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Concílio Vaticano II Volume 5
Concílio Vaticano II Volume 5
19 6 5 )
V O L U M E V. Q U A R T A S E S S A O
CONCILIO VATICANO II
Voe. V
Q uarta Sessão (S et.-D ez . 1965)
CONCILIO VATICANO II
Compilado pelo
PE. FREI BOAVENTURA KLOPPENBURG. O.F.A1.
À S 9 HORAS DO DIA 14 DE
setembro de 1965, festa da Exaltação da Santa Cruz, teve iní
cio a IV e última Sessão do XXI Concilio Ecumênico, o Vati
cano II. Sem pompas nem fanfarras, sem tiara nem sédia gesta-
tória, sem corte pontifícia nem canto polifônico, sem aplausos
nem gritos, mas com devoção, solenidade e simplicidade, entra
ram na Aula Conciliar o Papa Paulo VI e os Concelebrantes,
enquanto os 2.200 Padres Conciliares cantavam o “Tu es Pe-
trus” e o Salmo 131 (“Memento, Domine, David”). Depois da
Santa Missa, da solene invocação do Espírito Santo e do jura
mento dos novos Padres Conciliares, pronunciou Paulo VI seu
discurso de abertura: “Subam louvores e agradecimentos a Deus
nosso Pai onipotente, por Jesus Cristo Seu Filho e nosso Sal
vador, no Espírito Santo Paráclito que vivifica e guia a Santa
Igreja, por termos sido felizmente conduzidos à presente con
vocação conclusiva dêste sacrossanto Sínodo Ecumênico, no su
mo e comum propósito de devota e firme fidelidade à Palavra
Divina, em fraterna e profunda concórdia na fé católica, no li
vre e fervoroso estudo das múltiplas questões que dizem res
peito à nossa religião, especialmente da natureza e missão da
Igreja de Deus, no unânime desejo de estabelecer vínculos mais
perfeitos de comunhão com os Irmãos cristãos ainda de nós se
parados, na cordial intenção de dirigir ao mundo uma mensagem
de amizade e de salvação e na humilde e constante esperança
de obter da Misericórdia Divina aquelas graças que, apesar de
não merecidas, nos são necessárias para cumprirmos, com amo
rosa e generosa dedicação, a nossa missão pastoral”. E assim
continuou, durante quase uma hora, em estilo solene e devoto,
para acentuar que o Concilio deve ser sobretudo um ato de
grande amor: para com Deus, para com a Igreja e para com a
Prefácio
6
... Ancnas urna vez foi interrompido pelo aplauso dos
humanidade. A ptna anUnciou que decidira instituir, sc-
u iA in o d o Episcopal, conto
consaUivo e de colaboração. “Nós não quisemos pnvar-
NOS dá honra e da salisfação de vos fazermos esta pequena
comunicação para vos testemunhar mais uma vez pessoa mente
a Nossa confiança, a Nossa estima e a Nossa fraternidade
E’ desta quarta e última etapa do XXI Concilio Ecumênico
que se fará a crônica no presente volume. O método será quase
o mesmo adotado no volume anterior. Apenas os onze docu
mentos conciliares promulgados durante esta IV Sessão não se
publicarão aqui, mas em volume à parte, que apresentará todos
os 16 documentos em latim e português, com os necessários ín
dices. Por isso sua publicação seria uma sobrecarga inútil. E
assim teremos espaço para dar lugar a 86 textos completos dos
mais importantes discursos pronunciados de setembro a dezem
bro último na Aula Conciliar; e dos outros, na medida em que
contribuíram realmente para o aperfeiçoamento e a compreen
são dos documentos, se poderá dar uma relação mais ampla.
Por este motivo tive que afastar-me quase sempre do resumo
oficioso dado pelo Serviço de Imprensa do Concilio (que, aliás,
também desta vez, trabalhou com generosidade e quase sempre
sem reticências). Chamo a atenção sobretudo para os 56 textos
completos dos discursos pronunciados em torno da Constituição
Pastoral Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo de hoje,
que é, ao lado da Lumen Gentium, o documento mais importan
te e também o mais extenso e característico do Vaticano II.
Aqueles discursos são um verdadeiro e, também, o mais auto
rizado comentário para entrar no espírito e no sentido do gran
de documento conciliar. Vale a pena ler e estudar com atenção
os discursos e os resumos desta parte. Agradeço ao meu con-
ra e rei Jeronimo Jercovic, O .F .M ., a dedicação com que,
apesar e tantas outras ocupações, traduziu os textos direta-
mente do latim.
cri ^ entrego aos leitores o último volume de crônicas
n^nivir0 > ist0nc° acontecimento que tive a boa ventura de acom-
bém nnf 1 !^ eSde a primeiríssirna fase preconciliar. Foi tam-
"rrpa,avras l eC,nien,0, na minha PróPria vida. E não encon-
cano II e a Jrara ^ ra ecer a Deus o dom do Concilio Vati-
generosa sincera P 6 ,ne e ter parte ativa. Parece-me que a
eretos V Declarações sfrá aT m melhor maneira
e lh ? ^ ^ de dar graças De_
Constitu'Ções’ ao
Prefácio 7
Senhor poi tudo quanto nos concedeu, pelas portas que nos
abriu, pelas esperanças que em nós reacendeu. “Partiu do Con
cilio uma corrente de admiração e de afeto dirigida para o mun
do humano moderno”, observou o Papa na homília de encer
ramento do Concilio, no dia 7-12-1965; e continuou: “Sim.
mereceram reprovação os erros, porque reprová-los é exigência
não menos da caridade que da verdade; mas para as pessoas
somente pedimos respeito e amor. Em lugar de diagnoses de
primentes, remédios encorajadores; em vez de presságios fu
nestos, partiram do Concilio mensagens de confiança para o mun
do contemporâneo: os seus valores foram não somente respei
tados, mas honrados, os seus esforços apoiados, as suas aspi
rações purificadas e abençoadas. As inumeráveis línguas das
gentes de hoje foram admitidas a expressar litürgicamente a
palavra dos homens a Deus e a palavra de Deus aos homens;
foi reconhecida ao homem, enquanto tal, a vocação básica à
plenitude de direitos e à transcendência de destinos; foram puri
ficadas e encorajadas suas aspirações supremas à existência e
à dignidade da pessoa, à honesta liberdade, à cultura, ao reno-
vamento da ordem social, à justiça e à paz. . . O A\agistério
da Igreja ministrou o seu ensinamento autorizado sobre uma
quantidade de questões que hoje preocupam a consciência e
atividade do homem; desceu, por assim dizer, a diálogo com
êle; conservando sempre a autoridade e a força que lhe são
próprias, assumiu o tom despretensioso e amigável da caridade
pastoral; desejou fazer-se ouvir e compreender por todos; não
se dirigiu só à inteligência especulativa, mas procurou expri
mir-se no estilo de conversa íntima, ao qual o recurso à expe
riência vivida e o emprêgo do sentimento cordial dão mais atraen
te vivacidade e maior força persuasiva: falou ao homem de hoje
qual êle é”.
For tudo isso demos graças a Deus.
Petrópolis, Páscoa de 1966.
F rei B oaventura K loppenburg , O .F .M .
Crônica
das Congregações Gerais
Concilio - V — 2
15-9-1965: 128* Congregação Geral
Introdução Geral aos Trabalhos
A Liberdade Religiosa
P r e s e n t e s : 2.265 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Agagianian. A Santa Missa,
celebrada por Dom Bernardo M. Cazzaro, Vigário Apostólico
de Aysén, no Chile, teve início às 9,15, com a presença também
de Sua Santidade o Papa Paulo VI. Terminada a Missa, o Se
cretário Geral Mons. Felici anunciou que seria solenemente pro
mulgado o Motu-proprio Apostólica Sollicitndo, pelo qual é ins
tituído o Sínodo Episcopal, ontem anunciado pelo Papa como
“bela e prometedora novidade”. Falou primeiro o Cardeal Paolo
Marella, Presidente da Comissão que elaborou o Decreto sobre
0 miinus pastoral dos Bispos (no qual o Concilio sugere a
criação de “Coetus seu Consilium Centrale”, cf. vol. IV, p. 447).
Foi lido, então, por Mons. Felici, estando sempre presente o
Papa, o texto do importante documento (cf. pp. 438-441), rece
bido com prolongados aplausos. Retirou-se em seguida Paulo VI,
ainda sob aplausos, desta vez iniciados espontâneamente pelos
Observadores não-católicos.
Falou, depois, o Cardeal Tisserant, Decano do Conselho de
Presidência do Concilio. Agradeceu os trabalhos das Comissões.
Saudou os Padres Conciliares que assistem pela primeira vez
às sessões. Recordou os que entrementes faleceram. E insistiu
no seguinte aviso: “Libertas disserendi et próprias sententias
dicendi salva et integra esto. At caveamus, Fratres, a pluries et
frustra repetitis sententiis et verbis; temperemus animum a cupi-
ditate dicendi, ubi, quod dicendum erat, a fratribus iam dictun 1
fuit. Abstineamus — ut plurimum admonitum est — a plausi-
bus, qui coetus nostros haud decent; in suffragiis dandis distri-
ctum ordinem servemus”. Pede que cada um se lembre de que
2*
I. Crônica das Congregações Gerais
P r e s e n t e s -. 2.252 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Agagianian. A Santa Missa foi
celebrada por Doin Michel Callens, Prelado nullius de Túnis, na
Tunísia. A sessão começou às 9 e acabou às 12,30. Terminada
a Missa, anunciou o Secretário Geral a ordem dos trabalhos
para as próximas semanas: Serão sucessivamente discutidos os
seguintes esquemas: De libertate religiosa, De Ecclesia in mun
do huius temporis, De activitate missionali Ecclesiae e De mi
nistério et vita presbyterorum; a partir do dia 20 de setembro
terão inicio as votações dos dois esquemas que ainda esperam o
voto modificativo (“iuxta modum”), a saber: De divina reve-
latione e De apostolatu laicorum; depois serão votados em vo
tação final (sem o “iuxta modum”) os seguintes textos: De
pastorali episcoporum rnunere in Ecclesia, De accommodata reno-
vatione vitae religiosae, De educatione christiana, De institutio-
ne sacerdotali e De habitudine Ecclesiae ad religiones non chris-
tianas (que trata também a questão dos judeus). Foram entre
gues esta manhã aos Padres os textos corrigidos, com os ‘modos’,
dos esquemas sôbre o múnus pastoral dos Bispos (com 127 pp.)
e sôbre a renovação da vida dos Religiosos (com 96 pp.). Anun
ciou-se que os outros textos serão distribuídos nos próximos
dias. No debate sôbre a liberdade religiosa intervieram esta
manhã 17 Oradores, entre os quais cinco Cardeais:
ff níi J°Seph Elmer R1TTER> Arceb. de Saint Louis, nos
vArãr, nn ^ CCf ° text° aos que 0 PrePararam e solicita sua apro-
os que sofrem ^ * Candade e da ÍustiÇa com que seriam beneficiados
proposições
proposiçoes da
da rConstituição pela
sôbre a ^elcrr^o
0 texto não fôr aprovado, várias
P n A -
nísmo seriam falsas, sem sentido e sem va,or ^ ° ^
A Liberdade Religiosa
Chile10)Ucxto
cmie
Cardeal
ítexto Raul SILVA
rnmniíx^'».
completo). . . HENRIOIIF7
Or\ texto £iNKiyufc£,do Arceb.
reemendado
j c ..
esquemade deSantiago do,
Declaração
re„ ,f jr * ? 'dadf ag,ada-nos, q„e, , e t,a?« do « a pl.ao! , » ,
n nhl. to T., J ra]adas. e da? amendas introduzidas nu texto precedente.
O objeto da Declaraçao está determinado e limitado. Trata-se do direito
concreto das pessoas e das comunidades em matéria religiosa. A noção
í1 «dade, tao ampla e analógica, está restrita no esquema, consoante
distinções bem expostas no relatório a páginas 1 e 2. Sôbre o próprio
texto faremos algumas observações que — humildemente acreditamos —
podem melhorá-lo. Não as leremos, mas formulá-las-emos por escrito.
Aqui queremos expor, não teses em favor do direito à liberdade reli
giosa, senão alguns motivos pastorais pelos quais com alegria aprovamos
essa Declaração. Quanto a nós pastores, o esquema sôbre a liberdade
religiosa agrada-nos particularmente, visto implicar no apostolado uma
nova mentalidade que põe em valor o sentido do espírito e da liberdade
no anúncio do evangelho. Antes que ao relativismo, conduz êle a mais
responsabilidade.
1) A economia da liberdade: Como o afirma Santo Ireneu no Adversus
Haereses, o Nôvo Testamento é “a economia da liberdade” (1.1II,X,5);
os apóstolos enviados por Cristo “levavam a boa-nova da liberdade aos
que criam em Deus pelo Espírito Santo” (ibid., XII,14); “Êles eram pre
gadores da verdade e apóstolos da liberdade” {ibid., XV,3). Os sucesso
res dos apóstolos receberam a missão espiritual de promover essa li
berdade. Segundo a expressão de Santo Ireneu, êles são “apóstolos da
liberdade”. Com efeito, para convidar os homens, Deus não se serve
nem da força, nem da ameaça, nem das promessas de vantagens temporais,
nem da conivência com os podêres seculares, mas sim de seu Verbo,
Jesus Cristo, que é a palavra viva e eficaz, “mais incisiva do que uma
espada de dois gumes” (cf. Heb 4,12). Jesus Cristo, diz-nos S. João.
é a verdade que liberta os homens (cf. Jo 8,32); êle exerce a sua ação
libertadora difundindo o Espírito de verdade, porque, onde quer que
esteja o Espírito do Senhor, aí está a liberdade (2 Cor 3,17). O es
quema que nos é proposto implica uma valorização dêsse espirito evan
gélico. E’ por isto que êle muito contribuirá para que o cristianismo
se inculque melhor como perfeitamente conforme a essa dignidade da
pessoa humana de que hoje se toma consciência cada vez mais viva.
2) A ação apostólica na economia da liberdade: Essa Declaração
sôbre a liberdade religiosa deveras nos convida a submetermos a um
exame profundo tôda atividade apostólica do povo de Deus. Demos gra
ças a Deus por êste exame de consciência absolutamente indispensável
nesta época de turbações. A atividade apostólica do povo de Deus diri-
ge-se a pessoas. Quer suscitar nelas atos livres (cf. Declaração, p. S,
linha 14). Para isto, necessário se torna hoje em dia que os apóstolos
se abstenham cuidadosamente de qualquer coação, quer se trate de ex
plorar um apêgo demasiado grande aos bens temporais, quer de promo
ver uma ação de propaganda que não respeite a pessoa como comem,
quer de estar ligado à autoridade política na pregação do e\anôe ' ^
de fazer “proselitismo”. Tudo isto deve ser evitado nuo so
24 I. Crônica das Congregações Gerais
. ' e rportanto
■*v todos os
‘vuuo uo
enviados pelo Pai para construírem
a pátria da liberdade”. Todos nós, com
imos “chamados à liberdade" (Gál 5,13);
da servidão da corrupção para en-
11) Cardeal Paul Pierre MEOUCHI, Patriarca maronita de Antio-
quia: Quero acrescentar algumas observações ao que já enviei por escrito
^ Secretaria. O modo de falar do esquema não deve ser tirado dos
princípios da Filosofia e da Teologia, mas da vida concreta, porque se
tiata de uma questão prática, própria do mundo em que vivemos. Êste
mundo tem em grande estima as concepções culturais, sociais e histó
ricas da vida que muitas vezes estão em contraste com os nossos sis
temas. O texto deve favorecer o diálogo com o mundo. O método de
expor a doutrina não deve ser nem metafísico nem teológico e nem
mesmo pode basear-se em princípios a priori, mas na experiência: um
método existencial e fenomenológico. O homem tem a experiência da
liberdade. A liberdade é um fato universal. E’ o âmbito terrestre e quase
carnal em que êle nasce, cresce, vive e sem o qual êle não pode ser
compreendido individual e socialmente, apesar de tôdas as dificuldades,
tentações e limitações que encontra no exercício concreto desta liberdade.
O fato de o homem ser criado à semelhança de Deus justifica a liber
dade mas não a demonstra. Pela fé compreendemos a inferioridade da
pessoa que consiste na relação pessoal do homem com Deus num diálogo
de verdade, de confiança e de amor. (O Moderador convidou o Orador
a terminar).
12) Cardeal Josyf SLIPYJ, Arceb. maior ucraniano de Lwów. Ucrâ
nia: Os séculos futuros admirarão com certeza o modo com que o
Concilio debateu a liberdade religiosa. Atualmente a liberdade da Igreja
é violada em vários países. Seria conveniente que o esquema dissesse algo
sôbre êste fato na introdução, para que não seja puramente teórico.
Ela não é apenas um bem para a Igreja, mas também para o Estado.
E' conveniente determinar os limites desta liberdade para que se evi
tem os abusos por parte dos podêres civis. Desta forma não basta de
saprovar a política dos Estados que impedem a educação religiosa. E’
preciso condenar também a dos países que impõem uma educação atéia.
O texto deve sublinhar que o homem pode abusar da liberdade. Para
isto conviría que insistisse sôbre a noção de nobreza (habitus cogitandi
et agendi, qui opponitur egoismo). (Enquanto o orador expunha esta
idéia o Moderador o convidou a terminar. Èste continuou ainda por al
guns minutos).
13) Cardeal Lorenz JAEGER, Arceb. de Paderborn, na Alemanha:
O esquema é digno de louvor por sua clareza de argumentos e por
não entrar em considerações históricas. As dificuldades aduzidas ontem
pelos Cardeais Ruffini (n. 3), Siri (n. 4), Arriba v Castro (n. 5) o-
cam o ponto nevrálgico da questão. Tratando-se de um E*»ta o e 4
ria católica, a posição da Igreja nêle seria privilegiada porque
Concilio - V — 3
,6 I. Crônica das Congregações Gerais
• 'j- de
trutura jund.ca Ho um
nm EFstado
td depende
^ ^ dos
nfioseus cidadãos.
podem Os que, aporém,
ser coagidos pra.
professam nele oUtra g ^ também devem poder praticar a religião
ticar a religião c • |imjtes Não se trata de tolerância, mas de
S K dos fe ito s humanos. O esquema não favorece o indiferentismo
„?rqúe afirma claramente que a religião^ católica e a verdadeira. Nao
defende *a autonomia absoluta da consciência, mas indica a obr.gaçao
de indauar a verdade. A exposição histórico-doutrmal deve ser exposta
nas notas Como o esquema se dirige a todos os homens a disposição
de suas partes é digna de louvor. A liberdade religiosa na ordem ci
vil náo pode ser confundida com a liberdade religiosa na ordem moral.
Êste problema não entra na ordem jurídica civil, porque o Estado não
pode distinguir a boa fé da má fé. Trata-se de um problema de ordem
moral.
14) Enrico NICODEMO, Arceb. de Bari, na Itália: O texto pode
ser aceito na sua substância, mas tratando-se de um assunto tão gra
ve em si mesmo e pelas suas conseqüências, é necessário explicá-lo em
alguns de seus aspectos. O número 2, por exemplo, em que se trata do
direito à liberdade religiosa deve ser melhor definido e determinado.
Convém acrescentar algumas palavras para indicar claramente que o
Concilio quer permanecer fiel nesta matéria à doutrina da Igreja. A
forma da declaração deve ser mais concisa. Os parágrafos que se re
ferem às relações da Igreja com o Estado não são conciliáveis com o
que ensina o Magistério da Igreja a êste respeito e a praxe confirma.
Não se pode falar de “bem público” mas de “bem comum” conside
rado em tôda a sua amplidão e significação histórica. E’ preciso que
se evite a impressão de concordar de má vontade com aquilo que, pelo
contrário, deve ser abertamente afirmado. E’ indispensável, sobretudo,
que se evite uma terminologia que possa favorecer o individualismo
religioso, a confusão e até mesmo o desprêzo pela religião.
15) Casimiro MORCILLO GONZÁLEZ, Arceb. de Madrid, na Es
panha: O Orador disse defender a liberdade religiosa, mas impugnar
o esquema, a) Trata-se de uma Declaração e não de uma Constituição
conciliar. A Declaração é um juízo sôbre um determinado estado de
coisas ou sôbre o problema concreto. E’ também a promulgação de
normas práticas de ação. b) O estado atual do mundo moderno é de
P ura ismo religioso. Caracteriza-se pela socialização das relações entre
nações, pelo ecumenismo, pela reciprocidade no uso da liberdade e
nara mnitnt ***** ** diversas religiões e pela impossibilidade moral
contingentes a_ verdade_ religiosa. Estas razões, embora
ligiosa. c) Mas um3"? Uma De^ araça? conciliar sôbre a liberdade re-
dar-se como o atual p_Squema sobre. Sltuações mutáveis não pode fun-
dissonant”: 1) Se o homem*11*e"t0S fl)0SóflC0s e bíblicos, “quae a veritate
c o n d i a ,J ,1 * ? ° dí “ 8“"»» a "a
verdade e a norma objetiva moral na “ supenils ius habe,> a
cado e formado. 2) Se o Estado - ^ ^CVe Ser con^ nuamente edu-
não *em competência de julgar em
A Liberdade Religiosa 27
P r e s e n t e s : 2.204 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Agagianian. Começou às 9 e
terminou às 12,30. A S. Missa foi celebrada por D. Juan Frêmito
Torres Oliver, Bispo de Ponce, Puerto Rico. No início dos tra
balhos anunciou-se a morte do Arceb. de Évora, Portugal, Dom
Manuel Trindade Salgueiro. Foi lido também, pelo Secretário
Geral, um projeto de carta dos Padres Conciliares ao Papa, de
agradecimento pela recente Encíclica Mysíerium Fidei e pelo
Motu-proprio Apostólica Sollicitudo. A assembléia manifestou com
aplausos sua aprovação. Como fôra anunciado com suficiente
antecedência, começaram hoje também as votações. Iniciou-se
com a votação do esquema de Constituição Dogmática sôbre a
Revelação Divina, acêrca da qual se fará a crônica mais adiante,
em capítulo especial (p. 343 ss). No mais, gastou-se a manhã in
teira na continuação do debate sôbre a liberdade religiosa; de
bate, aliás, que hoje foi excelente. Eis a ordem e o resumo das
intervenções:
44) Cardeal Joseph LEFEBVRE, Arceb. de Bourges, na França
(texto completo): As intervenções feitas na sala conciliar e o que os
Padres do Concilio nos dizem mostram-nos que certos Padres estão
inquietos. Receiam, com efeito, com tôda boa-fé, não poderem aprovar
êste esquema. Eu quisera aqui evocar alguns dos seus receios, e trazer
algumas luzes que permitam dissipá-los.
1\ Alguns pensam que a proclamação da Liberdade Religiosa fa
vorecerá o subjetivismo e 0 indiferentismo, como se todas as af.rmaçoes
tivessem o mesmo valor. Parece-me poder afastar qoalquer equ.voco por
? esquüma ã
,sso explicitamente indicado no numero
m
esta dupla resposta: a) Como muito bem o d.sse 0 Cardeal Urbam(n. b),
1,1a ia liberdade civil «*“” « ““ £
eoacão exterior difere
Smedi, pdgina 4. Mas •
e9sencialmente do livre exame em m
40
I. Crônica das Congregações Gerais
- ohcnintamente não suprime a obrigação, para o
isenção de toda c°a^a d sua natureza humana e da dignidade de sua
homem - em raza verdade e de se enriquecer aderindo-lhe. Con-
pessoa — ae pro é verdade encarnada, impõe essa
soante a o’ amor infinito, esta é plenamente uma
obrigação de amor. Não tem outro fim a não ser engrandecer e eno-
S r de maneira divina aquêles a quem e ela tmpos a. Sendo uma
obrigação moral, pressupõe a liberdade. A sançao que lhe esta ligada
é interior àquele que é obrigado a aceitar a verdade. Aquele que des-
cura buscar a verdade, ou que a rejeita, priva-se de uma luz que o
faria progredir, e marcha a recuos na trilha que conduz à vida. b) Por
ist0 __ e será esta a minha segunda resposta a êsses receios de que
falei _ é que o nosso esquema exclui muito explicitamente, no número
2. § 3, todo indiferentismo ou positivismo. E, no mesmo lugar, afirma
com a mesma fôrça a obrigação, para o homem, de buscar a verdade.
2Ç. Outros acham que, proclamando a Liberdade Religiosa„ o Concilio
cessa de ensinar que há uma só religião e uma só Igreja de Jesus Cristo.
Certamente, o esquema não se propõe diretamente afirmar estas ver
dades imutáveis da nossa fé. Lembra-as, porém, explicitamente quando
diz: ‘‘Ademais, a noção de liberdade religiosa deixa intacta a doutrina
católica sôbre a única religião verdadeira e sôbre a única Igreja de
Cristo” (N* 2, § 3, in fine). Mas, ao mesmo tempo, o Concilio lembra
diretamente a doutrina tradicional sôbre a liberdade necessária ao ato
de fé. Essa liberdade inclui, como conseqüência imediata, que ninguém
pode ser coagido a esse ato.
3*. Outros sentem apreensões a respeito da liberdade de difundir o
êrro e das consequências que dai poderão decorrer. Porém a liberdade
religiosa não significa que tôda espécie de propaganda seja permitida.
Os que se esforçassem por propagar a sua doutrina sem respeitar su
ficientemente a liberdade dos outros — mormente quando se trata de
pessoas simples e pobres — não correspondem à primeira exigência da
liberdade religiosa, a qual prescreve que se deve respeitar a liberdade
dos outros. Acrescentemos que, onde quer que essa liberdade exista,
mister se torna que os pastores — pondo sua confiança na fôrça da
verdade que se acompanha da graça de Deus — velem mais atenta
mente pela formação religiosa dos fiéis. Quanto a estes últimos, devem
esforçar-se por aprofundar seus conhecimentos e suas convicções reli-
giosas, e por terem uma fé mais pessoal. Daí grandes progressos es
pirituais devem resultar para todos.
.. 4’\ Dlzem wtros que, proclafnando a Liberdade Religiosa, faz-se
Dod^pCã vh,nJ°AC ° ardor missionários. Porém, muito ao contrário,
Cristo níw nn'cl íazer conhecer melhor a mensagem de
haveríam <L>rS-ond® ainda nao foi ela anunciada. Ademais, como não
essa veV de em,rH d0S pel° amor de Cristo a levarem a « u s irmãos
quezaS Sbrenab,rl?, Ha -SUa P'enitude 05 cr^ o s que conhecem as ri-
revelada representa parT "tornem ?"*5' ^ t0d° progresso na verdade
ia-se o homem à s ^ c u s t a T d e ^ D é u ^ ° Liberdade Religiosa, exal-
deve permitir ao homem buscar' M s’ ,ao. contran°, a liberdade religiosa
dente à sua natureza e assim „ k ^erdade de “ma maneira correspon-
’ C’ aSS,m' obedecer à vontade de Deus, que quis
A Liberdade Religiosa 4,
r
l t
- £ jx r j£ i w r f r j s r s
J ™ de m tó r , positiva «s verd.de. reveladas e do ~educarem
s e í filhosna fé. Então será deveras real.zada uma obra de paz que
tão necessária é hoje’.
48) Cardeal Owen McCANN, Arceb. de Cape Town, União Sul-Afri-
cana- O esquema pode ser aprovado com algumas emendas. Seria ne
cessário sublinhar melhor a passagem em que se trata da obrigação
que todo homem tem de procurar a verdadeira religião e de conformar
a própria consciência às verdades reveladas por Deus e ensinadas pela
Igreja. Objetivamente falando, a Revelação feita por Cristo consta com
evidência e leva todos os homens a aceitar as verdades sobrenaturais.
Por esta razão dever-se-ia incluir no texto o seguinte período: “Todo
o homem tem objetivamente o dever de examinar e de abraçar as ver
dades contidas na doutrina católica". O parágrafo 5, em que se concede
um "reconhecimento especial" a alguma religião da parte do Estado, é
de formulação imprecisa podendo se referir a subsídios financeiros. Da
mesma forma, não é suficiente dizer que os pais não devem ser agra
vados com ônus injustos por causa da livre escolha de institutos de
formação para seus filhos, mas que devem ser subsidiados pelo Estado.
49) Cardeal Lawrence Joseph SHEHAN, Arceb. de Baltimore, nos
EE.UU. (texto completo): Aprovo plenamente o esquema sôbre a Li
berdade Religiosa. Aprovo em particular o que o Cardeal Urbani disse
a respeito do desenvolvimento da doutrina do esquema (n. 6). Êsse
ensino radica-se na doutrina da Igreja sôbre a dignidade da pessoa
humana, e apóia-se na Escritura Sagrada, notadamente na maneira co
mo Deus age com o homem, bem como nas palavras e nos atos de
Jesus Cristo e de seus apóstolos. Aqui, porém, Iimitar-me-ei a falar dos
desenvolvimentos recentes dessa doutrina. As primeiras etapas dêsse de
senvolvimento acham-se nos numerosos escritos de Leão XIII, cujo no
me tantas vêzes apareceu nas nossas discussões. Ninguém pretende que
a doutrina dêste esquema se ache explicitamente nos documentos de
Leão XIII, mas nesses documentos achamos um desenvolvimento notá
vel em relação à doutrina correntemente professada durante a Idade
Média e o período que se seguiu à Reforma. E, por sua doutrina, Leão
XIII deu os primeiros passos no caminho que seus sucessores deviam
prosseguir, particularmente Pio XI, Pio XII e João XXIII. Seria um
êrro considerar a doutrina de Leão XIII sôbre a tolerância como o pon
to central do seu ensino ou como a doutrina final e imutável da Igreja
sobre a liberdade religiosa. A doutrina de Leão XIII, que por sua vez
f um , e^env®Jv>niento, absolutamente não nos impede de irmos mais
ri a .. uza exf eriência e de uma mais viva tomada de consciên-
relin-incp 'hllL3 C da pef?oa humana, e de considerarmos a liberdade
seria ifTualmF‘n+íC°HlPreend,Cla’ COmo um direito humano universal. Êrro
exclusivo r e r ^ h J n " -que ? 'déia-mestra de Leão XIII era o direito
■ r? uM de “ o direi“ ~ êrr°
no n m V de ieSld.de T d" T postos jun-
listas. O que é verdadeiro ^ dade- consoante o sofisma dos raciona-
positiva e é L e n b0m P°de receber autorização jurídica
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A Liberdade Religiosa
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também o nosso Episcopado, é# a que versa sóbre ô
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mado “Estado confessional”, e cuja exposição feita na página 11,
linhas 13-20, não aprovamos. A grande maioria dos Bispos em cujo
nome falo, estão de acordo com a formulação condicionada proposta
pelo Cardeal Alfrink, que apresenta melhor probabilidade de conciliar
as diversas opiniões a respeito, d) Desejamos chamar a vossa especial
atenção para a questão histórica sôbre o modo de agir da Igreja nos
séculos passados. A Comissão competente não a ignorou. Mas não apro
vamos a solução que ela propõe na página 14, linhas 7-13. Muitos dos
nossos Bispos preferem que se omita tal solução, uma vez que ainda
não se conhece bem a verdade histórica neste ponto. Outros Bispos,
porém, em harmonia com aquela posição do Decreto sóbre o Ecume
nismo, em que se pede perdão a Deus e aos homens pelos erros do
passado, preferem que sinceramente confessemos êstes nossos erros
passados, cometidos contra a liberdade de consciência em matéria re
ligiosa, prometendo não cometê-los no futuro. A sincera retratação dos
erros aumenta nos homens a consciência da sinceridade da nossa dou
trina. Aliás, todos estamos de acôrdo que a referida questão não está
exposta no lugar em que deveria ser tratada, e) Por fim, propomos
insistentemente à Comissão competente, reconhecendo o valor da posição
assumida e exposta pelos redatores na página 39, N9 S. que as ques
tões sôbre a liberdade de consciência no âmbito da família e, principal
mente, entre operários e empregadores não seja omitida pela Declaração.
E como esta questão é tão grave e urgente, pedimo-vos encarecidamente
que, ao menos de passagem, a trateis, com a vossa conhecida prudência.
Aceitai, Veneráveis Padres, estas observações e outras que por
escrito enviaremos, como fraterna cooperação de muitos Bispos brasi
leiros para o feliz êxito desta obra comum de todos nós, obra de ver
dade, de liberdade e de paz.
51) Cardeal Michael BROWNE, da Cúria Romana: A doutrina da
Liberdade Religiosa, de acôrdo com os Romanos Pontífices, deseja:
a) que o Estado, principalmente o confessional católico, proteja a fé
dos súditos; b) que num país católico o Govêrno aja de maneira justa
e benigna com os não-católicos e estabeleça uma harmoniosa colabo
ração com a Igreja; c) que num país de várias religiões as autoridades
públicas tratem a Igreja com justiça e benignidade. A Declaração afirma
essencialmente aue a dignidade da pessoa humana consiste na sua ele-
|. Crônica das Congregações Gerais
Segundo estas considerações, me parece que o esquema deve ainda ser
P r e s e n t e s : 2.257 p a d r e s
Conciliares. Moderadores: para a parte sôbre a Liberdade Re
ligiosa, 0 Card. Agagianian; a partir do debate sôbre a Igreja
no Mundo Contemporâneo, o Card. Lercaro. A sessão começou
às 9 e terminou às 12,30. Celebrou a Santa Missa o Pe. Basílio
Heiser, Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores Conven-
tuais. Comunicou-se que o Santo Padre designou 8 Cardeais
que, como representantes do Concilio, o acompanharão na via
gem à ONU (Nova York) no próximo 4 de outubro. A sessão
de hoje teve o seguinte andamento: 4 intervenções sôbre a li
berdade religiosa; votação de sondagem sôbre o mesmo esque
ma; relação geral acerca do novo texto sôbre a Igreja no mundo
contemporâneo; início dos debates sôbre o mesmo, com 5 dis
cursos; continuação das votações sôbre o De Divina Revelatione
(com crônica especial nas pp. 344 ss). Eis, em resumo, as 4
intervenções sôbre a liberdade religiosa:
57) Cardeal Enrico DANTE, da Cúria Romana: O esquema se
presta a um gravíssimo equívoco. A declaração de fato parece insinuar
que a religião católica deve ser propagada na base de um direito co
mum. E’ exatamente o que afirmaram no século passado Lamennais e
Montalembert que seguiam os princípios do assim chamado liberalismo
católico. Uma declaração feita pela revolução francesa dizia: ninguém
pode ser perseguido por causa de suas opiniões, mesmo religiosas, a
não ser que a manifestação dessas opiniões perturbe a ordem estabe
lecida pela lei. E’ portanto equívoca a doutrina exposta pelo esquema
sôbre os limites do exercício da liberdade religiosa. De fato, se o Es
tado que põe êstes limites é cristão, por isso mesmo conforma as suas
leis com o direito natural e, por isso, os têrmos “paz”, “direito dos ci
dadãos” e “moralidade pública” terão realmente um significado honesto
M |. Crônica das Congregações Gerais
• .1 m 3c cp o Estado não é cristão, êsses limites, talvez seni
E S „m instrumento de tirania *'s»contra a religião
«'-nérirPor efim,
,podseerã'>
or
Es,
t adoé comunista todos os têrmos acima citados terão um significado
completaniente diverso e, principalmente, os limites impostos serão con-
trários ao direito natural.
58) Cardeal Charles JOURNET, da Suíça (texto completo): Nesta
questão da liberdade religiosa existe entre nós, de uma parte, uma
fundamental unidade doutrinai, e, de outra parte, divergências que nas
cem sobretudo das preocupações pastorais de numerosos Padres. Ao que
parece, poderíam essas divergências reduzir-se em grande parte, se se
sublinhassem melhor os poucos temas seguintes que já se acham no
esquema sôbre a própria constituição:
1. A pessoa humana pertence simultâneamente a duas ordens so
ciais, a saber: à ordem das coisas temporais e da sociedade política, e
à ordem espiritual, isto é, à ordem do Evangelho e da Igreja.
2. Se se trata da ordem das coisas temporais, cumpre dizer que a
pessoa humana, embora, sob um aspecto, seja parte da sociedade civil,
transcende entretanto tôda a ordem política, por estar ordenada ao bem
perfeito e definitivo, a Deus que a criou. Por conseguinte, sob êste se
gundo aspecto, a pessoa humana a) é livre a respeito da sociedade
civil inteira; ô) mas deverá dar a Deus razão de cada uma de suas
opções,
3. O homem que se engana ou peca, ou aquêle cuja consciência é
errônea, nem por isto deixa de ser uma pessoa humana, e como tal
deve ser considerado pela sociedade política a que pertence. Não po
dería ser coagido por essa sociedade a não ser se viesse a praticar
atos externos susceptíveis de destruir a ordem pública verdadeira. Con-
tràriamente, terá êsse homem, um dia, que prestar contas, perante
Deus, da culpabilidade ou da não-culpabilidade da sua própria consciência.
4. Também a sociedade civil tem o dever de manifestar püblicamente
a honra que ela reserva a Deus. Por conseguinte, o próprio poder civil
não pode ignorar as diversas famílias religiosas presentes na cidade,
e é seu dever recorrer a elas a fim de que por todos seja Deus digna
mente honrado.
5. O que precede concerne aos direitos das pessoas humanas. Mas
sabem os cristãos que, para além dessa ordem, pela própria vontade
e Deus e de Cristo a Igreja possui o direito sobrenatural e inviolável
e pregar livremente o Evangelho a tôda criatura. Os apóstolos e os
mártires morreram como testemunhas dessa liberdade,
i - ’ ? pastores da Igreja, desde a época de Constantino e para
Ame ^ez aPelaram para o braço secular a fim de defen-
e nniitiro H-rei °S ^°S e Para salvaguardarem a ordem temporal
fluência * 3 ue. se chama a cristandade. Entretanto, sob a in-
coi2s1% C l mente da. pregação do Evangelho, a distinção entre as
explicita, e hoje é “ « “ “ « “ S S * '8 t° ™ U' Se Pr°gressivamente mais
ttmpttr^i/^tâo^por^si ° subordhiad d0l!*r'na! segundo o qual as coisas
não está abolido^ mas'acha um m a as .co,sas espirituais absolutamente
é preciso opor-se
P r se aos
aos erros n!u armas
erros pelas d° n0V0
de de
luz, aPlicaÇao>
e não pelasa saber:
armas que
de
A Liberdade Religiosa ^
P r e s e n t e s : 2.260 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Lercaro. A sessão começou às
9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi celebrada por Dom
François Ndong, Bispo aux. de Libreville, Gabon. Houve pri
meiro quatro intervenções postuladas sôbre a liberdade religio
sa (segundo o regulamento, pode alguém postular a palavra
sôbre um esquema já discutido se fizer o pedido em nome de
ao menos 70 Padres Conciliares). Seguiram-se doze discursos
sôbre a Igreja no mundo de hoje (o texto em geral). Terminou-se
hoje a votação do esquema sôbre a Revelação divina, que, em
bora totalmente aprovado pela Congregação Geral, será, não
obstante, revisto pela Comissão teológica consoante as propos
tas feitas pelos votos modificativos (cf. pp. 349 ss).
Eis as quatro intervenções postuladas sôbre a liberdade
religiosa:
66) Karol WOJTYLA, Arceb. de Krakow, na Polônia (texto com
pleto, em tradução livre): Em nome dos Bispos da Polônia, faço as se
guintes observações que visam dar maior clareza ao texto, a) Sob o
aspecto doutrinai, o documento tem por título o têrmo “Declaração ,
mas o seu conteúdo faz parte da doutrina moral da Igreja. Um docu
mento conciliar não deveria limitar-se a repetir o que já estabeleceram
muitas nações e mesmo muitas Organizações internacionais nas suas
Constituições, sôbre a liberdade religiosa. Num documento conciliar de
ve-se expor a posição da Igreja com respeito a esta liberdade, posi
ção que se funda na doutrina da Igreja. Esta doutrina é revelada e,
ao mesmo tempo, está em harmonia com a razão. Seria, pois, conve
niente não separar tanto os argumentos da Revelação dos argumentos
a razao A doutrina sôbre a liberdade religiosa está contida no mesmo
ao a Revelação e da qual os homens se tornam mais conscientes
quanto mais conhecem teórica e pràticamente o valor da dignidade hu-
A Liberdade Religiosa 65
Se.T exemplo
Seu exemn?n üe !tendo-lhe
h íl 0 .mundo e flue Jesus Cristo santificou com o
dado valor redentivo. b) A Igreja, segundo
o texto parece pedir perdão como que de joelhos (“quasi flexis
genibus ) por terem muitos de seus filhos oposto a fé à ciência. Não
e conveniente apresentar assim a Igreja, pela qual Cristo se entregou
para santificá-la (Ef 5,25-27). Houve, porém, em tôdas as épocas homens
ilustres que deram o nome à Igreja. Na Idade Média, p. ex., as ciências
e as artes encontraram refúgio nos templos e mosteiros. Quase tôdas
as antigas Universidades ou foram fundadas pelos Papas ou, pelo me
nos, foram por êles protegidas. Heróicos missionários sempre traba
lharam para a promoção intelectual, social e humana dos povos, c) No
texto os princípios da doutrina católica são louvados aqui e ali. Não são,
porém, explicados suficientemente ou não correspondem às circuns
tâncias humanas descritas. A sociedade dos tempos apostólicos não era
melhor que a nossa. Contudo, os Apóstolos pregaram o Evangelho com
um método que deve também ser o nosso. As condições mudam. Mas
o Evangelho deve ser exposto clara e elegantemente (“perspicue et
concinne”), porquanto possui uma fôrça divina que vence as dificul
dades de todos os tempos.
71) Cardeal Giuseppe SIRI, Arceb. de Gênova, na Itália: E’ muito
bom que o Concilio examine o problema da Igreja no mundo con
temporâneo. Faço, contudo, estas observações acêrca do esquema em
geral: 1) Os limites, nos quais êste tema é analisado, são demasiada
mente estreitos. Alguns problemas são apenas indicados. Outros, que
interessam de perto à missão espiritual e sobrenatural da Igreja no
mundo, nem são mencionados. O texto fala de pessoa, de questão de
mográfica, de economia, de problemas internacionais. Não dedica, po
rém, nenhuma palavra ao fato do pecado, da indiferença com respeito
ao pecado, do indiferentismo e do relativismo em matéria religiosa, do
laicismo, do tecnicismo, da educação social inspirada no coletivismo
que ofende a dignidade e a liberdade humana, da total prevalência
tecnológica sôbre as realidades espirituais, etc. Ora, a Igreja não pode
limitar-se a prestar atenção somente a alguns problemas temporais, dei
xando de lado os seus problemas específicos. Uma atitude dêste gênero
causaria escândalo e deixaria entender que o Concilio se preocupa não
só com a contribuição que a Igreja deve dar no plano sobrenatural,
mas também que se preocupa com as soluções dos problemas humanos
adaptando-os à realidade terrena. 2) Às questões sobretudo terrenas
apresentadas no esquema deve responder-se por meio da clara e ge
nuína doutrina do Evangelho. 3) Finalmente, adiro a tudo aquilo que
ontem expuseram os cardeais Landázuri (n. 62) e Bea (n. 65).
72) Cardeal Franziskus KOENIG, Arceb. de Viena, na Áustria
(texto integral): Da discussão do esquema XIII até agora levada a efei
to consta que os juízos emitidos sôbre o seu valor não são absoluta
mente concordes. Ouvem-se vozes de louvor e de crítica. O que não é
motivo de admiração, pois o Sacro Concilio com a elaboração dêste
documento inaugura novos modos de proceder na história dos Concílios.
i. é, o método do diálogo com o mundo e, sobretudo, com o mundo
de nosso tempo. Deve-se reconhecer sinceramente que as Comissoes e
Subcomissões que prepararam êste esquema levaram a têrmo um ,n^ " 5
trabalho. Para aperfeiçoar o trabalho e o fim proposto, seja-me p
I Crônica das Congregações Gerais
tob
tido fazer as seguintes observações sôbre a finalidade e o método do
esquema. ^ ^ dQ csqucma: Não se deveria repetir aquilo que já
foi a irmado na Constituição dogmática sôbre a Igreja, i. e, sôbre a
natureza e missão da Igreja na ordem da salvaçao sobrenatural, sobre
a sua missão com respeito a todo o gênero humano. No nosso esquema,
a lareia deseja falar em primeiro lugar daquilo que pode ser útil para
resolver os problemas do mundo de hoje, em virtude de sua própria
missão. E isto não para se imiscuir em negócios alheios, mas para ve-
rificar se a ordem de tôda a família humana e dos povos corresponde
à dignidade de pessoa e de filhos de Deus. Assim, quer comunicar de
algum modo os frutos do Evangelho também ao mundo que não crê.
Dêste objetivo do esquema se origina a primeira dificuldade já no
capítulo IV da D parte, que, como me parece, deveria ser pôsto depois
da análise feita na exposição preliminar.
II) Sôbre o método do esquema: 1) Pelo esforço de falar com o
mundo hodierno,, o esquema corre o perigo não só de significar algo
de transitório, mas também de significar algo que vale apenas por um
brevíssimo tempo. Êste perigo aparece principalmente na análise “sôbre
a condição do homem no mundo moderno” (nn. 4-9), análise que, aliás,
contém ótimos elementos. Mas o texto refere-se demasiadamente às
mudanças do tempo presente. Não aparece suficientemente claro o que
nas mudanças descritas pode ser considerado como fator constante que
permaneça. Um esquema dedicado ao momento que passa não perdería
seu valor por causa do turbilhão das mudanças? Portanto, segundo o
meu parecer, nesta primeira parte se deveríam expor os princípios mais
fundamentais, pelos quais se prova: a) que a Igreja sempre teve a
missão de conhecer os sinais dos tempos e de cada dia envidar novos
esforços para fazê-lo; b) que a Igreja deve procurar um modo de en
tender retamente o mundo atual; c) que a Igreja deve determinar quais
são as últimas questões que se manifestam sob novas formas e exigên
cias e que tôdas as gerações da história devem resolver. Para satisfazer
a estas exigências, o esquema já contém muitos elementos. Se êles forem
bem harmonizados, o texto ficará mais breve e mais denso de con
teúdo. 2) Deveria aparecer com mais clareza quem fala no esquema,
com que direito e a quem se dirige, a) O sujeito que fala não aparece
claramente no esquema: nêle se encontram três sujeitos. Por um lado,
o Povo de Deus (que muitas vêzes se opõe ao gênero humano, mas
o Povo de Deus é apenas parte do gênero humano. Depois, o Povo de
)eus muitas vêzes aparece como uma realidade sociológica e não em
sentido teológico próprio). Por outro lado, o sujeito que fala parece
ser o Concilio ou a palavra “nós” empregada de modo indefinido e
iterario. b) A especial dificuldade de argumentar, de que sofre o es
quema, e a diversidade dos homens aos quais se dirige. Daí: aa) o pe-
ngo duma redução da verdade por causa do desejo de falar também
o nir enS ^Ut c.r^em* D esquema deveria ter como ponto de partida
So1?a Z % lZ Ce!'° b? liC0 de “mund0”’ “homem”, “histórta”, de tal mo-
encontrar r c n(:eitos compenetrassem tôda a exposição. Nêle deveríam
necessidarif*j h*U .exato os conceitos de pecado, verdade da cruz,
aa realidade do pthomem
emtencia»é esperança da ressurreição com Cristo. Assim,
mais verdadeiramente atingida e se evita o
A Igreja no Mundo de Hoje 69
seja sua vocação e abrir a estrada para o debate dos problemas hu-
manos do nosso tempo. Ora, segundo S. Tomás deAquino (Summa
contra Gentües), tres sao as exigências humanas mais profundas: o ho
mem, como criatura, tem uma relação essencial com seu Criador; como
ser racional, tem a capacidade de julgar e distinguir entre o bem e o
mal, para poder subordinar as coisas inferiores às superiores; como ser
social, deve contribuir com a sua ação ao perfeito desenvolvimento da
sociedade, para que a humanidade possa conseguir o seu próprio fim.
E claro que tudo o que se diz no esquema acêrca davida e dos pro
blemas do homem é uma decorrência lógica dessas três condições na
turais. No entanto, essas condições deveríam ser colocadas explicita
mente logo no início do esquema como se fôssem um princípio ou fun
damento filosófico. Aliás, êstes três princípios são corroborados pela
Revelação nas palavras do SI 8,5-7: Tu fizeste o homem (portanto,
é um ser criado) um pouco inferior aos anjos (porque o homem em
parte é também matéria e é também espírito, i. é, racional), de glória
e de honra o coroaste e lhe deste o mando sôbre as obras de Tuas mãos
(portanto, é um ser social, porque o domínio sôbre tôdas as obras de
Deus não pode competir a uma pessoa só, mas a todos os homens —
e a sujeição do criado não pode ser obtida senão em sociedade).
77) Russel Joseph McVINNEY, Bispo de Frovidence, nos EE.UU.:
O esquema revela uma louvável intenção ao indicar ao mundo moderno
as soluções que propõe a Igreja católica. Mas acaba por não oferecer
senão um compromisso de valor duvidoso com aquêles que são a
causa dos próprios males que hoje afligem a humanidade. E’ uma fra
queza do sentido da autoridade, como é fácil encontrar tanto na área
civil como na eclesiástica. A luta pela liberdade não deve necessariamente
conduzir à abolição do conceito de autoridade. Também na Igreja acon
tece uma crise na virtude da obediência. Isto se dá não somente entre
os leigos, mas também no meio do clero secular e regular. Sem uma
bem definida hierarquia de valores não se pode ser um Povo de Deus.
78) Giuseppe D’AVACK, Arceb. tit., Itália: O esquema parece
saber a um certo “naturalismo”, que está muito longe da doutrina de
S. Paulo (Gál 6,14; 1 Cor 1,22; 2,2). Sem dúvida, fala de Cristo, mas
não do Cristo crucificado e da mensagem que Êle dirigiu aos homens
convidando-os a segui-PO levando a cruz. Não se devem afligir os ho
mens, evidentemente. Mas também não é necessário enganá-los. Para agir
segundo a natureza no nosso mundo, é indispensável a graça — que
é difícil de se conservar mesmo com todos os meios à disposição na
Igreja. Por essa razão, o esquema deveria expor, ao menos nas suas
conclusões, o “segrêdo” do Cristianismo: a caridade não pode ser vi
vida senão com o auxílio da graça que Cristo mereceu para o homem
através da cruz.
79) Paulus RUSCH, Bispo de lnnsbruck-Feldkirch, na Áustria: Em
bora muito melhor do que o anterior, o texto é mais filosóficoque
teológico e prefere os aspectos estáticos e os desenvolvimentos abs
tratos. Na sua doutrina sôbre o homem, p. ex., se diz que êle
de Deus. Mas pouco depois esta imagem é tratada de ™an^ . d
sofica, explicando que o homem_ possui inte|teê"cia\ a £ 0 homem
etc. Por que não se diz, de acordo com a S. Escntu^ , _q cr,-a.
é imagem de Deus pelo fato de ter domínio sobre as
I. Crônica das Congregações Gerais
da„ Por nue não se diz, segundo o pensamento dos Padres - sobre-
i sq Ireneu — que o homem cresceu em Deus ( hominem esse
auínentum ad Deum”) tanto na sua vida individual como na vida his-
S de todo o gênero humano? Isto e: o homem, nos pnmord.os, vi
veu como homem natural; depois, tornou-se homem cultural; atual-
m^te porém fêz-se homem poderoso, isto e, um homem dotado de
poder’sôbre a técnica. Ora, esta evolução histórica significa ao mesmo
tempo uma evolução da imagem de Deus, pois cresceu a sua semelhança
com Deus. Por isso, é certo que, filosoficamente, o homem é um animal
racional. Mas do ponto de vista teológico pode-se dizer ainda mais: o
homem é uma imagem de Deus como que in nuce — imagem que o
decurso da história e por fim a graça de Cristo faz evoluir perfeita-
mente. Daí segue também que o homem tem, no decorrer da história,
obrigações relativamente distintas. Hoje em dia o homem tem sobre
tudo a peremptória obrigação de empregar de modo moral e ético o seu
potencial técnico. Ora, à Igreja compete ensinar êste reto uso. Noutras
palavras: a Igreja deve educar os homens de hoje a se munirem dessa
virtude. De fato, nos encontramos numa ruptura dos tempos: a época
moderna findou-se e começou a era atômica. Nessa separação de épo
cas o homem há de ser educado para que êle possua as virtudes ne
cessárias para dirigir êste tempo. Somos nós, com efeito, como diz S.
Agostinho, os que fazemos os tempos. A partir destas considerações,
poderia desenvolver-se melhor a atividade humana no mundo, da qual
se fala no cap. III. No texto se afirma que êstes problemas permane
cem ainda muito obscuros. Quiçá, porém, do ponto de vista dessa evo
lução do homem — da qual temos falado acima — fôsse possível obter
alguma clareza, no sentido de que a atividade humana desenvolve a
imagem de Deus no homem e em tôda a humanidade, o qual é teolo
gicamente importante. Porque, do contrário, quase nada poderemos dar
ao mundo, se os problemas atuais permanecem obscuros até mesmo
para os nossos fiéis. Para lograr ainda maior claridade, deveríam acres
centar-se igualmente algumas palavras sôbre o significado da restau
ração dos homens e de todo o Universo em Cristo. Além disso, o
texto é demasiado abstrato nas suas considerações sôbre o progresso
e a cultura. Nada diz sôbre a crise jurídica e cultural contemporâneas
nem sóbre o problema do tempo livre. Êsse abstratismo se reflete tam
bém na sua consideração do mal e da dor no mundo. E’ necessário,
pois, corrigir o texto, dando-lhe um caráter mais teológico, mais dinâ
mico e mais concreto.
80) Geraldo DE PROENÇA SIGAUD, Arceb. de Diamantina, no
rasn. 1) O têrmo “Constituição” usado no título do esquema não é
exa o nem oportuno, porque o esquema não constitui uma “lex credendi”
nem uma lex agendi” — e isto nem sob o aspecto da matéria trata
ram os Pr°blemas nêle tratados que de modo algum perten
ç a :- á hL+ h1 ,mores de^niendos”) nem com respeito àqueles aos
Dode ter vain^n ° Umí “constituição” no sentido estrito de “lei” só
pois essa nalívr* °S submetidos à autoridade da Igreja). Mude-se,
O texto^boPrda^™ m , /“ us”, “litterae”, “epfetola", etc. 2)
redatores DorémP n CmaS filosóficos e sociológicos. Os seus
métodos e espirito daT íoláPsrS
astica e aderir aos pnncipios d°S
ÍnedÍadPrOPOSÍtadamente pri"cípi°8’
e métodos da
A Igreja no Mundo de Hoje 73
Concilio - V — 6
23-9-1965: 134» Congregação Geral
A lereja no Mundo de Hoje
Proimio e Exposição Preliminar
PR E SE N T E S: 2.229 PADRES
Conciliares. Moderador: para a parte geral, o Cardeal Lercaro;
para o proêmio e a exposição preliminar, o Cardeal Doepfner.
A sessão começou às 9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi
celebrada pelo Cardeal Amleto Cicognani, Secretário de Estado
de Sua Santidade, que hoje celebra seu 60’ aniversário de or
denação sacerdotal. Durante a Congregação desta manhã apre
sentou-se primeiro uma relação explicativa sôbre as votações
do esquema sôbre o apostolado dos leigos; depois foram pro
nunciados mais oito discursos sôbre a Igreja no mundo con
temporâneo em geral; a seguir uma relação sôbre o proêmio e
a exposição preliminar; e no fim duas intervenções sôbre esta
parte do esquema. Durante os debates se fizeram as primeiras seis
votações do esquema De apostolatu laicorum, que terá sua crô
nica à parte (pp. 357-361).
Esta é a ordem e o conteúdo dos discursos de hoje:
82) Cardeal Laurean RUGAMBWA, Bispo de Bukoba, Tamzânia
(texto completo): O esquema sôbre a Igreja no inundo de hoje agrada
inteiramente por muitos motivos e, sobretudo, porque no proêmio afirma
claramente a solidariedade da Igreja com tôda a família humana na
adversidade, na alegria, na esperança, no luto e no sofrimento. E mes
mo se o texto se dirige de modo particular aos que têm fé, contudo,
com a mesma caridade que flui do coração de Cristo, abraça todos os
homens e a todos propõe a nossa fé como uma vitória que vence o mun-
o. Assim, Cristo aparece nêle como a esperança do mundo e o Senhor
da história. Depois, falando dos sinais dos tempos, o esquema discerne
muito bem aquêles elementos pelos quais Deus forte e suavemente atrai
a bi os homens. A primeira parte — que é mais teórica — é necessá-
a e nos agrada, mesmo se, sem dúvida, poderá ser redigida com ums
A Igreja no Mundo de Hoje 75
forma ura pouco melhor e talvez mais breve. Os assuntos que na se
gunda^ parte sao abordados são verdadeiramente dignos dum Concilio
Ecumênico e não podem ser tidos como matéria absolutamente nova. Basta
recordar os documentos do Magistério e principalmente as imortais
Encíclicas com as quais os Sumos Pontífices mostraram ao mundo o
caminho para Deus. Com que atenção e reconhecimento os homens ou
viram a voz do papa João XXIII, de santa memória! Quanto ao modo
de tratar a matéria, deseja-se que, p. ex., em matéria social e econô
mica ou na incentivação da cooperação pacífica entre tôdas as nações,
se determine com maior clareza e exatidão os problemas e as soluções
que as Encíclicas Mater et Magistra e Pacem irt Terris já expuseram.
Os problemas que figuram no nosso esquema existem de fato. Mas às
vêzes são considerados sob alguns aspectos de circunstâncias sem dú
vida transitórias. Pois o curso acelerado da história já ultrapassou o
tempo da colonização. E, como o fluxo da história não pode permanecer
imóvel, todos nós devemos — como S. Paulo — esquecer o que ficou
para trás, aplicando-nos “às coisas que estão diante’' (Filip 3,13), para
edificar o mundo que surgirá amanhã. Além disso, se não me engano,
êstes problemas costumam ser examinados com olhos ocidentais e com
um certo espírito (“mens”) cartesiano. Não digo que isto seja mal
feito. O método adotado, porém, poderia ser melhor se, como comple
mento, fôssem usados os recursos psicológicos daqueles povos que che
garam à hegemonia do poder no mundo. Os espelhos bem conjugados
mütuamente refletem e aumentam a luz. Por isso, três pontos de gran
de importância devem ser absolutamente sublinhados: 1) Em primeiro
lugar, se deve inculcar urgentemente a solidariedade do gênero humano
em todos os setores da vida: no campo da saúde pública e nas esfe
ras econômica, cultural, social, moral, política e espiritual. Tanto os
africanos como os asiáticos costumam dizer: “Entre quatro mares to
dos os homens são irmãos”. Ora, se é assim, êstes homens não que
rem apenas receber uma esmola, mas esperam justiça, estima e ver
dadeiro amor. Causa-se nêles uma ferida se a ajuda é dada com des-
prêzo, sem a devida consideração. 2) Uma vez que a verdadeira paz
repousa na justiça, verdade, liberdade e amor, os auxílios e ajudas de
vem ser dados com maior freqüência e em maior quantidade e dum
modo educativo — de maneira que as regiões que estão em fase de
desenvolvimento não sejam apenas teatro passivo de que se ocupam os
homens apenas por interêsse de alguns lucros, mas, com o próprio tra
balho bem organizado, os habitantes dessas regiões devem cooperar e
colaborar ativa e dinâmicamente para o seu progresso, de todos os
modos possíveis. 3) Torne-se maior a cooperação internacional. Por
tanto, sejam promovidas por todos os homens de boa vontade as or
ganizações que visam o bem comum de tôda a humanidade. Requer-se,
pois, que aquêles que ajudam os outros povos se lembrem de que são
cooperadores da caridade de Cristo e ministros do amor do Pai celeste.
Por isso, sejam levados a agir por amor de Deus e se guiem por êste
amor em sua atividade. Implorem do mesmo Deus a perseverança na
mesma caridade. Esta é a única via pela qual os homens podem ser
ajudados como Deus quer. Sob o aspecto do genuíno ecumenismo, seja
me permitido manifestar o desejo de que neste esquema se dê ugar
6*
I. Crônica das Congregações Gerais
claro e amplo aos nossos irmãos que estão assinalados com o nome
dC R^Cardeal Lawrence loseph SHEHAN, Arceb. de Baltimore, nos
EE UU O texto em geral agrada. Deve, porém, ser ulteriormente
aperfeiçoado no que se refere ao seu estilo e método. 1) O estilo, que
numerosos Padres queriam direto, simples e nao demasiado eclesiástico,
deixa ainda muito a desejar, sobretudo nos primeiros capítulos: peca
nor ser bastante formalista e complicadamente emaranhado na expo
sição dos seus princípios. Isto torna difícil captar sua idéia central
e, futuramente, pode dar ocasião a interpretações errôneas, segundo já
advertiram o cardeal Bea e outros Padres. 2) Quanto ao método, os
seus redatores procuraram analisar as verdades e fatos tanto da ordem
natural ccmo da ordem sobrenatural, evitando, porém, uma separação in
feliz entre êstes dois campos. Mas seria ainda mais fácil evitar essa
separação se se tratasse das verdades de ambas as ordens dum
modo sintético e unitário, pois estas duas ordens compõem o quadro au
têntico e completo da vida do homem. Com efeito, as verdades e fatos
naturais e sobrenaturais, embora devam conceber-se como distintas en
tre si, se unificam e sintetizam no homem existencialmente tomado.
Assim, o homem, na ordem real e concreta, pode ser considerado: a)
como indivíduo, uno e único entre os demais e distinto de todos êles;
b) como pessoa espiritual que, porque dotado de inteligência e von
tade, é, por uma parte, capaz duma realidade infinita e, por outra,
capaz de comungar com os demais; c) como filho de Deus a quem o
próprio Deus deu o poder de entrar em comunhão com a Ssma. Trindade.
Ora, estas realidades, essencialmente diversas entre si, se encontram
unidas em cada indivíduo: êste, pois, deve ser considerado como pessoa
e ao mesmo tempo como ser redimido ou, pelo menos, capaz de rece
ber os frutos da Redenção. Finalmente, também em outros pontos não
parecer ter-se obtido uma síntese feliz e realista (p. ex., quando se
trata do influxo de Satanás no mundo, do conhecimento de Deus e o
problema do ateísmo, do amor conjugal e sua relação com o matrimônio,
etc.). O esquema, pois, deve apresentar uma melhor síntese compreen
siva, que, por outro lado, não deve comportar compromissos sôbre os
direitos da Igreja.
84) Antônio DE CASTRO MAYER, Bispo de Campos, no Brasil
(texto completo): 1) O esquema proposto à nossa consideração não
mostra suficientemente a íntima conexão que existe entre o ateísmo mar
xista muito bem descrito no n. 19, cap. I, da 1* parte — e a aná
lise da ordem econômica exposta por Karl Marx, condenada com ra-
zao principalmente no n. 83, cap. III da 2* parte. Em nossos tempos,
muitos, principalmente os jovens, julgam que o ateísmo marxista deva
ser separado da sua doutrina econômica, de tal modo que os próprios
? IS a^ HP°_ssani e devam — como dizem — tomar parte na organização
ne^ai k ° etlVo e na aboliÇão da propriedade particular ou posse
clérigos nSf»«i^nS aJ a dissipar tòda a ansiedade de muitos leigos e
nesta m atéria^r^P CVC dtclarar exPlicitamente a doutrina da Igreja
esperança nn *msw °r que mu,ltos de nossos coetâneos colocam a sua
uma nova e melhn d*aletico> u é, no comunismo, e esperam dêle
tsposta obvia: osdv homens
e"s? ja nao creem na
A Igreja no Mundo de Hoje ít
. 'rri+ü no
descrita nn texto,
t« quando este2) procura
A maiorapresentar
Parte dosas homens
condiçõesnãoatuais
está
do inundo. Para muita gente os fenômenos do urbanismo, da indus-
triahzaçao e da socialização ainda não têm significação alguma. Essas
pessoas poderíam, então, pensar que a Igreja não se interessa pelos
seus problemas específicos (p. ex., os africanos, asiáticos, latino-ameri
canos, etc.). Falando em nome dos habitantes da índia, p. ex., eu posso
dizer isto: ao lerem o nosso documento, êles tirariam a conclusão de que
a_ Igreja nem se preocupou nem cuidou suficientemente de suas condi
ções e necessidades”. 3) Além disso, o texto apresenta numerosas repe
tições e não põe em suficiente relêvo o fundamento teológico da sua
doutrina sôbre o homem, sôbre a graça e sôbre Cristo como centro de
tôdas as coisas. “Em Cristo, de fato, a criação tem sua plenitude. Não
poderemos saber exaustiva e profundamente o que seja o homem sem
antes considerarmos Cristo, que é o primogênito de tôda a criatura: Êle
é a perfeita imagem do Deus invisível, à imagem do qual todos nós ho
mens fomos criados e cuja imagem devemos aperfeiçoar por meio de
Cristo. Em Cristo, Deus está presente entre nós, convidando-nos atra
vés de sua presença transformante e santificante (= a graça). Por Êle.
com Êle e n’ÊIe o homem recebe uma vida mais plena, amando a Deus
e ao próximo nesta vida e na eterna”.
88) Alexandre Charles RENARD, Bispo de Versailles, na França
(texto completo): O esquema é muito rico em doutrina pastoral. A pri
meira parte parece digna dum Concilio; a segunda, porém, devendo
permanecer muito próxima da contingência dêste tempo, não pode re
sultar tão firme assim. Poder-se-ia intitulá-lo modestamente: “Notas
para a solução de alguns problemas” (Notae ad aliquas difficultates
solvendas).
1) O conjunto do esquema quer ser generosamente otimista. Esta
opção é legítima. Mas é necessário que esteja mais diretamente fundada
no Evangelho: p. ex., no n. 11, onde só é invocada a autoridade do An
tigo Testamento. Seria preciso declarar que o Senhor do mundo é o
Cristo ressuscitado, vencedor da morte e do pecado, e que restabeleceu
o homem duma maneira mais admirável (“mirabilius reformasti”). A
esperança cristã está fundada na fé em Cristo e na Igreja, não no ho
mem nem no mundo. 2) Ora, encontra-se frequentemente no esquema
um otimismo demasiada e excessivamente humano. Fala-se com fre-
qüência dos “suffundata bona” (nn. 10, 32, 43, 55, 69...). Parece de
positar uma grande confiança nos “suffundata bona”, como se não es
tivesse quase contaminados pelo pecado original. (Aliás, o vocábulo
“original” não se encontra em parte alguma do texto). Cristo disse que
“as obras do mundo são más” (Jo 7,7). Faz-se frequentemente como
se os valores humanos de dignidade, justiça, fraternidade, liberdade,
responsabilidade, etc., orientassem, por si sós, as almas para Cristo.
Tomados em absoluto, metafisicamente, é, sem dúvida, verdade. Mas.
considerados existencialmente, os valores mudam segundo a consciên
cia das pessoas e a mentalidade dos grupos. Do ponto de vista psicológico,
os valores humanos estão abertos ou fechados à fé. O esquema iraa
muito bem êste problema crucial a propósito da cultura (n. o .. .
progresso das ciências pode levar o homem moderno à tentaçao
considerar auto-suficiente e a se comprazer no agnosticismo . *
I. Crônica das Congregações Gerais
P r e s e n t e s : 2.182 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Doepfner. A sessão começou
às 9 e terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Frans Janssen, Vigário Apostólico de Gimma, Etiópia, com o
serviço litúrgico a cargo dos alunos do Pontifício Colégio Pio-
Brasileiro. Durante a sessão desta manhã continuaram as vota
ções sôbre 0 apostolado dos leigos. E com mais seis interven
ções (nn. 93-98) encerrou-se 0 debate sôbre a exposição preli
minar do esquema De Ecclesia in mundo huius temporis, pas
sando-se então imediatamente ao debate sôbre a primeira parte
do mesmo esquema: “De Ecclesia et condicione hominis”, sub
dividida em quatro capítulos. São estas as seis primeiras inter
venções desta manhã:
Cardeal Joseph FRINGS, Arceb. de Colônia, na Alemanha (tex-
ct- et° ’ -^alarei . aPenas s°kre 0 proêmio e sôbre algumas âmbi
to J? es que êle contém e que ilustram o problema de todo o esquema.
â 1 ° n' Dsobre1 0 Povo de Deus, a expressão usada dá a impressão
mann ovo de ^ eus se abaixa às angústias atuais do gênero hu
mano* ‘‘tVaH30»,em SC deduz da c,tação das palavras dum imperador ro-
tece nnr .,nfo j0™3110 é"me estranho”. Isto, porém, realmente não acon-
simnles fatr* h 0rma de condescendência e magnanimidade e sim pelo
ao mundo nãr * 1 /^ ; nds s°mos “simpliciter” homens, unidos
Nosso texto nnr Pe'° dia ogo» mas também porque dêle fazemos parte.
PovTdrDeusPo L eSSaHraZâ0’ USa em todo 0 esquema uma noção de
non 2 não fo^— a parece imatura. 2) A noção de mundo definida
E, no entanto t r a t ^ " ? 0 ° meU- humilde Parecer — melhor elaborada,
quema como a da lg re ia ^ L "0'^ 0 tã0 fundamentaI Para 0 nosso es'
conclusão são reunidas noções m T P?rte
Ç s muitas dêStede Pará£rafo>
diversas mundo: a)numa f
mundo
A igreja no Mundo de Hoje
85
como a. totalidade das coisas criaHnc* u\ . ,_
cura os pecadores,
r a d o - c) mnnHn nnr ofere e 0
0 Se“ amor> embora esteja °imerso
e í amo T "h 3° V ? ' euS' queno pr°-
pe-
ninnn mito*” ' u m* ^Ue 0 ^ ovo Testamento chama “Kósmos oütos,
nnn í ' r \ Ult,m° COnCeÍto de «?undo significa as trevas que
•P. - . ris 0 mundo que no fim será julgado. Esta terceira
significação de mundo confunde-se com a segunda, porque se diz que
este mundo finalmente será salvo. Além disso, nada se diz sôbre o con
ceito de mundo no sentido em que hoje é usado, i. é, a totalidade das
coisas criadas pelo homem e da união dos homens no trabalho técnico.
Lste é o mundo de hojede que o nosso esquema deveria tratar as re
lações que êle tem com o mundo considerado no sentido bíblico e o
modo com que o Povo de Deus pode e deve viver nêle. Mas a definição
de mundo proposta no proêmio nada fala disto e, por isso, em todo o
esquema emprega-se uma noção incompleta de mundo. 3) Na última
secção do n. 3, a finalidade é de nôvo apresentada dum modo incom
pleto. Na primeira parte, fala-se da sincera cooperação da Igreja com
o gênero humano para instituir uma fraternidade maior entre todos os
homens. Na segunda parte, esta sentença é explicada com palavras que
significam a missão íntima de Cristo: a salvação sobrenatural do homem.
Há, pois, uma perigosíssima confusão entre o progresso humano —
por motivo do qual se diz que é instituído o diálogo — e a salvação
divina que se obtém pela fé. Não é de admirar que esta confusão im
pregne todo o esquema, uma vez que a finalidade dêle é apresentada
tão confusamente. Por isso, proponho e peço que as noções de “Povo
de Deus” e de “mundo” sejam retificadas e empregadas univocamente
em todo o esquema e que também a finalidade do esquema seja apre
sentada mais claramente. Para isto não basta fazer aqui e ali algumas
mudanças acidentais, mas é preciso reformar o texto em sua substância.
94) Hermann VOLK, Bispo de Mainz, na Alemanha (texto comple
to): 1) A primeira parte — principalmente o proêmio e a exposição
introdutiva — apresentam de algum modo a intenção do esquema. Em
bora se digam muitas coisas, a descrição do mundo e de seus proble
mas não concorda com a resposta que damos sob o aspecto teológico.
O próprio mundo está convencido melhor do que nós — e o afirma —
de que a sua realidade muda vertiginosamente. Nós devemos afirmar
o que o mundo não sabe de si mesmo, i. é, o aspecto teológico dêle.
Sôbre êste ponto quase nada se diz no esquema. P. ex.: em nenhum dos
106 capítulos do esquema aparece a palavra “pecado”. Nem no mesmo
texto se trata ex professo do mundo “facto ex peccato”, tal como o
entende a Sagrada Escritura. O mundo nos ignora. Mas nós o conhece
mos e, algumas vêzes, sabemos descrever suas relações teológicas. 2)
Do mesmo modo como na doutrina s ôb r e a Igreja distinguimos o mu
tável do imutável, assim também na interpretação do mundo de hoje é
conveniente usar a mesma distinção. Não somente devemos considerar
as coisas e os acontecimentos novos, mas também as realidades cons
tantes e permanentes. Ver nas coisas novas problemas antigos e encará-
las sob o aspecto teológico são também o auxílio que podemos oferecer
ao mundo. Pensar que a relação entre o Reino de Deus e o mundo toi
profundamente alterada é dizer que o Evangelho deveria ser escrito e
nôvo. Portanto, não podemos agir como se os problemas co
se originassem somente das novas condições. Permanecem os pro
gg I. Crônica das Congregações Gerais
intípos oue São gravissimos: a dor, a morte, a obscuridade do mundo
e do homem, fundados na sua natureza de criatura, na graça, no peca
do e no estado de peregrinação. E’ teolog.camente certo o que no n. 8
L sôbre a perda de equilibno do mundo moderno? O que se en
tende Dor equilíbrio e quando existiu êste equilíbrio de que fala o es-
òuema? O mundo caminha para o desequilíbrio ou procura também ins
tituir uma ordem melhor e alcançar um equilibno? 3) Que o mundo de
hoje possa encaminhar-se para o ateísmo é um fato devido a motivos
contrários. A muitos homens o progresso do mundo de hoje parece ser tal
e tão grande, que êles pensam poderem adquirir com as próprias fôrças
no futuro tal perfeição que já não precisem de Deus. A outros a ordem
dêste mundo parece tão alterada, que pensam não poderem admitir a
existência dum Criador e não esperam nenhuma ajuda nem de Deus nem
dos homens. A todos êles devemos oferecer o nosso auxílio, mostrando
com exatidão que lacuna, que vazio — digamos assim — causa para a
inteligência e para a ação humana a negação da existência de Deus.
Se descrevemos mal esta lacuna, nenhum auxílio oferecemos ao mundo
contra o ateísmo. 4) E' de grande importância dar a Cristo o lugar
que lhe toca neste esquema. A primeira parte do esquema, no fim de
cada capítulo, fala de Cristo — e o faz bem. Isto, porém, não basta para
sublinhar a função de Cristo como cabeça do Universo e seu fundamen
to. Cristo é apresentado como um argumento nôvo em favor duma sen
tença que já foi aprovada com muitos outros argumentos. Segue-se
daí que nem o conceito de mundo nem o de graça são claramente
apresentados. De fato, não se mostra com exatidão como Cristo é a luz
e a vida para as condições atuais do homem, uma vez que êste jaz nas
trevas da morte e, assim, não podem ser iluminados senão por Cristo.
Todo o mundo, sob o ponto de vista do seu fim ultimo, está de tal mo
do ferido pelo pecado, que a sua condição só pode ser redimida por
Cristo. No esquema, porém, o mundo aparece como uma criatura ape
nas levemente ferida pelo pecado. Não basta descrever indiretamente
0 pecado que reina no mundo. Além disso, a redenção não é bem expli
cada no esquema, porque Jesus Cristo não é proposto como causa exem
plar da graça e da vida cristã que se deve conformar com Cristo. Se
tudo isto não fôr bem explicado, o estado da Igreja no mundo não
será indicado com clareza. Se Cristo é considerado apenas com uma
ajuda externa, não se entende por que se diz: “Vende tudo o que tens
e dá aos pobres, vem e segue-me”. E ainda: “Não vos deveis imiscuir
com as^ coisas do mundo”. Devemos estar atentos para não diminuir
as exigências da mensagem evangélica com a finalidade de assim me-
or falar ao mundo. 5) Proponho, pois, que na parte primeira do es
quema se abrevie a pura descrição das condições atuais do mundo,
para que oportuna e propositadamente se apresente o aspecto teológico
0 ^ue criado Por Deus e que, por isso, tem uma deter-
HimíHr,6 pere!ie. relaçâo com Deus; que êle jaz no pecado; que êle foi
só noóA «ü°r u*-1? 0’ ^UC destinad° a um fimsobrenatural que
tf- • nat T\ V ° pel° advento de Cristo e não pela evolução e his-
1 dr r S elementos teol<teicos se funda o direito da Igreja
ODortuno r /in r C 3 mundo e do mundo de hoje. Talvez seja
af 'C° m °
ma parte ** ° Capitu,° da Primeira parte no início desta mes-
A Igreja no Mundo de Hoje
87
a ^ r *
de louvor porque demonstram a sincera cooperação q T a Igreja Ofe
rece ao mundo para construir uma sociedade mais perfeita e porjue in
dicam diretrizes para que o progresso não se realize fora da Igreja ou
contra ela mas com a mesma Igreja. Para que a cooperação da Igreja
se torne mais eficaz e mais de acôrdo com a sua missão, são necessá
rias uma visão exata do homem e do mundo moderno e uma exposição
precisa dos meios que se devem adotar. A exposição introdutória deveria
falar, em primeiro lugar, da origem do mal, que é o pecado; depois,
do desejo de imortalidade e felicidade inato no coração do homem;
por fim, da divina Providência que tudo dispõe para o maior bem dos
homens. O primeiro capítulo deveria expor a doutrina do pecado ori
ginal, sem a qual não se podem entender o homem e suas fraquezas.
