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19 6 5 )
V O L U M E V. Q U A R T A S E S S A O
CONCILIO VATICANO II
Voe. V
Q uarta Sessão (S et.-D ez . 1965)
CONCILIO VATICANO II

Volume I: Documentário Prcconciliar


Volume II: Primeira Sessão (1962)
Volume III: Segunda Sessão (1963)
Volume IV: Terceira Sessão (1964)
Volume V: Quarta Sessão (1965)
CONCILIO VATICANO II
VOL. V. QUARTA SESSÃO (SET.-DEZ. 1965)

Compilado pelo
PE. FREI BOAVENTURA KLOPPENBURG. O.F.A1.

EDITORA VOZES I.TDA. — PETROPOUS. RJ


I MP RI MAT UR
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR.
DOM MANUEL PEDRO DA CUNHA CINTRA,
BISPO DE PETRÓPOLIS.
FREI WALTER WARNKE, O.F.M.
PETRÓPOLIS, 1-12-1966.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


Prefácio

À S 9 HORAS DO DIA 14 DE
setembro de 1965, festa da Exaltação da Santa Cruz, teve iní­
cio a IV e última Sessão do XXI Concilio Ecumênico, o Vati­
cano II. Sem pompas nem fanfarras, sem tiara nem sédia gesta-
tória, sem corte pontifícia nem canto polifônico, sem aplausos
nem gritos, mas com devoção, solenidade e simplicidade, entra­
ram na Aula Conciliar o Papa Paulo VI e os Concelebrantes,
enquanto os 2.200 Padres Conciliares cantavam o “Tu es Pe-
trus” e o Salmo 131 (“Memento, Domine, David”). Depois da
Santa Missa, da solene invocação do Espírito Santo e do jura­
mento dos novos Padres Conciliares, pronunciou Paulo VI seu
discurso de abertura: “Subam louvores e agradecimentos a Deus
nosso Pai onipotente, por Jesus Cristo Seu Filho e nosso Sal­
vador, no Espírito Santo Paráclito que vivifica e guia a Santa
Igreja, por termos sido felizmente conduzidos à presente con­
vocação conclusiva dêste sacrossanto Sínodo Ecumênico, no su­
mo e comum propósito de devota e firme fidelidade à Palavra
Divina, em fraterna e profunda concórdia na fé católica, no li­
vre e fervoroso estudo das múltiplas questões que dizem res­
peito à nossa religião, especialmente da natureza e missão da
Igreja de Deus, no unânime desejo de estabelecer vínculos mais
perfeitos de comunhão com os Irmãos cristãos ainda de nós se­
parados, na cordial intenção de dirigir ao mundo uma mensagem
de amizade e de salvação e na humilde e constante esperança
de obter da Misericórdia Divina aquelas graças que, apesar de
não merecidas, nos são necessárias para cumprirmos, com amo­
rosa e generosa dedicação, a nossa missão pastoral”. E assim
continuou, durante quase uma hora, em estilo solene e devoto,
para acentuar que o Concilio deve ser sobretudo um ato de
grande amor: para com Deus, para com a Igreja e para com a
Prefácio
6
... Ancnas urna vez foi interrompido pelo aplauso dos
humanidade. A ptna anUnciou que decidira instituir, sc-
u iA in o d o Episcopal, conto
consaUivo e de colaboração. “Nós não quisemos pnvar-
NOS dá honra e da salisfação de vos fazermos esta pequena
comunicação para vos testemunhar mais uma vez pessoa mente
a Nossa confiança, a Nossa estima e a Nossa fraternidade
E’ desta quarta e última etapa do XXI Concilio Ecumênico
que se fará a crônica no presente volume. O método será quase
o mesmo adotado no volume anterior. Apenas os onze docu­
mentos conciliares promulgados durante esta IV Sessão não se
publicarão aqui, mas em volume à parte, que apresentará todos
os 16 documentos em latim e português, com os necessários ín­
dices. Por isso sua publicação seria uma sobrecarga inútil. E
assim teremos espaço para dar lugar a 86 textos completos dos
mais importantes discursos pronunciados de setembro a dezem­
bro último na Aula Conciliar; e dos outros, na medida em que
contribuíram realmente para o aperfeiçoamento e a compreen­
são dos documentos, se poderá dar uma relação mais ampla.
Por este motivo tive que afastar-me quase sempre do resumo
oficioso dado pelo Serviço de Imprensa do Concilio (que, aliás,
também desta vez, trabalhou com generosidade e quase sempre
sem reticências). Chamo a atenção sobretudo para os 56 textos
completos dos discursos pronunciados em torno da Constituição
Pastoral Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo de hoje,
que é, ao lado da Lumen Gentium, o documento mais importan­
te e também o mais extenso e característico do Vaticano II.
Aqueles discursos são um verdadeiro e, também, o mais auto­
rizado comentário para entrar no espírito e no sentido do gran­
de documento conciliar. Vale a pena ler e estudar com atenção
os discursos e os resumos desta parte. Agradeço ao meu con-
ra e rei Jeronimo Jercovic, O .F .M ., a dedicação com que,
apesar e tantas outras ocupações, traduziu os textos direta-
mente do latim.
cri ^ entrego aos leitores o último volume de crônicas
n^nivir0 > ist0nc° acontecimento que tive a boa ventura de acom-
bém nnf 1 !^ eSde a primeiríssirna fase preconciliar. Foi tam-
"rrpa,avras l eC,nien,0, na minha PróPria vida. E não encon-
cano II e a Jrara ^ ra ecer a Deus o dom do Concilio Vati-
generosa sincera P 6 ,ne e ter parte ativa. Parece-me que a
eretos V Declarações sfrá aT m melhor maneira
e lh ? ^ ^ de dar graças De_
Constitu'Ções’ ao
Prefácio 7
Senhor poi tudo quanto nos concedeu, pelas portas que nos
abriu, pelas esperanças que em nós reacendeu. “Partiu do Con­
cilio uma corrente de admiração e de afeto dirigida para o mun­
do humano moderno”, observou o Papa na homília de encer­
ramento do Concilio, no dia 7-12-1965; e continuou: “Sim.
mereceram reprovação os erros, porque reprová-los é exigência
não menos da caridade que da verdade; mas para as pessoas
somente pedimos respeito e amor. Em lugar de diagnoses de­
primentes, remédios encorajadores; em vez de presságios fu­
nestos, partiram do Concilio mensagens de confiança para o mun­
do contemporâneo: os seus valores foram não somente respei­
tados, mas honrados, os seus esforços apoiados, as suas aspi­
rações purificadas e abençoadas. As inumeráveis línguas das
gentes de hoje foram admitidas a expressar litürgicamente a
palavra dos homens a Deus e a palavra de Deus aos homens;
foi reconhecida ao homem, enquanto tal, a vocação básica à
plenitude de direitos e à transcendência de destinos; foram puri­
ficadas e encorajadas suas aspirações supremas à existência e
à dignidade da pessoa, à honesta liberdade, à cultura, ao reno-
vamento da ordem social, à justiça e à paz. . . O A\agistério
da Igreja ministrou o seu ensinamento autorizado sobre uma
quantidade de questões que hoje preocupam a consciência e
atividade do homem; desceu, por assim dizer, a diálogo com
êle; conservando sempre a autoridade e a força que lhe são
próprias, assumiu o tom despretensioso e amigável da caridade
pastoral; desejou fazer-se ouvir e compreender por todos; não
se dirigiu só à inteligência especulativa, mas procurou expri­
mir-se no estilo de conversa íntima, ao qual o recurso à expe­
riência vivida e o emprêgo do sentimento cordial dão mais atraen­
te vivacidade e maior força persuasiva: falou ao homem de hoje
qual êle é”.
For tudo isso demos graças a Deus.
Petrópolis, Páscoa de 1966.
F rei B oaventura K loppenburg , O .F .M .
Crônica
das Congregações Gerais

Concilio - V — 2
15-9-1965: 128* Congregação Geral
Introdução Geral aos Trabalhos
A Liberdade Religiosa

P r e s e n t e s : 2.265 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Agagianian. A Santa Missa,
celebrada por Dom Bernardo M. Cazzaro, Vigário Apostólico
de Aysén, no Chile, teve início às 9,15, com a presença também
de Sua Santidade o Papa Paulo VI. Terminada a Missa, o Se­
cretário Geral Mons. Felici anunciou que seria solenemente pro­
mulgado o Motu-proprio Apostólica Sollicitndo, pelo qual é ins­
tituído o Sínodo Episcopal, ontem anunciado pelo Papa como
“bela e prometedora novidade”. Falou primeiro o Cardeal Paolo
Marella, Presidente da Comissão que elaborou o Decreto sobre
0 miinus pastoral dos Bispos (no qual o Concilio sugere a
criação de “Coetus seu Consilium Centrale”, cf. vol. IV, p. 447).
Foi lido, então, por Mons. Felici, estando sempre presente o
Papa, o texto do importante documento (cf. pp. 438-441), rece­
bido com prolongados aplausos. Retirou-se em seguida Paulo VI,
ainda sob aplausos, desta vez iniciados espontâneamente pelos
Observadores não-católicos.
Falou, depois, o Cardeal Tisserant, Decano do Conselho de
Presidência do Concilio. Agradeceu os trabalhos das Comissões.
Saudou os Padres Conciliares que assistem pela primeira vez
às sessões. Recordou os que entrementes faleceram. E insistiu
no seguinte aviso: “Libertas disserendi et próprias sententias
dicendi salva et integra esto. At caveamus, Fratres, a pluries et
frustra repetitis sententiis et verbis; temperemus animum a cupi-
ditate dicendi, ubi, quod dicendum erat, a fratribus iam dictun 1
fuit. Abstineamus — ut plurimum admonitum est — a plausi-
bus, qui coetus nostros haud decent; in suffragiis dandis distri-
ctum ordinem servemus”. Pede que cada um se lembre de que
2*
I. Crônica das Congregações Gerais

a irrrpia a auem incumbe o grave dever de, numa


' Pa*l0' da J f S e das humanas e profanas, tirar do tesouro
r p r t ^ e s p ln t o aquilo que contribui para o maior esplendor
da Igreja. . . . .
Ern nome dos Moderadores, o Card. Agag.aman saudou o
Sumo Pontífice, os membros do Conselho de Presidência, todos
os Padres presentes, os Peritos, os Párocos, os Observadores,
os Auditores. Agradeceu particularmente os trabalhos do Secre­
tário Gerai e de seus auxiliares. E pediu aos Padres Concilia­
res de tomarem a peito as admoestações feitas pelo Card.
Tisserant.
A seguir Mons. Felici anunciou que, por ordein do Santo
Padre, iria ler um telegrama do Patriarca Atenágoras, de Cons-
tantinopla (aplausos vivíssimos); e leu, em francês, o seguinte
texto: “A Sua Santidade o Papa de Roma, Paulo VI, Cidade do
Vaticano. Por ocasião da abertura da IV Sessão do Vaticano II
dirigimos a Vossa bem-amada e venerável Santidade Nossa fe­
licitação fraternal e Nossos votos para uma conclusão feliz e
grandiosa dêstes trabalhos, para proveito de toda a Igreja de
Nosso Senhor Jesus Cristo. Patriarca Atenágoras” (novos e vi­
víssimos aplausos).
Começaram então os debates conciliares desta IV Sessão.
Como fora prometido no ano passado, a discussão retomou o
delicadíssimo tema da liberdade religiosa, temida por uns e an­
siosamente esperada por muitos outros.
A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa.
Já houve em torno dêste tema dois debates na Aula Conci-
har: um, breve e geral, durante a II Sessão (cf. B. K l o p p e n -
burg, Concilio Vaticano II, vol. III, pp. 315-346); outro, por­
menorizado, com 43 discursos, nos dias 23 a 28 de setembro do
finai ^3SSa ° ’ 9uando se realizava a III Sessão e que teve um
s, <J.UIrw0S! ’ “ nsid.erado agora providencial (cf. vol. IV, pp.
tentativa h^ 0 ISCUtido na presente Sessão já é, pois, a terceira
deal Bea. O DTimrí° 6 SlmpàtlC0 Secretariado dirigido pelo Car-
do Decreto sôbre presen.tado em 1963 como um dos capítulos
f0i t0talmente refeito e trans-
apresentado e discutido 0n0.m°’ "a forma de Declaração, e
dias daquela mesma Sessão foTenf33
entregue^ aos
SeSSã°' N° SumÚltÍmOS
Padres texto
A Liberdade Religiosa 13

corrigido segundo^ as sugestões apresentadas durante os deba­


tes, para ser então definitivamente votado e promulgado. Mas
como o novo texto (o terceiro) tinha as aparências de ser bas­
tante diferente do anterior e já que não havia mais tempo para
ulteriores debates, ficou decidido deixar tudo para esta IV Ses­
são; e os que não concordavam com o texto remetessem suas
críticas e observações ao Secretariado até o dia 31-1-1965. De
fato, até o dia 17-2-65 o Secretariado recebeu 218 intervenções
escritas, 12 delas coletivas, sôbre a terceira redação. Tudo isso
obrigou o Secretariado a rever mais uma vez o texto, trabalho
que terminou no dia 6-3-65. No mês de abril êste texto recorri-
gido foi entregue à Comissão Teológica, presidida pelo Cardeal
Ottaviani. As 17 emendas propostas por esta Comissão foram
consideradas pelo Secretariado na primeira semana de maio. No
dia 11-5-65 a Comissão de Coordenação determinou que a nova
redação fosse remetida aos Padres Conciliares. Os Bispos rece­
beram o texto impresso em duas colunas: à esquerda o “textus
emendatus” (isto é, o texto distribuído no fim da III Sessão) e
à direita o “textus reemendatus”, que é o texto agora debatido
na Aula Conciliar.
A Relação foi apresentada outra vez por Dom Emílio De
Smedt, no estilo e na melodia já tantas vêzes aplaudidos na Aula
Conciliar. Lembrou que não poucos pediram que no início da De­
claração se desse uma exposição geral da doutrina católica sôbre
a liberdade na Igreja; o que, concedeu, certamente seria exce­
lente, também para evitar falsas interpretações do texto. Não
era esta, todavia, a tarefa do Secretariado. Dentre as numerosas
questões relacionadas com a liberdade na prática religiosa, a
presente Declaração tem a intenção de tratar apenas uma: o
objeto e o fundamento do direito humano e civil para a liber­
dade religiosa tal como ela é atualmente exigida pela so­
ciedade. Mais e mais temos hoje grande sensibilidade para a
independência pessoal ou a liberdade responsável. Quanto mais se
estende a cultura, quanto mais se aprofunda a formação inte­
lectual, tanto mais veemente é o desejo de ordenar pessoalmente
a vida segundo as convicções pessoais. Hoje a liberdade é tida
como um bem que deve ser amado por todos, como parte do
bem comum; e por isso deve ser protegida na sociedade de modo
positivo. Mais que no passado, insiste-se hoje no valor desta
norma jurídica: Usus 1ibertatis non est restringendus nisi detur
ratio valida, proportionata, necessitans. Segundo a mentalidade
das Congregações Gerais
14 I. Crônica

t »m n direito de se ver rodeado poi uma


"lüllC,",a ni*rdad" Nesta zona entram primeiramente os bens
zona de liberda • • ão da verdade, a divulgação da opi-
da- 8 'nrS O estudo da ciência e o culto da arte. O lugar su-
ô ;ê lP'" P ,n . nesta zona da liberdade, é dado ao exercício
da religião. Qualquer coaçao ou limitaçao neste campo e re­
jeitada. Somente graves exigências de ordem publica poderíam
motivar limitações. Por isso, já antes de 1947 a l.berdade re­
ligiosa era reconhecida em mais de 50 Constituições de Estado;
e hoje em mais de cem. E é desta liberdade, e exclusivamente
dela. que se trata na presente Declaração. Portanto não entra na
finalidade do documento examinar quais os deveres do homem
para com Deus, qual a missão da Igreja, ou quais os seus di­
reitos, nem quais os direitos e deveres dos poderes públicos,
ou o problema moral da tolerância. “De his omnibus nihil praeiu-
dicatum est”. A única questão é exatamente esta: Competitne
personae vel coetui humano, vel potestati publicae ius cogendi
aliquem hominem vel coetum hoininum in re religiosa? O Re­
lator insistiu muito neste ponto e pediu que nos debates se aten­
desse a isso. Fêz ainda questão de responder às principais difi­
culdades levantadas contra o atual projeto: com relação ao mé­
todo, aos argumentos, aos princípios jurídicos, à tolerância, à
diversidade das circunstâncias e ao princípio fundamental do di­
reito à liberdade de coação da qual únicamente aqui se trata.
Objeta-se sempre de nôvo que o direito só pode basear-se sô­
bre a verdade e que o êrro não tem direitos. Isto é muito certo:
o êrro jamais pode ser fundamento para um direito. Mas quando
falamos do direito do homem à liberdade religiosa (no sentido
de imunidade de coação), sustentamos que êste direito efetiva­
mente se baseia sôbre uma importantíssima verdade objetiva: a
da dignidade da pessoa humana. Esta é a verdade fundamen­
tal objetiva para tôda a sociedade humana; nela se baseia a as-
piraçao a justiça, à caridade e à liberdade. Os Papas Pio XII e
oao XXIII insistiram constantemente neste princípio objetivo
mana0^!3111^ 6 verdade'ro- ^ a grande dignidade da pessoa hu-
lacão nII(f m T" Um3 verdade revelada. Pois ensina-nos a Reve-
sangueVe f r i T ^ / 0' feÍt° à imaSem de Deus, remido pelo
herdPim ri, e',° fllhc!_ de Deus Pela graça santificante e
herdeiro da gloria eterna. E o raciocínio do homem moderno
?a TÍtl ST .dÍfÍCU'dadCS êste Princípio
cias em favor da pessoa humana!**" * 035613 Declaração
8UaS
E como nossa é
A Liberdade Religiosa 15

dirigida não apenas aos cristãos, mas a todos os homens de hoje,


era necessário insistir neste princípio como ponto de partida.
O debate conciliar foi desta vez mais demorado que no ano
passado: de 15 a 22 de setembro, ocupou o tempo disponível de
5 Congregações Gerais (128"-131", parte da 132" e parte da
133"). Ouvimos um total de 64 discursos (cf. nn. 1-60 e 66-69),
dos quais 32 (a metade) a favor, 14 claramente contra e 18
com fortes restrições ou indefiníveis. Entre os 32 Oradores que
louvaram ou defenderam o texto, havia 21 Cardeais (na ordem
das intervenções): Spellman, Frings, Urbani, Cushing, Alfrink,
Ritter, Silva Henríquez, Meouchi, Jaeger, Seper, Heenan, Comvay,
Lefebvre, Wyszynski, Santos, Beran, McCann, Shehan, Rossi
(com 82 Bispos do Brasil), Cardijn e Journet. Na oposição es­
tavam os Cardeais Ruffini, Siri, Arriba y Castro, Ottaviani,
Browne, Dante, o Arceb. Alvim Pereira de Lourenço Marques, no
Moçambique, e Bispos da Espanha e Itália. De maneira geral ve­
rificou-se que todos os que já vivem numa real situação de li­
berdade religiosa, ou duramente conquistada (como nos EE.UU.,
na Irlanda e na Inglaterra), ou imposta pelo liberalismo maçô-
nico (como na França, no Brasil e na América Latina em geral),
ou os que a perderam (atrás da cortina de ferro), ou ainda
não a conquistaram (em algumas nações missionárias), manifes­
taram-se favoráveis ao texto; e os que vivem num Estado con­
fessional católico (como a Espanha), ou recebem favores do Es­
tado (como na Itália) ou ainda sonham com a “cristandade”
(alguns da Cúria Romana e de outras nações, inclusive uns pou­
cos do Brasil) eram contra.
Entre os Cardeais favoráveis ao texto alguns falaram sim­
plesmente para fazer a propaganda do texto e assim criar o cli­
ma necessário para uma feliz e positiva votação, sem propor
qualquer emenda concreta (Spellman, Cushing, Ritter, Shehan, Sil­
va Henríquez, Heenan, Cardijn), outros se deram até ao trabalho
de responder às objeções levantadas pelos adversários (Jaeger,
Lefebvre, Journet). Louvou-se o texto porque propõe a doutrina
integral da Igreja sôbre a questão (Spellman, Cushing); porque
fundamenta a doutrina sôbre a dignidade da pessoa luimana
(Spellman, Urbani, Cushing, Florit, Conway, Rossi); porque dá
normas justas eficazes sôbre a cooperação entre católicos e
acatólicos e sôbre as relações entre Igreja e Estado (Spellman),
porque é oportuno e verdadeiro (Urbani); satisfaz às expecta
□nica das Congregações Gerais
I. Crônica

, , ia e do mundo (Cushing); e exigido pela caridade,
,ivas da Igreja t do de . doutrina do propno Concilio
pela justiça e pe de conquista pastoral (Silva Hen-
(RÍUer,); exíõe com clareza os argumentos (Jaeger, em nome
* Todos « Bispos de língua alemã); oferece uma contnbu.ção
nolável°à causa da manutenção da paz e do melhoramento das
□ ações entre a Igreja e as outras religiões (Lourdusamy); e
condição necessária para o exercício da vida religiosa e para
o cumprimento da missão da Igreja no mundo contemporâneo
(Seper); apresenta uma doutrina sólida e adaptada às exigên­
cias modernas (Hallinan); é de grandíssima importância, tan­
to do ponto de vista religioso como do ponto de vista prático
(Beran); porque suas idéias, sua estrutura e seu estilo
correspondem aos desejos dos Padres Conciliares (Shehan); por­
que é oportuno, bem sintetizado e profundo (Rossi, com 82 Bispos
do Brasil); e é uma necessidade urgente para a unificação pa­
cifica do mundo pluralista de hoje e condição para uma ação
ecumênica eficaz e missionária da Igreja (Cardijn). Impressio­
nante foi o testemunho do Cardeal Beran: “Desde que, na mi­
nha pátria, a liberdade de consciência foi restringida, comecei
a constatar as graves tentações que êste estado de coisas impor­
tava. Observei em tôda a minha grei, mesmo entre os sacerdotes,
não só graves perigos para a fé, mas também gravíssimas ten­
tações de mentira, de hipocrisia e de outros vícios morais que
corrompem fàcilmente um povo privado da verdadeira liberdade
religiosa”. E continuava o Cardeal-Confessor da Checoslováquia:
Na minha pátria a Igreja Católica parece estar hoje expiando
dolorosamente os erros e pecados cometidos no passado contra
a liberdade de consciência e em seu nome, como o foram a
morte do sacerdote Johannes Hus, queimado vivo no século XV,
c a obrigação que se impôs no século XVII a uma grande parte
i povo da Boêmia de se converter ao Catolicismo em virtude do
p incipio cuius régio eius religio’. Com êstes atos o braço se-
causou^rea?11010 °U _pretendendo servir à Igreja Católica,
Êste trauma^r"^ tn°-COraÇâ0 dacp,ele Povo uma ferida profunda,
vida espidUia^T ofereceu I T ° P™ ^0 *
da 'PV. motivos pára a t a c a ' T ’.™8 ^
? 1SS°
(Ritter, Baraniak, Rossi)) Pnedemm que ' neste tambemse° Ucon­
documento
A Liberdade Religiosa 17

fesse com franqueza que, infelizmente, mesmo no âmbito da


Igreja, houve instituições que no passado oprimiram a liberdade
religiosa. Pois — dizia nosso Cardeal Rossi — a sincera re­
tratação dos erros aumenta nos homens a consciência da since­
ridade da nossa doutrina”. Várias outras propostas e pedidos
foram feitos: j’á no título conste claramente que se trata da li­
berdade civil na vida religiosa (Urbani, Cantero Cuadrado, Ano-
veros, Muldoon); e deixe-se bem mais evidente que se consi­
dera exclusivamente a ordem sócio-jurídica da liberdade reli­
giosa e que o texto apresenta uma afirmação universal mínima
e não aborda questões e problemas de outras ordens (Sauvage);
e neste sentido seria necessário inserir no próprio texto alguns
esclarecimentos que se encontram atualmente na relação, que é
muito mais clara (Muldoon). Pede-se também uma definição mais
positiva de “liberdade religiosa” (Alfrink, Lokuang) e mais lú­
cida explicação dos têrmos “ordem pública” (Aramburu, Seper,
Baldassarri, Anoveros), “dignidade humana” (Del Campo, Koz-
lowiecki), “coação” (Baraniak, Del Campo), “res religiosa” (Ros­
si), “bem moral” (Anoveros, Dante), “direito dos cidadãos”
(Dante). O inciso sôbre o “estado confessional” foi considerado
muito equívoco e deve ser omitido (Lourdusamy, Doumith) ou
profundamente revisto (Alfrink, Rossi). Também o importante
parágrafo sôbre os limites da liberdade religiosa seja cuidadosa­
mente revisto (Marafini, Baraniak, Dante). E lembre-se com in­
sistência que a liberdade exige senso de responsabilidade (Wojty-
la), recordando também os direitos de Deus (no que muitos
insistiram). Afirme-se ainda com mais energia a total incompati­
bilidade do Estado em julgar a religião e as consciências (Seper).
E nossos Bispos brasileiros, pela voz do Cardeal Rossi, solici­
taram um nôvo parágrafo sôbre as conseqüências pastorais da
presente Declaração, como: educação pessoal na fé em lugar
de adesão hereditária a Cristo, formação da consciência cristã
da comunidade na ação apostólica dos fiéis, sentido da pobreza
da Igreja que, para cumprir sua missão, não deve colocar sua
esperança no poder civil. Muitos pediram também uma revisão
total dos argumentos bíblicos que não parecem convincentes
(Frings, Ruffini, Morcillo, Velasco, Modrego y Casáus, Carli,
Ottaviani, Baldassarri, Elchinger).
A oposição foi muitas vezes radical em suas afirmações.
Repetiram à saciedade o que já haviam dito no ano passado e
ao que a Relação já dera resposta: que só à verdadeira re iB a
que (ôda a questão fôsse resolvida pelas respectivas Conferên­
cias Episcopais); que a verdade e a norma moral objetiva têm
maior direito que a norma da consciência (Morcillo); que o Es­
tado. embora não tenha competência de julgar sôbre matéria
religiosa, tem todavia a competência de escutar a voz da Igreja
(Morcillo); que todo o esquema está permeado de legalismo ju­
rídico, contradiz a doutrina tradicional da Igreja, favorece a
pragmatismo, o indiferentismo, a naturalismo, o subjetivismo e
instila nos fiéis inumeráveis dúvidas e causa perplexidades (Ve-
lasco, que fêz certamente o discurso mais violento da tempo­
rada); que o texto coloca no mesmo plano a verdade e o êrro,
a consciência errônea e a consciência reta (Ottaviani); que,
em suma, a doutrina proposta não concorda com os ensina­
mentos pontifícios (Siri, Nicodemo, Morcillo, Velasco, Modre-
go y Casáus, Ottaviani, Oasbarri, Garcia de Sierra) e desta
maneira tem-se a impressão de que o próprio Concilio quer de­
cretar a destruição do Catolicismo nos países onde êle ainda
representa a única religião (Arriba y Castro).
Eis as intervenções desta manhã sôbre a Liberdade Re­
ligiosa:
1) Cardeal Francis SPELLMAN, Arceb. de Nova York, nos EE.UU.
ex o competo). Hoje em dia especialmente, a maior rnnsiHpmrnn nns-

a uma real necessidade. Com isso é


ao exercicio exterior da religião deve
A Liberdade Religiosa 9

*f„l d ° ph ^‘d? C0n.10 alS° de universal e de perpétuo. O mérito espe-


cial dessa declaraçao reside em estar a sua doutrina baseada na dig­
nidade da pessoa humana, e em cuidadosamente se evitarem nela os
Í1 ^°a a deClaraç.ões amb|guas. Por exemplo, alguns imaginam que
liberdade de consciência” consiste em não dever a liberdade humana
ser limitada por lei alguma. Ao contrário, a presente declaração esta­
belece uma excelente harmonia entre a verdadeira liberdade e a corres­
pondente obrigação, para cada pessoa, de formar em si uma consciência
reta. O que na Declaração é dito sôbre a cooperação dos católicos com
os não-católicos, e sôbre as relações entre a Igreja e a sociedade civil,
é utilíssimo. Como já se disse, e como eu mesmo já tive ocasião de
dizê-lo no correr da presente sessão, ainda há muita gente hoje em dia
que não acredita que a Igreja Catóíica aprove as sociedades modernas
quando estabelecem a liberdade religiosa e a igualdade política, na vida
civil, para todos os cidadãos, seja qual fôr a religião dêstes. Atualmente,
o pensamento da Igreja é que o poder civil não deve impor a seus ci­
dadãos a profissão de uma determinada religião como condição para
participarem plena e perfeitamente da vida civil e nacional. A Igreja quer
que, em matéria de religião, o Estado seja imparcialmente benévolo para
com todos. O que é dito na presente Declaração servirá a causa do
verdadeiro ecumenismo, e será de grande auxílio para os fiéis e seus
pastores que vivem em países de pluralismo cultural e religioso. Entendo
que tôda emenda ou mudança importante que seja introduzida no pre­
sente texto da declaração fará duvidar da sinceridade da Igreja quando
esta fala de liberdade religiosa. Deve, pois, a Declaração ficar tal como
está agora.
2) Cardeal Joseph FRINGS, Arceb. de Koeln, na Alemanha: O
texto agrada em seu conjunto porque respira o Espírito do Senhor que
quis fôsse pregado o evangelho sem alguma coação. Contudo o es­
quema deve ser enquadrado no gênero de Declaração Conciliar, algumas
asserções devem ser abreviadas e outras, alinhadas segundo a verdade
histórica. Seria conveniente incluir na Declaração propriamente dita, com
a qual o texto principia, o que se relaciona com os limites da liberdade
religiosa, o papel das autoridades, a liberdade das comunidades e fa­
mílias religiosas. Não são argumentos, mas declarações e por isso devem
ser acrescentados, essencial e brevemente, ao que se diz nos nn. 4-7 da
II parte. A parte intitulada “Doutrina sôbre a Liberdade Religiosa, ti­
rada da razão” deve ser suprimida porque não cabe ao Concilio, mas
aos teólogos e filósofos explicar o problema a partir da razão. Além
disso, nem tudo o que aqui se diz concorda com a verdade histórica
das religiões. A revelação divina e a fé cristã assinalam com clareza a
transcendência da religião sôbre o Estado. Consequentemente caduca tôda
a II parte do esquema. Por duas razões suprima-se o n. 9 da III parte.
1. Confundem-se os diversos sentidos de liberdade. Uma é a liberdade
concedida por Deus ao homem; outra, a liberdade dos filhos de Deus,
outra a liberdade dos grupos religiosos frente ao direito civil. 2. O qne
aqui se diz sôbre a doutrina e a prática da liberdade na história ^
Igreja não se coaduna com a verdade histórica. O que se atirma
parte pode ser muito mais resumido.
I. Crônica das Congregações Gerais
. c PUFFINI Arceb. de Palermo, na Itália: O es-
3) Caím ótimas considerações técnico-jurídicas sôbre a dignidade
quema contem otim . . à jmagem e semelhança de Deus e remida por
da pessoa human , seguir a própria consciência, sôbre a
r /o ato ie ê e por conseguinfe, sôbre a necessidade de se evitar
S f í q « £ £ • - w f religiosa Contudo, a t a n d o à g ,,-
wiima importância do tema, é necessário distinguir a liberdade física
òu psicológica da liberdade moral. Só a ultima diz respeito a verdade.
Como a verdade é uma só, também uma só é a verdadeira religião a qual
unicamente compete por si o direito santo e inviolável à liberdade. E’
dever dos responsáveis pelo bem comum proteger a liberdade de culto
daqueles que afirmam professar a verdadeira religião. O Concilio não
pode urgir unicamente a observância dos artigos 18-20 da Declaração
dos Direitos humanos sôbre a liberdade de culto para o indivíduo e
para a sociedade visando a paz social. A simples homologação dêstes ar­
tigos pelo Concilio sabe a certo indiferentismo agnóstico. O inciso que
sustenta a isenção do poder civil de qualquer dever em matéria religiosa
limitando suas competências ao setor cultural temporal é pelo menos
ambíguo. As autoridades civis têm a obrigação de prestar o devido culto
a Deus e, dentro dos limites permitidos pelas circunstâncias, têm o de­
ver de defender, de ajudar e de favorecer a religião. Não basta afir­
mar que nada impede que a autoridade civil reconheça, em determina­
das circunstâncias históricas, a posição jurídica de uma determinada
confissão religiosa. Esta afirmação não é suficiente para explicar as
concordatas que a Santa Sé fêz com vários Estados. O esquema deve
ser totalmente refeito.
4) Cardeal Giuseppe SIRI, Arceb. de Gênova, na Itália: Sinto o
dever de falar contra os abusos da liberdade religiosa. Pela liberdade
recebida de Deus, o homem pode praticar o mal. Êste é somente to­
lerado por Deus. Passando para a questão em aprêço, vê-se que o es­
quema reivindica a liberdade religiosa para tôdas as comunidades,
mesmo para as confissões que estão longe da ordem natural e inclusive
a contradizem. Se Deus apenas tolera, não aprova e pune o abuso da
liberdade, não podemos nósdefender o que vai contra o proceder de
eus. Nós, como sucessores dos apóstolos, temos que defender a lei
luna. O esquema não pode ser aceito uma vez que concede liberdade
religiosa para todos.
Cona5)n? F Í al J eni“ DE ARRIBA Y CASTRO, Arceb. de Tarra-
pregàr o evnmreih n 8 ,gre| a Católica tem o dever e o direito de
ser impedido não ^ e n t ^ S ^ i a 0* nã°-Católicos é iIícito e deve
vü, segundo as exigências Hn x g ’ mas pela mesma autoridade ci-
cretar a ruina do catnlirie Cm co™um- Cuide o Concilio de não de-
religiâo. Desde que se levaüt "°S pa,Ses onde ê,e representa a única
os que dizem: “Tôdas as r*r°U- ° p™blema da liberdade religiosa há
Nenhuma delas interessa! Deixe-v ^ IgUais/ Resta aPenas concluir:
copais. Quanto ao mais os nãn_^ 3 questao às Conferências Epis-
e nenhuma religião pode ser i m p o r t a cbre^° 30 cuIto privado
A Liberdade Religiosa 21
Giov?nni,URM NI, Patriarca de Veneza, na Itália: O
texto merece aprovaçao: 1. pela sua oportunidade. Hoje em dia homens
de diversas religiões vivem lado a lado, desejosos de promover o bem
comum, enquanto não poucos impugnam a dignidade e a liberdade da
pessoa humana, que o Decreto vem esclarecer e consolidar, importa
enunciar os mutuos direitos e deveres dos cidadãos em matéria de con­
fissão religiosa. 2. por causa da verdade. A atual questão da liberdade
religiosa é nova sob certos aspectos e não pode ser resolvida com a
mera recordação dos pronunciamentos do magistério eclesiástico. Trata-
se de definir a liberdade religiosa dos cidadãos numa vida civil orde­
nada. Implica, portanto, nas relações entre a pessoa, o Estado e o bem
comum, bem como nas relações entre a vida do Estado e a verdade re­
ligiosa revelada e sobrenatural. A liberdade civil em matéria religiosa
sofreu uma evolução vinculada com o progresso nas relações entre Es­
tado e pessoa humana constatável nas encíclicas sociais. Estas nos aju­
darão a esclarecer o problema. Deve-Se louvar o modo como a matéria
é analisada no esquema, cujo título poderia ser: A liberdade civil na vida
religiosa. O argumento em prol da liberdade religiosa carece de provas
mais evidentes. Conviría estudar como o direito à mencionada liber­
dade pode sofrer variações em tempos e lugares diversos.
7) Cardeal Richard CUSHING, Arceb. de Boston, nos EE.UU.:
O esquema satisfaz às expectativas da Igreja e do mundo. O direito à
liberdade religiosa se funda na mesma verdade que constitui a base de
todos os direitos humanos e da própria ordem social, isto é, a dignidade
do homem. O direito à liberdade religiosa faz parte da vocação do ho­
mem à liberdade do Evangelho. E’ necessário portanto pregar o Evan­
gelho da liberdade porque, negado o direito da liberdade religiosa, po­
dem ser negados outros direitos civis fundamentais. Há perigos, porém,
a evitar, mas o maior perigo é o de negar a liberdade. Devemos pregar
inteiramente o Evangelho e o primeiro testemunho desta nossa prega­
ção será a aprovação do texto que estamos examinando.
8) Cardeal Bernard Jan ALFRINK, Arceb. de Utrecht, na Holanda:
O texto merece aprovação no seu conjunto. A descrição da liberdade re­
ligiosa no início da Declaração é muito negativa. A liberdade não
consiste apenas na ausência da coação, mas implica na faculdade po­
sitiva de aderir a alguns valores que contribuem para o aperfeiçoamento
da pessoa humana. A passagem que se refere ao reconhecimento parti­
cular de uma determinada religião é demasiadamente categórica. Um
reconhecimento deste gênero está sempre ligado a circunstâncias po­
líticas ou a determinadas condições concretas, e assim o texto poderia
dar lugar a interpretações errôneas. Tal passagem, portanto, pode ser
expressa no condicional.
16-9-1965: 129' Congregação Geral
A Liberdade Religiosa

P r e s e n t e s -. 2.252 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Agagianian. A Santa Missa foi
celebrada por Doin Michel Callens, Prelado nullius de Túnis, na
Tunísia. A sessão começou às 9 e acabou às 12,30. Terminada
a Missa, anunciou o Secretário Geral a ordem dos trabalhos
para as próximas semanas: Serão sucessivamente discutidos os
seguintes esquemas: De libertate religiosa, De Ecclesia in mun­
do huius temporis, De activitate missionali Ecclesiae e De mi­
nistério et vita presbyterorum; a partir do dia 20 de setembro
terão inicio as votações dos dois esquemas que ainda esperam o
voto modificativo (“iuxta modum”), a saber: De divina reve-
latione e De apostolatu laicorum; depois serão votados em vo­
tação final (sem o “iuxta modum”) os seguintes textos: De
pastorali episcoporum rnunere in Ecclesia, De accommodata reno-
vatione vitae religiosae, De educatione christiana, De institutio-
ne sacerdotali e De habitudine Ecclesiae ad religiones non chris-
tianas (que trata também a questão dos judeus). Foram entre­
gues esta manhã aos Padres os textos corrigidos, com os ‘modos’,
dos esquemas sôbre o múnus pastoral dos Bispos (com 127 pp.)
e sôbre a renovação da vida dos Religiosos (com 96 pp.). Anun­
ciou-se que os outros textos serão distribuídos nos próximos
dias. No debate sôbre a liberdade religiosa intervieram esta
manhã 17 Oradores, entre os quais cinco Cardeais:
ff níi J°Seph Elmer R1TTER> Arceb. de Saint Louis, nos
vArãr, nn ^ CCf ° text° aos que 0 PrePararam e solicita sua apro-
os que sofrem ^ * Candade e da ÍustiÇa com que seriam beneficiados
proposições
proposiçoes da
da rConstituição pela
sôbre a ^elcrr^o
0 texto não fôr aprovado, várias
P n A -
nísmo seriam falsas, sem sentido e sem va,or ^ ° ^
A Liberdade Religiosa

Chile10)Ucxto
cmie
Cardeal
ítexto Raul SILVA
rnmniíx^'».
completo). . . HENRIOIIF7
Or\ texto £iNKiyufc£,do Arceb.
reemendado
j c ..
esquemade deSantiago do,
Declaração
re„ ,f jr * ? 'dadf ag,ada-nos, q„e, , e t,a?« do « a pl.ao! , » ,
n nhl. to T., J ra]adas. e da? amendas introduzidas nu texto precedente.
O objeto da Declaraçao está determinado e limitado. Trata-se do direito
concreto das pessoas e das comunidades em matéria religiosa. A noção
í1 «dade, tao ampla e analógica, está restrita no esquema, consoante
distinções bem expostas no relatório a páginas 1 e 2. Sôbre o próprio
texto faremos algumas observações que — humildemente acreditamos —
podem melhorá-lo. Não as leremos, mas formulá-las-emos por escrito.
Aqui queremos expor, não teses em favor do direito à liberdade reli­
giosa, senão alguns motivos pastorais pelos quais com alegria aprovamos
essa Declaração. Quanto a nós pastores, o esquema sôbre a liberdade
religiosa agrada-nos particularmente, visto implicar no apostolado uma
nova mentalidade que põe em valor o sentido do espírito e da liberdade
no anúncio do evangelho. Antes que ao relativismo, conduz êle a mais
responsabilidade.
1) A economia da liberdade: Como o afirma Santo Ireneu no Adversus
Haereses, o Nôvo Testamento é “a economia da liberdade” (1.1II,X,5);
os apóstolos enviados por Cristo “levavam a boa-nova da liberdade aos
que criam em Deus pelo Espírito Santo” (ibid., XII,14); “Êles eram pre­
gadores da verdade e apóstolos da liberdade” {ibid., XV,3). Os sucesso­
res dos apóstolos receberam a missão espiritual de promover essa li­
berdade. Segundo a expressão de Santo Ireneu, êles são “apóstolos da
liberdade”. Com efeito, para convidar os homens, Deus não se serve
nem da força, nem da ameaça, nem das promessas de vantagens temporais,
nem da conivência com os podêres seculares, mas sim de seu Verbo,
Jesus Cristo, que é a palavra viva e eficaz, “mais incisiva do que uma
espada de dois gumes” (cf. Heb 4,12). Jesus Cristo, diz-nos S. João.
é a verdade que liberta os homens (cf. Jo 8,32); êle exerce a sua ação
libertadora difundindo o Espírito de verdade, porque, onde quer que
esteja o Espírito do Senhor, aí está a liberdade (2 Cor 3,17). O es­
quema que nos é proposto implica uma valorização dêsse espirito evan­
gélico. E’ por isto que êle muito contribuirá para que o cristianismo
se inculque melhor como perfeitamente conforme a essa dignidade da
pessoa humana de que hoje se toma consciência cada vez mais viva.
2) A ação apostólica na economia da liberdade: Essa Declaração
sôbre a liberdade religiosa deveras nos convida a submetermos a um
exame profundo tôda atividade apostólica do povo de Deus. Demos gra­
ças a Deus por êste exame de consciência absolutamente indispensável
nesta época de turbações. A atividade apostólica do povo de Deus diri-
ge-se a pessoas. Quer suscitar nelas atos livres (cf. Declaração, p. S,
linha 14). Para isto, necessário se torna hoje em dia que os apóstolos
se abstenham cuidadosamente de qualquer coação, quer se trate de ex­
plorar um apêgo demasiado grande aos bens temporais, quer de promo
ver uma ação de propaganda que não respeite a pessoa como comem,
quer de estar ligado à autoridade política na pregação do e\anôe ' ^
de fazer “proselitismo”. Tudo isto deve ser evitado nuo so
24 I. Crônica das Congregações Gerais

de pagaos oii cr■cj5n<!


(ao não-católicos, mas também
dg ,greja — ae num
Porquanto intuitodapas-
afirmação li-
roral — a concernir não somente ao acesso a fe, mas tam*
berdade rell8l0S f. Q at0 de fé é, com efeito, absolutamente livre,
E J r s origem, mas também em tôda a sua vitalidade. Consoante
a sáto pedagogia dos evangelhos, devem-se cuidadosamente evitar to­
dos os meios não espirituais para manter os crentes na .e e na pratica
da disciplina da Igreja. A coação que lesa a pessoa, seja política, econô­
mica sociológica ou psicológica, não é o bom meio para manter o assen­
timento da fé. “O próprio Deus — diz o esquema — chama os homens
a seu serviço, mas não os força" (p. 14, linhas 25 ss). Cumpre, todavia,
evitar que, a pretêxto de liberdade, não se admita autoridade nenhuma
e se faça pouco caso da justa obediência (cf. Declaração, p. 19, linhas
37-39). Ao contrário, forçoso é dizer que a economia da liberdade supõe
um sentido particular e aprofundado da autoridade, seja da parte dos
fiéis que, num espírito de alegre e filial obediência, vêém nela um sacra­
mento da paternidade divina que nos permite chegar à verdadeira li­
berdade, seja da parte dos próprios pastores, que, com caridade e ab­
negação, devem cumprir a missão que receberam do Pai como um ser­
viço para seus irmãos e como um instrumento da sua libertação.
3) A necessidade da Igreja na economia da liberdade: Enfim, a partir
do espírito de liberdade, somos levados a considerar um aspecto parti­
cular da responsabilidade dos batizados no tocante à afirmação de ser
a Igreja necessária, essa Igreja fora da qual não há salvação. Podemos,
com efeito, considerar essa necessidade da Igreja na sua dimensão di­
nâmica e pessoal. São os próprios batizados que constituem essa Igreja;
êles mesmos, portanto, é que são necessários na sua atividade formal­
mente cristã, isto é, na sua atividade livre, vivificada pela graça de Deus.
Na história da salvação, a Igreja é necessária para tôda geração hu­
mana, que tem necessidade da livre atividade apostólica dos cristãos pe-
regrinantes. A graça da salvação, que Cristo confere de diversas manei­
ras a todos os homens, depende efetivamente dessa livre atividade apos­
tólica. Depende da oração, dos sacrifícios, da evangelização, do traba­
lho missionário, etc.; numa palavra, depende da atividade sobrenatural
dos membros da Igreja peregrinante. Tôda atividade livre, seja individual,
seja comunitária, inspirada pelo amor de Cristo, é, pois, muito importante
na Igreja. E’ o amor do uso da verdade que devemos alimentar, muito
mais do que o temor dos abusos da liberdade. Com efeito, o amor do
ai a livre oblação de Cristo na cruz e aos méritos dos eleitos é maior
o que a sua detestação dos abusos-da-liberdade que todos os pecadores
amo,r de C!ist0 íorça todos os cristãos não só “a darem
clararân6 d^.ncia e de Pac,ência para com os homens” (De-
produzir aP mnr 1^** 23 ss), mas também a fazerem a liberdade cristã
sua trerarãn P ^ possivel de frutos para a salvação dos homens de
evangélico e o pI Ponseguinte> rnossa Declaração não enfraquece o zêlo
desenvolve-os e iícita-ora^agb^m e^5 Cr'Stâ0S’ Senão que’ 30 contrário'
natureza evangélica da fé CMexto I, * ma'S ,ntensamente segundo a
recer o relativismo, requer uma m„ q n.°? e ProP°sto, longe de favo-
de verdade e de liberdade *°r atlvldade apostólica num espírito
A Liberdade Religiosa
25

. ' e rportanto
■*v todos os
‘vuuo uo
enviados pelo Pai para construírem
a pátria da liberdade”. Todos nós, com
imos “chamados à liberdade" (Gál 5,13);
da servidão da corrupção para en-
11) Cardeal Paul Pierre MEOUCHI, Patriarca maronita de Antio-
quia: Quero acrescentar algumas observações ao que já enviei por escrito
^ Secretaria. O modo de falar do esquema não deve ser tirado dos
princípios da Filosofia e da Teologia, mas da vida concreta, porque se
tiata de uma questão prática, própria do mundo em que vivemos. Êste
mundo tem em grande estima as concepções culturais, sociais e histó­
ricas da vida que muitas vezes estão em contraste com os nossos sis­
temas. O texto deve favorecer o diálogo com o mundo. O método de
expor a doutrina não deve ser nem metafísico nem teológico e nem
mesmo pode basear-se em princípios a priori, mas na experiência: um
método existencial e fenomenológico. O homem tem a experiência da
liberdade. A liberdade é um fato universal. E’ o âmbito terrestre e quase
carnal em que êle nasce, cresce, vive e sem o qual êle não pode ser
compreendido individual e socialmente, apesar de tôdas as dificuldades,
tentações e limitações que encontra no exercício concreto desta liberdade.
O fato de o homem ser criado à semelhança de Deus justifica a liber­
dade mas não a demonstra. Pela fé compreendemos a inferioridade da
pessoa que consiste na relação pessoal do homem com Deus num diálogo
de verdade, de confiança e de amor. (O Moderador convidou o Orador
a terminar).
12) Cardeal Josyf SLIPYJ, Arceb. maior ucraniano de Lwów. Ucrâ­
nia: Os séculos futuros admirarão com certeza o modo com que o
Concilio debateu a liberdade religiosa. Atualmente a liberdade da Igreja
é violada em vários países. Seria conveniente que o esquema dissesse algo
sôbre êste fato na introdução, para que não seja puramente teórico.
Ela não é apenas um bem para a Igreja, mas também para o Estado.
E' conveniente determinar os limites desta liberdade para que se evi­
tem os abusos por parte dos podêres civis. Desta forma não basta de­
saprovar a política dos Estados que impedem a educação religiosa. E’
preciso condenar também a dos países que impõem uma educação atéia.
O texto deve sublinhar que o homem pode abusar da liberdade. Para
isto conviría que insistisse sôbre a noção de nobreza (habitus cogitandi
et agendi, qui opponitur egoismo). (Enquanto o orador expunha esta
idéia o Moderador o convidou a terminar. Èste continuou ainda por al­
guns minutos).
13) Cardeal Lorenz JAEGER, Arceb. de Paderborn, na Alemanha:
O esquema é digno de louvor por sua clareza de argumentos e por
não entrar em considerações históricas. As dificuldades aduzidas ontem
pelos Cardeais Ruffini (n. 3), Siri (n. 4), Arriba v Castro (n. 5) o-
cam o ponto nevrálgico da questão. Tratando-se de um E*»ta o e 4
ria católica, a posição da Igreja nêle seria privilegiada porque
Concilio - V — 3
,6 I. Crônica das Congregações Gerais
• 'j- de
trutura jund.ca Ho um
nm EFstado
td depende
^ ^ dos
nfioseus cidadãos.
podem Os que, aporém,
ser coagidos pra.
professam nele oUtra g ^ também devem poder praticar a religião
ticar a religião c • |imjtes Não se trata de tolerância, mas de
S K dos fe ito s humanos. O esquema não favorece o indiferentismo
„?rqúe afirma claramente que a religião^ católica e a verdadeira. Nao
defende *a autonomia absoluta da consciência, mas indica a obr.gaçao
de indauar a verdade. A exposição histórico-doutrmal deve ser exposta
nas notas Como o esquema se dirige a todos os homens a disposição
de suas partes é digna de louvor. A liberdade religiosa na ordem ci­
vil náo pode ser confundida com a liberdade religiosa na ordem moral.
Êste problema não entra na ordem jurídica civil, porque o Estado não
pode distinguir a boa fé da má fé. Trata-se de um problema de ordem
moral.
14) Enrico NICODEMO, Arceb. de Bari, na Itália: O texto pode
ser aceito na sua substância, mas tratando-se de um assunto tão gra­
ve em si mesmo e pelas suas conseqüências, é necessário explicá-lo em
alguns de seus aspectos. O número 2, por exemplo, em que se trata do
direito à liberdade religiosa deve ser melhor definido e determinado.
Convém acrescentar algumas palavras para indicar claramente que o
Concilio quer permanecer fiel nesta matéria à doutrina da Igreja. A
forma da declaração deve ser mais concisa. Os parágrafos que se re­
ferem às relações da Igreja com o Estado não são conciliáveis com o
que ensina o Magistério da Igreja a êste respeito e a praxe confirma.
Não se pode falar de “bem público” mas de “bem comum” conside­
rado em tôda a sua amplidão e significação histórica. E’ preciso que
se evite a impressão de concordar de má vontade com aquilo que, pelo
contrário, deve ser abertamente afirmado. E’ indispensável, sobretudo,
que se evite uma terminologia que possa favorecer o individualismo
religioso, a confusão e até mesmo o desprêzo pela religião.
15) Casimiro MORCILLO GONZÁLEZ, Arceb. de Madrid, na Es­
panha: O Orador disse defender a liberdade religiosa, mas impugnar
o esquema, a) Trata-se de uma Declaração e não de uma Constituição
conciliar. A Declaração é um juízo sôbre um determinado estado de
coisas ou sôbre o problema concreto. E’ também a promulgação de
normas práticas de ação. b) O estado atual do mundo moderno é de
P ura ismo religioso. Caracteriza-se pela socialização das relações entre
nações, pelo ecumenismo, pela reciprocidade no uso da liberdade e
nara mnitnt ***** ** diversas religiões e pela impossibilidade moral
contingentes a_ verdade_ religiosa. Estas razões, embora
ligiosa. c) Mas um3"? Uma De^ araça? conciliar sôbre a liberdade re-
dar-se como o atual p_Squema sobre. Sltuações mutáveis não pode fun-
dissonant”: 1) Se o homem*11*e"t0S fl)0SóflC0s e bíblicos, “quae a veritate
c o n d i a ,J ,1 * ? ° dí “ 8“"»» a "a
verdade e a norma objetiva moral na “ supenils ius habe,> a
cado e formado. 2) Se o Estado - ^ ^CVe Ser con^ nuamente edu-
não *em competência de julgar em
A Liberdade Religiosa 27

(prorsus ignora,, „ M agias dos s i r S i ^ d S T iao lerel*


' ^ ' *3)
16) Stanislaus LOKUANG, Bispo de Tainan, na China: O nóvo tex­
to se apresenta mais perfeito e mais claro que o anterior. No entanto
restam algumas ambiguidades. A liberdade religiosa pode ser entendida
no sentido de escolher livremente a religião que se quer professar ou
no sentido de praticar a religião sem coação de ordem externa. O de­
creto não se decidiu claramente por um dêstes sentidos, podendo ser
mal interpretado, em que pese a definição no número 9. Por outro
lado deve-se considerar que um Estado católico é preferível a um Es­
tado indiferente, contra 0 que insinua 0 número 5 equiparando todos
os Governos que adotam uma religião oficial. O texto é por demais longo.
Deve ser resumido e mais sóbrio.
17) Juan Bautista VELASCO, Bispo (expulso) de Hsiamen, na
China: A nova redação apresenta os mesmos defeitos que a anterior.
Está impregnada de Iegalismo, contradiz a doutrina secular do Magis­
tério, pode dar origem ao pragmatismo, ao indiferentismo e ao natu­
ralismo religioso, insinua um subjetivismo em matéria de fé e não dis­
tingue os direitos da verdade e do êrro. Na reformulação do texto an­
terior não se deu ouvido às observações dos Padres que em consciên­
cia acreditam na falsidade dos princípios fundamentais do esquema.
18) Gregório MODREGO Y CASÁUS, Arceb. de Barcelona, na Es­
panha: O texto corrigido do esquema se apresenta mais profundo, mais
claro e mais seguro. Quanto à sua essência, porém, permaneceu o mes­
mo. Quanto ao capítulo II: o exercício da liberdade para o homem só
pode ser sustentado de acordo com as exigências de sua dependência
de Deus. Fora dêste limites não se pode conceber um verdadeiro di­
reito natural à liberdade. Aderir à verdade religiosa é 0 máximo bem
da sociedade. O Estado, portanto, não pode ser indiferente em face dos
erros doutrinais religiosos. A Escritura, citada no capitulo III, não prova
nem confirma 0 direito natural à plena liberdade religiosa, porque só
se refere à verdadeira religião. O Antigo Testamento, inclusive, proibiu
o culto aos ídolos e estatuiu penas severas aos transgressores desta
lei. Enfim 0 esquema desconhece o Magistério que sempre instou junto
aos Governos contra a divulgação de confissões não-católicas.
19) Duraisamy Simon LOURDUSAMY, Arceb. Coadj. de Bangalore,
na Índia: O texto corrigido agrada muito. E’ claro e incisivo, tanto
sob a luz da razão como da revelação. A sua aprovação não causará
detrimento à Igreja de Cristo. No entanto, a necessidade de propagar
a verdade deve ser melhor fundamentada. Não é só da natureza social
como quer o número 6 — mas também da própria natureza unhersal
da verdade que se origina a obrigação de comunicá-la aos outros, u
primam-se as referências ao especial reconhecimento de uma determi
nada religião por parte do Estado. Tal reconhecimento pode ser ocasia
de discriminação, mormente nos países de missão.
3*
I. Crônica das Congregações Gerais
28
adamritriJ Arceb. de Tucumán, na Argentina:
20) Juan Carlos ^ qua, se deciara que o poder civil
Conviría .™od,,,“ r g do direito à liberdade religiosa por razões de
P° f 'nllica0 E portuno especificar que a ordem pública de que se
urdem _publica. leffitima e natural". Do contrario o poder civil
poderá julgar a seu arbítrio que tal ordem pública é perturbada. Neste
caso 'e a muito fácil condenar como ilegítima a pregaçao da rel.g.ao
lios paises pagãos e comunistas. Anàlogamente se poderia definir de
injustiça a abolição da discriminação racial e, de um modo geral, toda
a atividade missionária da Igreja.
21) Luigi CARLI, Bispo de Segni, na Itália: Entre o conceito mo­
derno de liberdade e o conceito expresso na Sagrada Escritura a Co­
missão pode escolher duas soluções para desfazer as diferenças: adequar
o conceito moderno às Escrituras ou diluir e desfigurar a tese cons­
tante na bíblia. Preferiu-se a última. A tese fundamental de se professar
e difundir qualquer confissão religiosa carece de uma justificação e um
embasamento positivo, absoluto e antecedente. A imunidade de coação
externa é apenas uma conseqüência e como que uma proteção de direi­
tos anteriores. O direito à imunidade de coação externa é que deve ser
demonstrada pelos autores do esquema. A argumentação tirada da Es­
critura não satisfaz. Enquanto invoca as luzes da revelação menospreza
as da Tradição que a ela pertence com os mesmos direitos que a Sa­
grada Escritura. As muitas passagens da bíblia contra os que erram e
que induzem no êrro nos deixam na alternativa: ou Cristo e os apósto­
los supunham má fé em todos os falsos evangelistas do seu tempo, ou
nós, boa fé em todos os do nosso tempo.
22) Edoardo MASON, Vigário Apostólico de El Obeid, no Sudão:
Além das oportunas declarações já efetivadas, venho anunciar meios de
promover a liberdade religiosa e denunciar os perigos que ela pode
acarretar. Formação dos jovens e dos homens de Govêrno para a assim
chamada tolerância religiosa são meios para o cultivo da liberdade.
Todos os homens têm direito a que suas opiniões sejam respeitadas
tanto em vista de sua dignidade humana, como em vista da experiência
cotidiana. Não raro o que de primeiro nos parece errado, concorda com
a verdade em muitas coisas. O comunismo ateu, o nacionalismo, o ra­
cismo e o universalismo são alguns perigos que tramam contra a ver­
dadeira liberdade de religião. A Igreja das Missões não pode sofrer
maior mal do que carecer da liberdade religiosa, sendo, por isso, ne­
cessário que seja aprovado o presente esquema, após algumas
e o P S P a r r p c o im r t o r ®
corre-

fim de e v i t T l ^ ^ f 1NI> BÍSP° de Veroli-Frosinone, na Itália: A


exatamente n V w f devem ser definidos mais clara e
ternamente, i. é po^ razões' d e ^ d rellg'°Sa tanto externa como in"
los
dadeprincípios
civil nodenaturais
fa7pr de moral
• i e reTmão
e“ípao, a partirdedospública
quais comt> pe'
a autori-
lam enta,verdldS;» d V Í T ”'0' NS° baS,a * »°* « Para *>»-
lado pode se, confessional, mas níTa^rel * CrÍ,é,ios
arrehgioso, básicl>s
indiferente 0 Es"
ou amoral
A Liberdade Religiosa

e deve demonstrar estima e cons.deração para com as verdades da fé em­


bora respeitando os direitos dos cidadãos de seguir a própria religião
O poder civil deve opor-se as confissões contrárias à lei natural, forne­
cer subsídios a seus súditos para a busca da verdade e o exercício
da religião.
24) Ignace ZIADÉ, Arceb. maronita de Beirut, no Líbano: O nú­
mero 5 se apresenta claro, moderado e conseqüente. Mas as últimas
linhas nos reconduzem à Idade Média. Que outra coisa não significa
conceder uni especial reconhecimento a uma comunidade eclesial senão
uma certa discriminação? No dia de hoje, tôda discriminação é odiosa.
Esta concessão contradiz o que até aqui se afirmava, é perigosa e ofen­
siva à liberdade evangélica porque os cristãos devem submeter-se a
tôda autoridade legitimamente constituída. A expressão “casamento mis­
to” deve, aos poucos, desaparecer do vocabulário ecumênico porque se
realiza entre pessoas batizadas que acreditam no sacramento da Igreja.
Quanto à liberdade religiosa na família continua inabalável o princípio:
ninguém pode agir contra os ditames da própria consciência. Êste prin­
cípio vem confirmado na Escritura (Rom 2,14-15) contra o qual não
pode prevalecer nenhuma lei positiva, embora eclesiástica. Portanto: não
se deve impor à parte acatólica a obrigação de agir contra a própria
consciência, constrangendo-a, por exemplo, a educar catòlicamente os
filhos. E’ preciso respeitar as convicções do cônjuge não-católico e
unicamente exigir dêle que respeite a fé religiosa do outro. Neste campo
seria oportuna uma colaboração maior entre os Pastores dos dois
cônjuges.
25) Emílio TAGLE COVARRUBIAS, Bispo de Valparaíso, no Chile:
O nôvo esquema já apresenta sensíveis melhoras dignas de louvor, mas
ainda nêle se encontram algumas contradições. Diversas passagens do
esquema demonstram excessivo favoritismo para com as falsas religiões
com perigo de provocar indiferentismo e liberalismo. Só a verdadeira
Igreja tem direito à liberdade religiosa propriamente dita. As demais
podem apenas ser toleradas segundo as circunstâncias de fato e as exi­
gências do bem comum.
17-9-1965: 130* Congregação Geral
A Liberdade Religiosa

P resen tes: 2.214 pa d res


Conciliares. Moderador: Cardeal Agagianian. Começou às 9 e
terminou às 12,15. A Santa Missa inicial foi celebrada por Dom
John Kwao Aggey, Arceb. de Lagos, na Nigéria. Comunicou-se
que o Cardeal Máximo IV Saigh, o Patriarca dos melquitas, co­
memorava hoje seu 609 aniversário de ordenação sacerdotal. Re­
cebeu muitos aplausos que, explicou o Secretário Geral, não
eram apenas lícitos mas sobretudo significativos. No mais con­
tinuou ininterruptamente o debate, já cansativo, sôbre a Liber­
dade Religiosa, tendo nesta manhã falado 18 Oradores, dos
quais seis Cardeais, na seguinte ordem:
26) Cardeal Thomas COORAY, Arceb. de Colombo, Ceilão: Não
deve haver dúvida ou obscuridade a respeito da liberdade religiosa.
Certamente devemos defender a liberdade com tôda caridade, mas sem­
pre de acordo com a verdade. Por isso, ao se tratar dos limites da li­
berdade religiosa, deve afirmar-se que o primeiro dêstes limites se ori­
gina da própria verdade objetiva contra a qual não pode haver liberdade
“per se” nem “in re physica”, muito menos em assunto dogmático. Tam­
bém a norma moral e a norma jurídica só adquirem valor próprio se
estiverem fundadas na verdade objetiva. Isto para “manter intacta a
doutrina católica a respeito da única religião verdadeira e da única
Igreja de Cristo”.
27) Cardeal Ermenegildo FLORIT, Arceb. de Florença, na Itália
(texto completo): Sob a sua forma atual, o esquema está nitidamente
me or do que o precedente. A afirmação do direito universal à liber-
a e re igiosa está fundada diretamente na dignidade da pessoa humana,
r.fligiosa’ Pôsto que da Revelação divina receba esta a
Dreendida 6- * soluta\ sorte que a declaração pode ser com-
outros homens Sp * resPedo .dos 5ristaos> como também a respeito dos
o direito todo narfír^’ todavia,’ nao ^ haver suficientemente sublinhado
: s x , “ s s , . 1 >«?i*
no mesmo plano êsse direito originário
Ãr;^rt— ete próprio
evltou' seda0 Igreja,
Per|g° com
de colocar
o di­
A Liberdade Religiosa
31
reito comum a todos os homen* „
reito à liberdade relig io sac ristã L evitar que o di-
isto é, como um elemento subjetivo semelhante™ “T simples adlt,vo>
homens formam a sua consciêicia d f Tnrfe í aque 68 Pe 08 quai.8 .os
deles à liberdade religiosa. Com efeito na emn™ *SUh onf>ern_ 0 direito
da natureza humana da mesma maneira que a ela perfence aquilo que
esta recebeu naturalmente. Por conseguinte, a profissão da única reli­
gião verdadeira toca na própria qualidade ontológica, na dignidade essen­
cial da pessoa humana. E por isto que a condição do não-cristão não é
igual a do cristão. Uma coisa é seguir uma religião considerada verda­
deira, e outra é seguir a religião que o próprio Deus testemunha ser
a única religião verdadeira. Admitido isto, cumpre igualmente admitir
dois direitos distintos em matéria de liberdade religiosa: um direito
simplesmente natural, que cabe a todos os homens sem exceção, e um
direito, natural e sobrenatural a um tempo, que é próprio àqueles que
crêem em Cristo. Êste último direito é, de longe, superior ao direito
fundado só na dignidade da pessoa humana. Conformemente a êste
princípio, propôs o Cardeal o que se segue: 1) Que, no início da de­
claração, seja afirmado que todos aquêles que professam a religião
cristã (a qual só acha a sua plenitude na religião católica) têm um
direito supremo e sagrado à liberdade religiosa. 2) Que seja declarado
que, em matéria religiosa, pode e deve a Igreja, em todo tempo, rei­
vindicar uma plena liberdade e exercê-la segundo as exigências do
Evangelho. 3) Que seja claramente dito que, consoante o ditame da
probidade humana e da caridade cristã, a Igreja tem o direito de exer­
cer sua liberdade religiosa mesmo que êsse exercício possa perturbar um
pouco a liberdade religiosa de que os homens se beneficiam em virtude
de um direito simplesmente natural. Isto com a condição de que o mo­
tivo em que a Igreja se inspira seja, não sufocar pela fôrça uma tal
liberdade, mas sim consagrá-la pela palavra de Deus. Com efeito, quando
se trata do direito de Deus, valem para os discípulos de Cristo de todos
os tempos estas palavras pronunciadas pelos apóstolos perante as auto­
ridades da época: “Não podemos deixar de falar das coisas que vimos
e ouvimos. Deve-se obedecer a Deus mais do que aos homens” (At 4,20;
5,29). 4) Que seja afirmado abertamente que a liberdade religiosa cristã
não se propõe reivindicar para a Igreja uma situação confortável. Ao
contrário, essa liberdade põe em relêvo a obrigação — humanamente
desconfortável — a que a Igreja é obrigada enquanto depositária da re­
ligião divinamente revelada, de pregar a todos os homens (cf. Mc 16,15),
consoante o mandamento de Cristo. — Estas exigências são motivadas por
uma reflexão elementar: o Concilio é uma realidade sagrada, deve, an­
tes de tudo ocupar-se de coisas sagradas. No nosso caso, declarando
o direito natural à liberdade religiosa, não pode êle deixar de procla­
mar ao mesmo tempo o direito sagrado à liberdade cristã. Com esta
condição é que a presente declaração, alias digna de louvor, assumira
a sua justa dimensão teológica, corresponderá melhor à expectativa
expectativ de
de
todos e, em primeiro lugar, — ---- nossos irmãos na fé (cf. Gál . 6,10).
.
Caberá, em seguida, a um organismo internacional qualquer, .nspirando-
se no texto conciliar assim concebido, fazer declarações mais pormenor,
zadas sôbre ü liberdade civil em matéria religiosa.
3, 1. Crônica das Congregações Gerais
cirppp Arceb de Zagreb, Iugoslávia: A liber-
28) Cardeal |™ nj° Q ne^ ssária para o exercício da vida religiosa
dade religiosa t a <-o> ç da igreja no mundo contemporâneo.
V para i r S e r a r que eTa L rd a d f seja no futuro respeitada em
tôda aSCparte estudo, é indispensável fazer com que a consciência reaja
contra as violações da liberdade. Por isso o Concho tem uma grave
esponsabilidade: a de apresentar uma exata noçao de liberdade reh-
Jio^a independentemente das circunstâncias locais. As passagens do tex-
m que se referem ao papel do estado devem ser atentamente revistas.
E- preciso evitar uma terminologia que pareça atribuir ao Estado a
competência de julgar a religião e as consciências. O Estado nao é
árbitro das diversas confissões religiosas nem a liberdade religiosa e
concedida pelo Estado. Pode acidentalmente limitar o exercício desta
liberdade, não a partir do valor intrínseco da religião, mas pelas conse­
quências'funestas que possam gerar no campo que depende da prote­
ção do Estado. O texto deveria reprovar tôda a sorte de discriminação
na sociedade por motivos de índole religiosa. Por outro lado, é preciso
explicar que o particular reconhecimento de uma religião por parte do
Estado deve fundar-se em motivos dos quais o Estado pode ser árbitro
no âmbito da própria competência específica. Explique-se também que
a ordem pública de que se fala no texto deve estar em harmonia com
a justiça. Do contrário, o Estado poderia basear-se na existência de
uma ordem injusta para limitar arbitràriamente a liberdade religiosa.
E’ frequente o caso de Estados que limitam a liberdade religiosa por
motivos puramente políticos. Conste que a sociedade (não só o Estado)
tem o direito de se proteger contra abusos que por acaso surjam sob
o nome de liberdade religiosa.
29) Cardeal John Carmel HEENAN, Arceb. de- Westminster, na In­
glaterra (texto completo): Não há ninguém que não veja a imensa im­
portância desta Declaração sôbre a Liberdade Religiosa. Eu quisera,
entretanto, frisar-lhe o alcance, o mais brevemente possível. Muitos
não-católicos imaginam que, sôbre a questão da liberdade religiosa
e da tolerância, nosso juízo se inspira em dois princípios distintos:
quando a Igreja está fraca e não tem consigo o poder político — isto é,
quando os católicos estão em minoria, — nós somos todos pela liber­
dade.^ Mas dizem êles — quando os católicos estão em maioria, nós
ja ru° í a'amos. ^os ‘‘direitos da verdade”. Acusam-nos de suprimirmos
a í erdade religiosa dos não-católicos quando somos bastante fortes
para o azermos. Com tôda honestidade devemos fazer o nosso exame
e consciência, para vermos até que ponto essa acusação é fundada,
f ' í >rCer a ^outr’na católica o ensinar um princípio para os casos
os casos nC°S e *or*es» e °”tro, completamente diferente, para
que em certos^ somos pobres e fracos. Não se pode, entretanto, negar
católicos.
tes é um Não esqueJamosSaue°!,eSttaílteS
fenômpnn Çr i qie a tolerancia tenham
entre S'd° perSeguidoS
católicos pel0S
e protestan-
«« i>o"” I r « r , 1 f , ” " 1' "6vo- A° '<>"2° sécul», * Quase-
estreita da fé.8Na ÓDtica dnc “ ncepÇao muito simplista e muito
tãos ou eram da nossa bandnr°teStant-S COmo dos catóIicos> os cris_
Pràticamente, ninguém levava em ^nn^H*0 C-ram hereges e cismáticos.
cedia — o direito, para
para um
um homem,
hom em lderaçao
de seguir~ a e sua
aindaconsciência.
menos con-0
A Liberdade Religiosa
33
direito civil admitia o bem conhecido nrínri*;»
ligio De ambas as partes, queimavam-se os heíeées
cristão sustentaria posições tão intolerantes g! Hoje’ nenhum
longe de aprovarem essas atitudes desumanas afirmam ~ emb°ra
o êrro não tem nenhum direito por nTtureza V n h qUe' , Ja. que
pregar doutrinas não-católicas, visto serem manifestamente
bem claro esta que e perfe.tamente absurdo falar de êrro que não'tenha
nenhum direito, ou de verdade que tenha direitos. Os direitos concer-
nem as pessoas, e nao^ as coisas. O homem tem o direito inviolável de
obedecer a sua consciência, desde que não atente nem contra a paz
nem contra os direitos dos outros. E é esta tôda a tese da Declaração
sôbre a^ liberdade religiosa. E bem certo que, onde quer que tôda a
população é católica, o fato de conceder livre curso ao proselitismo
comporta perigos que não são desprezíveis. Nós todos conhecemos
dessas seitas fanáticas que fazem estragos consideráveis entre os ca­
tólicos iletrados. Elas provocam manifestações não por proclamarem
positivamente uma doutrina, mas por não fazerem outra coisa senão
atacar e caluniar a Igreja de Deus. Êsse gênero de pregadores que
desnaturam o nosso ensino doutrinai e moral, que proferem blasfêmias
contra a Eucaristia e contra a SS. Virgem, não podem deixar de in­
dispor os fiéis católicos. E’ precisamente o caso dêsses que a decla­
ração encara, quando diz que a liberdade religiosa não deve exercer-
se às expensas da ordem pública. Não devemos esquecer-nos de que
os Anglicanos, os Luteranos, os Metodistas e outras Igrejas ou comu­
nidades de nossos irmãos separados absolutamente não aprovam as
atividades dessas seitas. E penso não me enganar dizendo que o Con­
selho Ecumênico das Igrejas não admite em seu seio essas seitas es­
tranhas.
A propósito de Eucaristia eu quisera abrir um parênteses e dizer
o quanto os Bispos são gratos à recente encíclica sôbre êste assunto,
tão bela e oportuna. Ela esclarecerá as inteligências de muitos sacer­
dotes jovens e de jovens leigos inteligentes que doutrinas novas e es­
tranhas haviam lançado na confusão. Essa encíclica é inteiramente
aquilo de que a Igreja necessitava neste estádio do Concilio.
Há alguns dias, o Santo Padre estigmatizou fortemente a intole­
rância dos países soviéticos. O Papa defendeu o direito, para todo ho­
mem, de seguir o ditame de sua consciência e de praticar sua religião
com tôda liberdade. Havería Padres do Concilio que não estivessem
dispostos a seguir essa trilha indicada pelo Papa? Devemos seguir os
exemplos e os preceitos dêle, porque o mundo olha para nós e julgara
a quarta e última sessão do Concilio pela sorte que tivermos dado a
essa declaração sôbre a liberdade religiosa. Na sua célebre carta aberta
ao duque de Norfolk, o Cardeal Newman, no capítulo sôbre a cons­
ciência, cita a opinião dos teólogos de Salamanca, que entendem que
se deve sempre obedecer à própria consciência quer seja reta, quer
seja falseada. Achavam êles que isso era verdade.ro n.esmo se por
culpa sua um homem tivesse uma consc.enc.a errônea. Pennita-^-nR
também relembrar aquela famosa palavra de Newman a quem M am
<>»r um brinde ,o Pnp. n. " £ ' e fim
r s T E s t r s r s - -
I. Crônica das Congregações Gerais
34

a é pela plena liberdade e pela tolerância no mundo inteiro.


30) Cardeal William CONWAY, Arceb. de Armagh, Irlanda: O
esquema merece aprovação por fundamentar o direito da liberdade re-
ligiosa na dignidade da pessoa humana e por definir êste direito como
imunidade de coação. Por 200 anos a Irlanda sofreu pela falta de li­
berdade religiosa. Apenas conseguida a liberdade política, ensinada pela
experiência passada, reconheceu na sua Constituição o direito à li­
berdade religiosa de todos os seus cidadãos. Duas observações: a) O
Estado é injusto quando nega aos seus súditos o direito de possuírem
escolas confessionais como tais. E’ necessário afirmar categoricamente
que no campo da educação da juventude tôda a forma de discrimina­
ção por motivos religiosos é uma violação aos direitos dos pais. b) A
afirmação de que o Estado não deve se imiscuir nas coisas que rela­
cionam o homem com Deus pode ser interpretada no sentido de uma
completa secularização da vida civil. Muitos países reconhecem a relação
do homem a Deus e dela participam mesmo acatólicos e não-cristãos.
E’ necessário pois afirmar o princípio da liberdade religiosa, mas não
se pode confundir tal princípio com a exclusão total de Deus da vida
pública.
31) Cardeal Alfredo OTTAVIANI, da Cúria Romana: O esquema
deve começar com uma firme declaração sôbre o direito verdadeiro
e objetivo da Igreja à liberdade religiosa, pois os que a fundamentam
apenas na dignidade da pessoa humana põem a Igreja na mesma con­
dição das outras religiões. A Declaração que examinamos trata da
Igreja fundada por Jesus Cristo e não de uma sociedade qualquer. En­
quanto, estudando outros assuntos, o Concilio deixou de lado questões
ainda controvertidas, neste esquema aborda Questões ainda disDutadas e,
A Liberdade Religiosa 33

32 ) Pedro CANTERO CUADRADO Arceb h* 7


As palavras e os conceitos dos homens se n l . Zaragoza’ EsPanha:
diversas. E’ 0 que sucede com resneito ao r p estam . a lnterPretações
giosa. O eixo doutrinai do problema consiste n a T '^ ,de J lberda«íe reli­
dos conceitos. Convém fazer estas explicações
f
açao e exP*'cação
liberdade religiosa e não da l i l S a S ^ r S t ó S r e m L T ' *
giosa; b) trata-se da liberdade religiosa no fôro externo e n áT n a"^
herdade religiosa coram Deo”; c) trata-se da liberdade religiosa con­
siderada como um direito civil de imunidade de coação por parte do
Estado e da. sociedade Dentro deste "status quaestionis" 0 problema
pode ser assim formulado: os homens e as sociedades são civilmente
livres de professar uma religião segundo os ditames de sua reta cons-
ciência? Tem os homens e as sociedades um direito civil verdadeiro e
objetivo de professar a religião perante o govêrno e a sociedade? Daqui
podemos passar a um outro problema: qual seja o fundamento teológico
e jurídico da liberdade religiosa. Êste é o conteúdo doutrinai do pro­
blema. Os problemas jurídicos e pastorais da aplicação dêstes prin­
cípios devem ser resolvidos pela prudência pastoral e política em cada
país, uma vez que a prudência é a virtude que trata não só dos meios
práticos, mas também das limitações legítimas de tôda a atividade
humana. As pessoas e as sociedades têm direito civil objetivo a esta
liberdade religiosa, cujo exercício está limitado pelos direitos dos de­
mais e pelas exigências da convivência pacífica dos homens e dos povos
em plano nacional e internacional. Não se pode aceitar o fundamento
teológico e jurídico do direito à liberdade religiosa exposto no esquema,
pelos seguintes motivos: a) teològicamennte, êste direito se funda na
mesma natureza e transcendência das decisões religiosas dos homens
e não na obrigação moral de seguir ditame subjetivo, imperceptível e
incontrolável da consciência pessoal; b) juridicamente, êste direito ci­
vil à liberdade religiosa se funda na liberdade sociológica e na natu­
reza social do homem. Disso se segue que no subtítulo da Declaração
em vez de “sôbre o direito da pessoa e das comunidades em matéria
religiosa” diga-se “sôbre o direito civil da pessoa e das comunidades
em matéria religiosa”.
33) Antoni BARANIAK, Arceb. de Poznán, na Polônia: O texto
atualmente apresentado pode ser aprovado na sua substância, mas re­
quer diversas correções e acréscimos. Assim, seria oportuno recordar
no cap. I que, infelizmente, mesmo no âmbito da Igreja, houve insti­
tuições que oprimiram a liberdade religiosa. Isso serviría de satisfação
por todos aquêles que no passado sofreram restrições no tocante à
liberdade religiosa e ao mesmo tempo revelaria a disposição da Igreja
de promover um sincero diálogo ecumênico com aquêles que professam
outras confissões religiosas. Conviría também explicar o têrmo “coaçao
usado na definição de liberdade religiosa, demonstrando-se caramen e
que com Isso se quer significar aqueles meios comumente tidos como
injustos. Isso porque em alguns pa.ses.se c h a ma d e c o a ç a o o d r e . m
que a Ie-reia tem de dar educação religiosa a juventude. Deve-se acen
í u a V a i i r U a norma jurídica em virtude da qual se limita o, cxer-
çlci» do direito à reiEioL. '
S , „ ,nnt ps ? ; r d ?S " . * d j p ^ » . na
'rônica
I. Crônica das Congregações Gerais
36

ietiva naqueles que abraçam o ei.


-.V lpan SAUVAGE, Bispo de Annecy, na França: O texto atual,
Je !, moihnr nue o anterior e apresentando condiçoes para
uma^aV^ação unânime, requer uns reparos. Faz-se mister dizer bem
claramente que o esquema considera a ordem soc.o-jund.ca, apresenta
uma afirmação universal mínima e não aborda questões e problemas
de interêsse mas colaterais e que por isso não podem ser abordadas
no âmbito restrito de uma Declaração. E’ preciso também tratar mais
acuradamente do fundamento do direito à liberdade religiosa. E para
tanto deve-se explicitar melhor os aspectos da dignidade da pessoa
humana, centro da argumentação. E realmente a pessoa humana, conside­
rada à luz da razão e comparada com os outros sêres viventes, apre­
senta-se como algo de sagrado. E isso inclui autonomia, tendência para
o verdadeiro e o bem. Também é preciso falar de um modo muitíssimo mais
positivo sôbre a natureza social da pessoa humana. O texto nunca
afirma, como deveria, que o aspecto social é parte constitutiva da digni­
dade da pessoa humana.Explicando-se melhor êste ponto dar-se-ia
maior clareza à exposição dos direitos e dos deveres que derivam
desta dignidade.
35) Salvatore BALDASSARRI, Arceb. de Ravenna, na Itália: Não
há dúvidas sôbre a necessidade de uma declaração por parte do Con­
cilio sôbre a liberdade religiosa, pois ela constitui o fundamento da
ordem civil e ademais Deus espera um ato de fé livre, não extorquido.
Mas impõe-se que essa Declaração não dê margens para falsas inter­
pretações, enfraquecendo assim em muito o seu valor. E para evitar
isso tenha-se em conta que o Concilio não deve basear-se em argumen­
tos do senso comum e sim propor a palavra de Deus. E aliás, os ar­
gumentos de razão aqui aduzidos não são nem profundos, nem suficien­
temente elaborados. Os argumentos baseados na revelação, por sua vez,
se ajustam mal e obscurecem o texto. Ainda mais: não há quem não
veja que a liberdade evangélica seja bem diferente da liberdade reli­
giosa tratada no esquema, que neste particular não parece claro, mas
ate confuso. Finalmente não se deve erigir a ordem pública como um
principio absoluto e fique claro que essa declaração sôbre a liberdade
religiosa não significa limitação do poder que o Magistério e o Go­
verno eclesiástico têm de impor penas espirituais aos fiéis.
36) Léon Arthur ELCHINGER, Bispo coadjutor de Estrasburgo,
^ Presen*e Declaração não visa ser uma Constituição dou-
iihprHí>H° ^ f llberdade. religiosa, mas sim uma Declaração sôbre a
todos ns hn* em reji&iosa. Não se destina aos fiéis, mas a
das citacões '°^de 3 imProcedência e a pouca fôrça probativa
fensora
cantar umdoshrovp
direitos'
n*ró naturait P a rí os^ cristãos
a , a s* Para -aq-U' apresentar-se C0m0acres-
seria suficiente de'
exigências da revelado* °k T ° exempl° dado por Cristo e aS
sôbre os quais a Iirreia PCr ^ aiS e prec,_so acentuar que os direitos
e não apenas fruto de um Ü 'scutindo são de natureza transcendente
tes conjunturas políticas PorPfimUn'Sm° ec,esj al inspirado pelas presen-
víte fraterno a tôdas as c°nclusão deveria conter um con-
as comunidades religiosas, a todos os grupos so­
A Liberdade Religiosa
37
ciais que desejam salvaguardar a dinnidarto t,.
niens de boa, vontade, para que todos iuntr* mana’ a todos. os ho-
defender os direitos da liberdade religiosa. ‘ aSSUmam a m,ssâo de
37) Abilio DEL CAMPO Y DE I A p á p p c m a n-
na Espanha: O presente esquema embora mais A’ B.lspo de Calahorra,
tem um sabor de humanismo naturalista O texto^m!? '‘“V " .anterior-
berdade religiosa na dignidade da pessoa íuman E^a £
argumentar parece perigosa e falaz, pois em nenhum lugar “ qUa
seja a verdadeira d.gmdade do homem. Do contexto deve-se despreJde
que se trata da dignidade natural da pessoa como tal. Mas na presente
economia da salvaçao ja não se deve falar da natureza como tal ma«
elevada ao estado sobrenatural. Além disto, muito se fala nos direitos
da pessoa humana, nunca nos direitos de Deus. Por outro lado, se
apresenta como argumento o duplo fato sociológico da pluralidade re­
ligiosa e da liberdade reconhecida e proclamada em muitas Constitui­
ções civis. Mas nem os fatos sociológicos podem regular os princípios
doutrinais, nem o Concilio é organização jurídico-civil, nem as Cons­
tituições civis podem ser citadas como fontes da doutrina católica. E
como se pode falar em direitos de ensinar, concedidos aos acatólicos
mesmo em comunidade inteiramente católica, quando os católicos têm
o direito e o dever de defender a própria fé? A Declaração sôbre a
liberdade religiosa, além do mais, favorece o subjetivismo religioso,
bem como a moralidade da situação, uma vez que religião e moral
estão intimamente unidas. E por fim a Declaração pretende condenar
tôda sorte de coação em matéria religiosa. Que dizer então do nosso
ambiente familiar; da educação cristã dos filhos; do sagrado tesouro
do cristianismo, conservado durante tantos séculos e que agora corre
perigo de se perder por causa dêste decreto?
38) Jean RUPP, Bispo do Mônaco: A afirmação clara de normas
práticas e a promoção dinâmica do bem comum universal respondería
melhor às exigências do mundo hodierno do que o culto mais ou me­
nos antigo e negativo de uma liberdade teórica. Êsse esquema como
está se arrisca a provocar uma vez mais contra a Igreja a acusação
de que ela está em atraso nas idéias, reformas e na evolução. E assim,
para que nossa Declaração não permaneça como está, mais dissertação
do que declaração, seria necessário suprimir pura e simplesmente os
capítulos relativos à liberdade religiosa à luz da razão e da Revelação.
Poder-se-iam integrar no esquema da Declaração as sete propostas re­
centemente publicadas pelo Conselho Ecumênico das Igrejas de Genebra.
39) Primo GASBARRI, Administrador Apostólico de Grosseto, na
Itália: O texto deve ser profundamente reelaborado. O esquema deixa
caminho aberto para teses que tratam de liberalismo, de la,cismo de m-
diferentismo, de existencialismo, de iren.smo, de ética da ^ a «. J
Propugnadores da liberdade religiosa apresentam uma llberdade toda
Particular, que se baseia "a‘.necessidade
jeitando as categorias do otimismo, ad * consciência fazendo da
dem a liberdade religiosa com a hb Q esquema, além
'•berdade religiosa uma parte da 0 vtfrdadeiro direito, aquête
do mais, e ambíguo porque na ' J tural do direito positivista. O
Que está em harmonia com o direit
1. Crônica:a das Congregações Gerais
ismo direito civil à verdade e ao êrro. E fi-
está de acordo com a doutrina católica tra-

41) Custódio ALVIM PEREIRA, Arceb. de Lourenço Marques, Mo­


çambique: Intervenção escrita. Oralmente foram apresentados apenas as
seguintes observações: As palavras da pág. 7, desde as linhas 24 a 30,
não podem ser ditas pelo Concilio Ecumênico, pois colocam na mesma
linha a verdade e o êrro. Na pág. 8, linha 22 (“iniuria homini fit”)
não podem ser admitidas. E no mais não entendo como a Igreja, mestra
e mãe da verdade, se possa colocar na mesma linha que as outras re­
ligiões. E o que se propõe na pág. 12, desde as linhas 4 a 23, é o
mesmo que declarar que a Igreja católica é uma entre as muitas reli­
giões existentes no mundo, o que é um absurdo. No mais, concorda o
Orador com o que foi exposto pelos Cardeais Ruffini, Florit e Ottaviani
e pelo Arcebispo de Madrid.
42) Paul HALLINAN, Arceb. de Atlanta, nos EE.U U .: O texto
do esquema agrada em sua totalidade. A doutrina contida na Declara­
ção é sólida e adaptada às exigências modernas. Essa mesma doutrina
já foi exposta por Pio XII e por João XXIII. A raiz desta concepção
é a dignidade da pessoa humana, que por sua vez representa o sujeito,
o fundamento e o fim da vida social. Disto se segue que o bem comum
consiste sobretudo na conservação dos direitos e deveres da pessoa hu­
mana. O esquema põe tudo isto em justa evidência. Compete ao Estado
tutelar a liberdade religiosa, mas não a religião. Onde a liberdade re­
ligiosa vige, ela é sancionada pela Constituição, porque a religião tem
um valor social de primeira ordem. O Estado, promovendo a liberdade
religiosa, promove por isso mesmo a religião.
43) Segundo GARCIA DE SIERRA Y MÉNDEZ, Arceb. de Burgos,
na Espanha: O esquema reemendado, embora corrigido em muitos pon­
tos, não pode ser aprovado em sua substância nnr vá rins nntrns de-
20-9-1965: 131* Congregação Geral
A Liberdade Religiosa

P r e s e n t e s : 2.204 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Agagianian. Começou às 9 e
terminou às 12,30. A S. Missa foi celebrada por D. Juan Frêmito
Torres Oliver, Bispo de Ponce, Puerto Rico. No início dos tra­
balhos anunciou-se a morte do Arceb. de Évora, Portugal, Dom
Manuel Trindade Salgueiro. Foi lido também, pelo Secretário
Geral, um projeto de carta dos Padres Conciliares ao Papa, de
agradecimento pela recente Encíclica Mysíerium Fidei e pelo
Motu-proprio Apostólica Sollicitudo. A assembléia manifestou com
aplausos sua aprovação. Como fôra anunciado com suficiente
antecedência, começaram hoje também as votações. Iniciou-se
com a votação do esquema de Constituição Dogmática sôbre a
Revelação Divina, acêrca da qual se fará a crônica mais adiante,
em capítulo especial (p. 343 ss). No mais, gastou-se a manhã in­
teira na continuação do debate sôbre a liberdade religiosa; de­
bate, aliás, que hoje foi excelente. Eis a ordem e o resumo das
intervenções:
44) Cardeal Joseph LEFEBVRE, Arceb. de Bourges, na França
(texto completo): As intervenções feitas na sala conciliar e o que os
Padres do Concilio nos dizem mostram-nos que certos Padres estão
inquietos. Receiam, com efeito, com tôda boa-fé, não poderem aprovar
êste esquema. Eu quisera aqui evocar alguns dos seus receios, e trazer
algumas luzes que permitam dissipá-los.
1\ Alguns pensam que a proclamação da Liberdade Religiosa fa­
vorecerá o subjetivismo e 0 indiferentismo, como se todas as af.rmaçoes
tivessem o mesmo valor. Parece-me poder afastar qoalquer equ.voco por
? esquüma ã
,sso explicitamente indicado no numero
m
esta dupla resposta: a) Como muito bem o d.sse 0 Cardeal Urbam(n. b),
1,1a ia liberdade civil «*“” « ““ £
eoacão exterior difere
Smedi, pdgina 4. Mas •
e9sencialmente do livre exame em m
40
I. Crônica das Congregações Gerais
- ohcnintamente não suprime a obrigação, para o
isenção de toda c°a^a d sua natureza humana e da dignidade de sua
homem - em raza verdade e de se enriquecer aderindo-lhe. Con-
pessoa — ae pro é verdade encarnada, impõe essa
soante a o’ amor infinito, esta é plenamente uma
obrigação de amor. Não tem outro fim a não ser engrandecer e eno-
S r de maneira divina aquêles a quem e ela tmpos a. Sendo uma
obrigação moral, pressupõe a liberdade. A sançao que lhe esta ligada
é interior àquele que é obrigado a aceitar a verdade. Aquele que des-
cura buscar a verdade, ou que a rejeita, priva-se de uma luz que o
faria progredir, e marcha a recuos na trilha que conduz à vida. b) Por
ist0 __ e será esta a minha segunda resposta a êsses receios de que
falei _ é que o nosso esquema exclui muito explicitamente, no número
2. § 3, todo indiferentismo ou positivismo. E, no mesmo lugar, afirma
com a mesma fôrça a obrigação, para o homem, de buscar a verdade.
2Ç. Outros acham que, proclamando a Liberdade Religiosa„ o Concilio
cessa de ensinar que há uma só religião e uma só Igreja de Jesus Cristo.
Certamente, o esquema não se propõe diretamente afirmar estas ver­
dades imutáveis da nossa fé. Lembra-as, porém, explicitamente quando
diz: ‘‘Ademais, a noção de liberdade religiosa deixa intacta a doutrina
católica sôbre a única religião verdadeira e sôbre a única Igreja de
Cristo” (N* 2, § 3, in fine). Mas, ao mesmo tempo, o Concilio lembra
diretamente a doutrina tradicional sôbre a liberdade necessária ao ato
de fé. Essa liberdade inclui, como conseqüência imediata, que ninguém
pode ser coagido a esse ato.
3*. Outros sentem apreensões a respeito da liberdade de difundir o
êrro e das consequências que dai poderão decorrer. Porém a liberdade
religiosa não significa que tôda espécie de propaganda seja permitida.
Os que se esforçassem por propagar a sua doutrina sem respeitar su­
ficientemente a liberdade dos outros — mormente quando se trata de
pessoas simples e pobres — não correspondem à primeira exigência da
liberdade religiosa, a qual prescreve que se deve respeitar a liberdade
dos outros. Acrescentemos que, onde quer que essa liberdade exista,
mister se torna que os pastores — pondo sua confiança na fôrça da
verdade que se acompanha da graça de Deus — velem mais atenta­
mente pela formação religiosa dos fiéis. Quanto a estes últimos, devem
esforçar-se por aprofundar seus conhecimentos e suas convicções reli-
giosas, e por terem uma fé mais pessoal. Daí grandes progressos es­
pirituais devem resultar para todos.
.. 4’\ Dlzem wtros que, proclafnando a Liberdade Religiosa, faz-se
Dod^pCã vh,nJ°AC ° ardor missionários. Porém, muito ao contrário,
Cristo níw nn'cl íazer conhecer melhor a mensagem de
haveríam <L>rS-ond® ainda nao foi ela anunciada. Ademais, como não
essa veV de em,rH d0S pel° amor de Cristo a levarem a « u s irmãos
quezaS Sbrenab,rl?, Ha -SUa P'enitude 05 cr^ o s que conhecem as ri-
revelada representa parT "tornem ?"*5' ^ t0d° progresso na verdade
ia-se o homem à s ^ c u s t a T d e ^ D é u ^ ° Liberdade Religiosa, exal-
deve permitir ao homem buscar' M s’ ,ao. contran°, a liberdade religiosa
dente à sua natureza e assim „ k ^erdade de “ma maneira correspon-
’ C’ aSS,m' obedecer à vontade de Deus, que quis
A Liberdade Religiosa 4,

essa liberdade do homem e que tolera n« „r,™


muito mais do que os destrói. Ademais a Ctêste’
fala o esquema coloca o homem ao abritm n» ^ rell^ ? sa ?ue
F’ oois livremente e He tnHe „ 30 abrg0 de toda c°açao exterior.
b -,polf: vreme,,f. e cle todo o seu coraçao que êle pode buscar a ver­
dade. Mas, em ultima análise, essa verdade é o próprio Deus. Aquele
pois, que smceramente busca a verdade religiosa busca a Deus Já To’-
meça a achá-lo sob a influência da graça que o ajuda nisso, e que
progressivamente poderá conduzi-lo à plena luz.
,6 / Entendem outros enfim, que, proclamando a liberdade civil em
matéria de religião o Concilio ensina uma doutrina contrária à dou­
trina tradicional Por certo devemos constatar que outrora se tendia
a objetivos mui diferentes daquele a que se tende hoje. A Igreja acha­
va-se então perante o subjetivismo e o indiferentismo que se difundiam
sob tôdas as formas. Mas hoje, mesmo mantendo clara e firmemente
o que disse a esse propósito, ela se acha perante outro problema: a
violência que é imposta aos homens em matéria de religião, e essa vio­
lência ela a reprova. Tal é a nossa principal resposta, à qual podemos
aditar as considerações seguintes: O Esquema reconhece que, às vêzes,
certos membros da Igreja não têm agido confor/nemente à doutrina da
Igreja sôbre a liberdade do ato de fé. Isso a Igreja deplora-o. Mas por
que nos admirarmos? Nós não temos que justificar tudo o que foi feito
no passado, como tampouco julgar e condenar sem recurso as intenções
dos que nos precederam. A consciência dêles, como a dos membros das
outras confissões, infelizmente estava condicionada pela mentalidade co­
mum de sua época. Se devemos reconhecer que certos comportamentos
se acomodam mal com a doutrina da Igreja, em compensação podemos
rejubilar-nos de que êsses costumes lamentáveis hajam desaparecido com
o progresso da reflexão teológica.
Estas observações ajudar-nos-ão talvez a vencer certas objeções in­
fundadas. Lícito me seja, para findar, desejar que os redatores do es­
quema levem em conta tôdas as observações feitas nesta sala, de ma­
neira a arredarem tudo o que ainda pudesse ser motivo de ambigüidade.
Assim, ao que me parece, podemos desde já dar a nossa aprovação geral
a êste esquema, desejando entretanto que, em matéria tão grave, se
exprima êle de maneira ainda melhor. Dixi.
45) Cardeal Stefan WYSZYNSKI, Arceb. de Gniezno e Warszawa,
na Polônia (texto completo): A discussão a respeito da Declaração sô­
bre a Liberdade Religiosa tem por objetivo principal o desejo de asse­
gurar essa liberdade. E’ o que explica, talvez, a extrema variedade das
opiniões expressadas: desde a aprovação incondicional do esquema, até
os receios de que êle envenene certas situações. Deve essa Declaraçao
ser, no Concilio, um ato da Igreja docente. Empenhara ela em cons-
ciência primeiramente os católicos, bem como aqueles que se sentem
em comunhão com a Igreja. Mister se faz, pois, fnsar bem que se truta
do ensino da Igreja a qial, enquanto sociedade visível outorga a seus
mo
membros smo direitos
?a S eJ ’lhes imnõe
mpoe deveres.
dev Cumpre que a declaraçao
M exprime. ponha
Não se poderia
bem em relevo que e a IgrejaJ® da , ja envolvida eni situa-
azer passar em silencio o carát da sua missà0; /<* <
çoes concretas. Deve a greja f a fé de ..propagá-la (de
ensinai. Donde o seu dever ae
propaganda fide).
Concilio - V — 4
42 1. Crônica das Congregações Gerais
O Concilio pronuncia-se enquanto presente no inundo moderno. Ora,
{•«se mundo é regido por idéias de conteúdos mu. d.versos e as vezes,
diamètralmente opostos. Não se trata, po.s, de um so mundo, senão
de mundos diferentes. Basta comparar as noçoes do d.re.to (m s), do
Estado (socielas publica), da liberdade (libertas), que d.v.dem o mun-
do moderno Há o mundo formado segundo as idéias tradicionais do
direito do Estado, da liberdade. Essas idéias, forjadas pelo direito ro­
mano ' desenvolvidas no correr dos séculos por pensadores cristãos
(Santo Tomás de Aquino), e aprofundadas pelas grandes encíclicas
sociais desde Leão XIII até João XXIII (Pacem in terris), serviram
igualmente de base à declaração dos ‘‘direitos do homem e do cidadão”
proclamada pela Revolução Francesa, e à convenção de Paris de 15
de setembro de 1960. Se essas idéias fôssem universalmente reconhecidas,
o texto atual da Declaração sôbre a Liberdade Religiosa não se pres­
taria a equívoco e não suscitaria receios. Ora, devemos realmente ren­
der-nos à evidência de que existe um outro “mundo moderno”, que
empresta um sentido distinto às noções de direito, de Estado, de li­
berdade. Trata-se do mundo formado segundo os princípios do “diamat”
(materialismo dialético).
1. O direito segando o materialismo dialético: Nesse mundo, o sen­
tido do direito depende da finalidade a que êste serve. Ora, segundo
o “diamat”, o direito está escravizado a um fim único: os interêsses
de uma classe encarregada de transformar as estruturas econômicas e
sociais. Por conseguinte, é denominado direito aquilo que favorece a
classe dos trabalhadores na sua luta pela revolução. Não é, pois, a pessoa
humana, e sim a revolução, que serve de norma ao direito. Às relações
entre pessoas substituem-se as relações entre objetos e instituições. O
antigo conflito “persona-res” (pessoa-objeto) é resolvido em proveito
do objeto ao qual a pessoa está inteiramente subordinada. O homem
só tem direitos enquanto fator da revolução econômica e agente, a título
exclusivo, do “diamat”. Os direitos da pessoa estão, pois, inteiramente
subordinados aos fins da revolução. Entretanto, mesmo considerados
sob êste ângulo, nada têm êles de estável. Com efeito, estão de todo
em função “da vontade da classe no poder, a qual adquire fôrça de lei”.
0 “diamat” nega e rejeita tôdas as normas estáveis e permanentes
do direito e das leis. Para o mundo de que êle é senhor não há nem
ordem social, nem princípios eternos, nem idéias intangíveis. Os pro­
cessos mudam conforme as regras arbitràriamente impostas e modifi­
cadas pelos chefes do mundo do trabalho. A idéia do direito cede à
1 eia do fim que justifica todos os meios, inclusive os da fôrça e da
violência.
deram™* alcança^° 0 objetivo, deixam-se cair os meios, que per­
de luta m!! razao de ser. Hoje podem êles servir como instrumento
dos nactn* 3 Se-rã° lançad°s fora. Assim sucede com os acôr-
estratégicas concluid°s com base em razões táticas ou
tnwlnto nC m°d° a,gUm obriSatórios para o mundo do
em consciência Um * h °Utra parte contratante se sente obrigada
« n p S r r i J ! ' i * * * ' , ' 'írei« e «1» Estado do “diamat"
mento em que êste haia aira mH°do algum 0 Estado a partir do mo-
da Igreja. O acordo conclilidô^tem
so tem Tpara°bjet,íV0’
o Estadoistoumé- sentido
a escravização
prático,
A Liberdade Religiosa
43

fusão da verdade de Deus. Eis o que é absolutamente preciso saber para


compreender a situação da Igreja no mundo do “diamat”.
Infelizmente, muitos escritores, notadamente jornalistas que tratam
dêsses problemas nos países do Ocidente, fazem caminho falso, pois apli­
cam ao mundo do “diamat” o sentido do direito válido no seu meio.
E’ esta talvez a razão pela qual tantos dos nossos bispos são tantas
vêzes acusados de idéias retrógradas, de obscurantismo e de apêgo a
privilégios feudais. Em realidade não se trata, de modo algum, de pri­
vilégios ou de feudalismo. Trata-se de viver e de sobreviver. Trata-se
de fidelidade à nossa missão de apostolado.
2. A noção de Estado: Tudo o que vimos concerne igualmente
à noção do Estado (societas publica), o qual, no “diamat”, absolu­
tamente não serve o bem comum, mas sim o bem da classe que com­
bate pela transformação das estruturas econômicas e sociais. No plano
prático, o partido e o Estado identificam-se. No fundo, o Estado cessa
de existir, e só fica o partido. Tudo o que serve o partido revolucio­
nário tem fôrça de lei (legis habet vigorem). A noção do “bem comum”
(bonum commune totius universi) é substituída pela noção do bem
particular de um partido determinado (bonum fractionis politicae). Por
conseguinte, a própria idéia do “bem comum” é fluida, é inconsistente,
e não pode servir de norma para os direitos do homem e do Estado.
Tomemos um exemplo. O mundo inteiro acolheu com sentimentos
de aprovação a defesa da paz por João XXIII, em Pacem in Terris.
Entretanto, o mundo inteiro não deu o mesmo sentido à idéia dessa
paz, baseada nos direitos da pessoa humana em todos os níveis das
estruturas sociais. Tôda gente falou dos direitos da pessoa à verdade,
à liberdade, à justiça, à estima. Mas nem tôda gente entendia êsse
direito da mesma maneira. Os bispos que comentavam essa encíclica
à 1.,7 Ha Hnutrina social da Igreja e da filosofia cristã viam-se acusa-
44
I. Crônica das Congregações Gerais

sentido de suas palavras em detrimento dos fiéis. E’ por isto que o


texto deve ser precedido de uma introdução em que se faça notar que
as noções de direito, de Estado e de liberdade são susceptíveis de in­
terpretações contrárias conforme as diferentes ideologias da nossa época.
Desejamos, com efeito, que o Concilio promulgue a Declaração sôbre a
liberdade religiosa, mas queremos também que ela seja em tôda parte
unânimemente compreendida e uniformemente aplicada.
46) Cardeal Rufino SANTOS, Arceb. de Manilla, nas Filipinas: O
presente tema exige muita cautela para que seja transmitida a verda­
deira doutrina livre de falsas interpretações. A maior consciência que
os homens têm hoje de sua dignidade não é senão uma razão de con­
veniência, mas não um motivo para se reconhecer o direito à liberdade
religiosa. Por êste motivo o esquema deve começar enunciando os prin­
cípios, como o do dever de prestar culto e reverência a Deus, privada
e públicamente, segundo a própria natureza do homem, i. é, livremente.
Seguem-se os corolários: a) O homem tem direito de livremente pres­
tar culto a Deus. b) Ninguém pode ser coagido à prática de uma de­
terminada religião, c) Ninguém pode ser impedido de professar a sua
religião, d) Êste direito é avaliado pela própria consciência que o ho­
mem tem de prestar culto a Deus. e) O exercício da liberdade religiosa
não pode restringir os direitos legítimos dos outros e prejudicar o bem
comum, f) Os podêres públicos devem proteger e garantir positivamente
estes direitos. O esquema, no número 6, trate da liberdade dos indi­
víduos quer individualmente considerados, quer coletivamente e não
do direito das comunidades, como se estas fôssem um sujeito distinto.
47) Cardeal Joseph BERAN, Arceb. de Praha, na Checoslováquia
(recebeu aplausos quando seu nome foi pronunciado. Segue o texto
completo): A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa — que, em sen-
tido
i lato, vale para tôdas as formas de verdadeira liherdaHe He rnnoripn-
A Liberdade Religiosa

tira, ^^^ifw crísla^de'outros Vícios8 mora 3 *” 7 t.entações de men'


sTo daVs° consciências 7 ^ Hberdade d* ÍT J S Z
a gravidade de um tai e ^ n d l o T f « ^ Í r.7 K cristlfS m u d o
td o ^ ^ ^alihliberdade
tados e rd a d e de conscienc.a
ta.™be.m sáo que- igualmente
moralmen>«perniciosas
falando, osse aten­
por
esse meio se demanda ou se pretende demandar o bem da verdadeira fé.
Sempre e em toda parte, a violação da liberdade de consciência
gera hipocrisia em muitos. E talvez possa afirmar-se que a hipocrisia
na profissão da fé é mais nociva à Igreja do que a hipocrisia para
ocultar a fé, a qual está hoje mais difundida.
Assim, em minha pátria a Igreja parece expiar hoje as culpas e
os pecados que em seu nome foram outrora cometidos contra a liber­
dade religiosa, como foi o caso, no século XV, com a fogueira do sa­
cerdote João Hus, ou, no século XVII, com a volta forçada, à fé cató­
lica, de grande parte do povo da Boêmia, em virtude do princípio:
cuiiis régio, eius et religio. Êsse recurso ao braço secular, querendo
ou pretendendo servir à Igreja Católica, em realidade deixou foi uma
ferida certa no coração da população. Êsse traumatismo opôs obstá­
culo ao progresso religioso. Forneceu e ainda fornece aos inimigos
da Igreja um argumento fácil para atacá-la.
A história adverte-nos, pois, de que êste Concilio deve proclamar
o princípio da liberdade religiosa e da liberdade de consciência em
palavras bem claras, e sem nenhuma restrição inspirada por motivos de
oportunismo. Se isto fizermos, igualmente num espírito de reparação
pelos pecados do passado, a autoridade moral da Igreja muito ganhará
com isso para o maior bem dos povos. Os que hoje recusam à Igreja
a liberdade de consciência achar-se-ão sozinhos, cobertos de vergonha
aos olhos de todos os homens de boa vontade. Essa vergonha poderia
tornar-se salutar, poderia mesmo ser o início de um reconhecimento do
êrro dêles. O Concilio será então moralmente mais forte para intervir
em favor de nossos irmãos perseguidos, e com outras probabilidades
de êxito.
Rogo-vos, pois, veneráveis irmãos, não atenuardes em coisa alguma
a fôrça dêsté texto, e mesmo acrescentardes no fim esta declaração,
ou outra similar: “A Igreja Católica pede: que todos os governos do
mundo concedam a todos os cidadãos, inclusive aos que crèem em
Deus, uma efetiva liberdade de consciência; que se abstenhas de tôda
Restrição de liberdade; que libertem imediatamente os sacerdotes e os
leigos que, por causa de suas atividades religiosas, sob diferentes Pre-
5 K L - £ S -S T S - IS r J L o T S X e
impedidos de des.mpenhs-em
Igreja a. autonomia interna e dea comu s esta ela a. merce. de. tim-ftIM
Jnos
L países . „irti.de
onde, em virtude de leis injustas,
j renimciem a obstar ao
cenários que lhe sao hostis que vjda Mcerdotn, 0u religiosa;
desejo dos jovens que anelam 0rdens e congregações re-
que permitam de nôvo a v.da em comum
I. Crônica das Congregações Gerais

r
l t
- £ jx r j£ i w r f r j s r s
J ™ de m tó r , positiva «s verd.de. reveladas e do ~educarem
s e í filhosna fé. Então será deveras real.zada uma obra de paz que
tão necessária é hoje’.
48) Cardeal Owen McCANN, Arceb. de Cape Town, União Sul-Afri-
cana- O esquema pode ser aprovado com algumas emendas. Seria ne­
cessário sublinhar melhor a passagem em que se trata da obrigação
que todo homem tem de procurar a verdadeira religião e de conformar
a própria consciência às verdades reveladas por Deus e ensinadas pela
Igreja. Objetivamente falando, a Revelação feita por Cristo consta com
evidência e leva todos os homens a aceitar as verdades sobrenaturais.
Por esta razão dever-se-ia incluir no texto o seguinte período: “Todo
o homem tem objetivamente o dever de examinar e de abraçar as ver­
dades contidas na doutrina católica". O parágrafo 5, em que se concede
um "reconhecimento especial" a alguma religião da parte do Estado, é
de formulação imprecisa podendo se referir a subsídios financeiros. Da
mesma forma, não é suficiente dizer que os pais não devem ser agra­
vados com ônus injustos por causa da livre escolha de institutos de
formação para seus filhos, mas que devem ser subsidiados pelo Estado.
49) Cardeal Lawrence Joseph SHEHAN, Arceb. de Baltimore, nos
EE.UU. (texto completo): Aprovo plenamente o esquema sôbre a Li­
berdade Religiosa. Aprovo em particular o que o Cardeal Urbani disse
a respeito do desenvolvimento da doutrina do esquema (n. 6). Êsse
ensino radica-se na doutrina da Igreja sôbre a dignidade da pessoa
humana, e apóia-se na Escritura Sagrada, notadamente na maneira co­
mo Deus age com o homem, bem como nas palavras e nos atos de
Jesus Cristo e de seus apóstolos. Aqui, porém, Iimitar-me-ei a falar dos
desenvolvimentos recentes dessa doutrina. As primeiras etapas dêsse de­
senvolvimento acham-se nos numerosos escritos de Leão XIII, cujo no­
me tantas vêzes apareceu nas nossas discussões. Ninguém pretende que
a doutrina dêste esquema se ache explicitamente nos documentos de
Leão XIII, mas nesses documentos achamos um desenvolvimento notá­
vel em relação à doutrina correntemente professada durante a Idade
Média e o período que se seguiu à Reforma. E, por sua doutrina, Leão
XIII deu os primeiros passos no caminho que seus sucessores deviam
prosseguir, particularmente Pio XI, Pio XII e João XXIII. Seria um
êrro considerar a doutrina de Leão XIII sôbre a tolerância como o pon­
to central do seu ensino ou como a doutrina final e imutável da Igreja
sobre a liberdade religiosa. A doutrina de Leão XIII, que por sua vez
f um , e^env®Jv>niento, absolutamente não nos impede de irmos mais
ri a .. uza exf eriência e de uma mais viva tomada de consciên-
relin-incp 'hllL3 C da pef?oa humana, e de considerarmos a liberdade
seria ifTualmF‘n+íC°HlPreend,Cla’ COmo um direito humano universal. Êrro
exclusivo r e r ^ h J n " -que ? 'déia-mestra de Leão XIII era o direito
■ r? uM de “ o direi“ ~ êrr°
no n m V de ieSld.de T d" T postos jun-
listas. O que é verdadeiro ^ dade- consoante o sofisma dos raciona-
positiva e é L e n b0m P°de receber autorização jurídica
* ' 6 6 ^ ° Un,C0 sentid0 iuridico concreto que possa dar-se a
A Liberdade Religiosa

z ° * s „ ° r ° ;•» r
,a»do. os direitos estâo iigad» às p,ssoa“ e aâo a , ^r 5 í“* N- “™

Há duas idéias centrais no ensino de Leão XIII: 1’, a nítida dis-


1 aUt° n^?de da e a autoridade do Estado; 2* a
liberdade da Igreja. Êle pos em nova luz a transcendência da Igreja,
enquanto autoridade espiritual e povo de Deus, governada por sua
própria lei, revelada em Cristo. Pôs também em nova luz a autonomia
relativa do aspecto secular da vida humana, a autonomia própria do
povo temporal, governado pela lei civil, sujeito a uma autoridade civil
cujos podêres são limitados por uma ordem legal superior que não
depende dela. Mas, no centro da doutrina de Leão XIII, há a liberdade
da Igreja. A doutrina dêle inclui implicitamente uma declaração da
liberdade dos homens, com a condição de preencherem êles as condi­
ções dessa liberdade, a saber: o desenvolvimento da sua consciência
pessoal e política. E a liberdade dos homens inclui implicitamente a li­
berdade religiosa como uma instituição jurídica correlativa ao govêrno
constitucional. Dando êsse caráter central à liberdade da Igreja, Leão
XIII levou a reconhecer que essa liberdade inclui a liberdade da pessoa
humana, e portanto a liberdade religiosa, como uma instituição legal
num sistema de govêrno constitucional. Assim foi que Leão XIII abriu
o caminho à doutrina de Pio XI, que, na encíclica Non abbiamo bisogno
(1931), empreendeu “travar o bom combate pela liberdade de consciên­
cia"; que, na encíclica Firmissimam constantiam (1937), declarou que
“os fiéis têm o direito de viver na sociedade civil segundo o ditame da
razão e da consciência"; que, na encíclica Mit brennender Sorge (1937),
afirmou que: “O homem tem o direito inalienável de professar sua fé e
de praticá-la pela forma querida".
Pio XII deu um passo a mais na direção da nossa doutrina da
liberdade religiosa. Na sua radiomensagem de Natal de 1942, entre os
“direitos fundamentais da pessoa que devem ser reconhecidos e pro­
movidos" inclui êle “o direito ao culto de Deus, culto privado e público,
inclusive a ação caritativa religiosa". Assim era proclamada a liberdade
religiosa enquanto noção jurídica a dever ser reconhecida pela lei. No
vasto conjunto das cartas e discursos de Pio XII é possível acharmos
todos os princípios que são subjacentes à doutrina do nosso esquema.
Verdade é que êle não construiu com êsses princípios um sistema, e
que dêles não tirou explicitamente as nossas conclusões. Alas os prin­
cípios lá estão, e vão no sentido do ensino dado explicitamente no nosso
esquema.
João XXIII particularmente em Pacen; in Terris, levou a ainda
mais longe o desenvolvimento da liberdade religiosa. Seu ens.no e
por demais recente e sobejamente conhecido, para que seja necessário
repetirmo-lo. Não negamos que nos escritos de P.o XI e de Pio X
possamos encontrar passagens que sao em favor da simples toleranua
antes da verdadeira liberdade religiosa. Mas nem por isto deixa de
ficar dp né mie Leão XIII abriu o caminho, e que Pio XI, Pio XII
i - X X III contribuiram
joao , .. , Hirpfamente
^ tam en te para
P na ^a doutrina desde
dêste 0 esquema,
comêço.
a qual se achava em germe n Nações Unidas, Paulo VI
Dirigindo-se, o ano passado, a um senimc
48 I. Crônica das Congregações Gerais
disse: “ Preocupa-se também a ^ e j a com p o u c o ji-
peSSfsas^o T o b S a da liberdade religiosa. E’ esta uma questão cuja
K r ^ n c i a e cuja amplitude são tais, que o Condito Ecumênico ficou
impressionado com elas. Pode-se legitimamente esperar sobre este ponto
a promulgação de um texto que será de grande alcance nao so para a
Igreja mas também para todos aquêles - e são inúmeros — que se
sentirem implicados por uma declaração autorizada nesta matéria .
Bem manifesto é que o mundo inteiro aguarda deste Concilio uma
declaração sôbre a liberdade religiosa. O mundo tem necessidade desta
declaração, porquanto, se se não reconhecer o direito à liberdade reli­
giosa, não’ poderá haver paz verdadeira e duradoura entre os homens.
Também a Igreja tem necessidade dessa declaração, porque só pelo re­
conhecimento da liberdade religiosa pode ela reviver e ser livre nos
países onde está particularmente sufocada e acorrentada. Só numa at­
mosfera de liberdade religiosa é que a Igreja pode florescer nas novas
nações em via de desenvolvimento, as quais são ricas de promessas
para o futuro. A doutrina da liberdade religiosa professada no nosso
esquema é uma doutrina sadia, em plena harmonia com o corpo do
ensino tradicional da Igreja. De esperar é, pois, que êste esquema seja
maciçamente aprovado pelos Padres.
50) Cardeal Agnelo ROSSI, Arceb. de São Paulo, no Brasil (segue
o texto completo da excelente intervenção de nossos Bispos):
Em nome de 82 Bispos brasileiros, desejo falar-vos sôbre a Decla­
ração “de Libertate religiosa”, cujo texto sinceramente louvamos pela
sua oportunidade, síntese e profundidade. A oportunidade da Declara­
ção é demonstrada pela ansiedade com que todo o mundo a espera. Li­
mitando-se apenas ao aspecto jurídico, isto é, evitando um ulterior exa­
me teológico, os redatores, como pensamos, encontraram a única lin­
guagem capaz de fazer com que o texto seja compreendido e aceito:
a linguagem com que o problema da liberdade religiosa é pôsto pelos
homens do nosso tempo. Tôda a exposição, tendo como base a mesma
dignidade da pessoa humana, desce ao mais profundo fundamento de
tôdas as liberdades e direitos dos homens, isto é, à própria natureza
do homem, obra e imagem de Deus. Enviaremos por escrito ao Secre­
tariado algumas emendas concretas com a especificação do número dos
Padres Conciliares que as subscrevem.
'ante de vós, Veneráveis Padres, desejamos apenas expor o que
nnmam?S| 6 ma*or importância e o que os Padres Conciliares, em cujo
nrifTiAirf °* af-rovalrn ou unânimemente ou em grande maioria, a) A
30 d,Z [espeit0 ao conceito de matéria religiosa (rei re-
ceria *** w qual versf a liberdade de consciência. Não nos pare­
cí Que se p r H ° ra S^ a«. difíciI> .9ue ^ procurasse explicar finalmente
menos, o que se ^odT e n te ^ /6''6’053"1 (matéria rel'g'°sa)> ou, pelo
abusos neste eamnn r ..cnder por esta expressão para que se evitem
da
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í r ^ insistentemente
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que se doS perÍt°S
acrescente
torais. Se o Concilio
Ç-onciho ée pastoral,
nnct"1 f aragrafo sôbre as deseja
se a Declaração conseqüências pas-
ser pastoral,
A Liberdade Religiosa
49

ceira
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também o nosso Episcopado, é# a que versa sóbre ô
o assim cha­
mado “Estado confessional”, e cuja exposição feita na página 11,
linhas 13-20, não aprovamos. A grande maioria dos Bispos em cujo
nome falo, estão de acordo com a formulação condicionada proposta
pelo Cardeal Alfrink, que apresenta melhor probabilidade de conciliar
as diversas opiniões a respeito, d) Desejamos chamar a vossa especial
atenção para a questão histórica sôbre o modo de agir da Igreja nos
séculos passados. A Comissão competente não a ignorou. Mas não apro­
vamos a solução que ela propõe na página 14, linhas 7-13. Muitos dos
nossos Bispos preferem que se omita tal solução, uma vez que ainda
não se conhece bem a verdade histórica neste ponto. Outros Bispos,
porém, em harmonia com aquela posição do Decreto sóbre o Ecume­
nismo, em que se pede perdão a Deus e aos homens pelos erros do
passado, preferem que sinceramente confessemos êstes nossos erros
passados, cometidos contra a liberdade de consciência em matéria re­
ligiosa, prometendo não cometê-los no futuro. A sincera retratação dos
erros aumenta nos homens a consciência da sinceridade da nossa dou­
trina. Aliás, todos estamos de acôrdo que a referida questão não está
exposta no lugar em que deveria ser tratada, e) Por fim, propomos
insistentemente à Comissão competente, reconhecendo o valor da posição
assumida e exposta pelos redatores na página 39, N9 S. que as ques­
tões sôbre a liberdade de consciência no âmbito da família e, principal­
mente, entre operários e empregadores não seja omitida pela Declaração.
E como esta questão é tão grave e urgente, pedimo-vos encarecidamente
que, ao menos de passagem, a trateis, com a vossa conhecida prudência.
Aceitai, Veneráveis Padres, estas observações e outras que por
escrito enviaremos, como fraterna cooperação de muitos Bispos brasi­
leiros para o feliz êxito desta obra comum de todos nós, obra de ver­
dade, de liberdade e de paz.
51) Cardeal Michael BROWNE, da Cúria Romana: A doutrina da
Liberdade Religiosa, de acôrdo com os Romanos Pontífices, deseja:
a) que o Estado, principalmente o confessional católico, proteja a fé
dos súditos; b) que num país católico o Govêrno aja de maneira justa
e benigna com os não-católicos e estabeleça uma harmoniosa colabo­
ração com a Igreja; c) que num país de várias religiões as autoridades
públicas tratem a Igreja com justiça e benignidade. A Declaração afirma
essencialmente aue a dignidade da pessoa humana consiste na sua ele-
|. Crônica das Congregações Gerais
Segundo estas considerações, me parece que o esquema deve ainda ser

a este respeito, pamci^ai * . « ,


em breve, sessenta anos de apostolado sacerdotal exercido em todos os
países a serviço dos jovens operários de hoje. A proclamação solene
e clara da liberdade religiosa jurídica de todos cs homens, em todos
os países do mundo, afigura-se-me de necessidade urgente.
Primeira razão: a unificação pacifica de um mundo pluralista. O
mundo de hoje tende cada vez mais para a unidade, e os conflitos en­
tre nações e culturas devem progressivamente desaparecer. Como ad­
miravelmente o disse João XXIII em Pacem in Terris, a nossa grande
tarefa é nos unirmos com todos os homens de boa vontade, para jun­
tos construirmos um mundo mais humano, fundado “na verdade, na
justiça, na liberdade e no amor”. E a condição fundamental para que
os homens vivam pacificamente juntos e colaborem de maneira fecunda
é o respeito sincero da liberdade religiosa. O fato de se não respei­
tarem as convicções filosóficas e religiosas dos outros é cada vez mais
sentido como um sinal de desconfiança para com êstes, numa matéria
considerada como sagrada e pessoal ao mais alto ponto. Esta atitude
impossibilita a confiança mútua, sem a qual não há verdadeira vida
comunitária nem colaboração eficaz. Contràriamente, se reinar essa
confiança mútua, pode dela nascer uma felicíssima colaboração, não
só no plano científico e técnico, como também no plano social, cultural,
pedagógico e moral. Se a Igreja se pronunciar sem ambiguidade pela
liberdade religiosa, todos terão confiança nela, e reconhecerão que ela
quer participar da edificação de um mundo mais humano e mais unido.
Em compensação, se ela rejeitar essa declaração, grandes esperanças
desvanecer-se-ão, sobretudo nos jovens.
Segunda razão: a eficácia da ação apostólica, missionária e ecu­
mênica. Num mundo em via de unificação, a presença da Igreja entre
os homens reveste necessária mente uma forma nova, que pode ser com­
parada à dispersão do povo de Israel após o cativeiro de Babilônia.
Na maior parte do mundo, os cristãos são uma pequena minoria. Para
cumprir a sua missão, a Igreja não pode apoiar-se no poder temporal,
político, econômico ou cultural, como era o caso na Idade Média ou
soo os regimes coloniais. Só nndp rnntar rnm n nnrl/»r rio nolovro HP
----------------— , v iu v ua iu au i, jm v u ih wu

' 0 um Pâsso que deve necessária mente ser


"m ecumenismo sincero e eficaz.
A Liberdade Religiosa

Terceira razao: o valor educativo e pedagógico da liberdade reli-


hI X
dade ’ religiosa.
r?H a^UeniFEssa** a,liberdade
u° ? lrf úojurídica
da Pessoa
não eé d*s
um comunidades
fim em si. àE’liber­
um
meio necessário para a educação da liberdade no sentido pleno, que
conduz a liberdade interior, ou liberdade da alma, pela qual o homem
se torna um ser autônomo, responsável para com a sociedade e para
com Deus, pronto, se preciso, a obedecer a Deus de preferência a obe­
decer^ aos homens. Essa liberdade interior, mesmo se existe em germe
em tôda criatura humana como um dom natural, requer uma longa edu­
cação, e alimenta-se de três maneiras: ver, julgar e agir. Se, graças
a Deus, não foram vãos os nossos sessenta anos de apostolado, foi
por não havermos querido que os jovens vivessem longo tempo ao
abrigo dos perigos, amputados do seu meio de vida e de trabalho, mas
sim por têrmos feito confiança na liberdade dêles, para uma melhor
educação desta. Ajudamo-los a ver, a julgar e a agir por si mesmos,
por si mesmos empreendendo uma ação social e cultural, obedecendo
Jivremente às autoridades, a fim de virem a ser testemunhas adultas
de Cristo e do Evangelho, cônscios de serem responsáveis por seus
irmãos e irmãs do mundo inteiro. No nosso mundo em via de unifica­
ção, já não é possível educar os jovens em estufa quente, amputando-os
do mundo real. Muitos jovens perdem a fé por lhes haverem dado uma
educação pueril. Só por uma sólida educação da liberdade interior é que
podem nossos jovens vir a ser uns cristãos adultos.
Objeções: Objetar-se-á que a liberdade comporta numerosos perigos:
indiferentismo, difusão dos erros, abusos da ignorância das massas
e das paixões. Eis aqui a minha resposta: 1. Estou cônscio destes pe­
rigos. Certamente, alguns poderão abusar da liberdade religiosa; po­
rém êsses riscos são menores do que os que nasceríam da supressão
ou da opressão da liberdade religiosa. Os “regimes absolutos” — mes­
mo se pretendem servir à Igreja — nos quais a pressão social se subs­
titui à formação pessoal, favorecem o anticlericalismo, e, de fato, le­
vam as massas a insurgir-se contra a fé e contra a Igreja. 2. Os pe­
rigos inerentes ao regime de liberdade devem ser contornados de ma­
neira positiva, por exemplo, por um entendimento internacional franco
e sincero entre as autoridades civis e as autoridades religiosas; mas
sobretudo pela formação e pela educação humana, moral e religiosa,
graças às quais os jovens e os adultos tomam consciência de suas res­
ponsabilidades próprias.
Para terminar, permito-me propor o seguinte: Êste Concilio do
Vaticano deve terminar por um ato solene e magnífico, um ato pelo
qual S.S. Paulo VI, em união com todos os Padres, proclame solene­
mente a liberdade religiosa, e peça a tôdas as confissões, a tôdas as
ideologias, a tôdas as autoridades e a tôdas as instituições manterem
e protegerem unànimemente a liberdade religiosa; definirem de ma­
neira reta e honesta as exigências da ordem publica; investigarem e
porem em obra os meios dne permitam proteger et>c,umea:e a be -
tlaile religiosa. Tenlu* dito Obrigado.
biO Mareei I l'l!l!l'VKI;, Super.ot Orou. da eoeg egas.s ■ -
pliilo Ssulo: O es.piem.i entende nvonívee; em e e èe .v ‘ '
os enllos e pioeom.a a nenltalnlade d.' I sta.v v>' v -
5 2 I. Crônica cias Congregações Gerais
ra 7ão do btm comum. O texto afirma que esta ati­
vista somente em . através de uma longa evolução, mas seu
tude amadureceu fjtósofos do século XVIII: Hobbes, Rousseau,
Locke r t / o s Papas,‘particularmente Pio IX e Leão XIII, condenaram
esta Dosição doutrinária. As aprovações dadas ao texto pelos não-
católicos são bastante significativas. Contudo, tôda a argumentaçao do
esauema cai por terra desde que se queira precisar os conceitos de li­
berdade de consciência e de dignidade da pessoa humana, cs quais
não podem ser definidos senão em relação com a lei divina. Somente
a Igreja Católica tem direito propriamente dito à liberdade, porque
somente a sua observância confere dignidade ao homem. Para as ou­
tras comunidades religiosas é preciso examinar, caso por caso, as cir-
cunstâncias particulares.
54) John W. GRAN, Bispo de Oslo, na Noruega: O Decreto da
Liberdade Religiosa é uma demonstração da sinceridade da Igreja Ca­
tólica para com a família humana de hoje. Uma vez que somente a
liberdade civil, tanto privada como pública, de agir segundo a consciên­
cia, está em jôgo, não se debilita a atividade missionária da Igreja,
não se favorece o indiferentismo nem se contradiz a necessidade de
procurar e servir a verdade. Negar a liberdade religiosa manifesta ten­
dências oportunistas: o que a Igreja reivindica para si não quer con­
ceder aos outros. Esta atitude rompe os nexos da comunidade humana.
Por esta razão solicito que a exortação à liberdade seja ainda mais
incisiva. A honra da Igreja e do Concilio exigem a aprovação do pre­
sente esquema.
55) Antônio ANOVEROS ATAÚN, Bispo de Cádiz y Ceuta, na
Espanha: E' de fundamental importância determinar com a máxima
exatidão possível os limites da liberdade religiosa de maneira a definir os
direitos da maioria e da minoria. O Estado, para garantir a ordem
pública, pode limitar esta liberdade em vista da moralidade pública,
e da concórdia dos cidadãos no exercício de seus legítimos direitos.
Êstes conceitos deveríam ser precisamente definidos para evitar inter­
pretações arbitrárias. Talvez seria oportuno submeter o texto a uma
subcomissão de juristas, teólogos e peritos em direito público para
conferir ao esquema um aspecto de Declaração e subtrair-lhe a índole
doutrinai. O título poderia ser mudado para “Declaração da liberdade
civil em matéria religiosa”. A doutrina sôbre a liberdade religiosa fun­
dada exclusivamente na dignidade da pessoa humana não é suficiente­
mente clara e as passagens da Escritura não possuem grande valor
probativo. Não se trata de elaborar uma Declaração que agrade aos
irmãos separados, como pensa o Secretariado, mas de um problema
mui o mais vasto e geral, que interessa católicos e não-catóiicos.
* ,li«inK-rh0maS- MlJLD®0N ’ Bisp0 aux- de Sydney, na Austrália:
tar anena«° 7 t0rn° d° esquema. está, a meu ver, em o Concilio tra-
do n r o b ^ 0 , ^ 0 . ^ ^ ^ ' omiíincio o aspecto teológico-moral
livrJ de amhUw,He ™possivtí se quisermos emitir uma Declaração
na Relação mas sem ° a^í>eC,to teol°gico-moral é tratado brevemente
não será promulgada Os c a t i r '^ 6 ° próprio texto Porque ela
ração ver-se-ão gnas' mie í!? que hâo de ler o texto da Decla-
não-católicos farão lnierPretaçoes
in terp rm çò es'^ '13'^em5 QUe
falsas tôrno nós’ enquanto muit0S
do esquema.
21-9-1965: 132* Congregação Geral
A Liberdade Religiosa
A Igreja no Mundo de Hoje (em geral)

P r e s e n t e s : 2.257 p a d r e s
Conciliares. Moderadores: para a parte sôbre a Liberdade Re­
ligiosa, 0 Card. Agagianian; a partir do debate sôbre a Igreja
no Mundo Contemporâneo, o Card. Lercaro. A sessão começou
às 9 e terminou às 12,30. Celebrou a Santa Missa o Pe. Basílio
Heiser, Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores Conven-
tuais. Comunicou-se que o Santo Padre designou 8 Cardeais
que, como representantes do Concilio, o acompanharão na via­
gem à ONU (Nova York) no próximo 4 de outubro. A sessão
de hoje teve o seguinte andamento: 4 intervenções sôbre a li­
berdade religiosa; votação de sondagem sôbre o mesmo esque­
ma; relação geral acerca do novo texto sôbre a Igreja no mundo
contemporâneo; início dos debates sôbre o mesmo, com 5 dis­
cursos; continuação das votações sôbre o De Divina Revelatione
(com crônica especial nas pp. 344 ss). Eis, em resumo, as 4
intervenções sôbre a liberdade religiosa:
57) Cardeal Enrico DANTE, da Cúria Romana: O esquema se
presta a um gravíssimo equívoco. A declaração de fato parece insinuar
que a religião católica deve ser propagada na base de um direito co­
mum. E’ exatamente o que afirmaram no século passado Lamennais e
Montalembert que seguiam os princípios do assim chamado liberalismo
católico. Uma declaração feita pela revolução francesa dizia: ninguém
pode ser perseguido por causa de suas opiniões, mesmo religiosas, a
não ser que a manifestação dessas opiniões perturbe a ordem estabe­
lecida pela lei. E’ portanto equívoca a doutrina exposta pelo esquema
sôbre os limites do exercício da liberdade religiosa. De fato, se o Es­
tado que põe êstes limites é cristão, por isso mesmo conforma as suas
leis com o direito natural e, por isso, os têrmos “paz”, “direito dos ci­
dadãos” e “moralidade pública” terão realmente um significado honesto
M |. Crônica das Congregações Gerais
• .1 m 3c cp o Estado não é cristão, êsses limites, talvez seni
E S „m instrumento de tirania *'s»contra a religião
«'-nérirPor efim,
,podseerã'>
or
Es,
t adoé comunista todos os têrmos acima citados terão um significado
completaniente diverso e, principalmente, os limites impostos serão con-
trários ao direito natural.
58) Cardeal Charles JOURNET, da Suíça (texto completo): Nesta
questão da liberdade religiosa existe entre nós, de uma parte, uma
fundamental unidade doutrinai, e, de outra parte, divergências que nas­
cem sobretudo das preocupações pastorais de numerosos Padres. Ao que
parece, poderíam essas divergências reduzir-se em grande parte, se se
sublinhassem melhor os poucos temas seguintes que já se acham no
esquema sôbre a própria constituição:
1. A pessoa humana pertence simultâneamente a duas ordens so­
ciais, a saber: à ordem das coisas temporais e da sociedade política, e
à ordem espiritual, isto é, à ordem do Evangelho e da Igreja.
2. Se se trata da ordem das coisas temporais, cumpre dizer que a
pessoa humana, embora, sob um aspecto, seja parte da sociedade civil,
transcende entretanto tôda a ordem política, por estar ordenada ao bem
perfeito e definitivo, a Deus que a criou. Por conseguinte, sob êste se­
gundo aspecto, a pessoa humana a) é livre a respeito da sociedade
civil inteira; ô) mas deverá dar a Deus razão de cada uma de suas
opções,
3. O homem que se engana ou peca, ou aquêle cuja consciência é
errônea, nem por isto deixa de ser uma pessoa humana, e como tal
deve ser considerado pela sociedade política a que pertence. Não po­
dería ser coagido por essa sociedade a não ser se viesse a praticar
atos externos susceptíveis de destruir a ordem pública verdadeira. Con-
tràriamente, terá êsse homem, um dia, que prestar contas, perante
Deus, da culpabilidade ou da não-culpabilidade da sua própria consciência.
4. Também a sociedade civil tem o dever de manifestar püblicamente
a honra que ela reserva a Deus. Por conseguinte, o próprio poder civil
não pode ignorar as diversas famílias religiosas presentes na cidade,
e é seu dever recorrer a elas a fim de que por todos seja Deus digna­
mente honrado.
5. O que precede concerne aos direitos das pessoas humanas. Mas
sabem os cristãos que, para além dessa ordem, pela própria vontade
e Deus e de Cristo a Igreja possui o direito sobrenatural e inviolável
e pregar livremente o Evangelho a tôda criatura. Os apóstolos e os
mártires morreram como testemunhas dessa liberdade,
i - ’ ? pastores da Igreja, desde a época de Constantino e para
Ame ^ez aPelaram para o braço secular a fim de defen-
e nniitiro H-rei °S ^°S e Para salvaguardarem a ordem temporal
fluência * 3 ue. se chama a cristandade. Entretanto, sob a in-
coi2s1% C l mente da. pregação do Evangelho, a distinção entre as
explicita, e hoje é “ « “ “ « “ S S * '8 t° ™ U' Se Pr°gressivamente mais
ttmpttr^i/^tâo^por^si ° subordhiad d0l!*r'na! segundo o qual as coisas
não está abolido^ mas'acha um m a as .co,sas espirituais absolutamente
é preciso opor-se
P r se aos
aos erros n!u armas
erros pelas d° n0V0
de de
luz, aPlicaÇao>
e não pelasa saber:
armas que
de
A Liberdade Religiosa ^

guerra. Se me nao engano, todos êstes temas já estão contidos na De­


claraçao sobre a Liberdade Religiosa. Talvez possam ser postos em
melhor luz. Todas estas razoes fazem que a atual declaração me pa-
reça merecer plena aprovação. Tenho dito, e agradeço-vos a atenção.
59) Adam KOZLOWIECKI, Arceb. de Lusaka, Zâmbia: O esque­
ma de Declaração é digno de louvor, embora não se possa aceitar o
valor que o texto parece atribuir à dignidade da pessoa humana. O
termo dignidade da pessoa humana é demasiadamente vago e se presta
facilmente a interpretações contra a própria Igreja católica. E’ necessá­
rio que se exponha a doutrina sôbre esta matéria com a máxima exatidão
e clareza possível. Seria sumamente perigoso insistir sôbre o direito à
liberdade sem sublinhar convenientemente os direitos de Deus como
Ser Supremo. Do contrário a liberdade poderia ser compreendida como
independência total e, talvez, absoluta autonomia.
60) Paulo MUftOZ VEGA, Bispo aux. de Quito, no Equador: O
texto atual do esquema apresenta a doutrina hodierna da Igreja de
forma mais prudente e mais completa que nas suas precedentes reda­
ções. Todavia, deixa a desejar sobretudo com respeito a alguns pontos
de capital importância. Tendo presente a situação do mundo caracteri­
zada por um pluralismo religioso acentuado, o esquema com uma dili­
gente abstração jurídico-filosófica prescinde totalmente da realidade so­
brenatural e de tôda consideração teológica, limitando-se a examinar,
propor e explicar o problema da liberdade religiosa unicamente sob o
aspecto jurídico-social. O problema, como é tratado, carece de todo o
fundamento teológico e a doutrina exposta baseia-se exclusivamente em re­
centes estudos sôbre a origem do direito, público e privado, e sôbre o
Estado e a sociedade, como também sôbre as relações do Estado com
a religião. Daí se segue que o texto não tem as características de um
documento conciliar. Não se pode aceitar a concepção pragmatista da
liberdade, contida no esquema. E’ necessário expor sintèticamente no
início do texto o que se entende por direito fundamental do homem à
liberdade prometida por Cristo e garantida por Deus. E’ também neces­
sário afirmar que o direito à liberdade religiosa, fundado na dignidade
da pessoa humana, se destina sobretudo a assegurar ao homem a possi­
bilidade de seguir livremente a sua vocação sobrenatural.
Terminada esta intervenção, apesar de haver ainda 22 ins­
critos para falar esta manhã (entre êles dois do Brasil: Dom
Geraldo de Proença Sigaud e Dom Antônio de Castro Mayer)
sôbre a liberdade religiosa, o plenário, consultado pelos Mode­
radores, opinou que se podia considerar suficiente o debate.
Deu-se então a palavra a Dom Emílio de Smedt, Relator oficial
do documento, que apresentou um balanço dos debates. Decla­
rou que o confronto das diversas opiniões manifestadas foi
sumamente construtivo. E prometeu que tôdas as observações
feitas seriam devidamente ponderadas pelo Secretariado. E ma­
nifestou a esperança de uma próxima aprovação definitiva o
texto. Os Moderadores formularam a seguir uma questão, haa
I. Crônica das Congregações Gerais
56

pelo Secretário Geral, à qual os Padres deveríam responder em


SfráJio individual por escrito. A pergunta fo. assim proposta:
"IHrum textus reemendatus De Libertate Religiosa placeat Pa-
tribus tamquain basis definitivae Declarationis ulterius perficien-
dae iuxta doctrina catholicam de vera religione et emendatio-
nes a Patribus in disceptatione propositas et approbandas ad
normam ordinis Concilii”. E a resposta foi: sôbre 2.222 presen­
tes houve 1.997 placet, 224 non placet e 1 voto nulo. O resultado
foi recebido com vivos aplausos do plenário. — Tôda essa
votação, como também a curiosa formulação da pergunta, tem
sua agitada história atrás dos bastidores. Ontem e anteontem
choveram os boatos. Talvez mais tarde se poderá informar sôbre
tudo isso. Hoje tudo me parece estar confuso, inclusive o que
se diz sôbre a posição do Papa. Apenas uma coisa está claríssi­
ma: a vontade de 1.997 Padres Conciliares (contra apenas 224)
que desejam a Declaração.
O texto voltou ao Secretariado para a União dos Cristãos,
para ser corrigido e receber sua definitiva formulação.
Um mês depois, no dia 22-10-1965, êste texto re-re-re-emen-
dado (segundo uma expressão usada pelo Relator), foi entre­
gue aos Padres Conciliares, para ser votado a partir do dia
26-10-65. Das emendas feitas e das subseqüentes votações se
fará uma crônica à parte (pp. 387-393).
A CONSTITUIÇÃO PASTORAL SOBRE A IGREJA NO MUNDO DE HOJE
Acêrca da origem, história, motivos, finalidade e dificulda­
des do presente documento, bem como sôbre o demorado de­
bate, com 171 discursos pronunciados na Aula Conciliar du­
rante a 111 Sessão, cf. vol. IV, pp. 194-328. E houve ainda cen­
tenas de intervenções escritas, com sugestões e propostas. Todo
êsse imenso material — um total de 830 páginas — exigia nô-
vo estudo do assunto e nova redação do esquema. Sob a direção
do Bispo de Livorno Mons. Guano, um dos mais abertos da
talia, reuniu-se a Subcomissão mista (“mista”, porque com-
posta de elementos de duas Comissões Conciliares: a do Apos-
h°* iofi,?0S J:e'g°S C 3 Teológ>ca) nos dias 17-20 de novembro
n - a de c*e'*')erar sôbre o melhor método para reestru-
númem Z t CUmenXo- Viu‘se >ogo a necessidade de um maior
das vária»! 1*-°S ^ 3ra CSta Subcomissão, com representantes
elaborar 1 * 4COntinentes- Admitiu-se a conveniência de
nspec o geral mais amplo sôbre os “sinais dos
A Igreja no Mundo de Hoje
57

tempos” como ponto de partida de todo o documento. Sentiu-


se também a necessidade de um pequeno grupo de redatores
que deveríam reelaborar e redigir o novo texto. Até mesmo, para
dar unidade ao estilo, o redator deveria ser apenas um. Para
esta importante função foi escolhido o Côn. Pedro Haubtmann
(francês), que seria ajudado diretamente pelos Padres Tucci
(italiano) e Hirschmann (alemão) e pelo Côn. Moeller (belga). O
Pe. Philips, Secretário Adjunto da Comissão Teológica, que já
tivera mão firme e hábil na elaboração definitiva da Constitui­
ção Lumen Gentium (sôbre a Igreja), seria o supervisor geral
da parte doutrinária ou teológica do esquema e o relator geral
nas reuniões plenárias da Comissão Mista.
A nova redação orientou-se pelas seguintes normas: O texto
anterior, discutido durante a III Sessão, deve servir de base; mas
deve ser emendado ou até totalmente refeito sempre que isso
tenha sido razoàvelmente exigido pelos Padres Conciliares, seja
nas intervenções orais, seja por escrito; os Anexos (que eram
bastante volumosos e acompanharam o texto no ano passado,
mas não foram discutidos na Aula Conciliar e em torno dos
quais houve curiosas manobras da parte minoritária do Concilio,
inclusive do Secretário Geral) devem ser substancialmente in­
seridos no próprio texto, e isso por ordem do Cardeal Cicognani,
Presidente da Comissão Coordenadora dos trabalhos do Con­
cilio, numa carta datada de 2-1-65 e dirigida aos Cardeais
Ottaviani e Cento, os dois Presidentes da Comissão Mista en­
carregada de refazer o texto.
Nos dias 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 1965, reuniu-se
a Comissão em Ariccia, com a presença de 29 Padres Conci­
liares, 38 Peritos e 20 Leigos, homens e mulheres, para o es­
tudo e a redação da parte doutrinária. Nos dias 8 a 13 de feve­
reiro reuniu-se a Subcomissão em Roma, que determinou a es­
trutura definitiva do documento. Nos dias 29 de março a 6 de
abril encontrou-se outra vez, em Roma, tôda a Comissão Mista
(isto é: os 30 membros da Comissão Teológica, os 30 membros
da Comissão para o Apostolado dos Leigos, mais 7 Bispos do
assim chamado “terceiro mundo”, especialmente convocados para
isso) que estudou atentamente o texto e o aprovou com apenas
um voto contrário. E no dia 11-5-65 a Comissão Coordenadora,
sob a presidência do Cardeal Cicognani, ouviu a relação apre-
sentada pelo Cardeal Suenens e determinou que o texto fosse
impresso e remetido aos Bispos (o que foi feito em julho) para
ser agora discutido.
Concilio - V — 5
a das Congregações üerais
T>8 I. Crônica

£• ainda interessante observar que o documento assume


agora a forma de uma “Constituição Pastara co.sa ate ho,e
de conhecida na Igreja. Portanto, nao se trata de um Decreto
inois nêle não se encontram prescr.çoes propriamente ditas),
„em de uma Constituição Dogmática. Pois sua finalidade direta
não é oferecer uma doutrina (como era o caso da Lumen Gen-
tium). mas aplicar a doutrina às condições atuais e mostrar e
incuicar suas conseqüências pastorais. E a êste propósito parece
ser útil chamar a atenção para esta nota da Relação oficial,
tal como está na p. 89: “Notandum est insuper, quod, attenta
indole essentialiter pastorali textus, scherna hoc non indiget
disceptatione tam rigorosa cuiusque vocabuli, ut fieri deberet in
re stricte dogmatica”.
Era também desejo manifesto dos Padres, muitas vêzes pro­
clamado na Aula Conciliar, que o presente documento se diri­
gisse não apenas aos católicos, mas a todos os homens, “tam­
bém aos 2.400.000.000 de homens que ainda não conhecem a
Igreja”, como se exprimiu um grupo de 60 Bispos. O que com­
prometia fundamentalmente o estilo e a argumentação. Pois, se
queremos falar aos dois e meio bilhões de não-cristãos, e se
esperamos ser por êles entendidos e aceitos, não podemos sem
mais argumentar com a Sagrada Escritura e a ordem sobrena­
tural; nem podemos exprimir-nos de maneira eclesiástica, exor-
tativa e solene. O estilo deverá ser simples, concreto e partir
dos fatos e das verdades aceitas também pelos que não creem
na Revelação. O que também é inaudito na Igreja.
A nova discussão conciliar dêste documento começou nesta
132» Congregação Geral. Fêz-se primeiro um debate geral sô­
bre o conjunto do texto, durante o qual falaram 26 Oradores
(nn. 61-65, 70-90), que ocuparam parte da 132“, parte da 133“
e parte da 134“ Congregação Geral, nos dias 21-23 de setem­
bro. Muitos louvaram o texto e o trabalho da Comissão: Spellman,
Silva Henríquez, Jaeger, até Ruffini, Koenig, Doepfner, Ru-
gambwa, Shehan, nosso Cardeal Rossi e outros. O texto — disse
° f r^ea* Spellman — não deve ser reduzido, porque tôdas as
ma erias nêle tratadas são de grande importância e merecem
fieaM?1«-ra^a° ^onc'*'°> 0 esquema — acrescentou o Car-
e rip aHm'ni' T 6 t0. Srande trabalho, de diuturna reflexão
de nosvJ1^ 6 Pc C,ênCÍa e °^erece copiosos subsídios ao mundo
bLho" , K » ^ , F0Lainda dHo “ue “ <«ta de Um "ingente tra-
com todos os R ’ en\ m~^or ^ue no ano passado (Doepfner,
ispos alemães), altamente positivo (Shehan, Bau-
A Igreja no Mundo de Hoje 5y

doux) e sadiamente otimista (Baudoux), apresentando uma fe­


liz exposição da autoridade espiritual da Igreja sóbre as coisas
deste mundo a serviço do homem (Hermaniuk). — Mas houve
também vozes inteiramente opostas: O texto desilude a expec-
tativa que suscitou na opinião pública: nem sua forma, nem
sua substância correspondem ao fim em vista; não agradará
aos fiéis por causa do modo demasiadamente vago com que ex­
põe a doutrina católica, descontentará aos acatólicos porque
faz uma síntese muito superficial das verdades naturais (Amici);
é um compromisso duvidoso (McVinney), embebido de natu­
ralismo (D ’Avack), mais filosófico que teológico, ignora a dou­
trina cristã do homem (Rusch), é “capitalista” (Morcillo), fala
muito do que o mundo deve fazer e nada diz sôbre o que a
Igreja pretende levar a efeito para ajudar o mundo (Elchinger).
A crítica mais forte partiu talvez de Dom Geraldo de Proença
Sigaud: o texto favorece o fenomenologismo existencialista, se
encaminha ao nominalismo e ao marxismo e poderia vir a ser a
Carta Magna do moderno paganismo.
Em particular foi criticado seu estilo: é demasiado retóri­
co (Landázuri, Mason), há muitas repetições (Landázuri, Bea,
Ruffini, Lourdusamy), usa palavras ambíguas (Landázuri) e foi
redigido num latim lamentável e indigno do Concilio (Bea,
Ruffini). Foi dito ainda que é comprido demais (Silva Henríquez,
Ruffini, Mason), excessivamente “hodierno” e por isso transitó­
rio (Koenig, Mason). Já o título foi criticado: Não deveria ser
“Constituição”, mas simplesmente uma Proclamação na qual a
Igreja propõe sua missão (Landázuri), ou uma Encíclica (Proen­
ça Sigaud), ou Declaração (Morcillo). O Cardeal Silva Hen­
ríquez, pelo contrário, opinou que deveria ser “Constituição”
simplesmente e não Constituição Pastoral (que é uma palavra
polivalente) devendo valer para êste documento as normas da­
das no ano passado sôbre a qualificação teológica dos textos
conciliares. Evite-se, porém, tôda forma de otimismo irrealista,
sem esquecer que existem no mundo forças diabólicas que con­
trastam com as forças do bem (Jaeger). O sentido da palavra
“mundo” ainda não está suficientemente esclarecido (Bea, Frings,
Volk, Charue, Rossi), nem a expressão “povo de Deus” (Frings,
Rossi). Mas a lacuna mais forte foi denunciada por Volk: falta
teologia no texto. Devemos procurar nas coisas novas problemas
antigos: a dor, a morte, a obscuridade do mundo e do homem,
problemas fundados na natureza de criatura, no pecado, na gra­
ça, no estado de peregrinação. Por isso é necessário acentuar
5*
60
I. Crônica das Congregações Gerais
„,a* o aspecto profundo e teológtco do mundo: que ele fo,
â . por Deus e que, por isso. tem uma determinada e pe-
, úe relação con, Deus; que éle jaz no pecado; que ele fo. re­
dimido por Cristo; que foi destinado a um fim sobrenatural que
SÓ pode ser obtido pelo advento de Cristo e não pela evolução
e história natural. E o Cardeal Frings percebeu no texto uma
confusão perigosa entre o progresso humano e a salvação divi­
na. confusão que impregna todo o texto, razão por que deve
ser substancialmente revisto. Também outros pediram que se fale
mais do pecado (Ruffini, Siri, Koenig, Rusch, Marafini) e de
suas funestas conseqüências (Doepfner, Renard), da redenção
(Kominek, Volk), da verdade da Cruz (Koenig, D’Avack), da
necessidade da penitência (Koenig), da esperança da ressurrei­
ção (Koenig), da graça de Deus (Siri, D’Avack, Rusch, Lour-
dusarny), da esperança cristã (Castro Mayer, Renard), da no­
vidade absoluta da vida em Cristo (Renard). Cristo, aliás, deve
estar ainda muito mais no centro (Lourdusamy, Volk). Pediu-
se também uma exposição mais sistemática daquilo que a fé
pode oferecer para iluminar o mundo e dar-lhe forças (Doepfner).
Em suma, disse Rusch, o texto deve ser mais teológico, mais
dinâmico, mais prático, mais completo e exaustivo.
Eis as primeiras cinco intervenções, sôbre o texto em geral,
pronunciadas nesta manhã:
61) Cardeal Francis SPELLMAN, Arceb. de New York, nos EE.UU.
(texto completo): Tinha já pedido no decorrer da Sessão anterior que
esta Constituição deveria ser uma clara e sinceríssima afirmação da
posição da Igreja no mundo contemporâneo, i. é, uma consagração so­
lene e ao mesmo tempo simples, cândida e humilde da Igreja ao serviço
da humanidade. Desejamos, por isso, ouvir e ser ouvidos. Pedimos expor
e até mesmo realizar — nossas posições. Desejamos, sobretudo, que
nos permitam prestar nosso auxilio a todo o gênero humano, de sorte
que todos os homens possam ser promovidos a uma vida mais plena.
Para atingir esta finalidade, o texto do presente esquema não deveria
ser mutilado com respeito às matérias nêle tratadas. No entanto, ainda
e necessário, ao meu ver, procurar, especialmente nas primeiras páginas,
uma qualificação ou um modo de expressão que determine claramente
ni^T P.reC1Sa d^ste estluema- A Igreja não apresenta soluções sim-
IV3S para. todos os problemas do mundo atual. Deseja ape-
mUnHn m p ih r/o 1 ,odos ?? homens de boa vontade para edificar um
pirito e a virtude ^ °k I-- S 3 cond'Çao essencial dêste diálogo é o es-
na lereia onr r rict ° edlenc,a Para com a hierarquia que foi constituída
público e representa0’ 366 em ,8eu luSar> é como que seu instrumento
c S r i o aue e ^ i i L an,or do. suPr«™ Pastor. Parece-me muito ne-
filial que
que oo cristão 3 ess®nciapresta.
cristão hberr.mamente e 0 significado desta muitos
Por um lado. obediência
têm
A Igreja no Mundo de Hoje 61

K S f n l impressão de que a Igreja Católica favorece um tipo


ob!^lência meramente jurídica e irracional. Por outro lado, hoje em
?ia "fo poucos alegam que a obediência e a reverência para com o
Magistério eclesiástico está em oposição à liberdade dos filhos de Deus.
Por conseguinte,^ devemos mostrar, dum modo verdadeiramente pasto-
ral, que a obediência cristã está em perfeita harmonia com a liberdade
dos fiéis e que está ordenada a tornar mais eficaz o nosso ministério
de serviço para com todos os homens.
Em^ particular, o capítulo V sôbre a comunidade das nações e a
promoção da paz foi sàbiamente revisado tendo em conta as sugestões
feitas por numerosos Padres. Êste texto reflete agora o ardente desejo
que têm todos os homens de boa vontade duma paz fundada na jus­
tiça e na caridade. Farei, contudo, uma objeção. O n. 101, tal como
está redigido, poderia dar a impressão de que o serviço militar não
é jamais obrigatório — ou, ao menos, que é obrigatório só para aquêles
que não aspiram a uma vida cristã mais perfeita. As nações que têm
a preocupação legítima de sua própria existência devem considerar a
situação concreta em que se encontram (cf. n. 99). Os chefes de go­
vêrno podem estimar que, por enquanto, nenhuma Organização inter­
nacional dá garantias de paz suficientemente seguras e que, por con­
seguinte, é necessário manter um exército para assegurar uma justa
paz. Nestas circunstâncias deve-se considerar que aquêles que são cha­
mados ao serviço militar são chamados para servir a verdadeira paz.
Com efeito, segundo S. Tomás (II-II, q. 188, art. 3, ad 2um), pode-se
resistir ao mal de duas maneiras: 1) Suportando o mal feito contra a
nossa própria pessoa; e isto pertence à perfeição, se a gente o faz tendo
em vista o bem dos outros. 2) Tolerando pacientemente o mal feito aos
outros; o que é uma imperfeição ou até um pecado, se se puder resistir
convenientemente ao agressor. Sem dúvida, não é fácil dizer qual é a
melhor maneira de resistir ao mal que existe no mundo de hoje. Mas,
se os chefes duma nação decidem com tôda a boa fé e após madura
reflexão que o serviço militar de seus cidadãos é absolutamente necessá­
rio para a defesa da paz e da justiça, como poderia um cidadão não
querer cumprir seu serviço militar? Como se diz na mesma secção do
esquema: fora dos casos de violação manifesta da Lei de Deus, a auto­
ridade legítima presumiu agir nos limites de sua competência e é ne­
cessário obedecer às suas leis. Todo homem de boa vontade deseja que
sejam impedidas tôdas as guerras regionais e internas ou que termi­
nem rapidamente. Entretanto, alguns governos tomaram de boa fé a de­
cisão de que a fôrça militar é absolutamente necessária para preservar
a verdadeira paz na atual situação internacional. Nós não queremos —
nem podemos, aliás — dar um juízo moral definitivo sôbre as circuns­
tâncias que levaram a tomar essa decisão. Se não quisermos que esta
Constituição seja desnaturada por finalidades políticas — o que é
contrário a nossas intenções — insisto firmemente que o n. 101 seja
inteiramente revisado.
62) Cardeal Juan LANDÁZURI, Arceb. de Lima, no Peru: Êste
esquema é o primeiro documento conciliar no qual a Igreja, diante de
todos os homens, trata de alguns gravíssimos problemas que athgeni
o mundo. Alegramo-nos da oportunidade dêste propósito do Concí io e
agradecemos à Comissão e aos seus Redatores pelos elementos ons
I. Crônica das Congregações Gerais

”drática e retórica. 3) Requer-se


“ *«» li,erá™’ e,i,a”'10. !í'dS lins“?8em cate-
ainda maior disciplina mental na enun-
2 3 ? de sua doutrina e melhor distribuição da matena nele contida.
Para isso é mister torná-lo mais breve e eliminar as numerosas repe-
ticões de modo que se confira à exposição do tema uma concisão maior.
4) Convém evitar palavras e expressões que tenham variadas significa­
ções e possam dar lugar a confusões (p. ex. o termo Ecclesia ). 5) A
maior dificuldade, porém, está em que, no presente texto, não se vê
a que pessoas se dirige o texto. Ora, a Igreja, ao falar aos homens to­
dos, pode seguir dois caminhos: ou prescindir das verdades que só
podem ser conhecidas através da Fé ou, pelo contrário, propor aos ho­
mens as verdades reveladas em linguagem adaptada à mentalidade
moderna. O primeiro método é mais filosófico e humanista e não se
coaduna com um Concilio Ecumênico; o segundo, embora tenha as suas
vantagens, oferece o perigo de falar somente aos católicos. O atual es­
quema, misturando ao mesmo tempo os dois métodos, arrisca-se a não
satisfazer às expectativas dos fiéis e dos acatólicos. Talvez o êrro
provenha do próprio conceito de Constituição. Pois o texto do esquema
náo é nem deve ser uma Constituição, mas, sim, uma simples Procla­
mação na qual a Igreja expõe a todos os homens sua própria missão.
Nesta Proclamação a Igreja não deve recorrer a argumentos filosóficos
nem usar expressões teológicas complicadas, mas anunciar o puro Evan­
gelho: é o que hoje esperam os homens. Urge, pois, expor em poucas
páginas e com estilo sóbrio e simples a doutrina católica sôbre a pre­
sença da Igreja no mundo, apresentando-a como fermento que deve le-
vedar tóda a humanidade. À luz desta doutrina deve-se falar a respeito
de todos os grandes problemas que interessam aos homens (família,
cultura, vida econômico-social, sociedade humana, problema da paz),
para que a Igreja satisfaça às esperanças de todos, especialmente dos
pobres.
63) Cardeal Raúl SILVA HENRÍQUEZ, Arceb. de Santiago do
Chile: O esquema parece ser muito comprido. Oferece, contudo, uma
base suficiente para a discussão. E’ particularmente importante sua
primeira parte, pois aí os leigos podem encontrar a luz necessária para
responder aos apelos de sua difícil vocação na história. O texto exige,
porem, numerosas correçoes. Seria conveniente definir melhor o sen-
tido e o valor do esquema, a começar pelo título: 1) O têrmo “pastoral”
o i u o deveria ser suprimido porque ambíguo e pode ser atribuído a
? °s ocumentos do presente Concilio. 2) Para determinar mais
r* ■ r en ° , Va,°.r teoló^ co do texto, deveria ser suficiente uma refe-
a r^npitn * f araçao da Ç°missão Teológica formulada no ano passado
declarações 3 Igre^a: 0 Concilio não pretende emitir
sinamentn IC,fS senao guando o afirma expressamente. Seu en-
gistério supremo'da lgrej^" S6mPre considerado como um ato do Ma-
G esquema^rdòrmadn2 ,Arce^- de Paderborn, na Alemanha:
desejos dos Padres
a doutrina da Igreia c o n c
com as
i l i a í e f b°m’comPõe
a= esperanças
’ m dlSS0,
P°'S corresPonde a°S
equilibradamente
•greja com de nosso tempo. Entretanto,
A Igreja no Mundo de Hoje 63

- d° Propor algumas correções: 1) Convém evitar tôda


forma de otimismo irrealista e não esquecer que existem no mundo for­
ças diabólicas que contrastam com as forças do bem. Proponho, por-
tanto, que se acrescente que o espírito maligno, embora derrotado por
Cristo na Cruz, continua ainda a insidiar a salvação do homem e que
não será aniquilado até à Sua segunda vinda. Razão: a Sagrada Escri­
tura e o Evangelho em particular — acenam repetidas vêzes a uma
luta contínua que se desenrola no mundo entre Deus e satanás. Dêste
perene conflito é necessário falar ao menos uma vez de modo claro e
sóbrio, muito embora não se tencione propor propriamente uma teolo­
gia da história. 2) Proponho também inserir explicitamente a consi­
derável ajuda que representa a cooperação de todos os cristãos —
seja como indivíduos, seja como Igreja — com os irmãos separados e
com todos os homens de boa vontade na construção do bem comum.
3) Seria útil, uma vez terminado o Concilio, instituir uma Comissão que
exponha os princípios teológicos sôbre os problemas de hoje, como se
fêz depois do Concilio de Trento (o “Catecismo Romano”), de tal modo
que se possa sublinhar a harmonia entre o progresso e a doutrina
tradicional.
65) Cardeal Augustin BEA, da Cúria Romana: Devo primeiramente
reconhecer não só o ingente labor das Comissões competentes na reda­
ção do atual esquema, mas também o fruto dêste trabalho: seu texto
resultou realmente melhor. Parece-me que a Comissão encontrou o modo
de falar apropriado para tão singular esquema. E’ preciso, contudo,
aperfeiçoar ainda o texto. P. ex., alguns princípios gerais são repetidos
muito freqüentemente, enquanto que, ao meu ver, deveríam ser enun­
ciados duma vez por tôdas no comêço dos capítulos 1 e II, remetendo
depois a êles o leitor tôdas as vêzes que a matéria tratada o requerer.
Convém também rever em vários pontos do esquema não só a matéria,
mas inclusive a maneira de expô-la. Deveria determinar, p. ex., o signi­
ficado da palavra “mundo” e a autoridade de Cristo sôbre êle. Ainda
um último ponto, que acho de grande importância: o latim do texto.
E’ claro que não precisamos exprimir-nos num latim clássico, mas, sim,
simples e em certo modo “moderno”. Mas o atual estilo latino não
condiz com um texto conciliar. Particularmente na primeira parte de­
veria ser acuradamente revisto, pois muitas vêzes aí se encontram tèr-
mos impróprios e expressões obscuras. Tais inexatidões poderíam oferecer
pretêxto a intermináveis discussões, com grave dano para a autoridade
doutrinária do texto. Seria bom lembrar, enfim, que somente o texto
latino — e não qualquer outra versão, p. ex., a francesa — é o texto
oficial do Concilio aprovado pelos Padres Conciliares.
22-9-1965: 133’ Congregação Geral
A Liberdade Religiosa
A Igreja no Mundo de Hoje (em geral)

P r e s e n t e s : 2.260 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Lercaro. A sessão começou às
9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi celebrada por Dom
François Ndong, Bispo aux. de Libreville, Gabon. Houve pri­
meiro quatro intervenções postuladas sôbre a liberdade religio­
sa (segundo o regulamento, pode alguém postular a palavra
sôbre um esquema já discutido se fizer o pedido em nome de
ao menos 70 Padres Conciliares). Seguiram-se doze discursos
sôbre a Igreja no mundo de hoje (o texto em geral). Terminou-se
hoje a votação do esquema sôbre a Revelação divina, que, em­
bora totalmente aprovado pela Congregação Geral, será, não
obstante, revisto pela Comissão teológica consoante as propos­
tas feitas pelos votos modificativos (cf. pp. 349 ss).
Eis as quatro intervenções postuladas sôbre a liberdade
religiosa:
66) Karol WOJTYLA, Arceb. de Krakow, na Polônia (texto com­
pleto, em tradução livre): Em nome dos Bispos da Polônia, faço as se­
guintes observações que visam dar maior clareza ao texto, a) Sob o
aspecto doutrinai, o documento tem por título o têrmo “Declaração ,
mas o seu conteúdo faz parte da doutrina moral da Igreja. Um docu­
mento conciliar não deveria limitar-se a repetir o que já estabeleceram
muitas nações e mesmo muitas Organizações internacionais nas suas
Constituições, sôbre a liberdade religiosa. Num documento conciliar de­
ve-se expor a posição da Igreja com respeito a esta liberdade, posi­
ção que se funda na doutrina da Igreja. Esta doutrina é revelada e,
ao mesmo tempo, está em harmonia com a razão. Seria, pois, conve­
niente não separar tanto os argumentos da Revelação dos argumentos
a razao A doutrina sôbre a liberdade religiosa está contida no mesmo
ao a Revelação e da qual os homens se tornam mais conscientes
quanto mais conhecem teórica e pràticamente o valor da dignidade hu-
A Liberdade Religiosa 65

mana. b) A Declaração sôbre a liberdade religiosa ou sôbre o direito da


pessoa e das comunidades à liberdade em matéria religiosa refere-se,
e claro aos podêres civis, mas “primário et directe” diz respeito à
pessoa humana. Sua significação ético-social pressupõe uma significação
etico-pessoal. Segundo esta última, constitui o fundamento do diálogo
entre os crentes e os ateus. Como, porém, êste direito da pessoa hu­
mana à liberdade em matéria religiosa é proclamada pelo Concilio,
deveria sê-lo também a responsabilidade nesta matéria, isto é, em usar
tal direito, c) Por conseguinte, passando à questão dos limites da li­
berdade religiosa, devemos de nôvo invocar o princípio da observância
da lei moral que é a primeira norma moderadora da liberdade, mas que
não constitui, no texto, o fundamento da Declaração. Esta se funda em
normas jurídicas e, portanto, na lei positiva. Ora, como o direito à li­
berdade se funda na lei natural, uma lei positiva só pode limitá-la se
estiver de acôrdo com a lei moral. Isto é, no nosso caso, só pode limi­
tar os abusos da liberdade religiosa (atos morais contra a lei moral).
Segundo êste princípio, seja revista a parte do texto que se refere às
normas jurídicas e à fôrça que elas têm de limitar o uso da liberdade
religiosa.
67) Michael DOUMITH, Bispo maronita de Sarba, no Líbano: Sob
uma aparente univocidade, o conceito de Estado confessional, cuja
existência se pretende justificar no parágrafo 59, é profundamente equí­
voco. Designa tanto o Estado confessional cristão, como os Estados
confessionais não-cristãos. Está fora de discussão que um Estado cris­
tão possa fazer da liberdade religiosa um elemento jurídico de sua
Constituição. Há, porém, outros Estados confessionais de outras religiões
que consideram os fiéis de religião diferente da religião oficial como
cidadãos de categoria inferior que não podem gozar de todos os di­
reitos civis dos outros. Por isso é impossível aplicar ao Estado confes­
sional, como tal, um conceito unívoco. Para evitar tôda a ambiguidade
seria possível distinguir os diversos tipos de Estado confessional, o que
não só seria injusto, mas até impossível. Portanto, omita-se tudo aquilo
que sôbre êste ponto se diz no fim do parágrafo 59.
68) Giocondo Maria GROTTI, Prelado nullius de Acre e Purus.
no Brasil: Exprimimos o desejo de que o quesito proposto ontem aos
Padres Conciliares sôbre o esquema “de Libertate religiosa”, do modo
como foi expresso, não limite demais o trabalho daqueles que deverão
rever e corrigir o texto. A Relação conclusiva contém em si elementos
suficientes para uma satisfatória reelaboração do esquema.
69) Alfred ANCEL, Bispo aux. de Lyon, na França (texto com­
pleto): Depois da votação de ontem, eu quisera aditar algumas pala­
vras, em nome de mais de cem bispos da França e em nome de alguns
outros. Repetidas vêzes foi pedido dar-se um fundamento ontológico à
liberdade religiosa. Alguns, com efeito, acham insuficiente o argumento
tirado só da dignidade da pessoa humana. Ademais, não se vê o nexo
que existe entre a obrigação de buscar a verdade, e a própria verdade
religiosa. Certamente, várias vêzes afirmou-se que o homem tem a obri­
gação de buscar a verdade; igualmente se disse que não há objeção
contra essa obrigação no plano da liberdade religiosa. Mas, se me nao
engano, nunca se mostrou positivamente o nexo entre uma coisa e r '
E’ por isto que eu quereria brevemente indicar êsse fundamen o t
I. Crônica cias Congregações Gerais
íorico e por isso mesmo, mostrar o nexo necessário que existe entre
a òbri/açáo de procurar a verdade objetiva e a própria liberdade re-
Eis aqui. portanto, a minha proposição: o fundamento ontolo-
d- liberdade religiosa, tal como eia é proposta no nosso texto, é
i obricacão de buscar a verdade. Com efeito, iodo homem, enquanto
tal isto é dotado de razão e de vontade, está obrigado a buscar a
verdade objetiva, a ela aderir, e a conformar tôda a sua vida às
exigências da verdade. Com base neste princípio, todos aquêles que
de todo o seu coração aspiram à verdade e à justiça poderão estar
de acôrdo conosco, mesmo se não forem crentes. Por outra parte, es­
tando êste princípio fundado não em alguma disposição objetiva, mas
sim na própria natureza humana, tem um valor estritamente universal.
E. enfim, êste princípio muitíssimas vêzes é afirmado na Escritura sob
diversas formas. Mas, para que o homem possa satisfazer essa obrigação
]>ela forma querida por Deus, isto é, pela forma correspondente à sua
natureza, necessário é que êle goze da liberdade psicológica, mas tam­
bém que esteja ao abrigo de tôda coação. E’ por isto que não só não
há oposição entre a liberdade religiosa e a obrigação de buscar a ver­
dade, como também a liberdade religiosa se funda nessa própria obri­
gação, e a obrigação de buscar a verdade postula a liberdade religiosa.
Notai ademais, veneráveis Padres, que a maioria dos homens — sejam
cristãos ou não-cristãos — só conhecerão do nosso texto unicamente
aquilo que é dito no parágrafo 2. Êsse parágrafo constitui, com efeito,
o nó da declaração. Eu quisera, pois, que êsse fundamento ontológico
fôsse nêle inserido, e que nêle fôsse claramente afirmado o nexo que
existe entre a liberdade religiosa e a obrigação de buscar a verdade.
O que acabo de dizer reforçará a opinião dos que de boa mente admi­
tem a liberdade religiosa, e dará maior segurança aos que, nestes tempos
de indiferentismo e de subjetivismo crescentes, sentem apreensões, e não
sem razão. Ao Secretariado transmiti a emenda que poderia ser inserida
nesse parágrafo 2.
Continuaram então os discursos sôbre a Igreja no mundo
contemporâneo:
70) Cardeal Ernesto RUFFINI, Arceb. de Palermo, na Itália: O
presente esquema é fruto de grande trabalho, de diuturna reflexão e
e admiravel paciência e oferece copiosos subsídios ao mundo de nossos
ias. or isso, agradeço à Comissão competente. Segundo o meu hu-
mi e entender, porém, ainda há muita coisa que deve ser corrigida
lJU7 ”e °rada n<? atual esquema: 1) O texto é demasiadamente longo
um 6 rePe*I(*ões. 2) Está redigido num latim que não condiz com
afirmará!!»®e,I*t0 ^onc‘liar* 3) Tem frases incompreensíveis. 4) Contém
tras consirJrar-3 aS,*e mesmo íalsas- Seja-me permitido agora fazer ou-
Fala-se muito de °r?em &eraI acêrca do conteúdo do esquema: a)
Mas nada h * *Íonc^ ao e dos problemas dos homens neste mundo,
pecados causam^mQ08 erro.s\ vlcios> culpas da sociedade humana. Êstes
mana do que a foml PJejul^° ao hom?m e à dignidade da pessoa hu-
guerras. O texto + ^ a*^23’ as. inÍustiÇas> as controvérsias e as
consequência
nsequencia do pecado am.
do neead b^m emacompanha
ongmal, silêncio o ofato da dor,
homem que, como
do nascimento
A Igreja no Mundo de Hoje 67

Se.T exemplo
Seu exemn?n üe !tendo-lhe
h íl 0 .mundo e flue Jesus Cristo santificou com o
dado valor redentivo. b) A Igreja, segundo
o texto parece pedir perdão como que de joelhos (“quasi flexis
genibus ) por terem muitos de seus filhos oposto a fé à ciência. Não
e conveniente apresentar assim a Igreja, pela qual Cristo se entregou
para santificá-la (Ef 5,25-27). Houve, porém, em tôdas as épocas homens
ilustres que deram o nome à Igreja. Na Idade Média, p. ex., as ciências
e as artes encontraram refúgio nos templos e mosteiros. Quase tôdas
as antigas Universidades ou foram fundadas pelos Papas ou, pelo me­
nos, foram por êles protegidas. Heróicos missionários sempre traba­
lharam para a promoção intelectual, social e humana dos povos, c) No
texto os princípios da doutrina católica são louvados aqui e ali. Não são,
porém, explicados suficientemente ou não correspondem às circuns­
tâncias humanas descritas. A sociedade dos tempos apostólicos não era
melhor que a nossa. Contudo, os Apóstolos pregaram o Evangelho com
um método que deve também ser o nosso. As condições mudam. Mas
o Evangelho deve ser exposto clara e elegantemente (“perspicue et
concinne”), porquanto possui uma fôrça divina que vence as dificul­
dades de todos os tempos.
71) Cardeal Giuseppe SIRI, Arceb. de Gênova, na Itália: E’ muito
bom que o Concilio examine o problema da Igreja no mundo con­
temporâneo. Faço, contudo, estas observações acêrca do esquema em
geral: 1) Os limites, nos quais êste tema é analisado, são demasiada­
mente estreitos. Alguns problemas são apenas indicados. Outros, que
interessam de perto à missão espiritual e sobrenatural da Igreja no
mundo, nem são mencionados. O texto fala de pessoa, de questão de­
mográfica, de economia, de problemas internacionais. Não dedica, po­
rém, nenhuma palavra ao fato do pecado, da indiferença com respeito
ao pecado, do indiferentismo e do relativismo em matéria religiosa, do
laicismo, do tecnicismo, da educação social inspirada no coletivismo
que ofende a dignidade e a liberdade humana, da total prevalência
tecnológica sôbre as realidades espirituais, etc. Ora, a Igreja não pode
limitar-se a prestar atenção somente a alguns problemas temporais, dei­
xando de lado os seus problemas específicos. Uma atitude dêste gênero
causaria escândalo e deixaria entender que o Concilio se preocupa não
só com a contribuição que a Igreja deve dar no plano sobrenatural,
mas também que se preocupa com as soluções dos problemas humanos
adaptando-os à realidade terrena. 2) Às questões sobretudo terrenas
apresentadas no esquema deve responder-se por meio da clara e ge­
nuína doutrina do Evangelho. 3) Finalmente, adiro a tudo aquilo que
ontem expuseram os cardeais Landázuri (n. 62) e Bea (n. 65).
72) Cardeal Franziskus KOENIG, Arceb. de Viena, na Áustria
(texto integral): Da discussão do esquema XIII até agora levada a efei­
to consta que os juízos emitidos sôbre o seu valor não são absoluta­
mente concordes. Ouvem-se vozes de louvor e de crítica. O que não é
motivo de admiração, pois o Sacro Concilio com a elaboração dêste
documento inaugura novos modos de proceder na história dos Concílios.
i. é, o método do diálogo com o mundo e, sobretudo, com o mundo
de nosso tempo. Deve-se reconhecer sinceramente que as Comissoes e
Subcomissões que prepararam êste esquema levaram a têrmo um ,n^ " 5
trabalho. Para aperfeiçoar o trabalho e o fim proposto, seja-me p
I Crônica das Congregações Gerais
tob
tido fazer as seguintes observações sôbre a finalidade e o método do
esquema. ^ ^ dQ csqucma: Não se deveria repetir aquilo que já
foi a irmado na Constituição dogmática sôbre a Igreja, i. e, sôbre a
natureza e missão da Igreja na ordem da salvaçao sobrenatural, sobre
a sua missão com respeito a todo o gênero humano. No nosso esquema,
a lareia deseja falar em primeiro lugar daquilo que pode ser útil para
resolver os problemas do mundo de hoje, em virtude de sua própria
missão. E isto não para se imiscuir em negócios alheios, mas para ve-
rificar se a ordem de tôda a família humana e dos povos corresponde
à dignidade de pessoa e de filhos de Deus. Assim, quer comunicar de
algum modo os frutos do Evangelho também ao mundo que não crê.
Dêste objetivo do esquema se origina a primeira dificuldade já no
capítulo IV da D parte, que, como me parece, deveria ser pôsto depois
da análise feita na exposição preliminar.
II) Sôbre o método do esquema: 1) Pelo esforço de falar com o
mundo hodierno,, o esquema corre o perigo não só de significar algo
de transitório, mas também de significar algo que vale apenas por um
brevíssimo tempo. Êste perigo aparece principalmente na análise “sôbre
a condição do homem no mundo moderno” (nn. 4-9), análise que, aliás,
contém ótimos elementos. Mas o texto refere-se demasiadamente às
mudanças do tempo presente. Não aparece suficientemente claro o que
nas mudanças descritas pode ser considerado como fator constante que
permaneça. Um esquema dedicado ao momento que passa não perdería
seu valor por causa do turbilhão das mudanças? Portanto, segundo o
meu parecer, nesta primeira parte se deveríam expor os princípios mais
fundamentais, pelos quais se prova: a) que a Igreja sempre teve a
missão de conhecer os sinais dos tempos e de cada dia envidar novos
esforços para fazê-lo; b) que a Igreja deve procurar um modo de en­
tender retamente o mundo atual; c) que a Igreja deve determinar quais
são as últimas questões que se manifestam sob novas formas e exigên­
cias e que tôdas as gerações da história devem resolver. Para satisfazer
a estas exigências, o esquema já contém muitos elementos. Se êles forem
bem harmonizados, o texto ficará mais breve e mais denso de con­
teúdo. 2) Deveria aparecer com mais clareza quem fala no esquema,
com que direito e a quem se dirige, a) O sujeito que fala não aparece
claramente no esquema: nêle se encontram três sujeitos. Por um lado,
o Povo de Deus (que muitas vêzes se opõe ao gênero humano, mas
o Povo de Deus é apenas parte do gênero humano. Depois, o Povo de
)eus muitas vêzes aparece como uma realidade sociológica e não em
sentido teológico próprio). Por outro lado, o sujeito que fala parece
ser o Concilio ou a palavra “nós” empregada de modo indefinido e
iterario. b) A especial dificuldade de argumentar, de que sofre o es­
quema, e a diversidade dos homens aos quais se dirige. Daí: aa) o pe-
ngo duma redução da verdade por causa do desejo de falar também
o nir enS ^Ut c.r^em* D esquema deveria ter como ponto de partida
So1?a Z % lZ Ce!'° b? liC0 de “mund0”’ “homem”, “histórta”, de tal mo-
encontrar r c n(:eitos compenetrassem tôda a exposição. Nêle deveríam
necessidarif*j h*U .exato os conceitos de pecado, verdade da cruz,
aa realidade do pthomem
emtencia»é esperança da ressurreição com Cristo. Assim,
mais verdadeiramente atingida e se evita o
A Igreja no Mundo de Hoje 69

nrnMAmff Prometer um paraíso na terra e a solução para todos os


problemas — o que so pode conseguir no estado final, bb) O Sacro
Concilio no esquema deve indicar abertamente as fontes de que haure
seus ensinamentos. Por outro lado, deve reconhecer que em muitas ques­
tões nao possui uma resposta pronta e plena baseada na fé e na razão,
mas deseja procurar na medida de suas possibilidades a almejada so­
lução. C o n c l u s ã o : O esquema por si procede por um caminho certo e
nós aprovamos êste nôvo tipo de doutrina conciliar. Mas atingiría me­
lhor seu fim se o propusesse com maior clareza, se o modo de expor
fôsse purificado, mesmo se o texto se reduzisse aos princípios mais
importantes e fundamentais.
73) Cardeal Julius DOEPFNER, Arceb. de Munique, na Alemanha:
Em nome de 91 Padres conciliares da Alemanha e da Escandinávia,
faço as seguintes observações: I) Todos os Padres conciliares em cujo
nome falo estão de acôrdo em julgarem que o esquema foi essencial­
mente corrigido. Louvo principalmente: 1) os problemas expostos são
tratados com maior clareza; 2) a parte doutrinai é mais ampla e pro­
funda; 3) o esquema começa pelo exame das questões concretas dos
homens do nosso tempo; além disso, procura encontrar uma lingua­
gem que possa ser entendida por êles, método que deve ser louvado; 4)
foi bom ter incluído no texto a matéria dos Anexos; também se deve
louvar o fato de que o n. 1 do esquema anterior (os direitos funda­
mentais da pessoa humana) foi colocado na parte geral do atual texto
e que, na segunda parte, foi acrescentado um capítulo sôbre a vida
política. Tudo isto nos dá a esperança de que o esquema, com as corre­
ções que ainda lhe serão feitas, possa ser levado a bom têrmo ainda
no decurso desta sessão. II) Parece-nos, porém, que o esquema deve
ser ainda corrigido em pontos importantes para que se apresente com
aquela forma que o Concilio e o mundo desejam e esperam. 1) Sôbre
a doutrina do esquema: Na antropologia proposta na primeira parte
há alguns elementos que pertencem à doutrina cristã sôbre o homem.
Mas a síntese dêstes elementos não é bem feita. Não se distinguem
bem os que pertencem à ordem natural e os que pertencem à ordem
sobrenatural. Nem apresenta as profundas conseqüências do pecado. 2)
Entre os problemas que não foram bem explicados no esquema está
a seguinte questão: o que pode oferecer a fé para iluminar o mundo
e dar-lhe fôrça? Sôbre isto há algumas passagens, mas que não são
claras, como se esperaria. Além disso, não se dá uma resposta convincente
sôbre o que nesta matéria pode fazer a hierarquia e sôbre o que podem
fazer os fiéis, vivendo e agindo, segundo a consciência formada pela
fé, nas situações concretas da vida familiar, social e política. O es­
quema suscita, às vêzes, expectativas que êle não pode depois satisfazer.
74) Giuseppe AMICI, Arceb. de Módena, na Itália: Falando em
nome dos Bispos da Flamínia e Emiliana, diz que o Concilio se en­
contra diante da necessidade de conduzir a têrmo os seus trabalhos.
Por isso, não é possível exigir que o texto estudado seja completamente
reelaborado, não obstante o justificado temor de que o esquema atual­
mente em exame possa desiludir a expectativa que suscitou na opi­
nião pública. Muitos crêem que o esquema sugerirá,^ teórica e pra íca
mente, os meios que são necessários para a solução de muitos pro
blemas que hoje afligem o mundo. Mas nem a forma nem a su ^
70 I. Crônica das Congregações Gerais

ci_ do texto apresentado na Aula Conciliar correspondem ao fim em


vista e o esquema náo indica como a mensagem evangélica possa ser
anunciada aTs homens de hoje e como se possa estabelecer um d.alogo
* Icreia e o mundo. Para que o texto possa ser aceito por todos
^ homens 1 mesmo pelos acatòlicos - foram postos no primeiro pia-
no os argumentos filosóficos e científicos. No entanto, seria melhor
expor antes de tudo os problemas concretos e depois propor a resposta
que a êles dá o Evangelho: “A resposta — digo — não desta ou
daquela escola teológica, mas a do Evangelho. E do Evangelho sem
glosa, em todo o seu vigor e na suma atualidade de suas proposições”.
So depois se deveríam expor os argumentos de razão. Finalmente, a
parte doutrinai deveria ser mais profunda. O texto, na sua atual reda­
ção, não agradará aos fiéis por causa do modo demasiadamente vago
com que expõe a doutrina católica. Descontentará aos acatòlicos por­
que faz uma síntese muito superficial das verdades naturais.
75) Anthony JORDAN, Arceb. de Edmonton, no Canadá: Falan­
do em nome da Conferência dos Bispos Canadenses sôbre a vida social
(•'Social Life Conference”), manifestou sua alegria pelo fato de o texto
do esquema concordar em grande parte com as conclusões da Conferên­
cia realizada nesse mesmo ano em Montreal acerca dum tema inti­
mamente conexo com o do esquema atual (“The Christian in the Com-
munity”). De fato, o documento faz ver claramente que o Povo de
Deus comparte a sorte dos demais homens, unindo-se às suas alegrias e
desejos ou associando-se às suas aflições e dores. Nisto o documento
espelha aquela fé e confiança que João XXIII suscitava nos espíritos
dos homens. Além disso, o esquema dilui o grande êrro de muitos cris­
tãos e clérigos que pensam que a Igreja tem uma resposta para tôdas
as dificuldades dêste século. Pelo contrário, ela é agora apresentada co­
mo uma humilde serva ao serviço de todos, que procura nas fontes
da ciência divina e humana os auxílios necessários. Advirta-se também
aos cristãos que no esquema a Igreja é descrita não como uma potên­
cia dogmática que pretende dominar as inteligências dos homens, mas
como um povo de Deus que vive no mundo e que, como Cristo, humil­
demente bate na porta dos corações humanos, respeitando a liberdade
t a dignidade dos homens. Entretanto, ainda são necessárias a’gumas
observações: 1) Sob o aspecto litúrgico, o esquema tem numerosas la­
cunas, sobretudo quando se refere ao nexo que existe entre o traba­
lho e o culto. 2) Não se afirma adequadamente a oportunidade dum
uso são e reto do tempo livre, fenômeno típico de hoje. 3) Conviría
dedicar um pensamento aos enfermos. No esquema só se fala dos po­
res e necessitados. 4) Seria também oportuno que se dissesse uma
pa avra sôbre os modernos critérios arquitetônicos e urbanísticos. 5)
apresentação da Igreja como humilde serva do gênero humano seria
mais e ícaz se se indicasse claramente que ela está disposta a acomodar
os seus ra alhos missionários para colaborar com aquêles grupos ou
se
se *«fnrrT^’
esforçam em Cm combater
n0IHe de aseus Pr6prios países ou das Nações Unidas,
indigência.
Ante7s6)deJ ea„nf ^ f I ,OS ARA^,BURU, Arceb. de Tucumán, na Argentina:
Ihor expor a morín °h p,rob!emas Que interessam os homens, seria me-
sofícamentè
jt.camente admitida
adm.t.da Lporund®ment°>
todos. A apartir
situação
dai, natural do deduzir
será fácil homem, qual
filo-
A Igreja no Mundo de Hoje 71

seja sua vocação e abrir a estrada para o debate dos problemas hu-
manos do nosso tempo. Ora, segundo S. Tomás deAquino (Summa
contra Gentües), tres sao as exigências humanas mais profundas: o ho­
mem, como criatura, tem uma relação essencial com seu Criador; como
ser racional, tem a capacidade de julgar e distinguir entre o bem e o
mal, para poder subordinar as coisas inferiores às superiores; como ser
social, deve contribuir com a sua ação ao perfeito desenvolvimento da
sociedade, para que a humanidade possa conseguir o seu próprio fim.
E claro que tudo o que se diz no esquema acêrca davida e dos pro­
blemas do homem é uma decorrência lógica dessas três condições na­
turais. No entanto, essas condições deveríam ser colocadas explicita­
mente logo no início do esquema como se fôssem um princípio ou fun­
damento filosófico. Aliás, êstes três princípios são corroborados pela
Revelação nas palavras do SI 8,5-7: Tu fizeste o homem (portanto,
é um ser criado) um pouco inferior aos anjos (porque o homem em
parte é também matéria e é também espírito, i. é, racional), de glória
e de honra o coroaste e lhe deste o mando sôbre as obras de Tuas mãos
(portanto, é um ser social, porque o domínio sôbre tôdas as obras de
Deus não pode competir a uma pessoa só, mas a todos os homens —
e a sujeição do criado não pode ser obtida senão em sociedade).
77) Russel Joseph McVINNEY, Bispo de Frovidence, nos EE.UU.:
O esquema revela uma louvável intenção ao indicar ao mundo moderno
as soluções que propõe a Igreja católica. Mas acaba por não oferecer
senão um compromisso de valor duvidoso com aquêles que são a
causa dos próprios males que hoje afligem a humanidade. E’ uma fra­
queza do sentido da autoridade, como é fácil encontrar tanto na área
civil como na eclesiástica. A luta pela liberdade não deve necessariamente
conduzir à abolição do conceito de autoridade. Também na Igreja acon­
tece uma crise na virtude da obediência. Isto se dá não somente entre
os leigos, mas também no meio do clero secular e regular. Sem uma
bem definida hierarquia de valores não se pode ser um Povo de Deus.
78) Giuseppe D’AVACK, Arceb. tit., Itália: O esquema parece
saber a um certo “naturalismo”, que está muito longe da doutrina de
S. Paulo (Gál 6,14; 1 Cor 1,22; 2,2). Sem dúvida, fala de Cristo, mas
não do Cristo crucificado e da mensagem que Êle dirigiu aos homens
convidando-os a segui-PO levando a cruz. Não se devem afligir os ho­
mens, evidentemente. Mas também não é necessário enganá-los. Para agir
segundo a natureza no nosso mundo, é indispensável a graça — que
é difícil de se conservar mesmo com todos os meios à disposição na
Igreja. Por essa razão, o esquema deveria expor, ao menos nas suas
conclusões, o “segrêdo” do Cristianismo: a caridade não pode ser vi­
vida senão com o auxílio da graça que Cristo mereceu para o homem
através da cruz.
79) Paulus RUSCH, Bispo de lnnsbruck-Feldkirch, na Áustria: Em­
bora muito melhor do que o anterior, o texto é mais filosóficoque
teológico e prefere os aspectos estáticos e os desenvolvimentos abs­
tratos. Na sua doutrina sôbre o homem, p. ex., se diz que êle
de Deus. Mas pouco depois esta imagem é tratada de ™an^ . d
sofica, explicando que o homem_ possui inte|teê"cia\ a £ 0 homem
etc. Por que não se diz, de acordo com a S. Escntu^ , _q cr,-a.
é imagem de Deus pelo fato de ter domínio sobre as
I. Crônica das Congregações Gerais

da„ Por nue não se diz, segundo o pensamento dos Padres - sobre-
i sq Ireneu — que o homem cresceu em Deus ( hominem esse
auínentum ad Deum”) tanto na sua vida individual como na vida his-
S de todo o gênero humano? Isto e: o homem, nos pnmord.os, vi­
veu como homem natural; depois, tornou-se homem cultural; atual-
m^te porém fêz-se homem poderoso, isto e, um homem dotado de
poder’sôbre a técnica. Ora, esta evolução histórica significa ao mesmo
tempo uma evolução da imagem de Deus, pois cresceu a sua semelhança
com Deus. Por isso, é certo que, filosoficamente, o homem é um animal
racional. Mas do ponto de vista teológico pode-se dizer ainda mais: o
homem é uma imagem de Deus como que in nuce — imagem que o
decurso da história e por fim a graça de Cristo faz evoluir perfeita-
mente. Daí segue também que o homem tem, no decorrer da história,
obrigações relativamente distintas. Hoje em dia o homem tem sobre­
tudo a peremptória obrigação de empregar de modo moral e ético o seu
potencial técnico. Ora, à Igreja compete ensinar êste reto uso. Noutras
palavras: a Igreja deve educar os homens de hoje a se munirem dessa
virtude. De fato, nos encontramos numa ruptura dos tempos: a época
moderna findou-se e começou a era atômica. Nessa separação de épo­
cas o homem há de ser educado para que êle possua as virtudes ne­
cessárias para dirigir êste tempo. Somos nós, com efeito, como diz S.
Agostinho, os que fazemos os tempos. A partir destas considerações,
poderia desenvolver-se melhor a atividade humana no mundo, da qual
se fala no cap. III. No texto se afirma que êstes problemas permane­
cem ainda muito obscuros. Quiçá, porém, do ponto de vista dessa evo­
lução do homem — da qual temos falado acima — fôsse possível obter
alguma clareza, no sentido de que a atividade humana desenvolve a
imagem de Deus no homem e em tôda a humanidade, o qual é teolo­
gicamente importante. Porque, do contrário, quase nada poderemos dar
ao mundo, se os problemas atuais permanecem obscuros até mesmo
para os nossos fiéis. Para lograr ainda maior claridade, deveríam acres­
centar-se igualmente algumas palavras sôbre o significado da restau­
ração dos homens e de todo o Universo em Cristo. Além disso, o
texto é demasiado abstrato nas suas considerações sôbre o progresso
e a cultura. Nada diz sôbre a crise jurídica e cultural contemporâneas
nem sóbre o problema do tempo livre. Êsse abstratismo se reflete tam­
bém na sua consideração do mal e da dor no mundo. E’ necessário,
pois, corrigir o texto, dando-lhe um caráter mais teológico, mais dinâ­
mico e mais concreto.
80) Geraldo DE PROENÇA SIGAUD, Arceb. de Diamantina, no
rasn. 1) O têrmo “Constituição” usado no título do esquema não é
exa o nem oportuno, porque o esquema não constitui uma “lex credendi”
nem uma lex agendi” — e isto nem sob o aspecto da matéria trata­
ram os Pr°blemas nêle tratados que de modo algum perten­
ç a :- á hL+ h1 ,mores de^niendos”) nem com respeito àqueles aos
Dode ter vain^n ° Umí “constituição” no sentido estrito de “lei” só
pois essa nalívr* °S submetidos à autoridade da Igreja). Mude-se,
O texto^boPrda^™ m , /“ us”, “litterae”, “epfetola", etc. 2)
redatores DorémP n CmaS filosóficos e sociológicos. Os seus
métodos e espirito daT íoláPsrS
astica e aderir aos pnncipios d°S
ÍnedÍadPrOPOSÍtadamente pri"cípi°8’
e métodos da
A Igreja no Mundo de Hoje 73

fenomenologia moderna. E’ compreensível o desejo de adaptar-se à lin­


guagem do pensamento contemporâneo. Mas favorecer a fenomenologia
existencialista que nega a possibilidade da metafísica — é expor-se
ao perigo do nominalismo e, por conseguinte, do marxismo. A Comissão
deveria cuidar para que os princípios filosóficos e sociológicos do To-
mismo fundamentem o esquema. 3) E’ necessário ter presente no tema
da Igreja no mundo moderno o que Pio XII ensinou nos seus discursos
e radiomensagens (20 volumes). Neste ensinamento se encontra uma
doutrina humana e divina, simples e profunda, sôbre todos os proble­
mas. 4) O esquema esquece freqüentemente as consequências do pecado
original, que causam um desequilíbrio no coração do homem. 5) A idéia
de Teilhard de Chardin sôbre a construção do mundo com Deus é pe­
rigosa. A Tôrre de Babel e o hedonismo grego e romano também que­
riam ser novas “construções do mundo”, mas sem conduzirem a Deus.
6) Convidando com demasiada insistência os cristãos para estarem pre­
sentes no progresso das ciências e das técnicas, se favorece a idéia de
que o progresso constitui um mérito :dos não-cristãos. Isto, porém, não
corresponde à verdade. Demonstra a história não apenas da Idade Média,
mas também da Idade Moderna, nas diversas nações e nos diversos
continentes, que todo o progresso científico é obra dos povos católicos
ou pelo menos cristãos. 7) O Concilio deve abster-se de falar indis­
criminadamente sôbre a presença da Igreja no mundo, porque a sua
verdadeira presença é aquela de ser luz e fermento do mundo, sem.
contudo, ser dêste mundo. “Guardemo-nos de que nosso esquema XIII
não seja a carta magna do paganismo moderno sob a forma de santi­
ficação e de sacralização do mundo!”
81) Maxim HERMANIUK, Arceb. ucraniano de Winnipeg, no Ca­
nadá: 1) O esquema merece ser louvado pelo seu espírito de univer­
salidade. Êle se dirige, de fato, a tôda a família humana e interpreta
fielmente as orientações dadas por João XXIII ao Concilio. 2) E’ tam­
bém digno de louvor porque, com espírito verdadeiramente ecumênico,
manifesta o desejo de compreender as idéias e as doutrinas — inclu­
sive dos adversários da Igreja — e as examina à luz da reta razão e
da fé. 3) Além disso, o texto apresenta uma feliz exposição da auto­
ridade espiritual da Igreja, sob a forma de serviço, sôbre as coisas
dêste mundo. 4) Muito agrada, finalmente, a clareza das idéias e a sim­
plicidade de expressão de seu estilo pastoral. Apesar de tais qualida­
des, porém, o esquema tem vários defeitos: a) Não é lógica a atual di­
visão da Constituição. Seu conteúdo deveria ser exposto de modo tri-
partido: vocação da pessoa humana, comunidade dos homens e comu­
nidade dos povos, b) Trata dum modo demasiadamente escolástico da
atividade do homem no mundo do progresso e da cultura, c) Sena
conveniente ainda eliminar algumas incoerências que se encontram na
redação apresentada.

