Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
forças alternativas que se enfrentam na nossa atual ordem social de dominação e
subordinação estrutural a um sistema perverso representado pelas políticas neoliberais
ditadas pelo capital financeiro. Essas políticas nos levaram à inaceitável concentração de
renda nas mãos de 1% da população em detrimento dos demais 99%, e ao desemprego e
fome para milhões de brasileiros. Associe-se a isto os crimes contra a saúde pública
perpetrados no governo anterior e que provocaram mortes precoces e evitáveis em quase
um milhão de brasileiros durante a pandemia que eclodiu em fevereiro de 2020, como
consequência das políticas de saúde e econômicas errôneas adotadas pelos governos desde
o golpe de Estado de 2015-2016, até 2022. Isto seria o suficiente para nem discutir
qualquer entrega do patrimônio da Universidade para ser gerenciado por essa empresa,
nesse contexto.
Aceitar um contrato com a EBSERH é uma clara tentativa de acabar com a
autonomia universitária, avançar na reforma do Estado e do Sistema Único e Universal de
Saúde pela via neoliberal de construção de um Estado mínimo com a entrega do setor
púbico para empresas de capital público, mas de direito privado, ou mesmo para empresas
de capital privado como está na proposta de reforma administrativa em discussão no
Congresso.
Pela minuta do contrato apresentado, e examinando os contratos firmados com
outras universidades, a UFRJ “ALIENA” seus bens, cede, transfere seu patrimônio, para
ser gerenciado por essa empresa pública de direito privado para, de forma “mascarada”,
justificar essa entrega como sendo necessária para melhorar a “eficiência da gestão” de
nosso complexo hospitalar, como se a Universidade fosse, por definição, ineficiente para
administrar seus bens e mais grave do que isto, afirmando que esta alienação do
patrimônio “não fere a autonomia universitária”.
2
suas unidades de saúde e sua integração com todas as unidades acadêmicas de ensino e
pesquisa da UFRJ.
3
Nossa Lei Maior preocupa-se em definir o conteúdo da autonomia das
universidades, que abrange “a autonomia didático-científica”, ou seja, suas atividades-fim
e a "autonomia administrativa, financeira e patrimonial", suas atividades-meio.
4
Cabe acentuar que a Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
linhas mestras e os princípios gerais da educação nacional, implementando determinação
da Constituição de 1988, ao explicitar o conteúdo da autonomia universitária não se afasta
do sentido acima mencionado, construído pela doutrina e inequivocamente abrigado pela
Constituição. Ao menos quanto ao conteúdo básico da autonomia universitária, ainda que
dando tratamento minucioso ao preceito constitucional, respeita a amplitude e a extensão
da autonomia universitária, consoante se pode inferir do que dispõe, exemplificando, o
artigo 53, incisos I a VI e seu parágrafo único.
Dispõe o referido artigo 53:
"Art. 53 - No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades, sem
prejuízo de outras, as seguintes atribuições:
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educação superior
previstos nesta Lei, obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
respectivo sistema de ensino;
II - Fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais
pertinentes;
III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção
artística e atividades de extensão;
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade institucional e as exigências
do seu meio;
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em consonância com as
normas gerais pertinentes;
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
Parágrafo único - Para garantir a autonomia didático-científica das universidades
caberá aos seus colegiados de ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários
disponíveis sobre:
I - Criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
II - Ampliação e diminuição de vagas;
III - elaboração de programação dos cursos;
IV - Contratação e dispensa de professores;
VI - Planos da carreira docente.
5
no poder de autodeterminação e auto normação relativos à organização e funcionamento
de seus serviços E PATRIMÔNIO PRÓPRIOS, inclusive no que diz respeito ao pessoal
que deva prestá-los, e à prática de todos os atos de natureza administrativa inerentes a tais
atribuições e necessários à sua própria vida e desenvolvimento.
No que concerne à disciplina do pessoal docente e técnico-administrativo de ensino,
a autonomia administrativa abrange o estabelecimento do respectivo quadro, a definição
da carreira, os requisitos para o ingresso, a admissão e a nomeação dos docentes e
servidores administrativos, a definição do estatuto do pessoal docente etc. sem ferir outros
princípios constitucionais.
