cara)
pode ser menor e a redução na emissão de compostos organo-voláteis.
Se o primer tem cor genérica , ela não varia, independentemente da cor
final do produto (PIEROZAN, 2001, p. 76).

Há disponíveis para uso no setor automobilística primers surface de


base solvente, base água e em pó. Os primers de base solvente, são
formados por sistemas de polímeros hidroxilados (poliésteres saturados,
preferencialmente), os quais têm a cura feita com resinas do tipo
melamina/ formaldeído. O primer base água foi criado como uma
130

alternativa menos danosa ao meio ambiente, onde os solventes orgânicos


foram substituídos em grande parte pela água o sistema de cura se
mantém o mesmo neste caso, com a adição do grupo carboxílico. Visando
uma diminuição radical no descarte de solventes, as camadas de
revestimento em pó passaram a ser aplicadas por um grupo de
montadoras, que têm como preferência um sistema misto de resinas, do
modelo poliéster saturada carboxilada/epóxi (Fazenda,2009, p.
721,727,729).

3.5 Camada de Basecoat

Em meados de 1970 foi desenvolvido o sistema “wet on wet de


basecoat/clearcoat”, atualmente o mais utilizado pela indústria
automobilística em montadoras de todo o mundo (Fazenda, 2009, p. 730).

A basecoat, conforme Pierozan (2001, p. 77), confere a cor final do


veículo. Quanto ao acabamento, essa tinta base pode ser perolada,
metálica ou lisa. No que tange a composição, se divide em basecoat base
solvente de baixos sólidos, base solvente de médios sólidos e base
solvente água. As duas primeiras se diferenciam quanto ao percentual de
sólidos presentes, proporcionando uma viscosidade diferente para cada
uma, o que consequentemente influencia na densidade de ambas. A
última utiliza as mesmas resinas modificadas do primer surface base água
(Fazenda, 2009, p. 731,733,735).

Fernandes (2019) evidencia que produtos podem ser usados na


etapa de basecoat para trazer características funcionais, como pigmentos
131

que induzem a reflexão de raios UV, mesmo em colorações mais escuras,


e como consequência causam a diminuição da temperatura superficial do
veículo.

3.6 Camada de Clearcoat

Clearcoat, ou verniz, é a camada aplicada sobre a tinta base para


conferir proteção e brilho à pintura (PIEROZAN, 2001, p. 77).

De acordo com Fazenda (2009, p.730), na tecnologia “wet on wet


de basecoat/ clearcoat”, após a aplicação da basecoat há um período de
evaporação dos solventes (2 a 3 minutos) e, em sequência, a deposição
da clearcoat transparente pelo método de aplicação eletrostática
automática.

Segundo Pierozan (2001, p. 77), a camada topcoat, que representa


justamente as camadas de basecoat e clearcoat, possui grande importância no
cuidado quanto à durabilidade do substrato.

Na composição dos clearcoats pode haver a presença de aminas


estericamente impedidas (HALS), que em condições foto-oxidativas se
transformam em formas estáveis de radicais nitroxil, cujo efeito
estabilizante independe da estrutura do filme. Também podem ser
adicionados compostos absorvedores de radiação ultra-violeta (UV),
como os cianoacrilatos, especialmente na presença dos cromóforos (Ch),
fazendo com que a luz UV seja filtrada antes que estes se formem
(FAZENDA, 2009, p. 740, 741, 743).
132

3.7 Alguns tipos de tintas do setor automobilístico

No seguimento automobilístico, a aplicação da tintura tem como


intuito, além da estética, a proteção do veículo em questão. Dessa forma,
é crucial a escolha do tipo de tinta nessa etapa da produção, a fim de se
obter um excelente acabamento. As tintas de revestimento
automobilístico apresentam algumas particularidades, podendo ser
classificadas, principalmente, como perolizada, metálica ou sólida. Essas
três tintas apresentam composição à base de poliéster ou poliuretano,
tendo uma parte solúvel (água e outros solventes) e outra sólida (aditivos,
pigmentos, resinas e cargas), assim como ocorre no restante desses
produtos industriais. Vale ainda ressaltar que as resinas são responsáveis
pelas principais características finais das tintas, tais como: brilho,
resistência, espessura, dureza, dentre outras, conforme estabelece
Pinheiros (2018).

Abordando especificamente cada segmento das principais tintas


usadas no setor automobilístico, a tinta sólida é a mais convencional
dentre as três, sendo também conhecida por seu aspecto liso e de baixo
custo de mercado. Essa competitividade de preço advém da tecnologia
empregada no processo de pigmentação, sendo a mais simples entre as
demais, contendo apenas os pigmentos de cor. Sendo assim,
normalmente as montadoras a incluem nos setores produtivos sem custos
adicionais, com exceção da cor branca. No geral, essa classe de tintas só
está disponível nas cores preta, branca e vermelha e, após sua aplicação
na superfície de interesse, a etapa de finalização é realizada por meio de
133

uma camada de laca ou esmalte, como aborda Pinheiros (2018).

Já a tinta metálica, ao contrário da sólida, tem o valor agregado


superior, uma vez que possui pigmentos de alumínio em sua constituição.
Além disso, no seu processo de produção, é realizada uma etapa de “carga
de efeito”, que consiste na adição de uma camada de laca e flocos de
alumínio ao pigmento. Em consequência disso, uma superfície tratada
com esse tipo de tinta, ao receber luz, apresentará um reflexo mais
acentuado, tornando a cor mais vibrante, “viva” e brilhante, sendo uma
das maiores vantagens da utilização desse tipo de tinta. Pinheiros (2018)
afirma que os automóveis pintados com esse produto mantêm o aspecto
de brilho e limpeza por um período maior de tempo.

A tinta perolada recebe essa denominação por ter acrescido em


seu pigmento pó de pérola e partículas de uma substância de origem
mineral chamada mica. Esses incrementos possuem propriedades de
brilho e tornam as cores finais mais intensas. A identificação desse tipo
de tinta frente às demais torna-se menos difícil, já que pode ocorrer um
efeito de mudança da cor dependendo do ângulo que o veículo é
observado. Como esperado, o valor final da aplicação dessa tinta é
superior às outras, podendo chegar, em alguns casos, à faixa dos
R$2.500,00, dependendo do modelo, ano e condição do automóvel
(PINHEIROS, 2018).

3.8 Indústria 4.0

Os robôs sempre tiveram um papel importante na indústria


134

automobilística, e com o fomento da Indústria 4.0, novas tecnologias e


aplicações estão sendo desenvolvidas e já estão revolucionando todo o
processo produtivo.

O conceito de Fábrica Virtual já é realidade em grandes


montadoras, como a Volkswagen do Brasil. Essa tecnologia utiliza os
conceitos de sistemas reais desenvolvidos por meio de sistemas virtuais,
melhorando a eficiência, ergonomia e flexibilidade do seu sistema
produtivo (MENDES et. al, 2017).

A partir das simulações é possível testar e explorar uma série de


possibilidades (cores, acabamentos, camadas e altura da película, entre
outras) que após validação, serão executadas por robôs (FRATCZAK, et.
al, 2015).

Dentre os inúmeros benefícios, está a não exposição dos


trabalhadores às tintas, que em sua maioria possuem compostos
orgânicos voláteis (VOCs) em sua composição. Além disso, a velocidade
de aplicação automatizada é superior, assim como o acabamento das
camadas de tinta, agregando maior qualidade e reduzindo o custo com
material, que torna o processo mais eficiente (FRATCZAK, et. al, 2015).

3.9 Custos e Inovação

Pinheiros (2018) informa que cerca de 0,8% do custo de um veículo


é por conta da tinta utilizada no processo de pintura. Dessa forma, a
montadora define o estilo para os seus modelos desenvolvidos, e a partir
135

disso há um conjunto de itens que representam cada um, sendo a cor do


veículo um dos componentes desse conjunto. Além disso, destaca-se a
importância de uma boa execução da pintura automotiva, com tecnologia e
qualidade, para que seja garantida a proteção contra danos e degradação nos
anos de uso do automóvel. (FERNANDES, 2019).

Um estudo realizado por Fernandes (2017) apontou diminuições


significativas nos gastos operacionais de uma montadora de veículos do
sudeste goiano. O estudo empregou uma análise de documentos e arquivos
relacionados ao processo de pintura de peças plásticas de veículos. Foi
proposta a troca do tipo de primer utilizado, do tipo PU para o condutivo.
A mudança da etapa de produção acarretou na desativação de equipamentos
utilizados anteriormente (cabine e estufa) e trouxe benefícios econômicos
para a empresa, como a diminuição dos gastos relacionados à energia
elétrica, mão de obra, gás GLP, material auxiliar e EPI’s. Com isso, a
montadora automobilística obteve uma economia anual de R$ 280.181,32,
o que permite inferir que a implementação de estudos de inovações
produtivas nas empresas possibilita a redução de custos operacionais e
aumento da eficiência geral do processo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O setor de tintas automobilísticas envolve uma gama de técnicas e


tecnologias que garantem a qualidade do serviço e movimentam um dos
maiores mercados mundiais. Para garantir proteção contra danos
mecânicos e desgastes devido a fatores naturais ao longo dos anos, algumas
136

etapas são essenciais. A preparação da superfície está diretamente associada


ao desempenho do revestimento final, assim como a aplicação das outras
camadas de revestimento, que irão garantir proteção contra corrosão e
agregar algumas características personalizadas, como brilho e outros
efeitos adicionais. Portanto, entre os diversos processos e técnicas
utilizadas, alguns se destacam devido a sua eficiência e facilidade de
aplicação, segurança dos trabalhadores, potencial de escalabilidade e
automatização, menores custos e impactos ambientais.

REFERÊNCIAS
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http://www.anfavea.com.br> Acesso em: 26 nov. 2020.

FAZANO, C. A T. V. Tintas: método de controle de pinturas e


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FAZENDA, J. M. R. Tintas & Vernizes – Ciência e Tecnologia. 3ª Edição.


Editora Edgard Blucher. 2005.

FAZENDA, J. M. R. Tintas – Ciência e Tecnologia. 4ª Edição. Editora


Edgard Blucher. 2009.

FERNANDES, Sara da Costa; DOS REIS, Euclides Fernandes;


ROSALEM, Vagner. A inovação de processos e eficiência produtiva: o
caso da indústria automotiva do Sudeste Goiano. Simpósio de Engenharia
de Produção. Universidade Federal de Goiás. Catalão, 2017.
137

FRATCZAK, M. et al. Virtual commissioning for the control of the


continuous industrial processes. Proceedings of the 20th International
Conference on Methods and Models in Automation and Robotics,
Międzyzdroje, pp. 1032–1037 (2015).