Concilio - V — 6
23-9-1965: 134» Congregação Geral
A lereja no Mundo de Hoje
Proimio e Exposição Preliminar

PR E SE N T E S: 2.229 PADRES
Conciliares. Moderador: para a parte geral, o Cardeal Lercaro;
para o proêmio e a exposição preliminar, o Cardeal Doepfner.
A sessão começou às 9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi
celebrada pelo Cardeal Amleto Cicognani, Secretário de Estado
de Sua Santidade, que hoje celebra seu 60’ aniversário de or­
denação sacerdotal. Durante a Congregação desta manhã apre­
sentou-se primeiro uma relação explicativa sôbre as votações
do esquema sôbre o apostolado dos leigos; depois foram pro­
nunciados mais oito discursos sôbre a Igreja no mundo con­
temporâneo em geral; a seguir uma relação sôbre o proêmio e
a exposição preliminar; e no fim duas intervenções sôbre esta
parte do esquema. Durante os debates se fizeram as primeiras seis
votações do esquema De apostolatu laicorum, que terá sua crô­
nica à parte (pp. 357-361).
Esta é a ordem e o conteúdo dos discursos de hoje:
82) Cardeal Laurean RUGAMBWA, Bispo de Bukoba, Tamzânia
(texto completo): O esquema sôbre a Igreja no inundo de hoje agrada
inteiramente por muitos motivos e, sobretudo, porque no proêmio afirma
claramente a solidariedade da Igreja com tôda a família humana na
adversidade, na alegria, na esperança, no luto e no sofrimento. E mes­
mo se o texto se dirige de modo particular aos que têm fé, contudo,
com a mesma caridade que flui do coração de Cristo, abraça todos os
homens e a todos propõe a nossa fé como uma vitória que vence o mun-
o. Assim, Cristo aparece nêle como a esperança do mundo e o Senhor
da história. Depois, falando dos sinais dos tempos, o esquema discerne
muito bem aquêles elementos pelos quais Deus forte e suavemente atrai
a bi os homens. A primeira parte — que é mais teórica — é necessá-
a e nos agrada, mesmo se, sem dúvida, poderá ser redigida com ums
A Igreja no Mundo de Hoje 75

forma ura pouco melhor e talvez mais breve. Os assuntos que na se­
gunda^ parte sao abordados são verdadeiramente dignos dum Concilio
Ecumênico e não podem ser tidos como matéria absolutamente nova. Basta
recordar os documentos do Magistério e principalmente as imortais
Encíclicas com as quais os Sumos Pontífices mostraram ao mundo o
caminho para Deus. Com que atenção e reconhecimento os homens ou­
viram a voz do papa João XXIII, de santa memória! Quanto ao modo
de tratar a matéria, deseja-se que, p. ex., em matéria social e econô­
mica ou na incentivação da cooperação pacífica entre tôdas as nações,
se determine com maior clareza e exatidão os problemas e as soluções
que as Encíclicas Mater et Magistra e Pacem irt Terris já expuseram.
Os problemas que figuram no nosso esquema existem de fato. Mas às
vêzes são considerados sob alguns aspectos de circunstâncias sem dú­
vida transitórias. Pois o curso acelerado da história já ultrapassou o
tempo da colonização. E, como o fluxo da história não pode permanecer
imóvel, todos nós devemos — como S. Paulo — esquecer o que ficou
para trás, aplicando-nos “às coisas que estão diante’' (Filip 3,13), para
edificar o mundo que surgirá amanhã. Além disso, se não me engano,
êstes problemas costumam ser examinados com olhos ocidentais e com
um certo espírito (“mens”) cartesiano. Não digo que isto seja mal
feito. O método adotado, porém, poderia ser melhor se, como comple­
mento, fôssem usados os recursos psicológicos daqueles povos que che­
garam à hegemonia do poder no mundo. Os espelhos bem conjugados
mütuamente refletem e aumentam a luz. Por isso, três pontos de gran­
de importância devem ser absolutamente sublinhados: 1) Em primeiro
lugar, se deve inculcar urgentemente a solidariedade do gênero humano
em todos os setores da vida: no campo da saúde pública e nas esfe­
ras econômica, cultural, social, moral, política e espiritual. Tanto os
africanos como os asiáticos costumam dizer: “Entre quatro mares to­
dos os homens são irmãos”. Ora, se é assim, êstes homens não que­
rem apenas receber uma esmola, mas esperam justiça, estima e ver­
dadeiro amor. Causa-se nêles uma ferida se a ajuda é dada com des-
prêzo, sem a devida consideração. 2) Uma vez que a verdadeira paz
repousa na justiça, verdade, liberdade e amor, os auxílios e ajudas de­
vem ser dados com maior freqüência e em maior quantidade e dum
modo educativo — de maneira que as regiões que estão em fase de
desenvolvimento não sejam apenas teatro passivo de que se ocupam os
homens apenas por interêsse de alguns lucros, mas, com o próprio tra­
balho bem organizado, os habitantes dessas regiões devem cooperar e
colaborar ativa e dinâmicamente para o seu progresso, de todos os
modos possíveis. 3) Torne-se maior a cooperação internacional. Por­
tanto, sejam promovidas por todos os homens de boa vontade as or­
ganizações que visam o bem comum de tôda a humanidade. Requer-se,
pois, que aquêles que ajudam os outros povos se lembrem de que são
cooperadores da caridade de Cristo e ministros do amor do Pai celeste.
Por isso, sejam levados a agir por amor de Deus e se guiem por êste
amor em sua atividade. Implorem do mesmo Deus a perseverança na
mesma caridade. Esta é a única via pela qual os homens podem ser
ajudados como Deus quer. Sob o aspecto do genuíno ecumenismo, seja
me permitido manifestar o desejo de que neste esquema se dê ugar
6*
I. Crônica das Congregações Gerais

claro e amplo aos nossos irmãos que estão assinalados com o nome
dC R^Cardeal Lawrence loseph SHEHAN, Arceb. de Baltimore, nos
EE UU O texto em geral agrada. Deve, porém, ser ulteriormente
aperfeiçoado no que se refere ao seu estilo e método. 1) O estilo, que
numerosos Padres queriam direto, simples e nao demasiado eclesiástico,
deixa ainda muito a desejar, sobretudo nos primeiros capítulos: peca
nor ser bastante formalista e complicadamente emaranhado na expo­
sição dos seus princípios. Isto torna difícil captar sua idéia central
e, futuramente, pode dar ocasião a interpretações errôneas, segundo já
advertiram o cardeal Bea e outros Padres. 2) Quanto ao método, os
seus redatores procuraram analisar as verdades e fatos tanto da ordem
natural ccmo da ordem sobrenatural, evitando, porém, uma separação in­
feliz entre êstes dois campos. Mas seria ainda mais fácil evitar essa
separação se se tratasse das verdades de ambas as ordens dum
modo sintético e unitário, pois estas duas ordens compõem o quadro au­
têntico e completo da vida do homem. Com efeito, as verdades e fatos
naturais e sobrenaturais, embora devam conceber-se como distintas en­
tre si, se unificam e sintetizam no homem existencialmente tomado.
Assim, o homem, na ordem real e concreta, pode ser considerado: a)
como indivíduo, uno e único entre os demais e distinto de todos êles;
b) como pessoa espiritual que, porque dotado de inteligência e von­
tade, é, por uma parte, capaz duma realidade infinita e, por outra,
capaz de comungar com os demais; c) como filho de Deus a quem o
próprio Deus deu o poder de entrar em comunhão com a Ssma. Trindade.
Ora, estas realidades, essencialmente diversas entre si, se encontram
unidas em cada indivíduo: êste, pois, deve ser considerado como pessoa
e ao mesmo tempo como ser redimido ou, pelo menos, capaz de rece­
ber os frutos da Redenção. Finalmente, também em outros pontos não
parecer ter-se obtido uma síntese feliz e realista (p. ex., quando se
trata do influxo de Satanás no mundo, do conhecimento de Deus e o
problema do ateísmo, do amor conjugal e sua relação com o matrimônio,
etc.). O esquema, pois, deve apresentar uma melhor síntese compreen­
siva, que, por outro lado, não deve comportar compromissos sôbre os
direitos da Igreja.
84) Antônio DE CASTRO MAYER, Bispo de Campos, no Brasil
(texto completo): 1) O esquema proposto à nossa consideração não
mostra suficientemente a íntima conexão que existe entre o ateísmo mar­
xista muito bem descrito no n. 19, cap. I, da 1* parte — e a aná­
lise da ordem econômica exposta por Karl Marx, condenada com ra-
zao principalmente no n. 83, cap. III da 2* parte. Em nossos tempos,
muitos, principalmente os jovens, julgam que o ateísmo marxista deva
ser separado da sua doutrina econômica, de tal modo que os próprios
? IS a^ HP°_ssani e devam — como dizem — tomar parte na organização
ne^ai k ° etlVo e na aboliÇão da propriedade particular ou posse
clérigos nSf»«i^nS aJ a dissipar tòda a ansiedade de muitos leigos e
nesta m atéria^r^P CVC dtclarar exPlicitamente a doutrina da Igreja
esperança nn *msw °r que mu,ltos de nossos coetâneos colocam a sua
uma nova e melhn d*aletico> u é, no comunismo, e esperam dêle
tsposta obvia: osdv homens
e"s? ja nao creem na
A Igreja no Mundo de Hoje ít

eficácia da liberdade e na fôrça da retidão na administração dos bens


temporais e assim se confiam com segurança a uma organização eco­
nômica que distribuiría êstes bens, segundo êles pensam, como uma má­
quina bem construída e ordenada. 3) Tal doutrina social — i. é, o co­
munismo, como nega a responsabilidade do homem, assim também
alicia os homens com uma aparência de eficácia no campo econômico.
Dêste modo a pessoa humana já não é tida como sujeito de tôda a
atividade econômica e social, mas apenas como objeto da técnica de
organização, objeto, evidentemente, beneficiado por esta mesma orga­
nização, mas sempre objeto. 4) E’ evidente, portanto, que tôda a eco­
nomia usurpada pelo materialismo dialético se opõe à antropologia
cristã dêste esquema. A organização marxista do Estado, negando a
livre atividade humana da pessoa para a promoção da ordem econômica
como um direito transcendente, por êste mesmo fato nega a índole es­
piritual de criatura da mesma pessoa humana e sua íntima natureza
na qual resplandece a imagem do Criador. 5) Se, portanto, o socia­
lismo organiza o Estado de tal modo que os cidadãos não vejam mais
no homem uma natureza criada, quase necessàriamente os induz a admi­
tirem inteiramente a doutrina de Karl Marx. Isto é: a humanidade
faz-se e aperfeiçoa-se a si mesma, pois é causa de si mesma. Na eco­
nomia marxista o homem é objeto sem uma determinada natureza.
Deus morreu e a divina perfeição da Justiça é atribuída à humanidade
que, evoluindo, se aperfeiçoa. Assim, pois, ao desejo e expectativa do
mundo, voltado para uma esperança temporal, oxalá a Igreja ofereça
neste esquema uma esperança teológica, cujo depósito ela possui, mes­
mo para o aperfeiçoamento do organismo social na justiça e na caridade.
85) Maurice BAUDOUX, Arceb. de Saint-Boniface, no Canadá: O
modo positivo com que o esquema fala do mundo é particularmente sa­
tisfatório: dêle fala com um são otimismo, que leva a encontrar razões
de agir no bem existente no mundo como no mal que é preciso superar.
E’ igualmente louvável pelo fato de se dirigir ao mundo de modo di­
reto, sincero e audaz, colocando os homens perante as suas responsa­
bilidades e sublinhando os deveres dos cristãos. Esta orientação posi­
tiva do esquema deve ser ulteriormente acentuada mediante oportunas
correções, “ne, pessimismo indulgentes, laudatores temporis acti et de-
tractores temporis praesentis iudicemur”. Por outra parte, seria conve­
niente melhorar o estilo para torná-lo mais compreensível. O diálogo
com o mundo exige que o mundo compreenda a linguagem do Concilio.
Para isso, é necessário um latim vivente e não empregar expressões
latinas ininteligíveis e artificiais para descrever no texto as realidades
modernas. (Por que ter pavor, p. ex., de têrmos como “valores
personae humanae”, “sensus responsabilitatis”, “cultura”, “civilizado”,
“turismus”, etc.? Ou, ainda, não implicam um sentido pejorativo as pa­
lavras “Iudicra certamina” empregadas no n. 73 para designar o que
o comum da gente chama “esporte”?) Também o modo de argumentar
deve ser revisto e apresentar razões que tenham valor para o momento
presente. Do contrário, cai-se em paráfrases pseudo-cientificas. (Assim,
p. ex., quando no n. 17 se fala da imortalidade, fala-se dum scroin®
aeternitatis quod supra facultates materiae. .. contra mortem insurgit .)
Por fim, as citações da Sagrada Escritura devem corresponder às» exi
gências da moderna exegese.
73 |. Crônica das Congregações Gerais

86) Casimiro MORCILLO OONZÁLEZ Arceb de Madrid. na Es­


panha- 1) O esquema contém numerosos elementos dignos de louvor.
Mas não apresenta uma apreciação autorizada das novas formas de
vida introduzidas pela civilização técnica, nem da c.vihzaçao ou socie­
dade de massa nem da mesma técnica e do trabalho humano, nem do
fenômeno das migrações e suas conseqüências. Nao diz uma palavra de
orientação sôbre o atual problema sexual. Nao faz uma exposição com­
pleta da dignidade do matrimônio nem da vida econômico-social. (Esta
última é considerada exclusivamente dentro do âmbito do sistema ca­
pitalista em vigor na maior parte dos países). 2) A Relação (II, 1) feita
ao Concilio em nome da Comissão mista não era inteiramente exata
quando afirmava que a denominação “Constituição pastoral” tinha sido
considerada a mais apropriada para êste documento pela Comissão de
Coordenação durante sua reunião do 11 de maio. A Comissão de Coor­
denação aprovou simplesmente — e não por unanimidade certamente —
o título proposto pela Comissão mista. Eu acho, porém, que êsse título
é inadequado e submeto à consideração dos Padres Conciliares as ra­
zões pelas quais proponho sua substituição: a) A palavra “Constitui­
ção” tinha sido empregada de modo bastante vago durante o quarto
Concilio de Latrão (1215) e o primeiro (1245) e segundo (1247) Concílios
de Lyon. Mas durante o primeiro Concilio Vaticano, assim como du­
rante o Vaticano II, a palavra “Constituição” foi sistemàticamente re­
servada aos assuntos doutrinais (como, p. ex., a Constituição sôbre a
Sagrada Liturgia e a Constituição sôbre a Igreja), b) Se o nosso do­
cumento quer denominar-se “Constituição”, então o esquema não pode
dirigir-se senão aos católicos, pois uma autoridade só pode decretar
para pessoas que são os seus súditos. Mas o objetivo do esquema é
abrir um diálogo com o mundo inteiro, de sorte que o mundo venha
conhecer bem a Igreja de Cristo, c) O esquema contém um certo tipo
de teologia dos valores terrestres (“e nisto eu o encontro digno de
louvor, ainda que cheire, inevitàvelmente, a fenomenologismo”). Mas
êste tipo de teologia está ainda insuficientemente elaborada e deve se
desenvolver com o decorrer do tempo. Não é, pois, indicado empregar
a palavra “Constituição”, porque implica que uma certa estabilização
tem sido alcançada, d) Também não convém chamar êste documento do
Concilio com o adjetivo “pastoral”, porque o Concilio êle mesmo é
pastoral, como é pastoral tudo o que êle faz. Quid ergo? “Devo con­
fessar que também eu não encontrei nenhum nome técnico apropriado
ao Concilio”. Mas “o esquema está preparado com a finalidade precisa
de que todos os homens conheçam a Igreja e possam falar com ela
sobre a sua salvação e sôbre uma solução justa dos problemas huma­
nos. roponho, pois, que o esquema seja chamado desta (ou outra) ma-
r - /r?c'araCã° da Igreja para começar o diálogo com o mundo már
tp I ! lr í\eCaran ° i ^ S'ae ad dialo£um instituendum cum mundo huius
üesiae 1ad\ ou DfciaraQão da Igreja ao mundo moderno (Declaratio Ec-
mundum hodiernum)”.
na l 2 a SÍF^nHD“raÍSamy L0URDUSAMY, Arceb. coadj. de Bangalore,
lutamente necessário™ pT™ o^m undo'^08 PaÍS’ d'SSC qUC é abS° '
melhorado. Acrescentou, porém que f hole clue. êste “ Q“«na seja
"Constituição” conciliar l|m 0 estll° nao
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A Igreja no Mundo de Hoje
79

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A maiorapresentar
Parte dosas homens
condiçõesnãoatuais
está
do inundo. Para muita gente os fenômenos do urbanismo, da indus-
triahzaçao e da socialização ainda não têm significação alguma. Essas
pessoas poderíam, então, pensar que a Igreja não se interessa pelos
seus problemas específicos (p. ex., os africanos, asiáticos, latino-ameri­
canos, etc.). Falando em nome dos habitantes da índia, p. ex., eu posso
dizer isto: ao lerem o nosso documento, êles tirariam a conclusão de que
a_ Igreja nem se preocupou nem cuidou suficientemente de suas condi­
ções e necessidades”. 3) Além disso, o texto apresenta numerosas repe­
tições e não põe em suficiente relêvo o fundamento teológico da sua
doutrina sôbre o homem, sôbre a graça e sôbre Cristo como centro de
tôdas as coisas. “Em Cristo, de fato, a criação tem sua plenitude. Não
poderemos saber exaustiva e profundamente o que seja o homem sem
antes considerarmos Cristo, que é o primogênito de tôda a criatura: Êle
é a perfeita imagem do Deus invisível, à imagem do qual todos nós ho­
mens fomos criados e cuja imagem devemos aperfeiçoar por meio de
Cristo. Em Cristo, Deus está presente entre nós, convidando-nos atra­
vés de sua presença transformante e santificante (= a graça). Por Êle.
com Êle e n’ÊIe o homem recebe uma vida mais plena, amando a Deus
e ao próximo nesta vida e na eterna”.
88) Alexandre Charles RENARD, Bispo de Versailles, na França
(texto completo): O esquema é muito rico em doutrina pastoral. A pri­
meira parte parece digna dum Concilio; a segunda, porém, devendo
permanecer muito próxima da contingência dêste tempo, não pode re­
sultar tão firme assim. Poder-se-ia intitulá-lo modestamente: “Notas
para a solução de alguns problemas” (Notae ad aliquas difficultates
solvendas).
1) O conjunto do esquema quer ser generosamente otimista. Esta
opção é legítima. Mas é necessário que esteja mais diretamente fundada
no Evangelho: p. ex., no n. 11, onde só é invocada a autoridade do An­
tigo Testamento. Seria preciso declarar que o Senhor do mundo é o
Cristo ressuscitado, vencedor da morte e do pecado, e que restabeleceu
o homem duma maneira mais admirável (“mirabilius reformasti”). A
esperança cristã está fundada na fé em Cristo e na Igreja, não no ho­
mem nem no mundo. 2) Ora, encontra-se frequentemente no esquema
um otimismo demasiada e excessivamente humano. Fala-se com fre-
qüência dos “suffundata bona” (nn. 10, 32, 43, 55, 69...). Parece de­
positar uma grande confiança nos “suffundata bona”, como se não es­
tivesse quase contaminados pelo pecado original. (Aliás, o vocábulo
“original” não se encontra em parte alguma do texto). Cristo disse que
“as obras do mundo são más” (Jo 7,7). Faz-se frequentemente como
se os valores humanos de dignidade, justiça, fraternidade, liberdade,
responsabilidade, etc., orientassem, por si sós, as almas para Cristo.
Tomados em absoluto, metafisicamente, é, sem dúvida, verdade. Mas.
considerados existencialmente, os valores mudam segundo a consciên­
cia das pessoas e a mentalidade dos grupos. Do ponto de vista psicológico,
os valores humanos estão abertos ou fechados à fé. O esquema iraa
muito bem êste problema crucial a propósito da cultura (n. o .. .
progresso das ciências pode levar o homem moderno à tentaçao
considerar auto-suficiente e a se comprazer no agnosticismo . *
I. Crônica das Congregações Gerais

dente observação vale também para todos os “valores humanos” (suf-


t 4 f, hnnat mas o esquema nada diz sobre eles. O esquema, pois,
não é suficientemente conforme ao espirito de S. João nem de S. Paulo
(1 Cor 1 e 2).
V A ambiguidade existencial dos valores deveria ser claramente
assinalada (p. ex., no n. 43, alínea 11), porque sào para a fé pedras
de edificação ou pedras de tropêço. O povo judeu era o que melhor
estava preparado para acolher o Redentor, a “pedra angular”, e, no
entanto. O rejeitou. S. Paulo escreve: “Os pagãos, que não procuravam
a justiça, alcançaram a justiça, isto é, a justiça pela fé, ao passo que
Israel, esforçando-se por seguir a Lei da justiça, não a alcançou. Por
quê? Porque não a procuravam pelo caminho da fé senão pelo das
obras. Tropeçaram na pedra de escândalo” (Rom 9,30-32). O marxis­
mo e o laicismo cultivam muito os valores humanos de justiça, frater­
nidade, liberdade, etc., mas querem orgulhosamente salvar o homem
pelo homem: são humanismos fechados. “Ils ne mouillent pas à la grâce
comme des canards ne mouillent pas à 1’eau”, segundo a palavra de Péguy.
4) Os valôres terrestres, inclusive os melhores, podem se tornar
inimigos da fé, se carecerem dum coração metafisicamente inquieto e
duma inteligência humilde: “Deus exalta os hum ildes...” e “procura
adoradores em espírito e em verdade”. Sem humildade, porém, não há
adoração, que é o valor eminente. Deus não nega a natureza, mas a
natureza concreta está contaminada pelo pecado. O reconhecimento da
miséria humana é um grande valor — um vácuo que Deus se compraz em
encher. Não são os sãos os que têm necessidade de medicina, mas os
doentes. O esquema traça sábios caminhos para a passagem por de­
graus dos valôres terrestres ao Reino de Deus. E’ esta uma opção le­
gítima. Mas há outros caminhos no Evangelho, não racionais, para a
elevação do mundo: O Espírito sopra onde quer, particularmente nos
“pobres em espírito” e nos “corações puros”. Para êles é o Reino de
Deus. Cristo prefere todos os meios pobres.
5) Faço um último voto: que se diga mais abertamente (n. 20, alí­
nea 11) que a irrupção de Cristo-Senhor na história do mundo ou duma
pessoa é algo radicalmente nôvo. Jamais se poderá encontrar Cristo
no fim dum argumento racional nem do desejo puramente humano. O
humanismo não é espontáneamente cristão. Esta verdade deve ser lem­
brada, especialmente num tempo em que não poucos, com uma comovente
ondade, estão logo prestes a encontrarem não sei que Cristianismo
por toda parte, ao ponto de que a gente se pergunta o que há de es-
pecí ico na doutrina cristã e se é preciso ainda evangelizar! Disse S.
au o com a seguridade da fé: “Nós anunciamos o que o ôlho não viu,
mem*" n °pV1d° ouviu e 0 Que jamais penetrou no coração do ho-
CrUtiamcm °r ^ ^ Cristianismo não é um humanismo superior. O
e a va\ e lima C(invers^° do humanismo e dos homens não a idéias
eretos A írJÜ*8 f escândalo para os judeus, loucura para os
vés dum tesLmnnh^H0 P°d^r de conduzir os homens a Cristo, atra-
duma “lineuam^m i° h caridade e duma doutrina singular, não feita
i " , . " “ »' »• « Cor 2,13), mas pela "loa-
4 12 ) ’ ' ^ palavra de Deus é viva e eficaz” (Heb
A Igreja no Mundo de Hoje
81
Conclusão: Sem dúvida, a glória de Deus é o homem vivente”
(n. 51). Mas ainda é preciso acrescentar: “A vida do homem é a visão
de Deus” (S. Ireneu).
» J }9L .? (!<)?rdo. M.A S0N< Vigário Apostólico de El Obeid, no Sudão:
A Constituição e digna de nossa rápida aprovação. Mas é necessário
evitar um exagêro de proporções na apresentação dêste esquema para
que os leitores não se espantem. Várias partes dêle podem ser abre­
viadas e simplificadas. Não é oportuno, de fato, tratar com muita pro­
fundidade de questões que manifestam condições mutáveis e que, pro­
vavelmente dentro de 30 anos, já serão inteiramente outras. O esquema
não deveria analisar vagamente problemas de ordem teológica com es­
tilo retórico. Do contrário, os homens pensarão que nós pecamos de
nossa costumeira oratória triunfalista. Em vista disso o esquema deveria
levar em conta êstes três pontos: 1) O Concilio deve falar sómente
aos homens de nosso tempo. As gerações futuras terão já seus próprios
pastores. 2) Diga-se claramente aos homens — e nós mesmos lembre­
mo-nos — que, segundo a palavra do Senhor, devemos ser o sal da
terra e a luz do mundo só pela fôrça e poder do Senhor, que o mundo
não pode negligenciar. 3) Portanto, é melhor reduzir a discussão ao
que fôr verdadeiramente necessário e ao que se refere às relações da
Igreja com o mundo de hoje.
90) Boleslaw KOMINEK, Arceb. de Wroclaw, na Polônia (fala em
nome de 65 bispos dessa nação): O esquema, na presente elaboração,
deverá exercer no mundo um papel muito importante como complemento
da Constituição sôbre a Igreja. Se, de fato, a Constituição sôbre a
Igreja pode ser considerada como “lex credendi”, o seu complemento
pastoral — que é o presente esquema — poderá ser também conside­
rada como “lex agendi”. Por êste motivo o texto exige uma detalhada
revisão. Por razões de clareza, o problema do ateísmo deve ser coloca­
do no proêmio, lá onde se trata da índole do mundo atual, e reformu­
lado de modo distinto. Também não satisfaz a exposição sôbre as re­
lações existentes entre a Igreja e a cultura nem a do trabalho humano.
Quando se fala da vida da comunidade política e da comunidade das
nações, é preciso inspirar-se na Paccm in terris. Os problemas contidos
na segunda parte do esquema deveríam ser elaborados à luz do perso­
nalismo, para defender o indivíduo contra o processo de massificação
atual. E’ também indispensável uma elaboração mais perfeita das par­
tes que tratam da teologia dos valôres terrestres, da vida no mundo
de hoje e dos problemas da vida matrimonial. Em certos casos — como,
p. ex., na questão das pílulas — será preciso confessar humildemente
que nossa Fé nem sempre oferece soluções fáceis e eficazes dos proble­
mas atuais, mas ainda será mister percorrer longos caminhos orando
a Deus e colaborando com todos os homens de boa vontade, em
busca duma solução. Deve exortar-se o mundo para que uma pequena
parte dos homens não se enriqueça indevidamente nem para que o imo-
derado progresso da técnica não seja catastrófico. E preciso dar ao
esquema uma profunda coerência com os outros documentos conu ia-
res — sobretudo com os que falam da redenção, para evitar o pe
rigo do naturalismo. Lembremo-nos, enfim, que nos problemas
fome, da guerra, da exterminação atômica, etc., não bastam coiui
8., I. Crônica das Congregações Gerais
cões meramente racionais: é necessário apelar continuamente à cons­
ciência ^ vontade dos homens, com exclusão de toda demagogia.
on Cardeal Jozef CARDIJN, da Bélgica (texto completo): Nesta
Constituição pastoral, digna dos melhores elogios, nosso Concilio quer
a luz do Evangelho a todos os homens de nosso tempo. E , por
,sso extremamente importante que considere êstes homens não dum
modo geral, mas tais quais são concretamente no mundo de hoje. Há
principalmente três categorias de homens que estão realmente afetadas
por êsses difíceis problemas: os jovens,, os operários e os povos do
terceiro mundo. Êles esperam que o Concilio lhes fale como Cristo fa­
lou quando disse: “O Pai me enviou para trazer a boa-nova aos povos”.
Por êsse motivo, gostaria vivamente que na introdução desta primeira
parte, intitulada “A condição humana no mundo de hoje”, se acres­
centassem três números ou um número que contivessem três parágrafos
consagrados respectiva mente aos jovens, aos operários e aos povos do
terceiro mundo. Êstes números ou parágrafos dariam a tôda a intro­
dução um estilo e um caráter concretos e dinâmicos. Hoje não falarei
senão dos jovens e dos povos do terceiro mundo; numa outra oportu­
nidade, se vós o permitis, falarei do problema dos operários.
A situação demográfica do mundo é, hoje em dia, tal, que os jo­
vens constituem mais ou menos a metade de tôda a população do globo.
Esta metade da humanidade pode tanto menos ser esquecida pelo Con­
cilio, quanto ela constitui a parte mais dinâmica, que está chamada
a exercer influência de maior pêso no futuro e a vida dos jovens
de hoje é muito diferente daquela dos jovens outrora. Vivem cada vez
mais afastados de seus parentes, de suas famílias e até de sua pátria,
por causa de seus estudos, de seus trabalhos ou de seus lazeres. São
mais unidos entre si e vivem mais em grupos. Encontram-se numa épo­
ca em que êles devem decidir qual será a sua vocação ou o seu serviço
na vida. O mundo no qual entram e começam a trabalhar se acha pe­
rante problemas novos e extremamente graves. Dêles depende que êste
mundo nòvo se torne melhor ou pior. Se se abandonarem êstes jovens e
se se deixarem sozinhos, não podem resolver como devem os problemas de
sua idade e do mundo moderno. Eis por que o Concilio, por meio desta
Constituição, deve dirigir aos jovens de hoje uma mensagem especial,
na qual exprima sua confiança nêles e os exorte a tomar, nos seus di­
versos meios, consciência de suas responsabilidades com respeito à nossa
epoca e à do amanhã. Em lugar de dirigir aos jovens exortações pater-
a V?c***0 ^eve ^es ôar uma consciência viril de suas responsa-
11 a es. O mundo de hoje será o que êles próprios serão em virtude
das opçoes que tomarão livremente. Os seus defeitos, decerto, mas tam-
J ^ a.f-a \VI a(*es rePreensíveis a que pode os arrastar a atração do
H evem afastá-los das grandes e belas vocações e responsabi-
privadasU~ d lv f^ h TÒ^aS as autoridades — tanto as civis quanto as
inteiro a resnnndlr °neSta e coraÍ°samente ajudar cs jovens do mundo
g u T o m u n d ^ í T 1 generosa e E m e n t e a esta vocação, para
espera dos iovens i. yen°Ve e se torne melhor- Nossa santa Mãe Igreja
tamente, como muito amav7 o T jo v e T ^ CHSt° 3013
- “ i3m — — d7
A Igreja no Mundo de Hoje 83

S i a n0dernDeu0s e* a T a í f * 3 S3,VaÇã° d°8 home"8’ a maior


Em sua solicitude pela condição dos homens de hoje, a Igreja
deve ter a maior consideração pela aspiração geral dos povos do terceiro
mundo a igualdade com os países antigos em todos os domínios da vida
humana. Tanto pela. compreensão concreta dos problemas humanos co­
mo pelo amor divino de que participa e através de sua atividade missio­
nária, a Igreja deve fazer tudo o que estiver em seu poder para ajudar
eficazmente esses povos jovens, respeitando profundamente os seus pró­
prios caracteres. Os fiéis das antigas nações cristãs devem, por todos os
meios, remediar as angústias, os sofrimentos e as misérias do terceiro
mundo. Seus socorros não devem consistir somente em dinheiro ou em
meios técnicos e materiais. Essas nações jovens têm, sobretudo, necessi­
dade de educação fraternal para poderem tomar em suas próprias mãos
a causa de sua promoção humana e divina. Seria certamente um grande
escândalo histórico se se permitisse ainda por mais tempo o presente
estado de coisas em que os países considerados cristãos possuem
e fruem da maior parte das riquezas do mundo! O Concilio deve con-
jurar solenemente as velhas nações ricas, manifestando bem alto sua
ansiedade cristã, a unirem — num espírito verdadeiramente universal
e sinceramente humano — todos os recursos científicos, técnicos, eco­
nômicos e políticos de que elas podem certamente dispor hoje em dia,
se quiserem, para aliviar e suprimir todos esses grandes sofrimentos e
tôdas essas angústias do terceiro mundo. Se por egoísmo, racismo ou
nacionalismo recusassem a obedecer êste preceito manifesto da divina
Providência, podemos estar seguros de que o julgamento de Deus será se­
vero e imediato para esta grande injustiça internacional de hoje.
Falarei dos operários de hoje numa outra ocasião, se vós mo
permitis.
92) Juan Ambrosio ABASOLO Y LECUE, Bispo de Vijayapuram,
na índia: A descrição do mundo contida no texto não corresponde às
intenções dos redatores do esquema. Esta falta de concordância entre
o desejo e a realidade enfraquece o tratamento de tôda a matéria. E’
necessário rever atentamente o texto nas partes que se referem à digni­
dade da pessoa humana, à espiritualidade e imortalidade da alma, para
dar à exposição uma exatidão maior. O fundamento da dignidade da
pessoa humana deve ser procurado na índole intelectiva e volitiva do
homem e não na sua constituição corpórea. E’ preciso ainda evitar que
o texto seja tratado como um simples compêndio de antropologia.
24-9-1965: 135* Congregação Geral
A Igreja no Mundo de Hoje
Proêmio e Exposição Preliminar
I Parte: A Igreja e a Condição Humana

P r e s e n t e s : 2.182 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Doepfner. A sessão começou
às 9 e terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Frans Janssen, Vigário Apostólico de Gimma, Etiópia, com o
serviço litúrgico a cargo dos alunos do Pontifício Colégio Pio-
Brasileiro. Durante a sessão desta manhã continuaram as vota­
ções sôbre 0 apostolado dos leigos. E com mais seis interven­
ções (nn. 93-98) encerrou-se 0 debate sôbre a exposição preli­
minar do esquema De Ecclesia in mundo huius temporis, pas­
sando-se então imediatamente ao debate sôbre a primeira parte
do mesmo esquema: “De Ecclesia et condicione hominis”, sub­
dividida em quatro capítulos. São estas as seis primeiras inter­
venções desta manhã:
Cardeal Joseph FRINGS, Arceb. de Colônia, na Alemanha (tex-
ct- et° ’ -^alarei . aPenas s°kre 0 proêmio e sôbre algumas âmbi­
to J? es que êle contém e que ilustram o problema de todo o esquema.
â 1 ° n' Dsobre1 0 Povo de Deus, a expressão usada dá a impressão
mann ovo de ^ eus se abaixa às angústias atuais do gênero hu­
mano* ‘‘tVaH30»,em SC deduz da c,tação das palavras dum imperador ro-
tece nnr .,nfo j0™3110 é"me estranho”. Isto, porém, realmente não acon-
simnles fatr* h 0rma de condescendência e magnanimidade e sim pelo
ao mundo nãr * 1 /^ ; nds s°mos “simpliciter” homens, unidos
Nosso texto nnr Pe'° dia ogo» mas também porque dêle fazemos parte.
PovTdrDeusPo L eSSaHraZâ0’ USa em todo 0 esquema uma noção de
non 2 não fo^— a parece imatura. 2) A noção de mundo definida
E, no entanto t r a t ^ " ? 0 ° meU- humilde Parecer — melhor elaborada,
quema como a da lg re ia ^ L "0'^ 0 tã0 fundamentaI Para 0 nosso es'
conclusão são reunidas noções m T P?rte
Ç s muitas dêStede Pará£rafo>
diversas mundo: a)numa f
mundo
A igreja no Mundo de Hoje
85
como a. totalidade das coisas criaHnc* u\ . ,_
cura os pecadores,
r a d o - c) mnnHn nnr ofere e 0
0 Se“ amor> embora esteja °imerso
e í amo T "h 3° V ? ' euS' queno pr°-
pe-
ninnn mito*” ' u m* ^Ue 0 ^ ovo Testamento chama “Kósmos oütos,
nnn í ' r \ Ult,m° COnCeÍto de «?undo significa as trevas que
•P. - . ris 0 mundo que no fim será julgado. Esta terceira
significação de mundo confunde-se com a segunda, porque se diz que
este mundo finalmente será salvo. Além disso, nada se diz sôbre o con­
ceito de mundo no sentido em que hoje é usado, i. é, a totalidade das
coisas criadas pelo homem e da união dos homens no trabalho técnico.
Lste é o mundo de hojede que o nosso esquema deveria tratar as re­
lações que êle tem com o mundo considerado no sentido bíblico e o
modo com que o Povo de Deus pode e deve viver nêle. Mas a definição
de mundo proposta no proêmio nada fala disto e, por isso, em todo o
esquema emprega-se uma noção incompleta de mundo. 3) Na última
secção do n. 3, a finalidade é de nôvo apresentada dum modo incom­
pleto. Na primeira parte, fala-se da sincera cooperação da Igreja com
o gênero humano para instituir uma fraternidade maior entre todos os
homens. Na segunda parte, esta sentença é explicada com palavras que
significam a missão íntima de Cristo: a salvação sobrenatural do homem.
Há, pois, uma perigosíssima confusão entre o progresso humano —
por motivo do qual se diz que é instituído o diálogo — e a salvação
divina que se obtém pela fé. Não é de admirar que esta confusão im­
pregne todo o esquema, uma vez que a finalidade dêle é apresentada
tão confusamente. Por isso, proponho e peço que as noções de “Povo
de Deus” e de “mundo” sejam retificadas e empregadas univocamente
em todo o esquema e que também a finalidade do esquema seja apre­
sentada mais claramente. Para isto não basta fazer aqui e ali algumas
mudanças acidentais, mas é preciso reformar o texto em sua substância.
94) Hermann VOLK, Bispo de Mainz, na Alemanha (texto comple­
to): 1) A primeira parte — principalmente o proêmio e a exposição
introdutiva — apresentam de algum modo a intenção do esquema. Em­
bora se digam muitas coisas, a descrição do mundo e de seus proble­
mas não concorda com a resposta que damos sob o aspecto teológico.
O próprio mundo está convencido melhor do que nós — e o afirma —
de que a sua realidade muda vertiginosamente. Nós devemos afirmar
o que o mundo não sabe de si mesmo, i. é, o aspecto teológico dêle.
Sôbre êste ponto quase nada se diz no esquema. P. ex.: em nenhum dos
106 capítulos do esquema aparece a palavra “pecado”. Nem no mesmo
texto se trata ex professo do mundo “facto ex peccato”, tal como o
entende a Sagrada Escritura. O mundo nos ignora. Mas nós o conhece­
mos e, algumas vêzes, sabemos descrever suas relações teológicas. 2)
Do mesmo modo como na doutrina s ôb r e a Igreja distinguimos o mu­
tável do imutável, assim também na interpretação do mundo de hoje é
conveniente usar a mesma distinção. Não somente devemos considerar
as coisas e os acontecimentos novos, mas também as realidades cons­
tantes e permanentes. Ver nas coisas novas problemas antigos e encará-
las sob o aspecto teológico são também o auxílio que podemos oferecer
ao mundo. Pensar que a relação entre o Reino de Deus e o mundo toi
profundamente alterada é dizer que o Evangelho deveria ser escrito e
nôvo. Portanto, não podemos agir como se os problemas co
se originassem somente das novas condições. Permanecem os pro
gg I. Crônica das Congregações Gerais
intípos oue São gravissimos: a dor, a morte, a obscuridade do mundo
e do homem, fundados na sua natureza de criatura, na graça, no peca­
do e no estado de peregrinação. E’ teolog.camente certo o que no n. 8
L sôbre a perda de equilibno do mundo moderno? O que se en­
tende Dor equilíbrio e quando existiu êste equilíbrio de que fala o es-
òuema? O mundo caminha para o desequilíbrio ou procura também ins­
tituir uma ordem melhor e alcançar um equilibno? 3) Que o mundo de
hoje possa encaminhar-se para o ateísmo é um fato devido a motivos
contrários. A muitos homens o progresso do mundo de hoje parece ser tal
e tão grande, que êles pensam poderem adquirir com as próprias fôrças
no futuro tal perfeição que já não precisem de Deus. A outros a ordem
dêste mundo parece tão alterada, que pensam não poderem admitir a
existência dum Criador e não esperam nenhuma ajuda nem de Deus nem
dos homens. A todos êles devemos oferecer o nosso auxílio, mostrando
com exatidão que lacuna, que vazio — digamos assim — causa para a
inteligência e para a ação humana a negação da existência de Deus.
Se descrevemos mal esta lacuna, nenhum auxílio oferecemos ao mundo
contra o ateísmo. 4) E' de grande importância dar a Cristo o lugar
que lhe toca neste esquema. A primeira parte do esquema, no fim de
cada capítulo, fala de Cristo — e o faz bem. Isto, porém, não basta para
sublinhar a função de Cristo como cabeça do Universo e seu fundamen­
to. Cristo é apresentado como um argumento nôvo em favor duma sen­
tença que já foi aprovada com muitos outros argumentos. Segue-se
daí que nem o conceito de mundo nem o de graça são claramente
apresentados. De fato, não se mostra com exatidão como Cristo é a luz
e a vida para as condições atuais do homem, uma vez que êste jaz nas
trevas da morte e, assim, não podem ser iluminados senão por Cristo.
Todo o mundo, sob o ponto de vista do seu fim ultimo, está de tal mo­
do ferido pelo pecado, que a sua condição só pode ser redimida por
Cristo. No esquema, porém, o mundo aparece como uma criatura ape­
nas levemente ferida pelo pecado. Não basta descrever indiretamente
0 pecado que reina no mundo. Além disso, a redenção não é bem expli­
cada no esquema, porque Jesus Cristo não é proposto como causa exem­
plar da graça e da vida cristã que se deve conformar com Cristo. Se
tudo isto não fôr bem explicado, o estado da Igreja no mundo não
será indicado com clareza. Se Cristo é considerado apenas com uma
ajuda externa, não se entende por que se diz: “Vende tudo o que tens
e dá aos pobres, vem e segue-me”. E ainda: “Não vos deveis imiscuir
com as^ coisas do mundo”. Devemos estar atentos para não diminuir
as exigências da mensagem evangélica com a finalidade de assim me-
or falar ao mundo. 5) Proponho, pois, que na parte primeira do es­
quema se abrevie a pura descrição das condições atuais do mundo,
para que oportuna e propositadamente se apresente o aspecto teológico
0 ^ue criado Por Deus e que, por isso, tem uma deter-
HimíHr,6 pere!ie. relaçâo com Deus; que êle jaz no pecado; que êle foi
só noóA «ü°r u*-1? 0’ ^UC destinad° a um fimsobrenatural que
tf- • nat T\ V ° pel° advento de Cristo e não pela evolução e his-
1 dr r S elementos teol<teicos se funda o direito da Igreja
ODortuno r /in r C 3 mundo e do mundo de hoje. Talvez seja
af 'C° m °
ma parte ** ° Capitu,° da Primeira parte no início desta mes-
A Igreja no Mundo de Hoje
87

a ^ r *
de louvor porque demonstram a sincera cooperação q T a Igreja Ofe­
rece ao mundo para construir uma sociedade mais perfeita e porjue in­
dicam diretrizes para que o progresso não se realize fora da Igreja ou
contra ela mas com a mesma Igreja. Para que a cooperação da Igreja
se torne mais eficaz e mais de acôrdo com a sua missão, são necessá­
rias uma visão exata do homem e do mundo moderno e uma exposição
precisa dos meios que se devem adotar. A exposição introdutória deveria
falar, em primeiro lugar, da origem do mal, que é o pecado; depois,
do desejo de imortalidade e felicidade inato no coração do homem;
por fim, da divina Providência que tudo dispõe para o maior bem dos
homens. O primeiro capítulo deveria expor a doutrina do pecado ori­
ginal, sem a qual não se podem entender o homem e suas fraquezas.
Tendo presente os graves perigos representados pelo ateísmo hoje tão
difundido no mundo, seria também oportuno que êste primeiro capítulo
contivesse também uma clara apresentação dos argumentos que provam
a existência de Deus. O segundo capítulo, infelizmente, ignora o dua­
lismo moral que existe entre o bem e o mal. Sob êste ponto de vista,
o mundo não pode ser considerado com otimismo — como o faz o es­
quema — mas como um teatro de conflitos, embora se tenha a cer­
teza da vitória final do bem, graças à ajuda de Deus e não à capa­
cidade do homem. Cristo deve ser apresentado não só como homem
perfeito mas também como Filho de Deus e fonte de salvação. O capí­
tulo terceiro faz ver que entre o espírito e a matéria, entre a Igreja e
o mundo, não há oposição mas harmonia. Mas é preciso fazer ver tam­
bém que existe sempre uma oposição por parte do homem proclive
ao mal. Finalmente, ao falar no quarto capítulo da colaboração que
a Igreja oferece ao mundo para estabelecer uma ordem social perfeita,
deve sublinhar-se que a Igreja exerce êste ministério na linha da trans­
cendência e da elevação sobrenatural — e não na linha duma evolução
natural e imanente.
96) Léon Arthur ELCHINGER, Bispo coadj. de Strasbourg, na
França (texto completo): Falarei sôbre o segundo e terceiro pontos do
Proêmio: 1) Em que espírito o Concilio tenciona interpelar o mundo
neste esquema? 2) Qual deverá ser a forma concreta do diálogo da
Igreja com a família humana?
1) Lemos no n. 2 do esquema: “O Concilio quer expor a todos
os homens como a Igreja concebe sua presença e sua atividade no mun­
do”. Êste projeto, porém, se encontra insuficientemente realizado na se­
quência do texto. Com muita frequência a gente não percebe suficien­
temente se se trata de orientações concernentes unicamente ao mundo
ou se se trata de diretivas que se referem à própria Igreja em suas
relações com o mundo. Para melhor precisar a finalidade que a Igreja
deve visar ao entrar em diálogo com o mundo, devemos nos referir,
por um lado, àquilo que foi a intenção do Papa João XXIII ao convo­
car o Concilio e, por outro lado, àquilo que os homens de hoje esperam
efetivamente da Igreja. João XXIII queria que, graças ao Concilio, a
Igreja pudesse apresentar-se ao mundo com um rosto nôvo, a fim e
que todo o dinamismo do Evangelho seja pôsto ao serviço dos homens.
ss
|. Crônica das Congregações Gerais

jo o titulo do esquema, não deve tratar-se "do mundo de hoje”


da Igreja no mundo contemporâneo”, isto é, das novas relações
aue a Igreja tenciona atar com o mundo. Por outra parte, os homens
.A —
. ^ D AT A 11^1*0 H O ffo AC Vl /"'vtn n

de hoje são mais sensíveis aos atos do que às palavras. Por isso, o que
êles desejam não é escutarem uma teoria da Igreja no concernente ao
mundo, mas saberem como a Igreja pretende se reformar quanto às
suas relações com o mundo. Ora, o esquema se estende muito sôbre
o que o mundo deve fazer e diz apenas poucas coisas daquilo que a
Igreja se propõe fazer para ir ao encontro do mundo e para o esti­
mar verdadeiramente. E’ com razão que o mundo espera isto. Cristo,
com efeito, de nós exigiu explicitamente sermos os seus testemunhos — e o
sermos não somente difundindo a sua mensagem, mas adotando sua
nova maneira de amar os homens e de os ajudar concretamente.
2) Como o nosso texto poderia melhor e mais concretamente res­
ponder a uma tal preocupação? Os homens de hoje reclamam da Igreja
uma sã liberdade, uma profunda sinceridade, a possibilidade de serem
fraternais no trabalho, no intercâmbio de idéias, na tranqüilidade plena de
alegria, etc. 0 texto do esquema não nos indica suficientemente o que
a Igreja pretende fazer para realizar o que há de legítimo nestes dese­
jos e para realizar êstes desejos primeiramente no seio da Igreja. (Aliás,
no n. 40 encontramos ao menos um ótimo e feliz reconhecimento da
liberdade no estudo das ciências). E’ assim que no capítulo primeiro
se trata do primado da consciência, da grandeza da liberdade, do va­
lor do corpo. Mas não basta daí deduzir depois, muito simplesmente,
que é mister respeitar a dignidade humana. A Igreja deve-se pergun­
tar o que ela deve empreender concretamente para que seja respeitada
a dignidade humana no mundo de hoje — e para que o seja em pri­
meiro lugar no interior mesmo da Igreja. Um dos meios de favorecer
o respeito da dignidade humana e de desenvolver eficazmente o sen­
tido da liberdade pessoal seria, sem dúvida, um grande esforço que
visasse multiplicar com sabedoria a descentralização na organização da
vida econômica, social e mesmo eclesiástica (e isto em todos os degraus
da hierarquia). Esta descentralização permitiría, com efeito, às diver­
sas pessoas exprimir-se francamente e assumir nos diversos domínios
o grau de responsabilidade que convém a umadulto (semcontestar,
entretanto, a necessidade e o valor duma autoridade superior). Além
disso, o que é que a Igreja tenciona fazer para salvar e desenvolver
melhor no homem a preocupação da “qualidade” e o sentido do “gra­
tuito e para os desenvolver no interior mesmo da Igreja, em rea-
cao contra a obsessão da “quantidade” e do conformismo? E’ assim
que para cada um dos problemas levantados nesta orimeira Darte do
A Igreja no Mundo de Hoje
89
ned aderÓEr elaSdevetU?e0r a J S f c — Pr°V°Car °U alimentar a incredu-
temunhas de Cristo^- V 't n S S “ T VerdadeÍr0S ^
S c . ã D ... ' de Cristo!' ,an,,,S “ '5t'",0“ ainda a ™"“ «™
, mS! n a"f™H Se indicasse para cada um dos problemas, as mudanças
de mentalidade e de atitudes que nos gostaríamos ver se espalhar na
Igreja e, por meio dela, através do mundo, então os homens de hoje
prestariam verdadeiramente atenção às declarações do Concilio e com uma
nova confiança olhariam para a Igreja. E’ verdade que a Igreja não
pode atualmente dar respostas precisas a todos os problemas que lhe
são colocados. Basta que ela se ponha lealmente em busca duma so­
lução e que indique em qual direção orienta sua busca.
A modo de conclusão proponho o seguinte: 1) Os desenvolvimen­
tos que concernem unicamente ou principalmente ao mundo — consi­
derado em si mesmo — deveríam ser abreviados ou resumidos. 2)
Tudo o que concerne às relações da Igreja com o mundo de hoje de­
veria ser desenvolvido e tratado concretamente. 3) Que o esquema não
se contente com teorias, mas que vá até às aplicações práticas no ati-
nente aos projetos que a Igreja tem para servir melhor o mundo. Assim,
o esquema responderá melhor ao que está anunciado no n. 2. Uma rees­
truturação semelhante do esquema, visando um maior realismo missio­
nário, parece-me ainda possível e muito desejável. Com efeito, o Con­
cilio vai ser responsável da “reputação de Deus” entre os homens. Do
Concilio vai depender que os homens acreditem ou não no amor de
Deus para com o mundo de hoje.
97) Charles-Marie HIMMER, Bispo de Toumai, na Bélgica: A ex­
posição introdutória do esquema é digna de louvor por causa de sua
objetividade e, sobretudo, porque não é fácil propor uma definição e
uma descrição que possa satisfazer completamente tanto aos homens
do Ocidente como aos do Oriente. Nos parágrafos 4, 5 e 6 seria con­
veniente demonstrar que o melhoramento das condições dos operários
— quer no campo econômico como no da dignidade da pessoa — re­
presenta um verdadeiro progresso da humanidade. Trata-se duma evo­
lução que se deve estender a todos os múltiplos aspectos da vida hu­
mana, abraçando também os setores econômico e social como igual-
menté o político e cultural. Êste é, aliás, o progresso de que falava
João XXIII. De fato, por causa do sentido inato da dignidade do traba­
lho, os homens dão maior valor ao dinheiro que adquirem com o pró­
prio trabalho do que ao que obtêm como fruto do capital investido.
98) André-Marie CHARUE, Bispo de Namur, na Bélgica: O têrmo
“mundo” tem na Bíblia uma significação tão variada e complexa que
êle não pode ser explicado em poucas linhas, como a introdução do
esquema procura fazer. Isto poderia dar ocasião a falsas interpretações.
E’ preciso levar em consideração esta questão porque o esquema ten­
ciona dar uma noção teológico-bíblica do mundo numa perspectiva pas­
toral. Ora, biblicamente, há ao menos quatro sentidos principais da
palavra “mundo” e a êles deve fazer referência o esquema: 1* O ter­
mo designa freqüentemente o valor especial do mundo (tou 'osmou .
Assim, em Atos (10,16; 17) o mundo é “o céu e a terra e u o o
Concilio - V — 7
90 í. Crônica das Congregações Gerais
êles contêm’* Nesse universo se manifesta o poder e a sabedoria do
{'riarfnr _ e o NT insiste na participação do Verbo na criaçao. Se­
gundo S João. tôdas as coisas Deus as fêz pelo Verbo (Jo 1,3). Para
S Paulo Cristo é “o primogênito de tôda a Criação” (Col 1,15-17).
r Segundo Gn 2, o mundo é a terra confiada por Deus aos homens.
Nela Cristo veio erguer a sua própria tenda e, assim, a terra dos ho­
mens se tornou a terra da Encarnação do Filho de Deus e de sua
nova Aliança conosco (cf. Jo 1,14-18; 6,14; 16,28; 18,37). 39 Esta pala­
vra significa ainda a família dos homens, amados pessoalmente por
Deus. porquanto feitos à imagem de Deus (Gn 2,26-27). Para êles o
Verbo é a luz (Jo 1,5 ss), pois o Filho de Deus feito homem não pode não
ser a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a êste mundo.
Aliás, à luz do Verbo se iluminam tôdas as obras da Criação, de sorte
que a Igreja de Cristo deve-se alegrar de todo verdadeiro progresso
científico e técnico, porque destarte o homem domina a Criação e a
submete para si (cf. Gn 1,27-31). Por conseguinte, os cristãos, embora
devam procurar as coisas que estão no alto, sejam convidados a tra­
balhar, com todos os demais homens, na configuração dum mundo mais
humano. 4Ç Por fim, no NT — sobretudo em S. João — “mundo” de­
signa o mundo dividido, o mundo do pecado, i. é, o gênero humano
enquanto caído no pecado e que caminha nas trevas sob a guia do
"Príncipe dêste mundo” (Jo 1,5). Contudo, a Igreja prega o mistério da
redenção por Cristo e em Cristo: quem crer n’éle tem a vida eterna.
Por isso, na Revelação, a história da salvação se desenvolve como uma
espécie de irradiação paulatina nas trevas. Por conseguinte, haverá
sempre necessariamente uma luta entre o mundo corrompido pelo pe­
cado e o autêntico Evangelho de Cristo. Dai a necessidade de esco­
lhermos um meio-têrmo entre o pessimismo rígido e o otimismo ingênuo
no que concerne ao apostolado, à pastoral, aos esforços de penetração
no mundo. Pergunto ainda se é oportuno insistir logo no início do
texto na condição de pecadores dos seus leitores. Nem Cristo nem S.
Paulo procediam assim. E’ óbvio que deve falar-se claramente do pe­
cado, mas não logo no Prólogo! Seria preferível formular, p. ex., que
“todos os homens, mesmo os que não receberam a revelação cristã,
são amados por Deus e, se estão providos de boa vontade, podem en­
contrar e alcançar a salvação naquele Cristo que a Igreja adora e pre­
ga”. Os homens de hoje, com efeito, querem ouvir o que a Igreja en­
sina acêrca das condições atuais e dos problemas que os angustiam.
Entretanto, o esquema me agrada e espero que, uma vez revisto, possa
agradar pelo menos à maioria.
Encerrado êste debate em geral, fêz-se a votação de son­
dagem. A pergunta dirigida aos Padres foi formulada de uma
maneira bastante misteriosa: “Julgam os Padres Conciliares
oportuno que se passe ao exame do proêmio e das duas partes
em que está dividido o esquema de Constituição Pastoral sôbre
l£reja no mundo de hoje, depois de terminada a discussão
sôbre o mesmo esquema considerado em seu conjunto?” Res­
posta. sôbre 2.157 votantes, 2.111 disseram placet, 44 non placet
A Igreja no Mundo de Hoje <J]

e 2 entregaram vot°s nulos. Com isso o plenário dava sua im­


plícita aprovaçao ao texto como base aceitável para ulteriores
debates. E assim passou-se à discussão das várias partes.

PRSMEIRA PARTE: A IGREJA E A CONDIÇÃO HUMANA


Tal como foi apresentado para o presente debate, o texto
era assim estruturado: Depois de uma breve introdução sôbre
a solidariedade da Igreja com a família humana universal e a
intenção do Concilio no presente documento, passa o Esquema
a uma “Expositio introductiva de hominis condicione in mundo
hodierno” (o que no texto do ano passado eram os “sinais do
tempo”), no qual são apresentados os fatores marcantes de
nossa época: as transformações profundas na ordem social, psi­
cológica, moral e religiosa; os desequilíbrios do mundo moderno,
suas aspirações e interrogações cada vez mais profundas e uni­
versais. Segue então a Primeira Parte propriamente dita: sôbre
a Igreja e a condição humana, com uma introdução e quatro ca­
pítulos: 1. A vocação da pessoa humana (com dez números); II.
A comunidade de homens (subdividida em duas secções: 1. Prin­
cípios fundamentais, com cinco números; 2. Orientações práticas,
com dez números); III. O sentido da atividade humana no mun­
do (com onze números); e IV. A função da Igreja no mundo
dêste tempo (também com 11 números). Vem então a Segunda
Parte, da qual se falará depois.
O debate desta primeira parte, com as duas introduções,
não foi muito ordenado. Estava previsto que primeiro seria dis­
cutido o proêmio e a exposição preliminar e depois o conjunto da
Primeira Parte. De fato houve discursos muito misturados, in­
clusive ainda sôbre o esquema em geral, sem nenhuma ordem
lógica nas intervenções. Um orador falava simplesmente depois
do outro, sem tomar em consideração o que dissera o anterior
e sem nenhuma preocupação de ao menos alguma seqüência
razoável. Liam-se discursos pré-fabricados em latim. E como o la­
tim é uma língua morta, impedia a vida no debate. A única
norma era a da ordem de inscrição, tendo os Cardeais absoluta
preferência. E’ um defeito geral e fundamental que se notou em
todos os debates dêste XXI Concilio Ecumênico, mas particular­
mente agora no debate desta parte do documento. Tentarei, por­
tanto, referir em ordem lógica, na medida do possível, o que
foi dito acêrca desta parte. A discussão começou hoje e terim-
i*
92
|. Crônica das Congregações Gerais
nou no dia 28-9-65 (137’ Congregação Geral). Nestes dias
foram pronunciados 42 discursos, dos quais oito (cf. nn. 93,
94 96. 104. 108, 111. 114 e 130) ainda se ocuparam com o
conjunto de todo o esquema e seis com a parte introdutória e
o resto desordenadamente com os quatro capítulos da Primeira
Parte. De modo geral o texto foi louvado por sua objetividade
(Himnier), seu equilíbrio e sua profundidade de doutrina (Ri-
chaud). Outros, porém, criticaram precisamente sua fraqueza
teológica e pediram que na reelaboração do texto se insistisse
muito mais na importância do dogma da criação (Garrone,
Darmajuwana), na teologia da ressurreição (Meouchi, Ziadé),
na ação do Espírito Santo (Meouchi) e, de modo geral, numa
antropologia bem mais cristã (Meouchi, Schick). Sublinhe-se
mais a igualdade fundamental de todos os homens (Richaud);
mas não basta dizer que são iguais: é necessário declarar que
são irmãos (A. Fernández, Soares de Rezende, que até pede
uma definição conciliar solene da fraternidade universal dos
homens). Também a declaração contra a discriminação racial
deve ser mais ampla e bem mais forte (Ddungu, em nome de
mais de 70 Padres Conciliares da África). A parte antropológica
não deve esquecer também o dinamismo psíquico inconsciente
do homem (Méndez Arceo, que chegou a falar de uma “genial
descoberta de Freud”). Foram sugeridas até algumas condena­
ções: do capitalismo liberal (Pildáin), da ética da situação
(Batanian) e da prática da lavagem cerebral (Soares de Re­
zende). O velho Cardeal Cardijn reclamou um texto nôvo sôbre
os jovens. Pois êles constituem a metade da humanidade e o fu­
turo depende dêles. Êles levam uma vida completamente dife­
rente da vida dos jovens de outros tempos. Muitas vêzes, por
motivo de trabalho, vivem longe de suas famílias e também de
suas pátrias e são incapazes de resolver sozinhos os problemas
com que se defrontam. E’ preciso manifestar-lhes a confiança que
a Igreja nêles deposita e convidá-los, não paternalística mas vi­
rilmente, a tomarem consciência de suas responsabilidades e a
corresponderem generosamente à sua vocação. Outra voz da
Bélgica (Himmer) pede que se reconheça abertamente que o
melhoramento das condições dos operários, quer no campo eco­
nômico como no da dignidade da pessoa, representa um ver­
dadeiro progresso da humanidade.
Mas o n 19, sôbre o ateísmo, foi o mais discutido: onze in­
tervenções se referiram quase exclusivamente a êste assunto, con-
A Igreja no Mundo de Hoje 93

siderado o mais grave no momento atual: Seper, Máximo IV,


Koenig, Florit, Ruotolo, EIco, Arrupe, Pildáin, Hnilica, Marty e
Rusnack. Todos concordaram em considerar insuficiente o texto
proposto. Alguns pediram mesmo uma Declaração à parte (Ruo­
tolo, Marty), que deveria ser o problema mais importante do
Concilio (Hnilica). Em todo caso deve o texto ser mais positivo
(Seper): Não basta uma condenação banal — explicou o Car-
deal-Patriarca Máximo IV — mas é necessário denunciar as
causas que provocam o ateísmo: muitos dos que se dizem ateus
procuram apenas uma apresentação mais verdadeira de Deus,
uma religião de acôrdo com a evolução histórica da humanidade
e sobretudo uma Igreja que se solidariza de fato com os pobres;
êles se escandalizam com um cristianismo medíocre e egoísta,
petrificado pelo dinheiro e falsas riquezas, defendendo, mesmo
com armas, seus interesses imediatos. De fundamental importân­
cia foi sôbre esta questão o discurso do Cardeal Koenig: é ne­
cessário distinguir entre as diversas formas de ateísmo, ver suas
raízes, indicar os remédios e o modo de agir da Igreja. Com os
motivos que levam os homens de hoje ao ateísmo se ocuparam
também os Cardeais Seper e Florit. Remédios foram indicados
também por Hnilica e Arrupe. O nôvo Prepósito Geral dos Je­
suítas opinou que o texto deveria ser menos intelectual e mais
prático; pois não destruiremos o ateísmo com silogismos, mas
com o testemunho de uma comunidade cristã imersa no mundo
e não fechada num gueto.
Eis os discursos, completos ou resumidos, pronunciados na
Aula Conciliar na continuação do debate sôbre a Igreja no inundo
de hoje:
99) Cardeal Paul Pierre MEOUCHI, Patriarca maronita de An-
tioquia, no Líbano (texto completo): A ninguém escapa que a nossa
Constituição Pastoral tem feito notável progresso doutrinai, sobretudo
na aplicação à vida cotidiana do Povo de Deus, de algumas conse­
quências do dogma da Encarnação do Verbo. Falou-se já da profunda
revisão a que deve ser submetido o estilo, da excessiva prolixidade e da
confusão dos argumentos, do método de propor os argumentos e os
problemas e do otimismo demasiado humano uniformemente espalhado
no esquema. Resta-me apenas propor aqui — além das observações já
enviadas ao Secretariado geral do Concilio — três advertências:
1) Quando o esquema fala da ressurreição de Cristo, não parece
conceder tôda a importância que merece êste acontecimento da vida de
Cristo nem a importância que êsse fato tem na tradição teológica do
Oriente. Êste acontecimento, com efeito, não é o simples têrmo tempo­
ral. de n re s a ^ LÜUWp U^Üolorosa nem um acrésjjmo que ribs informa
I. Crônica das Congregações Gerais
sôbre o fim último do Verbo encarnado apos a morte E um acontec-
mento cósmico, universal, imanente ao mundo material, que o eleva e
uue unifica a humanidade, dando-lhe o Espirito Santo, para dela fazer
o único Corpo místico de Cristo, formando e congregando o Povo de
Deus em peregrinação. Embora seja um acontecimento histórico e pes-
soaf o seu influxo sobrenatural e supra-histórico, porém, se estende
a tôdas as criaturas. O fato da Encarnação, com efeito, tem inúmeras
conseqüências para uma teologia do cosmos-universo. O Verbo, en­
quanto homem, uniu-se à matéria e, assim, a matéria se uniu à Divin­
dade. Por isso, na ressurreição, que revela plenamente o verdadeiro
ser do Verbo encarnado — segundo as palavras de S. Paulo, que fala
do “Fflho de Deus, poderoso segundo o Espírito de santificação, a par­
tir da ressurreição dentre os mortos, Jesus Cristo Senhor nosso*’ (Rom
lt4 ) __ Cristo se torna Espírito vivificante e Filho de Deus em poder.
Por conseguinte, a ressurreição de Cristo torna-se também a ressur­
reição da humanidade e da matéria, de acôrdo com o que S. Paulo
diz quando fala do poder de Sua ressurreição (Filip 3,10). Êste poder,
deve conduzir a vida dos cristãos para aquêle têrmo que tôda criatura
deseja, segundo as palavras de S. Paulo: “As criaturas serão liberta­
das da servidão da corrupção, para participarem da liberdade gloriosa
dos filhos de Deus. Pois sabemos que a criação inteira até agora geme
e sente dores de parto” (Rom 8,21-22). Destarte, posso dizer com
precaução que S. Paulo e a tradição oriental dão maior importância à
ressurreição de Cristo do que a Sua paixão (Rom 4,25; 5,10; 8,34).
Digo-o com precaução porque a paixão e a redenção estão numa co­
nexão tão íntima, que constituem um único ato, emboraem S. Paulo
encontremos como que uma correção de seu pensamento. Após o que
êle diz em 1 Cor 5,14, retrata-se imediatamente (1 Cor 5,15): A paixão
é a condição necessária do Reino de Deus; a ressurreição, por sua vez,
introduz definitivamente no mundo o Reino de Deus e Sua presença, se­
gundo as palavras de S. Paulo: “A morte foi tragada pela vitória.
Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão?” (1
Cor 54,55). Esta vitória é-nos dada n’Êle, que é “primícias dos que
morrem” (1 Cor 15,20), primogênito — como diz S. Ireneu — da nova
humanidade, nôvo Adão, vencedor da morte e autor de nossa diviniza-
ção pela sua ressurreição.
2) A teologia do Espírito Santo em sua relação com o Povo de
Deus como tal. Nosso esquema não parece insistir na importância do
Espírito Santo sôbre o Povo de Deus enquanto Povo nem mostrar a
relação da Igreja enquanto Comunidade com o Espírito Santo. De fato,
umas são as manifestações da vida da comunidade e outras as da vida
dos indivíduos. A comunidade eclesial possui — por assim dizer — uma
interioridade mais profunda e mais universal do que a dos indivíduos.
A Igreja, enquanto comunidade, possui a ciência divina da verdade e,
como tal, recebeu o Espírito Santo prometido por Cristo Senhor. Nela
e por ela o Espírito cria e escreve a história cristã, porque, ao mesmo
tempo que opera a sua unidade — como a alma num corpo — a en­
riquece com numerosos carismas para a constituição de seu ser próprio
e sua edificação (1 Cor 12,4-6; 11; Ef 4,3-6). Pio XII, de venerada
memona, alude a isto na sua encíclica Mystici Corporis Christi: “Quando
A Igreja no Mundo de Hoje 95
íf h ír ld a L ^ n a r f í0 CruZ* SeU EsPírit° foi comunicado à Igreja com
in n fo l c 'rl * 2 ? eJa .e í ada u m . de seu s membros se tornem mais
j.j j t - i, 3 Vado.r • As primeiras gerações viveram segundo esta
realidade Tinham uma clara consciência de possuírem o Espírito e que
o Espirito nao era comunicado aos indivíduos senão para o serviço da
Igreja.
3) A antropologia cristã. No nosso esquema falta ainda uma dou­
trina sôbre a antropologia cristã fundada na Sagrada Escritura e na
Tradição. Quando^ o texto fala do homem cristão, fala dêle como dum
deus ex machina , dum modo jurídico e extrínseco. Seria preciso, pois,
oonstruir uma antropologia cristã, cujo fundamento fôsse a imagem de
Deus, de acôrdo com a tradição — sobretudo orienta) — e cujas con­
seqüências afirmariam que o homem cristão é a consciência do mundo
e que sua existência é imanente ao mundo (como o é a existência de
Cristo-chefe) na medida em que êle vive KATÁ FHUSIN, isto é, segun­
do a natureza criada por Deus. No pecado o homem perdeu o EIKON
TOU THEOU, isto é, a imagem de Deus — imagem que no sagrado
lavraco batismal foi-lhe represtinada. Esta natureza assim restituída po­
de dar ao mundo um sentido divino e um fim digno de Deus, pois o
homem foi criado para que seja o centro do mundo, para que sua lín­
gua glorifique a Deus em nome do mundo e para que restitua às cria­
turas a simplicidade que nelas pôs o Criador. O cristão, com efeito,
arrebatado pelo Espírito, experimenta nas tentações da vida êsse ins­
tinto que o Espírito move nêle e que lhe torna presentes as palavras de
S. Ireneu: O cristão é o homem formado de corpo, alma e Espírito Santo.
Conclusão: Êstes três pontos parecem-me essenciais para uma apro­
vação definitiva do esquema segundo uma visão completa de tôdas as
tradições cristãs. Como no esquema se desenvolve uma doutrina de
“engagement” que contradiz a tradição oriental da vaidade de tôdas as
coisas e da fuga do mundo, êsses três pontos acrescentariam um nôvo
valor aos problemas tratados, salvariam o seu sentido escatológico e
constituiriam um meio-têrmo entre a tradição do Oriente e a do Ocidente.
100) Cardeal Paul-Marie RICHAUD, Arceb. de Bordeaux, na Fran­
ça (texto completo): Encontra-se no esquema um verdadeiro equilíbrio
e uma sadia profundeza de doutrina, assim como proposições concretas
extremamente úteis. Além disso, leva honestamente em conta as obser­
vações que foram feitas pelos Padres Conciliares na sessão precedente.
Por êsse motivo, gostaria somente pedir alguns acréscimos relativos à
vida social.
1) A propósito precisamente das questões sociais, gostaria de fazer
uma pequena observação ao conteúdo do n. 30 da primeira parte, onde
se trata da igualdade fundamental entre os homens. Admito com todo
o prazer que uma tal igualdade existe certamente entre todos os ho­
mens no que toca à sua origem, ao valor de sua dignidade natural e
de sua vocação final. Entretanto, não podemos esquecer que existem
muito freqüentemente maiúsculas diferenças entre êles no que concerne
às capacidades intelectuais e físicas, às possibilidades de ação e aos \a
lôres morais. Por isso, proponho simplesmente acrescentar no fim esse
número um parágrafo assim redigido: “Apesar desta igualdade, su sis em
efetivamente entre os homens numerosas desigualdades em suas ca
I. Crônica das Congregações Gerais
rid»de« físicas intelectuais e morais. E' necessário levar em conta isto
í í í ^ a S S uma igualdade verdadeira e útil na repart.ção de cargos
e retribuições"
2) Sempre na perspectiva dos princípios da doutrina social cristã,
na segunda parte do esquema, o n. 7 trata dum modo justo e opor­
tuno da obrigação de desenvolver a produção, a fim de que os países
pobres — que infelizmente carecem ainda do estritamente necessário —
cheguem a uma evolução correspondente com a dignidade humana. Ao
meu ver, porém, a experiência mostra que o aumento imoderado dos
beneftctos da produção aproveita sobretudo aos povos já ricos e bem
providos. Por essa razão, os dirigentes da produção econômica devem
sempre manter um certo equilíbrio a fim de levarem em conta o pre­
ceito evangélico que exige a moderação no uso das riquezas e das co­
modidades da vida. Do contrário, os homens sofrem as incessantes inci­
tações duma publicidade imoderada que cria sempre novos desejos e
conduz a uma perpétua elevação das condições de vida. Por isso, pro­
ponho acrescentar as linhas seguintes no fim dêste parágrafo: “Nos paí­
ses ricos, observar-se-ão, porém, os princfpios evangélicos de temperan­
ça que jamais devem perder de vista aquêles que dirigem a produção".
3) Para o bom equilíbrio social, no n. 79, alínea 5*, após as pa­
lavras: “Importa adaptar o conjunto do processo de produção às ne­
cessidades da pessoa e ao ritmo do homem, em particular de sua vida
familiar, tendo em conta tanto o sexo quanto a idade", proponho acres­
centar isto: “especialmente no que concerne às mulheres que devem fi­
car no lar para enfrentar as necessidades de sua família, para manter
a sua boa harmonia e para a educação de seus filhos".
4) No mesmo número, a propósito do repouso e dos lazeres dos
trabalhadores, gostaria que na alínea 8, após as palavras “agere possint”,
se acrescente esta frase que aportará um complemento oportuno: “prin-
òpalmente se se tratar de repouso e de lazeres coletivos". Com efeito,
é muito indicado e mais conforme com o preceito divino do Gênese que
quase todos aquêles que trabalham tomem o seu descanso no mesmo
dia. Hoje em dia isto tornou-se mais realizável — como o mostra o
que se faz em certos países — graças aos maravilhosos progressos
técnicos.
5) No n. 80, para uma melhor conformidade com a doutrina geral
do Magistério e especialmente com a encíclica M a te r e t M a g is tr a (n. 95),
seria bom acrescentar, após as palavras “administrationem fruetus":
salvaguardando a autoridade na medida em que fôr necessária para
uma sã unidade de direção”. E\ com efeito, surpreendente e muito
mentavel que na parte teórica — e igualmente no capítulo III, a pro-
posi o a vida econômica e social — não se faça menção formalmente
, u*r,na social da Igreja". Esta expressão foi muitas vêzes empre-
f u "apas. Foi especialmente consagrada por João XXIII na
A L r * , r Q$ [ S*r a ' ^ara 08 biólogos modernos como para os leigos
n tu. aoica * os sacerdotes, não pode ser senão gravemente no-
j 9 nossa Constituição pastoral omita o corpo da doutrina dada
neBta matéria pel° Magistério da Igreja. Esta doutrina se
‘ona com os princípios essenciais do Evangelho — e hoje em dia
A Igreja no Mundo de Hoje 97

e'autoridade
l S paPrem CeV
nada mseja-Ô^diminuída.
. a SUa unidade e autenticidade, sem que sua
101) Cardeal Rufino SANTOS, Arceb. de Manila, nas Filipinas: O
a uai esquema e superior ao anterior. Apesar disso, impõem-se ainda
algumas correções. Conviría eliminar do texto as palavras: “Causam
grande satisfaçao ao Povo de Deus as nações que consideram o direito
a liberdade religiosa,^ individual e coletiva, como elemento constitutivo
do bem comum . Razões: 1) Essa afirmação é desnecessária nesse lugar.
Bastaria remeter à doutrina sôbre a liberdade religiosa proposta pelo
Concilio. 2) Sem prévias e mais amplas explicações, daria ocasião a que
os alheios à Igreja invocassem em favor dêles a autoridade do Concilio.
3) No atual contexto, dá a impressão de que são nações católicas aquelas
que constrangem os homens a abraçarem a fé católica. 4) Nesta afir­
mação esconde-se um julgamento comparativo muito perigoso entre as
nações que consideram o direito à liberdade religiosa como algo a se
inserir nas Cartas Constitucionais e outras que não aceitam de modo
algum ou coartam suas manifestações. Deixemos ao juízo de Deus o
mérito ou demérito de cada nação. Ninguém pode afirmar qual destas
duas posições satisfaz melhor as exigências do Povo de Deus.
102) Cardeal Franjo SEPER, Arceb. de Zagreb, na Jugoslávia (texto
completo): O esquema não se deve limitar a dar somente uma idéia
do ateísmo, que constitui um dos maiores problemas da Igreja no mun­
do contemporâneo, tanto mais que existem hoje homens e movimentos
que consideram o ateísmo como uma condição essencial para a cons­
trução dum autêntico humanismo e como um postulado essencial para o
progresso do mundo e da sociedade. O esquema — que pretende pro­
jetar uma visão cristã dos problemas contemporâneos — não pode ca­
lar-se diante do problema do ateísmo, o qual constitui quase a base e
justificação do próprio esquema. Por êsse motivo, é essencial falar do
ateísmo neste esquema. Julgamos, porém, que o que atualmente se diz
nos nn. 18-19 não pode ser considerado suficiente e acomodado.
Nesse contexto é preciso falar do ateísmo tendo presente aquêles aos
quais se refere, o modo de expressão e o fim que se quer obter. E’ in­
dispensável também falar não somente aos católicos, mas a todos os
homens de boa vontade; não somente aos filósofos e governos, mas a
todo o gênero humano. E’ importante, por isso, enfrentar o problema
positivamente, aprofundando os motivos que hoje determinam a expan­
são do ateísmo, não tanto para condená-lo nem — primàriamente —
para demonstrar a existência de Deus: não pretendemos precisamente
neste esquema converter os ateus. Queremos apenas explicar o con­
ceito que nós cristãos temos do ateísmo e nossa posição em face dos
ateus e, ao mesmo tempo, notar que a fé em Deus não impede, mas, an­
tes, estimula a contribuir eficazmente para a ação e a solicitude pelo
progresso da humanidade e pelo melhoramento das condições de vida
e da dignidade da pessoa humana. Por essa razão deve-se reconhecer
claramente a parcial responsabilidade de alguns que, invocando falsa­
mente o nome de Deus, se apresentaram como defensores da ordem
estabelecida e da imutabilidade das estruturas sociais. E’ necessário ex­
plicar de modo expresso que a noção de Deus que êsses ateus têm
é manca e, portanto, falsa. O Deus verdadeiro não é aquele que man a
I. Crônica das Congregações Gerais
homens se afastarem de tôda preocupação pela justiça e a caridade
nara com todos os homens neste mundo e limita-se a prometer uma
itistica e felicidade eternas. O verdadeiro Deus e aquele que ordena e
üuer aue os homens se empenhem, também e primàriamente neste mundo,
na realização da justiça e da caridade por todos os meios e fôrças. A
justiça do Céu deve também ser entendida como uma recompensa pela
justiça que os homens se esforçaram por estabelecer na terra. Por con­
seguinte, o autêntico Deus que Jesus Cristo ensinou e manifestou não
apenas se revela a si mesmo pela ordem da natureza, mas também atra­
vés dos homens que pela sua vida e obras dão d’Êle testemunho no
mundo diante de seus irmãos. Por aí vemos que a fé em Deus, se fôr
autêntica e sincera, de modo algum pode constituir um obstáculo para
o progresso, mas antes um estímulo e um sustentáculo. Mais ainda: nós
pensamos que Deus é o verdadeiro e real fundamento para obter
de fato a promoção da dignidade da pessoa humana e do autêntico
humanismo. No entanto, não queremos afirmar com isso que os ateus
nada possam fazer em favor da promoção humana, pois podem existir
valôres reais cujo fundamento divino muitas vêzes não é logo visível.
Representam, entretanto, pelo menos uma implícita afirmação da von­
tade divina e da lei eterna. Esta apresentação do ateísmo pertence ao
âmbito dêste esquema. Ora, se o Concilio quiser falar dêle de maneira
mais circunscrita e exaustiva, deveria redigir-se um documento especial.
103) Ignace ZIADÉ, Arceb. maronita de Beirut, no Líbano (texto
completo): Gostaria de propor algumas sugestões sôbre o fundamento
teológico da Constituição pastoral. Dêle se trata amplamente na primeira
parte, capítulo 111, desde o n. 41 até ao final dêsse capítulo (nn. 41-47).
Refiro-me à relação existente entre a atividade humana e o advento
do Reino de Deus. Nessas passagens tocamos o próprio coração do mis­
tério, i. é, qual seja o vínculo que existe entre a Igreja e o mundo ou
entre a graça e a natureza.
Os desenvolvimentos apresentados neste capítulo satisfazem, em certa
medida, a “fides quaerens intellectum”. Ao meu ver, porém, carecem
dum certo vigor espiritual: é que aí falta o poder do Cristo r e s s u s c ita d o .
Apenas duas vêzes se alude — e isto “materialiter” — ao mistério da
Ressurreição (pp. 34 e 36), mas êste mistério como tal não inspira for­
malmente a exposição da relação entre a atividade humana e o Reino
de Deus. O esquema parte da consideração das criaturas e paulatina-
mente analisa o sentido da Criação até ao final da história no retorno
glorioso do Senhor. Mas, se não me engano, a verdadeira teologia da
ístoria, a visão teológica da história não tem sua origem na primeira
criação mas na segunda criação. Os acontecimentos dêste mundo só
po em ser entendidos à luz do advenimento da nova criação, já c o m e ç a d a
na ressurreição do Senhor.
outras palavras, falta-lhes a novidade da Ressurreição que já
á VaJroH m^ ndo' Talvez uma consideração mais profunda e interior
surrr-iÃn h 5cr,tura e da teologia do Oriente sôbre o mistério da res-
iorada ™ dT? ;,enh°r poderia remediar êste defeito. Pois a questão co-
ressusrítam ac e Preeisamente a de S. Paulo: “Mas dirá alguém: Como
Hoít dÍ7^!Lr T T ° S? 00,11 que corP° voltam à vida?” (1 Cor 15,35 ss).
que pensar do crescimento que o esforço humano
A Igreja no Mundo de Hoje 99

£S?-zsisrs? SM“irs fir *■•«*?


temente*
e” tCni ciaros^D^ ESCrÍtUra
a S .Para a resP°sta: n°S aprese"ta
“Néscios! O que tu semeias não° » « éS Ío
corpo que há de morrer mas sim um simples grão... Deus lhe dá o
corpo... (1 Cor 15,36-38). Assim, podemos dizer: D A atividade hu-
mana está em relação ao Reino de Deus como a semente à futura co­
lheita. Entre um e outro há continuidade e crescimento. 29 O grão deve
morrer. A carne e o sangue não podem possuir o Reino de Deus"
(1 Cor 15,50). Eis, pois, a passagem através da morte de que o n. 46
do texto não faz uma exposição completa à luz ontológica da Ressur­
reição de Cristo. 39 A consumação da Criação, i. é, o mistério da Res­
surreição, é uma obra de Deus, que não é outra criação a partir do
nada (“creatio ex nihilo”), mas a libertação da vida da servidão da
morte. “Semeia-se em corrupção e ressuscita-se em incorrupção” (1 Cor
15,42). Assim, existe não só continuidade e passagem pela morte, mas
verdadeira novidade ou passagem da velhice para a novidade de Deus.
49 Esta consumação da Criação pela libertação da Cruz não é senão o
próprio Cristo, Senhor nosso ressuscitado dentre os mortos, o Cristo
total, “Corpo espiritual” (1 Cor 15,44), em quem Deus, já na plenitude
dos tempos, recapitulou tôdas as coisas (Ef 1,10). N’Êle sabemos que
o primeiro Adão e a nossa mortal humanidade cumpre a primeira cria­
ção, de sorte que, progressivamente, o homem abrange todo o cosmos;
mas pelo nôvo Adão sabemos que o homem já começa a nova criação
na graça da novidade de Deus. Assim, a atividade humana não é mais
nem só uma perfeição dêste mundo, mas também e sobretudo o início
do nôvo mundo.
Êste é o quérigma do mistério pascal no qual se vive já realmenre
a relação entre a atividade humana e o Reino de Deus. A experiência
de Cristo ressuscitado nos abre novas dimensões, demasiado esqueci­
das no nosso esquema: 1) A dimensão ontológica ou mistérica. O domínio
universal de Cristo não é apenas moral, “ore ac more”, nem a ressurrei­
ção é um fato que só terá lugar no final da história, mas realme
tudo tem n’Êle o seu fundamento: a nova criação já começou, não
fora da história mas no seu próprio seio, como uma semente de imor­
talidade. “Cumprido está o Tempo e está próximo o Reino de Deus*’
(Mc 1,15). 2) A dimensão sacramental. Os sacramentos, com efeito,
são gestos do Cristo ressuscitado na nossa história, sinais de Sua vin­
da e forças do Seu Espírito que, aqui e agora, age e geme. Assim, no
mistério do sacramento o cristão vive principalmente êste vinculo en­
tre a atividade humana e o Reino de Deus. 3) A dimensão comunitária.
O nôvo Adão é o Espírito vivificante. O Espírito enche o orbe da terra.
Tôda criatura humana, a fortiori, geme sob a moção do Espirito de
Cristo ressuscitado. Os membros da Igreja, nas suas atividades humanas,
vivem essa solidariedade: os cristãos devem ser a consciência da hu­
manidade aberta à nova criação. 4) A dimensão escatològica. O penhor
da nossa herança já está no Espírito Santo. Por isso, tôda a história
se torna a história da salvação e, ao mesmo tempo, o retorno do Stnhor
vai progredindo sempre mais. Os valôres dêste mundo encontraram
finalmente o seu sentido: tornaram-se semente do Reino de Deus. .
100 1. Crônica das Congregações Gerais
cristã consagra-os de tal modo. que a participação do Corpo e do San­
gue do Senhor se toma a comunhão da grande Páscoa de toda a
criação.
Se neste capitulo não confessamos o Cristo ressuscitado, se ana­
lisamos o sentido da história para além do mistério da Ressurreição que
é a chave da história, então “vã é nossa pregação e vã é nossa fé”
(1 Cor 15,14). Mas não podemos calar a nossa esperança. “Cristo res­
suscitou dos mortos como primícias dos que morrem” (1 Cor 15,20).
“O Senhor ressuscitou verdadeiramente!” (Lc 24,34).
104) Pedro CANTERO CUADRADO, Arceb. de Zaragoza, na Es­
panha: O esquema, embora substancialmente aceitável, deve ser ainda
melhorado: apresenta uma mistura de aspectos clericais e naturalistas,
sofre dum otimismo ingênuo e reflete a típica mentalidade ocidental. O
conteúdo do esquema levanta mais duma preocupação pastoral. Isto,
porém, é explicável: ocupa-se de problemas especiais de índole tem­
poral que não entram na competência especifica da Igreja, mas na com­
petência da autoridade civil e, neste campo, os católicos evidentemente
podem tomar diversas opções. A divisão do esquema em duas partes —
uma teórica e outra prática — é boa e deve ser conservada. A estrutura
da primeira parte requerería ainda uma ulterior revisão, porque a dis­
tribuição dos diversos elementos doutrinários não corresponde a uma
ordem exata do ponto de vista lógico e teológico. E' preciso, antes de
tudo, apresentar os princípios sôbre os quais se fundamenta a presen­
ça e a ação da Igreja no mundo de todos os tempos — passado, pre­
sente e futuro — e então em segundo lugar as razões que motivam e
justificam, hoje, uma presença da Igreja no mundo de maneira mais
solicita e dedicada.
27-9-1965: 136? Congregação Geral
A Igreja no Mundo de Hoje
I Parte: A Igreja e a Condição Humana

P r e s e n t e s : 2.147 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Doepfner. A sessão começou
às 9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Étienne Loosdregt, Vigário Apostólico de Vientiane, no Laos.
Nesta manhã continuaram os debates sôbre a primeira parte
do esquema agora em discussão, com um total de 13 interven­
ções, uma delas do Cardeal Rossi, Arceb. de São Paulo, que
falou em nome de 92 Bispos do Brasil (cf. n. 108). Durante
os discursos fizeram-se também as últimas votações do esque­
ma sôbre o apostolado dos leigos. Foi comunicado ainda que
depois de amanhã começarão as votações sôbre os ‘modos’ dos
cinco esquemas já votados durante a III Sessão. Será observada
a seguinte ordem: O múnus pastoral dos Bispos, A atualização
dos Religiosos, A educação cristã, A formação dos Seminaristas
e As relações da Igreja com os não-cristãos (e os judeus). São
estas as intervenções desta manhã:
105) Cardeal MAXIMUS IV SAIGH, Patriarca dos Melquitas (eis
aqui o texto completo de sua intervenção, que, como nas sessões an­
teriores, foi proferida em francês): O esquema sôbre a Igreja no mundo
de hoje é fundamentalmente bom, tanto pela intenção que guiou sua
elaboração como também pelo espírito que o anima. Numerosas vozes
no Concilio tinham pedido um texto bem centrado sôbre Cristo, que
manifestasse ao mundo um Espírito de amor. E’ o essencial e, nisto, o
esquema atual conseguiu, segundo o meu parecer, satisfazê-los. No
entanto, parece-nos que em dois pontos êste espírito não é bem apre­
sentado: no tema do ateísmo e no da guerra. Hoje falarei somente do
primeiro ponto. O parágrafo 19, que trata do ateísmo, é, ao nosso ver,
demasiado negativo. Descreve o marxismo sem o nomear, mas de modo
muito claro e de preferência sumário. Condena o que é evidente
102 I. Crônica das Congregações Gerais
c*a doutrina ateia, os que a defendem e as autoridades civis que a sus­
tentam Mas é claro que não é condenando o marxismo que se salva a
humanidade do ateísmo. Para salvar a humanidade do ateísmo, é preciso
também — e isto é o elemento nôvo e construtivo — denunciar as
causas que provocam o ateísmo ateu, propondo sobretudo uma mística
dinâmica e uma moral social vigorosa, mostrando que está em Cristo a
íonte dos trabalhadores para alcançarem a sua verdadeira libertação,
tísse parágrafo poderia ser vantajosamente substituído pela passagem,
tão forte e tão positiva, de nosso caro e venerado Paulo VI na sua
Encíclica Ecclesiam suam: “Muitas vêzes Nós vemos — diz o Papa —
que também os ateus são movidos por bons sentimentos, desgostosos
da mediocridade e do egoísmo de tantos meios sociais contemporâneos
e indo buscar talvez no nosso Evangelho formas e linguagem de soli­
dariedade e de compaixão humanas. Seremos um dia capazes de recon­
duzir às suas verdadeiras fontes, que são cristãs, estas expressões de
valôres morais?” E Paulo VI, retomando o pensamento de João XXIII
na Pacem in Terris, diz: “As doutrinas dêstes movimentos ateus, uma
vez elaboradas e definidas, são sempre as mesmas, mas os próprios
movimentos não podem deixar de evoluir e sofrer mesmo mudanças pro­
fundas. Não nos desesperemos de vê-los um dia travar com a Igreja um
outro diálogo, positivo, diferente do atual diálogo, obrigatoriamente li­
mitado a deplorar e a se lastimar”. Êstes textos de Paulo VI e de
João XXIII nos parecem preferíveis ao texto atual do esquema, limi­
tado “a deplorar e a se lastimar”. Todos nós sabemos por experiência
que muitos dos que se dizem ateus não estão realmente contra a Igreja.
Existem alguns dêles que estão bem perto da Igreja. Na realidade
procuram, como diz Paulo VI, uma apresentação mais verdadeira de
Deus, uma religião de acôrdo com a evolução histórica da humanidade
e, sobretudo, uma Igreja que apoie não sòmente os pobres mas também
o esfôrço de solidariedade dêles. Muitas vêzes êles se escandalizam com
um cristianismo medíocre e egoísta, petrificado pelo dinheiro e falsas
riquezas, defendendo, mesmo pelas armas, não a sua fé, que não pode
jamais ser defendida pela fôrça, mas seus interêsses e segurança ime­
diatos. Houve quem reclamasse que o esquema denuncia o pecado do
mundo. Eis, porém, o grande, o enorme pecado do mundo, aquêle que
Jesus denuncia sem cessar no seu Evangelho: o egoísmo e a explora­
ção do homem pelo homem. Outros gostariam que êste texto falasse
mais sôbre a necessidade de levar a cruz, de sofrer com resignação a
própria sorte. Mas, de fato, quem leva uma cruz mais pesada do que
a .cruz levada pelas massas trabalhadoras e miseráveis que procuram
sair de sua miséria através do trabalho, da solidariedade e até mesmo
da socialização? E* de lamentar sòmente que elas o façam por meio
e Sistemas ateus. Mas não é o egoísmo de certos cristãos que provo­
cou e provoca, em grande parte, o ateísmo das massas? Jesus nos
previne contra o escândalo dos pusilos, i. é, dos humildes: “Ai daquêle
pe o qua vier escândalo!” Jesus diz isto como conclusão da pará-
a o rico epulão e do pobre Lázaro. Muitos ateus são simplesmente Lá-
V Zad°j p?,os ,ricos 9ue se dizem cristãos. Tenhamos, pois, a
. ^ ia C reconc*uzir às suas verdadeiras fontes, que são cristãs,
* j8 Vf, rfB mora*s Que são a solidariedade, a fraternidade, a sociali-
os remos que o verdadeiro socialismo é o cristianismo, vivido in-
A Igreja no Mundo de Hoje 103
tegralmente na justa divisão dos hpnc * • .. . f ,
todos.
. . . Estas
. formas. modernasuadaeconomia
economia e^ da
4gUa funtlamental de
sociologia tem necessi­
dade nao de condenações mas do levêdo do Evangelho para libertar-
se do ateísmo e realizar-se harmoniosamente. Em vez de condená-los
continuamente, descubramos seu verdadeiro sentido, que é cristão. So­
bretudo pratiquemos nos mesmos e façamos praticar o Evangelho da
divisão dos bens e da fraternidade. Se nós o vivermos, se nós o pre­
garmos inteiramente, libertaremos o mundo do comunismo ateu. Em
vez, pois, duma condenação banal, que, aliás, já se conhece, enviemos
ao mundo do trabalho número sempre maior de sacerdotes e de leigos,
prontos para compartilhar a vida de trabalho e o esforço social dos
homens do nosso tempo, fazendo tudo para revelar-lhes êste Deus que
êles negam mas que êles procuram às apalpadelas, atraídos por Jesus
de Nazaré, o Carpinteiro, Salvador do mundo e “Amigo dos homens".
106) Cardeal Franziskus KOENIG, Arceb. de Viena, na Áustria
(texto completo): Falarei sôbre o que está contido nos nn. 18 e 19 acêrca
do ateísmo. Neste ponto, estou também de acôrdo com o que na última
Congregação Geral disse o Cardeal Seper (n. 102), i. é, que a exposi­
ção do esquema sôbre a matéria dos referidos números é insuficiente.
Segundo o meu humilde parecer, a razão é a seguinte: não se apresenta
uma distinção clara das diversas formas de ateísmo. Com efeito, o
ateísmo militante — de que quase unicamente fala o n. 19 — é ape­
nas um aspecto da questão. Além disso, o esquema não propõe os re­
médios convenientes e não expõe o modo de agir da Igreja neste campo,
embora diga que o ateísmo deve ser contado “entre os gravíssimos
problemas de nossa época". Mas não basta doer-se apenas pelo fato do
ateísmo (cf. n. 19). Proponho, por isso, que num texto mais amplo se
faça uma exposição sôbre êstes quatro pontos: 1*) as diversas formas
do ateísmo e a íntima natureza dêles, 2Ç) as raízes dêste fenômeno,
39) os remédios convenientes e 4Ç) o modo de agir da Igreja neste campo.
Com respeito ao l 9 ponto, entre outras coisas, examine-se teologica­
mente, por uma parte, o fato da propagação do ateísmo em todo o
mundo e, por outra, se reflita sôbre aquêle axioma segundo o qual a
alma humana é naturalmente cristã, procurando compreender como estas
duas realidades podem estar juntas. Com relação ao 2* ponto, as rai­
zes do fenômeno do ateísmo parecem encontrar-se apenas no mundo
ocidental. Tais raízes, com efeito, não se encontram, p. ex., na índia
ou noutras partes da Ásia e da África, a) Ora, para muitos pensado­
res católicos e também acatòlicos a explicação da raiz do ateísmo foi
conseqüência duma evolução: no séc. XVI quebra-se a unidade dos
cristãos; nos séc. XVII e XVIII o iluminismo e o deísmo procuraram des­
truir a ordem sobrenatural e teândrica, i. é, a Encarnação; no séc. XIX
procurou-se expulsar Deus do mundo. Talvez o comêço desta evolução
deva ser assinalado já na separação da Igreja Oriental e Ocidental,
b) Outra raiz dêste fenômeno pode ser encontrada na idéia errada
que muitos cristãos têm de Deus: ou Deus e o mundo são considerados
de tal modo opostos entre si, que, segundo a idéia de Hegel, cons­
trangem e oprimem inteiramente a liberdade do homem e sua pleni
tude humana; ou Deus é concebido como um princípio intramundano,
i. é, apenas como uma causa primeira que sòmente se invoca sempr
104 I. Crônica das Congregações Gerais
nue fôr necessária para explicar o progresso duma determinada causa
no seu processo de evolução; ou Deus e considerado apenas como
causa de consolação do homem, o que não está muito longe do que se
denominava de “ópio dos povos”. Essa raiz, portanto, se encontra nu­
ma falsa imagem que o homem fabrica e nas consequências que desta
imagem decorrem. Com relação ao 3P ponto, entre os remédios conve­
nientes. podemos indicar: a) Uma contínua cooperação que vise inten­
sificar a união dos cristãos. Enquanto faltar esta unidade, não será
possível uma colaboração fraterna baseada na união de forças por
causa das diferenças da fé. b) Nas escolas católicas, em tôda forma­
ção e ação dos leigos, devem ser explicadas e propostas as razões do
ateísmo e nossas respostas a êste fenômeno, c) A Igreja deve defen­
der ativamente a justiça social, sem temor e sem acepção de pessoas,
d) Pois que em tôda a parte a ignorância constitui um grande perigo,
por isso mesmo os pastores da Igreja, os sacerdotes e os missionários
devem possuir amplos conhecimentos sôbre a origem do ateísmo, seus
argumentos e sua maneira de agir. Daí a necessidade de preparar in­
vestigações e livros por parte dos especialistas. Acêrca do 4* ponto, não
condenemos ninguém. Mas, a) sem ressentimentos nem paixão (“sine
ira et studio”), procuremos com todos os homens de boa vontade uma
certa comunhão e uma maneira de vivermos em paz. Por outra parte,
porém, o Concilio não pode calar, mais ainda, deve claramente ensi­
nar que não se pode obrigar pela fôrça os crentes de qualquer deno­
minação cristã ou de qualquer religião a abraçarem o ateísmo, porque
para qualquer homem a liberdade de consciência constitui um direito
natural e inalienável, b) Nos países dominados pelo comunismo, deve­
ria aconselhar-se a seguinte conduta: dar testemunho do Deus vivo
colaborando sinceramente para o progresso econômico da própria pá­
tria. Destarte, mais com a ação do que com a palavra, demonstraría­
mos que a vida religiosa não paralisa mas, pelo contrário, pode en­
gendrar uma energia maior do que o ateísmo, c) Como a evolução
histórica do ateísmo contra Deus começou dum certo modo com a ne­
gação da Encarnação, cuja obra é continuada na Igreja e na qual a
Virgem Maria tomou parte por eleição de Deus, assim também a Mãe
de Deus será a nossa auxiliadora na luta contra o comunismo.
107) Cardeal Hermenegildo FLORIT, Arceb. de Florença, na Itá­
lia (texto completo): Acho que o esquema carece de vigor e clareza na
sua maneira de tratar o ateísmo no n. 19.
1) Pelo bem de tôda a humanidade, seria necessário que o Concilio,
com tôda a sua autoridade, declare que não é de todo acidentalmente
que o materialismo dialético tem um caráter ateu. a) Neste sistema,
a cultura em sua totalidade — isto é, a vida espiritual do homem —
nao existe em si mesma, mas constitui simplesmente um edifício ideo-
jgico externo, porque a vida econômica — concebida de maneira ma-
eria is a — e a única realidade que governa tôda a vida humana. Pois
3 algum ,para a vida espiritual do homem e sua dignidade
l nr rtánf10 !?en0S **a *u£ar para Deus que transcende o mundo e
tráhalhn d ,r ‘nt0 do mundo- b> T°da a doutrina marxista sôbre o
va.ores e a v'da econômica pressupõe necessariamente uma
concepção momst.ca. E. pois que hoje em dia um número não despre-
A Igreja no Mundo de Hoje 105

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ms - R ’ pnnmn^rvc „ aeci?,_r.a.r neste documento, com têrmo# da--
•j pronfimira nãn & 3 lmP08s<biIidade duma distinção semelhante. A
«. como afirma o materialismo dialético — um
processo mecânico, porque a conseqüência disto seria que o homem es­
taria reduzido a um elemento material numa máquina. A vida econô­
mica e um dos verdadeiros bens do homem e se encontra, portanto,
em relaçao com o homem enquanto ser formado de corpo e espírito,
constituindo em si mesmo uma verdadeira entidade espiritual. Portan­
to, a produção de bens é também uma atividade pessoal e estas coisas
são boas por causa de sua relação com o homem, que é uma enti­
dade espiritual-corporal. Com efeito, o homem deve ser considerado
como uma pessoa, inclusive na vida econômica, isto é, como um sujeito
que age e não simplesmente como o objeto dum processo material e
mecânico.
2) O esquema deveria indicar brevemente as causas que levam ao
ateísmo e, ao mesmo tempo, os principais remédios que nós propomos.
Antes de tudo, deve-se ter presente que o ateísmo moderno é a decor­
rência natural de quase tôdas as teorias filosóficas do nosso tempo,
embora possa ser, por sua vez, a matriz e a origem da negação do Deus
pessoal e distinto do mundo. Além do ateísmo de tipo sociológico e
institucional, que é — como todos sabem — um fenômeno de massa,
propaga-se, particularmente entre os jovens, um ateísmo “científico” que
pretende fazer da física uma metafísica: dedica-se à especialização téc­
nica como se a técnica fôsse a fonte da auto-suficiência e do huma­
nismo ateu. Mas há ainda outras causas ou razões diretas que corro­
boram o ateísmo na sua negação da existência de Deus: p. ex., uma
visão exterior da Igreja e a má conduta de numerosos cristãos. En­
tretanto, a presença do pial físico e moral no mundo continua a ser
uma fonte viva — se é permitido falar assim — da negação da exis­
tência de Deus. Esta causa do ateísmo é o obstáculo mais comum do
que os outros, a objeção mais tenaz e espalhada e, ao mesmo tempo, a
mais sutil e filosófica. “Se Deus é impotente diante do mal e do crime,
como é que Deus pode existir? E’ moralmente impossível que exista
um Deus. A coexistência de Deus e do mal é uma contradição insu­
perável”.
Não seria, pois, oportuno que, neste número ou em outro inti­
mamente conexo com êle, se indicassem pelo menos algumas respostas
que tornariam mais pastoral o esquema conciliar, esboçando a solução
cristã do problema do mal? Ousaria sugerir aqui alguns dêstes ele­
mentos para a resposta: 1) Deus é realmente amor e bondade infinitos,
mas o Seu amor é para nós um mistério. Por isso, Deus é amor per-
turbans”. Deus nos ama — mas a Seu modo. Assim como Êle próprio
existe a Seu modo, assim também a Seu modo nos ama. Mas, se
Deus é para nós “ratio perturbationis”, é igualmente amor. Eis por que
o amor de Deus é objeto de fé: “Nós havemos conhecido e crido o
amor que Deus nos tem” (1 J° 4,16). 2) Deus, ao criar livremen e o
mundo, renuncia espontâneamente ao exercício absoluto a ua... .
potência, pois Êle quer que o homem corresponda com tôda a
Concilio - V—8
106 I. Crônica das Congregações Gerais
dade à solicitude divina: invita, obriga, mas não constrange ninguém.
••Se ouiseres entrar na Vida eterna.. . . 3) O repudio formal de Deus
é o que constitui o pecado. O pecado é o único verdadeiro mal, estrei­
tamente relacionado com a dor, que por causa dêle cresce notável-
mente 4) Deus intervém usando do mal para nos remir do pecado,
para sarar os pecadores. Vê-se por aí o desígnio de Deus no drama
do pecado: o pecado do homem provoca o processo de ruína e cas­
tigo mas estas mesmas conseqüências cheias de sofrimentos são trans­
formadas na Redenção. E’ o que a economia salvifica do AT e do NT
nos esclarece admiravelmente. Desde Adão até à morte e ressurreição
de Cristo, que solucionou o problema do mal existencialmente — por
assim dizer — e não apenas teoricamente, “no Seu próprio corpo...
sóbre o lenho”, comprova-se a grande lei de Deus: “onde abundou o
pecado superabundou a graça” (Rom 5,20). A vida brota da morte;
o bem, do mal; a salvação, da dor. A solução cristã do problema do
mal só terá valor onde se tiver compreendido a solidariedade que une
todos os homens no pecado e na Redenção em Adão e em Cristo. De
ordinário, os ateus ficam barrados perante a consideração do mal e
da dor em si mesmos e, então, indignam-se — e com razão — pelo
fato de não lhes encontrarem sentido. Mas, para bem entendermos
êstes problemas, é necessário que na dor vejamos a dor dum membro
da humanidade e sòmente em Cristo encontraremos a sua significação.
E7 através do mistério da solidariedade que poderemos perceber o va­
lor da dor. Há igualmente outras razões: p. ex., a dor purifica, eleva,
enriquece; a dor é uma advertência de Deus, é o caminho que d’ÊIe
nos aproxima, nos assimila a Cristo crucificado, é a promessa da con­
secução dum nôvo céu e duma nova terra, etc. — Eis o que, sintètica-
mente, Veneráveis Padres, proponho seja inserido nesse número. Dixi.
108) Cardeal Agnelo ROSSI, Arceb. de São Paulo, no Brasil (tex­
to completo): “A Igreja no mundo de hoje — como muito bem notou
o Sumo Pontífice Paulo VI na alocução de abertura desta IV Sessão
do Concilio — não se volta apenas para si mesma como para um fim,
mas está a serviço de todos os homens”. Por êste motivo, Ela se sente
intimamente unida com o gênero humano e sua história. Esta união
se fundamenta no próprio mistério da Igreja, de modo que Ela não tem
como razão de ser senão as misteriosas razões do próprio Deus, quem
amou os homens a ponto de por êles entregar o seu Filho unigênito
(Jo 3,16). “Porventura poderemos esquecer-nos de que a Igreja por
meio dêste Concilio adquiriu uma consciência mais completa e perfeita
de Si mesma e dos recônditos planos de Deus que amou o mundo
(Jo 3,16) e também da natureza da sua missão, que foi sempre rica e
fecunda por assim dizer — de germes vitais capazes de ajudar com
nôvo vigor a sociedade dos homens?” (Paulo VI, Alocução de abertura
da IV Sessão do Concilio). Esta união com o mundo o Concilio não po­
derá mais eloqüentemente demonstrar senão estabelecendo um diálogo
sóbre aquêles vários problemas que afligem o homem de hoje, oferecen-
o para a solução dêles a luz do Evangelho e fornecendo-lhe forças
!rfUÍ?re8‘ ® 0 escopo da nossa Constituição que, sendo pastoral,
í ici mente poderá encontrar um método mais apto ou eficaz para a
consecução do fim que o Concilio realmente se propôs. Ora, com res-
A Igreja no Mundo de Hoje 107

tanto, deve ser^ aperfeiçoado. Deixando de lado questões de menor im­


portância sôbre as quais enviamos por escrito uma relação à Se­
cretaria chamamos a vossa atenção para os seguintes pontos: a)
Fazemos nossos os votos de muitos Padres Conciliares, manifestados
nesta Aula, no sentido de que algumas noções fundamentais, como as
de ‘ Povo de Deus” e de “mundo”, que se encontram por todo o es­
quema e que não são claras como se desejaria, sejam submetidas a uma
explicação mais minuciosa, b) Parece-nos ser possível e mesmo opor­
tuno que tôda a análise fenomenológica da exposição introdutiva com
que o mundo é caracterizado seja apresentada dum modo que corres­
ponda melhor à ordem da antropologia que se encontra nos três pri­
meiros capítulos da primeira parte do esquema. Seria apenas necessá­
rio apresentar com uma ordem mais apta todos aquêles ótimos ele­
mentos que já se encontram no texto. Aliás, entregamos ao Secretaria­
do algumas sugestões sôbre esta nova redação, c) Além disso, dese-
jar-se-ia que o esquema exprimisse dum modo mais claro aquêle pro­
pósito de João XXIII ao convocar o Concilio: a renovação do vulto da
Igreja — o que se costuma chamar “aggiornamento” — e que se
deve desejar não apenas para os nossos dias mas sempre e continua­
mente, como, aliás, já se afirmou na Constituição dogmática Lumen
Gentium (n. 8). d) Por fim, como no n. 9 do texto se trata do grave
problema dos povos que ainda se encontram em fase de desenvolvi­
mento, parece-nos necessário ter presente que a questão não só se re­
fere às nações da África e da Ásia que recentemente adquiriram a in­
dependência política, mas também às outras nações — p. ex., da Amé­
rica Latina — que já são independentes há mais de cem anos, mas
ainda hoje atravessam graves dificuldades que obstaculam a conse­
cução dum progresso mais de acôrdo com as exigências e com a digni­
dade da pessoa humana. Considerar estas e outras observações em
nome de 92 Bispos do Brasil e outras emendas, constitui dever de todos
nós que, dentro de nossas possibilidades, somos obrigados a cumprir
com a esperança de que a nossa Constituição pastoral nao sòmente
boje mas também no futuro seja um solene testemunho em louvor e
honra do Concilio — e até mesmo um sinal perene daquela renovação
que sempre deve ser efetuada pela Igreja, a qual sendo a consciência
evangélica do mundo, deve encarnar na história dos homens o Verbo
de Deus que permanece para sempre.
109) Michal KLEPACZ, Bispo de Lódz, na Polônia: Se o Con-
cílio quer realmente responder às esperanças por êle suscitadas, a)
deveria acentuar que o mundo moderno já tomou consciência de estar

se também, por
8*
108 I. Crônica das Congregações Gerais
cultural e intelectual que caracteriza o mundo moderno. Constata-se que
as conquistas atuais, na maioria dos casos, não contribuem para melhorar
as condições de vida humana, como demonstram as ultimas duas guerras
e a iminência duma possível deflagração nuclear, b) O esquema deve
também denunciar que muitos falsos profetas e reformadores sem es­
crúpulos exploram esta inquietude do mundo, c) E’ necessário igual­
mente pôr em ressalto a grande confusão de terminologia hoje usada
— particularmente o significado profundamente divergente que assu­
mem em algumas concepções filosóficas e políticas os têrmos “ver­
dade”, “justiça”, “liberdade”, “lei”, “direito”, etc. d) Convém precisar
também os princípios morais da “razão do Estado”, da qual se abusa
freqüentemente para justificar os mais clamorosos delitos, e) Levando
em conta o que aconteceu na última guerra, o esquema deve insistir
sôbre o valor da vida humana, sôbre a obrigação de defendê-la e res-
peitá-la, bem como sôbre a importância do 5* Mandamento do Decálogo.
110) Giuseppe RUOTOLO, Bispo de Ugento, na Itália: Parece
que o esquema, na sua redação atual, poderá atingir a finalidade pro­
posta. Entretanto, 1) é preciso que se dê uma ordem mais lógica a al­
gumas partes, partindo das verdades conhecidas pela razão para termi­
nar nas verdades reveladas (p. ex., no caso da dignidade humana). 2)
A passagem sôbre o ateísmo é insuficiente. Êste assunto deveria fazer
parte duma Declaração separada ou pelo menos dum capítulo à parte.
Conviria, além disso, falar dos ateus práticos — que são muitos —
com o espírito de amor e de diálogo que caracterizam a encíclica
Ecclesiam suam de Paulo VI. Devemos mostrar-lhes como Deus se ma­
nifesta através dos acontecimentos humanos. 3) Por fim, o esquema
fala de erros cometidos no passado. Ora, isto me parece contrário às
intenções pastorais do Concilio, porque tanto João XXIII quanto Paulo VI
convidaram a não reabrir as feridas do passado. Olhemos para o fu­
turo, deixando o passado nas mãos de Deus e sem nos esquecermos
de que todos nós temos necessidade de sermos perdoados, como se
diz no Pai-Nosso.
111) Eugene D’SOUZA, Arceb. de Bhopal, na índia (texto com­
pleto): Como muitos de Vós, pensei com freqüência: Para que finalidade
nos temos reunido num Concilio? Para produzirmos uma obra literá­
ria a mais perfeita possível, i. é, um texto completo e elegante, ou para
darmos à Igreja um impulso tal que possa cumprir a tarefa que Cristo
lhe encomendara? Principalmente ao ler êste esquema, pensei: De que
se trata afinal: de compilarmos uma espécie de Reader’s Digest de
tudo o que nos últimos anos foi escrito sôbre os problemas atuais,
ou de prepararmos a Igreja para que possa enfrentar êsses problemas
com maior caridade e eficácia? Ora, creio ter encontrado o ponto cardeal
de todo o esquema no proêmio da sua primeira parte, especialmente
naquelas palavras: “Populus Dei in eventibus, postulationibus, optatis,
praesentiam Dei discemere Eiusque interventus animadvertere satagit.
Un voa incunctanter obedire debet”. lncunctanter, i. é, sem hesitação,
sem perder tempo. Deus encomendou à Igreja a tarefa de pregar pa-
avras e vida e de operar a salvação em diversos campos — campos
68 ^ue 0 °osso _ esquema enumera. Queremos, Veneráveis Irmãos,
que es a nstituição Pastoral não seja sòmente um belo texto, mas
A Igreja no Mundo de Hoje 109
se torne também uma diretriz para a ação. Ora, “operari sequitur esse”
A Igreja ag,rá bem, se estiver bem. Se no passado não agiu bem ou
^incunctaX
( mcunctanterPr>Ogar r S isso
), então PalamqueháElaPouco
Um3 prova lid* - bem.semNesse
não estava hesitação
caso,
e mister reformá-la. Façamos, portanto, um brevíssimo exame histó­
rico. 1) A primeira parte do esquema trata da dignidade da pessoa
humana, especialmente de sua responsabilidade e consciência. Ora, as
revoluções americana e francesa tinham já elaborado uma “dectaração
dos direitos do homem . No entanto, não foi senão depois de 176 anos
que a Igreja decidiu reconhecer solenemente a liberdade religiosa e a so­
ciedade pluralista nêles contidas, após o Magistério as ter rejeitado
(“respuit ) repetidas vêzes. Quantos homens a Igreja afastou de sí
mesma, ao ser considerada inimiga da liberdade e da dignidade humana!
2) Na segunda secção da segunda parte fala-se muito bem da justiça
30cial. Contudo, a Igreja não reconheceu a tempo a importância da
mesma. Após diversos trabalhos de outros precursores, na metade do
séc. XIX publicou-se a obra de Karl Marx. Mas foi só 43 anos depois
que apareceu a encíclica Rerum Novarum, a qual pràticamente não tra­
tava senão do justo salário. Assim, constituía apenas um fraco eco de
Marx. Entrementes, porém, aconteceu o que o Papa Pio XI denominava
o escândalo do séc. XX: a Igreja acabou perdendo a classe operária na
Europa. Do mesmo modo, ao lermos o que no esquema se diz sôbre
o caráter evolutivo da ordem social, sôbre a técnica e os meios de co­
municação, sôbre a emancipação dos povos do colonialismo, sôbre o
valor humano da sexualidade, etc., nasce a admiração... 3) No ano
passado, um eminentíssimo Moderador exclamava: “Basta um único caso
Galileu!” Mas, entrementes, tivemos, para não falar de mais outros, o
caso Lammenais, o caso Darwin, o caso Marx, o caso Freud e, ainda
há pouco, o caso de Teilhard de Chardin. E’ claro que as obras dêstes
autores e os movimentos por êles iniciados estão afetados de alguns
erros. Mas, apesar disso, propugnaram valôres genuínos que o nosso
esquema agora reconhece... Por que então deviam ser condenados in­
discriminadamente? Não se deveria ter ouvido as palavras do Evan­
gelho: “Experimentai tudo e retende o que é bom”? Se se tivesse agido
assim, a Igreja não teria suscitado tanto ódio no mundo. A história,
Veneráveis Irmãos, é a mestra da vida. Os erros passados devem ser
evitados daqui por diante. Para isto, muito ajudará indagarmos pro­
fundamente as suas causas. Eu não proporei — repito — correção al­
guma nas formulações do esquema. Gostaria apenas de chamar a vossa
atenção para aquela condição sine qua non que tornará alma viva o
nosso texto: tirem-se da Igreja tôdas aquelas coisas onde não se obe­
dece bem e sem hesitação (“incunctanter”) à voz de Deus. Não é ne­
cessário repetir aqui o que Mons. Elchinger muito bem disse, na úl­
tima Congregação (n. 96), acêrca da restauração na Igreja da primazia
da liberdade e da consciência, do sentido da comunidade, etc. Certa­
mente a falta dêstes elementos constitui um grande pêso de inércia.
Mas também se podem encontrar outras causas que explicam por que
a Igreja se adapta tão lentamente ao mundo de seu tempo. Permit.-me
propor algumas ao vosso julgamento. Não desejo ofender a n.nguem:
não me refiro a pessoas mas a estrutura, a) Algumas causas pare­
cem achar-se na organização eclesiástica, como são, p. ex., a mamobi-
I. Crônica das Congregações Gerais
lidade de fato e até mesmo a quase automática promoção de oficiais
e consultores- a prevalente preocupação administrativa, inclusive com
certo senso político; a educação do clero separada do mundo, de acôrdo
com uma escolástica antiquada; a acumulaçao aqui em Roma de tantos
milhares de sacerdotes, seminaristas, religiosos e religiosas, que cons­
tituem um mundo artificial e fechado em si mesmo; os abusos da cen­
sura prévia dos livros e artigos e o temor decorrente das repetidas con­
denações; a insuficiente participação dos leigos na vida da Igreja, par­
ticularmente na elaboração teológica, b) Deve levar-se em conta também
uma causa de ordem doutrinai. Abundam na S. Escritura, na Liturgia e
na tradição espiritual, textos que opõem a imutabilidade de Deus e do que
d Êle procede à variabilidade das coisas, a qual, segundo um pensa­
mento mais de acôrdo com a filosofia platônica do que com o da S.
Escritura, se considera como que um defeito. Isto, se não é entendido
com cuidado, parecería quase consagrar o imobilismo. Acontece, assim,
que essa imutabilidade, que é válida apenas para os dados fundamen­
tais da Revelação, é estendida a outras coisas mais periféricas na re­
ligião, como, p. ex., as declarações ocasionais do Magistério, os sis­
temas teológicos e jurídicos. E’ estendida inclusive a coisas que ape­
nas estão conexas com a Revelação, como a ordem política e social,
c) Há, por fim, causas inerentes ao estilo de vida dos pastores. Por
que os nossos atos ainda hoje se realizam com uma pompa obsoleta?
Por que os homens devem dobrar os joelhos diante de nós para nos
beijarem o anel? Tôdas estas artificialidades, que não estão fundamen­
tadas no Evangelho, não nos afastam dos homens? Êste mesmo Concilio
é realmente atual? Onde existem ainda conferências internacionais nas
quais os participantes, revestidos de roupagens de cerimônia, ouvem,
durante meses, uma interminável cadeia de monólogos proferidos numa
língua morta e nas quais não se realizam discussões denominadas foro,
“carrefour” ou “panel-discussions”? Se nem mesmo a própria discussão
se faz num estilo moderno, então o que havemos de esperar? Venerá­
veis Irmãos, esta enumeração das causas certamente não é exaustiva.
Talvez nem atinja as raízes. Espero, porém, que servirá para nos ajudar
a pensar naquilo do qual depende finalmente tôda a fôrça e a eficácia
de nosso esquema.
112) Nicholas ELKO, Bispo dos rutenos de Pittsburg, nos EE.UU.:
O materialismo dialético não é só um sinal dos tempos atuais mas tam­
bém a razão extrinseca da inversão da ordem social. De fato, constitui
um sistema radicalmente oposto tanto à Revelação como à ética natural:
êle está invadindo o mundo como um dragão do Apocalipse tentan­
do tomar conta dos homens. Perante esta realidade o Concilio não
pode calar criminosamente (“sine sceleris accusatione”)* E’ preciso, pois,
alar do materialismo dialético indigitando-o como peste da sociedade
moderna e condenando-o expressamente, para que nos séculos futuros
nao sejamos condenados pela ausência duma tomada de posição decisiva
e vigorosa diante dos problemas postos pelo ateísmo.
u mm i e ro ^ ^ P E , Prepósito Geral da Companhia de Jesus (tex-
H i l e i ^ e^ uema a Igreja no mundo contemporâneo e
f h, ouvor pela maneira com que tenciona oferecer soluções aos
e oje. Mas temo que tais soluções, em particular o que se
A Igreja no Mundo de Hoje 111
diz do ateísmo no n. 19 se sitimm ^ , .
ções• dos . redatores - ai,IUd
áinía excessivamente
excessi^m pní num
6"16 n6,ano
C°"tra. 38 infe"-
teórico utn
seria persistir em um de nossos habituais defeitos. Poventura a Igreja
dadeP°transmaiteVeÍ dr r|0S P[,ncíPios> tôdas as provas? Mas, na reali-
. j J ranlpntp eficaz?
dadeiramente e f ^é tao r'(,ueza
p f. o Êste problema!30 mundo duma maneira ver­
A inadequação entre o que a Igreja possui e o que ela dá ao mundo
e ainda mais patente no mundo contemporâneo que faz abstração de
Deus e até, freqüentemente, se esforça em destruir inclusive a idéia
mesma de Deus. Esta mentalidade e esta cultura pràticamente atéias não
se contentam em lutar desde fora contra a Cidade de Deus — como
aquela Cidade no sentido augustiniano, — mas também invadem as
posições-chave da Cidade de Deus, penetram até no próprio espírito
dos crentes (inclusive dos religiosos e sacerdotes) e os contamina sub-
repticiamente com o seu veneno que tem por resultados na Igreja o
naturalismo, a desconfiança e o espírito de revolta. — Por meio de
seus membros mais conscientes, a nova sociedade atéia trabalha duma
maneira muito eficaz: utiliza os meios da ciência e da técnica, as pos­
sibilidades sociais e econômicas; prossegue imperturbàvelmente na exe­
cução duma estratégia cuidadosamente elaborada; exerce um domínio
quase absoluto nas organizações internacionais, nas sociedades finan­
ceiras, nos meios de comunicação social (televisão, cinema, imprensa,
rádio). Perante esta sociedade, a Igreja toma posição com tôda a ri­
queza de seus imensos tesouros de espiritualidade e de verdade. Mas
é preciso reconhecer lealmente que a Igreja não achou ainda os meios
verdadeiramente eficazes para transmitir aos homens de nosso tempo
êsses tesouros. As estatísticas falam com clareza: No ano 1961 os ca­
tólicos representavam 18%; hoje, porém, 16%. A proporção, pois,
está em sensível diminuição. Após 2.000 anos, constituímos sòmente
uma pequena porção da humanidade — e, nesta minoria, o que é
que é verdadeiramente católico? Sem dúvida, existem muitos elemen­
tos válidos neste pequeno rebanho: homens de elite e obras excelente­
mente equipadas. Mas, se se considerar o conjunto do mundo, o nosso
influxo não é certamente aquêle que deveria ser. Em grande parte,
com efeito, os nossos esforços estão desprovidos do devido influxo
por causa da dispersão com que muitas vêzes trabalhamos. Estas con­
siderações não devem, porém, gerar em nós o pessimismo. No mun­
do nós deveremos sofrer opressões e o mistério de iniqüidade se opõe
ao crescimento da Igreja. Mas o crescimento da Igreja não pode me­
dir-se segundo critérios simplesmente humanos. Enfim, não esqueçamos
que, enquanto outros têm o costume de empregarem métodos eficazes
aos’ olhos do mundo mas não conformes com o Evangelho, nós de­
vemos pregar Cristo — e Cristo crucificado.
Isto claramente relembrado, temos uma grave obrigação de reexa­
minar com urgência os nossos métodos pastorais sobretudo no refe­
rente aos sérios problemas do ateísmo. Neste problema nós temos a
tentação espontânea de lhe darmos uma solução intelectual: refutações,
provas, ensinamentos, defesas. Decerto, tudo isto é válido e ate essen­
cial, mas totalmente insuficiente. Não devemos sòmente comunicar a
verdade mas também a vida. Mais do que defender, devemos criar,
112 1. Crônica das Congregações Gerais
mais do que expor verdades, devemos fazer mover; mais do que con­
templar a verdade, devemos levá-la a efeitos práticos. Eis aqui algu­
m a palavras de João XXIII que são a confirmação direta destas pro­
posições- “Hoje porém, mais do que nunca, e indispensável que esta
doutrina'seja conhecida, assimilada, traduzida na realidade social sob
as formas e na medida em que o permitem ou reclamem as diversas
situações. Esta tarefa é árdua, mas muito nobre. Para a realização
desta tarefa devemos não só convidar ardentemente os nossos irmãos
e os nossos filhos, mas também a todos os homens de boa vontade”
{Mater et Magistra, AAS 53 [1961] 453). A passagem da doutrina à
prática é seguramente difícil, por causa da constante e rápida mobilida­
de das situações concretas. Por isso, freqüentemente, sem nos darmos
conta, tentamos escapar a esta dificuldade e nos refugiamos na verdade
abstrata, absolutamente permanente e estável, mas, ao mesmo tempo,
menos apta para encontrar eficazmente soluções.
O ateísmo não é um problema exclusiva ou primàriamente filosó­
fico. Por essa razão, aJém de refutações intelectuais, é urgente promo­
ver uma ordem individual (relação do indivíduo com Deus), familiar
(relação da família com Deus), comunitária (relação da sociedade com
Deus), na qual as diversas relações recíprocas não estejam afetadas
de modo algum pelo ateísmo. Estas considerações valem não sòmente
para o ateísmo militante e agressivo, mas também para o ateísmo prá­
tico, estrutural, o da vida corrente. Mas, porque o homem (e a socie­
dade) encontra mais facilmente a Deus por atos sociais — que impli­
cara a atuação da vontade — do que por atos de pura contemplação
— que percebem e refletem a verdade, — é urgente, perante a so­
ciedade sem Deus, construir a sociedade de Deus, a sociedade cristã.
O meio radical para o saneamento radical dos males que hoje de­
correm do ateísmo e do naturalismo é a construção da sociedade cristã,
não no isolamento nem no que se chama um “gueto”, mas em pleno
mundo. E’ preciso que esta sociedade esteja impregnada e animada do
espírito da comunidade cristã. Respirando — por assim dizer — esta
atmosfera, o homem contemporâneo tomar-se-á mais facilmente cris­
tão, ou, pelo menos, religioso. Sem uma atmosfera semelhante, fare­
mos cristãos apenas a uns poucos homens, mas os perderemos fàcil-
mente num mundo que não é cristão nem religioso. Para criar uma
tal atmosfera, é necessário determinar quais são os seus fundamen­
tos concretos e qual deve ser o método de trabalho. Sem dúvida, isto
exige que as estruturas sociais sejam reformadas. Devemos penetrar
nas mesmas estruturas da sociedade humana para as modificarmos e
para impregnarmos de valôres cristãos tôda a vida social, econômica,
política. Os nossos filhos não se contentarão — disse João XXIII —■
com as luzes da fé nem com uma vontade ardente para promover
o bem. Mas é preciso que estejam presentes nas instituições da socie-
3 e »e/J?ue exer<am ^enfro delas um influxo eficaz sôbre as estru­
turas (Pacem in Terris, AAS 55 [1963] 296).
Isto é absolutamente urgente; não podemos esperar mais; é a
hora da ação. O que devemos fazer? Para agir eficazmente, muito
humíldemente gostaria vos propor, Veneráveis Padres, um projeto con-
o. Que se faça por meio de excelentes especialistas e por pes-
A Igreja no Mundo de Hoje 113
5038
nico er exato
í ! 6”da situaçao
* C-°mp!tentes
atual do namundo contemporâneo,
«m balanço para
concreto,
que téc­
não
nos inspiremos num mero oportunismo do momento presente. Do con­
trário, perderiamos muitas fôrças e estaríamos constantemente obriga-
dos a mudar os nossos planos. 2) Determinem-se as linhas fundamen­
tais duma açao em conjunto em escala mundial, suficientemente am­
plas Par^_ 9ue possam ser adaptadas às circunstâncias concretas de
cada região. Estas linhas fundamentais serão submetidas à aprova­
ção do Sumo Pontífice. 3) O mesmo Sumo Pontífice, em virtude de seu
cargo e de sua solicitude universal sôbre tôda a Igreja, assinalará a
cada um os diversos campos de ação, de modo que todo o Povo de
Deus, sob a direção de seus pastores que o Espírito Santo pôs para
reger a Igreja de Deus, se consagre a esta emprêsa com tôdas as suas
energias. Então, todos, sem exceção, animados e unidos no mesmo
espírito de obediência e de caridade comunitária, duma maneira or­
ganizada, ponhamos mãos à obra. Isto exige muitos sacrifícios, pois
supõe a vitória sôbre todo egoísmo individual e coletivo, uma espé­
cie de morte mística coletiva, isto é, o sacrifício de todo particularis-
mo da diocese, do instituto religioso particular, da própria situação
social. Tudo isto deve morrer para que Cristo triunfe no mundo, como
o grão de frumento deve morrer para dar frutos. 4) Convidemos á
esta tarefa comum todos os homens que acreditam em Deus, para que
Deus seja o Senhor da sociedade humana. Uma tal colaboração no
que é comum aos que acreditam em Deus não abrirá eficazmente o
caminho para uma ulterior e mais profunda união, primeiramente en­
tre aquêles que se gloriam do nome de Cristo?
Conclusão: A ponte pela qual da verdade passaremos à vida pode
descrever-se como segue: 1. Investigação e reflexão científica esclare­
cidas pela fé na fôrça da oração. 2. Obediência absoluta ao Sumo Pon­
tífice. 3. Fraternal caridade comunitária que nos toma todos irmãos
no mesmo trabalho, unidos em Cristo. Podemos fazer tudo isto: é ne­
cessário que o façamos!
114) Emile Maurice GUERRY, Arceb. de Cambrai, na França (tex­
to completo): Alguns dias após a nossa Terceira Sessão, produziu-se
um acontecimento dum alcance considerável para a organização da
paz do mundo. Era o apêlo de Bombaim, dirigido no dia 4 de no­
vembro de 1964 ao mundo inteiro por S. S. o Papa Paulo VI, para de­
nunciar a “corrida armamentista” e propor aos chefes de Estado uma
solução precisa, concreta e imediata em favor da paz: com economias fei­
tas progressivamente sôbre as despesas militares empregadas nos ar­
mamentos, criar um fundo mundial com fins pacíficos a fim de ofe­
recer aos países do terceiro mundo uma ajuda fraternal e eficaz. E ,
pois, absolutamente necessário que êste nobre projeto apareça com
tôda a clareza no esquema XIII. Ora, nao se faz dele menção expli­
cita alguma no texto. Na p. 81 há, em caracteres pequenos uma re­
ferência a uma nota 3. Mas, no texto mesmo, nao se encontra nenhu­
ma nota 3! Trata-se, evidentemente, dum erro tipográfico!
n A voz dos povos e da consciência pública diante das ameaças
m .rt L V s u m o P a ti f e fê. escut.r o pranlo = 1 md. d « po m
que - todos - aspiram à paz, tem horror da guerra e que, no
114 I. Crônica das Congregações Gerais
tanto vivem sob a ameaça constante duma nova guerra que, desta
norá em perigo a civilização e a existência mesma da humanidade.
Alià* o Papa tem-se feito, em muitas outras circunstâncias, o intér­
prete e o profeta da consciência pública para protestar contra as de­
vastações que produz a “corrida dos armamentos" na vida dos povos.
Sua Santidade declara em Bombaim: “Esta carreira mobiliza energias
enormes em homens e em recursos ( ...) , alimenta uma psicose de
fôrça e de guerra ( ...) e conduz a fundar a paz sôbre uma base inu­
mana de desconfiança e de temor recíprocos".
2) Uma solução de sabedoria e razão. O apêlo de Bombaim não
se contenta com diagnosticar o mal e suas causas: oferece uma solu­
ção positiva. Esta intervenção do Papa é tanto mais necessária quanto
é doloroso constatar a espécie de impotência trágica em que se debatem
os chefes de Estado de parar o ciclo infernal que arrasta as nações,
umas após outras — contra a sua vontade — a inventar e fabricar
armas cada vez mais numerosas, mais dispendiosas e mais mortíferas.
Cada uma invoca o direito de legítima defesa. Pensam criar, como di­
zem. “uma fôrça de dissuasão". Tôdas querem possuir o que se tornou
o sinal do poder. Nesta carreira insensata, o Papa, que não está ligado
a interêsses políticos, que permanece alheio às competições territoriais
e que não quer senão o bem comum universal, fêz escutar a voz da
razão e da sabedoria apresentando uma proposição concreta de solu­
ção: economizando as reservas empregadas para enfrentar as despesas
militares, criar um fundo mundial para fins pacíficos e ajuda fraternal.
3) As exigências da justiça e do amor fraternal. A corrida dos
armamentos agrava ainda consideravelmente a disparidade escandalosa
entre os povos ricos e os povos em via de desenvolvimento em todos os
domínios: perante a vida, a fome, a doença, as possibilidades de desen­
volvimento econômico e social. A corrida armamentista impõe à eco­
nomia de cada nação sacrifícios extremamente pesados que obrigam os
governantes a reduzirem a construção de alojamentos, escolas, hospi­
tais, laboratórios — em resumo, de tôdas as obras de paz necessá­
rias para o bem dos cidadãos, a elevação do nível de vida das popu­
lações. Por isso, a solução proposta pelo Papa em Bombaim responde
às exigências da justiça e do amor fraternal: como disse o Papa, be­
neficia “àqueles que sofrem e esperam uma ajuda urgente e substancial".
4) Os sinais da vontade de paz. Enquanto as Organizações interna­
cionais não possuírem uma autoridade pública dotada de meios eficazes
para prevenir os conflitos e os resolver, substituindo progressivamente
o regime da fôrça material e da violência entre os povos pelo da com­
preensão mútua e da colaboração leal, os Estados julgam-se constran­
gidos, para se defenderem, asofrer a “lei do jângal" (la loi de la
jungle), que arrasta à fabricação e disseminação das armas e a outros
procedimentos da guerra moderna. Ora, são numerosos, dentre os Es­
tados, os que gostariam da paz. E\ pois, capital poder reconhecer
a vontade de paz dêstes Estados em sinais que excluem qualquer gê-
nero de duvida. As belas palavras já não bastam. O apêlo de Bombaim
in íca muitos sinais: por uma parte, negativamente, abster-se de tôda
palavra ou de todo ato suscetível de criar ou promover “uma psicose
orça e e guerra ( ...) , uma base inumana de desconfiança e de
A Igreja no Mundo de Hoje 115
rão°ffenerosa^dos
ção generosa dos ^Estado*
Estados ^ na constituição
°Utra parte’doP^^vamente, a participa­
fundo imeriiduunai
internacional será
o. sinal
a i^o a
indubitáve^ de
u suas
t “? v o n tad
vontaaes e Ha « o.
de paz: ao mesmo tempo, ela sera
co-
loca-los-á entre os benfeitores da humanidade.
5) Voto. Que repercussão extraordinária teria no mundo a adesão,
num vo o unanime, de tôda nossa Assembléia conciliar à proposição de
Bombaim, para suplicar que as nações tomem em consideração o pro­
jeto do Sumo Pontífice!
115) Antônio PILDÁIN Y ZAPIÁIN, Bispo de Islas Canarias, na
Espanha: Causaria admiração e seria inteiramente inexplicável para o
futuro se o Concilio não falasse do ateísmo moderno, cuja principal ca­
racterística não é a negação dêste ou daquele dogma ou inclusive da
própria Revelação mas a absoluta negação do Deus mesmo. Aplique­
mos, pois, remédios convenientes contra os meios de que se vale êste
sistema para se espalhar por tôda a parte. 1) Um dêstes meios é a
sua pseudociência. Pois bem, assim como foi glória do Concilio de
Trento a instituição de seminários, assim também deve ser a glória do
atual Concilio a criação de universidades e escolas que ensinem a ver­
dadeira ciência. 2) Outro meio de que se alimenta o ateísmo é —
como já dizia Pio XI — a miséria e a pobreza dos povos. Mas leve-se
também em conta que um dos principais responsáveis pela propagação
do ateísmo não é sòmente o comunismo, mas também o capitalismo li­
beral de certas nações não-comunistas. Êste capitalismo, conculcando a
justiça e a caridade, dá lugar a que seja cada vez mais grande e pro­
fundo o abismo entre a imensa massa dos oprimidos pela pobreza, por
uma parte, e, por outra, a riqueza imoderada e o luxo inútil de uns
quantos homens. E’ doloroso constatarmos ainda que, entre êstes úl­
timos, contam-se não poucos católicos, que em nome de Deus cometem
tôda sorte de injustiças para com o operariado. 0 Concilio, pois, deve
condenar solenemente o capitalismo liberal, considerando aos seus fau­
tores “pecadores públicos” e lhes aplicando, enquanto tais, as devidas
penalidades do Direito Canônico. 3) Outro importante meio do ateís­
mo é a luxúria, definida por S. Tomás como fonte do ódio contra
Deus. Neste mesmo contexto seria oportuno falar do ateísmo prático
das universidades, das leis, da sociedade, das famílias, dos costumes, etc.
116) James CORBOY, Bispo de Monze, na Zâmbia: 1) Deveria­
mos limitar-nos a expor os princípios gerais para que seja garantida
ao esquema uma validez no espaço e no tempo. For isso, não absolu-
tizemos nossas soluções nem particularizemos demasiadamente nossas
aplicações práticas. Hoje em dia está-se operando uma grande evolu­
ção — aliás, legítima — em todos os campos ^da Teologia e é bom
deixarmos ampla liberdade aos teólogos para êles aprofundarem cer­
tos temas ainda problemáticos (p. ex., o sentido teológico da atividade
humana). Assim, ao mesmo tempo, não criaremos vãs expectaçoes no
mundo. 2) Quando se fala que “as ações do homem aperfeiçoam o ho­
mem” (n 42), nesse mesmo contexto deveria insenr-se o prob ema do
mal, considerado tanto sob o ponto de vista humano (mostrando como
também as adversidades e as desilusões aperfeiçoam o ^mem) quanto
sob
, u o0 oonto de vista
P0nT0daae V'M<\ dacrista).
.redenção
,-v 3.o Nrl por meiolA-se
da Cruz (sublinhando a
significação renúncia No tpXt0
texto le-se também
lamoem queque o aper-
h-
U6 I. Crônica das Congregações Gerais
feicownefito da ordem social é totalmente diverso do crescimento do
Deus (n 43)* Ora, essa é uma afirmação excessivamente ca-
teórica ^ há uma conexão entTe o progresso social e o religioso, parti-
^arrneme nos países em fase de desenvolvimento. A vida humana e a
crisH do homem náo sao duas vidas perfeitamente diversas mas uma
única integra vida humano-cristá. 4) Uma vez que o esquema se dirige
a todos os homens (n. 45), deveria apontar primeiro para o domínio e
a Providência de Deus e só entáo falar do poder de Cristo.
117) Aniceto FERNÁNDEZ, Mestre Geral da Ordem dos Pregado­
res (texto completo). Êste esquema é uma mensagem da Igreja ao
mundo de hoje ou “á família humana inteira0, como se diz no n. 2.
Nesta mensagem é necessário, antes de tudo, atender a duas coisas: a)
As verdades e os bens da ordem natural, que sâo absolutamente ne­
cessários sempre e em tôda a parte para o verdadeiro progresso e a
felicidade do gênero humano e que a Igreja deve defender e propor
sempre e em tôda a parte, b) As verdades e os bens sobrenaturais que
completam e elevam tôdas as verdades, tudo o que é verdadeiramente
bom, assim como as soluções justas dadas aos problemas da ordem na­
tural Estas verdades e êstes bens a Igreja deve a fortiori defender e
propor. O esquema fala bem e em muitas passagens dêsses dois pontos
fundamentais, mas talvez ainda nâo com tôda a clareza, a precisão, a
amplidão e o vigor desejados. Por isso, gostaria de propor algumas
observações, sobretudo a propósito do n. 30, que poderíam quiçá aju­
dar a aperfeiçoar o esquema.
1) E' mister insistir mais clara, forte e profundamente no principio
fundamental que deve informar e guiar tôdas as consciências e tôdas
as sociedades humanas: todos os homens — de tôdas as condições, de
rodo6 os lugares e de todos os tempos — e tôdas as nações constituem
no mundo uma única e verdadeira família, uma sociedade universal.
A unidade de origem e de criação por Deus, a mesma natureza hu­
mana específica e o mesmo destino comum demonstram claramente a rea­
lidade desta sociedade universal do gênero humano, desta comunidade
natural dos homens do mundo inteiro. Dêste principio decorrem os
direitos e os deveres primordiais, fundamentais e iguais para todos
os homens. Todos são, primeiramente, membros desta sociedade uni-
versal e cidadãos do universo. Esta sociedade universal natural tem
prioridade sôbre a sociedade das diversas nações. O homem pertence
a esta sociedade humana antes de pertencer à sociedade particular duma
naçio ou dum povo. E o mesmo acontece, na ordem natural, para os
direitos e os deveres que decorrem, em virtude da natureza humana,
das outras sociedades particulares. Eis por que ninguém jamais pode
impedir ou suprimir êstes direitos e deveres nem dispensar dêles. Êles
acompanham o homem sempre, em todos os lugares, em todos os tempos,
m todos os gêneros de vida. Por êles o homem é, em primeiro lugar,
^uuazb aa tamilia
ou dum povo. humana universal antes de ser cidadão duma na-
un,da<*e ,de todo o gênero humano numa única família e a
nrat* + * * * àtcorrt aparecem mais claramente, mais forte-
framarat à ”'anci^ ma® sublime no fato da elevação da natureza
sobrenatural no Cristo redentor. Porque, por uma
A Igreja no Mundo de Hoje
117

P? ím ‘ n Í L ? t0d°S 05 bens- todos 05 direitos e deveres da


nnr outra Darte forlo116 °», l*um'nad°s» confirmados e completados e,
P° c riirpitnç » s os homens podem ser enriquecidos por verdades,
bens, direitos e deveres novos e mais sublimes. Êles podem unir-se
numa so família divina mediante liames mais sublimes. Com efeito,
segundo a Revelaçao divina, todos os homens foram criados por Deus;
descendendo dos mesmos primeiros pais, todos foram igualmente resga­
tados da servidão do pecado por Cristo; chamados à mesma graça so-
brenaturai que santifica as suas almas e as eleva por meio duma par­
ticipação na natureza divina, são também destinados ao mesmo fim so­
brenatural que é a fruição de Deus. Todos os homens são, pois, esco­
lhidos e chamados a participar verdadeira e realmente da natureza
divina, a ser verdadeira e realmente irmãos de Jesus Cristo, Filho único
de Deus, verdadeira e realmente filhos do mesmo Pai celeste, verda­
deira e realmente co-herdeiros com Cristo do mesmo reino celeste.
Com efeito, pela sua elevação à ordem sobrenatural, o homem não é
sòmente cidadão do mundo: é também cidadão e membro da família
de Deus, i. é, cidadão da cidade celeste, com deveres e direitos novos e
mais sublimes. Eis por que, como Cristo lhe ensinou, a Igreja sempre
pregou e sempre deve pregar estas verdades, êstes direitos e êstes
deveres novos e sublimes; com um amor fraternal, as inculcou e deve
inculcá-las ao mundo. Ela rejeita tôda discriminação entre os povos n5
reino dos Céus. Com S. Paulo (1 Cor 12,13; Gál 3,28), sempre pro­
clamou que em Deus e no seu Filho não há mais nem homem, nem
mulher, nem escravo, nem livre, nem judeu, nem pagão, nem bárbaro,
nem civilizado, mas Cristo é todo em todos. Tudo isto esclarece, afirma
e aperfeiçoa poderosamente a sociedade natural e a fraternidade uni­
versal dos homens, assim como os direitos, os deveres, todos os bens
e tôdas as verdades da ordem natural. Porque, conseqüentemente, so­
mos todos um só corpo, devemos nos amar, nos ajudar, nos susten­
tar no plano individual, nacional e internacional, não sòmente em pa­
lavras, mas em atos e em verdade (1 Jo 3,18). Porque, ainda que
a ordem sobrenatural seja distinta da ordem natural, está inserida nesta
ordem natural pela encarnação do Verbo, a Revelação divina e a ele­
vação do homem à ordem sobrenatural. A ordem sobrenatural e divina
à qual todos nós somos chamados não é, pois, contrária à natureza,
mas acima da natureza; não é contra a razão, mas acima da razão;
não é inumana, mas sôbre-humana. E ,portanto, muito doloroso que
o esquema, sobretudo na sua primeira parte, nem sempre parece ter pre­
sente esta doutrina tão bela e tão clara da Igreja. Pelo contrário, em
muitos lugares percebe-se um esforço infeliz para assimilar conceitos
equívocos tomados emprestados de ideologias estranhas e contrárias,
como o existencialismo, o “vitalismo atualista” e o evolucionismo. Dai
resultam confusão e graves detrimentos para a clareza e a verdade da
doutrina católica, assim como grandes riscos de dar ocasião ao erro
daqueles que pensam que todos os homens estão destmados a uma es­
pécie de glorificação cósmica dêste mundo - ou aquele erro, que
foi reprovado por Paulo VI, por “parecer confundir a Igreja com este
mundo". E’, pois, muito desejável que estas ambiguidades e estas con­
fusões desapareçam do texto e que este se apó.e na doutrina clara
sólida da Igreja.
118 l. Crônica das Congregações Gerais
3) E’ certo que, para resolver os problemas concretos dêste mun­
do a consideração teórica dêsses princípios não basta, mas, na me­
dida do possível, é preciso vir a aplicações práticas nos diversos casos.
Mas nestas aplicações é mister ter sempre presente esta doutrina funda­
mental da ordem natural e sobrenatural, assim como a sua íntima har­
monia, se verdadeiramente queremos trazer luz e não confusão aos pro­
blemas atuais. Assim agiram no seu tempo outros filósofos e teólogos
cristãos e chegaram a mudar o decurso da história. Que baste citar
S. Agostinho no séc. V, S. Tomás no séc. XIII, os notáveis teólogos
e os heróicos missionários do séc. XVI. Naquele séc. XVI, que vive a
descoberta das regiões desconhecidas da América e a realização da
unidade geográfica de todo o universo, problemas numerosos e graves
apareciam ou, se não, outros problemas se punham duma maneira mais
clara e mais angustiante. Apoiando-se nesses princípios, os teólogos e
os missionários dessa época, que eram plenamente conscientes da fra­
ternidade humana universal na ordem natural e sobrenatural, proclama­
ram clara e fortemente, diante dos erros das autoridades e de outros
filósofos de renome, a comunidade natural de todo o gênero humano,
i. é, a sociedade que abraça tôda a humanidade, assim como os di­
reitos e os deveres universais que constituem a lei suprema que, por
tôda a parte, deve presidir as relações fraternais e pacíficas entre os
homens e os povos — seja qual fôr o seu degrau de civilização. Guia­
dos por êste espírito, colocaram e desenvolveram os primeiros prin­
cípios do direito das gentes (“ius gentium”) e da moral internacional
com uma perfeição tal, que ainda hoje as suas excelentes doutrinas não
foram ultrapassadas pelo ensinamento dos juristas modernos, a qual
é-lhe mesmo inferior em muitos pontos.
E’ igualmente muito desejável que o nosso Concilio se esforce em
fazer penetrar nos espíritos e nas sociedades humanas o tão notável
universalismo do pensamento social cristão, para que sôbre a terra de­
sapareçam mais ràpidamente e dum modo irreversível todos os parti-
cularismos e os conflitos entre as nações, tôdas as servidões e as domi­
nações políticas dumas nações sôbre outras, e tôda discriminação entre
os homens. E’ neste sentido que a Igreja sempre trabalhou com coragem
— ainda que seja preciso lamentar que os cristãos e as nações cristãs
nem sempre tenham praticado esta sã e salutar doutrina. E’ a razão
pela qual o mundo conheceu às vêzes graves injustiças e grandes ma­
les^ Mas esta preclara doutrina, graças sobretudo ao magistério de
Eeão XIII, Fio XII e João XXIII, conheceu um notável esplendor na
Igreja e no mundo. E’ neste espírito de comunhão natural de tôdas as
nações e de fraternidade evangélica que Paulo VI levará à sede das
Nações Unidas uma presença que nós desejamos feliz e benéfica.
28-9-1965: 137» Congregação Geral
A Igreja no Mundo de Hoje
I Parte: A Igreja e a Condição Humana

P r e s e n t e s : 2.161 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Doepfner. A sessão começou às
9 e terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada pelo* Card.
Beran. Nada de especial houve nesta manhã. Com as 15 inter­
venções orais terminou também o debate em torno da I Parte
do esquema sôbre a Igreja no mundo contemporâneo:
118) Ignace Pierre XVI BATANIAN, Patriarca dos armênios: A
exposição introdutória, embora redigida com um método digno de lou­
vor, deve ser reelaborada. Nessa nova elaboração apresenta-se um
conteúdo mais sintético, duma forma mais lógica. E’ preciso antes de
tudo considerar os fatos, para só depois propor os remédios que pare­
cem oportunos e indicar o caminho que conduz a Deus. Aliás, foi êste
o método adotado por Cristo nas suas parábolas. E’ o método usado
freqüentemente por S. Tomás de Aquino e também por Pio XII nos
seus discursos e alocuções. Conviría dedicar um parágrafo inteiro à
assim chamada “ética da situação”: também ela deve ser considerada
um gravíssimo desvio atual, porque, embora não negue a lei de
Deus nem o ditame da consciência, pràticamente a destrói. Além disso,
a introdução não deveria limitar-se a apresentar os problemas, mas de­
veria declarar que a solução dos mesmos se encontra em Jesus Cristo.
No atinente ao título de nosso esquema, concordo com o que Mons.
Morcillo e outros Padres falaram no sentido de não lhe convir o de
“Constituição pastoral” : ao meu ver, seria mais correto intitulá-lo de
“Alocução da Igreja ao mundo atual”.
119) Manuel LLOPIS IVORRA, Bispo de Coria-Cáceres, na Es­
panha: Na passagem em que se trata do respeito pela pessoa humana
e do seu direito a não ser constrangida a abraçar a fé católica, seria
bom eliminar o elogio feito a algumas nações pelo fato de terem con­
siderado como um elemento constitutivo do bem comum o direito a li-
berdade religiosa, tanto individual como coletiva. A Constituição tem
por objeto o respeito devido à pessoa humana e não o problema da
liberdade religiosa; que é estudado num outro documento conciliar.
120 I. Crônica das Congregações Gerais
Ora o respeito devido à pessoa humana é que sugere a obrigação de
não constrangê-la a abraçar a fé católica, para que o seu ato de fé
seja livre e meritório. Mas êste mesmo respeito nao autoriza ninguém
a considerar como um bem tôda e qualquer forma de liberdade religiosa.
120) Sérgio MÉNDEZ ARCEO, Bispo de Cuernavaca, no México
(texto completo): O esquema agrada realmente. Mas ainda deve ser
aperfeiçoado nesta Aula por obra da ação do Espírito Santo, através
da discussão conciliar, que é o ápice do sacramento de verdade do
nosso magistério. Em vez de louvar muitas observações feitas nesta
Aula, quero apenas chamar a atenção para aquilo que o Cardeal Shehan
e outros Padres Conciliares disseram sôbre a necessidade de propor me­
lhor a antropologia do esquema. Sôbre êste assunto, embora sob ou­
tro ponto de vista mais amplo, desejo submeter humildemente à vossa
consideração estas observações que faço em nome de alguns Bispos da
América Latina, entre os quais 10 do México:
A primeira parte do esquema contém ótimos elementos. Mas, como
o seu conteúdo é pura e simplesmente sociológico, seria mais fácil e
seguro que se apresentasse uma síntese da sua matéria, tendo como
ponto de partida o homem e não as circunstâncias em que êle vive.
Estas circunstâncias, além de serem externas, estão sempre sujeitas ao
fluxo incoerente e variado das coisas. A mudança, porém, que elas ope­
ram no homem fazem dêle uma nova imagem. E é sob esta nova pers­
pectiva que devemos encarar as referidas circunstâncias. Tentaremos,
pois, descrever do seguinte modo esta imagem do homem moderno, su­
jeito da revolução psicológica, econômica, política e científica: 1) O
homem torna-se cônscio de si mesmo, isto é: a) da profundidade da
sua personalidade, onde se elaboram os primeiros germes da consciên­
cia; b) da sua vocação a cooperar para a criação dum mundo nôvo e
melhor; c) do seu fim histórico, da promoção, do progresso da evolução
universal e da unidade. 2) O homem socializa-se para melhor procurar
e exaltar a dignidade da pessoa humana e para obter o seu fim. 3) O
homem submete ao exame de sua razão tudo o que lhe está em volta.
Isto aparece claramente: a) na afirmação da inteligibilidade do mundo
e do seu determinismo e também da relatividade da verdade que êle
deve adquirir; b) na técnica e na planificação; c) no campo religioso,
porque pela razão êle é levado a desmitologizar as realidades — em­
bora êle construa outros mitos — e a examinar de nôvo o problema
do Transcendente e do Absoluto. 4) Portanto, o homem acelera o
curso da história.
Perante esta realidade do homem, a atividade da Igreja na prega­
ção do Evangelho deve começar pela solução exata de dois proble-
^ °*ue ^ 0 homem? E’ absolutamente impossível ensinar o
evangelho se antes não se responde a esta pergunta. A sua resposta
eve ser procurada na interpretação personalística do homem, como
£ r v acil?a- ^b) Qual é a P°siÇão do homem perante o Absoluto? A
,.r i J*e lza^ao deve começar não do pressuposto do ateísmo como fa*0
m i.1^ mas conhecimento exato da posição substancial do ho-
e *°- ranscendente e o Absoluto. O esquema exagera quan-
fennmpnn ®teism°- como se o ateísmo fôsse precisa e radicalmente um
fenomeno característico do mundo de hoje. Seria melhor falar dum
A Igreja no Mundo de Hoje
121
j£z e n d e n t e ' d0 Abso,u‘°' ~ -
trínseoD enTre ^ p íim e ía ^ X ^ r e s 3" ^ 0'0^ 3' ,a'ta um nexo in*
apareceria
tão “o auese éfôsse examinadan mais
o hnmpm” n o l T 6e sistematicamente
^ S Pr°funda 3 ntrodu<ão- Èstea ques-
»«°
°gern do homem de hoje: p e s s oaque
. * pessoa ' s ese^t otorna
r n^ cônscia
— dada.de si pela
mesma,in«ua-
aue
Se/ ° ; ‘ah.Zn\ q“e racionaliza tudo o que lhe está em volta, que acelera
o curso da historia. Esta questão - “o queé o homem" - é tratada
no capitulo anterior. Mas a resposta tradicional que lhe é dada é in­
suficiente, porque não “aggiornata”. O homem é decerto “imagem de
Deus . A imagem de Deus”, porém, exige uma consciência de si mes-
ma. s a, por sua vez, exige a sociedade, i. é, a conjunção com os
outros. A socialização é, pois, a via para a conscientização. No capítulo
segundo se trata da vida de comunidade, mas sem conexão alguma com
essa conscientização — de que o esquema não fala. Do mesmo modo,
no capítulo primeiro, n. 18, “artificiose praeparatur sermo de atheismo”
sôbre o qual se fala no n. 19 — que, de fato, em muitos casos é um
reexame (“reevaluatio”) e não uma negação do Absoluto, como já
dissemos acima. O n. 20 não insiste sôbre o caráter dinâmico e cós­
mico de Cristo.
Tôda a questão está intimamente relacionada com uma outra de
suma importância que até agora não mereceu a consideração de ne­
nhum Padre Conciliar e sôbre a qual vos desejo falar. O defeito de
perspectiva antropológica em não se procurar resolver de modo siste­
mático a questão “o que é o homem” leva inelutàvelmente os redato­
res do esquema a omitirem — num silêncio tão admirável, que, ao
meu ver, é inteiramente inexplicável — um problema característico do
homem de hoje: refiro-me à “psicologia das profundezas” ou psicaná­
lise. A psicanálise já se apresenta hoje como verdadeira ciência, uma
vez que tem um objeto, um método e uma teoria próprios. E’ uma
ciência que ainda está nos inícios e apresenta perigos que devemos
considerar atentamente. Mas nem por isso podemos ignorar a “revolução
psicanalítica”, que não é menor do que a revolução técnica. A genial
descoberta de Sigismundo Freud deve ser considerada tão grande co­
mo a de Copérnico ou a de Darwin. Tenhamos presente o seu objeto,
i. é, o sujeito inconsciente que existe em cada um de nós e em tôda
a atividade humana, tanto religiosa como cultural, econômica e política,
que _ queiramos ou não — exercita um grande influxo. Por outro lado,
a psicanálise (“sermo analyticus”) uma vez para sempre conquistou
um lugar entre os elementos da cultura humana e impõe uma renova­
ção da concepção do homem, levantando problemas de que no passado
nem se suspeitava. A Igreja, por causa do dogmatismo anticristão de
alguns psicanalistas, assumiu uma posição que relembra aquela que
assumira no passado com respeito a Galileu. Mas nao ha nenhum cam­
po de atividade pastoral em que se possa prescindir da ps.canal.se, E
de fato hoje muitos já a empregam. As intervenções da Igreja contra

ss -s
Concilio - V—9
122
I. Crônica das Congregações Gerais
é nem cristã nem não-cristã. Se, pois, a Igreja quer realmente estabe­
lecer um diálogo sincero e pleno com os homens de hoje, não pode
ignorar os verdadeiros e autênticos psicanalistas — com os quais deve
falar pela voz dos moralistas ou teólogos, mas diretamente e com con­
fiança Esta ciência tem a vantagem de propor um método de purifica­
ção que é de grande proveito para os homens cuja fé está misturada
com desvios psicológicos que a pervertem ou inibem. O esquema, por­
tanto deveria dizer uma palavra, embora breve, sôbre êste aspecto pe­
culiar do homem de hoje. (Veja o leitor no fim da crônica desta 137* Con­
gregação a crônica paraconciliar sôbre a Psicanálise no Concilio, p. 131 ss).
No capítulo segundo apresenta-se uma paupérrima concepção da
sociedade, pois é considerada como uma exigência da natureza e, ao
mesmo tempo, diferente dela. Ora, o homem não está apenas na socie­
dade. Seria melhor dizer que é um ser social: nasce e cresce com os
homens passados, presentes e futuros, por meio das instituições e es­
truturas sociais. Por isso, a intercomunicação é um valor em si mesma,
enquanto que o valor das instituições e estruturas sociais é relativo.
Se a mediação das instituições fôr autêntica, a intercomunicação dos ho­
mens será eficaz. Do contrário, impedirá a comunhão e, portanto, a
conscientização dos homens. Cristo oferece uma perfeita comunicação
e Êle próprio é a nossa comunhão. Por isso, especialmente para as
nações do terceiro mundo, Cristo é a única esperança certa de pro­
moção. Além disto, por um defeito de perspectiva antropológica, todo
o esquema — e em particular o capítulo segundo — apresenta-se muito
tomista e pouco renovado. Todo o dualismo do n. 25 entre a ordem
das coisas e a das pessoas desaparece, porque a continuidade nasce
da conscientização e porque tôdas as coisas se recapitulam em Cristo.
121) Pavel HNILICA, Bispo titular de Rusadus, da Checos!ováquia
(texto completo): O esquema XIII sôbre a Igreja no mundo de hoje
emprega — como podeis notar — a expressão “huius temporis” (no
mundo de hoje). Nos nossos dias, porém, grande parte da Igreja está
oprimida pelo ateísmo militante que se funda num sistema político-
econômico e social e que é impôsto à fôrça e com engano às mentes
dos cidadãos. Parece-vos que esta condição da Igreja é indicada no
nosso esquema? O que êste diz sôbre o ateísmo é muito pouco — e
dizer pouco é o mesmo que nada dizer. A história com razão nos acu­
saria por causa dêste silêncio de pusilanimidade ou de cegueira. De­
ver-se-ia dedicar um esquema especial ao problema do ateísmo — es­
quema que poderia ser publicado separadamente ou como parte do
esquema sôbre as missões. A história não nos julgará sôbre a quan­
tidade de esquemas mas sôbre o valor daquilo que dissermos e decre­
tarmos, especialmente sôbre o ateísmo. Não apresento uma teoria mas
sim a minha experiência pessoal e a dos Bispos ausentes “propter iniu-
riam temporis , de que falamos, e dos sacerdotes e religiosos que co-
nheci na prisão e com os quais compartilhei “pondus et pericula” da
greja e de cujo pensamento participo e desejo expor. Não sou levado pelo
o 10 mas pelo amor dos irmãos, da Igreja e dos perseguidores.
i) Em primeiro lugar, aduzimos as razões pelas quais julgamos
que a parte do esquema que trata do ateísmo não é suficiente. Recor­
dem-se os Padres Conciliares que um têrço do mundo jaz sob o do­
mínio o ateísmo e que o resto do mundo corre o perigo de cair na
A Igreja no Mundo de Hoje m
mesma condição, como desejam os aswriac ,.
propaganda e admiràvelmente instmírinc * ateísmo, os quais, pela
m,e a ciência e a tfrnir. «í nStrmd0S em ^dos os melhores meios
Sos no^os tempos 0 .,«rtehm°
mundo. Luta contra tudo aquilo que se chama q*" T v e ^ J o
TConcího.
° - Z ‘ rConcordo
S S í ’ com
deVena C°nStÍtuÍrrazões
as ótimas 0 P expostas
^ e m a mais importan.e
por outros do
Padres
Conciliares e nao as desejo absolutamente repetir. Nem muito menos
quero d.ssertar sobre os pontos da doutrina católica tirados do Ma­
gistério ordinário dos últimos Sumos Pontífices e que são bastante
conhecidos. Mas quero propor os remédios que se podem opor a
êste mal e perigo tão grave.
2) E o múnus pastoral dêste Concilio que nos leva a procurar re­
médios eficazes ^ contra êste mal. Devem ser sobrenaturais porque a
natureza do ateísmo e a sua fôrça secreta de propagação é algo pre-
ternatural. Êstes remédios serão salutares porque a Providência di­
vina, ao permitir o mal, prevê no sentido de que se encontrem remé­
dios oportunos, a) 0 remédio geral é o próprio Concilio, cuja finali­
dade é fazer com que a Igreja se conheça a si mesma e a sua uni­
dade e descubra a sua fôrça de agir para salvar esta parte do mundo
que geme sob o ateísmo. Qual será êste modo de agir? E’ o mesmo
que usou o Divino Salvador, o Bom Pastor que veio salvar o que es­
tava perdido e que disse que eram os doentes os que precisavam de
médico e não os sãos. 0 Concilio deve empregar êste método para ir à
procura das ovelhas perdidas. Nós, reunidos pelo Espírito Santo neste
Santo Sínodo, “temo-nos tornado espetáculo para os anjos e para os
homens”. Até agora temos dado prova de verdadeira liberdade de fi­
lhos de Deus. Mas o mundo de hoje, dividido pelo ódio e por inumerá­
veis conflitos, quer conhecer a verdadeira Igreja. Que sinal de verda­
deira Igreja devemos apresentar a êste mundo? Cristo, pela bôca do seu
Vigário na terra, indicou-nos o amor e a unidade. Eis o sinal que a
Igreja deve mostrar ao mundo de hoje! b) Um remédio concreto e efi­
caz é o mandato nôvo que Jesus Cristo deu aos seus discípulos: ‘ Eu
vos dou um mandamento nôvo: amai-vos uns aos outros. .. Sereis
conhecidos por meus discípulos se vos amardes uns aos outros (Jo
13,34-35). c) Outro remédio ditado por Cristo com absoluta eficácia
é o sinal da unidade: “Que todos sejam um... (Jo 17,21). Constitui
um argumento da existência de Deus mais claro do que os milagres.
Esta unidade será como um sacramento da presença de Cristo ern nosso
meio porque, onde se reúnem dois ou três no Seu nome, ai Êle es­

is&sz kt* v¥°"


tará (cf. Mt 18 20) Esta é a “ratio et via” pelas quais o mundo pode

srirz
ser convertido. Cristo pediu o dom da unidade primeiro para os Apos-

uníd edXempl0. de ™id,llde “r in S


Juntamente com os nossos sacerdotes e f » ^ entrará em declinio.
««<* no inicio desta Sessão, de
Eu e, comigo, 700 sacerdotes e rei g nQ ateismo um certo corpo
concentração e de trabalhos forçados
9*
124 I. Crônica das Congregações Gerais
pseudomistico de satanás e compreendemos que a êle se deveria opor
o Corpo Místico de Cristo, “in quo ex utraque parte fieri poterit una”,
d) Outros remédios, como um primeiro passo para a unidade, já foram
indicados pelo Concilio no ano passado. Refiro-me à união colegial dos
Bispos, que aprovamos unânimemente e que estabelece a unidade e o
amor de todos os Bispos do mundo, exprimindo a unidade do Corpo
de Cristo e corroborando com o enriquecimento da união de vida. Re­
firo-me também ao ecumenismo que nos abriu novos caminhos, que
antes nem podíamos suspeitar. Refiro-me, por fim, à presença dos
leigos no Concilio e à parte que em muitos esquemas é devida a êles.
Eis como o Espirito Santo reúne tôdas as forças do Corpo de Cristo
que é a Igreja para salvar o mundo. O Concilio é uma parte eleita
da Igreja — aquela parte que o Espírito Santo elegeu para governar
a Igreja. Mas o mesmo Espírito sopra onde quiser (“idem Spiritus,
ubi vult, spirat”) e mesmo no meio do povo fiel encontra instrumentos
para a sua ação que visa reunir tudo na unidade do Corpo de Cristo,
e) O último remédio — que é motivo de confiança — é a Cruz.
Cristo redimiu o mundo pela cruz e triunfou vencedor da Cruz. O san­
gue dos mártires foi a semente dos cristãos. Assim, certamente, o san­
gue e a cruz da Igreja serão a glória de Deus, o triunfo da Igreja,
a salvação dos ateus. Sem efusão de sangue não há remissão e a
Igreja do silêncio “cumpre no seu corpo aquilo que ainda falta da
paixão de Cristo”.
Conclusão: Também eu vi o martírio da Igreja e experimentei os
males ingentes que o ateísmo causa à Igreja. Mas também concebi a es­
perança de que daí resultassem frutos proveitosos e adviessem tem­
pos melhores. O Espírito Santo reuniu a Igreja em Concilio exatamente
no tempo em que o ateísmo atingiu o ápice e começa o seu declínio.
Os frutos que a Igreja tira do Concilio, os passos que dá guiada pelo
Espírito Santo, nos levam a esperar com certeza o triunfo do Espírito
Santo no mundo de hoje, se nós não só propomos uma doutrina mas
também indicamos o modo de aplicá-la. E’ isto que desejamos e é isto
que pela graça do Espírito Santo podemos e devemos alcançar.
122) François MARTY, Arceb. de Reims, na França: Em relação
à missão própria da Igreja, o ateísmo representa um dos maiores pro­
blemas do nosso tempo. Mas o modo como é descrito no n. 19 do es­
quema não satisfaz: todo aquêle que mantiver contactos com ateus
não o poderia reconhecer nessa apresentação. Daí a necessidade de
não focalizar exclusivamente o ateísmo enquanto sistema, mas principal­
mente levar em consideração os homens que o encarnam de modo con­
creto. E claro que, falando dos sistemas e dos regimes políticos ateus,
não podemos deixar de condená-los. Os homens que os professam, po*
ném, devem ser respeitados e convidados ao diálogo. Na Pucem in
Terris, João XXIII indicou já o caminho distinguindo entre o êrro e
aquêle que o comete: êste último, como pessoa humana, merece sem­
pre toda reverência. Ora, o ateu consciente apresenta-se como um hu­
manista que visa salvar o homem e sua transcendência intramundana,
porque — seja positivista, marxista, existencialista ou psicanalista
nao se interessa simplesmente pelo problema da existência de Deus
mas considera a fé como uma ilusão que prejudica o homem. Eviden-
temen e, o lalogo entre cristãos e ateus é muito difícil e cheio de exi
A Igreja no Mundo de Hoje 125
gências de ambas as partes. Mas a experiência demonstra que êle faz
Spurificação
S t í ô da
d , Tfe ee ' tfaz
e urgir
« íí," "maiores
* * mal0r ” s " " “ 'Pi».científicos
aprofundamentos í o d u f .™
Por
1SS° *"^..Secretariado para os não-crentes não
pode imitar-se a confrontar idéias e sistemas, mas a tornar cada dia
ma.s frutuoso este diálogo. Portanto, o parágrafo deve ser completa­
mente revisto, confiando esta nova redação sôbre o problema dos não-
crentes ao Secretariado acima referido, o qual poderá sôbre esta ma-
téria publicar uma Declaração.
123) Gabriel GARRONE, Arceb. de Toulouse, na França (texto
completo). Dois pontos muito importantes parecem não ter sido su­
ficientemente aprofundados no capítulo III da primeira parte: a na­
tureza e a importância do dogma da criação (no n. 40) e o fato e a
natureza da continuidade que há no homem entre o presente e o fu­
turo (no n. 43).
I. A criação. E’ claro que tôda a argumentação do n. 40 repousa
sôbre a doutrina da criação. Esta doutrina nos é dada pela Revelação,
como se deduz do Símbolo mesmo: “Creio num só Deus criador../'
Pode-se, decerto, estabelecer esta doutrina pela razão, mas a história
e a experiência nos ensinam que se chega a ela não sem grandes difi­
culdades e, por conseguinte, sem atingir aquela firmeza que, segundo
atesta o Concilio Vaticano I, não nos é dada senão com o auxílio da
graça. Entre os dogmas cristãos, o da criação é sem dúvida um daqueles
cuja necessidade se faz mais sentir no homem de hoje, porque quanto
mais o homem penetra nos mistérios da natureza e mais a domina,
tanto mais é necessário que êle veja e proclame que a natureza de­
pende de Deus. Parece-me, pois, surpreendente que nas discussões esta
verdade seja apresentada como “natural ou filosófica”, num sentido ex­
clusivo e como que minimizante. O que não vai sem certo equívoco
e perigo. Porque é preciso que o dogma da criação se imponha aos
homens de hoje. Quem não vê, com efeito, que hoje em dia não so­
mente o “cristianismo”, mas a noção mesma de “religião” é submetida
à discussão? Que será o Cristo para os homens que não acreditam
em Deus? E’, portanto, da maior importância para a nossa épo­
ca que a Igreja apresente aos homens tanto Cristo, fundamento da
religião, como Deus criador do mundo. Por conseguinte, me parece
surpreendente — e peço desculpas — que, quando a Igreja afirma estas
verdades fundamentais, se diga que ela está-se ocupando do que não
lhe concerne! E’ aí, se não me engano, que reside o perigo maior e
mais ameaçador para os homens e, por isso mesmo, o maior serviço
que a Igreja possa render ao mundo. E aí que se encontra a raiz do
laicismo atual, do qual fala o esquema de modo positivo, não sòmente
apresentando-o como um fato deplorável e condenável, mas indicando-
lhe também os remédios específicos. Esta doutrina, porém, não parece ter
sido expressa bastante acuradamente, de sorte que faltam muitas coisas
extremamente úteis como oportunas que permitam ter da natureza uma
visão positiva na fé. Com efeito, na opinião comum dos homens, mes-
mo se são cristãos, o dogma da criação se reduz ma.s oi, menos a
uma espécie de “começo” das coisas por Deus. A verdade de te PO-
rém, é admiravelmente mais profunda, po.s a noçao pà-
primeiramente uma dependência essencial e sempre au.
126 I. Crônica das Congregações Gerais
ra com Deus que lhes dá a existência. Daí segue que há nas coisas
uma presença de Deus que lhes confere uma dignidade e um valor
únicos, de sorte que ninguém poderá estimar melhor as coisas cria­
das do que o fiel para quem estas coisas derivam sempre atualmente
da vontade de Deus, de quem recebem a sua essência e existência.
Dai, por um dom do Espírito Santo, a admiração quaseextática da
alma de S. Francisco de Assis perante a criação. Parece-me que isto
deveria achar-se no nosso texto, tanto mais que, sem dúvida alguma,
é aqui que se encontra a raiz mais profunda daquela espiritualidade
da pobreza, à qual se aspira hoje tão ardentemente e quiçá tão su­
perficialmente: as coisas criadas dependem sem cessar de Deus e se
deve usar delas como de coisas dadas continuamente por Deus, de
sorte que Deus, que nos faz êstes presentes, poderia supri-los, se
quisesse.
11. A continuidade entre o presente e o futuro. Há também um ou­
tro aspecto da doutrina que pode manifestar aos olhos de todos quanta
estimação o cristão deve ter para com as coisas presentes: é a no­
ção de caridade, enquanto esta é qualquer coisa de durável e perma­
nente em si. Do estado presente ao estado futuro do mundo, não há
mutação substancial: passa-se da fé à visão. Porque na vinda do
Senhor será “manifestado" tudo o que o presente assumiu da caridade
quer divina, quer fraternal. Portanto, duma maneira que foge ao nosso
entendimento, as coisas de hoje permanecerão na eternidade, na me­
dida em que obtiverem a eternidade pela caridade. Por isso, a vida
presente toma um esplendor admirável e, assim, fica banido.todo pen­
samento falso e triste com respeito às coisas humanas, como se estas
fôssem condenadas ao simples aniquilamento: porque a caridade cons­
trói o céu com as coisas presentes.
124) Eduard SCHICK, Bispo aux. de Fulda, na Alemanha: A par­
tir do n. 11, o esquema começa a dar uma resposta ao problema “o
que é o homem”. Com a citação de Gn 1,26, define-se o homem co­
mo “uma criatura feita à imagem de Deus” — verdade esta cujo sig­
nificado o texto depois procura interpretar. Sôbre esta questão pro­
ponho: E’ necessário que o esquema desenvolva melhor êste tema,
pois a Antropologia é o fundamento da solução de muitos problemas
sôbre a existência humana. Um dos problemas mais urgentes do ho­
mem é proposto pela filosofia existencial: “o que o homem pensa de
si mesmo?” Ora, o homem de hoje também pergunta que resposta dá
a Igreja à angústia existencial do homem. Como se notou na Aula
conciliar, a Antropologia cristã proposta pelo esquema é, objetivamente,
deficiente, e, formalmente, não é apta nem convincente. Dever-se-ia
procurar na Revelação uma visão integral do homem com uma reca­
pitulação sistemática — embora breve — das passagens da Sagrada
scritura a êste respeito. Esta visão seria a seguinte: a) Começar com
a rase citada (Gn 1,26) — frase que deveria ser exposta no seu
senti o verdadeiro e próprio. Limitar-se a afirmar, a partir dêsse texto,
ormnm do homem sôbre as demais criaturas, seria sublinhar apC'
nas um os tantos corolários da criação do homem à imagem de Deus.
Este domínio, aliás, poderia ter-lhe sido concedido pelo fato de ser
o ornem a unica criatura que transcende a realidade material. MaS
ornem e muito mais do que o ápice dentre os sêres vivos da terra,
A Igreja no Mundo de Hoje 127

Scriaturas
T b i o(Adão
t ó S deriva
s irSde “Adamáh^
S ree seuSrenCÍa,Tentf ,dHe tôdas as «*"“
cãn
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com Deus (mm a
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n^r , com as demais
•mah ' e> por outra> sua especial rela-
encia pessoal do homem é que Êle estabe-
, r ral Í Hia)r 0 t0rnam -apt0 e caPaz de desempenhar sua posl
j30 unrnprT1 p pi- 6 1Vaf.,n3 cna^o. A religião, pois, pertence à essência
do homem e ela constitui a condição primária de seu domínio sôbre as
criaturas, b) Juntamente com esta indicação bíblica do homem que mos­
tra a sua semelhança com Deus, deve-se propor também aquela que
mostra a sua dessemelhança. Esta se manifesta na sua existência tempo-
ral-histórica que na ordem atual é determinada pela inevitabilidade da
morte. Neste ponto se deveria falar do pecado e suas consequências no
homem e no mundo, c) A essência do homem como “imagem de Deus”
é verdadeira^ e propriamente revelada, particularmente pelo sacramento
da Encarnação ( sacramentum Incarnationis”). Cristo, pela Encarnação,
abriu para os homens as portas duma transcendência para Deus até en­
tão ignorada. Portanto, o destino do homem foi mudado radicalmente
em Cristo e, por isso, só em Cristo se pode compreender o que é o
homem.
125) Michael RUSNACK, Bispo aux. de Toronto, Canadá, para
os checoslovacos de rito bizantino: O título do esquema nos põe diante
duma responsabilidade grave para com o mundo e para com a história.
A metade do mundo está debaixo do domínio comunista. Mas também
nas nações do mundo “livre” não são poucos os que estão imbuídos
de idéias do materialismo dialético e histórico. “O Comunismo é um
fenômeno tão vasto, que dêle se deveria tratar mesmo se a religião
não fôsse perseguida”. Infelizmente, porém, nas nações comunistas falta
liberdade não só à Igreja mas também a tôda religião. E’ necessário,
portanto, que o esquema enfrente, ampla e profundamente, o problema
do ateísmo militante, tratando do comunismo de modo expresso. Assim
o exigem a verdade e a caridade, particularmente para que o mundo
conheça as atividades criminosas do comunismo. Quem vos fala ex­
perimentou na sua própria carne os efeitos da perseguição comunista
e pode descrever o aspecto desolador da Igreja na sua Pátria que os
comunistas procuram ocultar. Seria, pois, um escândalo se o Concilio
do século XX menosprezasse o fenômeno comunista. Numa especial
“Declaração teórico-prática sôbre o Comunismo” deve denunciar à opi­
nião pública os erros e as mentiras do comunismo e, simultaneamente,
expondo a doutrina da Igreja, o Concilio oferecerá uma valiosa ajuda a
todos os Bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis que sofrem nas prisões a
perseguição do sistema comunista.
126) Sebastião SOARES DE REZENDE, Bispo de Be.ra, .Mo­
çambique: 1) A doutrina que exige um tratamento digno e respeitoso
da pessoa humana é uma conseqüênc.a imediata da le, natural. E um
tal conjunto
J doutrinário reveste-se
j jgpresentemente
vista. Esta duma urgencacapitala-
importância
grante que ninguém Pode P*™er tem de ser tratada com reverência
o direito
vem que a pes
nao somente constituir um
de isto conshtuir ^ princípio^ inalienável entre os
_ princjpaImcnte
ireitos
nos paísesdo sujeitos
homem, ao s* napoder suvicuv,
soviético,, — haver um regime policial que
128 I. Crônica das Congregações Gerais
pela maneira como é exercido e dada a categoria das pessoas contra
as quais é levado a efeito constitui a amquilação psicológica da pessoa
humana" São pessoas de bem — como Bispos, sacerdotes, leigos — e
só porque não concordam com a atual organização social ou política
ou por não a reconhecerem como a mais justa e eficaz são sujeitos a
uma vigilância contínua, muitas vêzes ostensiva, que instila o medo,
cansa os nervos e tenta subjugar totalmente o homem. Esta espécie
de violência — aniquilação psicológica do homem — deve ser espe­
cialmente reprovada. 2) Ao contrário do que diz o esquema, não há
uma caridade mental. S. Tomás afirma explicitamente que o amor não
tem lugar nas coisas intelectuais, porque formalmente a verdade é pró­
pria da inteligência, enquanto que o amor é próprio da vontade. Isto
quer dizer que pode haver discordância — e até oposição — em assun­
tos de doutrina e, todavia, uma tal incompatibilidade não exclui o amor
da caridade. Daí a sentença de S. Agostinho: “Amai os homens. Mas
combatei os erros1. Nada há, pois, que justifique o ódio. 3) Quanto à
doutrina da igualdade fundamental entre os homens, há que se tomar
uma posição especial perante ela. Não se há de dizer que os homens
sâo iguais mas que são irmãos. E não basta uma afirmação desta
doutrina no esquema. E' preciso que o Concilio faça a êste respeito
alguma coisa mais. E’ que esta doutrina será a única que presentemente
salvará o mundo. Por isso, o Concilio deverá definir solenemente que
os homens são todos irmãos. E uma tal definição, além de constituir uma
verdade de fé que Jesus revelou, ela seria uma resposta total às as­
pirações fundamentais do mundo de nossos dias. Assim como o Con­
cilio Vaticano I definiu a infalibilidade pontifícia, o Concilio Vatica­
no II definiría a fraternidade universal dos homens. Além disso, essa
verdade assim definida seria a coroa e a síntese de tudo quanto se
disse até aqui no atual Concilio. Finalmente, esta mesma verdade cons­
tituiría o instrumento que os apóstolos de nossos dias haveríam de
aplicar e pôr em atuação no Concilio e no tempo subseqüente. Por
isso. peço a quantos estão aqui presentes e com direito de voto que
proponham ao Santo Padre que o encerramento do Concilio se faça
com a definição solene desta verdade: todos os homens são irmãos.
127) Justinus DARMAJUWANA, Arceb. de Semarang, na Indoné­
sia (em nome do Episcopado dêsse País): Agradeço à Comissão pela
qualidade do texto atual. Gostaria ainda de acrescentar que adiro ple­
namente ao que o card. Seper disse acêrca do ateísmo (cf. n. 102).
No atinente ao próprio texto, os capítulos 39 e 49, apesar de sua im­
portância capital, estão redigidos muito fracamente. Devem, por isso,
passar por uma profunda revisão. Razões: a) Não é um diálogo o que
neles temos: é um monólogo! 0 Magistério não parece ouvir os não-
cristãos. Nem mesmo os leigos católicos que agem e vivem no mundo,
/ão basta repetirmos verdades eternas. Aqui é preciso que a Igreja con-
.•esse modestamente que, juntamente com todos os homens, está a pro­
curar uma resposta para os problemas concretos de hoje. b) O Cp1]"
^ k30 ^ uma resposta válida à questão da significação da ativi­
dade humana. Não é uma solução afirmar tão só — embora seja ver-
f a. e T^ue e*a ^ querida por Deus ou está ordenada ao Reino de
nsto. rata-se de saber qual é o efeito terreno dessa atividade e
por qua razao êste efeito está ordenado à salvação eterna da huma­
A Igreja no Mundo de Hoje 129
nidade. Presentemente, é esta uma questão urgente e angustiosa Daí
a necessidade de delinearmos um ideal concreto de realização intramun
dana também
mas t a m h gente
é r n ^de 10m-n-
posiçãoS' 0acomodada
marxismo efascina não sóprecisamente
intelectuais os pobres
porque descreve uma mística concreta de fraternidade e igualdade, c)
Ao falar do valor da atividade humana, o texto foi criticado, com ra­
zão, de ser muito otimista, negligenciando a realidade do pecado e da
redenção. e fato, a Comissão, na sua redação, deve proceder com
muita cautela. Decerto, a atividade humana e 0 progresso humano com­
portam sempre maiores perigos. Mas também deve sublinhar-se 0 gran­
de valor de tôda realização com miras terrenas. “O pecado não des-
trói o plano salvífico ( consilium salutis”) a que Deus deu início na
criação e consumou já misteriosamente na ressurreição de Cristo. O
pecado, embora ainda poderoso, já foi, porém, derrotado. Não é pos­
sível uma reta estimação do pecado sem uma firme crença de que a
totalidade do mundo atual é uma criatura de Deus, na qual já opera
0 Espírito de Cristo vitorioso”. Esta doutrina constitui 0 fundamento
de qualquer progresso autêntico em todos os campos.
128) César Antônio MOSQUERA CORRAL, Arceb. de Guayaquil,
no Equador: Cresce todos os dias 0 número e a responsabilidade dos
leigos. Daí a necessidade de esclarecermos bem alguns temas do es­
quema atinentes ao laicato. Primeiramente, é conveniente que o es­
quema tenha em conta e explique claramente 0 que significa a “animação
cristã do mundo” e 0 têrmo “testemunho” de que 0 texto fala ao des­
crever a função específica do leigo (n. 53). Para isto, é preciso con­
siderar que 0 leigo cristão deve constituir 0 sal e a luz do mundo e,
ao mesmo tempo, ser 0 fermento evangélico para todos os outros ho­
mens. Por essa razão, a função fundamental do leigo consiste, ao
nosso parecer, na sua permanente atenção às realidades concretas da
vida, para que, uma vez determinado 0 sistema de valôres sociais que
cada sociedade estrutura para si, procure imprimir-lhe um sentido evan­
gélico e o adaptar ao espírito do Sermão da Montanha. E’ necessário
insistirmos na importância decisiva desta missão do laicato, para que
as próprias relações interpessoais — e não sòmente as estruturas
e os próprios meios — e não sòmente os fins da sociedade sejam
coerentes com o Evangelho. O esquema deve também mencionar de mo­
do expresso outros dois aspectos importantes da função do leigo cris­
tão: preparar 0 mundo para receber 0 testemunho da morte e ressur­
reição de Cristo e promover nêle a esperança de “novos ceus” e “no­
vas terras” que o Senhor prometera.
129) Franio J KUHARIC’, Bispo
1 _aux. de Zagreb,n r»nacn Iugoslávia:
Tratando' da liberdade, não
_ se podem perder de ínofn
vista a responsabilidade
própria do homem e a competência própria do Criador para o julga-
mento^ definitivo da conduta humana e dos poderes públicos. Esta
advertência seria necessária para todos aqueles que abusam de siu
potestade 3judkial com desprêzo do juiz ^ ^ e " n o s ^ ” ^
seria oportuna para consolar a ‘°dos ErAegum h/lugar, quando
dulentos foram inocentemente condenados^ ^ ^ ades?0 a 4Crist0.
odeveria
texto expor-se
fala de que ningu jiqueles
também a sorte daqueies q que adotaram uma atitude
130 I. Crônica das Congregações Gerais
negativa diante d*Êle, pois o homem está chamado a uma decisão eter­
na e dêle depende a sua sorte final. Por último, o Concilio, em nome
de todos os membros da Igreja, deveria pedir perdão de todos os
erros de que se sente responsável — relativamente a acontecimentos
dos séculos passados — e então exortar a todos us fiéis a uma vida mais
santa e exemplar.
130) Alfred BENGSCH, Arceb.-Bispo de Berlim, na Alemanha:
Mo ano passado, a Assembléia achou o esquema demasiadamente breve.
Nesta IV Sessão temos um livro íntegro como texto, o qual é muito
comprido. Estas hesitações decorrem das dificuldades do tema e do
seu cunho de novidade na história dos Concílios. E’ preciso conven­
cer-se de que o Concilio sòmente assume uma parte no diálogo entre
a Igreja e o mundo, ainda que se trate duma parte fundamental. O
Papa, os Bispos, os teólogos, os sacerdotes e os fiéis têm também
êles a sua participação. O Concilio deve, portanto, limitar-se a ex­
por breve e claramente os princípios gerais para a continuação do
diálogo — o que, por outra parte, se tornou mais fácil depois da ins­
tituição do Sínodo Episcopal (“ut gratíssimo applausu recolimus!”).
O capítulo quarto, que aborda a função da Igreja no mundo de hoje,
deveria ser o primeiro, enquanto os demais capítulos se disporiam em
função dêste.
131) Karol WOJTYLA, Arceb. de Kraków, na Polônia: Seria opor­
tuno trocar o nome de “Constituição”, mais próprio de assuntos dou­
trinais, para o de “Considerações”, mais de acôrdo com o seu con­
teúdo. Tratando-se sobretudo de questões pastorais, o esquema aborda
precisamente na primeira parte o problema da pessoa humana, tanto
em si mesma como em relação à sociedade e ao mundo. Esta preocu­
pação pastoral, contudo, não exige apenas a descrição da vocação in­
tegral do homem, mas postula também uma maior acentuação no as­
pecto relativo à salvação. Não basta, por isso, afirmar que a obra
da Criação foi assumida na obra da Redenção. E’ preciso ainda acres­
centar que esta assunção foi consumada na Cruz de Cristo. E “êste
modo divino de assumir a obra da Criação na obra da Redenção atra­
vés da Cruz determinou definitivamente a significação cristã do mun­
do. A obra da Redenção constitui, pois, o elemento próprio e constitu­
tivo dêste esquema”. Naquilo que se refere ao diálogo com o mundo,
parece incompleta a afirmação segundo a qual o diálogo deve ser le­
vado a efeito para o bem comum e para difusão dos bons princípios.
De fato, a Igreja não pode renunciar ao seu dever próprio: à sua missão
de salvação. Certamente a Igreja favorece tudo aquilo que pertence
também ao bem temporal dos homens. Mas, sobretudo, se põe a seu
serviço para que êles possam alcançar o seu verdadeiro fim de salva­
ção eterna. No respeitante ao problema do ateísmo, êste já foi estu­
dado ainda que de modo complementar — na Declaração sôbre a
liberdade religiosa. Neste esquema, entretanto, seria preferível consi­
derar o ateísmo não apenas enquanto representa uma negação de
» eus, mas enquanto é um estado interno da pessoa humana, Embora
possa ser examinado por meio de critérios sócio-psicológicos, uma com­
preensão profunda dêste estado, porém, só é possível à luz da fé- A
?fr nos revela não só a existência de Deus, senão também a Sua von­
A Igreja no Mundo de Hoje 131
tade salvífica para com todos os homens, donde provém a vocacão
sobrenatural de cada um dêles. Por isso, á luz da Fé, o Tteísmo é um
problema da pessoa ^humana em sua interioridade: o ateu é um homem
persuadido de sua solidão escatológica”. Negada a imortalidade pes-
soal, essa solidão leva-o a procurar uma quase-imortalidade na vida
coletiva. Portanto, toda vez que se estabelece um diálogo com o mundo
ateu. e preciso considerarmos a questão de se é o coletivísmo quem
mais favorece o ateísmo — ou vice-versa. Também é preciso conside-
rarmos^ que os ateus julgam que nós, crentes, estamos sujeitos a uma
alienação interna no sentido idealístico, ao projetarmos na realidade
visível e material uma idéia de Deus e de ordem divina que em última
análise é um reflexo de nossa própria subjetividade. O diálogo, pois,
deve começar partindo do homem!
132) Félix ROMERO MENJIBAR, Bispo de Jaén, na Espanha:
Seria necessária uma exposição mais completa e orgânica da doutri­
na sôbre a missão da Igreja no mundo. Conviría fazer, conseguinte­
mente, uma apresentação clara e convincente dos princípios doutriná­
rios revelados sôbre a missão da Igreja em geral, em estreita conexão
com o anúncio pascal da Ressurreição. Pois “a Igreja é essencialmente
a comunidade dos redimidos pelo sangue de Cristo — a comunidade
pascal que dá testemunho da ressurreição de Cristo, a suprema inter­
venção de Deus na história dos homens, na qual se fundamenta não só
a dignidade mas também a esperança humana”. Neste contexto seria
oportuno mostrar a compatibilidade desta doutrina de Deus com as
exigências da mentalidade contemporânea, oferecendo-lhe uma mensa­
gem de salvação. Urge, por isso, sublinhar o dever imprescindível, de­
rivado da fé cristã, de testemunhá-la na vida particular e pública.
Assim concebido, o capítulo IV — que trata precisamente destas ques­
tões — deveria apresentar a síntese de tôda a doutrina da primeira
parte do esquema, constituindo um fundamento seguro de tudo o que
será exposto na segunda parte.

Crônica Paraconciliar:
FREUD E SUA PSICANÁLISE NO CONCILIO
Um Monitum do Santo Oficio proibia, aos 15 de julho de 1961.
aos clérigos e religiosos o exercício da psicanálise - a teor do Canon
139 6 2 aue interdita aos eclesiásticos o exercício da medicina e da
cirurgia sem indulto apostólico - e as consultas psicanaliticas sem au­
torização dos seus bispos e, ao mesmo tempo, censurava a opin.ao dos
que sustentavam a necessidade duma formaçao psicanalitica para os
candidatos ao sacerdócio.' E' de se imaginar, pois, a impressão que

queles que pretendem que ab5°


■ ncguuuu w cap........ . nucni„tíiniL‘iite necessariu que .w. ,-
e Sncradas ou que os candidatos ao sacer-
lítica preceda à recepção das unjuis» - Ssubmeter a exames e investigações psica-
dócio ou à profissão religiosa oexan * Stí se tratar de assegurar-se da apti-
naliticas pròprlamente O dut ' a'e
requerida
«oro n
para
ditas.
0 sacerdócio ou a
« p
Droi issjo religiosa. I)a mesma maneira, os
P r ~ dem \ m nsultar nsicanalistas
, )nsuUar psicanalistas sem
se a
acerdotes. os religiosos e as « IW O M I* "(A A S 53. 1961. p. 571).
'erniissão do O rdinário por causi g
UV2 I. Crônica das Congregações Gerais
teria causado a intervenção de Méndez Arceo (cf. n. 120) sublinhando,
vigorosa e corajosamente, na augusta Aula conciliar, a importância que
hoie revestem Freud e suas descobertas no mundo da inconsciência. Mons.
Méndez Arceo passará talvez à história como o prelado que advogou
em favor duma integração dos elementos positivos dessa psicologia
das profundezas na antropologia cristã e duma reivindicação da psica­
nálise como método terapêutico inclusive no domínio do religioso (sua
intervenção tinha sido subscrita por vários Bispos da Amércia Latina).
Mas a intervenção dêste Bispo não é só a expressão duma atitude mais
ou menos pessoal, ela tem além disso um valor de testemunho notável.
Com efeito, precisamente na sua diocese mexicana de Cuernavaca (onde
estive em julho de 1965), deu-se — e dá-se ainda — um fato inédito
na Igreja: um mosteiro beneditino, fundado pelo belga Dom Gregório
Lemercier, foi submetido, com o consentimento da maioria dos seus
membros, às experiências da psicanálise, experiências que desde há cinco
anos se tornaram método normal nessa comunidade e que contaram
posteriormente com a reprovação de uns (p. ex., de Dom Benno Gut,
abade primaz dos Beneditinos confederados) e a aprovação de outros.
Mas cedamos já a palavra ao próprio Dom Lemercier, transcrevendo
uma nota que êle distribuiu para informação dos Padres conciliares.
Trata-se, pois, dum “documento conciliar” ou, pelo menos, “para-
conciliar” que não deve ser desdenhado e que constitui um ótimo sin­
toma dos novos rumos que vai tomando a Igreja do Concilio. Eis
o texto:
O Concilio encerrará suas sessões com a proclamação do texto
considerado por alguns como a obra principal: a Igreja no mundo
de hoje. O esquema submetido à discussão dos Padres Conciliares deixa
entrever dois grandes nomes do mundo atual: Darwin e Marx. Um ter­
ceiro parece estar ausente: Freud. No início da primeira sessão do
Concilio, em 1962, quis atrair a atenção dos Padres para certos pro­
blemas apresentados à Igreja pela psicanálise, num pequeno ensaio.
Le Monde, de Paris, o publicou em grandes linhas no número de 3
de novembro de 1962. Depois de o ter lido, um amigo teólogo disse-me:
“Você está chegando 10 anos cedo demais; continue seu trabalho em
silêncio”. Três anos se passaram. Se ainda é cedo demais para retornar
a estas idéias, já não o é para fazer conhecido um fato, que talvez terá
mais pêso que as idéias: a existência de um mosteiro beneditino de 30
membros onde pràticamente a comunidade tôda é submetida à psica­
nálise. Fundado em 1950, o Mosteiro de Santa Maria da Ressurreição,
em Cuernavaca, México, alcançava em 1959 a consagração de dez anos
de existência pela sua ereção em Priorado conventual independente.
O famoso trapista americano Thomas Merton escrevia então que “os
monges de Cuernavaca estão talvez mais próximos de São Bento que
todos os outros monges dêste lado do Atlântico” (Silent Life, p. 92).
Mas em 1961 inaugurava-se uma nova etapa pela introdução mais e
mais generalizada da psicanálise entre os monges. Qual é, pois, a nova
- ce - e ™ *eiro depois de quatro anos de psicanálise?
a r e c e ^ nenhuma formação psicanalitica e sou absolutamente igno-
pntrpi m tecn*ca anaIítica. Só a conheço como paciente, pois eu mesmo
entrei em contacto com a psicanálise individual, pela primeira vez, em ja-
A igreja no Mundo de Hoje 133
neiro de 1961, com uma média de nuatm cpccw ,,
sos psicanalistas, membros da Associação lntprnar°r 3te h.?^e’ Nos"
sede
fln México e dirigente* H-. r n ' s°ciaç,'es correspondentes da“ Argentina
em Londres, titulares das Asso S ^ dte P“ na,,se-.come
. r -r n n ’ x °.r g? . es “a Confederação das Associações de Psicanálise
de. G X n Hde nossa
ps.canal.tico menCa exper.encia.
Latln-a’ exP|icarã0
Não pensemem tempo
que se oportuno o lado
trate apenas de
uma terapia superficial nem de uma dinâmica de grupo, mas de uma
psicanálise profunda, tao profunda quanto a permitem as disponibilidades
e as contra-reaçoes de cada um dos monges. A análise de grupo se
realiza com um máximo de 8 membros, de cultura muito diferente, po­
dendo-se encontrar no mesmo grupo desde um universitário até um
semi-analfabeto. Êles se reúnem sob a direção de um de nossos dois
analistas, duas vêzes por semana durante 1,20 h., ou uma vez por se­
mana durante 2 horas. Como a experiência nos mostrou a dificuldade
para os monges padres de se analisar em grupo com os não-padres,
temos, por isso, também vários monges padres em análise individual
duas vêzes por semana. Como respeito a perfeita autonomia do traba­
lho dos analistas, não sou mesmo capaz de descrever o desenrolar de
uma sessão de grupo, à qual eu nunca assisti. Contudo, meu papel tra­
dicional de superior da comunidade se exerce plenamente, embora numa
ambiência e perspectiva bem diferentes. Minha colaboração com os ana­
listas consiste principalmente num apoio profundo, disciplinar e afetivo,
que dou a cada um dos monges em análise, sobretudo nos momentos
de crise, quando o paciente faz por escapar ao encontro frontal con­
sigo mesmo, pretendendo rejeitar seja a vida monástica, seja a psica­
nálise. Mas o apoio principal que recebe cada monge é aquêle da co­
munidade global. Psicanalistas nos haviam predito tôda sorte de calami­
dades porque pretendíamos submeter à análise grupos de jovens viven­
do juntos durante 24 horas. Exatamente o contrário é que se realizou:
quase todos os monges que perseveraram em análise não teriam jamais
aceitado uma análise ou nela não teriam permanecido, caso a tivessem
que enfrentar sozinhos, sem serem membros de uma comunidade como
a nossa, em que a análise é vivida coletivamente.
Mas todos os nossos monges terão acaso necessidade de uma
psicanálise? A questão está mal formulada. E preciso antes perguntar
se todos os monges podem aproveitar de uma análise, e então a res­
posta é categórica: todos os que querem podem tirar proveito; e mui­
tas vêzes os que menos precisam dela mais lucrarão.
Contudo não me quero esquivar da primeira questão. O mosteiro
reúne tôda a gama de temperamentos e caracteres atraídos pelas co­
munidades religiosas, e concretamente pelos mosteiros de vida contem­
plativa. Os neuróticos não hão de faltar, tanto m a, que nao pomos
condição alguma de ^brio^p siqu ico ^a j f ^ n á ^ S £ £
Ílínicos do8 mosteiro mostram as possibilidades insuspeitáveis de te­
rapia mesmo nos casos de psicoses, graças a nossa ps,canal,se de
8rUP°‘ „ „ .wn mosteiro se tenha transformado numa
Parecería então que nos.o afirmativa, mas precisando
casa de saúde. A isto reSP ° " S religiosa" e não duma casa re.i-
que se trata duma casa de sauae s
134 I. Crônica das Congregações Gerais
giosa de saúde. Parece que uma fidelidade ao sôpro do Espírito nos
conduziu a descobrir, a crer — um tanto sem o saber ^ numa comu­
nidade que. tendo perfeitamente seu lugar na Confederação beneditina,
não pode, contudo, ser comparada a nenhuma outra comunidade, bene­
ditina ou não, católica ou não. Esta comunidade não pode, pois, ser
julgada por comparação com qualquer outra: deve ter seus próprios
critérios e, finalmente, deve ser julgada pelos seus frutos, segundo a
palavra de Cristo.
Náo pretendemos dar a impressão de que não tenha havido cho­
ques; bem ao contrário. O esclarecimento desta criação se fêz, como
tm qualquer obra do Espirito, pela morte e ressurreição. Penso em
certos monges padres que náo puderam enfrentar a psicanálise porque
a concebíamos em grupo com os não-padres. Penso também em outros
monges que tiveram o apoio que esperavam de mim, mas que a evo­
lução de minha própria análise me impedia de lhes dar. Mas chegamos
a uma etapa em que a instituição pode dar seu pleno rendimento e os
choques já não são mais choques, no sentido do mistério da liberdade,
que faz com que alguns aceitem conhecer-se a si mesmos apesar dos
problemas a que devem fazer face, enquanto outros se recusam a en­
frentar sua própria personalidade na obscuridade do inconsciente. Nem
é necessário decreto conciliar para que vença sempre a liberdade do in­
consciente humano.
As estatísticas darão uma idéia da amplidão de nossa experiência.
Cêrca de 60 membros da comunidade — desde professos até postulantes
— passaram pela análise ou ainda estão nela. 20 continuam ainda no
mosteiro, a maior parte em análise, dos quais 3 monges padres. Os 40
membros da comunidade que saíram no decurso dêstes quatro anos assim
se dividem: 5 professos perpétuos que receberam da Congregação dos
Religiosos a dispensa de seus votos; 5 professos temporais que nos dei­
xaram ao expirar o prazo de seus votos e 30 não-professos, sobretudo
postulantes, para os quais a psicanálise era o teste preliminar à sua
aceitação à vida monástica e lhes era negativo. Entre os 40 que saíram
do mosteiro, há vários que, depois de terem aproveitado profundamente
da análise, retiraram-se porque haviam descoberto que sua vocação os
orientava ao matrimônio. Entretanto, mais da metade dêstes 40 saíram
após menos de um ano de análise, precisamente porque, estando em aná­
lise, se recusavam a integrar o processo interno necessário para enfren-
trar sua própria essência; isto quer dizer que êles saíram do mosteiro
precisamente porque êles não se analisavam. E’ preciso acrescentar que
tal se verificou quase unicamente durante os dois primeiros anos, quan­
do o mosteiro não estava ainda suficientemente capaz de lhe dar apoio
ftm 1965, só saíram um professo temporal no fim des votos e um pos­
tulante após três anos de postulado), e que vários dentre êles já mani­
festaram seu desejo de reentrar no mosteiro para aí continuar sua análise.
Hoje, pràticamente tôda a comunidade estêve ou está em análise,
exceto 4 anciãos de 65 a 80 anos e de 2 professos de uma certa idade
que prefenram não fazê-la. À medida que a primeira fase de saneamento
da comunidade de 1961 termina, apenas os novos entram em análise
e a concluem antes de se comprometer na vida monástica. Após um pe­
no o de vários meses de adaptação exterior à nossa vida monástica,
h,SrtÍa no Mundo de Hoje
oferecemos a todos a psicanálise aner •. .
quer aceitem a ocasião de aprovéitar-se da oferta^grTtuita quT lh efé
Oferta gratuita porque se bem que a análise represente mais da
metade do orçamento ord.nário do mosteiro, pedimos a nosssos monges
e candidatos apenas seu trabalho para pagar as despesas. Mas, já sendo
agora menos numerosos que em 1960 quando éramos mais de 50, po­
demos fazer face as despesas, porque a eficácia do trabalho de nossos
monges aumentou em proporções incríveis graças precisamente à psi-
canálise que converteu seu trabalho de amadores em trabalho de pro­
fissionais. Evidentemente, o aspecto “rendimento econômico" não esgota
o problema do trabalho. Experimentamos cada dia mais a insubstituí­
vel função do trabalho na edificação da personalidade de cada um dos
monges. Sem fazer teorias, pela só fôrça dos fatos vividos, fomos leva­
dos a dar ao trabalho um lugar de manifesto primeiro plano na vida
dos monges.
Mas o trabalho, criador da obra e da pessoa, não é tôda a vida
do monge. Dois faróis o iluminam: o “Opus Dei” ou liturgia, e a “Lectio
Divina". Quando em 1950 eu fundava êste mosteiro, trazia comigo a
herança da Abadia de Monte César, em Lovaina, foco da renovação
litúrgica na Bélgica. Nosso mosteiro devia, pois, edificar sua vida reli­
giosa sôbre uma liturgia viva. Outrossim, desde 1950, cantávamos todo
o ofício divino em espanhol sôbre as melodias gregorianas: sendo a
maioria de nossos monges canônicamente irmãos conversos, éramos os
únicos na Ordem a exigir dos monges não-clérigos o canto integral do
Ofício Divino. Durante seis anos fomos o principal foco de renovação
litúrgica no México. Mas também desde 1950 eu considerava que a reno­
vação litúrgica que buscávamos necessitava de seu complemento na nova
importância dada à “lectio divina”, às vêzes negligenciada nos, mosteiros.
Nossos monges nela consagravam mais de 4 horas por dia. Agora o
acento se deslocou em direção do trabalho: o tempo consagrado ao tra­
balho foi aumentado às expensas do Ofício Divino, cujas Matinas tor­
naram-se privadas e facultativas para a maior parte da comunidade, i.
é, para os que são “canônicamente" irmãos conversos, embora “monàs-
ticamente" monges, e a “lectio divina" perdeu seu caráter de “especia­
lidade religiosa" para admitir tôda leitura ou estudo, mesmo técnica, que
possa contribuir ao desenvolvimento espiritual do monge no ambiente
religioso do mosteiro.
Desenvolvimento espiritual? Parecería ao contrano, pelo que to,
dito, que a evolução do mosteiro em psicanálise fo, uma evolução re­
gressiva: o abade participa da formação de seus monges com ps,canal,_s-
tas não-católicos, entre os quais há uma mulher; a comun.dade nao
se recusa a receber neuróticos em seu se,o; o mosteiro, casa de Deus.
y — ;sa' “ : % £ t z
dona,.n, o moMe.roi »2?na" ?oTo™ profana; som contar o.ttos
gundoqueplano,
Ws a lectio
os amigos d
do mosteiro Doderiam
po ^ revelar.
menos Não são êstes
de uma indicos
demonastlza-
suf,cientes de uma descristianuaça , DSÍcanálise, levada até ao fim
« o do mosteiro? Esta , « se a «perié.cia
c°m uma lógica que parece dc
136 |. Crônica das Congregações Gerais
mais avançada de psicanálise jamais feita sob a égide da Igreja, não
seria ela precisamente o melhor argumento em favor da reserva e da opo­
sição de algumas pessoas face à psicanálise? A psicanálise não está
em vias de evaporar, de dissolver o religioso em nosso mosteiro, que
iá não guardaria mais que a carcassa ou as aparências de um mosteiro
beneditino?
Minha resposta não pretende antecipar-se ao julgamento dos Su­
periores. Nosso trabalho se realizou num respeito absoluto das prescrições
canônicas. Desde dois anos somos submetidos a uma visita canônica
e apostólica pràticamente contínua, cuja bondade e compreensão nos
permitiram não refrear nossa marcha. Chegamos agora à etapa final
da experiência, que ultrapassa dora em diante o interêsse e a compe­
tência da Confederação Beneditina, para se tornar patrimônio comum e
objeto de critica, tanto dos psicanalistas de tôdas as tendências, como
de todos os que, sob qualquer nome ou fachada que seja, se interessam
no problema religioso da humanidade.
Desenvolvimento espiritual? E’ em todo o caso o que, desde o pri­
meiro instante até êste dia, temos tido ante os olhos e em nosso co­
ração como único ideal nesta psicanálise do mosteiro. E é por isso que,
pretendendo andar direito até ao fim, trabalhamos com analistas que se
interessam especialmente no sentido religioso e sua análise por técnicas
de grupo. Uma psicanálise que não tocasse o nó mais profundo da per­
sonalidade, uma psicanálise que, por ignorância, incompetência ou mêdo,
pretendesse deixar intacto o sentimento religioso e que se imaginasse
poder analisar todo o humano exceto religioso, uma psicanálise assim
desespiritualizada, não teria para nós nenhum interêsse. Uma tal aná­
lise poderia compreender-se em outros meios, mas para monges, para
jovens que escolhem um estado de vida “religioso”, era necessário ab­
solutamente que fôsse analisado o sentimento religioso e tudo o que
êle envolve. Era evidentemente um ato de fé: fé no sentimento religioso
dos monges e fé na integridade e capacidade profissional dos analistas;
fé na fé e fé na ciência. O risco era grande e, por conseqüência, grande
foi também a tentação de resolver esta dupla exigência apelando ape­
nas para analistas católicos, ou mesmo a padres analistas. Mas a exi­
gência exclusiva de analistas católicos teria sido o sinal de uma dúvida
quanto à fé dos monges e teria certamente reduzido a análise a uma te­
rapia mais ou menos superficial. Quanto à hipótese de analistas padres,
considerámo-la agora como uma contradição nos têrmos, que põe o pa­
ciente diante de um monstro de duas cabeças, tendo em vista as fun­
ções nitidamente diferentes do padre e do analista.
A psicanálise no mosteiro se baseou, pois, e se baseia muito es­
pecialmente sôbre o sentimento religioso dos monges. Esquadrinha tô-
das as. taras do sentimento religioso impiedosamente e se esforça Por
punfica-lo no cadinho duma análise sem piedade que faz descobrir pou-
co a pouco os embustes e mentiras para deixar apenas o que é au-
en jco. Trabalho que se deve recomeçar sempre, verdadeira ascese qjjjj
nos remete ao que um autor ortodoxo, Evdokimov, escreveu em 19
numa revista trapista: “A ascese (dos Padres) do deserto é uma imensa
I8n ^ uma psico-síntese da alma humana universal” (Ç°
leüanea Ordints Cisterciensis Ref„ 1963, p. 153). Verdadeira ascese,
A Igreja no Mundo de Hoje 137
com tudo o que uma ascese comporta de dilacerante e de doloroso As­
cese que penetra ma.s longe que todos os métodos tradiciona7s inca
pazes de alcançar s.stemat.camente as raízes mesmas da consciência no
inconsciente. Ascese que realiza conversões que dezenas de anos de
vida crista e de vida monástica tinham sido incapazes de suscitar. Ascese
cuja outra face pode ser uma mística, pois a psicanálise parece ser a
umca técnica ocidental que, ao lado dos empirismos tradicionais, po­
dería formar para uma vida mística.
Para perseguir o sentimento religioso e o que êle encobre nas
profundezas mais recolhidas e sob os disfarces e desvios mais primitivos,
não pode haver nisto nenhum tabu. A visão central de Freud, que liga
tôda vida e todo amor até à sua origem ao sexo — redescobrindo as
grandes intuiçoes bíblicas desde o Gênese até ao Cântico dos Cânticos
passando pelos Profetas nos lançava um dever de não nos deixar
arrastar por considerações de hipocrisia em tudo o que se refere ao
sexual, sobretudo por monges cujo sentimento religioso reveste precisa­
mente a forma duma rejeição do sexo em sua realidade biológica. Estas
reflexões nos conduziram a escolher uma mulher como analista para os
primeiros tempos da psicanálise dos novatos, pondo-os assim desde o
início em face de sua desconhecida.
Desenvolvimento espiritual? A maturação e o equilíbrio do senti­
mento religioso dos monges em análise devem forçosamente lançar raios
em tôda sua vida e a transformar. Mencionamos mais acima a mudan­
ça radical sobrevinda em seu modo de encarar o trabalho, criando nê-
les um sentido da responsabilidade desconhecida anteriormente. E’ mis­
ter acrescentar a isto que a psicanálise despertou em vários monges ta­
lentos literários, musicais e artísticos inimaginados. Mas a maturação
e o equilíbrio do sentimento religioso se manifestam principalmente numa
mudança de perspectiva religiosa. E é nisto que o trabalho se faz na
maior profundidade. Alguns crêem que a psicanálise evapora e dissolve o
religioso. Na medida em que a religião é vivida como uma especiali­
dade, à margem da vida ordinária, substituindo-se aos valôres humanos,
tôda nova insistência sôbre êstes valôres humanos suscita o temor du­
ma perda da religião, como se um não pudesse crescer sem detrimento
do outro. Mas na realidade é bem o contrário que sucede: os dois di­
minuem juntos. Em face a esta situação, a psicanálise, longe de evaporar
ou de dissolver a religião, tende a transformá-la por interiorização e
amadurecê-la no sentido de uma religião que assume todos os valo­
res humanos e os impregna mais e mais do divino. Podemos aplicar a
psicanálise o que o texto submetido à discussão dos Padres Conciliares
diz a respeito das "realidades terrestres”: "Quem se esforça, com per­
severança e humildade, por penetrar nos segredos das coisas e dos seres,
mesmo se êle não tem consciência disto, e como que conduzido pela
mão de Deus”.
KT , . , cp desenvolve sem problemas e tateios em
relaçao à apresentação mt c a, do
Naturalmente, is j pensamento
pensam^ religioso católico. Tam-a
bem o superior da comunidade tem em análise o pensamento cristão
™ 'p d
r PS ,£ E-°oSc .» p l« - « .. religioso * P S * - '* -
dos monges.
Concilio - V — 10
138 1. Crônica das Congregações Gerais
Enfim, $e devesse caracterizar com uma palavra a nova face do
nosso mosteiro, diria que se tornou um mosteiro ecumênico no senti­
do mais largo: ecumenismo não sòmente cristão, não sòmente “crente”;
ecumenismo humano, ecumenismo divino. E’ o ecumenismo dum claus­
tro, fechado sôbre si. que pouco a pouco se abre sôbre todos. E’ 0
ecumenismo dum monge, fechando-se em si para ai descobrir Deus, e
o encontrando, ou melhor o aproximando às palpadelas ao meio dé
todos.
Termino esta exposição por um sonho12: a visão dum Concilio
Ecumênico, humanamente ecumênico. Absolutamente, não há necessida­
de dum grande número de participantes: o número muitas vêzes só faz
pêso. Náo, alguns: um pequeno rabino, um grande mufti, um patriarca
oriental, um comissário comunista, um cardeal romano, uma diaconisa
luterana, um bonzo budista e um dos padres mormons. Reunem-se em
grupo náo mais para discutir idéias, mas para analisar os sentimentos.
Sinceramente, sem preconceitos. Para os dirigir êles escolhem um psiT
canalista que não é nem judeu, nem maometano, nem ortodoxo, nem
comunista, nem católico, nem luterano, nem budista, nem mormon, mas
que é verdadeiramente analista. E eu creio, e eu espero, que sob as
idéias que os separam e que de todos os modos lhes escondem seu
Deus, muitos Padres Conciliares descobrem os sentimentos que os unem
e que de todos os modos lhes revelam o Amor. E cada sessão se abre,
pela leitura de Mt 25,37: “Senhor, quando foi que te vimos com fome
e te alimentamos, com sêde e te demos a beber, estrangeiro e te aco­
lhemos, nu e te vestimos, doente ou prisioneiro e te viemos ver?” E
cada sessão termina pelo silêncio.’
1 A forma do sonho sugere uma visão profética no ecumenismo. O futuro- dirá*
se tenho razão, mas acho que há uma lógica na dinâmica ecumênica que o conduz
em direção de uma maior inferioridade. Houve o tempo da inquisição; houve o tem­
po da polêmica; estamos por outra no tempo do diálogo, num clima da caridade,
que se dizia presente também no tempo da inquisição e da polêmica. Não chegaremos
um dia k era seguinte, mais interior e mais profunda, duma análise da caridade e,
portanto, do egoismo, subjacente às nossas andanças religiosas? Qual seria o re.-
sultado no plano das idéias de uma experiência semelhante ao meu sonho? Nada
sei. mas a fidelidade à palavra de Jesus em Mt 25,37 me convida a buscar sob
minh8s idéias relativas a "meu Deus" e a "seu Deus" o que pode haver de carir-
dade ou de rejeição da caridade. E gostaria que outros participem desta busca. Se
tem mêdo, não seria pelo motivo de que êles não têm fé em sua fé? Disseram que
meu sonho é “farfelu"; para mim, é a parte mais religiosa, a mais cristã do meu
jo Lemercier, Ln monastère bénédictin en psychanalyse, en La revuc n°uvc^
2 (1965). pp. 423-431. O texto publicado nesta revista foi “revu et compléte Pel°
próprio autor, mas é substancialmente o mesmo.
29-9-1965: 138» Congregação Geral
A Igreja no Mundo de Hoje
II Parte: O Matrimônio

„ P r e s e n t e s : 2.190 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Suenens. A sessão começou às 9
e terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada por Dom Sé-
verin Haller, Bispo tit., Abade nullius de St. Maurice d’Agaúne,
na Suíça. Iniciou-se então a votação dos Modos dados ao es­
quema sôbre o múnus pastoral dos Bispos, com a leitura pré­
via da Relação (cf. pp. 364 ss). Depois foi lida a Relação introdu­
tória à segunda parte do esquema sôbre a Igreja no mundo con­
temporâneo. Em seguida começou o debate desta parte, com um
total de dez intervenções orais:

SEGUNDA PARTE: DE ALGUNS PROBLEMAS MAIS URGENTES


Depois de ter mostrado o que é o homem e qual é à missão,
pessoal e coletiva, que lhe foi confiada na terra, o documento
passa a considerar alguns problemas particularmente urgentes
para os homens de hoje. Esta segunda parte é subdividida em
cinco capitulos: 1) A dignidade do matrimônio e da família; 2)
O progresso da cultura (com três secções); 3) A vida econômico-
social (com duas secções); 4) A vida da comunidade política;
5) A comunidade dos povos e a construção da paz (com três
secções). O debate conciliar desta segunda parte se fêz de 29
de setembro a 8 de outubro, ocupando o tempo útil de 7 Con­
gregações Gerais (da 138» à 144» e 145», estas duas últimas
parcialmente), com um total de 96 discursos. Sôbre tudo isso
tentarei dar aqui uma relação breve e em forma sistemat.ca. na
medida em que as intervenções bastante desordenadas o per-
mitirem:
10*
140 1. Crônica das Congregações Gerais
Cap. I: A Dignidade do Matrimônio e da Família
O texto é subdividido em cinco parágrafos: 1) O matri­
mônio e a família no mundo atual; 2) O caráter sagrado do
matrimônio; 3) O amor conjugal; 4) A fecundidade do matri­
mônio; 5) Deus o Senhor da vida. Tudo isso, na edição latina,
ocupa seis páginas. O capítulo foi debatido nos dias 29 e 30
de setembro, com 25 discursos. Alguns louvaram de modo geral
o texto: por sua fundamentação plenamente humana (G. Co­
lombo), por conciliar com feliz resultado tantas opiniões (Rossi,
com 70 Bispos do Brasil), por apresentar um bom resumo da
doutrina da Igreja e ao mesmo tempo harmonizá-la com as no­
vas perspectivas abertas neste campo (Conway) e por ser no­
tavelmente melhor que o texto apresentado no ano passado
(Djajasepoetra). Não lhe faltaram, porém, também críticas ge­
rais: O texto é inorgânico, ilógico e demasiadamente morali-
zante (Léger), por vêzes sintético demais, de leitura pesada e
de difícil compreensão (Rossi), muito retórico (Reuss) e peca
por ocidentalismo (Djajasepoetra, Slipyj). O Cardeal Heenan,
da Inglaterra, opinou até que seria melhor omitir todo o capí­
tulo, já que o Papa reservou a si o estudo e o juízo sôbre a
questão mais central, do contrário daríamos aos católicos grande
desilusão. Neste sentido se manifestaram também o Cardeal Rossi
com 70 Bispos do Brasil: Ou não dizer absolutamente nada ou
confessar claramente ser impossível dar uma resposta imediata,
pois as declarações vagas e imprecisas do texto não nos aju­
dam na solução concreta dos problemas da moral conjugal. O
parágrafo sôbre o amor conjugal, certamente surpreendente num
documento conciliar da Igreja Católica, foi objeto também de
intervenções contraditórias: Louvado e cantado por uns (G. Co­
lombo, Conway, De Roo), causou perplexidades ao Cardeal
Browne e provocou as iras do Cardeal Ruffini. Ambos, Browne
e Ruffini, querem que se insista, como tradicionalmente estamos
habituados a fazê-lo, na distinção entre fim primário e secundá­
rio do matrimônio, terminologia que o texto evita de caso pen­
sado. Também o conceito de “paternidade responsável” é lou­
vado pelo surpreendente Arcebispo de Milão e criticado pelo
Metropolita de Braga. Vários outros, aliás, não concordaram com
a afirmação de que é permitido aos esposos determinar o número
de filhos: seria doutrina perigosa e errônea (Munoyerro), ambí-
gua e subjetivista (Nicodemo), capaz de causar perplexidades a
cristãos e não-cristãos (Tagouchi) e de abrir caminho para dú­
A Igreja no Mundo de Hoje 141
vidas, levando a uma moral minimalista (Goicoechea) Nem
a“ en'ar os° CaPilUl0:
deseja que o Concilio recomende 0 Cardeal noSuene™
estudos científicos cam­
po da vida sexual, pnncipalmente conjugal; e que se introduza
a praxe da renovaçao do contrato matrimonial, como costuma­
mos renovar os compromissos do batismo. O Cardeal Léger pro­
põe que se fale dos motivos que levam à vida matrimonial. O
Cardeal Rossi pede não esquecer a graça sacramental. O Car­
deal Ruffini reclama textos claros contra o divórcio e onanismo.
Também G. Colombo, Muíioyerro, Nicodemo e Conway solicita-
ram uma reprovação mais explícita dos meios técnicos que vi­
ciam as relações conjugais. E Majdanski e Von Streng desejam
que o parágrafo sôbre o aborto seja mais claro e enérgico. Ur-
tasun pede a reafirmação dos direitos da pessoa de escolher
entre casamento e celibato, de preparar-se para o matrimônio1
e de ter filhos não obstante a pressão social contrária. Zoghby,
(n. 140), o impetuoso Vigário patriarcal melquita do Egito,
chegou a causar quase um incidente: Baseado em Mt 5,32 e
19,6, pediu nada mais nada menos que um nôvo casamento
para a parte inocente prejudicada por um adultério. Pensa que
a Igreja não deu ainda uma interpretação definitiva do texto em
Trento e que poderia, portanto, imitar a praxe milenar e tradicio­
nal dos ortodoxos. Respondeu-lhe no dia seguinte o Cardeal
Journet, insistindo nos argumentos conhecidos em favor da in-
dissolubilidade do matrimônio e esclarecendo que a interpretação
dos ortodoxos tem mais motivos políticos e humanos que razões
evangélicas. Fez saber que a Igreja olha com imensa misericórdia
para aquelas situações difíceis que requerem uma vida heróica,
mas que são insolúveis aos olhos dos homens não porém aos
olhos de Deus. Cinco dias depois (4-10-65), com permissão
especial dos Moderadores, Zoghby (n. 174) voltou à tribuna
conciliar: Declarou que não é contra a indissolubilidade do ma­
trimônio, nem êle, nem os ortodoxos; e que segundo a teologia
dos ortodoxos o divórcio no caso não é senão uma dispensa
concedida ao cônjuge inocente, em casos bem definidos e com
preocupação puramente pastoral em virtude do que êles deno­
minam “princípio de economia”, o que significa dispensa ou con-
descendência. Fêz ver ainda que sua proposta se apoia na auto-
ridade indiscutível dos Santos Padres e ou ores a ^,r J
Oriente
"te, aue
que sem
sem temeridade
reme não podemquando
humanos ser acusados de terem
interpretavam as
cedido a motivos políticos e ------ - nesfa ctiva de
palavras do Senhor. E concluiu. > P ’
142 I. Crônica das Congregações Gerais
fidelidade universal do Oriente e do Ocidente ao princípio da
indtssolubilidade do matrimônio (jue a Igreja Romana, durante
os séculos da união, como tambcm depois, não pôs em dúvida a
legitimidade da disciplina oriental favorável ao nôvo matrimônio
do cônjuge inocente".
Eis, pois, os discursos de hoje sôbre os problemas do ma­
trimônio e da família:
133) Cardeal Ernesto RUFFINI, Arceb. de Palermo, na Itália: a)
lulgo que, neste capitulo, a natureza do matrimônio (digo “natureza”
porque acho que o texto emprega ineptamente apalavra “índole”, que
propriamente significa qualidade ou propensão) étratada de modo de­
sordenado e pouco acurado. O Concilio deveria lançar mão dos ensina­
mentos de Pio XI na encíclica Casti conmibii sôbre êste assunto, b)
Ainda é pior a confusão que faz o texto ao se referir às finalidades
do matrimônio. A distinção entre fim primário e fins secundários não
foi quiçá do agrado da Comissão que redigiu o esquema. Mas esta dis­
tinção já constitui um ponto firme da doutrina católica. O fim primário
é a procriação e educação dos filhos; os fins secundários, essencial­
mente subordinados ao primeiro, são o auxílio mútuo, o amor reciproco
e a “sedatio concupiscentiae”. Quando o fim primário sem nenhuma
culpa não pode ser obtido, êstes fins secundários bastam para que licita­
mente se possa contrair o matrimônio. Mesmo neste caso, se deve res­
peitar a natureza intrínseca do ato matrimonial. No texto êstes fins
secundários são de tal modo exaltados, que se tem a impressão de que
podem ser alcançados, mesmo se o fim primário deve ser evitado. Além
disso, o texto condena positivamente como crimes o aborto e o infan-
ticídio. Mas nada diz sôbre o divórcio e sôbre o multiforme vício do
onanismo. No respeitante ao sentido de responsabilidade na vida ma­
trimonial, a doutrina exposta pode causar perplexidades aos cônjuges
honestos e piedosos não só quanto ao uso da pílula estupidamente
(“insulse”) chamada “católica”, mas também quanto à mesma vida ma­
trimonial. E, no entanto, não há neste campo outra questão que seja
tão expressamente considerada pelo Magistério ordinário da Igreja! Por­
tanto, o texto deve ser refeito neste ponto. Do contrário, “valde timerem
ne via sternatur expedita multis libidinum intemperantiis”. O texto fala
da liceidade da prática da continência periódica. Mas isto não se deduz
do esquema. Nem mesmo sublinha que todo ato dirigido a privar arti­
ficialmente a união conjugal do seu fim natural — a procriação ^
contra a natureza. Segundo a lei divina, que completa a lei natural,
também no matrimônio é necessária a castidade, c) O texto propõe
quase como fim primário o amor conjugal, o que, se é retamente enten­
dido. é digno de todo encômio. Mas é necessário que êste amor seja
puro e santo, segundo a doutrina católica e de acôrdo com as obrigações
morais. O texto neste ponto é confuso e incompleto, d) Quanto à edu­
cação sexual, que pode ser útil e às vêzes necessária, se devem fer
presentes as preocupações exigidas pela Igreja, e) Conviría que o es­
quema falasse sóbre a superioridade da virgindade e da castidade Pef~
feita O matrimônio merece respeito. Mas S. João Crisóstomo afirma
A Igreja no Mundo de Hoje 143
que a virgindade é tão superior ao matrimônio
relação à terra... 0 mf,trimoni° como o é o céu com
,,« r a p i n o ? :
M tr« „ i o os doi, a,pecos „ S . Í Z ‘S L Z eT T ,« â
op.mao sobre a doutrina proposta pelo esquema! depois, falard da ma­
neira acêrca da qual esta doutrina está ordenada e exposta.
. h í melhor
descreve mdr " naHdod°queesquema' A nova a redação
a precedente doutrinadêste capítulo afirma
da importância e dae
legitimidade do amor conjugal. No entanto, eu acho que a doutrina
proposta aqui nao sera de grande auxílio para os cristãos de nosso
tempo e temo que decepcione as suas legítimas esperanças. Como uma
correta exposição da natureza do matrimônio é de importância decisiva
para a vida ^cotidiana dos^ fiéis, seja-me permitido examinar com par-
ticular atenção por que êste esquema ainda não satisfaz. O defeito
principal dêste esquema reside no fato de não refletir corretamente o
fim intencionado pela pessoa humana no matrimônio. Por conseguinte,
é o sentido mesmo do matrimônio, tal como se apresenta hoje aos
cristãos mais fervorosos, o que exprime dum modo insatisfatório. Sem
dúvida, os fiéis se regozijarão de que em algumas partes o esquema
exalte o amor conjugal. Apesar de tudo, as principais fórmulas pelas
quais se exprime neste texto a natureza mesma do matrimônio parecer-
lhes-ão não estarem em perfeito acôrdo com essas passagens e que de­
formam o verdadeiro rosto e a beleza do matrimônio. Isto é verdade,
p. ex., para aquela fórmula que define o matrimônio como uma “insti­
tuição ordenada à procriação e à educação dos filhos”. Eu acho que
esta fórmula é incompleta e ambígua. Aliás, o próprio texto parece
compartilhar desta opinião, pois acrescenta esta correção: “O matri­
mônio não é um simples instrumento de procriação”. Esta fórmula
— é verdade — poderia talvez exprimir a significação que o matrimô­
nio reveste para a espécie humana. Para a espécie humana, com efeito,
o matrimônio não tem outro sentido que o de sua preservação e seu
desenvolvimento. Mas, como são pessoas os que o matrimônio reúne,
é, pois, preciso descrever o sentido que toma o matrimônio para as
pessoas — sem negligenciar, evidentemente, o sentido que toma o matri­
mônio para a espécie humana. Ora, as fórmulas que citei acima expri­
mem duma maneira incorreta o sentido do matrimônio para a pessoa.
Por isso, é necessário mudá-las. Em primeiro lugar essas formulas
são incompletas. Para as pessoas humanas, o matrimônio nao e so­
mente uma instituição destinada à procriação dos i os.
e sobretudo — uma comunidade de vida e de am°r- or'
essas fórmulas são ambíguas: poderíam parecer g Drocrjac;jò ou
e. a comunidade c.njug.1 >ã. »»»
mnda, que não tem sentido senão na luimano. Pro-
•sto é evidentemente falso e destroí a^ ígm def|nem 0 matrimônio
Ponho, pois, que nas principais pass g , e a procriação seja
a relação entre o amor, a c01™" cJ,a„ e abertamente que o
apresentada do seguinte modo: l u ^ de amor. 2* E’ mister
matrimônio é uma comunidade íntima te filho para 0
mostrar cuidadosamente o sentido profundo que toma
144 I. Crônica das Congregações Gerais
amor e a vída conjugal. Assim, os esposos compreenderão que o seu
amor não está fechado sôbre si mesmos e deve se inscrever no
grande propósito da Providência criadora de Deus.
2. A divisão e o estilo do esquema. O texto do esquema decep­
cionará os fiéis também por outras razões. Estas razões se referem à
forma do esquema mais do que à sua matéria. Mas nem por isto care­
cem de importância, a) O pensamento dêste capítulo é apresentado du­
ma maneira tão pouco orgânica, que custa compreender as suas in­
tenções profundas. Quando trata dos pontos doutrinais mais importan­
tes. volta duas, três vêzes sôbre os mesmos temas e os mesmos pensa­
mentos que nunca são expressados até ao fundo. Amiúde o pensamen­
to se desenvolve sem lógica: as idéias são justapostas umas às outras
ou relacionadas sòmente por vínculos artificiais. Ora, se não se quiser
que o nosso texto conciliar apareça como um compromisso entre as di­
versas escolas teológicas mas, pelo contrário, deseja-se esclarecer ver­
dadeiramente os fiéis, então é necessário que a exposição doutrinai seja
mais ciara e mais firmemente estruturada, b) O esquema não logra evi­
tar suficientemente um estilo demasiado exortativo — o que às vêzes
dá ao texto um ar moralizante. Além disso, é necessário evitar — me
parece — a constante transposição do estilo descritivo ou simples­
mente afirmativo para o estilo exortativo. c) O esquema descreve com
muita frequência o matrimônio como um estado de vida no qual se
multiplicam as tentações e os perigos. Ora, esta visão da realidade não
agradará a ninguém, sobretudo quando não se propõe solução alguma a
essas dificuldades.
Conclusão. A ninguém escapa que, acêrca do matrimônio, o Conci­
lio deve exprimir-se duma maneira clara. Por isso, apesar das gran­
des e peculiares dificuldades doutrinais que encontra o Concilio ao
tratar desta questão, não pode promulgar um texto cujas intenções só
seriam dificilmente captadas pelos próprios pastores. Seja-me permi­
tido, então, propor, por escrito, à Comissão competente algumas for­
mulações que poderiam ajudá-la para melhorar o texto.
135) Cardeal Leo Joseph SUENENS, Arceb. de Malines-Bruxelles,
na Bélgica (texto completo): A propósito do matrimônio, seja-nos per­
mitido propor dois votos, cuja importância pastoral cada um compreen­
derá. O primeiro é de ordem cientifica; o segundo, de ordem litúrgico-
pastoral.
1) Convite à investigação cientifica. Parece-nos extremamente opor­
tuno que o Concilio exprima face ao mundo o seu desejo de ver con­
tinuar, ampliar-se e coordenar-se os trabalhos de busca científica no
domínio da vida sexual, sobretudo conjugal. Os sábios consagram es­
forços e somas enormes na decifração das leis da natureza, cujo domí­
nio tencionam com razão assegurar. Não seria altamente desejável que
a sua investigação se dirija, com uma intensidade pelo menos igual»
para o homem mesmo em tôda a sua complexidade — e notadamente
no plano sexual e conjugal? E’ de capital importânica conhecer melhor
a* leis da fecundidade humana, tanto masculina quanto feminina; <*e
conhecer melhor as leis psicológicas do dominio de si mesmo (p- eX-’
sob a relaçao do condicionamento dos reflexos); de conhecer melhor,
A igreja no Mundo de Hoje 145
enfim, as leis da vida conjugal no seu .
bretudo — como foi freqüentemente o caso — ri„Udad? "ü0 ma'S S0‘
marido, mas igualmente do ponto de vista da ptnAP°nt° wde V'Sta d°
vista da conjugalidade como tal. Ora é um fatn P 3 6 d<° P°nt° de
domínio não são ainda suficientes Os rams • que os es^orÇ°s neste
d"
do ‘seT
sentete^um
uma a^falS
falta deT coordenação
,SUSten,ados "eminvestigações.
nestas encorajados. TPor
odoT issom un!
um
convite a investigação cientifica que emanasse do Concilio seria um
precioso estimulante e, ao mesmo tempo, um testemunho de nossa soli­
citude pastoral para com uma situação que concerne vitalmente aos ho­
mens. Semelhante convite constituiría para as nossas Universidades
católicas uma palavra de ordem. Até hoje, salvo exceção, não se de­
dicaram suficientemente a esta investigação. Precisam ser favorecidas
fundando bolsas, cadeiras acadêmicas, institutos, laboratórios. A fim de
prevenir todo equívoco, acrescentemos que no nosso pensamento o voto
que nós propomos não implica nenhuma opção teológica ou filosófica
em favor de tal ou qual método de regulação dos nascimentos. Per­
manece no campo puramente científico e faz inteiramente abstração das
questões controvertidas entre moralistas. Mas será sempre extremamente
proveitoso um conhecimento mais aprofundado de leis de per si tão vitais,
seja qual deva ser o julgamento doutrinai que sôbre esta matéria será
finalmente lançado.
2) Renovação do consentimento matrimonial. A Igreja introduziu
o costume da renovação anual dos votos do batismo na noite de Pás­
coa. Conhece também, desde séculos, a renovação dos votos de reli­
gião e dos engajamentos ligados às ordens sagradas. Estas práticas
visam avivar o sentido do batismo e da vida consagrada a Deus. Não
seria lógico que introduzisse igualmente o costume duma renovação
do engajamento sagrado que constitui o sacramento do matrimônio? A
Comissão de liturgia não poderia prever no ciclo litúrgico uma data par­
ticularmente apta para uma renovação coletiva dêste engajamento —
p. ex., a festa da Sagrada Família — e estabelecer o seu cerimonial?
Providenciaria igualmente no Ritual uma cerimônia mais simples que
poderia desenrolar-se no seio de cada lar. Associando estreitamente a
liturgia à vida familiar, vivifica-se simultâneamente uma e outra. Sus­
tentar a fidelidade conjugal apresenta-se tanto mais útil quanto que
hoje em dia se vê ameaçada em tôda a parte por um desbordamento
do erotismo e por uma extensão calamitosa do divórcio. A renovação
anual e pública do liame sacramental que constitui a família seria um
perene benefício do Concilio e uma ocasião comovente de lembrar aos
esposos a doutrina que os Padres lhe proponham.
3) Deseios concernentes ao texto atual do esquema Antes de ter­
minar
. j gostaríamos
gostaríamos de
u exprimir um tríplice
y «hnrHar desejo,daa)regulaçao
o nroblema Sabeis quedosa nas-
Co-
m.ssao conciliar nao devia P si. Mas teria podido e devido
mentos, pois o Papa concretos que se relacionam com o
abordar alguns outros P™ * text0 uma ressonância menos intem-
matrimônio: assim ter,a dado ao f^ ° da de posição pastoral mais vi-
poral. Desejar-se-ia, p. f -’ U™ ecoces levianamente contraídos - ma-
gorosa sôbre os matrimomos preco . jcam dum modo alarmante,
trimônios êstes que, em nossos dias,
14b I. Crônica das Congregações Gerais
b) O outro pesar é que o nosso texto não atrai suficientemente a aten­
ção das autoridades civis responsáveis, assim como a de todos os ver­
dadeiros cristãos, sôbre a necessidade de reagir energicamente contra
a onda de imoralidade que invade as nossas ruas, nossos espetáculos,
nossa literatura. Esta onda ameaça fazer ruir o respeito pelo matrimônio
e pelas suas leis. Muitíssima gente honesta se resigna a sofrê-la com
uma espécie de fatalismo. Esta imoralidade tão espalhada é , uma ver­
dadeira vergonha para uma civilização que se diz cristã, c) Finalmente,
é lamentável que o texto náo insista mais no valor da oração em fa­
mília. Para fortificar o sentido de Deus no seio da família, é extrema­
mente valiosa a oração em que todos os seus membros, unidos na fé e
na caridade, rezam a Deus e impetram as suas abundantes bênçãos.
(Êste último voto é também petição de 56 Bispos de distintas partes
do mundo).
13b) Cardeal Giovanni COLOMBO, Arceb. de Milão, na Itália (se­
gue o texto completo, que representa o pensamento de 32 Bispos das
regiões lombarda e vêneta):
I. O capítulo sôbre a dignidade do matrimônio e da família apre­
senta uma doutrina solidamente fundamentada e muito bem adaptada à
atividade pastoral, a) Em primeiro lugar, muito me apraz que o esque­
ma mostre as finalidades e os valôres do matrimônio numa perspectiva
plenamente humana e pesonalista: o amor conjugal é apresentado como
um fim intrínseco do matrimônio, coessencial à finalidade procriativa.
Agrada igualmente porque faz decorrer a fé conjugal e o vínculo indis­
solúvel também da própria natureza do amor conjugal. Enfim, é in­
teiramente louvável porque afirma a intima relação entre o âmor conjugal
e a transmissão da vida, de sorte que dá a entender que a própria fe-
cundidade matrimonial — a fecundidade que quer ser generosa — tem
origem na natureza mesma do amor, pois essa fecundidade é uma de­
corrência do amor e ao mesmo tempo complemento seu. b) De modo
particular, é do inteiro agrado porque é a partir dêste amor pessoal que
o texto deduz o dever da paternidade responsável. Essa não é uma
concessão à fraqueza humana, mas, pelo contrário, é o dever dos pais,
intérpretes e instrumentos do amor de Deus para com cada uma de
suas criaturas, providenciem e busquem as melhores condições possíveis
para a procriação. Êste princípio da paternidade responsável — que
mantém a faculdade procriativa dentro dos objetivos da reta razão hu­
mana iluminada pela fé — inclui implicitamente a possibilidade de pro­
curar e o direito de empregar todos os meios honestos ou os auxílios
aptos para alcançar êsse escopo. Tudo isto que o esquema claramente
propoe o acolhemos com alegria e o aprovamos com prazer.
11. O esquema ainda insinua ou sugere muitas outras coisas, mas
nao o faz de maneira manifesta. Ora, deveriam ser propostas mais ex-
p/icitamente. a) Quando o esquema expõe que os atos conjugais sigm-
ícam e favorecem a plena doação entre os esposos, não explicita que
devem significar e favorecer a doação do amor. Isto é, não se afirma,
mas subentende-se apenas a seguinte norma de moralidade: para que
estes atos sejam bons, devem ser uma atuação dêsse amor — sem que
se exc ua que em certas circunstâncias êste mesmo amor pode exigir
uma abstençao. Esta norma - 0 amor - é dinâmica e tão elevada
A igreja no Mundo de Hoje 147
que convida a uma realização semnr« f.
da caridade da qual é expressão e reali7ar ’ Per e,ta' como a lei áurea
Deus, Senhor da" vida, o % uema b) . Fa,ando d<
OS atos dos esposos e o sublime ministério da tr^ n sm S ^ d a I f Z

ZSSStnTiSEí r ° norma de
sua moralidade também naquilo que de alg L Z d o 'L á dTTcôrdo
com o dever da fecundidade. Assim, as exigências da fecundidade ge­
nerosa e responsável, juntamente com as exigências do verdadeiro amor
constituem o principio normativo da atividade conjugal. Proponho, pois!
que o esquema explicitamente enuncie e ensine estas duas normas de
moralidade. Destarte, a etica ganhará em perfeição. Já é tempo de en­
tender duma vez por tôdas que o exercício da faculdade sexual para
ser considerado bom, deve-se realizar antes de tudo no contexto
do amor conjugal verdadeiramente cristão e em vista duma generosa e
ao mesmo tempo prudente fecundidade — e não se atenda exclusiva­
mente a integridade física dos atos, assim como, infelizmente, vinha
sendo costume na doutrina moral tradicional.
111. Aqui já tocamos a grave lacuna que em terceiro lugar e de
modo particular tenho intenção de denunciar. Trata-se precisamente
da integridade física dos atos conjugais, que, embora não seja nem
a única nem a suprema norma ética, o Concilio deve reter e ratificar
como um aspecto ético que não pode ser omitido. Até o presente auto­
res categorizados — e até mesmo o próprio magistério da Igreja —
sempre tiveram como contrários à lei de Deus os atos conjugais volun-
tàriamente viciados. 0 nosso esquema, pelo contrário, se restringe nos
limites duma terminologia muito tímida e geral. Fala, com efeito, de
que os esposos devem praticar êstes atos “de acôrdo com a autêntica
dignidade humana”, “em harmonia com a lei divina”. Mas qual é a au­
tenticidade que a dignidade humana exige? Que lei divina é esta? Nem
sombra de resposta a isto se encontra no texto. E não se diga que
esta lei está subentendida, uma vez que todos bem a conhecem. Na
verdade, o silêncio do esquema em tais circunstâncias dá a entender de
que está modificando alguma coisa. Pela primeira vez em documento
do Magistério é expressa não só a necessidade de regular com res­
ponsabilidade a natalidade, mas também — o que é nôvo — o perigo
inerente à cessação dos atos de amor: “interrompendo a vida conjugal
íntima — diz o texto, - pode trazer desentendimento quanto ao bem
da fé e da prole” Um problema assim levantado, que foi apresentado
em têrmos tão graves - para não dizer dramáticos, - exige uma
resposta que não pode ser delegada a outrem mas que deve constar
no próprio texto da Constituição conciliar, em termos igualmente gra-
peremptórios. Pelo eontrário, o esquema, ootra ,ez embora prer,
creva cAjjiiLilaiiiciut
explicitamente os crimes de iafant,c,d,orpcnrrem
e os abortos,temeridade
r.proca
cva -ê «TPnéricas “os que recorrem comcom temeridade
!0m..eXPreSSÕel P? L ^ ^ alL ta vaga reprovação, Veneráveis Padres, ao
ameusoluções maisa desejar.
ver, deixa fáceis”, Evitemos
cm» ' “8“nnirtô
evitemos, pois,
^ tôda d a ’ambigüidade.
*oda “ g ^ ^Como^ já falei
am
e de todos é conhecido, a doutrina nl0^alACaj ^ desta lei moral,
sôbre a integridade dos a -°: Z ! s tf ta n Aioj"otÍff a f de q^e a ' integri-'
segundo o meu parecer, nao consiste ran
148 I. Crônica das Congregações Gerais
dade meramente física em si e por si seja um valor moral, mas sim
no fato de a perfeição física da relação conjugal ser elemento intrínseco
daquela plena vontade de amar-se e simultaneamente da sincera in­
tenção procreativa, que são — como acima dissemos as normas su­
premas da vida conjugal. Com efeito, é a própria grandeza e dignidade
do amor conjugal que requer que os cônjuges se unam nestes atos
plenamente e sem limitações. Pela mesma razão, só se o ato fôr
pode tornar-se o sinal e a prova daquela profunda e constante von­
in.t€grof
tade de procriar, que deve estar sempre presente aos cônjuges, embora
acidentalmente não possa tornar-se realidade. Assim como o amor e a
intenção de gerar não podem estar separados na nobreza do espírito,
também não podem caminhar separados na humildade da carne. Não
é necessário que o Concilio entre no campo da casuística, mas é de
capital importância que se apresente a continuidade desta doutrina do
Magistério com os outros ensinamentos, para não deixar a porta aberta
a certas opiniões que hoje irrompem por tôda a parte e sustentam uma
possível modificação substancial da doutrina da Igreja referente ao
juízo moral de tais atos. Há progresso no conhecimento da lei tôda vez
que é possível entender mais profundamente e definir com mais pre­
cisão certas particularidades da mesma, mas não se podem abrir caminhos
em contradição aos precedentes degraus de conhecimento na lei pro­
postos pelo Magistério autêntico. Após estas reflexões, proponho hu­
mildemente que a doutrina da Igreja precisamente nesta matéria seja
expressa com firmeza e clareza no texto desta Constituição pastoral.
Para isto, apresentarei por escrito algumas emendas.
137) Luís Alonso MUNOYERRO, Arceb. tit., da Espanha: O esque­
ma não menciona a expressão “contrato matrimonial”, expressão esta
clássica, admitida pelos teólogos, canonistas e pelos documentos ponti­
fícios. Alguns poucos autores recentes empregam a expressão “institui­
ção matrimonial”, mas esta expressão é aceitável só se a considerarmos
abstratamente. A palavra “contrato”, ao invés, exprime melhor a firmeza
da união e da obrigação compreendidas no matrimônio. Entretanto, se­
gundo explicações da Relação, essa palavra foi omitida a pedido de al­
guns Padres Conciliares. Mas o que podem êsses Padres Conciliares
contra a torrente de teólogos e o Magistério da Igreja? O silêncio do
esquema neste assunto é, por isso, temerário e perigoso. O Direito Ca­
nônico no Canon 1012 diz que “Cristo elevou à dignidade de sacra­
mento o contrato matrimonial entre batizados”. Portanto, não é o amor
mas o contrato o que constitui o sacramento. O texto, contudo, exagera
o amor matrimonial, não insistindo na finalidade primária do matri­
mônio. Ora, é necessário insistir peremptòriamente nesta finalidade, para
que assim se evitem os erros já condenados pelo Santo Ofício. Além
disso, o que o texto diz acêrca da determinação do número dos filhos
não se diferencia pràticamente dos critérios aprovados pelo Congresso
dos Protestantes inglêses realizado em Londres em 1930! Mas nós
devemos ser cautos e não ocultar a verdade. Nem muito menos favo­
recer erros. Portanto, se não queremos cair no neomalthusianismo, é
preciso corrigir essas formulações. E’ igualmente preciso proibir ex­
pressamente as operações cirúrgicas “esterilizantes” em ambos os sexos.
A base mais científica e certa para resolver o problema da prole nu-
A Igreja no Mundo de Hoje 149
merosa é — como diz Pio XII — a « .
“genésicos”. O Concilio deveria pedir i " '13 da castida.de nos dias
das causas de irregularidades no período dclicoT '"vesflgaçao cientifica
das autoridades contra a imoralidade pública auxilio mais eficaz
138) Paulus TAGUCHI, Bispo de Osaka, no Japão: Não estamos
de acordo com a afirmaçao do esquema de que é permitido Tos Z
posos determinar o numero dos filhos. Como a própria Relação admití
esta e uma questão hoje muito difícil pelo fato de concorrerem múlti­
plos^ elementos novos. Se quisermos evitar tôda espécie de naturalismo
e nao obscurecer a parte que à Providência divina compete na procria­
ção, deve om.t.r-se o vocábulo “determinar”, que parece conotar um
excessivo calculo materialista e escassa confiança em Deus E’ inegá­
vel que essa palavra exprime um conceito exato. Contudo, o seu uso
poderia causar perplexidade tanto entre os fiéis como entre os infiéis
particularmente no Oriente. Há muita gente que possui um sentido
muito vivo da Vontade de Deus na questão do número dos filhos e
não suporta ouvir falar duma circunscrição daquelas “causas segundas”
que parece indicar o vocábulo “determinar”. Portanto, seria melhor
que se procurasse outra expressão. Além disso, deve-se observar que é
de grande importância para os filhos saber que êles foram gerados por
amor e à custa de sacrifícios e não por utilidade, interêsse e satisfação
dos pais.
139) Kazimierz MAJDANSKI, Bispo aux. de Wloclaviek, na Po­
lônia (falou em nome do Episcopado do seu País): O capítulo sôbre
a família deve referir-se ao que diz o esquema sôbre a inviolabilidade
da vida e aplicar êste princípio ao caso do aborto. A experiência pasto­
ral mostra que também os católicos se impressionam com a morte dum
adulto ou duma criança, mas se mostram quase totalmente indiferentes
quando se trata dos sêres que ainda estão em estado de embrião. O
flagelo do aborto ceifa um número maior de vidas do que uma guerra.
Deve-se procurar a causa dêste fato na indiferença religiosa e no re-
lativismo moral. O aborto é um delito que conduz as consciências hu­
manas a conseqüências socialmente deploráveis e que constitui o sinal
de declínio duma sociedade. O Concilio deveria proclamar solenemente,
numa declaração especial, a inviolabilidade da vida humana e principal­
mente das crianças que ainda estão por nascer.
140) Elie ZOGHBY, Vigário patriarcal dos Melquitas do Egito (texto
completo): Veneráveis Padres, nas questões matrimoniais existe um pro­
blema ainda mais angustiante do que o problema da limitação da nata-
lidade. E’ o problema do cônjuge inocente que, na flor da idade e sem
culpa alguma, se encontra definitivamente sozinho pela culpa do outra
Após um casamento que parecia feliz, um dos conjuges 5^|_er ^-
gilidade humana quer por premeditaçao — abandona o lar e contra
HHegalmente"uma
uma ’nova umao.
K. Fn0 côniuee
“ n]Uge inocente
‘ a. «Nada vem p0Sso
procurar
fazero pároco
por ti.
ou o Bispo. Dêles recebe uma umca r P ‘ ^ viyer sòzinho
Reza e, com ânimo dispoSto ace ta ^ ^ vjda„ £sta S0,U(.á0
(ou sozinha), guardando a castida P g um temperamento pouco
supoe uma virtude heróica, uma ^ do_ Q jovem ou a jovem que
comum: não é feita, pois, para tod° ™ hamati0s a guardar uma con-
se tinham casado porque não se sentiam cnam.
150 I. Crônica das Congregações Gerais
tinência perpétua encontram-se assim encurralados, em muitos casos
para náo se tornarem doentes psíquicos, a contraírem uma nova união
ilegítima fora da Igreja. Doravante vivem submetidos aos tormentos
de suas consciências. Uma única alternativa é-lhes proposta: ou levar
uma vida heróica — que julgam impossível — ou perecer! Ora, sabe­
mos muito bem que esta solução da continência perpétua não é uma
solução para a generalidade dos cristãos. Noutras palavras, nós sa­
bemos que deixamos essas jovens vítimas sem uma resposta eficaz.
Pedimos-lhes que tenham uma fé que possa transladar montanhas.
Mas esta fé não é dada a todo mundo. Muitos dentre nós, Bispos, da
Igreja, devemos lutar e orar durante tôda a vida para a obtermos.
A questão que ao Concilio colocam hoje estas almas angustiadas
é a seguinte: A Igreja tem o direito de responder a um cônjuge ino­
cente, seja lá qual fôr o problema que o tortura: “Débrouillez-vous! (em
francês no original latino). Náo tenho solução alguma para o teu
caso”? Por outro lado, como é que a Igreja pode indicar a êste pro­
blema uma solução que sabe inoperante para o caso? A Igreja não re­
cebeu de Cristo a autoridade suficiente para oferecer aos homens os
meios de salvação proporcionados às suas forças ajudadas pela graça
divina ordinária? Cristo jamais impôs a ninguém o heroísmo ou o e&-
tado de perfeição sob pena de condenação. Êle disse: “Se quiseres ser
perfeito...” A Igreja não pode, pois, carecer da autoridade suficiente
para proteger o cônjuge inocente contra as conseqüências do pecado do
outro cônjuge. Não parece normal que a continência perpétua, que está
ligada com o estado de perfeição, possa ser obrigatoriamente imposta
como um castigo ao cônjuge inocente porque o outro cônjuge traiu.
Desde os primeiros séculos as Igrejas orientais tiveram sempre consciên­
cia desta autoridade. O vínculo matrimonial tornou-se çertamente indis­
solúvel pela lei positiva de Cristo, mas, como indica o Evangelho de
S. Mateus (5,32; 19,6), “exceto em caso de adultério” (em grego:, mè
epi porneía). À Igreja cabe julgar do sentido dêste inciso, sôbre o qual
os exegetas mais recentes não estão de acôrdo. E, embora a Igreja de
Roma o interpretasse sempre em sentido restritivo, o mesmo nurica acon­
teceu no Oriente, onde a Igreja o interpreta em favor do matrimônio
possível do cônjuge inocente. E’ verdade que o Concilio de Trento, na
sua 24* sessão (cânon 7 De matrimônio) comprovou e sancionou a in­
terpretação romana restritiva. Mas é do conhecimento de todos que á
fórmula adotada por êste Concilio no citado Cânon 1* foi propositada-
1 Para maior informação do leitor, transcrevemos aqui o Cânon 7 sôbre o -rna
trimônio indissolúvel a que Zoghby faz alusão: “Se alguém disser que a Igreja erra
quando ensinou e ensina que, segundo a doutrina evangélica e apostólica (Mc *
/./ní0r ‘ ’ 0 v ncu,° matrimônio não pode ser dissolvido pelo adultério dum
mMivn66 / t!í1Ci*.>nenhum dos dois> nem mesmo o cônjuge inocente que nã° . ce
aom ?dult*r,?*A P°de contrair outro matrimônio em vida do outro cônjuge,
omTaoü J» nn, UKéri° tanto aqué,e ^ue* repudiada a adúltera, casa com ou
°rwl a que, abandonado o marido, casa com outro — seja excomungado (ÇJf y
T r e n ? o ^ ^ t0,sMPr tÍVCÍOS ?a Ed- Vozes, "- M ). Êste Canon 7 do Conc.l o de
criu Maf45/ rn3) ♦so,reu ,váriafi redações. A redação definitiva é esta .*QuJ.A ra foi
assiír forímitrif 7«ca a- afirmaÇão de Mons. Zoghby de que esta condenação T
não ofender í £ 1 5! dlxerit, Ecclesiam errare. . . ”) pelo Concilio de Trento par*
que Zoghbv no r a // .lrad‘ci°nal da Igreja Grega nesta matéria. Note-se, P .ega
*»em d/fende o divàrrfn ,cônJuge definitivamente abandonado e sem culpa, nã Jda
prática, "mas comí í v Cánon de Trento condena, resolvendo .uma * 1^
angustiante problema nacl*/*^ deP.ois (cf. n. 174), procura uma solução P do
privilégio paSlino ou oeXrina lri®en
d,a,,tc
s P-u..no ou petrino, de que a Igreja a Possibilidade
do Ocidenteduma fala dispensa,
e faz uso.na H"h
A Igreja no Mundo de Hoje 151

. v. , iiuiiuiiiu. cbia traaiçao conservada no Oriente —


jamais reprovada durante os dez séculos anteriores à separação das
igrejas — poderia ser atualmente de grande utilidade entre os cató­
licos. O progresso dos estudos patrísticos puseram em relêvo, com efeito,
a doutrina dos Padres orientais, que não eram nem menos bons exegetas
nem menos bons moralistas do que os do Ocidente. Entre os canonistas
ocidentais, a preocupação pastoral para com os esposos abandonados
se manifesta duma outra forma; aplicam-se a um diligentíssimo exa­
me dos possíveis impedimentos, matrimoniais, no qual adquiriram uma
habilidade quase acrobática. Fazem-no, decerto, por preocupação pas­
toral. Mas disso às vêzes resulta um certo detrimento para as almas.
Assim acontece, p. ex., que, após vinte anos de matrimônio, se descobrem
impedimentos de afinidade até então desconhecidos que permitem re­
solver tudo . como por encanto! Os juristas encontram isto natural e
normal, mas nós, pastores, devemos reconhecer que os nossos fiéis ficam
às vêzes estupefatos e escandalizados.
Conclusão: A tradição dos Padres orientais, citada acima, não é mais
apta do que êsses impedimentos de matrimônio para o exercício da
misericórdia divina? Sem dúvida, a gente não pode agir aqui leviana­
mente. Os abusos são sempre possíveis. Mas os abusos não tolhem a
autoridade e o poder da Igreja. Nesta época de ecumenismo e de diálogo,
seria desejável que a Igreja católica reconhecesse esta maneira de agir que
desde . tempos imemoráveis emprega a Igreja do Oriente. Oxalá
os teólogos se aplicassem, ao estudo dêste problema para apontarem
um remédio à angústia dos esposos inocentes definitivamente, aban-r
donados e para os libertarem do perigo grave que ameaça suas almas!
141) Enrico NICODEMO, Arceb. de Bari, na Itália: Deseja-se uma
exnnsirãn hrpvp p ao mesmo tempo clara e ampla da doutrina da Igreja

°u entre as aplicações
152 I. Crônica das Congregações Gerais
atual A esperança moderna e a dos séculos passados é bem clara a
respeito e não se deve voltar ao assunto. O capitulo III não trata clara
e diretamente do direito de propriedade enquanto exigência da digni­
dade da pessoa humana. O capítulo V explana alguns conceitos sôbre
obieçòes de consciência que são, pelo menos, inoportunos, faltando prin­
cípios que ofereçam um fundamento humano e divino às intervenções
da Igreja nos assuntos e nas instituições internacionais.
142) Hermann VOLK, Bispo de Mainz, na Alemanha: Em relação
à dignidade do matrimônio, o esquema deveria começar focalizando o
matrimônio enquanto é um estado. Pois pertence à dignidade humana
e à existência cristã que o homem é capaz de decidir, através duma
autodeterminação, o seu estado de vida. Por essa determinação de si
mesmo o homem se fundamenta num estado permanente, de sorte que.
a partir de então, o homem já não “agirá” apenas como casado, sacer­
dote ou religioso, mas “será” casado, sacerdote ou religioso. O mun­
do secularizado de hoje, porém, não acredita que essa autodetermina­
ção seja conforme à dignidade do homem nem que a definitividade de
estado pertença à natureza do matrimônio. Por isso, é importante que
o Concilio mostre que êsse ato de escolha pelo qual o homem deter­
mina sua existência não contradiz a liberdade nem a dignidade hu­
mana. A liberdade não consiste em reservar-se esta faculdade para agir
de modo contrário em qualquer momento nem em permanecer numa
atitude de indecisa variedade. A liberdade atinge o seu cume quando
o homem decide sôbre si mesmo e se autodetermina, ainda que dora­
vante o seu modo de agir fique limitado. Nisto radica a essência da
vida cristã, pois se fundamenta no caráter indelével do Batismo, que
deve determinar definitivamente a conduta do cristão. Isto é igualmente
válido para a Confirmação, a ordenação sacerdotal, o Matrimônio. O
mundo e os nossos fiéis — principalmente os seminaristas com relação
ao Sacerdócio — precisam do nosso auxílio e encorajamento para um
ato de escolha definitivo cheio de confiança. As fontes desta decisão
radical se encontram no sacrifício eucarístico, que vitaliza todos os es­
tados de vida cristãos.
30-9-1965: 139» Congregação Geral
A Igreja no Mundo de Hoje
II Parte: O Matrimônio

r ... , . P r e s e n t e s : 2.177 p a d r e s
Conciliares. Moderador: 0 Card. Suenens. A sessão começou às
9 e terminou às 12,15. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Joseph Martin, Bispo de Bururi, Burundi. Hoje foi distribuído
0 texto de Declaração sôbre as relações da Igreja com os não-
cristãos (e judeus). Continuaram as votações sôbre 0 múnus
pastoral dos Bispos (cf. pp. 366 ss) e as intervenções sôbre a II
parte do esejuema da Igreja no mundo de hoje, com as seguintes
15 intervenções, ainda sôbre problemas matrimoniais:
143) Cardeal Charles JOURNET, da Suíça (segue o texto com­
pleto, que constitui uma resposta direta à intervenção de Zoghby, cf.
n. 140): A doutrina da Igreja Católica sôbre a indissolubilidade do
matrimônio sacramental é a mesma doutrina que o Senhor Jesus nos
revelou e que a Igreja sempre conservou e anunciou. Com efeito, le­
mos no Evangelho de S. Marcos (10,2 ss) que, à interrogação dos fa­
riseus “se é lícito ao marido repudiar a própria mulher”, Jesus res­
pondeu “O que Deus uniu não separe o homem”. E acrescentou: “Aquêle
que repudia sua mulher e se casa com outra, adultera contra aquela:
e, se a mulher repudia o marido e se casa com outro, adultera . O
apóstolo S. Paulo ensina expressamente a mesma doutrina, não em
seu próprio nome mas no nome do Senhor: “Aos casados ordeno, não
eu mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido se estiver
separada, não torne a casar ou, então, reconcilie-se com o mando -
e que o marido não repudie a mulher” (1 Cor 7, 0-11). Com a consi­
deração desses claros testemunhos, torna-se manifesto que S. Mateus
não tem uma doutrina diferente quando acrescenta o
ciso “Todo aquêle que repudia a sua mulher „ 19 P) A cláusula
- e s A .s a com « tra < .» « . mg, ImSlo
salvo caso de adultério pode ser a __ em caso ^
da liceidade da separação — c°í"0jd*Je dun? 'nôvo casamento. E' ver-,
adultério, mas não em favor da hce dadmitiram - divórcio
U t «***•■ -----
0 >.'«fÂmiA
.
um
em rrn
caso dt
dade que algumas Igrejas do Oriente
C°ncíiio - v _ 11
154 I. Crônica das Congregações Gerais
adultério e permitem ao cônjuge inocente contrair um nôvo casamento
Mas êste fato se explica pelas relações que então existiam entre o Es­
tado e a Igreja. Sob o influxo da lei civil que admitia, neste caso, a
legitimidade do divórcio e dum nôvo matrimônio, a Novella Iustiniani,
que enumerava as diversas causas de divórcio, foi introduzida no Código
da Igreja Oriental denominado Nomocanon. Para justificar ulterior-
mente esta frase, estas Igrejas orientais alegaram o inciso de Mateus
sóbre o divórcio em caso de adultério. Mas estas mesmas Igrejas admi­
tiam. além desta causa, outras causas de divórcio. E* evidente, pois, que
nesta matéria adotaram um modo de agir mais humano do que evangé­
lico. Seja qual fôr o uso destas Igrejas, a genuína doutrina do Evan­
gelho sôbre a indissolubilidade do matrimônio sacramental permaneceu
sempre em vigor na Igreja católica. Não é competência da Igreja mu­
dar o que é de direito divino. A Igreja não pode não obedecer ao pre­
ceito de Cristo. Mas é com uma imensa compaixão que Ela olha para
aquelas situações infelizes que exigem uma vida heróica e que perma­
necem insolúveis aos olhos dos homens, não aos de Deus. (Veja-se a
resposta de Zoghby, injra n. 174, p. 166 s e p. 188 s).
144) Cardeal John Carmel HEENAN, Aceb. de Westminster, na
Inglaterra (texto completo): Gostaria de comegar a minha intervenção
pedindo que, quando êste documento fôr definitivamente aprovado, oxalá
se façam boas e belas traduções do seu texto. Dentre estas, a versão
latina é a de menor importância. Neste documento nós nos dirigimos
ao mundo de hoje. Poderia causar admiração que, referindo-se o seu
conteúdo a realidades que por sua própria natureza são mutáveis, o
esquema se intitule “Constituição conciliar”. Se o nosso esquema faz
realmente questão de se mostrar adaptado ao mundo de hoje, então
por isso mesmo terá que resultar pouco útil e oportuno aos homens dos
séculos vindouros. Talvez fôsse preferível promulgá-lo como uma sim­
ples “Mensagem”. Mas, seja lá o que fôr da versão latina, o certo é
que os homens do mundo inteiro se interessarão por êste documento
através da leitura de traduções para as suas próprias línguas. Numero­
sos Padres Conciliares criticaram acerbamente a “latinidade” do nosso
documento. Vejo-me, pois, obrigado a desejar que a tradução inglêsa
do documento definitivo seja ainda melhor e mais clara do que a do es­
quema. No devido tempo, especialistas no idioma e na gramática in­
glesa façam a tradução de todo o esquema. Passo agora ao conteúdo
do nosso esquema:
1) Veneráveis Padres, tende a bondade de olhar à p. 60, alínea 30
e seguintes. Sugiro que se insira aí uma passagem sôbre a prática ex­
tremamente recomendável da adoção. Nesse lugar se trata “de prole
tam optata quae déficit” (dos filhos que, embora desejados, não vem)-
Na maioria das vêzes, as crianças ilegítimas ou abandonadas pelos seus
pais se encontram privadas da mais preciosa herança da infância que
e a vida doméstica e familiar. E’ verdade que nos países onde se
cultiva a liberdade religiosa é possível achar bondosas freiras que aco­
lhem estas crianças infelizes com os braços abertos da caridade crista.
Entretanto, por mais belos e espaciosos que sejam, os orfanatos não
substituem o lar. Os casais sem filhos deveríam ser exortados a ado­
tarem crianças, especialmente aquelas que são doentes, fisicamente de­
A Igreja no Mundo de Hoje
155

ss ^ “ i;6r r s ,i s - - « t S s
feituosas, mestiças ("stirpis mixtae”) ou — nnr
não são desejadas. Um tal gesto seria dp ^ J °U qua mot,vo

apareceu algo menos conveniente: as “notulae” nas relações sem as


quais o proprio texto apenas seria inteligível. Nos nn. 62 e ’ seguintes
não encontramos quase nada que possa solucionar os problemas con­
jugais. Descrevem-se - é verdade - as dificuldades e sublinha-se a
necessidade da oraçao e da graça divina. Mas o texto faz completo si­
lêncio em tôrno do problema que mais agita os espíritos dos casais de
hoje: o da moralidade dos atos “quibus, conceptione praeclusa, intime
(os esposos) uniuntur . A razão que explica êste silêncio é inteiramente
legítima. Nem a Igreja nem a Comissão que redigiu o esquema pode­
rão ser repreendidas por causa dêste silêncio. Porque, se, por um lado,
os princípios morais são imutáveis, por outro se esperam ainda os re­
sultados das investigações dos médicos, fisiólogos e outros especia­
listas neste campo. Além disso, por determinação do Sumo Pontífice,
êste assunto foi prudentemente retirado do debate público na última
Sessão. Tendo êstes dois fatos em conta, devemos sèriamente pergun­
tar-nos se não valeria mais não dizer nada do matrimônio neste docu­
mento, em lugar de falar dêle sem fazer menção do que constitui ver­
dadeiramente o grande problema? Se agíssemos assim, é preciso certa­
mente temer que os fiéis se julguem frustrados. E’ também possível
que os não-católicos zombem de nós dizendo: “A Igreja Católica preten­
de ser infalível em matéria de fé e moral — e eis que é incapaz de
tomar uma decisão nesta questão!” Digo com tôda humildade que seria
preferível deixar de lado todo êste capítulo sôbre o matrimônio e espe­
rar até que o Papa esteja preparado para se pronunciar sôbre o assun­
to, após ter recolhido os conselhos que pediu dos sábios e teólogos.
Por enquanto, porém, não podemos dar uma orientação clara e ex­
tremamente desejada pelos fiéis. O nosso texto fala aos cônjuges: “Ilu­
minados pela Revelação e dóceis para com o Magistério, discernirão com
todo o cuidado qual seja a vontade de Deus sôbre a maneira de orde­
nar a sua vida conjugal — vontade esta que se manifesta através da
harmonia e natureza dos Seus dons”. Belas palavras! Mas soam mais
como exortação que como ordem. — Os membros das Comissões que
redigiram êste documento merecem ser felicitados por se terem esfor­
çado em dar úteis conselhos sôbre uma matéria delicada. No entanto,
êles indicam em nota (p. 102) as impossibilidades contra as quais se
chocaram: “Propõem-se apenas princípios gerais, a fim de que o Lon
cílio não caia na casuística e a fim de respeitar integralmente o que
foi reservado à Comissão pontifícia”. Assim circunscrito, o nosso
cumento não pode ser senão manco. Entretanto, muito embora ten a
clarado restringir-se unicamente a princípios gerais, nem por isso
abstém de descer às vêzes a detalhes! E’ assim que a a o *
do infanticídio. Mas não diz uma palavra sô re a es ‘ je cito
como cada pastor sabe, é um problema muito mais 1 dOCUniento.
Isto unicamente para dar um exemplo das lacunas
U*
156 I. Crônica das Congregações Gerais
Eu repito humildemente: acho que valeria mais não fazer nenhuma de­
claração sôbre o matrimônio, até que a Igreja possa falar sem am bi­
guidade e possa dar aos fiéis diretivas claras.
145) Cardeal Agnello ROSSI, Arceb. de São Paulo, no Brasil (fa,
lou em nome de 70 Bispos brasileiros): O capítulo sôbre a dignidade
do matrimônio e da família nos agrada em geral, pois os esforços da
Comissão em conciliar tantas opiniões contrárias obteve um feliz re­
sultado. Talvez, por motivo de brevidade, muitos pontos, que poderíam
ser tratados mais amplamente, são expostos duma maneira demasiado
sintética. Além disso, por causa daquela preocupação — aliás, freqüen-
temente mencionada — duma redação em latim clássico, o texto se tor­
nou de difícil compreensão mesmo para quem conhece teologia e de
leitura pesada para todos os homens aos quais se dirige o Concilio.
Quanto aos pormenores, enviarei ao Secretariado competente muitas
observações. Quero, apenas como exemplo, notar que se poderia apre­
sentar uma exposição melhor e mais exata dos sinais dos tempos; que
se deveria determinar mais claramente a razão formal da natureza in­
teiramente singular do contrato matrimonial, cuja essência não depende
apenas do arbítrio humano; que se poderia mencionar a graça sacra­
mental, etc. Dum modo especial, porém, quero falar sôbre os legítimos
processos de limitação da natalidade. Sôbre esta questão — que angus­
tia imensamente a todos nós que sentimos as ansiedades de todos aquê­
les aos quais está confiada a cura pastoral — confesso sinceramente
que preferiría não falar se não fôsse obrigado a tal em virtude do mú-
nus que me foi confiado. Sabemos que esta questão foi entregue a uma
Comissão especial. Além disso, todos nós temos a certeza de que o Sumo
Pontífice, iluminado pela graça do Espírito Santo, no momento opor­
tuno nos dirá uma palavra esclarecedora sôbre a questão. Desde já
nós, Bispos brasileiros, damos a nossa devida adesão às decisões e en­
sinamentos do Sumo Pontífice, com a reverência e obediência que lhe
devemos. Não sabemos, no entanto, se estas decisões nos serão dadas
antes do fim dos trabalhos conciliares. Se não fôr assim e também, por
outro lado, se as conclusões dos estudos que nesta matéria talvez já
foram feitos não nos puderem ser comunicados, seria mais sincero de
nossa parte não dizer absolutamente nada ou confessar claramente que
é impossível dar uma resposta imediata. Neste caso daríamos aos nos­
sos sacerdotes e fiéis algumas orientações pastorais sôbre o modo de
agir neste campo. Não será isto mais prudente? Do contrário, corre­
riamos o risco de afirmar hoje o que talvez amanhã teríamos que ne­
gar. Nossa alternativa é esta: ou calar-nos ou confessar sinceramente
as nossas dúvidas. Neste ponto não nos são de ajuda aquelas decla­
rações imprecisas e vagas que encontramos no texto. Queira Deus que
possamos encontrar, inteiramente dentro dos limites em que podemos
agir, uma formulação tal que não seja considerada nem imprudência
nem omissão. Por esta e outras causas, talvez seria preferível trocar
o título do esquema para “Epístola pastoralis a Concilio ad homines
huius temporis” ou “Litterae synodales a Concilio ad mundum”.
146) Cardeal William CONWAY, Arceb. de Armagh, na Irlanda:
) capítulo I apresenta uma boa síntese da doutrina católica sôbre
matrimomo e a família e, ao mesmo tempo, concilia as novas perspec-
A Igreja no Mundo de Hoje 157
tivas neste campo — principalmente nn a\
jugal - com a tradicional da Igreja. Contudo,
visto em alguns pontos: a) E’ ambíguo e rnnf„cn If ^
dissolubilidade do matrimônio e quando se refere a^divórc o b) Nã^
condena claramente o uso de meios desonestos de l i m i S d a n a t a -
hdade, embora a Relaçao (P i°i) diga que tais meios são enèrgica-
mente proibidos, c) Ao tratar das relações entre Igreja e ciências toma
uma atitude demasiadamente defensiva. Neste ponto se deveria’ falar
com humildade, mas também sem complexo de inferioridade Por fim
proponho que o esquema se intitule “Carta pastoral do Concilio aos
homens do nosso tempo” ou "Carta sinodal do Concilio a todos os
homens”.
147) Cardeal Michael BROWNE, da Cúria Romana: O capítulo só­
bre o matrimônio tem muitas passagens cjue são dignas de louvor,
mas a parte que se refere ao amor conjugal causa-nos perplexidade.
Para dar à matéria uma orientação teológica, é preciso distinguir o fim
que determina essencialmente o objeto da união matrimonial (a pro­
criação e a educação dos filhos) e os fins “secundários” que estão em
íntima conexão com o fim principal (a ajuda mútua e a “sedatio con-
cupiscentiae” ou apaziguamento dos sentidos). A ajuda mútua de que
nos fala S. Tomás de Aquino compreende o amor, o respeito e o au­
xílio mútuo. Trata-se, evidentemente, do amor de amizade que ajuda
enormemente não só os filhos, mas também e sobretudo a felicidade
dos mesmos esposos no sentido de que unam suas forças para o amor
da prole, proporcionando-lhes felicidade nesta missão. Os objetivos que
perseguem os cônjuges podem ser múltiplos. Mas a natureza do ma­
trimônio, a virtude humana e cristã, a estabilidade do matrimônio exi-
que o amor (que é quase sempre o motivo primeiro e predominante
que anima os esposos) seja um amor autêntico, sincero, e que impregne
todos os atos da vida conjugal.
148) Adrianus DJAJASEPOETRA, Arceb. de Djakarta, na Indoné­
sia (texto completo): No ano passado, no nosso debate do esquema
“Vota de matrimonii sacramento” — que já não pertence à matéria atual
do Concilio — chamei a vossa atenção para as formas do matrimônio
que se encontram nas culturas não-ocidentais, como, p. ex.. na mi­
nha Pátria ou ainda na África, no Paquistão, na índia, na China, etc.
A fim de esclarecer um pouco a minha sugestão, aleguei então as pa­
lavras que uma mulher do Paquistão dirigira a uns ocidentais: “Vos
contraís matrimônio porque vos amais; nós, porém, nos amamos por-
que temos casado". E’ sob êste ponto de vista que eu tenho lido o ca­
pítulo sôbre o matrimônio e a família do atual esquema. Sem duvida,
os seus redatores quiseram evitar a mentalidade e as formas de matri­
mônio demasiado ocidentais. Apesar disso, é preciso^ con essai' ?'
redatores tiveram principalmente em vista a evolução do matnmomo
no Ocidente. No nosso País e noutros países °rienta,s prevalece ainda
em numerosas cam adas a ^onna de ^ m o n . o g mas
impele ao casamento nao e o amor pess , n • im ülie
o propósito de estabelecer uma famil.a em soaedade. O p ™ r o ^
^ visa neste tipo de matrimônio é constituir uma fam ha e. a*„m a-
gorar a descendência. E é precisamente êste propos.to o que
158 I. Crônica das Congregações Gerais
verdadeiro amor ou, pelo menos, a uma fé reciproca e; estável entre ho-
mem e mulher. Não afirmemos com demasiada facilidade, Veneráveis
Padres que esta forma matrimonial se vai extinguir ràpidamente e
nòr isso, bem pode ser deixada de lado. Não somos profetas, nem mesmo
em questões de evolução social! Dificilmente poderia reconhecer neste
texto os nossos tipos de matrimônio. Devo também confessar que não
é tão fácil assim indicar onde e como deveríam ser lembradas estas
estruturas sociais de nossa mentalidade. Acho que pode ser possível
em duas passagens: 1) No n. 61, p. 47, alínea 16, após as palavras
“amore autem coniugali”, poderia acrescentar-se: “o qual ou leva à
legítima união ou decorre e se nutre da intenção dos esposos de esta­
belecerem uma família”. 2) No n. 62, p. 48, alínea 22, após as palavras
“magni faciunt”, poderia inserir-se: “E’ igualmente digno de estima
tanto o amor que conduz ao matrimônio e nêle se aperfeiçoa como o
amor que nasce do matrimônio estabelecido primordialmente para fun­
dar uma família e assegurar a descendência”. — Confiamos que a
Comissão encarregada do texto possa coordenar de modo talvez me­
lhor e mais elegante estas formulações com o corpo do texto. No mais,
êste capítulo muito me apraz. Em comparação com o anterior texto,
é evidente que foi notavelmente corrigido e merece realmente louvores.
149) Frantisek TOMÁSEK, Admin. Apost. de Fraga, na Checoslo-
váquia (segue texto completo, pronunciado em nome de 40 Bispos so­
bretudo da Europa, África e da América Latina): Repetidas vêzes já
se tem falado, no Concilio, da miséria, da fome e da ignorância que se
estendem em vastos territórios do mundo. Em tais circunstâncias, são
as famílias as que mais sofrem em geral, pois que o seu progresso ma­
terial e espiritual fica entravado. Contudo, igualmente nos países assim
chamados em vias de desenvolvimento, estas dificuldades não são abso­
lutamente desconhecidas. Não se pode ignorar que nestes países o nível
de vida das famílias que têm dois ou três filhos é consideràvelmente mais
baixo do que o das famílias sem crianças e das pessoas não casadas.
A experiência nos mostra que a situação destas famílias arrasta outras
dificuldades sociais que nem os governos nem as instituições de previsão
social são mesmo capazes de resolver. E’, pois, evidente que se trata
aqui dum problema complexo e difícil de cuja eficaz e rápida solução
depende em certa maneira a salvação temporal e eterna de muitas al­
mas. Após ter mostrado a gravidade desta situação, seja-me permitido,
Padres Conciliares, propor alguns meios que — espero eu ao menos
possam ajudar um pouco a resolver êste problema. Cada um de nos
se lembra do zêlo com que êste Concilio se tem ocupado da penosa
situação das famílias pobres. Seja lá qual fôr a nação à qual pertençam,
seja lá qual fôr a sua religião ou a côr da pele, estas famílias são a
verdadeira esperança da humanidade e da Igreja. Eis por que me Parec
indispensável nós propormos um programa internacional de ajuda n
plano econômico, moral e cultural. Para tal finalidade, a ONU e a
organizações do Mercado Comum podem ajudar por meio de créditos
a longo prazo. Sabemos que sôbre êste importante assunto, nas d‘
rentes nações, felizmente se mobilizaram já muitas coisas. Entreta >
nes a presente situação, é necessário coordenar essas atividades Ç
laciona-las estreitamente umas às outras. Uma cooperação semelhante
respon era, sem dúvida, simultaneamente às necessidades da Igreja e
A Igreja no Mundo de Hoje
159
das comunidades das nações — e i«tn
estão em recíproca relação graças a tanto* Tf™ 1!* .excelente’ P°* que
nicação. Seria possível m oblliS ™ ? D í í f T ° f ,de Comu-
aos governos, às instituições sociais e às assodacões ,;^brf uc!0 dand°
sibilidade de colaborarem mediante créditos a longo prazo «gundo acT
ma dissemos. O Banco mundial poderia render excelentes serviços com
respeito a repart.çao do dmheiro. Dando às famílias jovens um melhor
nível de vida um tal programa _ que nós desejamos ardenterneme -
sena capaz de promover o comércio mundial. E’ preciso levarmos em
conta o fato de que os jovens casais não podem ser sustentados por
meio de esmolas, mas devem ser ajudados através de créditos a fim
de que possam dar as suas famílias um verdadeiro domicílio ’ Insisti­
mos nesta ideia porque não podemos ignorar que a situação material
da família exerce uma influência decisiva nas futuras gerações. Uma
organização particular teria por campo de trabalho a assistência sócia!
das famílias no mundo inteiro e, sob êste aspecto, completaria oportu­
namente outras organizações internacionais tais como a “Caritas” e a
“Cruz Vermelha” internacional. Mediante créditos generosos, publica­
ções ilustradas, livros cristãos, estaríamos capacitados para fornecer a
ajuda material e o alimento espiritual de que tem necessidade o homem
do séc. XX. Como conclusão, proponho ao Concilio declarar que êle
aprova as iniciativas comuns de alguns indivíduos, grupos, governos,
comunidades religiosas, organizações internacionais, associações indus­
triais, organizações comerciais, que coordenam seus esforços a fim de
constituir uma organização que tenha por tarefa promover a vida fa­
miliar. Assim, o Concilio mostrará ao mundo inteiro que é possível,
coordenando os esforços de todos os homens de boa vontade, frear a
explosão atual da população do globo, abater os muros erigidos pela
separação ideológica entre os povos. Mostrará que as fontes de riqueza
descobertas graças à ciência moderna e à técnica, podem ser acessíveis
a todos dum modo equitativo, a fim de que o tesouro comum da cultura
humana possa ser transmitido sem diminuição às futuras gerações, para
o maior bem da Igreja e de tôda a humanidade. A êste efeito, nós te­
mos elaborado um programa que se denomina “a família e que repre­
senta um modesto projeto da organização a constituir, a qual teria por
tarefa a de promover uma vida familiar responsável e verdadeiramente
exemplas. Além disso, parece-me necessário dizer^ que êste programa
responde aos nossos sãos princípios da moral cristã, que são os umcos
capazes de lhe assegurar o sucesso.
150) Francisco Maria DA SILVA, Arceb. de Braga, em Portugal;
Faço as seguintes observações: 1) O texto de modo geral placet
porque positivamente exorta os fiéis a promoverem o bem da tam.l a
dando testemunho de vida cristã e colaborando com os homen, de boa
vontade; porque também positivamente exorta a que
versas ^ a p o s tó l ic a s , de modo particular as
de jovens e de casais novos, para robusece ‘ tôdas as dificul-
aÇão apostólica; enfim, porque, apesar e re infanticídio. 2) A
dades da vida matrimonial condena o h ^ ^ mo8tr‘ daramente a
exposição, porem, parece um Pou“ g levantados, principalmente na
Posição
Questão do da matrimônio.
Igreja sobreIstoos pode
Prob'en sia0 aa interpretações
dar ocas.ao mr p erradas.
lòO |. Crônica das Congregações Gerais
Por isso. não concordo com o que se diz no n. 63 sôbre o sentido
de responsabilidade dos pais no número dos filhos. Esta passagem con­
têm — é verdade — a doutrina verdadeira, mas de modo obscuro e
sabe a um certo subjetivismo. Seria melhor, segundo o meu humilde
parecer, ater-se às palavras de Pio XI na encíclica Casti Connubii ou
de Pio XII sôbre esta matéria. 3) O texto emprega uma linguagem exa­
gerada quando, no n. 74, aborda o problema da ciência e a fé ou o
problema da conciliação entre a doutrina moral da Igreja e as exi­
gências do homem de hoje. Neste ponto cabe à história emitir um juízo.
4) Quando se refere no n. 101 à questão de consciência em caso de
guerra e de serviço militar, pode oferecer falsas interpretações e favo­
recer o subjetivismo. 4) Encerrando o capítulo III, poder-se-ia acres­
centar a sentença de Cristo: “O que adianta ao homem ganhar o mundo
inteiro se vier a perder a própria alma”. A posição de Cristo e da
Igreja perante o mundo é imutável: o progresso se dá sòmente nas
coisas exteriores.
151) Remi Joseph DE ROO, Bispo de Victoria, no Canadá (texto
completo): Falo não só em meu próprio nome mas em nome de nume­
rosos casais canadenses que eu consultei sôbre o amor conjugal. Tam­
bém 33 Bispos subscreveram minha intervenção. Todo o povo cristão
deve contribuir para a solução dos graves problemas do amor conju­
gal. O sentido dos fiéis (“sensus fidelium”) tem uma função espe­
cial não sòmente nas questões de fé, mas também nas questões de mo­
ral (cf. Constituição dogmática sôbre a Igreja, n. 12). O mundo de
hoje segue com vivo interêsse os estudos que a Igreja faz atualmente
sôbre os problemas da família. Êste fenômeno de nosso tempo é um
carisma e constitui uma ocasião única de engrandecer positivamente a
santidade conjugal. Os esposos cristãos esperam do Concilio 1) que
reconheça as características e os dons especiais de sua vocação, que é
a vocação da grande maioria dos homens, e 2) que os encoraje e os
ajude a aprofundar com entusiasmo sua vida conjugal nesta era de
renovação da Igreja. Para responder às suas esperanças, não deveriamos
ter a coragem de evitar de insistir demasiado nos escolhos da vida
conjugal e nos seus abusos sempre possíveis? Não deveriamos, antes,
insistir no aspecto positivo, nas riquezas do amor humano e nos
cumes a que pode chegar com a graça? Nosso esquema contém uma
doutrina rica e valôres que os esposos apreciarão certamente. No en­
tanto, se prestarmos ouvido às aspirações dos esposos cristãos de hoje,
creio que muitos elementos dêste texto os decepcionarão profundamente.
Os esposos cristãos sabem que a sua união conjugal não pode ser ver-
dadeiramente compreendida se não se tiver uma clara consciência dêste
fato: a união carnal gera nêles uma comunhão absolutamente única
de tôda a sua pessoa e de tôda a sua existência.
Segundo a doutrina clássica, o matrimônio está destinado à pro-
maçao. Mas esta visão deve ser ainda aperfeiçoada. Não esqueçamos
que a cnaçao requer que os pais sejam não sòmente os autores da vida
física, mas também uma fonte de amor para tôda a família — urT1
manancial que nao deve jamais secar. Isto não é possível sem uma ge­
nerosidade indefectível em todos os aspectos de sua vida. Esta genero­
sidade nao se adquire duma vez para sempre deve ser cada dia reno-
A Igrtja no Mundo de Hoje )ti|
vada e sustentada ao campasso das necessidade® „ •
concreta. A expressão constante da afeição e do dom T * * "03® ^ V‘da
o sacramento da vocação conjugal porque ela significa e^susTenta^e^a
vocaçao. A qualidade mesma do amor conjugal depende desta renovaTão
cotidiana. Nós ignoramos a realidade se, na vida conjugal extrairmos
tal ou qual aspecto do seu contexto completo que é a vida familiar co!
tidiana. Porque as expressões do amor próprias à vida conjugal devem
ser vistas na totalidade dum contexto fora do qual elas perdem seu
sentido pleno e autentico. O amor conjugal não pode se definir unica­
mente pela atraçao física ou pelo prazer. O matrimônio cristão é uma vo­
cação para uma perfeição procurada conjuntamente — e não se pode
considerá-lo num outro contexto.
Os casados nos dizem que o amor conjugal é uma experiência es­
piritual muito profunda. Essa experiência os esclarece até no mais
profundo de si mesmos sôbre o que êles significam um para outro,
sôbre a sua comunhão mútua numa união irrevogável. Através dêste
amor, apreendem como numa síntese a unidade do misterioso desígnio
de suas vida, assim como os liames que os atam ao Deus criador. Du­
ma maneira quase tangível, êles comungam no amor de Deus e, pela
sua vida conjugal, têm a intuição de que Deus é a fonte da vida e da
felicidade. A fé lhes diz que pelo sacramento do matrimônio, pelo gesto
criador e pela vida litúrgica da família, êles colaboram com o Verbo
de Deus que quer conduzir o mundo inteiro ao Pai por meio de sua
encarnação. Dão nascimento a novos membros que vêm dilatar o Corpo
de Cristo. Tornam-se instrumentos da redenção da humanidade e do
progresso do universo. O único plano criador e redentor de Deus ten­
ciona a transformação do mundo material e espiritual unindo a huma­
nidade a Deus no Cristo. E é a partir da intimidade conjugal do lar que
Cristo, hoje, encontra primeiramente esta humanidade que Êle veio res­
gatar. A função criadora do amor conjugal estende seu influxo para
além do lar. Em união com os outros casais, os esposos que servem
plenamente suas famílias constróem tôda a comunidade temporal em que
os homens podem realizar seus próprios destinos. A família fundada
no verdadeiro amor conjugal constitui um testemunho diante da socie­
dade e um fermento de alegria e de amor.
Eis aqui algumas razões pelas quais os esposos não devem ja­
mais cessar de sustentar seu autêntico amor^ conjugal. Os principn»
arbitrários tirados de considerações exteriores têm pouco valor neste do­
mínio. O que acaba de ser dito mostra-nos que a nossa solicitude pas-
♦ oral para com a perfeição do amor conjugal atinge nao somente r,
■ greja mas a tôda a sociedade humana. Longe de nosi a uua ‘
roizar a necessidade duma legislação precisa a g rja - naralisar
♦ ão importante. Mas êste quadro de leis, que e vi « , < dimensões,
oNósperfeito desenvolvimento do amor conjuga em ‘' ‘ únicos
devemos promover e insistir nos varres redentoy^ym .cos^ do amor
amor
conjugal cristão. Não podemos esquecer ‘gue 0 marido ou
constituir um bálsamo multiforme " do‘ graveSq dificuldades, ou
a mulher estão desencorajados, at^ f ^ d°ccfssária para o bem dos
a'nda quando o lar perdeu a seremda conj,lgal. temos em vista
filhos. Porque, quando nós falamos da un.ao conjug. ,
162 I. Crônica das Congregações Gerais
não sòmente os pais mas também os filhos. O amor conjugal cris­
tão desborda sôbre os filhos e sôbre todos aqueles que compartilham
a vida do lar. A experiência pastoral sabe que ha aqui uma realidade
que é preciso levar em conta.
Conclusão: Êste Concilio trabalhará^ na redenção de tôda a huma­
nidade ao proclamar abertamente os valôres positivos do amor conjugal
Jamais o mundo teve tanta necessidade de reconhecer o plano divino em
virtude do qual o homem é associado ao amor divino criador e descobre
assim a sua verdadeira dignidade: “Deus cria o homem à Sua ima­
gem... homem e mulher os cria. Deus os abençoa e lhes diz: Sêde fe­
cundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,27-28). O
número crescente de organizações familiares e o desenvolvimento dessas
correntes de espiritualidade conjugal que hoje em dia constatamos com
prazer não poderíam encontrar nesta doutrina a inspiração e as dire­
tivas que desejam ardentemente? Esta doutrina não permitiría suscitar
melhor apreciação do autêntico amor conjugal na vida e no pensa­
mento de tôda a Igreja?
152) Joseph URTASUN, Arceb. de Avignon, na França: O capí­
tulo sôbre a família contém ótimos princípios. Mas não responde ple­
namente à expectativa dos homens de hoje. Seu estilo deveria ser
mais direto. Nesta matéria é preciso sublinhar três considerações prin­
cipais: a) E’ necessário fazer compreender melhor o respeito com que
se deve tratar o amor conjugal, porque não existe outra relação inter­
pessoal que revista um caráter mais sagrado do que êste. Seu valor
intrínseco se deduz não apenas da procriação mas também do aperfei­
çoamento espiritual dos esposos,b) Devem ser reafirmados os direitos
da pessoa à liberdade: o direito dos jovens à educação (contrabalan­
çando desta maneira a exploração comercial do erotismo), o direito
de escolher seu cônjuge e a liberdade de guardar o celibato, o direito
à possibilidade de os esposos se prepararem ao matrimônio e à liber­
dade de ter filhos (apesar da pressão em contrário da opinião, do
Estado e das fôrças econômicas) e, enfim, o direito à liberdade con­
creta de educar os filhos, c) Para proteger a vida humana e promover
o amor da família, é preciso agir em todos os setores da vida social,
da política, dos costumes e das leis, apelando, inclusive, à união de
todos os homens de boa vontade.
153) Joseph REUSS, Bispo aux. de Mainz, na Alemanha: O ca­
pítulo sôbre a dignidade do matrimônio é digno de louvor porque sa­
lienta a importância do amor conjugal, da procriação e da educação
dos filhos. E’ igualmente louvável a sua discrição no atinente ao pro­
blema da limitação da natalidade, cujo estudo o Sumo Pontífice re
servou para si, estabelecendo para isso uma Comissão especial. Ora,
se todos êsses problemas estivessem já claramente resolvidos, como,
p. ex, afirmou ontem o Cardeal Ruffini (cf. n. 133), então esta dis­
posição do Sumo Pontífice seria dificilmente inteligíveW O Cardea
Suenens (cf. n. 135), pelo contrário, tinha razão de fazer um ape o
a todos os sábios para uma ulterior investigação no plano científico
Além disto, deve louvar-se o espírito pastoral que anima êste capítu °>
mas tem um estilo demasiadamente retórico que precisa ser rev.sto.
A Igreja no Mundo de Hoje 163
O texto afirma com razão que o amor * *
matrimônio, pode ser tambéin considerado’ como f?m |bem .espe.ciíico do
está na base da comunhão matrimonial Do Ennt a ma*r'monio, pois
porém, o amor é a causa do m^rimônio rn^ H de V'3ta psiCOIÓgico’
íida tôda. Da dignidade da p e s S T u Z k
conjugal: e este dar-se reciproco que confirma a indisSbilidade do
matrimomo ainda que a prole não viesse satisfazer às Esperanças dos
conjuges. Portanto, o matrimônio, embora ordenado à procriaçlo não
e um mero^ instrumento^ de procriação. Por fim, é de se lamentai que
o texto evite o termo responsabilidade” e o substitua pela expressão
plena consciência dos propnos deveres” ou “generosa consciência hu­
mana e crista dos deveres’, quando se refere ao número dos filhos
Agir com responsabilidade quer dizer também agir generosamente e
de acôrdo com a vontade de Deus.
154) Herbert BEDNORZ, Bispo coadj. de Katovice, na Polônia
(texto completo): No capítulo I da segunda parte do atual esquema
se fala da crise que desde há tempo vem minando o matrimônio e a
família. O estilo de vida dos homens de hoje cada vez mais industriali­
zado e mecanizado não favorece a estabilidade do matrimônio e uma
vida familiar bem ordenada. O mais atingido por êste ritmo é a mu­
lher — esposa e mãe ao mesmo tempo. Sua vida encontra-se subme­
tida a numerosas e profundas transformações não só nas economias
ainda em vias de desenvolvimento — onde o salário do marido não basta
para sustentar a família, — mas também nas economias mais prósperas
— onde a mulher enfrenta o trabalho profissional para garantir uraa
maior independência do marido, para poder gastar mais ou ter mais
luxo, etc. Mas pesquisas feitas nos últimos anos em numerosas e gran­
des nações persuadiram os homens sôbre a necessidade de que o
matrimônio seja indissolúvel e de que a família desempenhe melhor as
suas obrigações educativas — verdade esta que a Igreja vem pregando
desde muitos séculos. Com efeito, o homem, em virtude de sua natureza
íntima, é um ser familiar (“ens familiae”). Êle nasce no seio duma fa­
mília e é nela que aperfeiçoa seu desenvolvimento físico e espiritual.
E, quando já adulto e independente, começa normalmente a pensar em
estabelecer a sua própria família. O homem é um “ser familiar porque
tôda a sua vida — não só biológica mas também espiritual e social —
geralmente se desenvolve num ambiente familiar: na família em que
nasceu e na família de que se tornou pai. E’ esta a ordem natural da
existência humana e ninguém deve apartar-se dela. As expenencias
sociais que têm como base o “amor livre” entre homem e nu her acar­
retam como conseqüência a destruição de todo afeto estável ma­
trimonial e familiar - na vida humana e conduzem toda a v,da so«aj
à anarquia. Esta é uma realidade extremamente '"«Plante, qiie hoje
em dia vem sendo progressivamente reconhecida no mundo nao so ca
tólico mas também ateu e laieista. O bem—
exige que a família cumpra melhor o seu de»er_ de educacao. Ma»
coudiçües de vida u , atua. — 1^ , " - -en.
gencm. lufetizmente, vemos ho e q „ansferindo a obrigação
tendência de desincumbir-se deste g .. . rn ex a escola, a
da educação dos seus filhos para outras entidades <P. ex..
164 I. Crônica cias Congregações Gerais
Igreja certas organizações sociais). Mas é a família a que deve edu­
car os filhos, sobretudo no tempo pre-escolar, quando as crianças nào
freqiientam ainda a escola mas permanece e vive no seio de sua fa­
mília. E* então que a família deve colocar os fundamentos duma forte
personalidade humana. A Igreja presta com prazer a sua ajuda nesta
tarefa: p. ex., por meio da dispensação dos sacramentos da Penitên­
cia e da Eucaristia às crianças que chegaram ao uso da razão. A re­
cepção dêstes sacramentos constitui como que a coroação da idade
pré-escolar. Depois, a família deve colaborar intimamente com todos
os institutos encarregados da educação dos seus flihos — em especial
com a escola e com a Igreja, — para que a criança permaneça ligada
à sua família o maior tempo possível. A oração em comum da famí­
lia — que com tanta insistência sublinha o pe. Payton nas suas cruzadas
— confirma interiormente a família, de sorte que as crianças sentem
prazer de voltarem aos seus lares. Em lugar algum sentem-se melhor
do que numa família boa e cristã. Pois o homem é um “ser familiar”.
No art. 61 do esquema fala-se das obrigações dos pais para com os
filhos — e viceversa. Êsse texto me apraz. Mas é muito pouco o que
ai se diz sôbre aquelas sociedades mais amplas e superiores do que
a família: a eclesiástica e a civil, as quais devem tornar mais fáceis
e melhores as relações entre pais e filhos — e viceversa. Devemos re­
conhecer, com efeito, que a função educadora da família não pode ser
cumprida, se a mãe, por causa do trabalho, permanece a maior parte do
dia fora de casa. Neste caso uma comunidade superior à família deve
emprestar os seus auxílios criando condições de vida que facilitem
ao pai e à mãe a possibilidade de satisfazerem plenamente o seu de­
ver pedagógico. De fato, seria uma cruel ofensa falarmos unicamente
das obrigações educativas dos pais sem mencionar expressamente que
o Estado e a Igreja devem também ajudar à família através da cria­
ção de condições de vida que permitam aos pais satisfazerem os seus
difíceis deveres. Concluindo, proponho: 1) introduzir no art. 61 do
esquema a noção do homem como “ser familiar” (“ens familiae”); 2)
admoestar os pais para que não se desincumbam com demasiada facili­
dade de sua obrigação de educarem os seus filhos; 3) favorecer a ora­
ção comum da família; 4) criar melhores condições econômicas e so­
ciais — sobretudo para a mãe — para que a família possa cumprir
melhor e mais fàcilmente as suas obrigações de educação dos filhos.
155) Franz VON STRENG, Bispo de Basel e Lugano, na Suíça:
E realmente grato que o esquema não tenha omitido o problema do
abórto. Em numerosas nações — sobretudo nas mais civilizadas ■
o abórto ocupa quase sempre, depois do divórcio, o primeiro lugar
entre os crimes nefandos. Eis por que o nosso esquema, do mesmo
modo que Pio XI na encíclica Casti Connubii, deveria apresentar cla-
ramente o pensamento da Igreja nesta questão. A Igreja, que deseja
lalogar com o mundo de hoje, tem aqui uma ótima oportunidade de
expor a sua posição perante êste crime. Infortunadamente, o que o texto
iz atualmente no n. 64 é muito breve, inclusive em detrimento da
c areza expositiva — o que acarreta o perigo de ocasionar interpreta-
aS Entretant0> supomos legitimamente que na breve^ re'
que nessa passagem se faz quer significar-se com o têrmo
A Igreja no Mundo de Hoje 165
"abórto” tôda e qualquer morte dir.u*
seio materno (i. é, gerada mas ainda nL Pr° ,ef M_dlcla ainda 00
são de extrema importância porque uma é ' ESt3! p.recjs,',e8
moral católica e outra é a dos médicos e da nnin"^UaS^kI- da teo ogla
De fato: os Códigos civis seguem critérios mai<» Pr J a° pU- lca em geral.
,.r ! ; uU«, direta d .
v,das indicações medicas” previstas pela lei positiva. Isto ex^ica a dls-
tmçao que noS ambientes médicos se faz entre “abórto” (têrmo aplicado
so aos casos de destruição civilmente criminosa” do nascituro) t
interrupção da gestaçao (assim é considerada tôda outra forma de
destruição do nascituro). Esta distinção é um êrro lamentável e funesto
que gera nao poucas dúvidas e equívocos nas mentes dos fiéis. Por
desgraça, até mesmo a atual referência ao abórto feita pelo texto se
presta a distorções. Com efeito, o texto diz que “o abórto, pelo qual
se tim injustamente a vida dum inocente, e o infanticídio são crimes ne-
fandos , como se existissem abortos ou qualquer destruição da vida da
prole gerada mas ainda não nascida que tirasse justamente a vida dum
inocente! Proponho, por isso, a seguinte formulação: “Abortus vero
seu omnis et quaevis vitae prolis genitae necdum natae directa de-
structio, necnon infanticidium nefanda sunt crimina” (= tanto o abórto,
i. é, tôda e qualquer destruição direta da prole gerada mas ainda não
nascida, como o infanticídio são crimes nefandos”).
156) Ignácio Maria DE ORBEGOZO Y GOICOECHEA, Prel. de
Yauyos, no Peru: Julgo necessário fazer as seguintes críticas ao con­
teúdo do capítulo I da segunda parte do nosso esquema: E’ lamentável,
primeiramente, que não se exponham aí as conesqüências que se de­
duzem da Constituição dogmática sôbre a Igreja quando fala da “vo­
cação universal à santidade". Segundo esta universal vocação, tanto
os clérigos como os leigos estão chamados à suma perfeição da cari­
dade e não apenas a uma santidade de segundo grau em relação com
os religiosos. Ora, é necessário mostrar a todos os fiéis como se al­
cança esta santidade nos diversos estados e circunstâncias da vida.
Por isso, no esquema deve-se dizer que o matrimônio é uma escola de-
santidade: é para muitos a vocação para obterem a perfeita cari­
dade. Em segundo lugar, o contexto do n. 63 parece fa\orecer uma
proclamação radical da igualdade das finalidades do matrimônio —
e com isto de modo algum posso concordar. A doutrina tradicional
da Igreja fala dum fim primário e dum fim secundário que. embora
muito nobre, resta ordenado ao primeiro. E’ preciso manter esta sa­
bia e santa doutrina, que leva os esposos a um perfe. o e eficaz exer­
cício da vocação divina (cf. Tob 6,16-22). Com respeito ao que o. es-
„quema diz, *. ainda
. j no „a £;o ® hp6 como osp esposos
^ devem determinarJo podeo
numero dos filhos, o texto, ao meu vt , ,
dar
uar lupar
jugar aa muitas
muitas dúvidas
ouvru e conduzirdevemos
os esposos a uma
rejeitar moralnao pre-
porque
rnahsta” e casuística, que com ra a “ dQ ma8 querem0s mos-
endemos que os leigos disso, conviria louvar com
trar-lhes o caminho para a perfeiça . famílias nu-
mais fôrça e clareza da já expressa a_n^ chega até *,tn-
merosas que tanto devem sotrer F 0 Concilio atento para
bar-se em certos ambientes catolic
166 I. Crônica das Congregações Gerars
nao favorecer, com palavras ambíguas, a propaganda do birth control”
Cuide-se, ao invés, o Concilio de favorecer a imigração e recomendar
qyç aproveitem as riquezas do mundo para todos os homens.

Crônica Paraconciliar:
K INWSSOLUBILIDADE DO MATRIMÔNIO E A TRADIÇAO ORIENTAL
Temos visto que a intervenção de Journet (n. 143) constitui uma
resposta direta à proposição feita por Zoghby (n. 140) no sentido
de possibilitar um nôvo casamento ao cônjuge definitivamente aban­
donado e inocente, dispensa que êle tinha fundamentado, com a tra­
dição oriental, na interpretação de Mt 5,32 e 19,6. A imediata resposta
de Journet, os debates continuados fora da aula conciliar e, natural­
mente, as repercussões "sensacionalistas” de certa imprensa falada e
escrita indicam com clareza que o Vigário para o Egito do Patriarca
melquita tocou num problema de extrema susceptibilidade e de grande
importância pastoral. De fato, há nisto tudo uma questão que inevi­
tavelmente põe em jôgo em certa medida as possibilidades ecumênicas
(e nós sabemos que neste ponto tôda a sensibilidade é pouca) e a
substância teológica duma tradição — ou, para sermos mais corretos
(pois também o Oriente admite a indissolubilidade do matrimônio sa­
cramental), a fundamentação histórica e exegética dessa interpretação.
Ouçamos agora os dois personagens principalmente comprometidos no
debate dêste problema: E. Zoghby e o seu Patriarca o card. Máximos IV.
Mais tarde daremos maiores detalhes, pois Zoghby voltará mais uma
vez à carga para precisar seu pensamento.
1. E. Zoghby se defende. Após esta 139* Congregação Geral,
Zoghby fêz para a imprensa, na praça de São Pedro, as seguintes
precisões, que, por sua vez, são uma contra-resposta a Journet: "1. E’
evidente que as comunidades católicas do Oriente sem exceção ado­
taram, ao se unirem a Roma, a disciplina e a prática católicas roma­
nas sóbre o matrimônio. 2. Os Padres e Doutores da Igreja do Orien­
te que colocaram os fundamentos da doutrina cristã e que constituíram
a maioria esmagadora dos Padres dos grandes Concílios ecumênicos
não podiam ceder a influxos políticos ao interpretarem, como êles
fizeram, as palavras de Cristo em S. Mateus, capítulos 5 e 19. Pre­
tender isto seria esquecer o que deve à sua ciência e à sua santidade
a Igreja universal. 3. O Código de Justiniano, promulgado por volta da
metade do século VI e adotando a disciplina oriental sôbre o matri­
mônio não podia de maneira alguma influir Origenes, S. Basílio,
João Crisóstomo, etc., que viveram entre trezentos e cento e cinqüenta
anos antes dêste Código, o qual não faz senão registrar a doutrina
e a pratica anteriores das Igrejas do Oriente. 4. As Igrejas do Oriente
adotaram esta interpretação e esta prática em favor do cônjuge ino­
cente desde longos séculos antes da separação da Igreja de Roma. Ora,
esta jamais as condenou durante os longos séculos de união, e ja-
62 conc*enar ou mesmo desaprovar pelos Concílios ecumênico ;
presididos por representantes do Bispo de Roma e onde tinham a sua
A Igreja no Mundo de Hoje 167
sede as Igrejas do Oriente e do Ocidente f > * „
aplina
Igreja romana
oriental jamais
a este pensou em contestar a leg^m
respeito”. ldíe^da^diiT
g umioaae aa discí-
II. O Patriarca Máximos IV se deUne. Convidado a dar o seu
parecer “ m respeito a intervenção de Zoghby.- disse o que segue:
"Mons. Zoghby, como todos os Padres do Concilio, goza de plena
liberdade para dizer o que pensa. E, embora êle seja o nosso vigário
geral no Egito, nao^ engaja naturalmente senão a sua própria pessoa.
Pessoalmente, eu não tive conhecimento desta intervenção senão no
momento em cjue a escutei na reunião conciliar. Quanto ao fundo do
problema, a Igreja deve sustentar firmemente a indissolubilidade do ma­
trimônio, porque se, em certos casos, o espôso inocente se encontra
duramente provado por causa desta lei, a sociedade doméstica inteira
seria abalada e arruinada sem esta lei. Além disso, se o divórcio pro­
priamente dito devesse ser permitido por causa do adultério, nada
seria mais fácil para os esposos inconscientes do que provocar esta
causa. A prática contrária das Igrejas orientais ortodoxas pode-se
prevalecer de alguns textos de certos Padres. Mas êstes textos são
contraditos por outros e não constituem, em todo o caso, uma tradição
suficientemente constante e universal para induzir a Igreja católica a
uma mudança de disciplina neste ponto. Esta questão, todavia, com
as nuanças requeridas, teria podido ser levada diante do Concilio como
uma dificuldade séria para resolver no diálogo com a ortodoxia. Mas,
apresentada tal qual, sem as precisões necessárias, pode criar confusão
nos espíritos”.
1 De passagem, é bom lembrar que, quando Paulo VI criara cardeais, em
fevereiro do ano passado, três patriarcas orientais — entre os quais S. B. Má­
ximos IV — Mons. Zoghby julgou esta nomeação incompatível com a dignidade
patriarcal do seu chefe espiritual e apresentou a demissão de seu cargo de \ig a -
rio geral dos melquitas para o Egito em sinal de protesto. Mas depois a0i»
3 de março — reconsiderou sua atitude e aceitou retirar a sua renuncia Quem
quiser seguir de perto êste impasse (muito útil não so para conhecer a mentalidade
orieníal num determinado ponto, mas também para enriquecer * * * * * * * '* » * « '-
vas eclesiológicas), lerá seguramente com Pfoveito: E Z o g h b y fo q " Máximos ?Y
dinalat, em L a d o c u m e n ta tio n cath o liqu e n. 145! (1965), cols.
L ’acceptation du cardinalat, ibidem cols. paínarJie
Máximos a accepté le cardinalat, ibid., n. 1444 (1965),
1*10-1965: 140* Congregação Geral
A Igreja ao Mundo de Hoje
U Parte: Matrimônio, Cultura

P r e s e n t e s : 2 .12 8 p a d r e s
Conciliares. Moderador: o Cardeal Suenens. A sessão começou
ás 9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi celebrada pelo
Mar Athanase Jean Daniel Bakose, Arceb. siríaco de Bagdad,
no Iraque (em rito siro-antioqueno). Antes do início dos deba­
tes desta manhã comunicou o Secretário Geral Mons. Felice o
provável calendário para êste mês de outubro: prevê-se que até
o dia 15 continuarão regularmente as Congregações Gerais,
com os habituais debates. As votações obedecerão ao seguinte
programa: nos dias 6, 7 e 8 haverá 19 votações sôbre os Mo­
dos aceitos no esquema sôbre os Religiosos; nos dias 11 e 12
haverá 7 votações sôbre os Modos no esquema sôbre os Se­
minários; no dia 13, 5 votações sôbre os Modos no esquema
sôbre a Educação cristã; nos dias 14 e 15, 8 votações sôbre
os Modos no esquema sôbre as relações da Igreja com os não-
cristãos e os judeus. Na semana de 18 a 23 não haverá Con­
gregações Gerais, para dar tempo às Comissões de corrigir os
textos; nesta mesma semana os demais Padres Conciliares se-
são ocupados com outros trabalhos relacionados com futuros
documentos pontifícios (de regulamentação de decisões concilia­
res), no dia 25 recomeçarão as Congregações Gerais. Prevê-se
para o fim do mês uma Sessão Solene de promulgação dos do­
cumentos já definitivamente corrigidos e votados. Foi lida uma
especial mensagem do Santo Padre à ONU, também em nome
dos Padres Conciliares, exprimindo os motivos e as esperanças
de sua viagem no próximo dia 4 de outubro. No mais, conti­
nuaram^ os debates sôbre a Igreja no mundo de hoje: uma in
tervençao postulada ainda sôbre a I Parte (n. 161), quatro so-
A lgreja no Mundo de Hoje 16g
bre o matrimônio e sete snhra „ „ u
as intervenções de hoje: U Ura nn* *62-168). Eis
157) Cardeal Valerian GRACíAS a a o l .
osobre
Concilio expõe um dos temas
o matrimomo e a família mia fundamentais do esquema
em^^o^capíulo
no capitulo
ameaçadaiá - inclusive no O S te - nninÍLn ^ h°je
1936 ^o Mahatma
dental. Já em ioqg »/r u ! Ghandi
_ por dissera
ínüuxoqueda “ocivilização
maior danooci­
causado por essa propaganda consiste na rejeição doantigo ideal e
substituição dele por um outro que, se fôr levado à prática, provocará a
extinção moral e física da raça. Coube à nossa geração glorificar o
vício como se fôsse virtude”. Quanto ao esquema, sobretudo na sua
segunda parte, acho o seguinte: a) E' preciso saber o que os leigos mais
notáveis do mundo inteiro — principalmente os que desempenham fun­
ções importantes na vida pública — pensam sôbre o modo com que
o Concilio fala aos homens de hoje. Ora, antes de eu chegar a Roma,
fiz traduzir o esquema para o inglês e o submeti à crítica (sob se-
grêdo, naturalmente) de quatro leigos da índia: dois bons católicos,
um católico liberal e a um cultor da religião de Zoroastro. Todos êles
concordaram em que êste documento, muito bem redigido, “est valde
commovens”. Seria, pois, oportuno que a redação definitiva — estilo
e língua — fôsse confiada a leigos peritos, para que seja redigido
numa linguagem que o homem moderno possa compreender e apreciar.
Do contrário, seria uma “vox clamantis in deserto”, b) Acho que o
materialismo — já lembrado, se não me engano, pelo Cardeal Suenens
— que se alastra pelo mundo inteiro e a quem deve responsabilizar-se
pela degradação geral dos costumes, não é suficientemente condenado
pelo esquema: a corrupção dos costumes é — penso eu — mais pe­
rigosa do que a possibilidade duma guerra atômica. As palavras de
Lord Hallifax vêm bem a propósito: “Se a ordem social é hoje pertur­
bada e parece ruir, creio que não se deve atribuir à guerra a despo-
voação da terra, mas, sim, isto acontece porque os mesmos fundamen­
tos da vida moral e cultural estão sendo pouco a pouco abalados e
está sendo cavado no coração do homem um vazio que não pode
ser preenchido”, c) O capítulo I não pode ser compreendido e aprecia­
do em todo o seu valor sem que se considere ao mesmo tempo a
doutrina exposta no capítulo III que versa sôbre a vida econômica e
social: a vida sã das famílias em tôda a parte depende das condiçoes
econômico-sociais que devem ser determinadas segundo a justiça dis-
tributiva. d) O esquema, a meu ver, não deplora suficientemente a
gritante injustiça da atual distribuição dos bens do mundo. Ora, o ge-
nero humano chegou a um ponto em que a própria civilização esta
perigo tôda vez que o homem procura uma solução violenta dos prooie-
mas que o inquietam. O maior perigo de violência não esta nem na
bomba atômica, nem no vertiginoso progresso da técnica. ^
inimizades e discórdias entre as duas partes opostas em que .
está dividido, mas, sim, na duríssima condição em que vive a *
parte da humanidade: um de cada três homens n0 muíl °. carn.
dois de cada três vivem em condições que sãoconstrangidos
seme iaa ^ ^ ‘na uívpr
viver sem
po de concentração; milhões, finalmente, sao
Concilio - V — 12
170 1. Crônica das Congregações Gerais
um teto. Êste estado de coisas constitui uma violência de primeira or­
dem __ uma violência à justiça, capaz de causar uma conflagração
tal como jamais se viu no mundo, e) O capítulo III está bem redigido
Mas tem estas lacunas: não explica de que modo o direito de proprie­
dade privada pode ser conciliado com o socialismo nem estuda o pro­
blema da adaptação do direito de propriedade às exigências de nossos
dias. Aqui seria o caso lembrar que os direitos e deveres do indivíduo
e da comunidade só poderão entrar em acôrdo numa sociedade fun­
dada sôbre os princípios do Cristianismo.
158) Cardeal Josyf SLIPYJ, Arceb. de Lwów, na Ucrânia: Muito
embora o esquema se intitule “a Igreja no mundo de hoje”, no seu
conjunto não parece levar suficientemente em conta a verdadeira dimen­
são da Igreja e do mundo. 1) O seu conteúdo foi redigido com uma
perspectiva demasiadamente ocidental. Mas a Igreja de Cristo existe
também fora do Ocidente, nos países que se encontram atrás da “cor­
tina de ferro”, na Asia, a Índia, o Japão, a China, etc., onde vivem
numerosos cristãos. Pouca coisa, porém, se ouve no esquema sôbre a
aplicação dos principios cristãos a êste Oriente exótico e diferente. 2)
Exceto o cardeal Florit, nenhum Padre tratou ex-professo do comunismo
coletivista e ateu. Parece ignorar-se que existem países comunistas on­
de o ateísmo é erigido em sistema e persegue por todos os meios a ex-
tirpação não só da Igreja mas também de tôda religião. Lá se fala mais
de liberdade — inclusive religiosa — do que os Padres no Concilio.
Não se viu bastante que o nó da questão é a eliminação da iniciativa
pessoal e, conseguintemente, da liberdade pessoal, em proveito do Es­
tado totalitário. Mesmo a lapidar intervenção do Cardeal Koenig nem
mencionou êste ponto. Meu ilustre predecessor, o metropolita Andreas
Szeptyckyj, sempre dizia que gostaria de ter vivido um só dia num
Estado que realizasse a condição cristã do homem, i. é, a liberdade.
Hoje, porém, os estados totalitários tolhem tôda a liberdade e impõem
pela violência o ateísmo. E isto não é absolutamente um segrêdo: é uma
obra que se faz à luz do dia e que é descrita em livros e jornais.
Ora, nem sempre os Padres orientais podem ocupar-se dêstes proble­
mas seus porque, em comparação com os 2.000 Padres Conciliares,
constituem apenas “une quantité négligeable” e porque geralmente aca­
bam acomodando-se aos ocidentais ou os seus países se encontram
representados por ocidentais (p. ex., Filipinas, índia, Austrália, etc.).
Portanto, para responder à sua finalidade, o texto deve considerar
na sua totalidade a Igreja e o mundo. 3) Êste texto deverá ser o mais
belo entre todos os do Concilio, porque deve esclarecer que a Igreia
favorece o papel e o desabrochamnto da pessoa no mundo. De fato,
s) a Igreja possui a fôrça, o direito e a obrigação de cooperar no
aperfeiçoamento do mundo e especialmente da sociedade, pois a Igreia
é o lêvedo que fermenta a massa até que esta fique penetrada tôda
inteira (Mt 13,33). A Igreja não se furta ao trabalho humano. Não
e, pois, verdade o dito ateu que zomba da Igreja: “den Himmei uw—
assen wir den Engeln und den Spatzen”. Isto supõe que a IgreJa
na°. ,az 8®men*e ° inventário da situação, mas que propõe também 05
vwaiíH|8/i ^ esquema deverá mostrar, em segundo lugar, a um-
versalidade desta missão junto de todos os povos e de todos os ho-
A Igreja no Mundo de Hoje 171

re: “Ide! Ensinai a tôdas


com profunda convicção
, reja iiujc
I-----V.C* Igivja amua ainda sauhojeva-são vá-
lídos para transformar a sociedade humana tanto no Ocidente como
no Oriente e responder às suas exigências e interesses — e ainda hoje
tem a suficiente fôrça de promover o desenvolvimento. Unidos a to­
dos os homens de boa vontade, os cristãos estão em condições de
encontrar uma solução para os problemas morais, intelectuais, cul­
turais e científicos. E é desta maneira que também poderão — como
disse João XXIII — não só restabelecer a paz na terra mas também
estabelecê-la para sempre.
159) Antoine HACAULT, Bispo aux. de Saint-Boniface, no Cana­
dá: Através dêste esquema o Concilio se dirige explicitamente a to­
dos os homens (cf. n. 2), como convém à sua finalidade pastoral
em geral o faz bem. Muito me agrada o espírito do capítulo II pela
sua reta doutrina e adaptação ao nosso tempo. Peço que todo êste
capítulo seja conservado substancialmente tal como está redigido. Fa­
rei apenas umas observações a propósito do n. 60, para que seja
aperfeiçoado de acôrdo com a intenção pastoral do Concilio. Nesse
parágrafo do capítulo se enumeram os “sinais do tempo" nos pro­
blemas matrimoniais. Mas êstes fatos, segundo a Relação, são aí apre­
sentados a título de citação e não de julgamento. Entretanto, ao falar
da poligamia e deoutras formas errôneas do matrimônio, se subli­
nham seus aspectos negativos e se esquecem os positivos. No n. 61,
por sua vez, se apresenta o caráter sagrado do matrimônio, funda­
mentando-o numa aliança de amor que, por sua mesma natureza, tem
como consequência a estabilidade da comunidade matrimonial. Ora, to­
dos os homens em geral concordam com esta noção fundamental
primária — noção, portanto, que deveria ser tomada como base comum
para um ulterior desenvolvimento (e progresso no diálogo, aliás). En­
tre as muitas possíveis alianças de amor que existiam no passado e
ainda hoje perduram (poligamia, bigamia, concubinato legal, etc.), so­
bressairá aquela aliança que aperfeiçoa o amor humano e o preserva
dos perigos iminentes de hedonismo e egoísmo, de sorte que possa
chegar à sua plenitude. Ora, a poligamia e outras alianças de amor
gozam duma certa estabilidade matrimonial — fato êste que permite
denominá-las precisamente de matrimônio. Por ai será possível mostrar
o que pode haver de positivo nessas alianças de amor. Naturalmente,
não quero afirmar com isso que a Igreja deva aprová-las, pois de
fato carecem das notas que, segundo a doutrina católica, são absoluta­
mente necessárias para o matrimônio. Mas, a meu ver, seria prefe­
rível apresentar essas formas inferiores de matrimônio mais como im­
perfeitas e perfectíveis do que condená-las simplesmente. E’ claro que
o concubinato e a poligamia legal estão longe do ideal cristão do ma­
trimônio. No entanto, Deus, no AT, os permitiu, do mesmo modo que
o libelo de divórcio, “por causa da dureza dos corações" (Mt 19.S),
como algo relativamente bom em si mesmo (p. ex., como relativamente
melhor que o adultério e a prostituição, que tinham sido a so u a
mente condenados). E’ em Cristo que o amor e a aliança de amor
tre homem e mulher foram remidos e elevados à digm a
12*
172 I. Crônica das Congregações Gerais
trimônio — e a essa aliança, única e estável, que responde às exigên­
cias mais profundas do amor, é que a Igreja chama matrimônio. Por­
tanto lá onde o esquema se refere brevemente à poligamia, seria opor­
tuno expor a doutrina católica para mostrar, em primeiro lugar, a
relativa bondade da poligamia e, segundo, a definitiva superioridade
do matrimônio cristão (aliança natural, agora “sacramentum magnum”
em Cristo e na Igreja). O n. 60 do texto, por conseguinte, deve ser
revisto no sentido de apresentar a passagem gradativa das alianças
imperfeitas até à doutrina completa da Igreja sôbre o matrimônio.
Uma nova redação do texto entreguei já ao Secretariado.
160) Paul Joseph SCHMITT, Bispo de Metz, na França: Quanto
ao proêmio da segunda parte do texto, faço as seguintes observações:
a) O esquema mostra muito bem como a Igreja ensina ao mundo a
vocação humana e cristã à graça. Há, no entanto, um outro aspecto
do diálogo com o mundo sôbre o qual se deseja uma palavra mais
ampla nesta introdução, b) A Igreja encontra no mundo de hoje mui­
tos elementos positivos que a levam a uma consciência mais clara de
si mesma para melhor exprimir a sua mensagem e cumprir a sua
missão, c) Considerando os sinais dos tempos, a Igreja deve procurar
agir de acôrdo com êles. Entre êstes sinais, é necessário estar parti­
cularmente atento à sensibilidade do mundo atual para com a pro­
moção da dignidade da pessoa humana. A Igreja deve fazer sua esta
aspiração e promover a liberdade. A socialização é um outro sinal
dos tempos que deve mover a Igreja para desenvolver no seu seio
a vida comunitária e a colegialidade. O mundo contemporâneo é sen­
sível à justiça: a Igreja deve mostrar que ela não pode ir sem a ca­
ridade. d) Aquilo que contribui para melhorar a situação dos homens,
contribui também para melhorar a situação da Igreja. E’ o que se pode
provar com argumentos teológicos e com a experiência.
161) Hadrianus DDUNGU, Bispo de Basaka, Uganda (África),
que postulou, em nome de mais de 70 Bispos, falar ainda sôbre a pri­
meira parte (n. 30). Segue texto completo: Entre os problemas mais
agudos para a solução dos quais o Concilio quer ajudar o mundo de
hoje, deve-se enumerar a discriminação racial. E’ verdade que a Co­
missão abordou êste problema e seria uma injustiça não reconhecer o
esforço. Mas — o que é lamentável — tocou a questão de modo muito
sumário, confuso e superficial. O texto latino em quatro linhas expõe
o referido problema e sua solução, falando sem distinção das discrimi­
nações cultural, sexual, racial, social, lingüística, tribal, de côr, reli­
giosa, etc., como se fôssem da mesma gravidade e perigo!_ A nin­
guém se oculta a importância dêste problema. A discriminação racia
não só atenta contra a igualdade dos homens, mas também nega a
liberdade humana e, às vêzes, em seu nome tolhem-se vidas direta ou
mdiretamente. Contra estas injustiças se dirigem ao Concilio as pala­
vras do Profeta: “Clama em alta voz, sem constrangimento; faze^ soa
tua voz como a corneta” (Is 58,1). Incumbe-nos, pois, a missão a
defender, com vigor e sem ambigüidades a igualdade de todos os Ho­
mens e os seus direitos - tanto mais que há muitos que falsamente
sustentam que a subjugação das raças se encontra fundamentada n
própria agrada Escritura, “arvorando-se em doutores da Lei, sem e
A Igreja no Mundo de Hoje 173
tenderem o que dizem nem o que tão firmemente asseguram" (1 Tim
eS f _11 a rePetidas vêzes foi dito que o mundo espera do Con­
cilio a solução dos seus mais graves problemas. Ora, entre êsses pro­
blemas deve-se contar o da discriminação racial. Portanto, o Concilio
nao pode tratai esta questão só de passagem, mas, segundo o meu
humilde parecer, é necessário que manifeste seu juízo mais extensa,
clara e vigorosamente.

Cap. II. O Progresso da Cultura


O presente capítulo está subdividido em três secções: 1)
A situação da cultura no mundo de hoje (com quatro parágra­
fos); 2) Alguns princípios relacionados com a promoção da
cultura (com três parágrafos); 3) Algumas obrigações mais
urgentes dos cristãos com relação à cultura (com três pará­
grafos).
As sete páginas do texto latino mereceram 12 discursos na
Aula Conciliar, pronunciados nos dias 1 e 4 de outubro. O ca­
pítulo foi bastante criticado: E’ fraco, disse Elchinger, pois a
Igreja deve ser apresentada a um mundo em que a maioria
não sente mais necessidade dela já que conseguiu organizar
um humanismo independente dos valôres religiosos que ela ofe­
rece. Outros julgaram o texto confuso, pouco profundo e não
muito de acôrdo com os valôres da doutrina da Igreja (A.
Fernández), com muitas lacunas, sobretudo com relação à fi­
losofia (Blanchet). Foi dito que o texto é muito otimista (Spuel-
beck) e que deve ser totalmente reelaborado, pois falta-lhe
teologia (Morcillo). Sublinhe-se também mais o papel do es­
porte no mundo moderno, que influencia todo o ambiente so­
cial (Lebrun). Considere-se mais atentamente o papel da mu­
lher na cultura (Frotz). Dê-se mais ênfase ao pluralismo cul­
tural, salientando a índole complementar de cada cultura par­
ticular (Padin, Bettazzi). Nem basta dizer que não há oposi­
ção entre ciência e fé: é necessário falar com amor e reverên­
cia sôbre a ciência (Veuillot). Digno de nota, neste contexto,
foi o discurso do neo-eleito Arcebispo de Torino, Michele Pelle-
grino, que pediu uma declaração mais clara de que também pa­
ra o clero vale o direito à livre pesquisa da verdade e à mani­
festação das próprias opiniões. Assim como foi comprometida
a liberdade de alguns padres, bispos e até cardeais por ocasião
da repressão do modernismo, assim parte do clero corre pe
rigo ainda hoje de ver sufocada sua liberdade de pensar e
174 I. Crônica das Congregações Gerais
manifestar seu pensamento. Basta-me recordar que há pouco
encontrei um religioso que vivia em exílio forçado por causa de
suas opiniões, as mesmas opiniões que hoje felizmente lemos em
documentos pontifícios e conciliares. E todos sabem que o caso
não ó o único \
Eis aqui os sete discursos sôbre a cultura pronunciados
esta manhã:
162) Léon Arthur ELCHINGER, Bispo coadj. de Strasbourg, na
França (texto completo): Gostaria de fazer algumas observações con­
cernentes ao capítulo II sôbre a Igreja e a promoção da cultura. Umas
serão negativas; outras, construtivas. Entreguei ao Secretariado do Con­
cilio proposições concretas. Aqui gostaria de delinear apenas a razão des­
sas proposições. O problema principal que se deve tratar neste ca­
pitulo se refere à situação e posição da Igreja perante a civilização
técnica do mundo atual. Ora, o texto que temos à vista quis abor­
dar um número demasiado grande de questões. Daí resulta uma abun­
dância de afirmações gerais e de exortações piedosas, para as quais
se teria desejado mais altura de perspectiva. As questões mais graves
que se colocam à consciência da Igreja não são postas em relêvo.
A concepção mesma da cultura parece demasiado restrita. Porque a
cultura é o que resulta da maneira com que os homens duma época
ou dum país determinado se exprimem — não sòmente pela forma de
sua vida religiosa, pelas suas pesquisas intelectuais e artísticas, mas
também pelas suas realizações técnicas, sua concepção do trabalho
e a organização dos seus lazeres. Se o Concilio quer ser escutado
pelo mundo, êste capítulo deve ser inteiramente refundido. Eis — pa­
rece-me — a questão pastoral essencial que se coloca à hierarquia da
Igreja: A Igreja está inquieta por ver diminuir suas possibilidades
de irradiação entre os homens de nosso tempo e por ver diminuir
também suas possibilidades de acolhida de sua mensagem. Como pode
estar presente num mundo onde a maioria dos homens não parece ter
mais necessidade d’Ela, porque lograram organizar, independentemente
da Igreja e às vêzes contra Ela, um humanismo, uma antropologia, in­
clusive uma ética, e, finalmente, um messianismo terrestre! O que e
nôvo na situação da Igreja, não é o fato de se achar diante de cul­
turas novas, mas o de não mais poder pretender ser o guia das mesmas.
I. Causas desta situação. — a) Causas demográficas: O aumento
de população é mais forte nos países e continentes onde apenas existe
religião cristã ou onde ainda não a receberam. Os esforços de promo
çáo cultural da maior parte do mundo não podem, pois, ser inspi
rados pelo pensamento cristão, b) Causas históricas: Mesmo nos paí­
ses que herdaram a mensagem cristã, resta em muitos homens uma
desconfiança face à Igreja, por causa da estreiteza de visão, do es­
pirito de dominação, da falta de respeito e de amor para com os es­
forços culturais dos homens, de que foi acusada a Igreja no decorrer
dos cmco últimos séculos. Além disso, desde há um certo número cie
se^u js, a Igreja sefechou num tipo de cultura ligado a uma
A Igreja no Mundo de Hoje 175

° . Ue. deu incapacidade de compreender a lin-


r\ Pp nsament0 dos homens habituados a outras categorias in­
telectuais. c) Causas pastorais: Durante muito tempo a Igreja não ou­
viu suficientemente o mundo e, ao agir assim, não foi plenamente fiel
a sua missão apostólica. Para testemunhar efetivamente Cristo, a Igre­
ja eve^ responder às questões dos homens. Ela dá frequentemente a
impressão de propor uma doutrina abstrata que, muitas vêzes, parece
mesmo irreal em lugar de sair ao encontro das necessidades dos ho­
mens. Se^ é uma falta pastoral para a Igreja deixar questões sem res­
posta, não é uma falta menor dar respostas sem que tenha havido
questões!
II. Como è que a Igreja, perante esta situação, poderia, ainda hoje,
estar presente nas culturas hu/nanas e as impregnar do espirito evan­
gélico? Que a Igreja, unicamente guiada por um espírito de serviço e
não de dominação, procure o contacto com as culturas do mundo in­
teiro, através das estruturas de diálogo e de colaboração, a) A Igreja
deve vigiar para que muitos cristãos autênticos estejam aptos a esta­
rem ativamente presentes por tôda a parte onde se prepare o nôvo
rosto do mundo: lá onde se elaboram concretamente a organização dos
estudos, a concepção do habitat, do trabalho e dos lazeres, etc. Êstes
cristãos devem ser muito lúcidos com respeito às ambiguidades do
progresso técnico, de sorte que possam captar e salvar os valôres hu­
manos em todos êsses domínios. Isto supõe um clero suficientemente
aberto e culto, capaz de orientar os leigos segundo uma sã hierarquia
de valôres. b) A Igreja deve suscitar diversas formas de encontros
e de contactos que permitam aos sábios dos diversos ramos confron­
tarem suas investigações com os dados da autêntica tradição cristã.
Assim sòmente cessará o divórcio entre o mundo da ciência e o mundo
da fé. c) Finalmente, a Igreja deve preocupar-se em ter teólogos dota­
dos duma sensibilidade espiritual que lhes permita descobrir e salien­
tar o que, na mensagem evangélica e na cultura bíblica, admite coin­
cidências com as investigações e inquietudes dos homens de hoje. Que
saibam integrar nas suas próprias buscas tudo o que há de positivo
nas filosofias modernas e tudo o que nos interpela nos problemas le­
vantados pela evolução das ciências. Que sejam capazes também de
captar nas diversas manifestações da cultura o que em francês deno­
minamos “les pierres d’attente du Royaume dans le monde d^ujourd^ui",
i. é, o que, no mundo, pode preparar o caminho ao espírito do Evangelho
e à esperança escatológica. Nestas diversas exigências e aptidões, não
se trata duma simples questão de método pastoral: trata-se duma
reorientação da própria reflexão teológica. Para que se possa chegar
a isto, seria desejável que a Igreja encoraje teólogos dotados de es­
pírito criador. Se não houver na Igreja uma “avant-garde" (em fran­
cês, no original), a massa dos fiéis não encontrará facilmente neste
mundo os caminhos que levam a Deus Senhor.
163) Julien LE COUÊDIC, Bispo de Troves, na França: O con­
teúdo do capítulo II é extremamente importante para a nossa cpoia,
sobretudo no atinente aos diversos modos de usar das coisas■ jc
se fala no n. 65. De fato, tôda a cultura moderna tende a c - « ^
uma utilização melhor das realidades terrestres o que,
176 1. Crônica das Congregações Gerais
esquema não acentua suficientemente, embora disto se fale no n. 71. p 0.
de-se usar das coisas à maneira dos filósofos, que se limitam a con­
templar as essências inteligíveis da realidade mutável e contingente
Esta era a maneira platônica de pensar: ia por cima das coisas e
logicamente, nela não podiam caber nem o “homo faber” nem mesmo a
própria técnica. Hoje em dia, porém, se cai no perigo contrário: 0
homem moderno se fez a tal ponto “homo faber”, que se escravizou
às coisas e acabou se desumanizando. A “ação” substitui a “contem­
plação". E, como a “ação” se exerce na ordem da quantidade e da
produção — quer “em série”, quer anônima — êste modo de usar das
realidades terrestres se tornou irracional e, por conseguinte, amoral.
E’ de suma importância, pois, insistir com tôda a clareza que os bens
da terra são meios e não fins em si mesmos. O homem não deve
ficar sujeito às coisas, mas usar delas para se elevar à contemplação.
Ora, a cultura é o instrumento que coloca o homem no centro da criação
e o eleva a Deus, se fôr verdade que a cultura é “la possibilité pour
rhomme de se situer” (em francês, no original). Não se deve esquecer,
com efeito, como bem nota a Introdução, a grande importância que
na cultura tem a vocação integral do homem. Acrescentemos, final­
mente, que é impossível usar das coisas “sub specie pulchri et boni”,
a náo ser que, para além da mera utilidade material, permitam elevar
até à “espiritualidade” que virtualmente contém. Só assim Deus não
estará longe da inteligência do homem que reflete sôbre os bens ter­
restres e dêles usa: primeiro sente a necessidade de Deus e depois O
encontra — e então o Universo se torna o “louvor de Deus”. E’ a linha
que o esquema deve seguir na sua exposição.
164) Lucien LEBRUN, Bispo de Autun, na França (texto com­
pleto): Em nome de 41 Bispos, permiti-me lembrar a importância do
esporte no mundo de hoje e também dos valôres fundamentais do es­
porte como meio de realizar o desenvolvimento integral do homem.
I. Importância do esporte no mundo de hoje. Já não há mais
meio social onde, sob uma ou outra forma, não se pratique o esporte.
Graças aos meios atuais de comunicação social — quer seja ou não
especializado no esporte — todo o mundo está a par dos aconteci­
mentos esportivos, e não sòmente dos jogos e competições que aqui
ou lá têm lugar, entre sociedades dum determinado país, mas também
das competições internacionais que se organizam em qualquer canto
do mundo. Graças a isto, atraem-se aos lugares onde se realizam estas
competições cada vez mais numerosos e qualificados espectadores. Crescem,
assim, de dia a dia o número e o valor dos que se exercitam em vista dês-
ses jogos e competições. Porque, desde os seus primeiros anos, os jovens
se treinam no esporte. Por outro lado, lazeres cada vez mais amplos
permitem a muitos jovens se dedicarem a esta atividade de jôgo e a
variedade dos seus exercícios, quer individualmente, quer coletivamente.
Assim, e obvio que a mentalidade esportiva e os exercícios físicos
fazem parte da mentalidade do homem moderno e, mais simplesmente,
da civilização.
. v*tiôres fundamentais da atividade esportiva. O Pr*n^ ^ ,
hr mim ° ^ 0 seu poder específico de procurar o bem tota
homem valorizando tôda a sua personalidade, já o vigor, a agilidade
A Igreja no Mundo de Hoje 177
da° fôrca 1^°dad°hpIP7P0 í11101^ 11.0 mesmo aparecem como uma irradiação
“Dp p.Í j rrim, A mema tirando-o
,d° í nad0r^ Se^und0 a P-fcvra da Escritura:
da terra... e o revestiu, à Sua ima-
ú* f° ■ * e 0 tez a Su^ semelhança” (Ecli 17,1-2). Além disso,
P• h 61 °- *da .vontac*e> da abnegação, da energia e da coragem
exigidas por estes jogos e competições se afirma a tomada de posse,
pela alma, do corpo humano. Êste benéfico domínio da alma sóbre
o cprP° e> por conseguinte, esta docilidade progressiva do corpo ao
govêrno da alma são cada vez mais procurados em nossos dias nos
métodos empregados para o treinamento esportivo. Por outra parte,
o esporte é extremamente favorável ao desenvolvimento de certas qua­
lidades humanas, que, por sua própria natureza, se põem ao serviço
do bem-comum, mas que devem ser cultivadas para o servir melhor.
Tal, p. ex., aquêle espírito chamado “espírito de equipe”, a precisão
e^ a fineza de percepção, a rapidez de decisão, a constância no es­
forço, a tenacidade no ataque. E’ a estas qualidades que faz alusão
uma fórmula familiar, quando dizemos dum homem que êle tem, na
vida de todos os dias, “o espírito esportivo”.
O Senhor nos pôs na terra para nos consagrarmos a tôdas as
atividades que tornam a nossa vida mais perfeita, sem negligenciar
a luz e o esplendor que nos vem do céu. Ora, o esporte, ao qual a
gente deve um justo equilíbrio do corpo criado por Deus e um aper­
feiçoamento da alma graças à disciplina, não constitui uma autêntica
expressão do amor para conosco mesmos e para com os outros, se é
verdade que, graças a êstes exercícios, o homem, usando dos justos
lazeres, se cultiva fisicamente para se tornar mais capaz de pôr ao
serviço dos seus irmãos tôdas as suas faculdades? Enfim, é preciso
observar êste traço concernente à socialização: o esporte, com efeito,
reúne multidões enormes e fixa a atenção duma multidão de gente
sôbre manifestações de grande importância. Sobretudo, multiplica as
ocasiões de reunir homens de tôdas as condições sociais e de tôdas
as nações. Nesta pacifica competição, se encontra um esboço da fra­
ternidade universal e da concórdia entre os diversos grupos humanos
de tôdas as nações e de tôdas as raças.
Eis porque propomos acrescentar ao texto do esquema (n. 73)
estas linhas: “O esporte e a cultura física são, antes de qualquer ou­
tro, meios largamente difundidos de favorecer a cultura integral do
homem. Ajudam a conservar o justo equilíbrio entre o corpo e a alma;
desenvolvem qualidades morais de alta importância; estabelecem rela­
ções fraternais entre os homens de tôdas as condições, nações e raças”.
165) Aniceto FERNANDEZ, Mestre Geral dos Dominicanos: O
capítulo sôbre o problema da cultura contém muitos aspectos e ele­
mentos dignos de louvor. Mas os propõe de modo confuso, pouco pro­
fundo e não muito de acôrdo com os valôres reais da doutrina da
Igreja, que apenas é lembrada de passagem. Proponho as seguintes
observações: 1) Êste ponto sôbre a cultura é um dos mais importantes
do esquema, porque a cultura é um dos melhores bens humanos qu
ajudam a alcançar outros bens. 2) E’ necessário que es a cu u *
difundida, na medida do possível, entre todos os homens. En.juanjo
os homens não tiverem uma certa cultura, as re açoe.
178 I. Crônica das Congregações Gerais
impossíveis. Eis por que um dos principais bens que se deve dar aos
pobres e trabalhadores é a cultura humana — o que supõe que lhes
demos os meios necessários para adquiri-la. A cultura é o melhor meio
tanto para propagar o ateísmo como para lutar contra êle. Todos os
sistemas materialistas totalitários o sabem bem e por isso dão tanta
importância à difusão da cultura, sobretudo entre os jovens. Procuram
dominar, primeiramente, as escolas e universidades e recrutar adeptos
entre os professores e estudantes. Sabem, com efeito, que são os in­
telectuais os que conduzirão as massas. Por essa razão, um dos maio­
res perigos que ameaçam o Cristianismo é, talvez, a penetração e a
propaganda marxistas nas universidades, sobretudo na América Latina
e outros países novos. Uma pessoa bem informada me dizia que na
América Latina os marxistas procuram recrutar mais entre os pro-
fessóres e estudantes que entre os operários. Contra esta cultura ma­
terialista e anticristã que se espalha abertamente em tantas universi­
dades, é preciso realizar uma luta eficaz graças à cultura sã e verda­
deira. Isto se pode fazer de três maneiras: dando a todos os homens
os meios de a adquirirem; difundindo-a largamente através dos meios
de comunicação social mais eficazes; levando uma vida cristã realmente
exemplar. 3) Deve explicar-se bem que se trata da cultura humana e
do seu desenvolvimento. A cultura deve ser integral. Deve esclarecer
e completar a natureza e a pessoa humanas, corpo e alma, com tô­
das as suas faculdades: coração, vontade e inteligência. Deve abraçar
tôdas as artes, técnicas e ciências. Se o homem possui só uma parte
da cultura humana, enquanto negligencia as outras, êle é como um
monstro sem harmonia. E’ assim que seria anormal o homem que ne­
gligenciasse tôda a cultura intelectual para se consagrar unicamente à
cultura física — à do seu corpo. Ou que cultivasse sua inteligência
mas não seu coração. Ou, ainda, aquêle que procurasse sòmente a
cultura técnica e negligenciasse tôda cultura moral e religiosa. Mas,
ao mesmo tempo, cada um deve especializar-se em tal ou qual parte da
cultura. 4) A Igreja contribui na cultura humana e no seu desenvol­
vimento. Ela é a mestra da verdade sobrenatural que dá a salvação.
Eis por que não se pode opor à cultura humana verdadeira e sã, mas sem
se confundir com ela nem lhe estar ligada. Por outro lado, pela fé e
pela divina doutrina de Cristo que propõe a cultura humana e uni­
versal, a Igreja dá mais do que recebe dela: a) porque enriquece
a cultura humana de verdades e bens sobrenaturais, b) porque completa,
afirma e protege o que de per si pertence à cultura humana natural e
c) porque a fé procura compreender o que ela acredita (“fides quaeri
intellectum”) : “cuius rei exemplum prostat in primis S. Thomas Aquinas,
qui maximus simul theologus atque philosophus christianus exsisti
Finalmente, pois que a pregação do Evangelho deve atingir tôdas as
nações, a cultura sobrenatural própria à Igreja, por sua mesma natu­
reza, deve estender-se a todos os homens e à tôda a humanidade.
166) Michele PELLEGR1NO, Arceb. eleito (ainda não consagrado)
de Tonno, na Itália (texto completo): O capítulo II da segunda parte (“a
promoção da cultura”) me satisfaz no seu conjunto, pois os gravíssimos
problemas que nêle se tratam à luz da razão e da Revelação divina
apresentados dum modo suficientemente adaptado às exigências
A Igreja no Mundo de Hoje 179

ao torta S 0pa?a0 queanãdoe ^ 'T '™ modificaçr>ts


a parir um rato”, me esforçarei em dar S m e M e L T r a z “ nha
rira I16^ a .c,ue na cultura do nosso tempo a ciência hístó-
invpcf P°-rtanJCla mu,t0 Srande- Baste lembrar o “historicismo"
, . igaçao das coisas humanas, reduz tudo à história, ex-
c uin o in eiramente as essências imutáveis e os princípios absolutos.
?' A jnvestigaçao histórica tira sua importância do fato de o seu ob-
jeto ireto e imediato ser o homem mesmo, cuja natureza, costumes,
aspirações, esforços, fraquezas, aparecem em todo tempo simultânea­
mente idênticos e diversos. b) A investigação histórica está intimamente
ligada ao conhecimento da história da salvação, como amiúde diz o
nosso esquema (nn. 69, 70). Ora, estamos persuadidos de que a his­
tória da salvação é como o centro de tôda a ciência teológica. Baste
lembrar a passagem da alocução pronunciada por Paulo VI em res­
posta ao que tinha dito o Dr. Skydsgaard (lunterano) em nome dos
observadores: “Êstes desenvolvimentos que em vossas expressões lem­
brais duma teologia ‘concreta e histórica’, ‘centrada sôbre a história
da salvação’, Nós os subscrevemos com prazer por Nossa parte, e a
sugestão Nos parece completamente digna de ser estudada e apro­
fundada. A Igreja Católica possui instituições que nada impediría es­
pecializar mais neste gênero de investigações, mesmo sem prejuízo de
criar uma instituição nova com êste fim, se as circunstâncias o su­
gerirem’’ (AAS 1963, p. 880). Lembremos também a passagem do es­
quema sôbre a formação dos sacerdotes (n. 16): “As outras disciplinas
teológicas devem igualmente ser renovadas por um contacto mais vivo
com o mistério de Cristo e a história da salvação”. De maneira al­
guma estou afirmando que o nosso esquema negue ou ignore o que
eu disse, mas penso que é oportuno lembrar a importância da inves­
tigação histórica no lugar onde são enumeradas as diferentes disci­
plinas científicas. No n. 60, poderia modificar-se o texto assim: “Além
do mais, que o homem, superando a sua busca do conforto e da uti­
lidade e levado pelo amor da verdade e da beleza, se interesse pelas
diversas disciplinas científicas, filosóficas, históricas e artísticas”. Além
das razões que já aduzi, há ainda estoutra que, a meu ver, não
deve ser desdenhada: os sábios que se dedicam em tôda a parte ao
estudo da história acolherão com alegria êste reconhecimento de seus
trabalhos, sobretudo os que cultivam a investigação histórica em do­
mínios mais estreitamente relacionados à história da salvação, como
os domínios bíblico, eclesiástico, patrístico, arqueológico, etc.
II. E’ louvável que no texto se afirme o direito à liberdade de
procurar a verdade, de exprimir e propagar a opinião pessoal (n. 72).
No entanto, na conclusão do capítulo, os que redigiram o esquema em­
pregaram — involuntariamente, julgo eu — palavras que restringem
perigosamente o direito mencionado. Com efeito, lá se diz: E certa­
mente desejável que um grande número de leigos se instrua nas* cien
cias sagradas e que muitos dêles se tornem verdadeiramente peritos
nestas matérias e as aprofundem com os meios científicos aiequa
Para que possam cumprir bem a sua tarefa, reconheça-se aos ^
a liberdade cristã de investigação, de pensamento e a ie expi
180 I. Crônica das Congregações Gerais
e corajosamente suas maneiras de ver nas matérias que são objeto de
sua competência". Pergunto humildemente: quem são êstes “fiéis" aos
que se deve reconhecer a liberdade cristã de pensar, investigar, etc.?
Sem dúvida, responder-me-ão: todos os cristãos, inclusive os clérigos
e os bispos, devem ser compreendidos entre os “fiéis". Mas não sei
se esta maneira de falar corresponde à linguagem comum — tanto
mais que logo antes se fala dos leigos. Sem dúvida alguma, a autori­
dade tem o direito e o dever de vigiar mais cuidadosamente sôbre os
eclesiásticos, cujos erros são mais perigosos. Mas isto se deve fazer
sempre com o devido respeito à dignidade do homem, que inclui igual­
mente a liberdade de investigação reconhecida a todos. E não pen­
semos que isto não apresenta perigo algum. Todos nós estamos, de­
certo. reconhecidos à autoridade suprema da Igreja pelo fato de ter
a seu tempo refreado o temível mal do “modernismo". Mas quem ou­
saria afirmar que nesta necessária repressão tenham sido sempre reli­
giosamente respeitados os direitos e a dignidade da pessoa dos ecle­
siásticos — quer se trate de sacerdotes impulsionados pelo seu ardor
juvenil, de Bispos ou mesmo de Cardeais da santa Igreja romana? Mas
ninguém pense que estas coisas e outras semelhantes pertencem a um
passado longínquo. Baste-me lembrar que eu encontrei — há sòmente
alguns anos — um religioso que vivia involuntàriamente em “exílio"
por causa de suas opiniões, que hoje lemos com prazer nos documen­
tos pontifícios e conciliares! E todos sabem que êste caso não é o
único. Com efeito, apenas é necessário advertir: também na teologia
se encontra um bom número de noções que, mesmo quando tenham
sido tranquilamente mantidas durante muito tempo, devem manifesta­
mente ser revistas por causa do progresso das investigações. Em ma­
téria teológica a esfera do opinável é quiçá muito mais ampla do que
pensam os que não têm experiência nesse duro e amiúde perigoso
trabalho de pesquisa. Sòmente quando a liberdade na investigação da
verdade fór reconhecida a todos os católicos, poderá ter lugar no seio
da Igreja êsse diálogo que Paulo VI desejava “intenso e familiar ( ...)
pronto para acolher as múltiplas vozes do mundo de hoje ( ...) , ca­
paz ( ...) de fazer dos católicos homens verdadeiramente bons, sá­
bios, livres, cheios de serenidade e de fôrça” (Encíclica Ecclesiam Suam,
AAS 1964, p. 657).
Gostaria de acrescentar que, se cada um souber que lhe está per­
mitido exprimir a sua opinião com a sã liberdade à qual tem direito,
dará prova desta veracidade e desta dignidade que deve sempre bri­
lhar na santa Igreja. Agindo de outro modo, será difícil evitar a peste
abominável da mentira e da hipocrisia. Portanto, para concluir, são
tres palavras “inocentíssimas" as que proponho sejam inseridas neste
texto (n. 74): Para que possam cumprir a sua tarefa, que se r^c°'
nheça aos fiéis, clérigos ou leigos, a liberdade cristã de investigação ,
etc. Dixi. Obrigado.
rf, J Em,le BLANCHET, Bispo tit., da França: O texto atual
dadf díT n8 rKlde C frutuoso trabalho. Mas a amplidão e a dificul-
? Í L ,d h problemas tratados fazem com que nem sempre agradem
o conteúdo e a sua exposição - 0 que, por isso, não deve causar
admiraçao. 1) A descrição da cultura atual é incompleta. Nada diz,
A Igreja no Mundo de Hoje 181

Êftett 'contemporânea' 1 ^ " " ° ^ " “ “ ‘ q“'


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ma c» a S,também da "*evolução
8 . a.r?0’ se ocupa h“ Sda vida." £ da” Sprogressiva
m "«S
constituição da terra da origem dos astros, etc. Daí o seu prestigio na
própria cultura de hoje: a história a liberta da obsessão do presente
e lhe ensina as transformações e a “relatividade" da realidade. E’ tam­
bém a partir da história — tomada quer em sentido estrito ou lato —
que ou nasceram novas dificuldades para a fé ou se produziu uma
renovaçao dos estudos na Igreja. 2) O texto faz bem em salientar o
valor das ciências positivas e os seus surpreendentes efeitos na ordem
técnica. De fato, elas proporcionaram ao homem um poder até hoje
desconhecido e cuja extensão é impossível prever. Mas esta visão do
texto é incompleta, porque aí está precisamente o maior problema da
atualidade: as descobertas modernas deram tanto poder ao homem,
que êste começa já a sentir mêdo dêsse mesmo poderio. Daí a ne­
cessidade de o texto dizer alguma palavra sôbre a natureza das ciên­
cias positivas, cujo método não atinge o sentido profundo da existên­
cia humana. Com efeito, falta ao texto uma filosofia das ciências e
uma crítica do conhecimento humano que brevemente assinalasse a
cada ordem de conhecimento seu respectivo lugar. Esta omissão é
tanto mais sentida, quanto a filosofia na atualidade — embora nem
sempre use o seu próprio nome — adquiriu considerável importância:
é filosofia — não ciência — o humanismo ateu que considera o homem
fim de si mesmo, rejeita todo auxílio sobrenatural e, só com as for­
ças humanas, quer estabelecer o reino do homem em lugar do Reino de
Deus e substituir a solidariedade humana no esforço comum de libe­
ração à caridade do Evangelho. E’ êste um dos sinais “característi­
cos” do nosso tempo de que o texto deve dizer alguma coisa. 3)
Quanto ao estilo, embora claro e bem coordenado, peca de demasiado
otimismo, como se tudo pudesse mui simplesmente se harmonizar e
acomodar. Assim, p. ex., o texto se dirige aos cientistas dando-lhes
bons conselhos e sábios votos. Mas não se trata dum “gentlemen-
agreement”, pois o homem não é o dono mas o servo da verdade. Isso
faz com que surjam dolorosos conflitos interiores na investigação in­
telectual, cuja dramaticidade o texto não reflete em parte alguma. 4)
Finalmente, a fé católica deveria esforçar-se em reconquistar continua­
mente seu ’lugar no mundo, pois as coisas mudam sempre e em tôda a
parte. Sobretudo, para que não seja uma realidade o dito de que “onde
há ciência aí acabou a fé”, a Igreja deveria suscitar sempre apóstolos
preparados que levem ao mundo da inteligência onde se elabora a
ciência — a mensagem da fé. Só assim a ciência permanecerá aberta
a verdades superiores e a fé procurará compreender sempre melhor o
que ela crê.
168) Cândido PADIN, Bispo aux. do Rio de Janeiro, no Brasil
(texto completo): Muito nos alegra o simples fato da apresentaçãc
dêste esquema na Aula Conciliar. E isso não apenas por causa da maí^
ria nêle contida, como também por causa da oportunidade que *
nos oferece de discutirmos aqui, sincera e abertamente, sobr _P
blemas tão graves que dizem respeito ao dia-a-dia os
182 I. Crônica das Congregações Gerais
hoje Louvamos, pois, e agradecemos à Comissão pelo trabalho rea­
liz a i No entanto, o texto deverá ser ulteriormente aperfeiçoado e é
por isso que gostaríamos de fazer aqui algumas observações. Ao Se­
cretariado entregaremos sugestões mais precisas. Nesta Aula quere­
mos apenas ocupar a vossa atenção em tôrno de um problema que
segundo minha humilde opinião, é de grande importância. Trata-se
da promoção da cultura nos diversos países e da participação dos
cristãos em todos os esforços que visem a êsse objetivo. O texto do
capitulo II. desde os nn. 65 ao 74, está afetado duma deficiência de
unidade, sobretudo no que respeita ao conceito de cultura. A descri­
ção apresentada no n. 65 parece colocar a natureza da cultura nas di­
ferentes formas pelas quais o homem manifesta o seu gênio ou espírito
mediante a transformação das realidades terrestres. Mas esta trans­
formação, selada pela espiritualidade humana, se completa no âmbito
duma comunidade historicamente existente. Portanto, a própria “cul­
tura” refletirá sempre os caracteres originais dêsse povo historica­
mente determinado. E’ isto que bem se afirma no fim do n. 65. Mas
êste caráter de originalidade, essencial para a definição da natureza
da cultura, náo é apresentado com clareza nos parágrafos seguintes.
No n. 66, p. ex., parece afirmar-se a tendência que visa formar uma
única “cultura" universal, num sentido quase unívoco. Entretanto, to­
dos nós sabemos que isto é sociologicamente impossível e nem mesmo
desejável. O que, sim, vem acontecendo — e isto cresce sempre mais
— é uma interligação mais universal das diversas culturas. Isto, po­
rém, nunca visando a uniformização. Seria melhor, pois, salientar o
caráter complementar de tôdas as “culturas” e assim aconselhar o
respeito para com tôdas essas formas culturais. Idêntica imprecisão
se observa no n. 68, onde se fala da cultura científica e técnica e da
cultura humanística. Se, de fato, tôdas as expressões criativas de cada
povo leva à composição duma “cultura”, em determinadas condições
históricas, então não pode existir uma única cultura científica e téc­
nica e uma única cultura humanística. Há, porém, elementos cientí­
ficos e técnicos que podem ajudar na formação duma determinada
“cultura”, marcada com as características de cada povo. Por outro
lado, já não podemos admitir a excessiva valorização da assim cha­
mada “cultura clássica” (greco-romana), porque esta não tem valor
absoluto. E* preciso que os elementos humanos proporcionados pela
ciência ou pela literatura se integrem harmônicamente na formação
da cultura moderna. Isto vale sobretudo no setor da educação, a fim
de que cada povo tenha condições de afirmar seus valôres. Para a
consecução dêste objetivo, todos os cristãos devem desempenhar um
grande labor.
4-10-1965: 141» Congregação Geral
A Igreja no Mundo de Hoje
II Parte: A Cultura, Vida Econômico-Social

P r e s e n t e s : 1.944 p a d r e s
Conciliares. (Explica-se a ausência de muitos: os Bispos fran-
ciscanos estão desde ontem em Assis e, além disso, o Papa
Paulo VI, que partiu esta manhã para a sede da ONU em Nova
York, levou consigo vários Cardeais e Bispos). Moderador:
Card. Suenens. A sessão começou às 9 e terminou às 12,20.
A Santa Missa foi celebrada por Dom Siro Silvestri, Bispo de
Foligno, na Itália, cidade onde São Francisco vendeu a própria
roupa para dá-la aos pobres. O Secretário Geral, que acom­
panhou o Papa à ONU, foi substituído por Dom John Krol,
Arceb. de Philadelphia, nos EE.UU. Continuou durante tôda
a manhã o debate sôbre a Igreja no mundo contemporâneo,
com os discursos sôbre o problemas matrimoniais (n. 174)
— com licença especial dos Moderadores, òbviamente — 5
sôbre a cultura e 11 sôbre os problemas sócio-econômicos.
Sôbre a cultura falaram:
169) Casimiro MORCILLO GONZÁLEZ, Arceb. de Madrid, na Es­
panha: O capítulo II me decepciona profundamente. Apesar da louvá­
vel intenção de harmonizar a cultura com o humanismo cristão, a Co­
missão nem sempre foi feliz em sua redação: às vêzes tem-se a im­
pressão de ler um artigo sem muita importância; às vêzes, como na
secção III, o estilo exortativo não parece digno do Concilio. A cul­
tura é ambivalente: pode aproximar e pode também afastar os homens
de Deus. Se o risco é inevitável para cada homem, não o é para a co­
munidade dos homens, com a condição de que se dê a conhecer o
plano de Deus sôbre o progresso da cultura humana, plano que a
Revelação e a história nos descobrem claramente. Já no livro do Gê­
nese se lê como Deus lhe deu o preceito de subjugar a terra criada e
todos os animais (1,28). Com sua inteligência o homem foi des^
do as causas imediatas e as relações das coisas e, quan o c t
m
I. Crônica das Congregações Gerais
que tudo fòra feito por Deus em número, pêso e medida (Sab 11,21)
i é que tudo fôra submetido às leis físicas, começou a imitar e copiar’
com a habilidade de suas mãos, a obra da criação (cf. Gn 4,20-22)’
Assim a cultura técnica, muito imperfeita no homem pré-técnico mas
muito perfeita no homem supertécnico de hoje. Assim também nasceram
a sociedade e a cultura de massa, sinais dos tempos modernos. A len­
tidão com que a cultura progrediu, especialmente a técnica, é expli­
cada pela desordem introduzida no mundo pelo pecado original. Peia
restauração da ordem querida por Deus e a orientação de tôdas as
criaturas ao seu serviço, a Redenção restabeleceu no melhor modo possível
as condições do progresso da cultura humana. A Redenção não elimina
as rebeliões, mas dá a fôrça para dominá-las. “A criação inteira até
agora geme e sente dores de parto” (Rom 8,22), porque “aguarda
ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (Rom 8,19), até que
"na plenitude dos tempos unir sob uma cabeça tôdas as coisas em
Cristo: as que estão nos céus e as que estão na terra” (Ef 1,10). Fi­
nalmente, Jesus Cristo, ao promulgar o preceito máximo da caridade,
imprimiu nova fôrça à função social que a cultura espiritual e a
cultura técnica têm por sua própria natureza. E’ preciso, pois, redigir
de nôvo o capítulo H para mostrar ao mundo como a cultura se in­
tegra, segundo o plano de Deus, no humanismo cristão. Ou, se pre­
ferir o Concilio, se suprima tôda a segunda parte do esquema ou se
confie a uma Comissão pós-conciliar o estudo e a redação dela, porque
náo condiz com o Concilio apresentar sôbre tema tão importante êste
documentozinho (“tantillum documentum”).
170) Augustin FROTZ, Bispo aux. de Koeln, na Alemanha: O
esquema diz que “os homens” tomem consciência de serem cs
artesãos e promotores de sua própria cultura e das suas comunidades.
Mas falta aí um elemento essencial ainda: no processo da evolução
da cultura humana o homem não age simplesmente como homem, mas
sempre age concretamente como homem ou como mulher. Esta precisão
reveste aqui uma importância fundamental. Não basta que, noutras pas­
sagens, o esquema reconheça a igualdade da pessoa do homem e da
mulher e a igualdade de direito à cultura humana. Considere-se tam­
bém se, de fato, a mulher tem na sociedade um papel que lhe facilite
contribuir para o progresso da cultura. E’ de se desejar que o texto
apresente esta consideração que é sempre verdadeira e hoje tem es­
pecial importância. O reconhecimento universal da complementariedade
do homem e da mulher também fora da instituição familiar, pode fa­
vorecer uma estima maior do celibato professado livremente e por mo­
tivos superiores. Assim, os que abraçaram o celibato — quer sejam
leigos, quer sejam sacerdotes ou religiosos — seriam püblicamente
animados na sua vocação porque desempenham um papel especial e
salutar na promoção da cultura humana. Êste fato não deve ser es­
quecido no diálogo com o mundo moderno.
nit i^Vi SPUELBECK, Bispo de Meissen, na Alemanha:^ O ca
n/w ° ’ • uC° SCU louv^veí otimismo no campo científico, a^re
nôvo caminho para o diálogo entre a Teologia e a Ciência. Agradeço,
’ 0 1 !gente tra*)alho dos redatores do esquema. “Anxietas
ata est: incipiat dialogus hilari animo!" Faço, entretanto, algum
A Igreja no Mundo de Hoje 185

sôbreVl ÇÕ”escCusab,MTdSt0. 3° mét°d°' 0 texto Paulino de 1.20


° L , r S dade d0S que nâo conheceram Deus não vale
a investigação das c.enc.as naturais, muito embora seja uma verdade para
perenernente vigente. E’ verdade que o Concilio Vaticano I declarou
qi eus ex creaturis mundi certe cognosci potest”. Mas deve-se
n° ar que o conhecimento concreto do mundo não pode ser simples­
mente identificado com as ciências reflexas das coisas naturais. A
atual ciência da natureza está impregnada do espírito cartesiano, i. é,
matemático, considera a realidade estudada apenas sob o aspecto de
numero, pêso e medida. Nós, porém, sabemos que êste método não in­
daga a profundidade metafísica da realidade nem suas relações de
causalidade: não analisa, p. ex., a contingência e a finalidade das coi­
sas. O cientista de hoje habituou-se de tal maneira ao método cartesiano.
que ficou embotado com respeito às realidades metafísicas e da fé.
Isto leva-o a uma interpretação unilateral da realidade: considera apenas
um aspecto da criação e não se sente na obrigação nem de afirmar nem
de negar a existência de Deus. Por isso, oteólogo, no seu diálogo
com o mundo, deve conhecer exatamente os fatos e os resultados da
ciência da natureza, que dão ocasião não só para compreender me­
lhor a realidade metafísica, mas também para favorecer uma ulterior
preparação da fé e confirmar a própria fé. Assim, p. ex., a Astro­
nomia se empenha em provar cientificamente a evolução do Universo
e nela então se fala dos acontecimenntos “anti-fortuitos” (Anti-ZufaJl)
que não podem ser explicados nem pelo acaso nem pelas leis físicas.
Também a Biologia quer demonstrar a evolução da vida e nela então
se emprega o têrmo “Ortogênese” (cuja palavra e cuja idéia de evo­
lução finalística defendia Teilhard de Chardin) que significa a evo­
lução genética preordenada para um fim concreto. Portanto, o cien­
tista e o teólogo, no seu diálogo, podem ajudar-se mútuamente para
melhor compreenderem como a criatura, mesmo matemàticamente con­
siderada, não pode conceber-se na sua totalidade sem princípios meta­
físicos e que a natureza matematizada não fecha necessariamente o
caminho de acesso para Deus. E’ a única maneira de levar a ciência
a permanecer lógica consigo mesma e a se libertar de preconceitos a-
priori e é também o único modo de evitar o perigo de recorrer, por
parte dos fiéis, a argumentos cientificamente discutíveis.
172) Pierre VEUILLOT, Arceb. coadj. de Paris, na França (texto
completo): No capítulo II, consagrado à promoção da cultura, se di­
zem muitas coisas da ciência moderna. Mas as passagens que tratam
da ciência dão prova duma demasiado grande reserva. Nunca ai, com
efeito, se toma claramente a defesa da ciência, enquanto seus admirá­
veis progressos são um dos acontecimentos maiores do nosso tempo
e muitíssimos homens se regozijam dos seus benefícios, desejam que
ela faça ainda outros progressos e temem suas terríveis consequências.
E’ certo que êste capítulo decepcionará os sábios que esperam avidamente
o que dirá o Concilio sôbre êste assunto.
1) No mundo atual, a Igreja deve não sòmente declarar que ela
não se opõe ao espírito científico; não sòmente se gloriar de que du­
rante muito tempo clérigos e leigos a cultivaram, apesar de a t ­
erros que ela reconhece e lamenta; não sòmente se alegrar \
entre os seus filhos numerosos sábios. E necessário am
Concilio - V — 13
186 I. Crônica das Congregações Gerais
igreja saúde hoje duma maneira positiva tôda a eminente dignidade da
ciência, como o fêz em muitas oportunidades Pio XII em memoráveis
a locuções. A ciência deve ser louvada pelo conhecimento cada dia mais
estendido e mais profundo que nos dá da majestade das leis que g0
vernam o Universo, enriquecendo assim nossa contemplação e alimen"
tando o cântico de louvor que a criatura dirige ao seu Criador, sè
verdadeiramente há duas ordens distintas de conhecimento — a ordem da
fe e a ordem da razão, — uma e outra tendem para a verdade, cada
uma à sua maneira: livre e humildemente, com paciência e amor é
que o progresso científico concorda plenamente com as vias religiosas
mesmo quando se distinga delas. Neste Concilio doséculo XX a
Igreja deve também exprimir seu respeito pela ciência em razão’ de
sua contribuição na liberação e no progresso da humanidade. Pela
técnica, com efeito, que a ciência por assim dizer engendrou, se rea­
lizaram aspirações milenárias do homem: está cada dia mais ao abrigo
das calamidades, faz suas as riquezas da terra, pode-se tornar membro
da comunidade dos povos — mesmo daqueles que estão mais afasta­
dos — evade-se, enfim, de sua prisão terrestre... Com a ciência e
pela ciência, o homem de hoje ilustra admiràvelmente o mandato do
Criador de submeter a terra. Além disso, provendo às necessidades
dos países pobres e aliviando as suas misérias, os sábios cumprem no
mundo uma obra de amor e de justiça. Porque todos os que lutam
contra a ignorância, o sofrimento e a divisão dos homens — conse­
quências do pecado original, — são sempre honrados e louvados pela
Igreja de Cristo que trabalha na redenção dos homens.
2. Mas o Concilio deve ainda velar pelo valor moral da ciên­
cia. Todos nós conhecemos os perigos que comporta o conhecimento
cientifico. Existe a tentação de seguridade intelectual e de poder, a
tentação filosófica de erigir a ciência numa espécie de religião, a ten­
tação do materialismo e do racionalismo que conduz a êsse terrível
êrro de acreditar que os postulados do ateísmo são legítimos e mesmo
necessários para o progresso da ciência. No plano prático, sabemos
igualmente que, se a técnica traz aos homens bens materiais, mui
freqiientemente não lhes traz bens espirituais e favorece um certo ateís­
mo prático. AAas, uma vez superadas estas tentações que na história
das ciências poderão ser consideradas como crises de crescimento, eis
aqui que êste admirável progresso da ciêntia gera hoje uma angústia
que descreverei brevemente.
Há, primeiro, como uma angústia física em razão da pequenez e
da fragilidade do homem diante da imensidade dum universo inóspi­
to para a vida. Há sobretudo uma angústia moral em razão ^
ambivalência de poder que a ciência dá aos homens. Entre os sa io
e técnicos desperta cada vez mais o sentido de sua responsabih a
e também o temor duma liberdade que não se refere a um principi
soberano. A invenção chama a invenção e ninguém sabe aonde es
continua progressão conduz a ciência. Hoje, os sábios mais lúcidos
interrogam sôbre a finalidade de sua atividade. ,a
\* a£°ra consideramos o capítulo II do esquema, tal como e
re |gi o. parece-nos que considera a ciência com um otimismo
J.a ultrí>Passado e não responde de modo algum a esta angustia a
ia a u a . Esta angústia do sábio corresponde à ansiedade de
A Igreja no Mundo de Hoje 187

épocr-111^
manirtnrfp4^ n^ 6^ ^ » ! a<?-^mPl'd10
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do mundo°,i ab'°H
e delaiqUCtem6 Uma
uma esPécie de demiurgo,
consciência vivee esta
aguda. Mais tragé­
melhor do
que os outros homens, ouve no universo êste apêlo à vida, esta von-
tade de viver, enquanto que a vida está ameaçada como jamais o es­
teve na história humana. O Concilio não pode não reivindicar os di­
reitos da vida, porque a vida é o primeiro de todos os bens e a pri­
meira universalidade.
Conclusão: O Concilio deve, pois, neste capítulo falar da ciência
com amor e respeito. Deve, por uma parte, reconhecer os valôres que
serve, i. é, a vida e a verdade; dar-lhe graças por ter já respondido
às necessidades dos homens. Deve, por outra parte, afirmar que a
ciência põe à liberdade humana um dos mais graves problemas do nosso
tempo: o do bom uso do gôzo quase ilimitado que a ciência dá aos
homens de hoje. Deve declarar solenemente o respeito que é devido
à vida e em primeiro lugar à vida do homem; e, enfim, exortar os sá­
bios a reconhecerem o fim último para o qual a ciência é chamada:
proclamar a glória de Deus.
173) Luigi BETTAZZI, Bispo aux. de Bologna, na Itália: O es­
quema declara que a Igreja aceita o pluralismo das culturas. E’ esta
uma decorrência da Encarnação (“consectatio Incarnationis”) que de­
vemos vigorosamente sublinhar, porque a fôrça do Evangelho deve fer­
mentar todos os homens. E isto vale não apenas para o pluralismo
“espacial” (as diversas culturas num dado período histórico) mas tam­
bém para o pluralismo “temporal” (as culturas que se sucedem na
história). Alguns filósofos contemporâneos desejam que a Igreja pro­
clame claramente aque’as verdades, sem as quais ninguém pode ser
considerado pensador cristão: estas são as verdades referentes à trans­
cendência de Deus e todos os valôres absolutos, tanto os da ordem
ontológica como os da crdem moral dêles decorrentes (a dignidade, a
liberdade e a essência comunitária do homem). Mas ao mesmo tempo é
necessário reconhecer abertamente as riquezas da mentalidade que ca­
da época tem. A investigação e explicação atuais sôbre as realidades
naturais — inclusive na antropologia — e a atenção prestada para o
mundo pessoal e sua realidade existencial e histórica, ilustram não só
as maravilhas singulares de Deus, mas também abrem o caminho para
a elevação da mente para Deus e ao mesmo tempo favorecem o diá­
logo entre os homens. Pensemos, p. ex., no valor da subjetividade que,
quando não exagerada até ao imanentismo absoluto, ilumina o outro
pólo de todo diálogo, fonte mesma da especulação. E\ pois, o pri­
meiro elemento de qualquer visão objetiva. Assim, a mesma problema-
ticidade, quando não excluir a-priori a verdade absoluta, pode expri­
mir claramente a radical desproporção entre a inteligência que investiga
e a certa ilimitada virtualidade da realidade: talvez os modernos pu-
blicanos estejam mais próximos da salvação do que o foram os passa­
dos fariseus na segurança de sua posse. De fato, uno é Deus. uma e
a realidade e uma é a razão do homem — ou, melhor, uma é a m e
ligência do homem. E é esta profunda unidade do gênero humano que
também a Igreja promove enobrecendo a inteligência conl^ j
um preâmbulo para a paz universal. Entretanto, a unidade da
13*
188 I. Crônica das Congregações Gerais
pode ser manifestada igualmente numa grande variedade de perspec­
tivas que podem e devem ser finalmente unificadas pelo único Verbo de
Deus. E é esta, se não me engano, a verdadeira razão de os Papas
recomendarem sempre que se seguissem os princípios e os métodos de
S Tomás de Aquino. O verdadeiro método — acho eu — não consiste
tão sòmente em áridos tecnicismos, mas no apreço da inteligência hu­
mana. e no estudo e na adesão à mentalidade dos nossos tempos e dos
nossos lugares. Assim fêz o próprio S. Tomás de Aquino, seguidor da
tradição e amante das SS. Escrituras. Os seus contemporâneos, porém
o consideraram um aficcionado de novidades (“novitatis amator”) e
não sem perigo de êle ser condenado. Digamos serenamente aos nos­
sos filósofos que o S. Tomás de Aquino que devemos honrar não é
necessariamente o Tomás dos tomistas, mesmo o dos mais tradicio­
nais, porque o carisma que êle possuiu nem sempre passou a todos
os seus discípulos. Êle é, antes de tudo, um modêlo que deve ser imi­
tado pelo seu amor das SS. Escrituras e do mundo de seu tempo. Nisto
também temos um exemplo em Rosmini. Enfim, tudo isto parece-me
convir com o que já disseram acêrca do esquema numerosos Padres:
apresentar os valôres que ajudem os homens de hoje a viver uma exis­
tência mais digna e segura. E* esta a inspiração originária do esque­
ma e é esta a esperança e a fé de todos os homens que João XXIII
levantou na Igreja e no mundo. (Mons. Bcttazzi tornou a pedir, como
tinha já feito no ano passado, em nome de 70 Bispos, que o Concilio
inciuisse no número dos santos o nome de João XXIII).
Ainda sôbre o capítulo I (matrimônio e família) falou:
174) Elie ZOGHBY, Vigário patriarcal dos melquitas do Egito
(segue texto completo: cf. supra p. 149, seu primeiro discurso sôbre
êste tema, e p. 153, a contestação do cardeal Journet): Como certas
publicações deram proporções demasiadamente largas à minha última in­
tervenção no Concilio sôbre o caso particularmente frequente e infeliz
do cônjuge inocente abandonado pelo outro e a propagaram pelo mundo
inteiro, pedi retomar a palavra na Aula não para retratar ou mudar o
que eu disse mas para lembrar brevemente o que segue:
1. Minha intervençãotinha um fim estritamente pastoral: o de
procurar uma solução para o problema angustiante de tantos jovens
maridos e mulheres condenados a viver sozinhos, numa continência for­
çada, sem culpa própria.
2. Afirmei claramente na minha intervenção o princípio imutáve
da indissolubilidade do matrimônio e evitei de propósito empregar a
palavra “divórcio", porque, no uso católico, esta palavra significa uma
infração ao princípio da indissolubilidade do matrimônio.
3. Esta indissolubilidade do matrimônio está de tal modo anco
rada na tradição das Igrejas do Oriente e do Ocidente, tanto ortodoxa^
como católicas, que não podia ser chamada em questão numa m er
vençáo conciliar. A tradição ortodoxa, de fato, sempre considerou
matrimônio tão indissolúvel como a união de Cristo e da Igreja,
esposa - - união_ que permanece o tipo exemplar da monogamia^ sacir -
mental dos cristãos. Em teologia ortodoxa, o divórcio não é senão u
dtspensa acordada ao cônjuge inocente em casos bem definidos e c
A Igreja no Mundo de Hoje 180
unia preocupação puramente pastoral, en, virtude do que os ortodoxos
Sdescendência.
n d ê n H * ppEsta" ^dispensa
de eC0n0mia”'
nao exclui0 o«ueprincípio
Unificadadispensa ou con­
indissolubilidade
do matrimomo. Ela e posta ao seu serviço, como as dispensas conce-
didas pela Igreja católica em virtude do privilégio petrino. Não fa­
laremos dos abusos que são sempre possíveis, mas que não mudam
a realidade teológica.
4. E , pois, uma dispensa em favor do cônjuge inocente que eu
sugeria na minha intervenção. Referindo-me à interpretação tradicio­
nal no Oriente do texto de S. Mateus (capítulos 5 e 19), indiquei a
eventual possibilidade de acrescentar aos motivos de dispensa já ad­
mitidos pela Igreja católica o da fornicação e o abandono definitivo
dum cônjuge pelo outro, para evitar o perigo de perdição que ameaça o
cônjuge inocente. Tal dispensa não teria, mais do que as outras, o
efeito de pôr em dúvida a indissolubilidade do matrimônio.
5. Esta proposição não era vã, pois se apoiava sôbre a autori­
dade indiscutível de Santos Padres e de Santos Doutores das Igrejas
do Oriente, que não podem ser acusados, sem temeridade, de terem
cedido a considerações políticas e humanas ao interpretar, como êles
fizeram, as palavras do Senhor.
6. E’ nesta perspectiva de fidelidade universal do Orientte e do
Ocidente ao princípio da indissolubilidade do matrimônio que a Igreja
romana, durante os longos séculos de união, como após a separação,
jamais contestou a legitimidade da disciplina oriental favorável ao ma­
trimônio do cônjuge inocente.
Conclusão. Tal é o sentido e o conteúdo de minha última inter­
venção no Concilio. Quanto à oportunidade de admitir um nôvo motivo
de dispensa, análogo às já introduzidas em virtude do privilégio pe­
trino, é a Igreja que deve decidir.

Cap. III: A Vida Econômico-Social


Depois de apresentar algumas características da vida eco­
nômica contemporânea, o assunto é dividido em duas secções:
1) O desenvolvimento econômico (com três parágrafos); 2)
Os princípios que regem em conjunto a vida econômico-social,
com sete parágrafos: Trabalho e descanso, participação na em-
prêsa e no conjunto da economia, justa distribuição dos bens,
inversão e gestão pública monetária, acesso à propriedade e o
problema dos latifúndios, relações econômicas entre países ricos
e pobres, a atividade econômico-social e o Reino de Deus. Sete
páginas no texto latino.
21 discursos pronunciados nos dias 4 e 5 de outubro
e 142íl Congregação Geral) castigaram impiedosamente 0 íe^ '
Cá e lá há lacunas e afirmações audazes e pouco fieis a c
190 I. Crônica das Congregações Gerais
trina dos documentos pontifícios (Siri); reflete uma mentali­
dade capitalista, pois não fala bastante da organização da pro­
dução coletiva, nem sublinha o aspecto social da justa e hu­
mana distribuição dos bens e deveria salientar mais a participa­
ção na empresa e na vida econômica em geral e rever a doutrina
sôbre a propriedade privada, que não está estreitamente ligada
à doutrina católica (Bueno y Monreal); é omisso na indicação
dos meios para pôr em prática a doutrina (Swanstron); não
acentua claramente as características da economia moderna nem
enumera adequadamente os aspectos positivos dos empreende­
dores; quando se refere à explosão demográfica não ousa indicar
como solução verdadeira a liberdade de emigrar (Thangalathil);
deveria sugerir soluções mais concretas para resolver o grave
problema da miséria e da fome (I. Fernandes); é menos funda­
mentado e dinâmico que alguns documentos pontifícios e pa­
rece ter mêdo da metafísica e das leis naturais (Franic); nada
acrescenta às Encíclicas sociais e trata êstes assuntos de ma­
neira menos feliz; sua exposição é enfática, pouco concreta, ex­
cessivamente otimista e seus conceitos de cogestão, trabalho e
outros são vagos e confusos (Hoeffner); só se refere a formas
sociais já em vias de superação e desconhece os mecanismos só-
cio-econômicos que já introduzem na sociedade as formas de
amanhã (Coderre); trata apenas dos direitos e não dos deveres
dos operários e seu modo de falar é demagógico (Garcia de
Sierra); suas normas são superficiais, abstratas e fracas (Ano­
veros); fala numa linguagem incompreensível para os milhões
que vivem na miséria (De Vito); e ignora os graves problemas
da enorme massa de agricultores (Parteli, Castellano, Hengs-
bach). O Bispo de Essen, Dom Hengsbach, lembra que não
se podem condenar as grandes riquezas como tais, nem mes­
mo as profundas diferenças de riqueza entre os homens 0
que o esquema parece insinuar — mas as violações da justiça
e da caridade social que fàcilmente acompanham êste fato. No
mesmo princípio insistiu também o conhecido sociólogo alemão
Hoeffner, agora Bispo de Muenster: a riqueza que não feie a
justiça e a caridade não é condenável. Hengsbach e Himmer
insistem também numa condenação do espírito de lucro. Arriba
y Castro, Swanstrom, Mahon, Echeverría, I. Fernandes e McCann
sugerem a criação, em Roma, de um organismo especial Para
difundir e aplicar a doutrina social cristã.
A Igreja no Mundo de Hoje 191
Sa° estes os Primeiros discursos, pronunciados esta manhã:
175) Cardeal Giuseppe SIRI, Arceb. de Gênova, na Itália: O ca-
pi u o s0 re a vida econômico-social contém muitos elementos posi­
tivos e dignos de louvor. Entretanto, a prudência sugere que não se
fale muito e — muito menos — dum modo definitivo sôbie os fenô­
menos sujeitos a rápida e contínua evolução. E' nccessáiío permane­
cer no campo dos princípios imutáveis porque do contrário, dentro de
10 ou 20 anos, as afirmações atuais poderão revelar-se inoportunas e
superadas. Sem dúvida, todos concordam em desejar uma ordtm eco-
nômicc-social que garanta um bem-estar maior aos menos privilegiados
e que satisfaça sempre mais os interêsses materiais e morais da pessoa
humana. Seria oportuno salientar a capacidade e a responsabilidade de
cada indivíduo, como também a necessidade social de economizar, ten­
do em vista uma produção maior de bens futuros, deixando depois
às pessoas competentes na matéria a explicação dêsses princípios e a
sua aplicação às situações históricas concretas. Ao tratar os proble­
mas sociais convém absolutamente libertar-se de visões unilaterais e
permanecer no plano objetivo das coisas. Sob êste aspecto, o texto
apresenta aqui e ali lacunas e afirmações audazes. A complexidade das
questões técnicas aconselha limitar-se a simples observaçõts gerais qre
visem uma participação sempre maior na administração social e eco­
nômica. A participação de muitos ou de todos na administração teo-
nômica pode ser sempre desejada, mas nunca em prejuízo da liberdade
de iniciativa e da ordem racional e humana da sociedade. O texto
sublinha oportunamente a contribuição do trabalho humano para a
produção. Seu silêncio sôbre outros fatores deixa muito a desejar, pois
a verdade é vulnerada não apenas pelo êrro mas também pela omissãc.
Além disso, o texto não parece bastante fiel e exato quando refere a
doutrina enunciada nos documentos pontifícios sôbre a destinação uni­
versal dos bons. O texto poderia, sim, ser mais cauteloso acerca da
política econômica naquilo que concerne a divisão dos fundos.
176) Cardeal Benjamín ARRIBA Y CASTRO, Arceb. de Tarragona,
na Espanha: Em relação à justiça social em sentido estrito, é opor­
tuno sublinhar que a Igreja de Cristo é a Igreja dos pobres: não ape­
nas porque se preocupa dêles, mas também porque um dos prncipais
fins de sua ação consiste na promoção dos pobres a um estado econò-
mico-social mais digno e mais humano. A Igreja possui uma doutrma
social admirável, que é preciso traduzir em realidade prática. Os Su­
mos Pontífices, a partir de Leão XIII, têm exposto magistralmeme os
ensinamentos sociais da Igreja. Entretanto, poucos são aquêles que os
têm pôsto em prática, de conformidade com as exigências dos tempos.
O comunismo, que promete a revolução social dos pobres através dum
sistema filosófico interessado em difundir o materialismo ateu. nào con>-
titui uma solução para o problema social. Pode, no entanto, tornar-se
um castigo e uma ruína para tôda a humanidade, justamente por culpa
dos que não se dispõem a porem em prática a doutrina do Etan^ei í
A Igreja proclama a sua doutrina, mas não lhe pertence aplicá la
cretamente. Êsse dever cabe aos proprietários de bens íerre,u^ "'r‘^
diversos promotores da economia. A lgrtja deve lutar com a j*
|U2
I. Crônica das Congregações Gerais
com o exemplo pela justiça social, mesmo se esta deve ser especificada
em seus aspectos particulares pela lei civil. Sena de esperar que fôsse
criado junto à Cúria Romana, um organismo com o fim específico
de difundir e aplicar a doutrina social cristã e que tal assunto seja to­
mado em consideração pelo Sinodo dos Bispos, tão oportunamente ins­
tituído pelo Papa.
177) Cardeal José Maria BUENO Y MONREAL, Arceb. de Sevilla
na Espanha: Acusa-se facilmente a Igreja de chegar atrasada com sua
doutrina sôbre questões econômico-sociais e seria bom evitar no fu­
turo a repetição dêstes lamentáveis inconvenientes. O mundo de nosso
tempo, dentro de alguns anos, constituirá o mundo do passado. Com
efeito, os tempos estão sujeitos a profundas e rápidas mudanças. A
doutrina da Igreja, mesmo seguindo a evolução dos tempos, deve enun­
ciar princípios universais e perenes, apoiados no direito natural e no
Evangelho. Quanto ao esquema, algumas afirmações nêle contidas sô­
bre as condições econômicas e sociais são imprecisas e parecem fruto
da mentalidade liberal-individualista ou capitalista vigente no mundo
ocidental, que expõe o Concilio ao perigo de ser superado pelos acon­
tecimentos dos próximos anos. E’ verdade que o homem, dotado do dom
da liberdade por Deus, deve conseguir livremente sua própria perfeição.
Mas é também verdade que esta perfeição deve ser obtida no con­
texto duma dada sociedade política, na que os homens se enquadram
não por um pacto livremente estabelecido mas por necessidade natural,
o que mostra o desígnio de Deus. Portanto, a liberdade individual deve
harmonizar-se, naquilo que toca aos demais homens, com a necessidade
e o bem da comunidade. E’ mister, porém, evitar Scilla e Caribdis:
nem os direitos da liberdade devem ser exaltados ao ponto de destruí­
rem tôda a vida da comunidade nem os direitos da comunidade devem
ser sublinhados ao ponto de constrangirem a liberdade individual mais
do necessário. À prudência política caberá estender ou restringir os
fins da liberdade, conforme o exigirem, num momento histórico deter­
minado, o caráter, os costumes, a cultura, as exigências, etc., duma
nação. Não é justo, pois, pretender aplicar aos diversos povos, em
diversas circunstâncias, critérios e medidas idênticos. Concretamente:
a) O esquema não fala da organização da produção coletiva segundo
a doutrina da Igreja (n. 75) nem sublinha o aspecto social da justa
e humana distribuição dos bens (n. 76), elemento essencial para um
progresso econômico verdadeiramente humano, b) O que diz êste ca­
pítulo sôbre a participação de todos na vida da emprêsa e na vida
econômica em geral (n. 80) é insuficiente. A exposição reflete a_ men­
talidade do mundo capitalista em que as associações operárias são or
ganismos de defesa — mentalidade que deu origem a certas lutas
que não deveríam existir no seio duma sociedade bem organi
T * * \.y rela4iva à propriedade privada não está estre
a % deve ser revista,
h
r.ft U E**’u P!*"âm*nte Bispo au*. de New Vork, ■ »<•*
de acArdo tom fAda* a* bela»
Tr\L T Kò eSq,iema- 0 <i»e me preocupa (■ a aplicado dctfa <'"!
oor nu* nr™ c?mum un'versal e da justiça social internacional -
por que proponho concretamente que a Igreja lance uma camp«",hfl
A Igreja no Mundo de Hoje
fndo,dU^
todos osaÇrrk fÍn írmfH
cristãos 0 6osPruhomens
e todos ° pa^ ãode do8
boaPvontade
"™ '^ 8 a tomar para levar
profunda­
mente consciência da pobreza do mundo e a preocupar-se por ela, assim
como para promover a justiça internacional e o desenvolvimento soh
todos os aspectos. Proponho, para executar êste longo programa, a
criação, no seio da Igreja, dum Secretariado, que poderia ser colocado
sob a autoridade duma Comissão episcopal permanente, nomeada pelo
Papa. Êste esforço, longe de o frear, apoiaria o trabalho de assis­
tência e de desenvolvimento realizado por meio de numerosas confe­
rências episcopais e outras organizações da Igreja. Nesta perspectiva,
proponho respeitosamente aos Padres acrescentar o parágrafo seguinte
ao n. 95 do capítulo V: “Para atrair com persistência a atenção do
povo de Deus e de todos os membros da família humana para a triste
sorte da maioria dos filhos de Deus, e para anunciar oportuna e im-
portunamente a mensagem de justiça e de amor de Cristo para os
pobres, o Concilio propõe a criação dum Secretariado da Santa Sé
para a justiça internacional e o desenvolvimento. Exige também que
as Conferências Episcopais, as Ordens Religiosas e outras organizações
apropriadas, inclusive as compostas de leigos, empreguem os meios ne­
cessários onde quer que fôr possível para abrir os espíritos e os cora­
ções de todos aos apelos dos pobres do mundo inteiro. Êstes esfor­
ços de educação e de informação deverão ser conduzidos em estreita
união com os nossos irmãos separados, com as agrupações que se ins­
piram em outras religiões e com todos os homens de boa vontade”.
179) Franz HENGSBACH, Bispo de Essen, na Alemanha: E’ de
grande importância que os peritos em ciências sociais e econômicas
sejam ouvidos a respeito do capitulo sôbre a vida econômico-social.
Examinei o texto com muitos dêles e por isso proponho algumas emen­
das: l9 Alguns elementos do texto parecem não corresponder à realidade
concreta, p. ex.: a) Não se acentuam claramente as características da
economia moderna. Não se enumeram adequadamente os aspectos po­
sitivos (como as qualidades dos empreendedores) nem os aspectos
negativos (como o espírito “economístico”) que invade a vida parti­
cular e social de muita gente, tomando-se venais mesmo coisas sa­
gradas). b) As informações sôbre a situação agrícola parecem não cor­
responder à situação da maior parte do mundo, c) As tônicas que o
texto dá à política monetária parecem muito unilaterais. 29 Algumas
afirmações descem a questões muito particulares, p. ex., o que afirma
com respeito às greves. 39 Alguns pontos do texto não parecem con­
cordar com a doutrina social ensinada pelo Magistério Eclesiástico nos
últimos tempos, p. ex.: a) Dum lado, a destinaçào extrajundica dos
bens materiais ao uso comum e, de outro, o instituto jurídico da pro-
priedade privada e seu caráter essencialmente social. A doutrina
social da Igreja requer uma difusa distribuição da propriedade parr-
cular e não condena as grandes riquezas enquanto ta s, que nem rnesm*
as profundas diferenças de riquezas entre os homens da caridadeo soo;:. :e\tv
parece insinuar, mas as violaçoes da justiça e
que fâcilmente acompanham êste fato. Ividv^ < V d u r e s ^ to a

participação na vida econômica pieosa sei re\ >ío i\ O vvnce ae

trabalho no n nao e umxoco IV» 'sso, tôda .t sua .iasdo Ts - Vv'°

mais clnies.i
194 I. Crônica das Congregações Gerais
180) Gregorius VARGHESE THANGALATHIL, Arceb. do rito siro-
malancar dt Trivandrum, na índia: Acho muito bom o otimismo verda-
deirameníe cristão com que o esquema trata dos problemas sociais*
Louro igualmente a solicitude pastoral do texto nos principais cam­
pos da vida econômica. De fato, não bastam só princípios gerais como
“faze o bem e evita o mal” ou “sê justo e não injusto”, etc. A Igreja
deve dirigir as consciências nas circunstâncias concretas do mundo de
hoje. Contudo, requerem-se ainda no texto alguns melhoramentos rela­
tivos à vida econômico-social: 1) O capítulo III, referente a êsses pro­
blemas precisamente, não traz citação da Escritura e, no entanto, os
textos sôbre o uso das riquezas são numerosos. 2) A ajuda aos países
pobres é considerada no esquema tão sòmente como uma das necessi­
dades do nosso tempo, entre muitas outras. Fala-se então da necessi­
dade de evitar escândalos, preservar a paz, etc. Do mesmo modo, vá­
rios Padres Conciliares falaram nesta Aula que o Concilio deve se
ocupar unicamente de problemas espirituais e não dum assunto tão
material como êste, para não darmos a impressão de favorecer o capi­
talismo ou construir uma nova tôrre de Babel, etc. Ora, êste modo de
falar é compreensível porque talvez êsses Padres nunca tiveram dire­
tamente experiências pastorais em regiões de miséria. Mas na reali­
dade a matéria de que aqui se trata deve ser a maior preocupação do
Concilio. Com efeito, são muitíssimos os homens que hoje se encon­
tram em tais situações físicas, que mal ouvirão o Evaneglho ou pode­
rão levar uma vida realmente espiritual. Mais ainda: a miséria em
que vivem é para êles contínua ocasião próxima de pecado. Êsses ho­
mens, portanto, devem ser ajudados não sòmente para os ricos cristãos
não escandalizarem outros nem tão sòmente para preservar a paz do
mundo, mas, sobretudo, para que êles possam possuir condições de
vida que lhes permitam ocupar-se das realidades espirituais e se tor­
nar filhos de Deus. Neste mesmo contexto, deve-se também considerar
solicitamente que algumas nações, por causa da carência de auxílios
de que precisam com urgência, acabam usando de remédios ou soíu-
çots desesperadas, como são, p. ex., o abórto, o infanticídio, etc. Quiçá
nisto não estejam inteiramente isentos de culpa aquêles que puderam
oportunamente ajudar e não ajudaram. Aliás, segundo atesta a His­
tória, se não tôdas, pelo menos a grande maioria das nações hoje in­
digentes contribuíram outrora — indireta mas eficazmente — para a
opulência e as riquezas atualmente existentes no mundo. Portanto,
não é tão sòmente por caridade mas por justiça que essas nações de­
vem ser socorridas! 3) O esquema também trata da demografia e do
excessivo aumento de população que se registra nalgumas nações do
mundo. M a s— e ignoro por quê — não ousou enunciar solução a.-
guma. Ora, êste problema não se resolve sòmente por meio da produ­
ção técnica nem pelo cuidado e proteção dos operários que migram,
como se assinala no esquema. Por outra parte, não é conveniente ql,e
o Concilio trate de questões muito minuciosas e concretas. Mas pe]0
menos deve enunciar o princípio seguinte: a justiça postula que, onde
a necessi a e o exigir, não se impeça, por razões de raça ou seme a
tes a devida distribuição dos povos pela superfície da terra. Porqu
anro a própria terra quanto os demais bens terrestres são a heranç
j um oa a por Deus aos homens. Aos especialistas e pessoas c0
A Igreja no Mundo de Hoje 195
petentes, porém, deve deixar-se o modo de 'evar á prática êste prin-
. h*1812Este* A^gel°
Índia. In.n0Cent
documento fERNANDES,
constitui Bispoessencial
o complemento coadj. dade Constituição
Delhi, na
so re a £rcja. De fato, não basta que a Igreja reflita sôbre si mesma
e seu mistério, pois foi enviada essencialmente ao mundo por Cristo
Para .^ue no mund° e Para o mundo continue e aperfeiçoe a Sua missão
salvifica. Portanto, pensar no mundo atual é pensar na missão da
própria Igreja. Mas, ao falarmos do mundo de hoje, não nos engane­
mos, pois a maior parte da humanidade atual — sobretudo o Terceiro
Mundo vive em condições tais de miséria e fome, que são inteira­
mente indignas do homem. Muito embora o texto fale aqui e ali desta
penosa situação, não parece refletir adequadamente a gravidade do
problema. Ora, o Concilio deveria pronunciar-se claramente sôbre isto,
dada a grande autoridade de que goza, pois se trata dum problema
que atinge a maior parte da humanidade — como já disse — e,
portanto, duma obrigação extremamente urgente da Igreja. Por con­
seguinte: 1) Introduza-se no esquema um lugar ou parágrafo que
descreva a urgência e extensão dêste problema, i. é, que a maior parte
da humanidade vive hoje em dia em condições que tornam de todo im­
possível uma vida verdadeiramente humana. Nesse mesmo contexto,
sublinhe-se o dever peremptório que têm todos os homens de coopera­
rem em vista dum mundo melhor. 2) Concretamente, o Concilio pode
e deve propor a instituição dum Secretariado pós-conciliar que estude
e apresente os meios concretos para promover a justiça internacional
e o desenvolvimento integral humano de todos os povos. As razões são
as seguintes: E’ necessário traduzir a vontade da Igreja, que se exprime
no Concilio, em favor da justiça internacional, num organismo eclesiás­
tico que promova a colaboração dos cristãos em escala mundial para
fazer que gradualmente as estruturas dos Estados não mais estejam
ordenadas à guerra — nem sequer defensiva, — mas a preparar uma
paz estável na qual as riquezas do mundo não sejam empregadas para
produzir armamentos senão para aprontar novos métodos. Assim, a
humanidade inteira — e não apenas uma pequena minoria — po­
derá gozar dos bens necessários ao corpo e ao espírito. Peço, por
isso, que esta Constituição seja redigida de tal maneira, que se torne
perceptível a todos os homens — mesmo aos do Terceiro Mundo —
a solicitude da Igreja e, nela, a caridade que Cristo trouxe ao mundo.
Porque Cristo quis que esta solicitude para com o mundo esteja pe­
renemente presente através da sua Igreja.
182) Franjo FRANIC’, Bispo de Split, na Jugoslávia: louvo, em
primeiro lugar, o esquema inteiro, particularmente a segunda parte e.
sobretudo, o capítulo III. Louvo também as idéias novas que se en­
contram no esquema e que constituem uma prova da vitalidade dn
Igreja e da sua capacidade de adaptação às novas condições de
do homem e da sociedade humana. Êste Concilio não é cada\érko
como escreveram alguns no tempo de nossa primeira reumao a
Aula conciliar — mas é um corpo vivo animado pelo hspirito - • l -
Na verdade, não podemos nem devemos falar ao mundo do
po numa linguagem obsoleta e ininteligível. A acomoiaçao e
19Ò 1. Crônica das Congregações Gerais
embora, naturalmente. sem mudar os princípios eternos. Entretanto, neni
sempre é fácil discernir o elemento divino e o elemento humano, o ele­
mento imutável e o elemento mutável na Igreja, como bem provaram as
nossas discussões. Muitos dos problemas abordados sáo extremamente
graves e nossas soluções são, por isso mesmo, imaturas. Proponho, por
essa razão, que o capítulo III e a maior parte de todo o esquema’ seja
confiado ao estudo e elaboração do nôvo Sinodo dos Bispos. Pare­
ce-me, com efeito, que o esquema é menos maduro e dinâmico que
alguns documentos pontifícios ( M a t c r e t M a g i s t r a , Pacem in Terris
H u m a m G e n e ris, etc.). Eis alguns exemplos concretos: 1) No n. 80
p. ex.f é expressa de modo insuficiente a necessidade da participação
dos operários na vida das empresas, sem a qual tôdas as reformas de
estrutura permaneceríam ineficazes. O homem tomou consciência de que
o trabalho faz parte da sua pessoa e que, por isso mesmo, não pode
ser vendido ou comprado como se fôsse um objeto qualquer. Esta idéia
é sugerida muito timidamente no capítulo, embora a evolução da mo­
derna sociedade vai nessa direção. O nosso dever não é promover lutas
de classes. Daí outro defeito do capítulo: não fala nada, à luz do Evan­
gelho, da iliceidade das lutas de classe, ainda que hoje muitos são
os que. intelizmente também entre sacerdotes, propugnam essa idéia
antievangélica. 2) No n. 92 parece que o esquema tem mêdo da Me­
tafísica e nunca se refere à lei natural. E’ claro que não podemos nem
devemos empregar metodicamente uma linguagem escolástica. Mas muito
aproveitaria ao texto “parum salis Metaphysicae”, pois há realidades
— mesmo materiais — que não podem explicar-se adequadamente me­
diante um mero método positivo e existencial. Acho, humildemente, que
devemos misturar “nova cum veteribus”. Assim, é verdade dizer que a
justiça e a caridade são as virtudes sociais fundamentais, mas não é
inteíramente verdade afirmar que nestas virtudes se encontram a raiz
e a fonte da ética internacional. Porque as virtudes são valôres de
ordem subjetiva. A norma das virtudes, porém, é muito mais profunda
do que as mesmas virtudes: é a própria natureza humana. Aqui, pois,
deveria enunciar-se a doutrina tradicional da lei natural como funda­
mento da ética internacional. 3) No n. 97, onde se fala da determinação
do número dos filhos em conexão com a consciência dos pais, nada
se diz da lei natural nem dos pecados matrimoniais contra-natura.
Há nisto tudo um personalismo exagerado. Adiro, por isso, aos Padres
que submeteram a uma critica mais profunda a doutrina do matrimô­
nio e aos problemas da demografia. 4) Concluindo, proponho que,
quanto aos problemas já suficientemente maduros, se apresentem as
soluções em forma de “epístola sinodal” ou “mensagem” do Concilio
aos homens do nosso tempo; quanto aos problemas que requerem ain­
da aprofundamento, deveríam ser entregues ao Sinodo dos Bispos.
183) Joseph HOEFFNER, Bispo de Muenster, na Alemanha (fala
em nome de 80 Bispos de língua alemã): O capitulo II nada a^r '
centa as enciclicas sociais dos últimos papas (Rerum Novarum, Qua­
dragésimo Armo, Maler et Magistra) nem tem a clareza, precisão
madurtza delas. A exposição é muito enfática (emprega continuam
expressões como "oportet”, “debet”, “nitendum est”, “concedendum es -
favendum est , “procurandum est”, “vitandum est”, etc.) e nao md
soluçoes. O capitulo apresenta, além do mais, um otimismo excess
A Igreja no Mundo de Hoje 197

em relação ao progresso da vida econômica. Afirmar qHe o proeresso


r r : T COn,ribl1' Para 3 8a,Va<â0 d° ^ falso, PoPis "m T
da e p ivada e necessana para a vida pessoal e familiar,quemas
dade n rL d aMí lgn° P°S'tUS 6St” 0 J° 5' l9>' lndica bem a proprie-
e pre-
ciso ainda acrescentar que é essencial para tôda a vida econõmíco-
social. Também e necessário distinguir as riquezas e o uso que delas
se faz: nao se pode condenar a riqueza quando não fere a justiça e a
caridade. Nao se define suficientemente, na vida das empresas, o papel
dos gerentes, que geralmente não são os proprietários da indústria e
sem os quais o trabalho dos operários seria difícil ou impossível. Fi­
nalmente, o capítulo deveria omitir pronunciamentos vagos ou confu­
sos sôbre a cogestão na indústira, sôbre o conceito de trabalho e ou­
tros problemas estranhos à competência do Concilio. O capítulo III,
portanto, deve ser inteiramente refundido.
184) Gérard-Marie CODERRE, Bispo de Saint-Jean de Québec, no
Canadá (fala em nome de numerosos Bispos do Canadá e outros de
diversas nações): O capítulo III fala, “longe ac late”, da vida eco­
nômico-social. Quer exprimir o pensamento da Igreja nesta matéria.
Ou, antes, o esquema pretende que a Igreja, pela percepção e pela
inteligência da realidade do mundo em que vivemos, oriente a huma­
nidade para uma ação que corresponda simultâneamente ao plano di­
vino e às exigências da missão do gênero humano. Sem dúvida, para
atingir êste objetivo, seria preciso que o texto fôsse profético — pelo
menos no sentido de que o tratamento dum problema que tão intima­
mente permeia a vida concreta dos homens deve fundamentar-se no pró­
prio movimento do desenvolvimento atual do mundo. Não cabe ao
Concilio estabelecer condições do passado. Por outro lado, é impossí­
vel formular neste campo uma teoria geral com a só luz das expe­
riências passadas. A realidade econômico-social é extremamente fluen­
te: está sempre em perpétua evolução, sempre encontrando'e criando
novas formas, de sorte que as próprias formas atuais carregam já em
si o princípio do seu declínio. A nossa constituição, pois, se quiser
ser pastoral, deve olhar para o futuro e não para o passado. Com
efeito, especialistas em economia social que leram êste capitulo acha­
ram que se preocupa exclusivamente com um tipo de sociedade econô­
mica já em vias de desaparição; não considera suficientemente a crise
da sociedade atual e os elementos de transformação que nela agem já
profundamente; e, enfim, ignora os mecanismos institucionais existen­
tes que introduzem na sociedade moderna as formas do amanhã.
Além disso, a redação carece de realismo e não compreende bastante
lücidamente a autêntica condição da moderna sociedade humana: nós
entramos numa era de mudanças radicais que os especialistas chamam
“pós-industrial” com tôdas as características próprias dêste momento
típico e único da evolução dos homens. A Constituição deveria levar
mais em conta esta profunda fermentação, porque dela depende a sorte
imediatamente futura da humanidade. Por isso, seria desejável que os
princípios fôssem formulados não em função do passado mas do u-
turo. No plano concreto, seria preciso mostrar muito melhor os e -
mentos fundamentais na ordem social, corno, P- _ex,> a fr!!h^hn<í e dos
tado na planificação social, a equitativa distribuição dos - os di_
lazeres, os numerosos organismos não-estatais e co p
198 I. Crônica das Congregações Gerais
versos serviços sociais adequados ao período pós-industrial, etc. p or
conseguinte, se quisermos que os técnicos e os homens responsáveis
ptla construção da sociedade futura nos ouçam, devemos falar na lin
guagem dêles e ser cônscios dos problemas concretos de hoje. Daí a ne*
cessidade duma nova redação dêste capítulo tão importante.
185) Secundo GARCIA DE SIERRA Y MÉNDEZ, Arceb. de Bur­
gos. na Espanha: O capítulo contém numerosos elementos dignos dê
louvor, sobretudo, a freqüente inspiração nos documentos sociais dos
papas, o amplo espírito com que aborda os problemas econômico-
sociais e a decidida vontade de superar a realidade atual e chegar
a uma situação ideal de justa estimação da pessoa humana e seu
trabalho. Entretanto, o capítulo ainda deve ser melhorado para cor­
responder à dignidade dum Concilio, quer quanto ao conteúdo, quer
quanto à forma da exposição doutrinária. Antes de mais nada, sempre
deve prevalecer o critério enunciado no capítulo IV (n. 49): “unicus
finis propter quem Ecclesia vivit est Christi propositum exsequi”. Por
conseguinte, a Igreja não recebeu de Cristo nenhum mandato para os
problemas político-econômicos, como, p. ex., a liberdade econômica, a
greve, o investimento ou exploração das riquezas, etc. O esquema, po­
rém, alude a tudo isto de modo difuso. Naturalmente, o espírito evan­
gélico não deve ser estranho à atividade humana alguma. Mas deve
falar de maneira a infundir nos homens uma autêntica responsabilidade
cristã. Do contrário, a Igreja poderia ser censurada de ter invadido
a esfera meramente econômica. Além disto, o esquema parece carecer
do suficiente equilíbrio quando trata apenas, em outro lugar, dos direi-
tcs dos operários e náo dos seus correlativos deveres. Da mesma for­
ma, parece sancionar a greve, mas não menciona as más greves (que
com muita freqüência acarretam tumultos e violências) nem as con­
dições requeridas para a sua liceidade (“quae rarissime verificantur”),
nem denuncia suas costumeiras implicações políticas (para certos sis­
temas a greve é só um instrumento para fomentar as “lutas de classe”).
Portanto, o Concilio, sem descer a essas concretizações, deve exortar a
todos os homens a resolverem os seus problemas com espírito de cari­
dade e de justiça. Também “addendum est documentum conciliare obli-
gationem in conscientia catholicis imponere; ideo doctrinae non tales
esse possunt quae sub aspectu technico definitive acquisitae non sint .
Além do mais, o texto deve evitar qualquer forma de demagogia, da
qual, aliás, nem sempre está isento. Finalmente, será preciso lembrar
de nôvo que a Igreja deve “propositum Christi exsequi” (n. 49). O dia. o
tentou Cristo a fim de afastá-1’0 de sua missão sobrenatural e induzi-
a buscar as coisas temporais (cf. Mt 4,1-11). Também em nossos dias a
Igreja pode sentir a tentação do “pão”, da facilidade e da política. Nao de­
veria, por isso, responder, com o mesmo vigor que Cristo, às convocaçoe
(Mt 4^iO)?^UaSe ^ ex*&em coisas temporais: “Afasta-te, satana
5-10-1965: 142* Congregação Geral
A Igreja no Mundo de Hoje
II Parte: A Vida Econômico-Social, a Paz

P r e s e n t e s : 2.174 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Suenens. A sessão começou às 9
e terminou às 13,15 hs. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Alfred Bengsch, Arceb.-Bispo de Berlim. Até às 12,15 houve
apenas discursos: 10 sôbre 0 capítulo 111 (a vida econômico-
social); 4 sôbre 0 capítulo IV (a vida da comunidade política)
e 2 sôbre o capítulo V (a paz). Esperou-se então a volta do
Papa Paulo VI de sua viagem à ONU. Sua Santidade entrou
na Aula Conciliar às 12,50. Foi saudado pelo Card. Liénart, em
nome dos Padres Conciliares. Falou então o Papa.
Eis o resumo das intervenções desta manhã; em primeiro
lugar, sôbre os problemas econômico-sociais:
186) Cardeal Stefan WYSZYNSKI, Arceb. de Gniezno e Warszava,
na Polônia: 1) O Concilio trata de problemas sócio-econômicos pela pri­
meira vez na história dos concílios e sínodos, muitoembora nalgum
dêstes se tocassem também assuntos econômicos. Por isso seria opor­
tuno antepor ao capítulo III um breve preâmbulo histórico para que
a discussão dos problemas não dê a impressão de ser proposta ex
abrupto e inopinadamente. Pois muito freqüentemente os inimigos da
Igreja a acusam de se ter desinteressado dos operários. Nesse prólogo se
sintetizariam os apelos incessantes dirigidos pelo Espírito ao homem
para que siga a ordem moral nas suas atividades sociais e econômicas,
i. é, desde a ordem divina dada no Paraíso aos primeiros pais para
submeterem a terra, passando depois pelas determinações sociais da
antiga Lei e a mensagem trazida ao mundo por Maria Ssma. no Magni-
ficat, até chegar à Mater et Magistra. Conviría também uma introdução
que mostre que o pensamento do Concilio atual em matéria de econo­
mia está em harmonia com a doutrina contida nos textos revelados e
ensinada pela Igreja no decurso dos séculos, como provam as obras os
Santos Padres, dos Doutores, os documentos conciliares passados e as
encíclicas sociais dos últimos papas. 2) Seria bom subhn ar, apcj>
200 [. Crônica das Congregações Gerais
descrição do atual estado social e econômico, que a questão operária
que nos nossos dias concerne não só aos operários na estrita acepção
do têrmo mas também aos artesãos, aos agricultores e à grande parte
dos intelectuais, ainda não foi inteiramente resolvida. Há, com efeito
católicos “progressistas” que censuram a Igreja pelo fato de ela che’
çar sempre tarde nas questões sociais e a acusam de querer contem­
porizar entre o capitalismo e o comunismo, i. é, criticam a Igreja dè
favorecer antigos liames com o regime do capitalismo e, ao mesmo
tempo, de não ajudar suficientemente o regime dos tempos modernos
que é o regime do coletivismo e do materialismo. Naturalmente, não
posso silenciar os indubitáveis bens e privilégios que esta emulação acar­
retou para a classe operária, embora não faltassem ingentes danos
por ambos os dois sistemas. Entretanto, a questão operária não foi ain­
da solucionada nem pelo capitalismo nem pelos regimes coletivistas e
materialistas. E’ o que confirmam as inquietações, as desilusões, o can­
saço. a desconfiança que reinam no mundo do trabalho e em tôda
a parte. Ao meu ver, a razão dêste dúplice fracasso está em que am­
bas as duas concepções se inspiram numa filosofia individualista e
ambas as duas carecem do devido respeito à pessoa humana, humi­
lhando a sua dignidade e submetendo-a à matéria. A estas duas visões
falsas e falidas da economia e das relações sociais é necessário opor
a sã doutrina da Igreja, fundada na realidade do homem remido e san­
tificado: é a única concepção exata do homem. Conviría falar duma
nova pessoa social capaz de instaurar uma nova ordem segundo as
diretrizes da encíclica Pacem in Terris. “Hic erit mundus novus cum
regimine novo!”
187) Cardeal Jozef CARDIJN, da Bélgica (texto completo): Na
minha intervenção precedente (cf. n. 91), falei dos jovens e dos po­
vos do terceiro mundo. Permiti-me hoje falar dos operários que penam
no mundo inteiro. Em nosso tempo, em todos os países, o número dos
operários cresce de dia em dia. Do seu trabalho depende a sorte e o fu­
turo do mundo como da Igreja. Diante da evidência dêste fato, nosso
Concilio deve dirigir-se aos operários do mundo inteiro em têrmos me­
nos teóricos que realistas. Mais do que os outros, êles esperam a men­
sagem do Concilio, como a voz de Cristo que exclamava: ‘‘Tenho pie­
dade desta m ultidão...”. De certo, em alguns países da Europa oci­
dental e da América do Norte e na Austrália, a situação dos operá­
rios conhece grandes progressos.
Mas a maioria — e mesmo a maior parte — dos operários conhe­
cem atualmente condições de trabalho e de vida pessoal, familiar, so-
ciai, cultural e freqüentemente também política, que são deploráveis
e gravemente injustas. O salário é com freqüência irrisório; a Prep '
ração para um trabalho qualificado e verdadeiramente humano e
ou insuficiente; as máquinas impõem aos homens e também às mu e
um trabalho demasiado rápido e carecente de segurança; a parahsaç
do trabalho ou as interrupções de trabalho são impostas unilateralme
aos operários sem conveniente compensação; os sindicatos destinado
e en er os direitos e as responsabilidades legítimas dos operários
us ra a hos faltam ou são interditados; impõem-se aos operários
ocamen os cada vez mais numerosos sem contemplação alguma P
A Igreja no Mundo de Hoje 201
com as suas vidas familiares* n •• ,
cão e a instrução Ho= f;iu -° al°Jamento. a ahmentaçao, a educa­
d a s de v da e £ t r l m 830 de,eituosas- Estas condições infra-hu-
enumerar e aue afetam • a , <Iu.e’ Por falta de tempo, não podemos
tituerr^oara o m.mH lnun>eráveIS operários e famílias operárias cons-
o homem e contra Deus'" ^ PeCad° UmVerSal 6 gravÍ8simo contra
ara criar novas condições de trabalho, os operários do mundo in­
teiro conscientes da sua solidariedade, devem primeiramente se unir
e colaborar com liberdade e em paz. Além disso, devem colaborar
eficazmente com os podêres públicos, nacionais ou internacionais e com
os dirigentes do mundo econômico e social. Porque é bem certo que
os operários serão liberados pelo trabalho e pela ação dos operários
— e neste esforço difícil mas necessário, que corresponde à economia
divina, a Igreja deve manifestar-lhes solenemente a sua confiança
e a sua aprovação. Que por meio dêste esforço os operários aspirem
a condições que melhorem não apenas as suas próprias vidas, mas
também as de todos os homens, sobretudo daqueles que, nos países
do terceiro mundo, sofrem nas piores condições. O Concilio conjure
aos chefes de emprêsa para tomarem consciência de suas gravíssimas
responsabilidades com relação aos operários e de tomarem em consi­
deração a doutrina social que o Magistério da Igreja elaborou no decor­
rer dos séculos, sobretudo de Leão XIII até ao nosso Papa Paulo VI.
Na renovação da disciplina cristã que se efetuará após êste Concilio
Vaticano, de acôrdo com as suas constituições e decretos, será certamente
necessário que no seio das comunidades cristãs se considere como pe­
cado grave tudo o que, no plano do trabalho humano, fôr contrário
a essa doutrina social da Igreja. Digo-o mais uma vez: a Igreja que
ama os operários como o Nosso Senhor Jesus os amava deve estar
convencida de que os operários são e devem ser seus próprios liberta­
dores. Como disse Pio XI, “os primeiros apóstolos, os apóstolos ime­
diatos dos operários serão os próprios operários”. A Igreja lhes re­
pete êste convite com amor e insistência. O mundo foi salvo por Jesus
operário, Messias dos homens e Filho de Deus. Da mesma maneira,
o mundo de hoje deve ser salvo por operários que tenham interêsse na
salvação da humanidade inteira e na promoção da fraternidade uni­
versal na paternidade de Deus.
Veneráveis Padres e caríssimos Irmãos, nesta Constituição pasto­
ral desejamos iniciar com os homens de hoje um diálogo fraternal que
não seja acadêmico mas que impulsione eficazmente para a ação. Peço,
portanto, que nesta Constituição se insira — de maneira que a Comissão
julgar oportuna — um convite solene a tôdas as autoridades do mundo
inteiro, religiosas ou políticas, privadas ou oficiais, nacionais ou in­
ternacionais, para que, renunciando às suas dissensões presentes, coorde­
nem sem dilação e eficazmente tôdas as imensas possibilidades atuais
tanto do mundo criado por Deus como dos esforços dos homens, para
a liberação e a promoção dos jovens, dos operários e do terceiro ™ n'
do. Ao fazer isto, o nosso Concilio Vaticano cumprira a sua mr»a
pastoral, os que dirigem os assuntos humanos prestarao o ™al
ao bem comum e, nesta reconciliação geral-e eficaz concord.a, a
Concilio - V — 14
202 I. Crônica das Congregações Gerais
nomia divina progredirá, coni a ajuda de Deus, para novas vitórias
na história dos homens.
188) Gerald MAHON, Superior Geral da Sociedade de São José
de Mill Hill (texto completo): O mundo de hoje espera da Igreja no
campo sócio-econômico duas coisas: 1) clara enunciação dos princípios
essenciais e 2) ação concreta como corpo universal (e não apenas através
de seus indivíduos ou outras instituições na Igreja) para, na medida do
possível, pôr em prática êstes princípios. Esta esperança do mundo mo­
derno se refere sobretudo ao problema da fome e da pobreza. Dêste pro­
blema o nosso esquema trata com freqüência e bem e indica clara­
mente os princípios para a sua solução. Entretanto, como se diz no n
32, “os bons sentimentos não bastam: é necessário também que todos
conjuntamente se lancem à açãoM. Que ação, pois, poderá empreender
a Igreja? Proponho — como ontem fizeram muitos Padres — que en­
tre os elevados Secretariados da Igreja se crie uma estrutura ou um
Secretariado permanente para promover a paz social no mundo. Entre
outros fins, êste Secretariado poderia cumprir quatro funções que ex­
porei brevemente:
1) Este Secretariado poderia propor claramente ao mundo os prin­
cípios morais contidos no nosso esquema e nas encíclicas Mater et
Magistra, Pacem in Terris, bem como as alocuções de Paulo VI, so­
bretudo as proferidas na Índia. Assim, poderia mobilizar tôdas as for­
ças morais e os meios da Igreja (“opes Ecclesiae”) para tolher do
mundo a pobreza. Veneráveis Padres, na III Sessão dêste Concilio, hou­
ve 22 intervenções acêrca da pobreza no mundo. Ora, desde a última
vez em que nós discutimos esta questão, 35 milhões de sêres huma­
nos morreram de fome. Atualmente, 400 milhões têm fome e 150 mi­
lhões sofrem as conseqüências da má nutrição. O Secretariado perma­
nente provaria com tôda a clareza ao mundo que a Igreja reconhece
as imensas dimensões dêste problema e com aflição o considera e tra­
duz na prática.
2) Agora vou falar como missionário. Êste Secretariado poderia
aportar uma verdadeira e importante ajuda aos esforços dos missio­
nários para combater a pobreza. Nos territórios de missão, há uma in­
gente multidão de sacerdotes, frades, freiras e leigos que bem conhe­
cem essas urgentes necessidades das regiões pouco desenvolvidas e lu­
tam com ardor para lhes prestarem todo auxílio. Sem dúvida, a preo­
cupação primária dum missionário não é tratar do desenvolvimento so­
cial. Mas os problemas sociais tomam uma importância maior dian
de condições incompatíveis com a dignidade humana. Portanto, os mi
sionários muito podem fazer no campo social — e, de fato, fazem,
tretanto, com demasiada freqüência (ai!), os nossos missionários '
vem viver sozinhos, isolados e desprovidos de meios. Por iss°> .0 ,
cretariado poderia pôr à disposição dêles informação e assistência
nica.3
3) O Secretariado poderia instruir os fiéis do mundo inteiro
bre o* deveres da justiça social internacional e da caridade. Desta*_ .
o Secretariado aportaria uma importante ajuda às obras de assis e
criadas pelos Bispos de numerosos países (Bishops Aid Age"
A Igreja no Mundo de Hoje 203
B.schoefliche H.lfswerke) que na atualidade com a maior caridade ajun-
tam o dinheiro necessáno. E’ isto extremamente importante porque M e
Z Z Tos ZBispos
ilarem ° n \ PrfdasC,Sam C-°m subdesenvolvidas.
regiões UfgênCÍa de maiores
Masrecursos°para a f­
peço encarecida-
mente que todos entendam bem: êste Secretariado não é uma obra de
caridade nem uma instituição entre outras muitas.
4) ^ste Secretariado, revestido da autoridade espiritual da Igreja,
poderia lembrar ao mundo dois princípios fundamentais a) O progresso
sócio-economico não pode ser separado do progresso cultural e espi­
ritual, pois não só de pão vive o homem, b) Todos os esforços para
tolher as causas da indigência e da fome não podem ter resultado sem
a conversão do coração e da mente. Esta conversão, nas regiões mais
desenvolvidas, deve mover os homens a dividir a sua própria abun­
dância e ciência com as regiões mais necessitadas. Com igual razão,
esta conversão entre os mais ricos das nações mais pobres os
urgirá a distribuírem equitativamente os benefícios do progresso entre
todos os seus concidadãos.
Concluo, pois, propondo: 1) Que o Concilio exprima claramente
o seu desejo de que seja criada na Igreja um Secretariado permanente
para promover a justiça social. 2) Para pedir a Deus esta desejada
conversão do coração, proponho que às missas do Missal se acrescente
uma “ad petendam iustitiam et caritatem in mundo”. O espírito desta
Missa estaria muito bem indicado naquela oração que se divulgara na
Inglaterra durante o ano dedicado a liberar do mundo a fome: “Con­
cede, quaesumus, Domine, ut digne serviamus aliis hominibus ubicum-
que ipsi vivunt et moriuntur in egestate et fame. Da eis per manus
nostras hac die panem quotidianum; ac per nostrum amorem et bene-
volentiam effunde super illos gaudium et pacem”. (Senhor, tornai-nos
dignos de servir os nossos irmãos que no mundo vivem e morrem na
pobreza. Dai-lhes hoje pelas nossas mãos o seu pão cotidiano e,
por nossa compreensão e amor, infundi-lhes alegria e paz).
189) Charles-Marie HIMMER, Bispo de Tournai, na Bélgica: Me­
rece aprovação a posição do Concilio (n. 76) de declarar-se em favor
do progresso econômico. Alegam-se aí dois elementos constitutivos da
lei fundamental dêste progresso: a) E’ preciso tender sempre mais para
o aumento de produção em proveito da humanidade, mas b) é pre­
ciso também que êste progresso não esteja orientado exclusivamente
para a obtenção de lucros e a dominação, e sim para o serviço do ho­
mem. Entretanto, esta teoria da produção poderia fundamentar-se me­
lhor se se recorresse à doutrina teológica cristã sôbre a criação: se­
gundo esta doutrina, Deus é criador de tôdas as coisas e, além disso,
o homem é chamado a participar desta ação criadora de Deus. Assim,
nesta perspectiva, podemos indicar o seguinte: 1) O fato característico
de nossa civilização industrial atual é que a máquina multiplica quase
indefinidamente o poder aquisitivo do homem. O homem passou do es­
tágio de simples artesão e mesmo de produtor ao estagio e-^na •
Pode realizar esta capacidade que Deus lhe deu de rans or
certo modo a natureza, a ponto de fazer dela uma *>egun , ‘ que
Dum minúsculo átomo, p. ex., êle tira uma tô(jaP uma região
com ela pode destruir, num abrir e fechar de olhos, tôda uma g
14*
204 I. Crônica das Congregações Gerais
da terra 2) Segundo a doutrina cristã, o homem recebeu de Deus com
relação à terra, a altíssima vocação de submetê-la para si. O ra' esta
vocação consiste, em primeiro lugar, na participação na obra criadora
de Deus (SI 8,7), porque Deus, ao criar o homem à imagem e seme
lhança sua "quoad esse” e “quoad agere”, uniu intimamente o homem
à sua perene ação criativa. Mas, ao mesmo tempo que transforma pro
gressivamente a natureza das coisas criadas, êle deve adquirir sem­
pre mais o domínio de sua própria natureza. Do contrário, o seu domínio
sôbre a matéria será uma ilusão e se tornará escravo da natureza
3) Infelizmente, o homem, na sua obra de transformação da matéria
esqueceu-se de Deus e, assim, procura quase exclusivamente a pro­
dução sempre mais eficaz e mais rápida dos produtos materiais. Os
investimentos e os bens de consumo aumentam quase ao infinito. Exis­
tem muitos sintomas dêste fato tanto no mundo capitalista quanto no comu­
nista. O mundo capitalista está impregnado do espírito do lucro e do
desejo de aumentar o bem-estar material. Tudo isto destrói o espírito
de “criatividade”. Os homens, p. ex., se associam não tanto para pro­
duzir novas invenções nem para levantar as nações indigentes da po­
breza, mas só para lucrar mais e fruir mais. Na mesma linha se cons­
tata nas nações ricas uma excessiva busca de segurança, o temor de
procriar filhos, a perda da alegria da paternidade, etc. Mas também
o mundo marxista desconhece Deus e desdenha os direitos da pessoa
humana, embora muito se fale lá da ideologia do “homem produtor”.
Sòmente a abundância material e o prestígio da nação é que contam.
E isto é uma nova forma de escravidão. 4) Concluindo, a Igreja deve
insistir na doutrina de Deus criador e sôbre a participação do homem
na obra criadora divina. Não é que sejamos inimigos do progresso.
Ao contrário. Consideramo-lo uma colaboração na ação de Deus. Mas
precisamente em razão dêste liame com Deus ensinamos que o homem
se torna tanto mais poderoso sôbre a matéria, quanto mais cônscio se
torne de sua alta dignidade e de sua maiuscula responsabilidade. E’
mister lembrar que Deus, ao criar, fêz tudo por amor. Deus criou não
para aumentar a sua própria felicidade mas para o bem dos homens
(Si 144,17). O homem criador deveria imitar a Deus neste ponto.
190) Manuel LARRAIN ERRÁZURIZ, Bispo de Talca (no Chile) e
Presidente do CELAM (texto completo): Falarei do capítulo III da
segunda parte do esquema que trata da vida econômico-social e, es­
pecialmente, do parágrafo 77, referente ao progresso econômico. A nu
nha intervenção deseja mostrar qual é a responsabilidade dum Pas or
das imensas terras da América Latina, onde, entre as numerosas ques­
tões que requerem hoje a sua solicitude pastoral, convém lembrar so
bretudo o seguinte problema: o da vida econômica e social, QJ,e . n ,
nosso Continente latino-americano constitui hoje em dia o Pn ”c^
perigo para a paz. O esquema fala das “regiões ainda em vias de e
volvimento . A dizer verdade, atrás dêsses eufemismos a0 |
para o nosso Continente — há uma horrível realidade para a Q
conviríam antes as palavras de “regressão” “infradesenvolvimento
•subdesenvolvimento” (“subdesarrollo”, “sottosviluppo”).
Êste subdesenvolvimento não constitui sòmente uma maiuscula an^
ça para a paz, mas já é em si mesmo uma ruptura da paz, se 0
A Igreja no Mundo de Hoje 205
dal Cira / def!niçã0 que dava recentemente o Cardeal Feltin- *'0 pro­
gresso é o novo nome da paz”! No entanto, o capítulo IM me ap a^
no seu conjunto,
„*’ porque,
7 ’ , por . umàa Pane,
narte propoe
m w .» sobre
J , k a vida -
j econo-
Uma doutr,na qüe leva a marca dum domínio cres­
cente do homem, e porque, por outra parte, indica muito bem que o
progresso nos métodos de produção e nas trocas de bens e de serviços
íaz -da ?coÜomia
da família humana.um instrumento apto para satisfazer as necessidades
Entretanto, na sua primeira secção, consagrada ao "desenvolvi­
mento econômico , me agradaria que se acrescentasse uma declaração
mais clara^ ou, melhor, mais densa sôbre a doutrina cristã do "desen­
volvimento , na qual se indicariam pelo menos os princípios gerais sô­
bre os que se fundamenta êste desenvolvimento. Parece-me que se de­
veríam enunciar quatro princípios, que vou enumerar. Antes, porém, devo
fazer observar que o Cristianismo tem do desenvolvimento uma coth
cepção que não é outra senão a concepção humana, mas animada e pu­
rificada por êle: a graça não destrói mas aperfeiçoa a natureza. Eis,
pois, os princípios gerais que, segundo o meu parecer, deveríam ser
lembrados neste capítulo:
1) O desenvolvimento não é sòmente um fato: é realmente um “di­
reito” — o direito para cada indivíduo de ser integralmente uma pes­
soa e o direito para cada nação de ser um povo independente. Assim,
êste desenvolvimento implica um tríplice direito: a) O direito ao desen­
volvimento histórico querido, porque, aqui igualmente, não avançar é
recuar; b) o direito de aceder aos novos progressos da ciência e da
técnica, e c) o direito para os povos subdesenvolvidos de saírem de
sua injusta situação.
2) Sendo o desenvolvimento um direito, é também, correlativamente,
um dever. Como declarou Pio XII numa alocução (12 de abril de 1958),
é mesmo um dever de estrita obrigação moral para as nações ricas de
prestarem ajuda às nações pobres. No espírito da encíclica Mater et
Magistra, esta obrigação é também um verdadeiro dever de justiça,
em razão da solidariedade humana, da necessidade da paz entre os
povos, e — para os cristãos — em razão dos liames múltiplos e pro­
fundos que os unem no Corpo místico de Cristo.
3) O desenvolvimento deve ir para além do simples desenvolvimento
econômico. Pois o desenvolvimento deve ficar submetido ao homem —
ainda mais, é uma atividade humana que deve responder à tríplice
fome que angustia os homens e a sociedade: fome física, cultural e
espiritual. Como bem diz o esquema: "A lei fundamental do progresso,
longe de consistir na busca do maior proveito ou do maior poder, e
estar ao serviço do homem inteiro — levando em conta as suas ne­
cessidades materiais como as suas aspirações intelectuais, morais e es­
pirituais, — de todo homem, de todo grupo de homens, sem distinção
de raças ou de continentes”. Não se trata^ sòmente dum aumento tt
posse, mas dum crescimento de perfeição: não sòmente ter mais • ‘
"ser mais”. O progresso deve ser uma verdadeira promoção «.
enquanto homem, segundo os seus valôres e tambtm s.egunio
rarquia de seus valôres.
206 I. Crônica das Congregações Gerais
4) Enfim, o desenvolvimento deve-se cumprir sem monopólio, mas
numa cooperação concreta entre indivíduos, sociedades e povos o
desenvolvimento é uma atividade humana e implica a responsabilidade
e o amor do homem. Não pode-se reduzir à assistência social ou à
esmola. E\ pelo contrário, uma comunicação mútua de pessoas e de
povos para realizarem convenientemente a vocação humana na histó­
ria, que é de humanizar o nosso planêta, a fim de que êle seja uma
pátria digna do homem, o qual, criado à imagem de Deus, deve ser o
vértice da criação, i. é, o seu rei soberano. O desenvolvimento deve
tornar o homem não sòmente mais rico ou mais cômodo, senão mais
homem para dominar a criação e fazê-la servir para a glória do Pai
Se êsses quatro princípios fôssem integrados mais clararaente no
capitulo, acho que a questão seria melhor tratada.
191) Bernardino ECHEVERRÍA RUIZ, Bispo de Ambato, no Equa­
dor: 1) No n. 84 se fala das grandes diferenças econômico-soriais en­
tre as distintas nações, mas nada se diz do fenômeno característico do
nosso tempo: a difusão da consciência social. O homem de hoje — quer
seja analfabeto ou culto, lavrador ou operário, cristão ou não — tem
íntima consciência de sua própria dignidade na vida social. Outrora,
às vêzes, se admitia uma certa diferença natural entre as diversas classes
sociais; hoje, porém, cada homem tomou consciência de sua dignidade
e de seus direitos. 2) As causas dêste fenômeno são múltiplas. Contri­
buíram para isto, sobretudo, o ensinamento dos papas, o desenvolvi­
mento dos meios de comunicação e o proselitismo marxista. Assim, esta
consciência social é atualmente tão profunda e espontânea, que não
mais bastam as considerações sôbre a desigualdade dos homens nem
as análises históricas ou sociológicas. O crescente sucesso do marxismo
no mundo se deve não tanto à eficácia dos modernos meios de comu­
nicação, quanto à conformidade dêste sistema com a atual consciência
social. Por isso, com temor e tremor deveremos confessar que o ho­
mem de hoje, sobretudo se é demasiado pobre e sofredor, é um membro
potencial do marxismo. 3) O mundo atual, portanto, não tem necessi­
dade de novas declarações nem pede teorias ou princípios: êle quer
é fatos, i. é, provas concretas do nosso amor. As Conferências epis-
copais que organizaram importantes obras de auxílio aos países do
‘Terceiro Mundo” deram neste ponto um eficaz testemunho. A Igreja
do Silêncio dá também um esplêndido testemunho pelo seu martírio vo­
luntário e, às vêzes, pela efusão do sangue. 4) Concluo pedindo, por
tanto, algo positivo e prático: a fim de que o Concilio Vaticano
levante um monumento da eterna caridade de Cristo, é necessário
como pediram já numerosos Padres — criar, o mais depressa possive^
um Secretariado internacional, junto à Santa Sé, que se encarregasse
promover, aumentar e dirigir a atividade da Igreja na solução da qu
tão social.
192) Antônio AROVEROS ATAÚN, Bispo de Cádiz y Ceuta, na
Espanha: O Concilio deve providenciar a proclamação de princípios g
rais que ofereçam a oportuna aplicação em casos particulares,
que nao possamos deixar de notar a difícil situação do mundo do>
0 9ue exige do Concilio orientações concretas capazes de P s„
graves o rigações de consciência no que se refere ao aspecto socia
A Igreja no Mundo de Hoje 207
sa existência. Mas as normas anrPc«n»oH.«
ereta obngaçao de consciência. Em vez Pdisso, a " S oS Concilio
Z £ S S T uma
deve ^respon-
con-
rando°uma tdoutS r<^Uemama.s™ profunda
doutrina exPectativas do mundo do
e respondendo da trabalho, elabo-
melhor maneira
possível - porque isso está dentro de suas possibilidades - às ne­
cessidades dos trabalhadores, para oferecer algumas soluções às ques­
tões mais urgentes e necessárias. Além disso, acho que se deveria one-
rar sèriamente a consciência dos católicos, assim como a de todos os
homens de boa vontade, para que cumpram seus deveres com respeito
à justiça social. Assim, se poderia expor brevemente os elementos es­
senciais da justiça social (p. ex., o salário vital e familiar), chegando
a determinar, no seu campo, os princípios da justiça comutativa e, fi­
nalmente, a especificar quais as obrigações que a consciência impõe
aos transgressores em relação aos que os defraudam. Algumas deter­
minações, embora pequenas mas claras e concretas — se fôr possível —
constituiríam uma resposta pastoral do Concilio ao mundo do traba­
lho que necessita de consciência social e que carece de tôda compreen­
são e consideração. Minha modesta experiência de trinta anos de con­
vivência entre patrões e operários me obriga dizer que o que uns e
outros desejam é que a Igreja, na medida do possível, desça à prática
e determine as responsabilidades das consciências que decorrem dos
princípios morais imutáveis da Igreja. Do contrário, se só ficarmos nos
princípios gerais, decepcionaremos os mais fracos e ofereceremos aos
poderosos um argumento equívoco em favor duma economia liberal.
193) Carlos PARTELI, Bispo de Tacuarembó, no Uruguai: 1) Êste
esquema fala muito pouco da agricultura e dos agricultores, o que, ao
meu ver, deve considerar-se uma grave omissão. Os agricultores cons­
tituem o 55 ou 60% da humanidade, enquanto nas regiões em desen­
volvimento atingem frequentemente 70%. A importância da agricultura
é provada pelo fato de que mais de 95% da alimentação mundial pro­
vém da atividade agrícola. Por isso seria oportuno tratar mais ampla­
mente a fonte da qual dependem em grande parte as indústrias e os
mercados. 2) Quanto ao problema da fome, há no mundo, segundo es­
tatísticas recentes da FAO, cêrca de meio bilhão de homens que sofrem
fome. Ôbviamente, o fato não é nôvo, mas é nôvo o conhecimento da
amplidão e gravidade do problema. Pois com o enorme aumento das
populações crescem também as necessidades e se torna necessário dar
impulso à agricultura para que não se vá de encontro a uma miséria
ainda maior. E’ preciso, sobretudo, emprestar auxílios de ordem téc­
nica, pois as regiões menos progredidas carecem de capacidade téc­
nica, recursos econômicos e, por conseguinte, de capacidade criativa,
mesmo que a terra fôsse boa. 3) Seja-me permitido agora manifestar a
FAO no 209 aniversário de sua fundação um louvor e um agradecimento
pelo constante e generoso incremento dado à agricultura dos povos em
vias de desenvolvimento e pela ação desenvolvida em fa\or o> P1 _ ■
sem jamais albergar intenções políticas mas so sentimento te
riedade. Completa-se também, neste período, o 5 . os CCi.
panha mundial contra a Fome promovida pela * . ^ espera
tólicos desempenharam grande cooperação e t a qua
208 I. Crônica das Congregações Gerais
mais 4) No concernente à educaçáo agrícola, deve-se dizer que
o problema da fome depende em última instância da agricultura ’ en
tão é mister que o agricultor esteja em condições de possuir: a) ' uma
vida no campo suficientemente tolerável, a fim de evitar as migrações
para as grandes metrópoles; b) instrução técnica, para que o tra
balho seja fecundo; c) subsídios que estimulem a sua atividade. Porque'
infeiiimente, os agricultores das regiões menos progredidas carecem dê
escolas, caminhos, médicos, eletricidade, etc. Muitos são também os
agricultores que vivem em completa solidão e grande necessidade, mui­
tas vêzes sem possibilidades de poder formar uma família. As *auto­
ridades civis deveríam, pois, em razão do equilíbrio geral, providen­
ciar meios econômicos que visem solucionar esta situação. Do contrá­
rio, a agricultura náo atingirá o desejado incremento. 4) Acêrca dos
latifúndios, de que se fala no n. 83, baste-me notar que êste ponto
deve ser completado com as afirmações da Mater et Magistra sôbre a
estrutura da agricultura. 5) Deve ser reconhecido claramente, além
disso, o direito de os agricultores se organizarem em associações, quer
para a proteção de sua profissão, quer para a solução dos seus problemas
econômicos (sindicatos, cooperativas). 6) Seria oportuno lembrar aos
agricultores a dignidade e responsabilidade de sua nobre profissão.
Por isso, é preciso que êles adquiram instrução técnica que os torne
cônscios e ativos cooperadores da divina Providência na alimentação
do gênero humano.
194) Ismaele Mario CASTELLANO, Arceb. de Siena, na Itália:
Entre as causas de inquietude no mundo moderno, o esquema sublinha
com razão o desequilíbrio existente entre a agricultura e as outras ati­
vidades (n. 75). 0 texto alude ao problema mas de maneira inepta
a pôr em evidência a vastidão e a gravidade dos problemas inerentes
à agricultura, pois o desequilíbrio em questão é pràticamente universal.
Enquanto todos admitem que a promoção da paz e a remoção da fome
náo se fazem sem o aumento da qualidade e quantidade dos produtos
agrícolas, assiste-se a um progressivo abandono das terras — sobretudo
por parte dos mais jovens. O Concilio não pode desconhecer o fenô-
meno do êxodo rural e do urbanismo, dadas as suas graves conseqüên-
cias materiais e morais. A gente do campo, pouco remunerada e entre­
gue a um trabalho duríssimo, cede, mais e mais, aos aliciamentos duma
propaganda subversiva (pense-se, p. ex., na Ásia ou na América La­
tina). O Concilio, em nome da justiça, deve conclamar as autoridades
públicas a que não tardem a intervir, na medida do possível, a fim e
remediar a situação e assegurar uma justa retribuição aos frutos a
terra. A Mater et Magistra pode oferecer mais duma sugestão a res
peito. Quando o Estado não pode intervir, por se tratar de contratos ou
mercados internacionais, a FAO pode exercer um papel útil, com
demonstram seus primeiros vinte anos de atividade. O Concilio ev
declarar com clareza que não bastam as ofertas voluntárias e Que
necessária uma autêntica solidariedade e efetiva cooperação aos nivei
nacional e internacional. Além disso, é preciso iniciar a obra de educa­
ção e de elevação dos lavradores, a fim de que — conscientes de s
dignidade e de sua responsabilidade - saibam unir-se em assoc.açoe
que es ajudem a defender os seus próprios direitos. Finalmente, c0
A Igreja no Mundo de Hoje 209

SoP0DordUea,DeS!rS°aUnenf«StarÍa dC COnC'UÍr ,embrand0 ^ue 0 Concilio


das Dooulacle^
^ ^ ruffif/ ^Uen°Ssao
- °perários mas devee sofrem
numerosíssimas ocupar-sepobreza
tambéme
necessidade. Que também os agricultores ouçam a nossa palavra deTom-
preensao, de justiça e de amor!
195) Alberto Corrado DE V1TO, Bispo de Lucknow, na Índia: O
esquema, ainda que brevemente, expõe nos nn. 76-86 claramente os
princípios ético-sociais cristãos. Todos os homens alegrar-se-ão so­
bremaneira quando ouvirem que o Concilio declarou que devem ser
removidas tôdas as grandes diferenças econômico-sociais entre os ho­
mens (n. 78) e que os bens da terra estão destinados para a utilidade
de todos (n. 81), etc. Entretanto, mesmo após estas declarações, sem­
pre haverá muitos homens injustos e muitas vítimas humanas da
injustiça e, da mesma forma, sempre existirão pobres entre nós.
Por isso, o esquema conclui muito bem tratando da atividade eco-
nômico-social e do Reino de Deus. Contudo, as palavras empregadas no
n. 85 são muito bonitas só para os Padres Conciliares e, sobretudo, para
os peritos e teólogos, admiráveis pela sua grande sabedoria! Mas
aquêles milhões de homens que nem sequer podem comer das vagens
que os porcos têm em abundância nem das migalhas que caem das
mesas dos seus senhores — êsses esperam muito mais dêste Concilio?
Por isso, gostaria de propor o seguinte para êste lugar: a) Que se
trate das obras de misericórdia corporais e espirituais, repetindo as
mesmas palavras de Cristo tais como foram proferidas por Êle. b)
Que se trate também das Bem-aventuranças, transcrevendo na integra
as palavras do Senhor, c) Que se exponham as obras de misericórdia
que a Igreja já realizou e que futuramente há-de realizar dum modo
mais amplo, melhor e orgânico, d) Que, de maneira expressa e enfá­
tica, se diga que as obras de misericórdia também fazem parte do
a posto lado dos leigos.