Cumpre ao Poder Público, por força de preceitos expressos na Constituição
Federal, criar e manter a universidade, porquanto é seu dever promover e incentivar a
educação e assegurar o direito ao ensino (art. 205), promover o desenvolvimento científico,
a pesquisa e a capacitação tecnológicas (art. 218), garantir o desenvolvimento nacional
(art. 3º), forçoso é concluir-se que a atribuição de recursos financeiros à universidade é
dever constitucional do ente político que institui uma universidade. Tem esta atribuição
evidente caráter instrumental dessa autonomia-meio. Sem recursos próprios, previamente
determinados e intocáveis, torna-se irremediavelmente inviável a autonomia financeira.
Uma vez atribuídos tais recursos pelo Poder Público competente, passa a
universidade a gerenciá-los de modo autônomo, claro está que para cumprir seus
fins e objetivos constitucionais. Em consequência, parece lógico admitir-se que tem a
universidade "direito" a um orçamento global, como forma de garantir a consecução de
seus fins e objetivos. A inexistência dessa fixação global orçamentária impede à
universidade definir, de modo autônomo, os critérios de utilização de seus recursos, o que
certamente reduz a nada, ou quase nada, a autonomia universitária.
Fica evidente portanto que a universidade não pode entregar seu
patrimônio e nem seu pessoal para serem gerenciados por uma
empresa, ainda que pública, mas de direito privado. Esta tarefa cabe
única e exclusivamente à própria universidade autônoma e como
autarquia especial que é, e que por este motivo, foi assim criada e
ASSIM A CONSTITUIÇÃO O DETERMINA.
6
jurisdição da União, o direito de as universidades serem dotadas de um orçamento anual
global e o dever de a União assegurá-lo.
Outros aspectos da autonomia de gestão financeira e patrimonial são referidos no
art. 53, VIII, IX e X: no art. 54, caput e incisos III, IV, V, VI, VII; no art. 68, 69 e 72.
Desses alguns repetem preceitos constitucionais, outros normas legais específicas relativas
à matéria.
Em suma, a autonomia de gestão financeira e patrimonial, assegurada pela
Constituição, implica o poder dever de os entes políticos, mantenedores de universidades,
de colocarem à disposição destas, todos os recursos necessários para concretizá-la.
Constitui omissão inconstitucional a não concessão, a estes entes autônomos, dos recursos
de que necessitam para cumprir seus objetivos fundamentais.
Consiste a autonomia administrativa universitária no poder de autodeterminação e
autonormação relativos à organização e funcionamento de seus serviços e patrimônio
próprios, inclusive no que diz respeito ao pessoal que deva prestá-los, e à prática de todos
os atos de natureza administrativa inerentes a tais atribuições e necessários à sua própria
7
comuns, sem infringir os preceitos constitucionais pertinentes a essas entidades de
personalidade pública."
"Porém, em face da situação, indagar-se-ia: em que consiste o regime especial das
autarquias educacionais, que são as universidades?
"A resposta está exatamente na mencionada Lei 5.540/68, a partir de seu art. 5º, a saber:
a) organização e funcionamento disciplinados em estatutos e em regimentos das
unidades que a constituem;
Em síntese, pode se dizer que a autarquia de regime especial, como soem ser as
universidades educacionais, já na vigência da Lei 5.540/68, só estão submetidas a um
controle finalístico pelo Conselho Federal de Educação, com a aprovação do Ministro de
Estado da Educação. Afora isso, regem-se, na sua plenitude, pelos seus estatutos e
regimentos próprios de cada unidade."
Enfatizo, os Estatutos e os Regimentos universitários, elaborados pela própria
instituição universitária, por força dos comandos constitucionais vigentes, constituem
legítima expressão da autonomia universitária, consagrada como garantia institucional em
nossa Lei Maior. O conteúdo desta autonomia, definido na Constituição, tem a extensão e
dimensão que a legislação recepcionada pela Constituição lhe atribui.
A Universidade é uma entidade normativa. Produz direito; suas normas integram a
ordem jurídica porque assim determinou a norma fundamental do sistema".