INSTITUTO ITP. Centro de formação técnica. Qualidade final da pintura


depende da boa preparação de superfícies. São Paulo, 2019. Disponível
em: <https://blog.institutoitp.com.br/qualidade-final-da-pintura-
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LIMA, U. M. O Brasil e a Cadeia Automobilística: uma avaliação das


políticas públicas para maior produtividade e integração internacional
entre os anos 1990 e 2014. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2167.p
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MENDES, C. R.; SIEMON, F. B.; CAMPOS, M. Estudo de casos da


indústria 4.0 aplicados em uma empresa automobilística. POSGERE Pós-
Graduação em revista / IFSP Campus São Paulo. 1. 15-25. 2017.

PIEROZAN, L. Estabilização de processos: Um estudo de caso no setor


de pintura automotiva. Dissertação do curso de Mestrado
Profissionalizante em Engenharia. Porto Alegre. 2001.

PIJPERS, A. P.; MEIER, R. J. Adhesion behaviour of polypropylenes


after flame treatment determined by XPS (ESCA) spectral analysis. Journal
138

of Electron Spectroscopy and Related Phenomena. Holanda. v.121. p.


299-313. 2001.

PINHEIRO, TINTAS. Cores e serviços. Artigos, Dicas e Notícias para


você: Saiba a diferença entre tinta automotiva perolizada, metálica e sólida.
Rio de Janeiro, 2018. Disponível em:
<https://www.pinheirotintas.com.br/qual-diferenca-entre-tinta-
automotiva-perolizada-metalic a-e-solida/>. Acesso em: 26 nov. 2020.

SOUZA, Bruno de. Uso do projeto robusto para identificação de fatores


que contribuem na intensidade do aspecto de “casca de laranja” em
superfície de para-choques pintados. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Produção) - Setor de Tecnologia da Universidade Federal
do Paraná, Curitiba, 2015.

STOICOV, C.; FERRONI, G. Sustentabilidade no Setor Automotivo.


Série de Estudo Setoriais Uniethos. São Paulo, 2012. 52 p.

STUMPF, Ida Regina C. Pesquisa bibliográfica. In: DUARTE, Jorge;


BARROS, Antonio (org.). Métodos e técnicas de pesquisa em
Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.
139

CAPÍTULO 07

Tintas na indústria de cosméticos

Autores: Larissa Magalhães de Almeida Melo, Lavínia Mota Cristianismo


Silva e Rafael Ferraz de Souza
Orientadora: Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Colaboradores: Laisse Dias Ribeiro, Alessandra Xavier Aguiar e Lucas da
Silva Gontijo

RESUMO
O presente trabalho tem como finalidade apresentar uma revisão de
literatura sobre o uso das tintas na produção dos cosméticos. Os
pigmentos e corantes são matérias primas empregados em diversos
produtos e áreas, que tem como finalidade proporcionar cor e brilho à
superfície a qual será aplicada. O uso dos cosméticos é tão antigo quanto
o uso das tintas e ao longo do tempo foram desenvolvidas novas técnicas
e regulamentos que estabelecem o uso dos tipos de pigmentos e corantes
usados nos cosméticos, bem como os produtos usados na sua
manipulação. Os cosméticos se dividem em grau 1, caracterizadas por
possuírem propriedades básicas ou elementares e grau 2 cujas
características exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como
informações e cuidados em relação à área de aplicação, pele, cabelo, olhos,
boca e a funcionalidade, lavagem, proteção, embelezamento, entre outros.
No Brasil, os cosméticos são controlados e classificados pela ANVISA.

Palavras-chave: Corantes. Pigmentos. Cosméticos.


140

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Munchen (2012), o termo “cosmético” deriva da


palavra grega kosmetikós, que tem como significado “hábil em adornar”. E
Galembeck (SD) o descreve como substâncias, misturas ou formulações
usadas para melhorar ou para proteger a aparência ou o odor do corpo
humano, e existem evidências do emprego destas desde 4.000 anos antes
de Cristo.

Pigmentos e corantes são substâncias que conferem cor a


diversos tipos de materiais. O ser humano utiliza essas substâncias há
muitos anos, para dar cor a tecidos, cerâmicas, couros, produzir desenhos,
murais e realizar pinturas corporais (GALEMBECK; CSORDAS, SD).
Esses pigmentos, corantes ou essências são grupos especiais de matérias-
primas, pois, apesar de serem inertes, requerem um controle minucioso
da quantidade para manter um padrão de tingimento esperado.

O estudo tentou mostrar a importância do uso de corantes e


pigmentos nos produtos cosméticos, compreendendo que toda
manipulação de cosméticos precisa levar em conta a finalidade de uso
para que o produto alcance o resultado esperado. Isso implica também
na escolha e uso da tinta, pois a coloração, além de ser um atrativo, pode
servir como um fator de proteção.. Diante do exposto, o objetivo deste
estudo foi conhecer um pouco da história dos cosméticos, sua
classificação e composição de acordo com a ANVISA, além da sua ampla
aplicabilidade.
141

2 METODOLOGIA

Com o intuito de atingir os objetivos pretendidos, utilizou-se a


revisão de literatura sobre tintas na indústria de cosméticos, realizada
durante o mês de dezembro de 2020. As consultas bibliográficas foram
realizadas em bancos de dados como Scielo, Scholar e arquivos de aulas,
utilizando os descritores: “tintas”, “indústria de cosméticos” e
``inovações tecnológicas”. Valendo-se de publicações científicas em
periódicos, livros, anais de congressos e teses. Não realizou-se a coleta de
dados referente à produção das tintas in natura para cosméticos,
entretanto, fez- se uma revisão da narrativa convencional, denominada
“estado da arte”, explicitando o que já se tem conhecimento sobre o tema
Tintas na Indústria de Cosméticos.

3 INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS

Diversos produtos fazem parte da rotina de higiene e beleza de


milhões de pessoas e, de acordo com a ANVISA, esses produtos são
substâncias, misturas ou formulações, para uso externo com objetivo de
promover a limpeza, melhorar a aparência, corrigir o odor ou proteger o
local de uso. Os efeitos obtidos pelos cosméticos são resultado de
componentes e reações químicas estudadas em áreas interdisciplinares,
envolvendo a química, a dermatologia, a biologia, a farmácia e a medicina.

3.1 História dos Cosméticos

As práticas de adorno e camuflagem, da pele e dos cabelos, são


142

relatadas desde os tempos pré-históricos, quando tinham como objetivo


a proteção ou intimidação dos inimigos. A partir da organização das
primeiras civilizações os rituais de beleza foram mais difundidos,
desenvolvendo o uso de cosméticos para embelezamento e higiene
pessoal. Os seres humanos utilizavam a pintura corporal como uma
forma de adorar os deuses, festejar ou diferenciar-se de outros grupos,
sendo a tatuagem uma das técnicas mais antigas de colorir o corpo. Há
indícios da utilização de mel, leite e farelos vegetais para produção de
pastas, bem como, o uso de gorduras, animais (como Kohl – mistura de
gordura e sulfeto de chumbo) e vegetais, e ceras de abelhas para produção
de cremes para passar na pele, na época do Antigo Egito. Neste período
o uso de óleos e essências, como perfumaria, já era bem difundido, além
do uso de tingimento em cabelos. Esses cuidados estavam presentes no
cotidiano das pessoas tanto pela vaidade e religião, quanto para auxiliar
na proteção contra o calor (GALEMBECK; CSORDAS, SD). As
técnicas nesta época não eram muito aprimoradas, utilizando muitos
pigmentos minerais contendo chumbo e mercúrio na composição, isto
desencadeava problemas por intoxicação (MUNCHEN, 2012).

Durante o século 13, devido à epidemia da peste negra, os banhos


foram proibidos, por associarem a água quente, que promove a abertura
dos poros, com o acesso da peste ao corpo humano. Esse
posicionamento durou centenas de anos no continente Europeu, o que
contribuiu para o crescimento do uso de maquiagens e perfumes
(GALEMBECK; CSORDAS, SD).
143

No século 20 houve um grande desenvolvimento na indústria de


cosméticos, partindo da abertura do primeiro salão de beleza da história,
o início da produção de batons em tubos, tubos de desodorantes,
produtos para ondulação de cabelos, laquês, tinturas menos tóxicas e
cremes dentais com flúor (MUNCHEN, S., 2012). Além disso, houve o
marco pela criação do laqueador e sua pigmentação, produzindo os
primeiros esmaltes de unha. A partir de então, a produção em escala
industrial de cosméticos foi aumentando e diversas novas tecnologias
foram surgindo, dentre elas a busca pela eficácia de tempo de efeito e
multifuncionalidade, ou seja, exercerem funções além das esperadas
como colorir ou ocultar imperfeições da pele concomitantemente à foto-
proteção, hidratação, nutrição ou/e proteção da pele (GALEMBECK;
CSORDAS, SD).

Atualmente, a indústria de cosméticos busca uma melhoria


contínua e inovações para aplicação em cosméticos com ação
antienvelhecimento e de fotoproteção, bem como, a procura por
produções visando à utilização de produtos naturais e ecologicamente
corretos (ZUCCO, SOUSA, ROMEIRO, SD). O Brasil ocupa a posição
de terceiro país no ranking de consumo de cosméticos geral, mesmo
ocupando apenas a quinta posição entre os países mais populosos do
mundo, conforme IBGE de 2010.

3.2 Classificação

No Brasil os cosméticos são controlados e classificados pela


144

Câmara Técnica de Cosméticos da ANVISA (CATEC/ANVISA), sendo


divididos em quatro categorias: Produtos para higiene, cosméticos,
perfumes e produtos para bebês, e dois grupos de risco: Nível 1 – risco
mínimo e Nível 2 – risco potencial.

3.3 Classificação da ANVISA para cosméticos

A indústria de cosméticos possui uma ampla variedade de


produtos, visando atender a todos os gostos e especificações do público,
com isso, é necessário que haja normas e parâmetros que garantam a
qualidade para o consumidor final. A resolução de N° 44, publicada pela
ANVISA em 9 de agosto de 2012, traz essa abordagem de uma forma
mais concisa para os cosméticos, entre outros:

Os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes


devem ser seguros sob as condições normais ou
previsíveis de uso. Além disso, é necessária a atualização
periódica das listas a fim de assegurar a correta utilização
das matérias primas na fabricação de produtos de higiene
pessoal, cosméticos e perfumes (ANVISA, 2012, p.2).

Em outra publicação, desta vez a de N° 7, publicada pela


ANVISA em 10 de fevereiro de 2015, tem-se a subdivisão dos cosméticos
que se distinguem em categorias de acordo com a sua aplicabilidade:

Definição Produtos Grau 1: são produtos de higiene


pessoal, cosméticos e perfumes cuja formulação cumpre
com a definição adotada no item I do Anexo I desta
Resolução e que se caracterizam por possuírem
145

propriedades básicas ou elementares, cuja comprovação


não seja inicialmente necessária e não requeiram
informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e suas
restrições de uso, devido às características intrínsecas do
produto, conforme mencionado na lista indicativa
"LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 1"
estabelecida no item "I", desta seção (ANVISA, 2015, p.6).