Cap. IV: A Vida da Comunidade Política


Quatro parágrafos sôbre a vida política nos nossos dias. a
natureza e a finalidade da sociedade política, a colaboração de
todos na vida pública e sôbre a Igreja e a Sociedade política.
Na redação anterior, discutida no ano passado, não se falava
dêste assunto. E’, pois, um texto totalmente nôvo, sôbre maté­
ria de grande importância (relações entre Igreja e Estado). Alas
houve apenas quatro intervenções orais. Del Campo pediu te
íinição mais clara do valor das leis fiscais; Beitia, da span ia.
opinou que o texto não concordava com os documentos pontifí­
cios e insistiu na Encíclica Q uas P rim as, que combate o
cismo e convida os Estados modernos a recon _e^?e,p
leza de Cristo e seu Reino representado pe a ^
da Polônia, quis saber que espície <!e colaboraçao se pode
210 I. Crônica das Congregações Gerais
um regime ateu, totalitário, que combate a religião; e Hurley
da União Sul Africana, lembrou que a Igreja, quando tiver qUe
entrar em desacordo com o poder público, deve comportar-se
como testemunha do amor de Cristo.
196) Abílio DEL CAMPO Y DE LA BÁRCENA, Bispo de Calahorra
na Espanha: O problema econômico-social é de tal modo importante’
que, sem uma adequada e satisfatória solução do mesmo, apenas pode­
remos lutar com eficácia contra o comunismo, porquanto — pelo me­
nos de fato — o seu principal e primeiro argumento se baseia na in­
justa estruturação econômica atual. Ora, muita coisa já se falou na
Aula sôbre as relações econômicas entre capital e trabalho, entre pro­
prietários e operários, etc.; mal e mal, porém, ouviu-se algo sôbre as
relações entre cidadãos e sociedade, entre indivíduo e administração
pública, entre particulares e o Estado. E’ dêste assunto precisamente
que gostaria falar. Não sob o aspecto técnico — do qual nem mesmo
uma palavra ousaria dizer — mas sob o aspecto moral. Ao meu ver,
falta no esquema uma clara e expressa declaração do valor moral das
leis fiscais e de sua obrigação em consciência. No n. 88 se alude a isto,
mas não basta. Seria desejável ainda algo mais amplo. O mundo eco­
nômico-social tem tanto pêso, que não se poderia tratar adequadamente
no esquema da vida econômico-social sem considerar sèriamente êste
aspecto moral do mesmo. Pois o Concilio, ao tratar matérias que lhe
são específicas, não pode deixar de estatuir os valôres morais da Eco­
nomia. Ora, no caso particular e concreto da legislação tributária e
fiscal, em numerosas nações — católicas, aliás — existe entre o povo
a comum persuasão de que as leis fiscais são meramente penais. Na­
turalmente, não admira que os fiéis pensem assim, pois até faz pouco
tempo era uma opinião muito comum entre os autores. Só em nos­
sos dias — não me atrevo a dizer em nosso tempo — é que se come­
çou a tomar consciência do valor moral obrigatório de tais leis. Diante
dêste fato, de cuja importância ninguém poderá duvidar, o Concilio
deve-se pronunciar. E’ verdade que sói argumentar-se que as leis eco­
nômicas e, concretamente, as leis fiscais — i. é, as que determinam e
exigem tributos e taxas — não raro são excessivas e injustas e, por
isso mesmo, não podem induzir obrigação em consciência. Acêrca disto,
devemos fazer notar o seguinte: a) Nem tôdas as leis são injustas, se
forem, então, enquanto tais, não podem obrigar em consciência. )
Quando se trata do valor moral e da obrigação em consciência das leis
fiscais, é mister considerar
------------ o- pproblema
i não só uada pane
parte dos cida
----- aos
que, em hinntoca
(JU e.
hipótese, estão
aoiXr. obrigados
~i_•__i_ a pagar os: __
. _____ impostos, mas *anl ^
mQC também
-ia parte do legislador, que em todo processo legislativo está
o rigado a promulgar leis justas e cuja obrigação em consciência a
bem o Concilio deve urgir, c) De per si, em geral e em princípio»
deve estar em favor da lei e do legislador, a quem favorece a PreSun^ L
jurídica, d) Hoje, com respeito a êste problema, estamo-nos move'
1 CárCU w v,c,oso”> 9ue só se poderá romper formando a consc' J\ h0
lfdos homens em relação a essas leis. Como conclusão, Pr°P a_
J n/ ou em °utro contexto se faça um clara e aberta a
o o va or moral das leis fiscais e da conseguinte obrigação e
A igreja no Mundo de Hoje 211

sermos
da fraudeconsolidar”^
e da injustiçavida3fqntn
econômico^8'
°m,co"soc,al'1°"'"a fidelidade'
reciproca “canonização
não 9ui-
legisladores Ç ’ "t0 da parte dos cidat»ãos quanto da dos
197) Eugênio BEITIA ALDAZABAL, Bispo de Santander na Es­
panha: A questão das relações entre Igreja e Estado (n 89) é ex
tremamente
wtocmA difícil, Fpois , devem aplicar princípios
vem apncar-se nrínrío* d°perenes
* mas, ao
mesmo tempo a sua aplicaçao reveste uma admirável variedade. Esta
matena tem sido md.retamente tratada já na Lumen Gentium no capítulo
dedicado aos leigos e à sua ação nas estruturas humanas. Aqui êste
problema é focalizado diretamente e esta intenção nunca será suficien­
temente louvada. As afirmações contidas no esquema são positivas e,
por isso, as subscrevo. Mas, ao meu ver, restam ainda certas “zonae
subobscurae que devem ser iluminadas à luz do Magistério. Em pri­
meiro lugar, a atividade dos católicos, como transparece no esquema
(n. 89), deve distinguir-se da ação própria da Igreja e sejam bem de­
limitados os diversos campos de atuação. Depois, não devemos es­
quecer a importância da defesa da liberdade para a implantação da
Igreja e difusão do Evangelho. Neste ponto é impossível prescindir dos
ensinamentos do Magistério autêntico: Non abbiamo bisogno sôbre o
fascismo, Mit brennender Sorge sôbre o social-nacionalismo, Quadragé­
simo anno sôbre as condições sociais e o comunismo ateu e, mui parti­
cularmente, a encíclica Quas pri/nas de Pio XI, que combate o laicismo
como “a peste do nosso tempo” e ao mesmo tempo convida os Es­
tados modernos a reconhecer oficialmente os direitos de Cristo-Rei e
da Igreja na sua missão de difundir o Evangelho, reconhecimento êste
que é simplesmente um direito e não um privilégio. No capítulo IV,
porém, nada se diz disto tudo, ainda que trate das relações entre Igreja
e Estado. O Relator explicou dizendo que aqui só se expõem “quae-
nam iura quae Ecclesiain societate publica sibi vindicat”. Ora, isto
não é inteiramente verdade, pois falta muita coisa acêrca desta ma­
téria no texto. Fala-se, sim, e até deseja-se uma cooperação entre
Igreja e Estado, mas trata-se apenas duma “sadia” cooperação. Pois
tristes acontecimentos históricos do passado o cesarismo, por uma
parte, e a apetência de privilégios na Igreja, por outra determinaram
tal estado de coisas, que hoje se prefere, se não o laicismo (“laicismus"),
pelo menos a laicidade (“laicitas”), i. é, excluir a presença oficial da
Igreja no Estado e liquidar (“verae liquidationi tradendo”) tudo o que
fôr contrato bilateral e concordatas ou que souber a profissão de fe
por parte do Estado. Sem dúvida, ninguém ousaria defender isto aber-
tamente aqui entre nós. Mas é o “clima” de que está embebido todo
o texto. São muitos os que gostam de superar a classica distinção en­
tre tese e hipótese, como se não existisse algo verdadeiro , objetiva-
mente verdadeiro, embora “hic et nunc” não possa aplicar-se. t assim
calando oo que
que é a ^critiprir1a.
verdade objetiva, podeexistir
acontecer que. com o publica,
decurso
caianao deixa de na consciência
do tempo, aca e q * . princípio diametralmente oposto,
enquanto surge com si principia sublata et
“Et hoc forse nullum m0^ en exposita ah Ecclesiastico Magistério”,
oblivioni dedita, non hussev 1 padres _ e[| entre f|M _
Ora, esta e a nossa angustia.
212 1. Crônica das Congregações Gerais
aue estamos dispostos a descobrir os sinais dos tempos, a admitir 0
fato quase universal do pluralismo religioso, a promover o ecumenismo
a excluir a violência e a coação, a adotar uma pregação humilde, a afas­
tar tôda honra e privilégio. E, entretanto, não podemos compreender
por que, para conservar esta atitude, seja preciso voltar as costas ao
claro Magistério eclesiástico na questão das relações entre Igreja e
Estado. Se olharmos os documentos, inclusive mais recentes dos Papas
veremos que a separação entre Igreja e Estado, em geral e como prin-
dpio, é combatida por Pio X, na encíclica Vehementer nos, com termos
que náo sem escândalo poderiam ser hoje promulgados. Vemos tam­
bém que a profissão pública e legal da verdadeira fé por parte do
Estado é considerada um dever (“ut officium”) por Leão XIII, Pi0 X,
Pio XI, (na Quas primas e na Dilectissima nobis dirigida aos católicos
espanhóis), Pio Xll (na alocução Ci riesce). Não pedimos que se faça
aqui uma exposição integral do problema nem que se apresentem os
argumentos clássicos dos especialistas em direito público. Mas bastaria
só uma linha ou umas poucas palavras evidenciando que Leão XIII,
Pio X, Pio IX e Pio XII não erraram no seu magistério nem na per­
cepção do espírito dos tempos modernos. Pedimos que brevissimamente
se apresente o critério reto em virtude do qual se faça constar se ainda
vigora esta doutrina do magistério, se ainda é desejável não só a in­
dependência da Igreja e o Estado mas também uma separação legal,
deve-se conservar — onde fôr possível e ainda vigora — a pública
profissão de fé ou de “confessionalidade”, se as concordatas possuem
ainda algum valor não só como “ius conditum” nem como princípio
de privilégios para a Igreja nem como mera sagração do cesarismo
estatal mas como fórmula jurídica aplicável aos Estados modernos e
principalmente como certa base de fecunda colaboração. Estas expli­
cações serão, ao mesmo tempo, uma lembrança de gratidão à memória
de tantos Pontífices e Prelados, "quibus fides commissa est et ad nos
usque transmissa opere et labore non levi”.
198) Antoni BARANIAK, Arceb. de Poznan, na Polônia (segue
o texto completo, pronunciado em nome do Episcopado polonês): O ca­
pítulo IV toca o gravíssimo problema da vida da comunidade política
e, sobretudo, da colaboração dos fiéis com a autoridade civil na pro­
moção do bem comum. Entretanto, o esquema explica de todo insufi­
cientemente que espécie de colaboração com um regime ateu, totalitário
e anti-religioso seja permitida e em que consista o bem comum. Quer di-
zer: 1) o bem comum consiste essencialmente nas virtudes, que mora
lizam a sociedade humana, e só dispositivamente nos bens materiais e,
por conseguinte, numa vida pacifica e agradável, como ensinam S. °
más e os Sumos Pontífices? 2) Ou consiste na livre produção dos bens
temporais, como ensinam os economistas do liberalismo? 3) Ou, P°r
»m, consiste na promoção do socialismo, segundo dizem os marxistas.
Êste defeito do nosso esquema com relação à noção de bem co
mum e da lícita colaboração com uma autoridade adversa à relig
talvez nao seja tão perigoso assim nas nações onde o govêrno na
extge dos cidadaos a não ser a colaboração na produção de bens
piritiidis e materiais que vise o proveito dêles mesmos e uma '
de paz e mais agradável para todos.
A Igreja no Mundo de Hoje 213
tãos vive ainda hoje ^t^retrim es d° Illu.ndo e notável parte dos cris-
cidadãos uma colaboração direta Mrag\n * L qU-e impõem a todos 08
cialismo como supremo bem comum p mtroduzl^ ,e promover o so-
entendem
propagam. o materialismo ateu mm
lena,lsmo atea- que *ieles^°Tnao
- soc,al'smo êsses regimes
apenas favorecem mas
rem na
rem na consecução
consecucã^^ct^1*6 n^° es*afinalidade.
desta perversa PerniitidoMas,
aos por
cristãos
outrocolabora­
lado é
.gualmente certo que os cristãos podem colaborar também com o regime
ateu em atividades verdadeiramente honestas e que estão destinadas ao
proveito dos cidadaos e construção da nação. Contudo, os cristãos
que vivem nessas nações — sobretudo na Europa Oriental — pedem
do Concilio que os esclareça se e como seja lícito colaborar com se­
melhante regime em atividades que são boas em si mas serão utiliza­
das por êstes governos principalmente para um fim último perverso,
i. é, para introduzir o ateísmo ou alcançar outro objetivo criminoso, p.
ex., extirpar outras nações como tentaram os nazistas de Hitler na
última guerra.
Torna-se necessário, portanto, que, ao se determinarem as obrigações
de todos os cidadãos — e, por conseguinte, também dos cristãos —
no concernente à colaboração com os regimes dominantes, se faça
distinção entre os Estados que professam — ao menos implicitamente
— uma doutrina igual à da Igreja sôbre a origem, aplicação e fina­
lidade de tôda lei, e os Estados que, imbuídos de teorias atéias, não
possuem da parte de Deus direito algum verdadeiro de governar, a
não ser pela violência de armas coercitivas que constrangem os sú­
ditos para cooperar. Enquanto no primeiro caso a Igreja — que
ensina no Concilio — sem hesitação alguma pode afirmar que “os
cidadãos estão obrigados em consciência a prestar obediência” (n. 67),
no segundo caso, pelo contrário, deve resolver uma grave dificuldade e,
por isso, o esquema deveria esboçar algumas regras de como se de­
vem comportar os fiéis nessas circunstâncias.
Eis agora algumas observações a respeito de cada número do
esquema: a) Da doutrina contida no n. 89 é preciso dizer que,^ antes,
se trata duma belíssima explanação do mandato do Senhor sôbre a
humildade, paciência e amor — portanto, sôbre as virtudes cristãs
que os fiéis devem colocar como sacrifício de boa e heróica vontade
sôbre o altar das “novas condições”. Uma destas constitui a colabo­
ração com o regime ateu. b) De pouco servirá “deplorar a opressão
política que impece a liberdade civil e religiosa” (p. 68), enquanto
em outro lugar se confirma a origem divina de tôda autoridade po­
lítica (pois se diz que “pertence à ordem predeterminada por Deus )
e se urge a necessidade de que “o exercício da autoridade política deve
ser realizado dentro dos limites da ordem moral e ainda, u
mente, os fiéis são exortados, “porquanto estão obrigados pe a
cia do dever”, a harmonizar a autoridade com a liberdade e a reconhe­
cer as opiniões discordantes entre $i acêrca da or*a™za^ e a
dade temporal. Mas de nôvo volta a questão, como descritas?
colaboração ativa e positiva dos fiéis nas circunsta c
214
I. Crônica das Congregações Gerais
A conclusão é a seguinte: A Comissão que está incumbida do grave
encargo de revistar e completar êste esquema seja encarecidamente
convidada a que, no capítulo IV da segunda parte, apresente de algum
modo a doutrina da igreja sobre a colaboraçao com os regimes ad-
versos à religião e ensine solenemente aos fiéis os limites que a nin­
guém será lícito ultrapassar.
No texto, porém, que se encontra na p. 71, acrescentem-se estas
palavras: “Na verdade, as coisas terrenas e aquelas que nas condições
dos homens transcendem êste mundo, unem-se estreitamente __ e a
mesma Igreja usa os bens temporais enquanto a sua própria missão o
exige”. Não será, pois, lícito e se reprova todo gênero de discriminação,
se a igreja e seus institutos são injustamente privados pela autoridade
civil dêstes meios necessários. “Ela, porém, não coloca a sua esperança
nos privilégios oferecidos pela autoridade civil. Ao contrário. Ela re­
nunciará ao exercício de direitos legitimamente adquiridos, onde cons­
tar que o uso dêles coloca em dúvida a sinceridade do seu testemunho
ou as novas condições da vida exigirem outra disposição. De modo
algum, porém, recusa uma sábia colaboração com a autoridade civil,
mas, antes, muito a deseja, enquanto se tratar duma cooperação boa
e honesta tanto aos meios quanto ao fim. Mas é seu direito, sempre e
em tôda parte, pregar a fé com liberdade verdadeira e exercer livre­
mente a sua missão entre os homens, empregando todos e só os re­
cursos que estão de acôrdo com o Evangelho e com o bem de todos,
conforme a diversidade das condições e dos tempos”.
199) Denis Eugene HURLEY, Arceb. de Durban, na União Sul-
Africana: O capítulo IV é bom. 1) Mas, tratando das relações da
Igreja e a sociedade política, nem o texto nem as suas traduções de­
monstram muita prudência no emprêgo do vocábulo “estado”. Isto le­
va a equívocos: às vêzes, indica o conjunto da sociedade política
(n. 89); às vêzes, parece significar só o govêrno (n. 88). Ora, esta
ambigüidade não está isenta de perigo: o de confundirmos, quando fa­
lamos dos direitos do Estado na educação, os direitos de tôda a socie­
dade política com os da autoridade política. Por isso, seria preferível,
sobretudo nos documentos oficiais, evitar o têrmo “Estado” ou aplicá-lo
num sentido unívoco. Ainda que o texto não empregue êste vocábulo,
ao usar a palavra “res publica”, cai em idêntica ambigüidade: geral­
mente, o esquema significa com êsse têrmo o conjunto da socieda e
política; no n. 88, porém, parece indicar o govêrno. 2) O parágra o
dedicado às relações entre a Igreja e a sociedade política está exce
lentemente informado pelo espirito de “aggiornamento”. Não mais se
restringe às questões jurídicas entre as assim chamadas duas ^
dades perfeitas”. Esperamos que o têrmo “sociedade perfeita” de
pareça da nossa linguagem teológica, pois gera confusões na ^eter
naçao^ das relações entre a sociedade política e a Igreja. A Igreja e -
aedade so analògicamente — e a sua verdadeira essência Perrna" te
oculta no mistério de Deus. E’ também impossível dividir exatam
Whumana em esPiritual e temporal, pois todos os at0* a,
manos também pertencem à ordem espiritual por causa de sua orden
se confunde comíúvM»' 0 “ W política
a sociedade ™ bem em dizer
(n. 89). que «mfluir
Mas quer
A Igreja no Mundo de Hoje

que o uso deles coloca em dúvida a sinceridade do seu testemunho ou


as novas condições da vida exigirem outra disposição” (n. 89). Bem
dito. Mas é também necessário confessar que, apesar dos esforços
da hierarquia e dos membros da Igreja para evitar conflitos com o
poder civil, de fato se originam choques: quer porque se nega verdadeira
liberdade à Igreja, quer porque a Igreja se vê obrigada a defender
os direitos fundamentais dos homens ou a sã liberdade cultural, social
e política. No passado, nós talvez insistimos demasiado nos direitos da
Igreja e demasiado freqüentemente se repetia na Igreja e pelo Magis­
tério aquela cantilena: “Ecclesia sibi vindicat ius”. Futuramente, se Deus
quiser, pelo menos com idêntico zêlo cuidaremos dos direitos dos ho­
mens. E isto será — espero — o fruto dêste esquema. Contudo, de­
fendendo a liberdade da Igreja e os direitos dos homens, dificilmente
poderemos evitar novos choques com a autoridade civil. “Difficultas
nostra erit nosmetipsos in illis conflictibus gerere ut testes amoris
Christi”. Eis por que eu peço que se acrescentem, p. ex., no fim do
capítulo, algumas palavras do teor seguinte: “A Igreja, porém, não
pode intrinsecamente consentir que se lhe negue esta liberdade (i. é,
a liberdade de pregar a fé). Nem mesmo, pelo fato de ela ser Mãe e
Mestra de todos, pode tolerar as injustiças cometidas ou permitidas
pela autoridade pública sôbre homens de qualquer raça ou religião,
sobretudo sôbre os pobres. Contra êstes abusos do poder deve levan­
tar a sua voz e às vêzes inclusive chegará a criar conflitos com a
autoridade civil, sem, contudo, deixar de dar testemunho do amor de
Cristo”.

Cap. V: A Comunidade dos Povos e a Construção da Paz

cristãos (com dois parágrafos). O texto latino ocu


Igreja e os cristãos
pa dez páginas.
216 1. Crônica das Congregações Gerais
entrava na Aula Conciliar, começou o debate dêste importante
capítulo. Houve um total de 27 discursos. De modo geral 0
texto foi aplaudido por numerosos Oradores. Muitos, porém,
condenaram energicamente o conceito de “guerra justa” : Hojé
a guerra já não é mais um instrumento apto e lícito para re­
parar justiças violadas. Assim falaram os Cardeais Léger, Mar­
tin, Ottaviani (que desta vez foi aplaudido com sincero entu­
siasmo) e os Bispos Gouyon e Boillon. “Guerra à guerra!; jamais
a guerra”, era a tese que Paulo VI defendera na ONU e que foi
repetida depois no Concilio. Nem mesmo as guerras parciais, acres­
centaram Gouyon e Boillon. Mas o espanhol Castán e o italiano
Carli defenderam a possibilidade de guerras justas. Três Bispos in-
glêses se ocuparam com o problema das armas atômicas: Wheeler
e Grant contra e Beck a favor, em algumas situações particulares.
Também a questão da “objeção de consciência” foi tratada de ma­
neira contraditória: Alfrink, Léger, Grant e Beck a favor, dei­
xando-se às autoridades civis encontrar meios de evitar even­
tuais abusos; Castán e Carli, contra, pedindo cancelamento do
respectivo texto. Boillon, em discurso muito vivo e enérgico,
condenou a distinção entre armas convencionais e não-conven-
cionais. Castán e Cantero Cuadrado pediram uma palavra tam­
bém contra as guerras civis. Rusch, condenação formal e total
da guerra ofensiva. Ottaviani, enérgica condenação também das
guerras ideológicas. Wheeler recomendou mais ajuda às regiões
subdesenvolvidas no âmbito da mesma nação para evitar o ur­
banismo dos nossos tempos. Rupp tornou a pedir a afirmação
do direito à emigração. No n. 100 o texto fala da necessidade de
uma autoridade internacional, texto que foi louvado por Léger,
Duval, Ottaviani e Ancel. Pediu-se, porém, um modo de falar ainda
mais concreto, com condenação da inércia, do culto da anacrô­
nica autonomia dos Estados, do nacionalismo exagerado, do
egoísmo coletivo e do desprêzo da sociedade internacional. E
afinal Grant, Rusch, Brezanóczy e o Cardeal Martin sugeriram
a constituição de um Conselho de Paz ou de uma organização
que desse à Igreja a possibilidade de intervir junto aos organis­
mos internacionais. — São estas as intervenções desta manhã.
rnmníÍM ^an ALFRINK. Arceb. de Utrecht, na Holanda (texto
r . Pl 2 • cGostaria de falar sôbre o capítulo V da segunda pad
dos novos” ^ ema’ cuj° título é “a promoção da paz e da comum
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A igreja no Mundo de Hoje 217
espinhoso e sujeito a várias e divpro .
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tadas quoad singula puncta” nas três alíneas precedentes. Por isso
mediante esta transposição, o texto pode se tornar "nervosior, perspi-'
cuor et clarior . b) Em razão desta transposição, parece conectar me­
lhor a última frase dessa quinta alínea. Pois nesta frase se diz que
nenhuma nação tem o direito de se propor como objetivo a chacina
duma nação inimiga . Mas qual será a nação que se proponha essa
finalidade ou que pelo menos conceda que a completa “chacina duma
nação inimiga" seja o fim de sua ação? Eis por que esta frase parece
não ter sentido no contexto pelo fato de não atingir a ninguém. Mas
nas alíneas segunda e terceira dêste n. 98 se explica em particular o
que se entende por “chacina duma nação inimiga" (“internecio gentis
adversae”). Por essa razão esta alínea quinta seria melhor lida ames
da alínea segunda.
2) A minha segunda observação versa sôbre o n. 100. Nas linhas
29-35 se trata do emprêgo e da posse das armas modernas. Sem dú­
vida, esta distinção é muito urgente e tem grande importância. De
fato, nas atuais circunstâncias, a nossa paz — como se explica no n. 99
_ depende (infelizmente!) do assim chamado “equilíbrio do terror”.
Dêle com razão se diz no n. 99 que “os benefícios dêste duro estado,
se os há, são muito precários" e que “ninguém pode considerar tal
condição como uma base sã e eficaz para entendimentos internacionais .
Em semelhantes condições, com razão se afirma nas linhas 31 e seguintes
que “a posse dessas armas, para atemorizar o adversário, provido de
idênticos armamentos, não se pode considerar em si mesma ilegítima ^
Contudo, temo que esta afirmação do Concilio d_e ocasiao para mulnplas
e sérias dificuldades, porque semelhante af.rmaçao em valor cenameme
dentro dos determinados limites da condição atual, mas nao vale ■ !.-
mitadamente i é não é uma conclusão que decorra das precedentes.
Porque oo unico
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“equilíbrio do terror
freqüente e a d.mmmçao
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ram já Pio XII e Joao \*rr0T» encontraria fundamento para fa-
participar neste “equilíbrio d° que trata da posse
bricar e possuir armamentos " Q ‘ Constituição se imiscuirá em dispu-
liei,, destas arntas. E contra isto detentos ,0-
tas e controvérsias de naturez p nunca seriam levadas a pra-
solutamente precaver-nos. Aiem s em cujo favor tão viva-
tica a diminuição e aboliçao dessas arma
Concilio - V — 15
I Crônica das Congregações Gerais
216
na Aula Conciliar, começou o debate dêste importante
C""tu|0 Houve um total de 27 discursos. De modo geral o
texto foi aplaudido por numerosos Oradores. Muitos, porém,
condenaram energicamente o conceito de “guerra justa” : Hoje
a iaierra já não é mais um instrumento apto e lícito para re­
parar justiças violadas. Assim falaram os Cardeais Léger, Mar­
tin Ottaviani (que desta vez foi aplaudido com sincero entu­
siasmo) e os Bispos Gouyon e Boillon. “Guerra à guerra!; jamais
a guerra", era a tese que Paulo VI defendera na ONU e que foi
repetida depois no Concilio. Nem mesmo as guerras parciais, acres­
centaram Gouyon e Boillon. Mas o espanhol Castán e o italiano
Carli defenderam a possibilidade de guerras justas. Três Bispos in­
gleses se ocuparam com o problema das armas atômicas: Wheeler
e Grant contra e Beck a favor, em algumas situações particulares.
Também a questão da “objeção de consciência” foi tratada de ma­
neira contraditória: Alfrink, Léger, Grant e Beck a favor, dei­
xando-se às autoridades civis encontrar meios de evitar even­
tuais abusos; Castán e Carli, contra, pedindo cancelamento do
respectivo texto. Boillon, em discurso muito vivo e enérgico,
condenou a distinção entre armas convencionais e não-conven-
cionais. Castán e Cantero Cuadrado pediram uma palavra tam­
bém contra as guerras civis. Rusch, condenação formal e total
da guerra ofensiva. Ottaviani, enérgica condenação também das
guerras ideológicas. Wheeler recomendou mais ajuda às regiões
subdesenvolvidas no âmbito da mesma nação para evitar o ur­
banismo dos nossos tempos. Rupp tornou a pedir a afirmação
do direito à emigração. No n. 100 o texto fala da necessidade de
uma autoridade internacional, texto que foi louvado por Léger,
Duval, Ottaviani e Ancel. Pediu-se, porém, um modo de falar ainda
mais concreto, com condenação da inércia, do culto da anacrô­
nica autonomia dos Estados, do nacionalismo exagerado, do
egoísmo coletivo e do desprêzo da sociedade internacional. E
afinal Grant, Rusch, Brezanóczy e o Cardeal Martin sugeriram
a constituição de um Conselho de Paz ou de uma organização
que desse à Igreja a possibilidade de intervir junto aos organis­
mos internacionais. — São estas as intervenções desta manhã:
completo)- afin«tar^anHALr ^ 1Nlí’. Arceb- de Utrecht, na Holanda (texto
do nosso esouema •6 ?r ,s®bre 0 capítulo V da segunda parte
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datores trataram com ®'randa est‘ma êste nôvo texto, no qual os re-
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A ,greja no Mundo de Hoje 2|7
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melhores. Gostar,a de propor que a alinea quinta e última deste numero
seja colocada apos a primeira. Esta transposição comportaria duas
vantagens a) Neste caso, depois da introdução da primeira alínea dêste
número, os leitores teriam logo à vista as idéias gerais e fundamentais
que o nosso esquema quer apresentar e estabelecer acêrca da matéria
Pois esta quinta alínea estatui certas idéias fundamentais que são tra­
tadas “quoad singula puncta” nas três alíneas precedentes. Por isso,
mediante esta transposição, o texto pode se tornar “nervosior, perspi-
cuor et clarior . b) Em razão desta transposição, parece conectar me­
lhor a última frase dessa quinta alínea. Pois nesta frase se diz que
“nenhuma nação tem o direito de se propor como objetivo a chacina
duma nação inimiga . Mas qual será a nação que se proponha essa
finalidade ou que pelo menos conceda que a completa “chacina duma
nação inimiga” seja o fim de sua ação? Eis por que esta frase parece
não ter sentido no contexto pelo fato de não atingir a ninguém. Mas
nas alíneas segunda e terceira dêste n. 98 se explica em particular o
que se entende por “chacina duma nação inimiga” (“internecio gentis
adversae”). Por essa razão esta alínea quinta sena melhor lida antes
da alínea segunda.
2) A minha segunda observação versa sôbre o n. 100. Nas linhas
29-35 se trata do emprêgo e da posse das armas modernas. Sem dú­
vida, esta distinção é muito urgente e tem grande importância. De
fato, nas atuais circunstâncias, a nossa paz — como se explica no n. 99
— depende (infelizmente!) do assim chamado “equilíbrio do terror .
Dêle com razão se diz no n. 99 que “os benefícios dêste duro estado,
se os há, são muito precários” e que “ninguém pode considerar tal
condição como uma base sã e eficaz para entendimentos internacionais .
Em semelhantes condições, com razão se afirma nas linhas 31 e seguintes
que “a posse dessas armas, para atemorizar o adversário, provido de
idênticos armamentos, não se pode considerar em si mesma ilegítima ^
Contudo, temo que esta afirmação do Concilio dê ocasião para múltiplas
e sérias dificuldades, porque semelhante afirmação tem valor^ certamente
dentro dos determinados limites da condição atual, mas não va e 1 1
mitadamente, i. é, não é uma conclusão que decorra das precedentes.
Porque o único remédio contra o “equilíbrio do terror e a diminua
e abolição das armas modernas, como freqüente e c an*men ‘ , '
ram já Pio XII e João XXIII. Mas tôda naçao que julgar seii dev
Participar neste “equilíbrio do terror” encontrar,afundamento p, ^
bricar e possuir armamentos naquela frase do n. em jispu-
lícita destas armas. E assim nossa Constituição se 1 ^ devem0s ab-
tas e controvérsias de natureza política. Ora, c - das a prá-
solutamente precaver-nos. Além do mais, nunca . favor tão viva-
tica a diminuição e abolição dessas armas, ■ em cuj
Concilio - V __ 15
I. Crônica das Congregações Gerais
- « w aram os Pontífices. Eis por que proponho que as duas
? « t S s t a alínea segunda do n. 100 sejam banidas e, em
iúTuEar ^ repita o que Pio XII e João XXIII já disseram sôbre a
diminuição e abolição das armas.
3) De acôrdo com o titulo, o n. 101 trata de dois assuntos —
as guerras locais e as ações ligadas à guerra — que não chegam a
formar um só bloco. De fato, as atividades conexas com êste tipo de
guerras náo apenas pertencem às guerras locais, mas têm e podem ter
lugar em tôdas as guerras. Por isso, proponho que êstes dois assuntos
sejam claramente separados, de sorte que a alínea segunda e terceira
dêste n. 101 se tratem como parágrafos separados e munidos de número
próprio.
4) Seja-me permitido acrescentar outra observação acêrca dêste
n. 101. Na segunda frase da segunda alínea se diz que, “onde não
constar manifestamente uma violação contra a lei de Deus, deve-se
reconhecer a presunção jurídica cm favor da autoridade competente
e obedecer às suas ordens”. Esta afirmação é justa e verdadeira em
teoria. Mas na prática dará mais ocasião a dúvidas e mesmo a abusos
que auxílio às consciências humanas. Quem tiver conhecido por pró­
pria experiência o sistema dos Estados totalitários sabe e compreende
de que abusos estou falando. Por isso proponho que se omita êste
inciso e sòmente se retenha a segunda parte desta frase, na que os
dirigentes dos Estados são admoestados para que discirnam com pru­
dência suma e obrem de acôrdo com a lei moral. O que, porém, se
diz na mesma alínea daqueles que, por causa dos ditames da sua
consciência, não querem prestar serviço militar, acho que deve ser con­
servado no texto, pois a missão da Igreja é proteger a liberdade da
consciência humana. Quanto aos abusos que talvez se temem, as pró­
prias leis civis podem cortá-los.
5) Gostaria de pedir também que, na segunda parte do n. 100
ou em outro lugar dêste capítulo, se digam algumas palavras de lou­
vor às instituições científicas que fazem estudos em tôrno dos pro­
blemas conexos com a guerra e a paz. Pois a guerra e a paz não são
causas fatais que sobrevêm aos homens sem que êles as possam evitar.
A guerra e a paz têm as suas causas: bellum et pax non simpliciter
fiunt, sed ab hominibus efficiuntur! Atualmente, está a nascer uma no­
va ciência denominada “polemologia” que estuda e analisa as causas
e as leis da guerra e da paz para proveito da humanidade. Êste tipo de
instituições floresce sobretudo na América, mas também na Europa e
na minha Pátria estão se iniciando e desenvolvendo. Ao tratar da paz,
f £refa <^eve aplaudir, corroborar, encorajar e incentivar os cientis­
tas que neste setor trabalham em ajuda da paz.
hnrar ^ ,onde ** tra*a do dever que os cristãos têm de cola-
contra a ™ac,0naI<mei^e no campo ecumênico, repetidas vêzes se en-
"iustica” nii^Vra car.ldade” — e, certamente, com razão. Mas o têrmo
Nem sequer se acha uma v l T ° * empregaria- falta absolutamente.
gurnta
g secção ou
secçao ou^m ®'°f^ar'alugarde dêste
em outro pedir capítulo
encarecidamente
- p. ex., que
após nesta se-
a quarta
A Igreja no Mundo de Hoje 21'J
alínea do n. 91 se diga com clareza que tôda discórdia, tôda coação
tôda guerra, mesmo se na atual situação da humanidade não podem ser
absolutamente evitadas, pela sua própria natureza estão em conflito com
o espírito do Evangelho de Cristo. Guerras e Reino de Cristo se opõem
reciprocainente. A guerra, mesmo justa — se é possível falar nas cir­
cunstâncias atuais de guerra justa — vai contra o espírito do Evangelho
de Cristo. Não é tanto por causa das cruéis consequências que se devem
fazer todos os esforços possíveis para evitar a guerra, mas principal­
mente por que tôda guerra, pela sua própria natureza, está de qual­
quer modo em oposição com o espírito do Evangelho de Cristo. Que
a Igreja de Cristo não omita esta mensagem nas suas exposições sôbre
a guerra e a paz!
201) Cardeal Owen McCANN, Arceb. de Cape Town, da União
Sul-Africana: O esquema me agrada. Seus autores merecem louvores.
Por isso limitar-me-ei a fazer algumas observações ao n. 90 do ca­
pítulo V. O esquema fala repetidas vêzes do problema da pobreza e
da fome no mundo. E’ inegável que muito fizeram já o Papa, a Santa
Sé e outras organizações internacionais e nacionais para sanar êste
problema. Mas acho que está na hora de passar a algo concreto. Poderia
ser útil prever a instituição dum Secretariado junto à Santa Sé que
estude a coordenação de tôdas as possibilidades humanas para uma
justa distribuição dos bens materiais. Em vez de diminuir sua autono­
mia — como pensam alguns — aumentá-la-ia, porque seriam chama­
dos a cooperar com organismos civis numa melhor atuação de suas
responsabilidades apostólicas. O Secretariado, mesmo não dispondo de
abundantes meios materiais, poderá revestir-se de enorme fôrça moral e
favorecer eficazmente a solução dos problemas sociais mais urgentes.

15*
6-10-1965: 143* Congregação Geral
A Igreja no Mundo de Hoje
11 Parte: A Paz e a Guerra

P r e s e n t e s : 2.180 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Suenens. A sessão começou às 9
terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada por Dom Joseph
Cucherousset, Arceb. de Bangui, República Centro-Africana. Por
ordem dos Moderadores fêz-se esta manhã uma votação global
sôbre todo o esquema De Pastorali Munere Episcoporum in
Ecclesia (p. 368). Foi distribuído também o esquema De Educa-
tione Christiana, texto corrigido segundo os modos. Iniciou-se
esta manhã a votação do esquema De Accommodata Renova-
tione Vitae Religiosae, com a leitura duma longa Relação (cf.
pp. 369 ss). No mais, continuaram as intervenções orais em
tôrno ao último capítulo sôbre a Igreja no mundo de hoje:
202) Cardeal Achille LIÉNART, Bispo de Lille, na França (texto
completo): No mundo atual existe um doloroso contraste entre o vee­
mente desejo de paz que move todos os homens e o permanente estado
e guerra que por tôda parte está a pairar e que ameaça acabar na
ruma umvrersal. A Mãe Igreja, cônscia do perigo e fiel ao espírito do
seu ivino Fundador — que é o espírito da justiça e da caridade entre
os os homens procura sollcitamente estabelecer a paz, porque
e àPfome°nr ‘f er°Uf 3 ^uerra C0TT10 uma calamidade semelhante à peste
decurso dos ’ ^ et 06,10 ,ibera nos> Domine!") e porque, no
humana a guerra^ue 0? es!orçou em tornar Pel° menos mais
tempo, a lerei a l m„"a° pod,a evitar. Mas hoje, atenta aos sinais do
estender-se mais ia preende Q116 a sua doutrina e atividade devem
veis que“ ào aL „ írgam?nte- De fat0* Ja existem novas armas terrí-
bém aniquilar cidade P° em os combatentes, mas ameaçam tam-
pria terra. Seria um ’ ?ovoaç^es> regiões imensas e até mesmo a pró-
contra a mesma humanidln^0"*™ Deus’ Criador e Pai dos homens, e
não mais basta a distinr" causar semelhante destruição. Assim, pois,
considerar-se também os meinü^n guerra iu,sta e guerra injusta; devem
senão para estabelecer jus • iça.U Como
recursoêsteàs fim
armas não está
poderia permitido
ser alcançado
A igreja no Mundo de Hoje 221
nor meios inumanos? Acaso desencarnar
por causas legítimas, não se ^
pregar realmente tais armas? Já chegou, pois, o tempo em que õs íomens
nã0 ma.s procurem defender seus direitos - mesmo legidmos - ^ â s
arm3\ r “ " "as. iguerras
e que provocam r atentamente a« injustiças
e, com sentido que edirem
de justiça os povos
de sincera fra­
ternidade, se empenhem pacientemente em chegar a uma solução justa.
Em lugar de as nações atuais regredirem a uma barbárie pior que no
passado, devem demonstrar que são capazes de dar início a êste pro­
gresso verdadeiramente humano. Esta doutrina encontra um firme fun­
damento na encíclica Pacem in Terris de João XXIII, que há pouco
tempo o mundo inteiro acolheu com ânimo tão caloroso e que abriu
tão claramente o caminho a seguir. Nosso Concilio, pois, deve induzir
todos os homens a que sigam êsse caminho e a que colaborem unâni-
mente para afastar a guerra e edificar a paz, sobretudo nos organismos
internacionais que têm esta finalidade. Na minha opinião, o esquema
deve ser louvado porque ousou enfrentar audazmente esta espinhosa
questão e torná-la atual. Peço também que ainda seja aperfeiçoado,
sem nada atenuar da doutrina desta encíclica tão oportuna para o
mundo do nosso tempo. Exemplo duma ação concreta da Igreja em
favor da promoção da paz nos deu o Papa Paulo, “Caput nostrum
dilectissimum,,, que se dignou levar uma mensagem de paz à ONU. Nós
mesmo pudemos ver e ouvir de quanto pêso fôra aos olhos de todos
os homens esta intervenção tão discreta e humana e tão alheia a todo
desejo de domínio. Devemos seguir diligentemente êste exemplo para
apresentarmos um remédio à angústia do mundo e satisfazermos a
realização de suas aspirações.
203) Cardeal Paul Emile LÉGER, Arceb. de Montréal, no Ca­
nadá (texto completo): Gostaria de propor algumas observações em
tôrno do capítulo V, visando aperfeiçoar o texto, que já contém muitos
elementos ótimos.
1) A moralidade da guerra hoje em dia. As reuniões do Concilio
Vaticano II têm lugar precisamente nestes anos em que a humanidade
se defronta com o horrendo perigo de sua própria destruição. Nestas
circunstâncias, muitos desejam que o Concilio, dada a sua grande
autoridade moral, contribua para abolir a guerra e firmar uma paz
estável. E’ neste ânimo que muitos esperam dêle uma solene conde­
nação das guerras modernas e, sobretudo, uma reprovação das armas
e ações bélicas. O n. 98 do esquema quer responder a este voto Mas,
a meu ver, o referido parágrafo não pode ficar tal como esta redigido

ru -sss
Por causa de sua ambigüidade e inclusive de suas contradições in­
ternas. Por um lado, defende a tese daqueles que condenam abwluta-
Árs.
p „ ConcMio não p.d, — S T “« r 2 " ” ^
traditorias. O problema, sem d l^ ' novos As meSmas coisas mudaram
a questão se coloca hoje em termos a guerra em todos seus
de tal modo, que dificilmente s P teorja clássica. O número de
aspectos de acôrdo com as norma ona, nocividade dos arnia-
v't.mas, a amplidão das destruiçoes, violência. Ora, tendo mudado
uientos, etc., dão um nôvo aspecto
222
I. Crônica das Congregações Gerais
tão profundamente a realidade das coisas, a teoria clássica so­
bre a moralidade da guerra se tornou quase que irreale inaplicável.
Dificilmente portanto, se poderia apelar para ela neste esquema. Por
isso é minha opinião que, ao tratar da moralidade da guerra moderna
da guerra “total” e de suas armas, o Concilio não deveria entrar
na discussão técnica das condições da guerra assim chamada “justa”
e nem deveria condenar as armas em abstrato, como se faz no inicio do
parágrafo. Proceda-se de ottfro modo: em primeiro lugar, sejam lem­
brados. de maneira apropriada, os novos e ingentes perigos que as
guerras modernas comportam consigo; depois, com brevidade mas fir­
me e claramente, se declare apenas isto: que na prática tornou-se hoje
irracional considerar a guerra moderna como o instrumento adaptado
e lícito para reparar direitos violados.
2) Os deveres das Nações para com a autoridade internacional.
No n. 100, com razão o esquema proclama com firmeza a necessidade
duma autoridade internacional eficaz. Concordo com aquêles que dese­
jariam que o esquema afirmasse mais energicamente que todos os ho­
mens — principalmente os que regem os destinos dos povos — de­
vem defender e consolidar esta autoridade internacional. Em assunto
de tanta importância, uma exortação de índole geral, embora firme,
não basta. E’ necessário também que chamemos a atenção dos homens
para os diversos modos com que se pode prejudicar o bem da sociedade
internacional, como são, p. ex., a inércia, o culto da anacrônica auto­
nomia da soberania dos Estados, o nacionalismo exagerado, o egoísmo
coletivo e inclusive o desprezo da própria sociedade internacional.
3) A objeção de consciência. Agrada-me o que no texto do esque­
ma se introduz sôbre a assim chamada “objeção de consciência”. Mas
proporia que se mude o texto de modo que o motivo que leva a cons­
ciência cristã a agir desta maneira não pareça ser qualquer virtude
supérflua que se denominaria “doçura”, mas diga-se que a objeção
de consciência pode proceder da caridade cristã ou do espírito evan­
gélico de paz.
A) A colaboração dos católicos com os seguidores de outras re­
ligiões. No n. 103, o esquema convida oportunamente os católicos a
procurarem uma positiva e ativa colaboração tanto com os irmãos se­
parados como os homens de boa vontade. E isto, sem dúvida, de­
ve ser louvado. Mas não basta. E* preciso também que os católicos se
unam nesta ação com os seguidores de outras religiões não-católicas:
P; ex., com os budistas, entre os quais prevalece a teoria da não-
violência. Assim, o “homem religioso” será o companheiro do “homem
político nesta empresa comum para o obtenção da paz.
204) Léon-Étienne DUVAL, Arceb. de Alger, na África (segue
texto integral da intervenção, proferida em nome da Conferência Epis-
capa a África do Norte): Sôbre o capitulo V, que é bom mas deve
ser melhorado, gostaria de fazer notar o seguinte.
+T*iu h„«?a í,uestão ex>ge maior clareza de expressão, porque se
v a e n Perigo extremo Para tôda a humanidade. Em particular:
férrm * maic T * a Uma açao. comum para a paz deve ser feito em
segundo exniW C C°m mais viva insistência. N. 98: O parágrafo
mérdo° mttrnac,tjnal
inttrnacií ntinC?eS^
atual;dade
mas dese aportar
deveria mudanças
indicar emprofundas
que pecano êste
co-
A •greja no Mundo de Hoje
223
,08sa que separa
relação às nações ricas, as nações pobres se tornlm6™0'^ ™ ^ 0' C°m
pobres. N. 101 (cf. n. 30): O racismo que e o m a T c ceasa.r ma!s
da desordem
m.,ito geral
severa ee nao do
não em nosso tempo deve ser
em têrmos ifracos, como condenL^
ser condenado H
SaS pnnc,pais
muito severa no esquemaduma maneira
Deve-se es­
tigmatizar sua perversidade intelectual e moral: é um ' desprêz* do
homem e uma -njunapara com Deus. E' preciso insistir nas suas ter­
ríveis consequências. N. 98: O horror da guerra moderna náo é su-
ficientemente afirmado^ Dever-se-iam expor brevemente os efeitos pos-
tenores da radioatividade produzida pelas explosões atômicas, assim
como o perigo de envenenamento que ela pode comportar náo só­
mente para a vida do homem mas também para tôda a vida sôbre a
terra. N. 98. No terceiro parágrafo as palavras "conscientiam homi-
num non facile exonerari são muito ambíguas. Pedimos outra re­
dação, como p. ex., esta: “A guerra total, sejam quais forem as armas
empregadas armas termonucleares, armas “convencionais” de gran­
de poder, meios químicos ou bacteriológicos — deve ser rejeitada ab­
solutamente. De maneira alguma se pode absolver a consciência hu­
mana do emprego de tais armas, porque seu uso é intrinsecamente
perverso”.
2) Seria desejável que êste texto fôsse mais sintético na sua ex­
pressão, a fim de qua apareçam melhor as implicações que existem
entre o problema da fome, da ignorância, e o problema da paz. Isto
se encontra, certamente, no esquema (n. 99), mas com uma insufi­
ciente clareza. Primeira implicação: Por uma parte, a ausência de
equilíbrio econômico entre as nações ricas e as nações que sofrem
fome, miséria e ignorância acarreta um perigo permanente de guerra;
por outra parte, a absorção dos recursos intelectuais e dos créditos
para a preparação da guerra aumenta a distância entre os povos, tanto
do ponto de vista econômico como do ponto de vista cultural. Segun­
da implicação: Por uma parte, a falta de amizade entre os povos im­
pede o progresso da justiça internacional; por outra parte, a prepara­
ção da guerra aumenta nas nações pobres a consciência da injustiça,
da inveja, da cólera, e nas nações ricas o escurecimento da inteligên­
cia e a dureza do coração. O efeito mais perigoso da corrida dos ar­
mamentos é o progresso do ódio no mundo.
3) Êste problema da paz exige ser tratado dum modo mais po­
sitivo. Não basta condenar. A humanidade se encontra num circulo
vicioso, consequência duma situação depravada que é a herança dum
triste passado. E’ necessário criar uma nova ordem humana que rts-
Ponda às condições novas do mundo e que exclua todo recurso a qua-
quer guerra. E’ mister inventar “uma nova maneira de pensar (Einste ).
E' preciso instaurar novos costumes políticos. Que seq lembrem p a ­
lavras solenes aue acaba de pronunciar S. S. Paulo VI na Assem
bléia geral da ONU Esta profunda mudança requer a cooperação de
todos.7orisso, é aUtodol que o Concilio
responsáveis da política e da ec®n0^ laljsdtas para considerar o bem
'■ smo antiquado e as ideologias ma « (|j )(X)) 0 esquema afir-
comum universal da humanidade. Co™ idde pública internacional no
ma “a urgente necessidade duma aut
224
I. Crônica cias Congregações Gerais

atual’• seria muito útil afirmar fortemente o caráter anacrô-


mUn e muito perigoso de tôda teoria política que atribui ao Estado
Trliios absolutos ao ponto de excluir que haja contas a render a uma
autoridade internacional, b) Os sábios têm necessidade duma “éthique
de la recherche" (em francês no original); muitos dentre êles sentem
angústias de consciência; alguns, mesmo não-católicos, olham para a
Igreja. Esta ética concerneria: — À investigação pura: a ciência é um
valor universal; dai segue que os sábios têm o direito, em condições
determinadas e contanto que não haja perigos graves a temer, de
comunicar aos outros investigadores os frutos de suas descobertas;
igualmente, os sábios devem ter uma possibilidade real de dirigir suas
investigações com liberdade e não segundo o arbítrio de algum esta­
do político; a investigação científica jamais pode realizar-se em detri­
mento dos valôres humanos essenciais.
— À investigação aplicada: jamais é permitido empregar a ciên­
cia para fins perversos; a ciência não é feita para a destruição, mas
para servir a humanidade (cf. Alocução de S. S. Paulo VI aos radió-
logos, LVsservatore Romano, 29 de setembro de 1965). Os homens de
ciência têm o direito de advertir os podêres políticos dos resultados
das investigações científicas; devem igualmente formar a opinião pública,
c) Finalmente, todos os homens têm a obrigação de trabalhar para
uma construção “dinâmica” da paz. O mal está sobretudo nos espíri­
tos. As mentalidades individuais e coletivas devem ser mudadas pro­
fundamente. Cada homem, em seu lugar, tem algo a fazer, primeiro ele­
vando sua oração a Deus, mas também por um esfôrço de cada dia:
— Que cada um dirija a atenção de seu coração e de seu espírito
para os pobres, os infelizes que vivem junto dêle; outro tanto deve
se dizer de cada agrupamento humano. — Que êste testemunho de cari­
dade se faça com um espírito universal. Em outros têrmos, esta ação
para construir a paz deve ser simultâneamente concreta, i. é, deve
penetrar tôdas as circunstâncias da vida de cada dia — e universal —
i. é, deve no seu espírito e com a cooperação de todos os homens atin­
gir os problemas mundiais tomados em sua totalidade.
205) Gabriel GARRONE, Arceb. de Toulouse, na França: O texto
não carece nem de inspiração nem de equilíbrio. Mas seria preciso
dar-lhe mais unidade e maior “eficácia”. 1) No atinente à unidade
do texto, o coração de tôda a argumentação é uma justa noção da
paz. A primeira parte do capítulo mostra claramente o que é a paz e
tomo que pode ser estabelecida e mantida. Entretanto, a última
parte não parece estar religada à primeira parte e esclarecida por ela.
ra, deve-se ter na devida conta a presença de graves equívocos que
existem^ no espírito de numerosos homens. Para êles, a “paz” é sòmente
a ausência de guerra” ou consideram o mêdo da guerra como amor
pe a paz. Ora^ jamais os riscos da guerra serão esconjurados se todos
os estorçosi nao forem unidos com o fim de estabelecer a justiça e le-
nr a dom*nar as suas próprias paixões — o que não se
nfLtaQ n l 3 a^uc*a Cristo, o autor da paz. Estas verdades ex-
eunda parte <,° caPltu^° V estão subentendidas na se-
eíicácia d. 8. dvr nam Ser exPressamente citadas. 2) No referente a
ver da na? «5*°’ na<\ Se pode ne£ar que as suas insistências no de-
oportunas, mas ainda imperfeitas. Para que o texto
A Igreja no Mundo de Hoje 225
se torne eficaz , êle deve exDrimir-*^» h» • •.
expor claramente as obrigações que hoie ,sftCI-ra pos,t,vf e> sobretudo,
dos responsáveis pelos destinos dos povos Por 'jssíThaveri consc,ências
eentar ao texto uma formulação Is lo * ^
dingentes das nações estão gravemente obrigados a fazer todo o pp£
Sivel para por fora de lei” a guerra, mesmo se isto implicar na re-
nuncia, por pa te de cada Estado, ao seu “império militar". (“Omnia
facienda sunt sub gravi ab his qui populos moderantur ad hoc ut bellum
‘extra legem ponatur, et.amsi hoc fieri nequeat quin unusquisque Sta-
tus ‘summo suo império militari’ pro parte renuntiet”)
206) Franz SIMON, Bispo de Indore, na índia.' O esquema, nos
nn. 61 e 96-97, nao parece levar sèriamente em conta o fato da ex­
plosão demográfica. Esta atitude lembra aquela que no passado a
Igreja assumira diante do evolucionismo, dos estudos críticos da Bí­
blia, etc. — o que levou muita gente a se afastar dela. E’ verdade
que as riquezas do planêta estão ainda inexploradas. Mas não se pode
confiar nelas porque de per si não são inesgotáveis. Por outro lado.
é já fato que os homens, perante o aumento da população, solucionam
o problema aplicando o contrôle da natalidade. Mas, mesmo que não
se limitassem os nascimentos, o problema resta igualmente grave, por­
que nas atuais circunstâncias o aumento da população torna-se verti­
ginoso e prevê-se em alguns decênios a duplicação dos habitantes da
terra. Há ainda o fato das conquistas da medicina que reduz notàvel-
mente o índice da mortalidade e constitui um fator de sempre mais in­
tenso multiplicar-se do gênero humano. Daí a obrigação de encontrar
uma solução: “Immo in tali casu tandem obligatio moralis gravíssima
oriretur incremento humani generis finem imponendi”. Ora, não bas­
tará apelar para a natureza biológica humana para que revele a obri­
gação moral ou a vontade de Deus. “Quaestio est de constantia”. Nós.
cristãos, sabemos que o não-uso dos órgãos sexuais é moralmente li­
cito. Mas os hinduístas em geral, os antigos judeus, etc., considera­
vam uma grave obrigação moral o matrimônio e a procriação. Ora,
se o não-uso dos órgãos sexuais não pode ser tido como pecado grave
de omissão, então como é que se poderá denunciar o uso parcial pelo
qual, no matrimônio, por motivos honestos, ‘ aliis naturae finibus ser-
vatis, unus finis ad tempus excluditur”? Ou os fins mais importantes
da natureza biológica se equacionam com a vontade de Deus e então,
no caso do não-uso, se peca gravemente por omissão ^ e, no caso do
uso parcial se comete provàvelmente um pecado grave, prop er rus ra
tionem unius finis” ; ou os fins da natureza biologica naoi se equacio
nam com a vontade de Deus — e então, em ambos os casos, se pode
optar por razões honestas, na im-
ngir. Portanto, “constantiae causa , se dev ’ . , p, triitiira do
Portantes da natureza - que “ c0Hj“ ,e^ nênte‘ equacionados com a
eorpo humano — nao hao de ser s P „ex4 a|jo capjte”. para
obrigação moral. Esta obrigaçao deve caminho parece ser
conhecer a fonte da obr.gaçao .moral o me. ^ ^ homens reco_
eonsiderarmos atentamente as leis J a obrjgatoriedade das leis
nhecem como tais. Ora, os homen )er ou procurar um valor hu-
m°rais naturais da necessidade de tuendum vel procuranduni ).
niano maior (“bonum maius nume
226
I. Crônica das Congregações Gerais
p rtanto as leis da natureza foram feitas para os homens e não os ho-
ns oara as leis da natureza. Se, pois, o dever de defender ou procurar
™ valor humano maior é a fonte da obrigatoriedade moral, então
também os limites destas leis devem ser tirados dessa mesma fonte.
Isto é algo que deveria merecer maior atenção da parte dos moralistas.
Os próprios moralistas católicos admitem que as leis da natureza con­
sentem exceções: p. ex., muitos são os casos (injusto agressor, guerra,
execução de malfeitores) que eximem da lei natural de não-matar. O
sentir comum dos homens, porém, vai mais longe: em certos casos,
permite o suicídio, o infanticídio, etc. Os moralistas, ao invés, não per­
mitem isto, porque atribuem à lei natural de não-matar obrigatorie­
dade absoluta, que nem mesmo é limitada ou ab-rogada pela obrigação
de defender (“in tuto ponendi”) um bem humano maior. E, assim, se
esforçam por provar que aquelas exceções não constituem pròpriamente
exceções. Mas o que vale para a lei de não-matar vale também para as
demais leis morais naturais, que por sua própria natureza estão orde­
nadas ao bem comum. Então a obrigação moral cessa quando a ne­
cessidade de defender um bem humano mais elevado o exigir. Noutras
palavras a obrigatoriedade das leis com os seus limites se equipara à
lei da caridade, “quae et ipsa bonum humanum postulat”.
207) Christopher BUTLER, Superior Geral da Congregação Bene­
ditina da Inglaterra (segue tradução completa da sua intervenção):
Vou falar sôbre os nn. 98-101. Nossas dificuldades nos problemas tra­
tados nesta parte do esquema são bastante óbvias. Uma destas é,
acho eu, o fato de cada um de nós ter a sua própria Pátria. Ora, o
amor pela Pátria é uma virtude — e uma dessas virtudes pelas quais
nos sentimos consociados com os nossos concidadãos. Mas agora, neste
Concilio, temos o dever, num momento de urgente perigo para a huma­
nidade inteira, de darmos uma resposta verdadeiramente católica, ver­
dadeiramente universal, não só ao Povo de Deus mas também a todos
os homens. Neste ponto devemos, pospondo tôdas as nossas particula­
ridades, sentir e provar que nós todos somos um em Cristo, onde não
há nem judeu nem grego, nem oriental nem ocidental, mas todos nós
perfazemos um único Corpo místico. Devemos falar ao Povo de Deus
e ao mundo em nome do Povo de Deus e do mundo. Gostaria, por isso,
de apresentar umas correções ao texto, algumas das quais entrega­
rei por escrito e outras exporei oralmente.
1) N. 100 “Enquanto as organizações internacionais forem insu­
ficientes para manterem a paz, não se pode dizer que seja ilegítimo em
si mesmo o fato de possuir armas modernas — isto é, atômicas, bio­
lógicas, químicas — com a só finalidade de dissuadir um adversário
1 enticamente equipado”. Sugiro que essa passagem seja inteiramente
emitida no documento. E a razão é a seguinte: Com relação às ar­
mas nucleares, o verdadeiro problema não está na mera posse dessas
pense que as grandes potências assim chamadas “nu-
\ arcs nao fazem senão meramente “possuir” tais armas. A realida-
iiríHvarCÍUee* Ê amk°s os lados o mundo setentrional se prepara para
sem discHmin a-maSe e fazer delas um emprêgo ilegítimo usando-as
naracão entãn^0 ^ po.rt?nto> nós julgamos ilegítima uma tal pre-
atrás dessa refpr*Veni0S- di^ 10 clara e abertamente, sem nos refugiar
nc,a a simples posse de armas. Neste caso, porém,
A Igreja no Muncto de Hoje 227
não seria necessário ir mais lonee e afirm,-
ilegítimo utilizar essas armas, mas aue . ! rf mente nã<> só é
1 mesmo se se tratar duma intenção de uti,ízar
é gravemente criminosa? E não seria istnP ioU<T °* condlc,onaI” —
n0 caso de que tenham esta intenção os q i f revem T ? * '? '0 quer
clusive entre os seus subordinados e no próprio povo? Mas em ão^bóí'
damos um problema esp.nhosíssimo: poderia de fato existir esta pre-
paraçao sem que necessar.amente exista também a intenção, pelo me­
nos hipotética, de utilizar tais armas? Assim, pois, para não cairmos
numa casuística demasiado complicada, sugiro que a) nada digamos da
mera posse de tais armas, pois no atinente às armas nucleares a ques­
tão e quase irreal e acadêmica, e que b) também calemos sôbre a pre­
paração das mesmas. Se assim não fôr, será para todos evidente que
a intenção de provocar uma guerra ilícita é ilícita.
2) Pág. 80 linhas 16 e seguintes, a) Peço não falarmos aqui da
4presunção legal em favor dos que governam e dos comandantes mi­
litares. Ainda que seja verdadeiro em teoria, êste princípio deu lugar
a que se executassem numerossíssimos crimes em tempos bem recentes
por causa da colaboração dos súditos com as ordenscriminosas dos
seus superiores. E isto é algo que devemos levar em conta. Além do
mais, hoje em dia, os homens têm deveres não sòmente e antes de
tudo para com os seus países e mandatários, mas também para com
tôda a humanidade, para com a fraternidade universal, como bem
expôs já o Prior Geral dosDominicanos (cf. n. 165). Não devem to­
dos, portanto, obedecer, por assim dizer, a uma autoridade mundial
que ainda não existe mas é exigida pelo bem comum da humanidade?
Omitamos, pois, essa referência à “presunção legal”, que de per si existe
mas que fàcilmente pode conduzir ao pecado. Valéria mais sublinhar
que o dever impõe às vêzes rejeitar a obediência, b) Louvo que agora o
texto fale da objeção de consciência. Mas não louvo que as razões
dêstes objetores de consciência sejam consideradas como próprias de
homens que, num certo sentido, carecem de madureza moral. Valéria
mais falar simplesmente da objeção fundada sôbre motivos^ de cons­
ciência autênticos — e poderiamos referir-nos ao que acêrca dêste
assunto se encontra na declaração sôbre a liberdade religiosa. Pois pode
acontecer que alguns dêstes objetores de consciência possam muito bem
ser os verdadeiros profetas duma moral integramente cristã.
Concluindo, seja-me permitido dizer o que segue: Aproveitemos a
ocasião que nos é dada neste capítulo para afirmar claramente_ que _a
Igreja, o Povo de Deus, no referente a Si mesma e a sua missão, nao
Procura proteger-se contra os seus inimigos sejam quais
Pela guerra e ainda menos pela guerra moderna. Porque n«n o
Cristo cabeça do seu Corpo místico que somos nos, quis protegesse
•«
dos
S o tn , P.I. SIM0 10» r ilíS f”
anjos, ainda que sejam os ministros J < nucleares: non
Deus.
n ,As superat
ubellando armas do Evangelho sao espiri u se refere aos homens
j r)ro de
sed patiendo. Ora, no Que
* homens de
,as imensas dificuldades
Estado, demonstremos toda a nossa gratidão suas boas in-
com que trabalham e louvemos coni P < ^ pglluvrinha de advertên-
lençoes. Mas, se agradar, acresce meio de atos maus
Cla. de que não é lícito promover fu hons nem por
I Crônica da* Congregações Gerais
m
peta intenção "condícronar de responder a um ataque
iwial oor «ma defesa igualmente imoral. O nosso socorro está no nome
éa jiaSnr qwe ter o céu e a terra!
SQgi Gordon WHEELER, Bispo coadj. de Middlesbrough, na ln-
«talett» G esquema faz bem em pôr em evidência a importância dos
tatem éconômfcos «a salvaguarda da paz mundial. E* necessário ini-
ctar «m diálogo também com os que dirigem a economia dos diversos
rttat Porque, na ajuda aos países subdesenvolvidos, náo bastam sim­
ples «bsédíos financeiros sem ter em conta os outros elementos. A ex­
periência tem demonstrado que, em nutitos casos, a ajuda concedida a
certos povos produz mais danos que frutos positivos. A propósito, é
•écmirio. sobretudo, estimular o desenvolvimento local e regional e
evitar provocar o afhixo de populações pobres nss cidades. Promo-
v«*e, por isso, a “tecnologia intermediária”, apta a favorecer as po-
ptasçõe* não-residentes etn centros urbanos. Ao mesmo tempo náo se
deve menoyrczar o dever de proteger a independência e a liberdade
de tôdas as nações que recebem auxílios. Neste sentido seria de grande
vs&a « «nteitufçfe dum Secretariado para a Justiça c o desenvolvimento
— <o qual seria tào fecundo quanto aquêle para a unidade dos
E’ «Ma mister banir do texto a afirmação segundo a qual a
de “meias de dirosrfto" náo é ilegítima em si mesma (n. 98).
Decerto, tio n, 100, o esquema ensina daramente que a única soluçáo
tdhds * evitar « guerra a todo custo e reduzir mutua e simultaneamente
as amas rodeares e, por sua vez, no n. 99 se condena o “equilíbrio do
tomar* coro “attquid de se onutino deforme”. Mas no final dêste pa­
rágrafo parece usmur-ce cata condenação c até contradizer os ensi­
namentos da Pa«m m Tem*. Esta enddica, com efeito, exigia que,
em m do critério de equfffbrio em armamentos que hoje mantém a
paz, se abrace o princípio segundo o qual a verdadeira paz entre os
proc náo «e baseia em dvto eqoíUbrto mas sim e exclusivamente na
uaátaa confiança <n 113) Quanto á “presunção legal” de que se fala no
« MSW, embora vátida em tese, na prática se presta a abusos. Daí a
naoroidade de aós defendermos a liberdade de consciência. Mas a ob-
toçlfi de conadénda deveria ser tratada mais posítivamente. Porque
texto t tratada em têratos tâo fracos e tio condescendentes, que
* gente poderia «creditar que o objetor de consciência é um débil de
Há no aro testemunho qualquer coisa que deve ser apreciado
* fumo um aporte especial para a vida moderna — mesmo por
* ^ ÉÍ dentre nós «táo gostariam de ser considerados como obje-
***** de consciência. Em tugar dessas fracas expressões, seria melhor
™ “toteemunho da vocação cristã de servir a paz”.
***Laureano CASTÁN LACOMA, Bispo de Sigflenza-Guadala-
O problema da paz e da guerra abordado pelo ca-
P*** do «Quema é extretnamente importante e
J * ™ ***** de Trento o Beato Juán de Avila
^ í**Pl|ito ««« atiiiiçio fundamental muito semelhante à do nosso
rrrf ‘ ri*/ * «msbtaição dum organismo internacional que resolva P«-
raroró * ** «ações. Tudo o que o texto diz a
2 5 ? ^ * ^ bom e responde realmente às exigências e neceasi-
impo. Entretanto, eis algumas observações visando o
texto, i) Quanto à estrutura do texto, a redaçáo e
A Igreja no Mundo de Hoje 229
desordenada e em muitas passagens « w . a* •
ser atentamente revisto, dispondo^) de n«tr» 0glCa' 0 texto deve
mente, os princípios católicos sôbre a paz e exP°ndo> Pr'meira-
pois, a atual situação do mundo; fin alm en te,^ p S o ê ^ p í d p t '
a esta s.tuaçao presente. Esta aplicação poderia S - elevada aiim
a) necessidade de constitu.r uma autoridade internacional e"kaz b) e^
posição dos princípios que, por enquanto - i é até à constituição
efetiva daquele organismo supranacional - resolveríam os calos de
guerra ofensiva ou defensiva; c) o epílogo constituiría o n. 101. 2)
Quanto a doutrina, esta e passível de emendas principalmente em três
pontos: a) A guerra total: No n. 98 se condena sem hesitação a
guerra total porque não reúne as três condições exigidas: respeito
pela pessoa e pelos seus bens, proporcionalidade entre causa e efeito
possibilidade de dominar os efeitos das armas. Com os teólogos do'
séc. XIII, podemos reduzir tôdas estas causas dêste modo: autoridade
competente, causa justa e reta intenção. O texto nada diz da primeira
condição, i. é, a autoridade competente para declarar uma guerra.
Gstc ponto não deve ser esquecido, porque, como os efeitos dêste
tipo de guerra podem danificar também as nações não-beligerantes, não
basta a autoridade duma só nação para declará-la. O esquema, porém,
considera muito a segunda condição, i. é, a liceidade da guerra ou a
justiça da causa — justiça que, com razão, considera sob um aspecto
relativo, medindo a proporção entre os direitos lesados e as penas im­
postas para reparar essas violações. Mas, como numa guerra atômica
esvai-se tôda proporcionalidade, o esquema faz bem em falar assim.
Os autores católicos clássicos falam ainda de observar fielmente as
prescrições determinadas para os tempos de guerra e que são invioláveis.
Mas êste modo justo de agir é pràticamente impossível numa guerra
atômica ou total. Também aqui o esquema fala bem. Estas diversas
condições necessárias para a hipotética liceidade duma guerra destas
são tôdas requeridas. Basta que falte uma delas para que tal guerra
seja injusta. O texto, porém, não considera ainda o caso duma guerra
atômica defensiva contra uma agressão com armas atômicas. Neste
caso, a responsabilidade da guerra, perante Deus e a história, é do
agressor, b) Guerras civis: O texto procura uma solução para as guer-
ras internacionais na autoridade supranacional, mas esquece de recorrer
á autoridade nacional no caso de guerras civis , c) Objeção de consciên­
cia: Sendo ainda uma questão muito discutida entre os teólogos seria
melhor deixá-la inteiramente à prudência da autoridade: civi’• |^ ta
tude do Concilio poderia ser interpretada nao apenas como uma p
vação ao modo de" agir dos objetores de consc-encia mas
,ücãomenos implicitamente,
de consciência, pois como uma censura
pareciam estar agindo^ sem a doçura
doçura cristã
crista e
sem o respeito para com a pessoa humana.
210) joseph M. MARLING, ^ ^ “ panslo^dTmográbca (nn. 96-97)
O trecho do capítulo que traia da P ue esta não pode reduzir­
ã o parece atingir o amago da qU c0|’a simplesmente para conservar
H a uma questão de produção ag laçã0 um rápido cres-
0 nível de vida individual, quando P _rocjução global duma nação
'-'mento, os economistas calculam que elevada. Ora, isto não é
deve aumentar em proporção muito ma.s
230 I. Crônica das Congregações Gerais
nossivel nos países em fase de desenvolvimento. Até hoje, para a solu­
ção dêste problema, ninguém propôs soluções bastante ousadas para
serem eficazes. O Concilio, por isso mesmo, deveria exortar os gover­
nos a intensificar suas pesquisas e a publicar suas informações a res­
peito. O Concilio, p. ex., poderia reconhecer a eficácia das deliberações
que se realizam em certos congressos reunidos a êste efeito, como é o
caso da “First Pan-American Assembly on Population” que teve lugar,
há dois meses atrás, em Cali (Colômbia). Mas o Concilio deve procla­
mar também a sua confiança na Providência divina de conformidade
com as palavras de Cristo. Tal confiança não dispensa o esforço hu­
mano. porque não lhe é contrária mas o incentiva e sustém na ação
que os homens empreendem para resolver os problemas.
211) Charles Alexander GRANT, Bispo aux. de Northampton, na
Inglaterra: 1) O problema da miséria. De certa maneira, a atividade dos
bispos contra a fome no mundo precedeu as afirmações dêste esquema.
Esta atividade comum demonstrou a eficácia real da união sistemática
dos esforços. Ao meu ver, temos dado a demonstração prática daquele
adágio que assim soa: “multa parva uberrime licet modéstia ab humilibus
facta ingentem habent exitum”, i. é, muita pequena gente que faz muitas
pequenas coisas em muitas pequenas localidades chega a grandes re­
sultados. Para não citar senão um exemplo da organização da qual
tenho a honra de ser o presidente, umdonativo de 1.000 libras a um
sacerdote da Índia permitiu-lhe transformar a existência de 400 sêres
humanos que viviam na miséria. Acho, porém, que temos grande ne­
cessidade dum organismo supremo, situado no seio da Igreja, para es­
tudar os problemas complicados da guerra contra a fome e a pobreza
que Paulo VI tem tão intimamente no seu coração. Êste organismo per­
manente poderia ser para a Igreja como o “ministério de guerra”. Só
manifestando a justiça e a caridade de Cristo é que a Igreja poderá
melhor combater o comunismo, porque êsse organismo favorecería a
paz através da distribuição justa dos bens. 2) O problema da paz e a
guerra. O texto não é claro a respeito da guerra. Poderia deixar crer
que a posse de armas com a finalidade de “dissuasão” autoriza o em­
prego dessas armas para se defender. Essa passagem deveria ser ba­
nida ou ao menos esclarecida para tirar tôda ambigüidade: p. ex.,
acrescentando no final da citação, após a palavra “ilegítima” (“en­
quanto as organizações internacionais forem insuficientes para manter
a paz, não se pode dizer que seja ilegítima em si mesma a posse das
armas modernas com a finalidade de dissuadir um adversário idêntica­
mente equiparado”), as palavras: “excluída tôda intenção de usá-las
alguma vez” (“seclusa omni intentione eis umquam utendi”). E’ igual­
mente necessário esclarecer a passagem sôbre o “equilíbrio do terror ,
a fim de mostrar que o Concilio constata simplesmente a existência
sem a aprovar de modo algum. Finalmente, convém sublinhar com mais
vigor o que se diz a propósito dos objetores de consciência.
212) Paulus RUSCH, Bispo de Innsbruck-Feldkirch, na Áustria:
n ^ reíere ® necessidade de promover a paz e evitar a guerra,
Hirpita £ reset!ta *acunas graves acêrca de problemas pertencentes ao
auandn i««^n a C , < ) N o n. 98 não se condena a guerra ofensiva,
tpmnn a „ cons*,t“l u.m dos mais vivos anseios dos homens do nosso
guerra ofensiva não pode ser compreendida no princípio da
A Igreja no Mundo de Hoje 231
legítima defesa contra um agressor entre ne i™-.
rio. Pode-se afirmar com certeza qne p0r c à u í f r t í estr,.t? ,n«cssá-
fundamente mudadas na natureza mesma da l d condlçoes Pr°-
Só a guerra defensiva, por causas n r n n n m . üe per S1 ,nJusta
ser admitida por enquanto. Por isso, peço que^a™ 6"?? se^digaP° 0
Conc.1.0 declara solenemente que, nas atuais condições, tódaAguerra
agressiva e injusta, a qual guerra pertence também a guerra subver­
siva, que, portanto, é condenada da mesma forma”. 2) N 100- aqui
se fala da necessidade duma autoridade pública universal, mas nada se
diz da proscriçao da guerra, nem mesmo da guerra atômica. O de­
feito deste capitulo esta em empregar termos muito fracos. Diz-se,
p. ex., que conscientiam hominum non facile exonerari” no caso de
empregarem meios gravemente injustos. Ora, a nossa declaração de­
veria ser mais decidida e num estilo mais profético. Peço, por isso,
que na p. 79, n. 100, após a alínea 36 se acrescente: “Esta autoridade
universal propõe-se como fim último a proscriçao de tôda guerra.
Atualmente, porém, tem o peremptório dever de proscrever tôda guerra
atômica — proscrição que, depois, se há de consolidar mediante tra­
tados internacionais. Porque é isto que esperam os povos e a consciên­
cia da humanidade”. 3) No n. 102 se fala da presença da Igreja na co­
munidade internacional. Esta presença seria ainda mais eficaz, se a
Igreja possuísse um instrumento próprio e apto para conservar a paz,
sobretudo em épocas de perigo bélico. Por isso, peço que na p. 81,
após a alínea 18, se adicione isto: “A fim de obter mais eficazmente
êste propósito, erigir-se-á junto à Santa Sé um conselho de paz cons­
tituído por peritos em moral, política e assuntos militares. Êste conse­
lho tem o dever de formar a consciência dos cristãos e dos povos, de
declarar os perigos que decorrem da corrida das armas e, em casos
de urgência, de indicar os meios para conservar a paz junto às auto­
ridades e, em geral, de empregar todo o meio apto pelo qual se chegue
finalmente à proscrição de tôda guerra, para que a humanidade se
liberte da servidão das armas”. 4) O texto não fala da guerra ideológica
e das causas que a alimentam a partir do nacionalismo exagerado.
Convém proclamar que a Bem-aventurança dos pacíficos interessa nao
apenas a cada cristão em particular mas a todo o po\o cns ao to
mado em seu conjunto — autoridades e súditos.
213) Pal BREZANOCZY, Admin. Apostólico de Eger,na u"q
gria (falou em nome de todos os Padres Concü^res da Hungr^)^ O
esquema apresenta uma visão dinâmica da paz, a q d de tôda
o objeto dum esforço incessante e que está hgada a boa ^d m de m
a vid, dos homens, politic., eeondm.ca e £ " .J jjf Up«ial -
denar os esforços de todos, seria util ‘ ' , possibilidade per-
em Roma ou fora de Roma — que des S.nacionais que se ocupam
manente de intervir junto aos orgamsm parte> para responder
das relações entre os vários Estados. . r do texto tudo o que
a expectativa dos homens, seria Precis0 . erra total: nós desejamos
Pareça limitar ou atenuar a condenação aa t ^ene, clara> gra-
q“e a condenação da guerra nuclear Mandamento, porque
v”*ima e absoluta. E’ o que decorredo Qunt
86 atenta contra o Criador e a famiha dos
7-10-1965: 144» Congregação Geral
A Paz e a Guerra (A Igreja no Mundo de Hoje)
A Atividade Missionária

P r e s e n t e s : 2 .14 7 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Suenens, para a parte sôbre a
Igreja no mundo de hoje, e Card. Agagianian, para a parte
sôbre as Missões. A Santa Missa foi celebrada por Dom Guil-
lermo Bolatti, Arceb. de Rosário, na Argentina. Às 11,15 foi
encerrada a discussão sôbre a Igreja no mundo de hoje por
vontade da Assembléia, consultada a respeito pelo Moderador.
Seguiram-se palavras de introdução geral ao nôvo esquema
De Activitate Missionali Ecclesiae e a Relação oficial lida pelo
Pe. Johann Schuette, S .V .D ., com as quatro primeiras inter­
venções orais sôbre o mesmo esquema. Enquanto se debatia,
continuavam as votações sôbre os Religiosos. Eis as nove in­
tervenções orais desta manhã sôbre o De Ecclesia in Mundo
huius Temporis:

que ArCeb: de Rouen- França: 1) No


é demasiadamente ' ° °U 8^nero literário”, o texto dêste capítulo
as esperanças dn« h° €m SUa 5PresentaÇão. Devemos temer frustrar
Pio Xll João XXIII °p 6nf sf nao encontrarmos — como fizeram já
o que tanto comoví A U'°- VI ~ as Palavras e 0 ™eio de exprimir
tinção entre guerra n W ^ 0 d<>S homens: a paz e a guerra. 2) A dis-
apta, é inteira mento ns,va e guerra defensiva, embora teoricamente
midades què * ÍnSuficie"te> * considerarmos as cala-
cai num “circulo viriosn”2 hVmanidade- Tal distinção, além do mais,
direito a outrem (ou ’ po,s a ma vontade de um (ou vários) daria
numa tal corrida de arm ^ para ^ armar e> assim, vamos parar
minávei “equilíbrio do te am^,n*os' ^ue sena Preciso estabelecer o abo-
injusta se encontra hoie ^ Ir A •d,Stinção entre £uerra i’usta e £uerra
mos falar da guerra cnm * I?ua^men^ ultrapassada: já não pode-
moderna “guerra total” era h íaziam os teólogos do passado, pois a
duma mútua agressão. Atmra escon>lecida por êles. Não se trata, pois,
“ e a Própria vida do mundo que está em
A Paz e a Guerra 233

perigo. 3) Portanto, é preciso condenar a Puerr» .


seia — como meio para resolver n<s nr«hi„ R er.a ~ 'joaiquer que ela
deve ser abolida do vocabulário e dos íis m m p rT ^ h 0"313' \ guerra
d0S os cristãos devem ser os primeiros a °S homen!\ 0ra'
o movimento universal em favor da paz em nom^n P|?ra fa'[°?:cer
do Evangelho. "Guerra à guerra” - dis<* Pio XII. "jamaisT^guerra-
Jamais a guerra! - disse Paulo VI. Para a obtenção dêste propósTto'
impoe-se a necessidade de promovermos uma autoridade internacional
dotada dos poderes necessários. O Papa deu exemplo de ação concreta
cm favor da paz, quando dirigiu aos governantes um apêlo no sen­
tido de que se aplicasse à obra de auxílio aos países em fase de desen­
volvimento uma parte dos fundos reservados à produção de armas.
215) Cardeal Alfredo OTTAVIANI, da Cúria Romana (texto com­
pleto) . Neste esquema se fala muito pouco dos meios que é preciso
empregar para evitar a guerra quando surgem diferenças entre nações.
Na minha humilde opinião, é necessário estender-se sôbre os métodos
que permitem preservar a paz, de sorte que o Concilio possa mostrar
o caminho do apaziguamento. Devemos pôr em relêvo os objetivos de
justiça e de caridade que são necessários para evitar as guerras. Êstes
objetivos são os seguintes: a) A educação cívica e religiosa deve pre­
parar os cidadãos (e, portanto, também os dirigentes por êles esco­
lhidos) para cooperarem num nível internacional, assim como para se
reconhecerem mútuamente e permutarem deveres e direitos. Isto levará
à exclusão das lutas de classe, de raças, de imperialismo político ou
econômico, que constituem as mais freqüentes causas de guerras, b)
O espírito de fraternidade deve reinar entre os povos segundo os
princípios do Evangelho, a fim de que cada nação esteja preparada a
fazer sacrifícios para o bem da comunidade, i. é, para a sociedade hu­
mana inteira, do mesmo modo que no seio de cada Estado os indivíduos
devem sempre fazer sacrifícios pelo bem comum, c) As obstruções
criadas pelos governos totalitários são as principais fontes de guerras,
d) Na medida do possível, se deve recorrer à arbitragem, e) E’ ne­
cessário dar um caráter mais obrigatório às decisões das organizações
internacionais estabelecidas para resolver as controvérsias, como são
a Côrte Internacional de Justiça de Haia e a ONU. Encontro
outra deficiência no esquema quando fala dos conflitos internacionais,
esquece descrever as diferentes espécies de destruições causadas pelas
armas de nações ou de facções. A palavra “guerra é aqui empregada
num sentido demasiado vago e largo. Tudo o que duma maneira ou de
outra está aparentado com a guerra deve ser também condenado: a
Revolução armada que pode provocar a guerra civil; a guerra irregu ar
ou “guerrilha” utilizada sobretudo pelos comunistas para submeter os
povos ao comunismo; igualmente, as pequenas guerras que um Estado
faz a um outro sob a forma de sabotagem e de atos de terrorismo-
Não devemos esquecer que, quando o comunismo ®mPreeJlct p1!^ ,f rnra
('• é, uma agressão), diz que é uma guerra de hbertaçao. Porqui Py_
os comunistas as palavras têm um sentido diferente . _ pj_
malmente têm, se é que não têm um sentido ^ r®™ea"ol da guerra
nalmente, deveria haver no texto uma
finada
tinada a impor uma ideologia particul
Partici^ r-,^f„, ™ I .
exposta por S. Toniás de Aquino no D e rcgm une
Concilio - V 16
234 I. Crônica das Congregações Gerais
os chefes e os cidadãos podem e devem servir-se dos meios justos
nara derrubar os dirigentes se aparecer claramente que o govêrno pre­
para a destruição e a ruína do seu povo por uma guerra de agressão.
Oramos, aliás, nos Salmos: “Dissipai as nações que querem a guerra”.
E’ necessário, antes de tudo, pôr todo cuidado em afastar as prin­
cipais causas de guerra adotando os remédios que Pio XII resumiu
em 5 pontos em sua radiomensagem de Natal de 1941, no tempo em
que fazia furor a última guerra. Nestes 5 pontos, Pio XII elaborou
maravilhosamente as bases pacificas duma nova ordem internacional
(AAS. vol. XIX, p. 16 e seguintes). As guerras não serão finalmente
senão uma lembrança do passado se as palavras que S. S. Paulo VI
pronunciou recentemente em Nova York e depois nesta Aula se gra­
vassem para sempre nos corações dos governantes e dos povos. O
Concilio deveria, pois, desejar a criação duma República mundial (“res
publica mundialis”) composta de tôdas as nações do mundo. Desta Re­
pública seriam eliminadas as dissensões que existem entre as diferentes
nações e, graças a ela, o mundo inteiro viveria na paz: a paz de Cristo
sob o Reino de Cristo. (Aplausos).
216) Mariano GAVIOLA, Bispo de Cabanatuan, nas Ilhas Filipi­
nas: E’ surpreendente o silêncio do esquema em tôrno ao que a Igreja
ensina sôbre a “explosão demográfica”. E’ ainda mais surpreendente
que o esquema afirme o direito dos pais a determinarem os números
dos seus filhos (nn. 96-97), porque isto parece admitir a teoria se­
gundo a qual a superpopulação da terra será um fato certo daqui
a pouco. Sem tocar nas questões que o Sumo Pontífice reservou para
a sua própria decisão, o Concilio deveria proclamar abertamente, sem
ambiguidades, os imutáveis princípios da ordem moral que devem ser
sempre santamente observados. Ninguém ignora que a propaganda em
favor do controle da natalidade (“birth-control”) e da planificação fa­
miliar (“planned-parenthood”) tira os seus principais argumentos da
teoria da superpopulação e favorece as práticas anticoncepcionais —
mesmo ilícitas — nos países subdesenvolvidos. Corre-se então o risco de
que propagandistas do controle da natalidade pouco escrupulosos uti­
lizem ô que se teria dito no Concilio em prol das suas finalidades.
João XXIII, na sua encíclica Mater et Magistra declarou que a teoria
da superpopulação se baseia em fatos incertos e muito mutáveis. Aliás,
os verdadeiros motivos dos defensores da natalidade controlada são fre-
qüentemente mais do interêsse do dinheiro do que a preocupação pelo
bem comum. E’ necessário, além disso, sublinhar que os partidários
do controle dos nascimentos eram compelidos pelo mêdo duma iminente
superpopulação — temor êste que êles próprios tinham criado. A Co­
missão conciliar que prepara o esquema deveria também tomar em con­
sideração as teorias científicas para as quais a superpopulação é algo
improvável, pelo menos se se considerar o solo do nosso planêta. A
admissão da teoria da superpopulação (que o esquema parecería tam-
m aceitar nos referidos parágrafos) poderia levar os fiéis a porem
em dúvida a sabedoria de Deus na Criação ou a própria Providência
divina (cf. Mt 6,34). Por outro lado, é mister também ter cuidado que
os omens não sejam imprudentemente levados a acreditar que é abso-
iutamente necessário frear o crescimento do gênero humano. As in-
A Paz e a Guerra 235
vestigações demonstram que o descrescimentn ,1, , -
a. economia.. De fato, as nações ricas nJ, ° d? populaCao prejudica
senvolvimento da economia, vêem-se obrigadas a°derem íavorecer 0 de*
estrangeira. Além disso, é igualmente S í f n t P ^ 3 mã°-de-°bra
e tomadas em consideração as estatísticas sôbre o^ e t e T Í T m ™
S “ r PW S a ’ S r , » contJeedaeSUlttaTddda S
regiões. A falta de estabilidade econômica atribuída3 a algumas" regiões
não deveria ser imputada senão a certas partes dessas fegiões oua s
suas grandes cidades, porque muita gente que emigra para as cidades aban­
dona imensas terras andas que, convenientemente cultivadas, poderíam
remediar as necessidades humanas. Finalmente, peço humildemente não
relegarmos ao esquecimento o grande número de verdadeiras famílias
cristãs que ainda hoje desenvolvem o mais puro e intenso amor acei­
tam todos os sacrifícios e estão persuadidas de que o seu estado con-
jugal é um caminho real de santificação.
217) Michal KLEPACZ, Bispo de Lódz, na Polônia: Todos os
governos do mundo, hoje, falam de paz. Entretanto, a paz não existe
em muitas partes do mundo. Vive-se sob a ameaça de outro conflito
mundial que seria mais atroz do que os precedentes. Por conseguinte,
não basta falar de paz e condenar a guerra para que isto não acon­
teça. Em vez disso, é necessário procurar transformar o homem no
seu íntimo e as instituições sociais. As verdadeiras causas das guerras
são o egoísmo, a cobiça, a violência, os atentados contra a lei moral,
a teoria e a prática do utilitarismo. Assim, continuamos a saturar-nos
com palavras tais como “verdade”, “justiça”, “direito”, “solidariedade”,
etc., sem que elas correspondam a nenhuma realidade concreta. As con­
dições econômicas e sociais, por sua vez, não são otimistas: existe
a fome que impera em vastas partes do mundo; ainda hoje existem
campos de concentração cheios de prisioneiros; existe a inveja que
freqüentemente se transforma em ódio dos povos pobres contra os po­
vos ricos. Há, no entanto, alguma esperança de paz completa, porque
a consciência e a vontade do homem estão compreendendo pouco a
pouco que a colaboração é necessária. Diante dêste estado de coisas,
a Igreja, com a sua fôrça educativa de Mãe e Mestra, pode fazer muito,
porque possui a verdade e não cessa de pregá-la, sem fáceis otimismos
nem inúteis pessimismos. Ela anuncia a boa nova da paz e, sobretudo,
estimula os indivíduos a se tornarem artífices mais eficientes da paz.
O papel do Concilio será, portanto, 1) apresentar a situaçao concreta
da humanidade; 2) manifestar claramente a possibilidade de mudam.as
da vida humana; 3) empregar todos os esforços P ° ^ ’s pa™ £«nar
ao mundo os modos com que se pode consegui P f ’ d s djreitos
q»e , paz é fruto d», lus.it» «J »
as nações pobres, 6) lutar p «pax ita secj non pro omni
Estados e nações; 7) finalmente, ensinar, rax,
pretio”.
2,8, Pedr. CANTERO
Panha: O capitulo V desta parte comunidade internacional, é,
Embora trate de difíceis problemas d< -conciliar" de
no entanto, o mais coerente, o ma.s maduro
16*
236 I. Crônica das Congregações Gerais
todos os capítulos de que se compõe o esquema. Merece dignos louvores
•sobretudo a segunda secção dêste capitulo sôbre a promoção da paz
e o afastamento da guerra: sua valoração moral e jurídica do “equi­
líbrio do terror" sobressai pela elevação dos seus princípios morais e
pelo realismo com que aborda o problema. Sem dúvida, o “equilíbrio
do terror'* não pode ser considerado — quer moralmente, quer juridi­
camente — como o instrumento melhor e único para evitar a guerra,
tnfelizmente, nas circunstâncias atuais, tal equilíbrio constitui a única
iorma prática concebida para garantir uma certa segurança contra o
perigo da guerra. Eis agora algumas observações: 1) Os povos detes­
tam a guerra e têm o direito e o dever de adotar as medidas mais
oportunas para dissuadi-la e evitá-la. Ora, afinal de contas, o perigo da
guerra reside no homem mesmo que possui os armamentos. Quanto
mais se desenvolver na sociedade humana o desarmamento moral das
consciências, tanto menos necessária serão as armas militares. Se a
opinião pública fôsseformada neste sentido, os governos poderíam mais
làcilmente por-se de acôrdo entre si, por causa da pressão moral e
política exercida pela opinião pública mundial. 2) No n. 101 se con­
sideram como “guerras menores” aquelas que hoje se qualificam de “guer­
ras revolucionárias e subversivas”. Acho que não deveríam ser consi­
deradas como guerras “menores”. Algumas delas são guerras ideoló­
gicas; às vêzes, se trata sòmente de agitações ou de sedições internas.
Mas tôdas estas guerras comportam o grave perigo de degenerarem
não sòmente em guerras civis mas em guerras internacionais. 3) Pa­
rece-me que a objeção de consciência não pode ser admitida duma ma­
neira absoluta e sem discriminação, como é o caso no nosso esquema.
Isto pode ser contrário às exigências jurídicas da ordem social. 4)
Seria oportuno organizar grupos de estudo para a elaboração e divul­
gação da doutrina cristã da paz, de conformidade com o Magistério
da Igreja. Convém estimular a participação e a colaboração dos cató­
licos nos organismos internacionais e nacionais da paz, em particular
no movimento “Pax Christi”.
219) Paul GOUYON, Arceb. de Rennes, na França: A possibili­
dade duma guerra põe a consciência dos pastores em face de grave
problema. O conhecimento da natureza humana e da história leva a
crer que o perigo da guerra náo poderá desaparecer ràpidamente. O
Evangelho não oferece uma “estratégia da paz”, mas concita à procura
dos meios de construí-la e condena o recurso à violência. A nenhuma
nação, entretanto, deve negar-se o direito de resistir a um injusto agres­
sor com meios proporcionados, mas desejamos que se condene categori­
camente todo aquêle que inicia a violência sob qualquer forma que
seja. Minha proposição consta de três pontos 1) Tôda a guerra —
mesmo limitada quanto à sua geografia e aos seus métodos — cons­
titui uma calamidade de singular gravidade. Com efeito, é tal o grau
de calamidade duma guerra, que é melhor não insistir sôbre a distinção
entre a guerra limitada e guerra “total”. Mesmo porque tal distinção
poderia dar a impressão de que o Concilio considera legítimo um
conluio geográfica e tècnicamente circunscrito. Além do mais, não ha,
praticamente, causa alguma que justifique uma guerra. Por fim, a
snerra mesmo limitada — poderia desencadear reações capazes de
provocar a guerra total. 2) Qualquer nação que declarar uma guerra
A Paz e a Guerra 2
por qualquer motivo que seja deve ser con(i«.naíl, ,
versai. O fim não justifica os meios Lembreí ♦ 3 tonsciência uni-
tura diz: “Dissipai, Senhor, as nações om n, . * d°S ° q.ue a Escri'
aquela deprecação da Igreja: “Libera *nn<iq n1*™ 3 guerra • 0u amda
*por» •que
- . A,é"
se ha de admitir entre nações’ G A Pessoas>
çáo que toma a iniciativa da guerra deí-e ser reforçada J r uía “aJâJ
visando a promoção duma autoridade internacionaí dotada de podè-
res eficazes. A m.ssao deste organismo seria ajudar tôdas as nações
fazendo prevalecer pac,ficamente os seus direitos e prevenindo a de­
fesa das que fossem atacadas. Por ora, as nações devem a) tornar
cada vez mais firme a idéia duma autoridade internacional; b) ins­
truir os seus proprios cidadãos sôbre a importância dessa autoridade e,
ao mesmo tempo, a autêntica doutrina sôbre a soberania nacional*
c) ceder simultânea e gradativamente os seus armamentos militares para
o dito organismo internacional. Será o melhor serviço que se possa fazer
à Pátria e, ao mesmo tempo, se esclarecerá melhor qual seja a ver­
dadeira maneira de governar uma nação. Sòmente assim seria possí­
vel dar uma resposta positiva ao problema da guerra. O esquema, dada
a importância do assunto, apresenta-se de maneira tímida e fraca. (À
continuação, Mons. Gouyon propôs a inserção dum longo parágrafo
contendo as idéias aqui expostas).
220) Luigi CARLI, Bispo de Segni, na Itália (texto completo):
Propõem-se no esquema certas doutrinas sôbre a objeção de consciên­
cia que, na minha opinião, não estão ainda maduras e das quais, por
conseguinte, seria mais prudente para o Concilio guardar silêncio, de
modo que sejam deixadas ainda aos estudos dos teólogos. Que não se
diga que questões difíceis podem amadurecer no Concilio e pelo Con­
cilio, porque semelhante maneira de agir contradiz a praxe da Igreja
e de modo algum está de acôrdo com a virtude da prudência, “a qua
promissa Spiritus Sancti adsistentia vel ipsa Concilia non eximit’. Uma
destas questões parece-me ser a que se refere à assim chamada ob­
jeção de consciência”. A todos consta o quanto esta questão, intima­
mente conexa com a da liceidade da guerra, agita hoje em dia e quanta
ressonância tenha no mundo moderno quer pelas publicações, quer
pelo teatro ou pelo cinema, quer pelos processos civis realizados a
cada passo contra os objetores de consciência. Assim sendo, ou se de-
via tratar convenientemente da objeção de consciência ou se devia
calar prudentemente. Ora, vemos que o Concilio nao fez nem uma nem
outra coisa.
D Superia talvez o silêncio a razão de que a suma autoridade
do Concilio não estava obrigada a entrar numa sS ^ to ‘d o f ^ g o s
atualmente perdido algo do quase unanime con provados
« boi. «nb> .ido, A d...trim. ... SunJTpSí-
autores, sustentada também por decla aç _
«fices, pode resumir-se nas seguintes
tífices, seguir
era atômica pode dar-se uma guerra
guen■ }jus ‘a,-f P e em conseqiiência.
legitimo o serviço militar durante es £ j é recusa ti0 serviço
e moralmente ilícita a objeção de conscie , ^ Q militar
militar, por qualquer causa que seja,
238 I. Crônica das Congregações Gerais
é moraimente legitimo e, por conseguinte, é moralmente ilícita a obje-
ção de consciência em tempos de paz, i. é, antes e depois da guerra:
a) porque em tais tempos não se comete violência alguma ao cumprir
o serviço militar; b) porque, hipotèticamente, ainda não consta com
certeza se a eventual guerra futura seja injusta ou não; c) porque
suposta a possibilidade da guerra justa, a autoridade civil não apenas
pode mas também, levadas em conta as circunstâncisa atuais, provàvel-
mente deve preparar a defesa militar com a finalidade de atemorizar
o propósito do injusto potencial agressor e, quando urgir dura necessi­
dade, pode defender eficazmente a nação da injusta agressão; d) por­
que o serviço militar é necessário para prestar idôneos auxílios àque­
las Organizações Internacionais cujo nobre fim é assegurar eficaz­
mente a paz internacional por meio de forças militares comuns. Esta
é a tese que — não duvido — é a mais comum e ao mesmo tempo a
mais verdadeira. Não é agora minha intenção demonstrá-la, porquanto
me proponho apenas uma coisa: criticar o modo de agir do esquema
nesta matéria. (Cf., neste sentido, Alfredo Gómez de Ayala,, Aspetti
giuridici e teologici delfobiezione dl coscienza aí servizio militare, Mi-
lano, Giuffrè, 1965, p. 411). Entretanto, tendo-se ouvido algumas vo­
zes nada desdenháveis contra esta tese, sobretudo após as invenções
de instrumentos bélicos atômicos, acho que seria melhor que o Concilio
se abstenha prudentemente de proferir um juízo a respeito, enquanto
os teólogos investigarem mais profundamente a questão.
II) No entanto, já que o nosso esquema não quis guardar silêncio
nesta questão, estava estritamente obrigado a falar com dignidade e
competência, i. é, com aquela perfeição, profundidade e clareza que
convém a um Concilio. Mas, pelo contrário, apanhamos o esquema
(“schema deprehendimus”) falando ilógica, incompetente e obscuramente:
1) Ilògicamente. O parágrafo parte dum princípio geral: “Não
está permitido a ninguém dar ou seguir ordens que são manifestamente
contrárias à lei divina... Quando a violação da lei divina não é evi­
dente, a presunção do direito deve ser reconhecida em favor da autori­
dade competente e é preciso obedecer às suas injunções.. . ” Ótimo prin­
cípio, sem dúvida, e muito apropriado ao nosso assunto! Tu esperavas
que o esquema descesse à aplicação prática e desse uma resposta a
uma questão óbvia, “quam et magistratus civiles constat saepe sibi
posuisse”: “O serviço militar deve ser considerado uma violação da lei de
Deus?” O esquema silencia e nega uma resposta que unicamente com­
pete à Igreja e que seria decisiva para tôda a questão. Com efeito,
se a Igreja respondesse que o serviço militar viola manifestamente
a lei de Deus, então a objeção de consciência seria não só moralmente
lícita mas até obrigatória sempre e para todos e seria, potranto, in­
justa qualquer pena civil estabelecida contra os objetores. Se, pel°
contrario, a Igreja respondesse que o serviço militar de modo algum
\ioa ou pelo menos não viola manifestamente — a lei de Deus,
então a ^objeção de consciência seria moralmente ilícita e, por conse­
guinte, ex hoc capite”, seria legítima a pena civil estatuída contra
os objetores. O nosso esquema, porém, sem ter dado uma resposta ao
pon o verdadeiramente crucial e decisivo da questão, passa, ilógica e
mconsequentemente, a afirmar certa grande conveniência de que as au-
A Paz e a Guerra 2';9
toridades civis saiam ao encontro da obiecãn Hp consciência por meio
dum estatuto jurídico especial: “Além do mais,
mais nL
nas5 circunstâncias atuais
parece muito oportuno que a leeislaeãn
que, quer para testemunhar a doçura cristã ^ positlvamente actuéles
humana, quer por desgosto sincero"dãracõM^impnt/c8’’6'*0 da V'da
consequência, o serviço militar ou certos atos que enreCUSam’ em
guerra, conduzem a gestos de barbárie" A oartir r w ,
r*J5SÍ *:5T,,q” .<*««» *
da opinião que afirma a liceidade moral da objeção de consciência -
o que contradiz a doutrina teologica mais comum — ou pelo menos
sugerem índiscriminadamente a conveniência de que as autoridades ci­
vis renunciem ao seu direito em favor da objeção de consciência -
o que, na minha opinião, constitui uma ingerência indevida no campo
alheio. De fato, esta grande conveniência de que fala o esquema se há
de entender ou na ordem moral ou na ordem política. Se na ordem
moral, digo. a) é ilógico propor aconveniência moral duma coisa,
antes de se ter estatuído sôbre a sua obrigação moral ou não; b) a
Igreja pode, sem dúvida, aconselhar os seus súditos o que, quando se
julgar conveniente, se entende ultrapassar o estritamente preceituado;
mas não parece que possa aconselhar isto mesmo à Autoridade civil,
a qual, sendo suprema e independente na sua ordem, não pode ser to­
cada pela Igreja senão sob o aspecto dum estrito dever moral decor­
rente duma determinada lei divina natural ou positiva. Se, porém,
aquela grande conveniência se tomar na ordem política, digo: a) a
Igreja é incompetente para julgar, “in genere et in specie”, se uma
legislação especial seja politicamente conveniente ou não para os obje­
tores de consciência; b) cada autoridade civil é competente — e, por
certo, exclusivamente — para julgar se seja politicamente conveniente
para os objetores de consciência promulgar uma legislação especial,
consideradas, segundo a prudência política, as particulares circunstân­
cias dos lugares e dos tempos. 2) Incompleta e obscuramente trata o
esquema sôbre a objeção de consciência. De fato, não distingue, como
era absolutamente necessário, entre o serviço militar voluntário e obri­
gatório, entre o serviço militar em tempos de guerra e em tempos de
paz, entre a guerra justa e a guerra injusta. Finalmente, o esquema
estende a objeção de consciência também a “certos atos que, em tem­
pos de guerra, conduzem a gestos de barbárie”; mas deixa na incer­
teza quais sejam em concreto êsses atos, quem e de acor o com qua
norma deva julgar se os tais atos levam ou nao rea men e a u
delitatem immane”.
Conclusão. Por causa das referidas razões e outras semelhantes.
peço que seja expungido do tato ^ e sq u e m ^ ^ stà°ncias atuqais- ...
K u p g V í S . « d S d í . . - . etc.) e acaba pela palavra " r ,
cusam” (“recusent”). Disse.
o c r k r Arreb de Liverpool, na Inglaterra
221) George Andrew BECK g importante do esquema. Tô-
(texto completo): O capitulo V e o s culturais e políticas
das as outras proposiçoes — econ . Vniicadas as idéias exprimidas
— dependem do modo com que s ‘ m tjisp0stos a "trans-
neste capítulo. Enquanto os homens nao
240 I. Crônica das Congregações Gerais
formar suas espadas em arados e suas lanças em foices”, não se po­
derá ter os recursos econômicos necessários para aquêles generosos
projetos de assistência e de desenvolvimento. E’ necessário, antes de
tudo acabar com a absurda corrida dos armamentos. Além do mais
se não se põe fim a esta corrida, é quase inevitável que estoure uma
guerra total. Nas secções I e II, o esquema diz que a comunidade
das nações deve organizar-se duma maneira correspondente às suas
responsabilidades presentes. Deve criar instituições internacionais efi­
cazes para fazer reinar a justiça e a paz. No entanto, o documento
náo diz com suficiente clareza que um dos principais obstáculos à
mobilização de instituições internacionais verdadeiramente eficazes é
o que se chama a “fragmentação da sociedade” em mais de cento e
vinte Estados soberanos que não admitem limite algum na sua liber­
dade de ação, salvo em virtude de tratados que, no final das con­
tas, podem revogar. A maior ameaça para a paz, na hora atual, são
aquêles interêsses particulares que, na maioria das vêzes, são o re­
sultado da história dêstes dois últimos séculos. A soberania nacional,
o imperialismo, as lutas de classes ou de raças, a exploração política
ou econômica, tudo isto deve ceder o passo à noção de solidariedade
do gênero humano. E isto depende, antes de tudo, dos dirigentes dos
países. Neste ponto nós devemos revisar sèriamente nosso ensinamnto
da história. No mundo inteiro, o orgulho nacional e os preconceitos
de raça nos persuadem de que a história deve ser compreendida e en­
sinada como um instrumento ao serviço da glória e da justificação de
nosso país. Daí resulta uma atitude de espírito que se nega a tôda
diminuição da soberania nacional, constituindo assim um obstáculo à
cooperação internacional e à criação de instituições jurídicas interna­
cionais eficazes que tenham autoridade e possam impor sanções. Nosso
esquema afirma vigorosamente que se devem criar condições tais, que
tôda guerra não mais possa ser considerada como um meio legítimo,
mesmo se se tratar de defender seus direitos. Declara também que o uso
das armas modernas sem restrição é moralmente inadmissível e que
se deve procurar eliminá-las totalmente. Todo o mundo deve trabalhar
na criação dum organismo internacional cuja autoridade se estendería
eficazmente ao mundo inteiro. Por enquanto, somos obrigados a viver
sob a ameaça da guerra e da destruição total. O que devemos fazer
no ínterim? E por quanto tempo deveremos esperar? O esquema
tem razão de dizer que, enquanto as instituições internacionais não de­
rem garantias seguras, não se pode afirmar que é imoral a posse de
armas de dissuasão face a um inimigo que possui as mesmas armas.
Numa situação semelhante, a posse de armas nucleares pode ser le­
gitima. Mas o que dizer da moralidade da dissuasão? Até onde podem
ir as ameaças de represálias? Um Estado pode, sob pretêxto de dissua­
são, ameaçar de destruir, sem discriminação, cidades e regiões in-
eiras o que, em palavras de nosso esquema, deve condenar-se firme
e eci idamente como um crime contra Deus e a humanidade? O que
e necessário entender por “retorsão maciça”? Temos — nós mesmos
p.er‘tos elaborado uma moral da ameaça e da contra-
' £reJa fem alguma coisa a apresentar aos governos sôbre
a n^ora ’ ade daquele modo de agir que quer ter o adversário em
es a o e conjectura? O que dizer da moralidade do “bluff” e
A Paz e a Guerra
241
“counter-bluff”? Parece manifesto que um
nucleares de dissuasão e ameaça fazer us/deb* q"e P,°SS'"- armas
numa ocasião próxima de pecado grave Pode s e íltn r" ^ 3"'0 ía'S’ es,a
não tivermos organizações internacionais eficazes _ T 'l TnV anTum
pais nao puder rem.nc.ar as suas armas de dissuasão seni rZ sm a v e s
para a sua liberdade, assim como para seus valôres culturaí e S ir *
tua» - est5 ocas.ao prox.ma de pecado é a que os moralistas ch?mam
uma ocasiao necessar.a” que é mister aceitar como um com pro™
enquanto nao se tiver criado aquêle equilíbrio de confianca e de dis­
cussão que deve substituir o atual equilíbrio de terror. Devemos lem­
brar a essas nações a grave obrigação que elas têm atualmente dt
tornarem a ocasião de pecado mais afastada mostrando-se prestes a
aceitarem limitações nas suas soberanias nacionais na medida neces­
sária para a criação duma autoridde internacional eficaz. Resta o
problema da obediência e dos direitos da consciência. 0 texto diz cla­
ramente que se presume que a autoridade legítima tem o direito de
ser obedecida. Eu, porém, gostaria que se dissesse mais claramente o
que uma autoridade pública não deve jamais fazer ou ameaçar de f a ­
zer sob pena de perder o seu direito de obediência dos cidadãos e que
se precise quais são os direitos da consciência de todos os cidadãos
em certas circunstâncias. Faz alguns dias, temos discutido longamente
sôbre o direito de todo homem à liberdade religiosa — direito que
pode reivindicar diante dos governos civis como fazendo parte da dig­
nidade da pessoa humana. A liberdade religiosa, porém, é uma ques­
tão de conduta moral assim como de doutrina. Do mesmo modo q u e
um cirurgião pode-se negar a matar uma criança inocente no seio de
sua mãe praticando o abórto, assim também o soldado ou o comandante
dum avião tem o direito de negar-se, p. ex., a utilizar uma arma nuclear
que aniquilaria tôda uma cidade ou tôda uma região ou de tomar parte
em tôda forma de agressão feita sem discriminação. Devemos pedir
que os governantes respeitem as consciências dos cidadãos que estimam
que certas formas de guerra, mesmo defensivas, jamais são justifi­
cáveis. Não se trata cá de mansidão ou de não-violência. Há hoje en.
dia homens que estão convencidos de que certas formas da guerra
moderna constituem um mal grave, sempre e em tôdas as circunstan­
cias. Se a nossa declaração sôbre a liberdade religiosa deve s.gmticar
alguma coisa, é necessário admitir que ela deve se aplicar aqui.
E assim, após 162 discursos (na próxima Congregação
Geral haverá mais cinco (cf. nn. 226-229) que tomaram o tem
Po útil de 12 Congregações Gerais (no ano passai o i
sido 171, ocupando também 12 Congregações " ‘ V das
tou o texto à Comissão P ^ a ser e^"“ aperfejçoamento dado
emendas e votações se falara do
a() importante documento conciliar (P-
242 I. Crônica das Congregações Gerais
decreto sobre a atividade missionária
Extraordinariamente recomendado pelo Papa e surpreen­
dentemente criticado e rejeitado pelos Padres Conciliares, o es­
quema sôbre as Missões foi, no ano passado, reenviado à Co­
missão (cf. vol. IV, pp. 298-316). Esta se reuniu no dia
16- 11-1964 a fim de deliberar sôbre o modo de trabalhar e
constituir uma Subcomissão encarregada de preparar o nôvo
texto. Foi nomeado Presidente desta equipe de trabalho o R. P.
Schuette, Superior Geral da Congregação do Verbo Divino, aju­
dado por quatro Bispos e vários Peritos. De 12 a 27 de janeiro
do ano 1965 reuniu-se o grupo para redigir o nôvo texto.
E de 29 de março a 3 de abril a Comissão discutiu em sessão
plenária o projeto apresentado. O esquema foi enviado aos
Padres no mês de junho último, para ser discutido agora nesta
IV Sessão. O assunto é dividido em cinco capítulos: 1) Prin­
cípios doutrinários (com 8 parágrafos); 2) A obra missionária,
com quatro artigos: os preâmbulos da evangelização (dois pa­
rágrafos), a pregação do Evangelho e a congregação do povo
de Deus (dois parágrafos), a formação da comunidade cristã
(quatro parágrafos), as igrejas particulares (dois parágrafos);
3) Os missionários (com cinco parágrafos); 4) A organização
da atividade missionária (com sete parágrafos); 5) A coopera­
ção com os missionários (com sete parágrafos).
O nôvo debate se fêz nos dias 7 a 13 de outubro, com
50 discursos pronunciados na Aula Conciliar. Ninguém reprovou
inteiramente o texto. Muitos o julgaram satisfatório (Meouchi,
Santos, E. Gonçalves da Costa), digno de louvor (Jaeger, Frings,
Koppmann, McGrath, Attipetty, Heerey), bom e digno do Con­
cilio (Mazzoldi, Koenig, Lamont, Rugambwa), indubitàvelmente
melhor que o do ano passado (Suenens). Mas foi dito também
que se parece mais com uma lição de missiologia que com um
documento conciliar (Meouchi), não muito lógico na disposi­
ção (Santos, Koppmann), com uma concepção demasiadamente
hierárquica da atividade missionária (Alfrink), prolixo, pouco
denso e insuficientemente aberto a mais amplos horizontes (Sue­
nens), não tendo em conta um terço do gênero humano que
vive em regime de perseguição (Sapelak), com citações escritu-
risticas inexatas, afirmações doutrinárias obscuras e imperfeitas
(Ruffini). Frings, Journet, Koenig, Quéguiner, Cordeiro, Lokuang,
jeise e Gay pediram uma afirmação mais clara da necessidade
as missões, em vista da tese, hoje geralmente aceita, que reco-
A Atividade Missionária 243

na fc que deve animar todos os que se dedicam ao apostolado


missionário (Rugambwa), na necessidade da penitência no mi­
nistério missionário (Meouchi), na obrigação de aceitar o Evan­
gelho (Cardeal Câmara), na inevitabilidade das perseguições e
na exigência primária de liberdade do Evangelho (Mazzoldi),
na importância das escolas missionárias (E. Gonçalves da Costa,
Guffens), na urgência da ação social nas missões (Soares de
Resende), na obrigação missionária das igrejas particulares (La-
mont). Preveja-se a possibilidade de uma Diocese se encarre­
gar de certo território ou obra missionária (Garaygordobil).
Diga-se que o Bispo, origem e centro da missão, não pode ser
substituído por um eclesiástico que tem apenas a jurisdição
episcopal sem ser Bispo, como acontece nas Prelazias e Pre­
feituras Apostólicas (McGrath). E queira o Concilio propor Ma­
ria Santíssima como exemplo e Mãe dos missionários (McCauley).
O Cardeal negro Zougrana pronunciou um discurso em defesa
dos Institutos Missionários em geral e Dom Piróvano, que já
trabalhou no Brasil, expôs os problemas dos Institutos Missio­
nários de clero secular. Quéguiner, Sibomana e Ntuyahaga fa­
laram sôbre as relações entre o Bispo e os missionários.
Tema de particular interêsse e importância para nós no Brasil
foi debatido entre Dom Lokuang e nosso Dom Gazza: O Bispo
chinês não adi
consideradas como “missões”; e o w
falava em nome de mais de 70, defend
são” que não excluía nenhuma região q
como os 130 Vicariatos, Prelazias ou Prefeituras na América
Latina. seguintes intervenções
Nesta 144» Congregação tivemos as
orais:
244 I. Crônica das Congregações Gerais
-n2 ) Cardeal Paul Pi erre MEOUCHI, Patriarca dos maronitas,
Líbano^ O esquema é no conjunto satisfatório. Entretanto, parece mais
uma lição de missiologia que um documento conciliar. Com efeito,
êle náo apresenta uma atualização da doutrina evangélica em síntese
solida c concreta, relacionada com a vocação da Igreja missionária.
Nada se diz sôbre a verdade salutar da fé, nada se afirma sôbre a
necessidade da penitência para o ministério missionário, nada se inclui
sôbre o ritmo de apostolado que deve constituir um fermento atuante
antes que um lento progresso quase vegetativo. Um esquema mis­
sionário deve fundar-se unicamente sôbre a missão do Espirito Santo.
Dever-se-ia insistir mais sôbre a pregação da palavra, seguindo o
exemplo dos Apóstolos, e sublinhar a psicologia dêste ministério sin­
gular. Seria bom também distinguir entre ação católica e ação missio­
nária, entre cooperação universal para a missão evangelizadora na
Igreja e a colaboração de serviço. O esquema deveria acentuar melhor
o papel dos leigos e da família nas missões. Enfim, as funções das
Conferências Episcopais com relação às missões mereceríam uma cita­
ção particular. O esquema em geral deveria ser permeado do mesmo
espírito evangélico que animava as encíclicas missionárias de Bento XV,
Pio XI e Pio XII.
223) Cardeal Jaime DE BARROS CÂMARA, Arceb. do Rio de
Janeiro, Brasil (texto completo): Falando em nome de 57 Bispos da
América Latina, quero declarar que a Comissão que redigiu êste es­
quema realmente é digna de louvor pelo ingentetrabalho e também
pelo resultado obtido. No entanto, como o esquema é obra humana,
náo é perfeito. E’ perfectivel. Os primeiros elementos de sua perfectibili-
dade seriam os seguintes: noção de missão; autoridade eclesiástica
nas missões; dicastério da Cúria Romana para as missões; formas
peculiares de atividade missionária como: catecumenato, pré-evangeli-
zaçáo ou preâmbulos da fé, etc.; atividade missionária dos Irmãos se­
parados; outros pontos que serão depois ilustrados por diversos Ora­
dores. Agora quero ressaltar apenas três coisas: 1) O texto é bom
quando fala da obrigação que tem a Igreja de pregar o Evangelho.
Aquêle “Vae mihi si non evangelizavero” não é só doApóstolo das
gentes, é de tôda a Igreja que, por sua própria natureza e por man­
dato de seu Fundador, é e deve ser missionária. Mas é oportuno fa­
lar também da obrigação de aceitar o Evangelho pregado, pois também
disse o Senhor: “Qui vero non crediderit, condemnabitur”. Isto parece
urgente, sobretudo depois que se falou tanto sôbre a liberdade religiosa,
criando-se uma certa confusão e desanimando os missionários. 2) Fre­
quentemente o texto emprega a palavra “bispos”, mas nem sempre
dentro dos limites claramente estabelecidos no esquema do Decreto
Uc Pastorali Episcoporum Munere in Ecclesia. Ao nosso parecer
e não se trata de um “nosso” majestático — não sòmente os limites*
propostos devem ser observados, mas enquanto possível, se devem
usar as mesmas palavras. 3) Muitas vêzes o texto recorre à sociolo-
ÉPa, mas é preciso ter presente que não se trata de uma sociologia
qualquer, mas de uma sociologia cristã, que inclua o pecado origina!
e o pecado atual e a Redenção. Não tendo isto em conta, o homem
aparece como um animal “totum in maligno positum”, como no c-
A Atividade Missionária ....
245

quema XIII, e ás vêzes como um anjo livre ,ir. w,


no esquema De Libertate Religiosa à,w , i ro e do pecado' com,J
contrando a verdade. “ ’ qUe 0 descre« procurando e en-
Agora permiti-me recordar hsh
que íoi assinado por 316 Bispos sôbre'a atividade*das^ r"'- teX,°
ligiosas separadas na América Latina: “Os íignatírlos'"SSTdocT
mt„to ... onerados por uma grave angústia de consciência paíora?
instantemente desejam que êste Sacrossanto Concilio explicitastedei
dare ser prove,toso para o progresso do verdadeiro ecumenismo expor
claramente aos t.eis a doutrina católica, diante do proselitismo levado
a efeito entre os catolicos pelos Irmãos separados. Seria muito útil e
mesmo necessário incluir critérios e normas sôbre êste ponto no Dire­
tório Ecumênico que o Secretariado para a União dos Cristãos pretende
elaborar”.
224) Cardeal Rufino SANTOS, Arceb. de Manila, Filipinas: O
esquema sôbre a atividade missionária da Igreja é bastante satisfa­
tório porque sublinha os fundamentos teológicos da atividade missio­
nária. Acentua a responsabilidade de todos os cristãos na edificação
do corpo de Cristo e propõe uma boa organização. Poderia, porém,
ser mais lógico na disposição das diversas partes. 0 capítulo que
trata da preparação à evangelização deveria ser revisto atentamente.
Com efeito, a evangelização consiste essencialmente no anúncio do
Cristo crucificado. As obras e os exemplos devem ser apresentados
progressivamente como confirmação do anúncio da palavra.
225) Cardeal Lorenz JAEGER, Arceb. de Paderborn, na Alemanha:
0 esquema é louvável porque põe em relevo a absoluta necessidade
do apostolado missionário em tôda a Igreja. 0 Espírito Santo age sôbre
os homens para que aceitem a palavra de Deus, que não pode ser
recusada sem que se incorrano juízo severo de Deus. Cristo é um si­
nal de contradição. Há os que crêem nêle e há os que lhe resistem,
os que o combatem. A história da salvação humana é um grande drama.
Seria conveniente recordar que a Igreja, enquanto missionária, parti­
cipa da paixão de Cristo, para que não se considerem as missões como
imunes de riscos, perigos e dificuldades. 0 esquema a u e a°
escândalo nos paises de missão nascido da diversidade da pregado
feita pelas várias confissões cristãs que se arro.f7m . ‘oda/cr °0 ^
de falar em nome de Cristo. Seria necessário, a luz <io
aigam com mais docilidade o conselho de Triste
o Ecumenismo, pedir a cada cristão e sôbre a unidade de
Cristo soo
todos os discípulos.
8-10-1965: 145* Congregação Geral
A Paz e a Guerra (A Igreja no Mundo de Hoje)
A Atividade Missionária

P r e s e n t e s : 2.143 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Card. Agagianian. A sessão começou
às 9 e terminou às 12,15. A Santa Missa foi celebrada por
Dom Isaac Ghattas, Arceb.-Bispo copta de Tebe (Luqsor), no
Egito. Mais cinco Padres postularam falar ainda sôbre a Igreja
no mundo contemporâneo (cf. nn. 226-230). Outros sete dis­
cursaram sôbre o esquema De Activitate Missionali Ecclesiae.
Eis, primeiramente, as cinco intervenções postuladas:
226) Alfred ANCEL, Bispo aux. de Lyon, na França (texto com­
pleto): No n. 100 do nosso texto, duas coisas são excelente e clara­
mente afirmadas: l9) O bem comum da humanidade exige hoje que,
de comum acôrdo, tôdas as nações renunciem ao direito da guerra. 29)
Esta renúncia não se pode realizar a não ser que, ao mesmo tempo,
se estabeleça uma autoridade supranacional, munida duma autoridade
correspondente ao seu cargo.
Mas é um fato que muitos se opõem a estas afirmações. Dizem
que a aceitação duma autoridade supranacional seria contrária ao
verdadeiro amor da Pátria. Eis por que censuram à Igreja de se opor
ao amor da Pátria ou de desprezar os que combateram pela defesa de
suas pátrias e deram suas vidas por elas. Outros, pelo contrário, cen­
suram a doutrina do Concilio de carecer completamente de eficácia.
Dêle esperavam um testemunho quase profético e não encontraram se­
não exposições intelectuais. Mais ainda: estimam que, afirmando a li­
ceidade da guerra defensiva — mesmo atômica — e tolerando o “equi­
líbrio do terror”, a Igreja decepcionará gravemente a expectativa do
mundo inteiro. Por isso, gostaria de responder duma maneira positiva
a esta dúplice objeção. Falarei, em primeiro lugar, do amor da Pátria,
depois, da eficácia de nossa doutrina.
I. O amor da Pátria não sòmente é legitimo em si mesmo, mas
se impoe moralmente à consciência do homem. Os cidadão-, com efeito,
evem estar estreitamente unidos pelos liames do amor e da aju a
A P a z e a G u erra
247
mútua. Por essa razao, desejosos primeirampnto ^ .
vem estar prestes a fazer e mesmo a^ofrp ?T do„.bem de fodos, de-
exigências do bem comum. Pecaria mi ° 1,116 hes é imPÔ8to pelas
aquêle que, desprezando o bem comum 0 , amor da Pátria
interêsse próprio ou o dum grupo particular unic.ame",e 0 seu
é manifestado em Nosso Senhor Jesus S o Pá‘ria não
pátria terrestre, prevendo o castigo de sua infidelidade í f T c
E’ gualmente manifestado em S Paulo n„„ 1 ' Lc f ^ 41-44)7
p, i de Çris.o, pelos seus i-n,iPo“ t sr d o í T ::;„ e “ « r r , . 5 5 -
Restando salvas as ex.genc.as do bem comum, todos podem l L L Í
mente e mesmo devem amar seus concidadãos e suas pátrias maisdo
que os outros. Do mesmo modo, todo aquêle que é guiado pelo amor
de SUa Pátria
de sua a f! Ua eP°etrabalhar
eJ?ug mamente e deve mesmo
na sua realização. Mas aquerer a grandeza
verdadeira gran­
deza duma naçao nao consiste antes de tudo nas suas riquezas mate­
riais, mas na justiça e fraternidade que existe entre todos os seus
membros. Verdadeiramente grande e digna de louvor é a nação na qual,
respeitando a necessária diversidade das funções, todos podem, graças
ao seu trabalho, ter parte nos bens comuns dum modo equitativo e
pacífico. A verdadeira superioridade duma nação com relação às ou­
tras não consiste em primeiro lugar no seu poder econômico ou polí­
tico, mas na sua vontade de ajudar às outras nações, sobretudo às
mais pobres. Vale também para as nações o mandamento nôvo do
Senhor de amar aos seus irmãos sem disto esperar coisa alguma (cf.
Jo 13,34; Lc 6,35); às nações igualmente é prometida a bem-aventurança
especial reservada àqueles que, a exemplo do Nosso Senhor e Mestre,
se tornam os servidores dos outros (cf. Jo 13,17). Pelo contrário, as
nações que quereríam dominar as outras ou se enriquecer às suas
expensas não mereceríam louvor algum. Uma grandeza semelhante se­
ria digna não dum elogio, mas de vergonha. A Igreja, portanto, não
se opõe ao amor autêntico da Pátria mas ao falso patriotismo, que
freqüentemente se denomina “hipernacionalismo”. Porque o amor da
Pátria — seja lá qual fôr a sua nobreza intrínseca — pode ser man­
chado pelo pecado, sobretudo pelo egoísmo e pelo orgulho. A re­
núncia ao direito de fazer a guerra também não se opõe ao verda­
deiro amor da Pátria. De fato, não existe diante de Deus nenhum
direito à guerra ofensiva, como é evidente; quanto ao direito a guerra
defensiva, não existe senão duma maneira indireta, i. e, por a a uma
autoridade internacional que seja capaz de defender as na^*s
tra um injusto agressor. Como foi dito com frequência, tiraria
ridade suprema semelhante se c o n » esta renuncia nada tn r *
ao direito das nações enquanto sao socied p .. . -pa|vez apa.
apoitar-lhts-ia a safuranç, « - • = " diSà-
rentemente — e segundo o juízo dos ho de DeuS as nações
nui por esta renúncia, mas na reahda . renunciassem tôdas
ganhariam em prestígio se, Pel° "" guerra. ’ Enfim, a Igreja não
de comum acôrdo ao direito de fazer s ofenderam a sua
J^enospreza de modo algum a coragem dljvida, não felicita os
Pátria derramando o seu sangue por e . Qg juigará. Mas, en-
clue pela fôrça oprimiram outras nações. necessário defender
quanto falta uma autoridade supranacional, sera
248
|. Crônica das Congregações Gerais
Pais nelas suas próprias forças contra os injustos agressores. Com
efeito a Igreja exaltou numerosas vêzes os que morreram pela defesa
da cidade. Além do mais, enquanto durar o mundo presente, subme­
tido ao poder do Maldito (cf. Jo 5,19), armas internacionais serão
sempre necessárias. E se foi honroso sofrer e mesmo morrer pela
paz da Pátria, será ainda mais louvável devotar-se inteiramente à paz
de tôda a família humana.
II. Isto pôsto, poderemos responder ràpidamente à segunda obje­
ção. Censura-se a nossa doutrina por ser ineficaz. Mas que eficácia o
mundo espera de nós? Não podemos servir-nos nem das riquezas nem
das armas. Nem mesmo da ação dita psicológica. Não podemos fazer se­
não uma única coisa: dar testemunho da verdade, enquanto represen­
tantes de Cristo. E nós esperamos de todo coração que aquêles que
amam a verdade escutarão nossa voz — ou, antes, não nossa voz
mas a do Príncipe da paz que fala por nós (cf. Jo 18,37; Lc 10,16).
Já nosso texto condena claramente a guerra enquanto meio de resol­
ver conflitos; condena especialmente tôda ação de guerra chamada
•‘total” como sendo “objetivamente e em si mesma um crime contra
Deus e contra o homem”. Aparece, pois, como escrevia já S. Em. o
cardeal Ottaviani no seu Compendium luris publici ecclcsiastici, que
a guerra que utiliza armas modernas — mesmo por uma justa causa —
deve ser absolutamente interditada (pp. 88 ss, Polyglotta Vaticana,
1964). Além disso, o nosso texto diz que se tem a obrigação de fazer
todos os esforços para fazer penetrar o espírito de paz entre as na­
ções, assim como para reduzir os armamentos até à uma total su­
pressão. Mas, para que tudo isto se realize efetivamente, parece indis­
pensável criar uma autoridade suprema internacional, munida de meios
apropriados. Como o temos dito, nosso texto fala disto; mas, dada a
importância desta questão, proponho que seja inserida, no devido lu­
gar, uma solene declaração que poderia formular-se assim ou de outro
modo melhor: “A fim de responder à aspiração dos povos para a paz,
assim como à angústia dos que temem uma guerra inumana, êste Santo
Concilio, reunido pelo Espirito Santo que é o Espírito de verdade, de
amor e de paz, declara solenemente diante de Deus e de seu Cristo,
que chegou a hora em que, salvando-se todos os direitos de cada na­
ção, é necessário criar uma autoridade suprema internacional que te­
nha à sua disposição os meios eficazes, graças aos quais, exigindo
de todos a renúncia ao direito da guerra, poderia arbitrar as diferen­
ças entre as nações segundo as exigências da justiça, poderia igual­
mente impor a todos uma redução progressiva dos armamentos até à sua
supressão definitiva e, enfim, poderia reprimir e constranger eficaz­
mente os que dificultassem de qualquer forma que seja a ordem da
paz internacional”. Por meio desta declaração não violamos de modo
algum a autonomia que compete ao poder civil, mas exprimimos uni­
camente as exigências do bem comum atual, deixando aos governos a
e..colha dos meios políticos que lhes pareçam melhores e mais eficazes.
lugar, proponho humildemente uma sugestão: nós, ° s
Padres conciliares que estamos profundam ente unidos ao Sucessor de
Pedro nos seus esforços para salvar a paz, não poderiam os enviar uma
A P a z e a Chierra
249
mensagem de paz a todos os chefes de Estado? f ,*,
mada dum profundo amor, lembrar-lhes i, „ ? • mensagem, ani-
vos, lhes exporia os meios que na firieUHaw asP'raçoes de seus po-
propõe a todos para a defesl V " J j ' ? t c I S r f " ? ^ i 3 lgre)'a
neira urgente a criarem aquela eficaz autoridade supremá"1’
discusslo ^ ^ t e ^ s q ^ m a ^ d o í ^ 3
assinalados: a) a necessidade duma unidade por a s s i T S r '“e s S
gica” dos cristãos e sobretudo dos católicos e de sua so idaSdade
moral no d.a ogo e no serviço; b) a reivindiacção do direito de emigra­
ção como fator_ eficaz de justiça e paz. Apesar disto, o esquema ?em
sua atual redaçao, nada d.z a respeito dêsses temas. Até mesmo silencia
lá onde a natureza das coisas exigia uma palavra. Com respeito ao
primeiro ponto, esperava-se que o n. 91 dissesse algo sôbre o Corpo
místico de Cristo e sua unidade. Há, porém, apenas uma vaga alusão à
unidade de todos os homens. Com relação ao segundo ponto, espera­
va-se, na parte dedicada ao problema demográfico, alguma’ palavra
acêrca das ingentes populações do Extremo Oriente que têm o direito
a exigir novas terras. Mas o texto nada diz dêste direito conferido pela
própria justiça distributiva, enquanto em outra parte parece favore­
cer amplamente aquêle antigo neocristianismo à la Leon Tolstoi. Daí
a necessidade de empregarmos outro método. Mas agora vou ler sim­
plesmente um texto subscrito por mais de cem Padres Conciliraes das
mais diversas “tendências” e dos mais diversos continentes: “Tanto
genèricamente o esquema XIII quanto especificamente o capítulo V da II
Parte dêste esquema condescendem com o ‘paternalismo’ do Povo de
Deus, assim como com o naturalismo, carecendo sua linguagem de
lógica e clareza. Isto dito, propomos os seguintes três pontos sôbre
o capítulo V: a) Devem introduzir-se no texto algumas palavras acêrca
do dever que incumbe aos cristãos e sobretudo aos católicos de teste­
munhar, no seio da própria Cristandade, a maior solidariedade, a maior
caridade e a maior unidade moral, mesmo quando vigorar liberdade
de opção. Os mistérios da Eucaristia (acêrca da qual pronunciou-se
muito recentemente neste sentido o Sumo Pontífice) e do Corpo mís­
tico de Cristo são o centro desta caridade fraterna entre os cristãos e que
é necessária para salvar o mundo inteiro, b) O direito de emigraçao
deve ser vigorosamente assinalado. E’ remédio da pobreza. Favorece
certo equilíbrio no problema demográfico. Torna inútil a l™wçao
da natalidade. Tem fundamento na Sagrada Escritura. c) E " ^ nre_
falar de modo mais prudente sôbre os me^ s ^ue ^ P ^ni se toca
gar na promoção da paz, quando nos nn. 9b, , imitrina que
numa questão política e legitimamente controver í a. ou nas
se expõe nas encíclicas e especialmente na teiramente suficiente
alocuções do Sumo Pontífice apresentam matéria
Para enunciarmos princípios”.
228) Luigi FAVERI, Bispo de Tivoli, na (fjja ^ “ uma
mais de 70 Bispos da Itália): A minha '"te J . ^ é evidente
só palavra: “Caridade”! Porque, se a l«reja ^ - depojS do Concilio,
sentir-se reforçada na sua missão e sa
Concilio - V _ 17
250 I. Crônica das Congregações Gerais
vleve à custa de qualquer esfôrço, fortalecer a caridade, que é a sua
alma e provém diretamente de Deus, símbolo de amor. O exercício da
caridade deve ser, então, estabelecido como o verdadeiro centro e o
mais seguro fundamento do Concilio, segundo os ensinamentos da Sa­
grada Escritura, o exemplo dos Santos e o convite de Paulo VI ex­
presso no seu discurso no inicio da quarta Sessão do Concilio. Dever-
se-ia falar, por isso, sôbre a caridade, principalmente no capitulo IV
da primeira parte (“O papel da Igreja no mundo de hoje”), porque
pelo exercício da caridade o diálogo com o mundo se torna muito mais
apto e eficaz e a própria doutrina da Igreja se torna, por sua vez,
mais aceitável. Que náo se objete que êste assunto já foi explicita­
mente exposto na Constituição dogmática Lumen Gentium, porque aqui,
nesta Constituição pastoral, teria um valor e uma eficácia particulares!
Também náo se diga que tôdas as demais partes do esquema se ba­
seiam expressamente na caridade, porque as alusões à caridade no
texto são bem insuficientes: é necessário falar sôbre o exercício da ca­
ridade e indicar algumas de suas manifestações. Por essa razão, temos
preparado algumas emendas para serem inseridas no referido capítulo,
subdividido em dois parágrafos intitulados respectivamente: “Ecclesia
in hoc mundo summopere praesens per exercitium caritatis” e “De
exercitio caritatis circa huius temporis problemata urgentiora”.
229) William PH1LB1N, Bispo de Down e Connor, na Irlanda:
A conclusão do esquema parece não dar o devido valor ao significado
e à importância do Evangelho que se ignora em tôda a Constituição.
Esta não sublinha adequadamente a contribuição que a Igreja oferece
para a solução dos problemas do mundo moderno, em virtude da mis­
são que lhe foi confiada por seu fundador, Cristo. O texto tem um
tom demasiadamente didático e filosófico e parece dar a impressão
que o único auxílio que se pode oferecer ao mundo se reduz a um en­
sinamento de ordem intelectual. A dificuldade está em fazer o bem e
evitar o mal, como disse S. Paulo. A doutrina da impotência do homem
em cumprir a lei, mesmo natural, embora impressa no seu coração,
constitui como que a pedra fundamental da pregação do Apóstolo: “Pois
eu sei que há em mim, isto é, em minha carne, coisa boa. Porque o
querer o bem está em mim, mas não está o fazê-lo. Com efeito, não
faço o bem que quero e sim o mal que não quero” (Rom 7,18-19).
Ora, isto não vale apenas para os indivíduos, porque nessas palavras
está compendiada tôda a história humana. Qual é, pois, o remédio
que pode aportar o Evangelho a esta condição? Nem ciência nem
erudição. Ouçamos Paulo falar à Igreja: “Infeliz de mim! Quem me
livrará dêste corpo de morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso
Senhor (Rom 7,24-25). A única esperança do mundo — também do
mundo de hoje ccm tôdas as suas complexidades — é Cristo, não
apenas enquanto preceitor da lei moral mas sobretudo enquanto autor
da graça com cujo auxilio pode cumprir-se a lei. Portanto, nosso es­
quema deveria pregar a verdade de Cristo que disse: “Sem mim nada
^ ' ,íi,s; azer Omitida no documento a doutrina da necessi-
a e a graça, dificilmente poderemos falar na pessoa da Igreja de
cristo. Assim só falavam os pelagianos! Por isso, é preciso eliminar
A Paz e a Guerra
251

os negócios e
cs homens queiram executar a.s
contrário, que semelhante von-

■ . - ' ------ ac aciuiidu airaiaus para


Cristo preasamente sob este aspecto. Temos, a propósito, o teste­
munho de b. Agostinho, o qual nas suas Confession.es narra que não
se converteu ao Evangelho tão sòmente pelos elevados princípios teo-
réticos nêle contidos, mas sobretudo pelo promessa do auxílio da gra­
ça à frágil vontade humana. E* bom também lembrar aqui aquela ex­
posição que o Card. Nevvman faz na sua Apalogia„ segundo a qual a his­
tória inteira e a experiência humana demonstra a existência duma
queda original, fonte da fraqueza humana, conforme ensina a Igreja.
A imperfeição e insuficiência dos homens, mesmo os dos mais nobres,
constitui um dos temas mais constantes da tragédia grega, assim como.
muito depois, de Shakespeare. Não outra coisa acontece no mundo de
hoje. Nós, portanto, devemos dialogar com o mundo proclamando, sem
pusilanimidade mas com confiança e fé, que o único remédio do mundo
de hoje está no Senhor Jesus. Daí, talvez a conveniência de mudar o
atual título da Constituição para o de “Manifesto dos Cristãos”. Pro­
ponho também que a conclusão do esquema seja inteiramente revista.
230) Pierre BOILLON, Bispo de Verdun, na França (texto com­
pleto, proferido em nome de 80 Padres Conciliares de diversas na­
ções do mundo): O esquema diz coisas muito justas acêrca da guerra.
No entanto, se encontram misturadas com diversas distinções que lhes
subtraem, por assim dizer, todo valor e tôda eficácia, como já nota­
ram numerosos Padres Conciliares, entre êles, S. Em. o Cardeal Léger.
Estas distinções são tiradas da teologia comum sôbre a guerra, tal co­
mo se encontra ainda hoje nos manuais. Mas a guerra de que se traía
nesta teologia difere tão profundamente da guerra de hoje em dia, que
a própria palavra não mais designa a mesma coisa. Eis essas distinções.
I9) A distinção entre as armas convencionais e não-convencionais.
Ora, na minha diocese de Verdun, as armas convencionais mataram,
há menos de cinqüenta anos, 1.300.000 homens. O que significa, pois.
esta distinção? A que cifra se deve limitar?

17*
I. Crônica das Congregações Gerais
252

perdas possíveis, o mais depressa possível, para acabar a guerra 0


mais ràpidamente possível. De fato, nas guerras modernas, o coman­
dante deve obedecer não a estas distinções, mas — ai! — às ne­
cessidades da guerra, como bem se viu na última Guerra Mundial.
4<) Diz-se ainda: “E’ necessário prever as destruições e limitá-
las”. Isto. porém, é ainda mais impossível. Porque, hoje em dia, o po­
der do gênio do homem e a interdependência das nações são tais
que ninguém pode dizer até onde se limitarão as destruições e a extensão
do conflito. Não se pode, pois, distinguir entre conflitos maiores e me­
nores, porque um conflito limitado constitui um risco próximo de guerra
mundial. Daí o terror do mundo inteiro tôda vez que estoura uma
guerra, mesmo se ela tem lugar num país longínquo e está limitada,
como vemos hoje no conflito entre a índia e o Paquistão. (Deus queira
afastar êsse perigo!) E’ mister, portanto, rejeitar aquelas distinções e
suprimi-las no esquema, se o Concilio não quiser oferecer ao mundo
atual uma doutrina indesejável. Nós, Veneráveis Padres, devemos de­
sempenhar uma só missão: proclamarmos, como o nosso querido Papa
Paulo: “Vós sois irmãos em Cristo e não vos é permitido fazer a
guerra!” Devemos, entretanto, acrescentar o seguinte neste Concilio:
as guerras inumanas entre nações ocidentais que, no mundo, são con­
sideradas como cristãs, têm constituído o maior obstáculo para a acei­
tação do Evangelho pelas nações que ignoram Cristo. Tomemos cui­
dado para que com essas distinções impróprias não permitamos a per­
petuação dêste perigo.
Contudo, como já muitos o disseram, é necessário não sòmente
condenar a guerra mas construir a paz, a qual tem necessidade duma
autoridade internacional. Mas as instituições não bastam. E’ preciso
ainda que a opinião pública — i. é, as consciências de cada povo e de
cada cidadão — seja formada com esta finalidade. Está aí principal­
mente o papel da Igreja, porque esta educação deve ser uma educação
moral ou, antes, evangélica. Com efeito, requer: a) a humildade,, no
plano internacional, para que os cidadãos e os governantes admitam
um limite na independência nacional suprema em favor da autoridade
internacional, b) A pobreza, no plano internacional, de sorte que as
nações mais ricas e cada um dos seus cidadãos aceitem espontânea­
mente uma diminuição de sua riqueza e do seu nível de vida em fa­
vor das nações pobres, c) A doçura, que é o admirável testemunho
de Cristo, a doçura na vida internacional, para que os homens recu­
sem absolutamente a violência das armas. Um testemunho disto é da­
do por aquêles que preconizam e praticam “a ação sem violência”. En"
quanto nós falávamos da guerra nesta Aula, vinte mulheres leigas,
aqui mesmo, em Roma, faziam um jejum completo e rogavam para que
o Espírito Santo nos esclarecesse. Permiti que eu me faça, brevemente,
seu porta-voz. Estas mulheres de diversos países, católicas e protes­
tantes, se perguntaram como, enquanto mães e guardiãs da vida, P°"
enam, no seu grau, tomar parte nas responsabilidades do Concilio.
Movidas pelo conselho de Paulo VI para se porem em estado de vi-
r esp,r,tua1, e PeIa encíclica Poenitentiam agere, de João XXIII»
jejuaram e rezaram durante dez dias, retiradas numa casa religiosa,
A Atividade Missionária 253
suplicando ao Senhor que inspire
evangélicas que o mundo espera” aos(Ê stePadres Conciliares as soluções
últim o trecho foi proferido
em fra n c ês).

Continuaram então os discursos sôbre a atividade missio­


nária da Igreja:
231) Cardeal Joseph FRINGS, Arceb. de Colônia, na Alemanha:
O esquema, quanto à sua substância, é digno de louvor. Em primeiro
lugar, merece o nosso elogio a explicação profunda e ampla do fun­
damento teológico da atividade missionária da Igreja, atividade que
flui da própria essência e por isso é demonstrada em sua perene ne­
cessidade. Esta explicação é hoje, de fato, necessária, porque não
poucos perguntam se a atividade missionária é atualmente imprescindí­
vel, uma vez que Deus, mediante caminhos que lhe são conhecidos,
pode salvar os homens e agregá-los a seu Corpo Místico sem uma
agregação visível ao corpo da Igreja. Nesta crise da consciência mis­
sionária não basta repetir fórmulas antigas, mas é necessária uma no­
va base para a atividade missionária, base esta que mostre como a
Igreja, participando da missão de Cristo e continuando-a no tempo,
seja e deva ser sempre “missa” e missionária. Com reconhecimento
aceitamos o que diz o esquema sôbre êste ponto. Talvez poder-se-ia
declarar mais positivamente que a salvação dos homens compete à
missão da Igreja. Motivo: embora os homens individualmente se possam
salvar sem pertencerem à Igreja e, de fato, se salvem, o gênero hu­
mano, como tal, sem o ministério da Igreja missionária, nunca pode
chegar à salvação pela fé. Quanto aos demais capítulos proponho: No
capítulo II (n. 16) e talvez no capítulo III seria bom dizer uma pala­
vra sôbre o papel missionário do clero nativo, cuja função não é ape­
nas a de conservar na fé os convertidos, mas é principalmente a de
participar da obra de conversão a que se dedicam os missionários es­
trangeiros.
232) Cardeal Bernard Jan ALFRINK, Arceb. de Utrecht, na Ho­
landa (texto completo): Sôbre o esquema em questão faço as seguin­
tes observações:
a) C oncepção dem asiadam en te hierárquica da a tivid a d e m issioná­
ria: A Constituição Lum en G entium , ao falar sôbre o Povo de Deus,
trata do caráter missionário da Igreja (cap. II), antes de introduzir
a distinção entre clérigos e leigos. Por conseguinte, o sujeito da ati­
vidade missionária da Igreja é todo o Povo de Deus sob a direção
da Hierarquia eclesiástica. Nosso esquema, porém, fala, desde o seu
proêmio, da atividade missionária como se fôsse coisa própria da Hie­
rarquia, os fiéis aparecendo apenas como capazes de “cooperationis cum
Episcopis”. O Decreto D e A po sto latu Laicorum declara que tal coope­
ração com os Bispos é apenas uma das formas de apostolado. Portanto,
o proêmio e o cap. I devem ser revistos neste sentido. São múltiplas
as consequências desta exagerada concepção hierárquica da ati \ ua t
missionária, como por exemplo: a) Cap. III: fala-se apenas ca \ocaç
254 l. Crônica das Congregações Gerais
missionária de clérigos e religiosos .Ora, a vocação missionária é de
todos homens e mulheres, solteiros e casados, clérigos e leigos, reli-
c-iosos e seculares, cf. Lumen Gcntium: “cuilibet discípulo Christi onus
bdei disseminandae pro parte sua incumbir (nn. 17 e 35). Deve-se
notar que existem vocações carismáticas de leigos, como, aliás, consta
na Escritura (Spiritus suscitavit feminas, coniuges ut Priscam et Aqui-
lam). Todo o Povo de Deus recebeu a unção do Espirito Santo para
a atividade missionária. O n. 4, porém, dá a impressão de que só o
corpo episcopal recebe esta unção. b) Cap. II. o diálogo com os não-
cristãos é considerado apenas como um dos preâmbulos da evangeli-
£3cão (n. 12). No entanto, tal diálogo pode ter o valor de verdadeira
evangelização.
b) Motivo da ação missionária: No n. 2 afirma-se que a Igreja por
sua natureza é missionária, mas só nos nn. 7, 8 e 9 apresentam-se os
motivos da ação missionária. Os nn. 7, 8 e 9 deveríam ser redigidos mais
solidamente. Nada se diz, por exemplo, do tempo de missão compreen­
dido entre os dois adventos de Cristo. Apenas no n. 9 se fala da ín­
dole escatolõgica da atividade missionária, como conseqüência do que
foi dito antes. A união da Igreja com Cristo, que ainda não voltou,
porque não se cumpriu ainda plenamente a sua obra de Sumo Sacerdote,
deveria constituir um dos primeiros motivos da atividade missionária
da Igreja.
c) Espiritualidade missionária: Dever-se-ia dizer explicitamente que
o mistério da Redenção, pascal e pentecostal, constitui o fundamento
da espiritualidade missionária, fundamento que, à luz das profecias do
Servo de Jahweh na Sagrada Escritura muitas vêzes neste texto ci­
tada. é abundantemente proposto (At 13,47; 26,18). O esquema pode­
ria também referir as palavras de Cristo aos seus discípulos (Mt 10
e Lc 10), palavras que descrevem a condição de vida dos missionários.
233) Cardeal Charles JOURNET, da Suíça: No esquema sôbre a
ação missionária da Igreja (n. 7), deve-se afirmar com maior fôrça a
necessidade das missões. Cristo, pela efusão de seu sangue, atraiu
a si tanto os gentios quanto os judeus, anunciando a todos a sua paz
(Eí 2,11-18). A partir dêste momento — saibam ou não saibam os homens
é impossível pensar outra economia de salvação fora da Nova Aliança,
que deve ser pregada a todos pelos Apóstolos até o final dos séculos.
Lemos a respeito de Cristo que “não existe salvação a não ser nêle.
Nem homem algum sôbre a terra pode salvar-se a não ser em seu no­
me (At 4,11-12). A pluralidade das religiões permanece certamente
um fato inegável, mas seria enorme aberração pretender que esta plu*
rahdade é de direito e intencionada por Deus (de iure et a Deo in-
t*-.ita). E certo que Deus não está ausente das populações para as
quais o Evangelho é ainda uma mensagem desconhecida. No entanto, êle
supre por intermédio da Igreja a falta dêsse anúncio. Com efeito, Deus
visita o coração dos homens com graças internas, a fim de que êles
possam -- por uma fé ao menos implícita e de desejo — orientar-se
ra risto e sahar-se por seu intermédio. A esta altura é já a
A Atividade Missionária 255
intantoqU9uaC°Dre^ncaSeí
entanto, sua presença e aindaPreSente "° COraçâo
imperfeita, precária,dêss€8
poucohomens-
normal N«e
geralmente impedida. E claro que êstes germes de Igreja carecem de
« I,Vr"rh d0SA ^pedimentos internos e externos através da pregação do
Evangelho Assim, a atividade missionária não é apenas aconselhável
(de con&ilio), para maior garantia de salvação, mas essa atividade é
urgente e obrigatória (de praecepto) tão simplesmente para que se
possa falar de salvação da Nova Lei. Daí, a palavra do Apóstolo: “Ai
de mim se não evangelizar’ (1 Cor 9,16). E' preciso, pois, evangelizar,
abrir os ouvidos e os corações das multidões pobres — quer se trate
de pobreza de bens materiais e externos, quer se trate da pobreza de
bens espirituais e interiores, como a pobreza de Zaqueu e a do publi-
cano (Lc 19,18; 18,10). Para tanto, é necessário que exista na Igreja
e em seus ministros uma fé ardente e uma caridade apostólica que os
torne abnegados e despojados e os assimile à pobreza divina de Cristo,
que, sendo rico se fêz pobre por amor de nós, a fim de que nós nos
tornemos participantes de sua riqueza (2 Cor 8,9).
234) Martin LEGARRA TELLECHEA, Prelado nullius de Bocas dei
Toro, no Panamá: Falo em nome de vários prelados, vigários e pre­
feitos apostólicos, que plantam e cultivam a fé em terras de missão.
Agrada-nos que o esquema reconheça o mérito dos Institutos Religiosos
e Missionários aplicados em promover a glória de Deus e a salvação
das almas. Tal reconhecimento será para tôdas as instituições mis­
sionárias um grande estímulo. De nossa parte subscrevemos a emenda
proposta no fim da relação acêrca de “advocationem institutorum mis-
sionalium in partem Dicasterii Missionis”. A existência de relações amis­
tosas entre o Instituto missionário e a autoridade eclesiástica é de gran­
de importância para o incremento das missões. O esquema chega mes­
mo a recomendar a realização de convenções regulamentando as rela­
ções entre os ordinários de lugar e os superiores dos institutos missio­
nários. Pedimos que tais convenções sejam submetidas à aprovação do
Dicastério de que depende o território missionário. Para evitar certas
dificuldades de tramitação, quando se trata da instalação de um ins­
tituto missionário em território de missão, propomos que em tôdas
as bulas de ereção, de qualquer território missionário, seja sempre
mencionada a instituição à qual o território será confiado. Apresenta­
mos ainda duas sugestões à escolha: a) Seja constituído, no Dicastério
do qual dependem as circunscrições missionárias ou as prelazias, um
organismo estreita e constantemente ligado à congregação das missões.
Assim, seria delimitado o campo da jurisdição, uniformizada a jurispru­
dência e se evitariam diferenciações nocivas, b) Todos os territórios
verdadeiramente missionários e como tal reconhecidos sejam postos sob
a direção de um mesmo dicastério do qual dependerá pacificamente a
maior parte das missões.
235) Sisto MAZZOLDI, Vigário Apostólico de Juba, no Sudão:
O texto deve ser aprovado porque é verdaderiamente bom e digno do
Concilio, ainda que passível de melhoramento. A Igreja foi sempre ob­
jeto de perseguições tal como previra Jesus Cristo no Evangelho,
fato, é na própria essência da Igreja que se reproduz o mister,o da cru ,
256 I. Crônica das Congregações Gerais
ensinado pelo dogma e representado na liturgia. O que aconteceu
Cristo não pode deixar de acontecer à Igreja, porque ela vive diária3
mente na identificação da imolação e da obediência até à morte
necessário até à morte de cruz. Doutro lado, convém reafirmar semo^
mais intensamente o direito que tem a Igreja à liberdade de desemD 6
nhar sua missão evangelizadora. Sôbre êsse ponto, o esquema de
ser aperfeiçoado de tal maneira que ponha em evidência a inevitabip6
dade da perseguição e, por outro lado, a exigência primária da i.k
dade do Evangelho. Der'
236) Vincent AIcCAULEY, Bispo de Fort Portal, Uganda- Nn
esquema nada se diz sôbre Nossa Senhora. Se a Igreja é missionári
por sua natureza (n. 2) e como Maria foi declarada Mãe da Iereia
é de grande importância propor a Virgem Maria como exemplo » m l
dos Missionários.
237) Rudolf Johannes Maria KOPPMANN, Vig. Apostólico de Wind
hoek. na África sud-ocidental: O esquema, na sua nova redação é
digno de louvor, porque trata profundamente os problemas relativos
à missão. Porém há certas observações que devem ser feitas Antes
de mais nada, seria desejável um mais claro e vigoroso nexo lógico
entre as várias partes e uma exposição mais completa e convincente
das razoes pelas quais Cristo se encarnou. Ao tratar a formação cien-
tifica dos futuros missionários, o esquema põe em evidência as disci­
plinas auxiliares e põe em segundo plano as matérias principais como.
por exemplo, a teologia missionária.
11-10-1965: 146» Congregação Geral
A Atividade Missionária

P r e s e n t e s .- 2.128 p a d r e s
Conciliares. Moderador: Cardeal Agagianian. A Sessão começou
às 9 e terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada pelo
Pe. Ignace Gillet, Abade Geral da Ordem dos Cistercienses Re­
formados (Trapistas). Durante a sessão desta manhã foram
distribuídos os textos das relações sôbre os esquemas D e M i­
n is té r io e t V ita P re sb y te r o r u m e D e E c c le sia e H a b itu d in e a d
R e lig io n e s n o n -C h ristia n a s. Foi lida também a relação sôbre as
emendas introduzidas no esquema sôbre os Seminários, texto
que a seguir foi votado até o n. 12 (cf. p. 373 ss). Continuaram as
intervenções orais sôbre as Missões, com 11 discursos. Às 11,45 foi
lida pelo Secretário Geral uma carta do Santo Padre Paulo VI ao
Cardeal Tisserant, na qual o Papa comunicava ter tido conhe­
cimento de que alguns Padres Conciliares tinham a intenção de
falar no Concilio sôbre o celibato eclesiástico da Igreja latina.
Sem impedir absolutamente a liberdade dos Padres Concilia­
res, declarava “não ser oportuno discutir püblicamente sôbre
êste assunto, que exige suma prudência e é de grande importân­
cia. E’ nosso propósito não só conservar com tôdas as Nossas
forças esta lei antiga, sagrada e providencial, mas também re­
vigorar a sua observância, chamando a atenção dos sacerdotes
da Igreja latina para o conhecimento das causas e das razões
que hoje, principalmente hoje, fazem com que essa lei seja con­
siderada muito apta, pois graças a ela os sacerdotes podem
consagrar todo o seu amor sòmente a Cristo e dedicar-se in­
teira e generosamente ao serviço da Igreja e das almas . A
carta termina dizendo que, se algum Padre Conciliar julga opor
2õ8
I. Crônica das Congregações Gerais
tuno exprimir o próprio parecer sôbre êste assunto, o faça por
escrito, enviando-o ao Conselho de Presidência que, por sua vez
o mandará ao Papa, que o examinará atentamente, diante de
Deus. (Aplausos).
As intervenções desta manhã:
238) Cardeal Ernesto RUFFINI, Arceb. de Palermo, na Itália O
Concilio não poderia deixar de falar sôbre a atividade missionária da
Igreja, pois o apostolado das missões não só deve ser promovido mas
também deve ser cumulado de louvor pelos frutos abundantíssimos que
oferece à Igreja. O presente esquema deveria ser aperfeiçoado para tor-
nar-se a Carta Magna das Missões. O orador apresentou correções
particulares ao texto e denunciou algumas inexatidões na formulação
da doutrina.
239) Cardeal Franziskus KOENIG, Arceb. de Viena, na Áustria
(texto completo): O esquema é plausível (valde placet) quanto à dis­
posição. Faço, contudo, as seguintes observações: No n. 11 dever-se-ia
expor com mais clareza como hoje em quase tôdas as partes do mun­
do os cristãos vivem em contacto com os não-cristãos. Portanto, em
tôdas as partes do mundo e não apenas nas missões deve-se dar tes­
temunho de verdadeira vida cristã. Por conseguinte, os cristãos aco­
lham com grande caridade os não-cristãos em seus ambientes; procu­
rem encarar as religiões não-cristãs como meios de procurar a Deus
(At 17,27). Embora elas não sejam caminhos de salvação, são, con­
tudo, indicações mais ou menos distantes pelas quais os homens são
preparados pelo insondável desígnio de Deus para encontrar o verdadeiro
caminho da salvação. Já que muitos discutem sôbre as relações da
Igreja com as religiões não-cristãs e sôbre esta matéria circulam sen­
tenças errôneas, permiti-me dizer uma palavra a respeito. “Non est in
alio aliquo salus nec enim aliud nomen est sub caelo datum hominibus
in quo oporteat nos salvos fieri” (At 4,12). Portanto, a graça de Cristo
e a Encarnação constituem a via de salvação estabelecida por Deus.
Por conseguinte, ninguém pode-se salvar sem a graça de Cristo, o que
vale também para os não-cristãos. Mas a Igreja visível, inserida na
unidade do gênero humano, é como um sacramento de salvação de to­
dos. Desta salvação podem participar por obra “operantis” também
os não-cristãos. A própria graça de Cristo, oferecida e aceita possui
um dinamismo que leva à sua perfeita “encarnação’' pelos sacramentos
e pela agregação social à Igreja. Embora dêste modo possa haver fora
da Igreja salvação, a religião cristã “vi operis operati” é a via ordi­
nária de salvação para a qual tende também aquela graça que é dada
tora da Igreja. E como a Igreja visível é necessária na economia da
sa.vação “necessitate medii”, assim também com a mesma necessidade
Í L T V lg!eia tem obrigação de levar a efeito a atividade missionária.
~7 y* 24: não Podemos obrigar os outros a dialogar, porque o diálogo
eve ser sempre um colóquio livre. Mas podemos e devemos preparar-
nos para o diálogo, removendo os obstáculos e dando os primeiros
P/ ^ S ^ eSpf?o lnütilmente, quando para tal formos convidados (Ec-
ihswm suam. AAS, 1964, 642). Só Deus pode tocar os corações para
A Atividade Missionária 259

o diálogo da salvação. Nós, porém, não podemos “deficere caritate"


* , ’ a J^tória das religiões e as investigações cientificas
demonstram que o homem é um animal religioso, tem pelo menos o
sentido e o desejo de um ser supremo que é início e fim de tudo; mui­
tos nao-cristaos procuram sinceramente a Deus, são movidos pela gra­
ça, a qual respondem generosamente; as religiões não-cristãs contêm
muitos elementos que devem ser purificados e elevados para que possam
responder à Revelação; global e historicamente considerados os sistemas
e religiões não-cristãs manifestara uma orientação que, ao menos em
parte, é digna de louvor: a pureza do monoteísmo no Islamismo, o sen­
tido da inferioridade de Deus no Induísmo, a idéia da fragilidade do
homem e o seu esforço por uma libertação no Budismo. Conclusão:
o diálogo exige que se tenha uma compreensão não apenas abstrata
destas religiões, mas concreta e vital, a que nasce da convivência com
culturas e religiões determinadas.
240) Maúrice QUÉGUINER, Superior Geral da Sociedade das Mis­
sões Estrangeiras de Paris: O texto poderia pôr em mais evidência a
urgência das missões. Conviría também que êle se opusesse sem equi­
voco à opinião segundo a qual Cristo não quis reunir todos os povos,
mas apenas um pequeno grupo. Igualmente deveria opor-se à opinião
daqueles que atribuem às religiões não-cristãs, como tais, uma eficácia
quase sacramental para a salvação. As imensas necessidades de pessoal
e recursos materiais deveríam ser postas em evidência. Por fim, seria
bom falar da influência que exerce o testemunho da Igreja. Por outro
lado, o texto deveria dispensar maior atenção às relações entre Insti­
tutos missionários e Bispos de Igrejas antigas. Historicamente a Santa
Sé sempre procurou lançar mão dos meios necessários para cumprir
a sua tarefa missionária, como a Congregação de Propaganda Fide
e os Institutos missionários. Os Bispos têm tomado sempre maior cons­
ciência de sua responsabilidade colegial. Deve-se, pois, evitar rodo
o conflito na arrecadação de pessoal e de ajuda. Institua-se um fraterno
diálogo entre Institutos missionários e Bispos. Coordenem-se as ativi­
dades sem excessiva centralização. Formem-se adequadamente os que
são destinados a dirigirem as missões. Estabeleçam-se vínculos frater­
nos entre clero diocesano e missionário. Tome-se consciência do obs­
táculo causado pela divisão dos cristãos.
241) Andréa SAPELAK, Visitador Apostólico dos Ucranianos da
Argentina (falou em nome de mais outros 15 Bispos): O esquema,
tal como se apresenta hoje ao exame dos Padres Conciliares, náo tem
em conta ao menos um têrço do gênero humano. Com efeito, cerca de
um bilhão de pessoas, por causa das perseguições de que são vitimas,
não podem receber a pregação do Evangelho. Em conseqüência nenhu­
ma solução é proposta para um problema de tão vasta importância.
O esquema parece considerar o fenômeno como algo de passageiro.
Entretanto, em muitos países, na Ucrânia, por exemplo, a l£reia
perseguição há 10 anos. As escolas católicas e as igrejas es 0 .
das e a juventude cresce no ateísmo. Para penetrar nas Naçot* .
domina um ateísmo militante é necessário que nos d“ ,r*
dos outros meios modernos de comunicação social. P ^ c
2(30 1 . Crônica das Congregações Gerais
será possível preparar o caminho para o advento do Senhor. Através
do rádio se poderíam difundir cursos de catequese, missas em diver­
sos ritos, como tem feito a Rádio Vaticano meritòriamente em relação
à Igreja do silêncio. Para tal fim seriam formados sacerdotes com o
dever de aprofundar os conhecimentos sôbre o marxismo e seus erros
em condição de enfrentar e resolver os problemas criados pelo ateísmo
no mundo contemporâneo. A autoridade da Congregação para as Igre­
jas Orientais, nos territórios em que tem jurisdição, deve ser salvaguar­
dada de qualquer desmembramento e qualquer tentativa de enfraquecer
a sua eficiência.
242) Ernesto GONÇALVES DA COSTA, Bispo de Inhambane, em
Moçambique (texto completo): O esquema atual sôbre a atividadq
missionária da Igreja, mais perfeito e mais extenso do que o anterior,
satisfaz, embora possa sofrer algumas modificações. A matéria versa­
da deveria ser disposta noutra ordem, partindo duma divisão do pri­
meiro capítulo onde se distinguisse claramente a missão das Pessoas
da Santíssima Trindade, que é uma missão estritamente divina, em­
bora elevando a natureza humana em Cristo, e a missão da Igreja, a
partir do dia de Pentecostes, — missão esta que foi confiada a ele­
mentos humanos, iluminados e fortalecidos pelo divino Espírito Santo.
E' conveniente que se introduza um nôvo capitulo no qual se saliente
a atividade da Igreja missionária e o seu fundamento teológico, a par­
tir do Corpo Místico de Cristo e da função sacerdotal do Povo de
Deus. A formação missionária de que trata o esquema deve ser exigida
não apenas dos futuros missionários, mas daqueles que trabalham em
terra de missão e a quantos escrevem ou tratam assuntos missionários
porque atualmente não falta quem condene os métodos aprovados pela
Igreja e seguidos por missionários nos séculos passados, não raro
sem base na verdade e na realidade. A atividade missionária, ainda
que a mesma na sua essência doutrinária, difere daquela que foi seguida
na primitiva era cristã. Para fazer a história com objetividade,
justiça e seriedade, é preciso considerar as instituições políticas, as
condições econômicas e sociais, o grau de cultura de cada povo e outras
circunstâncias. Ninguém se admire que os povos evangelizados, além da
doutrina cristã, tenham recebido da parte dos missionários algo da sua
mentalidade, dos seus costumes e métodos sociais de valorização. Êsses
mesmos povos, confiada e alegremente, abraçaram sem relutância a
técnica, as invenções científicas, os modos de viver e de gozar e tôdas
as modalidades oferecidas pelas sociedades mais evoluídas. Na atividade
missionária deve haver um processo de adaptação da parte do missio­
nário e um processo de assimilação da parte do povo evangelizado.
A Igreja é sobrenatural, mas encarna-se na pessoa humana e na socie­
dade. Os métodos missionários não são absolutos, mas relativos. Por
isso, se adaptam às condições e progressos dos povos, segundo os tem­
pos, as regiões e as circunstâncias. A adaptação de que fala o esque­
ma não é novidade, porque nos séculos passados e nos nossos dias
tem sido seguida pelos missionários. Há Estados que nas suas cons­
tituições políticas, como sucede em Portugal, sempre têm respeitado os
irertos tradicionais dos povos, observando neste sentido as diretrizes
a greja. A adaptação não nos deve dar a impressão de ser oportu
A Atividade Missionária 26 i

d ím e S to
sentido T s tó r irdno apqM ^lt0Í “T
pastoral * d°S n°SS0Spara
dias' pois tem um fun'o
s . - 0 Pastoral esquema. P<J?era contrit)uir
O esquema fala poucomelhor esclarecer
da oração pelas
a- eXOrtar à 0ratá0’ mas oãoapresenta
fundamento da oraçao missionária. Torna-se necessário expor claramentea r ^ ã o e o
o dever da oraçao missionária, fundamentado nos textos da Sagrada
Escritura, da Sacra Liturgia e das exortações dos Sumos Pontífices; en­
sinar aos cristãos o sentido teológico da oração individual e comuni-
0 ^ovo Deus conheça e sinta a sua responsa­
bilidade perante os povos que ainda aguardam a mensagem da Reden-
ção. As riquezas humanas e terrenas não bastam para realizar a obra
missionária, que é acima de tudo uma obra celeste e divina. E por
isso o seu dinamismo e auxílio há de vir primeiramente da parte de
Deus, cuja bondade e misericórdia se abrirá à fôrça das nossas ora­
ções. O texto agora apresentado nada diz também da importância e
nôvo valor das escolas missionárias, quando em quase tôdas as regiões
a escola missionária é o maior instrumento de penetração do Evan­
gelho. A vitalidade da Igreja em terras missionárias depende muito
estreitamente do modo como se ministra a instrução religiosa. A es­
cola é um instrumento de formação total, onde se forma o homem, o
cidadão e o cristão. Quando se fala de adaptação aos costumes dos
povos a evangelizar é preciso estabelecer a distinção entre os bons
e os maus costumes. Se aquêles devem ser conservados e respeitados,
êstes devem ser destruídos cautelosa e suavemente, com caridade. Todos
os costumes que sejam contrários à retidão moral, à dignidade huma­
na, aos direitos da pessoa, à instituição familiar, à escolha da própria
vocação, etc., devem ser evitados. A evangelização implica sempre uma
vida temporal conforme à dignidade humana. A graça pressupõe um
mínimo de natureza sadia. A ação missionária é essencialmente uma
missão de caridade, cuja eficácia depende da graça de Deus e da ge­
nerosidade espiritual e material dos fiéis.
243) Joseph CORDEIRO, Arceb. de Karachi, no Paquistão: O es­
quema deve mostrar mais claramente a necessidade da atividade mis­
sionária da Igreja. O problema adquiriu uma grande atualidade, de­
pois que recentes descobertas teológicas puseram em evidência duas
verdades: que os homens podem ser salvos sem ter conhecido o Evan­
gelho e sem pertencer visivelmente ao Corpo Místico; e que a
Igreja não-católica e também as religiões não-cristãs podem ajudar os
próprios fiéis no caminho da salvação. Estas afirmações fazem com
que muitos missionários se defrontem com graves problemas porque
parecem pôr em discussão a necessidade das missões. A respeito dêste
problema encontra-se na Revelação que mostra a união entre a glória
de Deus e a atividade missionária. A glória de Deus exige qut os ho
mens reconheçam que Êle existe e que veio redimi-los. Para eliminar
qualquer perplexidade é necessário, portanto, considerar o problema
numa perspectiva decididamente teológica e cristocêntrica.
244) Marco Gregorio McGRATH, Bispo de Santiago de
no Panamá: Deve-se louvar o esquema, sobretudo por causa ^ Bs
doutrinárias que oferece a tôda atividade m.ss.onar.a da Igreja.
262 I. Crônica das Congregações Gerais
visáo que confere nova luz ao problema das missões não é completa-
mente perfeita. Com efeito, não representa tôdas as conseqüências pos­
síveis da Constituição De Ecclesia, especialmente com relação à tarefa
do Povo de Deus e às diversas funções dos vários membros da Igreja:
Bispos, sacerdotes, religiosos e leigos. Além disso, não parece claro
que a vida missionária da Igreja é própria de todo o Povo de Deus.
As relações entre os leigos e as missões são expressas de maneira
fraca, especialmente no atinente à importância do seu número no seio
da Igreja e a eficiência de seu testemunho de caridade que podem ofe­
recer em terra de missões. E’ necessário afirmar que o bispo, origem e
centro de tôda a missão, não pode ser substituído por um eclesiás­
tico que possui apenas a jurisdição episcopal sem ser bispo, como
acontece nas Prelazias Nullius e Prefeituras. A doutrina da Colegiali-
dade deveria estar presente no tratado dos problemas das missões
e da Evangelização. Convém pôr em realce a catolicidade da Igreja
e a necessidade de uma Evangelização universal, à luz dos conselhos
dos últimos papas e dos sinais dos tempos.
245) Stanislaus LOKUANG, Bispo de Tainan, Formosa: Não raro
se fala com excessivo otimismo das possibilidades de salvação para
aquêles que não foram evangelizados. E’ fora de dúvida que as re­
ligiões não-cristãs contêm elementos autênticamente derivantes da re­
velação primitiva ou do conhecimento natural de Deus, e assim os não-
cristãos podem aderir implicitamente a Cristo. Mas é preciso lembrar
que êste náo é o caminho normal da salvação, pois é muito imperfeito
e cheio de dificuldades. Por outro lado, é preciso manter a definição
estrita de “Missão”, que não parece poder aplicar-se por exemplo às
Prelazias Nullius da América Latina. O esquema parece considerar os
missionários como únicos sujeitos ativos da Missão, esquecendo os sa­
cerdotes indígenas. Enfim, convém sublinhar que a Missão não pode
de maneira alguma ser realizada de modo individualista.
246) Paternus GEISE, Bispo de Dogor, na Indonésia, fala em nome
da Conferência Episcopal de seu país: O texto propõe em têrmos jul­
gados insuficientes as necessidades da atividade missionária. Não se
pode negar a possibilidade de Deus conceder a cada homem a salvação
sem a pregação. Trata-se, porém, de uma salvação “interna”. Ora,
a salvação eterna não é jamais uma coisa meramente interna, mas
deve realizar-se em certas condições externas e visíveis. A salvação
que pode existir internamente não seria, portanto, uma salvação per­
feita e plena. A forma perfeita de salvação encontra-se apenas na
Igreja.^ A que se realiza fora dela é defeituosa e menos adaptada à
condição humana. Estas observações ajudam a relevar devidamente a
ação missionária e sua necessidade, mesmo em nosso tempo. Além
disso, elas explicam exatamente o motivo por que nós respondemos ao
convite de Cristo de quem recebemos o mandato de ensinar a Boa Nova
a todos os povos.
247) James CQRBOY, Bispo de Monze, Zâmbia: O esquema enfoca
a missão da' 4greja, baseando-a sôbre b mandato conferido por Cristo
aos apostolos e a seus sucessores. No entanto, sua apresentação nao
e con orme à doutrina contida na Constituição De Ecclesiã e no es~
A Atividade Missionária 263

quema sôbre o Apostolado dos Leigos, segundo os quais é todo o Povo


de Deus que é enviado, por fôrça do Batismo e da Crisma. O Apos*
tolado dos leigos é uma participação no apostolado da Igreja e não
no da Hierarquia. Doutra parte, é justo fundar a atividade missionária
da Igreja sôbre as “missões" das Pessoas da Santíssima Trindade. No
entanto é difícil distinguir claramente os vários sentidos em que a
palavra “missão" é usada.
248) Joseph ATTIPETTY, Arceb. de Verapoly, na Índia: O es­
quema, em linha geral, é digno de louvor, ainda que careça de certas
modificações. A constituição de nôvo Dicástério para a Propagação
da Fé pode ser considerada oportuna, mas os têrmos com que é pro­
posta são inaceitáveis. Com efeito, o texto parece acentuar demasiado
as tarefas e o exercício da Colegialidade Episcopal ao ponto de impor
ao Sumo Pontífice uma reestruturação da Congregação de Propaganda
Fide. Ao contrário, se deveria agradecer a essa mesma Congregação
pela obra realizada no passado e pelas atuais iniciativas. Seria útil
incluir no texto uma menção específica de quanto afirma Santo Tomás
sôbre a missão geral da Igreja, como que a demonstrar que tôda a
atividade missionária deve ser fundada sôbre as idéias e os princípios
daquele que foi o príncipe da filosofia da Igreja.
12-10-1965: 147» Congregação Geral
A Atividade Missionária

P r e s e n t e s : 2.126 p a d r e s
Conciliares. Afoderador: Cardeal Agagianian. A Sessão começou
às 9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Albert Cousineau, Bispo de Cap Haitien, no Haiti. Foi lida no
início uma carta do Cardeal Tisserant ao Papa, comunicando-
lhe ter dado a conhecer aos Padres Conciliares “a tua con­
cepção e a tua decisão sôbre o celibato eclesiástico, na Congre­
gação Geral de 11 de outubro, as quais foram acolhidas pelos
Padres do Concilio com repetidos aplausos. De nossa parte es­
tamos prontos a aceitar sempre as tuas decisões e a obedecer
às tuas ordens. Imploramos a tua bênção”. Vieram novos aplau­
sos. Foi comunicado também que o Santo Padre fixou para o
dia 28 do corrente a data da próxima Sessão Pública para a
aprovação definitiva e a promulgação dos Decretos que êle jul­
gar oportuno e que a seu tempo serão dados a conhecer. En­
quanto nesta manhã se votava ainda o esquema sôbre os se­
minários, continuavam os discursos na Aula sôbre as Missões.
Falaram 17 Padres e às 12,15 o debate foi encerrado por von­
tade da assembléia consultada a respeito pelo Moderador. O
resumo dos discursos desta manhã:
«quema é^aceitáve?*™ RUGAA1BWa. Bispo de Bukoba, Tanzânia:
^re a fé viva que deve a • conJun^°» poderia, porém, insistir mais sô-
olado missionário. E’ a t^ os aQu^Ies que se dedicam ao apos-
na fé teológica aue pu ^Ue 'orma os apóstolc-s e os missionários,
perseverança e fim última enconÍTam Deus como fonte, fundamento,
ortalece e propaga a micc- C SUa ,at,vidade. E’ ela que faz nascer,
voli-e a Igreja, Corpo M : ^ ° através da Qual se edifica e se desen-
issjonáríos, empenhados no ,C°- ^ nsto- Convém, pois, incuícar nos
povos da terra, o mistério Hm,^s,ão sa,víflca da Igreja ju n to a to d o s os
período heróico da Iíti-p ; 3 - ^ue animou os Apóstolos e mártires,
o próprio sangue em aiguns na° países.
fo! suPerado. Hoje muitos
Em outros, ainda, sofrem
ela derra-si-
A A tiv id a d e M issio n á ria 265

aí- é£ - lurs:
valorização Oas co i J ' L ° Z Z Z \
hvres de qualquer espirito de discriminação social, cultural ou racial.
Em consequência,
cada povo. sao abertos à assimilação dos valôres autênticos de
250) Cardeal Leo SUENENS, Arceb. de Mechelen-Brussel, Bélgica:
O esquema sôbre as missões é indubitavelmente melhor do que o que
foi apresentado no ano passado. As reservas que ainda merece con­
cernem à essência mesma da atividade missionária. Por exemplo, há uma
grave lacuna quando o texto fala sôbre a formação do apóstolo mis­
sionário. Nos parágrafos 23 e 24 — consagrados à formação dos futu­
ros missionários — não se oferecem, como seria de esperar, as dire­
tivas indispensáveis sôbre a formação apostólica. A coisa é tanto mais
paradoxal pelo fato de que a iniciação prática e progressiva ao apos­
tolado é oficialmente recomendada pela Santa Sé, tanto para os futuros
padres, como também para os religiosos. Bastaria, a êsse respeito, con­
sultar a Constituição Apostólica Sedes Sapientiae e o artigo 14 dos Es­
tatutos Gerais anexos. A atenção se concentra de preferência sôbre a
formação intelectual e espiritual, pois se pensa que a iniciação ao apos­
tolado é prejudicial à juventude. Ao contrário, ela vivifica a piedade,
ajuda o crescimento da caridade ativa e dá um certo equilíbrio e rea­
lismo à vida intelectual. No que diz respeito aos métodos de realizar
tal iniciação, conviría seguir os progressos da pedagogia litúrgica e ca-
tequética e realizá-la de modo não apenas pessoal, mas comunitário.
Os sacerdotes não fazem apostolado no lugar dos leigos, mas ao lado
e à frente dêles. Seria bom oferecer aos missionários ocasião de apren­
der a arte de suscitar apóstolos leigos; a arte de animar as associações
apostólicas com o espírito evangélico; a arte, enfim, de coordenar as
múltiplas atividades em campo missionário. No referente ao apostola-
do, como tal, o texto não insiste, como deveria, sôbre a urgência de
pregar o Evangelho. Reconhece a necessidade da evangelização, da fé.
do Batismo, mas em tom menos afirmativo do que já o fizeram os Pa­
pas e o próprio Concilio na Constituição Lumen Gentium. O texto de­
veria ser menos prolixo, mais denso e capaz de abrir-se a mais amplos
horizontes. Enfim, o esquema deveria recomendar a ereção de faculda­
des de ciências sagradas para a formação de melhores missionários,
como também centros culturais e sociais, junto às grandes Universida­
des, nas mais vastas zonas de penetração missionária.
251) Cardeal Paul ZOUNGRANA, Arceb. de Ouagadougou, Alto
Volta: O esquema, com justiça, afirma a necessidade atual dos Institutos
Missionários. Há quem ponha em dúvida tal necessidade, por três ra­
zões: a) O feliz estabelecimento de Igrejas locais dotadas de uma hie­
rarquia própria faz crer, e justamente, que estas Igrejas não mais pre­
cisam de missionários, b) Nos países de antiga cristandade, alSun*
pos enviam sacerdotes e leigos às dioceses recem-criadas. c -n •
muitos apresentam juízos negativos sôbre a ação dos ns i u
Concilio - V — 18
266 I. Crônica das Congregações Gerais
Armários fazendo realçar seus defeitos. No entanto, so nao cometem erros
ao uêles que nada fazem. A verdade exige que se afirme que a obra dos
missionários é absolutamente positiva e que semêles não existiríam
hoie tantas comunidades cristãs, sacerdotes, religiosos que têm um va­
lor semelhante ao das antigas Igrejas criadas por Bispos e Cardeais.
Sáo justamente êstes resultados que testemunham o zêlo sobrenatural
dos missionários. E’ preciso protestar firmemente contra juízos injustos
formulados a respeito. De resto, donde vem a sabedoria daqueles que
criticam tanto a obra missionária sem jamais terem consultado os in­
teressados? Os Institutos Missionários continuam como principal instru­
mento para aevangelização do mundo. Êles são particularmente cha­
mados a fornecer uma melhor preparação a quantos queiram partir
para as missões. A diminuição das vocações nestes institutos repre­
senta uma grave ameaça para as Igrejas de recente criação.
252) Eugene D’SOUZA, Arceb. de Bhopal, na índia: Estando de
acôrdo com as observações sôbre o problema já feitas na Aula por vá­
rios outros Bispos, a intervenção foi apresentada por escrito ao Con­
selho de Presidência. (Aplausos).
253) Joseph GUFFENS, Bispo Titular (belga): O esquema fala de
passagem sôbre o problema da escola tão importante nas missões. Des­
de há alguns séculos a escola é uma espécie de laboratório do Espi­
rito Santo. O texto deveria salientar a confiança nos leigos, no clero
e nos religiosos indígenas. Nada fala sôbre os países do terceiro mundo.
254) Victor GARAYGORDOBIL BERRIZBEITIA, Prelado nullius de
Los Rios, Equador, fala em nome de mais 120 bispos: O esquema não
se refere aos religiosos e religiosas que não tendo tarefa permanente
de missionários são enviados em missão apenas por certo período da
vida. Com efeito, os missionários se dividem em três classes: os que
pertencem a institutos exclusivamente missionários dependentes da Con­
gregação de Propaganda Fide; os que, pertencendo a uma Diocese ou
determinada Congregação, recebem da Santa Sé o mandato para cuidar
do destino de um território por tempo indefinido; os sacerdotes enviados,
por tempo determinado, a uma missão. O esquema deveria prever a pos­
sibilidade de uma Diocese encarregar-se de território ou obra missioná­
ria, o que seria muito útil para o progresso da evangelização.
255) Joseph SIBOMANA, Bispo de Ruhengeri, Ruanda, fala em nome
da Conferência Episcopal de Ruanda e Burundi: O terceiro capítulo do
esquema está bem escrito. No entanto, poderia esclarecer melhor que
todo o missionário deve desempenhar sua tarefa sob a autoridade do
Ordinário local. O Bispo deve ser considerado como centro e objeto
material da espiritualidade missionária. Não podem coexistir duas obe-
íências: a religiosa e a missionária, porque tôda a autoridade vem de
Deus e Deus não está dividido. Mesmo para os missionários religiosos
que tem uma espiritualidade própria, o Bispo é sempre o Pai comum,
servm o de meio de união entre as dioceses que se esforçam por instau
rar o reino de Deus. Êstes são os princípios que deveríam ser melhor
examinados pelos Padres Conciliares
Con<Snril0SpPh MARTIN. Bispo de Bururi, Burundi, fala em nome da
.inferência Episcopal de Ruanda e Burundi: Deveria ser aprovado por
A A tiv id a d e M issio n á ria 267
esta Assembléia o plano que o esquema estabelece para a reorganiza-
çao da Congregação de Propaganda Fide. Esta Congregação deveria
assumir a tarefa de repartir as forças existentes. Entretanto, quais sè-
nam os critérios de tal repartição? Seria interessante conhecer a êste
respeito o parecer de alguns Bispos representantes dos quatro cantos
do mundo. Êstes Bispos poderíam fazer parte daquele dicastério, como
preve o Decreto sobre os deveres pastorais dos Bispos. A repartição dos
sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos missionários deverá ser feita
segundo o mesmo Decreto e assegurada pelo Sinodo dos Bispos.
257) Jéan-Baptist GAHAMANYI, Bispo de Butare, Ruanda, fala em
nome da Conferência Episcopal de Ruanda e Burundi: A coordenação
de todos os esforços missionários — de que fala o n9 31 — é impor­
tante para unir os diversos institutos que trabalham numa região. Para
tal fim seria bom organizar uma Conferência de religiosos e religiosas,
no sentido de ajudar a Igreja local sem preocupação de privilégios par­
ticulares. As Dioceses e as Paróquias são comunidades eclesiásticas uni­
das profundamente e não uma contraposição de obras apostólicas.
258) Michel NTUYAHAGA, Bispo de Bujumbura, Burundi, fala em
nome da Conferência Episcopal de Ruanda e Burundi e ainda de alguns
Padres da África Oriental e da Nigéria: Seria necessário reexaminar
cuidadosamente os tópicos que tratam das relações entre os Bispos e os
superiores dos Institutos, pois o assunto tem uma importância funda­
mental. A falta de coordenação, a confusão de iniciativas e a interfe­
rência de podêres prejudicam gravemente o trabalho apostólico. O di­
reito missionário antiquado e as suas melhores normas não são aplica­
das. E* necessário favorecer e apoiar os institutos missionários, na me­
dida do possível. Mas é preciso lembrar que compete aos Institutos co­
laborar e não dirigir.
259) Giocondo GROTTI, Prelado nullius de Acre e Purus, Brasil,
fala em nome de 77 Padres: O texto deveria insistir mais sôbre o dever
que tem o leigo em missão de adquirir auxílios espirituais pela oração,
mortificação e sacrifícios ordinários e extraordinários. Seria bom tam­
bém que êles fôssem integrados a um Instituto especial criado pela San­
ta Sé como foi feito em Verona para os sacerdotes que se destinam à
América Latina. Propõe-se, enfim, que seja criado junto à Congregação
de Propaganda Fide um setor de preparação de leigos especializados em
várias técnicas para os países necessitados de desenvolvimento. Seria
uma verdadeira “marcha da fé”.
260) Pedro ARRUPE, Prepósito Geral da Companhia de Jesus: E’
preciso dedicar maior atenção ao tema da cooperação missionária, pois,
tal como se concebe no Ocidente, ela aparece deformada. A atividade mis­
sionária deve ser sublinhada não apenas à luz dos princípios, mas tam-
bém à luz do momento histórico que orienta o centro de gravidade do
mundo em direção dos povos afro-asiáticos. E preciso ter presente a
complexidade do trabalho missionário, às voltas não só com problema*
de apostolado moderno, mas também com dificuldades ori^nad^ c
encontro com antiqüíssimas culturas e religiões dos terr^ r'^. . mi^_
são. Não se pode tampouco esquecer a contribuição d° ap°bt <’sionár,:a
sionário à instauração e conservação da paz. A concepção
18*
268 I. Crônica das Congregações Gerais
do Ocidente está marcada por diversos defeitos: demonstra um certo
infantilismo talvez porque as informações missionárias são destinadas
mais às crianças do que aos adultos; e marcada por um sentimentalis-
mo voltado à assistência da infância e dos enfermos e quase insensível
a iniciativas mais urgentes e eficazes, como as escolas superiores, as
atividades científico-culturais; sofre de um complexo de superioridade’ que
contrasta com o sentido cristão e que deriva da ignorância dos valôres, da
história, da cultura, dos costumes e da civilização dos povos a evan-
gelizar; míope que é, não consegue discernir a importância da Igreja
fora do campo visual da própria cidade ou diocese; é superficial na
avaliação dos métodos e dos resultados do apostolado missionário; fal­
ta-lhe um sadio critério na escolha do pessoal a ser enviado às mis­
sões e considera os missionários como mendicantes. E’ necessário, para
pôr fim a êstes graves inconvenientes, proceder à criação de órgãos
de informação que — em colaboração com a Propaganda Fide e as
Conferências Episcopais dos países de missão — ofereçam ao mundo
ocidental uma informação exata e sistemática sôbre a atividade mis­
sionária, sôbre a necessidade de missionários particularmente selecio­
nados e difundam entre o povo de Deus a consciência dos deveres de-
rivantes de sua vocação missionária.
261) Hugo POLETTI, Bispo tit. (italiano): O esquema, ao falar
de cooperação, sublinha a existência das Obras Pontifícias Missionárias
e o lugar proeminente que ocupam. Mas não salienta o serviço de assis­
tência ordinária e extraordinária às Missões do qual são testemunhas
Bispos e missionários beneficiados.
262) Paul YU PIN, Arceb. de Nanking, na China: Os sinais comuns
de uma vocação sacerdotal não são suficientes para determinar uma
vocação missionária. A formação missionária exige uma preparação es­
pecífica. Deveríam instituir-se seminários nas zonas de mais numero­
sas vocações para preparar apóstolos com destinação à China. Êstes de­
veríam proporcionar uma autêntica formação religiosa chinesa e formar
verdadeiros apóstolos em vez de peritos da cultura da China. Também
os leigos têm um papel específico na Ação Missionária. Mais do que
catequistas, êles são chamados a ser testemunhas: luz, sal, fermento
do Mundo.
263) Sebastião SOARES DE REZENDE, Bispo de Beira, Moçam­
bique (texto completo): Há que relevar, de forma muito mais saliente,
no esquema das missões, a necessidade da ação social, principalmente
naqueles países em que ela ou não existe ou tão sòmente vegeta. Ação
social no que diz respeito às estruturas fundamentais da higiene e sau­
de, do progresso e da agricultura, da promoção humana, etc. E' de de­
sejar, todavia, que esta ação social seja, ou venha a ser, quanto antes
exercida por leigos devidamente preparados, porque é zona pertinen e
ao setor laical e, além disso, também por ser de tôda a conveniência
-que o clero se entregue exclusivamente ao respectivo múnus sacer o-
taL Ninguém ignora, porém, que uma coisa é evangelizar e outra hu­
manizar. No entanto Jesus Cristo fêz o milagre da multiplicação dos
S , " 30 obstante o conselho contrário dos discípulos... dizendo-lhes^
Da,-lhes vos-mesmos de com er../' Além disso, o juízo final de toda a
humanidade há de ser realizado pessoalmente pelo Senhor na perspect.-
A A tiv id a d e M issio n á ria 269
va
de do social.” “Tive
beber fome e destes-me
Da mesma
mesma *•t,ye sede e destes-me
maneira, mC
nos ÜCpaíses
c?mer-••
de
cie Deoer. . . ua em que a lereia comera
a ser implantada, torna-se de grande necessidade a organização e a for
P'o ! f * f d da da pratica ,U' ™ g~ * ~
consciente ™ P l—senão« otambém
do cristianismo, e i
uma fôrça senamente organizada em ordem ao movimento de aposto­
lado, a açao social e a orientação da massa do povo. E’ para desejar
que ao falar-se das Igrejas locais, de seu desenvolvimento, do método
deste desenvolvimento e do empenho de todos pelo crescimento da Igreja
em cada território, se diga expressamente e com algum acento que a
Igreja Local não é parte, mas é uma célula viva da Igreja Universal.
Dado o pendor atual de apregoar tanto o territorialismo, o continen-
talismo, etc., pendor que nem sempre tem em vista a paz, o progresso
e o bem-estar material e moral dos povos, mas ao contrário, tantas ve­
zes a divisão dos mesmos povos, a rivalidade permanente entre si e o
estado de excitação apaixonada de uns para com os outros, é preciso
que a Igreja Local não se deixe influenciar por êste clima de revolução,
pois ela é superlocal, supercontinental. Ela é universal. Como está des­
crita a espiritualidade missionária não satisfaz, porque, embora ela en­
cerre afirmações e textos bíblicos de grande elevação, a sua apresen­
tação não nos aparece como um todo único e vivo senão apenas um
complexo de partes justapostas. Há que dar à espiritualidade missioná­
ria, que não é uma espiritualidade qualquer, uma alma que a una e
vitalize e esta não pode ser senão o sacrifício da missa pelo qual os
missionários, quer celebrantes, quer participantes, com Cristo oferecem
e consagram a Deus diàriamente tudo e todos os seus. O resto reduz-
se à vivência desta realidade sacrifical durante todo o tempo até à pró­
xima celebração. Há Ordens e Congregações religiosas que não são
totalmente missionárias. Em tais casos acontece que os alunos seguem
todos igualmente o mesmo curso, quer venham a consagrar-se às mis­
sões quer não. De tal situação resulta o imperativo de se suprir con­
venientemente esta falta, mediante cursos de especialidade missionária
para aquêles que se hão de destinar ao apostolado missionário. Impor­
ta que, de uma vez para sempre, se considere superada a opinião
tão comum de que todos eram sempre ótimos para a vida missionária.
E’ da maior necessidade que os Institutos Missionários em cada nação
estabeleçam entre si a redução a uma ou poucas das revistas missio­
nárias que atualmente publicam, a fim de que, diminuindo em número,
possam crescer em qualidade. Esta convenção mútua seria da máxima
vantagem, porque aquilo que é difícil a uma só entidade tomar-se-à
fácil com’ a colaboração de várias e então a causa missionária passaria
a ser melhor, e mais eficazmente servida com órgão de imprensa^ ao
nível das exigências da opinião pública em nossos dias. Igual acôrdo
deveria ter lugar relativamente aos seminários maiores dos Institutos
Missionários, no sentido de um ou poucos seminários servirem para
todos os alunos dos vários Institutos. Só com uma tal colaboração^ o>
mesmos seminários poderão estar à altura de sua missão atual. Com
a maior reverência proponho que uma tal ou qual reno\ ação se opere
na própria Congregação de Propaganda Fide. Esta renovação e\era
começar pelo nome ou título com que é designada. Com efeito, o norn
de Propaganda Fide não é exato. Não se trata de propagar
270 I. Crônica das Congregações Gerais
mas de pregar o Evangelho e o Evangelho não é apenas a fé. Além
disso o mesmo nome não é atual. Esta Congregação tem uma longa
história e os nomes das instituições que não implicam Revelação divi­
na, nem infalibilidade pontifícia, nem consagração tradicional, êsses no­
mes, como os homens, envelhecem. Finalmente êste mesmo nome pode
ofender os ouvidos pios dos que não creem ou crêem tibiamente. De
fato, fala-se de propaganda de produtos comerciais ou industriais. To­
davia não é problema de propaganda senão de pregação do Evangelho.
Esta renovação deveria estender-se igualmente ao setor interno, o único
a que me refiro, da publicação anual das estatísticas da vida missioná­
ria. Esta informação do grande mundo sôbre a ação e a contemplação
missionária é preciosa porque esclarece a opinião pública e a Igreja
não pode prescindir desta opinião pública. O meu reparo, porém, está
no fato de se publicar tão sòmente a vida das missões subordinadas
à Congregação de Propaganda Fide e de nada se dizer das outras
missões que são missões católicas e tantas são florescentíssimas. Inte­
ressa veementemente que se opere uma tal renovação e se dê uma
designação nova a esta Congregação, a qual poderia ser Secretariado
para a Evangelização do Mundo. Seja, porém, como fôr, importa que
êste nome seja atual, psicológico, dinâmico e não apenas dinâmico se­
não eletrônico!
264) Paul Maria KINAM RO, Arceb. de Seul, Coréia: A cerimô­
nia litúrgica — prevista pelo Esquema — para o ingresso de um conver­
tido no catecumenato, poderia constituir, em numerosas regiões, um
impecilho aos acatòlicos ou não-cristãos, especialmente para os jovens
intelectuais que acham a Igreja muito ritualista. Seria uma sobrecarga
para o clero. A cerimônia deveria ser facultativa, a critério do Bispo
e do Pároco. O desenvolvimento das comunicações favorece as mudan­
ças de cristãos para terras não-cristãs e vice-versa. O exemplo que as
nações cristãs mais antigas oferecem exercitará uma influência muito
importante junto às cristandades jovens. Seria necessário ao assunto um
artigo apropriado para salientar a importância missionária da renova­
ção interior das igrejas antigas.
265) Donal Raymond LAMONT, Bispo de Umtali, Rodésia do Sul:
Aprovamos o Esquema agradecendo aos que o elaboraram. Seria dese­
jável acrescentar-se um parágrafo sôbre a obrigação que têm as Igre­
jas Particulares de dilatar o Reino de Deus. Também para despertar-
lhes a consciência sôbre a necessidade de colaborar nas atividades das
outras Igrejas e da Igreja Universal. Cada Igreja Particular deve imi­
tar no seu território aquilo que a Igreja Universal realiza no mundo.
Os Bispos missionários, como também seus colaboradores diretos, desen­
volvam as suas tarefas em nome da Igreja. A Igreja, por sua vez, deve
garantir-lhes a necessária assistência e ajuda.
13-10-1965: 148» Congregação Geral
A Atividade Missionária

P r ESENTES: 2.210 PADRES


Conciliares. Moderador: Cardeal Lercaro. A sessão começou às
9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Gregory Schmitt, Bispo de Bulawayo, na Rodésia do Sul. Du­
rante tôda a manhã continuou o debate sôbre as Missões, tan­
tas foram as intervenções postuladas. No fim falou também um
leigo africano (cf. n. 276).
266) Charles HEEREY, Arceb. de Onitsha, na Nigéria: O Esquema
é digno de louvor, mas deveria esclarecer melhor o conceito de “mis­
são”, como sempre existiu na Igreja. Êste esclarecimento é necessário,
principalmente quando se pensa que o mandato dado por Cristo à Igreja
deve ser entendido não sòmente no seu sentido extensivo, isto é, uni­
versal, mas também intensivo, isto é, como desenvolvimento da evan­
gelização também nos países de antiga tradição cristã. Por isso, o
texto deveria afirmar que as missões são destinadas principalmente aos
países dos infiéis. As confusões originadas por alguns livros, mesmo de
teologia missionária, são freqüentemente as causas da diminuição das
vocações missionárias. Deve-se, porém, constatar que algumas das Igre­
jas recentemente erigidas fornecem missionários a outras que estão ain­
da surgindo. Renova-se assim o episódio evangélico do óbolo da viú­
va pobre.
267) Omer DEGRIJSE, Superior Geral da Congregação do Cora­
ção Imaculado de Maria: Em nome de 90 Padres Conciliares da África.
América do Sul, Ásia, Oceânia e Europa, faço algumas observações sôbre
a questão ecumênica na atividade missionária da Igreja. O Esquema trata
esta questão apenas em algumas passagens (nn. 12, 15, 16 e 59) e de um
modo muito geral e demasiadamente breve. Embora estas referências consti­
tuam preciosas indicações, contudo elas não estão plenamente de acôrdo com
a doutrina exposta no Decreto De Oecunicnismo e não mostram a> ra­
zões do nexo que existe entre a atividade missionária e a atividade ecunu
nica. Por isso proponho: A cooperação entre os discípulos de r,i^° n*
campo missionário poderia ser levada a efeito do seguinte mo o. a. “
nhecimento exato dos Irmãos separados e consequente estima P<
272 I. Crônica das Congregações Gerais
(jornais, revistas, congressos, etc.), algumas vêzes até colóquios diretos
t> pessoais com êles; b) uso dos instrumentos de comunicação social
como rádio, televisão, jornais, revistas, etc. e de outros meios externos
como escolas, hospitais, etc.; c) ação social cristã, por exemplo, campa­
nha contra o racismo, campanha em favor da paz, em favor dos bons
costumes, etc... pois “funiculus triplex difficile rumpitur” ; d) quanto
à própria evangelização: a maturidade e qualidade espirituais daqueles
que dirigem as obras comuns são_ para os não-cristãos um sinal con­
creto e "quase parábola" da união. O movimento ecumênico progride
náo só através do diálogo teológico, mas principalmente pela prática
de atos concretos, como vimos em João XXIII e Paulo VI (peregrina­
ção à Terra Santa, restituição das relíquias das Igrejas Orientais, car­
tas aos Patriarcas ortodoxos). Como ensina a experiência de Taizé,
realizada em diversas partes do mundo, estas ações comuns movem os
corações dos jovens, esta prudente cooperação dá um grande vigor
ao testemunho cristão. O esquema não manifesta suficientemente a im­
portância da unidade dos cristãos para a causa das missões e quanto
lhe é prejudicial a divisão. Esta debilita e obscurece o testemunho apos­
tólico. Aperfeiçoe-se, portanto, o texto neste sentido para que concor­
de mais com o Decreto De Occunicnismo e com a grande expectativa
despertada em todo o mundo pelo movimento ecumênico.
268) Giovanni GAZZA, Prelado nullius de Abaeté de Tocantins,
no Brasil, fala em nome de 74 Padres Conciliares: Há na América mais
ou menos 130 Igrejas territoriais (Vicariatos, Prelazias, Prefeituras, etc.)
nas quais se exerce aquela verdadeira atividade missionária descrita
pelo Esquema. Êstes territórios, ou porque nêles a Igreja se encontra
ainda em fase de implantação, ou porque nêles a obra de evangeliza-
çáo ainda está dando os primeiros passos, ou finalmente por causa das
graves dificuldades em que se encontram, são verdadeiramente mis­
sões no sentido estrito da palavra. Mas nem sempre são considerados
juridicamente como tais, pelo simples fato de não estarem situados entre
os infiéis. Os Ordinários dos referidos territórios, sujeitos à Congrega­
ção Consistorial ou à Congregação de Propaganda Fide, propõem que
no n9 6 (de missionis descriptione) o conceito de “missão” seja tal que
náo exclua nenhuma missão que realmente o seja, porque do contrário
surgiríam graves inconvenientes jurídicos e práticos. Que a Comissão
competente atenda a êste nosso desejo para que o esquema se torne a
Carta Magna de tôda a atividade missionária, não só para alguns, mas
nara todos os missionários.
269) Jan VAN CAUWELAERT, Bispo de Inongo, Congo: E' neces­
sário que a atividade missionária se apóie sôbre fundamentos sólidos. Uma
base idônea poderia ser o cumprimento da vontade de Deus a que so­
mos chamados a responder. De fato, a vontade do Pai, assumida pelo
Filho e transmitida à sua Igreja, reúne tôda a humanidade no Corpo
Místico de Cristo. O texto fala de tudo isto, mas de uma maneira inci-
dental e somente depois de ter anunciado tôdas as outras razões ou
. ausas que determinam o apostolado missionário. Em vez disso, aQue
f si de rações deveríam ser o motivo determinante de tôda a ativida
de rmssionaria. Nã0 poucas vêzes, causa escândalo e dano à evangeliza-
A Atividade Missionária 273
ção a emulação entre as diversas religiões nas zon
conseguinte, convem insistir sôbre a vontade divina

Spna270)
bom Jean GAY, aBispo
reafirmar n ^ o e dde/i^Basse-Terre
., ______ e Pinte-à-Pitre,
^ Guadalupe:
^

soes como melhoramento das condições de vida e como descoberta dos


_ ,, I------ -- v v w .iw lia io m <u 11113“

valôres espirituais, e não como pregação e Batismo. Deveria ser me­


lhor explicada a relação entre a missão da Igreja e a missão do Es­
pírito Santo. Convém ressaltar a necessidade da boa fé, respeito e ca­
ridade no diálogo com os Irmãos separados. Por fim, seria bom mencio­
nar ao menos os nomes das principais obras Pontifícias Missionárias, às
quais as missões devem tanto reconhecimento.
271) Laurentius SATOSHI NAGAE, Bispo de Urawa, no Japão, fala
em nome de 39 outros Padres: O Esquema contém boas considerações,
mas para tornar-se a Magna Carta das missões é preciso ainda aper­
feiçoá-lo. Um defeito fundamental é considerar os problemas das mis­
sões com referência sòmente aos missionários provenientes de outras re­
giões sem citar os missionários nativos. Êste modo de ver contraria
o espírito do Concilio, a atual situação da Igreja em terra de missão
e à expectativa do clero e dos fiéis indígenas. À missão cabe a tarefa
de difundir a Igreja em tôda parte e, por isso, a atividade das Igrejas
Locais e dos elementos indígenas merece o máximo realce. O diálogo
da Igreja Local com os não-cristãos se reveste de muita importância.
Eis por que o texto deve ser revisto no sentido de que o carisma mis­
sionário não seja atribuído sòmente aos Institutos Missionários.
272) Juán Bautista VELASCO, Bispo de Amoy, na China: O Es­
quema carece de modificações. As excessivas considerações gerais de
ordem teológica poderíam ceder lugar a uma apresentação mais sólida
dos fundamentos da atividade missionária. A missão da Igreja provém
do mandato de Cristo e de sua intima natureza — e não apenas da
nova ordem das coisas que determinam nôvo modo de ser dos homens.
O texto, ressaltando exageradamente uma visão comunitária, parece me­
nosprezar o problema da salvação dos indivíduos, contrastando com a
doutrina da dignidade, da vocação e da responsabilidade moral do ato
de cada homem. O texto deve ser revisto em particular na parte relativa
ao problema da adaptação da vida cristã, a fim de evitar equívocos.
273) Aristides PIRÓVANO, Bispo tit. e Superior Geral do PIME,
fala em nome de outros 73 Padres: O Esquema, embora reconheça a
274 I. Crônica das Congregações Gerais
novas levas dos antigos, que se abasteciam entre o clero e os semina­
ristas das respectivas dioceses. Para evitar estas e outras dificuldades,
seria bom que o nôvo Código de Direito Canônico estabelecesse vínculos
mais estreitos entre os Institutos Missionários, as dioceses e os países
que os fundaram. Melhor do que criar novos estabelecimentos do clero
secular para as missões, seria empenhar-se sèriamente em fortificar os
já existentes de modo a pô-los em condição de desempenhar as tarefas
para que foram fundados.
274) Peter HAN KON-RYEL, Bispo de Jeon Ju, Coréia: São quatro
os caminhos abertos aos jovens da Europa e da América decididos a se
fazerem missionários: partir a título individual e pôr-se à disposição dos
Bispos; entrar em uma sociedade missionária que lhes assegure a for­
mação; de acôrdo com a Fidei donum, sacerdotes diocesanos podem ser
enviados como missionários a outras dioceses por tempo limitado; um
Instituto forma sacerdotes e os oferece a uma missão ou território mis­
sionário, recebendo-os de nôvo quando não lhes é mais possível con­
tinuar. Esta última forma parece-nos ser a solução quase ideal para o
problema das missões. Segundo o Evangelho a vocação missionária se
fundamenta na abnegação total, na caridade sincera e na alegria constante.
275) John DE REEPER, Bispo de Kisumu, Quênia: O Esquema fala
muito timidamente das necessidades materiais das missões. Quando os
Padres Conciliares missionários voltarem às suas missões, serão inter­
rogados não sôbre a definição da palavra “Missão”, mas sôbre os au­
xílios concretos que trazem, especialmente para os pobres. A colabora­
ção é uma responsabilidade urgentíssima. Não raro os Bispos missio­
nários — que tanto necessitam ficar em suas sedes — são obri­
gados a viajar para pedir ajuda econômica. Mesmo quando estão na
sede da missão perdem muito tempo escrevendo para pedir esmolas.
Dever-se-ia resolver êste problema de maneira conveniente. Outrora as
missões recebiam, vez por outra, subvenção dos governos para a cons­
trução de hospitais. Atualmente, em muitos países, os governos dão
ajuda apenas aos nativos. O princípio da colegialidade episcopal e da
cooperação econômica entre Igrejas antigas e novas seja aplicado tam­
bém no setor missionário.
276) Eusèbe VOULLYBERTH ADJAKPLEY, leigo, Secretário Re­
gional Africano da Federação Internacional da Juventude Católica, de Lome
(Togo): Quero exprimir minha alegria por poder, eu, leigo africano,
usar da palavra em nome dos Auditores, perante esta Assembléia que
conta Cardeais africanos e numerosos bispos da África. Esta presen­
ça africana é uma indicação do esforço missionário feito para a implan­
tação universal da Igreja. Presto homenagem aos missionários e a to-
do^ aquêles que deram a sua vida e o seu sangue por esta missão, seja
na África, seja na Ásia, ou em qualquer outra parte. O nosso grupo
de Auditores deseja, antes de tudo, expressar seu reconhecimento aos
Cardeais Moderadores que quiseram voltar a dar-lhe a palavra hoje
por ocasiao dêste esquema que tanto nos toca. Depois da doutrina tao
rica da Constituição sôbre a Igreja, depois das perspectivas novas a
Decreto sobre o ecumenismo, depois dos grandes debates sôbre o apos­
to a o os leigos e o esquema da Igreja no mundo moderno, o esquema
A Atividade Missionária
11D
atual acrescenta um ensinamento indispensável e -
recebemos com alegria e desejamos vpr a m i™ n°V° ape.° que nos
todos
, ~os membros leigos6 ovo aede uDem°N-°
do Povo com entusiasmo
eus. Nos agradecemos P°r
aos Pa-
dres Cone,bares que atuaram no debate a relação essencial eníre fe e
Tpeito
n T oaoss ^ sBispos,
n n s aquêles queCOndlia«
pediram que
que “o »nosso
■ *retamente
papel nadizem res­
atividade
miss.onaria seja ainda mais claramente esboçado. Nós sabemos que o
mundo de hoje é muito diferente do mundo em que começou o esforço
missionário, tanto nos países de cristandade como nos países de mis­
são. Não se trata aqui do mundo no sentido do EsquemaXIII. Tra­
ta-se de um mundo quese unifica, um mundo onde todos os homens
de tôdas as raças e de tôdas as nações tomam consciência de sua
dignidade, um mundo que suporta menos que outrora as ilegalidades
e as injustiças de que sofre; um mundo onde o processo de unificação
torna mais vivo o sentimento que tem cada povo de sua personalidade
própria, a sua necessidade não sòmente de receber mas também de
se afirmar e dar; é um mundo onde centenas de milhões de homens
vivem em regiões onde a Igreja está presente com muita dificuldade,
mas um mundo também, onde países tradicionalmente cristãos conhe­
cem uma descristianização profunda e onde — em todos os continentes
— setores importantes da atividade humana se realizam sem ligação
aparente com o pensamento e a experiência religiosa. Se a Missão está
por tôda parte, nós sabemos também que os missionários são chamados
de todos os países e de todos os grupos de que se compõe a Igreja.
Nós estamos certos de poder fazer-nos aqui porta-voz de tantos leigos
— homens, mulheres, jovens ou adultos, lares também — que desejam,
cada um segundo a sua vocação, pôr o seu testemunho e a sua com­
petência a serviço da Missão Evangélica da Igreja. Todos podem e de­
vem nisto cooperar. O esquema mostra-o bem. Cada vez são mais nume­
rosos os que se sentem chamados a êste serviço. Leigos nativos de
países ditos de Missão trabalham no seu próprio território como cate-
quistas ou nos diversos movimentos que por tôda parte se organizam.
Leigos de países chamados de velha cristandade, seja a título de lei­
gos missionários, seja, mais adequadamente, a titulo de cooperação in­
ternacional, colocam-se a serviço das Igrejas jovens. Leigos também
de países ditos de Missão podem por sua vez tornar-se missionários
não apenas nos seus próprios países, mas também nos que lhes estão
próximos física e espiritualmente e mesmo em tôda parte em que a
Igreja tenha necessidade. Desejamos que o debate atual possa ajudar
os leigos, cada vez mais numerosos, a ouvir o apêlo das missões e a
compreender o papel que têm de desempenhar, especialmente levando
aos seus semelhantes o testemunho do cristianismo vivido, procuram
tornar a Igreja presente em todos os domínios da sociedade. Dmgimo-
nos em especial aos jovens, seja dos países de missão. ^ja_ °_
de cristandade. Nasceram num mundo já em \ias te um fas
uma consciência de novos destinos. Êles se entusiasman 1
276 I. Crônica das Congregações Gerais
do desenvolvimento, ao mesmo tempo que se alistam num trabalho
ciai de cristãos: dar Cristo ao mundo e o mundo a Cristo P eSSen~
leigos, o aspecto ecumênico se reveste de uma importância esD< S i "S
com todos os homens de boa vontade que nós devemos construir t E
poral, é com todos os crentes que nós devemos exprimir os valôr°
pirituais. E1 com todos os irmãos em Cristo que nós somos clm™J S"
a ser fermento evangélico, a fazer conhecer a todos os homrJ d°S
irmãos o mesmo Cristo Senhor e Salvador. Agradecemo-vos v l "OSSOS
Padres, o termos ouvido êste apêlo. Pedimo-vos que nos ajudeis VE'S
Ihor a êle responder. Aos leigos de todos os países, sobretudo aaiêlA
mais receberam, pedimos também para tomarem consciência de su ts £ ?
ponsabdidades e sob o sopro do Espírito Santo1’ “comunicar ao?
;rmaos o dom da fé”. car aos seus
Terminado o debate fêz-se a votação de sondagem: se o
texto poderia servir de base para a correção definitiva do do­
cumento? Sôbre 2.086 votantes houve 2.070 placet, 15 non placet
e 1 voto nulo. Assim voltou o esquema à Comissão para ser
emendado segundo as sugestões feitas oralmente ou por escrito.
14-10-1965: 149? Congregação Geral
O Ministério e a Vida dos Presbíteros

P r e s e n t e s : 2.189 padr es
Conciliares. Moderador: Cardeal Lercaro. A sessão começou às
9 e terminou às 12,25. A Santa Missa foi celebrada por Dom
Paul Mazé, Vigário Apostólico de Isles Tahiti, Oceânia. Termi­
naram hoje as votações sôbre o D e E d u c a tio n e C h ristia n a . O
Cardeal Bea apresentou então, para as votações finais, o D e
E c c le s ia e H a b itu d in e a d R e tig io n e s n o n -C h ristia n a s (p. 381 ss).
Enquanto isso se discutia na Aula o D e M in istério e t V ita P r e s b y -
te r o r u m , com doze intervenções:

O DECRETO SÔBRE O AtlNISTÉRIO E A VIDA DOS PRESBÍTEROS


Não foi fácil a elaboração dêste documento. Após muitas
peripécias redacionais, a Comissão recebeu ordem de reduzir
tudo a apenas 12 Proposições que, devido principalmente a uma
valente intervenção de um grupo de 112 Bispos do Brasil (ten­
do à frente Dom Fernando Gomes dos Santos), acabaram sen­
do rejeitadas por 1.199 Padres Conciliares, que pediram um nôvo
texto, menos jurídico e paternalístico, mais amplo e mais con­
digno (cf. vol. IV, pp. 153-173; REB 1964, pp. 888-891). Já
um mês depois desta fatal votação, na última Congregação do
ano passado, os Padres Conciliares receberam o projeto de um
nôvo texto. Mais de 200 Bispos, de 30 nações diferentes, envia­
ram depois à Comissão 523 sugestões para corrigir ou aperfei­
çoar êste nôvo esquema. O que foi feito no mês de abril ulti­
mo, resultando um texto mais uma vez bastante modificado, que
foi enviado aos Padres no mês de julho, para ser agora debatido.
A questão do celibato. O nôvo debate conciliar sôbre o ministério
e a vida sacerdotal ia começar no dia 14 de outubro, i a> corno o cs-
278 I. Crônica das Congregações Gerais
quema apresentava também um parágrafo bastante amplo sôbre o ce-
lrbato (n. 14), vários Padres se prepararem para falar também sôbre esta
delicada questão eclesiástica. Todavia três dias antes, já na parte final da
146* Congregação Geral (cf. p. 257), foram os Conciliares surpreendidos
pela leitura de uma Carta do Papa, dirigida ao Cardeal Tisserant, na qual
Sua Santidade comunicava ter tido conhecimento de que alguns Padres ti­
nham a intenção de falar no Concilio sôbre o celibato. Sem impedir absolu­
tamente a liberdade dos Padres Conciliares, declarava o Papa “não ser
oportuno discutir públicamente êste assunto, que exige suma prudência
e é de grande importância. E’ Nosso propósito não só conservar com
tôdas as Nossas forças esta lei antiga, sagrada e providencial, mas tam­
bém revigorar a sua observância, chamando a atenção dos sacerdotes
da Igreja latina para o conhecimento das causas e das razões que hoje,
principalmente hoje, fazem com que esta lei seja considerada muito
apta, pois graças a ela os sacerdotes podem consagrar todo o seu amor
sòmente a Cristo e dedicar-se inteira e generosamente ao serviço da
Igreja e das almas". A carta pontifícia terminava dizendo que, se algum
Padre Conciliar julgar oportuno exprimir o próprio parecer sôbre êste
assunto, o faça por escrito, enviando-o ao Conselho de Presidência que,
por sua vez, o enviará ao Papa, que o examinará atentamente, diante
de Deus. O plenário aplaudiu a Carta. E’ evidente que não é possível
saber quantos Padres iriam falar sôbre o celibato. Mas é interessante
observar uma coincidência: minutos antes da leitura da Carta, o plenário
votara, em sufrágio secreto e individual, o n9 10 do Decreto sôbre a for­
mação dos sacerdotes (cf. p. 374), número que reafirmava o celibato: sôbre
1.989 votantes presentes apenas 16 votaram “non placet" (o que não signifi­
ca necessà ri amente que êstes 16 eram contra o celibato). Por isso não acre­
dito que alguém iria falar contra o carisma do celibato que, como tal,
é um dom divino, não uma imposição eclesiástica; talvez se falasse
contra a lei do celibato que, como tal, é uma imposição eclesiástica e não
necessariamente e sempre um dom divino e incapaz de, por si, conferir
um carisma. A dificuldade está exatamente nisso: Em tôrno de um ca­
risma (cuja concessão nem sempre é evidente) fêz-se uma lei (rigorosa
e honestamente indissolúvel, mesmo quando se tem a impressão que o
carisma não foi concedido). Um dos discursos preparados e interditados
pela intervenção pontifícia foi dias depois publicado por Le Monde e
outros jornais. Tratava-se de uma intervenção de nosso Dom Pedro Paulo
Koop, Bispo de Lins, no Estado de São Paulo. Mas não era contra a
lei do celibato. Sua tese estava assim formulada: “Ad Ecclesiam salvan-
dam in nostris regionibus Americae Latinae introducendus est quamprimum
apud nos clerus coniugatus, ex optimis viris coniugatis efformatus, sed
firma manente vigente lege coelibatus". Mostrava então o Bispo de Lins
a desproporção entre o crescimento da população e o do clero,
palmente na América Latina, onde, daqui a 35 anos, teremos 600.000.000
de habitantes. Já agora perdemos anualmente um milhão de almas na
América Latina e no Brasil diàriamente mil pessoas abandonam a Igreja-
Donde tiraremos os sacerdotes para os 200.000.000 de brasileiros no fim
do século (daqui a 35 anos)? Já hoje, dos 80 milhões, 60 milhões vivem
rehgiosamente abandonados no Brasil por falta de padres. E no entanto
temos o mandato divino de evangelizar e santificar! O povo tem um
direito (stnctum ius) de receber o Evangelho e a vida sacramental.
o Ministério . Vida do, P ,« w,„ os
, m
Trata-se de um direito divino aue nSn ■
lei humana e que a Igreja, por justiça tem d?h ? nulado F>or nenhuma
mos, pois, multiplicar e até «ntuoSc^ ™ . ng^ ao í respeitar Deve'
os Bispos a ilusões! Na América Utina e tamoY'T™' entreguem
aiit sacerdotes et rnelehes et „ • a! na es,amos h°je diante duma opção:
re Ecdesiae in A m ért! . * *1 ° S mUltÍPlicare' aa' «ccasun, exspecta-
re Ecclesiae n America Latina. Os diáconos casados, virtualmente iá
concedidos pelo Concilio na Lumen Gentium, são uma ajuda, mas não
resolvem. Propunha por isso o Bispo de Lins que aquêles homens casa­
dos, em vez de serem ordenados apenas diáconos, recebessem o presbi-
terato, segundo as normas estabelecidas por São Paulo nas epístolas
a Tito e a 1 imoteo. Era esta, em resumo, a intervenção preparada por um
Bispo do Brasil, e da qual tanto falaram os jornais do mundo inteiro.
Impeliam-no motivos pastorais de incontestável gravidade. Nem sei como
de outro modo se resolverá a situação. Não basta dizer piedosamente
que Deus não permitirá que na igreja faltem sacerdotes (como se lê no
n9 6 do Decreto Conciliar sôbre a formação sacerdotal: “Deus Ecclesiam
suam ministris carere non sinit”). Os fatos, no Brasil, provam manifes­
tamente o contrário. Nem nos acusem de omissão: construímos seminários,
procuramos vocações, rezamos e mandamos rezar. Desde que eu me co­
nheço foi esta a preocupação constante no Brasil. E o resultado?

