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Curso de Psicologia
Projeto de Pesquisa em Psicologia
Rio de Janeiro
2023
SUMÁRIO
Resumo.................... …………………………………………………………..3
Introdução..................………………………………………………………….3
Metodologia………………..................................….………………….………6
Considerações finais...……....................................……………………………22
Referências.........................................................................................................23
• RESUMO
O perfeccionismo, socialmente, possui uma identificação ambígua, uma vez que pode ser
utilizado tanto como qualidade quanto como um defeito, dependendo das conseqüências que essa
característica de personalidade ocasiona na vida do indivíduo. De acordo com a variedade de
dimensões acerca do perfeccionismo é possível encontrar literaturas que demonstram as
conseqüências que esse constructo traz a saúde mental dos indivíduos, as suas influências e suas
relações com psicopatologias. Diante disso, esse estudo tem como objetivo fazer uma análise
destas literaturas, por meio de uma revisão integrativa, e demonstrar quais os efeitos que o
perfeccionismo tem sobre a saúde mental do indivíduo. Dessa maneira, foram executadas busca
de literaturas nas bases de dado Scielo, Pepsico e Google Acadêmico com as palavras chaves
“perfeccionismo”, “saúde mental”, “estresse”, “transtornos”, “transtornos mentais”, e
“psicopatologia”. Foram encontrados 11.220 artigos inicialmente, mas a partir dos critérios de
exclusão e inclusão aplicados, 11.205 foram descartados. Assim, 15 artigos compuseram a
amostra final. Os resultados obtidos demonstram que o perfeccionismo pode ser o mantenedor
ou fator de risco para diversas psicopatologias e desajustamentos psicológicos, como
depressão, ansiedade, TOC, transtornos alimentares, entre outros, assim como também pode
ser uma característica que motiva aos indivíduos buscar o melhor desempenho, terem mais
motivação, maior satisfação de vida, maior auto-estima, entre outros também.
• INTRODUÇÃO
A OMS (2022) retrata a saúde mental com valor intrínseco e fundamental na vida dos seres
humanos. Os sentimentos, pensamentos e comportamentos são diretamente influenciados pela
saúde mental, assim como tomada de decisões, construção de relacionamentos e moldar o mundo
em que vivemos também. O indivíduo que possui saúde mental é capaz de se conectar,
funcionar, enfrentar e prosperar, já que tem habilidade para perceber as próprias capacidades,
aprender e trabalhar bem e contribuir ativamente para as comunidades (OMS, 2022).
Por outro lado, uma vez que a saúde mental está prejudicada, os comportamentos podem ser
alterados, os pensamentos e sentimentos podem ser perturbados, a saúde física também pode ser
comprometida, assim como os relacionamentos, educação e meios de subsistência (OMS, 2022).
A saúde mental não é definida pela ausência ou presença de transtorno mental, já que os
indivíduos não são nem mentalmente saudáveis nem doentes mentais. A saúde mental é um
contínuo complexo desde um ótimo estado de bem-estar até estados debilitantes de grande dor e
sofrimento emocional. Ela é determinada por relações complexas dos fatores individuais,
familiares, comunitários e estruturais que mudam ao passar do tempo e espaço que variam pelas
diferentes vivencias dos indivíduos (OMS, 2022). Uma das vertentes segundo as literaturas que
pode afetar a saúde mental é o traço perfeccionista nos indivíduos.
O perfeccionismo, socialmente, possui uma identificação ambígua, uma vez que pode ser
utilizado tanto como qualidade quanto como um defeito, dependendo das conseqüências que essa
característica de personalidade ocasiona na vida do indivíduo. Esse constructo é complexo e
caracterizado pelo empenho para alcançar a perfeição e determinação de padrões de desempenho
extremamente elevado com avaliações críticas de forma excessiva tanto para o seu próprio
comportamento como para o comportamento de outra pessoa (STOEBER, 2017).
Na literatura, podemos encontrar evidências que demonstram as multidimensões que o
perfeccionismo aborda. As primeiras pesquisas relacionadas ao perfeccionismo são
fundamentadas pelos escritos dos teóricos psicanalistas Horney e Adler.
Horney (1950) retrata que o perfeccionismo é uma inclinação da personalidade altamente
neurótica sem ter quaisquer aspectos positivos, mas Adler relata que a busca pela perfeição,
acontece de maneira inata e que pode ser exteriorizada de formas diferentes de acordo com a
subjetividade do indivíduo que determina como atingir ou tentar atingir a perfeição (HALL,
2000).