Tendo presente os graves perigos representados pelo ateísmo hoje tão
difundido no mundo, seria também oportuno que êste primeiro capítulo
contivesse também uma clara apresentação dos argumentos que provam
a existência de Deus. O segundo capítulo, infelizmente, ignora o dua
lismo moral que existe entre o bem e o mal. Sob êste ponto de vista,
o mundo não pode ser considerado com otimismo — como o faz o es
quema — mas como um teatro de conflitos, embora se tenha a cer
teza da vitória final do bem, graças à ajuda de Deus e não à capa
cidade do homem. Cristo deve ser apresentado não só como homem
perfeito mas também como Filho de Deus e fonte de salvação. O capí
tulo terceiro faz ver que entre o espírito e a matéria, entre a Igreja e
o mundo, não há oposição mas harmonia. Mas é preciso fazer ver tam
bém que existe sempre uma oposição por parte do homem proclive
ao mal. Finalmente, ao falar no quarto capítulo da colaboração que
a Igreja oferece ao mundo para estabelecer uma ordem social perfeita,
deve sublinhar-se que a Igreja exerce êste ministério na linha da trans
cendência e da elevação sobrenatural — e não na linha duma evolução
natural e imanente.
96) Léon Arthur ELCHINGER, Bispo coadj. de Strasbourg, na
França (texto completo): Falarei sôbre o segundo e terceiro pontos do
Proêmio: 1) Em que espírito o Concilio tenciona interpelar o mundo
neste esquema? 2) Qual deverá ser a forma concreta do diálogo da
Igreja com a família humana?
1) Lemos no n. 2 do esquema: “O Concilio quer expor a todos
os homens como a Igreja concebe sua presença e sua atividade no mun
do”. Êste projeto, porém, se encontra insuficientemente realizado na se
quência do texto. Com muita frequência a gente não percebe suficien
temente se se trata de orientações concernentes unicamente ao mundo
ou se se trata de diretivas que se referem à própria Igreja em suas
relações com o mundo. Para melhor precisar a finalidade que a Igreja
deve visar ao entrar em diálogo com o mundo, devemos nos referir,
por um lado, àquilo que foi a intenção do Papa João XXIII ao convo
car o Concilio e, por outro lado, àquilo que os homens de hoje esperam
efetivamente da Igreja. João XXIII queria que, graças ao Concilio, a
Igreja pudesse apresentar-se ao mundo com um rosto nôvo, a fim e
que todo o dinamismo do Evangelho seja pôsto ao serviço dos homens.
ss
|. Crônica das Congregações Gerais
de hoje são mais sensíveis aos atos do que às palavras. Por isso, o que
êles desejam não é escutarem uma teoria da Igreja no concernente ao
mundo, mas saberem como a Igreja pretende se reformar quanto às
suas relações com o mundo. Ora, o esquema se estende muito sôbre
o que o mundo deve fazer e diz apenas poucas coisas daquilo que a
Igreja se propõe fazer para ir ao encontro do mundo e para o esti
mar verdadeiramente. E’ com razão que o mundo espera isto. Cristo,
com efeito, de nós exigiu explicitamente sermos os seus testemunhos — e o
sermos não somente difundindo a sua mensagem, mas adotando sua
nova maneira de amar os homens e de os ajudar concretamente.
2) Como o nosso texto poderia melhor e mais concretamente res
ponder a uma tal preocupação? Os homens de hoje reclamam da Igreja
uma sã liberdade, uma profunda sinceridade, a possibilidade de serem
fraternais no trabalho, no intercâmbio de idéias, na tranqüilidade plena de
alegria, etc. 0 texto do esquema não nos indica suficientemente o que
a Igreja pretende fazer para realizar o que há de legítimo nestes dese
jos e para realizar êstes desejos primeiramente no seio da Igreja. (Aliás,
no n. 40 encontramos ao menos um ótimo e feliz reconhecimento da
liberdade no estudo das ciências). E’ assim que no capítulo primeiro
se trata do primado da consciência, da grandeza da liberdade, do va
lor do corpo. Mas não basta daí deduzir depois, muito simplesmente,
que é mister respeitar a dignidade humana. A Igreja deve-se pergun
tar o que ela deve empreender concretamente para que seja respeitada
a dignidade humana no mundo de hoje — e para que o seja em pri
meiro lugar no interior mesmo da Igreja. Um dos meios de favorecer
o respeito da dignidade humana e de desenvolver eficazmente o sen
tido da liberdade pessoal seria, sem dúvida, um grande esforço que
visasse multiplicar com sabedoria a descentralização na organização da
vida econômica, social e mesmo eclesiástica (e isto em todos os degraus
da hierarquia). Esta descentralização permitiría, com efeito, às diver
sas pessoas exprimir-se francamente e assumir nos diversos domínios
o grau de responsabilidade que convém a umadulto (semcontestar,
entretanto, a necessidade e o valor duma autoridade superior). Além
disso, o que é que a Igreja tenciona fazer para salvar e desenvolver
melhor no homem a preocupação da “qualidade” e o sentido do “gra
tuito e para os desenvolver no interior mesmo da Igreja, em rea-
cao contra a obsessão da “quantidade” e do conformismo? E’ assim
que para cada um dos problemas levantados nesta orimeira Darte do
A Igreja no Mundo de Hoje
89
ned aderÓEr elaSdevetU?e0r a J S f c — Pr°V°Car °U alimentar a incredu-
temunhas de Cristo^- V 't n S S “ T VerdadeÍr0S ^
S c . ã D ... ' de Cristo!' ,an,,,S “ '5t'",0“ ainda a ™"“ «™
, mS! n a"f™H Se indicasse para cada um dos problemas, as mudanças
de mentalidade e de atitudes que nos gostaríamos ver se espalhar na
Igreja e, por meio dela, através do mundo, então os homens de hoje
prestariam verdadeiramente atenção às declarações do Concilio e com uma
nova confiança olhariam para a Igreja. E’ verdade que a Igreja não
pode atualmente dar respostas precisas a todos os problemas que lhe
são colocados. Basta que ela se ponha lealmente em busca duma so
lução e que indique em qual direção orienta sua busca.
A modo de conclusão proponho o seguinte: 1) Os desenvolvimen
tos que concernem unicamente ou principalmente ao mundo — consi
derado em si mesmo — deveríam ser abreviados ou resumidos. 2)
Tudo o que concerne às relações da Igreja com o mundo de hoje de
veria ser desenvolvido e tratado concretamente. 3) Que o esquema não
se contente com teorias, mas que vá até às aplicações práticas no ati-
nente aos projetos que a Igreja tem para servir melhor o mundo. Assim,
o esquema responderá melhor ao que está anunciado no n. 2. Uma rees
truturação semelhante do esquema, visando um maior realismo missio
nário, parece-me ainda possível e muito desejável. Com efeito, o Con
cilio vai ser responsável da “reputação de Deus” entre os homens. Do
Concilio vai depender que os homens acreditem ou não no amor de
Deus para com o mundo de hoje.
97) Charles-Marie HIMMER, Bispo de Toumai, na Bélgica: A ex
posição introdutória do esquema é digna de louvor por causa de sua
objetividade e, sobretudo, porque não é fácil propor uma definição e
uma descrição que possa satisfazer completamente tanto aos homens
do Ocidente como aos do Oriente. Nos parágrafos 4, 5 e 6 seria con
veniente demonstrar que o melhoramento das condições dos operários
— quer no campo econômico como no da dignidade da pessoa — re
presenta um verdadeiro progresso da humanidade. Trata-se duma evo
lução que se deve estender a todos os múltiplos aspectos da vida hu
mana, abraçando também os setores econômico e social como igual-
menté o político e cultural. Êste é, aliás, o progresso de que falava
João XXIII. De fato, por causa do sentido inato da dignidade do traba
lho, os homens dão maior valor ao dinheiro que adquirem com o pró
prio trabalho do que ao que obtêm como fruto do capital investido.
98) André-Marie CHARUE, Bispo de Namur, na Bélgica: O têrmo
“mundo” tem na Bíblia uma significação tão variada e complexa que
êle não pode ser explicado em poucas linhas, como a introdução do
esquema procura fazer. Isto poderia dar ocasião a falsas interpretações.
E’ preciso levar em consideração esta questão porque o esquema ten
ciona dar uma noção teológico-bíblica do mundo numa perspectiva pas
toral. Ora, biblicamente, há ao menos quatro sentidos principais da
palavra “mundo” e a êles deve fazer referência o esquema: 1* O ter
mo designa freqüentemente o valor especial do mundo (tou 'osmou .
Assim, em Atos (10,16; 17) o mundo é “o céu e a terra e u o o
Concilio - V — 7
90 í. Crônica das Congregações Gerais
êles contêm’* Nesse universo se manifesta o poder e a sabedoria do
{'riarfnr _ e o NT insiste na participação do Verbo na criaçao. Se
gundo S João. tôdas as coisas Deus as fêz pelo Verbo (Jo 1,3). Para
S Paulo Cristo é “o primogênito de tôda a Criação” (Col 1,15-17).
r Segundo Gn 2, o mundo é a terra confiada por Deus aos homens.
Nela Cristo veio erguer a sua própria tenda e, assim, a terra dos ho
mens se tornou a terra da Encarnação do Filho de Deus e de sua
nova Aliança conosco (cf. Jo 1,14-18; 6,14; 16,28; 18,37). 39 Esta pala
vra significa ainda a família dos homens, amados pessoalmente por
Deus. porquanto feitos à imagem de Deus (Gn 2,26-27). Para êles o
Verbo é a luz (Jo 1,5 ss), pois o Filho de Deus feito homem não pode não
ser a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a êste mundo.
Aliás, à luz do Verbo se iluminam tôdas as obras da Criação, de sorte
que a Igreja de Cristo deve-se alegrar de todo verdadeiro progresso
científico e técnico, porque destarte o homem domina a Criação e a
submete para si (cf. Gn 1,27-31). Por conseguinte, os cristãos, embora
devam procurar as coisas que estão no alto, sejam convidados a tra
balhar, com todos os demais homens, na configuração dum mundo mais
humano. 4Ç Por fim, no NT — sobretudo em S. João — “mundo” de
signa o mundo dividido, o mundo do pecado, i. é, o gênero humano
enquanto caído no pecado e que caminha nas trevas sob a guia do
"Príncipe dêste mundo” (Jo 1,5). Contudo, a Igreja prega o mistério da
redenção por Cristo e em Cristo: quem crer n’éle tem a vida eterna.
Por isso, na Revelação, a história da salvação se desenvolve como uma
espécie de irradiação paulatina nas trevas. Por conseguinte, haverá
sempre necessariamente uma luta entre o mundo corrompido pelo pe
cado e o autêntico Evangelho de Cristo. Dai a necessidade de esco
lhermos um meio-têrmo entre o pessimismo rígido e o otimismo ingênuo
no que concerne ao apostolado, à pastoral, aos esforços de penetração
no mundo. Pergunto ainda se é oportuno insistir logo no início do
texto na condição de pecadores dos seus leitores. Nem Cristo nem S.
Paulo procediam assim. E’ óbvio que deve falar-se claramente do pe
cado, mas não logo no Prólogo! Seria preferível formular, p. ex., que
“todos os homens, mesmo os que não receberam a revelação cristã,
são amados por Deus e, se estão providos de boa vontade, podem en
contrar e alcançar a salvação naquele Cristo que a Igreja adora e pre
ga”. Os homens de hoje, com efeito, querem ouvir o que a Igreja en
sina acêrca das condições atuais e dos problemas que os angustiam.
Entretanto, o esquema me agrada e espero que, uma vez revisto, possa
agradar pelo menos à maioria.
Encerrado êste debate em geral, fêz-se a votação de son
dagem. A pergunta dirigida aos Padres foi formulada de uma
maneira bastante misteriosa: “Julgam os Padres Conciliares
oportuno que se passe ao exame do proêmio e das duas partes
em que está dividido o esquema de Constituição Pastoral sôbre
l£reja no mundo de hoje, depois de terminada a discussão
sôbre o mesmo esquema considerado em seu conjunto?” Res
posta. sôbre 2.157 votantes, 2.111 disseram placet, 44 non placet
A Igreja no Mundo de Hoje <J]
e'autoridade
l S paPrem CeV
nada mseja-Ô^diminuída.
. a SUa unidade e autenticidade, sem que sua
101) Cardeal Rufino SANTOS, Arceb. de Manila, nas Filipinas: O
a uai esquema e superior ao anterior. Apesar disso, impõem-se ainda
algumas correções. Conviría eliminar do texto as palavras: “Causam
grande satisfaçao ao Povo de Deus as nações que consideram o direito
a liberdade religiosa,^ individual e coletiva, como elemento constitutivo
do bem comum . Razões: 1) Essa afirmação é desnecessária nesse lugar.
Bastaria remeter à doutrina sôbre a liberdade religiosa proposta pelo
Concilio. 2) Sem prévias e mais amplas explicações, daria ocasião a que
os alheios à Igreja invocassem em favor dêles a autoridade do Concilio.
3) No atual contexto, dá a impressão de que são nações católicas aquelas
que constrangem os homens a abraçarem a fé católica. 4) Nesta afir
mação esconde-se um julgamento comparativo muito perigoso entre as
nações que consideram o direito à liberdade religiosa como algo a se
inserir nas Cartas Constitucionais e outras que não aceitam de modo
algum ou coartam suas manifestações. Deixemos ao juízo de Deus o
mérito ou demérito de cada nação. Ninguém pode afirmar qual destas
duas posições satisfaz melhor as exigências do Povo de Deus.
102) Cardeal Franjo SEPER, Arceb. de Zagreb, na Jugoslávia (texto
completo): O esquema não se deve limitar a dar somente uma idéia
do ateísmo, que constitui um dos maiores problemas da Igreja no mun
do contemporâneo, tanto mais que existem hoje homens e movimentos
que consideram o ateísmo como uma condição essencial para a cons
trução dum autêntico humanismo e como um postulado essencial para o
progresso do mundo e da sociedade. O esquema — que pretende pro
jetar uma visão cristã dos problemas contemporâneos — não pode ca
lar-se diante do problema do ateísmo, o qual constitui quase a base e
justificação do próprio esquema. Por êsse motivo, é essencial falar do
ateísmo neste esquema. Julgamos, porém, que o que atualmente se diz
nos nn. 18-19 não pode ser considerado suficiente e acomodado.
Nesse contexto é preciso falar do ateísmo tendo presente aquêles aos
quais se refere, o modo de expressão e o fim que se quer obter. E’ in
dispensável também falar não somente aos católicos, mas a todos os
homens de boa vontade; não somente aos filósofos e governos, mas a
todo o gênero humano. E’ importante, por isso, enfrentar o problema
positivamente, aprofundando os motivos que hoje determinam a expan
são do ateísmo, não tanto para condená-lo nem — primàriamente —
para demonstrar a existência de Deus: não pretendemos precisamente
neste esquema converter os ateus. Queremos apenas explicar o con
ceito que nós cristãos temos do ateísmo e nossa posição em face dos
ateus e, ao mesmo tempo, notar que a fé em Deus não impede, mas, an
tes, estimula a contribuir eficazmente para a ação e a solicitude pelo
progresso da humanidade e pelo melhoramento das condições de vida
e da dignidade da pessoa humana. Por essa razão deve-se reconhecer
claramente a parcial responsabilidade de alguns que, invocando falsa
mente o nome de Deus, se apresentaram como defensores da ordem
estabelecida e da imutabilidade das estruturas sociais. E’ necessário ex
plicar de modo expresso que a noção de Deus que êsses ateus têm
é manca e, portanto, falsa. O Deus verdadeiro não é aquele que man a
I. Crônica das Congregações Gerais
homens se afastarem de tôda preocupação pela justiça e a caridade
nara com todos os homens neste mundo e limita-se a prometer uma
itistica e felicidade eternas. O verdadeiro Deus e aquele que ordena e
üuer aue os homens se empenhem, também e primàriamente neste mundo,
na realização da justiça e da caridade por todos os meios e fôrças. A
justiça do Céu deve também ser entendida como uma recompensa pela
justiça que os homens se esforçaram por estabelecer na terra. Por con
seguinte, o autêntico Deus que Jesus Cristo ensinou e manifestou não
apenas se revela a si mesmo pela ordem da natureza, mas também atra
vés dos homens que pela sua vida e obras dão d’Êle testemunho no
mundo diante de seus irmãos. Por aí vemos que a fé em Deus, se fôr
autêntica e sincera, de modo algum pode constituir um obstáculo para
o progresso, mas antes um estímulo e um sustentáculo. Mais ainda: nós
pensamos que Deus é o verdadeiro e real fundamento para obter
de fato a promoção da dignidade da pessoa humana e do autêntico
humanismo. No entanto, não queremos afirmar com isso que os ateus
nada possam fazer em favor da promoção humana, pois podem existir
valôres reais cujo fundamento divino muitas vêzes não é logo visível.
Representam, entretanto, pelo menos uma implícita afirmação da von
tade divina e da lei eterna. Esta apresentação do ateísmo pertence ao
âmbito dêste esquema. Ora, se o Concilio quiser falar dêle de maneira
mais circunscrita e exaustiva, deveria redigir-se um documento especial.
103) Ignace ZIADÉ, Arceb. maronita de Beirut, no Líbano (texto
completo): Gostaria de propor algumas sugestões sôbre o fundamento
teológico da Constituição pastoral. Dêle se trata amplamente na primeira
parte, capítulo 111, desde o n. 41 até ao final dêsse capítulo (nn. 41-47).
Refiro-me à relação existente entre a atividade humana e o advento
do Reino de Deus. Nessas passagens tocamos o próprio coração do mis
tério, i. é, qual seja o vínculo que existe entre a Igreja e o mundo ou
entre a graça e a natureza.
Os desenvolvimentos apresentados neste capítulo satisfazem, em certa
medida, a “fides quaerens intellectum”. Ao meu ver, porém, carecem
dum certo vigor espiritual: é que aí falta o poder do Cristo r e s s u s c ita d o .
Apenas duas vêzes se alude — e isto “materialiter” — ao mistério da
Ressurreição (pp. 34 e 36), mas êste mistério como tal não inspira for
malmente a exposição da relação entre a atividade humana e o Reino
de Deus. O esquema parte da consideração das criaturas e paulatina-
mente analisa o sentido da Criação até ao final da história no retorno
glorioso do Senhor. Mas, se não me engano, a verdadeira teologia da
ístoria, a visão teológica da história não tem sua origem na primeira
criação mas na segunda criação. Os acontecimentos dêste mundo só
po em ser entendidos à luz do advenimento da nova criação, já c o m e ç a d a
na ressurreição do Senhor.
outras palavras, falta-lhes a novidade da Ressurreição que já
á VaJroH m^ ndo' Talvez uma consideração mais profunda e interior
surrr-iÃn h 5cr,tura e da teologia do Oriente sôbre o mistério da res-
iorada ™ dT? ;,enh°r poderia remediar êste defeito. Pois a questão co-
ressusrítam ac e Preeisamente a de S. Paulo: “Mas dirá alguém: Como
Hoít dÍ7^!Lr T T ° S? 00,11 que corP° voltam à vida?” (1 Cor 15,35 ss).
que pensar do crescimento que o esforço humano
A Igreja no Mundo de Hoje 99
P r e s e n t e s : 2.147 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Doepfner. A sessão começou
às 9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Étienne Loosdregt, Vigário Apostólico de Vientiane, no Laos.
Nesta manhã continuaram os debates sôbre a primeira parte
do esquema agora em discussão, com um total de 13 interven
ções, uma delas do Cardeal Rossi, Arceb. de São Paulo, que
falou em nome de 92 Bispos do Brasil (cf. n. 108). Durante
os discursos fizeram-se também as últimas votações do esque
ma sôbre o apostolado dos leigos. Foi comunicado ainda que
depois de amanhã começarão as votações sôbre os ‘modos’ dos
cinco esquemas já votados durante a III Sessão. Será observada
a seguinte ordem: O múnus pastoral dos Bispos, A atualização
dos Religiosos, A educação cristã, A formação dos Seminaristas
e As relações da Igreja com os não-cristãos (e os judeus). São
estas as intervenções desta manhã:
105) Cardeal MAXIMUS IV SAIGH, Patriarca dos Melquitas (eis
aqui o texto completo de sua intervenção, que, como nas sessões an
teriores, foi proferida em francês): O esquema sôbre a Igreja no mundo
de hoje é fundamentalmente bom, tanto pela intenção que guiou sua
elaboração como também pelo espírito que o anima. Numerosas vozes
no Concilio tinham pedido um texto bem centrado sôbre Cristo, que
manifestasse ao mundo um Espírito de amor. E’ o essencial e, nisto, o
esquema atual conseguiu, segundo o meu parecer, satisfazê-los. No
entanto, parece-nos que em dois pontos êste espírito não é bem apre
sentado: no tema do ateísmo e no da guerra. Hoje falarei somente do
primeiro ponto. O parágrafo 19, que trata do ateísmo, é, ao nosso ver,
demasiado negativo. Descreve o marxismo sem o nomear, mas de modo
muito claro e de preferência sumário. Condena o que é evidente
102 I. Crônica das Congregações Gerais
c*a doutrina ateia, os que a defendem e as autoridades civis que a sus
tentam Mas é claro que não é condenando o marxismo que se salva a
humanidade do ateísmo. Para salvar a humanidade do ateísmo, é preciso
também — e isto é o elemento nôvo e construtivo — denunciar as
causas que provocam o ateísmo ateu, propondo sobretudo uma mística
dinâmica e uma moral social vigorosa, mostrando que está em Cristo a
íonte dos trabalhadores para alcançarem a sua verdadeira libertação,
tísse parágrafo poderia ser vantajosamente substituído pela passagem,
tão forte e tão positiva, de nosso caro e venerado Paulo VI na sua
Encíclica Ecclesiam suam: “Muitas vêzes Nós vemos — diz o Papa —
que também os ateus são movidos por bons sentimentos, desgostosos
da mediocridade e do egoísmo de tantos meios sociais contemporâneos
e indo buscar talvez no nosso Evangelho formas e linguagem de soli
dariedade e de compaixão humanas. Seremos um dia capazes de recon
duzir às suas verdadeiras fontes, que são cristãs, estas expressões de
valôres morais?” E Paulo VI, retomando o pensamento de João XXIII
na Pacem in Terris, diz: “As doutrinas dêstes movimentos ateus, uma
vez elaboradas e definidas, são sempre as mesmas, mas os próprios
movimentos não podem deixar de evoluir e sofrer mesmo mudanças pro
fundas. Não nos desesperemos de vê-los um dia travar com a Igreja um
outro diálogo, positivo, diferente do atual diálogo, obrigatoriamente li
mitado a deplorar e a se lastimar”. Êstes textos de Paulo VI e de
João XXIII nos parecem preferíveis ao texto atual do esquema, limi
tado “a deplorar e a se lastimar”. Todos nós sabemos por experiência
que muitos dos que se dizem ateus não estão realmente contra a Igreja.
Existem alguns dêles que estão bem perto da Igreja. Na realidade
procuram, como diz Paulo VI, uma apresentação mais verdadeira de
Deus, uma religião de acôrdo com a evolução histórica da humanidade
e, sobretudo, uma Igreja que apoie não sòmente os pobres mas também
o esfôrço de solidariedade dêles. Muitas vêzes êles se escandalizam com
um cristianismo medíocre e egoísta, petrificado pelo dinheiro e falsas
riquezas, defendendo, mesmo pelas armas, não a sua fé, que não pode
jamais ser defendida pela fôrça, mas seus interêsses e segurança ime
diatos. Houve quem reclamasse que o esquema denuncia o pecado do
mundo. Eis, porém, o grande, o enorme pecado do mundo, aquêle que
Jesus denuncia sem cessar no seu Evangelho: o egoísmo e a explora
ção do homem pelo homem. Outros gostariam que êste texto falasse
mais sôbre a necessidade de levar a cruz, de sofrer com resignação a
própria sorte. Mas, de fato, quem leva uma cruz mais pesada do que
a .cruz levada pelas massas trabalhadoras e miseráveis que procuram
sair de sua miséria através do trabalho, da solidariedade e até mesmo
da socialização? E* de lamentar sòmente que elas o façam por meio
e Sistemas ateus. Mas não é o egoísmo de certos cristãos que provo
cou e provoca, em grande parte, o ateísmo das massas? Jesus nos
previne contra o escândalo dos pusilos, i. é, dos humildes: “Ai daquêle
pe o qua vier escândalo!” Jesus diz isto como conclusão da pará-
a o rico epulão e do pobre Lázaro. Muitos ateus são simplesmente Lá-
V Zad°j p?,os ,ricos 9ue se dizem cristãos. Tenhamos, pois, a
. ^ ia C reconc*uzir às suas verdadeiras fontes, que são cristãs,
* j8 Vf, rfB mora*s Que são a solidariedade, a fraternidade, a sociali-
os remos que o verdadeiro socialismo é o cristianismo, vivido in-
A Igreja no Mundo de Hoje 103
tegralmente na justa divisão dos hpnc * • .. . f ,
todos.
. . . Estas
. formas. modernasuadaeconomia
economia e^ da
4gUa funtlamental de
sociologia tem necessi
dade nao de condenações mas do levêdo do Evangelho para libertar-
se do ateísmo e realizar-se harmoniosamente. Em vez de condená-los
continuamente, descubramos seu verdadeiro sentido, que é cristão. So
bretudo pratiquemos nos mesmos e façamos praticar o Evangelho da
divisão dos bens e da fraternidade. Se nós o vivermos, se nós o pre
garmos inteiramente, libertaremos o mundo do comunismo ateu. Em
vez, pois, duma condenação banal, que, aliás, já se conhece, enviemos
ao mundo do trabalho número sempre maior de sacerdotes e de leigos,
prontos para compartilhar a vida de trabalho e o esforço social dos
homens do nosso tempo, fazendo tudo para revelar-lhes êste Deus que
êles negam mas que êles procuram às apalpadelas, atraídos por Jesus
de Nazaré, o Carpinteiro, Salvador do mundo e “Amigo dos homens".
106) Cardeal Franziskus KOENIG, Arceb. de Viena, na Áustria
(texto completo): Falarei sôbre o que está contido nos nn. 18 e 19 acêrca
do ateísmo. Neste ponto, estou também de acôrdo com o que na última
Congregação Geral disse o Cardeal Seper (n. 102), i. é, que a exposi
ção do esquema sôbre a matéria dos referidos números é insuficiente.
Segundo o meu humilde parecer, a razão é a seguinte: não se apresenta
uma distinção clara das diversas formas de ateísmo. Com efeito, o
ateísmo militante — de que quase unicamente fala o n. 19 — é ape
nas um aspecto da questão. Além disso, o esquema não propõe os re
médios convenientes e não expõe o modo de agir da Igreja neste campo,
embora diga que o ateísmo deve ser contado “entre os gravíssimos
problemas de nossa época". Mas não basta doer-se apenas pelo fato do
ateísmo (cf. n. 19). Proponho, por isso, que num texto mais amplo se
faça uma exposição sôbre êstes quatro pontos: 1*) as diversas formas
do ateísmo e a íntima natureza dêles, 2Ç) as raízes dêste fenômeno,
39) os remédios convenientes e 4Ç) o modo de agir da Igreja neste campo.
Com respeito ao l 9 ponto, entre outras coisas, examine-se teologica
mente, por uma parte, o fato da propagação do ateísmo em todo o
mundo e, por outra, se reflita sôbre aquêle axioma segundo o qual a
alma humana é naturalmente cristã, procurando compreender como estas
duas realidades podem estar juntas. Com relação ao 2* ponto, as rai
zes do fenômeno do ateísmo parecem encontrar-se apenas no mundo
ocidental. Tais raízes, com efeito, não se encontram, p. ex., na índia
ou noutras partes da Ásia e da África, a) Ora, para muitos pensado
res católicos e também acatòlicos a explicação da raiz do ateísmo foi
conseqüência duma evolução: no séc. XVI quebra-se a unidade dos
cristãos; nos séc. XVII e XVIII o iluminismo e o deísmo procuraram des
truir a ordem sobrenatural e teândrica, i. é, a Encarnação; no séc. XIX
procurou-se expulsar Deus do mundo. Talvez o comêço desta evolução
deva ser assinalado já na separação da Igreja Oriental e Ocidental,
b) Outra raiz dêste fenômeno pode ser encontrada na idéia errada
que muitos cristãos têm de Deus: ou Deus e o mundo são considerados
de tal modo opostos entre si, que, segundo a idéia de Hegel, cons
trangem e oprimem inteiramente a liberdade do homem e sua pleni
tude humana; ou Deus é concebido como um princípio intramundano,
i. é, apenas como uma causa primeira que sòmente se invoca sempr
104 I. Crônica das Congregações Gerais
nue fôr necessária para explicar o progresso duma determinada causa
no seu processo de evolução; ou Deus e considerado apenas como
causa de consolação do homem, o que não está muito longe do que se
denominava de “ópio dos povos”. Essa raiz, portanto, se encontra nu
ma falsa imagem que o homem fabrica e nas consequências que desta
imagem decorrem. Com relação ao 3P ponto, entre os remédios conve
nientes. podemos indicar: a) Uma contínua cooperação que vise inten
sificar a união dos cristãos. Enquanto faltar esta unidade, não será
possível uma colaboração fraterna baseada na união de forças por
causa das diferenças da fé. b) Nas escolas católicas, em tôda forma
ção e ação dos leigos, devem ser explicadas e propostas as razões do
ateísmo e nossas respostas a êste fenômeno, c) A Igreja deve defen
der ativamente a justiça social, sem temor e sem acepção de pessoas,
d) Pois que em tôda a parte a ignorância constitui um grande perigo,
por isso mesmo os pastores da Igreja, os sacerdotes e os missionários
devem possuir amplos conhecimentos sôbre a origem do ateísmo, seus
argumentos e sua maneira de agir. Daí a necessidade de preparar in
vestigações e livros por parte dos especialistas. Acêrca do 4* ponto, não
condenemos ninguém. Mas, a) sem ressentimentos nem paixão (“sine
ira et studio”), procuremos com todos os homens de boa vontade uma
certa comunhão e uma maneira de vivermos em paz. Por outra parte,
porém, o Concilio não pode calar, mais ainda, deve claramente ensi
nar que não se pode obrigar pela fôrça os crentes de qualquer deno
minação cristã ou de qualquer religião a abraçarem o ateísmo, porque
para qualquer homem a liberdade de consciência constitui um direito
natural e inalienável, b) Nos países dominados pelo comunismo, deve
ria aconselhar-se a seguinte conduta: dar testemunho do Deus vivo
colaborando sinceramente para o progresso econômico da própria pá
tria. Destarte, mais com a ação do que com a palavra, demonstraría
mos que a vida religiosa não paralisa mas, pelo contrário, pode en
gendrar uma energia maior do que o ateísmo, c) Como a evolução
histórica do ateísmo contra Deus começou dum certo modo com a ne
gação da Encarnação, cuja obra é continuada na Igreja e na qual a
Virgem Maria tomou parte por eleição de Deus, assim também a Mãe
de Deus será a nossa auxiliadora na luta contra o comunismo.
107) Cardeal Hermenegildo FLORIT, Arceb. de Florença, na Itá
lia (texto completo): Acho que o esquema carece de vigor e clareza na
sua maneira de tratar o ateísmo no n. 19.
1) Pelo bem de tôda a humanidade, seria necessário que o Concilio,
com tôda a sua autoridade, declare que não é de todo acidentalmente
que o materialismo dialético tem um caráter ateu. a) Neste sistema,
a cultura em sua totalidade — isto é, a vida espiritual do homem —
nao existe em si mesma, mas constitui simplesmente um edifício ideo-
jgico externo, porque a vida econômica — concebida de maneira ma-
eria is a — e a única realidade que governa tôda a vida humana. Pois
3 algum ,para a vida espiritual do homem e sua dignidade
l nr rtánf10 !?en0S **a *u£ar para Deus que transcende o mundo e
tráhalhn d ,r ‘nt0 do mundo- b> T°da a doutrina marxista sôbre o
va.ores e a v'da econômica pressupõe necessariamente uma
concepção momst.ca. E. pois que hoje em dia um número não despre-
A Igreja no Mundo de Hoje 105
ã !i° í ■**.d»'™*
ms - R ’ pnnmn^rvc „ aeci?,_r.a.r neste documento, com têrmo# da--
•j pronfimira nãn & 3 lmP08s<biIidade duma distinção semelhante. A
«. como afirma o materialismo dialético — um
processo mecânico, porque a conseqüência disto seria que o homem es
taria reduzido a um elemento material numa máquina. A vida econô
mica e um dos verdadeiros bens do homem e se encontra, portanto,
em relaçao com o homem enquanto ser formado de corpo e espírito,
constituindo em si mesmo uma verdadeira entidade espiritual. Portan
to, a produção de bens é também uma atividade pessoal e estas coisas
são boas por causa de sua relação com o homem, que é uma enti
dade espiritual-corporal. Com efeito, o homem deve ser considerado
como uma pessoa, inclusive na vida econômica, isto é, como um sujeito
que age e não simplesmente como o objeto dum processo material e
mecânico.
2) O esquema deveria indicar brevemente as causas que levam ao
ateísmo e, ao mesmo tempo, os principais remédios que nós propomos.
Antes de tudo, deve-se ter presente que o ateísmo moderno é a decor
rência natural de quase tôdas as teorias filosóficas do nosso tempo,
embora possa ser, por sua vez, a matriz e a origem da negação do Deus
pessoal e distinto do mundo. Além do ateísmo de tipo sociológico e
institucional, que é — como todos sabem — um fenômeno de massa,
propaga-se, particularmente entre os jovens, um ateísmo “científico” que
pretende fazer da física uma metafísica: dedica-se à especialização téc
nica como se a técnica fôsse a fonte da auto-suficiência e do huma
nismo ateu. Mas há ainda outras causas ou razões diretas que corro
boram o ateísmo na sua negação da existência de Deus: p. ex., uma
visão exterior da Igreja e a má conduta de numerosos cristãos. En
tretanto, a presença do pial físico e moral no mundo continua a ser
uma fonte viva — se é permitido falar assim — da negação da exis
tência de Deus. Esta causa do ateísmo é o obstáculo mais comum do
que os outros, a objeção mais tenaz e espalhada e, ao mesmo tempo, a
mais sutil e filosófica. “Se Deus é impotente diante do mal e do crime,
como é que Deus pode existir? E’ moralmente impossível que exista
um Deus. A coexistência de Deus e do mal é uma contradição insu
perável”.
Não seria, pois, oportuno que, neste número ou em outro inti
mamente conexo com êle, se indicassem pelo menos algumas respostas
que tornariam mais pastoral o esquema conciliar, esboçando a solução
cristã do problema do mal? Ousaria sugerir aqui alguns dêstes ele
mentos para a resposta: 1) Deus é realmente amor e bondade infinitos,
mas o Seu amor é para nós um mistério. Por isso, Deus é amor per-
turbans”. Deus nos ama — mas a Seu modo. Assim como Êle próprio
existe a Seu modo, assim também a Seu modo nos ama. Mas, se
Deus é para nós “ratio perturbationis”, é igualmente amor. Eis por que
o amor de Deus é objeto de fé: “Nós havemos conhecido e crido o
amor que Deus nos tem” (1 J° 4,16). 2) Deus, ao criar livremen e o
mundo, renuncia espontâneamente ao exercício absoluto a ua... .
potência, pois Êle quer que o homem corresponda com tôda a
Concilio - V—8
106 I. Crônica das Congregações Gerais
dade à solicitude divina: invita, obriga, mas não constrange ninguém.
••Se ouiseres entrar na Vida eterna.. . . 3) O repudio formal de Deus
é o que constitui o pecado. O pecado é o único verdadeiro mal, estrei
tamente relacionado com a dor, que por causa dêle cresce notável-
mente 4) Deus intervém usando do mal para nos remir do pecado,
para sarar os pecadores. Vê-se por aí o desígnio de Deus no drama
do pecado: o pecado do homem provoca o processo de ruína e cas
tigo mas estas mesmas conseqüências cheias de sofrimentos são trans
formadas na Redenção. E’ o que a economia salvifica do AT e do NT
nos esclarece admiravelmente. Desde Adão até à morte e ressurreição
de Cristo, que solucionou o problema do mal existencialmente — por
assim dizer — e não apenas teoricamente, “no Seu próprio corpo...
sóbre o lenho”, comprova-se a grande lei de Deus: “onde abundou o
pecado superabundou a graça” (Rom 5,20). A vida brota da morte;
o bem, do mal; a salvação, da dor. A solução cristã do problema do
mal só terá valor onde se tiver compreendido a solidariedade que une
todos os homens no pecado e na Redenção em Adão e em Cristo. De
ordinário, os ateus ficam barrados perante a consideração do mal e
da dor em si mesmos e, então, indignam-se — e com razão — pelo
fato de não lhes encontrarem sentido. Mas, para bem entendermos
êstes problemas, é necessário que na dor vejamos a dor dum membro
da humanidade e sòmente em Cristo encontraremos a sua significação.
E7 através do mistério da solidariedade que poderemos perceber o va
lor da dor. Há igualmente outras razões: p. ex., a dor purifica, eleva,
enriquece; a dor é uma advertência de Deus, é o caminho que d’ÊIe
nos aproxima, nos assimila a Cristo crucificado, é a promessa da con
secução dum nôvo céu e duma nova terra, etc. — Eis o que, sintètica-
mente, Veneráveis Padres, proponho seja inserido nesse número. Dixi.
108) Cardeal Agnelo ROSSI, Arceb. de São Paulo, no Brasil (tex
to completo): “A Igreja no mundo de hoje — como muito bem notou
o Sumo Pontífice Paulo VI na alocução de abertura desta IV Sessão
do Concilio — não se volta apenas para si mesma como para um fim,
mas está a serviço de todos os homens”. Por êste motivo, Ela se sente
intimamente unida com o gênero humano e sua história. Esta união
se fundamenta no próprio mistério da Igreja, de modo que Ela não tem
como razão de ser senão as misteriosas razões do próprio Deus, quem
amou os homens a ponto de por êles entregar o seu Filho unigênito
(Jo 3,16). “Porventura poderemos esquecer-nos de que a Igreja por
meio dêste Concilio adquiriu uma consciência mais completa e perfeita
de Si mesma e dos recônditos planos de Deus que amou o mundo
(Jo 3,16) e também da natureza da sua missão, que foi sempre rica e
fecunda por assim dizer — de germes vitais capazes de ajudar com
nôvo vigor a sociedade dos homens?” (Paulo VI, Alocução de abertura
da IV Sessão do Concilio). Esta união com o mundo o Concilio não po
derá mais eloqüentemente demonstrar senão estabelecendo um diálogo
sóbre aquêles vários problemas que afligem o homem de hoje, oferecen-
o para a solução dêles a luz do Evangelho e fornecendo-lhe forças
!rfUÍ?re8‘ ® 0 escopo da nossa Constituição que, sendo pastoral,
í ici mente poderá encontrar um método mais apto ou eficaz para a
consecução do fim que o Concilio realmente se propôs. Ora, com res-
A Igreja no Mundo de Hoje 107
se também, por
8*
108 I. Crônica das Congregações Gerais
cultural e intelectual que caracteriza o mundo moderno. Constata-se que
as conquistas atuais, na maioria dos casos, não contribuem para melhorar
as condições de vida humana, como demonstram as ultimas duas guerras
e a iminência duma possível deflagração nuclear, b) O esquema deve
também denunciar que muitos falsos profetas e reformadores sem es
crúpulos exploram esta inquietude do mundo, c) E’ necessário igual
mente pôr em ressalto a grande confusão de terminologia hoje usada
— particularmente o significado profundamente divergente que assu
mem em algumas concepções filosóficas e políticas os têrmos “ver
dade”, “justiça”, “liberdade”, “lei”, “direito”, etc. d) Convém precisar
também os princípios morais da “razão do Estado”, da qual se abusa
freqüentemente para justificar os mais clamorosos delitos, e) Levando
em conta o que aconteceu na última guerra, o esquema deve insistir
sôbre o valor da vida humana, sôbre a obrigação de defendê-la e res-
peitá-la, bem como sôbre a importância do 5* Mandamento do Decálogo.
110) Giuseppe RUOTOLO, Bispo de Ugento, na Itália: Parece
que o esquema, na sua redação atual, poderá atingir a finalidade pro
posta. Entretanto, 1) é preciso que se dê uma ordem mais lógica a al
gumas partes, partindo das verdades conhecidas pela razão para termi
nar nas verdades reveladas (p. ex., no caso da dignidade humana). 2)
A passagem sôbre o ateísmo é insuficiente. Êste assunto deveria fazer
parte duma Declaração separada ou pelo menos dum capítulo à parte.
Conviria, além disso, falar dos ateus práticos — que são muitos —
com o espírito de amor e de diálogo que caracterizam a encíclica
Ecclesiam suam de Paulo VI. Devemos mostrar-lhes como Deus se ma
nifesta através dos acontecimentos humanos. 3) Por fim, o esquema
fala de erros cometidos no passado. Ora, isto me parece contrário às
intenções pastorais do Concilio, porque tanto João XXIII quanto Paulo VI
convidaram a não reabrir as feridas do passado. Olhemos para o fu
turo, deixando o passado nas mãos de Deus e sem nos esquecermos
de que todos nós temos necessidade de sermos perdoados, como se
diz no Pai-Nosso.
111) Eugene D’SOUZA, Arceb. de Bhopal, na índia (texto com
pleto): Como muitos de Vós, pensei com freqüência: Para que finalidade
nos temos reunido num Concilio? Para produzirmos uma obra literá
ria a mais perfeita possível, i. é, um texto completo e elegante, ou para
darmos à Igreja um impulso tal que possa cumprir a tarefa que Cristo
lhe encomendara? Principalmente ao ler êste esquema, pensei: De que
se trata afinal: de compilarmos uma espécie de Reader’s Digest de
tudo o que nos últimos anos foi escrito sôbre os problemas atuais,
ou de prepararmos a Igreja para que possa enfrentar êsses problemas
com maior caridade e eficácia? Ora, creio ter encontrado o ponto cardeal
de todo o esquema no proêmio da sua primeira parte, especialmente
naquelas palavras: “Populus Dei in eventibus, postulationibus, optatis,
praesentiam Dei discemere Eiusque interventus animadvertere satagit.
Un voa incunctanter obedire debet”. lncunctanter, i. é, sem hesitação,
sem perder tempo. Deus encomendou à Igreja a tarefa de pregar pa-
avras e vida e de operar a salvação em diversos campos — campos
68 ^ue 0 °osso _ esquema enumera. Queremos, Veneráveis Irmãos,
que es a nstituição Pastoral não seja sòmente um belo texto, mas
A Igreja no Mundo de Hoje 109
se torne também uma diretriz para a ação. Ora, “operari sequitur esse”
A Igreja ag,rá bem, se estiver bem. Se no passado não agiu bem ou
^incunctaX
( mcunctanterPr>Ogar r S isso
), então PalamqueháElaPouco
Um3 prova lid* - bem.semNesse
não estava hesitação
caso,
e mister reformá-la. Façamos, portanto, um brevíssimo exame histó
rico. 1) A primeira parte do esquema trata da dignidade da pessoa
humana, especialmente de sua responsabilidade e consciência. Ora, as
revoluções americana e francesa tinham já elaborado uma “dectaração
dos direitos do homem . No entanto, não foi senão depois de 176 anos
que a Igreja decidiu reconhecer solenemente a liberdade religiosa e a so
ciedade pluralista nêles contidas, após o Magistério as ter rejeitado
(“respuit ) repetidas vêzes. Quantos homens a Igreja afastou de sí
mesma, ao ser considerada inimiga da liberdade e da dignidade humana!
2) Na segunda secção da segunda parte fala-se muito bem da justiça
30cial. Contudo, a Igreja não reconheceu a tempo a importância da
mesma. Após diversos trabalhos de outros precursores, na metade do
séc. XIX publicou-se a obra de Karl Marx. Mas foi só 43 anos depois
que apareceu a encíclica Rerum Novarum, a qual pràticamente não tra
tava senão do justo salário. Assim, constituía apenas um fraco eco de
Marx. Entrementes, porém, aconteceu o que o Papa Pio XI denominava
o escândalo do séc. XX: a Igreja acabou perdendo a classe operária na
Europa. Do mesmo modo, ao lermos o que no esquema se diz sôbre
o caráter evolutivo da ordem social, sôbre a técnica e os meios de co
municação, sôbre a emancipação dos povos do colonialismo, sôbre o
valor humano da sexualidade, etc., nasce a admiração... 3) No ano
passado, um eminentíssimo Moderador exclamava: “Basta um único caso
Galileu!” Mas, entrementes, tivemos, para não falar de mais outros, o
caso Lammenais, o caso Darwin, o caso Marx, o caso Freud e, ainda
há pouco, o caso de Teilhard de Chardin. E’ claro que as obras dêstes
autores e os movimentos por êles iniciados estão afetados de alguns
erros. Mas, apesar disso, propugnaram valôres genuínos que o nosso
esquema agora reconhece... Por que então deviam ser condenados in
discriminadamente? Não se deveria ter ouvido as palavras do Evan
gelho: “Experimentai tudo e retende o que é bom”? Se se tivesse agido
assim, a Igreja não teria suscitado tanto ódio no mundo. A história,
Veneráveis Irmãos, é a mestra da vida. Os erros passados devem ser
evitados daqui por diante. Para isto, muito ajudará indagarmos pro
fundamente as suas causas. Eu não proporei — repito — correção al
guma nas formulações do esquema. Gostaria apenas de chamar a vossa
atenção para aquela condição sine qua non que tornará alma viva o
nosso texto: tirem-se da Igreja tôdas aquelas coisas onde não se obe
dece bem e sem hesitação (“incunctanter”) à voz de Deus. Não é ne
cessário repetir aqui o que Mons. Elchinger muito bem disse, na úl
tima Congregação (n. 96), acêrca da restauração na Igreja da primazia
da liberdade e da consciência, do sentido da comunidade, etc. Certa
mente a falta dêstes elementos constitui um grande pêso de inércia.
Mas também se podem encontrar outras causas que explicam por que
a Igreja se adapta tão lentamente ao mundo de seu tempo. Permit.-me
propor algumas ao vosso julgamento. Não desejo ofender a n.nguem:
não me refiro a pessoas mas a estrutura, a) Algumas causas pare
cem achar-se na organização eclesiástica, como são, p. ex., a mamobi-
I. Crônica das Congregações Gerais
lidade de fato e até mesmo a quase automática promoção de oficiais
e consultores- a prevalente preocupação administrativa, inclusive com
certo senso político; a educação do clero separada do mundo, de acôrdo
com uma escolástica antiquada; a acumulaçao aqui em Roma de tantos
milhares de sacerdotes, seminaristas, religiosos e religiosas, que cons
tituem um mundo artificial e fechado em si mesmo; os abusos da cen
sura prévia dos livros e artigos e o temor decorrente das repetidas con
denações; a insuficiente participação dos leigos na vida da Igreja, par
ticularmente na elaboração teológica, b) Deve levar-se em conta também
uma causa de ordem doutrinai. Abundam na S. Escritura, na Liturgia e
na tradição espiritual, textos que opõem a imutabilidade de Deus e do que
d Êle procede à variabilidade das coisas, a qual, segundo um pensa
mento mais de acôrdo com a filosofia platônica do que com o da S.
Escritura, se considera como que um defeito. Isto, se não é entendido
com cuidado, parecería quase consagrar o imobilismo. Acontece, assim,
que essa imutabilidade, que é válida apenas para os dados fundamen
tais da Revelação, é estendida a outras coisas mais periféricas na re
ligião, como, p. ex., as declarações ocasionais do Magistério, os sis
temas teológicos e jurídicos. E’ estendida inclusive a coisas que ape
nas estão conexas com a Revelação, como a ordem política e social,
c) Há, por fim, causas inerentes ao estilo de vida dos pastores. Por
que os nossos atos ainda hoje se realizam com uma pompa obsoleta?
Por que os homens devem dobrar os joelhos diante de nós para nos
beijarem o anel? Tôdas estas artificialidades, que não estão fundamen
tadas no Evangelho, não nos afastam dos homens? Êste mesmo Concilio
é realmente atual? Onde existem ainda conferências internacionais nas
quais os participantes, revestidos de roupagens de cerimônia, ouvem,
durante meses, uma interminável cadeia de monólogos proferidos numa
língua morta e nas quais não se realizam discussões denominadas foro,
“carrefour” ou “panel-discussions”? Se nem mesmo a própria discussão
se faz num estilo moderno, então o que havemos de esperar? Venerá
veis Irmãos, esta enumeração das causas certamente não é exaustiva.
Talvez nem atinja as raízes. Espero, porém, que servirá para nos ajudar
a pensar naquilo do qual depende finalmente tôda a fôrça e a eficácia
de nosso esquema.
112) Nicholas ELKO, Bispo dos rutenos de Pittsburg, nos EE.UU.:
O materialismo dialético não é só um sinal dos tempos atuais mas tam
bém a razão extrinseca da inversão da ordem social. De fato, constitui
um sistema radicalmente oposto tanto à Revelação como à ética natural:
êle está invadindo o mundo como um dragão do Apocalipse tentan
do tomar conta dos homens. Perante esta realidade o Concilio não
pode calar criminosamente (“sine sceleris accusatione”)* E’ preciso, pois,
alar do materialismo dialético indigitando-o como peste da sociedade
moderna e condenando-o expressamente, para que nos séculos futuros
nao sejamos condenados pela ausência duma tomada de posição decisiva
e vigorosa diante dos problemas postos pelo ateísmo.
u mm i e ro ^ ^ P E , Prepósito Geral da Companhia de Jesus (tex-
H i l e i ^ e^ uema a Igreja no mundo contemporâneo e
f h, ouvor pela maneira com que tenciona oferecer soluções aos
e oje. Mas temo que tais soluções, em particular o que se
A Igreja no Mundo de Hoje 111
diz do ateísmo no n. 19 se sitimm ^ , .
ções• dos . redatores - ai,IUd
áinía excessivamente
excessi^m pní num
6"16 n6,ano
C°"tra. 38 infe"-
teórico utn
seria persistir em um de nossos habituais defeitos. Poventura a Igreja
dadeP°transmaiteVeÍ dr r|0S P[,ncíPios> tôdas as provas? Mas, na reali-
. j J ranlpntp eficaz?
dadeiramente e f ^é tao r'(,ueza
p f. o Êste problema!30 mundo duma maneira ver
A inadequação entre o que a Igreja possui e o que ela dá ao mundo
e ainda mais patente no mundo contemporâneo que faz abstração de
Deus e até, freqüentemente, se esforça em destruir inclusive a idéia
mesma de Deus. Esta mentalidade e esta cultura pràticamente atéias não
se contentam em lutar desde fora contra a Cidade de Deus — como
aquela Cidade no sentido augustiniano, — mas também invadem as
posições-chave da Cidade de Deus, penetram até no próprio espírito
dos crentes (inclusive dos religiosos e sacerdotes) e os contamina sub-
repticiamente com o seu veneno que tem por resultados na Igreja o
naturalismo, a desconfiança e o espírito de revolta. — Por meio de
seus membros mais conscientes, a nova sociedade atéia trabalha duma
maneira muito eficaz: utiliza os meios da ciência e da técnica, as pos
sibilidades sociais e econômicas; prossegue imperturbàvelmente na exe
cução duma estratégia cuidadosamente elaborada; exerce um domínio
quase absoluto nas organizações internacionais, nas sociedades finan
ceiras, nos meios de comunicação social (televisão, cinema, imprensa,
rádio). Perante esta sociedade, a Igreja toma posição com tôda a ri
queza de seus imensos tesouros de espiritualidade e de verdade. Mas
é preciso reconhecer lealmente que a Igreja não achou ainda os meios
verdadeiramente eficazes para transmitir aos homens de nosso tempo
êsses tesouros. As estatísticas falam com clareza: No ano 1961 os ca
tólicos representavam 18%; hoje, porém, 16%. A proporção, pois,
está em sensível diminuição. Após 2.000 anos, constituímos sòmente
uma pequena porção da humanidade — e, nesta minoria, o que é
que é verdadeiramente católico? Sem dúvida, existem muitos elemen
tos válidos neste pequeno rebanho: homens de elite e obras excelente
mente equipadas. Mas, se se considerar o conjunto do mundo, o nosso
influxo não é certamente aquêle que deveria ser. Em grande parte,
com efeito, os nossos esforços estão desprovidos do devido influxo
por causa da dispersão com que muitas vêzes trabalhamos. Estas con
siderações não devem, porém, gerar em nós o pessimismo. No mun
do nós deveremos sofrer opressões e o mistério de iniqüidade se opõe
ao crescimento da Igreja. Mas o crescimento da Igreja não pode me
dir-se segundo critérios simplesmente humanos. Enfim, não esqueçamos
que, enquanto outros têm o costume de empregarem métodos eficazes
aos’ olhos do mundo mas não conformes com o Evangelho, nós de
vemos pregar Cristo — e Cristo crucificado.
Isto claramente relembrado, temos uma grave obrigação de reexa
minar com urgência os nossos métodos pastorais sobretudo no refe
rente aos sérios problemas do ateísmo. Neste problema nós temos a
tentação espontânea de lhe darmos uma solução intelectual: refutações,
provas, ensinamentos, defesas. Decerto, tudo isto é válido e ate essen
cial, mas totalmente insuficiente. Não devemos sòmente comunicar a
verdade mas também a vida. Mais do que defender, devemos criar,
112 1. Crônica das Congregações Gerais
mais do que expor verdades, devemos fazer mover; mais do que con
templar a verdade, devemos levá-la a efeitos práticos. Eis aqui algu
m a palavras de João XXIII que são a confirmação direta destas pro
posições- “Hoje porém, mais do que nunca, e indispensável que esta
doutrina'seja conhecida, assimilada, traduzida na realidade social sob
as formas e na medida em que o permitem ou reclamem as diversas
situações. Esta tarefa é árdua, mas muito nobre. Para a realização
desta tarefa devemos não só convidar ardentemente os nossos irmãos
e os nossos filhos, mas também a todos os homens de boa vontade”
{Mater et Magistra, AAS 53 [1961] 453). A passagem da doutrina à
prática é seguramente difícil, por causa da constante e rápida mobilida
de das situações concretas. Por isso, freqüentemente, sem nos darmos
conta, tentamos escapar a esta dificuldade e nos refugiamos na verdade
abstrata, absolutamente permanente e estável, mas, ao mesmo tempo,
menos apta para encontrar eficazmente soluções.
O ateísmo não é um problema exclusiva ou primàriamente filosó
fico. Por essa razão, aJém de refutações intelectuais, é urgente promo
ver uma ordem individual (relação do indivíduo com Deus), familiar
(relação da família com Deus), comunitária (relação da sociedade com
Deus), na qual as diversas relações recíprocas não estejam afetadas
de modo algum pelo ateísmo. Estas considerações valem não sòmente
para o ateísmo militante e agressivo, mas também para o ateísmo prá
tico, estrutural, o da vida corrente. Mas, porque o homem (e a socie
dade) encontra mais facilmente a Deus por atos sociais — que impli
cara a atuação da vontade — do que por atos de pura contemplação
— que percebem e refletem a verdade, — é urgente, perante a so
ciedade sem Deus, construir a sociedade de Deus, a sociedade cristã.
O meio radical para o saneamento radical dos males que hoje de
correm do ateísmo e do naturalismo é a construção da sociedade cristã,
não no isolamento nem no que se chama um “gueto”, mas em pleno
mundo. E’ preciso que esta sociedade esteja impregnada e animada do
espírito da comunidade cristã. Respirando — por assim dizer — esta
atmosfera, o homem contemporâneo tomar-se-á mais facilmente cris
tão, ou, pelo menos, religioso. Sem uma atmosfera semelhante, fare
mos cristãos apenas a uns poucos homens, mas os perderemos fàcil-
mente num mundo que não é cristão nem religioso. Para criar uma
tal atmosfera, é necessário determinar quais são os seus fundamen
tos concretos e qual deve ser o método de trabalho. Sem dúvida, isto
exige que as estruturas sociais sejam reformadas. Devemos penetrar
nas mesmas estruturas da sociedade humana para as modificarmos e
para impregnarmos de valôres cristãos tôda a vida social, econômica,
política. Os nossos filhos não se contentarão — disse João XXIII —■
com as luzes da fé nem com uma vontade ardente para promover
o bem. Mas é preciso que estejam presentes nas instituições da socie-
3 e »e/J?ue exer<am ^enfro delas um influxo eficaz sôbre as estru
turas (Pacem in Terris, AAS 55 [1963] 296).
Isto é absolutamente urgente; não podemos esperar mais; é a
hora da ação. O que devemos fazer? Para agir eficazmente, muito
humíldemente gostaria vos propor, Veneráveis Padres, um projeto con-
o. Que se faça por meio de excelentes especialistas e por pes-
A Igreja no Mundo de Hoje 113
5038
nico er exato
í ! 6”da situaçao
* C-°mp!tentes
atual do namundo contemporâneo,
«m balanço para
concreto,
que téc
não
nos inspiremos num mero oportunismo do momento presente. Do con
trário, perderiamos muitas fôrças e estaríamos constantemente obriga-
dos a mudar os nossos planos. 2) Determinem-se as linhas fundamen
tais duma açao em conjunto em escala mundial, suficientemente am
plas Par^_ 9ue possam ser adaptadas às circunstâncias concretas de
cada região. Estas linhas fundamentais serão submetidas à aprova
ção do Sumo Pontífice. 3) O mesmo Sumo Pontífice, em virtude de seu
cargo e de sua solicitude universal sôbre tôda a Igreja, assinalará a
cada um os diversos campos de ação, de modo que todo o Povo de
Deus, sob a direção de seus pastores que o Espírito Santo pôs para
reger a Igreja de Deus, se consagre a esta emprêsa com tôdas as suas
energias. Então, todos, sem exceção, animados e unidos no mesmo
espírito de obediência e de caridade comunitária, duma maneira or
ganizada, ponhamos mãos à obra. Isto exige muitos sacrifícios, pois
supõe a vitória sôbre todo egoísmo individual e coletivo, uma espé
cie de morte mística coletiva, isto é, o sacrifício de todo particularis-
mo da diocese, do instituto religioso particular, da própria situação
social. Tudo isto deve morrer para que Cristo triunfe no mundo, como
o grão de frumento deve morrer para dar frutos. 4) Convidemos á
esta tarefa comum todos os homens que acreditam em Deus, para que
Deus seja o Senhor da sociedade humana. Uma tal colaboração no
que é comum aos que acreditam em Deus não abrirá eficazmente o
caminho para uma ulterior e mais profunda união, primeiramente en
tre aquêles que se gloriam do nome de Cristo?
Conclusão: A ponte pela qual da verdade passaremos à vida pode
descrever-se como segue: 1. Investigação e reflexão científica esclare
cidas pela fé na fôrça da oração. 2. Obediência absoluta ao Sumo Pon
tífice. 3. Fraternal caridade comunitária que nos toma todos irmãos
no mesmo trabalho, unidos em Cristo. Podemos fazer tudo isto: é ne
cessário que o façamos!
114) Emile Maurice GUERRY, Arceb. de Cambrai, na França (tex
to completo): Alguns dias após a nossa Terceira Sessão, produziu-se
um acontecimento dum alcance considerável para a organização da
paz do mundo. Era o apêlo de Bombaim, dirigido no dia 4 de no
vembro de 1964 ao mundo inteiro por S. S. o Papa Paulo VI, para de
nunciar a “corrida armamentista” e propor aos chefes de Estado uma
solução precisa, concreta e imediata em favor da paz: com economias fei
tas progressivamente sôbre as despesas militares empregadas nos ar
mamentos, criar um fundo mundial com fins pacíficos a fim de ofe
recer aos países do terceiro mundo uma ajuda fraternal e eficaz. E ,
pois, absolutamente necessário que êste nobre projeto apareça com
tôda a clareza no esquema XIII. Ora, nao se faz dele menção expli
cita alguma no texto. Na p. 81 há, em caracteres pequenos uma re
ferência a uma nota 3. Mas, no texto mesmo, nao se encontra nenhu
ma nota 3! Trata-se, evidentemente, dum erro tipográfico!
n A voz dos povos e da consciência pública diante das ameaças
m .rt L V s u m o P a ti f e fê. escut.r o pranlo = 1 md. d « po m
que - todos - aspiram à paz, tem horror da guerra e que, no
114 I. Crônica das Congregações Gerais
tanto vivem sob a ameaça constante duma nova guerra que, desta
norá em perigo a civilização e a existência mesma da humanidade.
Alià* o Papa tem-se feito, em muitas outras circunstâncias, o intér
prete e o profeta da consciência pública para protestar contra as de
vastações que produz a “corrida dos armamentos" na vida dos povos.
Sua Santidade declara em Bombaim: “Esta carreira mobiliza energias
enormes em homens e em recursos ( ...) , alimenta uma psicose de
fôrça e de guerra ( ...) e conduz a fundar a paz sôbre uma base inu
mana de desconfiança e de temor recíprocos".
2) Uma solução de sabedoria e razão. O apêlo de Bombaim não
se contenta com diagnosticar o mal e suas causas: oferece uma solu
ção positiva. Esta intervenção do Papa é tanto mais necessária quanto
é doloroso constatar a espécie de impotência trágica em que se debatem
os chefes de Estado de parar o ciclo infernal que arrasta as nações,
umas após outras — contra a sua vontade — a inventar e fabricar
armas cada vez mais numerosas, mais dispendiosas e mais mortíferas.
Cada uma invoca o direito de legítima defesa. Pensam criar, como di
zem. “uma fôrça de dissuasão". Tôdas querem possuir o que se tornou
o sinal do poder. Nesta carreira insensata, o Papa, que não está ligado
a interêsses políticos, que permanece alheio às competições territoriais
e que não quer senão o bem comum universal, fêz escutar a voz da
razão e da sabedoria apresentando uma proposição concreta de solu
ção: economizando as reservas empregadas para enfrentar as despesas
militares, criar um fundo mundial para fins pacíficos e ajuda fraternal.
3) As exigências da justiça e do amor fraternal. A corrida dos
armamentos agrava ainda consideravelmente a disparidade escandalosa
entre os povos ricos e os povos em via de desenvolvimento em todos os
domínios: perante a vida, a fome, a doença, as possibilidades de desen
volvimento econômico e social. A corrida armamentista impõe à eco
nomia de cada nação sacrifícios extremamente pesados que obrigam os
governantes a reduzirem a construção de alojamentos, escolas, hospi
tais, laboratórios — em resumo, de tôdas as obras de paz necessá
rias para o bem dos cidadãos, a elevação do nível de vida das popu
lações. Por isso, a solução proposta pelo Papa em Bombaim responde
às exigências da justiça e do amor fraternal: como disse o Papa, be
neficia “àqueles que sofrem e esperam uma ajuda urgente e substancial".
4) Os sinais da vontade de paz. Enquanto as Organizações interna
cionais não possuírem uma autoridade pública dotada de meios eficazes
para prevenir os conflitos e os resolver, substituindo progressivamente
o regime da fôrça material e da violência entre os povos pelo da com
preensão mútua e da colaboração leal, os Estados julgam-se constran
gidos, para se defenderem, asofrer a “lei do jângal" (la loi de la
jungle), que arrasta à fabricação e disseminação das armas e a outros
procedimentos da guerra moderna. Ora, são numerosos, dentre os Es
tados, os que gostariam da paz. E\ pois, capital poder reconhecer
a vontade de paz dêstes Estados em sinais que excluem qualquer gê-
nero de duvida. As belas palavras já não bastam. O apêlo de Bombaim
in íca muitos sinais: por uma parte, negativamente, abster-se de tôda
palavra ou de todo ato suscetível de criar ou promover “uma psicose
orça e e guerra ( ...) , uma base inumana de desconfiança e de
A Igreja no Mundo de Hoje 115
rão°ffenerosa^dos
ção generosa dos ^Estado*
Estados ^ na constituição
°Utra parte’doP^^vamente, a participa
fundo imeriiduunai
internacional será
o. sinal
a i^o a
indubitáve^ de
u suas
t “? v o n tad
vontaaes e Ha « o.
de paz: ao mesmo tempo, ela sera
co-
loca-los-á entre os benfeitores da humanidade.
5) Voto. Que repercussão extraordinária teria no mundo a adesão,
num vo o unanime, de tôda nossa Assembléia conciliar à proposição de
Bombaim, para suplicar que as nações tomem em consideração o pro
jeto do Sumo Pontífice!
115) Antônio PILDÁIN Y ZAPIÁIN, Bispo de Islas Canarias, na
Espanha: Causaria admiração e seria inteiramente inexplicável para o
futuro se o Concilio não falasse do ateísmo moderno, cuja principal ca
racterística não é a negação dêste ou daquele dogma ou inclusive da
própria Revelação mas a absoluta negação do Deus mesmo. Aplique
mos, pois, remédios convenientes contra os meios de que se vale êste
sistema para se espalhar por tôda a parte. 1) Um dêstes meios é a
sua pseudociência. Pois bem, assim como foi glória do Concilio de
Trento a instituição de seminários, assim também deve ser a glória do
atual Concilio a criação de universidades e escolas que ensinem a ver
dadeira ciência. 2) Outro meio de que se alimenta o ateísmo é —
como já dizia Pio XI — a miséria e a pobreza dos povos. Mas leve-se
também em conta que um dos principais responsáveis pela propagação
do ateísmo não é sòmente o comunismo, mas também o capitalismo li
beral de certas nações não-comunistas. Êste capitalismo, conculcando a
justiça e a caridade, dá lugar a que seja cada vez mais grande e pro
fundo o abismo entre a imensa massa dos oprimidos pela pobreza, por
uma parte, e, por outra, a riqueza imoderada e o luxo inútil de uns
quantos homens. E’ doloroso constatarmos ainda que, entre êstes úl
timos, contam-se não poucos católicos, que em nome de Deus cometem
tôda sorte de injustiças para com o operariado. 0 Concilio, pois, deve
condenar solenemente o capitalismo liberal, considerando aos seus fau
tores “pecadores públicos” e lhes aplicando, enquanto tais, as devidas
penalidades do Direito Canônico. 3) Outro importante meio do ateís
mo é a luxúria, definida por S. Tomás como fonte do ódio contra
Deus. Neste mesmo contexto seria oportuno falar do ateísmo prático
das universidades, das leis, da sociedade, das famílias, dos costumes, etc.
116) James CORBOY, Bispo de Monze, na Zâmbia: 1) Deveria
mos limitar-nos a expor os princípios gerais para que seja garantida
ao esquema uma validez no espaço e no tempo. For isso, não absolu-
tizemos nossas soluções nem particularizemos demasiadamente nossas
aplicações práticas. Hoje em dia está-se operando uma grande evolu
ção — aliás, legítima — em todos os campos ^da Teologia e é bom
deixarmos ampla liberdade aos teólogos para êles aprofundarem cer
tos temas ainda problemáticos (p. ex., o sentido teológico da atividade
humana). Assim, ao mesmo tempo, não criaremos vãs expectaçoes no
mundo. 2) Quando se fala que “as ações do homem aperfeiçoam o ho
mem” (n 42), nesse mesmo contexto deveria insenr-se o prob ema do
mal, considerado tanto sob o ponto de vista humano (mostrando como
também as adversidades e as desilusões aperfeiçoam o ^mem) quanto
sob
, u o0 oonto de vista
P0nT0daae V'M<\ dacrista).
.redenção
,-v 3.o Nrl por meiolA-se
da Cruz (sublinhando a
significação renúncia No tpXt0
texto le-se também
lamoem queque o aper-
h-
U6 I. Crônica das Congregações Gerais
feicownefito da ordem social é totalmente diverso do crescimento do
Deus (n 43)* Ora, essa é uma afirmação excessivamente ca-
teórica ^ há uma conexão entTe o progresso social e o religioso, parti-
^arrneme nos países em fase de desenvolvimento. A vida humana e a
crisH do homem náo sao duas vidas perfeitamente diversas mas uma
única integra vida humano-cristá. 4) Uma vez que o esquema se dirige
a todos os homens (n. 45), deveria apontar primeiro para o domínio e
a Providência de Deus e só entáo falar do poder de Cristo.
117) Aniceto FERNÁNDEZ, Mestre Geral da Ordem dos Pregado
res (texto completo). Êste esquema é uma mensagem da Igreja ao
mundo de hoje ou “á família humana inteira0, como se diz no n. 2.
Nesta mensagem é necessário, antes de tudo, atender a duas coisas: a)
As verdades e os bens da ordem natural, que sâo absolutamente ne
cessários sempre e em tôda a parte para o verdadeiro progresso e a
felicidade do gênero humano e que a Igreja deve defender e propor
sempre e em tôda a parte, b) As verdades e os bens sobrenaturais que
completam e elevam tôdas as verdades, tudo o que é verdadeiramente
bom, assim como as soluções justas dadas aos problemas da ordem na
tural Estas verdades e êstes bens a Igreja deve a fortiori defender e
propor. O esquema fala bem e em muitas passagens dêsses dois pontos
fundamentais, mas talvez ainda nâo com tôda a clareza, a precisão, a
amplidão e o vigor desejados. Por isso, gostaria de propor algumas
observações, sobretudo a propósito do n. 30, que poderíam quiçá aju
dar a aperfeiçoar o esquema.
1) E' mister insistir mais clara, forte e profundamente no principio
fundamental que deve informar e guiar tôdas as consciências e tôdas
as sociedades humanas: todos os homens — de tôdas as condições, de
rodo6 os lugares e de todos os tempos — e tôdas as nações constituem
no mundo uma única e verdadeira família, uma sociedade universal.
A unidade de origem e de criação por Deus, a mesma natureza hu
mana específica e o mesmo destino comum demonstram claramente a rea
lidade desta sociedade universal do gênero humano, desta comunidade
natural dos homens do mundo inteiro. Dêste principio decorrem os
direitos e os deveres primordiais, fundamentais e iguais para todos
os homens. Todos são, primeiramente, membros desta sociedade uni-
versal e cidadãos do universo. Esta sociedade universal natural tem
prioridade sôbre a sociedade das diversas nações. O homem pertence
a esta sociedade humana antes de pertencer à sociedade particular duma
naçio ou dum povo. E o mesmo acontece, na ordem natural, para os
direitos e os deveres que decorrem, em virtude da natureza humana,
das outras sociedades particulares. Eis por que ninguém jamais pode
impedir ou suprimir êstes direitos e deveres nem dispensar dêles. Êles
acompanham o homem sempre, em todos os lugares, em todos os tempos,
m todos os gêneros de vida. Por êles o homem é, em primeiro lugar,
^uuazb aa tamilia
ou dum povo. humana universal antes de ser cidadão duma na-
un,da<*e ,de todo o gênero humano numa única família e a
nrat* + * * * àtcorrt aparecem mais claramente, mais forte-
framarat à ”'anci^ ma® sublime no fato da elevação da natureza
sobrenatural no Cristo redentor. Porque, por uma
A Igreja no Mundo de Hoje
117
P r e s e n t e s : 2.161 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Doepfner. A sessão começou às
9 e terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada pelo* Card.
Beran. Nada de especial houve nesta manhã. Com as 15 inter
venções orais terminou também o debate em torno da I Parte
do esquema sôbre a Igreja no mundo contemporâneo:
118) Ignace Pierre XVI BATANIAN, Patriarca dos armênios: A
exposição introdutória, embora redigida com um método digno de lou
vor, deve ser reelaborada. Nessa nova elaboração apresenta-se um
conteúdo mais sintético, duma forma mais lógica. E’ preciso antes de
tudo considerar os fatos, para só depois propor os remédios que pare
cem oportunos e indicar o caminho que conduz a Deus. Aliás, foi êste
o método adotado por Cristo nas suas parábolas. E’ o método usado
freqüentemente por S. Tomás de Aquino e também por Pio XII nos
seus discursos e alocuções. Conviría dedicar um parágrafo inteiro à
assim chamada “ética da situação”: também ela deve ser considerada
um gravíssimo desvio atual, porque, embora não negue a lei de
Deus nem o ditame da consciência, pràticamente a destrói. Além disso,
a introdução não deveria limitar-se a apresentar os problemas, mas de
veria declarar que a solução dos mesmos se encontra em Jesus Cristo.
No atinente ao título de nosso esquema, concordo com o que Mons.
Morcillo e outros Padres falaram no sentido de não lhe convir o de
“Constituição pastoral” : ao meu ver, seria mais correto intitulá-lo de
“Alocução da Igreja ao mundo atual”.
119) Manuel LLOPIS IVORRA, Bispo de Coria-Cáceres, na Es
panha: Na passagem em que se trata do respeito pela pessoa humana
e do seu direito a não ser constrangida a abraçar a fé católica, seria
bom eliminar o elogio feito a algumas nações pelo fato de terem con
siderado como um elemento constitutivo do bem comum o direito a li-
berdade religiosa, tanto individual como coletiva. A Constituição tem
por objeto o respeito devido à pessoa humana e não o problema da
liberdade religiosa; que é estudado num outro documento conciliar.
120 I. Crônica das Congregações Gerais
Ora o respeito devido à pessoa humana é que sugere a obrigação de
não constrangê-la a abraçar a fé católica, para que o seu ato de fé
seja livre e meritório. Mas êste mesmo respeito nao autoriza ninguém
a considerar como um bem tôda e qualquer forma de liberdade religiosa.
120) Sérgio MÉNDEZ ARCEO, Bispo de Cuernavaca, no México
(texto completo): O esquema agrada realmente. Mas ainda deve ser
aperfeiçoado nesta Aula por obra da ação do Espírito Santo, através
da discussão conciliar, que é o ápice do sacramento de verdade do
nosso magistério. Em vez de louvar muitas observações feitas nesta
Aula, quero apenas chamar a atenção para aquilo que o Cardeal Shehan
e outros Padres Conciliares disseram sôbre a necessidade de propor me
lhor a antropologia do esquema. Sôbre êste assunto, embora sob ou
tro ponto de vista mais amplo, desejo submeter humildemente à vossa
consideração estas observações que faço em nome de alguns Bispos da
América Latina, entre os quais 10 do México:
A primeira parte do esquema contém ótimos elementos. Mas, como
o seu conteúdo é pura e simplesmente sociológico, seria mais fácil e
seguro que se apresentasse uma síntese da sua matéria, tendo como
ponto de partida o homem e não as circunstâncias em que êle vive.
Estas circunstâncias, além de serem externas, estão sempre sujeitas ao
fluxo incoerente e variado das coisas. A mudança, porém, que elas ope
ram no homem fazem dêle uma nova imagem. E é sob esta nova pers
pectiva que devemos encarar as referidas circunstâncias. Tentaremos,
pois, descrever do seguinte modo esta imagem do homem moderno, su
jeito da revolução psicológica, econômica, política e científica: 1) O
homem torna-se cônscio de si mesmo, isto é: a) da profundidade da
sua personalidade, onde se elaboram os primeiros germes da consciên
cia; b) da sua vocação a cooperar para a criação dum mundo nôvo e
melhor; c) do seu fim histórico, da promoção, do progresso da evolução
universal e da unidade. 2) O homem socializa-se para melhor procurar
e exaltar a dignidade da pessoa humana e para obter o seu fim. 3) O
homem submete ao exame de sua razão tudo o que lhe está em volta.
Isto aparece claramente: a) na afirmação da inteligibilidade do mundo
e do seu determinismo e também da relatividade da verdade que êle
deve adquirir; b) na técnica e na planificação; c) no campo religioso,
porque pela razão êle é levado a desmitologizar as realidades — em
bora êle construa outros mitos — e a examinar de nôvo o problema
do Transcendente e do Absoluto. 4) Portanto, o homem acelera o
curso da história.