A discussão conciliar sôbre o ministério e a vida sacerdo­


tal levou desta vez aos microfones da Aula Conciliar 57 Orado­
res, que tomaram o tempo útil de 5 Congregações Gerais, nos
dias 14, 15, 16, 25 e 26 de outubro (da 149* à 153* Congre­
gação Geral). Não faltaram os louvores à nova redação: Os
Cardeais Ruffini, Quiroga y Palacios, Jaeger, Florit, Heenan,
Shehan, Rossi (e 46 Bispos do Brasil), embora denunciassem
cá e lá falhas, de modo geral aplaudiram o esquema tal como
foi agora proposto. Mais numerosas, porém, foram as críticas,
algumas delas bastante fortes. O Cardeal Meouchi, Patriarca
dos maronitas, o primeiro que falou sôbre o esquema, julgou-o
demasiadamente ocidental, dominado pelo juridismo, parecendo
reduzir a missão do sacerdote ao simples cuidado pela orga­
nização exterior da paróquia. O Cardeal Doepfner acusou mui­
tos e graves defeitos”: seu estilo é por demais exortativo, não
fala suficientemente da nova situação pastoral, não responde
às dificuldades pessoais dos padres e não oferece nenhuma so­
lução aos problemas concretos da vida sacerdotal de hoje. O
Cardeal Alfrink teve a impressão de que o Esquema ainda des-
conhece o espírito do Vaticano II. E o Cardeal Suenens decla­
rou que o texto não corresponde suficientemente às generosas
aspirações dos nossos sacerdotes, pois seu modo de fa ar e a s r
to e intemporal, referindo-se não poucas vezes a um regí
cristandade já em vias de desaparecimento, e um' ‘ „
sobriedade, sem energia e sem virilidade. Guyot acho q
280 I. Crônica das Congregações Gerais
texto poderia decepcionar os padres, pois não tem dimensão
profética, ecumênica e missionária. Henríquez acrescentou que
ihe falta uma adequada visão e formulação teológica. E Charue
declarou que é radicalmente insuficiente do ponto de vista dou­
trinário, pastoral e psicológico. Soares de Rezende, Bispo de
Beira (Moçambique), chegou a pensar que o presente Concilio
ainda nem é capaz de apresentar o documento sôbre os sa­
cerdotes que todos esperamos, porquanto “a doutrina do sacer­
dócio não está suficientemente madura para ser tratada de modo
definitivo”. Muitos, aliás, insistiram numa mais ampla elabora­
ção da teologia do sacerdócio e de sua configuração ao Sacer­
dócio de Cristo: Quiroga y Palacios, Léger, Richaud, G. Co­
lombo, Suenens, Henríquez, Charue, Klooster, Ndongmo, Flores
Martin e o Pe. Thomas Falis, que falou em nome de todos os
párocos do mundo (segundo sua expressão). Foi solicitada tam­
bém uma mais clara descrição da espiritualidade especificamente
sacerdotal, com mais insistência no papel santificador do mi­
nistério apostólico (Léger, Alfrink, De Roo). — Evite-se —
disse o Pe. Falis — tôda concepção de vida sacerdotal fundada
na oposição entre a vida exterior e a vida interior: a santi­
dade sacerdotal consiste na união com Cristo que se realiza
principalmente no ministério pastoral junto aos homens. Deixe-se
todavia claro que o padre não é apenas um cristão dotado de
podêres para exercer certas funções, mas que é um homem in­
teiramente consagrado a Deus (Richaud). Fale-se também da
paternidade espiritual do sacerdote (J. Lefebvre), da ação do
Espírito Santo na natureza e função dos presbíteros (Afeouchi,
Suenens, Jaeger, D’Avack), da necessidade da virtude da hu­
mildade (Brzana, Rossi). Também a questão da obediência sa­
cerdotal (relações entre padres e Bispo) foi objeto de várias
intervenções: Quiroga y Palacios pediu menos insistência na
idéia da dependência; Mancini lembrou que os padres são pes­
soas já maduras e responsáveis e muitas vêzes ricas de talento,
prudência e experiência; Suenens declarou que a obediência não
pode ser interpretada como uma forma passiva de submissão
e perda da personalidade; Shehan solicitou que se evitasse tôda
forma de episcopalismo, que transforma os Bispos em senho-
Tes, no sentido de dominadores; Klooster tentou mostrar que
não há incompatibilidade entre a virtude da obediência e a h"
berdade própria aos filhos de Deus; mas Renard achou que as
fórmulas que estão no esquema não têm sentido concreto e omi­
tem precisamente os problemas que deviam resolver e que é ne
o MiniMírio . , Vida do, Pre, wteros
281
cessário determinar o sentirá h, u .
Bispo; Charbonneau ensaiou uma í í • -e"C,a d° sac*rd°te 30
cerdotal não consiste tanto na submi-òc-"^30 3 obedlência sa*
Risno ouantn
Bispo quanto numa
numa „comunhão
u- subtTllssao passivadependente
ativa, embora a vontade da
do
vontade do sacerdote com a do Bispo. Franic, todívia, um’ dos
lideres conservadores do Concilio, opinou que tudo isso não
constitui problema: e preciso mesmo insistir na obediência e
castigar os desobedientes, porquanto também o castigo é uma
forma de exercício da caridade. Apesar da viva recomendação
do Papa para não falar do celibato, a palavra ocorreu em
quatro intervenções: na de Ruffini para agradecer à Comissão
pela recomendação e comprovação do celibato, “qua sacerdo­
tes quoque dilectae Siciliae continentur”; e nos discursos dos
Cardeais Doepfner, Alfrink e Bea. O Cardeal Doepfner, um dos
Moderadores do Concilio, acentuou o seguinte: por um lado o ce­
libato é apresentado como um “dom do Pai dado sòmente a
algumas pessoas” e por outro é exigido de todos os sacerdo­
tes da Igreja latina. Surge daí um impasse. E a resposta dada
é insuficiente e nada resolve, pois a frase “impossibilia apud
homines possibilia sunt apud Deum” ou não se realiza algu­
mas vêzes ou não se aplica ao problema. O Cardeal Alfrink
lembrou que já no ano passado se fizeram algumas referências
a vários problemas que angustiam nossos sacerdotes (êle mes­
mo falara da “crise do celibato”, cf. vol. IV, pp. 168-169);
mas o texto atual nada diz destas questões, dando a impres­
são de que tudo fica sereno e claro com a exposição de uma
doutrina dogmática sôbre a vida e o ministério dos sacerdo­
tes... E o Cardeal Bea lamentou que, embora o texto diga
com razão que o celibato não é exigido pela própria natureza
do sacerdócio, fala contudo como se o celibato fôsse uma obri­
gação deduzida da natureza do sacerdote. Neste contexto hou­
ve também palavras incisivas sôbre a problemática atual de nume­
rosos padres. Foi ainda o Cardeal Doepfner quem mais viva­
mente expôs o ambiente do sacerdote de hoje que, mesmo em
regiões católicas, por causa das mudanças sociológicas funda­
mentais e da dissolução de muitas estruturas antigas, vive numa
autêntica diáspora, em solidão e isolamento. E a situação pas
toral, que se modificou radicalmente nos últimos decênios, agra­
vou ainda a dificuldade. Por isso os padres, sobretuio os mai
idosos, já nao se sentem em condições de enfrentar a \i<.a P _
tólica. Os campos da teologia, da antropologia e de ol,í^ .
cias teóricas e práticas avançaram espetacularmente e o.
Concilio - V — 19
I. Crônica das Congregações Gerais

náo conseguiram acompanhar a evolução. Acabrunhados, sentem-


se fracassados e até com tentações contra a fé. Mas — excla­
mou o Catdeal-Moderador do Concilio — o esquema ignora
tudo «ao e é por isso mesmo incapaz de ser a Carta Magna
éo Vaticano II para os presbiteros. Também o Cardeal Suenens,
outro dos quatro Moderadores, insistiu nesta problemática: No
mundo ocidental, que se dcscristianiza progressivamente, o sa­
cerdote se apresenta como um estranho. Muitos dêles sentem-
mo (Morosamente. Às vêzes esta situação os desencoraja. Al­
guns procuram um diálogo, mas os homens parecem não sentir
necessidade dêles. Tropeçam na ambigüidade do mundo e ex­
perimentam o paradoxo de sua missão: estão no coração do
mundo, mas separados para o serviço de Deus. — Houve ain­
da outros desejos e votos com relação ao presente documento:
que falasse tsmbém do ecumenismo (Tatsuo Doi), da justa re­
muneração dos sacerdotes (Nabaa), da situação dos vigários
cooperadores, que — segundo Leven — são tratados como ado­
lescentes que ainda freqüentam o seminário e se tomam páro­
cos apenas quando já perderam o entusiasmo c o vigor apos­
tólico. Afgaya Goicocchea lembrou outrossim o trabalho manual
dos sacerdotes que, segundo São Paulo e em justa medida,
pode ser tido como Ifdto e santo. E por último falou o neo-eleito
Arcebispo de Toríno, Mons. Pellegrino, que dirigiu uma viva
exortação aos sacerdotes no sentido de evitarem uma mentali­
dade pragmática que tende a valorizar apenas as obras exter­
nas e a descuidar os estudos e a vida interior.
Eis, pois, as intervenções desta manhã:
277) Cardeal Paul Piem MEOUCHI, Patriarca dos maronitas (tex­
to completo): O esquema sôbre a vida e o ministério dos sacerdotes
* satisfatório, e nêle achamos numerosíssimas riquezas espirituais. Eu
quisera, entretanto, formular algumas observações.
1* êste esquema está impregnado da mentalidade ocidental, ape-
**f de algumas afirmações interessantes contidas na segunda parte
* respeito do modo de vida dos sacerdotes orientais.
2* Em numerosos pontos, e mesmo no seu contexto geral, o tsQJ*"
•aaim ta está eivado de juridismo. Deve êle falar mais vêzes do ts-
pw#o Santo, que é a alma do ministério sacerdotal e a fonte da vuw
uupMnal. No texto, a misaáo sacerdotal aparece mais coroo uma orga-
«*açio exterior do que como uma transformaçfto da vida dos h®roe'r
«fundo o mmténo de morte e de ressurreição de Cristo. A noçio Ç*
2 ff*-® *P*rect “éle como uma realidade que deve impregn
r r * yvutode humana, e mesmo transformar profundamente as
am am humanas autônomas, como a ciência, a economia, etc.
o Ministério c , Vida do, P „ ,bi„ ra ^
3' O esquema parece anoiar-<»> „ . .
que nas condições reais da humanidadeniri/r| n<^PÍÍ>S mtemPorais, antes
concreta. O ministério do sacerdote nndp '°!e’ T-' na vida co*i(iiana
porém sua primeirissima missão é o trctc V6Sf!r c1|,"'ersas modalidades,
P»r "O esquema, a n S ^ d o sacZ S T J 2 " * * °S°
limitada só aos cristãos. Por ser uma Dartirinar^0 C’ P° a,s.si!n dlzer’
de Cristo e na missão fundamental daP|™7aP n ««cerdocio unico
dote deve estender-se a todos os homens^ ’ estemunho do sacef-
4’ E’ preciso mostrar mais claramente a relação entre a fé e a admi­
nistração dos sacramentos. Os sacramentos, diz-nos Santo Agostinho,
sao sinais da fe. h por isto que se faz mister insistir sóbre a necessida­
de da forniaçao crista, da conversão do coração, e da penitência, para
rece er os sacramentos. A formação cristã que deve ser ministrada
pelo sacerdote permite aproximarmo-nos gradualmente do mistério de
Cristo nos sacramentos.
5Ç Não se mostra bastante, no esquema, que essa desejada união
comunitária dos sacerdotes é requerida pela unidade do ministério. Essa
unidade do ministério radica-se na missão da Igreja. Não aparece, aqui,
que êsse modo de vida comunitária da Igreja ilumina a vida do sacer­
dote. Assim é, por exemplo, que, na análise da vocação, não se vê o
fundamento comunitário, e a vocação sacerdotal parece ser uma reali­
dade individual e independente, sem relações com a comunidade. Deus
chama pela comunidade e pelo senso da comunidade, e o bispo torna
manifesta essa vocação.
6* Há que insistir mais sôbre a urgente necessidade dos estudos
para compreender a mentalidade do mundo de hoje. Os estudos são
diversos, mas se integram na unidade da vida humana do sacerdote.
No mesmo sentido, a obediência de que o esquema fala deve ser enca­
rada de preferência como uma obediência aos acontecimentos e às cir­
cunstâncias pelas quais Deus fala e manifesta sua vontade à consciên­
cia de cada um.
Conclusão. Para que êste esquema não se revista de um espírito por
demais jurídico, deve-se levar em conta o mistério da morte e res­
surreição de Cristo, que é lembrado na missa, e que deve impregnar
a vida dos sacerdotes. Deve o esquema ir até às últimas consequências
nesse mistério. Dixi.
278) Cardeal Ernesto RUFFINI, Arceb. de Palermo, na Itália: 0 es­
quema em questão é digno de louvor, porque se inspira na verdadeira
espiritualidade eclesiástica. Faço, porém, algumas observações que vi­
sam o seu aperfeiçoamento. 0 título do esquema deveria ser *de vita
et ministério Presbyterorum” e não “de ministério et vita res y ero
rum”, porque “prius vivere et deinde philosophari”. 0 ministério de­
pende da vida sacerdotal. Aproveito a oportunidade para agra ^ecer
Comissão que redigiu o esquema pela recomendação e_cor^™y |greja
lei do celibato, preclaro ornamento dos presbíteros
ocidental “qua sacerdotes quoque dilectae Siciliae con »q ^
ças a Deus, mas também de grande J o que
bato é para nós fonte de grande alegria, ao opnhora inculca-se o
na juventude fizemos a Deus por meio de Nossa Senhora.
19*
284 I. Crônica das Congregações Gerais

sinodo sacerdotal (coetus) que representa os presbíteros da diocese


como órgão de auxílio do Ordinário no govêrno da mesma. Para evi­
tar o perigo de um regime colegial, dever-se-ia declarar que 0 fim
dêste sinodo sacerdotal é o de ajudar o Bispo apenas com o conselho
quando fôr oportuno. Quando se fala sôbre a fraterna cooperação entre
os sacerdotes, seria oportuno recomendar também uma disciplina tal que
os demais sacerdotes, que se dedicam ao mesmo ministério, se subme­
tam “libenter” a um dêles.
279) Cardeal Benjamim ARRIBA Y CASTRO, Arceb. de Tarrago-
na, na Espanha: O esquema sôbre a vida sacerdotal é um dos princi­
pais do Concilio, porque o Vaticano II deve ser o Concilio da santida­
de. Por êste mesmo motivo o esquema poderia chamar-se “de sanctitate
sacerdotali”, compreendendo sob o nome de “sacerdotes” todos os que
receberam o sacramento da Ordem, e mesmo aquêles que o receberam
em sua plenitude. O esquema, embora contenha ótimos elementos sô­
bre a vida e ministério sacerdotais, passa em silêncio alguns pontos im­
portantes da problemática sacerdotal, como por exemplo, o da falta
de formação ascética e bíblica. Conviría, pois, modificar os métodos
pedagógicos atuais dos seminários no que se refere à piedade, ao estu­
do e à disciplina, tendo em conta que a humildade é o fundamento de
tudo. As normas do Direito Canônico que se referem ao sacerdote deveríam
ser apresentadas no texto do esquema para adquirirem maior fôrça.
280) Cardeal Fernando QUIROGA Y PALACIOS, Arceb. de San­
tiago de Compostela, Espanha: O esquema é digno de louvor, seja por
causa da sua substância, seja pela ordem, beleza e harmonia de suas
partes. Todavia, êle poderia ser ainda aperfeiçoado para que adquira
maior eficácia e ao mesmo tempo torne mais claras e intensas as re­
lações entre Bispos e sacerdotes. A razão específica da santidade sacer­
dotal está na união dos sacerdotes com Cristo Sacerdote, em virtude
do sacramento da Ordem. Esta união é maior e mais estreita nos Bis­
pos, porque êles recebem a plenitude do sacerdócio e, por conseguinte,
estão mais obrigados a santificar-se. O esquema deveria exprimir esta
verdade para que apareça bem claro que tudo aquilo que se exige dos
sacerdotes, se exige ainda em maior grau dos Bispos. Conviría também
declarar que, pela comunhão no mesmo sacramento, embora recebido
em graus diversos, os Bispos e Presbíteros participam do único sacer­
dócio e ministério de Cristo. E’ desta comunhão hierárquica que flui
o amor fraterno que deve unir entre si os Bispos e sacerdotes. Por
fim, o texto não deveria insistir tanto na dependência dos sacerdotes
com respeito aos Bispos, porque nesta insistência poderia transpare­
cer uma certa desconfiança nos sacerdotes. Bastaria apenas afirmar
com vigor a necessidade da comunhão hierárquica entre êles.
281) Cardeal Paul LÉGER, Arceb. de Montréal, no Canadá (texto
completo): Vou falar da segunda parte do esquema, e, mais particular­
mente, do objeto principal de que ela trata: A santidade dos sacerdo­
tes. Com razão desejam muitos, hoje em dia, que se dispense o maior
cuidado a distinguir bem os estilos de santidade próprios a cada estado
de vida. Cada vez mais toma-se consciência dos inconvenientes, e mes­
mo dos perigos, que comporta o fato de num estado de vida, toma­
rem-se de empréstimo as normas e as formas de santidade que perten-
0 Ministério
e a Vida dos Presbíteros
285
ceriam a um estado de vida diferente M
e aos leigos apresentando-lhes uma esniriti.aiL? ajuda aos re,iSiosos
mente adaptada à sua vocação. Da me 1 ! q“e seja verdadeira-
a necessidade de uma espiritualidade sentem os sacerdotes
sejam que o Concilio lhes trace as sacerdofal- e de-
que o esquema só debilmente corresnonrfa ge|’a,s de,a- E’ lamentável
° X d rd o dos
santidade "16 dm?g"ÍfÍCamente
^ ^ sasacerdotes, e pelo aual° P spn nHpfín»
c í p i ro L« r S• •^J uv .^ r[ e* r aa
mente ?ótôda
rdarÍaaa'ouesrtÍgd°
questão da ^espiritualidadepa,avras
sacerdotal.
^ resumiAli se lê-m ifírrrtã!
"No Dró-
prio exercício da caridade pastoral buscarão os sacerdotes' o vínculo
da perfe'^ao propf'a a° sacerdócio, e, ao mesmo tempo, o princípio de
unidade de sua vida e_de suas atividades”. Infelizmente, de um princí-
pio, todavia tão rico, não se tiram as conclusões que se impõem, e por
êle o texto do esquema só pouquíssimo inspirado se acha. O artigo II,
por onde começa o desenvolvimento sôbre a santidade do sacerdote,
exprime mais propriamente a desconfiança para com a atividade do mi­
nistério. O artigo 12, se insiste muito sôbre a necessidade da santidade,
não mostra como o exercício do ministério estimula a santidade, nem
como, de fato, a realiza. Enfim, o artigo 14, em vez de investigar quais
são as virtudes evangélicas que estão particularmente ligadas ao exer­
cício fiel do ministério, de preferência propõe aos sacerdotes os con­
selhos evangélicos no espírito da observância religiosa. Eis aqui, para
remediar estas lacunas, algumas proposições que poderão ajudar a tor­
nar o esquema mais conforme ao grande princípio mais acima evocado.
1. Desde o início da segunda parte é que se deveria declarar que
a santidade do sacerdote è essa união a Cristo que êle obterá principal­
mente pelo exercício do seu ministério sacerdotal. Há que começar esta
segunda parte não por uma prevenção contra os perigos do ministério
— como é feito no artigo 11 — e sim mostrando que são santos os mi­
nistérios de que se tratou na primeira parte do esquema, e lembrando
que, cumprindo-os, é que o sacerdote exprime a sua união com Cristo,
o bom pastor. Cumpre,t pois, evitar, com cuidado, apresentar, neste es­
quema, a santidade sacerdotal como uma luta entre a vida interior e a
vida exterior. Evidentemente, é oportuno, e é mesmo necessário, evocar
as dificuldades a que os sacerdotes estão expostos quando se aplicam
às atividades pastorais. Mas cumpre também mostrar como as reali-
dades da vida dos homens às quais o sacerdote se entremeia podem e
devem aproximá-lo de Deus. O próprio Cristo e sua graça podem ser
achados nos homens com quem o sacerdote cada dia entra em contacto.
2. Proponho que o esquema se aplique a descrever com cuidado
as virtudes que são próprias ao sacerdote por fôrça das exigências con
eretas de sua vida. As virtudes do sacerdote são as do bom pastor, que.
cada dia, dá sua vida por suas ovelhas. Gostaria eu, pois de que o
esquema falasse do zelo, da inquietude pela salv^ão d«» h°men^ da
magnanimidade no dom de si, do cuidado do Evange 10, a . da
e do amor de todos, mas sobretudo dos pobres e dos £
paciência e da humildade em escutar os homens, ia i
perseverança ante os malogros.
I. Crônica das Congregações Gerais
286

j Oportuno seria falar também da obediência, da pobreza e da


castidade. Dcvcsc. entretanto, evitar apresentar estas virtudes como aos
religiosos são apresentados os três votos clássicos. Para os sacerdo­
tes a obediência não é um conselho evangélico que se aceita para
melhor tender à perfeição; é um dever que se impõe pela própria na­
tureza do seu estado. L)e maneira semelhante é que se deveria mostrar
o lugar da pobreza na vida do sacerdote: deve o sacerdote evangelizar
os pobres, e, pregador do reino dos céus, deve testemunhar a superio­
ridade dos bens do além. Por estas razões é que, na sua própria vida
deve êle cultivar um grande desinteresse em face dos bens dêste mundo!
4. No número 15, propõem-se a oração, a leitura da Bíblia e a de­
voção para com a sagrada eucaristia como meios a serem utilizados
pelos sacerdotes para lhes alimentar a vida interior. Ainda melhor se
faria, e mais correto seria, se se apresentassem a oração e o culto
eucarístico como as atividades privilegiadas do seu papel de mediado­
res entre Deus e os homens. Um pouco da mesma maneira, dever-se-ia
levar em conta o fato de o conhecimento e a meditação das Sagradas
Escrituras se imporem primeiramente como uma exigência do ministério
da pregação do Evangelho.
282) Cardeal Paul RICHAUD, Arceb. de Bordeaux, na França (texto
completo): Êste esquema tende a corresponder com muita felicidade à
expectativa dos sacerdotes, e, de fato, apresenta-se sob forma bem
adaptada, como um incentivo dado pelo Concilio ao verdadeiro e exce­
lente zêlo dos sacerdotes. Mas como a primeira palavra do seu título
parece insinuá-lo e o preâmbulo confessá-lo, tem êste texto o aspecto
de visar principalmente o ministério do sacerdote, antes que sua vida
essencial e profunda. Nêle o sacerdote é considerado sobretudo no exer­
cício do seu apostolado, o qual é válido e indispensável. Mas isto não
é suficiente. Com justa razão, entretanto, o projeto de decreto refere-
se à constituição dogmática De Ecclesia para lembrar a própria noção
do sacerdócio. Receio que os sacerdotes fiquem decepcionados na sua
expectativa legítima se, no documento conciliar que especialmente lhes
concerne, não acharem a idéia e o sentimento que, intimamente, os ani­
mam. A primeira resposta do jovem ao chamado da vocação sacerdotal
é ditada por um grande amor a Cristo. Aliás, a isto alude o esquema
a página 36, linha 5. Mas, então, por que, nesse mesmo parágrafo,
na Unha 15, é dito que a missão do sacerdote consiste integralmente
em se dar ao serviço da humanidade nova? Sem dúvida alguma, os
sacerdotes se votam à salvação dos homens em nome de Cristo e por
Cristo, mas não se pode dizer que essa missão inclua integralmente a
essência do sacerdócio.
Não pode o sacerdote ser considerado como um cristão incumbido
de um ministério que comporta simplesmente podêres para desempenhar
um apostolado mais completo do que o dos leigos. Na concepção cato-
hta, o sacerdócio não pode reduzir-se às funções do sacerdote para
o bem das almas. A função primordial dos sacerdotes, a qual dá todo
o vaor ao seu zêlo, e que lhes inspira o ministério, reside na consagra
çao do sacerdote ao culto exterior e interior de Deus. Cristo, Filho
ae ueus, cuja açao o sacerdote deve prolongar, não se mostrou Prl'
me ira mente como o religioso do Pai, em espírito de amor e de repa-
0 Ministério
e a Vida dos Presbíteros
287

ou ae matrimônio com aquêle a quem chamou. Sem dúvida nenhuma,


por sua parte Deus será fiel em conceder a seus sacerdotes as gra­
ças oportunas em qualquer circunstância em que êles se encontrem.
Um especial capital de graças, no princípio, já lhes foi depositado nas
almas pelo sacramento da Ordem, o qual lhes é dado igualmente para
sua santificação. Não se esqueça a importância do caráter sacramen­
tal que no íntimo do coração dos sacerdotes sela êsse laço de amor
entre êles e o Senhor, tal como, no batismo e na confirmação, o ca­
ráter sacramental deposita algo de sagrado na alma do cristão, sob
a própria ação do Espírito Santo. Eis aí por que, à página 22, linha
19, afigura-se-me preferível fundar a obediência do sacerdote para com
seu bispo, não só na colaboração com o ministério do bispo, mas igual­
mente na relação filial que, através do bispo, une o sacerdote a Deus
Pai e a Cristo Irmão.
Além disto, permito-me pequena observação sobre um ponto. A pá­
gina 20 trata-se da organização de centros de estudos, de congressos,
de sessões pastorais, em mira a fornecer aos sacerdotes os enriqueci­
mentos necessários aos seus conhecimentos teológicos e pastorais. Creio
seria bom precisar, nesse texto, que semelhantes atividades e iniciati­
vas, mui desejáveis, só podem ser encaradas sob a autoridade e a vi­
gilância do bispo.
283) Cardeal Giovanni COLOMBO, Arceb. de Milão, na Itália: A
redação do texto foi bastante melhorada e é substancialmente aceitá­
vel. Seria oportuno insistir com mais vigor sôbre a conexão do minis­
tério sacerdotal com o mistério da Igreja e, mediante êste, com o sa­
cerdócio de Cristo. Além disso, o ministério pastoral dos padres tem
nrirrpm n5n tnntn Ha missão canônica, mas da plenitude do sacerdócio
I. Crônica das Congregações Gerais
288

tribuiçáo e divisão dos temas nos diversos capítulos e parágrafos. Seria


oportuno também que o Concilio se pronunciasse com respeito ao difi-
dl problema do trabalho manual dos sacerdotes, o qual, de acôrdo com
o ensinamento de São Paulo e em justa medida, pode ser tido como li­
cito e santo. Mas é também absolutamente necessário prevenir os padres
contra a assim chamada heresia da ação, que constitui uma deformação
da ação e do zêlo sacerdotal. O Vaticano II, fazendo eco ao Concilio
de Trento, deveria expor sua concepção da imagem do sacerdote no
mundo contemporâneo. Apresente-se também a importância pastoral da
morte edificante do padre, tendo-se presente o exemplo dado ao mundo
inteiro por João XXIII no seu leito de agonia.
285) Louis Jean GUYOT, Bispo de Coutances, na França (texto
completo): Face às mutações atuais do mundo e à renovação conciliar
da Igreja, os sacerdotes interrogam-se hoje em dia sôbre a natureza
do seu sacerdócio e sôbre as suas condições de exercício. Dolorosa de­
cepção provocaria nêles o nosso esquema se não respondesse, à luz
da fé, às questões que a vida lhes propõe cada dia. E’ por isto que,
entre outras melhorias do texto sugeridas com êsse intuito, desejamos
sejam nêle postas mais em relêvo: 1) A ação do Espírito Santo no mi­
nistério e na vida dos sacerdotes. 2) A responsabilidade dos próprios
sacerdotes para com os descrentes no mundo de hoje. Êstes dois aspectos
são, aliás, complementares, e chamam-se um ao outro.
1) A ação do Espirito Santo no ministério e na vida dos sacerdotes:
No n9 1 do esquema — onde se trata da natureza do presbiterato —
o texto anterior notava, com muita felicidade, que por uma unção espe­
cial do Espírito Santo é que os sacerdotes são consagrados. E pergun-
tamo-nos por que razão essa menção explícita desapareceu no texto nôvo
que atualmente nos é proposto! Essencial é, com efeito, para a seqüên-
cia do esquema — e muito especialmente para o que diz respeito à
santidade dos sacerdotes — afirmar aqui o papel do Espírito Santo na
sagração dos ministros, com vista à sua missão sacerdotal. Êste papel
aparece incessantemente na Sagrada Escritura. Por ocasião do batismo
do próprio Cristo nas águas do Jordão, o Espírito Santo desce visivel­
mente sôbre êle a fim de que êle apareça como o “servo padecente” cuja
missão é tirar os pecados do mundo (Mt 4,16.17; cf. Is 42,1 e Jo 1,29).
E' o Espírito do Senhor que consagra Cristo pela unção e que o envia
a levar a Boa-Nova aos pobres (ís 61,1; Lc 4,18). O mesmo Espírito
prometido por Jesus a seus apóstolos é que desce sôbre êles no dia
de Pentecostes, em presença de Maria, sua Mãe, para os encher de fôr­
ça e fazer dêles as testemunhas de sua ressurreição até às extremida­
des da terra (At 1,8). E’ o mesmo Espírito Santo que por êles é transmi­
tido aos seus sucessores para “apascentarem a Igreja de Deus". E ainda
é êle que pela imposição das mãos é comunicado aos presbíteros e aos
diáconos, em mira aos seus ministérios respectivos.
A Tradição da Igreja, que se exprime notadamente através das^ li
turgias tanto orientais como ocidentais, também é unânime sôbre es e
ponto: é sempre por um dom especial ’do Espirito Santo que o sacra­
mento da ordem é conferido. Desta verdade fundamental, ricas e nume
rosas sao^ as conseqüências, tanto para o ministério como para a vida
os sacer otes. Haveria que frisá-las expressamente no nosso texto, e mos
O Ministério
e a Vida dos Presbíteros
289

c ua aaivavau uc IUUUS OS nomens.

A responsabilidade apostólica dos sacerdotes para com os des­


crentes: Dizia recentemente o Sumo PontíficePaulo VI, numa audiên­
cia pública. Vemos reproduzir-se hoje a problemática dos primeiros con­
vertidos, obrigados a viver numa sociedade pagã”. Se assim é hoje,
mesmo nos países de tradição cristã, o nosso esquema deveria encarar
francamente um dos problemas maiusculos propostos aos sacerdotes do
nosso tempo: Como fazer chegar o Evangelho da salvação até ao co­
ração dos que não conhecem Jesus Cristo ou que não o reconhecem
como o Salvador? Por certo, missão tal é a missão de todo o povo
de Deus, sacerdotes e leigos. Mas, de maneira especial, é a dos sacer­
dotes, que têm um papel próprio e insubstituível a desempenhar na
evangelização dos indiferentes ou dos ateus. O sacerdote, com efeito,
enquanto coopera com a missão do bispo, não é sòmente o pastor dos
que têm a fé e que dela vivem, é também o pastor das ovelhas que
não sãodo seu rebanho. Sòmente — como é lembrado no fim do n° 1
— para poder desempenhar a sua missão, devem os sacerdotes, de
algum modo, compartilhar a vida daqueles a quem são enviados. Em
muitos casos, isso suporia uma revisão lúcida e corajosa das condições
tradicionais do ministério e da vida dos nossos sacerdotes.
Sem dúvida, neste domínio um Concilio Ecumênico só pode formu­
lar princípios universais, aplicáveis a todos os países e a tôdas as cir­
cunstâncias. Mas não é senão mais do que necessário precisar sem
equívoco, neste decreto, qual autoridade será competente para aplicar
êsses princípios às situações concretas, em função da necessidade du>
almas. E* nor isto aue. em nome dos bispos de vários países, signa-

seu coração, seguir o bennor jesua, ^


para ser servido, senão para servir,
dar generosamente a sua vida por su s
290 I. Crônica das Congregações Gerais

de s Paulo aos Romanos: “Fêz-me Deus a graça de ser um oficiante


de Cristo Jesus junto aos pagãos, sacerdote do Evangelho de Deus
a fim de que os pagãos se tornem uma oblação agradável e santifica’
da pelo Espírito Santo" (Rom 15,16).
286) Luis Eduardo HENRÍQUEZ JIMÉNEZ, Bispo aux. de Cara-
cas. na Venezuela: Ao longo tratado reservado ao sacerdócio falta uma
adequada visão e formulação teológica. Conviría ressaltar, desde o iní­
cio. a profunda realidade essencial do sacerdócio, que é ontológica con­
figuração a Cristo e efetiva participação do seu eterno sacerdócio, para
daí derivar tôda a doutrina sôbre o sacerdócio. A participação no sacer­
dócio de Cristo não se limita a um especial mandato externo, mas é
uma autêntica consagração, verdadeiro poder, indelével e permanente
sinal da virtude sacerdotal de Cristo. A configuração é uma verdadeira
participação, de dimensões cósmicas, através dos atos sacramentais, prin­
cipalmente por meio da Eucaristia, sacrifício de Cristo. Uma vez ex­
posta a natureza do sacerdócio, seria possível responder às questões
de caráter existencial relativas aos padres que vivem neste mundo técni­
co e materialista, desconhecedor dos valôres religiosos. A crise de auto­
ridade e de obediência pode ser resolvida apenas através da visão teo­
lógica da participação no sacerdócio de Cristo. O esquema deveria
realçar mais a íntima relação do sacerdote com Cristo e o valor de vida
sacerdotal para a salvação e progresso do gênero humano para a reca­
pitulação de tudo em Cristo.
287) Antonio SANTIN, Bispo de Trieste e Capodistria, na Itália:
Porque se trata de um documento tão importante, seria bom insistir
sôbre o dever dos Bispos de continuar a seguir patemalmente seus co­
laboradores, mesmo depois do tempo de seminário. A pregação seja
enriquecida da iluminação que vem da prece e da meditação e recorra
a tôdas as técnicas modernas para o diálogo com os paroquianos não-
praticantes. Convém ser mais preciso no atinente ao carisma dos leigos
para evitar falsas interpretações. O texto, enfim, deveria sublinhar que
pertence à natureza pastoral do sacerdote procurar e incentivar as voca­
ções eclesiásticas.
288) Narciso JUBANY ARNAU, Bispo de Gerona, na Espanha:
O número sempre crescente dos sacerdotes diocesanos que aderem a
associações sacerdotais demonstra a importância do assunto e convida a
definir melhor os princípios teológicos e as leis canônicas sôbre que se
fundam tais associações. Cada uma delas deve favorecer e alimentar uma
espiritualidade centrada no exercício do ministério sacerdotal e na c°la'
boração do sacerdote com o Bispo. Estimulem seus membros ao idea
dos conselhos evangélicos, sobretudo no concernente à lei do celibato.
Cada associação, sob o ponto de vista jurídico, seja constituída com 0
consentimento do Bispo. O Direito Canônico determinará melhor, no fu-
íuro, as normas em que se inspirarão as diversas associações. Estas
ao de ser diferentes dos institutos religiosos, dos quais não consti ui
privilegio exclusivo a santidade pessoal.
15-10-1965: 150» Congregação Geral
O Ministério e a Vida dos Presbíteros

~ ... ... X RESENTES: 2.122 PADRES


Conciliares. Moderador: Cardeal Lercaro. A sessão comecou às
9 e terminou às 12,30. A Santa Missa foi celebrada por Dom
François Ayoub, Arceb. Maior maronita de Alep, na Síria. O
Secretario Geral Mons. Felici comunicou as seguintes previsões
para os próximos dias: Amanhã, apesar de ser sábado, haverá
Congregação Geral. Se fôr necessário continuar o debate sôbre
o esquema atualmente em discussão, continuar-se-á no dia 25;
mas as intervenções já devem ser entregues à Secretaria Ge­
ral até o dia 18, com o texto completo. Na próxima semana
não haverá Congregações Gerais. A partir do dia 25 serão apre­
sentadas as Relações sôbre os esquemas a serem votados e re­
começarão os sufrágios. No dia 28 haverá Sessão Pública, com
a seguinte ordem: preces iniciais; votações dos esquemas sô­
bre o múnus pastoral dos Bispos, sôbre os Religiosos, sôbre os
Seminários e sôbre a Educação Cristã (três dias depois foi anun­
ciado que o Papa decidira promulgar também a Declaração
sôbre os não-cristãos); concelebração presidida pelo Papa para
invocar de Deus a paz; comunicação dos resultados das vota­
ções; promulgação dos Decretos aprovados. No dia 29 de ou­
tubro provavelmente haverá Congregação Geral. Do dia 30 de
outubro a 8 de novembro não haverá Congregações Gerais. No
dia 9 de novembro recomeçarão as Congregações Gerais para
a realização das outras votações. Para o dia 18 de novembro
se prevê mais uma Sessão Pública, com novas promulgações
de documentos conciliares. E é provável que na segunda quin­
zena de novembro haja outra interrupção de Congregações Oe-
rais. — Continuaram nesta manhã as votações sobre a s .fLt
ções da Igreja com as religiões não-cristãs. E houve ma
discursos em torno do ministério e a vida dos pies i enx
I. Crônica das Congregações Gerais
292

289) Cardeal Julius DOEPFNER, Arceb. de Munique, na Alemanha*


Houve palpável melhoramento no texto depois das várias emendas pro-
postas pelos Padres Conciliares. Suprimiram-se várias frases devotas
Cita-se a Sagrada Escritura com mais precisão. Agrada muito relacio­
nar a noção do Presbiterato não só com o culto, mas também com a
tríplice missão de Cristo. Contudo, o esquema continua ainda com mui­
tos e graves defeitos, a) Observações gerais: Quanto ao estilo: O esque­
ma ainda parece muito com exortação espiritual, mesmo que seja mais
sóbrio e teologicamente mais exato. Os sacerdotes de nosso tempo su­
portam contrariados serem chamados “coroa espiritual dos bispos”, ou
ouvir referências a aspectos religiosos quando se trata de coisas natu­
rais e insignificantes. Quanto à matéria: Na parte doutrinai o esquema
repete e amplia elementos que já se encontram na Constituição Lumen
Gentium, o que parece inútil. Quanto à ordem das proposições seria me­
lhor dividir em duas a proposição que versa sôbre a natureza do Pres­
biterato e condição dos presbíteros. A confraternidade dos presbíteros,
apresentada no n9 7, que se refere mais à vida sacerdotal, estaria me­
lhor na segunda parte. Nada se fala, na segunda parte, sôbre a situação
pessoal do sacerdote, por exemplo: relações com o mundo e, de modo
especial, com os bens desta terra. Não julgo oportuno que o esquema
apresente um parágrafo especial sôbre os conselhos evangélicos, embora
se trate de uma questão conveniente. Seria melhor analisar o assunto
em três proposições distintas: uma sôbre o celibato, outra sôbre o uso
dos bens, terminando com uma sôbre a pobreza, espírito de humildade
e obediência, b) Problemas do sacerdote de hoje: Hoje aumentaram-se
as dificuldades nas quais vivem os sacerdotes. Referem-se elas princi­
palmente à situação pessoal e pastoral dêles. Os sacerdotes de nosso
tempo, mesmo em regiões católicas, por causa das mudanças sociológi­
cas fundamentais e da dissolução de muitas estruturas antigas, vivem
em certa diáspora e, por isso, vivem na solidão e isolamento, muito
mais do que antigamente. A situação pastoral, que se modificou radi­
calmente nos últimos decênios, agravou-se bastante. Por isso, os sacer­
dotes, principalmente os mais idosos, não se sentem mais em condições
para enfrentar a vida apostólica. Os campos da teologia, antropologia
e de outras ciências teóricas e práticas progrediram muito e os sacer­
dotes não puderam acompanhar esta evolução. Acabrunhados, êles se sen­
tem fracassados e com tentações contra a fé. O esquema, na segunda
parte, não oferece nenhuma solução aos problemas concretos da vida
sacerdotal de hoje, não fala suficientemente da nova situação pastoral
e não responde às dificuldades pessoais dos sacerdotes. Por exemplo,
deveria falar abertamente do problema seguinte: o celibato por um lado
é dom do Pai dado sòmente a algumas pessoas” (cf. Const. Lumen
Gentium, n* 42, com referência a Mt 19,11); por outro lado é exigido
neste esquema de todos os sacerdotes da Igreja latina. A resposta dada
a êste impasse é insuficiente e nada resolve, pois a frase “impossibilia
apud homines possibilia sunt apud Deum” ou não se realiza algumas
\ézes ou não se aplica ao problema. O esquema nada diz sôbre a mis
sao pastoral dos presbíteros (de pastoratione pastorum). Conclusão.
) esfj o, as expressões teológicas e a composição das frases precisam
ser corrigidos. O texto deveria insistir mais sôbre os problemas con
0 Ministério , a v a . p „ !bllm „ ^

eretos dos sacerdotes de hoje, para que ê|e a_ M


ticano II para os presbíteros. M 6 Seja a Carta Magna do Va-
290) Cardeal Peter TATSUO nm a l ,
redação atual do esquema é muito melhorar' de T°ki°’ no Japao: A
mas ainda é insuficiente, sobretudo oam J qUL a d° ano passado-
missão, porque parece limitar o mini<ítõri°S saLerdotes nos Palses de
E’ verdade que foi proposta uma correcão do *a‘:erdotai| aos. batizados,
que fôsse tratado também o ministério do clero^lnr m-lssoes para
„ dos missionários. „ „ isto „ * * £ £ £ p°L \ '" S , £ Z " '£
ocupe de todos os sacerdotes. Portanto, desde o L io com-ém que o
esquema declare o dever de pregar o Evangelho junto com o de L a
os f.eis. Ao tratar do sacerdote como educador, o texto deveria’ sa­
lientar as Obrigações que ele tem para com os catecúmenos e neóíitos.
Assim também o paragrafo que se refere às relações do sacerdote com
os leigos deve ser completado no mesmo sentido. O esquema não fala
suficientemente do ecumenismo. Ocupando-se dos meios para alimentar
a vida interior deve ter em conta a solidão em que se encontram tan­
tos missionários e sublinhar a necessidade da união com Cristo. A exor­
tação final é boa, mas é pena que todo o contexto não tenha a mesma
amplidão de perspectiva.
291) Cardeal Bernard Jan ALFRINK, Arceb. de Utrecht, na Holan­
da: Louvo a concepção dogmática do esquema, mas preciso fazer algu­
mas observações: a) Sublinha-se tanto o aspecto sacral do presbiterato
que muitos poderão pensar que o sacerdote deve restringir-se aos limi­
tes da sacristia e da igreja. Pouco se fala do diálogo do sacerdote com
os católicos afastados, com os outros cristãos, com os não-católicos, com
os ateus e com aquêles que depositam suas esperanças sòmente no mun­
do. Êste diálogo evangélico se coloca entre as primeiras funções do
presbiterato em nossos dias. b) Pouco se fala da obrigação que os sa­
cerdotes têm de esclarecer à luz da fé os problemas terrestres, é claro,
sem imiscuir-se em questões políticas de natureza econômica e social.
Nada se fala das funções do presbítero neste esforço que faz a huma­
nidade pela construção de um mundo melhor. Muitos homens poderíam
pensar que não devem esperar do padre senão uma certa super-estru-
tura” ideológica, a lhes ser acrescentada exteriormente na vida. c) Fa­
la-se da união dos sacerdotes com Deus Pai, por Cristo, mas esta vida
espiritual parece estar totalmente separada das funções ministeriais. Pa­
rece até sugerir que o exercício do ministério seja um perigo para a
vida espiritual, d) Fala-se que os sacerdotes devem conhecer os princi­
pais documentos pontifícios e não se lhes aconselha exp .atamente a co­
nhecer e estudar o Concilio Vaticano II. Muitos defeitos deste esque­
ma seriam evitados se os outros esquemas do Concilio fossem mais
consultados e Na Sessão passada, vários Padres Conciliares pediram
que se fizessem abnimas referências a diversos problemas que angustiam
que se Tizessem , diz destas questões, dando a im-
nossos sacerdotes. O exto at.ial nada chz d^ ^ ^ ^ ^
pressão de que tudo fica sereno e >_ dos sacertiotes.
trina dogmática sobre a vida e o min.
. ,M n* 7 MRi RICKETTS,pregação
292) Cardeal Juan LANDÁZUR
Arceb. dode Evangelho
Uma, no
Peru: E’ justo insistircaridade
sôbre ae importanua
coerência a importância do .wrifieio
^ Sacri.ico
e tratar com maior
294 I. Crônica das Congregações Gerais

Fucaristico no ministério e na vida do sacerdote. Do contrário, a pre~


craçáo seria a mais importante atividade do sacerdote, o que não é exa~
To Na Constituição De Ecclesia o serviço sacerdotal ficou reconhecido
tx>mo ministério da Eucaristia. Na segunda parte urge falar com maior
profundidade sôbre os problemas da vida sacerdotal, partindo da na­
tureza e dignidade do Sacrifício Eucarístico, no qual o sacerdote re­
presenta Cristo de maneira especial. Esta idéia fundamental não apa­
rece no esquema, enquanto que dela poderiam derivar muitas conse-
qüéncias para a prática dos conselhos evangélicos, sobretudo para a ca­
ridade perfeita, conseguindo assim satisfazer às expectativas dos Padres.
293) Cardeal Leo Jozef SUENENS, Arceb. de Mechelen-Brussel, na Bél­
gica: O esquema atual demonstra um nítido progresso em relação ao
anterior. Receio, contudo, que êle não corresponda suficientemente às ge­
nerosas aspirações dos nossos sacerdotes, íntimos e mais imediatos cola­
boradores. A doutrina é sólida e profunda e bem relacionada com a
Constituição De Ecclesia. Mas algumas vêzes ela se desenvolve em têr-
mos conceituais e abstratos, em uma perspectiva, por assim dizer, intem-
poral e referindo-se algumas vêzes a um regime de cristandade em via
de desaparecimento. De qualquer modo o esquema não aborda, de mo­
do concreto, as questões que os padres de hoje se põem na vida coti­
diana. O sacerdócio conservará sempre exigências profundas, e a res­
posta dependerá de um crescimento na fé. Mas há em cada época uma
situação concreta do sacerdócio. O padre tem dificuldade de encontrar o
seu lugar justo no mundo e na Igreja. No mundo ocidental, que se des-
cristianiza progressivamente, o sacerdote se apresenta como um estra­
nho. Muitos o sentem dolorosamente. Às vêzes esta dificuldade os de­
sencoraja. Alguns procuram um diálogo, mas os homens parecem não
sentir necessidade dêles. Tropeçam na ambigüidade do mundo e expe­
rimentam o paradoxo de sua missão: no coração do mundo, mas sepa­
rados para o serviço de Deus. Na Igreja de hoje, entre os leigos e os
Bispos, os sacerdotes se sentem esquecidos pelo Concilio. Todos os
membros do Povo de Deus devem ser apóstolos e missionários. Além
do ministério sacramental, em que são os sacerdotes insubstituíveis?
O presente esquema dá-nos muitos elementos para a solução dêsse pro­
blema, mas seria conveniente que usasse um estilo mais sóbrio, enérgico
e viril. Coordene melhor as suas partes e explique com mais clareza
as relações dos sacerdotes com o Cristo, com o Episcopado e com
os leigos. O sacerdote está antes de tudo a serviço de Cristo que pre­
cisa dêle para chamar a sua comunidade à fé, para reuni-la em torno
da Eucaristia e para conduzi-la ao Pai. O esquema não fala do Espírito
Santo nem do lugar específico de Maria na vida sacerdotal. Em rela­
ção aos Bispos, a obediência náo pode ser interpretada como uma for-
ma passiva de submissão e perda da personalidade, pois o sacerdote e»
segundo o esquema, o conselheiro, o colaborador e o amigo do Bispo
e dedica ao apostolado tôdas as suas qualidades. No que respeita aos
leigos, seria aconselhável aprofundar o conceito de missão de serviço
de que o Povo de Deus carece. Em união com o Episcopado, os padr
participam de modo especial da função profética e real de Cristo, e
consequentemente devem animar e coordenar o trabalho de evangeh'
zaçao dos leigos, descobri-los como apóstolos e discernir os seus cari
mas para colocá-los a serviço da Igreja.
0 Mln's,í~ ' » Vii. d„s Pre,bittro,
294) Cardeal Laurentius IAEGFP 4, , .
manha: O esquema enfrenta um Drohlém» de- Paderborn. na Ale-
proporções por um Concilio. E’ verdadp n , Jam,ais tratado nessas
tou dêste assunto, mas de um modo não t ° C.?ncill° de Trento tra-
diversos. O esquema agrada, quanto à sua suhstâ™-6 em documentos
recer um bom fundamento para os debates £ « 1 pols P°de ofe-
cipios teológicos, tem índole pastoral e oferece ^ S° t-05 prln'
a vida . aij»idada dos S T d .K
e digno de louvor. Contudo, o texto está muito imbuído de espírdo oci-
dental e poucas referendas faz à Índole oriental e das terras de mis­
são. Proponho^ que seja lembrada a influência do Espírito Santo na na-
tureza e função dos sacerdotes.
295) Cardeal Angel HERRERA Y ORIA, Bispo de Málaga, na Es-
panha. Hoje em dia a pregação melhora e difunde-se, mas não con­
segue ainda ligar o povo à doutrina do Evangelho. Não há proporção
entre o estudo do Seminário e a pregação. E’ preciso estudar a técnica
da Homilia, muito importante para a evangelização. E’ também indis­
pensável uma adequada formação sociológica, seja geral seja especializada.
296) AAiguel Dario MIRANDA Y GóMEZ, Arceb. de México: Os
bispos deveríam preparar os programas diocesanos em união com os pa­
dres, cuidadosa e sèriamente. O ideal é chegar a uma reestruturação
da diocese, dando maior atenção à catequese, à ação social, à educação
e apostolado dos leigos, dispondo para tanto de todos os fiéis da dio­
cese. E’ preciso encontrar novas formas de apostolado, e a êste res­
peito, tem-se revelado ótimo o método de equipes. A redação do pro­
grama pastoral diocesano deve ser precedida de acurado estudo das
exigências próprias da diocese. O clero secular deve valer-se da contri­
buição essencial dos religiosos e religiosas. No programa de atividade
deveria constar como objetivo primário a restauração do conceito de
família, pois não há pátria sem família.
297) Franjo FRANIC, Bispo de Split, na Jugoslávia: O esquema
exorta, repetidas vêzes, os sacerdotes à santidade, mas deveria louvar
numerosos sacerdotes de santidade admirável, que vivem na pobreza e
no trabalho, no meio de um mundo muitas vêzes hostil e perseguidor,
algumas vêzes esquecidos de seus próprios bispos. Também alguns sa­
cerdotes, ortodoxos e protestantes, deram, em nossos dias, testemunho
da fé, até ao martírio. Êste elogio poderia ser colocado n o j n » d a
exortação final. Seria bom falar da crise de_ obediência, especialmente
no meio dos jovens, que, por outro lado, sao e g
ao sacrifício. A obediência e nec^sana para ^d^d a
sanções podem ser uma forma e ex sacerdote poderia consti-
debaixo de formas adequadas as cond ç ^ ordenaçâo para 0 Dja.
tu.r objeto de uma promessa, 0 0 ™ ^ ^ dordenaçáoÇ do Subdiácono
conato, como a castidade e qs Bispos deveríam dar exem-
e a obediência, na ordenaçao sacer idade de bens com os sacerdotes.
Pio de vida comunitária e de ™ dhQ partiCularmente importante.
Perante o marxismo, seria um test
. ritaliano): E’ feliz a coinci-
298) Giuseppe D’AVACK, Arc.eb vii a e do ministério sacerdotal
dência que permite tratar 0 assunto da vida
I. Crônica das Congregações Gerais
296

no dia da festa de Santa Teresa de Ávila que durante a vida ajudou


muito os sacerdotes com suas palavras e agora os ajuda com seus es­
critos ascéticos. O esquema é louvável, mas tem duas lacunas qUe prè
cisam ser lembradas. Primeiro, fala-se insuficientemente da influência
do Espirito Santo na vida espiritual do sacerdote. Depois, o texto pa­
rece separar a vida pessoal da vida litúrgica, no sacerdote. Uma devo­
ção pessoal, fora da liturgia, é incompleta, para não dizer inconcebível-
e uma vida litúrgica sem devoção pessoal pode esconder algo dê
hipocrisia.
299) Philippe NABAA, Arceb. melquita de Beirut, no Líbano: A
justa retribuição dos Padres é questão urgentíssima. Impõe-se uma so-
jução de justiça social, que responda ao desejo dos sacerdotes da ati­
va. e dos inválidos, como também dos aspirantes ao sacerdócio. Cristo
e São Paulo afirmaram que os que se dedicam ao serviço da Igreja
merecem justa retribuição. O Concilio deve formular diretrizes a êste
respeito. A justa remuneração não deve jamais prescindir da pobreza
evangélica de um ministro da Igreja. Ela deve corresponder ao salá­
rio de homem de “condições médias", será fixada pelo Bispo e igual
para todos. Ao povo de Deus cabe assegurar essa remuneração. E’ pre­
ciso lembrar isso aos fiéis, que não raro transferem aos bispos essa
responsabilidade e se esquecem que o sacerdote está a serviço do povo
de Deus.
300) André Atarie CHARUE, Bispo de Namur, na Bélgica: O es­
quema deve ser radicalmente melhorado do ponto de vista doutrinário,
pastoral e psicológico. Conviría, antes de tudo, insistir sôbre a santi­
dade objetiva comunicada ao sacerdote pelo sacramento da Ordem. E’
verdade que a missão sacerdotal determina a sua espiritualidade, mas
é necessário insistir ainda sôbre o aspecto ontológico. Convém, ao mes­
mo tempo, pôr em mais evidência o pacto de amor contraído no sacra­
mento entre Cristo e o sacerdote. O sacramento quer não apenas fazer
sacerdotes, mas fazê-los santos. O dom recebido na Ordenação prepara
o sacerdote a uma missão de caráter universal. Conviría falar dessa mis­
são do sacerdote, como se fêz para os bispos em relação à Igreja Uni­
versal e à comunidade local.
301) Stanislaus BRZANA, Bispo aux. de Buffalo, nos EE.UU.:
O texto deve falar com mais precisão da humildade, virtude fundamen­
tal para o sacerdote. Ela não sufoca o crescimento da personalidade.
E’ não apenas um meio de santidade, mas um fundamento para tôda
comunidade humana, favorecendo a completa maturação da personalida­
de. O Apostolado entre sacerdotes distanciados de seus deveres exige
uma sincera e eficaz cooperação da parte de todos os coirmãos, e e
desejável que a via da reconciliação e do retorno torne-se mais aber-
ta e mais fácil. Êste angustioso problema abraça a responsabilidade e
tôda a Igreja. Uma atitude mais mansa não constituirá escândalo para
os bons, porque todos conhecem a parábola do Filho pródigo. uma
facilidade maior para o retorno dos que estão arrependidos constitui
um convite também para os outros.
302) Alexandre Charles RENARD, Bispo de Versailles, na Fran.^
(texto completo): O nôvo esquema do ministério dos sacerdotes e mui
superior aos precedentes. Eu quisera formular alguns reparos, so
0 Ministério e a Vida dos Presbíteros
297
tudo a propósito da relação entre bispos e sacerdotes,
abordada no texto. várias vêzes
l9 0 número 6 trata, com felicidade h* -
que é uma questão capital; hoje em dia'está 1 ^ ° saterdotes-blsP°.
as questões de santidade do clero de uniu^H <n° amag0 de ‘odas
pastoral. Sabido é também que há uma crise h» d® t.e.stemunho e de
e que se multiplicam as contestações aue i 6 obedlenaa na *greja,
e a sua vida: claramente o d S T s a n to p a í r 3"1
julho. Por outra parte, o Concilio é uma ocasião “ nic?“i r í latiçar
clareza nesses problemas difíceis, mormente antes da revisão do S o
canonico, que diz demais, ou demasiado pouco, sôbre o encargo epis-
copai da santificaçao dos sacerdotes.
29 O numero 14 diz nitidamente a razão evangélica da obediência:
é a semelhança do sacerdote com “Cristo obediente até à morte". A
salvação dos homens não é sòmente obra de amor, senão de amor e de
obediência. Êsse matrimônio tão grave não pode ser dissolvido em
Cristo nem na vida do cristão, nem, a fortiori, na do sacerdote. “O
discípulo não está acima do Mestre”. “Se o grão não morre...” E o
número acrescenta: “ ... como isso foi dito”. Mas que é que foi dito?
No número 6, lemos: “considerem os bispos os sacerdotes como uns
amigos, etc.”. E mais adiante: “Obedeçam os sacerdotes ao seu bispo
com amor generoso, naquilo que êle manda e naquilo que aconselha”;
tudo isso é bom, porém vago. Que é a “coroa espiritual dos bispos”?
Que é o “bem espiritual e temporal dos sacerdotes, do qual os bispos
são encarregados”? Outros tantos belos pensamentos entregues ao juizo
próprio de uns e de outros.
39 Ora, não deve o Concilio liberar a consciência dos bispos e dos
sacerdotes? Que é que os bispos devem pedir ou simplesmente acon­
selhar aos sacerdotes, nos domínios do estudo doutrinai, da vida espi­
ritual (oração, retiros, pobreza), das nomeações, das orientações pasto­
rais, etc.? Em que é que os sacerdotes, cooperadores do bispo, estão
obrigados para que, no seu estado de vida, entrem, voluntária e inteli­
gentemente, no mistério da obediência, em seguimento a Cristo? A falia
de obediência seria uma privação de santidade para o sacerdote e para
a Igreja.
4* Deve o Concilio ter a coragem de se pronunciar claramente:
muitos sacerdotes quereríam achar, no próprio sacerdócio^
escola evangélica de apostolado e também de santihcaçao em torno de
seu bispo, ao qual estão ligados na graça da r em e porém
tólica. Bem que há - e felizmente - assoc.açoes ^a« 2 ta^ ^
muitos não querem nelas entrar: têm direi o a fu apostolado mi«
luz sôbre o "papel do bispo não sòmen e pa.^e chefe
ainda encarregado de santificaçao Px^ ,J Xyin); 0 esquema - votado
(De perfectione vitae spiritualis, LaP- _ êsse têrm 0 pcrjcctor. Pio XII.
- sôbre o encargo dos bispos en p B espécie de geração espin-
na Mediator Dei, compara a ürdem ‘ . uma certa educaçao:
tual”: ora, tôda geração deve ser ^ " avePr°datleiro do sacerdócio?
isto é verdadeiro do batismo, e n • . . suam): "Por obedien-
Paulo VI falou do diálogo na Igreja t ' rciCK) da autoridade, pe­
da. S0b forma de diálogo, entendemos o txcrc
Concilio - V — 20
298 I. C r ô n ic a d a s C o n g r e g a ç õ e s G e r a is

netrado da consciência de ser serviço e^ ministério de verdade e de ca­


ridade, e entendemos também a observância das normas canônicas e a
submissão respeitosa ao govêrno do superior legítimo, dupla forma <je
obediência que distingue os filhos livres e amantes pela sua prontidão
e pela sua serenidade” (n9 119). Por que não haveria o esquema de re
tomar essas linhas precisas de Paulo VI?
59 Sóbre êste ponto urgente da estrutura interna do clero diocesa­
no, o Concilio não deve causar decepção. Se o bispo não está encar­
regado da santificação do clero, diga-se isto; se está encarregado
e não sòmente dos casos dolorosos — diga-se também, e por que meios
o está, sem confusão do fôro sacramental com o fôro externo. A res­
posta importa para que, conforme o desejo do Senhor, o presbitério
com o bispo, seja o “sal da terra”, nestes nossos anos hesitantes entre
a dispersão no relativismo ou a renovação na unidade para a fé dos
homens!
303) Tito MANC1NI, Bispo aux. de Porto e Santa Rufina,na Itá­
lia: A parte que trata das relações dos sacerdotes para com os bispos,
não põe bastante em evidência quais são as faculdades concedidas dé
fato aos padres no seu ministério, sobretudo tendo em conta que se
trata de pessoas maduras, responsáveis, muitas vêzes ricas de talento,
de prudência e experiência. Esta ambigüidade pode criar dúvidas e an­
gústias nos padres. Em vez disso, o esquema deve dizer que os sacerdo­
tes têm particulares graças de estado para desenvolver o seu minis­
tério e merecem tôda confiança.
304) Luis Juán TOMÉ, Bispo de Mercedes, na Argentina: E’ ótima a
síntese com que o esquema descreve o ministério do sacerdote. Os pa­
dres verão com alegria que se distingue bem entre osacerdócio mi­
nisterial e o sacerdócio dos leigos. O trabalho específico dos sacerdotes
náo pode ser confundido com o dos leigos, mesmo se, por vêzes, os
padres realizam obras próprias aos leigos. A atual situação do mundo
pode exigir uma revisão das tarefas específicas do sacerdote. E’ neces­
sário que os leigos ajudem com a sua ação à atual evangelização, que
exige da parte do padre uma dedicação total à Igreja e aos homens.
16-10-1965: 151» Congregação Geral
O Ministério e a Vida dos Presbíteros

„ ... , P r e se n t e s .- i 696 padr fs


Conchares (explica-se o diminuído número: hoje é sábado, quan
do normalmente nao há reuniões plenárias e muitos já tinham
assumido compromissos). Moderador: Cardeal Lercaro. A San­
ta Missa foi celebrada pelo Pe. Arrupe, Prepósito Geral dos Je-
suítas. A sessão começou às 9 e terminou às 12,25. Continuou-
se no debate sôbre o ministério e a vida dos presbíteros, com
16 discursos:
305) Cardeal Joseph LEFÈBVRE, Arceb. de Bourges, na França:
A redação atual do esquema é digna de louvor e, por isso, a Comis­
são responsável merece o nosso elogio. Lamentamos, contudo, que o
texto, ao descrever as funções do sacerdote, tenha omitido a referência
à sua paternidade espiritual. Por um lado, êle apresenta as formas de
que se reveste o ministério sacerdotal, mas, por outro, não mostra as
suas finalidades. O sacerdócio tem como fim a edificação do Corpo
Místico de Cristo. Esta é, pois, a função essencial do sacerdote. O seu
ministério culmina na paternidade espiritual com a qual êle gera novos
membros do Corpo de Cristo, para a Igreja e na Igreja, como afirma
São Paulo. Os deveres de ensinar, de governar e de santificar consti­
tuem as diversas formas do exercício desta paternidade. Tudo isto deve
ser expresso, ainda que brevemente, no início do texto. E , de fato,
nesta perspectiva que se deve ver em tôda a sua plenitude o motno
pelo qual o sacerdote renuncia ao matrimônio e a certas formas de açao
temporal. Não o faz por menosprêzo, mas pelo desejo de om ideal mais
elevado e para poder com mais liberdade conduz.r o s '•*
caminhos da justiça e da caridade, fugindo das ambigu ^ «
lôres dêste mundo. A meditação sôbre esta paternidade espiritual eonst.
tui a fonte mais genuína da alegria do sacerdote.
. .306) Cardeal Laurean RUGA^ W A; BisPE° ^ ^ ^ r ' m e -
zan.a: O texto é bom, mas;deve se r.w especifica com o sacer-
Ihor a natureza do sacerdócio e a s em virtude do ba-
dócio de Cristo. Depois de dizer Que * - se ’eSclarece bem onde
tismo, participam do sacerdócio de rl ,
300 I. C r ô n ic a d a s C o n g r e g a ç õ e s G e r a is

e como o sacerdócio dos leigos e dos padres possa distinguir-se {?*


necessário sublinhar mais o caráter missionário do sacerdócio dos pres­
bíteros. Lembre-se que o valor e eficácia do ministério sacerdotal de­
pendem da fé e virtudes evangélicas. Mencione-se a necessidade da adapta­
ção da pastoral às condições dos tempos. A Igreja não é um museu è
nem arquivo, porém mãe de vida. Os sacerdotes não podem ser homens
do passado. Devem animar, por dentro, o mundo nôvo que está surgindo
307) Cardeal Maurice ROY, Arceb. de Québec, no Canadá: O es­
quema deveria ser mais teológico. A passagem sôbre a união fraterna
não leva em conta as novas formas indispensáveis de ministério pasto­
ral. A paróquia, que permanece uma célula insubstituível, não é mais
uma cidade medieval, cercada de muralhas e com portas fechadas. As
obras de apostolado, como a Ação Católica e outras, transbordam os li­
mites paroquiais. Os sacerdotes recebem, cada dia mais, responsabilida­
des interparoquiais. O esquema não pode omitir êste assunto.
308) Cardeal Ermenegildo FLORIT, Arceb. de Florença, na Itália:
O esquema é louvável, porque *esclarece o vínculo de união entre Bis­
po e presbítero; porque lembra que a base da perfeição sacerdotal está
no exercício da caridade pastoral; porque louva a liberdade apostólica
da pobreza, o aspecto soteriológico da obediência; porque recorda que
os sacerdotes não devem ser nunca ministros de uma ideologia, mas
só do Evangelho. A chamada “problemática” do sacerdote moderno não
pode ser resolvida senão à luz da fé e de uma vida rica de graça. Seria
oportuno que, aos princípios teológicos do esquema, seguisse um Dire­
tório prático de vida e ministério sacerdotal, preparado por uma Co­
missão pós-conciliar e adaptada depois às condições de cada país, pelas
Conferências Episcopais. O esquema deveria esclarecer a união profunda
do sacerdote com o sacrifício e a cruz de Cristo. E’ necessário fixar al­
gumas normas concretas que favoreçam o espírito de pobreza no sacer­
dote. Êste espírito é uma obrigação de consciência para todos os mi­
nistros de Deus, mais pelo valor objetivo da pobreza evangélica que
pelo exemplo que se deve dar aos pobres.
309) Cardeal John Carmel HEENAN, Arceb. de Westminster, na In­
glaterra (texto completo): E’ magnífico êste decreto sôbre os sacer­
dotes, e exprimimos nossa gratidão à Comissão responsável pela sua
redação. Êle substitui vantajosamente o texto rejeitado na última ses­
são, e que era perfeitamente indigno de tal assunto. Temos outro mo­
tivo para sermos grato: o Concilio preocupou-se muito com o decreto
sôbre os bispos. Foi êle discutido em minúcia, ao comprido e ao largo.
Se, depois disso, nos houvéssemos contentado com um documento se-
umdário sôbre o sacerdócio, nossos padres ficariam magoados com
i>^o. Aquêles que compõem os esquemas conciliares acham-se sempre
diante de um certo dilema. Se se atêm às declarações de princípio, sem
entrar nos casos particulares, é-lhes difícil fazer algo que tenha valor
pratico. Mas, contràriamente, um decreto conciliar não tem que entra^
nos detalhes. Êste dilema apresenta-se de maneira particularmente agu
da quando a discussão versa sôbre um assunto como êsse dos sace-
ij°TeS,' c^dado das almas — disse S. Gregório Magno — é a ar
- as artes orém a prática atual da pastoral varia conforme as con
° MinlS'é,i” ' * V M . * » M|
ções locais. Bem evidente é, por exemni
não usam os mesmos métodos aue a"* <)s saterdfJtes da Europa
na Europa, a pastoral reveste asnecinc » > 3 °U da Afrita- E> mesmo
de tudo, deveria ser possível estabelecer r^ tT ^ r" ^ variados' APesar
os sacerdotes de todos os países Isto ê n, \ d,retnzes val,das Para
será o caso quanto a êste decreto P e estou certo * W*
O papel fundamental do sarrrHnt»
tamos na época do apostolado dos leigos M a T r a í dox ‘«gos: Es-
tólico, o apostolado leigo raramente d L « i T Z i " " -a‘
do Por sacerdotes de valor. Os le ig o sX V Z L L Z T
um sacerdote, e este decreto deve dizê-lo. Em lugar disto, achamos nêle
apenas esta recomendação: Em suas relações com os fiéis, devem o<
sacerdotes lembrar-se sempre de serem uns irmãos entre seus irmãos"
Excelente isto. Mas, se os sacerdotes devem ser uns irmãos, na sua vo-
cação esta também serem pais e guias. Todo pastor de almas experi­
mentado sabe que o apostolado é uma coisa delicada, que não pode ser
confiada em tôda segurança a um leigo não formado. Mister se faz,
primeiro, que o sacerdote lhe ministre uma certa formação espiritual.
Aliás, é o que é dito no esquema sôbre o apostolado dos leigos. Um
movimento laico é florescente quando um sacerdote prudente e zelo­
so lhe guia os membros. Exemplo disto temos na Legião de Maria, que
é um dos mais impressionantes dêsses movimentos (sucede que M. Frank
Duff, o fundador da Legião de Maria, acha-se aqui em S. Pedro, onde
bem merece fazer parte dos ouvintes). As constituições da Legião de
Maria consignam ao sacerdote um papel fundamental no movimento.
Dizem elas que o diretor espiritual tem a tarefa fundamental de confe­
rir aos membros as qualidades espirituais de que êle próprio há mis­
ter. O sacerdote é a cunha operária do trabalho da Legião (Handbook.
p. 187).
C om o p reven ir as defecções de sacerdotes: Quisera eu agora falar
do parágrafo sôbre a colaboração fraterna dos sacerdotes entre si. Lemos
nêle: “Os sacerdotes têm deveres para com aquêles que fizeram de­
fecção de uma maneira ou de outra; comportar-se-ão a respeito dêle>
com misericórdia e profunda caridade”. Isto por si mesmo se compreen­
de, mas não é suficiente. Peço que nessa passagem se acrescente que
um sacerdote tem o dever de prevenir a queda de um colega fraco ou
em perigo. Quando um pobre padre naufraga, é corrente ouvir se o>
que o conhecem dizerem que isso não os surpreen e c
profeta após o acontecimento. Mas o padre deve nue^e ache
sar o bispo ou o vigário geral, de maneira que o sacerdote Q ^ s e a ^ t
em perigo seja afastado da tentação antes que . j 1 i<;í0.
tôdas as línguas há um provérbio que d.z ma* ou menos
um homem prevenido vale por dois. In e ,zm ’ dênria para se com-
dotes falem a tempo. Sôbre êste ^
portarem como os escolares, e a J ‘Jg J enquant0 um de seus
como espiões. E assim e que guardan * sòbre isso aos que
irmãos corre à sua perda. Não dão uma. <■ realmente vir-
têm autoridade sôbre êle, os quais sao - partida. Muito impor-
lhe em socorro e permitir-lhe fazer respeito da responsa-
tante, neste decreto, é dizer algo de pos.tno
I. C r ô n ic a d a s C o n g r e g a ç õ e s G e r a is
302
bilidade dos sacerdotes para com seus irmãos. Nenhum padre tem 0
direito de dizer: “Acaso sou o guarda de meu irmão?” (Gn 4,9).
Uma partida de “golf” entre padres não é uma perda de tempo•
E' bom dizer (§ 7) que os sacerdotes devem praticar entre si a hospii
talidade e reunir-se para momentos de recreação. Os padres não perdem
seu tempo quando jogam juntos uma partida de “golf”. Os encontros
entre padres trazem consigo como que uma bênção. Deve o decreto
dizer que os sacerdotes têm necessidade da companhia de seus irmãos
e deve mesmo insistir mais sôbre êste ponto. Nos países onde a Igreja
não perdeu o contacto com a classe operária, o sacerdote passa muito
tempo com os leigos. E’ bem recebido em todos os lares católicos. A
visita regular às famílias é uma parte vital do seu ministério. Essas
visitas fazem muito bem. Alimentam a afeição entre o sacerdote e seus
fiéis. Onde quer que o clero visite seus paroquianos, o anticlericalismo
não existe. Mas tais visitas também têm os seus riscos. Podem dar
nascimento a amizades perigosas. Deve o Concilio advertir todos os sa­
cerdotes, e especialmente os moços, do perigo que existe em escolher
seus amigos unicamente entre os leigos. Os padres que evitam a com­
panhia de seus colegas (êstes lhes chamam “os lôbos solitários”) ra­
ramente fazem bom trabalho no serviço de Deus. Nossa tarefa sacerdo­
tal é abençoada quando os bispos e os sacerdotes, moços ou velhos,
estão estreitamente unidos na cálida camaradagem de um mesmo sa­
cerdócio.
Devem-se ajudar os países sem sacerdotes onde os religiosos recusam
jazer ministério? Quisera eu, enfim, dizer uma palavra sôbre a questão
da repartição dos sacerdotes (§ 9). Na encíclica Fidei donum, Pio XII
exortara os sacerdotes diocesanos a irem voluntariamente para os países
de missão. O Concilio insiste ainda mais sôbre êste ponto. Entretanto,
com mais gôsto enviarão os bispos sacerdotes voluntários à África, à
América Latina ou a outra parte, se souberem que o clero local está
totalmente empenhado no ministério. Dizem que em certos lugares os
fiéis são deixados sem pastores, enquanto que, nos mosteiros ou nas
casas religiosas, sacerdotes em perfeita saúde recusam categoricamente
ajudar os bispos, a pretêxto de que as constituições de sua Ordem dizem
não poderem êles fazer ministério. Êles têm o direito de ensinar as hu­
manidades aos filhos das boas famílias (o que os leigos poderíam fazer
outro tanto bem), ou de pregar retiros às boas Freiras. Mas a sua santa
regra veda-lhes saírem para catequizar os ignorantes e partir o pão da
vida com os pobres. Não sei se tudo isto é verdade. Mas tenho por
certo que, no mundo de hoje, enquanto houver falta de sacerdotes, o
dos os monges e todos os religiosos (salvo os contemplativos obriga os
à clausura) devem estar disponíveis para qualquer ministério. Diz o au
tor da Imitação que ser agradável à SS. Trindade vale mais do que
um belo discurso sôbre a SS. Trindade. De modo semelhante, certamen­
te vale mais pregar o evangelho ao povo de Deus do que ficar em cas
a escrever livros ou artigos sôbre o povo de Deus. Deve, pois, esi
Decreto frisar que os religiosos devem ajudar os bispos onde
que os fieis estejam sem pastor. Faze de tua parte, que o céu te J
dara, diz o provérbio. Os bispos enviarão com gôsto missionários a
países onde os religiosos já cooperam com o clero e com os bisp
na obra de evangelização.
o Ministério « , VM, d„s PresMtt(os

EE.UU.: O esquema trata dmlnlica^en^d’ Areeb' ^ BaH'more, nos


de que êle requer. No espírito dean?oãne e da saníida'
proceder somente de sacerdotes santos n ♦ »' i t, atuallzaia'ao poderia
na dual deve ser tido o ministérioIcerdo* l s a *raundc estima
ficado de mediador entre Deus e n~ i. 3 ’ !nas, na.0 sublinha o sigm-
sacerdotal. O sacerdote está revestido" de°um ' ip ®nitL'de ti‘> ministério

dar ao esquema um caráter p r o ? u ^ \ ^ t L l Z ' ™


excessiva ms.stenca sobre o ministério, para não favorecer a “heresia
da açao . Sublinhe-se a umao no sacerdócio entre Bispos e presbíteros.
Sena bom evitar toda a forma de episcopalismo, que transforma os Bis­
pos^ em senhores, no sentido de dominadores, quando êles deveriam ser
autêntica e plenamente Bispos . Por fim convém recordar que tôda a
missão do sacerdote se fundamenta na missão de Cristo.
311) Cardeal Agnelo ROSSI, Arceb. de São Paulo, no Brasil (tex­
to completo). Falando em nome de 46 Bispos brasileiros, declaro que o
esquema nos agrada. Tenho a louvar dois pontos: a reformulação teo­
lógica da primeira parte e a conexão, expressa pelo texto, entre a vida
pessoal do sacerdote e o seu ministério apostólico. A parte do esquema
que versa sôbre a vida espiritual dos sacerdotes, embora tenha ótimos ele­
mentos, poderia, contudo, apresentá-los de um modo mais orgânico, para
que venha a satisfazer aos desejos expressos pelos nossos caros colabo­
radores. Para tanto, faço as seguintes observações: a) O tom usado pelo
texto sabe demasiadamente à exortação. Parece algumas vêzes querer
consolar os sacerdotes de um modo que dá a entender ser a vida dêles
continuamente acabrunhada pelas tribulações e empenhada numa luta con­
tra as tentações do mundo. Dever-se-ia falar mais explicitamente da ale­
gria no Espírito Santo, através do amor a Deus e ao próximo, como
também do dinamismo da vida sacerdotal na firmíssima esperança da
vocação apostólica, b) O esquema, na parte a que nos referimos, não
parece satisfazer à promessa do proêmio “fusius et profundius de Presb\-
teratu tractandi ut vita sacerdotum aptius ordinetur . De fato, a doutri­
na espiritual, que é oferecida aos sacerdotes, carece de um principio
de unidade. Tôda a exposição é fraca por causa das repetições e enun
ciações breves. Não parece que o texto se inspire na pro V" A 1 ‘
sôbre a matéria já exposta pelo próprio Concilio nas ons *
a Igreja e sôbre a Sagrada Liturgia. E’ de se desejarqu a vi d a ^
ritual dos sacerdotes seja colocada no contex o Dassagem sôbre a
e seja encarada sob a luz do mistério de ri • ^ cPon‘tjtgujCã0 Lumen
obrigação à santidade (n5 11) d5ve" a a, à santidade, e indicar como
Gentium declara sôbre a vocaçao un\\ c caridade está em relação
a santidade, que consiste principalm 1 qs sacerdote$ são chama-
intima com o mistério de Cristo e cia g J f e estão ligados peculiar-
dos de um modo particular a santi ^ a unidade e harmonia
mente àquele mistério. O que o tex o roiocado logo após a exposi-
da vida sacerdotal (n9 13) ficaria m ^ e sua essência. A relaçao
Ção da doutrina sôbre a vocaçao a vjda espiritual não e so e
do exercício do múnus sacerdota atureza que o sacerdote, na rea
exigência e de estímulo, mas é de
I. Crônica das Congregações Gerais
304
lização dos atos próprios do sacramento da Ordem, pode e deve atin­
a r o ápice de sua vida espiritual, manifestando e irradiando a todos
aquela vida que êle vai buscar na fonte da energia divina. Os ministros
da Palavra são convidados pela vocação profética a viverem em intimo
diálogo com o Senhor, no Espírito Santo. O Senhor assim lhes fala-
-Eu lá não vos chamarei servos, porque os servos não sabem o que
faz o seu Senhor; eu vos chamarei amigos, porque lhes dei a conhecer
tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15). Igualmente, quanto ao minis­
tério litúrgico, não se esqueça que o sacerdote na celebração do sacri­
fício eucarístico não só recorda a Paixão e Morte do Senhor, tornan­
do-as, portanto, presentes em si mesmos, mas também recorda a Ressur­
reição do Senhor e a vida nova no Espírito Santo. O sacerdote deve
pois, revestir-se da caridade de Cristo que se ofereceu ao Pai pelos ho­
mens. Falando sôbre a espiritualidade do múnus de apascentar, o es­
quema nada diz do Bom Pastor que deu sua vida por suas ovelhas
(cf JolO.ll) cujo amor o distingue do mercenário. O que se diz sôbre
os auxílios para a vida interior (n9 15) deve ser completado segundo
a doutrina da Constituição De Sacra Liturgia de modo que se declare
que os exercícios de piedade devem harmonizar-se com o culto público
e derivar-se da Sagrada Liturgia. Se isto vale para todos os fiéis, va­
lerá muito mais para os ministros do culto público. A participação ativa
e consciente no culto público deve constituir o centro da unidade da
vida espiritual do ministro do culto. O texto, por outro lado, poderia
falar dêsse assunto logo depois do que diz sôbre o tríplice múnus sa­
cerdotal. Por fim, quanto aos conselhos evangélicos, julgo que se deve­
ria falar com mais amplidão e profundidade sôbre a pobreza e obediên­
cia que são condições necessárias para uma vida evangélica e exercí­
cio do ministério sacerdotal na Igreja. A pobreza é a verdadeira hu­
mildade e perfeita disponibilidade. E’ a nota característica de tôda a
renovação da Igreja. Todos devem abraçá-la para que se renovem no
espírito: os sacerdotes e a própria Hierarquia. A humildade reconhece
os próprios limites perante Deus e o mundo, os limites também da hu­
manidade de Cristo e da Igreja, limites que o Senhor assumiu conscien­
temente por amor, para que pudesse conviver com os homens. Hu­
mildade dinâmica que abre as portas para uma união íntima com Deus
que visita os humildes, e para a perfeita caridade pastoral.
312) Cardeal Augustin BEA, da Cúria Romana (texto completo):
Devemos ser gratos à Comissão que, com muito cuidado, preparou o
esquema sóbre um assunto de tamanha importância para a Igreja. Sem
dúvida nenhuma, os sacerdotes receberão com gratidão a doutrina pro­
posta neste esquema, tanto mais quanto, se não me engano, é esta
a primeira vez, na história da Igreja, que um Concilio trata, de ma
neira tão positiva e tão ampla, da vida e do ministério dos sacerdotes.
Mas, para que êste esquema seja mais frutuoso, lícito me seja pedir
instantemente seja êle melhorado em vários pontos. Em parte, vale êste
esejo igualmente para a doutrina. Mas, aqui, deixo a outros Veneráveis
adres o cuidado de completar eventualmente a doutrina, ou de adap a
a melhor ao estado atual da teologia e aos problemas dos sacerdo e
O celibato sacerdotal. — Permiti-me abordar apenas um ponto. a
maneira como o esquema trata do celibato. O que é dito (n. 14, PP- 35 ss;
o Ministério e aa V,da ViHo dos
i
Presbíteros m
sôbre os motivos, a excelência e os fr„t .
muito bem, e merece ser aprovado sem n, ^ a°celibato eclesí^ c o está
(n. 14, pp. 35, 36) que o celibato não é Pv'SLHSSa.P' Com razão 6 dit0
virtude da própria natureza dêste” m! exigldo pelo sacerdócio em
de maneira tão absoluta, que o reiihat! ° que se segue es,á exposto
tureza do sacerdócio. Diz-se com Pw parete resultar da própria na-
em geral (p. 36, 1, 14 s) “está inteira™ .qUe 3 míssão do sacerdote
uma nova humanidade”, e conclui se- "P consagrada 30 serviço de
bato os sacerdotes tornam-se o sTnal X o teH'
dizer então dos sacerdotes
nlpnn sentido da nalavra*? n oo
orientais casados’ NãnmU-d°
casados.realmente futu!?\'
Nao sao (dsacerdotes ^ Ue
pleno sentido da palavra? O esquema concede, 35 1 37 no s)
que, nas igrejas orientais há "sacerdotes casados de grande mérito”'
como se so excepcionalmente pudesse isto acontecer. Parece-me Jue ò
nosso Concilio Ecumemco deveria tratar de um e de outro estado sacer­
dotal: do estado de continência perfeita no celibato, e do estado de ma-
trimônio perfeito (para não dizer “ideal”) do sacerdote casado. Dever-
se-ia mostrar como uns e outros, cada um conforme seu estado, devem
ser cuidadosamente escolhidos, educados e formados (isto é, operando-
se uma justa seleção e proporcionando-se-lhes uma sólida educação),
e devem aprender a proteger-se eficazmente contra os perigos que os
ameaçam em ambos os estados. Assim, o nosso Concilio seria, igual­
mente, grandemente útil para os nossos caríssimos irmãos do Oriente. —
Por escrito proporei outras observações a êste respeito. Aqui ater-me-ei
a dois outros pontos, que parecerão talvez secundários, mas que no en­
tanto têm a sua importância.
A ordem, o estilo e a língua do esquema. 1. Sobejas vêzes o esque­
ma apresenta-se insuficientemente ordenado. As coisas que se acham
numa parte do esquema estariam melhor em seu lugar noutra parte,
de sorte que não se vê a ordenação das coisas e a importância destas.
Permito-me dar disto um ou dois exemplos. Quando se trata dos sacer­
dotes enquanto ministros dos sacramentos e da sagrada Eucaristia, re-
comenda-se-lhes formarem os fiéis no canto dos salmos, dos hinos e do>
cânticos espirituais (p. 16, 1, 17 s). Isto ainda poderia compreender-se,
mesmo se o texto só falasse das orações e dos cantos liturgicos. ogo.
porém, se acrescenta: “O sacerdote mostrará aos fieis como nos‘ ™o>
dos livros liturgicos se acha a substância de uma °™çao "^
Aos mais adiantados, iniciá-los-á na Pr^ c^ da ,irn” Mg 22 s).
selhos evangélicos, segundo as possibilidades e c passa-^e
Como se vê, das riquezas qi‘e ^ is
a oraçao mental em geral, e, depois, a recon ^ recomendação dos conselhos ~evan-
abso-
gélicos. Assim, pois, só por uma digressão^ ^ e ^ / p L c a dos
lutamente não’lhes convém, se fala da 'jmportantfeimos
conselhos evangélicos, que por ce > * imediatamente depois, diz- diz
no ministério sacerdotal. No mesmo p.nue’cer a meditação e o oficio
se aos sacerdotes que êles não devem » penitência não só por si
divino, e diz-se que êles “devem or^* ^ c o n f ia d a s ” (16, 31 s>- Aqui
mesmos, mas também pelas almas qu - • jmportantissima na vida
ainda, da prática da penitência pelosi t.e.s; ^ e num lugar que con-
evêmna mal.
atividade sacerdotais,
Da mesma se fala n“ sc cümpreende
sorte, dific,1mente dQ que ° .dever’ parte
na prime,ra p.
o sacerdote, de aprofundar seus estudos sej
306 I. Crônica das Congregações Gerais
do esquema (n. 5, p. 19), a qual trata do ministério dos sacerdotes, e não
na segunda parte, que trata da vida sacerdotal. Assim, a segunda parte
não diz nada de uma coisa tão fundamental como o aprofundamento
das estudos dos sacerdotes. Bastem, porém, êstes exemplos.
2. Lamento também dever dizer que muitíssimas vêzes o estilo e
a língua latina deixam a desejar. Disto trato, em minúcia, nas notas
que entreguei ao Secretariado geral. Permito-me insistir tanto mais sô­
bre êste ponto quanto, como o mostra a experiência, os oradores da
nossa assembléia prestam a isso menos atenção. Certamente se com­
preende que os autores se apeguem antes de tudo ao assunto e à dou­
trina. Mas nem por isto descuremos a ordem e a apresentação, e tam­
bém a língua, que às vêzes são o instrumento necessário para que o
assunto e a doutrina cheguem àqueles a quem os documentos conciliares
se endereçam.
Conclusão: Portanto, embora agradecendo ainda à Comissão o tra­
balho que realizou no preparo do esquema, instantemente rogo seja êste
melhorado, com o maior cuidado, no que concerne à ordem, ao estilo e
à língua. Para maior facilidade, propus porescrito outras observações
particulares.
313) Jan KLOOSTER, Bispo de Surabaia, na Indonésia: Para que
seja convincente também para os jovens, o parágrafo sôbre os conse­
lhos evangélicos deveria apoiar-se, não apenas em argumentos escritu-
rísticos mas também em considerações sociológicas. Deve reconhecer tam­
bém as dificuldades que apresenta hoje a prática das máximas do ser­
mão da montanha. E’ indispensável que a doutrina do esquema concor­
de com a que foi exposta em outros documentos conciliares. A teologia
do sacerdócio deveria ser mais aprofundada. Quando fala da obediência,
deve aludir também à responsabilidade pessoal e salientar que não existe
incompatibilidade entre a virtude da obediência e a liberdade própria aos
filhos de Deus. Entre os meios para fundamentar a vida interior, deve
recordar-se expressamente o sacramento da penitência.
314) József BANK, Bispo aux. de Gyor, na Hungria: A passagem
concernente à remuneração e à assistência social dos sacerdotes merece
total aprovação. O esquema trata suficientemente do dever de pregar
o Evangelho, mas deveria sublinhar melhor a responsabilidade dos pre­
gadores e indicar remédios à crise atual da pregação. A pregação deve
ser preparada com a meditação, nutrida da Sagrada Escritura e formu­
lada em estilo direto, adaptada às exigências dos tempos, impregnada
do espírito do Bom Pastor. Seria conveniente indicar explicitamente qua
a missão do padre em relação a quantos vivem numa situação matrimo
nial irregular por causa de divórcio ou por falta de forma canônica (ma­
trimônio misto). Precisa recordar-se aos divorciados que a Igreja com
preende o sofrimento dêles mas não pode mudar uma lei divina. Que
e es sejam exortados a dar aos filhos uma educação cristã.
315) Stephen A. LEVEN, Bispo aux. de San Antonio, nos EE.UU-
aexto completo): Querería eu falar de um homem que é esquecido n
° ; ,gari0 coac*jutor. Muitas belas coisas disse o Concilio so
o estatuto dos bispos, e mesmo sôbre o dos bispos-auxiliares; falou
0 Ministério
3 Vida dos Presbíteros 307
muito dos curas, dos religiosos de
cristãos. E no entanto, êste esquema sô b V T ° S •seParados e dos não
dos sacerdotes nao diz nada do panei e (t o , A T 'Sterio « sôbre a vida
tores. Pode o Concilio deixá-los passar apoif.olado dos vigários coadju-
dêles é sem importância, e que seu L aT,ltSl en-'l0? Será W* a função
estudado e melhorado? Nas grandes Hin,.»0 030 val.e a Pena de ser
a grande maioria dos sacerdotes ativos SeS’ °S. coadjutores constituem
muito mais da metade do trabalho F ’„e certamente_ também fazem
jurídico, e quase nenhum direito Faz-sP’•.« °noo ant°’- nao têm esíatut0
que o coadjutor não tem outro direito a não se^o qUa?d° í diz
igreja. Mas o coadjutor, a êste isto não faz rir. MuitaY vêzITtola se
dele como de uma cnança, e como tal o tratam. Entretanto êle é úm
homem maduro, mesmo se tem apenas vinte quatro anos. Se todo o clero
da paróquia leva uma vida comunitária, êle é como um hóspede e sua
vida e como a de um seminarista. Se está numa diocese onde cada padre
tem um domicilio pioprio, êle muitas vêzes está isolado e pobre. Con­
soante o Direito Canônico, só o pároco tem um estatuto jurídico, e só
êle é responsável pelos negócios da paróquia. Sobejas vêzes, nas grandes
dioceses, um sacerdote só vem a ser pároco quando já não está mais
na fôrça da idade. No Direito Canônico diz-se, mesmo, que êle é agra­
ciado com um benefício, o que dá a entender que lhe dão uma recom­
pensa, antes que um cargo que reclama tôdas as suas energias. O mi­
nistério dessas paróquias torna-se então despersonalizado, desumanizado,
e com isto sofre o povo de Deus. Em muitas paróquias da Europa, e
também de meu país, quando uns coadjutores se queixavam de não ter
ocupações que valessem a pena, eu lhes perguntava: “Por que não vão
visitar os paroquianos? Por que não organizam círculos de estudo para
adultos e aulas de catecismo para as crianças?” E êles só podiam era
responder-me: “O pároco não acredita nessas novidades, e proíbe-no-las”.
Não se devem fechar os olhos sôbre êste traumatismo sério que a frus­
tração dos coadjutores constitui na Igreja. No presente estado de coi­
sas, quase universal, em que o pessoal não é suficientemente utilizado,
os coadjutores não podem exercer seus carismas. E, quando, depois,
vêm a ser párocos, já não estão em condições de os exercer. Sera que.
no mundo da técnica e da indústria, se gastaria tanto tempo e tanto
dinheiro para formar homens e, em seguida, fazer tao maSr° us° da=;
capacidades dêles? Bem sabem os patrões modernos que o
aumenta, e que sua autoridade não e diminuída, q. ~ ]areja
os adultos como pessoas dignas de respei 0 e da ma deveria ajudar
esta-se longe de saber isto em todajarte.^ gô cQm 0 pá_
a fazê-lo compreender. Os ^ n>r d^ r e
roco. Têm o mesmo sacerdócio, a m . c0 fazer seus coadju-
alimentar o povo de Deus. Deveria, P0' ^ respeitá-los e escutá-los.
tores participarem dos negocie» da P< ^ quatr0 estádios:
Na paróquia como alhures, as dec. . ^ b) examinam-se todas
a) reúnem-se todos os elementos de m s 'prováveis: c) chega-se
as soluções possíveis e as suas cons^ na cjrcunstância dada;
à conclusão lógica de que tal solução e a , ^ ,)referência a outra.
d) decide-se ser esta a solução que sera . -j ac|e é implicada. A
^___ QcfóHinestádio
Só neste derradeiro é aue éa que
autoria é________
com;preendido e 0bse
observado.
dade nunca é diminuída quando seu
308 J. Crônica das Congregações Gerais
No parágrafo 6 do esquema, diz-se piedosamente que, depois do Conci­
lio deveremos ter um dero mais bem organizado do que agora. Peço
seja explicitamente dito que o clero môço, e especialmente os coadju­
tores. sejam incluídos nessa organização segundo uma proporção corres­
pondente ao seu número. Isto, provàvelmente, poderia ser realizado no
concilium pastorale recomendado no esquema versante sôbre o múnus
pastoral dos bispos.
316) Franziskus ZAK, Bispo de Sankt Poelten, na Áustria: O texto
lembra a cooperação a existir entre padres diocesanos. No entanto, o
esquema sôbre os deveres pastorais dos Bispos afirma, com justiça
que os religiosos pertencem ao clero diocesano na medida em que êstes
realizam um apostolado sob a direção do antistite. Seria oportuno re­
visar a passagem em questão e distinguir entre padres “diocesanos”
e religiosos. O esquema trata da vida de pobreza dos padres de ma­
neira pouco suficiente e menos vigorosa do que o fêz o esquema sôbre
o apostolado dos leigos. Sacerdotes e bispos devem dar exemplo de
discrição espiritual no uso dos bens dêste mundo e tomar a iniciativa
da renovação. O testemunho dêles é particularmente importante no mun­
do de hoje.
317) Atenuei FERNÁNDEZ-CONDE, Bispo de Córdoba, na Espa­
nha: A união sacerdotes + bispos constitui um dos pontos cruciais e mais
importantes do esquema. O texto enfrenta o problema e sugere uma
solução, consistindo na formação de um colégio sacerdotal represen­
tativo que colabore com o bispo no govêrno da diocese. Mas é difícil
compreender o verdadeiro pensamento do esquema, pois já existem ór­
gãos dêsse gênero previstos e fixados pelo decreto sôbre o govêrno
das dioceses. E’ provável que o texto apenas augure uma revisão dos
organismos já existentes (cabidos e consultórios diocesanos), segundo
um critério a ser determinado. Seria melhor adotar o têrmo “senado e
conselho do bispo” porque a palavra colégio é dificilmente traduzível
em diversas línguas e porque o organismo não tem nada que ver com
a colegialidade episcopal. Ocorre, além disso, aprofundar o assunto,
precisar melhor as tarefas do mesmo organismo e definir as modali­
dades e os critérios que devem regular sua constituição. O texto apa­
rece, a êste respeito, muito insuficiente e não responde à expectativa dos
sacerdotes e nem às exigências concretas das dioceses.
318) Stefan BARELA, Bispo de Czestochowa, na Polônia: O es­
quema não apresenta, de modo convincente, o fundamento da união
entre o sacerdote e o bispo. Tal fundamento consiste na união ime­
diata dos sacerdotes com Cristo, realizada no sacramento da Ordem.
O padre está unido a Cristo, Sacerdote e Vítima. Êle não é sòmente
ministro da Eucaristia, mas é vitima êle mesmo, oferecida a Deus com
Cristo. Convém afastar-se daqueles que sob o pretêxto de um eficaz
apostolado querem suprimir a cruz e o espírito de sacrifício da^ vida
sacer otal. A necessidade da união dos sacerdotes com Maria, Mãe 0
Corpo Místico de Cristo, deriva da união do sacerdote com o Cristo
vitima, tema ao qual o esquema nem faz alusão. Estranha-se que o es-
rnm UC0Ç fa!C Se,
a anta c? Papa>
ao amorVÍ&eárÍ°à obediência
de CrÍSt° ao
e nã°
SantoSe Padre. “"'In
refÍfa A3 um
o Ministério e a vw .
3 V,da dos Presbíteros ^
do bispo com o Papa é uma das c r
tom os próprios sacerdotes. 'Çoes essenciais da união do bispo
319) Sebastião SOARES DE REZENnF n-
bique: Parece evidente que o Concilio v i-! B'SP0 ^ 0, de Beira- MoÇam-
se à história, em especial, como Concilio'T 3"0Cpj|• 1 ha de vincu'ar-
dera o mesmo, porem, comr o presbiteroóó do episcopado. Não suce-
_----- - O™Nõ°r
nmacmr» ___ **v-1110 Ü O
... Ecumênícm
será por certo o próximo Concilio Cone ° d° presbi,erado
Ecumêmco. o.
o esquema não tenha afirmações acertadas sôbre quer isto dizer que
Não
tão sòmente que a doutrina dó sacerdócio03-S°bre^• 0 Presbiterado mas
rõn dnmpnTP n 11 o o _i ° UU1C

dura para ser tratada de modo definitivo" Fk° -fil*3 suflaantemente ma-
ntes Em , » se r .s „ p„48s r x
s.gnado por ministro de Cnsto, por enviado do bispo coope ador do
s i t
bispo, etc. Todavia estas expressões, por si, não traduiem tonveniente-
mente a natureza e a dignidade do sacerdote. Ora, é preciso que estas
se expressem com precisão a fim de que todos conheçam donde deri­
vam todos os atributos sacerdotais e penetrem o sentido daquelas pa­
lavras com que se designa geralmente o presbítero. A natureza do pa-
dre determina-se com a sua relação com Cristo, fonte e causa de
tôda a santidade ontológica das criaturas. Esta é a lei geral de tôda a
teologia. Assim Nossa Senhora tem a sua dignidade na sua relação com
Cristo de quem é mãe. A dignidade do bispo está na sua relação com
Cristo de cujo sacerdócio participa naquela plenitude que Deus de­
cretara para o homem. A dignidade do padre está igualmente na sua
relação com Cristo de cujo sacerdócio também participa, embora não
plenamente. Importa, pois, que se exprima no texto que uma tal digni­
dade provém do caráter sacerdotal que o sacramento da Ordem imprime.
Por isso, o padre é aquêle homem que, depois do bispo e na linha do
sacramento da Ordem, maior união ontológica tem com Cristo. Donde
resulta que o sacerdote não é simplesmente o ministro de Cristo, o envia­
do do bispo, etc., mas depois do bispo é o maior e mais real represen­
tante de Cristo na Igreja. Assim como na linha do mistério da Encar­
nação o Verbo, ungido pelo Pai, encarnou e se fêz homem, assim na
linha do sacramento da Ordem, o homem, ungido por Cristo, assumiu
o caráter e se fêz sacerdote. Isto há de dizer-se no texto para que s-e
conheça a natureza do padre e todos verifiquem que 0rF ^ ^
tulo exigitivo de tôda a santidade moral do sacer ? e_ o-erador da
se um nôvo parágrafo n0 q .l , a I f - J f 3daqU| s° Trindíde é comunitária. À
comunidade crista. Com efeito a vida da b . para
vida da Igreja é comunitária. Daqui o apa n a comunidade." lgual-
a comunidade. 0 bispo nao vive Para si P a comunidade. Nada há
mente o presbítero nao vive para sl , PAlém disso, tudo quanto se
de individual na vida pastoral do P< ■ ... red u z_se a afirmar que
disse nos documentos já publicados P ^ caridade e de npostola-
a igreja é uma comunidade de fe, de c ’ . há que afirmar a di-
do. Em consonância, pois, com estes função sacerdotal em or-
mensão comunitária da Igreja e de er ^ mot|o se há de declarar
dem à geração da comunidade crista. D * ^ trata das relações entre
abertamente que naqueles parágra os ^ te s com os leigos se a a
os Bispos e os padres, dêstes entre ^ Há que reconhecer qu
de sacerdotes quer diocesanos quer 6 q sacerdócio esta m
os sacerdotes constituem uma unica
1. Crônica das Congregações Gerais
310
tal e náo na linha da profissão religiosa. O sacerdote rell-
sacramen ro sacerdote da lgreja que do seu Instituto; é primeiro
P 080 * d0 Bispo em cuja diocese trabalha que da entidade religiosa
S8Wr oertence. O presbitério está essencialmente para o Episcopado qua-
* qUomo o Episcopado está para o Papado. Quanto à distribuição dos
* L . t há que explicitar duas condições que são necessárias: uma
A p arte do Bispo e outra da parte do padre. Ao oferecer um padre
ra uma diocese alheia não deve dispor de algum indesejável, porque
dtíte modo náo estará sendo generoso para com aquela diocese mas
aDenas resolvendo um problema na sua própria. Por sua vez, o padre tam­
bém náo deve tentar ir para as missões, sobretudo, por outros motivos que
não sejam a melhor realização do seu sacerdócio e a salvação das almas.
Ao tratar da pobreza, o esquema não tem os melhores textos da Sa-
crada Escritura nem suficientes. E’ preciso que os pastores de hoje,
Bispos e presbíteros, respondam aos homens de hoje o que São Pedro
respondeu ao doente que estava à porta do templo: não tenho prata nem
ouro e por isso não tos posso dar. Mas vou dar-te aqu.lo que tenho:
em nome de jesus Cristo Nazareno, levanta-te e caminha.
320) Albert NDONGMO, Bispo de Nkongsamba, Camerum: Falta no
esquema a definição do presbiterato. Sem uma clara definição do têrmo
“presbítero”, não é possível determinar as atividades sacerdotais e pas­
torais Urge, também que o esquema indique de modo preciso as mu-
tiplas relações entre sacerdotes e Bispos, e entre sacerdotes e leigos.
25'10oOmMinistério
65M 52' e a Vida do, P,eshí|er
0.™,
08

dor: Cardeal Doepfner A Santa^^ssa^f^’ MODERA-


johannes Theodor Suhr, Bispo na D in a n r a ^ T ís s L ^ c o u
as 9 e ternunou as 11,45. Enquanto se votava sôbre o De U-
b rtate R ligiosa (cf. pp. 387 ss), continuaram as intervenções
postuladas sobre o ministério e a vida sacerdotal:
321) Román ARRIETA VILLALOBOS, Bispo de Tilarán, Costa Rica:
Em primeiro lugar agradeço aos Irmãos no Episcopado, da Espanha,
Alemanha, Itália, Estados Unidos, Canadá, e de outras Nações, pela gran-
de solicitude manifestada em favor de nossas Igrejas com o envio de sa­
cerdotes ou com a oferta de auxílios materiais para o nosso ministério
apostólico. Entre os mais urgentes problemas de que se deve ocupar a
Igreja nesta hora do Concilio, figura o da distribuição do clero (n* 9).
Adiar a sua solução ou deixar as coisas como estão equivale a mostrar
indiferença, para não dizer desprezo, pela salvação eterna de milhares
de fiéis. Existe na Igreja uma grande desigualdade de distribuição de
clero. Em algumas regiões há grande número de sacerdotes, mas em
outras, pela escassez do clero, o Povo de Deus é vítima de lôbos vora­
zes, da ignorância, da superstição, do proselitismo e da injustiça. Em
alguns países a fome do Povo de Deus é saciada abundantemente, em
outros, não há quem distribua o pão aos que o pedem. Há terras em
g«e se perdem os pastores porque não têm ovelhas para apascentar,
em outras perdem-se as ovelhas porque não têm pastores. Esta ca^ " '
cia de sacerdotes não é devida absolutamente a Hierarquia. Quando■ mm-
tas dessas Nações adquiriram a independencia, ^P 1*. _ ' ; as
originários daqueles países a que elas Per " • jt ’ ■ ’ente e as’sjm
gerações que vieram depois ; icaram aba^ ° na^ enPunciad0 dêste’ modo:
formou-se aquêle circulo vicioso que p esufjdentes sacerdotes, não
nao há verdadeira vida crista porque na dejfa vjda cristã. Para
ha suficientes sacerdotes porque nao a da distribuição
resolver êste problema não há outra so uç acham prontos para
eqüitativa dos sacerdotes. Há sacerdotes Q dêles não realizam êste
Partir para os países necessitados, m?s T . gispos se esquecem de
,deal porque seus Bispos não o permitem.
I. Crônica das Congregações Gerais
312

aue do outro lado do oceano, existem sacerdotes que arcam com a res
nonsabilidade de 30.000 ou mais almas. Portanto, o esquema deve tomar
medidas positivas que ofereçam uma solução eficaz para êste proble­
ma Neste sentido faço as seguintes propostas: a) Instituição de um
tipo especial de seminário, cujos alunos dependam diretamente da Santa
Sé. nas dioceses em que são muitas as vocações. Êstes seriam enviados
para as regiões mais necessitadas, b) As dioceses que rejeitam vocações
porque não há lugar para elas nos seus seminários, deveríam enviá-las
para as dioceses necessitadas, c) Conceda-se aos sacerdotes, que não são
exigidos pelo reduzido número de fiéis a êles confiados, a permissão de
irem para outros lugares onde falta clero. Assim se evitaria o perigo
do ócio e se contribuiría para uma distribuição melhor do clero, d) As
Conferências Episcopais dos países que possuem muitos sacerdotes criem
um organismo que se encarregue de atender aos pedidos e às ofertas
de sacerdotes, e) As Ordens e Congregações religiosas colaborem desin­
teressadamente, sem exigirem que os territórios confiados à cura pasto­
ral dos seus membros sejam “pleno iure et in perpetuum et ad nutum
Sanctae Sedis”, exigência esta que é um pecado contra a Providência.
Conclusão: suprima-se a exigência de permissão da Santa Sé para que
um sacerdote, com licença do seu Bispo, possa ir para outra região mais
necessitada. Tal exigência é contra a caridade, humilha o sacerdote em
questão e constitui uma injúria ao Bispo.
322) Remi Joseph DE ROO, Bispo de Victoria, no Canadá: O es­
quema “placet iuxta modum”. Contém ótimos elementos, e, além disso,
a Comissão competente esforçou-se, como disse o Relator, por mostrar
como a missão pastoral ilumina e unifica a vida e o ministério do sa­
cerdote. No entanto, êste esforço não aparece claramente no texto, mo­
tivo por que não foi percebido por muitos. Ora, sem esta idéia como
centro de tudo, o texto carecerá de dinamismo, não digo de dinamismo
retórico, mas de dinamismo teológico; dará uma visão estática do sa­
cerdote, visão anacrônica quando se consideram os acontecimentos ecumê­
nicos dos nossos dias; não abrirá a porta para a evolução dramática
que já se opera no mundo contemporâneo e para as exigências excepcio­
nais do sacerdote de amanhã. Por isso, propomos: a) O sacerdócio mi­
nisterial não pode ser plenamente definido senão no contexto do sacer­
dócio de tôda a Igreja. E’ um serviço para o bem do Povo de Deus.
Mas o sacerdócio de tôda a Igreja é absolutamente “sui generis” e não
pode ser definido como uma espécie de sacerdócio natural. Não é ape­
nas cultuai, é missionário e dinâmico: o Povo de Deus é enviado ao
mundo para levá-lo ao Pai. A Igreja não é simplesmente x-oivovia
isto é, mistério de uma comunhão já efetuada. E’ meio de salvação e,
neste sentido, é dinâmica e missionária. Só será perfeita depois a
rutooiHJÚi. b) A vocação de todo o Povo de Deus se funda no pro-
pno mistério de Cristo. Mas, para que o Povo de Deus permaneça ie >
*.)eUí\ env’a a Hierarquia. O múnus essencial da Hierarquia consiste em
ingir a Igreja missionária que peregrina para o Pai como sacramen
de Cristo Pastor e Cabeça e não só^Redentor. c) Portanto, o sacerd .
ministro e essencialmente apóstolo, isto é, enviado, no sentido blbl,c0. r_
palavra: aquele no qual o próprio Cristo Pastor continua a sua oD
.acramentalmente. Não é dominador, mas ministro. Pela ordenaçao sa
cerdota! recebe a graça específica e o mandato para o desempenho dess
0 Ministério e a Vida dos Presbíteros 313

. ----- ----yvy wu. igltja. w aatciuuic c


obrigado a obedecer a fim de que o Evangelho seja anunciado em con­
formidade com a própria palavra de Deus e para que a vida da Igreja
local se desenrole segundo a vontade salvífica de Deus. A obediência
do sacerdote é essencialmente de ordem pastoral e ministerial e não deve
ser confundida com a dos religiosos. O sacerdote não pode ser consi­
derado um simples executor da vontade do Bispo. Em virtude de sua
ordenação, o sacerdote recebe uma graça pastoral autêntica, a qual, em­
bora distinta da do Bispo, participa realmente do carisma episcopal, isto
é, do carisma de pastor e guia. Por isso, a obediência sacerdotal não
consiste tanto na submissão passiva à vontade do Bispo, quanto numa
comunhão ativa, embora dependente, da vontade do sacerdote com a
vontade do Bispo. Portanto, a obediência sacerdotal exige que o Bispo
não se limite a dar ordens, mas infunda nos seus sacerdotes aquêle es­
pírito que os faz verdadeiramente pastores dos fiéis que lhes foram con­
fiados. O sacerdote deve participar, sempre segundo as suas possibili­
dades, da função de pastor, com tôdas as responsabilidades de juízo pes­
soal, de criatividade, de iniciativa, que ela comporta. E’ necessário, por­
tanto, rever o texto e superar a concepção puramente negativa e pas­
siva da obediência com uma visão mais teológica das dimensões da mesma.
324) Jaime FLORES MARTIN, Bispo de Barbastro, na Espanha:
Uma atenta reflexão sôbre o sacerdócio único de Cristo que substituiu
o sacerdócio imperfeito de Aarão, pode sugerir numerosas considerações
teolófnco-bíblicas para um ulterior aperfeiçoamento do esquema. O sa-

sesse em evidência o sentido pasca


enquadrando nessa perspectiva teo <sacerdotes e Bispos que possuem a
em particular, as relações entre os
A ^ p o p o rrln rin

Concilio - V — 21
I. Crônica das Congregações Gerais
314

mais sôbre a celebração da Eucaristia, como ápice do ministério sacer


dotal Seria oportuno lembrar a importância do cuidado com os doentes
e a necessidade de lhes ser explicado o valor apostólico de suas orações
e sacrifícios. Declarar também que a comunidade reunida em tôrno do
sacerdote deve ter consciência de pertencer à comunidade de todos os
cristãos, espalhada no mundo inteiro.
326) Thomas Arthur CONNOLLY, Arceb. de Seatle, nos EE.UU •
E' verdade que compete à Hierarquia a responsabilidade pelo govêrno
das dioceses. Contudo, não é menos verdade que os Bispos, para a rea­
lização de sua missão precisam do auxílio dos sacerdotes. Quando pro­
metem obediência no rito da ordenação, os sacerdotes não praticam
um ato meramente jurídico. A obediência pertence à essência da missão
sacerdotal, ainda que ela seja difícil principalmente na atmosfera atual
do mundo. Os sacerdotes podem ter e freqüentemente têm idéias pes­
soais sôbre os problemas e necessidades da diocese, mas a unidade su­
perior de tôda a igreja e bem das almas exigem a obediência. Nesta
virtude, o sacerdote realiza a perfeição da caridade e a santidade que
o seu ministério requer. A obediência não é menos importante hoje que
no passado. Existem ainda motivos imutáveis para se pedir a obediência
e para prestá-la.
327) José Maria GARCIA LAHIGUERA, Bispo de Huelva, na Es­
panha: Seria necessário insistir particularmente na responsabilidade dos
Bispos, a respeito do fomento da vida interior dos sacerdotes. Não
basta lembrar aos sacerdotes a obrigação de tender à santidade. Não
é suficiente assinalar os perigos que tornam difícil o caminho da per­
feição. Os Bispos precisam indicar aos sacerdotes os meios para se con­
seguir o ideal que lhes é proposto. O esquema apresenta alguns pontos,
mas parece subestimar a direção espiritual, que tem uma importância
muito grande no encaminhamento do sacerdote à santidade. Seria dese­
jável que cada diocese ou determinada região formasse um grupo de
sacerdotes dedicados ao estudo e à oração, que se encarregassem da
direção espiritual dos sacerdotes. Conviría sublinhar a importância dos
exercícios espirituais como um meio de santificação pessoal e de for­
mação apostólica. Seria oportuno instituir a festa litúrgica de Cristo,
Sumo e Eterno Sacerdote, para apresentar Cristo como Mestre e como
Fonte de tôda a santidade sacerdotal e da santificação e salvação do
mundo.
26-10-1965: 153? Congregação Geral
O Ministério e a Vida dos Presbíteros

. „ , , „ P r e s e n t e s : 2 .220 . m o d e r a -
dor. Cardeal Suenens. A Santa Missa foi concelebrada por 5
Bispos. A sessão começou às 9 e terminou às 11,30. Continuaram
as votações sôbre 0 De Libertate Religiosa (motivo principal da
Congregação Geral de hoje), enquanto se faziam as últimas
intervenções postuladas sôbre 0 ministério e a vida sacerdotal.
No dia seguinte, 154? Congregação Geral, falou ainda sôbre o
mesmo assunto 0 Pe. Thomas Falis (cf. n. 333), intervenção
que, por motivos práticos, será inserida sôbre a rubrica de hoje.
Como as seguintes Congregações Gerais foram convocadas ape­
nas para votações, delas se fará a crônica na parte especial.
Eis, pois, as últimas intervenções orais do Concilio:
328) Brien C. FOLEY, Bispo de Lancaster, na Inglaterra: Uma
particular atenção deve ser concedida ao modo de trajar do clero. A
veste pode variar de acôrdo com os lugares, mas deve ser sempre dis­
tintiva de um estado, a fim de evitar falta de respeito dos fiéis para
com os seus pastores. Além disso, o texto atual quase limita o ministé­
rio sacerdotal à Missa e aos sacramentos, quando seria oportuno incluir
os textos mais destacados da Santa Sé, dos Padres da Igreja e dos es­
critos clássicos dos Santos, como, por exemplo, a “Regula Pastoralis”
de Gregório Magno. Devia-se também tratar de cada problema em par­
ticular e das soluções que começam a nascer do apostolado nas gran­
des cidades. Se, porém, tais considerações não cabem no atual esque­
ma, seria desejável a redação de um Diretório ou de algo semelhante
para guiar os sacerdotes na execução de seu ministério. O exemplo de
São Carlos Borromeu poderia ajudar muito, neste sentido, os redatores
dos novos textos.
329) Armando FARES, Arceb. de Catanzaro, na Itália: A. nova^ re­
dação do esquema agrada muito e será um otmio vade-nuuim h
a santidade e ministério de todos os sacerdotes. _c °ntudo, nad ^ ^
do sacerdote enquanto ministro do sacramento a FlK-nristia cen-
nação, além do poder sôbre o corpo real de Cristo na Ei
21*
316 I. Crônica das Congregações Gerais
fere ao sacerdote também o poder sôbre o corpo místico de Cristo. Per­
doar pecados é um dos principais elementos dêste poder. Em vários
lugares o texto fala da Eucaristia, e com razão. Mas ninguém pode
participar da Eucaristia, se não estiver purificado do pecado mortal 0
que se obtém pela absolvição sacramental. Portanto proponho: a) Seja
declarado que em virtude da ordenação, o presbítero possui o poder
de perdoar pecados. O exercício dêsse poder, acompanhado da jurisdi­
ção. contribui eficazmente para o bem das almas, b) O texto precisa
animar o sacerdote a desempenhar zelosa e fielmente a função de con­
fessor, sinal da grande misericórdia de Deus. c) Recomende-se aos sa­
cerdotes o estudo frequente da Teologia Moral, Ascética e Mística e
doutrinas correlatas, para que não se transformem em meros distribui­
dores de absolvição, mas sejam pais, doutores, médicos e juizes das
almas, d) Louvem-se püblicamente aquêles que se dedicam em parti­
cular à Direção Espiritual sobretudo de sacerdotes, religiosos e de tan­
tos fiéis preocupados em tender à perfeição, como disse Pio XII na
“Menti Nostrae”. Entre os meios para a conservação da continência per­
feita, acrescente-se “a confiança que se deve ter no Diretor Espiritual”.
Seria oportuno insistir sôbre a necessidade do Diretor Espiritual e da
confissão frequente. Perante os perigos modernos à santidade sacerdo­
tal lembre-se a advertência do Senhor: “Vigilate et orate”. Para tanto
é necessário: exame de consciência diário, confissão sacramental ao me­
nos quinzenalmente, retiro quase mensal, retiros anuais, ou ao menos
de três em três anos. Assim, o Concilio ajudará muito a perseverança
dos presbíteros na vida sacramental, segundo as palavras de Santo
Tomás: “é dada a muitos a graça e não lhes é dado nela perseverar”,
a não ser que da parte dos homens sejam empregados os meios neces­
sários e perseverantemente.
330) Enrique PECHUÁN MARÍN, Bispo de Cruz dei Eje, na Argen­
tina: A Virgem, Mãe do Sumo Sacerdote Cristo, é mãe também de to­
dos os sacerdotes. Cristo recebeu a unção sacerdotal no momento da
Encarnação. Nossa Senhora participa, assim, de modo especial, no sa­
cerdócio de Cristo, seu Filho, e no Sacrifício da Cruz. A Virgem^ pro­
clamada Mãe de todos os cristãos, aclamada neste Concilio Mãe da
Igreja, pode ser declarada, com maior razão, Mãe de todos os sacerdo­
tes que, com o sacramento da Ordem, unem-se de modo especial ao
Cristo Sacerdote. O texto deveria exprimir clara e completamente, as re­
lações entre Maria e os bispos e os padres, apresentando Maria como
Mãe do Sacerdote e insistindo sôbre a particular devoção que o sacer­
dote deve tributar-lhe.
331) Enrico COMPAGNONE, Bispo de Anagni, na Itana: m ca.-
gência da santidade para os sacerdotes (n* 11) constitui o centro e
tudo o que se diz no esquema. Depois que a Constituição Lumen Gen
Z/í/m determinou o lugar dos sacerdotes no Povo de Deus, depois que
o Decreto sóbre o Múnus pastoral dos bispos, definiu1 alguns direitos
.
sacerdote on presente esquema deve mm
e ofícios dos sacerdotes,
................ .. w | » » U IIU S >
com razão ocupar-se
| Jd M U ra i UOS D is p u s , U C IW U -

da santidade dos sacerdotes na vida e ministério sacerdotal. O <^e


texto expoe sôbre êste ponto não parece satisfazer à sua profundida >
unidade e importância, a) No n' 11, o texto estuda a vocação a santi-
a e como se esta profluísse apenas do preceito do Senhor: “Sêde p
0 Ministério e a Vida dos Presbíteros 317

da ordenação à perfeição da^àntidade^'*0^ m ™0’ da propria natureza


2 SS°^ s J s r s/ss
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ma todaa ^a Zmente ? ,DeUS
n T * e ^com todas as de t0d° e 0para
forças, toração- de tôdaunsa aos
que amem al’
outros corno Cristo os amou (Lumen Gentium , nv 40). E\ pois, preciso
que se indique um nôvo motivo pelo qual se exige dos sacerdotes uma
vida santa, uma vez que, o princípio anterior se refere de modo geral
a todos os cristãos. Êste motivo não é apenas um preceito positivo ou,
como diz o texto, por estarem os sacerdotes unidos com Cristo por
um vinculo mais estreito (p. 31, lin. 1) mas pela íntima natureza das
coisas, porque de fato são participantes daquele sacerdócio que santi­
fica os homens, b) A unidade e harmonia da vida do sacerdote decorre
logicamente daquela exigência e deve ser afirmada com ela. c) Não
convém insistir sôbre citações de passagens escriturísticas que recla­
mam a obrigação de tender à santidade, pois se arriscaria a ofuscar
a consciência de santidade como exigência intrínseca da graça do sa­
cerdócio. Seria preferível indicar os meios para atingir a perfeição de­
sejada. A êsse propósito o esquema não parece satisfatório, d) Con­
vém estimular a colaboração entre sacerdotes, a fim de assegurar uma
eficácia maior do exercício do ministério sacerdotal. O mesmo se diga
da colaboração e associação dos sacerdotes no sentido de favorecer
e promover a santidade dos mesmos.
332) Michele PELLEGRINO, Arceb. de Torino, na Itália (texto com­
pleto): Falo em nome de 158 Padres (dos quais 12 cardeais) de várias
nações de todos os continentes: África (sigo a ordem alfabética), Amé­
rica, Ásia, Austrália, Europa. No capítulo V do esquema, da página 19
à página 21, disseram-se belíssimas coisas sôbre a necessidade e a im­
portância da atividade intelectual no ministério e na vida dos sacerdo­
tes. Tudo isso acolhemo-lo com elogio e gratidão; todavia, parece-me
oportuno acrescentar certas coisas para que, em questão tão importante,
possa o Concilio indicar um programa e regras bastante claras e con­
cretas. Dois larguíssimos domínios, por assim dizer, abrem-se à atividade
do sacerdote, conforme êle trabalhe em matérias profanas ou sagradas.
A questão dos sacerdotes con sagrados ao ensino das m atérias pro­
fanas. Eis aqui a questão que logo surge: na constituição Lumen Gen­
tium , capítulo IV, § 31, lemos: “Mesmo se às vêzes podem êles achar-
se empenhados nas coisas do século, e mesmo exercendo uma profissão
secular, em razão da sua vocação particular os membros da ordem
sacra ficam sendo, principal e expressamente, ordenadas ao ministério
sagrado”. Não vemos por que razão não haveria isso de valer igualmente
para a atividade intelectual. Ao padre que não está inteiramente ocupa-
do no ministério eclesiástico é permitido trabalhar com Sllf nia^ ^ u
fábrica, e às vêzes é isto muito oportuno, como claramente o nu .
um Padre na discussão dêste esquema. Mas, se betn' aprte"d''.^ lo tè s
mento dêsse Padre e de seu irmão, o trabalho d ;e Vonsagra-
em nada deve prejudicar o mmistério sagrai i . 11 , , ,? para che-
ram. O mesmo não se deverá dizer do trabalho intelectual
318
I. Crônica das Congregações Gerais
nnos a casos concretos, confesso minha grande perplexidade ante o
juízo a formar sôbre êsses sacerdotes que, por assim dizer, consagram
todo o seu tempo e tôdas as suas forças ao ensino de matérias pura­
mente profanas, sejam elas literárias ou cientificas. Não digo nada dês-
ses casos particulares de que o bispo é juiz, mas permiti-me formular
as proposições seguintes, de ordem geral: se o número dos operários
na vinha do Senhor fôsse superabundante como no passado, eu não
yeria dificuldade nenhuma em que os sacerdotes se consagrassem a tais
ocupações. Mas, com a falta de sacerdotes de que sofre a Igreja em
quase todos os países, mui necessário se afigura que todos os esfor-
sejam dirigidos para o exercício do ministério sagrado.
Não quereria eu, entretanto, que o que acabo de dizer fôsse toma­
do num sentido demasiadamente rígido e por demais estrito. Se uma
disciplina que, à primeira vista, não deve ser considerada como uma ciên­
cia sagrada parece ter influência verdadeira e profunda sôbre a forma­
ção moral e religiosa dos adolescentes, sôbre a formação do pensamen­
to dos homens, levadas em conta as circunstâncias de lugares e de
tempos, então será licita e oportuna a atividade dos sacerdotes que
ensinam essa disciplina, e sobretudo que se dão à investigação cien­
tifica. E' esta, penso eu, a razão pela qual a Sacra Congregação dos
Seminários e Universidades recentemente exortou os bispos da Itália
a permitirem, aos sacerdotes çue de tal forem capazes, ensinar a filo­
sofia nos estabelecimentos públicos. O mesmo liaveria que dizer das
outras disciplinas, por exemplo das ciências históricas, biológicas, físi­
cas, que, na mentalidade e na cultura de hoje, facilmente abordam o
domínio da teologia, pelo fato de as exporem seus especialistas como
uma visão do mundo (W eltanschauung) capaz de resolver de maneira
exaustiva até mesmo os problemas religiosos, mormente se se trata,
não de uma vulgarização qualquer dessas disciplinas, de feição oral ou
escrita, mas sim da verdadeira investigação cientifica. Entretanto, difi­
cilmente poderia eu persuadir-me de que isso valha para tôdas as
disciplinas indistintamente.
Em certos poises, o estudo das ciências sacras não tem o lugar que
merece. Virei agora às disciplinas sagradas, a respeito das quais, no
lugar já citado do esquema, lemos considerações excelentes. Tendo sido
unânimemente aceitas tôdas essas coisas, não me parece deslocado for­
mular algumas sugestões, a fim de que o espirito do Concilio seja ex­
presso de maneira mais viva e mais forte. Necessário é, com efeito, dar
um suprimento de alma aos sacerdotes que trabalham na investigação,
no ensino e na difusão dos diferentes conhecimentos que têm por objeto
Deus e as coisas divinas. Já no primeiro Concilio Vaticano, por oca
>ião da discussão sóbre a vida e a dignidade dos clérigos, o bispo e
Augsburgo, Dinket, insistiu por que “o decreto dissesse alguma coisa
sobre o desenvolvimento dos conhecimentos e da doutrina dos clérigos,
nao só por causa da dignidade da função clerical, como também por cau­
sa das condições do nosso século”. Acrescentava êle ser necessário o
'ar de bibliotecas cada um dos cabidos rurais (Mansi, L, 582).
nossa epoca, pelo menos em certos países, uma espécie de pragmatis
parece reinar na concepção da vida cristã e do apostolado. Entende-
q-e. por assim dizer, só as obras exteriores têm valor; ignora-se e
u..,a-se em grande parte a importância dos estudos (e, às vêzes,
0 Ministério e a Vida dos Presbíteros
319

como sendo
ÍS» í
inferiores a<£ S qUC estudam C'e!^-'nCaridade)'
r í í í Í " ? r« r ,créri!^n-tada
arnente a Por
teologia passem
causa dist0-
(oral ou mesmn °S f‘xercem um ministério estritamente pas-
tração temporal ^ trabalham nos diversos serviços da adminis-
Se alguém achar que eu exagero, lícito me seja perguntar por que
c que os professores de seminários, mesmo de teologia, não raro rece-
bem um salano miserável; por que é que numerosas bibliotecas ecíe-
stasticas perecem à míngua de recursos financeiros? por que é que certas
faculdades são totalmente desprovidas desses auxiliares a que, na lin-
guagem universitária, se chamam assistentes, e que, mesmo trabalhando
oentificamente, cada um em sua própria disciplina, ajudam os profes­
sores a desempenhar sua tarefa, e formam os estudantes nos métodos
da investigação crítica? por que é que tão poucos escritos monográfi-
cos são publicados para fazer progredirem as ciências sacras?
Não ignoro que muitas vêzes a Igreja é pobre. Entretanto, em paí­
ses onde se afirma faltar dinheiro para promover os estudos teológi­
cos, surgem cada dia novos edifícios suntuosos destinados a diversos
usos, e realizações consideráveis. Não lhes nego a utilidade, e, sem dú­
vida, a necessidade, mas é de desejar que não se dedique menos cuida­
do a facilitar o trabalho intelectual, sem o qual dificilmente pode a Igreja
florescer, ela que é coluna e sustentáculo da verdade. Infelizmente há
países “subdesenvolvidos” não só no plano econômico, mas também no
plano da atividade intelectual em matéria de teologia. A razão princi­
pal disto reside, no meu humilde entender, não tanto na falta de meios
materiais quanto numa estima insuficiente da importância dos estudos e
da doutrina. Queremos esperar que o II9 Concilio Vaticano, que, em
numerosos domínios, já abriu novos caminhos que preparam tempos me­
lhores para a Igreja de Deus, trará igualmente um grande desenvolvi­
mento aos estudos sacros.
O período pòs-conciliar. Isso parece mui necessário para que o Con­
cilio seja seguido de efeitos. Porquanto fàcilmente se podem prever dois
perigos opostos para o período pós-conciliar. Haverá a tentação de
atenuar as leis do Concilio que mudam os velhos costumes; em compen­
sação, outros persuadir-se-ão de que tôdas as coisas antigas estão su­
peradas, e que lhes é permitido lançar-se seja em que novidade fôr.
desde o momento que seja uma novidade. Para evitar êstes escolhos,
necessário será que os sacerdotes não sòmente sejam, humilde e fiel­
mente, obedientes ao colaborarem generosa e alegremente com seu bis­
po, não sòmente tenham uma vida interior vigorosa, que tudo encare
à luz da fé, mas igualmente tenham uma clara visão das questões e da
realidade histórica na qual devem êsses problemas ser elucidados e re­
solvidos. E’ evidente que, para tudo isso, a Igreja, por certo, necessita
de numerosos leigos, mas sobretudo de numerosos clérigos possui o-
res de uma ciência sólida, os quais tenham recebido o mandato da igrt-
ja, e tenham portanto um senso verdadeiramente pastora. de modo, q
assim possam indicar os caminhos para que, mesmo sa' ' J l'ar“ n
a tradição veneranda dos Padres nas coisas essenciais e xternas, nenh
esforço se descure a fim de que essa trad.çao seja adaptada a=,
gências do nosso tempo.
320 I. Crônica das Congregações Gerais
STí) Thomas FALLS, Pároco do Sagrado Coração de Jesus, na Ar
quidiocese de Filadélfia, nos EE.UU. (texto completo): Veneráveis Pa~
dre^ Em nome dos Párocos e de todos os sacerdotes do mundo inteiro
agradeço reverente e respeitosamente a S. Santidade Paulo VI que com
Janta benevolência nos convidou a nós párocos a assistir às Congrega-
võe? Gerais dêste Concilio Ecumênico, principalmente àquelas em que sè
discutiu sôbre o ministério e a vida sacerdotal. Agradeço igualmente a
vós. Padres Conciliares, que com tanta benignidade nos recebestes e que
com tanta generosidade e sabedoria discorrestes sôbre êste Esquema
O Esquenta agrada-nos, a nós párocos, porque é clara a dstinção feita
entre o sacerdócio comum dos leigos e o sacerdócio ministerial dos pres­
bíteros. E' oportuna também a recomendação veemente à vida e à mesa
comum que ajudam o sacerdote a cultivar melhor a vida espiritual e in­
telectual. E' justa a exortação a que o sacerdote celebre cada dia a mis­
sa. uma vez que a celebração eucaristica constitui o principal ministério
dos sacerdotes e o centro mesmo de tôda a vida da Igreja. O pedido de
se prover uma sustentação honesta aos sacerdotes, baseada numa remu­
neração justa, segundo as condições de lugar e fundamentalmente igual
para todos os que se acham nas mesmas circunstâncias, é muito digna.
Para tanto, o Esquema poderia falar ainda com mais energia, dando re­
gras mais firmes e concretas que obrigassem os Bispos a darem uma
remuneração adequada aos seus sacerdotes, para que êstes possam vi­
ver dignamente. Assim cada sacerdote poderá melhor conformar a pró­
pria vida ao espírito de pobreza, despertar com mais facilidade as voca­
ções sacerdotais e gozar de uma justa segurança para tôda a vida.
Por fim, agrada-nos o que foi dito e escrito sôbre o celibato que deve
absolutamente ser observado, com a devida reverência aos nossos Irmãos
Orientais. Tudo isto merece a nossa aprovação.
Cremos necessário entretanto que a doutrina sôbre a natureza do
Presbiterato seja mais daramente explicada e desenvolvida no Esquema.
Para o desejado esclarecimento poderão talvez ser úteis os seguintes
pontos: I) O Sacerdócio dos Presbíteros configura-se ao único e sumo
Sacerdócio de Cristo, de modo que o Sacerdote pode ser justamente
chamado de “Alter Christus”. 2) Porque o Sacerdócio dos Presbíteros
é uma participação da função redentora que é própria de Cristo, esta
participação se realiza principalmente e, todos os dias, pelo Sacrifício
da Santa Missa, pela administração dos Sacramentos e pela pregaçao
do Evangelho. 3) Foram impostas as mãos aos Presbíteros para que
sejam cooperadores do Colégio Episcopal. O Sacerdócio dos Presbí­
teros é por sua natureza subordinado ao Sacerdócio dos Bispos e e,
em certo modo, uma comunhão com êle, porque ambos participam 0
mesmo Sacerdócio de Cristo, do mesmo sacramento da Ordem e a
mesma missão, ainda que subordinadamente e em grau diverso. Median­
te a Ordenação Sacerdotal é realizada a união com o Colégio Episcopa
e seu chefe, e os ofícios e ministérios sacerdotais propriamente ditos,
isto e o ministério da Eucaristia e dos outros sacramentos, o m,nl
terjo da pregação e de governar. Já que êstes ofícios e ministérios sa
conferidos para o serviço do Colégio Episcopal, não podem ser exer -
f 0*’ J* ar *U< ntíUre-Za’ senâo em comunhão com o Colégio dos Bisp ^
ee âmbito desta comunhão, a missão dos Presbite
universal quanto aos ofícios, quanto aos povos, quanto às necessidades
0 Ministério e a Vida dos Presbíteros 321
e se estendem à Igreja inteira, assim como é universal e se estende à
S S F Z S d° Colésio Episcopal. Corno „

íla ;=°nninhao
P<lei,-e rhierárquica
' t0S BlSp0S’
de cada
cada um P^sidindo
Presbítero sua Igreja
se efetua dio-
se man-
icm e se fortalece através da comunhão com o próprio Bispo.
Cremos também que a descrição da espiritualidade dos Presbíteros
deveria ser mais precisa; convém esclarecer particularmente a espiritua-
ídade dos padres diocesanos como diversa da espiritualidade tanto dos
Leigos, quanto dos Religiosos. A espiritualidade dos Presbíteros dioce­
sanos deve responder às exigências de uma vida ativa entre os homens,
e ser endereçada sempre a Deus, num modo todo próprio. O Esquema
não indica suficientemente como estas obras do ministério sacerdotal
podem estimular e edificar a santidade sacerdotal. As virtudes evangé­
licas se configuram diversamente no ministério dos Presbíteros e na
vida dos Religiosos. O texto deve, pois, evitar tôda concepção da vida
sacerdotal fundada na oposição entre vida exterior e vida interior. A
santidade sacerdotal consiste na união com Cristo que se realiza prin­
cipalmente no ministério pastoral junto aos homens. O Esquema de­
veria descrever as virtudes características dos padres em sua vida ati­
va. Tais virtudes são as normas do Bom Pastor pronto a dar a vida
por suas ovelhas, a saber: zêlo ardente, solicitude pastoral para com
a salvação dos homens, o cuidado em evangelizar a todos, o amor por
todos (especialmente pelas crianças, pelos pobres e pelos pecadores),
a paciência e a humildade em consolar os homens, a flama do trabalho
apostólico e a perseverança nas dificuldades. Assim o Presbítero torna-
se um pai entre os filhos espirituais e não apenas irmão entre os ir­
mãos. Ainda que tôda sua atividade se exerça entre os leigos, jamais
deve o Sacerdote possuir um espírito meramente secular. Todos os sa­
cerdotes devem ter particular devoção ao Espírito Santo, a Jesus Cristo
Sumo e Eterno Sacerdote, e a Maria sua e nossa Mãe, Rainha dos Após­
tolos e Rainha do Clero. Após o Concilio, os Bispos devem pôr em prá­
tica seus decretos e constituições. Neste sentido os párocos e os sacer­
dotes em geral serão de grande ajuda, enquanto prepararão o espírito
do povo para receber as decisões do Concilio. Para êste trabalho, nós,
párocos auditores, prometemos, em nosso próprio e em nome de todos
os Presbíteros, dedicar tôdas as nossas forças.
Terminados os debates foi feita a votação de sondagem: “Jul­
gam os Padres Conciliares que o esquema De Ministério et Vita
Presbyterorum poderá servir de base para uma ulterior elabo­
ração que tenha em conta as observações feitas oralmente ou
por escrito?” Naquela manhã do dia 26 de outubro estavam
presentes apenas 1.521 Padres Conciliares: 1.507 responderam
placet, 12 non placet e 2 entregaram votos nulos. E o esquema
voltou à Comissão para ser emendado.
Da 154» è 168» Congregação Geral

C o M A 153’ CONGREGAÇÃO
Geral terminaram os debates conciliares. Depois tivemos ainda
as seguintes Congregações Gerais:
27-10-1965: 154’ Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Agagianian. Presentes 2.240 Padres Conciliares. A sessão co­
meçou às 9 e terminou às 11,20. Fizeram-se neste dia as últi­
mas votações sôbre as emendas feitas no De Libertate Religio­
sa. Sôbre esta e as outras votações se fará crônica especial em
outro capítulo. O discurso do Pe. Falis: cf. p. 320.
29-10-1965: 155’ Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Lercaro. Estavam presentes 2.240 Padres Conciliares. A sessão
começou às 9 e terminou às 11,40. Houve sete votações sôbre
os Modos admitidos no De Divina Revelatione (cf. pp. 384 ss).
Enquanto os Padres votavam, cantava na Aula Conciliar o côro
São João Dantasceno de Essen (Alemanha), executando seis can­
tos da liturgia russa. Foi distribuído também uma medalha de pra­
ta comemorativa da IV Sessão do Concilio. Comunicou-se que a
próxima Congregação Geral será apenas no dia 9 de novembro.
Até lá as Comissões terão que trabalhar a fim de corrigir os
esquemas sôbre a Liberdade Religiosa, a Igreja no Mundo dç
Hoje, as Missões e o Ministério e a Vida dos Presbíteros. Foi
anunciada também para o dia 18 de novembro nova Sessão
Pública.
9-11-1965: 156’ Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Doepfner. Padres Conciliares presentes: 2.152. A sessão come­
çou às 9,30 e terminou às 12,30. A finalidade principal da Con-
gregação foi a votação do esquema sôbre o apostolado dos lei"
^ corrigido segundo os Modos sugeridos pelos Padres (c
pp. 361 ss). Enquanto os Padres votavam, foram lidas as relações
Da 154" à 1681 Congregação Geral 323
S“ u“ 'L“ ata m iZ aoficialmenle, d>S ,"<1"l*e“d
em Carta do “Papa
- Neste dia comeni.
ao Cardeal Tis-
nt, que o encerramento do Concilio será nos dias 7 e 8 de de­
zembro prox^mo. Os Padres receberam o texto do esquema sô-
re as Missões, a relação introdutória e a relação geral sôbre
a reforma das Indulgências, e o texto do esquema sôbre o mi­
nistério e a vida dos presbíteros
10-11-1965: 157* Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Suenens. Estavam presentes 2.224 Padres. A sessão começou
às 9,30 e terminou às 12,30. Continuaram as votações sôbre o
apostolado dos leigos e começaram os sufrágios sôbre o texto
emendado do esquema missionário, com o voto modificativo (cf.
pp. 394 ss). Enquanto os Padres votavam foram lidos os parece­
res de algumas Conferências Episcopais sôbre a reforma da prá­
tica das Indulgências. Avisou-se, porém, que não se tratava de um
debate propriamente conciliar. Far-se-á, por isso, sôbre o curioso
incidente em torno das Indulgências crônica à parte (cf. pp. 327-
340). Foi oficialmente comunicado que o Papa decidiu promulgar
a Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina na Sessão
Solene do próximo dia 18 de novembro.
11-11-1965: 158* Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Agagianian. Estavam presentes 2.204 Padres Conciliares. A ses­
são começou às 9 e terminou às 12,25. Continuaram as votações
sôbre o esquema missionário e os pareceres das Conferências
Episcopais sôbre as Indulgências. O Secretário Geral explicou
minuciosamente o sentido da palavra “sessão”, tal como é usa­
da no presente Concilio e esclareceu que, juridicamente, du­
rante o presente Concilio tivemos dez Sessões Públicas, a sa­
ber: 1* no dia 11-10-1962; 2* no dia 29-10-1963; 3* no dia
4-12-1963; 4* no dia 14-9-1964; 5* no dia 21-11-1964; 6* no
dia 14-9-1965; 7* no dia 28-10-1965; 8* no dia 18-11-1965;
9:l no dia 7-12-1965; 10* no dia 8-12-1965.
12-11-1965: 159* Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Lercaro Padres Conciliares presentes: 2.174. A sessão come-
cou às 9 e terminou às 12,35. Sua íinalidade principal era a
votação sôbre o texto corrigido e definitivo do documento so rt
o ministério e a vida dos presbíteros (cf. pp. 401 ss). Os parea-
res das Conferências Episcopais sôbre a reforma da prat.ca das
dulgências foram abruptamente mtcrrornpidos e seg d
são geral que se tinha, foram mesmo mterdítados. Os Padas
324 I. Crônica das Congregações Gerais
beram nesta manhã a segunda parte do texto emendado sôbre
a Igreja no inundo de hoje.
13-11-1965: 160- Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Doepfner. Estavam presentes 2.090 Padres Conciliares. A sessão
começou às 9,30 e terminou às 11,25. Continuaram as votações
sôbre o ministério e a vida dos presbíteros. Foi comunicada
também a decisão do Papa de promulgar solenemente no dia 18
dt novembro o Decreto sôbre o Apostolado dos Leigos. Distri­
buiu-se esta manhã a primeira parte do texto emendado do es­
quema sôbre a Igreja no Afundo de Hoje.
15- 11-1965: 161a Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Suenens. Estavam presentes 2.199 Padres Conciliares. A sessão
começou às 9 e terminou às 12,30. Começaram os sufrágios,
com o voto modificativo, sôbre o esquema De Ecclesia in Mun­
do Ituius Temporis. A relação geral sôbre o texto revisto foi
lida por Dom Gabriel Garrone, Arceb. de Toulouse (França) e a
relação sôbre a exposição introdutória por Dom Marcos McGrath,
Bispo de Santiago de Veraguas (Panamá) (cf. pp. 409 ss).
16- 11-1965: 162a Congregação Geral. Afoderador: Cardeal
Agagianian. Estavam presentes 2.210 Padres Conciliares. A ses­
são começou às 9 e terminou às 12,30. Continuaram as votações
sôbre A Igreja no Mundo Contemporâneo.
17- 11-1965: 163* Congregação Geral. Afoderador: Cardeal
Lercaro. Estavam presentes 2.261 Padres Conciliares. A sessão
começou às 9 e terminou às 12,30. Nesta manhã fizeram-se as
últimas votações, sempre com o voto modificativo, sôbre a Igre­
ja no Afundo Contemporâneo. Hoje os Padres receberam tam­
bém o texto definitivamente emendado da Declaração sôbre a
Liberdade Religiosa, a ser votado no dia 19-11. Foram dados
avisos sôbre a Sessão Pública de amanhã.
19-11-1965: 164* Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Doepfner. A sessão começou às 9,05 e terminou às 11,30. Os
2.264 Padres presentes votaram nesta manhã o texto definitivo
sôbre a Liberdade Religiosa (cf. pp. 392 ss). O Secretário Geral
deu avisos sôbre os próximos dias: Não haverá Congregação Ge­
ral até o dia 30-11 (neste tempo trabalharão as Comissões), n°
dia 26-11 os Padres receberão em domicílio o texto do esquema
sobre as Missões (corrigido segundo os votos modificativos), 9ue
será votado no dia 30-11; no dia 2-12 será votado o texto defini­
tivo sôbre o ministério e a vida dos presbíteros (os Padres
Da 154* à 168’ Congregação Geral 325

dias 4 ae 6 d f 1 ^ 7 * 3 Con^ ç ã o do dia 30-11); e nos


documento sôbre aT reja nomundo^ V ^ - 0 definitiva do
será entregue no dia 2 d e d S i o P emP°rane0 ^ q“C
AoafWa Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Agagianian. Estavam presentes 1.922 Padres. A sessão comecou
às _9 e terminou às 12,15. Teve por finalidade principal a to-
taçao do texto definitivo sôbre as Missões (cf. pp. 398 ss). Foi
entregue aos Padres o texto, com a ponderação dos Modos, sôbre
o ministério e a vida dos Presbíteros.
2-12-1965: 166* Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Lercaro. Padres presentes: 2.280. Submeteu-se neste dia ao su­
frágio do plenário o texto definitivo sôbre o ministério e a vida
dos Presbíteros (cf. pp. 405 ss). Os Padres receberam também o
texto corrigido e definitivo do documento sôbre a Igreja no mun­
do de hoje, com a ponderação dos Modos dados à primeira parte
(a ponderação dos Modos para a segunda parte foi entregue no
dia seguinte, a domicílio). Terminadas as votações sôbre os Pres­
bíteros, foi ainda lida a Relação sôbre a Igreja no mundo con­
temporâneo (cf. p. 414 s). A sessão terminou às 11,40.
4-12-1965: 167* Congregação Geral. Moderador: Cardeal
Doepfner. Estavam presentes 2.250 Padres Conciliares. A ses­
são começou às 9 e terminou às 12. Votou-se o texto defini­
tivo, em 12 sufrágios, do esquema sôbre a Igreja no mundo de
hoje (cf. pp. 415 ss). Foi lida a seguinte mensagem dos Obser­
vadores Delegados e Hóspedes do Secretariado para a União
dos Cristãos:
Veneráveis Padres Conciliares. Ao terminar o Concilio Ecumênico
Vaticano II os Observadores e os Hóspedes do Secretariado de União
dos Cristãos desejam exprimir os sentimentos de gratidão com que con­
sideram os importantíssimos acontecimentos de que foram testemunhos.
Êles foram convidados a assistir aos trabalhos do Concilio para que,
conhecendo-os mais profundamente, pudessem informar suas Igrejas. Fo­
ram acolhidos sempre com muita cordialidade. Receberam inúmeras pro­
vas de estima, caridade e amizade. O diálogo, de que se falou fre-
qüentemente, não foi palavra vazia e morta. Foram-lhes oferecidas repe­
tidas ocasiões de encontros e de colóquio pessoal. Embora tanto os Pa­
dres Conciliares como os Peritos estivessem absorvidos por um excessi­
vo trabalho, êles se mostraram sempre pressurosos em aprotuiua^^^
conhecimento das convicções das outras Igrejas. Os v»nc _ enrique-
zades pessoais contraídos durante êstes anos foram < n L i &te
cimento para os Observadores e permanecem P ( resultados
o momento de falar pormenorizadamente do Concho e
326
I. Crônica das Congregações Gerais
alcançados nestes anos. Os Observadores neste momento desejam asse­
gurar os Padres Conciliares de uma so coisa: êles seguiram os traba­
lhos do Concilio náo sòmente com a atenção de mero espectador mas
com um sentido de verdadeira participação. Tudo que acontece no
interior de uma Igreja, interessa também a tôdas as outras. Não obstan­
te a divisão, as Igrejas permanecem unidas no nome de Cristo. Os
Observadores estão firmemente convencidos que a comunhão alcançada
até êste momento pode crescer ainda e seguramente crescerá. Na pri­
meira audiência, concedida aos Observadores, o Papa João XXIII disse
estas palavras: "Louvores sejam dados a Deus cada dia”. Estas pala­
vras podem ser agora parafraseadas: “Louvor a Deus por tudo aquilo
que êle, através do seu Espírito, nos deu até hoje e por aquilo que êle
pretende dar-nos no futuro”.
6-12-1965: 168* e última Congregação Geral. Moderador:
Cardeal Suenens. A sessão começou às 9 e terminou às 12,15.
A presença marcou esta manhã o ponto mais alto alcançado
durante todo êste XXI Concilio Ecumênico: 2.391 Padres Con­
ciliares. Fêz-se primeiro a votação de todo o texto do esquema
sôbre a Igreja no mundo de hoje. Foi lida a Constituição Apos­
tólica Mirificus Eventus, que decreta e promulga o Jubileu a
seguir ao Concilio Vaticano II (cf. pp. 474-478). Mons. Felici,
Secretário Geral do Concilio, que é também latinista e poeta, leu
os seguintes versos de despedida:
Finis adventat Synodi sacratae,
finis et nostri properat laboris
nunc iuvat vobis renovare grates
et pia vota.
Christus o nobis faveat benignus,
adsit e caelo pia Virgo Mater
nosque Pastores repleant amoris
igne supemi.
Nesta manhã todos os Bispos receberam do Papa, em re­
cordação perene do Concilio, um anel de ouro com um diploma
de participação do Concilio. O Prefeito de Roma fêz entregar
a cada Padre Conciliar uma medalha de prata, com o nome
gravado de cada Padre. Por fim falou o Cardeal Suenens, em
nome dos Moderadores, agradecendo a Deus Pai, Filho e Es­
pírito Santo. Depois agradeceu ao Papa Paulo VI, ao Secretá-
rio Geral, por sua paciência e humor, aos que falaram na Aula
Conciliar, aos que deram suas sugestões por escrito, aos mem­
bros e peritos das Comissões, aos Auditores e a todos quan­
tos trabalharam no Concilio. Por fim Mons. Felici agradeceu o
trabalho dos Moderadores.
o Debate Paraconcüiar sôbre as Indulgências

. N o MÊS DE OUTUBRO AS
Conferências Episcopais receberam dois projetos de documentos
pontifícios: sôbre a reforma da prática da penitência e das in­
dulgências. Num primeiro ensaio de trabalho colegial extracon-
ciliar, o Papa solicitara os pareceres das Conferências Episco­
pais acêrca dêstes dois projetos (ou “positiones”, segundo a
terminologia da Cúria Romana), que tinham sido elaborados pelo
pessoal dos respectivos dicastérios da Cúria Romana. Verificou-
se logo a total ausência, em ambos os esquemas, do espírito
que animara os documentos conciliares. Após quatro anos de
Concilio apresentavam-se projetos que poderíam perfeitamente
ter sido redigidos antes do Concilio. Com a mesma impiedade
com que no início do Concilio os Bispos bombardearam e re­
jeitaram os esquemas da fase preconciliar, criticaram também
êstes dois projetos. Como a “positio” sôbre a disciplina peni­
tencial não foi debatida em público, não poderá ser também
objeto da presente crônica. Mas a outra, sôbre as indulgências,
teve amplo e notório debate na própria Aula Conciliar.
No dia 9 de novembro, 156* Congregação Geral, enquan­
to os Padres votavam o esquema sôbre o apostolado dos leigos,
com o fim de ocupar utilmente os votantes entre um e outro
sufrágio, foram lidos, primeiro, os relatórios oficiais sôbre a
reforma da prática das indulgências e, depois, os pareceres de
algumas Conferências Episcopais. Estas leituras continuaram no
dia seguinte e foram bruscamente interrompidas na 158* Con-
gregação Geral. Note-se que não se tratava pròpriamente de
um debate conciliar, pois o documento previsto seria apenas
pontifício, não conciliar. Por isso digo no título “debate para-
conciliar”. . „ ..,
A “Positio de Sacrarum Indulgentiarum Recogmtione .
tribuída na Aula Conciliar no dia 9-11-1965, era
328 I. C rô nica das C ongreg ações G e ra is

fasciculo impresso de 93 páginas. Ela foi apresentada por uma


"Relatio super schema de indulgentiis recognoscendis” (com 18
páginas impressas), distribuída no mesmo dia e lida pelo Car­
deal Cento, Penitenciário Maior. O Serviço de Imprensa do
Concilio entregou aos jornalistas um amplo resumo do longo
esquema, que compreendia três partes: princípios teológicos sô­
bre as indulgências e sua evolução histórica (pp. 9-33); pro­
jeto de reforma das indulgências (pp. 35-44); e o comentário
(pp. 45-91). Eis o resumo das duas primeiras partes do pro­
jeto oficial apresentado às Conferências Episcopais:

PRIMEIRA PARTE
1. Princípios teológicos acêrca das indulgências:
A) O cristão em estado de graça pode satisfazer pelos outros, a) O
pecado, como “aversio a Deo et conversio ad creaturas”, comporta além
da ofensa a Deus (culpa), que se redime mediante a absolvição sacra­
mental, também uma desordem, que exige como reparação a aceitação
voluntária e a suportação de uma adequada pena temporal, b) E’ dogma
de fé que, mediante a remissão da culpa, nem sempre é remitida tôda
a pena temporal devida ao pecado. Afirma-o a Sagrada Escritura e con­
firma-o a tradição de impor uma penitência para os pecados já remitidos
pela absolvição sacramental, c) E’ também dogma de fé que o homem
neste mundo, mediante obras penitenciais, pode satisfazer a pena tempo­
ral devida ao pecado. Também esta afirmação encontra a sua confirma­
ção na Sagrada Escritura e foi definida no Concilio de Trento. d) O
cristão na graça de Deus pode nesta vida satisfazer não só pelas pe­
nas temporais devidas aos seus pecados, mas, também, pelos pecados
dos outros cristãos. Esta verdade está contida na doutrina de São Paulo
sóbre o Corpo místico, confirma-se na antiga prática penitencial (redu­
ção do tempo de penitência pública infligida aos “lapsos” — isto é:
aos que tinham sacrificado aos ídolos em época de perseguição, em se­
guida à intercessão dos confessores da fé) e litúrgica (oração de tôda
a Igreja em favor dos penitentes) e está intimamente ligada à doutrina
da comunhão dos santos, e) O cristão em graça pode satisfazer não
só por outros, que vivem ainda neste mundo, mas também por aquêles
que se encontram no purgatório. Esta afirmação deriva-se igualmen e
da doutrina da comunhão dos santos. Ela se encontra na Sagrada Es­
critura e foi defendida em vários concílios, particularmente no de Trento.
E) A Igreja possui o tesouro dos méritos adquiridos por Cristo
e pelos santos. A existência dêste tesouro é afirmada claramente nos
documentos do Magistério Eclesiástico (Bula: Unigenitus Dei Filius de
Clemente VI, 1343; Cum postquam de Leão X, 1520) e encontra os seus
fundamentos nos méritos de Cristo extensivos aos homens, através dos
sacramentos sem jamais se esgotarem. Concedem-se também fora da
administração dos sacramentos. Aos méritos de Cristo juntam-se os d
Beata Virgem Maria e dos santos.
0 Debate Paraconciliar sôbre as Indulgências 329

ridos por Crísfo


pressamente que a^ pIgreia
L ^ S tem
a n fohpt‘qA ^W ada Escritura
b?£rada E * t ° nãomíW,0S
declaraadqu'-
ex-
e dos Santos e de distr buí Io ° l? 0”' 0 d°S méritos de Cristo
Cristo conferiu à Igreja o m ís entanto' ela que
ral. Se a Igreja tem o poder de r e £ T culn^""3-d° Pe-ad° em ge'
;rtoí1ÍdeaquPe nd is S P Aalé ‘dos Pmé!

II. História das Indulgências:


No início da Igreja não se encontra uma menção explícita da dis­
tinção entre culpa e pena do pecado mas já emergem claramente os
princípios fundamentais. De fato, constata-se uma diferença nítida entre
remissão total dos pecados, seja da culpa, seja da pena conseguida atra­
vés do batismo, e a remissão dos pecados cometidos depois do batis­
mo, os quais comportam uma longa e dura penitência subjetiva. Ao mes­
mo tempo, porém, aquêle que pecava após o batismo era considerado
salvo , apenas arrependido e convertido, ainda que devesse cumprir
uma longa penitência pessoal. Desde os primeiros tempos os bispos cos­
tumavam, por diversos motivos, abreviar as penitências aos próprios
fiéis. Não consta, todavia, que os bispos, ao perdoar a pena canônica
diante da Igreja, tencionavam, ao mesmo tempo, perdoar a pena tem­
poral devida a Deus. Na Igreja antiga, os “lapsos” iam aos confesso­
res da fé detidos nos cárceres pedir o “libelo de paz” — uma reco­
mendação aos bispos — o qual, em consideração da abundância dos
méritos dos mártires, restituía ao “lapso” penitente a pena temporal dian­
te de Deus, reintroduzindo-o imediatamente no seio da Igreja. Neste cos­
tume, pode identificar-se o primeiro exemplo concreto de indulgência.
A partir do século VII, iniciaram-se as chamadas “redenções” (obras por
meio das quais os confessores comutavam as penitências canônicas)
e as peregrinações aos lugares considerados santos (Palestina, Roma,
S. Tiago de Compostela). Aos peregrinos os Pontífices impunham peni­
tências menores seja por causa das dificuldades de viagem, seja por
causa da devoção aos lugares consagrados pelo Sangue de Cristo e
dos apóstolos. Não parece que as “redenções” tenham sido verdadeira
e propriamente indulgências. Com efeito, elas se apresentam simples­
mente como comutação de pena e não consta que os confessores enten­
dessem suprir com o tesouro da Igreja a menor satisfação proveniente
da comutação da pena. O mesmo vale para as “peregrinações roma­
nas” Na Idade Média, floresceram as chamadas “absolvições” (tora
do sacramento da penitência desde os tempos de Gregono Magno otM-
610 e no mesmo sacramento da penitência, a partir do século X). A»
absolvições eram invocações espirituais a Deus, para que perdoasse
os pecados Elas começaram depois a fazer parte da liturgia (o Con!;-
teor) e prepararam o caminho ao Instituto das indulgências em sentiuo
verdadeiro e próprio. O uso das “redenções" torna-se sempre mais fre-
qüente após o século XI. O Pontífice Romano e os b,*P“ q^nrto
parte da penitência imposta no sacramento da pemtenua (um q * ■
um têrço, a metade, no máximo) aos fieis
guma obra boa (por exemplo, esmola para a construção de
Concilio - V — 22
I. C rô nica das C ongreg ações G e ra is
330

ou de uma obra pia, contribuição a alguma obra de utilidade publica


como pontes, asilos, etc.). Sucessivamente seguindo o exemplo do Sumó
Pontífice, recolocou-se a penitência canônica da Igreja, calculando-se em
numero determinado de dias. No século XII, chegou-se até a um ano
e 40 dias. Trata-se de dias para a diminuição da pena terrena e não do
purjraiório. Também no século XII, foi concedida a primeira indulgên­
cia plenária, sòmente aos cruzados, pelo Papa Urbano II, durante o Con­
cilio de Clermont-Ferrand (1095). E’ fora de dúvida que esta indulgên­
cia se considerava válida também diante de Deus. No século XIII en­
quanto o IV concilio de Latrão limita o poder dos bispos acêrca das
indulgências, a teologia aprofunda a sua doutrina. No século XIV, assis­
te-se a um multiplicar das indulgências. A boa obra exigida para lucrá-
la se reduz, muitas vêzes, a uma esmola que é imposta fora da admi­
nistração do sacramento da penitência. Disso derivaram fàcilmente mui­
tos abusos. Os “questores” que tinham a tarefa de pregar a indulgência
e recolher as esmolas nem sempre eram fiéis à doutrina autêntica. A
invasão dos abusos ofereceu aos reformadores ocasião de acusar a Igre­
ja da venda das indulgências. A primeira indulgência plenária em su­
frágio dos defuntos foi concedida pelo Papa Sixto IV em 1476. O Con­
cilio de Trento não fala expressamente da doutrina sôbre as indul­
gências, mas aprova-a e confirma-a em geral, ao mesmo tempo que pro­
cura extirpar seus abusos. Nos séculos seguintes nada foi inovado nem
se tornou necessário renovar o modo de conceder indulgências. Uma
nova disciplina e nova praxe mais de acôrdo com os princípios do Con­
cilio de Trento, parece ao invés hoje oportuna, a fim de ressaltar a
dignidade das indulgências e favorecer a piedade e a devoção dos fiéis.
III. Natureza das Indulgências: A indulgência é uma remissão da
pena temporal válida diante de Deus, concedida pela autoridade legí­
tima, fora do sacramento da penitência, mediante a aplicação do te­
souro da Igreja, seja para os vivos seja para os defuntos. A indulgên­
cia redime a pena temporal, mas não a culpa que é perdoada sòmente
mediante a absolvição sacramental. A remissão da pena temporal pela
indulgência não advém da virtude do sacramento e nem “ex opere ope-
rantis”, mas “ex opere operato”, isto é, em virtude do tesouro da Igreja.
IV. Condições e utilidades das indulgências: Requer-se, por parte
daquele que concede as indulgências, para que a mesma seja válida, a
autoridade competente, e para sua liceidade, uma causa justa. Por parte
daquele que recebe, é necessário o batismo (pois é concedida aos mem­
bros da Igreja), a intenção de ganhá-la, a execução da obra prescrita
e o estado de graça. Ainda que a indulgência não seja necessária para
a salvação eterna, contudo, ajuda muito os fiéis, como ensina o Conci­
lio tridentino. Os fiéis, lucrando-as, não só obtêm uma remissão das
penas temporais, mas são tambéiTj levados a professar a substância a
fé católica (gravidade do pecado, justiça divina, redenção de Cristo,
mentos de Cristo e dos Santos, Comunhão dos Santos, poder do Santo
adre, purgatório, etc.). Ela favorece, além disso, o exercício das vir
tudes e a piedade para com os defuntos.
o Debate Paraconciliar sôbre as sobre as Indulgências
331
SEGUNDA PARTE
Pr0Íd0 de rcnova^ ° ^ disciplina das Sagradas

j
espirito de piedade e o fervor dos fiéis; d) contribui para dar às in­
, ------------------------ v a i m u Q , íavuJC L C U

dulgências reais uma forma digna, profundamente espiritual, eliminando-


se assim qualquer perigo de superstição.
I) A norma nova para a indulgência elimina qualquer computação
de dias e anos: A indulgência parcial, de agora em diante, não será mais
indicada com números de dias e anos. Os dias e anos correspondiam,
como se afirmava, aos dias e anos da penitência antiga. Qual época?
Onde? Qual o delito? Como se cumpria? Não se respondia nunca a estas
perguntas. A indicação de um número de dias e anos poderia ter um
sentido claro e determinado quando se referia diretamente à penitência
canônica, imposta para um tempo determinado, à qual se concedia al­
guma redução. Acreditava-se, naturalmente, que o perdão ou mitigação
de tal penitência, concedida pela intercessão da Igreja ou por favor dos
mártires, tinha valor também perante Deus. Mas o que a Igreja conce­
dia era, em primeiro lugar, um perdão da pena canônica. Hoje, ao con­
trário, a Igreja, ao conceder as Indulgências, pretende remir simples­
mente as penas temporais dos pecados perante Deus. Modificou-se o sen­
tido das indulgências, enquanto se conservou a terminologia antiga, que
hoje não é mais aceitável. Procurou-se portanto outra medida. E ela foi
felizmente encontrada, considerando-se a própria ação do fiel que exe­
cuta a obra indulgenciada. E’ sabido que tôda boa ação, feita na graça
de Deus e com o seu auxílio, é digna de um merecimento estritamente
pessoal (aumento de graça e conseqüentemente o prêmio de vida eterna)
p üipm nisso um fruto impetratório e satisfatório comunicável a outros.

remissão, oferecida f
complicado, nada se
22 *
332 I. Crônica das Congregações Gerais
referência, a remissão da pena correspondente ao fruto satisfatório pró-
prio de cada boa ação. Estabeleceu-se esta norma: a quantidade dà
remissão da pena, que a Igreja concede com a indulgência parcial, seja
exatamente igual à quantidade da remissão de pena correspondente ao
fruto satisfatório que o fiel adquire com a sua ação. Portanto, a nova
medida para a indulgência parcial pode ser indicada pela seguinte fór­
mula ou outra semelhante: “A Autoridade Eclesiástica, concedendo in­
dulgência parcial a uma oração ou boa obra, pretende acrescentar à re­
missão da pena perante Deus que o fiel adquire com a sua ação,
a outra remissão pelo tesouro da Igreja”. Uma comparação pode utilmente
ilustrar a norma indicada. O fiel, que realiza uma ação, à qual está
concedida uma indulgência parcial, pode-se comparar — no que diz res­
peito à remissão da pena temporal — a um operário que, executando
um trabalho, particularmente apreciado e urgente, recebe uma recompen­
sa e, ao mesmo tempo, um prêmio, igual à própria medida. E’ assim
no caso da indulgência parcial, o fiel com uma única ação adquire uma
dupla remissão da pena temporal: uma adquirida com a sua ação e outra
presenteada pela Igreja.
li) A norma nova para a indulgência parcial oferece uma medida
completamente determinada e ao mesmo tempo admiràvelmente variada:
Na norma nova para a indulgência parcial, a medida da indulgência,
ainda que nos permaneça desconhecida, é plenamente determinada “in
se et obiective”. De fato, toma-se como medida, cada vez, o fruto sa­
tisfatório e a conseqüente remissão da pena temporal duma ação par­
ticular, realizada por um fiel, em circunstâncias determinadas. Segue-se
que a medida é completamente determinada, mas também, ao mesmo
tempo, admiràvelmente variada. As ações são como os rostos. E’ di­
fícil que um rosto se pareça perfeitamente com outro. E também o
mesmo rosto pode apresentar feições diferentes. Assim são as ações.
E’ difícil a ação de uma pessoa ter o mesmo valor que a de outra. E
a mesma ação pode ser diversamente realizada pelo mesmo indivíduo.
Entre os valôres da ação existe também aquêle satisfatório. Se êste
varia, varia também a indulgência eventual. De qualquer modo, à remis­
são da pena temporal, corresponde ao fruto particular satisfatório de
uma ação determinada, feita por um fiel determinado em circunstâncias
determinadas, acrescenta-se com a indulgência parcial, uma outra
perfeitamente igual — remissão da pena, retirada do tesouro da Igreja.
III) A norma nova para a indulgência parcial favorece o espirito
de piedade e fervor dos fiéis: O mérito principal da norma nova para
a indulgência parcial está no fato de se induzir o fiel a realizar as suas
açoes com reta intenção e com fervor de caridade para aumentar
além do mérito que permanece sempre o fruto mais importante da ação
o fruto satisfatório da mesma e a conseqüente remissão da pena
temporal, com a perspectiva feliz de se obter ainda, como presente,
uma remissão igual da pena, por parte do tesouro da Igreja. Na Pra"
íca atual, o fiel era facilmente levado a subestimar a importância a
penitencia pessoal, confiando na possibilidade de libertar-se, sem muito
es orço, as próprias dívidas, com a aquisição das indulgências. Segun
ao a pratica atual, quem oferecia seu trabalho com qualquer invocação
pie osa, ganhava 500 dias de indulgência. Quem oferecesse o seu tra
0 Debate Paraconciliar sôbre as Indulgências 333
balho, com maior nn mpnnr ,■ .
tinha influência sôbre a quantidad^i30' ma,°- °U menor íervor> não
satisfizesse às condições “saltem cor 3 remi8Sa° conced,f1a
contudo, a resignação e o fervnrV™
fervor têm ■ *, . . T<? ' ^om a norma
tidade da remissão___i
nm nracatifo que• . o fiel adquire
f e ^Quire'cnm"03
n > ,mportante, sôbr.e a

• jndJnfit in , 0, para a 'n<ill!gência parcial contribui para dar


Igenua real uma forma mais digna, altamente espiritual, eliminando
assim qualquer perigo de superstição: O problema da indulgência real
ou seja da indulgência anexa aos objetos de piedade apresentava-sé
como o mais necessitado de revisão. Aqui tratemos disto sòmente para
indicar como a nova norma para a indulgência parcial tinha facilitado
a revisão, eliminando, com um corte radical, exageros e desproporções,
afastando eficazmente todo o perigo de superstição. Êste perigo tinha-
se inserido na muita importância que tinham tomado os objetos de pie­
dade, especialmente as “insígnias” (escapulários, correias, cintos, meda­
lhas) das pias Associações, para a aquisição das indulgências. Decidiu-se,
portanto, deixar às insígnias o caráter de objeto pio e também de dis­
tintivo das associações e nada mais. As “insígnias” das pias Associa­
ções estão juntas com todos os outros objetos de piedade, e a todos in-
distintamente, devidamente benzidos, concederam-se indulgências iguais.
Fixemos, portanto, para as indulgências reais a seguinte norma: “O
fiel que traz devotamente consigo um ou mais objetos bentos (crucifixo,
cruz, coroa, escapulário, correia, cinto, medalha) adquire todos os dias
uma indulgência parcial e, além disso, com as habituais condições uma
indulgência plenária por ano”. Segundo esta norma, as indulgências não
são simplesmente anexas aos objetos de piedade, nem só ao fato de tra­
zê-los, mas sim à maneira como são usados. Se bem se observa, esta nova
norma para as indulgências depende, de modo particular, da nova nor­
ma para as indulgências parciais. A indulgência parcial comporta, se­
gundo a nova norma, uma remissão da pena, tirada do tesouro da Igreja
que se acrescenta em quantidade igual, à remissão da pena que os fiéis
adquirem com a sua ação. Ora, pode acontecer que um fiel leve, por vá­
rios dias, um objeto de piedade, sem nenhuma devoção. Neste caso, êle
não ganhará nenhuma remissão da pena. Se, pelo contrário, êle leva
o objeto com devoção, ganhará, cada dia, na proporção de sua devo­
ção, uma determinada remissão de pena, como fruto de sua ação e
outra remissão como dom da Igreja. Uma outra observação nos fará
compreender melhor o valor da nova norma sôbre a indulgência parcial
em relação aos objetos bentos. A quem leva devotamente um objeto
de piedade é concedida uma única indulgência parcial por dia. Mas esta
única indulgência parcial se refere a todos os atos de devoção que o
fiel cumpre durante o dia, atos êstes ligados ao uso do objeto de pie­
dade. Esta única indulgência, pois, poderá ser muito grande, se o
se servir do objeto de piedade como de um estimulo para el
qüentemente seu pensamento a Deus, no cumprimento 1 da par_
A decisiva contribuição dada pela nova norma para ® es_
ciai à solução do problema das indulgências reais
plêndida prova de seus méritos intimos.
3?4 I. Crônica das Congregações Gerais
Era êsle, em resumo, o projeto apresentado às Conferên­
cias Episcopais. Nos dias 10 e 11 de novembro falaram então
os representantes das várias Conferências. No dia 10 os Car­
deais Maximus IV Saigh, em nome do Santo Sinodo da Igreja
greco-melquita; Stephanus I Sidarous, em nome do Santo Síno-
do da Igreja copta; Manuel Gonçalves Cerejeira, em nome da
Conferência Episcopal de Portugal; Norman Thomas Gilroy, em
nome da Conferência Episcopal da Austrália; Lawrence Joseph
Shehan, em nome da Conferência Episcopal dos Estados Unidos.
No dia 11 falaram os Cardeais Stefan Wyszynski, em nome da
Conferência Episcopal da Polônia; Bernard Jan Alfrink, em no­
me da Conferência Episcopal da Holanda; Benjamim Arriba y
Castro, em nome da Conferência Episcopal da Espanha; Giovanni
Urbani, em nome da Conferência Episcopal da Itália; Franzis-
kus Koenig. em nome da Conferência Episcopal da Áustria; e
Julius Doepfner, em nome da Conferência Episcopal da Alema­
nha. Outras Conferências Episcopais apresentaram simplesmente
por escrito seus pareceres. Darei aqui primeiro o texto integral
do parecer do Santo Sinodo da Igreja greco-melquita (Cardeal
Máximus IV Saigh) e o resumo dos outros pareceres tal como
foi divulgado pelo Serviço de Imprensa do Concilio.
Eis aqui o texto completo lido em francês pelo Cardeal
Máximo IV (as palavras entre parênteses, todavia, não foram
lidas pelo Cardeal na Aula Conciliar, mas constam do texto que
o próprio Orador entregou depois à imprensa):
Falo em nome do Sinodo do episcopado greco-melquita católico,
e quisera começar declarando o que se segue: E’ incontestável que a
Igreja pode acrescentar um valor propiciatório suplementar aos atos
piedosos do cristão, em virtude dos méritos infinitos de Cristo e da
comunhão dos Santos; porquanto, unida a Cristo, seu Chefe, a Igreja
tem um poder de intercessão universal. Incontestável é também^ que o
poder de intercessão da Igreja pode obter de Deus uma remissão, par­
cial ou total, da pena devida ao pecado perdoado. Equivale isto a afir-
mar que a Igreja pode obter de Deus uma remissão, a que se pode
chamar “indulgência”, parcial ou total, das penas, em favor de seus
filhos arrependidos.
Quanto a estabelecer uma equação exata entre a intercessão da
greja e a remissão, por Deus, da pena devida ao pecado, isto não so
e sem fundamento teológico, como também tem sido causa de inúmeros
e graves abusos, que causaram à Igreja males irreparáveis. Mister se
orna, pois, seja isto positivamente suprimido. Com efeito, nada, na tra-
d'ca° P.nm,tlva e . universal da Igreja, prova que as indulgências eram
j.T Fm 3S ^ P ra,‘c'a das como o foram depois pela Idade Média ociden
particular, pelo menos durante os onze séculos em que duro
o Debate Paraconciliar sôbre as Indulgências
a união da Igreja do Orientp
gio
mm „i
335

da hoje, a Igreja Ortodoxa L T t Xr - l í moderno da nã(?


algum das indulgências no sentido há vestí-
palavra. Ain-
gências tais como as entende ó Ocidente30 pnm't,va’ lí!nora as indu|-

ducões em nne S,.„i,S ; a nosso ver- um conjunto“ rt”de de-


S reaiidade inH.u Mnelusao _e^ede um pouco as suas premissas.
.. . ’ .a; in^l,^encias estão ligadas historicamente à antiga disci­
plina penitencial da Igreja. Para cada falta grave exterior, as Igrejas
previam uma penitência pública mais ou menos longa, mais ou menos
penosa. As vêzes, uma mitigação dessa sanção canônica era concedida,
quer mediante recomendação de um piedoso personagem, quer como
favor de atos exteriores, como uma peregrinação ou outro. Natural-
mente,^ ao cumprimento dessas sanções canônicas corresponde uma di­
minuição da pena pela qual, em sua bondade e sua justiça, Deus quer
castigar o pecado, seja neste mundo, seja no outro. Mas, impondo essas
sanções, ou mitigando-as, ou dispensando-as, de modo algum pretendia
a Igreja primitiva interferir nos juízos de Deus, para o levar a supri­
mir tôda a pena ou reduzi-la de maneira determinada. (Quando, na
disciplina da Igreja, se suprimiu o uso das sanções canônicas públicas,
normalmente dever-se-ia ter também suprimido a concessão das indul­
gências, que tinham por fim precisamente temperar ou suprimir essas
sanções canônicas. Mantendo-as, fêz-se uma passagem, indébita e precisa
demais, do registro humano e canônico para o registro divino. Na Ida­
de Média, as indulgências conheceram inúmeros abusos, que constituí­
ram graves escândalos para a cristandade. Porém, mesmo nos nossos dias,
parece-nos que sobejas vêzes a prática das indulgências favorece nos
fiéis (o fetichismo, a superstição, o senso da capitalização religiosa)
uma espécie de contabilidade piedosa, com o esquecimento daquilo que
é essencial, a saber: o sagrado, e o esforço pessoal de penitência.
E’ por isto que quisêramos, se a Igreja faz questão de não supri­
mir pura e simplesmente as indulgências por um ato positivo de sua
parte, que ao menos reajuste a prática das mesmas, para tomá-la
aceitável.
I9 Suprimindo tôda contabilidade de dias, de anos ou de séculos:
êste ponto já o realizou o esquema corrigido.
2* Suprimindo, na noção de indulgência parcial, tôda relação de
eauacão matemática entre mérito do penitente e contribuição satisfatória da
Igreja; porquanto a Igreja não multiplica por um coeficiente determinado
o mérito dos fiéis.
39 Suprimindo, mesmo na indulgência plenária, tôda idéia de .se­
gurança automática de quitação total.
4* Desenvolvendo uma teologia em que o acento seja posto sohre
a satlsfaçlo pessoa, dos fiéis, valorizada e elevada pelos mentos de Cristo.
Assim far-se-á compreender aos fiéis. ^ e- ^ tat“-al“r H i t o / S
ao valor intrínseco das oraçoes e oas \ \ e isto pelo próprio
méritos de Cristo e de seu Corpo^ men^brorVartiViparem êles da
fato de, pertencendo a Igreja como seu.
336
I. Crônica das Congregações Gerais
vida divina que anima todo o Corpo. Assim fazendo, evitará a Irrreia
Católica dificuldades doutrinais com os reformados, dificuldades ao me
nos disciplinares com os ortodoxos, e dificuldades pastorais com os pró'
prios católicos. Assim também, a oração dos fiéis já não ficará isolada*
mas sim unida a Cristo e à Igreja.
Eis aí em que é que consiste a “indulgência” : suas penas, impos­
tas ou voluntárias, os fiéis suportá-las-ão com Cristo, que lhes’ confere
um valor infinito de redenção. Quanto à pena temporal que os pecados
dêles merecem, não a fulmina a Igreja com as sanções canônicas. Com
tôda submissão e confiança os fiéis aceitarão o castigo da mão paternal
de Deus, e farão espontaneamente penitência por amor a seu Pai. Re­
zarão também por seus defuntos sem procurar saber exatamente nem
a pena que êstes sofrem, nem a medida exata, plena ou parcial, da
ajuda que êles podem levar-lhes. A esta luz, compreender-se-á melhor
o valor de uma bênção dada por um bispo ou por um sacerdote, o va­
lor de uma peregrinação, do porte de um objeto piedoso, da participa­
ção num ofício recomendado pela Igreja, etc. Estas são verdades in­
contestáveis. as únicas capazes de criar na alma um senso verdadeira­
mente cristão do pecado e da satisfação. Portanto, resumindo tudo numa
palavra, diremos que se faça intervir o poder propiciatório da Igreja em
razão dos méritos infinitos de Cristo, em vez de se entrar em detalhes
de contabilidade onde os erros e os abusos têm livre jôgo. Cristo é, e
deve continuar a ser, a pedra angular, o alfa e o ômega de tôda a
nossa santa religião, na qual a êle tudo deve reduzir-se.
Sôbre os outros pareceres o Serviço de Imprensa do Con­
cilio divulgou os seguintes resumos:
Stephanus I Sidarous, em nome do Santo Sinodo da Igreja copta:
Parece-nos pouco oportuno abordar o problema da renovação da disci­
plina e praxe das indulgências. As Igrejas coptas unidas são uma pe­
quena minoria. A questão das indulgências constitui um grande obstá­
culo para a união com as igrejas coptas separadas. Contudo, o santo
Sinodo aceita a doutrina e praxe das indulgências e fundamentalmente
admite o documento em questão.
Manuel Gonçalves Cerejeira: Em nome da Conferência Nacional dos
Bispos de Portugal, declaro que, de modo geral, o documento proposto
ao nosso exame é aceitável, porque reflete um desejo de renovação,
purificação e redução no número de indulgências. Esta reforma estaria
mais em harmonia com a mentalidade moderna. Apresentarei por escrito
algumas sugestões para melhor obter a renovação desejada.
Giovanni^ Urbani: O Episcopado Italiano concorda de modo gella^
com a Posição, mas pede que o documento comece com uma exposição
so re a doutrina católica a respeito das indulgências, e, de modo todo
especia,’ a respeito da doutrina da aplicação das indulgências aos aus J
tuntos. Dartimlnraa «o Episcopado
untos Em particular --- ----,_ Italiano
__ j ____oc que as dO
deseja nnrmas normas 0
capitulo II sôbre as possibilidades de lucrar uma indulgência plenâ-
n»tn?Jan!í alar£adas. Seria conveniente que se pudesse lucrar indulgência
a indn?aAUaS V^Zes por dia: uma, em favor da própria pessoa que luc
indulgência, outra em favor dos defuntos. Os Bispos Italianos mam-
o Debate Paraconciliar sôbre
as Indulgências 337

n -----“ «v.v^Jia duiciuu, are que se possam coinèr me-


Inores argumentos teológicos; d) tôda a questão deveria ser estudada
com calma pelas diversas Conferências Episcopais e, em época determi­
nada pelo Papa, submeteriam seus pareceres.
Stefan Wyszynski: Declarou que os Bispos da Polônia desejam vi­
vamente a revisão proposta. Êste trabalho deve ser feito logo e se­
gundo o espírito do Concilio. Muitos fiéis não têm uma idéia exata
sôbre esta matéria. Os cristãos precisam também neste assunto partici­
par conscientemente na vida religiosa. Os Bispos da Polônia aprovam
o documento em exame apenas “iuxta modum”. Desejam maior redu­
ção no número das indulgências, assim como simplificação na sua apre­
sentação e de modo que a maioria das indulgências possa ser aplicada
aos fiéis defuntos. Concordam com a concessão de uma indulgência ple­
nária por dia. Mas acham que não se deve dar uma norma contrária
à generosidade com que a Santa Mãe Igreja se interessa pelos seus fi­
lhos. Não se deve exigir a confissão sacramental para cada indulgên­
cia plenária, mas sòmente a confissão que se faz habitualmente. Do
contrário, aquêles que desejam lucrar indulgência plenária todos os dias
deveríam confessar-se diàriamente.
Bernard ]an Alfrink, em nome dos Bispos da Holanda: Salientou que
existe uma oposição fundamental entre a prática atual das indulgências
e a teologia moderna. O documento estudado não resolve êsse proble­
ma. Certamente não pode haver uma determinação quantitativa da re­
missão da pena temporal devida ao pecado. Considera-se ainda a con­
sequência de pena da culpa como imposta de modo positivo e compreen-
dida como pena vindicativa, ligada ao poder de jurisdição da Igreja.
Dai segue-se o cálculo quantitativo que também neste nôvo documento
é ainda muito acentuado. Segundo a teologia moderna, o processo de
purificação do homem deve ser entendido qualitativamente. Por isso,
o documento estudado deve ser reelaborado, segundo os recentes pro-
f T i ___ _____ 1 _ 1 n n m .n r ln AC rp p p n fp g n rrt-

gressos da teologia.
338
I. Crônica das Congregações Gerais
aplicação das indulgências e as condições para lucrá-las, e pediu qUe
fôssem incluídos entre as obras de penitência os trabalhos da vida
apostólica.
Franziskus Kõnig: Os bispos da Áustria e da Alemanha apresentam
as seguintes observações e propostas para a Positio sôbre o problema
das indulgências: 1) O Documento merece louvor em vários pontos, quer
pela nova redação e simplificação, como também por causa do funda­
mento teológico que o precede. 2) Contudo, a promulgação do Documen­
to oferece dificuldades. Êle não parece ainda bastante maduro, porque
simplifica várias questões e não toma conhecimento do progresso teo­
lógico dos últimos tempos. Fala de maneira acentuadamente jurídica e
a Sagrada Escritura não é sempre usada com muita exatidão. O Do­
cumento se afasta do princípio fundamental, adotado pelo Concilio, se­
gundo o qual nenhuma questão ainda disputada pelos teólogos deve ser
autoritativamente resolvida. 3) A teologia que o Documento usa como
fundamento é unilateral e cheia de lacunas. O Documento não adverte
que, na Idade Média, do perdão da penitência pública passou-se à In­
dulgência. no sentido de remissão da pena, por parte de Deus. A na­
tureza da pena temporal, imposta por Deus, não é claramente reconhe­
cida e nem proposta em relação com o amor de Deus. Daí as dificul­
dades na computação das Indulgências. O conceito “tesouro da Igreja”
é compreendido de modo demasiadamente quantitativo e material. A
alternativa entre jurisdição e intercessão é arbitrária. Aí está exatamente
um campo livre para a discussão teológica. Enfim, não dá a devida aten­
ção às disposições subjetivas daquele que deve lucrar as Indulgências.
Dêsse modo, tem-se a impressão de que a eficácia das Indulgências seja
mais infalível do que o Sacramento da Penitência. O Documento pro­
posto deve ser completamente reelaborado, por motivos históricos e ecumê­
nicos. E o trabalho deverá posteriormente ser examinado por teólo­
gos, especialmente teólogos dogmáticos.
julius Doepfner: Em nome da Conferência Episcopal dos bispos ale­
mães e austríacos, foram feitas as seguintes observações: 1) 0 Objeto
das Indulgências: Na exposição teológico-histórica das Indulgências não
se dá a devida atenção à passagem, verificada desde o século XIII, de
plano do sinal e da coisa visível para o plano do significado e da coisa
invisível. No início, a Indulgência era o perdão ou a diminuição da pena,
imposta pela Igreja ao pecador como penitência pública, como, por exem­
plo, a exclusão da comunidade eucarística e etc. A pena eclesiástica
recebida era como que um sinal sacramental do castigo temporal invi­
sível devido ao culpado diante de Deus, assim como a reconciliação com
a Igreja, no Sacramento da Penitência, era o sinal e o penhor da re­
cuperação da paz com Deus. Com efeito, desde a Idade Média, a Igreja
exerce uma influência sôbre o plano invisível da pena temporal deví a
a Deus. Esta passagem tem suas consequências na concessão das In u
gencias, especialmente na computação numérica. O perdão das Pena
eclesiásticas pode-se determinar exatamente. A Igreja pode também d '
clarar que ela deseja interceder por êste ou aquêle penitente. Contudo,
e astante difícil, se não impossível, uma computação exata da Pen
evi a a Deus. Se mesmo dentro do Sacramento da Penitência is 0 .
impossrvel, como se pode determinar, fora do Sacramento, a quantidade
o Debate Paraconciliar sôbre as Indulgências
339
de perdão da pena, diante de Deus? A dificuldadp «. *
quando se examina a essência das a« i! 1 , torna mais grave,
E ainda se tornam maiores, se se consideTa atrelar'8 "Pfenas ,emP°rais"-
dão da pena temporal e o amor dev id a Deu? A? °, per’
para as comparações quantitativas. A colaboração da fareS n ,T Ugar
mjssao da pena devida pode constituir-se no fato de e i ^udar ? n t ” '
çao e concretização do amor devido. O amor não se pode medfr b
titativamente. - 2) Natureza da colaboração daígreja a obtençãoT'
Indulgências: O conceito de “tesouro da Igreja", que a Igí^a posS
segundo o Documento, dá ocasião para uma concepção bastfnte materiaí
e comercial daquilo que acontece, quando se lucram as Indulgências.
De modo algum pode-se esquecer que as expressões “satisfação” por
parte dos homens, e “tesouro da Igreja” são conceitos humano-jurídicos
ou tiguras e, por isso, devem ser compreendidas só analógica e compa-
rativamente. A satisfação não é algo material, mas sim uma ação pes-
soal para eliminar um estado causado por uma ofensa e suas conse­
quências. O tesouro é o próprio Deus, enquanto Êle aceita a interces­
são da Igreja e o esforço do homem, e responde, tendo em vista os
méritos de Cristo e, através de Cristo, os méritos dos Santos. O “te­
souro’ , assim compreendido, não é empregado apenas na anulação da
pena temporal. O Documento, na concessão das Indulgências, distingue
entre “per modum absolutionis” e “per modum suffragii”. Por motivos
internos parece impossível excluir, de início, aquela explicação que vê
nas Indulgências uma intercessão da Igreja. Na realidade, existe uma
intercessão não estritamente jurídica da Igreja e por outro lado é a in­
tercessão da Igreja mais do que a intercessão de um homem qualquer.
E’, pois, a intercessão da Igreja, essencialmente santa, em favor de um
penitente. Contra a apresentação bastante individualista do Documento,
dever-se-ia lembrar que a Indulgência consiste essencialmente no fato de que
a Igreja intercede por seus membros ou filhos, como portadora de uma
mediação salvífica. A oração da Igreja para a remissão da pena tem­
poral dos pecados ajuda, sem dúvida, o penitente, na sua salvação eter­
na. Por causa da dignidade da Igreja e por causa da finalidade desia
oração, pode-se atribuir a ela um infalível atendimento, por parte^ de
Deus, ou como dizem os teólogos, uma ação “ex opere operato”. Con­
tudo, o efeito em relação ao penitente em particular não é_ infalível,
uma vez que êle tem seus limites na ação livre e na cooperação do ho­
mem. A concepção das Indulgências, como “oração autoritativa da Igre­
ja”, fecha-nos o caminho para uma concepção teológica das Indulgên­
cias e para a concepção do seu desenvolvimento histórico. Deve-se aludir
à concepção dogmática sôbre a Igreja, segundo a qual a Igreja “por
meio do amor, exemplo e oração coopera para a conversão dos peca­
dores” — Conclusões: 1) A nova regulamentação das Indulgenua>,
na forma apresentada pelo Documento, não deve ser promulgada, pois a
ela se opõem dificuldades teológicas e inconveniências ecumen.cas. -> *
Comissão para a nova regulamentação das Indulgências
tada de modo considerável e, principalmente, composta de
em teologia dogmática, provenientes das diversa* ?s^ediatamente o seu
diversas nações. Esta nova Comissão deve imc • j o‘ rf0 ponto lie
trabalho e redigir um projeto, que nao possa ' ' e ' do para uma de-
vista teológico. 3) Êste projeto, que deve ser prepara P
340 I. Crônica das Congregações Gerais
claração ou definição papal, não deve conter apenas diretrizes prática
mas deve esclarecer, de modo breve e apropriado, a doutrina católir
sôbre as Indulgências. Deve-se cuidar para que os fiéis não se esca
dalizem com essas novas determinações. Na parte expositiva do D
eumento, deve-se mostrar como o conteúdo essencial da Tradição °*
conservou e, ao mesmo tempo, apareceu uma nova regulamentação se£n,Se
do o espírito do Concilio Vaticano II. Para a elaboração das norm
práticas, devem-se tomar em consideração as respostas das Conferén
cias Episcopais a cada pergunta particular do Documento.
Esta exposição do Cardeal Doepfner foi muito aplaudida
pelo plenário. Mas também foi o último parecer apresentado Na
Congregação Geral seguinte o Secretário Geral do Concilio Mons
Felici, depois de revelar que seus avisos são dados sempre “em
nome da competente autoridade”, pediu aos Presidentes das
Conferências Episcopais que apresentassem suas opiniões por es­
crito; disse ainda que certos pontos doutrinários expostos na
Aula não poderíam ser aceitos sem reservas; e que as Confe­
rências Episcopais não tinham sido convidadas para expor suas
opiniões sôbre a doutrina ou teologia das indulgências, mas
apenas sôbre sua prática... Eis, pois, o mais estranho e inacre­
ditável de todo êsse curioso incidente: mesmo após quase qua­
tro anos de Concilio julgou-se possível estruturar uma nova dis­
ciplina jurídica das indulgências sem atender à subjacente dou­
trina teológica.
Crônica
das Emendas e Votações
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina

.. T alvez seja co nveniente


recoi dar sumariamente o sistema de votações adotado peio Va­
ticano II. Cada documento passa essencialmente por quatro di-
íerentes tipos de sufrágios: 1) Terminados os debates gerais
de um esquema, faz-se uma espécie de votação de sondagem,
para a orientação dos trabalhos da Comissão. Esta votação não
tem grande valor formal ou jurídico, mas é de extrema impor­
tância para a direção geral que a continuação dos trabalhos deve
tomar. 2) Corrigido ou, por vêzes, totalmente refundido o tex­
to, sempre segundo as intervenções orais ou escritas feitas pelos
Padres Conciliares, o esquema é submetido a uma minuciosa
votação de cada uma de suas principais afirmações ou resolu­
ções. Êste é, de per si, o momento mais importante da ação
conciliar, na qual os Padres desempenham formalmente sua fun­
ção de “juizes da fé”. Cada capítulo, além dos sufrágios par­
ciais por “placet” e “non placet”, é submetido a uma votação
geral que permite o voto modificativo (“placet iuxta modum”),
que pode ser de grande importância e valor para as últimas cor­
reções que, em muitíssimos casos, foram sumamente úteis para
o real aperfeiçoamento do texto. 3) Reemendado à luz dos vo­
tos modificativos, o esquema é reimpresso e as principais mo­
dificações aceitas pela Comissão são submetidas ao sufrágio do
plenário por “placet” ou “non placet”; também para as respos­
tas dadas pela Comissão aos ‘modos não aceitos pede-se a opi­
nião global (para cada capítulo) dos Padres. E’ êste, outra vez,
um ponto alto da ação propriamente conciliar ou magistenal.
4) Votação final e formalmente solene, perante o Papa, de todo
o documento, momentos antes de sua promulgação.
Sôbre a longa e agitada história dêste documento, cf. vol.
IV, pp. 93-123. Terminados os debates na 95* C°nSr^ . o
Geral, no dia 6-10-1964 (durante a III Sessão),
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina

T a l v e z se ja c o n v e n ie n t e
recordar sumàriamente o sistema de votações adotado pelo Va­
ticano II. Cada documento passa essencialmente por quatro di­
ferentes tipos de sufrágios: 1) Terminados os debates gerais
de um esquema, faz-se uma espécie de votação de sondagem,
para a orientação dos trabalhos da Comissão. Esta votação não
tem grande valor formal ou jurídico, mas é de extrema impor­
tância para a direção geral que a continuação dos trabalhos deve
tomar. 2) Corrigido ou, por vêzes, totalmente refundido o tex­
to, sempre segundo as intervenções orais ou escritas feitas pelos
Padres Conciliares, o esquema é submetido a uma minuciosa
votação de cada uma de suas principais afirmações ou resolu­
ções. Êste é, de per si, o momento mais importante da ação
conciliar, na qual os Padres desempenham formalmente sua fun­
ção de “juizes da fé”. Cada capítulo, além dos sufrágios par­
ciais por “placet” e “non placet”, é submetido a uma votação
geral que permite o voto modificativo (“placet iuxta modum”),
que pode ser de grande importância e valor para as últimas cor­
reções que, em muitíssimos casos, foram sumamente úteis para
o real aperfeiçoamento do texto. 3) Reemendado à luz dos vo­
tos modificativos, o esquema é reimpresso e as principais mo­
dificações aceitas pela Comissão são submetidas ao sufrágio do
plenário por “placet” ou “non placet”; também para as respos­
tas dadas pela Comissão aos ‘modos’ não aceitos pede-se a opi­
nião global (para cada capítulo) dos Padres. E’ êste, outra vez,
um ponto alto da ação propriamente conciliar ou magisterial.
4) Votação final e formalmente solene, perante o Papa, de todo
o documento, momentos antes de sua promulgação.
Sôbre a longa e agitada história dêste documento, cf. vol.
IV, pp. 93-123. Terminados os debates na 95* Congregação
Geral, no dia 6-10-1964 (durante a III Sessão), a Comissão
344
II. Crônica das Emendas e Votações
Teológica iniciou imediatamente o trabalho de correção do tex­
to. A revisão dos capítulos I-II foi confiada a uma Subcomissão
constituída pelos Padres Conciliares Florit (como Presidente),
Pelletier, Heuschen e Butler; e pelos Peritos Tromp, Philips,
Cerfaux, Schmaus, Schauf, Moeller, Congar, Salaverri, Trapé,
Betti (que foi o relator do cap. 1) e Smulders (relator do cap.
11). Os outros capítulos, menos delicados, foram revistos pelos
Bispos Charue e van Dodewaard e pelos Peritos Grillmeier (re­
lator do cap. III), Kerrigan (relator do cap. IV), Rigaux (re­
lator do cap. V), Semmelroth (relator do cap. VI), ajudados
por outros. Verificou-se que durante os debates (no ano pas­
sado) o esquema tinha recebido louvores bastante generaliza­
dos, por ao menos 45 Oradores, que falaram em nome de 297
Padres. Louvou-se seu modo de falar positivo, escorreito, cla­
ro; sua estrutura orgânica, bem ordenada, equilibrada; sua dou­
trina firme, bem ponderada, haurida da S. Escritura e da Tra­
dição antiga; seu conceito cristocêntrico e personalístico da re­
velação; e o modo como ficara resolvida a questão das rela­
ções entre Tradição e Escritura. Mas houve também propostas
de emendas, algumas das quais melhoraram notàvelmente o tex­
to, como se verá adiante. O esquema assim emendado e reim-
presso foi entregue aos Padres Conciliares no dia 20-11-1964,
127» Congregação Geral, que era também a última da III Ses­
são, com a promessa de ser votado no início desta IV Sessão.
A votação começou efetivamente na 131* Congregação Ge­
ral, dia 20-9-1965, segundo um especial “Kalendarium Suffraga-
tionum” distribuído alguns dias antes, que previa um total de
20 sufrágios para todo o documento. Os sufrágios continuaram
nos dias 21 e 22 de setembro.
/* votação, dos nn. 1 (que é o proêmio) e 2 (que fala da
natureza e do objeto da revelação). Não há, no nôvo texto,
emendas de especial importância. Apenas, talvez, a modifica­
ção da expressão “doctrinam et rem verbis significatam” para
“doctrinam et res verbis significatas”, a fim de exprimir melhor
a analogia da S. Escritura com os sacramentos. O texto foi
aprovado por 2.175 contra 19, sôbre 2.199 votantes, com 5 vo­
tos nulos.
v°toção, dos nn. 3 (sôbre a preparação da revelação
evangélica) e 4 (sôbre Cristo como consumador da revelação).
o texto corrigido do n. 3 ensina-se agora mais claramente a
vontade salvífica universal de Deus. Alguns haviam pedido que
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina
345

se substituísse a palavra “protoparentes” por “homens” para


não dirimir a questão do monogenismo e do gênero literário dos
primeiros capítulos do Gênese; mas, declara a Relação, a Co­
missão pensa que tal palavra pode continuar, pois “nemo existi-
mabit textum nostrum, de revelatione agentem, dirimere quaestio-
nes huiusmodi, quas relinquit in statu quo ante”. __ No n. 4
houve muitas pequenas correções. A mais interessante parece
estar na proposição final, na qual se ensina agora com mais
ênfase a índole definitiva da obra de Cristo, razão por que
já não teremos mais nenhuma revelação pública nova. A Co­
missão, todavia, não quis afirmar explicitamente que com a mor­
te dos Apóstolos “revelationem clausam esse”, como alguns ha­
viam solicitado. Basta dizer que Cristo completa a revelação.
— Sôbre 2.183 votantes houve 2.180 placet, nenhum “non pla­
cet” (creio que foi a primeira vez neste Concilio) e 3 votos nulos.
3* votação , dos nn. 5 (sôbre a revelação recebida pela fé)
e 6 (sôbre as verdades reveladas). No n. 5 fêz-se uma modifi­
cação realmente importante na descrição do ato de fé, que ago­
ra é mais bíblica e pessoal e não exclusivamente intelectualística:
“qua homo se totum libere Deo committit”, texto que completa
o ensinamento do Vaticano 1. — No n. 6, com algumas peque­
nas modificações, é agora explicitamente enunciado o objeto da
revelação divina, expresso em tôda a sua amplidão, para não
dar a impressão de restringi-lo apenas aos mistérios propria­
mente ditos. — Sôbre 2.071 votantes houve 2.049 placet, 20
non placet e 2 votos nulos.
Fêz-se então o sufrágio geral do proêmio e do cap. I, com
a possibilidade do voto modificativo, que teve o seguinte resul­
tado : 1.822 votos aprobativos, 248 modificativos, 3 negativos
e 6 nulos, sôbre 2.079 votantes. Está, pois, o texto aprovado
pela Congregação Geral.
5? votação , sôbre o n. 7, que é o primeiro do capítulo II,
que fala da transmissão da revelação. Neste parágrafo não hou­
ve correções notáveis. Foi aprovado por 2.049 contra 15 e 4
nulos, sôbre um total de 2.068 votantes.
6“ votação , do n. 8, sôbre a Sagrada Tradição. Junto com
o n. 9, estamos aqui diante de um dos textos mais surpreen­
dentes de todo o documento e diante de uma das grandes novi­
dades teológicas do Vaticano II. Foi o pomo de discórdia logo
na I Sessão, em 1962. E continuou questão debatidíssima no
Concilio - V — 23
346 II. Crônica das Emendas e Votações
ano passado, na III Sessão (cf. vol. IV, pp. 94-96 e 107). A
Comissão decidiu não modificar o texto anterior; mas aperfei­
çoou algumas passagens. O resultado da votação foi também
surpreendente: sôbre 2.122 votantes houve 2.071 placet, ape­
nas 49 non placet e 2 votos nulos.
7 « vo ta çã o , dos nn. 9 (sôbre a relação mútua entre a Es­
critura e a Tradição) e 10 (sôbre a relação de ambos com a
Igreja e o Magistério). O nôvo texto do n. 9 afirma agora com
ênfase a índole divina da Tradição, enquanto transmite integral­
mente a palavra de Deus; e mais estritamente se distingue en­
tre o múnus dos Apóstolos (que constituíram a Tradição) e o
dos Bispos (que a conservam, expõem e difundem). No n. 10,
na passagem que fala das relações do Magistério com a pala­
vra de Deus, acrescentou-se o “pie audit”, para insinuar que o
Magistério depende do depósito revelado. — Sôbre 2.253 vo­
tantes houve 2.214 placet, 34 non placet e 5 votos nulos.
E a votação global de todo o cap. II deu: presentes: 2.246;
placet: 1.874; placet iuxta modum: 345; non placet: 9; vo­
tos nulos: 9.
9g votação, do n. 11, que abre o capítulo III sôbre a inspi­
ração e a interpretação da S. Escritura. No nôvo texto sus­
tenta-se agora que também os hagiógrafos são “verdadeiros
autores”. No fim dêste n. 11, onde se fala do objeto da inerrân-
cia, houve uma adição de imenso alcance (mas que na última
correção do texto foi outra vez modificada, como se verá adian­
te ): " .. . veritatem salutarem. . A Relação explica: “Com-
missioni visum est adhibendum esse appositum salutarem ad
‘veritatem’, quo verbo cointelliguntur facta quae in Scriptura cum
historia salutis iunguntur”. O texto foi aprovado por 2.179 con­
tra 56, com 6 votos nulos, sôbre 2.241 votantes.
10ç votação, dos nn. 12 (sôbre a interpretação da S. Es­
critura) e 13 (sôbre a condescendência divina). No n. 12 hou­
ve várias modificações. Afirma-se mais claramente o método do
gcnero literário. A relação inculca mais uma vez que não se
pretende de maneira nenhuma dirimir a questão do “sensus
plenior da S. Escritura. — Sôbre 2.064 votantes houve 2.029
placet, 28 non placet e 7 votos nulos.
A votação global do cap. III deu o seguinte resultado:
Votantes: 2.109; placet: 1.777; placet iuxta modum: 324; non
placet: 6; votos nulos: 2.
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina
347
12 9 votação, de todo o capítulo IV, sôbre o Antigo Testa­
mento. No n. 15 houve algumas emendas bastante úteis sôbre
o valor positivo, para nós cristãos, do Antigo Testamento. Esta
votação incluiu também o voto modificativo, com o seguinte re­
sultado. Presentes. 2.233; placet: 2.183; placet iuxta modum:
47; non placet: 0, votos nulos: 3.
13f votação, dos nn. 17 (sôbre a excelência do Nôvo Tes­
tamento) e 18 (sôbre a origem apostólica dos Evangelhos). No
n. 17 afirma-se agora com mais clareza e simplicidade a efi­
cácia dos escritos do NT. No n. 18 não houve modificações.
Sôbre 2.230 votantes, houve 2.211 placet, 15 non placet e 4
votos nulos.
74? votação, do n. 19, que fala da historicidade dos Evan­
gelhos. Êste importante parágrafo quase não foi modificado. Omi­
tiu-se apenas o inciso “ut non ficta, ex creatrici potentia prim-
aevae communitatis promanantia”, para ficar apenas com a
fórmula positiva: “vera et sincera de Iesu nobis communica-
rent”. A relação explica que o inciso negativo foi retirado “quia
verba haec nimium honorem tribuunt opinioni alicui in decursu
obsoletae”. — Sôbre 2.253 votantes houve 2.162 placet, 61 non
placet e 10 votos nulos.
75? votação, do n. 20, que fala dos outros escritos neotes-
tamentários. Sem notáveis correções. Sôbre 2.231 votantes hou­
ve 2.219 placet, 6 non placet e 6 votos nulos.
O sufrágio global do cap. V deu êste resultado: votantes:
2.170; placet: 1.850; placet iuxta modum: 313; non placet:
4; nulos: 3.
77? votação, dos nn. 21 (sôbre a veneração da S. Escritu­
ra na Igreja) e 22 (sôbre as traduções). No n. 21 omitiu-se
no inicio uma citação bastante longa de S. Ireneu. Apesar da
oposição de alguns Padres Conciliares, o texto continua a in­
sistir na comparação entre a Palavra de Deus e a Eucaristia.
A relação explica: “Haec comparatio, in ipsa S. Scriptura (Io.
6) fundata, in Traditione quoque consueta est”. Houve, porém,
neste mesmo n. 21, uma modificação profunda, mas negativa:
Dizia o texto anterior que tôda a pregação eclesiástica, como
a própria religião cristã, “ad Scripturam semper respicere de-
bent tamquani ad normam et auctoritatem, quibus reguntur et
iudicantur” ; o nôvo texto diz agora simplesmente: “Sacra Scriptu­
ra nutriatur oportet”. E’ certamente uma mutilação grave, e» a
23»
348 II. Crônica das Emendas e Votações
a pedido de apenas 4 Padres Conciliares (posteriormente, na
última correção, voltou-se em parte ao texto anterior). Também
no n. 22 houve modificações atenuantes, sobretudo na última
proposição que, no texto anterior, recomendava simplesmente a
tradução comum com os não-católicos e, agora, diz assim: “Quae
[versio] si. annuente auctoritate Ecclesiae, ex opportunitate con-
ficiantur.. . ” A votação acusou o seguinte resultado: sôbre
2.040 votantes houve 2.029 placet, 8 non placet e 3 votos nulos.
18* votação, dos nn. 23 (sôbre o múnus apostólico dos mes­
tres católicos) e 24 (sôbre a importância da S. Escritura na
Teologia). No n. 23 fêz-se uma interessante emenda: em vez
de trabalharem “sub ductu Magisterii” (texto anterior), devem
os exegetas estudar “sub vigilantia Magisterii”. Significativa foi
também a correção no início do n. 24, onde antes se dizia:
“Sacra Theologia in verbo Dei revelato scripto et tradito. . . ”,
agora lemos: “ . . . in verbo Dei scripto, sub luce traditionis ex­
p lica n d o ...” Resultado da votação: sôbre 2.012 votantes hou­
ve 1.988 placet, 21 non placet e 3 votos nulos.
19* votação, dos nn. 25 (que recomenda a leitura da S. Es­
critura) e 26 (epílogo). No n. 25 afirma-se agora que a lei­
tura deve ser “sacra” e no fim do mesmo parágrafo acrescen-
tou-se uma proposição sôbre a necessidade da oração na lei­
tura da Bíblia. No epílogo (n. 26) insiste-se mais uma vez na
comparação da Palavra de Deus com a Eucaristia. O texto foi
aprovado por 2.041 contra 9, sôbre 2.057 votantes, com 7 vo­
tos nulos.
O sufrágio de todo o cap. VI deu: 1.915 placet, 212 placet
iuxta modum, 1 non placet, 4 votos nulos, sôbre 2.132 votantes.
Todos os capítulos foram, pois, aprovados pela Congrega­
ção Geral. Mas a Comissão colheu um total de 1.479 votos mo-
dificativos. Embora êstes Modos não pudessem modificar mais
a substância do texto (pois nenhuma vez o “placet iuxta mo­
dum” alcançou um têrço do número dos votantes), podiam to­
davia aperfeiçoá-lo. A Comissão de fato estudou e ponderou os
Modos e no dia 25-10-65 apresentou aos Padres Conciliares
um caderno impresso, com 77 páginas, contendo sua resposta
aos Modos e as novas correções introduzidas no texto, pedin-
o um sufrágio para cada capítulo. Estas seis votações foram
rea izadas no dia 29-10-65, na 155* Congregação Geral, espe-
cialmente convocada para isso:
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina
349
Capítulo I. Houve apenas insignificantes correções em cada
um dos cinco parágrafos. A mais importante é a primeira, que
faz o documento iniciar com as solenes palavras “Dei Verbum”
(antes era: “Sacrosancta Synodus”), indicando seu objeto e
dando-lhe assim um título mais apto: “Constitutio dogmatica
Dei Verbum ”. O n. 3 recebeu formulação mais precisa. Antes di­
zia: “Deus. . . inde etiam ab initio protoparentibus sese mani-
festavit”. No voto modificativo sete Padres pediram que se afir­
masse mais claramente a distinção entre revelação natural e so­
brenatural e que, por isso, se dissesse: “ab initio protoparenti­
bus personali locutione sese manifestavit”; a Comissão não acei­
tou a expressão “personali locutione” e julgou ser suficiente
dizer: " . . . insuper protoparentibus inde ab initio semetipsum
manifestavit”. Com esta modificação se insinua uma revelação
sobrenatural, sem todavia pronunciar-se sôbre o modo como se
deu a manifestação divina. — Sôbre 2.194 votantes houve 2.169
placet, 23 non placet e 2 votos nulos.
Capitulo lí: Êste capítulo recebeu algumas emendas de cer­
ta importância. Um grupo de 175 Padres havia pedido que no
n. 8 não se falasse do progresso da Tradição, mas do progres­
so no conhecimento da Tradição. Mas a Comissão não aceitou
a proposta, pois basta ler atentamente o texto para ver que não
se afirma um progresso objetivo da Tradição no sentido de
acrescentar verdades novas ao patrimônio revelado; assim, com
efeito, se lê: “Crescit enim tam rerum quam verborum tradito-
rum perceptio”. O progresso, pois, está em conhecer mais clara
e explicitamente aquilo que obscura e implicitamente se encontra
na Tradição. E’ um progresso interno, próprio dos sêres vivos,
que não muda a substância da coisa e no entanto de fato a de­
senvolve. O texto anterior, aliás, falava da “viva haec Tradi-
tio” e 8 Padres lamentaram a omissão da palavra “viva” na no­
va redação; a Comissão respondeu: “Quod viva est Traditio
patet ex eo quod proficif’. De fato o “proficit” está no texto;
mas se o “viva” também estivesse seria mais claro. Os mesmos
175 Padres pediram que na enumeração das causas do progres­
so no conhecimento da Tradição fôsse incluído também o ma­
gistério. A Comissão aceitou a sugestão e inseriu as seguintes
palavras que, sem citar o nome, lembram uma conhecida pas­
sagem de S. Ireneu (Adv. Haer. IV, 26, 2; PG 7, 1.053 C) ■
“ .. . tum ex praeconio eorum qui cum episcopatus successione
charisma veritatis certum acceperunt”. — Mas a modificação
350 II. Crônica das Emendas e Votações
mais importante se fêz no n. 9, que trata das relações entre a
Escritura e a Tradição. Um grupo de 111 Padres Conciliares
pedira que se acrescentasse a seguinte frase: “quo fit ut non
omnis doctrina catholica ex (sola) Scriptura (directe) probari
queat”, pretendendo com isso introduzir no texto o conceito
da tradição constitutiva e da insuficiência material da S. Es­
critura. Era precisamente a questão mais discutida desde o iní­
cio do Concilio, quando começou o debate sôbre “as fontes da
revelação”. Já no ano passado ficara decidido não dirimir esta
delicada questão que tem profundas repercussões ecumênicas (cf.
vol. IV, pp. 95-96). Nunca ninguém entendeu negar à Tradi­
ção uma verdadeira função completiva; por isso, para que tudo
fique claro, a Comissão resolveu acrescentar agora a seguinte
frase: “quo fit ut Ecclesia certitudinem suam de omnibus reve-
latis non per solam Sacram Scripturam hauriat”. A Relação do
Cardeal Florit, lida pouco antes da votação, se concentrou no
significado desta adição, acentuando três pontos: explicam-se
assim mais claramente as palavras anteriores no mesmo n. 9,
nas quais se dizia que a Tradição transmite integralmente a pa­
lavra de Deus (“Sacra Traditio verbum D e i.. . integre transmit-
tit"); justificam-se também as palavras posteriores, nas quais
se afirma que a Escritura e a Tradição elevem ser recebidas e
veneradas “pari pietatis affectu ac reverentia” ; e garante-se des­
ta maneira a doutrina católica, sancionada por uma praxe cons­
tante da Igreja, segundo a qual a Igreja obtém sua certeza acêr­
ca das verdades reveladas apenas pela Sagrada Escritura en­
quanto unida à Tradição. Prosseguindo em seu comentário à
proposição agora inserida no texto, disse literalmente o Rela­
tor: “Sensus huiusmodi affirmationis ulterius diiudicandus est
atque circumscribendus ex Schematis tenore. Ex quo quidem
patet: Nec Traditionem praesentari veluti quantitativum S. Scrip-
turae supplementum; nec S. Scripturam praesentari veluti inte-
grae revelationis codificationem. Patet igitur textum schematis im-
mutatum manere quoad substantiam, perfici autem quoad ex-
pressionem". Em outras palavras: o Concilio não tem a inten­
ção de apresentar a Tradição como um suplemento quantita­
tivo da Escritura; nem quer apresentar a Escritura como uma
codificação de tôda a revelação. E’ precisamente a questão que
o Concilio quer deixar aberta. Mas é também a grande novida­
de do documento. A votação deu o seguinte resultado: 2.123
placet, 55 non placet e 7 votos nulos. Apenas 55 votos contrários!
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina
351
Capítulo III: A principal modificação está no n 11 Na
redação anterior se dizia que a Escritura nos ensina “verita-
tem salutarem . Contra esta palavra surgiu um mar de votos
modificativos: 184 Padres pediram a omissão pura e simples
da palavra; 76 sugeriram substituí-la por outra fórmula: ou
“veritatem exhibere dicendi sunt, diversimode tamen pro qua-
litate affirmationis hagiographi” ; ou: “veritatem exprimere quam
Deus, nostrae salutis causa, libris sacris consignare voluit”; ou:
“omnia quae Deus nobis communicare intenderit” ; ou: “verita­
tem divinam” ; ou: “veritatem a Deo manifestatam, edoctam,
vel assertam” ; ou: “veritatem salutarem necnon facta histórica
quibus haec veritas innititur” ; ou: “veritatem super omnia sa­
lutarem”. Para evitar possíveis abusos no uso da expressão
“veritas salutaris”, a Comissão aceitou a expressão seguinte:
“ .. . veritatem quam Deus nostrae salutis causa litteris sacris
consignari v o lu it...”, mandando ainda acrescentar na nota as
seguintes referências: Cf. S. Agostinho, Gen. ad litt. 2,9,20 (PL
34, 270-271); Epist. 82, 3 (PL 33, 277); S. Tomás, De Ver.
q. 12, a. 2, C. Estas referências são importantes porque expli­
cam o sentido da expressão agora inserida no texto. Quero
citar aqui ao menos as palavras de S. Tomás (que já aludem
também às de S. Agostinho) para que fique claro o sentido do
texto conciliar. Na citada questão 12 pergunta S. Tomás “utrum
prophetia sit de conclusionibus scibilibus” e responde: “Respon-
deo dicendum, quod in omnibus quae sunt propter fidem ma­
téria determinatur secundum exigentiam finis, ut patet ex II
Phys. Donum autem prophetiae datur ad utilitatem Ecclesiae,
ut patet 1 Cor 12. Unde omnia illa quorum cognitio potest esse
utilis ad salutem, sunt matéria prophetiae, sive sint praeterita,
sive futura, sive aeterna, sive necessária, sive contingentia. Illa
vero quae ad salutem pertinere non possunt, sunt extranea pro­
phetiae: unde Augustinus dicit, quod quamvis auctores nostri
sciverint cuius figurae sit caelurn, tamen per eos dicere noluit
Spiritus veritatem nisi quae prodest saluti; et Io. 16. 13 dicitur:
Cum venerit ille Spiritus veritatis, docebit vos omnem veritatem.
Qlossa (interlin.): saluti necessariam. Dico autem necessária ad
salutem, sive sint necessária ad instruetionem fidei, sive ad in-
formationem morum. Multa autem quae sunt in scientiis de-
monstrata, ad hoc possunt esse utilia; utpote intellectum esse
incorruptibilem, et ea quae in creaturis considerata in admira-
tionem divinae sapientiae et potestatis inducunt; unde et de his
352 II. Crônica das Emendas e Votaçoes
invenietur in Sacra Scriptura fieri mentionem”. * — As outras
emendas introduzidas neste capitulo são de menor importância.
As correções foram aceitas por 2.154 contra 31 votos e 5 nulos.
Capitulo IV: Poucas modificações e sem grande importân­
cia. Vale a pena anotar a correção feita no n. 14, onde antes se
dizia que os livros do Antigo Testamento “vim atque auctorita-
leni suam perenniter servant” ; agora se diz mais exatamente
“perennem valorem servant”, pois muitos livros do Antigo Tes­
tamento, principalmente os rituais, de fato perderam “vim et
auctoritatem”, mas conservam um “perene valor”. 2.178 contra
8 e 2 abstenções aprovaram as emendas do quarto capítulo.
Capitulo V: A correção mais importante está no n. 19, que
fala da historicidade do Nôvo Testamento. Na redação ante­
rior, porém, não se usava a palavra “história” ou “historicida­
de”, que hoje parece ter um sentido ambíguo, ao menos na
literatura alemã e francesa. Mas um grupo de 174 Padres in­
sistiu no seu uso, propondo a seguinte adição: “ . . . iuxta ve­
ritatem fidemque historicam tradere omnia facta et dieta quae
in ipsis continentur”. A Comissão preferiu afirmar simplesmente
a realidade dos fatos ou dos acontecimentos de modo concre­
to; mas para dar uma satisfação aos 174 Padres acrescentou:
“ ... quattuor recensita Evangelia, quorum historicitatem in-
cunctanter affirmat, fideliter tradere. . . ” O mais que foi modifi­
cado é sem importância doutrinária. Tudo foi aprovado por 2.115
contra 19 e 5 abstenções.
Capitulo VI: Modificação de certo valor ocorre logo no n. 21,
que tinha sido mutilado e volta agora parcialmente ao texto an­
terior: em vez de dizer simplesmente que a pregação e a vida

* Em outras palavras: a Comissão, ao substituir a expressão "ve­


ntas salutaris” por “veritas quam Deus nostrae salutis causa litteris sa-
ens consignarí voluit”, não mudou a intenção ou idéia inicial. E isso é
importante. Também a oposição, por uma carta do Coetus Internationa-
lis ratrum, assinada por M. Lefebvre, G. Proença Sigaud e L. Carli, com
a data de 27-10-65, reconhece isso: “Omissa est locutio ‘salutarem’, equi->
oem recte ut 250 Patres petierunt, sed loco eiusdem substituta est phrasis
quae aequivalenter dicit: ‘quam Deus nostrae salutis cau sa...’ Hac lo­
cutione textus videtur restringere inerrantiam ad veritates quae ad sa-
utem pertinent. Et hoc non obstante declaratione Commissionis in ex-
pensione Modorum; nam si hoc non intenditur, facilius esset simpliciter
ciausulam omittere . Tem razão o Coetus da oposição. E como a cláusula
tínuamaosb^sm osteXt° so,enemente Promulgado, o sentido e a mens con-
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina
353
cristã “Sacra Scriptura nutriatur oportet”, afirma-se agora- “
nutriatur et regatur oportet”. As outras correções não têm valor
doutrinário. 2.126 contra 14 Padres e 6 votos nulos aprovaram
também o último capítulo.
Afinal, por decisão dos Moderadores, o conjunto dos seis
capítulos foi submetido a nôvo sufrágio, que deu 2.081 placet,
27 non placet e 7 votos nulos. E assim, após três anos de de­
bates, a 155* Congregação Geral remeteu ao Papa o texto do
documento mais equilibrado do XXI Concilio Ecumênico. Paulo
VI decidiu promulgá-lo no dia 18 de novembro. Naquele dia
2.344 contra apenas 6 Padres aprovaram o texto. E Sua San­
tidade o aprovou e promulgou.
Fiel ao compromisso de nada revelar acêrca dos debates havidos no
seio da Comissão Teológica (cf. vol. IV, p. 13, as normas dadas aos
Peritos e as ameaças do Secretário Geral), só relatei o que todos podiam
saber na Aula Conciliar. Posteriormente o Padre G i o v a n n i C a p r i 1e,
S.J., publicou em L a C iviltà C attolica (1966, I, 214-231, Caderno 2715)
um artigo intitulado “Tre Emendamenti alio Schema sulla Rivelazione.
Appunti per la storia dei testo”, no qual faz minuciosas e importantes
revelações para a compreensão do ensino conciliar sôbre as relações entre
Escritura e Tradição, sôbre a “verdade” da S. Escritura e sôbre a histo-
ricidade dos Evangelhos. Eis o que de fato aconteceu:
R elaçõ es entre E scritura e T radição. — Na votação do dia 21-9-65
o cap. II recebera 345 votos modificativos, entre os quais 111 haviam
pedido que ao n. 9 se acrescentasse o seguinte inciso: " ... quo fit
ut non omnis doctrina catholica ex (sola) Scriptura (directe) probari
queat”, para garantir assim a tradição constitutiva. A fórmula veio do
Coetus Internationalis Patrum. Outros 3 Padres haviam solicitado inser­
ção semelhante no n. 10. Uma pequena subcomissão (da Comissão Teo­
lógica), encarregada de examinar os Modos dados ao cap. II, resol­
vera num primeiro momento completar o n. 10 da seguinte maneira:
“Quod quidem Magisterium... ea omnia ex hoc uno fidei deposito haurit
quae tamquam divinitus revelata credenda proponit; non autem ex S.
S criptu ra om nis doctrin a catholica directe dem on strari potest. Patet igi-
tu r ...” Numa nota se explicaria o directe com as seguintes palavras:
“In oppositione ad indirecte, quia in ipsa S. Scriptura docetur Sacrum
Magisterium Ecclesiae”. Mas depois pensou-se que seria melhor inserir
esta frase no n. 9. com esta fórmula: “ ... quo fit ut non om nis doctri­
na catholica ex Sacra S criptu ra directe proba ri q u e a f\ justificando-a
com a seguinte nota: “Proponitur ut admittatur praedicta additio de qua
omnes concordant, et in qua subtiliores quaestiones vitantur. Omnia
autem indirecte ex Scriptura demonstrari possunt, in quantum Scriptura
aperte docet existentiam Magisterii et indefectibilitatis Ecclesiae ^ A as
a adição encontrou muitas dificuldades na reunião plenária da Comis
são, nos dias 4 e 6 de outubro: o directe do texto poderia insinuar que
ao menos in directe tudo poderia ser provado da Escritura, o m urei
354 II. Crônica das Emendas e Votações
da nota explicativa poderia insinuar uma verdadeira tradição constitu­
í a Voltou-se então à idéia de inserir qualquer coisa no n. 10. Havia
auatro fórmulas: 1) “non autem omnis doctrina catholica ex sola S.
Scriptura demonstrari potest”; 2) “Sacrae Scripturae complexum myste-
rü christiani referunt, quin omnes veritates revelatae in eis expresse
enuntientur”; 3) “quo fit ut Ecclesia certitudinem suam de veritatibus
revelatis non per solam Sacram Scripturam haurit”; 4) “quamvis in-
vicem plane distinctis”. A Comissão, no dia 4-10-65, votou pela segunda
fórmula. Mas dois dias depois a fórmula foi novamente rejeitada. Um
dos membros da Comissão opinara que era muito vaga e sustentara
energicamente a necessidade de inserir no n. 9 mais clara afirmação
da doutrina das duas fontes. Criou-se assim uma atmosfera de tensão,
favorável a omitir qualquer mudança, já que se tratava de um texto
aprovado pela Congregação Geral e, portanto, a Comissão era incom­
petente de introduzir modificações substanciais. De fato na “expensio
modorum” mimeografada lê-se ao n. 9: “Additio non admittitur” ; ao
n. 10: “Post longiorem disceptationem Commissio statuit nihil huiusmo-
di addendum esse in textu” ; e vinha a explicação: “Cum Commissio
nostra a praecedenti et iam notissima positione nullatenus recedere in-
tenderit, textum substantialiter immutatum censuit esse servandum”.
Veio então a intervenção do Papa Paulo VI, com carta do dia
18-10-65. Sua Santidade pediu nova reunião plenária da Comissão, su­
gerindo também a presença do Cardeal Bea, para “benevolamente, mas
livremente’’ reconsiderar a questão e propondo escolher uma das seguin­
tes sete fórmulas:
1) “quo fit ut non omnis doctrina catholica ex sola Sacra Scriptura
probari queat”;
2) “quo fit ut non omnis doctrina catholica ex Sacra Scriptura di­
recte probari queat”;
3) “quo fit ut Ecclesia certitudinem suam de omnibus revelatis non
per solam Sacram Scriptura hauriat” ;
4) “quo fit ut Ecclesia certitudinem suam non de omnibus veritati­
bus revelatis per solam Scripturam hauriat”;
5) “Sacrae Scripturae complexum mysterii christiani referunt, quin
omnes veritates revelatae in eis expresse enuntientur” ;
6) “Sacrae Scripturae complexum mysterii christiani continent, quin
omnes veritates revelatae ex ipsis solis probari queant” ;
7) “non omnem veritatem catholicam ex sola Scriptura sine adiuto-
rio Traditionis et Magisterii certo hauriri posse”.
A Comissão reuniu-se à tarde do dia 19-10-65. Lida a Carta Pon-
^ cac*a um já tinha uma cópia, o Presidente (Cardeal
aviam) deu a palavra ao Cardeal Bea. Êste declarou que falava em
nome pessoal, sem ter antes consultado os membros do Secretariado para
a Umao. Ilustrou brevemente a oportunidade de completar o texto do
n. com uma das fórmulas propostas e declarou que êle, pessoalmente,
n r^ n ? Iefr ênC;,a 3 terceira- Fêz~se então a votação: dos 28 membros
S °taram Pela pnmeira, ninguém pela segunda, 16 pela ter-
P ' a Quarta, 2 pela quinta, um pela sexta e 2 pela sétima.
Como nenhuma das formulas propostas recebera os dois terços prescri-
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina 355

tos pelo Regulamento, fêz-se uma segunda tentativa: 8 para a orimeir^


19 para a terce.ra e: um para a quinta. E assim a terceira fórmula oi
aprovada e entrou defimtivamente no n. 9 da Constituição Dotrmática
Dei Verbum. 6
A “verdade” da Sagrada Escritura. — Trata-se do n. 11. O texto
proposto à votação da Congregação Geral, no dia 21-9-65, restringia
a in-errância da S. Escritura à “veritas salutaris”, como relatei. Entre os
324 votos modificativos, mais de 200 votantes pediram ou a omissão
pura e simples (184 Padres) ou a substituição por outra palavra ou
expressão (76 Padres) ou uma nota explicativa. Mas a Comissão, re­
considerando as sugestões, decidiu manter a expressão aprovada' por
1777 Padres Conciliares; e na “expensio modorum” mimeografada deu
a seguinte explicação: “Voce salutaris nullo modo suggeritur S. Scriptu­
ram non esse integraliter inspiratam et verbum Dei... Haec expressio
nullam inducit materialem limitationem veritatis Scripturae, sed indicat
eius specificationem formatem, cuius ratio habeatur in diiudicando quo
sensu non tantum res fidei et morum atque facta cum historia salutis
coniuncta... sed omnia quae in Scriptura asseruntur sunt vera. Unde sta-
tuit Commissio expressionem esse servandam”. O grupo da oposição en­
viou então um memorandum ao Sumo Pontífice, afirmando que a fór­
mula “veritas salutaris” tinha sido introduzida de propósito com o fim
de restringir a inerrância apenas às coisas sobrenaturais, que seme­
lhante doutrina estava em aberta oposição ao ensinamento constante da
Igreja, que assim se abriria o campo à audácia dos exegetas, que seria
um gravíssimo golpe à vida da Igreja, etc.; também o comportamento
da subcomissão foi duramente julgada: não teria dado nenhuma aten­
ção às observações dos Padres, não teria fornecido o número exato
dos oponentes, teria respondido de maneira confusa à argumentação con­
trária, teria omitido, na nota, os textos mais importantes do magistério
pontifício, etc. Mais outras vozes, por vários caminhos, espontâneamente
ou solicitadas, chegaram ao Papa, avançando numerosas reservas sô­
bre o uso da fórmula, sôbre seu fundamento, sua concordância com o
Magistério Eclesiástico, sôbre a superficialidade com que seria explo­
rada pelos exegetas para resolver as dificuldades, sôbre a validade dos
motivos alegados, etc.
Também neste ponto houve intervenção pontifícia. Na mesma Car­
ta acima mencionada pede o Papa que a Comissão queira “considerar
com nova e grave reflexão a conveniência de omitir no texto a expressão
veritas salutaris”. Neste ponto a perplexidade de Sua Santidade era bem
maior que no caso precedente, “seja porque se trata de uma doutrina
ainda não comum no ensinamento bíblico teológico da Igreja, seja por­
que não parece que a fórmula tenha sido suficientemente discutida na
Aula Conciliar, e seja porque, segundo a opinião de pessoas competen­
tes muito autorizadas, tal fórmula não está imune do perigo de má in­
terpretação. Parece prematuro — acrescentava Paulo VI — que o Con­
cilio se pronuncie sôbre tão delicado problema. Talvez os Padres ainda
não estejam preparados para julgar sôbre sua repercussão e os pos­
síveis abusos de interpretação. Com a omissão da fórmula não se im
pede o estudo da questão”.
356 II. Crônica das Emendas e Votações
A Comissão reuniu-se no dia 19-10-65. Também nesta questão deu
o Cardeal Ottaviani a palavra ao Cardeal Bea, que expôs sua opi­
nião própria sôbre a inoportunidade da fórmula “veritas salutaris”, lem­
brando argumentos do AÍagistério Eclesiástico e mostrando os possíveis
abusos. Recordou ainda o Cardeal Bea que a fórmula não tinha sido
adotada na reunião da Comissão mista especial para o esquema D e di­
vina revelationc , mas que foi acrescentada posteriormente. Terminada a
exposição do Cardeal Bea, passou-se imediatamente à votação. Estavam
presentes 28 Membros votantes. Na primeira votação 17 votaram pela
omissão, 7 contra e 4 entregaram votos em branco; na segunda houve
18 votos pela omissão, 7 pela manutenção e 3 abstenções; na terceira
17 pela omissão, 8 pela manutenção e 3 abstenções. Não se consegui­
ram, pois, os 19 votos necessários para a omissão pedida na carta pon­
tifícia. Recorreu-se então ao cânon 11, 1, n. 1 do Direito Canônico, se­
gundo o qual os votos nulos não são computados e assim cairia a “ve­
ritas salu taris”. Mas outros insistiram no art. 39, 1 do Regulamento do
Concilio, que exige dois terços dos votantes presentes. Era, pois, neces­
sário respeitar o Regulamento. E assim de per si a fórmula deveria con­
tinuar no texto. Atas foi sugerido substituir a palavra “salutarem” por
outra expressão equivalente menos sujeita a equívocos: “veritatem, quam
Deus nostrae salutis causa litteris sacris co n sig n ari vo lu it” . Examinada a
nova fórmula, foi votada e recebeu logo 19 votos favoráveis contra 9
non placet. E desta maneira entrou no texto definitivo e solenemente
promulgado.
A historicidade d o s E van gelh os. — No n. 19 (cap. V) afirmava
o texto: “ ... Auctores autem sacri quattuor Evangelia conscripserunt...
ita semper ut vera et sin cera de Iesu nobis communicarent”. Na votação
conciliar do dia 22-9-65 alguns Padres deram voto modificativo, ale­
gando que a expressão “vera et sincera” não era suficientemente clara,
pois a palavra “vera” era entendida no n. 12 como “id quod auctor
asserere voluit”; e a “sinceridade” indica apenas ausência de dolo numa
narração que, de per si, poderia ser até fantástica. Mas a Comissão
decidiu não modificar a expressão, julgando-a suficientemente clara.
Também neste ponto a oposição recorreu ao Papa. Por isso, na mes­
ma Carta já mencionada, Sua Santidade pediu que a veracidade histó­
rica dos Evangelhos fôsse expressamente ensinada mediante a fórmula
“vera seu historiee fide dign a”. A Comissão, na reunião do dia 19-10-65,
nonderou que, no contexto, também a fórmula do Papa não eliminaria
tôdas as dificuldades. Pois numerosos protestantes, particularmente
Bultmann e seus seguidores, entendem a fid es h istórica a seu modo, iden­
tificando-a com o ato de crente que projeta sua experiência existencial
sôbre uma narração fictícia. Ficou por isso decidido (por 26 votos con-
tra 2) inserir a seguinte fórmula na frase anterior “Evangelia, quorum
historicitatem incunctanter affirm at, fideliter tradere...” Também isso foi
aprovado e solenemente promulgado pelo Concilio.
o Decreto sôbre o Apostolado dos Leigos

P or o c a s iã o do debate,
no ano passado, o esquema sôbre o apostolado dos leigos foi
bastante criticado. Os 67 discursos então pronunciados na Aula
Conciliar foram quase todos desfavoráveis ao texto (cf. vol.
IV, pp. 124-153). Tivessem promovido a votação de sondagem
no final do debate (pois fêz-se apenas uma ligeira indagação,
já depois da quarta intervenção oral, acêrca da oportunidade
de continuar a discussão sôbre o esquema; ao que os Padres
deviam responder mediante o gesto de levantar-se ou ficar sen­
tados, cf. vol. IV, p. 124), creio que o texto não teria recebido
a necessária maioria de dois terços. Assim, pois, o esquema voi-
tou à Comissão apenas para ser emendado, não para ser refei­
to. Mas a Comissão de fato fêz um trabalho bastante radical
e apresentou um texto pràticamente nôvo, que foi remetido aos
Bispos em julho último, não para ser mais uma vez debatido na
Aula Conciliar, mas apenas para ser agora sufragado, também
com o voto modificativo. Esta votação começou no dia 23-9-65.
134» Congregação Geral. Antes, porém, o esquema foi apresen­
tado pelo Relator, Dom Hengsbach, Bispo de Essen, na Ale­
manha. Disse que se trata de um complemento de caráter prá­
tico da Constituição Dogmática Lumen Gentium; e que se teve
em consideração também o esquema sôbre a Igreja no mundo
de hoje (do qual a mesma Comissão é co-autora, juntamente
com a Comissão Teológica). “Via — exclamou o Relator —
longa, difficilis et contorta erat”.
O esquema foi submetido a 22 diferentes sufrágios, segundo
um “Kalendarium Suffragationum” prèviamente elaborado e dis­
tribuído: seis no dia 23-9-65, oito no dia 24-9-65 e oito no dia
27-9-65:
l 9 votação, do n. 1, que é o proêmio. Exprime-se agoia
mais claramente a conexão lógica dêste documento com a Lumen
358 II. Crônica das Emendas e Votações
Gentium, o nexo entre a vida cristã e o apostolado (“apostola-
tus ex ipsa christiana vocatione oritur”, não do ‘mandato’) e a
crescente consciência que os leigos têm da própria responsabi­
lidade. E’ enunciada também a intenção (a “mens”) do Conci­
lio neste Decreto. O texto foi aprovado por 2.213 contra apenas
5 e 1 voto nulo.
2* votação, dos nn. 2 (da participação dos leigos na mis­
são da Igreja) e 3 (do fundamento do apostolado dos leigos).
O n. 2 foi bastante ampliado e o n. 3 é totalmente nôvo. São
textos ricos, que darão aos leigos os motivos teológicos para
seu apostolado. Tudo foi aprovado por 2.205 contra 18 e 2
votos nulos.
3* votação, do n. 4, também inteiramente nôvo, sôbre a
espiritualidade dos leigos como fundamento do apostolado. Belo
texto aprovado por 2.185 contra 19 e 2 votos nulos.
4* votação, global, sôbre o proêmio e o cap. I, permitindo
o voto modificativo: sôbre 2.130 votantes: 1.904 placet; 213
placet iuxta modum; 8 non placet; e 5 votos nulos.
5Ç votação , dos nn. 5 (introdução ao cap. II, que trata da
finalidade do apostolado dos leigos) e 6 (que fala do apos­
tolado de evangelização e santificação). O n. 5 recebeu redação
inteiramente nova e é agora menos escolástico e mais pastoral,
conforme declara a Relação. Comunica também a Relação que a
Comissão não aceitou a proposta de um Padre segundo a qual
o apostolado dos leigos é simplesmente colaboração no apos­
tolado hierárquico. Também o n. 6 recebeu redação nova e am­
pliada e declara agora do modo explícito que os leigos devem
dedicar-se também ao apostolado de evangelização (e não ape­
nas de testemunho): “verus apostolatus quaerit occasiones
Christum verbis annuntiandi. . . ” Apesar do subtítulo, pouco na
realidade diz o texto acêrca do apostolado de santificação a ser
exercido pelos leigos. Os parágrafos foram aprovados por 2.025
contra 9.
votação, do n. 7, sôbre a restauração da ordem cristã
nas coisas temporais. E’ um texto longo, fundamental, com nova
redação. Entra no apostolado específico dos leigos: o de anima­
ção da ordem temporal. Nota a Relação que a Comissão evitou
a expressão “consecratio mundi”, por ser equívoca. O texto é
concreto na descrição e enumeração dos elementos que perfazem
a ordem temporal”. Fala-se agora também da ação social dos
cristãos como apostolado. O parágrafo foi aprovado por 2.068
contra 8 e 1 voto nulo.
0 Decreto sôbre o Apostolado dos Leigos 359
7\ votação, do n. 8, sôbre a ação caritativa como sinal ou
distintivo do apostolado cristão. Texto muito aumentado e emen­
dado. A ação caritativa não deve ser considerada como um nôvo
tipo de apostolado, ao lado de evangelização e animação, mas
como a alma de qualquer apostolado cristão. Um dos Padres
pedira declarar que a ação caritativa, para que receba a fôrça
de apostolado, deve ser ordenada “ad regnum Dei promoven-
dum”. Sugestão que a Comissão não aceitou declarando, pelo
contrário, que a ação caritativa “ex seipsa habet valorem aposto-
licum” e não apenas como instrumento ou ocasião de evange­
lização. O nôvo texto, piedoso, bíblico e prenhe, foi aprovado
por 2.163 contra 8 Padres Conciliares.
8* votação, sôbre todo o cap. II: votantes: 2.167; placet:
1.975; placet iuxta modum: 190; non placet: 2.
9* votação, dos nn. 9 (de introdução ao cap. III, sôbre os
vários campos do apostolado) e 10 (sôbre a ação apostólica
dos leigos na paróquia). Do texto anterior nada ficou na nova
redação, que foi aprovada por 2.161 contra 8 e 3 votos nulos.
10* votação, dos nn. 11 (sôbre o apostolado na própria
família) e 12 (sôbre os jovens). O n. 12 é inteiramente nôvo e
o n. 11 foi de tal maneira ampliado e modificado que nêle não
se descobre mais o texto anterior. Tudo foi aprovado por 2.145
contra 14 e 3 votos nulos.
11* votação, dos nn. 13 (sôbre o apostolado no ambienie
social) e 14 (sôbre o apostolado em âmbito nacional e inter­
nacional). Também nestes parágrafos nada ficou do texto an­
terior. Foram fàcilmente aprovados por 2.065 contra 6 e 2
votos nulos.
12* votação, do conjunto do cap. III. Presentes: 2.023;
placet: 1.707; placet iuxta modum: 311; non placet: 4; vo­
to nulo: 1.
13* votação, dos nn. 15 (de introdução ao cap. IV, sôbre
os vários modos de apostolado), 16 (sôbre a importância e a
variedade do apostolado, livre e individual) e 17 (que considera
algumas circunstâncias especiais para o apostolado individual).
Os nn. 15 e 17 são totalmente novos e o n. 16 recebeu nova
redação. Alguns Padres haviam reagido contra uma excessiva
acentuação das formas organizadas de apostolado, com grave
prejuízo para as formas livres, individuais ou paroquiais. O nôvo
texto valoriza agora devidamente também o apostolado livre e
individual, enumerando até algumas formas concretas dêste tipo
de apostolado, tornando a insistir no apostolado da Pa avra,
360 II. Crônica das Emendas e Votações
que os leigos devem professar, difundir, explicar e defender.
Há referência também ao valor apostólico da penitência e das
dificuldades da vida que, segundo o nôvo texto, devem ser “li­
vremente aceitas” e não mais “humildemente toleradas”, como
dizia a redação anterior. Apenas 3 Padres, sôbre 1.975 votan­
tes (os outros 200 que não votaram já estavam nos bares)
deram voto negativo e 3 anularam o voto.
14? votação, dos nn. 18 (sôbre a importância das formas
organizadas de apostolado dos leigos) e 19 (sôbre a multipli­
cidade de formas no apostolado associado). A argumentação
em favor das formas associadas era no texto anterior muito su­
perficial e extrínseca, tirada mais da eficácia do apostolado que
da natureza do homem e do cristão. Agora insiste-se mais na
“communio” e na vontade de Cristo. O nôvo texto do n. 19 é
também mais explícito na afirmação da liberdade dos leigos na
fundação e direção das associações. Também êste texto foi apro­
vado por 2.013 contra apenas 8 votos.
15? votação, do n. 20 (que fala da Ação Católica), 21 (sô­
bre o respeito que se deve ter às outras associações) e 22
(sôbre os leigos que por algum título especial se dedicam ao
serviço da Igreja). O n. 20 recebera numerosíssimas propos­
tas de emendas. Mas, como eram entre si contraditórias, oferece­
ram um jôgo fácil à Comissão: o texto ficou como estava. Assim
o parágrafo mais discutido é o menos modificado. Também os
nn. 21 e 22 receberam poucas emendas. Tudo foi aprovado por
2.104 contra 35 mais 4 votos nulos.
16? votação, de todo o cap. IV. Sôbre 2.128 votantes hou­
ve: 1.834 placet; 287 placet iuxta modum; e 7 non placet.
17? votação, dos nn. 23 (introdução ao cap. V, sôbre a
necessária ordem a ser observada no apostolado dos leigos),
24 (sôbre as relações com a Hierarquia) e 25 (sôbre o auxí­
lio que o clero deve prestar ao apostolado dos leigos). O n. 23
é quase todo êle nôvo, mas nada tem de especialmente notá­
vel. Os nn. 24 e 25 receberam pequenas correções. A pala­
vra “mandato” ficou, mas sem a intenção de dirimir as ques-
íões conexas e discutidas (“quas dirimere Commissio non inten-
dit ). No n. 25 desapareceu o tom paternalístico da redação
anterior: Os Bispos devem agora trabalhar “fraternalmente” com
os leigos; devem estar em “contínuo diálogo com êles” . . . 2.123
Padres Conciliares aprovaram o texto, 11 o rejeitaram e 5 en­
tregaram votos nulos.
0 Decreto sôbre o Apostolado dos Leigos 361
/S? votação, dos nn. 26 (sôbre alguns meios para uma mú­
tua cooperação) e 27 (sôbre a cooperação com os outros cris­
tãos e os não-cristãos). As novas modificações não são notá­
veis. E’ apenas interessante que os não-católicos agora são cha­
mados simplesmente “outros cristãos” : “ . . . exigunt coopera-
tionem catholicorum cum aliis christianis”. Também aqui houve
2.121 placet e apenas 18 non placet.
19* votação, sôbre todo o cap. V: 1.894 placet, 230 placet
iuxta modum, 9 non placet e 7 votos nulos.
20* votação, dos nn. 28 (sôbre a necessidade da formação
para o apostolado), 29 (sôbre os princípios desta formação)
e 30 (sôbre os que devem dar a formação). Todo êste cap.
VI é pràticamente nôvo (antes havia apenas um pequeno pará­
grafo sôbre êste assunto). Foi aprovado por 2.063 contra 17.
21* votação, dos nn. 31 (sôbre a adaptação da formação às
várias formas de apostolado), 32 (sôbre os meios para a for­
mação) e 33 (exortação final). Tudo nôvo, menos o último pa­
rágrafo, que no entanto foi aumentado com um apêlo aos jo­
vens. Sôbre 2.020 votantes houve 2.012 placet, 5 non placet
e 3 votos nulos.
22* votação, de todo o cap. VI: 1.865 placet, 143 placet
iuxta modum, 3 non placet e 5 votos nulos.
Apesar da novidade do texto, todo o documento foi. pois.
fàcilmente aprovado pela Congregação Geral. Voltou à Comis­
são para novas correções sugeridas pelos 1.374 votos modi-
ficativos.
O texto definitivamente emendado foi entregue aos Padres
no dia 29-10-65, num grosso fascículo de 141 páginas, contendo
também os Modos com a resposta que a Comissão lhes deu.
Houve cêrca de 150 correções, geralmente de clareza e preci­
são no estilo, de ordem lógica e de latim. Todos os textos es-
criturísticos foram mais uma vez revistos por exegetas. A Co­
missão pediu para cada capítulo o parecer dos Padres por “pla­
cet” e “non placet”. O que foi feito nos dias 9 e 10 de novem­
bro, 156* e 157* Congregação Geral:
Proêmio e cap. 1: Alguns Padres propuseram que na fun­
damentação do apostolado se atendesse mais à SS. Trindade, à
Igreja e ao Mistério Pascal. A Comissão admitiu as sugestões.
Na nova redação declara-se agora simplesmente: “Vocatio chris-
tiana, natura sua, vocatio quoque est ad apostolatum". Na ultima
alínea dêste cap. 1 ensina-se que Maria Santíssima operi a -
Concilio - V — 2A
362 II. Crônica das Emendas e Votações
vatoris singulari prorsus modo cooperata est”. A alínea sô­
bre os carismas, no n. 3, foi bastante bombardeada pelos Modos.
A Comissão não só manteve o texto (como era de seu dever,
pois já tinha a aprovação da Congregação Geral) mas até o
reforçou omitindo o “quandoque etiam” (“Spiritus S anctus.. .
quandoque etiam fidelibus peculiaria tribuit dona”). — Sôbre
2.127 votantes, houve 2.117 placet, e 10 non placet.
Cap. II: Quanto ao conceito de “apostolado” alguns Padres
pediram que na descrição da relação entre o apostolado de evan­
gelização e santificação e o de animação cristã da ordem tem­
poral se distinguisse mais claramente entre a ordem civil e a
ordeni eclesial. A Comissão tentou agora um modo de expres­
são mais claro, mas não quis voltar à terminologia que distingue
entre apostolado em sentido próprio e impróprio, direto e indi­
reto. O n. 8 sublinha mais uma vez que a ação caritativa, em­
bora tratada em parágrafo especial, não é nem deve ser con­
siderada como uma forma distinta de apostolado, mas é o fun­
damento de todo e qualquer tipo de apostolado. Sem caridade
não há apostolado cristão. Neste, como também no cap. I, ha­
via muitos Modos que queriam fazer depender o apostolado dos
leigos de uma prévia aprovação ou missão da parte da autori­
dade eclesiástica. Mas a Comissão sempre quis deixar claro que
os leigos recebem de Deus a missão ao apostolado e não da
Igreja ou mediante a Igreja e por isso respondeu invariavel­
mente “non admittitur”, remetendo, todavia, ao menos algumas
vêzes, ao cap. V, no qual se fala das relações com a hierarquia.
Um Modo pediu a omissão da primeira e segunda alínea do
n. 7, porque “sapit Teilhardismum”. A Comissão respondeu:
“Textus exprimit doctrinam traditionalem Ecclesiae”. Dois Pa­
dres pediram que na 4* alínea do n. 7 se omitissem as palavras
“tamquam proprium munus assumere et in e o . . . ” A Comissão
manteve o texto e respondeu que na ordem temporal os leigos
“primas partes habent”. — O capítulo foi aprovado por 2.099
contra 16 votos e 1 nulo.
Cap. III: No n. 9 fala-se agora mais amplamente da par­
ticipação das mulheres no apostolado da Igreja, com uma inte­
ressante motivação: “cum nostris diebus mulieres magis ma-
gisque partes activas habeant in tota societatis v i ta ...” No
n. 11, por sugestão de 279 Padres, inseriu-se um belo texto
sôbre a família cristã. No n. 12, a pedido de 65 Padres, fala-se
agora também do apostolado das crianças. — Aprovado por
2.075 contra 12 votos.
0 Decreto sôbre o Apostolado dos Leigos 363
Cap. IV : No n. 16 houve uma correção de certa importân­
cia. Na redaçao anterior se dizia: “Laici (Christi) doctrinam
profitentur, diffundunt, enucleant ac defendunt secundum suam
quisque condicionem et peritiam” ; agora é assim: “Laici (Christi)
doctrinam enucleant, diffundunt secundum suam cuiusque con­
dicionem ac peritiam, et eam fideliter profitentur”. Omitiu-se a
idéia da “defesa”, pois argumentaram os 8 Padres que fize­
ram esta proposta, “professio fidei est aliquid magis positivum
ac defensio et illam etiam includit”. Vários foram os Modos
contrários à primeira frase da última alínea do n. 19: “Debita
cum auctoritate ecclesiastica relatione servata, ius est Jaicis con-
sociationes condere et moderari conditisque nomen dare”. Mas
a Comissão não mudou uma palavra. Muitíssimos foram os Mo­
dos para o n. 20, que fala da Ação Católica. Declara a Relação
que, embora a questão já tenha sido discutida inúmeras vêzes
no seio da Comissão, em vista do grande número de Modos
agora tudo foi mais uma vez ponderado à luz das novas suges­
tões feitas pelos Padres Conciliares. Mas ficou decidido deixar
o texto como estava, com exceção de apenas duas palavras,
que nada mudaram no sentido do texto. — Aprovado por 2.061
contra 14 e 1 voto nulo.
Cap. V: Alguns Padres solicitaram que o texto determi­
nasse mais as questões jurídicas. Considerando, porém, a gran­
de diversidade das regiões, não pareceu oportuno descer a de­
terminações particularizadas. Não houve correções notáveis nes­
te capítulo. — Aprovado por 2.089 contra 8 Padres Conciliares.
Cap. VI: Poucas emendas. A mais importante é a que cor­
rige o texto sôbre a formação apostólica dos que não freqüen-
tam escolas católicas. Cêrca de 60 Padres viam no n. 31 res­
quícios de triunfalismo, paternalismo e farisaísmo e um tom ex­
cessivamente apologético. A Comissão purificou o texto. —
Aprovado por 2.100 contra 6 votos e 3 nulos.
Foi então sufragado o conjunto do esquema, com o seguinte
resultado: placet: 2.201; non placet: 2; votos nulos: 5. Apro­
vado definitivamente pela Congregação Geral, o texto foi en­
tregue ao Papa Paulo VI, que decidiu promulgá-lo solenemente
no dia 18 de novembro de 1965. Submetido, então, mais uma
vez, a uma votação geral, sôbre 2.342 votantes, recebeu 2.o40
placet e, outra vez, 2 non placet. E foi aprovado e promulgado
pelo Chefe do Colégio Episcopal.
24»
o Decreto sôbre o Múnus Pastoral dos Bispos

T am bém ê ste d o c u m en to
já tem sua história. Debatido durante a II Sessão, com 149
discursos (cf. vol. III, pp. 226-301) e durante a 111 Sessão,
com mais 39 intervenções orais (cf. vol. IV, pp. 42-56), foi
corrigido e votado nos dias 4-6 de novembro de 1964. Nesta
ocasião o texto foi bombardeado com numerosos votos modifi-
cativos: 852 para o cap. I; 889 para o cap. II; e 469 para o
cap. III (cf. vol. IV, pp. 446-452). O texto então revisto pela
Comissão foi distribuído aos Padres no dia 16-9-65, num gros­
so fascículo de 127 páginas que, além das Relações oficiais, dá
também as respostas da Comissão aos Modos não aceitos. No
dia 29-9-65, 138’ Congregação Geral, a Comissão apresentou
ao plenário do Concilio 16 quesitos relacionados com as mo­
dificações introduzidas no cap. I (o proêmio recebeu apenas al­
guns retoques sem im portância):
1- quesito: Se os Padres Conciliares aceitam a modifica­
ção feita no n. 4. Trata-se de um texto nôvo, proposto por mais
de 700 Padres, e que resume a doutrina da Lum en G entium acêr­
ca dos Bispos e termina declarando que todos os Bispos que
são membros do Colégio Episcopal (portanto também os mera­
mente titulares) têm o direito de tomar parte no Concilio. O
nôvo texto foi aprovado por 2.160 contra 22 Padres.
2- quesito: Se agrada a nova formulação do n. 5, sôbre o
Sinodo Episcopal. Êste texto foi entregue apenas na véspera. Pois
o Papa já se antecipara, com o motu-proprio Apostólica Sollici-
tudo do dia 15-9-1965. A nova redação declara que êste Sinodo
significa a participação de todos os Bispos na hierárquica comu­
nhão de solicitude pela Igreja Universal. Também aqui houve
8 votos contrários, 3 nulos e 2.171 favoráveis.
3a quesito : Se agrada a correção feita no n. 8. Trata-se de
uma modificação de grande importância. Êste parágrafo fala do
0 Decreto sôbre o Múnus Pastoral dos Bispos 365
poder próprio ordinário e imediato do Bispo na diocese Até
agora este poder era regulado sobretudo por “faculdades be­
nignamente concedidas pela Santa Sé”. Contra semelhante pro­
cesso, muitas vêzes arbitrário e até ridículo, houve fortíssima
reação na Aula Conciliar (cf. vol. III, nn. 329, 334, 335, 338,
341, 345, 346, 358, 363) e muitos oradores pediram a restaura­
ção pura e simples dos podêres episcopais. Mesmo contra o tex­
to apresentado em 1963 podia Dom Fernando Gomes dos San­
tos, Arceb. de Goiânia, levantar a seguinte grave acusação:
“A perspectiva do esquema é ainda a de Bispos meros vigários,
não só do Papa, mas das próprias Congregações Romanas, das
quais inteiramente dependem nas mínimas coisas” (cf. vol. III,
p. 236). E pedia então, em nome também de 60 outros Bispos
brasileiros: “Reconhecimento explícito de que, longe de só po­
derem os Bispos o que lhes é expressamente facultado, só não
poderão êles o que haja por bem o Sumo Pontífice reservar a
si pessoalmente” (ib. p. 237). E’ exatamente isto o que encon­
tramos agora no n. 8. Mas o nôvo texto não veio de graça. Na
redação apresentada à discussão na III Sessão o texto dizia
que os Bispos têm tudo quanto “exercitium eoruin muneris pasto-
ralis expostulat”. Depois do debate a redação foi enfraquecida
para “ . . . quam eorum munus pastorale expostulat”. Sôbre esta
infeliz correção incidiram então 619 votos modificativos pedindo
a volta do texto anterior. Por isso a nova redação diz agora:
“ .. . quam ad exercitium eorum muneris pastoralis requiritur”.
O que é certamente mais claro e mais amplo. 2.144 contra 18
Padres aprovaram as emendas.
4? quesito, sôbre as modificações inseridas na alínea b do
n. 8. Os mesmos 619 Padres haviam pedido ainda que em lugar
de "habent auctoritatem” se dissesse “exercent auctoritatem”.
Também isto foi aceito pela Comissão no texto corrigido. Neste
mesmo inciso entrou ainda outra emenda importante: Dizia o
texto anterior que os Bispos podem dispensar das leis gerais
da Igreja “dummodo agatur de re in qua Sedes Apostólica dispen-
sare solet”. Era uma fórmula excessivamente genérica e perfei­
tamente inútil: pois se os Bispos podem dispensar em matéria
não reservada, jamais ficarão sabendo quais são estas matérias
dispensáveis. Por isso cêrca de 600 Bispos pediram a omissão
dêste inciso. O que também foi aceito pela Comissão. Mas o
texto continua com uma formulação final assim modificada. —
nisi a Suprema Ecclesiae Auctoritate [isto é: o Concilio Ecume
3òô II. Crônica das Emendas e Votações
nico e o Papa] speciaüs reservatio facta fuerit”. O plenário apro­
vou a correção por 2.115 contra 22 votos.
5 » quesito: se agrada a correção do n. 9. Êste número fala
da refornia da Cúria Romana. Durante os debates mais de uma
vez houve referências também aos Núncios Apostólicos e suas
competências, cujos limites nem sempre pareciam suficientemen­
te bem circunscritos. Mas o texto insistia em não falar de assun­
to tão delicado; apenas a Relação fazia sumárias referências
(cf. vol. IV, p. 448). No voto modificativo “não poucos Pa­
dres” (segundo o modo de falar do Relator, que neste caso não
manifestou interêsse em revelar o número dêles) tornaram a
pedir se definisse melhor o ofício dos Legados do Romano Pon­
tífice. Pedido que agora está no texto corrigido do n. 9. Foi
aprovado por 2.070 contra 51 votos e um voto nulo.
6° quesito, sôbre as correções feitas no n. 10. Também aqui
se fala agora dos Núncios e Delegados, pedindo que não sejam
só italianos. Foi aprovado por 2.041 contra 54, mais 2 vo­
tos nulos.
79 quesito: se de modo geral agrada a ponderação dos Mo­
dos dados ao proêmio e ao cap. I: sôbre 2.014 votantes houve
1.999 placet e 15 non placet.
Continuaram os sufrágios no dia seguinte, 30-9-1965, 139*
Congregação Geral, sôbre o cap. II.
S" quesito: se agradam as duas adições ao n. 16. A pri­
meira afirma a obrigação do Bispo de fazer dos fiéis uma fa­
mília que vive e trabalha em comunhão de caridade. A outra
impõe ao Bispo a obrigação de reconhecer lealmente os direitos
dos fiéis em colaborar ativamente na edificação do Corpo Mís­
tico. O que foi facilmente aprovado por 2.172 contra apenas
5 e 1 voto nulo.
9° quesito, sôbre a modificação inserida no n. 17, que urge
a obrigação dos fiéis para o apostolado, sobretudo da Ação Ca­
tólica. Aqui a aprovação foi mais dura: 1.989 contra 185 e 1
voto nulo.
109 quesito, sôbre uma adição ao n. 27, que manda refor­
mar e atualizar os conselhos episcopais, sobretudo o Cabido ca­
tedral. Foi aprovado por 2.163 contra 13.
11" quesito, sôbre a nova redação do n. 28, que define me­
lhor o clero diocesano” (palavra que agora é oficializada pelo
oncílio) e coloca o clero religioso numa posição evidentemente
secundária na cura das almas (“in animarum autem cura pro-
0 Decreto sôbre o Múnus Pastoral dos Bispos 367

curanda primas partes habent sacerdotes dioecesani ”) Foi


aprovado por 2.137 contra 32 e um voto nulo.
12? quesito, sôbre a nova proposição inserida no n. 29 que
recomenda os padres dedicados às obras supradiocesanas (“prae-
clara apostolatus opera exercent”). Aprovado por 2.137 contra
9 e um voto nulo.
Neste momento foram bruscamente interrompidas as vota­
ções, apesar de haver ainda tempo (não eram 11 horas)
6 não obstante a comunicação anterior de que naquela manhã
se fariam tôdas as votações do cap. 11 e eventualmente também
a única votação pedida para o cap. III. Correu o boato que tal
suspensão foi feita por ordem superior. À tarde a Comissão res­
ponsável pelo texto foi convocada para uma reunião extraor­
dinária. Soube-se que surgiram novas dificuldades contra o n. 38
do capítulo III. Na manhã seguinte, 1-10-1965, 140 Congrega­
ção Geral, continuaram os sufrágios.
13ç quesito, que se refere às modificações introduzidas nos
nn. 33 e 35. Devem os Religiosos ajudar a Igreja especifica­
mente com orações, obras de penitência e bom exemplo; em caso
de necessidade devem ajudar nas obras externas de apostolado,
sempre segundo a índole própria de cada Instituto. Aprovou-se
o texto por 2.093 contra 36.
14ç quesito, sôbre as correções feitas no n. 35, na parte que
trata das relações entre os Religiosos e o Bispo. Em vez do
“Ordinariis locorum subduntur. . . ”, temos agora um horroroso
texto sugerido por 570 Bispos: “Ordinariorum locorum potestati
su b su n t...” Daqui por diante também as escolas dos Religio­
sos, isentos ou não, “Ordinariis locorum subsunt ad earum ge-
neralem ordinationem et vigilantiam quod attinet” ; os Religiosos
continuarão apenas com o direito “ad earum moderamen”. A Re­
lação não explica o que se deve entender por “generalis ordi-
natio et vigilantia”. 2.046 contra 76 Padres Conciliares aprova­
ram a nova redação, com 3 votos nulos.
15ç quesito: se agrada a ponderação dos Modos de todo
o cap. II. De fato neste cap. II foram feitas ainda outras emen­
das não especificamente sufragadas, como no n. 31, que fala
da renúncia dos párocos. Segundo a redação anterior os páro­
cos eram convidados a renunciar espontaneamente quando, por
causa da idade avançada, já não poderíam frutuosamente cum
prir sua missão; agora, além da idade, pode haver outra causa
grave” ; e além da renúncia espontânea pode vir o convite o
Bispo para renunciar. Aliás a nova redação se inspirou no
368 II. Crônica das Emendas e Votações
do n. 21, que fala nos mesmos termos da renúncia dos Bispos;
foi o que 70 Bispos do Brasil haviam pedido no ano passado
(cf. vol. IV, p. 49). O mencionado n. 21, sôbre a renúncia dos
Bispos, apesar dos numerosos votos modificativos, ficou imutado.
Um grupo de 45 Padres havia sugerido que aos 65 anos o Bispo
poderia (licet) e aos 75 deveria (tenetur) renunciar. Mas a Co­
missão não aceitou a proposta. “Inter tantam sententiarum va-
rietatem schema viam mediam invenire conatum est”. — No n. 15
fêz-se também uma pequena modificação com interêsse teológico:
na redação anterior se dizia que os sacerdotes dependem do
Bispo “in sua potesíate” ; agora dêle dependem “in exercenda
sua poíestate”, o que é teologicamente mais exato e está mais
de acôrdo com o n. 28 da Lum en Gentium. — Tudo foi apro­
vado por 2.090 contra 26 votos e 2 votos nulos.
Quesito geral sôbre as 8 correções feitas no cap. 111. A prin­
cipal está no n. 38, onde agora se afirma explicitamente que os
Núncios e Delegados Apostólicos não são membros das Confe­
rências Episcopais. A redação anterior permitia a suspeita con­
trária (cf. vol. IV, p. 451). Por isso 151 Padres solicitaram uma
palavra mais clara. Numerosos e variados foram os votos modi­
ficativos contra as outras determinações do n. 38, mormente com
relação aos membros das Conferências Episcopais (se também
os Bispos auxiliares e com que espécie de voto: consultivo ou
deliberativo) e a fôrça jurídica de suas decisões. Mas a Comis­
são nada modificou, alegando que o texto já recebera aprovação
da maioria dos Padres Conciliares. Um grupo de 11 sugeriu
que nos estatutos das Conferências constasse também que alguns
Delegados das Conferências dos Religiosos fôssem membros da
Conferência dos Bispos, com voto consultivo. Ao que a Comissão
respondeu: “Ni! impedit quominus Conferentia id decernat”. —
O plenário aprovou tudo por 2.039 contra 20 votos e 1 nulo.
Por determinação dos Moderadores fêz-se no dia 6-10-1965,
143" Congregação Geral, um sufrágio global sôbre o conjunto
do documento, com êste resultado: Presentes: 2.181; placet:
2.167; non placet: 14. E assim o texto passou às mãos do Papa
Paulo VI. Na Sessão Pública do dia 28-10-1965 o documento
foi aprovado por 2.319 contra apenas 2 votos (e um nulo) e
em seguida solenemente promulgado pelo Sumo Pontífice. E ’ um
documento de fundamental importância para a nova codifica­
ção do Direito Eclesiástico.
o Decreto sôbre a Atualização dos Religiosos

A c ê r c a d a s v ic is s it u d e s
dêste documento, do debate e das votações durante a III Ses­
são, cf. vol. IV, pp. 328-344. No escrutínio de sondagem (12-
11-1964) o texto foi aprovado por apenas 1.155 contra 882
votos. As 20 proposições (segundo a redação do ano passado)
foram ferozmente atingidas por um total de 5.638 votos mo-
dificativos. E como cada votante podia entregar mais de um
Modo, a Comissão de fato recebeu pouco além de 14.000 Mo­
dos (dos quais uns 500 eram diferentes). Nenhuma proposição,
porém, foi diretamente rejeitada pela Congregação Geral. To­
davia as primeiras 13 proposições (que correspondem aos atuais
nn. 1-17) conseguiram apenas uma aprovação “iuxta modum”;
o que significava que a Comissão tinha obrigação de rever e
corrigir o texto segundo os desejos manifestados pelos votantes.
Mas as últimas 7 proposições (os atuais nn. 18-24 inclusive)
receberam um número suficiente de votos simplesmente afirma­
tivos, de modo que a Comissão não precisava corrigir o tex­
to, nem mesmo podia modificá-lo em pontos considerados essen­
ciais. O nôvo texto foi entregue aos Padres Conciliares no dia
16-9-65, portanto já durante esta IV Sessão. Há nêle muita no­
vidade. Os nn. 1, 9, 10, 11 e 25 são inteiramente novos; os
nn. 2, 4, 5, 6, 7, 8, 13, 14 e 15 apresentam um texto que chega
a ser até três vêzes mais extenso que o anterior. Sôbre esta
nova redação a Comissão pediu à Congregação Geral um pro­
nunciamento em 19 sufrágios diferentes, que começaram no dia
6-10-65, na 143* Congregação Geral e duraram três dias:
1° quesito: se agrada o n. 1, que é de introdução geral,
indica o motivo, a índole e a finalidade do presente documento.
Também a doutrina bíblica e teológica sôbre a vida religiosa
é ligeiramente tratada. O texto foi aprovado por 2.163 con ra
9 votos (e 4 nulos).
370 II. Crônica das Emendas e Votações
2o quesito, sôbre a nova redação do n. 2 (o anterior n. 1),
que oferece agora cinco princípios gerais (que na redação an­
terior estavam dispersos por todo o documento) para o traba­
lho de atualização ao “aggiornamento” (em latim: “accommo-
data renovatio”) dos Religiosos. Como norma básica o Conci­
lio indica: “Christi sequela in Evangelio proposita”. Foi apro­
vado por 2.113 contra 9 votos (e 2 nulos).
39 quesito, sôbre o n. 3, que oferece critérios práticos, mas
ainda muito genéricos, para êste mesmo trabalho de atualização.
Insiste em que se suprimam as prescrições antiquadas: “lis
praescriptis suppressis quae obsoleta sunt”. Aprovado por 2.057
contra 5 votos.
4? quesito, acêrca do n. 4, que agora define mais claramente
a “autoridade competente” para fazer a atualização. Mas os Su­
periores devem consultar e ouvir os outros membros do Insti­
tuto. 2.057 contra apenas 5 Padres (e 2 votos nulos) apro­
varam o texto.
5* quesito, sôbre o n. 5, que indica os elementos comuns
a tôdas as formas de vida religiosa. Aprovado por 2.040 con­
tra 15 votos, mais 2 nulos.
6o quesito, sôbre o n. 6, um belo texto que afirma o pri­
mado da vida espiritual. Insiste na leitura diária da Bíblia e
no Mistério Eucarístico como centro da vida religiosa. Também
a virtude da caridade recebe seu lugar de destaque: deve ser a
alma e o motivo da observância dos conselhos evangélicos:
“Hac caritate ipsa praxis consiliorum evangelicorum animatur
et regitur” (expressão sugerida por 422 Padres). Aqui os vo­
tos contrários foram 3, os votos nulos também 3 e os favorá­
veis 2.049.
7-' quesito, sôbre o n. 7, que reafirma o grande valor dos
Institutos de vida exclusivamente contemplativa, “quantumvis
actuosi apostolatus urgeat necessitas”. Também aqui a aprova­
ção foi fácil: sôbre 2.140 votantes, 2.133 disseram placet, 4 non
placet (3 votos nulos).
8" quesito, sôbre o n. 8, que fala dos Institutos dedicados
à vida apostólica: para êstes a própria ação apostólica perten­
ce à natureza da vida religiosa. Por isso tôda a vida religiosa
de seus membros deve estar imbuída de espírito apostólico e tôda
ação apostólica deve ser informada pelo espírito religioso. E’
este o princípio que há de orientar sua atualização. O que foi
aprovado por 2.126 contra 7 e 3 votos nulos.
0 Decreto sôbre a Atualização dos Religiosos 371
9? quesito, sôbre o n. 9, inteiramente nôvo, que trata da
vida monastica e conventual e traça as normas fundamentais
para sua atuanzaçao. Também aprovado por 2.142 contra 7 e
1 voto nulo.
JO 9 quesito, sôbre o n. 10, também totalmente nôvo, que
confirma os Institutos de vida religiosa laical. Há aqui uma no­
vidade: que um ou outro de seus membros possa ser ordenado
sacerdote “ad subveniendum necessitatibus ministerii sacerdota-
lis in suis domibus”. Aprovado por 2.088 contra 57 e 3 vo­
tos nulos.
/ / p quesito, sôbre o n. 11, também nôvo, que aprova os
Institutos Seculares. Aprovado por 2.112 contra 22 e 2 vo­
tos nulos.
129 quesito, sôbre o n. 12, que fala da castidade. O texto
não foi notàvelmente aumentado. Agora insiste também nos meios
naturais; e lembra até aos Superiores que é mais fácil manter
a castidade “cum inter sodales vera dilectio fraterna in vita
communi viget’’. Tudo foi aprovado por 2.126 contra 3 votos
(1 nulo).
139 quesito, sôbre o n. 13, bastante ampliado, que fala da
pobreza. Insiste-se agora no trabalho: “Communi legi laboris
se sentiant obnoxios”; e na pobreza coletiva: “Testimonium pau-
pertatis collectivum reddere satagant”. 2.089 contra 7 Padres
aprovaram o texto (1 nulo).
149 quesito, sôbre o n. 14, muito ampliado, acêrca da obe­
diência. Começa com uma motivação teológica. A pedido de
399 Padres o nôvo texto se dirige também aos Superiores, que
devem ter o espírito de serviço, governar os súditos como filhos
de Deus, nêles respeitando sempre a dignidade da pessoa hu­
mana. Fala-se agora de uma “activa atque responsabilis oboe-
dientia”. E da necessidade de ouvir os súditos e de promover
suas iniciativas em prol do Instituto ou da Igreja. São ainda
os Superiores especialmente admoestados a deixarem a devida
liberdade na escolha do confessor e do diretor espiritual. O im­
portante texto foi aprovado por 2.122 contra 27 e 1 voto nulo.
159 quesito, sôbre o n. 15, também bastante ampliado, que
fala da vida comum. Acentua-se agora mais seu aspecto sobre
natural. E insiste-se muito na igualdade de todos os membros
de cada Instituto, sem a odiosa discriminação entie pai ret. e
irmãos leigos: tenham todos os mesmos direitos e deveres.
372 II. Crônica das Emendas e Votações
modo especial refere-se o nôvo texto às comunidades femininas
e pede que, na medida do possível, “ad unurn genus sororum
perveniatur”. Foi aprovado por 2.134 contra 17 e 2 votos nulos.
/#> quesito, sôbre o n. 16, a clausura das monjas. A clau­
sura papal continua apenas para as monjas exclusivamente con­
templativas, “iisque usibus sublatis qui obsoleti sint”. Aprovado
por 2.127 contra 12 votos (e 2 nulos).
17- quesito, sôbre o n. 17, o hábito religioso, que recebeu
apenas brevíssima correção: diz agora que se fala do hábito
“tam virorum quam mulierum”. Aprovado por 2.110 contra 20
e 2 votos nulos.
18" quesito, sôbre o n. 25, inteiramente nôvo, de conclu­
são. Aprovado por 2.109 contra 2 e um voto nulo.
19° quesito: se agradam as correções feitas nos nn. 18, 19,
20. 21, 22. 23 e 24. Na votação do ano passado estas propo­
sições (então nn. 14-20) já foram aprovadas pela Congregação
Geral e por isso receberam agora apenas leves retoques. Tudo
foi reconfirmado por 2.071 contra 9 votos (e 2 nulos).
E no dia 11-10-65, 146* Congregação Geral, todo o con­
junto, numa votação global, foi aprovado por 2.126 contra 13
Padres Conciliares e dois votos nulos. Na Sessão Pública de
28-10-65 o documento recebeu a definitiva aprovação por 2.321
contra 4 votos. E o Papa Paulo VI o promulgou logo após.
o Decreto sôbre a Formação dos Sacerdotes

S o b r e a o r ig e m d o d o c u -
mento, os debates e as votações durante a III Sessão, cf. vol.
IV, pp. 344-367. O texto foi então substancialmente aprovado.
Mas a Comissão, além dos 32 discursos pronunciados na Aula
Conciliar, estudou e ponderou ainda 1.355 Modos. De tudo isso
resultou um texto bastante ampliado, principalmente nos nn. 2,
3, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 15, 16 e 19. Para o nôvo texto a Comissão
apresentou aos Padres Conciliares 15 quesitos, aos quais o ple­
nário respondeu nos dias 11 e 12 de outubro de 1965 (146* e
147* Congregação Geral), na seguinte ordem:
l ç quesito: Se agrada a nova redação do proêmio. De­
clara agora o texto que o presente documento vale diretamente
apenas para a formação do clero diocesano, mas que todos os
outros, de qualquer Rito ou de qualquer Instituto religioso, de­
vem acomodar-se às suas prescrições, “congrua congruis refe-
rendo”. Sôbre 2.138 Padres, 2.125 responderam placet, 11 non
placet e 2 entregaram voto nulo.
2? quesito , sôbre o n. 2, que fala da necessidade de culti­
var as vocações sacerdotais. O nôvo texto, embora o dôbro
do anterior, nada diz de especialmente notável e nega-se a dar
uma definição de “vocação”. Foi aprovado por 2.119 contra
19 e 1 voto nulo.
3 ? quesito , sôbre o n. 3, os seminários menores. Insiste-se
agora na cooperação dos pais na formação dos seminaristas.
Mas o texto prevê também a possibilidade de formação fora dos
seminários menores propriamente ditos. Houve aqui 2.046 placet
e 95 non placet.
49 quesito , sôbre o n. 4, no qual se afirma sem mais a ne
cessidade dos Seminários Maiores. Declara a Relaçao que iso
era necessário por causa de certas tendências atuais con rari
374 II. Crônica das Emendas e Votações
à formação em “seminários”. Temos, pois, a seguinte tese: “Se-
minaria Maiora ad sacerdotalem conformationem necessária sunt”.
Esclarece, todavia, o Relator que isto não exclui a possibilida­
de de uma interrupção dos estudos (aliás prevista no n. 12)
nem do envio dos alunos a alguma Faculdade Teológica fora
do Seminário. O texto foi aprovado por 2.038 contra 88 votos
(um voto nulo).
5? quesito, sôbre o n. 5, com uma nova alínea acêrca do bom
comportamento dos dirigentes e professôres, naturalmente sempre
escolhidos “ex optimis viris”. 2.054 contra 3 aprovaram a re­
comendação.
69 quesito, sôbre o n. 9, que insiste numa peculiar espiri­
tualidade eclesial na formação dos seminaristas. Também apro­
vado por 2.020 contra 3 e um voto nulo.
7? quesito, sôbre o n. 10, que traça normas para a educa­
ção ao celibato, que deve ser aceito não apenas como uma lei
eclesiástica, mas como um dom divino. Insiste-se agora mais
no aspecto positivo do celibato, pelo qual o homem inteiro, com
corpo e alma, se dedica a Deus e às almas. Foi aprovado por
1.971 contra 16 e 2 votos nulos.
8Ç quesito, sôbre o n. 11, quase totalmente nôvo, com par­
ticular insistência nas virtudes “humanas”. Pois, admoesta o
Relator, não devem os dirigentes do Seminário pensar que com
a ordenação sacerdotal o candidato é como que magicamente
transformado: é necessário que a graça encontre uma natureza
preparada. Também o espírito de iniciativa deve ser favorecido,
naturalmente sem ferir o principio da autoridade. 1.975 contra
6 aprovaram a nova redação.
9" quesito, sôbre o n. 12, com nôvo acréscimo acêrca da
possibilidade de protrair a ordenação ou de conceder alguns anos
de exercício do diaconato. Dependerá da resolução dos Bispos
(“pro singularum regionum condicionibus Episcoporum e r i t ...” :
no texto anterior se dizia “Coetuum Episcoporum”). A Relação
explica: “Supposuit autem Commissio Praesules in re tanti mo-
menti collatis cum collegis propriae regionis consiliis proces-
suros esse”. De per si, portanto, um Bispo sozinho pode deci­
dir; mas é aconselhado a não fazê-lo. 2.011 contra 11 aprova­
ram o texto.
109 quesito, sôbre o n. 13, que fala dos estudos no semi­
nário menor. Não há nenhuma insistência particular no latim na
O Decreto sôbre a Formação dos Sacerdotes 375
ünha da Veterum Sapientiae, documento que de prooósito não
é nem atado e pode ser considerado superado
paragrafo conciliar. Indiretamente o nôvo texto lembra a neces­
sidade do grego, quando recomenda uma “cognitio congrua lin-
guarum Sacrae Scripturae et Traditionis”. A Relação revela que
com essa recomendação se pensa sobretudo na língua grega.
De fato, eram muitos os Modos que pediam maior insistência
no grego. O texto recebeu a aprovação de 2.164 contra 14 Pa­
dres e 1 voto nulo.
//<’ quesito, sôbre o n. 15, o estudo da filosofia. A primei­
ra coisa que chama a atenção na nova redação (aliás quase
três vêzes mais extensa que a anterior) é a omissão da expres­
são “philosophia perennis” ; agora se fala do “patrimônio filo­
sófico perenemente válido”. Santo Tomás não é mencionado, mas
considerado incluído no “patrimônio perenemente válido”, se­
gundo a Relação. Há normas ainda para o ensino da história
da filosofia e para o método no ensino geral dos tratados fi­
losóficos. Fala-se também de um “honesto reconhecimento dos
limites do conhecimento humano”. O nôvo texto, bem melhor
que o anterior e bastante rico, foi aprovado por 2.127 con­
tra 58 Padres.
129 quesito, sôbre o n. 16, o estudo da Teologia. O texto
anterior, que já estava bastante bom, não foi muito modifica­
do. A Teologia Bíblica recebe aqui sua carta magna. A Teo­
logia Especulativa continua com o “Sancto Thoma magistro”.
apesar dos inúmeros Modos contrários. Para não excluir os ou­
tros Doutores, muitos haviam sugerido que se dissesse “prae-
sertim S. Thoma magistro”, ou “speciatim”, ou “potissimum”,
ou “ad exemplum”, etc. Mas nem mesmo o praesertim foi acei­
to. A Relação, porém, explica a imposição com as seguintes
palavras: “In nr. 16 retenta est expressio ‘S. Thoma magistro'.
qua vero — iuxta Commissionis mentem — alii Doctores ab
Ecclesia probati non excluduntur”. Portanto no sentido do “prae­
sertim S. Thoma magistro” ; apenas falta a honestidade para
dizê-lo claramente. No nôvo texto também o ensino da Teolo­
gia Moral, do Direito Canônico e da História da Igreja rece­
bem normas particulares: todos devem manter o contacto com
o Mistério de Cristo e a História da Salvação, que se tornou
agora oficialmente o ponto centralizante e a alma de toda a
Teologia. Acêrca dessa questão central e de grande repercussão
lemos na Relação a seguinte explicação oficial: “In textu innuitur
376 II. Crônica das Emendas e Votações
saltem punctum in quo singulae disciplinae theologicae ex in-
trinsecis rationibus proprii cuiusque obiecti scientifice conside-
rari conveniunt. Hoc punctum est historia salutis in vita Ecclesiae
semper in actu, ut praecipue in magnis thematibus biblicis apparet.
Nani omnes disciplinae theologicae ex intrínseca ratione proprii
obiecti formalis debent explicare historiam salutis, quae est sem­
per in actu; quod idem est ac dicere, explicare Deum — et
alias res in ordine ad Deum — prout se manifestat in historia
salutis'1. Tudo foi aprovado por 2.170 contra 16 Padres e 3
votos nulos.
139 quesito, sôbre o n. 19, a formação pastoral dos futu­
ros sacerdotes. A nova redação insiste mais na formação espe­
cializada segundo os vários estados. Canoniza-se também a pa­
lavra “diálogo”. Sôbre 2.186 houve 2.180 placet e 6 non placet.
14? quesito, sôbre a nova conclusão geral. Fala-se aqui da
necessidade de formar os futuros sacerdotes “segundo o espí­
rito de renovação promovido por êste Concilio”. Aprovado por
2.166 contra 6 e 2 votos nulos.
15■ quesito, sôbre os nn. 1, 6, 7, 8, 14, 17, 18, 20, 21 e 22.
Apesar de alguns dêsses números terem sido bastante aumenta­
dos (como os nn. 6 e 8), as correções introduzidas não apre­
sentam notável importância. Tudo foi aprovado por 2.110 contra
13 e 2 votos nulos.
No dia 13-10-65, MS’ Congregação Geral, o conjunto do
texto foi aprovado por 2.196 contra 15 e 1 voto nulo. E assim
passou às mãos do Papa. Na Sessão Pública de 28-10-1965 o
documento recebeu a aprovação de 2.318 contra 3 Padres Con­
ciliares e o Papa Paulo VI o promulgou.
A Declaração sôbre a Educação Cristã

D e b a t id o e votado no
ano passado (cf. vol. IV, pp. 370-383), êste documento, um dos
mais pobres do Concilio, foi depois revisto pela Comissão “De
Seminariis, De Studiis et De Educatione Catholica” (com Mons.
Dino Staffa). O nôvo texto, muito ampliado, foi entregue aos
Padres Conciliares apenas no dia 6-10-1965, para ser votado nos
dias 13 e 14 de outubro (148» e 149» Congregação Geral). A
finalidade principal do documento é oferecer uma base para os
trabalhos de uma especial comissão pós-conciliar e das Confe­
rências Episcopais, como é dito na parte final do proêmio. Trata
principalmente das Escolas Católicas (que era, aliás, seu título
primitivo), mas foi ampliado para uma perspectiva capaz de en­
globar tôda a educação cristã. Precisam-se os direitos e os de­
veres dos pais, da sociedade civil e da Igreja. Admoesta-se con­
tra o perigo do monopólio estatal em matéria de educação, ainda
que se reconheça a função do Estado, grande ou pequena, se­
gundo as condições sociais, econômicas e culturais de cada na­
ção. Lembra-se que a educação tem um fim humano e sagrado,
é um ministério para a comunidade cristã e uma colaboração
à obra do Espírito Santo. Mas por causa das diferentes situações
em várias partes do mundo o texto ficou em plano mais gené­
rico e remete a outros documentos conciliares que também abor­
dam questões de educação cristã. As Conferências Episcopais
terão que fazer as aplicações oportunas, segundo as condições
de cada região. A Comissão, autora do texto, propôs aos Padres
Conciliares 14 quesitos:
1 * quesito: Se agradam as emendas introduzidas no proê-
mio. Não há aqui nada de especial a anotar. Sôbre 2.202 vo­
tantes houve 2.117 placet e 85 non placet. Os “non placet ,
constantemente bastante altos, vieram de Padres descontentes com
o texto em geral.
Concilio - V — 25
378 II. Crônica das Emendas e Votações
2 o quesito, sôbre o n. 1, do direito universal à educação.
O nôvo texto se demora também na noção de educação. Foi
aprovado por 2.098 contra 96 Padres.
3 p quesito , sôbre o n. 2, que trata da educação cristã em
geral e indica sumàriamente seu conteúdo. Aprovado por 2.105
contra 76 Padres.
4* quesito, sôbre o n. 3, os responsáveis pela educação. In-
siste-se muito no dever dos pais. Define-se também a compe­
tência do Estado e da Igreja. Aprovado por 2.007 contra 111 e
2 votos nulos.
5- quesito , sôbre os meios de educação. Função da cate­
quese e seus instrumentos. 2.020 contra 85 (3 nulos).
6Ç quesito . sôbre a importância da escola em geral e sua
função social. Grandeza da vocação dos educadores, 2.000 Pa­
dres, contra 83 e 5 votos nulos, aprovaram o texto.
7Ç quesito , sôbre os direitos e deveres dos pais, que o Es­
tado deve proteger e garantir. Condena-se o monopólio escolar
estatal. Aprovado por 1.961 contra 99 e 3 votos nulos.
8■ quesito , sôbre a educação moral e religiosa em tôdas
as escolas. A Igreja tem o dever de velar pela educação mo­
ral e religiosa de seus filhos. Os pais devem exigir que seus
filhos tenham os meios para desenvolver sua formação religiosa
e profana. A nova redação prevê a situação de um pluralismo
religioso. Foi aprovado por 1.956 contra 79 e 5 votos nulos.
9o quesito , sôbre as escolas católicas em especial. Define-se
a escola católica. Declara-se que a Igreja tem direito de ter
suas escolas. Longa alínea é dedicada aos professores católi­
cos. O texto foi aprovado por 1.977 contra 102 votos e 3 nulos.
109 quesito , sôbre os vários tipos de escolas católicas. Foi
aprovado por 2.068 contra 116 e 3 votos nulos.
119 quesito , sôbre as Faculdades e Universidades Católicas.
Determina-se que as Universidades Católicas que não têm Fa­
culdade Teológica, tenham ao menos um Instituto ou uma Cá­
tedra de Teologia para os leigos. Neste parágrafo é outra vez
mencionado Santo Tomás (na redação anterior não). Revela o
Relator que a Comissão recebera entrementes o voto de 623 Pa­
dres Conciliares pedindo que o texto fôsse emendado de tal ma­
neira ut doctrina S. Thomae saltem in suis principiis, nedum
;n S. Theologia sed et in Philosophia tradenda omnibus scholis
A Declaração sôbre a Educação Cristã 379-
catholicis sancte servaretur”. Mons. Dino Staffa e o Mestre Ge
ral dos Dominicanos conseguiram êste grande número de votos
entregues alias muito depois do prazo regulamentar. Muito se
discutiu na Comissão por causa disso. Mas o nôvo e o mais re­
cente texto conciliar sôbre Santo Tomás já superou a determi­
nação que se encontra ainda no n. 16 do Decreto sôbre os Se­
minários: Ecclesiae Doctorum, praesertim S. Thomae Aquinatis
vestigia premendo”, é a mais recente fórmula. Aqui, portanto,
não só entrou o praesertim, mas se reconhece até a existência
e o valor de outros Doutôres da Igreja. Já vimos que no De­
creto sôbre os Seminários a mens Concilii era exatamente esta
mesma; mas ainda não havia liberdade e sinceridade suficientes
para dizê-lo com clareza. Agora, neste documento, a expressão
da mens é clara. O texto foi aprovado por 2.043 contra 132
e 5 votos nulos.
129 quesito, sôbre as Faculdades de Ciências Sagradas. Apro­
vado por 2.095 contra 87 e 2 votos nulos.
13ç quesito, sôbre a necessidade de coordenação de esfor­
ços no plano internacional e nacional. Aprovado por 2.079 con­
tra 100 e 2 votos nulos.
149 quesito, sôbre o conjunto do documento: 1.912 placet,
183 non placet e 1 voto nulo. Foi, pois, o texto definitivamente
aprovado pela Congregação Geral e entregue ao Sumo Pontífice.
Na Sessão Pública do dia 28-10-1965 foi mais uma vez
aprovado por 2.290 contra 35 votos e promulgado por Paulo VI.
A Declaração sôbre as Relações da Igreja com as Religiões
não-Cristãs

O SR. CARDEAL BEA PODE-


ria escrever longo e dramático romance, quisesse contar tôda
a história que culminou com a presente Declaração conciliar
(cf. vol. IV, pp. 78-92). Substancialmente o texto já foi apro­
vado no ano passado, com 1.651 placet, 242 placet iuxta mo­
dum, 99 non placet e 4 votos nulos. Os Modos foram estuda­
dos pelo Secretariado e discutidos nas sessões plenárias de 18
de fevereiro a 5 de março, de 9 a 15 de maio e de 15-16 de
setembro do corrente ano. Assim o texto sofreu algumas modi­
ficações, adições, transposições e omissões. Reimpresso, com as
respostas aos Modos, o texto emendado foi entregue aos Padres
Conciliares no dia 30-9-1965, 139* Congregação Geral, para ser
votado nos dias 14 e 15 de outubro (149* e 150* Congrega­
ção Geral), devendo os votantes responder a 9 quesitos propos­
tos pelo Secretariado para a União dos Cristãos.
Nestes mesmos dias, porém, continuou, fora da Aula Conciliar, o
trabalho da oposição. Os Padres receberam vários libelos, entre os quais:
El Problema dei judaísmo ante el Concilio Vaticano II, de Dom Luigi
Maria Carli, Bispo de Segni, na Itália; II Problema dei Giudei in Con­
cilio de Leon de Poncins; La dichiarazione in favore degli ebrei favorisce
un razzismo che lede il diritto di legittima difesa degli altri popoli, de
Dr. Edoardo di Zaga (cito os textos na língua em que os recebi, pois
foram impressos em várias línguas, tôdas em Roma, agora para a IV
Sessão). No dia 13-10-65, véspera dos primeiros sufrágios conciliares
sôbre a Declaração, os Padres receberam pelo correio, despachado de
Roma, o libelo mais característico, que resume o conteúdo dos demais.
O meu veio em espanhol, com o seguinte título: “Ningún Concilio ni
ningún Papa pueden condenar a Jesuscristo ni a la Iglesia Católica ni
a sus Papas y Concílios más ilustres. La Declaración sobre los judios
Heva implícita tal condenación y debe, por lo mismo, ser desechada •
No texto leio: “E' evidente que sòmente um antipapa ou um conciliábulo
poderíam aprovar uma Declaração dêste tipo. E isto o pensamos cada
A Declaração sôbre as Relações da Icreia mm aE do1- •-
greja com as Religiões não-Cristãs 381
dia um maior número de católicos em todo n m,m^
postos a agir na forma que fôr necessária Dar™ "í ’ qUe ,estamos dis'
ignomínia. Fazemos um apêlo aos Padres Conciliares que S " s í do'
braram a pressão judaica ou que não se venderam simoniacamente aõ
ouro judeu para que impeçam a tácita condenação de tantos Papas
Concílios, Padres e Santos ilustres, rejeitando a pérfida Declaração Pení
favor dos judeus... Tomem nota os Padres Conciliares de que nem o
Papa nem os Concílios tem faculdades para privar a Igreja nem os
demais povos do direito natural de legítima defesa”. O libelo é assinado
por 28 organizações que se dizem “tradicionalistas”, entre as quais te­
mos do Brasil o “Catolicismo” (que depois desmentiu sua subscrição)
e de Portugal o “Agora” e a Ação Católica Portuguesa, secções de
Lisboa, Évora e Coimbra...
Antes de começarem os sufrágios, no dia 14-10-1965, o Car­
deal Bea, como das outras vêzes, apresentou o texto e leu a
Relação oficial. Por sua importância, reproduzo aqui o texto
integral desta Relação:
Veneráveis Padres: Permiti-me formular algumas observações antes
da votação sôbre a Declaração intitulada “As relações da igreja com
as religiões não-cristãs”. O Secretariado para a União dos Cristãos fi­
cou agradecido pelas emendas propostas, e cuidadosa e lealmente as
estudou. Mas, como quase sempre sucede, achou que só algumas de­
viam ser aceitas. Para isto, em nenhum outro critério se inspirou a
não ser neste: na medida do possível, tornar o esquema mais claro e
mais preciso, de forma tal que fôsse fielmente mantida a substância do
texto que por larga maioria aprovastes o ano passado.
Parece que, nos três primeiros capítulos, a intenção da declaração
está agora mais claramente expressa. Não se propõe ela oferecer uma
exposição completa das religiões nem das divergências que entre elas
existem e com a religião católica. Mediante essa declaração, quer o
Concilio, mais propriamente, fazer ressaltar que o vínculo entre os ho­
mens e as religiões é o fundamento do diálogo e da cooperação. Assim,
o acento é pôsto sôbre aquilo que une os homens e os conduz a con­
fraternizar-se. Nesse trabalho, naturalmente procedeu-se com prudên­
cia, mas também com fidelidade e amor. As emendas e as observações
que propusestes muito nos ajudaram a fazer com que esta declaração
correspondesse melhor ao seu fim: o diálogo fraterno com as grandes
religiões não-cristãs, diálogo que a Igreja Católica pela primeira vez
propõe.
O capítulo IV foi o que mais atenção reclamou, por causa da im­
portância do assunto nêle tratado, e por causa das observações nume­
rosas e diversas que nos foram propostas. O Secretariado adotou o mé­
todo seguinte: além de um exame aprofundado das emendas propos­
tas no decorrer de uma longa discussão, achamos que numerosas via
gens deviam ser empreendidas para tomar contacto com os mem
das hierarquias católicas e não-católicas dos diferentes Paks0b ^ Todos
rosas dificuldades foram suscitadas pelo esquema o ano pass< i
382 II. Crônica das Emendas e Votações

os esforços eram destinados: 1’ a, na medida do possível, evitar inter­


pretações inexatas da doutrina católica exposta no esquema; 2’ a mos­
trar bem claramente o caráter exclusivamente religioso do esquema, de
maneira a cortar rente com tôda interpretação política.
1. No que concerne a êste último ponto, o Secretariado pensou que
os motivos da reprovação das perseguições contra os Judeus deviam
ser claramente enunciados pela inserção desta frase: “A Igreja, não por
motivos políticos, senão impelida pela caridade evangélica, deplora...”
E, ao mesmo tempo, cumpria acrescentar a isso a reprovação de tôda
perseguição dirigida contra quem quer que fôsse: “A Igreja, que re­
jeita tôda perseguição contra quem quer que seja, cônscia do patri­
mônio que ela tem em comum com os Judeus, movida não por motivos
espirituais, mas sim pela caridade evangélica, deplora os ódios, as per­
seguições, tôdas as manifestações de anti-semitismo de todos os tem­
pos”. Lícito é esperar que, assim, além das declarações reiteradas sô­
bre êste assunto, qualquer interpretação política dessa declaração seja,
enfim, definitivamente afastada, venha de que lado vier, ou que pelo
menos a falsidade dela possa ser demonstrada.
2. No que concerne à clareza teológica, lícito nos seja mencionar­
mos explicitamente um ponto do esquema — o mais delicado — que
concerne à responsabilidade dos Judeus na paixão de Cristo. Para ex­
plicar isso claramente, quero primeiro dar-vos leitura do nôvo texto
proposto pelo Secretariado: “Conquanto as autoridades judias e aquê­
les que as seguiam hajam pedido a morte de Cristo (cf. Jo 19,6), a res­
ponsabilidade da Paixão de Cristo não pode ser atribuída, sem distin­
ção, a todos os Judeus que então viviam, nem aos Judeus de hoje.
A Igreja é, por certo, o nôvo povo de Deus, mas os Judeus não de­
vem ser apresentados como reprovados por Deus ou amaldiçoados, como
se isto decorresse da Sagrada Escritura”.
Dêsse texto ressalta claramente:
lç Que o esquema salvaguarda e apresenta plenamente a verdade
evangélica.
29 Ao mesmo tempo, exclui as afirmações e as acusações injustas
formuladas indistintamente contra todos os Judeus que viviam no tem­
po do Senhor, e contra os Judeus do nosso tempo, a saber: que todos
êles são culpados da condenação do Senhor e, por causa disto, estão
reprovados por Deus e amaldiçoados.
3° O Concilio exorta todos a se conformarem com a verdade evan­
gélica e com o espírito de Cristo, na catequese ou na pregação.
Se se comparar êste texto agora com o que o ano passado apro-
vastes, verifica-se que o Secretariado propõe seja obliterada a expres­
são réus de deicídio” (deicidii rei). Por que então? Sabidas são as difi­
culdades e as controvérsias que foram especialmente suscitadas pelo em­
prego desta palavra. Foi dito, por exemplo, que o esquema estava em
contradição com o Evangelho. De outra parte, quem quer que ler o
texto que acabamos de explicar vê claramente que a substância daquilo
que por essa palavra queríamos exprimir no texto anterior acha-se
exata e completamente expressado no nôvo texto. Bem sei que alguns
a n uem a essa expressão grande importância psicológica. Respondo
A Declaração sôbre as Relações da Igreja com as Religiões nio-Cristãs
383
todavia: se a palavra é mal compreendida em várias ret7Í-,« »
node exprimir o mesmo conceito nnr m.frac ~ r, as reg eb’ e se se
adaptadas, acaso a prudência pastoral e
r * • * rx
g,osa evangel.ca que levou joao XXIII a mandarspreparar
melh0r
dam utilizarmos essa palavra, e não exigem aue dicramnt na° n°S VC’
t aestabdeclã-
raçao, e que, o ano passado, vos inspirou a aprová-la. Pensa o nosso
,%
Secretariado ser de grande importância esta modificação para que a
declaração possa ser em tôda parte bem compreendida e aceita apesar
das dificuldades de tôda sorte. E’ por isto que instantemente vos rogo
vos dignardes de considerar esta modificação à luz da prudência pastoral
e da caridade evangélica.
Nossa declaração propõe-se cooperar com a missão a que se con­
sagra o próprio Sumo Pontífice em suas encíclicas, alocuções e atos.
E* a missão a propósito da qual está escrito: “Bem-aventurados os pa­
cíficos, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). E’ a missão à
qual tendia tôda a obra do Príncipe da Paz, êle que pela cruz fêz dos
Judeus e dos Gentios um só e nôvo homem em si mesmo, na paz, tor­
nando-se assim a nossa paz (cf. Ef 2,14-16).
Seguindo fielmente a obra daquele que é a sua cabeça e seu es­
poso, a Igreja preocupa-se hoje mais atentamente com saber como pode
favorecer e fazer crescer a unidade e a concórdia entre os homens e as
nações. Pela intercessão da SS. Virgem e de todos os santos patronos
dêste Concilio, faça Deus que, por vosso trabalho e por vossos anseios,
seja esta declaração um instrumento eficaz da missão dêle.
Começaram então as votações, com os seguintes quesitos:
J9 quesito: Se agrada aos Padres a modificação feita no
proêmio, no qual se exprime agora mais claramente a finalidade
do documento e a razão por que “ea imprimis hic considerat
quae hominibus sunt communia et ad mutuum consortium ducunt’ .
Sôbre 2.185 votantes presentes, 2.071 responderam placet, 110
non placet e 4 deram votos nulos.
2 9 quesito , sôbre o n. 2, que fala das diversas religiões
não-cristãs, com referência especial ao Hinduísmo e ao Budis­
mo. A descrição destas duas formas religiosas é agora mais
exata. Também a alínea sôbre a missão da Igreja é mais pre­
cisa: em Cristo os homens “encontram a plenitude da vida re­
ligiosa”; e a Igreja anuncia “e deve anunciar” sem cessar a
Cristo. 1.953 contra 184 Padres (e 6 votos nulos) aprovaram
o texto.
3 9 quesito , sôbre o n. 3, dedicado à religião islâmica (e na
já aos “muçulmanos”; pois a palavra “Islam” designa a r
gião e “muçulmanos” seus adeptos). Suprimiu-se uma r dêJes
à moral familiar e social dos muçulmanos, por ser a
384 II. Crônica das Emendas e Votações
muito diferente da nossa. O texto emendado foi aprovado por
1.910 contra 189 votos e 6 nulos.
4 ? quesito, sôbre as seis primeiras alíneas do n. 4, que fala
da religião judaica (e não mais simplesmente “de Iudaeis”). A
principal correção nesta parte está na terceira alínea, na qual
agora se diz que “Jerusalém não conheceu o tempo de sua vi­
sitação" e que muitos judeus não só não aceitaram o Evangelho
mas se opuseram à sua difusão. Segundo as explicações dadas
aos Modos nn. 56, 68 e 71, a intenção aqui é declarar que Is­
rael já não é o sacramento de salvação para o mundo (cf. res­
posta ao Modo 56), que o povo judeu, após a rejeição de Jesus
por parte de Jerusalém e da Sinagoga, “non amplius esse Eccle-
siani Dei sicut fuit antea” (resposta ao Modo 68, na qual se
diz ainda que esta idéia deve ser expressa abertamente, “mas
no espírito da presente Declaração”). O “espírito da presente
Declaração” exige que só se acentuem os elementos comuns en­
tre a Igreja e os judeus (cf. n. 1 e sobretudo a resposta aos
Modos n. 56 e 57). — Tudo foi aprovado por 1.937 contra 153
Padres e 9 votos nulos.
5-' quesito, o mais delicado, sôbre a parte do n. 4 que fala
da responsabilidade dos judeus na morte de Cristo. A nova re­
dação, agora, diz assim: “Ainda que os chefes dos judeus te­
nham insistido para que Cristo fôsse condenado à morte (Jo
19,6), contudo o que aconteceu na morte do Senhor não pode
ser indistintamente imputado a todos os judeus que viviam na­
quela época e nem aos judeus de hoje. E ainda que a Igreja
seja o nôvo povo de Deus, os judeus não devem ser apresenta­
dos como sendo reprovados por Deus, nem como malditos, como
se isso resultasse das Sagradas Escrituras”. Na Relação o Car­
deal Bea fêz questão de ler o passo citado, acrescentando-lhe
o seguinte comentário: “Dêste texto se deduz fàcilmente: 1? o
esquema salvaguarda plenamente e expõe a verdade evangélica;
2" ao mesmo tempo exclui afirmações injustas e acusações fei­
tas indistintamente contra todos os judeus que viviam no tem­
po do Senhor, e contra os judeus de nosso tempo, a saber, que
êles seriam todos culpados na condenação do Senhor e por isso
dignos de reprovação e maldição; 39 o Concilio exorta a todos
para que a catequese e a pregação a respeito correspondam à
verdade evangélica e ao espírito de Cristo”. Na nova redação
desapareceu a palavra “deicidio”. Comenta o Cardeal Bea na
mesma Relação: “Sei que muitos atribuem a esta palavra gran-
A Declaração sôbr, ,a Relações da lg,e)a com as Religlõe, is.Is 385
de importância psicológica. Mas a caridade pasloral exigia a su­
pressão de uma palavra que não pode ser corretamente enten-
d,da por todos . Neste 5< quesito pediu-se a opinião dos Pa­
dres apenas para a primeira parte da proposição acima citada,
a saber: Etsi auctoritates ludaeorum cum suis asseclis mor-
tem Christi urserunt, tamen ea quae in passione Eius perpetrata
sunt nec omnibus indistinctim Iudaeis tunc viventibus, nec Iu-
daeis hodiernis imputari possunt”. — Sôbre 2.072 votantes hou­
ve 1.875 placet, 188 non placet e 9 votos nulos.
6 9 quesito, que continua a mesma idéia, com a seguinte
formulação: “Licet autem Ecclesia sit novus populus Dei, Iu-
daei tamen neque ut a Deo reprobati neque ut maledicti exhi-
beantur, quasi hoc ex Sacris Litteris sequatur”. 1.821 contra
245 e 14 votos nulos aprovaram o texto.
7Ç quesito, sôbre a parte final dêste n. 4, na qual se con­
denam tôdas as perseguições em geral e as manifestações anti-
semíticas em particular; mas o nôvo texto explica que a Igreja
o faz “levada não por motivos políticos e sim por uma religiosa
caridade”, lamentando “os ódios, as perseguições, as manifes­
tações de anti-semitismo dirigidas contra os judeus, quaisquer
que sejam as épocas e quais que sejam os autores”. Também
isso foi aprovado por 1.905 contra 199 e 14 votos nulos.
Percebe-se que o assunto tratado neste n. 4 é delicadíssimo, também
do ponto de vista doutrinário ou teológico. Por isso nas respostas ofi­
ciais aos Modos encontramos preciosos esclarecimentos. Assim na res­
posta ao Modo n. 80 (que pedia a omissão pura e simples de todo o
parágrafo, por apresentar uma doutrina perigosa e contrária ao Evan­
gelho) a Relação esclarece: Os argumentos com os quais se pretende
provar a culpa do deicídio e da reprovação dos judeus não têm valor.
E’ verdade que a Sinagoga se excluiu das bênçãos messiânicas trazidas
por Cristo; mas isto não porque os chefes dos judeus entregaram Jesus
à morte e sim porque não quiseram crer em Jesus anunciado pelos
Apóstolos. Na 1 Tess 2,15 São Paulo não fala do povo judeu como
tal, mas das autoridades em Jerusalém e na Judéia, que perseguiram
a Jesus e seus seguidores e nas quais êle vê os herdeiros daqueles que
antigamente mataram os profetas (cf. Mt 23,30-32; At 7,51-52). As pala-
vras de Cristo em Jo 15,24 se referem ao pecado daqueles que, chefes
ou turbas, tinham a intenção de matá-1’0 . E’ a êstes que -ão Joao
chama muitas vêzes de “judeus”. Mas nem no quarto Evange o nem
qualquer outro lugar do Nôvo Testamento o pecado daqueles que^ ma­
taram a Cristo é apresentado como pecado de deicídio. Se^un^ ° * ‘
tores sacros os inimigos de Cristo, por maior que tenha 2 3 27;
uão tinham a consciência de matar 0 Santo de Israel (c . -» ' x du-
I Cor 2 ,8 ), ainda que isto se possa atribuir à cegueira deles
386 II. Crônica das Emendas e Votações
reza de seus corações. Na parábola da vinha (Mt 21,33-45) Cristo amea­
çou as autoridades do povo, não o próprio povo; o que foi também
assim entendido pelos ouvintes: “Ouvindo-lhe os príncipes dos sacerdo­
tes e os fariseus as parábolas, entenderam que Êle falava dêles"
(Mt 21,45).
8* quesito, sôbre as correções introduzidas no n. 5, contra
as discriminações por motivos de religião, raça ou côr. Diz
agora o texto que a Igreja reprova tais discriminações “tam-
quam a Christi mente aliena”. 2.064 contra 58 (e 6 votos nulos)
aprovaram o texto.
99 quesito: Se de modo geral agrada a ponderação feita
pelo Secretariado para a União dos Cristãos acêrca dos Mo­
dos apresentados. Sôbre 2.108 votantes houve 1.856 placet, 243
non placet e 9 votos nulos.
E quando, no fim, por ordem dos Moderadores, se fêz mais
uma votação de conjunto sôbre todo o esquema, a resposta foi:
1.763 placet, 250 non placet e 10 votos nulos. E assim o texto,
aprovado pela Congregação Geral no dia 15-10-65, foi levado
ao Papa Paulo VI que, no dia 18-10 decidiu promulgá-lo na
Sessão Pública do dia 28 de outubro. Nesta ocasião, sôbre
2.312 votantes, recebeu 2.221 votos favoráveis, 88 contrários e
3 votos nulos. E o Papa Paulo VI promulgou solenemente a De­
claração Conciliar. No discurso que naquele dia pronunciou dian­
te dos Padres Conciliares, o Papa recordou também “especial­
mente os judeus, não mais objeto de reprovação e de descon­
fiança, mas de respeito, amor e esperança”.
A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa

N ovam ente d i s c u t i d o ,
como se viu acima (pp. 11 ss), nos dias 15 a 22 de setembro, o
texto recebeu na votação de sondagem (21-9-65) 1.997 votos
favoráveis e 224 votos contrários. O Secretariado responsável
pela elaboração do documento trabalhou um mês na emenda do
texto e no dia 22-10-65 entregou aos Padres Conciliares um
fascículo de 85 páginas contendo a redação emendada e uma
minuciosíssima relação sôbre as propostas e sugestões feitas oral­
mente ou por escrito pelos Padres. Sôbre o texto re-re-re-emen-
dado o Secretariado pediu 11 sufrágios, oferecendo aos Padres
4 oportunidades para dar o voto modificativo. A votação seria
nos dias 26 e 27 de outubro (153* e 154* Congregação Geral).
Já no dia 25 de outubro, muitos Padres Conciliares receberam me­
diante portadores ao domicílio um volumoso envelope contendo material
contrário ao esquema conciliar, preparado pelo “Coetus Internationalis
Patrum”, do qual é secretário geral o Arcebispo de Diamantina Dom
Geraldo de Proença Sigaud, acolitado por Dom Luigi Carli, Bispo de
Segni (Itália) e por Dom Marcei Lefebvre, Arceb. titular e Superior
Geral da Congregação do Espírito Santo. O material é apresentado por
uma carta anônima, na qual se declara que os Padres que o enviam o
fazem “nomine aliorum plurimorum” e por um dever de consciência. A
nova redação sôbre a liberdade religiosa lhes causou grande temor e
desilusão. Desilusão, porque as promessas feitas pelo Relator (Dom E.
De Smedt) foram vãs e ociosas e porque o sentido e a intenção da
votação de sondagem não foram observados pelo Secretariado. Temor,
porque o texto leva ao indiferentismo, ao irenismo e ao laicismo, e
contrário à doutrina do Magistério Eclesiástico e à filosofia católica,
sobretudo de Santo Tomás e levantaria na Igreja uma onda de deso­
bediência e insubordinação que tornaria impossível a educação ca ok J
seja nos Colégios, seja sobretudo nos Seminários. Por tudo nL
mendam votar sempre non placet, “ad integrum textum e a
eius partes”. Ao mesmo tempo, porém, oferecem aos4^ a^ UR‘ ; n0-
de votos modificativos e dois libelos, um intitulado oc 1 " . ratl0njs
rum Pontificum collata cum doctrina contenta in sc lema
388 II. Crônica das Emendas e Votações
de Libertate Religiosa” e o outro “Textus circa libertatem religiosam in
historia salutis qui omissi sunt in textu reemendato schematis Declara-
tionis de Libertate Religiosa”.
Na manhã seguinte, dia 26-10-65, Dom E. De Smedt, an­
tes do início das votações, leu seu sexto relatório sôbre a liber­
dade religiosa. Explicou o sentido e a razão das principais mo­
dificações feitas e declarou que o Secretariado considerou aten-
tamente as observações que os Padres Conciliares fizeram oral­
mente ou por escrito. Deixou de lado aspectos ainda não bem
amadurecidos. Distinguiu a doutrina da liberdade religiosa das
questões que lhe são conexas e fundamentou-a em princípios na­
turais e revelados certos. E continuou: Se esta doutrina fôr pro­
mulgada pelo Concilio abrir-se-ão caminhos novos para a prá­
tica livre da religião. Onde houver liberdade religiosa haverá
também realização dêste desejo expresso na Declaração sôbre
as relações da Igreja com as religiões não-cristãs: “Desaparece
o fundamento de tôda e qualquer teoria ou prática que estabe­
leça discriminação entre os homens e as nações no que diz res­
peito à dignidade humana e aos direitos dela decorrentes”. Se
a liberdade religiosa, de direito e de fato, fôr levada à prática
— continuou o Relator — a Igreja Católica terá as condições
que lhe são devidas por vontade divina para melhor cumprir
sua missão. Se o Concilio proclamar públicamente esta Decla­
ração, o fato contribuirá muito para que o mundo inteiro repu­
die tôda espécie de violação da liberdade social e civil em ma­
téria religiosa. Com esta Declaração aumentará a confiança do
mundo moderno na sinceridade da Igreja. Com a aceitação da
liberdade religiosa o significado autêntico da missão da Igreja
ficará mais claro, segundo as palavras de Paulo VI na encíclica
Ecclesiam Suam: “Ainda que anunciemos a verdade certa e a
salvação necessária, não utilizamos nenhuma forma de coação
externa. Pelo contrário, empregamos o método legítimo da con­
vivência humana, da persuasão íntima e do diálogo. Oferece­
mos o dom da salvação e respeitamos a liberdade de todos”.
Terminada a leitura da Relação oficial, começaram as 11
votações, seis no dia 26-10 e cinco no dia 27-10-65:
votação, sôbre o n. 1, com o texto muito ampliado e
modificado. Já o subtítulo do esquema foi emendado: “Direito
da pessoa e da sociedade à liberdade social e civil em matéria
religiosa”. Trata-se, portanto, da liberdade que deve existir na
A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa 389
sociedade humana e civil, „as relações dos homens entre si
com os grupos socais e o poder civil. A liberdade ,e gio a
é reconhecida como um direito civil e uma das garantias ôão
s6 para a segurança e a vida dos homens, mas também parã
que nao sejam impedidos de seguir a religião com liberdade
responsável. Os cidadaos, ainda que protegidos por uma lei civil
sobre a liberdade religiosa, estão obrigados a usá-la de acôrdo
com a lei moral objetiva e quando são católicos segundo as
leis da Igreja. Além dessas idéias fundamentais que esclarecem
a noção da liberdade religiosa, neste n. 1 foram acrescentados
vários elementos que respondem a instantes pedidos feitos pelos
Padres: Declara-se que a única verdadeira Religião subsiste na
Igreja católica e apostólica (a palavra “subsiste” foi colhida da
Lumen Gentium n. 8); que os homens têm o grave dever de pro­
curar a verdade e de abraçá-la; que êste dever obriga a cons­
ciência humana (mas a verdade se impõe por fôrça da própria
verdade); que a doutrina da liberdade religiosa deixa intacta
a doutrina católica acêrca da única religião verdadeira, da úni­
ca Igreja de Cristo; e que os homens continuam moralmente
obrigados a procurar a verdade objetiva. — Sôbre 2.232 votan­
tes, 2.031 disseram placet, 193 non placet e 8 entregaram vo­
tos nulos. O número relativamente baixo de votos negativos foi
uma agradável surprêsa.
2 * votação , dos nn. 2 e 3. O n. 2 trata do objeto e do fun­
damento da Liberdade Religiosa. Também aqui o texto nôvo
cresceu 100%. A nova redação declara de maneira enunciativa,
e não mais demonstrativa, que a liberdade religiosa é um di­
reito verdadeiro, fundado na dignidade da pessoa humana. Uniu-
se a exposição da doutrina com sua justificação. Totalmente
nova é a segunda parte do n. 2: que a liberdade religiosa se
fundamenta não em disposições subjetivas (que objetivamente
poderíam não ser verdadeiras ou honestas) mas na própria na­
tureza da pessoa humana e que por isso mesmo o direito à
imunidade permanece também quando não se cumpre a obriga­
ção moral de procurar a verdade, desde que se respeite a or
dem pública legítima e não se lesem os direitos de outrem. O
n- 3 desenvolve mais amplamente o pensamento central do n.
com formulações notáveis sôbre a liberdade no próprio ato
investigação da verdade. — Tudo foi aprovado por 2.000
228 Padres e 6 votos nulos.
390 II. Crônica das Emendas e Votações
39 votação, dos nn. 4 e 5. O n. 4 fala da liberdade das co­
munidades religiosas. E’ pràticamente o n. 6 da redação ante­
rior, com apenas breves emendas. O texto é central e terá enor­
mes repercussões. Também o n. 5 (que na redação anterior era
o n. 7) recebeu poucas emendas. No fim aditou-se uma frase:
O poder civil que impuser aos jovens uma escola que não cor­
responda à convicção religiosa dos pais ou que impuser uma
escola única, da qual se exclui totalmente a formação religiosa,
viola o direito da família à liberdade religiosa. Condena-se, pois,
o princípio da escola neutra. Foi aprovado por 2.026 contra 206
votos e 4 nulos.
4? votação, dos nn. 6, 7 e 8. O n. 6 (que era o n. 5 da re­
dação anterior) recebeu emendas bastante importantes, sobretu­
do na alínea que, segundo a redação anterior, previa um pos­
sível Estado confessional. Agora tôda a passagem foi redigida
em forma hipotética. O n. 7, que fala dos limites da liberdade
religiosa, foi revisto e emendado com especiais cuidados. Mui­
tos Padres haviam pedido que se examinassem com prudência
os conceitos “ordem pública” e “paz pública”. Interpretando fal­
samente as noções de ordem ou de paz, alguns podêres públi­
cos poderíam oprimir os cidadãos em sua liberdade religiosa.
A nova redação procurou atender a estas observações. Alguns
Padres reclamaram contra o fato de o texto não fazer distinção
entre a norma moral e a norma jurídica quando se referia aos
limites da liberdade religiosa. Mas — explica a Relação —
estas normas não se opõem entre si. Todo homem deve obser­
var tôda lei moral na vida da sociedade (não tem o direito de
fazer o mal). Por outro lado, não pode ser coagido juridica­
mente pelo poder civil, a não ser que esteja violando gravemente
o bem público. O n. 8, como número especial, é nôvo, mas o
texto já se encontrava parcialmente na conclusão da redação
anterior. Fala da educação para o exercício da liberdade. E’
uma admoestação para que os homens ajam com maior res­
ponsabilidade no cumprimento de seus deveres na vida social.
Liberdade não exclui a devida submissão nem é contra a legí­
tima autoridade. — 2.034 contra 186 Padres aprovaram o tex­
to, havendo 3 votos nulos.
votação, sôbre os nn. 1-5, com a possibilidade do voto
modificativo: sôbre 2.161 votantes, houve 1.539 placet, 543 placet
iuxta modum, 65 non placet e 14 votos nulos. Como os votos
modificativos não alcançaram um têrço do númeto dos votan­
A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa
tes o texto deve ser considerado como aprovado pela Congre-
gaçao_ Geral nao podendo os Modos mudar substancialmente a
redaçao. Todos os Modos diretamente contrários à substância
do texto podem e devem ser rejeitados pela Comissão.
6 * votaçao, sobre os nn. 6-8, com a possibilidade do voto
modificativo. Resultado: 1.715 placet, 373 placet iuxta modum,
68 non placet e 5 votos nulos. O texto também está substancial-
mente aprovado.
7® votação, dos nn. 9 e 10: Os fundamentos da liberdade
religiosa na Revelação. Observou o Relator que o texto não
pretende mostrar que a noção e justificação da liberdade reli­
giosa se encontre explicitamente na Revelação. Afirma-se ape­
nas que os princípios gerais, nos quais em nossos dias se ba­
seia a doutrina (isto é: a dignidade da pessoa humana) são
admitidos e afirmados na S. Escritura. Dêste modo deve-se di­
zer que a doutrina sôbre a liberdade religiosa tem suas raízes
na Bíblia e na maneira de agir de Cristo e dos Apóstolos. 2.087
contra 146 Padres aprovaram também esta parte.
8 “ votação, dos nn. 11 e 12, que continuam na apresenta­
ção dos fundamentos bíblicos. O n. 11 foi bastante retocado.
Foi aqui que surgiu o maior número de “non placet”: 254, con­
tra 1.979 placet. Deve-se, porém, notar que muitos Padres in­
teiramente favoráveis à substância da presente Declaração, não
concordavam com a argumentação bíblica (cf. os discursos de
Frings e Elchinger) e por isso a esta altura devem ter dado
um voto negativo. Acredito que o maior número de votos dire­
tamente contrários à Declaração como tal foi alcançado por oca­
sião da 2í> votação: eram exatamente 228 Padres (na votação
de sondagem do dia 21-9-65 tinham sido 224).
9“ votação, dos nn. 13, 14 e 15, que são os três últimos pa­
rágrafos do documento. Não houve profundas modificações na
nova redação. Com relação ao n. 13, que trata da liberdade da
Igreja, explicou o Relator: Alguns Padres pediram que se dis-
tinguissem mais acuradamente os direitos que competem à Igre­
ja. Ela tem um direito natural e um direito divino. Enquanto
sociedade cujos membros vivem segundo os preceitos da fé, tem
a Igreja o direito divino de viver na sociedade e cumprir sua
missão. Enquanto composta de membros humanos que nao p -
riem ser coagidos pela autoridade civil, a Igreja tem um
natural. Não há oposição entre o natural e o divino. .
392 II. Crônica das Emendas e Votações
observados quando há liberdade social e civil em matéria re­
ligiosa. Também aqui 2.107 contra 127 Padres (e 5 votos nulos)
aprovaram o texto.
10 * votação, dos nn. 9-12, com o voto modificativo: 1.751
placet, 417 placet iuxta modum, 60 non placet e 8 votos nulos.
Textos substancialmente aprovados.
1 1 * votação, dos nn. 13-15, com o voto modificativo: 1.843
placet, 307 placet iuxta modum, 47 non placet e 5 votos nulos.
Aprovado.
Com um texto substancialmente aprovado pela Congrega­
ção Geral e 1.640 votos modificativos na pasta, tornou o Se­
cretariado do Cardeal Bea à sua sede para dar os últimos re­
toques ao mais retumbante documento do Vaticano II.
Três semanas depois os Padres Conciliares receberam o tex­
to definitivamente emendado segundo os Modos. Mais de 60
passagens foram corrigidas. A votação foi anunciada para o dia
19-11. A oposição (o “Coetus Internationalis”) comunicou no
dia 18-11, em carta aos Bispos por ela liderados, sua disposi­
ção de votar “non placet” a todos os quesitos. No dia seguinte,
164^ Congregação Geral, depois da Relação de Dom E. De
Smedt, os Padres se pronunciaram em 5 sufrágios:
í 9 sufrágio, dos nn. 1-5. No n. 1 foi introduzida uma mo­
dificação de grande efeito: reafirma-se a tradicional doutrina
católica sôbre a obrigação moral dos homens e das sociedades
para com a verdadeira religião e a única Igreja de Cristo. No
n. 3 ensina-se agora que cada um deve formar “recta et vera
conscientiae iudicia”. No fim do n. 4 se diz agora que o poder
civil deve reconhecer e favorecer a vida religiosa dos cidadãos,
mas que excede os limites quando presume impedir ou dirigir
os atos religiosos. No n. 4 foi acrescentada uma frase que con­
dena o proselitismo como abuso do direito próprio e dos outros.
No n. 5 afirma-se agora que os pais têm o direito de escolher
a escola para os filhos segundo as suas próprias convicções re­
ligiosas. — Esta parte do documento foi aprovada por 1.989
contra 246 votos e 7 votos nulos.
2 ^ sufrágio, dos nn. 6-8. O inciso no n. 6 sôbre um possí­
vel Estado confessional recebeu apenas uma correção sem im­
portância. Mas nos nn. 6 e 7 houve várias emendas no sentido
de precisar mais o conceito de “bonum commune”, para evitar
A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa
393

o perigo do laicismo Tudo foi aprovado por 1.957 contra 237


padres e 6 votos nulos.
& sufrágio, dos nn. 9-12. E’ a parte escriturística. Houve
pouquíssimas emendas e sem importância. 1.989 contra 217 Pa­
dres e 4 votos nulos aprovaram o texto.
4° sufrágio, dos nn. 13-15. Também nesta parte foram pou­
cas as correções. No n. 15 (conclusão) acrescentou-se o “sol-
lemniter agnosci”. Também foi aprovado por 2.033 contra 190
e 5 votos nulos.
5 9 sufrágio, sôbre o texto em seu conjunto e a ponderação
dada aos Modos: 1.954 placet, 249 non placet e 13 votos nulos.
E assim o texto, com um bom número de votos negativos,
mas aprovado pela absoluta maioria dos Padres Conciliares, foi
entregue ao Santo Padre para ser promulgado. Na Sessão Pú­
blica de 7-12-65 o documento foi aprovado por 2.30S contra
70 e 8 votos nulos; e o Papa Paulo VI o promulgou para a gló­
ria de Deus e a salvação dos homens.

Concilio - v — 26
O Decreto sôbre a Atividade Missionária

D e b a t id o n a a u l a c o n c i -
liar de 7 a 13 de outubro (cf. pp. 242 ss), o esquema foi desta vez,
na votação de sondagem, aprovado por 2.070 contra apenas 15
votos. Já um mês depois, no dia 19-11-65, o texto emendado foi
entregue aos Padres Conciliares para ser votado (também com
o voto modificativo para cada capítulo) nos dias 10 e 11 de
novembro. 193 Padres haviam dado, por escrito ou oralmente,
observações, sugestões e emendas que encheram 550 páginas.
Todo êste material foi estudado por 5 subcomissões, uma para
cada capítulo, e depois pela sessão plenária da Comissão das
Missões. O texto foi bastante emendado e saiu muito melhora­
do. A Comissão pediu ao plenário 20 sufrágios, dez no dia
10-11-65 (157íl Congregação Geral) e os outros no dia se­
guinte:
1 - sufrágio , dos nn. 1-4: Apenas no n. 4, que fala da mis­
são do Espírito Santo, houve modificações de certa importân­
cia: reconhece-se o valor dos carismas para as missões; e afir­
ma-se que a ação carismática excitada pelo Espírito Santo não
depende da iniciativa dos hierarcas. Êstes números foram apro­
vados por 2.183 contra 21 votos e 3 nulos.
2- sufrágio, dos nn. 5-6: No n. 5 nada de especial. No n. 6,
no qual se define a atividade missionária, há alguns elementos
novos de interêsse para nossa situação latino-americana. Como
se viu na crônica sôbre os debates, os titulares de nossos 130
Vicariatos, Prelazias e Prefeituras estavam interessados numa
definição mais precisa da atividade missionária, que incluísse
também as regiões difíceis e realmente “missionárias” da Amé­
rica Latina, para que também êles pudessem usufruir dos fa­
vores e privilégios oficialmente concedidos às “missões”. Mas
o texto de fato foi pouco modificado. A América Latina recebeu
0 Decreto sóbre , A ti.id ,* Mi,si„„á™
395
apenas as honras da nota 15, q„e certamente é favorável e
nodera ser o começo de uma nova iavoravel e
Ppobres
. JPrelazias
relazias nullius . Também o Relator, Pe. JoãodeSchuette
“nullius” To i > s'tuaçao jurídica nossas
S .V .D ., tentou consolar nossos Prelados: “Praesens concepus
niissionis tam amplus v.detur ut etiam certis Americae Latínae
regionibus applican valeat”. E declarou que, onde quer que haja
verdadeira atividade missionária, “ibi habetur et missio” Aliás
0 texto no n. 6 fala expressamente da Igreja que “quandoque
jn quodam semiplenitudinis et insufficientiae statu moratur”; e
nestas situações deve a Santa Sé “iudicare utrum hae condi­
ciones activitatem missionalem denuo requirant”. Chamando a
atenção ainda para outras passagens do presente Decreto, o Re­
lator, em nome da Comissão e exprimindo a mente dos reda­
tores, concluiu: “Sic multis modis porta aperta est etiam istis
Praelaturis ac Vicariatibus, ut intrent non solum in ambitum
conceptus ‘missionis’, sed etiam sub Sacra Congregatione de
Propaganda Fide, si forte S. Sedi placuerit”. No mesmo sentido
fala a Relação especial para o n. 6 (na p. 71): já que em mui­
tas regiões da América Latina falta a verdadeira fé cristã, falta
a pregação da fé, falta a hierarquia própria e falta a maturi­
dade da vida cristã (elementos que, segundo a Relação, entram
no conceito de “missão”), por isso se lhes pode aplicar o con­
ceito de “atividade missionária” tal como está agora no n. 6.
“Quia et inquantum haec elementa in illis regionibus desunt —
são palavras da Relação oficial — eae secundum rem sine dubio
in notione activitatis missionalis a schemate delineata includun-
tur”. Na votação o texto foi, pois, aprovado por 2.012 contra
117 votos e 6 nulos.
3? sufrágio, do n. 7, sôbre a necessidade das missões. Du­
rante 0 debate muitos Padres haviam pedido uma formulação
mais rigorosa e insistente dêste parágrafo. A nova redação apoiou-
se sobretudo no n. 16 da Lumen Gentium. Tudo foi agora apro­
vado por 2.106 contra apenas 5 Padres e 3 votos nulos.
4? sufrágio, dos nn. 8-9: O n. 8 recebeu uma nova alínea
sôbre as relações entre a atividade nussionaria e a açao ecumê­
nica. No n. 9 houve apenas pequenas correções; a nova reda­
ção lembra também a existência do imperium t ia 01 •
nário aprovou 0 texto por 2.083 contra 11 e 34 \otos nulos.
5p sufrágio, de todo o cap. h oscomModos
a possibilidade do voto
podiam ser entre-
Modificativo (foi comunicado que
26*
396 II. Crônica das Emendas e Votações
gues também no dia seguinte): sôbre 2.142 votantes houve 1.858
placet, 272 placet iuxta modum, 7 non placet e 5 votos nulos.
6 f sufrágio, dos nn. 10-12: Discutiu-se muito em tôrno do
título a ser dado ao art. 1 dêste cap. II. Entre “prae-evange-
lizatio”, “evangelizatio initialis”, “apostolatus indirectus”, “evan-
gelizatio praeparatoria” e “praeambula evangelizationis” a Co­
missão se decidira por êste último por causa da analogia com
as “praeambula fidei”. Mas também êste título não agradou
a muitos Padres, visto que poderia insinuar um estádio preli­
minar anterior à evangelização propriamente dita. Agora a Co­
missão propõe um título mais simples e sem compromissos: “De
Testimonio Cliristiano”. No n. 12 houve duas correções notáveis:
nova descrição da caridade (para que não apareça apenas como
uma técnica de conquista) e inserção de uma alínea sôbre as
escolas nas missões. Foi aprovado por 2.154 contra 7.
7* sufrágio, dos nn. 13-14. A redação anterior do n. 13
tinha sido criticada por ser excessivamente negativa, breve, fra­
ca, sem afirmar com vigor a obrigação de anunciar o Evangelho
e de levá-lo a todos os homens; também não indicava o objeto
da pregação; nem definia a natureza da conversão; e pouco di­
zia do método penitencial e de sua relação com o mistério pas­
cal. Tudo isso agora está mais claro no texto emendado, que
recorreu sobretudo a palavras da S. Escritura. “Tôda a fôrça
do texto está na própria virtude da palavra de Deus”, explica
a Relação. O n. 14 não apresenta novidade. Tudo foi aprovado
por 2.165 contra 9 e 1 nulo.
89 sufrágio, dos nn. 15-18. O n. 15 recebeu dois breves
acréscimos: um sôbre a colaboração ecumênica, não só entre pes­
soas, mas também entre as Igrejas e suas obras; outro sôbre o
apostolado dos leigos nas missões. Os nn. 16-18 não receberam
correções notáveis. Os Padres aprovaram tudo por 2.138 contra
37, com 7 votos nulos.
9- sufrágio, sôbre todo o cap. II, com o voto modificativo:
votantes: 2.116; placet: 1.982; placet iuxta modum: 118; non
placet: 13; votos nulos: 3.
IO? sufrágio, dos nn. 19-20. Na nova redação as Igrejas
particulares ou novas nas missões receberam um capítulo es­
pecial. O n. 20, bastante longo, sôbre a atividade missionária
das Igrejas particulares, é inteiramente nôvo. Foi aprovado por
2.160 contra apenas 4 votos e 2 nulos.
o Decreto sôbre a Atividade Missionária 397

0 tõs«oladom d„ms
apfôvado por Z I - T c o n Z ^ S ,"
12? sufrágio sôbre c. conjunto do cap. III, com o voto mo-
dificativo: Presentes: 2.209; placet: 2.066; placet iuxta modum:
131; non placet: 10; votos nulos: 2.
139 su frá g io dos nn. 23-26, que receberam poucas emen­
das. O n. 26, sôbre a formação doutrinária e apostólica dos
missionários, foi o mais corrigido. Também aqui se insiste na
formação mais bíblica (“praeprimis ex Sacris Scripturis”) e
cristocêntrica (“perscrutantes Mysterium Christi”). Os quatro pa­
rágrafos foram aprovados por 2.138 contra 18 votos, com 9 vo­
tos nulos.
149 sufrágio, do n. 27, sôbre os Institutos Missionários, que
se dedicam em comunidade à obra missionária. Diz a Relação
que êste parágrafo foi objeto de muitas intervenções contraditó­
rias; mas, ponderadas as razões pró e contra, a Comissão deci­
diu conservar o texto e submetê-lo ao sufrágio do plenário. Foi
fàcilmente aprovado por 2.117 contra apenas 4 e 30 votos nulos.
159 sufrágio, de todo o cap. IV, com o voto modificativo:
Presentes: 2.138; placet: 1.816; placet iuxta modum: 309; non
placet: 11; votos nulos: 2.
16* sufrágio, dos nn. 28-29. O n. 29 recebeu uma alinea
nova sôbre a ação ecumênica nas missões. O inciso sôbre o Di­
castério missionário em Roma, objeto de muitas discussões den­
tro e sobretudo fora da Aula Conciliar, recebeu nova formulação,
mas ainda bastante indeterminada: não se precisa se os Mem­
bros terão voz deliberativa, se são indicados pelas Conferências
Episcopais e para quanto tempo. Os dois parágrafos foram apro­
vados por 2.064 contra 53 votos, com 14 votos nulos.
17* sufrágio, dos nn. 30-31. No n. 30 se afirma agora que
também os Religiosos isentos estão sob o poder (“potestati sub-
sunt”) do Ordinário local, nas várias obras relacionadas com
0 exercício do apostolado. Tudo foi aprova o por . con r
16 e 4 votos nulos.
/5 p sufráeio dos nn. 32-34. 120 Padres, entre os quais 7
CardeL p u s e r a m que se convidassem »
sacerdotes e bens materiais a aceitarem erri
308 II. Crônica das Emendas e Votações
sionárias como o fazem os Institutos religiosos. Mas a Comissão
não aceitou a sugestão para não recomendar o que ainda não
tem a seu favor o testemunho da experiência. Na última alínea
do n. 32 houve importante modificação: segundo a redação
anterior as normas que devem regular as relações entre os Or­
dinários locais e os Institutos missionários deveriam ser elabo­
radas de comum acôrdo pelas Conferências Episcopais e os
Institutos interessados, mas com a aprovação da Santa Sé. Na
nova redação foi omitida esta última cláusula. A Relação es­
clarece que assim se procedeu para salvar a autonomia das
Conferências Episcopais e o princípio da subsidiariedade. Êste
modo de argumentar é nôvo na Igreja e um sinal do espírito
do Vaticano II. Também aqui a aprovação foi de 2.101 contra
37 e 4 votos nulos.
19? sufrágio, de todo o capítulo V, com o voto modificati­
vo: 1.428 placet, 712 placet iuxta modum, 9 non placet e 4 vo­
tos nulos. Portanto o cap. V foi aprovado apenas “iuxta mo­
dum” (pois mais de um têrço sôbre o total dos 2.153 votantes
deram o “placet iuxta modum”) e terá que ser substancialmen­
te corrigido no n. 29, na alínea que fala do Dicastério missio­
nário em Roma.
20? sufrágio, de todo o capítulo VI (nn. 35-42), que teve
poucas emendas. O n. 42 (conclusão) recebeu nova redação.
Êste sufrágio admitiu também o voto modificativo e deu o se­
guinte resultado: presentes: 2.171; placet: 2.006; placet iuxta
modum: 158; non placet: 6; voto nulo: 1.
Com 1.750 votos modificativos voltou o texto à Comissão
a fim de ser definitivamente emendado.
Quinze dias depois a Comissão entregou aos Padres o tex­
to emendado segundo os Modos, num fascículo de 96 páginas,
para ser votado no dia 30-11-65, 165’ Congregação Geral. A
Comissão submeteu as correções feitas ao julgamento dos Pa­
dres mediante dez quesitos:
1 " quesito: Agrada a modificação introduzida no n. 6, sô­
bre o conceito de atividade missionária? A pedido de muitos
Padres da América Latina a passagem foi mais uma vez re­
tocada. Também a ordem lógica de todo o número foi modifi­
cada. O inciso sôbre o ecumenismo passou do n. 8 para o n. 6.
A resposta do plenário: 2.209 placet e 20 non placet. De ma-
0 Decreto sôbre
a Atividade Missionária 399

39 Quesiio, sôbre as emendas feitas no cap. II. Houve nume-


rosas correções, mas sem importância. 2.133 placet, 24 non
placet e 3 votos nulos.
4 9 quesito, sôbre as correções, tôdas insignificantes, do cap.
III: 2.142 placet, 16 non placet e 3 votos nulos.
5 9 quesito, sôbre 0 texto corrigido do cap. IV, sem novida­
des dignas de menção: 2.147 contra 2.
69 quesito, sôbre o n. 29, que determina a reforma do di­
castério missionário da Cúria Romana. A redação anterior pre­
via a presença de alguns representantes do mundo missionário
com “parte ativa e decisiva”, segundo as modalidades a serem
determinadas pelo Papa. Mas 461 Padres, no voto modificati­
vo, pediram um texto mais claro e determinado: que êstes re­
presentantes tivessem “voz deliberativa”, fossem “apresentados
pelas Conferências Episcopais” e “para um determinado tempo”.
A Comissão aceitou a substância das duas primeiras sugestões
e propõe agora 0 texto aos Padres: 2.112 contra 54 (e 3 vo­
tos nulos) aprovaram as novas determinações para a Sagrada
Congregação De Propaganda Fide. — 265 Padres tinham cha­
mado a atenção sôbre alguns territórios que, apesar de serem
terras de missão, dependem de Congregações diferentes da Pro­
paganda Fide; pediam por isso que 0 Decreto recomendasse mais
estreita colaboração entre êstes dicastérios e a Propaganda Fide.
A proposta foi acolhida apenas em forma de nota explicativa,
já que se trata mais de uma situação passageira e o ecreto
deseja a unificação de tôdas as missões sob a onentaçao de
J ov. iic iic i m t * 10 w v — ----------- J — . ,

um só dicastério.

convi
s'oná___ ...... ..
400 II. Crônica das Emendas e Votações
cisariam da aprovação da Santa Sé. Mas no voto modificativo
102 votantes pediram que se voltasse ao texto anterior (“a Sancta
Sede approbandas”) ; 59 votantes opinaram que não seria lícito
aos Bispos decidir tais questões por autoridade própria. A Co­
missão responde que não se pode impor nem aos Bispos o ônus
de recorrer para cada convenção à Santa Sé, nem à Santa Sé
de examinar tantos tratados. A Congregação Geral aprovou por
2.152 contra apenas 14 e 2 votos nulos.
S" quesito, sôbre o resto do cap. V, sem outras novidades
dignas de nota: 2.175 placet, 18 non placet e 2 votos nulos.
9? quesito, sôbre as modificações acidentais do cap. VI:
2.159 placet, 24 non placet e 3 votos nulos.
10" quesito: se todo o documento, tal como está agora, agra­
da. Sôbre 2.182 votantes, 2.162 responderam sim, 18 não e 2
entregaram votos nulos. Aprovado, pois, pela Congregação Ge­
ral, o texto foi entregue ao Papa para que Sua Santidade de­
cidisse sôbre sua promulgação. Antes da promulgação, no dia
7-12-1965, o documento recebeu o voto favorável de 2.314 Pa­
dres, contra 5. E o Papa o promulgou.
o Decreto sôbre o Ministério e a Vida dos Presbíteros

O FRANCO DEBATE CONCI-


Iiar nos dias 14-16 de outubro sôbre o ministério e a vida dos
Presbíteros (palavra preferida pelo Concilio), ofereceu à Comis­
são numerosos elementos positivos para melhorar de fato o tex­
to. E a Comissão, da qual é membro também nosso Cardeal
Dom Agnelo Rossi, trabalhou com afinco: já no dia 9-11-65 os
Padres receberam a nova redação, bastante modificada, para ser
sufragada nos dias 12 e 13 de novembro, também com o voto
modificativo. O Relator Mons. Marty, Bispo de Reims (França),
fez questão de apresentar não apenas o texto, mas sua idéia
central, à qual todo o mais está intimamente ligado, e que foi
assim definida: Enquanto consagrados no Sacramento da Or­
dem pela unção do Espírito Santo e configurados a Cristo Sa­
cerdote, os Presbíteros são na Igreja os ministros de Cristo
a serviço do Povo de Deus; e por isso no ministério fazem as
vêzes de Cristo que através dêles continua sem cessar a mis­
são recebida do Pai. E assim a Eucaristia aparece como o cen­
tro e á fonte de todo o ministério dos Presbíteros. — A Co­
missão pediu o parecer dos Padres em 15 sufrágios, nove no
dia 12 e os outros no dia 13 de novembro (1594 e 160* Con­
gregação Geral):
l 9 sufrágio , dos nn. 1-3. No n. 1 (proêmio) declara-se ago­
ra que o presente documento se dirige de modo especial aos
presbíteros diocesanos, valendo também para os presbíteros re­
ligiosos que se dedicam ao cuidado das almas. O n. 2, sô re
a natureza do presbiterato, recebeu uma redação quase total­
mente nova e foi bastante ampliado. Também o n. 3 foi mui o
emendado. Os nn. 2-3 eram o anterior n 1 e perfazem agor
o cap. I. Nesta votação já se admitia também o voto mochfua-
tivo. Eis o resultado: Presentes: 2.154, p ace . . ,
mxta modum: 361; non placet: 16; votos nulos: .
402 II. Crônica das Emendas e Votações
sufrágio, dos nn. 4-5. A nova redação do n. 4, que fala
dos presbíteros enquanto ministros da palavra de Deus, insiste
muito na necessidade do apostolado de evangelização, que deve
preceder a sacramentalização. A pastoral que se satisfaz com
a mera administração dos sacramentos recebe aqui um golpe
mortal: “Praedicatio requiritur ad ipsum ministerium Sacramen-
torutn”. No n. 5, sôbre os presbíteros enquanto ministros dos
Sacramentos, a nova redação apresenta a Éucaristia como cen­
tro absoluto não só de todos os outros sacramentos, mas de
tôdas as obras apostólicas: “Eucharistia ut fons et culmen totius
evangelizationis apparet”. Percebe-se também nitidamente que
certas formulações novas dêste número são condicionadas pela
atual discussão teológica sôbre a Eucaristia e particularmente
pela Encíclica Mysterium Fidei que Paulo VI publicou dias an­
tes do início desta quarta Sessão, documento que é também ci­
tado na nota 14. Os Padres aprovaram tudo por 2.073 contra
20, havendo porém 25 votos nulos.
3 - sufrágio, do n. 6, que apresenta os presbíteros como rei­
tores do povo de Deus. Também aqui houve numerosas corre­
ções. Acentua-se agora muito mais o espírito comunitário que
deve animar a comunidade cristã. Reaparece a Eucaristia como
“radix et cardo”: tôda educação ao espírito comunitário deve
começar com a Eucaristia. 2.096 contra 16 (e 7 votos nulos)
aprovaram o texto.
49 sufrágio, do n. 7, sôbre as relações entre o Bispo e o
Presbitério. A nova redação insiste na idéia da hierárquica co­
munhão entre Bispo e os Presbíteros. O texto foi aprovado por
2.073 contra 35 e 6 votos nulos.
5? sufrágio, dos nn. 8-9. Na nova enumeração dos vários
ofícios presbiteriais, no n. 8, somos surpreendidos com a pos­
sibilidade dos padres operários: “ . . . sive etiam manibus la-
borent, ipsorum operariorum sortem probante Auctoritate partici­
pantes...” O n. 8 fala também das associações dos presbíteros
que se ajudam mútuamente na vida e na santidade. Sugeriu-
se que estas associações estivessem sujeitas à direção do Bispo
ou das Conferências Episcopais. Mas a Comissão não aceitou a
sugestão e deu a seguinte explicação (na Relação, p. 59): “Quod
attinet vero ad ordinationem canonicam, tales associationes non
videntur iuridice submitti debere Episcopis vel Conferentiis Episco-
palibus, quia pertinent ad ambitum vitae personalis Presbytero-
O Decreto sôbre o Ministério e
a Vida dos Presbíteros 403
rum et ad exercitium legitimae eorum libertatis” r ™ , •
passagem em latim porque me narori^ • e ta s • Reproduzí a
apresenta mais dois argLentos D a r a ;™,p?rtante- A
os Presbíteros _ devem continuar inteiramente' hVres " no
sobre as relações dos Presbíteros com os leigos, acrescentou-
se uma admoestaçao aos padres para reconhecerem no ie gos
os eventuais carismas (já é a quarta vez que o Concilio fala
dos carismas nos leigos) e de dar-lhes bastante liberdade para
tomarem iniciativas apostólicas. Na última alínea lhes são lem­
bradas também as determinações sôbre o ecumenismo O ple­
nário aprovou por 2.016 contra 84 e 20 votos nulos
69 sufrágio, do n. 10, sôbre a distribuição do clero, sem
correções notáveis. Foi aprovado por 2.107 contra 16 e 2 vo-
tos nulos.
7P sufrágio, do n. 11, sôbre o cuidado pelas vocações sa­
cerdotais. Também aqui não houve emendas de importância. 2.131
contra 8 e 3 votos nulos aprovaram o texto.
8 P sufrágio, de todo o cap. II, com o voto modificativo:
Presentes 2.129; placet: 1.548; placet iuxta modum: 568; non
placet: 9; votos nulos: 4.
9Ç sufrágio, dos nn. 12-14. Nestes números, modificados e
ampliados, a Comissão procurou dar maior coerência interna en­
tre a missão e a santidade dos presbíteros. Será um texto fun­
damental para a nova espiritualidade dos padres dedicados ao
apostolado. Neste sufrágio pediu-se também o voto modificati­
vo. Sôbre 2.134 votantes houve 2.037 placet, 95 iuxta modum
e apenas 2 non placet.
109 sufrágio, dos nn. 15-16. A redação do n. 15. sôbre a
humildade e a obediência, é inteiramente nova e nela palpita
o espírito do Concilio. Já não se fala dos conselhos evangé­
licos” (característica do estado religioso), mas das virtudes evan­
gélicas, exercidas segundo as exigências da vida e do ministério
dos presbíteros. A obediência é apresentada como uma exigên­
cia do próprio ministério pastoral ou da caridade pastoral, que
é uma obra de tôda a Igreja e, por isso, essenc.almente -em
comunhão”. Por sua natureza êste tipo de obedienua exige q t.
°s presbíteros procurem também novos canunios para i
da Igreja. Como no Decrelo Perfedae CarMis (sobre .» Re
404 il. Crônica das Emendas e Votações
lioiosos) usa-se a expressão “obediência responsável”. Também
o&n. 16, sôbre o celibato, recebeu nova formulação. Revela a
Relação que o Papa mandou inserir uma admoestação ao clero
casado das Igrejas Orientais: para que dêem a todos os fiéis
uni bom exemplo de amor, fidelidade e castidade conjugal. As
razões teológicas e pastorais em favor do celibato são ampla­
mente expostas. O celibato é apresentado como um dom divino
dado a tôda a Igreja e que deve ser suplicado por todos. Foi
aprovado por 2.005 contra 65, havendo todavia 21 votos nulos.
U 9 sufrágio, do n. 17, sôbre as relações dos presbíteros
com o mundo e os bens terrestres e a voluntária pobreza. Mui­
to se falou neste Concilio sôbre a pobreza, também nas vestes
e habitações. AAas as determinações concretas não apareceram.
Neste n. 17 se encontra certamente a passagem mais concreta,
mas ainda bastante indeterminada. O texto foi aprovado por
2.070 contra 6 e 21 votos nulos.
12- sufrágio, de todo o artigo II (do cap. III), com o voto
modificativo: Presentes: 2.076; placet: 1.434; placet iuxta mo­
dum: 630; non placet: 11 e um voto nulo. O número bastante
alto de votos modificativos não foi suficiente para obrigar a
Comissão a corrigir certas passagens.
139 sufrágio, dos nn. 18-19. A redação do n. 18, sôbre os
meios para favorecer a vida espiritual, é inteiramente nova. Na
redação anterior havia uma simples enumeração dos meios, dan­
do a impressão de um pêso que deve ser carregado. Êstes mes­
mos meios são agora apresentados numa visão unitária da vida
espiritual dos presbíteros. As correções do n. 19 não têm es­
pecial importância. 2.023 contra 45 Padres aprovaram o texto
(houve 7 votos nulos).
14* sufrágio, dos nn. 20-22. No n. 20, sôbre a justa re­
muneração dos presbíteros, foi acrescentada uma admoestação
aos fiéis no sentido de dar aos padres o necessário “ad vitam
honeste et digne ducendam”. A Relação não explica o “et digne”.
O n. 21 particulariza o sistema de previdência social do clero.
E a exortação final, no n. 22, recebeu duas novas alíneas que
lembram o discurso do Cardeal Doepfner sôbre a delicada si­
tuação atual dos padres num mundo modificado. 2.059 contra
9 (e 5 nulos) aprovaram o texto.
0 Decreto sôbre o Ministério e a Vida dos Presbíteros 405
sufrági°> sôbre o artigo III e a conclusão, com o voto
modificativo: Presentes: 2.058; placet: 1.510; placet iuxta mo-
dum: 544; non placet: 41.
O plenário aprovou, pois, a nova redação; mas deu à Co­
missão 2.198 votos modificativos.
O texto definitivamente emendado foi entregue aos Padres
no dia 30 de novembro (num fascículo de 136 páginas) e vo­
tado no dia 2 de dezembro, na 166* Congregação Geral. A
Comissão propôs aos Padres seis quesitos:
l ç quesito: Agrada a ponderação dos Modos dados ao proê­
mio e ao capítulo I? Modificou-se mais uma vez o proêmio:
já agora o documento vale não apenas para o clero diocesano
(como na redação anterior), mas para todos os presbíteros de­
dicados à cura das almas. A definição teológica do presbite­
rato, no n. 2, foi retocada: o sacerdócio dos presbíteros e o
sacerdócio dos Bispos “in eadem linea delineandum est”, diz
a Relação. 2.291 contra apenas 5 Padres (e 2 votos nulos)
aprovaram o cap. I.
2Ç quesito, sôbre o cap. II. No n. 5, que versa sôbre o pres­
bítero como ministro dos sacramentos, foram acrescentadas al­
gumas palavras a respeito do batismo, da penitência e da unção
dos enfermos; no n. 6, sôbre o presbítero guia do povo de
Deus, introduziu-se uma emenda que insiste no cuidado par­
ticular aos religiosos e às religiosas. O inciso sôbre a possibi­
lidade dos padres operários, no n. 8, apesar dos 368 Modos
que pedem sua supressão, continua no texto, mas um pouco
modificado. Também foi mantido o inciso sôbre a livre asso­
ciação dos presbíteros, no fim da penúltima alínea do n. 8,
apesar dos Modos contrários de 30 Bispos (“associationes de-
bent iuridice submitti Episcopo”). E a Comissão foi mais uma
vez bastante enérgica na resposta: “Non potest negari Presby-
teris id quod laicis, attenta dignitate naturae humanae, Concilium
declaravit congruum, utpote iuri naturali consentaneum”. Eis um
modo nôvo de argumentar! A passagem, no n. 9, sôbre os caris­
mas nos leigos, recebeu formulação mais vigorosa e concreta:
os carismas devem ser descobertos com o senso da fé, reco­
nhecidos com alegria e favorecidos com diligência. No fim dês­
te n. 9 acrescentou-se uma admoestação aos fiéis no sentido
de unir-se aos presbíteros e ajudá-los. No n. 10 inseriu-se uma
-406 il. Crônica das Emendas e Votações
palavra sôbre a necessidade do testemunho de alegria no mi­
nistério sacerdotal. — Todo o capítulo foi aprovado por 2.262
contra 38 e um voto nulo.
J í’ quesito, sôbre o art. 1 do cap. III (nn. 12-14). No voto
modificativo alguns Padres acharam que o texto insistia demais
na santidade “objetiva” (realizada pelo sacramento da Ordem
e afirmada no exercício do ministério) e muito pouco na san­
tidade “subjetiva” (que vem do exercício das virtudes). Fize-
rani-se por isso numerosas modificações de detalhe para ressal­
tar com mais clareza o sentido do texto, que não quer descui­
dar de nenhum dos dois aspectos. 2.261 Padres contra 15 e 2
votos nulos aprovaram o texto.
4? quesito, sôbre o art. 2 do cap. III (nn. 15-17). No n. 15
coloca-se ainda mais claramente a noção da obediência no con­
ceito da “comunhão hierárquica”. O n. 16, sôbre o celibato, re­
cebeu Modos bastante contraditórios. A longa passagem sôbre
as razões teológicas e pastorais do celibato foi revista e or­
denada de maneira bastante diferente, a pedido de um grupo
de 289 Padres e de outro de 332 Padres. Mas a Comissão não
aceitou o pedido de 123 Padres de declarar simplesmente que
o Concilio “não muda” a lei do celibato, em vez de dizer “iterum
comprobat et confirmai”. Outros 2 Padres tinham pedido uma
expressão ainda mais forte: “iterum comprobat, renovat, sta-
tuit atque confirmat”, o que também não foi aceito pela Comis­
são. E’ ainda interessante anotar que a Comissão rejeitou tam­
bém uma sugestão feita pela Secretaria de Estado de Sua San­
tidade (portanto do próprio Papa) assim redigida: “Parece
oportuno propor que, a fim de dar ao celibato do Clero o ca­
ráter e o valor de um ato plenamente livre feito em vista da
ordenação sacerdotal, seja introduzida a emissão de um voto
explicito e público antes das Ordens maiores: voto explícito que
poderia ser temporário para o Subdiaconato e perpétuo para
o Diaconato (ou o Presbiterato). Poder-se-ia também propor
que cada sacerdote renove tal voto todos os anos no dia da
Quinta-Feira Santa, antes de celebrar ou de participar na Santa
Missa na qual se comemora a instituição do Sacerdócio e da
Eucaristia . Na alínea terceira do n. 16, na qual se confirma
a lei do celibato, a Comissão introduziu um inciso que restrin­
ge esta lei aos que se destinam ao Presbiterato, para não pre­
judicar a decisão da Lumen Gentium com relação aos Diáco-
0 D - r é .o Sôb„ „ Ministério e a Vidn P « sbittros
407
noS o n. 18 não recebeu nenhuma correção, apesar dos Mo-
dos propostos. — Tudo foi aprovado por 2.243 contra 27 e 1
voto nulo.
5Ç quesito, sôbre o art. 3 do cap. III (nn. 18-20). 390 Pa-
dres pediram que no n. 18 se recomendasse aos presbíteros a
devoção a Nossa Senhora; acrescentou-se, pois, uma frase nes­
te sentido. A pedido de um só Padre incluiu-se também a re­
comendação da visita diária ao Santíssimo (“in visitatione et
personali cultu ). Mas a modificação mais importante está cer­
tamente no n. 20: A pedido de apenas um Padre reconhece-se
agora aos presbíteros o direito de receberem férias anuais. Eis
o nôvo texto: “Haec remuneratio insuper talis sit, quae Presby-
teris permittat quotannis debitum et sufficiens habere feriarum
tempus quod quidem, ut Presbyteri habere valeant, Episcopi cura­
re debent”. Têm, pois, os Bispos o dever de cuidar disso. Tam­
bém isso foi aprovado por 2.254 contra 11 e 3 votos nulos.
6 ° quesito: Se agrada o texto de todo o documento, global­
mente considerado? Resposta: 2.243 placet, 11 non placet e 3
votos nulos. Entregue ao Papa, êste determinou fôsse apresen­
tado à votação final, na Sessão Pública de 7-12-1965, quando,
sôbre 2.394 votantes, recebeu 2.390 placet e 4 non placet. E
Paulo VI o promulgou.
A Constituição Pastoral sôbre a Igreja no Mundo de Hoje

C o m 162 DISCURSOS PRO-


nunciados na Aula Conciliar de 21-9 até 7-10 (da 132’ à 144’
Congregação Geral) e numerosas intervenções por escrito (num
volume total de 545 páginas datilografadas, com uma média
de 50 linhas por página), tornou a Comissão ao trabalho de
rever e corrigir o texto sôbre a Igreja no mundo de hoje. Dez
subcomissões (algumas delas subdivididas em subsubcomissões)
estudaram o material e apresentaram à reunião plenária da Co­
missão sugestões concretas. Tão árduo foi o trabalho que os
dois principais responsáveis, Mons. Guano e o Pe. Philips, fi­
caram doentes e tiveram que abandonar o campo de batalha.
Mas nos dias 12 e 13 de novembro os Padres Conciliares rece­
beram a nova redação do texto, em dois fascículos (a segunda
parte no dia 12 e a primeira no dia 13), para ser votada e re­
ceber as últimas sugestões de emendas com o voto “placet iuxta
modum”. Comparado com o anterior, receberam os Padres um
texto certamente mais teológico, mais bíblico, menos filosófico,
menos otimista, mas não notàvelmente mais breve, como tinha
sido prometido pelo Relator. Era mesmo impossível abreviar
o texto, já que muitas vêzes os mesmos que pediam a redução
do texto sugeriam a adição de novos temas. O latim foi revisto,
mas os latinistas foram excluídos. Inicialmente tentou-se uma
reconciliação com os latinistas: escreviam uma linha inteira para
dizer “responsabilitas” (que não é palavra do latim clássico)
ou “socializado” e ainda acabavam por colocar entre parênte­
ses e entre aspas a palavra “responsabilitas” para que todos
soubessem que era disso mesmo que se tratava... Sem a in­
cômoda presença dos latinistas, o texto já não sentiu escrúpu­
los em falar claro e dizer as coisas com os nomes de hoje. E
assim encontramos expressões como psychica servitus, dissensio-
nes raciales et ideologicae, technica, cultura, demographicum in-
A Constituição Pastoral sôbre a Igreja no Mundo de Hoje 409

crementum, typus industrinlis, personalizado, civilizatio, organi-


zatio, socializado, turismus, manifestatio sportiva, oeconomia
collectivistica, etc.
A votação começou no dia 15-11-65 e ocupou os Padres
durante bem três Congregações Gerais (16D à 163">):
1* votação, dos nn. 1-10. No n. 2 tentou-se uma nova des­
crição do que se entende por “mundo”. Tôda a “exposição in­
trodutória” (nn. 4-10) foi bastante modificada. No n. 4 expli­
ca-se agora por que a Igreja deve interpretar os “sinais dos
tempos”. E’ a única vez que se usa tal expressão, empregada
no sentido que lhe dão os textos de João XXIII e Paulo VI.
Numerosas correções destacam a influência do homem sôbre a
própria história e tornam o documento mais universal. O final
foi modificado para permitir que o texto se ocupasse primeiro
das aspirações dos homens e depois das questões levantadas por
estas aspirações. Reprovou-se ao texto precedente sua índole
excessivamente ocidental. Uma subcomissão composta na maio­
ria de Bispos provenientes da Ásia, África, América Latina
e Europa Oriental encarregou-se de rever todo o esquema sob
êsse aspecto, pois é absolutamente necessário que a visão dêste
Concilio seja universal. Doutra parte, a natureza do documento
exige que se faça uma descrição da atual situação real do mun­
do, antes de avançar juízos particulares. Tal método guiou a
“exposição introdutória” e foi seguido no resto do documento.
A novidade de numerosas questões impôs certos limites ao tex­
to. Algumas, com efeito, ainda não amadureceram e outras de­
vem ser resolvidas em plano local. — Tudo foi aprovado por
2.009 placet, 134 placet iuxta modum, 41 non placet e 3 vo­
tos nulos.
2 * votação, do n. 11: Aprovado por 2.074 contra 27 e 12
votos nulos.
3* votação, dos nn. 12-18. O n. 13, sôbre o pecado, é in­
teiramente nôvo. Os outros parágrafos foram bastante abrevia­
dos e elevados ao plano teológico. 2.088 contra 35 e 10 votos
nulos aprovaram o texto.
4* votação, dos nn. 19-22. A parte sôbre o ateísmo passou
por uma total e profunda jevisão e reformulação e ficou bas­
tante mais extensa. Colaborou nesta revisão também o Secre­
tariado para os não-crentes, dirigido pelo Cardeal Koenig. O
texto agora parece ser excelente. Embora não mencione expli-
Concílio - V — 27
410 II. Crônica das Emendas e Votações

citamente o comunismo ou o materialismo marxístico, êste sis­


tema é contudo tão claramente descrito que será facílimo re­
conhecê-lo no texto. Bastante sistematicamente são tratadas vá­
rias formas de ateísmo, suas raízes, sua refutação e os remédios.
Problema particularmente delicado foi o da culpabilidade, seja
da parte dos ateus, seja também da parte dos cristãos. Tudo
foi aprovado por 2.057 contra 74 e 13 votos nulos.
5“ votação, sôbre o conjunto do cap. 1, com o voto modifi­
cativo: 1.672 placet, 453 placet iuxta modum, 18 non placet
e 6 votos nulos.
6* votação, dos nn. 23-26. Também aqui o texto foi muito
abreviado e entrou bastante teologia, sempre de acôrdo com as
sugestões feitas pelos Padres Conciliares, seja oralmente na Aula,
seja por escrito. 2.074 contra 34 (7 votos nulos) aprovaram
o texto.
7* votação, dos nn. 27-32, com notáveis abreviações e mo­
dificações. Mas não há nada de especialmente interessante. O
texto foi aprovado por 2.115 contra 35 e 5 votos nulos.
8* votação, de todo o cap II, com o voto modificativo:
placet: 1.801; placet iuxta modum: 388; non placet: 18; vo­
tos nulos: 5.
9* votação, dos nn. 33-36. Também aqui a nova redação
tomou como normas principais: abreviar o texto e injetar-lhe
teologia. Os Padres aprovaram por 2.173 contra 33 e 10 vo­
tos nulos.
10* votação, dos nn. 37-39, texto quase totalmente nôvo e
muito mais teológico. Aprovado por 2.169 contra 45 e 13 vo­
tos nulos.
IV- votação, de todo o cap. III. Votantes: 2.223; placet:
1.727; placet iuxta modum: 467; non placet: 25; votos nulos: 4.
12* votação, dos nn. 40-42. Entra num capítulo difícil. Tam­
bém êstes números receberam redação pràticamente nova, res­
tando bem poucas palavras do texto anterior. 2.107 contra 113
(e 7 votos nulos) Padres aprovaram o texto.
13* votação, dos nn. 43-45. Grandes textos e muito arro­
jados. Fôssem escritos anos atrás... Hoje, sôbre 2.222 votan­
tes, 2.095 disseram placet, 112 non placet e 15 anularam o voto.
A Constituição Pastoral sôbre a Igreja no Mundo de Hoje
411
084 SÔí rC ° conÍunto do cap. IV: 1.817 placet,
284 placet iuxta modum, 99 non placet e 2 votos nulos. - È
assim a Congregação Geral aprovou a primeira parte do es­
quema de Constituição Pastoral sôbre a Igreja no mundo con­
temporâneo.
J5j votação, do n. 50 (o atual e definitivo n. 46), de in­
trodução à segunda parte. Consideram-se nesta parte alguns
problemas mais urgentes de nosso tempo, à luz das orientações
dadas na primeira parte. 0 método, aqui, é o mesmo: dirige-se
o documento a cristãos e não-cristãos; parte de questões con­
cretas de algum campo, ilustrando-as depois à luz do Evange­
lho e da doutrina da Igreja. A seleção da matéria obedeceu ao
critério da universalidade. 0 trabalho de correção desta parte
foi particularmente difícil: era necessário encontrar o meio têr­
mo entre sentenças excessivamente gerais de piedosa exortação
e sentenças demasiadamente particulares, talvez até fora da com­
petência específica da Igreja; era preciso encontrar a via média
entre um discurso dirigido apenas a cristãos e palavras que
negligenciam a doutrina especificamente cristã; a via média entre
opiniões que ainda não receberam o consenso comum e a mera
repetição daquilo que se encontra em qualquer manual; a via
média entre um modo de falar estritamente profético e um modo
muito doutrinador que, sobretudo nestas questões, não conse­
gue convencer. — 0 número introdutório recebeu 2.106 placet
e, não se sabe mesmo por quê, 39 non placet, mais 4 votos nulos.
16* votação, dos nn. 51-53 (agora 47-49), que entram nas
delicadas questões matrimoniais. Muito suou a Comissão na cor­
reção dêste belo capítulo. Esta parte foi aprovada por 2.052
contra 91 Padres e 7 votos nulos.
17* votação, dos nn. 54-56 (agora 50-52). O grande núme­
ro das modificações introduzidas e a importância de seus enun­
ciados não permitem ao cronista entrar em particularidades, para
não ultrapassar os limites razoáveis de uma crônica. O assunto
merece investigações e explanações à parte, em estudos após
o Concilio. Aqui basta registrar que 2.011 contra 140 Padres
aprovaram o texto e 12 deram votos nulos.
18* votação, sôbre o conjunto do capítulo sôbre o matrimô­
nio: votantes: 2.157; placet: 1.596; placet iuxta modum: 484;
non placet: 72; votos nulos: 5. — Quanto aos votos modifica-
tivos desta segunda parte é interessante arquivar a seguinte curio­
27*
412 lí. Crônica das Emendas e Votações

sidade: O “Coetus Internationalis Patrum”, que representa a


oposição no Concilio e fornece aos Padres o maior número de
Modos pré-fabricados, desanimou quando chegou às portas des­
ta segunda parte e prometeu aos Bispos de não preparar nenhum
Modo, "quia textus modis corrigi non potest”, razão por que
daria sempre simplesmente “non placet” (“suffragaturi sumus
non placet tam ad paragraphos quam ad singula capita”).
19* votação, dos nn. 57-63 (agora 53-59), que perfazem
as duas primeiras secções do capitulo sôbre a cultura. Na nova
redação o próprio conceito de cultura é mais claramente defi­
nido. Também a relação entre a cultura e as ciências e artes,
por um lado, e a religião, por outro lado, é considerada com
mais atenção. Aliás, grande parte de todo êste capítulo recebeu
nova redação. E tudo foi aprovado por 2.012 contra 52 e 4
votos nulos.
20* votação, dos nn. 64-66 (agora 60-62), a terceira secção
sôbre a cultura. Nesta nova redação sublinha-se a participação
da mulher na cultura e com palavras bastante enérgicas. No
n. 66 (agora 62) foi inserido um convite aos teólogos no sen­
tido de exprimir as doutrinas antigas em formas novas. A úl­
tima proposição de todo o capítulo, sôbre a liberdade de in­
quirição, de pensamento e de publicação, é agora explicitamen-
te estendida também ao clero. O que foi aprovado por 2.058
contra 61 e 6 votos nulos.
21* votação, de todo o capítulo sôbre a cultura. Presentes:
2.146; placet: 1.909; placet iuxta modum: 185; non placet:
44; votos nulos: 8.
22*-25* votação, sôbre o capítulo III da segunda parte. No­
te-se que durante os debates a mais forte intervenção contra
êste capítulo tinha partido do Bispo de Essen, Dom Hengsbach,
que foi depois o Presidente da subcomissão especial que reviu
êste mesmo capítulo. Também aqui as correções foram muito
numerosas. A descrição inicial da situação atual é agora mais
exata. A nova redação se atém mais à doutrina dos Pontífi­
ces recentes sôbre a destinação comum das coisas materiais e
sôbre as migrações. Também o conceito de trabalho é proposto
com mais clareza. Igualmente outras questões, um tanto negli­
genciadas na redação anterior, como a fome no mundo, a im­
portância da agricultura e dos serviços econômicos, do trabalho
dos gerentes, do fato da automação. Reviu-se com diligência
a doutrina sôbre a participação dos operários na gestão das
A Constituição Pastoral sôbre a Igreja no Mundo de Hoje 413

emprêsas, a política monetária e outras, sobretudo a condição


singular nos Estados totalitários. A primeira secção foi apro­
vada por 2.115 contra 40 e 7 votos nulos; os nn. 71-72 (agora
67-68) da segunda secção receberam 2.182 votos aprobativos
contra 68 negativos e 10 nulos; e os nn. 73-76 (agora 69-72)
foram aprovados por 2.157 contra 68 e 8 votos nulos. Na 25*
votação, sôbre todo o capítulo, houve 1.740 placet, 469 placet
iuxta modum, 41 non placet e 3 votos nulos.
26—28* votação, sôbre o capítulo IV da II parte, a vida da
comunidade política. As correções principais dêste capítulo se
referem ao conceito de bem comum, à autoridade política e seu
reto uso, ao direito dos cidadãos de resistir contra o abuso da
autoridade, ao direito e obrigação de votar, ao pluralismo na
sociedade hodierna, à reta cooperação entre a Igreja e o Es­
tado. Os nn. 77-78 (agora 73-74) receberam 2.188 votos fa­
voráveis, contra 70 negativos e 3 nulos; os nn. 79-80 (agora
75-76) foram aprovados por 2.145 contra 66 e 6 votos nulos.
E o capítulo todo, na 28^ votação, sôbre 2.141 votantes, recebeu
1.970 placet, 110 placet iuxta modum, 54 non placet e 7 vo­
tos nulos.
29*-33* votação, sôbre o cap. V da II parte: a promoção
da paz e da comunidade das nações. Foi o capítulo mais di­
fícil de todo o documento. A revisão e correção foi pràtica-
mente total. A Comissão colocou-se diante da inumerável mul­
tidão de vítimas de uma possível nova conflagração mundial
e, ao mesmo tempo, diante da perplexidade da consciência dos
chefes políticos e militares que têm a obrigação de proteger os
direitos dos povos e de evitar um fratricídio universal. Era ne­
cessário falar com coragem e decisão e ao mesmo tempo com
circunspecção. Devia-se evitar também qualquer solução simplis­
ta que, em tão difíceis circunstâncias, julga poder propor so­
luções prontas. Após longa discussão a Comissão decidiu man­
ter a substância do texto anterior, mas modificar inteiramente
a ordem e o modo de falar. O conceito da “paz”, no n. 82
(agora 78), foi revisto; no mesmo parágrafo se fêz o louvor
da não-violência, numa fórmula capaz de evitar as falsas in­
terpretações. Na secção sôbre a necessidade de evitar a guer­
ra, que agora é a primeira, explica-se melhor a extensão do
direito das gentes, com a condenação dos respectivos crimes,
sobretudo do genocídio e da cega obediência às ordens crimi­
nosas. Postula-se a evolução da lei positiva com relação às
414 II. Crônica das Emendas e Votações
guerras e neste contexto se aconselha uma provisão jurídica
para os casos da sincera “objeção da consciência” (isto é: dos
que, por motivos geralmente religiosos, se negam a prestar ser­
viços militares). Com palavras muito claras é condenada a guer­
ra total, denunciando-se a corrida armamentista como a mais
grave praga da humanidade. Na segunda secção fala-se da ne­
cessidade de promover uma ordem internacional. São tratadas
as questões sôbre a cooperação econômica, a explosão demo­
gráfica, a necessidade de novas formas sociais, também com a
participação dos cristãos. Exprime-se o desejo de um nôvo or­
ganismo na Igreja capaz de promover entre os católicos a ação
social. Repetidas vêzes é feito o convite para a colaboração
ecumênica e com todos os homens que desejam a paz. — Os
nn. 81-86 (agora 77-82), na 29* votação, receberam 2.081 placet,
144 non placet e 17 votos nulos. Os nn. 87-90 (agora 83-86)
foram aprovados por 2.122 contra 43 e 5 votos nulos. Os
nn. 91-94 (agora 87-90) tiveram a seu favor 2.126 Padres, con­
tra 65 e 9 votos nulos. E os nn. 95-97 (agora 91-93) recebe­
ram 2.165 placet contra 33 non placet e 20 votos nulos. O con­
junto do capítulo, com a conclusão final, recebeu, na 33’ vo­
tação, o seguinte resultado: sôbre 2.227 votantes houve 1.656
placet, 523 placet iuxta modum, 45 non placet e 3 votos nulos.
A Congregação Geral, portanto, aprovou tôdas as partes e
todos os capítulos do esquema sôbre a Igreja no mundo con­
temporâneo. Os votos de simples “placet" sempre superaram os
dois terços dos votantes exigidos pelo Regulamento. Ao mesmo
tempo, todavia, os votantes encaminharam à Comissão um to­
tal de 3.497 votos modificativos. E como cada um podia en­
tregar mais de uma fôlha com sugestões, a Comissão de fato
recebeu cêrca de 30.000 (trinta mil) propostas de emendas. Ju­
ridicamente não havia nenhuma obrigação de emendar um texto
já suficientemente aprovado. Mas entre as trinta mil folhas ha­
via com certeza muita sugestão excelente e capaz de melhorar
o documento. E como a Comissão ainda dispunha de onze dias
para trabalhar, suas dez subcomissões resolveram pôr mãos
à obra.
No dia 2 de dezembro, 166’ Congregação Geral, os Padres
receberam o texto definitivamente corrigido, juntamente com a
ponderação dos Modos, num volume impresso de 412 páginas.
Naquela mesma manhã Mons. Garrone, Arcebispo de Toulouse,
leu na Aula Conciliar a Relação oficial sôbre êstes últimos tra­
A Constituição Pastoral sôbre a Igreja no Mundo de Hoje 415

balhos. Dois dias depois, 4-12-65, 1677 Congregação Geral, os


Padres Conciliares pronunciaram-se sôbre a nova e última re­
dação, respondendo a 12 quesitos:
1- quesito: Agrada a ponderação feita pela Comissão mis­
ta acêrca dos Modos dados ao proêmio e à parte introdutória
do esquema sôbre a Igreja no mundo contemporâneo? A ex­
posição introdutória, apesar dos Modos contrários, manteve o
método descritivo e fenomenológico. Nesta parte cêrca de 40
passagens foram emendadas. No fim do n. 10 o documento afir­
ma a presença de elementos permanentes, apesar das mutações,
e que têm o fundamento último em Cristo. Sôbre 2.238 Padres
presentes, 2.103 responderam placet, 131 disseram non placet
e 4 entregaram votos nulos.
2? quesito, sôbre as correções feitas no cap. I. A principal
está no n. 16, que descreve a dignidade da consciência moral
em têrmos quase inteiramente novos. Os nn. 19-21, sôbre o
ateísmo, tinham sido os mais atingidos pelos Modos. Um gru­
po de 209 Padres tornaram a pedir a condenação expressa e
formal do comunismo (332 Padres — em parte os mesmos e
exatamente nos mesmos têrmos — já antes haviam assinado idên­
tico pedido, ao qual tinham dado grande publicidade). A Co­
missão respondeu: Não convém mencionar o “comunismo” por­
quanto sob esta palavra se escondem também concepções polí­
ticas e econômicas das quais aqui não tratamos; faça-se na
nota uma alusão à condenação do comunismo e do marxismo
feita pelos Sumos Pontífices e acrescente-se no texto que o
Concilio condena o ateísmo — sicut antehac reprobavit. — Obser­
va ainda a Comissão que os demais erros do comunismo são
refutados de modo positivo em outras partes da presente Cons­
tituição. — A Congregação Geral aprovou as correções e pon­
derações aos Modos por 2.103 contra 131 e 4 votos nulos.
3Ç quesito, sôbre as modificações do cap. II. A principal
correção está no n. 24, na terceira alínea, que apresentava a
vida divina intratrinitária como analogia para a índole social do
homem. O texto foi modificado substancialmente e já não apre­
senta dificuldades teológicas. No n. 29 atribui-se agora à mu­
lher o direito de receber igual (antes era “semelhante”) edu­
cação e cultura que é reconhecida ao homem. Outras correções,
embora numerosas, não têm grande importância. 2.116 Padres,
contra 68 e 2 votos nulos, aprovaram as emendas e a pondera­
ção aos Modos.
II. Crônica das Emendas e Votações

4<- quesito , sôbre as emendas introduzidas no cap. III. Tam­


bém aqui as correções aceitas foram muito numerosas, que me­
lhoraram de fato o texto, mas não o modificaram. Tudo foi
aprovado por 2.165 contra 62 e 3 votos nulos.
5* quesito, sôbre as modificações no cap. IV. O n. 40 está
quase lodo ele nôvo. Também os nn. 42 e 44 apresentam novi­
dade na redação mas não no conteúdo. O plenário aprovou
tudo por 2.149 contra 75 e 4 votos nulos.
6 o quesito, sôbre as correções introduzidas no cap. I da se­
gunda parte. E? o capítulo sôbre o matrimônio. Houve aqui sé­
rias dificuldades. Como os jornais já revelaram tudo, penso que
também o cronista tem o direito de falar claro. Aconteceu exa­
tamente o seguinte: No dia 23 de novembro o Papa enviou
uma carta à Comissão, com quatro Modos pontifícios para o pre­
sente capítulo. A emenda principal se referia ao problema dos
anticoncepcionais. Sua Santidade insistia na condenação pura e
simples de tôdas as “artes anticoncepcionais” (expressão propos­
ta por Paulo VI) com a citação da Casti Connubii e do dis­
curso de Pio XII às parteiras. Esta decisão pontifícia surpreen­
deu a todos. Tinha-se a impressão de que com isso o Papa
ia dar por encerrado todo o trabalho da Comissão Pontifícia
especialmente encarregada de estudar os problemas matrimoniais.
Perguntou-se ao Papa se se tratava apenas de uma sugestão
que poderia ser eventualmente rejeitada (como tantas outras
feitas pelos Padres Conciliares; e o Papa poderia ter falado
como simples “Padre Conciliar”) ou de uma ordem a ser cum­
prida sem discussão. Respondeu Paulo VI que se tratava de
uma ordem, mas que a Comissão poderia propor outra formu­
lação. Discutiu-se pois a ordem pontifícia. A expressão “artes
anticoncepcionais” foi considerada equívoca: “artes”, porque po­
deria incluir também o método da continência periódica (que
reclama muitas vêzes computações técnicas e, portanto, poderia
ser considerada “arte”); “anticoncepcionais”, porque há méto­
dos anticoncepcionais contraceptivos e aconceptivos, que seriam
então igualmente condenados. Propôs-se, pois, a expressão “usos
ilícitos contra a geração”. Sugeriu-se ainda que a citação dos
documentos pontifícios se fizesse em outro lugar e que se citas­
se também o discurso do próprio Papa Paulo VI aos Cardeais
ide 23-6-1964), no qual Sua Santidade afirmava que aquêles
documentos por ora ainda continuavam em pleno vigor. O Pap3
aceitou a forma proposta pela Comissão. Na nota, que é a
A Constituição Pastoral sôbre a Igreja no Mundo de Hoje 417

dêste capítulo, ainda se diz que algumas questões matrimoniais


continuam em estudo por parte de uma Comissão Pontifícia es­
pecial e serão resolvidas mediante documentos pontifícios; e que
o Concilio, no presente documento, não tem a intenção de pro­
por soluções concretas neste campo. — Muitas outras correções
foram feitas neste capítulo: uma adição bastante longa sôbre
os filhos como o melhor dom do matrimônio (no n. 50, o que
também foi feito por ordem do Papa), outra sôbre a castidade
conjugal (no n. 51, igualmente por ordem do Papa), e outras
mais. — O sufrágio dêste capítulo deu o seguinte resultado:
Votantes: 2.209; placet: 2.047; non placet: 155; votos nulos: 7.
79 quesito, sôbre o cap. II da segunda parte. Também neste
capítulo, sôbre a cultura, houve numerosas correções que me­
lhoraram muito o texto, mas nenhuma tem especial importância.
2.137 contra 81 e 8 votos nulos aprovaram o capítulo.
89 quesito, sôbre o cap. III da segunda parte. Houve várias
correções no sentido de precisar melhor certos conceitos, como
o da remuneração do trabalho no n. 67, da participação na ges­
tão das emprêsas no n. 68, do uso dos bens no n. 69, do do­
mínio sôbre os bens particulares no n. 71. Tudo foi aprovado
por 2.110 contra 98 e 4 votos nulos.
9Ç quesito, sôbre o cap. IV da segunda parte, com poucas
emendas sem importância especial. Recebeu o favor de 2.086
contra 121 e 7 votos nulos.
10 ç quesito, sôbre as modificações introduzidas no último
capítulo, que trata dos difíceis problemas da paz e da guerra.
Modificou-se o louvor da não-violência no n. 78. O inciso sôbre
a objeção da consciência, no n. 79, foi modificado, mas sem
pronunciar-se sôbre sua moralidade objetiva e sem reconhecer
nos objetores um direito de recusar as armas. Numerosos Mo­
dos pareciam supor que no texto do n. 80 se retratasse o di­
reito afirmado no n. 78 de defesa em caso de agressão; por
isso também no n. 80 o direito de defesa é ligeiramente men­
cionado. A parte do n. 81 que trata da corrida armamentista foi
corrigida de tal maneira que nenhuma nação determinada possa
sentir-se ofendida. Houve ainda inúmeras outras correções de
menor importância. Aqui o número de non placet foi bastante
alto (vejam-se as razões no 13° quesito): 1.710 contra 483 e
8 votos nulos.
418 II. Crônica das Emendas e Votações
/ /? quesito, sôbre as correções feitas na Comissão, sem es­
pecial importância. Aprovado por 2.039 contra 128 e 7 vo­
tos nulos.
12° quesito, sôbre o titulo do documento. Já durante o de­
bate conciliar houve propostas várias de mudar o título, como
foi relatado na crônica dos debates. Por ocasião da votação mo-
dificativa reapareceram muitos Modos propondo outros títulos:
em lugar de “Constituição Pastoral” diga-se Declaração (12
Padres), Declaração Pastoral (9 Padres) ou Conciliar (2 Pa­
dres), Epístola Conciliar (1 Padre), Sinodal (1) ou Pastoral (2),
Diálogo entre a Igreja e o Mundo Hodierno (1), Precônio Ecumê­
nico (1), Anúncio Pastoral (1) ou Católico (1), Alocução (2),
Alocução Epistolar (1), Proposição (1), Kerygma Testimonii (1),
Constituição simplesmente (1 Padre). Como a questão parecia
de certa importância, ficou decidido fazer uma sondagem mais
sistemática entre os Padres Conciliares. Por isso no dia 17-11-65,
163® Congregação Geral, o Secretário Geral do Concilio pediu
aos Padres que entregassem suas sugestões concretas por escri­
to, avisando porém, repetidas vêzes, que os que não fizessem
sugestões seriam considerados favoráveis ao título atual. 541
Padres apresentaram sugestões: 217 propõem Declaração, 138
sugerem Carta, 110 desejam Exposição, 32 querem Anúncio, 17
optam por Instrução, 12 julgam que a primeira parte deveria
ser Declaração e a segunda parte Constituição Pastoral, 15 pro­
põem outros títulos. Já que mais de dois terços não se pro­
nunciou, a Comissão opinou que o título “Constituição Pastoral”
devia continuar. Mas, para evitar equívocos, acrescentou-se uma
nota prévia explicativa ao proêmio: Esclarece-se o sentido da
palavra “pastoral”; declara-se que nem na primeira parte do
documento falta a intenção pastoral e nem na segunda está au­
sente a intenção doutrinária; afirma-se que a presente Consti­
tuição deve ser qualificada segundo as normas comuns da in­
terpretação teológica, atendendo-se, porém, sobretudo na segun­
da parte, aos elementos mutáveis e contingentes. Pergunta agora
a Comissão aos Padres Conciliares se lhes agrada a resolução
de manter o título “Constituição Pastoral” e se aprovam a nota
explicativa. Resposta: 1.873 placet, 293 non placet e 8 vo­
tos nulos.
13" quesito, sôbre o conjunto do documento. Esta votação
foi feita no dia 6-12-65, na 168’ e última Congregação Geral
do Concilio. No dia 3-12 os Padres receberam uma carta assi­
A Constituição Pastoral sôbre a Igreja no Mundo de Hoje 419
nada por dez Bispos (entre êles os Cardeais Spellman e Shehan)
sugerindo votar “non placet” ao esquema inteiro, caso não fôr
modificada uma frase do n. 80, que seria ofensiva para as na-
ções que possuem armas científicas (isto é: bombas atômicas).
Eis o texto da carta, datada de 2 de dezembro de 1965:
Excelência: Respeitosamente aqui se sugere que o capítulo V, De
Bello Vitando, receba uma votação non placet. Igualmente se sugere que,
se os erros abaixo descritos não forem corrigidos, receba o esquema
inteiro um non placet. (O esquema poderia ser deixado ao Synodus
Episcoporum para outros estudos e correções).
1. A posse das armas nucleares (arma scientifica) é condenada como
imoral no n. 80 (liSingulare belli hodierni periculum in hoc consistit
quod illis qui recentiora arma possident quasi occasionem praebet talia
scelera perpetrandi et, connexione quadam inexorabili, hominum volun-
tates ad atrocíssima consilia impellere potest”), e também no n. 81
(“Belli exinde caasae quin eliminentur, potius paulatim aggravari minan-
tu r... Potius quam dissensiones inter nationes vere ac funditus sanen-
tur, iisdem aliae partes inficiuntur”). Estas afirmações ignoram o fato
de que a posse das arma scientifica preservou a liberdade numa grande
parte do mundo. A defesa de uma grande parte do mundo contra a
agressão não é um crime, é um grande serviço. Ignoram também essas
afirmações o fato de serem a guerra e as dissensões entre os povos pro­
vocadas pela injustiça, e não pela posse das arma scientifica (por exem­
plo, a causa da Segunda Guerra mundial não foi a posse de armas
por certas nações, senão a injustiça). Pretender que as arma scien­
tifica são a causa das guerras e das dissensões é tão ilógico quanto
afirmar que a lei e a polícia de uma cidade são a causa dos crimes
e das desordens nessa cidade cometidas. A inclusão de semelhantes tex­
tos no esquema certamente causará dano à causa da liberdade no mundo.
Êsses textos também contradizem a sentença do n. 79 (como também
uma parte do discurso de Paulo VI nas Nações Unidas em outubro
p. p., quando êle afirmou o direito de uma nação à sua própria defesa.
No mundo de hoje, para as nações maiores não há defesa adequada
sem a posse de arma scientifica.
2. Negamos igualmente que “os Papas recentes" hajam condenado
a guerra total de maneira tão categórica como é ela condenada nesta
secção: uHis attentis, haec Sacrosancta Synodus, suas faciens condemna-
tiones belli totalis iam a recentibus Summis Pontificibus enuntiatas: de­
clarai” (n. 80). Onde estão as referências para apoiar essa afirmação?
3. O Concilio não deveria adotar uma decisão nesta matéria, na
qual ainda não há um consenso de opiniões entre os teólogos nela mais
especializados.
Francis card. SPELLMAN, New York. - Patr.ck L. OBOYLt.
Washington. — Miguel D. MIRANDA, México. - Den.s E. HURLEy,
Durban - joseph KHOURY, Tyr Maronitarum. - Lawrence card.
SHEHAN, Baltimore. - Philip M. HANNAN- New O rleans^- Oudtorà
Clyde YOUNG, Hobart. — Adolfo Servando TORTOLO, Parana.
CUETO GONZALEZ, Tlalnepantla.
420 II. Crônica das Emendas e Votações

A esta carta deu-se a seguinte resposta, não lida nem dis­


tribuída na Aula Conciliar:
Excelência: Numa fôlha assinada por S. Em. o Cardeal Spellman
e por outros nove Padres Conciliares, distribuída nestes últimos dias,
sugere-se que os Padres votem non placet ao capítulo V, De Bello V7-
iando. Entretanto, as razões aduzidas em apoio dessa sugestão não
podem ser admitidas, por causa da interpretação errônea que contêm
do texto.
1* Em parte alguma, nos números 80 e 81, a posse das armas
nucleares é condenada como imoral. Cumpre prestar cuidadosa atenção
aos têrmos propositadamente empregados no texto: PER1CULUM consistit;
QUASI ÜCCASIONEM praebet; Impellere POTEST; aggravari MINAN-
TUR. Não se nega que a posse e a acumulação de tais armas possam
momentâneaniente servir à liberdade. Nega-se, sòmente, que a corrida
aos armamentos “constitua uma trilha segura para a firme manutenção
da paz", o que corresponde à doutrina dos Papas. Tampouco se diz
que as armas científicas são causas de guerra; diz-se, sòmente, que,
na corrida aos armamentos, as causas de guerra correm o risco de
serem agravadas. Os textos que acabamos de citar não estão em con­
tradição com o direito afirmado no contexto, segundo o qual pode uma
nação defender-se, pela fôrça, contra agressões injustas. O contrário
é que se contém no contexto.
2i} As referências aos documentos pontifícios pelos quais a guerra
total é condenada são dados na nota 2 dêsse capítulo. Um texto de
Pio XII (30-9-1954), que, numa redação precedente, era citado textual­
mente em nota, merece atenção especial: “Aqui (isto é, em caso de
destruição indiscriminada), não se trata da defesa contra a injustiça
e da salvaguarda necessária de possessões legítimas, mas sim do ani­
quilamento puro e simples de tôda vida humana no interior do raio
de ação. Isto a título nenhum é permitido” (AAS, 46, p. 1589).
39 A respeito do texto tal como se apresenta atualmente após exame
atento, não há divergências de opinião entre os teólogos. Nenhum teó­
logo católico admite, nem pode admitir, seja moralmente lícita uma des­
truição indiscriminada tal como é aqui compreendida.
Roma, 5 de dezembro de 1965.
t Joseph SCHROEFFER, Bispo de Eichstaett,
presidente da subcomissão do capítulo V.
t Gabriel-Marie GARRONE, Arcebispo de Toü-
louse, relator geral.
Outra carta, entregue também no dia 3-12, assinada pelo
Coetus Internationalis Patrum”, sugere votar “non placet ad
integrum Schema XIII cum iam non sit amplius possibile obti—
nere partiales emendationes”. Não concordam com a omissão
da palavra “comunismo” na parte que fala do ateísmo; jul-
A Constituição Pastoral sóbre a Igreja no Mundo de Hoje 421

gam insuficiente a doutrina sôbre os fins do matrimônio; que­


rem â omissão do inciso sôbre a objeção da consciência; nem
concordam com a indiscriminada condenação de uma guerra to­
tal. O plenário, porém, que nesta última Congregação Geral con­
tava com o elevado número de 2.373 Padres Conciliares, res­
pondeu: 2.111 placet, 251 non placet e 11 votos nulos. Aprova­
do, o texto foi entregue ao Papa, que decidiu promulgá-lo no
dia seguinte. Na Sessão Pública de 7-12-65, sôbre 2.391 votan­
tes, recebeu a aprovação de 2.309 Padres Conciliares. 75 deram
o non placet e 7 entregaram votos nulos. Paulo VI o promulgou
entre os mais vivos aplausos do Povo de Deus.
Nesta mesma Sessão Pública do dia 7-12-1965, terminada
a Santa Missa concelebrada e promulgados os documentos, o
Santo Padre Paulo VI recitou em voz alta a seguinte oração:
Deum Patrem omnipotentem, fratres carissimi, suppliciter depre-
cemur ut, si quid offensionis in hac Concilii celebritate contra-
ximus, illo miserante indulgentiam sentiamus. Recolhida a assem­
bléia em silenciosa oração, o Papa, de pé e de cabeça desco­
berta, lê uma longa fórmula em que se pede perdão ao Senhor
de qualquer falta cometida na celebração do Concilio, e todos
respondem recitando juntos o Pater noster. Neste ponto o Papa
canta algumas bênçãos às quais, de vez em quando, a assem­
bléia responde Amen: — Christus Dei Filius, qui est initium et
finis, complementum vobis tribuat caritatis... Et qui vos ad
expletionem huius fecit pervenire Concilii, absolutos vos efficiat
ab omni culpae contagione. .. Ut ab omni reatu liberiores effecti.
absoluti etiam per donum Spiritus Sancti, felici reditu vestras
sedes repetatis illaesi... Praecedenti lumine divinitatis Domini
nostri, qui omnia regit in saecula saeculorum. .. Pax Domini
sit semper vobiscum. ..
E correspondendo ao convite do Cardeal Protodiácono: Date
vobis pacem, os Padres Conciliares abraçaram-se em sinal de
mútua caridade e, antes de entoar o Te Deum, o Santo Padre
canta esta oração: Deus, qui nos pastores in populo vocare vo-
luisti, praesta, quaesumus, ut hoc quod humano ore dicimur,
in tuis oculis esse valeamus.
* * *

E assim terminou o XXI Concilio Ecumênico, chamado Va­


ticano II. Durante três anos, um mês e 29 dias (de 11 de ou­
tubro de 1962 até 8 de dezembro de 1965) viveu a Igreja Ca-
422 II. Crônica das Emendas e Votações
tólica em estado de Concilio. Neste tempo cêrca de 2.200 Bispos
do mundo inteiro encontraram-se quatro vêzes em Roma, vi­
vendo e trabalhando juntos durante 281 dias: 59 na I Sessão
(de 11 de outubro até 8 de dezembro de 1962), 67 na II Ses­
são (de 29 de setembro até 4 de dezembro de 1963), 69 na III
Sessão (de 14 de setembro até 21 de novembro de 1964) e 86
na IV Sessão (de 14 de setembro até 8 de dezembro de 1965).
Assistiram êles a 168 Congregações Gerais (36 na I, 43 na II,
48 na III e 41 na IV Sessão) e a 10 Sessões Públicas. Nestes
dias pronunciaram os Padres 2.217 discursos (600 na I, 618
na II, 666 na III e 333 na IV Sessão) e entregaram 4.361 in­
tervenções escritas. Ouviram 147 relatórios e fizeram 544 vota­
ções, nas quais foram inutilizadas 1.360.000 fichas para sufrá­
gios individuais. Morreram neste período 253 Padres Conciliares
(6 do Brasil). O Concilio preparou, discutiu, emendou, votou e
promulgou os seguintes 16 documentos:
1. Constituição Dogmática Lum en Gentium , sôbre a Igreja,
em tôrno do qual se pronunciaram 453 discursos (77 na I Ses­
são, 326 na II e 50 na III Sessão), ocupando o tempo de 33
Congregações Gerais, promulgada no dia 21-11-1964.
2. Constituição Dogmática D ei Verbum , sôbre a Revela­
ção Divina, que exigiu 174 discursos (104 na I e 70 na III Ses­
são), ocupando 11 Congregações Gerais, promulgada no dia
18-11-1965.
3. Constituição Pastoral G audium et Spes, sôbre a Igreja
no Mundo de Hoje, com 333 discursos (171 na III e 162 na
IV Sessão), ocupando 24 Congregações Gerais, promulgada no
dia 7-12-1965.
4. Constituição Sacrosanctum Concilium, sôbre a Sagrada
Liturgia, com 315 discursos (todos na I Sessão), ocupando 15
Congregações Gerais, promulgada no dia 4-12-1963.
5. Decreto Unitatis Redintegratio, sôbre o Ecumenismo,
com 189 discursos (46 na I e 143 na II Sessão), ocupando 14
Congregações Gerais, promulgado no dia 21-11-1964.
6. Decreto Orientalium Ecclesiarum, sôbre as Igrejas Orien­
tais, com 30 discursos (na III Sessão), ocupando 3 Congrega­
ções Gerais, promulgado no dia 21-11-1964.
A Constituição Pastoral sôbre a Igreja no Mundo de Hoje 423
7. Decreto Ad Gentes, sôbre a Atividade Missionária da
Igreja, com 78 discursos (28 na III e 50 na IV Sessão), ocupan-
do 6 Congregações Gerais, promulgado no dia 7-12-1965.
8. Decreto Christus Dominus, sôbre o Múnus Pastoral dos
Bispos, com 188 discursos (149 na II e 39 na III Sessão), ocupan­
do 12 Congregações Gerais, promulgado no dia 28-10-1965.
9. Decreto Presbyterorum Ordinis, sôbre o Ministério e a
Vida dos Presbíteros, com 98 discursos (41 na III e 57 na IV
Sessão), ocupando 7 Congregações Gerais, promulgado no dia
7-12-1965.
10. Decreto Perfectae Caritatis, sôbre a Atualização dos Re­
ligiosos, com 26 discursos (na III Sessão), ocupando 2 Con­
gregações Gerais, promulgado no dia 28-10-1965.
11. Decreto Optatam Totius, sôbre a Formação dos Sacerdo­
tes, com 32 discursos (na III Sessão), ocupando 3 Congrega­
ções Gerais, promulgado no dia 28-10-1965.
12. Decreto Apostolicam Actuositatem, sôbre o Apostolado
dos Leigos, com 67 discursos (na III Sessão), ocupando 5 Con­
gregações Gerais, promulgado no dia 18-11-1965.
13. Decreto Inter Mirifica, sôbre os Meios de Comunicação
Social, com 58 discursos (na I Sessão), ocupando 3 Congrega­
ções Gerais, promulgado no dia 4-12-1963.
14. Declaração Gravissimum Educationis, sôbre a Educa­
ção Cristã, com 21 discursos (na III Sessão), ocupando 2 Con­
gregações Gerais, promulgada no dia 28-10-1965.
15. Declaração Dignitatis Humanae, sôbre a Liberdade Re­
ligiosa, com 107 discursos (43 na III e 64 na IV Sessão), ocupan­
do 9 Congregações Gerais, promulgada no dia 7-12-1965.
16. Declaração Nostra Aetate, sôbre as Relações da Igreja
com os não-Cristãos, com 34 discursos (na 111 Sessão), ocupan­
do 2 Congregações Gerais, promulgada no dia 28-10-1965.
(Tivemos além disso 14 discursos, durante a III Sessão, sô­
bre a disciplina matrimonial eclesiástica (cf. vol. IV, pp. 383-
389), esquema que foi confiado ao Papa e não será documento
conciliar; foi publicado no dia 18-3-1966).
Estava, pois, tudo preparado para encerrar formal e solene
mente o XXI Concilio Ecumênico no dia 8 de dezembro de u
424 lí. Crônica das Emendas e Votações

A cerimônia foi realizada na Praça de São Pedro, em frente da


Basílica Vaticana. Durante a Santa Missa, celebrada pelo Papa,
Paulo VI pronunciou sua comovente homilia de despedida. De­
pois anunciou as Mensagens do Concilio aos Governantes, aos
Intelectuais (com o abraço de Paulo VI a Jacques Maritain, sob
o aplauso dos Padres Conciliares), aos Trabalhadores, aos Ar­
tistas, às Mulheres, aos Jovens, aos Sofredores. Mons. Felici,
Secretário Geral do Concilio, leu o Breve de Encerramento. En­
tão todos juntos cantaram as aclamações finais e as orações
por todos quantos trabalharam para o Concilio. Tudo terminou
com a Bênção Apostólica, à qual Sua Santidade aditou as se­
guintes palavras: “Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, ide
em paz!” Ao que a assembléia respondeu: “Demos graças a
Deus!” O relógio marcava 13,25. À noite dêste mesmo dia já
estavam nossos Bispos no avião, para retornar, cada um à sua
Diocese, e tentar viver no espírito do Vaticano II...
Sic absolvitur conventus Concilii.
III. Documentos

Concilio - V _ 28
.7
Exortação Apostólica “Quarta Sessio”, aos Bispos

A QUARTA SESSÃO DO SEGUNDO


Concilio Ecumênico do Vaticano vai abrir-se no dia da festa da Exal­
tação da Santa Cruz; e os Padres Conciliares, vindos de todo o univer­
so, vão voltar a Roma, para junto do túmulo do apóstolo Pedro, tra­
zendo, por assim dizer, consigo, a êste Centro da unidade católica, a
expectativa, os desejos e as aspirações de seus povos, que grandes es­
peranças depositam nesta assembléia ecumênica. Terão êles de, por seu
trabalho, levar a bom têrmo o grande empreendimento do Concilio, que,
reunido no Espírito Santo, desde há quatro anos se aplica a estudar e a
resolver os mais urgentes e mais graves problemas da vida atual da
Igreja, para que esta possa mostrar aos olhos dos homens um sem­
blante radiante de brilho nôvo, e para que exerça sôbre êles uma atra­
ção espiritual que os ajude a crer em Cristo Salvador e a segui-lo com
mais solicitude.
Um testemunho do valor salvador da cruz. — Foi por isto que qui­
semos que a abertura da quarta sessão tivesse lugar no dia da festa
litúrgica que exalta o mistério da cruz e a virtude redentora do sacri­
fício que nela se consumou, a fim de que, fixando o olhar no Divino
Crucificado, os homens cada vez mais profundamente compreendam que,
“elevado da terra” sôbre êsse madeiro, Cristo é verdadeiramente Aquê­
le que tudo atrai a si (cf. Jo 12,32), e que não há “neste mundo outro
nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos” (At 4,12).
De fato, o Concilio apresenta-se ao mundo inteiro como um teste­
munho do valor salvador da cruz; e deseja atestar os direitos que,
após havê-los adquirido pela cruz, o Salvador possui sôbre todo cora­
ção humano. Quer êle fazer ouvir com mais fôrça a mensagem de espe­
rança, de amor e de paz que só Cristo, com sua autoridade divina,
pode dirigir aos homens, hoje, a justo título, tão ufanos das conquis­
tas do saber e do progresso, da ousadia de seus descobrimentos e ex­
perimentações científicas, de suas realizações no plano social ou polí­
tico. Mas, se nêle não tornarmos presente Cristo, isto é, se não se ade­
rir à sua doutrina celeste, se não se cumprir generosa e fielmente seu
mandamento de caridade, tudo isso ficará exposto à incerteza angustian­
te das questões sem resposta possível, ameaçado pelas forças destru­
tivas da desconfiança mútua, sempre à mercê dessas tristes realidades
que nunca foram eliminadas e que se chamam o sofrimento, a doença,
a fome, a guerra.
28*
428 III. Documentos
Apreender ficlmcnte a hora de Deus que soa sôbre a Igreja e o
mundo, — Decerto, devemos ser realistas; é por isto que, pela celebra­
ção do Concilio, Nós não temos a pretensão de oferecer a solução única
e imediata dêsses graves problemas; mas, no entanto, é verdade que há
no mundo uma viva expectativa concernente àquilo que o Concilio Ecumê­
nico decidirá e àquilo que êle fará realizar no tempo a se seguir à sua
conclusão; verdade é, também, que a importância de tais decisões ma-
nifesta-se em tôda a sua amplitude e gravidade a quem considera o
enorme trabalho que os Padres devem fornecer; verdade é, igualmente,
que o Concilio exercerá uma influência de eficácia incalculável sobre­
tudo na vida da Igreja, pelo estimulante que deve oferecer aos pasto­
res, ao clero, a todos os fiéis, para viverem sua vocação de maneira
mais consciente; pelas modificações que êle pedirá serem feitas em cer­
tas regras canônicas que já não correspondem ao bem das almas; e
por outros desenvolvimentos, nas estruturas e na ação, que melhor res­
pondam às exigências dos tempos; e pelo impulso missionário que deve
intensificar e estender nas almas a mensagem de paz e de libertação
para o mundo, essa mensagem que anuncia o reino espiritual de ver­
dade, de justiça e de amor a Cristo.
Estas breves considerações bastam para fazer compreender o quan­
to é necessário que na próxima sessão tudo se desenrole bem, com
ordem e proveito; e quais deveres incumbem aos Padres conciliares no
período que vai abrir-se. E’ uma obra grandiosa, que postula a clareza
das idéias e o esforço conjunto das vontades, para apreender fielmente
a hora de Deus que sôa sôbre a Igreja e sôbre o mundo para a salva­
ção dos homens; é uma obra de conseqüência tal, que não pode realizar-
se sem a ajuda todo-poderosa do Senhor, que disse: “Sem mim nada
podeis fazer” (Jo 15,5). Cumpre que a graça do seu Espírito de ver­
dade continue a iluminar o Concilio, que os corações dos Padres con­
ciliares permaneçam abertos à sua influência delicada e poderosa, secre­
ta e irresistível; unicamente com esta condição é que a sessão que vai
começar e a conclusão do Concilio poderão produzir todos os frutos
desejados.
Eleve-se dos cinco continentes como que um coro de oração e de
penitência. — Mas, para assegurar um tal êxito, a oração é um meio
absolutamente indispensável, que o próprio Senhor suavemente nos pede
empregarmos para nos conceder seus favores. “Tudo o que pedirdes,
com fé na oração, obtê-lo-eis” (Mt 21,22). Foi por isto que quisemos
dirigir-Nos a todos vós, veneráveis Irmãos e caros Filhos, para instan­
temente vos pedir, uma vez mais, preparardes e acompanhardes por
vossa oração os trabalhos do Concilio. Suba para Deus a súplica de
tôda a Igreja para atrair sôbre a sala conciliar as efusões celestes da
graça, para assegurar à atividade dos Padres a energia e a rapidez ne­
cessárias, e para obter a colaboração unânime de todos em mira a tra­
duzir em atos, nos anos que vêm, as deliberações e os decretos conci­
liares. E, já que o Concilio deve ser um nôvoPentecostes, persevere a
Igreja inteira na unanimidade, esteja unida, em oração, ao sucessor de
Pedro e aos sucessores dos apóstolos, como no Cenáculo estiveram os
discípulos em tòrno a Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa, nos dias em
que aguardavam o Espírito Santo (cf. At 1,14).
Exortação Apostólica “Quarta Sessio”, aos Bispos 429
? P?* ^Ue’ na_*arde da festa da Exaltação da Santa Cruz,
dia de abertura da Sessão, os Padres conciliares dirigir-se-ão conosco,
em procissão de penitência, cantando os louvores do Senhor e levando
as relíquias insignes da Santa Cruz, da basílica que tem êste nome,
e na qual são elas honradas, até à basílica de São João de Latrão,
catedral do Bispo de Roma. Pela mesma razão, na capela paulina do
palácio do Vaticano, durante tôda a quarta sessão, o SS. Sacramento
permanecerá exposto, a fim deque, para Jesus Cristo presente na Eu­
caristia, centro da caridade e vínculo da unidade na Igreja, sejam con­
tinuamente orientados os corações e as preces dos Padres conciliares,
de todos aquêles que trabalham no Concilio, e daqueles — sacerdotes,
almas consagradas a Deus, leigos fiéis — que prestam serviço na
Nossa casa.
Assim, por tôda parte onde a Igreja está presente, nas grandes ci­
dades modernas, nos centros industriais, como nas aldeias do campo
e da montanha, e até nos avançados postos solitários das terras de
missão, desejamos que dos cinco continentes se eleve como que um
côro de oração e de penitência, e que em cada paróquia, em cada igre­
ja do mundo católico, seja feita uma cerimônia de penitência para a
qual sejam chamadas as crianças inocentes, os jovens generosos, os pais
e mães de família; à qual igualmente todos os doentes, que tão caros
Nos são e cujo poder suplicante é único e insubstituível junto ao coração
de Deus, se dignarão unir seus sofrimentos, assim os da alma como
os do corpo.
Com confiança igualmente comovida olhamos para as comunidades
religiosas de homens e de mulheres, onde inúmeras almas consagradas
ao Senhor numa vida de oração ininterrupta e de total abnegação, no
alegre serviço de Deus e de seus irmãos, acolherão as Nossas palavras
com prontidão e fervor, e rivalizarão em generosidade para oferecer
ao céu suas súplicas mais intensas, enriquecidas de sacrifícios contí­
nuos e ocultos.
Que essa onda de oração suba sem interrupção para o Senhor,
a fim de que a Igreja, todo inteira reunida em volta do Pai comum,
mereça constantemente a ajuda de Deus e se disponha às exaltadoras
responsabilidades que a aguardam no término do Concilio Ecumênico.
Em testemunho da Nossa gratidão pela correspondência que êste
convite encontrar em vossos corações, veneráveis Irmãos e caros Filhos,
sacerdotes e fiéis da Igreja Católica — convite que, esperamo-lo, será
acolhido igualmente pelos Irmãos das outras comunidades cristãs —
somos feliz de vos conceder, na plenitude do Nosso coração de Pai,
uma larga Bênção apostólica, penhor dos favores do céu.
Dado em Roma, junto a S. Pedro, a 28 de agosto de 1965, ter­
ceiro ano do Nosso pontificado.
PAULUS PP. VI.
Discurso de Abertura da Quarta Sessão

