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“Eles não mataram só o João, mataram o pai, uma mãe, uma irmãzinha de 5 anos” - Neilton
Pinto, pai de João Pedro Mattos Pinto, 20 de maio de 2020.
O que aconteceu com João Pedro tem nome: é genocídio. Por ser um jovem negro, seu
corpo foi alvo fácil! Nosso manifesto é por João Pedro e também por todas as pessoas que
estão na mira do genocídio! Não estamos, nem ficaremos calados diante do genocídio!
Exigimos providências!
Este crime bárbaro é mais um, que por comover todo país, torna-se símbolo da
necropolítica colocada em prática pelo Estado brasileiro, capaz de manter violentas
operações policiais em favelas e periferias mesmo em tempos da mais mortal pandemia
que o país da viveu. Pedro e sua família obedeciam a orientação do Governador Witzel e
dos organismos internacionais de saúde, como forma de se proteger da Covid19. Estavam
em casa. Mas para famílias negras no Brasil, a casa, a rua, a comunidade não são sinônimo
de segurança.
Construímos este manifesto a várias mãos. Mãos essas que nas últimas décadas vêm
apontando o quão excludente e genocida é a sociedade brasileira. Seguiremos escrevendo
a história desta luta com todas e todos que também não compactuam com esse cotidiano
de barbárie!
Quando Elza Soares cantou "A carne mais barata do mercado é a carne NEGRA", a letra já
nos sinalizava para um futuro inconstante que envolve todos os moradores de
comunidades e favelas do Estado do Rio de Janeiro. Negros, periféricos, marginalizados,
alvos fáceis na mira do sistema, que cotidianamente busca nos exterminar. João Pedro
Mattos Pinto, 14 anos, assassinado enquanto brincava com amigos dentro de casa no
morro do Salgueiro-São Gonçalo. Tal violência cotidiana assombra os morros favelas e
guetos no Brasil. Aliás, a palavra violência há muito tempo deixou de ser uma ação
esporádica e passou a ser a resposta primeira do Estado sobre a população de maiorias
minorizadas, mas representativas nos setores econômicos e sociais. Um brutalidade que,
segundo o “Atlas da Violência 2019”, organizado pela Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, recai de forma incisiva sobre a
população negra e pobre.
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Grande do Norte, o levantamento expõe o índice de 87 mortos a cada 100 mil habitantes
negros, mais do que o dobro da média nacional. No Ceará, verifica-se um índice de 75,6; em
Pernambuco, 73,2; em Sergipe, 68,8; e, em Alagoas, registra-se um índice de 67,9.
Não muito diferente das demais localidades, o Rio de Janeiro, na região sudeste, é um dos
que mais mata no Estado Brasileiro, e o histórico de violências do estado já é conhecido por
boa parte da população periférica. Histórico esse que em tempos de pandemia vem
crescendo a cada dia. Só entre os dias 15 e 19 de março de 2020, início do isolamento
social, os agentes de segurança pública do estado mataram 69 pessoas. Entretanto, as
mortes em operações monitoradas, que tiveram uma drástica queda no começo da
epidemia (-82,6% em março), superaram as do ano passado em abril e maio (aumento de
57,9% em abril e 16,7% até 19 de maio). Os dados indicam que, durante a epidemia, nos
meses de abril e maio, as polícias do Estado do Rio de Janeiro usaram mais força letal em
operações policiais do que em 2019, quando o Rio de Janeiro teve o recorde de 1.810
mortes causadas por intervenção policial.
João Pedro, preto e morador de favela, representa a esperança interrompida. Assim como
boa parte dos jovens brasileiros, João Pedro tinha sonhos, queria ser advogado e era "o
amor" de uma mãe, de um pai, de uma irmã, de uma família e uma comunidade inteira, que
assim como o jovem negro João foram atravessados pela "bala” do Estado do Rio de
Janeiro.
João nos deixou e foi deixado pelo Estado omisso e descomprometido com a superação da
desigualdade social, política e econômica. E assim como outros jovens negros, para
alguns, agora é estatística, mas para nós é um jovem negro amado pelos amigos e a
família. Por isso, ao homenagearmos João Pedro Mattos Pinto, lembraremos e
acolheremos todas as famílias e amigos que tiveram suas histórias aniquiladas pela mão
do Estado. Acolheremos com afeto todas e todos nós, nossos medos, mas também nossa
capacidade de nos levantar do chão, onde querem nos deixar. Não ficaremos! Somos
herdeiras e herdeiros de quem não sucumbiu ao terror. De quem, acorda cedo, sonha,
trabalha e batalha o dinheiro para seu sustento. Faremos por João Pedro, Ágatha, Renan,
Iago, João Vitor, Rodrigo e tantos outros corpos pretos a oração, ação com arte e confiança
na luta que só nossa unidade construirá. Somos a maioria da população brasileira, segundo
país de gente negra no mundo. Seremos capazes de nos abraçar de novo, de
transformamos o luto em luta e de gritar a uma só voz: Nossos corpos e nossas vidas têm
voz!
“Minha luta por memória é UM sorriso lindo. Um sonho foi embora junto com meu filho
Daniel naquele dia. Só trocaria minha vida pela dele. Hoje, minha luta é abraço, acolher, unir
força, foco e fé na justiça pelos nossos filhos. Sonhos destruídos por nada” - Joseane
Martins de Lima Ferreira, mãe de Daniel Martins Nunes de Oliveira, morto no Km 32, Nova
Iguaçu em 26 de maio de 1990.
Exigimos providências!
A Coalizão Negra Por Direitos, junto com iniciativas que articulam e assinam este ato,
enviou às autoridades do Rio de Janeiro requerimentos solicitando resoluções sobre a ação
policial do Estado que resultou na morte de 13 pessoas em operações realizadas nos
últimos dias no Complexo do Alemão. João Pedro Mattos Pinto é uma delas. Notificamos
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As vozes, narrativas e sonhos, ressoam uns nos outros! E ainda que o Estado nos faça de
alvos, continuamos em luta, assim nos ensina Lélia Gonzalez, “trazemos conosco a marca
da libertação de todos e todas, portanto nosso lema deve ser: organização já!”. O genocídio
precisa ser nomeado! Para conhecer a campanha que exige das mídias o uso do termo
genocídio para as mortes da população negra acesse alvosdogenocidio.org.
*Obrigatório
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