Perante esta realidade do homem, a atividade da Igreja na prega
ção do Evangelho deve começar pela solução exata de dois proble-
^ °*ue ^ 0 homem? E’ absolutamente impossível ensinar o
evangelho se antes não se responde a esta pergunta. A sua resposta
eve ser procurada na interpretação personalística do homem, como
£ r v acil?a- ^b) Qual é a P°siÇão do homem perante o Absoluto? A
,.r i J*e lza^ao deve começar não do pressuposto do ateísmo como fa*0
m i.1^ mas conhecimento exato da posição substancial do ho-
e *°- ranscendente e o Absoluto. O esquema exagera quan-
fennmpnn ®teism°- como se o ateísmo fôsse precisa e radicalmente um
fenomeno característico do mundo de hoje. Seria melhor falar dum
A Igreja no Mundo de Hoje
121
j£z e n d e n t e ' d0 Abso,u‘°' ~ -
trínseoD enTre ^ p íim e ía ^ X ^ r e s 3" ^ 0'0^ 3' ,a'ta um nexo in*
apareceria
tão “o auese éfôsse examinadan mais
o hnmpm” n o l T 6e sistematicamente
^ S Pr°funda 3 ntrodu<ão- Èstea ques-
»«°
°gern do homem de hoje: p e s s oaque
. * pessoa ' s ese^t otorna
r n^ cônscia
— dada.de si pela
mesma,in«ua-
aue
Se/ ° ; ‘ah.Zn\ q“e racionaliza tudo o que lhe está em volta, que acelera
o curso da historia. Esta questão - “o queé o homem" - é tratada
no capitulo anterior. Mas a resposta tradicional que lhe é dada é in
suficiente, porque não “aggiornata”. O homem é decerto “imagem de
Deus . A imagem de Deus”, porém, exige uma consciência de si mes-
ma. s a, por sua vez, exige a sociedade, i. é, a conjunção com os
outros. A socialização é, pois, a via para a conscientização. No capítulo
segundo se trata da vida de comunidade, mas sem conexão alguma com
essa conscientização — de que o esquema não fala. Do mesmo modo,
no capítulo primeiro, n. 18, “artificiose praeparatur sermo de atheismo”
sôbre o qual se fala no n. 19 — que, de fato, em muitos casos é um
reexame (“reevaluatio”) e não uma negação do Absoluto, como já
dissemos acima. O n. 20 não insiste sôbre o caráter dinâmico e cós
mico de Cristo.
Tôda a questão está intimamente relacionada com uma outra de
suma importância que até agora não mereceu a consideração de ne
nhum Padre Conciliar e sôbre a qual vos desejo falar. O defeito de
perspectiva antropológica em não se procurar resolver de modo siste
mático a questão “o que é o homem” leva inelutàvelmente os redato
res do esquema a omitirem — num silêncio tão admirável, que, ao
meu ver, é inteiramente inexplicável — um problema característico do
homem de hoje: refiro-me à “psicologia das profundezas” ou psicaná
lise. A psicanálise já se apresenta hoje como verdadeira ciência, uma
vez que tem um objeto, um método e uma teoria próprios. E’ uma
ciência que ainda está nos inícios e apresenta perigos que devemos
considerar atentamente. Mas nem por isso podemos ignorar a “revolução
psicanalítica”, que não é menor do que a revolução técnica. A genial
descoberta de Sigismundo Freud deve ser considerada tão grande co
mo a de Copérnico ou a de Darwin. Tenhamos presente o seu objeto,
i. é, o sujeito inconsciente que existe em cada um de nós e em tôda
a atividade humana, tanto religiosa como cultural, econômica e política,
que _ queiramos ou não — exercita um grande influxo. Por outro lado,
a psicanálise (“sermo analyticus”) uma vez para sempre conquistou
um lugar entre os elementos da cultura humana e impõe uma renova
ção da concepção do homem, levantando problemas de que no passado
nem se suspeitava. A Igreja, por causa do dogmatismo anticristão de
alguns psicanalistas, assumiu uma posição que relembra aquela que
assumira no passado com respeito a Galileu. Mas nao ha nenhum cam
po de atividade pastoral em que se possa prescindir da ps.canal.se, E
de fato hoje muitos já a empregam. As intervenções da Igreja contra
ss -s
Concilio - V—9
122
I. Crônica das Congregações Gerais
é nem cristã nem não-cristã. Se, pois, a Igreja quer realmente estabe
lecer um diálogo sincero e pleno com os homens de hoje, não pode
ignorar os verdadeiros e autênticos psicanalistas — com os quais deve
falar pela voz dos moralistas ou teólogos, mas diretamente e com con
fiança Esta ciência tem a vantagem de propor um método de purifica
ção que é de grande proveito para os homens cuja fé está misturada
com desvios psicológicos que a pervertem ou inibem. O esquema, por
tanto deveria dizer uma palavra, embora breve, sôbre êste aspecto pe
culiar do homem de hoje. (Veja o leitor no fim da crônica desta 137* Con
gregação a crônica paraconciliar sôbre a Psicanálise no Concilio, p. 131 ss).
No capítulo segundo apresenta-se uma paupérrima concepção da
sociedade, pois é considerada como uma exigência da natureza e, ao
mesmo tempo, diferente dela. Ora, o homem não está apenas na socie
dade. Seria melhor dizer que é um ser social: nasce e cresce com os
homens passados, presentes e futuros, por meio das instituições e es
truturas sociais. Por isso, a intercomunicação é um valor em si mesma,
enquanto que o valor das instituições e estruturas sociais é relativo.
Se a mediação das instituições fôr autêntica, a intercomunicação dos ho
mens será eficaz. Do contrário, impedirá a comunhão e, portanto, a
conscientização dos homens. Cristo oferece uma perfeita comunicação
e Êle próprio é a nossa comunhão. Por isso, especialmente para as
nações do terceiro mundo, Cristo é a única esperança certa de pro
moção. Além disto, por um defeito de perspectiva antropológica, todo
o esquema — e em particular o capítulo segundo — apresenta-se muito
tomista e pouco renovado. Todo o dualismo do n. 25 entre a ordem
das coisas e a das pessoas desaparece, porque a continuidade nasce
da conscientização e porque tôdas as coisas se recapitulam em Cristo.
121) Pavel HNILICA, Bispo titular de Rusadus, da Checos!ováquia
(texto completo): O esquema XIII sôbre a Igreja no mundo de hoje
emprega — como podeis notar — a expressão “huius temporis” (no
mundo de hoje). Nos nossos dias, porém, grande parte da Igreja está
oprimida pelo ateísmo militante que se funda num sistema político-
econômico e social e que é impôsto à fôrça e com engano às mentes
dos cidadãos. Parece-vos que esta condição da Igreja é indicada no
nosso esquema? O que êste diz sôbre o ateísmo é muito pouco — e
dizer pouco é o mesmo que nada dizer. A história com razão nos acu
saria por causa dêste silêncio de pusilanimidade ou de cegueira. De
ver-se-ia dedicar um esquema especial ao problema do ateísmo — es
quema que poderia ser publicado separadamente ou como parte do
esquema sôbre as missões. A história não nos julgará sôbre a quan
tidade de esquemas mas sôbre o valor daquilo que dissermos e decre
tarmos, especialmente sôbre o ateísmo. Não apresento uma teoria mas
sim a minha experiência pessoal e a dos Bispos ausentes “propter iniu-
riam temporis , de que falamos, e dos sacerdotes e religiosos que co-
nheci na prisão e com os quais compartilhei “pondus et pericula” da
greja e de cujo pensamento participo e desejo expor. Não sou levado pelo
o 10 mas pelo amor dos irmãos, da Igreja e dos perseguidores.
i) Em primeiro lugar, aduzimos as razões pelas quais julgamos
que a parte do esquema que trata do ateísmo não é suficiente. Recor
dem-se os Padres Conciliares que um têrço do mundo jaz sob o do
mínio o ateísmo e que o resto do mundo corre o perigo de cair na
A Igreja no Mundo de Hoje m
mesma condição, como desejam os aswriac ,.
propaganda e admiràvelmente instmírinc * ateísmo, os quais, pela
m,e a ciência e a tfrnir. «í nStrmd0S em ^dos os melhores meios
Sos no^os tempos 0 .,«rtehm°
mundo. Luta contra tudo aquilo que se chama q*" T v e ^ J o
TConcího.
° - Z ‘ rConcordo
S S í ’ com
deVena C°nStÍtuÍrrazões
as ótimas 0 P expostas
^ e m a mais importan.e
por outros do
Padres
Conciliares e nao as desejo absolutamente repetir. Nem muito menos
quero d.ssertar sobre os pontos da doutrina católica tirados do Ma
gistério ordinário dos últimos Sumos Pontífices e que são bastante
conhecidos. Mas quero propor os remédios que se podem opor a
êste mal e perigo tão grave.
2) E o múnus pastoral dêste Concilio que nos leva a procurar re
médios eficazes ^ contra êste mal. Devem ser sobrenaturais porque a
natureza do ateísmo e a sua fôrça secreta de propagação é algo pre-
ternatural. Êstes remédios serão salutares porque a Providência di
vina, ao permitir o mal, prevê no sentido de que se encontrem remé
dios oportunos, a) 0 remédio geral é o próprio Concilio, cuja finali
dade é fazer com que a Igreja se conheça a si mesma e a sua uni
dade e descubra a sua fôrça de agir para salvar esta parte do mundo
que geme sob o ateísmo. Qual será êste modo de agir? E’ o mesmo
que usou o Divino Salvador, o Bom Pastor que veio salvar o que es
tava perdido e que disse que eram os doentes os que precisavam de
médico e não os sãos. 0 Concilio deve empregar êste método para ir à
procura das ovelhas perdidas. Nós, reunidos pelo Espírito Santo neste
Santo Sínodo, “temo-nos tornado espetáculo para os anjos e para os
homens”. Até agora temos dado prova de verdadeira liberdade de fi
lhos de Deus. Mas o mundo de hoje, dividido pelo ódio e por inumerá
veis conflitos, quer conhecer a verdadeira Igreja. Que sinal de verda
deira Igreja devemos apresentar a êste mundo? Cristo, pela bôca do seu
Vigário na terra, indicou-nos o amor e a unidade. Eis o sinal que a
Igreja deve mostrar ao mundo de hoje! b) Um remédio concreto e efi
caz é o mandato nôvo que Jesus Cristo deu aos seus discípulos: ‘ Eu
vos dou um mandamento nôvo: amai-vos uns aos outros. .. Sereis
conhecidos por meus discípulos se vos amardes uns aos outros (Jo
13,34-35). c) Outro remédio ditado por Cristo com absoluta eficácia
é o sinal da unidade: “Que todos sejam um... (Jo 17,21). Constitui
um argumento da existência de Deus mais claro do que os milagres.
Esta unidade será como um sacramento da presença de Cristo ern nosso
meio porque, onde se reúnem dois ou três no Seu nome, ai Êle es
srirz
ser convertido. Cristo pediu o dom da unidade primeiro para os Apos-
Scriaturas
T b i o(Adão
t ó S deriva
s irSde “Adamáh^
S ree seuSrenCÍa,Tentf ,dHe tôdas as «*"“
cãn
i
com Deus (mm a
uma ií \ i
n^r , com as demais
•mah ' e> por outra> sua especial rela-
encia pessoal do homem é que Êle estabe-
, r ral Í Hia)r 0 t0rnam -apt0 e caPaz de desempenhar sua posl
j30 unrnprT1 p pi- 6 1Vaf.,n3 cna^o. A religião, pois, pertence à essência
do homem e ela constitui a condição primária de seu domínio sôbre as
criaturas, b) Juntamente com esta indicação bíblica do homem que mos
tra a sua semelhança com Deus, deve-se propor também aquela que
mostra a sua dessemelhança. Esta se manifesta na sua existência tempo-
ral-histórica que na ordem atual é determinada pela inevitabilidade da
morte. Neste ponto se deveria falar do pecado e suas consequências no
homem e no mundo, c) A essência do homem como “imagem de Deus”
é verdadeira^ e propriamente revelada, particularmente pelo sacramento
da Encarnação ( sacramentum Incarnationis”). Cristo, pela Encarnação,
abriu para os homens as portas duma transcendência para Deus até en
tão ignorada. Portanto, o destino do homem foi mudado radicalmente
em Cristo e, por isso, só em Cristo se pode compreender o que é o
homem.
125) Michael RUSNACK, Bispo aux. de Toronto, Canadá, para
os checoslovacos de rito bizantino: O título do esquema nos põe diante
duma responsabilidade grave para com o mundo e para com a história.
A metade do mundo está debaixo do domínio comunista. Mas também
nas nações do mundo “livre” não são poucos os que estão imbuídos
de idéias do materialismo dialético e histórico. “O Comunismo é um
fenômeno tão vasto, que dêle se deveria tratar mesmo se a religião
não fôsse perseguida”. Infelizmente, porém, nas nações comunistas falta
liberdade não só à Igreja mas também a tôda religião. E’ necessário,
portanto, que o esquema enfrente, ampla e profundamente, o problema
do ateísmo militante, tratando do comunismo de modo expresso. Assim
o exigem a verdade e a caridade, particularmente para que o mundo
conheça as atividades criminosas do comunismo. Quem vos fala ex
perimentou na sua própria carne os efeitos da perseguição comunista
e pode descrever o aspecto desolador da Igreja na sua Pátria que os
comunistas procuram ocultar. Seria, pois, um escândalo se o Concilio
do século XX menosprezasse o fenômeno comunista. Numa especial
“Declaração teórico-prática sôbre o Comunismo” deve denunciar à opi
nião pública os erros e as mentiras do comunismo e, simultaneamente,
expondo a doutrina da Igreja, o Concilio oferecerá uma valiosa ajuda a
todos os Bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis que sofrem nas prisões a
perseguição do sistema comunista.
126) Sebastião SOARES DE REZENDE, Bispo de Be.ra, .Mo
çambique: 1) A doutrina que exige um tratamento digno e respeitoso
da pessoa humana é uma conseqüênc.a imediata da le, natural. E um
tal conjunto
J doutrinário reveste-se
j jgpresentemente
vista. Esta duma urgencacapitala-
importância
grante que ninguém Pode P*™er tem de ser tratada com reverência
o direito
vem que a pes
nao somente constituir um
de isto conshtuir ^ princípio^ inalienável entre os
_ princjpaImcnte
ireitos
nos paísesdo sujeitos
homem, ao s* napoder suvicuv,
soviético,, — haver um regime policial que
128 I. Crônica das Congregações Gerais
pela maneira como é exercido e dada a categoria das pessoas contra
as quais é levado a efeito constitui a amquilação psicológica da pessoa
humana" São pessoas de bem — como Bispos, sacerdotes, leigos — e
só porque não concordam com a atual organização social ou política
ou por não a reconhecerem como a mais justa e eficaz são sujeitos a
uma vigilância contínua, muitas vêzes ostensiva, que instila o medo,
cansa os nervos e tenta subjugar totalmente o homem. Esta espécie
de violência — aniquilação psicológica do homem — deve ser espe
cialmente reprovada. 2) Ao contrário do que diz o esquema, não há
uma caridade mental. S. Tomás afirma explicitamente que o amor não
tem lugar nas coisas intelectuais, porque formalmente a verdade é pró
pria da inteligência, enquanto que o amor é próprio da vontade. Isto
quer dizer que pode haver discordância — e até oposição — em assun
tos de doutrina e, todavia, uma tal incompatibilidade não exclui o amor
da caridade. Daí a sentença de S. Agostinho: “Amai os homens. Mas
combatei os erros1. Nada há, pois, que justifique o ódio. 3) Quanto à
doutrina da igualdade fundamental entre os homens, há que se tomar
uma posição especial perante ela. Não se há de dizer que os homens
sâo iguais mas que são irmãos. E não basta uma afirmação desta
doutrina no esquema. E' preciso que o Concilio faça a êste respeito
alguma coisa mais. E’ que esta doutrina será a única que presentemente
salvará o mundo. Por isso, o Concilio deverá definir solenemente que
os homens são todos irmãos. E uma tal definição, além de constituir uma
verdade de fé que Jesus revelou, ela seria uma resposta total às as
pirações fundamentais do mundo de nossos dias. Assim como o Con
cilio Vaticano I definiu a infalibilidade pontifícia, o Concilio Vatica
no II definiría a fraternidade universal dos homens. Além disso, essa
verdade assim definida seria a coroa e a síntese de tudo quanto se
disse até aqui no atual Concilio. Finalmente, esta mesma verdade cons
tituiría o instrumento que os apóstolos de nossos dias haveríam de
aplicar e pôr em atuação no Concilio e no tempo subseqüente. Por
isso. peço a quantos estão aqui presentes e com direito de voto que
proponham ao Santo Padre que o encerramento do Concilio se faça
com a definição solene desta verdade: todos os homens são irmãos.
127) Justinus DARMAJUWANA, Arceb. de Semarang, na Indoné
sia (em nome do Episcopado dêsse País): Agradeço à Comissão pela
qualidade do texto atual. Gostaria ainda de acrescentar que adiro ple
namente ao que o card. Seper disse acêrca do ateísmo (cf. n. 102).
No atinente ao próprio texto, os capítulos 39 e 49, apesar de sua im
portância capital, estão redigidos muito fracamente. Devem, por isso,
passar por uma profunda revisão. Razões: a) Não é um diálogo o que
neles temos: é um monólogo! 0 Magistério não parece ouvir os não-
cristãos. Nem mesmo os leigos católicos que agem e vivem no mundo,
/ão basta repetirmos verdades eternas. Aqui é preciso que a Igreja con-
.•esse modestamente que, juntamente com todos os homens, está a pro
curar uma resposta para os problemas concretos de hoje. b) O Cp1]"
^ k30 ^ uma resposta válida à questão da significação da ativi
dade humana. Não é uma solução afirmar tão só — embora seja ver-
f a. e T^ue e*a ^ querida por Deus ou está ordenada ao Reino de
nsto. rata-se de saber qual é o efeito terreno dessa atividade e
por qua razao êste efeito está ordenado à salvação eterna da huma
A Igreja no Mundo de Hoje 129
nidade. Presentemente, é esta uma questão urgente e angustiosa Daí
a necessidade de delinearmos um ideal concreto de realização intramun
dana também
mas t a m h gente
é r n ^de 10m-n-
posiçãoS' 0acomodada
marxismo efascina não sóprecisamente
intelectuais os pobres
porque descreve uma mística concreta de fraternidade e igualdade, c)
Ao falar do valor da atividade humana, o texto foi criticado, com ra
zão, de ser muito otimista, negligenciando a realidade do pecado e da
redenção. e fato, a Comissão, na sua redação, deve proceder com
muita cautela. Decerto, a atividade humana e 0 progresso humano com
portam sempre maiores perigos. Mas também deve sublinhar-se 0 gran
de valor de tôda realização com miras terrenas. “O pecado não des-
trói o plano salvífico ( consilium salutis”) a que Deus deu início na
criação e consumou já misteriosamente na ressurreição de Cristo. O
pecado, embora ainda poderoso, já foi, porém, derrotado. Não é pos
sível uma reta estimação do pecado sem uma firme crença de que a
totalidade do mundo atual é uma criatura de Deus, na qual já opera
0 Espírito de Cristo vitorioso”. Esta doutrina constitui 0 fundamento
de qualquer progresso autêntico em todos os campos.
128) César Antônio MOSQUERA CORRAL, Arceb. de Guayaquil,
no Equador: Cresce todos os dias 0 número e a responsabilidade dos
leigos. Daí a necessidade de esclarecermos bem alguns temas do es
quema atinentes ao laicato. Primeiramente, é conveniente que o es
quema tenha em conta e explique claramente 0 que significa a “animação
cristã do mundo” e 0 têrmo “testemunho” de que 0 texto fala ao des
crever a função específica do leigo (n. 53). Para isto, é preciso con
siderar que 0 leigo cristão deve constituir 0 sal e a luz do mundo e,
ao mesmo tempo, ser 0 fermento evangélico para todos os outros ho
mens. Por essa razão, a função fundamental do leigo consiste, ao
nosso parecer, na sua permanente atenção às realidades concretas da
vida, para que, uma vez determinado 0 sistema de valôres sociais que
cada sociedade estrutura para si, procure imprimir-lhe um sentido evan
gélico e o adaptar ao espírito do Sermão da Montanha. E’ necessário
insistirmos na importância decisiva desta missão do laicato, para que
as próprias relações interpessoais — e não sòmente as estruturas
e os próprios meios — e não sòmente os fins da sociedade sejam
coerentes com o Evangelho. O esquema deve também mencionar de mo
do expresso outros dois aspectos importantes da função do leigo cris
tão: preparar 0 mundo para receber 0 testemunho da morte e ressur
reição de Cristo e promover nêle a esperança de “novos ceus” e “no
vas terras” que o Senhor prometera.
129) Franio J KUHARIC’, Bispo
1 _aux. de Zagreb,n r»nacn Iugoslávia:
Tratando' da liberdade, não
_ se podem perder de ínofn
vista a responsabilidade
própria do homem e a competência própria do Criador para o julga-
mento^ definitivo da conduta humana e dos poderes públicos. Esta
advertência seria necessária para todos aqueles que abusam de siu
potestade 3judkial com desprêzo do juiz ^ ^ e " n o s ^ ” ^
seria oportuna para consolar a ‘°dos ErAegum h/lugar, quando
dulentos foram inocentemente condenados^ ^ ^ ades?0 a 4Crist0.
odeveria
texto expor-se
fala de que ningu jiqueles
também a sorte daqueies q que adotaram uma atitude
130 I. Crônica das Congregações Gerais
negativa diante d*Êle, pois o homem está chamado a uma decisão eter
na e dêle depende a sua sorte final. Por último, o Concilio, em nome
de todos os membros da Igreja, deveria pedir perdão de todos os
erros de que se sente responsável — relativamente a acontecimentos
dos séculos passados — e então exortar a todos us fiéis a uma vida mais
santa e exemplar.
130) Alfred BENGSCH, Arceb.-Bispo de Berlim, na Alemanha:
Mo ano passado, a Assembléia achou o esquema demasiadamente breve.
Nesta IV Sessão temos um livro íntegro como texto, o qual é muito
comprido. Estas hesitações decorrem das dificuldades do tema e do
seu cunho de novidade na história dos Concílios. E’ preciso conven
cer-se de que o Concilio sòmente assume uma parte no diálogo entre
a Igreja e o mundo, ainda que se trate duma parte fundamental. O
Papa, os Bispos, os teólogos, os sacerdotes e os fiéis têm também
êles a sua participação. O Concilio deve, portanto, limitar-se a ex
por breve e claramente os princípios gerais para a continuação do
diálogo — o que, por outra parte, se tornou mais fácil depois da ins
tituição do Sínodo Episcopal (“ut gratíssimo applausu recolimus!”).
O capítulo quarto, que aborda a função da Igreja no mundo de hoje,
deveria ser o primeiro, enquanto os demais capítulos se disporiam em
função dêste.
131) Karol WOJTYLA, Arceb. de Kraków, na Polônia: Seria opor
tuno trocar o nome de “Constituição”, mais próprio de assuntos dou
trinais, para o de “Considerações”, mais de acôrdo com o seu con
teúdo. Tratando-se sobretudo de questões pastorais, o esquema aborda
precisamente na primeira parte o problema da pessoa humana, tanto
em si mesma como em relação à sociedade e ao mundo. Esta preocu
pação pastoral, contudo, não exige apenas a descrição da vocação in
tegral do homem, mas postula também uma maior acentuação no as
pecto relativo à salvação. Não basta, por isso, afirmar que a obra
da Criação foi assumida na obra da Redenção. E’ preciso ainda acres
centar que esta assunção foi consumada na Cruz de Cristo. E “êste
modo divino de assumir a obra da Criação na obra da Redenção atra
vés da Cruz determinou definitivamente a significação cristã do mun
do. A obra da Redenção constitui, pois, o elemento próprio e constitu
tivo dêste esquema”. Naquilo que se refere ao diálogo com o mundo,
parece incompleta a afirmação segundo a qual o diálogo deve ser le
vado a efeito para o bem comum e para difusão dos bons princípios.
De fato, a Igreja não pode renunciar ao seu dever próprio: à sua missão
de salvação. Certamente a Igreja favorece tudo aquilo que pertence
também ao bem temporal dos homens. Mas, sobretudo, se põe a seu
serviço para que êles possam alcançar o seu verdadeiro fim de salva
ção eterna. No respeitante ao problema do ateísmo, êste já foi estu
dado ainda que de modo complementar — na Declaração sôbre a
liberdade religiosa. Neste esquema, entretanto, seria preferível consi
derar o ateísmo não apenas enquanto representa uma negação de
» eus, mas enquanto é um estado interno da pessoa humana, Embora
possa ser examinado por meio de critérios sócio-psicológicos, uma com
preensão profunda dêste estado, porém, só é possível à luz da fé- A
?fr nos revela não só a existência de Deus, senão também a Sua von
A Igreja no Mundo de Hoje 131
tade salvífica para com todos os homens, donde provém a vocacão
sobrenatural de cada um dêles. Por isso, á luz da Fé, o Tteísmo é um
problema da pessoa ^humana em sua interioridade: o ateu é um homem
persuadido de sua solidão escatológica”. Negada a imortalidade pes-
soal, essa solidão leva-o a procurar uma quase-imortalidade na vida
coletiva. Portanto, toda vez que se estabelece um diálogo com o mundo
ateu. e preciso considerarmos a questão de se é o coletivísmo quem
mais favorece o ateísmo — ou vice-versa. Também é preciso conside-
rarmos^ que os ateus julgam que nós, crentes, estamos sujeitos a uma
alienação interna no sentido idealístico, ao projetarmos na realidade
visível e material uma idéia de Deus e de ordem divina que em última
análise é um reflexo de nossa própria subjetividade. O diálogo, pois,
deve começar partindo do homem!
132) Félix ROMERO MENJIBAR, Bispo de Jaén, na Espanha:
Seria necessária uma exposição mais completa e orgânica da doutri
na sôbre a missão da Igreja no mundo. Conviría fazer, conseguinte
mente, uma apresentação clara e convincente dos princípios doutriná
rios revelados sôbre a missão da Igreja em geral, em estreita conexão
com o anúncio pascal da Ressurreição. Pois “a Igreja é essencialmente
a comunidade dos redimidos pelo sangue de Cristo — a comunidade
pascal que dá testemunho da ressurreição de Cristo, a suprema inter
venção de Deus na história dos homens, na qual se fundamenta não só
a dignidade mas também a esperança humana”. Neste contexto seria
oportuno mostrar a compatibilidade desta doutrina de Deus com as
exigências da mentalidade contemporânea, oferecendo-lhe uma mensa
gem de salvação. Urge, por isso, sublinhar o dever imprescindível, de
rivado da fé cristã, de testemunhá-la na vida particular e pública.
Assim concebido, o capítulo IV — que trata precisamente destas ques
tões — deveria apresentar a síntese de tôda a doutrina da primeira
parte do esquema, constituindo um fundamento seguro de tudo o que
será exposto na segunda parte.
Crônica Paraconciliar:
FREUD E SUA PSICANÁLISE NO CONCILIO
Um Monitum do Santo Oficio proibia, aos 15 de julho de 1961.
aos clérigos e religiosos o exercício da psicanálise - a teor do Canon
139 6 2 aue interdita aos eclesiásticos o exercício da medicina e da
cirurgia sem indulto apostólico - e as consultas psicanaliticas sem au
torização dos seus bispos e, ao mesmo tempo, censurava a opin.ao dos
que sustentavam a necessidade duma formaçao psicanalitica para os
candidatos ao sacerdócio.' E' de se imaginar, pois, a impressão que
„ P r e s e n t e s : 2.190 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Suenens. A sessão começou às 9
e terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada por Dom Sé-
verin Haller, Bispo tit., Abade nullius de St. Maurice d’Agaúne,
na Suíça. Iniciou-se então a votação dos Modos dados ao es
quema sôbre o múnus pastoral dos Bispos, com a leitura pré
via da Relação (cf. pp. 364 ss). Depois foi lida a Relação introdu
tória à segunda parte do esquema sôbre a Igreja no mundo con
temporâneo. Em seguida começou o debate desta parte, com um
total de dez intervenções orais:
ZSSStnTiSEí r ° norma de
sua moralidade também naquilo que de alg L Z d o 'L á dTTcôrdo
com o dever da fecundidade. Assim, as exigências da fecundidade ge
nerosa e responsável, juntamente com as exigências do verdadeiro amor
constituem o principio normativo da atividade conjugal. Proponho, pois!
que o esquema explicitamente enuncie e ensine estas duas normas de
moralidade. Destarte, a etica ganhará em perfeição. Já é tempo de en
tender duma vez por tôdas que o exercício da faculdade sexual para
ser considerado bom, deve-se realizar antes de tudo no contexto
do amor conjugal verdadeiramente cristão e em vista duma generosa e
ao mesmo tempo prudente fecundidade — e não se atenda exclusiva
mente a integridade física dos atos, assim como, infelizmente, vinha
sendo costume na doutrina moral tradicional.
111. Aqui já tocamos a grave lacuna que em terceiro lugar e de
modo particular tenho intenção de denunciar. Trata-se precisamente
da integridade física dos atos conjugais, que, embora não seja nem
a única nem a suprema norma ética, o Concilio deve reter e ratificar
como um aspecto ético que não pode ser omitido. Até o presente auto
res categorizados — e até mesmo o próprio magistério da Igreja —
sempre tiveram como contrários à lei de Deus os atos conjugais volun-
tàriamente viciados. 0 nosso esquema, pelo contrário, se restringe nos
limites duma terminologia muito tímida e geral. Fala, com efeito, de
que os esposos devem praticar êstes atos “de acôrdo com a autêntica
dignidade humana”, “em harmonia com a lei divina”. Mas qual é a au
tenticidade que a dignidade humana exige? Que lei divina é esta? Nem
sombra de resposta a isto se encontra no texto. E não se diga que
esta lei está subentendida, uma vez que todos bem a conhecem. Na
verdade, o silêncio do esquema em tais circunstâncias dá a entender de
que está modificando alguma coisa. Pela primeira vez em documento
do Magistério é expressa não só a necessidade de regular com res
ponsabilidade a natalidade, mas também — o que é nôvo — o perigo
inerente à cessação dos atos de amor: “interrompendo a vida conjugal
íntima — diz o texto, - pode trazer desentendimento quanto ao bem
da fé e da prole” Um problema assim levantado, que foi apresentado
em têrmos tão graves - para não dizer dramáticos, - exige uma
resposta que não pode ser delegada a outrem mas que deve constar
no próprio texto da Constituição conciliar, em termos igualmente gra-
peremptórios. Pelo eontrário, o esquema, ootra ,ez embora prer,
creva cAjjiiLilaiiiciut
explicitamente os crimes de iafant,c,d,orpcnrrem
e os abortos,temeridade
r.proca
cva -ê «TPnéricas “os que recorrem comcom temeridade
!0m..eXPreSSÕel P? L ^ ^ alL ta vaga reprovação, Veneráveis Padres, ao
ameusoluções maisa desejar.
ver, deixa fáceis”, Evitemos
cm» ' “8“nnirtô
evitemos, pois,
^ tôda d a ’ambigüidade.
*oda “ g ^ ^Como^ já falei
am
e de todos é conhecido, a doutrina nl0^alACaj ^ desta lei moral,
sôbre a integridade dos a -°: Z ! s tf ta n Aioj"otÍff a f de q^e a ' integri-'
segundo o meu parecer, nao consiste ran
148 I. Crônica das Congregações Gerais
dade meramente física em si e por si seja um valor moral, mas sim
no fato de a perfeição física da relação conjugal ser elemento intrínseco
daquela plena vontade de amar-se e simultaneamente da sincera in
tenção procreativa, que são — como acima dissemos as normas su
premas da vida conjugal. Com efeito, é a própria grandeza e dignidade
do amor conjugal que requer que os cônjuges se unam nestes atos
plenamente e sem limitações. Pela mesma razão, só se o ato fôr
pode tornar-se o sinal e a prova daquela profunda e constante von
in.t€grof
tade de procriar, que deve estar sempre presente aos cônjuges, embora
acidentalmente não possa tornar-se realidade. Assim como o amor e a
intenção de gerar não podem estar separados na nobreza do espírito,
também não podem caminhar separados na humildade da carne. Não
é necessário que o Concilio entre no campo da casuística, mas é de
capital importância que se apresente a continuidade desta doutrina do
Magistério com os outros ensinamentos, para não deixar a porta aberta
a certas opiniões que hoje irrompem por tôda a parte e sustentam uma
possível modificação substancial da doutrina da Igreja referente ao
juízo moral de tais atos. Há progresso no conhecimento da lei tôda vez
que é possível entender mais profundamente e definir com mais pre
cisão certas particularidades da mesma, mas não se podem abrir caminhos
em contradição aos precedentes degraus de conhecimento na lei pro
postos pelo Magistério autêntico. Após estas reflexões, proponho hu
mildemente que a doutrina da Igreja precisamente nesta matéria seja
expressa com firmeza e clareza no texto desta Constituição pastoral.
Para isto, apresentarei por escrito algumas emendas.
137) Luís Alonso MUNOYERRO, Arceb. tit., da Espanha: O esque
ma não menciona a expressão “contrato matrimonial”, expressão esta
clássica, admitida pelos teólogos, canonistas e pelos documentos ponti
fícios. Alguns poucos autores recentes empregam a expressão “institui
ção matrimonial”, mas esta expressão é aceitável só se a considerarmos
abstratamente. A palavra “contrato”, ao invés, exprime melhor a firmeza
da união e da obrigação compreendidas no matrimônio. Entretanto, se
gundo explicações da Relação, essa palavra foi omitida a pedido de al
guns Padres Conciliares. Mas o que podem êsses Padres Conciliares
contra a torrente de teólogos e o Magistério da Igreja? O silêncio do
esquema neste assunto é, por isso, temerário e perigoso. O Direito Ca
nônico no Canon 1012 diz que “Cristo elevou à dignidade de sacra
mento o contrato matrimonial entre batizados”. Portanto, não é o amor
mas o contrato o que constitui o sacramento. O texto, contudo, exagera
o amor matrimonial, não insistindo na finalidade primária do matri
mônio. Ora, é necessário insistir peremptòriamente nesta finalidade, para
que assim se evitem os erros já condenados pelo Santo Ofício. Além
disso, o que o texto diz acêrca da determinação do número dos filhos
não se diferencia pràticamente dos critérios aprovados pelo Congresso
dos Protestantes inglêses realizado em Londres em 1930! Mas nós
devemos ser cautos e não ocultar a verdade. Nem muito menos favo
recer erros. Portanto, se não queremos cair no neomalthusianismo, é
preciso corrigir essas formulações. E’ igualmente preciso proibir ex
pressamente as operações cirúrgicas “esterilizantes” em ambos os sexos.
A base mais científica e certa para resolver o problema da prole nu-
A Igreja no Mundo de Hoje 149
merosa é — como diz Pio XII — a « .
“genésicos”. O Concilio deveria pedir i " '13 da castida.de nos dias
das causas de irregularidades no período dclicoT '"vesflgaçao cientifica
das autoridades contra a imoralidade pública auxilio mais eficaz
138) Paulus TAGUCHI, Bispo de Osaka, no Japão: Não estamos
de acordo com a afirmaçao do esquema de que é permitido Tos Z
posos determinar o numero dos filhos. Como a própria Relação admití
esta e uma questão hoje muito difícil pelo fato de concorrerem múlti
plos^ elementos novos. Se quisermos evitar tôda espécie de naturalismo
e nao obscurecer a parte que à Providência divina compete na procria
ção, deve om.t.r-se o vocábulo “determinar”, que parece conotar um
excessivo calculo materialista e escassa confiança em Deus E’ inegá
vel que essa palavra exprime um conceito exato. Contudo, o seu uso
poderia causar perplexidade tanto entre os fiéis como entre os infiéis
particularmente no Oriente. Há muita gente que possui um sentido
muito vivo da Vontade de Deus na questão do número dos filhos e
não suporta ouvir falar duma circunscrição daquelas “causas segundas”
que parece indicar o vocábulo “determinar”. Portanto, seria melhor
que se procurasse outra expressão. Além disso, deve-se observar que é
de grande importância para os filhos saber que êles foram gerados por
amor e à custa de sacrifícios e não por utilidade, interêsse e satisfação
dos pais.
139) Kazimierz MAJDANSKI, Bispo aux. de Wloclaviek, na Po
lônia (falou em nome do Episcopado do seu País): O capítulo sôbre
a família deve referir-se ao que diz o esquema sôbre a inviolabilidade
da vida e aplicar êste princípio ao caso do aborto. A experiência pasto
ral mostra que também os católicos se impressionam com a morte dum
adulto ou duma criança, mas se mostram quase totalmente indiferentes
quando se trata dos sêres que ainda estão em estado de embrião. O
flagelo do aborto ceifa um número maior de vidas do que uma guerra.
Deve-se procurar a causa dêste fato na indiferença religiosa e no re-
lativismo moral. O aborto é um delito que conduz as consciências hu
manas a conseqüências socialmente deploráveis e que constitui o sinal
de declínio duma sociedade. O Concilio deveria proclamar solenemente,
numa declaração especial, a inviolabilidade da vida humana e principal
mente das crianças que ainda estão por nascer.
140) Elie ZOGHBY, Vigário patriarcal dos Melquitas do Egito (texto
completo): Veneráveis Padres, nas questões matrimoniais existe um pro
blema ainda mais angustiante do que o problema da limitação da nata-
lidade. E’ o problema do cônjuge inocente que, na flor da idade e sem
culpa alguma, se encontra definitivamente sozinho pela culpa do outra
Após um casamento que parecia feliz, um dos conjuges 5^|_er ^-
gilidade humana quer por premeditaçao — abandona o lar e contra
HHegalmente"uma
uma ’nova umao.
K. Fn0 côniuee
“ n]Uge inocente
‘ a. «Nada vem p0Sso
procurar
fazero pároco
por ti.
ou o Bispo. Dêles recebe uma umca r P ‘ ^ viyer sòzinho
Reza e, com ânimo dispoSto ace ta ^ ^ vjda„ £sta S0,U(.á0
(ou sozinha), guardando a castida P g um temperamento pouco
supoe uma virtude heróica, uma ^ do_ Q jovem ou a jovem que
comum: não é feita, pois, para tod° ™ hamati0s a guardar uma con-
se tinham casado porque não se sentiam cnam.
150 I. Crônica das Congregações Gerais
tinência perpétua encontram-se assim encurralados, em muitos casos
para náo se tornarem doentes psíquicos, a contraírem uma nova união
ilegítima fora da Igreja. Doravante vivem submetidos aos tormentos
de suas consciências. Uma única alternativa é-lhes proposta: ou levar
uma vida heróica — que julgam impossível — ou perecer! Ora, sabe
mos muito bem que esta solução da continência perpétua não é uma
solução para a generalidade dos cristãos. Noutras palavras, nós sa
bemos que deixamos essas jovens vítimas sem uma resposta eficaz.
Pedimos-lhes que tenham uma fé que possa transladar montanhas.
Mas esta fé não é dada a todo mundo. Muitos dentre nós, Bispos, da
Igreja, devemos lutar e orar durante tôda a vida para a obtermos.
A questão que ao Concilio colocam hoje estas almas angustiadas
é a seguinte: A Igreja tem o direito de responder a um cônjuge ino
cente, seja lá qual fôr o problema que o tortura: “Débrouillez-vous! (em
francês no original latino). Náo tenho solução alguma para o teu
caso”? Por outro lado, como é que a Igreja pode indicar a êste pro
blema uma solução que sabe inoperante para o caso? A Igreja não re
cebeu de Cristo a autoridade suficiente para oferecer aos homens os
meios de salvação proporcionados às suas forças ajudadas pela graça
divina ordinária? Cristo jamais impôs a ninguém o heroísmo ou o e&-
tado de perfeição sob pena de condenação. Êle disse: “Se quiseres ser
perfeito...” A Igreja não pode, pois, carecer da autoridade suficiente
para proteger o cônjuge inocente contra as conseqüências do pecado do
outro cônjuge. Não parece normal que a continência perpétua, que está
ligada com o estado de perfeição, possa ser obrigatoriamente imposta
como um castigo ao cônjuge inocente porque o outro cônjuge traiu.
Desde os primeiros séculos as Igrejas orientais tiveram sempre consciên
cia desta autoridade. O vínculo matrimonial tornou-se çertamente indis
solúvel pela lei positiva de Cristo, mas, como indica o Evangelho de
S. Mateus (5,32; 19,6), “exceto em caso de adultério” (em grego:, mè
epi porneía). À Igreja cabe julgar do sentido dêste inciso, sôbre o qual
os exegetas mais recentes não estão de acôrdo. E, embora a Igreja de
Roma o interpretasse sempre em sentido restritivo, o mesmo nurica acon
teceu no Oriente, onde a Igreja o interpreta em favor do matrimônio
possível do cônjuge inocente. E’ verdade que o Concilio de Trento, na
sua 24* sessão (cânon 7 De matrimônio) comprovou e sancionou a in
terpretação romana restritiva. Mas é do conhecimento de todos que á
fórmula adotada por êste Concilio no citado Cânon 1* foi propositada-
1 Para maior informação do leitor, transcrevemos aqui o Cânon 7 sôbre o -rna
trimônio indissolúvel a que Zoghby faz alusão: “Se alguém disser que a Igreja erra
quando ensinou e ensina que, segundo a doutrina evangélica e apostólica (Mc *
/./ní0r ‘ ’ 0 v ncu,° matrimônio não pode ser dissolvido pelo adultério dum
mMivn66 / t!í1Ci*.>nenhum dos dois> nem mesmo o cônjuge inocente que nã° . ce
aom ?dult*r,?*A P°de contrair outro matrimônio em vida do outro cônjuge,
omTaoü J» nn, UKéri° tanto aqué,e ^ue* repudiada a adúltera, casa com ou
°rwl a que, abandonado o marido, casa com outro — seja excomungado (ÇJf y
T r e n ? o ^ ^ t0,sMPr tÍVCÍOS ?a Ed- Vozes, "- M ). Êste Canon 7 do Conc.l o de
criu Maf45/ rn3) ♦so,reu ,váriafi redações. A redação definitiva é esta .*QuJ.A ra foi
assiír forímitrif 7«ca a- afirmaÇão de Mons. Zoghby de que esta condenação T
não ofender í £ 1 5! dlxerit, Ecclesiam errare. . . ”) pelo Concilio de Trento par*
que Zoghbv no r a // .lrad‘ci°nal da Igreja Grega nesta matéria. Note-se, P .ega
*»em d/fende o divàrrfn ,cônJuge definitivamente abandonado e sem culpa, nã Jda
prática, "mas comí í v Cánon de Trento condena, resolvendo .uma * 1^
angustiante problema nacl*/*^ deP.ois (cf. n. 174), procura uma solução P do
privilégio paSlino ou oeXrina lri®en
d,a,,tc
s P-u..no ou petrino, de que a Igreja a Possibilidade
do Ocidenteduma fala dispensa,
e faz uso.na H"h
A Igreja no Mundo de Hoje 151
°u entre as aplicações
152 I. Crônica das Congregações Gerais
atual A esperança moderna e a dos séculos passados é bem clara a
respeito e não se deve voltar ao assunto. O capitulo III não trata clara
e diretamente do direito de propriedade enquanto exigência da digni
dade da pessoa humana. O capítulo V explana alguns conceitos sôbre
obieçòes de consciência que são, pelo menos, inoportunos, faltando prin
cípios que ofereçam um fundamento humano e divino às intervenções
da Igreja nos assuntos e nas instituições internacionais.
142) Hermann VOLK, Bispo de Mainz, na Alemanha: Em relação
à dignidade do matrimônio, o esquema deveria começar focalizando o
matrimônio enquanto é um estado. Pois pertence à dignidade humana
e à existência cristã que o homem é capaz de decidir, através duma
autodeterminação, o seu estado de vida. Por essa determinação de si
mesmo o homem se fundamenta num estado permanente, de sorte que.
a partir de então, o homem já não “agirá” apenas como casado, sacer
dote ou religioso, mas “será” casado, sacerdote ou religioso. O mun
do secularizado de hoje, porém, não acredita que essa autodetermina
ção seja conforme à dignidade do homem nem que a definitividade de
estado pertença à natureza do matrimônio. Por isso, é importante que
o Concilio mostre que êsse ato de escolha pelo qual o homem deter
mina sua existência não contradiz a liberdade nem a dignidade hu
mana. A liberdade não consiste em reservar-se esta faculdade para agir
de modo contrário em qualquer momento nem em permanecer numa
atitude de indecisa variedade. A liberdade atinge o seu cume quando
o homem decide sôbre si mesmo e se autodetermina, ainda que dora
vante o seu modo de agir fique limitado. Nisto radica a essência da
vida cristã, pois se fundamenta no caráter indelével do Batismo, que
deve determinar definitivamente a conduta do cristão. Isto é igualmente
válido para a Confirmação, a ordenação sacerdotal, o Matrimônio. O
mundo e os nossos fiéis — principalmente os seminaristas com relação
ao Sacerdócio — precisam do nosso auxílio e encorajamento para um
ato de escolha definitivo cheio de confiança. As fontes desta decisão
radical se encontram no sacrifício eucarístico, que vitaliza todos os es
tados de vida cristãos.
30-9-1965: 139» Congregação Geral
A Igreja no Mundo de Hoje
II Parte: O Matrimônio
r ... , . P r e s e n t e s : 2.177 p a d r e s
Conciliares. Moderador: 0 Card. Suenens. A sessão começou às
9 e terminou às 12,15. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Joseph Martin, Bispo de Bururi, Burundi. Hoje foi distribuído
0 texto de Declaração sôbre as relações da Igreja com os não-
cristãos (e judeus). Continuaram as votações sôbre 0 múnus
pastoral dos Bispos (cf. pp. 366 ss) e as intervenções sôbre a II
parte do esejuema da Igreja no mundo de hoje, com as seguintes
15 intervenções, ainda sôbre problemas matrimoniais:
143) Cardeal Charles JOURNET, da Suíça (segue o texto com
pleto, que constitui uma resposta direta à intervenção de Zoghby, cf.
n. 140): A doutrina da Igreja Católica sôbre a indissolubilidade do
matrimônio sacramental é a mesma doutrina que o Senhor Jesus nos
revelou e que a Igreja sempre conservou e anunciou. Com efeito, le
mos no Evangelho de S. Marcos (10,2 ss) que, à interrogação dos fa
riseus “se é lícito ao marido repudiar a própria mulher”, Jesus res
pondeu “O que Deus uniu não separe o homem”. E acrescentou: “Aquêle
que repudia sua mulher e se casa com outra, adultera contra aquela:
e, se a mulher repudia o marido e se casa com outro, adultera . O
apóstolo S. Paulo ensina expressamente a mesma doutrina, não em
seu próprio nome mas no nome do Senhor: “Aos casados ordeno, não
eu mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido se estiver
separada, não torne a casar ou, então, reconcilie-se com o mando -
e que o marido não repudie a mulher” (1 Cor 7, 0-11). Com a consi
deração desses claros testemunhos, torna-se manifesto que S. Mateus
não tem uma doutrina diferente quando acrescenta o
ciso “Todo aquêle que repudia a sua mulher „ 19 P) A cláusula
- e s A .s a com « tra < .» « . mg, ImSlo
salvo caso de adultério pode ser a __ em caso ^
da liceidade da separação — c°í"0jd*Je dun? 'nôvo casamento. E' ver-,
adultério, mas não em favor da hce dadmitiram - divórcio
U t «***•■ -----
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caso dt
dade que algumas Igrejas do Oriente
C°ncíiio - v _ 11
154 I. Crônica das Congregações Gerais
adultério e permitem ao cônjuge inocente contrair um nôvo casamento
Mas êste fato se explica pelas relações que então existiam entre o Es
tado e a Igreja. Sob o influxo da lei civil que admitia, neste caso, a
legitimidade do divórcio e dum nôvo matrimônio, a Novella Iustiniani,
que enumerava as diversas causas de divórcio, foi introduzida no Código
da Igreja Oriental denominado Nomocanon. Para justificar ulterior-
mente esta frase, estas Igrejas orientais alegaram o inciso de Mateus
sóbre o divórcio em caso de adultério. Mas estas mesmas Igrejas admi
tiam. além desta causa, outras causas de divórcio. E* evidente, pois, que
nesta matéria adotaram um modo de agir mais humano do que evangé
lico. Seja qual fôr o uso destas Igrejas, a genuína doutrina do Evan
gelho sôbre a indissolubilidade do matrimônio sacramental permaneceu
sempre em vigor na Igreja católica. Não é competência da Igreja mu
dar o que é de direito divino. A Igreja não pode não obedecer ao pre
ceito de Cristo. Mas é com uma imensa compaixão que Ela olha para
aquelas situações infelizes que exigem uma vida heróica e que perma
necem insolúveis aos olhos dos homens, não aos de Deus. (Veja-se a
resposta de Zoghby, injra n. 174, p. 166 s e p. 188 s).
144) Cardeal John Carmel HEENAN, Aceb. de Westminster, na
Inglaterra (texto completo): Gostaria de comegar a minha intervenção
pedindo que, quando êste documento fôr definitivamente aprovado, oxalá
se façam boas e belas traduções do seu texto. Dentre estas, a versão
latina é a de menor importância. Neste documento nós nos dirigimos
ao mundo de hoje. Poderia causar admiração que, referindo-se o seu
conteúdo a realidades que por sua própria natureza são mutáveis, o
esquema se intitule “Constituição conciliar”. Se o nosso esquema faz
realmente questão de se mostrar adaptado ao mundo de hoje, então
por isso mesmo terá que resultar pouco útil e oportuno aos homens dos
séculos vindouros. Talvez fôsse preferível promulgá-lo como uma sim
ples “Mensagem”. Mas, seja lá o que fôr da versão latina, o certo é
que os homens do mundo inteiro se interessarão por êste documento
através da leitura de traduções para as suas próprias línguas. Numero
sos Padres Conciliares criticaram acerbamente a “latinidade” do nosso
documento. Vejo-me, pois, obrigado a desejar que a tradução inglêsa
do documento definitivo seja ainda melhor e mais clara do que a do es
quema. No devido tempo, especialistas no idioma e na gramática in
glesa façam a tradução de todo o esquema. Passo agora ao conteúdo
do nosso esquema:
1) Veneráveis Padres, tende a bondade de olhar à p. 60, alínea 30
e seguintes. Sugiro que se insira aí uma passagem sôbre a prática ex
tremamente recomendável da adoção. Nesse lugar se trata “de prole
tam optata quae déficit” (dos filhos que, embora desejados, não vem)-
Na maioria das vêzes, as crianças ilegítimas ou abandonadas pelos seus
pais se encontram privadas da mais preciosa herança da infância que
e a vida doméstica e familiar. E’ verdade que nos países onde se
cultiva a liberdade religiosa é possível achar bondosas freiras que aco
lhem estas crianças infelizes com os braços abertos da caridade crista.
Entretanto, por mais belos e espaciosos que sejam, os orfanatos não
substituem o lar. Os casais sem filhos deveríam ser exortados a ado
tarem crianças, especialmente aquelas que são doentes, fisicamente de
A Igreja no Mundo de Hoje
155
ss ^ “ i;6r r s ,i s - - « t S s
feituosas, mestiças ("stirpis mixtae”) ou — nnr
não são desejadas. Um tal gesto seria dp ^ J °U qua mot,vo
Crônica Paraconciliar:
K INWSSOLUBILIDADE DO MATRIMÔNIO E A TRADIÇAO ORIENTAL
Temos visto que a intervenção de Journet (n. 143) constitui uma
resposta direta à proposição feita por Zoghby (n. 140) no sentido
de possibilitar um nôvo casamento ao cônjuge definitivamente aban
donado e inocente, dispensa que êle tinha fundamentado, com a tra
dição oriental, na interpretação de Mt 5,32 e 19,6. A imediata resposta
de Journet, os debates continuados fora da aula conciliar e, natural
mente, as repercussões "sensacionalistas” de certa imprensa falada e
escrita indicam com clareza que o Vigário para o Egito do Patriarca
melquita tocou num problema de extrema susceptibilidade e de grande
importância pastoral. De fato, há nisto tudo uma questão que inevi
tavelmente põe em jôgo em certa medida as possibilidades ecumênicas
(e nós sabemos que neste ponto tôda a sensibilidade é pouca) e a
substância teológica duma tradição — ou, para sermos mais corretos
(pois também o Oriente admite a indissolubilidade do matrimônio sa
cramental), a fundamentação histórica e exegética dessa interpretação.
Ouçamos agora os dois personagens principalmente comprometidos no
debate dêste problema: E. Zoghby e o seu Patriarca o card. Máximos IV.
Mais tarde daremos maiores detalhes, pois Zoghby voltará mais uma
vez à carga para precisar seu pensamento.
1. E. Zoghby se defende. Após esta 139* Congregação Geral,
Zoghby fêz para a imprensa, na praça de São Pedro, as seguintes
precisões, que, por sua vez, são uma contra-resposta a Journet: "1. E’
evidente que as comunidades católicas do Oriente sem exceção ado
taram, ao se unirem a Roma, a disciplina e a prática católicas roma
nas sóbre o matrimônio. 2. Os Padres e Doutores da Igreja do Orien
te que colocaram os fundamentos da doutrina cristã e que constituíram
a maioria esmagadora dos Padres dos grandes Concílios ecumênicos
não podiam ceder a influxos políticos ao interpretarem, como êles
fizeram, as palavras de Cristo em S. Mateus, capítulos 5 e 19. Pre
tender isto seria esquecer o que deve à sua ciência e à sua santidade
a Igreja universal. 3. O Código de Justiniano, promulgado por volta da
metade do século VI e adotando a disciplina oriental sôbre o matri
mônio não podia de maneira alguma influir Origenes, S. Basílio,
João Crisóstomo, etc., que viveram entre trezentos e cento e cinqüenta
anos antes dêste Código, o qual não faz senão registrar a doutrina
e a pratica anteriores das Igrejas do Oriente. 4. As Igrejas do Oriente
adotaram esta interpretação e esta prática em favor do cônjuge ino
cente desde longos séculos antes da separação da Igreja de Roma. Ora,
esta jamais as condenou durante os longos séculos de união, e ja-
62 conc*enar ou mesmo desaprovar pelos Concílios ecumênico ;
presididos por representantes do Bispo de Roma e onde tinham a sua
A Igreja no Mundo de Hoje 167
sede as Igrejas do Oriente e do Ocidente f > * „
aplina
Igreja romana
oriental jamais
a este pensou em contestar a leg^m
respeito”. ldíe^da^diiT
g umioaae aa discí-
II. O Patriarca Máximos IV se deUne. Convidado a dar o seu
parecer “ m respeito a intervenção de Zoghby.- disse o que segue:
"Mons. Zoghby, como todos os Padres do Concilio, goza de plena
liberdade para dizer o que pensa. E, embora êle seja o nosso vigário
geral no Egito, nao^ engaja naturalmente senão a sua própria pessoa.
Pessoalmente, eu não tive conhecimento desta intervenção senão no
momento em cjue a escutei na reunião conciliar. Quanto ao fundo do
problema, a Igreja deve sustentar firmemente a indissolubilidade do ma
trimônio, porque se, em certos casos, o espôso inocente se encontra
duramente provado por causa desta lei, a sociedade doméstica inteira
seria abalada e arruinada sem esta lei. Além disso, se o divórcio pro
priamente dito devesse ser permitido por causa do adultério, nada
seria mais fácil para os esposos inconscientes do que provocar esta
causa. A prática contrária das Igrejas orientais ortodoxas pode-se
prevalecer de alguns textos de certos Padres. Mas êstes textos são
contraditos por outros e não constituem, em todo o caso, uma tradição
suficientemente constante e universal para induzir a Igreja católica a
uma mudança de disciplina neste ponto. Esta questão, todavia, com
as nuanças requeridas, teria podido ser levada diante do Concilio como
uma dificuldade séria para resolver no diálogo com a ortodoxia. Mas,
apresentada tal qual, sem as precisões necessárias, pode criar confusão
nos espíritos”.
1 De passagem, é bom lembrar que, quando Paulo VI criara cardeais, em
fevereiro do ano passado, três patriarcas orientais — entre os quais S. B. Má
ximos IV — Mons. Zoghby julgou esta nomeação incompatível com a dignidade
patriarcal do seu chefe espiritual e apresentou a demissão de seu cargo de \ig a -
rio geral dos melquitas para o Egito em sinal de protesto. Mas depois a0i»
3 de março — reconsiderou sua atitude e aceitou retirar a sua renuncia Quem
quiser seguir de perto êste impasse (muito útil não so para conhecer a mentalidade
orieníal num determinado ponto, mas também para enriquecer * * * * * * * '* » * « '-
vas eclesiológicas), lerá seguramente com Pfoveito: E Z o g h b y fo q " Máximos ?Y
dinalat, em L a d o c u m e n ta tio n cath o liqu e n. 145! (1965), cols.
L ’acceptation du cardinalat, ibidem cols. paínarJie
Máximos a accepté le cardinalat, ibid., n. 1444 (1965),
1*10-1965: 140* Congregação Geral
A Igreja ao Mundo de Hoje
U Parte: Matrimônio, Cultura
P r e s e n t e s : 2 .12 8 p a d r e s
Conciliares. Moderador: o Cardeal Suenens. A sessão começou
ás 9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi celebrada pelo
Mar Athanase Jean Daniel Bakose, Arceb. siríaco de Bagdad,
no Iraque (em rito siro-antioqueno). Antes do início dos deba
tes desta manhã comunicou o Secretário Geral Mons. Felice o
provável calendário para êste mês de outubro: prevê-se que até
o dia 15 continuarão regularmente as Congregações Gerais,
com os habituais debates. As votações obedecerão ao seguinte
programa: nos dias 6, 7 e 8 haverá 19 votações sôbre os Mo
dos aceitos no esquema sôbre os Religiosos; nos dias 11 e 12
haverá 7 votações sôbre os Modos no esquema sôbre os Se
minários; no dia 13, 5 votações sôbre os Modos no esquema
sôbre a Educação cristã; nos dias 14 e 15, 8 votações sôbre
os Modos no esquema sôbre as relações da Igreja com os não-
cristãos e os judeus. Na semana de 18 a 23 não haverá Con
gregações Gerais, para dar tempo às Comissões de corrigir os
textos; nesta mesma semana os demais Padres Conciliares se-
são ocupados com outros trabalhos relacionados com futuros
documentos pontifícios (de regulamentação de decisões concilia
res), no dia 25 recomeçarão as Congregações Gerais. Prevê-se
para o fim do mês uma Sessão Solene de promulgação dos do
cumentos já definitivamente corrigidos e votados. Foi lida uma
especial mensagem do Santo Padre à ONU, também em nome
dos Padres Conciliares, exprimindo os motivos e as esperanças
de sua viagem no próximo dia 4 de outubro. No mais, conti
nuaram^ os debates sôbre a Igreja no mundo de hoje: uma in
tervençao postulada ainda sôbre a I Parte (n. 161), quatro so-
A lgreja no Mundo de Hoje 16g
bre o matrimônio e sete snhra „ „ u
as intervenções de hoje: U Ura nn* *62-168). Eis
157) Cardeal Valerian GRACíAS a a o l .
osobre
Concilio expõe um dos temas
o matrimomo e a família mia fundamentais do esquema
em^^o^capíulo
no capitulo
ameaçadaiá - inclusive no O S te - nninÍLn ^ h°je
1936 ^o Mahatma
dental. Já em ioqg »/r u ! Ghandi
_ por dissera
ínüuxoqueda “ocivilização
maior danooci
causado por essa propaganda consiste na rejeição doantigo ideal e
substituição dele por um outro que, se fôr levado à prática, provocará a
extinção moral e física da raça. Coube à nossa geração glorificar o
vício como se fôsse virtude”. Quanto ao esquema, sobretudo na sua
segunda parte, acho o seguinte: a) E' preciso saber o que os leigos mais
notáveis do mundo inteiro — principalmente os que desempenham fun
ções importantes na vida pública — pensam sôbre o modo com que
o Concilio fala aos homens de hoje. Ora, antes de eu chegar a Roma,
fiz traduzir o esquema para o inglês e o submeti à crítica (sob se-
grêdo, naturalmente) de quatro leigos da índia: dois bons católicos,
um católico liberal e a um cultor da religião de Zoroastro. Todos êles
concordaram em que êste documento, muito bem redigido, “est valde
commovens”. Seria, pois, oportuno que a redação definitiva — estilo
e língua — fôsse confiada a leigos peritos, para que seja redigido
numa linguagem que o homem moderno possa compreender e apreciar.
Do contrário, seria uma “vox clamantis in deserto”, b) Acho que o
materialismo — já lembrado, se não me engano, pelo Cardeal Suenens
— que se alastra pelo mundo inteiro e a quem deve responsabilizar-se
pela degradação geral dos costumes, não é suficientemente condenado
pelo esquema: a corrupção dos costumes é — penso eu — mais pe
rigosa do que a possibilidade duma guerra atômica. As palavras de
Lord Hallifax vêm bem a propósito: “Se a ordem social é hoje pertur
bada e parece ruir, creio que não se deve atribuir à guerra a despo-
voação da terra, mas, sim, isto acontece porque os mesmos fundamen
tos da vida moral e cultural estão sendo pouco a pouco abalados e
está sendo cavado no coração do homem um vazio que não pode
ser preenchido”, c) O capítulo I não pode ser compreendido e aprecia
do em todo o seu valor sem que se considere ao mesmo tempo a
doutrina exposta no capítulo III que versa sôbre a vida econômica e
social: a vida sã das famílias em tôda a parte depende das condiçoes
econômico-sociais que devem ser determinadas segundo a justiça dis-
tributiva. d) O esquema, a meu ver, não deplora suficientemente a
gritante injustiça da atual distribuição dos bens do mundo. Ora, o ge-
nero humano chegou a um ponto em que a própria civilização esta
perigo tôda vez que o homem procura uma solução violenta dos prooie-
mas que o inquietam. O maior perigo de violência não esta nem na
bomba atômica, nem no vertiginoso progresso da técnica. ^
inimizades e discórdias entre as duas partes opostas em que .
está dividido, mas, sim, na duríssima condição em que vive a *
parte da humanidade: um de cada três homens n0 muíl °. carn.
dois de cada três vivem em condições que sãoconstrangidos
seme iaa ^ ^ ‘na uívpr
viver sem
po de concentração; milhões, finalmente, sao
Concilio - V — 12
170 1. Crônica das Congregações Gerais
um teto. Êste estado de coisas constitui uma violência de primeira or
dem __ uma violência à justiça, capaz de causar uma conflagração
tal como jamais se viu no mundo, e) O capítulo III está bem redigido
Mas tem estas lacunas: não explica de que modo o direito de proprie
dade privada pode ser conciliado com o socialismo nem estuda o pro
blema da adaptação do direito de propriedade às exigências de nossos
dias. Aqui seria o caso lembrar que os direitos e deveres do indivíduo
e da comunidade só poderão entrar em acôrdo numa sociedade fun
dada sôbre os princípios do Cristianismo.
158) Cardeal Josyf SLIPYJ, Arceb. de Lwów, na Ucrânia: Muito
embora o esquema se intitule “a Igreja no mundo de hoje”, no seu
conjunto não parece levar suficientemente em conta a verdadeira dimen
são da Igreja e do mundo. 1) O seu conteúdo foi redigido com uma
perspectiva demasiadamente ocidental. Mas a Igreja de Cristo existe
também fora do Ocidente, nos países que se encontram atrás da “cor
tina de ferro”, na Asia, a Índia, o Japão, a China, etc., onde vivem
numerosos cristãos. Pouca coisa, porém, se ouve no esquema sôbre a
aplicação dos principios cristãos a êste Oriente exótico e diferente. 2)
Exceto o cardeal Florit, nenhum Padre tratou ex-professo do comunismo
coletivista e ateu. Parece ignorar-se que existem países comunistas on
de o ateísmo é erigido em sistema e persegue por todos os meios a ex-
tirpação não só da Igreja mas também de tôda religião. Lá se fala mais
de liberdade — inclusive religiosa — do que os Padres no Concilio.
Não se viu bastante que o nó da questão é a eliminação da iniciativa
pessoal e, conseguintemente, da liberdade pessoal, em proveito do Es
tado totalitário. Mesmo a lapidar intervenção do Cardeal Koenig nem
mencionou êste ponto. Meu ilustre predecessor, o metropolita Andreas
Szeptyckyj, sempre dizia que gostaria de ter vivido um só dia num
Estado que realizasse a condição cristã do homem, i. é, a liberdade.
Hoje, porém, os estados totalitários tolhem tôda a liberdade e impõem
pela violência o ateísmo. E isto não é absolutamente um segrêdo: é uma
obra que se faz à luz do dia e que é descrita em livros e jornais.
Ora, nem sempre os Padres orientais podem ocupar-se dêstes proble
mas seus porque, em comparação com os 2.000 Padres Conciliares,
constituem apenas “une quantité négligeable” e porque geralmente aca
bam acomodando-se aos ocidentais ou os seus países se encontram
representados por ocidentais (p. ex., Filipinas, índia, Austrália, etc.).
Portanto, para responder à sua finalidade, o texto deve considerar
na sua totalidade a Igreja e o mundo. 3) Êste texto deverá ser o mais
belo entre todos os do Concilio, porque deve esclarecer que a Igreia
favorece o papel e o desabrochamnto da pessoa no mundo. De fato,
s) a Igreja possui a fôrça, o direito e a obrigação de cooperar no
aperfeiçoamento do mundo e especialmente da sociedade, pois a Igreia
é o lêvedo que fermenta a massa até que esta fique penetrada tôda
inteira (Mt 13,33). A Igreja não se furta ao trabalho humano. Não
e, pois, verdade o dito ateu que zomba da Igreja: “den Himmei uw—
assen wir den Engeln und den Spatzen”. Isto supõe que a IgreJa
na°. ,az 8®men*e ° inventário da situação, mas que propõe também 05
vwaiíH|8/i ^ esquema deverá mostrar, em segundo lugar, a um-
versalidade desta missão junto de todos os povos e de todos os ho-
A Igreja no Mundo de Hoje 171
P r e s e n t e s : 1.944 p a d r e s
Conciliares. (Explica-se a ausência de muitos: os Bispos fran-
ciscanos estão desde ontem em Assis e, além disso, o Papa
Paulo VI, que partiu esta manhã para a sede da ONU em Nova
York, levou consigo vários Cardeais e Bispos). Moderador:
Card. Suenens. A sessão começou às 9 e terminou às 12,20.
A Santa Missa foi celebrada por Dom Siro Silvestri, Bispo de
Foligno, na Itália, cidade onde São Francisco vendeu a própria
roupa para dá-la aos pobres. O Secretário Geral, que acom
panhou o Papa à ONU, foi substituído por Dom John Krol,
Arceb. de Philadelphia, nos EE.UU. Continuou durante tôda
a manhã o debate sôbre a Igreja no mundo contemporâneo,
com os discursos sôbre o problemas matrimoniais (n. 174)
— com licença especial dos Moderadores, òbviamente — 5
sôbre a cultura e 11 sôbre os problemas sócio-econômicos.
Sôbre a cultura falaram:
169) Casimiro MORCILLO GONZÁLEZ, Arceb. de Madrid, na Es
panha: O capítulo II me decepciona profundamente. Apesar da louvá
vel intenção de harmonizar a cultura com o humanismo cristão, a Co
missão nem sempre foi feliz em sua redação: às vêzes tem-se a im
pressão de ler um artigo sem muita importância; às vêzes, como na
secção III, o estilo exortativo não parece digno do Concilio. A cul
tura é ambivalente: pode aproximar e pode também afastar os homens
de Deus. Se o risco é inevitável para cada homem, não o é para a co
munidade dos homens, com a condição de que se dê a conhecer o
plano de Deus sôbre o progresso da cultura humana, plano que a
Revelação e a história nos descobrem claramente. Já no livro do Gê
nese se lê como Deus lhe deu o preceito de subjugar a terra criada e
todos os animais (1,28). Com sua inteligência o homem foi des^
do as causas imediatas e as relações das coisas e, quan o c t
m
I. Crônica das Congregações Gerais
que tudo fòra feito por Deus em número, pêso e medida (Sab 11,21)
i é que tudo fôra submetido às leis físicas, começou a imitar e copiar’
com a habilidade de suas mãos, a obra da criação (cf. Gn 4,20-22)’
Assim a cultura técnica, muito imperfeita no homem pré-técnico mas
muito perfeita no homem supertécnico de hoje. Assim também nasceram
a sociedade e a cultura de massa, sinais dos tempos modernos. A len
tidão com que a cultura progrediu, especialmente a técnica, é expli
cada pela desordem introduzida no mundo pelo pecado original. Peia
restauração da ordem querida por Deus e a orientação de tôdas as
criaturas ao seu serviço, a Redenção restabeleceu no melhor modo possível
as condições do progresso da cultura humana. A Redenção não elimina
as rebeliões, mas dá a fôrça para dominá-las. “A criação inteira até
agora geme e sente dores de parto” (Rom 8,22), porque “aguarda
ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (Rom 8,19), até que
"na plenitude dos tempos unir sob uma cabeça tôdas as coisas em
Cristo: as que estão nos céus e as que estão na terra” (Ef 1,10). Fi
nalmente, Jesus Cristo, ao promulgar o preceito máximo da caridade,
imprimiu nova fôrça à função social que a cultura espiritual e a
cultura técnica têm por sua própria natureza. E’ preciso, pois, redigir
de nôvo o capítulo H para mostrar ao mundo como a cultura se in
tegra, segundo o plano de Deus, no humanismo cristão. Ou, se pre
ferir o Concilio, se suprima tôda a segunda parte do esquema ou se
confie a uma Comissão pós-conciliar o estudo e a redação dela, porque
náo condiz com o Concilio apresentar sôbre tema tão importante êste
documentozinho (“tantillum documentum”).
170) Augustin FROTZ, Bispo aux. de Koeln, na Alemanha: O
esquema diz que “os homens” tomem consciência de serem cs
artesãos e promotores de sua própria cultura e das suas comunidades.
Mas falta aí um elemento essencial ainda: no processo da evolução
da cultura humana o homem não age simplesmente como homem, mas
sempre age concretamente como homem ou como mulher. Esta precisão
reveste aqui uma importância fundamental. Não basta que, noutras pas
sagens, o esquema reconheça a igualdade da pessoa do homem e da
mulher e a igualdade de direito à cultura humana. Considere-se tam
bém se, de fato, a mulher tem na sociedade um papel que lhe facilite
contribuir para o progresso da cultura. E’ de se desejar que o texto
apresente esta consideração que é sempre verdadeira e hoje tem es
pecial importância. O reconhecimento universal da complementariedade
do homem e da mulher também fora da instituição familiar, pode fa
vorecer uma estima maior do celibato professado livremente e por mo
tivos superiores. Assim, os que abraçaram o celibato — quer sejam
leigos, quer sejam sacerdotes ou religiosos — seriam püblicamente
animados na sua vocação porque desempenham um papel especial e
salutar na promoção da cultura humana. Êste fato não deve ser es
quecido no diálogo com o mundo moderno.
nit i^Vi SPUELBECK, Bispo de Meissen, na Alemanha:^ O ca
n/w ° ’ • uC° SCU louv^veí otimismo no campo científico, a^re
nôvo caminho para o diálogo entre a Teologia e a Ciência. Agradeço,
’ 0 1 !gente tra*)alho dos redatores do esquema. “Anxietas
ata est: incipiat dialogus hilari animo!" Faço, entretanto, algum
A Igreja no Mundo de Hoje 185
épocr-111^
manirtnrfp4^ n^ 6^ ^ » ! a<?-^mPl'd10
verdade,daS °PÇÕ£Svitais
ramente que para
se -Po" *" *» àda» «hu-.
destino
Hia
dia H«d
do mundo°,i ab'°H
e delaiqUCtem6 Uma
uma esPécie de demiurgo,
consciência vivee esta
aguda. Mais tragé
melhor do
que os outros homens, ouve no universo êste apêlo à vida, esta von-
tade de viver, enquanto que a vida está ameaçada como jamais o es
teve na história humana. O Concilio não pode não reivindicar os di
reitos da vida, porque a vida é o primeiro de todos os bens e a pri
meira universalidade.
Conclusão: O Concilio deve, pois, neste capítulo falar da ciência
com amor e respeito. Deve, por uma parte, reconhecer os valôres que
serve, i. é, a vida e a verdade; dar-lhe graças por ter já respondido
às necessidades dos homens. Deve, por outra parte, afirmar que a
ciência põe à liberdade humana um dos mais graves problemas do nosso
tempo: o do bom uso do gôzo quase ilimitado que a ciência dá aos
homens de hoje. Deve declarar solenemente o respeito que é devido
à vida e em primeiro lugar à vida do homem; e, enfim, exortar os sá
bios a reconhecerem o fim último para o qual a ciência é chamada:
proclamar a glória de Deus.
173) Luigi BETTAZZI, Bispo aux. de Bologna, na Itália: O es
quema declara que a Igreja aceita o pluralismo das culturas. E’ esta
uma decorrência da Encarnação (“consectatio Incarnationis”) que de
vemos vigorosamente sublinhar, porque a fôrça do Evangelho deve fer
mentar todos os homens. E isto vale não apenas para o pluralismo
“espacial” (as diversas culturas num dado período histórico) mas tam
bém para o pluralismo “temporal” (as culturas que se sucedem na
história). Alguns filósofos contemporâneos desejam que a Igreja pro
clame claramente aque’as verdades, sem as quais ninguém pode ser
considerado pensador cristão: estas são as verdades referentes à trans
cendência de Deus e todos os valôres absolutos, tanto os da ordem
ontológica como os da crdem moral dêles decorrentes (a dignidade, a
liberdade e a essência comunitária do homem). Mas ao mesmo tempo é
necessário reconhecer abertamente as riquezas da mentalidade que ca
da época tem. A investigação e explicação atuais sôbre as realidades
naturais — inclusive na antropologia — e a atenção prestada para o
mundo pessoal e sua realidade existencial e histórica, ilustram não só
as maravilhas singulares de Deus, mas também abrem o caminho para
a elevação da mente para Deus e ao mesmo tempo favorecem o diá
logo entre os homens. Pensemos, p. ex., no valor da subjetividade que,
quando não exagerada até ao imanentismo absoluto, ilumina o outro
pólo de todo diálogo, fonte mesma da especulação. E\ pois, o pri
meiro elemento de qualquer visão objetiva. Assim, a mesma problema-
ticidade, quando não excluir a-priori a verdade absoluta, pode expri
mir claramente a radical desproporção entre a inteligência que investiga
e a certa ilimitada virtualidade da realidade: talvez os modernos pu-
blicanos estejam mais próximos da salvação do que o foram os passa
dos fariseus na segurança de sua posse. De fato, uno é Deus. uma e
a realidade e uma é a razão do homem — ou, melhor, uma é a m e
ligência do homem. E é esta profunda unidade do gênero humano que
também a Igreja promove enobrecendo a inteligência conl^ j
um preâmbulo para a paz universal. Entretanto, a unidade da
13*
188 I. Crônica das Congregações Gerais
pode ser manifestada igualmente numa grande variedade de perspec
tivas que podem e devem ser finalmente unificadas pelo único Verbo de
Deus. E é esta, se não me engano, a verdadeira razão de os Papas
recomendarem sempre que se seguissem os princípios e os métodos de
S Tomás de Aquino. O verdadeiro método — acho eu — não consiste
tão sòmente em áridos tecnicismos, mas no apreço da inteligência hu
mana. e no estudo e na adesão à mentalidade dos nossos tempos e dos
nossos lugares. Assim fêz o próprio S. Tomás de Aquino, seguidor da
tradição e amante das SS. Escrituras. Os seus contemporâneos, porém
o consideraram um aficcionado de novidades (“novitatis amator”) e
não sem perigo de êle ser condenado. Digamos serenamente aos nos
sos filósofos que o S. Tomás de Aquino que devemos honrar não é
necessariamente o Tomás dos tomistas, mesmo o dos mais tradicio
nais, porque o carisma que êle possuiu nem sempre passou a todos
os seus discípulos. Êle é, antes de tudo, um modêlo que deve ser imi
tado pelo seu amor das SS. Escrituras e do mundo de seu tempo. Nisto
também temos um exemplo em Rosmini. Enfim, tudo isto parece-me
convir com o que já disseram acêrca do esquema numerosos Padres:
apresentar os valôres que ajudem os homens de hoje a viver uma exis
tência mais digna e segura. E* esta a inspiração originária do esque
ma e é esta a esperança e a fé de todos os homens que João XXIII
levantou na Igreja e no mundo. (Mons. Bcttazzi tornou a pedir, como
tinha já feito no ano passado, em nome de 70 Bispos, que o Concilio
inciuisse no número dos santos o nome de João XXIII).
