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Texto 1:

Cantiga de amor, de João Garcia de Guilhade.

Quantos o amor faz padecer


penas que tenho padecido,
querem morrer e não duvido
que alegremente queiram morrer.
Porém enquanto vos puder ver,
vivendo assim eu quero estar
e esperar, esperar.

Sei que a sofrer estou condenado


e por vós cegam os olhos meus.
Não me acudis; nem vós, nem Deus.
Mas, se sabendo-me abandonado,
ver-vos, senhora, me for dado,
vivendo assim eu quero estar
e esperar, esperar.

Esses que veem tristemente


desamparada sua paixão,
querendo morrer, loucos estão.
Minha fortuna não é diferente;
porém eu digo constantemente:
vivendo assim eu quero estar
e esperar, esperar.
(João Garcia de Guilhade. In: Cantares dos trovadores galego-
portugueses. Organização e adaptação da linguagem por Natália
Correia. Lisboa: Estampa, 1998. p. 112-3.)

Texto 2:
Cantiga de amigo, de Pero Meogo.

A bela acordara,
formosa se erguia;
lavar seus cabelos
vai, na fonte fria,
radiante de amores,
de amores, radiante.

Formosa se erguia;
a bela acordara;
lavar seus cabelos
vai, na fonte clara;
radiante de amores,
de amores, radiante.

Lavar seus cabelos


vai, na fonte fria;
passa seu amigo
que muito lhe queria,
radiante de amores,
de amores, radiante.

Lavar seus cabelos


vai, na fonte clara,
passa seu amigo
que muito a amava,
radiante de amores,
de amores, radiante.

Passa seu amigo


que muito lhe queria;
o cervo do monte
a água volvia,
radiante de amores,
de amores, radiante.

Passa seu amigo


que muito a amava;
o cervo do monte
revolvia a água,
radiante de amores,
de amores, radiante.

(Pero Meogo. In: Cantares dos trovadores galego-portugueses, cit.,


p. 142-5.)

QUESTÕES

1. Observe o eu lírico (a voz que fala em poemas ou canções)


de cada uma das cantigas.
a. Nas cantigas de amor, o eu lírico é tradicionalmente masculino. O
texto 1, de João Garcia de Guilhade, segue esse modelo? A quem o
eu lírico se dirige?
b. Nas cantigas de amigo, manifesta-se geralmente um eu lírico
feminino, ou seja, há uma voz feminina que canta, em 1° pessoa, os
seus sentimentos amorosos. O texto 2, de Pero Meogo, segue esse
modelo? Justifique sua resposta com elementos do texto.

2. No texto 1, o eu lírico lamenta, logo no primeiro verso, a


“coita d’amor”, isto é, o sofrimento amoroso por não ser
correspondido pela amada.
a. Nas cantigas de amor, a visão é afetada pelo sofrimento do
amante. Que verso dessa cantiga melhor exemplifica tal afirmação?

b. Ao sofrer uma dor que não cessa, as vítimas do amor não


correspondido normalmente desejam a morte. Esse é o desejo do
eu lírico dessa cantiga? Justifique sua resposta.

3. As cantigas de amor galego-portuguesas seguem o modelo


das canções dos trovadores da Provença, região do sul da França.
As canções provençais baseiam-se no chamado amor cortês, uma
concepção de amor regida por códigos precisos e rigorosos. Que
elementos característicos do amor cortês estão presentes na
cantiga de João Garcia de Guilhade?

4. Originárias da própria península Ibérica, as cantigas de amigo


apresentam um registro mais popular. Nessas composições, a
figura feminina tem mais corporalidade,
diferenciando-se da aristocrática e distante “senhora” das cantigas
de amor.
a. No texto 2, quais são as características físicas da jovem?
b. Como é o ambiente em que ela está? Que elementos dele são
mencionados?

c. Com quem ela se encontra?

d. Quais sentimentos tomam sua alma?

e. Nessa cantiga, a realização amorosa seria possível?

5. Formalmente, além do refrão, as cantigas de amigo podem


apresentar paralelismos, uma técnica de repetição de versos que
contribui para a musicalidade e a memorização.
a. O par de estrofes é um tipo de paralelismo que consiste na
repetição de duas estrofes formadas por versos ligeiramente
diferentes. Releia as duas primeiras estrofes do texto 2 e compare o
1°, o 2° e o 4° versos de cada uma delas. Quais são as
modificações de um verso para outro?

b. O refrão, isto é, versos que se repetem no final de cada estrofe,


auxilia na construção de sentido do texto, pois, pela repetição,
sublinha uma ideia, um sentimento, uma emoção, uma concepção
de vida do eu lírico. O que os refrões dos textos 1 e 2 ressaltam?

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