Hall (2000) expõe que Adler também relata que a busca pela perfeição é uma meta de vida
impulsionada pela necessidade de superar a inferioridade e pela pressão do desejo de ser
superior.
Akay-Sullivan, Sullivan e Braton (2016) destacam que Adler pode ser o pioneiro a retratar o
perfeccionismo através de uma visão multidimensional pontuando aspectos adaptativos e
desadaptativos em relação à saúde mental. Do mesmo modo, Hamachek (1978) também propôs o
perfeccionismo com duas formas diferentes. Segundo ele, existia uma forma positiva a qual ele
chamava de “perfeccionismo normal” em que os indivíduos gostavam de seguir o seu empenho
perfeccionista e outra forma que era negativa chamada de “perfeccionismo neurótico” em que os
indivíduos sofriam com os esforços perfeccionistas.
Com o passar do tempo, alguns outros autores expuseram opiniões parecidas sobre a
possibilidade de variação das dimensões do perfeccionismo. Frost, Marten, Lahart e Rosenblate
(1990) em seu estudo afirmam que o perfeccionismo possui diferentes dimensões e citam:
padrões pessoais, preocupação com os erros, dúvidas sobre ações, expectativas dos pais, crítica
dos pais, e organização. Já Hewitt e Flett (1990, 1991) publicaram que o perfeccionismo possui
três dimensões, que são elas: auto-orientado (baseado na crença de buscar a perfeição e ser
perfeito), orientado para os outros (baseia-se na crença de que os outros indivíduos precisam ser
perfeitos e buscar a perfeição), e socialmente prescrito (baseado em crenças que precisam buscar
a perfeição e ser perfeito para que os outros tenham a expectativa correspondida, ou seja, os
perfeccionistas socialmente prescritos acreditam que os outros esperam a perfeição deles).
Frost ET al. (1993) conclui em seu estudo que o perfeccionismo possui duas dimensões de ordem
superior. A primeira dimensão está relacionada a padrões pessoais, organização, perfeccionismo
auto-orientado e perfeccionismo orientado para o outro, sendo considerada como perfeccionismo
adaptativo e assim denominada como esforço positivo. Já a segunda dimensão se relaciona com
preocupação com erros, dúvidas sobre as ações, expectativas e críticas parentais e
perfeccionismo socialmente prescrito, sendo considerado como perfeccionismo desadaptativo e
denominado como preocupações de avaliação desadaptativas.
Com a variedade de nomenclaturas das diversas dimensões do perfeccionismo, com o objetivo de
facilitar o entendimento, neste presente trabalho usaremos os termos perfeccionismo adaptativo e
perfeccionismo desadaptativo.
De acordo com a definição de saúde mental pela OMS e a variedade de dimensões acerca do
perfeccionismo, é possível encontrar literaturas que demonstram as conseqüências que esse
constructo traz a saúde mental, as suas influências e suas relações com psicopatologias. Diante
disso, esse estudo tem como objetivo fazer uma análise destas literaturas, por meio de uma
revisão integrativa, e verificar quais os efeitos que o perfeccionismo tem sobre a saúde mental do
indivíduo.
• MÉTODO
Para realizar este estudo foi adotado o método de revisão bibliográfica que consiste na apuração
de materiais científicos que já foram escritos e publicados por outros pesquisadores sobre o
assunto específico desta pesquisa. Para o levantamento da literatura foram utilizadas as
plataformas on-line Scielo, Pepsic e Google Acadêmico, somando o total de artigos encontrados
nas 3 (três) plataformas, totalizaram-se 11.220 (onze mil duzentos e vinte) artigos.que
abordavam a temática de perfeccionismo. As palavras chaves utilizadas foram
“perfeccionismo”, “saúde mental”, “estresse”, “transtornos”, “transtornos mentais”, e
“psicopatologia”, os idiomas escolhidos foram “Português”, “Inglês” e “Espanhol”. Foi
realizada uma leitura breve sobre os títulos dos artigos e uma leitura investigativa dos
resumos dos artigos analisando se haviam informações a respeito da temática central e se
estavam de acordo com o objetivo da pesquisa, após esse processo, dos cento e treze (113)
artigos encontrados na base de dados Scielo, foram selecionados seis (6) artigos, já no Pepsic
foram utilizados um (1) artigo, e no Google Acadêmico foram eleitos oito (8) artigos que
corresponderam de maneira efetiva aos efeitos que o perfeccionismo causa na saúde mental
dos indivíduos, totalizando assim 15 artigos para ser usados como referências desta pesquisa.