Ainda sôbre o capítulo I (matrimônio e família) falou:
174) Elie ZOGHBY, Vigário patriarcal dos melquitas do Egito
(segue texto completo: cf. supra p. 149, seu primeiro discurso sôbre
êste tema, e p. 153, a contestação do cardeal Journet): Como certas
publicações deram proporções demasiadamente largas à minha última in
tervenção no Concilio sôbre o caso particularmente frequente e infeliz
do cônjuge inocente abandonado pelo outro e a propagaram pelo mundo
inteiro, pedi retomar a palavra na Aula não para retratar ou mudar o
que eu disse mas para lembrar brevemente o que segue:
1. Minha intervençãotinha um fim estritamente pastoral: o de
procurar uma solução para o problema angustiante de tantos jovens
maridos e mulheres condenados a viver sozinhos, numa continência for
çada, sem culpa própria.
2. Afirmei claramente na minha intervenção o princípio imutáve
da indissolubilidade do matrimônio e evitei de propósito empregar a
palavra “divórcio", porque, no uso católico, esta palavra significa uma
infração ao princípio da indissolubilidade do matrimônio.
3. Esta indissolubilidade do matrimônio está de tal modo anco
rada na tradição das Igrejas do Oriente e do Ocidente, tanto ortodoxa^
como católicas, que não podia ser chamada em questão numa m er
vençáo conciliar. A tradição ortodoxa, de fato, sempre considerou
matrimônio tão indissolúvel como a união de Cristo e da Igreja,
esposa - - união_ que permanece o tipo exemplar da monogamia^ sacir -
mental dos cristãos. Em teologia ortodoxa, o divórcio não é senão u
dtspensa acordada ao cônjuge inocente em casos bem definidos e c
A Igreja no Mundo de Hoje 180
unia preocupação puramente pastoral, en, virtude do que os ortodoxos
Sdescendência.
n d ê n H * ppEsta" ^dispensa
de eC0n0mia”'
nao exclui0 o«ueprincípio
Unificadadispensa ou con
indissolubilidade
do matrimomo. Ela e posta ao seu serviço, como as dispensas conce-
didas pela Igreja católica em virtude do privilégio petrino. Não fa
laremos dos abusos que são sempre possíveis, mas que não mudam
a realidade teológica.
4. E , pois, uma dispensa em favor do cônjuge inocente que eu
sugeria na minha intervenção. Referindo-me à interpretação tradicio
nal no Oriente do texto de S. Mateus (capítulos 5 e 19), indiquei a
eventual possibilidade de acrescentar aos motivos de dispensa já ad
mitidos pela Igreja católica o da fornicação e o abandono definitivo
dum cônjuge pelo outro, para evitar o perigo de perdição que ameaça o
cônjuge inocente. Tal dispensa não teria, mais do que as outras, o
efeito de pôr em dúvida a indissolubilidade do matrimônio.
5. Esta proposição não era vã, pois se apoiava sôbre a autori
dade indiscutível de Santos Padres e de Santos Doutores das Igrejas
do Oriente, que não podem ser acusados, sem temeridade, de terem
cedido a considerações políticas e humanas ao interpretar, como êles
fizeram, as palavras do Senhor.
6. E’ nesta perspectiva de fidelidade universal do Orientte e do
Ocidente ao princípio da indissolubilidade do matrimônio que a Igreja
romana, durante os longos séculos de união, como após a separação,
jamais contestou a legitimidade da disciplina oriental favorável ao ma
trimônio do cônjuge inocente.
Conclusão. Tal é o sentido e o conteúdo de minha última inter
venção no Concilio. Quanto à oportunidade de admitir um nôvo motivo
de dispensa, análogo às já introduzidas em virtude do privilégio pe
trino, é a Igreja que deve decidir.
mais clnies.i
194 I. Crônica das Congregações Gerais
180) Gregorius VARGHESE THANGALATHIL, Arceb. do rito siro-
malancar dt Trivandrum, na índia: Acho muito bom o otimismo verda-
deirameníe cristão com que o esquema trata dos problemas sociais*
Louro igualmente a solicitude pastoral do texto nos principais cam
pos da vida econômica. De fato, não bastam só princípios gerais como
“faze o bem e evita o mal” ou “sê justo e não injusto”, etc. A Igreja
deve dirigir as consciências nas circunstâncias concretas do mundo de
hoje. Contudo, requerem-se ainda no texto alguns melhoramentos rela
tivos à vida econômico-social: 1) O capítulo III, referente a êsses pro
blemas precisamente, não traz citação da Escritura e, no entanto, os
textos sôbre o uso das riquezas são numerosos. 2) A ajuda aos países
pobres é considerada no esquema tão sòmente como uma das necessi
dades do nosso tempo, entre muitas outras. Fala-se então da necessi
dade de evitar escândalos, preservar a paz, etc. Do mesmo modo, vá
rios Padres Conciliares falaram nesta Aula que o Concilio deve se
ocupar unicamente de problemas espirituais e não dum assunto tão
material como êste, para não darmos a impressão de favorecer o capi
talismo ou construir uma nova tôrre de Babel, etc. Ora, êste modo de
falar é compreensível porque talvez êsses Padres nunca tiveram dire
tamente experiências pastorais em regiões de miséria. Mas na reali
dade a matéria de que aqui se trata deve ser a maior preocupação do
Concilio. Com efeito, são muitíssimos os homens que hoje se encon
tram em tais situações físicas, que mal ouvirão o Evaneglho ou pode
rão levar uma vida realmente espiritual. Mais ainda: a miséria em
que vivem é para êles contínua ocasião próxima de pecado. Êsses ho
mens, portanto, devem ser ajudados não sòmente para os ricos cristãos
não escandalizarem outros nem tão sòmente para preservar a paz do
mundo, mas, sobretudo, para que êles possam possuir condições de
vida que lhes permitam ocupar-se das realidades espirituais e se tor
nar filhos de Deus. Neste mesmo contexto, deve-se também considerar
solicitamente que algumas nações, por causa da carência de auxílios
de que precisam com urgência, acabam usando de remédios ou soíu-
çots desesperadas, como são, p. ex., o abórto, o infanticídio, etc. Quiçá
nisto não estejam inteiramente isentos de culpa aquêles que puderam
oportunamente ajudar e não ajudaram. Aliás, segundo atesta a His
tória, se não tôdas, pelo menos a grande maioria das nações hoje in
digentes contribuíram outrora — indireta mas eficazmente — para a
opulência e as riquezas atualmente existentes no mundo. Portanto,
não é tão sòmente por caridade mas por justiça que essas nações de
vem ser socorridas! 3) O esquema também trata da demografia e do
excessivo aumento de população que se registra nalgumas nações do
mundo. M a s— e ignoro por quê — não ousou enunciar solução a.-
guma. Ora, êste problema não se resolve sòmente por meio da produ
ção técnica nem pelo cuidado e proteção dos operários que migram,
como se assinala no esquema. Por outra parte, não é conveniente ql,e
o Concilio trate de questões muito minuciosas e concretas. Mas pe]0
menos deve enunciar o princípio seguinte: a justiça postula que, onde
a necessi a e o exigir, não se impeça, por razões de raça ou seme a
tes a devida distribuição dos povos pela superfície da terra. Porqu
anro a própria terra quanto os demais bens terrestres são a heranç
j um oa a por Deus aos homens. Aos especialistas e pessoas c0
A Igreja no Mundo de Hoje 195
petentes, porém, deve deixar-se o modo de 'evar á prática êste prin-
. h*1812Este* A^gel°
Índia. In.n0Cent
documento fERNANDES,
constitui Bispoessencial
o complemento coadj. dade Constituição
Delhi, na
so re a £rcja. De fato, não basta que a Igreja reflita sôbre si mesma
e seu mistério, pois foi enviada essencialmente ao mundo por Cristo
Para .^ue no mund° e Para o mundo continue e aperfeiçoe a Sua missão
salvifica. Portanto, pensar no mundo atual é pensar na missão da
própria Igreja. Mas, ao falarmos do mundo de hoje, não nos engane
mos, pois a maior parte da humanidade atual — sobretudo o Terceiro
Mundo vive em condições tais de miséria e fome, que são inteira
mente indignas do homem. Muito embora o texto fale aqui e ali desta
penosa situação, não parece refletir adequadamente a gravidade do
problema. Ora, o Concilio deveria pronunciar-se claramente sôbre isto,
dada a grande autoridade de que goza, pois se trata dum problema
que atinge a maior parte da humanidade — como já disse — e,
portanto, duma obrigação extremamente urgente da Igreja. Por con
seguinte: 1) Introduza-se no esquema um lugar ou parágrafo que
descreva a urgência e extensão dêste problema, i. é, que a maior parte
da humanidade vive hoje em dia em condições que tornam de todo im
possível uma vida verdadeiramente humana. Nesse mesmo contexto,
sublinhe-se o dever peremptório que têm todos os homens de coopera
rem em vista dum mundo melhor. 2) Concretamente, o Concilio pode
e deve propor a instituição dum Secretariado pós-conciliar que estude
e apresente os meios concretos para promover a justiça internacional
e o desenvolvimento integral humano de todos os povos. As razões são
as seguintes: E’ necessário traduzir a vontade da Igreja, que se exprime
no Concilio, em favor da justiça internacional, num organismo eclesiás
tico que promova a colaboração dos cristãos em escala mundial para
fazer que gradualmente as estruturas dos Estados não mais estejam
ordenadas à guerra — nem sequer defensiva, — mas a preparar uma
paz estável na qual as riquezas do mundo não sejam empregadas para
produzir armamentos senão para aprontar novos métodos. Assim, a
humanidade inteira — e não apenas uma pequena minoria — po
derá gozar dos bens necessários ao corpo e ao espírito. Peço, por
isso, que esta Constituição seja redigida de tal maneira, que se torne
perceptível a todos os homens — mesmo aos do Terceiro Mundo —
a solicitude da Igreja e, nela, a caridade que Cristo trouxe ao mundo.
Porque Cristo quis que esta solicitude para com o mundo esteja pe
renemente presente através da sua Igreja.
182) Franjo FRANIC’, Bispo de Split, na Jugoslávia: louvo, em
primeiro lugar, o esquema inteiro, particularmente a segunda parte e.
sobretudo, o capítulo III. Louvo também as idéias novas que se en
contram no esquema e que constituem uma prova da vitalidade dn
Igreja e da sua capacidade de adaptação às novas condições de
do homem e da sociedade humana. Êste Concilio não é cada\érko
como escreveram alguns no tempo de nossa primeira reumao a
Aula conciliar — mas é um corpo vivo animado pelo hspirito - • l -
Na verdade, não podemos nem devemos falar ao mundo do
po numa linguagem obsoleta e ininteligível. A acomoiaçao e
19Ò 1. Crônica das Congregações Gerais
embora, naturalmente. sem mudar os princípios eternos. Entretanto, neni
sempre é fácil discernir o elemento divino e o elemento humano, o ele
mento imutável e o elemento mutável na Igreja, como bem provaram as
nossas discussões. Muitos dos problemas abordados sáo extremamente
graves e nossas soluções são, por isso mesmo, imaturas. Proponho, por
essa razão, que o capítulo III e a maior parte de todo o esquema’ seja
confiado ao estudo e elaboração do nôvo Sinodo dos Bispos. Pare
ce-me, com efeito, que o esquema é menos maduro e dinâmico que
alguns documentos pontifícios ( M a t c r e t M a g i s t r a , Pacem in Terris
H u m a m G e n e ris, etc.). Eis alguns exemplos concretos: 1) No n. 80
p. ex.f é expressa de modo insuficiente a necessidade da participação
dos operários na vida das empresas, sem a qual tôdas as reformas de
estrutura permaneceríam ineficazes. O homem tomou consciência de que
o trabalho faz parte da sua pessoa e que, por isso mesmo, não pode
ser vendido ou comprado como se fôsse um objeto qualquer. Esta idéia
é sugerida muito timidamente no capítulo, embora a evolução da mo
derna sociedade vai nessa direção. O nosso dever não é promover lutas
de classes. Daí outro defeito do capítulo: não fala nada, à luz do Evan
gelho, da iliceidade das lutas de classe, ainda que hoje muitos são
os que. intelizmente também entre sacerdotes, propugnam essa idéia
antievangélica. 2) No n. 92 parece que o esquema tem mêdo da Me
tafísica e nunca se refere à lei natural. E’ claro que não podemos nem
devemos empregar metodicamente uma linguagem escolástica. Mas muito
aproveitaria ao texto “parum salis Metaphysicae”, pois há realidades
— mesmo materiais — que não podem explicar-se adequadamente me
diante um mero método positivo e existencial. Acho, humildemente, que
devemos misturar “nova cum veteribus”. Assim, é verdade dizer que a
justiça e a caridade são as virtudes sociais fundamentais, mas não é
inteíramente verdade afirmar que nestas virtudes se encontram a raiz
e a fonte da ética internacional. Porque as virtudes são valôres de
ordem subjetiva. A norma das virtudes, porém, é muito mais profunda
do que as mesmas virtudes: é a própria natureza humana. Aqui, pois,
deveria enunciar-se a doutrina tradicional da lei natural como funda
mento da ética internacional. 3) No n. 97, onde se fala da determinação
do número dos filhos em conexão com a consciência dos pais, nada
se diz da lei natural nem dos pecados matrimoniais contra-natura.
Há nisto tudo um personalismo exagerado. Adiro, por isso, aos Padres
que submeteram a uma critica mais profunda a doutrina do matrimô
nio e aos problemas da demografia. 4) Concluindo, proponho que,
quanto aos problemas já suficientemente maduros, se apresentem as
soluções em forma de “epístola sinodal” ou “mensagem” do Concilio
aos homens do nosso tempo; quanto aos problemas que requerem ain
da aprofundamento, deveríam ser entregues ao Sinodo dos Bispos.
183) Joseph HOEFFNER, Bispo de Muenster, na Alemanha (fala
em nome de 80 Bispos de língua alemã): O capitulo II nada a^r '
centa as enciclicas sociais dos últimos papas (Rerum Novarum, Qua
dragésimo Armo, Maler et Magistra) nem tem a clareza, precisão
madurtza delas. A exposição é muito enfática (emprega continuam
expressões como "oportet”, “debet”, “nitendum est”, “concedendum es -
favendum est , “procurandum est”, “vitandum est”, etc.) e nao md
soluçoes. O capitulo apresenta, além do mais, um otimismo excess
A Igreja no Mundo de Hoje 197
P r e s e n t e s : 2.174 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Suenens. A sessão começou às 9
e terminou às 13,15 hs. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Alfred Bengsch, Arceb.-Bispo de Berlim. Até às 12,15 houve
apenas discursos: 10 sôbre 0 capítulo 111 (a vida econômico-
social); 4 sôbre 0 capítulo IV (a vida da comunidade política)
e 2 sôbre o capítulo V (a paz). Esperou-se então a volta do
Papa Paulo VI de sua viagem à ONU. Sua Santidade entrou
na Aula Conciliar às 12,50. Foi saudado pelo Card. Liénart, em
nome dos Padres Conciliares. Falou então o Papa.
Eis o resumo das intervenções desta manhã; em primeiro
lugar, sôbre os problemas econômico-sociais:
186) Cardeal Stefan WYSZYNSKI, Arceb. de Gniezno e Warszava,
na Polônia: 1) O Concilio trata de problemas sócio-econômicos pela pri
meira vez na história dos concílios e sínodos, muitoembora nalgum
dêstes se tocassem também assuntos econômicos. Por isso seria opor
tuno antepor ao capítulo III um breve preâmbulo histórico para que
a discussão dos problemas não dê a impressão de ser proposta ex
abrupto e inopinadamente. Pois muito freqüentemente os inimigos da
Igreja a acusam de se ter desinteressado dos operários. Nesse prólogo se
sintetizariam os apelos incessantes dirigidos pelo Espírito ao homem
para que siga a ordem moral nas suas atividades sociais e econômicas,
i. é, desde a ordem divina dada no Paraíso aos primeiros pais para
submeterem a terra, passando depois pelas determinações sociais da
antiga Lei e a mensagem trazida ao mundo por Maria Ssma. no Magni-
ficat, até chegar à Mater et Magistra. Conviría também uma introdução
que mostre que o pensamento do Concilio atual em matéria de econo
mia está em harmonia com a doutrina contida nos textos revelados e
ensinada pela Igreja no decurso dos séculos, como provam as obras os
Santos Padres, dos Doutores, os documentos conciliares passados e as
encíclicas sociais dos últimos papas. 2) Seria bom subhn ar, apcj>
200 [. Crônica das Congregações Gerais
descrição do atual estado social e econômico, que a questão operária
que nos nossos dias concerne não só aos operários na estrita acepção
do têrmo mas também aos artesãos, aos agricultores e à grande parte
dos intelectuais, ainda não foi inteiramente resolvida. Há, com efeito
católicos “progressistas” que censuram a Igreja pelo fato de ela che’
çar sempre tarde nas questões sociais e a acusam de querer contem
porizar entre o capitalismo e o comunismo, i. é, criticam a Igreja dè
favorecer antigos liames com o regime do capitalismo e, ao mesmo
tempo, de não ajudar suficientemente o regime dos tempos modernos
que é o regime do coletivismo e do materialismo. Naturalmente, não
posso silenciar os indubitáveis bens e privilégios que esta emulação acar
retou para a classe operária, embora não faltassem ingentes danos
por ambos os dois sistemas. Entretanto, a questão operária não foi ain
da solucionada nem pelo capitalismo nem pelos regimes coletivistas e
materialistas. E’ o que confirmam as inquietações, as desilusões, o can
saço. a desconfiança que reinam no mundo do trabalho e em tôda
a parte. Ao meu ver, a razão dêste dúplice fracasso está em que am
bas as duas concepções se inspiram numa filosofia individualista e
ambas as duas carecem do devido respeito à pessoa humana, humi
lhando a sua dignidade e submetendo-a à matéria. A estas duas visões
falsas e falidas da economia e das relações sociais é necessário opor
a sã doutrina da Igreja, fundada na realidade do homem remido e san
tificado: é a única concepção exata do homem. Conviría falar duma
nova pessoa social capaz de instaurar uma nova ordem segundo as
diretrizes da encíclica Pacem in Terris. “Hic erit mundus novus cum
regimine novo!”
187) Cardeal Jozef CARDIJN, da Bélgica (texto completo): Na
minha intervenção precedente (cf. n. 91), falei dos jovens e dos po
vos do terceiro mundo. Permiti-me hoje falar dos operários que penam
no mundo inteiro. Em nosso tempo, em todos os países, o número dos
operários cresce de dia em dia. Do seu trabalho depende a sorte e o fu
turo do mundo como da Igreja. Diante da evidência dêste fato, nosso
Concilio deve dirigir-se aos operários do mundo inteiro em têrmos me
nos teóricos que realistas. Mais do que os outros, êles esperam a men
sagem do Concilio, como a voz de Cristo que exclamava: ‘‘Tenho pie
dade desta m ultidão...”. De certo, em alguns países da Europa oci
dental e da América do Norte e na Austrália, a situação dos operá
rios conhece grandes progressos.
Mas a maioria — e mesmo a maior parte — dos operários conhe
cem atualmente condições de trabalho e de vida pessoal, familiar, so-
ciai, cultural e freqüentemente também política, que são deploráveis
e gravemente injustas. O salário é com freqüência irrisório; a Prep '
ração para um trabalho qualificado e verdadeiramente humano e
ou insuficiente; as máquinas impõem aos homens e também às mu e
um trabalho demasiado rápido e carecente de segurança; a parahsaç
do trabalho ou as interrupções de trabalho são impostas unilateralme
aos operários sem conveniente compensação; os sindicatos destinado
e en er os direitos e as responsabilidades legítimas dos operários
us ra a hos faltam ou são interditados; impõem-se aos operários
ocamen os cada vez mais numerosos sem contemplação alguma P
A Igreja no Mundo de Hoje 201
com as suas vidas familiares* n •• ,
cão e a instrução Ho= f;iu -° al°Jamento. a ahmentaçao, a educa
d a s de v da e £ t r l m 830 de,eituosas- Estas condições infra-hu-
enumerar e aue afetam • a , <Iu.e’ Por falta de tempo, não podemos
tituerr^oara o m.mH lnun>eráveIS operários e famílias operárias cons-
o homem e contra Deus'" ^ PeCad° UmVerSal 6 gravÍ8simo contra
ara criar novas condições de trabalho, os operários do mundo in
teiro conscientes da sua solidariedade, devem primeiramente se unir
e colaborar com liberdade e em paz. Além disso, devem colaborar
eficazmente com os podêres públicos, nacionais ou internacionais e com
os dirigentes do mundo econômico e social. Porque é bem certo que
os operários serão liberados pelo trabalho e pela ação dos operários
— e neste esforço difícil mas necessário, que corresponde à economia
divina, a Igreja deve manifestar-lhes solenemente a sua confiança
e a sua aprovação. Que por meio dêste esforço os operários aspirem
a condições que melhorem não apenas as suas próprias vidas, mas
também as de todos os homens, sobretudo daqueles que, nos países
do terceiro mundo, sofrem nas piores condições. O Concilio conjure
aos chefes de emprêsa para tomarem consciência de suas gravíssimas
responsabilidades com relação aos operários e de tomarem em consi
deração a doutrina social que o Magistério da Igreja elaborou no decor
rer dos séculos, sobretudo de Leão XIII até ao nosso Papa Paulo VI.
Na renovação da disciplina cristã que se efetuará após êste Concilio
Vaticano, de acôrdo com as suas constituições e decretos, será certamente
necessário que no seio das comunidades cristãs se considere como pe
cado grave tudo o que, no plano do trabalho humano, fôr contrário
a essa doutrina social da Igreja. Digo-o mais uma vez: a Igreja que
ama os operários como o Nosso Senhor Jesus os amava deve estar
convencida de que os operários são e devem ser seus próprios liberta
dores. Como disse Pio XI, “os primeiros apóstolos, os apóstolos ime
diatos dos operários serão os próprios operários”. A Igreja lhes re
pete êste convite com amor e insistência. O mundo foi salvo por Jesus
operário, Messias dos homens e Filho de Deus. Da mesma maneira,
o mundo de hoje deve ser salvo por operários que tenham interêsse na
salvação da humanidade inteira e na promoção da fraternidade uni
versal na paternidade de Deus.
Veneráveis Padres e caríssimos Irmãos, nesta Constituição pasto
ral desejamos iniciar com os homens de hoje um diálogo fraternal que
não seja acadêmico mas que impulsione eficazmente para a ação. Peço,
portanto, que nesta Constituição se insira — de maneira que a Comissão
julgar oportuna — um convite solene a tôdas as autoridades do mundo
inteiro, religiosas ou políticas, privadas ou oficiais, nacionais ou in
ternacionais, para que, renunciando às suas dissensões presentes, coorde
nem sem dilação e eficazmente tôdas as imensas possibilidades atuais
tanto do mundo criado por Deus como dos esforços dos homens, para
a liberação e a promoção dos jovens, dos operários e do terceiro ™ n'
do. Ao fazer isto, o nosso Concilio Vaticano cumprira a sua mr»a
pastoral, os que dirigem os assuntos humanos prestarao o ™al
ao bem comum e, nesta reconciliação geral-e eficaz concord.a, a
Concilio - V — 14
202 I. Crônica das Congregações Gerais
nomia divina progredirá, coni a ajuda de Deus, para novas vitórias
na história dos homens.
188) Gerald MAHON, Superior Geral da Sociedade de São José
de Mill Hill (texto completo): O mundo de hoje espera da Igreja no
campo sócio-econômico duas coisas: 1) clara enunciação dos princípios
essenciais e 2) ação concreta como corpo universal (e não apenas através
de seus indivíduos ou outras instituições na Igreja) para, na medida do
possível, pôr em prática êstes princípios. Esta esperança do mundo mo
derno se refere sobretudo ao problema da fome e da pobreza. Dêste pro
blema o nosso esquema trata com freqüência e bem e indica clara
mente os princípios para a sua solução. Entretanto, como se diz no n
32, “os bons sentimentos não bastam: é necessário também que todos
conjuntamente se lancem à açãoM. Que ação, pois, poderá empreender
a Igreja? Proponho — como ontem fizeram muitos Padres — que en
tre os elevados Secretariados da Igreja se crie uma estrutura ou um
Secretariado permanente para promover a paz social no mundo. Entre
outros fins, êste Secretariado poderia cumprir quatro funções que ex
porei brevemente:
1) Este Secretariado poderia propor claramente ao mundo os prin
cípios morais contidos no nosso esquema e nas encíclicas Mater et
Magistra, Pacem in Terris, bem como as alocuções de Paulo VI, so
bretudo as proferidas na Índia. Assim, poderia mobilizar tôdas as for
ças morais e os meios da Igreja (“opes Ecclesiae”) para tolher do
mundo a pobreza. Veneráveis Padres, na III Sessão dêste Concilio, hou
ve 22 intervenções acêrca da pobreza no mundo. Ora, desde a última
vez em que nós discutimos esta questão, 35 milhões de sêres huma
nos morreram de fome. Atualmente, 400 milhões têm fome e 150 mi
lhões sofrem as conseqüências da má nutrição. O Secretariado perma
nente provaria com tôda a clareza ao mundo que a Igreja reconhece
as imensas dimensões dêste problema e com aflição o considera e tra
duz na prática.
2) Agora vou falar como missionário. Êste Secretariado poderia
aportar uma verdadeira e importante ajuda aos esforços dos missio
nários para combater a pobreza. Nos territórios de missão, há uma in
gente multidão de sacerdotes, frades, freiras e leigos que bem conhe
cem essas urgentes necessidades das regiões pouco desenvolvidas e lu
tam com ardor para lhes prestarem todo auxílio. Sem dúvida, a preo
cupação primária dum missionário não é tratar do desenvolvimento so
cial. Mas os problemas sociais tomam uma importância maior dian
de condições incompatíveis com a dignidade humana. Portanto, os mi
sionários muito podem fazer no campo social — e, de fato, fazem,
tretanto, com demasiada freqüência (ai!), os nossos missionários '
vem viver sozinhos, isolados e desprovidos de meios. Por iss°> .0 ,
cretariado poderia pôr à disposição dêles informação e assistência
nica.3
3) O Secretariado poderia instruir os fiéis do mundo inteiro
bre o* deveres da justiça social internacional e da caridade. Desta*_ .
o Secretariado aportaria uma importante ajuda às obras de assis e
criadas pelos Bispos de numerosos países (Bishops Aid Age"
A Igreja no Mundo de Hoje 203
B.schoefliche H.lfswerke) que na atualidade com a maior caridade ajun-
tam o dinheiro necessáno. E’ isto extremamente importante porque M e
Z Z Tos ZBispos
ilarem ° n \ PrfdasC,Sam C-°m subdesenvolvidas.
regiões UfgênCÍa de maiores
Masrecursos°para a f
peço encarecida-
mente que todos entendam bem: êste Secretariado não é uma obra de
caridade nem uma instituição entre outras muitas.
4) ^ste Secretariado, revestido da autoridade espiritual da Igreja,
poderia lembrar ao mundo dois princípios fundamentais a) O progresso
sócio-economico não pode ser separado do progresso cultural e espi
ritual, pois não só de pão vive o homem, b) Todos os esforços para
tolher as causas da indigência e da fome não podem ter resultado sem
a conversão do coração e da mente. Esta conversão, nas regiões mais
desenvolvidas, deve mover os homens a dividir a sua própria abun
dância e ciência com as regiões mais necessitadas. Com igual razão,
esta conversão entre os mais ricos das nações mais pobres os
urgirá a distribuírem equitativamente os benefícios do progresso entre
todos os seus concidadãos.
Concluo, pois, propondo: 1) Que o Concilio exprima claramente
o seu desejo de que seja criada na Igreja um Secretariado permanente
para promover a justiça social. 2) Para pedir a Deus esta desejada
conversão do coração, proponho que às missas do Missal se acrescente
uma “ad petendam iustitiam et caritatem in mundo”. O espírito desta
Missa estaria muito bem indicado naquela oração que se divulgara na
Inglaterra durante o ano dedicado a liberar do mundo a fome: “Con
cede, quaesumus, Domine, ut digne serviamus aliis hominibus ubicum-
que ipsi vivunt et moriuntur in egestate et fame. Da eis per manus
nostras hac die panem quotidianum; ac per nostrum amorem et bene-
volentiam effunde super illos gaudium et pacem”. (Senhor, tornai-nos
dignos de servir os nossos irmãos que no mundo vivem e morrem na
pobreza. Dai-lhes hoje pelas nossas mãos o seu pão cotidiano e,
por nossa compreensão e amor, infundi-lhes alegria e paz).
189) Charles-Marie HIMMER, Bispo de Tournai, na Bélgica: Me
rece aprovação a posição do Concilio (n. 76) de declarar-se em favor
do progresso econômico. Alegam-se aí dois elementos constitutivos da
lei fundamental dêste progresso: a) E’ preciso tender sempre mais para
o aumento de produção em proveito da humanidade, mas b) é pre
ciso também que êste progresso não esteja orientado exclusivamente
para a obtenção de lucros e a dominação, e sim para o serviço do ho
mem. Entretanto, esta teoria da produção poderia fundamentar-se me
lhor se se recorresse à doutrina teológica cristã sôbre a criação: se
gundo esta doutrina, Deus é criador de tôdas as coisas e, além disso,
o homem é chamado a participar desta ação criadora de Deus. Assim,
nesta perspectiva, podemos indicar o seguinte: 1) O fato característico
de nossa civilização industrial atual é que a máquina multiplica quase
indefinidamente o poder aquisitivo do homem. O homem passou do es
tágio de simples artesão e mesmo de produtor ao estagio e-^na •
Pode realizar esta capacidade que Deus lhe deu de rans or
certo modo a natureza, a ponto de fazer dela uma *>egun , ‘ que
Dum minúsculo átomo, p. ex., êle tira uma tô(jaP uma região
com ela pode destruir, num abrir e fechar de olhos, tôda uma g
14*
204 I. Crônica das Congregações Gerais
da terra 2) Segundo a doutrina cristã, o homem recebeu de Deus com
relação à terra, a altíssima vocação de submetê-la para si. O ra' esta
vocação consiste, em primeiro lugar, na participação na obra criadora
de Deus (SI 8,7), porque Deus, ao criar o homem à imagem e seme
lhança sua "quoad esse” e “quoad agere”, uniu intimamente o homem
à sua perene ação criativa. Mas, ao mesmo tempo que transforma pro
gressivamente a natureza das coisas criadas, êle deve adquirir sem
pre mais o domínio de sua própria natureza. Do contrário, o seu domínio
sôbre a matéria será uma ilusão e se tornará escravo da natureza
3) Infelizmente, o homem, na sua obra de transformação da matéria
esqueceu-se de Deus e, assim, procura quase exclusivamente a pro
dução sempre mais eficaz e mais rápida dos produtos materiais. Os
investimentos e os bens de consumo aumentam quase ao infinito. Exis
tem muitos sintomas dêste fato tanto no mundo capitalista quanto no comu
nista. O mundo capitalista está impregnado do espírito do lucro e do
desejo de aumentar o bem-estar material. Tudo isto destrói o espírito
de “criatividade”. Os homens, p. ex., se associam não tanto para pro
duzir novas invenções nem para levantar as nações indigentes da po
breza, mas só para lucrar mais e fruir mais. Na mesma linha se cons
tata nas nações ricas uma excessiva busca de segurança, o temor de
procriar filhos, a perda da alegria da paternidade, etc. Mas também
o mundo marxista desconhece Deus e desdenha os direitos da pessoa
humana, embora muito se fale lá da ideologia do “homem produtor”.
Sòmente a abundância material e o prestígio da nação é que contam.
E isto é uma nova forma de escravidão. 4) Concluindo, a Igreja deve
insistir na doutrina de Deus criador e sôbre a participação do homem
na obra criadora divina. Não é que sejamos inimigos do progresso.
Ao contrário. Consideramo-lo uma colaboração na ação de Deus. Mas
precisamente em razão dêste liame com Deus ensinamos que o homem
se torna tanto mais poderoso sôbre a matéria, quanto mais cônscio se
torne de sua alta dignidade e de sua maiuscula responsabilidade. E’
mister lembrar que Deus, ao criar, fêz tudo por amor. Deus criou não
para aumentar a sua própria felicidade mas para o bem dos homens
(Si 144,17). O homem criador deveria imitar a Deus neste ponto.
190) Manuel LARRAIN ERRÁZURIZ, Bispo de Talca (no Chile) e
Presidente do CELAM (texto completo): Falarei do capítulo III da
segunda parte do esquema que trata da vida econômico-social e, es
pecialmente, do parágrafo 77, referente ao progresso econômico. A nu
nha intervenção deseja mostrar qual é a responsabilidade dum Pas or
das imensas terras da América Latina, onde, entre as numerosas ques
tões que requerem hoje a sua solicitude pastoral, convém lembrar so
bretudo o seguinte problema: o da vida econômica e social, QJ,e . n ,
nosso Continente latino-americano constitui hoje em dia o Pn ”c^
perigo para a paz. O esquema fala das “regiões ainda em vias de e
volvimento . A dizer verdade, atrás dêsses eufemismos a0 |
para o nosso Continente — há uma horrível realidade para a Q
conviríam antes as palavras de “regressão” “infradesenvolvimento
•subdesenvolvimento” (“subdesarrollo”, “sottosviluppo”).
Êste subdesenvolvimento não constitui sòmente uma maiuscula an^
ça para a paz, mas já é em si mesmo uma ruptura da paz, se 0
A Igreja no Mundo de Hoje 205
dal Cira / def!niçã0 que dava recentemente o Cardeal Feltin- *'0 pro
gresso é o novo nome da paz”! No entanto, o capítulo IM me ap a^
no seu conjunto,
„*’ porque,
7 ’ , por . umàa Pane,
narte propoe
m w .» sobre
J , k a vida -
j econo-
Uma doutr,na qüe leva a marca dum domínio cres
cente do homem, e porque, por outra parte, indica muito bem que o
progresso nos métodos de produção e nas trocas de bens e de serviços
íaz -da ?coÜomia
da família humana.um instrumento apto para satisfazer as necessidades
Entretanto, na sua primeira secção, consagrada ao "desenvolvi
mento econômico , me agradaria que se acrescentasse uma declaração
mais clara^ ou, melhor, mais densa sôbre a doutrina cristã do "desen
volvimento , na qual se indicariam pelo menos os princípios gerais sô
bre os que se fundamenta êste desenvolvimento. Parece-me que se de
veríam enunciar quatro princípios, que vou enumerar. Antes, porém, devo
fazer observar que o Cristianismo tem do desenvolvimento uma coth
cepção que não é outra senão a concepção humana, mas animada e pu
rificada por êle: a graça não destrói mas aperfeiçoa a natureza. Eis,
pois, os princípios gerais que, segundo o meu parecer, deveríam ser
lembrados neste capítulo:
1) O desenvolvimento não é sòmente um fato: é realmente um “di
reito” — o direito para cada indivíduo de ser integralmente uma pes
soa e o direito para cada nação de ser um povo independente. Assim,
êste desenvolvimento implica um tríplice direito: a) O direito ao desen
volvimento histórico querido, porque, aqui igualmente, não avançar é
recuar; b) o direito de aceder aos novos progressos da ciência e da
técnica, e c) o direito para os povos subdesenvolvidos de saírem de
sua injusta situação.
2) Sendo o desenvolvimento um direito, é também, correlativamente,
um dever. Como declarou Pio XII numa alocução (12 de abril de 1958),
é mesmo um dever de estrita obrigação moral para as nações ricas de
prestarem ajuda às nações pobres. No espírito da encíclica Mater et
Magistra, esta obrigação é também um verdadeiro dever de justiça,
em razão da solidariedade humana, da necessidade da paz entre os
povos, e — para os cristãos — em razão dos liames múltiplos e pro
fundos que os unem no Corpo místico de Cristo.
3) O desenvolvimento deve ir para além do simples desenvolvimento
econômico. Pois o desenvolvimento deve ficar submetido ao homem —
ainda mais, é uma atividade humana que deve responder à tríplice
fome que angustia os homens e a sociedade: fome física, cultural e
espiritual. Como bem diz o esquema: "A lei fundamental do progresso,
longe de consistir na busca do maior proveito ou do maior poder, e
estar ao serviço do homem inteiro — levando em conta as suas ne
cessidades materiais como as suas aspirações intelectuais, morais e es
pirituais, — de todo homem, de todo grupo de homens, sem distinção
de raças ou de continentes”. Não se trata^ sòmente dum aumento tt
posse, mas dum crescimento de perfeição: não sòmente ter mais • ‘
"ser mais”. O progresso deve ser uma verdadeira promoção «.
enquanto homem, segundo os seus valôres e tambtm s.egunio
rarquia de seus valôres.
206 I. Crônica das Congregações Gerais
4) Enfim, o desenvolvimento deve-se cumprir sem monopólio, mas
numa cooperação concreta entre indivíduos, sociedades e povos o
desenvolvimento é uma atividade humana e implica a responsabilidade
e o amor do homem. Não pode-se reduzir à assistência social ou à
esmola. E\ pelo contrário, uma comunicação mútua de pessoas e de
povos para realizarem convenientemente a vocação humana na histó
ria, que é de humanizar o nosso planêta, a fim de que êle seja uma
pátria digna do homem, o qual, criado à imagem de Deus, deve ser o
vértice da criação, i. é, o seu rei soberano. O desenvolvimento deve
tornar o homem não sòmente mais rico ou mais cômodo, senão mais
homem para dominar a criação e fazê-la servir para a glória do Pai
Se êsses quatro princípios fôssem integrados mais clararaente no
capitulo, acho que a questão seria melhor tratada.
191) Bernardino ECHEVERRÍA RUIZ, Bispo de Ambato, no Equa
dor: 1) No n. 84 se fala das grandes diferenças econômico-soriais en
tre as distintas nações, mas nada se diz do fenômeno característico do
nosso tempo: a difusão da consciência social. O homem de hoje — quer
seja analfabeto ou culto, lavrador ou operário, cristão ou não — tem
íntima consciência de sua própria dignidade na vida social. Outrora,
às vêzes, se admitia uma certa diferença natural entre as diversas classes
sociais; hoje, porém, cada homem tomou consciência de sua dignidade
e de seus direitos. 2) As causas dêste fenômeno são múltiplas. Contri
buíram para isto, sobretudo, o ensinamento dos papas, o desenvolvi
mento dos meios de comunicação e o proselitismo marxista. Assim, esta
consciência social é atualmente tão profunda e espontânea, que não
mais bastam as considerações sôbre a desigualdade dos homens nem
as análises históricas ou sociológicas. O crescente sucesso do marxismo
no mundo se deve não tanto à eficácia dos modernos meios de comu
nicação, quanto à conformidade dêste sistema com a atual consciência
social. Por isso, com temor e tremor deveremos confessar que o ho
mem de hoje, sobretudo se é demasiado pobre e sofredor, é um membro
potencial do marxismo. 3) O mundo atual, portanto, não tem necessi
dade de novas declarações nem pede teorias ou princípios: êle quer
é fatos, i. é, provas concretas do nosso amor. As Conferências epis-
copais que organizaram importantes obras de auxílio aos países do
‘Terceiro Mundo” deram neste ponto um eficaz testemunho. A Igreja
do Silêncio dá também um esplêndido testemunho pelo seu martírio vo
luntário e, às vêzes, pela efusão do sangue. 4) Concluo pedindo, por
tanto, algo positivo e prático: a fim de que o Concilio Vaticano
levante um monumento da eterna caridade de Cristo, é necessário
como pediram já numerosos Padres — criar, o mais depressa possive^
um Secretariado internacional, junto à Santa Sé, que se encarregasse
promover, aumentar e dirigir a atividade da Igreja na solução da qu
tão social.
192) Antônio AROVEROS ATAÚN, Bispo de Cádiz y Ceuta, na
Espanha: O Concilio deve providenciar a proclamação de princípios g
rais que ofereçam a oportuna aplicação em casos particulares,
que nao possamos deixar de notar a difícil situação do mundo do>
0 9ue exige do Concilio orientações concretas capazes de P s„
graves o rigações de consciência no que se refere ao aspecto socia
A Igreja no Mundo de Hoje 207
sa existência. Mas as normas anrPc«n»oH.«
ereta obngaçao de consciência. Em vez Pdisso, a " S oS Concilio
Z £ S S T uma
deve ^respon-
con-
rando°uma tdoutS r<^Uemama.s™ profunda
doutrina exPectativas do mundo do
e respondendo da trabalho, elabo-
melhor maneira
possível - porque isso está dentro de suas possibilidades - às ne
cessidades dos trabalhadores, para oferecer algumas soluções às ques
tões mais urgentes e necessárias. Além disso, acho que se deveria one-
rar sèriamente a consciência dos católicos, assim como a de todos os
homens de boa vontade, para que cumpram seus deveres com respeito
à justiça social. Assim, se poderia expor brevemente os elementos es
senciais da justiça social (p. ex., o salário vital e familiar), chegando
a determinar, no seu campo, os princípios da justiça comutativa e, fi
nalmente, a especificar quais as obrigações que a consciência impõe
aos transgressores em relação aos que os defraudam. Algumas deter
minações, embora pequenas mas claras e concretas — se fôr possível —
constituiríam uma resposta pastoral do Concilio ao mundo do traba
lho que necessita de consciência social e que carece de tôda compreen
são e consideração. Minha modesta experiência de trinta anos de con
vivência entre patrões e operários me obriga dizer que o que uns e
outros desejam é que a Igreja, na medida do possível, desça à prática
e determine as responsabilidades das consciências que decorrem dos
princípios morais imutáveis da Igreja. Do contrário, se só ficarmos nos
princípios gerais, decepcionaremos os mais fracos e ofereceremos aos
poderosos um argumento equívoco em favor duma economia liberal.
193) Carlos PARTELI, Bispo de Tacuarembó, no Uruguai: 1) Êste
esquema fala muito pouco da agricultura e dos agricultores, o que, ao
meu ver, deve considerar-se uma grave omissão. Os agricultores cons
tituem o 55 ou 60% da humanidade, enquanto nas regiões em desen
volvimento atingem frequentemente 70%. A importância da agricultura
é provada pelo fato de que mais de 95% da alimentação mundial pro
vém da atividade agrícola. Por isso seria oportuno tratar mais ampla
mente a fonte da qual dependem em grande parte as indústrias e os
mercados. 2) Quanto ao problema da fome, há no mundo, segundo es
tatísticas recentes da FAO, cêrca de meio bilhão de homens que sofrem
fome. Ôbviamente, o fato não é nôvo, mas é nôvo o conhecimento da
amplidão e gravidade do problema. Pois com o enorme aumento das
populações crescem também as necessidades e se torna necessário dar
impulso à agricultura para que não se vá de encontro a uma miséria
ainda maior. E’ preciso, sobretudo, emprestar auxílios de ordem téc
nica, pois as regiões menos progredidas carecem de capacidade téc
nica, recursos econômicos e, por conseguinte, de capacidade criativa,
mesmo que a terra fôsse boa. 3) Seja-me permitido agora manifestar a
FAO no 209 aniversário de sua fundação um louvor e um agradecimento
pelo constante e generoso incremento dado à agricultura dos povos em
vias de desenvolvimento e pela ação desenvolvida em fa\or o> P1 _ ■
sem jamais albergar intenções políticas mas so sentimento te
riedade. Completa-se também, neste período, o 5 . os CCi.
panha mundial contra a Fome promovida pela * . ^ espera
tólicos desempenharam grande cooperação e t a qua
208 I. Crônica das Congregações Gerais
mais 4) No concernente à educaçáo agrícola, deve-se dizer que
o problema da fome depende em última instância da agricultura ’ en
tão é mister que o agricultor esteja em condições de possuir: a) ' uma
vida no campo suficientemente tolerável, a fim de evitar as migrações
para as grandes metrópoles; b) instrução técnica, para que o tra
balho seja fecundo; c) subsídios que estimulem a sua atividade. Porque'
infeiiimente, os agricultores das regiões menos progredidas carecem dê
escolas, caminhos, médicos, eletricidade, etc. Muitos são também os
agricultores que vivem em completa solidão e grande necessidade, mui
tas vêzes sem possibilidades de poder formar uma família. As *auto
ridades civis deveríam, pois, em razão do equilíbrio geral, providen
ciar meios econômicos que visem solucionar esta situação. Do contrá
rio, a agricultura náo atingirá o desejado incremento. 4) Acêrca dos
latifúndios, de que se fala no n. 83, baste-me notar que êste ponto
deve ser completado com as afirmações da Mater et Magistra sôbre a
estrutura da agricultura. 5) Deve ser reconhecido claramente, além
disso, o direito de os agricultores se organizarem em associações, quer
para a proteção de sua profissão, quer para a solução dos seus problemas
econômicos (sindicatos, cooperativas). 6) Seria oportuno lembrar aos
agricultores a dignidade e responsabilidade de sua nobre profissão.
Por isso, é preciso que êles adquiram instrução técnica que os torne
cônscios e ativos cooperadores da divina Providência na alimentação
do gênero humano.
194) Ismaele Mario CASTELLANO, Arceb. de Siena, na Itália:
Entre as causas de inquietude no mundo moderno, o esquema sublinha
com razão o desequilíbrio existente entre a agricultura e as outras ati
vidades (n. 75). 0 texto alude ao problema mas de maneira inepta
a pôr em evidência a vastidão e a gravidade dos problemas inerentes
à agricultura, pois o desequilíbrio em questão é pràticamente universal.
Enquanto todos admitem que a promoção da paz e a remoção da fome
náo se fazem sem o aumento da qualidade e quantidade dos produtos
agrícolas, assiste-se a um progressivo abandono das terras — sobretudo
por parte dos mais jovens. O Concilio não pode desconhecer o fenô-
meno do êxodo rural e do urbanismo, dadas as suas graves conseqüên-
cias materiais e morais. A gente do campo, pouco remunerada e entre
gue a um trabalho duríssimo, cede, mais e mais, aos aliciamentos duma
propaganda subversiva (pense-se, p. ex., na Ásia ou na América La
tina). O Concilio, em nome da justiça, deve conclamar as autoridades
públicas a que não tardem a intervir, na medida do possível, a fim e
remediar a situação e assegurar uma justa retribuição aos frutos a
terra. A Mater et Magistra pode oferecer mais duma sugestão a res
peito. Quando o Estado não pode intervir, por se tratar de contratos ou
mercados internacionais, a FAO pode exercer um papel útil, com
demonstram seus primeiros vinte anos de atividade. O Concilio ev
declarar com clareza que não bastam as ofertas voluntárias e Que
necessária uma autêntica solidariedade e efetiva cooperação aos nivei
nacional e internacional. Além disso, é preciso iniciar a obra de educa
ção e de elevação dos lavradores, a fim de que — conscientes de s
dignidade e de sua responsabilidade - saibam unir-se em assoc.açoe
que es ajudem a defender os seus próprios direitos. Finalmente, c0
A Igreja no Mundo de Hoje 209
sermos
da fraudeconsolidar”^
e da injustiçavida3fqntn
econômico^8'
°m,co"soc,al'1°"'"a fidelidade'
reciproca “canonização
não 9ui-
legisladores Ç ’ "t0 da parte dos cidat»ãos quanto da dos
197) Eugênio BEITIA ALDAZABAL, Bispo de Santander na Es
panha: A questão das relações entre Igreja e Estado (n 89) é ex
tremamente
wtocmA difícil, Fpois , devem aplicar princípios
vem apncar-se nrínrío* d°perenes
* mas, ao
mesmo tempo a sua aplicaçao reveste uma admirável variedade. Esta
matena tem sido md.retamente tratada já na Lumen Gentium no capítulo
dedicado aos leigos e à sua ação nas estruturas humanas. Aqui êste
problema é focalizado diretamente e esta intenção nunca será suficien
temente louvada. As afirmações contidas no esquema são positivas e,
por isso, as subscrevo. Mas, ao meu ver, restam ainda certas “zonae
subobscurae que devem ser iluminadas à luz do Magistério. Em pri
meiro lugar, a atividade dos católicos, como transparece no esquema
(n. 89), deve distinguir-se da ação própria da Igreja e sejam bem de
limitados os diversos campos de atuação. Depois, não devemos es
quecer a importância da defesa da liberdade para a implantação da
Igreja e difusão do Evangelho. Neste ponto é impossível prescindir dos
ensinamentos do Magistério autêntico: Non abbiamo bisogno sôbre o
fascismo, Mit brennender Sorge sôbre o social-nacionalismo, Quadragé
simo anno sôbre as condições sociais e o comunismo ateu e, mui parti
cularmente, a encíclica Quas pri/nas de Pio XI, que combate o laicismo
como “a peste do nosso tempo” e ao mesmo tempo convida os Es
tados modernos a reconhecer oficialmente os direitos de Cristo-Rei e
da Igreja na sua missão de difundir o Evangelho, reconhecimento êste
que é simplesmente um direito e não um privilégio. No capítulo IV,
porém, nada se diz disto tudo, ainda que trate das relações entre Igreja
e Estado. O Relator explicou dizendo que aqui só se expõem “quae-
nam iura quae Ecclesiain societate publica sibi vindicat”. Ora, isto
não é inteiramente verdade, pois falta muita coisa acêrca desta ma
téria no texto. Fala-se, sim, e até deseja-se uma cooperação entre
Igreja e Estado, mas trata-se apenas duma “sadia” cooperação. Pois
tristes acontecimentos históricos do passado o cesarismo, por uma
parte, e a apetência de privilégios na Igreja, por outra determinaram
tal estado de coisas, que hoje se prefere, se não o laicismo (“laicismus"),
pelo menos a laicidade (“laicitas”), i. é, excluir a presença oficial da
Igreja no Estado e liquidar (“verae liquidationi tradendo”) tudo o que
fôr contrato bilateral e concordatas ou que souber a profissão de fe
por parte do Estado. Sem dúvida, ninguém ousaria defender isto aber-
tamente aqui entre nós. Mas é o “clima” de que está embebido todo
o texto. São muitos os que gostam de superar a classica distinção en
tre tese e hipótese, como se não existisse algo verdadeiro , objetiva-
mente verdadeiro, embora “hic et nunc” não possa aplicar-se. t assim
calando oo que
que é a ^critiprir1a.
verdade objetiva, podeexistir
acontecer que. com o publica,
decurso
caianao deixa de na consciência
do tempo, aca e q * . princípio diametralmente oposto,
enquanto surge com si principia sublata et
“Et hoc forse nullum m0^ en exposita ah Ecclesiastico Magistério”,
oblivioni dedita, non hussev 1 padres _ e[| entre f|M _
Ora, esta e a nossa angustia.
212 1. Crônica das Congregações Gerais
aue estamos dispostos a descobrir os sinais dos tempos, a admitir 0
fato quase universal do pluralismo religioso, a promover o ecumenismo
a excluir a violência e a coação, a adotar uma pregação humilde, a afas
tar tôda honra e privilégio. E, entretanto, não podemos compreender
por que, para conservar esta atitude, seja preciso voltar as costas ao
claro Magistério eclesiástico na questão das relações entre Igreja e
Estado. Se olharmos os documentos, inclusive mais recentes dos Papas
veremos que a separação entre Igreja e Estado, em geral e como prin-
dpio, é combatida por Pio X, na encíclica Vehementer nos, com termos
que náo sem escândalo poderiam ser hoje promulgados. Vemos tam
bém que a profissão pública e legal da verdadeira fé por parte do
Estado é considerada um dever (“ut officium”) por Leão XIII, Pi0 X,
Pio XI, (na Quas primas e na Dilectissima nobis dirigida aos católicos
espanhóis), Pio Xll (na alocução Ci riesce). Não pedimos que se faça
aqui uma exposição integral do problema nem que se apresentem os
argumentos clássicos dos especialistas em direito público. Mas bastaria
só uma linha ou umas poucas palavras evidenciando que Leão XIII,
Pio X, Pio IX e Pio XII não erraram no seu magistério nem na per
cepção do espírito dos tempos modernos. Pedimos que brevissimamente
se apresente o critério reto em virtude do qual se faça constar se ainda
vigora esta doutrina do magistério, se ainda é desejável não só a in
dependência da Igreja e o Estado mas também uma separação legal,
deve-se conservar — onde fôr possível e ainda vigora — a pública
profissão de fé ou de “confessionalidade”, se as concordatas possuem
ainda algum valor não só como “ius conditum” nem como princípio
de privilégios para a Igreja nem como mera sagração do cesarismo
estatal mas como fórmula jurídica aplicável aos Estados modernos e
principalmente como certa base de fecunda colaboração. Estas expli
cações serão, ao mesmo tempo, uma lembrança de gratidão à memória
de tantos Pontífices e Prelados, "quibus fides commissa est et ad nos
usque transmissa opere et labore non levi”.
198) Antoni BARANIAK, Arceb. de Poznan, na Polônia (segue
o texto completo, pronunciado em nome do Episcopado polonês): O ca
pítulo IV toca o gravíssimo problema da vida da comunidade política
e, sobretudo, da colaboração dos fiéis com a autoridade civil na pro
moção do bem comum. Entretanto, o esquema explica de todo insufi
cientemente que espécie de colaboração com um regime ateu, totalitário
e anti-religioso seja permitida e em que consista o bem comum. Quer di-
zer: 1) o bem comum consiste essencialmente nas virtudes, que mora
lizam a sociedade humana, e só dispositivamente nos bens materiais e,
por conseguinte, numa vida pacifica e agradável, como ensinam S. °
más e os Sumos Pontífices? 2) Ou consiste na livre produção dos bens
temporais, como ensinam os economistas do liberalismo? 3) Ou, P°r
»m, consiste na promoção do socialismo, segundo dizem os marxistas.
Êste defeito do nosso esquema com relação à noção de bem co
mum e da lícita colaboração com uma autoridade adversa à relig
talvez nao seja tão perigoso assim nas nações onde o govêrno na
extge dos cidadaos a não ser a colaboração na produção de bens
piritiidis e materiais que vise o proveito dêles mesmos e uma '
de paz e mais agradável para todos.
A Igreja no Mundo de Hoje 213
tãos vive ainda hoje ^t^retrim es d° Illu.ndo e notável parte dos cris-
cidadãos uma colaboração direta Mrag\n * L qU-e impõem a todos 08
cialismo como supremo bem comum p mtroduzl^ ,e promover o so-
entendem
propagam. o materialismo ateu mm
lena,lsmo atea- que *ieles^°Tnao
- soc,al'smo êsses regimes
apenas favorecem mas
rem na
rem na consecução
consecucã^^ct^1*6 n^° es*afinalidade.
desta perversa PerniitidoMas,
aos por
cristãos
outrocolabora
lado é
.gualmente certo que os cristãos podem colaborar também com o regime
ateu em atividades verdadeiramente honestas e que estão destinadas ao
proveito dos cidadaos e construção da nação. Contudo, os cristãos
que vivem nessas nações — sobretudo na Europa Oriental — pedem
do Concilio que os esclareça se e como seja lícito colaborar com se
melhante regime em atividades que são boas em si mas serão utiliza
das por êstes governos principalmente para um fim último perverso,
i. é, para introduzir o ateísmo ou alcançar outro objetivo criminoso, p.
ex., extirpar outras nações como tentaram os nazistas de Hitler na
última guerra.
Torna-se necessário, portanto, que, ao se determinarem as obrigações
de todos os cidadãos — e, por conseguinte, também dos cristãos —
no concernente à colaboração com os regimes dominantes, se faça
distinção entre os Estados que professam — ao menos implicitamente
— uma doutrina igual à da Igreja sôbre a origem, aplicação e fina
lidade de tôda lei, e os Estados que, imbuídos de teorias atéias, não
possuem da parte de Deus direito algum verdadeiro de governar, a
não ser pela violência de armas coercitivas que constrangem os sú
ditos para cooperar. Enquanto no primeiro caso a Igreja — que
ensina no Concilio — sem hesitação alguma pode afirmar que “os
cidadãos estão obrigados em consciência a prestar obediência” (n. 67),
no segundo caso, pelo contrário, deve resolver uma grave dificuldade e,
por isso, o esquema deveria esboçar algumas regras de como se de
vem comportar os fiéis nessas circunstâncias.
Eis agora algumas observações a respeito de cada número do
esquema: a) Da doutrina contida no n. 89 é preciso dizer que,^ antes,
se trata duma belíssima explanação do mandato do Senhor sôbre a
humildade, paciência e amor — portanto, sôbre as virtudes cristãs
que os fiéis devem colocar como sacrifício de boa e heróica vontade
sôbre o altar das “novas condições”. Uma destas constitui a colabo
ração com o regime ateu. b) De pouco servirá “deplorar a opressão
política que impece a liberdade civil e religiosa” (p. 68), enquanto
em outro lugar se confirma a origem divina de tôda autoridade po
lítica (pois se diz que “pertence à ordem predeterminada por Deus )
e se urge a necessidade de que “o exercício da autoridade política deve
ser realizado dentro dos limites da ordem moral e ainda, u
mente, os fiéis são exortados, “porquanto estão obrigados pe a
cia do dever”, a harmonizar a autoridade com a liberdade e a reconhe
cer as opiniões discordantes entre $i acêrca da or*a™za^ e a
dade temporal. Mas de nôvo volta a questão, como descritas?
colaboração ativa e positiva dos fiéis nas circunsta c
214
I. Crônica das Congregações Gerais
A conclusão é a seguinte: A Comissão que está incumbida do grave
encargo de revistar e completar êste esquema seja encarecidamente
convidada a que, no capítulo IV da segunda parte, apresente de algum
modo a doutrina da igreja sobre a colaboraçao com os regimes ad-
versos à religião e ensine solenemente aos fiéis os limites que a nin
guém será lícito ultrapassar.
No texto, porém, que se encontra na p. 71, acrescentem-se estas
palavras: “Na verdade, as coisas terrenas e aquelas que nas condições
dos homens transcendem êste mundo, unem-se estreitamente __ e a
mesma Igreja usa os bens temporais enquanto a sua própria missão o
exige”. Não será, pois, lícito e se reprova todo gênero de discriminação,
se a igreja e seus institutos são injustamente privados pela autoridade
civil dêstes meios necessários. “Ela, porém, não coloca a sua esperança
nos privilégios oferecidos pela autoridade civil. Ao contrário. Ela re
nunciará ao exercício de direitos legitimamente adquiridos, onde cons
tar que o uso dêles coloca em dúvida a sinceridade do seu testemunho
ou as novas condições da vida exigirem outra disposição. De modo
algum, porém, recusa uma sábia colaboração com a autoridade civil,
mas, antes, muito a deseja, enquanto se tratar duma cooperação boa
e honesta tanto aos meios quanto ao fim. Mas é seu direito, sempre e
em tôda parte, pregar a fé com liberdade verdadeira e exercer livre
mente a sua missão entre os homens, empregando todos e só os re
cursos que estão de acôrdo com o Evangelho e com o bem de todos,
conforme a diversidade das condições e dos tempos”.
199) Denis Eugene HURLEY, Arceb. de Durban, na União Sul-
Africana: O capítulo IV é bom. 1) Mas, tratando das relações da
Igreja e a sociedade política, nem o texto nem as suas traduções de
monstram muita prudência no emprêgo do vocábulo “estado”. Isto le
va a equívocos: às vêzes, indica o conjunto da sociedade política
(n. 89); às vêzes, parece significar só o govêrno (n. 88). Ora, esta
ambigüidade não está isenta de perigo: o de confundirmos, quando fa
lamos dos direitos do Estado na educação, os direitos de tôda a socie
dade política com os da autoridade política. Por isso, seria preferível,
sobretudo nos documentos oficiais, evitar o têrmo “Estado” ou aplicá-lo
num sentido unívoco. Ainda que o texto não empregue êste vocábulo,
ao usar a palavra “res publica”, cai em idêntica ambigüidade: geral
mente, o esquema significa com êsse têrmo o conjunto da socieda e
política; no n. 88, porém, parece indicar o govêrno. 2) O parágra o
dedicado às relações entre a Igreja e a sociedade política está exce
lentemente informado pelo espirito de “aggiornamento”. Não mais se
restringe às questões jurídicas entre as assim chamadas duas ^
dades perfeitas”. Esperamos que o têrmo “sociedade perfeita” de
pareça da nossa linguagem teológica, pois gera confusões na ^eter
naçao^ das relações entre a sociedade política e a Igreja. A Igreja e -
aedade so analògicamente — e a sua verdadeira essência Perrna" te
oculta no mistério de Deus. E’ também impossível dividir exatam
Whumana em esPiritual e temporal, pois todos os at0* a,
manos também pertencem à ordem espiritual por causa de sua orden
se confunde comíúvM»' 0 “ W política
a sociedade ™ bem em dizer
(n. 89). que «mfluir
Mas quer
A Igreja no Mundo de Hoje
15*
6-10-1965: 143* Congregação Geral
A Igreja no Mundo de Hoje
11 Parte: A Paz e a Guerra
P r e s e n t e s : 2.180 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Suenens. A sessão começou às 9
terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada por Dom Joseph
Cucherousset, Arceb. de Bangui, República Centro-Africana. Por
ordem dos Moderadores fêz-se esta manhã uma votação global
sôbre todo o esquema De Pastorali Munere Episcoporum in
Ecclesia (p. 368). Foi distribuído também o esquema De Educa-
tione Christiana, texto corrigido segundo os modos. Iniciou-se
esta manhã a votação do esquema De Accommodata Renova-
tione Vitae Religiosae, com a leitura duma longa Relação (cf.
pp. 369 ss). No mais, continuaram as intervenções orais em
tôrno ao último capítulo sôbre a Igreja no mundo de hoje:
202) Cardeal Achille LIÉNART, Bispo de Lille, na França (texto
completo): No mundo atual existe um doloroso contraste entre o vee
mente desejo de paz que move todos os homens e o permanente estado
e guerra que por tôda parte está a pairar e que ameaça acabar na
ruma umvrersal. A Mãe Igreja, cônscia do perigo e fiel ao espírito do
seu ivino Fundador — que é o espírito da justiça e da caridade entre
os os homens procura sollcitamente estabelecer a paz, porque
e àPfome°nr ‘f er°Uf 3 ^uerra C0TT10 uma calamidade semelhante à peste
decurso dos ’ ^ et 06,10 ,ibera nos> Domine!") e porque, no
humana a guerra^ue 0? es!orçou em tornar Pel° menos mais
tempo, a lerei a l m„"a° pod,a evitar. Mas hoje, atenta aos sinais do
estender-se mais ia preende Q116 a sua doutrina e atividade devem
veis que“ ào aL „ írgam?nte- De fat0* Ja existem novas armas terrí-
bém aniquilar cidade P° em os combatentes, mas ameaçam tam-
pria terra. Seria um ’ ?ovoaç^es> regiões imensas e até mesmo a pró-
contra a mesma humanidln^0"*™ Deus’ Criador e Pai dos homens, e
não mais basta a distinr" causar semelhante destruição. Assim, pois,
considerar-se também os meinü^n guerra iu,sta e guerra injusta; devem
senão para estabelecer jus • iça.U Como
recursoêsteàs fim
armas não está
poderia permitido
ser alcançado
A igreja no Mundo de Hoje 221
nor meios inumanos? Acaso desencarnar
por causas legítimas, não se ^
pregar realmente tais armas? Já chegou, pois, o tempo em que õs íomens
nã0 ma.s procurem defender seus direitos - mesmo legidmos - ^ â s
arm3\ r “ " "as. iguerras
e que provocam r atentamente a« injustiças
e, com sentido que edirem
de justiça os povos
de sincera fra
ternidade, se empenhem pacientemente em chegar a uma solução justa.
Em lugar de as nações atuais regredirem a uma barbárie pior que no
passado, devem demonstrar que são capazes de dar início a êste pro
gresso verdadeiramente humano. Esta doutrina encontra um firme fun
damento na encíclica Pacem in Terris de João XXIII, que há pouco
tempo o mundo inteiro acolheu com ânimo tão caloroso e que abriu
tão claramente o caminho a seguir. Nosso Concilio, pois, deve induzir
todos os homens a que sigam êsse caminho e a que colaborem unâni-
mente para afastar a guerra e edificar a paz, sobretudo nos organismos
internacionais que têm esta finalidade. Na minha opinião, o esquema
deve ser louvado porque ousou enfrentar audazmente esta espinhosa
questão e torná-la atual. Peço também que ainda seja aperfeiçoado,
sem nada atenuar da doutrina desta encíclica tão oportuna para o
mundo do nosso tempo. Exemplo duma ação concreta da Igreja em
favor da promoção da paz nos deu o Papa Paulo, “Caput nostrum
dilectissimum,,, que se dignou levar uma mensagem de paz à ONU. Nós
mesmo pudemos ver e ouvir de quanto pêso fôra aos olhos de todos
os homens esta intervenção tão discreta e humana e tão alheia a todo
desejo de domínio. Devemos seguir diligentemente êste exemplo para
apresentarmos um remédio à angústia do mundo e satisfazermos a
realização de suas aspirações.
203) Cardeal Paul Emile LÉGER, Arceb. de Montréal, no Ca
nadá (texto completo): Gostaria de propor algumas observações em
tôrno do capítulo V, visando aperfeiçoar o texto, que já contém muitos
elementos ótimos.
1) A moralidade da guerra hoje em dia. As reuniões do Concilio
Vaticano II têm lugar precisamente nestes anos em que a humanidade
se defronta com o horrendo perigo de sua própria destruição. Nestas
circunstâncias, muitos desejam que o Concilio, dada a sua grande
autoridade moral, contribua para abolir a guerra e firmar uma paz
estável. E’ neste ânimo que muitos esperam dêle uma solene conde
nação das guerras modernas e, sobretudo, uma reprovação das armas
e ações bélicas. O n. 98 do esquema quer responder a este voto Mas,
a meu ver, o referido parágrafo não pode ficar tal como esta redigido
ru -sss
Por causa de sua ambigüidade e inclusive de suas contradições in
ternas. Por um lado, defende a tese daqueles que condenam abwluta-
Árs.
p „ ConcMio não p.d, — S T “« r 2 " ” ^
traditorias. O problema, sem d l^ ' novos As meSmas coisas mudaram
a questão se coloca hoje em termos a guerra em todos seus
de tal modo, que dificilmente s P teorja clássica. O número de
aspectos de acôrdo com as norma ona, nocividade dos arnia-
v't.mas, a amplidão das destruiçoes, violência. Ora, tendo mudado
uientos, etc., dão um nôvo aspecto
222
I. Crônica das Congregações Gerais
tão profundamente a realidade das coisas, a teoria clássica so
bre a moralidade da guerra se tornou quase que irreale inaplicável.
Dificilmente portanto, se poderia apelar para ela neste esquema. Por
isso é minha opinião que, ao tratar da moralidade da guerra moderna
da guerra “total” e de suas armas, o Concilio não deveria entrar
na discussão técnica das condições da guerra assim chamada “justa”
e nem deveria condenar as armas em abstrato, como se faz no inicio do
parágrafo. Proceda-se de ottfro modo: em primeiro lugar, sejam lem
brados. de maneira apropriada, os novos e ingentes perigos que as
guerras modernas comportam consigo; depois, com brevidade mas fir
me e claramente, se declare apenas isto: que na prática tornou-se hoje
irracional considerar a guerra moderna como o instrumento adaptado
e lícito para reparar direitos violados.
2) Os deveres das Nações para com a autoridade internacional.
No n. 100, com razão o esquema proclama com firmeza a necessidade
duma autoridade internacional eficaz. Concordo com aquêles que dese
jariam que o esquema afirmasse mais energicamente que todos os ho
mens — principalmente os que regem os destinos dos povos — de
vem defender e consolidar esta autoridade internacional. Em assunto
de tanta importância, uma exortação de índole geral, embora firme,
não basta. E’ necessário também que chamemos a atenção dos homens
para os diversos modos com que se pode prejudicar o bem da sociedade
internacional, como são, p. ex., a inércia, o culto da anacrônica auto
nomia da soberania dos Estados, o nacionalismo exagerado, o egoísmo
coletivo e inclusive o desprezo da própria sociedade internacional.
3) A objeção de consciência. Agrada-me o que no texto do esque
ma se introduz sôbre a assim chamada “objeção de consciência”. Mas
proporia que se mude o texto de modo que o motivo que leva a cons
ciência cristã a agir desta maneira não pareça ser qualquer virtude
supérflua que se denominaria “doçura”, mas diga-se que a objeção
de consciência pode proceder da caridade cristã ou do espírito evan
gélico de paz.
A) A colaboração dos católicos com os seguidores de outras re
ligiões. No n. 103, o esquema convida oportunamente os católicos a
procurarem uma positiva e ativa colaboração tanto com os irmãos se
parados como os homens de boa vontade. E isto, sem dúvida, de
ve ser louvado. Mas não basta. E* preciso também que os católicos se
unam nesta ação com os seguidores de outras religiões não-católicas:
P; ex., com os budistas, entre os quais prevalece a teoria da não-
violência. Assim, o “homem religioso” será o companheiro do “homem
político nesta empresa comum para o obtenção da paz.
204) Léon-Étienne DUVAL, Arceb. de Alger, na África (segue
texto integral da intervenção, proferida em nome da Conferência Epis-
capa a África do Norte): Sôbre o capitulo V, que é bom mas deve
ser melhorado, gostaria de fazer notar o seguinte.
+T*iu h„«?a í,uestão ex>ge maior clareza de expressão, porque se
v a e n Perigo extremo Para tôda a humanidade. Em particular:
férrm * maic T * a Uma açao. comum para a paz deve ser feito em
segundo exniW C C°m mais viva insistência. N. 98: O parágrafo
mérdo° mttrnac,tjnal
inttrnacií ntinC?eS^
atual;dade
mas dese aportar
deveria mudanças
indicar emprofundas
que pecano êste
co-
A •greja no Mundo de Hoje
223
,08sa que separa
relação às nações ricas, as nações pobres se tornlm6™0'^ ™ ^ 0' C°m
pobres. N. 101 (cf. n. 30): O racismo que e o m a T c ceasa.r ma!s
da desordem
m.,ito geral
severa ee nao do
não em nosso tempo deve ser
em têrmos ifracos, como condenL^
ser condenado H
SaS pnnc,pais
muito severa no esquemaduma maneira
Deve-se es
tigmatizar sua perversidade intelectual e moral: é um ' desprêz* do
homem e uma -njunapara com Deus. E' preciso insistir nas suas ter
ríveis consequências. N. 98: O horror da guerra moderna náo é su-
ficientemente afirmado^ Dever-se-iam expor brevemente os efeitos pos-
tenores da radioatividade produzida pelas explosões atômicas, assim
como o perigo de envenenamento que ela pode comportar náo só
mente para a vida do homem mas também para tôda a vida sôbre a
terra. N. 98. No terceiro parágrafo as palavras "conscientiam homi-
num non facile exonerari são muito ambíguas. Pedimos outra re
dação, como p. ex., esta: “A guerra total, sejam quais forem as armas
empregadas armas termonucleares, armas “convencionais” de gran
de poder, meios químicos ou bacteriológicos — deve ser rejeitada ab
solutamente. De maneira alguma se pode absolver a consciência hu
mana do emprego de tais armas, porque seu uso é intrinsecamente
perverso”.
2) Seria desejável que êste texto fôsse mais sintético na sua ex
pressão, a fim de qua apareçam melhor as implicações que existem
entre o problema da fome, da ignorância, e o problema da paz. Isto
se encontra, certamente, no esquema (n. 99), mas com uma insufi
ciente clareza. Primeira implicação: Por uma parte, a ausência de
equilíbrio econômico entre as nações ricas e as nações que sofrem
fome, miséria e ignorância acarreta um perigo permanente de guerra;
por outra parte, a absorção dos recursos intelectuais e dos créditos
para a preparação da guerra aumenta a distância entre os povos, tanto
do ponto de vista econômico como do ponto de vista cultural. Segun
da implicação: Por uma parte, a falta de amizade entre os povos im
pede o progresso da justiça internacional; por outra parte, a prepara
ção da guerra aumenta nas nações pobres a consciência da injustiça,
da inveja, da cólera, e nas nações ricas o escurecimento da inteligên
cia e a dureza do coração. O efeito mais perigoso da corrida dos ar
mamentos é o progresso do ódio no mundo.
3) Êste problema da paz exige ser tratado dum modo mais po
sitivo. Não basta condenar. A humanidade se encontra num circulo
vicioso, consequência duma situação depravada que é a herança dum
triste passado. E’ necessário criar uma nova ordem humana que rts-
Ponda às condições novas do mundo e que exclua todo recurso a qua-
quer guerra. E’ mister inventar “uma nova maneira de pensar (Einste ).
E' preciso instaurar novos costumes políticos. Que seq lembrem p a
lavras solenes aue acaba de pronunciar S. S. Paulo VI na Assem
bléia geral da ONU Esta profunda mudança requer a cooperação de
todos.7orisso, é aUtodol que o Concilio
responsáveis da política e da ec®n0^ laljsdtas para considerar o bem
'■ smo antiquado e as ideologias ma « (|j )(X)) 0 esquema afir-
comum universal da humanidade. Co™ idde pública internacional no
ma “a urgente necessidade duma aut
224
I. Crônica cias Congregações Gerais
P r e s e n t e s : 2 .14 7 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Suenens, para a parte sôbre a
Igreja no mundo de hoje, e Card. Agagianian, para a parte
sôbre as Missões. A Santa Missa foi celebrada por Dom Guil-
lermo Bolatti, Arceb. de Rosário, na Argentina. Às 11,15 foi
encerrada a discussão sôbre a Igreja no mundo de hoje por
vontade da Assembléia, consultada a respeito pelo Moderador.
Seguiram-se palavras de introdução geral ao nôvo esquema
De Activitate Missionali Ecclesiae e a Relação oficial lida pelo
Pe. Johann Schuette, S .V .D ., com as quatro primeiras inter
venções orais sôbre o mesmo esquema. Enquanto se debatia,
continuavam as votações sôbre os Religiosos. Eis as nove in
tervenções orais desta manhã sôbre o De Ecclesia in Mundo
huius Temporis:
P r e s e n t e s : 2.143 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Agagianian. A sessão começou
às 9 e terminou às 12,15. A Santa Missa foi celebrada por
Dom Isaac Ghattas, Arceb.-Bispo copta de Tebe (Luqsor), no
Egito. Mais cinco Padres postularam falar ainda sôbre a Igreja
no mundo contemporâneo (cf. nn. 226-230). Outros sete dis
cursaram sôbre o esquema De Activitate Missionali Ecclesiae.
Eis, primeiramente, as cinco intervenções postuladas:
226) Alfred ANCEL, Bispo aux. de Lyon, na França (texto com
pleto): No n. 100 do nosso texto, duas coisas são excelente e clara
mente afirmadas: l9) O bem comum da humanidade exige hoje que,
de comum acôrdo, tôdas as nações renunciem ao direito da guerra. 29)
Esta renúncia não se pode realizar a não ser que, ao mesmo tempo,
se estabeleça uma autoridade supranacional, munida duma autoridade
correspondente ao seu cargo.
Mas é um fato que muitos se opõem a estas afirmações. Dizem
que a aceitação duma autoridade supranacional seria contrária ao
verdadeiro amor da Pátria. Eis por que censuram à Igreja de se opor
ao amor da Pátria ou de desprezar os que combateram pela defesa de
suas pátrias e deram suas vidas por elas. Outros, pelo contrário, cen
suram a doutrina do Concilio de carecer completamente de eficácia.
Dêle esperavam um testemunho quase profético e não encontraram se
não exposições intelectuais. Mais ainda: estimam que, afirmando a li
ceidade da guerra defensiva — mesmo atômica — e tolerando o “equi
líbrio do terror”, a Igreja decepcionará gravemente a expectativa do
mundo inteiro. Por isso, gostaria de responder duma maneira positiva
a esta dúplice objeção. Falarei, em primeiro lugar, do amor da Pátria,
depois, da eficácia de nossa doutrina.