V e n e r á v e is ir m ã o s : em n o m e
do Senhor sentimo-nos feliz em declarar aberta a quarta Sessão do
Concilio Ecumênico Vaticano II.
Subam louvores e agradecimentos a Deus nosso Pai onipotente,
por Jesus Cristo seu Filho e nosso Salvador, no Espírito Santo Pará-
clito que vivifica e guia a Santa Igreja, por têrmos sido felizmente con­
duzidos à presente convocação conclusiva dêste sacrossanto Sinodo
Ecumênico, no sumo e comum propósito de devota e firme fidelidade à
Palavra Divina, em fraterna e profunda concórdia na fé católica, no
livre e fervoroso estudo das múltiplas questões que dizem respeito à nossa
religião, especialmente da natureza e missão da Igreja de Deus, no unâ­
nime desejo de estabelecer vínculos mais perfeitos de comunhão com os
Irmãos cristãos ainda de nós separados, na cordial intenção de dirigir
ao mundo uma mensagem de amizade e de salvação e na humilde e cons­
tante esperança de obter da Misericórdia Divina aquelas graças que,
apesar de não merecidas, Nos são necessárias para cumprirmos, com amo­
rosa e generosa dedicação, a Nossa missão pastoral.
Grande acontecimento é êste Concilio! Alegrem-se os nossos cora­
ções por tão solene e ordenada celebração da unidade da Igreja visí­
vel, unidade de que nós aqui gozamos e que professamos não só exte­
riormente, mas ainda mais no íntimo dos corações, pelo conhecimento
mútuo das pessoas e pelo intenso convívio de oração, de pensamento,
de palavra e, finalmente, de concórdia, solícitos e felizes por espelhar­
mos e promovermos aquela unidade mística que Cristo deixou aos seus
apóstolos como o patrimônio mais precioso e autêntico e como suprema
exortação. Alegrem-se ainda, porque, durante esta singularíssima cele­
bração, já por três vêzes, e hoje começa a quarta, em ritmo anual re­
gular, nesta Basílica consagrada à memória do Apóstolo Pedro, funda­
mento visível da Igreja de Cristo, a Hierarquia Católica exprimiu, con-
validou e ilustrou os vínculos de uma comunhão solidária e unívoca que
a múltipla diversidade das nossas origens humanas e as implacáveis
divisões, que separam os homens entre si, haveríam de fazer supor im­
possível, mas que se nos apresenta como feliz realidade: a misteriosa
e efetiva realidade católica.
\ êm à Nossa mente as palavras do exímio doutor, Nosso longínquo
e santo predecessor Leão Magno: “Ao contemplar esta multidão verda­
deiramente esplêndida dos meus veneráveis irmãos no sacerdócio, pare-
Discurso de Abertura da Quarta Sessão 431

ce-me que, entre tantos santos, Nos encontramos numa assembléia angé­
lica” (Sermo I, de Anniversario).
E conosco alegre-se a Igreja inteira da qual nós somos aqui os
Pastores e os representantes, por saber-se e sentir-se reumda conosco
em concorde harmonia espiritual que a penetra inteiramente e, se ela
permanecer vigilante, a inebria.
Grande acontecimento é êste Concilio! Oxalá que, em virtude da
repetição das suas assembléias, que atenua a impressão de novidade
dêste histórico encontro, não se torne menos atenta, nem se maravilhe
menos a nossa consideração do acontecimento que estamos celebrando;
antes, pelo contrário, o próprio costume, a que a sucessiva realização
destas reuniões pode dar origem, nos comunique maior idoneidade e
mais profunda piedade para investigarmos o seu grande, complexo e
misterioso significado. Que não nos passe despercebida esta hora solene;
nem se confunda esta experiência única com tantos acontecimentos ha­
bituais de que é tecida a trama ordinária da nossa vida. A simultâ­
nea presença que aqui nos reúne — lembremo-nos bem — não é parti­
cipada sòmente por nós, porque conosco está Cristo em cujo nome
nos encontramos reunidos (cf. Mt 18,20), e cuja assistência acompanha
sempre o nosso caminho no tempo (cf. Mt 28,20).
A obrigação de vivermos com plenitude de adesão esta fase final
do Concilio constitui para nós uma responsabilidade que cada um deve
medir no fôro interno da própria alma e a que cada um deve procurar
que correspondam particulares atitudes morais e espirituais.
Irmãos, que não nos seja molesto antepor aos múltiplos e absor­
ventes trabalhos que nos esperam, êste momento de reflexão, para co­
locarmos os nossos espíritos em condições propícias à realização que
aqui se requer, da misteriosa combinação da arcana ação divina com
a nossa; combinação sempre em ato no reino da graça, mas de modo
e em medida eminentes quando se trata dos destinos da Santa Igreja,
como acontece exatamente na celebração do Concilio: aqui, de fato,
podemos aplicar-vos plenamente a frase de São Paulo: “Dei enim sumus
adiutores” (1 Cor 3,9), somos colaboradores de Deus; não porque
possamos ter a presunção de dar eficácia à obra de Deus, mas porque
esperamos que a nossa humilde e solícita ação obtenha vigor e mérito
da Divina. Bem sabemos que a esta assembléia será dado, no final,
pronunciar-se com as sagradas e tremendas palavras apostólicas: “Visum
est... Spiritui Sancto et nobis” (At 15,28), pareceu... ao Espírito
Santo e a nós. Portanto, é necessário que envidemos todos os esforços
para obtermos que a ação do Espírito Santo se insira na nossa, a pe­
netre completamente, a ilumine, a corrobore e a santifique.
E também sabemos o que significa êste esfôrço. Sete vêzes, no
livro do Apocalipse (2,7-3,22), a mensagem apostólica intima aos Pas­
tores — são chamados Anjos — das Igrejas primitivas: “Qui habet
aurem, audiat quid Spiritus Sanctus dicat Ecclesiis”, quem tem ouvido,
ouça o que o Espírito diz às Igrejas. Ouvir; ouvir a voz arcana do
Paráclito deve ser o nosso primeiro dever nos dias que vão seguir-se,
durante as sessões finais do Concilio; deixar que o Espírito Santo der­
rame nos nossos corações aquela caridade que se traduz em sabedo-
432 III. Documentos
ria. isto é, na retidão de juízo, segundo as mais altas razões do saber,
pelas quais o espírito liumano sobe até Deus de quem recebeu aquêle
inefável dom, e se tornam amor, se tornam caridade, todos os seus pen­
samentos e tôda a sua ação. A caridade que desce de Deus transforma-
se em caridade que sobe até Deus, e do homem tende a voltar para Deus.
Êste processo da caridade deveria caracterizar a conclusão do nos­
so Concilio Ecumênico. Nós deveriamos ser sempre mais capazes de
o atuar em nós mesmos, para darmos a êsse momento de plenitude vital
da Igreja o seu mais elevado significado e o seu mais eficaz valor. Da
caridade devemos haurir o estimulo e a orientação para a verdade que
aqui procuramos pôr em luz e para os propósitos que nos propomos
realizar; verdade e propósitos que, anunciados por êste Concilio, órgão
êle mesmo da mais alta e amorosa autoridade pastoral, não poderão
deixar de ser expressões de caridade.
Que o amor nos dirija, pois, para esta nossa busca de verdade,
lembrados da clarividente frase de Santo Agostinho: “Nada do que é
bom se conhece perfeitamente, se não se ama perfeitamente” (De di-
versis quacsi. 83; PL 40, 24).
Nem parece ser difícil dar ao nosso Concilio Ecumênico o caráter
de um ato de amor; de um grande e tríplice ato de amor: para com
Deus, para com a Igreja, para com a humanidade.
1. Olhemos primeiro para nós mesmos, Veneráveis Irmãos. Como
se pode definir doutro modo a condição, em que nos colocou a convo­
cação do Concilio, senão como um estado de tensão, de esforço espi­
ritual? Esta convocação veio arrancar-nos ao torpor da vida ordinária,
despertou em nós a consciência plena da nossa vocação e da nossa mis­
são. pôs em movimento dentro de nós mesmos forças latentes e acendeu
nas nossas almas o espírito de profecia, próprio da Igreja de Deus;
excitou em nós a necessidade, o dever de proclamarmos a nossa fé,
de louvarmos a Deus, de nos aproximarmos mais e mais de Cristo, e
proclamarmos no mundo o mistério da Revelação e da Redenção. Não
é isto, amor? Chamados a esta tribuna, da qual se contempla o mundo
contemporâneo coberto pelas nuvens da dúvida e pelas trevas da irreli-
giosidade, pareceu-nos que subíamos à esfera da luz de Deus; sendo
nós companheiros e irmãos dos homens entre quem vivemos, chegando
a esta altura espiritual, pareceu-nos que subíamos da terra, das suas
complicações e das suas ruínas, e que víamos límpido e quente o sol
da vida: et vita erat lux hominum (Jo 1,4); mais ainda pareceu-nos
que falávamos, humilde, filial e generosamente, em espírito e verdade,
com Deus Nosso Pai; e que lhe dizíamos, cantando e chorando, o nosso
louvor pela grandeza da Sua glória, que hoje nos é a nós mais conhe­
cida devido aos progressos na ciência do cosmos; a nossa dita por
ter revelado o seu nome, o seu reino e a sua vontade; e além disso
por ter aliviado a dor que há no mundo, a aflição, a imensidade das nossas
misérias e dos erros que se vão espalhando; mas aqui, mais que nunca
nos sentimos fortes pela certeza, que é muito nossa, e que aqui vibra
em nós com singular fôrça e nos lembra que somos nós os defensores
do espírito, os tutores do destino humano e os intérpretes das verda­
deiras esperanças. E não é isto, acaso, o amor que na Sagrada Escri­
Discurso de Abertura da Quarta Sessão 433
tura apresenta a fórmula magnífica e lapidar- Demos crédito ao amor
que Deus nos tem” (Jo 4,16)?
Na verdade o Concilio toma lugar na história do mundo contempo-
raneo_ como a ma.salta, a mais clara e a mais humana afirmação dum^
religião sublime, nao inventada pelos homens mas revelada por Deus,
a qual consiste na relaçao enaltecedora de amor que êle, o Pai ine-
fável, por meio de Cristo seu Filho e irmão nosso, estabeleceu, no Es-
pinto Santo vivificador com a humanidade.
2. Eis agora o segundo momento da nossa caridade conciliar. Por­
que, ao dizermos isto, sentimos não estar sós. Nós somos o povo, o po­
vo de Deus. Nós somos a Igreja Católica. Somos uma sociedade sem
par, visível e espiritual ao mesmo tempo. O Concilio faz-nos com­
preender melhor que a nossa Igreja é uma sociedade fundada sôbre a
unidade da fé e sôbre a universalidade do amor. A busca duma socia­
bilidade superior e perfeita não constitui o problema capital da his­
tória, que parece insolúvel se pensamos nas eternas vicissitudes de Ba­
bilônia, tragicamente confirmadas na nossa época. Está pelo contrário
terminada para nós, nos seus princípios, ainda que na prática só vir­
tualmente realizada. E sabemos que não pode ser desmentida a solução
que possuímos, quer dizer, a comunhão que nos une, e nós vamos pre­
gando, porque não se funda em critérios de idolatria individual ou ido­
latria social, mas sim sôbre um princípio religioso incontroverso: o amor,
o amor aos homens motivado não pelos seus méritos ou pelos nossos
interêsses, mas pelo amor de Deus. E nunca como hoje, desde o dia em
que a Igreja nascente “era um só coração e uma só alma” (At 4,32),
a Igreja afirmou, viveu e gozou, pediu e desejou que fôsse plenamente
realizada a efetiva e mística unidade, que Cristo lhe concede, como na
celebração dêste presente Concilio. No tumulto dos acontecimentos con­
temporâneos na previsão de futuras alterações, na desanimadora expe­
riência das sempre renascentes discórdias humanas, e no irresistível ca­
minho dos povos no sentido da sua unificação, tínhamos necessidade de
verificar quase experimentalmente a unidade que nos constitui a todos
família e templo de Deus, Corpo místico de Cristo; tínhamos necessidade
de nos encontrarmos e de nos sentirmos verdadeiramente irmãos, de
trocarmos o beijo da paz, de nos amarmos, numa palavra, como Cris­
to nos amou.
E aqui, o nosso amor já encontrou e continuará ainda a encontrar
expressões que caracterizam êste Concilio diante da história presente
e futura. Tais expressões responderão um dia ao homem empenhado
em definir a Igreja neste momento culminante e crítico da sua exis­
tência: que fazia a Igreja Católica naquele momento? perguntar-se-á.
Amava, será a resposta. Amava com coração pastoral, todos o sabem,
ainda que seja difícil penetrar a profundidade e riqueza dêste amor
que Cristo fêz brotar três vêzes do coração arrependido e ardoroso
de Simão Pedro. Bem vos lembrais: “Jesus diz a Simão Pedro. ,,m ’
filho de João, amas-me mais que êstes? - responde-lhe: sim,, o se­
nhor: tu sabes que te amo; diz-lhe Jesus: apascenta o meu ^
(Jo 21,15). E o mandato de apascentar o seu rebanho, manda
riva do amor de Cristo, dura ainda e da razao e cátedras par-
como se estende, dura ainda e dá razão de ser as v
434 III. Documentos
ticulares. veneráveis Irmãos. Hoje afirma-se com nova consciência e
novo vigor. E’ êste Concilio que o diz: A Igreja é uma sociedade fun­
dada sôbre o amor e governada pelo amor. Também se dirá: A Igreja
do nosso Concilio amava com coração missionário. Todos sabem como
êste sacrossanto Sinodo intimou todos os bons católicos a serem após­
tolos e como dilatou os limites do zêlo apostólico até abrangerem to­
dos os homens, tôdas as raças, tôdas as nações e tôdas as classes:
a universalidade do amor, mesmo quando vence as forças de quem a
persegue, ou exige dêsse amor a entrega total e heróica, teve aqui,
e oxalá tenha para sempre, a sua voz solene.
A Igreja do Concilio Ecumênico Vaticano II amava também de
verdade, com coração ecumênico, quer dizer com coração dilatado, hu­
milde, afetuoso, todos os irmãos cristãos ainda estranhos à perfeita
comunhão com esta nossa Igreja una, santa, católica e apostólica. Se
durante a realização dêste Concilio houve uma nota repetida e emocio­
nante, foi de fato aquela que encarou o grande problema da reinte­
gração de todos os cristãos na unidade desejada por Cristo, encarou
as suas dificuldades e as suas esperanças. Não é esta, veneráveis Ir­
mãos e vós, Reverendos e queridos Observadores, uma nota de caridade?
3. Nem esta reunião conciliar, tôda concentrada à volta do nome
de Cristo e da sua Igreja, e que por isso tem caracteres e limites bem
definidos, poderá considerar-se satisfeita de si mesma, e por conse­
quência fechada sôbre si, ignorante dos interêsses dos demais e a êles
insensível, aos interêsses das multidões imensas de homens, que não têm
a dita de terem sido recolhidos, como nós o somos sem mérito próprio,
neste feliz reino de Deus, que é a Igreja.
Não é assim. O amor que anima a nossa comunhão não se aparta
dos homens, não nos torna exclusivistas nem egoístas. E’ precisamente
o contrário: o amor que vem de Deus forma-nos no sentido da univer­
salidade; a nossa verdade incita-nos à caridade — lembrai-vos da in­
dicação do Apóstolo: “Veritatem autem facientes in caritate”, realiza­
mos a verdade no sentido da caridade (Ef 4,15). E aqui, nesta assem­
bléia, a manifestação da fé e da caridade tem um nome sagrado^ e
grave: denomina-se “responsabilidade” ; São Paulo diria “urgência”. “Ca-
ritas Christi urget nos”. “A caridade de Cristo urge-nos” (2 Cor 5,14).
Nós sentimo-nos responsáveis diante de tôda a humanidade. Somos de­
vedores para com todos (cf. Rom 1,14). A Igreja neste mundo não
é fim de si mesma; está ao serviço de todos os homens; deve tornar
presente Cristo a todos, indivíduos e povos, do modo mais amplo e mais
generoso possível; esta é a sua missão. A Igreja é portadora de amor,
favorece a verdadeira paz e repete com Cristo: “Ignem veni mittere in
terram”, vim trazer fogo à terra (Lc 12,49). A Igreja tinha também
necessidade desta consciência, desta declaração, e o Concilio apresentou-
lhe essa desejada oportunidade.
Podemos nós acaso esquecer que vem aqui desaguar o rio da his­
tória secular da salvação, história terrena do amor celestial? Deixare­
mos de notar que êste Concilio revela à própria Igreja uma consciência
mais plena e profunda das razões da sua existência, que são as misterio­
sas razões de Deus “que amou o mundo”? (Jo 3,16). E que revela tam-
Discurso de Abertura da Quarta Sessão 435
bém as razões da sua missão semnrp Q . ,
novadores e vivifieadores para a humanidade? ^ 3 Cm fermentos re‘
* ■ ?. S nCnÍ!',°nHnfep CH à ,gr.eja- e a especialmente, a visão pano-
*plar? aÍDeixar; def amar
í era 3 f T ’ Poderemos
o mundo? Esta contemplaçãonós deixar
será deum a dos
contem-
atos
principais da Sessão do nosso Concilio que agora principia. Contem­
plara ainda e sobretudo, amor: amor aos homens de hoje como êles
são e onde quer que estejam, a todos. Enquanto outras correntes de
pensamento e de ação proclamam bem diversos princípios para construir
a civilização dos homens como são o poderio, a riqueza, a ciência,
a luta, e outros elementos a Igreja proclama o amor. O Concilio é
um ato de solene amor à humanidade. Cristo nos ajude para que assim
seja de verdade.
E nesta altura assalta-nos um pensamento, que parece opor-se a
esta suave e forte irradiação da nossa simpatia cristã e humana para
com tôdas as pessoas e todos os povos desta terra. Sabemos, na verda­
de, por experiência sempre amarga e sempre atual, que mesmo o amor,
e talvez o amor de maneira especial, encontra e provoca indiferença,
oposição, desprêzo e hostilidade. Nenhum drama, nenhuma tragédia igua­
lou o sacrifício de Cristo, que exatamente por causa do seu amor e por
causa da inimizade alheia sofreu a cruz. Muitas vêzes a arte de amar
se converte na arte de sofrer.
Assim também a Igreja: desistirá ela da sua missão de amor por
causa dos riscos e das dificuldades, que a ela se opõem?
Ouvi mais uma vez a S. Paulo: “Quem nos separará então da ca­
ridade de Cristo?” (Rom 8,35) e recordai de nôvo a enumeração das
adversidades que o Apóstolo, como que desafiando-as, vai apresentan­
do; para recordar que da caridade nada nos pode, nada nos deve sepa­
rar. Pois bem, êste Concilio pede humildemente ao Senhor a graça de
o tornar digno de se alegrar como os primeiros Apóstolos (At 4,41),
das ofensas sofridas pelo nome de Jesus. Porque ainda agora a ofensa
é grave e dolorosa para êste pacífico Concilio: Não poucos dos que
deveríam sentar-se aqui convosco, veneráveis Irmãos, faltam ao nosso
convite, por se encontrarem injustamente impedidos de vir. O que é
sinal de ainda ser grave e dolorosa a opressão que em não poucos
países atinge a Igreja católica e com cálculo premeditado tende-se a su­
focá-la e a suprimi-la. O nosso coração enche-se de amargura ao lem­
brar-se disto, que mostra quanto o mundo está ainda longe da \er-
dade, da justiça, da liberdade e do amor, quer dizer da paz, para usar
as palavras do nosso venerado predecessor João XXIII (cf. P a te m in
te r r is ).
Fiéis porém ao espírito dêste Concilio, nós reagiremos com um
ato duplo de amor aos nossos irmãos que sofrem: levem-lhes os anjos
de Deus a nossa saudação, o testemunho de que nos lembramos deU.^
o nosso afeto; e conforte-os saber que a dor que sentem, o exemplo que
dão, honram a Igreja de Deus e em vez de apaga ^ P*
vivam na esperança a comunhão de ^ridade que 3 *le!j
r a r .íK s ss -« « -*»’*—
436 III. Documentos
humilde e superior, aquela que nos ensina o Divino Mestre: “Amai os
vossos inimigos... e pedi por aquêles que vos perseguem e caluniam..
(Mt 5.44). Êste Concilio deverá certamente ser firme e claro quanto
à retidão da doutrina; mas, quanto àqueles que por cego preconceito
anti-religioso ou por injustificado propósito antieclesiástico tanto fazem
ainda sofrer a Igreja, em vez de condenar seja quem fôr, terá sentimen­
tos de bondade e de paz, e pedirá, sim, pediremos todos com amor,
para que lhes seja concedida por Deus aquela misericórdia que implo­
ramos para nós próprios. Seja o amor o único vencedor de todos.
E triunfe entre os homens a paz! A paz que, precisamente nestes dias,
é ferida e sangra por duros conflitos entre povos que têm tanta ne­
cessidade de paz! Não podemos silenciar, nem mesmo neste momento,
nosso vivíssimo desejo para que cesse a guerra, regresse entre as gen­
tes o respeito mútuo e a concórdia e, sim, prontamente e sempre triun­
fe a paz!
E aqui termina o Nosso discurso que não pretende senão escla­
recer o sentido e reavivar o espírito desta última Sessão do Concilio
Ecumênico. Como vêdes, veneráveis Irmãos, não tocamos nenhum dos
temas que serão propostos ao exame e às deliberações desta assembléia.
O Nosso silêncio não oculta porém, manifesta até o Nosso propósito
deliberado de não Nos anteciparmos com a Nossa palavra à livre orien­
tação das vossas opiniões acêrca dos assuntos propostos.
Não podemos contudo omitir algumas coisas.
A primeira é o Nosso reconhecimento a todos que trabalharam, e Nós
sabemos com quanto cuidado, nas comissões e subcomissões para a me­
lhor redação dos esquemas que serão em breve discutidos. Qualquer que
seja o juízo que vós venhais a dar sôbre tais esquemas, todos aquêles
que lhes dedicaram estudos, tempo e canseiras, merecem aplauso e re­
conhecimento.
A segunda coisa é o anúncio, que temos o prazer de vos dar, de
ter sido instituído, segundo os desejos dêste Concilio, um Sinodo Epis­
copal, que, sendo composto de Bispos nomeados, pela maior parte, pelas
Conferências Episcopais, com a Nossa aprovação, será convocado, se­
gundo os desejos da Igreja, pelo Romano Pontífice, como órgão con­
sultivo e de colaboração, sempre que isto lhe pareça oportuno. Julgamos
supérfluo acrescentar que esta colaboração do Episcopado deve trazer
grande ajuda à Santa Sé e a tôda a Igreja, e de modo particular po­
derá ser útil ao trabalho cotidiano da Cúria Romana, à qual devemos
tanto reconhecimento pela sua valiosíssima ajuda e da qual, como os
bispos nas suas dioceses, também Nós temos permanente necessidade
para as Nossas solicitudes apostólicas. Outras normas e pormenores
serão dados a conhecer quanto antes à Assembléia. Nós não quisemos
privar-nos da honra e da satisfação de vos fazermos esta pequena co­
municação para vos testemunhar mais uma vez, pessoalmente, a Nossa
confiança, a Nossa estima e a Nossa fraternidade. Colocamos debaixo
da proteção de Maria Santíssima esta bela e prometedora novidade.
A terceira, que já vos é conhecida, é a deliberação de aceitarmos
o convite que Nos foi feito de visitar, na sua sede de Nova York, a
Organização das Nações Unidas, por ocasião do vigésimo aniversário
Discurso de Abertura da Quarta Sessão 437
da fundação desta instituição mundial; e fá-lo-emos, permitindo Deus,
durante esta Sessão conciliar, com uma ausência brevíssima, para le­
varmos aos representantes das Nações lá reunidos, uma mensagem de
respeito e de paz. Esperamos que à Nossa mensagem se há de unir o
sufrágio da vossa adesão unânime (aplausos). Na verdade, não preten­
demos senão unir à Nossa voz o côro das vossas, que sempre, em obe­
diência e em virtude da missão apostólica que a vós e a Nós foi confia­
da por Cristo, anunciam e auguram a concórdia, a justiça, a fraternida­
de, a paz entre os homens de boa vontade, amados por Deus.
Não esquecemos uma saudação reverente e cordial em Cristo diri­
gida a todos e cada um de vós, irmãos, unidos neste Concilio, seja
do Oriente seja do Ocidente. Desejamos dirigir também uma expressão
particular de obséquio e satisfação aos Membros do Corpo Diplomáti­
co. Fazemos chegar também a Nossa saudação, com reconhecimento,
a todos e a cada um dos Observadores, satisfeito e honrado de os
vermos ao Nosso lado, garantindo-lhes o Nosso respeito cordial. Sau­
damos por fim os Nossos caros Auditores e Auditoras, os Peritos, e to­
dos os que ajudam e prestam serviço na realização do Concilio; de
modo especial à imprensa, à rádio, à televisão. A todos a Nossa Bên­
ção Apostólica.
Motu Proprio "Apostólica Sollicitudo”: Sinodo dos Bispos

N o DISCURSO DE ABERTU-
ra da IV Sessão do Concilio Ecumênico, dia 14-9-1965, o Papa
Paulo VI surpreendeu os Padres Conciliares com a seguinte co­
municação: . Temos o prazer de vos anunciar que foi insti­
tuído, segundo os desejos dêste Concilio, um Sinodo Episcopal,
que, sendo composto de Bispos nomeados, pela maior parte, pelas
Conferências Episcopais, com a Nossa aprovação, será convoca­
do, segundo os desejos da Igreja, pelo Romano Pontífice, como
órgão consultivo e de colaboração, sempre que isto lhe pareça
oportuno. Julgamos supérfluo acrescentar que esta colaboração
do Episcopado deve trazer grande ajuda à Santa Sé e a tôda
a Igreja, e de modo particular poderá ser útil ao trabalho coti­
diano da Cúria Romana, à qual devemos tanto reconhecimento
pela sua valiosíssima ajuda e da qual, como os Bispos nas suas
dioceses, também Nós temos permanente necessidade para Nos­
sas solicitudes apostólicas. Outras normas e pormenores serão
dados a conhecer quanto antes à Assembléia. Nós não quisemos
privar-Nos da honra e da satisfação de vos fazer esta pequena
comunicação para vos testemunhar mais uma vez pessoalmente a
Nossa confiança, a Nossa estima e a Nossa fraternidade. Colo­
camos debaixo da proteção de Maria Santíssima esta bela e pro-
metedora novidade”. No dia seguinte, 15-9-1965, foi publicada
a seguinte Carta Apostólica, que aqui inserimos em nossa
tradução.
A apostólica solicitude com a qual, perscrutando atentamente os
sinais dos tempos, procuramos adaptar os métodos e meios do santo
apostolado às crescentes necessidades de hoje e às diferentes condições
sociais, Nos leva a consolidar com laços sempre mais íntimos Nossa
união com os Bispos, “que o Espírito Santo p ô s... para reger a Igreja
de Deus . 1 Movem-Nos a isso não só a reverência, estima e afeto que
1 A t 20,28.
Mo.u Proprio -Apostólica SoIliciMo": stoo*. dos Bispos 439
bém Nosso gravíssimo ônus de Pastor Universal • -
nutrimos, com justa razão, por todos os irmãos no episcopadT mas tím
gaçao de conduz.r o Povo de Deus às eternas pastagens E^eTtes nos
f°S
tos taosS’ '"fluxos
i ^ f í S hbeneficos
PefrtUrba'?°S e convulsos.
da graça celeste,n iíde ainda assimexperiência
cotidiana tão aber-
sabemos o quanto beneficia ao Nosso cargo apostólico esta união com
os santos pastores.^ Eis por que desejamos com todo o empenho promo-
ve-la, para que nao nos falte, como noutra ocasião asseveramos, o con­
forto de sua presença, o auxílio de sua prudência e experiência, o apoio
de seu conselho, o esteio de sua autoridade”. 2
Era portanto normal que, particularmente por ocasião do Concilio
Ecumênico Vaticano II, se arraigasse em Nós a firme convicção da im­
portância e necessidade de sempre mais recorrermos à cooperação dos
Bispos, para o bem da Igreja tôda. O Concilio Ecumênico constituiu-se
mesmo a causa da decisão de instituir um Conselho especial e estável
de antístites, com o fito de, mesmo após o Concilio, fazer chegar ao
povo cristão os abundantes benefícios felizmente resultantes de Nossa
íntima união com os Bispos durante o Concilio.
E agora, já próximo o fim do Concilio Ecumênico Vaticano II,
cremos ter chegado o tempo oportuno de efetivar o propósito já há
tempo concebido; e com tanto maior satisfação o fazemos, quanto certo
estamos que os Bispos de todo o orbe católico abertamente aprovam Nosso
propósito, como consta dos votos de muitos santos pastores, a tal res­
peito expressos no Concilio Ecumênico.
Por isso, após madura reflexão, por Nossa estima e reverência a
todos os Bispos católicos, e para lhes propiciar mais autêntica e efi­
ciente participação em Nossa solicitude pela Igreja universal, motu proprio
e com Nossa autoridade apostólica, erigimos e constituímos nesta cidade
santa, para a Igreja tôda, um conselho estável de Bispos, direta e ime­
diatamente sujeito a Nosso poder, ao qual damos o nome próprio de
Sinodo dos Bispos.
Êste Sinodo — que, como tôda e qualquer instituição humana —
poderá, no correr dos tempos, assumir formas sempre mais perfeitas,
rege-se pelas seguintes normas gerais:
I
O Sinodo dos Bispos, pelo qual os Bispos escolhidos de várias
regiões do orbe, prestam mais eficaz colaboração ao Supremo Pastor
da Igreja, constitui-se de modo tal, que: a) seja um órgão eclesiástico
central; b) faça as vêzes de todo o Episcopado católico; c) seja per­
pétuo por natureza; d) quanto à estrutura, desempenhe suas funções
temporária e ocasionalmente.
II
Por sua natureza cabe ao Sinodo dos Bispos informar e
selhar. Poderá também gozar de poder deliberativo, ^uanc°
ceder o Romano Pontífice, a quem competirá nesse caso ratinu
decisões sinodais.
AAS 1964, p. 1011.
440 III. Documentos
1. São êstes os fins gerais do Sinodo dos Bispos: a) fomentar a
intima união e a cooperação entre o Sumo Pontífice e os Bispos de
todo o mundo; b) proporcionar informações diretas e fidedignas sô­
bre os problemas e situações atinentes à vida interna da Igreja, e sua
respectiva ação no mundo atual; c) facilitar a concórdia das opiniões,
ao menos nos pontos essenciais da doutrina, e quanto ao modo de agir
na vida eclesiástica.
2. Fins especiais e imediatos: a) intercâmbio de informações opor­
tunas; b) aconselhar sôbre as questões, para as quais se convocará
cada vez o Sinodo.
III
O Sinodo dos Bispos está direta e imediatamente sujeito à auto­
ridade do Romano Pontífice, ao qual além disso caberá: 1) convocar o
Sinodo, sempre que lhe parecer oportuno, e designar o local das reu­
niões; 2) ratificar a eleição dos membros de que falam os nn. V e VIII;
3) marcar o assunto dos debates, se possível ao menos 6 meses antes
da realização do Sinodo; 4) cuidar do envio dos assuntos a tratar aos
que deverão participar nos debates; 5) estatuir a ordem do dia; 6) pre­
sidir ao Sinodo, pessoalmente ou por outros.
IV
O Sinodo dos Bispos pode reunir-se em assembléia geral, extraor­
dinária e especial.
V
0 Sinodo dos Bispos, reunido em assembléia geral, compreende,
primeiro e de per si:
1. a) Os Patriarcas, Arcebispos Maiores e Metropolitas indepen­
dentes dos Patriarcados das Igrejas Católicas de rito oriental; b) os
Bispos eleitos pelas Conferências Episcopais Nacionais, a teor do n. VIII;
c) os Bispos eleitos pelas Conferências Episcopais de várias nações,
i. é, instituídos para as nações sem Conferência Nacional própria, a
teor do n. VIII; d) acrescem a êsses dez religiosos, representantes dos
Institutos Religiosos Clericais, eleitos pela União Romana dos Superio­
res Gerais.
2. Participam também da assembléia geral do Sinodo dos Bispos
os Cardeais postos à frente dos Dicastérios da Cúria Romana.
VI
0 Sinodo dos Bispos, reunido em assembléia extraordinária, com­
preende:
1- a) Os Patriarcas, Arcebispos Maiores e Metropolitas indepen­
dentes dos Patriarcados das Igrejas Católicas de rito oriental; b) os
residentes das Conferências Episcopais Nacionais; c) os Presidentes
d p Conferências Episcopais de várias nações, instituídas para as na­
ções que não têm Conferência Episcopal própria; d) três religiosos,
representantes dos Institutos Religiosos Clericais, eleitos pela União Ro­
mana dos Superiores Gerais.
Motu Pr°Prio “Apostólica Sollicitudo”: Sinodo dos Bispos 4 4 .
2. Participam também da assembléia extraordinária do Sinodo dos
Bispos os Cardeais postos à frente dos Dicastérios da Cúria Romana
VII
Reunido em assembléia especial, o Sinodo dos Bispos compreende
os Patriarcas, Arcebispos Maiores e Metropolitas independentes dos Pa­
triarcados das Igrejas Católicas de rito oriental, como também os re-
presentantes quer das Conferências Episcopais de uma ou várias na­
ções, quer dos Institutos Religiosos, a teor dos nn. V e VIII, contanto
que pertençam todos às regiões, para as quais foi convocado o Síno-
do dos Bispos.
VIII
Assim são eleitos os Bispos representantes de cada Conferência
Episcopal Nacional: a) um para cada Conferência Episcopal Nacional
com não mais de 25 membros; b) dois para cada Conferência Episcopal
Nacional com não mais de 50 membros; c) três para cada Conferência
Episcopal Nacional com não mais de 100 membros; d) quatro para
cada Conferência Episcopal Nacional com mais de 100 membros. As
Conferências Episcopais Internacionais elegem seus representantes se­
gundo as mesmas normas.
IX
Na eleição dos que representam, no Sinodo dos Bispos, as Confe­
rências Episcopais de uma ou várias nações, e os Institutos Religiosos,
tenha-se em muita conta não só a sua prudência e ciência, em geral,
mas também o seu conhecimento teórico e prático da matéria a tratar
pelo Sinodo.
X
O Sumo Pontífice, se lhe aprouver, aumentará o número de mem­
bros do Sinodo dos Bispos, elevando o número quer de Bispos, quer
de Religiosos representantes dos Institutos Religiosos, quer, enfim, de
peritos eclesiásticos, até 15% do total de membros de que falam os
nn. V e VIII.
XI
Finda a assembléia, para a qual se convocou o Sinodo, cessam,
ipso facto, tanto a reunião das pessoas do mesmo, quanto os ofícios e
funções de cada membro como tal.
X II
O Sinodo dos Bispos tem um Secretário perpétuo ou geral, assis­
tido por número conveniente de ajudantes. Além disso, tôda assembléia
do Sinodo dos Bispos tem um secretário especial, que permanece no
cargo até o fim daquela. . .
Tanto o Secretário Geral como os especiais nomeia-os o sumo
P°ntístoe' decretamos e estatuímos, não obstante qualquer eoisa contrária.
Dado em Roma, junto de São Pedro, aos 15 dias do mêr
tembro do ano de 1965, terceiro de Nosso pontificado.
P a u lu s PP- vi

Concilio - V — 29
Homília de Paulo VI na Sessão Pública de 28-10-1965

N o DIA 28 DE OUTUBRO CE-


lebrou-se a sétima Sessão Pública do Vaticano II, para a so­
lene promulgação de cinco documentos conciliares: o Decreto
Christus Dominus, sôbre o múnus pastoral dos Bispos, o Decre­
to Perfectae Caritatis, sôbre a atualização dos Religiosos, o De­
creto Optatam Totius, sôbre a formação dos Sacerdotes, a De­
claração Gravissimum Educationis, sôbre a educação cristã e a
Declaração Nostra Aetate, sôbre as relações da Igreja com as
religiões não-cristãs. Nesta oportunidade, durante a concelebra-
ção eucarística, pronunciou o Papa Paulo VI a seguinte homí­
lia, aqui reproduzida segundo a tradução divulgada pelos Ser­
viços de Imprensa do Concilio.
Acabastes de escutar, Veneráveis Irmãos e Filhos caríssimos, as pa­
lavras do Apóstolo a discorrer sôbre a ação de Cristo Senhor, que do
alto dos céus continua na Igreja a sua obra, obra esta que não só
cGnserva aquela que Êle levou a efeito durante a sua vida temporal
na terra, mas que é também edificadora, isto é, progressiva e crescente,
como num célebre episódio do Evangelho Êle mesmo tinha anunciado,
denominando-se artífice do desenvolvimento orgânico e coerente do edi­
fício por Êle fundado sôbre a Pedra que Êle mesmo escolheu e tornou
idônea a sustentar tão grande construção: “edificarei a minha Igreja"
(Mt 16,18). Com efeito, diz São Paulo, no trecho da Carta aos Efésios
há pouco oferecido à nossa meditação: “Êle, Cristo, constituiu uns como
apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, outros como
pastores e mestres, para o aperfeiçoamento dos santos, em vista da obra
de ministério, que é a edificação do corpo de Cristo, até que nos reu­
namos todos na unidade da fé e no reconhecimento do Filho de Deus,
atingindo a maturidade do homem feito, na medida da idade da pleni­
tude de Cristo" (Eí 4,11-13). Êste fato, divino na sua causa, humano
na sua consistência histórica e experimental, é ainda hoje perceptível
aos nossos sentidos espirituais, contanto que êstes estejam abertos a tão
grande prodígio. Podemos fazer nossa a palavra messiânica, já expressa
por Jesus: “hoje se cumpriu esta Escritura nos nossos ouvidos" (Lc 4,21)*
O que, de fato, sucede hoje nesta Basílica? Vós o sabeis: acon­
tece que, neste sacrossanto Concilio, guia e síntese da Santa Igreja de
Deus, depois de muito estudo e repetida oração, são promulgados tres
Homília de Paulo VI na Sessão Pública de 28-10- 1965 443
Decretos de grande importância, que dizem i •.
Igreja, a saber: ao múnus pastoral dos Bispos T víHp mesma. da
mação
Haracõessacerdotal. A estas leis solenes seeuem’ „p, m g f ’ a í?r*
clarações sôbre
soore aa edurarãn
eaucaçao rricts -u asseguem
crista e sobre relaçõesnaoda menos solenes
lereia Católica De­
com
aqueles que professam rel.giões não-cristãs. Não é preciso que exp iquem^
o conteúdo, que vos conheceis muito bem, dêstes documentos nem “
importância e apl.caçao que eles terão no mundo e no tempo, nem a sua
repercussão que esperamos seja grandemente salutar, nas almas e no
sucessivo desenrolar da vida eclesiástica, porque cada um de vós já
avaliou estes aspectos admiráveis dos documentos em questão. Podemos
dizer a nos mesmos que será sumamente útil para nós e para o nosso
ministério se quisermos, mesmo depois da proclamação dêstes documen­
tos, meditá-los novamente com calma uma vez que a Igreja, no exer­
cício do mais elevado e responsável dos seus ministérios, movida indubi-
tàvelmente pelo Espírito Santo, os extrai do seio de sua sabedoria, os
propõe a si mesma, como conquistas do seu dedicado e incansável pen­
samento, os estabelece para si mesma, como nôvo compromisso que não
a sobrecarrega mas a sustenta e sublima, conferindo-lhe plenitude, se­
gurança e alegria, valôres para os quais não temos outra denominação
do que a de vida.
A Igreja vive! Está aí a prova: a sua respiração, a sua voz, o seu
canto. A Igreja vive!
Não é por isso, Veneráveis Irmãos, que acolhestes a convocação
dêste Concilio Ecumênico? Para apalpar a vida da Igreja, para fazê-la
viver mais intensamente, para descobrir não a sua velhice, mas a ener­
gia juvenil da sua perene vitalidade, para restabelecer novas relações
entre a obra de Cristo que é a Igreja e o tempo que passa e hoje,
nas mudanças que êle provoca e apresenta, se torna avassalador. Não
se trata de proceder a uma reconstrução histórica nem a uma redução
às metamorfoses da cultura profana, porque a natureza da Igreja é sem­
pre igual e fiel a si mesma, como Cristo a quis e a autentica e aper­
feiçoa. Trata-se de torná-la mais capaz de desenvolver a sua missão
benéfica nas condições novas da sociedade humana. E’ por isso que
viestes. E eis que os atos conclusivos do Concilio nos fazem experimen­
tar que a Igreja vive. A Igreja pensa, a Igreja fala, a Igreja reza, a Igreja
cresce, a Igreja se edifica.
Nós devemos saborear êste fenômeno estupendo, devemos perceber
o seu aspecto messiânico: a Igreja saiu do Cristo, a Igreja volta para
o Cristo. São êsses os seus passos, os atos com os quais se aperfeiçoa,
se confirma, se desenvolve, se renova, se santifica. Todo êsse esforço
de aperfeiçoamento da Igreja não é em última análise senão uma ex­
pressão de amor para com Cristo Senhor, para com aquêle Cristo que
nela suscita a exigência de ser e de sentir-se fiel, de manter-se auten
tica e coerente, viva e fecunda, e para com aquêle Espôso divino que
a chama e guia. E êste movimento tem justamente a sua causa
na apostolicidade da Igreja, naquela função da qua:^^Krjência uma
corpo místico e social e que coloca em evidencia e eim Dajavra
Hierarquia apostólica e pastoral que haure do pr°pn jesenvol-
graça e poder, que ela conserva, perpetua, transmite exeruta, desenv^
ve, tornando assim o Povo de Deus internamen e v
namente visível, isto é, social e histórico.
29*
444 III. Documentos
Estamos celebrando um dos momentos mais significativos e plenos
desta apostolicidade. Não para atribuir méritos a nossas pessoas, mas
para ressaltar a glória de Cristo, nós nos devemos sentir responsáveis
pelas ações que estamos realizando em virtude do Espirito Santo que
Cristo nos infundiu, para fazer descer, por nosso intermédio, nós que
somos humildes ministros mediadores, à grande família de Deus, que
é a Santa Igreja, os incrementos construtivos preparados para a sua edi­
ficação, ainda hoje em ato.
Agrada-Nos que isto aconteça na festa dos santos Apóstolos Simão
e Judas Tadeu, em honra dos quais foi dedicada uma palavra do Senhor,
ouvida agora pela leitura do Evangelho. Nesta palavra não se prome­
tem facilidades ou felicidades na missão apostólica. Pelo contrário, en-
sina-se que ela encontra dificuldades e que são reservados sofrimentos
aos que a exercem.
E? muito agradável também que êste acontecimento se verifique
no dia de aniversário de eleição do nosso venerável predecessor João
XXIll. A convocação do Concilio se deve à sua idéia inspirada.
Alegra-nos também ter aqui conosco, concelebrando neste altar apos­
tólico. alguns Irmãos Bispos, representantes caríssimos de regiões onde
a liberdade, soberano direito do Evangelho, continua limitada ou nega­
da. Alguns Bispos são testemunhas dos sofrimentos que assinalam o
apóstolo de Cristo. A êstes irmãos e Igrejas, donde nos vem a lembran­
ça de uma paixão generosa e a estas Nações, que a presença dêstes
Bispos nos fazem mais amar, una-se juntamente com a nossa oração
sacrifical, a expressão da nossa solidariedade, da nossa caridade, dos
nossos votos por dias melhores.
Uma saudação afetuosa igualmente para os Bispos Irmãos aqui pre­
sentes e vindos de Nações, onde a paz está perturbada com tantas lá­
grimas, sangue, destruições e com ameaças de novas dores, formulando
o desejo de que em suas regiões sejam felizmente restabelecidas a or­
dem com a justiça, a concórdia e a paz.
E a todos vós, caríssimos Irmãos em Cristo, em cujo nome sois
apóstolos e pastores, arautos do Evangelho e construtores da sua Igre­
ja, com a comunhão desta concelebração, por vós participada ou assistida,
estejam unidas a certeza da nossa caridade e o convite a permanecer
conosco, em um só coração e uma só alma, encorajados pelos Decretos
Conciliares para a edificação da Igreja de Deus.
Queira o Senhor, que está misticamente no nosso meio e que, den­
tro de pouco tempo, estará sacramentalmente presente, confortar e san­
tificar a nossa missão apostólica e pastoral. Dela se beneficie e dela
se compraza a universal comunidade do clero, dos religiosos, dos fiéis
para uma nova manifestação de caridade. Com efeito é êste o escopo
fixado por Cristo para o ministério hierárquico.
Que nossos Irmãos cristãos, separados ainda da comunhão plena da
Igreja Católica, queiram contemplar a face da Igreja que se tornou
mais bela^ Que a contemplem também os membros de outras religiões
e, entre êles, aquêles que nos estão unidos pela mesma descendência
espiritual de Abraão, especialmente os judeus, não mais objeto de re­
provação e desconfiança, mas de respeito, amor e esperança.
A Igreja, de fato, progride, na firmeza da verdade e da fé, e na
expansão da justiça e da caridade. Esta é a vida da Igreja.
Paulo VI à Sessão Pública de 18-11-1965- As Decisões do
Concilio serão executadas

„ r . E s t a sessão pública do nos -


so Concilio Ecumênico Vaticano II precede de menos de três semanas o
encerramento do mesmo Concilio. Por isso, além da promulgação dos
importantíssimos atos conciliares, que vós conheceis, oferece-Nos ocasião
de conversarmos convosco sôbre alguns pontos práticos, próprios da
conclusão dêste grande acontecimento eclesiástico que celebramos regu­
larmente em quatro laboriosos períodos.
Nada diremos, desta vez, do valor extraordinário — religioso, dou­
trinai, espiritual, pastoral, histórico — dêste Concilio, nem do mistério
de sabedoria e de graça, que êle oferece, e por longo tempo oferecerá
à nossa meditação; nem tampouco das inovações que as decisões do
Concilio estão realizando, tanto no interior da Igreja, como nas suas
relações com as pessoas e com as coisas que a circundam: tudo aquilo
que cada um de nós traz na sua mente, como temas fecundos de pen­
samento e de ação. Já dissemos algo sôbre isso em discursos preceden­
tes e, por último, em nossa Exortação Apostólica do dia 4 do corrente
mês de novembro. Não queremos fazer agora o balanço do Concilio.
Baste-nos apenas notar como o seu desenrolar foi sempre ordenado,
regular, livre e pacífico e, por motivo de vossa presença e participação,
solene, laborioso, fecundo e sem dúvida benéfico. Nenhum outro Conci­
lio na Igreja de Deus teve proporções tão amplas, trabalhos tão assí­
duos e tranqüilos, temas mais variados e de interêsse maior, como a vida
própria da Igreja, os Irmãos cristãos ainda separados da sua comu­
nhão, as outras religiões não-cristãs, como também a humanidade em
geral que, neste Concilio, aprendemos a melhor conhecer nos seus pro­
blemas complexos e tremendos e a mais intensamente amar com a preo­
cupação do seu bem-estar, da sua paz e da sua salvação. Deus seja
louvado. Louvor só a Êle, que é nosso Pai e sumo bem, por Jesus Cristo,
nosso único e muito amado Senhor, no Espírito Santo, dulcíssimo Para-
dito, cuja caridade nos alimenta, nos guia e nos conforta. Louvado
seja Deus!
A Nós basta neste momento fixar o Nosso pensamento em algumas
conseqüências — como dissemos — do final do Concilio Ecumênico.
Êste final é sobretudo princípio de muitas coisas. A começar pe a in*
tuição dos órgãos que devem colaborar conosco na definição as
desejadas pelos Decretos conciliares. Temos a intenção ^ ^ 0 ^ais
pôr em prática esta instituição, pois é Nosso proposí o
446 III. Documentos
cedo possível as sagradas deliberações dêste Sinodo Ecumênico. Já insti­
tuímos três Comissões pós-conciliares: a que se ocupa da Sagrada Litur­
gia, a que tem por objeto a revisão do Código de Direito Canônico e
aquela que já está estudando a aplicação das disposições do Decreto
sôbre os instrumentos de Comunicação Social. Esperamos em seguida
a aprovação do esquema sôbre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja
para satisfazer amplamente ao desejo que êle continha, o que fizemos
anunciando a instituição do Sinodo Episcopal. Temos a esperança de
poder convocar êste Sinodo, se Deus quiser, ou no próximo ano, que
será inteiramente consagrado a outras preocupações pós-conciliares, ou,
pelo menos, em 1967, quando deveremos comemorar, de maneira con­
veniente, o centenário do martírio do Apóstolo Pedro, como já no sé­
culo passado estabeleceu o nosso predecessor de venerável memória,
Pio IX.
Igualmente teremos a preocupação de instituir quanto antes as Co­
missões que o Concilio tiver decretado para completar as normas dos
Decretos conciliares, ou para executar a sua aplicação (cf. Decreto sô­
bre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja, n. 44). Serão criados tam­
bém novos órgãos para a execução de serviços que os estatutos do Con­
cilio e as exigências da vida renovada da Igreja tornarem necessários.
De Nossa parte, temos a intenção de levar a bom têrmo estas conse-
qüências resultantes do Sinodo Ecumênico e de prosseguir as ativida­
des originadas durante a sua celebração, tais como os três Secreta­
riados já em ótimo funcionamento: um para favorecer a reintegração
de todos os cristãos na unidade da mesma Igreja, outro para as rela­
ções com as religiões não-cristãs e o terceiro para o estudo do ateísmo
e o contacto com os não-crentes. Oxalá o Senhor Nos mantenha em
Nosso propósito e conceda-Nos forças e meios para correspondermos aos
novos deveres.
Mas tudo isto, Veneráveis Irmãos, vai exigir um certo tempo. Não
se queira de modo algum interpretar como falta de fidelidade às reso­
luções, que acabamos de formular, o fato de que estas resoluções e outras
ainda dos órgãos centrais do govêrno da Igreja se façam com razoável
graduação, como também o fato de que as mesmas mudanças sejam es­
tudadas e realizadas de maneira a evitar um excesso de pêso burocrá­
tico e um inútil agravo econômico.
Longe de Nós a intenção de criar uma nova centralização hierár­
quica artificial. Pretendemos, isto sim, interessar o Episcopado à obra
de aplicação das leis conciliares e valer-Nos, quanto possível, de sua
colaboração a fim de melhor responder às exigências de Nossa tarefa
frente ao govêrno universal da Igreja. O nôvo papel eficaz reconhecido
às Conferências Episcopais é um acontecimento de importância na evo­
lução orgânica do Direito Canônico. E assim como Nós, de bom grado,
desejamos e favorecemos êste progresso, também assim esperamos que,
nos diferentes países e regiões, êle sirva ao honroso e salutar engrande-
cimento da Igreja. Longe de dividir e separar uns dos outros os mem­
bros visíveis do Corpo Místico de Jesus Cristo, êle aperfeiçoará, Nós
o esperamos, a coordenação orgânica na harmonia da unidade frater­
na. Este progresso Nós o favorecemos. E os órgãos centrais do govêrno
da Igreja entre êles, em primeiro lugar, a Cúria Romana — d°
Paulo VI à Sessão Pública de 18-11-19 5 5

atestar os seus bons serviços. Os reprováveis defeitos, que se atribuíam


á esta organização humana que cerca e ajuda o Pontificado Romano,
também por misericórdia divina hoje não existem mais. Ao contrário!
0 espírito religioso, o amor a Cristo, a fidelidade e obediência, o zêlo
pela Santa Igreja e a prontidão em favorecer o progresso felizmente
orientam a Cúria Romana, não sòmente tornando-a idônea para a sua
grande missão, mas também digna da confiança da Igreja inteira.
Com estas palavras não queremos negar que a Cúria Romana neces­
sita de aperfeiçoamentos. Tudo o que é humano e tudo o que vive no
tempo está sujeito a falhas e caducidade. As falhas do homem são tanto
mais visíveis e deploráveis quanto mais alta é a sua função e quanto
mais exige coerência moral e santidade cristã a obra à qual se dedica.
Nós somos 0 primeiro a reconhecer êste fato e a providenciar para que
a Cúria Romana seja convenientemente renovada, de acôrdo com o núme­
ro 9 do Decreto recente sôbre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja
e a velar para que o espírito autêntico de Jesus Cristo penetre e anime
cada vez mais os que se honram de pertencer-lhe.
Também neste assunto, Veneráveis Irmãos, Nós vos informamos que
não estivemos ocioso neste tempo, ainda que sobrecarregado de muitas
ocupações. Os estudos para a reforma da Cúria Romana já se inicia­
ram e estão a bom caminho. Comunicamos que não se verificou neces­
sidade grave de mudanças estruturais, fora o processo de sucessão e
substituição dos titulares. Requerem-se, com efeito, poucas renovações,
algumas simplificações e aperfeiçoamentos. Os critérios que devem orien­
tar êste organismo serão enunciados e estabelecidos mais claramente. A
transformação desejada vai parecer lenta e parcial. Mas assim de\e >er,
se quisermos respeitar devidamente as pessoas e tradições. Mas a tran>-
formação virá.
Para que seja dada alguma prova às Nossas palavras, podemos
anunciar que brevemente será publicado o nôvo estatuto do Santo Ofiuo,
primeira entre as Sagradas Congregações Romanas.

Parece-nos que é muito i:


tude no período pós-conciliar. A celebração do Concilio despertou, ao
448 III. Documentos
que Nos parece, três estados de espírito diferentes. O primeiro foi de
entusiasmo. Era justo que assim fôsse: surprêsa, alegria, esperança e
um sonho quase messiânico acolheram o anúncio esperado e contudo ines­
perada convocação. No início uma brisa de primavera passou em todos
os espíritos. Seguiu-se um segundo momento, aquêle do desenvolvimento
efetivo do Concilio, que se caracterizou pela “problematicidade”. Era ló­
gico que êste aspecto da problemática acompanhasse o trabalho conci­
liar que, como vós bem o sabeis, foi imenso, graças especialmente aos
membros das Comissões e Subcomissões, nas quais o trabalho dos Pe­
ritos, de alguns de modo especial, foi prudente e ponderável. Demonstran­
do um reconhecimento público, quisemos que ao menos alguns entre
êles se associassem convosco na concelebração do Sacrifício divino.
Contudo, em alguns setores da opinião pública, tudo se tornou discuti­
do e discutível, tudo apareceu difícil e complexo, pretendeu-se submeter tudo
à critica e à impaciência de novidades. Surgiram inquietaçeõs, correntes,
temores, audácias e arbitrariedades. Tudo se tornou duvidoso, inclusive
os cânones da verdade e da autoridade, até que se ouviu, suave, medi­
tada e solenemente a voz do Concilio. Na última fase do Concilio, suas
palavras graves e alentadoras anunciarão qual deverá ser a forma de vida
da Igreja.
Segue-se. então, o terceiro momento, aquêle dos propósitos, da
aceitação e da execução dos Decretos conciliares, para o qual todos
devem preparar os espíritos. Termina a discussão e começa a com­
preensão. À ação do arado que revolve a terra, sucede o cultivo orde­
nado e positivo. A Igreja se reorganiza com as novas formas que o
Concilio lhe deu. A fidelidade a caracteriza. Uma novidade a qualifica,
a consciência aumentada da comunhão eclesial, de sua união maravi­
lhosa. da maior caridade que deve unir, ativar e santificar a comunhão
hierárquica da Igreja.
E’ êste o período do verdadeiro “aggiornamento” preconizado por
nosso predecessor de venerável memória João XXIII, o qual não queria
certamente atribuir a esta palavra programática o significado que alguns
procuram dar-lhe, como se ela consistisse em relativizar, segundo o
espírito do mundo, tôdas as coisas da Igreja, seus dogmas, leis, estru­
turas e tradições. Ao contrário, em João XXIII estêve sempre vivo e
firme o sentido da estabilidade doutrinária e estrutural da Igreja, funda­
mento do seu pensamento e de sua obra. Para nós“aggiornamento ha
de significar doravante penetração esclarecida no espírito do Concilio
e fiel aplicação das diretrizes que êle traçou de um modo tão fehz
e tão santo.
Cremos que nesta linha deve evoluir o espírito nôvo da Igreja,
clérigos e fiéis encontrarão um magnífico trabalho espiritual a realizar
em vista da renovação de sua vida e de sua atividade em conformidade
com Cristo. Para êste trabalho convidamos todos os Nossos irmãos e
Nossos filhos: todos aquêles que amam Cristo e a Igreja estejam co­
nosco para afirmar mais claramente o sentido de verdade, próprio da
tradição doutrinária inaugurada por Cristo e pelos Apóstolos. Para afir­
mar o sentido da disciplina eclesiástica e da união profunda e cordia
que nos faz a todos confiantes e solidários, como membros do mes­
mo Corpo.
Paulo VI à Sessão Pública de 18-11-1965
449
Para fortificar-nos neste esfôrco „„„ -
pomos à Igreja recordar piedosamente as n Ja Ça° esp,ritual> Nds pro-
nossos predecessores imediatos Pio XII e loão xxm 6 °S exempl°® dos
e o mundo tanto devem. Com essa^finalidade £ V ° S q1a,S a ,greja
cessos canônicos de beatificação dêstes dois’ Pontífi^ fã o ' grandeí
tao piedosos e que nos são muito caros. Assim, será satisfeito o deseTó
expresso relativamente a um e outro Papa, por inúmeras vozes Assim,
a. P°stendade podera acolher, com toda a segurança, o patrimônio es­
piritual que eles deixaram por herança. Evitar-se-á, enfim, que motivos
estranhos ao culto da verdadeira santidade, a saber, a glória de Deus
e a edificação da sua Igreja, venham a tirar a autenticidade na apre­
sentação destas caríssimas figuras à veneração da geração presente e
das gerações futuras. O processo, como todos sabem, não poderá ser
rápido, mas êle será feito com diligência e regularidade. Deus queira
que êle Nos conduza ao ponto a que, desde já, pretendemos chegar.
O aproximar-se do término dêste Concilio Nos sugeriría tomar uma
visão de conjunto dos frutos já amadurecidos por nossa Assembléia,
tanto do ponto de vista doutrinário, sob forma de ensinamentos magní­
ficos, ricos de verdade e fecundos para a ação, quanto do ponto de
vista da caridade: o Concilio nos reuniu a todos, vindos dos mais dis­
tantes pontos da terra, para nos conhecer mütuamente, para juntamente
rezar, estudar e decidir, para professar unânimemente nossa fidelidade
a Cristo e ao seu Evangelho e para aumentar nossa capacidade de nos
amar e de amar os nossos Irmãos separados, os pobres e os que sofrem,
o mundo que reflete e que trabalha, a humanidade inteira. Mas falta
tempo ainda para uma síntese de tal alcance. Outras ocasiões para um
tal estudo serão oferecidas a Nós e aos que virão depois de Nós.
Concluímos, por hoje, anunciando em primeiro lugar um projeto pelo
qual gostaríamos que a lembrança do Concilio se perpetuasse de ma­
neira adequada. Êste projeto é o da construção em Roma, num ponto
escolhido de acôrdo com as necessidades da pastoral, de uma nova igreja
dedicada a Nossa Senhora, Mãe desta Igreja, da qual Maria é ela mesma
a Filha bendita, primeira e a título privilegiado.
Em segundo lugar, participamo-vos Nossa intenção de proclamar
para tôda a Igreja um jubileu especial que durará do fim do Concilio
até a próxima festa de Pentecostes. Sua finalidade será a de retomar
a pregação da mensagem de verdade e de caridade que emana do pró­
prio Concilio e de intensificar no coração dos fiéis o sentido comunitário
que os reúne em tôrno do Pastor de sua diocese, exortando todo o m_un-
do a tirar proveito e a se beneficiar do “ministério da reconciliação
(2 Cor 2,18), que será o mais largamente possível aberto e oferecido
a todos os homens de boa vontade. Informações e d.spos.çoes atmentes a
êste jubileu serão notificadas o mais breve possive.

e em seu santo nome vos abençoamos.


Motu Proprio “Integrae Servandae”: a Congregação do Santo
Oficio, agora Congregação para a Doutrina da Fé

ALOCUÇÃO PRONUNCIA-
da durante a Sessão Pública do dia 18-11-1965 anunciou Sua
Santidade: “Os estudos para a reforma da Cúria já se inicia­
ram e estão a bom caminho. Comunicamos que não se verifi­
cou necessidade grave de mudanças estruturais, fora do proces­
so de sucessão e substituição dos titulares. Requerem-se, com
efeito, poucas renovações, algumas simplificações e aperfeiçoa­
mentos. Os critérios que devem orientar êste organismo serão
enunciados e estabelecidos mais claramente. A transformação de­
sejada vai parecer lenta e parcial. Mas assim deve ser, se qui­
sermos respeitar devidamente as pessoas e tradições. Mas a
transformação virá. Para que seja dada alguma prova às Nos­
sas palavras, podemos anunciar que brevemente será publicado
o nôvo estatuto do Santo Ofício, primeira entre as Sagradas Con­
gregações Romanas”. No dia 7 de dezembro de 1965 foi assi­
nado o documento de reforma do Santo Ofício, do qual damos
aqui nossa tradução.
Os Pontífices Romanos, em união com o Corpo episcopal, guarda­
ram, no correr dos séculos e em meio às vicissitudes humanas, o de­
pósito da religião revelada que lhes fôra confiado por Deus para ser
integralmente conservado, de tal sorte que o transmitiram intacto até
os nossos dias. Assim se manifesta a assistência divina, pois por êles
age o Espírito Santo, que é como que a alma do Corpo místico de Cristo.
Mas a Igreja, que é de instituição divina e trata das coisas divi­
nas, é composta de homens e vive entre os homens. Por isto tem-se
servido, para desempenhar sua tarefa, de diversos meios corresponden­
tes à diversidade das épocas e da cultura humana. Devia ela, com e/ e‘"
to, tratar questões tão numerosas e tão importantes, qüe os Pontífices
Romanos e os Bispos, absorvidos por inúmeros cuidados, não teriam
podido levá-las a bom têrmo. Da própria natureza das coisas foi que>
portanto, tiveram nascimento os organismos administrativos, isto é, a
Cuna, cuja tarefa é facilitar o govêrno da Igreja velando pelo respeito
Motu Proprio “Integrae Servandae” 45,
das leis, favorecendo as iniciativas que permitam â r i
»eu fim, e resolvendo as controvérsias qne p u ta™ !" °
dificações t a í t o X ^ i d S a s ~

a , Tdi&\rnw2rs=s: ^
Cdnònicr
x t ssjísí
completamente integradas no Código de d S
Mas, após essas Constituições, e também após a promulgação do
Codigo, as coisas e os tempos mudaram muito, como Nós mesmoo di­
zíamos na alocuçao que tivemos ensejo de dirigir aos Cardeaise ao
pessoal da Curia Romana a 21 de setembro de 1963 (cf AAS 1963
pp. 793 s).
Considerado tudo, e após pedirmos o parecer de Nossos veneráveis
Irmãos os Cardeais da Santa Igreja Romana e dos Bispos, tomamos
a decisão de realizar uma certa reforma da Cúria Romana. E, sem dú­
vida alguma, havia que começar pela Congregação do Santo Ofício,
de cuja alçada são as questões mais importantes da Cúria Romana:
as que concernem à doutrina da fé e dos costumes, bem como as causas
estreitamente ligadas a essa doutrina.
Foi a 21 de julho de 1542 que Nosso predecessor, de feliz memória,
Paulo III, pela Constituição apostólica Licet ab initio, fundou a sacra
Congregação da inquisição Romana e Universal. Incumbiu-a especial­
mente de reprimir os delitos contra a fé, de proscrever os livros e de
nomear Inquisidores em tôda a Igreja. A autoridade dela estendeu-se,
muitíssimas vêzes, a outras questões, por causa da dificuldade ou da
importância especiais destas.
Em 1908, como o título de “Inquisição Romana e Universal” já
não correspondesse às circunstâncias do tempo, pela Constituição Sapienti
Consilio S. Pio X decidiu fôsse ela de então por diante chamada “Con­
gregação do Santo Ofício”.
Mas, porque o amor perfeito bane o temor (1 Jo 4,18), a proteção
da fé será agora melhor assegurada por um organismo encarregado
de promover a doutrina, o qual dará novas forças aos arautos do
Evangelho, mesmo corrigindo os erros e reconduzindo com doçura ao
bom caminho aquêles que dêste se afastaram. Por outro lado, o pro­
gresso da cultura humana, cuja importância para a religião nao e\e
ser descurada, faz com que os fiéis sigam mais plenamente e com
amor as diretrizes da Igreja se virem bem a razão de ser das» e im
ções e das leis, pelo menos tanto quanto isto é possível em ma ena
fé e de costumes. J
Por isso, para que essa sagrada Congregação se desobrigue ma.
perfeitamente da tarefa que lhe incumbe, isto e, e i ’ . , tarefas
doutrina e o cumprimento, pela Igreja de suas. d£ Apostólica ha-

re8r £ : : c„ó,reg. t â„, * . . « ^


gação do Santo Ofício, chamar-se-á doravant g -
452 III. Documentos
trina da Fc. Terá como tarefa tutelar a doutrina da fé e dos costumes
no universo católico inteiro.
2. Presidida pelo Sumo Pontífice, será dirigida por um Cardeal-
Secretário, assistido por um Assessor, por um Substituto e por um Pro­
motor de Justiça.
3. Sua competência estende-se a tôdas as questões que tocam à dou­
trina da fé e dos costumes, ou estão ligadas com a fé.
4. Examina as doutrinas e as opiniões novas, seja qual fôr a ma­
neira como são difundidas, e suscita estudos a êste respeito. Favorece
os congressos científicos. Condena as doutrinas que se comprovam con­
trárias aos princípios da fé, porém depois de ouvir a opinião dos Bis­
pos locais, se a êstes disser respeito o assunto.
5. Examina com cuidado os livros que lhe forem indicados, e, se
preciso, condena-os, mas depois de ouvir o autor, dando-lhe a possi­
bilidade de se defender, mesmo por escrito, e após haver prevenido o
Ordinário dêle, como já estava isto previsto na Constituição Sollicita
ac provida do Nosso predecessor Bento XIV, de feliz memória.
6. Compete-lhe igualmente conhecer, de direito ou de fato, das ques­
tões relativas ao privilégio da fé.
7. Compete-lhe julgar dos delitos contra a fé, segundo o processo
ordinário.
8. Deve velar por manter a dignidade do sacramento da Penitên­
cia, segundo as normas corrigidas e aprovadas, que serão comunicadas
aos Ordinários dos lugares, e o acusado terá a possibilidade de se de­
fender ou de escolher um advogado entre os que são aprovados perante
a Congregação.
9. Mantém as oportunas relações com a Pontifícia Comissão Bíblica.
10. A Congregação é assistida por Consultores escolhidos pelo Su­
mo Pontífice entre os que, no mundo inteiro, se assinalaram pela sua
ciência, prudência e experiência. Se o requerer a questão tratada, Pe­
ritos poderão juntar-se aos Consultores, ástes últimos serão escolhidos
sobretudo entre os Professôres de Universidades.
11. A Congregação emprega quer o processo administrativo, quer
o processo judiciário, conforme a natureza da questão a tratar.
12. O regulamento interno da Congregação será tornado público
por uma Instrução especial.
Ordenamos que tudo o que por Nós foi prescrito neste mota proprio
seja firme e ratificado, não obstante quaisquer coisas em contrário.
Dado em Roma, junto a S. Pedro, a 7 de dezembro de 1965, ter­
ceiro ano do Nosso pontificado.
P aulus PP. VI
Exortação Apostólica "Postrema Sessio”

C hega a seu têrm o a última


sessão do Concilio Ecumênico Vaticano lí.
Em breve sera dissolvida esta grandiosa assembléia, reunida há
quatro anos junto ao sepulcro de São Pedro Apóstolo, a fim de respon­
der as expectativas, aos anseios e às mais graves e urgentes necessi-
dades do povo cristão.
E Vós todos, Veneráveis Irmãos, depois de longo e frutuoso tra­
balho, voltareis às vossas Dioceses, levando na alma a legítima satis­
fação de terdes preparado os instrumentos providenciais da verdadeira
renovação da Igreja, da união dos Cristãos, da pacificação e elevação
da ordem temporal.
Enquanto o Concilio Ecumênico, encerrados os seus trabalhos, pa­
rece estar na iminência de derramar sôbre a Igreja e sôbre o mundo
uma nova e larga efusão de vida espiritual, não podemos deixar de en­
dereçar um paterno apêlo aos Fiéis por que elevem a Deus orações
mais freqüentes e fervorosas.
E’ Nosso desejo, Veneráveis Irmãos, que o fervor da oração ao
qual mais de uma vez exortamos os filhos da Igreja, durante a celebra­
ção conciliar, não esmoreça ao findar do Concilio, mas se torne, ao con­
trário, cada vez mais intenso; de modo que nesses dias e em tôdas as
partes da terra, a Igreja permaneça em fervorosa oração, unida aos su­
cessores de Pedro e dos Apóstolos, como outrora estiveram os primei­
ros Apóstolos com Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa, no Cenáeulo
(At 1,14), a fim de implorar um nôvo Pentecostes de renovação da face
da Esposa de Cristo e da Sociedade, por obra do Espírito Santo.
Em primeiro lugar, sejam dadas graças a Deus Onipotente que,
durante todo o curso dos trabalhos conciliares, jamais deixou de assis­
tir com a sua ajuda e com a abundância da luz celestial, as reuniões
ecumênicas. De fato, se considerarmos a mole imensa do trabalho ate
aqui realizado pelo Concilio, ficamos maravilhados ao registrar os nume-
rosos pontos de doutrina expostos pelo Magistério extraordinário da
igreja, as sábias determinações de caráter disciplinar que, na fiel con­
tinuidade da tradição eclesiástica, abrem novos horizontes a açao^ da
Igreja, e serão, fora de dúvida, sumamente salutares para o bem das almas.
Se considerarmos a ressonância que o ^ j J ^ ^ n“ a,OPp ^ a Pdo
Ser,,. V™ a os a™— Pa W *
454 III. Documentos
nos nossos dias, parece terem adquirido a mais notável ponderabili-
dade, junto a todos os homens de boa vontade que, sinceramente, bus­
cam a Verdade e se esforçam por serem úteis ao verdadeiro bem dos
seus semelhantes.
Isto fornece à Igreja a possibilidade de entabular um proveitoso
diálogo com todo o mundo, isto é, com os homens e os povos de to­
dos os credos e culturas, contribuindo assim para a defesa dos valôres
humanos e para a mais idônea solução dos problemas do homem, à luz
da mensagem evangélica.
Em verdade pode-se dizer, Veneráveis Irmãos, que a Igreja Cató­
lica surgiu diante de tôdas as gentes, circundada de mais refulgente
luz, como a cidade construída sôbre a montanha (cf. Mt 5,14), guarda
invencível da Verdade e da Dignidade humana.
Tampouco é difícil predizer os novos progressos da fé, quando o
Povo de Deus estiver mais profundamente imerso na atmosfera de re­
novação espiritual suscitada pelo Concilio na Igreja.
Isso tudo conforta o espírito daqueles que serviram de instrumento
para a efusão da “multiforme graça de Deus” (cf. 1 Ped 4,10) nas
almas. Doutra parte, força-Nos a pensar no premente dever de empre­
garmos tôdas as Nossas forças para que não se interponha impecilho
algum ao transbordante fluxo de dons celestiais que hoje “alegram a
cidade de Deus” (cf. SI 45,5), nem seja de modo algum atenuado êsse
hodierno impulso vital da Igreja.
Tal poderia acontecer se, encerrada a fase das discussões e deli­
berações conciliares, esmorecesse o empenho e interêsse apostólico dos
sagrados Pastores, ou deixasse de ser suficientemente vigilante a aten­
ção dos mesmos diante das responsabilidades no período pós-conciliar.
Efetivamente, o feliz resultado do Concilio e sua salutar incidência
na vida da Igreja dependem menos da multiplicidade das normas do que
do zêlo e da aplicação demonstradas ao se traduzirem, nos anos futuros,
as deliberações emanadas.
Será particularmente necessário predispor o espírito dos fiéis para
acolher as novas orientações; sacudir a inércia de uns excessivamente
difíceis a se acostumarem ao nôvo curso das coisas; refrear a intempe-
rança dos outros que cedem demasiadamente às iniciativas pessoais, po­
dendo, assim, prejudicar a sã renovação iniciada; manter as inovações den­
tro dos limites assinalados pela autoridade legítima; inculcar em todos o
espírito de confiança para com os sagrados pastores e a inteira obe­
diência, expressão do verdadeiro amor à Igreja e ao mesmo tempo, ga­
rantia seguríssima de unidade e completo êxito.
O papel dos leigos. — Êstes breves relevos, Veneráveis Irmãos, são
suficientes para deduzirmos a gravidade e a importância dos encargos
que doravante vos aguardam. Na verdade, deve-se começar uma imensa
quantidade de trabalhos que exigem vossa prudência, vossa perseverança
e vossa sagacidade de espírito; obra que requer, outrossim, a pronta
e generosa colaboração de todo o povo cristão que vos foi confiado.
_^ Concilio Ecumênico não pode, de modo algum, prescindir da coope­
ração de todos, de vez que interessa à vida espiritual de todos os filhos
da Igreja. Nesse esforço comum, é fora de qualquer dúvida que acima
Exortação Apostólica “Postrema Sessio" aos Bispos
455
de quaisquer outros, hão de ser auxiiiarpc <
tíssimos sacerdotes e especialmente os Seus pastôres os dile-
apostólicas. ' ^ue ^lverem responsabilidades
dizem respeito, ofereceu-lhes um incomnaráveM nstrn^t™ 3'5 que lhes
digno e eficaz desempenho dos seus deveres sacerdoTa,^0 Z lih ° ma'S
tanto com boa vontade tal i n s t n , m e n ^ i £ ^ £ ! £ ££
os melhores propos.tos de atingir a santidade e de desempenhar com
solerte generosidade, o sagrado ministério. Pela nossa experiência pas­
toral, bem sabemos quanto os operários de Cristo, todos verdadeira­
mente dignos, trabalham ativamente no campo do Senhor, fecundando-o
com os seus suores. Nao ignoramos as dificuldades e sacrifícios a que
está exposta a vida de muitos, às voltas com preocupações, indigências
e hostilidades dos homens que os rodeiam. Saibam êstes filhos, carís­
simos ao nosso coração, que o Vigário de Cristo pensa nêles e por êles
reza assiduamente. Suas angústias, quase sempre ocultas, poderão talvez
passar despercebidas aos homens; não por certo aos olhos de Deus
que nos céus lhes prepara digna recompensa pelos seus trabalhos.
Nosso pensamento se volta, com particular confiança, para o pre­
ciosíssimo auxílio que tôdas as famílias religiosas hão de dar a esta
emprêsa. De fato, a Igreja recebe da florescente vida religiosa grande
parte do seu vigor, do seu zêlo apostólico, do seu ardor de santidade.
Hoje, mais do que nunca, a Igreja precisa do testemunho público e so­
cial prestado pela vida religiosa, e da ajuda que ela pode dar ao clero
diocesano, no exercício do apostolado. Resplandeçam, portanto, cada vez
mais os exemplos daqueles que renunciaram efetivamente ao mundo,
demonstrando à evidência que o Reino de Deus não é dêste mundo (Jo
1,30). A chama do apostolado que os abrasa não se apague nos limites
das suas comunidades, mas se transmita a tôdas as necessidades espiri­
tuais nas quais, infelizmente, a nossa época está imersa.
O primeiro dever. — Finalmente, recoloquemos a nossa grande con­
fiança nos leigos engajados no apostolado e que envolvemos de pater­
nal afeto. O fato de o Concilio Ecumênico ter querido tratar expressa­
mente da situação dos leigos, e ter-se delongado em estudar o lugar e os
encargos que lhes competem na Igreja demonstra com exuberante e\idên-
cia a importância das responsabilidades que se lhes deve atribuir.
Na realidade, o trabalho pastoral dos Sacerdotes não pode atingir
plenamente seus objetivos se não fôr secundado pela ação dos leigo*, aos
quais compete ajudar a Igreja, no exercício do seu sagrado ministério,
suprir de bom grado a ação dos sacerdotes onde haja penúria de clero
e excogitar outrossim novos métodos pelos quais possa a greja r^I^ ni
tir, de maneira mais adequada e eficiente, aos homens de nosso tempo a
mensagem de salvação.
c . __afeto a todos êstes Nossos filhos a que se
r v s jP s r . £ S”*-
Ecumênico e voluntàriamente correspondam
tivas que a Igreja nêles deposita.
Veneráveis Irmãos, ^"condivTdtram 'coZ
sos filhos em Cristo, do mesmo modo Ecumênico, rezando con-
vosco os vossos cuidados pelo exito do Concilio tcume ,
456 III. Documentos
vosco, esperando, confiando e estudando, assim também hão de querer
dar-vos grandes consolações, quando tiverdes voltado para as vossas dio­
ceses, confessando-vos seus generosos propósitos de colaboração.
Antes, desejamos que, à vossa volta às vossas pátrias, não faltem
públicos testemunhos de honra e devidas demonstrações de gratidão; isto
o exige a grande empresa que conosco levastes a cabo com a máxima
prudência, sabedoria e solicitude; merecem-no todos aquêles que, como
vós, abriram à Igreja novas metas, indicando aos homens, com tanta
autoridade, o caminho da dignidade humana, da unidade e da paz.
Graças a vós, acendeu-se uma grande esperança na Igreja e no mun­
do: abençoados sejam todos aquêles que colaboraram convosco para ali­
mentá-la. revigorá-la e dar-lhe completo êxito.
Vós bem sabeis, Veneráveis Irmãos, quanto sejam insuficientes as
forças humanas diante do árduo e gravíssimo ônus que deveis realizar
depois do Concilio. Porém, a atuação das decisões conciliares só dará
à Igreja os desejados frutos, se aos vossos esforços juntardes a ajuda
do Divino Redentor que disse: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5),
e se a ação do Espírito Santo continuar a penetrar, iluminar e corrobo­
rar o espírito dos sagrados pastores.
A oração, portanto — hálito vital da Igreja — e particularmente a ora­
ção ao Espírito Santo, guia dos passos dos seguidores de Cristo, consti­
tui o primeiro e mais imperativo dever desta última fase do Concilio.
Daqui devem os fiéis tirar a energia sobrenatural necessária para
prosseguirem pela estrada feita de esperanças, que se descortinam dian­
te dêles; para se conformarem, com pleno assentimento, às determinações
da Igreja que hoje, mais do que nunca, deseja seus filhos dóceis na obe­
diência, prontos na ação e destemidos, se preciso, no sacrifício; para
impetrar de Deus uma nova falange de santos, os quais, à imitação de
São Carlos Borromeu, sirvam de exemplo e incitamento ao povo cristão,
na fiel atuação dos decretos conciliares. Efetivamente, é de tais homens
que se deve esperar a verdadeira renovação da Igreja, ardentemente que­
rida pelo Concilio.
Para tal fim, determinamos, Veneráveis Irmãos, que antes do encer­
ramento do Concilio Ecumênico, em tôdas as dioceses do Orbe Católico,
nas paróquias e Comunidades Religiosas, seja realizado um tríduo solene
de orações.
Tais orações, que se deverão realizar durante a novena da Imacula­
da Conceição, não sòmente terão a finalidade de dar a Deus as devidas
ações de graças e de impetrar novos auxílios celestiais, como poderão
dar ocasião para instruir os fiéis sôbre suas novas obrigações, exercitá-
los a respeito a fim de que, unindo seus esforços às vossas iniciativas,
estejam prontos a traduzir na prática da vida cristã — particular e pú­
blica — as normas salutares do Concilio Ecumênico.
Por último, seja-Nos permitido, Veneráveis Irmãos, manifestar outros-
sim êste Nosso desejo: Cuidai vós mesmos que cheguem daqui de Roma
aos vossos fiéis as oportunas exortações e convites à oração de tal modo
que, no mesmo dia e hora em que, na Basílica de São Pedro estiver sendo
solenemente encerrado o Concilio Ecumênico, simultâneamente em todo o
mundo, a Família Católica esteja rezando fervorosamente, coesa em união
de vozes e de almas, ao Vigário de Cristo e aos seus próprios Pastores.
Exomtão Apostólica -p » „ em, Sesíio.. ^ ^
Amparados por esta esperança
temunho da nossa benevolência WnerLpi«a,| d°-S celestiais favores e tes-
ração, no Senhor, a Bênção Apostólica a tnriüla°S-’ dam0S de fodo 0 c°-
confiado aos vossos cuidados. todos vos’ 30 clero e ao povo
Roma, 4 de novembro de 1965.
PAULUS PP. vi.

O Episcopado Brasileiro, reunido cm Roma, para responder ao


apêlo do Papa, dirigiu aos Sacerdotes e Fiéis das Dioceses e Pre-
lazias do Brasil a seguinte carta:
Diletos Irmãos e Filhos em N. S. Jesus Cristo.
Deve ter chegado ou estar chegando às vossas mãos, através dos
vários orgaos de publicidade, a Exortação Apostólica Postrema Sessio do
Santo Padre Paulo VI, do dia 4 do corrente. Por êsse documento o Sumo
Pontífice nos aponta as tarefas que cabem à Igreja na fase que se segue
ao Concilio, a fim de que êle atinja a plenitude dos frutos que são anun­
ciados e que nenhum impedimento venha interceptar o caminho dêsse
nôvo caudaloso rio que “alegra a Cidade de Deus”, como diz o próprio
Santo Padre em formosa imagem bíblica tomada do Salmo 45.
Dos conceitos de tôda essa preciosa Exortação nos iremos valer lar­
gamente para nossa e vossa orientação nos dias que se seguem. Mas
desde agora, e daqui de Roma ainda, queremos chamar vossa atenção
para o urgente pedido de orações que o Santo Padre lança a tôda a
Igreja. Esperamos um nôvo Pentecostes de renovação e de vida e é pre­
ciso que nos unamos na prece como fizerâm os Apóstolos no Cenáculo,
em companhia da SS. Virgem Senhora Nossa, nos dias que precederam
a vinda do Divino Paráclito.
Em consonância, portanto, com o que diz o Santo Padre, e além
de tudo o que puder ser sugerido pelo fervor individual ou das comu­
nidades, determinamos que em nossas Dioceses e Prelazias se faça um
Tríduo de Solenes Orações em tôdas as igrejas e capelas, preferivelmente
nos dias 5, 6 e 7 de dezembro. Os Revmos. Sacerdotes planejem para cada
Paróquia os pormenores do programa dessas solenes súplicas. Mas que
não falte nelas a celebração da Santa Missa com a mais ampla partici­
pação do povo, o que é precisamente um dos mais belos frutos do Con-
cílio. E que não falte tampouco a pregação da palavra de Deus pau­
tada especialmente na Constituição dogmática sôbre a Igreja. Na ‘ Oratio
fidelium” das missas dêsse tríduo, siga-se o formulário que indica-
mos abaixo.
Após o tríduo de orações, seja a Festa da Imaculada Conceição ce­
lebrada com um sentido de universal açao de graças pelos benetiuos d
ConcíHo aue nesse d a terá seu solene encerramento. Nesse d.a e nessa
hora histórica da Igreja, todos juntos, Pastores e FJe.s, o
Santo Padre o Papa, elevem os/da I g r e j a Imaculada Virgem Maria,
intercessão da Mae amanti^ima da g J . mundo „ma aurora
a fim de que o Conc ho presença da Igreja,
de vida e de graça pela luz do hvang
Concilio - V — 30
Paulo VI aos Bispos da América Latina (24-11-1965)

E FAC1L PARA VÓS IMAGINAR,


Senhores Cardeais e Veneráveis Irmãos, quão grande comoção invade o
Nosso espírito ao ver-vos aqui reunidos. São-Nos bem conhecidos os
vossos sentimentos de profunda devoção e de comprovada fidelidade para
com a Sé Apostólica, que exigem a Nossa afetuosa retribuição.
Decênio do CELAM. — Ao comemorarmos o décimo aniversário
da instituição do Conselho Episcopal Latino-Americano, ocorrería espon-
táneamente volver um olhar retrospectivo ao decênio transcorrido, que
o Senhor abençoou e tornou fecundo de atividades e iniciativas. Deve­
riamos fazer um longo elenco de instituições e de obras que surgiram
em colaboração com a Nossa Comissão para a América Latina, ofere­
cendo uma valiosa contribuição ao vosso ministério pastoral e encon­
trando em todos Vós inteligentes e zelosos animadores.
Mas, antes que comprazer-Nos em fazer um resumo do passado,
quereriamos estender-Nos em direção do futuro, especialmente em rela­
ção àquelas tarefas que se deverão ainda desenvolver para consolidar,
ampliar e aperfeiçoar o promissor trabalho até aqui realizado.
E* o momento, e dos mais propícios, pois nos reúne na fase final
do Concilio Ecumênico Vaticano II. Vós regressareis às vossas dioce­
ses depois dos grandes encontros que vos receberam aqui por quatro
vêzes, pondo-vos em contacto com preciosas experiências pastorais de
outros Coirmãos no Episcopado. Levareis convosco novos Decretos Con­
ciliares de capital importância para o vosso trabalho cotidiano e cuja
imediata aplicação é confiada à vossa fina sensibilidade pastoral. Dêles,
além disso, recebereis estímulo e encorajamento para as vossas inicia­
tivas, que não serão mais realidades isoladas, mas serão enquadradas
na renovação espiritual que a Igreja promoveu através do Concilio.
E consenti-Nos agora algumas fraternas considerações próprias à
vossa condição de Pastores de almas em tão grande porção do Povo
de Deus.
Situação Geral na América Latina. — Nós conhecemos e seguimos
não sem apreensão, embora confiando sempre na indispensável assis­
tência do Alto, a situação da América Latina nos seus diversos elemen­
tos. religiosos, políticos, econômicos e sociais. Estamos até convencidos de
que é necessário ter dêles um conceito claro, porque tôda solução que não
Paulo VI aos Bispos da America
Am í/ Latina
, ( - - 1965) 459
2 4 11

tenha na devida consideração esta mm„i


de ficar inadequada, se não talvez in e fic a ^ realldade corr<; 0 risco
A América Latina apresenta nmo ,
a mutações rápidas e profundas. Estas ^ansloím mo_vimentof sujeita
primeiro lugar na acentuada expansão HPmn r Ç°eS sao ev,dentes em
especialistas, no ritmo atual no fim do spr i ^ ,Ca ^ ue' na °Piníão dos
americana a mais de meio bi S l^ s t .n t e L ã T - *
« „ graves consegüências em to d „s„T ”s?,o“ í d'“ da"” T T o I ' ' Z
pec.al alerta o Pastor, o qual pergunta o que pode fazer em concreto
a Igreja para acolher em seu seio e encaminhar para uma vTda verdl-
deiramente crista os novos filhos _ e são milhões - que ano ano
se agregam ao seu numeroso rebanho. No Pastor define-se uma pri­
meira tomada de posição: defender o que existe; mas isto não basta,
seja porque o que existe não é adequado à totalidade da população e
das necessidades, seja também porque o que existe está atingido e arras­
tado pelo movimento e pela transformação.
Um conjunto de problemas, análogos entre si e em íntima relação
com a evolução a que acenávamos e que despertam a atenção vigilante
do Pastor, provém de diversos outros fatores, como:
— da integração sempre mais rápida das populações rurais na vida
das nações; integração devida à própria transformação da economia,
como também aos mais avançados meios de comunicação;
— da corrente humana que se desloca com rapidez nas migrações
internas, particularmente intensa em algumas regiões;
— do urbanismo que, em proporções sempre maiores, cria em torno
das grandes cidades, modificando-lhes o aspecto, verdadeiras cinturas
de população heterogênea pela formação e nível de cultura, atraída pelo
ganho mais fácil que a indústria oferece. Uma vez que as cidades não
estão preparadas para receber um número tão relevante de novos ha­
bitantes, surgem gravíssimos problemas religiosos e sociais, entre os
quais, especialmente, uma promiscuidade de vida perniciosa, devida à
falta de habitações.
Existe, além disso, um outro fato fonte de profunda separação entre
os cidadãos da mesma sociedade; de um lado os que estão aptos a
cultivar o desejo de elevação intelectual e de aperfeiçoamento humano,
do outro, os que, impedidos pelo analfabetismo ainda difuso, não po-
dem ter acesso aos benefícios da cultura, incapazes até de conhecer
o que é progresso e desenvolvimento humano e portanto de dar sua
colaboração.
No plano estritamente social, nota-se que — enquanto a massa da
população adquire sempre mais consciência de suas es ayoraveis l
dições de vida
voes ae viaa ee tim
cultiva um desejo insuprimivel
violento,e bem
uma justificado de
crescente in-
mudanças satisfatórias, as vezes uc mu nrnnrias es-
conformidade que poderia constituir uma a ç izatía‘l_ não fajtam,
truturas fundamentais de *0C“ ^ e f^hado/ao sôpro inovador dos
ainda, infelizmente os q ^ Permane de sensibilidade humana,
tempos e que se demonstram, privados n se debatem ao re-
mas também de uma visão crista aos yiv
dor dêles.
30*
400 III. Documentos
Em tal estado de inquietude entre esperanças desiludidas e não cor­
respondidas, infiltram-se facilmente forças operantes perigosas, que vêm
desagregar a unidade religiosa e moral do conjunto social até agora
penosamente mantida. Entre estas forças sobressai, no setor econômico-
social, como sendo a mais prejudicial e mais atrativa, o marxismo ateu
que. com o seu “messianismo”social, faz do progresso humano um
mito e coloca tôda a esperança nos bens econômicos e temporais; de­
termina um ateísmo doutrinai e prático; propugna e prepara a revolu­
ção violenta como único meio para a solução dos problemas; apresenta
e exalta o exemplo dos países onde êle firmou suas ideologias e seus
sistemas. No campo religioso, está presente e ativa uma propaganda
anticatólica de várias proveniências, a qual ameaça a unidade espiritual
do continente, produz incerteza e dúvida, lança desconfiança sôbre a
obra da Igreja Católica, desorienta os bons, nem sempre cria um fato
religioso positivo e, se o cria, o faz por fora e em prejuízo da firmeza
da unidade católica.
Condições para o Trabalho Pastoral da Igreja. — Para completar
o quadro, deveriamos ressaltar, como se apresentam, no complexo de
uma tal situação, as condições negativas e positivas no confronto do
trabalho pastoral que a Igreja está destinada a desenvolver.
O continente latino-americano é definido como católico: é a sua
glória e a sua felicidade. Êste catolicismo,que tem um pêso numérico
notável no seio da comunidade católica do mundo, revela, porém — e
o dizemos com solícito afeto paternal — aspectos negativos, que deno­
tam uma fraqueza e falta de homens e de meios. Poder-se-ia falar de
um estado de fraqueza orgânica, que manifesta uma urgente necessidade
de revitalizar e de reanimar a vida católica de modo a torná-la mais
substanciosa nos princípios doutrinais e mais sólida na prática. Dir-se-ia
que a fé do povo latino-americano deve ainda realizar uma plena ma­
turidade de desenvolvimento.
Qual é na verdade a solidez, a consciência, a capacidade de resis­
tência da vida católica? Em que camadas sociais se concretiza? Qual
é o seu grau de cultura? Que estatísticas se têm sôbre a observância
religiosa, sôbre a moralidade familiar e sôbre as vocações eclesiásticas?
Vós, que conheceis os índices da freqüência média aos sacramentos e
à missa dominical e os gravíssimos danos causados à família pela lei
do divórcio introduzida em muitos países, achareis justificadas as Nos­
sas apreensões.
Outro elemento que pesa sôbre a situação religiosa na América
Latina é a falta de homens no campo católico, de modo especial sacer­
dotes. Sempre se insistiu muito, e justamente, sôbre o angustiante pro­
blema da grave falta do clero: o fato é demais evidente para que se
possa subestimar sua importância. Será conveniente, antes, reexaminar
os critérios que até agora foram seguidos com a finalidade de utilizar
mais proficuamente as forças de que se pode dispor, e se perguntar,
entre outras coisas, se sempre se teve cuidado de melhor distribuir o
clero de modo a eliminar as desproporções que em não poucos casos
existem entre o número de sacerdotes empenhados nas grandes cida­
des e os que são enviados ao interior, e se sempre se preocupou tam­
bém com a utilização do clero em atividades esritamente apostólicas.
Paulo VI aos Bispos da
üa America
iLatina (24-11-1965) 461
O discurso pode-se aplicar tamhpm o™ d .• •
representar sempre forças verdadeiramentp • I^,osos» os quais devem
r^sSET(er p,ares•
ciência das cslnitS ârí.M ora” e m a ° T u m , “ “ d .f “ iglnciia
de hoje: deve-se por isso estudar atentamente se estas são adequadas
e suficientes nas cidades e no campo e o que se pode fazer para pola-
nzar novamente em torno da Igreja a vida dos modernos centros,
urbanos.
Acenamos, enfim, à falta de meios, necessários também êstes para
a Igreja, embora nao constituam a principal preocupação do Pastor,
o qual coloca a sua confiança na Providência. Aqui é o caso de ver
se a Igreja se valeu sempre dos seus bens para a comunidade e se não
se deixou sobrecarregar em algum lugar por bens temporais improdu­
tivos, especialmente fundiários, que hoje não têm mais a função de ou-
trora, e aos quais seria sábio dar um melhor emprêgo. E’ dever, a êste
respeito, recordar — e é para Nós agradável fazê-lo públicamente —
que alguns Episcopados da América Latina, encorajados e autorizados
por esta Sé Apostólica, já puseram à disposição dos mais necessitados
entre os seus fiéis grandes propriedades fundiárias da Igreja para uma
racional produção, comprometendo-se em acompanhar o processo de trans­
formação agrária.
Na diagnose que se vem delineando, é consolador, por outro lado,
entrever os muitos elementos positivos de acentuado valor, que tomam
mais otimista a visão de conjunto e constituem motivo de firme espe­
rança para o Pastor.
O povo é bom e profundamente religioso por natureza; recebe com
presteza e ótimas disposições de espírito a mensagem evangélica; é ba­
tizado na Igreja Católica, nela quer viver, e se orgulha de lhe per­
tencer. No conjunto, a Igreja vive em clima de liberdade e de paz
propício para um trabalho profícuo; representa a mais válida fôrça
capaz de salvar o Continente, com o prestígio social e moral que pos­
sui. A Igreja existe e tem estruturas seculares, sólidas e respeitáveis;
se se movimenta, é ainda amplamente seguida; se faz sentir a sua voz.
é ainda amplamente ouvida; ela deve portanto manifestar a sua vitalida­
de e valer-se plenamente das suas grandes possibilidades de açao. com
uma pastoral dinâmica, que seja adequada ao ritmo das transformações
em curso. Dêste modo, a Igreja não chegará nunca a se encon ra'\ avlisj*
separada da vida da sociedade, na qual, por mandato divino, foi chama­
da a obrar. A Igreja deve testemunhar com os atos que nao foi somente
.
parte integrante , J
do formaça° de cada, um, dos
processoA de fnrmacão , países
e de da Ame-
salvação
rica Latina, mas que quer ser ainda hoje farol de
no processo da transformação em ato.
Em tace 0 . uma atividade d. ,». tipo.
de timidez, de mêdo e de * * * » “ « ^ linl irii„0 trabalho com-
aos melhores homens o ímpeto nec -
462 III. Documentos

trutivo. A Igreja deve ter confiança em si mesma e deve saber infundir


coragem e confiança em seus filhos, ministros de Deus e fiéis, lembran­
do-lhes que “as armas da nossa milícia não são humanas, mas o poder
de Deus’* (2 Cor 10,4). O momento é propício: o Concilio Ecumênico
suscitou um forte despertar de energias, que é necessário saber alimen­
tar e pôr em ação; produziu uma expectativa ardente no público, o qual
não se pode desiludir.
O Pastor, portanto, terá sempre olhos abertos sôbre o mundo, por­
que a observância e a vigilância evangélica devem continuar, porque o
mundo muda e é necessário saber satisfazer-lhe as crescentes exigências
e interpretar seus novos anseios. O Pastor saberá servir-se do auxilio
de especialistas, teólogos e sociólogos, para preparar dirigentes ca­
pazes, quer no clero quer no laicato; promoverá freqüentes cursos de
atualização pastoral, convidando com espírito de fraterno entendimento
sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, aos quais terá o cuidado de en­
sinar os sólidos princípios da genuína espiritualidade pastoral, que na fé
fixa as raízes de seu desenvolvimento. Para o exato conhecimento das
situações e da urgência do trabalho, o Pastor fará um amplo e eficien­
te uso dos dados sociológicos colhidos e elaborados sôbre as condições
religiosas do País.
Critérios de Ação: caráter extraordinário. — A consideração de even­
tuais deficiências ocorridas na obra pastoral e a individualização dos
pontos nevrálgicos, sôbre os quais ocorre concentrar os esforços de evan­
gelização, devem empenhar o Pastor em dirigir a atividade apostólica
sôbre algumas linhas fundamentais.
Imprimir-se-á, em primeiro lugar, ao trabalho pastoral um caráter
extraordinário pelo compromisso sério e profundo que a êle se dará;
pelas formas de ação decididas e tempestivas que se porão em movi­
mento de modo a tornar mais ampla a proclamação do Evangelho, como
também pelo emprego dos homens aos quais se recorrerá.
— unitário: Mas, já que os problemas de hoje são gerais, requerem
soluções gerais de conjunto; nenhum pode ser resolvido isoladamente.
Dai o caráter unitário que deve revestir a ação pastoral de hoje: o que
comporta um estudo permanente sôbre os critérios, e periódico no con­
trole, a ser exercido em base nacional, com as Conferências Episco­
pais, e em base continental, com o Conselho Episcopal Latino-Americano.
A união íntima e o esforço de conjunto dos Bispos não diminuem a
liberdade e as responsabilidades pessoais de cada um, mas eliminam os
efeitos prejudiciais provocados pelas divisões internas.
— planifiçado: Em terceiro lugar, na obra pastoral não se pode pro­
ceder cegamente: o apostolado não é um que corre sem meta ou que
bate no ar (cf. 1 Cor 9,26); evita hoje a comodidade e o perigo do empi-
rismo. Uma sábia planificação portanto pode oferecer também à Igreja
um meio eficaz e incentivo de trabalho. Nós sabemos que em alguns dos
vossos Países, em resposta ao convite que o nosso Predecessor João
XXIII, de venerável memória, dirigiu com a Carta Apostólica “Ad di-
lectos Americae Latinae populos”, de 8 de dezembro de 1961 (cf. REB
1962, pp. 461-463), foram elaborados planos de pastoral de conjunto
pelas Conferências Episcopais; o exemplo pode ser seguido também por
Paulo VI aos Bispos da Améri,, . .•
' ■ 11
America Latina (24-11-I9 6 5 > 4b;
463
outros Episcopados. Diremos até mais- snh
tos assuntos, poderá também ser útil e'n n n rtl ° \ a!pectos e Para fer­
vei continental, através do vosso Condis ?studar um P>ano de ni-
da América Latina. as inferências Episcopais

à í õ b r i g T , « r „ “ ;,,va° ^
supérfluos. O plano de pastoral deve, além disso, esíabelecerclalmente
as metas que se perseguem, fixar os critérios de escolha, e prioridade S e
as múltiplas necessidades apostólicas e ter na devida conta os elemen­
tos, pessoal e meios, de que se pode dispor. O plano de pastoral
sera mais concreto se fôr determinado também quanto ao tempo de
aplicação e se articular em uma pastoral de tipo missionário, que não
se limita a conservar intactas ou a aperfeiçoar posições conquistadas,
mas se dirige para a expansão e a conquista.
Para garantir a execução dos planos de pastoral será conveniente
instituir, como foi feito em algumas Nações, um Secretariado de coorde­
nação do apostolado, dependente das Conferências Episcopais, com ra­
mificações e conexões em cada diocese, que lhes garantam um eficiente
funcionamento.
Evitando os danos dos extremismos, recordamos ainda uma vez que
é indispensável trabalhar unidos: aqui a uniformidade é fôrça, torna-se
tradição.
— conforme a doutrina da Igreja: O Pastor enfim age sempre se­
gundo a doutrina da Igreja: esta, com admirável continuidade e tem-
pestividade, soube sempre adaptar a sua ação a qualquer difícil mo­
mento histórico, suscitando, por virtude do Espírito de Deus que a acom­
panha, normas e instituições sempre novas para satisfazer a novas
necessidades.
Principais Setores e Instrumentos de Ação. — Falta examinar rà-
pidamente os principais setores de ação a promover na comunidade cristã
através das pessoas e das instituições de que se dispõe.
Clero. — Primeiríssimo dever do Pastor é de assistir e confortar os
seus sacerdotes os diocesanos e outros vindos em auxilio. Deve refle-
tir: se sempre teve cuidado de encaminhar as energias dos sacerdotes
de maneira mais frutuosa. procurando antes de tudo conhecer bem as
suas atitudes particulares, ajudando-os e acompanhando-os paternamente
nas suas emprêsas apostólicas; se é sempre solicito quando alguns sa­
cerdotes atravessam dolorosas crises de fe, de vocaçao ‘ .
e têm por isso urgente necessidade de conforto e de estimulo, e de
ver nòvamente brilha" ante seu olhar desmotteado. em toda a g r a n ­
deza e seu esplendor, a altíssima vocaçao que *-
para formar um mundo nôvo.
Providencialmente, como dizíamos, êsses, entretanto,
ração de sacerdotes provenientes de *; j aj a necessidade de
têm mentalidade e formação d,fer®"te ‘oferec'idas à sua filial e dócil
diretrizes coordenadoras e unificado t.
464 III. Documentos

compreensão, com o escopo de evitar que uma heterogeneidade de ação


disperse preciosas energias e torne menos eficazes também os mais
esforçados trabalhos apostólicos.
Vocações — Seminários. — O pensamento do Clero nos leva natu­
ralmente às vocações eclesiásticas e aos seminários. Diremos sòmente
urna palavra para sublinhar o grande amor e a solícita preocupação que
o Pastor deve ter para com o Seminário; êle será muito prudente em
introduzir novos métodos educativos e formativos estranhos até agora
à experiência da Igreja e ao exemplo dos Santos; e sem tentar perigosos
experimentos que poderíam comprometer o bom êxito de preciosas vo­
cações. saberá dar aos candidatos a formação apostólica específica que
exige o ambiente de seu futuro ministério.
Será pois constante a procura de vocações, o estudo para susci­
tá-las nas paróquias e nas escolas católicas com esclarecida e discreta
propaganda mediante a Obra diocesana.
Leigos. — Importantes são as responsabilidades que se devem atri­
buir aos leigos na Igreja, hoje: o Concilio Ecumênico os fêz objeto de
estudo especial e lhes indicou o lugar e os encargos. E \ por isto, tarefa
do Pastor saber escolhê-los e elevá-los a colaboradores especialmente na
Ação Católica, como também dar maior caracterização pastoral aos movi­
mentos de apostolado que de outro modo seriam atrofiados e faliríam na
sua finalidade. Os leigos devem suprir a ação do sacerdote e, em per­
feita sintonia com a Hierarquia, servir como pontas avançadas para
transmitir a mensagem da salvação à sociedade do nosso tempo, pene­
trar suas estruturas, nobilitá-las e estimulá-las decididamente para a
frente, a fim de favorecer, com o progresso integral da pessoa humana
e da sociedade, o incremento do reino de Deus.
Religiosos e Religiosas. — Tributamos uma deferente homenagem
à eleita falange de Religiosos e Religiosas, que representam uma fôrça
bem considerável no continente latino-americano, e nos alegramos em
saber que sempre mais numerosos se apresentam. Vós os apreciais e an­
siosamente lhes solicitais a colaboração. Pois bem, estas providenciais
energias apostólicas devem encontrar seu lugar adequado no plano
diocesano de ação pastoral. Para isto, enquanto vos exortamos, Ve­
neráveis Irmãos, a manter e a coordenar a obra dos Religiosos e das
Religiosas, recomendamos vivamente a êstes de corresponder plenamen­
te à confiança que nêles depositam os sagrados Pastores, de receber de
bom grado o convite e de colaborar com generosidade de todos os modos,
mesmo se, para a consecução de um bem maior, fôsse necessário re­
nunciar a próprios pontos de vista e interêsses particulares. Isto é exi­
gido para a edificação do Corpo de Cristo que é a Igreja, último e
único fim de tôda a atividade apostólica.
As Instituições. — Como as pessoas, também as instituições existem
para o apostolado. A Igreja na América Latina possui felizmente uma
réde de escolas e universidades católicas próprias, embora não comple-
ta: deve-se sustentá-las e encorajá-las; têm uma grande responsabilida­
de: daí o dever de melhorar o corpo docente, de cuidar da sólida forma­
ção religiosa e moral dos alunos, atraindo o maior número possível,
mesmo com oportunas facilitações econômicas, particularmente nas es-
Pa.,10 V, aos Blsp» da AmiSrll, ^ ^ ^
465

f ^ T ' *■ * * — < * * - oada p , , ^ , * .


A escola católica, além disso, deve asnir^r , • «•
fica influência e a fazer fraternamente cheLr a ,rradli*r a sua bené-
dos princípios e das teses cristãs também8 a ?ai 3 lndlreta lnfluência
principalmente as universitárias, das quais dependei f °Ut-aS .esco.las’
da assistência aos estudantes, mesmo nas universidades estatais o t
tumdo centros de reunião e, se as circunstâncias o aconselham também
paróquias un.vers.tanas como se fêz com bom sucesso em alguns caso™
Rádio — TV. — A ação intensiva de evangelização que o mundo de
hoje exige faz presente a necessidade de recorrer, em medida mais am­
pla do que no passado, a um sábio uso dos poderosos modernos meios
de comunicação social; como também dos órgãos da imprensa. Congra-
tulamo-nos vivamente ao saber que a Igreja na América Latina possui
estações radioemissoras próprias: dever-se-á vigiar, a fim de que corres­
pondam plenamente aos fins apostólicos que lhes sugeriram a criação.
Os jornais católicos, diários e semanais, são úteis instrumentos de di­
fusão da verdade, a conservar e melhorar no conteúdo e na apresenta­
ção, que os torne aceitos por um vasto círculo de leitores. Procurar-
se-á também influir sôbre a imprensa não propriamente católica, a qual.
por sua maior difusão, constitui um valioso meio para fazer conhecido
o pensamento da Igreja sôbre os grandes problemas que assoberbam
a humanidade. Aproveitar-se-á, enfim, da possibilidade que freqüentemen-
te é oferecida à Igreja para a transmissão de programas católicos atra­
vés de emissoras neutras.
A Comunidade. — Mediante um bom uso dêstes instrumentos, a obra
de evangelização da Igreja alcançará o seu fim: não se limitará a al­
gumas camadas, mas abraçará, como é seu dever, a comunidade tôda
nos seus diversos elementos. A Igreja, a casa de todos e não de poucos
privilegiados, é destinada a inserir na massa humana o fermento ca­
paz de manter unido e de elevar o mundo inteiro; ela não se deixa
paralisar na formação de especialistas nos vários setores do aposto­
lado, mas procura também aproveitá-los para um trabalho apostolico
de cada vez maior raio de ação.
Juventude - Estudantes. - Na Vossa comunidade soaal os ]men>
formam a parte proeminente e a êles e dirigida de modo especial a
evangelização. O número, as energias, os problemas dos jovem, poem
em primeira linha entre as tarefas pastorais a o cm a ’ e £ntre
seja de grupos selecionados, da juvent“dpa QS estudantes que entrarão
os jovens, especiais preocupações serão p são os majs ex-
na vida com uma tar^ ef deoiape ^ o T e influências adversas. A Igreja
postos, por causa da idade e do Per g a educação de base dos
continuará a tomar iniciativas cone - P ^ majs elementares noções
analfabetos, levando-lhes, juntament 1 e do ensino católico. São
escolares, os elementos essenciais da ^ quajs a “Acción Cultural
vossa glória neste setor várias obras, nlAmbia e o “Movimento de
Popular - Escuelas R ad iofôn icas, da Lolomt, ,
Educação de Base”, do Nordeste do Brasil.
466 III. Documentos
Mundo do Trabalho: Assistência aos Trabalhadores. — A Igreja
olha com amor, compreensão e confiança para o mundo do trabalho;
e o Pastor mostrará sua solicitude na assistência moral e espiritual
aos trabalhadores, no bom conhecimento de seus problemas humanos,
no secundar o desejo de uma promoção social, no abrir à sua visão
terrena das coisas os horizontes cristãos tão ricos de fermentos vitais
também para a sua existência cotidiana.
Ação Social. — Uma pastoral para a comunidade deverá incluir
outrossim um decidido apoio para uma específica ação social. A cons­
ciência de ser e de querer ser homens no nosso tempo nos fará co­
nhecer também a necessidade imperiosa e a medida justa da nossa par­
ticipação humilde mas sincera na solução dos problemas humanos da hora
que vivemos.
“A nossa contribuição à paz — dizíamos aos Padres Conciliares no
regresso de nossa viagem de Paz às Nações Unidas — tornar-se-á mais
eficaz e mais preciosa quando nós todos, persuadidos de que a paz deve
ter por fundamento a justiça, nos fizermos advogados da justiça. Porque
de justiça tem grande necessidade o mundo, de justiça quer Cristo que
nós tenhamos fome e sêde”.
Na justiça, o aspecto social é o que mais impressiona e interessa o
mundo em geral e de modo particular o latino-americano, onde intensos
e profundos são os contrastes.
A imploração dolorosa de tantos que vivem em condições indignas
de sêres humanos não pode não nos ferir, Veneráveis Irmãos, nem dei­
xar-nos inativos; ela não pode e não deve ficar, enquanto nos é pos­
sível, desatendida e insatisfeita.
Devemos assumir um solene compromisso a fim de que a Igreja,
movida e inspirada sempre pela caridade de Cristo, que veta o caminho
a soluções de desordem e de violência, assuma as suas responsabilida­
des para a consecução de uma sã ordem de justiça social em relação
com todos.
O trabalho a desenvolver é delicado e árduo: a certeza de satisfa­
zer também nisto a um impreterível dever pastoral nos dará a neces­
sária coragem evangélica.
Devemos por isto promover a formação de uma consciência social
cristã orientada para uma solução decidida e solícita dos problemas: a
Igreja dê o exemplo com o cumprimento dos seus deveres sociais e com
o testemunho de sua pobreza; procure-se enfim que os organismos na­
cionais de Pastoral Social, surgidos ou a instituir em dependência das
Conferências Episcopais, sejam ativos, vitais e bem dirigidos.
O CELAM pode desenvolver quanto a isto um trabalho útil de coorde­
nação, estimulando a unidade de ação nas coisas que a exigem, embora
na liberdade das iniciativas e dos métodos práticos, que devem adaptar-
se aos fatores próprios dos diferentes países.
E necessário todavia que sejam bem claras e definidas as posições
da Igreja defronte ao processo social em ato na América Latina. Disse­
mos que é dever da pastoral conhecer o fato social; logo, não é su­
ficiente recordar a doutrina social da Igreja e ensiná-la abstratamente;
Paulo VI ao. Bispos da AoAic, Lalioa
(24-11-1965) 467
é necessário favorecer sua aplicação nas sit,.,.-
apresentem, a traduzi-la em normas concretas que se
tunamente os campos de responsabilidade da Hierarn^’ del,mitf ndo °P°r-
Comunidadc Paroquial. — a Evangelização i n t °'S e'8°S
levará à consecução do fim último, transformando a«S d,ferentes setores
mente, em verdadeiras e autêntica S ^ e c ^ E r . ' " ’
g„ém se sinta estranho n,as da i
jovens e os mais avançados em idade, os que possuem e os q í p c £
suem menos, os intelectuais e os mais afastados e fechados à cultura
cada um possa haurir com abundância das fontes da graça alimentadas
com inexaunvel riqueza por Cristo Senhor, e reponha em circulacão na
comunidade os frutos da vida divina mediante o exercício de uma ca­
ridade viva e operante que vê as necessidades e corre pressurosa e
solícita para onde é urgente a penúria dos irmãos.
Entre os fatores que mais diretamente contribuem à formação destas
comunidades recordaremos a Sagrada Liturgia na renovada participa­
ção dos fiéis na celebração dos divinos mistérios, disciplinada em con­
formidade com a Constituição Conciliar e com as diretivas de aplicação
emanadas da Santa Sé. Os fiéis, ao oferecerem o mesmo sacrifício, ao
participarem da mesma mesa e ao celebrarem os mesmos louvores do
Senhor com os mesmos cantos, sentir-se-ão verdadeiramente uma famí­
lia divina, povo de Deus peregrino em direção à celeste Jerusalém. Vós,
Veneráveis Irmãos, tendes já experimentado a eficácia pastoral da Li­
turgia, e especialmente da liturgia pascal e sacramental: sabei extrair-
lhe os recursos de educação e de transformação cristã, de catequese e
de estreito laço para a vida da comunidade.
Método. — Uma última palavra sôbre o método e os critérios aos
quais o Pastor sábio e prudente inspirará a ação de um sadio renova-
mento espiritual. Nós os recordamos também na Nossa Exortação Apos­
tólica “Postrema Sessio” de 4 de novembro passado, referindo-Nos às
responsabilidades dos sagrados Pastores no período pós-conciliar. No
programa de renovação bem concebido nas linhas principais, gradual
e sistemático na execução, o Pastor manterá viva uma fundamental fide­
lidade às aprovadas tradições apostólicas da Igreja; refletirá e proce­
derá com ponderação antes de introduzir modificações; preparara epois
convenientemente o espírito dos fiéis para que as acolham; nao í*e ei-
xará atemorizar pela crítica negativa; nem pelas novidades en^ " * °
tais; manterá as inovações dentro dos limites marcados pela autorida­
de legítima; recordará além disso que e necessário> sa 1 da
perspicácia “coisas novas e antigas”, haurindo as > pastor
história secular da ^ com perse-
enfim, recorde que o trabalho pastoral aev •• n c 8.15),
verança, porque “o fruto é pr°^U^ed°se" ‘ tribal ho. porque'"um é o que
disposto a deixar a outros o fruto -
semeia e outro é o que colhe ... (J° ,v ^
Sentido de Responsabilidade: alma ’ sobre alguns
nhor. — Abrimo-vos, Veneráveis ’ Nossas preocupações e de
problemas práticos, colocando-vos a P* __ também as vossas.
Nossas esperanças, que são — es.an ' uue tendes também
Dissemo-vos coisas que já conheceis bem M
III. Documentos
468
sado pelo filtro da vida cotidiana. Sempre' faz bem, entretanto, re­
cordar juntos os nossos deveres e as nossas responsabilidades.
A evangelização constitui também para nós, como para o Apóstolo
Paulo, uma exigência que impele: evangelizar e viver sejam também
para nós uma mesma coisa, lembrados de que " . . . é uma obrigação que
me incumbe; ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!” (1 Cor 9,16).
Ela não é um fato pessoal e facultativo, mas uma “obrigação” que nos
é confiada pelo próprio Cristo (ib. 17). Seja também para nós ideal
único da nossa vida de apóstolos “divulgar o Evangelho de Cristo”
(Rom 15,19). Sejamos incansáveis, como exige o Apóstolo Paulo, escre­
vendo ao dileto filho Timóteo: “ ... prega a P alavra... faze obra de
evangelizador; preenche o teu ministério” (2 Tim 4,2-4). Que nos acom­
panhe sempre um grande sentido de responsabilidade que pesa sôbre
nossas humildes pessoas, e uma inspirada confiança no Senhor.
A Bênção Apostólica que damos de coração aos Senhores Cardeais,
aos Arcebispos, Bispos, Prelados nullius, aos membros da Presidência
e dos Serviços do CELAM, a todo o Clero, aos Religiosos, às benemé­
ritas Religiosas, aos movimentos de apostolado dos Leigos e a todos os
bons fiéis espalhados pelo imenso continente da América Latina, seja
penhor daquela mais abundante graça que vós esperais do Céu sôbre
os vossos ministérios pastorais, sob o auspício do materno auxílio de
Maria Santíssima, que as Américas honram e aclamam como sua espe-
cialíssima Padroeira.
Paulo VI aos Bispos da Itália (6-12-1 qk^ „ „
' O Bispo Pós-Conciliar

s
Irmãos do Episcopado Italiano! ENHORES CARDEAIS! VENERADOS
O Concilio, pode-se dizer, findou; mas não queremos que êle se
dissolva sem que Nos encontremos por um momento com os Bispos
Italianos como Nos encontramos com os dos outros Países. Acaso não
sao os Bispos Italianos os que mais perto estão de Nós, local, canô­
nica, espiritualmente? O encontro, ao término dêste grande aconteci­
mento^ afigura-se-Nos um dever do nosso múnus apostólico, como é uma
necessidade do coração. E, se quiséssemos seguir os sentimentos e os
pensamentos que tal encontro faz surgir-Nos na alma, muito teríamos
que dizer, ao passo que é breve o tempo a Nós concedido, e nem esta
seria, talvez, a ocasião mais propícia.
Renunciamos aos comentários. Qual tenha sido o desenvolvimento
do Concilio, seus problemas e suas conclusões, qual tenha sido a parti­
cipação do Episcopado Italiano no mesmo Concilio, quais as vossas
relações conosco nessa extraordinária circunstância, quais as que tivestes
com os Bispos de outros Países, qual tenha sido o eco, na Itália e fora,
da posição efetiva, ou suposta, dos Padres conciliares italianos no Si­
nodo ecumênico, e quais possam ser os frutos desta singular e impor­
tante experiência, agora não o dizemos.
Renunciamos também à síntese dos fatos, dos trabalhos realizados,
das impressões e dos juízos sôbre êsse acontecimento histórico da vida
da Igreja que hoje se encerra; cada um, certamente, sente-se atraído
a fazer por si esta síntese; decantando as lembranças, o tempo ajudará
a clareza dela; e a reflexão, a troca de idéias, a atenção às vozes da
crônica e da crítica ajudarão a melhor avaliar o significado polivalente
do nosso Concilio.
Renunciamos até às saudações; ao menos às formas que nesta cir­
cunstância elas deveríam assumir, ornando-se de agradecimentos, de evo­
cações, de avaliações, de votos e de cordiais efusões. Seja-vos, todavia,
assegurada a Nossa devota e afetuosa benevolência, particularmente sin­
cera nesta hora de despedidas e de retorno à posição normal de ca a
u"i. E, ao término desta Audiência, consentido Nos seja cons°l™T
comunhão das almas, que ora mais do que nunca eve ^ ^ : nvoca-
com a recitação de uma prece ao Senhor, de cuja bon a e o
°ios sermos assistidos e abençoados.
470 III. Documentos
Antes que para o passado, mesmo se igualmente merecedor de ava­
liação e de meditação, olhemos um instante para o futuro, para aquilo
que nos espera, para os nossos comuns e novos deveres.
Poucas coisas, entre as muitíssimas que esta perspectiva única nos
apresenta, fornecem agora matéria para as Nossas breves palavras.
A primeira coisa parece-Nos ser a “consciência pós-conciliar”. Nós
mesmos devemos recomendá-la a nós, uma vez que todos deveremos pro­
curar infundi-la nos outros, no Clero e nos Fiéis. Findo o Concilio
volta tudo ao que era antes? As aparências e os hábitos responderão
que sim. O espírito do Concilio responderá que não. Alguma coisa, e não
pequena, deverá ser, também para nós — antes, sobretudo para nós
— nova. As mudanças de tantas formas exteriores? Sim, mas não é a
estas que ora aludimos. Aludimos ao nosso modo de considerar a Igre­
ja; modo que o Concilio cumulou tanto de pensamentos, de temas teo­
lógicos, espirituais e práticos, de deveres e de confortos, a ponto de
exigir de nós um nóvo fervor, um nôvo amor, como que um nôvo es­
pírito. Isto dizendo, não queremos insinuar que em Pastores ótimos,
zelosos e santos quais sois, haja deficiência de consciência e de fer­
vor; bem sabemos o quanto amais a Igreja e o quanto a ela sois fiéis;
mas cremos que o Concilio possa e deva enriquecer de conceitos e de
energias novas o nosso serviço à Igreja. Ligam-se e religam-se principal­
mente a “Constitutio dogmatica de Ecclesia” e o “Decretum de pastorali
Episcoporum munere in Ecclesia” : dêles resultará para nós uma mais
viva consciência da natureza e da missão da Igreja, e um mais esti­
mulante conceito do ministério pastoral, não só no que diz respeito às
disposições canônicas, como também pela espiritualidade que deve
animá-lo.
De qualquer modo, venerados Irmãos, não é um período de admi­
nistração ordinária o que se segue ao Concilio, nem ainda menos de
descanso ou de fácil ministério; é um período de trabalho mais inten­
so, se possível; certamente, de mais atormentadora fadiga: ajude-nos
o Senhor!
Porquanto se trata de dar aplicação aos decretos conciliares. E’
óbvio. Mas devemos ter disto persuasão e propósito. A eficácia pastoral
de um Concilio não depende sòmente da sabedoria e da autoridade das
leis dêste; depende também, e sobretudo, da docilidade e da alacri-
dade com que essas leis são aplicadas. Ensine-nos S. Carlos. E, a êste
propósito, lembremo-nos de que, da nossa aceitação, doravante hu­
milde e leal, sem póstumo juízo e sem tácitas ou patentes reservas, das
normas conciliares, dependerá a aceitação do Clero e dos Fiéis. Se so­
mos devotos dêsse Magistério Eclesiástico que em nós se personifica
e por nós se exerce, devemos ser os primeiros a aderir docilmente àqui­
lo que o Concilio estabeleceu, e moldar nossa mente e ação pela sua
inspirada e indiscutível autoridade.
^ Não é intenção Nossa passar em revista as normas conciliares a
Nosso respeito, e nem tampouco enumerar as questões práticas atinen-
tes ao Nosso ministério. A êste propósito permitimo-Nos evocar o que
tínhamos ocasião de submeter à vossa consideração no Nosso discurso
de 14 de abril do ano passado. Neste momento limitamo-Nos a poucas
observações de outro gênero, as quais dizem respeito ao Nosso âniiuo
mais do que as coisas de fora.
Paulo VI aos Bispos da Itália (6-12-65)-
. . 0 BisP° Pós-Conciliar 471
Eis aqui uma: acêrca da nossa autr> • i ^
dlio. Fatos, tendências, palavras, teorias Z L epÍSC°pal’ aPós 0 ^on­
de, põem em questão não só esta ou ’aaZ í . °. Imbre da atualida-
prio principio da autoridade. Todos nós s a h Z °ndade’ senão 0 Prt-
favor para com a autoridade, por mak J Z ,corT,° esta aura da des-
seja, tem penetrado, aqui e acolá mesmo nn = ?• 6 leg,t,ma Que esta
bem, a Nós parece que a autoridade episcopal Pois
cada na sua instituição divina, confirmadaPn*' f do Concrlio reivindi-
vel, valorizada nos seus podêres pastorais hp U3- .íuaçao «nsubstítuí-
( i„ e * fiovêrno, bon,.*’
da comunhão colegial precisada na sua colocação hierárqJS confor­
tada na corresponsabilidade fraterna com os outros Bispos em face
das necessidades universais e particulares da Igreja, e ainda mais asso-
ciada, em espirito de subordinada união e de solidária colaboração com
o chefe da Igreja, centro constitutivo do Colégio episcopal Mister se
fará uma descrição doutrinai orgânica da figura do Bispo* conforme
resumindo e desenvolvendo os elementos teológicos e canônicos tradi­
cionais, o Concilio delineou; teremos motivo para humildemente agra­
decer ao Senhor a nossa eleição, e para refletirmos continuamente na
natureza e na gravidade dos nossos deveres: reatada e aprofundada nas
longas e laboriosas sessões na aula conciliar, esta meditação deverá
continuar e alimentar sempre a nossa consciência episcopal; e não há
dúvida de que a autoridade de que estamos revestidos caracterizará ess2
consciência e conferirá ao nosso ministério dignidade e vigor.
Qual, porém, o estilo dessa autoridade? Os aspectos humanos de
que ela se reveste: aristocrático, democrático? Êstes têrmos não são ade­
quados à figura do Bispo; pronunciamo-los para facilitar o estudo da­
quilo que estamos investigando. Mais correspondente à questão é, em
vez disso, o confronto entre as diferentes expressões históricas da au­
toridade episcopal; quem é que não vê, por exemplo, como, dantes,
especialmente quando a autoridade pastoral estava associada à autori­
dade temporal (o báculo e a espada: quem se não lembra?), os sinais
do Bispo eram os da superioridade, da exterioridade, da honra e, tal­
vez, os do privilégio, do arbítrio e da suntuosidade? E então tais sinais
não provocavam escândalo; antes, o povo gostava de admirar o seu
Bispo exornado de grandeza, de poder, de fausto e de majestade. Hoje,
porém, assim não é, nem pode ser. Longe de admirar, o povo surpreen­
de-se e se escandaliza quando o Bispo aparece assinalado por ema>ia
dos e anacrônicos distintivos da sua dignidade, e êsse povo ape a e^ a
para o Evangelho. E, por fortuna, hoje nenhum de nos; estaria no
de se proporcionar êsses sobejos distintivos e de ostena-os. * ‘ ^
são pobres; sabemo-lo muito bem: têm dificuldade em
mínimo de decoro a vida mais modesta. Reste, sim, possuem j
sóbrio e digno decoro, exige-o o ofício; mas, por tu o o .
mos deixado de exterior e de mundano, agradeçamos
Lc 22,35). p

de sempre mais clara e tremenda. O sentido as ‘ _


P^
Que é então que hoje qualifica o exe™ j!"jja, ^m a ^respo^sabiNda-
Venerados Irmãos: é o senso da responsabilidade. pau|o;
pròpria-
‘lui cpiscopatum desiderat etc. (I Tira 3,1) parece denotar ma,.
472 III. Documentos
mente o sacrifício do que a satisfação de quem assume êste gravíssimo
ofício. E que assim deva ser di-Io, além da voz do divino Mestre, a voz
do tempo em que vivemos, e no qual fazer de Bispo é a coisa mais
comprometedora, mais árdua e, humanamente falando, quiçá mais ingra­
ta e mais perigosa. Se o senso de responsabilidade caracteriza hoje a
autoridade do Bispo, reveste-a um segundo senso, ora tão conclamado:
o de serviço. Também êste nos é recomendado por Jesus Mestre: Filius
hominis non vcnit ministrari, sed ministrare (Mt 20,28; Lc 22,27; Fil
2.7). E. se assim é, um sentimento que sempre permeou o sagrado
ministério torna-se, de interior, patente no exercício que ao Bispo hoje
é pedido; um sentimento, ou, melhor dizendo, uma virtude, um espírito,
que tudo penetra e que vivifica a obra do Pastor, o qual, como sabeis!
é o amor. O amor deve hoje transparecer. A relação canônica entre Bis­
po e Clero e Fiéis deve ser vivificada pela caridade, de modo, dizía­
mos, transparente. Deve o Bispo aparecer como pai, mestre, educador,
corretor, consolador, amigo, conselheiro: numa palavra, como Pastor.
E ainda: se assim é, um outro caráter da vida eclesiástica vem à
evidência: a comunhão, que quer dizer o contacto humano, direto, cheio
de gravidade e de bondade, com a comunidade. Com a dos Sacerdotes
especialmente. Com os Sacerdotes: oh! Irmãos ótimos e venerados, logo
percebeis, e talvez já tenhais percebido, que o aproximar-se dos Sacer­
dotes deve tomar-se estilo do exercício da autoridade episcopal hoje;
outrora dizia-se: maiestas a longe! Hoje deve ser o contrário! Não
para diminuir o prestígio e o vigor da autoridade, mas sim para repô-la
no coração de suas funções. E o coração são os Nossos Sacerdotes:
escutá-los, informá-los, consultá-los, exortá-los; eis aí formas elemen­
tares, porém fecundas, dessa conversação que um acrescido senso comu­
nitário deve estabelecer entre o Bispo e seus Sacerdotes. Depois o des­
velo por êles! Especialmente quando pobres, doentes, vacilantes, caídos!
E, entre todos, deixai que vos recomendemos o Clero jovem. Conhece­
mos as providências já em ato a êste propósito; elogiamo-las e vivissi-
mamente as recomendamos.
A Nós parece isto estilo nôvo, espírito do Concilio.
Há, certamente, muitos outros pontos que mereceríam menção e re­
flexão; mas o tempo é breve e faz-se longo o discurso. Aludimos, ape­
nas, ao ponto que Nos parece principal: a formação propriamente reli­
giosa tanto do Clero como dos Fiéis. Deu-nos o Concilio uma magní­
fica e riquíssima constituição sôbre a sagrada Liturgia. Supérfluo seria
descrevê-la agora. Recordemos só uma coisa: não visa ela sòmente à
reforma dos ritos sacros; visa a conduzir ao essencial a nossa educação
e a nossa expressão religiosa: à palavra divina, ao dogma, ao sacra­
mento, ao corpo místico, à oração compreendida e expressada por tôda
a comunidade, a Cristo, a Deus, à SS. Trindade. Aquilo que é primeiro
na realidade objetiva da revelação deve voltar em primeiro na devoção
subjetiva da vida religiosa. Especialmente na formação dos Alunos dos
Seminários. Temas êstes já agora conhecidos, mas que exigirão comen­
tários e desenvolvimentos não poucos. O Concilio abre-nos esta estra­
da. ela conduz à renovação religiosa do nosso tempo, à conservação da
fé e da prática religiosa do nosso povo, à eficácia positiva e constru
tiva do nosso ministério, à apologia da nossa santa Igreja, à glória e
Cristo e de Deus.
Paul0 v i aos Bispos da Itália (6-12-65): O Bispo Pós-Conciliar 473

Aqui nos deteremos. Talvez para prazer vosso! Mas para desora
zer Nosso, porque mu.tos e grav.ssimos temas teríamos que tratar con'-
vosco: a instrução^ religiosa do povo e especialmente a que se dispensa
nas escolas, a Açao Catol.ca e a incentivação dos fiéis ao testemunho
cristão e ao apostolado, o problema, sempre reocorrente, da imprensa
católica, a moralidade dos espetáculos, da literatura, da vida pública
e privada, etc. Sôbre cada um dêstes pontos não pouco teria o Con­
cilio que dizer.
E os outros pontos que interessam diretamente o Episcopado Ita­
liano? A Conferência Episcopal: sabemos que foi preparado o nôvo Es­
tatuto, e muito prazer teremos em ter vista dêle, e certamente de vos
deferir a Nossa aprovação. A ordenação das Dioceses: sabeis que estão
em curso estudos, inquéritos, projetos de grande importância! Mas de
tudo isto deveremos falar, se Deus quiser, e como se deve, em outra
ocasião futura.
Nesta felicíssima e única ocasião da conclusão do Concilio Ecumê­
nico, seja agora suficiente exprimirmo-vos a Nossa dedicada afeição,
os Nossos votos fraternos, a segurança da Nossa espiritual comunhão
(esta manhã celebramos a Santa Missa por vós e por vossas respecti­
vas Dioceses), o pedido da vossa benévola adesão e colaboração, e, fi­
nalmente, invocando de todo o coração, e em nome dêsse Cristo que re­
presentamos, a proteção de Maria Santíssima, darmo-vos a Nossa Bên­
ção Apostólica.

Concilio - V 31
Constituição Apostólica “Mirificus Eventus”: Indicção do
Jubileu Pós-Conciliar

EXTRAORDINÁRIO ACONTECI-
mento, que foi o Concilio Ecumênico Vaticano II, recém-encerrado, acom­
panhado por tôda a família católica e até por todos os homens, com cres­
cente interêsse, nestes quatro últimos anos, está a reclamar de Nós algo,
também extraordinário, que, além de gravar nas mentes a lembrança
duradoura da magna Assembléia — tão importante para a história pre­
sente e futura da Igreja — disponha, e é o que mais importa, o espírito
dos fiéis à observância das disposições conciliares.
Com esta reflexão, veio-Nos a idéia de que nada se prestaria tanto,
como já anunciamos, à consecução dêsse escopo, quanto a celebração
de um Jubileu extraordinário. De fato, julgamos que, assim, poder-se-á
cumprir, de um lado, com o imperioso dever de agradecer püblicamente a
Deus os imensos benefícios concedidos à sua Igreja, tanto na época da
preparação, trepidante e esperançosa, do Concilio, quanto durante as di­
versas fases, de quatro anos de trabalhos intensos e fecundos; e, de outro
lado, implorar-Lhe ajuda, sobretudo agora, que um frêmito de júbilo e de
expectativa geral nutre a ansiedade de se colherem os melhores resultados.
Ademais, o Jubileu oferecerá, aos católicos de boa vontade, excepcio­
nal oportunidade de conversão espiritual, a conduzir à almejadíssima re­
novação da vida individual e familiar, pública e social, meta do Con­
cilio, ora concluído.
Não Nos parecem infundadas estas esperanças de copiosas vanta­
gens, que depositamos no Jubileu. Com efeito, se repassarmos com o
pensamento os anais eclesiásticos, verificaremos que êste salutar costume
nunca se realizou sem os maiores benefícios. A confirmar outros inume­
ráveis testemunhos, Nosso Antecessor Pio XII, v. m., afirmou, ao anun­
ciar o Jubileu do Ano Santo de 1950: “Se os homens escutarem realmente
esta voz da Igreja, se desprezarem os bens caducos desta terra e dirigi­
rem a mente para os impereciveis do Céu, então, sem dúvida, haverá de
se obter a tão desejada renovação dos espíritos, em razão da qual os
costumes, tanto privados como públicos, se conformarão à lei e ao espi­
rito de Cristo” (AAS, XLI, 1949, p. 257).
Por êstes motivos, e seguindo o exemplo de Nossos Predecessores,
rendo consultado os Cardeais da S .I.R ., Nossos Veneráveis Irmãos, com
a autoridade de Deus Onipotente, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo,
Constituição Apostólica “Mirificus Eventus”
475
e com a Nossa, para a glória de r w „ i -
Igreja Católica anunciamos e por estas Letís^nro da,S aImas e bem da »
se considere decretado e publicado um íh n ê „ P T gamos> e ««“ «"os
as dioceses do mundo católico, deVimeirn a extr?ordmário em tôdas
de Pentecostes, i. é, até o dia 29 de maio do í e ™ 0 ^ 1966 à fcsta
Dado o anúncio de um temnri Ho p„i
graças celestiais, é Nosso dever aeora ernof30 e?pintual e manancial de
fendemos oferece, nest, d S , T ™ S , , ““ “ m en-
Antes de tudo assim como Nossos Antecessores em iguais condicões
desejamos para todos os fiéis aquela renovação espiritua? q£ se obtS
no santuário intimo da consciência pelo exercício da virtude da penitên-
ca, mediante o Sacramento da confissão, pelo qual, à guisa de um la-
vacro salutar, as almas se purificam no sangue preciosíssimo de Cristo-
o que se nao pode, alias, alcançar sem que os homens cristãos tenham
contacto vjvo e transformador com o Divino Redentor, o qual, seja com
a renovação do Sacrifício incruento da Cruz, causa de nossa salvação,
seja com a Comunhão Eucarística, eleva e aperfeiçoa as almas até che­
garem à mais alta e genuína participação da vida divina. Esperamos, pois,
que o Jubileu, ora proclamado, chame os ótimos a superior esforço, e os
bons a generosidade cada vez maior no cumprimento dos deveres da vida
cotidiana, segundo a lei de Deus. Praza aos céus que, durante o período
jubilar, todos aquêles que jazem longe da fonte da graça, sobretudo os
que inconsideradamente tenham esquecido, ou, pior, renegado a fé em
Deus, saibam valer-se da circunstância excepcional, que se lhes oferece,
para recuperar a paz com o Senhor!
Mais ainda: desejamos ardentemente que os discípulos de Jesus Cris­
to, não satisfeitos com uma conduta sem culpa, sintam em si mesmos,
enquanto o permitirem as forças humanas, poderoso incitamento para a
santidade, traduzido no exercício efetivo das virtudes cristãs, sobretudo
da caridade; em propósitos concretos de imitação de Cristo Crucificado;
em irradiação fecunda de apostolado. Donde resulte que a Igreja, assim
renovada, colha imensos benefícios e possua, cada vez mais valorizado
e consciente, o impulso conatural de conquista das almas. Começarão,
então, de amadurecer, em tôda parte da Igreja, aquêles frutos opimos, que
estavam nas intenções dos que tanto trabalharam no Concilio. Frutos,
aos quais aludimos resumidamente em Nossa primeira Encíclica, almejan­
do que “do Concilio recebesse glória o Senhor, alegria a igreja, edifi­
cação todo o mundo” (Enc. Ecclesiam suam, AAS, LVI, 1964, pp. 6-1-fe—).
E, assim como o Concilio, que acaba de se encerrar, foi justamente con­
siderado como o Concilio da Igreja — porque nêle a Esposa de Cristo
estudou mais aprofundadamente a sua missão no mundo — assim tam­
bém julgamos necessário que o próximo Jubileu tenha uma cara^ n^
especial, i. é, que em todos os cristãos, tanto da Hierarquia como do
laicato católico, se intensifique o sentido da Igreja ( sensus
e que todos tenham dêle uma consciência mais esclarecidae: mas •
E’, pois, sobremaneira importante que, durante o P™*'1™ ’ 0 c0n-
ja, em harmonia com o mesmo espírito que prescri ^ meditar
cilio, não cesse “de aprofundar a consciência e m ’ e edificar,
no mistério que lhe é próprio, de explorar, para
31 *
476 III. Documentos
a doutrina, já conhecida por ela, e enucleada e difundida no derradeiro
século, a respeito da sua origem, natureza, missão e destino final; dou­
trina jamais bastantemente estudada e compreendida” (Enc EccIpwnZ
suam. AAS, LVI, 1964, p. 611). Siam
Ora, certo de que êste será o melhor meio de se porem em prática
êstes salutares ensinamentos, achamos oportuno estabelecer que o santo
Jubileu, a celebrar-se em cada diocese, tenha como sede a igreja Catedral
e se desdobre em tôrno da pessoa do Bispo, Pai e Pastor do rebanho!
Realmente, a Catedral da diocese — que costuma ser expressão lumi­
nosa da arte e da piedade dos tempos passados, e que encerra, vêzes mui­
tas, admiráveis obras de arte — distingue-se especialmente pela digni­
dade de conter (como o diz o nome vetusto) a cátedra do Bispo, centro
de unidade, de ordem, de poder, e de magistério autêntico em união com
Pedro. Ademais, a Catedral, na majestade das suas linhas arquitetônicas,
é figura do templo espiritual que se deve edificar interiormente em cada
alma, no esplendor da graça, segundo o Apóstolo: “vós sois o templo do
Deus vivo” (2 Cor 6,16). A Catedral é também símbolo expressivo da
Igreja visível de Cristo, que nesta terra reza, canta e adora; do Corpo
Místico, cujos membros se tornam expressão de caridade, alimentada pela
seiva da graça; e, como se lê na festa da Dedicação, no rito ambro-
siano: “esta é a mãe de todos, sublimada pelo número de filhos; todos
os dias gera para Deus novos filhos, pela virtude do Espírito Santo;
estende seus ramos por todo o mundo; eleva ao reino dos céus os reben­
tos, sustentados pelo tronco. E’ esta aquela cidade sublime, edificada sôbre
o cimo do monte, visível a todos e para todos cheia de luz” (Missal
Ambrosiano).
Por isso, é natural que os fiéis, no próximo Jubileu, afluam, a sós
ou em grupos, ao templo principal da diocese, para tomar parte nos
sagrados ritos, para ouvir as pregações e para lucrar as remissões dos
pecados, vulgarmente chamadas de indulgências.
E, já que se vai celebrar o Jubileu, como dissemos, à volta do Bispo,
como em tôrno de seu eixo, exortamos todos os filhos da Igreja a que
se concentrem em volta dêle.
Portanto, como os Bispos, após o encerramento do Concilio, regressam
cheios de santo fervor às suas dioceses, com o empenho de estimular os
fiéis no cumprimento das decisões conciliares, os Sacerdotes e todo o po­
vo cristão, em cada diocese, façam-lhes devota coroa, gratos pelo paciente
e rude trabalho que tiveram durante o Concilio; renovem-lhes a expres­
são da obediência e do amor filial; garantam-lhes colaboração de preces,
de ação e de sacrifício. Numa palavra, o Clero, os Religiosos, as Reli­
giosas e as várias associações católicas de leigos unam-se sob a orienta­
ção sábia e paterna de seus Pastores, que, segundo a bela expressão do
Concilio, devem “santificar as Igrejas a si confiadas, de tal modo que
nelas resplandeça o sentido da Igreja universal de Cristo” (Decr. C h ristu s
D o m in u s, n. 15).
Quando o Bispo, na Catedral, preside, na plenitude da sua autori­
dade, as reuniões da família diocesana, baixa normas para o exercício
do apostolado, incita ao exercício da caridade e da oração, então, no tem-
Constituição Apostólica “M irificu s Eventus” 477

££sr* ?-sa r*s


soes ao concilio, ou santas Missões, ou Retiros espirituais para o Clero
e para o povo cristão, sobretudo durante a Quaresm a!em preLacIo
dar vidaPaSC°a nfunda' Se em todos 0 mais ardente desejo de renovação
Da Nossa parte, certos de que com isso contribuímos para uma co­
lheita copiosa de frutos do Jubileu, concedemos, com Nossa autoridade apos­
tólica, aos confessores, devidamente aprovados para confissões, as faculda-
des que seguem, a serem usadas sòmente no período jubilar, em con­
fissão e no fôro da consciência. Em virtude destas faculdades, poderão
os confessores: l9) absolver das censuras e penas canônicas todos os
penitentes que, de algum modo, aderiram externa e cientemente a dou­
trinas heréticas, cismáticas ou atéias, contanto que, sinceramente arrepen­
didos, detestem perante o confessor os erros professados, e prometam re­
parar os eventuais escândalos. 0 confessor impor-lhes-á conveniente e
salutar penitência, e os exortará a se achegarem, com freqüência, dos Sa­
cramentos; 29) absolver das censuras e penas canônicas aquêles que cons­
cientemente e sem autorização tenham lido ou conservado consigo livros
de apóstatas, de hereges ou de cismáticos, que defendam apostasias, he­
resias ou cismas, ou outros livros expressamente proibidos por Letras
Apostólicas. 0 confessor impor-lhes-á conveniente e salutar penitência e
dará instruções oportunas, para que os ditos livros sejam, conforme o
caso, conservados com a necessária autorização e cautela, ou destruídos;
39) absolver das censuras e penas canônicas aquêles que se inscreveram
em seitas maçônicas ou em associações semelhantes, que combatem a Igre­
ja ou as legítimas autoridades civis, contanto que se apartem definitiva­
mente das respectivas seitas ou associações e prometam reparar e im­
pedir, quanto lhes fôr possível, os eventuais escândalos e danos. 0 con­
fessor impor-lhes-á penitência salutar, proporcionada à gravidade das
culpas; 49) dispensar, por motivo justo, de todos os votos privado*, mes­
mo os reservados à Santa Sé, comutando-os em outras obras de penitência
ou de piedade, contanto que a dispensa não fira direitos de outrem.
Além disso, concedemos, durante o período do Jubileu, a todos os
fiéis de ambos os sexos, que se tiverem confessado, recebido a sagrada
Comunhão e rezado segundo as Nossas intenções, a possibilidade de lu­
crarem Indulgência plenária: 1*) tôda vez que ou assistirem a ao menos
três instruções sôbre os decretos do Concilio Ecumênico \ aticano ,
então a três pregações de santas Missões; ou assistirem ao Sacnticio da
Missa, celebrado com alguma solenidade pelo Bispo na Catedra ,
só »«, se, durante o mesmo santo período jubilar, »».!»««.
a Catedral e, ai. servindo-se de uma fórmula aprovada,
profissão de fé.
478 III. Documentos
Concedemos ainda, sempre dentro do prazo do Jubileu, qUe Cad
Bispo possa, durante uma solenidade à sua escolha, dar, uma vez e 03
gundo o rito prescrito, a Bênção Papal com Indulgência plenária aos fi?
presentes e devidamente dispostos, como acima. IS
Finalmente, para que esta Constituição seja levada mais fàcilmente
ao conhecimento de todos, queremos que aos exemplares com que fôr
difundida e impressa — contanto que devidamente autenticados pela auto­
ridade eclesiástica — se preste a mesma fé, como se fôsse exibido o oriei
nal. Ninguém, pois, ouse destruir ou impugnar temeràriamente esta páci*
na de Nossa indicção, promulgação, concessão e disposição. *”'
Dada em Roma, junto a S. Pedro, no dia 7 de dezembro de iors
1H ano do Nosso Pontificado. ’
(a) EGO PAULUS
Bispo da Igreja Católica
Diálogo com os não-Católicos

t... O DIÁLOGO COM OS NAO-


catolicos foi, neste ano, mais rico e expressivo que nos anos
anteriores (cf. vol. II, pp. 319-325; voi. III, pp. 524-535; vol.
IV, pp. 610-613). A documentação essencial se resume em três
pontos: A recepção oferecida aos Observadores pelo Cardeal Bea;
a cerimônia ecumênica em São Paulo fora-dos-muros, com o no­
tável discurso de Paulo VI; e a absolvição das censuras e exco­
munhões entre Roma e Constantinopla. A documentação é, a se­
guir, apresentada em tradução própria:

I. A Recepção Oferecida aos Observadores pelo Cardeal Bea


Logo no início desta quarta Sessão, no dia 18 de setembro,
o Cardeal Bea, Presidente do Secretariado para a União dos
Cristãos, ofereceu aos Observadores e Hóspedes não-católicos um
“cock-tail”, durante o qual Sua Eminência pronunciou o seguin­
te discurso:
Caríssimos Irmãos em Cristo: Há pouco mais de um ano, falando do
Concilio, o Papa Paulo VI dizia que “é êle um ato mais solene e retumbante
do que qualquer outro para honrar a Deus, para testemunhar a Cristo
o nosso amor e ao Espírito Santo a nossa obediência”. Referindo-se, em
seguida, à cooperação dos homens no Concilio, o Santo Padre acrescen­
tou: o Concilio “é um momento incomparável em que a Igreja se reúne,
se conhece, se estreita por êsses laços interiores que são os encontros,
as amizades, as colaborações que, de outro modo, seriam impossíveis.
E’ ainda um vértice, jamais precedentemente atingido, de caridade hierár­
quica e fraterna”.
Peço desculpas desta citação um pouco longa. Se fiz questão de a-
zê-la, é que, parece-me, ela apresenta uma análise que reflete diretamente
o ensino do Nôvo Testamento sôbre a vida cristã e sôbre a vi a
Igreja, e nisto consiste o seu alto valor. Hoje, que nos achamos
ço não só de uma nova Sessão do Concilio, mas também t a - e s* _
deve ser a última, julgo particularmente indicada esta re ex ,
480 III. Documentos

da pela fé, sôbre aquilo que o Concilio é aos olhos de Deus, na obra de
Cristo e do Espirito Santo, e sôbre aquilo que êle significa para todos os
batizados e, de maneira especial, para aquêles que dêle participam dire­
tamente. Não há dúvida nenhuma de que as palavras sobreditas se apli­
cam também à cooperação dos observadores-delegados e hóspedes não-ca-
tòlicos: o Concilio é um cimo de caridade — senão sempre propriamente
hierárquico, certamente sempre fraterno — precedentemente jamais atingido.
A prova disto, se mister se fizesse uma, temo-la, manifesta, na experiên­
cia por nós vivida durante as três primeiras sessões do Concilio.
Agora, que, por uma derradeira vez, nos é esta graça oferecida, con­
vém. pois, que dela tomemos consciência o mais profundamente possível.
Daí brotará também o desejo de acolhermos esta graça com coração aberto,
na disposição de seguirmos com prontidão e com humilde generosidade os
impulsos do Espírito Santo.
Duas vêzes mais Observadores do que na primeira sessão. — Neste
sentido e neste espírito, a todos vós saudo em Cristo, dizendo-vos a mi­
nha alegria por aqui nos reencontrarmos outra vez na grande obra que
nos é comum. Acrescida se sente a nossa alegria pelo maior número quer
de Igrejas, de Federações ou de Comunidades aqui representadas, quer de
observadores-delegados e de hóspedes. De 76 que éreis o ano passado,
passastes a 99 — número que pràticamenté é o dôbro do da primeira
sessão do Concilio, em que não passáveis de 49 — e já não são apenas
23 as Igrejas, Federações ou Comunidades aqui representadas, senão 28.
Fazemos questão de dirigir um agradecimento particular às instituições
eclesiásticas que pela primeira vez decidiram fazer-se representar, e uma
saudação fraterna àqueles que pela primeira vez se acham entre nós.
Em vez de vos exprimir, em nome do Secretariado e em meu nome, a
alegria que nos propicia vossa presença tão numerosa, lícito me seja
relembrar as tocantes expressões pelas quais, há alguns meses, o Santo
Padre dizia da confiança que tinha em vós e na vossa ação: “Igualmen­
te contamos (para o feliz remate do Concilio) não sòmente com a pre­
sença — que desejamos e que nos faz honra — dos “observadores”, dês-
ses Irmãos separados que participarão das reuniões conciliares, mas tam­
bém com a sua delicada bondade, assim com a comum esperança de que
um dia, e da maneira como convém, hão de abater-se todos os tapumes
que ainda nos impedem de celebrarmos juntos a perfeita unidade a que
Cristo nos convida”.
As inevitáveis dificuldades. — Quanto ao espirito em que queremos
desempenhar nossa tarefa comum, não há razão para repetirmos aquilo
que não só declaramos, mas que ainda experimentamos, desde a primeira
Sessão: um espírito de fidelidade absoluta à verdade, de respeito das
convicções dos confrades, um espírito de caridade. Quisera eu, de pre­
ferência, acrescentar uma reflexão a respeito das inevitáveis dificuldades
que deparamos na nossa tarefa. E’-nos esta reflexão sugerida pelo que
aconteceu no fim da terceira Sessão. Quero falar das dficuldades de úl­
tima hora a respeito do texto sôbre o Ecumenismo (cf. vol. IV, pp. 443-
445), da decepção que a muitos elas causaram, e dos receios quanto ao
futuro do diálogo ecumênico. Não quero diminuir os fatos. Sei que não
poucos esforços de todos os partidos fizeram-se necessários para, aos pou­
cos, trazer novamente a calma e a serenidade, e não afirmarei que haja
Diálogo com 0s não-Católicos
481
ela voltado a tôda parte. Quero simolesmeníA t,-,*
tudo isso, haverem-se podido dar imnortantpc S3r ° at0 de’ aPesar de
campo ecumênico. Para só c it a m o íT S D a i ,888^ Para 3 ,ren,e "°
visitas oficiais entre o patriarcado ecumênico de Constant^oD^ de
ja Católica Romana, como ainda entre esta e a Federação mundial lute­
rana. A meu ver, estes fatos demonstram que a palavra de S Paulo se
aplica também ao nosso caso: “E sabemos que aos que amam a Deul
tudo coopera para seu bem àqueles a quem êle chamou segundo seii
desígnio (Rom 8,28). As inevitáveis dificuldades são, com efeito, um
instrumento pelo qual Deus quer mostrar que os resultados vêm dêle
e não dos homens (cf. 2 Cor 4,7), “a fim de que nenhuma carne vá
gloriar-se diante de Deus” (1 Cor 1,29); as dificuldades também põem
à prova a autenticidade e a solidez da nossa confiança em Deus e da
nossa caridade: enfrentadas e vencidas nesse espírito, tornam-se uma
ocasião para mais estreitamente apertarmos os laços de caridade para
com Cristo, para aumentar o amor da unidade em todos aquêles que crêem
em Cristo, e para consolidar nêles o amor mútuo.
Dificuldades, é certo que as encontraremos também nesta sessão. Bas­
ta pensarmos no número e na importância dos esquemas que resta ter­
minar, vários dos quais têm um grande alcance sôbre o movimento ecumê­
nico. E’ por isto que, como sempre vo-lo pedi desde a primeira Sessão,
renovo-vos o pedido de nos dizerdes com plena confiança tudo o que
não vos agradar, tôdas as vossas observações, tôdas as vossas criti­
cas; mas também vos peço vos dignardes de, juntos, conosco, conside­
rardes tôdas as coisas com calma serenidade, sobrenatural caridade e
confiança, fazendo acompanhar êste sentimento com a vossa oração co­
tidiana, a fim de que Aquêle que começou esta obra a conduza ao seu
têrmo (cf. Filip 1,6).
Neste sentido, mais uma vez vos digo: sêde bem-vindos; mais uma
vez vos agradeço aqui estardes presentes. Formulo o voto mais cordial
por um trabalho útil para Cristo, para sua Igreja, para as instituições*
que dignamente representais, e para a humanidade por êle redimida.
Falando em nome de todos os Observadores e Hóspedes do
Secretariado para a União dos Cristãos, o Rev. Douglas Horton,
americano, ex-moderador do Conselho Internacional Congrega-
cionalista, pincelou com saboroso humor anglo-saxão êsse vivo
quadro da situação e do papel dos Observadores não-catohcos
no Concilio:
Permita-me, Eminência, dizer uma palavra que exprima o sentimento
de todos nós os Observadores.
Abriu-nos V. Eminência muitas portas. F.atam* primeiro dajue
permitiu participar desta encantadora recepção. * ‘ civilizado pôde
ção moderna em que está reunido tudo o que ° homera c* dizad^P ^
imaginar de irracional: várias pessoas pos am s ' maioria não se
mais para elas; bebem não sabem bem o ql'e' ^ l e f o r e pa a que seus
conhecendo entre si, interpelam-se gritando bastante forte, pa
482 III. Documentos
vizinhos nâo mais possam ouvir-se, e dizem entre si banalidades que
logo após esquecerão. Porém as recepções de V. Em. não são dêste tipo
Reunem, numa moldura agradável, pessoas que um interêsse comum apro­
xima. que se sentem felizes de estar juntas e guardam de suas conver­
sações lembranças que gostarão de conservar por longo tempo. Por tudo
isto lhe agradecemos.
Porém V. Eminência abriu-nos também as portas de S. Pedro. Ima­
gino que, quando falam do Concilio, muitos de nós dizem incidentemente
aparentando não ligar a isso maior importância, que os Observadores têm
o direito de entrar na basílica pela porta reservada aos Cardeais. E,
quando, no primeiro dia, nos dirigimos para o local que nos estava re­
servado, tivemos de verificar que nossas cadeiras não eram de todo con­
fortáveis, mas, mesmo assim, eram as melhores da sala, graças à varinha
de condão de V. Eminência, que abre tôdas as portas. Nada, pois, de
admirar que um Bispo que se assenta bem no fundo da basílica haja,
ao que dizem, declarado: 44Vou deixar a Igreja e voltar aqui como Obser­
vador. Assim, ao menos, terei um lugar de onde poderei ver alguma coisa”.
Mas o nosso lugar, sob a lança protetora de S. Longino, é apenas
um exemplo de tudo o que V. Eminência incansàvelmente faz para nos
ser agradável. Nós recebemos os mesmos textos que os Padres do Con­
cilio. Podemos ouvir todos os debates, e, se não sabemos latim, podemos
recorrer à tradução simultânea que nos repete a verdade na língua de
“Trafalgar Square”, dos “Champs-Elysées”, da Praça Vermelha ou de
algum outro pôsto avançado da moderna tôrre de Babel. Para nós, êsses
tradutores fazem mais do que transmitir discursos: são os intérpretes dos
homens e das relações, são indispensáveis para nos fazer descobrir as
riquezas interiores do Concilio, inclusive as tensões criadoras. Alguns de
nós têm a vantagem de habitar o luxuoso hotel “Castel SanfAngelo”, que
náo tem comparação com o Hilton Hotel, pelo seu clima de boa amizade
e pelas discussões enriquecedoras que ali podem ter-se. Chegamos, com
efeito, a nos conhecermos tão bem uns aos outros, que V. Eminência pode
ser tido como responsável por um reflorescimento de ecumenismo entre
os cristãos não-católicos. E, sobretudo, há êsses encontros hebdomadá­
rios que nos permitem discutir diversos assuntos com o Secretariado.
Êles são a noz moscada acrescentada ao banquete de S. Pedro. Por êsses
encontros, sentimo-nos inseridos no âmago do Concilio, e muitíssimas ve­
zes, graças a V. Eminência, nossas idéias tomam a aparecer, alguns dias
depois, em S. Pedro, onde são expressas por um bom mensageiro. Eni
tôdas as reuniões somos sempre acolhidos com simplicidade e de coraçao
aberto, e muito gratos lhe somos por nos ter aberto estoutra porta.
Mas aquilo por que mais devedores lhe somos é por nos haver aber­
to a porta da sua amizade. Certo, no plano da teologia e do govêrno
da Igreja há divergências que se desenvolveram entre a Igreja Católica
e nós outros durante os séculos em que se procurava o que bem se
pudesse inventar para permanecermos separados. A solução delas ca­
berá às gerações, senão aos séculos, que se seguirão. Evidente é, porem,
para tôda gente, que, graças à amizade que V. Eminência nos tem ma­
nifestado, foi preparado o terreno sôbre o qual a reconciliação poderá
crescer. Como teólogo, pode V. Em. entender que a amizade não é um
tator teológico. Mas, seja teológica ou não, deve a amizade ter seu pape
Dialogo com os não-Católicos 483
a desempenhar no futuro da lereia n h;0(. •
em demonstrar que malafortunadosJ fatôres r "a° -em díficuldade
desuniões da Igreja (rivalidades Doiítica<! a teo o8,cos intervieram nas
então êste afortunado fator não-teoltico L pT ” ' etc)'. Por ^
haveria de desempenhar seu papel na reuniãn h 3 n.°^sa .a™zade nao
V. E ^ t e ç i . t e * « u rrie » , S a ”
KbreP!tal oudf'"tala,r' aspecto
n0S 'ndlf,erentes-
da vossa Mesmo
teologia,se dona0vosso
estivermos
govêrnodeouacõrdo sô
da vossa
liturgia, nunca ma.s poderemos ser indiferentes a isso. Que estas rela­
ções de simples amizade humana se estendam desde êste centro que
V. Em. aqui criou, ate aos extremos da cristandade, e então poder-se-á
dizer que o ecumenismo principiou.
No inicio, eu disse que me fazia o intérprete de todos os Observa­
dores. Para terminar, permita-me acrescentar que eu não ficaria zanga­
do se estas palavras que lhe são dirigidas chegassem até os corações
de todos os seus fiéis colaboradores do Secretariado, pois a êles tam­
bém se endereçam. Guarde, porém, um pouco da nossa gratidão para
si mesmo. Para nós, Observadores, Beatitudo começa por Bea.

If. O Discurso de Paulo VI na Cerimônia Ecumênica em São Paulo


fora-dos-muros
Na tarde do sábado, 4 de dezembro, já pelo fim da IV Ses­
são, uma cerimônia litúrgica reuniu, na Basílica de São Paulo
fora-dos-muros, os Padres do Concilio (com o Papa) e os Obser­
vadores não-católicos. Após a liturgia da palavra o Santo Padre
dirigiu-se a êstes últimos nos seguintes têrmos:
Caros senhores Observadores, ou, antes, deixai-Nos chamar-vos pelo
nome que readquiriu vida nestes quatro anos de Concilio Ecumênico.
Irmãos, Irmãos e Amigos em Cristo!
Eis que o Concilio se acaba e que nos vamos deixar: quisêramos,
neste momento do adeus, fazer-Nos intérprete dos veneráveis Padres con­
ciliares que aqui vieram rodear-Nos esta noite, para orarem convosco
e despedir-se de vós.
Cada um de vós vai retomar o caminho da volta à sua própria re­
sidência e Nós vamos reencontrar-nos sós. Permiti que vos contiemos
esta hnpressão íntima: vossa partida produz à volta de Nos uma soh-
dão que antes do Concilio não conhecíamos, e que agora nos entristece,
quisêramos ver-vos sempre conosco!
• \ tac :cfn o reiterar-vos Nossos agradecimentos pela vossa pre-
Obriga-Nos isto prumênico Apreciamos grandemente essa pre-
sença em Nosso'Com:.■« a; admiramosdhe a nobreza, a pie-
sença: havemos- he sent,d° .a. / E é por isto que conservaremos uma
dade, a paciência, a a f a b ^ P tornand40 a pensar na cortesia
agradecida lembrança da vos. saberemos melhor apreciar no seu
destas relações humanas h^ tórico'ào fato da vossa presença, descobrir-
justo valor o significado histonco
484 III. Documentos
lhe o conteúdo religioso, e perscrutar o mistério dos divinos desígnios
que ela parece a um tempo ocultar e indicar.
E, assim, vossa partida não porá fim, para Nós, às relações espi­
rituais e cordiais a que deu nascimento a vossa assistência ao Concilio*
ela náo encerra, para Nós, um diálogo silenciosamente começado, mas
ao contrário, obriga-Nos a estudar como poderiamos frutuosamente pros-
segui-lo. A amizade fica. E o que também fica, como primeiro fruto do
encontro conciliar, é a convicção de que o grande problema da reinte­
gração, na unidade da Igreja visível, de todos aquêles que têm a dita
e a responsabilidade de se chamarem cristãos, deve ser estudado a fun­
do. e de que chegada é a hora disto. Isto, já o sabiam muitos de nós;
agora, cresceu o número dos que assim pensam, e é esta uma gran­
de vantagem.
Se quisermos levantar um balanço sumário dos frutos que amadu­
receram, por ocasião e por causa do Concilio, no que concerne à ques­
tão da unidade, podemos primeiramente registar o fato de uma aumen­
tada consciência da existência do próprio problema: problema que a to­
dos nós concerne e obriga. Podemos aditar outro fruto, mais precioso
ainda êste: a esperança de que o problema — não hoje, por certo, porém
amanhã — poderá ser resolvido; lenta, gradual, leal, generosamente. Gran­
de coisa é esta.
E é o sinal de que ainda outros frutos amadureceram: aprendemos
a conhecer-vos um pouco melhor, e não sòmente como os representantes
de vossas confissões respectivas: através de vossas pessoas entramos em
contacto com comunidades cristãs que vivem, oram e agem em nome de
Cristo, com sistemas de doutrinas e de mentalidades religiosas, digarao-lo
sem receio: com tesouros cristãos de alto valor.
Longe de suscitar em nós um sentimento de inveja, isso aumenta,
antes, em nós o senso da fraternidade e o desejo de restabelecermos entre
nós a perfeita comunhão querida por Cristo. E isto nos leva a desco­
brir mais outros resultados positivos na trilha da nossa paz: havemos
reconhecido certas falhas e certos sentimentos comuns que não eram bons;
daquelas, já pedimos perdão a Deus e a vós mesmos; dêstes, havemos
descoberto a raiz não cristã e, por Nossa parte, propusemo-nos transfor­
má-los em sentimentos dignos da escola de Cristo; renuncia-se à polêmi­
ca com base em preconceitos e ofensiva, e não mais se põe em jogo um
vaidoso prestígio; procura-se, antes, ter presentes ao espírito as exorta­
ções repetidas do Apóstolo sóbre cujo túmulo nos achamos esta noite:
"Não haja entre vós contendas, invejas, animosidades, rivalidades, male­
dicências, insinuações, manifestações de orgulho, desordens” (2 Cor 12,20).
Queremos reatar relações humanas, serenas, benévolas, confiantes.
E conheceis os passos que Nós tentamos dar nessa direção. Baste
evocarmos os encontros que, no decorrer dêstes anos, representantes da
Santa Sé e Nós mesmo tivemos a honra e a alegria de ter com persona­
gens de vossas comunidades. Significativa entre tôdas foi a inolvidável
entrevista que a Providência nos propiciou com S. S. o Patriarca Atena-
goras em Jerusalém, no início do ano passado; ela Toi seguida de outras
emocionantes visitas, de representantes de diversas confissões cristãs que,
havia séculos, já não tinham nenhum contacto com a Igreja Católica,
com os não-Católicos
Diálogo
485
e especialmente com a Sé Ado^ ai^ o n
ternos como um fatn j . ' Consideramos ê:

se fazer compreender; não pronunciou anátemas, senão invitações; não


------------ ' f v o W U i^ iW U J U tl c U L

traçou limites à sua espera, como tampouco os traça ao seu oferecimento


fraterno de continuar um diálogo que a empenha. Com o Papa João
XXIII, a quem cabe o mérito desta conversação que voltou a ser con­
fiante e fraterna, teria ela gostado de celebrar convosco, com alguns de
vós, o encontro decisivo e final; dá-se ela, porém, conta de ser essa uma
pressa demasiado humana, e de que, para chegar ao têrmo de uma plena
e autêntica comunhão, muito caminho ainda resta fazer, muitas preces
a elevar para o Pai das luzes (Tgo 1,17), muitas vigílias a suportar. Pelo
menos podemos, no término do Concilio, registar uma conquista: recome­
çamos a amar-nos, e faça o Senhor que ao menos nisso o mundo reco­
nheça que somos verdadeiramente seus discípulos, por havermos resta­
belecido entre nós uma dileção recíproca (cf. Jo 13,35).
Ides tornar a partir. Não esqueçais esta caridade com que a Igreja
Católica Romana continuará a pensar em vós e a vos seguir. Não a jul­
gueis insensível e orgulhosa se ela sente o dever de conservar ciosamente
o “depósito” (cf. 1 Tim 6,20) que ela traz consigo desde as origens, e não
a acuseis de haver deformado ou atraiçoado êsse depósito se, no curso
da sua meditação secular, escrupulosa e cheia de amor, ela descobriu
nêle tesouros de verdade e de vida aos quais seria uma infidelidade re­
nunciar. Pensai em que justamente de Paulo, o apóstolo da sua ecume-
nicidade, foi que ela recebeu a sua primeira formação no magistério
dogmático, e sabeis com que inexorável firmeza (cf. Gál 1,6 ss). E pen­
sai em que a verdade nos domina e nos liberta a todos, e também em
que a verdade está próxima, próxima do amor.
Contaram-nos. há muitos anos, um episódio gracioso e simbólico da
486 III. Documentos
filósofo a passar a noite a passear lentamente, absorto em seus pensa­
mentos, ao longo do corredor do mosteiro tornado repentinamente miste­
rioso e inóspito. Longa e pesada foi a noite, mas afinal passou, e os
primeiros albores da aurora permitiram finalmente ao filósofo fatigado
identificar sem custo a porta da sua cela, ante a qual tantas e tantas
vêzes passara sem reconhecê-la. E êle comentava: assim sucede, muitas
vêzes. com os que buscam a verdade; passam pertinho dela, sem achá-
la. no decorrer de suas vigílias, até que um raio do sol da divina Sa­
bedoria venha tornar-lhes tão fácil quanto feliz o consolador descobri­
mento. A verdade está próxima. Possa, Irmãos amados, êsse raio da
divina luz fazer-nos, a todos, reconhecer-lhe a porta bendita!
Tal é o Nosso desejo. E agora, sôbre o túmulo de Paulo, ore­
mos juntos.
Após a alocução do Santo Padre, o cônego Maan (vétero-
católico) e Mons. G. Davis (católico) recitaram uma prece litâ-
nica, alternada de Kyrie eleison. A liturgia terminou pelo Pater,
que cada um recitou em sua língua. Em seguida S. S. Paulo VI
dirigiu-se para a “Sala Rossa” (Sala Vermelha) do mosteiro,
onde foi saudado pelo Cardeal Bea e pelo Rev. Moorman, bis­
po anglicano. Antes de deixar os observadores, S. S. Paulo VI
disse-lhes, em francês, inglês, alemão e grego: “A todos, uma
vez mais, Nossos agradecimentos, Nossa saudação, Nossa bên­
ção. As palavras que há pouco ouvimos enchem-Nos de con-
sôlo e de alegria. Permitem-nos esperar que, se Deus quiser, ha­
vemos de reencontrar-nos, e será para sempre em Cristo Nosso
Senhor, em nome do qual a todos vós desejamos a graça e a paz”.

III. A Absolvição das Censuras e Excomunhões entre Roma


e Constantinopla
Um dos fatos mais comoventes de todo o Concilio Vaticano
II deu-se certamente no dia 7-12-1965, quando os Padres Con­
ciliares ouviram a leitura de declaração conjunta do Papa Paulo
VI e do Patriarca de Constantinopla Atenágoras, sôbre os tris­
tes incidentes do ano 1054 que levaram à divisão da Igreja, e
o esquecimento das excomunhões e anátemas então proferidas.
Em conformidade com a liberdade deixada a cada Igreja orto­
doxa pela II Conferência de Rodes (cf. REB 1965, p. 126),
o Patriarca Atenágoras nomeou uma “comissão maior”, desti­
nada a estudar os problemas das relações com a Igreja cató­
lica. A esta Comissão, presidida pelo Metropolita Coroneos, de-
parou-se-lhe logo de início o problema das excomunhões e aná-
Diálogo tom os não-Católicos
487

r i í r 0^ as reiaçto - »
da por Mons. Willebrands, d irigiu-seT 'c!!M an?l'Cai
chegou a 2, de novembro passado. Ali ir a b a ta S n . e T r S
í! “ ., , “ , C» ,S!,Í ortodoxa, presidida pelo Melropolita
Mehton de Heliópohs. Todos chegaram a acôrdo que nos u -
tes acontecimentos de 1054 nâo interviera pròpriamente nenhum
aspecto doutrinai. Estabelecido de comum acôrdo êste e outros
pontos delicados, assentou-se nos têrmos da declaração conjun­
ta, que vieram a ser aprovados por Paulo VI e pelo Patriarca
com o seu Sinodo. Decidiu-se também que ela seria lida no dia
7 de dezembro em Roma, durante a última Sessão Pública do
Vaticano II, e numa cerimônia realizada à mesma hora na Cate­
dral patriarcal de Constantinopla. Para assistir a êste ato veio
a Roma uma delegação do Patriarca de Constantinopla, presi­
dida pelo Metropolita Meliton, e foi a Constantinopla uma mis­
são pontifícia chefiada pelo Cardeal Shehan, Arcebispo de Bal-
timore, nos EE.UU. Na Aula Conciliar a Declaração foi lida
em francês por Mons. Willebrands. E’ êste o texto da Decla­
ração Conjunta, que sem dúvida ficará célebre na história da
Igreja:
1. Penetrados de reconhecimento para com Deus pelo favor que, na
sua misericórdia, lhes fêz de se encontrarem fraternalmente nos lugares
sagrados onde, pela morte e ressurreição do Senhor Jesus, se consumou
o mistério da nossa salvação e, pela efusão do Espírito Santo, nasceu
a Igreja, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I não perderam de
vista o desígnio que então conceberam, cada qual por sua parte, de não
omitir no futuro nenhum gesto que a caridade inspire e que possa faci­
litar o desenvolvimento das relações fraternas entre a Igreja Católica Ro­
mana e a Igreja Ortodoxa de Constantinopla. Estão persuadidos que cor­
respondem assim aos apelos da graça divina que leva hoje a Igreja Ca­
tólica Romana e a Igreja Ortodoxa assim como todos os cristãos a ven-
cer tôdas as suqs divergências, para serem de nôvo “um” como o Se­
nhor Jesus pediu por êles ao Pai.
2 Entre os obstáculos que se encontram no caminho do desenvolví-
mento dessas relações fraternas de confiança e estima, figura a lem­
brança das decisões, atos e incidentes penosos, que terminaram em 10»»
pela sentença de excomunhão fulminada contra o Patriarca Miguel Cenila-
rio e duas outras personalidades pelos legados da se romana, conduzidos
pelo Cardeal Humberto, legados que foram êles mesmos a seSul' ° J e
de sentença análoga por parte do patriarca e do sino o c
nopolitano. _
3. E’ impossível fazer com que êsses acontecimentos na0 Ç"
o "que foram nesse período particularmente perturbado da
488 III. Documentos
hoje que se formula um juízo mais sereno e mais eqüitativo sôbre êles
importa reconhecer os excessos que os mancharam e que levaram ulterior-
mente a consequências que ultrapassaram, quanto podemos julgar, as in­
tenções e as previsões dos seus autores, cujas censuras atingiam as
pessoas e não as Igrejas e não pretendiam quebrar a comunhão eclesiás­
tica entre as sés de Roma e de Constantinopla.
4. Pelo que, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I e o seu
sinodo. certos de exprimir o desejo comum de justiça e o sentimento
unânime de caridade dos seus fiéis, e lembrados do preceito do Senhor:
"Quando tu apresentares a tua oferta sôbre o altar, se te lembrares
dum agravo que o teu irmão tem contra ti, deixa a tua oferenda diante
do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão” (Mt 5,23-24), de­
claram de comum acôrdo:
a) lamentar as palavras ofensivas, as acusações sem fundamento, e os
gestos condenáveis, que, de ambas as partes, marcaram ou acompanha­
ram os tristes acontecimentos daquela época;
b) lamentar igualmente e apagar da memória e do meio da Igreja
as sentenças de excomunhão que se lhes seguiram, e cuja lembrança
tem atuado até aos nossos dias como obstáculo à aproximação na carida­
de, e votá-las ao olvido;
c) deplorar, enfim, os precedentes nefastos e os acontecimentos ulte-
riores que, sob o influxo de diversos fatores, entre os quais a incom­
preensão e a desconfiança mútuas, conduziram finalmente à ruptura efe­
tiva da comunhão eclesiástica.
5. Êste gesto de justiça e de perdão recíproco, o Papa Paulo VI e o
Patriarca Atenágoras I com o seu Sinodo estão conscientes de que não
pode bastar para pôr fim às divergências, antigas ou mais recentes,
que subsistem entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa e
que, pela ação do Espírito Santo, serão ultrapassadas graças à purifi­
cação dos corações, ao arrependimento pelos erros históricos, assim como
à vontade eficaz de chegar a uma inteligência e expressão comum da fé
apostólica e das suas exigências.
Ao cumprirem êste ato, contudo, esperam que êle seja aceito por
Deus, pronto para perdoar quando nos perdoamos uns aos outros, e
apreciado por todo o mundo cristão, mas sobretudo pelo conjunto da
Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa como expressão da sin­
cera vontade recíproca de reconciliação e como convite a prosseguir,
em espírito de confiança, de estima e de caridade mútuas, no diálogo
que os levará, com a ajuda de Deus, a viverem de nôvo, para o maior
bem das almas e para a vinda do reino de Deus, na plena comunhão
de fé, de concórdia fraterna e de vida sacramental que existiu entre
elas no decurso do primeiro milênio da vida da Igreja.
7 de dezembro de 1965.
Lida a Declaração Conjunta, o Cardeal A. Bea, Presidente
do Secretariado para a União dos Cristãos, ladeado pelos Car­
deais P. Marella e F. Kõnig, respectivamente Presidentes dos
Diálogo com os não-Católicos 489
Secretariados para os não-cristãns P
ao estrado onde está o Santo PadreP nara°S nao'Jrentes> sobe
do Breve pontíllcio Ambulate in d ile c tiZ . Do o “ rolado à «*
querda do Papa sobe também o metropolita Meliton de Heltó’
£ Breve en,lada pOT A" ” á^ ' « o“ «

• tPafUlp \ PI!' Vl.\,Ad futuram rei memoriam: "Ambulate in dilectione


aÍodÍN o s'6X,t
(.E ç5f ) acode-Nos T e: 6Sta
a mente, serve exortação
de estímulod0 a Apóstolo
nós que, das
peloGentes
nome
do Salvador, nos chamamos cristãos, especialmente neste nosso tempo
em que mais urgente se nota o impulso para dilatar os espaços da ca­
ridade. Em outras palavras, por graça de Deus as nossas almas sentem-
se inflamadas do desejo de empregarem todos os esforços para recom­
por na unidade aquêles que, por vocação, enquanto incorporados a Cris­
to, são obrigados a conservá-la. Nós mesmo, que por disposição da
Divina Providência ocupamos a Cátedra de S. Pedro, cônscios dêsse
mandamento do Senhor, muitas vêzes já manifestamos o firmíssimo pro­
pósito de aproveitarmos tôdas as ocasiões úteis e oportunas para rea­
lizarmos essa vontade do Redentor.
Tornamos a pensar nos tristes acontecimentos que, ao cabo de não
poucas dissensões, em 1054 foram causa de grave hostilidade entre a
Igreja de Roma e a de Constantinopla. Com razão, o Nosso predeces-
sor Gregório VII teve, depois, de escrever: “O quanto a concórdia
foi profícua anteriormente, outro tanto nociva foi depois a mútua frieza
na caridade” (Ep. ad Michael. Constantinopol. imp.t Reg. I, 18, ed. Caspar,
p. 30). Mais: chegou-se até ao ponto de, de uma parte, haverem os
Legados pontifícios pronunciado a sentença de excomunhão contra Mi­
guel Cerulário, Patriarca de Constantinopla, e contra outros dois ecle­
siásticos, e êste, por sua vez, juntamente com seu Sinodo, ter feito o
mesmo contra aquêles.
Agora, porém, mudados os tempos e as disposições de ânimo, senti­
mo-nos repleto de alegria pelo fato de vermos nosso venerável irmão
Atenágoras I, Patriarca de Constantinopla, e seu Sinodo compartilharem
o Nosso desejo de nos acharmos reciprocamente unidos na caridade,
doce e salutar vínculo dos corações (cf. S. Agostinho, Serm. 350, 3, PL
39 1534) Por isto desejoso de que progredamos ainda mais na tnlha
do’ amor ’ fraterno que conduza à perfeita unidade, e de, para isso,
removermos todos os óbices e impedimentos, perante os bispos reunidos
no Concilio Ecumênico Vaticano II afirmamos sentirmos v.v-o pesar pelas
palavras ditas e pelos gestos levados a efeito naquele tempo, e que
não oodem ser aprovados. Desejamos, alem disto, remover e cancelar
da memória da Igreja, e considerar toW".ente sePatada no esqueci­
mento, a sentença de excomunhão naquela epoca pronunciada
Alegramo-nos ade- nup
que a■a Nós
N tenha sido dado cumprir
aQ sepulcro êste dever
do apóstolo Ut
Pedro.
m rx rs - ; *■ «■ »» * » *» *■ »»*"■
Concilio - V — 32
490 NI. Documentos
O Deus clementíssimo, autor da paz, torne eficaz esta mútua boa
vontade, e conceda que êste público testemunho de fraternidade cristã
resulte felizmente para a sua glória e para o bem das almas.
Dado em Roma, junto a S. Pedro, sob o anel do Pescador, a 7
de dezembro, festa de Santo Ambrósio, bispo, confessor e doutor da
Igreja, do ano de 1965, terceiro do nosso pontificado.
PAULUS PP. VI

Neste ponto, após receber das mãos de um cerimoniário


o original do Breve escrito em pergaminho, o Papa abriu o rolo
e entregou-o ao metropolita Meliton, levantando-se e abraçando-o
fraternalmente, em meio aos aplausos da assembléia. O abraço
com o Metropolita renovou-se também por parte do Cardeal Bea
e dos outros dois purpurados.
Na mesma hora que em Roma, também na igreja patriarcal
do Fanar, em Constantinopla, desenrolava-se cerimônia análoga,
em presença da delegação pontifícia chegada de Roma na noite
anterior. No correr da solene liturgia em honra de Santo Am­
brósio, na presença de uma multidão transbordante que enchia
o templo e as adjacências, à leitura do trecho evangélico do
Bom Pastor seguiu-se a leitura da Declaração comum, em língua
grega. Ao Pater, o Patriarca convidou a delegação e os pre­
sentes a recitarem em latim a oração do Senhor, enquanto, no
fim, êle mesmo leu o tomos , documento análogo ao breve pon­
tifício, firmado por êle e pelos membros do Santo Sinodo. Assim
se exprime o documento:
Atenágoras, por misericórdia de Deus Arcebispo de Constantinopla,
Nova Roma, e Patriarca Ecumênico.
Em nome da santa, consubstanciai, vivificante e indivisível Trindade!
Deus é amor (1 Jo 4,9); o amor é o sinal dos discípulos de Cristo
dado por Deus, é a fôrça unificadora da sua Igreja, e, nesta, o prin­
cípio de paz, de concórdia e de ordem, como perpétua e esplêndida ma­
nifestação do Espírito Santo. Necessário é, pois, que aquêles a quem
Deus confiou a economia das suas Igrejas cuidem do “vínculo de per­
feição” (Col 3,14), e dêle se sirvam com tôda atenção, solicitude e pro­
teção. E, se acaso suceder esfriar-se a caridade e quebrar-se a unidade
no Senhor, com tôda solicitude cumpre certificar-se do mal e buscar-
lhe o remédio.
Ora, por misteriosa disposição de Deus, no ano de 1054 sobreveio
a Igreja uma triste tempestade: as relações entre as Igrejas de Roma
t de Constantinopla foram postas à prova, e a caridade que as mantinha
unidas foi ferida a tal ponto, que o anátema surgiu no seio das igrejas
Diálogo com os não-Catóiicos
491
de Deus: os legados de Roma, Cardeal H„mk .
estavam, anatematizaram o patriarca Mim.tí pb !° 6 os que com ê,e
dores seus; por sua vez, o Jatnarca J f i r P7 f ' ° * d°ÍS CÜ,abora-
anatematizava o escrito dos legados de Rom, ° ár‘°’ com seu Sinodo,
colaboradores. Mister se fazia pote oue i 2 ’ T " ° u tüncebera' e « u »
de Deus aos homens, as Tg?eia ° deqRoma l H r b°"dade e 0 amor
siderassem juntas êstes fatos e restabelecessem a p°"stant,nopla recon'
Mas, já que nestes últimos tempos manifestou-se a benevolência
de Deus para conosco, mostrando-nos o caminho da reconciliação e da
paz, entre as outras maneiras também como tudo foi disposto por Deus
na reciproca solicitude, bendita e frutuosa, tanto da Antiga quanto da
nossa Nova Roma, para o desenvolvimento das suas relações fraternas
foi julgado oportuno proceder às retificações do juízo dos aconteci­
mentos passados, e, na medida possível a cada uma delas, suprimir
os obstáculos acumulados que podem ser eliminados; e isto para o
progresso, o crescimento, a edificação e a consumação da caridade.
Assim, pois, a nossa Humildade, com os veneráveis e estimadíssi-
mos Metropolitas nossos amados irmãos e concelebrantes em Cristo,
tendo julgado o momento propício no Senhor, reunidos em Sinodo e ha­
vendo discutido a respeito, sendo, além disto, conhecidas as mesmas
disposições por parte da Antiga Roma, havemos decidido tirar da me­
mória e do meio da Igreja o supradito anátema lançado pelo Patriarca
de Constantinopla Miguel Cerulário com seu Sinodo.
Por escrito proclamamos, portanto, que o anátema lançado na Gran­
de Chancelaria da nossa Grande Igreja no ano da salvação de 1054,
no mês de julho da VII Indicção, desde êste momento e para conhe­
cimento de todos é tirado da memória e do meio da Igreja pela miseri­
córdia do Deus das misericórdias, o Qual, pelos rogos da nossa bea­
tíssima Soberana, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, dos glorio­
sos apóstolos S. Pedro, o Protocorifeu, e André, o Protóclito, e de to­
dos os santos, queira conceder a paz à Igreja, guardando-a pelos séculos
dos séculos.
Pelo que, e em sinal de perpétua memória e constante testemunho,
foi redigido o presente Ato patriarcal e sinodal, transcrito e assinado
no Sagrado Registro da Nossa Santa Igreja, e enviado, por copia au­
têntica e conforme, à Santa Igreja da Antiga Roma, a fim de que e e
tome conhecimento e o deposite em seus arquivos.
No ano da salvação de 1965. 7 de dezembro da IV Indicção.
Por entre o entusiasmo e as aclamações dos presentes, o
Patriarca Atenágoras e o Cardeal L. Shehan, chefe da missão
pontifícia, por muitas vêzes abençoaram juntos a multidão, den­
tro e fora do templo. Durante o jantar, foram troca os 1
cursos gratulatórios, concordes em auspiciar o rapi 0 . .
do “grande amanhã”. À noite, na catedral catohca de Istambul,
com a participação de representantes do pa nar ’ -0 (1a
nidade católica festejou o acontecimento com a Ç
32 *
492 III. Documentos

missa pelos membros da delegação pontifícia, com homílias do


Cardeal Shehan e de Mons. E. Nicodemo, respectivamente em
inglês e em italiano, e com o canto do Te Deum.
Imediatamente após a cerimônia na basílica, Paulo VI re­
cebeu, na sala dos paramentos, a missão patriarcal, da qual,
além do metropolita Meliton, faziam parte também os metropo­
litas Jakovos da América e Atenágoras de Tiatira, o arquiman-
drita Máximos e o diácono Bartolomeos. Estavam também pre­
sentes Mons. Willebrands e o P. Duprey. Ao Santo Padre o
chefe da delegação dirigiu a seguinte saudação:
Santidade: “Aquêle que é e que era e que vem” (Apoc 1,4), o Se­
nhor da história, o qual está para além da história e a redime, êle que
voltará, em glória, para resumi-la em si mesmo e para completá-la, dignou-
se de fazer-nos viver êste momento sagrado. A êle a glória e a ação
de graças, e também ao Pai e ao Espírito Santo.
Testemunhas da vossa boa palavra e do vosso ato de caridade, nós,
os humildes embaixadores de vosso irmão o Bispo de Constantinopla,
cumprindo sua ordem e a de seu Sinodo, também anunciamos a vós, como
ainda ao santo Concilio em tôrno de vós reunido, que neste mesmo
instante vosso irmão o patriarca Atenágoras I, agindo no mesmo es­
pírito e interpretando o sentimento pan-ortodoxo de caridade e de paz
expresso na terceira Conferência pan-ortodoxa de Rodes, na sé de João
Crisóstomo, pai comum da Igreja indivisa, enquanto se cumpre a sua
divina liturgia e a sua anáfora a Jesus nosso comum Redentor e Se­
nhor, liturgia celebrada em honra e em memória do nosso santo Pai
Ambrósio, vosso predecessor na sé de Milão, tira da memória e do
âmbito da Igreja o anátema cominado pelo patriarca Miguel Cerulá-
rio no ano de 1054.
Portanto, estas duas sés apostólicas, da antiga e da nova Roma,
que, segundo um juízo que o Senhor conhece, haviam atado o passado,
desatam o presente e abrem o futuro, ab-rogando, com uma Declaração
comum e com um ato eclesiástico recíproco, o anátema por elas lan­
çado, símbolo de cisma, e pondo em lugar dêle a caridade, símbolo
do seu reencontro.
Embora persistindo as divergências na doutrina, na ordem canônica
e no culto, e ainda não havendo sido alcançada a comunhão sacramen­
tal, sem embargo a premissa fundamental da solução progressiva das
divergências, ou seja a caridade fraterna, é hoje oficial e eclesiàstica-
mente estabelecida entre as duas primeiras sés do Ocidente e do Oriente.
Santidade: dentro em pouco celebraremos o Natal, a festa por ex­
celência da caridade e da paz divina. Vós, o primeiro Bispo da cris­
tandade, e vosso irmão o Bispo de Constantinopla, o segundo pela or­
dem, em seguida ao acontecimento sagrado dêste dia e pela primeira
vez depois de longos séculos, podereis, com uma só bôca e com um
só coração, dirigir-vos êste ano aos homens, os quais, na Igreja e fora
Diálogo com os não-Católicos 493

da Igreja, aguardam angustiosamente a benevolência p a


vez, nao somente com votos e boas naiaJ!!! a paz' e> desta
podereis proclamar-lhes, juntamente' com os' ’ anjos at<?’
príncipe da paz, a mensagem celeste de Natal -ri/ • '°uvor do
céus e paz na terra aos homens que êle ama” 3 DeUS n0S
Antes de deixar Roma, Meliton dirigiu-se à Basílica Vati-
cana para orar sobre o túmulo de João XXIII, e para depositar
sobre o tumu Io do Papa Leão IX, em cujo nome foi lançada a
excomunhão de 1054, 9 rosas em lembrança dos 9 séculos de
separaçao. Êste gesto evoca o do Cardeal Cicognani que, indo
a Florença, para a comemoração de Dante juntamente com cer­
ca de 500 Padres conciliares, depositou sôbre o túmulo do pa­
triarca José II, em Santa Maria Novella, uma grairde coroa de
flores brancas, com êste escrito: “S. S. Paulo VI ao patriarca
José II de Constantinopla” (cf. L’Oss. Romano, 26-11-65). O me­
tropolita Meliton confiou também algumas declarações à im­
prensa: “Parto de Roma muito comovido, e com um sentimento
de profunda satisfação e de paz pelo importante acontecimen­
to ocorrido com a anulação das excomunhões recíprocas de 1054.
Êste ato de amor e de reconciliação, de 7 de dezembro — o
qual é obra resultante dos esforços do Papa Paulo VI e do pa­
triarca Atenágoras, e também fruto do seu encontro de Jerusalém
— abre uma nova era não só nas relações das duas Igrejas
irmãs, mas, ao mesmo tempo, nas relações destas com as ou­
tras Igrejas e comunidades cristãs. Encontrei-me com Sua Santi­
dade Paulo VI logo após a cerimônia em S. Pedro, numa au­
diência particular. Esperava encontrá-lo cansadíssimo após a
longa cerimônia. Causou-me profunda impressão encontrá-lo em
ótimas condições físicas, e firmemente decidido a prosseguir na
trilha da total reconciliação das duas Igrejas irmãs, e tam­
bém cheio de fé e de esperança em Deus. Não obstante a la-
boriosa jornada, Paulo VI dirigiu-nos palavras inspiradas. Tive
ocasião de me encontrar com personalidades da Cúria, como
os Cardeais Tisserant, Bea, Ottaviani e Cicognani. Acha-os to­
dos com o mesmo espírito do Santo Padre, cheios de eSL'Í_°
e de vontade de promoverem a grande causa da unidade crista.
O que mais me impressionou foi a reação positiva e t o *
entusiasmo dos fiéis de todos os graus. ^ rjne
S. Pedro a 7 de dezembro
Acorresponde
que
l v o ^ '^que
i'1 v ^ocorreu em .
a um grande anseio da alma cris a .
i ~) j
Homília da Sessão Pública de 7-12-1965: O Valor Religioso
do Concilio

D u r a n t e a s a n t a m is s a
concelebrada (pelo Papa e 24 Concelebrantes, entre os quais
nosso Cardeal Dom Agnelo Rossi) Sua Santidade pronunciou
a homilia que aqui é reproduzida segundo a tradução forneci­
da pelos Serviços de Imprensa do Vaticano:
Concluímos hoje o Concilio Ecumênico Vaticano II. Concluímo-lo na
plenitude da sua eficiência: a vossa presença tão numerosa o demonstra,
a variedade harmoniosa desta assembléia o atesta; o regular epílogo
dos trabalhos conciliares o confirma; a harmonia dos sentimentos e pro­
pósitos o proclama; e se não poucas questões, suscitadas no decurso
do mesmo Concilio, ficam à espera de uma resposta conveniente, isto
mesmo indica que não é no cansaço que se encerram os seus trabalhos,
mas na vitalidade que êste Sinodo universal despertou, e que no período
pós-conciliar, com a ajuda de Deus, se dedicarão a tais questões gene­
rosas e ordenadas energias. Êste Concilio confia à história a imagem
da Igreja católica figurada nesta aula, cheia dePastores que profes­
sam a mesma fé, estão unidos na mesma caridade, e associados na mes­
ma comunhão de oração, de disciplina, de atividade, e — o que é ma­
ravilhoso — todos desejosos de uma só coisa, oferecer-se a simesmos,
como Cristo nosso Mestre eSenhor, pela vida da Igreja e pela salvação
do mundo. Não é sòmente a imagem da Igreja que êste Concilio entre­
ga aos vindouros, mas também o patrimônio da sua doutrina e dos seus
mandamentos, o “depósito” recebido de Cristo e meditado através dos
séculos, vivido e manifestado, e agora em tantas das suas partes, es­
clarecido, precisado e ordenado na sua integridade; depósito que a di­
vina virtude de verdade e graça, que o constitui, torna vivo e portanto
capaz de vivificar todo aquêle que plenamente o acolha e dêle alimente
a sua humana existência.
O valor religioso do Concilio. — Que coisa, portanto, tenha sido
o Concilio, que coisa tenha operado, seria o tema natural desta nossa
meditação final. Mas essa requerería demasiado tempo e atenção; nem
talvez nesta hora novíssima e estupenda teríamos o ânimo para fazer
tranquilamente uma tal síntese. Queremos reservar êste momento Pre
Homília da Sessão Pública de 7-12-
1965 495
cioso a um umco pensamento, que inclina b„m1i
pintos e ao mesmo tempo os eleva ao 7 demente 08 nossos es-
pensamento é êste: qual o valor n>ii.ril T das nossas aspirações. O
queremos dizer o seu valorde^ rda IH ir ía T ° ° Reli*i(*°-
lação essa que é a razão de ser da ltrreia 1 iCOm ° Deus v,vente- re-
e ama, de quanto ela é e realiza Poderem™ de- qua("t0 e,a crê- “ P6'3
glória a Deus, têrmos buscado o Seu conhecimento e^mnr r™0*5 dad°
gredido no esforço da Sua contemplação, na ansiedade daSu™^IeteT
fp
a aPastores
stô re s aee MMestres
e strJUdosPfr ClamhÇâ° de
dos caminhos / ° nDeus?
homens-
Nós que nos cândidamente
cremos olham como
que sim. Até mesmo porque foi desta inicial e fundamental intenção que
surgiu o proposito que informou o Concilio quando estava para cele­
brasse. Ecoam ainda nesta Basílica as palavras pronunciadas na alo-
cuçao inaugural do mesmo Concilio pelo nosso venerado predecessor
João XXIII, que podemos sem dúvida proclamar como o autor do Gran­
de Sinodo. Disse êle então: “O que mais interessa ao Concilio Ecumê­
nico é que o sagrado depósito da doutrina cristã seja mais perfeita­
mente guardado e proclamado... E’ certamente verdade que Cristo Nosso
Senhor pronunciou esta sentença: ‘buscai primeiramente o reino de Deus
e a sua justiça'. Sentença esta que declara perfeitamente para onde
em primeiro lugar deveremos dirigir as nossas forças e os nossos pen­
samentos” (Discursos, 1962, p. 583).
Concilio do nosso tempo. — E à intenção sucedeu-se a realização.
Para dignamente a avaliar, é necessário recordar o tempo em que êste
foi levado a efeito; tempo, que todos reconhecem mais dirigido à con­
quista do reino da terra que à conquista do reino dos céus; tempo em
que o esquecimento de Deus se toma habitual e parece, aliás sem ra­
zão, sugerido pelo progresso científico; tempo em que o ato funda­
mental da personalidade humana, tornada mais consciente de si e da
sua liberdade, tende a pronunciar-se pela própria autonomia absoluta
libertando-se de tôda a lei transcendente; tempo em que o laicismo pa­
rece a conseqüência legítima do pensamento moderno, e a última palavra
da sabedoria em matéria de ordenação temporal da sociedade; tempo.
além disso, em que as expressões do espírito atingem limites de irra­
cionalidade e desolação; tempo, finalmente, que regista, mesmo na^ gran­
des religiões dos povos gentios, perturbações e decadências jamai> ex
perimentadas. Num tempo como êste foi celebrado o nosso Concilio,
para honra de Deus, em nome de Cristo, sob o impulso do Espirito,
“que penetra tôdas as coisas”, e que jamais deixou de animar a greja
“para que reconheçamos aquilo que vem de Deus (c • or -• “ ’
ou seja dando-lhe simultaneamente a visão profunda e panoramica da ud
e do mundo. A concepção teocêntrica e teológica do homem e do un-
verso, como que desafiando a acusação de /-acromsmo e a H-e
to, surgiu com o Concilio no meio da humanidade, com pretensões ^
o juízo do mundo começará por qualificar c o m o ’’ente humanas,
pois, esperámo-lo, virá a .«conhecer com» p„„i-
sábias e salutares. Deus existe! Sim, e rea , ' f mesmo, mas
dente, é infinitamente bom; mais ainda, nao so bom -
496 III. Documentos
também imensamente bom conosco, nosso criador, nossa verdade, nos­
sa felicidade, de tal maneira que êsse esforço por fixar nêle o ’ olhar
e o afeto, a que chamamos contemplação, se converte no ato mais
elevado e mais pleno do espírito, no ato que ainda hoje deve hierar-
quizar a imensa pirâmide da atividade humana.
Meditação da Igreja sôbre si mesma e sôbre o mundo. — Dir-se-á
que o Concilio, mais que das verdades divinas, se ocupou principalmente
da Igreja, da sua natureza e composição, da sua vocação ecumênica
e da sua atividade apostólica e missionária. Esta sociedade religiosa
de séculos, que é a Igreja, procurou refletir sôbre si mesma para me­
lhor se conhecer, melhor se definir, e em conformidade com isto, ordenar
os seus sentimentos e os seus preceitos. E’ verdade. Mas esta intros-
pecção não termina em si mesma, não é ato de pura sabedoria huma­
na, de exclusiva cultura terrena; a Igreja recolheu-se à sua íntima cons­
ciência espiritual, não para se deleitar em análises eruditas de psicologia
religiosa ou de história das suas experiências, ou então para se dedicar
de nôvo a uma reafirmação dos seus direitos e à formulação das suas
leis; mas sim para reencontrar em si mesma, viva e operante, no Espí­
rito Santo, a palavra de Cristo, e para perserutar a fundo o mistério,
isto é, o desígnio e a presença de Deus acima e dentro da mesma Igre­
ja, e para reavivar em si aquela fé que é o segrêdo da sua segurança
e sabedoria, e aquêle amor que a obriga a cantar sem descanso os
louvores de Deus: “cantar é próprio de quem ama”, diz S. Agostinho
(Serm. 336; PL 38, 1472). Os documentos conciliares, principalmente
aquêles que tratam da Divina Revelação, da Liturgia, da Igreja, dos
Sacerdotes, dos Religiosos e dos Leigos, deixam claramente transpare­
cer esta intenção religiosa, direta e primária, e demonstram como é
límpida, fresca e rica a veia espiritual, que o contacto vivo com o Deus
vivo faz brotar do seio da Igreja, e dela manar para as zonas áridas
da nossa terra. Mas não podemos deixar de fazer uma observação ca­
pital, no exame do significado religioso dêste Concilio: o profundo in­
terêsse que êle mostrou pelo estudo do mundo moderno. Talvez, em
nenhuma outra ocasião, tanto sentisse a Igreja a necessidade de co­
nhecer, de aproximar-se, compreender, penetrar, servir e evangelizar a
sociedade circunstante, de a acolher, quase diriamos, de a socorrer, na
sua rápida e contínua transformação. Esta atitude determinada pelas
distâncias e rupturas verificadas nos últimos séculos, principalmente no
passado e no presente, entre a Igreja e a civilização profana, atitude
>empre sugerida pela missão salvífica essencial da Igreja, continuamente
se mostrou vigorosamente operante no Concilio, a ponto de sugerir
a alguns a suspeita de que um relativismo tolerante e excessivo — em
relação ao mundo exterior, à história fugaz e à moda cultural, às ne­
cessidades contingentes, ao pensamento alheio — tenha dominado pes­
soas e atos do Sinodo ecumênico, à custa da fidelidade devida à Tra­
dição, e em prejuízo da orientação religiosa do mesmo Concilio. Mas
Nós não cremos que ao Concilio, às suas verdadeiras e profundas in­
tenções e às suas manifestações autênticas, se possa vir a imputar se­
melhante atitude perniciosa.
Homília da Sessão Pública
de 7-12-1965
497
Mais nos interessa fazer notar com» , •
foi sobretudo a caridade; e ninguém ™derá * g'^ d° n08S0 Conti|io
ou de infidelidade ao Evangelho8 por essa lr ? 3-° de irre|igiosidade
recordamos que é o mesmo Cristo aue . açao Pnmária, quando
os irmãos é o caráter distintivo dS seus hT™ , qUe 3 Caridade com
quando deixamos que ressoem aos nnssn discípulos (cf. Jo 13,35), e
licas: "A religião pura e imaculada aos o,Ls°TDeu? e^doTai
visitar os orfaos e as viúvas nas suas trih..i=JL s 6 00 Fa e esta-
da corrupção dêste mundo” (Tgo 1,27); e a in d ? '“Quem "nâr?ara*1?
(í° jo°4!S)a0’ 3 qUem ’ C°m° P°derá 3mar 3 ° eUS 3
O Concilio e o homem. - Sim, a Igreja do Concilio ocupou-se bas-
ante.nao somente de s, mesma e da relação que a une a DeuJ mS
também do homem qual hoje ele se apresenta na realidade: o homem
vivo, o homem todo absorvido em si mesmo, o homem que não sòmente
se faz centro de todo o interêsse, mas que ousa dizer-se princípio e
razao de toda a realidade. Todo o homem fenomênico, isto é, revestido
dos hábitos das suas inumeráveis aparências, como que se apresentou
diante da assembléia dos Padres conciliares, também êles homens, todos
Pastores e irmãos, portanto atentos e cheios de afeto: apresentou-se o
homem com a tragédia dos seus dramas interiores, o homem super­
homem de ontem e de hoje, e por isso sempre frágil e falso, egoísta e
feroz; o homem desiludido de si mesmo que se ri e que chora; o homem
versátil, sempre pronto a desempenhar qualquer papel, e o homem cultor
rígido sòmente das realidades científicas; e o homem como êle é, o “ramo
fértil” (Gn 49,22), que pensa, ama, trabalha e sempre espera alguma
coisa; e o homem sacro pela inocência da sua infância, pelo mistério
da sua pobreza, pela compaixão que inspira a sua dor; o homem indi­
vidualista e o homem social; o homem “que sempre louva o tempo
passado” e o homem sonhador voltado ao futuro; o homem pecador e
o homem santo... O humanismo laico e profano acabou por se mostrar
na sua terrível estatura, desafiando em certo sentido o Concilio. A re­
ligião do Deus que se fêz Homem encontrou-se com a religião (porque
o é) do homem que se faz Deus. Que aconteceu? Escaramuça, luta.
anátema? Poderia assim ter acontecido; mas não aconteceu. A antiga
história do Samaritano foi o paradigma da espiritualidade do Concilio.
Simpatia imensa o penetrou de-Iés-a-lés. A descoberta das necessidades
humanas (que são tanto maiores quanto maior se torna o filho da ter­
ra) absorveu a atenção do nosso Sinodo. Concede,-Ihe ao menos este
mérito, vós humanistas modernos, que renunciais a ranscen c
mais ;.to, e reconhecei o nosso nôvo humanismo: também nos, e nos
mais que ninguém, somos cultores do homem.
n ,.
ConUança . , _Qijg
no homem. Quecoisa
c consideroua estudar?
êste augusto Senadomais
Considerou na
natureza humana a uz da d.vimad q ^ do homenli 0 seu ma.
uma vez a sua dupla fact. a mis e noutro quadr0 0 seu bem.
profundo, inegável, incurável J' misteriosa de invicta soberania. Mas é
sempre marcado duma beleza * ^ pondo.se a julgar o homem,
necessário reconhecer que est ’ , aspecto agradável do que
se concentrou muito mais na considerado
49S III. Documentos

no desagradável. A sua atitude foi muito otimista e muito consciente­


mente otimista. Partiu do Concilio uma corrente de admiração e dè
afeto dirigida para o mundo humano moderno. Sim, mereceram repro­
vação os erros; porque reprová-los é exigência não menos da caridade
que da verdade; mas para as pessoas sòmente pedimos respeito e amor
Em lugar de diagnoses deprimentes, remédios encorajadores; em vez de
presságios funestos, partiram do Concilio mensagens de confiança para
o mundo contemporâneo: os seus valôres foram não sòmente respeita­
dos, mas honrados, os seus esforços apoiados, as suas aspirações pu­
rificadas e abençoadas.
Reparai nisto, por exemplo: as inumeráveis línguas das gentes de
hoje foram admitidas a expressar litúrgicamente a palavra dos homens
a Deus e a Palavra de Deus aos homens; foi reconhecida ao homem,
enquanto tal, a vocação básica à plenitude de direitos e à transcendên­
cia de destinos; as suas aspirações supremas à existência, à dignidade
da pessoa, à honesta liberdade, à cultura, ao renovamento da ordem so­
cial, à justiça e à paz, foram purificadas e encorajadas; e a todos os
homens foi dirigido o convite pastoral e missionário que os chama à luz
evangélica. Com excessiva brevidade vos falamos agora das muitissimas
e vastíssimas questões, relacionadas ao bem-estar humano, das quais
se ocupou o Concilio; êste não intenciona resolver todos os problemas
urgentes da vida moderna; alguns dêstes ficaram reservados para ulte-
rior estudo que a Igreja deseja fazer e muitos foram apresentados em
têrmos muito restritos e gerais, suscetíveis por isso de novos aprofun­
damentos e de variadas aplicações.
Caridade pastoral. — Importa agora notar uma coisa: o magis­
tério da Igreja, se bem que não quisesse pronunciar-se em sentenças
dogmáticas extraordinárias, ministrou o seu ensinamento autorizado sô­
bre uma quantidade de questões, que hoje preocupam a consciência e
atividade do homem; desceu, por assim dizer, a diálogo com êle; con­
servando sempre a autoridade e a fôrça que lhe são próprias, assumiu
o tom despretensioso e amigável da caridade pastoral; desejou fazer-se
ouvir e compreender por todos; não se dirigiu só à inteligência espe­
culativa, mas procurou exprimir-se no estilo de conversa íntima, ao
qual o recurso à experiência vivida e o emprêgo do sentimento cordial
dão mais atraente vivacidade e maior fôrça persuasiva: falou ao homem
de hoje qual êle é.
A serviço da humanidade. — Outra coisa devemos ainda notar: tôda
esta riqueza doutrinai se dirige numa direção única: servir o homem.
O homem, digamos, em tôda a sua amplitude, em tôda a sua fraqueza
e indigência. A Igreja quase se declarou escrava da humanidade, exa­
tamente na altura em que, tanto o seu magistério eclesiástico como o seu
govêrno pastoral, maior esplendor e maior vigor assumiram, por meio
da solenidade conciliar: a idéia de ministério ocupou um lugar central.
Mas tudo isto, e tudo o mais que poderiamos dizer sôbre o valor hu­
mano do Concilio, não terá desviado a mente da Igreja, reunida em Con­
cilio, para uma direção antropocêntrica da cultura moderna? Desviado,
nao; dirigido, sim. Quem examina êste interêsse pelos valôres humanos
e temporais, que dominou o Concilio, não pode negar que tal interêsse
Homília da Sessão Pública de 7-12-1965
499
é devido ao caráter pastoral, que êle escnihP„
vera reconhecer que êste mesmo interêsse C°mo proSrama. e de-
interêsse religioso mais autêntico O o,.P 7» ■< aparece separado do
de, sua única inspiradora (e onde está ;> rP,7,?,!ifeSta. tanto f*'3 «rida-
ainda pela conexão — sempre afirmada P ndade’ a.' Deus!) como
entre os valôres humanos e temporais e ^ omovida pel° Concilio —
religiosos e eternos. Debruça-se sôbre o hompmPr°Pn-üiente espmtuais'
é para o reino de Deus que «e « ei«» a ? a terra- mas
3 i ! ? * ? ' t 0ddaS 38 C° ÍSaS SOb 0 aapectomd r av l ar isr dé mda s t
utilidade,
b“
há de admitir que o valor do Concilio é grande pelo menos
por isto: tudo fo, dir.gido à utilidade do homem, nunca se diga poT-
tanto que e inútil uma religião como a católica, que na sua forma
mais consciente e mais eficaz, qual a conciliar, se declara totalmente
em favor e serviço do homem. A religião e a vida humana reafirmam
assim a sua ahança, a sua convergência para uma única realidade hu­
mana: a religião católica é para a humanidade; em certo sentido, é a
vida da humanidade. Vida, pela interpretação, exata e sublime, que a
nossa religião dá do homem (não é o homem, por si só, mistério para
si mesmo?); essa interpretação dá-a precisamente em virtude da sua
ciência de Deus: para conhecer o homem verdadeiro, o homem inte­
gral, é necessário conhecer a Deus; baste-nos agora, como prova, re­
cordar a inflamada palavra de Santa Catarina de Sena: “Na tua na­
tureza, Deidade eterna, conhecerei a minha natureza” (Or. 24). Vida,
porque descreve a natureza e o destino da humanidade, lhe dá o seu
verdadeiro significado. Vida, porque constitui a lei suprema dos ho­
mens, e infunde ao viver humano a misteriosa energia que o torna,
podemos bem dizer, divino.
Conhecer e amar o homem para conhecer e amar a Deus. — Vene­
ráveis Irmãos e Filhos aqui presentes, se nós recordamos que no rosto
de cada homem, especialmente quando as suas lágrimas e dores o tor­
nam transparente, podemos e devemos reconhecer o rosto de Cristo
(cf. Mt 25,40), o Filho do homem; e se no rosto de Cristo podemos
e devemos em seguida reconhecer o rosto do Pai celeste: quem me
vê, disse Jesus, vê também o Pai” (Jo 14,9); o nosso humanismo toma-
se cristianismo, e o nosso cristianismo torna-se teocêntrico. Tanto que
nos podemos exprimir também assim: para conhecer a Deus e neces­
sário conhecer o homem. Mas êste Concilio, que sobretudo ao homem
dedicou a sua atenção diligente, não estará destinado a propor de
nôvo ao homem moderno a escada das ascensões libertadora* e con^
ladoras? Não será isto, afinal, lição - simples* nova e >°tene
amor ao homem- / ara como primeiro* têrmo para
queremos dizer nao L'°n ° 'nst e razáo de todo o amor. Assim,
o último têrmo transcendente P ^ ^ condllsao religiosa:
êste Concilio todo se vem a . ^ , dirigido à humanidade de
não passa uc
iiciu pabba de eu..*.-
convite ener»j t ^ caminho
rf m{nhú do
Jo amor traterno,
fraterno, aquele
hoje, para que ela encontr^ irl. fl0 qual dirigir-se é ressurgir: no qua
Deus “do qual afastar-se e cair; au T \roltar, é renascer; no ó»al
permanecer, é estar em segurança; ao qual
.*>00 III. Documentos

habitar, é viver” (S. Agost. Sol. 1, 1, 3; PL 32, 870). Assim, nó têrmo


dêste Concilio Ecumênico Vaticano II, no inicio da renovação humana
e religiosa que êle se propôs estudar e promover, esperamos _ para
nosso bem, Irmãos e Padres do Concilio — esperamos — para bem da
humanidade inteira — que, juntos aqui, tenhamos aprendido a amar
mais e a servir melhor.
E enquanto para o conseguirmos, invocamos a intercessão de S. João
Batista e de S. José, padroeiros do Sinodo Ecumênico, dos Santos Após­
tolos S. Pedro e S. Paulo, fundamentos e colunas da Santa Igreja e
juntamente de Santo Ambrósio — bispo de quem hoje celebramos a
festa e quase reúne em si a Igreja do Oriente e do Ocidente — e do
mesmo modo imploramos com tôda a alma a proteção de Maria San­
tíssima — Mãe de Cristo, e por isso também por nós chamada Mãe
da igreja — e com uma só voz e um só coração, damos graças e da­
mos glória ao Deus vivo e verdadeiro, ao Deus único e altíssimo, ao
Pai, ao Filho e ao Espirito Santo. Amém.
Discurso às Missões
Concilio Extraordinárias: O Alcance Social do

. D a cerim ônia d e e n c f r p a .
mento, no dia 7 de dezembro, participaram 90 Missões Extraor­
dinárias, enviadas a Roma por governos e por organizações in­
ternacionais. Recebendo-as na Capela Sixtina, na tarde do dia
7-12-65, dirigiu-lhes o Papa Paulo VI, em francês, a alocucão
que aqui é reproduzida em tradução própria:
Excelências, Senhores Membros das Missões extraordinárias: Êste
incomparável santuário da arte e da piedade, que há cêrca de meio
milênio acolhe os ouvintes mais diversos, graças a vós é hoje teste­
munha de um espetáculo de rara amplitude e de caráter singularmente
significativo. Enquanto o Concilio Ecumênico Vaticano II chega a seu
têrmo, eis que mais de oitenta Nações delegam personalidades alta­
mente qualificadas para assistirem às cerimônias de encerramento, e
para, com esta presença, atestarem o interêsse que estas suscitam e a
importância que a êste acontecimento aquelas Nações atribuem.
E, todavia, poder-se-ia pensar: por que motivo a política dêste mun­
do, mesmo no seu sentido mais nobre e mais elevado, pode estar in­
teressada num Concilio? Não se trata, porventura, de um ato da vida
da Igreja, e, portanto, de um fenômeno de caráter puramente espiri­
tual e religioso? A Igreja recolhe-se, consulta-se e se examina; con­
centra suas energias, purifica seus modos de pensar e de agir; proce­
de a uma renovação, mas a uma renovação antes de tudo interior,
que interessa às relações do cristão com seu Deus. Certo. Mas quem
é que não vê o imenso alcance social de todo êsse acontec,mento?
Se milhões de católicos, em todo o mundo, em certo momento adotam
Sô„re &te „„
8 ar as repercussões de semelhante ' r in,,„e„cia d0! Concilies
outra parte, a historia ai esta para at hktcSria neral dos
não só na história eclesiástica. cCfnoam ‘ ‘ assembléias é
homens e dos povos. O , renovação * todo
sempre a renovaçao interior de cada
502 III. Documentos
êsse corpo social que é a Igreja. Mas dai deriva uma nova influência
para tôda a família humana. Se essa influência se exerce, por exem­
plo. no sentido da afirmação da igualdade entre as raças, da colabo­
ração entre as classes, da paz entre as nações, fácil é avaliar o bem
imenso que daí pode resultar para o gênero humano inteiro. Vossa
presença aqui, senhores, prova precisamente que os detentores do po­
der temporal neste momento compreenderam o alcance do Concilio e lhe
prestam atenção.
Por sua vez, a Igreja está atenta aos problemas dêste mundo
mas considera-os do seu ponto de vista próprio. Ela nota, por exem­
plo. o quanto é necessário hoje, para a sorte da humanidade, que tô­
das as energias sejam orientadas para a paz. Porém sabe que o dina­
mismo da paz náo pode manifestar tôda a sua fôrça se não fôr ali­
mentado no interior por uma profunda e verdadeira conversão dos co­
rações, e esforça-se para obtê-lo: foi êste um dos escopos principais
do Concilio que se conclui sob vossos olhos. Certamente, consoante o
seu programa, êle tratou questões de fé, de moral, de disciplina, de go­
vêrno, de organização eclesiástica; mas o que em tudo isto o inspira­
va era, antes de tudo, a solicitude de voltar às fontes puríssimas do
Evangelho, para nêle fundamentar uma renovação de vida e um nôvo
ardor ao pôr em prática a mensagem de Cristo, que é uma mensagem
de amor e de paz.
Já náo era uma pregação viva êste Concilio? Já não era um es­
petáculo estupendo de amor e de paz esta assembléia de dois mil Pa­
dres conciliares, acorridos dos cinco continentes para junto do Bispo de
Roma, a fim de fraternalmente buscarem, no estudo e na oração, o modo
de repetir ao mundo a mesma mensagem reveladora do Evangelho?
Outro espetáculo ainda mais impressionante não era a concórdia e a
união de tantos homens vindos de horizontes tão diversos, pertencen­
tes a nações caracterizadas por culturas, por tradições, por modos de
vida e formas sociais tão diferentes? Dêsse pacífico e sereno con­
fronto de tantas diversidades saíram, como o sabeis, após longo e pa­
ciente trabalho, textos de uma grande riqueza espiritual, teológica e
humana, por Nós promulgados após haverem alcançado a grande maio­
ria, e, muitas vêzes, a quase unanimidade, dos sufrágios.
Êsses textos, senhores, sem dúvida já são, em parte, por vós co­
nhecidos. Estudando-os mais de perto, notareis que mais de uma vez
êles tratam do poder temporal e de suas relações com o poder espi­
ritual. A Igreja do século XX, a Igreja que sai renovada destas assem­
bléias conciliares, aparece-vos sobretudo solícita do verdadeiro bem dos
homens. Apresenta-se ao mundo não para dominá-lo, mas para servi-lo.
Nos diversos campos — familiar, social, econômico, político, interna­
cional — ela se esforça por emitir um juízo eqüitativo sôbre as situa­
ções e sôbre os problemas; por tirar dêles princípios gerais de so­
lução que sejam conformes à lei moral escrita no coração do homem;
por descobrir os perigos em germe nas vastas transformações do mum
do moderno, e por apontá-los à atenção de todos os responsáveis: tudo
isto é o assunto da Constituição pastoral sôbre a Igreja no mundo de
hoje, a qual sem dúvida passará à história como um dos documentos
maiores dêste Concilio.
Discurso às Missões Extraordinárias
503
Na Declaração sôbre as religiões nãn • -
filhos a considerarem os valôres positivosconH^ 'greja- convM* *us
ças, e a cancelar dos seus corações o s s e n t ! ^ e? ,odas as cren-
tal ou tal outro povo, sentimentos pouco de aversão contra
Evangelho. E’ fácil perceber as felizes 30 espírito do
advir para a paz social. sequências que daí podem

OS p ^ S ^ W i c i ‘S a r ^ \ r di í ^ SÜ,,,íitla tUd0 aquil° «•“


temporal da humanidade, e m S k Z o Z T ^ ' PU\ ° bem^ tar
toridade do Estado. Numa Declaração que, sem dúvida!" também ficará
como um dos grandes documentos dêste Concilio, a IgreTTaz sua
a aspiraçao, hoje tao umversalmente sentida, à liberdade civil e social
em matéria religiosa. Que ninguém seja forçado a crer: mas que igual-
mente, a ninguém seja impedido crer e professar a sua fé direito fun­
damental da pessoa humana, aliás reconhecido hoje, ao menos em teo­
ria, se nem sempre na prática, pela grande maioria das legislações.
No mesmo espírito, a Igreja pede aos Governos — e isto é obje­
to de um parágrafo do Decreto sôbre o Ofício pastoral dos Bispos —
reconhecê-la e restituir-lhe a sua plena e integral liberdade naquilo que
concerne à escolha e à nomeação de seus pastôers.
Esta delimitação mais nítida de competências e de domínios res­
pectivos não pode deixar, no pensamento da Igreja, de ser vantajosa
para ambos os podêres. Seja qual fôr, com efeito, o juízo que se possa
formular sôbre as situações históricas verificadas no passado com cer­
tas nações, a Igreja não pede hoje para si nada mais do que a liber­
dade de anunciar o Evangelho. O seu dinamismo interno, cuja origem
não está nela mesma, mas acima dela, coloca-se em condições de exer­
cer a sua missão junto aos homens, desde que para isso lhe seja con­
cedida possibilidade. Dêste modo, longe de assumir atitudes de com­
petidora ou de adversária em face do Estado, a Igreja sumamente con­
tribui, pelo contrário, operando segundo seus próprios princípios, para
promover o bem comum, que é o objeto e a razão de ser do poder
temporal. De forma que a sua atitude favorece tanto o bem do Estado
como o seu próprio.
De tudo isto, senhores, estão hoje convencidos numerosos estadis­
tas, que nutrem para com a Igreja sentimentos de estima e de amizade.
E, permiti-Nos considerar como um testemunho, a um tempo luminoso
e comovente, dêste fato, a acolhida que à Nossa humilde pessoa quis
reservar o mais alto areópago dos representantes dos povos o mun
do, o das Nações Unidas, quando recentemente decidimos v.sita-lo^ em
nome do Concilio e da Igreja inteira, levando-lhe o apoio a °-
autoridade moral. O consenso quase unânime da opiniao P ^ un ^
ao dos Governos, foi para Nós, deixai-Nos d,ze-lo, um podero>o
centivo para a Nossa tarefa.
Com tôda sinceridade do Nosso coração decla^ ° ^ epresentais, em
dimos outra coisa senão ajudarmos aque es que nitiaíie e ’ muito
tudo aquilo que pode contribuir para o em aos deveres que
grave a hora, para que possa tentar-se subtrair-nos
504 UI. Documentos
a presente situação do mundo impõe a todo homem de coração A
todos oferecemos a Nossa ajuda. E, em troca, dizemos-lhes: confiamos
em que concedereis à Igreja tôda a liberdade de que há mister
e em que, longe de obstardes à atuação das decisões conciliares, sereis
solícitos em favorecê-las como puderdes. Ficai certos: as vossas' nações
serão as primeiras a experimentar os benefícios disso.
No momento de Nos despedirmos de vós, senhores, permiti-Nos
exprimir-vos os Nossos sentimentos de profunda gratidão pela vossa
presença aqui: gratidão da qual vos rogamos vos fazerdes intérpretes
junto aos Governos pelos quais fôstes enviados. Sôbre êles, sôbre vós
mesmos, sôbre vossas famílias, sôbre vossas nações, e sôbre o gênero
humano inteiro, de todo coração imploramos, neste momento, a proteção
do Altíssimo e a abundância das bênçãos divinas.
Discurso de Encerramento

, . . . , CERIMÔNIA FINAL COMO


fo. relatado na parte da crônica, deu-se na praca diante da
Basílica de Sao Pedro, na manhã do dia 8 de dezembro de 1965,
festa da Imaculada Conceição, estando presentes cêrca de 2.300
P a d r^ Conciliares, as Missões Extraordinárias e uma imensa
multidão de fiéis. Durante a Santa Missa pronunciou Sua San­
tidade a seguinte alocução de despedida:
Senhores Cardeais, Veneráveis Irmãos, Representantes dos Povos,
Cidadãos de Roma, Autoridades e Cidadãos de tôdas as partes do mun­
do! Vós, Observadores, pertencentes a tantas diversas denominações cris­
tãs! Vós, Fiéis e Filhos aqui presentes, e os que estão espalhados sôbre
a terra e a nós unidos na fé e na caridade!
Ouvireis dentro em pouco, no fim desta santa missa, a leitura de
algumas mensagens, que o Concilio Ecumênico, na conclusão de seus
trabalhos, dirige às várias categorias de pessoas, pretendendo conside­
rar nelas as inumeráveis formas nas quais se exprime a vida humana.
Ouvireis também a leitura de Nosso Decreto oficial, com o qual decla­
ramos terminado e encerrado o Concilio Ecumênico Vaticano II. Êste
é, portanto, o momento — um breve momento — de saudação. Depois
a Nossa voz se calará. O Concilio, enfim, termina completamente. Di;*-
solve-se esta assembléia imensa e extraordinária.
A saudação, portanto, que vos dirigimos adquire um significado par­
ticular, que Nos permitimos indicar, não para distrair-vo^ da oração,
mas para empenhar melhor vossa atenção a esta celebração presente.
Esta saudação é, antes de tudo, universal. ^VpjlfTmiáos
assistentes e participantes dêste rito sagrado: a v°s
no Episcopado, a vós Pessoas representantes, a vos Povo de D
estende e se dilata ao mundo inteiro. Como po unjversai?
neira, se êste Concilio se define e foi ecumemt , > ■
Como um repicar de sinos se d"° sonora6 assim a Nossa
e cada um no raio de expansao de s . g a cada um. Aos que a
saudação neste momento se endereça a \ iraç t nos ouvidos de todos
recebem e aos que não a recebem. Kes*• j v .V or êste centro católico
OS homens. Em princípio
ninguém e inatingível to

Concilio - V — 33
õOS III. Documentos
romano, e todos podem e devem ser atingidos. Ninguém é estranho
para a Igreja Católica, excluído ou afastado. Cada um, ao qual Nossa
mensagem é endereçada, é um chamado e um convidado. E, de certo
modo. está presente! E Nós, especialmente neste momento, em virtude
da Nossa missão pastoral universal e apostólica, Nós amamos todos!
Dizemos, portanto, isto a vós, almas piedosas e fiéis, que, ausen­
tes em pessoa desta praça dos fiéis e dos povos, aqui presentes com
vosso espírito, com a vossa oração. O Papa pensa em vós também
e celebra convosco êste instante sublime de comunhão universal.
Dirigimo-Nos também a vós, doentes, presos a vossas enfermida­
des, e que se faltasse o conforto dessa Nossa internacional saudação
sentirieis redobrar, por causa da solidão espiritual, a vossa dor.
Dirigimo-Nos a Vós, Irmãos no Episcopado, que, sem culpa pró­
pria, faltastes ao Concilio e deixastes, nas fileiras dos vossos Irmãos
e muito mais nos corações dêstes e no Nosso, um vazio, que tanto
Nos faz sofrer e que denuncia o êrro dos que vos tiram a liberdade:
e quem dera que se tratasse sòmente daquela liberdade que vos faltou
para que viésseis ao Concilio! Nós vos saudamos, Irmãos, ainda injus­
tamente condenados ao silêncio, oprimidos e privados dos legítimos e
sagrados direitos devidos a todos os homens honestos, e muito mais a
Vós que a qualquer outro que opera o bem, a piedade e a paz! A
Igreja, Irmãos impedidos e humilhados, está convosco! Está com os
vossos fiéis e com todos os que estão unidos à vossa penosa condição!
E assim esteja também associada a consciência civil do mundo.
E finalmente dirigimos esta universal saudação também a Vós, ho­
mens que não nos conheceis; homens que não nos compreendeis; ho­
mens que não acreditais podermos ser-vos úteis, necessários e amigos;
e também a Vós, homens que talvez pensando fazer o bem nos comba­
teis! Uma saudação sincera, uma saudação discreta, mas cheia de es­
perança; e hoje, acreditai-o, cheia de estima e de amor.
Esta é a Nossa saudação. Mas prestai atenção todos quantos Nos
escutais. Pedimo-vos que considereis como esta Nossa saudação, diver­
samente de quanto acontece nas conversas profanas onde as saudações
servem para pôr têrmo final a uma relação de proximidade ou de pa­
lestra, esta Nossa saudação tende a reforçar, e a produzir, se necessá­
rio, a relação espiritual, da qual toma seu sentido e sua voz. Nossa
saudação não é uma saudação de adeus que despede, mas de amizade
que permanece, e que, se fôsse o caso, quer fazer agora nascer. Antes
é precisamente neste seu último pronunciamento que Nossa saudação
almejaria, de um lado, chegar ao coração de cada um, lá entrar como
um hóspede cordial e dizer no silêncio interior de cada alma a palavra
costumeira e inefável do Senhor: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha
paz, náo como o mundo a dá” (Jo 14,27) (Cristo tem seu jeito único
e original de falar no íntimo dos corações); de outro lado Nossa sau­
dação orienta-se a uma outra e superior relação, porque não é sòmente
intercâmbio de vozes, bilateral, entre nós, pessoas dêste mundo, mas
chama em causa um outro Presente, o próprio Nosso Senhor, invisí­
vel, é verdade, mas não menos operante na estrutura das relações hu­
manas; e o convida e estimula a suscitar em quem saúda e em quem £
saudado novos bens, dos quais o primeiro e o maior é a caridade.
Discurso de Encerramento
507
Eis aí, esta é a Nossa saudação: possa acemW
da divina caridade nos nossos corações; uma chama que possa'ínfh
mar os pnnc.p.os, as doutrmas e os propósitos, que o Conch o p
pôs e que ass.m inflamados pela caridade possam de verdade
na Igreja e no mundo aquela renovação de idéias, de atividades de cos­
tumes e de força moral, de alegria e esperança que foi o próprio escopo
do Concilio.
Assim a Nossa saudação se torna um ideal. Sonho? Poesia? Hipér-
bole convencional e vazia, como no muitas vêzes acontece nas nossas
nor habi- ' "
tuais efusões de augúrio? Não. Torna-se ideal mas não iri
^ nós homens conduzimos eal. Mais
um instante dano vossa atenção. Quando __— .*...0 vuimuLiim^ os nossos
oensamentos, osIncrnnossos
___ _ nrt
.nnfnnrn-noç nn
desejos
J
no - para— uma
----- concepção ideal da
— «-Kvuu tutai ud vida,
viua, en­
contramo-nos |ogo ou na utopia, ou numa caricatura retórica, ou na
ilusão, ou então na desilusão. O homem conserva a inextinguivel aspi­
ração para a perfeição ideal e total; mas por si não a atinge, talvez
nem no conceito menos ainda na experiência e na realidade. Sabemos
disto; é o drama do homem, do rei caído. Observai, 0 que está acon­
tecendo nesta manhã: enquanto encerramos 0 Concilio Ecumênico, feste­
jamos Maria Santíssima, a Mãe de Cristo, e por isso, como dissemos
em outra ocasião, a Mãe de Deus e nossa Mãe espiritual, Maria San­
tíssima, Imaculada! Inocente, estupenda, perfeita; quer dizer, a Mulher,
a verdadeira Mulher ideal e real ao mesmo tempo; a criatura na qual
a imagem de Deus se espelha com limpidez absoluta, sem mácula algu­
ma, ao contrário das demais criaturas humanas.
Náo é fixando 0 nosso olhar nesta Mulher humilde, irmã nossa
e ao mesmo tempo nossa Mãe celeste e Rainha, espelho nítido e sagTa-
do da infinita beleza, que pode terminar a nossa ascensão espiritual no
Concilio e esta nossa última saudação? Não é assim que pode come­
çar o nosso trabalho pós-conciliar? Esta beleza de Maria Imaculada
não se torna para nós um modêlo inspirador, uma esperança con-
fortadora?
Nós, Irmãos, Filhos e Senhores, que Nos estais ouvindo, Nós assim
pensamos. Para Nós e para vós: e é esta a Nossa saudação mais alta
e, queira Deus, a mais válida.