2008 1 6,66%
2009 1 6,66%
2011 1 6,66%
2014 1 6,66%
2015 2 13,33%
2016 2 13,33%
2017 2 13,33%
2021 5 33,33%
Pesquisa de
Ano Revisão Bibliográfica
Campo
2008 - 1
2009 - 1
2011 - 1
2014 - 1
2015 - 2
2016 - 2
2017 1 1
2021 1 4
Total 2 13
Já na tabela 6, mostra quantos artigos selecionados para esse estudo retratam da mesma
influência do perfeccionismo sobre a saúde mental.
Tabela 6: Quantidades evidenciadas de influências do perfeccionismo na saúde mental
Pinto (2016) em seu estudo baseado em pesquisa de campo de caráter exploratório contou com a
participação de 300 profissionais da área da saúde que responderam uma bateria de questionário
de autorresposta, incluindo a Escala Multidimensional de Perfeccionismo de Hewitt e Flett –
versão reduzida e obteve como resultado uma correlação significativa e moderada entre a
ansiedade, depressão e stress com o perfeccionismo.
Fraga (2017) concluiu em seu estudo baseado em 8 artigos relacionando perfeccionismo e suas
diferentes dimensões com domínios da satisfação de vida que os indivíduos perfeccionistas
adaptativos ou saudáveis possuem uma maior satisfação de vida, já os indivíduos perfeccionistas
mal-adaptativos ou não saudáveis apresentam uma correlação mais negativa, assumindo assim
que o perfeccionismo é um preditor da satisfação de vida.
Através de um estudo transversal e analítico, Ferreira et al (2017) concluíram que existe uma
relação significativa entre o perfeccionismo, pensamento repetitivo negativo e a sintomatologia
obssessiva-compulsiva.
Por intermédio de um estudo de campo com uma amostra de 669 participantes, Silva (2021)
constatou que a preocupação nas duas dimensões do perfeccionismo influencia no
desajustamento emocional e que essas dimensões são relacionadas significativamente com a
ansiedade, depressão e estresse. Nesse estudo, a dimensão Preocupações avaliativas é
equivalente ao perfeccionismo desadaptativo e a dimensão Esforço Pessoal é relacionado ao
perfeccionismo adaptativo.
Inocente et al em seu estudo comprovou que o perfeccionismo mal adaptativo explica uma
porcentagem da má saúde mental dos cirurgiões dentistas, baseado em uma pesquisa de campo
de 161 dentistas de São Paulo e Rio de Janeiro.
Oliveira et al (2016) concluíram em seu trabalho que o perfeccionismo possui correlação com o
distress psicológico e a depressão, principalmente o perfeccionismo auto-orientado e o
perfeccionismo socialmente prescrito.
Fortes et al (2014) concluíram em seu estudo de pesquisa de campo, com a participação de 368
adolescentes do sexo masculino, que o perfeccionismo está relacionado com os transtornos
alimentares uma vez que os meninos participantes possuem altos traços perfeccionistas. Os
sintomas do transtorno alimentar estão associados ao medo de não obter sucesso, ao pensamento
de estar sendo avaliado de forma rigorosa e a busca pela perfeição, que são característicos das
pessoas perfeccionistas. (ROUVEIX M, BOUGET M, PANNAFIEUX C, CHAMPELY S,
FILAIRE E, 2010)
Maia et al (2009) em seu estudo concluiu que as amostras dos indivíduos com Transtorno
Alimentar apresentou nível significativamente alto de perfeccionismo, especificamente o
perfeccionismo socialmente prescrito.
Esses resultados são confirmados pelas literaturas que apontam a influência do perfeccionismo
sobre as perturbações emocionais. (Hamilton & Schweitzer, 2000; Hewitt & Flett, 1991;
Macedo, 2012).
Igualmente, é importante salientar que foi possível identificar na análise desses artigos a maior
incidência também do perfeccionismo socialmente prescrito como mantenedor ou o fomentador
de prejuízos na saúde mental do indivíduo. Jennifer Mata (2021) em seu estudo aponta o
perfeccionismo socialmente prescrito como moderador da sintomatologia depressiva e ideação
suicida, assim como outros estudos deste presente trabalho.