Definição Produtos Grau 2: são produtos de higiene


pessoal, cosméticos e perfumes cuja formulação cumpre
com a definição adotada no item I do Anexo I desta
Resolução e que possuem indicações específicas, cujas
características exigem comprovação de segurança e/ou
eficácia, bem como informações e cuidados, modo e
restrições de uso, conforme mencionado na lista indicativa
"LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 2"
estabelecida no item "II", desta seção (ANVISA, 2015,
p.6).

Os critérios para esta classificação foram definidos em


função da probabilidade de ocorrência de efeitos não
desejados devido ao uso inadequado do produto, sua
formulação, finalidade de uso, áreas do corpo a que se
destinam e cuidados a serem observados quando de sua
utilização (ANVISA, 2015, p.6).

A grande maioria dos produtos utilizados possui em sua


composição, pigmentos ou corantes (ENGENHARIA DOS
COSMÉTICOS). A tabela a seguir demonstra um esboço das substâncias,
corantes, permitidas na fabricação de produtos de higiene pessoal,
146

cosméticos e perfumes.

As substâncias listadas na Figura 1 devem ser utilizadas de acordo


com o campo de aplicação específico conforme a descrição a seguir:

Coluna 1: Representa as substâncias permitidas para todos os tipos


de produtos.

Coluna 2: Representa as substâncias permitidas para todos os


tipos de produtos, exceto para uso aqueles de uso com aplicação
direta à região dos olhos.

Coluna 3: Representa substâncias corantes permitidas


exclusivamente em produtos que não entram em contato com a
mucosas nas condições normais ou previsíveis de uso.

Coluna 4: Representa substâncias corantes permitidas


exclusivamente em produtos que tenham breve tempo de contato
com a pele e cabelos.
147

Figura 1 – Lista de substâncias corantes permitidas para produtos de


higiene pessoal, cosméticos e perfumes.

Fonte: Adaptado de ANVISA, 2012.


148

3.4 Regiões de Aplicação

De acordo com Galembeck e Csordas (SD), o uso destes produtos


pode ser feito em diversas partes externas do corpo humano, como:

i) Pele: todo cosmético que tem como objetivo fornecer o


princípio ativo para a pele ou para o organismo precisa
romper a proteção lipídica da pele, que pode ser removida por
solventes ou por agentes alcalinos.

ii) Cabelos: essa região é coberta por uma fina camada de água,
lipídeos e sais minerais, principalmente cloreto de sódio e de
potássio, provenientes do suor humano e das secreções
naturais do couro cabeludo. Essa camada atrai sujeiras que se
depositam sobre ela, então os produtos devem saponificar e
hidrolisar essa camada, fazendo com que ela possa ser
removida pela água, limpando os cabelos.

iii) Boca e lábios: para essa região os produtos devem ter o pH


entre 6 e 7 para ser compatível com a saliva humana e não
atacar as gengivas e os dentes. Também devem ser resistentes
à ação de diversas enzimas presentes na saliva.

iv) Olhos: os produtos devem ser selecionados conforme


matérias-primas que não afetem o conjunto ocular nem a
conjuntiva ocular.

v) Pés, mãos e unhas: os pés e as mãos, por estarem submetidos


149

a maiores atritos, possuem uma pele mais grossa e resistente,


necessitando de uma maior hidratação. As unhas são
permeáveis ao oxigênio, à umidade, a produtos químicos e a
outros processos mecânicos de desgaste, tornando necessária
uma avaliação seletiva de matérias-primas a serem utilizadas
na fabricação de cosméticos com essa finalidade
(GALEMBECK; CSORDAS, SD).

3.5 Matérias-primas

A produção de cosméticos costuma apresentar formulações


complexas, utilizando mais de uma matéria-prima, uma vez que, há uma
busca intensa por multifuncionalidade, requerendo várias fontes.

São inúmeros os critérios utilizados na escolha da matéria-prima, como,


disponibilidade, facilidade na entrega e distribuição, vida útil, requisitos
para estocagem, embalo, condições de processamento, toxicidade, risco
ambiental, preço de custo etc (GALEMBECK; CSORDAS, SD). Além
disso, há uma crescente priorização no uso de matérias-primas
provenientes de fontes naturais (orgânicas).

Esses materiais são separados entre ingredientes inertes e


princípios ativos, que são as substâncias que efetivamente atuam.
Pigmentos, soluções corantes e essências são matérias-primas de extrema
importância, pois apesar de ser inerte, sua quantidade necessita de um
controle rigoroso (GALEMBECK; CSORDAS, SD). Na Figura 2 pode-
se analisar os principais insumos utilizados na indústria de cosméticos.
150

Figura 2 – Matérias-primas mais comuns na indústria de cosméticos


151
152

Fonte: GALEMBECK; CSORDAS. Cosméticos: a química da beleza. Sala de


Leitura. Disponível em: < http://old.agracadaquimica.com.br/quimica/arealeg
al/outros/175.pdf>.

3.6 Pigmentos e corantes em compostos orgânicos

Os pigmentos e os corantes são uma das matérias-primas mais


importantes na manipulação de um cosmético. Trata-se de uma substância
que, quando aplicada sobre uma superfície, confere cor a ela. O corante é
uma molécula pequena, solúvel e promove apenas o tingimento da cor da
superfície, mantendo a transparência do produto. Já o pigmento, são
moléculas grandes, insolúveis, capazes de conferir um poder de cobertura,
opacidade, tingimento e cor ao produto. Nos cosméticos, os corantes são
usados em tintas para cabelo, shampoos, condicionadores, sabonetes, óleos,
perfumes, entre outros, enquanto que, os pigmentos são usados em
sombras, pó, bases e batons (MARTINHO; MONTEIRO, 2011).

Os pigmentos são divididos em várias classes, são elas: pigmentos


inorgânicos, pigmento orgânicas, pigmentos metálicos, pérolas / micas e
borossilicatos / glitters. Cada um deles é definido pela natureza química,
aplicação e comportamento quando em contato com outros componentes.
Os pigmentos inorgânicos em geral são constituídos de óxidos de ferro,
cromo, zinco, cobre e dióxido de titânio, eles são mais opacos e possuem
153

um alto poder de cobertura. Os pigmentos orgânicos são compostos


sintéticos e apresentam em sua estrutura grupamentos cromóforos capazes
de conferir cor à superfície, possuem mais brilho e transparência
(ENGENHARIA DOS COSMÉTICOS, 2020).

As micas são utilizadas para causar efeito cintilante às sombras e


iluminadores, por exemplo. Sua funcionalidade varia com o tamanho da
partícula, se grande, ela traz menor poder de cobertura e brilho acentuado
no local aplicado, se pequena, causa maior poder de cobertura e brilho
acetinado. Provém de minérios do grupo filossilicatos recobertas com
óxidos de ferro. Os borossilicatos ou glitters são partículas de vidro, cuja
função é dar luminosidade ao produto, são maiores que as micas e oferecem
muito brilho sem nenhuma cobertura. Os pigmentos metálicos são
constituídos de alumínio e cobre. O efeito dado por esse pigmento depende
da direção e tamanho das partículas que, geralmente, dão às sombras, por
exemplo, um efeito holográfico (ENGENHARIA DOS COSMÉTICOS,
2020).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a realização da busca de dados, utilizando os critérios de


inclusão e exclusão, foram encontrados artigos e revistas associados ao uso
das tintas nos cosméticos, bem como a classificação, caracterização e
matérias-primas usadas na sua produção. Desses artigos e revistas, foi
separado alguns tópicos para discorrer, sendo: contexto histórico,
classificação, regiões de aplicação, matérias-primas e pigmentos e corantes
154

em compostos orgânicos. Utilizando de diversas referências para formular


uma base com conteúdo suficiente sobre os devidos tópicos, formulando
uma revisão bibliográfica mais completa possível.

Dessas referências, destacaram-se as normas vigentes da ANVISA


quanto às matérias primas e os pigmentos usados em cosméticos, bem como
sua classificação, riscos e região de aplicação. Com a revista Química Viva e
a Engenharia dos cosméticos, foi possível ampliar o entendimento quanto
ao conceito e a diferença entre pigmentos e corantes, os diferentes tipos e
composições, as características e aplicação no mercado. Sobre essa
aplicação, a revista Cosmect Innovation mostrou o crescimento de vendas de
produtos do grupo HPPC, em 2019. Por último, o artigo de Alba Zucco,
Francisco Santana e Maria do Carmo, trouxe uma inovação sobre o uso de
cosméticos naturais atrelados à sustentabilidade, além da evolução dos
cosméticos e a importância de inovar para a produção e desenvolvimento
desses produtos. Em suma, toda a investigação permitiu uma verificação e
comparação ao estado da arte da fundamentação teórica.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da pesquisa realizada, conclui-se que a utilização de tintas em


cosméticos, bem como, o uso desses produtos, pelos seres humanos iniciou-
se há muitos anos. Tendo como modelo a diferenciação entre classes, o
culto aos deuses, a vaidade e a proteção. Diversos autores relatam a
importância das matérias primas que atribuem cor (pigmentos e/ou
corantes) na fabricação de diferentes cosméticos, tanto pela quantidade ser
155

fator importante quanto pela estética que proporciona.

Além disso, todos os componentes usados na manipulação devem


ser cuidadosamente preparados, pois alguns têm contato direto com nosso
organismo e pode ser prejudicial à saúde, como é o caso da utilização de
alguns pigmentos metálicos usados em batons. Como a boca faz parte do
nosso sistema digestivo, alguns corantes e pigmentos usados em batons são
os mesmos usados para dar cor aos alimentos.

Considerando todas as fontes utilizadas e a procura prolongada dos


alunos, percebe-se que a quantidade de estudos realizados sobre este tema
é reduzida. Por conseguinte, ainda há a necessidade da produção de mais
estudos e relatos sobre a participação e a importância das tintas na indústria
de cosméticos.

Como a indústria de cosméticos é uma das que mais cresce no Brasil


e no mundo. Segundo estudos da Euromonitor, as vendas no Brasil de
produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC) fecharam
com um crescimento de 4%, alcançando uma margem de R$117,00 bilhões
em 2019 (EUROMITOR INTERNACIONAL, 2020). A proposta de um
trabalho futuro seria buscar inovações na indústria de tintas para cosméticos
e aprofundar nos estudos quanto aos diferentes pigmentos e corantes
encontrados no mercado, sua proteção e o efeito deles nos produtos
cosméticos.
156

REFERÊNCIAS

ANVISA - Associação Nacional de Vigilância Sanitária, 2012. Disponível


em: <www.anvisa.gov.br/cosmeticos/inci.htm>. Acesso em 09 dez
2020.

ANVISA - Associação Nacional de Vigilância Sanitária, 2015. Disponível


em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2015/rdc0007
_10_02_2015.pdf> Acesso em 09 de dez 2020.

ENGEMHARIA DOS COSMÉTICOS. Matéria Prima: Pigmentos 2020.


Disponível em: <http://engdoscosmeticos.com.br/pigmentos/>. Acesso
em 09 dez 2020.