I. O amor da Pátria não sòmente é legitimo em si mesmo, mas
se impoe moralmente à consciência do homem. Os cidadão-, com efeito,
evem estar estreitamente unidos pelos liames do amor e da aju a
A P a z e a G u erra
247
mútua. Por essa razao, desejosos primeirampnto ^ .
vem estar prestes a fazer e mesmo a^ofrp ?T do„.bem de fodos, de-
exigências do bem comum. Pecaria mi ° 1,116 hes é imPÔ8to pelas
aquêle que, desprezando o bem comum 0 , amor da Pátria
interêsse próprio ou o dum grupo particular unic.ame",e 0 seu
é manifestado em Nosso Senhor Jesus S o Pá‘ria não
pátria terrestre, prevendo o castigo de sua infidelidade í f T c
E’ gualmente manifestado em S Paulo n„„ 1 ' Lc f ^ 41-44)7
p, i de Çris.o, pelos seus i-n,iPo“ t sr d o í T ::;„ e “ « r r , . 5 5 -
Restando salvas as ex.genc.as do bem comum, todos podem l L L Í
mente e mesmo devem amar seus concidadãos e suas pátrias maisdo
que os outros. Do mesmo modo, todo aquêle que é guiado pelo amor
de SUa Pátria
de sua a f! Ua eP°etrabalhar
eJ?ug mamente e deve mesmo
na sua realização. Mas aquerer a grandeza
verdadeira gran
deza duma naçao nao consiste antes de tudo nas suas riquezas mate
riais, mas na justiça e fraternidade que existe entre todos os seus
membros. Verdadeiramente grande e digna de louvor é a nação na qual,
respeitando a necessária diversidade das funções, todos podem, graças
ao seu trabalho, ter parte nos bens comuns dum modo equitativo e
pacífico. A verdadeira superioridade duma nação com relação às ou
tras não consiste em primeiro lugar no seu poder econômico ou polí
tico, mas na sua vontade de ajudar às outras nações, sobretudo às
mais pobres. Vale também para as nações o mandamento nôvo do
Senhor de amar aos seus irmãos sem disto esperar coisa alguma (cf.
Jo 13,34; Lc 6,35); às nações igualmente é prometida a bem-aventurança
especial reservada àqueles que, a exemplo do Nosso Senhor e Mestre,
se tornam os servidores dos outros (cf. Jo 13,17). Pelo contrário, as
nações que quereríam dominar as outras ou se enriquecer às suas
expensas não mereceríam louvor algum. Uma grandeza semelhante se
ria digna não dum elogio, mas de vergonha. A Igreja, portanto, não
se opõe ao amor autêntico da Pátria mas ao falso patriotismo, que
freqüentemente se denomina “hipernacionalismo”. Porque o amor da
Pátria — seja lá qual fôr a sua nobreza intrínseca — pode ser man
chado pelo pecado, sobretudo pelo egoísmo e pelo orgulho. A re
núncia ao direito de fazer a guerra também não se opõe ao verda
deiro amor da Pátria. De fato, não existe diante de Deus nenhum
direito à guerra ofensiva, como é evidente; quanto ao direito a guerra
defensiva, não existe senão duma maneira indireta, i. e, por a a uma
autoridade internacional que seja capaz de defender as na^*s
tra um injusto agressor. Como foi dito com frequência, tiraria
ridade suprema semelhante se c o n » esta renuncia nada tn r *
ao direito das nações enquanto sao socied p .. . -pa|vez apa.
apoitar-lhts-ia a safuranç, « - • = " diSà-
rentemente — e segundo o juízo dos ho de DeuS as nações
nui por esta renúncia, mas na reahda . renunciassem tôdas
ganhariam em prestígio se, Pel° "" guerra. ’ Enfim, a Igreja não
de comum acôrdo ao direito de fazer s ofenderam a sua
J^enospreza de modo algum a coragem dljvida, não felicita os
Pátria derramando o seu sangue por e . Qg juigará. Mas, en-
clue pela fôrça oprimiram outras nações. necessário defender
quanto falta uma autoridade supranacional, sera
248
|. Crônica das Congregações Gerais
Pais nelas suas próprias forças contra os injustos agressores. Com
efeito a Igreja exaltou numerosas vêzes os que morreram pela defesa
da cidade. Além do mais, enquanto durar o mundo presente, subme
tido ao poder do Maldito (cf. Jo 5,19), armas internacionais serão
sempre necessárias. E se foi honroso sofrer e mesmo morrer pela
paz da Pátria, será ainda mais louvável devotar-se inteiramente à paz
de tôda a família humana.
II. Isto pôsto, poderemos responder ràpidamente à segunda obje
ção. Censura-se a nossa doutrina por ser ineficaz. Mas que eficácia o
mundo espera de nós? Não podemos servir-nos nem das riquezas nem
das armas. Nem mesmo da ação dita psicológica. Não podemos fazer se
não uma única coisa: dar testemunho da verdade, enquanto represen
tantes de Cristo. E nós esperamos de todo coração que aquêles que
amam a verdade escutarão nossa voz — ou, antes, não nossa voz
mas a do Príncipe da paz que fala por nós (cf. Jo 18,37; Lc 10,16).
Já nosso texto condena claramente a guerra enquanto meio de resol
ver conflitos; condena especialmente tôda ação de guerra chamada
•‘total” como sendo “objetivamente e em si mesma um crime contra
Deus e contra o homem”. Aparece, pois, como escrevia já S. Em. o
cardeal Ottaviani no seu Compendium luris publici ecclcsiastici, que
a guerra que utiliza armas modernas — mesmo por uma justa causa —
deve ser absolutamente interditada (pp. 88 ss, Polyglotta Vaticana,
1964). Além disso, o nosso texto diz que se tem a obrigação de fazer
todos os esforços para fazer penetrar o espírito de paz entre as na
ções, assim como para reduzir os armamentos até à uma total su
pressão. Mas, para que tudo isto se realize efetivamente, parece indis
pensável criar uma autoridade suprema internacional, munida de meios
apropriados. Como o temos dito, nosso texto fala disto; mas, dada a
importância desta questão, proponho que seja inserida, no devido lu
gar, uma solene declaração que poderia formular-se assim ou de outro
modo melhor: “A fim de responder à aspiração dos povos para a paz,
assim como à angústia dos que temem uma guerra inumana, êste Santo
Concilio, reunido pelo Espirito Santo que é o Espírito de verdade, de
amor e de paz, declara solenemente diante de Deus e de seu Cristo,
que chegou a hora em que, salvando-se todos os direitos de cada na
ção, é necessário criar uma autoridade suprema internacional que te
nha à sua disposição os meios eficazes, graças aos quais, exigindo
de todos a renúncia ao direito da guerra, poderia arbitrar as diferen
ças entre as nações segundo as exigências da justiça, poderia igual
mente impor a todos uma redução progressiva dos armamentos até à sua
supressão definitiva e, enfim, poderia reprimir e constranger eficaz
mente os que dificultassem de qualquer forma que seja a ordem da
paz internacional”. Por meio desta declaração não violamos de modo
algum a autonomia que compete ao poder civil, mas exprimimos uni
camente as exigências do bem comum atual, deixando aos governos a
e..colha dos meios políticos que lhes pareçam melhores e mais eficazes.
lugar, proponho humildemente uma sugestão: nós, ° s
Padres conciliares que estamos profundam ente unidos ao Sucessor de
Pedro nos seus esforços para salvar a paz, não poderiam os enviar uma
A P a z e a Chierra
249
mensagem de paz a todos os chefes de Estado? f ,*,
mada dum profundo amor, lembrar-lhes i, „ ? • mensagem, ani-
vos, lhes exporia os meios que na firieUHaw asP'raçoes de seus po-
propõe a todos para a defesl V " J j ' ? t c I S r f " ? ^ i 3 lgre)'a
neira urgente a criarem aquela eficaz autoridade supremá"1’
discusslo ^ ^ t e ^ s q ^ m a ^ d o í ^ 3
assinalados: a) a necessidade duma unidade por a s s i T S r '“e s S
gica” dos cristãos e sobretudo dos católicos e de sua so idaSdade
moral no d.a ogo e no serviço; b) a reivindiacção do direito de emigra
ção como fator_ eficaz de justiça e paz. Apesar disto, o esquema ?em
sua atual redaçao, nada d.z a respeito dêsses temas. Até mesmo silencia
lá onde a natureza das coisas exigia uma palavra. Com respeito ao
primeiro ponto, esperava-se que o n. 91 dissesse algo sôbre o Corpo
místico de Cristo e sua unidade. Há, porém, apenas uma vaga alusão à
unidade de todos os homens. Com relação ao segundo ponto, espera
va-se, na parte dedicada ao problema demográfico, alguma’ palavra
acêrca das ingentes populações do Extremo Oriente que têm o direito
a exigir novas terras. Mas o texto nada diz dêste direito conferido pela
própria justiça distributiva, enquanto em outra parte parece favore
cer amplamente aquêle antigo neocristianismo à la Leon Tolstoi. Daí
a necessidade de empregarmos outro método. Mas agora vou ler sim
plesmente um texto subscrito por mais de cem Padres Conciliraes das
mais diversas “tendências” e dos mais diversos continentes: “Tanto
genèricamente o esquema XIII quanto especificamente o capítulo V da II
Parte dêste esquema condescendem com o ‘paternalismo’ do Povo de
Deus, assim como com o naturalismo, carecendo sua linguagem de
lógica e clareza. Isto dito, propomos os seguintes três pontos sôbre
o capítulo V: a) Devem introduzir-se no texto algumas palavras acêrca
do dever que incumbe aos cristãos e sobretudo aos católicos de teste
munhar, no seio da própria Cristandade, a maior solidariedade, a maior
caridade e a maior unidade moral, mesmo quando vigorar liberdade
de opção. Os mistérios da Eucaristia (acêrca da qual pronunciou-se
muito recentemente neste sentido o Sumo Pontífice) e do Corpo mís
tico de Cristo são o centro desta caridade fraterna entre os cristãos e que
é necessária para salvar o mundo inteiro, b) O direito de emigraçao
deve ser vigorosamente assinalado. E’ remédio da pobreza. Favorece
certo equilíbrio no problema demográfico. Torna inútil a l™wçao
da natalidade. Tem fundamento na Sagrada Escritura. c) E " ^ nre_
falar de modo mais prudente sôbre os me^ s ^ue ^ P ^ni se toca
gar na promoção da paz, quando nos nn. 9b, , imitrina que
numa questão política e legitimamente controver í a. ou nas
se expõe nas encíclicas e especialmente na teiramente suficiente
alocuções do Sumo Pontífice apresentam matéria
Para enunciarmos princípios”.
228) Luigi FAVERI, Bispo de Tivoli, na (fjja ^ “ uma
mais de 70 Bispos da Itália): A minha '"te J . ^ é evidente
só palavra: “Caridade”! Porque, se a l«reja ^ - depojS do Concilio,
sentir-se reforçada na sua missão e sa
Concilio - V _ 17
250 I. Crônica das Congregações Gerais
vleve à custa de qualquer esfôrço, fortalecer a caridade, que é a sua
alma e provém diretamente de Deus, símbolo de amor. O exercício da
caridade deve ser, então, estabelecido como o verdadeiro centro e o
mais seguro fundamento do Concilio, segundo os ensinamentos da Sa
grada Escritura, o exemplo dos Santos e o convite de Paulo VI ex
presso no seu discurso no inicio da quarta Sessão do Concilio. Dever-
se-ia falar, por isso, sôbre a caridade, principalmente no capitulo IV
da primeira parte (“O papel da Igreja no mundo de hoje”), porque
pelo exercício da caridade o diálogo com o mundo se torna muito mais
apto e eficaz e a própria doutrina da Igreja se torna, por sua vez,
mais aceitável. Que náo se objete que êste assunto já foi explicita
mente exposto na Constituição dogmática Lumen Gentium, porque aqui,
nesta Constituição pastoral, teria um valor e uma eficácia particulares!
Também náo se diga que tôdas as demais partes do esquema se ba
seiam expressamente na caridade, porque as alusões à caridade no
texto são bem insuficientes: é necessário falar sôbre o exercício da ca
ridade e indicar algumas de suas manifestações. Por essa razão, temos
preparado algumas emendas para serem inseridas no referido capítulo,
subdividido em dois parágrafos intitulados respectivamente: “Ecclesia
in hoc mundo summopere praesens per exercitium caritatis” e “De
exercitio caritatis circa huius temporis problemata urgentiora”.
229) William PH1LB1N, Bispo de Down e Connor, na Irlanda:
A conclusão do esquema parece não dar o devido valor ao significado
e à importância do Evangelho que se ignora em tôda a Constituição.
Esta não sublinha adequadamente a contribuição que a Igreja oferece
para a solução dos problemas do mundo moderno, em virtude da mis
são que lhe foi confiada por seu fundador, Cristo. O texto tem um
tom demasiadamente didático e filosófico e parece dar a impressão
que o único auxílio que se pode oferecer ao mundo se reduz a um en
sinamento de ordem intelectual. A dificuldade está em fazer o bem e
evitar o mal, como disse S. Paulo. A doutrina da impotência do homem
em cumprir a lei, mesmo natural, embora impressa no seu coração,
constitui como que a pedra fundamental da pregação do Apóstolo: “Pois
eu sei que há em mim, isto é, em minha carne, coisa boa. Porque o
querer o bem está em mim, mas não está o fazê-lo. Com efeito, não
faço o bem que quero e sim o mal que não quero” (Rom 7,18-19).
Ora, isto não vale apenas para os indivíduos, porque nessas palavras
está compendiada tôda a história humana. Qual é, pois, o remédio
que pode aportar o Evangelho a esta condição? Nem ciência nem
erudição. Ouçamos Paulo falar à Igreja: “Infeliz de mim! Quem me
livrará dêste corpo de morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso
Senhor (Rom 7,24-25). A única esperança do mundo — também do
mundo de hoje ccm tôdas as suas complexidades — é Cristo, não
apenas enquanto preceitor da lei moral mas sobretudo enquanto autor
da graça com cujo auxilio pode cumprir-se a lei. Portanto, nosso es
quema deveria pregar a verdade de Cristo que disse: “Sem mim nada
^ ' ,íi,s; azer Omitida no documento a doutrina da necessi-
a e a graça, dificilmente poderemos falar na pessoa da Igreja de
cristo. Assim só falavam os pelagianos! Por isso, é preciso eliminar
A Paz e a Guerra
251
os negócios e
cs homens queiram executar a.s
contrário, que semelhante von-
17*
I. Crônica das Congregações Gerais
252
P r e s e n t e s .- 2.128 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Agagianian. A Sessão começou
às 9 e terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada pelo
Pe. Ignace Gillet, Abade Geral da Ordem dos Cistercienses Re
formados (Trapistas). Durante a sessão desta manhã foram
distribuídos os textos das relações sôbre os esquemas D e M i
n is té r io e t V ita P re sb y te r o r u m e D e E c c le sia e H a b itu d in e a d
R e lig io n e s n o n -C h ristia n a s. Foi lida também a relação sôbre as
emendas introduzidas no esquema sôbre os Seminários, texto
que a seguir foi votado até o n. 12 (cf. p. 373 ss). Continuaram as
intervenções orais sôbre as Missões, com 11 discursos. Às 11,45 foi
lida pelo Secretário Geral uma carta do Santo Padre Paulo VI ao
Cardeal Tisserant, na qual o Papa comunicava ter tido conhe
cimento de que alguns Padres Conciliares tinham a intenção de
falar no Concilio sôbre o celibato eclesiástico da Igreja latina.
Sem impedir absolutamente a liberdade dos Padres Concilia
res, declarava “não ser oportuno discutir püblicamente sôbre
êste assunto, que exige suma prudência e é de grande importân
cia. E’ nosso propósito não só conservar com tôdas as Nossas
forças esta lei antiga, sagrada e providencial, mas também re
vigorar a sua observância, chamando a atenção dos sacerdotes
da Igreja latina para o conhecimento das causas e das razões
que hoje, principalmente hoje, fazem com que essa lei seja con
siderada muito apta, pois graças a ela os sacerdotes podem
consagrar todo o seu amor sòmente a Cristo e dedicar-se in
teira e generosamente ao serviço da Igreja e das almas . A
carta termina dizendo que, se algum Padre Conciliar julga opor
2õ8
I. Crônica das Congregações Gerais
tuno exprimir o próprio parecer sôbre êste assunto, o faça por
escrito, enviando-o ao Conselho de Presidência que, por sua vez
o mandará ao Papa, que o examinará atentamente, diante de
Deus. (Aplausos).
As intervenções desta manhã:
238) Cardeal Ernesto RUFFINI, Arceb. de Palermo, na Itália O
Concilio não poderia deixar de falar sôbre a atividade missionária da
Igreja, pois o apostolado das missões não só deve ser promovido mas
também deve ser cumulado de louvor pelos frutos abundantíssimos que
oferece à Igreja. O presente esquema deveria ser aperfeiçoado para tor-
nar-se a Carta Magna das Missões. O orador apresentou correções
particulares ao texto e denunciou algumas inexatidões na formulação
da doutrina.
239) Cardeal Franziskus KOENIG, Arceb. de Viena, na Áustria
(texto completo): O esquema é plausível (valde placet) quanto à dis
posição. Faço, contudo, as seguintes observações: No n. 11 dever-se-ia
expor com mais clareza como hoje em quase tôdas as partes do mun
do os cristãos vivem em contacto com os não-cristãos. Portanto, em
tôdas as partes do mundo e não apenas nas missões deve-se dar tes
temunho de verdadeira vida cristã. Por conseguinte, os cristãos aco
lham com grande caridade os não-cristãos em seus ambientes; procu
rem encarar as religiões não-cristãs como meios de procurar a Deus
(At 17,27). Embora elas não sejam caminhos de salvação, são, con
tudo, indicações mais ou menos distantes pelas quais os homens são
preparados pelo insondável desígnio de Deus para encontrar o verdadeiro
caminho da salvação. Já que muitos discutem sôbre as relações da
Igreja com as religiões não-cristãs e sôbre esta matéria circulam sen
tenças errôneas, permiti-me dizer uma palavra a respeito. “Non est in
alio aliquo salus nec enim aliud nomen est sub caelo datum hominibus
in quo oporteat nos salvos fieri” (At 4,12). Portanto, a graça de Cristo
e a Encarnação constituem a via de salvação estabelecida por Deus.
Por conseguinte, ninguém pode-se salvar sem a graça de Cristo, o que
vale também para os não-cristãos. Mas a Igreja visível, inserida na
unidade do gênero humano, é como um sacramento de salvação de to
dos. Desta salvação podem participar por obra “operantis” também
os não-cristãos. A própria graça de Cristo, oferecida e aceita possui
um dinamismo que leva à sua perfeita “encarnação’' pelos sacramentos
e pela agregação social à Igreja. Embora dêste modo possa haver fora
da Igreja salvação, a religião cristã “vi operis operati” é a via ordi
nária de salvação para a qual tende também aquela graça que é dada
tora da Igreja. E como a Igreja visível é necessária na economia da
sa.vação “necessitate medii”, assim também com a mesma necessidade
Í L T V lg!eia tem obrigação de levar a efeito a atividade missionária.
~7 y* 24: não Podemos obrigar os outros a dialogar, porque o diálogo
eve ser sempre um colóquio livre. Mas podemos e devemos preparar-
nos para o diálogo, removendo os obstáculos e dando os primeiros
P/ ^ S ^ eSpf?o lnütilmente, quando para tal formos convidados (Ec-
ihswm suam. AAS, 1964, 642). Só Deus pode tocar os corações para
A Atividade Missionária 259
d ím e S to
sentido T s tó r irdno apqM ^lt0Í “T
pastoral * d°S n°SS0Spara
dias' pois tem um fun'o
s . - 0 Pastoral esquema. P<J?era contrit)uir
O esquema fala poucomelhor esclarecer
da oração pelas
a- eXOrtar à 0ratá0’ mas oãoapresenta
fundamento da oraçao missionária. Torna-se necessário expor claramentea r ^ ã o e o
o dever da oraçao missionária, fundamentado nos textos da Sagrada
Escritura, da Sacra Liturgia e das exortações dos Sumos Pontífices; en
sinar aos cristãos o sentido teológico da oração individual e comuni-
0 ^ovo Deus conheça e sinta a sua responsa
bilidade perante os povos que ainda aguardam a mensagem da Reden-
ção. As riquezas humanas e terrenas não bastam para realizar a obra
missionária, que é acima de tudo uma obra celeste e divina. E por
isso o seu dinamismo e auxílio há de vir primeiramente da parte de
Deus, cuja bondade e misericórdia se abrirá à fôrça das nossas ora
ções. O texto agora apresentado nada diz também da importância e
nôvo valor das escolas missionárias, quando em quase tôdas as regiões
a escola missionária é o maior instrumento de penetração do Evan
gelho. A vitalidade da Igreja em terras missionárias depende muito
estreitamente do modo como se ministra a instrução religiosa. A es
cola é um instrumento de formação total, onde se forma o homem, o
cidadão e o cristão. Quando se fala de adaptação aos costumes dos
povos a evangelizar é preciso estabelecer a distinção entre os bons
e os maus costumes. Se aquêles devem ser conservados e respeitados,
êstes devem ser destruídos cautelosa e suavemente, com caridade. Todos
os costumes que sejam contrários à retidão moral, à dignidade huma
na, aos direitos da pessoa, à instituição familiar, à escolha da própria
vocação, etc., devem ser evitados. A evangelização implica sempre uma
vida temporal conforme à dignidade humana. A graça pressupõe um
mínimo de natureza sadia. A ação missionária é essencialmente uma
missão de caridade, cuja eficácia depende da graça de Deus e da ge
nerosidade espiritual e material dos fiéis.
243) Joseph CORDEIRO, Arceb. de Karachi, no Paquistão: O es
quema deve mostrar mais claramente a necessidade da atividade mis
sionária da Igreja. O problema adquiriu uma grande atualidade, de
pois que recentes descobertas teológicas puseram em evidência duas
verdades: que os homens podem ser salvos sem ter conhecido o Evan
gelho e sem pertencer visivelmente ao Corpo Místico; e que a
Igreja não-católica e também as religiões não-cristãs podem ajudar os
próprios fiéis no caminho da salvação. Estas afirmações fazem com
que muitos missionários se defrontem com graves problemas porque
parecem pôr em discussão a necessidade das missões. A respeito dêste
problema encontra-se na Revelação que mostra a união entre a glória
de Deus e a atividade missionária. A glória de Deus exige qut os ho
mens reconheçam que Êle existe e que veio redimi-los. Para eliminar
qualquer perplexidade é necessário, portanto, considerar o problema
numa perspectiva decididamente teológica e cristocêntrica.
244) Marco Gregorio McGRATH, Bispo de Santiago de
no Panamá: Deve-se louvar o esquema, sobretudo por causa ^ Bs
doutrinárias que oferece a tôda atividade m.ss.onar.a da Igreja.
262 I. Crônica das Congregações Gerais
visáo que confere nova luz ao problema das missões não é completa-
mente perfeita. Com efeito, não representa tôdas as conseqüências pos
síveis da Constituição De Ecclesia, especialmente com relação à tarefa
do Povo de Deus e às diversas funções dos vários membros da Igreja:
Bispos, sacerdotes, religiosos e leigos. Além disso, não parece claro
que a vida missionária da Igreja é própria de todo o Povo de Deus.
As relações entre os leigos e as missões são expressas de maneira
fraca, especialmente no atinente à importância do seu número no seio
da Igreja e a eficiência de seu testemunho de caridade que podem ofe
recer em terra de missões. E’ necessário afirmar que o bispo, origem e
centro de tôda a missão, não pode ser substituído por um eclesiás
tico que possui apenas a jurisdição episcopal sem ser bispo, como
acontece nas Prelazias Nullius e Prefeituras. A doutrina da Colegiali-
dade deveria estar presente no tratado dos problemas das missões
e da Evangelização. Convém pôr em realce a catolicidade da Igreja
e a necessidade de uma Evangelização universal, à luz dos conselhos
dos últimos papas e dos sinais dos tempos.
245) Stanislaus LOKUANG, Bispo de Tainan, Formosa: Não raro
se fala com excessivo otimismo das possibilidades de salvação para
aquêles que não foram evangelizados. E’ fora de dúvida que as re
ligiões não-cristãs contêm elementos autênticamente derivantes da re
velação primitiva ou do conhecimento natural de Deus, e assim os não-
cristãos podem aderir implicitamente a Cristo. Mas é preciso lembrar
que êste náo é o caminho normal da salvação, pois é muito imperfeito
e cheio de dificuldades. Por outro lado, é preciso manter a definição
estrita de “Missão”, que não parece poder aplicar-se por exemplo às
Prelazias Nullius da América Latina. O esquema parece considerar os
missionários como únicos sujeitos ativos da Missão, esquecendo os sa
cerdotes indígenas. Enfim, convém sublinhar que a Missão não pode
de maneira alguma ser realizada de modo individualista.
246) Paternus GEISE, Bispo de Dogor, na Indonésia, fala em nome
da Conferência Episcopal de seu país: O texto propõe em têrmos jul
gados insuficientes as necessidades da atividade missionária. Não se
pode negar a possibilidade de Deus conceder a cada homem a salvação
sem a pregação. Trata-se, porém, de uma salvação “interna”. Ora,
a salvação eterna não é jamais uma coisa meramente interna, mas
deve realizar-se em certas condições externas e visíveis. A salvação
que pode existir internamente não seria, portanto, uma salvação per
feita e plena. A forma perfeita de salvação encontra-se apenas na
Igreja.^ A que se realiza fora dela é defeituosa e menos adaptada à
condição humana. Estas observações ajudam a relevar devidamente a
ação missionária e sua necessidade, mesmo em nosso tempo. Além
disso, elas explicam exatamente o motivo por que nós respondemos ao
convite de Cristo de quem recebemos o mandato de ensinar a Boa Nova
a todos os povos.
247) James CQRBOY, Bispo de Monze, Zâmbia: O esquema enfoca
a missão da' 4greja, baseando-a sôbre b mandato conferido por Cristo
aos apostolos e a seus sucessores. No entanto, sua apresentação nao
e con orme à doutrina contida na Constituição De Ecclesiã e no es~
A Atividade Missionária 263
P r e s e n t e s : 2.126 p a d r e s
Conciliares. Afoderador: Cardeal Agagianian. A Sessão começou
às 9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Albert Cousineau, Bispo de Cap Haitien, no Haiti. Foi lida no
início uma carta do Cardeal Tisserant ao Papa, comunicando-
lhe ter dado a conhecer aos Padres Conciliares “a tua con
cepção e a tua decisão sôbre o celibato eclesiástico, na Congre
gação Geral de 11 de outubro, as quais foram acolhidas pelos
Padres do Concilio com repetidos aplausos. De nossa parte es
tamos prontos a aceitar sempre as tuas decisões e a obedecer
às tuas ordens. Imploramos a tua bênção”. Vieram novos aplau
sos. Foi comunicado também que o Santo Padre fixou para o
dia 28 do corrente a data da próxima Sessão Pública para a
aprovação definitiva e a promulgação dos Decretos que êle jul
gar oportuno e que a seu tempo serão dados a conhecer. En
quanto nesta manhã se votava ainda o esquema sôbre os se
minários, continuavam os discursos na Aula sôbre as Missões.
Falaram 17 Padres e às 12,15 o debate foi encerrado por von
tade da assembléia consultada a respeito pelo Moderador. O
resumo dos discursos desta manhã:
«quema é^aceitáve?*™ RUGAA1BWa. Bispo de Bukoba, Tanzânia:
^re a fé viva que deve a • conJun^°» poderia, porém, insistir mais sô-
olado missionário. E’ a t^ os aQu^Ies que se dedicam ao apos-
na fé teológica aue pu ^Ue 'orma os apóstolc-s e os missionários,
perseverança e fim última enconÍTam Deus como fonte, fundamento,
ortalece e propaga a micc- C SUa ,at,vidade. E’ ela que faz nascer,
voli-e a Igreja, Corpo M : ^ ° através da Qual se edifica e se desen-
issjonáríos, empenhados no ,C°- ^ nsto- Convém, pois, incuícar nos
povos da terra, o mistério Hm,^s,ão sa,víflca da Igreja ju n to a to d o s os
período heróico da Iíti-p ; 3 - ^ue animou os Apóstolos e mártires,
o próprio sangue em aiguns na° países.
fo! suPerado. Hoje muitos
Em outros, ainda, sofrem
ela derra-si-
A A tiv id a d e M issio n á ria 265
aí- é£ - lurs:
valorização Oas co i J ' L ° Z Z Z \
hvres de qualquer espirito de discriminação social, cultural ou racial.
Em consequência,
cada povo. sao abertos à assimilação dos valôres autênticos de
250) Cardeal Leo SUENENS, Arceb. de Mechelen-Brussel, Bélgica:
O esquema sôbre as missões é indubitavelmente melhor do que o que
foi apresentado no ano passado. As reservas que ainda merece con
cernem à essência mesma da atividade missionária. Por exemplo, há uma
grave lacuna quando o texto fala sôbre a formação do apóstolo mis
sionário. Nos parágrafos 23 e 24 — consagrados à formação dos futu
ros missionários — não se oferecem, como seria de esperar, as dire
tivas indispensáveis sôbre a formação apostólica. A coisa é tanto mais
paradoxal pelo fato de que a iniciação prática e progressiva ao apos
tolado é oficialmente recomendada pela Santa Sé, tanto para os futuros
padres, como também para os religiosos. Bastaria, a êsse respeito, con
sultar a Constituição Apostólica Sedes Sapientiae e o artigo 14 dos Es
tatutos Gerais anexos. A atenção se concentra de preferência sôbre a
formação intelectual e espiritual, pois se pensa que a iniciação ao apos
tolado é prejudicial à juventude. Ao contrário, ela vivifica a piedade,
ajuda o crescimento da caridade ativa e dá um certo equilíbrio e rea
lismo à vida intelectual. No que diz respeito aos métodos de realizar
tal iniciação, conviría seguir os progressos da pedagogia litúrgica e ca-
tequética e realizá-la de modo não apenas pessoal, mas comunitário.
Os sacerdotes não fazem apostolado no lugar dos leigos, mas ao lado
e à frente dêles. Seria bom oferecer aos missionários ocasião de apren
der a arte de suscitar apóstolos leigos; a arte de animar as associações
apostólicas com o espírito evangélico; a arte, enfim, de coordenar as
múltiplas atividades em campo missionário. No referente ao apostola-
do, como tal, o texto não insiste, como deveria, sôbre a urgência de
pregar o Evangelho. Reconhece a necessidade da evangelização, da fé.
do Batismo, mas em tom menos afirmativo do que já o fizeram os Pa
pas e o próprio Concilio na Constituição Lumen Gentium. O texto de
veria ser menos prolixo, mais denso e capaz de abrir-se a mais amplos
horizontes. Enfim, o esquema deveria recomendar a ereção de faculda
des de ciências sagradas para a formação de melhores missionários,
como também centros culturais e sociais, junto às grandes Universida
des, nas mais vastas zonas de penetração missionária.
251) Cardeal Paul ZOUNGRANA, Arceb. de Ouagadougou, Alto
Volta: O esquema, com justiça, afirma a necessidade atual dos Institutos
Missionários. Há quem ponha em dúvida tal necessidade, por três ra
zões: a) O feliz estabelecimento de Igrejas locais dotadas de uma hie
rarquia própria faz crer, e justamente, que estas Igrejas não mais pre
cisam de missionários, b) Nos países de antiga cristandade, alSun*
pos enviam sacerdotes e leigos às dioceses recem-criadas. c -n •
muitos apresentam juízos negativos sôbre a ação dos ns i u
Concilio - V — 18
266 I. Crônica das Congregações Gerais
Armários fazendo realçar seus defeitos. No entanto, so nao cometem erros
ao uêles que nada fazem. A verdade exige que se afirme que a obra dos
missionários é absolutamente positiva e que semêles não existiríam
hoie tantas comunidades cristãs, sacerdotes, religiosos que têm um va
lor semelhante ao das antigas Igrejas criadas por Bispos e Cardeais.
Sáo justamente êstes resultados que testemunham o zêlo sobrenatural
dos missionários. E’ preciso protestar firmemente contra juízos injustos
formulados a respeito. De resto, donde vem a sabedoria daqueles que
criticam tanto a obra missionária sem jamais terem consultado os in
teressados? Os Institutos Missionários continuam como principal instru
mento para aevangelização do mundo. Êles são particularmente cha
mados a fornecer uma melhor preparação a quantos queiram partir
para as missões. A diminuição das vocações nestes institutos repre
senta uma grave ameaça para as Igrejas de recente criação.
252) Eugene D’SOUZA, Arceb. de Bhopal, na índia: Estando de
acôrdo com as observações sôbre o problema já feitas na Aula por vá
rios outros Bispos, a intervenção foi apresentada por escrito ao Con
selho de Presidência. (Aplausos).
253) Joseph GUFFENS, Bispo Titular (belga): O esquema fala de
passagem sôbre o problema da escola tão importante nas missões. Des
de há alguns séculos a escola é uma espécie de laboratório do Espi
rito Santo. O texto deveria salientar a confiança nos leigos, no clero
e nos religiosos indígenas. Nada fala sôbre os países do terceiro mundo.
254) Victor GARAYGORDOBIL BERRIZBEITIA, Prelado nullius de
Los Rios, Equador, fala em nome de mais 120 bispos: O esquema não
se refere aos religiosos e religiosas que não tendo tarefa permanente
de missionários são enviados em missão apenas por certo período da
vida. Com efeito, os missionários se dividem em três classes: os que
pertencem a institutos exclusivamente missionários dependentes da Con
gregação de Propaganda Fide; os que, pertencendo a uma Diocese ou
determinada Congregação, recebem da Santa Sé o mandato para cuidar
do destino de um território por tempo indefinido; os sacerdotes enviados,
por tempo determinado, a uma missão. O esquema deveria prever a pos
sibilidade de uma Diocese encarregar-se de território ou obra missioná
ria, o que seria muito útil para o progresso da evangelização.
255) Joseph SIBOMANA, Bispo de Ruhengeri, Ruanda, fala em nome
da Conferência Episcopal de Ruanda e Burundi: O terceiro capítulo do
esquema está bem escrito. No entanto, poderia esclarecer melhor que
todo o missionário deve desempenhar sua tarefa sob a autoridade do
Ordinário local. O Bispo deve ser considerado como centro e objeto
material da espiritualidade missionária. Não podem coexistir duas obe-
íências: a religiosa e a missionária, porque tôda a autoridade vem de
Deus e Deus não está dividido. Mesmo para os missionários religiosos
que tem uma espiritualidade própria, o Bispo é sempre o Pai comum,
servm o de meio de união entre as dioceses que se esforçam por instau
rar o reino de Deus. Êstes são os princípios que deveríam ser melhor
examinados pelos Padres Conciliares
Con<Snril0SpPh MARTIN. Bispo de Bururi, Burundi, fala em nome da
.inferência Episcopal de Ruanda e Burundi: Deveria ser aprovado por
A A tiv id a d e M issio n á ria 267
esta Assembléia o plano que o esquema estabelece para a reorganiza-
çao da Congregação de Propaganda Fide. Esta Congregação deveria
assumir a tarefa de repartir as forças existentes. Entretanto, quais sè-
nam os critérios de tal repartição? Seria interessante conhecer a êste
respeito o parecer de alguns Bispos representantes dos quatro cantos
do mundo. Êstes Bispos poderíam fazer parte daquele dicastério, como
preve o Decreto sobre os deveres pastorais dos Bispos. A repartição dos
sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos missionários deverá ser feita
segundo o mesmo Decreto e assegurada pelo Sinodo dos Bispos.
257) Jéan-Baptist GAHAMANYI, Bispo de Butare, Ruanda, fala em
nome da Conferência Episcopal de Ruanda e Burundi: A coordenação
de todos os esforços missionários — de que fala o n9 31 — é impor
tante para unir os diversos institutos que trabalham numa região. Para
tal fim seria bom organizar uma Conferência de religiosos e religiosas,
no sentido de ajudar a Igreja local sem preocupação de privilégios par
ticulares. As Dioceses e as Paróquias são comunidades eclesiásticas uni
das profundamente e não uma contraposição de obras apostólicas.
258) Michel NTUYAHAGA, Bispo de Bujumbura, Burundi, fala em
nome da Conferência Episcopal de Ruanda e Burundi e ainda de alguns
Padres da África Oriental e da Nigéria: Seria necessário reexaminar
cuidadosamente os tópicos que tratam das relações entre os Bispos e os
superiores dos Institutos, pois o assunto tem uma importância funda
mental. A falta de coordenação, a confusão de iniciativas e a interfe
rência de podêres prejudicam gravemente o trabalho apostólico. O di
reito missionário antiquado e as suas melhores normas não são aplica
das. E* necessário favorecer e apoiar os institutos missionários, na me
dida do possível. Mas é preciso lembrar que compete aos Institutos co
laborar e não dirigir.
259) Giocondo GROTTI, Prelado nullius de Acre e Purus, Brasil,
fala em nome de 77 Padres: O texto deveria insistir mais sôbre o dever
que tem o leigo em missão de adquirir auxílios espirituais pela oração,
mortificação e sacrifícios ordinários e extraordinários. Seria bom tam
bém que êles fôssem integrados a um Instituto especial criado pela San
ta Sé como foi feito em Verona para os sacerdotes que se destinam à
América Latina. Propõe-se, enfim, que seja criado junto à Congregação
de Propaganda Fide um setor de preparação de leigos especializados em
várias técnicas para os países necessitados de desenvolvimento. Seria
uma verdadeira “marcha da fé”.
260) Pedro ARRUPE, Prepósito Geral da Companhia de Jesus: E’
preciso dedicar maior atenção ao tema da cooperação missionária, pois,
tal como se concebe no Ocidente, ela aparece deformada. A atividade mis
sionária deve ser sublinhada não apenas à luz dos princípios, mas tam-
bém à luz do momento histórico que orienta o centro de gravidade do
mundo em direção dos povos afro-asiáticos. E preciso ter presente a
complexidade do trabalho missionário, às voltas não só com problema*
de apostolado moderno, mas também com dificuldades ori^nad^ c
encontro com antiqüíssimas culturas e religiões dos terr^ r'^. . mi^_
são. Não se pode tampouco esquecer a contribuição d° ap°bt <’sionár,:a
sionário à instauração e conservação da paz. A concepção
18*
268 I. Crônica das Congregações Gerais
do Ocidente está marcada por diversos defeitos: demonstra um certo
infantilismo talvez porque as informações missionárias são destinadas
mais às crianças do que aos adultos; e marcada por um sentimentalis-
mo voltado à assistência da infância e dos enfermos e quase insensível
a iniciativas mais urgentes e eficazes, como as escolas superiores, as
atividades científico-culturais; sofre de um complexo de superioridade’ que
contrasta com o sentido cristão e que deriva da ignorância dos valôres, da
história, da cultura, dos costumes e da civilização dos povos a evan-
gelizar; míope que é, não consegue discernir a importância da Igreja
fora do campo visual da própria cidade ou diocese; é superficial na
avaliação dos métodos e dos resultados do apostolado missionário; fal
ta-lhe um sadio critério na escolha do pessoal a ser enviado às mis
sões e considera os missionários como mendicantes. E’ necessário, para
pôr fim a êstes graves inconvenientes, proceder à criação de órgãos
de informação que — em colaboração com a Propaganda Fide e as
Conferências Episcopais dos países de missão — ofereçam ao mundo
ocidental uma informação exata e sistemática sôbre a atividade mis
sionária, sôbre a necessidade de missionários particularmente selecio
nados e difundam entre o povo de Deus a consciência dos deveres de-
rivantes de sua vocação missionária.
261) Hugo POLETTI, Bispo tit. (italiano): O esquema, ao falar
de cooperação, sublinha a existência das Obras Pontifícias Missionárias
e o lugar proeminente que ocupam. Mas não salienta o serviço de assis
tência ordinária e extraordinária às Missões do qual são testemunhas
Bispos e missionários beneficiados.
262) Paul YU PIN, Arceb. de Nanking, na China: Os sinais comuns
de uma vocação sacerdotal não são suficientes para determinar uma
vocação missionária. A formação missionária exige uma preparação es
pecífica. Deveríam instituir-se seminários nas zonas de mais numero
sas vocações para preparar apóstolos com destinação à China. Êstes de
veríam proporcionar uma autêntica formação religiosa chinesa e formar
verdadeiros apóstolos em vez de peritos da cultura da China. Também
os leigos têm um papel específico na Ação Missionária. Mais do que
catequistas, êles são chamados a ser testemunhas: luz, sal, fermento
do Mundo.
263) Sebastião SOARES DE REZENDE, Bispo de Beira, Moçam
bique (texto completo): Há que relevar, de forma muito mais saliente,
no esquema das missões, a necessidade da ação social, principalmente
naqueles países em que ela ou não existe ou tão sòmente vegeta. Ação
social no que diz respeito às estruturas fundamentais da higiene e sau
de, do progresso e da agricultura, da promoção humana, etc. E' de de
sejar, todavia, que esta ação social seja, ou venha a ser, quanto antes
exercida por leigos devidamente preparados, porque é zona pertinen e
ao setor laical e, além disso, também por ser de tôda a conveniência
-que o clero se entregue exclusivamente ao respectivo múnus sacer o-
taL Ninguém ignora, porém, que uma coisa é evangelizar e outra hu
manizar. No entanto Jesus Cristo fêz o milagre da multiplicação dos
S , " 30 obstante o conselho contrário dos discípulos... dizendo-lhes^
Da,-lhes vos-mesmos de com er../' Além disso, o juízo final de toda a
humanidade há de ser realizado pessoalmente pelo Senhor na perspect.-
A A tiv id a d e M issio n á ria 269
va
de do social.” “Tive
beber fome e destes-me
Da mesma
mesma *•t,ye sede e destes-me
maneira, mC
nos ÜCpaíses
c?mer-••
de
cie Deoer. . . ua em que a lereia comera
a ser implantada, torna-se de grande necessidade a organização e a for
P'o ! f * f d da da pratica ,U' ™ g~ * ~
consciente ™ P l—senão« otambém
do cristianismo, e i
uma fôrça senamente organizada em ordem ao movimento de aposto
lado, a açao social e a orientação da massa do povo. E’ para desejar
que ao falar-se das Igrejas locais, de seu desenvolvimento, do método
deste desenvolvimento e do empenho de todos pelo crescimento da Igreja
em cada território, se diga expressamente e com algum acento que a
Igreja Local não é parte, mas é uma célula viva da Igreja Universal.
Dado o pendor atual de apregoar tanto o territorialismo, o continen-
talismo, etc., pendor que nem sempre tem em vista a paz, o progresso
e o bem-estar material e moral dos povos, mas ao contrário, tantas ve
zes a divisão dos mesmos povos, a rivalidade permanente entre si e o
estado de excitação apaixonada de uns para com os outros, é preciso
que a Igreja Local não se deixe influenciar por êste clima de revolução,
pois ela é superlocal, supercontinental. Ela é universal. Como está des
crita a espiritualidade missionária não satisfaz, porque, embora ela en
cerre afirmações e textos bíblicos de grande elevação, a sua apresen
tação não nos aparece como um todo único e vivo senão apenas um
complexo de partes justapostas. Há que dar à espiritualidade missioná
ria, que não é uma espiritualidade qualquer, uma alma que a una e
vitalize e esta não pode ser senão o sacrifício da missa pelo qual os
missionários, quer celebrantes, quer participantes, com Cristo oferecem
e consagram a Deus diàriamente tudo e todos os seus. O resto reduz-
se à vivência desta realidade sacrifical durante todo o tempo até à pró
xima celebração. Há Ordens e Congregações religiosas que não são
totalmente missionárias. Em tais casos acontece que os alunos seguem
todos igualmente o mesmo curso, quer venham a consagrar-se às mis
sões quer não. De tal situação resulta o imperativo de se suprir con
venientemente esta falta, mediante cursos de especialidade missionária
para aquêles que se hão de destinar ao apostolado missionário. Impor
ta que, de uma vez para sempre, se considere superada a opinião
tão comum de que todos eram sempre ótimos para a vida missionária.
E’ da maior necessidade que os Institutos Missionários em cada nação
estabeleçam entre si a redução a uma ou poucas das revistas missio
nárias que atualmente publicam, a fim de que, diminuindo em número,
possam crescer em qualidade. Esta convenção mútua seria da máxima
vantagem, porque aquilo que é difícil a uma só entidade tomar-se-à
fácil com’ a colaboração de várias e então a causa missionária passaria
a ser melhor, e mais eficazmente servida com órgão de imprensa^ ao
nível das exigências da opinião pública em nossos dias. Igual acôrdo
deveria ter lugar relativamente aos seminários maiores dos Institutos
Missionários, no sentido de um ou poucos seminários servirem para
todos os alunos dos vários Institutos. Só com uma tal colaboração^ o>
mesmos seminários poderão estar à altura de sua missão atual. Com
a maior reverência proponho que uma tal ou qual reno\ ação se opere
na própria Congregação de Propaganda Fide. Esta renovação e\era
começar pelo nome ou título com que é designada. Com efeito, o norn
de Propaganda Fide não é exato. Não se trata de propagar
270 I. Crônica das Congregações Gerais
mas de pregar o Evangelho e o Evangelho não é apenas a fé. Além
disso o mesmo nome não é atual. Esta Congregação tem uma longa
história e os nomes das instituições que não implicam Revelação divi
na, nem infalibilidade pontifícia, nem consagração tradicional, êsses no
mes, como os homens, envelhecem. Finalmente êste mesmo nome pode
ofender os ouvidos pios dos que não creem ou crêem tibiamente. De
fato, fala-se de propaganda de produtos comerciais ou industriais. To
davia não é problema de propaganda senão de pregação do Evangelho.
Esta renovação deveria estender-se igualmente ao setor interno, o único
a que me refiro, da publicação anual das estatísticas da vida missioná
ria. Esta informação do grande mundo sôbre a ação e a contemplação
missionária é preciosa porque esclarece a opinião pública e a Igreja
não pode prescindir desta opinião pública. O meu reparo, porém, está
no fato de se publicar tão sòmente a vida das missões subordinadas
à Congregação de Propaganda Fide e de nada se dizer das outras
missões que são missões católicas e tantas são florescentíssimas. Inte
ressa veementemente que se opere uma tal renovação e se dê uma
designação nova a esta Congregação, a qual poderia ser Secretariado
para a Evangelização do Mundo. Seja, porém, como fôr, importa que
êste nome seja atual, psicológico, dinâmico e não apenas dinâmico se
não eletrônico!
264) Paul Maria KINAM RO, Arceb. de Seul, Coréia: A cerimô
nia litúrgica — prevista pelo Esquema — para o ingresso de um conver
tido no catecumenato, poderia constituir, em numerosas regiões, um
impecilho aos acatòlicos ou não-cristãos, especialmente para os jovens
intelectuais que acham a Igreja muito ritualista. Seria uma sobrecarga
para o clero. A cerimônia deveria ser facultativa, a critério do Bispo
e do Pároco. O desenvolvimento das comunicações favorece as mudan
ças de cristãos para terras não-cristãs e vice-versa. O exemplo que as
nações cristãs mais antigas oferecem exercitará uma influência muito
importante junto às cristandades jovens. Seria necessário ao assunto um
artigo apropriado para salientar a importância missionária da renova
ção interior das igrejas antigas.
265) Donal Raymond LAMONT, Bispo de Umtali, Rodésia do Sul:
Aprovamos o Esquema agradecendo aos que o elaboraram. Seria dese
jável acrescentar-se um parágrafo sôbre a obrigação que têm as Igre
jas Particulares de dilatar o Reino de Deus. Também para despertar-
lhes a consciência sôbre a necessidade de colaborar nas atividades das
outras Igrejas e da Igreja Universal. Cada Igreja Particular deve imi
tar no seu território aquilo que a Igreja Universal realiza no mundo.
Os Bispos missionários, como também seus colaboradores diretos, desen
volvam as suas tarefas em nome da Igreja. A Igreja, por sua vez, deve
garantir-lhes a necessária assistência e ajuda.
13-10-1965: 148» Congregação Geral
A Atividade Missionária
Spna270)
bom Jean GAY, aBispo
reafirmar n ^ o e dde/i^Basse-Terre
., ______ e Pinte-à-Pitre,
^ Guadalupe:
^
P r e s e n t e s : 2.189 padr es
Conciliares. Moderador: Cardeal Lercaro. A sessão começou às
9 e terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Paul Mazé, Vigário Apostólico de Isles Tahiti, Oceânia. Termi
naram hoje as votações sôbre o D e E d u c a tio n e C h ristia n a . O
Cardeal Bea apresentou então, para as votações finais, o D e
E c c le s ia e H a b itu d in e a d R e tig io n e s n o n -C h ristia n a s (p. 381 ss).
Enquanto isso se discutia na Aula o D e M in istério e t V ita P r e s b y -
te r o r u m , com doze intervenções:
dura para ser tratada de modo definitivo" Fk° -fil*3 suflaantemente ma-
ntes Em , » se r .s „ p„48s r x
s.gnado por ministro de Cnsto, por enviado do bispo coope ador do
s i t
bispo, etc. Todavia estas expressões, por si, não traduiem tonveniente-
mente a natureza e a dignidade do sacerdote. Ora, é preciso que estas
se expressem com precisão a fim de que todos conheçam donde deri
vam todos os atributos sacerdotais e penetrem o sentido daquelas pa
lavras com que se designa geralmente o presbítero. A natureza do pa-
dre determina-se com a sua relação com Cristo, fonte e causa de
tôda a santidade ontológica das criaturas. Esta é a lei geral de tôda a
teologia. Assim Nossa Senhora tem a sua dignidade na sua relação com
Cristo de quem é mãe. A dignidade do bispo está na sua relação com
Cristo de cujo sacerdócio participa naquela plenitude que Deus de
cretara para o homem. A dignidade do padre está igualmente na sua
relação com Cristo de cujo sacerdócio também participa, embora não
plenamente. Importa, pois, que se exprima no texto que uma tal digni
dade provém do caráter sacerdotal que o sacramento da Ordem imprime.
Por isso, o padre é aquêle homem que, depois do bispo e na linha do
sacramento da Ordem, maior união ontológica tem com Cristo. Donde
resulta que o sacerdote não é simplesmente o ministro de Cristo, o envia
do do bispo, etc., mas depois do bispo é o maior e mais real represen
tante de Cristo na Igreja. Assim como na linha do mistério da Encar
nação o Verbo, ungido pelo Pai, encarnou e se fêz homem, assim na
linha do sacramento da Ordem, o homem, ungido por Cristo, assumiu
o caráter e se fêz sacerdote. Isto há de dizer-se no texto para que s-e
conheça a natureza do padre e todos verifiquem que 0rF ^ ^
tulo exigitivo de tôda a santidade moral do sacer ? e_ o-erador da
se um nôvo parágrafo n0 q .l , a I f - J f 3daqU| s° Trindíde é comunitária. À
comunidade crista. Com efeito a vida da b . para
vida da Igreja é comunitária. Daqui o apa n a comunidade." lgual-
a comunidade. 0 bispo nao vive Para si P a comunidade. Nada há
mente o presbítero nao vive para sl , PAlém disso, tudo quanto se
de individual na vida pastoral do P< ■ ... red u z_se a afirmar que
disse nos documentos já publicados P ^ caridade e de npostola-
a igreja é uma comunidade de fe, de c ’ . há que afirmar a di-
do. Em consonância, pois, com estes função sacerdotal em or-
mensão comunitária da Igreja e de er ^ mot|o se há de declarar
dem à geração da comunidade crista. D * ^ trata das relações entre
abertamente que naqueles parágra os ^ te s com os leigos se a a
os Bispos e os padres, dêstes entre ^ Há que reconhecer qu
de sacerdotes quer diocesanos quer 6 q sacerdócio esta m
os sacerdotes constituem uma unica
1. Crônica das Congregações Gerais
310
tal e náo na linha da profissão religiosa. O sacerdote rell-
sacramen ro sacerdote da lgreja que do seu Instituto; é primeiro
P 080 * d0 Bispo em cuja diocese trabalha que da entidade religiosa
S8Wr oertence. O presbitério está essencialmente para o Episcopado qua-
* qUomo o Episcopado está para o Papado. Quanto à distribuição dos
* L . t há que explicitar duas condições que são necessárias: uma
A p arte do Bispo e outra da parte do padre. Ao oferecer um padre
ra uma diocese alheia não deve dispor de algum indesejável, porque
dtíte modo náo estará sendo generoso para com aquela diocese mas
aDenas resolvendo um problema na sua própria. Por sua vez, o padre tam
bém náo deve tentar ir para as missões, sobretudo, por outros motivos que
não sejam a melhor realização do seu sacerdócio e a salvação das almas.
Ao tratar da pobreza, o esquema não tem os melhores textos da Sa-
crada Escritura nem suficientes. E’ preciso que os pastores de hoje,
Bispos e presbíteros, respondam aos homens de hoje o que São Pedro
respondeu ao doente que estava à porta do templo: não tenho prata nem
ouro e por isso não tos posso dar. Mas vou dar-te aqu.lo que tenho:
em nome de jesus Cristo Nazareno, levanta-te e caminha.
320) Albert NDONGMO, Bispo de Nkongsamba, Camerum: Falta no
esquema a definição do presbiterato. Sem uma clara definição do têrmo
“presbítero”, não é possível determinar as atividades sacerdotais e pas
torais Urge, também que o esquema indique de modo preciso as mu-
tiplas relações entre sacerdotes e Bispos, e entre sacerdotes e leigos.
25'10oOmMinistério
65M 52' e a Vida do, P,eshí|er
0.™,
08
aue do outro lado do oceano, existem sacerdotes que arcam com a res
nonsabilidade de 30.000 ou mais almas. Portanto, o esquema deve tomar
medidas positivas que ofereçam uma solução eficaz para êste proble
ma Neste sentido faço as seguintes propostas: a) Instituição de um
tipo especial de seminário, cujos alunos dependam diretamente da Santa
Sé. nas dioceses em que são muitas as vocações. Êstes seriam enviados
para as regiões mais necessitadas, b) As dioceses que rejeitam vocações
porque não há lugar para elas nos seus seminários, deveríam enviá-las
para as dioceses necessitadas, c) Conceda-se aos sacerdotes, que não são
exigidos pelo reduzido número de fiéis a êles confiados, a permissão de
irem para outros lugares onde falta clero. Assim se evitaria o perigo
do ócio e se contribuiría para uma distribuição melhor do clero, d) As
Conferências Episcopais dos países que possuem muitos sacerdotes criem
um organismo que se encarregue de atender aos pedidos e às ofertas
de sacerdotes, e) As Ordens e Congregações religiosas colaborem desin
teressadamente, sem exigirem que os territórios confiados à cura pasto
ral dos seus membros sejam “pleno iure et in perpetuum et ad nutum
Sanctae Sedis”, exigência esta que é um pecado contra a Providência.
Conclusão: suprima-se a exigência de permissão da Santa Sé para que
um sacerdote, com licença do seu Bispo, possa ir para outra região mais
necessitada. Tal exigência é contra a caridade, humilha o sacerdote em
questão e constitui uma injúria ao Bispo.
322) Remi Joseph DE ROO, Bispo de Victoria, no Canadá: O es
quema “placet iuxta modum”. Contém ótimos elementos, e, além disso,
a Comissão competente esforçou-se, como disse o Relator, por mostrar
como a missão pastoral ilumina e unifica a vida e o ministério do sa
cerdote. No entanto, êste esforço não aparece claramente no texto, mo
tivo por que não foi percebido por muitos. Ora, sem esta idéia como
centro de tudo, o texto carecerá de dinamismo, não digo de dinamismo
retórico, mas de dinamismo teológico; dará uma visão estática do sa
cerdote, visão anacrônica quando se consideram os acontecimentos ecumê
nicos dos nossos dias; não abrirá a porta para a evolução dramática
que já se opera no mundo contemporâneo e para as exigências excepcio
nais do sacerdote de amanhã. Por isso, propomos: a) O sacerdócio mi
nisterial não pode ser plenamente definido senão no contexto do sacer
dócio de tôda a Igreja. E’ um serviço para o bem do Povo de Deus.
Mas o sacerdócio de tôda a Igreja é absolutamente “sui generis” e não
pode ser definido como uma espécie de sacerdócio natural. Não é ape
nas cultuai, é missionário e dinâmico: o Povo de Deus é enviado ao
mundo para levá-lo ao Pai. A Igreja não é simplesmente x-oivovia
isto é, mistério de uma comunhão já efetuada. E’ meio de salvação e,
neste sentido, é dinâmica e missionária. Só será perfeita depois a
rutooiHJÚi. b) A vocação de todo o Povo de Deus se funda no pro-
pno mistério de Cristo. Mas, para que o Povo de Deus permaneça ie >
*.)eUí\ env’a a Hierarquia. O múnus essencial da Hierarquia consiste em
ingir a Igreja missionária que peregrina para o Pai como sacramen
de Cristo Pastor e Cabeça e não só^Redentor. c) Portanto, o sacerd .
ministro e essencialmente apóstolo, isto é, enviado, no sentido blbl,c0. r_
palavra: aquele no qual o próprio Cristo Pastor continua a sua oD
.acramentalmente. Não é dominador, mas ministro. Pela ordenaçao sa
cerdota! recebe a graça específica e o mandato para o desempenho dess
0 Ministério e a Vida dos Presbíteros 313
Concilio - V — 21
I. Crônica das Congregações Gerais
314
. „ , , „ P r e s e n t e s : 2 .220 . m o d e r a -
dor. Cardeal Suenens. A Santa Missa foi concelebrada por 5
Bispos. A sessão começou às 9 e terminou às 11,30. Continuaram
as votações sôbre 0 De Libertate Religiosa (motivo principal da
Congregação Geral de hoje), enquanto se faziam as últimas
intervenções postuladas sôbre 0 ministério e a vida sacerdotal.
No dia seguinte, 154? Congregação Geral, falou ainda sôbre o
mesmo assunto 0 Pe. Thomas Falis (cf. n. 333), intervenção
que, por motivos práticos, será inserida sôbre a rubrica de hoje.
Como as seguintes Congregações Gerais foram convocadas ape
nas para votações, delas se fará a crônica na parte especial.
Eis, pois, as últimas intervenções orais do Concilio:
328) Brien C. FOLEY, Bispo de Lancaster, na Inglaterra: Uma
particular atenção deve ser concedida ao modo de trajar do clero. A
veste pode variar de acôrdo com os lugares, mas deve ser sempre dis
tintiva de um estado, a fim de evitar falta de respeito dos fiéis para
com os seus pastores. Além disso, o texto atual quase limita o ministé
rio sacerdotal à Missa e aos sacramentos, quando seria oportuno incluir
os textos mais destacados da Santa Sé, dos Padres da Igreja e dos es
critos clássicos dos Santos, como, por exemplo, a “Regula Pastoralis”
de Gregório Magno. Devia-se também tratar de cada problema em par
ticular e das soluções que começam a nascer do apostolado nas gran
des cidades. Se, porém, tais considerações não cabem no atual esque
ma, seria desejável a redação de um Diretório ou de algo semelhante
para guiar os sacerdotes na execução de seu ministério. O exemplo de
São Carlos Borromeu poderia ajudar muito, neste sentido, os redatores
dos novos textos.
329) Armando FARES, Arceb. de Catanzaro, na Itália: A. nova^ re
dação do esquema agrada muito e será um otmio vade-nuuim h
a santidade e ministério de todos os sacerdotes. _c °ntudo, nad ^ ^
do sacerdote enquanto ministro do sacramento a FlK-nristia cen-
nação, além do poder sôbre o corpo real de Cristo na Ei
21*
316 I. Crônica das Congregações Gerais
fere ao sacerdote também o poder sôbre o corpo místico de Cristo. Per
doar pecados é um dos principais elementos dêste poder. Em vários
lugares o texto fala da Eucaristia, e com razão. Mas ninguém pode
participar da Eucaristia, se não estiver purificado do pecado mortal 0
que se obtém pela absolvição sacramental. Portanto proponho: a) Seja
declarado que em virtude da ordenação, o presbítero possui o poder
de perdoar pecados. O exercício dêsse poder, acompanhado da jurisdi
ção. contribui eficazmente para o bem das almas, b) O texto precisa
animar o sacerdote a desempenhar zelosa e fielmente a função de con
fessor, sinal da grande misericórdia de Deus. c) Recomende-se aos sa
cerdotes o estudo frequente da Teologia Moral, Ascética e Mística e
doutrinas correlatas, para que não se transformem em meros distribui
dores de absolvição, mas sejam pais, doutores, médicos e juizes das
almas, d) Louvem-se püblicamente aquêles que se dedicam em parti
cular à Direção Espiritual sobretudo de sacerdotes, religiosos e de tan
tos fiéis preocupados em tender à perfeição, como disse Pio XII na
“Menti Nostrae”. Entre os meios para a conservação da continência per
feita, acrescente-se “a confiança que se deve ter no Diretor Espiritual”.
Seria oportuno insistir sôbre a necessidade do Diretor Espiritual e da
confissão frequente. Perante os perigos modernos à santidade sacerdo
tal lembre-se a advertência do Senhor: “Vigilate et orate”. Para tanto
é necessário: exame de consciência diário, confissão sacramental ao me
nos quinzenalmente, retiro quase mensal, retiros anuais, ou ao menos
de três em três anos. Assim, o Concilio ajudará muito a perseverança
dos presbíteros na vida sacramental, segundo as palavras de Santo
Tomás: “é dada a muitos a graça e não lhes é dado nela perseverar”,
a não ser que da parte dos homens sejam empregados os meios neces
sários e perseverantemente.
330) Enrique PECHUÁN MARÍN, Bispo de Cruz dei Eje, na Argen
tina: A Virgem, Mãe do Sumo Sacerdote Cristo, é mãe também de to
dos os sacerdotes. Cristo recebeu a unção sacerdotal no momento da
Encarnação. Nossa Senhora participa, assim, de modo especial, no sa
cerdócio de Cristo, seu Filho, e no Sacrifício da Cruz. A Virgem^ pro
clamada Mãe de todos os cristãos, aclamada neste Concilio Mãe da
Igreja, pode ser declarada, com maior razão, Mãe de todos os sacerdo
tes que, com o sacramento da Ordem, unem-se de modo especial ao
Cristo Sacerdote. O texto deveria exprimir clara e completamente, as re
lações entre Maria e os bispos e os padres, apresentando Maria como
Mãe do Sacerdote e insistindo sôbre a particular devoção que o sacer
dote deve tributar-lhe.
331) Enrico COMPAGNONE, Bispo de Anagni, na Itana: m ca.-
gência da santidade para os sacerdotes (n* 11) constitui o centro e
tudo o que se diz no esquema. Depois que a Constituição Lumen Gen
Z/í/m determinou o lugar dos sacerdotes no Povo de Deus, depois que
o Decreto sóbre o Múnus pastoral dos bispos, definiu1 alguns direitos
.
sacerdote on presente esquema deve mm
e ofícios dos sacerdotes,
................ .. w | » » U IIU S >
com razão ocupar-se
| Jd M U ra i UOS D is p u s , U C IW U -
como sendo
ÍS» í
inferiores a<£ S qUC estudam C'e!^-'nCaridade)'
r í í í Í " ? r« r ,créri!^n-tada
arnente a Por
teologia passem
causa dist0-
(oral ou mesmn °S f‘xercem um ministério estritamente pas-
tração temporal ^ trabalham nos diversos serviços da adminis-
Se alguém achar que eu exagero, lícito me seja perguntar por que
c que os professores de seminários, mesmo de teologia, não raro rece-
bem um salano miserável; por que é que numerosas bibliotecas ecíe-
stasticas perecem à míngua de recursos financeiros? por que é que certas
faculdades são totalmente desprovidas desses auxiliares a que, na lin-
guagem universitária, se chamam assistentes, e que, mesmo trabalhando
oentificamente, cada um em sua própria disciplina, ajudam os profes
sores a desempenhar sua tarefa, e formam os estudantes nos métodos
da investigação crítica? por que é que tão poucos escritos monográfi-
cos são publicados para fazer progredirem as ciências sacras?
Não ignoro que muitas vêzes a Igreja é pobre. Entretanto, em paí
ses onde se afirma faltar dinheiro para promover os estudos teológi
cos, surgem cada dia novos edifícios suntuosos destinados a diversos
usos, e realizações consideráveis. Não lhes nego a utilidade, e, sem dú
vida, a necessidade, mas é de desejar que não se dedique menos cuida
do a facilitar o trabalho intelectual, sem o qual dificilmente pode a Igreja
florescer, ela que é coluna e sustentáculo da verdade. Infelizmente há
países “subdesenvolvidos” não só no plano econômico, mas também no
plano da atividade intelectual em matéria de teologia. A razão princi
pal disto reside, no meu humilde entender, não tanto na falta de meios
materiais quanto numa estima insuficiente da importância dos estudos e
da doutrina. Queremos esperar que o II9 Concilio Vaticano, que, em
numerosos domínios, já abriu novos caminhos que preparam tempos me
lhores para a Igreja de Deus, trará igualmente um grande desenvolvi
mento aos estudos sacros.
O período pòs-conciliar. Isso parece mui necessário para que o Con
cilio seja seguido de efeitos. Porquanto fàcilmente se podem prever dois
perigos opostos para o período pós-conciliar. Haverá a tentação de
atenuar as leis do Concilio que mudam os velhos costumes; em compen
sação, outros persuadir-se-ão de que tôdas as coisas antigas estão su
peradas, e que lhes é permitido lançar-se seja em que novidade fôr.
desde o momento que seja uma novidade. Para evitar êstes escolhos,
necessário será que os sacerdotes não sòmente sejam, humilde e fiel
mente, obedientes ao colaborarem generosa e alegremente com seu bis
po, não sòmente tenham uma vida interior vigorosa, que tudo encare
à luz da fé, mas igualmente tenham uma clara visão das questões e da
realidade histórica na qual devem êsses problemas ser elucidados e re
solvidos. E’ evidente que, para tudo isso, a Igreja, por certo, necessita
de numerosos leigos, mas sobretudo de numerosos clérigos possui o-
res de uma ciência sólida, os quais tenham recebido o mandato da igrt-
ja, e tenham portanto um senso verdadeiramente pastora. de modo, q
assim possam indicar os caminhos para que, mesmo sa' ' J l'ar“ n
a tradição veneranda dos Padres nas coisas essenciais e xternas, nenh
esforço se descure a fim de que essa trad.çao seja adaptada a=,
gências do nosso tempo.
320 I. Crônica das Congregações Gerais
STí) Thomas FALLS, Pároco do Sagrado Coração de Jesus, na Ar
quidiocese de Filadélfia, nos EE.UU. (texto completo): Veneráveis Pa~
dre^ Em nome dos Párocos e de todos os sacerdotes do mundo inteiro
agradeço reverente e respeitosamente a S. Santidade Paulo VI que com
Janta benevolência nos convidou a nós párocos a assistir às Congrega-
võe? Gerais dêste Concilio Ecumênico, principalmente àquelas em que sè
discutiu sôbre o ministério e a vida sacerdotal. Agradeço igualmente a
vós. Padres Conciliares, que com tanta benignidade nos recebestes e que
com tanta generosidade e sabedoria discorrestes sôbre êste Esquema
O Esquenta agrada-nos, a nós párocos, porque é clara a dstinção feita
entre o sacerdócio comum dos leigos e o sacerdócio ministerial dos pres
bíteros. E' oportuna também a recomendação veemente à vida e à mesa
comum que ajudam o sacerdote a cultivar melhor a vida espiritual e in
telectual. E' justa a exortação a que o sacerdote celebre cada dia a mis
sa. uma vez que a celebração eucaristica constitui o principal ministério
dos sacerdotes e o centro mesmo de tôda a vida da Igreja. O pedido de
se prover uma sustentação honesta aos sacerdotes, baseada numa remu
neração justa, segundo as condições de lugar e fundamentalmente igual
para todos os que se acham nas mesmas circunstâncias, é muito digna.
Para tanto, o Esquema poderia falar ainda com mais energia, dando re
gras mais firmes e concretas que obrigassem os Bispos a darem uma
remuneração adequada aos seus sacerdotes, para que êstes possam vi
ver dignamente. Assim cada sacerdote poderá melhor conformar a pró
pria vida ao espírito de pobreza, despertar com mais facilidade as voca
ções sacerdotais e gozar de uma justa segurança para tôda a vida.
Por fim, agrada-nos o que foi dito e escrito sôbre o celibato que deve
absolutamente ser observado, com a devida reverência aos nossos Irmãos
Orientais. Tudo isto merece a nossa aprovação.
Cremos necessário entretanto que a doutrina sôbre a natureza do
Presbiterato seja mais daramente explicada e desenvolvida no Esquema.
Para o desejado esclarecimento poderão talvez ser úteis os seguintes
pontos: I) O Sacerdócio dos Presbíteros configura-se ao único e sumo
Sacerdócio de Cristo, de modo que o Sacerdote pode ser justamente
chamado de “Alter Christus”. 2) Porque o Sacerdócio dos Presbíteros
é uma participação da função redentora que é própria de Cristo, esta
participação se realiza principalmente e, todos os dias, pelo Sacrifício
da Santa Missa, pela administração dos Sacramentos e pela pregaçao
do Evangelho. 3) Foram impostas as mãos aos Presbíteros para que
sejam cooperadores do Colégio Episcopal. O Sacerdócio dos Presbí
teros é por sua natureza subordinado ao Sacerdócio dos Bispos e e,
em certo modo, uma comunhão com êle, porque ambos participam 0
mesmo Sacerdócio de Cristo, do mesmo sacramento da Ordem e a
mesma missão, ainda que subordinadamente e em grau diverso. Median
te a Ordenação Sacerdotal é realizada a união com o Colégio Episcopa
e seu chefe, e os ofícios e ministérios sacerdotais propriamente ditos,
isto e o ministério da Eucaristia e dos outros sacramentos, o m,nl
terjo da pregação e de governar. Já que êstes ofícios e ministérios sa
conferidos para o serviço do Colégio Episcopal, não podem ser exer -
f 0*’ J* ar *U< ntíUre-Za’ senâo em comunhão com o Colégio dos Bisp ^
ee âmbito desta comunhão, a missão dos Presbite
universal quanto aos ofícios, quanto aos povos, quanto às necessidades
0 Ministério e a Vida dos Presbíteros 321
e se estendem à Igreja inteira, assim como é universal e se estende à
S S F Z S d° Colésio Episcopal. Corno „
íla ;=°nninhao
P<lei,-e rhierárquica
' t0S BlSp0S’
de cada
cada um P^sidindo
Presbítero sua Igreja
se efetua dio-
se man-
icm e se fortalece através da comunhão com o próprio Bispo.
Cremos também que a descrição da espiritualidade dos Presbíteros
deveria ser mais precisa; convém esclarecer particularmente a espiritua-
ídade dos padres diocesanos como diversa da espiritualidade tanto dos
Leigos, quanto dos Religiosos. A espiritualidade dos Presbíteros dioce
sanos deve responder às exigências de uma vida ativa entre os homens,
e ser endereçada sempre a Deus, num modo todo próprio. O Esquema
não indica suficientemente como estas obras do ministério sacerdotal
podem estimular e edificar a santidade sacerdotal. As virtudes evangé
licas se configuram diversamente no ministério dos Presbíteros e na
vida dos Religiosos. O texto deve, pois, evitar tôda concepção da vida
sacerdotal fundada na oposição entre vida exterior e vida interior. A
santidade sacerdotal consiste na união com Cristo que se realiza prin
cipalmente no ministério pastoral junto aos homens. O Esquema de
veria descrever as virtudes características dos padres em sua vida ati
va. Tais virtudes são as normas do Bom Pastor pronto a dar a vida
por suas ovelhas, a saber: zêlo ardente, solicitude pastoral para com
a salvação dos homens, o cuidado em evangelizar a todos, o amor por
todos (especialmente pelas crianças, pelos pobres e pelos pecadores),
a paciência e a humildade em consolar os homens, a flama do trabalho
apostólico e a perseverança nas dificuldades. Assim o Presbítero torna-
se um pai entre os filhos espirituais e não apenas irmão entre os ir
mãos. Ainda que tôda sua atividade se exerça entre os leigos, jamais
deve o Sacerdote possuir um espírito meramente secular. Todos os sa
cerdotes devem ter particular devoção ao Espírito Santo, a Jesus Cristo
Sumo e Eterno Sacerdote, e a Maria sua e nossa Mãe, Rainha dos Após
tolos e Rainha do Clero. Após o Concilio, os Bispos devem pôr em prá
tica seus decretos e constituições. Neste sentido os párocos e os sacer
dotes em geral serão de grande ajuda, enquanto prepararão o espírito
do povo para receber as decisões do Concilio. Para êste trabalho, nós,
párocos auditores, prometemos, em nosso próprio e em nome de todos
os Presbíteros, dedicar tôdas as nossas forças.
Terminados os debates foi feita a votação de sondagem: “Jul
gam os Padres Conciliares que o esquema De Ministério et Vita
Presbyterorum poderá servir de base para uma ulterior elabo
ração que tenha em conta as observações feitas oralmente ou
por escrito?” Naquela manhã do dia 26 de outubro estavam
presentes apenas 1.521 Padres Conciliares: 1.507 responderam
placet, 12 non placet e 2 entregaram votos nulos. E o esquema
voltou à Comissão para ser emendado.
Da 154» è 168» Congregação Geral
C o M A 153’ CONGREGAÇÃO
Geral terminaram os debates conciliares. Depois tivemos ainda
as seguintes Congregações Gerais:
27-10-1965: 154’ Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Agagianian. Presentes 2.240 Padres Conciliares. A sessão co
meçou às 9 e terminou às 11,20. Fizeram-se neste dia as últi
mas votações sôbre as emendas feitas no De Libertate Religio
sa. Sôbre esta e as outras votações se fará crônica especial em
outro capítulo. O discurso do Pe. Falis: cf. p. 320.
29-10-1965: 155’ Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Lercaro. Estavam presentes 2.240 Padres Conciliares. A sessão
começou às 9 e terminou às 11,40. Houve sete votações sôbre
os Modos admitidos no De Divina Revelatione (cf. pp. 384 ss).
Enquanto os Padres votavam, cantava na Aula Conciliar o côro
São João Dantasceno de Essen (Alemanha), executando seis can
tos da liturgia russa. Foi distribuído também uma medalha de pra
ta comemorativa da IV Sessão do Concilio. Comunicou-se que a
próxima Congregação Geral será apenas no dia 9 de novembro.
Até lá as Comissões terão que trabalhar a fim de corrigir os
esquemas sôbre a Liberdade Religiosa, a Igreja no Mundo dç
Hoje, as Missões e o Ministério e a Vida dos Presbíteros. Foi
anunciada também para o dia 18 de novembro nova Sessão
Pública.
9-11-1965: 156’ Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Doepfner. Padres Conciliares presentes: 2.152. A sessão come
çou às 9,30 e terminou às 12,30. A finalidade principal da Con-
gregação foi a votação do esquema sôbre o apostolado dos lei"
^ corrigido segundo os Modos sugeridos pelos Padres (c
pp. 361 ss). Enquanto os Padres votavam, foram lidas as relações
Da 154" à 1681 Congregação Geral 323
S“ u“ 'L“ ata m iZ aoficialmenle, d>S ,"<1"l*e“d
em Carta do “Papa
- Neste dia comeni.
ao Cardeal Tis-
nt, que o encerramento do Concilio será nos dias 7 e 8 de de
zembro prox^mo. Os Padres receberam o texto do esquema sô-
re as Missões, a relação introdutória e a relação geral sôbre
a reforma das Indulgências, e o texto do esquema sôbre o mi
nistério e a vida dos presbíteros
10-11-1965: 157* Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Suenens. Estavam presentes 2.224 Padres. A sessão começou
às 9,30 e terminou às 12,30. Continuaram as votações sôbre o
apostolado dos leigos e começaram os sufrágios sôbre o texto
emendado do esquema missionário, com o voto modificativo (cf.
pp. 394 ss). Enquanto os Padres votavam foram lidos os parece
res de algumas Conferências Episcopais sôbre a reforma da prá
tica das Indulgências. Avisou-se, porém, que não se tratava de um
debate propriamente conciliar. Far-se-á, por isso, sôbre o curioso
incidente em torno das Indulgências crônica à parte (cf. pp. 327-
340). Foi oficialmente comunicado que o Papa decidiu promulgar
a Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina na Sessão
Solene do próximo dia 18 de novembro.
11-11-1965: 158* Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Agagianian. Estavam presentes 2.204 Padres Conciliares. A ses
são começou às 9 e terminou às 12,25. Continuaram as votações
sôbre o esquema missionário e os pareceres das Conferências
Episcopais sôbre as Indulgências. O Secretário Geral explicou
minuciosamente o sentido da palavra “sessão”, tal como é usa
da no presente Concilio e esclareceu que, juridicamente, du
rante o presente Concilio tivemos dez Sessões Públicas, a sa
ber: 1* no dia 11-10-1962; 2* no dia 29-10-1963; 3* no dia
4-12-1963; 4* no dia 14-9-1964; 5* no dia 21-11-1964; 6* no
dia 14-9-1965; 7* no dia 28-10-1965; 8* no dia 18-11-1965;
9:l no dia 7-12-1965; 10* no dia 8-12-1965.
12-11-1965: 159* Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Lercaro Padres Conciliares presentes: 2.174. A sessão come-
cou às 9 e terminou às 12,35. Sua íinalidade principal era a
votação sôbre o texto corrigido e definitivo do documento so rt
o ministério e a vida dos presbíteros (cf. pp. 401 ss). Os parea-
res das Conferências Episcopais sôbre a reforma da prat.ca das
dulgências foram abruptamente mtcrrornpidos e seg d
são geral que se tinha, foram mesmo mterdítados. Os Padas
324 I. Crônica das Congregações Gerais
beram nesta manhã a segunda parte do texto emendado sôbre
a Igreja no inundo de hoje.