Esses resultados estão em concordância com as definições e estudos apresentados por Bieling et
al. (2004) que considerava o perfeccionismo socialmente prescrito como perfeccionismo
desadaptativo e Hewitt e Flett (1991) que certifica que a extrema necessidade da busca pela
perfeição diante aos outros pode gerar desconexão social, alienação e solidão, culminando na
ideação suicida e tentativas de suicídio. O perfeccionismo socialmente prescrito, que é uma
convicção de que os outros exigem dele padrões excessivos e expectativas irrealista (HEWITT &
FLETT, 1991), tem sido relacionado ao perfeccionismo desadaptativo por desencadear
problemas interpessoais, como o isolamento, solidão e ausência do sentimento de pertencimento,
tendo como conseqüência níveis mais altos de hostilidade e a presença de sensibilidade
exorbitante à críticas e rejeição (HEWITT EL AL., 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A partir dos resultados deste presente estudo, observou-se que o perfeccionismo pode influenciar
tanto de maneira positiva quanto de maneira negativa na saúde mental dos indivíduos. A saúde
mental é resultado da interação da vulnerabilidade do ser humano e o estresse causado por
eventos da vida e estressores crônicos. Logo, as circunstâncias em que nascem, crescem e vivem
os indivíduos diferencia a saúde mental dos mesmos (OMS, 2022).
Esse presente estudo teve como conclusão que o perfeccionismo pode ser o fomentador ou o
mantenedor de prejuízos na saúde mental, como depressão, ansiedade, transtorno alimentar,
transtorno obssessivo compulsivo, ideação suicida, desajustamento emocional, baixa auto-
estima, fenômeno do impostor, estresse e outros sintomas. Porém, também foi possível concluir
que o perfeccionismo pode ser um mantenedor para bons desempenhos e alto rendimento em
atletas e estudantes e em pessoas que buscam realizar expectativas altas, porém não possuem um
grande sofrimento psíquico caso não tenha suas expectativas realizadas.
A partir das dimensões do perfeccionismo sendo ele adaptativo ou desadaptativo foi possível
perceber também que existe um número maior de pesquisas pontuando os efeitos do
perfeccionismo desadaptativo na saúde mental e um número menor de material de estudos sobre
a influência do perfeccionismo adaptativo. Baseado nisso, faz-se importante e necessário para
maior conhecimento do assunto ampliar as pesquisas sobre o perfeccionismo adaptativo e suas
influencias.
Na análise dessas literaturas também foi possível concluir o quanto o tema “perfeccionismo e
saúde mental” não tinha tantas pesquisas, mas com o passar dos anos, mais especificamente a
partir de 2021 houve um aumento expressivo. Tal conclusão permitir levantar o questionamento
para futuras pesquisas e estudos do possível motivo para o aumento do interesse sobre o assunto.
Além disso, é notório um público-alvo e localidades restritas nas pesquisas encontradas. Os
estudos encontrados em sua maioria são no Brasil e em Portugal, contando com a participação
majoritária de estudantes, jovens e profissionais da saúde, não abrangendo crianças, idosos ou
outros profissionais. Como sugestão para estudos futuros, sugere-se que haja uma maior
abrangência de público-alvo para examinar se existe alguma influência e relação do
perfeccionismo com a qualidade da saúde mental desses indivíduos, assim como é viável
também que identifique o motivo da incidência de pesquisas sobre o assunto nesses dois países e
também ampliar as investigações a outras localidades e culturas.
Em suma, é extremamente necessário mais pesquisas sobre a relação do perfeccionismo com a
saúde mental e suas influências para que haja maior conhecimento sobre e também para que seja
possível criar medidas de prevenção e também ser mais assertivos nos planos de tratamento para
os indivíduos que tem alguma conseqüência negativa devido a este constructo.
REFERÊNCIAS:
19) SILVA, Maria Teresa Loureiro Amaral. Ser Perfeito ou Ser Real? O Perfeccionismo no
Desajustamento Emocional: O Efeito Mediador da Preocupação. Dissertação (Mestrado
em Psicologia Clínica e da Saúde) – Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias, Escola de Psicologia e Ciência da Vida. Lisboa, 2021
20) Soares, A. K. S., Nascimento, E. F. do, & Cavalcanti, T. M. (2021). Fenômeno do
Impostor e Perfeccionismo: Avaliando o Papel Mediador da Autoestima. Estudos