EUROMITOR INTERNACIONAL. Setor de HPPC cresce 3,9% e


atinge R$116,8 bilhões em 2019. Cosmetic innovation, 2020. Disponível
em: <https://cosmeticinnovation.com.br/setor-de-hppc-cresce-39-e-
atinge-r-1168-bilhoes-em-2019/#>. Acesso em 24 mar 2021.

GALEMBECK, F.; CSORDAS, Y. Cosméticos: a química da beleza. Sala


de Leitura. Disponível em:
<http://old.agracadaquimica.com.br/quimica/arealegal/outros/175.pd
f>. Acesso em 09 dez 2020.

MARTINHO, L. A. P., MONTEIRO A. Cores e Pigmentos. Conselho


Regional de Química IV Região/CRQ- IV – Química Nova, 2011.
Disponível em:
<https://www.crq4.org.br/quimicaviva_corantespigmentos>. Acesso
157

em 09 dez 2020.

MUNCHEN, S. Cosméticos: uma possibilidade de abordagem para o


ensino de química. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de
Santa Maria, Santa Maria – RS, 2012.

ZUCCO, A., SOUSA, F.S., ROMEIRO, M.C. Cosméticos naturais: uma


opção de inovação sustentável nas empresas. ENNGEMA: Encontro
Internacional sobre Gestão Empresarial e Meio Ambiente. Disponível
em: <https://www.engema.org.br/XVIENGEMA/405.pdf>. Acesso
em 08 dez 2020.
158

CAPÍTULO 08

A tinta nas estradas: Uma revisão


abordando as melhorias implementadas
na pintura de marcação das rodovias.
Autor: Geycson Figueiredo Dias
Orientadora: Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Colaboradores: Everton Geraldo Ladeira de Carvalho, Luiz Egídio Silva
Tibães e Aroldo Luiz Pereira Cardoso

RESUMO
A tinta utilizada na demarcação de estradas é uma das medidas de segurança
mais importantes aplicadas no setor rodoviário. É por meio desta que o
condutor se mantém informado sobre as condições da rodovia e se apoia
para uma melhor condução enquanto segue o seu trajeto. O presente artigo
tem como objetivo fazer uma busca e apresentar as principais tecnologias
empregadas nas tintas de sinalização viária e, além disso, expor os principais
problemas que afetam a pintura ao longo do tempo, mostrando a
necessidade de sua manutenção e do emprego de novas tecnologias que
diminuam o seu custo.

Palavras-chave: Rodovia. Marcação. Segurança. Tintas. Tecnologia.


159

1 INTRODUÇÃO

As marcações das estradas podem ser definidas como marcações


embutidas, aplicadas ou fixadas à superfície da estrada por meio de tintas.
Estas marcações têm como principal objetivo regular, alertar ou orientar o
tráfego, e delinear os limites da via ou trechos do caminho percorrido [1].
Este texto trará para o leitor as tecnologias aplicadas às tintas que são
utilizadas na demarcação dessas rodovias.

Atualmente, os principais tipos de tinta aplicados na marcação de


estradas são tintas à base de água, tintas à base de lignina, tintas com adição
de esferas de vidro (retrorrefletiva) e tintas termoplásticas.

Com a crescente necessidade da manutenção das estradas, tem-se


também a crescente necessidade de materiais mais resistentes (no caso,
tintas) às ações do tempo, do ambiente e do uso diário. É com essa
preocupação que se faz necessário o estudo e desenvolvimento de novas
técnicas e produtos que satisfaçam tais demandas.

2 TINTAS

Tintas ou revestimentos são produtos líquidos, pastosos ou em pó,


que são aplicados em superfícies de um substrato utilizando vários métodos
e equipamentos, formando filmes aderentes em camadas de determinada
espessura [2].

No mercado, há atualmente uma grande variedade deste tipo de


material para as mais diversas aplicações, nos mais diversos setores.
160

Levando em consideração a natureza deste artigo, serão apresentados alguns


tipos de tintas que são utilizadas para a pintura e marcação no setor
rodoviário e suas principais características.

2.1 Tintas à base de água

As tintas à base de água para a marcação de estradas são tintas


especiais e mais resistentes às ações do tempo e do homem. Esta tinta é
produzida por meio de um processo de polimerização de uma mistura de
monômeros, onde há a adição de água, aditivos, amônia e inicializadores da
polimerização. Nesse processo forma-se uma resina que passará por uma
nova mistura com outros aditivos e pigmentos para finalização da tinta [3].

O processo de produção desse tipo de tinta é feito de forma muito


minuciosa, de modo que certas características devem ser obedecidas, como
a escolha cuidadosa da amina a ser adicionada e do pH do meio aquoso, o
qual deve ser elevado para assegurar que a resina, que contém porções
ácidas, não irá precipitar [3].

Uma das principais características das tintas à base de água é a


resistência à lavagem. A aplicação desse tipo de tinta atinge o limite da
resistência à lavagem com água quando a mesma não é mais afetada pelos
efeitos da chuva. No entanto, não há protocolo padrão que faça a
mensuração desse tempo de resistência com exatidão. Nesse caso, é
utilizado um procedimento laboratorial para estimar esse tempo, no qual a
tinta é aplicada a um painel exposto a um dispositivo de água corrente que
simula os efeitos da chuva. Um outro modo de determinar este tempo é
161

expor a superfície que contém essa pintura à água e aplicar um movimento


de torção para imitar o movimento dos pneus de um carro na superfície da
estrada marcada por esta tinta. Quando esta tinta não é mais afetada por
esta ação, significa que o tempo de resistência foi atingido [3].

2.2 Tintas à base de lignina

A lignina é um biopolímero, e também um subproduto da indústria


de produção do papel e celulose [4]. Com a crescente procura de novas
aplicações para a lignina, viu-se a possibilidade de utilizá-la na produção de
tintas, e posteriormente nas tintas para a marcação de rodovias.

Na produção de tintas são utilizados polímeros para a formação do


produto inicial que, posteriormente, passará por processos químicos de
tratamento para se tornar a tinta propriamente dita. A lignina pode ser usada
como uma fonte opcional para a obtenção destes polímeros.

Em estudo realizado, pesquisadores brasileiros notaram que, com a


adição dessa classe de polímeros, não havia variação ou mudanças
significativas na estrutura e reações químicas durante a fabricação da tinta.
Porém, ao adicionar diferentes quantidades desse material ao processo de
produção e, ao aplicar uma metodologia de envelhecimento deste material,
notou-se um aumento na resistência à abrasão e à fotodegradação deste
produto, além da melhoria em propriedades mecânicas e fotofísicas [5].
O melhoramento dessas características se deve ao fato de que a
lignina é um polímero tridimensional, amorfo e rígido, que contém um
número relativamente alto de grupos funcionais hidroxila ativos conectados
162

através de ligações de hidrogênio [6]. Já que a emulsão água-acrílico é um


polímero com uma estrutura interpenetrada, deduz-se que a dispersão da
lignina na resina acrílica forma uma estrutura molecular complexa, na qual
a lignina ocupa a fase amorfa, aumentando assim o volume do polímero e
reforçando a estrutura formada à nível molecular, o que resulta no aumento
da resistência ao desgaste do produto final [5].

2.3 Tintas Fabricadas com a adição de esferas de vidro

Uma outra melhoria implementada às tintas utilizadas na marcação


de rodovias é a adição de microesferas de vidro na composição destas tintas.
É importante ressaltar que o processo de produção da tinta em si se dá de
forma convencional, porém são adicionadas as microesferas de vidro na
mistura final do produto antes do envasamento.

A adição dessas microesferas de vidro torna a marcação refletiva


(Figura 1) por um período maior de tempo, o que ajuda o condutor a se
localizar e se direcionar de melhor forma na estrada, tanto durante o período
diurno quanto noturno. Uma outra característica vantajosa é que essas
microesferas podem resistir e realizar sua função em qualquer condição
meteorológica, além de possuir uma melhor adesão à superfície nas
rodovias. Por todas essas características, esse tipo de tinta tem uma
aplicação vasta na marcação de portos, aeroportos, estacionamentos e etc
[7].
163

Figura 1 – Marcação viária retrorefletiva

Fonte: http://www.ebanataw.com.br/trafegando/marcacaoviaria.php.

2.4 Tintas Termoplásticas

Os materiais de marcação termoplásticos foram desenvolvidos em


meados dos anos de 1930 [8]. Estes materiais termoplásticos utilizados na
marcação de rodovias são basicamente compostos de um hidrocarboneto
sólido ou uma resina alquídica, misturadas com pigmentos e enchimentos
(tais como microesferas de vidro). Essa resina pode ser obtida de fontes
renováveis naturais, como plantação de árvores de pinho ou de fontes não
renováveis, como os destilados de petróleo [9].

O processo de produção desses materiais é um tanto quanto


diferente, se comparado com os materiais vistos anteriormente.
Inicialmente a resina passa por um processo de aquecimento a altas
temperaturas, seguido de um processo de mistura, onde há a adição dos
164

pigmentos, microesferas e demais aditivos, e um processo de resfriamento


[9].

Após esse processo, o material pode ser pré-moldado para uma


forma específica de aplicação ou simplesmente armazenado na forma em
que se encontra. Nesse último caso, para a aplicação desse material em seu
respectivo local, basta reaquecê-lo a uma temperatura de 200°C para que
adquira suas características fluidas [9].

2.5 Tintas à base de solvente

Tintas à base de solvente são comumente produzidas a partir de


resinas acrílicas ou, mais raramente a partir de misturas estireno-alquídicas
ou acrílico-alquídicas, dissolvidas em solventes orgânicos como ésteres ou
cetonas [3]. A baixa tensão de superfície destes solventes permite uma
melhor penetração nas fissuras da rodovia, o que assegura uma boa adesão
desse tipo de tinta às estradas, mesmo aquelas em condições precárias [3].
Em alguns países, onde o uso de solventes aromáticos ainda é permitido,
apesar do dano que é causado ao ambiente e aos seres humanos [10], estes
proporcionam um melhor controle da secagem e da adesão deste material a
superfícies asfálticas e oleosas.

A aplicação dessa classe de tintas pode ser feita a temperaturas do


ar de 40°C e temperaturas da superfície de aplicação abaixo dos 50°C. A
rodovia deve ser limpa, seca, e estar a uma temperatura acima do ponto de
condensação da água. Destaca-se que a secagem desse tipo de tinta é
fortemente influenciada pelo ar e pela temperatura da superfície [3].
165

Tintas à base de solvente não são recomendadas para estradas com


muito tráfego devido a sua baixa durabilidade, sendo que o seu período de
vida após a aplicação é de cerca de 6-12 meses [3].

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir de tudo que foi apresentado, é possível notar a importância


tanto do meio rodoviário quanto do setor industrial para a evolução de
tecnologias em pintura, sendo fundamental o desenvolvimento mútuo para
alcançar melhores resultados.