33*
Mensagens Finais de Paulo VI

A in d a p o r o c a s ia o d a s s o -
lenidades do encerramento do Concilio, na praça de São Pedro,
dia 8 de dezembro, o Papa Paulo VI quis dar uma resposta
concreta às interrogações do mundo de hoje, em forma de sete
breves mensagens. Sua Santidade leu pessoalmente a seguinte
introdução:
Veneráveis Irmãos: Soou a hora da partida e da dispersão. Dentro
de alguns instantes, deixareis a Assembléia Conciliar para ir ao en­
contro da humanidade, levando-lhe a boa-nova do Evangelho de Cristo
e da renovação de sua Igreja, fim para o qual trabalhamos juntos há
quatro anos.
Momento único. Momento de significação e riqueza incomparáveis!
Nesta reunião universal, neste ponto privilegiado do tempo e do espaço
se encontram ao mesmo tempo passado, presente, futuro. O passado,
porque aqui está reunida a Igreja de Cristo, com sua tradição, sua
história, seus Concílios, seus Doutores, seus S antos... O presente, por­
que nós nos deixamos para ir ao encontro do mundo de hoje, com
suas misérias, suas dores, seus pecados, mas também com seus pro­
digiosos sucessos, seus valôres, suas virtudes... O futuro, enfim, lá está,
no apêlo imperioso dos povos por mais justiça, na sua vontade de paz,
na sua sêde, consciente ou inconsciente, de uma vida mais elevada:
aquela, precisamente que a Igreja de Cristo pode e deve dar-lhes.
Parece-Nos ouvir elevar-se de tôda parte no mundo um rumor imen­
so e confuso: a pergunta de todos aquêles que olham para o Concilio
e nos interrogam com ansiedade: não tendes uma palavra para nos
dizer?... a nós, os Governantes?... a nós, os intelectuais, os trabalha­
dores, os artistas?... e a nós, as mulheres? a nós os jovens, a nós os
doentes e os pobres?
E-tas súplicas não ficarão sem resposta. E’ para tôdas as cate­
gorias humanas que o Concilio trabalha há quatro anos. E’ para elas
que o Concilio elaborou esta Constituição sôbre a Igreja no mundo de
hoje. que Nós promulgamos ontem entre os aplausos entusiastas da
vossa Assembléia.
Mensagens Finais de Paulo VI
509
De nossa longa meditação sôbre o Cristo - k
tar ."este momento uma primeira palavra anunciado- * < ^ deve br^
vaçao para todas as multidões em expectativa n r Ü-r paz e de sa>-
dissolver quer cumprir esta função profética e traduzir'™’ de *
sagens e numa inguagem mais facilmente acessível a tod^s a ^
que o Concilio tem para o mundo e que alguns de seus T J , b°a' nova
autorizados dirigirão agora em vosso nome a tôda humaSade maÍS

* â ° S tAGPVemantes (esta mensagem foi lida, em francês - e assim


também tôdas as outras - pelo Cardeal Liénart e, no fim, entregue-lo
P3pa ao Embaixador da Bélgica, acompanhado pelos Embaixad^ores^do
H Y ?°rZa e d(? JaPão) • Neste instante solene nós os Padres
do XXI Concilio Ecumênico da Igreja Católica, no momento de nos
despedir depois de quatro anos de oração e de trabalhos, plenamente
conscientes de nossa missão perante a humanidade, dirigimo-nos com
deferencia e confiança àqueles que detêm nas mãos o destino dos ho­
mens sôbre a terra a todos os depositários do poder temporal.
Proclamamos bem alto que respeitamos a vossa autoridade e sobe­
rania. Respeitamos vossa função. Reconhecemos vossas leis justas. Pre­
zamos os que as fazem e os que as aplicam. Mas temos uma palavra
sacrossanta para vos dizer, e ei-la: só Deus é grande. Só Deus é Prin­
cípio e Fim. Só Deus é a fonte da vossa autoridade e o fundamento de
vossas leis.
Compete a vós ser na terra os promotores da ordem e da paz
entre os homens. Mas não esqueçais: é Deus, o Deus vivo e verdadei­
ro, que é o Pai dos homens. E Cristo, seu Filho eterno, é que nos veio
anunciar e ensinar que nós somos todos irmãos. Êle é o grande artí­
fice da ordem e da paz sôbre a terra porque é Êle que dirige a histó­
ria humana e sòmente Êle pode levar os corações a renunciar às más
paixões que geram a guerra e a infelicidade. E’ Êle que abençoa o pão
da humanidade, que santifica seus trabalhos e sofrimentos, que lhe
proporciona as alegrias que vós não lhe podeis dar, e o conforto nas
dores que vós não podeis consolar.
Na vossa cidade terrestre e temporal, Cristo constrói misteriosa­
mente a Igreja, sua cidade espiritual e eterna. Que vos pede esta Igreja,
depois de quase dois mil anos de vicissitudes de tôda sorte, nas suas
relações convosco, os Podêres da Terra; que vos pede a Igreja hoje?
Ela vo-lo diz num dos maiores documentos dêsse Concilio: ela so vos
pede a liberdade. Liberdade de crer e de pregar a sua fe, liberdade de
amar e servir seu Deus, liberdade de viver e de levar aos homêns sua
mensagem de vida. Não temais. Ela é segundo a imagem de seu Mestre
cuja ação misteriosa não avança sôbre vossas prerrogativas, ma j- *
a ^humanidade inteira da sua caducidade fatal, a transfigura, enche de
esperança, verdade e beleza. f
Deixai Cristo exercer essa ação purificadora *obrei a himw
Não o crucifiqueis de nôvo. Isso sena sacri egi , H g a nós,
de Deus; isto seria suicídio, porque Êle e Fdho do_ H ^ ^ ..boa.
seus humildes ministros, deixai-nos espalhar po
510 III. Documentos
nova" do Evangelho da paz que meditamos durante o Concilio. Vossos
povos serão os primeiros beneficiados, porque a Igreja forma, para vós,
cidadãos leais, amigos da paz social e do progresso.
Neste dia solene, no qual ela encerra as Sessões do seu XXI Con­
cilio Ecumênico, a Igreja vos oferece, por nossa voz, a sua amizade,
seus serviços, suas energias espirituais e morais. Ela vos dirige a to­
dos sua mensagem de saudação e de bênção. Acolhei-a, como a Igreja
vo-la oferece, com coração alegre e sincero, levando-a a todos os povos!

Aos Pensadores e Cientistas (lida pelo Cardeal Léger e entregue pelo


Papa a Jacques Maritain): Uma saudação muito especial a vós estu­
diosos da verdade, a vós, homens do pensamento e da ciência, investi­
gadores do homem, do universo e da história, a vós todos, peregrinos
em marcha para a luz, e também àqueles que pararam no caminho,
cansados e decepcionados por pesquisas vãs.
Por que uma saudação especial para vós? Porque nós todos aqui,
Bispos e Padres Conciliares, nós procuramos ouvir a verdade. Nosso
esforço, durante êstes quatro anos, que foi êle senão uma busca mais
atenta e um aprofundamento da mensagem de verdade confiada à Igre­
ja, senão um esfôrço de docilidade mais perfeita ao Espírito de verdade?
Náo poderiamos deixar de vos encontrar. Vosso caminho é o nos­
so. Vossos caminhos não são estranhos aos nossos. Nós somos amigos
de vossa vocação de pesquisadores, aliados de vossas fadigas, admira­
dores de vossas conquistas, e quando necessário, os consoladores de vos­
sos esmorecimentos e dos vossos fracassos.
Portanto, temos uma mensagem também para vós, que é a seguin­
te: continuai a pesquisar, incansàvelmente, sem vos desesperar nunca
da verdade! Recordai-vos da palavra de um de vossos grandes amigos,
Santo Agostinho: “Procuremos com o desejo de encontrar e encontremos
com o desejo de procurar ainda”. Felizes aquêles que, possuindo a ver­
dade, a procuram ainda, a fim de renová-la, de aprofundá-la e de dá-la
aos outros. Felizes aquêles que, não a tendo encontrado, a procuram
sinceramente. Que procurem, com a luz de hoje, a luz de amanhã, ate
ã plenitude da luz!
Mas não o esqueçais: se pensar é muito importante, pensar é antes
de tudo um dever. Infeliz é aquêle que fecha voluntàriamente os olhos
para a luz! Pensar é também uma responsabilidade. Infelizes aquêles
que obscurecem o espirito por artifícios mil que o deprimem, e envaide­
cem, o enganam e o deformam! O princípio básico para os intelectuais
é de se esforçar para pensar certo.
Por isso, sem vos perturbar, sem ofuscar os vossos olhares, nós
vos oferecemos a luz de nossa lâmpada misteriosa: a fé. Ela nos foi
confiada pelo Mestre soberano do pensamento, de quem somos humil-
des discípulos, o único que assim falou e podia falar: “Eu sou a luz do
mundo, eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
Mensagens Finais de Paulo VI
Essa palavra vos diz resneitn n
hoje surgiu a possibilidade deP úm S f ? 8 3 Deus’ talvez nunca como
ciência e a fé verdadeira, servas uma^0 P/ ofundo entre a verdadeira
impeçais êsse encontro precioso» Tmde °U( a’ da Única verdade- Náo
da inteligência! Deixai-vos Numinlr n. “ '"T. "a fé- g™d* amiga
verdade, tôda a verdade» Êste á n v n f Seu ^ r,^ ° Para descobrir a
que vos exprimeiri os Padres do mlnHn °; f ncoraÍament<> e a esperança
em Roma, antes de se separarem mteiro, reunidos conciliarmente

sr isavas?
A „uW o AN m t AdtósW! ô d « t t aSs ' Z S '
de nossa voz diz í v L L ' m ta sta s\ - A
nossos amigos!
P"° PaM “
d° Concilio, através
S‘' SC 3015 amig0s da verdadeira arte-
s
Já de há muito a Igreja fêz aliança convosco. Vós edificastes e
decorastes seus templos, celebrastes seus dogmas, enriquecestes sua li­
turgia. Vos a ajudastes a traduzir sua divina mensagem, através da
linguagem das formas e das figuras, a tornar tangível o mundo invisível.
Hoje como ontem, a Igreja tem necessidade de vós e volta-se para
vós. Não deixeis que se rompa uma aliança fecunda entre tôdas. Não
recuseis colocar vosso talento a serviço da verdade divina. Não fecheis
vosso espírito ao sôpro do Espírito Santo.
Êste mundo, no qual vivemos, tem necessidade de beleza para não
cair nas trevas do desespêro. A beleza, como a verdade, é o que dá
alegria ao coração humano, é o fruto precioso que resiste ao tempo,
une as gerações e conjuga-as na admiração. E isto, por vossas mãos.
Que essas mãos sejam puras e desinteressadas. Não vos esqueçais
de que sois os guardiães da beleza no mundo; que isto seja suficiente
para vos preservar de gostos efêmeros e sem valor verdadeiro e vos
liberte da procura de expressões estranhas e malsãs.
Sêde sempre e por tôda parte dignos de vosso ideal, e sereis então
dignos da Igreja que, por nosso intermédio, vos dirige neste dia sua
mensagem de amizade, de salvação, de graça e de bênçãos
Às Mulheres (lida pelo Cardeal Duval e entregue pelo Papa à Sra.
Laura Segni): A vós nos dirigimos, mulheres de tôdas as condiçoes -
môças, esposas, mães e viúvas; e também a vós, virgens consagrai
e mulheres solteiras: vós sois a metade da imensa tamil.a humana.
A. Igreja
. 1h_ vos no sabeis
se orgulha, saD > de ter , engrandecido e libertado
h;vaidade do^
a mulher, de ter feito aparecer, através dos seculc* na d.er^dade
caracteres, sua igualdade fundamental com o homem.
i ;ó rhepou _ cm que a vocaçao da mu
Mas chega a hora - e ela j J j a mulher adquire na socie-
lher se realiza em plenitude a < atingidos ate agora,
dade um influxo, um esplendor e um poder jama
512 III. Documentos

Eis por que, no momento em que a humanidade conhece uma tão


profunda mudança, as mulheres imbuídas do espírito do Evangelho tanto
podem ajudar a humanidade a não decair.
Vós, mulheres, vós tendes sempre, como responsabilidade, a guarda
do lar, o amor das fontes, o sentido dos berços. Vós estais presen­
tes ao mistério da vida que começa. Vós consolais na partida da morte.
Nossa técnica corre o risco de se tornar desumana. Reconciliai os ho­
mens com a vida. E, sobretudo, velai, nós vos suplicamos, sôbre o fu­
turo de nossa espécie. Segurai a mão do homem que, num momento
de loucura, tentasse destruir a civilização humana!
Espôsas, mães de família, primeiras educadoras do gênero humano,
na intimidade dos lares, transmiti a vossos filhos e filhas as tradições
dos vossos pais e, ao mesmo tempo, preparai-os para o insondável fu­
turo. Recordai-vos sempre de que uma mãe pertence, através dos seus
filhos, a êsse futuro que ela talvez não verá.
E vós também, solteiras, não vos esqueçais de que podeis realizar
em plenitude vossa vocação de devotamento. A sociedade vos chama de
todos os lados. E mesmo as famílias não podem passar sem o socorro
dos que não têm família.
E sobretudo vós, virgens consagradas, num mundo em que o egoís­
mo e a procura do prazer pretendem erigir-se em lei, sêde as guardiãs
da pureza, do desinterêsse e da piedade.
Jesus, que deu ao amor conjugal tôda a sua plenitude, exaltou tam­
bém a renúncia a êsse amor humano, quando essa renúncia é feita para
o Amor infinito e a serviço de todos.
Mulheres em dificuldades, que permaneceis de pé sob a cruz, à
semelhança de Maria, vós que, tantas vêzes na história, destes aos ho­
mens a fôrça de lutar até o fim, de testemunhar até o martírio, aju­
dai-os uma vez mais a conservar a audácia dos grandes empreendimen­
tos, ao mesmo tempo que a paciência e o sentido dos humildes começos.
Mulheres, vós que sabeis tornar doce, tema, acessível a verdade,
esforçai-vos por fazer penetrar o espírito dêste Concilio nas instituições,
nas escolas, nos lares, no corriqueiro dia-a-dia.
Mulheres de todo o mundo, cristãs ou não, a quem a vida está con­
fiada, neste grave momento da história é missão vossa salvar a paz
do mundo.

Aos Trabalhadores (lida pelo Cardeal Zoungrana e entregue a Pa­


trício Keegan): No decorrer dêste Concilio, nós, os Bispos católicos dos
tinco continentes, refletimos em comum entre muitos outros assuntos,
sóbre as questões graves que as condições sociais e econômicas do mundo
contemporâneo, a coexistência das nações, o problema armamentista,
a guerra e a paz colocam sôbre a consciência da humanidade. Estamos
plenamente conscientes das repercussões que a solução dada a êstes
problemas pode ter sôbre a vida concreta dos trabalhadores e das tra­
balhadoras do mundo inteiro. Desejamos também, no fim de nossas de-
Mensagens Finais de Paulo VI
513
liberações, dirigir a todos vós uma
amizade. mensagem de confiança, paz e
Filhos caríssimos, estai antes rip
ce vossos sofrimentos, lutas e esperanças F l^ df ^ 3 *greja tonhe'
des que enobrecem vossas almas a c^acem z Z T ™ " ° 35 virtu'
cia profissional e o amor da justiça. Ela reconhece S a m e n te ^ o T tr'
v.ços imensos que, cada um em seu lugar e em lugar™ muiL v£ ~
obscuros e desprezados, vós prestais ao conjunto da sociedade. A Igfeía
vos é reconhecida e vos agradece por nossa voz 6
Nestes últimos anos, ela vem tendo presentes no espírito os pro-
blemas do mundo do trabalho, de uma complexidade sempre crescente.
E o ecò que encontraram em vosso meio as recentes encíclicas ponti­
fícias demonstram como a alma do trabalhador de nosso tempo se har­
moniza com aquela de seus mais altos dirigentes espirituais.
Aquêle que enriqueceu o patrimônio da Igreja com estas mensa­
gens incomparáveis, o Papa João XXIII, soube encontrar o caminho
de vossos corações. Êle mostrou brilhantemente, em sua pessoa, todo o
amor da Igreja pelos trabalhadores, assim como pela verdade,’ justiça,
liberdade e caridade, sôbre as quais se fundamenta a paz do mundo.
Nós também queremos ser testemunhas, junto de vós trabalhado­
res, dêste amor da Igreja para convosco, e vos dizemos com tôda a
convicção de nossas almas: a Igreja é vossa amiga. Tende confiança
nela. Tristes mal-entendidos, no passado, mantiveram por muito tempo
a desconfiança e a incompreensão entre nós. A Igreja e a classe ope­
rária sofreram, uma e outra, êsses mal-entendidos. Soou hoje a hora
da reconciliação e a Igreja do Concilio vos convida a celebrá-la sem
preconceito.
A Igreja procura sempre vos compreender melhor. Mas vós tam­
bém, por vossa parte, deveis procurar compreender o que a Igreja
representa para vós, trabalhadores, que sois os principais artífices das
transformações prodigiosas que o mundo conhece hoje. Vós sabeis muito
bem que, se um poderoso sôpro espiritual não as anima, elas farão a
infelicidade da humanidade, em vez de oferecer-lhe o bem-estar. Não é o
ódio que salva o mundo! Não é só o pão da terra que pode saciar a
fome do homem.
Portanto, acolhei a mensagem da Igreja. Acolhei a fé que ela vos
oferece para iluminar o vosso caminho. E’ a fe do sucessor de e ro
e dos dois mil Bispos reunidos em Concilio, é a fé de todo o povo ^
tão. Que ela vos ilumine! Que ela vos guie! Que ela vos fa,a conhe ^
Jesus Cristo, vosso companheiro de trabalho, o Mestre,
tôda a humanidade.

A todos os que sofrem (lida pelo ^ -


cego Dr. Francesco Pol.ti): O Concilio visi(ldòs pelo sofrimento nas
pecial para todos vós, irmãos provados, visitados P
suas mais variadas formas.
Õ14 III. Documentos

Èle sente fixados nêle vossos olhares suplicantes, brilhantes de fe­


bre ou abatidos pela fadiga, olhares interrogativos, que procuram em
váo o porquê do sofrimento humano e que procuram ansiosamente quan­
do e donde virá o conforto...
Irmãos caríssimos, nós sentimos repercutir profundamente em nos­
sos corações de pais e pastores vossos gemidos e prantos. E nosso pesar
se intensifica ao pensamento de que não está em nosso poder trazer-
vos a saúde corporal nem a diminuição de vossas dores físicas, que
médicos, enfermeiras e todos os que se consagram aos doentes se es­
forçam do melhor modo possível por atenuar.
Mas nós temos algo de mais profundo e precioso para vos dar:
a única verdade capaz de responder ao mistério do sofrimento e de
vas trazer um alívio que não ilude: a fé e a união ao Homem das
dores, a Cristo, Filho de Deus, crucificado por nossos pecados e para
nossa salvação.
Cristo não suprimiu o sofrimento. Nem mesmo quis revelar-nos in­
teiramente o seu mistério: êle o assumiu e isso é o suficiente para que
nós possamos compreender-lhe o valor.
O' todos vós que sentis mais duramente o pêso da cruz, que sois
pobres e abandonados, que chorais, que sois perseguidos por causa da
justiça, vós, a respeito dos quais se cala, vós, os sofredores anônimos,
tende coragem: vós sois os preferidos do reino de Deus, o reino da
esperança, da felicidade e da vida. Vós sois os irmãos do Cristo so­
fredor. Vós, com êle, se quiserdes, salvais o mundo!
Eis a sabedoria cristã do sofrimento, a única que dá a paz. Sabei
que nao estais sós, nem separados, nem abandonados, que não sois
inúteis: vós sois aquêles a quem Cristo chamou, a sua imagem viva
e transparente. Em seu nome, o Concilio vos saúda com amor, vos agra­
dece, vos assegura a amizade e a assistência da Igreja e vos abençoa.

Àos Jovens (lida pelo Cardeal Agagianian e entregue ao Dr. Juan


Vásquez): A vós, juventude masculina e feminina do mundo inteiro, é que
o Concilio quer endereçar sua última mensagem. Vós ireis receber a
chama das mãos dos mais velhos e viver no mundo no momento das
mais gigantescas transformações de sua história. Vós, recebendo o me­
lhor exemplo e ensinamento de vossos pais e mestres, ireis construir
a sociedade de amanhã. Vós vos salvareis ou perecereis com ela.
A Igreja, durante quatro anos, trabalhou para rejuvenescer o seu rosto,
para corresponder melhor aos planos do Fundador, o grande Vivente,
o Cristo eternamente jovem. E ao têrmo dessa grandiosa “revisão de
vida , ela se volta para vós. E’ para vós os jovens, para vós sobretu­
do, que ela, no Concilio, acaba de acender uma luz: luz que ilumina o
futuro, o vosso futuro.
A Igreja se preocupa para que a sociedade, que vós ireis construir,
respeite a dignidade, a liberdade e os direitos das pessoas: e essas
pessoas são as vossas.
Mensagens Finais de Paulo VI 515

desabrochLPsreTtroMrSn°bretUd0' em faZer
desabrochar seu tesouro sempre antigo COm <uenôvo-.
e sempre « saa «*i«Jade
fé; e que deixe
vos­
sas almas possam banhar-se livremente em suas luzes benfazejas. Ela
confia que vós encontrareis tanta fôrça e alegria de tal modo que não
ser^s tentados, como alguns de vossos antepassados, a ceder à sedução
das filosofias do egoísmo e do prazer, ou àquelas do desespero e do
nada. Perante o ateísmo, fenômeno de cansaço e senilidade, vós sabe­
reis afirmar a vossa fé na vida e naquilo que lhe dá um sentido, isto
é, a certeza da existência de um Deus justo e bom.
Em nome dêsse. Deus e de seu Filho Jesus, nós vos exortamos a
alargar os vossos corações segundo as dimensões do mundo, a ouvir
o apêlo de vossos irmãos e a colocar corajosamente a seu serviço vos­
sas energias jovens. Lutai contra todo egoísmo. Recusai dar curso livre
aos instintos de violência e ódio, que geram as guerras, com seu cor­
tejo de misérias. Sêde generosos, puros, respeitosos e sinceros. Construí
com entusiasmo um mundo melhor que aquêle de vossos antepassados!
A Igreja olha para vós com confiança e amor. Rica de um longo
passado, que vive sempre nela, e caminhando para a perfeição huma­
na no tempo e para os destinos últimos da história e da vida, a Igreja
é a verdadeira juventude do mundo. Ela possui aquilo que faz a fôrça
e o encanto dos jovens: a capacidade de se alegrar com o que come­
ça, de se entregar sem reserva, de se renovar e de sair para conquistas
novas. Contemplai-a e vós descobrireis nela a face de Cristo, o verda­
deiro herói, humilde e sábio, o profeta da verdade e do amor, o com­
panheiro e amigo dos jovens. E’ em nome de Cristo que nos vos sauda­
mos, que vos exortamos e abençoamos.
Breve “ta Spiritu Sancto”, de Encerramento do Concilio

P a u l o v i, p a p a , p a r a p e r p é t u a
memória do acontecimento.
O Concilio Vaticano II, reunido no Espírito Santo e sob a prote­
ção da Bem-aventurada Virgem Maria, que declaramos Mãe da Igreja,
e sob a de S. José, seu inclito esposo, e dos santos apóstolos Pedro e
Paulo, deve, sem dúvida, ser considerado como um dos grandes aconte­
cimentos da Igreja. Com efeito, foi o maior pelo número de Padres vin­
dos à Sé de Pedro de tôdas as partes do Globo, inclusive daquelas onde
a hierarquia foi recentemente constituída; o mais rico em temas que
durante quatro sessões foram cuidadosa e profundamente tratados; foi,
enfim, o mais oportuno, porque, tendo presentes as necessidades da época
atual, enfrentou sobretudo as necessidades pastorais, e, alimentando a
chama da caridade, esforçou-se grandemente por atingir não só os
cristãos ainda separados da comunidade da Sé Apostólica, como tam­
bém tôda a família humana.
Assim, pois, finalmente, com a ajuda de Deus concluiu-se hoje tudo
quanto se refere ao sacrossanto Concilio Ecumênico. E, com a Nossa
Autoridade Apostólica decidimos concluir, para todos os efeitos, as Consti­
tuições, Decretos, Declarações e Votos aprovados por deliberação si-
nodal e por Nós promulgados, assim como o mesmo Concilio Ecumênico,
convocado por nosso predecessor de feliz memória João XXIII no dia 25
de dezembro de 1961, inaugurado no dia 11 de outubro de 1962, e por
Nós continuado após a sua morte. Ordenamos e preceituamos também que
tudo quanto foi estabelecido sinodalmente seja religiosamente observado
por todos os fiéis, para glória de Deus, para o decôro da Igreja e para
tranquilidade e paz de todos os homens. Estas coisas havemos sancio­
nado e estabelecido, decretando que as presentes letras sejam perma­
nentes e continuem firmes, válidas e eficazes, que se cumpram e que
obtenham plenos e integrais efeitos, e sejam plenamente validadas por
aquêles a quem tal compete ou poderá competir no futuro. Assim se
deve julgar e definir. E nulo e sem valor deve considerar-se desde
êste momento tudo quanto em contrário fôr feito por qualquer indivíduo
ou qualquer autoridade, conscientemente ou por ignorância.
Dado em Roma, junto de São Pedro, sob o anel do Pescador, no
dia 8 de dezembro, na festa da Imaculada Conceição da Bem-aventurada
\ irgem Maria, de 1965, terceiro ano de nosso Pontificado.
PAULUS PP. VI
Motu Próprio T W , Concilio": Comistóe
s Pós-Conciliares

S i a Vt s o 0XXII?rc„C°nd"0 ™ ,,S ,U-Í£:


proporcionara a catolicidade benefícios assinalados. Agora, pensamos
N°s\ ^ d° Nosso múnus Apostólico dirigir Nossos desvelos e Nossa
solicitude para a aplicação, o mais rápida possível, das decisões adota­
das e por Nós promulgadas nessa digníssima Assembléia.
Nesta^ intenção constituímos tanto o Conselho para a aplicação da
C on stitu ição sôbre a Liturgia, como o Conselho preposto aos meios de
com unicação social. No que diz respeito à revisão do Código de Direito
Canônico, Nosso Predecessor, de feliz memória, João XXIII constituiu
uma comissão especial, que já está ocupada dessa tarefa consoante os
preceitos do Concilio.
Mas, desde a constituição dêsses organismos, o Santo Concilio bai­
xou novos decretos, o que acarreta ser preciso estabelecer ainda novos
organismos cujos trabalhos e opiniões utilizaremos para estabelecer as
normas de aplicação dêsses decretos.
Assim, por estas Letras Apostólicas, dadas de motu proprio. deci­
dimos e ordenamos o que se segue:
1. Com o fim de estudar e preparar as normas convenientes gra­
ças às quais as novas leis adotadas pelo Concilio terão efeito por Nossa
autoridade, estabelecemos novas Comissões, que se chamarão pós-
conciliares.
2. Segundo os decretos do Concilio, constituímos as Comissões pós-
conciliares seguintes:
a ) Comissão dos Bispos e do Govêrno das Dioceses;
b) Comissão dos Religiosos;.
c) Comissão das Missões;
d) Comissão da Educação Cristã;
e) Comissão do Apostolado dos Leigos.
, 3. Cada uma dessas Comissões só tratará da matéria a que se aP «-
cava a correspondente Comissão do Concilio. .
4. Dum Comissões, » Presidente, »
e o Secretário serão aquêles mesmos qut■ L v . } pejas normas q»e
na Comissão conciliar. E cada Com.^ao ^g.da ^
foram estabelecidas na O rdo Coneihi O etununui
518 III. D o c u m e n t o s

(Regulamento do Concilio Ecumênico Vaticano II), na medida em que


essas normas ainda forem aplicáveis.
5. Além disto, instituímos a Comissão que será chamada Central,
a qual cuidará de coordenar os trabalhos de tôdas as Comissões pós-
conciliares e Nos transmitirá as propostas de cada uma delas, depois
de meditadas com o maior cuidado. Ademais, a esta Comissão compe­
tirá interpretar autênticamente as Constituições e Decretos do Concilio,
quando a necessidade disto, ou mesmo a utilidade, fizer-se sentir. Por isso,
será ela designada precisamente sob o nome de Comissão Central de
Coordenação dos trabalhos pós-conciliares e de Interpretação dos Decre­
tos do Concilio.
6. A essa Comissão Central presidirão, como Nossos delegados, o
Padre Cardeal que durante o Concilio era o Primeiro do Conselho de
Presidência, e o Padre Cardeal que durante o mesmo tempo era o Pre­
sidente da Comissão de coordenação dos trabalhos do Concilio. Desta
Comissão Central serão Membros os Padres Cardeais que eram Mem­
bros da Comissão que acabamos de mencionar.
7. A Comissão Central terá seu Prelado, chamado Secretário Geral,
a quem os Subsecretários ajudarão e a quem substituirão em caso de
ausência ou de impedimento. A função de Secretário Geral e as de Sub­
secretários serão desempenhadas por aquêles que tinham o mesmo cargo
no Concilio Ecumênico. Os mesmos farão parte da Comissão Central.
8. Ao Secretário Geral incumbe ainda reunir todos os atos e do­
cumentos do Concilio, classificá-los e colocá-los nos Arquivos gerais
e também preparar a edição dos que devem ser publicados.
9. A Comissão Central e cada uma das Comissões pós-conciliares
terão junto a si Consultores, que, para cada uma das questões em
que são peritos, serão escolhidos pela Comissão, por proposta do Pre­
sidente e com a aprovação do Sumo Pontífice; serão êles, o mais pos­
sível, escolhidos entre aquêles que durante o Concilio desempenhavam
o papel de Peritos.
10. As Comissões aplicarão todo o seu cuidado a realizar sem de­
mora os trabalhos que lhes são confiados, a fim de que o mais cedo
possível sejam postos por obra os decretos do Concilio. E, uma vez
terminados êsses trabalhos, as Comissões terão fim.
11. Para manter as relações com aquêles que se honram do nome
de cristãos mas que ainda estão separados desta Sé Apostólica, con­
firmamos o Secretariado para a União dos Cristãos, instituído por
Nosso Predecessor, de venerada memória, João XXIII, mediante as Le­
tras Apostólicas Superno Dei nutu, de 5 de junho de 1960. Êste Secre­
tariado será composto daqueles que o compunham durante a cele­
bração do Concilio.
Além disto, na intenção de manifestarmos a solicitude que experi­
mentamos por todos os homens, criamos dois outros Secretariados, dos
quais um concerne aos não-cristãos e o outro aos não-crentes.
Tôdas e cada uma das coisas que decretamos por estas Letras da­
das de motu proprio ordenamos sejam tidas por firmes e válidas, não
obstante tôdas as coisas em contrário.
Dado em Roma, junto a S. Pedro, a 3 de janeiro do ano de 1966,
terceiro do Nosso Pontificado.
PAULUS PP. VI
Paulo VI, na Audiência Geral
Ensinamentos do Concilio de 12-1-1966: O Valor dos

a •i i i • . V^AROS FILHOS E CARAS FILHAS'


A vida da Igreja está dominada pelo Concilio Ecumênico que ter-
mmou em dezembro último. E não é só a lembrança de 1 acontS-
a ? Kar° 6 ta° imP°rtante que deve manter vígil o nosso espi-
nt0* 7. .IembranÇa concerne a um fato passado; recolhe-o a memória
a história registra-o, a tradição conserva-o, mas todo êste processo
diz respeito a um momento que não mais existe, a um acontecimento
passado. O Concilio, ao contrário, deixa após si algo que dura e que
continua a agir. O Concilio é como um manancial que dá nascimento a
um rio. Pode a fonte estar situada ao longe, mas a corrente do rio nos
segue. O que o Concilio deixa à Igreja que o celebrou, pode-se dizer,
é êle mesmo. O Concilio não nos obriga tanto a olharmos para trás,
a considerarmos o ato da sua celebração, senão que nos obriga a con­
siderarmos a herança que êle nos deixou, e que está presente e perdu­
rará pelo futuro. Que herança é essa?
A herança do Concilio é constituída pelos documentos que foram
promulgados na medida em que as discussões e as deliberações defini­
tivas chegavam a uma conclusão. De vários gêneros são êsses documen­
tos: Constituições (quatro), Decretos (nove), Declarações (três). Mas,
todos reunidos, formam um corpo de doutrina e de leis, que deve pro­
porcionar à Igreja essa renovação que foi o escopo do Concilio. Co­
nhecer, estudar, aplicar êsses documentos, tal é o dever, e a boa fortuna
também, do período pós-conciliar.
Mas, atenção! Os ensinamentos do Concilio não constituem um
sistema orgânico e completo da doutrina católica. Esta, como todos sa­
bem, é muito mais ampla, e não é posta em questão pelo Concilio, nem
substancialmente modificada. Muito antes, confirma-a o Concilio, poe-na
em luz, defende-a e desenvolve-a, constitui uma apologia dela parti-
cularmente autorizada, transbordante de sabedoria, de vigor e de con-
fiança. E êste aspecto doutrinai do Concilio é que devemos em pnmei-
ro lugar salientar para honra da Palavra de Deus, que• Pe™ane" ^
equivoco e para todo o sempre, qual luz que se nao ap g 1 sentem
fôrto d. nossas almas, q « P«la voz c,a„ « K "
o papel providencial que Cnsto eonfmu ao e I -depósito da fé"
S S l n f S S r'AÀSdS " . ' S rS m o s dioci.r os -
520 III. D o c u m e n t o s

sinamentos do Concilio do patrimônio doutrinai da Igreja, senão, an­


tes, ver como êles se inserem neste, como são coerentes com êle, e como
o seu contributo constitui, para êsse patrimônio, ao mesmo tempo um
testemunho, um desenvolvimento, uma explicação, uma aplicação. Então,
até mesmo as “novidades” doutrinárias ou normativas do Concilio apa­
recem em suas justas proporções, já não suscitam objeções concernentes
à fidelidade da Igreja à sua função de ensinar, e adquirem êsse verda­
deiro significado que a faz resplandecer de uma luz superior.
Ajude, pois, o Concilio os fiéis, quer sejam mestres quer sejam
discípulos, a superarem certos estados de alma — tais como negação,
indiferença, dúvida, subjetivismo, etc. — que são contrários à pureza
e à fôrça da fé. O Concilio é um ato importante do magistério ecle­
siástico; e quem quer que a êle adere reconhece e honra, com isso,
o magistério da Igreja. Foi esta a primeira idéia que incitou João XXIII,
de venerada memória, a convocar o Concilio, como tão bem o disse
êle ao inaugurá-lo: “u t iteru m m a g iste riu m e c c le s ia s tic u m ... a ffirm a re -
tu r" : “convocando esta imensa assembléia — assim se exprimia êle —
nosso intento era robustecer o magistério eclesiástico” (AAS 1962, p. 786).
E prosseguia: “O que mais importa ao Concilio ecumênico é que o
depósito da doutrina cristã seja mais eficazmente guardado e exposto”
(fò., p. 790).
Não estariam, pois, na verdade os que pensassem que o Concilio
representa, em relação ao ensino tradicional da Igreja, uma separação,
uma ruptura ou mesmo, no dizer de alguns, uma liberação, ou que o
Concilio autoriza e promove um conformismo de facilidade com a men­
talidade do nosso tempo, naquilo que esta tem de efêmero e de ne­
gativo antes que de seguro e de científico; ou, ainda, que êle permite
a cada um dar às verdades da fé o valor e a expressão que bem lhe
apraz. O Concilio abre, sim, horizontes novos aos estudos bíblicos, teo­
lógicos e humanistas, convida a investigar e a aprofundar as ciências
religiosas, mas não retira ao pensamento cristão o seu rigor especula­
tivo, e nem permite que na escola filosófica, teológica e escriturária pe­
netrem o arbítrio, a incerteza, o servilismo, a desolação, que caracte­
rizam tantas formas do pensamento religioso moderno quando privado da
assistência do magistério eclesiástico.
Há quem se pergunte que autoridade, que qualificação teológica o
Concilio quis atribuir aos seus ensinamentos, pois bem se sabe que êle
evitou dar solenes definições dogmáticas envolventes da infalibilidade
do magistério eclesiástico. A resposta é conhecida, se nos lembrarmos
da declaração conciliar de 6 de março de 1964, confirmada a 16 de
novembro dêsse mesmo ano (cf. REB 1964, p. 987): dado o caráter pas­
toral do Concilio, evitou êste proclamar em forma extraordinária dogmas
dotados da nota de infalibilidade. Todavja, conferiu a seus ensinamentos
a autoridade do supremo magistério ordinário. E êsse magistério ordi­
nário e manifestamente autêntico deve ser acolhido dócil e sinceramente
por todo^ os fiéis, segundo o espírito do Concilio quanto à natureza e
c:os fins dos diferentes documentos.
P a u lo VI, n a A u d iên c ia G eral d e 12-l-PJ6f)
521
Devemo-nos conformar interiormente a êsses princípios fundamen­
tais do magistério eclesiástico, e aumentar em nossa3 almas a confiança
para com a Igreja, que nos guia pelas sendas seguras da fé e da vida
cristã. Se os bons católicos, os bravos filhos da Igreja, e especialmente
os homens de estudo, os teólogos, os mestres, aquêles que pregam a pa­
lavra de Deus, e igualmente os estudantes e mesmo aquêles que estão
cnt busca da doutrina autêntica que promana do Evangelho e que
a Igreja professa, se todos adotarem esta maneira de agir, pode-se
esperar que a fé, e com ela a vida cristã e também a vida civil, conhe­
cerão uma profunda renovação, aquela precisamente que deriva da ver­
dade que salva. Porquanto o “Espírito do Concilio” quer ser deveras
Espírito de verdade (Jo 16,13).
Ajude-vos a Nossa Bênção a compreenderdes êsse Espírito e a fa­
zê-lo vosso.

Concilio - V — 34
Mensagem do Episcopado Brasileiro
no Encerramento do Concilio Ecumênico Vaticano II

POVO DE DEUS NO BRASIL


e a todos os homens de boa vontade que vivem em nossa Pátria, aos que
conhecem a Deus e o adoram e mesmo aos que ainda não o conhecem
ou não o adoram, nossa saudação e a bênção e a paz de Deus Nos­
so Senhor.
O C oncilio. — Nem é preciso dizer quanto é grande nossa alegria
ao regressarmos à Pátria após o Concilio. Alegria cuja medida é a soli­
citude que nos prende ao rebanho a nós confiado, mas que se mede tam­
bém pelas novas dimensões de esperanças que o Concilio acaba de des­
vendar para o mundo inteiro. A Igreja, essa peregrina que chegava ao
Concilio a 11 de outubro de 1962, guiada então pelo homem providen­
cial que foi João XXIII, e que trazia junto com a glória e com as
bênçãos de dois milênios de história também os sinais do inevitável
cansaço dos homens que vêm fazendo a caminhada, parte de nôvo reju­
venescida para continuar o caminho. Paulo VI, que recebera com cari­
nho a herança de seu predecessor, levou a bom têrmo a tarefa e dirige
confiante a Igreja na retomada do caminho, neste memorável 8 de de­
zembro de 1965.
Nós fomos testemunhas e, com os Bispos de todo o mundo, fomos
atores do Concilio. Nos documentos promulgados vemos um pouco de
nós mesmos, um pouco do mundo inteiro. Vemos condensado todo o
imenso trabalho dêsses quatro anos. E’ o trabalho harmonioso de cêrca
de 2.500 Padres Conciliares, com a colaboração de peritos, com a pre­
sença e o incentivo de Párocos, de observadores não-católicos e de ou­
vintes leigos que mais de uma vez ajudaram a definir aspectos concre­
tos da atuação do Evangelho. Temos a certeza de que o Divino Espí­
rito Santo, ‘‘em cujo nome nos congregamos”, nos assistiu para que
o Concilio chegasse à promulgação dêsses textos nos quais a maior
riqueza de ensinamentos não é a quantidade dêles, mas o fato de estarem
marcados pelo sêlo do mistério de Deus e pela solicitude pastoral de
uma Igreja que quer fazer chegar a todos os homens a mensagem do
Evangelho.
Igreja e sua P resen ça no M undo. — Não é nossa intenção determo-
nos a expor aqui nem sequer a síntese dos documentos promulgados. Isso
vai ser nosso longo e cuidadoso empenho pelos anos que agora se se­
guem. Mas vamos salientar alguns aspectos da doutrinação conciliar.
Mensag», do Ep*. B * „0 ^ ^ ^ ^ (( ^

de ‘ ™ » > «Pinta d,™,,


"Povo de Deus”, com tô d a T riu u íz a d e c L T ^
321 !«"*
traz consigo. Sente-se uma Igreia viva ,nn« .ot®çoe®. cjue. este wnceito
nh. e cresce. Socled.de '« S S ? '
msmo que v,ve, que respira. E' o Corpo Místico de Cristo Cnsto vlé
na greja. E ela ha de ser tão bela na vida exemplar de seus membros
faUce d a T g lía P°SSa ^ ^ ^ Um reflexü d° esplendor de
Todos os demais documentos conciliares como que florescem de<=-
sa renovada .consciência da Igreja. Ela se detém primeiro num íntimo
dialogo consigo mesma, em seus Pastores nos seus sacerdotes “
4*,
seus membros chamados a vida religiosa ou militantes na vida do sé­
culo. bala-lhes em seguida sôbre a missão que a cada um compete
de viver e anunciar o mistério de Cristo, missão pessoal, familiar, so­
cial, profissional, no campo nacional e internacional. 6 Descortina-lhes os
vastos horizontes do mundo, onde milhões de homens ainda não conhe­
cem a Cristo, e então lhes desperta o ardor missionário e os estimula a
fazer crescer a família do Povo de Deus. 7 Não se detém diante das
barreiras que séculos de incompreensões, de discórdias, de ressentimen­
tos levantaram entre irmãos em Cristo; estende-lhes as mãos, não titu­
beia em admitir atitudes históricas menos felizes que tenham ensejado
a dolorosa separação . 8* As suas mãos se estendem ainda em gesto de
amizade e de confiança aos não-cristãos, para que sejam convidados
ao aconchego da casa do Pai, que os vem preparando por misteriosas
“preparações evangélicas” nos fragmentos de verdade e de vida que
andam dispersos noutras religiões.n A Igreja, consciente de seu mis­
tério, sabe que tem também a palavra certa para todos os homens,
nas várias conjunturas da vida: para a santidade e a fecundidade dos
lares, para a educação dos filhos, para o diálogo do mundo do traba­
lho, para a justa distribuição dos bens da terra, para os direitos do
homem à liberdade, à cultura, à responsabilidade de pessoa e de ci­
dadão, para os problemas da paz e da guerra, enfim para tudo isso
que faz a vida do “mundo de hoje”. E’ o que procurou fazer o Esquema
13 hoje transformado em Constituição pastoral. Nesse documento, que
representa uma novidade em matéria conciliar, empenhou-se a Igreja

ss uraM:
tu r a e m afirmações imaturas, mas nem tampouco se .entrincheira ^em
cautelas excessivas que a aamarrem e m j j o s K a ^ é
-
entrega fórmulas frias, mas

1 “ Lumen Gentium ” . „ «icreias Orientais”


2 “ Múnus Pastoral .Jlo| ^ ‘J qta 1” e &"Formação do Clero
» “ M inistério c vida
< “ Renovação da vida religio «.
o “ Apostolado dos leigos . ^
o “ Igreja no mundo de Jioje .
t “ Atividade missionária” ,
s “ Ecumenismo” .
o “ Perante as religiões nao-cristás .

34*
524 III. Documentos
então aguardado pelo mundo com imensa esperança. 1,1 A Igreja pode
dar essa esperança porque ela escuta a palavra de Deus — na Re­
velação 11
* — e porque, através da Liturgia 12 fala com Deus, adora a
Deus, oferece a Deus o sacrifício eucarístico, assenta-se à mesa de Deus.
Sinal amabilissimo dessa esperança é a SS. Virgem Maria, que no mis­
tério de Cristo e da Igreja, precede na graça e na glória o Povo de
Deus que caminha para a eternidade.
A igreja no Brasil. — Tudo isso, irmãos caríssimos, nos mostra
como a tarefa da Igreja que é a nossa, é sobretudo espiritual. E dessa
missão espiritual é que se derrama à luz para iluminar também os ca­
minhos da cidade terrena. Por isso mesmo não nos sentimos desvincula­
dos da Pátria terrena onde exercemos nosso múnus pastoral. Convosco
sentimos a gravidade de nossos problemas e convosco desejamos as mais
felizes soluções para os homens nossos concidadãos e nossos irmãos.
A exemplo do Divino Mestre, que perante os homens desnutridos lançou
o seu “misereor super turbam”, condoemo-nos profundamente por ver
tantos irmãos nossos na miséria e na ignorância, por ver o doloroso
quadro de desigualdades sociais injustas, por ver o desconhecimento da
doutrina social da Igreja, que é no entanto o remédio certo para sanar
o desequilíbrio social. Vemos como é dura a luta contra a desonestidade
e contra a falta de espírito público e de sentido do bem comum, ü Santo
Padre Paulo VI acaba de apresentar com muita exatidão o quadro de
nossos problemas. Eoi no discurso para o Episcopado da América La­
tina” , hoje difundido por todo o continente e que mereceu inclusive o
unânime aplauso dos Delegados dos Países Americanos à recente Confe­
rência do Rio de Janeiro. Falou das transformações rápidas no campo
da economia e das comunicações. Do crescimento explosivo dos centros
urbanos pelos deslocamentos da população rural em busca de trabalho
na indústria que se desenvolve. Da falta de preparação das cidades para
recebê-los. Da proliferação das favelas. Dos problemas religiosos e so­
ciais e sobretudo da perniciosa promiscuidade de vida resultante da fal­
ta de habitação adequada. Do desequilíbrio da cultura: os que podem
atingir alto grau de instrução e a grande massa ainda enredada no
analfabetismo. Sublinhou a consciência que vai amadurecendo no povo
o sentido de um justificado desejo de melhorar sua condição de vida
e lamentou a insensibilidade de alguns para as oportunas transforma­
ções. Apontou o perigo do “messianismo social” do marxismo ateu e não
desconheceu as dificuldades de certa propaganda anticatólica, sério pe­
rigo para a unidade espiritual do continente.
Mas o Santo Padre não parou aí. Falou de nossos imensos re­
cursos. “O povo é bom e profundamente religioso por natureza. Recebe
com as melhores disposições a mensagem evangélica”. “A Igreja está
presente... antiga, sólida, respeitável... Se ela caminha, ainda é lar­
gamente acompanhada, se fala, ainda é amplamente ouvida”. “Repre­
senta a fôrça mais poderosa capaz de salvar o Continente, com o pres-

Além de “Igreja no mundo de hoje”, “Educação cristã”, “Meios de comuni­


cação social , “Liberdade religiosa”.
” "A Revelação Divina”
11 “Sôbre a liturgia”.
L Oss. Romano, 25-XI-1965 (veja acima pp. 458-468).
Mensagem * Epise. B „ , „„ ^ ^ ^ (| ^

o^Santo^Padre'0—' ' S ; ; " * ' 1'» * l í « i . - eomiaae,


suas grandes possibilidades de ação ad ítín V Va er' Se largamente *
de acôrdo com as transformações^ mí» dotando uma Pastoral dinâmica,
então, nos apresentou, num tom de^ sadio p^ c®ssam no Continente". E,

tar de energias que é preciso saber alimentar e pôr em


ação Não é
possível defraudar a .mensa expectativa que surgiu no povo". “E é a
jgieja, disse ainda, que deve ter confiança em si mesma e deve saber
infundir coragem e confiança nos seus filhos”.
Corroborava assim com sua autoridade e seu paternal interêsse o
Flano de Pastoral de Conjunto” que preparamos para o Brasil e que
vamos aí atuar com as forças que de Deus suplicamos. Com a colabora­
ção decidida de nossos amados Sacerdotes, dos Religiosos e Religio­
sas, de todo o Laicato católico. Temos confiança em nosso povo. Na
família, ciosa de sua unidade e de sua dignidade. Nos trabalhadores,
que no campo ou na cidade vão construindo pacientemente a grande
Pátria. Na juventude, cujas energias vivas e cuja generosidade só pre­
cisam de nobres ideais para nos darem um grande futuro. Confiamos
em todos os homens de boa vontade. Temos aí a doutrina do Concilio.
Vasta! Luminosa! Temos a Constituição sôbre a Igreja no mundo de
hoje. Um caminho certo! Para hoje! Encontrarão aí todos, governan­
tes e governados, como realizar no Brasil o que todos desejamos: uma
Pátria grande, livre, democrática, onde todos possam viver com digni­
dade. Tenham certeza nossos diocesanos que no campo de nossa mis­
são não nos queremos omitir. Exortamos todos à paz e à concórdia.
Afastem-se ódios e vinganças. Para que possa expandir-se o Reino de
Deus na Pátria terrestre. Não ignoramos as dificuldades da hora pre­
sente. Confiamos no bom-senso e no espírito cristão que sempre nor­
tearam nossos destinos, mesmo nas horas mais difíceis, a fim de p
dermos palmilhar os caminhos * -d a d e ^ e -a s
nrpree à's
preces, às onais
quais se unem as de todo o Povo cristão, pediremos a Deus
que inspire
que inspire aos
aos que têm sôbre os ombros as responsabilidades do go-
vêrno temporal.
A todos saudamos com imenso respeito e amizade,
c trvHní os nossos Fiéis diocesanos, invocamos a bênção de
Deu, e T n l a í » P . S . - VirSe„ Apa-ecid,
e Mãe do Brasil.
Roma, 8 de dezembro de 1965.
O Pacto da Igreja Serva e Pobre

N o DIA 16 DE NOVEMBRO
de 1965 cerca de 40 Padres Conciliares concelebraram o Santo
Sacrifício Eucarístico nas catacumbas de Santa Domitila, para
obterem a graça de serem plenamente fiéis ao Espírito de Jesus
“que vos consagrou e vos enviou para evangelizardes os po­
bres” (Lc 4,18). Nesta ocasião alguns (não se conhece o núme­
ro exato) Bispos adotaram as seguintes resoluções:

Nós, Bispos, reunidos no Concilio Vaticano II, esclarecidos sôbre


as deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incenti­
vados uns pelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós que-
reria evitar a singularidade e a presunção; unidos a todos os nossos
Irmãos no Episcopado; contando sobretudo com a graça e a fôrça de
Nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos sacerdotes de
nossas respectivas dioceses; colocando-nos, pelo pensamento e pela ora­
ção, diante da Trindade, diante da Igreja de Cristo e diante dos sacer­
dotes e dos fiéis de nossas dioceses, na humildade e na consciência de
nossa fraqueza, mas também com tôda a determinação e tôda a fôrça
de que Deus nos quer dar a graça, comprometemo-nos ao que segue:

1 ) Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa popula­


ção, no que concerne à habitação,à alimentação, meios de locomo­
aos
ção e a tudo o que daí se segue. Cf. Mt 5 ,3 ; 6,33-34; 8 ,2 0 .

2 ) Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza,


especialmente no traje (fazendas ricas, côres berrantes), nas insígnias
de matéria preciosa (devem êsses signos ser, com efeito, evangélicos).
Cf. Mc 6,9; Mt 10,9-10; At 3,6. Nem ouro nem prata.

3) Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em ban­


co, etc., em nosso próprio nome; e, se fôr preciso possuir, poremos tudo
no nome da diocese, ou das obras sociais ou caritativas. Cf. Mt 6,19-21;
Lc 12,33-34.
° PaCt0 da 'ereja Serva e Pobre
527
4) Cada vez que fôr nn««ím»i
ierial em nossa diocese a uma comissãó^eTei 3 financeira ' ma-
do seu papel apostólico, em mira a se rm n K0!> competen,es e cónscios
que pastores e apóstolos. Cf. Mt 10,8- A t ^ r ?" 08 administradores do

cia, Monsenhor...). Preferimos ser cham ^ P° ^ ÍEmmência> Excelên-


Padre. Cf. Mt 20,25-28; 23,6-11; jo 13,12-15. ^ ° evangélico de

6) No nosso comportamento, nas nossas relações sociais evitare


mos aqui o que pode parecer conferir prnutégios, prioridades òu T s Z
uma p referen a a qualquer nos ricos e aos poderosos (ex.: banqueta
ofe^ecidos^ou^ aceitos, classes nos serviços religiosos). Cf. Lc 13,12-14;

7) Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade


de quem quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádi­
vas, ou por qualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a consi­
derarem as suas dádivas como uma participação normal no culto, no
apostolado e na ação social. Cf. Mt 6 ,2 -4 ; Lc 15,9-13; 2 Cor 1 2 ,4 .

8) Daremos tudo o que fôr necessário de nosso tempo, reflexão,


coração, meios, etc., ao serviço apostólico
e pastoral
das pessoas e dos
grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que
isso prejudique as outras pessoas e grupos da diocese. Ampararemos
os leigos, religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a
evangelizarem os pobres e os operários compartilhando a vida operária
e o trabalho. Cf. Lc 4,18-19; Mc 6,4; Mt 11,4-5; At 18,3-4; 20,33-35;
1 Cor 4,12 e 9,1-27.

9) Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das^ suas


relações mútuas, procuraremos transformaras obras de “beneficência”
em obras sociaisbaseadas na caridade e na justiça, que levam em conta
todos e tôdas as exigências, como um humilde serviço dos organismos
públicos competentes. Cf. Mt 25,31-46; Lc 13,12-14 e 33-34.
10) Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso go­

s »hi”se. ^a».«»*. *-a.«s*rssrtw*


vêrno e pelos nossos-serviços públicos decidam e ponham em pratica
as leis, as estruturas
e as instituições sociais
necessanas a
igualdade e ao desenvolvimento harmônico e total do homem tod

digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus. U . At -.44-45,


5 4; 2 Cor 8 e 9 inteiros; 1 Tim 5,16.
„ ) Achando a co.egia.idade d . bispos
gélica na assunção do encargo t 4 . terços da humanidade
de miséria física, cultural e moral - dou, ttrç
comprometemo-nos;
528 III. D o c u m e n t o s

— a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos ur­


gentes dos episcopados das nações pobres;
— a requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais
mas testemunhando o Evangelho, como o fêz o Papa Paulo VI na ONU*
a adoção de estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem
nações proletárias num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam
às massas pobres saírem de sua miséria.
12) Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida
com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que
nosso ministério constitua um verdadeiro serviço; assim: — esforçar-
nos-emos para “revisar nossa vida” com êles; — suscitaremos colabora­
dores para serem mais uns animadores segundo o espirito, do que uns
chefes segundo o mundo; — procuraremos ser o mais humanamente
presentes, acolhedores...; — mostrar-nos-emos abertos a todos, seja
qual fór a sua religião. Cf. Mc 8,34-35; At 6,1-7; 1 Tim 3,8-10. ’
13) Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer
aos nossos diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por
sua compreensão, seu concurso c suas preces.
AJUDE-NOS DEUS A SERMOS FIÉIS
O Pós-Concílio à Altura
do Vaticano II

cebispo de Olinda e Recife, Dpronunciou


om h e l d e r câmara , ar -
em Roma, no mês de

v r V' |JI r W|» ^ m c o i i i u u n ia puil*


tinha do impossível, para mantermos a Igreja no clima do Concilio?
Como, com a graça de Deus, fazermos os belos textos do Vaticano II
“~ as Constituições, os Decretos e as Declarações — passarem das
fórmulas escritas à prática, à vida? A êste respeito cada um de nós
faz meditações, e certamente toma suas decisões. Permiti que eu vos
sugira aquilo que talvez já esteja nas intenções de muitos Bispos, para
prolongar, aprofundar e completar o Concilio Ecumênico que quis abso-
lutamente ficar sendo Pastoral, e, nas Províncias Eclesiásticas, Conci-
lios verdadeiramente Pastorais. Permiti-me a confiança fraterna de vos
dizer como é que eu sonho êsses Sínodos e êsses Concílios Pastorais.
II. E s p ír ito g c r o l a m an ter. — Espero realmente que estaremos de
acôrdo na hora de interpretarmos o espírito do Vaticano II, que dese­
jamos seja o espírito a animar tanto os nossos Sínodos como os nos­
sos Concílios. De minha parte, quanto ao Sinodo Pastoral do Recife
— que começaremos a preparar imediatamente, para o fim do ano de
1967 — gostaria de vê-lo iluminado por princípios como êstes:
n O iip n T p n ln n ia a vivificar o Sinodo seja uma Teologia viva e
530 III. Documentos
tom íeito à Igreja de Cristo. Êles são gravemente responsáveis pelo afas­
tamento de muitos homens; pela indiferença de número ainda maior de
outros: e pela falta de interêsse daqueles que poderíam olhar a Igreja
com simpatia, mas que são prêsa de desgosto face ao nosso farisaísmo.
Falando desta sorte, absolutamente não me esqueço da Alocução do
Santo Padre à Comissão para a Reforma do Código de Direito Canô­
nico. Evidentemente é sagrada e imutável para nós a Lei divina, e to­
dos teremos respeito às antigas prescrições. Sòmente — e o Santo Pa­
dre é o primeiro a sabê-lo — o nosso Direito Canônico atual baseia-se,
fundamentalmente, no Direito Romano, que, sendo a obra-prima que nin­
guém desconhece, mesmo assim é uma obra-prima de lei pagã.
3) Que o esp írito de d iá lo g o e s te ja se m p re p r e s e n te . Induza êle,
deveras, a escutar todo o Povo de Deus presente na Diocese, e, de
modo geral e na medida do possível, todos os homens de boa vontade.
III. A lgu m as in d ica çõ es p rá tic a s. — Sempre com a intenção única
de dialogar convosco, aqui vos deixo algumas das idéias que espero
levar ao Sinodo Pastoral do Recife:
A) N ós, o s E x cele n tíssim o s, te m o s n e c e ssid a d e d e u m a ex c e le n tís­
sima reform a.
Ao menos, cumpre-nos chegar:
— p a ra co m eça r , a u m a sim p lifica ç ã o do n o sso tr a je e d o n o sso
teor de vida. Sem desconhecer belas iniciativas pessoais e locais, o Con­
cilio está findando, e o espetáculo que oferecemos, na Basílica de S. Pe­
dro, será no último dia o que era na Sessão de abertura. Poder-se-á
dizer que isso são meros sinais. Mas nós pertencemos a uma Igreja em
que, os sinais, nos Sacramentos, demonstram a enorme importância dos
sinais para nós os homens. Alguns diziam que nós não tínhamos o di­
reito de dar lições ao Papa. Porém Paulo VI dá-nos lições, e nós nos
demonstramos um pouco tardios em as aprender. Sublinho, a mim mes­
mo e a meus irmãos os Bispos, o oferecimento da tiara e do báculo —
oferecimento tão belo, tão simples e tão piedoso — que Paulo VI ado­
tou para sempre. Há Bispos que gostariam de ser mais simples; que
gostariam, por exemplo, de viajar, como tôda gente, nos ônibus e em
trens; que gostariam, mesmo, de entrar nas filas, onde poderíam escutar
diretamente o Povo sôbre o que êste pensa, sôbre o que diz e sôbre
aquilo de que sofre. Porém alguns de meus Irmãos os Bispos têm mêdo
da acusação de demagogia. Se Cristo tivesse tido êsse mêdo, não teria
nascido onde nasceu, e nem teria dito que nem sequer tinha uma pedra
em que repousar a cabeça.
a darm os o ex em plo d e v iv e rm o s num clim a d e se rv iç o e de p o ­
breza. Ainda aqui, temos exemplos notáveis que nos vêm do Santo Pa­
dre. A sua presença na ONU foi a demonstração viva do que deve ser
a nossa presença no Mundo. Com muita simplicidade, Paulo VI aceitou
ficar abaixo da presidência das Nações Unidas, e de pé falou aos Em­
baixadores do Mundo inteiro. Entretanto, jamais um Papa subiu tanto,
oessa maneira. Êle se identificava com Jesus Cristo. Basta de Igreja
que quer ser servida; que exige ser sempre a primeira; que não tem
a umildade e o realismo de aceitar a condição de pluralismo religioso;
CíUe,i a nJfne,ra °P°rtuna e inoportuna, clama possuir o monopólio da
ver a e. Basta de Bispos-Príncipes, que ficam afastados do Povo, e
mesmo do Clero.
0 Pós-Concilio à Alto,, „„ Vat|caM |(

jo r m e o exem plo ™e C rh fo ° c x m Pl0 do troa Encarnac '


.oi bem ct„ sei totopo , £ E -m . m . T C
do sera que as nossas Cartas Pastorais nm<!? U-ma so ,lustração: quan-
solene, e terão a coragem de sfr c ,perderao o estilo grandiloauo
Quando será que nós, os Bispos teremo^ h°m°. “Pacen' in Terris"?
de aprendermos com os leigos ’e esn^cfall í™ Uade e a intelig*™a
maneira de falar e de interessar de fala l rip C°m °S jornaNs,as' a
- à reform o da Cúria D io c e Z a E’
da Cúria Romana. Demos o exemnln Hp í™ *° aci desej ar a reforma
a mudança de espírito que deseiaHamn fazermos> no n«vel diocesano,
Romanas. Nossos padres' T- S“ ras Congregações
Cúria Diocnana c ,L “ í™ S ^ V
Í “ . E( - " » * » Sento Padre s e '.» , i* i£ í” t
torma em Roma, e começa pelo Santo Ofício.
, ■ • —M“. rca l,za Cao concreta e ao funcionamento de um autêntico Preshi-
rnW-J?HS
Colegialidade.0SPB!SP0S
Episcopal.,estamos muit0a coragem
Tenhamos contentes ecom a promulgação
a largueza da
de espírito
de criarmos, nao apenas no papel, mas na vida real, nosso Presbitério
o nosso.
B) N ós, os R cvercndissim os, tem os necessidade de uma reverendís -
si m a reform a.
Cumpre-nos chegar, ao menos:
— a configurarm os, à luz do Vaticano II e à escuta de todo o Povo
de D eu s, o perfil do Sacerdote para êste fim de século. Qual será o tipo
de sacerdote que os católicos e os não-católicos, os crentes e os des­
crentes, gostariam de conhecer e de encontrar? O Mundo, sobretudo dos
nossos dias, exige do Sacerdote que êle seja autêntico, que seja Sacer­
dote. Nada de virtudes sobrenaturais que se não baseiem em virtudes
naturais: seja o Sacerdote veraz, leal, reto. O Mundo de hoje quer Sa­
cerdotes que, para serem puros, não tenham necessidade de olhar a
mulher quase como sinônimo de pecado; que, para amarem o céu. não
se sintam na obrigação de odiar a terra; que no amor dos homens des­
cubram a maneira mais válida de amar a Deus. O Mjyfcndo não escuta
Sacerdotes sempre moralizantes, sempre grandezas, sempre mendicantes.
êle gosta de aprender pelo exemplo, deixa-se prender pelo amor; d ,
e generosamente, na medida direta em que faz confiança e na medida
inversa dos pedidos recebidos. O Mundo não deseja Sacerdotes que.
preocupados com serem modernos, sejam fáceis, leviano* equnoio^
O Mundo tem necessidade de sacerdotes que, com a
guem a ser santos, mas de uma santidade tanto mais verdu ra^u a, t
mais amável, mais aberta, mais simples. O Mundo deseja Sacerdote,
que nos apresentem Deus como Êle é. largo, g melhor dos Pais
vez de ter mêdo de ser superado pelo ho®e^ “ 2 adS^oTom em :
alegra-se face às vitórias e às conquistas xill. que é apenas
Sacerdotes que compreendam e amenl , . d Continuai o perfil do
o comêço do diálogo a estabelecer c - ' cert.miente, Cristo dese-
Sacerdote segundo o coraçao de Cr' . ’ L a jas necessidades do meu
ia aue nós os Sacerdotes estejamos a alt ra das ........inss0
por nosso Pa.
T V m ^ V d e^ lôd T etVriudade escolhidos para
que está nos céus.
UI. Documentos
532
Ponha-
„ conquistarm os nossos S acerdotes p ara o V atican o II
Tc J lucrar de nossos Sacerdotes, dos nossos: se nos fossemos
Sa°cerdotes, e nossos Bispos, premidos pelo segrêdo do Concilio, apre-
ín S S m pràtícaniente. o Concilio como uma questão abso utamente de
SuTa regulada ao nível Bispos - Santo Padre - Espirito Santo: -
le nossos Bispos partissem para o Concilio — uma, duas, tres, quatro
v ê z e s pedindo-nos simplesmente nossas orações, sem nunca divid:rem
conosco as preocupações do Concilio, sem jamais nos fazerem uma per­
gunta ou pedirem um conselho, que interêsse lidaríamos a êsse Con-
dlio* feito, senão contra nós, evidentemente sem nós? Mas não nos
iludamos: teremos de conquistar nossos Sacerdotes em favor do Va­
ticano II, sobretudo porque nossos segredos de Polichinelo eram, cada
dia. contados pela Imprensa... O Diabo seria um imbecil se não so­
prasse a nossos Sacerdotes, aos nossos, que, para o Concilio da Co-
legialidade Episcopal, da criação dos Diáconos permanentes e da pro­
moção dos Leigos, os Padres são uns Padres-seminaristas... Que, ao
menos, o pós-Concílio seja estudado, discutido, regulado, de maneira
aberta e leal, num verdadeiro diálogo, com nossos Padres, os nosscs...
Não basta discursar, e discursar bem, na Basílica; não basta pronun­
ciar belas conferências; não basta dirigir Mensagens piedosas e con­
vencionais aos nossos caríssimos Colaboradores em Jesus Cristo: nossos
Padres esperam-nos em nossa casa e exigem que sejamos os primeiros
a pôr em prática os textos que votamos.
C) Os R eligiosos c os R eligiosas têm n ecessid ade de um a relig io sís­
sima rejorma.
Cumpre chegarmos, ao menos:
— a ajudar as R eligiosas a serem adu ltas, com o m u lh eres e com o
cristas. Neste século de promoção da mulher, são sobretudo as Religio­
sas — mulheres que escolheram a melhor parte, mulheres que a si
mesmas se superam no dom total a Deus e ao próximo — que devem
dar um exemplo, válido e convincente, de mulher adulta, de cristã adul­
ta, ao cabo de séculos de menoridade feminina.
a ajudar as R eligiosas a reexam inarem e a reaprofu n da rem seu s
votos. Tenhamos a coragem de reconhecer que nós fazemos voto de
pobreza, mas que a verdadeira pobreza é vivida por numerosos lares,
e mesmo numerosíssimos, que, êsses, conhecem o problema do aloja-
mento, do transporte, do vestuário, da comida, dos filhos a aceitar e a
“ 1 , ,um m!mm? de repouso e de diversão a salvaguardar. Vêde
breza Nãn f ena° da c,asse média, da honesta e ainda possível po-
amanhã s / Z / a mon?ento> da miséria, dos famosos 2/3 — que
mente as C asa/ -m gUe jaz^ n numa condição sub-humana. Evidente-
mutesimas vêzeS a ,Capelas ri^ íssimas- °s terrenos enormes
P ó s? de castfdade am ei"!3'08 entre nós do Terceiro Mundo. A Pro-
acima da caridade; amemo-la sempre ^ ^ m°d° algUm’ a col°carmos
levarmos a descobrir a maliciã TPre’ la® sem cnarmos obsessões, e sem
sem deformações, sem esquecermos pecado onde nao existem; amemo-la,
humana, mas também o corno h ’ P° r exemPlo> que não só a alma
vina e templos de Deus. Z *°d° ° C0rp0- são criação di-
sejam criação do diabo.. Feli7mtif+UniaS partes do c°rpo humano que
os jesuítas — resolvidos como «st™6 qUe’ 3 proPósito de obediência,
o CStd0- agora no após-Concílio, a trocar
0 Pós-Concílio à Altura do Vaticano II 533
a contra-refornia, de que eram „ símbolo, pela reforma do Vatican,, n
— os jesuítas vao por em sua verdadeira luy n d,ltanü. 11
conselho de Santo Inácio: “obedecer como um cadáver" ^ õ í ^ ü è í s
vivo quer vivos como seus servos, e prefere filhos a escravos
a m d a r a s R elig io sa s de vid a contem plativa a seguirem a vida
da Ig reja e d a H u m an idad e, p ara m elhor rezarem pelos hom ens e a aiu
d a r a s R e lig io sa s de vid a a tiva a se in tegrarem nos planos de apostolado
da D io cese. Permiti-me vos lembre dois nomes: — na escala mundial
o nome do Cardeal Suenens. Não necessito explicar por quê. Os milha­
res de cartas que êle recebe das Casas Religiosas do A\undo inteiro
demonstram que Deus, e não o Diabo, soprou ao Cardeal o seu célebre
livro sôbre a renovação apostólica das Religiosas; — na escala brasi­
leira o nome de Mons. Eugênio Sales. Em Natal, e agora em Salvador,
sem de modo algum exceder o espírito do Decreto “de accommodata re-
novatione vitae religiosae”, êle promove, asseguro-vos, reformas as mais
audaciosas no Mundo das Religiosas. Para justificar Mons. Sales basta
lembrarmos que, no Brasil, a serviço dos quase 90 milhões de habitan­
tes não há 15 mil Sacerdotes, mas há 45 mil Religiosas.
D) O s L eig o s, os fiéis de C risto (C h ristifid eles) necessitam de uma
m ui fiel reform a.
Cumpre chegarmos, ao menos: — a vencer d o is escolh os: da parte
dos Bispos e dos Sacerdotes, a tentação de falarem belamente sôbre
a maioridade dos leigos, sôbre a sua promoção, mas, na prática, de
preferirem leigos-menores; da parte dos Leigos, a tentação de quererem
os direitos de adultos sem lhes aceitarem os deveres. Às vêzes, os Leigos
são mais clericais do que os próprios Sacerdotes. Às vêzes, os Leigos
tornam-nos clericais, a nós Sacerdotes. Muitíssimas vêzes, os leigos ou
não têm a coragem de falar francamente, lealmente, ou apresentam cri­
ticas excessivamente ásperas e negativas. Eu sei: a culpa ao menos se
divide conosco, sacerdotes e bispos, que carecemos de serenidade para
escutar críticas. Tratemos de, com a graça divina, chegar a um cris­
tianismo em que o único Senhor verdadeiro seja Cristo, e em que o
maior seja deveras o mais pequeno. Tratemos de viver um cristianismo
no qual a distinção das funções e dos carismas não nos faça esque­
cer que nós somos um em Cristo, e que todos nós devemos crescer na
caridade, o maior dos carismas e a virtude sem a qual tôdas as outras
ficam sendo inúteis e mortas.
— a so b rep u ja r dim in u tas va idades e g ro tesca s rivalidades entre
A g ru p a m en to s de a p o sto la d o , dado haver trabalho para todos, e dado
que p a ra m u ito s serviço s sem p re faltarão apó sto los. Aqui, temos o di­
reito de esperar, sobretudo da Ação Católica e da Legião de Maria,
organizações que lideram o apostolado leigo respectivamente no Alundo
latino, ou de influência latina, e no Mundo anglo-saxònio, ou de influên­
cia anglo-saxônia, que nos dêem o exemplo de se completarem mútua-
mente e de trabalharem juntas como boas irmãs.
— a co m eça r ou a inten sificar o preparo de T eõlogos-leigos , ho­
m ens e m u lh eres, n ecessá rios sem pre m ais à Igreja de Cristo.
E) E então, m as sòm en te então, o P o vo de D eus estará p rep a ra d o
p a ra viver, den tro do M undo a que perten ce, a presen ça*de Cristo, (
fu n dam en tal p a ra a H um anidade.
534 III. Documentos
Há que chegarmos, ao menos:
— a estar presentes nos vários m undos que existem na Diocese
e. alüumas vêzes, nas Paróquias: mundo dos Pobres e mundo dos Ri­
cos- mundo dos Trabalhadores e mundo dos Patrões; mundo dos Cien­
tistas e mundo dos Artistas; mundo das Relig.ões cristas e das Religiões
não-cristãs; mundo dos Ateus;
— a ter bem presentes as indicações conciliares relativas às zonas
subdesenvolvidas e à obrigação da Igreja face ao desenvolvimento har-
monioso e integral. De maneira especial incumbe-nos: estimularmos a
cultura popular, sobretudo denunciando o absurdo de tcmê-la como tri­
lha de comunização; tomarmos posição aberta em favor das Massas
que jazem numa situação sub-humana; ajudarmos o desenvolvimento har­
monioso e integral do Nordeste, numa perspectiva nacional, continental,
de Terceiro Mundo e mundial...
IV. Para além das D ioceses e das P rovín cias E clesiásticas. — O Con­
cilio ensinou-nos, a todos, a ultrapassarmos os limites de nossas Dio­
ceses e das nossas Províncias Eclesiásticas. Com muito júbilo saudamos
o incentivo que o Concilio traz às Conferências Episcopais. E tenho a
alegria de anunciar que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
cuidadosamente preparou, discutiu e aprovou um Plano qiiinqüenal de
Pastoral de Conjunto, baseado nos textos do Vaticano II. As linhas ge­
rais do mesmo são as mesmas para todo o país. Haverá, porém,
para as 11 Regiões, adaptações que se fazem depois ainda, acomoda­
das às 180 Circunscrições Eclesiásticas do Brasil. E’ esforço nosso tra­
zermos o Concilio à prática. No plano nacional, o Secretariado Geral
da nossa Conferência dispõe, para a aplicação do Plano Pastoral de
conjunto, da colaboração de 13 Secretariados Nacionais. Porém de ma­
neira alguma deseja o nosso país fechar-se em si mesmo. Integra-se no
CELAM (Conselho do Episcopado da América Latina), e, na sua aber­
tura para o Mundo inteiro, na sua sêde de Diálogo dos Continentes,
êle saúda a organização, em marcha, do Conselho do Episcopado Euro­
peu, seguida, talvez, amanhã, da organização de outros Conselhos Con­
tinentais, todos amplamente abertos ao espírito universalista que o Va­
ticano II infundiu, para sempre, em nossas almas de Bispos do Mundo.
V. Dos signos do Concilio. — Nossos Sínodos Diocesanos, nossos
Concílios Provinciais, nossas Conferências Nacionais, nossos Organis­
mos Internacionais tomarão boa nota dos signos cío Vaticano II já
anunciados pelo Santo Padre (talvez êle ainda anuncie outros):
• "m- 3 c,onsttru(^ão’ em Roma, de um nôvo Templo, em honra de Ma­
na’ nü ^ Sreja. Certamente Paulo VI aproveitará a oportunidade
Irrreia nnmY h UaSç 1Ç+° eS práticas: sóbre 0 lu£ar exato de Maria na
6 d° S Anj° S’ infinitamente abaixo de Cristo;

tempo da Igreja serva' P'° "° C° mêÇ° d° SéCl" ° X X ' 6 "°

feliz. Esperamos queU'o ^ubneu3*11^ ^ °S detallles da slla idéia ta0


censuras formuladas pelo^ Santo n f’8 * Um j’ rande Perdao a tôdas as
a nossos Irmãos os Sacerdote h ° ’ 6 abra fa« » dades excepcionais
pelo Santo & te jubileu anunciado
Vaticano I. é a misericórdia fS S S S T * qUe Uma das do
índices
1
índice das Intervenções

Damos neste índice os nomes dos Padres Conciliares que falaram du­
rante as CG da 4’» Sessão. Os números se referem não à página mas
à ordem em que falaram.
Abasolo y Lecue 92 Castro Mayer 84 Frings 2 93 231
Alfrink 8 200 232 291 Charbonneau 323 Frotz 170
Alvim Pereira 41 Charue 98 300
Amici 74 Coderre 184 Gahamanyi 257
Ancel 69 226 Colombo 136 283 Garaygordobil Ber-
Anoveros Ataún 55 Compagnone 331 rizbeitia 254
192 Connolly 326 Garcia Lahiguera 327
Aramburu 20 76 Corboy 116 247 Garrone 123 205
Argaya Goicoechea Conway 30 146 Garcia de Sierra y
284 Cooray 26 £ Méndez 43 185
Arriba y Castro 5 176 Cordeiro 243 Garret Maloney 40
279 Cushing 7 Gasbarri 39
Arrieta Villalobos 321 Gaviola 216
Arrupe 113 260 Dante 57 Gay 270
Attipetty 248 Darmajuwana 127 Gazza 268
D’Avack 78 298 Geise 246
Baldassarri 35 Ddungu 161 Gonçalves da Costa
Bánk 314 Djajasepoetra 148 242
Baraniak 33 198 Degrijse 267 Gouyon 219
Barela 318 Del Campo y de la Gracias 157
Barros Câmara 223 Bárcena 37 196 Gran 54
Batanian 118 De Reeper 275 Grant 211
Baudoux 85 De Roo 151 322 Grotti 68 259
Bea 65 312 De Vito 195 Guerry 114
Beck 221 Doepfner 73 289 Guffens 253
Bednorz 154 Doumith 67 Guyot 285
Beitia Aldazábal 197 D’Souza 111 252
Bengsch 130 Duval 204 Hacault 159
Beran 47 Hallinan 42
Bettazzi 173 Echeverría Ruiz 191 Han Kon-Rvel 274
Blanchet 167 Elchinger 36 96 162 Heenan 29 144 309
Boillon 230 Elko 112 Heerey 266
Browne 51 147 Hengsbach 179
Brzana 301 Falis (Pároco) 333 Henríquez Giménez
Brzanóczy 213 Fares 329 286
Bueno y Monreal 177 Faveri 228 Herera y Oria 295
Butler 207 Fernandes 181 Hermaniuk SI
Fernández (Aniceto) Himmer 97 1S9
Cantero Cuadrado 32 117 165 Hnilica 121
104 218 Fernández-Conde 317 Hoeffner 183
Cardijn 52 91 187 Flores Martin 324 Hurley 199
Carli 21 220 Florit 27 107 308 fabany Arnau 2SS
Castán Lacoma 209 Foley 328 jaeger 13 64 225 294
Castellano 194 Franic 182 297
Concilio - V — 35
538 ÍV. Índices
Modrego y Casáus 18 Satoshi Nagae 271
jordan 75
ournet 58 143 233 Morcillo González 15
86 169
Sauvage 34
Schick 124
Kinam Ro 264 Mosquera Corral 128 Schmitt 160
Klepacz 109 217 Muldoon 56 Segedi 325
Klooster 313 Munoyerro 137 Seper 28 102
Koenig 72 106 239 Mu noz Vega 60 Shehan 49 83 310
Kominek 90 Sibomana 255
Koppmann 237 Nabaa 299 Simon 206
Kozlowiecki 59 Ndongmo 320 Siri 4 71 175
Kuharic 129 Nicodemo 14 141 Silva 150
Ntuyahaga 258 Silva Henríquez 10
Lamont 265 63
Landázuri 62 Orbegozo y Goicoe- Slipyj 12 158
Landázuri 292 chea 156 Soares de Rezende
Larraín Errázuriz 190 Ottaviani 31 215 126 263 319
Lebrun 164 Spellman 1 61
Le Couédic 163 Padin 168 Spuelbeck 171
Lefebvre (Cardeal) Parteli 193 Suenens 135 250 293
44 305 Pechuán Marín 330 Swanstrom 178
Lefebvre (Marcei) 53 Pellegrino 166 332
Legarra Tellechea Philbin 229 Tagle Covarrubias 25
234 Pildáin y Zapiáin 115 Taguchi 138
Léger 134 203 281 Piróvano 273 Tatsuo Doi 290
Liénart 202 Poletti 261 Tomásek 149
Leven 315 Proença Sigaud 80 Tomé 304
Llopis Ivorra 119
Lokuong 16 245 Quéginer 240 Urbani 6
Lourdusamy 19 87 Quiroga y Palacios Urtasun 152
280
Mahon 188 Van Cauwelaert 269
Majdanski 139 Renard 88 302 Varghese Thangala-
Mancini 303 Reuss 153 thil 180
Marafini 23 95 Richaud 100 282 Velasco 17 972
Marling 210 Ritter 9 Veuillot 172
Martin 214 Romero Menjibar 132 Volk 94 142
Martin (Joseph) 256 Rossi 50 108 145 311 Von Streng 155
Marty 122 Roy 307 Voullyberth Adjakbley
Mason 22 89 Ruffini 3 70 133 238 (leigo) 276
Máximus IV Saigh 278
Mazzoldi 235 Rugambwa 82 249 Wheeler 208
McCann 48 201 306 Woytila 66 131
McCauley 236 Ruotulo 110 Wyszynski 45 186
McGrath* 244 Rupp 38 227
McVinney 77 Rusch 79 212 Yü Pin 262
Méndez Arceo 12( Rusnack 125
Meouchi 11 gq Santin 287 Zak 316
277 Santos 46 101 224 Ziadé 24 103
Miranda y Gómez 296 Sapelak 241 Zoghby 140 174
Zoungrana 251
índice Geral

Prefácio ............................................................................................ ^
1. Crônica das Congregações Gerais (CG) ............................. 9

15- 9-1965: 128’ CG: Introdução Geral aos Trabalhos ........... 11


A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa ................. 12
16- 9-1965: 129’ CG: A Liberdade Religiosa ................................. 22
17- 9-1965: 130’ CG: A Liberdade Religiosa ..................................... 30
20- 9-1965: 131’ CG: A Liberdade Religiosa ................................. 39
21- 9-1965: 132’ CG: A Liberdade Religiosa. A Igreja no Mun­
do de Hoje (em geral) ............................................................. 53
A Constituição Pastoral sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ... 56
22- 9-1965: 133’ CG: A Liberdade Religiosa. A Igreja no Mun­
do de Hoje (em geral) ............................................................. 64
23- 9-1965: 134’ CG: A Igreja no Mundo de Hoje. Proêmio e Ex­
posição Preliminar ......................................................................... 74
24- 9-1965: 135’ CG: A Igreja no Mundo de Hoje. Proêmio e Ex­
posição Preliminar. I Parte: A Igreja e a Condição Humana S4
Primeira Parte: A Igreja e a Condição Humana .......... 91
27- 9-1965: 136’ CG: A Igreja no Mundo de Hoje. I Parte: A Igre­
ja e a Condição Humana ......................................................... 101
28- 9-1965: 137’ CG: A Igreja no Mundo de Hoje. I Parte: A Igre­
ja e a Condição Humana ......................................................... 119
Crônica Paraconciliar: Freud e sua Psicanálise no Concilio .... 131
29- 9-1965: 138’ CG: A Igreja no Mundo de Hoje. II Parte: O
Matrimônio ..................................................................................... 139
Segunda Parte: De Alguns Problemas mais Urgentes 139
Cap. I: A Dignidade do Matrimônio e da Família ........ 140
30-9-1965: 139’ CG: A Igreja no Mundo de Hoje. II Parte: O
Matrimônio ................................... ............................ ■ • •.............
Crônica Paraconciliar: A Indissolubilidade do Matrimônio e a
Tradição Oriental ........................................................................ ^6
1-10-1965: 140’ CG: A Igreja no Mundo de Hoje. II Parte: Ma­
trimônio, Cultura .........................................................................
Cap. II: OProgresso da Cultura .......................... 1T3
4- 10-1965: 141’ CG: A Igreja no Mundo de Hoje. II Parte: A ^
Cultura. Vida Econômico-Social ..............................................
Cap. III: A VidaEconômico-Social ......................... 1S9
5- 10-1965: 142’ CG: A Igreja no Mundo de Hoje. II Parte: A
Vida Econômico-Social. A Paz .................................................
Cap. IV: A Vida da Comunidade Política ................. 209
Cap. V: A Comunidade dos Povos e a Construção da Paz .
6- 10-1965: 143’ CG: A Igreja no Mundo de Hoje. II Parte: < ^
Paz e a Guerra ........................................................................
35 *
540 IV. Índices
7-10-1965: , 44»ACG: A Paz c a Guerra (A Igreja no Mundo
Atividade Missionária .......................................... **
de Hoje)
Decreto sôbre a Atividade Missionária ...................... 242
8-10-1065: 145' CG: A Paz e a Guerra (A Igreja no Mundo
de Hoje). A Atividade Missionária ....... .................................. 246
,1 -1 0 1065: 146' CG: A Atividade M.ssionana ............................. 257
17-10-1965: 147' CG: A Atividade Missionária ............................. 264
H 10-1965- 146* CG: A Atividade Alissionaria • • • • • ;................. 271
14-10-1965: 149' CG: O Ministério e a Vida dos Presbíteros-----277
Decreto sôbre o Ministério e a Vida dos Presbíteros -----277
15 10*1965* 150°CG: O Alinistério e a Vida dos Presbíteros . . . . 291
16-10-1965* 151"CG: O Ministério e a Vida dosPresbíteros------299
25- 10-1965:162'CG:OMinistério e a Vida dosPresbíteros------311
26- 10-1965:153'CG:O Ministério e a Vida dos Presbíteros . . . . 315
Da 154' à 168" Congregação Geral .................................................. 322
O Debate Paraconciliar sóbre as Indulgências ................................ 327
II. Crônica das Emendas e Votações
A Constituição Dogmática sôbre a Revelação Divina .................. 343
O Decreto sôbreo Apostolado dos Leigos ....................................... 357
O Decreto sôbreo Múnus Pastoral dos Bispos ............................... 364
O Decreto sóbre a Atualização dos Religiosos ................................. 369
O Decreto sôbre a Formação dos Sacerdotes ................................... 373
A Declaração sóbre a Educação Cristã ............................................ 377
A Declaração sóbre as Relações da Igreja com as Religiões não-
Cristãs .............................................................................................. 380
A Declaração sôbre a Liberdade Religiosa .................................... 387
O Decreto sôbre a Atividade Missionária .......................................... 394
O Decreto sôbreo Ministério e a Vida dos Presbíteros ............. 401
A Constituição Pastoral sôbre a Igreja de Hoje ............................ 408
111 . Documentos ...........................................................................................425
Exortação Apostólica “Quarta Sessio”, aos Bispos ........................ 427
Discurso de Abertura da Quarta Sessão ...................................... 430
Motu Proprio “Apostólica Sollicitudo”: Sinodo dos Bispos ___ 438
Homília de Paulo VI na Sessão Pública de 28-10-1965 ............ 442
Paulo VI a Sessão Pública de 18-11-1965: As Decisões do Con­
cilio serão executadas ................................................................... 445
°tUí*\r r*°^r*0 *nte6 rae Servandae”: a Congregação do Santo
Fvnrfo “^0| ar*j0^^ Congregação para a Doutrina da Fé .......... 450
Panín V? Apos£?1,ca “p°strema Sessio”, aos Bispos .................... 453
P^n n vi aos B dÍ)0S da América Latina (24-11-1965) .............. 458
ConciliarOS B'SP°S 03 ,tália (6-|2-|965>: O Bispo Pós-
Sp 6s-C^onctliaT'°'Ra Mirificus Èventus”: Indicção do jubileu
Hnm! 0 üomc os não-Católicos'! 1!!................................................... Vjq
Condlio SSa° PÚblÍ.Ca de 7-12-1965: Ó' Valor' Religioso dó
Discurso d! AEncerramfnto0rdÍnárÍaS' ° A,canceSociaV do'Concilio 501
Mensagens Finais de Paulo V I....................................................... 505
Breve ln Spiritu Sancto” rlp .......................................................... 41)®
Ct0 , de Encerramento do Concilio .......... 516
índice Geral 541

Motu Proprio “h s Concilio”: Comissões Pós-Conciliares


Paulo VI, na Audiência Geral de 12-M966* O 1 l r\ t p ‘ v 517
namentos do Concilio Va,or dos Ens,“ 519
Mensagem do Episcopado Brasileiro................................................ 522
O Pacto da Igreja Serva e Pobre ............................................ 526
O Pós-Concílio à Altura do Vaticano II........................................ 529
Intervenções dos Bispos do Brasil
Cardeal Agnelo Rossi (em nome de 82 Bispos), sôbre a Liberdade
Religiosa ................................................................................................. 43
Giocondo Maria Grotti, sôbre aLiberdadeR e lig io s a .......'...’.. 65
Geraldo de Proença Sigaud, sôbre a Igreja no Mundo de Hoje 72
Antônio de Castro Mayer, sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .......... 76
Cardeal Agnelo Rossi (em nome de 92 Bispos), sôbre a Igreja no
Mundo de Hoje ..................................................................................... 106
Cardeal Agnelo Rossi (em nome de 70 Bispos), sôbre a dignidade do
matrimônio e da família ................................................... 156
Cândido Padin, sôbre a promoção dacultura ....................................... 182
Cardeal Jaime de Barros Câmara (em nome de 57 Bispos), sôbre as
Missões ......................................................................................................244
Giocondo Maria Grotti (em nome de 77 Padres), sôbre as Missões ... 267
Giovanni Gazza (em nome de 74 Padres), sôbre 0 caráter missionário
das Prelazias ......................................................................................... 272
Aristides Piróvano (em nome de 73 Padres), sôbre os Institutos
Missionários ....................................................................................... 273
Cardeal Agnelo Rossi (em nome de 46 Bispos), sôbre 0 Ministério
c a Vida dos Presbíteros ............................................................... 303
Textos Completos de Intervenções
Cardeal Francis Spellman: Sôbre a Liberdade Religiosa ................... 18
Cardeal Raul Silva Henríquez: Sôbre a Liberdade Religiosa ............... 23
Cardeal Hermenegildo Florit: Sôbre a Liberdade Religiosa .............. 30
Cardeal John C. Heenan: Sôbre a Liberdade Religiosa ..................... 32
Cardeal Joseph Lefebvre: Sôbre a Liberdade Religiosa ..................... 39
Cardeal Stefan Wyszynski: Sôbre a Liberdade Religiosa ................. 41
Cardeal Joseph Beran: Sôbre a Liberdade Religiosa .......................... 44
Cardeal Lawrence J. Shehan: Sôbre a Liberdade Religiosa ............... 46
Cardeal Agnelo Rossi: Sôbre a Liberdade Religiosa ......................... 48
Cardeal Joseph Cardijn: Sôbre a Liberdade Religiosa ....................... 50
Cardeal Charles Journet: Sôbre a Liberdade Religiosa .................... 54
Cardeal Francis Spellman: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .... 60
Karol Wojtyla: Sôbre a Liberdade Religiosa ........................................ 64
Alfred Ancel: Sôbre a Liberdade Religiosa ...........................: ........... 65
Cardeal Franziskus Koenig: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .... 67
Cardeal Laurean Rugambwa: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ---- 74
Antônio de Castro Mayer: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .... 76
Alexandre Ch. Renard: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ......... 79
Cardeal Joseph Cardijn: Sôbre a Igreja no Mundo de Boje ......... 82
Cardeal Joseph Frings: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ......... 84
Hermann Volk: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ........................ 85
Léon A. Elchinger: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ... • 87
Cardeal Paul Pierre Meouchi: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .... 93
Cardeal Paul-Marie Richaud: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje 95
Cardeal Franjo Seper: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ............. 97
98
Ignace Ziadé: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .............................
542 IV. índices
Cardeal Maximus IV SaiEh: Sôbre a Igreja no Mundo de Ho e . . . . 101
Cardeal Franziskus Koenig: Sôbre a Igreja no M""d° H„ ]<: ----- 103
Cardeal Hermenegildo Florit: Sôbre a Igreja nc^ Mundo de Hoje ... 104
Cardeal Agnelo Rossi: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .............. 106
Eugene D'Souza: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ............................ 108
Pedro Arrupe: Sôbre a Igreja no Mundo de *J10Ie .................. 110
113
Emile Maurice Guerry: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ................
Aniceto Fernández: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ...................... 116
Sérgio Méndez Arceo: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .............. 120
Pavel Hnilica: Sóbre a Igreja no Mundo de Hoje .......................... 122
Gabriel Garrone: Sóbre a Igreja no Mundo de Hoje ........................... 125
Cardeal Paul Emile Léger: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .......... 143
Cardeal Leo I. Suenens: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .......... 144
Cardeal Giovànni Colombo: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ---- 146
Elie Zoglibv: Sôbre a Igreja no AAundo de Hoje .............................. 149
Cardeal Charles lournet: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .......... 153
Cardeal |nlin C. Heenan: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .......... 154
Adrianus” Djajasepoetra: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .......... 157
Erantisek Toriiásek: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ...................... 158
Remi Joseph de Roo: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .................. 160
Herbert Bednorz: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ...................... 163
Léon A. Elchinger: Sóbre a Igreja no Mundo de Hoje .................. 174
Lucien Lebrun: Sóbre a Igreja no Mundo de Hoje .......................... 176
Michele Pellegrino: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .................. 178
Cândido Padin: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .......................... 181
Pierre Veuillot: Sóbre a Igreja no Mundo de Hoje .......................... 185
Elie Zoghby: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje (matrimônio e família) 188
Cardeal Joseph Cardijn: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .......... 200
Gerald Mahon: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ............................ 202
Manuel Larraín Errazuriz: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje 204
Antoni Baraniak: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ......................212
Cardeal Jan Alfrink: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .............. 216
Cardeal Achille Liénart: Sóbre a Igreja no Mundo de Hoje .......... 220
Cardeal Paul Emile Léger: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje . . . . 221
Léon-Etienne Duval: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ..................222
Christopher Butler: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ..................226
Cardeal Alfredo Ottaviani: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .......... 233
Luigi Carli: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ................................
237
George Andrew Beck: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje .......... 239
Cardeal Jaime de Barros Câmara: Sôbre a Atividade Missionária ... 244
Alfred Ancel: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ..............................
246
Pierre Boillon: Sôbre a Igreja no Mundo de Hoje ............................
251
Lardeal Bernard Jan Alfrink: Sôbre a Atividade AAissionária ..........
253
ardeal Franziskus Koenig: Sôbre a Atividade Missionária ..............
258
260
Gonçalves da Costa: Sôbre a Atividade Missionária ..........
268
Ca^M?°paSc!aD-S de ,?ezende: Sòbre a Atividade Missionária ..........
Cardeal Paul 282
i^ ° uch,: ,Sf?b.r e.°. Ministério dos Presbíteros . . . .
284
Cardeal Paul RichanrP°«;fth ° M"J'.sten.0 .e a Vida dos Presbíteros ...
l-nuis lean Guvot- Sôhre° 286
^bnls1eno e a Vida dos Presbíteros...
Alexandre Ch.^Renard- Sfihr^n'm" 0*-6-a Vida dos Presbl'teros ----- 288
Cardeal John C. Heenan- Snh MT.lsten? e a Vida dos Presbíteros.. 296
Cardeal Agnelo Rossi- Snh ^ ?,.^}m!sterio ea Vida dos Presbíteros 300
Cardeal A uS inB ea- Sôbre o 303
6 3 Vida dos Presbíteros..
304
306
Pároco Thomas Falis: Sôbre o MinTs^éHo e 1 ’^ ° L s^ íesb T ero s:! 317
320
índice Analítico dos Cinco Volumes

O presente índice analítico dos cinco volumes foi elahnraHn por Frei
Edmundo Binder, O.F.M . (os quatro primdros l o S S) e pelo Sr.
Lpnraim Alves (o quinto volume).
Abade, direito de pontificar II 155. “Ambulate in dilectione”, breve pon­
Aborto, IV 222; tifício, suspende excomunhão
— crime nefando V 164; lançada em 1054 V 489.
— reprovável V 149. América Latina IV 292s;
Absolvição entre Roma e Constan­ — condições para o trabalho pas­
tinopla V 486. toral V 460;
Ação Católica II 237 III 103 139 188 — linhas fundamentais do aposto­
IV 35 127ss 136s 140 142-147. lado V 462;
Ação missionária papel específico — situação V 459.
dos leigos V 268. Amor conjugal, dignidade IV 275.
Ação social IV 147; Angelismo IV 145.
— necessária nas missões V 268. Anglicanos III 379s; validade das
Acatòlicos, no Concilio II 205s; co­ ordenações III 401 ss.
munidades III 57s; vínculos co­ Animismo IV 27 90.
muns III 59s. Anjo da Guarda, doutrina comum
Acólitos em vez de diáconos III 166. I 81 s.
“Ad Gentes”, Decreto sôbre a ati­ Ano Litúrgico, reforma III 184ss.
vidade missionária da Igreja, ela­ Anti-semitismo III 262s, IV 79s 86;
borado pela Comissão missioná­ — III 313s;
ria preconciliar I 130, conciliar — causas verdadeiras III 314.
II 57 e complemento III 392: Antigo Testamento III 262; impor­
— os esquemas preconciliares I 234; tância IV llls.
o debate preconciliar I 193-197; Antropologia cristã IV 230;
— apresentação dum nôvo texto à — deve fundar-se na S. Escritura
3* Sessão IV 299, com* parti­ e Tradição V 95.
cular recomendação de Paulo VI Apostolado dos “afastados” (v.) 1
IV 299s; o acre debate IV 301 ss 202;
e o trágico final IV 314ss; — âmbito IV 127;
— o nôvo texto apresentado à 4- — base da vocação IV 138;
Sessão V 242 e seu debate con­ — categorias IV 135;
ciliar V 244ss; — do “céu”, do “mar”, dos turis­
— emendas e votações V 394ss; tas I 202;
— ponderação dos Modos V 398ss. — colonialista III 167s;
— sua promulgação V 400; — para conversão III 359s;
— texto definitivo em Documentos — definição IV 144 334;
do Vaticano II 345-394. — desvirtuamento II 20s;
Adoção, prática recomendável V — dever do católico III 53s;
154. — diálogo com todos os homens
Advento, importância II 154. — essencial à vida cristã IV 144s,
Afastados I 202 III 343 IV 387. IV 128S’ . . . M,
— farisaísmo e saduceísmo II -0s;
Aggiornamento II 188 308ss 15s 257 — formação IV 131;
323ss IV 17 219 255. — meios modernos I 139;
Agricultura, desamparo; conseqiiên- — métodos e meios novos I
cias V 208;
— extensão, importância V 207, — poção IV 129;
544 índices

— objeto IV 146; — missão IV 114;


— da oração IV 45; — múnus de pregar IV 98.
— perigos II 19s; Arcebispos, papel IV 44.
— sentido lato e estrito IV 338; Armas, atômicas IV 31Sss.
— vocação universal IV 128; Armas de dissuasão, posse e uso
Apostolado dos Leigos cf. “Aposto- V 230.
licam Actuositatem”; 1 215ss; Armas nucleares, o simples possuir
— amplitude IV 134s; não é ilegítimo V 226.
— aspecto missionário IV 138s; Arquivos eclesiásticos, I 172.
— aspecto temporal IV 139; Arte moderna, ressalvas I 173.
— feições características IV 145s; Arte sacra, I 172 197 III 218;
— finalidades IV 135; — “anciila Liturgiae” II 156;
— formação apostólica IV 145; — normas II 153;
— formas IV 131;
— fundamento teológico IV 131-140; — tradição II 155.
Artistas, mensagem do Concilio V
— colaboração com a Hierarquia 511.
IV 146s; Assistentes Eclesiásticos, IV 44;
— relação com- a Hierarquia IV — IV 151.
150s; Associações, dos fiéis I 213.
— índole comunitária IV 132; Associações Internacionais Católi­
— modalidades IV 135; cas, IV 147.
— motivos IV 132; Associações Sacerdotais, importân­
— múnus específico IV 128; cia V 290.
— dois objetos IV 148;
— omissões cometidas IV 143; Ateísmo, III 114 IV 218 220 223;
— Secretariado IV 144s. — causas IV 206;
“Apostólica Sollicitudo”, motu pro­ — frutos IV 239;
prio que institui o Sinodo dos — militante III 343 IV 213s.
— causas — remédios V 105;
Bispos V 438.
“Apostolicam Actuositatem”, Decre­ — Vcausas 97;
— resposta ao ateísmo
to sôbre o Apostolado dos Lei­ — condenar a doutrina, respeitar o
gos, elaborado pela Com-issão do
Apostolado dos Leigos precon­ — ateu V 124;
declaração ou capítulo separa­
ciliar 1 133, conciliar II 59 e seu do V 108;
complemento III 392:
— o esquema preconciliar I 235 e — devia 122 ;
ter esquema especial V
seu debate preconciliar l 215-
218; — formas — causas — remédios —
— a história do texto IV 124s, apre­ ação da Igreja V 103;
sentado ao debate da 3® Sessão — marxista V 76;
IV 125; o amplo debate IV 126- — reexaminem-se os métodos pas­
153; torais V 1 1 1 ;
— novas emendas apresentadas ao — remédios convenientes V 115
sufrágio durante a 4® Sessão V 123;
357 ss; — como salvar a humanidade do
ponderação dos Modos e últi­ ateísmo V 102.
mas correções V 361; Ateus, diálogo cristãos-ateus é di­
— promulgação V 363;
texto definitivo em Documentos — fícil V 124;
o diálogo com os ateus comece
do Vaticano 11 521-557. a partir do honrem V 131.
ApostoKcidade, sacramento IV 114. Afrwtede doutrinária, prudencial II
Apóstolo,
204. animado de fé viva V
Apóstolos, delegados de Ci Atividade humana, sua relação com
mestres como Cristo; emb, aV 98;
chegada do Reino de Deus
dores de Deus II 9s; — significado, valor V 128.
fundamento da Igreja III 71 Ativismo IV 336,
índice Analítico dos Cinco Volumes
545
Auditores leigos, III 20 38 154 — membro nato do Corpo Epis-
176s; copai III 208.
— IV 12 294 326 338. missão pastoral I 2 0 1 ;
Automobilismo, IV 222. — missionários III 250*
Autoridade, crise atual II 359; — modéstia III 68.
— sacramento da paternidade di- — múnus III 95 IV 98 163
vina V 24. — nomeação III 248ss IV 45 55s-
Autoridade mundial, exigência do — particularidades III 237s
bem comum universal V 227. — paternidade II 243.
— vida de piedade II 290;
Batismo, adultos II 137; — pluralidade IV 54;
— das crianças IV 105; — pneumáticos IV 285;
— inserção na Igreja III 48; — pobreza III 193;
— laço de união dos cristãos II — pobreza IV 214s.
— podêres III 227 230 235 237
321 s ; 240 246-249;
— rito III 127. — relações com Cristo e aIgreja
Bem comum, IV 75; III 68 .
— essência V 38. — relações com a Cúria Romana
Bênçãos, reservação III 340. I 186s III 235s 241 s;
Benefícios, IV 157. — relações com o Papa III 238s;
Benefícios eclesiásticos, I 172; — relações com os párocos I 187:
— conceito medieval IV 44 159; — renúncia III 261s 266-269;
— revisão IV 162 169. — responsabilidade ecumênica III
Bens, distribuição IV 296s. 405.
Bible Society, IV 118. — fonte de todo sacerdócio III 110;
— sagração III 133;
Bíblia, assunto interconfessional II —
323s; dever de santidade II 288 350s
— autor principal: Deus II 25; III 214;
— colóquios IV 82; — promotor da santidade III 199.
— difusão IV 118 123; — sucessão apostólica II 11 238
— falhas hurroanas IV 108s; III 63s 110 123;
— historicidade IV 111; — teólogos IV 285s.
— leitura irrestrita IV 114 118; — testemunha de Cristo IV 52.
— movimento bíblico 25; — tríplice tarefa II 27ls.
— núcleo querigmático IV 18; — vocação pastoral II 346.
— relação com Tradição e Magis­ — Bispos auxiliares 1 200 111 260s 270;
coadjutores 1 200 III 260s;
tério Eclesiástico IV 104; — curiais III 253s;
— nôvo texto III 386s; — expulsos III 269;
— tipologia III 41. — não-residenciais 111 273;
Bibliotecas eclesiásticas, I 172. — nativos III 273;
Binação, nos dias úteis II 128. — resignatários 111 265s 279s;
Bispo, cf. “Christus Dominus”; — suburbicários 111 274 291 s;
— atribuições III 256; — titulares II 242 III 140 231.
— autoridade V 471; Bispo auxiliar: atribuições III 274s.
— chefe na diocese II 348. Bispos auxiliares: missionários III
— colaboração II 287s; 280
—■ colegialidade I 201s II 233; Bispo auxiliar: residencial III 26b
— compulsória III 265ss 271 s ; 273s.
— conceito nôvo III 113; jos titulares: 111 269;
— dignidade segundo São Paulo direitos III 281;
II 288s. posição jurídica III 2Wi:
— função missionária III 82; problemas III 272s.
— herança apostólica IV 102; sil, tarefa da Igreja. \V 5-4-
-fé 1,1 353‘ , *04
43
— infalibilidade III 84; diário, atuahzaçao II
— intérpretes de Deus I 7;
— idosos III 237 267. 145;
índices
546

... comutação II! D2s; Catecismo, didática do ensino re­


— essencial II 146; ligioso I 203s.
— “horas" principais II 105 142s; Catecumenato, cerimônia facultativa
— menos “formalismo” quanto às V 270.
“horas" II 146; Catedrais, problema pastoral IV
— importância doutrinai, espiritual 157.
e ascética II 140s; Catequese, baseada na Escritura II
— modo de rezar II 138; 121.
— necessidade para a vida sacer­ Catequistas, IV 307;
dotal II 144; — IV 312.
— obrigatoriedade das horas II Catholic Emancipation Act, IV 73.
147; Catholic Relief Services, IV 297.
— oração pública da Igreja III Catolicidade, noção III 354;
163s; — noção IV 238;
— "péssimos formalismos” II 138; — unidade na diversidade III 57.
— razão de ser II 143; CELAM, I 186 IV 52 91 s 166.
— reforma II 141 III 163-170; Celibato, II 29;
— das religiosas II 137s; — III 101 105 HOs 122 125s 211
— tríplice II 145; 402;
— vernáculo II 142 146 III 171 — IV 169;
178s. — IV 364;
Budismo, IV 79 89. — IV 397;
— carisma V 278;
Cabido Metropolitano, III 300. — dispensa IV 364;
Calendário, comum II 110; — impasse entre carisma e lei V
— fixo II 147 150; 292;
— perpétuo I 208 II 150 156 III — psicose IV 268;
185 193; — sacerdotal V 304.
— dos santos II 106. Cerimônias, breves e simples II
Calvinistas, III 343. 157.
Canto gregoriano II 155ss; Cesaropapismo, III 337.
— popular religioso II 155s; “Christus Dominus”, sôbre o múnus
— sacro nas missões II 154. pastoral dos Bispos, elaborado
Canonização, descentralização IV pela Comissão dos Bispos e do
Govêrno das Dioceses preconci­
— favoritismo IV 201. liar I 119, conciliar II 53 e seu
Cânon dos livros inspirados IV complemento III 391:
105. — esquemas preconciliares I 230;
Capela Sixtina, destino II 316. debate preconciliar I 184ss;
Cardeais, pertencem à Igreja par- — primeira apresentação ao Conci­
ticular de Roma III 242 lio III 226 e seu amplo debate
Cardinalato, III 115. durante a 2’ Sessão III 228-301;
Car!d*de» a!rna do Coroo Místico II — o debate complementar da 3*
203;
— centro e fundamento do Cor Sessão IV 42-56;
ho V 249; — emendas e votações durante a
— graus III 221; 3’ Sessão IV 446-452;
— mandato II 227; — novas correções e ponderação
-- valor escatológico IV *>\ dos Modos durante a 4a Sessão
Carismas, I I3s 19 21 27- “ ' V 364-368;
“ §J7.125 139 159 172s’ 182s — promulgação V 368-
— texto definitivo em Documentos
~ IV 233 336; do Vaticano II 397-429.
— celibato UI I25s. Cidade terrena, IV 215s 219 224
Carisma da inspiração II 1R7 233ss.
Ciência, IV 247;
Castidade,ínternationalis,
Cantas I 204 ; IV 242 s‘ -^ dignidade, ^valor moral V 185.
— “tabu” IV 364. Ciências positivas, consequências do
seu surto V 181.
índice Analítico dos Cinco Volumes
547
Cinema, II 205 209.
Círio pascal, simbolismo II 300. H4siment°S escriturísticos III
Cisão, causa IV 182 185. — argumento patrístico III 85 -
Civilização, alicerces: verdade e li­
berdade II 302; — argumentos patrísticos 111 ’ 145s-
— apostasia IV 232s; argumentos teológicos III I46s-
— aspecto prático ÍII 69*
— técnica V 78. — assistência III 102;
Civilizações asiáticas, problema IV — atribuições III 201 s;
326. — base escriturística III 28 40s 70s
Civil Right, IV 254. 85s;
Classes sociais, IV 281. — “coletivismo” III 117;
Clausura, IV 333. — competência ordinária Ui 24;
Clericalisnio, II 205; — conceito III 208s;
_ d 233; — conceito central do Concilio III
— IV 127ss 134 139s 140 144 152. 294;
Clero, atualização IV 238; — “Conselho Apostólico” III 247;
— diferenças sociais IV 170; — Conselho Episcopal III 107;
— diocesano IV 50s 350; — Conselho permanente III 76s:
— diocesano: relação com o estado — Cooperação com o Primado III
de perfeição IV 368; 76;
— distribuição I 168s IV 46 106 — co-responsável III 16.
157s 161 381; Colégio dos Bispos, corpo consul­
— distribuição, problema urgente V tivo III 248.
311; Colegialidade, critério teológico III
— doentes IV 159; 258;
— formação III 387 398 IV 166 347s — críticas III 95s;
350s; — debate III 17;
— nas missões I 194; — dificuldades IV 405s;
— nacional IV 309; — de direito divino III 108 209:
— nível cultural IV 169; — doutrina IV 398;
— nomenclatura III 223; — doutrina 141-143;
— determinações tradicionais sôbre — doutrina e prática III 121 129
ordenação I 169; 393*
— pobreza IV 158 161: — dúvidas III 63 102;
— questão econômica IV 164ss; — elementos jurídicos III 120s;
— remuneração IV 161 s ; — execução prática III 249;
— problema da repartição V 302; — fatos evangélicos III S9s;
— santidade sacerdotal I 169; — fontes teológicas III 12Ss;
— modo de trajar V 315; — fundamento bíblico IV 12;
— vida comum IV 159. — fundamentos doutrinais III 73 82
Coadjutores, III 265 267s 272. 101;
Código de Direito Canônico, revi­ — fundamentos escriturísticos: o
são IV 125. Colégio dos Doze III 70s;
— “mais luz” II 238;
Código de Direito Canônico Orien­ — meios III 76;
tal, III 379. — mútua colaboração III 136;
Colaboração de católicos com mem­ — natureza III 140;
bros de outros credos V 222; — natureza IV 312s;
— condições IV 247s; — nota praevia IV 355ss;
— diretrizes IV 250s. — novidade IV 397;
Colegialidade, III 67s 72s 108 122; Dbjeções III 209s;
— II 244; Dbjeções IV 406;
— II 233 244 264 287s 312 345; Vgão central supremo^ III
— III 11 31 s 33 67 81 llls 114 je origem divina III 64s Uh*,
128 131; ‘perigos” III H7;
— IV 301s 398s; lertinência III 84;
— ambigüidades III 125; ->oder conjunto sobre toda
— âmbito III 44; greja III 74;
548 índices

— prática III 135* — crônica da II sessão plenária I


— provas históricas IIM16; 166ss; crônica das III a VII ses­
— prova jurídica III 77s; sões plenárias I 200ss;
— questão dos cinco pontos III 233s — — deveres 161;
264s 281 s; n — instituição I 57;
método de trabalho I 164s;
— relações entre papa e bispos II — presidida pelo papa I 52;
247;
— restrições III 84 I03s 107s 113 — primeira reunião 1 74s;
— critério de representação I 117;
llfiss 121s 126 255ss; — volume dos trabalhos I 220s;
— sacerdotal III 91; — central pré-conciliar: clima fra­
— sacramentalidade IV 114;
— sentido estrito III 118; ternal I 184;
— sentido teológico III 286s; — última reunião I 103;
— verdadeiro significado 111 296; — Cerimonial I 135;
— sucessão apostólica III 122s 130 — de Coordenação II 346;
240; — da Disciplina do Clero e do Po­
— Suprema Conrregação Central III ço Cristão 1 120s;
246s; — da Disciplina dos Sacramentos
— "supremo poder” III 68s; I 123s;
— territorial III 282; — dos Estudos e Seminários I
— na Tradição III 85s; 127ss;
— união na fé e na caridade III — das Igrejas Orientais I 128ss;
135; — Litúrgica: trabalhos III 79s;
— urgência (II 257; — das Missões I 130s;
— vantagens práticas III 83; — “patriarcal” IV 149;
— no Vaticano I (II 294s; — dos Religiosos I 122s;
— vínculo da caridade II 237; — da Sagrada Liturgia I 125s;
— votação global IV 413s; — Teológica I 118s;
— votações IV 398ss 407ss; — descontentamento III 340;
— “vox litigiosa” III 349; — estreiteza de espírito II 181;
— vozes contrárias III 143s. — exorbitâncias III 251 s ;
Colégio dos Apóstolos II 244. — exorbitâncias III 253;
Colégio Apostólico, I 7; — exorbitâncias III 233;
— III 30 41 93s. — pretensões III 255;
Colégio Carditialício, III 248. — serva, non magistra III 249.
Colégio Sacerdotal, cooperador do Comissões Conciliares: eleição II
76 80s 84s 87 94;
bispo V 308. — novos membros III 391 s;
Colégios, ineresso IV 324. — membros III 339;
Coletas, comuns III 353. — número de membros III 340;
Coletivismo, V 43. — processo II 285s;
Colonialismo, I 27 IV 309; — regime II 274s;
— espiritual III 167. Comissões particulares: critério de
Comércio, aspecto moral IV 222. competência I 117;
Comissão: Comissões Conciliares: Comissões pós-conciliares, II 163;
composição II 51 ss; — instituem-se pelo motu proprio
— antepreparatória:
49ss 54s; seu trabalho 1 “Finis Conciiio” V 517;
anúncio, encargo, membros, pri- — III 408.
Comissões pré-conciliares: compo­
S reUnÍâ0’ trabalhos. a^s I nentes I 143ss;
~ ?33sÃpostolado dos Leigos 1 — instituição
— I 54ss;
instituição I 14;
— Bíblica IV 114 - — inauguração e andamento dos
trabalhos I 61 ss 64;
Comissões
~ SkSfp.íWf Ooví,"°
Central: composição l 161s* I 56; preparatórias: instituição
— cnteno de competência 1 162- — instituição e número 1 52;
— volume dos trabalhos 220s;
índice Analítico dos Cinco Volumes
549
— início, trabalho especifico, orga­
nização I 11Gss; {Hova da vitalidade da Wreja
Comissões de revisão II 203. extremeis do paradoxo autorida-
Comunhão dos enfermos 11 123; de-hberdade II 82s;
— sob duas espécies II 104 122s celebração soiene da união de
128s 131s ; u;isto com sua Igreja II 307;
— sob duas espécies III 88s; — IV
— higiene II 126; do IConcilio
165; nacional de Tole­
— na missa III 88; — de Trento I 62.
— participação integral II 121. Concilio Vaticano I, I 8-
Comunicação Social, IV 87; — índole I 62;
— escolas II 208; — subcomissões I 55.
— fins recreativos II 209; Concilio Vaticano II, solene aber­
— Meios: decreto: votação e pro­ tura II 33ss 305ss 316;
mulgação III 475ss; — Acta et Documenta Conciiio Oe-
— Meios II 197ss 202; cumenico Vaticano II apparando
— Meios III 285s;
— Meios IV 279; — 1primeiro
! n ?; anúncio I 35s;
— pessimismo II 205; — anúncio I 48s 87;
— “ius ad vitam privatam” II 203s; — anúncio I 11ss;
— discussão de projeto II 198s; — anúncio aos dirigentes da A. C.
— ressalvas II 210; I 39;
— tema nôvo II 205; — aspecto ecumênico I 19ss 241ss
— valor missionário II 209. II 317 III 26 50s 194;
Communicatio in sacris, III 337 371 — aspecto pastoral V 62;
385s 398; — aspecto social II 317;
— IV 174s 183. — aspecto teológico III 393;
Comunidade, IV 214 334; — assunto I 59;
— das Nações V 61. — assuntos I 116s;
Comunidades eclesiais, IV 118; — atenção II 347;
— natureza III 325 381 404. — ato de amor V 5s;
Comunismo, IV 99 215 223s 232 — tríplice ato de amor V 432;
239s 396; — atualidade V 7;
— IV 325; — aula conciliar II 36ss;
— falso e mentiroso V 127. — caráter litúrgico II lOOs;
Comunitarismo, IV 296. — carta do papa aos Romanos 1
Concelebração, liceidade III 99s; 91 s;
— motivos internos II 123; — novas categorias mentais III 13;
— para padres doentes II 122; — centro real da Igreja I 75;
— ressalvas II 126; — colegialidade III 294s;
— em ritos diferentes IV 189s. — condições de sucesso I 2Sss;
Concilio, caso típico divino-huma- — “consciência pós-conciliar*' V
no II 29; 47°;
— significado do têrm*o ecumênico — Conselho de Presidência II 46ss;
I 242s; — é Concilio pròprianvente dito I
— histórico I 61 ss; 14;
— lex credendi: índole dogmática — convocação I 87;
I 62; — cunho missionário II 301;
— Magistério Universal extraordi­ — cunho pastoral II 91 162s;
nariamente reunido II 12 26 29; — cunho pastoral III 26 83 91 194
— modêlo At 15,1-22 II 346; 206 257 334 341 390 393s;
— noção I 7s; — cunho pastoral IV lis 29 4t>
— objeto de fé teologal II 24 29 53; ,
69; — cunho sobrenatural I 63 /3
— objeto de fé teologal III 12s; — cunho universal II 349;
— origem III 121; _ cumprir-se-ão suas decisões
— função do papa I 224;
— poder colegial III 77s; _ 445;
desígnio divino II 306,
530 índices

— diatribes IV 91 s; — momento histórico I 30s;


— dificuldades I 207; — normas de trabalho II 260s;
— disciplina e liberdade II 4b; — Observadores e Hóspedes não-
— discurso de abertura da IV bes- Catóiicos II 65ss;
são V 430; . — oportunidade II 308;
— alocução de despedida V 50o, — oração pelo Concilio I 60;
— disparates III 166; — oração pelo Concilio I 77 88
— lista dos documentos V 4 II 287 III 488 IV 596 599;
— problema da duração IV 12; — organização administrativa II
— Breve de encerramento V 51b; 46ss;
— entusiasmo, problematicidade, — seu papel V 235;
realização V 447; — participantes II 273;
— epifania do Senhor IV 7: — nôvo Pentecostes II 333;
— “espírito novo” III 204; — nôvo Pentecostes UI 13 49;
— afirmação de espiritualidade I — perigos do período pós-conciliar
188; V 319;
— ato de fé II 330; — pessimismo II 176;
— fim pastoral IV 369: — prenúncios I 8s;
— finalidades I 15 17s 62s 170; — prenúncios I 55;
— finalidades II 35 88 116 141 161 — preparação II 299;
271; — preparação remota I 22ss;
— finalidades III 17-20 393; — programa de trabalho I 86;
— finalidades IV 39; — número de propostas e suges­
— finalidades I 188; tões I 54;
— finalidades principais I 15ss; — seu “punctum saliens” II 310
— finalidade precípua I 30; 342s;
— formas de cooperação 43s; — qualificação teológica III 9üs 140
— frutos a esperar 11 298; 390 V 519s;
— frutos II 333; — questões novas II 281;
— surpreendente dom da graça II — razão de ser II 300;
307 338; — regulamento II 271;
— o mais grandioso II 272; — regulamento: modificações III
— idéia espontânea I 39; 23s IV 13s;
— três idéias-fôrças III 106; — meio de geral renovação I 213;
— solene indicção I 83; — repercussão I 92;
— impressões de bispos brasileiros — repercussão II 348;
II 355ss; — como responder às suas exi­
— fixação da data de início I 89; gências V 529;
— início lento II 331; — resposta de Deus ao Mundo
— inspirado II 271 320; II 318;
— interêsse universal I 94; — resultados da primeira fase II
— língua oficial I 74 II 279; 265ss;
— magistério pastoral II 313; — reuniões: quando e onde II
— mensagem à Humanidade II 85s; 277s;
— mentalidade nova II 206; — “Sensus Ecclesiae" II 176;
-- mentalidade universalista I 51 s; — serviços técnicos II 37s;
— metas I 66 75s 86 243; — encerramento da primeira ses­
— meta 11 307s 317 326 342* são: discurso do papa II 330ss;
— m e ta IV 81 1 6 5 ;
— nôvo método de trabalho III 408; — sigilo II 169 175 279 347 IV 12;
— questões de método II I 77s; — sigilo: modificação III 20;
~ í ^ da-n<ía de mentalidade U 195s* — sigilo: não-observância II 76;
— sigilo: problema II 73;
?5nSne%,fiXtraordinárias:
çao 11 316ss; sauda: — sigilo: suspensão III 7;
— lentidão II 114 ; — sinais II 299s;
hherdade e seriedade II 114 - solicitude pastoral II 203s;
- missao_ princinal: defesa e và- ~~ n^3oi° dos problenias humanos
lonzaçao da verdade II 309; duas tendências II 78;
índice Analítico dos Cinco Volumes
551
_tensões III 216s;
_ valor religioso V 494; — r e g im e II 2 7 4 ;
__ sistema de votações V 343. - - r e p e t iç õ e s III 2 1 9 .
Congressos Ecumênicos, III 3 1 0 326
Concílios plenários, valor jurídico Consciência social, fenômeno ea-
III 280.
Concordatas, IV 62. r a c te r is tie o a tu a l V 2 0 6
Consecratio Mundi m is s ã o p r in c i-
Condição humana, jovens, operários,
3V mundo V 82. p a l e p r ó p r ia d o la ic a to III 158
1 6 0 16 8 1 7 4 s 177 2 0 5 ;
Conferências Episcopais, III 87 228 la d o m o r a l IV 1 7 0 2 0 7 3 0 6 .
231 248; —
Conselho
— alcance III 95; IV 161.Administrativo Diocesano,
— atribuições II 103 137 151; “Conselho Apostólico”, III 247
— atribuições III 134 280s 284 297; Conselho de Bispos, III 234s.
— atribuições IV 21 44; Conselho Central de Evangelização,
— forma de exercício da Colegia­ IV 304s.
lidade III 229 282; Conselho Ecumênico das Igrejas,
— forma de descentralização III exclui as seitas fanáticas V 33.
287; Conselho Mundial das Igrejas, I 238
— maior competência II 111; II 323 III 380s 389.
— mais faculdades II 108; Conselho de Paz, institua-se junto
— finalidades I 186; à Santa Sé V 231.
— flexibilidade III 277s 286 289; Conselho de Presidência, II 76.
— histórico I 185s; Conselho Supremo da Igreja, III
— “nacionais” III 282; 242s.
— necessidade III 278; Conselhos Evangélicos, 111 19Ss 206s
— nomenclatura III 288s; IV 333s.
— órgãos intercontinentais III 228; Conservadores, II 157 193s 239s.
— participantes III 289; Contrato Matrimonial, é o que cons­
— ação pastoral III 231; titui o Sacramento V 148.
— forma moderna dos Patriarcados Conversão, elementos IV 309s;
históricos III 243; — individual III 359.
— podêres II 159; Convivência, IV 213.
— podêres III 233s 277; Corpo Místico, III 181 361;
— lado prático III 284; — III 352;
— princípio teológico III 283; — IV 119 134;
— provinciais III 284; — alma: caridade II 263;
— questão jurídica III 288; — âmbito II 232;
— responsabilidade litúrgica II 166; — aspecto distintivo III 48;
— ressalvas III 281; — carismas III 172s;
— valor jurídico III 278; — “identidade objetiva” com a
— valor moral III 286. Igreja II 237;
Conferências de Superiores, IV 335. — interdependência IV 25:
Confissão, nova fórmula II 137. — nota social I 63.
Confraria da Doutrina Cristã, IV Corredenção, IV 41.
55. Corrida armamentista, condenável
Confucionistas, IV 79. V 113.
Congregação Geral, âmbito II 73s. Criação, dignidade IV 222;
Congregação Oriental, III 297. — natureza do dogma; importância
Congregação de Propaganda Fide, V 125.
IV 304; Crisma, I 175s;
— deve ser renovada V 269; — administração II 13b:
— reorganização V 267. — administração III 266; IV 369;
Congregação dos Seminários, refor­ — administrada pelo pároco
ma IV 363. — para adultos II 133; leigos
Congregações, modos de proceder — idéia do apostolado dos
II 133;
III 253.
Congregações Gerais, processo II — fundamento teológico III 140
283s; 174.
552 índices
Cristãos, no mundo IV 235s 242; Cultura clássica, não se valorize
demais V 182.
— número e divisões 1 24ls. Culturas, embate IV 287s;
Cristianismo, IV 232 247; — locais IV 308.
— catolicidade II 108; Cúria diocesana, reforma IV 51.
— mensagem de verdade, justiça e Cúria Romana, atribuições UI 229;
caridade II 317*
— sentido social e comunitário II — 244 críticas II 159 210 227 238 24ls
245 257;
302.
Cristo, ação direta na Igreja II 21; — defesa III 246;
— funções leigas III 253;
— cabeça III 42; — internacionalização 111 229;
— único chefe da Igreja III 74;
— domínio universal IV 206s; — maquinações UÍ 227;
— fundamento da Igreja III 58 85; — pretensão III 233;
— legado do Pai II lOs; — reforma 111 234s 239s 254 265.
— luz das gentes II 305;
— único mediador II 272; Decretais, IV 185.
— único mediador IV 26s 39; Decretos, lista dos projetos antes
— Atestre enviado do Pai II 9; do Concilio I 229ss.
— mistério da unidade III 363; Decretos Disciplinares, oportunida­
— algo nôvo na história do mundo de II 29.
V 80; Deicídio, IV 79s 82s 84 87 220;
— nos pohres III 57; — a questão da responsabilidade da
— Rei II 344; morte de Cristo III 313s.
— ressurreição — alcance univer­ Deismo, I 181.
sal V 93* “Dei Verbum”, Constituição Dogmá­
— é “revelação” II 174 179 192 tica sôbre a Revelação divina,
IV 100; elaborada pela Comissão Teo­
— sacerdócio único V 313; lógica preconciliar I 118 e con­
— único Sacerdote III 77; ciliar II 52 (e seu complemen­
— salvação para todos II 349; to III 391):
— sinal de contradição II 307; — esquenta preconciliar “sôbre as
— seu triunfo, ideal do remido I fontes da revelação” I 168, apre­
44; sentado à D Sessão II 161 e
— vida da Igreja II 248. violentamente debatido II 162-
Cristocentrismo cósmico IV 217 219 196;
227s. — reelaborado IV 93ss, foi apre­
Cristologia, III 189. sentado à 3* Sessão IV 95 e de­
Culto, adaptação regional II 156; batido IV 96-123;
— atos externos IV 19; — emendado e votado na 4" Ses­
— disparidade IV 384; são V 343ss;
— “espectadores mudos” II 165; — ponderação dos Modos V 348;
— marial IV 25 144; — texto definitivo em Documentos
-• pompa e esplendor II 153-155. do Vaticano II 115-133.
Cultura, II 314 IV 323s; Delegados não-cristãos, reclamados
— ambivalente V 183; III 28.
— bases IV 279: Demônio, IV 216.
— formas IV 307; Depositum fidei, I 180s II 342;
— importância da liistória V 179 - — definitivo II 14;
re‘a ordem dos valôresIV280s; — fontes de integridade II 350*
participação
moçao V 182;dos fiéis nasuapDro- — transcendência IV 98;
— Perigos IV 287- — substância e formulação II 310
— pluralidade IV ’281s; 323.
~~ 187^re^a ace,ta 0 Pluralismo V Desenvolvimento, 4 princípios ge­
rais V 205.
posição da Igreja V 174* Desunião, origem III 366.
reta Promoção IV 278; ’ Deus, existência I 180s;
va'or* importância V 177. — paternidade IV 87
Diaconato, III 140 211 IV 185 414;
índice Analítico dos Cinco Volumes
553
— celibato III 122;
— com celibato III 63s 124 126 — prudência IV 120;
130s 136; — ressalvas III 307;
— conveniência I 176 III 103; — tipos IV 322.
Dias santos, redução II 154.
— de direito divino III 69; Dignidade
— doutrina e prática III 121; da pessoa humana IV
— estado eclesiástico III 157s; 243 261 324.
“Dignitatis Humanae”, Declaração
— exemplo: S. Francisco de Assis sôbre a liberdade religiosa, ela­
III 104; borada pelo Secretariado para
— formação III 122; a União dos Cristãos I 140, 11
— função eclesiástica independen­ 59, 111 392 (veja-se em III 89
te do sacerdócio I 176; sua competência conciliar):
— graça sacramental III 82s;
— modalidade III 125; — debate preconciliar I 218;
— primeira apresentação ao Con­
— necessidade condicionada III 83; cilio III 315-323; debate gené­
— necessidade pastoral III 70; rico durante a 2’ Sessão III 308
— oportunidade III 114; 331 332 336;
— permanente III 104 209 301; — segunda apresentação ao Conci­
— ressalvas III 63 75 101 109 114- lio IV 57-60; primeiro debate
117 123 129 136; conciliar sistemático IV 60-76;
— grande remédio III 104s; dificuldades da 3* Sessão IV 77s;
— restauração III 56 81 92s 110 — terceira apresentação ao Conci­
147s IV 397; lio V 12-15; segundo debate con­
— sacramento III 69s 92s 104 110 ciliar sistemático V 15-55;
125 130; — votação de sondagem V 56:
— urgência III 115 125s 134; — quarta apresentação ao Conci­
— valor prático III 91. lio V 387s; emendas e votações
Diaconia, III 39 90 104. V 388-392;
Diálogo, IIÍ 12 304s 333; — últimas correções e ponderação
— IV 217 239s; dos Modos V 392s:
— IV 164 206 230 236 349; — promulgação V 393;
— com os acatòlicos II 319ss; — texto definitivo em Documentos
— base III 342; do Vaticano II 595-611.
— entre* os bispos III 367; Diocese, III 97 284;
— caráter familiar III 384; — bens III 299;
— caráter oficial no Concilio II — definição IV 49;
323* — delimitação I 85;
— com a ciência III 348 IV 238; — divisão III 298;
— clareza III 331s; — ereção e supressão III 300;
— clima de paridade III 398; — família III 272;
— colóquio sobrenatural III 334; — govêrno III 261;
— competência III 354 357s; — inconvenientes I 185;
— doutrina IV 132; — missionária IV 30S 313;
— duplo III 403; — noção III 256:
— fatores IV 246; — origem apostólica I 184:
— com as igrejas III 365; — pequena III 292;
— método III 364; — pessoal 111 289 298ss 305s;
— da Igreja com os homens V 87; — reflexo da Igreja Universal IV
— com o mundo moderno III 19; 51;
— natureza III 304s; — regime III 292;
— natureza IV 200s; — supressão III 298;
— noção IV 248; — vacante III 268s;
— onde fazê-lo III 334; — valor III 297s;
— orientação III 327; — vitalidade III 291.
Direito Canônico, comissão de re­
— perigos III 307s;
— permanente III 310; visão IV 12;
— premissas IV 212s; — revisão IV 67;
— protagonistas III 389; — revisão III 256.
Concilio - V — 36
554 índices
Direito Oriental, IV 188. — conceito III 327s;
Direitos humanos, IV 327. — condicionado III 387;
Discriminação Racial, grave proble­ — congressos mistos III 370;
ma V 172. — “consciência ecumênica” III 358;
Dispensa do celibato IV 364. — conselho 1 56s;
Divórcio, IV 274 276s 386. — contactos e amizades II 325;
Diurnos, IV 317. — os cristãos separados III 376ss;
Doação de Constantino, falsa IV — diálogo II 323;
185. . . . — diálogo III 304 349;
Documentos, compilação e distribui­ — diálogo: condições para o co-
ção II 279. lóquio II 180s;
Dogma, III 39: — diálogo: sua natureza II 180s;
— definição II 25; — diálogo: objetivos imediatos III
— evolução I 182; 335;
— imutabilidade 1 237. — diretório III 353 387;
Doutrina, “praxe diuturna” IV 104s; — pontos de divergência III 404;
— Social II 301 s; — esquema: falhas II 181 s ;
— Social IV 148 261; — esquema: problema da redação
— Social IV 261. II 179ss;
Doutrina Social Cristã, crie-se erp — bom exemplo III 388;
Roma um organismo para a di­ — exemplo na vida de João XXIII
fundir V 191. II 320s;
Doze os: — têrmo técnico III 93s. — gradação III 337;
Dualismo, bem e mal II 300: — finalidade III 360;
— platônico IV 218. — fundamentos III 343s 386;
— a grandeza da herança comum
Edesiologia, III 189 325; III 335;
— natureza III 325. — insucessos II 322;
Economia, não é diretamente ma­ — intercomunicação III 363;
téria da alçada da Igreja V 198; — na liberdade religiosa V 19;
— da salvação IV 113s. — limites III 396s;
Ecumenismo, cf. “Unitatis Redin- — ministério eclesiástico III 389;
tegratio"; I 9 12 14 II 333 III — rrvistério III 342;
45s 53 59 93 98 191 220 262s — motivos de atração III 385;
IV 182 185s V 12 50; — movimento ecumênico I 27;
— abertura 11! 15s; — o “movimento ecumênico” I
— ação comum IV 133; 251 s ;
— ação: requisitos III 307; — movimento ecumênico I 242;
— ação variada 111 305; — movimentos fora da Igreja I 20;
— âmbito III 364; — nomenclatura III 306s;
— “amorite” II 195; — normas de ação III 341 s ;
— amplitude IV 85; — obstáculos III 385;
— aspecto evangélico III 387; — papel de Maria SS. IV 32;
— aspecto exegético III 385; — o passado I 22;
— aspecto
367s; missionário III 309 325s — pastoral I 219;
— aspecto realista 111 369; — pesquisa intelectual III 384s;
— aspectos táticos III 396; — perigos III 308s 357 369 386;
— base 111 348* — função do Povo de Deus III
campo social e cultural III 384 160s;
— caridade na verdade ll 169* — preparo III 307;
— catohco: princípios 111 346s| — princípio da caridade III 371;
Z clima
H^braçoes .em comum — princípios básicos III 352 374
ecumênico 1 22s- 111 37: 400;
— problemas reais III 374 381;
— colaboração IV 215s- ’
— colaboração no setor social condições de progresso III 328;
político 111 368 371- — prudência pastoral III 370s;
commumcatio in sacris 111 331 — gestão
331 s; semântica III 306s 325
fndice Analítico dos Cinco Volumes
555
— responsabilidade dos bispos UI
405; sagração e missão canônica III
— responsabilidade pastoral III 372;
— restrição III 353s; ^cu p au o Brasileiro, cart* por
— “retorno”: conversão geral III do
352s; S S V °4 5 7 ni"er' anlen,<)
— revisão dos textos didáticos III do
375; c Õ S 'v
Equilíbrio do terror, não é boa ba-
— ritos II 127; se para a paz V 217.
— romântico IV 119;
— sinal de nossos tempos III 368; Escatologia, III 33 175 190 ?P-
— situação real III 304s; — IV 14 17 214;
— unidade na verdade III 336; — aspecto cósmico IV 18;
— variedade de ação III 368s. — c r ís t ic o - p n e u m á t ic a IV Í7*
— dúplice IV 18;
Educação, cf. “Gravissimum Edu- — exageros II 159;
cationis” ; IV 287 322s; — paulina IV 218;
— aspecto pastoral IV 379s; — triunfante IV 232.
— aspectos locais IV 372s; Escola, ajuda IV 380s;
— de base IV 289; — católica IV 376s; com alunos
— características contemporâneas não-cristãos IV S77s; deficiên­
IV 378; cias IV 377; subsídios IV 380;
— conceito IV 380; — confessional I 210 III 383;
— dever IV 376; — confessional: direito V 34;
— problemas didáticos IV 373s; — confessional: subsídios públicos
— direitos dos pais IV 377 380; V 46;
— espírito missionário IV 373; — importância nas missões V 266:
— fundamentos IV 376; — leiga I 210.
— direito à liberdade IV 66s 257. Escravidão clandestina IV 263s.
Educação Social, a Igreja deve pro­ Escritura, III 50s;
mover uma campanha formativa — alma da Teologia IV U9s 349;
V 192. — autores IV 121;
Emigração, direito V 249. — livro de disputas IV 11S:
Ensino, atualidade da escola cató­ — nova fecundidade IV 333;
lica I 210; — inerrância IV 117ss;
— liberdade IV 46 372 376 38ls. — leitura “espiritual” IV 114;
Enterro, importância da pregação — lugar na liturgia II 121 IV 119;
durante as cerimônias V 313. — realidade litúrgica e profética
Entrevistas inoportunas IV 12. IV 113;
— “fixação da Tradição num dado
Epíclese, IV 113. momento da História” II 186s.
Episcopado, IV 396s; Espiritismo, I 1S2 IV 430-431.
— atribuições III 140; Espírito Santo, ação na Igreja I 7
— considerações fundamentais III IV 266;
236s; — ação na Igreja II 322 345;
— “diaconia” III 238; — ação na Igreja III 41 177;
— de direito divino III 69; — ação na Igreja IV 17 101 134
— função esnecífica III 113; 169 302;
— “funcionarismo” II 244; — ação por carismas III 172s:
— múnus pastoral III 122; — ação no Concilio III 305 324;
— podêres III 121; — ação nos concílios II 13s 193
— posição III 407; ecumênica III 305:
— relações com o papaIII 252; fora da Igreja III 308*
— sacramentalidade I 205; no Magistério Eclesiasfi-
— sacramentalidade III 28 64 109s
112s 115 118 128s 140 208 228s; no .mundo
— sacramentalidade IV 397; • II 0IV 17. 227;
■— sacramento II 209 242;
556 ín d ic e s

— leva à aceitação da palavra de Evangelização, IV 206;


Deus V 245; — anunciar a Cristo crucificado V
— alma do nrinistério sacerdotal V 245.
Evolucionismo, I 181 IV 201.
— 282;
alma do Corpo Místico II 21; Exegese, IV 99 108 115;
— caráter dinâmico IV 105;
— assistência II 20 279 287 III 102 — escopo IV 113;
— assistência nos Concílios II 181 — liberdade IV 120s;
— necessidade da assistência II 20s — método histórico IV 112;
— modalidade de assistência no Ma­ — princípios teológicos IV 112s.
gistério Eclesiástico II 22s; Exéquias, cunho pastoral II 135;
— dirige II 312; — homilia II 136.
— sua fôrça II 315; Explosão demográfica, difícil solu­
— guia II 10 312; ção V 225;
— guia à verdade IV 102s;
— inspiração no Concilio II 15s — a Providência não dispensa o es­
forço humano V 229.
312;
— importância para o Povo de Faculdade Internacional de Forma­
Deus V 94; ção de Religiosos, IV 335.
— princípio da unidade III 354;
— teologia pneumática IV 233. Família, IV 222 227 275;
Espiritualidade sacerdotal, V 285. _ II 33Q.
— cristã III 155 182;
Esporte, importância hoje; valôres — cristã IV 349s; célula fundamen­
V 176. tal da Igreja III 153-
Estado, confessional: tipos V 65; — deveres IV 146;
— missão IV 376; — humana: requisitos IV 255;
— relações com a Igreja V 211 214; — numerosa IV 269 273 276;
— união com a Igreja IV 70. — perigos IV 53;
Estado ateu, que espécie de coope­ — pobre: ajuda organizada em pla­
ração lhe podem dar os fiéis no mundial V 158;
V 212. — três princípios importantes V
Estipèndios, abolição II 122; 162.
— das missas I 213.
Estruturas da Igreja, defeitos V 109. FAO, IV 296;
Estudos Superiores, coordenação IV — elogio V 207.
375. Fé, âmbito II 24s;
“Ética da Situação”, gravíssimo des­ — ato livre V 24;
vio V 119. — conceito bíblico IV 97;
Eucaristia, Ul 53; — erros modernos l 181;
— centro da vida da Igreja III 45 — fundamental para o apóstolo V
47; 264;
— culmen in Ecclesia III 55; — graus de assentimento mental II
— culto 11 132; 25s;
— liturgia comunitária l 26; — integridade I 180;
— piedade eucarística 1 94s; — matizes da fé teologal II 25s;
— sacramento da unidade 111 37 — motivo formal IV 100;
308 354 359 380; — natureza V 40;
— valor da nova encíclica V 33. — profissão II 279;
Eutanásia, III 180. — virtude II 12.
Evangelho, adaptação IV 115; Festas, culto litúrgico II 154;
— “formas” de pregação ll 186; — de preceito: transferência III
— índole histórica IV 108 116s; 184s.
— para todos os homens 11 11; Filosofia, IV 357;
— mensagem aos pobres III 57; — “perene” IV 348;
— oral: escrito IV 115s; — tomista IV 358.
— revelação
to 111 86. do Mistério de Crix
Filosofias da vida IV 279s.
Fome, IV 316s 325 327;
— problema grave e amplo V 207.
fndice Analítico dos Cinco Volumes
557
“Formgeschichte” U 171 175 iv m
117; Grupos religiosos, direitos IV sq
— exageros II 187; Guerra, IV 319 V 61 V 58>
— natureza II 185ss. — condenação IV 321s-
Fraternidade Universal, deve ser de­ contrária ao bem comum da hu
finida V 128. manidade V 246- h
Funerais, “classe única” IV 162. — -------
— defensiva IV 322;
uauaas v
“Gaudium et Spes”, Constituição — defensiva: aceitável, conforme V
Pastoral sôbre a Igreja no mun­
do de hoje, elaborada pela Co­
missão Mista (isto é: Comissão — 317; destruição da Humanidade II
Teológica I 118, II 52, III 391 — distinções V 251;
e Comissão do Apostolado dos — efeitos II 302;
Leigos I 133, II 59, III 392): — seja posta fora de lei V 225;
— crítica ferina V 72s; — ilicitude V 221;
— críticas V 67 66s; — pràticamente injustificável V
— enderêço V 58; 236;
— estilo: atualização V 77; — justa IV 321s;
— fim e método do esquema V — ofensiva: condenável V 230;
68s 76; — ofensiva e defensiva V 232;
— fator da graça V 71; — perigo extremo V 222;
— louvor inconteste V 72s; — total, civil V 229;
— deve ser uma proclamação a ca­ — total: condene-se absolutamente
tólicos e não-católicos V 62; V 231.
— sua origem IV 194ss; sua pri­
meira apresentação ao Concilio Hábito religioso: simplificação IV
IV 198ss; seu debate na 3* Ses­ 337;
são IV 200-328; — talar I 169s.
— sua correção V 56ss; o debate Hagiógrafo. IV 112 116.
na 4* Sessão V 60-241; Hedonismo, IV 216.
— emendas e votações V 408-414; Heresia, II 24.
— ponderação dos Modos V 414- Hinduísmo, IV 89 351.
421; promulgação V 421; História, sentido escatológico IV IS.
— texto definitivo em» Documentos “Hierarcologia”, III 60.
do Vaticano II, 137-252. Hierarquia, III 102 110 159s 179
Gênero Humano, unidade V 116. 230;
Governantes, mensagem do Concilio — conceito III 92;
V 509. — contingente II 233;
Graça, fonte de apostolado II 247; — deficiência humana II 19;
— necessária V 250; — caráter fraternal III 118;
— santificante e deificante III 42; — função IV 130;
— vivida UI 352. — jurisdicista III 236;
“Gravissimum Educationis”, Decla­ — latina III 379;
ração sôbre a educação cristã, — origem III 97;
elaborada pela Comissão de Es­ — questão dos podêres III 1OSs 1-4
tudos e Seminários preconciliar *61 *
1 126, conciliar II 58 e seu com­ lever de santidade III 213s;
plemento III 391: im órgão em Cristo III 76
— sua história IV 370; sua apre­ iem, duplo conceito da vida nu-
sentação ao Concilio IV 371 s ; nana I 44;
seu debate IV 372-382; a vota­ rês condições naturais V / ;
ção de sondagem IV 382; sufrá­ loutrina cristã do homem V l-o,
gio das partes IV 382s; _ volução ad Deum \ ,
— novas emendas e ponderação dos atores que o condicionam atu,
Modos V 377ss; nente V 120;
Tualdade fundamental V yo
q-
— promulgação V 379;
— texto definitivo em Documentos
do Vaticano II, 577-592, Í X o V 4 » “ ^
558 índices
— o que é V 121; — Constituição: qualificação teoló­
— sua realidade V 76; gica IV 353s;
— sentido cósmico IV 214; — a Constituição Pastoral deve ser
— sua unidade IV 267; uma diretiva para a ação V
— vocação IV 228 230 233. 108;
Homília, III 80; — continuação de Cristo no tem­
— complemento da Liturgia II 121; po II 247;
— estudo da técnica é necessário — corpo compacto e unido: obra
V 295; do Espírito Santo I 44s;
— “liturgia da palavra” I 194; — Corpo Místico 1 205;
— em tôdas as missas II 122s; — “cruz” 11 238;
— natureza II 121; — cultura: fundamento ontológico
— parte integrante II 123. IV 286s;
Humanidade, constitui uma só famí­ — problema cultural IV 288s;
lia V 116; — e cultura: pobreza evangélica IV
— visão panorâmica 326ss. 284s;
Humanismo ateu IV 324; — encontro com a cultura IV 283s;
— contemporâneo IV 279; — esquema: debate: resumo IV
— naturalista IV 281. 289s;
Humanização, IV 206. — defeitos na estrutura V 109;
— descentralização II 158s;
Ideologias, IV 210. — descentralização III 229;
Igreja, cf. “Lumen Gentium”; — “desitalianização” II 159;
— abertura para o mundo II 238s — desocidentalização II 158;
III 155; — tríplice diálogo II 243;
— “aberrações” jurídicas II 233; — diálogo com o mundo V 60;
— os afastados III 53; — dimensão escatológica III 32;
— âmbito do seu poder I 218; — diversidade na unidade III 57;
— analogias II 243; — elementos imutáveis e mutáveis
— aspecto pneumático III 177; II 249;
— aspecto político II 237; — “encarnação” nas culturas II
— aspecto semântico III 395s; 158s;
— “autocéfala” III 403; — entidade histórica III 348;
— autodefinição III 25; — Esposa de Cristo, mãe e edu­
— autonomia cultural III 243; cadora de todos II 271;
Bispos e Dioceses: esquema: — Esposa de Cristo III 45;
apresentação III 226; — Esposa de Deus II 202;
— burocratismo IV 249; — estrutura fundamental IV 186;
— caráter escatológico Íl 241 s * — estrutura patriarcal IV 185s;
— caráter sacerdotal III 45; — estrutura unitária II 347;
— “de une catholica” II 159- — exagêro hierárquico II 233;
— catolicidade III 348s- — ad extra II 301;
— celeste IV 14 16; — extensão do têrmo III 308;
— e ciência V 67; — família de Deus III 52s 118;
~~ 985ciência: m v a orientação IV — “fases” II 159;
— clerical 11 159s; — fermento IV 238;
— “colonialismo cultural” II 158* — figuras bíblicas II 264;
— fonte de vida e santidade III
de” |218 fundamento da verda- 129;
- c o m u n ic a ç ã o d e b e n s IV 1 5 - — função cultural IV 278:
— função missionária III 31;
c o m u n id a d e d e s a lv a ç ã o IV 2 3 0 -
c o m u n id a d e e s o c ie d a d e III 4 5 - — função missionária IV 300 303;
- c o n c e ito d e P io X III 151- 1 — função sacramental III 41;
— fundação III 37;
c o n sc ie n tiz a ç ã o IV 2 1 8 s *
*
c o n se r v a n tism o II 2 3 4 * ’ — fundação IV 308;
- Constituição: 4’ capítulo: deba- fundamento
140; III 63 84s 121 123
te: resumo III 224s*
— questão do fundamento III 43s;
índice Analítico dos Cinco Volumes
559
__ geradora de santos IV 20;
_ gloriosa IV 15; — seu mistério II 232 238 248
— govêrno III 226s 240s; — mistério III n 17 43ss P 4 m -
__ identificação II 232; — mistério IV 113 394- M’
igualdade de direitos pelo Ba­ moveis da ação no mundo II
tismo II 233;
— imanência IV 18; Igreja de hoje V 88
_ indefectibilidade doutrinai e vital
II 13; — n e c e s s id a d e I 2 0 5 -
— notas I 58 II 291;’
— índole missionária I 194; — nova era III 232-’
— índole missionária III 30 40 54s — orante 111 49;
73;
— índole missionária IV 308 312; — o r g a n is m o e m c r e s c im e n to III
183;
— índole pastoral II 237; ~~ °£igem no mistério trinitário III
— inefabilidade III 50 54;
— as Igrejas orientais dissidentes — p e c a m in o s id a d e III 2 1 2 ;
II 209; — particular = “rito” IV 193s-
— da Inglaterra IV 73s; — peregrina III 180 190:
— integral IV 113; — peregrina IV 15 18;
— a d intra — a d extra II 243; — pertença gradual III 41s 54s 61;
— ad intra II 300; — dos pobres II 258s 301 s 314;
— instituição: ontem; comunhão: — dos pobres III 39 60 81 114
hoje II 233s; 193;
— juridismo II 20 223 248 III 60 — dos pobres IV 257;
IV 113 237; — “povo de Deus” II 160;
— sua juventude III 313; — continuação do povo eleito de
— Latina IV 237; Israel III 312;
— “latinismo” anti-ecumênico III — presença ativa IV 210 248;
106s; — presença de Cristo no mundo
— direito à liberdade II 302; III 53;
— local III 121 250 403s; — primado do amor IV 245s;
— local: prerrogativas IV 186; — progresso dos estudos II 231
— local: célula da Igreja Universal 317;
V 269; — projeto II 230ss;
— luz dos povos II 304 IV 202; — projeto: mais pastoral II 233;
— luz dos povos: ad intra: ad extra — prolongamento do mislério de
II 242; Cristo III 42;
-- luz irradiante de verdade e vi­ — reforma: ut se renovet, ut se
da II 311; corrigat III 18;
— “Mãe e Irmã dos Homens” III — reino de Deus II 300;
15 190; — relações com o Estado III 33 45
— magistério pastoral II 342s; 161 288;
— martyrion e diaconia III 48; — relações com a sociedade civil
— mecanicismo IV 237; III 194 308;
— militante: conceito II 159s; — santidade III 199 206;
— sua missão I 31; — “sensus Ecclesiae” III 324;
— missão II 19; — sentido lato e estrito III 52;
— missão III 92; — serva III 40;
- missão IV 217; — “servir” II 160;
—- missão cósmica IV 145; simplicidade III 387;
— missão dupla IV 148; teocracia eclesiástica II 31;
triunfalismo II 233 248;
— missão integral IV 236s; triunfante e militante I 3I4s ,
— missão temporal IV 203s; triunfante III 211;
— missionária IV 140; sacramentum umtatis l
— aspecto missionário e ecumênico humilde serva V 70;
III 43; a serviço de todos V »
— vocação missionária IV 306; servir II 314;
560 índices
— união na oração I 67; — opiniões sôbre o Concilio II
— unidade na diversidade I 177 — 361ss; orientação do papa II 74s;
215;
— unidade teológica II 209 218 303 — poder II 198;
— Secretariado I 56 137;
337;
— uniformidade exagerada III 356s; — sensacionalismo
II 81s.
político-relipioso
— universalidade I 173; INADES, IV 307.
— universalidade II 318;
— universalidade — pluralidade III Index, III 364.
Individualismo, heresia moderna III
106; 153s.
— variedade II 263;
— “veneráveis comunidades sepa­ Indulgência plenária, aumente-se a
possibilidade de lucrar V 336.
radas” lll 324; Indulgências, história V 329;
— vigor II 331; — natureza, condições, utilidades V
— visível IV 143; 330;
— vitalidade hodierna I 85;
— vitória em Cristo I 65s 84; — o objeto V 338;
— vocação à santidade III 197s. — oposição entre prática atual e
Igreja no Mundo de Hoje, cf. “Gau- — princípiosteologia moderna V 337;
dium et Spes”. teológicos V 328;
Igreja Oriental, cf. “Orientalium Ec- — reajuste-se a prática V 335;
clesiarum” III 107 187 306s 354; — projetoplina V 331;
de renovação da disci­
— caráter específico II 214s; — urgente reforma V 337;
— posição singular III 306s; — “tesouro da Igreja” V 339.
— não-católica IV 175; Infalibilidade, carisma III 327;
- relações entre os católicos e —
cristãos orientais não-católicos I — dificuldades ecumênicas III 103;
“in docendo” — “in credendo”
179. III 130;
Igreja do Silêncio, IV 214; — extensão e sujeito III 65;
— objeto do Concilio I 67. — ressalvas IV 120.
Igrejas Nacionais, III 281. Inferno, doutrina inconcussa IV
Igrejas não-Calólicas, III 365. 15ss.
Igrejas Orientais, causas da separa­ Inquisição, II 193s.
ção III 342; Inspiração, IV 110;
— comunicação in sacris IV 193; — conceito II162;
— diáspora IV 179s; — profética e bíblica IV 121.
— dignidade particular III 332s; Institutos Femininos, reforma IV
— esquema: sufrágios IV 192ss; 338.
~~ M 7lfa *>n^Ua loca^ na Institutos Missionários, colaborar e
— regime sinodal IV 185. não dirigir V 267;
Igrejas Particulares, III 106 134s — razões para duvidar de sua ne­
242 255s 283 IV 181 188 V cessidade V 265;
— incrementem-se V 273;
Igualdade humana, IV 257s — relações com a autoridade ecle­
siástica V 255.
mam n2i8Cult0 1 172s 11 153 156 Institutos Religiosos, IV 308 330ss.
Imprensa, 1 228 II 73s V 6- Institutos Seculares, I 188s III 114s
— bom serviço IV 6- IV 332s 340.
~ n5A‘n a284?OSt0,ad“ VCrÍ n0mi- “Integrae Servandae”, motu pro­
prio de reforma do Santo Ofí­
— estatística ’ll 200s; cio V 450.
falhas 11 73ss 139 326s III 7s "Inter Mirifica”, Decreto sôbre os
— importância II 139 3’6s-
meios de comunicação social,
~ c T T r á q ; da “primeiía notí elaborado pela Comissão da Im­
“jazz político” H 78; prensa e do Espetáculo precon-
ciliar I 137, conciliar II 59;
índice Analítico dos Cinco Volumes
esquema apresentado à l* Ses­ Juridismo,
são II 197; seu debate II 198-
211 j u votação de sondagem 187. IV iss Pestilentia” |||
II 212; Jurisdição, padres IV I6 r)-
— nova apresentação ao Concilio, pluralidade III 305 iV lon*
para ser votado III 285; - - unidade territorial III 3 7 0 ’
— reação tardia e últimos sufrá­ J“*S* 4 à i,* .
gios III 355-356;
— promulgação III 476 483; liar vm ,9S5 ? ' " a' “ d°
- deve criasse um Secretariado
— texto definitivo III 476-483. da Santa Sé V 193.
Investigação, liberdade IV 375s. Justiça Social, II 315 IV 242
Irenismo, I 219 240 II 221 s III 303 — exige a promoção dos pobres
IV 129 248;
— extremos I 22; Juventude, IV 270 275;
— falso II 184 213 215 243; — corrupção IV 209; ’
— falso III 309s 327 357; — desorientação IV 381 ;
— perigos III 66 342 364; — inadaptados IV 257;
— sadio III 303. objeto e sujeito do apostolado
Irniãos, magistério IV 339s; IV 134.
Irmãos religiosos IV 339.
Irmãos Separados, duas categorias Kairós atômico V 72.
III 342s; Kerygma, II 186.
— mentalidade I 237;
— relação ao Concilio I 88;
— Secretariado especial I 65. Laicato, II 333 347;
Isenção, III 215 259; — IV 127ss 326 336;
_ IV 45s 333 341 — fundamento teológico Iíl 60 171:
Islamismo, iíl 310 351 384 IV 27 — maioridade IV 369.
79 81 86 88s. Laicismo, I 26 IV 216 131.
Latim, “crux pro Orientalibus” III
Jejum, aspecto social e comunitá­ 110 ;
— “péssimo formalismo” III 179:
rio II 151; — “moderno” V 63;
— eucarístico II 123; — uso III S7s.
— redução II 157. Legalismo moral IV 244s.
Jesus Cristo, caminho IV 369. Cf. Legião de Maria, IV 137.
Cristo. Leigos, cf. “Apostolicam Actuosita­
Jornalistas, II 326; tem”; III 340 IV 202 224; _
— no Concilio I 75; — ação caritativa e social I 215ss:
— discurso do papa II 327s. — ação independente IV 130;
Jovens, mensagem do Concilio V — âmbitos de atividade III 139
514.
Jubileu pós-conciliar, V 474.
211;
— apostolado I 26 133 201 215ss;
Judeus, cf. “Nostra Aetate”; III 41 s — apostolado II 242;
51 251 262s 306 308 310 327 — apostolado III 152 154 157;
331ss 342 351 384 389 399 — apostolado IV 52 170;
405 IV 85s; — apostolado assistencial III lS7s;
questão de caridade III 312 — apostolado: fundamento teologi-
314; co III 154 174;
declaração: nôvo texto IV 91 s ; — anostolado hierárquico III
— deicidas: minoria III 314; — atividade missionária IV 306;
— o que a Igreja deve ao povo — colaboração no Concilio I 7a
de Israel III 312; !4s;;
npetência própria II 238:
esquema: preparo III 311; Cúria Romana III 253;
esquema: relação III 310ss; jperadores da criaçao III J -MS'
intenção do decreto III 313; inição III 158 174ss I81s;
não é povo rejeitado III 312s. nidade III 187;
Juízo particular IV 14.
562 índices
— espiritualidade III 213 IV 135 — — aspecto doutrinai IV 75s;
138; âmbito do poder civil V 32 34;
— fidelidade III 194; — apêlo aos Governos V 45s;
— formação política IV 214; — argumento ontológico V 65s;
— função especial III 160; — aspecto apostólico V 50;
— função fundamental V 129; — aspecto ecumênico V 35 50;
— função na Igreja III 175; — aspecto escrituristico IV 68;
— função tríplice III 158; — aspecto missionário IV 76;
— função missionária III 161; — aspectos juridico-civil e teológi-
— fundamento ontológico III 182; co-moral V 52;
— na Igreja Oriental IV 140; — aspecto jurídico-social V 55;
— inserção na Igreja I 216s; — aspecto missionário IV 76 V 50;
— missão IV 327; — aspecto pastoral V 48s;
— ministros de sacramentos IV — aspecto pragmatista IV 75;
134; — aspecto sobrenatural IV 61 s;
— missão em virtude do batismo — aspecto social 62s;
III 123; — aspectos práticos IV 64s;
— papel após o Concilio V 454; — base do diálogo III 308;
— participação no ^ovêrno da Igre­ — base jurídica V 36;
ja IV 140; — bases: duas ordens V 38s;
— participação na obra da criação — civil em matéria religiosa V 36
III 176; 39s 52;
— participação no sacerdócio uni­ — civil, na ordem sócio-jurídica V
versal de Cristo II 236s III 157 17;
161 179 IV 134; — civil, na vida religiosa V 21;
— penetração nas associações mun­ — coação: cuius regio, eius et re-
danas IV 141; ligio V 45;
— podêres espirituais 1(1 349; — imunidade de coação V 14;
— possibilidades de ação II 202s; — conceito IV 67;
— preconceitos IV 139; — conceito de “matéria religiosa”
— questão dogmática I 206; V 48;
— realismo UI 155; — contexto histórico IV 71;
— ressalvas III 138s 186s; — debate V 12s;
— “servos menores” II 238; — declaração: fim V 13;
— suplementaridade II 205; — declaração pastoral IV 59;
— teologia III 196; — deveres e direitos IV 66;
— teólogos IV 285s; — deveres do Estado V 19;
— vocação apostólica IV 126; — dignidade humana IV 65;
— vocação missionária III 153; — direito civil V 35;
— vocação à santidade III 221.
Lei moral, origem de sua obriga­ — religião direito ao exercício exterior da
V 18s;
toriedade V 225.
Leis fiscais, valor moral, obrigato­ — direito fundamental dapessoa
humana III 343;
riedade V 210.
Leitores, l 177. — direito fundado na dignidade da
Liberalismo católico V 53 - pessoa humana V 30s;
— mianente IV 71. — direito individual V 44;
Liberdade, conceito moderno V 1 — direito do indivíduo IV 60;
— de consciência IV 62 65 7C — direitos de maioria e de mino­
— tato universal V 25- ria V 52;
individual: harmonize-se con — direito negativo IV 71 s;
bem-comum V 192; dois direitos: o natural e o so­
investigar a verdade V Y brenatural V 31;
Liberdade Religiosa, cf. “Dignil doutrina dos últimos papas III
: III 308 333 349 318ss;
248s; 8 375 'V 131 18° — “economia” do NT V 23s;
— dois equívocos IV 61;
índice Analítico dos Cinco Volumes
563
_ erros do passado V 41 49;
_ esquema: prós e contras V 15ss; traumas do passado V ific.
— esquema: relação III 315ss; — I f ° r ^agógico V 51;6 ’
_ o “Estado confessional” V 49; _ n? verdade e caridade V 30-
_ evolução doutrinária V 46ss/ Limbo)3 M 8f era hÍpocrisia V 45-
__fundamentos IV 61 s 68;
— hierarquia de valôres V 34; LT n k a qM á ° d3 HngUa feli*i0sa
— ilações indébitas IV 68;
— importância ecumênica IV 70; LÍhlium’ tf' “^acrosanctum Conci-
— importância no campo teológico — ano litúrgico II 105 196-
e prático V 44s; — alfaias I 197:
— na Inglaterra IV 73s; — Ano Litúrgico: reforma III 184sr
— jurídica V 50;
— limites V 65; — 89PeCt° pas*orai do es9uema lí
— natureza I 218s; — canto I 197;
— necessidade pastoral V 24 28; — canto sacro III 203;
— noção IV 58s; — caráter missionário e pastoral II
— objeções V 51 s 53; 113s;
— obrigações dos podêres públicos — caráter teândrico II 113;
III 318; — Comissão: trabalhos III 79s;
— opositores V 17s; — competência dos bispos II 246;-
— em países de maioria católica — comunitária II 103;
V 26; — costumes locais II 151;
— pontos pacíficos IV 65; — cristianização de usos pagãos II
— postulado do bem comum* IV 151;
74; — cume da vida eclesial II 102;
— postulado do ambiente pluralis­ — definição I 192 II 88;
ta moderno V 42; — diretrizes gerais II 161;
— postulado da dignidade huma­ — domingo III 185s;
na IV 61 75; — destaque da Escritura II 103;
— preocupações pastorais V 54s; — esquema I 192s;
— prevalência do bem comum III — esquema: proêmio: emendas II
318s; 223ss;
— princípios doutrinais IV 66 72; — falhas das traduções II 98;
— problema de ordem moral, não — nova fecundidade IV 333;
civil V 26; — fim pastoral II 154;
— formalismo II 90s;
— problema pastoral III 316s; — igualdade social II 112;
— questão da boa ou má fé V 28; — índole didática e pastoral II 247;
— questão da intolerância III 317; — inovações III S0;
questão da ordem pública V 28 — legislação II 101;
questão de sinceridade V 52; — lex orandi, lex credendi II 166;
quatro razões principais III 315; — língua litúrgica II 90 95 101 104
o “cuius regio, eius religio” V 108ss 110 114s 128;
32s; — livros litúrgicos I 192;
— meio de integração na comuni­
— relativismo na concessão V 32s; dade II 123;
— reprovação da violência V 41 ; — nas Missões II 110;
— ressalvas V 19s 21 26s 29 37s — “movimento litúrgico II 9ls;
55; — natureza didática e pastoral li
— significação ético-social e ético- 101 110S;e finalidades „II nH*»’
natureza r
pessoal V 65;
— significado V 40s; natureza teândrica II J00®:
significado do têrmo 111 315s; “nova ordem litúrgica H - r
— soberania da consciência V 33; novos ciclos II 151;
— suprema V 14; oriental III 398;
— Declaração: sua tese V 33; da palavra II 103s 111 128,
564 índices
— paramentos e utensílios II 106; Magistério Eclesiástico, 1 21 Os 218
— pastoral II J64ss; 11 204 IV 393;
— participação ativa II 108 110 113 — autoridade e liberdade II 69;
117 165; — continuidade II 306;
— participação como é em Roma — exageros IV 98;
II 112; — valor dos decretos disciplinares
— perpetuação da obra da reden­ II 28s;
ção II 88; — graus de seguridade e certeza
— centro da piedade II 108; II 27;
— piedade extraiitiirgica II 102; — modalidades e valor dos textos
— prática II 103; pontifícios II 28;
— princípios gerais da reforma li­ — infalível na ordem especulativa
túrgica II 249ss; II 26s;
— difícil reformar sem perder al­ — insuficiências IV 120;
guma coisa II 99; — nova atitude III 393;
— princípios de renovação II 92s; — objeto de fé II 12;
— o problema litúrgico II 95; — órgãos autênticos I 30;
— prudência na reforma II 121; — pronunciamentos de ordem prá­
— defesa rigorosa da reforma II tica II 27;
132; — sensus Ecclesiae I 211.
— possibilidade de reforma II 102s; Mal, IV 279;
— relação do homem com Deus — sua existência, objeção dos ateus
II 331; V 105.
— renovação do divino convívio Maria Santíssima: sôbre a inserção
pascal II 117; do capítulo sôbre Nossa Senho­
— renovação I 26 III 302; ra na Constituição sôbre a Igre­
— simplicidade III 80; ja 111 186 189-191 203; sôbre o
— simplicidade evangélica II 95; nôvo texto apresentado ao Con­
— simplicidade dos ornamentos II cilio IV 22ss; sôbre o debate
152; conciliar IV 23-42; veja-se o
— tradições locais II 246; conspecto geral em* IV 40-42;
— valor nos países comunistas II — esquema preconciliar sôbre “a
115. Mãe de Deus e Mãe dos Ho­
mens” I 219s;
v<Lumen Gentium”, Constituição — a questão da maternidade espi­
Dogmática sôbre a Igreja, elabo­ ritual IV 23 28 34;
rada pela Comissão Teológica — “Mãe da Igreja” III 28 IV 24
preconciliar I 118 e conciliar II 28 29 32 34 36 419 431; o so­
52 (e seu complemento III 391): lene pronunciamento de Paulo
— esquema preconciliar I 205 219 VI: IV 620;
229; — Medianeira IV 23ss 28 31 33
— esquema apresentado à 1* Se 39s; quatro posições durante o
são 11 234; seu debate no Coi debate IV 40s: três posições du­
cilio 11 237ss; rante a votação IV 432;
— esquema apresentado à 2* Se — auxílio dos Bispos II 305s 312;
são 111 24 61 137 197; seu d protetora do Concilio I 47 II
bate no Concilio IH 26ss; v< 272;
nação de sondagem III 30; — tipo da Igreja III 34.
— texto apresentado à 3* Sessi Mariologia, 111 189s 204s;
IV 14 22; seu debate IV 15s — IV 26s 101 105.
IV 23ss; Marxismo, IV 213s 232.
— emendas e votações IV 393s Materialismo, fator de corrupção
ponderação dos Modos IV 42 V 169;
promulgação IV 432 551; — cnaietico IV 203 232 296 325
— texto final IV 455-552. 327 V 42 76s 104 110.
i-ota de classes, ilícita V 196. Matrimônio, o amor: um fim IV
265;
índice Analítico dos Cinco Volumes
565
O amor humano: verdadeiro fim
do casamento IV 265; V ]fjr d0 amor conjugal V u r,
— aspectos doutrinários IV 386; Médicos m k ^ ^ ■centrais IV 266
__ insista-se nos aspectos 'positivos Mei08 dp r n üriar.'os lv 139.
V 160; “Inter ^0m“m“ Ção Social, cf.
— aspecto teológico IV 264s;
— atos conjugais — integridade fí­ sS , «*—
atitude da Igreja I 197ss;
< 1*
sica V 147; obrigaçao dos católicos I 200
— bênção III 133;
__ causa: amor V 163; M e s t ? de
mestres e f lNoviços,
\ Hu*manÍdade>
IV 33511 313ss
— celebração mais consciente c de­ Migrações, I 202 IV 48 54 296 31fe-
vota II 131; •— problema pastoral IV 45
_ “classe única” IV 162; Milenarismo, IV 214
— com acatòlicos IV 174s; Ministério Sacerdotai, ação do Es­
— com infiéis II 133; pirito Santo V 288.
— concepção maniqueísta IV 268; Mirificus Eventus”, anuncia-se o
— conflito moral IV 271 s ; . Jubileu pós-conciliar V 474.
— consenso livre IV 275; Miséria, obstáculo à Evangelização
— condizente com o diaconato III V 194;
105; — crie-se um organismo que a com-
— em crise V 163; # bata V 230.
— crise de consciência IV 268; Missa, aspecto social, familiar e co­
— dignidade IV 262ss; munitário II 152;
— dispensa a favor da parte ino­ — assistência inteira III S8s;
cente V 188; — atualização II 116;
— doutrina: grave problema IV — binada: espórtula II 132;
264; — centro de tôda liturgia I 193s;
— escola de santidade V 165; — centro de tôda a vida religiosa
— estado nobre e santo II 248; da paróquia I 187;
— estado de vida V 152; — concelebração II 116ss 128;
— fim determinante essencial; fins — concelebrada IV 11;
secundários V 157; — convívio sacrificial II 121;
— fins primário e secundário IV — cumprimento da obrigação em
273ss; qualquer dia II 150s;
— os dois fins: igualmente bons e — cunho catequético II 128;
santos IV 265; — cunho pastoral e escrituristico II
— formas imperfeitas V 171: 127s;
— fundamento e fins IV 263; — cunho teológico II 127;
— indissolubilidade V 153; — dialogada II 121;
— indissolubilidade — dispensa em — estipêndios IV 158;
caso especialíssimo V 149; — expressão religiosa suprema do
— investigação científica — renove- povo de Deus II 166;
se o consentimento V 144; — a qualquer hora II 123;
— misto III 371 381ss 404 IV 67 — individual III 100;
180s 183 192 213 222 256s 262s — partes II 121;
293 386s 388 V 29; — participação ativa II 103s;
— motivação dos orientais V 157; — pontificai II 153s;
— natureza; fins V 142; — preceito II 157;
— preparação I 214; — piedade pessoal II 12J;
— problemas IV 276; — problemas de renovação I 19^:
— problema do amor conjugal IV — principais propostas II 124;
264; — prudência II 125s;
— problema crucial da Humanida­ — reforma II 103s;
de IV 268s; — reforma III 81; n
— rito II 132; — sacrifício de tôda a Igr j
— sentido V 143; 97-
■— verdadeira significação da vida
conjugal IV 274;
Concilio - V— 37
f>06
índices
_ em vernáculo 111 87s 89 330; — 268; necessidade de ação social V
— versus populum II 123; — necessidade de colaboração V
— vespertina I 188. 274;
Atissão, noção IV 309;
— origem da missão da Igreja v — Obras Pontifícias I 197;
— obrigação da Igreja V 244 258;
273; — dever da oração V 261;
— todo o Povo de Deus deve ser — criem-se órgãos de informação
missionário V 263; V 268;
— tarefa que lhe cabe V 273. — paternalismo IV 308;
Missio Canônica, 74s. — princípios fundamentais V 244;
Missionários, três classes V 266; — seus problemas I 194s;
— quatro caminhos para se tornar — problemas liturgicos II 110;
V 274. — regiões IV 309;
Missões, cf. “Ad Gentes**; — renovação de métodos III 370;
— adaptação IV 301 s; — renovação missionária I 27;
— atividade cultural IV 280: — Seminários I 196s;
— colaboração do leigo V 267; — taxa diocesana IV 305;
— colonialismo IV 306s; — vida cristã I 196;
— conceito IV 304 313s; — vocação, formação missionária V
— conceito V 271; 268;
— conceito autêntico V 273; — a vocação missionária é univer­
— conceito de território de missão sal V 254.
V 272; Mistério, noção IV 394;
— defeitos da concepção missioná­ — “realidade embebida da presen­
ria do Ocidente V 268; ça divina” III 17 324;
— sob a direção do Bispo V 266; — senso II 99;
— diretivas para formação apostó­ — sentido IV 114.
lica V 265;
— ecumenismo e atividade missio­ Mistério Mobilidade
Pascal, dimensões V 99.
social IV 53.
nária V 271; Moderadores, III 20.
— epifania de Cristo IV 313;
— invportáncia da escola V 266; Modernismo, 288s;
II 131 III 37 400 IV
— espirito missionário IV 312;
— espiritualidade missionária V — perigos I 170.
Monaquismo, II 205 III 220.
269; Monogenismo, I 183 II 176.
— estatística IV 305; Moral, ensino IV 349;
— falhas III 52; — legalismo absurdo IV 244s;
— finalidades IV 302s;
— formação de missionários IV 302; — eordem moral: coerência entre fé
obras I 174s;
fundamentação da atividade mis­ — relativismo I 175;
sionária V 272; — de situação IV 272.
— fundamento teológico V 260- Morte cristã II 105.
— hierarquia latina 111 379;
— Institutos IV 309; Mulher, dignidade III 188 IV 256
— aos leigos também compete a 258ss 274 327;
atividade missionária V 253* — fique no lar V 96;
— mandato IV 299s; — no mundo de hoje IV 261.
— métodos
de V 260; missionários, relativida­ Mulheres, mensagem do Concilio V
511.
— motivo,
ria V 254; da atividade missioná­ Mundo, cf. “Gaudium et Spes” ;
— atual I 11 13 17 II 201;
~ ?ia“í v a306s;atÍVÍdadC m issioná- — afastamento de Deus II 338;
— autonomia IV 206 218;
“ náífa%dl 5 4 V tÍVÍdade mÍSSÍ°- o<cb; Pro&resso e miséria IV
missino“árianev Sá a " 3tÍVÍdade — características IV 208-
— complexidade IV 245; ’
índice Analítico dos Cinco Volumes
567
___ conceito IV 207 210;
_ descristianização I 30 35 37 40s;
dualismo V 63;
hodierno: presença da Igreja:
esquema: histórico IV 194s; - c o n t r a problema cn4 , ,v
— a Igreja à face do — IV 269;
índole do mundo moderno I 62s — doutrina e prática II 268-
IV 244; — limitação IV 269s;
— como interpretar o mundo de
hoje V 85; ~ 269s*Çã0' regula^ ° IV 263s
— maravilhas IV 229: — processos de limitação V 156
— miséria moral II 301 s; Nazismo, IV 63.
— noção IV 214 216 231s; Noivado, IV 275s
— objeto do amor do Fai II 314; “Nostra Aetate”, Declaração sôbre
— perigos I 171; as relações da Igreja com as
— pluralista: unificação V 50; religiões não-cristãs, elaborada
— problemas IV 212s 219 221 228s; pelo Secretariado para a União
— questão semântica V 59s; dos Cristãos I 140, II 59. III
— significado do têrmo III 182 IV 392 (veja-se em III 89 sua com­
205s 223 V 63; petência jurídica e conciliar):
— significados vários e complexos — breve história IV 78s:
V 89; — primeira apresentação ao Conci­
— significados vários V 84; lio III 311-315; intervenções su­
— subdesenvolvido: como ajudar V márias e genéricas sôbre a ques­
75; tão dos judeus durante a 2*
— sombras e luzes II 308s; Sessão III 306 309 351...:
— transformações radicais I 170 IV — segunda apresentação IV 79ss;
203; debate conciliar sistemático IV
— teologia do conceito IV 202s. 80-90; votação de sondagem IV
Múnus Pastoral, cf. “Christus Do- 91;
minus” ; — terceira apresentação V 381 ss;
— diálogo IV 53; emendas e sufrágios finais V
— formas novas IV 515; 383-386;
— obrigação de ensinar II 19; — promulgação V 3S6;
— origem IV 44s; — texto definitivo em Documentos
— paternidade episcopal IV 49; do Vaticano II 615-621.
— participação ministerial de Or­ “Nota prévia”, IV 354ss.
dem e de Jurisdição II 16; Noviços, seus mestres IV 335.
— tríplice poder II 26; Novíssimos, cf. cap. VII da “Lu­
— renovação pastoral IV 47s. men Gentium”, sua história, seu
Música moderna II 156. conteúdo e seu debate IV 14ss.
Música Sacra, III 204; Nôvo Testamento, “economia da li­
— canto gregoriano II 150 154; berdade” V 23.
— canto religioso vernáculo II 154; Nunciatura, III 134.
— parte integrante da Liturgia II Núncios, IV 56;
150 154; — leigos IV 131.
— uso II 106. idiência, compatível com a liber­
dade V 306;
Nação, dimensão espiritual IV 251. crise V 71;
Não-católicos, III 306; cristã IV 201;
'— bens espirituais III 358; indispensável V 295;
■— diálogo V 479; natureza IV 334;
— valôres positivos III 397. problema IV 337 V bOs.
Não-cristãos, III 310 IV 80; eção de consciência, seja “
i a a critério da autoridade u
— chamados à Igreja III 307s; /il
— colaboração III 384;
— judeus IV 85s. sejaVdefendido
229; o direito
. . aV/ ois*
37 *
568 índices
— distinções necessárias V 237; — dogmas comuns III 395;
— motivação V 222; — reivindicações III 379.
— motivos que fundamentam V 227. “Orientalium Ecclesiarum”, Decreto
Obras de misericórdia, também' são sôbre as Igrejas Orientais, ela­
apostolado leigo V 20(J. borado pela Comissão Oriental
Observadores, II 181; preconciliar I 128, conciliar II
— recepções 321 324; 54 e seu complemento III 391:
— regalias II 277s. — os esquemas preconciliares I 234
Observadores Acatòlicos, II 205s 318 e o inútil debate de um dêles
348 369ss 376 V 481 483. na 1* Sessão II 212-229;
Observadores e Hóspedes, impor­ — a reelaboração do esquema IV
tância II 324s; 173 e seu debate no Concilio IV
_do Secretariado da União dos 175ss;
Cristãos: mensagem V 325. — emendas e votações ainda duran­
OEA, IV 289. _ te a 3* Sessão IV 191ss;
Ofído Divino, oraçao do Corpo — ponderação dos Modos IV 193s;
Místico I 196; promulgação IV 194 592;
— oração pessoal III 170; — o texto definitivo IV 580-592.
— sentido I 77; Ortodoxos, celebrações em comum
— valor I 79. III 381.
ONU, IV 63 67 296 V 53.
Operários, triste situação no mun­ “Pacto das Catacumbas”, V 526.
do atual V 200; Padre, cf. “Presbyterorum Ordinis”;
— vocação à santidade III 221. — confissão freqíiente IV 166;
“Optatam totius”, Decreto sôbre a — outro Cristo IV 163;
formação sacerdotal, elaborado
pela Comissão dos Estudos e — conseiho presbiterial IV 368;
Seminários preconciliar I 126, — direitos IV 162;
conciliar II 58 e seu complemen­ — direito à subsistência I 172;
to lll 391: — santificação IV 163;
— textos preconciliares I 233s; — vida de piedade II 390.
— o esquema de proposições apre­ Padres apóstatas, III 223 IV 49.
sentado à 3* Sessão IV 344 e Padres Conciliares brasileiros II
seu debate conciliar IV 344ss; 43ss;
votação de sondagem» IV 366; — competência II 346;
novas emendas e votações IV — conservadores II 74;
366s; — divergência de opiniões II 5s;
— últimas correções e votações V — mais independência da Comis­
373ss; são Central II 123;
— promulgação V 376; — liiz do mundo II 272;
— texto definitivo em Documentos — número e presenças II 33 41 s
do Vaticano II 499-517. 107;
Oração, índole ecumênica I 99ss; — pastores II 313;
— litúrgica: valor 111 223; — duas tendências: minoria reacio­
— necessidade III 213- nária e maioria inovadora III
-- obrigação 1 188. 8- 12 ;
Ordem, sacramento I 214 — vaidade III 204.
Ordem Temporal, IV ÚSs 215ss Padrinhos, II 136.
Padroado, I 171.
Ordens Menores, nôvo sentido 1 Pais, III I54s;
dever de educação III 222;
«?çao 111
ordens Sacras, 128 ,30-
admissão de — Pnmeiros mestres da fé III 194.
— tmS f,cat-llC0s convertidos — IV 104s; ^ Deus, III 33 53 349;
. uni>ao das almas lll
~— íhomília
"ica. dIII a80s;Igreja V 50;
Orientais, lll 245 ;sã 0 111 2 9 "
— natureza IV 121s;
— Presença divina IV 106-
índice Analítico
dos Cit,co Volumes
— “sacramento” III 47; 569
— valor de santificação III 50 latino IV 18 5 *
Pancristianismo, IV 119. ~~ maronita IV 188-
panteísmo, I 181. — Papas e patriarcas: vértices Hn
Papa, patriarca do Ocidente IV episcopado universal IV 1 7 7 .
176; prerrogativas IV 177 19 4 .
— significado do têrmo I 9 3 ; __ £e,stauração IV 186s;
— supremo autoridade II 346* IV f7C7Umênica de Constantinopla
— vitalício III 272.
Papado, atribuições III 140 254; ■ visualização nova IV 192.
— consensus e assensus III 103 ]05* Patriarcas, dignidade IV 190-
— podêres III 238; — direitos III 403;
— dupla responsabilidade I 36 —• podêres dos patriarcas orientais
Pároco, IV 117; e latinos I 178.
— coadjutor IV 49; Patriotismo, legítimo em si V 246.
— completador do Concilio IV 369; Patrística, sua renovação I 25.
— no Concilio IV 162s;
— deveres I 171; Paz, II 333 336s IV 324 V 50;
— discurso IV 367ss; — apêlo aos Governos II 318 337;
— inamovibilidade: supressão IV — equilíbrio
baseada na confiança e não no
do terror V 228;
368;
— inamovibilidade I 187; — conceito II 302s 318 V 43;
— inválido IV 49; — condições II 302s;
— mestre, sacerdote, nastor I 187s; —— debate: resumo IV 323;
— remoção IV 44; desejo universal contrastando
— rural IV 159; com a realidade da guerra V
— santidade III 220. 220;
Paróquia, abertura V 300; — divulgue-se a doutrina cristã V
— adaptação às novas exigências — 236; garantias II 302;
da vida I 170s; — justa II 317;
— ajuda mútua IV 157; — meios IV 319s;
— comunidade de fiéis IV 368; — meios para construir V 252;
— esteio da reforma católica I 171; — meios de obter V 233;
— função III 102. — meta da Igreja II 314s;
Paróquia Pessoal, III 298.
Parusia, totalidade do Cristo res­ — Vobstáculos
240;
e dificuldades atuais
suscitado IV 17s 114. — deve haver em Roma Órgão es­
Páscoa, IV 187; pecial para a promover V 231;
— data fixa II 106.
Pastoral, colaboração dos Religiosos — requisitos IV 322.
Paz Social, crie-se um Secretaria­
I 2 1 1 s; do para a promover V 202.
— coletiva IV 54;
— planificação IV 168; Pecado, III 212;
— renovação I 26. — realidade histórica IV 230.
“Pastoralismo”, II 194s. Pecado original, I I82s IV 203;
Paternalismo, IV 131.
Paternidade responsável IV 274ss. — efeitos temporais IV 146.
Penitência, III 192 IV 246s;
Patriarcado, III 27 114s 283 287; — apelos no AT II 293;
— IV 176 181s 184ss 188; — carta do papa II 292s; _
— anacronismo IV 187;
— centro de unidade regional III — 292- condição básica da salvaçao 11
106; — doutrina e praxe da Igreja II
— colégio patriarcal IV 177;
— dimensão ecumênica IV 177s;
— direitos IV 186; — 294s * de Cristo e dos Apos­
no ensino
— esquerda: ressalvas IV 176ss; to los II 293s;
— instituição comum da Igreja IV — — necessidade I 088 II 296;
176; obrigação de todos II 294,
570 índices
— em preparação ao Concilio II — espírito IV 257;
295s; — evangélica IV 284;
— revisão IV 244; — bispos e padres dêem o exem­
— valor formativo do Sacramento plo V 308;
V 287. — infra-humana IV 295ss;
Pensadores, mensagem do Concilio — noção IV 280s;
V 510. — religiosa IV 336;
— tipos IV 242s.
Pentecostais, III 336s. Poder Civil, caráter laical IV 60;
“Perfectae Caritatis”, Decreto sôbre — competência em matéria religio­
a atualização dos Religiosos, ela­ sa IV 6 6 ;
borado pela Comissão dos Re­ — intolerância IV 6 8 .
ligiosos preconciliar I 122, con­ Polemologia, incentivem-se as pes­
ciliar II 56 e seu complemento quisas V 218.
III 392: Poligamia, IV 275.
— esquema preconciliar I 231 s; de­ “Postrema Sessio”, exortação apos­
bate preconciliar I 188ss; tólica aos Bispos V 453.
— um magro esquema de proposi­ Povo de Deus, II 160 263;
ções apresentado à 3’ Sessão IV — III 50 151 154s182 352;
328ss; rápido debate IV 330ss; — IV 84 140 395s;
votação de sondagem IV 342; — âmbito III 153;
novas emendas e votações IV — aspecto ecumênico III 160s;
342ss; — carismas IV 140;
— ulteriores correções e pondera­ — conceito III 159s;
ção dos Modos durante a 4* — concreto III 176;
Sessão V 369ss; — definição IV 113;
— promulgação V 372; — gênese III 58s;
— texto definitivo em Documentos — igualdade humana III 187s;
do Vaticano II 479-495. — inserido na Humanidade V 70;
Peritos, II 61 ss lll 24 139 IV 212s — liberdade IV 130;
223 337; — notas características III 139;
— ataques lll 400; — “nova criação” III 48;
— crítica IV 212s; — “novidade” III 175;
— escolha II 347; — obrigação missionária III 175;
— leigos, não-católicos IV 214; — origem e fim* do ministério III
— normas IV 13; 29;
— regime II 275s. — pecaminosidade III 58;
Perseguições, III 193s. — perene II 233;
Pesquisa, autonomia IV 287. — pobreza III 193;
Pessoa humana, dignidade III 308- — profético, sacerdotal, régio III 31 ;
— dignidade IV 170s 215 217 253 — realismo III 166s;
260s; — ressalvas III 179s 195;
— dignidade V 14s 18s 49; — sacerdotal III 151 168 171 177;
— dignidade: fundamento V 83- — santidade social III 219;
— dimensão social IV 254; — tríplice função III 180;
— tem direito ao respeito e digno — união e divisão III 359;
tratamento V 127; — vocação à santidade III 175.
~ v 54 rdem temP °õ l e espiritual — subdesenvolvidos IV 293 297.
Precedências, II 278.
— respeito IV 257s. Preceito dominical, cumprimento na
Piedade, m e io s II 3 4 7 5 . véspera III 184 247.
Pobres, v o c a ç ã o à s a n tid a d e Preconceitos, contra a Igreja II 328.
Pobreza, lll 368. Predestinação, II 2 2 .
IV 210 214 239 240 246; Prefácio, maior número II 1 2 1 .
coletiva IV 333 ^306*°’ preparaÇao cuidadosa V
índice Analítico
dos Cinco Volumes
Prelazias Nullius da América Lati­ 571
na, não são “Missão” no estri­
to sentido V 262. nitêncía V°3 ?5 ?ramento da Pe-
Presbiterato, III 102 105 131 140- Pnmen-a missão, 0 testemunho
— dignidade III 92; — obediência V 294 3 Hs-
— de direito divino III 69;
— importância III 94 107; 'ap°,w -
— missão em virtude do sacerdó­ paternidade espiritual V 299 -
cio III 123s ; problemas atuais V 292 294*’
— natureza V 320; relação com os bispos V 297s-
— origem III 65; justa remuneração V 296-
— participação real no sacerdócio, responsabilidade apostólica para
magistério e govêrno do bispo com os descrentes V 289;
IV 368; santidade
— perfeição III 206; rio V 316;na vida e no ministé­
— poder específico III 91; — solução da problemática V 300*
— unicidade do sacerdócio de Cris­ — trabalho manual V 288;
to III 77. — unidos ao bispo V 308;
“Presbyterorum Ordinis”, Decreto sejam unidos em sã camarada­
sôbre o ministério e a vida dos — vida gem V 302;
Presbíteros, elaborado pela Co­ — virtudeinterior V 314;
fundamental: humildade
missão da Disciplina do Clero V 296.
e do Povo Cristão preconciliar
I 120, conciliar II 55 e seu com­ Primado Pontifício, III 94 246 294
plemento III 391: 327 349;
— os esquemas preconciliares I 231 — — absoluto III 84;
e seu debate preconciliar I 169 — atribuições III 407;
carisma III 73;
172 168;
— o esquema de proposições apre­ — 75 centro de unidade da Igreja III
366;
sentado à 3* Sessão IV 153ss; — diaconia II 217;
seu debate no Concilio IV 155ss; — doutrina unilateral III 135;
sua rejeição pela Congregação — interpretações abusivas III 73;
Geral IV 173; — missão III 76;
— o nôvo texto apresentado à 4" — perspectiva da Colegialidade II
Sessão V 277, ^ seu debate V 248s;
279ss; — poder pastoral III 74s;
— emendas e votações finais V — poder total III 265;
401ss;
— ponderação dos Modos V 405ss; — realidade III 72.
— sua promulgação V 407; Professores, IV 380s.
— texto definitivo em Documentos Profetismo, IV 219.
do Vaticano II 433-475. Progressistas, II 157 194s 239s.
Presbítero: presbíteros, amor frater­ Progresso, IV 235 283 309 326s;
no os deve unir aos Bispos V — econômico: lei fundamental V
284; 203;
— essencialmente apóstolo V 312; — material: perigos III 342s;
— defecções, prevenir V 301;
— a questão do ensino de maté­ — 272; raios da Sabedoria Divina u
rias profanas ou sagradas V — vantagens para a Igreja II 345.
317; Propriedade, IV 291 325;
— espírito de pobreza V 300; — privada: função social III -'yy>
— espiritualidade V 303;
— espiritualidade peculiar V 284; — econômico-social
privada: indispensável á vi a
— fundamento da união com o bis­ Proselitismo, lll 307 V310197.341 363
po V 308; 370 IV 62 V 49s.
—* papel de mediador V 303 •
572 índices
Protestantismo, III 109 IV 1 1 S — finalidade principal I 21 ls;
— brasileiro: posição ante o Con­ — formação dos jovens I 206s;
cilio II 382ss; — função unificadora IV 338;
— natureza III 306s. — fundamento bíblico e teológico
Providência Divina, II 302 320 IV IV 339;
207; — importância da vida religiosa re­
— ação na Igreja II 303; gular 1 190;
— inspiradora do Concilio I 14; — isenção 1 212;
— sustenta a Igreja II 18. — isenção: ponto nevrálgico III 215;
Psicanálise, a Igreja não a pode — jurisdição lll 222;
ignorar V 121; — missionários I 195;
— Mosteiro de Cuernava submeti­ — número IV 334;
do V 132ss. — obrigação ao esforço constante
Purgatório, dogma de fé IV 15 19. I 190;
— posição na Igreja III 221;
Quaresma, índole dupla III 186. — problema vocacional I 190 IV
Questão social, I 26s II 31 Os III 81 340;
114 IV 125 143 206 214 242 256 — questão dogmática I 206;
290 325. — relações com o clero IV 337;
“Quarta Sessio", exortação apostó­ — relação com o mundo moderno
lica aos Bispos V 427. IV 333;
Questão operária, ainda não solucio­ — relações com o Ordinário IV 49
nada V 200. 52;
Questão Social, seja criado um Se­ — reforma IV 332;
cretariado para ajudar na solu­ — renovação I 213s IV 328ss;
ção V 206. — ressalvas III 215;
— santidade III 20 200;
Racionalismo, III 393 IV 289; — têrmo técnico III 215;
— bíblico II 187. — vida comum IV 340;
Racismo, III 187s 293; — vida interior IV 336s;
— perverso V 223. — vocações I 206.
Redenção, vicária I 183. República cristã III 337.
Reencarnacionismo, IV 430. Residência, dispensa II 281.
Reforma, inconvenientes a evitar II Ressurreição de Cristo: alcance uni­
347. versal V 93;
Regras, reforma IV 340. — “já pervade o mundo” V 98.
Reino de Deus, III 32 43s 54s; Retiro, IV 161 166.
— conceito III 46; Revelação e cultura III 283s;
— inserção na História III 18; — divina e particular I 182;
— obstáculos III 357; — esquema: texto: crítica II 188s;
— “pátria da liberdade” V 25. — “gestis et rebus” IV 98s;
Religião, cunho social II 128; — intenção progressiva IV lll;
— de Estado IV 60; — obriga II 323;
— oficial IV 72* — palavra IV 105;
— pluralismo IV 71 — problema das “duas” fontes II
Religiões, cf. “Nostra Aetate”- 162ss 170 173s 178s 183 188s
— não-cristãs IV 301 191 s ;
Religiosos cf. “Perfectae Ca. — questão das duas fontes II 188;
tis ; lll 214 223s 289 IV 44 sentido espiritual IV 119;
apostolado IV 335 340- — suficiência material IV 96s 108;
— atualização IV 336; — tendência à unidade III 327s;
autoritarismo IV 45* Revelação Divina, cf. “Dei Ver­
— b is p o s IV 4 5 ;
— colaboração com a hierarquii bum”; II 14 IV 212;
— amplitude IV 100;
• no Concilio III 1 7 5 . aspecto constitutivo e transmis-
- Congregações leigas I sivo IV 99s.
- direitos e deveres IV Revistas Missionárias, redução a
poucas V 269.
índice Analítico
dos Cinco Volumes
573
Riqueza, IV 394s;
não é condenável em si V 197; — nstico
importância
V 293-do Sarrifi,;,, c
3 a t n ‘IU0 tuca-
— injusta distribuição V 169; — santidade IV ’l62-
— moderação no uso V 96. — universal II 121 m 07 no
Rito alexandrino-copto III 132; Sacerdote, associações IV 16 5 -
_ ambrosiano III 23; — comunidade IV 1 69-
— bizantino IV 18;
— bizantino-grego III 391; “ DeusP”niad7°8r; d°S ’mÍStérios de
— bizantino-melquita IV 179; — formação IV 344ss;
— bizantino-rumeno III 163 IV 205; — missão tríplice IV 'i69*
— bizantino-russo III 279; — ofícios pastorais IV 168
— bizantino-ucraniano III 201; Sacramentais, I 195-
— caldeu II 262; — II 131;
— caldeu IV 136 188; — arministração por leigos II 133
— caldeu-malabar IV 353; III 150 340;
— coação IV 181; — atualização II 137;
— cóptico III 98; — definição III 127;
— etiópico II 220 IV 298; — “iniciação da juventude” II 133-
— greco-melquita IV 149; — sugestões II 104s;
— liberdade IV 187s; — vernáculo III 127.
— malabárico II 236; Sacramentos, aspecto social lí 133;
— malancar III 311; — tríplice aspecto I 123;
— maronita IV 187s; — conseqüências sociais do sacra­
— rnclqiiita IV 140; mento da Ordem e do Matrimô­
— moçarábico III 127s; nio I 124;
— preferência IV 180; — crisma I 175s;
— sinonímia IV 193; — língua II 137;
— sírio-antioqueno III 79 IV 69. — lugar na vida cristã III 157;
— meios principais de santificação
Ritos, IV 182 187; I 195;
— aspectos higiênicos II 136; — penitência I 176;
— conservação IV 190; — ponto de vista litúrgico e pas­
— cunho missionário II 127; toral II 130s;
— diversidade III 298s; — preparação para a Ordem I 214;
— diversos na mesma diocese III — relação entre a fé e a adminis­
300; tração V 283;
— iguais em dignidade I 177; — atualização e simplificação dos
— não-latinos I 129s; ritos II 134s;
— novos I 177; — sugestões para administração II
— ocidentais e orientais I 177; 104;
— simplificação II 127; — vernáculo III 127 339s.
— variedade II 108. Sacro Colégio, nôvo III 242.
Rosário, IV 35. “Sacrosanctum Concilium”, Consti­
tuição sôbre a Liturgia, elabora­
da pela Comissão litúrgica pre­
Sacerdócio, conceito, função V 286; conciliar I 215 e conciliar II 57;
—- dependentes IV 158; — esquema preconciliar I 232; de­
— doutrina ainda não madura V bate preconciliar I 192;
309; _ seu debate na l\Sessao II Sítes^
— esplendor e eficácia IV 170s; início das votaçoes II 2-6
— excelência IV 161 s ; 236 246 258 263; _
— formulação teológica V 290; — o trabalho de correção lll 79^
— hierárquico e ministerial III 179s; continuação das YPtaç«>es na -
Sessão III 80 87 99 120 127 -
— natureza, distinção entre minis­
terial e comum V 299; 150 156 163 170 178 184 M-
— nihil sine presbyterio IV 155ss; 203218; . lll 411-47
_ texto definitivo ... , 74.
papel missionário IV 170;
— reparação IV 162;
Sala Conciliar, I 225s.
574 índices
Salmos, revisão III 171. — educação litúrgica II ll l;
Salvação dos não-batizados lll 44. — formação 361.
IV 344s 347 351 357ss
Santidade, conceito III 199; Senso da fé, II 104 175 III 187 195.
— definição escriturística III 223s; Sensualidade, culto IV 276.
— diversidade lll 214s; “Sensus fidelium”, III 139.
— fundamental III 207 213;
— fundamentos bíblicos III 206 Separação entre cristãos, causas III
388s 397 402s;
212s; — responsabilidade dos católicos III
— meios III 198; 309.
— natureza III 199; Serviço Militar, urgência V 61.
— obra da graça III 224;
— ôntica III 223s; Sessões Conciliares, primeira: in­
— dos perseguidos III 221 s; terrupção II 332;
— social III 219; — primeira: significado II 335;
— valor cscatológico III 198; — publicas: processo 11 2S2s;
— vocação universal III 197 200 — públicas: regime II 273s;
205s 212 215 220s IV 416s. — públicas III 354;
Santo Ofício, II 194; — segunda: construtiva III 7s;
— III 400; — segunda: “espírito nôvo”: pas­
— críticas III 251; toral e ecumênico III 14s;
— direito de defesa III 253; — terceira: estatística IV 5s.
— funções II 245; Sexo, reconheça-se a complementa­
— praxe III 255; ridade do homem e da mulher
— reforma V 450- V 184.
— ressalvas II 245. Sinodo, III 403ss;
Santos, III 34 IV 18; — patriarcal: atribuições III 297 386
— ciasses III 220; IV 140;
— culto III 192 21 ls IV 15 19; — permanente III 283s.
— exemplo IV 15; Sinodo Episcopal, V 6;
— festas II 147; — instituição V 11;
— lado pastoral IV 205; — anúncio da instituição V 436.
— sentido comunitário IV 16. Sinodo Sacerdotal, função V 284.
Santos Padres orientais III 397. Sionismo, III 263;
São José, no cânon II 126 154; — III 314.
— conúbio virginal IV 29; Soberba, III 359.
— culto 1 69s 73; Socialização, III 230;
— maior relêvo 11 127; — IV 221 s 245.
— padroeiro do Concilio I 68 72 Sociedade, grave crise I 84;
II 272 291 334; — pluralista IV 74 149 218 261
— relação a Pedro e João Batis­ 380;
ta 1 72. — os “sinais do tempo” I 84s.
Secretariado Geral: redime II 276. Sociedade civil, relações com a Igre­
Secretariado oara Coordenação de ja II 302.
Distribuição dos Bens Materiais, Sociologia cristã V 244;
seja instituído V 219.
Secretariados Conciliares: inaugura- — —
pastoral IV 46;
religiosa IV 45s.
Ção dos trabalhos 1 61.
Seminários, cf. “Optatam Totius” * Sofrimento, valor salvífico III 180.
Solidariedade Humana, IV 224 294ss
— aggiornamento IV 360s- 316;
— disciplina IV 361: — esquema: debate: resumo IV
— nas Missões 1 I96s; 317.
— ordenamento dos estudos I lí Soteriologia, III 189.
origem e atualidade 1 209* Subcomissões, I 223s;
Cos T 2 8 4 ; m é t0 d 0 S p e d a ’g Ó — Técnico-Organizadora I 224s.
— regionais IV 360; Subdesenvolvimento, afeta a maior
— relação com o Concilio 1 5 8 s parte da humanidade V 195.
Seminaristas, a p o s to la d o IV 3 5 9 Subsidiariedade, III 229 234 257s,
Syllatws, IV 71.
índice Analítico dos Cinco
Volumes
575
Taizé, III 220 388.
Teatidrismo, II lOOs; {JNES^oflv"^2-
_ IV 237.
Técnica, IV 227 287; 69s; aproxima^ o recíproca II
V 72. — para o bem comum V 63-
Teilhardismo, IV 217 223 238; - boa ^n tad e dos acatâos I
— perigoso V 73.
Tempo livre: problema V 70 72.
Teologia, IV 357; — caridade’ II 228;
- cHma nôvo paia o diálogo I
— atualização IV 281;
— caminhos novos III 393s; communicatio in sacris II 9 10 .
— ensino IV 348s; — condições III 347s 389; ~ '
— Moral IV 222; convite a entidades crises aca-
— Oriental: fundamento IV 99. tolicas I 236;
Terceiro Mundo, a Igreja deve coo­ — convite: sentido I 21 23 40-
perar em seu desenvolvimento V — dos cristãos I 219;
83. — culpa recíproca II 213s;
Território de missão, conceito V — desejo de Cristo II 349s;
272. — dificuldades I 237 II 325;
Tolerância religiosa II 210; — discussão do projeto II 221s;
— III 395; — discurso do cardeal Bea I 241;
— IV 60 70. — divergências graves III 380;
Trabalhadores, mensagem do Con­ — na diversidade III 397 343s 432;
cilio V 512. — doutrina paulina I 63;
Trabalho, IV 261; — elos da caridade II 303;
— polivalência IV 233s; — elos recíprocos III 349;
— sentido IV 325. — empenho geral de renovação I
Trabalhos pré-conciliares, crônica I 238s;
157ss. — equívoco I 20;
Tradição, III 32s 50 IV 98s; — espírito fraternal II 338;
— dever re atualização IV 106; — etapas III 329 359 388;
— conteúdo: transmissão IV 104; — Eucaristia: vínculo da unidade
— constitutiva IV 101 103-106 118; II 278;
— definição IV 116; — finalidade do Concilio III 51;
— dogmática IV 103; — finalidade concreta III 304;
— epíclese da história da salvação — humildade II 223;
IV 113; — ideal perene I 19s;
— extensão quantitativa IV 104; — importância da fé I 253s; _
— evolutiva IV 106; — importância da oração 1 252s;
— inerrância IV 103s; — inclinação para a unidade II
— natureza IV 122; 338s;
— oral IV 115; — indícios promissores II .
— primado II 186s; — influência pessoal de João aa IU
— valor III 124. 1 243s;
Tradicionalismo, danos III 328; — meios II 209 218s;
— estático e dinâmico II 157; — meios: compreensão e diaconia
— fardos III 326; meios sobrenaturais
A * II
— folhetos III 399s; 11 215SS;
meta do Concilio 1 47;
I, 990*.
— inoportuno III 323s. questão de método II
Tribalismo, IV 258. normas de conduta ante os aca-
Tribunal Administrativo, regime II tólicos I 240;
275. nostalgia da unidade I 237s
Turismo, IV 246. Dbservadores II 206;
Unção, para todos os doentes II oração 1.239;
133. “na oraçao II
Unção dos Enfermos, nome II 135 Drientais dissidentes
III 126; Dtimismo I 254;
576 índices

— passos dados I 140s; — debate preconciliar I 219, 236-


— passos preliminares II 319; 255;
— patrimônio comum II 221; — o primeiro esquema apresentado
— pretendida por Cristo I 238; à 2’ Sessão III 303ss e logo de­
— problemas disciplinares I 250s; pois debatido III 305-406;
— problemas dogmáticos I 244ss; — a correção do texto IV 434 e
— questão psicológica II 178; a votação durante a 3* Ses­
— realismo II 227s; são IV 434-440;
— reconciliação fraterna II 303; — a ponderação dos Modos IV 440-
— renovação mútua: base da — 443; as últimas emendas auto-
1 23s; ritativamente impostas IV 443ss;
— “retorno” mútuo II 215; sua promulgação IV 445 579;
— Secretariado I 140ss; — o texto definitivo IV 553-579.
— Secretariado I 21 s; Universidade, IV 381;
— Secretariado III 303; — católica: histórico I 191.
— Secretariado: fins II 319 322; Urbanismo, IV 327.
— Secretariado: dupla finalidade I
21 s 140 243; Valôres humanos, atitude do cris­
— Secretariado: funções 11 70; tão diante dêles V 79.
— Secretariado: equiparado aos ou­ Vaticano I, II 11.
tros II 88s; Vida econômica e social, questões
— tendência natural III 327s; fundamentais IV 290s.
— unidade na caridade II 208; Vida religiosa ativa IV 334.
— unidade na variedade lll 18 Vigário Coadjutor, função; seja em­
332; pregado doutra forma no apos­
— vínculo ontológico lll 382; tolado V 307.
— vontade de Cristo II 209. Vigário episcopal, III 274.
União dos Cristãos, cf. “Unitatis Vigilância escatológica IV 17s.
Redintegratio”, Ecumenismo; I Vocação, IV 67 359 361;
81 III 306 333; — abusos IV 335;
— na ação II 215. — missionária III 222 IV 305;
UNICEF, IV 296. — religiosa I 190 206 III 199 IV
“Unitatis Redintegratio”, Decreto 334;
sôbre o Ecumenismo, elabora­ — sinais IV 349.
do pelo Secretariado para a Vocações, na América Latina I
União dos Cristãos I 140, II 59, 192;
III 392 (veja-se em II 89 a com­ — penúria IV 339;
petência conciliar dêste orga­ — sacerdotais IV 52s.
nismo):
C om posto e im presso nas oficinas gráficas
da
editora VOZES limitada
MATRIZ:
Rua Frei Luís, 100 - C. Postal 23 - Petrópolis, RJ.

FILIAIS:
R IO DE JAN EIR O : Rua Senador Dantas, 118-1
SAO PA U LO : Rua Senador Feijó, 168
BELO H O R IZ O N T E : Rua dos Carijós, 115
P Ô R T O A L E G R E : R u a R iach uelo, 1280

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Pe. José Jésos


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