13-11-1965: 160- Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Doepfner. Estavam presentes 2.090 Padres Conciliares. A sessão
começou às 9,30 e terminou às 11,25. Continuaram as votações
sôbre o ministério e a vida dos presbíteros. Foi comunicada
também a decisão do Papa de promulgar solenemente no dia 18
dt novembro o Decreto sôbre o Apostolado dos Leigos. Distri
buiu-se esta manhã a primeira parte do texto emendado do es
quema sôbre a Igreja no Afundo de Hoje.
15- 11-1965: 161a Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Suenens. Estavam presentes 2.199 Padres Conciliares. A sessão
começou às 9 e terminou às 12,30. Começaram os sufrágios,
com o voto modificativo, sôbre o esquema De Ecclesia in Mun
do Ituius Temporis. A relação geral sôbre o texto revisto foi
lida por Dom Gabriel Garrone, Arceb. de Toulouse (França) e a
relação sôbre a exposição introdutória por Dom Marcos McGrath,
Bispo de Santiago de Veraguas (Panamá) (cf. pp. 409 ss).
16- 11-1965: 162a Congregação Geral. Afoderador: Cardeal
Agagianian. Estavam presentes 2.210 Padres Conciliares. A ses
são começou às 9 e terminou às 12,30. Continuaram as votações
sôbre A Igreja no Mundo Contemporâneo.
17- 11-1965: 163* Congregação Geral. Afoderador: Cardeal
Lercaro. Estavam presentes 2.261 Padres Conciliares. A sessão
começou às 9 e terminou às 12,30. Nesta manhã fizeram-se as
últimas votações, sempre com o voto modificativo, sôbre a Igre
ja no Afundo Contemporâneo. Hoje os Padres receberam tam
bém o texto definitivamente emendado da Declaração sôbre a
Liberdade Religiosa, a ser votado no dia 19-11. Foram dados
avisos sôbre a Sessão Pública de amanhã.
19-11-1965: 164* Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Doepfner. A sessão começou às 9,05 e terminou às 11,30. Os
2.264 Padres presentes votaram nesta manhã o texto definitivo
sôbre a Liberdade Religiosa (cf. pp. 392 ss). O Secretário Geral
deu avisos sôbre os próximos dias: Não haverá Congregação Ge
ral até o dia 30-11 (neste tempo trabalharão as Comissões), n°
dia 26-11 os Padres receberão em domicílio o texto do esquema
sobre as Missões (corrigido segundo os votos modificativos), 9ue
será votado no dia 30-11; no dia 2-12 será votado o texto defini
tivo sôbre o ministério e a vida dos presbíteros (os Padres
Da 154* à 168’ Congregação Geral 325
. N o MÊS DE OUTUBRO AS
Conferências Episcopais receberam dois projetos de documentos
pontifícios: sôbre a reforma da prática da penitência e das in
dulgências. Num primeiro ensaio de trabalho colegial extracon-
ciliar, o Papa solicitara os pareceres das Conferências Episco
pais acêrca dêstes dois projetos (ou “positiones”, segundo a
terminologia da Cúria Romana), que tinham sido elaborados pelo
pessoal dos respectivos dicastérios da Cúria Romana. Verificou-
se logo a total ausência, em ambos os esquemas, do espírito
que animara os documentos conciliares. Após quatro anos de
Concilio apresentavam-se projetos que poderíam perfeitamente
ter sido redigidos antes do Concilio. Com a mesma impiedade
com que no início do Concilio os Bispos bombardearam e re
jeitaram os esquemas da fase preconciliar, criticaram também
êstes dois projetos. Como a “positio” sôbre a disciplina peni
tencial não foi debatida em público, não poderá ser também
objeto da presente crônica. Mas a outra, sôbre as indulgências,
teve amplo e notório debate na própria Aula Conciliar.
No dia 9 de novembro, 156* Congregação Geral, enquan
to os Padres votavam o esquema sôbre o apostolado dos leigos,
com o fim de ocupar utilmente os votantes entre um e outro
sufrágio, foram lidos, primeiro, os relatórios oficiais sôbre a
reforma da prática das indulgências e, depois, os pareceres de
algumas Conferências Episcopais. Estas leituras continuaram no
dia seguinte e foram bruscamente interrompidas na 158* Con-
gregação Geral. Note-se que não se tratava pròpriamente de
um debate conciliar, pois o documento previsto seria apenas
pontifício, não conciliar. Por isso digo no título “debate para-
conciliar”. . „ ..,
A “Positio de Sacrarum Indulgentiarum Recogmtione .
tribuída na Aula Conciliar no dia 9-11-1965, era
328 I. C rô nica das C ongreg ações G e ra is
PRIMEIRA PARTE
1. Princípios teológicos acêrca das indulgências:
A) O cristão em estado de graça pode satisfazer pelos outros, a) O
pecado, como “aversio a Deo et conversio ad creaturas”, comporta além
da ofensa a Deus (culpa), que se redime mediante a absolvição sacra
mental, também uma desordem, que exige como reparação a aceitação
voluntária e a suportação de uma adequada pena temporal, b) E’ dogma
de fé que, mediante a remissão da culpa, nem sempre é remitida tôda
a pena temporal devida ao pecado. Afirma-o a Sagrada Escritura e con
firma-o a tradição de impor uma penitência para os pecados já remitidos
pela absolvição sacramental, c) E’ também dogma de fé que o homem
neste mundo, mediante obras penitenciais, pode satisfazer a pena tempo
ral devida ao pecado. Também esta afirmação encontra a sua confirma
ção na Sagrada Escritura e foi definida no Concilio de Trento. d) O
cristão na graça de Deus pode nesta vida satisfazer não só pelas pe
nas temporais devidas aos seus pecados, mas, também, pelos pecados
dos outros cristãos. Esta verdade está contida na doutrina de São Paulo
sóbre o Corpo místico, confirma-se na antiga prática penitencial (redu
ção do tempo de penitência pública infligida aos “lapsos” — isto é:
aos que tinham sacrificado aos ídolos em época de perseguição, em se
guida à intercessão dos confessores da fé) e litúrgica (oração de tôda
a Igreja em favor dos penitentes) e está intimamente ligada à doutrina
da comunhão dos santos, e) O cristão em graça pode satisfazer não
só por outros, que vivem ainda neste mundo, mas também por aquêles
que se encontram no purgatório. Esta afirmação deriva-se igualmen e
da doutrina da comunhão dos santos. Ela se encontra na Sagrada Es
critura e foi defendida em vários concílios, particularmente no de Trento.
E) A Igreja possui o tesouro dos méritos adquiridos por Cristo
e pelos santos. A existência dêste tesouro é afirmada claramente nos
documentos do Magistério Eclesiástico (Bula: Unigenitus Dei Filius de
Clemente VI, 1343; Cum postquam de Leão X, 1520) e encontra os seus
fundamentos nos méritos de Cristo extensivos aos homens, através dos
sacramentos sem jamais se esgotarem. Concedem-se também fora da
administração dos sacramentos. Aos méritos de Cristo juntam-se os d
Beata Virgem Maria e dos santos.
0 Debate Paraconciliar sôbre as Indulgências 329
j
espirito de piedade e o fervor dos fiéis; d) contribui para dar às in
, ------------------------ v a i m u Q , íavuJC L C U
remissão, oferecida f
complicado, nada se
22 *
332 I. Crônica das Congregações Gerais
referência, a remissão da pena correspondente ao fruto satisfatório pró-
prio de cada boa ação. Estabeleceu-se esta norma: a quantidade dà
remissão da pena, que a Igreja concede com a indulgência parcial, seja
exatamente igual à quantidade da remissão de pena correspondente ao
fruto satisfatório que o fiel adquire com a sua ação. Portanto, a nova
medida para a indulgência parcial pode ser indicada pela seguinte fór
mula ou outra semelhante: “A Autoridade Eclesiástica, concedendo in
dulgência parcial a uma oração ou boa obra, pretende acrescentar à re
missão da pena perante Deus que o fiel adquire com a sua ação,
a outra remissão pelo tesouro da Igreja”. Uma comparação pode utilmente
ilustrar a norma indicada. O fiel, que realiza uma ação, à qual está
concedida uma indulgência parcial, pode-se comparar — no que diz res
peito à remissão da pena temporal — a um operário que, executando
um trabalho, particularmente apreciado e urgente, recebe uma recompen
sa e, ao mesmo tempo, um prêmio, igual à própria medida. E’ assim
no caso da indulgência parcial, o fiel com uma única ação adquire uma
dupla remissão da pena temporal: uma adquirida com a sua ação e outra
presenteada pela Igreja.
li) A norma nova para a indulgência parcial oferece uma medida
completamente determinada e ao mesmo tempo admiràvelmente variada:
Na norma nova para a indulgência parcial, a medida da indulgência,
ainda que nos permaneça desconhecida, é plenamente determinada “in
se et obiective”. De fato, toma-se como medida, cada vez, o fruto sa
tisfatório e a conseqüente remissão da pena temporal duma ação par
ticular, realizada por um fiel, em circunstâncias determinadas. Segue-se
que a medida é completamente determinada, mas também, ao mesmo
tempo, admiràvelmente variada. As ações são como os rostos. E’ di
fícil que um rosto se pareça perfeitamente com outro. E também o
mesmo rosto pode apresentar feições diferentes. Assim são as ações.
E’ difícil a ação de uma pessoa ter o mesmo valor que a de outra. E
a mesma ação pode ser diversamente realizada pelo mesmo indivíduo.
Entre os valôres da ação existe também aquêle satisfatório. Se êste
varia, varia também a indulgência eventual. De qualquer modo, à remis
são da pena temporal, corresponde ao fruto particular satisfatório de
uma ação determinada, feita por um fiel determinado em circunstâncias
determinadas, acrescenta-se com a indulgência parcial, uma outra
perfeitamente igual — remissão da pena, retirada do tesouro da Igreja.
III) A norma nova para a indulgência parcial favorece o espirito
de piedade e fervor dos fiéis: O mérito principal da norma nova para
a indulgência parcial está no fato de se induzir o fiel a realizar as suas
açoes com reta intenção e com fervor de caridade para aumentar
além do mérito que permanece sempre o fruto mais importante da ação
o fruto satisfatório da mesma e a conseqüente remissão da pena
temporal, com a perspectiva feliz de se obter ainda, como presente,
uma remissão igual da pena, por parte do tesouro da Igreja. Na Pra"
íca atual, o fiel era facilmente levado a subestimar a importância a
penitencia pessoal, confiando na possibilidade de libertar-se, sem muito
es orço, as próprias dívidas, com a aquisição das indulgências. Segun
ao a pratica atual, quem oferecia seu trabalho com qualquer invocação
pie osa, ganhava 500 dias de indulgência. Quem oferecesse o seu tra
0 Debate Paraconciliar sôbre as Indulgências 333
balho, com maior nn mpnnr ,■ .
tinha influência sôbre a quantidad^i30' ma,°- °U menor íervor> não
satisfizesse às condições “saltem cor 3 remi8Sa° conced,f1a
contudo, a resignação e o fervnrV™
fervor têm ■ *, . . T<? ' ^om a norma
tidade da remissão___i
nm nracatifo que• . o fiel adquire
f e ^Quire'cnm"03
n > ,mportante, sôbr.e a
gressos da teologia.
338
I. Crônica das Congregações Gerais
aplicação das indulgências e as condições para lucrá-las, e pediu qUe
fôssem incluídos entre as obras de penitência os trabalhos da vida
apostólica.
Franziskus Kõnig: Os bispos da Áustria e da Alemanha apresentam
as seguintes observações e propostas para a Positio sôbre o problema
das indulgências: 1) O Documento merece louvor em vários pontos, quer
pela nova redação e simplificação, como também por causa do funda
mento teológico que o precede. 2) Contudo, a promulgação do Documen
to oferece dificuldades. Êle não parece ainda bastante maduro, porque
simplifica várias questões e não toma conhecimento do progresso teo
lógico dos últimos tempos. Fala de maneira acentuadamente jurídica e
a Sagrada Escritura não é sempre usada com muita exatidão. O Do
cumento se afasta do princípio fundamental, adotado pelo Concilio, se
gundo o qual nenhuma questão ainda disputada pelos teólogos deve ser
autoritativamente resolvida. 3) A teologia que o Documento usa como
fundamento é unilateral e cheia de lacunas. O Documento não adverte
que, na Idade Média, do perdão da penitência pública passou-se à In
dulgência. no sentido de remissão da pena, por parte de Deus. A na
tureza da pena temporal, imposta por Deus, não é claramente reconhe
cida e nem proposta em relação com o amor de Deus. Daí as dificul
dades na computação das Indulgências. O conceito “tesouro da Igreja”
é compreendido de modo demasiadamente quantitativo e material. A
alternativa entre jurisdição e intercessão é arbitrária. Aí está exatamente
um campo livre para a discussão teológica. Enfim, não dá a devida aten
ção às disposições subjetivas daquele que deve lucrar as Indulgências.
Dêsse modo, tem-se a impressão de que a eficácia das Indulgências seja
mais infalível do que o Sacramento da Penitência. O Documento pro
posto deve ser completamente reelaborado, por motivos históricos e ecumê
nicos. E o trabalho deverá posteriormente ser examinado por teólo
gos, especialmente teólogos dogmáticos.
julius Doepfner: Em nome da Conferência Episcopal dos bispos ale
mães e austríacos, foram feitas as seguintes observações: 1) 0 Objeto
das Indulgências: Na exposição teológico-histórica das Indulgências não
se dá a devida atenção à passagem, verificada desde o século XIII, de
plano do sinal e da coisa visível para o plano do significado e da coisa
invisível. No início, a Indulgência era o perdão ou a diminuição da pena,
imposta pela Igreja ao pecador como penitência pública, como, por exem
plo, a exclusão da comunidade eucarística e etc. A pena eclesiástica
recebida era como que um sinal sacramental do castigo temporal invi
sível devido ao culpado diante de Deus, assim como a reconciliação com
a Igreja, no Sacramento da Penitência, era o sinal e o penhor da re
cuperação da paz com Deus. Com efeito, desde a Idade Média, a Igreja
exerce uma influência sôbre o plano invisível da pena temporal deví a
a Deus. Esta passagem tem suas consequências na concessão das In u
gencias, especialmente na computação numérica. O perdão das Pena
eclesiásticas pode-se determinar exatamente. A Igreja pode também d '
clarar que ela deseja interceder por êste ou aquêle penitente. Contudo,
e astante difícil, se não impossível, uma computação exata da Pen
evi a a Deus. Se mesmo dentro do Sacramento da Penitência is 0 .
impossrvel, como se pode determinar, fora do Sacramento, a quantidade
o Debate Paraconciliar sôbre as Indulgências
339
de perdão da pena, diante de Deus? A dificuldadp «. *
quando se examina a essência das a« i! 1 , torna mais grave,
E ainda se tornam maiores, se se consideTa atrelar'8 "Pfenas ,emP°rais"-
dão da pena temporal e o amor dev id a Deu? A? °, per’
para as comparações quantitativas. A colaboração da fareS n ,T Ugar
mjssao da pena devida pode constituir-se no fato de e i ^udar ? n t ” '
çao e concretização do amor devido. O amor não se pode medfr b
titativamente. - 2) Natureza da colaboração daígreja a obtençãoT'
Indulgências: O conceito de “tesouro da Igreja", que a Igí^a posS
segundo o Documento, dá ocasião para uma concepção bastfnte materiaí
e comercial daquilo que acontece, quando se lucram as Indulgências.
De modo algum pode-se esquecer que as expressões “satisfação” por
parte dos homens, e “tesouro da Igreja” são conceitos humano-jurídicos
ou tiguras e, por isso, devem ser compreendidas só analógica e compa-
rativamente. A satisfação não é algo material, mas sim uma ação pes-
soal para eliminar um estado causado por uma ofensa e suas conse
quências. O tesouro é o próprio Deus, enquanto Êle aceita a interces
são da Igreja e o esforço do homem, e responde, tendo em vista os
méritos de Cristo e, através de Cristo, os méritos dos Santos. O “te
souro’ , assim compreendido, não é empregado apenas na anulação da
pena temporal. O Documento, na concessão das Indulgências, distingue
entre “per modum absolutionis” e “per modum suffragii”. Por motivos
internos parece impossível excluir, de início, aquela explicação que vê
nas Indulgências uma intercessão da Igreja. Na realidade, existe uma
intercessão não estritamente jurídica da Igreja e por outro lado é a in
tercessão da Igreja mais do que a intercessão de um homem qualquer.
E’, pois, a intercessão da Igreja, essencialmente santa, em favor de um
penitente. Contra a apresentação bastante individualista do Documento,
dever-se-ia lembrar que a Indulgência consiste essencialmente no fato de que
a Igreja intercede por seus membros ou filhos, como portadora de uma
mediação salvífica. A oração da Igreja para a remissão da pena tem
poral dos pecados ajuda, sem dúvida, o penitente, na sua salvação eter
na. Por causa da dignidade da Igreja e por causa da finalidade desia
oração, pode-se atribuir a ela um infalível atendimento, por parte^ de
Deus, ou como dizem os teólogos, uma ação “ex opere operato”. Con
tudo, o efeito em relação ao penitente em particular não é_ infalível,
uma vez que êle tem seus limites na ação livre e na cooperação do ho
mem. A concepção das Indulgências, como “oração autoritativa da Igre
ja”, fecha-nos o caminho para uma concepção teológica das Indulgên
cias e para a concepção do seu desenvolvimento histórico. Deve-se aludir
à concepção dogmática sôbre a Igreja, segundo a qual a Igreja “por
meio do amor, exemplo e oração coopera para a conversão dos peca
dores” — Conclusões: 1) A nova regulamentação das Indulgenua>,
na forma apresentada pelo Documento, não deve ser promulgada, pois a
ela se opõem dificuldades teológicas e inconveniências ecumen.cas. -> *
Comissão para a nova regulamentação das Indulgências
tada de modo considerável e, principalmente, composta de
em teologia dogmática, provenientes das diversa* ?s^ediatamente o seu
diversas nações. Esta nova Comissão deve imc • j o‘ rf0 ponto lie
trabalho e redigir um projeto, que nao possa ' ' e ' do para uma de-
vista teológico. 3) Êste projeto, que deve ser prepara P
340 I. Crônica das Congregações Gerais
claração ou definição papal, não deve conter apenas diretrizes prática
mas deve esclarecer, de modo breve e apropriado, a doutrina católir
sôbre as Indulgências. Deve-se cuidar para que os fiéis não se esca
dalizem com essas novas determinações. Na parte expositiva do D
eumento, deve-se mostrar como o conteúdo essencial da Tradição °*
conservou e, ao mesmo tempo, apareceu uma nova regulamentação se£n,Se
do o espírito do Concilio Vaticano II. Para a elaboração das norm
práticas, devem-se tomar em consideração as respostas das Conferén
cias Episcopais a cada pergunta particular do Documento.
Esta exposição do Cardeal Doepfner foi muito aplaudida
pelo plenário. Mas também foi o último parecer apresentado Na
Congregação Geral seguinte o Secretário Geral do Concilio Mons
Felici, depois de revelar que seus avisos são dados sempre “em
nome da competente autoridade”, pediu aos Presidentes das
Conferências Episcopais que apresentassem suas opiniões por es
crito; disse ainda que certos pontos doutrinários expostos na
Aula não poderíam ser aceitos sem reservas; e que as Confe
rências Episcopais não tinham sido convidadas para expor suas
opiniões sôbre a doutrina ou teologia das indulgências, mas
apenas sôbre sua prática... Eis, pois, o mais estranho e inacre
ditável de todo êsse curioso incidente: mesmo após quase qua
tro anos de Concilio julgou-se possível estruturar uma nova dis
ciplina jurídica das indulgências sem atender à subjacente dou
trina teológica.
Crônica
das Emendas e Votações
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina
T a l v e z se ja c o n v e n ie n t e
recordar sumàriamente o sistema de votações adotado pelo Va
ticano II. Cada documento passa essencialmente por quatro di
ferentes tipos de sufrágios: 1) Terminados os debates gerais
de um esquema, faz-se uma espécie de votação de sondagem,
para a orientação dos trabalhos da Comissão. Esta votação não
tem grande valor formal ou jurídico, mas é de extrema impor
tância para a direção geral que a continuação dos trabalhos deve
tomar. 2) Corrigido ou, por vêzes, totalmente refundido o tex
to, sempre segundo as intervenções orais ou escritas feitas pelos
Padres Conciliares, o esquema é submetido a uma minuciosa
votação de cada uma de suas principais afirmações ou resolu
ções. Êste é, de per si, o momento mais importante da ação
conciliar, na qual os Padres desempenham formalmente sua fun
ção de “juizes da fé”. Cada capítulo, além dos sufrágios par
ciais por “placet” e “non placet”, é submetido a uma votação
geral que permite o voto modificativo (“placet iuxta modum”),
que pode ser de grande importância e valor para as últimas cor
reções que, em muitíssimos casos, foram sumamente úteis para
o real aperfeiçoamento do texto. 3) Reemendado à luz dos vo
tos modificativos, o esquema é reimpresso e as principais mo
dificações aceitas pela Comissão são submetidas ao sufrágio do
plenário por “placet” ou “non placet”; também para as respos
tas dadas pela Comissão aos ‘modos’ não aceitos pede-se a opi
nião global (para cada capítulo) dos Padres. E’ êste, outra vez,
um ponto alto da ação propriamente conciliar ou magisterial.
4) Votação final e formalmente solene, perante o Papa, de todo
o documento, momentos antes de sua promulgação.
Sôbre a longa e agitada história dêste documento, cf. vol.
IV, pp. 93-123. Terminados os debates na 95* Congregação
Geral, no dia 6-10-1964 (durante a III Sessão), a Comissão
344
II. Crônica das Emendas e Votações
Teológica iniciou imediatamente o trabalho de correção do tex
to. A revisão dos capítulos I-II foi confiada a uma Subcomissão
constituída pelos Padres Conciliares Florit (como Presidente),
Pelletier, Heuschen e Butler; e pelos Peritos Tromp, Philips,
Cerfaux, Schmaus, Schauf, Moeller, Congar, Salaverri, Trapé,
Betti (que foi o relator do cap. 1) e Smulders (relator do cap.
11). Os outros capítulos, menos delicados, foram revistos pelos
Bispos Charue e van Dodewaard e pelos Peritos Grillmeier (re
lator do cap. III), Kerrigan (relator do cap. IV), Rigaux (re
lator do cap. V), Semmelroth (relator do cap. VI), ajudados
por outros. Verificou-se que durante os debates (no ano pas
sado) o esquema tinha recebido louvores bastante generaliza
dos, por ao menos 45 Oradores, que falaram em nome de 297
Padres. Louvou-se seu modo de falar positivo, escorreito, cla
ro; sua estrutura orgânica, bem ordenada, equilibrada; sua dou
trina firme, bem ponderada, haurida da S. Escritura e da Tra
dição antiga; seu conceito cristocêntrico e personalístico da re
velação; e o modo como ficara resolvida a questão das rela
ções entre Tradição e Escritura. Mas houve também propostas
de emendas, algumas das quais melhoraram notàvelmente o tex
to, como se verá adiante. O esquema assim emendado e reim-
presso foi entregue aos Padres Conciliares no dia 20-11-1964,
127» Congregação Geral, que era também a última da III Ses
são, com a promessa de ser votado no início desta IV Sessão.
A votação começou efetivamente na 131* Congregação Ge
ral, dia 20-9-1965, segundo um especial “Kalendarium Suffraga-
tionum” distribuído alguns dias antes, que previa um total de
20 sufrágios para todo o documento. Os sufrágios continuaram
nos dias 21 e 22 de setembro.
/* votação, dos nn. 1 (que é o proêmio) e 2 (que fala da
natureza e do objeto da revelação). Não há, no nôvo texto,
emendas de especial importância. Apenas, talvez, a modifica
ção da expressão “doctrinam et rem verbis significatam” para
“doctrinam et res verbis significatas”, a fim de exprimir melhor
a analogia da S. Escritura com os sacramentos. O texto foi
aprovado por 2.175 contra 19, sôbre 2.199 votantes, com 5 vo
tos nulos.
v°toção, dos nn. 3 (sôbre a preparação da revelação
evangélica) e 4 (sôbre Cristo como consumador da revelação).
o texto corrigido do n. 3 ensina-se agora mais claramente a
vontade salvífica universal de Deus. Alguns haviam pedido que
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina
345
P or o c a s iã o do debate,
no ano passado, o esquema sôbre o apostolado dos leigos foi
bastante criticado. Os 67 discursos então pronunciados na Aula
Conciliar foram quase todos desfavoráveis ao texto (cf. vol.
IV, pp. 124-153). Tivessem promovido a votação de sondagem
no final do debate (pois fêz-se apenas uma ligeira indagação,
já depois da quarta intervenção oral, acêrca da oportunidade
de continuar a discussão sôbre o esquema; ao que os Padres
deviam responder mediante o gesto de levantar-se ou ficar sen
tados, cf. vol. IV, p. 124), creio que o texto não teria recebido
a necessária maioria de dois terços. Assim, pois, o esquema voi-
tou à Comissão apenas para ser emendado, não para ser refei
to. Mas a Comissão de fato fêz um trabalho bastante radical
e apresentou um texto pràticamente nôvo, que foi remetido aos
Bispos em julho último, não para ser mais uma vez debatido na
Aula Conciliar, mas apenas para ser agora sufragado, também
com o voto modificativo. Esta votação começou no dia 23-9-65.
134» Congregação Geral. Antes, porém, o esquema foi apresen
tado pelo Relator, Dom Hengsbach, Bispo de Essen, na Ale
manha. Disse que se trata de um complemento de caráter prá
tico da Constituição Dogmática Lumen Gentium; e que se teve
em consideração também o esquema sôbre a Igreja no mundo
de hoje (do qual a mesma Comissão é co-autora, juntamente
com a Comissão Teológica). “Via — exclamou o Relator —
longa, difficilis et contorta erat”.
O esquema foi submetido a 22 diferentes sufrágios, segundo
um “Kalendarium Suffragationum” prèviamente elaborado e dis
tribuído: seis no dia 23-9-65, oito no dia 24-9-65 e oito no dia
27-9-65:
l 9 votação, do n. 1, que é o proêmio. Exprime-se agoia
mais claramente a conexão lógica dêste documento com a Lumen
358 II. Crônica das Emendas e Votações
Gentium, o nexo entre a vida cristã e o apostolado (“apostola-
tus ex ipsa christiana vocatione oritur”, não do ‘mandato’) e a
crescente consciência que os leigos têm da própria responsabi
lidade. E’ enunciada também a intenção (a “mens”) do Conci
lio neste Decreto. O texto foi aprovado por 2.213 contra apenas
5 e 1 voto nulo.
2* votação, dos nn. 2 (da participação dos leigos na mis
são da Igreja) e 3 (do fundamento do apostolado dos leigos).
O n. 2 foi bastante ampliado e o n. 3 é totalmente nôvo. São
textos ricos, que darão aos leigos os motivos teológicos para
seu apostolado. Tudo foi aprovado por 2.205 contra 18 e 2
votos nulos.
3* votação, do n. 4, também inteiramente nôvo, sôbre a
espiritualidade dos leigos como fundamento do apostolado. Belo
texto aprovado por 2.185 contra 19 e 2 votos nulos.
4* votação, global, sôbre o proêmio e o cap. I, permitindo
o voto modificativo: sôbre 2.130 votantes: 1.904 placet; 213
placet iuxta modum; 8 non placet; e 5 votos nulos.
5Ç votação , dos nn. 5 (introdução ao cap. II, que trata da
finalidade do apostolado dos leigos) e 6 (que fala do apos
tolado de evangelização e santificação). O n. 5 recebeu redação
inteiramente nova e é agora menos escolástico e mais pastoral,
conforme declara a Relação. Comunica também a Relação que a
Comissão não aceitou a proposta de um Padre segundo a qual
o apostolado dos leigos é simplesmente colaboração no apos
tolado hierárquico. Também o n. 6 recebeu redação nova e am
pliada e declara agora do modo explícito que os leigos devem
dedicar-se também ao apostolado de evangelização (e não ape
nas de testemunho): “verus apostolatus quaerit occasiones
Christum verbis annuntiandi. . . ” Apesar do subtítulo, pouco na
realidade diz o texto acêrca do apostolado de santificação a ser
exercido pelos leigos. Os parágrafos foram aprovados por 2.025
contra 9.
votação, do n. 7, sôbre a restauração da ordem cristã
nas coisas temporais. E’ um texto longo, fundamental, com nova
redação. Entra no apostolado específico dos leigos: o de anima
ção da ordem temporal. Nota a Relação que a Comissão evitou
a expressão “consecratio mundi”, por ser equívoca. O texto é
concreto na descrição e enumeração dos elementos que perfazem
a ordem temporal”. Fala-se agora também da ação social dos
cristãos como apostolado. O parágrafo foi aprovado por 2.068
contra 8 e 1 voto nulo.
0 Decreto sôbre o Apostolado dos Leigos 359
7\ votação, do n. 8, sôbre a ação caritativa como sinal ou
distintivo do apostolado cristão. Texto muito aumentado e emen
dado. A ação caritativa não deve ser considerada como um nôvo
tipo de apostolado, ao lado de evangelização e animação, mas
como a alma de qualquer apostolado cristão. Um dos Padres
pedira declarar que a ação caritativa, para que receba a fôrça
de apostolado, deve ser ordenada “ad regnum Dei promoven-
dum”. Sugestão que a Comissão não aceitou declarando, pelo
contrário, que a ação caritativa “ex seipsa habet valorem aposto-
licum” e não apenas como instrumento ou ocasião de evange
lização. O nôvo texto, piedoso, bíblico e prenhe, foi aprovado
por 2.163 contra 8 Padres Conciliares.
8* votação, sôbre todo o cap. II: votantes: 2.167; placet:
1.975; placet iuxta modum: 190; non placet: 2.
9* votação, dos nn. 9 (de introdução ao cap. III, sôbre os
vários campos do apostolado) e 10 (sôbre a ação apostólica
dos leigos na paróquia). Do texto anterior nada ficou na nova
redação, que foi aprovada por 2.161 contra 8 e 3 votos nulos.
10* votação, dos nn. 11 (sôbre o apostolado na própria
família) e 12 (sôbre os jovens). O n. 12 é inteiramente nôvo e
o n. 11 foi de tal maneira ampliado e modificado que nêle não
se descobre mais o texto anterior. Tudo foi aprovado por 2.145
contra 14 e 3 votos nulos.
11* votação, dos nn. 13 (sôbre o apostolado no ambienie
social) e 14 (sôbre o apostolado em âmbito nacional e inter
nacional). Também nestes parágrafos nada ficou do texto an
terior. Foram fàcilmente aprovados por 2.065 contra 6 e 2
votos nulos.
12* votação, do conjunto do cap. III. Presentes: 2.023;
placet: 1.707; placet iuxta modum: 311; non placet: 4; vo
to nulo: 1.
13* votação, dos nn. 15 (de introdução ao cap. IV, sôbre
os vários modos de apostolado), 16 (sôbre a importância e a
variedade do apostolado, livre e individual) e 17 (que considera
algumas circunstâncias especiais para o apostolado individual).
Os nn. 15 e 17 são totalmente novos e o n. 16 recebeu nova
redação. Alguns Padres haviam reagido contra uma excessiva
acentuação das formas organizadas de apostolado, com grave
prejuízo para as formas livres, individuais ou paroquiais. O nôvo
texto valoriza agora devidamente também o apostolado livre e
individual, enumerando até algumas formas concretas dêste tipo
de apostolado, tornando a insistir no apostolado da Pa avra,
360 II. Crônica das Emendas e Votações
que os leigos devem professar, difundir, explicar e defender.
Há referência também ao valor apostólico da penitência e das
dificuldades da vida que, segundo o nôvo texto, devem ser “li
vremente aceitas” e não mais “humildemente toleradas”, como
dizia a redação anterior. Apenas 3 Padres, sôbre 1.975 votan
tes (os outros 200 que não votaram já estavam nos bares)
deram voto negativo e 3 anularam o voto.
14? votação, dos nn. 18 (sôbre a importância das formas
organizadas de apostolado dos leigos) e 19 (sôbre a multipli
cidade de formas no apostolado associado). A argumentação
em favor das formas associadas era no texto anterior muito su
perficial e extrínseca, tirada mais da eficácia do apostolado que
da natureza do homem e do cristão. Agora insiste-se mais na
“communio” e na vontade de Cristo. O nôvo texto do n. 19 é
também mais explícito na afirmação da liberdade dos leigos na
fundação e direção das associações. Também êste texto foi apro
vado por 2.013 contra apenas 8 votos.
15? votação, do n. 20 (que fala da Ação Católica), 21 (sô
bre o respeito que se deve ter às outras associações) e 22
(sôbre os leigos que por algum título especial se dedicam ao
serviço da Igreja). O n. 20 recebera numerosíssimas propos
tas de emendas. Mas, como eram entre si contraditórias, oferece
ram um jôgo fácil à Comissão: o texto ficou como estava. Assim
o parágrafo mais discutido é o menos modificado. Também os
nn. 21 e 22 receberam poucas emendas. Tudo foi aprovado por
2.104 contra 35 mais 4 votos nulos.
16? votação, de todo o cap. IV. Sôbre 2.128 votantes hou
ve: 1.834 placet; 287 placet iuxta modum; e 7 non placet.
17? votação, dos nn. 23 (introdução ao cap. V, sôbre a
necessária ordem a ser observada no apostolado dos leigos),
24 (sôbre as relações com a Hierarquia) e 25 (sôbre o auxí
lio que o clero deve prestar ao apostolado dos leigos). O n. 23
é quase todo êle nôvo, mas nada tem de especialmente notá
vel. Os nn. 24 e 25 receberam pequenas correções. A pala
vra “mandato” ficou, mas sem a intenção de dirimir as ques-
íões conexas e discutidas (“quas dirimere Commissio non inten-
dit ). No n. 25 desapareceu o tom paternalístico da redação
anterior: Os Bispos devem agora trabalhar “fraternalmente” com
os leigos; devem estar em “contínuo diálogo com êles” . . . 2.123
Padres Conciliares aprovaram o texto, 11 o rejeitaram e 5 en
tregaram votos nulos.
0 Decreto sôbre o Apostolado dos Leigos 361
/S? votação, dos nn. 26 (sôbre alguns meios para uma mú
tua cooperação) e 27 (sôbre a cooperação com os outros cris
tãos e os não-cristãos). As novas modificações não são notá
veis. E’ apenas interessante que os não-católicos agora são cha
mados simplesmente “outros cristãos” : “ . . . exigunt coopera-
tionem catholicorum cum aliis christianis”. Também aqui houve
2.121 placet e apenas 18 non placet.
19* votação, sôbre todo o cap. V: 1.894 placet, 230 placet
iuxta modum, 9 non placet e 7 votos nulos.
20* votação, dos nn. 28 (sôbre a necessidade da formação
para o apostolado), 29 (sôbre os princípios desta formação)
e 30 (sôbre os que devem dar a formação). Todo êste cap.
VI é pràticamente nôvo (antes havia apenas um pequeno pará
grafo sôbre êste assunto). Foi aprovado por 2.063 contra 17.
21* votação, dos nn. 31 (sôbre a adaptação da formação às
várias formas de apostolado), 32 (sôbre os meios para a for
mação) e 33 (exortação final). Tudo nôvo, menos o último pa
rágrafo, que no entanto foi aumentado com um apêlo aos jo
vens. Sôbre 2.020 votantes houve 2.012 placet, 5 non placet
e 3 votos nulos.
22* votação, de todo o cap. VI: 1.865 placet, 143 placet
iuxta modum, 3 non placet e 5 votos nulos.
Apesar da novidade do texto, todo o documento foi. pois.
fàcilmente aprovado pela Congregação Geral. Voltou à Comis
são para novas correções sugeridas pelos 1.374 votos modi-
ficativos.
O texto definitivamente emendado foi entregue aos Padres
no dia 29-10-65, num grosso fascículo de 141 páginas, contendo
também os Modos com a resposta que a Comissão lhes deu.
Houve cêrca de 150 correções, geralmente de clareza e preci
são no estilo, de ordem lógica e de latim. Todos os textos es-
criturísticos foram mais uma vez revistos por exegetas. A Co
missão pediu para cada capítulo o parecer dos Padres por “pla
cet” e “non placet”. O que foi feito nos dias 9 e 10 de novem
bro, 156* e 157* Congregação Geral:
Proêmio e cap. 1: Alguns Padres propuseram que na fun
damentação do apostolado se atendesse mais à SS. Trindade, à
Igreja e ao Mistério Pascal. A Comissão admitiu as sugestões.
Na nova redação declara-se agora simplesmente: “Vocatio chris-
tiana, natura sua, vocatio quoque est ad apostolatum". Na ultima
alínea dêste cap. 1 ensina-se que Maria Santíssima operi a -
Concilio - V — 2A
362 II. Crônica das Emendas e Votações
vatoris singulari prorsus modo cooperata est”. A alínea sô
bre os carismas, no n. 3, foi bastante bombardeada pelos Modos.
A Comissão não só manteve o texto (como era de seu dever,
pois já tinha a aprovação da Congregação Geral) mas até o
reforçou omitindo o “quandoque etiam” (“Spiritus S anctus.. .
quandoque etiam fidelibus peculiaria tribuit dona”). — Sôbre
2.127 votantes, houve 2.117 placet, e 10 non placet.
Cap. II: Quanto ao conceito de “apostolado” alguns Padres
pediram que na descrição da relação entre o apostolado de evan
gelização e santificação e o de animação cristã da ordem tem
poral se distinguisse mais claramente entre a ordem civil e a
ordeni eclesial. A Comissão tentou agora um modo de expres
são mais claro, mas não quis voltar à terminologia que distingue
entre apostolado em sentido próprio e impróprio, direto e indi
reto. O n. 8 sublinha mais uma vez que a ação caritativa, em
bora tratada em parágrafo especial, não é nem deve ser con
siderada como uma forma distinta de apostolado, mas é o fun
damento de todo e qualquer tipo de apostolado. Sem caridade
não há apostolado cristão. Neste, como também no cap. I, ha
via muitos Modos que queriam fazer depender o apostolado dos
leigos de uma prévia aprovação ou missão da parte da autori
dade eclesiástica. Mas a Comissão sempre quis deixar claro que
os leigos recebem de Deus a missão ao apostolado e não da
Igreja ou mediante a Igreja e por isso respondeu invariavel
mente “non admittitur”, remetendo, todavia, ao menos algumas
vêzes, ao cap. V, no qual se fala das relações com a hierarquia.
Um Modo pediu a omissão da primeira e segunda alínea do
n. 7, porque “sapit Teilhardismum”. A Comissão respondeu:
“Textus exprimit doctrinam traditionalem Ecclesiae”. Dois Pa
dres pediram que na 4* alínea do n. 7 se omitissem as palavras
“tamquam proprium munus assumere et in e o . . . ” A Comissão
manteve o texto e respondeu que na ordem temporal os leigos
“primas partes habent”. — O capítulo foi aprovado por 2.099
contra 16 votos e 1 nulo.
Cap. III: No n. 9 fala-se agora mais amplamente da par
ticipação das mulheres no apostolado da Igreja, com uma inte
ressante motivação: “cum nostris diebus mulieres magis ma-
gisque partes activas habeant in tota societatis v i ta ...” No
n. 11, por sugestão de 279 Padres, inseriu-se um belo texto
sôbre a família cristã. No n. 12, a pedido de 65 Padres, fala-se
agora também do apostolado das crianças. — Aprovado por
2.075 contra 12 votos.
0 Decreto sôbre o Apostolado dos Leigos 363
Cap. IV : No n. 16 houve uma correção de certa importân
cia. Na redaçao anterior se dizia: “Laici (Christi) doctrinam
profitentur, diffundunt, enucleant ac defendunt secundum suam
quisque condicionem et peritiam” ; agora é assim: “Laici (Christi)
doctrinam enucleant, diffundunt secundum suam cuiusque con
dicionem ac peritiam, et eam fideliter profitentur”. Omitiu-se a
idéia da “defesa”, pois argumentaram os 8 Padres que fize
ram esta proposta, “professio fidei est aliquid magis positivum
ac defensio et illam etiam includit”. Vários foram os Modos
contrários à primeira frase da última alínea do n. 19: “Debita
cum auctoritate ecclesiastica relatione servata, ius est Jaicis con-
sociationes condere et moderari conditisque nomen dare”. Mas
a Comissão não mudou uma palavra. Muitíssimos foram os Mo
dos para o n. 20, que fala da Ação Católica. Declara a Relação
que, embora a questão já tenha sido discutida inúmeras vêzes
no seio da Comissão, em vista do grande número de Modos
agora tudo foi mais uma vez ponderado à luz das novas suges
tões feitas pelos Padres Conciliares. Mas ficou decidido deixar
o texto como estava, com exceção de apenas duas palavras,
que nada mudaram no sentido do texto. — Aprovado por 2.061
contra 14 e 1 voto nulo.
Cap. V: Alguns Padres solicitaram que o texto determi
nasse mais as questões jurídicas. Considerando, porém, a gran
de diversidade das regiões, não pareceu oportuno descer a de
terminações particularizadas. Não houve correções notáveis nes
te capítulo. — Aprovado por 2.089 contra 8 Padres Conciliares.
Cap. VI: Poucas emendas. A mais importante é a que cor
rige o texto sôbre a formação apostólica dos que não freqüen-
tam escolas católicas. Cêrca de 60 Padres viam no n. 31 res
quícios de triunfalismo, paternalismo e farisaísmo e um tom ex
cessivamente apologético. A Comissão purificou o texto. —
Aprovado por 2.100 contra 6 votos e 3 nulos.
Foi então sufragado o conjunto do esquema, com o seguinte
resultado: placet: 2.201; non placet: 2; votos nulos: 5. Apro
vado definitivamente pela Congregação Geral, o texto foi en
tregue ao Papa Paulo VI, que decidiu promulgá-lo solenemente
no dia 18 de novembro de 1965. Submetido, então, mais uma
vez, a uma votação geral, sôbre 2.342 votantes, recebeu 2.o40
placet e, outra vez, 2 non placet. E foi aprovado e promulgado
pelo Chefe do Colégio Episcopal.
24»
o Decreto sôbre o Múnus Pastoral dos Bispos
T am bém ê ste d o c u m en to
já tem sua história. Debatido durante a II Sessão, com 149
discursos (cf. vol. III, pp. 226-301) e durante a 111 Sessão,
com mais 39 intervenções orais (cf. vol. IV, pp. 42-56), foi
corrigido e votado nos dias 4-6 de novembro de 1964. Nesta
ocasião o texto foi bombardeado com numerosos votos modifi-
cativos: 852 para o cap. I; 889 para o cap. II; e 469 para o
cap. III (cf. vol. IV, pp. 446-452). O texto então revisto pela
Comissão foi distribuído aos Padres no dia 16-9-65, num gros
so fascículo de 127 páginas que, além das Relações oficiais, dá
também as respostas da Comissão aos Modos não aceitos. No
dia 29-9-65, 138’ Congregação Geral, a Comissão apresentou
ao plenário do Concilio 16 quesitos relacionados com as mo
dificações introduzidas no cap. I (o proêmio recebeu apenas al
guns retoques sem im portância):
1- quesito: Se os Padres Conciliares aceitam a modifica
ção feita no n. 4. Trata-se de um texto nôvo, proposto por mais
de 700 Padres, e que resume a doutrina da Lum en G entium acêr
ca dos Bispos e termina declarando que todos os Bispos que
são membros do Colégio Episcopal (portanto também os mera
mente titulares) têm o direito de tomar parte no Concilio. O
nôvo texto foi aprovado por 2.160 contra 22 Padres.
2- quesito: Se agrada a nova formulação do n. 5, sôbre o
Sinodo Episcopal. Êste texto foi entregue apenas na véspera. Pois
o Papa já se antecipara, com o motu-proprio Apostólica Sollici-
tudo do dia 15-9-1965. A nova redação declara que êste Sinodo
significa a participação de todos os Bispos na hierárquica comu
nhão de solicitude pela Igreja Universal. Também aqui houve
8 votos contrários, 3 nulos e 2.171 favoráveis.
3a quesito : Se agrada a correção feita no n. 8. Trata-se de
uma modificação de grande importância. Êste parágrafo fala do
0 Decreto sôbre o Múnus Pastoral dos Bispos 365
poder próprio ordinário e imediato do Bispo na diocese Até
agora este poder era regulado sobretudo por “faculdades be
nignamente concedidas pela Santa Sé”. Contra semelhante pro
cesso, muitas vêzes arbitrário e até ridículo, houve fortíssima
reação na Aula Conciliar (cf. vol. III, nn. 329, 334, 335, 338,
341, 345, 346, 358, 363) e muitos oradores pediram a restaura
ção pura e simples dos podêres episcopais. Mesmo contra o tex
to apresentado em 1963 podia Dom Fernando Gomes dos San
tos, Arceb. de Goiânia, levantar a seguinte grave acusação:
“A perspectiva do esquema é ainda a de Bispos meros vigários,
não só do Papa, mas das próprias Congregações Romanas, das
quais inteiramente dependem nas mínimas coisas” (cf. vol. III,
p. 236). E pedia então, em nome também de 60 outros Bispos
brasileiros: “Reconhecimento explícito de que, longe de só po
derem os Bispos o que lhes é expressamente facultado, só não
poderão êles o que haja por bem o Sumo Pontífice reservar a
si pessoalmente” (ib. p. 237). E’ exatamente isto o que encon
tramos agora no n. 8. Mas o nôvo texto não veio de graça. Na
redação apresentada à discussão na III Sessão o texto dizia
que os Bispos têm tudo quanto “exercitium eoruin muneris pasto-
ralis expostulat”. Depois do debate a redação foi enfraquecida
para “ . . . quam eorum munus pastorale expostulat”. Sôbre esta
infeliz correção incidiram então 619 votos modificativos pedindo
a volta do texto anterior. Por isso a nova redação diz agora:
“ .. . quam ad exercitium eorum muneris pastoralis requiritur”.
O que é certamente mais claro e mais amplo. 2.144 contra 18
Padres aprovaram as emendas.
4? quesito, sôbre as modificações inseridas na alínea b do
n. 8. Os mesmos 619 Padres haviam pedido ainda que em lugar
de "habent auctoritatem” se dissesse “exercent auctoritatem”.
Também isto foi aceito pela Comissão no texto corrigido. Neste
mesmo inciso entrou ainda outra emenda importante: Dizia o
texto anterior que os Bispos podem dispensar das leis gerais
da Igreja “dummodo agatur de re in qua Sedes Apostólica dispen-
sare solet”. Era uma fórmula excessivamente genérica e perfei
tamente inútil: pois se os Bispos podem dispensar em matéria
não reservada, jamais ficarão sabendo quais são estas matérias
dispensáveis. Por isso cêrca de 600 Bispos pediram a omissão
dêste inciso. O que também foi aceito pela Comissão. Mas o
texto continua com uma formulação final assim modificada. —
nisi a Suprema Ecclesiae Auctoritate [isto é: o Concilio Ecume
3òô II. Crônica das Emendas e Votações
nico e o Papa] speciaüs reservatio facta fuerit”. O plenário apro
vou a correção por 2.115 contra 22 votos.
5 » quesito: se agrada a correção do n. 9. Êste número fala
da refornia da Cúria Romana. Durante os debates mais de uma
vez houve referências também aos Núncios Apostólicos e suas
competências, cujos limites nem sempre pareciam suficientemen
te bem circunscritos. Mas o texto insistia em não falar de assun
to tão delicado; apenas a Relação fazia sumárias referências
(cf. vol. IV, p. 448). No voto modificativo “não poucos Pa
dres” (segundo o modo de falar do Relator, que neste caso não
manifestou interêsse em revelar o número dêles) tornaram a
pedir se definisse melhor o ofício dos Legados do Romano Pon
tífice. Pedido que agora está no texto corrigido do n. 9. Foi
aprovado por 2.070 contra 51 votos e um voto nulo.
6° quesito, sôbre as correções feitas no n. 10. Também aqui
se fala agora dos Núncios e Delegados, pedindo que não sejam
só italianos. Foi aprovado por 2.041 contra 54, mais 2 vo
tos nulos.
79 quesito: se de modo geral agrada a ponderação dos Mo
dos dados ao proêmio e ao cap. I: sôbre 2.014 votantes houve
1.999 placet e 15 non placet.
Continuaram os sufrágios no dia seguinte, 30-9-1965, 139*
Congregação Geral, sôbre o cap. II.
S" quesito: se agradam as duas adições ao n. 16. A pri
meira afirma a obrigação do Bispo de fazer dos fiéis uma fa
mília que vive e trabalha em comunhão de caridade. A outra
impõe ao Bispo a obrigação de reconhecer lealmente os direitos
dos fiéis em colaborar ativamente na edificação do Corpo Mís
tico. O que foi facilmente aprovado por 2.172 contra apenas
5 e 1 voto nulo.
9° quesito, sôbre a modificação inserida no n. 17, que urge
a obrigação dos fiéis para o apostolado, sobretudo da Ação Ca
tólica. Aqui a aprovação foi mais dura: 1.989 contra 185 e 1
voto nulo.
109 quesito, sôbre uma adição ao n. 27, que manda refor
mar e atualizar os conselhos episcopais, sobretudo o Cabido ca
tedral. Foi aprovado por 2.163 contra 13.
11" quesito, sôbre a nova redação do n. 28, que define me
lhor o clero diocesano” (palavra que agora é oficializada pelo
oncílio) e coloca o clero religioso numa posição evidentemente
secundária na cura das almas (“in animarum autem cura pro-
0 Decreto sôbre o Múnus Pastoral dos Bispos 367
A c ê r c a d a s v ic is s it u d e s
dêste documento, do debate e das votações durante a III Ses
são, cf. vol. IV, pp. 328-344. No escrutínio de sondagem (12-
11-1964) o texto foi aprovado por apenas 1.155 contra 882
votos. As 20 proposições (segundo a redação do ano passado)
foram ferozmente atingidas por um total de 5.638 votos mo-
dificativos. E como cada votante podia entregar mais de um
Modo, a Comissão de fato recebeu pouco além de 14.000 Mo
dos (dos quais uns 500 eram diferentes). Nenhuma proposição,
porém, foi diretamente rejeitada pela Congregação Geral. To
davia as primeiras 13 proposições (que correspondem aos atuais
nn. 1-17) conseguiram apenas uma aprovação “iuxta modum”;
o que significava que a Comissão tinha obrigação de rever e
corrigir o texto segundo os desejos manifestados pelos votantes.
Mas as últimas 7 proposições (os atuais nn. 18-24 inclusive)
receberam um número suficiente de votos simplesmente afirma
tivos, de modo que a Comissão não precisava corrigir o tex
to, nem mesmo podia modificá-lo em pontos considerados essen
ciais. O nôvo texto foi entregue aos Padres Conciliares no dia
16-9-65, portanto já durante esta IV Sessão. Há nêle muita no
vidade. Os nn. 1, 9, 10, 11 e 25 são inteiramente novos; os
nn. 2, 4, 5, 6, 7, 8, 13, 14 e 15 apresentam um texto que chega
a ser até três vêzes mais extenso que o anterior. Sôbre esta
nova redação a Comissão pediu à Congregação Geral um pro
nunciamento em 19 sufrágios diferentes, que começaram no dia
6-10-65, na 143* Congregação Geral e duraram três dias:
1° quesito: se agrada o n. 1, que é de introdução geral,
indica o motivo, a índole e a finalidade do presente documento.
Também a doutrina bíblica e teológica sôbre a vida religiosa
é ligeiramente tratada. O texto foi aprovado por 2.163 con ra
9 votos (e 4 nulos).
370 II. Crônica das Emendas e Votações
2o quesito, sôbre a nova redação do n. 2 (o anterior n. 1),
que oferece agora cinco princípios gerais (que na redação an
terior estavam dispersos por todo o documento) para o traba
lho de atualização ao “aggiornamento” (em latim: “accommo-
data renovatio”) dos Religiosos. Como norma básica o Conci
lio indica: “Christi sequela in Evangelio proposita”. Foi apro
vado por 2.113 contra 9 votos (e 2 nulos).
39 quesito, sôbre o n. 3, que oferece critérios práticos, mas
ainda muito genéricos, para êste mesmo trabalho de atualização.
Insiste em que se suprimam as prescrições antiquadas: “lis
praescriptis suppressis quae obsoleta sunt”. Aprovado por 2.057
contra 5 votos.
4? quesito, acêrca do n. 4, que agora define mais claramente
a “autoridade competente” para fazer a atualização. Mas os Su
periores devem consultar e ouvir os outros membros do Insti
tuto. 2.057 contra apenas 5 Padres (e 2 votos nulos) apro
varam o texto.
5* quesito, sôbre o n. 5, que indica os elementos comuns
a tôdas as formas de vida religiosa. Aprovado por 2.040 con
tra 15 votos, mais 2 nulos.
6o quesito, sôbre o n. 6, um belo texto que afirma o pri
mado da vida espiritual. Insiste na leitura diária da Bíblia e
no Mistério Eucarístico como centro da vida religiosa. Também
a virtude da caridade recebe seu lugar de destaque: deve ser a
alma e o motivo da observância dos conselhos evangélicos:
“Hac caritate ipsa praxis consiliorum evangelicorum animatur
et regitur” (expressão sugerida por 422 Padres). Aqui os vo
tos contrários foram 3, os votos nulos também 3 e os favorá
veis 2.049.
7-' quesito, sôbre o n. 7, que reafirma o grande valor dos
Institutos de vida exclusivamente contemplativa, “quantumvis
actuosi apostolatus urgeat necessitas”. Também aqui a aprova
ção foi fácil: sôbre 2.140 votantes, 2.133 disseram placet, 4 non
placet (3 votos nulos).
8" quesito, sôbre o n. 8, que fala dos Institutos dedicados
à vida apostólica: para êstes a própria ação apostólica perten
ce à natureza da vida religiosa. Por isso tôda a vida religiosa
de seus membros deve estar imbuída de espírito apostólico e tôda
ação apostólica deve ser informada pelo espírito religioso. E’
este o princípio que há de orientar sua atualização. O que foi
aprovado por 2.126 contra 7 e 3 votos nulos.
0 Decreto sôbre a Atualização dos Religiosos 371
9? quesito, sôbre o n. 9, inteiramente nôvo, que trata da
vida monastica e conventual e traça as normas fundamentais
para sua atuanzaçao. Também aprovado por 2.142 contra 7 e
1 voto nulo.
JO 9 quesito, sôbre o n. 10, também totalmente nôvo, que
confirma os Institutos de vida religiosa laical. Há aqui uma no
vidade: que um ou outro de seus membros possa ser ordenado
sacerdote “ad subveniendum necessitatibus ministerii sacerdota-
lis in suis domibus”. Aprovado por 2.088 contra 57 e 3 vo
tos nulos.
/ / p quesito, sôbre o n. 11, também nôvo, que aprova os
Institutos Seculares. Aprovado por 2.112 contra 22 e 2 vo
tos nulos.
129 quesito, sôbre o n. 12, que fala da castidade. O texto
não foi notàvelmente aumentado. Agora insiste também nos meios
naturais; e lembra até aos Superiores que é mais fácil manter
a castidade “cum inter sodales vera dilectio fraterna in vita
communi viget’’. Tudo foi aprovado por 2.126 contra 3 votos
(1 nulo).
139 quesito, sôbre o n. 13, bastante ampliado, que fala da
pobreza. Insiste-se agora no trabalho: “Communi legi laboris
se sentiant obnoxios”; e na pobreza coletiva: “Testimonium pau-
pertatis collectivum reddere satagant”. 2.089 contra 7 Padres
aprovaram o texto (1 nulo).
149 quesito, sôbre o n. 14, muito ampliado, acêrca da obe
diência. Começa com uma motivação teológica. A pedido de
399 Padres o nôvo texto se dirige também aos Superiores, que
devem ter o espírito de serviço, governar os súditos como filhos
de Deus, nêles respeitando sempre a dignidade da pessoa hu
mana. Fala-se agora de uma “activa atque responsabilis oboe-
dientia”. E da necessidade de ouvir os súditos e de promover
suas iniciativas em prol do Instituto ou da Igreja. São ainda
os Superiores especialmente admoestados a deixarem a devida
liberdade na escolha do confessor e do diretor espiritual. O im
portante texto foi aprovado por 2.122 contra 27 e 1 voto nulo.
159 quesito, sôbre o n. 15, também bastante ampliado, que
fala da vida comum. Acentua-se agora mais seu aspecto sobre
natural. E insiste-se muito na igualdade de todos os membros
de cada Instituto, sem a odiosa discriminação entie pai ret. e
irmãos leigos: tenham todos os mesmos direitos e deveres.
372 II. Crônica das Emendas e Votações
modo especial refere-se o nôvo texto às comunidades femininas
e pede que, na medida do possível, “ad unurn genus sororum
perveniatur”. Foi aprovado por 2.134 contra 17 e 2 votos nulos.
/#> quesito, sôbre o n. 16, a clausura das monjas. A clau
sura papal continua apenas para as monjas exclusivamente con
templativas, “iisque usibus sublatis qui obsoleti sint”. Aprovado
por 2.127 contra 12 votos (e 2 nulos).
17- quesito, sôbre o n. 17, o hábito religioso, que recebeu
apenas brevíssima correção: diz agora que se fala do hábito
“tam virorum quam mulierum”. Aprovado por 2.110 contra 20
e 2 votos nulos.
18" quesito, sôbre o n. 25, inteiramente nôvo, de conclu
são. Aprovado por 2.109 contra 2 e um voto nulo.
19° quesito: se agradam as correções feitas nos nn. 18, 19,
20. 21, 22. 23 e 24. Na votação do ano passado estas propo
sições (então nn. 14-20) já foram aprovadas pela Congregação
Geral e por isso receberam agora apenas leves retoques. Tudo
foi reconfirmado por 2.071 contra 9 votos (e 2 nulos).
E no dia 11-10-65, 146* Congregação Geral, todo o con
junto, numa votação global, foi aprovado por 2.126 contra 13
Padres Conciliares e dois votos nulos. Na Sessão Pública de
28-10-65 o documento recebeu a definitiva aprovação por 2.321
contra 4 votos. E o Papa Paulo VI o promulgou logo após.
o Decreto sôbre a Formação dos Sacerdotes
S o b r e a o r ig e m d o d o c u -
mento, os debates e as votações durante a III Sessão, cf. vol.
IV, pp. 344-367. O texto foi então substancialmente aprovado.
Mas a Comissão, além dos 32 discursos pronunciados na Aula
Conciliar, estudou e ponderou ainda 1.355 Modos. De tudo isso
resultou um texto bastante ampliado, principalmente nos nn. 2,
3, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 15, 16 e 19. Para o nôvo texto a Comissão
apresentou aos Padres Conciliares 15 quesitos, aos quais o ple
nário respondeu nos dias 11 e 12 de outubro de 1965 (146* e
147* Congregação Geral), na seguinte ordem:
l ç quesito: Se agrada a nova redação do proêmio. De
clara agora o texto que o presente documento vale diretamente
apenas para a formação do clero diocesano, mas que todos os
outros, de qualquer Rito ou de qualquer Instituto religioso, de
vem acomodar-se às suas prescrições, “congrua congruis refe-
rendo”. Sôbre 2.138 Padres, 2.125 responderam placet, 11 non
placet e 2 entregaram voto nulo.
2? quesito , sôbre o n. 2, que fala da necessidade de culti
var as vocações sacerdotais. O nôvo texto, embora o dôbro
do anterior, nada diz de especialmente notável e nega-se a dar
uma definição de “vocação”. Foi aprovado por 2.119 contra
19 e 1 voto nulo.
3 ? quesito , sôbre o n. 3, os seminários menores. Insiste-se
agora na cooperação dos pais na formação dos seminaristas.
Mas o texto prevê também a possibilidade de formação fora dos
seminários menores propriamente ditos. Houve aqui 2.046 placet
e 95 non placet.
49 quesito , sôbre o n. 4, no qual se afirma sem mais a ne
cessidade dos Seminários Maiores. Declara a Relaçao que iso
era necessário por causa de certas tendências atuais con rari
374 II. Crônica das Emendas e Votações
à formação em “seminários”. Temos, pois, a seguinte tese: “Se-
minaria Maiora ad sacerdotalem conformationem necessária sunt”.
Esclarece, todavia, o Relator que isto não exclui a possibilida
de de uma interrupção dos estudos (aliás prevista no n. 12)
nem do envio dos alunos a alguma Faculdade Teológica fora
do Seminário. O texto foi aprovado por 2.038 contra 88 votos
(um voto nulo).
5? quesito, sôbre o n. 5, com uma nova alínea acêrca do bom
comportamento dos dirigentes e professôres, naturalmente sempre
escolhidos “ex optimis viris”. 2.054 contra 3 aprovaram a re
comendação.
69 quesito, sôbre o n. 9, que insiste numa peculiar espiri
tualidade eclesial na formação dos seminaristas. Também apro
vado por 2.020 contra 3 e um voto nulo.
7? quesito, sôbre o n. 10, que traça normas para a educa
ção ao celibato, que deve ser aceito não apenas como uma lei
eclesiástica, mas como um dom divino. Insiste-se agora mais
no aspecto positivo do celibato, pelo qual o homem inteiro, com
corpo e alma, se dedica a Deus e às almas. Foi aprovado por
1.971 contra 16 e 2 votos nulos.
8Ç quesito, sôbre o n. 11, quase totalmente nôvo, com par
ticular insistência nas virtudes “humanas”. Pois, admoesta o
Relator, não devem os dirigentes do Seminário pensar que com
a ordenação sacerdotal o candidato é como que magicamente
transformado: é necessário que a graça encontre uma natureza
preparada. Também o espírito de iniciativa deve ser favorecido,
naturalmente sem ferir o principio da autoridade. 1.975 contra
6 aprovaram a nova redação.
9" quesito, sôbre o n. 12, com nôvo acréscimo acêrca da
possibilidade de protrair a ordenação ou de conceder alguns anos
de exercício do diaconato. Dependerá da resolução dos Bispos
(“pro singularum regionum condicionibus Episcoporum e r i t ...” :
no texto anterior se dizia “Coetuum Episcoporum”). A Relação
explica: “Supposuit autem Commissio Praesules in re tanti mo-
menti collatis cum collegis propriae regionis consiliis proces-
suros esse”. De per si, portanto, um Bispo sozinho pode deci
dir; mas é aconselhado a não fazê-lo. 2.011 contra 11 aprova
ram o texto.
109 quesito, sôbre o n. 13, que fala dos estudos no semi
nário menor. Não há nenhuma insistência particular no latim na
O Decreto sôbre a Formação dos Sacerdotes 375
ünha da Veterum Sapientiae, documento que de prooósito não
é nem atado e pode ser considerado superado
paragrafo conciliar. Indiretamente o nôvo texto lembra a neces
sidade do grego, quando recomenda uma “cognitio congrua lin-
guarum Sacrae Scripturae et Traditionis”. A Relação revela que
com essa recomendação se pensa sobretudo na língua grega.
De fato, eram muitos os Modos que pediam maior insistência
no grego. O texto recebeu a aprovação de 2.164 contra 14 Pa
dres e 1 voto nulo.
//<’ quesito, sôbre o n. 15, o estudo da filosofia. A primei
ra coisa que chama a atenção na nova redação (aliás quase
três vêzes mais extensa que a anterior) é a omissão da expres
são “philosophia perennis” ; agora se fala do “patrimônio filo
sófico perenemente válido”. Santo Tomás não é mencionado, mas
considerado incluído no “patrimônio perenemente válido”, se
gundo a Relação. Há normas ainda para o ensino da história
da filosofia e para o método no ensino geral dos tratados fi
losóficos. Fala-se também de um “honesto reconhecimento dos
limites do conhecimento humano”. O nôvo texto, bem melhor
que o anterior e bastante rico, foi aprovado por 2.127 con
tra 58 Padres.
129 quesito, sôbre o n. 16, o estudo da Teologia. O texto
anterior, que já estava bastante bom, não foi muito modifica
do. A Teologia Bíblica recebe aqui sua carta magna. A Teo
logia Especulativa continua com o “Sancto Thoma magistro”.
apesar dos inúmeros Modos contrários. Para não excluir os ou
tros Doutores, muitos haviam sugerido que se dissesse “prae-
sertim S. Thoma magistro”, ou “speciatim”, ou “potissimum”,
ou “ad exemplum”, etc. Mas nem mesmo o praesertim foi acei
to. A Relação, porém, explica a imposição com as seguintes
palavras: “In nr. 16 retenta est expressio ‘S. Thoma magistro'.
qua vero — iuxta Commissionis mentem — alii Doctores ab
Ecclesia probati non excluduntur”. Portanto no sentido do “prae
sertim S. Thoma magistro” ; apenas falta a honestidade para
dizê-lo claramente. No nôvo texto também o ensino da Teolo
gia Moral, do Direito Canônico e da História da Igreja rece
bem normas particulares: todos devem manter o contacto com
o Mistério de Cristo e a História da Salvação, que se tornou
agora oficialmente o ponto centralizante e a alma de toda a
Teologia. Acêrca dessa questão central e de grande repercussão
lemos na Relação a seguinte explicação oficial: “In textu innuitur
376 II. Crônica das Emendas e Votações
saltem punctum in quo singulae disciplinae theologicae ex in-
trinsecis rationibus proprii cuiusque obiecti scientifice conside-
rari conveniunt. Hoc punctum est historia salutis in vita Ecclesiae
semper in actu, ut praecipue in magnis thematibus biblicis apparet.
Nani omnes disciplinae theologicae ex intrínseca ratione proprii
obiecti formalis debent explicare historiam salutis, quae est sem
per in actu; quod idem est ac dicere, explicare Deum — et
alias res in ordine ad Deum — prout se manifestat in historia
salutis'1. Tudo foi aprovado por 2.170 contra 16 Padres e 3
votos nulos.
139 quesito, sôbre o n. 19, a formação pastoral dos futu
ros sacerdotes. A nova redação insiste mais na formação espe
cializada segundo os vários estados. Canoniza-se também a pa
lavra “diálogo”. Sôbre 2.186 houve 2.180 placet e 6 non placet.
14? quesito, sôbre a nova conclusão geral. Fala-se aqui da
necessidade de formar os futuros sacerdotes “segundo o espí
rito de renovação promovido por êste Concilio”. Aprovado por
2.166 contra 6 e 2 votos nulos.
15■ quesito, sôbre os nn. 1, 6, 7, 8, 14, 17, 18, 20, 21 e 22.
Apesar de alguns dêsses números terem sido bastante aumenta
dos (como os nn. 6 e 8), as correções introduzidas não apre
sentam notável importância. Tudo foi aprovado por 2.110 contra
13 e 2 votos nulos.
No dia 13-10-65, MS’ Congregação Geral, o conjunto do
texto foi aprovado por 2.196 contra 15 e 1 voto nulo. E assim
passou às mãos do Papa. Na Sessão Pública de 28-10-1965 o
documento recebeu a aprovação de 2.318 contra 3 Padres Con
ciliares e o Papa Paulo VI o promulgou.
A Declaração sôbre a Educação Cristã
D e b a t id o e votado no
ano passado (cf. vol. IV, pp. 370-383), êste documento, um dos
mais pobres do Concilio, foi depois revisto pela Comissão “De
Seminariis, De Studiis et De Educatione Catholica” (com Mons.
Dino Staffa). O nôvo texto, muito ampliado, foi entregue aos
Padres Conciliares apenas no dia 6-10-1965, para ser votado nos
dias 13 e 14 de outubro (148» e 149» Congregação Geral). A
finalidade principal do documento é oferecer uma base para os
trabalhos de uma especial comissão pós-conciliar e das Confe
rências Episcopais, como é dito na parte final do proêmio. Trata
principalmente das Escolas Católicas (que era, aliás, seu título
primitivo), mas foi ampliado para uma perspectiva capaz de en
globar tôda a educação cristã. Precisam-se os direitos e os de
veres dos pais, da sociedade civil e da Igreja. Admoesta-se con
tra o perigo do monopólio estatal em matéria de educação, ainda
que se reconheça a função do Estado, grande ou pequena, se
gundo as condições sociais, econômicas e culturais de cada na
ção. Lembra-se que a educação tem um fim humano e sagrado,
é um ministério para a comunidade cristã e uma colaboração
à obra do Espírito Santo. Mas por causa das diferentes situações
em várias partes do mundo o texto ficou em plano mais gené
rico e remete a outros documentos conciliares que também abor
dam questões de educação cristã. As Conferências Episcopais
terão que fazer as aplicações oportunas, segundo as condições
de cada região. A Comissão, autora do texto, propôs aos Padres
Conciliares 14 quesitos:
1 * quesito: Se agradam as emendas introduzidas no proê-
mio. Não há aqui nada de especial a anotar. Sôbre 2.202 vo
tantes houve 2.117 placet e 85 non placet. Os “non placet ,
constantemente bastante altos, vieram de Padres descontentes com
o texto em geral.
Concilio - V — 25
378 II. Crônica das Emendas e Votações
2 o quesito, sôbre o n. 1, do direito universal à educação.
O nôvo texto se demora também na noção de educação. Foi
aprovado por 2.098 contra 96 Padres.
3 p quesito , sôbre o n. 2, que trata da educação cristã em
geral e indica sumàriamente seu conteúdo. Aprovado por 2.105
contra 76 Padres.
4* quesito, sôbre o n. 3, os responsáveis pela educação. In-
siste-se muito no dever dos pais. Define-se também a compe
tência do Estado e da Igreja. Aprovado por 2.007 contra 111 e
2 votos nulos.
5- quesito , sôbre os meios de educação. Função da cate
quese e seus instrumentos. 2.020 contra 85 (3 nulos).
6Ç quesito . sôbre a importância da escola em geral e sua
função social. Grandeza da vocação dos educadores, 2.000 Pa
dres, contra 83 e 5 votos nulos, aprovaram o texto.
7Ç quesito , sôbre os direitos e deveres dos pais, que o Es
tado deve proteger e garantir. Condena-se o monopólio escolar
estatal. Aprovado por 1.961 contra 99 e 3 votos nulos.
8■ quesito , sôbre a educação moral e religiosa em tôdas
as escolas. A Igreja tem o dever de velar pela educação mo
ral e religiosa de seus filhos. Os pais devem exigir que seus
filhos tenham os meios para desenvolver sua formação religiosa
e profana. A nova redação prevê a situação de um pluralismo
religioso. Foi aprovado por 1.956 contra 79 e 5 votos nulos.
9o quesito , sôbre as escolas católicas em especial. Define-se
a escola católica. Declara-se que a Igreja tem direito de ter
suas escolas. Longa alínea é dedicada aos professores católi
cos. O texto foi aprovado por 1.977 contra 102 votos e 3 nulos.
109 quesito , sôbre os vários tipos de escolas católicas. Foi
aprovado por 2.068 contra 116 e 3 votos nulos.
119 quesito , sôbre as Faculdades e Universidades Católicas.
Determina-se que as Universidades Católicas que não têm Fa
culdade Teológica, tenham ao menos um Instituto ou uma Cá
tedra de Teologia para os leigos. Neste parágrafo é outra vez
mencionado Santo Tomás (na redação anterior não). Revela o
Relator que a Comissão recebera entrementes o voto de 623 Pa
dres Conciliares pedindo que o texto fôsse emendado de tal ma
neira ut doctrina S. Thomae saltem in suis principiis, nedum
;n S. Theologia sed et in Philosophia tradenda omnibus scholis
A Declaração sôbre a Educação Cristã 379-
catholicis sancte servaretur”. Mons. Dino Staffa e o Mestre Ge
ral dos Dominicanos conseguiram êste grande número de votos
entregues alias muito depois do prazo regulamentar. Muito se
discutiu na Comissão por causa disso. Mas o nôvo e o mais re
cente texto conciliar sôbre Santo Tomás já superou a determi
nação que se encontra ainda no n. 16 do Decreto sôbre os Se
minários: Ecclesiae Doctorum, praesertim S. Thomae Aquinatis
vestigia premendo”, é a mais recente fórmula. Aqui, portanto,
não só entrou o praesertim, mas se reconhece até a existência
e o valor de outros Doutôres da Igreja. Já vimos que no De
creto sôbre os Seminários a mens Concilii era exatamente esta
mesma; mas ainda não havia liberdade e sinceridade suficientes
para dizê-lo com clareza. Agora, neste documento, a expressão
da mens é clara. O texto foi aprovado por 2.043 contra 132
e 5 votos nulos.
129 quesito, sôbre as Faculdades de Ciências Sagradas. Apro
vado por 2.095 contra 87 e 2 votos nulos.
13ç quesito, sôbre a necessidade de coordenação de esfor
ços no plano internacional e nacional. Aprovado por 2.079 con
tra 100 e 2 votos nulos.
149 quesito, sôbre o conjunto do documento: 1.912 placet,
183 non placet e 1 voto nulo. Foi, pois, o texto definitivamente
aprovado pela Congregação Geral e entregue ao Sumo Pontífice.
Na Sessão Pública do dia 28-10-1965 foi mais uma vez
aprovado por 2.290 contra 35 votos e promulgado por Paulo VI.
A Declaração sôbre as Relações da Igreja com as Religiões
não-Cristãs
N ovam ente d i s c u t i d o ,
como se viu acima (pp. 11 ss), nos dias 15 a 22 de setembro, o
texto recebeu na votação de sondagem (21-9-65) 1.997 votos
favoráveis e 224 votos contrários. O Secretariado responsável
pela elaboração do documento trabalhou um mês na emenda do
texto e no dia 22-10-65 entregou aos Padres Conciliares um
fascículo de 85 páginas contendo a redação emendada e uma
minuciosíssima relação sôbre as propostas e sugestões feitas oral
mente ou por escrito pelos Padres. Sôbre o texto re-re-re-emen-
dado o Secretariado pediu 11 sufrágios, oferecendo aos Padres
4 oportunidades para dar o voto modificativo. A votação seria
nos dias 26 e 27 de outubro (153* e 154* Congregação Geral).
Já no dia 25 de outubro, muitos Padres Conciliares receberam me
diante portadores ao domicílio um volumoso envelope contendo material
contrário ao esquema conciliar, preparado pelo “Coetus Internationalis
Patrum”, do qual é secretário geral o Arcebispo de Diamantina Dom
Geraldo de Proença Sigaud, acolitado por Dom Luigi Carli, Bispo de
Segni (Itália) e por Dom Marcei Lefebvre, Arceb. titular e Superior
Geral da Congregação do Espírito Santo. O material é apresentado por
uma carta anônima, na qual se declara que os Padres que o enviam o
fazem “nomine aliorum plurimorum” e por um dever de consciência. A
nova redação sôbre a liberdade religiosa lhes causou grande temor e
desilusão. Desilusão, porque as promessas feitas pelo Relator (Dom E.
De Smedt) foram vãs e ociosas e porque o sentido e a intenção da
votação de sondagem não foram observados pelo Secretariado. Temor,
porque o texto leva ao indiferentismo, ao irenismo e ao laicismo, e
contrário à doutrina do Magistério Eclesiástico e à filosofia católica,
sobretudo de Santo Tomás e levantaria na Igreja uma onda de deso
bediência e insubordinação que tornaria impossível a educação ca ok J
seja nos Colégios, seja sobretudo nos Seminários. Por tudo nL
mendam votar sempre non placet, “ad integrum textum e a
eius partes”. Ao mesmo tempo, porém, oferecem aos4^ a^ UR‘ ; n0-
de votos modificativos e dois libelos, um intitulado oc 1 " . ratl0njs
rum Pontificum collata cum doctrina contenta in sc lema
388 II. Crônica das Emendas e Votações
de Libertate Religiosa” e o outro “Textus circa libertatem religiosam in
historia salutis qui omissi sunt in textu reemendato schematis Declara-
tionis de Libertate Religiosa”.