Como pôde ser observado, o crescimento do setor industrial


proporcionou uma maior quantidade de pesquisas e desenvolvimento de
técnicas em relação à produção de tintas, seja para o setor automobilístico,
mobiliário, rodoviário, portuário e etc.

Em relação às rodovias, vem-se tendo um maior cuidado no


planejamento e execução de obras, bem como na escolha de materiais mais
adequados às demandas do local em análise, condições de saúde da rodovia,
condições climáticas, tempo, ação humana e outras.

Considerando todas as características citadas, é notória a


preocupação e a necessidade de se investir, conhecer novos métodos e
produtos que possam facilitar e assegurar a vida e segurança do condutor,
bem como estabelecer diretrizes a serem seguidas por todo o território,
166

como forma de padronizar métodos de ação e contenção de possíveis


problemas.

REFERÊNCIAS

[1] DE WITT, A J, SMITH, R A F & VISSER, A T 2000. Durability and


cost effectiveness of road marking paint. Paper presented at the Nineteenth
South African Road Transport Conference, 17–20 July, Pretoria

[2] FREITAG, W., & STOYE, D. (Eds.). (2008). Paints, coatings and solvents.
John Wiley & Sons.

[3] D. BABIĆ, T.E. BURGHARDT, D. BABIĆ. Application and


Characteristics of Waterborne Road Marking Paint. International Journal
for Traffic and Transport Engineering, 5 (2015), pp. 150-169

[4] CHEN, Z.; WAN, C. Biological valorization strategies for converting


lignin into fuels and chemicals. Renewable & Sustainable Energy Reviews, v. 73,
p. 610-621, 2017.

[5] PEREIRA, A. P., RIBEIRO, J. L., OLIVEIRA, A. C. F.,


VASCONCELOS, C. K. B., VIANA, M. M., & LINS, V. D. F. C. Lignin-
modified road marking paint: weathering aging studies. REM-International
Engineering Journal, 74(2), 225-233. 2021.

[6] LUO, X.; MOHANTY, A.; MISRA, M. Lignin as a reactive reinforcing


filler for water-blown rigid biofoam composites from soy oil-based
polyurethane. Industrial Crops and Products, v. 47, p. 13-19, 2013.
167

[7] VYANKATESH NAIDU AND VINOD BHAISWAR. IOP Conf. Ser.:


Mater. Sci. Eng. 954 012016. 2020

[8]CLARE, R.S. Traffic Safety. Disponível em: <


https://www.rsclare.com/sites/default/files/Traffic%20Safety.pdf>.
Acessado em: Abril, 2021.

[9] NAIDOO, S, & STEYN, W J VD M. (2018). Performance of


thermoplastic road-marking material. Journal of the South African Institution of
Civil Engineering, 60(2), 9-22. https://dx.doi.org/10.17159/2309-
8775/2018/v60n2a2

[10] MCMICHAEL, A.J. Carcinogenicity of benzene, toluene and xylene:


epidemiological and experimental evidence, IARC Scientific Publications, 85:
3-18. 1988
168

CAPÍTULO 09

Biodeteriorização de tintas por ação dos


microrganismos, especialmente os fungos
filamentosos
Autor: Tarcisio Michael Ferreira Soares de Oliveira
Orientadora: Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Colaboradores: Bressane Maísa Reis de Souza, Ilva de Fátima Souza, Luiz
Egídio Silva Tibães e Maraísa Kíssila Oliveira Fernandes

RESUMO
Tintas e outros revestimentos aplicados às superfícies de materiais de
construção e paredes fornecem proteção às superfícies e decoram vários
ambientes. Os principais componentes das tintas são os pigmentos, os
corantes, a resina e o solvente. Esses constituintes das tintas servem de
nutrientes para os microrganismos, dentre eles os fungos filamentosos
(mofo), os quais se desenvolvem tanto na fase líquida da tinta, antes da
aplicação, quanto na fase sólida, após aplicação na superfície. A
biodegradação das tintas é um processo biológico com interdependência
entre vários microrganismos gerando o biofilme, onde os mesmos atuam
excretando as enzimas necessárias para a degradação da fonte de carbono,
tendo como resultado uma deformação irreversível na pintura. Desta forma
o trabalho objetiva estudar os contaminantes que originam a
biodeteriorização das tintas provocados por microrganismos, especialmente
por fungos, que impacta diretamente na parte visual, econômica e na saúde
da população.

Palavras-chave: Degradação. Biofilme. Pintura. Pigmento.


169

1 INTRODUÇÃO

Tintas e outros revestimentos aplicados às superfícies de materiais


de construção e paredes oferecem benefícios como proteção à superfície e
decoração ao ambiente. As camadas de tinta são úteis pelos aspectos
decorativos relacionados às preferências por determinadas cores e texturas,
servem de proteção, aumentando a durabilidade dos materiais onde são
aplicadas. Nas últimas décadas, as tintas estão exercendo um papel
importante na redução ou eliminação de microrganismos precursores de
doenças respiratórias e alergias, ou seja, tem havido uma preocupação com
a saúde e bem-estar dos clientes (PEDRO et al., 2014; ZABEL &
MORRELL, 2020).

Tendo uma composição líquida, as tintas apresentam viscosidade,


sendo constituídas de um ou mais pigmentos dispersos. Quando a tinta é
aplicada sobre a superfície sofre o processo de cura, criando a película fina
opaca, aderente ao substrato. Existem variadas formulações de tintas para
os mais diversos tipos de substratos (superfícies constituídas de madeira,
aço, alvenarias entre outros) com as mais variadas propriedades e
composições (BACH & RANGEL, 2005).

Os principais componentes das tintas são os pigmentos, os


corantes, a resina e o solvente. O primeiro e o segundo componente tem a
finalidade de fornecer cor, a resina apresenta função de formar o filme na
superfície constituindo a matriz que endurece e liga os pigmentos na
pintura, por fim, o solvente apresenta propriedades para solubilizar a resina
170

e outros componentes, impactando diretamente na formação do filme. A


resina empregada classifica o tipo de tinta, sendo as mais comuns a “tinta
acrílica” (a base de água) e a “tinta óleo” (CAPPITELLI et al., 2005;
MELLO & SUAREZ, 2012; MONTENEGRO, 2016)

Os constituintes das tintas servem de nutrientes para os


microrganismos, dentre eles os fungos filamentosos (mofo). A instalação e
a proliferação de microrganismos indesejáveis caracterizam a chamada
contaminação, nas tintas esse fenômeno ocorre tanto na fase líquida, antes
de ser aplicada na superfície, quanto na fase sólida, após aplicação. Esse
processo ocorre na presença de um ambiente favorável, com uma fonte de
carbono, associando a umidade e calor do ambiente. Esse ambiente
favorece o aparecimento das colônias, muitas das vezes sendo visíveis ao
olho nu. O aparecimento de contaminação compromete a função da tinta,
obrigando os fabricantes a reformularem o produto, adequando-o às
necessidades do cliente (SOBRINHO, 2008; BREITTBACH, 2008). Além
disso, esses microrganismos podem provocar problemas à saúde humana,
como asma e alergias (OGAWA et al., 2017; BACH & RANGEL, 2005).

A biodegradação é um processo biológico com interdependência


entre vários microrganismos gerando o biofilme, onde os mesmos atuam
excretando as enzimas necessárias para degradação da fonte de carbono,
tendo como resultado uma deformação na pintura irreversível, fenômeno
de biodeteriorização, podendo ser agravado por intempéries (LUCAS et al.,
2008; BREITTBACH, 2008; OGAWA et al., 2017).
171

Além disso, o filme seco das tintas sofre processo de contaminação


por microrganismos, principalmente por fungos, por apresentar água,
dispersões poliméricas e outros compostos orgânicos, fornecendo fonte de
carbono e nutrientes ao desenvolvimento dos microrganismos, além de
cargas que trazem os fungos como possíveis contaminantes. Uma forma de
eliminação dos microrganismos e preservação das tintas seria a adição de
biocidas (fungicida, bactericida e algicida, dependendo de qual será o
microrganismo), atuando na preservação ou conservação (CASTRO et al.,
2011; ABDEL-RAHIM et al., 2018).

O Brasil por apresentar um ambiente favorável aos


microrganismos, como clima tropical, umidade e substrato em abundância,
possui uma diversidade biológica enorme dos mesmos, no entanto, as tintas
apresentam a mesma formulação para serem comercializadas em todo o
território nacional, por isso é notório que a eficácia e desempenho não seja
igual em todas as regiões do país (BACH & RANGEL, 2005). Portanto, o
trabalho objetiva revisar os contaminantes que originam a biodeteriorização
das tintas, que impactam diretamente na economia e na saúde da população.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Tipos de tintas e seus componentes

Uma ideia geral dos componentes químicos e da estrutura da tinta


é necessária para compreender como ocorre sua degradação por
microrganismos (ZABEL & MORRELL, 2020). Existem duas
classificações básicas que darão características distintas para as tintas: uma à
172

base de óleo ou solvente e outra à base de água. (ZABEL & MORRELL,


2020).

As tintas modernas contêm uma variedade de componentes


diferentes. Portanto, é particularmente importante misturá-los
cuidadosamente para garantir a consistência e estabilidade adequadas da
tinta. Precisamente para este propósito, agentes dispersantes são usados.
Além de fornecer as propriedades de desempenho adequadas da tinta, eles
também fornecem a saturação de cor desejada e garantem a pigmentação
adequada. Esses produtos são dispersantes altamente eficazes usados em
tintas contendo água como solvente (SILVA, 2010; ZABEL & MORRELL,
2020). Normalmente as tintas contêm quatro componentes principais:
resina (ou veículo), pigmentos, solventes e aditivos (Figura 1).

Figura 1 – Componentes principais da tinta

Fonte: CASTRO, 2009.


173

A resina ou veículo ajuda as tintas a se dispersarem facilmente na


superfície, regulando a viscosidade das tintas e tem como papel principal
gerar a película de tinta sobre o substrato, impactando nas características
físico-químicas da tinta (ZABEL & MORRELL, 2020; CASTRO, 2009). O
pigmento de uma tinta desempenha um papel importante na determinação
da cor e da aparência. Esses pigmentos são constituídos por cargas de
origem mineral variando de 0,25 a 1,50 μm, que não se solubilizam em
meios líquidos, conferindo cobertura e coloração à tinta. Esses pigmentos
de origem mineral possuem um elevado índice de refração e opacidade,
absorvendo e refletindo os raios solares incidentes, como exemplos cita-se:
o dióxido de titânio de maior poder de reflexão e opacidade, o carbonato, o
sulfato de chumbo, o óxido de zinco e o litopônio. Os pigmentos podem
ter origem inorgânica ou orgânica (SILVA, 2010; CASTRO, 2009;
PANDEY & KIRAN, 2020).

Os solventes têm como função diluir a resina e outros


componentes, impactando na formação do filme, nas propriedades
reológicas da tinta e na aparência final da tinta (SILVA, 2010; CASTRO,
2009; PANDEY & KIRAN, 2020; ZABEL & MORRELL, 2020).