"Como contrapartida, a outorga constitucional exige que tais normas estejam voltadas à
otimização dos fins da universidade - ensino, pesquisa, extensão - garantindo a utilização
eficiente de recursos humanos e materiais.
"Esse o conteúdo que deve orientar a autonomia administrativa"
8
que por força de preceitos constitucionais e legais concretizam o exercício e o conteúdo da
autonomia universitária.
9
empresas de qualquer natureza. Gerir seu patrimônio e seu pessoal é
sua função Constitucional como Autarquia Especial.
Julgo também, que o orçamento para os hospitais de ensino deve vir para a
universidade a partir de um acordo tripartite entre os ministérios da Educação, da
Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação, com a participação do Ministério do
Planejamento. Cabe à universidade propor este orçamento a ser negociado
diretamente no MEC e no Congresso Nacional (Lei orçamentária anual), dentro
dos limites constitucionais e em bases estritamente técnicas e de políticas
institucionais. O decreto que criou o REHUF (Decreto nº 7.082, de 27 de janeiro de 2010,
que institui o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (REHUF),
dispõe sobre o financiamento compartilhado dos Hospitais Universitários Federais entre as áreas da
educação e da saúde e disciplina o regime da pactuação global com esses hospitais) apontou nessa
direção ao conferir aos Hospitais universitários a gerencia desses recursos
orçamentários através de unidades orçamentarias próprias, criadas na ocasião. A
gerência desses recursos orçamentários tem que ser executada pelas próprias
universidades, sem intermediação de qualquer empresa. Não cabe entregar esses
recursos para uma empresa pública de direito privado como intermediária entre o
MEC e as universidades e muito menos gerenciar esses recursos que são dos
Hospitais Universitários.
10
corrupção sempre foi combatida e onde a “busca incessante da verdade é a única
verdade possível” (Anísio Teixeira).
A luta pela autonomia universitária é de todos. A Universidade tem que
cumprir suas funções definidas pela sociedade. Só assim ela será um instrumento
da própria sociedade para transformá-la de modo contínuo.
Universidade não é Empresa e suas finalidades, BEM DFINIDAS
EM SEUS ESTATUTOS E REGIMENTOS, são diversas e conflituosas
com os objetivos de uma empresa.
11
Estado deve valer-se de sociedades empresárias sob seu controle, denominadas
genericamente empresas estatais, para exercer atividade econômica organizada para a
produção ou circulação de bens ou serviços. Para isso, demanda autorização legislativa
específica, conforme determinação do inciso XIX do art. 37 da Constituição. As demais
atividades a cargo do Estado devem ser exercidas diretamente pelos entes
federativos, através de seus diversos órgãos, ou mediante a instituição de
autarquia, associação pública ou fundação estatal, cuja criação também exige lei.
CRFB). Isso porque, conforme está explícito no art. 981 do Código Civil, as
Portanto, a Ebserh, por ser uma emprese publica de direito privado, para
prestar serviços assistenciais de saúde, não deveria estar exercendo essa função
visto que para prestar serviços de saúde existe o SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
criado com esta finalidade e que por ser público e gratuito não pode ser substituído
em sua função por uma empresa. Adicionalmente esta empresa deveria ter
patrimônio próprio, mas está utilizando patrimônio das universidades autônomas
e autárquicas sem nenhuma contrapartida para as Universidades. As
Universidades cedem seu patrimônio próprio que por obrigação constitucional tem
12
que ser gerenciado pela autarquia especial (Universidade) e não ser entregue a
uma empresa para gerenciá-lo. A empresa não tem condições de executar seus
serviços dentro da indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão. Se a sua função
estabelecida em lei é única e exclusivamente prestar serviços de saúde, não poderá exercer
atividades de ensino e pesquisa e assim descumpre a constituição pois dissocia a prestação
de serviços do ensino, da pesquisa e até da extensão pois esta última não significa apenas a
prestação de serviços de saúde.
Nos contratos que a Ebserh tem feito com as universidades que a ela aderiram, os
funcionários estatutários estão sendo alocados nos Hospitais sem que sejam cedidos
oficialmente através de publicação no diário oficial e sem a devida aquiescência por escrito
do funcionário cedido. Isto representa uma clara ilegalidade.