Na manhã seguinte, dia 26-10-65, Dom E. De Smedt, an
tes do início das votações, leu seu sexto relatório sôbre a liber
dade religiosa. Explicou o sentido e a razão das principais mo
dificações feitas e declarou que o Secretariado considerou aten-
tamente as observações que os Padres Conciliares fizeram oral
mente ou por escrito. Deixou de lado aspectos ainda não bem
amadurecidos. Distinguiu a doutrina da liberdade religiosa das
questões que lhe são conexas e fundamentou-a em princípios na
turais e revelados certos. E continuou: Se esta doutrina fôr pro
mulgada pelo Concilio abrir-se-ão caminhos novos para a prá
tica livre da religião. Onde houver liberdade religiosa haverá
também realização dêste desejo expresso na Declaração sôbre
as relações da Igreja com as religiões não-cristãs: “Desaparece
o fundamento de tôda e qualquer teoria ou prática que estabe
leça discriminação entre os homens e as nações no que diz res
peito à dignidade humana e aos direitos dela decorrentes”. Se
a liberdade religiosa, de direito e de fato, fôr levada à prática
— continuou o Relator — a Igreja Católica terá as condições
que lhe são devidas por vontade divina para melhor cumprir
sua missão. Se o Concilio proclamar públicamente esta Decla
ração, o fato contribuirá muito para que o mundo inteiro repu
die tôda espécie de violação da liberdade social e civil em ma
téria religiosa. Com esta Declaração aumentará a confiança do
mundo moderno na sinceridade da Igreja. Com a aceitação da
liberdade religiosa o significado autêntico da missão da Igreja
ficará mais claro, segundo as palavras de Paulo VI na encíclica
Ecclesiam Suam: “Ainda que anunciemos a verdade certa e a
salvação necessária, não utilizamos nenhuma forma de coação
externa. Pelo contrário, empregamos o método legítimo da con
vivência humana, da persuasão íntima e do diálogo. Oferece
mos o dom da salvação e respeitamos a liberdade de todos”.
Terminada a leitura da Relação oficial, começaram as 11
votações, seis no dia 26-10 e cinco no dia 27-10-65:
votação, sôbre o n. 1, com o texto muito ampliado e
modificado. Já o subtítulo do esquema foi emendado: “Direito
da pessoa e da sociedade à liberdade social e civil em matéria
religiosa”. Trata-se, portanto, da liberdade que deve existir na
A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa 389
sociedade humana e civil, „as relações dos homens entre si
com os grupos socais e o poder civil. A liberdade ,e gio a
é reconhecida como um direito civil e uma das garantias ôão
s6 para a segurança e a vida dos homens, mas também parã
que nao sejam impedidos de seguir a religião com liberdade
responsável. Os cidadaos, ainda que protegidos por uma lei civil
sobre a liberdade religiosa, estão obrigados a usá-la de acôrdo
com a lei moral objetiva e quando são católicos segundo as
leis da Igreja. Além dessas idéias fundamentais que esclarecem
a noção da liberdade religiosa, neste n. 1 foram acrescentados
vários elementos que respondem a instantes pedidos feitos pelos
Padres: Declara-se que a única verdadeira Religião subsiste na
Igreja católica e apostólica (a palavra “subsiste” foi colhida da
Lumen Gentium n. 8); que os homens têm o grave dever de pro
curar a verdade e de abraçá-la; que êste dever obriga a cons
ciência humana (mas a verdade se impõe por fôrça da própria
verdade); que a doutrina da liberdade religiosa deixa intacta
a doutrina católica acêrca da única religião verdadeira, da úni
ca Igreja de Cristo; e que os homens continuam moralmente
obrigados a procurar a verdade objetiva. — Sôbre 2.232 votan
tes, 2.031 disseram placet, 193 non placet e 8 entregaram vo
tos nulos. O número relativamente baixo de votos negativos foi
uma agradável surprêsa.
2 * votação , dos nn. 2 e 3. O n. 2 trata do objeto e do fun
damento da Liberdade Religiosa. Também aqui o texto nôvo
cresceu 100%. A nova redação declara de maneira enunciativa,
e não mais demonstrativa, que a liberdade religiosa é um di
reito verdadeiro, fundado na dignidade da pessoa humana. Uniu-
se a exposição da doutrina com sua justificação. Totalmente
nova é a segunda parte do n. 2: que a liberdade religiosa se
fundamenta não em disposições subjetivas (que objetivamente
poderíam não ser verdadeiras ou honestas) mas na própria na
tureza da pessoa humana e que por isso mesmo o direito à
imunidade permanece também quando não se cumpre a obriga
ção moral de procurar a verdade, desde que se respeite a or
dem pública legítima e não se lesem os direitos de outrem. O
n- 3 desenvolve mais amplamente o pensamento central do n.
com formulações notáveis sôbre a liberdade no próprio ato
investigação da verdade. — Tudo foi aprovado por 2.000
228 Padres e 6 votos nulos.
390 II. Crônica das Emendas e Votações
39 votação, dos nn. 4 e 5. O n. 4 fala da liberdade das co
munidades religiosas. E’ pràticamente o n. 6 da redação ante
rior, com apenas breves emendas. O texto é central e terá enor
mes repercussões. Também o n. 5 (que na redação anterior era
o n. 7) recebeu poucas emendas. No fim aditou-se uma frase:
O poder civil que impuser aos jovens uma escola que não cor
responda à convicção religiosa dos pais ou que impuser uma
escola única, da qual se exclui totalmente a formação religiosa,
viola o direito da família à liberdade religiosa. Condena-se, pois,
o princípio da escola neutra. Foi aprovado por 2.026 contra 206
votos e 4 nulos.
4? votação, dos nn. 6, 7 e 8. O n. 6 (que era o n. 5 da re
dação anterior) recebeu emendas bastante importantes, sobretu
do na alínea que, segundo a redação anterior, previa um pos
sível Estado confessional. Agora tôda a passagem foi redigida
em forma hipotética. O n. 7, que fala dos limites da liberdade
religiosa, foi revisto e emendado com especiais cuidados. Mui
tos Padres haviam pedido que se examinassem com prudência
os conceitos “ordem pública” e “paz pública”. Interpretando fal
samente as noções de ordem ou de paz, alguns podêres públi
cos poderíam oprimir os cidadãos em sua liberdade religiosa.
A nova redação procurou atender a estas observações. Alguns
Padres reclamaram contra o fato de o texto não fazer distinção
entre a norma moral e a norma jurídica quando se referia aos
limites da liberdade religiosa. Mas — explica a Relação —
estas normas não se opõem entre si. Todo homem deve obser
var tôda lei moral na vida da sociedade (não tem o direito de
fazer o mal). Por outro lado, não pode ser coagido juridica
mente pelo poder civil, a não ser que esteja violando gravemente
o bem público. O n. 8, como número especial, é nôvo, mas o
texto já se encontrava parcialmente na conclusão da redação
anterior. Fala da educação para o exercício da liberdade. E’
uma admoestação para que os homens ajam com maior res
ponsabilidade no cumprimento de seus deveres na vida social.
Liberdade não exclui a devida submissão nem é contra a legí
tima autoridade. — 2.034 contra 186 Padres aprovaram o tex
to, havendo 3 votos nulos.
votação, sôbre os nn. 1-5, com a possibilidade do voto
modificativo: sôbre 2.161 votantes, houve 1.539 placet, 543 placet
iuxta modum, 65 non placet e 14 votos nulos. Como os votos
modificativos não alcançaram um têrço do númeto dos votan
A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa
tes o texto deve ser considerado como aprovado pela Congre-
gaçao_ Geral nao podendo os Modos mudar substancialmente a
redaçao. Todos os Modos diretamente contrários à substância
do texto podem e devem ser rejeitados pela Comissão.
6 * votaçao, sobre os nn. 6-8, com a possibilidade do voto
modificativo. Resultado: 1.715 placet, 373 placet iuxta modum,
68 non placet e 5 votos nulos. O texto também está substancial-
mente aprovado.
7® votação, dos nn. 9 e 10: Os fundamentos da liberdade
religiosa na Revelação. Observou o Relator que o texto não
pretende mostrar que a noção e justificação da liberdade reli
giosa se encontre explicitamente na Revelação. Afirma-se ape
nas que os princípios gerais, nos quais em nossos dias se ba
seia a doutrina (isto é: a dignidade da pessoa humana) são
admitidos e afirmados na S. Escritura. Dêste modo deve-se di
zer que a doutrina sôbre a liberdade religiosa tem suas raízes
na Bíblia e na maneira de agir de Cristo e dos Apóstolos. 2.087
contra 146 Padres aprovaram também esta parte.
8 “ votação, dos nn. 11 e 12, que continuam na apresenta
ção dos fundamentos bíblicos. O n. 11 foi bastante retocado.
Foi aqui que surgiu o maior número de “non placet”: 254, con
tra 1.979 placet. Deve-se, porém, notar que muitos Padres in
teiramente favoráveis à substância da presente Declaração, não
concordavam com a argumentação bíblica (cf. os discursos de
Frings e Elchinger) e por isso a esta altura devem ter dado
um voto negativo. Acredito que o maior número de votos dire
tamente contrários à Declaração como tal foi alcançado por oca
sião da 2í> votação: eram exatamente 228 Padres (na votação
de sondagem do dia 21-9-65 tinham sido 224).
9“ votação, dos nn. 13, 14 e 15, que são os três últimos pa
rágrafos do documento. Não houve profundas modificações na
nova redação. Com relação ao n. 13, que trata da liberdade da
Igreja, explicou o Relator: Alguns Padres pediram que se dis-
tinguissem mais acuradamente os direitos que competem à Igre
ja. Ela tem um direito natural e um direito divino. Enquanto
sociedade cujos membros vivem segundo os preceitos da fé, tem
a Igreja o direito divino de viver na sociedade e cumprir sua
missão. Enquanto composta de membros humanos que nao p -
riem ser coagidos pela autoridade civil, a Igreja tem um
natural. Não há oposição entre o natural e o divino. .
392 II. Crônica das Emendas e Votações
observados quando há liberdade social e civil em matéria re
ligiosa. Também aqui 2.107 contra 127 Padres (e 5 votos nulos)
aprovaram o texto.
10 * votação, dos nn. 9-12, com o voto modificativo: 1.751
placet, 417 placet iuxta modum, 60 non placet e 8 votos nulos.
Textos substancialmente aprovados.
1 1 * votação, dos nn. 13-15, com o voto modificativo: 1.843
placet, 307 placet iuxta modum, 47 non placet e 5 votos nulos.
Aprovado.
Com um texto substancialmente aprovado pela Congrega
ção Geral e 1.640 votos modificativos na pasta, tornou o Se
cretariado do Cardeal Bea à sua sede para dar os últimos re
toques ao mais retumbante documento do Vaticano II.
Três semanas depois os Padres Conciliares receberam o tex
to definitivamente emendado segundo os Modos. Mais de 60
passagens foram corrigidas. A votação foi anunciada para o dia
19-11. A oposição (o “Coetus Internationalis”) comunicou no
dia 18-11, em carta aos Bispos por ela liderados, sua disposi
ção de votar “non placet” a todos os quesitos. No dia seguinte,
164^ Congregação Geral, depois da Relação de Dom E. De
Smedt, os Padres se pronunciaram em 5 sufrágios:
í 9 sufrágio, dos nn. 1-5. No n. 1 foi introduzida uma mo
dificação de grande efeito: reafirma-se a tradicional doutrina
católica sôbre a obrigação moral dos homens e das sociedades
para com a verdadeira religião e a única Igreja de Cristo. No
n. 3 ensina-se agora que cada um deve formar “recta et vera
conscientiae iudicia”. No fim do n. 4 se diz agora que o poder
civil deve reconhecer e favorecer a vida religiosa dos cidadãos,
mas que excede os limites quando presume impedir ou dirigir
os atos religiosos. No n. 4 foi acrescentada uma frase que con
dena o proselitismo como abuso do direito próprio e dos outros.
No n. 5 afirma-se agora que os pais têm o direito de escolher
a escola para os filhos segundo as suas próprias convicções re
ligiosas. — Esta parte do documento foi aprovada por 1.989
contra 246 votos e 7 votos nulos.
2 ^ sufrágio, dos nn. 6-8. O inciso no n. 6 sôbre um possí
vel Estado confessional recebeu apenas uma correção sem im
portância. Mas nos nn. 6 e 7 houve várias emendas no sentido
de precisar mais o conceito de “bonum commune”, para evitar
A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa
393
Concilio - v — 26
O Decreto sôbre a Atividade Missionária
D e b a t id o n a a u l a c o n c i -
liar de 7 a 13 de outubro (cf. pp. 242 ss), o esquema foi desta vez,
na votação de sondagem, aprovado por 2.070 contra apenas 15
votos. Já um mês depois, no dia 19-11-65, o texto emendado foi
entregue aos Padres Conciliares para ser votado (também com
o voto modificativo para cada capítulo) nos dias 10 e 11 de
novembro. 193 Padres haviam dado, por escrito ou oralmente,
observações, sugestões e emendas que encheram 550 páginas.
Todo êste material foi estudado por 5 subcomissões, uma para
cada capítulo, e depois pela sessão plenária da Comissão das
Missões. O texto foi bastante emendado e saiu muito melhora
do. A Comissão pediu ao plenário 20 sufrágios, dez no dia
10-11-65 (157íl Congregação Geral) e os outros no dia se
guinte:
1 - sufrágio , dos nn. 1-4: Apenas no n. 4, que fala da mis
são do Espírito Santo, houve modificações de certa importân
cia: reconhece-se o valor dos carismas para as missões; e afir
ma-se que a ação carismática excitada pelo Espírito Santo não
depende da iniciativa dos hierarcas. Êstes números foram apro
vados por 2.183 contra 21 votos e 3 nulos.
2- sufrágio, dos nn. 5-6: No n. 5 nada de especial. No n. 6,
no qual se define a atividade missionária, há alguns elementos
novos de interêsse para nossa situação latino-americana. Como
se viu na crônica sôbre os debates, os titulares de nossos 130
Vicariatos, Prelazias e Prefeituras estavam interessados numa
definição mais precisa da atividade missionária, que incluísse
também as regiões difíceis e realmente “missionárias” da Amé
rica Latina, para que também êles pudessem usufruir dos fa
vores e privilégios oficialmente concedidos às “missões”. Mas
o texto de fato foi pouco modificado. A América Latina recebeu
0 Decreto sóbre , A ti.id ,* Mi,si„„á™
395
apenas as honras da nota 15, q„e certamente é favorável e
nodera ser o começo de uma nova iavoravel e
Ppobres
. JPrelazias
relazias nullius . Também o Relator, Pe. JoãodeSchuette
“nullius” To i > s'tuaçao jurídica nossas
S .V .D ., tentou consolar nossos Prelados: “Praesens concepus
niissionis tam amplus v.detur ut etiam certis Americae Latínae
regionibus applican valeat”. E declarou que, onde quer que haja
verdadeira atividade missionária, “ibi habetur et missio” Aliás
0 texto no n. 6 fala expressamente da Igreja que “quandoque
jn quodam semiplenitudinis et insufficientiae statu moratur”; e
nestas situações deve a Santa Sé “iudicare utrum hae condi
ciones activitatem missionalem denuo requirant”. Chamando a
atenção ainda para outras passagens do presente Decreto, o Re
lator, em nome da Comissão e exprimindo a mente dos reda
tores, concluiu: “Sic multis modis porta aperta est etiam istis
Praelaturis ac Vicariatibus, ut intrent non solum in ambitum
conceptus ‘missionis’, sed etiam sub Sacra Congregatione de
Propaganda Fide, si forte S. Sedi placuerit”. No mesmo sentido
fala a Relação especial para o n. 6 (na p. 71): já que em mui
tas regiões da América Latina falta a verdadeira fé cristã, falta
a pregação da fé, falta a hierarquia própria e falta a maturi
dade da vida cristã (elementos que, segundo a Relação, entram
no conceito de “missão”), por isso se lhes pode aplicar o con
ceito de “atividade missionária” tal como está agora no n. 6.
“Quia et inquantum haec elementa in illis regionibus desunt —
são palavras da Relação oficial — eae secundum rem sine dubio
in notione activitatis missionalis a schemate delineata includun-
tur”. Na votação o texto foi, pois, aprovado por 2.012 contra
117 votos e 6 nulos.
3? sufrágio, do n. 7, sôbre a necessidade das missões. Du
rante 0 debate muitos Padres haviam pedido uma formulação
mais rigorosa e insistente dêste parágrafo. A nova redação apoiou-
se sobretudo no n. 16 da Lumen Gentium. Tudo foi agora apro
vado por 2.106 contra apenas 5 Padres e 3 votos nulos.
4? sufrágio, dos nn. 8-9: O n. 8 recebeu uma nova alínea
sôbre as relações entre a atividade nussionaria e a açao ecumê
nica. No n. 9 houve apenas pequenas correções; a nova reda
ção lembra também a existência do imperium t ia 01 •
nário aprovou 0 texto por 2.083 contra 11 e 34 \otos nulos.
5p sufrágio, de todo o cap. h oscomModos
a possibilidade do voto
podiam ser entre-
Modificativo (foi comunicado que
26*
396 II. Crônica das Emendas e Votações
gues também no dia seguinte): sôbre 2.142 votantes houve 1.858
placet, 272 placet iuxta modum, 7 non placet e 5 votos nulos.
6 f sufrágio, dos nn. 10-12: Discutiu-se muito em tôrno do
título a ser dado ao art. 1 dêste cap. II. Entre “prae-evange-
lizatio”, “evangelizatio initialis”, “apostolatus indirectus”, “evan-
gelizatio praeparatoria” e “praeambula evangelizationis” a Co
missão se decidira por êste último por causa da analogia com
as “praeambula fidei”. Mas também êste título não agradou
a muitos Padres, visto que poderia insinuar um estádio preli
minar anterior à evangelização propriamente dita. Agora a Co
missão propõe um título mais simples e sem compromissos: “De
Testimonio Cliristiano”. No n. 12 houve duas correções notáveis:
nova descrição da caridade (para que não apareça apenas como
uma técnica de conquista) e inserção de uma alínea sôbre as
escolas nas missões. Foi aprovado por 2.154 contra 7.
7* sufrágio, dos nn. 13-14. A redação anterior do n. 13
tinha sido criticada por ser excessivamente negativa, breve, fra
ca, sem afirmar com vigor a obrigação de anunciar o Evangelho
e de levá-lo a todos os homens; também não indicava o objeto
da pregação; nem definia a natureza da conversão; e pouco di
zia do método penitencial e de sua relação com o mistério pas
cal. Tudo isso agora está mais claro no texto emendado, que
recorreu sobretudo a palavras da S. Escritura. “Tôda a fôrça
do texto está na própria virtude da palavra de Deus”, explica
a Relação. O n. 14 não apresenta novidade. Tudo foi aprovado
por 2.165 contra 9 e 1 nulo.
89 sufrágio, dos nn. 15-18. O n. 15 recebeu dois breves
acréscimos: um sôbre a colaboração ecumênica, não só entre pes
soas, mas também entre as Igrejas e suas obras; outro sôbre o
apostolado dos leigos nas missões. Os nn. 16-18 não receberam
correções notáveis. Os Padres aprovaram tudo por 2.138 contra
37, com 7 votos nulos.
9- sufrágio, sôbre todo o cap. II, com o voto modificativo:
votantes: 2.116; placet: 1.982; placet iuxta modum: 118; non
placet: 13; votos nulos: 3.
IO? sufrágio, dos nn. 19-20. Na nova redação as Igrejas
particulares ou novas nas missões receberam um capítulo es
pecial. O n. 20, bastante longo, sôbre a atividade missionária
das Igrejas particulares, é inteiramente nôvo. Foi aprovado por
2.160 contra apenas 4 votos e 2 nulos.
o Decreto sôbre a Atividade Missionária 397
0 tõs«oladom d„ms
apfôvado por Z I - T c o n Z ^ S ,"
12? sufrágio sôbre c. conjunto do cap. III, com o voto mo-
dificativo: Presentes: 2.209; placet: 2.066; placet iuxta modum:
131; non placet: 10; votos nulos: 2.
139 su frá g io dos nn. 23-26, que receberam poucas emen
das. O n. 26, sôbre a formação doutrinária e apostólica dos
missionários, foi o mais corrigido. Também aqui se insiste na
formação mais bíblica (“praeprimis ex Sacris Scripturis”) e
cristocêntrica (“perscrutantes Mysterium Christi”). Os quatro pa
rágrafos foram aprovados por 2.138 contra 18 votos, com 9 vo
tos nulos.
149 sufrágio, do n. 27, sôbre os Institutos Missionários, que
se dedicam em comunidade à obra missionária. Diz a Relação
que êste parágrafo foi objeto de muitas intervenções contraditó
rias; mas, ponderadas as razões pró e contra, a Comissão deci
diu conservar o texto e submetê-lo ao sufrágio do plenário. Foi
fàcilmente aprovado por 2.117 contra apenas 4 e 30 votos nulos.
159 sufrágio, de todo o cap. IV, com o voto modificativo:
Presentes: 2.138; placet: 1.816; placet iuxta modum: 309; non
placet: 11; votos nulos: 2.
16* sufrágio, dos nn. 28-29. O n. 29 recebeu uma alinea
nova sôbre a ação ecumênica nas missões. O inciso sôbre o Di
castério missionário em Roma, objeto de muitas discussões den
tro e sobretudo fora da Aula Conciliar, recebeu nova formulação,
mas ainda bastante indeterminada: não se precisa se os Mem
bros terão voz deliberativa, se são indicados pelas Conferências
Episcopais e para quanto tempo. Os dois parágrafos foram apro
vados por 2.064 contra 53 votos, com 14 votos nulos.
17* sufrágio, dos nn. 30-31. No n. 30 se afirma agora que
também os Religiosos isentos estão sob o poder (“potestati sub-
sunt”) do Ordinário local, nas várias obras relacionadas com
0 exercício do apostolado. Tudo foi aprova o por . con r
16 e 4 votos nulos.
/5 p sufráeio dos nn. 32-34. 120 Padres, entre os quais 7
CardeL p u s e r a m que se convidassem »
sacerdotes e bens materiais a aceitarem erri
308 II. Crônica das Emendas e Votações
sionárias como o fazem os Institutos religiosos. Mas a Comissão
não aceitou a sugestão para não recomendar o que ainda não
tem a seu favor o testemunho da experiência. Na última alínea
do n. 32 houve importante modificação: segundo a redação
anterior as normas que devem regular as relações entre os Or
dinários locais e os Institutos missionários deveriam ser elabo
radas de comum acôrdo pelas Conferências Episcopais e os
Institutos interessados, mas com a aprovação da Santa Sé. Na
nova redação foi omitida esta última cláusula. A Relação es
clarece que assim se procedeu para salvar a autonomia das
Conferências Episcopais e o princípio da subsidiariedade. Êste
modo de argumentar é nôvo na Igreja e um sinal do espírito
do Vaticano II. Também aqui a aprovação foi de 2.101 contra
37 e 4 votos nulos.
19? sufrágio, de todo o capítulo V, com o voto modificati
vo: 1.428 placet, 712 placet iuxta modum, 9 non placet e 4 vo
tos nulos. Portanto o cap. V foi aprovado apenas “iuxta mo
dum” (pois mais de um têrço sôbre o total dos 2.153 votantes
deram o “placet iuxta modum”) e terá que ser substancialmen
te corrigido no n. 29, na alínea que fala do Dicastério missio
nário em Roma.
20? sufrágio, de todo o capítulo VI (nn. 35-42), que teve
poucas emendas. O n. 42 (conclusão) recebeu nova redação.
Êste sufrágio admitiu também o voto modificativo e deu o se
guinte resultado: presentes: 2.171; placet: 2.006; placet iuxta
modum: 158; non placet: 6; voto nulo: 1.
Com 1.750 votos modificativos voltou o texto à Comissão
a fim de ser definitivamente emendado.
Quinze dias depois a Comissão entregou aos Padres o tex
to emendado segundo os Modos, num fascículo de 96 páginas,
para ser votado no dia 30-11-65, 165’ Congregação Geral. A
Comissão submeteu as correções feitas ao julgamento dos Pa
dres mediante dez quesitos:
1 " quesito: Agrada a modificação introduzida no n. 6, sô
bre o conceito de atividade missionária? A pedido de muitos
Padres da América Latina a passagem foi mais uma vez re
tocada. Também a ordem lógica de todo o número foi modifi
cada. O inciso sôbre o ecumenismo passou do n. 8 para o n. 6.
A resposta do plenário: 2.209 placet e 20 non placet. De ma-
0 Decreto sôbre
a Atividade Missionária 399
um só dicastério.
convi
s'oná___ ...... ..
400 II. Crônica das Emendas e Votações
cisariam da aprovação da Santa Sé. Mas no voto modificativo
102 votantes pediram que se voltasse ao texto anterior (“a Sancta
Sede approbandas”) ; 59 votantes opinaram que não seria lícito
aos Bispos decidir tais questões por autoridade própria. A Co
missão responde que não se pode impor nem aos Bispos o ônus
de recorrer para cada convenção à Santa Sé, nem à Santa Sé
de examinar tantos tratados. A Congregação Geral aprovou por
2.152 contra apenas 14 e 2 votos nulos.
S" quesito, sôbre o resto do cap. V, sem outras novidades
dignas de nota: 2.175 placet, 18 non placet e 2 votos nulos.
9? quesito, sôbre as modificações acidentais do cap. VI:
2.159 placet, 24 non placet e 3 votos nulos.
10" quesito: se todo o documento, tal como está agora, agra
da. Sôbre 2.182 votantes, 2.162 responderam sim, 18 não e 2
entregaram votos nulos. Aprovado, pois, pela Congregação Ge
ral, o texto foi entregue ao Papa para que Sua Santidade de
cidisse sôbre sua promulgação. Antes da promulgação, no dia
7-12-1965, o documento recebeu o voto favorável de 2.314 Pa
dres, contra 5. E o Papa o promulgou.
o Decreto sôbre o Ministério e a Vida dos Presbíteros
Concilio - V _ 28
.7
Exortação Apostólica “Quarta Sessio”, aos Bispos
V e n e r á v e is ir m ã o s : em n o m e
do Senhor sentimo-nos feliz em declarar aberta a quarta Sessão do
Concilio Ecumênico Vaticano II.
Subam louvores e agradecimentos a Deus nosso Pai onipotente,
por Jesus Cristo seu Filho e nosso Salvador, no Espírito Santo Pará-
clito que vivifica e guia a Santa Igreja, por têrmos sido felizmente con
duzidos à presente convocação conclusiva dêste sacrossanto Sinodo
Ecumênico, no sumo e comum propósito de devota e firme fidelidade à
Palavra Divina, em fraterna e profunda concórdia na fé católica, no
livre e fervoroso estudo das múltiplas questões que dizem respeito à nossa
religião, especialmente da natureza e missão da Igreja de Deus, no unâ
nime desejo de estabelecer vínculos mais perfeitos de comunhão com os
Irmãos cristãos ainda de nós separados, na cordial intenção de dirigir
ao mundo uma mensagem de amizade e de salvação e na humilde e cons
tante esperança de obter da Misericórdia Divina aquelas graças que,
apesar de não merecidas, Nos são necessárias para cumprirmos, com amo
rosa e generosa dedicação, a Nossa missão pastoral.
Grande acontecimento é êste Concilio! Alegrem-se os nossos cora
ções por tão solene e ordenada celebração da unidade da Igreja visí
vel, unidade de que nós aqui gozamos e que professamos não só exte
riormente, mas ainda mais no íntimo dos corações, pelo conhecimento
mútuo das pessoas e pelo intenso convívio de oração, de pensamento,
de palavra e, finalmente, de concórdia, solícitos e felizes por espelhar
mos e promovermos aquela unidade mística que Cristo deixou aos seus
apóstolos como o patrimônio mais precioso e autêntico e como suprema
exortação. Alegrem-se ainda, porque, durante esta singularíssima cele
bração, já por três vêzes, e hoje começa a quarta, em ritmo anual re
gular, nesta Basílica consagrada à memória do Apóstolo Pedro, funda
mento visível da Igreja de Cristo, a Hierarquia Católica exprimiu, con-
validou e ilustrou os vínculos de uma comunhão solidária e unívoca que
a múltipla diversidade das nossas origens humanas e as implacáveis
divisões, que separam os homens entre si, haveríam de fazer supor im
possível, mas que se nos apresenta como feliz realidade: a misteriosa
e efetiva realidade católica.
\ êm à Nossa mente as palavras do exímio doutor, Nosso longínquo
e santo predecessor Leão Magno: “Ao contemplar esta multidão verda
deiramente esplêndida dos meus veneráveis irmãos no sacerdócio, pare-
Discurso de Abertura da Quarta Sessão 431
ce-me que, entre tantos santos, Nos encontramos numa assembléia angé
lica” (Sermo I, de Anniversario).
E conosco alegre-se a Igreja inteira da qual nós somos aqui os
Pastores e os representantes, por saber-se e sentir-se reumda conosco
em concorde harmonia espiritual que a penetra inteiramente e, se ela
permanecer vigilante, a inebria.
Grande acontecimento é êste Concilio! Oxalá que, em virtude da
repetição das suas assembléias, que atenua a impressão de novidade
dêste histórico encontro, não se torne menos atenta, nem se maravilhe
menos a nossa consideração do acontecimento que estamos celebrando;
antes, pelo contrário, o próprio costume, a que a sucessiva realização
destas reuniões pode dar origem, nos comunique maior idoneidade e
mais profunda piedade para investigarmos o seu grande, complexo e
misterioso significado. Que não nos passe despercebida esta hora solene;
nem se confunda esta experiência única com tantos acontecimentos ha
bituais de que é tecida a trama ordinária da nossa vida. A simultâ
nea presença que aqui nos reúne — lembremo-nos bem — não é parti
cipada sòmente por nós, porque conosco está Cristo em cujo nome
nos encontramos reunidos (cf. Mt 18,20), e cuja assistência acompanha
sempre o nosso caminho no tempo (cf. Mt 28,20).
A obrigação de vivermos com plenitude de adesão esta fase final
do Concilio constitui para nós uma responsabilidade que cada um deve
medir no fôro interno da própria alma e a que cada um deve procurar
que correspondam particulares atitudes morais e espirituais.
Irmãos, que não nos seja molesto antepor aos múltiplos e absor
ventes trabalhos que nos esperam, êste momento de reflexão, para co
locarmos os nossos espíritos em condições propícias à realização que
aqui se requer, da misteriosa combinação da arcana ação divina com
a nossa; combinação sempre em ato no reino da graça, mas de modo
e em medida eminentes quando se trata dos destinos da Santa Igreja,
como acontece exatamente na celebração do Concilio: aqui, de fato,
podemos aplicar-vos plenamente a frase de São Paulo: “Dei enim sumus
adiutores” (1 Cor 3,9), somos colaboradores de Deus; não porque
possamos ter a presunção de dar eficácia à obra de Deus, mas porque
esperamos que a nossa humilde e solícita ação obtenha vigor e mérito
da Divina. Bem sabemos que a esta assembléia será dado, no final,
pronunciar-se com as sagradas e tremendas palavras apostólicas: “Visum
est... Spiritui Sancto et nobis” (At 15,28), pareceu... ao Espírito
Santo e a nós. Portanto, é necessário que envidemos todos os esforços
para obtermos que a ação do Espírito Santo se insira na nossa, a pe
netre completamente, a ilumine, a corrobore e a santifique.
E também sabemos o que significa êste esfôrço. Sete vêzes, no
livro do Apocalipse (2,7-3,22), a mensagem apostólica intima aos Pas
tores — são chamados Anjos — das Igrejas primitivas: “Qui habet
aurem, audiat quid Spiritus Sanctus dicat Ecclesiis”, quem tem ouvido,
ouça o que o Espírito diz às Igrejas. Ouvir; ouvir a voz arcana do
Paráclito deve ser o nosso primeiro dever nos dias que vão seguir-se,
durante as sessões finais do Concilio; deixar que o Espírito Santo der
rame nos nossos corações aquela caridade que se traduz em sabedo-
432 III. Documentos
ria. isto é, na retidão de juízo, segundo as mais altas razões do saber,
pelas quais o espírito liumano sobe até Deus de quem recebeu aquêle
inefável dom, e se tornam amor, se tornam caridade, todos os seus pen
samentos e tôda a sua ação. A caridade que desce de Deus transforma-
se em caridade que sobe até Deus, e do homem tende a voltar para Deus.
Êste processo da caridade deveria caracterizar a conclusão do nos
so Concilio Ecumênico. Nós deveriamos ser sempre mais capazes de
o atuar em nós mesmos, para darmos a êsse momento de plenitude vital
da Igreja o seu mais elevado significado e o seu mais eficaz valor. Da
caridade devemos haurir o estimulo e a orientação para a verdade que
aqui procuramos pôr em luz e para os propósitos que nos propomos
realizar; verdade e propósitos que, anunciados por êste Concilio, órgão
êle mesmo da mais alta e amorosa autoridade pastoral, não poderão
deixar de ser expressões de caridade.
Que o amor nos dirija, pois, para esta nossa busca de verdade,
lembrados da clarividente frase de Santo Agostinho: “Nada do que é
bom se conhece perfeitamente, se não se ama perfeitamente” (De di-
versis quacsi. 83; PL 40, 24).
Nem parece ser difícil dar ao nosso Concilio Ecumênico o caráter
de um ato de amor; de um grande e tríplice ato de amor: para com
Deus, para com a Igreja, para com a humanidade.
1. Olhemos primeiro para nós mesmos, Veneráveis Irmãos. Como
se pode definir doutro modo a condição, em que nos colocou a convo
cação do Concilio, senão como um estado de tensão, de esforço espi
ritual? Esta convocação veio arrancar-nos ao torpor da vida ordinária,
despertou em nós a consciência plena da nossa vocação e da nossa mis
são. pôs em movimento dentro de nós mesmos forças latentes e acendeu
nas nossas almas o espírito de profecia, próprio da Igreja de Deus;
excitou em nós a necessidade, o dever de proclamarmos a nossa fé,
de louvarmos a Deus, de nos aproximarmos mais e mais de Cristo, e
proclamarmos no mundo o mistério da Revelação e da Redenção. Não
é isto, amor? Chamados a esta tribuna, da qual se contempla o mundo
contemporâneo coberto pelas nuvens da dúvida e pelas trevas da irreli-
giosidade, pareceu-nos que subíamos à esfera da luz de Deus; sendo
nós companheiros e irmãos dos homens entre quem vivemos, chegando
a esta altura espiritual, pareceu-nos que subíamos da terra, das suas
complicações e das suas ruínas, e que víamos límpido e quente o sol
da vida: et vita erat lux hominum (Jo 1,4); mais ainda pareceu-nos
que falávamos, humilde, filial e generosamente, em espírito e verdade,
com Deus Nosso Pai; e que lhe dizíamos, cantando e chorando, o nosso
louvor pela grandeza da Sua glória, que hoje nos é a nós mais conhe
cida devido aos progressos na ciência do cosmos; a nossa dita por
ter revelado o seu nome, o seu reino e a sua vontade; e além disso
por ter aliviado a dor que há no mundo, a aflição, a imensidade das nossas
misérias e dos erros que se vão espalhando; mas aqui, mais que nunca
nos sentimos fortes pela certeza, que é muito nossa, e que aqui vibra
em nós com singular fôrça e nos lembra que somos nós os defensores
do espírito, os tutores do destino humano e os intérpretes das verda
deiras esperanças. E não é isto, acaso, o amor que na Sagrada Escri
Discurso de Abertura da Quarta Sessão 433
tura apresenta a fórmula magnífica e lapidar- Demos crédito ao amor
que Deus nos tem” (Jo 4,16)?
Na verdade o Concilio toma lugar na história do mundo contempo-
raneo_ como a ma.salta, a mais clara e a mais humana afirmação dum^
religião sublime, nao inventada pelos homens mas revelada por Deus,
a qual consiste na relaçao enaltecedora de amor que êle, o Pai ine-
fável, por meio de Cristo seu Filho e irmão nosso, estabeleceu, no Es-
pinto Santo vivificador com a humanidade.
2. Eis agora o segundo momento da nossa caridade conciliar. Por
que, ao dizermos isto, sentimos não estar sós. Nós somos o povo, o po
vo de Deus. Nós somos a Igreja Católica. Somos uma sociedade sem
par, visível e espiritual ao mesmo tempo. O Concilio faz-nos com
preender melhor que a nossa Igreja é uma sociedade fundada sôbre a
unidade da fé e sôbre a universalidade do amor. A busca duma socia
bilidade superior e perfeita não constitui o problema capital da his
tória, que parece insolúvel se pensamos nas eternas vicissitudes de Ba
bilônia, tragicamente confirmadas na nossa época. Está pelo contrário
terminada para nós, nos seus princípios, ainda que na prática só vir
tualmente realizada. E sabemos que não pode ser desmentida a solução
que possuímos, quer dizer, a comunhão que nos une, e nós vamos pre
gando, porque não se funda em critérios de idolatria individual ou ido
latria social, mas sim sôbre um princípio religioso incontroverso: o amor,
o amor aos homens motivado não pelos seus méritos ou pelos nossos
interêsses, mas pelo amor de Deus. E nunca como hoje, desde o dia em
que a Igreja nascente “era um só coração e uma só alma” (At 4,32),
a Igreja afirmou, viveu e gozou, pediu e desejou que fôsse plenamente
realizada a efetiva e mística unidade, que Cristo lhe concede, como na
celebração dêste presente Concilio. No tumulto dos acontecimentos con
temporâneos na previsão de futuras alterações, na desanimadora expe
riência das sempre renascentes discórdias humanas, e no irresistível ca
minho dos povos no sentido da sua unificação, tínhamos necessidade de
verificar quase experimentalmente a unidade que nos constitui a todos
família e templo de Deus, Corpo místico de Cristo; tínhamos necessidade
de nos encontrarmos e de nos sentirmos verdadeiramente irmãos, de
trocarmos o beijo da paz, de nos amarmos, numa palavra, como Cris
to nos amou.
E aqui, o nosso amor já encontrou e continuará ainda a encontrar
expressões que caracterizam êste Concilio diante da história presente
e futura. Tais expressões responderão um dia ao homem empenhado
em definir a Igreja neste momento culminante e crítico da sua exis
tência: que fazia a Igreja Católica naquele momento? perguntar-se-á.
Amava, será a resposta. Amava com coração pastoral, todos o sabem,
ainda que seja difícil penetrar a profundidade e riqueza dêste amor
que Cristo fêz brotar três vêzes do coração arrependido e ardoroso
de Simão Pedro. Bem vos lembrais: “Jesus diz a Simão Pedro. ,,m ’
filho de João, amas-me mais que êstes? - responde-lhe: sim,, o se
nhor: tu sabes que te amo; diz-lhe Jesus: apascenta o meu ^
(Jo 21,15). E o mandato de apascentar o seu rebanho, manda
riva do amor de Cristo, dura ainda e da razao e cátedras par-
como se estende, dura ainda e dá razão de ser as v
434 III. Documentos
ticulares. veneráveis Irmãos. Hoje afirma-se com nova consciência e
novo vigor. E’ êste Concilio que o diz: A Igreja é uma sociedade fun
dada sôbre o amor e governada pelo amor. Também se dirá: A Igreja
do nosso Concilio amava com coração missionário. Todos sabem como
êste sacrossanto Sinodo intimou todos os bons católicos a serem após
tolos e como dilatou os limites do zêlo apostólico até abrangerem to
dos os homens, tôdas as raças, tôdas as nações e tôdas as classes:
a universalidade do amor, mesmo quando vence as forças de quem a
persegue, ou exige dêsse amor a entrega total e heróica, teve aqui,
e oxalá tenha para sempre, a sua voz solene.
A Igreja do Concilio Ecumênico Vaticano II amava também de
verdade, com coração ecumênico, quer dizer com coração dilatado, hu
milde, afetuoso, todos os irmãos cristãos ainda estranhos à perfeita
comunhão com esta nossa Igreja una, santa, católica e apostólica. Se
durante a realização dêste Concilio houve uma nota repetida e emocio
nante, foi de fato aquela que encarou o grande problema da reinte
gração de todos os cristãos na unidade desejada por Cristo, encarou
as suas dificuldades e as suas esperanças. Não é esta, veneráveis Ir
mãos e vós, Reverendos e queridos Observadores, uma nota de caridade?
3. Nem esta reunião conciliar, tôda concentrada à volta do nome
de Cristo e da sua Igreja, e que por isso tem caracteres e limites bem
definidos, poderá considerar-se satisfeita de si mesma, e por conse
quência fechada sôbre si, ignorante dos interêsses dos demais e a êles
insensível, aos interêsses das multidões imensas de homens, que não têm
a dita de terem sido recolhidos, como nós o somos sem mérito próprio,
neste feliz reino de Deus, que é a Igreja.
Não é assim. O amor que anima a nossa comunhão não se aparta
dos homens, não nos torna exclusivistas nem egoístas. E’ precisamente
o contrário: o amor que vem de Deus forma-nos no sentido da univer
salidade; a nossa verdade incita-nos à caridade — lembrai-vos da in
dicação do Apóstolo: “Veritatem autem facientes in caritate”, realiza
mos a verdade no sentido da caridade (Ef 4,15). E aqui, nesta assem
bléia, a manifestação da fé e da caridade tem um nome sagrado^ e
grave: denomina-se “responsabilidade” ; São Paulo diria “urgência”. “Ca-
ritas Christi urget nos”. “A caridade de Cristo urge-nos” (2 Cor 5,14).
Nós sentimo-nos responsáveis diante de tôda a humanidade. Somos de
vedores para com todos (cf. Rom 1,14). A Igreja neste mundo não
é fim de si mesma; está ao serviço de todos os homens; deve tornar
presente Cristo a todos, indivíduos e povos, do modo mais amplo e mais
generoso possível; esta é a sua missão. A Igreja é portadora de amor,
favorece a verdadeira paz e repete com Cristo: “Ignem veni mittere in
terram”, vim trazer fogo à terra (Lc 12,49). A Igreja tinha também
necessidade desta consciência, desta declaração, e o Concilio apresentou-
lhe essa desejada oportunidade.
Podemos nós acaso esquecer que vem aqui desaguar o rio da his
tória secular da salvação, história terrena do amor celestial? Deixare
mos de notar que êste Concilio revela à própria Igreja uma consciência
mais plena e profunda das razões da sua existência, que são as misterio
sas razões de Deus “que amou o mundo”? (Jo 3,16). E que revela tam-
Discurso de Abertura da Quarta Sessão 435
bém as razões da sua missão semnrp Q . ,
novadores e vivifieadores para a humanidade? ^ 3 Cm fermentos re‘
* ■ ?. S nCnÍ!',°nHnfep CH à ,gr.eja- e a especialmente, a visão pano-
*plar? aÍDeixar; def amar
í era 3 f T ’ Poderemos
o mundo? Esta contemplaçãonós deixar
será deum a dos
contem-
atos
principais da Sessão do nosso Concilio que agora principia. Contem
plara ainda e sobretudo, amor: amor aos homens de hoje como êles
são e onde quer que estejam, a todos. Enquanto outras correntes de
pensamento e de ação proclamam bem diversos princípios para construir
a civilização dos homens como são o poderio, a riqueza, a ciência,
a luta, e outros elementos a Igreja proclama o amor. O Concilio é
um ato de solene amor à humanidade. Cristo nos ajude para que assim
seja de verdade.
E nesta altura assalta-nos um pensamento, que parece opor-se a
esta suave e forte irradiação da nossa simpatia cristã e humana para
com tôdas as pessoas e todos os povos desta terra. Sabemos, na verda
de, por experiência sempre amarga e sempre atual, que mesmo o amor,
e talvez o amor de maneira especial, encontra e provoca indiferença,
oposição, desprêzo e hostilidade. Nenhum drama, nenhuma tragédia igua
lou o sacrifício de Cristo, que exatamente por causa do seu amor e por
causa da inimizade alheia sofreu a cruz. Muitas vêzes a arte de amar
se converte na arte de sofrer.
Assim também a Igreja: desistirá ela da sua missão de amor por
causa dos riscos e das dificuldades, que a ela se opõem?
Ouvi mais uma vez a S. Paulo: “Quem nos separará então da ca
ridade de Cristo?” (Rom 8,35) e recordai de nôvo a enumeração das
adversidades que o Apóstolo, como que desafiando-as, vai apresentan
do; para recordar que da caridade nada nos pode, nada nos deve sepa
rar. Pois bem, êste Concilio pede humildemente ao Senhor a graça de
o tornar digno de se alegrar como os primeiros Apóstolos (At 4,41),
das ofensas sofridas pelo nome de Jesus. Porque ainda agora a ofensa
é grave e dolorosa para êste pacífico Concilio: Não poucos dos que
deveríam sentar-se aqui convosco, veneráveis Irmãos, faltam ao nosso
convite, por se encontrarem injustamente impedidos de vir. O que é
sinal de ainda ser grave e dolorosa a opressão que em não poucos
países atinge a Igreja católica e com cálculo premeditado tende-se a su
focá-la e a suprimi-la. O nosso coração enche-se de amargura ao lem
brar-se disto, que mostra quanto o mundo está ainda longe da \er-
dade, da justiça, da liberdade e do amor, quer dizer da paz, para usar
as palavras do nosso venerado predecessor João XXIII (cf. P a te m in
te r r is ).
Fiéis porém ao espírito dêste Concilio, nós reagiremos com um
ato duplo de amor aos nossos irmãos que sofrem: levem-lhes os anjos
de Deus a nossa saudação, o testemunho de que nos lembramos deU.^
o nosso afeto; e conforte-os saber que a dor que sentem, o exemplo que
dão, honram a Igreja de Deus e em vez de apaga ^ P*
vivam na esperança a comunhão de ^ridade que 3 *le!j
r a r .íK s ss -« « -*»’*—
436 III. Documentos
humilde e superior, aquela que nos ensina o Divino Mestre: “Amai os
vossos inimigos... e pedi por aquêles que vos perseguem e caluniam..
(Mt 5.44). Êste Concilio deverá certamente ser firme e claro quanto
à retidão da doutrina; mas, quanto àqueles que por cego preconceito
anti-religioso ou por injustificado propósito antieclesiástico tanto fazem
ainda sofrer a Igreja, em vez de condenar seja quem fôr, terá sentimen
tos de bondade e de paz, e pedirá, sim, pediremos todos com amor,
para que lhes seja concedida por Deus aquela misericórdia que implo
ramos para nós próprios. Seja o amor o único vencedor de todos.
E triunfe entre os homens a paz! A paz que, precisamente nestes dias,
é ferida e sangra por duros conflitos entre povos que têm tanta ne
cessidade de paz! Não podemos silenciar, nem mesmo neste momento,
nosso vivíssimo desejo para que cesse a guerra, regresse entre as gen
tes o respeito mútuo e a concórdia e, sim, prontamente e sempre triun
fe a paz!
E aqui termina o Nosso discurso que não pretende senão escla
recer o sentido e reavivar o espírito desta última Sessão do Concilio
Ecumênico. Como vêdes, veneráveis Irmãos, não tocamos nenhum dos
temas que serão propostos ao exame e às deliberações desta assembléia.
O Nosso silêncio não oculta porém, manifesta até o Nosso propósito
deliberado de não Nos anteciparmos com a Nossa palavra à livre orien
tação das vossas opiniões acêrca dos assuntos propostos.
Não podemos contudo omitir algumas coisas.
A primeira é o Nosso reconhecimento a todos que trabalharam, e Nós
sabemos com quanto cuidado, nas comissões e subcomissões para a me
lhor redação dos esquemas que serão em breve discutidos. Qualquer que
seja o juízo que vós venhais a dar sôbre tais esquemas, todos aquêles
que lhes dedicaram estudos, tempo e canseiras, merecem aplauso e re
conhecimento.
A segunda coisa é o anúncio, que temos o prazer de vos dar, de
ter sido instituído, segundo os desejos dêste Concilio, um Sinodo Epis
copal, que, sendo composto de Bispos nomeados, pela maior parte, pelas
Conferências Episcopais, com a Nossa aprovação, será convocado, se
gundo os desejos da Igreja, pelo Romano Pontífice, como órgão con
sultivo e de colaboração, sempre que isto lhe pareça oportuno. Julgamos
supérfluo acrescentar que esta colaboração do Episcopado deve trazer
grande ajuda à Santa Sé e a tôda a Igreja, e de modo particular po
derá ser útil ao trabalho cotidiano da Cúria Romana, à qual devemos
tanto reconhecimento pela sua valiosíssima ajuda e da qual, como os
bispos nas suas dioceses, também Nós temos permanente necessidade
para as Nossas solicitudes apostólicas. Outras normas e pormenores
serão dados a conhecer quanto antes à Assembléia. Nós não quisemos
privar-nos da honra e da satisfação de vos fazermos esta pequena co
municação para vos testemunhar mais uma vez, pessoalmente, a Nossa
confiança, a Nossa estima e a Nossa fraternidade. Colocamos debaixo
da proteção de Maria Santíssima esta bela e prometedora novidade.
A terceira, que já vos é conhecida, é a deliberação de aceitarmos
o convite que Nos foi feito de visitar, na sua sede de Nova York, a
Organização das Nações Unidas, por ocasião do vigésimo aniversário
Discurso de Abertura da Quarta Sessão 437
da fundação desta instituição mundial; e fá-lo-emos, permitindo Deus,
durante esta Sessão conciliar, com uma ausência brevíssima, para le
varmos aos representantes das Nações lá reunidos, uma mensagem de
respeito e de paz. Esperamos que à Nossa mensagem se há de unir o
sufrágio da vossa adesão unânime (aplausos). Na verdade, não preten
demos senão unir à Nossa voz o côro das vossas, que sempre, em obe
diência e em virtude da missão apostólica que a vós e a Nós foi confia
da por Cristo, anunciam e auguram a concórdia, a justiça, a fraternida
de, a paz entre os homens de boa vontade, amados por Deus.
Não esquecemos uma saudação reverente e cordial em Cristo diri
gida a todos e cada um de vós, irmãos, unidos neste Concilio, seja
do Oriente seja do Ocidente. Desejamos dirigir também uma expressão
particular de obséquio e satisfação aos Membros do Corpo Diplomáti
co. Fazemos chegar também a Nossa saudação, com reconhecimento,
a todos e a cada um dos Observadores, satisfeito e honrado de os
vermos ao Nosso lado, garantindo-lhes o Nosso respeito cordial. Sau
damos por fim os Nossos caros Auditores e Auditoras, os Peritos, e to
dos os que ajudam e prestam serviço na realização do Concilio; de
modo especial à imprensa, à rádio, à televisão. A todos a Nossa Bên
ção Apostólica.
Motu Proprio "Apostólica Sollicitudo”: Sinodo dos Bispos
N o DISCURSO DE ABERTU-
ra da IV Sessão do Concilio Ecumênico, dia 14-9-1965, o Papa
Paulo VI surpreendeu os Padres Conciliares com a seguinte co
municação: . Temos o prazer de vos anunciar que foi insti
tuído, segundo os desejos dêste Concilio, um Sinodo Episcopal,
que, sendo composto de Bispos nomeados, pela maior parte, pelas
Conferências Episcopais, com a Nossa aprovação, será convoca
do, segundo os desejos da Igreja, pelo Romano Pontífice, como
órgão consultivo e de colaboração, sempre que isto lhe pareça
oportuno. Julgamos supérfluo acrescentar que esta colaboração
do Episcopado deve trazer grande ajuda à Santa Sé e a tôda
a Igreja, e de modo particular poderá ser útil ao trabalho coti
diano da Cúria Romana, à qual devemos tanto reconhecimento
pela sua valiosíssima ajuda e da qual, como os Bispos nas suas
dioceses, também Nós temos permanente necessidade para Nos
sas solicitudes apostólicas. Outras normas e pormenores serão
dados a conhecer quanto antes à Assembléia. Nós não quisemos
privar-Nos da honra e da satisfação de vos fazer esta pequena
comunicação para vos testemunhar mais uma vez pessoalmente a
Nossa confiança, a Nossa estima e a Nossa fraternidade. Colo
camos debaixo da proteção de Maria Santíssima esta bela e pro-
metedora novidade”. No dia seguinte, 15-9-1965, foi publicada
a seguinte Carta Apostólica, que aqui inserimos em nossa
tradução.
A apostólica solicitude com a qual, perscrutando atentamente os
sinais dos tempos, procuramos adaptar os métodos e meios do santo
apostolado às crescentes necessidades de hoje e às diferentes condições
sociais, Nos leva a consolidar com laços sempre mais íntimos Nossa
união com os Bispos, “que o Espírito Santo p ô s... para reger a Igreja
de Deus . 1 Movem-Nos a isso não só a reverência, estima e afeto que
1 A t 20,28.
Mo.u Proprio -Apostólica SoIliciMo": stoo*. dos Bispos 439
bém Nosso gravíssimo ônus de Pastor Universal • -
nutrimos, com justa razão, por todos os irmãos no episcopadT mas tím
gaçao de conduz.r o Povo de Deus às eternas pastagens E^eTtes nos
f°S
tos taosS’ '"fluxos
i ^ f í S hbeneficos
PefrtUrba'?°S e convulsos.
da graça celeste,n iíde ainda assimexperiência
cotidiana tão aber-
sabemos o quanto beneficia ao Nosso cargo apostólico esta união com
os santos pastores.^ Eis por que desejamos com todo o empenho promo-
ve-la, para que nao nos falte, como noutra ocasião asseveramos, o con
forto de sua presença, o auxílio de sua prudência e experiência, o apoio
de seu conselho, o esteio de sua autoridade”. 2
Era portanto normal que, particularmente por ocasião do Concilio
Ecumênico Vaticano II, se arraigasse em Nós a firme convicção da im
portância e necessidade de sempre mais recorrermos à cooperação dos
Bispos, para o bem da Igreja tôda. O Concilio Ecumênico constituiu-se
mesmo a causa da decisão de instituir um Conselho especial e estável
de antístites, com o fito de, mesmo após o Concilio, fazer chegar ao
povo cristão os abundantes benefícios felizmente resultantes de Nossa
íntima união com os Bispos durante o Concilio.
E agora, já próximo o fim do Concilio Ecumênico Vaticano II,
cremos ter chegado o tempo oportuno de efetivar o propósito já há
tempo concebido; e com tanto maior satisfação o fazemos, quanto certo
estamos que os Bispos de todo o orbe católico abertamente aprovam Nosso
propósito, como consta dos votos de muitos santos pastores, a tal res
peito expressos no Concilio Ecumênico.
Por isso, após madura reflexão, por Nossa estima e reverência a
todos os Bispos católicos, e para lhes propiciar mais autêntica e efi
ciente participação em Nossa solicitude pela Igreja universal, motu proprio
e com Nossa autoridade apostólica, erigimos e constituímos nesta cidade
santa, para a Igreja tôda, um conselho estável de Bispos, direta e ime
diatamente sujeito a Nosso poder, ao qual damos o nome próprio de
Sinodo dos Bispos.
Êste Sinodo — que, como tôda e qualquer instituição humana —
poderá, no correr dos tempos, assumir formas sempre mais perfeitas,
rege-se pelas seguintes normas gerais:
I
O Sinodo dos Bispos, pelo qual os Bispos escolhidos de várias
regiões do orbe, prestam mais eficaz colaboração ao Supremo Pastor
da Igreja, constitui-se de modo tal, que: a) seja um órgão eclesiástico
central; b) faça as vêzes de todo o Episcopado católico; c) seja per
pétuo por natureza; d) quanto à estrutura, desempenhe suas funções
temporária e ocasionalmente.
II
Por sua natureza cabe ao Sinodo dos Bispos informar e
selhar. Poderá também gozar de poder deliberativo, ^uanc°
ceder o Romano Pontífice, a quem competirá nesse caso ratinu
decisões sinodais.
AAS 1964, p. 1011.
440 III. Documentos
1. São êstes os fins gerais do Sinodo dos Bispos: a) fomentar a
intima união e a cooperação entre o Sumo Pontífice e os Bispos de
todo o mundo; b) proporcionar informações diretas e fidedignas sô
bre os problemas e situações atinentes à vida interna da Igreja, e sua
respectiva ação no mundo atual; c) facilitar a concórdia das opiniões,
ao menos nos pontos essenciais da doutrina, e quanto ao modo de agir
na vida eclesiástica.
2. Fins especiais e imediatos: a) intercâmbio de informações opor
tunas; b) aconselhar sôbre as questões, para as quais se convocará
cada vez o Sinodo.
III
O Sinodo dos Bispos está direta e imediatamente sujeito à auto
ridade do Romano Pontífice, ao qual além disso caberá: 1) convocar o
Sinodo, sempre que lhe parecer oportuno, e designar o local das reu
niões; 2) ratificar a eleição dos membros de que falam os nn. V e VIII;
3) marcar o assunto dos debates, se possível ao menos 6 meses antes
da realização do Sinodo; 4) cuidar do envio dos assuntos a tratar aos
que deverão participar nos debates; 5) estatuir a ordem do dia; 6) pre
sidir ao Sinodo, pessoalmente ou por outros.
IV
O Sinodo dos Bispos pode reunir-se em assembléia geral, extraor
dinária e especial.
V
0 Sinodo dos Bispos, reunido em assembléia geral, compreende,
primeiro e de per si:
1. a) Os Patriarcas, Arcebispos Maiores e Metropolitas indepen
dentes dos Patriarcados das Igrejas Católicas de rito oriental; b) os
Bispos eleitos pelas Conferências Episcopais Nacionais, a teor do n. VIII;
c) os Bispos eleitos pelas Conferências Episcopais de várias nações,
i. é, instituídos para as nações sem Conferência Nacional própria, a
teor do n. VIII; d) acrescem a êsses dez religiosos, representantes dos
Institutos Religiosos Clericais, eleitos pela União Romana dos Superio
res Gerais.
2. Participam também da assembléia geral do Sinodo dos Bispos
os Cardeais postos à frente dos Dicastérios da Cúria Romana.
VI
0 Sinodo dos Bispos, reunido em assembléia extraordinária, com
preende:
1- a) Os Patriarcas, Arcebispos Maiores e Metropolitas indepen
dentes dos Patriarcados das Igrejas Católicas de rito oriental; b) os
residentes das Conferências Episcopais Nacionais; c) os Presidentes
d p Conferências Episcopais de várias nações, instituídas para as na
ções que não têm Conferência Episcopal própria; d) três religiosos,
representantes dos Institutos Religiosos Clericais, eleitos pela União Ro
mana dos Superiores Gerais.
Motu Pr°Prio “Apostólica Sollicitudo”: Sinodo dos Bispos 4 4 .
2. Participam também da assembléia extraordinária do Sinodo dos
Bispos os Cardeais postos à frente dos Dicastérios da Cúria Romana
VII
Reunido em assembléia especial, o Sinodo dos Bispos compreende
os Patriarcas, Arcebispos Maiores e Metropolitas independentes dos Pa
triarcados das Igrejas Católicas de rito oriental, como também os re-
presentantes quer das Conferências Episcopais de uma ou várias na
ções, quer dos Institutos Religiosos, a teor dos nn. V e VIII, contanto
que pertençam todos às regiões, para as quais foi convocado o Síno-
do dos Bispos.
VIII
Assim são eleitos os Bispos representantes de cada Conferência
Episcopal Nacional: a) um para cada Conferência Episcopal Nacional
com não mais de 25 membros; b) dois para cada Conferência Episcopal
Nacional com não mais de 50 membros; c) três para cada Conferência
Episcopal Nacional com não mais de 100 membros; d) quatro para
cada Conferência Episcopal Nacional com mais de 100 membros. As
Conferências Episcopais Internacionais elegem seus representantes se
gundo as mesmas normas.
IX
Na eleição dos que representam, no Sinodo dos Bispos, as Confe
rências Episcopais de uma ou várias nações, e os Institutos Religiosos,
tenha-se em muita conta não só a sua prudência e ciência, em geral,
mas também o seu conhecimento teórico e prático da matéria a tratar
pelo Sinodo.
X
O Sumo Pontífice, se lhe aprouver, aumentará o número de mem
bros do Sinodo dos Bispos, elevando o número quer de Bispos, quer
de Religiosos representantes dos Institutos Religiosos, quer, enfim, de
peritos eclesiásticos, até 15% do total de membros de que falam os
nn. V e VIII.
XI
Finda a assembléia, para a qual se convocou o Sinodo, cessam,
ipso facto, tanto a reunião das pessoas do mesmo, quanto os ofícios e
funções de cada membro como tal.
X II
O Sinodo dos Bispos tem um Secretário perpétuo ou geral, assis
tido por número conveniente de ajudantes. Além disso, tôda assembléia
do Sinodo dos Bispos tem um secretário especial, que permanece no
cargo até o fim daquela. . .
Tanto o Secretário Geral como os especiais nomeia-os o sumo
P°ntístoe' decretamos e estatuímos, não obstante qualquer eoisa contrária.
Dado em Roma, junto de São Pedro, aos 15 dias do mêr
tembro do ano de 1965, terceiro de Nosso pontificado.
P a u lu s PP- vi
Concilio - V — 29
Homília de Paulo VI na Sessão Pública de 28-10-1965
ALOCUÇÃO PRONUNCIA-
da durante a Sessão Pública do dia 18-11-1965 anunciou Sua
Santidade: “Os estudos para a reforma da Cúria já se inicia
ram e estão a bom caminho. Comunicamos que não se verifi
cou necessidade grave de mudanças estruturais, fora do proces
so de sucessão e substituição dos titulares. Requerem-se, com
efeito, poucas renovações, algumas simplificações e aperfeiçoa
mentos. Os critérios que devem orientar êste organismo serão
enunciados e estabelecidos mais claramente. A transformação de
sejada vai parecer lenta e parcial. Mas assim deve ser, se qui
sermos respeitar devidamente as pessoas e tradições. Mas a
transformação virá. Para que seja dada alguma prova às Nos
sas palavras, podemos anunciar que brevemente será publicado
o nôvo estatuto do Santo Ofício, primeira entre as Sagradas Con
gregações Romanas”. No dia 7 de dezembro de 1965 foi assi
nado o documento de reforma do Santo Ofício, do qual damos
aqui nossa tradução.
Os Pontífices Romanos, em união com o Corpo episcopal, guarda
ram, no correr dos séculos e em meio às vicissitudes humanas, o de
pósito da religião revelada que lhes fôra confiado por Deus para ser
integralmente conservado, de tal sorte que o transmitiram intacto até
os nossos dias. Assim se manifesta a assistência divina, pois por êles
age o Espírito Santo, que é como que a alma do Corpo místico de Cristo.
Mas a Igreja, que é de instituição divina e trata das coisas divi
nas, é composta de homens e vive entre os homens. Por isto tem-se
servido, para desempenhar sua tarefa, de diversos meios corresponden
tes à diversidade das épocas e da cultura humana. Devia ela, com e/ e‘"
to, tratar questões tão numerosas e tão importantes, qüe os Pontífices
Romanos e os Bispos, absorvidos por inúmeros cuidados, não teriam
podido levá-las a bom têrmo. Da própria natureza das coisas foi que>
portanto, tiveram nascimento os organismos administrativos, isto é, a
Cuna, cuja tarefa é facilitar o govêrno da Igreja velando pelo respeito
Motu Proprio “Integrae Servandae” 45,
das leis, favorecendo as iniciativas que permitam â r i
»eu fim, e resolvendo as controvérsias qne p u ta™ !" °
dificações t a í t o X ^ i d S a s ~
a , Tdi&\rnw2rs=s: ^
Cdnònicr
x t ssjísí
completamente integradas no Código de d S
Mas, após essas Constituições, e também após a promulgação do
Codigo, as coisas e os tempos mudaram muito, como Nós mesmoo di
zíamos na alocuçao que tivemos ensejo de dirigir aos Cardeaise ao
pessoal da Curia Romana a 21 de setembro de 1963 (cf AAS 1963
pp. 793 s).
Considerado tudo, e após pedirmos o parecer de Nossos veneráveis
Irmãos os Cardeais da Santa Igreja Romana e dos Bispos, tomamos
a decisão de realizar uma certa reforma da Cúria Romana. E, sem dú
vida alguma, havia que começar pela Congregação do Santo Ofício,
de cuja alçada são as questões mais importantes da Cúria Romana:
as que concernem à doutrina da fé e dos costumes, bem como as causas
estreitamente ligadas a essa doutrina.
Foi a 21 de julho de 1542 que Nosso predecessor, de feliz memória,
Paulo III, pela Constituição apostólica Licet ab initio, fundou a sacra
Congregação da inquisição Romana e Universal. Incumbiu-a especial
mente de reprimir os delitos contra a fé, de proscrever os livros e de
nomear Inquisidores em tôda a Igreja. A autoridade dela estendeu-se,
muitíssimas vêzes, a outras questões, por causa da dificuldade ou da
importância especiais destas.
Em 1908, como o título de “Inquisição Romana e Universal” já
não correspondesse às circunstâncias do tempo, pela Constituição Sapienti
Consilio S. Pio X decidiu fôsse ela de então por diante chamada “Con
gregação do Santo Ofício”.
Mas, porque o amor perfeito bane o temor (1 Jo 4,18), a proteção
da fé será agora melhor assegurada por um organismo encarregado
de promover a doutrina, o qual dará novas forças aos arautos do
Evangelho, mesmo corrigindo os erros e reconduzindo com doçura ao
bom caminho aquêles que dêste se afastaram. Por outro lado, o pro
gresso da cultura humana, cuja importância para a religião nao e\e
ser descurada, faz com que os fiéis sigam mais plenamente e com
amor as diretrizes da Igreja se virem bem a razão de ser das» e im
ções e das leis, pelo menos tanto quanto isto é possível em ma ena
fé e de costumes. J
Por isso, para que essa sagrada Congregação se desobrigue ma.
perfeitamente da tarefa que lhe incumbe, isto e, e i ’ . , tarefas
doutrina e o cumprimento, pela Igreja de suas. d£ Apostólica ha-
à í õ b r i g T , « r „ “ ;,,va° ^
supérfluos. O plano de pastoral deve, além disso, esíabelecerclalmente
as metas que se perseguem, fixar os critérios de escolha, e prioridade S e
as múltiplas necessidades apostólicas e ter na devida conta os elemen
tos, pessoal e meios, de que se pode dispor. O plano de pastoral
sera mais concreto se fôr determinado também quanto ao tempo de
aplicação e se articular em uma pastoral de tipo missionário, que não
se limita a conservar intactas ou a aperfeiçoar posições conquistadas,
mas se dirige para a expansão e a conquista.
Para garantir a execução dos planos de pastoral será conveniente
instituir, como foi feito em algumas Nações, um Secretariado de coorde
nação do apostolado, dependente das Conferências Episcopais, com ra
mificações e conexões em cada diocese, que lhes garantam um eficiente
funcionamento.
Evitando os danos dos extremismos, recordamos ainda uma vez que
é indispensável trabalhar unidos: aqui a uniformidade é fôrça, torna-se
tradição.
— conforme a doutrina da Igreja: O Pastor enfim age sempre se
gundo a doutrina da Igreja: esta, com admirável continuidade e tem-
pestividade, soube sempre adaptar a sua ação a qualquer difícil mo
mento histórico, suscitando, por virtude do Espírito de Deus que a acom
panha, normas e instituições sempre novas para satisfazer a novas
necessidades.
Principais Setores e Instrumentos de Ação. — Falta examinar rà-
pidamente os principais setores de ação a promover na comunidade cristã
através das pessoas e das instituições de que se dispõe.
Clero. — Primeiríssimo dever do Pastor é de assistir e confortar os
seus sacerdotes os diocesanos e outros vindos em auxilio. Deve refle-
tir: se sempre teve cuidado de encaminhar as energias dos sacerdotes
de maneira mais frutuosa. procurando antes de tudo conhecer bem as
suas atitudes particulares, ajudando-os e acompanhando-os paternamente
nas suas emprêsas apostólicas; se é sempre solicito quando alguns sa
cerdotes atravessam dolorosas crises de fe, de vocaçao ‘ .
e têm por isso urgente necessidade de conforto e de estimulo, e de
ver nòvamente brilha" ante seu olhar desmotteado. em toda a g r a n
deza e seu esplendor, a altíssima vocaçao que *-
para formar um mundo nôvo.
Providencialmente, como dizíamos, êsses, entretanto,
ração de sacerdotes provenientes de *; j aj a necessidade de
têm mentalidade e formação d,fer®"te ‘oferec'idas à sua filial e dócil
diretrizes coordenadoras e unificado t.
464 III. Documentos
s
Irmãos do Episcopado Italiano! ENHORES CARDEAIS! VENERADOS
O Concilio, pode-se dizer, findou; mas não queremos que êle se
dissolva sem que Nos encontremos por um momento com os Bispos
Italianos como Nos encontramos com os dos outros Países. Acaso não
sao os Bispos Italianos os que mais perto estão de Nós, local, canô
nica, espiritualmente? O encontro, ao término dêste grande aconteci
mento^ afigura-se-Nos um dever do nosso múnus apostólico, como é uma
necessidade do coração. E, se quiséssemos seguir os sentimentos e os
pensamentos que tal encontro faz surgir-Nos na alma, muito teríamos
que dizer, ao passo que é breve o tempo a Nós concedido, e nem esta
seria, talvez, a ocasião mais propícia.
Renunciamos aos comentários. Qual tenha sido o desenvolvimento
do Concilio, seus problemas e suas conclusões, qual tenha sido a parti
cipação do Episcopado Italiano no mesmo Concilio, quais as vossas
relações conosco nessa extraordinária circunstância, quais as que tivestes
com os Bispos de outros Países, qual tenha sido o eco, na Itália e fora,
da posição efetiva, ou suposta, dos Padres conciliares italianos no Si
nodo ecumênico, e quais possam ser os frutos desta singular e impor
tante experiência, agora não o dizemos.
Renunciamos também à síntese dos fatos, dos trabalhos realizados,
das impressões e dos juízos sôbre êsse acontecimento histórico da vida
da Igreja que hoje se encerra; cada um, certamente, sente-se atraído
a fazer por si esta síntese; decantando as lembranças, o tempo ajudará
a clareza dela; e a reflexão, a troca de idéias, a atenção às vozes da
crônica e da crítica ajudarão a melhor avaliar o significado polivalente
do nosso Concilio.
Renunciamos até às saudações; ao menos às formas que nesta cir
cunstância elas deveríam assumir, ornando-se de agradecimentos, de evo
cações, de avaliações, de votos e de cordiais efusões. Seja-vos, todavia,
assegurada a Nossa devota e afetuosa benevolência, particularmente sin
cera nesta hora de despedidas e de retorno à posição normal de ca a
u"i. E, ao término desta Audiência, consentido Nos seja cons°l™T
comunhão das almas, que ora mais do que nunca eve ^ ^ : nvoca-
com a recitação de uma prece ao Senhor, de cuja bon a e o
°ios sermos assistidos e abençoados.
470 III. Documentos
Antes que para o passado, mesmo se igualmente merecedor de ava
liação e de meditação, olhemos um instante para o futuro, para aquilo
que nos espera, para os nossos comuns e novos deveres.
Poucas coisas, entre as muitíssimas que esta perspectiva única nos
apresenta, fornecem agora matéria para as Nossas breves palavras.
A primeira coisa parece-Nos ser a “consciência pós-conciliar”. Nós
mesmos devemos recomendá-la a nós, uma vez que todos deveremos pro
curar infundi-la nos outros, no Clero e nos Fiéis. Findo o Concilio
volta tudo ao que era antes? As aparências e os hábitos responderão
que sim. O espírito do Concilio responderá que não. Alguma coisa, e não
pequena, deverá ser, também para nós — antes, sobretudo para nós
— nova. As mudanças de tantas formas exteriores? Sim, mas não é a
estas que ora aludimos. Aludimos ao nosso modo de considerar a Igre
ja; modo que o Concilio cumulou tanto de pensamentos, de temas teo
lógicos, espirituais e práticos, de deveres e de confortos, a ponto de
exigir de nós um nóvo fervor, um nôvo amor, como que um nôvo es
pírito. Isto dizendo, não queremos insinuar que em Pastores ótimos,
zelosos e santos quais sois, haja deficiência de consciência e de fer
vor; bem sabemos o quanto amais a Igreja e o quanto a ela sois fiéis;
mas cremos que o Concilio possa e deva enriquecer de conceitos e de
energias novas o nosso serviço à Igreja. Ligam-se e religam-se principal
mente a “Constitutio dogmatica de Ecclesia” e o “Decretum de pastorali
Episcoporum munere in Ecclesia” : dêles resultará para nós uma mais
viva consciência da natureza e da missão da Igreja, e um mais esti
mulante conceito do ministério pastoral, não só no que diz respeito às
disposições canônicas, como também pela espiritualidade que deve
animá-lo.
De qualquer modo, venerados Irmãos, não é um período de admi
nistração ordinária o que se segue ao Concilio, nem ainda menos de
descanso ou de fácil ministério; é um período de trabalho mais inten
so, se possível; certamente, de mais atormentadora fadiga: ajude-nos
o Senhor!
Porquanto se trata de dar aplicação aos decretos conciliares. E’
óbvio. Mas devemos ter disto persuasão e propósito. A eficácia pastoral
de um Concilio não depende sòmente da sabedoria e da autoridade das
leis dêste; depende também, e sobretudo, da docilidade e da alacri-
dade com que essas leis são aplicadas. Ensine-nos S. Carlos. E, a êste
propósito, lembremo-nos de que, da nossa aceitação, doravante hu
milde e leal, sem póstumo juízo e sem tácitas ou patentes reservas, das
normas conciliares, dependerá a aceitação do Clero e dos Fiéis. Se so
mos devotos dêsse Magistério Eclesiástico que em nós se personifica
e por nós se exerce, devemos ser os primeiros a aderir docilmente àqui
lo que o Concilio estabeleceu, e moldar nossa mente e ação pela sua
inspirada e indiscutível autoridade.
^ Não é intenção Nossa passar em revista as normas conciliares a
Nosso respeito, e nem tampouco enumerar as questões práticas atinen-
tes ao Nosso ministério. A êste propósito permitimo-Nos evocar o que
tínhamos ocasião de submeter à vossa consideração no Nosso discurso
de 14 de abril do ano passado. Neste momento limitamo-Nos a poucas
observações de outro gênero, as quais dizem respeito ao Nosso âniiuo
mais do que as coisas de fora.
Paulo VI aos Bispos da Itália (6-12-65)-
. . 0 BisP° Pós-Conciliar 471
Eis aqui uma: acêrca da nossa autr> • i ^
dlio. Fatos, tendências, palavras, teorias Z L epÍSC°pal’ aPós 0 ^on
de, põem em questão não só esta ou ’aaZ í . °. Imbre da atualida-
prio principio da autoridade. Todos nós s a h Z °ndade’ senão 0 Prt-
favor para com a autoridade, por mak J Z ,corT,° esta aura da des-
seja, tem penetrado, aqui e acolá mesmo nn = ?• 6 leg,t,ma Que esta
bem, a Nós parece que a autoridade episcopal Pois
cada na sua instituição divina, confirmadaPn*' f do Concrlio reivindi-
vel, valorizada nos seus podêres pastorais hp U3- .íuaçao «nsubstítuí-
( i„ e * fiovêrno, bon,.*’
da comunhão colegial precisada na sua colocação hierárqJS confor
tada na corresponsabilidade fraterna com os outros Bispos em face
das necessidades universais e particulares da Igreja, e ainda mais asso-
ciada, em espirito de subordinada união e de solidária colaboração com
o chefe da Igreja, centro constitutivo do Colégio episcopal Mister se
fará uma descrição doutrinai orgânica da figura do Bispo* conforme
resumindo e desenvolvendo os elementos teológicos e canônicos tradi
cionais, o Concilio delineou; teremos motivo para humildemente agra
decer ao Senhor a nossa eleição, e para refletirmos continuamente na
natureza e na gravidade dos nossos deveres: reatada e aprofundada nas
longas e laboriosas sessões na aula conciliar, esta meditação deverá
continuar e alimentar sempre a nossa consciência episcopal; e não há
dúvida de que a autoridade de que estamos revestidos caracterizará ess2
consciência e conferirá ao nosso ministério dignidade e vigor.
Qual, porém, o estilo dessa autoridade? Os aspectos humanos de
que ela se reveste: aristocrático, democrático? Êstes têrmos não são ade
quados à figura do Bispo; pronunciamo-los para facilitar o estudo da
quilo que estamos investigando. Mais correspondente à questão é, em
vez disso, o confronto entre as diferentes expressões históricas da au
toridade episcopal; quem é que não vê, por exemplo, como, dantes,
especialmente quando a autoridade pastoral estava associada à autori
dade temporal (o báculo e a espada: quem se não lembra?), os sinais
do Bispo eram os da superioridade, da exterioridade, da honra e, tal
vez, os do privilégio, do arbítrio e da suntuosidade? E então tais sinais
não provocavam escândalo; antes, o povo gostava de admirar o seu
Bispo exornado de grandeza, de poder, de fausto e de majestade. Hoje,
porém, assim não é, nem pode ser. Longe de admirar, o povo surpreen
de-se e se escandaliza quando o Bispo aparece assinalado por ema>ia
dos e anacrônicos distintivos da sua dignidade, e êsse povo ape a e^ a
para o Evangelho. E, por fortuna, hoje nenhum de nos; estaria no
de se proporcionar êsses sobejos distintivos e de ostena-os. * ‘ ^
são pobres; sabemo-lo muito bem: têm dificuldade em
mínimo de decoro a vida mais modesta. Reste, sim, possuem j
sóbrio e digno decoro, exige-o o ofício; mas, por tu o o .
mos deixado de exterior e de mundano, agradeçamos
Lc 22,35). p
Aqui nos deteremos. Talvez para prazer vosso! Mas para desora
zer Nosso, porque mu.tos e grav.ssimos temas teríamos que tratar con'-
vosco: a instrução^ religiosa do povo e especialmente a que se dispensa
nas escolas, a Açao Catol.ca e a incentivação dos fiéis ao testemunho
cristão e ao apostolado, o problema, sempre reocorrente, da imprensa
católica, a moralidade dos espetáculos, da literatura, da vida pública
e privada, etc. Sôbre cada um dêstes pontos não pouco teria o Con
cilio que dizer.