Os aditivos sempre foram a alternativa utilizada quando outras


características precisam ser modificadas ou melhoradas. Por exemplo,
espessantes são aditivos que tendem a engrossar a tinta para torná-la ainda
mais fácil de aplicar. São classificados em aditivos de cinética, aditivo de
reologia, aditivo de processo e aditivo de preservação (SILVA, 2010;
CASTRO, 2009; PANDEY & KIRAN, 2020).
174

2.2 Microrganismos atuantes na biodeteriorização

Nos últimos tempos, tem-se aprofundado em pesquisas para


descobrir novas espécies de bactérias e fungos filamentosos, com coleta,
isolamento e caracterização, para que possa conhecer e desenvolver novos
produtos com características diferentes e com maior eficiência. Tem-se
como exemplo a aplicabilidade das bactérias no processo de
biorremediação, para descontaminação de ambiente. Para os fungos
filamentosos a bioprospecção é o primeiro passo para conhecer e catalogar
os gêneros e espécies atuantes na degradação das tintas e assim desenvolver
produtos cada vez mais eficazes em sua eliminação. (BARBOSA, 2014;
LUCAS, 2008)

2.2.1 Biofilme

Biofilme é formado por diversas espécies de microrganismos em


um ambiente que tenha água, formando um ecossistema microscópico,
onde exercem atividades metabólicas, nas quais são produzidas substâncias
extracelulares compostas por produtos ácidos e polissacarídeos somados à
decomposição de organismos mortos. Os microrganismos que compõem
esse ecossistema consistem em um “consórcio complexo de bactérias
aeróbias e anaeróbias, algas, fungos e protozoários (PANDEY & KIRAN,
2020).

Para formar o biofilme (Figura 2), primeiramente ocorre a fixação


de macromoléculas de proteínas, polissacarídeos (carboidratos que
fornecem por hidrólise outros carboidratos de menor massa molecular),
175

para a formação da colônia, tem-se a necessidade da presença de ácidos


nucléicos, ácidos graxos e poluentes sobre a superfície do material, não
apenas para a nutrição, como também fornecendo ancoragem. Essas
substâncias modificam a superfície do material, alterando sua
hidrofobicidade e sua carga elétrica superficial e proporcionam a adesão do
microrganismo (PANDEY & KIRAN, 2020; SILVA, 2009).

Figura 2 – Sequência de formação do biofilme

Legenda 1 – Adsorção reversível de bactérias; 2 – Adsorção irreversível de bactérias; 3 -


Divisão e crescimento celular das bactérias; 4- Produção e exopolímero e formação do
biofilme; 5 - Adsorção de outros microrganismos ao biofilme.

Fonte: SILVA, 2009.

O biofilme é a condição para a fixação de outros microrganismos,


por fornecer suporte para a adesão de outras partículas, dando origem assim
a microambientes com concentrações diferenciadas de elementos vitais para
176

o desenvolvimento microbiótico, como oxigênio e variações de pH,


favorecendo assim o acúmulo e a manutenção de umidade (BARBOSA,
2014; SILVA, 2009).

2.3 Biodegradação e biodeterioração de superfícies pintadas

2.3.1 Biodegradação e Biodeteriorização

“Biodegradação” é a decomposição induzida biologicamente de


substâncias químicas, onde o microrganismo decompõe os compostos
orgânicos complexos (polímeros) em compostos orgânicos mais simples.
Além disso, são também metabolizados o dióxido de carbono, água e
amônia (principalmente bactérias aeróbicas). Esse processo de
decomposição ocorre de forma natural por reações bioquímicas, por ação
das enzimas (LUCAS, 2008).

A biodeterioração é definida como uma degradação da superfície,


onde ocorre a modificação do aspecto estrutural, físico e químico das
propriedades do material. Esta fase começa sempre que o componente no
ambiente externo é suscetível a fatores abióticos e controla a degradação
adicional, reduzindo a estrutura do material (BARBOSA, 2014).

Essas mudanças iniciais são influenciadas por vários fatores


abióticos como pressão (mecânica), luz, temperatura, bem como ambientais
toxinas. Uma vez que a biodegradação é concluída, o ciclo é conhecido
como "mineralização", ou seja, a decadência final de compostos orgânicos
em água, CO2 e algum outro produto inorgânico final. No processo de
177

degradação, os microrganismos usam nitrato e fosfato, e restringe nutrientes


para o crescimento microbiano (PANDEY & KIRAN, 2020; BARBOSA,
2014).

A decomposição de substâncias economicamente valiosas é


conhecida como biodeterioração, que se refere à decomposição de
substâncias, geralmente impermeáveis a ameaças microbianas, envolvendo
metais, tecidos, produtos farmacêuticos, cosméticos, tintas, madeira,
dispositivos elétricos, combustíveis e óleos e vários artefatos (SOBRINHO,
2008; PANDEY & KIRAN, 2020).

Por seus vários processos anabólicos e catabólicos, os


microrganismos requerem sulfato, fosfato e nitrato, pois está associado ao
crescimento e reprodução microbiana, resultando na formação de colônias
(PANDEY & KIRAN, 2020).

2.3.2 Biodegradação de tintas

As tintas além da sua função decorativa apresentam proteção


contra as contaminações biológicas, que podem ocorrer tanto na tinta
líquida, como no filme seco comprometendo o desempenho do material em
ambas as funções (SOBRINHO, 2008; PANDEY & KIRAN, 2020).

Os microrganismos apresentam grande capacidade adaptativa ao


ambiente, possibilitando a sua sobrevivência em situações adversas e
extremamente críticas, esses microrganismos são chamados de
extremófilos. As tintas à base de água estão propensas à contaminação
178

biológica por microrganismos, os quais têm como requisitos básicos para


seu desenvolvimento e proliferação à luz solar, oxigênio, pH, nutrientes,
temperatura e água, como demonstrado na Tabela 1.

Devido a composição das tintas comerciais, haverá o


desenvolvimento de colônias na tinta úmida e no filme seco, devido aos
compostos orgânicos presentes no material ou pelos depósitos de resíduos
sobre a mesma. Na composição das tintas aquosas, os antiespessantes, os
compostos derivados da celulose e o próprio veículo da tinta, chamado
binder látex, são nutrientes em potencial para os microrganismos
(BARBOSA, 2014; SOBRINHO, 2008).

A colonização dos microrganismos provoca um


comprometimento das funções do produto. Para amenizar esses problemas,
a indústria emprega medidas preventivas, através do emprego de agentes
fungicidas, bactericidas e algicidas, na formulação de seus componentes e
da tinta (SOBRINHO, 2008).

Os microrganismos, em especial os fungos filamentosos excretam


enzimas extracelulares provocando a deterioração dos materiais e alterações
físico-químicas na tinta, tais como alteração da viscosidade, mau cheiro e
gaseificação. Os gases gerados podem provocar a deformação da
embalagem no caso de tinta na lata (LUCAS et al., 2008; PANDEY &
KIRAN, 2020).
179

Tabela 1 – Condições básicas para o desenvolvimento dos


microrganismos

Fonte: SILVA, 2009.

Importante ressaltar que os microrganismos utilizam tudo o que


está disponível no ambiente como fonte de alimento, isso em condições
adequadas e favoráveis. A biodegradação é causada por processos
enzimáticos que decorrem da ação celular. Os fungos mais encontrados nas
paredes de edifícios residenciais foram os gêneros: Aspergillus niger, Aspergillus
versicolor, Penicillium cyclopium, Penicillium janthinellum, Penicillium thomii, Rhizopus
nigricans e Trichoderma viride (PANDEY & KIRAN, 2020).

2.3.3 Microrganismos envolvidos na degradação de tintas

Os microrganismos (fungos e bactérias) são os principais agentes


destrutivos das tintas sob a forma líquida ou aplicadas em superfícies,
embora as algas possam ser importantes em alguns ambientes. A
180

deterioração que provoca a desconfiguração da superfície da tinta ocorre


principalmente pelo crescimento micelial de fungos pigmentados e do
desenvolvimento dos aglomerados de esporos, na superfície da tinta, as
colônias. O termo geral usado pela indústria para estes crescimentos são
“mofo” (BREITTBACH, 2009).

As tintas são formadas por diversos produtos orgânicos e


inorgânicos, quando aplicados em superfície combinam com outros
produtos e outros fatores, proporcionando um ambiente perfeito para
colonização dos microrganismos, acelerando assim a degradação das
pinturas. Na forma líquida, as tintas e revestimentos são considerados mais
vulneráveis ao desenvolvimento de microrganismos, por apresentarem
maior quantidade de água e condições ideais para o desenvolvimento
(PANDEY & KIRAN, 2020).

Além de bactérias, são encontrados fungos colonizando as tintas


de parede, onde alguns deles são do gênero Cladosporium, Penicillium, Levedura
e Rhizopus. Na literatura relata uma grande quantidade de gêneros. Também
se presume que a descoloração da superfície de edifícios é provocada por
fungos filamentosos por apresentar pigmentação características das hifas,
podendo ser claramente visto a olho nu (SOBRINHO, 2008).

Os fungos filamentosos excretam enzimas para o meio exterior,


atuando na decomposição das resinas epóxi e dos materiais poliméricos,
onde ocorre a clivagem das ligações que unem os monômeros formadores
dos materiais poliméricos, ocorrendo a decomposição, levando à fragilidade
181

e redução da capacidade de adesão. Além disso, várias espécies de fungos


filamentosos, podem se desenvolver tanto entre as superfícies pintadas bem
como no solo, fazendo com que a película de tinta inche, podendo proceder
à retirada de seções da camada de tinta pintada e a desagregação superficial
(BREITTBACH, 2009).

Uma forma de eliminar essas contaminações, mesmo que as tintas


apresentem fonte de alimento para os microrganismos, seria diminuir as
condições ambientais favoráveis, impedindo assim a multiplicação destes
organismos. (PANDEY & KIRAN, 2020).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como evidenciado pela análise da literatura, existe uma grande


variedade de microrganismos, em especial os fungos filamentosos, capazes
de se instalar e crescer nas tintas, tanto no estado líquido, quanto no estado
sólido, após aplicação na superfície. Esta revisão também conclui que
microrganismos como bactérias, fungos e algas provocam a descoloração
nas tintas como induzem a superfície exposta a deterioração, pelas enzimas
secretadas pelos microrganismos. Sendo assim, os microrganismos em
ambiente favorável, usam a tinta como alimento para o seu crescimento e
atividade metabólica, o que contribui para a degradação dos materiais de
pintura.
182

REFERÊNCIAS

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185

CAPÍTULO 10

Pichação e protetivos
antipichação
Autora: Isabel Carolina Hutter Gomes
Orientadora: Flaviana Tavares Vieira Teixeira
Colaboradores: Ângelo Rafael Machado, Luiz Egídio Silva Tibães e
Maraísa Kíssila Oliveira Fernandes

RESUMO
As agressões de edificações por pichações representam um grande impacto
em termos econômicos, sociais e culturais. É considerado um ato de
vandalismo quando realizado de maneira ilegal e faz-se presente em todo o
mundo, contribuindo para o sentimento de insegurança nas áreas urbanas
em que estão presentes. Para impedir os impactos nas superfícies onde são
aplicados, métodos preventivos foram desenvolvidos e se apresentam como
a melhor alternativa para a solução deste problema. Os revestimentos
antipichação são medidas preventivas que visam a não aderência do produto
utilizado no grafite ao substrato, facilitando sua limpeza e contribuindo para
sua durabilidade. Dessa maneira, foi realizada uma revisão de artigos, teses
e dossiês sobre a constituição desses protetivos, sua durabilidade em relação
aos ciclos de limpeza, categorização e os mecanismos que permitem a
remoção dos grafites. Conclui-se, através da análise destes trabalhos, que a
aplicação, durabilidade e interação com os substratos são parâmetros
fundamentais para a formulação destes revestimentos, podendo levar a
diferentes resultados ou até mesmo agravar os problemas encontrados.