A Ebserh tem contratado pessoal de saúde para os hospitais a ela cedidos, com isto
ocupa vagas de servidores públicos que deveriam ser alocadas para as universidades. Já
são mais de 40.000 contratados pela EBSERH. Com isto, as universidades perderão
gradativamente seus funcionários RJUs que se extinguirão e a universidade não mais terá
funcionários para as áreas de saúde. Serão todos funcionários da Ebserh. A universidade
não mais poderá fazer seu planejamento sobre a necessidade de pessoal de saúde e seu
treinamento e administração pois estes são contratados pela Ebserh.
A situação dos professores é mais grave pois a Ebserh não pode por lei, contratar
professores e estes perderão seu campo de trabalho. Os hospitais contratados com a
EBSERH não mais são hospitais universitários pois em nada se assemelham a este conceito
claramente definidos em 1978.
13
Sessenta e três anos dos meus 81 anos de vida foram dedicados à UFRJ (Universidade
do Brasil). Contribui, junto com inúmeros professores, técnico-administrativos em ensino e
alunos, para a criação do Hospital Universitário, do Instituto do Coração Edson Saad, do
Instituto de Saúde Coletiva, do Complexo Hospitalar da UFRJ, da Coordenação de Extensão
do CCS, da Pró-reitoria de Extensão, da Pós-graduação de Clínica Médica, do Centro de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CDCT) da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de
Janeiro, do Programa Nacional de Educação e Controle da Hipertensão Arterial do Ministério
da Saúde entre outros. Não posso chegar nas últimas décadas de minha vida vendo todo o
patrimônio do Complexo Hospitalar da UFRJ, construído ao longo de todo o século XX, ser
entregue a uma Empresa de Direto Privado criada pelo Banco Mundial visando restringir a
atuação do Sistema Único de Saúde. Esse Sistema Universal, integral, hierarquizado,
construído ao longo de décadas com o esforço de gerações de profissionais de saúde,
segundo o Banco Mundial, deve deixar de ser universal para atuar apenas “focalizado” na
atenção básica de saúde deixando a atenção de alta complexidade nas mãos de empresas de
direito privado ou de organizações sociais. O que é a EBSERH que não uma empresa pública
de direito privado para gerenciar todos os Hospitais universitários e de alta complexidade do
País!.
Por este motivo decidi escrever este extenso documento para levá-lo à análise do
Conselho Universitário da UFRJ visando subsidiar a sua decisão AUTÔNOMA sobre assinar ou
não o contrato com essa empresa pública de direito privado. Esse gerenciamento de
instituições públicas por empresas de direito privado foi denominado pelo Banco Mundial de
“publicização” das instituições públicas que não podem ser privatizadas, como as
universidades públicas.
Procurei demonstrar com base na Constituição Federal, que a autonomia
universitária está gravemente ameaçada, bem como os sistemas de Educação, de Saúde e de
Ciência e Tecnologia públicos.
A universidade não pode perder a gerência de seu Complexo Hospitalar.
O que devemos exigir do governo, como uma AUTARQUIA ESPECIAL AUTÔNOMA
que somos é que o Programa REHUF, este sim, corretamente criado para que os Hospitais
universitários tenham recursos orçamentários suficientes, provindos dos Ministérios da
Saúde e da Educação e gerenciados pelas próprias universidades e que atualmente está
entregue à EBSERH, retorne para ser gerenciado pelas Universidades através de suas
unidades Orçamentárias.
14
As Universidades deveriam criar um Complexo de Hospitais Universitários
gerenciados pelas próprias universidades. Sem empresas intermediárias.
Os recursos orçamentários dos Hospitais universitários estão sendo desviados para
essa empresa administrar de modo ilegal, TANTO OS RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS
DO REHUF COMO OS RECURSOS PROVENIENTES DA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS HOSPITALARES (FUNDO NACIONAL DE SAUDE) que são das
universidades. As universidades estão perdendo a gerência de seu pessoal e de seu
patrimônio que deveriam ser inalienáveis.
Rio, 17/10/2023
15