E os outros pontos que interessam diretamente o Episcopado Ita
liano? A Conferência Episcopal: sabemos que foi preparado o nôvo Es
tatuto, e muito prazer teremos em ter vista dêle, e certamente de vos
deferir a Nossa aprovação. A ordenação das Dioceses: sabeis que estão
em curso estudos, inquéritos, projetos de grande importância! Mas de
tudo isto deveremos falar, se Deus quiser, e como se deve, em outra
ocasião futura.
Nesta felicíssima e única ocasião da conclusão do Concilio Ecumê
nico, seja agora suficiente exprimirmo-vos a Nossa dedicada afeição,
os Nossos votos fraternos, a segurança da Nossa espiritual comunhão
(esta manhã celebramos a Santa Missa por vós e por vossas respecti
vas Dioceses), o pedido da vossa benévola adesão e colaboração, e, fi
nalmente, invocando de todo o coração, e em nome dêsse Cristo que re
presentamos, a proteção de Maria Santíssima, darmo-vos a Nossa Bên
ção Apostólica.
Concilio - V 31
Constituição Apostólica “Mirificus Eventus”: Indicção do
Jubileu Pós-Conciliar
EXTRAORDINÁRIO ACONTECI-
mento, que foi o Concilio Ecumênico Vaticano II, recém-encerrado, acom
panhado por tôda a família católica e até por todos os homens, com cres
cente interêsse, nestes quatro últimos anos, está a reclamar de Nós algo,
também extraordinário, que, além de gravar nas mentes a lembrança
duradoura da magna Assembléia — tão importante para a história pre
sente e futura da Igreja — disponha, e é o que mais importa, o espírito
dos fiéis à observância das disposições conciliares.
Com esta reflexão, veio-Nos a idéia de que nada se prestaria tanto,
como já anunciamos, à consecução dêsse escopo, quanto a celebração
de um Jubileu extraordinário. De fato, julgamos que, assim, poder-se-á
cumprir, de um lado, com o imperioso dever de agradecer püblicamente a
Deus os imensos benefícios concedidos à sua Igreja, tanto na época da
preparação, trepidante e esperançosa, do Concilio, quanto durante as di
versas fases, de quatro anos de trabalhos intensos e fecundos; e, de outro
lado, implorar-Lhe ajuda, sobretudo agora, que um frêmito de júbilo e de
expectativa geral nutre a ansiedade de se colherem os melhores resultados.
Ademais, o Jubileu oferecerá, aos católicos de boa vontade, excepcio
nal oportunidade de conversão espiritual, a conduzir à almejadíssima re
novação da vida individual e familiar, pública e social, meta do Con
cilio, ora concluído.
Não Nos parecem infundadas estas esperanças de copiosas vanta
gens, que depositamos no Jubileu. Com efeito, se repassarmos com o
pensamento os anais eclesiásticos, verificaremos que êste salutar costume
nunca se realizou sem os maiores benefícios. A confirmar outros inume
ráveis testemunhos, Nosso Antecessor Pio XII, v. m., afirmou, ao anun
ciar o Jubileu do Ano Santo de 1950: “Se os homens escutarem realmente
esta voz da Igreja, se desprezarem os bens caducos desta terra e dirigi
rem a mente para os impereciveis do Céu, então, sem dúvida, haverá de
se obter a tão desejada renovação dos espíritos, em razão da qual os
costumes, tanto privados como públicos, se conformarão à lei e ao espi
rito de Cristo” (AAS, XLI, 1949, p. 257).
Por êstes motivos, e seguindo o exemplo de Nossos Predecessores,
rendo consultado os Cardeais da S .I.R ., Nossos Veneráveis Irmãos, com
a autoridade de Deus Onipotente, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo,
Constituição Apostólica “Mirificus Eventus”
475
e com a Nossa, para a glória de r w „ i -
Igreja Católica anunciamos e por estas Letís^nro da,S aImas e bem da »
se considere decretado e publicado um íh n ê „ P T gamos> e ««“ «"os
as dioceses do mundo católico, deVimeirn a extr?ordmário em tôdas
de Pentecostes, i. é, até o dia 29 de maio do í e ™ 0 ^ 1966 à fcsta
Dado o anúncio de um temnri Ho p„i
graças celestiais, é Nosso dever aeora ernof30 e?pintual e manancial de
fendemos oferece, nest, d S , T ™ S , , ““ “ m en-
Antes de tudo assim como Nossos Antecessores em iguais condicões
desejamos para todos os fiéis aquela renovação espiritua? q£ se obtS
no santuário intimo da consciência pelo exercício da virtude da penitên-
ca, mediante o Sacramento da confissão, pelo qual, à guisa de um la-
vacro salutar, as almas se purificam no sangue preciosíssimo de Cristo-
o que se nao pode, alias, alcançar sem que os homens cristãos tenham
contacto vjvo e transformador com o Divino Redentor, o qual, seja com
a renovação do Sacrifício incruento da Cruz, causa de nossa salvação,
seja com a Comunhão Eucarística, eleva e aperfeiçoa as almas até che
garem à mais alta e genuína participação da vida divina. Esperamos, pois,
que o Jubileu, ora proclamado, chame os ótimos a superior esforço, e os
bons a generosidade cada vez maior no cumprimento dos deveres da vida
cotidiana, segundo a lei de Deus. Praza aos céus que, durante o período
jubilar, todos aquêles que jazem longe da fonte da graça, sobretudo os
que inconsideradamente tenham esquecido, ou, pior, renegado a fé em
Deus, saibam valer-se da circunstância excepcional, que se lhes oferece,
para recuperar a paz com o Senhor!
Mais ainda: desejamos ardentemente que os discípulos de Jesus Cris
to, não satisfeitos com uma conduta sem culpa, sintam em si mesmos,
enquanto o permitirem as forças humanas, poderoso incitamento para a
santidade, traduzido no exercício efetivo das virtudes cristãs, sobretudo
da caridade; em propósitos concretos de imitação de Cristo Crucificado;
em irradiação fecunda de apostolado. Donde resulte que a Igreja, assim
renovada, colha imensos benefícios e possua, cada vez mais valorizado
e consciente, o impulso conatural de conquista das almas. Começarão,
então, de amadurecer, em tôda parte da Igreja, aquêles frutos opimos, que
estavam nas intenções dos que tanto trabalharam no Concilio. Frutos,
aos quais aludimos resumidamente em Nossa primeira Encíclica, almejan
do que “do Concilio recebesse glória o Senhor, alegria a igreja, edifi
cação todo o mundo” (Enc. Ecclesiam suam, AAS, LVI, 1964, pp. 6-1-fe—).
E, assim como o Concilio, que acaba de se encerrar, foi justamente con
siderado como o Concilio da Igreja — porque nêle a Esposa de Cristo
estudou mais aprofundadamente a sua missão no mundo — assim tam
bém julgamos necessário que o próximo Jubileu tenha uma cara^ n^
especial, i. é, que em todos os cristãos, tanto da Hierarquia como do
laicato católico, se intensifique o sentido da Igreja ( sensus
e que todos tenham dêle uma consciência mais esclarecidae: mas •
E’, pois, sobremaneira importante que, durante o P™*'1™ ’ 0 c0n-
ja, em harmonia com o mesmo espírito que prescri ^ meditar
cilio, não cesse “de aprofundar a consciência e m ’ e edificar,
no mistério que lhe é próprio, de explorar, para
31 *
476 III. Documentos
a doutrina, já conhecida por ela, e enucleada e difundida no derradeiro
século, a respeito da sua origem, natureza, missão e destino final; dou
trina jamais bastantemente estudada e compreendida” (Enc EccIpwnZ
suam. AAS, LVI, 1964, p. 611). Siam
Ora, certo de que êste será o melhor meio de se porem em prática
êstes salutares ensinamentos, achamos oportuno estabelecer que o santo
Jubileu, a celebrar-se em cada diocese, tenha como sede a igreja Catedral
e se desdobre em tôrno da pessoa do Bispo, Pai e Pastor do rebanho!
Realmente, a Catedral da diocese — que costuma ser expressão lumi
nosa da arte e da piedade dos tempos passados, e que encerra, vêzes mui
tas, admiráveis obras de arte — distingue-se especialmente pela digni
dade de conter (como o diz o nome vetusto) a cátedra do Bispo, centro
de unidade, de ordem, de poder, e de magistério autêntico em união com
Pedro. Ademais, a Catedral, na majestade das suas linhas arquitetônicas,
é figura do templo espiritual que se deve edificar interiormente em cada
alma, no esplendor da graça, segundo o Apóstolo: “vós sois o templo do
Deus vivo” (2 Cor 6,16). A Catedral é também símbolo expressivo da
Igreja visível de Cristo, que nesta terra reza, canta e adora; do Corpo
Místico, cujos membros se tornam expressão de caridade, alimentada pela
seiva da graça; e, como se lê na festa da Dedicação, no rito ambro-
siano: “esta é a mãe de todos, sublimada pelo número de filhos; todos
os dias gera para Deus novos filhos, pela virtude do Espírito Santo;
estende seus ramos por todo o mundo; eleva ao reino dos céus os reben
tos, sustentados pelo tronco. E’ esta aquela cidade sublime, edificada sôbre
o cimo do monte, visível a todos e para todos cheia de luz” (Missal
Ambrosiano).
Por isso, é natural que os fiéis, no próximo Jubileu, afluam, a sós
ou em grupos, ao templo principal da diocese, para tomar parte nos
sagrados ritos, para ouvir as pregações e para lucrar as remissões dos
pecados, vulgarmente chamadas de indulgências.
E, já que se vai celebrar o Jubileu, como dissemos, à volta do Bispo,
como em tôrno de seu eixo, exortamos todos os filhos da Igreja a que
se concentrem em volta dêle.
Portanto, como os Bispos, após o encerramento do Concilio, regressam
cheios de santo fervor às suas dioceses, com o empenho de estimular os
fiéis no cumprimento das decisões conciliares, os Sacerdotes e todo o po
vo cristão, em cada diocese, façam-lhes devota coroa, gratos pelo paciente
e rude trabalho que tiveram durante o Concilio; renovem-lhes a expres
são da obediência e do amor filial; garantam-lhes colaboração de preces,
de ação e de sacrifício. Numa palavra, o Clero, os Religiosos, as Reli
giosas e as várias associações católicas de leigos unam-se sob a orienta
ção sábia e paterna de seus Pastores, que, segundo a bela expressão do
Concilio, devem “santificar as Igrejas a si confiadas, de tal modo que
nelas resplandeça o sentido da Igreja universal de Cristo” (Decr. C h ristu s
D o m in u s, n. 15).
Quando o Bispo, na Catedral, preside, na plenitude da sua autori
dade, as reuniões da família diocesana, baixa normas para o exercício
do apostolado, incita ao exercício da caridade e da oração, então, no tem-
Constituição Apostólica “M irificu s Eventus” 477
da pela fé, sôbre aquilo que o Concilio é aos olhos de Deus, na obra de
Cristo e do Espirito Santo, e sôbre aquilo que êle significa para todos os
batizados e, de maneira especial, para aquêles que dêle participam dire
tamente. Não há dúvida nenhuma de que as palavras sobreditas se apli
cam também à cooperação dos observadores-delegados e hóspedes não-ca-
tòlicos: o Concilio é um cimo de caridade — senão sempre propriamente
hierárquico, certamente sempre fraterno — precedentemente jamais atingido.
A prova disto, se mister se fizesse uma, temo-la, manifesta, na experiên
cia por nós vivida durante as três primeiras sessões do Concilio.
Agora, que, por uma derradeira vez, nos é esta graça oferecida, con
vém. pois, que dela tomemos consciência o mais profundamente possível.
Daí brotará também o desejo de acolhermos esta graça com coração aberto,
na disposição de seguirmos com prontidão e com humilde generosidade os
impulsos do Espírito Santo.
Duas vêzes mais Observadores do que na primeira sessão. — Neste
sentido e neste espírito, a todos vós saudo em Cristo, dizendo-vos a mi
nha alegria por aqui nos reencontrarmos outra vez na grande obra que
nos é comum. Acrescida se sente a nossa alegria pelo maior número quer
de Igrejas, de Federações ou de Comunidades aqui representadas, quer de
observadores-delegados e de hóspedes. De 76 que éreis o ano passado,
passastes a 99 — número que pràticamenté é o dôbro do da primeira
sessão do Concilio, em que não passáveis de 49 — e já não são apenas
23 as Igrejas, Federações ou Comunidades aqui representadas, senão 28.
Fazemos questão de dirigir um agradecimento particular às instituições
eclesiásticas que pela primeira vez decidiram fazer-se representar, e uma
saudação fraterna àqueles que pela primeira vez se acham entre nós.
Em vez de vos exprimir, em nome do Secretariado e em meu nome, a
alegria que nos propicia vossa presença tão numerosa, lícito me seja
relembrar as tocantes expressões pelas quais, há alguns meses, o Santo
Padre dizia da confiança que tinha em vós e na vossa ação: “Igualmen
te contamos (para o feliz remate do Concilio) não sòmente com a pre
sença — que desejamos e que nos faz honra — dos “observadores”, dês-
ses Irmãos separados que participarão das reuniões conciliares, mas tam
bém com a sua delicada bondade, assim com a comum esperança de que
um dia, e da maneira como convém, hão de abater-se todos os tapumes
que ainda nos impedem de celebrarmos juntos a perfeita unidade a que
Cristo nos convida”.
As inevitáveis dificuldades. — Quanto ao espirito em que queremos
desempenhar nossa tarefa comum, não há razão para repetirmos aquilo
que não só declaramos, mas que ainda experimentamos, desde a primeira
Sessão: um espírito de fidelidade absoluta à verdade, de respeito das
convicções dos confrades, um espírito de caridade. Quisera eu, de pre
ferência, acrescentar uma reflexão a respeito das inevitáveis dificuldades
que deparamos na nossa tarefa. E’-nos esta reflexão sugerida pelo que
aconteceu no fim da terceira Sessão. Quero falar das dficuldades de úl
tima hora a respeito do texto sôbre o Ecumenismo (cf. vol. IV, pp. 443-
445), da decepção que a muitos elas causaram, e dos receios quanto ao
futuro do diálogo ecumênico. Não quero diminuir os fatos. Sei que não
poucos esforços de todos os partidos fizeram-se necessários para, aos pou
cos, trazer novamente a calma e a serenidade, e não afirmarei que haja
Diálogo com 0s não-Católicos
481
ela voltado a tôda parte. Quero simolesmeníA t,-,*
tudo isso, haverem-se podido dar imnortantpc S3r ° at0 de’ aPesar de
campo ecumênico. Para só c it a m o íT S D a i ,888^ Para 3 ,ren,e "°
visitas oficiais entre o patriarcado ecumênico de Constant^oD^ de
ja Católica Romana, como ainda entre esta e a Federação mundial lute
rana. A meu ver, estes fatos demonstram que a palavra de S Paulo se
aplica também ao nosso caso: “E sabemos que aos que amam a Deul
tudo coopera para seu bem àqueles a quem êle chamou segundo seii
desígnio (Rom 8,28). As inevitáveis dificuldades são, com efeito, um
instrumento pelo qual Deus quer mostrar que os resultados vêm dêle
e não dos homens (cf. 2 Cor 4,7), “a fim de que nenhuma carne vá
gloriar-se diante de Deus” (1 Cor 1,29); as dificuldades também põem
à prova a autenticidade e a solidez da nossa confiança em Deus e da
nossa caridade: enfrentadas e vencidas nesse espírito, tornam-se uma
ocasião para mais estreitamente apertarmos os laços de caridade para
com Cristo, para aumentar o amor da unidade em todos aquêles que crêem
em Cristo, e para consolidar nêles o amor mútuo.
Dificuldades, é certo que as encontraremos também nesta sessão. Bas
ta pensarmos no número e na importância dos esquemas que resta ter
minar, vários dos quais têm um grande alcance sôbre o movimento ecumê
nico. E’ por isto que, como sempre vo-lo pedi desde a primeira Sessão,
renovo-vos o pedido de nos dizerdes com plena confiança tudo o que
não vos agradar, tôdas as vossas observações, tôdas as vossas criti
cas; mas também vos peço vos dignardes de, juntos, conosco, conside
rardes tôdas as coisas com calma serenidade, sobrenatural caridade e
confiança, fazendo acompanhar êste sentimento com a vossa oração co
tidiana, a fim de que Aquêle que começou esta obra a conduza ao seu
têrmo (cf. Filip 1,6).
Neste sentido, mais uma vez vos digo: sêde bem-vindos; mais uma
vez vos agradeço aqui estardes presentes. Formulo o voto mais cordial
por um trabalho útil para Cristo, para sua Igreja, para as instituições*
que dignamente representais, e para a humanidade por êle redimida.
Falando em nome de todos os Observadores e Hóspedes do
Secretariado para a União dos Cristãos, o Rev. Douglas Horton,
americano, ex-moderador do Conselho Internacional Congrega-
cionalista, pincelou com saboroso humor anglo-saxão êsse vivo
quadro da situação e do papel dos Observadores não-catohcos
no Concilio:
Permita-me, Eminência, dizer uma palavra que exprima o sentimento
de todos nós os Observadores.
Abriu-nos V. Eminência muitas portas. F.atam* primeiro dajue
permitiu participar desta encantadora recepção. * ‘ civilizado pôde
ção moderna em que está reunido tudo o que ° homera c* dizad^P ^
imaginar de irracional: várias pessoas pos am s ' maioria não se
mais para elas; bebem não sabem bem o ql'e' ^ l e f o r e pa a que seus
conhecendo entre si, interpelam-se gritando bastante forte, pa
482 III. Documentos
vizinhos nâo mais possam ouvir-se, e dizem entre si banalidades que
logo após esquecerão. Porém as recepções de V. Em. não são dêste tipo
Reunem, numa moldura agradável, pessoas que um interêsse comum apro
xima. que se sentem felizes de estar juntas e guardam de suas conver
sações lembranças que gostarão de conservar por longo tempo. Por tudo
isto lhe agradecemos.
Porém V. Eminência abriu-nos também as portas de S. Pedro. Ima
gino que, quando falam do Concilio, muitos de nós dizem incidentemente
aparentando não ligar a isso maior importância, que os Observadores têm
o direito de entrar na basílica pela porta reservada aos Cardeais. E,
quando, no primeiro dia, nos dirigimos para o local que nos estava re
servado, tivemos de verificar que nossas cadeiras não eram de todo con
fortáveis, mas, mesmo assim, eram as melhores da sala, graças à varinha
de condão de V. Eminência, que abre tôdas as portas. Nada, pois, de
admirar que um Bispo que se assenta bem no fundo da basílica haja,
ao que dizem, declarado: 44Vou deixar a Igreja e voltar aqui como Obser
vador. Assim, ao menos, terei um lugar de onde poderei ver alguma coisa”.
Mas o nosso lugar, sob a lança protetora de S. Longino, é apenas
um exemplo de tudo o que V. Eminência incansàvelmente faz para nos
ser agradável. Nós recebemos os mesmos textos que os Padres do Con
cilio. Podemos ouvir todos os debates, e, se não sabemos latim, podemos
recorrer à tradução simultânea que nos repete a verdade na língua de
“Trafalgar Square”, dos “Champs-Elysées”, da Praça Vermelha ou de
algum outro pôsto avançado da moderna tôrre de Babel. Para nós, êsses
tradutores fazem mais do que transmitir discursos: são os intérpretes dos
homens e das relações, são indispensáveis para nos fazer descobrir as
riquezas interiores do Concilio, inclusive as tensões criadoras. Alguns de
nós têm a vantagem de habitar o luxuoso hotel “Castel SanfAngelo”, que
náo tem comparação com o Hilton Hotel, pelo seu clima de boa amizade
e pelas discussões enriquecedoras que ali podem ter-se. Chegamos, com
efeito, a nos conhecermos tão bem uns aos outros, que V. Eminência pode
ser tido como responsável por um reflorescimento de ecumenismo entre
os cristãos não-católicos. E, sobretudo, há êsses encontros hebdomadá
rios que nos permitem discutir diversos assuntos com o Secretariado.
Êles são a noz moscada acrescentada ao banquete de S. Pedro. Por êsses
encontros, sentimo-nos inseridos no âmago do Concilio, e muitíssimas ve
zes, graças a V. Eminência, nossas idéias tomam a aparecer, alguns dias
depois, em S. Pedro, onde são expressas por um bom mensageiro. Eni
tôdas as reuniões somos sempre acolhidos com simplicidade e de coraçao
aberto, e muito gratos lhe somos por nos ter aberto estoutra porta.
Mas aquilo por que mais devedores lhe somos é por nos haver aber
to a porta da sua amizade. Certo, no plano da teologia e do govêrno
da Igreja há divergências que se desenvolveram entre a Igreja Católica
e nós outros durante os séculos em que se procurava o que bem se
pudesse inventar para permanecermos separados. A solução delas ca
berá às gerações, senão aos séculos, que se seguirão. Evidente é, porem,
para tôda gente, que, graças à amizade que V. Eminência nos tem ma
nifestado, foi preparado o terreno sôbre o qual a reconciliação poderá
crescer. Como teólogo, pode V. Em. entender que a amizade não é um
tator teológico. Mas, seja teológica ou não, deve a amizade ter seu pape
Dialogo com os não-Católicos 483
a desempenhar no futuro da lereia n h;0(. •
em demonstrar que malafortunadosJ fatôres r "a° -em díficuldade
desuniões da Igreja (rivalidades Doiítica<! a teo o8,cos intervieram nas
então êste afortunado fator não-teoltico L pT ” ' etc)'. Por ^
haveria de desempenhar seu papel na reuniãn h 3 n.°^sa .a™zade nao
V. E ^ t e ç i . t e * « u rrie » , S a ”
KbreP!tal oudf'"tala,r' aspecto
n0S 'ndlf,erentes-
da vossa Mesmo
teologia,se dona0vosso
estivermos
govêrnodeouacõrdo sô
da vossa
liturgia, nunca ma.s poderemos ser indiferentes a isso. Que estas rela
ções de simples amizade humana se estendam desde êste centro que
V. Em. aqui criou, ate aos extremos da cristandade, e então poder-se-á
dizer que o ecumenismo principiou.
No inicio, eu disse que me fazia o intérprete de todos os Observa
dores. Para terminar, permita-me acrescentar que eu não ficaria zanga
do se estas palavras que lhe são dirigidas chegassem até os corações
de todos os seus fiéis colaboradores do Secretariado, pois a êles tam
bém se endereçam. Guarde, porém, um pouco da nossa gratidão para
si mesmo. Para nós, Observadores, Beatitudo começa por Bea.
r i í r 0^ as reiaçto - »
da por Mons. Willebrands, d irigiu-seT 'c!!M an?l'Cai
chegou a 2, de novembro passado. Ali ir a b a ta S n . e T r S
í! “ ., , “ , C» ,S!,Í ortodoxa, presidida pelo Melropolita
Mehton de Heliópohs. Todos chegaram a acôrdo que nos u -
tes acontecimentos de 1054 nâo interviera pròpriamente nenhum
aspecto doutrinai. Estabelecido de comum acôrdo êste e outros
pontos delicados, assentou-se nos têrmos da declaração conjun
ta, que vieram a ser aprovados por Paulo VI e pelo Patriarca
com o seu Sinodo. Decidiu-se também que ela seria lida no dia
7 de dezembro em Roma, durante a última Sessão Pública do
Vaticano II, e numa cerimônia realizada à mesma hora na Cate
dral patriarcal de Constantinopla. Para assistir a êste ato veio
a Roma uma delegação do Patriarca de Constantinopla, presi
dida pelo Metropolita Meliton, e foi a Constantinopla uma mis
são pontifícia chefiada pelo Cardeal Shehan, Arcebispo de Bal-
timore, nos EE.UU. Na Aula Conciliar a Declaração foi lida
em francês por Mons. Willebrands. E’ êste o texto da Decla
ração Conjunta, que sem dúvida ficará célebre na história da
Igreja:
1. Penetrados de reconhecimento para com Deus pelo favor que, na
sua misericórdia, lhes fêz de se encontrarem fraternalmente nos lugares
sagrados onde, pela morte e ressurreição do Senhor Jesus, se consumou
o mistério da nossa salvação e, pela efusão do Espírito Santo, nasceu
a Igreja, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I não perderam de
vista o desígnio que então conceberam, cada qual por sua parte, de não
omitir no futuro nenhum gesto que a caridade inspire e que possa faci
litar o desenvolvimento das relações fraternas entre a Igreja Católica Ro
mana e a Igreja Ortodoxa de Constantinopla. Estão persuadidos que cor
respondem assim aos apelos da graça divina que leva hoje a Igreja Ca
tólica Romana e a Igreja Ortodoxa assim como todos os cristãos a ven-
cer tôdas as suqs divergências, para serem de nôvo “um” como o Se
nhor Jesus pediu por êles ao Pai.
2 Entre os obstáculos que se encontram no caminho do desenvolví-
mento dessas relações fraternas de confiança e estima, figura a lem
brança das decisões, atos e incidentes penosos, que terminaram em 10»»
pela sentença de excomunhão fulminada contra o Patriarca Miguel Cenila-
rio e duas outras personalidades pelos legados da se romana, conduzidos
pelo Cardeal Humberto, legados que foram êles mesmos a seSul' ° J e
de sentença análoga por parte do patriarca e do sino o c
nopolitano. _
3. E’ impossível fazer com que êsses acontecimentos na0 Ç"
o "que foram nesse período particularmente perturbado da
488 III. Documentos
hoje que se formula um juízo mais sereno e mais eqüitativo sôbre êles
importa reconhecer os excessos que os mancharam e que levaram ulterior-
mente a consequências que ultrapassaram, quanto podemos julgar, as in
tenções e as previsões dos seus autores, cujas censuras atingiam as
pessoas e não as Igrejas e não pretendiam quebrar a comunhão eclesiás
tica entre as sés de Roma e de Constantinopla.
4. Pelo que, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I e o seu
sinodo. certos de exprimir o desejo comum de justiça e o sentimento
unânime de caridade dos seus fiéis, e lembrados do preceito do Senhor:
"Quando tu apresentares a tua oferta sôbre o altar, se te lembrares
dum agravo que o teu irmão tem contra ti, deixa a tua oferenda diante
do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão” (Mt 5,23-24), de
claram de comum acôrdo:
a) lamentar as palavras ofensivas, as acusações sem fundamento, e os
gestos condenáveis, que, de ambas as partes, marcaram ou acompanha
ram os tristes acontecimentos daquela época;
b) lamentar igualmente e apagar da memória e do meio da Igreja
as sentenças de excomunhão que se lhes seguiram, e cuja lembrança
tem atuado até aos nossos dias como obstáculo à aproximação na carida
de, e votá-las ao olvido;
c) deplorar, enfim, os precedentes nefastos e os acontecimentos ulte-
riores que, sob o influxo de diversos fatores, entre os quais a incom
preensão e a desconfiança mútuas, conduziram finalmente à ruptura efe
tiva da comunhão eclesiástica.
5. Êste gesto de justiça e de perdão recíproco, o Papa Paulo VI e o
Patriarca Atenágoras I com o seu Sinodo estão conscientes de que não
pode bastar para pôr fim às divergências, antigas ou mais recentes,
que subsistem entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa e
que, pela ação do Espírito Santo, serão ultrapassadas graças à purifi
cação dos corações, ao arrependimento pelos erros históricos, assim como
à vontade eficaz de chegar a uma inteligência e expressão comum da fé
apostólica e das suas exigências.
Ao cumprirem êste ato, contudo, esperam que êle seja aceito por
Deus, pronto para perdoar quando nos perdoamos uns aos outros, e
apreciado por todo o mundo cristão, mas sobretudo pelo conjunto da
Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa como expressão da sin
cera vontade recíproca de reconciliação e como convite a prosseguir,
em espírito de confiança, de estima e de caridade mútuas, no diálogo
que os levará, com a ajuda de Deus, a viverem de nôvo, para o maior
bem das almas e para a vinda do reino de Deus, na plena comunhão
de fé, de concórdia fraterna e de vida sacramental que existiu entre
elas no decurso do primeiro milênio da vida da Igreja.
7 de dezembro de 1965.
Lida a Declaração Conjunta, o Cardeal A. Bea, Presidente
do Secretariado para a União dos Cristãos, ladeado pelos Car
deais P. Marella e F. Kõnig, respectivamente Presidentes dos
Diálogo com os não-Católicos 489
Secretariados para os não-cristãns P
ao estrado onde está o Santo PadreP nara°S nao'Jrentes> sobe
do Breve pontíllcio Ambulate in d ile c tiZ . Do o “ rolado à «*
querda do Papa sobe também o metropolita Meliton de Heltó’
£ Breve en,lada pOT A" ” á^ ' « o“ «
D u r a n t e a s a n t a m is s a
concelebrada (pelo Papa e 24 Concelebrantes, entre os quais
nosso Cardeal Dom Agnelo Rossi) Sua Santidade pronunciou
a homilia que aqui é reproduzida segundo a tradução forneci
da pelos Serviços de Imprensa do Vaticano:
Concluímos hoje o Concilio Ecumênico Vaticano II. Concluímo-lo na
plenitude da sua eficiência: a vossa presença tão numerosa o demonstra,
a variedade harmoniosa desta assembléia o atesta; o regular epílogo
dos trabalhos conciliares o confirma; a harmonia dos sentimentos e pro
pósitos o proclama; e se não poucas questões, suscitadas no decurso
do mesmo Concilio, ficam à espera de uma resposta conveniente, isto
mesmo indica que não é no cansaço que se encerram os seus trabalhos,
mas na vitalidade que êste Sinodo universal despertou, e que no período
pós-conciliar, com a ajuda de Deus, se dedicarão a tais questões gene
rosas e ordenadas energias. Êste Concilio confia à história a imagem
da Igreja católica figurada nesta aula, cheia dePastores que profes
sam a mesma fé, estão unidos na mesma caridade, e associados na mes
ma comunhão de oração, de disciplina, de atividade, e — o que é ma
ravilhoso — todos desejosos de uma só coisa, oferecer-se a simesmos,
como Cristo nosso Mestre eSenhor, pela vida da Igreja e pela salvação
do mundo. Não é sòmente a imagem da Igreja que êste Concilio entre
ga aos vindouros, mas também o patrimônio da sua doutrina e dos seus
mandamentos, o “depósito” recebido de Cristo e meditado através dos
séculos, vivido e manifestado, e agora em tantas das suas partes, es
clarecido, precisado e ordenado na sua integridade; depósito que a di
vina virtude de verdade e graça, que o constitui, torna vivo e portanto
capaz de vivificar todo aquêle que plenamente o acolha e dêle alimente
a sua humana existência.
O valor religioso do Concilio. — Que coisa, portanto, tenha sido
o Concilio, que coisa tenha operado, seria o tema natural desta nossa
meditação final. Mas essa requerería demasiado tempo e atenção; nem
talvez nesta hora novíssima e estupenda teríamos o ânimo para fazer
tranquilamente uma tal síntese. Queremos reservar êste momento Pre
Homília da Sessão Pública de 7-12-
1965 495
cioso a um umco pensamento, que inclina b„m1i
pintos e ao mesmo tempo os eleva ao 7 demente 08 nossos es-
pensamento é êste: qual o valor n>ii.ril T das nossas aspirações. O
queremos dizer o seu valorde^ rda IH ir ía T ° ° Reli*i(*°-
lação essa que é a razão de ser da ltrreia 1 iCOm ° Deus v,vente- re-
e ama, de quanto ela é e realiza Poderem™ de- qua("t0 e,a crê- “ P6'3
glória a Deus, têrmos buscado o Seu conhecimento e^mnr r™0*5 dad°
gredido no esforço da Sua contemplação, na ansiedade daSu™^IeteT
fp
a aPastores
stô re s aee MMestres
e strJUdosPfr ClamhÇâ° de
dos caminhos / ° nDeus?
homens-
Nós que nos cândidamente
cremos olham como
que sim. Até mesmo porque foi desta inicial e fundamental intenção que
surgiu o proposito que informou o Concilio quando estava para cele
brasse. Ecoam ainda nesta Basílica as palavras pronunciadas na alo-
cuçao inaugural do mesmo Concilio pelo nosso venerado predecessor
João XXIII, que podemos sem dúvida proclamar como o autor do Gran
de Sinodo. Disse êle então: “O que mais interessa ao Concilio Ecumê
nico é que o sagrado depósito da doutrina cristã seja mais perfeita
mente guardado e proclamado... E’ certamente verdade que Cristo Nosso
Senhor pronunciou esta sentença: ‘buscai primeiramente o reino de Deus
e a sua justiça'. Sentença esta que declara perfeitamente para onde
em primeiro lugar deveremos dirigir as nossas forças e os nossos pen
samentos” (Discursos, 1962, p. 583).
Concilio do nosso tempo. — E à intenção sucedeu-se a realização.
Para dignamente a avaliar, é necessário recordar o tempo em que êste
foi levado a efeito; tempo, que todos reconhecem mais dirigido à con
quista do reino da terra que à conquista do reino dos céus; tempo em
que o esquecimento de Deus se toma habitual e parece, aliás sem ra
zão, sugerido pelo progresso científico; tempo em que o ato funda
mental da personalidade humana, tornada mais consciente de si e da
sua liberdade, tende a pronunciar-se pela própria autonomia absoluta
libertando-se de tôda a lei transcendente; tempo em que o laicismo pa
rece a conseqüência legítima do pensamento moderno, e a última palavra
da sabedoria em matéria de ordenação temporal da sociedade; tempo.
além disso, em que as expressões do espírito atingem limites de irra
cionalidade e desolação; tempo, finalmente, que regista, mesmo na^ gran
des religiões dos povos gentios, perturbações e decadências jamai> ex
perimentadas. Num tempo como êste foi celebrado o nosso Concilio,
para honra de Deus, em nome de Cristo, sob o impulso do Espirito,
“que penetra tôdas as coisas”, e que jamais deixou de animar a greja
“para que reconheçamos aquilo que vem de Deus (c • or -• “ ’
ou seja dando-lhe simultaneamente a visão profunda e panoramica da ud
e do mundo. A concepção teocêntrica e teológica do homem e do un-
verso, como que desafiando a acusação de /-acromsmo e a H-e
to, surgiu com o Concilio no meio da humanidade, com pretensões ^
o juízo do mundo começará por qualificar c o m o ’’ente humanas,
pois, esperámo-lo, virá a .«conhecer com» p„„i-
sábias e salutares. Deus existe! Sim, e rea , ' f mesmo, mas
dente, é infinitamente bom; mais ainda, nao so bom -
496 III. Documentos
também imensamente bom conosco, nosso criador, nossa verdade, nos
sa felicidade, de tal maneira que êsse esforço por fixar nêle o ’ olhar
e o afeto, a que chamamos contemplação, se converte no ato mais
elevado e mais pleno do espírito, no ato que ainda hoje deve hierar-
quizar a imensa pirâmide da atividade humana.
Meditação da Igreja sôbre si mesma e sôbre o mundo. — Dir-se-á
que o Concilio, mais que das verdades divinas, se ocupou principalmente
da Igreja, da sua natureza e composição, da sua vocação ecumênica
e da sua atividade apostólica e missionária. Esta sociedade religiosa
de séculos, que é a Igreja, procurou refletir sôbre si mesma para me
lhor se conhecer, melhor se definir, e em conformidade com isto, ordenar
os seus sentimentos e os seus preceitos. E’ verdade. Mas esta intros-
pecção não termina em si mesma, não é ato de pura sabedoria huma
na, de exclusiva cultura terrena; a Igreja recolheu-se à sua íntima cons
ciência espiritual, não para se deleitar em análises eruditas de psicologia
religiosa ou de história das suas experiências, ou então para se dedicar
de nôvo a uma reafirmação dos seus direitos e à formulação das suas
leis; mas sim para reencontrar em si mesma, viva e operante, no Espí
rito Santo, a palavra de Cristo, e para perserutar a fundo o mistério,
isto é, o desígnio e a presença de Deus acima e dentro da mesma Igre
ja, e para reavivar em si aquela fé que é o segrêdo da sua segurança
e sabedoria, e aquêle amor que a obriga a cantar sem descanso os
louvores de Deus: “cantar é próprio de quem ama”, diz S. Agostinho
(Serm. 336; PL 38, 1472). Os documentos conciliares, principalmente
aquêles que tratam da Divina Revelação, da Liturgia, da Igreja, dos
Sacerdotes, dos Religiosos e dos Leigos, deixam claramente transpare
cer esta intenção religiosa, direta e primária, e demonstram como é
límpida, fresca e rica a veia espiritual, que o contacto vivo com o Deus
vivo faz brotar do seio da Igreja, e dela manar para as zonas áridas
da nossa terra. Mas não podemos deixar de fazer uma observação ca
pital, no exame do significado religioso dêste Concilio: o profundo in
terêsse que êle mostrou pelo estudo do mundo moderno. Talvez, em
nenhuma outra ocasião, tanto sentisse a Igreja a necessidade de co
nhecer, de aproximar-se, compreender, penetrar, servir e evangelizar a
sociedade circunstante, de a acolher, quase diriamos, de a socorrer, na
sua rápida e contínua transformação. Esta atitude determinada pelas
distâncias e rupturas verificadas nos últimos séculos, principalmente no
passado e no presente, entre a Igreja e a civilização profana, atitude
>empre sugerida pela missão salvífica essencial da Igreja, continuamente
se mostrou vigorosamente operante no Concilio, a ponto de sugerir
a alguns a suspeita de que um relativismo tolerante e excessivo — em
relação ao mundo exterior, à história fugaz e à moda cultural, às ne
cessidades contingentes, ao pensamento alheio — tenha dominado pes
soas e atos do Sinodo ecumênico, à custa da fidelidade devida à Tra
dição, e em prejuízo da orientação religiosa do mesmo Concilio. Mas
Nós não cremos que ao Concilio, às suas verdadeiras e profundas in
tenções e às suas manifestações autênticas, se possa vir a imputar se
melhante atitude perniciosa.
Homília da Sessão Pública
de 7-12-1965
497
Mais nos interessa fazer notar com» , •
foi sobretudo a caridade; e ninguém ™derá * g'^ d° n08S0 Conti|io
ou de infidelidade ao Evangelho8 por essa lr ? 3-° de irre|igiosidade
recordamos que é o mesmo Cristo aue . açao Pnmária, quando
os irmãos é o caráter distintivo dS seus hT™ , qUe 3 Caridade com
quando deixamos que ressoem aos nnssn discípulos (cf. Jo 13,35), e
licas: "A religião pura e imaculada aos o,Ls°TDeu? e^doTai
visitar os orfaos e as viúvas nas suas trih..i=JL s 6 00 Fa e esta-
da corrupção dêste mundo” (Tgo 1,27); e a in d ? '“Quem "nâr?ara*1?
(í° jo°4!S)a0’ 3 qUem ’ C°m° P°derá 3mar 3 ° eUS 3
O Concilio e o homem. - Sim, a Igreja do Concilio ocupou-se bas-
ante.nao somente de s, mesma e da relação que a une a DeuJ mS
também do homem qual hoje ele se apresenta na realidade: o homem
vivo, o homem todo absorvido em si mesmo, o homem que não sòmente
se faz centro de todo o interêsse, mas que ousa dizer-se princípio e
razao de toda a realidade. Todo o homem fenomênico, isto é, revestido
dos hábitos das suas inumeráveis aparências, como que se apresentou
diante da assembléia dos Padres conciliares, também êles homens, todos
Pastores e irmãos, portanto atentos e cheios de afeto: apresentou-se o
homem com a tragédia dos seus dramas interiores, o homem super
homem de ontem e de hoje, e por isso sempre frágil e falso, egoísta e
feroz; o homem desiludido de si mesmo que se ri e que chora; o homem
versátil, sempre pronto a desempenhar qualquer papel, e o homem cultor
rígido sòmente das realidades científicas; e o homem como êle é, o “ramo
fértil” (Gn 49,22), que pensa, ama, trabalha e sempre espera alguma
coisa; e o homem sacro pela inocência da sua infância, pelo mistério
da sua pobreza, pela compaixão que inspira a sua dor; o homem indi
vidualista e o homem social; o homem “que sempre louva o tempo
passado” e o homem sonhador voltado ao futuro; o homem pecador e
o homem santo... O humanismo laico e profano acabou por se mostrar
na sua terrível estatura, desafiando em certo sentido o Concilio. A re
ligião do Deus que se fêz Homem encontrou-se com a religião (porque
o é) do homem que se faz Deus. Que aconteceu? Escaramuça, luta.
anátema? Poderia assim ter acontecido; mas não aconteceu. A antiga
história do Samaritano foi o paradigma da espiritualidade do Concilio.
Simpatia imensa o penetrou de-Iés-a-lés. A descoberta das necessidades
humanas (que são tanto maiores quanto maior se torna o filho da ter
ra) absorveu a atenção do nosso Sinodo. Concede,-Ihe ao menos este
mérito, vós humanistas modernos, que renunciais a ranscen c
mais ;.to, e reconhecei o nosso nôvo humanismo: também nos, e nos
mais que ninguém, somos cultores do homem.
n ,.
ConUança . , _Qijg
no homem. Quecoisa
c consideroua estudar?
êste augusto Senadomais
Considerou na
natureza humana a uz da d.vimad q ^ do homenli 0 seu ma.
uma vez a sua dupla fact. a mis e noutro quadr0 0 seu bem.
profundo, inegável, incurável J' misteriosa de invicta soberania. Mas é
sempre marcado duma beleza * ^ pondo.se a julgar o homem,
necessário reconhecer que est ’ , aspecto agradável do que
se concentrou muito mais na considerado
49S III. Documentos
. D a cerim ônia d e e n c f r p a .
mento, no dia 7 de dezembro, participaram 90 Missões Extraor
dinárias, enviadas a Roma por governos e por organizações in
ternacionais. Recebendo-as na Capela Sixtina, na tarde do dia
7-12-65, dirigiu-lhes o Papa Paulo VI, em francês, a alocucão
que aqui é reproduzida em tradução própria:
Excelências, Senhores Membros das Missões extraordinárias: Êste
incomparável santuário da arte e da piedade, que há cêrca de meio
milênio acolhe os ouvintes mais diversos, graças a vós é hoje teste
munha de um espetáculo de rara amplitude e de caráter singularmente
significativo. Enquanto o Concilio Ecumênico Vaticano II chega a seu
têrmo, eis que mais de oitenta Nações delegam personalidades alta
mente qualificadas para assistirem às cerimônias de encerramento, e
para, com esta presença, atestarem o interêsse que estas suscitam e a
importância que a êste acontecimento aquelas Nações atribuem.
E, todavia, poder-se-ia pensar: por que motivo a política dêste mun
do, mesmo no seu sentido mais nobre e mais elevado, pode estar in
teressada num Concilio? Não se trata, porventura, de um ato da vida
da Igreja, e, portanto, de um fenômeno de caráter puramente espiri
tual e religioso? A Igreja recolhe-se, consulta-se e se examina; con
centra suas energias, purifica seus modos de pensar e de agir; proce
de a uma renovação, mas a uma renovação antes de tudo interior,
que interessa às relações do cristão com seu Deus. Certo. Mas quem
é que não vê o imenso alcance social de todo êsse acontec,mento?
Se milhões de católicos, em todo o mundo, em certo momento adotam
Sô„re &te „„
8 ar as repercussões de semelhante ' r in,,„e„cia d0! Concilies
outra parte, a historia ai esta para at hktcSria neral dos
não só na história eclesiástica. cCfnoam ‘ ‘ assembléias é
homens e dos povos. O , renovação * todo
sempre a renovaçao interior de cada
502 III. Documentos
êsse corpo social que é a Igreja. Mas dai deriva uma nova influência
para tôda a família humana. Se essa influência se exerce, por exem
plo. no sentido da afirmação da igualdade entre as raças, da colabo
ração entre as classes, da paz entre as nações, fácil é avaliar o bem
imenso que daí pode resultar para o gênero humano inteiro. Vossa
presença aqui, senhores, prova precisamente que os detentores do po
der temporal neste momento compreenderam o alcance do Concilio e lhe
prestam atenção.
Por sua vez, a Igreja está atenta aos problemas dêste mundo
mas considera-os do seu ponto de vista próprio. Ela nota, por exem
plo. o quanto é necessário hoje, para a sorte da humanidade, que tô
das as energias sejam orientadas para a paz. Porém sabe que o dina
mismo da paz náo pode manifestar tôda a sua fôrça se não fôr ali
mentado no interior por uma profunda e verdadeira conversão dos co
rações, e esforça-se para obtê-lo: foi êste um dos escopos principais
do Concilio que se conclui sob vossos olhos. Certamente, consoante o
seu programa, êle tratou questões de fé, de moral, de disciplina, de go
vêrno, de organização eclesiástica; mas o que em tudo isto o inspira
va era, antes de tudo, a solicitude de voltar às fontes puríssimas do
Evangelho, para nêle fundamentar uma renovação de vida e um nôvo
ardor ao pôr em prática a mensagem de Cristo, que é uma mensagem
de amor e de paz.
Já náo era uma pregação viva êste Concilio? Já não era um es
petáculo estupendo de amor e de paz esta assembléia de dois mil Pa
dres conciliares, acorridos dos cinco continentes para junto do Bispo de
Roma, a fim de fraternalmente buscarem, no estudo e na oração, o modo
de repetir ao mundo a mesma mensagem reveladora do Evangelho?
Outro espetáculo ainda mais impressionante não era a concórdia e a
união de tantos homens vindos de horizontes tão diversos, pertencen
tes a nações caracterizadas por culturas, por tradições, por modos de
vida e formas sociais tão diferentes? Dêsse pacífico e sereno con
fronto de tantas diversidades saíram, como o sabeis, após longo e pa
ciente trabalho, textos de uma grande riqueza espiritual, teológica e
humana, por Nós promulgados após haverem alcançado a grande maio
ria, e, muitas vêzes, a quase unanimidade, dos sufrágios.
Êsses textos, senhores, sem dúvida já são, em parte, por vós co
nhecidos. Estudando-os mais de perto, notareis que mais de uma vez
êles tratam do poder temporal e de suas relações com o poder espi
ritual. A Igreja do século XX, a Igreja que sai renovada destas assem
bléias conciliares, aparece-vos sobretudo solícita do verdadeiro bem dos
homens. Apresenta-se ao mundo não para dominá-lo, mas para servi-lo.
Nos diversos campos — familiar, social, econômico, político, interna
cional — ela se esforça por emitir um juízo eqüitativo sôbre as situa
ções e sôbre os problemas; por tirar dêles princípios gerais de so
lução que sejam conformes à lei moral escrita no coração do homem;
por descobrir os perigos em germe nas vastas transformações do mum
do moderno, e por apontá-los à atenção de todos os responsáveis: tudo
isto é o assunto da Constituição pastoral sôbre a Igreja no mundo de
hoje, a qual sem dúvida passará à história como um dos documentos
maiores dêste Concilio.
Discurso às Missões Extraordinárias
503
Na Declaração sôbre as religiões nãn • -
filhos a considerarem os valôres positivosconH^ 'greja- convM* *us
ças, e a cancelar dos seus corações o s s e n t ! ^ e? ,odas as cren-
tal ou tal outro povo, sentimentos pouco de aversão contra
Evangelho. E’ fácil perceber as felizes 30 espírito do
advir para a paz social. sequências que daí podem
Concilio - V — 33
õOS III. Documentos
romano, e todos podem e devem ser atingidos. Ninguém é estranho
para a Igreja Católica, excluído ou afastado. Cada um, ao qual Nossa
mensagem é endereçada, é um chamado e um convidado. E, de certo
modo. está presente! E Nós, especialmente neste momento, em virtude
da Nossa missão pastoral universal e apostólica, Nós amamos todos!
Dizemos, portanto, isto a vós, almas piedosas e fiéis, que, ausen
tes em pessoa desta praça dos fiéis e dos povos, aqui presentes com
vosso espírito, com a vossa oração. O Papa pensa em vós também
e celebra convosco êste instante sublime de comunhão universal.
Dirigimo-Nos também a vós, doentes, presos a vossas enfermida
des, e que se faltasse o conforto dessa Nossa internacional saudação
sentirieis redobrar, por causa da solidão espiritual, a vossa dor.
Dirigimo-Nos a Vós, Irmãos no Episcopado, que, sem culpa pró
pria, faltastes ao Concilio e deixastes, nas fileiras dos vossos Irmãos
e muito mais nos corações dêstes e no Nosso, um vazio, que tanto
Nos faz sofrer e que denuncia o êrro dos que vos tiram a liberdade:
e quem dera que se tratasse sòmente daquela liberdade que vos faltou
para que viésseis ao Concilio! Nós vos saudamos, Irmãos, ainda injus
tamente condenados ao silêncio, oprimidos e privados dos legítimos e
sagrados direitos devidos a todos os homens honestos, e muito mais a
Vós que a qualquer outro que opera o bem, a piedade e a paz! A
Igreja, Irmãos impedidos e humilhados, está convosco! Está com os
vossos fiéis e com todos os que estão unidos à vossa penosa condição!
E assim esteja também associada a consciência civil do mundo.
E finalmente dirigimos esta universal saudação também a Vós, ho
mens que não nos conheceis; homens que não nos compreendeis; ho
mens que não acreditais podermos ser-vos úteis, necessários e amigos;
e também a Vós, homens que talvez pensando fazer o bem nos comba
teis! Uma saudação sincera, uma saudação discreta, mas cheia de es
perança; e hoje, acreditai-o, cheia de estima e de amor.
Esta é a Nossa saudação. Mas prestai atenção todos quantos Nos
escutais. Pedimo-vos que considereis como esta Nossa saudação, diver
samente de quanto acontece nas conversas profanas onde as saudações
servem para pôr têrmo final a uma relação de proximidade ou de pa
lestra, esta Nossa saudação tende a reforçar, e a produzir, se necessá
rio, a relação espiritual, da qual toma seu sentido e sua voz. Nossa
saudação não é uma saudação de adeus que despede, mas de amizade
que permanece, e que, se fôsse o caso, quer fazer agora nascer. Antes
é precisamente neste seu último pronunciamento que Nossa saudação
almejaria, de um lado, chegar ao coração de cada um, lá entrar como
um hóspede cordial e dizer no silêncio interior de cada alma a palavra
costumeira e inefável do Senhor: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha
paz, náo como o mundo a dá” (Jo 14,27) (Cristo tem seu jeito único
e original de falar no íntimo dos corações); de outro lado Nossa sau
dação orienta-se a uma outra e superior relação, porque não é sòmente
intercâmbio de vozes, bilateral, entre nós, pessoas dêste mundo, mas
chama em causa um outro Presente, o próprio Nosso Senhor, invisí
vel, é verdade, mas não menos operante na estrutura das relações hu
manas; e o convida e estimula a suscitar em quem saúda e em quem £
saudado novos bens, dos quais o primeiro e o maior é a caridade.
Discurso de Encerramento
507
Eis aí, esta é a Nossa saudação: possa acemW
da divina caridade nos nossos corações; uma chama que possa'ínfh
mar os pnnc.p.os, as doutrmas e os propósitos, que o Conch o p
pôs e que ass.m inflamados pela caridade possam de verdade
na Igreja e no mundo aquela renovação de idéias, de atividades de cos
tumes e de força moral, de alegria e esperança que foi o próprio escopo
do Concilio.
Assim a Nossa saudação se torna um ideal. Sonho? Poesia? Hipér-
bole convencional e vazia, como no muitas vêzes acontece nas nossas
nor habi- ' "
tuais efusões de augúrio? Não. Torna-se ideal mas não iri
^ nós homens conduzimos eal. Mais
um instante dano vossa atenção. Quando __— .*...0 vuimuLiim^ os nossos
oensamentos, osIncrnnossos
___ _ nrt
.nnfnnrn-noç nn
desejos
J
no - para— uma
----- concepção ideal da
— «-Kvuu tutai ud vida,
viua, en
contramo-nos |ogo ou na utopia, ou numa caricatura retórica, ou na
ilusão, ou então na desilusão. O homem conserva a inextinguivel aspi
ração para a perfeição ideal e total; mas por si não a atinge, talvez
nem no conceito menos ainda na experiência e na realidade. Sabemos
disto; é o drama do homem, do rei caído. Observai, 0 que está acon
tecendo nesta manhã: enquanto encerramos 0 Concilio Ecumênico, feste
jamos Maria Santíssima, a Mãe de Cristo, e por isso, como dissemos
em outra ocasião, a Mãe de Deus e nossa Mãe espiritual, Maria San
tíssima, Imaculada! Inocente, estupenda, perfeita; quer dizer, a Mulher,
a verdadeira Mulher ideal e real ao mesmo tempo; a criatura na qual
a imagem de Deus se espelha com limpidez absoluta, sem mácula algu
ma, ao contrário das demais criaturas humanas.
Náo é fixando 0 nosso olhar nesta Mulher humilde, irmã nossa
e ao mesmo tempo nossa Mãe celeste e Rainha, espelho nítido e sagTa-
do da infinita beleza, que pode terminar a nossa ascensão espiritual no
Concilio e esta nossa última saudação? Não é assim que pode come
çar o nosso trabalho pós-conciliar? Esta beleza de Maria Imaculada
não se torna para nós um modêlo inspirador, uma esperança con-
fortadora?
Nós, Irmãos, Filhos e Senhores, que Nos estais ouvindo, Nós assim
pensamos. Para Nós e para vós: e é esta a Nossa saudação mais alta
e, queira Deus, a mais válida.
33*
Mensagens Finais de Paulo VI
A in d a p o r o c a s ia o d a s s o -
lenidades do encerramento do Concilio, na praça de São Pedro,
dia 8 de dezembro, o Papa Paulo VI quis dar uma resposta
concreta às interrogações do mundo de hoje, em forma de sete
breves mensagens. Sua Santidade leu pessoalmente a seguinte
introdução:
Veneráveis Irmãos: Soou a hora da partida e da dispersão. Dentro
de alguns instantes, deixareis a Assembléia Conciliar para ir ao en
contro da humanidade, levando-lhe a boa-nova do Evangelho de Cristo
e da renovação de sua Igreja, fim para o qual trabalhamos juntos há
quatro anos.
Momento único. Momento de significação e riqueza incomparáveis!
Nesta reunião universal, neste ponto privilegiado do tempo e do espaço
se encontram ao mesmo tempo passado, presente, futuro. O passado,
porque aqui está reunida a Igreja de Cristo, com sua tradição, sua
história, seus Concílios, seus Doutores, seus S antos... O presente, por
que nós nos deixamos para ir ao encontro do mundo de hoje, com
suas misérias, suas dores, seus pecados, mas também com seus pro
digiosos sucessos, seus valôres, suas virtudes... O futuro, enfim, lá está,
no apêlo imperioso dos povos por mais justiça, na sua vontade de paz,
na sua sêde, consciente ou inconsciente, de uma vida mais elevada:
aquela, precisamente que a Igreja de Cristo pode e deve dar-lhes.
Parece-Nos ouvir elevar-se de tôda parte no mundo um rumor imen
so e confuso: a pergunta de todos aquêles que olham para o Concilio
e nos interrogam com ansiedade: não tendes uma palavra para nos
dizer?... a nós, os Governantes?... a nós, os intelectuais, os trabalha
dores, os artistas?... e a nós, as mulheres? a nós os jovens, a nós os
doentes e os pobres?
E-tas súplicas não ficarão sem resposta. E’ para tôdas as cate
gorias humanas que o Concilio trabalha há quatro anos. E’ para elas
que o Concilio elaborou esta Constituição sôbre a Igreja no mundo de
hoje. que Nós promulgamos ontem entre os aplausos entusiastas da
vossa Assembléia.
Mensagens Finais de Paulo VI
509
De nossa longa meditação sôbre o Cristo - k
tar ."este momento uma primeira palavra anunciado- * < ^ deve br^
vaçao para todas as multidões em expectativa n r Ü-r paz e de sa>-
dissolver quer cumprir esta função profética e traduzir'™’ de *
sagens e numa inguagem mais facilmente acessível a tod^s a ^
que o Concilio tem para o mundo e que alguns de seus T J , b°a' nova
autorizados dirigirão agora em vosso nome a tôda humaSade maÍS
sr isavas?
A „uW o AN m t AdtósW! ô d « t t aSs ' Z S '
de nossa voz diz í v L L ' m ta sta s\ - A
nossos amigos!
P"° PaM “
d° Concilio, através
S‘' SC 3015 amig0s da verdadeira arte-
s
Já de há muito a Igreja fêz aliança convosco. Vós edificastes e
decorastes seus templos, celebrastes seus dogmas, enriquecestes sua li
turgia. Vos a ajudastes a traduzir sua divina mensagem, através da
linguagem das formas e das figuras, a tornar tangível o mundo invisível.
Hoje como ontem, a Igreja tem necessidade de vós e volta-se para
vós. Não deixeis que se rompa uma aliança fecunda entre tôdas. Não
recuseis colocar vosso talento a serviço da verdade divina. Não fecheis
vosso espírito ao sôpro do Espírito Santo.
Êste mundo, no qual vivemos, tem necessidade de beleza para não
cair nas trevas do desespêro. A beleza, como a verdade, é o que dá
alegria ao coração humano, é o fruto precioso que resiste ao tempo,
une as gerações e conjuga-as na admiração. E isto, por vossas mãos.
Que essas mãos sejam puras e desinteressadas. Não vos esqueçais
de que sois os guardiães da beleza no mundo; que isto seja suficiente
para vos preservar de gostos efêmeros e sem valor verdadeiro e vos
liberte da procura de expressões estranhas e malsãs.
Sêde sempre e por tôda parte dignos de vosso ideal, e sereis então
dignos da Igreja que, por nosso intermédio, vos dirige neste dia sua
mensagem de amizade, de salvação, de graça e de bênçãos
Às Mulheres (lida pelo Cardeal Duval e entregue pelo Papa à Sra.
Laura Segni): A vós nos dirigimos, mulheres de tôdas as condiçoes -
môças, esposas, mães e viúvas; e também a vós, virgens consagrai
e mulheres solteiras: vós sois a metade da imensa tamil.a humana.
A. Igreja
. 1h_ vos no sabeis
se orgulha, saD > de ter , engrandecido e libertado
h;vaidade do^
a mulher, de ter feito aparecer, através dos seculc* na d.er^dade
caracteres, sua igualdade fundamental com o homem.
i ;ó rhepou _ cm que a vocaçao da mu
Mas chega a hora - e ela j J j a mulher adquire na socie-
lher se realiza em plenitude a < atingidos ate agora,
dade um influxo, um esplendor e um poder jama
512 III. Documentos
desabrochLPsreTtroMrSn°bretUd0' em faZer
desabrochar seu tesouro sempre antigo COm <uenôvo-.
e sempre « saa «*i«Jade
fé; e que deixe
vos
sas almas possam banhar-se livremente em suas luzes benfazejas. Ela
confia que vós encontrareis tanta fôrça e alegria de tal modo que não
ser^s tentados, como alguns de vossos antepassados, a ceder à sedução
das filosofias do egoísmo e do prazer, ou àquelas do desespero e do
nada. Perante o ateísmo, fenômeno de cansaço e senilidade, vós sabe
reis afirmar a vossa fé na vida e naquilo que lhe dá um sentido, isto
é, a certeza da existência de um Deus justo e bom.
Em nome dêsse. Deus e de seu Filho Jesus, nós vos exortamos a
alargar os vossos corações segundo as dimensões do mundo, a ouvir
o apêlo de vossos irmãos e a colocar corajosamente a seu serviço vos
sas energias jovens. Lutai contra todo egoísmo. Recusai dar curso livre
aos instintos de violência e ódio, que geram as guerras, com seu cor
tejo de misérias. Sêde generosos, puros, respeitosos e sinceros. Construí
com entusiasmo um mundo melhor que aquêle de vossos antepassados!
A Igreja olha para vós com confiança e amor. Rica de um longo
passado, que vive sempre nela, e caminhando para a perfeição huma
na no tempo e para os destinos últimos da história e da vida, a Igreja
é a verdadeira juventude do mundo. Ela possui aquilo que faz a fôrça
e o encanto dos jovens: a capacidade de se alegrar com o que come
ça, de se entregar sem reserva, de se renovar e de sair para conquistas
novas. Contemplai-a e vós descobrireis nela a face de Cristo, o verda
deiro herói, humilde e sábio, o profeta da verdade e do amor, o com
panheiro e amigo dos jovens. E’ em nome de Cristo que nos vos sauda
mos, que vos exortamos e abençoamos.
Breve “ta Spiritu Sancto”, de Encerramento do Concilio
P a u l o v i, p a p a , p a r a p e r p é t u a
memória do acontecimento.
O Concilio Vaticano II, reunido no Espírito Santo e sob a prote
ção da Bem-aventurada Virgem Maria, que declaramos Mãe da Igreja,
e sob a de S. José, seu inclito esposo, e dos santos apóstolos Pedro e
Paulo, deve, sem dúvida, ser considerado como um dos grandes aconte
cimentos da Igreja. Com efeito, foi o maior pelo número de Padres vin
dos à Sé de Pedro de tôdas as partes do Globo, inclusive daquelas onde
a hierarquia foi recentemente constituída; o mais rico em temas que
durante quatro sessões foram cuidadosa e profundamente tratados; foi,
enfim, o mais oportuno, porque, tendo presentes as necessidades da época
atual, enfrentou sobretudo as necessidades pastorais, e, alimentando a
chama da caridade, esforçou-se grandemente por atingir não só os
cristãos ainda separados da comunidade da Sé Apostólica, como tam
bém tôda a família humana.
Assim, pois, finalmente, com a ajuda de Deus concluiu-se hoje tudo
quanto se refere ao sacrossanto Concilio Ecumênico. E, com a Nossa
Autoridade Apostólica decidimos concluir, para todos os efeitos, as Consti
tuições, Decretos, Declarações e Votos aprovados por deliberação si-
nodal e por Nós promulgados, assim como o mesmo Concilio Ecumênico,
convocado por nosso predecessor de feliz memória João XXIII no dia 25
de dezembro de 1961, inaugurado no dia 11 de outubro de 1962, e por
Nós continuado após a sua morte. Ordenamos e preceituamos também que
tudo quanto foi estabelecido sinodalmente seja religiosamente observado
por todos os fiéis, para glória de Deus, para o decôro da Igreja e para
tranquilidade e paz de todos os homens. Estas coisas havemos sancio
nado e estabelecido, decretando que as presentes letras sejam perma
nentes e continuem firmes, válidas e eficazes, que se cumpram e que
obtenham plenos e integrais efeitos, e sejam plenamente validadas por
aquêles a quem tal compete ou poderá competir no futuro. Assim se
deve julgar e definir. E nulo e sem valor deve considerar-se desde
êste momento tudo quanto em contrário fôr feito por qualquer indivíduo
ou qualquer autoridade, conscientemente ou por ignorância.
Dado em Roma, junto de São Pedro, sob o anel do Pescador, no
dia 8 de dezembro, na festa da Imaculada Conceição da Bem-aventurada
\ irgem Maria, de 1965, terceiro ano de nosso Pontificado.
PAULUS PP. VI
Motu Próprio T W , Concilio": Comistóe
s Pós-Conciliares
Concilio - V — 34
Mensagem do Episcopado Brasileiro
no Encerramento do Concilio Ecumênico Vaticano II
ss uraM:
tu r a e m afirmações imaturas, mas nem tampouco se .entrincheira ^em
cautelas excessivas que a aamarrem e m j j o s K a ^ é
-
entrega fórmulas frias, mas
34*
524 III. Documentos
então aguardado pelo mundo com imensa esperança. 1,1 A Igreja pode
dar essa esperança porque ela escuta a palavra de Deus — na Re
velação 11
* — e porque, através da Liturgia 12 fala com Deus, adora a
Deus, oferece a Deus o sacrifício eucarístico, assenta-se à mesa de Deus.
Sinal amabilissimo dessa esperança é a SS. Virgem Maria, que no mis
tério de Cristo e da Igreja, precede na graça e na glória o Povo de
Deus que caminha para a eternidade.
A igreja no Brasil. — Tudo isso, irmãos caríssimos, nos mostra
como a tarefa da Igreja que é a nossa, é sobretudo espiritual. E dessa
missão espiritual é que se derrama à luz para iluminar também os ca
minhos da cidade terrena. Por isso mesmo não nos sentimos desvincula
dos da Pátria terrena onde exercemos nosso múnus pastoral. Convosco
sentimos a gravidade de nossos problemas e convosco desejamos as mais
felizes soluções para os homens nossos concidadãos e nossos irmãos.
A exemplo do Divino Mestre, que perante os homens desnutridos lançou
o seu “misereor super turbam”, condoemo-nos profundamente por ver
tantos irmãos nossos na miséria e na ignorância, por ver o doloroso
quadro de desigualdades sociais injustas, por ver o desconhecimento da
doutrina social da Igreja, que é no entanto o remédio certo para sanar
o desequilíbrio social. Vemos como é dura a luta contra a desonestidade
e contra a falta de espírito público e de sentido do bem comum, ü Santo
Padre Paulo VI acaba de apresentar com muita exatidão o quadro de
nossos problemas. Eoi no discurso para o Episcopado da América La
tina” , hoje difundido por todo o continente e que mereceu inclusive o
unânime aplauso dos Delegados dos Países Americanos à recente Confe
rência do Rio de Janeiro. Falou das transformações rápidas no campo
da economia e das comunicações. Do crescimento explosivo dos centros
urbanos pelos deslocamentos da população rural em busca de trabalho
na indústria que se desenvolve. Da falta de preparação das cidades para
recebê-los. Da proliferação das favelas. Dos problemas religiosos e so
ciais e sobretudo da perniciosa promiscuidade de vida resultante da fal
ta de habitação adequada. Do desequilíbrio da cultura: os que podem
atingir alto grau de instrução e a grande massa ainda enredada no
analfabetismo. Sublinhou a consciência que vai amadurecendo no povo
o sentido de um justificado desejo de melhorar sua condição de vida
e lamentou a insensibilidade de alguns para as oportunas transforma
ções. Apontou o perigo do “messianismo social” do marxismo ateu e não
desconheceu as dificuldades de certa propaganda anticatólica, sério pe
rigo para a unidade espiritual do continente.
Mas o Santo Padre não parou aí. Falou de nossos imensos re
cursos. “O povo é bom e profundamente religioso por natureza. Recebe
com as melhores disposições a mensagem evangélica”. “A Igreja está
presente... antiga, sólida, respeitável... Se ela caminha, ainda é lar
gamente acompanhada, se fala, ainda é amplamente ouvida”. “Repre
senta a fôrça mais poderosa capaz de salvar o Continente, com o pres-
N o DIA 16 DE NOVEMBRO
de 1965 cerca de 40 Padres Conciliares concelebraram o Santo
Sacrifício Eucarístico nas catacumbas de Santa Domitila, para
obterem a graça de serem plenamente fiéis ao Espírito de Jesus
“que vos consagrou e vos enviou para evangelizardes os po
bres” (Lc 4,18). Nesta ocasião alguns (não se conhece o núme
ro exato) Bispos adotaram as seguintes resoluções:
Damos neste índice os nomes dos Padres Conciliares que falaram du
rante as CG da 4’» Sessão. Os números se referem não à página mas
à ordem em que falaram.
Abasolo y Lecue 92 Castro Mayer 84 Frings 2 93 231
Alfrink 8 200 232 291 Charbonneau 323 Frotz 170
Alvim Pereira 41 Charue 98 300
Amici 74 Coderre 184 Gahamanyi 257
Ancel 69 226 Colombo 136 283 Garaygordobil Ber-
Anoveros Ataún 55 Compagnone 331 rizbeitia 254
192 Connolly 326 Garcia Lahiguera 327
Aramburu 20 76 Corboy 116 247 Garrone 123 205
Argaya Goicoechea Conway 30 146 Garcia de Sierra y
284 Cooray 26 £ Méndez 43 185
Arriba y Castro 5 176 Cordeiro 243 Garret Maloney 40
279 Cushing 7 Gasbarri 39
Arrieta Villalobos 321 Gaviola 216
Arrupe 113 260 Dante 57 Gay 270
Attipetty 248 Darmajuwana 127 Gazza 268
D’Avack 78 298 Geise 246
Baldassarri 35 Ddungu 161 Gonçalves da Costa
Bánk 314 Djajasepoetra 148 242
Baraniak 33 198 Degrijse 267 Gouyon 219
Barela 318 Del Campo y de la Gracias 157
Barros Câmara 223 Bárcena 37 196 Gran 54
Batanian 118 De Reeper 275 Grant 211
Baudoux 85 De Roo 151 322 Grotti 68 259
Bea 65 312 De Vito 195 Guerry 114
Beck 221 Doepfner 73 289 Guffens 253
Bednorz 154 Doumith 67 Guyot 285
Beitia Aldazábal 197 D’Souza 111 252
Bengsch 130 Duval 204 Hacault 159
Beran 47 Hallinan 42
Bettazzi 173 Echeverría Ruiz 191 Han Kon-Rvel 274
Blanchet 167 Elchinger 36 96 162 Heenan 29 144 309
Boillon 230 Elko 112 Heerey 266
Browne 51 147 Hengsbach 179
Brzana 301 Falis (Pároco) 333 Henríquez Giménez
Brzanóczy 213 Fares 329 286
Bueno y Monreal 177 Faveri 228 Herera y Oria 295
Butler 207 Fernandes 181 Hermaniuk SI
Fernández (Aniceto) Himmer 97 1S9
Cantero Cuadrado 32 117 165 Hnilica 121
104 218 Fernández-Conde 317 Hoeffner 183
Cardijn 52 91 187 Flores Martin 324 Hurley 199
Carli 21 220 Florit 27 107 308 fabany Arnau 2SS
Castán Lacoma 209 Foley 328 jaeger 13 64 225 294
Castellano 194 Franic 182 297
Concilio - V — 35
538 ÍV. Índices
Modrego y Casáus 18 Satoshi Nagae 271
jordan 75
ournet 58 143 233 Morcillo González 15
86 169
Sauvage 34
Schick 124
Kinam Ro 264 Mosquera Corral 128 Schmitt 160
Klepacz 109 217 Muldoon 56 Segedi 325
Klooster 313 Munoyerro 137 Seper 28 102
Koenig 72 106 239 Mu noz Vega 60 Shehan 49 83 310
Kominek 90 Sibomana 255
Koppmann 237 Nabaa 299 Simon 206
Kozlowiecki 59 Ndongmo 320 Siri 4 71 175
Kuharic 129 Nicodemo 14 141 Silva 150
Ntuyahaga 258 Silva Henríquez 10
Lamont 265 63
Landázuri 62 Orbegozo y Goicoe- Slipyj 12 158
Landázuri 292 chea 156 Soares de Rezende
Larraín Errázuriz 190 Ottaviani 31 215 126 263 319
Lebrun 164 Spellman 1 61
Le Couédic 163 Padin 168 Spuelbeck 171
Lefebvre (Cardeal) Parteli 193 Suenens 135 250 293
44 305 Pechuán Marín 330 Swanstrom 178
Lefebvre (Marcei) 53 Pellegrino 166 332
Legarra Tellechea Philbin 229 Tagle Covarrubias 25
234 Pildáin y Zapiáin 115 Taguchi 138
Léger 134 203 281 Piróvano 273 Tatsuo Doi 290
Liénart 202 Poletti 261 Tomásek 149
Leven 315 Proença Sigaud 80 Tomé 304
Llopis Ivorra 119
Lokuong 16 245 Quéginer 240 Urbani 6
Lourdusamy 19 87 Quiroga y Palacios Urtasun 152
280
Mahon 188 Van Cauwelaert 269
Majdanski 139 Renard 88 302 Varghese Thangala-
Mancini 303 Reuss 153 thil 180
Marafini 23 95 Richaud 100 282 Velasco 17 972
Marling 210 Ritter 9 Veuillot 172
Martin 214 Romero Menjibar 132 Volk 94 142
Martin (Joseph) 256 Rossi 50 108 145 311 Von Streng 155
Marty 122 Roy 307 Voullyberth Adjakbley
Mason 22 89 Ruffini 3 70 133 238 (leigo) 276
Máximus IV Saigh 278
Mazzoldi 235 Rugambwa 82 249 Wheeler 208
McCann 48 201 306 Woytila 66 131
McCauley 236 Ruotulo 110 Wyszynski 45 186
McGrath* 244 Rupp 38 227
McVinney 77 Rusch 79 212 Yü Pin 262
Méndez Arceo 12( Rusnack 125
Meouchi 11 gq Santin 287 Zak 316
277 Santos 46 101 224 Ziadé 24 103
Miranda y Gómez 296 Sapelak 241 Zoghby 140 174
Zoungrana 251
índice Geral
Prefácio ............................................................................................ ^
1. Crônica das Congregações Gerais (CG) ............................. 9
O presente índice analítico dos cinco volumes foi elahnraHn por Frei
Edmundo Binder, O.F.M . (os quatro primdros l o S S) e pelo Sr.
Lpnraim Alves (o quinto volume).
Abade, direito de pontificar II 155. “Ambulate in dilectione”, breve pon
Aborto, IV 222; tifício, suspende excomunhão
— crime nefando V 164; lançada em 1054 V 489.
— reprovável V 149. América Latina IV 292s;
Absolvição entre Roma e Constan — condições para o trabalho pas
tinopla V 486. toral V 460;
Ação Católica II 237 III 103 139 188 — linhas fundamentais do aposto
IV 35 127ss 136s 140 142-147. lado V 462;
Ação missionária papel específico — situação V 459.
dos leigos V 268. Amor conjugal, dignidade IV 275.
Ação social IV 147; Angelismo IV 145.
— necessária nas missões V 268. Anglicanos III 379s; validade das
Acatòlicos, no Concilio II 205s; co ordenações III 401 ss.
munidades III 57s; vínculos co Animismo IV 27 90.
muns III 59s. Anjo da Guarda, doutrina comum
Acólitos em vez de diáconos III 166. I 81 s.
“Ad Gentes”, Decreto sôbre a ati Ano Litúrgico, reforma III 184ss.
vidade missionária da Igreja, ela Anti-semitismo III 262s, IV 79s 86;
borado pela Comissão missioná — III 313s;
ria preconciliar I 130, conciliar — causas verdadeiras III 314.
II 57 e complemento III 392: Antigo Testamento III 262; impor
— os esquemas preconciliares I 234; tância IV llls.
o debate preconciliar I 193-197; Antropologia cristã IV 230;
— apresentação dum nôvo texto à — deve fundar-se na S. Escritura
3* Sessão IV 299, com* parti e Tradição V 95.
cular recomendação de Paulo VI Apostolado dos “afastados” (v.) 1
IV 299s; o acre debate IV 301 ss 202;
e o trágico final IV 314ss; — âmbito IV 127;
— o nôvo texto apresentado à 4- — base da vocação IV 138;
Sessão V 242 e seu debate con — categorias IV 135;
ciliar V 244ss; — do “céu”, do “mar”, dos turis
— emendas e votações V 394ss; tas I 202;
— ponderação dos Modos V 398ss. — colonialista III 167s;
— sua promulgação V 400; — para conversão III 359s;
— texto definitivo em Documentos — definição IV 144 334;
do Vaticano II 345-394. — desvirtuamento II 20s;
Adoção, prática recomendável V — dever do católico III 53s;
154. — diálogo com todos os homens
Advento, importância II 154. — essencial à vida cristã IV 144s,
Afastados I 202 III 343 IV 387. IV 128S’ . . . M,
— farisaísmo e saduceísmo II -0s;
Aggiornamento II 188 308ss 15s 257 — formação IV 131;
323ss IV 17 219 255. — meios modernos I 139;
Agricultura, desamparo; conseqiiên- — métodos e meios novos I
cias V 208;
— extensão, importância V 207, — poção IV 129;
544 índices
FILIAIS:
R IO DE JAN EIR O : Rua Senador Dantas, 118-1
SAO PA U LO : Rua Senador Feijó, 168
BELO H O R IZ O N T E : Rua dos Carijós, 115
P Ô R T O A L E G R E : R u a R iach uelo, 1280
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