Palavras-chave: Pichação. Antipichação. Revestimentos anti-graffiti.


186

1 INTRODUÇÃO

A pichação é um problema recorrente nas cidades em todo o


mundo e está presente em edificações comuns e em edificações que
fazem parte do patrimônio cultural. Segundo Barata (2014), o graffiti,
também referido como pichação, é característico da cultura hip-hop e
surgiu na década de 1970 nos Estados Unidos, mais precisamente em
Nova Iorque, como uma forma de manifestação dos residentes à margem
da sociedade. De acordo com Spinelli (2007, p.113 apud GALLOIS,
2015), o termo pichação “pode ser caracterizado como letras ou
assinaturas de caráter monocromático, feitas com spray ou rolo de
pintura”.

De um modo geral, o graffiti é considerado vandalismo pela


sociedade, o que agrava a degradação local da área onde o graffiti está
instalado, sugerindo que o local onde se apresentam são violentos e
marginalizados. Embora estes escritos sejam às vezes considerados como
forma de arte (“street art”), essa forma de expressão da sociedade tem
grandes impactos estéticos nos edifícios e os grafites ilegais não são
considerados arte pelo público em geral, podendo desfigurar e
desvalorizar a imagem dos edifícios. Em particular, os efeitos negativos
são sem dúvida observados em monumentos e edifícios históricos. Além
disso, altos custos de manutenção, ambos devido a intervenções de
remoção, são consequências desse grafismo (BARATA, 2014;
MASSIERI; LETTIERI, 2017; MOURA et al., 2014).
187

A limpeza da pichação nem sempre tem um efeito estético


satisfatório, deixando traços "fantasmas" das pichações anteriormente
realizadas no local. Do ponto de vista da proteção de materiais porosos,
a pichação é um dos problemas de limpeza mais difíceis de resolver. Os
tratamentos aplicados para a remoção das pichações se constituem de
técnicas extremamente agressivas e tais limpezas causam danos e agravam
patologias já existentes em construções. Assim, o emprego de técnicas
preventivas constitui a melhor opção, principalmente para edificações
com valor cultural (GALLOIS, 2015).

Nesse cenário, o emprego dos revestimentos de proteção


antipichação como técnica preventiva podem funcionar muito bem, uma
vez que facilita a remoção do graffiti, assumindo um papel importante na
manutenção dos edifícios e contribuindo para o aumento da durabilidade
dos materiais (MOURA et al., 2017).

A remoção de pichações é um processo caro que às vezes não é


particularmente eficaz. O uso de métodos de limpeza inadequados pode
danificar os materiais de revestimento, além dos altos custos associados
à remoção de pichações e seus grandes impactos estéticos nas fachadas
dos edifícios, justificam que novos métodos preventivos sejam
desenvolvidos e analisados para a solução deste problema (MOURA,
2014). Dessa maneira, o objetivo do presente estudo é realizar uma
revisão de artigos, teses, entre outros, sobre os revestimentos
antipichação.
188

2 METODOLOGIA

Este estudo constitui uma revisão bibliográfica de caráter analítico a


respeito do fenômeno de pichação e seus efeitos, bem como dos
revestimentos antipichação. A consulta para a construção dos resultados foi
realizada nos bancos de dados ScienceDirect, Scielo e portais de
universidades utilizando-se de mecanismos de pesquisa disponíveis,
empregando os seguintes descritores: “graffiti”, “anti-graffiti”, “paint”,
“antipichação”. Foram avaliados revisões e artigos originais completos com
relação ao tema descrito, incluindo artigos em português e inglês. A análise
estudou publicações dos últimos dez anos, por se tratar de um tema recente
e com publicações escassas em português.

3 DESENVOLVIMENTO

O termo graffiti, de acordo com Gomes, Dionísio e Pozo-Antonio


(2017) é derivado da palavra italiana graffiare (riscar) e pode ser definido
como: “escrita ou desenhos rabiscados, riscados, desenhados ou pintados,
em uma ampla gama de materiais e substratos, localizados principalmente
em locais públicos acessíveis [...]”. A partir desta definição é possível traçar
um paralelo com as pinturas rupestres e considerá-las como os primeiros
exemplos de graffiti da história da arte, que foram produzidas entre 15.000 e
10.000 a.C. e que representavam animais, caçadores e outros inúmeros
símbolos (BARATA, 2014).

Conforme Masieri e Lettieri (2017), muitas ferramentas, tais como


latas de spray, marcadores de ponta de feltro, canetas esferográficas, giz,
189

lápis de cera e batom são usados para realizar a pichação. As tintas em spray,
por sua vez, são as mais utilizadas porque podem ser rapidamente e
facilmente aplicadas a qualquer tipo de substrato. Barata (2014) cita que
cerca de 80% dos graffiti são executados com tinta em spray ou marcadores
de feltro e as cores que são predominantemente utilizadas são a preta,
vermelha, azul e branca.

A composição química das tintas spray pode ser muito variada, mas
sempre contém: pigmentos, que dão a cor; aglutinantes, como uma matriz,
para proporcionar a adesão à superfície pintada; e solventes, para promover
o espalhamento. Outras substâncias podem estar presentes na formulação
como, por exemplo, os agentes plastificantes, para melhorar a aderência, e
propulsores, para produzir o jato da mistura de tinta (MASIERI;
LETTIERI, 2017).

Os revestimentos antipichação, também conhecidos como anti-


graffiti, surgiram da necessidade de prevenir contra os ataques de pichação
devido ao alto custo para sua remoção e a deterioração do material onde o
grafitti é aplicado. Segundo Barata (2014), a remoção da pichação deve ser
feita logo que apareçam, de forma a prevenir a interação química entre as
pinturas e o ar poluído, que dificultaria a remoção dos graffiti e conforme
Gomes, Dionísio e Pozo-Antonio (2017), nos últimos anos a aplicação de
produtos antipichação tem sido realizada a fim de preservar o substrato.

As edificações em concreto aparente são as mais suscetíveis às


agressões por pichação, sendo mais vulneráveis à interação da tinta com o
190

substrato uma vez que, por ser um material poroso, a tinta penetra
consideravelmente neste substrato, alterando-o e tornando a sua remoção
muito difícil. Quanto maior a porosidade do material em que os graffiti são
aplicados, mais oneroso é o processo de remoção sem causar quaisquer
danos. Os solventes são utilizados nas tintas spray para tornar o ligante
suficientemente líquido para que a tinta seja facilmente aplicável. Desta
maneira, quanto maior for a quantidade de solvente contido numa tinta,
maior a taxa de fluidez e, portanto, maior a capacidade que essa tinta tem
para penetrar nos poros do substrato. Nesse contexto, os revestimentos de
proteção têm como objetivo o bloqueio dos poros do substrato,
dificultando a aderência e penetração das tintas, bem como criar um
bloqueio temporário através do aumento da barreira de proteção na
presença de umidade e retardar a secagem dos materiais usados nas tintas
spray (BARATA, 2014).

Moura (2014) evidencia que os produtos antipichação formam uma


barreira protetora contra a pichação e facilitam sua remoção gerando uma
superfície que repele água e óleo e evita, portanto, a penetração da tinta em
superfícies porosas, facilitando a limpeza.

Masieri e Lettieri (2017) classificam em dois tipos principais os


produtos usados para proteger superfícies contra a pichação: produtos
sacrificiais e produtos permanentes. Os produtos sacrificiais são removidos
junto com a tinta e precisam ser reaplicados, já os sistemas permanentes não
são retirados durante o processo de limpeza e podem suportar vários ciclos
de limpeza. Os produtos utilizados para fornecer uma barreira antipichação
191

são baseados em ceras, poliuretano, polissacarídeos, resinas à base de


silicone, e polímeros fluorados; recentemente, híbridos organo-inorgânicos,
materiais nanocompósitos e fluorosurfactantes também foram propostos
como sistemas antipichação.

Já Moura (2017), também considera sistemas semi-permanentes,


sendo estes os produtos que podem ser aplicados em várias camadas e que
são eliminados após alguns (dois ou três) ciclos de limpeza. De acordo com
Moura (2014), as ceras e poliuretanos têm uma durabilidade limitada e
podem induzir uma diminuição substancial na permeabilidade ao vapor de
água, dessa maneira, outros produtos têm sido estudados, tais como
fluoroalquilsiloxanos e produtos híbridos organo-inorgânicos. Estes
produtos têm demonstrado um bom desempenho em materiais porosos
devido à sua capacidade de gerar uma baixa energia de superfície que impede
a absorção de água e tinta e porque permitem a difusão do vapor de água.

A geração de baixa energia superficial é interessante uma vez que


limita a adesão do grafite à superfície, facilitando assim sua remoção e
também a impermeabilização do substrato (GOMES, DIONÍSIO; POZO-
ANTONIO 2017). Em contraste, para Neto et al. (2015), o revestimento
de proteção deve ter boa aderência à superfície de concreto e, portanto, uma
alta tensão superficial do substrato com revestimento de proteção
antipichação. Quando a superfície de concreto é tratada com um produto
que repele água, as propriedades de superfície mudam de hidrofílica para
hidrofóbica, impedindo que as gotículas de água penetrem no concreto
deixando a superfície aberta apenas para a difusão de gases. A Figura 1,
192

ilustra o papel de um tratamento de superfície para a repelência de água,


muitas vezes referida como o efeito Lótus. O ângulo de contato θ, uma
medida quantitativa do umedecimento de um sólido por um líquido,
corresponde ao ângulo entre uma gota de líquido na interface
líquido/gás/sólido. Para um material hidrofílico como o concreto, muitas
vezes é considerado que o ângulo de contato é zero.

Figura 1 – Diferença entre um material hidrofílico e um hidrofóbico


considerando o ângulo de contato (ɵ): material hidrofílico (ɵ < 90°) e
hidrofóbico (ɵ > 90°).

Fonte: NETO et al.,2015.

A durabilidade do concreto será maior quanto menor for sua


capacidade de absorção de água, seu grau de carbonatação e sua
permeabilidade ao cloreto. O controle do fluxo de água na superfície do
concreto é particularmente importante porque, ao não entrar na água, a
reação de carbonatação não ocorre, já que o dióxido de carbono e os
cloretos só penetram no interior do concreto sendo transportados pela água
(NETO et al., 2015). Os revestimentos antipichação contribuem, portanto,
193

para retardar a corrosão do concreto, desempenhando uma função


secundária.

Desta maneira, segundo Barata (2014), para um revestimento


protetor antipichação devem esperar-se os seguintes requisitos ou
propriedades:

● Permeabilidade ao vapor de água, ou respirabilidade;

● Estabilidade química e fotoquímica;

● Repelentes a óleo e água;

● Não criarem brilho ou lustro, quando aplicados no substrato;

● Não existirem diferenças na sua aparência, comparativamente com


áreas onde não foi colocado produto;

● Não sofrerem alteração da sua cor;

● Envelhecerem uniformemente.

● Resistência a ciclos de pintura/limpeza, para evitar a necessidade de


remover, reparar ou reaplicar o tratamento.

Entretanto, os poliuretanos mudam a cor das superfícies do


material e criam uma barreira à passagem do vapor de água, contribuindo
para o fenômeno de carbonatação. Por este motivo, os revestimentos
antipichação à base de poliuretano não são adequados para materiais
porosos, pois têm uma durabilidade relativamente baixa e, em alguns
194

casos, podem até danificar o substrato. Outra desvantagem é sua baixa


resistência à luz UV, pois a longa exposição solar faz com que o
revestimento fique amarelo, mudando sua cor. Apesar destas
desvantagens, os poliuretanos permitem ciclos múltiplos de limpeza.
Contudo, novos materiais vêm sendo investigados de maneira a
contornar as desvantagens apresentadas. Dessa maneira, estudos mais
recentes indicam que os polímeros fluorados e os fluoroalquilsiloxanos
proporcionam proteção antipichação devido a sua baixa energia
superficial, alta resistência à radiação solar e UV, permeabilidade ao vapor
de água e uma maior durabilidade para os revestimentos. Assim, é
possível obter revestimentos permanentes antipichação com elevada
resistência aos vários ciclos de limpeza (MOURA, 2017).

O uso de produtos sacrificiais à base de ceras ou silicones não reduz


a permeabilidade ao vapor de água, como os produtos de poliuretano, e por
esse motivo, são mais adequados para substratos porosos (MOURA, 2017).
No entanto, esses revestimentos quando expostos à radiação ultravioleta
deterioram-se em um curto intervalo de tempo, podendo sofrer
escurecimento, processo este resultante da adesão de contaminantes às
superfícies, sendo necessária uma reaplicação depois de cada ciclo de
limpeza. A formação de múltiplas camadas devido a reaplicação pode, em
certos casos, originar declínios de permeabilidade (BARATA, 2014).

Os produtos semi-permanentes, conforme exposto


anteriormente, são produtos que duram poucos ciclos de limpeza. Estes
são constituídos de poliésteres, acrílicos ou epóxi e são resultantes da
195

combinação de um tratamento permanente e de um tratamento


sacrificial. A nanossílica incluída em produtos à base de polímeros
orgânicos melhora algumas das propriedades dos revestimentos, em
particular a dureza, a estabilidade química e térmica, a resistência aos raios
UV, e a transparência. Estudos ainda estão sendo elaborados a respeito
da inclusão de nanopartículas em revestimentos antipichação (MOURA,
2017).

De acordo com Barata (2014) os tratamentos à base de silício,


incluindo os silanos, formam uma camada protetora com baixa
capacidade de absorção de água e elevada permeabilidade ao vapor de
água. Os poros do substrato mantêm-se abertos e a água é repelida devido
à hidrofobicidade dos grupos alquil.

A eficiência dos revestimentos é influenciada por diversos fatores


(BARATA, 2014):

● As características físico-químicas dos polímeros;

● A natureza físico-química dos substratos: composição,


porosidade e distribuição do tamanho dos poros, em que
estas duas últimas propriedades afetam diretamente o
comportamento dos produtos protetores antipichação;

● A forma de aplicação dos produtos (pintura, capilaridade,


entre outros);
196

● A profundidade que os produtos alcançam dentro da


matriz porosa do material: materiais mais porosos tendem
a tornar a proteção anti-graffiti menos eficiente, visto que o
material penetra no substrato e impede a formação da
barreira protetora contra as pinturas;

● O tipo de marcadores ou tintas em spray utilizadas nas


pinturas.

O estudo conduzido por Neto et al. (2014), permite verificar que a


aplicação de revestimentos antipichação em concreto proporciona a
diminuição da penetração da água por capilaridade e por imersão, não
impede a penetração de CO2 mas diminui a profundidade de carbonatação
e facilita a remoção dos graffiti sem alterar as propriedades relacionadas
com absorção de água à pressão atmosférica da sua superfície.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resultado, foram selecionados oito artigos e uma tese de


doutorado que estavam de acordo com este estudo. Destes oito artigos, um
foi excluído por apresentar informações já apresentadas anteriormente e
mostrar-se desatualizado com relação ao estudo proposto. Deste modo, sete
artigos e uma tese foram incluídos, sendo cinco artigos publicados em inglês
e dois não possuindo licença livre, fazendo-se necessário a utilização de
conta institucional para sua leitura.
197

Após a realização da busca de dados, utilizando os critérios de inclusão


e exclusão, foram encontrados oito estudos, artigos e tese de doutorado, nas
bases de dados. Desses, três estudos analisaram as propriedades dos
revestimentos antipichação tendo o concreto como substrato (BARATA.
2014; NETO et al., 2014; NETO et al., 2015) e outros dois artigos estudam
os revestimentos antipichação em substratos porosos e altamente porosos
(MASIERI; LETTIERI, 2017; MOURA, 2014). Os estudos de Gomes,
Dionísio e Pozo-Antonio (2017) e Gallois (2015) descrevem o fenômeno
de pichação e os seus prejuízos para as cidades de todo o mundo,
identificando os procedimentos preventivos como as melhores práticas
atuais para o combate à pichação.

No estudo feito por Masieri e Lettieri (2017) foram expostos os


materiais comumente utilizados para a realização das pichações e Barata
(2014) declara que cerca de 80% das pichações são realizados com tinta
spray e marcadores, contribuindo para a delimitação do escopo de pesquisa
com relação ao material a ser removido da superfície. Sendo de grande
importância o conhecimento da tinta e do substrato para a escolha do
método de remoção e para o conhecimento da interação entre o
revestimento, o substrato e a tinta a ser removida.

Os mecanismos de proteção destes revestimentos são descritos em


Barata (2014) e Moura (2014), destacando a porosidade como propriedade
fundamental para o correto funcionamento dos protetivos antipichações, o
estudo destes dois autores ainda destacam as propriedades, bem como
desvantagens dos principais materiais utilizados para a produção dos
198

revestimentos antipichação. Permitindo um direcionamento da aplicação


desses compostos em diferentes substratos. Já Neto et al. (2015) descreve
de maneira detalhada os mecanismos de proteção dos revestimentos tendo
o concreto como substrato.

Os tipos de revestimento são classificados por Moura et al. (2017),


Masieri e Lettieri (2017) de acordo com sua durabilidade em sacrificiais,
semipermanentes e permanentes. Essa classificação também foi citada nos
demais trabalhos estudados.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, nos trabalhos estudados, consegue-se por Gomes,


Dionísio e Pozo-Antonio (2017) e Gallois (2015) definições do termo grafitti
e o que vem a ser esse fenômeno que se expressa em todo mundo. Os
trabalhos de Barata (2014), Masieri e Lettieri (2017), discorrem sobre a
pichação como uma maneira de expressão e mesmo como uma forma de
arte das camadas mais abastadas da sociedade, já o trabalho de Moura (2014)
traz uma visão mais específica da pichação como um processo que se
distingue da arte por ser ilegal e não contribuir esteticamente para as
construções onde são aplicadas.

A composição das tintas e dos revestimentos foram amplamente


discutidos, apresentando seus efeitos e interações com os substratos.
Conclui-se através dos trabalhos de Moura (2017) e Barata (2014) que a
porosidade é de fundamental importância para a formulação de um
revestimento antipichação uma vez que o objetivo é impedir a penetração
199

das tintas utilizadas na pichação para o interior do substrato. Através dos


trabalhos destes autores, constata-se a necessidade, dos testes de qualidade
dos revestimentos com relação à degradação por raios UV, permeabilidade
ao vapor d’água e durabilidade dos revestimentos por ciclo de limpeza.
Sendo este último, critério para a classificação destes produtos antipichação.

Segundo Neto et al. (2015) é necessário atentar-se às diferenças de


energia superficial do sistema substrato-revestimento-pichação. Além disso,
os trabalhos deste autor permitem concluir que esses produtos antipichação
proporcionam, além da proteção contra a pichação, a proteção contra o
processo corrosivo do concreto, aumentando sua durabilidade e impedindo
que outros problemas, como a carbonatação, ocorram neste material.

REFERÊNCIAS

BARATA, A. C. S. Efeito dos sistemas de proteção anti-graffiti na


durabilidade do betão. 2014. Tese de Doutorado.

GALLOIS, C. J. S. A pichação de bens culturais como problema de


conservação urbana. Anais do 7º Seminário Mestres e Conselheiros:
Agentes Multiplicadores do Patrimônio." Patrimônio e Cidades”. Belo
Horizonte: IEDS, Instituto Metodista Isabela Hendrix, UFMG, IEPHA,
IPHAN, 2015.

GOMES, V.; DIONÍSIO, A.; POZO-ANTONIO, J. S. Conservation


strategies against graffiti vandalism on Cultural Heritage stones: Protective
200

coatings and cleaning methods. Progress in Organic Coatings, v. 113, p. 90-


109, 2017.

MASIERI, M.; LETTIERI, M. Influence of the distribution of a spray paint


on the efficacy of anti-graffiti coatings on a highly porous natural stone
material. Coatings, v. 7, n. 2, p. 18, 2017.

MOURA, A., FLORES-COLEN, I., DE BRITO, J., DIONISIO, A. Study


of the cleaning effectiveness of limestone and lime-based mortar substrates
protected with anti-graffiti products. Journal of Cultural Heritage, v. 24, p.
31-44, 2017.

MOURA, A. R. B. Study of the effectiveness of graffiti removal techniques


and anti-graffiti coatings in porous materials. 2014.

NETO, E., SOUTO, A., CAMÕES, A., BEGONHA, A., CACHIM, P.


Durabilidade do betão aparente com proteção antigraffiti. 2014.

NETO, E., SOUTO, A., CAMÕES, A., BEGONHA, A., CACHIM, P.


Effects of anti-graffiti protection on concrete durability. Key Engineering
Materials. Trans Tech Publications Ltd, 2015. p. 517-526.
201

Sobre os Autores
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